Uma Introducao Ao Estudo Dos Aneis Semissimples Ebook PDF
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REGIO SUL
IV Colquio de Matemtica
da Regio Sul
UMA INTRODUO AO
ESTUDO DOS ANIS
SEMISSIMPLES
ALVERI SANT'ANA
Flvia Branco
Joo Prolo Filho
Leandro Sebben Bellicanta
Mrio Rocha Retamoso
Rodrigo Barbosa Soares
REGIO SUL
IV Colquio de Matemtica
da Regio Sul
UMA INTRODUO AO
ESTUDO DOS ANIS
SEMISSIMPLES
ALVERI SANT'ANA
1 EDIO
2016
RIO GRANDE
egio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regi
egio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regi
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Sumrio
1
Pr-requisitos
1.1 Anis . . . . . . . . . . . . . . .
1.2 Mdulos. . . . . . . . . . . . . .
1.3 Sequncias exatas e somas diretas
1.4 Lema de Zorn e ideais maximais .
.
.
.
.
7
7
17
25
28
33
33
34
39
Semissimplicidade
3.1 Noes Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.2 O Teorema de Wedderburn-Artin . . . . . . . . . . . . . . . . . .
47
47
52
61
61
62
67
J-semissimplicidade
5.1 O radical de Jacobson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5.2 J-semissimplicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
71
71
76
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SUMRIO
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Prefcio
Estas notas foram escritas para servir de apoio a um minicurso de mesmo ttulo,
oferecido no IV Colquio de Matemtica da Regio Sul, realizado de 02 a 06 de
maio de 2016, na Universidade Federal de Rio Grande, em Rio Grande, RS. Como
anunciado na divulgao do mesmo, o estudo dos anis semissimples tem se mostrado bastante adequado para introduzirmos os estudantes no mundo dos anis no
comutativos. O objetivo deste texto, conforme sua concepo inicial, era o de apresentar uma demonstrao do Teorema de Wedderburn-Artin. Durante o processo de
escrita das notas, se pensou em escrever um texto um pouco mais completo, acrescentando uma aplicao interessante da semissimplicidade na classificao das representaes irredutveis de grupos finitos (Captulo 4) e a J-semissimplicidade
(captulo 5), que uma generalizao natural do contedo estudado nos trs primeiros captulos. Esta ideia se justifica, pois acreditamos que desta forma estas
notas serviriam tambm para nortear um estudo ao nvel de iniciao cientfica, ou
mesmo como um texto para ser aprofundado em uma disciplina eletiva de graduao nos cursos de matemtica, posto que no existem muitos textos escritos em
portugus, tratando do estudo de anis no comutativos, pelo menos do conhecimento do autor. Assim, o presente texto se prope a ser mais uma alternativa nesta
direo.
Para muitos autores, a lgebra moderna, como a conhecemos hoje, tem seu nascimento quando Wedderburn apresentou seu trabalho de classificao das lgebras
semissimples sobre um corpo qualquer. Antes dele, muitos autores trabalhavam
na classificao destas lgebras, mas sobre determinados corpos especficos. Por
exemplo, T. Molien e E. Cartan, antes de Wedderburn, descreveram completamente
as lgebras semissimples finito-dimensionais sobre os corpos dos complexos e dos
reais e deram os primeiros passos na direo de estudar as lgebras no semissimples sobre estes mesmos corpos.
A ideia de semissimplicidade est associada a um certo radical, e j aparece nos
trabalhos de Cartan, quando este classifica as lgebras de Lie finito-dimensionais
sobre os complexos. Cartan chamou de radical de uma tal lgebra, o maior ideal
solvel e este igual a soma dos ideais solveis desta lgebra. Assim, uma lgebra
de Lie semissimples, se seu radical nulo, ou ainda, se no existem ideais solveis no nulos. Wedderburn trabalhou com um radical" definido como sendo o
maior ideal nilpotente, o qual coincide com a soma dos ideais nilpotentes de uma
lgebra finito-dimensional, embora este ideal de Wedderburn no seja de fato um
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SUMRIO
radical como se conhece hoje. Por exemplo, este radical de Wedderburn"no est
definido para uma grande classe de anis. Atualmente se estuda a semissimplicidade associada a diversos radicais, ou seja, se um dado radical de um anel,
ento podemos estudar aqueles anis que so -semissimples, isto , aqueles anis
para os quais o radical nulo. No caso da semissimplicidade estudada por Wedderburn, o radical apropriado o chamado radical de Jacobson, introduzido por N.
Jacobson nos anos 40, dando origem aos anis J-semissimples, na linguagem de
hoje.
Em 1907 J. H. M. Wedderburn apresentou seu resultado fundamental no estudo das lgebras sobre corpos quaisquer, o qual d uma classificao das lgebras
finito-dimensionais, mostrando que estas so um produto direto de lgebras de matrizes sobre anis de diviso. Desta forma, o estudo destas lgebras fica restrito ao
estudo dos anis de matrizes sobre anis de diviso, e estes so relativamente mais
elementares e mais fceis de serem entendidos. Da a importncia do resultado de
Wedderburn.
Em torno dos anos 20, E. Noether e E. Artin introduziram as condies de cadeia ascendente e descendente, respectivamente. Um mdulo que satisfaz ambas as
condies de cadeia um mdulo que possui comprimento finito. O comprimento
de um mdulo , de certa forma, o anlogo a dimenso de um espao vetorial.
Usando estas ideias, em 1927 Artin estendeu o teorema de Wedderburn para anis
satisfazendo ambas as condies de cadeia. Este resultado conhecido hoje como
o Teorema de Wedderburn-Artin, e o tema central do captulo trs destas notas,
onde apresentamos uma demonstrao usando uma linguagem mais moderna que
aquela usada nos trabalhos originais, independente do conceito de radical, razo
pela qual no vamos apresentar uma definio formal de radical de um anel. Curiosamente, Artin parece no ter percebido que para anis com unidade, a condio
de cadeia descendente implica a condio de cadeia ascendente, fato este que s
foi tornado pblico por C. Hopkins e J. Levitzki, em 1939, em trabalhos independentes. Vale lembrar que esta mesma implicao no vale para mdulos em geral.
Mais tarde, N. Jacobson introduziu a noo de radical de um anel, hoje conhecido como o radical de Jacobson, o que permitiu estender a teoria de Wedderburn
para anis quaisquer. Por exemplo, Jacobson mostrou que um anel semissimples
se, e somente se, este anel satisfaz a condio de cadeia descendente e seu radical
nulo. Denotando por J(R) o radical de Jacobson de um anel R, o resultado de Jacobson nos permite estudar anis artinianos que no so semissimples, estudando
o anel fator R/J(R) e depois levantando" sua estrutura para o anel R. Alis,
grosso modo, esta a ideia de um radical (R) de um anel R. Ele captura todos
os elementos indesejveis para o estudo de uma certa propriedade e o anel fator
R/(R) possui este radical nulo, isto , (R/(R)) = 0. Com isto, o anel fator
R/(R) no contm nenhum destes elementos indesejveis. Depois, levantamos
(se possvel) esta propriedade ao anel R inicial.
Este histrico simplificado d uma ideia da evoluo do estudo dos anis, via
semissimplicidade, e serviu de fio condutor para a escrita destas notas. Para esta
tarefa, vrios livros clssicos da literatura foram consultados, e em certas partes,
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SUMRIO
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Agradecimentos
Agradeo s comisses cientfica e organizadora do IV Colquio de Matemtica da Regio Sul, da Sociedade Brasileira de Matemtica, por permitirem a realizao do minicurso "Uma introduo ao estudo dos anis semissimples", dando
a mim a oportunidade de discutir com a platia, os temas abordados neste texto.
sempre bom lembrar que as grades curriculares dos cursos de graduao em
matemtica tem reservado pequenos espaos para o tratamento de anis no comutativos e, portanto, oportunidades como esta ganham importncia, na medida que
se tornam espaos adequados para mostrarmos aos ouvintes um pouco do sabor da
lgebra no comutativa.
Agradeo tambm minha esposa Marlia e ao meu aluno John Freddy Lozada,
por encontrarem vrios erros de digitao (e alguns mais graves) cometidos no
processo de escrita destas notas. Devo um agradecimento especial a Leonardo
Duarte Silva, por sua leitura cuidadosa e pelas respectivas sugestes apresentadas.
Por fim, antecipadamente agradeo aos demais leitores que me apontarem qualquer tipo de erro, omisso ou impreciso que ainda persistirem.
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SUMRIO
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Captulo 1
Pr-requisitos
Desde o comeo, a ideia sempre foi a de apresentar um texto o mais auto suficiente possvel, decidimos incluir um captulo prvio contendo os principais tpicos
que sero necessrios para o bom aproveitamento do mesmo. Este captulo pode
ser dispensvel para aqueles leitores com uma certa familiaridade com os conceitos bsicos da teoria de anis e mdulos, mas, porm, ele ser usado para fixarmos
algumas notaes.
1.1
Anis
(a + b) c = a c + b c,
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
? comutativa, se a ? b = b ? a, a, b A.
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1.1. ANIS
Exerccio 1.1.5. Seja (A, ?) um cojunto A munido de uma operao ?. Mostre que
se ? associativa, possui neutro e possui simtrico, ento as equaes de primeiro
grau
a ? X = b, e X ? a = b
possuem soluo nica, para quaisquer escolhas de a e b em A.
Exerccio 1.1.6. Seja (R, +, ) um anel. Deduza do exerccio acima que o elemento neutro da soma unicamente determinado. Alm disso, se R um anel com
unidade, ento a unidade de R unicamente determinada tambm.
Exerccio 1.1.7. Sejam R um anel e a, b, c R. Mostre que:
(i) 0 a = a 0 = 0,
(ii) (ab) = (a)b = a(b),
(iii) (a)(b) = ab.
Se R um anel com unidade, ento mostre que:
(iv) (1)a = a(1) = a,
(v) (1)(1) = 1,
(vi) (1)(a) = a.
Tambm um exerccio de fcil verificao o seguinte resultado, o qual nos d
uma caracterizaao dos subconjuntos de um anel que so seus subanis.
Proposio 1.1.8. Sejam R um anel e S um subconjunto de R. Ento S um
subanel de R se, e somente se, as seguintes condies se verificam:
(i) 0 S;
(ii) x, y S x y S;
(iii) x, y S xy S.
