Artigo - Financiamento Ao Tráfico

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O crime de financiamento ao trfico de drogas praticado

por integrantes de organizao criminosa.

Instaurou-se no mbito do Ncleo Araatuba do


Grupo de Atuao Especial de Combate ao Crime Organizado um
Procedimento Investigatrio Criminal visando investigar as aes
criminosas desenvolvidas pelo PCC (faco Primeiro Comando da
Capital) na regio de Araatuba. Sucedeu-se produo de prova em
Medida Cautelar Sigilosa de interceptao telefnica.
Terminada a produo da prova aps alguns meses
de escuta, efetuadas algumas pesquisas, verificou-se que, em regra,
se deduzia ao penal contra os integrantes de dita organizao
criminosa imputando-lhes os crimes de quadrilha e associao para o
trfico de drogas. Tais crimes, como se sabe, possuem penas mnimas
(infelizmente

padro

judicial

para

dosimetria

da

pena)

relativamente baixas, dadas a magnitude da faco e de seus crimes.


Considerando

que,

uma

vez

integrando

organizao criminosa, o membro passa a ter obrigaes financeiras


alm de outras de matizes diversos, das quais destacamos o
pagamento de mensalidade (caixinha ou caixote) e de rifas
(arame ou rf) e sendo a principal atividade da faco a prtica e o
controle do trfico de drogas, sustentamos que este meio de
arrecadao,

dos

quais

estavam

obrigados

efetivavam

recolhimento dos valores, se destinava ao financiamento do trfico


e outras atividades igualmente criminosas. Incluram-se ento na
imputao o crime de financiamento ao trfico de drogas (art. 36 da
Lei n. 11.343/06) cuja pena mnima 8 (oito) anos de recluso.

A ao penal proposta foi julgada improcedente


por motivos que fogem ao objetivo da notcia, de modo que o juzo
nada disse sobre a matria. Interps-se recurso.
No

julgamento

da

pertinente

Apelao

n.

0020452-52.2011.8.26.0032, 4. Cmara de Direito Criminal, Relator:


Salles Abreu, DJ: 05/02/2013, DOE 01/03/2013, no acrdo se lanou:
Depreende-se dos autos, pois, que o acusado financia
o trfico. Segundo apurado, o Irmo cadastrado na
organizao criminosa intitulada PCC tem obrigao de
realizar pagamento mensal da caixinha, da rifa
descrita e, em algumas ocasies h entrega de cestas
bsicas. O apelado financia o trfico dos lideres
regionais (Geral da rea), faz remessas regulares de
dinheiro destinado Sintonia Geral, ltimo grau da
estrutura criminosa, responsvel pela aquisio de
drogas em larga escala, denominada Progresso,
distribudas entre os membros da organizao do PCC,
quando so revendidas para consumidores finais.
Ressalte-se que um dos talonrios da mencionada rifa
foi apreendido com o acusado (fls. 62/72 e 446/449).
Alm disso, restou comprovado que o ru efetuou
pagamento de caixinhas, contribuies mensais, de
acordo com o livro apreendido na casa do outro
traficante,

pelas

interceptaes

telefnicas

mencionadas pelo d. promotor de justia (fls. 662/663 e


fls. 793/797).
Assim,

diante

do

robusto

acervo

probatrio,

demonstrando que de fato o acusado financiou a


mercancia ilcita, condena-se o recorrido como incurso
no art. 36, caput, da Lei n. 11.343/2006.

No julgamento da ao penal o juzo tambm tinha


negado procedncia ao crime de associao para o trfico de drogas,
em cujo tema o mencionado acrdo assim disps:
2

Ainda, infere-se dos autos que o irrogado associou-se


com a organizao criminosa PCC para a prtica do
delito de trfico de drogas.
Diversamente

do

entendimento

esboado

pelo

aclamado magistrado, no caso dos presentes autos


possvel vislumbrar todos os requisitos necessrios
para a subsuno do ru ao tipo penal em questo,
quais sejam, o dolo de associar-se a terceiros, a
estabilidade, permanncia e hierarquia da organizao
criminosa. Ora, se pelas interceptaes telefnicas (fls.
832/836), bem como pela prova oral (fls. 648/650)
podemos constatar indubitavelmente que o ru
integrante da faco criminosa chamada de Primeiro
Comando da Capital, e que esta organizao voltada
para a prtica no s do trfico de drogas, mas
tambm

de

vrios

outros

ilcitos

penais,

sequer

podemos cogitar que o PCC no seja uma associao


estvel e permanente.
Logo, uma vez cabalmente constatada a associao do
ru com a faco criminosa denominada Primeiro
Comando da Capital PCC, com o desiderato de
praticar

ilcito

de

trfico

de

entorpecentes,

condenao, como incurso no art. 35, caput, da Lei


n. 11.343/2006, medida que se impe.

Apelao interposta

PRIMEIRA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


ARAATUBA

Autos n. 1247/2011
Apelante: MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SO PAULO
Apelado: WILLIAM RODRIGUES DA SILVA

RAZES DE APELAO DO MINISTRIO


PBLICO
(Artigo 593, inciso I, c.c. artigo 600 do CPP)

O Estado de Direito no falha apenas quando ele oprime a


liberdade de seus cidados, mas tambm quando ele no
garante a sua segurana. O Estado de Direito no tem
apenas

um

contraponto,

despotismo,

mas

dois,

despotismo e a fraqueza. Ele deve achar o difcil caminho,


que passa entre a espada do Estado Policial e a cruz do
Estado permissivo, para alcanar o seu fim, a segurana dos
cidados1.

ISENSEE, Josef. Das Grudrecht auf Sicherheit, S. 60. Apud, BALTAZAR JNIOR, Jos Paulo. Crime

Organizado e Proibio de Insuficincia, Editora Livraria do Advogado, p.225.

SUMRIO:
I RELATRIO
II FUNDAMENTAO
1.

Sntese dos fatos

2.

Dos Crimes imputados e razes para reforma da deciso lanada

3.

a)

Financiamento ao trfico

b)

Trfico de drogas

c)

Associao par ao trfico de drogas

Outros fundamentos judiciais reformveis


a)

Autoria dos dilogos

b)

Interceptao telefnica

III DISPOSITIVO

EGRGIO TRIBUNAL
NCLITOS DESEMBARGADORES
DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIA

I - RELATRIO
WILLIAM RODRIGUES DA SILVA foi acusado e
processado como incurso nos artigo 33, 35, caput, e pargrafo
nico; e artigo 36, todos da Lei n. 11.343/06; todos c.c. artigo 69,
caput, do Cdigo Penal, porque nas condies espaciais e temporais
descritas na denncia: a) financiou ou custeou o trfico ilcito de
entorpecentes; b) adquiriu, transportou e entregou a consumo,
substncias entorpecentes, que causam dependncia fsica e/ou
psquica, sem autorizao ou em desacordo com determinao legal
ou regulamentar; c) associou-se com terceiras pessoas para praticar,
reiteradamente ou no, o trfico ilcito de entorpecentes.
5

O processo teve seu andamento regular.


Remetido os autos, determinou-se a notificao do
ru para oferecer sua defesa prvia, por escrito (fl. 537). Notificado, o
ru apresentou sua defesa prvia a fls. 548/549.
A denncia foi recebida a fl. 551.
Para fins de instruo criminal determinou-se a
realizao de audincia cujo termo consta a fl. 645. Foram ouvidas na
ocasio as testemunhas de acusao MIGUEL ARNALDO BRASSIOLI
(fls. 648/649) e CELSO LUIZ BARIONI (fl. 650). No foram arroladas
testemunhas de defesa.
O ru foi devidamente interrogado e apresentou a
sua verso acerca dos fatos a fls. 646/647.
As partes ofertaram memoriais.
Sobreveio a sentena absolutria da qual se
interpe e arrazoa o presente recurso.
o relatrio.

II - FUNDAMENTAO
A r. sentena a fls. 752/764 deve ser reformada.
1.

SNTESE DOS FATOS.

Instaurou-se no mbito do Ministrio Pblico do


6

Estado de So Paulo o Procedimento Investigatrio Criminal n. 06/10


destinado

elucidar

desenvolvidas

no

descortinar

Municpio

de

atividades

Araatuba

pela

criminosas
organizao

criminosa, autointitulada Primeiro Comando da Capital PCC.


As investigaes tiveram incio aps a remessa de
relatrio confidencial a esse Ncleo, no qual foram detalhadas
informaes alusivas a diversas pessoas envolvidas com o trfico de
entorpecentes.
Nessa linha, foram identificadas algumas pessoas
integrantes da organizao criminosa e os respectivos nmeros de
telefones operados, os quais foram interceptados atravs de regular
autorizao judicial.
A partir da, apurou-se que a referida organizao
criminosa vinha atuando de maneira reiterada na prtica de delitos
gravssimos, como financiamento ao trfico de entorpecentes,
associao

para

trfico

de

entorpecentes,

trfico

de

entorpecentes, propriamente dito, homicdios, sequestros,


ameaas, trfico de armas, alm de muitos outros.
Por

intermdio

de

interceptaes

telefnicas

judicialmente autorizadas foi possvel descortinar uma estrutura


criminosa organizada, hierarquizada, violenta e com rgido
controle de seus integrantes.
Durante as investigaes foi possvel apreender
significativa

quantidade

de

drogas,

armas,

rdios

na

frequncia da Polcia Militar, contabilidade do trfico de


drogas, estatutos2 da organizao criminosa3, alm de muitos
2

Consta dos autos, apreendido em poder de WILLIAM RODRIGUES DA SILVA, a fls. 86/89.

Estatutos esses que alm de revelar as diretrizes a serem seguidas pela organizao criminosa, ainda

demonstram que os seus tentculos j se espalharam pelos Estados do Paran e Minas Gerais.

outros objetos de interesse para a demonstrao das prticas


criminosas.
Considerando

magnitude

da

organizao

criminosa e o nmero de pessoas aladas condio de denunciadas,


optou-se

por

desmembrar

as

investigaes

em

aes

penais

correspondentes base territorial de atuao de cada ncleo


criminoso, bem como em razo de cada episdio ou episdios de
natureza delituosa.
A
ftico/jurdica

presente

relativa

ao

apenas

ao

penal

abordou

indivduo

situao

identificado

como

WILLIAN RODRIGUES DA SILVA, em razo de peculiaridades em


suas atividades criminosas que justificaram a deduo apartada.
Diante

da

improcedncia

total

lanada

pelo

magistrado, se busca a reforma em relao a todos os crimes


imputados.
2.

DOS CRIMES IMPUTADOS e RAZES PARA


A REFORMA DA DECISO LANADA

Os

elementos

de

prova

amealhados

foram

consistentes, concatenados e harmnicos ao apontarem para a


procedncia da pretenso punitiva apresentada, a despeito do
decidido pelo juzo.
Demonstrou-se a materialidade e a autoria dos
delitos.
Imputou-se ao apelado a prtica de financiamento
Depreende-se, ainda, da leitura do estatuto da organizao criminosa, que a aliana com a
organizao criminosa denominada Comando Vermelho, sediada no Estado do Rio de Janeiro,
tambm j se consolidou.

e associao ao trfico de drogas, bem como o delito de trfico de


drogas propriamente dito.
Passamos anlise tpica.
a)

Financiamento da prtica do trfico de


drogas

Foi apurado que a organizao criminosa em tela


tem uma forma muito especfica de financiamento de suas aes, o
qual realizado da maneira j descrita desde a denncia, ou seja, em
sntese, o irmo cadastrado tem como obrigaes bsicas o
pagamento mensal da caixinha, da rifa e, em algumas ocasies, a
entrega de cestas bsicas.
As referidas formas de financiamento ficaram
evidentes

no

apenas

em

decorrncia

das

interceptaes

telefnicas que foram levadas a efeito, mas tambm em razo de


inmeras

apreenses

de

tales

de

rifas,

cadernos

de

contabilidade das dvidas contradas e inmeros comprovantes de


depsitos bancrios4.
A denominada rifa - intitulada de Ao entre
Amigos constitui-se em importante mecanismo destinado a
angariar fundos para o custeio da organizao criminosa.
Nessa forma de financiamento, os integrantes da
organizao criminosa so obrigados, cada um, a receber um talo e
a promover a venda dos nmeros ou bancar com o pagamento.

A propsito, na residncia de FBIO FERREIRA DE SOUZA, lder da organizao no Municpio de

Araatuba, foram apreendidas planilhas indicativas de peso e valor das drogas a serem distribudas,
anotaes contbeis relativas aos valores amealhados e a serem pagos, tales de rifas, bem como
estatutos do PCC (BO n. 840/2011 3. DP de Araatuba).

So cerca de 20 (vinte) nmeros por talo, cada


nmero no valor de R$ 20,00 (vinte reais). Desse modo, deflui-se que
os

integrantes

da

organizao

criminosa

ainda

contribuem,

aproximadamente, a cada bimestre, com a quantia de R$ 400,00


(quatrocentos reais). A ttulo de contrapartida, os membros da
organizao criminosa podem ser sorteados com veculos ou imveis.
Um dos talonrios de rifa Ao entre Amigo
(fls. 62/72 e 446/449) foi apreendido justamente na posse do ru
WILLIAN RODRIGUES DA SILVA, vulgo Cocada, em uma operao
policial que apreendeu drogas em sua residncia, demonstrando com
isso, que arrecadava dinheiro para mencionada faco.
bvio,

portanto,

que

por

intermdio

desses

expedientes, WILLIAN RODRIGUES DA SILVA e todos os demais


membros

da

faco

criminosa,

de

suas

respectivas

cidades,

financiam o trfico de drogas desenvolvido pela organizao, na


medida em que, atravs dos lderes regionais (Geral da rea),
fazem remessas regulares de dinheiro destinado a dar suporte s
atividades criminosas desenvolvidas, dinheiro esse destinado para a
denominada Sintonia Final, ltimo grau da estrutura criminosa,
responsvel pela aquisio de drogas em larga escala (progresso),
distribudas posteriormente entre os membros da organizao,
quando so revendidas para consumidores finais.
Na mesma esteira, apurou-se que o ru WILLIAN
RODRIGUES DA SILVA efetuou, alm da rifa, o pagamento de
contribuies mensais (caixinhas) e o pagamento pelas drogas que
adquiriu e revendeu o que perfez, aproximadamente, o montante de
R$ 3.500,00 (trs mil e quinhentos reais) por ms.
Na casa do tambm investigado FBIO FERREIRA
DE SOUZA, vulgo Sass, lder local do PCC, foi apreendido,
10

conforme

documentos

juntados

fls.

