Agrinho Livro 1 Ser-Sustentavel
Agrinho Livro 1 Ser-Sustentavel
Agrinho Livro 1 Ser-Sustentavel
COMPLEXIDADE:
REDES E CONEXES DO SER SUSTENTVEL
Adriana Mocelim de Souza Lima | Afonso Vieira | Ana Camila Palma Kotinda | Andra da Luz Sanches
Angelo Jose da Silva | Annelissa Gobel Donha | Antonio Camilo Teles Nascimento Cunha | Antonio Carlos
Pinto Jachinoski | Araci Asinelli da Luz | Cinthya Hoppen | Cleverson V. Andreoli [Org.] | Cristiane Piccinini
Dagoberto Hungria Requio | Darci Vieira da Silva Bonetto | Dilermano Brito | Eleusis Ronconi de Nazareno
Elisabeth Seraphim Prosser | Elza Sbrissia Artigas | Etelvina Maria de Castro Trindade | Etiane Caloy Bovkialovski
Eugenio Libreloto Stefanelo | Fabiana de Nadai Andreoli | Fernanda Marder Torres | Gisele Braile Turquino
Janana Cristina Buiar | Jorge Justi Junior | Julio Cesar Bisinelli | Kau de Andrade Monteiro
Luiz Arthur Conceio | Luiz Carlos Bleggi Torres (21/10/1952 18/04/2007) | Mrcia Scholz de Andrade Kersten
Mrcio Jos Kerkoski | Marcos Henrique Santana do Nascimento | Maria Cecilia Barreto Amorim Pilla
Marlia Diaz | Marisa Atsuko Toyonaga | Patrcia Lupion Torres [Org.] | Paulo Eduardo Oliveira | Paulo da Cunha Lana
Paulo Roberto de Miranda Sandoval | Pedro Kiatkoski Kim | Plino Neves Angeuski | Rejane de Medeiros Cervi
Ricardo Tescarolo | Simone Tetu Moyss | Tamara Vigolo Trindade | Thereza Cristina Gosdal | Valdir Fernandes
Vera Maria Gilberti Rocha | Wilson Maske
CURITIBA
2014
Depsito legal na CENAGRI, conforme Portaria Interministerial n.164, datada de 22 julho 1994, junto
Biblioteca Nacional e SENAR-PR.
Esta publicao poder ser reproduzida, por qualquer meio, desde que citada a fonte.
Organizadores
Cleverson V. Andreoli
Patrcia Lupion Torres
CATALOGAO NO CENTRO DE EDITORAO,
DOCUMENTAO E INFORMAO TCNICA DO SENAR-PR.
Andreoli, Cleverson V. ; Torres, Patrcia Lupion org.
Complexidade : redes e conexes do ser sustentvel / Cleverson V. Andreoli [e]
Patrcia Lupion Torres ; organizadores Curitiba : SENAR - Pr., 2014.
832 pginas.
ISBN 978-85-7565-110-0
1. Educao. 2. Temas transversais. 3. Sustentabilidade. 4. Ensino-Aprendizagem.
5. Redes. I. Torres, Patrcia Lupion. II. Ttulo.
CDU37(816.2)
CDD370
IMPRESSO NO BRASIL DISTRIBUIO GRATUITA
APRESENTAO
O elevado grau de apropriao dos temas apresentados nos materiais, por crianas e adolescentes
do Ensino Fundamental, pode tambm ser comprovado pela Experincia Pedaggica, um relato dos
professores sobre a prtica educacional que desenvolvem no Programa Agrinho. Desde seu incio
em 1996, os professores do ensino pblico municipal e estadual, as crianas e os jovens recebem
com entusiasmo e dedicao as atividades do Programa Agrinho. A cada ano esse trabalho vem se
superando em qualidade e criatividade.
Este livro rene os artigos elaborados com o propsito de auxiliar os professores nos
desenvolvimento das temticas em sua prtica diria. Esta ser uma edio exclusiva, distribuda
para todos os professores envolvidos neste Programa nos prximos anos.
gide Meneguette
Presidente do Conselho Administrativo
do SENAR-PR
COMIT EDITORIAL
SUMRIO
APRESENTAO.............................................................................................................................. 5
gide Meneguette
COMIT EDITORIAL......................................................................................................................... 7
PREFCIO COMPLEXIDADE: REDE E CONEXES DO SER SUSTENTVEL UM LIVRO PARA
APRENDER....................................................................................................................................... 13
Blanca Jimnez-Cisneros
ESTADO E PODER............................................................................................................................ 93
Angelo Jos da Silva
SEXUALIDADE................................................................................................................................. 265
Darci Vieira da Silva Bonetto
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UMA JORNADA HISTRICA PELO PARAN: TERRA, HOMENS E VIDA MATERIAL..................... 655
Etelvina Maria de Castro Trindade
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PREFCIO
Sempre um prazer escrever o prefcio de um livro por duas razes: a primeira, porque
um reconhecimento de um trabalho concludo, que muitas vezes implica um grande esforo, e
neste caso um esforo de 51 autores; e a segunda, pelo fato de possibilitar a leitura de um livro.
Nesta oportunidade encontrei, tambm, uma terceira: a esperana de um mundo melhor.
Complexidade: Redes e Conexes do Ser Sustentvel um livro para preparar e nos prepararmos
para o futuro. Destinado a professores e professoras do Ensino Fundamental, este livro, produto
do Programa Agrinho, discorre sobre os complexos problemas que enfrenta a sociedade atual:
tica, meio ambiente, pluralidade cultural, sade, trabalho e consumo. Cada tema especfico
tratado em uma perspectiva transversal e de solidariedade para criar cidados responsveis com
eles mesmos, com a sociedade e o ambiente.
O livro tem muitos mritos, no somente por analisar em detalhe as questes atuais, como
a tica global e da crise de valores, a gua, as alteraes climticas, o respeito pelas diferentes
culturas, o problema do consumismo e da discriminao, mas tambm combina de forma
equilibrada a teoria com os aspectos da vida cotidiana e da experincia adquirida atravs de
muitos anos de prtica docente dos autores.
O cuidadoso desenvolvimento do livro, que revisa, atualiza e desenvolve o material
original lanado no incio de 2000, o produto dos esforos de muitas pessoas, tanto dos autores
como daqueles que avaliaram o projeto e forneceram o feedback, especialmente os alunos,
professores e diretores de escolas, alm de outros responsveis pela educao como especialistas
da administrao pblica e pesquisadores de universidades.
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Todos, homens e mulheres, merecem o reconhecimento por seus esforos e graas a esses
materiais e o Programa Agrinho, o Estado de Paran, por certo, ter uma nova gerao de
cidados que podem cuidar melhor de sua sade fsica e mental, preservar e gerenciar a natureza,
mas acima tudo contribuir para um mundo melhor. Esse processo se destina a promover uma
educao crtica, criativa e reflexiva, que so os elementos indispensveis para a construo de
uma nova sociedade.
Que sorte tem os professores e as professoras que formam os meninos e as meninas de hoje
de contar com um livro como este, verdadeira fonte de conhecimentos com enfoque transversal.
Muitos de ns os mais velhos tivemos de aprender do mundo por meio de diversas disciplinas
para entender, algumas vezes muito tempo depois, que para analisar problemas e proporcionar
solues factveis necessrio um enfoque integrado.
Essa viso sistmica, agora evidente, deu muito trabalho para ser entendida por uma
comunidade acadmica formada unidisciplinarmente, sem considerar a diversidade cultural e
sem a verdadeira dimenso do respeito ao meio ambiente. Que sorte para eles, mas tambm para
ns e para este mundo, que existam esforos como este para inculcar o trabalho em equipe com a
clara ideia de que essas novas equipes nem sempre podem e devem conformar-se com a repetio
das mesmas ideias e prticas. Somente assim este planeta ser capaz de solucionar os grandes
problemas que temos de enfrentar.
Blanca Jimnez-Cisneros
Diretora da Diviso de Cincias
da gua e Secretaria do Programa
Hidrolgico Internacional da UNESCO
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O PROGRAMA AGRINHO
Em 1995 tm-se o marco inicial do Programa AGRINHO, quando se estruturou a proposta
pedaggica que tinha por pressupostos tericos basilares a transversalidade. Os temas transversais
foram a base para o primeiro material para alunos de 1 a 4 sries do Ensino Fundamental,
tendo como personagem principal o menino Agrinho. Na ocasio priorizou-se a temtica ambiental
em decorrncia da necessidade de responder a problema pontual de extrema gravidade no meio
rural o da contaminao da populao por agrotxicos. Em 1996 iniciou-se a implantao do
programa de forma piloto em cinco municpios paranaenses. Desde ento os professores do ensino
pblico municipal e estadual, as crianas e os jovens recebem com entusiasmo e dedicao as
atividades do Programa Agrinho.
J no ano seguinte, aps a avaliao desta experincia piloto e com base na elevada
receptividade e participao da comunidade escolar, buscou-se agregar temtica inicial dos
agrotxicos outros temas relativos questo da sade. Assim passou-se a trabalhar tambm com
os temas: Sade infantil e Sade Bucal. Nesse momento a personagem Aninha ganha destaque e
passa a ser a protagonista da revista de sade. Em 1998 trabalha-se a proposta pedaggica baseada
na concepo dos temas transversais, propostos nos Parmetros Curriculares Nacionais PCNs,
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Os dois livros que compunham o material do professor apresentavam reflexes tericoprticas: Alguns fios para entretecer o pensar e o agir, continham as orientaes gerais referentes a
todos os temas do Programa, e Algumas vias para entretecer o pensar e o agir, contemplava algumas
propostas metodolgicas inovadoras em consonncia com as orientaes do Programa.
No final da primeira dcada do sculo XXI nova pesquisa foi realizada para avaliar o
Programa. Trabalhou-se com uma amostra de 617 professores, 1.060 alunos, 92 diretores, chefes
de ncleos de educao e secretrios municipais. Muitos so os dados levantados e avaliados.
Julgamos pertinente apresentar alguns destes dados.
A pesquisa com os alunos nos trazem os seguintes resultados:
96,23% dos estudantes conhece ou j ouviu falar do Programa Agrinho e apenas 3,77%
desconhece o programa;
70,20% consideram os assuntos trabalhados no material do programa interessante,
24,51% acham muito interessante, 4,8 % disseram que era pouco interessante e 0,49
no sabiam opinar ou consideraram nada interessante;
75% dos entrevistados disseram que o material do Agrinho foi trabalhado em sala de
aula e foram realizadas atividades;
53,10% dos estudantes mostraram para os pais, irmos e amigos os materiais, 37,73%
releu os materiais e 9,15% no.
Os alunos elencam como as principais lies que aprenderam com o Agrinho: preservar a
natureza; alimentar-se bem; cuidar da higiene pessoal; no desperdiar gua; no poluir; cuidar
do meio ambiente.
J os resultados da pesquisa com os professores nos trazem os seguintes dados:
98,86% dos docentes conhecem ou j ouviram falar do Programa Agrinho e apenas
1,14% desconhece o programa;
68,03% consideram os assuntos trabalhados no material do programa interessante,
28,36% acham muito interessantes, 2,46 % disseram que era pouco interessante e
1,15% no sabiam opinar ou consideraram nada interessante;
72,47% dos entrevistados disseram que o material do Agrinho foi trabalhado em sala de
aula e foram realizadas atividades, entre as quais destacaram a leitura em sala de aula,
a produo de textos, os debates, as atividades da revista, as pesquisas;
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vias, interconexes, tramas e malha. Representa a vinculao dinmica do todo, ou seja: das vias,
das interconexes, do individual e do coletivo, do sujeito e do grupo, do tempo e do espao, do
contexto e das conjunturas, das aes e das atuaes, da prpria malha e da prpria rede.
FUNDAMENTOS DA PROPOSTA
A proposta metodolgica adotada pelo Programa Agrinho uma proposta metodolgica
crtica, que se orienta pela necessria formao de alunos e professores pesquisadores. Est baseada
nas seguintes premissas, prescries e princpios tericos: 1) na concepo dos temas transversais,
propostos nos Parmetros Curriculares Nacionais PCNs, estabelecidos pelo Ministrio da
Educao, fundados na perspectiva da interdisciplinaridade e na busca da transdisciplinaridade;
2) na pesquisa como prtica educacional proposta por Bochniak (1998) e Torres (2002); e 3) na
colaborao na perspectiva apresentada por Torres (2002) em sua tese de doutorado.
Tal escolha metodolgica se deu pelo fato que se pretende a ruptura com as propostas
pedaggicas tradicionais que fragmentam o processo educacional, compartimentando os contedos
em estruturas disciplinares. A interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade, a cooperao, a
colaborao, o dilogo, a troca, a interatividade, a pesquisa, a produo de conhecimentos e a
comunicao de grupo so constantemente destacados em discursos e projetos, embora poucos
programas de fato proponham estratgias pedaggicas que garantam tais prticas. Muitas vezes
constata-se o uso dessas palavras sem, contudo, qualquer compromisso com uma prtica a elas
consentnea. No raro a proposta pedaggica a da transmisso de informao, travestida de uma
roupagem nova, garantida pelo uso de tecnologias de informao e comunicao para difundir a
informao (TORRES e KUCHARSKI, 2011).
A escola precisa ser formada para o trabalho com a interdisciplinaridade, com a colaborao,
com a pesquisa e com a transversalidade, propostas de fundo terico que subsidiam a abordagem
dos temas selecionados pelo Agrinho. Para Torres e Bochniak:
Sabe-se que diversas so as experincias de colocao dos princpios da transversalidade e da
interdisciplinaridade em prtica, assim como se sabe, tambm, que a efetiva transposio ainda no
foi concretizada, na maioria das escolas. Faz-se, necessrio, concretizar a implementao desse eixo
epistemolgico, buscando uma proposta metodolgica coerente com os princpios tericos estabelecidos,
pois, percebe-se, de fato, que especialmente em relao s questes da interdisciplinaridade e da
transversalidade a escola ainda se encontra diante de um enorme descompasso entre teoria e prtica
(2003, p. 3).
A fim de buscar a referida transposio foi que se definiu pelo uso neste programa da
proposta metodolgica desenvolvida por Torres (2002) em sua tese de doutorado, denominada
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Pode-se utilizar aqui a tcnica de mapas conceituais3 para ajudar os alunos a explorarem
os contedos dos diversos materiais por eles selecionados, a fim de garantir que as informaes
sejam transformadas em conhecimento.
Os mapas conceituais elaborados pelos alunos devem ser disponibilizados para todos os
colegas. Assim, pode-se coloc-los em exposio em um mural, ou em um arquivo de fcil acesso
a todos, ou ainda pode ser publicado na Internet.
Nessa atividade ao atribuir-se ao grupo a funo de selecionar contedos para serem
discutidos, encoraja-se o aluno a refletir, a pesquisar, a questionar e a reelaborar o conhecimento
existente. Busca-se superar o paradigma da escola tradicional, de ensino memorstico, que coloca
sobre o professor a responsabilidade de selecionar a verdade cientfica a ser apresentada aos
alunos, a quem resta simplesmente memorizar o que lhe apresentado.
Destaca-se que os contedos propostos por alunos, tanto para os professores quanto para
outros alunos, so to valorizados quanto os contedos selecionados pelos professores. Assim,
alunos e professores estabelecem uma parceria que os leva a manter um papel ativo, colaborativo
e reflexivo no processo de aquisio e produo do conhecimento.
de responsabilidade tambm dos alunos a anlise crtica desses contedos, que, aps serem
disponibilizados para os colegas com comentrios, podem e devem receber novos comentrios,
que tambm estaro disposio de todos para novas intervenes. Cada aluno deve colocar
no seu portflio4 seus textos e suas fichas com o seu levantamento bibliogrfico, seus mapas
conceituais e seus comentrios.
Os alunos podem e devem exprimir suas ideias, questionar o saber estabelecido, construir
significaes e ressignificaes e, principalmente, resgatar o prazer do saber.
Ao compartilhar os comentrios com os colegas da turma, os discentes passam a ter seu grupo
invadido por membros novos, sofrem outras rupturas e recomeam o processo de negociao
de conflitos, de gesto da pluralidade e reformulao da anlise, da sntese e da tese elaborada
anteriormente. Para disponibilizar esses textos para toda a turma, pode-se publicar este material
em um mural ou ainda pode-se colocar em um arquivo, de fcil acesso a todos.
Questionar o conhecimento existente um exerccio basilar para a pesquisa. A origem
do conhecimento est para Faundez (1985, p. 25) na pergunta, ou nas perguntas, ou mesmo no
ato de perguntar. Assim impossvel pesquisar e produzir novo conhecimento sem perguntar.
Na atividade de formular perguntas, os alunos fazem seus questionamentos sobre os
contedos transmitidos pelos professores ou pesquisados pelos prprios estudantes, ora em
grupos, ora de forma individual.
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determina, por parte de quem o produz, a aquisio desse conhecimento, pois a questo
fundamental do processo de questionar o conhecimento existente o de que
s se pode perguntar sobre algo a respeito do qual j se possua algum conhecimento. Se nada se sabe sobre
Nicargua, nem a mais elementar pergunta a esse respeito pode ser elaborada. At a questo bsica sobre
O que Nicargua? supe, ao menos, o conhecimento da expresso Nicargua. Todas as demais perguntas
sobre ela implicam tantos outros conhecimentos quantas mais perguntas se quiser fazer. Aos que a conhecem
no seria cabvel a questo: Quem Nicargua? Aos que sabem pouco sobre ela, e sobre assuntos a ela
correlatos, seria extremamente embaraoso fazer perguntas. Mesmo as mais simples (Qual o regime poltico
da Nicargua? Onde est situada? Qual a sua capital?) supem outros tantos conhecimentos (sobre regime
poltico, situao geogrfica, capital, Estado, pas...). Assim que, com certo exagero, pode-se dizer que
quando se elabora uma pergunta porque j se sabe respond-la. Ou, com razo, pode-se afirmar que para
questionar algo h que se saber sobre ele, ou se saber onde buscar informaes sobre ele (1993, p. 45).
fundamental destacar que nesta atividade no h limite mnimo nem mximo para o
nmero de questes a serem feitas. Esse limite estabelecido em funo da durao de cada
sesso ou de cada momento que o professor reservar para esta atividade, seja ela individual ou
grupal. Nesta atividade os estudantes devem registrar as questes elaboradas em uma Ficha ou
Folha de Exerccio prpria. Se os discente ainda no forem alfabetizados, a atividade ser feita
oralmente e o professor far o registro por eles.
O fato de no se estabelecer um limite, a no ser o de tempo de durao das sesses, para
as atividades nesta metodologia tem por objetivo evitar a chamada atitude ou mentalidade de
tarefeiro, bastante difundida nas escolas; cumprida a tarefa no h mais nada a fazer a no ser,
o quanto antes, livrar-se do fardo a que qualquer atividade na escola est associada. (TORRES
e BOCHNIAK, 2003, p.13)
Procura-se trabalhar no aluno a percepo de que, enquanto ainda se tem tempo, melhor
aproveitar para continuar a pesquisa. Bochniak (1993) tambm destaca outra dicotomia existente
entre Trabalho e Lazer que esta proposta prope-se a superar. O trabalho no necessariamente
desprazer, da mesma forma que o lazer no sempre prazeroso. Isso fica claramente evidenciado
entre as crianas pequenas que ainda no assimilaram as vises preconceituosas de nossa
sociedade atual.
Responder aos questionamentos elaborados por outros alunos o quarto exerccio
desta metodologia. Nesta atividade deve-se tomar cuidado especial para que os alunos jamais
selecionem questionamentos elaborados por si mesmos ou por equipe de que tenham participado.
No exerccio de responder, os discentes, individualmente ou em grupo, deparam-se com um
elenco muito variado e volumoso de questes, j que dispem para sua escolha de inmeras
Fichas de Questionamentos elaboradas por seus colegas e disponibilizadas em um fichrio ou em
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um arquivo publicado na internet. A escolha de perguntas que se quer responder nesta atividade
corresponde a um singular exerccio de avaliao, j que, em primeira instncia, o aluno dever
avaliar, em funo de critrios diferentes, por ele ou pelo seu grupo estabelecido, qual seria a
Ficha escolhida, bem como assumir as consequncias de sua escolha.
Dessa forma diversos so os critrios estabelecidos. Alguns escolhem as perguntas mais fceis,
outros as mais difceis, ou ainda as mais curtas, ou seja, aquelas que contam com poucas questes.
Tambm entram em considerao critrios que dizem respeito a: interesse por determinados
assuntos e desprezo por outros ou ainda a utilidade prtica em responder s questes. Alguns
escolhem questes de memorizao em detrimento de outras que exigem maior elaborao.
Interessante destacar que os alunos logo percebem que na execuo nem sempre so confirmadas
as expectativas do momento da escolha, e isso tudo deve ser explorado na avaliao. s vezes,
o discente escolhe uma Ficha com poucas questes, mas, embora curta, esta ficha leva bastante
tempo para ser resolvida, ou tempo maior do que alguma que tenha maior nmero de perguntas.
Outras vezes, escolhe-se uma Ficha com questes das quais o aluno j sabe a resposta, mas que
vo fazer com que ele entenda que no foram significativas para o seu crescimento.
Para a realizao deste exerccio com alunos no alfabetizados, necessrio ser pensada
e programada toda uma srie de procedimentos que mudam radicalmente a rotina de uma
sala de aula e que impe uma mudana na atitude metodolgica do professor. preciso
destacar a importncia do papel do professor com alunos ainda no alfabetizados, nessas
atividades de escolher os exerccios que sero respondidos por eles, para evitar uma induo
por parte do professor.
Com o aluno que j tem independncia para a leitura, esse processo de escolha feito
diretamente por ele. Quando se trata do responder individualmente ou em grupo de alunos no
alfabetizados, o professor deve fazer a leitura das questes, sem contudo interferir na escolha.
Vale comentar que nas sesses de avaliao tudo isso discutido e aprofundado amplamente.
Tanto o aluno e quanto o professor tm possibilidade de perceber, por exemplo, que escolher uma
Ficha cujas respostas j so conhecidas, uma atitude equivocada, pois se est submetendo a um
exerccio que nada tem a acrescentar produo de novos conhecimentos. Resumindo, trata-se
de um exerccio de perda de tempo.
Em segundo lugar, preciso destacar que o processo de escolha da Ficha oportuniza, ao
aluno, a percepo de que o conhecimento algo inesgotvel e de que jamais ele ter tempo para
responder a todas as questes. Assim sendo, torna-se claro ao aluno o motivo para que a escolha
seja feita em funo da oportunidade de crescimento que tal exerccio poder propiciar.
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A tcnica de mapas conceituais est apresentada no livro Complexidade: redes e conexes na produo do
conhecimento da Coleo Agrinho.
O uso de portflio como metodologia de avaliao est apresentada no livro Complexidade: redes e conexes
na produo do conhecimento da Coleo Agrinho.
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COMPLEXIDADE E SUSTENTABILIDADE:
FUNDAMENTOS DO PROGRAMA AGRINHO
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Sustentabilidade Ecolgica significa que o uso dos recursos naturais deve minimizar
danos aos sistemas de sustentao da vida: reduo dos resduos txicos e da poluio,
reciclagem de materiais e energia, conservao, tecnologias limpas e de maior eficincia
e regras para uma adequada proteo ambiental;
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Para alm das temticas norteadoras definidas para esta atualizao, foram includos
novos temas de relevncia como, por exemplo: sade coletiva, drogas lcitas (lcool, tabaco e
medicamentos antidepressivos), direitos humanos, histria da frica e dos africanos no Brasil,
interculturalidade, artes visuais, entre outros.
Essas temticas esto abordadas com base no paradigma da complexidade. Morin (2000)
encontra no significado da palavra latina complexus elementos para desenvolver a noo de
complexidade. Para o autor, Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, h complexidade
quando os elementos diferentes so inseparveis constitutivos do todo (como o econmico, o
poltico, o sociolgico, o psicolgico, o afetivo, o mitolgico) ( MORIN, 2000, p.38). Tal conceito
est explicitado no texto de abertura do outro livro da Coleo Agrinho Complexidade: rede e
conexes na produo do conhecimento.
CAMINHOS PARA EXPLORAR AS REDES E CONEXES NA PRODUO DO
CONHECIMENTO NO PROGRAMA AGRINHO
Partindo de ambos os livros dedicados ao professor/professora, foram produzidos nove
materiais para os alunos das escolas pblicas e privadas do Ensino Fundamental. Todos os
temas propostos nestes livros esto implcita ou explicitamente contemplados nesses materiais
paradidticos. Embora nem sempre as temticas estejam descritas nos textos, muitas vezes as
ideias e os conceitos podem constituir as imagens. O que se pretende que o professor/professora
trabalhe com o material de forma a levar seu aluno a perceber as questes relacionadas ao tema
nas variadas abordagens. Com isso, h espao para uma discusso que ultrapasse as informaes
apresentadas e permita lidar com as diferentes vises de mundo que os alunos possam trazer.
Ao lado disso, abre-se a possibilidade da utilizao das informaes contidas no material para
a discusso de eventos, fatos, fenmenos da atualidade. A contextualizao das temticas
realidade mundial, nacional e local ajuda o aluno a fazer uma reflexo fundamentada, articulando
os conceitos e as ideias com a realidade circundante. Por exemplo, em uma determinada temtica
pode-se trazer fatos apresentados nos telejornais ou ainda a experincia do prprio aluno para
aprofundar o debate, de tal forma que ele consiga formar sua opinio e perceber a ligao dessa
temtica com as questes culturais, de cidadania, sade, meio ambiente, incluso social, entre
outros. O conjunto do material do Programa Agrinho desenvolvido para os alunos mais do que
simplesmente apresentar as temticas pretende promover a estimulao das linguagens verbais
(oral e escrita) e no verbal.
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nica histria, teremos, ento, uma histria maior que pode ser composta de outras menores, por
ns sugeridas pelas molduras, ou ainda por tantas outras quantas forem as sequncias propostas
pelo professor/professora, ou por seus alunos. Lembramos que a narrativa exige uma sequncia
mnima, abrir, desenvolver e fechar uma ideia. No h um fragmento isolado, cada fragmento
compe o todo. Com esse material podem ser trabalhados todos os temas transversais. Em cada
uma das fichas, podem, ainda, ser exploradas mltiplas temticas. Por exemplo, na ficha em que
aparece uma cena do posto de sade podem ser discutidos: os papis da famlia; o respeito ao
idoso, pessoa com deficincia fsica, ao meio ambiente; a importncia do lazer, da brincadeira; a
necessidade de equipamentos de segurana para as prticas de determinadas atividades esportivas.
Acompanha o jogo de fichas um encarte com sugestes de atividades que permitir explorar de
diversas maneiras este material.
A srie composta pelas oito (8) fichas, se recortadas/retiradas as partes em amarelo, forma um
quebra-cabea intitulado Cenas paranaenses. Essas cenas so apenas referncias de atividades
econmicas e das paisagens do Paran, e como tal no esto inseridas com preciso geogrfica.
Esto ali colocadas somente para ilustrar o debate sobre o tema. No verso dessas fichas, encontrase o mapa fsico do Estado do Paran. Aqui o objetivo tambm a simples apresentao do mapa,
sem outras pretenses. O docente, se desejar, pode assinalar a localizao do municpio onde
residem seus alunos.
O trabalho com essas imagens pode ser realizado ora individualmente, ora em grupo,
para que as crianas possam vivenciar estas duas formas de trabalho que, embora carreguem
diferenas, so igualmente ricas. O docente pode selecionar as imagens que quer explorar com
seus alunos, ou pode, ainda, lhes pedir que as selecionem individualmente ou em grupo.
Completa o material um baralho de cartas que pode ser usado independentemente das
fichas ou de forma complementar a elas. Este baralho composto de 36 cartas, com palavras de
diversas categorias gramaticais, como verbos, substantivos, preposies, adjetivos etc. As cartas
podem ser usadas para formar frases ou para modificar as histrias. Pode-se usar apenas uma
carta ou muitas cartas. Pode-se tambm associar as imagens a uma ou mais cartas. Ou pode-se
simplesmente usar as cartas.
O material 3, intitulado Palavras com asas, conta as aventuras de Nando, irmo do Agrinho
com as palavras. A histria gradativamente enriquecida com elementos verbais e no verbais
que permitem a discusso de outras temticas. Na pgina 29, por exemplo, tem-se o seguinte
texto: Qual ? Ser que ningum nesta mesa est vendo as comidas com asas? Agrinho, Aninha,
mame e papai esto comendo calmamente e nem olham para mim. Ser que eu estou invisvel?
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A vida em todas as suas formas, 7; A vida uma grande amiga da gente, 8; O tempo todo em
construo, 9) funciona como desencadeante dos assuntos a serem lidos, explorados e trabalhados
em conexo. Por isso, at a forma proposta para a leitura ganha uma pista a mais. Para quase
todos os textos, cones correspondentes s temticas trabalhadas sugerem as ligaes entre os
assuntos. H tambm um cone especial, com ponto de interrogao, que serve para que o leitor
sugira as ligaes entre os temas. Todos os cones esto ligados por um fio, o fio da tica. A ideia
que os leitores compreendam que a tica que nos leva a optar pelas melhores formas de agir,
com todas as pessoas, todos os seres vivos, com o meio ambiente. Ento, a tica como a veia que
faz circular o nosso sangue e garante a vida.
Esse conjunto de material conta, ainda, com diversas sees, so elas:
Bate-papo na rede, com Aninha e seus amigos mostrando como o jeito sustentvel
de ser. Com uma linguagem informal prpria da internet, traz comentrios, registros e
outras informaes sobre os assuntos que esto sendo apresentados.
V mais longe incentiva os alunos a pesquisarem e, muitas vezes, indica leituras
complementares sobre um determinado assunto.
Sai da sombra dedica-se a acrescentar dados e fatos sobre a temtica destacada, porque
sempre h muito mais a aprender.
As Artes de Agrinho, ao contemplar as mais diversas obras de arte, de diferentes espaos
e contextos, um convite a um passeio cultural que valoriza as obras de diversos artistas.
Retronauta dos pinheirais pretende levar o leitor, como num passe de mgica, a uma
viagem do presente ao passado para um encontro com protagonistas da nossa histria.
O foguete mgico acionado por estes versos da poetisa paranaense Helena Kolody:
... quatro... trs... dois... um...
ignio... partida.
Cada uma dessas revistas procura desenvolver as temticas selecionadas em decorrncia
da experincia esperada e da faixa etria da maioria dos alunos matriculados em cada uma
das sries.
Pretende-se que os contedos suscitem discusses e debates que contribuam para preparar
os alunos para o exerccio ativo da cidadania. Essas discusses muitas vezes podem ser iniciadas
tendo por base as ilustraes. Para cada um dos aspectos levantados nos debates, os docentes
podem coordenar um exerccio de anlise comparada, ou seja, levando questes como: o que vejo
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no material? O que vejo na minha famlia, na minha casa, na minha vizinhana, na minha escola,
no meu bairro, na minha cidade? Vale destacar que qualquer ilustrao do material pode ser
utilizada para discutir temas que no esto claramente explicitados no texto correspondente do
material, mas que o professor/ a professora entende pertinente explorar. O professor/ a professora
pode ainda conduzir um exerccio de comparao explorando estas comparaes ao mximo. No
material h diversos textos e desenhos que permitem o desenvolvimento deste mesmo exerccio
de comparao. Os docentes podem enriquecer muito a discusso solicitando a seus alunos que
realizem pesquisas nos meios de comunicao, j que todas as temticas propostas no material so
relevantes e atuais. Fontes diversas de informao apresentam os fatos de maneira diferente. A
diversidade de dados e posicionamentos pode enriquecer a discusso e favorecer o desenvolvimento
de uma posio crtica. Todas as quatro revistas pretendem por meio de suas sees incentivar
a investigao, reiterando a possibilidade de um desdobramento que toda pesquisa sempre tem.
Assim, tanto a sugesto dada no material pode ser acrescida, melhorada, quanto podem ser
sugeridas outras pesquisas pelos discentes ou pelos docentes.
A ideia-fora do material que o conhecimento permite uma reflexo mais fundamentada
para auxiliar na tomada de atitude individual e coletiva, procurando buscar uma sociedade mais
sustentvel, justa, solidria, fraterna e igualitria.
REFERNCIAS
Complexidade e Transdisciplinaridade: a reforma da universidade e do ensino fundamental. Natal: EDUFRN,
1999.
Os Sete Saberes necessrios Educao do Futuro. So Paulo/Braslia: Cortez/UNESCO, 2000.
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CARVALHO, E. Complexidade e Transdisciplinaridade: a reforma da universidade e do ensino
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MORIN, Edgar. Introduo ao Pensamento Complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1997.
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pigmentos e conchas. O alimento seria trocado por esses bens, mas os produtos perecveis trazidos
de distncias maiores deveriam ser durveis. Para tal, espcies animais deveriam ser trazidas
vivas. Nem todos os animais seriam consumidos imediatamente. Alguns poderiam ser mantidos em
rebanho e se reproduziriam. Estariam assim lanadas as bases da domesticao. Se essa hiptese
no for refutada, teramos evidncias ainda mais consistentes da estreita dependncia histrica
entre os espaos rurais e os espaos urbanos e da inadequao das percepes e representaes
posteriores, que os viram como espaos alheios e estranhos um ao outro.
AS MODERNAS SOCIEDADES URBANAS E INDUSTRIAIS
Goudie (2005) mostrou ainda que a aglomerao dos indivduos no que chamamos aldeias
ou cidades um fenmeno relativamente recente em nossa espcie. A ocupao de territrios por
populaes de coletores e caadores s pode ser otimizada pela disperso espacial. Por outro lado,
apenas o aumento na previsibilidade de obteno de recursos pode possibilitar um aumento das
concentraes humanas. A primeira ocupao da cidade de Jeric, com seus 2.000 habitantes,
data de 7.000 anos a.C., enquanto stios vizinhos de populaes de coletores e caadores datam
de 8.000 a 9.000 anos a.C. Algumas cidades antigas tiveram populaes muito grandes. H
estimativas de que Nnive teve 700.000 habitantes no seu apogeu, Roma, cerca de 1.000.000 e
Cartago, 700 000. Com toda certeza, essas cidades exerceram uma influncia considervel em
suas redondezas, at mesmo em escala global. Da cidade antiga s grandes cidades da Europa
pr-industrial, a distncia no muito grande. Os tamanhos so equivalentes e a composio
tnica mantm em geral uma forte dominncia de indivduos de extrao local, que moderam
a heterogeneidade biolgica do conjunto. Os problemas ligados densidade populacional,
higiene, s condies alimentares e s patologias seguem um mesmo padro evolutivo. O que
mudou gradualmente foi a diversificao crescente das atividades ligadas ao meio urbano e ao
prprio desenvolvimento tcnico destas sociedades.
Mais variadas foram as mudanas dos sistemas de gesto poltica, com uma tendncia
histrica de manuteno da primazia das cidades sobre os meios rurais. Com o advento
da industrializao, a milenar dualidade rural-urbana poderia ter perdido o sentido, mas
frequentemente se intensificou, em particular nas sociedades ocidentais. A noo da cidade
moderna passa a se tornar cada vez menos indissocivel da noo de Estado, por constituir o seu
maior suporte econmico ou social. A dominao sobre o mundo rural no foi apenas poltica
e tcnica, mas tambm econmica, na medida em que a prosperidade de todos aparentemente
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dependia da atividade industrial e dos setores secundrios e tercirios dela decorrentes. Isso se
exprimiu por meio de um forte fluxo humano das zonas rurais para as cidades, com as primeiras
se despovoando enquanto as segundas atingiram propores gigantescas, transformando-se nas
metrpoles e megalpoles contemporneas.
Segundo Ferro (2000), iniciou-se ento um acentuado processo de perda de centralidade
econmica, social e simblica por parte do mundo rural. Este passou a ser globalmente identificado
com realidades arcaicas, enquanto as aglomeraes urbano-industriais passaram a ser vistas como
o palco, por excelncia, do progresso. Os fluxos assimtricos entre campo e cidade determinaram
grandes mudanas de ordem demogrfica (pelas migraes, regulao da fecundidade e
mortalidade), gentica (pela miscigenao sem precedentes de populaes provenientes de
horizontes muito variados) e social-cultural (pelo desenvolvimento de subpopulaes ou setores
ligados a funes econmicas especficas). O fato da expanso das infraestruturas e dos equipamentos
de apoio qualidade de vida dos cidados serem muito mais rpida nas aglomeraes urbanas
reforou o papel (e as percepes associadas) das cidades como polos de prestao de servios
pessoais e sociais.
Esses processos de urbanizao e metropolizao associados atividade industrial
resultaram numa capacidade de antropizar em nveis jamais registrados em toda a histria
humana. A atividade industrial, desde sempre associada aos meios urbanos, ao contrrio da
agricultura e da pecuria, reduziu ainda mais o espao necessrio para sustentar cada indivduo
e intensificou o ritmo de uso dos recursos naturais. Esses efeitos foram ainda mais aumentados
pelos avanos da moderna cincia, principalmente a medicina, que possibilitaram acentuados
aumentos populacionais, mesmo nas sociedades no industrializadas. As tendncias de urbanizao
acompanharam esse processo e hoje as cidades, consideradas como sistemas artificiais ou uma
natureza derivada, tm seus prprios problemas ambientais, que no sero objeto primrio
deste captulo.
