Artigo - Ética Na Educação
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2009
TICA NA EDUCAO
ETHICAL IN EDUCATION
Patrcia Aparecida Tadus 1
Orientadora: Prof Nilda Abadia Frazo Cunha 2
Resumo: Este artigo apresenta algumas reflexes sobre a tica na formao docente, luz
terica de autores, como: Candau (1988), Chau (1988), Freire (1996), Morin (2005),
Hernandez (1998), Vasquez (1998), entre outros. Foram discutidas e questionadas
temticas como: a questo da tica na formao do educador, bem como as relaes
interpessoais no desenvolvimento do trabalho pedaggico que envolve o respeito mtuo, o
dilogo, a solidariedade e a justia. O compromisso da escola frente s responsabilidades
ticas desempenha um debate fundamental em torno da qualidade da prtica docente.
Ressalta-se, neste sentido, a inteno dos Parmetros Curriculares Nacionais PCNs
(BRASIL, 1997) que apresenta nos chamados temas transversais: tica, Pluralidade
Cultural, Meio Ambiente, Orientao Sexual e Sade, a viso sobre o papel da escola no
contexto atual, partindo da preocupao em se formar o cidado para viver plenamente em
sociedade. Trata-se de uma preocupao com a formao docente, em um momento em
que a escola vive grandes transformaes de acordo com o contexto em que est inserida,
que prev a incluso de novos temas a partir da relao pedaggica e do seu contexto
social. Sem dvida, estamos diante de uma inovao, num cenrio de mudanas aceleradas
no novo milnio, e que por isso, se faz urgente um educador disposto a atuar numa
sociedade terrena e humana com responsabilidade tica.
Palavras-chave: tica. Formao Docente. Compromisso.
Abstract: This article aims to present some reflections on Ethics in teaching education from
authors such as: Candau (1988), Chau (1988), Freire (1996), Morin (2005), Hernandez
(1998), among others. We discuss the question of ethics in educators education, as well as
interpersonal relations in the development of the pedagogical work that involves mutual
respect, dialogue, solidarity and justice. The commitment of the school to the ethical
responsibilities creates a basic debate around the quality of practical professor. We must
emphasize the aim of National Curricular Parameters - PCN's (BRAZIL, 1997) that presents
in the so-called transversal subjects Ethics, Cultural Plurality, Environment, Orientation
Sexual and Health, the vision on the role of schools in the current context, with the concern
of educating citizens to live fully in society. There is a concern about teachers education, at
a moment where schools suffers broad transformations in accordance to the context where it
is inserted, which aims at the inclusion of new subjects from the pedagogical relation and its
social context. No doubt we are before an innovation, in a scenery of changes sped up in the
new millennium, and that therefore makes urgent educators able to act in a secular society
and human beings with ethical responsibility.
Keywords: Ethics. Teaching Formation. Commitment.
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Introduo
A relao fundamental da tica no desenvolvimento educacional na psmodernidade est diretamente relacionada ao servio da escola que deve ser a
formao integral do aluno. Tal conjuntura reflete na formao tica do educador.
A tica indispensvel em todos os aspectos da vida profissional docente e
visando esta importncia, este artigo tem como objetivo investigar sobre a
necessidade da formao tica do educador, compreendida, vivenciada e exercida
tambm na prtica pelo corpo pedaggico, orientador, administrativo, funcional e
discente da escola. A formao tica tem uma grande e determinante influncia na
vida pessoal de todos os segmentos da escola, refletindo em sua desenvoltura e
responsabilidade no contexto cultural em que est inserida.
Nesse sentido, o interesse pelo tema tica na educao surgiu tambm da
necessidade de realizar um estudo mais aprofundado sobre essa questo,
sobretudo neste incio de sculo em que existe uma inverso de valores e, portanto,
uma crise no que diz respeito aos valores morais e humanos.
