XIII Prmio Escriba de Poesia

Realizao
Prefeitura do Municpio de Piracicaba
Secretaria Municipal da Ao Cultural
Biblioteca Pblica Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto
Prefeito
Gabriel Ferrato
Secretria da Ao Cultural
Rosngela Rizzolo Camolese
Comisso Organizadora
Aparecida Rosana Bueno de Godoy Oriani
Adrielle Camargo dos Santos
Alexandre Jos Cruz
Antonio Filogenio de Paula Junior
Elcio Queiroz Couto
Fausto Rodrigues Neto
Josy Romani Sandalo (in memoriam)
Comisso Julgadora
Ana Marly de Oliveira Jacobino
Andr Bueno de Oliveira
Lisiane Ferreira da Silva Pereira
Lucila Maria Calheiros Silvestre
Sandra Regina Sanchez Baldessin
Arte da Capa
Eric Mazini
Edio em e-book
Elcio Queiroz Couto
Reviso
Adrielle Camargo dos Santos
Elcio Queiroz Couto

Sumrio
Agradecimentos .............................................................................................................................. 4
1 lugar - Refgios para guardar meu pai .................................................................................... 9
2 lugar - ExComunGado ............................................................................................................ 11
3 lugar - Vero ............................................................................................................................. 13
Melhor de Piracicaba - Agonia da palavra................................................................................. 14
Menes Honrosas ....................................................................................................................... 16
Iluses perdidas ........................................................................................................................ 17
Aqum e alm da cajaraneira .................................................................................................. 18
Poemartrio ................................................................................................................................ 20
Poema em perspectiva ............................................................................................................. 21
Splica ........................................................................................................................................ 22
Despedida de barco.................................................................................................................. 24
Iluminura ................................................................................................................................... 25
Selecionados................................................................................................................................... 26
Via litterae .................................................................................................................................. 27
Casa dos rolos de papiro ......................................................................................................... 28
Clarice LSpectre ...................................................................................................................... 29
Caos ............................................................................................................................................ 31
Pseudopsicologia da composio .......................................................................................... 33
Hei .............................................................................................................................................. 34
Borboletas rupestres ................................................................................................................ 35
De ser em hiato......................................................................................................................... 38
Faz de conta .............................................................................................................................. 39
Hipnos ........................................................................................................................................ 41
Palavras ...................................................................................................................................... 42
As coisas vivas .......................................................................................................................... 43
Hashtag lua ................................................................................................................................ 45
Medusa ....................................................................................................................................... 46
Corpo e alma - I........................................................................................................................ 47

V e v ....................................................................................................................................... 48
Mnage trois ........................................................................................................................... 49
Curriculum Verax ..................................................................................................................... 51
gua nua .................................................................................................................................... 53
Paradoxo .................................................................................................................................... 54

13 Prmio Escriba de Poesia

O Prmio Escriba de Poesia mais um dos movimentos culturais que enchem
de orgulho os piracicabanos. Podemos dizer que Piracicaba est completa em se
tratando de manifestaes dessa natureza: temos o Salo de Belas Artes, que j
completou 63 anos, o SAC (Salo de Arte Contempornea), que chega 47
edio, o Salo de Aquarelas, que nasceu este ano, representando muito bem as
artes plsticas. H tambm o Salo de Humor, na rea do humor grfico, o
Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba) e o Feimep (Festival
Internacional de Msica Erudita de Piracicaba) e muitos outros.
O Escriba de Poesia, assim como as verses Contos e Crnicas, deixa uma
herana riqussima e eternizada para a literatura de um modo geral por meio de
suas coletneas. E vale destacar a qualidade destes textos. Neste ano, em meio a
1368 poesias, os jurados selecionaram o que havia de melhor, deixando apenas 31
dessas poesias para serem apreciadas.
Tambm preciso destacar que se trata de um estmulo aos escritores, j que
h um prmio em dinheiro significativo para os 1, 2 e 3 lugares e para o melhor
de Piracicaba, vencidos este ano por Patrcia Claudine Hoffman, Carlos Alberto
Bellini, Adriano Wintter Sobrosa e o piracicabano sio Antonio Pezzato,
respectivamente.
Parabns aos que contriburam para o sucesso de mais esta realizao, aos
escritores e, de forma particular, aos piracicabanos!
Gabriel Ferrato dos Santos
Prefeito de Piracicaba

13 Prmio Escriba de Poesia

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Prmio Escriba de Poesia - 2015

Realizado pela Prefeitura de Piracicaba, por meio da Secretaria Municipal da
Ao Cultural (SEMAC), o Prmio Escriba de Poesia, que acontece anualmente,
alternando a cada ano a realizao com o Escriba de Contos e o Escriba de
Crnicas, tem misses nobres: valorizar e incentivar o trabalho de poetas e levar
aos amantes da poesia textos de qualidade.
E este ano, mais uma vez, podemos comemorar diante dos nmeros que
desenham o Escriba de Poesias. Temos um total de 684 participantes, de 27
Estados e 7 pases, que enviaram 1368 poesias. Vinte desses participantes so de
Piracicaba.
A participao nacional foi marcante, com trabalhos vindos dos estados do
Acre, Alagoas, Amap, Amazonas, Bahia, Cear, Distrito Federal, Esprito Santo,
Gois, Maranho, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Par, Paraba,
Paran, Pernambuco, Piau, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Rondnia, Roraima, Santa Catarina, So Paulo, Sergipe e Tocantins. Do
exterior, vieram poesias dos EUA, Itlia, Moambique, Portugal, Reino Unido,
Romnia e Sua.
Agradeo aos membros das Comisses Organizadora e Julgadora, que tiveram
muito trabalho para escolher os melhores entre tantos, aos funcionrios da
Secretaria Municipal da Ao Cultural e Biblioteca Pblica Municipal Ricardo
Ferraz de Arruda Pinto, Academia Piracicabana de Letras e a todos os
inscritos, que mais uma vez ajudaram a tornar o Prmio Escriba um grande
sucesso!
Rosngela Rizzolo Camolese
Secretria Municipal da Ao Cultural