Observamos ainda que se R um anel com unidade e S um subanel de R,
ento S no possui necessariamente a mesma unidade de R. Alis, a este respeito,
tudo pode acontecer, como os exemplos abaixo mostram:
Exemplo 1.1.9. Sejam R um anel e S um subanel de R. Os seguintes casos podem
ocorrer:
R tem unidade e S no tem: R = Z e S = 2Z.
R tem ("
unidade 1R# e S possui
) uma unidade 1S , mas 1R 6= 1S : R = M2 (Z)
a 0
eS =
:aZ .
0 0
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
R no tem unidade e S tem:
("
R=
a b
0 0
: a, b Z
("
eS =
a 0
0 0
:aZ
.
R e S no possuem unidade: R = 2Z e S = 4Z.
R e S possuem a mesma unidade: R = Q e S = Z.
O prximo exerccio apresenta um subanel importante, chamado centro do
anel, e ser usado no captulo 4.
Exerccio 1.1.10. Seja R um anel. Mostre que o subconjuto Z(R) := {a R :
ax = xa, x R} um subanel de R, chamado centro de R. Se n um inteiro
positivo, ento mostre que o centro do anel de matrizes n n sobre um corpo k
o conjunto das matrizes escalares (matrizes da forma aIn , onde a k e In denota
a matriz identidade de ordem n), isto , mostre que
Z(Mn (k)) = {aIn : a k}
Portanto, dimk Z(Mn (k)) = 1 e, consequentemente, k ' Z(Mn (k)).
Dado um anel R, dizemos que R um anel comutativo se a multiplicao de
R uma operao comutativa, isto , se xy = yx, para todos elementos x, y R.
Os anis Z, nZ, Q, R e C so exemplos de anis comutativos. Os anis de matrizes
em geral so no comutativos. fcil verificar que R um anel comutativo se, e
somente se, R = Rop .
Um elemento a em um anel R chamado de divisor de zero se existir 0 6= b
R tal que ab = 0 = ba. J um elemento u em um anel com unidade R dito um
elemento invertvel se existir v R tal que uv = 1 = vu.
Um anel comutativo com unidade e sem divisores de zero, alm do prprio
elemento 0, dito um domnio de integridade (ou simplesmente um domnio). Um
anel com unidade em que todo elemento no nulo invertvel chamado de um
anel de diviso. Por fim, um anel de diviso comutativo chamado um corpo.
fcil ver que Q, R e C so exemplos de corpos, que Z um domnio (que
no um corpo). Tambm fcil obter exemplos de divisores de zero em anis de
matrizes.
Vamos agora apresentar um exemplo de um anel de diviso que no um corpo.
Lembramos que o anel dos quatrnios H sobre os reais est definido como sendo o
espao vetorial 4-dimensional sobre R gerado pelos elementos 1, i, j, k H, com
a multiplicao dada pelas seguintes relaes: i2 = j 2 = k 2 = 1, ij = k, jk =
i, ki = j, ji = k, kj = i e ik = j.
Quando se estuda uma certa estrutura algbrica, precisamos considerar as funes entre elas, que tem a propriedade de preservar a dada estrutura. Como as
estruturas algbricas esto definidas em funo de certas operaes, precisamos
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1.1. ANIS
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ento considerar as funes que preservam estas operaes. Estas funes levam
o nome de homomorfismos. Vamos apresentar uma definio mais precisa, para o
caso de anis.
Definio 1.1.11. Sejam R = (R, +R , R ) e S = (S, +S , S ) dois anis. Uma
funo f : R S dita um homomorfismo de anis, se:
f (a +R b) = f (a) +S f (b), a, b R,
f (a R b) = f (a) S f (b), a, b R.
Antes de apresentarmos exemplos de homomorfismos de anis, vejamos algumas propriedades que decorrem diretamente da definio.
Proposio 1.1.12. Sejam R e S anis e f : R S um homomorfismo de anis.
Ento valem as seguintes propriedades:
(i) f (0R ) = 0S ,
(ii) f (a) = f (a), a R,
(iii) f (R) um subanel de S.
Demonstrao. (i) Basta observar que f (0R ) = f (0R + 0R ) = f (0R ) + f (0R ),
de onde segue que f (0R ) = 0S , pois f (0R ) e 0S so ambas solues da equao
f (0R ) + X = f (0R ) em S.
(ii) Temos que mostrar que f (a) + f (a) = 0S . Mas isto segue diretamente
(i)
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
Exemplo 1.1.13. Sejam R e S dois anis quaisquer. A funo f : R S definida por f (a) = 0, para todo elemento a R, um homomofismo de anis,
chamado homomorfismo nulo. A funo idR : R R, dada por idR (a) = a,
um homomorfismo de anis, chamado homomorfismo identidade.
O prximo exemplo mostra que pode no existirem muitos homomorfismos
entre dois anis.
Exemplo 1.1.14. Se f : Z Z um homomorfismo de anis, ento f o homomorfismo nulo ou f o homomorfismo identidade.
De fato, pois se n Z \ {0}, ento n = 1 + 1 + + 1 (n vezes, se n > 0)
ou n = 1 + (1) + + (1) (n vezes, se n < 0). Suponhamos, sem
perda de generalidade, que n > 0. Ento, f (n) = f (1) + f (1) + + f (1) (n
vezes). Portanto, para se definir um homomorfismo cujo domnio Z, basta definir
f (1). Claramente, se f (1) = 0 ento f o homomorfiso nulo. Por outro lado,
observamos que f (1) = f (1 1) = f (1) f (1), ou seja, f (1)(1 f (1)) = 0, de
onde segue que f (1) = 0 ou f (1) = 1. Consequentemente, devemos ter que f
o homomorfismo nulo ou f o homomorfismo identidade. Este resultado pode
ser generalizado para domnios de integridade quaisquer, como mostra o prximo
exerccio.
Exerccio 1.1.15. Sejam D e D0 dois domnios de integridade. Mostre que se
f : D D0 um homomorfismo de anis, ento devemos ter f (1D ) = 0 ou
f (1D ) = 1D0 .
"
x 0
Exerccio 1.1.16. Mostre que f : R M2 (R), dada por f (x) =
,
0 0
x R, um homomorfismo de anis e que f (1) 6= 0 e f (1) 6= 1M2 (R) . Conclua
da que a hiptese de D0 ser um domnio de integridade essencial no exerccio
anterior.
Exerccio 1.1.17. Sejam R e S dois anis. Se R tem unidade e f : R S no
o homomorfismo nulo, ento mostre que f (1R ) a unidade do anel Im f .
Definio 1.1.18. Seja f : R S um homomorfismo de anis. Chamamos de
ncleo de f ao conjunto N uc f = {a R : f (a) = 0}.
O ncleo de um homomorfismo tem propriedades bastante interessantes. Comeamos por observar que se f : R S um homomorfismo de anis e f (a) =
f (b), para certos elementos a, b R, ento devemos ter f (a b) = f (a) f (b) =
0 em S, ou seja, a b N uc f . Isto nos diz que se dois elementos de R tm a
mesma imagem por um homomorfismo, ento a diferena deles deve estar no seu
ncleo. Assim, homomorfismos com ncleo nulo devem ser injetores. A recproca
deste fato claramente verdadeira, de modo que temos o seguinte resultado.
Proposio 1.1.19. Um homomorfismo de anis f : R S injetor se, e somente
se, N uc f = {0}.
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1.1. ANIS
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
Jk := {(aij ) S : aij = 0, se i 6= k} um ideal direita de S, que no
um ideal esquerda de S.
Pn
onde temos:
n
j 6= s
k=1 aik ekj = 0
P
Pn
j=s
k6=r aik eks + air ers = air
k=1 aik eks =
Logo,
s
AErs =
0 0 0 a1r 0 0
0 0 0 a2r 0 0
.. .. .. ..
..
.. .. ..
. . . .
.
. . .
0 0 0 anr 0 0 nn
Epq A =
n
X
eik akj
k=1
ij
nn
onde
i 6= p
Pn
= 0;
i=p
Pn
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1.1. ANIS
15
ou seja, temos
0
..
.
Epq A = aq1
..
.
0
..
.
..
.
0
..
.
0
..
.
0
0
0
aq2 aqn1 aqn
0
0
0
..
..
..
..
.
.
.
.
0
0
0
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
Uma outra aplicao dos ideais na teoria de anis so os anis quocientes. Veremos abaixo que os ideais so exatamente os subanis para os quais podemos
induzir uma estrutura de anel no conjunto quociente, tal como se faz com a aritmtica modular dos inteiros. Se n Z, ento a relao dada por:
def
x, y Z, x y x y nZ
uma relao de equivalncia e o conjunto quociente
de anel (Z/nZ, +, ), dada por:
Z/nZ={0,
1,2,...,n1}
a + b := a + b, a, b Z,
a b := a b, a, b Z
As igualdades acima podem ser facilmente verificadas, usando propriedades
dos restos da diviso euclidiana em Z, pois se x y nZ, ento existe q Z tal
que x y = nq, ou seja, x = nq + y. Agora s observar que se x e y esto
relacionados pela equao acima, ento ambos deixam o mesmo resto na diviso
euclidiana por n.
Vamos generalizar estas ideias para anis quaisquer. Sejam R um anel e I um
subanel de R. No difcil verificar que a relao definida em R por:
def
x, y R, x I y x y I
uma relao de equivalncia em R. O que no se consegue mostrar que a
aplicao : R/I R/I R/I definida por
x y := x y, x, y R
est bem definida. Para que esta aplicao esteja bem definida, e portanto ser uma
operao em R/I, necessrio exigir que o subanel I seja de fato um ideal de R.
Deixamos este fato para ser mostrado no seguinte exerccio.
Exerccio 1.1.24. Sejam R um anel, I um subanel de R e I a relao de equivalncia dada por: x, y R; x I y x y I. Mostre que
: R/I R/I R/I,
definida por (a, b) := a b, uma funo se, e somente se, I um ideal de R.
Alm disso, precisamos ver que as propriedades de associatividade, comutatividade, existncia de neutro e de simtrico so herdadas por operaes induzidas
em conjuntos quocientes, mas isto tambm de fcil verificao e ser deixada ao
encargo do leitor.