Goudie (2005) mostrou tambm que uma outra chave para se entender o desenvolvimento
das sociedades industriais e a tendncia contempornea de urbanizao acelerada est na
transio do uso primrio de recursos renovveis para os no renovveis. Nos sistemas agrcolas e
pecurios tradicionais, o insumo energtico era historicamente derivado da fotossntese e da fora
motriz humana ou animal, complementado pela energia da gua e do vento, ou da madeira como
combustvel. Todos esses recursos so, a princpio, renovveis, j que os prprios bosques podem
ser manejados para alcanar uma produo sustentada. Na prtica, o que se viu ao longo da
histria humana foi uma reduo generalizada na cobertura vegetal de todas as regies habitadas,
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antes da transio para fontes de energia no renovveis. J a base energtica dos sistemas
industriais foi fundamentalmente diferente dos sistemas anteriores e representou um ponto de
inflexo na histria humana, comparvel ao domnio do fogo ou implantao da agricultura. O
uso do carvo, do gs natural e do petrleo reduziu a dependncia direta da sociedade industrial
fixao biolgica da energia por meio das plantas. Desde o incio do sculo XIX, estas novas
fontes de energia tm sido exploradas e incorporadas tecnologia de produo de bens materiais
em quantidades e variedades crescentes. Esses produtos e seus mecanismos de transporte fizeram,
por sua vez, com que a superfcie terrestre se transformasse em um ritmo que no havia sido
possvel nas sociedades pr-industriais.
A lgica foi inclusive exportada das cidades para os campos, com a implantao da agroindstria e da produo primria intensiva no uso de insumos modernos, igualmente dependente
de insumos no renovveis, em escala global. Por sua vez, a agroindstria e a produo primria
intensiva trouxeram duas novas realidades bem distintas para o mundo rural, dividindo-o em um
mundo rural moderno e um mundo rural arcaico ou tradicional. A modernidade deixou de ser
uma exclusividade do espao urbano. Paradoxalmente, isto contribuiu para aprofundar ainda
mais o fosso entre um mundo rural tradicional ou arcaico, percebido como o mundo do atraso,
e um mundo da modernidade urbana, com os dois intermediados pelo mundo da modernidade
agroindustrial e, mais recentemente, incluindo tambm atividades do setor de servios como
lazer e turismo rural. A percepo real ou presumida de uma verdadeira crise ambiental a partir
da segunda metade do sculo XX trouxe a implantao de polticas de conservao em todo o
globo e com elas a inveno social de um mundo rural no agrcola. A funo desse novo mundo
rural, com o aumento acentuado de reservas e parques naturais, deixou de ser necessariamente a
produo de alimentos e sua atividade predominante deixou de ser agrcola ou pecuria. Essa nova
dicotomia, que separou, paradoxalmente e pela primeira vez na histria humana, a agricultura e
a pecuria do mundo rural, originou-se de (ou deu origem) a novas percepes e representaes
sociais, que passam a ver o mundo rural como o espao lgico para a recuperao ou recriao
dos espaos naturais modificados pela ao do homem, quase sempre considerada danosa ou
mesmo irreversvel.
Essa a realidade complexa que vivemos hoje, quando a dualidade histrica de campo e
cidade se v matizada por diversas situaes hbridas, nas quais se confundem o que moderno
e o que arcaico, o que urbano e o que rural, o que rea de produo ou o que rea de
conservao. Esta complexidade, sempre marcada por relaes de estreita interdependncia,
novamente sugere que esses espaos devem ser tratados como um continuum e no como mundos
antagnicos, em conflito ou complementares.
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Como a reduo desta percepo da dualidade entre campos e cidades pode contribuir
para uma maior sustentabilidade e para uma maior qualidade da vida humana?
Todas essas modificaes e inovaes culturais e tecnolgicas apontam para algumas
tendncias prevalecentes nas sociedades modernas. Houve um aumento da complexidade,
intensidade e frequncia dos impactos humanos, mas houve em paralelo um aumento
generalizado do consumo per capita, com o aumento populacional nos pases desenvolvidos ou
em desenvolvimento. Nesse contexto, a recente Avaliao dos Ecossistemas do Milnio, conduzida
por cientistas de todo o mundo (HASSAN et al., 2005) afirmou sem ambiguidades que o bemestar e a qualidade de vida humanas, dentro e entre a maioria das sociedades, tm melhorado de
forma substancial ao longo dos dois ltimos sculos.
Por outro lado, o conceito da sustentabilidade est intrinsecamente ligado ideia de que o
crescimento econmico e o desenvolvimento social e humano podem ter seus limites, na medida
em que nossa base de recursos no ilimitada, ainda mais ao se basear primariamente em uma
matriz energtica finita e no renovvel, como o caso dos combustveis fsseis. Para muitos
pensadores e ativistas ambientais, essa percepo deveria ser a base de uma mudana radical
da sociedade, com a volta a estilos de vida rurais e autossuficientes. Esse cenrio implicaria
uma perda de relevncia do mundo urbano, presumidamente mais insustentvel e mais afligido
pelos problemas ambientais. No extremo oposto, a crise ambiental contempornea, seja ela fato
ou apenas percepo, representaria para os otimistas da tecnologia um desafio que deve ser
enfrentado com uma reciclagem eficiente das matrias-primas e com o desenvolvimento de fontes
alternativas de energia, incluindo a energia nuclear e a energia solar. Segundo essa lgica, tais
fontes alternativas ofereceriam perspectivas de consumo quase ilimitadas. Sejam radicais ou
tecnolgicas, essas projees ambientais tendem novamente a reforar e enfatizar a indesejvel
dualidade entre campo e cidade, sugerindo que um ou outro seriam o nico ponto de equilbrio
possvel para a sustentabilidade de populaes felizes e com boa qualidade de vida. Como tal,
tendem a simplificar ou reduzir a complexidade que os mundos rural e urbano assumiram na
poca contempornea.
A percepo da insustentabilidade de um modelo sustentado por uma matriz energtica no
renovvel se expressou historicamente com muito mais intensidade nas cidades. Elas foram desde
sempre afligidas pela poluio, pela contaminao do ar e pelas dificuldades de abastecimento,
saneamento e acesso gua potvel. S mais recentemente esta percepo se estendeu para as
reas rurais, com a crescente percepo do passivo ambiental tambm associado agroindstria.
Na verdade, temos hoje a percepo e a compreenso de que as atividades humanas afetam a Terra
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como um todo, includos a o mundo rural e o mundo urbano. Esta percepo fundamentada
por projees mais ou menos pessimistas das mudanas climticas em grande escala e do papel
que nelas desempenhamos, intensificando os riscos ambientais. Nesse sentido, campo e cidade
novamente se aproximam, agora em um mau sentido, ao compartilharem situaes de risco
ambiental que comprometem a qualidade de vida das populaes humanas como um todo.
Segundo Ignacy Sachs, a soluo para os problemas das cidades exigiria uma nova estratgia
global de ocupao do territrio, incluindo necessariamente a rea rural. Se pensarmos que o
mundo rural, seja ele tradicional ou moderno, tambm tem questionada a sua sustentabilidade,
a recproca verdadeira. O generoso conceito de sustentabilidade deveria, nesse sentido, no
reforar o mito da complementaridade, mas contribuir para a demonstrao da sua efetiva
interdependncia. Sachs sugere que se abandone definitivamente a ideia antiga, prevalecente
durante todo o sculo 20, de que urbanizao e desenvolvimento so necessariamente sinnimos.
As mudanas tecnolgicas da industrializao e dos servios contemporneos j viabilizariam
a sobrevivncia de empresas menores, com menos empregos, fora do eixo das cidades. Nesse
contexto, um novo ordenamento territorial urbano passaria por um novo ciclo de desenvolvimento
rural. Da mesma forma, a substituio da energia fssil pela renovvel e o desenvolvimento
tecnolgico poderiam abrir novas oportunidades de vida econmica no meio rural e assim oferecer
importante contribuio para sua sustentabilidade, baseada mais uma vez na interdependncia
dos dois sistemas e no na sua complementaridade.
Essa nova viso do mundo, pautada na noo de sustentabilidade ou de coexistncia
interdependente de sistemas distintos mas contnuos, assumiria como inevitvel e necessria a
coexistncia de mltiplas funes nos diversos mundos rurais e urbanos. Se assumirem de fato
essas mltiplas funes econmicas, sociais e ambientais, as diversas configuraes do rural e
do urbano poderiam deixar de ser vistas como espaos antagnicos ou de estranhamento entre
populaes humanas, que carregaram historicamente valores econmicos e socioculturais tambm
conflitantes entre si.
Nesse contexto, como corretamente diagnosticado pelo objetivo 11 da Agenda 21, preciso
redescobrir o potencial de desenvolvimento sustentvel do Brasil dito rural, reduzindo a dvida
social, dando um novo impulso economia nacional e um fim s prticas de explorao predatria
dos imensos recursos naturais do pas. Isto poderia fazer reverter a percepo de que a populao
rural estaria condenada a se encolher devido expanso de culturas e pastagens extensivas. Essa
suposta inevitabilidade tem sido contestada, na realidade, pelo prprio potencial ainda inexplorado
de desenvolvimento do interior do pas. Ainda segundo a Agenda 21, esse potencial est baseado
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na maior capacidade de absoro de fora de trabalho dos sistemas produtivos de carter familiar,
cuja base a pluriatividade e a multifuncionalidade da agropecuria de pequeno porte. Isso seria
baseado na modernizao da chamada agricultura familiar e nas amplas oportunidades de
gerao de empregos rurais nos setores tercirio e secundrio.
Independente dos cenrios que podemos visualizar para o futuro, no Brasil ou no mundo,
sejam eles mais otimistas ou pessimistas, torna-se cada vez mais intensa, entre diferentes setores da
sociedade, incluindo os prprios cientistas, a percepo da insustentabilidade de um modelo que
ope cidade e campo, mundo urbano e mundo rural, vistos desde sempre como complementares e
no como espaos que podem e devem alternar as mesmas funes de sustentao da vida humana.
Os homens sempre foram capazes de fazer previses e especulaes otimistas ou pessimistas
a respeito de seu prprio futuro e este com certeza um de nossos traos distintivos como espcie.
As especulaes e projees a respeito de nosso futuro ocupam um enorme espao na literatura
cientfica e nos meios de comunicao. No sabemos se so corretas ou se apenas mais uma
percepo ou representao social de nossos temores e esperanas. No entanto, verdade que
nossa capacidade de avaliar as alteraes ambientais, seja de forma qualitativa ou quantitativa,
tem aumentado enormemente nestas duas ou trs ltimas dcadas. Infelizmente, esta compreenso
pouco tem se refletido no desenvolvimento de melhores formas de uso e manejo dos recursos
renovveis ou no renovveis. Mais ainda, no tem se expressado em estratgias que reduzam os
fossos materiais e sociais entre os diversos mundos rurais e urbanos. Esta crescente compreenso
dos problemas, no acompanhada pela sua soluo, poder paradoxalmente nos tornar mais
sbios, mas muito mais tristes.
O meio urbano e o meio rural e as atividades neles desenvolvidas: o caso do Brasil e do
Paran
O habitat ou o espao construdo pelo ser humano era naturalmente o seu lugar de moradia
e de trabalho e a maioria dos brasileiros residia e trabalhava no meio rural, desenvolvendo as
atividades primrias, at meados do sculo XX.
No entanto, o meio rural e o meio urbano experimentaram profundas transformaes
a partir da revoluo industrial iniciada no sculo XIX e dos avanos tecnolgicos que
determinaram mudanas no mercado de trabalho, da terra, dos bens e dos servios, como os
transportes e as comunicaes.
A migrao do meio rural para o meio urbano se intensificou e as cidades foram se
multiplicando com a criao das novas oportunidades de trabalho e de renda nos setores secundrio
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Dessa forma, fica cada vez mais difcil tipificar as unidades de produo do meio rural
em capitalistas e familiares, tendo por base o nmero de pessoas empregadas ou assalariadas e
o valor da produo, bem como delimitar reas e as pessoas como rurais ou urbanas segundo a
localizao dos domiclios e a intensidade da ocupao humana. Isto porque atividades tpicas
do meio rural podem ser desenvolvidas no meio urbano, como a produo de hortalias e frutas
em terrenos urbanos, bem como atividades do setor industrial e de servios podem ocorrer
nos estabelecimentos rurais, como a agroindustrializao familiar, o lazer, o turismo rural e
o ecoturismo.
O IBGE, considerando a intensidade da ocupao humana, classifica as reas urbanas como
aquelas correspondentes as cidades (sedes dos municpios), as vilas (sedes dos distritos) ou as
reas urbanas isoladas definidas pelas Cmaras Municipais. As reas rurais correspondem a todas
aquelas fora desses limites e abrangem quatro tipos de aglomerados rurais: o aglomerado rural
do tipo extenso urbana (fora do permetro urbano e extenso de uma cidade ou vila), o povoado
(aglomerado rural isolado com um mnimo de servios e equipamentos e que os moradores exercem
atividades econmicas), o ncleo aglomerado rural isolado (que pertence a um proprietrio) e
outros aglomerados. Da mesma forma e usando o mesmo critrio o IBGE classifica a populao
em urbana e rural.
A classificao mais agregada de atividades econmicas do IBGE estabeleceu 21 grandes
sees, distribudas pelos setores primrio, secundrio e tercirio da economia. O setor primrio
engloba a primeira: a Agricultura, Pecuria, Produo Florestal, Pesca e Aquicultura. Esta
apresenta trs divises: 1) Agricultura, Pecuria e Servios Relacionados, que abrange a produo
das lavouras temporrias, horticultura e floricultura, produo das lavouras permanentes,
produo de sementes e mudas certificadas, pecuria, atividades de apoio a agricultura e pecuria
e atividades de ps-colheita, caa e servios relacionados; 2) Produo Florestal, que abrange a
produo de florestas plantadas e nativas e as atividades de apoio a produo florestal; e 3) Pesca
e Aquicultura, que abrange a pesca e a aquicultura em gua salgada e doce.
Pelo exposto, os conceitos de rea urbana e rural e das atividades econmicas nelas
desenvolvidas no mais expressam toda a complexa realidade atual, cujas sociedades continuam
a manter algumas caractersticas prprias e evoluram para uma estreita interdependncia
econmica, fsica, cultural, social e ambiental, se interligando e se complementando dentro de um
espao local e regional maior, que abrange reas destinadas a diferentes finalidades e onde so
executadas mltiplas atividades. Essa nova concepo de rural e urbano enterra definitivamente
o conceito clssico anteriormente mencionado.
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dentro dos estabelecimentos rurais. Nestes, a energia usada basicamente: 1) fora dos processos
produtivos, como no funcionamento das residncias; 2) na operao dos processos produtivos
,mas sem ser convertida em energia nos produtos finais, como a mo de obra, trao animal
e o funcionamento das mquinas, equipamentos, instalaes e edificaes rurais (armazns,
pocilgas, avirios, estufas, ordenhadeiras), nas operaes de produo, transporte, armazenagem
e processamento; e 3) nos processos produtivos, para o crescimento e a manuteno dos animais
e plantas, ou estocada na forma de alimentos para as pessoas e os animais ou combustvel (lenha,
lcool, carvo vegetal, leo vegetal).
A falta de energia nos estabelecimentos rurais se constitui num dos impeditivos ao crescimento
das atividades produtivas e ao aumento do bem-estar das famlias.
As fontes de energia so classificadas em renovveis e no renovveis. As no renovveis
possuem reservas finitas, limitadas e foram formadas pela natureza com o passar do tempo, como
os combustveis fsseis (petrleo, gs natural, carvo mineral, xisto e as rochas betuminosas).
As principais fontes renovveis so a energia solar, elica (dos ventos), hidrulica (dos rios) e da
biomassa (madeira usada como lenha e carvo vegetal, cana-de-acar usada na produo de
lcool combustvel e bagao de cana usado na gerao de vapor e de energia eltrica, leo vegetal
e biodiesel). O Brasil um dos pases do mundo que apresenta a maior percentagem de energia
renovvel em sua matriz energtica.
O aumento da eficincia energtica consiste em se produzir maior quantidade de produto
por unidade de energia empregada ou produzir a mesma quantidade de produto com menor
quantidade de energia empregada.
11) Reciclagem de embalagens e tratamento de resduos
A logstica reversa prev o reaproveitamento das embalagens, das peas das mquinas,
equipamentos e utenslios domsticos avariados ou colocados fora de uso pelo desgaste fsico ou
tecnolgico, dos resduos de construes, do lixo eletrnico.
Os resduos urbanos, domsticos nos estabelecimentos rurais e agrosilvopastoris, como os
restos de alimentos, o bagao da cana-de-acar, os dejetos humanos e animais e os restos de
madeira podem ser transformados em adubo orgnico ou gerar energia para atender ao consumo
do setor e ainda ser comercializada no mercado. Somente as criaes de bovinos, sunos e de aves
geram, segundo o IPEA, 1,7 bilho de toneladas de dejetos por ano, que, depois de recolhidos e
tratados, podem virar adubo e biogs. O resduo proveniente da limpeza dos produtos agrcolas
na propriedade pode ser usado na alimentao animal ou ser transformado em adubo orgnico.
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Com o passar do tempo aumentar o nmero de pases que exigiro a adoo deste
mecanismo no comrcio internacional, como est ocorrendo com a importao de carne bovina
pela Unio Europeia.
13) Boas prticas para o bem-estar animal
Conhecer o comportamento dos animais em relao ao seu ambiente o primeiro passo.
O manejo racional, alm de assegurar o bem-estar dos animais gera ganhos de produtividade e
de qualidade nos produtos finais. Para tanto, so requeridos cuidados especiais dos produtores com
as instalaes, a higiene, o conforto, a alimentao, a sade, o comportamento normal dos animais
em relao ao seu ambiente e s prticas que podem gerar dor, leses e comportamentos anormais.
O MAPA aprovou e divulgou em 2008 instruo normativa de Recomendao de Boas
Prticas de Bem-Estar para Animais de Produo de Interesse Econmico (REBEM), abrangendo
os sistemas de produo (manejo, dieta, instalaes) e transporte de bovinos, sunos e aves.
14) Reduo de perdas na colheita, transporte e armazenagem
Durante o percurso dos produtos agropecurios desde a colheita nas lavouras ou a produo
dos animais nos estabelecimentos rurais at chegarem mesa dos consumidores ocorrem perdas
fsicas (reduo do peso ou do volume) e de qualidade mercadolgica, que reduzem a receita dos
produtores e elevam os preos aos consumidores.
O manejo inadequado, o despreparo das pessoas, as instalaes e os equipamentos deficientes
ou mal regulados e sem manuteno e a falta de infraestrutura so algumas das causas apontadas.
As perdas nas hortalias e frutas so estimadas entre 35% a 40% da produo e em 10%
nos gros.
No existe zero de perda, mas, em contrapartida, nenhuma perda pode ser considerada
como normal e tolerada.
15) Alimentao saudvel e aproveitamento integral dos alimentos
A alimentao a base da vida e cresce o nmero de pessoas preocupadas com a alimentao
saudvel, que sinnimo de sade e qualidade de vida.
Uma dieta equilibrada deve conter, de forma balanceada, alimentos ricos em protenas,
vitaminas, sais minerais, carboidratos e fibras. O aproveitamento integral implica usar todas
as fontes de nutrientes que os alimentos oferecem, evitando desperdcio, reduzindo custos e
mantendo o paladar.
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a partir daquilo que sou). Um projeto de vida, portanto, nunca um salto para o absolutamente
novo: sempre a continuao possvel daquilo que constitui nossa existncia concreta. S existe
projeto absolutamente novo para aquilo que no existe (esse o sentido pejorativo da palavra
utopia: aquilo que no existe em lugar algum).
Vivemos, assim, na tenso entre liberdade e determinismo. A liberdade a capacidade
de escolha e de adeso, acrescida da possibilidade de dizer no (do contrrio, seria imposio
e deixaria de se configurar como liberdade). Por determinismo5, compreendemos a situao na
qual as escolhas so limitadas em face daquilo que, como a palavra mesmo diz, j foi determinado.
DETERMINISMO FSICO E ONTOLGICO
Analisemos a forma mais elementar de determinismo: o fsico ou ontolgico. Ontolgico6
significa que est na raiz de nosso ser, aquilo que faz sermos o que somos. Assim, quando
tomamos conscincia de nossa vida e resolvemos assumir nosso destino, muitas coisas j foram
determinadas em relao s condies fsicas ou ontolgicas de nossa existncia. Para dar um
exemplo: nascemos do sexo feminino ou masculino e no fomos ns que escolhemos. Esse simples
fato, j determinado em nossa histria pessoal, condiciona todas as outras escolhas que faremos
ao longo da vida. Sendo homem, no poderei fazer certas escolhas que so prprias das mulheres.
Sendo mulher, algum no poder fazer algumas escolhas que me so possveis na condio
masculina. E isso no tem nada que ver com discriminao. bvio que a tentativa de igualar os
dois gneros possvel em alguns aspectos (como a dignidade e os direitos), mas no em outros
(como a forma de viver a afetividade e a sexualidade, por exemplo).
Em tempos em que a incluso passou a ser assunto tambm na escola, importante notar
que a condio das crianas portadoras de necessidades especiais resulta do determinismo fsico
ou ontolgico. Ningum queria assim, nem ela nem os pais. Mas, nem tudo passvel de escolha.
Como todas as crianas, elas tambm tm direito educao e participao na vida da escola.
O que foi determinado pela natureza e pelas circunstncias no deve, de modo algum, afastar as
pessoas ou discrimin-las.
O mesmo deve ser considerado em relao s diferenas de raa, de estrutura fsica (ser
alto ou baixo), as condies de sade (ser saudvel ou apresentar disfunes orgnicas) e a todos
os outros aspectos de nossa constituio fsica. Ningum de ns escolheu, simplesmente porque
nossa liberdade no absoluta. Podemos fazer escolhas a partir desses determinismos, no mais.
Isso nos ajuda a compreender um aspecto importante da sustentabilidade que a questo cultural:
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poluio dos rios e do ar, menor qualidade de vida nas cidades, degradao do meio ambiente,
por exemplo); situaes estas que no foram vivenciadas por pessoas que nasceram antes de ns.
VISO HISTRICA DA NOO DE DETERMINISMO E LIBERDADE
Povos primitivos
Para o homem primitivo, carente de conhecimentos e de tcnicas de controle e de explicao
da natureza, a vida determinada pelas foras sobrenaturais. A liberdade do ser humano est
em obedecer aos preceitos da divindade. Se obedecer, ser protegido e recompensado. Se fizer o
contrrio, ser punido. Os mitos bblicos da serpente, do fruto proibido e da expulso do paraso
revelam de modo surpreendente essa estrutura de pensamento dos povos primitivos. As leis que
regem o universo so leis sagradas, s quais se deve submisso e respeito absoluto.
Para a cultura grega, de onde nasceu a filosofia ocidental, nas narrativas mticas de
Homero, Ilada e Odissia9, que se podem encontrar as explicaes para a dependncia dos
homens em relao s realidades sobrenaturais. No h liberdade a no ser na obedincia lei
sobrenatural.
O que resta em nosso tempo daquelas antigas concepes? Ter tudo ficado sepultado no
passado? No, nem tudo ficou sepultado. Os traos passados de nossa cultura deixam marcas
profundas no futuro. Desse modo, daqueles tempos remotos ainda conservamos a noo de
destino, por exemplo, que conserva forte influncia sobre as pessoas: o destino como uma
fora sobrenatural, inexplicvel, que conduz nossas vidas para certa direo, sem que possamos
escolher. Portanto, uma fora determinstica que restringe nossa liberdade.
Antiguidade
Os povos antigos, sobretudo a partir da influncia do pensamento filosfico grego, passam
a compreender que a explicao de todas as coisas (e de tambm de nossa liberdade e nosso
determinismo) est no mais em entidades e foras sobrenaturais, mas na natureza.
O que explica o que somos a constituio profunda de nosso ser, nossa alma. Assim,
para Plato10, as pessoas podem ter trs diferentes tipos de alma. H aqueles que tm alma de
bronze e so inclinados s tarefas manuais, s artes, as coisas prticas. Depois, h aqueles cuja
alma de prata: so corajosos e valentes, destinando-se a ser atletas ou valentes guerreiros. Por
fim, alguns so dotados de alma de ouro: apenas esses so capazes de se dedicar reflexo,
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A vida humana, portanto, a partir dessa concepo, se desenrola na tenso entre o que nos
aproxima de Deus e o que dele nos afasta. A liberdade est em seguir seus caminhos, condio
para a plena realizao. Em razo disso, as pessoas atribuem os fatos de sua vida vontade divina:
Deus quis assim, Se Deus quiser... so expresses comuns, do dia a dia, que revelam como
a tradio medieval imprimiu suas marcas em ns.
Modernidade
A modernidade foi fortemente marcada pela racionalidade. As grandes descobertas
cientficas, a nova viso da Terra e do Sistema Solar, as exploraes martimas, mostraram ao
homem a possibilidade de explicar tudo sem referncia ao sagrado.
A tradio moderna, assim, revela que o homem um ser racional de cuja vontade livre
dependem suas realizaes e seu destino. Pensadores como Hobbes13 e Rousseau14 defendem a
ideia de que a vida humana em sociedade depende exclusivamente de nossos contratos sociais,
embora eles partam de princpios distintos: para Hobbes, o homem mau por natureza e a
sociedade, nascida a partir do contrato social, o torna bom, justo, honesto. Para Rousseau, ao
contrrio, o homem nasce bom, tendendo s virtudes, e a sociedade o corrompe. Embora sejam
concepes opostas, ambas esto apoiadas apenas na noo de que pela razo humana, sem
referncia a nenhuma outra fora ou condio, se pode pensar os limites de nossa liberdade e os
determinismos que nos amarram.
No h submisso a leis sobrenaturais e divinas, nem a condicionamentos naturais. Pelo
contrato social, todas as diferenas so minimizadas. a razo que nos assemelha. E ela que pode
nos libertar daquilo que antes determinava nossos destinos: a natureza (a revoluo cientfica e a
Revoluo Industrial15 so expresses do domnio humano sobre a natureza); os regimes polticos
absolutistas (a Revoluo Francesa16 o cone da liberdade poltica conseguida pelo esforo da
razo humana); as concepes religiosas (Maquiavel, por exemplo, revela que possvel pensar a
poltica de modo estritamente lgico, sem referncia religio).
O que garante nossa liberdade, nessa concepo? Unicamente a razo, que se expressa
nos regimes democrticos e nas leis estabelecidas de modo consensual. bvio que no existe
liberdade absoluta, embora os nicos determinismos e condicionamentos estejam presos s
prprias leis.
Essa concepo reina fortemente entre ns, sobretudo porque a estrutura poltica e jurdica
de nosso pas (e das principais naes do mundo) est sustentada em princpios racionalistas.
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Assim, a defesa dos direitos se faz mediante as leis. Vive-se, assim, no que se denomina um
Estado de Direito.
LIBERDADE
O que liberdade? a ausncia de todos os impedimentos ao que no estejam contidos
na natureza prpria de cada coisa. Pensemos num rio. Por que dizemos a gua corre livremente
rio abaixo? Porque de sua natureza correr rio abaixo, ela no pode subir o rio. Tambm de
sua natureza no correr para os lados, porque as encostas o impedem. As encostas fazem parte
de sua natureza, porque se no fossem as encostas, no seria rio, poderia ser uma lagoa ou um
banhado. E, quando no h nenhuma barragem, o rio segue seu curso livremente, desembocando
em outros rios ou diretamente no mar. E todos os rios correm para o mar, porque assim sua
natureza. Portanto, legtimo dizer do rio que corre livremente, porque no impedido de fazer
aquilo que sua prpria natureza permite.
Vemos, portanto, que as condies bsicas para a existncia de liberdade so a considerao
da natureza prpria das coisas (ou das pessoas) e a ausncia de impedimento ou de proibio.
Uma profunda reflexo sobre a liberdade pode ser encontrada na obra Ferno Capelo Gaivota17,
de Richard Bach.
A liberdade uma qualidade ou propriedade da pessoa (no importa se fsica ou moral)
(BOBBIO, 2002, p. 12). Ele livre significa, portanto, que possui a qualidade da liberdade. E se
uma qualidade, pode existir em maior ou menor grau: numa sociedade, pode-se dizer, portanto,
que todos so livres, embora alguns sejam mais livres que outros. A liberdade, assim, pode
ser compreendida tanto do ponto de vista individual quanto coletivo, embora a liberdade coletiva
signifique sempre a soma das liberdades individuais: uma nao livre se os indivduos que a ela
pertencem gozam de liberdade18.
Liberdade fsica
Por liberdade fsica entende-se a qualidade de quem no est impedido fisicamente de ir e
vir ou de fazer algo. Um prisioneiro perdeu a liberdade fsica: no pode ir onde quer, precisa ficar
restrito aos espaos fsicos de sua cela. Uma pessoa doente, que j no tem mais a flexibilidade
da juventude, tambm perdeu a liberdade fsica para correr ou para movimentar-se com mais
agilidade: fica presa em casa ou no seu quarto. Uma criana que nasceu paraplgica tambm no
goza da liberdade fsica, assim como uma pessoa que no pode enxergar.
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H ainda os limites impostos pela natureza: eu no posso voar como os pssaros voam; no
posso nadar como nadam os peixes; no posso enxergar noite como uma coruja enxerga, e assim
por diante. Da mesma forma, no posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, como s vezes
gostaria de estar. E no posso viajar numa mquina do tempo, nem pretender viver para sempre.
Minhas condies naturais permitem-me algumas coisas e me impedem de outras. Essa a
situao no que diz respeito liberdade fsica.
Liberdade moral
A liberdade moral19, por sua vez, refere-se nossa conscincia. Uma pessoa, por exemplo,
que segue certos preceitos religiosos, levada a fazer algo ou a evitar algo sem nenhuma forma de
coao fsica. A deciso sobre sua ao reside, simplesmente, em sua liberdade moral. Quando
tomo uma determinada deciso sem ser impelido ou impedido interiormente por algo, digo que
sou livre. Faa o que quiser, dir a minha conscincia quando eu realmente for plenamente
livre sob o aspecto moral. Mas, geralmente ouvimos expresses como Veja bem, procure ser
justo, No escolha a mentira, Prefira o bem ao mal. Nossa conscincia, em consequncia da
educao moral que recebemos, limita nossa liberdade.
Os preceitos morais agem sempre no nvel da conscincia. Algum pode ter aprendido de
seus pais a ser honesto custe o que custar. Numa situao decisria de sua vida, embora no
haja coao fsica (seus pais podero estar ausentes ou at mesmo terem morrido), aquela lio
moral limitar a liberdade dessa pessoa.
LIBERDADE INDIVIDUAL E SOCIAL
O conceito de liberdade no se aplica apenas aos indivduos, mas tambm aos grupos
humanos, sejam naes, povos, instituies ou outras formas de organizao coletiva. Contudo, a
base do direito liberdade parece ser a mesma: nossa condio de igualdade e a dignidade da
pessoa humana.
Enrique Dussel20 mostrou que a liberdade ou a explorao de um povo surgem do mesmo
modo como a liberdade ou a explorao entre os membros de uma famlia. Nas culturas marcadas
pela explorao do outro, o marido priva a liberdade da esposa; o pai priva a liberdade do filho;
o irmo priva a liberdade do outro irmo. No primeiro caso, preciso pensar uma libertao
ertica: a mulher precisa ser reconhecida nos seus direitos e na sua dignidade e, assim, ser capaz
de conquistar a prpria liberdade, condio para que reine o amor no lugar da dominao. No
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segundo caso, o filho precisa conquistar o respeito pela sua prpria dignidade, sendo acolhido
pelos pais em sua individualidade. reconhecida, assim, a possibilidade do filho ser sujeito de
sua prpria histria: trata-se, portanto, de construir uma libertao pedaggica (que se aplica,
tambm, nas relaes entre mestre e educando). Por fim, vem a libertao poltica, ou seja, aquela
que se realiza na esfera do relacionamento entre os irmos; o reconhecimento da liberdade e da
autonomia do irmo tornam-se garantia de que as relaes sejam pautadas pelo respeito e no pela
dominao de um sobre o outro.
REPRESSO E CENSURA
Censura um mecanismo de controle social. Como tal, serve para vigiar o cumprimento das
leis e o uso da liberdade das pessoas. Michel Foucault21 mostrou que em todas as situaes de
nossa existncia, mesmo nas estruturas sociais microfsicas22, existem estruturas de poder, isto ,
estruturas de controle dos indivduos e de seus corpos (FOUCAULT, 1992). As estruturas de poder
exercem controle sobre nosso modo de ser e de agir, limitando nossa liberdade. Constantemente,
nos sentimos vigiados por uma presena invisvel que nos observa e guia nossos passos (Foucault
fala do panptico (FOUCAULT, 1996) como instrumento pelo qual se exerce esse controle visual
sobre as pessoas: trata-se de algo como uma torre, coberta de espelhos, atrs dos quais somos
vistos por quem nos controla, mas no podemos ver quem e se realmente est l ou no).
Liberdade e censura so qualidades inversamente proporcionais, isto , quando se tem em
maior quantidade uma delas, a outra diminui e vice-versa. Por exemplo: a liberdade de expressar
minhas opinies polticas , hoje, no Brasil, uma qualidade amplamente aceita e defendida. No
h, portanto, censura poltica. Sou livre para dizer o que penso sobre os governantes e as decises
polticas que regem a sociedade brasileira. Mas, nem sempre foi assim no pas. Na poca do
Regime Militar (entre as dcadas de 60 a 80 do sculo XX), a censura era exercida at s ltimas
consequncias: as pessoas eram severamente vigiadas, no tinham liberdade para dizer o que
pensavam (por isso muitos intelectuais e professores foram presos, torturados e assassinados
porque talvez, pois, criticavam abertamente o poder e seus feitores).
Nos governos democrticos, a liberdade maior do que a censura. este tema um ponto
importante para a questo daquilo que se chama sustentabilidade poltica23. Ao contrrio, nos
governos ditatoriais, a censura maior do que a liberdade. O mesmo vale para as famlias, a
escola, as religies, as empresas etc. Porque tambm nessas instituies ns agimos ou deixamos
de agir de acordo com as regras e normas de conduta que so estabelecidas. Mas, vale o mesmo
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princpio: quanto mais liberdade, menos censura e controle; quanto mais censura e controle,
menos liberdade.
A liberdade no absoluta. Ela esbarra sempre nos limites da liberdade do outro e nos
limites da lei (alm dos limites impostos pela prpria natureza, como j analisamos). Mas,
tambm a represso no absoluta. Um preso poltico, por exemplo, pode ter sido privado da
liberdade fsica, mas certamente isso no foi suficiente para obrig-lo a abrir mo de suas ideias
e de seus princpios.
LIBERDADE E SUSTENTABILIDADE
Estas reflexes ajudam-nos a compreender, em sntese, que a liberdade humana encontrase entre o limite daquilo que j est determinado em nossa vida e daquilo que ns podemos
escolher. No campo das questes que so envolvidas pelo conceito de sustentabilidade, isso
muito importante: ns no podemos fazer tudo ou decidir qualquer coisa, mas devemos fazer as
melhores opes, dentro do que a ns possvel, para criar um mundo cada vez mais sustentvel.
Embora muita coisa j esteja determinada (do ponto de vista ambiental, por exemplo, espcies
extintas nunca mais podero voltar vida), o futuro est aberto, como dizia Karl Popper24, e por
isso precisamos acreditar na possibilidade de construir condies melhores de vida para ns e
para as geraes vindouras.
INDICAES DE LEITURA
BOBBIO, Norberto. Igualdade e liberdade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
DUSSEL, Enrique. Caminhos da libertao latino-americana. So Paulo: Paulinas, 1985.
DUSSEL, Enrique. Para uma tica da libertao latino-americana. So Paulo: Loyola, 1987.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrpolis: Vozes, 1996.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 12. ed. Petrpolis: Vozes, 2002.
OLIVEIRA, Paulo Eduardo de. Educar para a vida: reflexes para pais e educadores. Petrpolis: Vozes,
2007.
POPPER, Karl. Sociedade aberta e seus inimigos. So Paulo/Belo Horizonte: EDUSP, Itatiaia, 1975.
POPPER, Karl Raimund; Nuno Ferreira da Fonseca. O universo aberto: Argumentos a favor do indeterminismo.
Lisboa: Dom Quixote, 1988.
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Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi um filsofo, escritor e crtico francs, conhecido como representante do
existencialismo. Entre suas principais obras destaca-se O ser e o nada e A nusea.
Jos Ortega y Gasset (1883-1955) foi um filsofo espanhol. Tambm atuou como ativista poltico e jornalista.
Entre suas principais obras, destacam-se: Em torno a Galileu, Estudos sobre o amor e Que Filosofia.
Indicao de link: Como leitura complementar, indica-se o texto Como nasce a tica, do escritor brasileiro
Leonardo Boff, disponvel em: <http://leonardoboff.com/site/vista/outros/como-nasce.htm>.
Martin Heidegger (1889-1976) foi um filsofo alemo, de linha existencialista, que influenciou importantes
filsofos como Jean-Paul Sartre. Entre suas principais obras, destaca-se Ser e Tempo.
5 A palavra determinismo deriva do verbo determinar. No sentido aqui usado, designa aquilo que est
definido, pronto ou acabado de modo absoluto.
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A palavra ontolgico vem do grego e significa, literalmente, o estudo sobre o ser. Trata-se de um ramo
ou disciplina da Filosofia que estuda a constituio das coisas em sua prpria natureza ou essncia.