13 Prmio Escriba de Poesia

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Uma vida potica

A realizao da 13 edio do Prmio Escriba de Poesia foi bastante
gratificante por reunirmos na equipe de trabalho, na comisso organizadora e na
comisso julgadora, pessoas que, alm de apreciadoras da arte literria, procuram
em suas vidas ter uma conduta harmoniosa. No entanto, aps alguns meses com
este grupo, o destino nos faria uma surpresa, e uma das pessoas que compunham
esta equipe se ausentaria definitivamente daqueles momentos to mgicos que se
tornavam as reunies de organizao do prmio. Foi assim que sentimos a partida
da nossa colega de trabalho e amiga em tempo integral Josy Romani Sandalo.
Uma pessoa que fez da sua vida uma poesia onde a tristeza, o medo e a dvida
sempre ganharam cores da compreenso, da maturidade, do conhecimento e da
iluminao. Sim, esta edio do prmio foi gratificante, pois mesmo nesta falta
fsica dolorosa, pudemos sentir a sua presena em todos os instantes, enchendonos de nimo, de vida. Deste modo, esperamos que o leitor possa apreciar nas
poesias escolhidas um pouco do sublime desta vida potica.
Rosana Oriani
Diretora da Biblioteca Municipal de Piracicaba

13 Prmio Escriba de Poesia

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Saudade...
Falar da Comisso Organizadora do Prmio Escriba uma tarefa importante:
trata-se de um grupo de pessoas de distintas reas do conhecimento tcnico e
cientfico que se reuniram e, por mais um ano, organizaram e levaram adiante o
projeto vitorioso denominado Prmio Escriba. Este ano, o foco a poesia, e nos
anos anteriores o conto e a crnica, sendo essas as trs modalidades contempladas
pelo concurso e que se revezam a cada ano.
No sentido weberiano da palavra, uma atividade de ordem burocrticoadministrativa que, alm de montar a estrutura para o recebimento e
armazenamento de trabalhos vindos do Brasil e do exterior, no rigor das normas
pr-estabelecidas, convoca a comisso julgadora e mantm sucessivos encontros
com objetivo de garantir a boa seleo e premiao das obras. Neste ano,
enquanto meros espectadores e apoiadores do trabalho da comisso julgadora,
temos a convico de que os leitores ficaro impressionados no s com a
qualidade como tambm com a variedade dos textos elaborados. Um segundo
ponto que gostaramos de destacar o aprendizado que tivemos por termos o
privilgio de ficar ao lado de pessoas to capacitadas e crticas, para decidir o
destino das obras que estavam sendo avaliadas.
Por fim, gostaramos de nos posicionar sobre a mensagem mais importante
que nos cabe nesta edio: uma comisso burocrtico-administrativa tem tambm
o seu lado romntico quando entre ns se desponta a temtica VIDA. consenso
entre ns que as pessoas no so substituveis; tivemos a prova este ano quando
perdemos a amiga Josy Sndalo, que, durante anos, foi nossa companheira de
trabalho e membro desta comisso. Uma pessoa que agia com alegria, felicidade e
solidariedade, sendo honesta e despretensiosa; o tipo de amizade que estendemos
para os nossos crculos familiares. O sentimento que temos por ela de amor e
gratido. Em tempos em que estar acima de tudo e ser melhor que todos
determinante, diramos que uma clula gigante de amorosidade que tnhamos bem
ao nosso lado subiu aos cus, deixou-nos sem aviso, indo ao encontro do infinito
e fazendo o nosso corao explodir de saudade.
com este sentimento fraterno que esperamos que os leitores encontrem
estmulo e sentido de vida em cada uma das linhas dos trabalhos publicados.
Comisso Organizadora
13 Prmio Escriba de Poesia
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Viagem pela palavra