659/666,

anotaes

enumerando todos os membros do PCC da rea 18, pois a estrutura


da faco se divide de acordo a rede de telefonia.
Os documentos apreendidos o chamado livro
ou cadastro, cuja guarda era de responsabilidade de um membro
especfico que recebe a mesma titulao na faco criminosa.
O ttulo do documento apreendido a fl. 662 traz
exatamente o cadastro dos irmos que paga cx (sic). Na fl. 663
esto anotados os dados do ru como um dos pagantes da
caixinha, quais sejam: Nome William Rodrigues da Silva, data
do batismo 24/07/2010, Local do Batismo/Rua,

Padrinho

magran, ss, punio nenhuma, cidade Araatuba, vulgo


Cocada. Mais a frente, nos mesmos documentos, aparece a
qualificao dos padrinhos Magran (LUCIANO PEREZ) e SS (FBIO
FERREIRA DE SOUZA), ambos tambm interceptados e denunciados
no contexto desta organizao criminosa em feito desmembrado.
Vrias
expressamente

sobre

ligaes
tais

telefnicas

pagamentos

onde

(rifas

ru

diz

caixinhas),

demonstram sobejamente estas circunstncias.


Com efeito, mesmo depois de preso, atravs de
telefone clandestinamente existente no presdio, o apelado continuou
seus contatos com FBIO FERREIRA DE SOUZA, tanto que no dia
seguinte a seu flagrante, ou seja, 14/01/2011, s 13:59:41, durao
00:13:31, registro 2011011413594111, pelo telefone (18) 9666-4776,
disse que o dinheiro apreendido em sua casa no dia anterior, R$
4.179,00 (quatro mil, cento e setenta e nove reais), pertencia
faco e seria entregue ao Financeiro, no que foi impedido pela
priso e apreenso.

11

Na ligao, fica clara esta circunstncia.


Segue o dilogo (fls. 408/411):
...
Das 00:30 as 02:12
SASS: Eu queria falar com o Cocada ai amigo.
COCADA: Fala filhote.
SASS: Boa tarde, um forte abrao ai irmo.
COCADA: Boa tarde um forte abrao Uru vio de guerra.
SASS: Ta tranqilo?
COCADA: Tranquilo.... ai meu irmo vou passar a caminhada
pra voc, cola l em casa que meu pessoal vai passa a
caminhada pra voc quem me caguetou.
SASS: Quem caguetou voc?
COCADA: A vizinha do lado cara, ela viu eu soltando o
Magro, ela fez um furo no muro, t ligado, viu eu guardando
o barato, foi e chamou a polcia.
SASS: Ai meu Deus.
COCADA: To te falando, vai l que a minha mulher vai falar
certinho para voc.
SASS: Deixa eu falar um negocio pra voc, se ta escutando?
COCADA: To.
SASS: Ce ta em quantos molecada ai? faz um e regao isso
ai e sai fora mano, ta metendo o louco ai nessa porra ai
caraio?
COCADA: Eu to s esperando o moleque vir aqui me pegar.
SASS: Para, idia furada.
COCADA: Idia furada, ... entraram aqui, o menino vai vir
jogar um barato aqui, duas serras, vamo ver o que vai faze
aqui para nos pular.
SASS: Tem que arregaar de dentro para fora meu.
COCADA: Ta metendo o loco aqui, ... maior mamo de
tomar isso aqui.
SASS: O irmo regaa de dentro para fora ai, ta oc os
moleques apetitoso ai, explode essa porra de dentro para
fora, e sai fora mano.
COCADA: Treme tudo, balana, chacoalha isso aqui, sabe
quem esta aqui tambm comigo?

12

SASS: Ce voc faze um ai daqui uns dia voc vai ta l no


CDP, voc vai ver como e que l, de hoje para amanh, ja
te manda pra l, e vai ver o gostoso.
...
Das 04:11 as 04:12
SASS: Eu acho que numa hora dessa o Guto e o Codorna j
irmo.
...
Das 11:22 as 13:31
SASS: Deixa eu falar com o Cocada ai.
COCADA: E ai Uru.
SASS: E ai irmo.
COCADA: Fala memo.
SASS: Voc ta nuns BO e ta vencendo os dias em.
COCADA: Eu to ligado, voc viu ontem quanto foi pego
meu.
SASS: No.
COCADA: Cinco mil.
SASS: Em dinheiro.5
COCADA: Em dinheiro.
SASS: A...
COCADA: To te falando, olha ai pra voc ve, puxa na ronda
que voc vai v.
SASS: Pegou dentro da onde, dentro da sua casa?
COCADA: Dentro de casa.
SASS: A.., mais voc tambm irmo, t moscando.
COCADA: E eu tava levando proce irmo.6
SASS: Pra.
COCADA: Minha coroa tinha acabado de chegar em casa, e o
Magrelo tinha acabado de sair veio.
SASS: Puta, quanto BO.
COCADA: Sorte que o dinheiro o ... vai pegar, que entrou com
um papel ali entendeu, que comprova que o dinheiro foi
tirado do banco, entendeu.
SASS: Entendeu.
5

O responsvel pelo controle financeiro da faco criminosa, ou seja, recebimento do dinheiro da

mensalidade (caixinha), das rifas e da droga (progresso), liga para o denunciado, no interior do
presdio onde ele estava preso, dizendo que o prazo para pagamento estavam vencendo. O denunciado
disse que, o dinheiro que tinha em sua casa, proveniente da atividade ilcita, tinha sido apreendido.
6

O denunciado completa dizendo que o dinheiro estava dentro de sua casa (local onde foi apreendido) e

que seria levado por ele at Sass, o interlocutor, em tpico ato de financiamento.

13

COCADA: E o numero do Magrelo?


SASS: Pegou quanto com voc?
COCADA: Comigo no pegou nada no, pegou com o
moleque, o moleque aqui assumiu o BO, entendeu,
logo mais daqui uns trinta dias estou na rua.7
SASS: Pegou quanto com voc irmo?
CODADA: Comigo?
SASS: .
COCADA: S o dinheiro, cinco mil.
SASS: E com o moleque?
COCADA: Com o moleque pegou uma paradinha e uma
quilo.
SASS: De maconha8?
COCADA: .
SASS: Que moleque?
COCADA: Um moleque que faz um corre pra mim,
moleque menor no, o maiorzinho.
SASS: No um do canho la no?
COCADA: No, no, no, aquele do canho ta pro outro lado,
se voc quizer pegar o dingom bel pra fica ai com voce na
proteo, ele deixou comigo e ele foi ate pra outra cidade
entendeu?
SASS: Entendeu.
COCADA: Ele foi l para So Paulo entendeu, se voc
quizer ficar com a situao na sua conteno, voc vai
l e pega com o meu menor l.
SASS: Com quem?
COCADA: Com o menor, Alan.
SASS: Eu vo pega l.
COCADA: s chegar l e pegar, se voc quizer pegar
uma caminhada tambm de uma madeira, se encosta
nele l que ele tem tambm.
SASS: T bom eu vo pega a pea l fal?9
COCADA: Falo nois cuzo.

O denunciado diz qual ser seu libi. A pessoa que estava junto dele ir assumir a propriedade integral

da droga, no caso, Richard, seu funcionrio da atividade ilcita.


8

Falam expressamente qual a droga apreendida, no caso Cannabis Sativa L., popular maconha. A

paradinha poro de crack/cocana.


9

A dvida do denunciado ser paga por um menor que trabalha para ele. Sass dever retirar com esse

menor uma parte em droga e uma arma de fogo (madeira), que est com ele e pertence a Cocada.

14

Como percebido, passado o perodo fixado para o


pagamento das obrigaes destinadas a financiar o trfico da
organizao,

contatos

eram

realizados

pelo

membro

que

representava a Sintonia Final da faco ao responsvel pelo


Financeiro da regio.
A circunstncia do financiamento ao trfico de
drogas ser realizado por intermdio de talonrio de rifas Ao entre
Amigos (apreendido em poder do ru) foi confirmada pelas
testemunhas de acusao.
Assim, no podemos negar o fato da organizao
criminosa PCC existir. At a literatura j escreveu sobre isso. Se
ouvirmos a ntegra dos dilogos entenderemos a fundo todas as
circunstncias narradas. Negar a existncia do PCC negar uma
realidade.
Outra realidade a de que a atividade principal,
primordial e evidente desta organizao criminosa o trfico de
drogas.
O juzo, ao negar procedncia ao penal neste
ponto, disse que a realizao e compra de rifas fato corriqueiro em
nosso pas, que a apreenso no demonstra o propsito criminoso,
todos os nmeros esto em branco e no h elementos a indicar que
tenham sido vendidos. O juzo tambm no vislumbrou que o ru
tenha pago caixinha e entregado cestas bsicas.
O juzo no agiu com o costumeiro acerto.
Est provado, pelos documentos trazidos nos
autos, a despeito da negatria do ru, que ele membro do PCC
desde 24/07/2010 (data de sua admisso pelo chamado batismo
15

doc. fl. 663). Em sua casa foi apreendido um estatuto da faco


criminosa,

que

demonstra

sua

filiao

ao

partido.

Pelo

conhecimento policial e concreto, colhido na prpria cautelar de


interceptao, e tambm nos documentos apreendidos, fica evidente
que os membros de dita organizao criminosa devem ter o estatuto
e pagar suas obrigaes.

Sobreleva notar, assim, que a partir do


momento que o indivduo batizado, ou seja, formalmente
admitido no seio da organizao criminosa, so geradas inmeras
obrigaes pessoais do novel membro para com a faco.
As

obrigaes

referidas

variam

desde

contribuio financeira para com a faco at a necessidade da


prtica de crimes variados determinados por membros do escalo
superior por eles denominados de misso.
Nesse sentido, fato notrio que a partir do
momento que o indivduo ingressa na organizao criminosa a ele
pode ser assinalada a prtica de crime de distintas matizes, como
roubos, homicdios, sequestros, entre outros. Exatamente como
ocorreu em inmeras oportunidades durante os ataques do PCC no
ano de 2006 em que distintos integrantes da organizao foram
conclamados prtica de crimes contra agentes do Estado10.
10

Com efeito, na noite de 12 de maio de 2006, ocorreu a maior onda de violncia contra foras de

segurana e alguns alvos civis que se tem notcia na histria do Brasil, com origem no estado de So
Paulo. No dia 14, o ataque j havia se espalhado por outros estados do Brasil, como Esprito Santo,
Paran, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e BahiaOs ataques ocorreram na cidade de So Paulo, na
Grande So Paulo (Guarulhos, Santo Andr, So Bernardo do Campo, Jandira, Osasco, Mogi das Cruzes e
Cotia), no litoral (Guaruj, Praia Grande, Cubato) e no interior do estado (So Jos dos Campos, Jacare,
Araras, Marlia, Campinas, Campo Limpo Paulista, Itapira, Mogi Mirim, Ourinhos, Paulnia, guas de
Lindoia, Piracicaba, Ribeiro Preto, Santa Brbara d'Oeste, Vrzea Paulista e Presidente Venceslau).
Os 251 ataques registrados logo no incio, incluram rebelies em 73 presdios, Centro de Deteno
Provisria e 9 cadeias pblicas na capital[6], Grande So Paulo, interior e litoral do estado. Na noite do dia
14, 53 unidades tinham presos rebelados simultaneamente. Foram registradas tentativas de resgates de
presos.
Noventa nibus foram queimados (51 em So Paulo e os outros na regio do ABC, em Osasco e em

16

Tanto assim o , que o prprio item 6 do estatuto


da organizao criminosa j prev a potencial prtica de
homicdios em relao aos inadimplentes para com a
faco.
No aludido item do estatuto da faco (fl. 86) est
textualmente disposto que:
6) Aqueles que estiverem em liberdade e bem
estruturados e se esquecerem de contribuir
com

os

irmos

que

esto

nas

prises

ser

condenado morte sem perdo.

Pelo estado de vivo do apelado j advm a


primeira concluso de que cumpriu com os devidos pagamentos. No
entanto, existem outros elementos.
Por outro lado, os documentos apreendidos em
poder

dos

integrantes

da

organizao

criminosa

na

cidade,

notadamente em poder do lder geral FBIO FERREIRA DE SOUZA,


demonstram todas as circunstncias das obrigaes.
Campinas) e na tera-feira dia 16 de maio as coisas ficaram tranquilas mas ainda foi queimado mais um
nibus na tarde da tera feira e na madrugada conflitos com suspeitos.
Nos ataques aos departamentos de polcia, corpo de bombeiros, agncias bancrias foram utilizadas
granadas, bombas caseiras e metralhadoras. Os principais alvos foram policiais militares, mas guardas
municipais, famlias de policiais, seguranas privados e civis tambm foram alvos dos ataques e
ameaas. O transporte coletivo teve muitos dos nibus das frotas esvaziados e incendiados. Nas
rebelies, os presos destruram as instalaes das unidades prisionais, colocaram fogo nos colches,
torturaram outros presos, agentes penitencirios e alguns refns.
Os ataques do Primeiro Comando da Capital continuaram acontecendo com certa constncia no ano de
2006, nas primeira horas do dia 13 de agosto de 2006, aproximadamente a meia noite e meia, um vdeo
enviado para a Rede Globo de televiso, gravado em um DVD, foi transmitido, no planto da emissora,
para todo o Brasil. Dois de seus reprteres (O reprter Guilherme Portanova e um auxiliar tcnico)
haviam sido sequestrados na manh do dia anterior, um deles (o auxiliar tcnico) foi solto, encarregado
de entregar um DVD para a Rede Globo. Colocada sob chantagem, a emissora transmitiu o vdeo com
teor de manifesto. O outro reporter s seria solto aps esta transmisso.
Na

ocasio

ocorreram

128

mortes

59

pessoas

ficaram

feridas.

Disponvel

em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Atos_de_viol%C3%AAncia_organizada_no_Brasil_em_2006.