Portanto, se I um ideal de R, ento podemos considerar o anel quociente
R/I. Assim, fica definido um homomorfismo de anis : R R/I, por (a) =
a := a + I = {a + x : x I}. fcil ver que este homomorfismo sobrejetor
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1.2. MDULOS.
17
e que seu ncleo exatamente o ideal I. Isto mostra que todo ideal o ncleo
de algum homomorfismo de anis. Assim, podemos caracterizar os ideais como
sendo aqueles subanis que so ncleos de homomorfismos.
Outra observao pertinente que se f : R S um homomorfismo de anis,
ento os elementos de R que tem mesma imagem por f so identificados no anel
quociente R/N uc f . Assim, deveramos poder mergulhar este anel quociente em
S. De fato, isto possvel, como mostra o prximo resultado.
Teorema 1.1.25. (Teorema dos Homomorfismos para anis) Sejam R, S anis
e f : R S um homomorfismo de anis. Ento existe um nico monomorfismo
de anis f : R/N uc f S tal que f = f
Demonstrao. Basta definir f (a) = f (a), para todo a R/N uc f . Vejamos
que assim f est bem definida. De fato, pois se a = b em R/N uc f , ento a
b N uc f , ou seja, f (a b) = 0, de modo que f (a) = f (b), pois f um
homomorfismo de anis. Assim temos f (a) = f (b). Alm disso, por definio,
temos que f (a) = f (a) = f ((a)) = f (a), para todo a R, ou seja, f = f .
Afirmamos que f injetora. De fato, pois se a N uc f , ento f (a) = 0, ou
seja, 0 = f (a) = f (a), de onde segue que a N uc f , o que nos diz que a = 0.
Resta mostrar a unicidade de f . Para tal, suponhamos que g : R/N uc f S tal
que g = f . Mas ento, para cada a R/N uc f , temos g(a) = g (a) =
f (a) = f (a), e segue que g = f .
A seguinte consequncia do resultado acima imediata.
Corolrio 1.1.26. Com as notaes do Teorema anterior, se f um epimorfismo,
ento R/N uc f ' S como anis.
Vamos
a luz dos nossos resultados. Consideremos
# o prximo exemplo
)
(" discutir
a x
R =
: a Z, x Q . fcil verificar que R, com as operaes
0 a
usuais de matrizes,
#um anel comutativo
com unidade (verifique isto!). Afirmamos
("
)
0 x
que J :=
: x Q um ideal de R. Faremos isto mostrando que J
0 0
o ncleo de um homomorfismo de anis (mostre
De fato, basta
" isto diretamente).
#!
a x
definir o homomorfismo : R Z, por
= a. fcil ver que
0 a
um homomorfismo de anis e que J = N uc , de onde segue que J um ideal de
R. Mais ainda, como sobrejetor, segue que R/J ' Z.
1.2
Mdulos.
Nesta seo apresentaremos algumas propriedades bsicas da teoria dos mdulos. Para simplificar nossos resultados, vamos supor no restante do texto que todos
os nossos anis possuem unidade.
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
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1.2. MDULOS.
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20
CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
O exemplo acima nos diz que podemos estudar a estrutura dos ideais de um
anel, estudando a estrutura de submdulos de um mdulo. Assim, toda propriedade
vlida para mdulos pode ser traduzida para a linguagem de anis, via ideais
esquerda (ou direita).
Exemplo 1.2.9. Os submdulos de um espao vetorial so exatamente os seus
subespaos vetoriais.
Exemplo 1.2.10. Os subgrupos de um grupo abeliano G so os Z-submdulos de
G.
O prximo exemplo nos d uma receita de como obtermos novos submdulos
a partir de outros j conhecidos.
Exemplo 1.2.11. Sejam M um R-mdulo esquerda e F = {Ni }iI uma famlia
de R-submdulos de M . fcil verificar que N = iI Ni um submduo de M .
Num primeiro curso de lgebra linear vemos que a unio de subespaos no
, em geral, um espao vetorial, pois esta no fechada para a soma. O mesmo
fenmeno ocorre no contexto de mdulos. Assim, tal como no caso dos espaos
vetoriais, nasce o conceito de submdulo gerado por um conjunto, para contornar
este problema.
Definio 1.2.12. Sejam R um anel, M um R-mdulo esquerda e K M .
Chamamos de submdulo de M gerado por K, e denotamos por < K >, ao menor
submdulo de M que contm K.
Do exemplo anterior, se K R M , ento < K >= {N M : N K}.
P
Afirmamos que este ltimo conjunto igual ao conjunto K = { ni=1 ri xi : n
N, ri R e xi K, 1 i n}. De fato, pois como estamos assumindo que R
tem unidade, segue facilmente que K um R-submdulo de M que contm K, de
onde decorre que < K > K. Por outro lado, todo submdulo de M que contm
K deve conter todas as somas finitas de mltiplos escalares de elementos de K, de
onde segue que K < K >.
Um outro exemplo de ideal gerado que ser til mais adiante dado pelo produto de ideais. Sejam I e J ideais (bilaterais) de R, e consideremos o conjunto
S = {ab : a I, b J} I J. Chamamos de ideal produto de I e J ao ideal
IJ :=< S >. Assim, claramente temos IJ I J.
Quando K um subconjunto finito de M , digamos K = {x1 , x2 , ..., xn },
vamos escrever < x1 , x2 , ..., xn >, em lugar de < {x1 , x2 , ..., xn } >, para denotar o submdulo de M gerado pelo conjunto {x1 , x2 , ..., xn }. Os elementos
x1 , x2 , ..., xn sero chamados de geradores do submdulo < K >. Quando K =
{y} um conjunto unitrio, ento diremos que < y > um mdulo cclico.
Mais ainda, dizemos que um mdulo M finitamente gerado, se existir um
conjunto finito {m1 , m2 , ..., mt } M tal que M =< m1 , m2 , ..., mt >. Pela
argumentao acima, se M um R-mdulo esquerda e m1 , m2 , ..., mt M ,
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1.2. MDULOS.
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j6=i Mj )
iI
mi ,
= 0, i I.
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
(i) f (m1 + m2 ) = f (m1 ) + f (m2 ), m1 , m2 M ,
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1.2. MDULOS.
23
M/N
7
rm
Exemplo 1.2.18. Sejam R um anel, M um R-mdulo esquerda e N um Rsubmdulo de M . Ento a aplicao : M M/N , dada por (m) = m um
R-homomorfismo cujo ncleo precisamente N .
Neste contexto, podemos tambm enunciar um teorema de homomorfismos.
Note que s foi usada a estrutura aditiva de um anel para mostrarmos o teorema
dos homomorfismos para anis. Isto permite usarmos a mesma argumentao de
antes para mostrar o seguinte resultado.
Teorema 1.2.19. (Teorema dos homomorfismos) Sejam R um anel e f : M N
um homomorfismo de R-mdulos esquerda. Ento existe um R-monomorfismo
f : M/N uc f N , nicamente determinado, tal que f = f .
O seguinte corolrio muitas vezes enunciado como um segundo teorema de
homomorfismos.
Corolrio 1.2.20. Sejam R um anel e M um R-mdulo esquerda. Se L e N so
dois submdulos de M , ento
L
L+N
'
LN
N
Demonstrao. Basta observar que a composio de homomorfismos L , L +
N (L + N )/N sobrejetor e seu ncleo dado exatamente por L N . O
resultado ento segue pelo Teorema dos Homomorfismos.
Um fato importante que ser usado mais a frente, a existncia de uma correspondncia biunvoca entre os submdulos de um mdulo quociente M/N e os
submdulos de M que contm N , dadas por
{K M : K N } o
{X : X M/N } ,
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
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onde m M , f S e o argumento de um operador R-linear est escrito esquerda do operador, para facilitar a regra da composio de funes. Note que
neste caso, se m M e f, g S, ento escrevemos (m J f ) J g = ((m)f )g =
(m)f g, para indicar que aplicamos primeiro f e depois g, em analogia com o que
se faz quando se escreve os argumentos direita das funes: a primeira funo a
ser aplicada aquela mais prxima do argumento.
Assim, fcil verificar que M de fato um S-mdulo direita. Alm disso,
temos
(r m) J f = (rm)f = r((mf )) = r (m J f )
e temos que M um (R, S)-bimdulo.
Como uma aplicao dos bimdulos, podemos construir exemplos de anis
cujo reticulado de ideais direita completamente diferente do reticulado dos
ideais esquerda. Sejam R e S dois anis e consideremos M um (R, S)-bimdulo.
Usando operaes matriciais, podemos definir um anel da forma
not
T =
R M
0 S
:=
r m
0 s
1R 0
0 1S
: r R, m M, s S
!
. Se tomamos I /l R e J /r S, ento
se verifica que
I M
0 S
/l T e
R M
0 J
/r T.
Alm destes, possvel encontrar outros ideais tanto esquerda como direita
de T , mas isto foge um pouco dos nossos propsitos. Portanto, a famlia de ideais
esquerda de T pode ter propriedades que a famlia de ideais direita de T no as
tm. Vamos construir exemplos concretos neste sentido mais a frente.
1.3
fi+1
Mi i Mi+1
tal que Im fi N uc fi+1 , para todo ndice i. Uma sequncia dita exata em
Mi , se ocorrer Im fi = N uc fi+1 . Alm disso, dizemos que uma sequncia
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
0 N , M M/N 0,
onde a projeo cannica, claramente uma sequncia exata curta.
Num certo sentido, podemos pensar que toda sequncia exata curta desta
forma. Mais precisamente, dada a sequncia exata curta
f
0ABC0
segue que f um monomorfismo e g um epimorfismo. Assim, podemos pensar
que A um submdulo de B e que C um mdulo fator de B, a saber B/A, pois
Im f = N uc g e, consequentemente, temos A ' Im f B e C ' B/N uc g =
B/Im f ' B/A.
Vamos examinar agora a relao entre sequncias exatas curtas e somas diretas.
Comeamos observando que se M = N P como R-mdulo esquerda, ento
podemos definir as aplicaes cannicas N : N M , dada por (n) = n + 0
(incluso cannica) e P : M P , dada por (n + p) = p, para n N e p P
(projeo cannica). Assim, vemos claramente que a sequncia curta abaixo
exata:
0 N M P 0.
O prximo exemplo mostra que a recproca deste fato no vale em geral.
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0 N M P 0.