O tema tica na educao no novo, mas foi com os Parmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) e o estudo de alguns tericos como Paulo Freire, que
iniciaram uma nova proposta para a sala de aula, redirecionando as diretrizes que
valorizam o aluno, suas mltiplas inteligncias, sua realidade, suas concepes
prvias, sua produo, em um espao dialgico-ldico, atendendo as exigncias do
novo cenrio scio-educacional, transformando o aprendizado em algo significativo,
contextualizado e fundamentado.
Sabemos que o homem vive em sociedade, convive com outros
homens e, por isso lhe cabe pensar e se interrogar: Como devo agir essencialmente
diante dos outros homens? Trata-se de uma pergunta fcil de ser formulada mas
difcil de ser respondida. Quanto a isso, alguns tericos ao longo da histria
identificaram a tica como conjunto de princpios e padres de conduta, logo do
importncia ao pensamento reflexivo sobre os valores e as normas que regem as
condutas humanas desde os primrdios dos tempos.
Partindo desse princpio, a abordagem feita sobre a importncia de uma
atuao docente com tica, neste trabalho, parte da necessidade de realizar uma
prtica pedaggica embasada em princpios ticos, pois se o homem no pode
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mudar o seu patrimnio gentico, ele pode mudar seu ambiente, assim como pode
mudar suas formas de reao, ante as manifestaes do meio em que se encontra.
evidente a importncia de se ter incorporados os Temas Transversais,
relacionados tica como parte dos contedos educativos, para que educadores e
educandos possam questionar, criticar, analisar e consequentemente transformar
sua conduta, baseados por uma educao que se preocupa consensualmente com a
cidadania.
relevante destacar que o professor contemporneo constri seu perfil
profissional em uma sociedade globalizada, onde as aceleradas inovaes cientficotecnolgicas tm exigido-lhe novos saberes, habilidades e atitudes que lhe
possibilite dialogar, adaptar e intervir em uma realidade educativa diversa e
transitria. Sob essa tica, compreende-se, que o eixo central da formao docente
a mudana, e que ser professor no apenas participar de uma etapa, mas
entender que sua formao um processo contnuo e permanente de
aprendizagem.
A formao tica do educador preconiza a valorizao dos conhecimentos e
experincias dos alunos; analisa problemas e busca solues, estimula a criticidade,
a curiosidade e a flexibilidade mental para novas formas de resolver os conflitos.
Esse profissional se preocupa com a formao de sujeitos, efetivando o ensinar e o
apreender, a partir de valores, da heteronomia para a autonomia, de pessoas
dependentes para independentes.
Assim, para viver neste contexto desafiador e envolvente, preciso superar a
atuao personalista, solitria e individualista dos docentes, bem como a valorizao
do conhecimento do saber do estudante, abolindo a herana de professor
enciclopdia, de viso compartimentada.
Um dos principais objetivos da educao ensinar valores e esses so
incorporados pelo aluno desde muito cedo. preciso mostrar-lhe como
compreender a si mesmo para que possa compreender os outros e a humanidade
em geral.
Segundo Morin (2005, p. 56), os jovens tm de conhecer as particularidades
do ser humano e o papel dele na era planetria que vivemos. Por isso a educao
precisa fazer a sua parte, incorporando essas discusses, sem fragmentar a
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Fundamentao terica
Falar em formao tica do educador exige compreender alguns conceitos
como a origem da palavra tica, por exemplo. A palavra tica se origina diretamente
do latim ethica, e, indiretamente, do grego , que apresentam vrios significados
como: costume ou hbito; morada, estncia, residncia, o abrigo permanente, casa;
carter, ndole natural, temperamento, conjunto de disposies fsicas e psquicas
de uma pessoa (VZQUEZ, 1998). Este sentido refere-se conduta humana
suscetvel de qualificao do ponto de vista do bem e do mal.
Neste contexto, importante ressaltar que existe uma confuso entre as
palavras tica e Moral, que vem perpetuando h sculos. Esta confuso pode ser
resolvida com o esclarecimento dos dois temas, sendo que Moral um conjunto de
normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e estas normas
so adquiridas pela educao, pela tradio e pelo cotidiano. Durkheim explicava
Moral como a cincia dos costumes, sendo algo anterior a prpria sociedade. A
Moral tem carter obrigatrio. J a palavra tica, Motta (1984) define como um
conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relao aos
outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social,
ou seja, tica a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.