17

Foram apreendidas planilhas onde aparecem todos


os membros do PCC na regio 018 em dado recorte temporal, a
saber: SASS (Araatuba), CAIK (Maracai), GALO, ROBGOL (Birigui),
BUNITO

(Assis),

KAK/VENENO

(Assis),

PARAN,

GIL,

PACOTE

(Epitcio), MAN, PEDRINHA (Buritama), GALIZ (Maracai), JAPONS,


RATINHO (Avar I), GORDINHO (CDP Rio Preto), NEGO (CDP Caiu),
SO PAULINO-Everson Rodrigues dos Santos (Valparaso), VALDIR
(Santos e Valparaso), MOTORZINHO (Lavinia), LUIZINHO (W2),
SARAR (W2), FININHO (Assis), MORINGA-Valdeir Valter dos Santos
(Prudente), BOY (Assis), FEIO (Anastcio), NEN (Paraguau), PALITO
(Assis),

FININHO

(Rancharia),

CAIPIRA

(Guararapes),

CLEBER

(Dracena),

FLAMENGUISTA

(Birigui),

LUCIANO

(Penpolis),
POLACO

CHARADA

(Pirapozinho),

(Dracena),

CARA

PRETA

(Guararapes-falecido), CELSO (Prudente), RUBENS (Dracena), ALFACE


(Birigui), CAF (Birigui), BOCA MUCHA (Birigui), PIQUENO (Penpolis),
BRAMA (Penpolis), COCADA (Araatuba), GALIZ-Jerson Rodrigues
da

Guarda

(Maracai),

VEIN/VELHOTE-Marcos

Antnio

Aparecido

das

conversas

Gustavo (Paraguau).
As

expresses

cifradas

interceptadas aparecem nas anotaes, a demonstrar que do mesmo


modo

que

falam

tambm

CAIXINHA/CAIXOTE,

escrevem,

CUNHADA,

tais

como

REGIONAL

DA

TR,

PT,

018

ML,
(EU),

RF/RIFA, SALVE GERAL, SINTONIA GERAL, SINTONIA DO LIVRO,


PROGRESSO.
Foram apreendidas tambm planilhas, escritas e
impressas contendo a relao de quem pagou cesta-bsica, quem
recebeu; relao de quem pagou as rifas, os nmeros que cada
um pegou, os prmios, o dia do incio, o do fechamento e o do sorteio,
e quem foram os beneficirios dos prmios; cadastro completo dos
irmos

que

pagam

caixinha

com nome, matrcula, cidade,


18

telefone, data do batismo, local do

batismo, padrinho, punies e

vulgos (exemplos: COCADA e MAGRO fl. 1101 da cautelar).


A apreenso de talo de rifa, similar ao apreendido
com os demais membros da faco investigados, trazendo o vulgo
Cocada anotado na folha inicial do talonrio, prova clara de que o
apelado financiava as aes da organizao criminosa.
Urde lembrar que o apelado o destinatrio final
da rifa, cabendo a ele o pagamento, como obrigao, de seu valor, de
modo que, pouco importa se conseguiu vender os nmeros ou no, ou
seja, no h relevncia no fato de estar ou no preenchido o canhoto,
a capa do talo est (fl. 72), e at mesmo, vendido ou no. O que
certo que COCADA pagou referido talo. Ele quem financiou o
trfico de drogas. No seriam financiadores os que eventualmente
comprassem os nmeros dele. A obrigao de pagamento era do
apelado.

Como visto, o ru confirmou em seu interrogatrio


que o talo de rifa lhe pertencia e teria sido deixado em sua casa por
WAGNER BRAZ, conhecido traficante membro do PCC da cidade que
dias depois da priso de COCADA veio a falecer.
No verdade que o apelado tenha adquirido
nmeros de rifas do indigitado indivduo, pois quem compra no o
adquire com o seu canhoto. Os nmeros de rifas encontrados,
encartados com os respectivos canhotos em um talo, com o
apelido do ru escrito manualmente na capa, indicam claramente que
a ele se destinava, com a obrigao de venda a terceiros ou
pagamento do prprio bolso.
O juiz deste processo mencionou em sua deciso
que a realizao e venda de rifa fato corriqueiro no pas. No entanto
19

a rifa aqui apreendida diferente, a rifa do PCC. No me recordo


de rifas corriqueiras que sorteiam como prmios um apartamento e
quatro carros zeros, cujos nmeros sejam vendidos sem publicidade.
Por outro lado, vejamos o que constou na deciso
do juiz do Processo n. 40/2011 (juntada a fls. 586), que julgou
WILLIAN

RODRIGUES

pelo

trfico

de

drogas

decorrente

da

apreenso pontual em sua casa:


Aqui destaco o depoimento da me do ru William,
senhora Solange Aparecida Domingos (fls. 144/145); ...
tempos antes dos fatos narrados na denncia, foi
deixado

um

bloco

de

rifa,

entregue

pelo

conhecido e j falecido Wagner Brs, acusado de


ser lder da organizao criminosa PCC em nossa
regio, para ser vendida, angariando fundos para
o PCC...

Esse excerto, decorrente do testemunho da prpria


me do apelado, deixa clarssimo que a rifa apreendida se destinava
a arrecadao de fundos para a organizao criminosa, portanto, seu
financiamento.
No que tange especificamente aos pagamentos,
tambm h prova dos autos.
Versando especificamente sobre o pagamento de
rifas temos o seguinte dilogo:
Alvo: FBIO FERREIRA DE SOUZA SASS
Telefone: (18) 9159 0389
Data: 02/01/2011
Hora: 22:37:08
Durao: 00:02:49
Registro: 201101022237088

20

Ligao para: COCADA


Telefone: 18 8155 0728
Transcrio:
COCADA: a moeda da rf (rifa) j pode levar para voc?
SASS: no entendi irmo.
COCADA: a mixaria da rifa.
SASS: repete para mim.
COCADA: o dinheiro da rifa, j pode estar levando
como que faz?
SASS: pode, se voc querer eu passo e pego.
COCADA: t bom, s vou encostar no meu pessoal e j
levo a, t bom.
SASS: nis, amanh nis pega isso ai.
COCADA: t bom, e eu j vou dar uma mixaria do progresso,
entendeu.
SASS: t bom, e do mais.
COCADA: do mais t suavo......
SASS: o Denis gordo tomou um pau.
COCADA: no acredito! de quem?
SASS: do Cleitinho.
COCADA: do Cleitinho, que delicia.
SASS: mais s paulada monstro.
COCADA: mesmo irmo?
SASS: representou, tomou um pau que no foi brincadeira
irmo. Tacou fogo num cara vivo de gasolina.
COCADA: s apanhou, no teve um aval para pegar ele.
SASS: tomou um pau do caraio.
COCADA: que eu ia falar para voc irmo, e o telefone do
magrelo irmo.
SASS: daqui a pouco eu passo para voc.
COCADA: eu estava no resgate daqueles meninos que eles
encostaram em voc?
SASS: quem?
COCADA: os meninos que estavam l em Valpa (CPP de
Valparaiso).
SASS: assim, encostou mais eu no sei no, trocou idia
com voc, de outra quebrada.
COCADA: eu estava com os meninos, e deixei eles l, cada
um na sua cidade, entendeu, e cheguei agora pouco e estou
ligando para voc.

21

SASS: ta bom nis.

Houve, ainda, na casa a apreenso de valores, que


segundo o udio transcrito, de conversa mantida entre WILLIAN
RODRIGUES DA SILVA e o financeiro da faco, FBIO FERREIRA DE
SOUZA, seriam destinado ao pagamento das obrigaes (deixamos de
transcrever o udio, pois nos referimos nica transcrio at aqui
realizada).
Tambm se apreendeu vrios depsitos bancrios,
com beneficirios dispersos, mtodo utilizado para a remessa de
dinheiro aos graus superiores da organizao. Muitas das contas
bancrias para depsitos foram transmitidas nas prprias ligaes
entre

os

interlocutores.

Pena

que

juzo

no

autorizou

levantamento e rastreamento das contas bancrias.


Importante frisar tambm, que mesmo depois de
preso, h prova dos autos de que o apelado WILLIAN RODRIGUES
DA

SILVA, financiou

a organizao,

pois

tendo seus

valores

apreendidos quando de sua priso por trfico de drogas, por meio de


comparsas

ainda

soltos,

conseguiu

angariar

recursos

para

cumprimento de suas obrigaes.


Tal dilogo ocorreu no dia 05/02/2011, s 17:56:05,
durao 00:27:02, registro 2011020417560517, entre os telefones
(18) 8146-9408 e (12) 8820-0068. FBIO FERREIRA DE SOUZA
conversou com a Sintonia do Interior e mencionou este pagamento
feito pelo recorrido WILLIAN RODRIGUES DA SILVA, mesmo depois
de preso.
Eis o teor do novo dilogo interceptado (fls.
414/422):
SASS: al.
ERIC: boa tarde a irmo.

22

SASS: boa tarde forte abrao.


ERIC: um forte abrao a irmozo, como que t meu truta.
SASSA: pulando pra l e pra c.
ERIC: , o Sass?
SASS: o Uru irmo.
ERIC: quem irmo?
SASS: o Uru ele mesmo.
ERIC: ns o Uru.
SASS: , o mesmo.
ERIC: ns Uru, o Eric irmo do final o progresso da
interna11 aqui quem t na linha t bom.
SASS: a deixa eu falar um negcio pra voc meu irmo
bom falar contigo mesmo, voc fecha no final dos progressos
a na externa?
ERIC: na interna irmo, eu vou juntar o Douglas aqui,
Douglas aqui.
DOUGLAS: oi.
ERIC: o Uru t na linha com ns a irmo o irmo responsvel
pela situao onde o Bambu falou.
DOUGLAS: o Uru forte abrao a boa tarde do Douglas a
fiu.
ERIC: o Uru o Douglas fecha tambm no quadro tambm no
progresso entendeu irmo.
SASS: isso mesmo irmo.
ERIC: o Douglas a divida l do irmo ms dez entendeu
irmo.
DOUGLAS: ms dez irmo, passa pra ele a irmo.
SASS: irmo.
ERIC: o irmo referente a situao do Bambu meu irmo.
SASS: a referente a situao do Bambu da seguinte forma
meu irmo ele tava num dbito sim mesmo com a financeira
da dezoito aqui da rua ele devia no total de R$ 1.200,00 da
ml (cocana) entendeu irmo.12
ERIC: certo irmo.
SASS: a tivemos um contra tempo que ele foi preso e no
conseguimo rastrear o irmo por que ele foi l no sei aonde
11

Designao do membro responsvel pela contabilidade do dinheiro proveniente da venda de droga

(progresso) dos irmos que esto presos (interna).


12

Sass conversa com os responsveis pela Sintonia Final sobre dvida de um membro da rea 18. A

expresso ml abreviatura de muito loca, cifra utilizada para designar cocana.

23

Serra Dourada, no sei l, tava fora do ar e parece que ele


tinha deixado um irmo j responsvel dessa situao na
poca, se eu no me engano o irmo deixou ele falando
tambm que o irmo devia um dinheiro pra ele e ele tava
fora do ar e o irmo que tava na rua ficou responsvel de
pagar essa fita que o irmo tinha com ele entendeu irmo. 13
ERIC: aham.
SASS: a ns no conseguimos entrar em contato com o
irmo agora ns veio entar em contato com o irmo alguns
tempo atrs a e o irmo j ligou no mesmo dia que eu falei
com ele e na mesma e no outro dia j mandou l na
quebrada dele ir l buscar com o irmo dele e o irmo dele
pagou a situao, foi arremessado14 pra cima irmo tem
marcado no meu caderno, tem a data que justifica certinho
entendeu.
ERIC: certo, irmo.
DOUGLAS: o dbito de que ms, , Uru?
SASS: no entendeu.
DOUGLAS: o dbito dele de que ms que era?
SASS: irmo eu no to perto do caderno agora cara, deve
ser quase no comeo do progresso que tinha mesmo
entendeu, eu acho que do ms seis se eu no me engano,
depois eu passo pra voc certinho irmo, daqui uns vinte
minutinho eu j mando pegar o caderno ali.
DOUGLAS: o Eric.
ERIC: oi irmo.
DOUGLAS: s pra ns entender o Uru, a Uru.
SASS: pode falar meu irmo.
DOUGLAS: veja bem brother mais ou menos faz quanto
tempo que ele pagou esse dbito a irmo.
SASS: a tem dois ou trs meses pra trs se no me engano
direito em veio.
DOUGLAS: voc fecha no que meu irmo na interna ou
externa.
SASS: eu fecho na rua irmo.
13

Denota-se, pela ligao, que toda vez que algum irmo vai preso, a pessoa que fica responsvel pelos

seus pontos de venda de droga (quebrada), tambm assume o pagamento das dvidas em atraso, do
que foi preso, para com a faco.
14

A cifra utilizada para designar o ato do financeiro que deposita o dinheiro arrecadado em contas

bancrias de uso da Sintonia Final. Pelas obrigaes mensais de cada irmo, d para fazermos uma
estimativa do quanto movimentado na regio pela faco.

24

DOUGLAS: legal irmo, quem fecha na interna com vocs


irmo?
SASS: o irmo tava fechando ali, mas teve um desacerto l
que caiu umas anotaes entendeu15 e caiu as anotaes e
ns ficamos de passar as anotaes e como no t com o
diretinho16 no ar por que caiu ns tivemos que dar
fechamento esse ms agora e t meio corrido e tivemos que
dar fechamento da rf (rifa da faco) por que eu sou
responsvel pela RF e progresso entendeu.
DOUGLAS: o Uru s pra mim entender irmo, veja bem ,
quando arremessado a irmo o trabalho do privado a da
interna bate na nossa mo que final do progresso aqui da
interna, ns acompanha tambm a externa a e a caminhada
o seguinte certo irmo a gente haja a os privados (irmos
ou companheiro que foram presos) d um cheque p poder
t recebendo certo irmo, aqueles que recebido a gente
vem e da baixa, veja bem, ns arremessou certo irmo o
comunicado o nome de vrias pessoas a pra ser achado
onde existia dbito a certo irmo como privado.
SASS: correto.
DOUGLAS: o que acontece irmo, no automtico a voc t
passando a que faz dois ou trs meses que o Bambu pagou
certo irmo.
SASS: certo.
DOUGLAS: voc encostou em algum da interna a irmo pra
dar baixa nesse nome dele a brother.
SASS: irmo foi passado l pra cima sim a divida que eu
tinha recebido, foi subiu at o dinheiro a mais contando com
esse dinheiro entendeu e seguinte o dinheiro foi subido pra
cima e foi marcado no caderno justificado e eu ainda
perguntei pro irmos que os irmos ia voltar a trocar umas
idias com ele s que eu acho que as idias que ia trocar
referente se tinha passado com uma certa data eu no sei se
cabia o salve nele ai j na interna.
DOUGLAS: o irmo veja, ns precisa, Eric.
ERIC: irmo.
15

Refere-se priso de FELIPE que anteriormente exercia a funo de contabilidade e foi preso na

cidade de Assis/SP.
16

Telefone celular fraudado que fala por algum tempo sem haver cobrana. As operadoras, quando

percebem a fraude, procedem ao bloqueio.