Indicao de link: Para aprofundar o estudo do tema, ver o significativo artigo de Moacir Gadotti sobre
a educao para a sustentabilidade, disponvel em: <http://revista.ibict.br/inclusao/index.php/inclusao/
article/viewFile/113/122>.
Indicao de link: Para aprofundar o estudo deste tema, veja-se o artigo disponvel em: <http://www.
ecologiaurbana.com.br/sustentabilidade/como-garantir-sustentabilidade-ambiental/>.
9 A Ilada o mais antigo poema grego. Foi escrito por Homero por volta do sculo VII a.C. e descreve o
ltimo ano da guerra de Tria, que durou cerca de dez anos. A Odissia a obra mais popular da antiga
literatura grega. Descreve as aventuras de Ulsses ao tentar regressar a sua terra natal, depois da vitria da
Grcia na guerra de Tria.
10 Indicao de link: Sobre a ideia platnica de alma, pode-se ver o artigo disponvel em: <http://filosofonet.
wordpress.com/2011/06/18/a-teoria-da-alma-em-platao/>.
11 Aurlio Agostinho, dito de Hipona, cidade onde viveu seus ltimos anos, tambm conhecido como Santo
Agostinho (354- 430). Foi bispo catlico, escritor, telogo e filsofo. Sua principal obra Confisses.
12 Indicao de vdeo: Para uma compreenso mais ampla destes temas no contexto do pensamento
medieval, pode-se ver o filme Em nome de Deus, que retrata a vida do filsofo Pedro Abelardo, disponvel
em: <http://www.youtube.com/watch?v=TeJ-IDG8ldA>.
13 Thomas Hobbes (1588-1679) foi um matemtico, terico poltico, e filsofo ingls, autor de Leviat (1651)
e Do cidado (1651). um dos principais representantes do pensamento absolutista ingls.
14 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante filsofo, terico poltico, escritor e compositor
autodidata suo. considerado um dos principais filsofos do iluminismo e um precursor do romantismo.
Entre suas obras, destacam-se: Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens, Do Contrato
Social e Emlio ou da Educao.
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15 Indicao de vdeo: Para compreender melhor a Revoluo Francesa, ver o vdeo disponvel em <http://
www.youtube.com/watch?v=meSQG6bNvOM).
16 Indicao de vdeo: Para compreender melhor a Revoluo Francesa, ver o vdeo disponvel em <http://
www.youtube.com/watch?v=j--WjKAti0M>.
17 Indicao de vdeo: Uma parte desta obra, transformada em filme, pode ser vista no seguinte link:
<http://www.youtube.com/watch?v=oCzCIRhFUMw&feature=related>.
18 Indicao de link: Sobre a relao entre tica e liberdade, pode-se ver o artigo disponvel em: <http://
portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=23439>.
19 Indicao de vdeo: Para compreender melhor o conceito de liberdade moral, pode-se ver o breve
documentrio de Mrio Srgio Cortella, disponvel em: <http://www.youtube.com/watch?v=RFlVgcl4A1
M&feature=related>.
20 Indicao de vdeo: Para uma compreenso mais ampla do pensamento de Enrique Dussel, veja-se o
vdeo disponvel em: <http://www.youtube.com/watch?v=eKX0w869sMI>.
21 Indicao de vdeo: Para uma compreenso mais ampla do pensamento de Enrique Dussel, veja-se o
vdeo disponvel em: <http://www.youtube.com/watch?v=eKX0w869sMI>
22 Como a palavra indica (micro = pequeno, reduzido), trata-se de estruturas sociais em que, mesmo nas
relaes mais estreitas e nas situaes cotidianas, existem pequenas expresses de poder. Um exemplo
a relao entre irmos, na qual geralmente o irmo mais velho tende a se sobrepor aos mais novos.
23 Indicao de link: Pode-se ver, a esse respeito, o artigo sobre a dimenso poltica da sustentabilidade,
disponvel em: <http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT11/michelly_ramos.pdf>.
24 Karl Popper (1902-1994), filsofo austraco, cujo pensamento se destaca principalmente no campo da
filosofia da cincia e da filosofia social. Entre suas obras, destacam-se: A lgica da pesquisa cientfica e A
sociedade aberta e seus inimigos.
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Nesse sentido, ser cidado algo peculiar, que se aprende. Um papel social intimamente
relacionado com os valores culturais da sociedade qual o indivduo pertence, adquiridos pela
educao formal e informal.
A cidadania no se d como algo natural e inato nas pessoas, construda. A cultura um
alicerce para realizar tal tarefa. pelo seu fortalecimento e valorizao que se desenvolve nas
pessoas o sentimento de pertencer, o que uma base para a cidadania. Por isso a necessidade
de reforarmos em nosso ambiente cultural, na casa e na escola, os valores democrticos e
humansticos.
A educao do futuro dever ser o ensino primeiro e universal, centrado na condio humana. Estamos na
era planetria; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem
reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a
tudo que humano. (MORIN, 2000, p. 47)
Pensar-se e sentir-se pertencente a um lugar uma famlia, uma origem, uma escola, uma
comunidade possibilita que a pessoa desenvolva as referncias que lhe conferem a construo
da prpria identidade e participao na vida social, um dos primeiros passos para aprender o
papel de ser cidado. Somente por meio do reconhecimento mtuo da importncia recproca
entre indivduo e grupo que se desenvolvem as ligaes entre a vida individual e comunitria, o
verdadeiro sentido da cidadania numa sociedade democrtica e no excludente.
EDUCANDO PARA A CIDADANIA NA FAMLIA
Muito se tem discutido a respeito do papel da famlia na educao das crianas na atualidade,
em especial por conta de tantas mudanas socioculturais que vm alterando a estrutura e o
funcionamento dos lares. Apesar delas, a sociedade do terceiro milnio, da tecnologia e do
avano do conhecimento vem percebendo que no h outra forma de criar os filhos, seno por
meio da famlia.
Indiscutivelmente o primeiro mundo da criana, o lugar onde se tem a oportunidade de
desenvolver a afetividade, o aconchego, a proximidade das relaes humanas. tambm um
lugar de conflitos, de aprendizagem de limites, de reconhecimento de erros e de reconciliao.
Esses so os ingredientes que temperam as relaes e so inerentes ao crescimento da pessoa
em formao. A partir de uma convivncia familiar prxima e afetuosa, a criana desenvolve o
sentimento de pertencer, estruturando-se como pessoa humana sadia e equilibrada, construindo
sua autoestima e identidade.
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Entre as vrias respostas para essas perguntas, gostaria de propor algumas ideias possveis
de serem postas em prtica e que, inclusive, tornaram-se um pouco esquecidas diante de tantos
afazeres e compromissos que a vida moderna nos impe.
A criana precisa de referncia da famlia e de certeza de pertencer a ela.
A primeira ideia que surge o resgate de brincadeiras vividas em nossa prpria infncia,
que podem ser prazerosas quando relembradas e partilhadas com as crianas. Nesses momentos
de lazer e aconchego, possvel redescobrir como gostoso fazer bonecos de massa de po,
brincadeiras de pipa e de peo, ou ainda fazer juntos bonecas de pano costuradas mo. Assim,
criam-se laos de proximidade e intimidade entre a criana e o adulto.
muito importante, tambm, quando pais, avs e parentes mais prximos podem contar-lhe
histrias que revelam as origens dos antepassados, dos lugares e da maneira como viveram. Ao
contar a prpria histria, os pais permitem que a criana conhea a sua origem e criam-se laos
profundos e duradouros. O pequeno sente ento que pode contar com o adulto, com a autoridade
de quem vivenciou todos os fatos que lhe do a referncia de continuidade e filiao. nessas
pequenas e ao mesmo tempo grandes atitudes vividas na convivncia familiar durante a infncia
que se lanam bases para que o adolescente recorra primeiro famlia, diante dos problemas
prprios da idade.
...ter a certeza de poder contar com a famlia, no significa pertencer a uma famlia perfeita, onde tudo d
certo sempre. Significa, mais que isso, pertencer a uma famlia que se une em prol daquele que precisa, no
momento que ela precisa. (IGNOTI, 1999, p. 36).
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vizinho para o consumo da casa. Quando andvamos pela lavoura, o seu Toninho mostrou-me
uma eroso de trs metros de profundidade e o problema que vinha enfrentando.
Expliquei-lhe, ento, desenhando num papel como o ciclo da gua, como se formam as
minas e como aquela eroso e o solo compactado prejudicavam no s a sua vida, mas o ambiente
de toda aquela regio.
Passaram-se duas semanas e, no meu retorno, o seu Toninho me fez entrar e tomar
assento com sua famlia mesa da cozinha. Falou-me da importncia das explicaes que lhe dera
e, se no fosse incmodo para a professora, que desenhasse novamente o ciclo da gua. Refiz
o desenho e percebi que sua filha adolescente observava atentamente.
Ela se levantou e saiu, voltando em seguida com um livro didtico aberto num desenho
esquemtico do ciclo da gua. isto que a senhora est ensinando ao meu pai? Respondi que
sim, mostrando o desenho que o pai tinha na mo e o desenho do livro, comparando-os. Terminada
a explicao, pude perceber que os olhos de seu Toninho estavam cheios de lgrima.
Para ele, o conhecimento prprio dos livros e, com ele, o entendimento de certas coisas do
seu cotidiano poderia ter chegado antes. Ento, contou-me de todo o seu esforo para estudar
a menina, que diariamente sai de manhzinha para ir escola, no patrimnio, falou de sua luta
para proporcionar aos filhos aquilo que ele no teve.
Esse fato me fez atentar mais para o que est acontecendo com muitas crianas e adolescentes
rurais que nos ltimos anos tiveram suas escolas fechadas no interior e esto sendo levados para
estudar em escolas urbanas, expostos a valores urbanos, influncia da televiso, desvalorizao
do seu mundo, iluso de que na cidade tudo vai melhorar... Essas imagens so exemplos das
guerras culturais que acontecem na sociedade em que vivemos.
Um trabalho de transformao das condies de vida do homem rural brasileiro, segundo
Antonio Candido (1980), no pode fiar-se apenas em tecnologias agronmicas, estudos de
economia ou enunciados polticos; ele precisa tambm, ou principalmente, levar em considerao
a cultura do rurcola.
Como um estudo da cultura pode contribuir com a incluso dessa populao na escola e na
sociedade? E a escola, pode beneficiar-se em trabalhar a incluso de grupos culturalmente diversos?
Fazer um confronto das duas realidades culturais que podem coexistir na escola vai muito
alm de uma abordagem folclrica sobre a cultura. Nesse tipo de abordagem, a cultura rural , s
vezes, estandardizada ou estigmatizada, nas festas juninas, nas fantasias de caipira, nas aluses ao
Jeca Tatu ou nas comemoraes das ditas semanas culturais, to a gosto das escolas urbanas.
A escola identifica-se com a cultura ocidental, que sempre homogeneizadora, ordenadora,
pragmtica e, conforme Porto (1999), agindo como aparelho de reproduo do pensamento
ocidental, num modelo de educao que no integra a diversidade.
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possvel fazer constataes que ampliam a noo de educao seguindo por outro caminho.
Fazer uma leitura de realidades culturais rural e urbana presentes nas escolas aliceradas
nos valores desses grupos so caminhos para enriquecer o cotidiano escolar. Nas suas semelhanas
e diferenas, esses grupos nos indicam diversos ngulos de viso para o significado da educao
e da escola.
A vida rural e a cultura caipira, conforme descreve Antonio Candido, tm uma grande
riqueza de valores que pode ser de muita valia para a educao e a escola.
A proximidade e a solidariedade das famlias estudadas pelo autor constituam vnculos
motivados pelo sentimento de localidade, pela convivncia, pelas prticas de auxlio mtuo e pelas
atividades ldico-religiosas.
Ressalta o autor que o bairro conceituado pela base territorial que representa a poro de
terra a que os moradores tm conscincia de pertencer, formando certa unidade (PORTO, 1999,
p.65) e onde a convivncia entre eles expresso da proximidade fsica e da necessidade de
cooperao. O bairro era para o caipira tradicional uma pequena nao. Da brotavam as formas
de solidariedade, expressas nas vrias formas de convivncia, nas festividades, mas sobretudo no
trabalho coletivo.
No bairro havia a participao dos moradores em trabalhos de ajuda mtua, com uma
obrigao bilateral dos seus membros em convocar e ser convocado para as atividades.
A manifestao que melhor caracterizava essas relaes era a prtica do mutiro, com que a
vizinhana reunia-se nas atividades da lavoura e nas tarefas da indstria domstica, solucionando
eventuais problemas de mo de obra, alm de constituir um aspecto festivo, que bem caracterizava
o modo de ser do caipira.
Como explica o autor, o mutiro uma reunio de vizinhos convocados por um deles a
fim de efetuar determinado trabalho (PORTO, 1999, p.68). No havia qualquer espcie de
remunerao pelas tarefas realizadas, que variavam entre carpa, roada, colheita ou malhao etc.,
a no ser a obrigao moral do beneficirio de corresponder aos chamados que eventualmente
lhe faziam os companheiros do bairro. Eram ocasies de trabalho pesado e apressado que s
vezes podia durar dias. Terminava sempre com festa oferecida pelo dono da roa, com fartura de
alimento, dana e cantoria.
Eram expresses do auxlio vicinal, resultante de uma rede de relaes em que a
solidariedade e a confiana aparecem, ligando os habitantes uns aos outros e contribuindo para a
unidade estrutural daquele tipo de vida social. Em outras palavras, so mostras dos valores desse
grupo social.
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A escola um valor tambm para o homem rural. Basta entender a lgrima do seu
Toninho, ou a palavra do caipira Antnio Ccero proseando com Brando (1987, p.8): Tem uma
educao que vira o destino do homem, no vira? Ele entra ali com um destino e sai com outro...
Ele entra dum tamanho e sai do outro. Parece que essa educao que foi a sua tem uma fora
que t nela e no t. Como que um menino como eu fui mud num doutor, num professor, num
sujeito de muita valia?
Na explicao do caipira Antnio Ccero (BRANDO, 1987, p.7-10; 197-198), h uma
educao que vem da cidade e outra que ele v nas pessoas simples da roa. Para ele, a primeira
cheia de recursos, acompanhada de professor fino de roupa boa, estudado, com material
novo tudo muito separado, caracteriza-se num estudo de escola que muda gente em doutor.
Mas um estudo difcil de ser compreendido para quem da roa, cuja mo que foi feita pro
cabo da enxada acha a caneta muito pesada. Acaba tornando-se um saberzinho s de alfabeto,
uma conta aqui e outra ali, numa escolinha cai-no-cai num canto da roa, com uma professora
dali mesmo. Para as pessoas do interior estudar na escola de pouca valia, porque o estudo
pouco no serve pra fazer da gente um melhor! Torna-se distante da realidade de quem enfrenta
o trabalho pesado, cria apenas uma iluso de mudana. Para ele, escola desse jeito ensina o
mundo como ele no !
A distncia entre a escola e a populao rural apresentada no estudo que Maria Isaura
Pereira de Queiroz (1973, p.82-83) faz em diversos bairros rurais no interior de So Paulo. Para a
autora, a educao primria exgena ao meio rural e os educadores organizam-se seguindo sempre
um mesmo modelo e ministram os mesmos conhecimentos, alm de depender de instituies
urbanas. Sua ao educativa sofre prejuzos por dirigir-se apenas s crianas durante um tempo
bastante limitado. No consegue exercer influncia para integrar efetivamente a populao rural
numa sociedade global mais ampla. Apesar de adaptada vida dos bairros e aceita sem reservas
por seus habitantes, a escola muitas vezes no tem utilidade efetiva para as pessoas s quais se
destina: h falta de funo real desempenhada pela instruo na existncia quotidiana, de onde
muitos concluem que para os que vivem na roa no preciso saber ler nem escrever.
No dizer de Antnio Ccero, os meninos da roa aprendem, segundo o costume, a cultura,
o ser e o fazer do meio onde vivem. As crianas aprendem no seguir do acontecido, no apenas
uma lio formal da escola, mas tambm um saber com uma lio escondida que no esquecem
jamais, uma educao ligada s suas tradies.
Ele fala da fora que a educao poderia ter se soubesse juntar o saber de escola com o
saber do povo da roa, num saber completo. Nessa unio preciso entender que h saberes
90
importantes que precisam ser reconsiderados, pra toda a gente saber de novo o que j sabe, mas
pensa que no. Nesses saberes, h segredos que a escola no conhece.
Considerar a diversidade e integrar as diferentes vises de mundo presentes nas escolas
um desafio para a educao. um trabalho de abertura para que tais grupos possam aprender.
Importante compreender as pessoas e a diversidade das manifestaes culturais, nas situaes
particulares que expressam valores e viso de mundo, caractersticas de um grupo cultural
contraposto a outro. Sobretudo, aprender com eles o que eles tm para ensinar.
REFERNCIAS
BRANDO, C. R. A questo poltica da educao. So Paulo: Brasiliense, 1987. p.8.
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TURQUINO, G. B. Estilo urbano em escola rural? Um estudo comparativo de duas realidades culturais de
Londrina. 2003. 159p. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Estadual de Londrina, Londrina.
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Uma leitura sugestiva sobre a cultura do meio rural e do meio urbano na escola em: TURQUINO, G. B.
Estilo urbano em escola rural? Um estudo comparativo de duas realidades culturais de Londrina. 2003.
159p. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Estadual de Londrina, Londrina.
Enculturao um processo educativo por meio do qual os indivduos apreendem os elementos da sua
cultura, quer informal, quer formalmente, por toda a vida. Para saber mais:<http://criarmundos.do.sapo.
pt/Antropologia/pesquisaantropologia01.html#cultura1>.
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ESTADO E PODER
Vamos comear a contar um pouco da histria do Estado, do meu jeito, porque cada um de
ns conta a mesma histria com o seu prprio jeito. por isso que o Joo Antonio assina diferente
do Joo Jos: porque cada um tem o seu jeito de ver, de falar, de entender e de explicar o que
acontece sua volta, mesmo sendo Joes.
Podemos no saber quem inventou o Estado, nem como fez, nem para qu. Mas muito
difcil que no percebamos o Estado fazendo coisas, obrigando-nos a fazer outras. Por que
chegamos a esse estado de coisas?
Estamos falando da multa no trnsito, do salrio pago ao funcionrio pblico, dos impostos,
das escolas, da polcia, dos hospitais, das leis, da burocracia e de muitas, muitas, muitas outras
coisas que so feitas apenas pelo Estado, tambm pelo Estado (por exemplo, escola pblica e
escola privada) e outras tantas que o Estado nos convence, nos empurra ou nos obriga a fazer.
Antes de continuarmos a falar sobre essa coisa do Estado, vamos sair pelo caminho ao lado,
para passarmos em frente ao poder, que aquilo que o Estado tem mais do que qualquer um de
ns e, talvez, mais do que todos ns juntos.
Comeando pelo fim, por que fazemos determinadas coisas para o Estado que no faramos
nem para nossos filhos? Porque o Estado tem poder. Vocs podem dizer: bom, nossos filhos
tambm tm poder. Certo, mas o poder do Estado diferente, to diferente que vamos comear
a escrev-lo com maiscula.
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O Poder do Estado diferente do poder que ns temos. Talvez para chegarmos mais perto
daquilo que podemos chamar de Poder seja mais interessante lembrarmos da palavra autoridade.
O prefeito tem autoridade, o sargento tambm.
Ento, podemos comear a entender o significado de Poder do Estado, lembrando que a
origem dessa autoridade vem desse mesmo Poder do Estado, que d ao cidado que ocupa o
cargo essa autoridade. Assim, todos ns sabemos que o prefeito uma autoridade e que se no
pagarmos o IPTU, vamos pagar multa, ou seja, seremos penalizados.
Quando a maioria das pessoas no cumpre o que nos ordenado pelo Estado por intermdio
das pessoas que ocupam os postos de autoridade (prefeitos, soldados, governadores, professores
e muitos outros), dizemos que o Estado est em crise, que h uma crise de legitimidade, de
autoridade, de poder. S que esta j uma outra histria...
Para continuarmos pensando o Estado e o Poder e para entendermos melhor a origem disso
tudo, vamos voltar no tempo. No feudalismo, havia um tipo de Estado controlado por um rei.
Talvez esse tenha sido o mais antigo Estado a parecer-se com os Estados atuais. Um rei francs
disse uma frase que ficou clebre: o Estado sou eu. Claro que ele falou em francs.
Qual o significado dessa frase para a nossa histria? Que aquele tipo de Estado tinha um
dono, tinha apenas um indivduo que mandava em tudo e em todos. Mas aquele estado de coisas
mudou. Por que mudou? Em primeiro lugar porque as coisas mudam mesmo. Independentemente
da nossa vontade ou, talvez, dependendo dela.
Outro motivo para as mudanas daquele Estado de um dono s para um Estado de alguns
donos foi o surgimento e o crescimento de um tipo de pessoa que no estava disposto a aceitar as
coisas como elas eram. Refiro-me burguesia1. Ela estava crescendo em tamanho, em riquezas,
em poder e em vontades.
Que poca era aquela? difcil de precisar. como responder pergunta: quando deixamos
de ser jovens? Com dezoito, vinte e cinco, quarenta e sete anos e meio de idade... Podemos dizer
que por volta do sculo XVIII, na Europa, as coisas j no eram to iguais ao sculo XVII. Bem,
no XIX ento, elas estavam bem diferentes.
O que tinha mudado? Muito, mas vamos ao que nos interessa. Basicamente, a mudana da
maneira pela qual as pessoas produziam as mercadorias. Como isso havia mudado, uma srie de
outras coisas mudou junto. Hoje em dia vivemos reclamando dos impostos. Naquela poca muitos
impostos eram cobrados pelos reis para sustent-los e sua corte.
O comrcio daquele perodo tinha se alterado muito. As pessoas que ganhavam dinheiro
com ele no queriam deixar a maior parte de seu lucro com o rei, que nem trabalhava. No
queriam, tambm, ficar pagando pedgio a cada feudo que eles tinham que atravessar para vender
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suas coisas. Aquela forma de organizar a vida das pessoas era uma gravata apertando o pescoo
dos futuros ricos, donos de fbricas, de bancos e outras coisas. Para que os negcios pudessem
continuar a crescer, era necessrio cortar todos aqueles laos que amarravam as pessoas.
Desculpem-nos o ritmo ligeiro. Caso resolvamos entrar em detalhes, essa histria vai
ficar muito comprida. Voltando ao ponto, foi naquele perodo que algumas revolues ocorreram
na Europa. claro que no foi s por dinheiro. Muitas ideias novas, de liberdade, igualdade e
fraternidade, povoavam as cabeas das pessoas, fossem elas ricas ou pobres. O problema que
ningum podia prever os resultados. E, no fim, quem saiu ganhando com a histria foram os de
sempre. Eles fizeram um Estado de acordo com os seus interesses. Quando as pessoas se
deram conta, j estava tudo resolvido.
Para os filsofos que pensaram sobre as origens do Estado, de como ele deveria ser,
podemos afirmar que existe um certo acordo sobre como esse Estado surgiu: um acordo entre
os indivduos est nas bases da origem do Estado moderno. Foi o que eles chamaram de contrato.
Um grande nmero de pensadores formulou interpretaes sobre o Estado, suas origens e seus
objetivos. Vou tentar apresentar as principais ideias daqueles que ganharam importncia ao
longo do tempo. o que chamamos de autores clssicos.
O primeiro deles Maquiavel, Nicolau Maquiavel. Ele considerado o fundador
da Cincia Poltica, que basicamente estuda o Poder e o Estado. Esse autor pensou o processo
de formao do Estado. Procurou separar a moral e a religio de suas ideias. O significado desta
separao o pensamento sobre como as coisas realmente so, e no como elas deveriam ser. a
moral, e no a poltica, que se ocupa da formulao de valores, de como as coisas deveriam ser.
No sentido apontado acima, Maquiavel identificou certas caractersticas, tcnicas e
normas prprias poltica e ao Estado. Esta ltima, portanto, entendida como a arte do
possvel e no a do desejvel. A poltica, por meio do Estado, realiza apenas o que pode ser
efetivado e no aquilo que seria bom.
Dois pensadores ingleses, Hobbes e Locke, formularam teorias a respeito do Estado moderno.
Hobbes afirmava que o homem o lobo do homem, ou seja, caso no haja uma instituio acima
dos homens, estes se destruiro. O Estado surge como uma espcie de concretizao de um contrato
entre os indivduos para a prpria manuteno deles. Esse Estado pensado por Hobbes foi o
Estado absoluto, com Poder absoluto. Os indivduos aceitavam como legtima essa fora do Estado
porque a alternativa era a destruio do Homem pelo Homem.
Locke acrescenta um outro elemento a essas ideias de Hobbes: a liberdade. Por que os
homens fazem o contrato que funda o Estado? Por que os Homens aceitam perder sua liberdade
para submeter-se ao Estado? A resposta que Locke nos d que os Homens aceitam essa
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privao de sua plena liberdade para garantir sua propriedade. O Estado vai controlar e
limitar os desejos dos outros como forma de garantir a propriedade para todos (pelo menos todos
os proprietrios...). Mais uma vez, portanto, o Estado origina-se de um contrato.
Nunca demais lembrar que esses pensadores utilizam uma imagem, uma figura para
pensar o Estado. Suas teorias funcionam como um modelo explicativo, uma vez que no
possvel voltar para o dia da fundao do Estado, porque esse dia nunca ocorreu de fato. Foi um
processo lento e gradual de transformaes que fizeram o mundo como ele hoje, processo este
que continua a marchar. o que podemos chamar de Histria.
Voltando histria das teorias sobre o Estado, depois de termos passado pelos italianos e
bretes, vamos visitar os franceses. Rousseau foi um dos mais radicais pensadores franceses do
tema Estado. At Lnin, um dos principais lderes da revoluo comunista na Rssia, foi buscar
em Rousseau inspirao para os sovietes.
Qual era a formulao desse pensador? Rousseau considerava que o nico rgo soberano
era a Assembleia. Em verdade, o Poder do Estado materializava-se de forma legtima na Assembleia,
no Parlamento. A igualdade era fundamental para ele. Assim, no havia liberdade sem igualdade.
Enquanto os outros pensavam na propriedade, Rousseau concentrava-se na igualdade. Todos os
Homens nascem livres e iguais perante a Lei.
Com o fim da Revoluo Francesa, o resultado dessas vises chamadas de liberais
(liberdade=propriedade) e democrticas (liberdade=igualdade) acabaram por se fundir, na
Europa do sculo XIX, em um tipo de Estado que garantia a propriedade e, dentro de certos
limites, a igualdade jurdica.
Entram em cena, agora, os alemes, mais especificamente Karl Marx e Max Weber. Embora
Weber seja posterior a Marx, comearemos por ele. A formulao weberiana procura tratar o
Estado de uma forma tcnica. Queremos dizer com isso que Weber analisa o Estado, como ele
mesmo afirmava, sine ira et studio, sem ira nem paixo. Essa anlise fria nos informa que o Estado
um aparelho composto por uma srie de instituies. Esse conjunto de instituies atua sobre
um determinado territrio, abrangendo um povo especfico. As pessoas que fazem essa mquina
funcionar, os famosos funcionrios, so tambm conhecidas como burocracia2.
Ainda conforme as ideias de Max Weber, o Estado detm o monoplio legtimo da
violncia fsica. Em outras palavras, o Estado, por meio da polcia, por exemplo, pode bater sem
ferir nenhuma lei, muito pelo contrrio. O Estado bate para fazer cumprir a Lei.
O outro alemo com o qual vamos tratar Karl Marx. Segundo ele, o Estado algo como o
produto das relaes sociais, e no aquilo que funda a sociedade. Para aqueles que veem o Estado
como um contrato, a sociedade o resultado desse contrato. o Estado que funda a sociedade.
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Marx inverte essa lgica. Para ele, a sociedade foi se tornando cada vez mais complexa, com
a propriedade, as classes sociais e os conflitos entre elas. O Estado surge no momento em que
surge a propriedade e tem por funo garantir aos proprietrios o usufruto dela. Para cada tipo
de organizao social, temos um tipo de Estado correspondente. Em uma sociedade baseada na
escravido, o Estado assume as formas necessrias para garantir essa sociedade. No capitalismo,
o Estado articulado da melhor maneira para garantir o bom funcionamento dessa forma de
organizao social.
Na atualidade identifica-se uma separao entre o que pblico e o que privado. Podemos
dizer, em outras palavras, que temos o Estado, o pblico, de um lado, e a sociedade civil, o
privado, de outro.
A relao entre essas duas partes, Estado e sociedade civil, um dos principais problemas
analisados nas discusses sobre Estado, democracia, cidadania etc. Assim, na discusso sobre o
Estado contemporneo, a participao da sociedade no Estado, ou melhor, aquilo que podemos
chamar de questo social, para usar uma linguagem sindical, aparece com significativo destaque.
Como essa questo social foi tratada ao longo da construo do Estado capitalista? Na
Europa, inicialmente, esse problema assumiu um contorno assistencial. Reforma social ou, numa
linguagem atual, previdncia social.
O primeiro movimento do Estado nesse sentido foi na Inglaterra, em 1601, com a Poor
Law, a Lei dos Pobres. O objetivo era acabar com a pobreza. O resultado foi a quase extino
dos pobres, uma vez que as comunidades tinham que pagar uma taxa para constituir um fundo de
ajuda. Essas comunidades descobriram que era mais fcil expulsar os pobres existentes e impedir
que novos entrassem do que pagar as taxas para fundo assistencial.
Ao longo dos sculos, a Inglaterra viu seu sistema assistencial ser aperfeioado. Ao contrrio
da ao estatal existir exclusivamente como repressiva, aquela que mantm a ordem, imps-se
para os legisladores, ao invs disso, a necessidade de uma srie de medidas que pretendiam
atenuar as diferenas sociais.
Um espcie de tecnologia social nasceu dessa realidade adversa aos mais pobres. Tratouse de vasculhar as causas das diferenas sociais, econmicas e de formular proposies capazes
de remediar as agruras dos despossudos.
A Inglaterra foi, assim, um dos primeiros pases a elaborar uma legislao fabril que
visava proteger os trabalhadores da explorao insuportvel feita pelos capites da indstria. Era
necessrio manter viva a galinha dos ovos de ouro.
Essa CLT inglesa serviu de modelo para os demais pases que se industrializaram
depois da Inglaterra. Se a Inglaterra tomou a dianteira na elaborao de leis que garantiam
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certos direitos aos trabalhadores, foi a Alemanha o pas pioneiro na produo de um conjunto de
reformas sociais que assumiu o desenho daquilo que podemos chamar, com as palavras de hoje,
de um sistema articulado de previdncia social.
Encontramos, portanto, nos ltimos anos do sculo XIX, dois pases europeus com dois
modelos de legislao social que trouxeram para o interior do Estado uma demanda da sociedade.
As leis inglesas, reguladoras da atividade fabril, assim como os programas alemes de seguro
obrigatrio contra a doena, a velhice e a invalidez produziram imitadores em quase todo o
mundo.
Essa legislao foi o resultado dos conflitos polticos entre o Estado a sociedade civil. Caso
utilizemos uma fala marxista, a luta de classes3 explica esse resultado como o produto dessa luta.
O Estado foi obrigado a criar certas medidas reguladoras para, ao entregar os anis, no perder
os dedos.
Em meados do sculo XX, verificou-se o desenvolvimento de um tipo de Estado, na Europa
e nos Estados Unidos, chamado de welfare state, ou Estado do bem-estar social. Esse Estado foi o
responsvel pelo seguro-desemprego, por aposentadoria integral, por sade e educao gratuitos
e pblicos etc.
Esse tipo de Estado, contudo, demandava financiamento. Para se pagar, por exemplo, as
aposentadorias, um volume cada vez maior de recursos tornava-se necessrio ano a ano. Assim, as
polticas fiscais e tributrias passaram a ganhar importncia na anlise do Estado. Como possvel
continuar pagando os benefcios, se o nmero de beneficiados aumenta em relao ao nmero de
contribuintes?
A tenso que dilacera o Estado nos dias de hoje o atendimento das demandas da assim
chamada sociedade civil e os limites da arrecadao. E, se no bastasse esse problema, o Estado
ainda tem que manter o capitalismo.
Principalmente entre os autores marxistas, na atualidade, o Estado cumpre quatro funes
bsicas: criao da infraestrutura para a produo; manuteno da ordem e aplicao das leis;
regulamentao do conflito capital e trabalho e garantia da insero do capital nacional no
mercado mundial.
No pouca coisa. E, alm disso, os movimentos sociais ganharam fora a partir dos anos
sessenta. Aquele Estado do bem-estar social comeou a entrar em crise e os cidados comearam,
cada vez mais, a organizar-se para manter e ampliar e seus direitos.
No pretendemos transformar o Estado em vtima das demandas sociais. Consideramos
importante, contudo, ressaltar o tamanho do problema que os polticos enfrentam para equacionar
as demandas cada vez maiores e as limitaes para sua ao no Estado cada vez mais fortes. Do
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ponto de vista da populao, contudo, no cabe aumentar ou diminuir o trabalho dos polticos.
Cabe apenas tentar ampliar cada vez mais as conquistas.
O Poder do Estado no absoluto. Nem a fora da sociedade civil. Cabe a ns, indivduos,
cada vez mais, pensarmos as maneiras mais eficientes de exercer nossa cidadania.
Maquiavlicas
(retiradas de O Prncipe)
Quando se conquista um Estado acostumado a viver em liberdade, e sob suas prprias leis, h trs modos de
mant-lo: o primeiro consiste em arruna- lo; o segundo, em nele residir; o terceiro, em permitir-lhe continuar
vivendo com suas prprias leis, impondo-lhe um tributo e instituindo um governo composto de poucas pessoas
do lugar, que sejam amigas. (p. 20)
Chegamos agora ao caso do cidado que se torna soberano no por meio do crime, ou de violncia intolervel,
mas pelo favor dos seus concidados: o que se poderia chamar de governo civil. Chegar a essa posio
depender no inteiramente do valor ou da sorte, mas da astcia assistida pela sorte. Chega-se a ela com
o apoio da opinio do povo ou da aristocracia. Em todas as cidades se pode encontrar esses dois partidos
antagnicos, que nascem do desejo popular de evitar a opresso dos poderosos, e da tendncia destes ltimos
para comandar e oprimir o povo. Desses dois interesses que se opem surge uma de trs consequncias: o
governo absoluto, a liberdade ou a desordem. (p. 31)
Muitos j conceberam repblicas e monarquias jamais vistas, e que nunca existiram na realidade; de fato, a
maneira como vivemos to diferente daquela como deveramos viver que quem despreza o que se faz pelo
que deveria ser feito aprender a provocar sua prpria runa, e no a defender-se. Quem quiser praticar
sempre a bondade em tudo o que faz est condenado a penar, entre tantos que no so bons. necessrio,
portanto, que o prncipe que deseja manter-se aprenda a agir sem bondade, faculdade que usar ou no, em
cada caso, conforme seja necessrio. (p. 44)
Chegamos assim questo do saber se melhor ser amado ou temido. A resposta que preciso ser
ao mesmo tempo amado e temido mas que, como isso difcil, muito mais seguro ser temido, se for
preciso escolher. De fato, pode-se dizer dos homens, de modo geral, que so ingratos, volveis, dissimulados;
procuram escapar dos perigos e so vidos de vantagens; se o prncipe os beneficia, esto inteiramente do
seu lado; como j observei, quando a necessidade remota, oferecem seu prprio sangue, o patrimnio, sua
vida e os filhos; quando ela iminente, revoltam-se. Estar perdido o prncipe que confiar somente nas suas
palavras, sem fazer outros preparativos, porque a amizade conquistada pela compra, e no pela grandeza e
nobreza de esprito, no segura no se pode contar com ela. Os homens tm menos escrpulos em ofender
quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor mantido por uma corrente de obrigaes que se
rompe quando deixa de ser necessria, j que os homens so egostas; mas o temor mantido pelo medo da
punio, que nunca falha. (p. 47)
A escolha dos ministros por um prncipe no tem pouca importncia: os ministros sero bons ou maus de
acordo com a prudncia que o prncipe demonstrar. A primeira impresso que se tem de um governante, e da
sua inteligncia, dada pelos homens que o cercam. Quando estes so competentes e leais, pode-se sempre
considerar o prncipe sbio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e de inspirar fidelidade. Quando a
situao oposta, pode-se sempre fazer dele juzo desfavorvel, porque seu primeiro erro ter sido cometido
ao escolher os assessores. (p. 62)
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REFERNCIAS
MACHIAVELLI, N. O prncipe e dez cartas. 3. ed. Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 1996.
BOBBIO, N. et al. Dicionrio de poltica. 4. ed. Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 1992. 2 v.
GRUPPI, L. Tudo comeou com Maquiavel: as concepes de Estado em Marx, Engels, Lnin e Gramsci.
11.ed. Porto Alegre: L&PM editores, 1986.