Ento as seguintes afirmaes so equivalentes:
(i) M ' N P ;
(ii) Existe um R-homomorfismo : M N , tal que f = idN ;
(iii) Existe um R-homomorfismo : P M , tal que g = IdP .
Demonstrao. Vamos mostrar a equivalncia (i) (ii). A equivalncia (i)
(iii) pode ser mostrada com uma argumentao semelhante e ser deixada ao leitor.
(i) (ii) Como f injetora, segue que N ' Im f e assim, M ' N P '
Im f P . Desta forma, dado m M , temos m = m1 + m2 , com m1 Im f e
m2 P . Da injetividade de f segue que existe nico n N tal que f (n) = m1 .
Definimos ento : M N , por (m) = n. fcil ver que est bem definida
e um R-homomorfismo. Mais ainda, para todo n N , temos que f (n) se escreve
unicamente como f (n) + 0 Im f P , de onde segue que
f (n) = (f (n)) = (f (n) + 0) = n = idN (n)
como queramos mostrar.
(ii) (i) Suponhamos que exista : M N tal que f = idN . Afirmamos que neste caso, M = Im f N uc . De fato, pois se m M , tomamos
x = f ((m)) M e consideramos y = m x M . Segue ento que
(y) = (m x) = (m) (f ((m))) = (m) (m) = 0
ou seja, y N uc . Logo, m = x + y Im f + N uc . Alm disso, se
z Im f N uc , segue que existe n N tal que f (n) = z e, consequentemente,
n = f (n) = (z) = 0, de onde decorre que z = 0. Portanto, M = Im f
N uc .
Como f injetiva, temos que N ' Im f . Resta mostrar agora que P '
N uc . De fato, basta observar que
P '
M
Im f N uc
=
' N uc .
N uc g
Im f
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
Uma sequncia exata curta que satisfaz (ii) (equivalentemente, que satisfaz
(iii)) na Proposio acima dita uma sequncia exata curta que cinde. As aplicaes e acima so muitas vezes chamadas de ciso da sequncia. Com esta
nova nomenclatura, segue que M ' N P se, e somente se, a sequncia
f
0N M P 0
cinde. Como uma aplicao do que fizemos acima, temos o seguinte resultado.
Corolrio 1.3.7. Sejam R um anel, M e N dois R-mdulos esquerda. Se g :
M N e h : N M so R-homomorfismos tais que g h = idN , ento
M = N uc g Im h.
Demonstrao. Como g h = idN , segue imediatamente que g um epimorfismo
e h um monomorfismo. Aplicando-se a Proposio 1.3.6 para a sequncia
g
0 N uc g , M N 0
obtemos que M ' N uc g N . O resultado ento segue, pois N ' Im h.
1.4
O propsito desta seo mostrar que todo anel com unidade possui ideais
(bilaterais ou unilaterais) maximais. Este fato uma decorrncia do chamado Lema
de Zorn, o qual ser apresentado adiante. Vamos comear relembrando a definio
de elemento maximal (resp., elemento minimal.)
Consideremos (X, ) um conjunto munido de uma relao de ordem parcial.
Dizemos que um elemento m X maximal (resp., minimal), se valer a seguinte
propriedade:
x X, m x m = x
(resp., x m m = x)
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29
Lema 1.4.1. (Lema de Zorn) Seja (F, ) uma famlia no vazia e parcialmente
ordenada. Se toda cadeia em F possui uma cota superior (respectivamente, cota
inferior) em F, ento F possui elemento maximal (resp., elemento minimal).
Uma cadeia em F uma subfamlia de F que totalmente ordenada. Assim,
{2, 4, 8} uma cadeia em X, onde X o conjunto do exemplo anterior, pois
248
Dados F uma famlia parcialmente ordenada e F 0 F, chamamos de uma cota
superior (resp. cota inferior) para F 0 a todo elemento F tal que x (resp.
x), para todo x F 0 .
Muitas vezes chamamos de sistema indutivo a toda famlia parcialmente ordenada F em que toda cadeia possui cota superior (inferior) em F. Nesta linguagem,
o Lema de Zorn poderia ser escrito da forma: Todo sistema indutivo possui elemento maximal (minimal).
Os exemplos abaixo mostram algumas aplicaes do Lema de Zorn.
Exemplo 1.4.2. Seja R um anel com unidade. Ento R possui ideais (resp. ideais
esquerda, ideais direita) maximais.
Vamos discutir a existncia de ideais maximais em um anel R. A mesma discusso pode ser feita para os casos de ideais esquerda ou direita, escolhendo
adequadamente a famlia F abaixo.
Consideremos ento a famlia
F := {I A : I um ideal de A, I 6= A}
Observamos que {0} F e, consequentemente, F 6= . Seja F 0 uma subfamlia
totalmente ordenada de F. Ento, J = IF 0 I um ideal de A (mostre isto!).
Agora, como 1 6 J, pois 1 6 I, I F 0 , segue que J F. fcil verificar que
J uma cota superior para F 0 . Portanto, como toda cadeia de F possui uma cota
superior em F, segue pelo Lema de Zorn que F possui elemento maximal, ou seja,
o anel R possui um ideal maximal.
Na literatura, muitas vezes encontramos o resultado de que um anel com unidade R possui ideais maximais, como uma consequncia do fato que todo ideal I
de R est contido em algum ideal maximal. Tambm fato que muitas vezes este
o resultado que precisamos usar. Podemos mostrar isto, com uma leve modificao na argumentao acima, considerando a famlia dos ideais distintos de R, que
contm o ideal I. Note que esta famlia no vazia, por conter o prprio ideal I.
Exemplo 1.4.3. Todo espao vetorial possui uma base.
Considere V um espao vetorial sobre um corpo k qualquer (ou sobre um anel
de diviso). Como uma base de V um conjunto linearmente independente maximal em V , podemos usar o Lema de Zorn para mostrar sua existncia, independentemente da dimenso de V ser finita ou infinita. Basta mostrar que a famlia dos
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CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
Exerccios
1. Use o Lema de Zorn para mostrar que todo espao vetorial sobre um corpo
(ou sobre um anel de diviso) possui uma base.
2. Sejam R um anel e M um R-mdulo esquerda. Mostre que se M finitamente gerado, ento M possui um submdulo maximal.
3. Seja D um anel de diviso. Considere V =
i=1 Dei e E = End(VD ).
Mostre que I = {f E : dimD Im f < } um ideal de E.
4. Sejam I1 , I2 , ..., In ideais bilaterais de um anel R tais que Ii + Ij = R, se
i 6= j (neste caso, dizemos que Ii e Ij so comaximais). Mostre as seguintes
afirmaes:
(i) Ii + j6=i Ij = R, para todo i.
(ii) (Teorema Chins de Restos) Dados x1 , x2 , ..., xn R, existe x R,
tal que x xi (mod Ii ), para todo i.
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(iii) Use o item anterior para mostrar que existe um isomorfismo de anis
:
R
R
R
,
I1 In
I1
In
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32
CAPTULO 1. PR-REQUISITOS
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Captulo 2
2.1
Mdulos simples
Para o que segue, precisamos do conceito de simplicidade. A ideia de simplicidade est associada a ausncia de subestruturas prprias com as quais podemos
construir estruturas quocientes. Mais precisamente, temos a seguinte definio.
Definio 2.1.1.
(i) Dizemos que um anel R simples, se R 6= 0 e R no
possui ideais alm do ideal nulo e do prprio R.
(ii) Dizemos que um R-mdulo esquerda M simples, se M 6= 0 e M no
possui nenhum submdulo alm do submdulo nulo e do prprio M .
Observamos que anis de diviso bem como anis de matrizes sobre anis
de diviso so exemplos de anis simples. Um espao vetorial unidimensional
um exemplo de um mdulo simples. Se k um anel de diviso e tomamos
S = Mn (k), ento o conjunto M das matrizes n 1 com entradas em k um
exemplo de um S-mdulo esquerda simples, como fcil verificar.
33
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34
2.2
No que segue, vamos mostrar que o comprimento de um mdulo um invariante deste mdulo, ou seja, se M possui uma srie de composio com r incluses,
ento qualquer outra srie de composio tambm ter r incluses, de modo que o
comprimento de um mdulo est bem definido. Vejamos primeiro um exemplo.
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35
n
X
i=1
kvi V1 =
n
X
i=2
P P
: N + (P P 0 )
(N P 0 )+(N 0 P )
n+q
7 q + [(N P 0 ) + (N 0 P )]
onde n N e q P P 0 .
fcil verificar que um R-epimomorfismo. Vamos mostrar agora que
N uc = N + (P N 0 ). Observamos inicialmente que N + (P N 0 ) N uc .
Por outro lado, se n N e q P P 0 , so tais que (n + q) = 0, ento q
(N P 0 )+(N 0 P ), ou seja, q = q1 +q2 , com q1 N P 0 e q2 N 0 P . Assim,
n+q = n+q1 +q2 , com n+q1 N e q2 P P 0 , isto , N +(P N 0 ) N uc .
Isto mostra que um isomorfismo.
Lema 2.2.4. (Lema do refinamento de Schreier) Sejam C e C 0 duas cadeias finitas estritamente decrescentes de R-submdulos de M . Ento existem refinamentos
C1 de C e C10 de C 0 , os quais so equivalentes.
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36
e
0
0
0
0
C10 := M M1,1
M1,r
= M10 M2,1
M2,r
= M20 Ms,r = 0.
Portanto, a cadeia estritamente decrescente C1 obtida de C1 , eliminando-se todos os mdulos que so iguais aos seus antecessores, equivalente a cadeia C10
obtida de C10 da mesma forma. Isto completa a demonstrao do Lema.
Estamos agora em condies de demonstrarmos o Teorema de Jordan-Hlder.
Demonstrao do teorema de Jordan-Hlder. Seja M um R-mdulo esquerda que possui uma srie de composio.
(i) Sejam C uma srie de composio de M e C 0 uma cadeia estritamente decrescente de R-submdulos de M . Ento, pelo Lema do refinamento, para toda
subcadeia finita C00 de C 0 , existem refinamentos C10 de C00 e C1 de C (i. , tais que
C00 C10 e C C1 ) de modo que C10 e C1 so equivalentes. Visto que C uma srie
de composio, segue que C1 = C, ou seja, C00 pode ser refinada at uma cadeia
equivalente a C. Portanto, C 0 uma cadeia estritamente decrescente tal que toda
subcadeia finita pode ser refinada at uma cadeia equivalente a C. Logo, C 0 deve ser
finita e admite um refinamento que uma srie de composio, como queramos
mostrar.