25

DOUGLAS: esse dbito dele do ms dez certo irmo.


ERIC: irmo consta aqui na nossa anotao l que no ms
dez.
DOUGLAS: irmo veja bem s pra voc entender irmo, o
salve do dia sete do nove ele no vai se encaixar na interna,
mas tem outro salve a no dia cinco do doze certo mano que
foi concludo no dia vinte certo o Uru.
SASS: certo.
DOUGLAS: ns precisa saber a datas a primeiro irmo pra
gente poder dar um cheque nessa caminhada.
SASS: espera a que vocs vai saber agora eu vou descer
l17.
DOUGLAS: o Eric s pra voc dar uma analisada no que estou
querendo dizer irmo, ele citou a que faz dois ou trs meses
que esse dbito dele j era pra ta na nossa mo certo irmo.
ERIC: com certeza irmo.
SASS: eu vou passar pra vocs, eu entrei na linha e eu falei
irmo recebi R$ 1.200,00 t subindo a mais que do Bambu
e tava devendo o ms tal o irmo marcou tudo certinho l.
DOUGLAS: voc passou pro irmo que fechava na interna
com vocs.
SASS: passei ainda pro irmos que todo o dinheiro que
sobra tem que passar n irmo.
DOUGLAS: ento que legal, entendeu irmo por que eu.
SASS: acho que ele no deve ter dado baixa n irmo.
DOUGLAS: deveria ter dado baixa por que ns arremessou os
nomes a de uma forma ou outra os maloqueiros est com a
divida paga e ns acha ele, pois irmo arremessou meu
nome a tal mano sendo que eu j paguei entendeu o
brother.
ERIC: foi o que aconteceu com ele, ele encostou pro irmo o
barato chato j paguei minha divida certo mano tem que
ver de onde veio o erro eu falei irmo fica tranqilo que ns
vamos tracar umas idias e se voc pagou, voc pagou n
mano.
SASS: eu vou te passar a data certa por que eu que ainda
fui buscar o dinheiro irmo..... e a irmo.
ERIC: irmo.
17

Observa-se que h seriedade na questo das dvidas, quanto a prazos e meses, o que demonstra a

organizao dos membros da faco.

26

SASS: man o apelido que ele tava usando aqui


entendeu, ele devia o total de duzentas gramas de ml
certo irmo.
ERIC: mil e duzentos.
SASS: ele pagou dia 13 do doze de 2010.
ERIC: 13 do doze.
SASS: 13 do doze de 2010 R$ 1.200,00 eu mesmo
pessoalmente quem peguei.
ERIC: voc que pegou n.
SASS: .
ERIC: isso mesmo, o irmo deixa eu te fazer uma pergunta
teve a comunicao com o irmo da interna n.
SASS: como assim voc fala, l na cadeia?
ERIC: quando foi pago .
SASS: no, no cheguei a comunicar com ningum na
cadeia no meu irmo.
ERIC: porque irmo eu te falo, veja bem olha quando
arremessado esse nome que tem um dbito a com vocs na
rua a arremessado pro privado pra ns aqui da interna pra
gente ir em cima pra ta recebendo essa moeda brother.
SASS: correto.
ERIC: ento irmo do mesmo modo que arremessado tem
que ter essa comunicao a brother irmo.
SASS: isso mesmo por que foi o primeiro que pagou n
todos esses a que ns anda procurando.
ERIC: no mais o primeiro, mas o seguinte foi
arremessado o nome do maloqueiro entendeu mano num
comunicado a certo irmo e a situao o seguinte de uma
forma ou de outra foi posto o nome do maloqueiro onde ele
tava com seu dbito pago entendeu.
SASS: correto mano.
DOUGLAS: foi o que ele falou hoje entendeu.
SASS: ele trocou idia comigo certinho, mas foi o seguinte
eu passei pros caras l em cima meu eu no sabia que
conduzia dessa forma a entendeu irmo.
ERIC: voc passou pra quem irmo?
SASS: eu passei pros caras que so responsveis a onde
que eu mando a caminhada do arame18.
ERIC: quem que irmo?
18

Esta cifra tambm utilizada para designar dinheiro da faco.

27

SASS: o irmo que fecha l o moicano, os caras por que


como eu vou mandar um dinheiro a mais e eu no vou
justificar de onde veio irmo voc me entende.
DOUGLAS: o moicano a Eric ele fecha na linha direta com o
Magno, o Rian entendeu irmo.
ERIC: entendi.
DOUGLAS: devia ter passado pra ns tambm entendeu.
SASS: inclusive o pai tava no dia na linha e eu falei o irmo
consegui achar o cara que eu estava sempre pedindo um
apoio pro vocs pra achar o cara, por que eu vou pra cima
quando eu sei que t na cadeia eu encosto pra trocar umas
idias pra ver o que ta pegando por que no chegou
entendeu que nem no CDP o Cocada ali conseguimos
recuperar R$ 2.300,00 l dele falta R$ 200,00.19
DOUGLAS: o irmo aproveitando o ensejo, vamos dar uma
conferida nessa lista de privado aqui irmo.
SASS: uh! eu j sai fora do caderno, eu j sa fora de novo.
DOUGLAS: aham.
SASS: eu sa de perto do caderno irmo.
DOUGLAS: tem como ns ir l colocar um confere nessa lista
dos privados aqui irmo por que o seguinte.
SASS: vamos l.
DOUGLAS: pra no ta mais acontecendo essa caminhadas.
SASS: mais vai falando pra ver se eu vou me recordando 20.
DOUGLAS: o irmo o bonito.
SASS: ta devendo R$ 2.500,00 ou R$ 2.300,00 t em dbito
vou passar pra voc.
DOUGLAS: aqui s ta R$ 1.500,00 irmo.
SASS: R$ 1.500,00 correto ele s pegou trezentas ou
duzentas e cinquenta uma fita assim (gramas de cocana).
DOUGLAS: e o pacote de Presidente Epitcio.
SASS: o pacote parece que deve R$ 1.750,00 mais R$
160,00, uma fita assim no .
DOUGLAS: espera a s um minuto, minuto.
ERIC: no o do pacote R$ 1.743,00 do ml.
SASS: mais R$ 160,00.
19

Nesse ponto do dilogo Sass fala com a Sintonia que conseguiu receber o dinheiro da faco, mesmo

depois de WILLIAN RODRIGUES DA SILVA estar preso, Tpico ato de financiamento.


20

A partir desse ponto do dilogo, o interlocutor que fala com Sass pergunta sobre cada membro da

faco da rea 18 e suas dvidas, o que tambm demonstra a organizao da contabilidade.

28

ERIC: no s t R$ 1.743. de ml a data 06/10/2010 irmo.


SASS: mais R$ 160,00 que tem dele tambm irmo.
ERIC: espera a s um minuto o que foi? eu j voltei irmo a
irmo.
SASS: e a irmo.
ERIC: o pacote ele continua R$ 1.743,00 n.
SASS: espera a o pacote, pacote, pacote.....
DOUGLAS: e a irmo.
ERIC: e a uru.
SASS: o pacote 310 correto.
DOUGLAS: aham.
SASS: ele deve R$ 1.743,50, do dia 29/07/2010 entendeu,
ms oito.
DOUGLAS: o irmo e o Zoinho de Panorama.
SASS: espera a, espera a, vou falar pra voc e aqui de
novo pacote irmo R$ 160,00 ele pegou duzentas e
cinquenta na data de 16/07/2010 e ele deu R$ 1.340,00 e
falta R$ 160,00 do ml.
DOUGLAS: mais R$ 160,00 do ms seis, qual que a data
irmo.
SASS: 16/07/2010.
DOUGLAS: e o Zoinho de panorama irmo.
SASS: vou ver aqui, o Zoinho de panorama ele 280 de ml.
DOUGLAS: o total de quanto?
SASS: vai dar R$ 1.540,00.
DOUGLAS: o Eric a que esta esse barulho?
SASS: no aqui.
DOUGLAS: e o Galinz qual que o valor que deve a.
SASS: Galinz deve do ms seis, do ms dez ou do dia
06/10/2010.
DOUGLAS: qual que o valor.
SASS: trezentas de ml.
DOUGLAS: valor de quanto R$ 1.500,00, a deve R$ 1.500,00
do ml?
SASS: ele no deu nada t preso encostou esse dias a
mais at agora no voltou de novo, ele o mago os caras.
DOUGLAS: R$ 1.500,00 do ml irmo.
SASS: e duzentos de PP.
DOUGLAS: ento ele deve quanto do PP?
SASS: o PP ele devia R$ 2.000,00 mais ele deu R$ 1.239,00.

29

DOUGLAS: R$ 761,00 isso mesmo e o Juca.


SASS: Juca deu R$ 1.500,00.
DOUGLAS: qual que a quebrada do Juca?
SASS: eu no sei de onde ele no, nem eu que falei com
ele veio da mo do Veneno entendeu irmo.
DOUGLAS: qual que o valor que ele deve.
SASS: nem sei o valor a divida dele ele mandou R$
1.500,00.
DOUGLAS: a meu puta por isso que fica difcil, tem dbito
dele aqui, Juca ms sete R$ 3.250,00 do ml, mas no tem a
quebrada no tem nada.
SASS: mais esse no da minha poca entendeu meu
irmo.
DOUGLAS: mais no tem como pegar o responsvel da poca
pra dar uma clareada na situao.
SASS: o responsvel da poca colocou um 357 na cabea e
se explodiu irmo.
DOUGLAS: aha, o irmo tem mais algum dos privados a que
no foi falado?
SASS: no esses a mesmo, tem o cocada que t privado e
ta devendo R$ 200,00 de ml, o Caique de Maracai ta
devendo R$ 2.200,00.
DOUGLAS: o Caique ta a onde.
SASS: ta preso l no CDP de Assis.
DOUGLAS: ta privado qual que data dele.
SASS: 29/12/2010 referente ao PP e na mesma data ele foi
preso com a mercadoria junto com a do japons que esta
solto.
DOUGLAS: qual que o outro.
SASS: o Japons mais ele t na rua e perdeu a situao
junto com o Caique por que o Caique tava levando a parte
dele.
SASS: o do bonito voc j pegou n?
DOUGLAS: irmo: Bambu, Bonito, Pacote, Zoinho, Galinz,
Juca e Caique entendeu irmo.
SASS: s esses mesmo a irmo.

Assim, no h dvidas de que durante o perodo de


30

monitoramento, o apelado WILLIAN RODRIGUES DA SILVA, vulgo


Cocada, financiou o trfico ilcito de drogas e outras atividades da
organizao criminosa.
Como ponderado, o pagamento de mensalidades,
rifas e outras obrigaes assumidas para com a faco criminosa, por
parte do membro WILLIAN RODRIGUES DE SOUZA, aponta para a
prtica do crime de financiamento ao trfico.
Nesse

prisma,

jurisprudncia

TRIBUNAL

DE

JUSTIA DE SO PAULO tem tomado sentido neste rumo conforme


julgamento paradigma na Apelao 990.10.249180-3, 5. Cmara de
Direito Criminal, Relator PINHEIRO FRANCO, DOE de 20/01/2011, in
verbis:
A esta altura, cabe aqui um parntese, restando imperiosa,
primeiramente, a anlise do tipo penal relativo ao custeio ou
ao financiamento do trfico, que dispe:
Art. 36. Financiar ou custear a prtica de quaisquer dos
crimes previstos nos arts. 33, caput e 1., e 34 desta Lei:
Pena recluso, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento
de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.
Pois bem.
Considerando-se que a lei no traz palavras inteis, os
ncleos do tipo em comento no so sinnimos. Com efeito,
a

conduta

financiar

deve

ser

entendida

como

atividade voltada a prover e a fornecer o capital


necessrio para o incio ou para a estruturao de
quaisquer das atividades hbeis caracterizao do
trfico de drogas ou de maquinrios. Custear, por seu
turno, significa prover as despesas, fornecendo-se,
relevante e dolosamente, bens ou valores para a
manuteno ou exerccio, ao menos, de uma das
atividades ilcitas previstas nos artigos 33, caput e

31

1., e artigo 34, todos da Lei n. 11.343./06. Ou noutras


palavras: incide nas penas do crime previsto no artigo 36 o
agente que, fornece, dolosamente, meios relevantes (bens ou
valores) para a instalao, manuteno, continuidade e
desempenho, por outros agentes, das atividades tpicas
inscritas nos artigos j mencionados.

Feitas tais consideraes, no se podem fugir os


olhos a uma realidade: as condutas de WILLIAN, queira-se ou no,
subsumem-se, mesmo, ao disposto no artigo 36, da Lei de Txicos.
Conforme declarado pelos policiais e se infere,
sobretudo, das interceptaes telefnicas (judicialmente autorizados
e, por isso, sobremaneira vlidas), WILLIAN bem sabia que estava
custeando,

relevante

crucialmente,

trfico

ilcito

de

entorpecentes.
Com efeito, basta leitura atenta dos autos de
degravao das conversas telefnicas para se aferir que WILLIAN
custeava o trfico de entorpecentes desempenhado pela organizao
criminosa PCC, da qual integrante, mediante o pagamento de
mensalidades e rifas, em valores e datas religiosamente certas,
utilizados nas atividades da faco, cujo principal vis, a despeito de
outros igualmente ilcitos, eram a aquisio, transporte e distribuio
de brutais quantidades de txicos aos seus filiados.
Nunca demais repetir e insistir, que em poder de
WILLIAN foi apreendida grande quantidade de droga para os padres
da cidade (um quilo de maconha e pores de crack), um
talonrio da rifa do PCC (ao entre amigos) e R$ 4.179,00 (quatro
mil, cento e setenta e nove reais) em dinheiro, que segundo ele
mesmo, era para pagamento de suas obrigaes com a organizao
criminosa.
Acrdo ainda mais claro tratou especificamente
32

do assunto, bem como reconheceu que o pagamento de rifas se


destina ao financiamento da organizao criminosa.
Trata-se da Apelao n. 990.10.366626-7, 11.
Cmara de Direito Criminal do TRIBUNAL DE JUSTIA DE SO PAULO,
Relator ANTONIO MANSSUR, publicado no DOE 15/12/2010. Segue a
deciso:
...
Com efeito e ao exame do contexto probatrio, depreende-se
que o apelante foi preso, em razo de Procedimento
Investigatrio Criminal...; segundo o apurado, o referido
procedimento foi instaurado, a partir de informao oriundas
da Procuradoria Geral de Justia, com a finalidade de apurar a
atuao de membros do PCC, na regio de Taubat e
Pindamonhangaba, para apurar o financiamento da
organizao criminosa em questo por meio da venda
forada de rifas a seus integrantes e colaboradores...
...
Exsurge clara e irrefutvel, portanto, no s a materialidade
delitiva (autos do PIC ... fls. ...), como tambm, a autoria
imputada ao apelante, malgrado a negativa de autoria
ofertada,

em

Juzo

(...),

nica

oportunidade

em

que

interrogado, sob a justificativa de que no gerente de


pontos de drogas, no conhece os corrus, no fez uso das
linhas telefnicas citadas nas interceptaes e No fao
parte do PCC e apenas por estar numa cadeia em que
integrantes do PCC esto nela, me atribuem esse fato (sic),
verso

totalmente

isolada

dissociada

do

contexto

probatrio, em verdadeira inteno frustrada de livrar-se das


sanes penais cabveis e previstas em lei e que no pode
ser

recepcionada

acolhida,

se

cotejada

com

os

depoimentos das testemunhas de acusao ... policiais


militares que, em operao do GAECO, efetuaram diligncias,
cumpriram mandados de busca e prenderam o apelante, em
sua residncia, com certa quantidade de droga; imperioso,
portanto,

prestigiar

absolutamente

correta

condenao

imposta

(...),

por

e consentnea com o conjunto

33

probatrio coligido na instruo criminal.