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Tratamos neste texto de alguns temas que nos dizem respeito e que so do nosso interesse
imediato. medida que vamos convivendo com uma situao nova, ela, aos poucos, vai se
transformando em algo conhecido, normal, rotineiro, tradicional, antigo, velho, ultrapassado.
s vezes isso bom, s vezes, nem tanto. Basta lembrarmos do processo poltico recente pelo
qual o Brasil passou, saindo de uma ditadura1 militar para uma democracia2. Ns acabamos
esquecendo muito rapidamente todos os percalos vividos e passamos a desprezar o que foi
conquistado com muito esforo pelos outros, muitos dos quais j passaram. Esse movimento de
esquecer e lembrar no nenhum pecado. Afinal, isso que faz com que mudanas aconteam. Se
no questionssemos o que est dado, ainda estaramos nas cavernas. Cabe a ns encaminharmos
esse exerccio de contar histrias, de lembrarmos e de esquecermos para que mude o mundo e
para que o mundo no fique mudo. E j que para mudar, que seja para melhor.
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ENTRANDO NO ASSUNTO
Quando falamos de organizao poltica, estamos tratando de uma forma de organizao de
interesses que pode ser democrtica, ditatorial etc. J a pluralidade depende da forma que essa
organizao de interesses assume. Nas ditatoriais, por exemplo, existe pouco espao para que mais
de uma ideia floresa. menos plural e mais singular. Quem manda um, e os outros obedecem.
A forma privilegiada para o exerccio (e tambm para a sua existncia) da pluralidade
a democracia, que pode ser considerada uma forma de organizao poltica (com uma certa
licena potica dos cientistas polticos mais convictos) que se pauta justamente pela convivncia
de conjuntos de diferenas, de maiorias e minorias.
Como todos ns j sabemos, o modelo de democracia que seguimos inspirado naquele
originado na Grcia. No nessa que est na novela ou que foi palco das olimpadas de anos atrs.
Essa Grcia a plida face daquela que legou para o mundo quase todos os caminhos que hoje
seguimos, crentes de que estamos inventando novidades.
Naquela poca das origens da democracia, seiscentos anos antes de Cristo, Atenas, que foi
uma das mais famosas cidades-estado existentes na j falada Grcia, havia conseguido expulsar,
depois de dcadas, todos aqueles que haviam dominado sua poltica de forma tirnica. No lugar
da tirania3 encontramos uma nova forma de se governar a cidade de Atenas: a democracia. Essa
inveno dos atenienses perdurou por mais de cem anos e foi um dos principais legados para o
futuro, inserindo a cidade na Histria.
Afirmamos logo acima, contudo, que as coisas vo se transformando: o novo passa de bom
a ruim com certa velocidade. Assim, a democracia que nasceu como a soluo de um problema,
ou seja, colocar fim tirania, acabou por produzir algo novo e que demandava uma resposta. [...]
o que fazer com aqueles que no se preocupavam com a coeso de uma pequena cidade rodeada
de inimigos, que no trabalhavam para a sua glria maior, mas s pensavam neles mesmos e nas
suas prprias ambies e intrigas mesquinhas? (GREENE, 2000. p.385).
Os sbios atenienses logo descobriram que esse problema poderia levar destruio da
sua nova forma de organizao poltica. Eles se deram conta de que um pequeno grupo de
pessoas poderia, em nome da democracia e dos direitos de liberdade, fomentar a diviso entre a
comunidade democrtica, jogando uns contra os outros para atingir os propsitos individuais em
nome dos acordos coletivos. Em bom portugus, apesar de estarmos passando pela Grcia, esses
indivduos egostas exigiam os seus direitos enquanto sentavam em cima dos seus deveres. O que
fazer? O pessoal de Atenas percebeu que assim no dava. Partiram, ento, para a ao, porque
se as pessoas fossem deixadas totalmente vontade, o caos se instalaria.
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Todas as ameaas e punies que eram utilizadas no passado tirnico da cidade haviam
ficado para trs, para a histria. No presente, no interior de uma ordem democrtica e civilizada,
sacrifcios humanos, braos, pescoos e mos cortadas, por exemplo, no combinavam mais com
o padro de desenvolvimento que a sociedade tinha atingido. A necessidade a me de todas (ou
quase todas) as invenes e no decepcionou dessa vez tambm.
A forma criada para lidar com aqueles que, para atingir seus objetivos individuais, se moviam
contra o bem-estar coletivo foi muito peculiar e interessante. Todos os anos, reunidos na praa do
mercado, os atenienses escreviam em um pedao de concha, o ostrakon, o nome do cidado que
queriam ver fora da cidade por um perodo de dez anos. Esse banimento temporrio abatia-se sobre
aquele cujo nome aparecesse o maior nmero de vezes na contagem dos votos. O ostracismo
ao qual o egosta era submetido funcionou por um largo perodo. Esse plebiscito em defesa dos
interesses coletivos transformou-se em festa, medida que, parece-nos fcil imaginar a sensao,
era uma alegria poder banir aqueles indivduos irritantes, aqueles geradores de ansiedade que
queriam ser superiores ao grupo a quem deveriam servir. (GREENE, 2000. p.385).
Inicialmente, portanto, a preocupao democrtica visava fortalecer o grupo e enfraquecer
o indivduo egosta. As vrias formas que a democracia foi tomando apontam no sentido do
enfraquecimento do grupo e fortalecimento do indivduo. Claro que as discusses clssicas e
acadmicas seguem outros caminhos, passando pelas diferenas da democracia direta e da
representativa, da liberal e da socialista, entre outras. No nosso caso, parece-nos mais interessante
pensar a organizao poltica e a discusso da pluralidade a partir do confronto entre os interesses
do grupo e os do indivduo.
RELEMBRANDO O INCIO
Vamos contar um pouco de uma histria que j nossa conhecida. A democracia, como
a encontramos hoje, tomou sua forma l pelos idos do sculo XIX, principalmente no final dele.
Com a Guerra Civil norte-americana e com a Revoluo Francesa, vimos o aprimoramento do
modelo democrtico, retomado dos gregos. Em Atenas os iguais eram os senhores proprietrios.
Os escravos e no proprietrios no participavam do jogo.
Com a Liberdade, Igualdade e Fraternidade consagradas com a Revoluo Francesa,
pretendia-se ultrapassar o modelo grego, j que era defendida a ideia de que cada cabea era um
voto. No s os proprietrios votariam. Alm disso, se na Grcia todos faziam tudo: o cidado fazia
propostas, leis etc. executava essas mesmas leis e fiscalizava o seu cumprimento. Eles funcionavam
como juzes, legisladores (senadores, deputados e vereadores) e como executivos (presidente
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banhada por um rio que tornava imortal aquele que bebesse de suas guas. Ao tornar-se imortal,
o autor do manuscrito pode vagar pelo mundo durante milnios e descobrir que o conhecimento
estava dado e que ele se aproximava e se distanciava dos homens, de tempos em tempos. As
civilizaes nasciam, floresciam, declinavam e desapareciam. Nosso imortal descobriu, tambm,
que paira sobre aqueles que nada temem e tudo sabem um peso esmagador. Essa sensao
amplifica-se com o passar do tempo, principalmente, porque o viver perde a graa, afinal, no se
vai morrer mesmo.
A morte (ou sua aluso) torna preciosos e patticos os homens. Estes comovem por sua condio de fantasmas;
cada ato que executam pode ser o ltimo [...] Entre os Imortais, ao contrrio, cada ato (e cada pensamento)
o eco de outros que no passado o antecederam, sem princpio visvel, ou o fiel pressgio de outros que no
futuro o repetiro at a vertigem. No h coisa que no esteja como que perdida entre infatigveis espelhos.
(Borges, p.603).
Esse conhecimento da imortalidade e suas consequncias fez este Imortal buscar um outro
rio que devolve mortalidade aquele que era Imortal. Como dispunha de todo o tempo do mundo,
um dia a mortalidade seria encontrada de volta.
No dia 4 de outubro de 1921, o Patna, que me conduzia a Bombaim, teve que fundear em um porto da costa
eritria4. Desci; lembrei-me de outras manhs muito antigas, tambm diante do mar Vermelho, quando era
tribuno de Roma e a febre e a magia e a inao consumiam os soldados. Nos arredores, vi um caudal de gua
clara; provei-a, levado pelo costume. Ao subir margem, uma rvore espinhosa me lacerou o dorso da mo.
A inusitada dor me pareceu muito viva. Incrdulo, silencioso e feliz, contemplei a preciosa formao de uma
lenta gota de sangue. De novo sou mortal, repeti a mim mesmo, de novo me pareo com todos os homens.
Nessa noite, dormi at o amanhecer. (Borges, 1999. p.604).
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privacidade pela rua enquanto se fala ao celular; fazer o possvel e o impossvel para participar
do Big Brother Brasil ou pelo menos assistir). Pessoalmente, a vida volta a fazer sentido quando
recuperamos nossa identidade roubada enxergando as leis como uma proteo individual, e no
coletiva, e quando nos socializamos expondo as nossas vidas privadas. Politicamente, fica mais
fcil usar a democracia representativa em benefcio prprio. Essa inverso, na poltica, produz
a imagem pblica do poltico a partir da exposio de sua vida privada e possibilita ao prprio
tornar privada a coisa pblica, ou seja, usurpar aquilo que pblico como se fosse propriedade
dos polticos. Isto no acontece s com eles. Acontece com todos ns. Sempre achamos que o
espao pblico aquele onde ns nos esbaldamos. O papel da bala no deve ser jogado no interior
do nosso carro, mas sim na rua, no espao pblico, afinal, algum pago para limpar a rua. H
algum tempo, um amigo contou-nos uma histria, que vai entre aspas:
Outro dia, atravessando a rua, vi um carro grande, com um para-choque de ferro colocado
frente do veculo que encobria a placa de identificao. Como eu tambm tenho carro, no to
grande, sei que a placa no pode ficar encoberta.
Essa imagem me incomodou muito. Enquanto caminhava, fiquei pensando a respeito e
fui descobrindo o que me incomodava. Os carros de hoje tm para-choques de plstico. Quem
coloca um pra-choques de ferro, se bater em outro de plstico, vai fazer um grande estrago.
Como eu estava caminhando, para um pedestre atropelado, plstico ou ferro no devem fazer
muita diferena. Contudo, a agresso visual que ver aquele carro alto, todo brilhoso, parando
bruscamente a cinquenta centmetros das suas (no caso, das minhas) pernas no algo muito
agradvel. J no basta o tamanho do carro?
Minha caminhada no foi muito longa, mas ainda pensei que eu poderia ter ficado to mal
impressionado porque estava com inveja do cidado que tinha aquele carro enquanto eu andava
a p. Pode ser... Mas, eu achei que aquele veculo deveria ser retirado de circulao porque ele
infringia claramente a lei. Foi a que percebi uma coisa (ou vrias), que alm de tudo o que j falei
tinha uma outra parte importante que era a demonstrao violenta da superioridade daquele ser
sobre os demais. Alm do carro, ele ainda infringia a lei e continuava solto, dirigindo o carro.
E os outros, como eu, que se constranjam ou arrumem um carro maior ainda e, alm de cobrir
a placa coloquem um sonzo bem alto, daqueles que fazem as janelas tremerem.
Cheguei concluso de que a ausncia de normas, ou melhor, a permissividade em relao
s normas existentes leva a sociedade a regredir, a assumir uma postura de todos contra todos.
Agora no so mais clavas, lanas espadas e porretes, mas carros, armas e cercas eletrificadas.
Cremos que h um ponto de concordncia aqui, ou seja, esse nosso amigo est um tanto
pessimista. Vivemos em um mundo em que as coisas mostram-se fora do lugar o tempo todo. Todos
106
reclamos, mas no entendemos por qu. Talvez seja pelo fato de que essa disputa entre grupo e
indivduos est escondendo os interesses em disputa. Enquanto ficamos atentos aos detalhes, o
principal vai sendo carregado diante de nossos olhos.
OUTRAS FORMAS OU TODAS AS FORMAS JUNTAS
O mundo gira e outras formas organizativas paralelas quelas gestadas no interior do
aparelho de Estado surgiram no processo de formao da democracia. As assim chamadas
organizaes no governamentais proliferaram nas ltimas dcadas e oferecem uma alternativa
s organizaes estatais de representao. Partidos e sindicatos, que foram pioneiros nesse tipo
de organizao no estatal, agora, modificam-se e perdem fora, alm de terem se tornado, em
vrios casos, parte do Estado.
Claro est que esses organismos, assim como seus antecessores, no sentido amplo do
termo, passaram e ainda passam por um processo de institucionalizao, ou seja, parte dessas
organizaes acaba por assumir a representao dos interesses dos seus fundadores e no dos seus
associados. Algo parecido com a corrupo das direes partidrias e sindicais. Mas, ento, de que
lado estamos? De que lado devemos ficar? Do lado dos justos, responderiam para ns. Ser?
Parece-nos muito difcil dizer como as coisas boas (como por exemplo, a democracia) podem
transformar-se em coisas ruins. Talvez essa tarefa se torne mais fcil e prazerosa se apresentarmos
aqui uma das cidades invisveis de Italo Calvino. Esse autor escreveu um livro chamado Cidades
invisveis. Nessa obra, vemos uma descrio de vrios tipos de cidades. A ltima cidade descrita
chama-se Berenice, a cidade dos injustos. Essa cidade produz em seu interior a sua prpria
negao, a Berenice dos justos.
(...) na origem da cidade dos justos est oculta, por sua vez, uma semente maligna; a certeza e o
orgulho de serem justos e de s-lo mais do que tantos outros que dizer ser mais justos do que os
justos , fermentando rancores, rivalidades, teimosias, e o natural desejo de represlia contra os injustos se
contamina pelo anseio de estar em seu lugar e fazer o mesmo que eles. Uma outra cidade injusta, portanto,
apesar de diferente da anterior, est cavando o seu espao dentro do duplo invlucro das Berenices justa
e injusta.
Dito isso, se no desejo que o seu olhar colha uma imagem deformada, devo atrair a sua
ateno para uma qualidade intrnseca dessa cidade injusta que germina em segredo na secreta
cidade justa: trata-se do possvel despertar como um violento abrir de janelas de um amor
latente pela justia, ainda no submetido a regras, capaz de compor uma cidade ainda mais justa
do que era antes de tornar-se recipiente de injustia. Mas, se se perscruta ulteriormente no interior
107
desse novo germe de justia, descobre-se uma manchinha que se dilata na forma de crescente
inclinao a impor o justo por meio do injusto, e talvez seja o germe de uma imensa metrpole.
Pelo meu discurso, pode-se tirar a concluso de que a verdadeira Berenice uma sucesso no tempo de
cidades diferentes, alternadamente justas e injustas. Mas o que eu queria observar outra coisa: que todas
as futuras Berenices j esto presentes neste instante, contidas uma dentro da outra, apertadas espremidas
inseparveis. (Calvino, 2001. p.147).
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ao sol, estendidos num varal, lenis brancos tremulam ao vento. Nenhum rudo ecoa na paisagem. Apenas
a presena discreta, mas consistente do vento se faz sentir, aragem que ondula a relva. Com a mesma fora
impalpvel que o sagrado, por meio do louco, faz sua apario na casa. Cena que no se pode descrever.
Imagens do impensvel. (NOVAES, 1992. p.301).
Para que o mundo continue a girar, para que o novo suceda o velho e com esse movimento
a vida torne-se mais alegre, temos que manter nossos olhos voltados para frente e para o horizonte.
Em nome da pluralidade, da diferena, da igualdade e da democracia muitas bobagens esto sendo
feitas nesse momento que j passou. No podemos perder o rumo, precisamos escolher. Para
sairmos do inferno que formamos, temos que agir. E, segundo nosso bom e velho Italo Calvino,
existem duas maneiras de no sofrer. A primeira fcil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornarse parte deste at o ponto de deixar de perceb-lo. A segunda arriscada e exige ateno e aprendizagem
contnuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, no inferno, e preserv-lo, e abrir
espao. (CALVINO, 2001. p.150).
REFERNCIAS IMEDIATAS
BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionrio de Poltica. 4.ed. Braslia:
Editora Universidade de Braslia, 1992. 2 volumes.
BORGES, Jorge Luis. Obras completas de Jorge Luis Borges. v. 1. So Paulo: Globo, 1999.
GREENE, Robert e ELFERS, Joost. As 48 leis do poder. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.
NOVAES, Adauto (Org.). tica. So Paulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
CALVINO, Italo. As cidades invisveis. 16. reimpresso. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Ditadura uma forma de governo na qual um nico indivduo ou um nico grupo de indivduos detm
todo o poder, decidindo todas as questes em nome do conjunto da sociedade. Enquanto a ditadura
se mantm, o poder no circula para outras mos, o que o oposto da democracia, na qual existe um
revezamento ou uma distribuio maior do poder. Podemos nomear algumas formas de ditadura como a
militar, a partidria, a econmica, entre outras.
2 Democracia Governo do povo, pelo povo e para o povo. com essa definio clssica que estamos
acostumados a pensar a democracia. importante, contudo esclarecermos que a democracia assumiu ao
longo do tempo diferentes formas. Cremos que as duas mais importantes a serem mencionadas aqui so a
direta e a representativa. A democracia direta aquela exercida pelo conjunto da sociedade democrtica,
ou seja, todos os integrantes do grupo executam as funes de propor aes, implementar essas aes
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Tirania Um dos aspectos que caracteriza esse tipo de governo o fato de que ele se constitui margem
da lei. Por meio da opresso, da crueldade, o governo tirnico mantm-se no poder. Ele cria suas prprias
leis, ou as extingue, em funo dos interesses particulares desse governo. Podemos dizer que, alm da
violncia e da crueldade, sua marca distintiva no prestar contas a ningum, da dizermos margem (ou
acima) da lei.
Nota do original H uma rasura no manuscrito; talvez o nome do porto tenha sido apagado.
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O processo de democratizao do Pas, que vem evoluindo aps o regime militar, tem
trazido frustraes sociedade, que assiste estarrecida s manifestaes de desrespeito s regras
estabelecidas.
Acontecimentos recentes levam a questionar o posicionamento da sociedade, que parece
estar paralisada diante dos fatos a que assiste.
Especialmente em relao Administrao Pblica1, lamentvel perceber o desrespeito aos
princpios bsicos e os abusos administrativos que se verificam, como nas licitaes fraudulentas,
nos emprstimos irregulares para acobertar saques aos cofres pblicos, no superfaturamento de
obras pblicas, entre outras prticas lamentveis.
Mas importante lembrar, em momentos como os que ora atravessamos, que o Estado
Democrtico de Direito depende da eficcia2 do controle social sobre o poder, sob pena do
perecimento de suas instituies bsicas. E o Brasil, como se sabe, tem sido pssimo exemplo
nesse sentido.
A observao da realidade social demonstra que a comunidade ainda est mal informada,
especialmente com relao ao funcionamento do aparelho do Estado e dos mecnicos de controle
de sua atividade. Alm disso, evidente a postura acomodada de muitos cidados.
necessrio, nesse momento, um incremento da discusso sobre os mecanismos de controle
dos atos do poder pblico, para que se d maior importncia aos instrumentos constitucionais,
111
criados para a defesa dos direitos relativos cidadania. No se pode esquecer que nossa
Constituio instituiu uma democracia participativa, que convoca os cidados, isolados ou em
grupos, a colaborar na gesto e fiscalizao da coisa pblica.
Vrios so os instrumentos disponveis, em nossa sociedade organizada, destinados
a possibilitar o exerccio pleno da cidadania e a evoluo do processo democrtio. O que as
evidncias mostram, no entanto, que tais instrumentos no encontraram a eficcia esperada no
momento de suas criaes.
Essa constatao pode levar os cidados mais crticos, movidos pela vontade de perceber
evolues mais significativas, a perguntar-se: quais seriam as principais causas a emperrarem o
exerccio da cidadania em nossa realidade? Como poderamos atuar para super-los?
evidente que as causas so mltiplas e as atuaes necessrias para possibilitar a evoluo
almejada so diversas.
Parece inegvel, no entanto, que uma inquestionvel constatao diz respeito ao profundo
desconhecimento e falta de informaes a uma parcela significativa da populao.
INFORMANDO AO CIDADO
Conhecendo Melhor a Constituio Federal de 1988
Contextualizao
Para entendermos nossa Constituio, no basta o pensamento generalizado de que ela a
lei maior do Pas.
preciso um conceito estrutural que conecte o aspecto normativo realidade social, dandolhe sentido.
Se apreciada sem foco na realidade social, temos apenas um conjunto de normas puras,
uma viso parcial. Ela s se complementa quando em conexo com o conjunto que lhe deu
vida, que a alimenta na sua transformao dinmica e para cuja organizao sua existncia tem
sentido a comunidade.
Histria
Em termos histricos, a atual Constituio surgiu dos trabalhos da Assembleia Nacional
Constituinte, instalada em 1. de fevereiro de 1987, envolvendo amplos debates nacionais, tendo
sido promulgada em 5 de outubro de 1988, batizada, poca, de Constituio Cidad pelo ento
Presidente da Assemblia Nacional Constituinte, Ulysses Guimares.
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Estrutura
Em termos estruturais, a Constituio de 1998 est divida em nove ttulos:
1. Dos Princpios Fundamentais;
2. Dos Direitos e Garantias Fundamentais;
3. Da Organizao do Estado;
4. Da Organizao dos Poderes;
5. Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas;
6. Da Tributao e do Oramento;
7. Da Ordem Econmica e Financeira;
8. Da Ordem Social;
9. Das Disposies Gerais.
Entre esses ttulos, um dos mais importantes para o presente estudo o item dois Dos
Direitos e Garantias Fundamentais , no qual est boa parte dos direitos humanos no texto
constitucional, embora muitos deles encontrem-se dispersos em outros tpicos.
Mutabilidade3
Em termos de possibilidades de mudanas em seu contedo, nossa Constituio do tipo
rgida (no flexvel), visto que, para ser alterada, necessita de um processo reformador especfico
que s pode ser realizado pelo chamado Poder Constituinte Reformador, no podendo, em hiptese
alguma, ser objeto de alterao pelo processo legislativo comum que elabora leis. No Brasil, esse
poder reformador s exercido pelo Congresso Nacional, que, como sabemos, composto por
nossos representantes eleitos senadores e deputados federais , que atuam conjuntamente.
Vale ressaltar ainda que, em seu contedo, encontram-se vrias normas que, pela sua
importncia, no podem ser alteradas em hiptese alguma, nem mesmo pelo Poder Constituinte
Reformador. So as chamadas clusulas ptreas.
Entre essas normas imutveis temos as que garantem os direitos humanos de primeira,
segunda e terceira gerao, os quais so especialmente protegidos por constiturem normas de
extrema segurana para os cidados.
Aplicabilidade4 das Normas Constitucionais
Outro importante aspecto que devemos conhecer para melhor entendimento da Constituio
o que diz respeito aplicabilidade de suas normas.
muito comum que pessoas, ao estudar o texto constitucional, apresentem reclamaes do
tipo: a norma est prevista na Constituio, mas na prtica no est sendo aplicada.
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Para melhor entender por que tais situaes acontecem, importante conhecermos as
diferentes situaes de aplicabilidade das normas constitucionais. Assim, podemos ter:
a) Normas de eficcia plena:
So normas que tm aplicabilidade desde a sua existncia na Constituio, vale dizer, as
que tm eficcia desde o seu nascimento como norma jurdica vlida. Exemplificando,
temos os chamados remdios constitucionais, dos quais podemos citar o habeas corpus5,
importante instrumento para a garantia da liberdade dos cidados.
b) Normas de eficcia contida:
Trata-se das normas que podem ser objeto de ao restritiva do poder pblico, restrio
esta que estabelecida por lei, a bem do interesse pblico. Em outras palavras, a norma
constitucional tem eficcia, porm, a garantia nela contida deve ser exercida conforme
o estabelecido em lei. Exemplificando, temos, no direito de livre exerccio de profisso,
uma garantia constitucional que pode ser exercida pelo cidado, desde que cumpra os
requisitos estabelecidos nas leis de regulamentao das diferentes profisses (formao,
licena etc.).
c) Normas de eficcia limitada:
So normas que s tero aplicabilidade plena aps a elaborao de norma inferior que lhe
confira a aplicabilidade. A norma constitucional s ter eficcia com a complementao
legal necessria. Um exemplo pode ser observado na norma referente ao limite das taxas
de juros reais a serem cobrados em operaes de crdito que, segundo a Constituio,
no podem exceder doze por cento ao ano. Porm, essa norma depende de lei para que
tenha eficcia, at o presente no foi implementada por nossos representantes, portanto
ainda ineficaz.
d) Normas constitucionais programticas6:
Estas normas representam verdadeiras cartas de inteno a serem alcanadas
progressivamente. So intenes que queremos alcanar ao longo do tempo. Como
exemplo, temos o combate ao analfabetismo, que deve ser objeto de um intenso trabalho
social, cuja erradicao s ocorrer no transcorrer dos anos.
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a) O Direito de Petio7:
o direito, pertencente pessoa, de chamar a ateno dos poderes pblicos para uma
situao, quer para pedir uma alterao do direito em vigor, buscando um sentido de
maior favorecimento liberdade, quer para denunciar uma leso concreta, pedindo
que a situao seja redirecionada. uma prerrogativa democrtica essencialmente
informal e independente de pagamento de taxas, tendo por finalidade estimular a
participao fiscalizatria dos negcios do Estado e independe de leso a interesse
prprio do peticionrio.
b) O Habeas Corpus:
Os primeiros registros desse importante instrumento de proteo da liberdade remontam
ao Direito Romano. A origem mais apontada, no entanto, a Magna Carta de 1215, na
Inglaterra. No Brasil essa ao foi introduzida expressamente no Cdigo de Processo
Criminal de 1832, tendo sido elevada regra constitucional na Carta de 1891.
Caracterstica importante dessa ao que, apesar de antiga, no envelhece. Diz-se que
povos que no a possuem no so totalmente livres.
Est previsto na Constituio Federal de 1988 como garantia individual do direito de
locomoo, contra ato de abuso de poder. ao constitucional com procedimento especial
simplificado e isenta de custos. Constitui um atributo da personalidade, considerada
verdadeira Ao Penal Popular. Qualquer pessoa, independente de idade, sexo, religio,
profisso ou alfabetizao, pode fazer uso dessa ao em benefcio prprio ou alheio.
Alguns autores entendem ser possvel sua impetrao inclusive por uma pessoa jurdica
em favor de pessoa fsica.
c) O Mandado8 de Segurana:
Essa ao constitucional, destinada proteo de direito lquido e certo, no amparado
por habeas corpus ou habeas data9, instituto mpar de defesa da cidadania, criao do
direito brasileiro, no encontrando similar no direito estrangeiro.
Foi previsto pela primeira vez na Constituio de 1934 e efetivamente criado por Lei
em 1951.
um instrumento de liberdade civil e poltica, conferido ao indivduo para que se
defenda dos atos ilegais ou praticados com abuso de poder.
Pode ser individual ou coletivo, sendo esse ltimo uma novidade inserida pela Constituio
de 1988, destinado proteo de direito lquido e certo de grupo.
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parece razovel a restrio de legitimidade aos cidados em pleno gozo dos direitos
polticos. O mais aceitvel a extenso a todas as pessoas, sem distino de idade, sexo,
nacionalidade ou qualquer outra discriminao.
Importante previso da Lei de Ao Popular que, mesmo em caso de improcedncia,
ficar o autor isento de custas judiciais e do nus de sucumbncia12, salvo se a impetrou
com comprovada m-f. A razo dessa previso proporcionar facilidades s pessoas,
estimulando-as proteo dos bens coletivos, porm, impedindo o uso indevido e leviano
da ao, que deve ser utilizada com responsabilidade, na defesa exclusiva dos bens que
visa proteger.
Meios Alternativos de Soluo de Conflitos
inegvel que a existncia de situaes conflitantes, que coloquem as pessoas em situaes
indefinidas, umas perante as outras, diante de pretenses sobre bens de vida, motivo de angstia
e tenso, manifestando-se, assim, como fator de sofrimento e infelicidade.
A eliminao de conflitos, restaurando e definindo situaes de segurana, algo fundamental
para as pessoas e para a vida em sociedade. Essa eliminao, importante perceber, pode ser
alcanada por diferentes caminhos: por ao unilateral de um dos conflitantes, por ao de ambos
os contendores ou, ainda, por atuao de terceiro.
Quando atuao unilateral, proveniente de um dos conflitantes, podemos ter duas
possibilidades: a sujeio ao direito do outro, consentindo no sacrifcio de seu prprio interesse,
ocorrendo assim a chamada autocomposio; ou, ainda, a imposio de sacrifcio ao interesse
alheio, na chamada autotutela. Esta s admitida, em nosso convvio, em casos excepcionais
(legtima defesa, por exemplo), sendo inclusive considerada como ilcito penal (crime), quando o
cidado a exerce fora dos casos excepcionais permitidos pela lei (o chamado exerccio arbitrrio
das prprias razes).
Quando a soluo obtida por ambos os conflitantes, que procuram formas de ajustar seus
interesses, temos a composio ou conciliao: as partes, tratando reciprocamente do problema,
encontram uma soluo pacificadora.
Quando a atuao de terceiro, pessoa estranha ao conflito, integra sua soluo, podemos
ter trs possibilidades: a chamada defesa de terceiro, em que esse toma, por iniciativa prpria,
a posio de defensor de interesse de um dos conflitantes; a mediao, em que os conflitantes
elegem um mediador, um rbitro para a soluo do conflito; e, por ltimo, quando o terceiro
interveniente o Estado, que chamado por um ou por ambos os contendores, ou ainda pelo
prprio Estado, quando o interesse pblico, a solucionar o conflito, por intermdio do processo.
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A tendncia, durante muitos anos, foi a concentrao, nas mos do Estado, do poder de
solucionar conflitos, reduzindo-se as aplicaes das demais formas acima citadas. A experincia,
no entanto, demonstrou ser esse caminho oneroso e lento, apresentando-se, com o passar do
tempo, insuficiente para garantir as situaes pacificadoras necessrias, especialmente em pases
ainda em desenvolvimento, como o Brasil, com servios pblicos sucateados e ineficientes.
Desafogar a estrutura pblica no momento fundamental, reservando sua ateno para as
situaes mais complexas, mais relevantes, voltadas para interesses maiores, especialmente ao
pblicos coletivos.
Assim, atualmente abrem-se os olhos para as modalidades de soluo de conflitos que
reduzam a participao do Estado, que chamamos meios alternativos de pacificao social.
Podemos citar entre esses meios a conciliao e o arbitramento, expresses dessa moderna
tendncia presentes, por exemplo, nas chamadas convenes coletivas de trabalho e nas comisses
prvias de conciliao na rea trabalhista, ou na Lei de Arbitragem da justia civil. At mesmo a
justia penal, sempre tratada com reservas pelo Estado, vem aderindo tendncia conciliadora,
como nos casos dos chamados Juizados Especiais Criminais.
ESTUDANDO CIDADANIA
De incio, torna-se necessrio estabelecer uma distino conceitual: a diferena entre
cidadania em sentido amplo e cidadania em sentido escrito.
A cidadania em sentido amplo uma concepo consagrada por sua utilizao no uso popular.
Diz respeito queles que esto em pleno gozo de todos os direitos previstos no teto constitucional.
A cidadania em sentido estrito diz respeito quelas pessoas que participam diretamente na
vida poltica do pas, ou seja, as que esto em pleno gozo dos direitos polticos.
A adoo de um ou outro conceito ganha uma especial importncia do ponto de vista
jurdico. Traz reflexos no manejo de alguns instrumentos constitucionais e infraconstitucionais13
de efetivo exerccio da cidadania.
Ao adotar-se o conceito estrito, apenas cidados em pleno gozo dos direitos polticos teriam
legitimidade para manejar tais instrumentos.
Cidadania em Sentido Amplo no Brasil
Como j dito anteriormente, trata-se de conceito que vem sendo consagrado pelo uso
popular, para expressar o pleno gozo de todos os direitos previstos no texto constitucional.
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REFERNCIAS
CINTRA, A. C. A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do processo. 10.ed. So Paulo;
Malheiros, 1994.
FIORILLO, C. A. P. Curso de direito ambiental brasileiro. So Paulo: Saraiva, 2000.
GOMES, L. F. Constituio Federal, Cdigo Penal, Cdigo de Processo Penal. 3.ed. So Paulo: Revista
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GRINOVER, A. P. et al. Cdigo brasileiro de defesa do consumidor. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense
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JHERINGER, R. A luta pelo direito. Rio de Janeiro: Forense, 1968. MORAES, A. Direito constitucional.
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MOTTA, S.; DOUGLAS, W. Direito constitucional. Rio de Janeiro: Impetus, 2000.
PINHO, R. C. R. Teoria geral da constituio e direitos fundamentais. 2.ed. So Paulo: Saraiva, 2001.
PINSKY, J. Cidadania e educao. 3.ed. So Paulo: Contexto, 1999.
SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. 9.ed. So Paulo: Malheiros, 1992.
Administrao pblica Conjunto de rgos e de pessoas jurdicas aos quais a lei atribui o exerccio da
funo administrativa do Estado.
Habeas corpus Instrumento jurdico que a Lei dispe contra a violao ou ameaa liberdade de
locomoo da pessoa.
Habeas data Direito de todos os indivduos de solicitar ao Poder Judicirio a exibio de seus dados
pessoais, que se encontram em registros pblicos ou privados, para que possam deles tomar conhecimento,
fazendo as devidas retificaes, caso estejam inexatos, imprecisos, obsoletos ou que de alguma forma
impliquem discriminao.
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No Brasil contemporneo, como em muitas outras naes, muito se tem discutido sobre
questes relacionadas a direitos, deveres e cidadania.
Temos uma nao marcada por uma peculiar origem histrica de natureza desigual,
que busca na plenitude de sua juventude (para no dizer infncia) estabelecer-se como Estado
Democrtico de Direito, capaz de possibilitar dignidade s pessoas que a compem.
evidente, ao observarmos as condies existenciais da populao, que os desafios a serem
vencidos para a conquista do almejado so bastante significativos.
Como chegar l? Parece necessrio, em princpio, estabelecer alguns referenciais:
a) Uma retomada histrica que possibilite observar a gnese da evoluo social da convivncia
humana;
b) A percepo de que a dinmica das regras de convivncia acompanha as necessidades
da evoluo social;
c) A observao de que as conquistas e evolues, expressas nos direitos e deveres consagrados,
no so ddivas, mas, sim, frutos de rduo trabalho humano;
d) A observao das novas tendncias dos direitos e deveres, ditadas pelas atuais necessidades.
A legislao recente aponta para os chamados direitos e interesses metaindividuais.
Sem descuidarmos de que a humanidade est em constante evoluo, importa prepararmos
nossos jovens a pensar, para o futuro, novas formas de organizaes sociais e polticas, preparandose para enfrentar os desafios das novas necessidades.
COMENTRIOS SOBRE A EVOLUO DOS DIREITOS HUMANOS
Ao analisarmos os direitos humanos, fundamental entender que um estudo desse tema,
para produzir frutos, necessita ser contextualizado, iluminado por um foco, sem o qual pode
tornar-se letra morta. O estudo e entendimento dos direitos humanos e sua evoluo deve ser feito
luz dos acontecimentos histricos que permearam a convivncia humana.
Problemas de convivncia geraram preocupaes, anseios e lutas que culminaram com a
materializao de direitos humanos, adequados a seus tempos e s suas realidades, perdurando
como conquistas irrenunciveis da humanidade.
Costumamos dizer que os direitos humanos, de acordo com seus antecedentes histricos
e evoluo, podem ser classificados em direitos de primeira gerao, de segunda gerao e de
terceira gerao (atualmente j se fala em quarta gerao).
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Ainda que a luta pela proteo jurdica dos cidados remonte a distantes datas, as
declaraes de direito no sentido moderno que hoje conhecemos, instrumentos que consagram
direitos humanos, s apareceram no sculo XVIII. Tais declaraes, em princpio restritas s
comunidades onde surgiram, passaram gradativamente a ter uma abrangncia universalizante,
como preocupaes abstratas da humanidade.
Outra evoluo importante foi no sentido da criao de mecanismos concretos em normas
jurdicas positivas, para assegurar a efetividade, ou seja, sua aplicabilidade concreta, mediante
suas inscries em textos constitucionais, capazes de lhes imprimir eficcia.
Vale ressaltar que a primeira Constituio, em mbito mundial, a concretizar direitos
humanos fundamentais em seu texto foi a Constituio do Imprio do Brasil, de 1824, segundo
Jos Afonso da Silva (1992).
Vejamos alguns aspectos de cada uma das geraes de direitos humanos.
DIREITOS HUMANOS DE PRIMEIRA GERAO
Ao analisarmos os direitos humanos de primeira gerao, tambm chamados direitos de
liberdade, podemos notar uma grande preocupao em assegurar aos cidados os chamados
direitos individuais e polticos clssicos, os quais eram a grande preocupao das pessoas no sculo
XVIII. Assim que, ao observ-los, percebemos que so voltados principalmente a salvaguardar1
valores individuais do cidado, tais como a liberdade, a propriedade e a segurana.
Vrios foram os instrumentos que os veicularam, entre os quais podemos destacar: a Carta
Magna Inglesa, a Declarao de Virgnia, a Declarao Norte-americana, at chegarmos ao mais
destacado, a famosa Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado, de 27/08/1789, adotada
pela Assembleia Constituinte Francesa.
DIREITOS HUMANOS DE SEGUNDA GERAO
Quanto aos direitos de segunda gerao, ditos direitos de igualdade, surgidos no incio
do sculo XX, vale ressaltar os chamados direitos sociais, entre os quais se incluem aqueles
relacionados com o trabalho, o seguro social, o amparo doena, velhice etc.