(ii) Segue diretamente do Lema do refinamento.
Os resultados acima nos dizem ento que o comprimento de um mdulo est
bem definido, e os prximos vo nos mostrar uma certa analogia entre o comprimento de um mdulo e a dimenso de um espao vetorial.
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37
Proposio 2.2.5. Sejam R um anel, M um R-mdulo esquerda e N um Rsubmdulo de M . Ento, `(M ) < se, e somente se, `(N ), `(M/N ) < .
Neste caso, temos `(M ) = `(N ) + `(M/N ).
Demonstrao. () Se N = 0 ou N = M , no h nada a mostrar. Suponhamos
ento que N um submdulo prprio de M . Consideremos a cadeia 0 N M .
Pelos resultados anteriores, esta cadeia pode ser refinada a uma srie de composio, digamos
0 = N0 Nn = N = M0 Mm = M,
de onde segue que `(N ) = n < . Tomando Pi = Mi /N (1 i m), obtemos
uma cadeia
0 = P0 Pm = M/N
de modo que
Pi
Mi /N
Mi
=
'
Pi1
Mi1 /N
Mi1
os quais so mdulos simples. Portanto, `(M/N ) = m < e, consequentemente,
`(M ) = n + m = `(N ) + `(M/N ).
() Suponhamos `(N ) = n e `(M/N ) = m e consideremos as respectivas
sries de composio
0 = N0 N1 Nn = N
e
0 = P0 P1 Pm = M/N.
Tomando Mi = 1 (Pi ), onde : M M/N, (1 i m) a projeo
cannica, segue que Pi = Mi /N e
Mi
Pi
'
,1im
Mi1
Pi1
os quais so mdulos simples. Portanto,
0 = N0 Nn = N = M0 Mm = M
uma srie de composio para M , de onde segue que `(M ) = `(N )+`(M/N ) <
.
Este resultado tem as seguintes consequncias interessantes.
Corolrio 2.2.6. Sejam R um anel e M um R-mdulo esquerda com comprimento finito. Ento:
(i) Se M1 , M2 so submdulos de M , temos
`(M1 + M2 ) = `(M1 ) + `(M2 ) `(M1 M2 ),
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38
M1 +M2
M2
'
M1
M1 M2 ,
M1
e `(M1 ) = `(M1 M2 )+`
M1 M2
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2.3
egio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regi
40
crescentes estacionrias so finitas, de modo que M satisfaz ACC se, e somente se,
M noetheriano.
Sob a luz destas novas definies, o seguinte resultado claro.
Corolrio 2.3.2. Seja M um R-mdulo esquerda. Ento `(M ) < se, e
somente se, M artiniano e noetheriano.
Exemplo 2.3.3.
(i) Todo espao vetorial de dimenso finita sobre um corpo
um mdulo artiniano e noetheriano, visto que possuem comprimento finito,
como j observamos anteriormente.
(ii) Z, como um Z-mdulo, noetheriano mas no artiniano.
Observe que os Z-submdulos de Z so os seus ideais, os quais tem a forma
nZ, como vimos antes. Assim, a cadeia estritamente decrescente 2Z 4Z
2n Z no finita. Por outro lado, nZ mZ se, e somente se, m
divide n. Assim, como o conjunto de divisores de um inteiro finito, segue que
toda cadeia ascendente de submdulos de Z estacionria.
Com o objetivo de poder apresentar novos exemplos, vamos discutir um pouco
mais estas condies de cadeia. Comeamos com o seguinte resultado.
Proposio 2.3.4. Um R-mdulo esquerda M noetheriano se, e somente se,
todo submdulo de M finitamente gerado. Em particular, todo mdulo noetheriano finitamente gerado.
Demonstrao. () Suponhamos M noetheriano e seja N um submdulo de M .
Consideremos a famlia F de todos os submdulos finitamente gerados de N . Assim, F =
6 , pois 0 F. Como M noetheriano, segue que F tem elemento
maximal, digamos L. Se L 6= N , ento existe um elemento x N \ L, e podemos ento considerar o R-submdulo L + Rx, o qual finitamente gerado, de
onde segue que L + Rx F, o que contradiz a maximalidade de L, pois claramente L L + Rx. Portanto, L = N e segue que N finitamente gerado, como
queramos mostrar.
() Seja N1 N2 Nk uma cadeia crescente de submdulos
de M . Consideremos N = i1 Ni . Como N um submdulo de M , segue que
N finitamente gerado por hiptese, digamos N = Rx1 + Rx2 + + Rxt . Mas
ento, existe um ndice j N tal que x1 , x2 , ..., xt Nj e, consequentemente,
Nj = Nj+1 = = Nj+k = e, portanto, M noetheriano.
Segue ento do resultado acima que o mdulo regular de todo domnio de ideais
principais noetheriano.
Exemplo 2.3.5. Seja p um nmero primo (positivo) e consideremos Z(p) := { pam :
a Z e m 0}. Ento Z(p) um grupo abeliano aditivo e, portanto, um Zmdulo. Consideremos agora o Z-mdulo M = Z(p) /Z. Afirmamos que M
artiniano e no noetheriano.
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egio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regi
("
a b
: a Z, b, c Q . Ento R um
Exemplo 2.3.11. Considere R =
0 c
anel noetheriano direita que no noetheriano esquerda.
("
0 2mn
0 0
: m Z , ento
0 y
0 z
#"
0 0
0 c
"
0 cy
0 cz
egio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regio Sul - Rio Grande - RS - FURG - IV Colquio de Matemtica da Regi
44
V =
"
2
(y, z) Q :
0 y
0 z
0 y
0 z
"
#"
0 y1
0 z1
0 0
0 1
"
0 y2
0 z2
#"
0 0
0 2
nk y
0
z
, com k Z e y, z Q
"
n 0
0 0
"
n b
0 c
#"
n b
0 c
1 0
0 0
I.
e segue que
n 0
0 0
z1 6= 0. Como
n 0
0 0
"
I, segue que
kn 0
0 0
"
n 0
0 0
#"
k 0
0 0
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0 y1
0 z1
"
kn y1
0 z1
"
kn 0
0 0
e, assim, temos
"
n y1
0 z1
"
n 0
0 0
"
+
"
rn y
0 z
"
n y1
0 z1
#"
0 y1
0 z1
rn y
0 z
r
0
1
n
I.
I, segue que
y
z
z1
y1 z
z1
#
"
n y1
, como ideal direita de R.
de onde segue que I gerado por
0 z1
Portanto, em qualquer caso, todo ideal direita de R finitamente gerado, o
que mostra que R noetheriano direita.
Modificando um pouco o exemplo anterior, podemos construir um anel artiniano direita que no artiniano esquerda. Os clculos sero deixados ao leitor.
("
a b
: a Q; b, c R . Ento R artiniano
Exemplo 2.3.12. Seja R =
0 c
direita mas no artiniano esquerda.
Exerccios
1. Seja R um anel que satisfaz a condio descendente de cadeia para ideais
esquerda principais. Mostre que R possui um ideal esquerda minimal.
2. Sejam R um domnio de integridade e a R \ {0}. Mostre que se
< at >=< at+1 >,
para algum inteiro positivo t, ento a invertvel. Conclua da que todo
domnio de integridade artiniano um corpo.
3. Mostre que se M um R-mdulo esquerda noetheriano, ento todo Rendomorfismo sobrejetor de M na verdade um R-isomorfismo.
4. Mostre que A < x >< x2 > 0 uma srie de composio para o
k[x]
A-mdulo regular A = <x
3> .
5. Sejam R um anel e M1 , M2 , ..., Mn R-mdulos esquerda. Mostre que se
M = ni=1 Mi , ento
`(M ) =
n
X
i=1
`(Mi ).
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CAPTULO 2. CONDIES DE FINITUDE PARA ANIS E MDULOS
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Captulo 3
Semissimplicidade
Comeamos este captulo apresentando noes gerais sobre a semissimplicidade em anis e mdulos, para ento apresentar o chamado Teorema de WedderburnArtin, o qual classifica os anis artinianos semissimples. Alguns exemplos so
dados no decorrer do texto e finalizamos com um exemplo clssico de um anel
semissimples que no artiniano.
Como dito no incio destas notas, os mdulos so uma generalizao de espaos vetoriais. Ento nada mais natural do que estudar os anlogos a certos invariantes ou de certas propriedades importantes dos espaos vetoriais, na teoria dos
mdulos. Fizemos isto na seo anterior, estudando o conceito de comprimento de
um mdulo. Uma propriedade fundamental dos espaos vetoriais o fato que todo
subespao um somando direto do espao que o contm. Neste captulo pretendemos estudar os mdulos que possuem esta mesma propriedade, ou seja, os mdulos
cujos seus submdulos so somandos diretos. Faremos isto atravs do conceito de
semissimplicidade.
3.1
Noes Gerais
A ideia de uma estrutura simples j apareceu neste texto. Vamos lembrar algumas coisas que j foram ditas anteriormente e introduzir conceitos novos. Iniciamos com as seguintes definies bsicas.
Definio 3.1.1. Sejam R um anel e M um R-mdulo esquerda. Dizemos que
M um mdulo:
simples, se M 6= 0 e os nicos submdulos de M so os triviais, a saber, 0 e
M;
semissimples, se todo R-submdulo de M um somando direto de M .
Muitas vezes na literatura o termo mdulo irredutvel aparece como sinnimo
de mdulo simples e o termo mdulo completamente redutvel, como sinnimo de
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
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sempre assim, quando trabalhamos com mdulos. De fato, todo mdulo simples
indecomponvel, mas a recproca no vale: Z um Z-mdulo indecomponvel que
no simples, pois os seus Z-submdulos so da forma nZ, para n Z. Mas se
m, n Z, ento nZ mZ = mmc(m, n)Z. Como todo mdulo indecomponvel
que no simples no pode ser semissimples, o prximo exemplo imediato.
Exemplo 3.1.9. Z, visto como um mdulo sobre si mesmo, no semissimples.
Na sequncia, apresentaremos alguns resultados fundamentais que sero teis
para se obter caracterizaes da semissimplicidade. Comeamos por observar que
a semissimplicidade herdada por submdulos e por mdulos fatores. Mais precisamente, temos o seguinte resultado.
