Definitivo-Mistérios de Um Amor PROIBIDO-12!05!11
Definitivo-Mistérios de Um Amor PROIBIDO-12!05!11
Definitivo-Mistérios de Um Amor PROIBIDO-12!05!11
Mistrios de Um
Amor Proibido
So Paulo
1 Edio - 2011
ISBN: 978-85-7893-000-0
1 Edio
Maio 2011
Vendas:
www.biblioteca24horas.com
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a Deus, por tudo que tem
feito a mim e minha famlia, como um todo, meu
pai, me e irmos, Samuel e Paulo Sergio, agradecer
tambm aos meus professores e amigos, Nilda,
Cristiane Faustino, Sabrina, Mrcio, Rita, Sergio e Ana
Paula.
Deus sabe todas as coisas, sabe o dia e o
momento de nos dar aquilo que queremos; o
importante no desistir dos sonhos. Pois so dos
sonhos que a vida feita, sonhar transcender a
vida e ir alm da alma. Assim como ler um livro.
Viver saber esperar o momento de ir alm do que
pensamos ou desejamos. Sem deixarmos de
reconhecer quem nos ajudou, o reconhecimento o
maior sentimento que um ser humano pode ter para
com o outro. Saber reconhecer uma ajuda e gratificla, pois isso coisa de Deus. Jamais devemos ser
arrogantes ao ponto de deixar de agradecer a todos
que o cercam, sejam eles amigos ou pessoas que
querem o seu mal. Pois na hora da adversidade que
vemos a luz no fim do tnel... A ingratido o pior
sentimento que o ser humano pode ter, por isso,
agradeo a todos que esto relacionados acima.
Nota do autor
Caros leitores, com muita honra que lhes
apresento o meu romance de lanamento no meio
literrio. Este um livro cheio de romantismo, drama
e muita emoo. Espero que a leitura desta obra
traga-lhes muita alegria e compreenso a todos.
Esta obra traz marcas de um passado no muito
distante ao nosso, contudo deixou uma saudade
imensurvel aos amantes do romantismo. Foi uma
era de muito romantismo e de muita luta. Luta por
ideais como a abolio da escravatura, ascenso da
burguesia, queda do Imprio e criao da Repblica
que conhecemos hoje. Devemos ver o passado no
s como coisas que j passaram, contudo como um
aprendizado para o futuro; o passado no apenas
algo que est nos livros, mas est dentro de cada um
de ns. Entender o passado sobreviver no presente
e no futuro; no existe presente nem futuro sem
haver passado.
A narrativa a seguir um texto meramente
ficcional, no h nenhuma ligao com pessoas vivas
ou
mortas.
Qualquer
semelhana
mera
coincidncia.
Sinopse
A narrativa far uma viagem entre dois sculos,
contando a histria de dois coraes apaixonados.
Beathriz, uma moa linda, meiga e de corao bom
que, diante das dificuldades da vida se v
apaixonada por algum que lhe parece ser o melhor
partido da regio. Henrique, rapaz de boa famlia,
abenoado pela natureza que fora generosa com ele,
pois lhe despejara a fortuna e a beleza. A fortuna que
fora despejada sobre a cabea dos dois na parte
material fora-lhe tirada quando o assunto era o
sentimento. Rodeados por pessoas malficas e
invejosas veem-se em maus lenis, quando se
decidem unir. Tudo isso rodeado por um grande
mistrio, que ser revelado somente no final.
H muito tempo, houve uma poca em que o
cavalheirismo e a magnificncia predominavam; a
honra e a dignidade eram fatores importantes
perante a sociedade e na constituio familiar. poca
em que as damas se vestiam com o maior esmero.
Crinolinas,
anguas,
merinaques,
musselina,
chamalote, entre outros artigos de luxo.
Nesse mundo o galanteio fez sua ltima
mesura. Aqui foram vistos pela ltima vez os
sinhozinhos e suas sinhazinhas, bares e escravos,
procurem-nos apenas em livros, pois no passam de
um devaneio a ser rememorado.
Boa leitura!
Cordialmente,
Claudio Pereira.
Prefcio
Em algum lugar do passado
So Paulo, dezessete de maio de 1999.
Sempre pensei no passado como um tempo de
amores impossveis com mocinhas, mocinhos,
senhores e escravos. Mas, dentro do meu ser, l no
fundo do meu mago, sempre soube que minha
vinda na Terra no havia sido em vo.
A paixo pelo passado sempre me perseguiu.
Era latente, um sentimento de xtase, dor e alegria
por no ter tido a oportunidade de viver em uma
poca, sculo XIX; quando a vida ainda fazia sentido.
Pessoas lutavam para manter a honra, a moral, os
bons costumes, a classe e o poder. Sangue era
derramado a cada novo defronte em um duelo,
duelos sangrentos que sempre ceifavam a vida de
um ser, ou de outro. Assim como disse o grande
escritor William Shakespeare: Ser ou no ser, eis a
questo! Assim tambm algo dentro de mim no
encontrava a resposta que eu buscava, no passado.
Por que no conseguia me encaixar nessa
sociedade?
Por muito tempo achei que o que havia
acontecido comigo no passara de sonho, porm
nunca encontrei essa resposta. Confesso que no
comeo senti medo; no entanto, o medo foi se
tornando um misto de alegria e satisfao. Um gozo
transcendental, inexplicvel. Devaneio, marasmo ou
apenas realidade? Estas eram algumas das minhas
indagaes; no incio achei que estivesse ficando
louco, mas depois isso passou, tudo era mgico, era
tudo perfeito. Busquei tanto por aquilo e agora
8
20
21
Sumrio
Apenas
uma23
infanta ..................................................................
....
Sintra ....................................................................35
............................
O
colgio
de 44
freiras .................................................................
.......
O
incio
de
um
ano-55
bom ................................................................
O brilho de uma nova estrela no cu do68
Brasil ........................
A
74
fazenda .................................................................
........................
As
82
visitantes ................................................................
....................
A
97
debutante .............................................................
..........................
A
107
essncia ................................................................
........................
Mistrios
do116
corao .................................................................
...
O
136
toillete ...................................................................
.......................
As
144
22
viagens .................................................................
......................
12
O
passado
vem
168
tona ..............................................................
A
177
missa ......................................................................
.........................
A
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lgua .....................................................................
...............
A
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sombra ..................................................................
.......................
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inesperada ............................................................
.............
O
214
regresso ..................................................................
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abenoa ................................................................
....
O
dia 241
seguinte! .............................................................
..................
O
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crepsculo ............................................................
.......................
A
264
preparao ..............................................................
....................
A
grande271
amazona ...............................................................
..........
Armaes
279
diablicas ................................................................
.....
23
As
festas302
vindouras ..............................................................
.........
A
311
primavera .............................................................
........................
Casada
e323
infeliz ....................................................................
...........
A
face
boa
da331
tirania ...................................................................
..
A
347
corte .....................................................................
..........................
Glossrio ...............................................................369
..........................
24
Captulo I
Apenas uma infanta
formas,
uma
cintura
finssima,
um
busto
proeminente, sua pele era rosada e macia, mas de
certo modo castigada pelo sol. Seus seios arfavam
sobre o decote do vestido, os cabelos caam por
sobre o decote em lindos cachos. Seus dotes eram
imensos, falava quatro idiomas com extrema
fluncia: ingls, francs, portugus e o hngaro,
pintava, bordava, cozia, tocava piano e cantava
como ningum. Por isso foi trazida dos Estados
Unidos para ensinar-lhe.
Aos dez anos, Beathriz j sabia falar ingls e
francs e estava quase aprendendo hngaro; j sabia
bordar, pintar etc. As jovens sempre acompanhavam
as negras, quando saam da casa-grande para lavar
roupas. Charlotte estava sempre ao encalo da
menina, usando a clssica capa de veludo negro e a
sombrinha escarlate-prpura, pois no podia tomar
muito sol.