Algumas de suas principais expresses foram: a Encclica Rerum Novarum, do Vaticano,
a Constituio Mexicana de 1917, a Constituio Alem de Weimar de 1919, entre outras. No
Brasil, culmina com o nascimento da Consolidao das Leis Trabalhistas e com a Lei Eloi Chaves,
que deu origem ao Direito Previdencirio Nacional.
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A crtica de Canado Trindade (2005) ainda mais acirrada quando trata dos reflexos da
classificao fragmentria6 sobre os direitos econmicos e sociais. Segundo ele, para os defensores
dessa classificao, esses direitos so programticos. Por isso, enquanto as discriminaes relativas
a direitos individuais e polticos so absolutamente condenadas, as discriminaes econmicas e
sociais acabam sendo toleradas, porquanto, sendo relativas a direitos programticos, sua realizao
vista como progressiva, o que justifica a existncia de desigualdades. Dessa forma, no entender
do doutrinador, ao invs de ajudar a combater as discriminaes econmicas e sociais, rejeitandoas, a teoria das geraes acaba por toler-las, convalidando as disparidades.
Outra crtica apresentada pelo ilustre professor diz respeito ao fato de que a colocao dos
Direitos Humanos em geraes acaba por passar uma ideia falsa de que as primeiras geraes
criadas j foram conquistadas e incorporadas convivncia humana, o que no corresponde
realidade. Segundo ele, embora j reconhecidos, muitas lutas ainda devero ser desenvolvidas
para dar eficcia s normas de proteo de Direitos Humanos.
Percebe-se, pelo posicionamento do ilustre doutrinador, que a classificao fragmentria,
no obstante trazer uma ideia da historicidade dos Direitos Humanos e facilitar seu estudo,
no pode ser transposta para a realidade, que complexa e dinmica, requerendo uma viso
mais ampla de indivisibilidade e inter-relao entre todos os Direitos Humanos. A classificao
fragmentria dos Direitos Humanos pode estar contribuindo para facilitar o estudo histrico e
individualizado de cada gerao nela proposta. Entretanto, a dinmica da vida em sociedade e a
inter-relao dos direitos no podem ser fragmentadas.
Outra questo a ser considerada quando so tecidas crticas classificao em geraes de
direitos humanos diz respeito argumentao da doutrina, segundo a qual os Direitos Humanos
de primeira gerao so tidos como liberdades negativas, por limitarem a atuao do Estado,
enquanto os direitos de segunda gerao, como liberdades positivas, por exigirem prestaes
do Estado.
Quando nos deparamos com atentados terroristas, que ceifam vidas e restringem liberdades
pelo medo ou por sequestros, percebemos que os direitos vida e liberdade no podem ser
entendidos apenas sob o aspecto das chamadas liberdades negativas, limitativas da atuao do
Estado diante do cidado, mas tambm como liberdades positivas, que exigem prestaes positivas
do Estado, para proteo do cidado e de sua segurana. (ANGIEUSKI, 2005) O mesmo pode ser
dito em relao aos direitos econmicos e sociais. Se, por um lado, so exigidas prestaes positivas
do Estado, que garantem acesso ao trabalho e proteo previdenciria, entre outras, por outro,
exigem-se tambm prestaes negativas, no onerando a economia com tributaes excessivas, ou
no realizando atividades econmicas em substituio iniciativa privada. (ANGIEUSKI, 2005)
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fundamentais e s liberdades bsicas. (TEIXEIRA, 2005) Mas, se a Carta das Naes Unidas
possibilitou a implementao de um documento internacional, tambm produziu um conflito,
impedindo a ingerncia em assuntos internos dos pases. (BIELEFELDT, 2000, p.12)
Esse conflito vem sendo solucionado por uma nova interpretao: a de que determinados
Direitos Humanos bsicos no podem ser considerados assuntos internos exclusivos de uma nao.
Esses direitos, do ponto de vista jurdico, segundo o novo entendimento, extrapolam as fronteiras
da soberania de cada Estado, como assuntos que dizem respeito ao interesse da comunidade
internacional. (BIELEFELDT, 2000, p.12)
importante lembrar, paralelamente ao entendimento dessa nova interpretao, que,
em outros tempos, o direito internacional restringia-se somente regulamentao das relaes
entre Estados soberanos, e as pessoas eram apenas objeto de acordos bilaterais de proteo.
(BIELEFELDT, 2000, p.13)
Inspirada na Carta das Naes Unidas, abriu-se, em 1948, uma discusso que levou
aprovao, em Paris, da Declarao Universal dos Direitos do Homem, marcada pela definitiva
internacionalizao dos Direitos Humanos. Essa declarao, segundo Fbio Konder Comparato,
constituiu o marco inaugural de uma segunda fase na internacionalizao dos Direitos Humanos,
que se encontra em pleno desenvolvimento. (COMPARATO, 2003, p.55-56)
Conforme ensina Prez Luno (apud SOARES, 2002), trata-se de um modelo inspirado
nas ideias de Kant, que idealizou um Estado universal, com cidados universais submetidos
lei superior, garantidora da paz eterna. O modelo, segundo o autor, estaria fundamentado
no jusnaturalismo11, com um retorno ao carter universal e supraestatal dos Direitos Humanos,
considerados como pressupostos para a pacfica convivncia.
Com esse novo modelo ampliaram-se, no que diz respeito titularidade, os sujeitos ativos,
passando-se proteo de todos os homens, indistintamente, e no apenas dos cidados de
determinado Estado, criando-se at mesmo uma titularidade social, com vistas a alcanar a proteo
de direitos de coletividades, grupos e minorias, e no somente individual. (SOARES, 2002)
Releva questionar, diante dessas novas ideias, a natureza das atividades implementadas
pelos organismos internacionais. Bobbio (apud SOARES, 2002) considera que a tutela dos
Direitos Humanos deve ser feita mediante atividades de promoo, controle e garantia.
As atividades de promoo ocorrem quando esses organismos induzem os Estados que no
tm disciplina especfica para a tutela dos Direitos Humanos a introduzi-la, e, aos que j a tm,
a aperfeio-la, o que ocorre tanto em relao ao direito substancial como em relao ao direito
processual. As atividades de controle tm a ver com a verificao do cumprimento e do nvel de
respeito s recomendaes e convenes internacionais, pelos Estados membros do organismo.
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Esse pargrafo, de acordo com o autor, amplia a proteo aos Direitos Humanos, visto que,
embora a denncia de acordos, convenes e tratados internacionais, sempre tenha sido possvel,
a partir dessa emenda constitucional e com essa nova sistemtica, as normas, que por ela forem
inseridas no ordenamento jurdico brasileiro, somente podero ser revogadas por atuao do
Poder Constituinte. (JUNQUEIRA, 2005)
O Brasil e o Tribunal Penal Internacional
Foi adicionado, tambm, ao artigo 5. da Constituio Federal o 4., segundo o qual o
Brasil se submete jurisdio de Tribunal Penal Internacional a cuja criao tenha manifestado
adeso. O Brasil j havia manifestado adeso ao Tribunal Penal Internacional (International
Criminal Court), assinando-o em 7 de fevereiro de 2000 e ratificando-o em 20 de junho de
2002. Porm, a insero da submisso ao Tribunal Penal Internacional no referido pargrafo
da Constituio Federal no apenas uma redundncia. Do ponto de vista jurdico, a obrigao
internacional agora possui fora constitucional. (JUNQUEIRA, 2005)
Federalizao dos Crimes contra os Direitos Humanos
Ao artigo 109, que trata da competncia dos juzes federais, foram adicionadas as
seguintes disposies:
Art. 109. Aos juzes federais compete processar e julgar:
V-A as causas relativas a Direitos Humanos a que se refere o 5. deste artigo;
5 Nas hipteses de grave violao de Direitos Humanos, o Procurador-Geral da Repblica, com a finalidade
de assegurar o cumprimento de obrigaes decorrentes de tratados internacionais de Direitos Humanos dos
quais o Brasil seja parte, poder suscitar, perante o Superior Tribunal de Justia, em qualquer fase do inqurito
ou processo, incidente de deslocamento de competncia para a Justia Federal. (JUNQUEIRA, 2005)
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proposta de federalizao reflete mais uma esperana de realizao da justia e de respeito aos
Direitos Humanos (JUNQUEIRA, 2005).
Reflexo Crtica Novas Tendncias para os Direitos Humanos
Do ponto de vista ideolgico, surge agora, para Comparato, a ltima grande encruzilhada
da evoluo histrica, na qual a humanidade deve escolher: ceder presso da fora militar e do
poder econmico-financeiro, fazendo prevalecer uma coeso puramente tcnica entre os diferentes
povos e estados, ou construir uma civilizao com respeito integral aos Direitos Humanos, segundo
o princpio da solidariedade tica. (COMPARATO, 2003, p.57)
Diante desse importante momento de tomada de deciso, deve haver um amplo debate sobre
a evoluo dos Direitos Humanos, no apenas entre as naes, mas tambm em comunidades
religiosas e grupos sociais, como os partidos polticos, sindicatos e non governamental organizations
(ONGs). (BIELEFELDT, 2000, p.15-16)
Como se percebe atualmente, o desenvolvimento surgiu e se desenrolou como uma espiral
de transformaes, que acabou por afetar o Estado e os Direitos Humanos, criando fatores que
dificultam o exerccio desses direitos, os quais devem ser superados. (SAUERESSIG, 2005)
Esse debate deve considerar que, quando se fala em Direitos Humanos, h a necessidade
de uma sujeio desses direitos s necessidades dos cidados hoje, levando em considerao toda
a transformao tecnocrtica da atualidade. (SAUERESSIG, 2005)
Com a chamada globalizao e a afirmao do pensamento liberal, h o surgimento de
novas necessidades, e o ser humano, buscando realiz-las, acaba ficando comprometido com
novos valores tais como dinheiro, poder e corporativismo. Com isso, vai perdendo sua identidade
e, paralelamente, passa a sofrer pela falta de proteo do Estado.
Do ponto de vista normativo e da eficcia das normas de proteo de Direitos Humanos,
constata-se que, apesar da existncia de inmeros documentos em favor dos Direitos Humanos,
h uma persistncia da humanidade em desviar-se dos objetivos delineados em tais documentos.
(SAUERESSIG, 2005)
Mesmo com a aparente valorizao dos Direitos Humanos durante as ltimas dcadas, na
poltica e no direito internacional o que se percebe pela inflacionria elaborao de documentos
no se deve chegar concluso de que esses direitos esto sendo observados e respeitados, o
que seria enganoso. Em muitos casos, o apoio aos Direitos Humanos no passa de discurso vazio.
Inmeras agresses a esses direitos continuam ocorrendo. (BIELEFELDT, 2000, p.15-16)
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Essas perversidades das relaes humanas podem ser explicadas, em parte, pelos interesses
meramente econmicos afirmados pelos Estados modernos, nos tempos atuais. (SAUERESSIG,
2005) A atual situao mundial, dominada pelo processo de globalizao e pela hegemonia
neoliberal, s acentua e exaspera as contradies entre os Direitos Humanos e a realidade social.
(TOSI, 2005) Todavia, no se pode esquecer que os estados so construes do prprio homem
e seus interesses so reflexos do pensamento humano. (SAUERESSIG, 2005)
Os Direitos Humanos, como hoje se apresentam, no podem ser vistos, de fato, como
universais, porquanto reproduzem a contradio da sociedade moderna entre excludos e includos,
ao invs de garantir uma sociedade mais justa e solidria. (TOSI, 2005) Essa constatao alerta
para o fato de que a universalizao dos Direitos Humanos no deve caminhar no mesmo sentido
da globalizao da economia, comprometida apenas com a lgica do lucro, da acumulao e
concentrao de riquezas, desvinculada de qualquer compromisso com a realizao dos direitos
do homem e de seu bem-estar social. (TOSI, 2005)
O processo de globalizao tem cunho neoliberal, o que significa uma viso de Estado
voltada para a interveno mnima, apenas para garantir a defesa dos direitos de liberdade.
No h compromisso com os direitos de solidariedade, econmicos e sociais. Pelo excesso de
valorizao do processo de globalizao, em detrimento de um compromisso com uma sociedade
mais justa e solidria, desigualdades sociais e econmicas esto surgindo e recrudescendo no
mundo inteiro. (TOSI, 2005)
Solues Apontadas Implementaes Locais
A maior parte das constituies modernas, inclusive a Constituio da Repblica Federativa
do Brasil de 1988, apesar de espelharem-se na Declarao Universal dos Direitos Humanos da
ONU, no garante que as sociedades por elas regidas, sejam sociedades democrticas de fato, e
que vivam em um Estado de direito legtimo.
O que se observa, na realidade, que os Direitos Humanos s so efetivados nas sociedades
onde os cidados so diligentes e participantes. tarefa do ser humano estabelecer uma sociedade
efetivamente organizada, poltica econmica e juridicamente. (BIELEFELDT, 2000)
Embora a democracia implique o reconhecimento de direitos aos cidados, tambm implica
deveres. Entre eles o de permanecerem diligentes e participantes, construindo, com conscincia,
a Histria individual e coletiva, considerando-se inclusive a perspectiva das geraes futuras.
(Direitos fundamentais, 2005)
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Direitos metaindividuais Diz-se dos direitos que esto acima dos interesses do indivduo, dizendo respeito
a interesses de agrupamentos ou coletividades de pessoas.
Direitos difusos Diz-se dos direitos que pertencem a diversas pessoas, indistintamente, unidas por um
vnculo de fato.
Direitos coletivos Diz-se dos direitos de que seja titular um grupo, uma categoria ou uma classe de
pessoas, indeterminadas, mas determinveis, enquanto grupo, categoria ou classe, ligadas entre si, ou com
a parte contrria, por uma relao jurdica de base.
Direitos individuais homogneos Diz-se dos decorrentes de origem comum, ou seja, os direitos nascidos
em consequncia da prpria leso ou ameaa de leso, em que a relao jurdica entre as partes
proveniente do fato lesivo. Sustenta que os direitos individuais homogneos no so direitos coletivos, mas
direitos individuais tratados coletivamente.
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Positivao interna Criao de uma norma jurdica interna contemplando determinado valor da sociedade.
Positivao internacional Criao de uma norma jurdica internacional contemplando determinado valor
da sociedade.
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INTRODUO
Os Direitos Humanos (com este nome) passaram a fazer parte da agenda internacional dos
pases h poucas dcadas, porm, quando voltamos nossos olhos para o passado percebemos que a
sua busca vem de longa data, mesmo que tenha recebido outros nomes ao longo dos sculos como
Direitos Naturais ou Direitos Fundamentais. Voltar ao passado importante porque a Histria
nos mostra a presena de conflitos dentro das mais diversas sociedades desde os tempos mais
remotos, bem como a necessidade de grupos ou indivduos serem protegidos por determinadas
leis ou lutarem para que existam leis que os protejam; o segundo caso, normalmente, o mais
comum: a conquista dos Direitos Humanos mediante a luta social.
Porque h um carter histrico na luta pelos Direitos Humanos que vamos, num primeiro
momento, conhecer um pouco da sua Histria ao longo do tempo com o objetivo de entender
como os Direitos Humanos chegaram a se constituir em Trs Geraes at o final do sculo XX.
Num segundo momento vamos estudar brevemente a trajetria histrica dos Direitos
Humanos no Brasil.
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de domiclio, rapto de crianas, ajuda a escravos fugitivos, receptao de mercadorias roubadas e falso
testemunho eram punidos com a morte, embora se levassem em conta circunstncias atenuantes. O cdigo
expressava tambm as diferenas de classe. Por exemplo, a punio era mais severa quando se prejudicava
um nobre do que quando a vtima era um plebeu.
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grega o homem (cidado) realizava-se; de acordo com Quinto (2001, p. 232) a polis tornava
os homens cidados iguais e perder o espao de participao nesse espao pblico significava
ficar restrito esfera privada juntamente com as mulheres, os escravos e os filhos nascidos de
um casamento, ou seja, com os no cidados. Segundo Cortina (2005, p. 34), ser um cidado
grego significava ser membro de uma comunidade poltica, ou seja, a cidadania estava ligada
ao espao pblico e no aos assuntos privados. Usamos aqui o termo cidadania pela primeira
vez porque esta expresso, historicamente, nasce com os gregos e no futuro, estar ligada ao
nascimento dos Direitos Humanos.
J em relao cidadania romana percebemos um quadro um pouco diferente: por exemplo,
a participao da mulher era mais ampla, podendo a mesma assistir aos espetculos e aos jogos,
participar de banquetes e tambm ser retratada nas artes. Em relao s classes sociais, a sociedade
dividia-se, grosso modo, entre patrcios e plebeus, sendo que os primeiros possuam direitos
civis, polticos e religiosos. Os plebeus, mesmo sendo homens livres, no eram contemplados
pela cidadania, o que gerou inmeros conflitos na sociedade romana. Lentamente foram feitas
reformas que ampliaram a participao dos plebeus, porm, somente com a promulgao da Lei
das Doze Tbuas (nos anos de 451 e 450 a.C.), assegurou-se ao plebeu uma participao poltica
mais expressiva. No final do Imprio Romano j era possvel vislumbrar noes daquilo que seria
a cidadania moderna.
Deveres na sociedade medieval
com o declnio do Imprio Romano, outros tempos so inaugurados na Europa, ocorrendo
o declnio do uso da mo de obra escrava e a lenta constituio do sistema de servido: os servos
tm acesso terra, mas so obrigados a reverter parte da produo agrcola para os senhores
feudais e, ao mesmo tempo, trabalhar nas terras dos senhores sem receber qualquer pagamento;
tendo em vista essas profundas transformaes, ao longo da Idade Mdia foram constitudas trs
classes principais: a classe dos servos, da nobreza e do clero, alm dos homens livres e viles.
Cabia aos senhores feudais exercer as funes de Estado, bem como elaborar leis, julgar causas,
cobrar impostos e mesmo formar exrcitos. Tendo em vista que a riqueza e a participao social
estavam ligadas propriedade da terra, o campesinato ficava excludo de direitos mais amplos.
Por isso, usar o termo cidadania para a Idade Mdia no recomendvel, pois a rgida
sociedade estamental desse perodo, distribuda entre relaes de suserania5 e vassalagem6
limitava uma discusso pblica de fato (no sentido da polis grega) sobre direitos. Mesmo assim,
a despeito da falta de mobilidade entre as classes sociais e de um ethos social mergulhado no
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discusses em torno dos direitos humanos possam se tornar realidade, garantindo a existncia da
plena cidadania a todos os brasileiros.
O Brasil colnia (1500-1822)
logo nos primeiros contatos entre portugueses e os indgenas, que ocupavam o territrio
brasileiro, pode-se perceber uma relao de fascnio por parte dos portugueses registrado na carta
que Pero Vaz de Caminha envia para o rei D. Manuel. O escrivo, de acordo com uma percepo
advinda do final da renascena, enfatiza o que era extico aos olhos dos europeus, deixando
entrever um grande potencial para a regio recm-descoberta. Infelizmente no ficaram registros
das impresses que os indgenas tiveram dos portugueses.
Aps esses primeiros contatos, o recm-descoberto territrio brasileiro foi integrado ao
Imprio Ultramarino Portugus, refletindo ao longo de sua formao colonial os problemas e
mecanismos de conjunto que agitaram a poltica imperial lusa. Inicia-se, assim, a partir de 1530
a produo da cana-de-acar em larga escala, a fim de suprir a demanda pelo acar que vinha
da Europa. A grande questo era onde conseguir a mo de obra para trabalhar na lavoura: havia
os indgenas e os africanos.
Nesse ponto relevante pensar acerca das justificativas para a escravido: a suposta guerra
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justa continua ainda a servir de justificativa para os portugueses, a influncia do Direito Romano
faz com que a escravido seja aceita como natural. H ainda a justificativa religiosa presente
nas bulas pontifcias de 1452 que concedem ao rei de Portugal o direito de conquista sobre
todos os muulmanos, pagos e outros infiis inimigos de Cristo, e sobre os respectivos reinos,
senhorios, territrios e quaisquer possesses e bens, autoriza, alm disso, a reduzir escravido
esses mouros, pagos e demais infiis (GODINHO, sd, p. 181).
O autor Vitorino Magalhes Godinho aponta direitos e deveres atribudos aos senhores e
aos escravos. O escravo tem direito vida, o senhor no pode matar seu escravo, mesmo esse
sendo sua propriedade. O senhor no poderia opor-se a que o escravo constitusse famlia ou
fosse batizado, entretanto na prtica havia uma srie de restries por receio de que tivesse que
libert-los. O senhor tem ainda a obrigao de sustentar o escravo e a famlia, ou deixar-lhe livre
o tempo necessrio para que possa conseguir seu sustento. O que transparece nesse caso que
os chamados direitos dos escravos so antes obrigaes dos senhores que aqueles no dispem
dos meios de fazer cumprir e, portanto dependem inteiramente do bel-prazer e dos interesses dos
ltimos. (GODINHO, sd, p. 186)
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Os senhores de escravos sabiam que lidavam com seres humanos e no com coisas ou
animais. Um cavalo pode ser adestrado, j um homem deve ser convencido a se comportar
como escravo. O chicote, o tronco, os ferros, o pelourinho, a concesso de pequenos privilgios
e a esperana de um dia obter uma carta de alforria ajudaram o domnio senhorial no Brasil,
alcanado assim por meio da habilidade do senhor em infundir o medo, o terror, no esprito
do escravo.
Os homens e as mulheres escravizados lutaram por melhores condies de vida, no se
conformando com a condio em que viviam. A resistncia escravido se dava de diferentes
maneiras: por meio de sabotagens, roubos, sarcasmos, suicdios, abortos, fugas e ainda mediante
a formao de quilombos. A fuga para os quilombos tinha como objetivo alcanar a liberdade,
tarefa difcil em funo de que implicava viver perseguido dali em diante, no somente como
escravo fugitivo, mas tambm como um criminoso.
Mais de trezentos anos de escravido, do sculo XVI at o final do sculo XIX, como
instituio legal, social e econmica, que determinou o estilo de vida do Brasil colnia e imprio,
representam uma realidade fundamental para se compreender as desigualdades raciais no pas
e o aprofundamento da hierarquizao dos direitos e da prpria definio de humanidade, do
humano associado a direitos e das escalas de valor social da pessoa.
Outro ponto a ressaltar, acerca da vida no Brasil colnia, est ligado ateno dispensada
s crianas, meninos e meninas abandonados/rfos, vinculados pobreza, escravido ou aos
cdigos morais que no admitiam mes solteiras
Os padres jesutas foram os primeiros a se ocupar das crianas ndias, abandonados depois que
seus pais eram mortos ou escravizados. Alm das crianas ndias acolhiam filhos e filhas de colonos,
bem como mestios pobres. As crianas abandonadas, segundo a lei, deveriam ser acolhidas pela
municipalidade, sendo essa tarefa assumida pela Irmandade da Santa Casa de Misericrdia.
No sculo XVIII com o crescimento das cidades, aumentou o nmero de crianas
abandonadas, superando a assistncia que as cmaras ou casas de misericrdia podiam oferecer.
Comeava ento a prtica de abandonar recm-nascidos em locais pblicos eram os expostos,
que s podiam contar com a compaixo das famlias que os encontravam. No incio do sculo
XVIII a Santa Casa de Misericrdia do Rio de Janeiro adotou o sistema da roda, j utilizado na
Europa desde a Idade Mdia, o sistema viria ser empregado tambm em outras Santas Casas. As
crianas recm-nascidas contavam com o auxlio de amas de leite contratadas pelas Santas Casas
de cada cidade. A roda, que continuou a ser empregada at 1949, constitua a maior esperana
de sobrevivncia para os enjeitados e expostos.
155
156
a escravido, que negava a condio humana ao escravo, a grande propriedade rural, fechada
ao da lei e um Estado comprometido com o poder privado.
O que se pode perceber que a herana colonial pesou mais na rea dos direitos civis. Estes
podem ser entendidos, segundo coloca Jos Murilo de Carvalho, como direitos fundamentais vida,
liberdade, propriedade, igualdade perante lei, que se desdobram na garantia de ir e vir, de
escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade
do lar e da correspondncia, de no ser preso a no ser pela autoridade competente e, de acordo
com as leis, de no ser condenado sem o processo legal regular (CARVALHO, 2003, p. 9).
Dessa forma, percebe-se que a sociedade brasileira do perodo imperial foi marcada pela
violao aos direitos civis ao longo do sculo XIX, no houve a sua universalidade. Os escravos,
que no eram considerados cidados, no contavam com direitos civis bsicos que lhes garantisse
a integridade fsica. Completando o quadro estava o Estado comprometido com o poder privado.
So inmeras as revoltas que marcaram o perodo, assim como a forma dura e at brutal
como foram combatidas pelo Estado. Durante o Perodo Regencial13 (de 1831 a 1840), os
regentes at tentaram implementar algumas reformas, no sentido de adotar uma poltica liberal
que fugisse das caractersticas absolutistas ainda presentes na realidade brasileira, no entanto
encontraram forte resistncia entre os grandes proprietrios de terras e nos interesses de grupos
locais. Buscaram dar s provncias certa autonomia, assim acabaram por incentivar as disputas
entre foras regionais pelo controle delas, gerando muitas das revoltas do perodo.
Com a antecipao da maioridade do infante Pedro (1840), houve um regresso poltico
marcado por medidas centralizadoras; todo o aparelho administrativo e judicirio encontrava-se
nas mos do governo central novamente. Como resposta novas revoltas se alastraram pelo pas,
com destaque para a Revoluo Praieira ocorrida em Pernambuco no ano de 1848. A revolta foi
fortemente influenciada pelas revolues democrticas que varriam a Europa no perodo, assim
como pela difuso da crtica social e ideias socialistas. No se trata, segundo coloca Boris Fausto,
de uma revoluo socialista, teve como base senhores de engenho ligados ao Partido Liberal que
se rebelavam contra a perda do controle da provncia para os conservadores.
O segundo perodo imperial foi marcado por forte presso pelo fim do trfico de escravos,
fazendo com que em 1850 fosse proclamada a Lei Eusbio de Queiros, que colocava fim ao
trfico de escravos. Fortalecia-se nesse momento o comrcio interno de escravos, a fim de suprir
a crescente demanda por mo de obra que vinha das lavouras de caf. A partir da dcada de
1870 diante do aumento da presso escrava, da deslegitimao da escravido junto sociedade
brasileira e da imagem internacional do Brasil como um pas escravista, tem incio uma poltica
157
estatal de emancipao dos escravizados mediante a promulgao das leis do Ventre Livre14 e dos
Sexagenrios,15 culminado com a libertao dos escravos promulgada pela Lei urea de 1888.
O fim da escravido no trouxe uma melhoria para as condies vividas pelos agora exescravos. A opo pelo trabalho do imigrante nas reas mais dinmicas da economia resultou
em escassas oportunidades de trabalho a eles, sem falar da profunda desigualdade social da
populao negra. Essa desigualdade acabou por reforar o prprio preconceito contra o negro.
Sobretudo nas regies de forte imigrao, ele foi considerado um ser inferior, perigoso, vadio e
propenso ao crime, mas til quando subserviente (FAUSTO, 2010, p. 221).
A primeira Repblica (1889-1930)
a proclamao da Repblica em 1889 reabriu a discusso acerca de quem seria o cidado
brasileiro. O conceito de cidadania moderno est atrelado aos direitos dos cidados universalizados
a partir da Revoluo Francesa e seus desdobramentos. No perodo anterior Revoluo Francesa,
os direitos do homem e do cidado, tal como expressado pela sntese da declarao francesa,
inscreveram-se na Declarao da Filadlfia, que declarou a independncia dos Estados Unidos da
Amrica do Norte em 1776.
O movimento republicano, que vinha se fortalecendo desde 1870, defendia abertamente
a bandeira da cidadania, tal como fora formulada desde a vitria das revolues burguesas
ao longo do sculo XIX. O que se viu nas discusses acerca da cidadania, no entanto, foi a
permanncia da questo da escravido, como uma sombra: como construir a cidadania e a nao
num pas de ex-escravos? Deve-se aqui no perder de foco o contexto do perodo, marcado pelo
paradigma cientfico16 no campo das cincias humanas, fundamentado no positivismo17 e no
evolucionismo Social.18 Era difcil para os intelectuais da poca ver positivamente o futuro de
uma nao marcada pela escravido.
A Constituio republicana de 1891 tida como de inspirao liberal e usava o conceito de
cidadania apropriado da cultura poltica burguesa. Essa Constituio, no entanto, foi precedida
por duas legislaes, que contrariam o paradigma moderno de que a constituio deve preceder as
demais legislaes: o Cdigo Penal de 1890 e a lei do registro e do casamento civil, regulamentando
o direito de famlia. A codificao penal serviu para efetivar o controle social, garantindo prticas
repressivas e autoritrias sobre os trabalhadores livres.
O contraste assim era claro. Enquanto a Constituio, com feies liberais, garantia autonomia
dos Estados, estabelecia os trs poderes, fixava o sistema de voto direto e universal, estabelecia
o direito dos brasileiros e estrangeiros residentes no pas liberdade, segurana individual e
158
propriedade, o Cdigo Penal permitia um controle efetivo sobre os trabalhadores, limitando assim
as prerrogativas presentes na Constituio.
Muitos brasileiros, excludos da cidadania e do acesso terra, vagavam pelos sertes do
pas em busca de trabalho, dentre eles estavam ex-escravos, grupos indgenas e sertanejos, numa
clara oposio, segundo Thomas Skidmore, entre o litoral, densamente povoado, e o interior.
Nesse contexto que pode-se inserir o povoado de Canudos, que representava uma oportunidade
de vida nova.
A populao do povoado crescia medida que a fama do Beato Antnio Conselheiro corria
sertes adentro ganhando adeptos junto a vaqueiros, agricultores e artesos que estavam dispostos
a construir uma nova sociedade, em que se inserissem. No entanto, segundo as doutrinas racistas
em voga na poca, os canudenses eram vistos como mestios cuja natureza instvel era um mau
pressgio para o futuro do Brasil (SKIDMORE, 2003, p. 115.) Foram trs anos de guerra at
a destruio total do povoado, que ficou imortalizado na obra Os Sertes de Euclides da Cunha.
Esse perodo foi marcado assim pela resistncia ante o Estado Oligrquico por meio das
greves operrias, do cangao e do messianismo. As pssimas condies de trabalho nas fazendas
de caf levaram os trabalhadores a se organizar e promover greves por melhores condies de
trabalho, sem que resultados efetivos fossem alcanados. J nas cidades onde se concentravam as
fbricas e os prestadores de servios, as condies de vida no eram muito melhores do que no
campo. Tais condies levaram a um ciclo de greves de grandes propores, entre 1917 e 1920,
nas principais cidades do pas, especialmente Rio de Janeiro e So Paulo, greves essas geradas
pelo agravamento da carestia, em decorrncia da Primeira Guerra Mundial e pela influncia do
processo revolucionrio russo de 1917. O principal objetivo dos trabalhadores era melhorar as
condies de vida e conquistar um mnimo de direitos.
Nesse contexto muitas famlias encontravam no trabalho infantojuvenil um meio de
sobreviver em um ambiente marcado por baixos salrios e um custo de vida elevado. Para os
industriais, o emprego da mo de obra infantojuvenil representava a possibilidade de reduzir
os custos de produo, incorporando crianas e adolescentes como se fossem adultos dentro do
processo produtivo.
As primeiras dcadas republicanas foram marcadas pela utilizao do trabalho de crianas e
adolescentes como forma de reduzir os custos de produo, acentuando dessa forma a espoliao
dos trabalhadores nos estabelecimentos industriais e, num verdadeiro crculo vicioso, manteve-se,
praticamente, como recurso do qual a classe trabalhadora dificilmente poderia abrir mo, no af
de sobreviver (MOURA, 2004, p. 273).
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uma srie de transformaes polticas tomava conta da Europa, instalando governos autoritrios
e reforando a verso de que a democracia liberal estava fadada ao fracasso. Foi um governo
centralizador ao concentrar no governo federal a tomada de decises, empregou a propaganda
e a educao como instrumentos de adaptao do homem nova realidade social, destaque
ao Departamento de Imprensa e Propaganda, criado com o intuito de doutrinar e controlar as
manifestaes do pensamento no pas.
Em 1937 foi promulgada a quarta Constituio brasileira cuja essncia, autoritria e
centralista, a colocava em sintonia com os modelos fascistas de organizaes poltico-institucional
implantadas em outras partes do mundo, rompendo assim com a tradio liberal presente nas
constituies anteriores.
Segundo levantamento realizado por Mrio Fabrcio Fleury Rosa, entre os anos de 1930
a 1945 foram criadas treze agncias20 voltadas proteo social brasileira. Essa sequncia
demonstra os avanos na rea social promovida durante o perodo de governo de Getlio Vargas.
No perodo em que as liberdades polticas estavam suprimidas, como foi o caso durante o perodo
de 1937 a 1945, as conquistas sociais foram ampliadas.
Aps a queda do Estado Novo em 1945 inaugura-se o chamado perodo democrtico brasileiro
que se encerra com a instaurao da Ditadura Militar em 1964. Esse perodo foi marcado pela
redemocratizao constitucional do pas, j no seu prembulo a nova Constituio 1946 deixava
clara a inteno de que sua promulgao visava instaurao de um regime democrtico no pas.
Politicamente o perodo marcado pelo controle poltico das massas, sendo realizado por
lderes populistas e por grupos oligrquicos21. Destaque deve ser dado ainda aos movimentos de
resistncia dos trabalhadores urbanos e rurais. Ressalta-se nesse contexto a criao do Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana CDDPH, por meio da Lei n. 4.319, de 16 de
maro de 1964, com membros de setores representativos, ligados aos direitos humanos, e com
importncia fundamental na promoo e defesa dos direitos humanos no Pas.
A principal atribuio do Conselho receber denncias e investigar, em conjunto com as
autoridades competentes locais, violaes de direitos humanos de especial gravidade com abrangncia
nacional, como chacinas, extermnio, assassinatos de pessoas ligadas a defesa dos direitos humanos,
massacres, abusos praticados por operaes das polcias militares, dentre outros.
O projeto de lei para que o Conselho fosse criado foi apresentado Cmara em 1956, no
entanto somente em 1964 que foi aprovado e sancionado pelo presidente Joo Goulart no dia
16/03/1964, ironicamente quinze dias antes do golpe militar.
162
Destaca-se aqui a palavra salvo colocada aps mencionar que no haver pena de morte...
Os partidos polticos foram suprimidos, restaram dois a ARENA, Aliana Renovadora Nacional,
como partido governista, e o MDB, Movimento Democrtico Brasileiro, como oposio consentida.
Ao longo do perodo ditatorial foram promulgados dezessete Atos Institucionais, dentre
eles merece destaque o Ato Institucional n. 5 AI5 promulgado em 13/12/1968. Com ele
foi suspensa a garantia do habeas corpus, para determinados crimes, alm disso, foi empregado
para assegurar ao presidente o poder de: decretar estado de stio, intervir nos Estados sem limites
constitucionais, suspender direitos polticos e restringir o exerccio de qualquer direito pblico
ou privado, cassar mandados eletivos, decretar o recesso do Congresso Nacional, assim como
das Assembleias Legislativas e das Cmaras de Vereadores, excluir da apreciao judicial atos
praticados de acordo com suas normas e atos complementares.
Conforme citado anteriormente, em maro de 1964 foi sancionada a criao do Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH). O Conselho foi instalado pelo presidente
Arthur da Costa e Silva no ano de 1968, 50 dias antes de promulgar o AI5. Nos governos dos
generais Emlio Garrastazu Mdici e Ernesto Geisel os membros do CDDPH chegaram a se reunir
em sigilo, a simples meno aos Direitos Humanos soava como contestao ao regime instalado.
No campo econmico deve-se destacar o chamado Milagre Brasileiro. Por meio da
combinao de um extraordinrio crescimento econmico com taxas relativamente baixas de
inflao, foi possvel um crescimento mdio do PIB de 11,2% ao ano. O crescimento econmico
acelerado trouxe consigo a concentrao de renda, segundo coloca Boris Fausto a poltica
econmica de Delfim Netto estava baseada na premissa de primeiro promover o crescimento do
bolo, para depois reparti-lo. Dessa forma os aspectos negativos do milagre foram principalmente
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cidadania/direitos-do-cidadao/declaracao-universal-dos-direitos-humanos/print>.
Declogo Conjunto de leis que, de acordo com a Bblia, foram transmitidas por Deus ao profeta Moiss.
Cidade-Estado uma cidade independente e que possui o seu prprio governo e suas prprias leis.
Vassalagem a relao entre o vassalo e o suserano e na qual o vassalo est sujeitado ao senhor feudal,
devendo-lhe fidelidade.
10 Reforma Protestante Movimento religioso iniciado por Martinho Lutero, monge alemo, na Europa no
sculo XVI, e que criticava a Igreja Catlica e seus abusos em relao cristandade.
11 Estado de Bem-Estar Social Situao na qual o Estado promove emprego, sade, educao e regulamenta
a economia para o bem-estar do seu cidado.
12 Guerra justa A guerra s era permitida aos cristos quando fosse o ltimo recurso para alcanar a paz.
Deve ser declarada a partir de uma causa justa; por uma autoridade legtima; deve haver um bom propsito
em quem a declara; e ser desenvolvida com retido.
168
13 Perodo Regencial Perodo posterior abdicao de D. Pedro I. Nesse perodo o pas foi regido por
figuras polticas em nome do imperador at a maioridade antecipada deste, em 1840. A princpio os
regentes eram trs, passando a ser apenas um, a partir de 1834.