Julgar nunca uma tarefa fcil, mas a sensao da comisso julgadora no final
do trabalho foi de alegria e dever prazerosamente cumprido. A seleo foi
realizada com muito critrio e cumplicidade pela equipe, todos movidos pela
mesma paixo: literatura.
Foram lidos e analisados 1368 poemas de 684 poetas de primeira grandeza.
Assistimos a um desfile de diversas formas poticas e temas variados,
presenciamos uma conversa afiada entre presente, passado e futuro.
sempre um deleite para alma sentir e apreciar a palavra elevada categoria de
arte. Nosso agradecimento a todos os participantes por nos proporcionar
momentos agradabilssimos de boa literatura.
O concurso apresentou candidatos de vrias partes do Brasil (Acre, Alagoas,
Amap, Amazonas, Bahia, Cear, Distrito Federal, Esprito Santo, Gois,
Maranho, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Par, Paraba,
Paran, Pernambuco, Piau, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Rondnia, Roraima, Santa Catarina, So Paulo, Sergipe e Tocantins) e
tambm do exterior (Estados Unidos, Itlia, Moambique, Portugal, Reino Unido,
Romnia e Sua). Essa participao to expressiva de brasileiros de lugares to
variados ratifica a importncia desse tipo de iniciativa para valorizar e fortalecer
cada vez mais a literatura contempornea.
Parabns aos premiados e contemplados pelo Prmio Escriba 2015!
Parabns Secretaria Municipal da Ao Cultural pela seriedade com que
realiza o evento e pelo comprometimento com a cultura brasileira.
Agora hora de iniciar a viagem pela palavra. Que sua aventura seja to
prazerosa, reflexiva e emocionante quanto foi a nossa! Boa leitura!
Comisso Julgadora

13 Prmio Escriba de Poesia

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Refgios para guardar meu pai

Patrcia Claudine Hoffman
Balnerio Barra do Sul - SC
A saudade desenha seus estiletes,
de dentro para fora, pai.
Teus molinetes agora
ornamentam a casa
com inconformvel beleza:
procuram tua pesca.
Nenhuma fresta entre ns.
Nenhuma isca.
Na antifesta de estar,
o mar desfeito
no comemora comigo:
estamos ss.
E no h pacto
de anzis que capture
a precocidade de tua ausncia
ou te devolva
como devolvamos os peixes para a gua.
Apareceram uns cansaos nas paredes.
Onde antes teu descanso
sobre o dorso das redes,
agora memrias rendadas
avarandam a chuva
em chamamento.

1
13 Prmio Escriba de Poesia
9

Enquanto o vento motiva algum sol,

embala-me ainda teu riso
nos braos j fracos
da infncia...
- As tarrafas cresceram, pai.
Ainda no aprendi a dobr-las.

13 Prmio Escriba de Poesia

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ExComunGado
Carlos Alberto Bellini
Porto Ferreira - SP
Meu anjo
abriu a guarda
Minha estrela
caiu na guia
Meus sonhos
foram embora
enquanto
eu dormia
Minha alma
desarmada
Atirou e
errou a mira
Minha paz
ficou vermelha
Nas asas
da pombagira
Meu santo
foi pro outro canto
Foi baixar
noutro terreiro
Eu fiquei
na encruzilhada
despachado
por inteiro

2
13 Prmio Escriba de Poesia
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A coisa
ficou preta
Vira e mexe
d um branco
E babando
colorido
Rezo um
poema manco
Rezo os trancos
e barrancos
Da Sagrada
Escritura
Na procura
de um arrimo
rimo rente
loucura
Excomungado
do rebanho
Minha reza
berra e xinga
Sou poeta
e minha igreja
No tem papas
pela lngua

13 Prmio Escriba de Poesia

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Vero
Adriano Wintter Sobrosa
Porto Alegre - RS
o dia arcfero
com dardos canoros
tende o fio do horizonte
e fere o ar de amarelos
revoada de alvos: alvorecer
setas explodem nos ptios
no peito crespo dos pssaros
filetes lentos de chamas
atravessam venezianas
ruas so Romas
raios so Neros
com a carne em labaredas
debate-se a natureza
a vida
sob chagas centgradas
num ruivo uivo agoniza
e tomba no tmulo
noturno
para amanh
fenixmente
ressurgir das cinzas

13 Prmio Escriba de Poesia

13

Agonia da palavra

A palavra est quebrada

O pincel feito caneta
J no consegue mold-la
Digito meu nome em cdigos
Escrevo torto nas pautas
Desenho atravs de enigmas
As letras esto em forma
Falta decodific-las
E o teclado analfabeto
Esta morte antecipada
a agonia da palavra
Que no sabe traduzir-se
Caminha j no registra
Para El-Rei de Portugal
As glrias da nova Terra
Einstein faz o seu brinquedo
De maneira relativa
Somente atravs de nmeros
Cames desenha epopeias
Em versos de oitavas rimas
De maneira quase heroica

Melhor de Piracicaba

sio Antonio Pezzato

Piracicaba - SP

13 Prmio Escriba de Poesia

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Pessoa confunde nomes

E se perde em heternimos
Pelas ruas de Lisboa
Edison pe voz palavra
Em ondas mdias e curtas
Em rudos e chiados
Chateaubriand convoca a imagem
Que j despreza a palavra
Em atos sujos e obscenos
Chaplin anda no silncio
E atravs de rudes gestos
Consegue comunicar-se
O cego em linguagem Braille
Faz o seu som de silncio
Na digital de seus dedos
O Dicionrio fechado
Num eterno embolorar-se
banquete para as traas
A Palavra fica oculta
Pelos tetos da Sistina
Em cores luzes e sons
Da Vinci no seu silncio
Traduz por meio de sombras
A palavra do sorriso
E o poeta ainda canta
Mas at a voz morta
No ressuscita a Palavra!
13 Prmio Escriba de Poesia
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Menes
Menes
Honrosas
Honrosas

Iluses perdidas
Leda Coletti
Piracicaba - SP
O que sonhava acontecer na vida,
gozar de grande amor puro, sincero
ficou s na iluso, mgoa sentida
de relao confusa, sem tempero.
Muita provao tive nesta lida,
ausncia de carinho, pouco esmero
em me fazerem ser mulher querida,
ludibriada por falso lero-lero.
Como esperei ansiosa, apaixonada
trocar beijos ardentes, ser amada
por quem amei at em demasia.
Em troca encontrei dor, triste mentira
que me fez muito mal, levou-me ira
por ver mostra tanta hipocrisia.