Antes das jovens atravessarem o hall da casa, a
baronesa fazia um longo sermo para Charlotte:
Minha filha, no deixe Beathriz por muito
tempo embaixo do sol e cuidado com cobras,
aranhas e bichos venenosos. Ah, antes que eu me
esquea: cuide dos modos dela, no a deixe se
misturar muito com os negrinhos.
O sermo era pior que o sermo do padre da
parquia de Sant Anna. Toda vez ela fazia o mesmo
discurso; a jovem j sabia at o que ela diria. E,
quando saa da casa-grande e subia no coche,
Charlotte repetia com um grande sotaque sulista
americano a alocuo que ouvira h pouco da
baronesa, e as duas caam na gargalhada. Quando
chegavam beira da lagoa, a jovem despia Beathriz
das roupas de passeio e vestia-lhe com as roupas de
banho. Assim passavam a tarde toda, at o debruar
do sol sobre as colinas.
Beathriz venha aqui, menina! Exclamou a
26
Beathriz?
Sim... Podemos ir agora. J esclarecemos tudo
o que tnhamos pendente.
A senhora enlaou o brao de Beathriz e, de
braos enlaados, caminharam at o porto de sada.
A carruagem estava esperando-as soleira da
escadaria. Partindo o coche, no demoram muito
para chegar ao palacete de sua av, Maria Tereza.
O carro parou diante da porta de madeira nobre.
O lacaio desceu, abriu a portinhola e ajudou a
senhora de mais idade descer. Depois fez a mesma
coisa com Beathriz Emmanuelle.
Essa a casa de minha av? Perguntou Bya,
enquanto olhava tudo minuciosamente, atnita com
toda aquela beleza. No que a fazenda onde nascera
no fosse bonita, mas no era naquele estilo
neoclssico.
Ora... Pois no gosta do que v? Indagou a
madre superiora. Achas muito pequena? Sei eu! Tu
estavas acostumada com uma fazenda gigantesca;
onde tu corrias para cima e para baixo de cavalo.
Acertei, no ?
De certo modo, sim, porm no isso.
porque tudo parece mais bonito que nas fotos de
mame!
As duas foram recebidas por uma senhora muito
simptica, no alpendre. E foram conduzidas por ela
at o hall principal. De fato era a governanta.
Eis aqui a neta de tua senhora! Murmurou a
madre, colocando a mo sobre o ombro da senhorita
Albuquerque. Cad dona Maria Teresa?
Ora, pois... Que menina mais linda essa?
Redarguiu a senhora, enquanto passava a mo nos
caracis da menina. Entrem e esperem na sala de
estar, pois ela j descer. A pobre trabalhou muito e
suas roupas estavam sujas, por isso, foi troc-las.
As duas entraram e foram servidas de um
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refresco.
Se a casa parecia ser linda por fora, imagina a
surpresa que ela teve ao entrar. Tudo era ainda mais
lindo; a moblia era de madeira nobre toda talhada; a
parede era recoberta por um papel de parede na cor
damasco
com
azul-anil;
as
cortinas
eram
adamascadas, quase no mesmo tom dos papis de
parede; o hall de entrada tinha um lustre de cristal
belga; as paredes eram recobertas com mrmore
italiano; a escadaria principal tinha vinte e trs
degraus, no mais puro mrmore branco.
Beathriz e a irm Felcia foram levadas para um
amplo salo. Aguardaram l cerca de meia hora.
Meia hora depois uma senhora bem trajada se
apresentou diante delas. Entrando ela na sala, nada
disseram; apenas observaram-na. A senhora tinha
um andar imponente e altivo, provavelmente por
causa de sua situao financeira. Aproximou-se de
ambas.
Boa tarde!... Quem essa rapariga, Felcia?
Beathriz continuou calada apenas. uma
senhora de muito bom-gosto, mas que se veste com
cores sbrias. Talvez seja uma viva, todavia parecia
ser bem alegre, pensava a menina. Trajava um lindo
vestido de musselina na cor magenta com algumas
aplicaes de seda na barra, no pescoo trazia um
colar de prola negra, os cabelos estavam penteados
de acordo com a moda da poca e presos em uma
redinha.
a sua neta, senhora Maria Teresa!... Disse
Felcia.
Tinha a visto apenas por foto. Mas na foto ela
ainda era uma menina de colo, no tinha sado dos
cueiros respondeu a velha. Nossa... Como voc
linda!
Obrigada! Respondeu Bya.
Como foi sua viagem, minha neta? Creio que
33
37
Capitulo II
Sintra
47
Captulo III
O colgio de freiras
parte
pobre
de
Lisboa;
l
distriburam
55
59
Captulo IV
O incio de um ano-bom
disse:
Est bem, mas no demore muito.
Sim, madre!
A madre superiora saiu e ela continuou.
Marcava trs horas da tarde no relgio da igreja,
quando Bya, Hadassa e Maria Eduarda deixaram o
quarto. Bya estava simplesmente belssima, trajava
um lindo vestido de cambraia na moda saia-balo, na
cor vermelho-carmim. Trazia na cabea um lindo
chapu de abas largas, no mesmo tom do vestido, j
no dorso ostentava um lindo manto de veludo negro
e nas mos uma luva de pelica branca. Enquanto
caminhava pelos corredores do convento, as
merinaques de sua saia batiam nas moblias e as
derrubavam.
Enquanto caminhava para a sada, sua mente
fazia um remember dos momentos felizes e tristes
que passou ali. Sentia como se estivesse sendo
arrancada do ventre de s madre. A cada passo que
dava era mais um pedao que lhe era extrado. Aps
ter atravessado um imenso corredor, comeou a
descer as escadas da sada principal. Assim que
chegou ao ptio do colgio, ela e Hadassa caram no
choro, pois em vossa frente estavam todas as freiras
e a principal delas, a madre superiora, uma de suas
melhores amigas, desde que entrara no colgio, alm
de Maria Eduarda.
O condutor do coche desceu da boleia, abriu a
portinhola, para que Beathriz pudesse entrar. Antes
de entrar, Beathriz cumprimentou todas as freiras e,
quando chegou a vez de Maria, as duas se
abraaram e comearam a chorar. Ento a novia
disse a ela:
E agora, minha amiga, o que ser de mim?
No chores! Pois, quando quiser me ver, v a
minha casa.
As duas trocaram algumas palavras e logo
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indagou Chica.
Ns tambm adorvamos ficar na gua. No
podemos esquecer que, enquanto tomvamos
banho, o feitor e os capatazes ficavam espreita,
apenas esperando para que uma de ns sasse do
crculo e nos embrenhssemos no mato. Eles nos
apanhava fora e nos fazia mulher redarguiu
Joslia.
Sem contar a alegria da sinhazinha e o dio da
sinh velha, que odiava, pois a menina sempre
chegava casa-grande em um desalinho sem
tamanho.
Lembra... Lembra como a sinh ficava, quando
via a sinhazinha molhada e misturada aos nossos
filhos. Dizia ela: Por lcifer, quando voc aprender
que uma sinhazinha no deve se misturar a essa
negrada?. Por mil demnios, quando, menina? Espero
que logo, pois j est se tornando uma moa e no
deve andar assim, no barro e embrenhada na mata,
dizia a sinh, no , Chica?!
Mas sempre a sinhazinha respondia: mame,
no se deve tratar gente assim, pois eles so negros,
mas so gente. E Papai do Cu no gosta que a
senhora diga isso. Nem dos escravos, nem esse
nome feio, cruz-credo!...
O momento nostalgia durou horas. At que as
negras voltaram a trabalhar. Joslia foi lavar as
roupas no riacho, e Chica levou os urinis para
despej-los no riacho.