...
Ressalte-se, por relevante, que o apelante e os demais
corrus estavam mancomunados e efetivamente associados,
visando comercializao de substncias entorpecentes e
venda de rifas, para financiar as despesas do PCC,
bastando, para tanto, a leitura dos relatrios resumidos das
interceptaes telefnicas, os quais mencionam, em diversas
passagens, os apelidos do agente Hulk ou Irmo Verde
, como se pode constatar, a fls. ... (...), mantendo constantes
e longos dilogos com o corru Celso, observando que, em
uma

das

oportunidades,

apontamento

com

declara

irmo

da

que

marcou

regio

para

ele

um
vir

pessoalmente recolher o dinheiro da rifa (sic), alm de


manter conversaes com outros comparsas...
...

Assim, diante do quadro colhido, pensamos que


no h campo para a prolao de dito absolutrio. A prova,
insistimos e repetimos, mostrou-se hbil proclamao de sua
responsabilidade pelo crime previsto no artigo 36, da Lei de Txicos,
da a necessidade da reforma.
b) Crime de associao para o trfico de
drogas
Necessrio

se

faz

esclarecer,

assim

como

aconteceu no trfico de drogas aqui imputado, que a associao


que tratamos nos presentes autos diverge por completo da
associao imputada ao ru no processo autnomo (Proc.
40/2011, fls. 491/493), decorrente da interveno pontual em
consequncia de nosso monitoramento. Aquela foi baseada na
associao do ru com RICHARDS LUCAS SILVA DE ALMEIDA, para
prtica do especfico ato de trfico de drogas apontado na respectiva
denncia; esta envolve a associao com os membros da citada
organizao

criminosa

PCC,

especializada

no

trfico

de
34

drogas, a qual o ru pertence.


certo que o at aqui exposto, no tocante ao
financiamento

ao

trfico

trfico

de

drogas,

seria

suficiente tambm para demonstrar a associao para o


trfico.
No entanto, para no sermos repetitivos nos
fatos e fundamentos, reproduzimos os dilogos referentes
priso em flagrante alvo do Processo n. 40/2011 da 3. Vara
Criminal de Araatuba, mas, como disse, no para imputar ao
acusado a mesma associao, mas apenas para mostrar,
revelar, afirmar e provar a associao para o trfico de drogas
do recorrido com os membros do PCC.
Assim, as quatro ltimas ligaes realizadas pelo
alvo, antes de sua priso, deixaram clara a traficncia e a associao
com terceiros para a prtica do comrcio ilcito.
Na primeira, interceptada no dia 13/01/2011, s
18:53:59, durao 00:01:10, registro 2011011318535914, atravs
dos telefones (18) 8155-0728 e (18) 8125-3794, o ru WILLIAN
RODRIGUES DA SILVA instrui pessoa no identificada a separar e
entregar droga para o traficante LCIO que depois deveria retirar o
restante pessoalmente com ele.
Segue a transcrio da ligao captada (fl. 405):
HNI: al.
COCADA: e a criana.
HNI: e a fiote.
COCADA: o fiote , voc se t com aquele relgio
(balana digital) a, no ta?
HNI: t, t, t at guardado al, mas t em cima.

35

COCADA: t bom sabe aquela fita que t com voc?


HNI: ahm.
COCADA: c faz o seguinte voc tira dela 250 real,
entendeu e o resto voc corta tudo de 25 real.
HNI: ento vou passar a caminhada pra mina aqui.
COCADA: t bom a , vai o Lcio a e voc e c chega
nele voc entrega as 250 e fala para ele vir pegar o
restante comigo.
HNI: firmeza ento.
COCADA: s passa 250 pra ele no passa mais que isso
no.
HNI: que horas ele vai vim porque eu tem que descer al na
casa da mina ali.
COCADA: no, no a hora que ele for eu dou um grito no ce.
HNI: ento firmeza ento.
COCADA: fal nois.

Na segunda, interceptada minutos depois, s


19:18:51, durao 00:00:38, registro 2011011319185114, entre os
telefones (18) 8155-0728 e (18) 8120-6694, o alvo marca o encontro
debaixo de uma goiabeira, nos fundos de sua casa, conforme segue
(fls. 405/406):
HNI: al.
COCADA: e a cu.
HNI: t aqui na sua casa tio.
COCADA: sabe a goiabeira vem aqui pra pegar a fita.
HNI: onde a goiabeira l em baixo.
COCADA:

onde

nos

paramos

para

fumar

um

na

quebradinha aqui.
HNI: mas no tem como pegar e trazer at aqui no seu bairro
porque o povo t aqui esperando.
COCADA: tem, vai al na dona Maria e fala.

Na

terceira,

complementando

anterior,

19:25:15, durao 00:00:35, registro 2011011319251514, entre os


mesmos telefones, o alvo diz que a droga est enterrada. Eis o texto
(fl. 406):
36

COCADA: c j t encostando, t pegando aqui j.


HNI: mano a demora tio.
COCADA:

pegando

fio

desenterrando,

chegando.
HNI: ahm.

Na ltima, o denunciado WILLIAN RODRIDUES


DA

SILVA,

19:47:52,

durao

00:01:17,

registro

2011011319475214, entre os telefones (18) 8155-0728 e (18) 81442147, diz que est em casa e que est manuseando o entorpecente.
Vejamos a transcrio (fls. 406/407):
COCADA: pronto.
FLAVIA: fal e ai Cocada.
COCADA: c quiser vir aqui em casa eu t aqui, mas .....
FLAVIA: mano cuidado que a barca acabou de descer.
COCADA: eu sei, eu acho que se voc no querer pegar
vou mexer em toda a fita porque deu uma moiada
numa situao, eu t at aqui com o cara aqui
entendeu21.
FLAVIA: que moa...
COCADA: mouiou uns pedaos aqui eu vou abrir todos.
FLAVIA: mais voc vai separar os melhores pra ele,
al, al, al.
COCADA: voc vai acompanhar ento acompanha o que voc
falou, a onde.
FLAVIA: al.

Ficou comprovado que mesmo depois de preso, o


ru

WILLIAN

RODRIGUES

DA

SILVA

continuou

associado

organizao criminosa e desenvolvendo o trfico de drogas, conforme


ligao j comentada, registro 2011011413594111, e outra ligao,
tambm do dia 14/01/2011, s 15:06:29, durao 00:03:35, registro
21

A priso do denunciado ocorreu aproximadamente 30 minutos aps. Conforme depoimentos dos

policiais a droga do tipo maconha estava aberta em um cmodo no fundo da casa, prximo a umas
ferramentas, e tiveram a impresso de que estava molhada e havia sido colocada naquele local para
secar.

37

2011011415062917, em conferncia pelos telefones (18) 8146-9408


e (31) 8331-0326.
Eis o trecho da ligao (fls. 413/414):
Transcrio:
CONFERNCIA:
AOS 02:30
COCADA: o Uru.
SASSA: o irmo.
COCADA: assim que se chega l em casa l, se j chega
nele (Alan) e pede pra ele pegar o negcio no
Sinvaldo.
SASSA: vai com nis ai na linha.
COCADA: ta bom vamo na linha...

Desse modo, o teor das interceptaes, com


referncias explcitas ou dissimuladas a substncias entorpecentes,
no deixaram dvidas acerca da procedncia da pretenso punitiva,
tambm neste ponto.
Quanto a este delito, o juzo tambm obrou com
erro. Disse que, mais uma vez, houve bis in idem e que no se indicou
os elementos a demonstrar a estabilidade de eventual associao.
Uma coisa a associao do apelado com as
outras pessoas encontradas em sua casa quando da priso.
Outra coisa a associao para o trfico de drogas e para o
financiamento para o trfico de drogas pelo apelado, membro
da faco criminosa PCC.
Desde o incio da ao penal foi feita a ressalva e
as ligaes transcritas quando da imputao so decorrentes de
contatos do apelado com outros membros da organizao criminosa,
no com a pessoa com quem ele foi eventualmente preso.
38

A prova documental dos autos demonstra que


integra a organizao criminosa, portanto est associado faco
PCC,

desde

julho

de

2010.

Durante

este

perodo

cumpriu

religiosamente com suas obrigaes. Em dezembro de 2010, quando


de seu monitoramento, at sua priso em janeiro de 2011, ficou claro
que

era

membro

atuante,

recebendo

drogas

para

venda,

transportando, vendendo, distribuindo e entregando a terceiros, por si


prprio ou por terceiros, tanto que foi preso em uma interveno
pontual com aproximadamente 1 (um) quilograma de maconha.
No tenho dvida, pelo conhecimento dos autos e
da realidade ftica, que o PCC uma organizao criminosa estvel
em nosso Estado. Tambm no temos dvida de que o apelado a
integra. Especificamente nestes autos temos a demonstrao de que:
ingressou na faco criminosa pelo batismo em julho de 2010;
recebeu sua cota de droga (progresso), no ms de dezembro de
2010; no ms de janeiro de 2011 foi preso com droga; e no ms de
fevereiro de 2011 contribuiu com dinheiro para a organizao
criminosa, pagando pela droga, a caixinha e a rifa do PCC.
Testemunhalmente demonstramos, desde antes disso, que o apelado
se dedicava organizao criminosa e ao trfico de entorpecentes. A
prtica de atos, mensais, por parte do apelado, e provado, indicam
claramente que ele estava associado estavelmente para o trfico de
drogas.
Com efeito, em casos como o aqui versado, o
Tribunal de Justia de So Paulo no tem hesitado em proclamar a
responsabilidade criminal dos acusados pela prtica do crime previsto
no art. 35 da Lei n 11.343/06.
Destarte, na Apelao n. 990.10.366626-7 j
mencionada, a Cmara Criminal do TRIBUNAL DE JUSTIA DE SO
39

PAULO, sob a relatoria do Des. ANTNIO MANSUR, envolvendo


integrante do PCC como apelante, assim se manifestou:
Em assim sendo, correto se mostra o comando jurisdicional
condenatrio, pois, para a caracterizao da figura tpica da
associao para o trfico, se exige a presena de duas ou
mais pessoas, independentemente da prtica, reiterada
ou no, do crime previsto no artigo 33, nos exatos termos do
artigo 35 da Lei n. 11.343/06, a saber: Associarem-se duas
ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou
no qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e 1.,
e 34 desta Lei; assim, atualmente, basta a associao
estvel e permanente, alis demonstrada nos autos,
no se demandando o cometimento reiterado das figuras
tpicas descritas nos artigos 33, caput, para caracterizar o
tipo penal previsto no artigo 35 da lei acima citada, razo
pela qual outra soluo no resta, seno endossar a
condenao

do

apelante,

nos

exatos

termos

em

que

denunciado e sentenciado.

Apesar da hiptese acima albergar a situao dos


autos, ousamos ainda mais no entendimento, pois o artigo 35
estabelece que basta a associao reiterada ou no, para a prtica do
trfico de drogas, ou seja, a associao eventual para a prtica de um
delito de trfico de drogas para a configurao do crime.
Em abono nossa tese, o Tribunal de Justia de
So Paulo tem adotado o referido entendimento em alguns de seus
acrdos. A propsito cabe conferir o que ficou assentado em
excelente voto do Desembargador HERMAM HERSCHANDER na
Apelao n. 0067570-38.2009.8.26.0050, in verbis:
Em relao condenao do apelante pelo crime de
associao, impe-se uma reflexo acerca da conduta
necessria configurao do crime tipificado no artigo 35,
caput, da Lei no. 11.343/06.
A revogada Lei no. 6.368/76 previa em tipo penal autnomo o

40

crime de associao para o trfico (artigo 14); a par disso,


referia-se associao como causa de aumento de pena
(artigo 18, inciso III).
Em face dessa situao, geradora de conflito aparente de
normas, pacificou-se o entendimento de que o concurso
eventual de pessoas para o trfico configurava a majorante,
ao passo que a associao dotada de estabilidade e
permanncia tipificava o delito autnomo.
Foi a forma encontrada pela doutrina e pela jurisprudncia
para solucionar o impasse gerado por duas normas que,
primeira vista, tipificavam a mesma situao ftica.
Nesse sentido firmou-se, sob a gide da Lei n- 6.368/76, a
jurisprudncia do C. Superior Tribunal de Justia:
"CRIMINAL RESP. TRFICO DE ENTORPECENTES. CONCURSO
EVENTUAL DE AGENTES. MAJORANTE DO ART. 18, III, DA LEI
6.368/76. INCIDNCIA. DIFERENCIAO DA ASSOCIAO
PREVISTA NO ART. 14 DA MESMA LEI. RECURSO PROVIDO. I.
Demonstrado o concurso eventual dos rus pela prtica de
trfico de entorpecentes, de rigor a incidncia da
majorante prevista no art. 18, III, da Lei 6.368/76. II. O
concurso

ocasional

exigido

no

se

confunde

com

associao prevista no art. 14 da mesma lei, que autnoma


e exige a comprovao da habitualidade. III. Recurso
provido." (REsp 756.374/PR, Rei. Ministro GILSON DIPP,
QUINTA TURMA, julgado em 27/09/2005, DJ 17/10/2005 p.
348).
Entretanto, o artigo 14 da Lei n- 6.368/76 incriminava a
conduta de "associarem-se 2 (duas) ou mais pessoas para o
fim de praticar, reiteradamente ou no, qualquer dos
crimes previstos nos arts. 12 ou 13 desta Lei."
Note-se que a expresso destacada - "reiteradamente ou
no" - apresentava-se, no entendimento ento dominante,
despida de qualquer sentido, j que a associao episdica
ou seja, no reiterada - gerava apenas a majorante do artigo
18, inciso I I I , e no o crime do artigo 14.
A atual Lei Antidrogas visou solucionar o equvoco, atravs da
simples omisso da causa de aumento de pena.
Manteve o legislador o crime autnomo de associao
para o trfico (artigo 35, caput), com redao idntica
anterior: tanto a associao para a prtica reiterada