14 Ventre Livre Proclamada em 1871, declarava livres os filhos de mulher escrava nascidos aps a lei,
os quais ficariam em poder dos senhores de suas mes at a idade de oito anos. Depois dessa idade os
senhores podiam optar entre receber do Estado uma indenizao ou utilizar os servios do menor at
completar 21 anos.
15 Sexagenrio Proclamada em 1885, concedia liberdade aos cativos maiores de sessenta nos e estabelecia
normas para a libertao gradual de todos os escravos, mediante indenizao.
16 Paradigma cientfico Modelo de cincia que serve como referncia para todo um fazer cientfico durante
uma determinada poca ou um perodo de tempo demarcado.
17 Positivismo Corrente de pensamento formulada na Frana por Auguste Comte (1798-1857). O termo
identifica a filosofia que busca seus fundamentos na cincia e na organizao tcnica e industrial da
sociedade moderna. Segundo essa concepo o mtodo cientfico o nico vlido para se chegar ao
conhecimento.
18 Evolucionismo Social Segundo Orlando Sampaio Silva, o evolucionismo social concebe o transcurso da
vida do homem, de sua sociedade e de sua cultura subordinado a uma lei que se inspira no evolucionismo
biolgico. Seria uma sequncia linear, na qual a sociedade e a cultura avanariam de estgios atrasados ou
inferiores para estgios adiantados ou superiores, mediante um processo de desenvolvimento ou de progresso.
19 Populistas Forma de governo em que os presidentes se mostram sensveis s presses populares.
Fortalecida pela personalidade de presidentes paternalistas e autoritrios, contornavam os conflitos sociais
garantindo direitos aos trabalhadores. Perodo de crescimento urbano, industrializao e corporativismo
20 Treze agncias So elas: Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio MTIC em 1930; o Instituto
de Aposentadoria e Penses dos Martimos IAPM em 1933; o Instituto de Aposentadoria e Penses
dos Comercirios IAPC ; e o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Bancrios IAPB ambos em
1934. Em 1938, foram criados dois institutos, o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Empregados
em Transportes e Cargas IAPETC e o Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industririos IAPI.
Em 1940, foi criado o Servio de Alimentao da Previdncia Social SAPS. A Legio Brasileira de
Assistncia LBA e o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI foram criados em 1942.
O Servio Nacional de Aprendizagem Comercial SENAC , o Servio Social da Indstria SESI , o
Servio Social do Comrcio SESC e a Fundao Cultural Palmares FCP foram criados em 1946.
21 Oligrquicos Os grupos oligrquicos so formados por minorias que detm o domnio da cultura, da
poltica e da economia de um pas.
22 Constituio Cidad A Constituio Brasileira proclamada em 1988 foi apropriadamente batizada de
Constituio Cidad porque era o Brasil, nessa poca, um pas recm-sado da ditadura militar, em que os
princpios constitucionais haviam sido deixados de lado.
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Assim como a prpria existncia humana depende da existncia de outras pessoas, a moral
tambm depende dos outros? No haveria moral seno num mundo construdo por outros? No
poderamos dizer, por exemplo, que h regras naturais para orientar a conduta humana?
As regras bsicas que dizem respeito ao prprio indivduo e sua preservao e integridade
pessoal nos so dadas na forma de instintos: a natureza nos dotou de mecanismos automticos
de resposta a determinadas situaes vitais. No h regra moral para comer pelo menos uma vez
ao dia, nem para se defender de uma ameaa qualquer: somos geneticamente programados para
agir de modo a preservar a prpria existncia. Contudo, sobre essas regras naturais no h nem
mesmo condies de pensar em termos de moralidade, pois elas no permitem a livre escolha do
indivduo nem a conscincia, isto , a responsabilidade pessoal sobre elas. um trao importante
das regras morais, portanto, a plena liberdade do indivduo (a possibilidade de aderir ou no a
elas) e a sua conscincia (a capacidade de responder por, o que significa responsabilidade).
Contudo, sobre a natureza instintiva, podemos imprimir padres de comportamento com
dimenso moral. Desse modo so construdas as normas que orientam os hbitos de alimentao,
de relaes sexuais, de autodefesa e assim por diante. Isso significa que, sobre a natureza dos
instintos, onde no h liberdade, os seres humanos inscrevem elementos que os tornam livres.
J entre os povos primitivos3 vai sendo verificado este processo de educao moral dos hbitos
instintivos, a fim de configurar meios de sobrevivncia mais adequados aos seres humanos. Nesse
sentido, pode-se dizer que a tica um instrumento para a construo de um mundo e de uma
sociedade mais sustentveis.
ELEMENTOS IMPLICADOS NA CONDUTA MORAL
Uma vez em sociedade, a moral passa a ter sentido pleno, porque encontra os elementos
fundamentais que a constituem: a lei, a liberdade, o sujeito individual e o outro. Sem esses quatro
elementos, no se pode pensar a moral. E cabe moral ajustar de tal modo esses elementos a
fim de se chegar ao equilbrio necessrio para que a moral leve felicidade (esse seu principal
objetivo). Sem equilbrio entre esses elementos fundamentais, a supervalorizao de um em
detrimento do outro pode levar a desvios. Por exemplo: valorizar demasiadamente o sujeito pode
levar ao egosmo, isto , centralizao do prprio eu, em detrimento dos outros. Levada ao
extremo, a atitude egosta destri toda possibilidade de construo de uma sociedade, pois o
elemento principal que sustenta o edifcio social a mtua colaborao entre seus membros. Isso
no possvel quando cada um pensa apenas em seus prprios interesses. No h sociedade onde
172
reina o egosmo4. No h sustentabilidade onde cada qual pensa apenas em seus interesses. A
sustentabilidade nasce a partir de um interesse comum de todos pelo cuidado de todos, formando
uma espcie de corrente em benefcio do bem5.
De outro lado, se o elemento central for o outro, o que resulta disso? Resulta a submisso.
Assim acontece com alguns cnjuges, por exemplo, que se esquecem de si e vivem apenas para
o outro. Os com os pais que esquecem de si para viver apenas para os filhos. Ou, ainda, com
os fiis religiosos que vivem em funo de suas crenas. Tanto quanto o egosmo, que centraliza
o prprio indivduo, a centralizao do outro desequilibra a vida moral. No se pode imaginar
uma sociedade de submisso, a no ser num regime totalitrio, em que todos vivem submissos
vontade de um outro absoluto.
Quando o elemento central a lei, tambm se percebe um desequilbrio na vida moral.
Pode-se chamar tal desequilbrio de legalismo. A lei colocada acima de tudo, acima mesmo
das pessoas. Esquece-se de que a lei foi feita para as pessoas e no as pessoas para a lei. As
leis religiosas se tornam, com frequncia, alvo da atitude legalista: as pessoas cumprem os ritos
e os preceitos religiosos como se eles bastassem por si mesmos, esquecendo-se das pessoas, do
prximo, das aes de solidariedade e de respeito pelos outros. Inclusive alguns lderes religiosos
podem ser acometidos do desvio moral do legalismo: cumprem todos os ritos, ponto por ponto,
mas so incapazes de se relacionar bem com as pessoas que frequentam seus templos e igrejas.
Finalmente, o elemento que pode estar tambm no centro da vida moral a liberdade.
Evidentemente ela um valor (assim como so valores tambm a lei, o outro e a prpria
individualidade). Contudo, quando a liberdade passa a ser tomada de modo absoluto, como se
apenas ela fosse importante, surge aquilo que denominamos libertinagem ou falsa liberdade.
Algumas pessoas que no querem assumir compromissos, dizem no seguir regra alguma, no se
comprometem com ningum e com nada, fazem apenas o que realmente desejam, podem se achar
plenamente livres. Contudo, so escravas da prpria ideia de liberdade. Porque a liberdade no
implica a pura e simples ausncia de impedimentos e de obrigaes, mas a possibilidade de dizer
sim ou no com conscincia. Alguns filhos querem independncia dos pais para poderem fazer
o que bem entendem. Isso liberdade? No, isso libertinagem. a liberdade deformada pela
absolutizao de si mesma.
Portanto, a vida social (e poltica, portanto) terreno propcio para o desenvolvimento de
uma reflexo tica que leve em considerao a natureza prpria da vida coletiva dos homens e
seus esforos responsveis6 pela construo de alternativas mais sustentveis de vida.
173
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Diferente do pblico, lugar onde a vida se constri pela participao ativa de todos, a
sociedade de massa elimina a coparticipao.
A esfera pblica, enquanto mundo comum, rene-nos na companhia uns dos outros e contudo evita que
colidamos uns com os outros, por assim dizer. O que torna difcil suportar a sociedade de massas no o
nmero de pessoas que ela abrange, ou pelo menos no este o fator fundamental; antes, o fato de que
o mundo entre elas perdeu a fora de mant-las juntas, de relacion-las umas s outras e de separ-las.
(ARENDT, 2001, p. 62)
175
Essa situao acontecia apenas com o homem primitivo? Apenas ele vivia em estado de
natureza? claro que no. O mesmo acontece quando no se reconhecem as leis e os direitos de
outras pessoas e sociedade. Pensemos, por exemplo, na conquista da Amrica pelos espanhis
e portugueses. O que eles fizeram com os habitantes nativos das Amricas? O mesmo aconteceu
com os pases africanos que se tornaram colnias europeias: seus povos foram explorados e seus
cidados foram feitos escravos. Pensemos, ainda, no que os Estados Unidos tm feito em relao
aos pases do Oriente Mdio: a invaso do pas, a morte de seus cidados, a apropriao de seus
bens, evidentemente em razo de seus prprios interesses. Portanto, Hobbes quer mostrar que
176
o estado de natureza no uma forma primitiva de vida social, mas algo que se desvela sempre
que os interesses egostas do homem se manifestam. E por isso que, entre os homens, segundo
Hobbes, permanece uma eterna desconfiana em relao aos outros homens (mesmo que algum
teime em admitir que as coisas se do desse modo):
Poder parecer estranho a algum que no tenha considerado bem estas coisas que a natureza tenha assim
dissociado os homens, tornando-os capazes de atacar-se e destruir uns aos outros. E poder portanto talvez
desejar, no confiando nessa inferncia, feita a partir das paixes, que a mesma seja confirmada pela
experincia. Que seja portanto ele a considerar-se a si mesmo, que quando empreende uma viagem se arma
e procura ir bem acompanhado; que quando vai dormir fecha suas portas; que mesmo quando est em casa
tranca seus cofres; e isto mesmo sabendo que existem leis e funcionrios pblicos armados, prontos a vingar
qualquer injria que lhe possa ser feita. Que opinio tem ele de seus compatriotas, ao viajar armado; de seus
concidados, ao fechar suas portas; e de seus filhos e servidores, quando tranca seus cofres? No significa isso
acusar tanto a humanidade com seus atos como eu o fao com minhas palavras? Mas nenhum de ns acusa
com isso a natureza humana. Os desejos e as paixes do homem no so em si um pecado. Nem tampouco o
so as aes que derivam dessas paixes, at ao momento em que se tome conhecimento de uma lei que as
proba; o que ser impossvel at ao momento em que sejam feitas as leis; e nenhuma lei pode ser feita antes
de se ter determinado qual a pessoa que dever faz-la. (HOBBES In: WEFFORT, 2000, p. 59)
Portanto, nossa vida social precisa ser regrada, pois, em estado de natureza, o homem no
tem condies de garantir com que seus direitos sejam preservados. Nem mesmo conscincia ter
de seus direitos e, em consequncia, de seus deveres.
O estado de natureza , por assim dizer, um estado em que o homem tem direito a tudo,
como afirma Hobbes: O direito de natureza, a que os autores geralmente chamam jus naturale,
a liberdade que cada homem possui de usar seu prprio poder, da maneira que quiser, para
a preservao de sua prpria natureza, ou seja, de sua vida; e consequentemente de fazer tudo
aquilo que seu prprio julgamento e razo lhe indiquem como meios adequados a esse fim.
(HOBBES In: WEFFORT, 2000, p. 57) Assim, ... a condio do homem (...) uma condio de
guerra de todos contra todos, sendo neste caso cada um governado por sua prpria razo, e no
havendo nada, de que possa lanar mo, que no possa servir-lhe de ajuda para a preservao de
sua vida contra seus inimigos, segue-se daqui que numa tal condio todo homem tem direito a
todas as coisas. (HOBBES In: WEFFORT, 2000, p. 60)
Contrariamente a Hobbes, porm, Locke16 afirma que o estado de natureza17 um estgio
pr-social e pr-poltico caracterizado pela mais perfeita liberdade e ordem.
O estado de natureza era, segundo Locke, uma situao real e historicamente determinada pela qual passara,
ainda que em pocas diversas, a maior parte da humanidade e na qual se encontravam ainda alguns povos,
como as tribos norte-americanas. Esse estado de natureza diferia do estado de guerra hobbesiano, baseado
na insegurana e na violncia, por ser um estado de relativa paz, concrdia e harmonia. Nesse estado pacfico
177
os homens j eram dotados de razo e desfrutavam da propriedade que, numa primeira acepo genrica
utilizada por Locke, designava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens como direitos naturais do ser
humano. (MELLO. In: WEFFORT, 2000, p. 84-85)
178
pequenas famlias, roubar-se e espoliar-se uns aos outros sempre foi uma ocupao legtima, e to longe de
se considerar contrria lei de natureza que quanto maior era a espoliao conseguida maior era a honra
adquirida. (HOBBES In: WEFFORT, 2000, p. 61)
Cabe perguntar, sem dvida, a servio de quem e de que o Estado atua. Ele se presta ao
servio de todos ou de alguns grupos privilegiados? Veja-se o que a situao poltica do pas,
atualmente, tem mostrado (usurpao do poder, utilizao da mquina do Estado para garantir
privilgios individuais etc.). Ele est a servio da pessoa ou da propriedade? Pessoas morrem de
fome enquanto se defendem o lucro e o crescimento econmico do pas (crescimento que no
para todos). Estas questes levam a refletir sobre os aspectos ticos da poltica. So problemas que
precisam ser refletidos na escola, na famlia e na sociedade, de modo geral.
TICA E PODER
As relaes de poder se constituem a partir da organizao social. So necessrias para o
funcionamento harmonioso da comunidade humana. Nesse sentido, o poder serve ao bem comum.
Contudo, o poder pode se deturpar e passar a servir a interesses pessoais ou de grupos.
O que se assiste no cenrio poltico brasileiro, nos ltimos tempos, a uma profunda
inverso de valores. Os interesses pessoais (em defesa dos quais se usa meios lcitos e ilcitos)
dominam as preocupaes de alguns quem exercem, em nome do povo, cargos de poder.
A corrupo poltica19 revela que, numa sociedade em crise de valores (o bem e o mal so
confundidos, a justia e a injustia parecem ter o mesmo peso, as pessoas j no sabem mais o
que o certo e o errado), vale a moral do vale tudo.
179
Robinson Cruso um romance de Daniel Defoe, publicado originalmente em 1719, na Inglaterra. Escrita
em forma de cartas, a obra a autobiografia fictcia do personagem-ttulo, um nufrago que passou 28
anos em uma remota ilha tropical prxima a Trinidad, encontrando canibais, cativos e revoltosos antes
de ser resgatado.
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Sugesto de link: Para a compreenso ampliada da noo de condio humana, proposta por Hannah
Arendt, ver o artigo disponvel em: <http://www.mundodosfilosofos.com.br/a-condicao-humana-hannaharendtt.htm>.
Indicao de vdeo: Um bom filme para compreender este processo de criao das normas morais
entre os povos primitivos A guerra do fogo, que pode ser acessado em: <http://www.ustream.tv/
recorded/5564454>.
Indicao de link: Para aprofundar a questo do egosmo e sua relao com a tica, pode-ser ver o artigo
disponvel em: <http://www.anda.jor.br/03/01/2011/explicando-por-que-o-egoismo-nao-e-etico>.
Indicao de filme: Sobre este tema, pode-se aproveitar a reflexo proposta no filme A corrente do
bem. Uma cena de especial significado encontra-se disponvel em: <http://www.youtube.com/watch?v=
NUtlhJlgKTw&feature=related>.
Indicao de link: Sobre o tema da tica e da responsabilidade, no mbito da democracia, ver o artigo
disponvel em: <http://www.achegas.net/numero/34/cabral_34.pdf>.
Indicao de link: Sobre este tema, ver o artigo disponvel em: <http://www.fflch.usp.br/dh/heros/
excerpta/castoriadis/democracy.htm>.
8 Grupo de pensadores que antecederam os Filsofos Socrticos (Scrates, Plato e Aristteles e seus
seguidores). Eles eram considerados sbios, sobretudo por convencerem as pessoas a partir de seus
mtodos de argumentao. Para a poltica de Atenas, exerceram papel importante, divulgando a ideia da
poltica como construo coletiva de todos os cidados pelo uso da palavra.
Indicao de link: Para leitura complementar acerca dos sofistas, ver o artigo disponvel em: <http://
www.brasilescola.com/filosofia/os-sofistas.htm>.
9
Indicao de link: Para compreender melhor o conceito de sociedade de massa, ver o artigo disponvel
em: <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_textos/sociedade_de_massa.htm>.
10 Indicao de link: Para compreender melhor a relao entre pblico e privado, sobretudo no que diz
respeito questo do mercado e da sociedade atual, ver o artigo disponvel em: <http://www.scielo.br/
scielo.php?pid=S0102-64451991000200008&script=sci_arttext>.
11 Indicao de vdeo: Sobre a questo do regime militar, no Brasil, vejam-se os vdeos disponveis em: <http://
www.youtube.com/watch?v=Y6_Q2u9qgXE> e <http://www.youtube.com/watch?v=0GrvZoiIqpE>.
12 Indicao de link: Para uma compreenso ampliada do contratualismo, ver o artigo disponvel em:
<http://www.ifl.pt/private/admin/ficheiros/uploads/4e5a7f050e30f8d591575b5317671f72.pdf>.
13 Aristteles (384-322 a.C.) foi um filsofo grego, aluno de Plato e professor de Alexandre, o Grande. Seus
escritos abrangem diversos assuntos, como a fsica, a metafsica, as leis da poesia e do drama, a msica, a
lgica, a retrica, o governo, a tica, a biologia e a zoologia. Juntamente com Plato e Scrates (mestre de
Plato), Aristteles visto como um dos fundadores da filosofia ocidental.
14 Indicao de link: Sobre o conceito de animal poltico, segundo Aristteles, ver o artigo disponvel em:
<http://www.brasilescola.com/filosofia/o-conceito-animal-politico-aristoteles.htm>.
15 Thomas Hobbes (1588-1679) foi um matemtico, terico poltico, e filsofo ingls, autor de Leviat (1651)
e Do cidado (1651). um dos principais representantes do pensamento absolutista ingls.
181
16 John Locke (1632-1704) foi um filsofo ingls e idelogo do liberalismo, sendo considerado o principal
representante do empirismo britnico e um dos principais tericos do contrato social.
17 Indicao de link: Sobre o conceito de estado de natureza, ver o artigo disponvel em: <http://www.
cefetsp.br/edu/eso/filosofia/contratualistaschaui.html>.
18 Indicao de link: Para aprofundar este tema, ver o artigo sobre a concepo moderna de Estado,
disponvel em: <http://www.cedap.assis.unesp.br/cantolibertario/textos/0007.html>.
19 Indicao de link: Sobre o tema da corrupo poltica, veja-se o artigo disponvel em: <http://www.
conamp.org.br/Lists/artigos/DispForm.aspx?ID=168>.
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A criao de uma vida nova um momento mgico, que jamais se repete. Cumprindo a
fantstica misso da espcie humana, o espermatozoide e o vulo so os primeiros personagens da
histria humana. Eles se interpenetram e se fundem dando origem vida e nesse momento nico
escrevem o primeiro captulo do nosso destino.
At a ocasio do nascimento, a nica realidade do feto o universo vibracional da me.
O nascimento sem violncia comea antes do parto propriamente dito. Inicia-se no instante em
que a mulher sabe que est grvida. Ela precisa manter, alm de hbitos saudveis, uma atitude
positiva, segura e instintiva. O papel da me importante para a formao do psicolgico do
beb. Os acontecimentos que ocorrem entre me e filho so fundamentais para a adequada
estruturao da personalidade do beb e extremamente essenciais para o seu desenvolvimento
emocional, social e cognitivo saudvel. A gestao no pode ser algo mgico apenas para a me.
extremamente necessrio que o pai tambm participe e junto com a me, compartilhe sentimentos
de alegria, tristeza, preocupao, medo, sonhos e angstias.
To logo saiba da gravidez, a mulher deve procurar um posto de sade para fazer uma
consulta com um obstetra, iniciando o acompanhamento pr-natal que durar todo o tempo
de gestao at o parto. No pr-natal, o obstetra ir avaliar as condies fsicas da me e o
desenvolvimento do beb por meio de exames clnicos, laboratoriais e(ou) ultrassonografias.
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desenvolvimento emocional, cognitivo e psicomotor. Alm disso, o leite materno mais fcil de
digerir, limpo e est sempre pronto, na temperatura adequada.
Para a me, o aleitamento materno logo aps o nascimento faz o tero voltar ao tamanho
anterior mais rapidamente, reduzindo o sangramento ps-parto e evitando as anemias, ajuda
a prevenir a depresso ps-parto e a perder mais rapidamente o peso que ganhou durante a
gravidez e tambm diminui o risco de a me ter cncer de mama, endomtrio e ovrio.
Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS) e o Ministrio da Sade do Brasil, bem
como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), recomenda-se a amamentao exclusiva por 6
meses e o aleitamento materno complementado por alimentos seguros, adequados e saudveis at
os 2 anos de idade. Para manter uma boa produo de leite, amamente com frequncia, deixando
o beb esvaziar bem o peito. Quanto mais o beb mama, mais leite a me ir produzir. No d ao
seu filho chs, gua, sucos ou outros leites nos primeiros 6 meses, exceto se houver recomendao
mdica. Se por algum motivo voc no puder amamentar, no oferea o peito de outra me.
Procure um profissional da sade para orientaes.
O controle do desenvolvimento fsico e mental dever ser acompanhado por profissionais,
mdicos e psiclogos em intervalos regulares preestabelecidos as chamadas consultas nos
postos de sade, onde sero avaliados, vacinados e orientados, caso haja a necessidade de
quaisquer encaminhamentos a outros profissionais para avaliao.
O contato com professores de educao infantil, creches ou escolas importante, porque
ajudar as famlias a aprender como melhor estimular a criana, o que acarretar crescimento
e desenvolvimento adequados realidade de um mundo atual e o melhor momento para a
interferncia, se necessria, visando sanar as falhas no ambiente familiar.
O objetivo preparar melhor a criana para que chegue pr-escola, ao redor dos 3-4
anos, sem maiores problemas fsicos ou mentais que possam retardar o seu crescimento e
desenvolvimento, pois o diagnstico precoce favorece o tratamento precoce com sucesso e, na
maioria das vezes, sem sequelas.
Ao final da 1. infncia, percebe-se se a criana de 3-4 anos de idade no adquiriu
qualidades de sociabilidade para brincar muito bem em conjunto. De fato, as tentativas nesse
sentido costumam ser problemticas, em virtude das regras de propriedade da criana nessa
fase, que so:
1 - O QUE EU VEJO MEU.
2 - SE TEU E EU QUERO, MEU.
3 - SE MEU, MEU PARA SEMPRE.
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Devemos saber que isso no fruto de mesquinharia. Apenas exprime o crescente senso
de individualidade da criana, que nessa idade s capaz de considerar seus prprios pontos de
vista e no consegue entender que as outras pessoas sintam de outra forma. Consequentemente,
o conceito de compartilhar no faz sentido nenhum para ela.
Alm da crescente conscientizao de si mesma como um ser separado dos outros, aumenta
o seu interesse por brincadeiras simblicas e de faz de conta.
A partir dos 2-3 anos de idade, aumenta progressivamente a habilidade de guardar
lembranas de atos e fatos, para depois recuper-los e imit-los. engraado ver uma criana
de 2-3 anos fingindo que est cozinhando, fazendo a barba, varrendo o cho ou falando ao
telefone. E v-la dando um carinhoso beijo de boa noite no ursinho de pelcia ou censurando
rispidamente o mau comportamento das bonecas nos faz lembrar que observando as pessoas
que as cercam que as crianas aprendem sobre como lidar com suas emoes.
SEGUNDA INFNCIA (3 A 6 ANOS)
Aos 4 anos, em geral, a criana est completamente desenvolta, fazendo amigos, vivendo
em ambientes diferentes, aprendendo milhares de novidades excitantes. o final do pensamento
mgico e incio do pensamento lgico, que acompanhado de complicaes: a escola divertida,
mas os professores logo querem que a gente fique sentado, em grupos, calados e prestando
ateno. A gente em geral sabe lidar com os amigos, mas eles ainda nos irritam e magoam de
vez em quando. E agora que a gente j tem idade para compreender tragdias como incndios,
guerras, assaltos e morte, no pode deixar que o medo de que elas aconteam nos perturbem.
Para vencer esses desafios, necessrio saber regular as emoes (um dos mais importantes
avanos no desenvolvimento da criana) que ela passar a controlar no seu relacionamento com os
colegas. Ela aprende a comunicar-se com clareza, trocar emoes, ceder a vez de falar e brincar.
Aprende a compartilhar, aceitar regras para suas brincadeiras, a ter conflitos e resolv-los, a
compreender os sentimentos, as vontades e os desejos do outro.
Nascem as amizades, que proporcionam um terreno frtil para o desenvolvimento emocional
da criana pequena, o que deve ser estimulado pelos pais e professores. Com um amigo, formamse laos fortes e duradouros, pois a criana, na segunda infncia, tem certa dificuldade em
administrar ao mesmo tempo mais de uma relao. Alm de ensinar importantes habilidades
sociais, as amizades entre crianas pequenas tambm estimulam a fantasia, permitindo que elas
desenvolvam a criatividade, inventando personagens e dramatizando situaes.
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pais e professores, gostaramos de que nossos jovens adolescentes usassem isso em situaes em
que o corao ouve um apelo e a cabea, outro. Isso os levaria ao equilbrio, que ser atingido
plenamente apenas com a maturidade.
O adolescente fatalmente dever tomar decises desse tipo em questes envolvendo
sexualidade e autoaceitao. Uma garota sente atrao sexual por um garoto por quem ela no
tem muito respeito (ele uma gracinha pena que, quando abre a boca, estraga tudo). Um
garoto percebe que est emitindo as opinies do pai que ele tanto criticava (Que incrvel. Estou
falando igual ao meu pai.). De repente, o adolescente percebe que o mundo no to preto e
branco. feito de muitos tons de cinza e, quer ele goste, quer no, todas essas tonalidades esto
contidas nele prprio.
Como professores e orientadores, precisamos ter em mente que se difcil para o adolescente
encontrar o seu caminho, tambm difcil ser pai ou me de adolescente, porque este precisa
conhecer-se basicamente sem a ajuda dos pais.
Pais e professores, at a adolescncia, fazem o papel de administradores da vida dos jovens,
organizando quem os leva aos lugares e quem os busca, marcando consultas mdicas, planejando
passeios, procurando a melhor maneira de no os sobrecarregar com deveres e estudos, poupandoos de sofrer.
Os pais mantm-se informados sobre a vida escolar, e o professor costuma ser a primeira
pessoa a quem os filhos recorrem para as grandes questes. Repentinamente, tudo muda. Sem
aviso prvio e sem consenso, somos demitidos do cargo de administradores. Precisamos, ento,
correr e preparar nova estratgia.
Se quisermos ser uma pessoa importante para nossos filhos e alunos na adolescncia e pela
vida afora, precisamos batalhar para ser contratados novamente, mas desta vez como consultores.
Essa pode ser uma transio extremamente delicada. Um adolescente no contrata um
consultor que o faa sentir-se incompetente ou ameace usurpar-lhe o negcio. Um adolescente
quer um consultor quem possa confiar, que compreenda sua misso e d conselhos que o ajudem
a atingir seus objetivos. E nessa altura da vida, o principal objetivo do adolescente deve ser:
tornar-se independente.
Ento, como poderamos exercer o cargo de consultor continuando como preparadores e, ao
mesmo tempo, dar aos adolescentes a autonomia que um adulto completamente desenvolvido exige?
1: Aceite que a adolescncia a poca em que os filhos separam-se dos pais, buscam
privacidade e respeito ao seu direito inquietao e ao descontentamento.
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D espao para que o adolescente sinta emoes profundas, evitando perguntas bvias
como: o que h com voc?. Ele pode estar irritado, nervoso ou triste, e esse tipo de pergunta
apenas mostra ao jovem que voc no aprova esses sentimentos. Tente no agir como se
entendesse tudo imediatamente. Por estar comeando a viver, o adolescente costuma achar que
suas experincias so nicas. Oua-o com calma e de cabea aberta. Por ser a adolescncia
uma fase de individualizao, o jovem pode escolher um estilo de roupa, penteado, msica,
arte, comportamentos e grias. Saiba que voc no precisa aprovar as escolhas do seu aluno/
filho, basta aceit-las.
2: Mostre respeito pelo adolescente.
No fique sempre corrigindo-o, apontando suas falhas, complicando, dando lies de moral,
humilhando-o perante os outros. Ele invariavelmente se afastar de voc. Procure transmitir seus
valores de forma breve, sem ser moralista, pois ningum gosta de receber sermo; no rotule.
3: Proporcione uma comunidade a seu filho/aluno.
H um ditado popular que diz: Para educar uma criana preciso uma aldeia inteira. Em
nenhuma poca da vida isso mais verdadeiro do que na adolescncia. Por isso importante aos
professores e orientadores que conheam os pais dos adolescentes, as pessoas que convivem com
ele, inclusive os amigos e pais dos amigos.
4: Estimule o adolescente a decidir sozinho e continue sendo seu preparador emocional.
Permita que o jovem faa o que ele est preparado para fazer. Essa a poca de ele
tomar decises sobre coisas importantes. um excelente momento para praticar a afirmao A
escolha sua. Manifeste confiana nos critrios dos jovens e no fique especulando. Estimular
a independncia tambm significa permitir que o jovem tenha decises insensatas de vez em
quando. Lembre-se de que o adolescente pode aprender com os erros tanto quanto com os
acertos. Melhor se o jovem puder recorrer a um adulto que se interesse por ele e o aprove, algum
que lhe ensine a lidar com as emoes negativas que o fracasso desperta e a pensar em maneiras
de fazer as coisas mais bem feitas no futuro.
5: O jovem com preparo emocional mais bem-sucedido.
este o jovem que ser mais inteligente emocionalmente, compreendendo e aceitando
seus sentimentos. Ter mais experincia em solucionar problemas sozinho ou em conjunto.
Consequentemente, o que se sair melhor nos estudos e no relacionamento com a turma ou
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grupo. Com esses fatores de proteo, esse adolescente apresentar maior imunidade aos riscos
que todos os pais e professores temem quando seus filhos entram na adolescncia drogas,
delinquncia, violncia e comportamento sexual de risco.
A Organizao Mundial de Sade classifica cronologicamente a adolescncia como a faixa
etria compreendida entre 10 e 20 anos de idade. Desde o nascimento at os 9-10 anos de idade,
o menino e a menina permanecem fisicamente muito semelhantes, diferenciando-se apenas pelas
roupas, pelo corte de cabelo e por algumas atividades que exercem.
Principalmente aps os 9 anos de idade que as crianas investem a maior parte de sua
energia na aprendizagem, nos jogos e em brincadeiras. A sexualidade, durante esse perodo,
emerge de forma mais sutil. O desenvolvimento dos rgos sexuais, por sua vez, acompanha o dos
outros rgos do corpo, proporcionando harmonia ao crescimento. O corpo, at esse momento,
para a criana algo familiar, do qual tem certo domnio e conhecimento.
A criana chega, no entanto, a uma fase em que tm incio algumas expectativas e
curiosidades em relao a si mesmo e ao outro (trata-se da pr-adolescncia). Ela j detm alguns
conhecimentos a respeito da vida e do ser humano e comea a interessar-se um pouco mais pelo
mundo adulto.
Sabe que seu mundo (o infantil) est sujeito a sofrer transformaes. Embora tenha a
percepo dessa transio criana-adulto, tal processo ainda nebuloso e desconhecido para ela.
Comea, ento, a observar mais a si mesma e aos companheiros. A palavra sexo e tudo
a que ela possa estar ligada chama-lhe a ateno de imediato. Portanto, seu prprio sexo e seu
corpo passam a ter importncia crucial, transformando-se em alvo de observao a cada mudana
que possa acontecer a adolescncia.
As principais caractersticas do desenvolvimento corporal nessa faixa etria so o estiro
puberal (crescimento acelerado), o ganho ponderal (aumento do peso) e a maturao sexual,
que possibilitaro a ovulao/espermatognese e a fecundao. O desenvolvimento psicossocial
pode ser didaticamente resumido na busca de identidade pessoal e sexual, na separao dos pais
e papis infantis, na consolidao da personalidade e na busca de independncia econmica e
participao social.
A puberdade o componente biolgico que antecede a adolescncia. o perodo no qual
surgem a maturao fisiolgica e o funcionamento dos rgos da reproduo acompanhado do
crescimento estatural, o que dura cerca de dois anos. Durante esse perodo, ocorre um fenmeno
marcante: a menarca na mulher e a semenarca no homem.
191
O incio dessa fase tem ntida influncia sobre o desenvolvimento do organismo, ocorrendo
substanciais transformaes orgnicas, funcionais e psquicas em que se afirmam os atributos de
cada sexo os hormnios passam a atuar fortemente.
A poca da puberdade varia enormemente dos 8 aos 15 anos em ambos os sexos,
havendo tendncia a ser mais tardia no homem. Essas variaes esto relacionadas com o clima,
o grupo tnico, o estado nutritivo, a constituio fsica, o nvel de vida e doenas crnicas.
O surgimento dos primeiros pelos no pbis ou nas axilas admirado, contemplado. O garoto
e a garota contam esses pelinhos com orgulho e prazer. Em contrapartida, sentem certa vergonha
e perplexidade diante do corpo que comea a se modificar, o que culmina com a gostosa sensao
de que eu estou crescendo, transformando-me de menino ou menina, em homem ou mulher.
quando passam a comparar-se uns com os outros. Pequenas diferenas, como o nmero
de pelos, o tamanho do pnis ou da mama, so minuciosamente observadas, provocando emoes
constantes, intensamente vividas. Essa hipersensibilidade caracterstica do adolescente. Esse
tipo de reao ocorre por volta dos 12 anos de idade no sexo masculino, e na mulher, em torno
de 9 a 10 anos.
a idade em que os jovens passam horas diante do espelho, observando a apario de um
cravo ou espinha. O pnis do garoto vai adquirindo tamanho, e isso para ele uma glria.
interessante observar como as transformaes do corpo so ansiosamente esperadas,
principalmente quando o garoto percebe que os amigos j esto sua frente (pnis maior ou
mais pelos, por exemplo), pois sente muita vontade de tornar-se gente grande. Tudo isso vem
permeado de romantismo. Iniciam-se, ento, os primeiros namoros, as primeiras paixes que
marcam a entrada na adolescncia (status de adulto).
A menina repara que seu mamilo vai-se tornando mais saliente e mais escuro, provocando
certa dor quando a regio tocada de forma mais brusca, como num abrao muito apertado, por
exemplo. A menina curva as costas, para retrair o busto, tentando proteger-se, e muitas vezes o
objetivo tambm o de esconder aquilo que a denuncia agora como mocinha capaz de seduzir e
amar. Ao mesmo tempo, fica muito feliz, pois h muito tempo espera a ocasio de poder comprar
seu suti e sentir que est comeando a ser mulher. Mostra-se com orgulho s amigas. Evita
contatos ntimos, assim como no se despe mais na frente de outras pessoas, mesmo dos pais.
Simultaneamente a esse desenvolvimento, vo surgindo os pelos axilares. A bacia da menina
alarga-se e sua cintura torna-se mais fina; as coxas e as ndegas ficam mais rolias e torneadas.
Com essas mudanas, vm a vaidade e uma nova preocupao com o corpo. O processo atinge
o pice com a chegada da menstruao, um grande marco. Agora eu j sou mocinha. Sonha
192
muito a respeito de como ser o primeiro beijo. A garota muitas vezes sente necessidade de
entender o que ocorre no seu organismo.
importante saber que seu ciclo pode no ser regular, ou seja, que no menstrue exatamente
a cada 28 ou 30 dias. Deve estar consciente tambm de que seu tero leva um tempo de mais
ou menos dois anos para amadurecer e estar pronto para uma gravidez. H um perodo chamado
frtil, isto , pode ocorrer a fecundao (gravidez), se houver relaes sexuais. Esse perodo frtil
se d na metade do ciclo, ou seja, por volta do 14. dia aps a menstruao nas adolescentes,
o perodo frtil nunca ocorre no 14. dia, devido irregularidade menstrual ocasionada pela
imaturidade biolgica. necessrio conhecer o funcionamento deste corpo, pois existem meninas
que nada sabem a respeito da existncia da menstruao. Chegam, muitas vezes, a pensar que
esto doentes ao ver, pela primeira vez, as manchas de sangue na calcinha. preciso saber
antecipadamente que o escoamento do sangue menstrual tem uma durao varivel de trs a sete
dias e normal.