Na fazenda, os preparativos estavam em pleno
vapor corri daqui, puxa dali, varre l, espana aqui,
encera ali e aqui, troca a roupa de cama, varra os
tapetes, troque as cortinas, use o escovo nas
poltronas, div, cadeiras e outros. A criadagem
trabalhava em um ritmo acelerado, porm feliz, pois
havia muito tempo sentiam falta de Beathriz. Os
escravos tinham um amor incondicional por Beathriz,
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72
Capitulo V
O Brilho de uma nova estrela
No cu do Brasil
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Captulo VI
A fazenda
Cambraia
amarela,
listrado
com
grandes
incrustaes de renda e de fil junto bainha era
lindo, todavia para ela j se fazia fora de moda. O de
seda azul com babadinhos debulhados de fitas de
veludo azul-anil e com muita renda francesa
assentuava-lhe muito bem. E era o seu favorito por
acentuar seus olhos e suas formas, principalmente a
cintura, que era a menor da regio de Sant Anna das
Rosas. Possua ainda muitos vestidos de casa e de
gala, Beathriz tinha tantos vestidos que precisou de
cinco aposentos e de vinte e cinco bas sem contar
os dez guarda-roupas.
A mucama apertou-lhe o espartilho para
quarenta e cinco, entretanto seria preciso apertar-lhe
ainda mais. Empurrando a porta, Beathriz encostouse ao dossel da cama; a mucama por sua vez
apertou-lhe ainda mais a cintura. Horas depois,
Beathriz havia finalmente escolhido o vestido sem
decote, como era de costume. Nenhuma mulher
deveria usar decote antes das dezesseis horas.
Hadassa deu-lhe um xale de casimira na mesma cor
do vestido. Enquanto caminhava para o corredor, Bya
lembrou-se de que deveria deixar um vestido de
montaria separado, pois cavalgaria aps o desjejum.
Beathriz havia escolhido um lindo vestido de
musselina com aplicaes em tafet verde-bandeira
e trazia sobre o dorso um lindo xale de casimira, a
saia era ampla, tinha por volta de dois metros na
circunferncia; o corpinho era bem estreito e afilado
na delicada cintura. O cabelo caa-lhe por sobre o
decote, em voluptuosos anis, trazia sobre a cabea
o diadema, parecendo-lhe uma coroa.
Quando terminou de se vestir, Beathriz
debruou-se sobre o peitoril da janela, esperando
que os outros moradores acordassem. Uma a uma as
janelas e porta se abriam o vento frio ainda soprava
no horizonte; nada melhor que os festes de sol para
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88
Captulo VII
As visitantes
volta.
Seu pai?
? Por que tanta surpresa?!
Sei l... Esperava nunca mais v-la!
No gostou da minha visita...?
Ora, pois... Claro que sim!
Ah t!... Pensei que havia me esquecido?
Como poderia?!
Sei l?! Vai saber!
como dizer que Jesus esqueceu o mundo...
Nada a ver.
Qual foi a promessa que fiz, antes de deixar o
convento? Hein?...
A personagem que acabou de surgir em cena
nada mais nada menos que Maria Eduarda, a antiga
amiga de Beathriz, aquela do convento. Assim como
Beathriz, Maria veio ao Brasil aps a convocao do
pai. A jovem trajava um lindo vestido de veludo
adamascado na cor marfim; seu porte era senhoril,
caminhava com segurana e altivez; com talhe de
grande dama, silhueta angulosa, porm afetada. O
quadril sacolejava conforme o andar, a cintura fina
dava ainda mais afetao ao caminhar.
Cheguei ao porto de Maca h duas semanas,
todavia s ontem pude procurar-te. Achei voc por
causa do edital que saiu no jornal: sobre o baile
oferecido por sua me sociedade, em sua
apresentao.
? Que bom... Pelo menos, voc veio!
A porta da sala abriu-se, e a baronesa entrou.
Boa tarde, minha filha! Disse a baronesa,
enquanto caminhava.
Beathriz ergueu-se da poltrona e foi ao encontro
da me dizendo:
Sua bno, minha me disse Bya, enquanto
beijava a mo da me. Ah... Essa aqui Maria
Eduarda, uma amiga minha que chegou de Portugal
91
Liriel
no
ficou
muito
abismada,
pois
frequentara muito aquela casa em sua infncia. Liriel
trajava um lindo vestido de saia-balo na cor lils
imperial. A tez era clarssima e ressaltava ainda mais
o vestido; na fronte, cachos caam-lhe sobre os
ombros e duas tranas pendiam no alto da cabea.
Caminhava com segurana, era delicada e meiga.
Beathriz conduziu as amigas ao toucador, onde Maria
Eduarda tirou o vestido que usava e todo o resto da
vestimenta, com a ajuda de Bya entrou na tina. Liriel
acomodou-se em um canap, prximo tina. Bya
esfregou as costas da jovem. Maria Eduarda de
Alcntara Queiroz demorou aproximadamente meia
hora dentro da tina. Durante esse tempo muitos
assuntos foram conversados, Maria narrou como
havia sido sua viagem e descreveu o rapaz que
conhecera na viagem.
Deixemos agora um pouco nossas pessoas
notveis em seus aposentos, para que possamos
falar das secundrias, ou seja, dos escravos, feitores,
capatazes, entre outros. Enquanto as damas
preparavam-se
para
o
jantar,
as
escravas
terminavam suas tarefas. Chica, junto ao fogo de
lenha, preparava o arroz; ao seu lado, uma negrinha
colocava o frango na tigela.
Na sala de jantar, Hadassa, acompanhada por
outra escrava, preparava a mesa. Primeiro
estenderam a toalha de linho branco sobre a mesma,
colocaram os copos, as taas de cristal, pratos de
porcelana chinesa, jarras com gua, sucos variados,
etc. Hadassa era escrava, porm forra, distinguia-se
das outras pela educao e pela forma que se
portava. Havia recebido educao e vestia-se de
acordo com a moda.
Antes de ser entregue a Beathriz como dama de
companhia, receberam na corte aulas de tudo que
precisavam saber para servir uma senhora. Talvez, se
96
respondeu:
No, sinh. Desculpe-me?!... que eu estava
l fora dando comida aos ces. E agora ia servir o
feitor e os escravos. Chica trazia as mos dentro de
seu avental de chita barata. Mil perdes, sinh, se
faltei com respeito minha senhora...
T... T... Agora pegue uma vassoura, o
esfrego, um pano e um recipiente com gua e sigame, vocs tambm, suas imbecis!
Assustada, Chica pegou o recipiente com gua,
Oflia e Lucinda pegaram a vassoura, o pano e o
esfrego, e seguiram-lhe. Com certeza aquele dia
terminaria mal, a baronesa no estava com o esprito
mui amigvel. Acordara com o p esquerdo naquela
manh. Logo pela manh havia brigado com outra
escrava, uma jovem mucama que at pouco tempo
colhia caf e agora servia na casa-grande. A pobre
havia derrubado o urinol.
Isabel ia frente, bufava mais que bfalo
selvagem; logo atrs vinham as escravas acuadas,
acuadas mais que lebre diante de seu predador. A
baronesa abriu a porta da sala, as trs entraram.
Isabel aproximou-se do lugar sujo e, olhando para o
cho, disse:
Olha aqui, sua idiota... Venha ver! Apontava
ela para o cho.
Chica e Lucina aproximaram-se do local e
disseram:
Pode deixar, sinh, limparemos isso tudo
agora!
As negras ajoelharam-se diante da imundcie;
Chica pegou o esfrego e comeou esfregar o lugar.
A baronesa indicou o outro lugar que estava sujo e
com a vassoura Oflia varreu. Depois que se
certificou da limpeza, a baronesa saiu, deixando-as a
ss.
De p junto a uma mesa Oflia disse:
102
104
Captulo VIII
A Debutante
114
Captulo IX
A Essncia
124
Captulo X
Mistrios do corao
estendida
ao
cho.