13 Prmio Escriba de Poesia

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Aqum e alm da cajaraneira

Vicncia Maria Freitas Jaguaribe
Fortaleza - CE
O p de cajarana da casa de minha av
dividia em dois mundos apartados
um quintal s.
Aqum da grande rvore,
o ligeiro desenrolar do fio da realidade.
Alm da grande rvore,
o lento desfiar do fio da fantasia.
Do lado de c, tnhamos hora marcada:
hora de dormir, hora de acordar, hora de comer,
hora de estudar, hora de brincar, hora de tomar banho.
Do lado de l, no havia relgio
o grande carcereiro do tempo.
E, no havendo crcere para encarcerar o tempo,
o tempo abandonava-se em nossas mos.
E, do lado de l, crivamos um mundo
sem tempo e sem relgio sem hora marcada.
E desse novo mundo
partamos para terras encantadas.
amos terra de Aladim e,
esfregando a lmpada mgica,
fazamos os trs pedidos:
que papai e mame tivessem vida eterna;
que Papai Noel nos trouxesse o presente aguardado;
que as frias fossem mais longas do que as aulas.
Mas eu ousava um quarto pedido:
que ganhasse todos os livros desejados.
13 Prmio Escriba de Poesia
18

Quando montvamos o tapete voador

para visitar o reino da fada azul
eis que o grito da realidade
quebra o silncio da fantasia.
Tivemos que transpor os limites indesejveis.
Um dia, perdemos a chave do mundo de l,
estvamos crescendo, despedamo-nos da infncia.
Depois, viramos adultos.
No tnhamos mais as chaves do mundo de l,
em cujo porto sentinelava o anjo da razo
empunhando a espada do bom-senso
e o escudo da responsabilidade.
Depois, o mundo de c invadiu o mundo de l.
E os dois mundos fundiram-se em um s:
o mundo da realidade.
E nunca mais a vida nos permitiu
dividir o mundo em dois
como fazamos no quintal de minha av.
Tambm haviam derrubado o p de cajarana!

13 Prmio Escriba de Poesia

19

Poemartrio
Geraldo Trombin
Americana - SP
Tem um anzol enfiado
bem na goela do poema.
Ele est se debatendo!
Uma bala perdida
sangrando o peito da poesia!
Ela est se definhando!
Tem uma fita mtrica intimando
a mtrica dos meus versos;
verdadeira camisa de fora
colocando na forca
quem nasceu para ser livre.
Uma mordaa de cacos de vidro
dilacerando o "boca a boca"
da minha prosa potica.
Tem um espinho espetado
sob as unhas das minhas estrofes:
uma dor que atrofia o dia.
Queria poemar
nadar em poemas
mas, que mar... trio:
tanto anzol e bala perdida
fisgando a carne,
deixando na pele
a derradeira ferida!
13 Prmio Escriba de Poesia
20

Poema em perspectiva
Ronaldo Henrique Barbosa Junior
Campos dos Goytacazes - RJ

13 Prmio Escriba de Poesia

21

Splica
Samuel Antunes dos Santos
Ponta Grossa - PR
Ama-me como se voc estivesse louca,
como se eu fosse a ltima gota
a cair na sua boca.
Ama-me como se eu fosse seu porta-estandarte,
a sua outra parte,
a sua obra de arte.
Ama-me como se eu fosse o seu marido,
o seu amor perdido,
o ltimo a ser trado.
Ama-me como se eu fosse a sua voz,
como se estivssemos a ss
e o mundo fosse apenas ns.
Ama-me como o peixe ama o rio,
como o aventureiro ama o desafio,
como um animal que est no cio.
Ama-me como dia ama a claridade,
como o mendigo ama a piedade,
como o pssaro ama a liberdade.
Ama-me como o mago ama a magia,
como o msico ama a melodia,
como o poeta ama a poesia.
13 Prmio Escriba de Poesia
22

Ama-me sem demora,

ama-me sempre e agora,
quando eu estiver presente
e quando eu j tiver ido embora.

13 Prmio Escriba de Poesia

23

Despedida de barco
Baktalaia de Lis Andrade Leal
Caetit - BA
Ps no cais, corao a bordo.
Adeus mil vezes.
Beija-se a mo,
a mo beija o vento,
o vento beija a mo,
a mo guarda o beijo no peito.
S o mar veste o adeus
com todas as cores mais demoradas
que todas as lgrimas poderiam ter.
A dor da distncia to aguda
quando o longe lento,
quando o vento leva o cheiro
que o abrao deixou!
As gotas da despedida
salgaram o mar...
Amargo mar,
que faz espuma e desfaz nela
o louco anseio de correr sobre as guas
e abraar de novo.
Faz o tempo alongar-se
e o corao diminuir,
diminuir
diminuir l no cais.

Ento apenas o cu, o mar, o vento e a saudade...