41

do trfico de entorpecentes como a associao para


um s ato de traficncia - o mero concurso de agentes
-, nos termos da lei, configura o crime do artigo 35 da
Lei n- 11.343/06. Caber ao Julgador diferenciar as
situaes na dosagem da pena, dentro do amplo
espectro entre o mnimo de 3 e o mximo de 10 anos
de recluso.
Abolida a causa de aumento de pena e a duplicidade
de tipificao da mesma conduta, no mais se justifica
a diferenciao conceitual entre a associao eventual
e

habitual

para

trfico,

porquanto

ambas

as

hipteses subsumem-se ao estatudo no artigo 35,


caput, da Lei no. 11.343/06.
relevante constatar que o pargrafo nico do mesmo
dispositivo legal determina que incorre nas penas de 3 a 10
anos, e pagamento de 700 a 1200 dias-multa quem se
associa para a prtica reiterada do crime definido no
artigo 36 (financiamento ou custeio do trfico de drogas).
Note-se que, neste caso, o legislador no utilizou a expresso
"reiteradamente ou no", punindo apenas a associao para
a prtica reiterada do crime do artigo 36.
Quisesse a lei excluir do alcance do artigo 35 caput a simples
co-autoria para o trfico, tambm o teria feito claramente,
deixando de consignar a expresso "ou no".
Entretanto, assim no agiu o legislador. Inarredvel a
concluso de que o concurso eventual de agentes para a
traficncia se amolda ao artigo 35, caput, da Lei no.
11.343/06.22

certo que diante do tudo o j exposto e da prova


tcnica e documental produzida, desnecessrio seria ponderaes
testemunhais. No entanto, peo vnia para transcrever o depoimento
apenas da primeira testemunha, MIGUEL ARNALDO BRASSIOLI (fls.
648/649) , j que a segunda fez esclarecimentos no mesmo sentido:
Tem

conhecimento

Ministrio
22

Pblico

em

de

uma

relao

investigao
a

possvel

feita

pelo

organizao

Idntico entendimento foi reiterado na Apelao n. 990.10.355627-5 e em inmeros outros Acrdos

do Egrgio Tribunal de Justia.

42

criminosa que atuava em Araatuba e regio. Quando


prestou depoimento para o Ministrio Pblico, ficou sabendo
de algumas gravaes feitas em interceptao telefnica
efetuada. O depoente participou da priso do ru na
prpria residncia dele, situada na Rua Jos Lino Ferreira,
no Bairro Antnio Pagan. Naquela ocasio, o ru William foi
preso na posse de cerca de quase um quilo de
maconha e tambm foram detidos naquele mesmo local
mais um indivduo maior de idade com sete pedras de
crack e um indivduo menor de idade. Na casa tambm
houve apreenso de um talonrio de rifas denominado
ao

entre

amigos,

normalmente

utilizado

por

membros da faco PCC. Sabe que o ru tem apelido


de Cocada. No quarto do ru houve apreenso de
dois mil e seiscentos reais em cima de uma cmoda. No
quarto da me do ru, houve a apreenso de um mil
quatrocentos e noventa reais. No momento, o ru e a me
dele no conseguiram justificar a origem do dinheiro
apreendido e disseram que depois conseguiriam um recibo
para postular a devoluo do dinheiro. Cartas provenientes
do sistema prisional tambm foram encontradas na casa do
ru.

Recibos

de

depsitos

bancrios

tambm

foram

apreendidos na casa. Trs telefones celulares foram


apreendidos com o ru e outros trs telefones celulares
foram apreendidos num dos quartos. Na ocasio, o ru e o
indivduo que estava com sete pedras de crack
foram presos e foram autuados em flagrante. Acredita
que o ru William respondeu por trfico de drogas,
mas no se recorda em qual vara de Araatuba tramitou tal
processo. (...) Por ocasio da priso do ru, o indivduo que
estava com sete pedras de crack chegou a pular o muro e
foi detido na casa dos fundos. O prprio depoente fez a
deteno do ru e do indivduo menor de idade, com o
auxlio do sargento Barioni que chegou logo em seguida no
local. O ru William, na ocasio, assumiu que a droga
apreendida na casa era dele e afirmou que havia
deixado droga escondida entre o telhado e a vigota,
mas como choveu, a droga molhou e ele havia deixado
a droga exposta no local onde foi apreendida, para
secar. O depoente j havia abordado o ru em outras

43

ocasies anteriores priso dele, mas ele nunca admitiu que


fosse membro do PCC. Recorda-se que na capa do talo
de rifas estava escrito em letras grandes entre aspas,
a expresso COCADA. O depoente j participou de
apreenses de objetos, cartas e tales de rifa de
pessoas ligadas ao PCC e isso o correu na cidade de
Birigui e tambm na cidade de Valparaso. Sabe que os
membros do PCC tm obrigao de vender rifas e
tambm

so

obrigados

pagar

mensalidade

determinadas pela faco. Tem conhecimento que no


primeiro semestre do ano passado os integrantes do
PCC

em

Araatuba

Magro,

Remedivaldo,

regio

eram

Ricardinho,

Sass,
Sirso,

Tubaro, Bin Laden e tambm o ru WILLIAM. O


nico Cocada que conhece em Araatuba o ru
WILLIAM. (...) Esclarece que ficou sabendo que o apelido do
ru era Cocada quando passou a trabalhar, em agosto de
2010, na Fora Ttica de Araatuba. Naquela ocasio, os
policiais mais antigos da Fora Ttica passaram os nomes e
os apelidos das pessoas contra as quais deveria trabalhar e
um desses apelidos que foram passados ao depoente foi o de
COCADA, apelido do ru WILLIAM. Depois dessas
informaes que recebeu, passou a fazer patrulhamento
direto nas casas das pessoas envolvidas com o trfico, at
que em janeiro de 2011 conseguiu fazer a priso do ru
WILLIAM. Esclarece que nas trs abordagens anteriores que
tinha feito ao ru, no encontrou nada de ilcito em poder
dele. Esclarece que na redondeza do local onde o ru
mora, todos o conhecem pelo apelido Cocada, mas
as pessoas tm medo de aparecer.

depoimento

deste

policial

imensamente

FUNDAMENTOS

JUDICIAIS

esclarecedor e corrobora integralmente a imputao.


3.

OUTROS
REFORMVEIS

O juzo entendeu no haver elementos suficientes


a indicar que o apelado fosse o interlocutor dos dilogos e usurio do
44

telefone interceptado. Tambm no se mostrou confortvel com o fato


do Ministrio Pblico ter, depois da deciso judicial concessiva em
medida cautelar sigilosa, providenciado a interceptao, degravao,
requisio pericial, seu complemento e juntada do laudo sem
participao prvia da defesa.
Passo a contra-argumentar tambm por tpicos.
a) Autoria dos dilogos:

jurisprudncia

dos

Tribunais

Superiores

majoritariamente indicativa de que a autoria dos dilogos pode ser


provada de qualquer forma admitida em direito. Neste sentido tem
disposto ser dispensvel a realizao de percia fontica, aceitando
como prova outros elementos constantes dos autos.
A propsito, de se conferir o que j ficou
assentado no mbito do Superior Tribunal de Justia no HC
105725/SP, Relator MARCO AURLIO BELLIZZE, inclusive em caso
envolvendo a famigerada faco PCC:
HABEAS

CORPUS.

FORMAO

DE

ASSOCIAO

QUADRILHA.

PARA

1.

TRFICO

RELATRIO

POLICIAL

APCRIFO. AUSNCIA DE NULIDADE. MERA IRREGULARIDADE


QUE

NO

SE

PROJETA

INTERCEPTAO
REALIZAO

DE

PARA

TELEFNICA.
PERCIA

PENAL.

2.

DESNECESSIDADE

DE

PARA

AO

IDENTIFICAO

DE

VOZES. AUSNCIA DE PREVISO LEGAL. PROVA QUE


PODE

SER

OBTIDA

POR

OUTROS

MEIOS.

3.

APRESENTAO DE DEFESA PRVIA ANTES DA JUNTADA DA


TRANSCRIO

DAS

INTERCEPTAES.

PREJUZO

NO

DEMONSTRADO. JUNTADA NO DECORRER DA INSTRUO,


POSSIBILITANDO A AMPLA DEFESA E O CONTRADITRIO. 4.
MONITORAMENTO

TELEFNICO

AUTORIZADO

DE

FORMA

FUNDAMENTADA. PRORROGAES SUCESSIVAS MOTIVADAS E


PROPORCIONAIS.

IMPRESCINDIBILIDADE

PARA

45

PROSSEGUIMENTO
FACO

DAS

CRIMINOSA

INVESTIGAES.
PCC.

5.

PRISO

COMPLEXA
PREVENTIVA.

SUPERVENINCIA DE SENTENA CONDENATRIA. EXCESSO


DE

PRAZO

SUPERADO.

NOVOS

ELEMENTOS.

TTULO

PRISIONAL AUTNOMO. ART. 387, PARGRAFO NICO, DO


CPP. PERDA DO OBJETO. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA
E, NESSA EXTENSO, DENEGADA.
1. No processo penal vigora o princpio geral de que somente
se proclama a nulidade de um ato processual quando h
efetiva demonstrao de prejuzo, nos termos do que dispe
o art. 563 do Cdigo de Processo Penal.
2. A ausncia de assinatura no relatrio das investigaes
no equivale a uma delao annima, pois encaminhado
nominalmente

pelo

Centro

de

Inteligncia

Policial

da

Delegacia Seccional de Polcia de Campinas/SP para delegado


de

polcia

determinado,

que

no

passa

de

mera

irregularidade, inapta, portanto, para anular o referido


relatrio elaborado e os demais atos que o seguiram,
notadamente quando no demonstrada a ocorrncia de
prejuzo, tal como ocorre na hiptese.
3. Ademais, o oferecimento da denncia supera as objees
relativas s irregularidades no procedimento administrativo
de investigao, pois eventuais vcios ocorridos durante a
fase

extrajudicial

no

se

projetam

na

ao

penal.

Precedentes.
4. A jurisprudncia desta Corte Superior no sentido
de ser prescindvel a realizao de percia para a
identificao das vozes captadas nas interceptaes
telefnicas, especialmente quando pode ser aferida
por outros meios de provas e diante da ausncia de
previso na Lei n. 9.296/1996.
5. Embora as transcries das interceptaes no tenham
sido juntadas antes da apresentao da defesa prvia, o
foram no decorrer da instruo criminal, possibilitando
defesa o acesso, a fim de refut-las antes da prolao da
sentena, o que garantiu o pleno exerccio da ampla defesa e
do contraditrio, de forma que no ficou demonstrado o
prejuzo oriundo da referida juntada tardia, circunstncia
imprescindvel para a caracterizao da suscitada nulidade.
6. O monitoramento telefnico foi autorizado de forma

46

fundamentada pelo Juzo, em observncia ao disposto na Lei


n. 9.296/1996, e as prorrogaes sucessivas deferidas
restaram

justificadas

com

base,

essencialmente,

nos

elementos colhidos nas interceptaes anteriores, bem como


na necessidade de prosseguimento das investigaes, no
caracterizada,

assim,

nenhuma

ilegalidade,

tampouco

excesso, aptos a macularem a colheita da referida prova.


7. Embora o art. 5. da Lei n. 9.296/1996 estabelea o prazo
de 15 dias para a interceptao telefnica, prorrogveis por
mais 15 dias, inexiste restrio ao nmero de dilaes
possveis, devendo apenas serem precedidas de motivao
que justifique a prorrogao, observados os princpios da
razoabilidade e da proporcionalidade, como o caso dos
autos,

em que complexa faco

criminosa

Primeiro

Comando da Capital (PCC) - o alvo das investigaes, na


qual se apura a prtica do crime de associao para o trfico
supostamente cometido por 10 agentes.
8. A supervenincia de sentena condenatria inaugura nova
realidade processual, em que j emitido juzo de certeza
acerca dos fatos, materialidade, autoria e culpabilidade,
ainda que no definitivo, existindo assim, inequivocamente,
novos elementos a justificar a custdia cautelar, que no
foram objeto de insurgncia do presente mandamus, nem
tampouco submetidos ao crivo das instncias ordinrias,
esvaziando-se o objeto do writ em relao ao tema.
9. Alm disso, a nova exigncia trazida pelo art. 387,
pargrafo nico, do Cdigo de Processo Penal, com as
alteraes promovidas pela Lei n. 11.719/2008, determina
que o juiz fundamente a necessidade da manuteno da
segregao provisria na sentena condenatria, devendo tal
ttulo ser alvo de impugnao especfica no Tribunal de
origem, a fim de que esta Corte possa analisar a questo sem
incorrer em supresso de instncia, ficando ultrapassado,
portanto, eventual constrangimento ilegal na deciso anterior
que

ordenou

priso

preventiva.

Proferida

sentena

condenatria, tambm fica superada a alegao de excesso


de prazo na formao da culpa.
10.

Habeas

corpus

parcialmente

conhecido

e,

nessa

extenso,
denegado.