Hadassa,
com
muita
graciosidade, reclinou-se aos ps de sua sinhazinha
e, pegando o tufo de pano, ergueu e cingiu-lhe a
cintura, abotoando camada por camada. Aps
apertar bem o espartilho e colocar todas as camadas
de tecido que cingia a saia da moa, a escrava pegou
o vestido de gala e o colocou sobre aquele monte de
saias, que j se encontravam sobre o merinaque. Ela
ento caminhou e, olhando-se no espelho, disse:
Creio que agora s me falta dar o ltimo
retoque no penteado penteado que estava firmado
base de muita gua aucarada.
Isaura e as outras moas ainda tentavam
apertar o espartilho, mas no conseguiam passar dos
quarenta e cinco. Algumas no suportavam tamanha
presso na cintura e desmaiavam, outras chegavam
a apertar, mas ficavam sem ar e arroxeavam. Isaura
conseguiu chegar aos quarenta e cinco, sem passar
mal.
- Beathriz, minha filha, como tu consegues ficar
com a cintura to comprimida. H pouco quase
desmaiei disse outra moa, quase sem flego.
Amiga, mesmo, como vossa merc
consegue?
Ah, no sei, mas creio que j me acostumei
com isso replicou Beathriz, enquanto terminava o
penteado. Desde que completei doze anos minha
me branca e minha me preta obrigam-me a usar o
espartilho todos os dias e cada dia mais apertado.
Tiro apenas para banhar-me e para dormir. como se
fosse um ritual de famlia. Minha bisav dizia que,
quanto mais fina a cintura da moa, maior ser o
dote que lhe empregaro. Ela dizia e agora minha
me, diz que uma mulher adquire postura usando
isso e que os homens gostam de nos ver assim!.
Elas no me deixam sair de casa de estmago vazio,
pois fcil saber se uma moa ou no uma dama
138
de classe pelo modo de comer gargalhou Beathriz. Tolice... Tolice. Coisa de mulher mais velha, mas
como devo obedincia minha madre! Alm do que,
eu no reclamo. Pois adoro me sentir a nica, em
toda provncia de Sant Ana, que tem uma cintura
assim. Sempre que passo nas ruas, em meu coche,
ouo galanteios eloquentes e piadas de pessoas
invejosas: Olha l, que coisa linda. Nossa que
cintura. No sei para que, tamanho exagero. Isso
apenas para aparecer. J estou to acostumada
com essas coisas que nem ligo mais. Sei que no
passam de invejosas, gordas. Pessoas que nem
conseguem chegar a quarenta e nove centmetros. J
tiro de letra essas piadas.
Assim como Beathriz, suas primas, Isaura e
todas as outras raparigas estavam deslumbrantes.
Cada uma mais bem vestida que a outra. Ela estava
em um lindo vestido de chamalote e tafet, na cor
amarelo real e ouro prpuro. O corpinho estava muito
bem apregoado ao corpo e a saia-balo estava ainda
mais ampla que o normal.
Logo aps terem dado os derradeiros retoques,
as sete raparigas, incluindo Beathriz e Isaura,
colocaram-se diante da porta de sada. Uma escrava
que estava no quarto abriu as duas bandas da porta,
e uma aps outra saiu dos aposentos. Diante da
situao em que se encontravam, Beathriz e Isaura
haviam se tornado amigas inseparveis. As duas
desceram as escadarias de braos atados. Quando as
duas chegaram ao trio principal, Isaura a
apresentou ao seu cnjuge. Diante daquela situao
lvaro disse:
Prazer, sinhazinha Beathriz murmurou
lvaro, enquanto fazia uma leve mesura. timo
saber que minha esposa fez amigos aqui, pois assim
ficaremos ainda mais vontade. Teremos a honra de
receb-la em nossa fazenda em Campos quando
139
145
Captulo XI
O toillete
154
Captulo XII
As Viagens
horas.
Beathriz... Bya... Senhora Emmanuelle dizia
Hadassa.
Bya estava to entretida com o livro que s
percebeu os cutuces da escrava quando ela a
beliscou.
Ai!... Ai... O que foi isso, Hadassa? Murmurou
Bya assustada.
Vamos, sinh, j chegamos estao de Sant
Anna.
Poxa, s isso? Quase arrancou o meu brao...
A senhora parecia estar sonhando, debruada
sobre esse livro a...
Ah, Hadassa. Tu no sabes o que sonhar com
o amor perfeito...
T, sinh. Depois a senhora me conta, mas
agora temos que sair!
Beathriz colocou a capa nas costas, recolheu
suas coisas e seguiu a escrava, que a conduziu ao
coche, onde estava a baronesa, aguardando-as. A
porta da carruagem foi aberta, e Beathriz entrou sem
esperar ajuda, assentando-se ao lado da baronesa
Isabel.
Nossa...! Que bela acrobacia, minha filha!
Espero que no faa mais isso. Comportou-se agora
como um macho murmurou a baronesa. Deves
honrar o estigma das mulheres de nossa famlia de
lindas e educadas.
Ah, minha me... Poupe-me desta hipocrisia,
estamos somente ns aqui! Quem h de reparar
nisso?... Dizia Beathriz, enquanto se acomodava.
No estamos em nenhum salo de baile da nobreza
para que eu me comporte como essas idiotas que s
sabem dizer sim... No... Sim... No, como fazem
essas idiotas que vivem para arrumar marido.
Olha como fala comigo, mocinha! Sou sua
me e minha obrigao mandar, e a sua
175
obedecer...
Percorreram todo o caminho de volta sem trocar
uma palavra sequer. A baronesa estava indignada
pela forma com que havia sido tratada pela filha.
Porm Beathriz pensava que aquilo tudo ali no
passara de um grande mal-entendido; em outras
circunstncias, jamais levantaria a voz para sua me.
Os nervos estavam exaltados e os sentimentos flor
da pele.
Assim que chegou fazenda, o desejo maior de
Beathriz era tomar um banho, e assim o fez. Beathriz
se recolheu ao silncio de sua casa de banho e,
durante algumas horas, manteve-se submersa em
uma tina de gua quente. Bya saiu da tina, enxugouse e vestiu uma roupa no muito confortvel, um
vestido de saia-balo de cetim na cor amarelo-ouro,
trazia na cintura uma faixa de veludo rosa que lhe
cingia perfeitamente a cintura donairosa. Novamente
tranquila, pensou em cavalgar um pouco pelas
campinas, ou quem sabe caminharia at a casa do
preto velho, que ficava junto senzala, para tomarlhe alguns conselhos.
Desde
muito
nova,
Beathriz,
quando
preocupada ou temerosa, corria ela aos braos de
uma negra j velha, esposa desse tal preto velho.
Negra que havia visto cinco geraes da famlia
Albuquerque vir ao mundo. Era como se aquela
senhora lhe trouxesse paz e lhe desse bons
conselhos. A baronesa no gostava muito das idas de
Beathriz casa de tapera dos velhos, mas isso no a
impedia. Era s aparecer um problema, que l estava
Beathriz jogada aos ps da negra.
Desceu a escadaria principal na ponta dos ps,
temerosa por ser descoberta por sua me, que
certamente a impediria de sair. Passou pela ala norte
da fazenda e encontrou algumas negras que varriam
e espanejavam os mveis. Passou por um, dois e trs
176
180
Captulo XIII
O passado vem tona
189
Captulo XIV
A Missa
Entre... Quem ?
Sou eu, sinh. Vim ajud-la a se vestir, pois a
baronesa j est pronta, espera de vs!
Pode entrar, Hadassa concluiu Beathriz
A porta do toucador abriu-se, e a escrava entrou.
Vosso banho est pronto!