As mulheres, por trazerem culturalmente entre si uma relao mais ntima, em que se
falam de assuntos pessoais, ainda conversam mais com suas filhas do que os pais com seus
filhos. Por formao, o homem apresenta uma maneira mais reservada de ser, de relacionar-se e,
principalmente, de manifestar seus sentimentos e revelar sua intimidade. Por isso, normalmente
os pais no conversam com os garotos, mas cobram que eles sejam machos, que provem ser
homens, fortes, espertos e conquistadores. Assim, muitas vezes o menino vivencia sua primeira
poluo noturna (ejaculao) com curiosidade, medo e insegurana. Fica sem saber o que isso
significa. Ainda no estabelece relao entre esse lquido pegajoso e o prazer sexual. Sente que
est se tornando homem e comea a prestar uma ateno mais sensual menina, criando muitas
expectativas. Nessa fase os meninos ficam desajeitados, parecem embaraados. Os braos e pernas
se alongam, ao mesmo tempo em que os ombros tornam-se mais largos, provocando a perda da
noo do espao que ocupam e dos movimentos que realizam. O timbre vocal torna-se mais grave,
passando, porm, por diversas fases de irregularidade.
O conhecimento do prprio corpo muito sadio e favorece a vida sexual adulta. Quanto
melhor e mais livre o contato com o corpo, melhor e mais livre o contato com o corpo do outro. Se
transcorrer em clima repressivo, essa fase ser permeada de ansiedade e sentimentos de culpa,
originados de desejos sexuais.
Como a autoafirmao se d muito por intermdio do outro eu sou o que os outros
pensam de mim , surge a paixo como uma busca de identidade e amor, ou seja, o desejo de ser
193
amado. Ela emerge como um vulco, extravasando toda a energia que at ento fora reprimida.
Esse perodo da vida muito importante para todos ns.
Para os pais, significa a perda da criana. O filho, que at ento vivia sob seu domnio,
comea agora a ter opinies prprias, a exigir maior autonomia e poder de deciso.
No ncleo social que a famlia, nem sempre as dificuldades dos adolescentes so trazidas
tona, para que possam ser melhor compreendidas. Como consequncia, vo buscar fora de casa
as respostas para muitas dvidas. Conversando com os amigos, recebem informaes desviadas,
com malcia, medos e fantasias. Cabe aos pais e educadores orient-los e esclarec-los.
ALIMENTAO, DESENVOLVIMENTO E OBESIDADE INFANTIL
A boa nutrio muito importante em todas as idades. Uma boa alimentao consiste em
oferecer alimentos adequados em quantidade, em qualidade e em consistncia para suprir as
necessidades bsicas e proporcionar o desenvolvimento e o crescimento saudveis. Para isso,
tente seguir as seguintes recomendaes:
Procure variar os alimentos, para que a criana como um pouco de tudo (protenas,
carboidratos, gorduras e vitaminas) de forma balanceada.
Equilibre as comidas que soltam ou prendem o intestino (por exemplo, mamo e folhas
soltam o intestino, banana e arroz e prendem o intestino).
Adote horrios regulares para as refeies.
Oferea comida sempre fresquinha e logo depois de ter sido preparada.
Mantenha o local em que sua criana vai se alimentar sempre limpo.
Lave as verduras, legumes e as cascas das frutas antes de cort-las.
Oferea novos alimentos aos poucos, de acordo com a fase de desenvolvimento de
sua criana.
Ajude a criana a aceitar bem os alimentos. O vnculo afetivo tem ligao direta com isso.
Lembre-se: a criana comea a conhecer o mundo pela boca.
Os bons hbitos alimentares tambm dependem do equilbrio emocional entre pais e
crianas. Se mantiver a calma, a hora da refeio ser tranquila para todos.
Oferea a alimentao sem rigidez de horrios, respeitando sempre a vontade da criana.
Evite acar, caf, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas
nos primeiros anos de vida.
194
195
Alm disso, a falta de atividade fsica (sedentarismo) tem sido identificada como um dos
principais agravantes por trs do ganho de peso repentino em crianas. A vida sedentria, facilitada
pelos avanos tecnolgicos (computadores, televiso, videogames), faz com que as crianas no
precisem se esforar fisicamente para nada. Hoje em dia, ao contrrio de alguns anos atrs, as
crianas ficam dentro de casa com atividades que no as estimulam a praticar atividades fsicas
como correr, jogar bola, brincar de pique. Passam horas paradas em frente televiso ou outro
equipamento eletrnico, o que se torna um fator preocupante para o desenvolvimento da obesidade.
Por isso, fundamental que a criana coma apenas o que consegue e conhea seus limites
fsicos e psquicos. de extrema importncia tambm que os pais coloquem limites quelas crianas
que querem comer muito mais do que necessitam, explicando sempre os problemas que a ingesto
excessiva de alimentos pode acarretar. E caso necessitem, devem sempre procurar ajuda profissional
para auxiliar na orientao de seus pequenos. Todos ns desejamos que as nossas crianas tenham
tudo o que bom. Portanto, o melhor tratamento para a obesidade infantil a prtica de exerccios
fsicos em conjunto com uma alimentao saudvel, balanceada e de qualidade.
BULLYING
um termo da lngua inglesa que se refere a todas as formas de atitudes agressivas verbais
ou fsicas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivao evidente e so exercidas por um
ou mais indivduos, causando dor e angstia com o objetivo de intimidar ou agredir a outra pessoa
sem ter a possibilidade de se defender.
Hoje, o bullying um fenmeno relativamente comum nas escolas, universidades e
ambientes de trabalho. A pessoa vtima de bullying poder desenvolver sentimentos negativos e
baixa autoestima, alm de problemas de relacionamento, processo de aprendizagem comprometido
e sintomas e doenas de fundo emocional.
A melhor forma de evitar prevenir. Um passo importante discutir este problema com a
comunidade escolar, alertando os pais, os alunos e os profissionais sobre esta forma de violncia
e principalmente, diferenciando-a das brincadeiras habituais e da indisciplina.
O PAPEL DA SUSTENTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Nos dias de hoje, primeiras dcadas do sculo 21, devemos tomar atitudes e ter aes que
visem ao cuidado com o meio em que vivemos. O termo sustentabilidade para descrever a forma
como devemos agir cada vez mais utilizado e estudado. A base de toda a sustentabilidade o
196
desenvolvimento humano, que deve contemplar um melhor relacionamento do ser humano com
os seus semelhantes e a com a natureza.
No decorrer deste captulo, falamos sobre as etapas do desenvolvimento humano desde
o nascimento at a adolescncia. Essas etapas descritas so fundamentais para desenvolver em
nossas crianas uma conscincia voltada para os reais problemas que esto surgindo no Brasil e
no mundo. Buscar ajuda com as empresas existentes revela a preocupao da sustentabilidade
social. Muitas empresas multinacionais e organizaes no governamentais (ONGs) (que podem
estar instaladas em sua cidade ou prxima a ela) possuem projetos voltados para auxiliar na
formao de nossas crianas. So projetos que levam s escolas orientaes sobre os principais
problemas que podem vir a ser enfrentados pelas crianas em alguma fase de suas vidas, como,
por exemplo, o bullying, a obesidade infantil, a incluso social de crianas que apresentam algum
tipo de deficincia, dentre outros. Por isso, procure se informar sobre essas empresas e seus
projetos e busque fazer uma parceria para complementar a educao das crianas. Palestras,
teatros, debates, material educativo, tudo isso pode ser includo para auxiliar na formao de
nossos pequenos.
A escola possui um papel fundamental na formao da personalidade de cada criana, e
este o maior exemplo de sustentabilidade que podemos dar. Discutir assuntos ligados aos temas
abordados neste captulo, perguntar a opinio das crianas, pedir para que tragam exemplos de
seu dia a dia e incluir os pais nessas discusses vo fazer com que os professores conheam e
possam ajudar seus alunos. importante tambm pedir auxlio a prefeitura de seu municpio, bem
como ao governo, para que as campanhas existentes cheguem sua escola. Existem inmeros
projetos que podem ser levados at seus alunos, como, por exemplo, a Semana de Mobilizao
Sade na Escola e as Campanhas de Vacinao, ambas realizadas pelo Ministrio da Sade, e
Justia na Escola, projeto que o Conselho Nacional de justia realiza com orientaes sobre como
lidar com o bullying.
A base de toda sustentabilidade comea nas pequenas aes que vo levar ao desenvolvimento
consciente e humano de nossas crianas. A importncia do debate de temas atuais desde os
primeiros anos de vida das crianas vai fazer com que cresam zelando pelo meio em que vivem.
A humanidade tem a habilidade de desenvolver-se de uma forma sustentvel, entretanto preciso
garantir as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das futuras geraes em
encontrar suas prprias necessidades.
197
CONCLUSO
Os acontecimentos que ocorrem entre me e filho desde o incio da gravidez so fundamentais
para a adequada estruturao da personalidade do beb e extremamente essenciais para o seu
desenvolvimento emocional, social e cognitivo saudvel. muito importante iniciar o pr-natal o
mais cedo possvel, para se ter o controle da sade da me e do beb, visando prevenir e tratar
quaisquer intercorrncias que atrapalhem o bom desenvolvimento da gestao.
O aleitamento materno deve ser exclusivo at os 6 meses e deve ser mantido junto com a
alimentao complementar at os 2 anos de idade. A amamentao traz benefcios tanto para
a me quanto para o beb, e todo este processo deve ser acompanhado por profissionais de
sade preparados.
Devemos tambm ficar atentos ao que est acontecendo na vida de nossos filhos e de nossos
alunos, aceitar e legitimar suas experincias emocionais. Quando surgir um problema, devemos
escutar com empatia e sem crticas. Quando ele lhe pedir ajuda, seja seu cmplice e seu aliado.
Embora sejam simples esses passos, hoje sabemos que formam a base de uma vida emocional
equilibrada entre pais e filhos, professores e alunos.
Problemas atuais que atrapalham o bom desenvolvimento da criana devem ser sanados para
que no haja consequncias importantes em sua vida adulta. Todo o processo de desenvolvimento
humano um conjunto de aes que devem ser tomadas concomitantemente pelos pais e
educadores, visando ao desenvolvimento de uma conscincia humana, social, cultural e ambiental
que possa ser transmitida atravs de geraes.
CALENDRIOS DE VACINAO
O calendrio de vacinao brasileiro definido pelo Programa Nacional de Imunizaes
do Ministrio da Sade (PNI/MS) e corresponde ao conjunto de vacinas consideradas de interesse
prioritrio sade pblica do pas. Seguem abaixo os calendrios de vacinao da criana e do
adolescente e as principais orientaes de cada vacina.
198
1 ms
VACINA
BCG-ID (1)
vacina BCG
DOSE
DOENAS EVITADAS
Dose nica
Hepatite B (2)
vacina hepatite B (recombinante)
1 dose
hepatite B
Hepatite B
vacina hepatite B (recombinante)
2 dose
hepatite B
(2)
1 dose
1 dose
2 dose
2 dose
Hepatite B (2)
vacina hepatite B (recombinante)
3 dose
hepatite B
(4)
9 meses
12 meses
(3)
Dose inicial
1 dose
Reforo
(6)
1 Reforo
Reforo
10 anos
febre amarela
6 meses
(5)
5 meses
2 Reforo
2 Dose
Uma dose a cada
dez anos
199
200
11meses e 29 dias. Diante de um caso suspeito de difteria, avaliar a situao vacinal dos
comunicantes. Para os no vacinados menores de 1 ano iniciar esquema com DTP+ Hib; no
vacinados na faixa etria entre 1 a 6 anos, iniciar esquema com DTP. Para os comunicantes
menores de 1 ano com vacinao incompleta, deve-se completar o esquema com DTP +
Hib; crianas na faixa etria de 1 a 6 anos com vacinao incompleta, completar esquema
com DTP. Crianas comunicantes que tomaram a ltima dose h mais de cinco anos e que
tenham 7 anos ou mais devem antecipar o reforo com dT.
(4) vacina poliomielite 1, 2 e 3 (atenuada): Administrar trs doses (2, 4 e 6 meses).
Manter o intervalo entre as doses de 60 dias e, mnimo de 30 dias. Administrar o reforo
aos 15 meses de idade. Considerar para o reforo o intervalo mnimo de 6 meses aps a
ltima dose.
(5) vacina oral rotavrus humano G1P1 [8] (atenuada): Administrar duas doses seguindo
rigorosamente os limites de faixa etria: primeira dose: 1 ms e 15 dias a 3 meses e 7 dias.
segunda dose: 3 meses e 7 dias a 5 meses e 15 dias. O intervalo mnimo preconizado entre
a primeira e a segunda dose de 30 dias. Nenhuma criana poder receber a segunda dose
sem ter recebido a primeira. Se a criana regurgitar, cuspir ou vomitar aps a vacinao
no repetir a dose.
(6) vacina pneumoccica 10 (conjugada): No primeiro semestre de vida, administrar
3 (trs) doses, aos 2, 4 e 6 meses de idade. O intervalo entre as doses de 60 dias e,
mnimo de 30 dias. Fazer um reforo, preferencialmente, entre 12 e 15 meses de idade,
considerando o intervalo mnimo de seis meses aps a 3 dose. Crianas de 7-11 meses de
idade: o esquema de vacinao consiste em duas doses com intervalo de pelo menos 1 (um)
ms entre as doses. O reforo recomendado preferencialmente entre 12 e 15 meses, com
intervalo de pelo menos 2 meses.
(7) vacina meningoccica C (conjugada): Administrar duas doses aos 3 e 5 meses
de idade, com intervalo entre as doses de 60 dias, e mnimo de 30 dias. O reforo
recomendado preferencialmente entre 12 e 15 meses de idade.
(8) vacina febre amarela (atenuada): Administrar aos 9 (nove) meses de idade. Durante
surtos, antecipar a idade para 6 (seis) meses. Indicada aos residentes ou viajantes para
as seguintes reas com recomendao da vacina: estados do Acre, Amazonas, Amap,
Par, Rondnia, Roraima, Tocantins, Maranho, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Gois,
Distrito Federal e Minas Gerais e alguns municpios dos estados do Piau, Bahia, So Paulo,
201
Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Para informaes sobre os municpios desses
estados, buscar as Unidades de Sade locais. No momento da vacinao considerar a
situao epidemiolgica da doena. Para os viajantes que se deslocarem para os pases em
situao epidemiolgica de risco, buscar informaes sobre administrao da vacina nas
embaixadas dos respectivos pases a que se destinam ou na Secretaria de Vigilncia em
Sade do Estado. Administrar a vacina 10 (dez) dias antes da data da viagem. Administrar
reforo, a cada dez anos aps a data da ltima dose.
(9) vacina sarampo, caxumba e rubola: Administrar duas doses. A primeira dose aos
12 meses de idade e a segunda dose deve ser administrada aos 4 (quatro) anos de idade.
Em situao de circulao viral, antecipar a administrao de vacina para os 6 (seis) meses
de idade, porm deve ser mantido o esquema vacinal de duas doses e a idade preconizada
no calendrio. Considerar o intervalo mnimo de 30 dias entre as doses.
CALENDRIO DE VACINAO DO ADOLESCENTE
IDADE
11 a 19
anos
VACINA
DOSE
DOENAS EVITADAS
Hepatite B (1)
vacina hepatite B (recombinante)
1 dose
Hepatite B
Hepatite B (1)
vacina hepatite B (recombinante)
2 dose
Hepatite B
Hepatite B (1)
vacina hepatite B (recombinante)
3 dose
Hepatite B
Uma dose a
cada 10 anos
Difteria e ttano
Uma dose a
cada 10 anos
Febre amarela
Duas doses
202
203
REFERNCIAS
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- Pirmide Alimentar Adaptada: Guia para escolha dos alimentos
http://www.scielo.br/pdf/rn/v12n1/v12n1a06.pdf
- Vdeos informativos sobre Obesidade Infantil
http://www.obesidadeinfantil.org/
205
A ALIMENTAO E A NUTRIO
207
acessveis, diminuem de forma considervel o impacto sobre nosso planeta. Por exemplo, todo
alimento que no necessita ser cozido antes do consumo, alm de manter suas propriedades
nutricionais reduz a emisso de carbono na atmosfera, seja pela queima de gs de cozinha, seja
pela queima de lenha, ainda to comum nas reas rurais. Quando utilizamos alimentos sazonais
evitamos o gasto de energia utilizada para manter tais alimentos at o consumo. A valorizao
de alimentos produzidos na regio, alm de favorecer seus produtores, dando condies de sua
permanncia na atividade rural, evita a necessidade de transporte destes alimentos, reduzindo
tambm a emisso de poluentes na atmosfera.
Devemos ter em mente que se desejamos ter filhos saudveis, devemos deixar o comodismo de
lado e trabalhar diariamente na construo de hbitos saudveis em nossas crianas. importante
nos conscientizarmos de que um pacote de salgadinhos e um refrigerante no substituem uma
refeio, que quem pode decidir sobre o que bom ou no comer no a criana, mas sim seus
responsveis. Isso pode ser trabalhoso, mas o que trar os resultados que buscamos para a
sade de nossos filhos.
No deixe para tentar desenvolver em seus filhos esses hbitos somente quando eles j
tiverem vontade prpria. Uma criana que desde a mais tenra idade tem uma alimentao saudvel
e bem balanceada com toda a certeza levar esses benefcios para o resto de sua vida. E no pense
que uma alimentao saudvel est na dependncia de condio financeira. Nem sempre caros
biscoitos recheados so mais saudveis que uma fatia de po coberto com um doce caseiro, ou
achocolatados substituem uma boa xcara de caf com leite.
Os alimentos que so submetidos a processamento industrial de uma maneira geral so mais
pobres do ponto de vista nutricional do que os naturais, e geram mais danos ao nosso planeta,
seja pela emisso de carbono durante a produo, seja pela poluio formada pelos seus resduos,
transporte e at pelo lixo gerado pelas embalagens aps o consumo. No pretendemos ser contra
a indstria e o progresso, mas talvez resgatar antigos hbitos de alimentao mais saudvel,
que prestigiando uma alimentao mais natural, evita, por exemplo, o consumo exagerado de
conservantes, j sabidamente to deletrios2 a nossa sade.
A predileo por alimentos orgnicos3 animais ou vegetais alm de serem mais saudveis e
seguros, j que so isentos de hormnios e defensivos, causam menos impacto na natureza.
A nutrio humana tem muitos componentes. Os macronutrientes4 so as protenas5, os
carboidratos6 e as gorduras7. Os micronutrientes8 so todos os demais componentes, inclusive
vitaminas9, eletrlitos e oligoelementos. Todos eles so vitais, e, sendo assim, a ausncia de
qualquer um dos nutrientes10 ser prejudicial e pode at mesmo causar grandes problemas.
208
PROTENAS
As protenas so o material de construo da estrutura corprea. Elas so formadas
por partes menores, os aminocidos11, e estes, por sua vez, so a base da sntese corporal,
ou seja, formam ossos, msculos, pele e o crebro. So tambm os responsveis pelo nosso
cdigo gentico, j que so os formadores dos cidos nucleicos o DNA e o RNA , bem como
as molculas que so responsveis pelo armazenamento de energia em nosso corpo. Somos
basicamente feitos de protenas.
A protena o menos disponvel e o mais dispendioso dos macronutrientes. Pelo alto custo,
as populaes de regies mais pobres normalmente no tm a quantidade suficiente de protenas
em suas dietas, e o baixo teor de protenas na alimentao resulta, por exemplo, em crianas com
baixo desenvolvimento, sendo consequentemente mais frgeis e suscetveis a doenas.
As fontes de protenas mais conhecidas so carnes, peixes, ovos, leite e queijo. As melhores
fontes vegetais so as leguminosas como feijo, amendoim, ervilhas e derivados de soja. Muitos
cereais contm protenas, e as frutas e verduras so fontes moderadas. Algumas dessas fontes so
complementares; por exemplo, os cereais no possuem protenas de alta qualidade, mas quando
adicionamos leite, as protenas deste complementam as dos cereais, ou seja, o cereal com leite
uma fonte muito melhor de protena que o cereal sozinho.
Como alguns aminocidos no podem ser produzidos pelo nosso corpo, eles necessariamente
tem de ser obtidos a partir da nossa alimentao. Esses aminocidos so chamados de essenciais,
ou seja, no podemos viver sem eles, e esse um dos motivos para no privar as crianas de
nenhuma fonte de protenas, isto , no se pode somente oferecer uma dieta vegetariana para
crianas, pois estaramos correndo risco de que essa criana fosse privada de alguns tipos de
aminocidos que so encontrados apenas na carne, comprometendo seu desenvolvimento normal.
Um ponto fundamental, portanto, que no podemos substituir alimentos sem que tenhamos
certeza absoluta de que essa troca realmente eficaz.
CARBOIDRATOS
Mais conhecidos como acares, os carboidratos so a principal fonte de energia da dieta
humana. Dentre eles, o mais abundante encontrado na natureza a glicose12, que por sua vez
o principal combustvel para a manuteno da vida na maioria das espcies. Os acares esto
normalmente na forma de monossacardeos13 (glicose, frutose14 e galactose15) ou dissacardeos16
dois monossacardeos reunidos, como a sacarose17 (acar de mesa), a maltose18 e a lactose19.
209
210
insaturados, mas os poliinsaturados so os de nosso maior interesse, pois dois deles, e felizmente
os mais comuns, so essenciais para nossa dieta e no podem ser formados pelo nosso organismo:
o cido linolico e o cido alinolico. Temos de necessariamente obt-los de alguma fonte
externa, como leo de milho, soja, canola, nas nozes, grmen de trigo etc. Sem eles, o corpo ir
sofrer deficincia de cidos graxos essenciais. A partir deles, o corpo pode sintetizar os cidos
graxos biologicamente ativos e os eicosanides ou prostaglandinas. Eicosanoides so hormnios
lipdicos que afetam a presso sangunea, a reatividade vascular, a coagulao sangunea e o
sistema imunolgico. Com isso, possvel afirmar que no se pode retirar totalmente as gorduras
de nossa dieta, pois isso traria problemas ao funcionamento normal de vrios sistemas de nosso
organismo, e tambm explicar por que dietas para perda de peso que so radicais na excluso de
certos grupos de alimento podem ser consideradas como suicdio. Muitos lipdios so importantes
no controle da quantidade de outros lipdios, como o bom colesterol (HDL), que ajuda a controlar
o mau colesterol (LDL), e, ao contrrio do que se pensa, ambos so muito importantes para
o funcionamento de nosso organismo e no podem ser totalmente eliminados de nossa dieta.
Assim como os chamados cidos graxos mega-3 e mega-6, que so encontrados nos leos de
peixes e so cardioprotetores, ou seja, protegem nosso corao de vrias doenas. Existem as
lipoprotenas, que so importantes por fazer com que gorduras, que so insolveis, se tornem
solveis em gua, permitindo que nosso organismo possa melhor utiliz-las ou at excret-las.
Ou, ainda, os fosfolipdios e os glicolipdios, que so compostos presentes nas paredes de nossas
clulas, fazendo a unio entre elas.
As gorduras devem perfazer menos de 30% das calorias de nossa dieta, e, embora isso seja
claramente uma boa ideia, devem ser feitas algumas advertncias. Somente reduzir a porcentagem
de gorduras no muito eficaz, a no ser que a ingesto de calorias totais seja adequadamente
controlada, ou seja, uma pessoa pode tornar-se to obesa com arroz integral quanto com batatas
fritas; falando claramente, preciso ter bom senso: uma travessa de arroz integral muito mais
calrica do que uma poro pequena de batatas fritas. E, sempre que possvel, substituir alimentos
gordurosos por outras fontes de lipdios mais saudveis, como frituras por saladas temperadas
com azeite de oliva.
VITAMINAS
Vitaminas so nutrientes essenciais para a manuteno do funcionamento normal de nosso
organismo, inclusive para a formao do sangue e de suas clulas de defesa. Nosso organismo
no pode sintetiz-las, portanto precisamos busc-las em variadas fontes que necessariamente
211
devem ser includas em nossa dieta. Elas funcionam como cofatores nas reaes enzimticas, ou
seja, so necessrias para que outras substncias (as enzimas30) possam cumprir seu papel no
funcionamento de nosso organismo. Como exemplo, podemos citar os mecanismos de respirao
celular, cicatrizao e reparao de nossos tecidos, transporte e utilizao de energia e oxignio
pelas clulas, absoro de minerais e eletrlitos etc.
Suas fontes so muito variadas, e as dosagens necessrias dependem de vrios fatores, como
a idade, por exemplo, j que algumas so mais importantes na infncia e outras na maturidade.
A deficincia crnica de diversas vitaminas tem sido associada com cncer, doenas
cardiovasculares, catarata, artrite, distrbios do sistema nervoso e fotossensibilidade (sensibilidade
luz). As pessoas muito jovens, as muito velhas, os estressados e os doentes crnicos apresentam
um maior risco de deficincias vitamnicas.
D preferncia a fontes naturais de vitaminas, como frutas, verduras, castanhas e cereais,
pois alm de facilitar sua absoro pelo nosso organismo, a quantidade de que precisamos
pequena, e nas fontes naturais podemos obt-las com facilidade. Deixe as reposies artificiais ou
farmacolgicas para tratamentos acompanhados e orientados por mdicos.
OLIGOELEMENTOS
Inmeros elementos esto presentes no organismo em pequenas quantidades, mas so
essenciais para o funcionamento do corpo. Ao contrrio dos macrominerais como o sdio
e o potssio, as necessidades de oligoelementos so inferiores a 100mg/dia. A maioria dos
oligoelementos, mas no todos, formada por metais. Eles so frequentemente, componentes
das enzimas.
Muitos so os componentes essenciais na dieta humana, e como so necessrios em
pequenas quantidades, dificilmente caracterizado um estado de deficincia; outros, como o iodo
e o ferro, so to importantes que sua deficincia no s notada de pronto, como sua falta causa
srios danos em nosso organismo. Isso to srio que, por lei, na composio do sal de cozinha
deve ser acrescentado iodo para evitar uma doena chamada bcio nos adultos e retardo mental
(cretinismo) em crianas, causados justamente pela falta de iodo na dieta. J a carncia de ferro
est diretamente ligada a um componente do sangue, a hemoglobina31, e sua falta causa um tipo
de anemia que muito prejudicial nossa sade e ao desenvolvimento normal das crianas.
Atualmente, os oligoelementos essenciais so ferro, zinco, cobre, mangans, cromo, cobalto,
molibdnio, selnio, flor e iodo. As doses dirias recomendadas no foram ainda estabelecidas
212
para todos eles. Alguns dos oligoelementos que antes se desconheciam como essenciais agora
so reconhecidos como importantes na dieta humana. Boas fontes de ferro so fgado, ostras,
mariscos, carnes, aves e peixes; cereais integrais e vagens secas so boas fontes vegetais.
MINERAIS E ELETRLITOS
Os nutrientes esto divididos em macronutrientes e micronutrientes. Os oligoelementos. Os
minerais so considerados substncias para as quais a necessidade maior do que 100 mg/dia. A
maioria dos minerais encontrada nos lquidos corporais como solues eletrolticas.
Os principais so o sdio e o potssio, responsveis pelo equilbriodos lquidos em nosso
corpo; participam na contrao muscular, no equilbrio cido-bsico, na permeabilidade32 celular,
no metabolismo33 de carboidratos etc. Portanto, esses sais tm inmeras funes no funcionamento
das variadas partes de nosso organismo, sendo essenciais para nossa vida.
Tanto a falta como o excesso de qualquer um dos dois podem levar a inmeros problemas
e at mesmo morte.
Outros minerais tm funes especficas. o caso do cloro, o principal componente do suco
gstrico, que obtido do cloreto de sdio, o sal de cozinha.
O clcio essencial para nossos ossos e dentes, bem como para funes vitais como os impulsos
eletroqumicos s membranas, a conduo dos impulsos nervosos e a coagulao sangunea.
O clcio encontrado em laticnios, vegetais folhosos, legumes, nozes e cereais integrais.
A quantidade de clcio que deve ser ingerida diariamente de 400mg a 1.200mg. As mulheres
precisam de mais clcio do que os homens. Parece provvel que a osteoporose, bastante prevalente
em mulheres de mais idade, possa ser prevenida pela administrao de suplementos de clcio
durante os anos frteis e aps a menopausa. O clcio sempre deve estar presente na dieta de
mulheres grvidas e lactentes.
O magnsio est intimamente relacionado com o clcio. Ele age como um componente do
osso e importante na contrao muscular e na propagao do impulso nervoso. um cofator em
mais de 300 reaes enzimticas.
O magnsio amplamente encontrado, especialmente em alimentos no processados, como
vegetais e nozes; a quantidade que deve ser ingerida diariamente de 250mg a 300mg.
O fsforo est presente em nosso organismo na forma de fosfato.
Ele entra na formao do nosso esqueleto combinado com o clcio na forma de fosfato de
clcio; encontrado no leite, nas carnes, no peixe e nos cereais.
213
FIBRAS
Fibra um material da parede celular das plantas que resistente digesto por enzimas do
intestino delgado humano. As da dieta promovem uma funo normal do intestino, pois estimulam
a sua movimentao; j as insolveis aumentam o tempo de trnsito e o volume do bolo fecal,
tendo, assim, um efeito laxativo. Porm, importante salientar que a ingesto de fibras com
aumento do consumo de gua pode resultar em constipao34 em pacientes com longa histria de
constipao crnica. Um aumento de fibras na dieta pode ajudar a prevenir doenas cardacas e
o cncer35, particularmente o de intestino (clon).
Foi comprovado que a ingesto de fibras em maior quantidade aumenta o controle glicmico
e a sensibilidade insulina36, em pacientes portadores de diabete melito, permitindo assim, uma
reduo na medicao. Para o tratamento da obesidade, uma dieta rica em fibras fornece uma
sensao de plenitude gstrica e pode auxiliar no manejo do peso em longo prazo. A adio de
fibras como a aveia (de 2/3 a 1 xcara) na dieta pode reduzir as lipoprotenas de baixa densidade
(LDL) em 10% a 20% no sangue para pacientes com altos nveis de colesterol.
Para uma dieta rica em fibras, basta incentivar alguns hbitos como o de comer pelo menos
cinco frutas e vegetais ao dia, preferir pes e cereais integrais, ingerir cereais com farelo de trigo
e comer feijo pelo menos duas vezes por semana. Sempre que aumentamos o consumo de fibras
em nossa dieta, devemos aumentar a ingesto de gua em um mnimo de dois copos por dia.
Conhecendo todos os componentes principais que devem fazer parte da dieta de um ser
humano, como desenvolver uma frmula para uma alimentao correta? Existem vrios mtodos
e autores que tentaram descrever uma maneira correta e ideal de se alimentar. Por exemplo, a
pirmide alimentar. Ela um recurso educacional que mostra as diretrizes dietticas em uma forma
grfica facilmente compreensvel, e tem sido utilizada para orientar a quantidade e os diferentes
tipos de alimentos a serem includos na dieta diria. A pirmide alimentar foi desenvolvida para
ser utilizada por uma populao saudvel, com a finalidade de ensinar conceitos de variedade,
moderao, alm da incluso de tipos de alimentos em propores adequadas na dieta total. Ela
deve ser modificada para diferentes idades e grupos tnicos, sendo, assim, adequada a diferentes
realidades e costumes. Por isso, necessitamos de um grande conhecimento em nutrio para
podermos utiliz-la com eficincia.
Ento, como proceder para nutrir adequadamente nossas crianas?
Qual mtodo ou frmula utilizar para aliment-las de forma ideal?
Quase tudo em nossas vidas mostra que qualquer tipo de excesso prejudicial, ento
devemos ter uma dieta constituda de um cardpio variado, pois ingerindo uma variedade de
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216
Alimentos orgnicos Alimentos produzidos sem o emprego de meios artificiais, fertilizantes e defensivos
industriais.
Protenas Cada uma das substncias de elevada massa molecular, composta de carbono, hidrognio e
nitrognio, e s vezes tambm enxofre e fsforo, e que so os elementos essenciais de todas as clulas dos
seres vivos. So encontradas nos reinos vegetal e animal.
Carboidratos Qualquer composto orgnico com uma frmula Cn(H2)n; hidrato de carbono. Var.: glicdio,
glucdio.
Gorduras Designao das substncias constitudas de cidos estericos encontradas nos tecidos adiposos
dos animais, e em diversos leos vegetais.
Vitaminas Cada um dos compostos orgnicos do reino animal e vegetal, que atuam em pequenssimas
quantidades, favorecendo o metabolismo, servindo de base para os mais importantes fermentos, influindo
sobre os hormnios.
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SADE BUCAL
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MUCOSA1
dessa forma que chamada a camada que reveste (epitlio de revestimento) nossa boca;
diferente da pele, pois destinada ao revestimento de regies midas, e dependendo da localizao
e de sua funo recebe uma nomenclatura diferente:
1. Mucosa jugal: a mucosa que reveste nossa bochecha (internamente); na regio em que
os dentes se tocam ela extremamente queratinizada (queratina uma protena, que
existe tambm em nossos cabelos e unhas), para aumentar sua resistncia e no sofrer
injrias durante a mastigao.
2. Gengiva livre: no deixa tambm de ser mucosa, porm ela responsvel pelo revestimento
da transio entre a mucosa jugal e o osso alveolar (que o osso em que os dentes
se fixam).
3. Gengiva inserida ou marginal: a gengiva que recobre o osso alveolar e margeia os
nossos dentes; ela tem caractersticas muito especiais, ao contrrio da gengiva livre, ela
ligada ao osso alveolar por meio de milhares de fibras, o que lhe confere seu nome e
a aparncia de casca de laranja. Ela tambm altamente queratinizada para suportar os
esforos durante a mastigao e tem colorao rsea plida.
4. Epitlio sulcular: o revestimento do sulco gengival, que um pequeno sulco que existe
ao redor de nossos dentes.
DENTES
Os dentes podem ser considerados como pequenos rgos, pois so formados por diferentes
tecidos, recebendo cada dente pelo menos um feixe vsculo-nervoso2, que assegura sua nutrio
e sensibilidade.
O dente formado de duas partes, a coroa que visvel na boca, e a raiz, que responsvel
pela sua fixao no osso alveolar; a linha de unio entre estas duas partes conhecida por colo.
Os dentes tm a consistncia de osso compacto, e a coroa ainda envolta por uma camada
de esmalte, que o tecido mais duro de todo o nosso organismo.
Os dentes tm como principal funo a desintegrao mecnica dos alimentos e desempenham
tambm importante papel na dico das palavras e na esttica facial.
Em virtude da espcie humana se alimentar de substncias de diversas naturezas, apresenta
dentes de diversos formatos e em consequncia para diferentes funes: incisivos para cortar;
caninos para dilacerar; pr-molares para esmagar e os molares para moer os alimentos.
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SUPERIORES
7 meses
9 meses
18 meses
14 meses
24 meses
INFERIORES
6 meses
8 meses
16 meses
12 meses
20 meses
SUPERIORES
7 8 anos
8 9 anos
11 12 anos
10 11 anos
11 12 anos
INFERIORES
6 7 anos
7 8 anos
9 10 anos
10 11 anos
11 12 anos
SUPERIORES
7 8 anos
8 9 anos
11 12 anos
10 11 anos
10 12 anos
6 7 anos
12 13 anos
17 30 anos
INFERIORES
6 7 anos
7 8 anos
9 11 anos
10 12 anos
11 13 anos
6 7 anos
12 13 anos
17 30 anos
(*) Observe que os primeiros molares permanentes nascem aproximadamente aos 6 anos de idade da criana, e nenhum dente
cai para ele nascer, por este motivo so normalmente confundidos com dentes decduos e so perdidos por falta de cuidado
dos pais.
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222
da coroa, o nmero e o tamanho das razes. produzida por clulas especiais chamadas de
Odontoblastos4. Sua cor normalmente amarelo clara, tornando-se mais escura com a idade.
A dentina no to dura nem quebradia quanto o esmalte; ao contrrio, ela elstica e
passvel de deformao.
Sua estrutura diferente da estrutura do esmalte, ela constituda de inmeros
canalculos5 que partem da polpa dentria e seguem at o esmalte e o cemento. Em 1 mm2 temos
aproximadamente 30 a 40 mil tbulos dentinrios, dentro de cada canalculo destes encontramos
um prolongamento celular que responsvel principalmente pela sensibilidade deste tecido. Ou
seja, a dentina por meio deste mecanismo passvel de sentir estmulos e consequentemente se
defender. Sua principal defesa a dor, mas ela tambm capaz de defender-se formando uma
nova camada de tecido que conhecido como dentina reacional ou terciria. Esta nova camada
funciona como um escudo ou barreira aos agentes que esto agredindo o dente.
De acordo com a agressividade do estmulo, a dentina tambm pode obstruir esses
canalculos, por meio de fibras colgenas6 e cristais de apatita7, preenchendo-os totalmente. Esse
processo d origem dentina esclerosada, que protege no s a polpa dentria, mas tambm a
prpria dentina.
Portanto, a exposio da dentina ao meio bucal a principal causa da sensibilidade que
ocorre quando nos expomos a alimentos cidos, doces e frios.
Polpa Dentria (Nervo)
Constitui-se de um tecido conjuntivo frouxo, rico em nervos, vasos sanguneos, fibras e
clulas. Dentre as clulas esto os odontoblastos que so formadores da dentina.
Na coroa a polpa ocupa a cavidade pulpar, e na raiz o canal radicular. A polpa apresenta
salincias chamadas de cornos pulpares, que so normalmente da mesma forma que a anatomia
externa do dente, porm com a contnua deposio de dentina, a polpa torna-se menor com o
passar do tempo.