Lema 3.1.10. Seja M um R-mdulo esquerda semissimples. Ento:
(i) Todo submdulo de M um R-mdulo semissimples;
(ii) Toda imagem homomrfica de M um R-mdulo semissimples (equivalentemente, todo mdulo fator de M semissimples).
Demonstrao. (i) Seja L um R-submdulo de M . Consideremos N L. Mas
ento, N um submdulo de M e, consequentemente, existe K M tal que
M = N K. Portanto, L = M L = (N K) L = (N L) + (K L) =
N + (K L) = N (K L).
(ii) Sejam : M L um R-epimorfismo e N um R-submdulo de L. ento,
1
(N ) M e, consequentemente, M = 1 (N ) K. Assim, dado y L,
existe x M tal que y = (x). Portanto, existem elementos x1 1 (N ) e
x2 K tais que x = x1 + x2 , de onde segue que y = (x) = (x1 ) + (x2 )
N + (K), ou seja, L = N + (K). Por outro lado, se z N (K), ento
existe a K tal que z = (a). Mas ento, a 1 (N ) K = 0, ou seja,
z = (a) = (0) = 0, e segue que L = N (K). Portanto, L semissimples
como R-mdulo. Como todo mdulo fator de M uma imagem epimrfica de M ,
a ltima afirmao de (ii) imediata.
Antes de prosseguir, cabe observar que foi usado uma espcie de distributividade da interseo em relao a soma de submdulos, na argumentao de (i)
do Lema acima. Em geral, uma tal distributividade no vale, mas quando um dos
mdulos envolvidos um submdulo de qualquer um dos outros, ento a distributividade vale. Esta era justamente a situao naquele momento.
Lema 3.1.11. Todo mdulo semissimples contm um submdulo simples.
Demonstrao. Sejam R um anel e M um R-mdulo esquerda semissimples
(logo, M 6= 0). Consideremos m M , m 6= 0. Como Rm um submdulo
de M , basta mostrarmos que Rm contm um submdulo simples. Para tanto,
consideremos a famlia F de todos os submdulos de Rm que no contm m, a
qual no vazia, pois 0 F. Aplicando agora o Lema de Zorn (note que F um
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
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(iii) (i) Suponhamos que M seja uma soma direta de submdulos simples,
digamos M = iI Mi , onde Mi um mdulo simples, para todo i I. Seja
N um submdulo de M . Usando a mesma argumentao acima, N Mi = Mi
ou N Mi = 0. Ento fcil verificar que N = jJ Mj , onde J = {i I :
Mi N = Mi }. Portanto, como M = (jJ Mj ) (jI\J Mj ) = N K, onde
K = jI\J Mj , e segue que M semissimples.
Observamos que na prova de (ii) (iii), de fato mostramos que toda soma
de submdulos simples uma soma direta. Na sequncia, vamos transportar o
conceito de semissimplicidade de mdulos para anis, via o mdulo regular. Mais
precisamente, temos a seguinte definio.
Definio 3.1.13. Seja R um anel. Dizemos que R um anel semissimples
esquerda (resp. direita), se o mdulo regular R R (resp. RR ) semissimples.
Mais adiante vamos mostrar que o conceito de semissimplicidade para anis
simtrico, isto , um anel semissimples esquerda se, e somente se, semissimples direita. Isto nos permite falar em anis semissimples, sem usar nenhum
adjetivo de lateralidade. Antecipando-nos a este fato, passaremos a escrever que R
um anel semissimples, sem especificar lateralidade, independentemente de qual
dos mdulos regulares estamos considerando no momento.
Suponhamos agora que R um anel semissimples ( esquerda), ento R =
jJ Ij , onde Ij um ideal esquerda simples, para todo j J. Como estamos
P
supondo que R tem unidade, ento devemos ter 1R = nj=1 aj , onde aj Ij ,
P
P
1 j n. Segue da que se r R, ento r = r1 = r nj=1 aj = nj=1 raj
Pn
j=1 Ij , de onde segue que R = I1 I2 In , onde cada Ij (1 j n) um
ideal esquerda minimal de R. Esta argumentao mostra que todo anel semissimples possui uma srie de composio ( esquerda), e portanto, se R semissimples
( esquerda), ento R artiniano esquerda e noetheriano esquerda. Assim, o
seguinte resultado claro.
Proposio 3.1.14. Todo anel semissimples simultaneamente artiniano e noetheriano ( esquerda e direita).
Vamos apresentar agora alguns exemplos.
Exemplo 3.1.15. Se D um anel de diviso, ento R = Mn (D) um anel simples, como j sabemos. Alm disso, o mdulo regular R R semissimples, de onde
segue que R um anel semissimples.
De fato, pois Ik := {(aij ) : aij = 0, se j 6= k} (conjunto de todas matrizes
com entradas no nulas somente na k-sima coluna) um ideal esquerda de R,
como j visto antes. Alm disso, como D um anel de diviso, segue facilmente
que este ideal minimal e, portanto, um submdulo esquerda simples de R R.
Como R R = I1 I2 In , segue que R um anel semissimples esquerda.
Analogamente, usando ideais direita da forma Ik := {(aij ) : aij = 0, se i 6=
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
3.2
O Teorema de Wedderburn-Artin
Nesta seo, como diz seu ttulo, vamos apresentar o assim conhecido Teorema
de Wedderburn-Artin, o qual nos d uma classificao dos anis semissimples.
Faremos isto a partir da estrutura do mdulo regular R R.
O resultado original de Wedderburn classifica as lgebras finito-dimensionais
sobre um corpo qualquer. Estas lgebras eram chamadas de sistemas de nmeros hipercomplexos naquela poca. Vinte anos mais tarde, Artin generalizou o
resultado de Wedderburn para anis satisfazendo ACC e DCC simultaneamente,
substituindo a finito-dimensionalidade pelo comprimento finito do mdulo regular.
Nossa exposio segue uma linha mais atual do que aquelas usadas nos trabalhos
originais. Por exemplo, usamos apenas a artianidade do mdulo regular, pois esta
implica sua noetherianidade, conforme o Teorema de Hopkins-Levitzki, o qual
apresentado no ltimo captulo.
Comearemos nossa tarefa com o seguinte resultado importante.
Teorema 3.2.1. Seja R um anel. Ento as seguintes afirmaes so equivalentes:
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
= I11 I1n1
|
{z
RI1
RR
Ir1 Irnr
|
{z
RIr
Lema 3.2.3. Sejam R um anel e I1 , I2 , ..., Ir ; J1 , J2 , ..., Js ideais (bilaterais) indecomponveis de R tais que R = I1 I2 Ir = J1 J2 Js . Ento,
r = s e, aps uma permutao nos ndices, se necessrio, Ii = Ji , 1 i r.
Demonstrao. Suponhamos R = I1 Ir = J1 Js , ento segue
que J1 / R e, usando a argumentao acima, temos que J1 = I10 Ir0 , com
Ii0 / Ii , 1 i r. Mas como J1 indecomponvel como ideal, conclumos que
existe k {1, 2, ..., r} tal que J1 = Ik0 (i. , os demais ideais Il0 na decomposio
de J1 so nulos). Reordenando os ndices, se necessrio, podemos escrever J1 =
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
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todo R-mdulo esquerda possui um R-submdulo simples. Portanto, nas condies acima, ou R um anel de diviso ou R um anel simples que possui um ideal
esquerda minimal. Portanto, R ' Mn (D), para algum n 1 e D um anel de
diviso. A recproca clara.
Note que se R uma k-lgebra finito-dimensional e semissimples, ento R '
Mn1 (D1 ) Mnr (Dr ), onde cada Di uma k-lgebra de diviso de dimenso
ni sobre k, pelo Teorema de Wedderburn-Artin. Observe agora que se k um corpo
algebricamente fechado e D uma k-lgebra de dimenso n, ento o conjunto
{1, a, a2 , ..., an }, com 0 6= a D, linearmente dependente sobre k, de onde
segue que a algbrico sobre k, ou seja, a k, de modo que D = k.
Portanto, se R uma k-lgebra finito-dimensional e semissimples e k algebricamente fechado, ento R ' Mn1 (k) Mnr (k). Tomando ento
k = C, obtemos que toda C-lgebra finito-dimensional e semissimples da forma
Mn1 (C) Mnr (C), recuperando o resultado de T. Molien, que classifica
os sistemas de nmeros hipercomplexos sobre C, obtido em sua tese de doutorado
em 1892.
Finalizaremos esta seo com mais alguns exemplos.
Exemplo 3.2.12. O anel Z/nZ semissimples se, e somente se, n livre de quadrados.
De fato, pois se n = p1 p2 ...pk , com pi e pj primos distintos, sempre que i 6= j,
ento temos Z/nZ ' ki=1 Z/pi Z, e cada um dos anis Z/pi Z um corpo, portanto
um anel simples e artiniano. Mostre a recproca (veja tambm os exerccios no final
do captulo 5 para uma outra sugesto, usando o radical de Jacobson).
Apresentaremos agora um exemplo de um anel simples e no artiniano, mostrando que existem anis simples que no so semissimples.
Exemplo 3.2.13. Sejam R1 R2 Rn uma cadeia de anis simples
com a mesma unidade e consideremos R = Ri . Ento R um anel simples.
De fato, pois se I / R, I 6= 0, ento I Rj um ideal no nulo de Rj ,
para algum j 1. Mas como Rj simples, segue que I Rj = Rj , ou seja,
1R = 1Rj I Rj I, e segue que I = R.
Agora, no exemplo acima, consideramos Ri = M2i (D), onde D um
! anel de
M 0
diviso. Consideramos a incluso Ri , Ri+1 via M 7
. Assim,
0 M
R = i0 Ri , onde R0 = D, e segue do exemplo anterior que R um anel simples.
Observamos agora que se tomamos o elemento ei Ri , como sendo a matriz
que possui o elemento 1 na entrada (1, 1) e zeros nas demais, e consideramos ei
como elemento de R, via a incluso acima, segue que ei+1 = ei+1 ei Ri+1 , e
portanto temos uma cadeia decrescente Re0 Re1 Ren .