Beathriz ergueu-se da cama e, colocando o
roupo no dorso, foi ao toucador, onde trocou de
roupa e entrou na tina. Ali se manteve por alguns
minutos, saiu, secou-se, passando em seguida para o
biombo, onde trocou de roupa novamente, colocou o
traje de baixo e foi para a penteadeira onde arrumou
o cabelo. Aps arrumar os cabelos, Bya, com a ajuda
da escrava Hadassa, vestiu o vestido de saia-balo de
seda na cor lils. Aps longas duas horas, Beathriz
saiu correndo pelos corredores e, descendo as
escadas, foi ao encontro da me, que a esperava no
hall.
Graas ao bom Deus, minha filha! Achei que
no iria mais missa! Bradou a baronesa com
grande furor.
Tu ponderaste errado, minha me! Como
deixaria de ir missa? Jamais deixaria de ir encontrar
minhas amigas e ver o vigrio. No vieram mais nos
visitar.
Beathriz rodopiou na frente da sua me e,
faceiramente, disse:
Como estou, minha me?
Est linda! Mas agora vamos, pois a missa
comear em poucas horas e temos um longo pedao
de cho!...
As duas saram do hall, subiram no coche, que
logo partiu. Minutos depois chegaram capela, Bya e
sua me desceram do coche e colocaram seus vus
na cabea. A missa ainda no havia comeado, por
isso muita gente ainda se encontrava na porta.
Bom-dia, senhora baronesa... Disse uma
191
199
Captulo XV
A uma lgua
famlias.
, Henrique, fazer o qu? Se nossa vida no
nenhum romance de William Shakespeare. Por isso,
temos que viver assim mesmo, pois o nico autor
desta opereta sem msica Deus. E ele sabe o que
faz, no ?
!... respondeu Henrique, aparentemente
desolado.
... Mesmo. vida cruel! Disse Clara, entre
suspiros.
A duas lguas dali, na fazenda dos
Albuquerques, Beathriz sofria, pois estava sendo
questionada pela baronesa. Beathriz encontrava-se
diante da foto do pai, em seu escritrio.
Pois o que minha me deseja?
Case-se, minha filha, com Francis. Ele parece
ser um bom homem e com certeza a far mui feliz
dizia a baronesa.
Senhora minha me, a senhora tem que
entender que eu no o amo.
Cale a boca!... Pois eu tambm no amava
seu pai no incio, mas aprendi a am-lo.
Ah, sei... por isso mesmo que ainda infeliz
e seca.
Com muita ira, a baronesa ergueu a mo, para
bater no rosto de Beathriz, mas conteve-se.
Me respeite, guria desaforada. Ainda sou sua
me!
No disse nenhuma aleivosia. Disse?
Replicou Beathriz, atrevidamente. Ou a senhora
acha que eu no sei que amava outro, antes de
casar com o meu pai! E que, devido a isso, foi muito
trada por ele!...
204
Captulo XVI
A sombra
crculo de amigas.
Com licena, quero me sentar comunicou
Beathriz.
sua frente, estavam trs de suas amigas:
Liriel, Anita e Antonia.
Por um acaso vocs sabem quem o meu
noivo?
Eu no! Respondeu Liriel.
E vocs?
Ns tambm no! Respondeu Ana, porta-voz
de Antonia.
A valsa havia comeado, Ana e Antonia foram
tiradas para danar por dois cavalheiros, j Liriel foi
cantar. Beathriz manteve-se ali na conversadeira,
junto a uma senhora j de idade, por muito tempo,
at que um mancebo mui guapo aproximou-se e
disse:
Com licena, minha senhorita disse o
mancebo, estendendo a mo para Bya.
Toda! O que vs desejais? indagou Beathriz,
estendendo a mo.
Concede-me esta contradana, senhorita?
Balbuciou Francis, beijando a mo da moa.
Sim! disse Beathriz, erguendo-se da
conversadeira. D-me licena, senhora?
Toda! Concluiu a velha senhora.
Francis conduziu Beathriz ao meio do salo,
onde j se encontravam outros casais.
Ele era um moo loiro, de olhos azuis, alto e
forte, que tinha por volta de vinte e oito anos. Sua
renda era de cerca de setecentos mil contos de ris.
rfo de pai e filho nico, sua me era uma senhora
bem conceituada nas rodas femininas.
O que uma senhorita to bela estava fazendo
ali no canto, amuada? Perguntou Francis,
conduzindo-a em seu primeiro rodopio. No sabes
que o lugar de uma deusa no meio do salo?
216
imperador.
224
Captulo XVII
A visita inesperada
assustada.
No sairei, pois ainda a amo!
Saia sim.
Os dois ainda trocaram algumas ameaas e,
batendo com uma toalha no rosto de Henrique,
Francis disse:
Desafio-o para um duelo! Amanh, nas
primeiras horas do dia.
Duelo aceito!
No, por favor, Henrique, no aceite!
Perdoe-me, moa, que nem sei o nome, mas
farei isso por am-la. E, se eu morrer, morrerei feliz,
por combater por sua causa. Mas, antes que eu me
v, diga-me seu nome.
Beathriz, chorando e ruborizada, disse:
Meu nome Beathriz!
Henrique subiu em seu cavalo e, antes de partir,
entregou um pequeno bilhete nas mos de Beathriz.
Naquele momento, Beathriz fora arrastada pelo
brao para dentro de casa, e l Francis descreveu
tudo o que havia visto para a baronesa, sua futura
sogra.
, foi assim mesmo que aconteceu terminou
Francis de explanar para a baronesa , mas eu ainda
no terminei, eu o desafiei para um duelo.
Mas duelo crime disse a baronesa.
A senhora queria que eu fizesse o qu? O que
est em jogo, a honra de vossa filha.
Depois de contar tudo e com muita raiva,
Francis partiu para sua fazenda, deixando a baronesa
e Beathriz sozinhas.
Minha filha, como voc pde fazer isso? Esse
rapaz que voc estava aos beijos o mesmo do
bilhete?
No, minha me! Disse Beathriz chorando.
J lhe disse que aquele bilhete eu no sei de quem !
E quem esse atrevido que invadiu nossa
228
fazenda?!
Ele o moo rico com quem dancei aquela
noite, na casa do imperador disse ela. Ele veio de
Petrpolis atrs de mim e esta noite viria falar com
voc, mas no teve tempo.
No acreditando na filha, a baronesa com clera
nos olhos pegou o rebenque e, deitando Beathriz em
seu colo, ergueu sua saia e deu-lhe uma sova.
Isso para voc nunca mais me fazer passar
vergonha diante de vosso noivo, ouviu mocinha?
Chorando e toda marcada, Beathriz correu para
seu quarto, mas, antes de terminar os degraus da
escada, disse:
Eu posso at ser obrigada a me casar com
Francis, mas amarei apenas um, Henrique!
Mas, ainda antes da menina atravessar os
umbrais da porta, a baronesa disse:
Sabe quem esse rapaz?
Beathriz virou-se, surpresa com a indagao de
sua me!
No... E por que eu deveria saber? apenas o
rapaz que escolhi para ser meu marido e pai de
meus filhos!
Se eu fosse voc, no diria isso, pois ele filho
de um poderoso baro que nos acusa de ter roubado
parte de suas terras e de ter lhe roubado dois
escravos!
Ah, que bom! Admiro-o ainda mais!
No ouse desobedecer-me, menina. Alm do
mais, voc est noiva e amanh receberemos os
parentes de seu noivo.
O que a baronesa no sabia era que antes de
Henrique partir havia lhe entregado um bilhete em
que combinavam a hora e o local de um encontro.
Beathriz deu as costas e saiu, e o resto daquele dia
no saiu mais de seu quarto, nem para jantar.
229
Captulo XVIII
O regresso
244
Captulo XIX
A chuva que abenoa
concordou em receb-lo.
Est bem. Desa e diga a ele que o receberei,
mas na biblioteca, e que no demore muito, pois
preciso sair.
A negra saiu deixando a jovem, que logo
desceu. Francis estava l na biblioteca espera de
sua amada. Estava com um gibo negro e uma cala
cor de creme, nas mos trazia um charuto cubano.