13 Prmio Escriba de Poesia
24

Iluminura
Luiz Claudio Bento Rodrigues
Belo Horizonte - MG
Nasce a palavra
Entre pedras e flores
Pousa sobre guas
J maduras de mars
Percorre sem medo
Os caminhos da solido
O poema ilumina-se
Em desafio e angstia
E instaura afinal na carne
O enigma da palavra poesia

13 Prmio Escriba de Poesia

25

Selecionados
Selecionados
13 Prmio Escriba de Poesia
26

Via litterae
Rafaela Gomes Figueiredo
Rio de Janeiro - RJ
aventurar-se num poema
exerccio coordenado:
linguagem nave
que atravessa dimenses
do tempo;
msculos, ritmos
em movimentos lentos
sob gravidade alguma
um poema pode
recriar o mundo!
transcender barreiras
sonoras, lingusticas
na galxia dos versos
o sistema lngua
tem planetas signos
unidades morfolgicas,
semnticas, sintticas
a orbitar o espao
sob atrao sintagmtica

13 Prmio Escriba de Poesia

27

Casa dos rolos de papiro

Diego Martins de Paula
Piracicaba - SP
O nmade que monta dromedrios
Nos montes dum deserto de madorna
o homem da areia quem assopra
Pirmides de sono sobre os gatos.
A traa da cultura que devora
Palavras em desuso no alfarrbio
Coa ptrida costura de seus lbios
Murmura, como mmia, mil memrias.
A antiga idade mofa os pergaminhos.
O tempo embolora meus neurnios
E a Antiguidade escrita nos papiros.
No teto, as teias. Crnico domingo.
Meu templo se esfarela. Faranico,
O eterno Imprio cresce enquanto mnguo...

13 Prmio Escriba de Poesia

28

Clarice LSpectre
Sonia Maral Pavan
So Paulo - SP
Clarice, LSpectre,
E se eu roubasse um verso teu?
Assim, angular como tua face
Em carne lapidada?
Se eu, um s verso
Te roubasse
Pro meu poema/vida no ser em vo?
Tu me dirias, Bruxa-Mor,
Me das minhas guas,
Tu me dirias que os versos
No so de ningum...
E que se roubas
O que a ningum pertence
Tu no roubas:
Adoas com cubos de acar
O paladar dos equinos, dos belos,
Das foices e dos martelos,
Dos livros velhos, dos traos destroados...
Anseio por teu colo e sei-o!
Caminhar por tua via-lctea
H de fazer-me bem
H de fazer confrontar-me com os astros
A dizer, a dizer...
13 Prmio Escriba de Poesia
29

(bvios astros, onde est o Maestro que vos rege?

Que a ele que quero
Para afinar todos os anjos
No mesmo diapaso
Da nota pura, da mais clara Clarice).
E eu, mulher que, precocemente,
No!
Fruta mais que madura,
Ah, Clarice LSpectre,
Ovo do meio,
Perdoa!
Mas me deixa roubar um verso teu!

13 Prmio Escriba de Poesia

30

Caos
Rosicler Antoniacomi Alves Gomes
Ponta Grossa - PR
Estou cansado desse mundo
Ftil
Cheio dessa ignorncia
Ftida
E de nossa cumplicidade
Pattica
E de toda essa inocncia
Intil
Dessa dupla-coisa-imunda
Sem personalidade
No h nada mais natural
Do que o mundo ser uma cpia
Do nosso interior infernal
Perdidos entre a inocncia e o mal
Confundidos pela nossa prpria
Inteligncia
Esse o mundo das incoerncias
Do ignorante bem intencionado
Detonando a bomba
Da incompetncia
Do inocente mal localizado
Obstruindo a ao
Da providncia
Do desastrado no lugar errado
Jogando merda e dor
No ventilador
13 Prmio Escriba de Poesia
31

Estou cansado dessa inteligncia

Dessa merda de incoerncia
De encarar com naturalidade
Essa dupla personalidade
Que colore a inocncia
De cumplicidade
Com todo esse mal
Que inferniza nosso nada animal
E o transforma em
Caos.

13 Prmio Escriba de Poesia

32

Pseudopsicologia da composio
A Joo Cabral
Augusto Sergio Bastos
Rio de Janeiro - RJ
Espero meu poema
com as mos lavadas.
A folha em branco,
sem mculas e pudica,
bero de palavras,
solo frtil para poesia.
Nela no h o amanh
nem as incontveis vsperas.
Em breve o texto se revelar.
Fao um pedido:
seja mineral
o papel onde o verso se inscreve,
seja mineral o prprio verso.
Mas que eu possa debulhar as palavras,
recolher as slabas
e fecundar o poema.

13 Prmio Escriba de Poesia

33

Hei
Fernanda Silva Lopes
Caapava do Sul - RS
Hei de sugar de cada dia o seu mais simples momento,
Hei de ver em cada gota de orvalho o mais puro encanto,
Hei de escutar em cada sibilar do vento algum canto,
Hei de expandir a minha mente e mant-la em movimento;
Hei de amar com toda a fora existente em meu corao,
Hei de fazer a cada dia desse amor o alimento
Que me supre, regenera e me d o desejado alento
Para seguir adiante com garra e determinao.
Hei de ser eu mesma (esse conjunto de eus) a cada instante;
Juro levar comigo sempre os valores que aprendi,
Prometo levar virtudes de todos que conheci,
Carregarei sorriso e lgrima de cada semblante.
S no prometo que minha face ser sempre enxuta,
Nem que minhas lgrimas estaro sempre resguardadas,
Mas hei de fazer valer a pena todas as jornadas,
Pois precisa a guerra pra existir paz na mais tensa luta.
E quando a morte cobrir-me os ombros com seu negro manto,
Direi que vivi intensamente, mais do que foi preciso;
Direi, sem pestanejar, que fiz valer cada sorriso,
Direi, mirando seus olhos, que fiz valer cada pranto.