Por fim, note que ei 6 Rei+1 . De fato, pois do contrrio, existiria j > i tal
que ei Rj ei+1 e teramos ei = M ei+1 , para alguma matriz M . Mas a entrada
(2i+1 , 2i+1 ) da matriz M ei+1 nula, enquanto que a entrada (2i+1 , 2i+1 ) da matriz
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CAPTULO 3. SEMISSIMPLICIDADE
Exerccios
1. Seja R um anel. Mostre que R semissimples se, e somente se, toda sequncia exata curta de R-mdulos esquerda cinde.
2. Mostre que se R um anel semissimples, ento Mn (R) tambm um anel
semissimples.
3. Seja R um anel semissimples e artiniano. Mostre que se ab = 0 implicar
a = 0 ou b = 0, para todos elementos de a, b R, ento R um anel de
diviso (i. ., todo anel artiniano semissimples sem divisores de zero um
anel de diviso).
4. Seja M um R-mdulo esquerda semissimples. Mostre que M uma soma
finita de submdulos simples se, e somente se, M finitamente gerado.
5. Mostre que Q um Z-mdulo indecomponvel que no simples. Conclua
da que Q no um Z-mdulo semissimples.
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Captulo 4
Uma Aplicao da
semissimplicidade
A ideia deste captulo apresentar alguma aplicao da semissimplicidade.
Escolhemos para tanto uma aplicao na teoria de grupos, pois uma das mais interessantes aplicaes da semissimplicidade aparece na teoria de representao de
grupos finitos. Vamos procurar apresentar aqui a conexo entre estes dois tpicos. No entraremos em detalhes mais profundos e possivelmente seja necessrio
consultar algum outro texto mais especfico, para dar maior suporte. Algumas indicaes bibliogrficas neste sentido so dadas no final do texto.
4.1
Vamos assumir neste captulo que todos os grupos so finitos, embora alguns
resultados sejam vlidos para grupos quaisquer. Iniciamos lembrando o que uma
ao de um grupo em um conjunto.
Definio 4.1.1. Sejam G um grupo e X um conjunto. Dizemos que G age em X
se existir uma aplicao
: GX X
(g, x) 7 g x
satisfazendo as seguintes condies
(i) 1G x = x, x X;
(ii) g (h x) = gh x, g, h G, x X.
Observe que na definio acima, escrevemos g x para indicar a imagem do par
ordenado (g, x) G X pela ao , para simplificar a notao. Muitas vezes
faremos exatamente assim.
61
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4.2
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1 0 0
0 0 1
0 1 0
[e ]B = 0 1 0 , [g ]B = 1 0 0 , e [g2 ]B = 0 0 1 .
0 0 1
0 1 0
1 0 0
Vamos agora na direo de mostrar que k[G] um anel semissimples, com
algumas hipteses razoveis sobre k. A semissimplicidade de k[G] vai garantir
que todo k[G]-mdulo esquerda semissimples, ou seja, uma soma de mdulos
simples. Como as representaes lineares de G esto em correspondncia com os
k[G]-mdulos, segue que as representaes lineares de G so somas de representaes irredutveis. Portanto, para classificar as representaes lineares de um grupo
finito, basta classificar as representaes irredutveis deste grupo. E justamente
nesta tarefa que o Teorema de Wedderburn-Artin vem em nosso auxlio.
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1 X 1
g (gx).
n gG
Vamos mostrar agora que (k[G]) = V e que k[G] = V (id )(k[G]), como
k[G]-mdulos.
Tomando y k[G] e g G, segue que (gy) V , de onde se deduz que
(gy) =
1 X 1
h (hgy) V
n hG
1 X 1
1 X 1
1
g (gx) =
g gx = nx = x
n gG
n gG
n
1 X 1 1
1 X 1
h g (ghx) =
y (yx) = (x)
n gG
n yG
ou seja,
(hx) = h (x), h G, x k[G].
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g g = h1 (
gG
gG
g g)h =
g h1 gh
gG
ou seja, da escrita nica dos elementos de k[G], segue que g = h1 gh , o que por
P
sua vez implica que gG g uma combinao linear dos elementos do conjunto
{ci }. Portanto, {ci } uma k-base de Z(k[G]) e, consequentemente,
r = dimk Z(k[G]) = nmero de classes de conjugao de G
e o Corolrio est demonstrado.
4.3
Nesta breve seo, como uma aplicao do que foi discutido at aqui, vamos classificar as representaes irredutveis de S3 (o grupo das permutaes de
trs elementos) sobre C. Assim, considerando S3 como o grupo das permutaes dos smbolos 1, 2 e 3, e notando uma permutao por (a1 a2 ...ar ), para dizer que o elemento ai levado no elemento ai+1 , 1 i r 1 e ar levado em a1 , deixando fixos os elementos que no aparecem nesta escrita, temos
S3 = {(1), (12), (13), (23), (123), (132)} e | S3 |= 6.
Lembramos ainda da teoria de grupos que S3 um grupo gerado por dois elementos, digamos e , sujeitos s seguintes relaes: 2 = (1), 3 = (1) e
= 2 . Por exemplo, podemos tomar = (12) e = (123). Mais ainda, S3
possui um subgrupo normal de ndice dois, a saber, N =< >. Alm disso, como
elementos conjugados em Sn possuem a mesma estrutura de ciclos, segue que existem 3 classes de conjugao em S3 , a saber, C1 = {(1)}, C2 = {(12), (13), (23)}
e C3 = {(123), (132)}. Estas informaes sero usadas no decorrer de nossa argumentao.
Usando ento o Corolrio 4.2.6, obtemos que
CS3 ' Mn1 (C) Mn2 (C) Mn3 (C)
com 6 = n21 + n22 + n23 . Como CS3 no comutativo, segue que pelo menos um
dos ndices ni deve ser diferente de 1. Portanto, n1 = n2 = 1 e n3 = 2, ou seja,
S3 possui duas representaes irredutveis unidimensionais e uma bidimensional.
Assim, podemos melhorar a decomposio de CS3 para a forma
CS3 ' C C M2 (C)
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0 1
1 0
"
#2
"
0
0 2
1 0
0 1
#"
"
0 1
1 0
"
0
0 2
0 1
1 0
#3
"
=
#"
1 0
0 1
0
0 2
0 1
1 0
"
e 7
0
0 2
y : e2 7 2 e2
y e2 = 2 e2 .
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69
e
y (e1 e2 ) = e1 2 e2 6 C(e1 + e2 )
o que uma contradio.
Portanto, no existe nenhum subespao unidimensional de V que fique fixo
pela ao de S3 , isto , V no possui nenhum CS3 -submdulo prprio, ou ainda,
V um CS3 -mdulo simples e, portanto, V uma representao irredutvel de grau
2 de S3 sobre C. Completamos assim a classificao das representaes lineares
irredutveis de S3 sobre C.
Exerccios
1. O objetivo deste exerccio mostrar que se G um grupo cclico de ordem
n e k um corpo de caracterstica zero (ou cuja caracterstica no divida a
ordem de G), ento existe um isomorfismo de anis
k[G] '
k[X]
< Xn 1 >
k[X]
k[X]
< p1 (X) >
< pt (X) >
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CAPTULO 4. UMA APLICAO DA SEMISSIMPLICIDADE
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Captulo 5
J-semissimplicidade
No captulo 3, estudamos a semissimplicidade de um anel, usando para tal a
estrutura de seus mdulos. Agora, pretendemos dar uma outra abordagem a este
tpico, mas olhando internamente a estrutura do prprio anel. Este o tema do
presente captulo.
Para atingir nosso objetivo, na primeira seo introduzimos o conceito de radical de Jacobson de um anel e discutiremos algumas de suas propriedades. Na
seo seguinte vamos mostrar que, num certo sentido, o radical de Jacobson d
uma medida de quo longe o anel est de ser semissimples. Assim, estudar a Jsemissimplicidade de um anel seria naturalmente o prximo passo a ser dado no
estudo dos anis no comutativos, segundo nossa linha de trabalho.
5.1
O radical de Jacobson
Vamos introduzir o conceito de radical de Jacobson de um anel, sem entrarmos em detalhes mais finos sobre a teoria dos radicais. Para que nossa definio
se torne mais natural, observamos que um corpo k age fielmente sobre qualquer
k-espao vetorial e, em particular, sobre seus espaos vetoriais unidimensionais
(simples). O mesmo j no acontece quando passamos ao contexto dos mdulos
sobre anis. Como os mdulos semissimples so soma de seus submdulos simples, segue que os elementos do anel base que anulam todos os mdulos simples
passam a ser indesejveis para o estudo da semissimplicidade. Desta forma, vamos
reun-los inicialmente num conjunto, que depois ser visto ser um ideal de fato.
Mais precisamente, temos o seguinte conceito.
Definio 5.1.1. Sejam R um anel e S a famlia dos R-mdulos esquerda simples. O radical de Jacobson de R definido como sendo o conjunto
J(R) := V S AnR (V )
.
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CAPTULO 5. J-SEMISSIMPLICIDADE
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esquerda maximais, se tomada como definio, deveria produzir o conceito de radical de Jacobson esquerda e, de modo anlogo, teramos o conceito de radical de
Jacobson direita, como sendo a interseo de todos os ideais direita maximais
de R. Felizmente, pode-se mostrar que estas duas intersees de fato coincidem, e
o conceito de radical de Jacobson se torna simtrico. Para ver que estas intersees
coincidem, vamos usar uma nova caracterizao do radical de Jacobson ao nvel de
seus elementos.
Proposio 5.1.4. Seja R um anel. As seguintes afirmaes so equivalentes:
(i) x J(R);
(ii) 1 rx possui um inverso esquerda, para todo r R;
(iii) 1 rxt um elemento invertvel em R, para todos r, t R.
Demonstrao. (i) (ii) Suponhamos que exista r R tal que 1rx no possui
um inverso esquerda em R. Assim, R(1 rx) um ideal esquerda prprio de
R e, portanto, deve existir M Maxl (R) tal que R(1 rx) M. Mas ento,
como 1 rx M e x J(R) = {N : N Maxl (R)} (Proposio 5.1.3),
segue que 1 M, o que no pode ocorrer.
(ii) (i) Seja x R e suponhamos que 1 rx possua um inverso esquerda, para toda a escolha de r R. Queremos mostrar que x {M :
M Maxl (R)}. De fato, pois se existir M Maxl (R) tal que x 6 M, ento M + Rx = R, de onde segue que existem elementos a M, r R tais que
a + rx = 1, ou seja, 1 rx = a M, o que no pode ocorrer.