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A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a conscincia Moral
que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente
quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto , surgiu nas
sociedades primitivas, nas primeiras tribos. A tica teria surgido com Scrates,
quando o filsofo investiga e explica as normas morais que o leva a agir no s por
tradio, educao ou hbito, mas principalmente por convico e inteligncia.
Vsquez (1998) aponta que a tica terica e reflexiva, enquanto a Moral
eminentemente prtica. Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento
entre ambas, pois na ao humana, o conhecer e o agir so indissociveis.
Dessa forma, a tica indispensvel em todos os aspectos da vida, seja
profissional ou social, no tempo presente e no futuro, visando tanto a realizao
pessoal quanto as convivncias sociais.
Em relao formao docente e a tica, muitos estudos direcionados
concepo, anlise e contextualizao demonstram que as condies desta
formao continuam deficitrias em termos de diferenciaes na organizao e
gesto das prticas docentes, se limitando a uma dimenso individual, e nunca
interpessoal e compartilhada como preconiza os conceitos ticos.
Dessa forma, necessrio, nos dias atuais, que o professor invista em sua
formao, para que ele possa aprimorar e reconstruir seus saberes, muitas vezes
vindos de uma educao tradicional, o que deixa de demonstrar seus valores
sociais, ticos, culturais e epistemolgicos que no se relacionam diretamente sua
capacidade permanente de renovao.
Considera-se, portanto, a necessidade de se pensar a formao docente
sob uma perspectiva tica.
Entende-se que tica, pela prpria etimologia, diz respeito a uma realidade
humana que construda histrica e socialmente a partir das relaes coletivas dos
seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.
Para Morin (2005), a tica, na escola, no poderia ser ensinada por meio
de lies de moral. Deve formar-se nas mentes com base na conscincia de que o
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Com isso, a tica tem sido aplicada na economia, poltica e cincia poltica
(tambm tem sido aplicada estrutura da famlia, sexualidade, e como a
sociedade v o papel dos indivduos), conduzindo a campos distintos e norelacionados, como o feminismo e a guerra, por exemplo.
Em relao educao, a tica constitui-se um dos temas transversais
propostos nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs/MEC, 1997) e reflete a
preocupao para que a escola realize um trabalho que incentive a autonomia na
constituio de valores de cada aluno, ajudando-o a se posicionar nas relaes
sociais dentro da escola e da comunidade como um todo.
Com base neste tema, no podemos nos esquecer que estamos vivendo
um momento histrico muito oportuno para a reflexo e a ao em prol da formao
tica docente. Para evidenciar as mltiplas dimenses que a tarefa docente impe,
Freire afirma ser inerente ao papel do educador no apenas ensinar os contedos,
mas tambm ensinar a pensar certo. Esse pensar certo, por sua vez remete a uma
busca de leitura da realidade que deve permanecer vinculada pureza,
rigorosidade tica e deve ser tambm geradora de boniteza, logo tem uma dimenso
esttica e criadora (FREIRE, 1996, p. 30). Lgica, tica e esttica, so conceitos
que se entrelaam, indissociveis no contexto mais amplo das concepes
singulares do pensamento freireano.
Acredita-se que s uma educao de qualidade, que ensina os princpios
bsicos da tica, pode vir a ajudar os alunos a responder pergunta fundamental da
existncia: como viver? Ou seja, como ajud-los a responder a esta pergunta por si
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um mesmo grupo e tambm o respeito pelos lugares pblicos, como ruas e praas,
tambm deriva do respeito mtuo. Como tais espaos pertencem a todos, preservlos, no suj-los ou depred-los dever de cada um, porque tambm direito de
cada um poder desfrut-los (BRASIL, 1997).
O tema justia, segundo os PCN (BRASIL, 1997) vai muito alm da
dimenso legalista. A dimenso legal da justia deve ser contemplada pelos
cidados. Muitos, por no conhecerem certas leis, no percebem que so alvo de
injustias. No conhecem seus direitos; se os conhecessem, teriam melhores
condies de lutar para que fossem respeitados. Porm, a dimenso tica
insubstituvel, precisamente para avaliar de forma crtica certas leis, para perceber
como, por exemplo, por que alguns so mais privilegiados em detrimento de outros.