13 Prmio Escriba de Poesia

34

Borboletas rupestres
Pedro Jorge Rodrigues Gomes
Fortaleza - CE
Transito pelo quadrante do Infinito...
Sophya me disse que nossa evoluo
provm de seres inanimados,
cuspidores de ideias sub-reptcias
e arqutipos de iluses.
Sophya, a velocidade do mundo
no anistia a beleza que h em nossas retinas almadas.
Outrora homens louvavam e temiam as ondas salgadas
(no mar, Sophya, jazem deuses esquecidos, heris fortes,
vagabundos vencidos, almas caladas, navegantes perdidos
e o enigma do Desconhecido).
Ah..., a metafsica do mundo
esconde-se nos seios, nos labirintos, no universo que ascende em nossas almas.
No isso que o homem absorve, aps modelar
e resguardar a poesia dentro de si?
Estamos numa colossal cidade
onde nas ruas esquecidas,
encontra-se a fome canina
nas cavernas dos olhos de crianas pequeninas.
Mas nesta cidade...nesta maldita cidade...
o canto seco das fumaas
e o Grande Computador Veloz,
trazem-nos a divina evoluo!!!
13 Prmio Escriba de Poesia
35

Estamos no mago de uma cidade evoluda,

com pessoas apressadas, mal amadas, mal almadas,
naufragadas
no mar feroz de suas prprias feridas.
Andamos por estas caladas, deusa desconhecida...
Ah..., a metafsica dos passos
envolvem-nos gloriosamente...
Tenhamos cautela, Musa perene, ao andarmos
por esta cidade que cospe fogo
e massifica os sonhos dos infelizes que anseiam por utopias.
Ah..., eterna Sophya, recordo-me
daquelas paisagens que comprovavam
minha existncia sobre a Terra,
o serto do imaginrio, deusa, que evocava a felicidade nos jardins desta vida
terna.
O nosso habitat o serto calado
que branda no esprito de quem alvorece junto com o dia
e canta no enigma dos galos!
Porm estamos na cidade.
Continuamos na cidade.
Continuaremos na cidade...
Eu, miservel homem utpico,
adaptei-me esta cidade.
Cidade esta que me enche os pulmes com fumaa taciturna
e que contamina minhas retinas com olhares infelizes e temerosos...
Alm disso, sou perenemente
vigiado por homens vestidos de deuses
13 Prmio Escriba de Poesia
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(capciosos, malditos seres!!!)

que voam em bestas aladas
decretando
o fim de minha pouca utopia.
Ah..., e as utopias metamorfoseiam-se em borboletas rupestres...

13 Prmio Escriba de Poesia

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De ser em hiato
Matheus Vinicius de Souza Fernandes
Florianpolis - SC
De ser,
findei minha pequena existncia.
De(ter) a mim mesmo,
um ser in(pr)visvel.
Re(encontro), me re(fao).
Re(ajo), reflito, aflito re(naso).
E na imensido dos acontecimentos, re(surjo),
Utopicamente, ao tempo de me des(estruturar),
Re(produzo), a fim de me re(conhecer).
Re(transmito) para no me perder.
Entre tantos parnteses, no me defino.
Trans(cendo) no sendo (um) ser s.
Encerro, ladeado ao esmo,
busca incompleta do ser, (eu) mesmo.

13 Prmio Escriba de Poesia

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Faz de conta
Paulo Cesar Paschoalini
Piracicaba - SP
Outro dia mesmo estava me divertindo,
assim meio descuidado, meio distrado,
e pelas brincadeiras de infncia atrado.
Vieram outros dias, outras noites,
e, ento, o tempo, sorrateiramente,
foi levando para longe de mim, dia aps dia,
o pio que fazia girar as minhas fantasias;
as bolinhas de sabo, que eram meu alento,
foram desmanchando-se ao sopro do vento.
O faz de conta, os ps descalos, as partidas,
o bate-bola nos campinhos de terra batida;
as alegres brincadeiras de esconde-esconde,
me escondiam do mundo adulto, no sei onde.
Enfim, at me dar conta que chegou o dia
de que esconder j no mais conseguia.
Eu no gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco minha procura.
Eu queria ter de novo aquela estatura,
aquela inocncia, aquela candura.
No queria esse mundo de loucura,
onde a verdade se vai e a mentira perdura.
Eu queria ser um menino eternamente.
Na verdade sou criana, apesar da aparncia,
e luto para no ser adulto, com veemncia,
13 Prmio Escriba de Poesia
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para no adulterar de vez a minha essncia.