Minutos depois, Beathriz apareceu debaixo dos
umbrais da porta, vestida para cavalgar. Francis
ergueu-se da cadeira, assim como ditavam as boas
maneiras. A jovem fez uma leve mesura e,
inclinando-se sobre um sof disse:
O que voc veio fazer aqui, a esta hora do dia?
H... Indagou Beathriz, com certo tom de
arrogncia no timbre de voz. Espero que seja algo
muito importante, pois estou atrasada por demais.
V... V desembuchando logo de uma vez, pois no
tenho tempo para conversa estapafrdia. V, meu
rapaz, diz logo a que veio. Perdeu a lngua, foi?
Francis parecia estar extasiado.
No, minha rosa! Foi a tua formosura que
inebriou os meus sentidos. Ainda mais ver-te assim
com essa cara de arrogncia, que lhe cai muito bem!
H... H... H... At parece! Se voc veio aqui,
s para me dizer isso, pode voltar para o inferno,
co! Concluiu a jovem ferozmente. Agora, com
licena, pois o meu cavalo est minha espera, e eu
no gosto de deix-lo esperando. Com licena... Por
favor!
Oh, meu anjo, no me deixe aqui!
V para o diabo que o carregue! No aguento
mais olhar para essa sua cara feia! Por favor, no me
siga, pois no levarei minha mucama, e uma donzela
no deve ficar a ss com um homem...
Oh, meu anjo de candura...
Vosmec no aprende mesmo, meu caro. Eu...
251
abominveis.
A jovem Beathriz queria fugir de sua realidade,
ento cavalgou at chegar ao campo mais alto da
fazenda, onde ela ia desde sua infncia e sempre
que tinha algum problema. Era o ponto mais alto da
fazenda, l havia vrios tipos de flores e de rvores,
a terra era vermelha e era dela que Beathriz parecia
tirar foras; saa de l revigorada e com as baterias
recarregadas. Entre todos os arbustos e rvores
desse lugar, apenas um conseguia-lhe trazer as
foras, era um ip-branco, rvore rara.
Assim que a jovem chegou l, apeou do cavalo
e caminhou pelo campo, que estava florido. Ento
parou debaixo do arbusto e ficou a cismar os dedos
no tronco. Pela circunferncia que a rvore possua,
era possvel dizer que aquele arbusto estava ali havia
pelo menos cento e cinquenta anos, no mnimo.
Passava primavera, vero, outono e inverno, e a
rvore estava da mesma forma, frondosa, parecia
no se abalar. Os mais velhos da fazenda diziam que
aquela rvore tinha uma espcie de magia, que
havia sido deixada pela antiga mucama da sinh
Leocdia, bisav de Beathriz. A jovem jamais creu
nisso, mas respeitava a sabedoria dos pretos velhos.
Todos queriam descobrir qual era o segredo daquela
rvore, mas no era apenas esse mistrio que
rondava as terras dos Albuquerque. O arbusto vivia
frondoso, mas apenas quando Beathriz estava na
fazenda ou na cidade de Sant Anna, fora isso as
folhas secavam e caam. Ento a magia no estava
apenas na rvore, mas tambm na sinhazinha.
Beathriz caminhou ao redor da rvore e
ajoelhou-se aos seus caules, parecia conversar com a
rvore e, em suas palavras, dizia:
me natureza, tenha piedade de mim, digame o que tenho que fazer para ser feliz e se isso
possvel assim dizia ela. E ali ficava por horas e
254
licena!
A baronesa continuou inculcada, mas deixou
que a menina subisse para se banhar. Beathriz
ergueu a barra da saia que estava suja e subiu. Duas
horas e meia depois, estava pronta, desceu para o
jantar, em seguida foi para a biblioteca, onde se
trancou.
258
Captulo XX
O dia seguinte!
exclamou:
Ah, no... Sua escrava maldita, vossa merc
estragou minha saia de musselina, mas agora tu
pagars Anna Carolina sacudiu a saia-balo e,
esticando o pescoo para a janela e aos berros,
disse: Chico, Chico... Seu Chico, venha aqui e leve
essa escrava para o tronco e lhe d cinquenta
chibatadas. V... V...
A escrava entrou em pnico e, jogando-se aos
ps de sua senhora, suplicou:
Perdoe, sinh, perdoe, sinh... Por Deus,
minha senhora, eu no tive culpa disse Moleca,
quase chorando. Eu tropecei em vossa saia.
Mentira. que voc morre de inveja de
minhas saias-bales. S por que tu nasceste escrava
e no sinh. Pois uma coisa eu te digo: Quem nasce
na casa-grande nunca desce senzala, sua maldita
preta!
Moleca foi arrastada pelos cabelos at o tronco
que ficava no ptio inferior sede da fazenda, e
Anna Carolina foi atrs, chutando-a e praguejando. A
negra foi amarrada ao pelourinho e suas vestes
rasgadas.
Pode comear, sinh? Indagou o feitor.
Sim, pode bater nessa maldita!
Sua escrava de companhia tentou intervir, mas
sem muito sucesso.
A sesso de tortura e de sofrimento comeou e
durou por volta de cinco minutos at o trmino das
cinquenta chibatadas. Depois a negra foi tirada do
tronco e levada pelos outros negros para a senzala,
onde cuidaram de seus ferimentos, com algumas
ervas, como saio e outras.
Anna Carolina assistiu a toda a tortura sorrindo
e dizendo: Isso, sua maldita, para voc aprender a
nunca mais sujar a saia de sua senhora. Pode bater
mais at ela morrer! Depois da cena de tortura,
267
268
Captulo XXI
O crepsculo
Captulo XXII
A Preparao
disseram:
Vai, pode ir chorar no colo daquela negra
velha, talvez ela lhe entenda disse a baronesa. Se
aqui na casa-grande no ests feliz, rasque tua roupa
e v morar l na senzala com os outros negros, para
voc ver o que sofrimento!
mesmo, Beathriz. Tu no deverias reclamar
de tua sorte, pois, creio eu, que muita negrinha l da
senzala daria tudo para estar aqui, no teu lugar
disse Anna Carolina que, pela primeira vez, disse
palavras sbias, e no tolices como vivia falando.
Beathriz ergueu a saia e, dando alguns passos
pelo amplo salo, aproximou-se da porta e, abrindoa, saiu gargalhando. Minutos depois, Anna fez o
mesmo, retirando-se da sala, deixando a baronesa
sozinha. Enquanto caminhava pelo amplo corredor,
Bya divertia-se a par com sua conquista sobre sua
madre. Risonha e faceira, continuou Beathriz
caminhado pelo corredor at a ala leste da fazenda,
entusiasmada pela verossimilhana de ir amofinar o
juzo de sua me negra um bocadinho, e no
percebeu que Joo, o pajem, e o feitor da fazenda
acabavam de receber uma visita para sua me: um
cavalheiro baixo e rechonchudo, um tanto malhumorado na feio, que estava sendo conduzido em
direo antessala da biblioteca, onde j estava a
baronesa o esperando.
Aps alguns minutos caminhando, Beathriz
chegou cozinha e l estava sua me preta,
preparando o almoo e suas famosas compotas, e a
principal de todas, a pessegada, que tanto Bya
amava.
Huummmmmmm... Ai, meu Deus! Que cheiro
esse? Espero que seja o que estou pensando, pois
hoje quero me acabar nessa pessegada. Perdoe-me,
porquanto no percebi que fui mal-educada.
Primeiramente, boa-tarde! Como est minha me
286
290
Captulo XXIII
A grande amazona
298
Captulo XXIV
Armaes diablicas
Benevolncia
tua
disse
Beathriz,
relanceando os olhos novamente no espelho. No
achas que esta saia no est to ampla como dita a
moda? Estou achando-a um tanto quanto desarmada
Beathriz passou a mo nas saias e rodopiou para
ver se a saia ficava mais ampla, como ditava a moda
na poca.