47

Sabe-se que o Ncleo de Percias Criminalsticas


no dispe de peritos e espectrmetro de voz capaz de suportar a
percia de todos os feitos, por outro lado, o ru no obrigado a
fornecer o padro voclico para o confronto. De tal modo, se
partssemos do pressuposto de que o exame obrigatrio, bastaria a
negatria do ru para a certa absolvio.
No entanto, em sendo possvel a prova de outros
modos, nesse sentido foi nosso trabalho. A fls. 576/584 fizemos juntar
de forma condensada todos os indicadores de autoria que estavam
dispersos nos 3 volumes do processo, justamente para facilitar a
consulta,

que

convencionamos

chamar

de

relatrio

de

identificao. Passo a resumi-los, acrescentando outros elementos


extrados da investigao:
(i)

A investigao j foi iniciada tendo como alvo


o

qualificado

WILLIAN

RODRIGUES

DA

SILVA, vulgo Cocada, RG n. 46.125.371-9


(civil)

51.430.324-4

determinado

(criminal).

levantamento

de

Quando
contatos

telefnicos dele e dos integrantes do PCC da


cidade, equipe de campo, em diligncias,
apontou os nmeros (18) 9159-0389, (18)
9666-4776 e (18) 8155-0728 de uso dele. Esta
informao vem revestida de presuno de
veracidade,

pois

as

diligncias

foram

realizadas por policiais, portanto funcionrios


pblicos
conheciam

no
o

acompanhavam

exerccio
alvo

quando

da

funo,

que

corriqueiramente
da

realizao

o
de

patrulhamento convencional. O relatrio que


trouxe os nmeros de telefone tambm trouxe
48

imagem fotogrfica do apelado e de sua casa


(fls. 28/45) o que demonstra a realizao de
diligncia especfica;
(ii)

Todos os integrantes da faco criminosa, j


na primeira quinzena, tiveram udios de
interesse captados, a demonstrar a prtica de
crimes e que de fato eram integrantes do PCC,
tanto que conversavam entre si. Isso tambm
demonstra o acerto dos nmeros colhidos que
eram de uso efetivo dos investigados;

(iii) Com

base

em

dilogos

interceptados,

narrando o manejo de drogas, oito pessoas


foram

presas

durante

monitoramento

telefnico, dentre eles o apelado WILLIAN


RODRIGUES DA SILVA, vulgo Cocada, na
segunda

quinzena

de

monitoramento,

exatamente no dia 13 de janeiro de 2011; ou


seja, no dia 13 de janeiro de 2011, no telefone
interceptado

como

sendo

de

WILLIAN

RODRIGUES DA SILVA, vulgo Cocada,


captou-se conversa onde o interlocutor, que
se identifica por Cocada, dizia que estava
com droga no fundo de sua casa e que o outro
interlocutor,

aparentemente

um

traficante

menor a ele subordinado, poderia busc-la; a


priso de WILLIAN RODRIGUES DA SILVA,
vulgo Cocada, ocorre minutos depois, no
fundo de sua casa, manejando 838,36g de
maconha e 4,72g de cocana (Autos
n. 40/2011 3. Vara Criminal de Araatuba);
(iv) No processo n. 40/2011 o apelado admite que
49

seu apelido COCADA (fls. 585/591) assim


como os demais conduzidos tambm lhe
atriburam este alcunha (fls. 432/4343);
(v) A despeito de muitas ligaes interceptadas
foram transcritas, apenas aquelas em que o
alvo se identificava pelo apelido Cocada, em
obedincia

um

critrio

objetivo

que

adotamos; nesse ponto, por haver quesito


especfico, o laudo criminalstico (fls. 570/574
e 631/633), que analisou os udios e as
transcries, constatou que os nomes ou
alcunhas

atribudos

aos

participantes

dos

dilogos gravados so pronunciados, com


alguma

frequncia,

pelos

prprios

interlocutores, dirigindo-se um ao outro, e, por


vezes,

citados

pelos

participantes

da

conversa, sob a forma de referncia a outra


pessoa.

Depreende-se,

portanto,

que

interpretao do Ministrio Pblico ao atribuir


tais nomes ou alcunhas aos participantes dos
dilogos teve fulcro na lgica advinda dessas
circunstncias; Trouxe mais o laudo O nome
ou alcunha COCADA tanto mencionado
por interlocutor que se dirige diretamente a
ele, quanto citado no dilogo;
(vi) Simultaneamente ocorrncia que resultou na
priso de COCADA foram apreendidos em
seu poder e no seu quarto 6 (seis) aparelhos
de

celulares

funcionamento),

(3

quebrados

dentre

eles

e
o

em

telefone

interceptado; consta expressamente do


histrico do boletim de ocorrncia a fl.
50

597

que

os

funcionamento

trs
foram

celulares

em

apreendidos

em

poder do apelado durante busca pessoal


(todos foram devidamente descritos); Os
laudos a fls. 599/608 so da percia dos
trs aparelhos e um deles, conforme fl.
600, o de nmero (18) 8155-0728,
interceptado, de onde foram captadas as
conversas
minutos

transcritas
antes

da

na

priso;

denncia,
outro

dos

telefones apreendidos trazia em seus contatos


outros

membros

do

PCC

que

estavam

interceptados na mesma operao (exemplo:


BGO 9110-4560, trata-se de Anderson Rodrigo
de Souza Leite, vulgo Bugo ou Bgo);
(vii) A priso de COCADA foi comentada pelos
demais integrantes da faco criminosa que
estavam interceptados;
(viii) Foram apreendidas cartas e um talonrio de
rifa do PCC entre os pertences do apelado que
faziam referncia ao seu apelido COCADA;
(ix) Aps a priso o apelado foi recolhido na
Cadeia Pblica de Penpolis. No dia seguinte,
o lder local da faco, investigado FBIO
FERREIRA
telefonou

DE
para

clandestinamente

SOUZA,
um

vulgo

telefone

naquele

Sass,
existente

estabelecimento

prisional e conseguiu falar com COCADA. O


prprio COCADA contou detalhadamente as
circunstncias de sua priso ocorrida no dia
anterior, tais como a quantidade de droga, do
51

dinheiro apreendido (que coincide exatamente


com o constante dos autos) e, inclusive,
combinaram
pblica.

seu

resgate

Rapidamente

daquela

cadeia

providenciou-se

comunicao interna e o alvo foi transferido


para o CDP de So Jos do Rio Preto;
(x) Os

policiais

comandantes

militares
de equipe

testemunhas,
da

Fora

Ttica,

conhecedores profundamente dos integrantes


do PCC na cidade, seis na ocasio, no
tiveram dvida em afirmar que o ru WILLIAN
RODRIGUES DA SILVA o nico integrante do
PCC da cidade com o alcunha COCADA e que
j haviam feitas inmeras diligncias em sua
ateno, inclusive a que resultou em sua
priso.
Como se v, rapidamente elencamos dez razes
para afirmarmos, com certeza, que o interlocutor dos dilogos que
aderem s demais provas dos autos WILLIAN RODRIGUES DA
SILVA. Sinceramente, no consigo ver outros elementos que seriam
necessrios para se chegar a este juzo de certeza j alcanado.
Tambm

no

vislumbramos

possibilidade

de

se

afastar

to

concludente e robusta autoria por simples e corriqueira negatria sem


fundamento.
Assim, no havendo dvidas sobre a autoria dos
dilogos,

uma

vez

que

nome

do

ru

foi

recorrentemente

mencionado e, principalmente, porque o telefone interceptado foi


apreendido em seu poder, no h que se falar em necessidade de
percia fontica para a identificao das vozes dos interlocutores.
b) Interceptao telefnica:
52

No decorrer da investigao criminal a que o


Ministrio Pblico se disps a fazer, esto includas atividades tpicas
do Promotor de Justia, alm de outras, tipicamente, mas no
exclusivamente, afetas a autoridades policiais.
Nos termos do artigo 108 do Anexo do Ato
Normativo n. 168/98-PGJ/CGMP e do artigo 2., inciso II, e artigo 4.
da

Resoluo

13/06

do

CNMP

instauramos

Procedimento

Investigatrio Criminal que arrecadou as provas contra o apelado.


Os elementos colhidos apontavam para a utilizao
de meios tecnolgicos de investigao, disposio do Ncleo.
Assim, foi proposta a Medida Cautelar Sigilosa n. 1335/2010 perante
o juzo da 1. Vara Criminal de Araatuba, que buscou a interceptao
e quebra de sigilo telefnico devidamente autorizada.
A medida foi realizada com responsabilidade e
seguindo os termos da Resoluo 59/08 e da Lei n. 9.296/96. O
Ministrio Pblico, nos termos do artigo 3., inciso II, de referida lei,
legitimado e competente para requerer e produzir dita prova. Alis, o
prprio artigo 3., inciso II, da Resoluo 59/08 do CNJ, dispe
claramente que deve vir inscrito nos envelopes encaminhados ao
Poder Judicirio a expresso MINISTRIO PBLICO quando somos os
que buscam a diligncia. Esta uma normatizao da corriqueira
atuao ministerial na produo desta medida.
Quinzenalmente,

quando

da

necessidade

de

prorrogao, cumprimos exatamente o que diz o artigo 14 de referida


Resoluo do CNJ, que dispe:
Art. 14. Quando da formulao de eventual pedido de
prorrogao de prazo pela autoridade competente, devero
ser apresentados os udios (CD/DVD) com o inteiro teor das

53

comunicaes interceptadas, as transcries das conversas


relevantes apreciao do pedido de prorrogao e o
relatrio

circunstanciado

das

investigaes

com

seu

resultado.

No tocante transcrio das conversas vem a


primeira indignao do juzo, que no concordou com a degravao
feita pelo prprio Ministrio Pblico.
Ora, se temos disposio especfica que me
determina a transcrio das conversas, ao final do perodo, seja
quando do encerramento da medida ou do pedido de prorrogao,
porque no podemos utiliz-las na instruo do processo?
O juzo entendeu, ao que parece, que a transcrio
feita nestas ocasies no serviria para o processo, onde tal tarefa
deveria ter sido feita necessariamente por perito criminal. Ousamos
discordar integralmente. Alis, durante a instruo do Procedimento
Investigatrio Criminal, e antes da denncia, requisitamos ao Instituto
de Criminalstica que procedesse a tal percia, no entanto, visando
orientar, facilitar e cooperar com os trabalhos, encaminhamos os
arquivos de udios e as transcries, j arduamente preparadas
concomitantemente ao monitoramento, para o devido confronto.
O juzo entendeu que o laudo ofertado pelo
instituto de criminalstica foi genrico. Mais uma vez discordamos e
transcrevemos as concluses (laudo pericial n. 48906-12 a fls.
571/574):
Os exames consistiram na audio dos dilogos
contidos nas mdias, os quais foram cotejados
sistematicamente

com

os

textos

correspondentes.
Tais procedimentos permitiram-nos constatar que

54

os textos continham a transcrio objetiva de


trechos escolhidos dos dilogos gravados nas
mdias,

representando

fidedignamente

contedo gravado.
A audio e a interpretao dos trechos dos
dilogos gravados, no seu conjunto, com grias,
expresses dissimuladas, termos e expresses
habituais

investigao,

inerentes
alm

relacionadas

de

aos

grupos

sob

palavras

diretamente

entorpecentes

(cocana,

crack, baseado), demonstram a prtica de


atividades

que

eram

desenvolvidas

com

constncia e planejamento, caracterizando at


certo nvel organizacional.

Referido laudo ainda foi complementado pelo de


n. 162217-12 (fls. 631/633) que, respondendo a quesitos especficos,
assim dips:
DOS QUESITOS FORMULADOS
Foram apresentados os seguintes quesitos:
(1.) Da audio dos dilogos transcritos na denncia
constam

elementos

para

afirmar

que

os

nomes/alcunhas dos participantes da conversa foram


os atribudos pelo Ministrio Pblico?
(2.) COCADA o interlocutor dos dilogos ou citado
nessas conversas?
DAS RESPOSTAS AOS QUESITOS
Ao

1,

Os

nomes

ou

alcunhas

atribudos

aos

participantes dos dilogos gravados so pronunciados,


com alguma frequncia, pelos prprios interlocutores,
dirigindo-se um ao outro, e, por vezes, citados pelos
participantes da conversa, sob forma de referncia a
outra

pessoa.

Depreende-se,

portanto,

que

55

interpretao do Ministrio Pblico ao atribuir tais


nomes ou alcunhas aos participantes dos dilogos teve
fulcro na lgica advinda dessas circunstncias.
Ao 2, O nome ou alcunha CODADA tanto
mencionado

por

interlocutor

que

se

dirige

diretamente a ele, quanto citado no dilogo.

As concluses mostram que os peritos criminais


fizeram exames detidos e cuidadosos, a afastar, por bvio, qualquer
alegao de generalidade.
De outra banda, o zelo do Ministrio Pblico foi to
grande que, abandonando a prpria jurisprudncia que dispensa a
necessidade de percia, assim requereu, justamente para revestir de
certeza os atos praticados na persecuo.
No entanto, para sedimentar a desnecessidade de
realizao de degravao por peritos oficiais, colacionamos os
seguintes julgados:
TRFICO

INTERNACIONAL.

INTERCEPTAES

TELEFNICAS. PERCIA.
Cuida-se

de

condenado

pela

prtica

dos

delitos

previstos nos arts. 33, caput, 35, caput, c/c o art. 40, I,
todos da Lei n. 11.343/2006, em que o tribunal a quo
afastou as preliminares suscitadas na apelao e deu
parcial provimento apenas para reduzir a pena imposta.
O REsp foi conhecido na parte em que o recorrente
apontou nulidade das interceptaes telefnicas por
inobservncia ao disposto no art. 6, 1 e 2, da Lei
n. 9.296/1996 quanto necessidade da identificao
dos interlocutores por meio de percia tcnica e de
degravao dos dilogos em sua ntegra, tambm
efetuada

por

consequentemente,

percia
a

tcnica,

imprestabilidade

pleiteando,
da

escuta

56

telefnica realizada e sua desconsiderao como meio


de prova. Observa o Min. Relator que este Superior
Tribunal, em diversas oportunidades, j afirmou no
haver necessidade de identificao dos interlocutores
por meio de percia tcnica ou de degravao dos
dilogos em sua integridade por peritos oficiais, visto
que a citada lei no faz qualquer exigncia nesse
sentido. Assim, verificada a ausncia de qualquer vcio
na prova obtida por meio de interceptaes telefnicas,
a Turma conheceu em parte do recurso e, nessa parte,
negou-lhe provimento, afastando a hiptese de ofensa
ao citado artigo. Precedentes citados: HC 138.446-GO,
DJe 11/10/2010; HC 127.338-DF, DJe 7/12/2009; HC
91.717-PR,

DJe

2/3/2009,

HC

66.967-SC,

DJ

11/12/2006. REsp 1.134.455-RS, Rel. Min. Gilson


Dipp, julgado em 22/2/2011.
Degravao - desnecessrio perito oficial
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME
DE

TRFICO

INTERCEPTAO

ILCITO

DE

TELEFNICA.

ENTORPECENTES.
DEGRAVAO.

OBSERVNCIA DOS TERMOS DA LEI N. 9.296/96.