O pio perdeu-se num mundo que continua a girar,
as bolinhas de sabo desfizeram-se de vez pelo ar
e nas ruas asfaltadas meus ps calados vm pisar.
Mas eu sigo brincando de esconde-esconde, contudo,
com o tempo que insiste em transformar tudo;
faz de crianas alegres, adultos sisudos.
Meu corpo de adulto pelo tempo foi esculpido,
embora me sinta criana, num corpo crescido,
com roupas de adultos, mas esprito despido.
Quanto mais ele muda, mais me contraponho,
pois muda um reino encantado de sonhos,
em um mundo ainda mais infeliz e tristonho.
Cresci e no gostei; isso me desaponta.
Por isso mantenho esse desejo oculto,
insistindo em brincar de faz de conta
e fazendo de conta que sou adulto.

13 Prmio Escriba de Poesia

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Hipnos
Rubens Chinali Canarim
Bauru - SP
Da crueldade da noite fiz um manto,
A cobrir-me de enganos e de ausncias,
Nas vsceras da noite fiz-me essncia
Despida da inconstante seiva humana.
Da treva fria o ventre degredado,
Primevo, da agonia, fiz-me um bero,
E em suas fmbrias de estrelas bordejadas
Fiz-me ao translcido inconstil peito.
As drapejantes asas, destinadas
s incertezas, turvaes, distncias
Trespassadas, s horas arrastadas,
O Serafim das brias inconstncias.
Trnsfuga das tormentas que no findam,
Fiz-me da noite, e a noite fez-se em mim.

13 Prmio Escriba de Poesia

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Palavras
Patrcia Costa
Rio de Janeiro - RJ
Latejando dentro das mos insones
Palavras no conseguem ficar caladas
Inquietas, tagarelas e cheias de fome
Devoram verbos, adjetivos e metforas.
Percorrem avidamente numerosas linhas
Sem ter a necessidade de responder
Ao sdito Poeta que doa em sua tinta
A sensibilidade para o texto acontecer.

13 Prmio Escriba de Poesia

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As coisas vivas
Ana Flvia de Melo Mendes Carvalho
Mateus Leme - MG
as coisas vivas tm seus espaos
tm seus tumores
e os interstcios destes
as coisas vivas tm sua espera
sua desespera
tm seus aumentos
tm teras
tm telos
tm taras
e escrnios
tambm h seus bons floemas
e os caldos de suas carnes
as coisas vivas esperam
com pacincia
para aumentar
depois viram outras coisas
com pedaos delas mesmas
e os pedaos mais antigos
morrem
pra que os novos continuem
a perpetuar a honra do que foi
eu j fui minha bisav
e h pedaos de Salom
13 Prmio Escriba de Poesia
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em gentes que eu no conheo

minha bisav
antes de coacervar-se
foi p
e h pedaos de ostracodermes
em genes que eu reconheo
as coisas vivas no so demais
as coisas vivas no so de menos
so apenas o que preciso
do que preciso
no somos ns
- galhinhos mirrados de coisas vivas que vamos saber fazer juzo
as coisas vivas esto aqui
e, to bonitas, continuam
as coisas vivas continuam
as coisas vivas continuam
as coisas vivas so sim
as coisas vivas tm uma coisa
talvez de coisa delicada
que diferente de coisa bruta
as coisas vivas so coisas midas
esta verdade no se discute
por mais que a casca seja crocante
e o cerne pra l de duro
as coisas vivas
s esto vivas
por um constante barulho d'gua que repercute
13 Prmio Escriba de Poesia
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Hashtag lua
Pseudnimo: Minguante
Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto
Piracicaba - SP
E nas cheias
caminhamos noites
incansavelmente
Passos em minguantes
solitrios
Tribos em redes sociais
desatrelaram-se dos astros
atores brilhantes sem plateia
A luz fria do quarto
lmpada eclptica no teto caiado
ausncia de sonhos, estrelas e luar....

13 Prmio Escriba de Poesia

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Medusa
Rodolfo Elias Minari
Rio Branco - AC
Ganhei uma espada e asas de besouro
Pra ir distncia que a Deusa deseja
Trazer, da Medusa, em uma bandeja
A feia cabea, que vale tesouros
Mas no sou heri, no desejo fortuna
Eu no sou Arjuna, nem Thor, nem Ulisses
Quem foi que lhe disse que aceito dinheiro?
Prefiro, primeiro, o sossego das matas
Recolha sua prata, e guarde seu ouro
Me d s um couro pro meu tamborzinho
Teci com carinho uma rede de malha
Casinha de palha pros meus mamulengos
Eu tenho um balaio cheinho de dengos
Pra quando o amor de minhalma chegar
Eu espero uma vida no mesmo lugar
Pra ver aportar a metade perdida
Eu tenho um ba onde guardo segredos
Vestidos e medos que ningum mais usa
A espada e o olhar da horrenda Medusa
Que a Deusa pediu, mas no veio buscar

13 Prmio Escriba de Poesia

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Corpo e alma - I
Sergio Fonseca
Mesquita - RJ
Que amor esse que, triste, se contenta
s com lembrar a criatura amada?
Que, quando est distante, se apresenta,
que, quando est por perto, no diz nada?
Que amor esse que, livre, se acorrenta
e se embalsama em cada punhalada?
Que, fonte de si mesmo, dessedenta
a prpria lucidez alucinada?
Que amor esse que, moda de Vincius,
se deixa maculado de pureza,
se quer purificado pelos vcios?
Amor que me arrebata e que me acalma,
que, quando se ilumina de tristeza,
descansa a dor do corpo sombra da alma...