Tambm acho, minha senhorinha a negra
deu alguns passos e, abrindo um ba, disse: Talvez,
se colocarmos mais uma angua, resolveria o
problema! Acredito que a modista tenha errado na
quantidade de babado de sua angua e no tamanho
de sua crinolina.
A negra ajudou Beathriz a tirar a saia de cima e,
aps colocar mais uma angua, vestiu novamente a
saia que usaria no sarau. Bya rodopiou novamente,
mas desta vez apenas para colocar cada babado em
seu lugar.
Beathriz deu alguns passos e se colocou na
frente do espelho, ento disse:
Acredito que agora estou conforme a moda de
Paris. No acha?!
Ah... Ah. Agora est mais deslumbrante que
h pouco sorriu a negra, passando a mo sobre a
ampla saia.
No creio que estou deslumbrante, estou
apenas da forma que minha madre deseja!
Depois que terminou de se vestir, Beathriz
pegou o resto de seus pertences e partiu para o
corredor, caminho que a levaria escadaria principal.
Enquanto caminhava pelo corredor, Beathriz trocava
algumas palavras com sua me preta, at o
momento em que passavam pela porta do quarto da
baronesa.
As
duas
ento
se
calaram,
e
delicadamente Bya bateu na porta, mas, como no
houve resposta do outro lado, voltou a caminhar at
atingir a escada.
305
tempo.
Achei que vossa merc no sairia mais
daquele quarto?! Por que demoraste tanto? Eu
sempre lhe disse que uma sinhazinha de verdade
deve demorar mais de uma hora para se arranjar,
mas hoje voc exagerou demais. Isabel, a
baronesa, queixou-se ao ver a porta do salo se abrir
e ver a entrada triunfal da filha.
Perdoe-me, minha me por ter lhe feito
esperar, mas a senhora sabe que sou muito indecisa
na hora de escolher uma roupa de festa murmurou
Beathriz, sem jeito e trmula, pois no sabia o que
lhe esperava em poucas horas. Vergonhosamente,
Beathriz soltou o pedao da saia que ainda segurava
e terminou de adentrar no recinto.
Ah, mais que falta de decoro meu! Bradou a
baronesa, sorridente. Meu caro visconde Leopoldo,
queira me dar a honra de lhe apresentar uma das
minhas joias mais raras: a sinhazinha Albuquerque,
minha filha mais nova e mais bela. Acredito eu que
voc nunca viu e nunca haver de ver uma criatura
mais linda e mais educada que essa!
Beathriz
estendeu
a
mo,
com
muita
delicadeza, o visconde Leopoldo a amparou e, com
uma sutil mesura, beijou-lhe o dorso da mo.
Beathriz ento respondeu:
O prazer todo meu! Balbuciou Beathriz,
fazendo uma perspicaz mesura.
Vossa merc tem toda razo, minha amiga
baronesa Isabel. De todas as viagens que eu fiz, olha
que no foram poucas, ainda no havia visto um ser
to lindo e to esplendoroso como esse que estou
presenciando agora! At parece um fenmeno
celestial! Mencionou Leopoldo boquiaberto, quase
sem palavras.
Beathriz estava sendo educada at demais.
Entretanto, em seu ntimo, o que se passava no era
307
Perdoe-me!
Desculpou-se
Beathriz,
envergonhada pelo ocorrido havia pouco.
Aps passarem pela imensa alameda de
quaresmeiras e de palmeiras-reais do jardim francs,
a carruagem parou diante da entrada principal.
Primeiro desceu o velho, que serviu de apoio
baronesa e a Beathriz, que desceram em seguida.
O velho senhor ofereceu-lhes o brao, para que
pudessem ser introduzidas no trio do palcio. A
baronesa no pestanejou e aceitou o brao do
cavalheiro, j Bya decidiu subir sozinha. Beathriz
entrou cumprimentando todo mundo, assim como
manda a boa educao. Alguns poderiam ach-la de
certo modo atrevida, mas fora assim que fora
ensinada e assim deveria se comportar. Desde nova
sempre fora ensinada a ser educada, acima de
qualquer conveno social. Primeiro saudava os mais
velhos e depois procurava um grupo da sua idade,
para que ali pudesse se estalar e conversar. Mas
jamais ficava em rodas que houvesse apenas
rapazes, sempre procurava grupos de moas na sua
faixa etria.
Aquela era uma festa como as outras que, aps
o almoo, sempre as moas eram levadas a seus
respectivos dormitrios para que pudessem tirar a
sesta, pois aps a sesta sempre vinha a segunda
parte do sarau, parte que era a mais alegre, pois
tinha orquestra, quadrilha e valsa. Era exatamente
nesse momento que os velhos se lembravam de sua
mocidade e os mais novos aproveitavam o vio da
juventude para danar e extravasar suas alegrias.
Era no momento da valsa que os enamorados
310
322
Captulo XXV
As festas vindouras
Os
dias
foram
passando
lentamente,
arrastavam-se como uma tartaruga velha. Beathriz j
no sabia mais o que fazer: em uma tarde, passava a
ler seus livros romanescos da literatura francesa,
inglesa, hngara, italiana, ou os livros em latim; na
outra, saa para cavalgar e passava a tarde toda
passeando pelos bosques, banhando-se nos riachos;
na outra, ia para convescote, ou assistir a concertos,
peras, peas, entre outros, alm dos saraus.
Ela j no aguentava mais aquela vida buclica
que estava levando. J no aguentava mais aquelas
pessoas que a cercavam, a jovem queria novidade de
vida, suas primas e amigas s sabiam falar de
vestidos, ornamentos, que cabelo e sobre quem seria
o melhor e o mais bonito rapaz para casar! Tdio, oh
tdio... Que vidinha mais medocre, sem sal e sem
acar, essa que eu estou vivendo! Graas a Deus
Pai, est chegando a data em que comemoraremos o
nascimento de nosso senhor e salvador Jesus Cristo.
Mame j mandou at Chica trazer o prespio do
quartinho que vive fechado. Oba! Eu montarei o
prespio junto com minha madre e a escravinha
minha amiga, a baronesa minha me mandar os
capatazes comprar novas roupas para os escravos,
sem contar os quitutes e as delcias que comemos
durante essa poca do ano.
323
seguira na sequncia.
Me e filha entraram no salo nobre, com
bastante superioridade e altivez; muitos casais se
encontravam na pista de dana, agora podemos ver
de um plano superior os casais rodopiando, as damas
com suas enormes saias e seus decotes, uns
delicados e recatados, outros mais ousados. Bem,
ousadia era uma palavra que Bya, ou Beathriz,
conhecia muito bem.
Assim que Bya colocou as plantas dos ps no
enorme e luxuoso salo, avistou o parvo do seu
noivo; com apenas um olhar, cumprimentou-o e
rapidamente seguiu para junto de suas amigas.
Francis, percebendo a indiferena da noiva, seguiu-a,
levou-a para uma sala vazia e disse:
Com quem a senhorita acha que est
flertando? No sou nenhum garoto que vossa merc
apenas olha e sai andando. Sou seu noivo e, como
tal, exijo respeito.
, meas. Pensei que vossa senhoria j havia
percebido que estou noiva de voc apenas por estar
sendo obrigada por minha madre! Pois no sinto e
jamais sentirei nem mesmo remorso de voc, sinto
apenas d, porquanto nunca conheceu o amor de
verdade. Ou voc acha que eu j no percebi que
est se casando comigo, apenas porque sua famlia
est quase falida? Hein?! Acha mesmo que eu sou
uma idiota e pattica como voc, meu caro rapaz...
Nesse momento Bya estava virada de costas para
ele.
Pode ter certeza de que, se vossa senhoria
no for minha, no ser de mais ningum. E tenho
dito! Francis a pegou pelo brao e, colocando-lhe
frente a frente, disse: Se continuar com essa
loucura de querer se casar com o seu amado...