PERCIA PARA O RECONHECIMENTO DAS VOZES DOS
ACUSADOS. PRECLUSO. INOBSERVNCIA DO RITO.
PROCEDIMENTO ESTABELECIDO PELA LEI N. 10.409/02.
AUSNCIA

DE

DEFESA

ABSOLUTA.

PRECEDENTES

PRELIMINAR.
DESTA

NULIDADE

CORTE

DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. vlida a prova


obtida por meio de interceptao de comunicao
telefnica, quando a autoridade policial observa todos
os requisitos exigidos pela Lei n. 9.269/96, que,
ressalte-se, no determina que degravao das
conversas interceptadas seja feita por peritos
oficias. 2. Se a Defesa no impugna no momento
oportuno a autenticidade da voz do Paciente, preclusa
a alegao de nulidade desta prova, sobretudo em

57

sede de habeas corpus, estranha ao reexame da


matria ftico-probatria. 3. Aplica-se aos crimes de
txicos o rito procedimental da Lei n.10.409/02, a qual
derrogou, na parte processual, as disposies da Lei n.
6.368/76. 4. A inobservncia do rito procedimental
estabelecido pela Lei n. 10.409/02, constitui-se em
nulidade absoluta, pois a ausncia de apresentao de
defesa preliminar desrespeita o princpio constitucional
da

ampla

inegvel

defesa

prejuzo

do

ao

contraditrio,

acusado.

5.

encerrando

Habeas

corpus

parcialmente concedido para declarar a nulidade ab


initio do processo instaurado em desfavor do Paciente,
desde

despacho

de

recebimento

da

denncia,

impondo-se ao juzo processante observar o rito da Lei


n. 10.409/2002. (STJ, Processo HC 66967/SC; HABEAS
CORPUS 2006/0207937-5 Relator(a) Ministra LAURITA
VAZ (1120) rgo Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do
Julgamento 14/11/2006 Data da Publicao/Fonte DJ
11.12.2006 p. 402).
Processo: HC 136096 RJ 2009/0090598-6
Relator(a): Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA
Julgamento: 18/05/2010
rgo Julgador: T5 - QUINTA TURMA
Publicao: DJe 07/06/2010
Ementa
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ASSOCIAO
PARA O TRFICO. CONDENAO. FARTO CONJUNTO
PROBATRIO. INTERCEPTAO TELEFNICA. LAUDO DE
DEGRAVAO. PERITOS OFICIAIS. ART. 159 DO CPP.
IRREGULARIDADES NO DEMONSTRADAS. PRECLUSO.
AUSNCIA DE IMPUGNAO NO MOMENTO OPORTUNO.
ART. 563 DO CPP E SMULA 523/STF. PREJUZO NO
DEMONSTRADO. ORDEM DENEGADA.
1. No h falar em fundamentao inidnea quando a
condenao

est

embasada

em

farto

conjunto

58

probatrio e no resulta de prova isolada.


2.

"

vlida

prova

obtida

por

meio

de

interceptao de comunicao telefnica, quando


a autoridade policial observa todos os requisitos
exigidos pela Lei n. 9.269/96, que, ressalte-se,
no determina que degravao das conversas
interceptadas seja feita por peritos oficiais" (HC
66.967/SC).
3.

Resta

preclusa

matria

no

impugnada

no

momento oportuno, no havendo alegar nulidade,


especialmente quando no demonstrado o efetivo
prejuzo (art. 563 do CPP e Smula 523/STF).
4. Ordem denegada.

Processo: HC 141098 RJ 2009/0130342-1


Relator(a): Ministro OG FERNANDES
Julgamento: 16/02/2012
rgo Julgador: T6 - SEXTA TURMA
Publicao: DJe 29/02/2012
Ementa
HABEAS CORPUS. TRFICO DE DROGAS. PORTE ILEGAL
DE ARMA DE FOGO (USOPERMITIDO E USO RESTRITO).
PACIENTE QUE COMANDAVA O TRFICO DENTRODE
ESTABELECIMENTO

PRISIONAL.

INTERCEPTAOTELEFNICA.
ELABORADO

POR

INEXISTNCIADE
LEGALIDADE.

LAUDO

PERITO

NULIDADE.

ABOLITIO

DEGRAVAO

PERICIAL
AD

FIXAO

CRIMINIS.

DE
HOC.

DA PENA.

NOINCIDNCIA.

INPCIA DA DENNCIA. NO CONFIGURAO.


1.

Inexiste

irregularidade

ou

ilegalidade

nas

degravaes de conversas telefnicas realizadas


por perito ad hoc e por fundao conveniada com
o Tribunal de Justia para realizao de percias,
mormente quando o laboratrio no somente
presta tais servios, como tambm prepara o
profissional

da

carreira

policial

para

esta

59

atividade.
2. Improcede a alegao de que a condenao se
lastreou

apenas

no

contedo

das

interceptaes

telefnicas quando a sentena avalia outros elementos


de prova.
3. apta a denncia que preenche os requisitos do art.
41 do Cdigo de Processo Penal, descrevendo, com
todas as suas circunstncias, as referidas infraes
penais, revelando-se suficiente ao exerccio da ampla
defesa.
4.

pena-base

deve

ser

fixada

concreta

fundamentadamente (art. 93, IX, CF), de acordo com as


circunstncias judiciais previstas no art. 59 do Cdigo
Penal, conforme seja necessrio e suficiente para
reprovao e preveno do delito.
5. Inexiste constrangimento ilegal a ser sanado na via
estreita do writ, quando a pena-base for estabelecida
acima do mnimo legal de maneira fundamentada, com
lastro em elemento idneo, atendendo ao princpio da
proporcionalidade.5. Segundo entendimento reiterado
desse Superior Tribunal de Justia, a existncia de
abolitio criminis temporria somente se refere ao delito
de posse irregular de arma de fogo, no se aplicando
aos casos de porte ilegal.
6. Habeas corpus denegado.

O juzo ainda alegou dificuldade na compreenso


dos dilogos diante do uso de grias e expresses que destoam do
entendimento literal. Mais uma vez, ousamos discordar. Somos
pessoas inteligentes e compreensivas da realidade e se temos
condies de perceber que so grias e cifras, dentro do contexto
tambm temos condies de saber a que se referem.
Alis, os prprios peritos interpretaram e com
clareza esclareceram, conforme constou da parte final do laudo
60

referido:
A audio e a interpretao dos trechos dos
dilogos gravados, no seu conjunto, com grias,
expresses dissimuladas, termos e expresses
habituais

investigao,

inerentes
alm

relacionadas

de

aos

grupos

sob

palavras

diretamente

entorpecentes

(cocana,

crack, baseado), demonstram a prtica de


atividades

que

eram

desenvolvidas

com

constncia e planejamento, caracterizando at


certo nvel organizacional.

Exemplificando o que os peritos disseram, ou seja,


de que os investigados, a par das grias compreensveis, pois
corriqueiras e habituais, tambm disseram expressamente o nome de
certos entorpecentes, temos o dilogo j referido em que COCADA
(WILLIAN RODRIGUES DA SILVA) contatado por SASS (FBIO
FERREIRA DE SOUZA) e conta de sua priso ocorrida no dia anterior.
Segue o texto do processo a fls. 408/411 e que j consta deste
arrazoado, no entanto repetido pela importncia:
Alvo: FBIO FERREIRA DE SOUZA
Dia 14/01/2011 as 13:59:41
Durao 00:13:31
Registro 2011011413594111
Telefone (18) 9666-4776
Transcrio:
...
Das 11:22 as 13:31
SASS: Deixa eu falar com o Cocada ai.
COCADA: E ai Uru.
SASS: E ai irmo.
COCADA: Fala memo.
SASS: Voc ta nuns BO e ta vencendo os dias em.
COCADA: Eu to ligado, voc viu ontem quanto foi pego
meu.

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SASS: No.
COCADA: Cinco mil.
SASS: Em dinheiro.
COCADA: Em dinheiro.
SASS: A...
COCADA: To te falando, olha ai pra voc ve, puxa na ronda
que voc vai v.
SASS: Pegou dentro da onde, dentro da sua casa?
COCADA: Dentro de casa.
SASS: A.., mais voc tambm irmo, t moscando.
COCADA: E eu tava levando proce irmo.
SASS: Pra.
COCADA: Minha coroa tinha acabado de chegar em casa, e o
Magrelo tinha acabado de sair veio.
SASS: Puta, quanto BO.
COCADA: Sorte que o dinheiro o ... vai pegar, que entrou com
um papel ali entendeu, que comprova que o dinheiro foi
tirado do banco, entendeu.
SASS: Entendeu.
COCADA: E o numero do Magrelo?
SASS: Pegou quanto com voc?
COCADA: Comigo no pegou nada no, pegou com o
moleque, o moleque aqui assumiu o BO, entendeu,
logo mais daqui uns trinta dias estou na rua.
SASS: Pegou quanto com voc irmo?
CODADA: Comigo?
SASS: .
COCADA: S o dinheiro, cinco mil.
SASS: E com o moleque?
COCADA: Com o moleque pegou uma paradinha e uma
quilo.

SASS: De maconha23?
COCADA: .
SASS: Que moleque?
COCADA: Um moleque que faz um corre pra mim,
moleque menor no, o maiorzinho.
SASS: No um do canho la no?
COCADA: No, no, no, aquele do canho ta pro outro lado,
23

Falam expressamente qual a droga apreendida, no caso Cannabis Sativa L., popular maconha. A

paradinha poro de crack/cocana.

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se voc quizer pegar o dingom bel pra fica ai com voce na


proteo, ele deixou comigo e ele foi ate pra outra cidade
entendeu?
SASS: Entendeu.
COCADA: Ele foi l para So Paulo entendeu, se voc
quizer ficar com a situao na sua conteno, voc vai
l e pega com o meu menor l.
SASS: Com quem?
COCADA: Com o menor, Alan.
SASS: Eu vo pega l.
COCADA: s chegar l e pegar, se voc quizer pegar
uma caminhada tambm de uma madeira, se encosta
nele l que ele tem tambm.
SASS: T bom eu vo pega a pea l fal?
COCADA: Falo nois cuzo.

Por fim, o juzo tambm se insurge contra a


requisio de percia principal e complementar feita pelo Ministrio
Pblico.
Como dito, no comeo, o Ministrio Pblico detm
atribuies tpicas e no exclusivas de autoridades policiais. Alis, o
poder de requisio do parquet, no mbito da investigao,
constitucional (artigo 129 inciso VIII, da CF).
Assim como em inquritos policiais os Delegados
requisitam

percias,

em

nossos

procedimentos

investigatrios,

tambm expedimos nossas requisies.


Ademais, o artigo 6., inciso III, da Resoluo CNMP
n. 13/06 expresso nessa autorizao.
No caso dos autos, ainda antes da propositura da
ao penal, ou seja, no mbito extrajudicial, assim como fazem os
Delegados de Polcia em seus inquritos policiais que demandam
percia,

requisitamos

percia

de

confrontao

de

mdias

e
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transcries, como j visto, pelo entendimento jurisprudencial,


dispensvel, no entanto solicitada por zelo.
Quando do encaminhamento ao Ministrio Pblico
requisitamos,

com

base

nos

mesmos

fundamentos,

sua

complementao. A juntada ao processo foi mera consequncia.


A indignao do juzo nos surpreende, porque em
outro feito decorrente da mesma cautelar, porm em demanda
separada, o prprio juzo nos intimou a apresentar o laudo em data
aprazada. Deixou claro, assim, que ao Ministrio Pblico, que sabia
no ser o produtor do laudo, deveria busc-lo a apresent-lo, j que,
sendo prova da acusao, deveria providenci-lo.
Ademais, a juntada dos laudos ocorreu na fase
judicial antes da instruo e no exerccio regular da atividade
investigativa do Ministrio Pblico. No h qualquer prejuzo ou
ilegalidade na sua juntada, pois garantida foi a ampla defesa em
todos os seus termos.
Alis, os udios estavam transcritos desde as
gravaes e constavam da devida medida cautelar, xerocopiada para
a presente ao penal, assim como estavam disponibilizados,
integralmente e quinzenalmente, todos os arquivos de udios.
Quando a defesa ingressou no processo, desde o
primeiro momento, teve todo este material a seu dispor. O que
fizemos, j disse, por zelo, foi providenciar que um rgo externo, no
caso o Instituto de Criminalstica, revesse todo esse material e nos
fornecesse um laudo, o que fez mesmo antes da instruo.
Por bvio, no h que se falar em qualquer
nulidade ou imprestabilidade dos laudos, isso porque, a prova o
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prprio udio em si mesmo, no a transcrio e o laudo de confronto


decorrente, que, alis, tanto a transcrio (que acompanhou os
pedidos) quanto o laudo (juntado antes da audincia) foi produzido no
momento processual oportuno e sem qualquer insurgncia da defesa.
O conhecimento desde o incio do udio e das
transcries, mesmo com a necessidade de juntada do relatrio de
transcrio

apenas

quando

da

instruo,

nos

termos

da

jurisprudncia, ampliou e facilitou a defesa, pois, desde ento, tinha


acesso ao udio e conhecimento do texto que seria utilizado pela
acusao na sustentao da imputao.
A ttulo de encerramento, digo que nutrimos
profundo respeito pelo juzo a quem tratamos e nos tratou, no dia-adia, com urbanidade, inclusive mostrando receptividade, logo de
incio, criao de Ncleo do GAECO na regio, ocorrida a um ano e
meio. Esse foi nosso primeiro trabalho que resultou na identificao
de vrias pessoas, apreenses de armas, drogas e outros objetos. A
despeito de no ter sido decretada a priso dos integrantes do PCC, a
apreenso de valores das contas movimentadas, a quebra do sigilo
bancrio e da absolvio que agora recorremos, ainda encontramos
foras para continuar.

III- DISPOSITIVO
Crente

na

reforma

integral

da

sentena,

reportamos os nobres julgadores ao j disposto no memorial do


Ministrio Pblico, onde foram tecidas outras consideraes de mrito
e tambm ponderaes sobre a pena a ser aplicada.
Ante o exposto, o MINISTRIO PBLICO DO
ESTADO DE SO PAULO, requer e aguarda a reforma da r. sentena,
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nos

termos

acima

postulados,

para

ver

apelado

WILLIAN

RODRIGUES DA SILVA, devidamente responsabilizado.

Araatuba, 22 de maio de 2012.

HRICO WILLIAM ALVES DESTFANI


Promotor de Justia Designado
GAECO Ncleo Araatuba

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