(i) (iii) Sejam x J(R) e r, t R. Ento, xt J(R) e 1 r(xt)
tem inverso esquerda, pela argumentao acima. Assim, existe s R tal que
s(1 rxt) = 1. Agora, como rxt J(R), segue que 1 s(rxt) possui
inverso esquerda, ou seja, existe u R tal que u(1 s(rxt)) = 1. Mas ento
s = 1 + srxt e da, 1 = u(1 s(rxt)) = u(1 + srxt) = us, de onde segue que
s um elemento invertvel em R, por ter inverso tanto esquerda como direita e,
alm disso, u = 1 rxt. Portanto, 1 rxt um elemento invertvel em R.
(iii) (i) Se 1 rxt um elemento invertvel em R, para toda a escolha de
r, t R, ento escolhendo t = 1, obtemos que 1 rx tem inverso esquerda, para
todo r R, e segue que x J(R), pela argumentao feita em (ii) (i).
A simetria do tem (iii) da Proposio 5.1.4 garante ento o seguinte resultado.
Corolrio 5.1.5. Seja R um anel. Ento,
J(R) = {M : M Maxl (R)} = {N : N Maxr (R)}
O prximo resultado um fato muito utilizado em teoria de anis, o qual confere uma maior importncia ao radical de Jacobson.
Proposio 5.1.6. (Lema de Nakayama) Sejam R um anel e M um R-mdulo
esquerda finitamente gerado. Se J(R)M = M , ento M = 0.
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CAPTULO 5. J-SEMISSIMPLICIDADE
finita
de ndice de nilpotncia de I.
Exemplo 5.1.8. Seja R um anel comutativo e M um R-mdulo no nulo. Ento
podemos mostrar facilmente que
R M
0 R
:=
r m
0 r
: r R, m M
0 M
0 0
um ideal nilpotente com ndice de nilpotncia igual a 2, pois fcil ver que
I 2 = 0 e I 6= 0.
Podemos ento enunciar o nosso resultado.
Proposio 5.1.9. Seja R um anel artiniano esquerda. Ento J(R) um ideal
nilpotente.
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Demonstrao. Como todo ideal (bilateral) tambm um ideal esquerda, a cadeia descendente
J(R) J(R)2 J(R)n
deve estacionar, ou seja, existe ndice m tal que J(R)m = J(R)m+1 . Seja I =
J(R)m . Afirmamos que I = 0. De fato, pois do contrrio, como I 2 = I, a famlia
de ideais esquerda K de R tais que IK 6= 0 seria no vazia e, portanto, teria um
elemento minimal, pela artianidade de R. Chamando um tal elemento de L, segue
que L = Ry, para todo y L \ {0}. Mas ento, IL = IRy = Iy = L, pois Iy
um R-submdulo no nulo de L tal que I(Iy) = I 2 y = Iy 6= 0. Portanto,
J(R)L = J(R)IL = IL = L
e, como L = Ry finitamente gerado, segue do Lema de Nakayama (Proposio
5.1.6) que L = 0, uma contradio.
O resultado acima no vale em geral, sem a hiptese de artianidade de R. Para
ver isto, considere R o anel das matrizes infinitas N N triangulares superiores,
com apenas um nmero finito de entradas no nulas em um corpo. Neste caso,
possvel mostrar que J(R) o conjunto de todas tais matrizes que possuem as
entradas da diagonal principal nulas e que J(R) no um ideal nilpotente.
O conceito de nilpotncia pode ser feito para elementos. Com ele, podemos
relaxar um pouco a condio de nilpotncia para ideais.
Definio 5.1.10. Seja R um anel e x R. Ento dizemos que x um elemento
nilpotente, se existir n 1 tal que xn = 0. O menor tal inteiro chamado de
ndice de nilpotncia de x. Um ideal I (resp. ideal esquerda, ideal direita) de R
dito um nil ideal (resp. nil ideal esquerda, nil ideal direita), se todo elemento
de I nilpotente.
Note que todo ideal nilpotente um nil ideal, mas a recproca nem sempre vale.
Z[x1 ,x2 ,x3 ,...]
Por exemplo, tomando R = <x
2 ,x2 ,x3 ,...> e I, o ideal de R gerado pelos elementos
1 2 3
x1 , x2 , x3 , ..., ento I claramente um nil ideal, mas no nilpotente. Tambm,
no exemplo das matrizes infinitas dado acima, o radical de Jacobson de fato um
nil ideal que no nilpotente.
Podemos enunciar o seguinte resultado geral.
Lema 5.1.11. Sejam R um anel e I um nil ideal esquerda de R. Ento, I
J(R).
Demonstrao. Sejam x I e r R. Como I um nil ideal esquerda, segue
que rx um elemento nilpotente, pois rx I. Digamos que o ndice de nilpotncia
de rx seja n. Ento, temos
(1 + rx + (rx)2 + (rx)3 + + (rx)n1 )(1 rx) = 1
de onde segue que 1 rx possui inverso esquerda. Consequentemente, aplicando
a Proposio 5.1.4, obtemos que x J(R), pois r R foi tomado arbitrrio.
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CAPTULO 5. J-SEMISSIMPLICIDADE
5.2
J-semissimplicidade
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5.2. J-SEMISSIMPLICIDADE
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Usando esta terminologia, o Teorema 5.2.1 pode ser reescrito na seguinte forma.
Corolrio 5.2.4. Seja R um anel. Ento as seguintes afirmaes so equivalentes:
(i) R semissimples;
(ii) R artiniano esquerda e J-semissimples.
O seguinte resultado imediato.
Corolrio 5.2.5. Seja R um anel artiniano esquerda. Ento, R/J(R) o maior
anel fator de R que semissimples.
Portanto, se R um anel artiniano esquerda, segue do Teorema de WedderburnArtin que
R/J(R) ' m
i=1 Mni (Di )
onde ni = dimDi (Vi ), Di = EndR (Vi ) e {V1 , V2 , ..., Vm } um sistema de representantes das classes de isomorfismos de R-mdulos esquerda simples.
Como j foi mencionado antes, nenhuma das condies de cadeia para mdulos implicam na outra, em geral. Mas no caso do mdulo regular R R (resp.
RR ), surpreendentemente, a condio de cadeia descendente implica a condio
de cadeia ascendente. Isto foi observado independentemente por Hopkins e Levitzky, aproximadamente dez anos aps os trabalhos de Artin que estenderam o
Teorema de Wedderburn, usando ambas as condies de cadeia em lugar da finitodimensionalidade usada originalmente por este ltimo. Vamos finalizar esta seo,
apresentando uma verso mais elementar do resultado de Hopkins-Levitzky.
Teorema 5.2.6. (Teorema de Hopkins-Levitzky - verso fraca) Seja R um anel.
Se R artiniano esquerda, ento R noetheriano esquerda.
Demonstrao. Suponhamos R artiniano esquerda. Segue ento da Proposio 5.1.9 que J(R) nilpotente, digamos, com ndice de nilpotncia n. Assim,
J(R)n = 0, e podemos considerar a cadeia decrescente
R = J(R)0 J(R)2 J(R)n = 0.
Para obter o resultado desejado, vamos mostrar que cada um dos R-mdulos esquerda Ni = J(R)i /J(R)i+1 tem comprimento finito. De fato, como quocientes
de um anel artiniano esquerda, Ni artiniano, para cada ndice i. Observe agora
que Ni anulado por J(R), de onde segue que Ni um R/J(R)-mdulo. Como
R/J(R) semissimples, pelo Corolrio 5.2.5, segue que Ni semissimples como
R/J(R)-mdulo. Como a estrutura de R-mdulo e de R/J(R)-mdulo de Ni
coincidem, segue que cada um dos R-mdulos Ni semissimples e artiniano, de
onde segue que possuem comprimento finito, pelos resultados do Captulo 3. Isto
mostra que o mdulo regular R R possui uma srie de composio, de onde obtemos que R R noetheriano, ou seja, R um anel noetheriano esquerda, como
queramos mostrar.
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CAPTULO 5. J-SEMISSIMPLICIDADE
Exerccios
1. Seja Zn := Z/nZ, onde n = pe11 . . . pekk , com pi 6= pj , se i 6= j. Mostre que:
(i) Os ideais de Zn so da forma < a > / < n >, onde a | n em Z.
(ii) Os ideais maximais de Zn so da forma < pi > / < n >.
(iii) J(Zn ) =< m > / < n >, onde m = p1 p2 ...pk .
(iv) Como Zn um Z-mdulo artiniano (por ser finito), conclua que Zn
semissimples se, e somente se, n livre de quadrados.
2. Seja R um anel. Mostre que J(Mn (R)) = Mn (J(R)). Mostre tambm
que se R = iI Ri , ento J(R) = iI J(Ri ). O que se pode dizer, a
partir deste resultado, sobre o radical de Jacobson de anis semissimples?
3. Sejam R um anel e I um ideal de R tal que R/I um anel J-semissimples.
Mostre que I J(R). Conclua da que J(R) o menor ideal I de R tal que
o anel fator R/I J-semissimples.
4. Sejam R e S dois anis e f : R S um epimorfismo de anis. Mostre que
f (J(R)) J(S).
5. Mostre que a soma de ideais nilpotentes de um anel R um ideal nilpotente.
Veja que o mesmo resultado no vale para nil ideais, em geral. Se R
artiniano, ento todo nil ideal nilpotente e, neste caso, a soma de nil ideais
um nil ideal.
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Referncias Bibliogrficas
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[6] FERRERO, M.; Teoremas de Estructura para lgebras Semisimples, XV Escuela Venezolana de Matemticas. Mrida: 2002.
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[12] MILIES, C. P.; Anis e mdulos. So Paulo: Edusp, 1972.
[13] MILIES, C. P.; SEHGAL, S. K.; An Introduction to Group Rings. Dordrecht:
Kluwer Academic Publishers, 2002.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
[14] MOLIEN, T. ber systeme hher complexes zahlen, Mathematische Annalen, v. 41, p. 83 - 156, 1893.
[15] RIBENBOIM, P.; Rings and Modules. Interscience Publishers, 1969.
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Soc., v. 6, p. 77-117, 1908
Logaritmos - E. L. Lima
Isometrias - E. L. Lima
COLEO PROFMAT
Aritmtica - A. Hefez
Geometria - A. Caminha