13 Prmio Escriba de Poesia

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V e v
Andre Telukazo Kondo
Jundia - SP
minha av uma aranha
verdade
eu a vejo
tecendo sua teia
v diz que croch
ponto a ponto
uma grande teia branca
v diz que toalha de mesa
e quando a teia est pronta
de tardezinha no stio
minha av
coloca ao centro
da toalha de croch sobre a mesa:
um bolo de fub
os netos caem na teia
v diz que amor

13 Prmio Escriba de Poesia

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Mnage trois
Jacqueline Salgado
Bauru - SP
Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silncio em que foram criadas."
(Agustina Bessa-Lus)
O sujeito,
meio torto, meio lrico,
debrua-se sobre o universo.
Ele,
quotidiano,
toma para si a intimidade da potica.
Ela,
quase mnima,
recria os objetos,
refaz os conceitos
e aceita a rotina imposta pelo sujeito.
Eis ento que surge a palavra,
e ela chega silenciosa,
para desalinhar todos os versos,
para desafiar as rimas,
para verter todos os verbos
em regatos de sensaes.
Aquele eu lrico
tomado por comiches
e centelhas,
pede passagem no tempo
e no espao,
abre brechas no texto
ou ocupa um lugar
concreto
13 Prmio Escriba de Poesia
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no abandono das paredes.

Aquele quase lrico,
aquele quase eu,
fruto de um mnage trois
entre o sujeito,
o quotidiano
e a potica,
comea a crescer
dentro da palavra-ventre,
dentro da palavra-corpo.
dessa gestao
(ou desse buraco negro)
que vai surgir,
assim,
lento ou afoito,
o mais puro
(ou o mais vira-lata)
dos poemas.

13 Prmio Escriba de Poesia

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Curriculum Verax
Lucas Bronzatto Silveira
So Paulo - SP
Desculpe no ter anexado uma foto
que s vezes a gente v mais com a imaginao
do que com os olhos
Meu rosto comum
barba culos cabelo curto nariz de batata olhos atentos
Tenho os sentidos aguados
bastante permeveis ao sofrimento do mundo
Vivo levando para o travesseiro dores que no so minhas
poemas que no chego a escrever
Ficarei muito feliz se puder trabalhar de chinelo
bermuda de surfista e camisa de time de futebol
ou qualquer outra roupa que no precise passar
Esse diploma de farmacutico que vai anexo
conferiu-me um grau enorme de indignao
com a indstria farmacutica e suas tticas de colonizao
Resisto a uma dipirona como criana a um xarope
Minhas melhores referncias no viro dos patres
sempre acabo deixando transparecer
a indigesto que engolir hierarquias me causa
Como referncias bibliogrficas
cito os livros que ainda no li
e algumas tirinhas da Mafalda protagonizadas pelo Felipe
Da infncia ligada no videogame
13 Prmio Escriba de Poesia
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carrego essa ideia estpida de invulnerabilidade

traduzida em convenientes anestesias na vida adulta
mas carrego tambm a capacidade de enxergar um continue
sempre depois de qualquer game over
Passei da fase de viver jogando
por isso no conte comigo para jogos de poder
Ambio e orgulho no foram salpicados na minha argila
Mas se ainda assim quiser jogar te alerto de antemo
que sentir primeiro aquela raiva infantil
que a indiferena causa nos adultos
depois colocar um chapu de burro no meu peo
e me deixar rodadas e rodadas sem jogar
Ah, em jogos desse tipo meu peo o branco
est sempre do lado dos outros pees
e leva dentro meus sonhos vermelhos
bem maiores que qualquer mesquinharia
Voc talvez dir que sendo assim
caminho rumo a lugar nenhum
e exatamente l que eu quero chegar
Se as pessoas fascinantes que conheci que so assim
e as que ainda no conheci
tambm tm como destino esse lugar chamado nenhum
quando chegarmos todos l
vamos colocar na entrada uma placa
feita mo com as palavras
bem vindo a um lugar onde gente tratada como gente
vamos hastear nossas bandeiras
e construir no meio das rvores casas feitas de sonhos
tornados realidade

13 Prmio Escriba de Poesia

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gua nua
Ilda Pinto Almeida
New Jersey - EUA
Toma-me, rio, nos teus abraos
E rega a minha magreza
Eu sou cho aplastado
Que minto e finjo o verde prado
No lamento dos meus cansaos
Minhas entranhas bramam, o abrao
Em teu leito fresco e alongado
Rega-me o ventre j lasso
E fecunda este solo vido
Sou pragana lanada no sequio
Se me no me visitas com teu cio
Quero ser tua predileta
Em teus braos me secumbir
Ser terra grvida a florir
Neste sedutor acasalamento

13 Prmio Escriba de Poesia

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Paradoxo
Mateus Felipe dos Reis Martins
Belo Horizonte - MG
A vida une o insano ao sensato
Mescla fantasia e fato
A vida afirma
E contradiz
Na vida o eterno efmero
O sempre nunca
E ser triste
ser feliz
A vida faz do nosso muito to pouco
Faz do racional o louco
Confunde princpio e fim
Na vida os fracos so fortes
Toda unio corte
O prprio viver morte
Enfim

13 Prmio Escriba de Poesia

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