Outro fator importante na formao tica o dilogo. Neste contexto, os
PCN (BRASIL, 1997, p. 32) enfocam que a comunicao entre os homens pode ser
praticada em vrias dimenses, que vo desde a cultura como um todo, at a
conversa amena entre duas pessoas.
Dialogar pede capacidade de ouvir o outro e de se fazer entender,
valorizar a idia do outro como forma de esclarecer conflitos e tambm saber
dialogar. A escola um lugar privilegiado onde se pode ensinar esse valor e
aprender a traduzi-lo em aes e atitudes.
Quanto solidariedade importante entender que o enfoque a ser dado
para esse tema muito prximo da idia de generosidade: doar-se a algum,
ajudar desinteressadamente. A rigor, se todos fossem solidrios, talvez nem se
precisasse pensar em justia: cada um daria o melhor de si para os outros. A fora
da virtude da solidariedade dispensa que se demonstre sua relevncia para as
relaes interpessoais. Porm, o que pode, s vezes, passar despercebido so as
formas de ser solidrio. No se solidrio apenas ajudando pessoas prximas ou
engajando-se em campanhas de socorro a pessoas necessitadas (como depois de
um terremoto ou enchente, por exemplo). Essas formas so genuna traduo da
solidariedade humana, mas h outras. Uma delas, que vale sublinhar aqui,
diretamente relacionada com o exerccio da cidadania a da participao no espao
pblico, na vida poltica. O exerccio da cidadania no se traduz apenas pela defesa
dos prprios interesses e direitos (embora tal defesa seja legtima), mas passa
necessariamente pela solidariedade (por exemplo, atuar contra injustias ou injrias
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que outros estejam sofrendo). pelo menos o que se espera para que a
democracia seja um regime poltico humanizado e no mera mquina burocrtica
(BRASIL, 1997, p. 34).
Assim, a formao do educador deve partir de atitudes e aes relacionais
desencadeadas pela dialtica na gesto, na vivncia e convivncia do dia a dia da
escola, provocando a transformao, no somente do desempenho intelectivo dos
envolvidos, mas tambm dos comportamentos social, poltico, cultural e profissional.
Dessa forma, a tica, enquanto pensamento filosfico acerca do
comportamento moral do homem se define como o estudo da conduta ideal, esta
decorrente de um conceito mais amplo, o de homem ideal. Na atualidade, a tica
consiste em ditar as qualidades das aes humanas, definindo-as como boas ou
ruins, tendo como norte a razo da felicidade o soberano bem. Em resumo, a
tica uma cincia que estuda os valores e virtudes do homem, estabelecendo um
conjunto de regras de conduta e de postura a serem observadas para que o convvio
em sociedade se d de forma ordenada e justa (VASQUEZ, ).
Cabe ao educador, em sua permanente formao, tornar-se cada vez
melhor, pois quem gosta de ensinar ou apreciar o convvio com crianas e jovens
no encontrar dificuldades em desobstruir caminhos para uma eficiente
transmisso de conhecimento. O professor deve ter coragem de dizer aos seus
alunos que acreditar, redescobrir a singeleza das coisas, o valor da famlia, a
solidariedade, a lealdade, a finitude da vida e sua transcendncia, como a breve
aventura terrestre o que se espera de um autntico mestre que transmita alm das
lies escolares, a prtica do respeito, da moral, da amizade, da tolerncia e da
compreenso.
Para isso, no basta conhecer a tica, preciso, acreditar e viver
eticamente, preocupando-se com a formao de cidados conscientes, capazes de
poder transformar o mundo, colocando-se a servio da formao integral do
educando, pois no h verdadeiro progresso, se no houver progresso moral.
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Procedimentos metodolgicos
Consideraes finais
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REFERNCIAS
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Recebido para publicao em: 16/06/09
Aceito: 30/01/10
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