Henrique, coisas terrveis acontecero a voc e a
esse almofadinha de uma figa.
327
Os nossos!
E quem disse que vossa merc ser o pai dos
meus filhos? Quem te disse uma idiotice dessas?
Voc no ser pai dos meus filhos nem nessa vida,
nem na prxima encarnao. Ah... Ah... Ah... Ah...
Ah...
Isso o que veremos?! Falou Francis,
enquanto debochava: Sua tolinha, voc muito
ingnua. Jamais sua me aceitar seu casamento
com Henrique falando isso, Francis saiu da salinha,
sorrindo pelos cotovelos.
Beathriz, desolada, jogou-se sobre um canap
e, de cabea baixa, permaneceu at o momento em
que um rapaz a convidou para valsar. O jovem era o
filho de um dos homens mais ricos de Sant Anna,
tratava-se de Miguel, um rapaz com pouco mais de
vinte e trs anos de idade, rico, que j estava de olho
em Beathriz havia muito tempo.
Senhorita! com muito respeito e com muita
honra que solicito a graa de poder valsar contigo
disse o rapaz, enquanto estendia a mo em direo a
Bya. Conceder-me-ia a honra desta contradana?!
Beathriz, estendendo a mo, disse:
Com certeza, meu caro rapaz!
O jovem ento lhe cingiu o brao e os dois
caminharam em direo ao salo principal, Beathriz
secou os olhos e, como um pavo-imperial que faz a
dana do acasalamento, o jovem a conduziu
divinamente entre os sales, os dois pararam no
centro do tablado, onde se iniciaria a valsa.
O burburinho cessou, primeiro se iniciaram os
acordes do piano e assim, sucessivamente, o
violoncelo, o violino, e instrumento atrs de
instrumento. A orquestra iniciou o seu show e, na
pista de dana, casal por casal tomou seu lugar e,
em poucos minutos, a nave do salo nobre estava
repleta de damas e cavalheiros, mostrando seus
329
331
Captulo XXVI
A primavera
344
Captulo XXVII
Casada e infeliz
sussurrou
Francis,
enquanto
entregava-lhe a carta.
Rapidamente Beathriz rasgou o lacre e colocouse a ler o bilhete que dizia: Cara minha, por
motivo maior que devo deix-la. Os motivos no
podem ser revelados, entretanto um dia, quem sabe?
Assinado: do sempre seu, Henrique. Ao terminar a
carta, Beathriz caiu sobre a marquesa e a guardou
dentro de seu colo
348
353
Captulo XXviii
A face boa da tirania
Francis sorriu.
Est vendo, minha querida, isso tudo agora
seu.
O passeio pela casa prosseguiu. Beathriz
continuou caminhando pelos cmodos e muitos
compartimentos depois, o pequeno grupo deteve-se
em um ambiente.
Ah, senhor Francis... Esqueci de dizer-te, mas
a escrava que o senhor encomendou chegou!...
Que escrava?
Aquela?!... Que servia de mucama a sua
prima; ah, que tambm chegou... houve um longo
silncio
Ah, t! E onde esto ambas? Perguntou
Francis.
Acredito que ambas estejam na cozinha, pois,
desde que chegou fazenda, a senhorita Giuliane
no sai de l! Afirmou a velha escrava. A no ser
que seja para cavalgar.
Olha, minha querida, alm de ter uma
biblioteca s para voc, j arrumou uma
companheira para cavalgar, Beathriz. Oba...! Duas
mulheres e ambas amazonas... No nh Abigail?...
Dona Abigail, pea para a cozinheira que abrevie o
ch da tarde.
Sim, senhor! Com essas palavras, a escrava
deixou o aposento, deixando o casal sozinho.
Venha, minha querida... Vamos para a
biblioteca? Venha! Dizia Francis, enquanto
caminhava at a porta.
Abrindo-a, ambos saram. E, de braos dados,
os dois desceram a escadaria principal. Francis
conduziu a esposa biblioteca, onde aguardaram a
chegada de Giuliane e do ch. A biblioteca era um
cmodo amplo, de moblia elegante e aconchegante,
as paredes com pinturas em estilo neoclssico e
figuras mitolgicas, como o cupido deus do amor;
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Claro
que sim... Sou extremamente
apaixonada por livros, sobretudo os de Jane
Austen!... J leu Orgulho e preconceito? Giuliane
pegou um novelo de linha da cesta.
Com certeza! respondeu Bya, ento
comeou a ler. Capitulo I. Emma Woodhouse,
bonita, inteligente e rica... Assim continuou ela
lendo, leram uma, duas, trs, na quarta pgina parou
e encarou Giuliane, pois um assunto a perturbava. J
estava conversando com aquela bela jovem que se
apresentava sua frente havia dois dias e ainda no
sabia nada dela. Era linda, porm carregava sobre si
o manto de mistrio, um ponto de interrogao.
Todas as vezes que puxava conversa, para saber de
sua vida, a jovem ficava arredia, assustada e logo
mudava de assunto. Talvez aquela fosse uma boa
hora para saber, aparentemente era uma jovem
normal bonita, sorridente, rica, mas muito fechada.
Marcava pouco mais de oito horas no grande
relgio do hall, quando Francis resolveu se deitar.
Ergueu-se da cadeira e caminhou pelo aposento,
detendo-se diante da porta e com a mo esquerda
abriu-lhe. Ia saindo, quando se virou para o sof,
onde estavam as duas jovens e disse:
Minha querida esposa, voc no vem se deitar
agora? sua mo direita estava cheia de papis.
Vou me deitar, pois amanh terei que sair cedo...
Beathriz Emmanuelle virou-se para o marido e
entre murmrios contraps-se.
No, querido! No subirei agora, ficarei aqui
mais um pouco com sua prima... J, j eu subo!
Sorrindo, Giuliane virou-se para o primo:
Pode deixar, primo, conheo muito bem esta
casa disse Giuliane enquanto bordava. Assim que
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371
Captulo Xxix
A Corte
Redarguiu ela.
Beathriz olhou para Hadassa e, sorrindo, disse:
No precisas ter cime, minha cara, pois essa
escrava branca ser dama de companhia de Giuliane
Meneou-a, enquanto mantinha o olhar fixo nos de
Hadassa. Ah, talvez hoje ou amanh um visconde
velha a, pois falar com Francis! Por favor, queira me
chamar, pois tenho que explicar-lhe algo...
Sim senhora murmurou Hadassa. Mas eu
no estou com cime, perguntei apenas por que a
senhora sempre me diz o que vai fazer...
As quatro entraram para o hall da casa e
sorrindo Beathriz disse:
Sei?!... Sei bem o que pensava. Mas deixe isso
para l, leve-a para a cozinha e mostre-lhe qual ser
seu quarto sucumbiu ela sobre um sof. Ah,
traga-me um copo de refresco, pois estou cansada e
com muito calor. Prepare-me um banho antes do
jantar...
Pois sim, sinh. Mas em que quarto
acomodarei esta escrava?
Qual?... O que fica prximo ao quarto de
Giuliane, o quarto dos fundos. Aquele onde ficam as
mucamas pessoais, junto ao toucador!
Ah, sim!
As duas escravas saram, deixando as duas
senhoras a ss. Beathriz sentou-se sobre o
almofado do sof, j Giuliane sentou-se em uma
conversadeira. E, arrumando as pregas das grandes
saias, Bya e Giuliane entreolharam-se e uma disse
para a outra ao mesmo tempo:
Vossa merc viu como aquela senhora estava
com raiva da menina? Retrucou Giuliane,
arrumando a ampla roda da saia. Creio que no fui
uma das melhores amigas neste caso, pois no sa
da carruagem. Temia ser surrada pela velha matrona.
Por Deus... Se aquela velha viesse para cima de ns
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Glossrio
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