Ela possui inmeras funes: indutora na formao do dente, a polpa induz a transformao
do epitlio bucal em lmina dentria, para formar o rgo do esmalte, que ir se transformar num
determinado tipo de dente; formadora a polpa dentria possui clulas, os odontoblastos, que
produzem dentina; nutriente nutre a dentina, por meio de seu sistema vascular sanguneo;
protetora pela inervao sensitiva, alerta quanto presena de estmulos nocivos, que
podem lhe causar danos, e de defesa responde s irritaes mecnicas, trmicas, qumicas ou
bacterianas produzindo dentina reparadora e mineralizando os tbulos dentinrios afetados, a fim
de isol-la da fonte de irritao.
223
Cemento
Considerado como parte do periodonto (conjunto de estruturas que fixam e sustentam os
dentes), um tecido mineralizado, no vascularizado, que recobre a raiz do dente. Entretanto,
menos mineralizado que o esmalte e a dentina. Sua cor , geralmente, amarelo claro; mais
escuro que o esmalte e no possui brilho. A composio qumica do cemento varia de 45% a 50%
de matria inorgnica e 50% a 55% de matria orgnica e gua.
PERIODONTO
o conjunto de estruturas responsveis pela fixao e sustentao dos dentes, formado
pelo osso alveolar, gengiva marginal, cemento e fibras periodontais.
O osso alveolar um tecido especializado que tem sua existncia baseada na presena dos
dentes, ou seja, se perdemos nossos dentes, perdemos tambm o osso alveolar alveolar porque
as cavidades que alojam as razes dos dentes so chamadas de alvolos.
Fibras periodontais so feixes de fibras colgenas que ligam o dente ao osso alveolar, e
se este ligado por meio de fibras, esta unio no rgida e sim mvel, se uma unio mvel
pode ser denominada tambm de articulao uma articulao do tipo Gonfose. Esses feixes
se organizam de diferentes maneiras para executar diferentes funes, retendo o dente e o
sustentando nas mais diferentes condies de esforos a que ele pode ser submetido.
Essas fibras, alm de ligarem o dente (cemento) ao osso alveolar, ligam tambm o dente
gengiva marginal e a gengiva ao osso alveolar, bem como por meio de uma rede a gengiva
prpria gengiva, aumentando assim sua unio ao dente e melhorando sua resistncia.
Esse conjunto de fibras ajuda o dente a se proteger de agresses dos mais diferentes tipos:
mecnicas, qumicas e bacterianas.
Ao redor de cada dente existe um sulco, o sulco gengival, que quando em estado normal
deve apresentar uma profundidade de 1 a 3mm, e no apresentar secrees ou sangramentos
espontneos.
PREVENO EM ODONTOLOGIA
fundamental termos conhecimento das doenas que mais comumente acometem nossa
boca para podermos evit-las e (ou) prevenir seu desenvolvimento. Mas nem sempre so somente
doenas que devemos conhecer para termos mais sade, alguns hbitos errados e que muitas
224
vezes passam de pai para filho, e continuam sendo perpetuados por geraes, podem trazer
consequncias graves incorrigveis ou de correo dispendiosa e difcil.
Um grande exemplo a necessidade de conscientizao de pais e responsveis da importncia
da preservao dos dentes tanto decduos (leite) quanto os permanentes.
So vrios os motivos para isso, entre os mais importantes podemos citar:
1. Os dentes decduos servem de guia para a erupo (nascimento) dos dentes permanentes.
2. Eles tambm mantm o espao para os dentes permanentes, pois sua perda prematura
normalmente leva os dentes permanentes a nascerem em posies incorretas ou mesmo
impossibilidade de eruptar, ficando, dessa maneira, retidos e necessitando de processos
cirrgicos para serem removidos.
A perda de espao ocorre porque os dentes vizinhos perdendo o contato tendem a se
mover, pela perda de apoio que o dente retirado executava. Esta movimentao tambm
ocorre na perda de dentes permanentes, muitas vezes impossibilitando a execuo de
trabalhos protticos na regio dos dentes ausentes.
3. Estimulam o crescimento em altura e manuteno do osso que sustenta os dentes, a perda
prematura de dentes faz com que o osso alveolar seja reabsorvido pelo organismo, j
que o osso serve para sustentar os dentes. A perda deste osso posteriormente dificulta a
confeco de prtese parciais e totais (dentaduras), pois ambas se apoiam sobre este osso.
4. So teis no corte e na correta mastigao, auxiliando, assim, a digesto dos alimentos,
uma pessoa com ausncia de um elemento dentrio j possui um decrscimo acentuado
no poder de mastigao, tendo, dessa forma, uma probabilidade maior de desenvolver
doenas no aparelho digestivo. incorreto pensar que a simples recolocao prottica
dos elementos dentrios faltantes vai resolver o problema, pois, por exemplo, uma pessoa
que use prtese total (dentadura) tem o seu coeficiente de mastigao reduzido em mais
de 50%, pois nada se compara ao poder de mastigao dos dentes naturais.
5. Para a esttica, a maioria das pessoas que possuem dentes destrudos ou ausentes
apresenta dificuldades de socializao, problemas psicolgicos, mais retrada e,
lgico, quase no sorri.
6. Para o convvio social, a boca com seu sorriso nosso carto de visitas. Como poderemos
querer que algum converse conosco com nossos dentes destrudos e com o odor (mau
hlito) caracterstico desta destruio?
7. Para a fonao das palavras, todos sabemos que os dentes entram diretamente na
articulao de certos grupos de palavras. Com a ausncia destes dentes torna-se difcil
ou at impossvel a pronncia correta de alguns fonemas; em crianas essa falta causa
225
Em estgios iniciais, o processo de desmineralizao pode ser revertido, mas caso isso no
ocorra torna-se irreversvel, e a crie se instala, formando uma cavidade.
A doena ocorre pela interao de quatro fatores principais: um hospedeiro suscetvel, dieta
cariognica, tempo e a ao de microrganismos orais.
O diagrama a seguir ilustra esta interao de fatores causal:
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228
Cinco campos de ao so propostos para promover sade bucal (Figura 1) (OMS, 1986): o
desenvolvimento de polticas pblicas saudveis, como a fluoretao das guas de abastecimento
pblico; a construo de ambientes saudveis, como a oferta de alimentos seguros e saudveis nas
escolas e locais de trabalho; o desenvolvimento de habilidades pessoais, com a disponibilidade de
informaes sobre como cuidar da sade bucal;o fortalecimento da ao comunitria, favorecendo
que a populao participe da definio de prioridades para o cuidado da sade bucal; e a oferta
de servios de sade bucal adequados para atender s necessidades das pessoas.
Figura 1. Campos de ao para promoo da sade bucal.
229
Melhoras sustentveis em sade bucal requerem, portanto, aes efetivas direcionadas para
a criao de um ambiente social, como a escola, que facilite a manuteno da sade. Exemplos
de aes de sade bucal desenvolvidas em escolas podem fazer parte de estratgias ampliadas de
promoo da sade e favorecer a sade bucal (Quadro 1) (KWAN, PETERSEN, PINE et al., 2005).
Ambiente escolar saudvel
edificaes e reas de lazer seguros para prevenir acidentes
disponibilidade de gua tratada e fluoretada
venda proibida de alimentos no saudveis nas imediaes da escola
ambiente psicossocial de cuidado e respeito
envolvimento de estudantes, professores, funcionrios, famlias e membros da comunidade no
desenvolvimento de aes de promoo da sade
encontros frequentes entre a direo da escola, Associao de Pais e Mestres, conselhos comunitrios e
gestores da educao e da sade
Alimentao saudvel
disponibilidade de alimentos saudveis na cantina escolar
bebedouros de gua potvel na escola
treinamento para cozinheiras e fornecedores de alimentos sobre alimentao saudvel
Acar, lcool e tabaco
proibio de alimentos e bebidas base de acar nas dependncias da escola
proibio do uso de lcool e tabaco nas dependncias da escola
disponibilidade de servios de aconselhamento e suporte para parar de fumar
Educao para sade bucal
educao para sade bucal como parte do contedo do currculo
escovao dentria supervisionada diria
capacitao de pais sobre sade bucal e estmulo ao seu envolvimento em aes de promoo da sade
capacitao de professores e funcionrios
Servios de sade bucal
garantia de acesso aos servios de sade locais
resposta urgncias odontolgicas
Os esforos dirigidos promoo da sade nos ambientes em que as pessoas vivem devem,
portanto, considerar o contexto social, a segurana ambiental, os servios de sade oferecidos,
as parcerias com a comunidade, criando assim oportunidades para o desenvolvimento de
potencialidades e habilidades para escolhas individuais e coletivas que promovam sade.
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CNCER BUCAL
O cncer18 uma doena crnico-degenerativa19 e um grave e crescente problema de
sade pblica, constituindo-se na segunda maior causa de morte no pas. As estimativas globais e
nacionais mostram um incremento20 na prevalncia21 da doena e a enfermidade atinge propores
mundiais (INCA, 2006), apresentando altos ndices de mortalidade, com forte tendncia de
crescimento. Segundo o World Cancer Report (2009), lanado pela Organizao Mundial da
Sade, em 2030 os nmeros alcanaro as cifras de 20 a 26 milhes de novos casos e de 13 a
17 milhes de bitos no mundo.
Em 2008, foram realizados 12 milhes de novos diagnsticos e a doena foi responsvel por
7,6 milhes de bitos, ou seja, 13% de todos os bitos ocorridos mundialmente nesse perodo.
A prevalncia do cncer est projetada para aumentar e estima-se que, em 2020, o nmero de
casos novos anuais seja da ordem de 15 milhes, com 60% ocorrendo em pases de mdio e baixo
desenvolvimento (WHO22, 2009).
O cncer bucal representa de 3 a 5% do total dos tumores malignos nos pases ocidentais,
sendo que o carcinoma epidermoide ou espinocelular o mais prevalente em cabea e pescoo.
Em particular no Brasil ocupa uma posio de destaque entre os tumores malignos devido a sua
relativa incidncia e mortalidade (INCA23, 2006).
As malignidades bucais configuram-se como o sexto tipo de neoplasia24 no Brasil
(excetuando-se os casos de pele no melanoma25) e a previso que ocorram 10.330 novos casos
de cncer bucal para homens e 3.790 para mulheres, totalizando 14.120 novos casos entre 2009
e 2010(INCA 2009). O cncer de boca ocupa tambm a sexta posio em ocorrncia mundial,
porm permanece em terceiro lugar em pases em desenvolvimento (CONWAY, 2010).
A etiologia26 do cncer multifatorial27, porm, evidencia que a enfermidade diretamente
ligada ao tabagismo, alcoolismo e a associao entre ambos (MINISTERIO DA SAUDE, Brasil
2008). Outros fatores associados envolvem traumas mecnicos e causas biolgicas como, por
exemplo, o vrus HPV28.
Sobre a causalidade da doena, documentos do Instituto Nacional do Cncer (INCA) afirmam
que o risco de cncer numa determinada populao possui no s relao com as caractersticas
biolgicas e comportamentais dos indivduos que a compem, mas, tambm, com as condies
sociais, ambientais, polticas e econmicas que os rodeiam (INCA 2006).
Os fatores de risco29 associados ao cncer bucal esto relacionados a condio socioeconmica,
educao formal, ocupao, bem como a hbitos relativos ao estilo de vida saudveis como boa
alimentao, cuidados com a higiene e no saudveis como tabagismo30, etilismo31, sedentarismo32,
231
232
AUTOAVALIAO
AUTOEXAME39
A autoavaliao conhecida como autoexame de grande importncia principalmente para o
diagnstico precoce do cncer bucal.
Deve seguir uma sequncia:
1- Posicionar-se diante do espelho, com boa iluminao;
2- Examinar toda a face (rosto);
3- Examinar, sentir a textura dos lbios (inferior e superior);
4- Abrir a boca afastando com o dedo indicador as bochechas para melhor visualizao
(observar alterao de cor normal, consistncia, forma);
5- Projetar a lngua pra fora da boca examinando a parte de cima de baixo e dos lados;
6- Examinar o palato duro/mole e regio de garganta vula(cu da boca e campainha);
7- Quando sentir diferena de consistncia (mole/duro), os dedos indicadores e polegar,
com o toque provoca dor, sangramento;
8- Caso POSITIVO quando realizar estes passos, procurar imediatamente o profissional que
o cirurgio dentista ou um mdico para que possa avaliara e esclarecer o problema.
SUSTENTABILIDADE E VIDA SAUDVEL
Sustentabilidade40 um conceito sistmico41, relacionado continuidade dos aspectos
econmicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Prope-se a ser um meio de
configurar a civilizao e as atividades humana, de tal forma que a sociedade, os seus membros e
as suas economias possam preencher as suas necessidades e expressar o seu maior potencial no
presente, e ao mesmo tempo preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e
agindo de forma a atingir pr-eficincia na manuteno indefinida desses ideais. A sustentabilidade
abrange vrios nveis de organizao, desde a vizinhana local at o planeta inteiro. (PORTAL
SUSTENTABILIDADE 2012)
Vimos que os bons hbitos relacionados ao melhor acesso aos servios de sade, uma melhor
distribuio de renda diminuindo as diferenas sociais foram fatores relevantes na melhoria da
qualidade de vida da populao. Alm disso, fatores econmicos, respeito aos diferentes valores
entre os povos e incentivo aos processos de mudana que acolham a cultura e as especificidades
locais, associados sustentabilidade poltica com uma democracia representativa, traduzem-se em
uma vida mais saudvel.
233
234
Faz-se necessrio implementar uma poltica de sade mais abrangente, visando ao reforo da
importncia dos estudos a respeito da distribuio espacial dos problemas de sade, considerando
as necessidades de cada regio, caractersticas regionais e culturais da populao-alvo, levando em
conta aes pragmticas da vigilncia da sade de modo a contemplar determinantes estruturais
socioambientais, na tentativa de produzir e aplicar conhecimento na busca da equidade social,
visando qualidade da assistncia da sade das populaes.
Envelhecimento
A existncia de pessoas idosas registrada em toda histria da humanidade e aponta para
o desejo de se viver cada vez mais, com sade, independncia funcional e com mais qualidade
de vida. A evoluo do conhecimento, a melhoria das condies sanitrias aliadas s medidas
de preveno, o desenvolvimento social e econmico, bem como o avano da cincia e da
tecnologia, fizeram com que a humanidade registrasse um aumento significativo no seu tempo
de sobrevivncia, ou seja, uma melhoria no processo de sustentabilidade que traduz em melhor
qualidade na vida do indivduo.
O envelhecimento no apenas uma passagem pelo tempo, mais sim um acmulo de eventos
biolgicos que ocorrem ao longo da vida. No incio do sculo passado (sculo XX) a longevidade
do homem era bem menor, em torno de 50 anos. Hoje, um nmero cada vez maior de pessoas
chega terceira idade.
Enquanto os japoneses so os campees do mundo em longevidade, com expectativa
mdia de vida ao nascer em torno dos 82 anos isto devido a sua condio de sustentabilidade
(hbitos saudveis alimentao, politica pblica, econmica, social, cultural, e ambiente com
preocupaes ecolgicas que levam a equidade da populao) , no extremo, muitos habitantes
do continente africano nem sequer alcanam a metade desta idade. Nos pases os mais atingidos
pela Aids, a expectativa de vida vem sendo reduzida drasticamente em torno de 14 anos.
No Brasil, a expectativa mdia de vida ao nascer de 73,1 anos, sendo que a expectativa
para as mulheres em 7,6 anos a mais. Segundo estimativas mundiais, o nmero de idosos deve
duplicar at 2025. No Brasil hoje, temos aproximadamente 11 milhes de pessoas com mais de
60 anos. Projeo para 2020 de 32 milhes e o 6 pas em idosos.
O envelhecimento caracterizado pelo desgaste dos vrios setores do organismo, gerando
com isso alteraes no seu funcionamento, com perda das habilidades de adaptao ao meio.
Ento, as idades biolgica e funcional tornam-se um fator importante para medir o processo do
envelhecimento e suas adaptaes.
235
236
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WESTPHAL, M.F. Promoo da Sade e Preveno de Doenas. In: MINAYO, M.C.S.; CAMPOS, G.W.S.;
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Paulo-Rio de Janeiro: HUCITEC/FIOCRUZ; 2006. p. 635-667.
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16. Autonomia Desenvolvimento pessoal das capacidades que permitem que as pessoas possam decidir
livremente sobre suas prprias aes e as possibilidades de construrem sua prpria vida e sade.
(WESTPHAL, 2006)
17. Iniquidades Diferenas injustas.
18. Cncer Considerada uma doena degenerativa, todos os tipos, incluindo o de boca bucal. (tumor maligno)
19. Ddoena crnico-degenerativa De curso longo, progressivo relativo ao processo do envelhecer, alterar as
qualidades do que foi gerado.
20. Incremento Relativo a aumentar.
21. Prevalncia Relativo a numero de casos.
22. WHO Sigla em ingls de OMS (Organizao Mundial da Sade).
23. INCA Instituto Nacional do Cncer Que estuda e documenta os casos de cncer no Brasil.
24. Neoplasia Nova formao tumoral; se maligno, sinnimo de (tumor maligno).
25. Melanona Cncer, tumor maligno de pele.
26. Etiologia Relativo a causa, o que forma.
27. Multifatorial Relativo a vrios fatores que se interam.
28. Vrus HPV Vrus Papiloma Humano, maior precurssor do cncer de colo de tero, com aparecimento
em boca.
29. Fatores de risco Fator relacionado ao aumento da probabilidade de desenvolver a doena.
30. Tabagismo Ato de fumar.
31. Etilismo Ato de beber bebida alcolica.
32. Sedentarismo Mau hbito relativo atividade fsica.
33. Critrio Norma para decidir ou proceder.
34. Proservao Controle, acompanhamento ao longo do tempo.
35. Regies peribucais Regies ao redor da boca.
36. Grupo de risco Indivduos com maior chance de acometer, desenvolver a doena.
37. Sinal O que se observa (alterao de cor, volume, consistncia).
38. Sintoma subjetivo, o que o paciente sente e informa.
39. Auto exame Auto, relativo a si proprio, ato de se observar; realizar exame em si mesmo.
40. Sustentabilidade O que pode ser sustentado, mantido.
41. Sistmico Relacionado ao geral, de maneira genrica.
42. Antioxidantes Substncias presentes nos alimentos que ajudam no processo de manuteno de sade,
ajudando o metabolismo e prevenindo o envelhecimento precoce celular.
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A maioria das informaes contidas neste texto foram retiradas e baseadas no site da ONG
Criana Segura, conforme citado nas referncias bibliogrficas.
Toda criana vive constantemente exposta a perigos. Negar a existncia deles fugir da
realidade. Criar um meio ambiente artificial isento de perigos impraticvel e mesmo impossvel.
Os pais ou responsveis e os professores devem tornar-se atentos aos fatores que podem levar a
acidentes e aprender como preveni-los.
A proteo passiva por si s no suficiente. A criana, to cedo quanto possvel, deve ser
ensinada a compreender os riscos que corre. As leses no intencionais ou os acidentes acontecem
durante um lapso de superviso ou porque um mecanismo de segurana no foi utilizado (cinto de
segurana, capacete etc.). Nesse sentido, dois erros so frequentemente cometidos pelos adultos:
1) Atribuir criana mais inteligncia do que ela possui.
2) Achar que ela incapaz de pensar e aprender por si prpria.
No grupo de crianas de 1 a 14 anos, leses envolvendo veculos automotores, afogamento,
quedas e queimaduras provocam no Brasil cerca de 5.000 mortes e mais de 119 mil hospitalizaes
anualmente, segundo dados do Ministrio da Sade, configurando-se como uma sria questo de
sade pblica. Estima-se que 90% dessas leses podem ser prevenidas a partir da combinao de
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Fazer com que as crianas sempre usem o mesmo trajeto para destinos comuns como a
escola. Caminhar com seu filho ou alunos para encontrar o caminho mais seguro com
menos ruas para atravessar e menor fluxo de automveis.
Para evitar atropelamentos durante noite, use lanternas ou materiais refletivos nas
roupas da criana.
No deixar a criana atravessar a rua saindo por entre os carros estacionados ou aps
descer do nibus ou carro, nem sair de trs de rvores, arbustos, muros e portes (os
motoristas no enxergam as crianas).
Conscientizar a criana de que no deve correr atrs da bola, do cachorro ou de algum
diretamente para a rua sem parar no meio-fio ou beira da rua.
Orientar a criana a caminhar de frente para o sentido do trfego nas caladas ou nos
caminhos, o mais esquerda possvel.
Observar os carros que esto virando ou dando r.
Caminhar em fila nica sempre que estiver com mais crianas.
Ao desembarcar do nibus, esperar que o veculo pare totalmente para descer e aguardar
que ele se afaste para atravessar a rua.
Ensinar o seguinte para as crianas:
parar no meio-fio ou na margem da rua;
olhar para os dois lados antes de atravessar, acelerar o passo e continuar olhando
para os lados enquanto atravessa;
atravessar nas esquinas usando os sinais de trnsito e as faixas para pedestres.
ACIDENTES COM VECULOS
Os acidentes de trnsito so responsveis pelo maior nmero de mortes de crianas e
adolescentes na faixa etria de 1 a 14 anos no Brasil. A maneira como a criana viaja no carro
to importante quanto a velocidade do veculo, as condies da estrada e as condies do motorista.
Por isso, houve a necessidade de criarem-se regras para o transporte das crianas no pas.
A Resoluo 277 do Conselho Nacional de Trnsito (Contran), publicada em maio de 2008,
regulamentou o transporte de crianas em veculos. Segundo a norma, crianas de at 7 (sete)
anos e meio devem ser transportadas obrigatoriamente no banco traseiro e em dispositivos de
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Quando a criana medir mais de 1,45 metros de altura, dever andar no banco de trs usando o cinto de
trs pontos do carro, sem a cadeirinha.
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estiver em funcionamento. Isso limitar o acesso das crianas ao controle das janelas.
Nunca deixar as crianas sem superviso.
Certificar-se de que todas as crianas deixaram o veculo quando chegar ao seu destino.
Supervisionar tambm as crianas que estiverem dormindo.
Nunca deixar o carro sozinho com o motor ligado e as portas destravadas. Crianas
curiosas podem entrar e engatar o veculo.
Assim como qualquer corda ou cabo, os cintos do carro tambm podem representar
riscos para a criana. No permitir que elas brinquem com eles.
Acionar as travas de segurana resistentes a crianas.
Manter o encosto do banco de trs travado para ajudar a prevenir que as crianas vo ao
porta-malas por dentro do carro.
Se uma criana sumir, checar o carro e o porta-malas em primeiro lugar.
Se voc vir uma criana sozinha dentro de um carro, ligue para o 190 imediatamente.
Ensinando a Criana
Ensinar as crianas a nunca brincarem dentro de veculos, pois ele serve exclusivamente
para transporte.
Orientar as crianas que os porta-malas so usados apenas para o transporte de carga e
no so locais seguros para brincar.
Ensinar as crianas mais velhas como desabilitar as travas das portas de trs pela porta
do motorista caso fiquem presas no-intencionalmente no veculo. Uma criana que est
aprendendo a andar no saber como ir para o banco da frente para sair do carro.
Mostrar para as crianas mais velhas como localizar e utilizar a trava de emergncia do
porta-malas que existe nos modelos de carros mais modernos.
AFOGAMENTO
Em um pas como nosso, em que a temperatura amena ou quente boa parte do ano e onde
existem muitos rios, represas, lagos, lagoas e praias, alm de piscinas que esto em lugares como
parques, clubes, condomnios e casas, o cuidado com as crianas que frequentam estes espaos
deve ser reforado.
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Os afogamentos podem ocorrer em diversos locais como: rios, piscinas, mar, valetas, poos,
bacias, baldes e vasos sanitrios. Acontecem quando as crianas so deixadas soltas sem superviso
e de forma rpida e silenciosa. Entretanto, importante salientar que os perigos esto tambm em
ambientes familiares, tais como: piscinas, baldes e banheiras. Uma criana que comeou a andar
recentemente, por exemplo, pode afogar-se em 2,5 cm de profundidade de gua. Uma grande
parte das crianas que se afogam em piscinas estava em casa ou em clubes e ficou fora da vista
dos pais ou responsveis por menos de 5 minutos.
Protegendo a Criana
Esvaziar baldes, bacias e piscinas plsticas imediatamente aps o uso. Guard-los virados
para baixo e fora do alcance de crianas.
Despejar a gua antes de retirar a criana da banheira e esconder a tampa de modo que
a criana no possa preparar o seu prprio banho.
Nunca deixar uma criana com menos de 3 (trs) anos sozinha na banheira, mesmo
quando ela j se senta bem. Durante o banho, no atender ao telefone e nem porta.
Manter a tampa do vaso sanitrio fechada e usar trancas nos banheiros e casinhas.
No deixar as crianas mergulharem sem terem aprendido antes tcnicas de mergulho.
Crianas devem aprender a nadar com instrutores qualificados ou em escolas de natao
especializadas. Se os pais ou responsveis no sabem nadar, devem aprender tambm.
Cuidar com troncos e galhos escondidos no fundo dos lagos e lagoas e com a profundidade
local.
Crianas devem aprender a nadar e usar sempre coletes salva-vidas.
Procure saber quais amigos da criana ou vizinhos possuem piscina. Certifique-se de que
a criana ser cuidada por um adulto enquanto visita o amigo.
A criana deve sempre nadar com um companheiro. Nadar sozinha muito perigoso.
Evitar locais com aglomeraes na gua para que ningum caia ou mergulhe sobre os outros.
Nunca deixar uma criana sem superviso dentro ou prximo de gua, mesmo em
piscinas rasas. Um adulto deve sempre supervision-las de forma ativa e constante.
As piscinas devem ser protegidas com cercas de no mnimo 1,5 metros que no possam
ser escaladas e portes com cadeados ou trava de segurana que dificultem o acesso
dos pequenos.
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Grande parte dos afogamentos com bebs acontece em banheiras. Na faixa etria at dois
anos, at vasos sanitrios e baldes podem ser perigosos. Nunca deixar as crianas, sem
vigilncia, prximas a pias, vasos sanitrios, banheiras, baldes e recipientes com gua.
Evitar brinquedos e outros atrativos prximos piscina e reservatrios de gua.
Bias e outros equipamentos inflveis passam uma falsa segurana. Eles podem estourar,
virar a qualquer momento e ser levados pela correnteza. O ideal a criana usar sempre
um colete salva-vidas quando estiver em embarcaes, prxima a rios, represas, mares,
lagos e piscinas, e quando estiver praticando esportes aquticos.
Muitos casos de afogamentos aconteceram com pessoas que achavam que sabiam nadar.
No superestime a habilidade de crianas e adolescentes.
Ensinando a criana
Sempre nadar com um companheiro adulto. Nadar sozinho muito perigoso.
Respeitar as placas de proibio nas praias, os guarda-vidas e verificar as condies das
guas abertas.
No brincar de empurrar, dar caldo dentro da gua ou simular que est se afogando.
Saber ligar para um nmero de emergncia e passar as informaes de localizao e do
que est acontecendo em caso de perigo
SUFOCAO OU ENGASGAMENTO
Em 2009, segundo dados do Ministrio da Sade, 761 crianas de at 14 anos foram
vtimas deste tipo de acidente. At os 4 anos de idade, a criana est muito exposta a este risco
pois nesta fase que se inicia a explorao do mundo ao redor por meios dos cinco sentidos (tato,
audio, olfato, paladar e viso). Dentre os acidentes, a sufocao (obstruo das vias areas) a
primeira causa de morte em bebs de at um ano.
Protegendo a Criana
Bebs devem dormir em colcho firme, DE BARRIGA PARA CIMA, cobertos at a
altura do peito com lenol ou manta presos embaixo do colcho e os bracinhos para fora.
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O colcho deve estar bem preso ao bero (no mais que dois dedos de espao entre o
bero e o colcho) e sem qualquer embalagem plstica.
Na hora de dormir, evitar o excesso de roupas e fraldas no beb. Remover do bero
todos os brinquedos, travesseiros e objetos macios quando o beb estiver dormindo, para
reduzir o risco de asfixia.
Ter muita cautela em relao ao bero. Procurar beros certificados pelo Inmetro,
conforme as normas de segurana da ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas).
Ficar atento s grades de proteo do bero, que devem estar fixas e no devem ter mais
que 6 cm de distncia entre elas.
Comprar somente brinquedos apropriados para a criana. Verificar as indicaes de
idade no selo do Inmetro. Tenha certeza de que o piso est livre de objetos pequenos
como botes, colar de contas, bolas de gude, moedas, tachinhas. Tirar esses e outros
pequenos itens do alcance do beb.
Considerar a utilizao de um testador para determinar essas partes pequenas de brinquedos
que oferecem risco de engasgamento para crianas de at 4 anos. Utilizar uma embalagem
plstica de filme fotogrfico como referncia, pois ela possui o dimetro (3 cm) aproximado
da garganta da criana e poder alertar para o risco de forma bastante visual;
Considerar a compra de cortinas ou persianas sem cordas para evitar que crianas
menores corram o risco de estrangulamento.
Na hora da alimentao, cortar os alimentos em pedaos bem pequenos.
QUEDAS
As quedas representam a principal causa de internao entre os acidentes com crianas e
adolescentes de at 14 anos no Brasil. Isso quer dizer que a queda caracteriza-se como o acidente
que mais gera hospitalizao de nossas crianas.
A maior parte dos acidentes resultante de quedas de escadas, telhados, muros, cercas,
cavalos, carroas, tratores e carretas, bicicletas, patins, patinetes e skates. Caractersticas fsicas
prprias do desenvolvimento da criana favorecem as quedas, como o tamanho e o peso da cabea
em relao ao corpo, que acabam facilitando o desequilbro.
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Protegendo a Criana
Cada criana necessita de um tipo de preveno de acidentes de acordo com alguns fatores
que podem interferir, tais como:
tipo de casa e localizao;
cercanias da casa;
nvel socioeconmico;
com quem ela fica;
o trajeto da criana para a escola;
como a sua escola;
estgio do desenvolvimento e o nvel de atividade da criana.
Entre crianas de 1 a 4 anos, acontecem com frequncia razovel quedas de mveis, da
cama, de equipamentos de recreao, de degraus, de escadas e de altura. Entre 5 e 14 nos, so
mais frequentes acidentes relacionados a atividades recreativas e esportivas.
Em grande parte das cidades brasileiras, existem edificaes cobertas apenas por laje. Essas
lajes exercem grande atrao entre crianas das diferentes faixas etrias, constituindo um local
onde realizam diversas atividades e brincadeiras. um local muito perigoso para a realizao
dessas brincadeiras, pois com frequncia ocorrem quedas com traumatismos variados, que geram
leses graves e alta taxa de mortalidade.
A queda de objetos pesados sobre a criana, como televisores, por exemplo, tambm pode
causar leses graves e at a morte. A televiso costuma ser muito atrativa para os pequenos, com
tantos botes, imagens e sons. A criana tanto pode mexer sozinha no eletrodomstico como
equilibrar-se nele para levantar do cho, causando a queda da TV ou qualquer outro objeto
pesado sobre ela. Por isso, supervisione sempre a criana, mesmo que em uma atividade a
princpio sem riscos como assistir TV. Certifique-se de que os mveis, alm de fixos e estveis,
podem suportar bem o peso do aparelho
Ensinando a Criana
As crianas devem brincar em locais seguros. Escadas, sacadas e lajes no so lugares
para brincar.
Explicar s crianas os perigos de andar em tratores, carretas e carroas sem a superviso
de adultos e ensinar-lhes como se comportar.
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Usar portes de segurana no topo e na base das escadas. Caso a escada seja aberta,
instalar redes ao longo dela.
Instalar grades ou redes de proteo nas janelas, sacadas e mezaninos.
Crianas com menos de 6 anos no devem dormir em beliches. Se no tiver escolha,
colocar grades de proteo nas laterais.
Manter camas, armrios e outros mveis longe das janelas, pois podem facilitar que
crianas os escalem e se debrucem para fora do prdio ou casa.
Bicicleta um veculo, no um brinquedo. Ao andar de bicicleta, skate ou patins, o uso
de equipamentos de segurana como capacete e joelheira fundamental.
Cuidar com pisos escorregadios e colocar antiderrapante nos tapetes.
Deve-se sempre observar as crianas quando estiverem brincando nos parquinhos. Verificar
se os brinquedos esto em boas condies e se so adequados idade da criana.
No permitir que a criana pule dos equipamentos recreativos. Alerte-a para a funo do
brinquedo: por exemplo, escalar e descer pelo lado correto.
Manter uma mo segurando o beb durante a troca de fraldas. Nunca deixar um beb
sozinho em mesas, camas ou outros mveis, mesmo que seja por pouco tempo.
No permitir que crianas brinquem perto de barreiras e barrancos.
Quando acionar a emergncia
Se houver perda de conscincia.
Se a criana apresentar sonolncia, irritabilidade, alterao de comportamento, convulso,
vmitos.
Se a criana reclamar de dor, especialmente no pescoo ou no dorso.
Se a criana persistir chorando, inconsolvel.
Se a criana estiver sangrando ou com escorrimento de outro fluido do nariz, ouvidos
ou boca.
Se a criana apresentar sinais sugestivos de fraturas.
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Inflamveis
No deixar fsforos, isqueiros e outras fontes de energia ao alcance das crianas.
Guardar todos os lquidos inflamveis em locais altos e trancados, longe do alcance
das crianas.
Muito cuidado com o lcool. Ele responsvel por um grande nmero de queimaduras
graves em crianas. Guardar o produto longe do alcance delas. O mais seguro substituir
qualquer verso de lcool por outros produtos de limpeza domstica, como gua e sabo.
Nunca jogar lcool engarrafado sobre chamas ou brasas, nem utilizar este produto para
cozinhar. O lcool poder explodir, provocando queimaduras graves ou at fatais.
S acenda velas em recipientes fundos (como jarros de vidro) ou num prato fundo com gua.
Tire todos os aquecedores portteis do alcance das crianas.
IMPORTANTE: Se mesmo tomando todos estes cuidados, um acidente ocorrer, leve a
criana ao posto de sade ou hospital mais prximo para que seja orientada, avaliada e tratada.
ENVENENAMENTOS
O ambiente domstico, onde acontecem a maior parte dos acidentes, possui vrios
tipos de venenos em potencial. A explorao do espao uma atividade importante para o
desenvolvimento infantil. Colocar objetos na boca ou tentar pegar frascos com lquidos coloridos
so comportamentos caractersticos das crianas, mas que tambm podem coloc-las em grande
risco de envenenamento e intoxicao no intencional.
O envenenamento a quinta causa de hospitalizao por acidentes com crianas de 1 a 4
anos. Por isso, necessrio adaptar a casa para proteger as crianas, alm de vigi-las em todos
os lugares.
Protegendo a Criana
Medicamentos
Devem ser guardados em armrios altos e trancados a chave, em suas embalagens
originais e com a bula, longe do alcance das crianas.
Remdios de uso adulto e de uso infantil com embalagem semelhante tm de ser
armazenados em lugares diferentes.
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Perto de dois teros dos pais possuidores de armas de fogo com filhos em idade escolar
acreditam que guardam suas armas seguramente longe deles. No entanto, um estudo descobriu
que quando uma arma estava em casa, boa parte dos alunos do Ensino Fundamental e do Ensino
Mdio sabia onde ela estava guardada.
Poucas crianas abaixo de oito anos podem seguramente distinguir entre armas reais e de
brinquedo ou entender completamente as consequncias de suas aes. Crianas de trs anos de
idade so fortes o suficiente para puxar o gatilho de muitos revlveres. Por isso, guardar armas de
fogo em lugares seguros, fora do alcance das crianas, primordial.
Por que as crianas esto em risco?
Alguns pais pensam que suas crianas no esto em risco porque eles no possuem armas.
Outros pais pensam que seus filhos esto seguros porque eles possuem armas e as crianas sabem
das regras. Uma subestimao da capacidade da criana para ganhar acesso a uma arma
de fogo em casa um problema comum. Alm disso, ao contrrio dos adultos, as crianas so
incapazes de distinguir entre uma arma real e armas de brinquedo.
A verdade que todas as crianas esto potencialmente em risco de acidentes com armas
de fogo. No entanto, sabendo como e por que ocorrem, possvel reduzir substancialmente esse
risco. Quase todos os tiros fatais acidentais ocorrem dentro da casa da vtima ou na casa de um
amigo ou parente. A maioria dessas mortes envolve armas que foram guardadas carregadas e em
locais de fcil acesso para as crianas quando estavam brincando.
Para a segurana de sua criana com relao armas de fogo, voc deve considerar se
vale a pena manter uma arma de fogo em sua casa. Se voc optar por mant-la, armazen-la com
segurana e fora do alcance da criana, e manter a munio em um local separado. Alm disso,
voc deve conversar com seu filho sobre os perigos das armas de fogo, ensinando-o a nunca tocar
ou brincar com elas.
A casustica de acidentes com armas de fogo mais alta nas reas rurais, onde provavelmente
maior nmero de pessoas possui armas de fogo e as utilizam ao ar livre para caar ou exercitar
tiro ao alvo.
Situaes de Alto Risco com armas de fogo
Armas de fogo acessveis em casa.
Armas de fogo acessvel em outra casa (vizinhos, amigos, parentes).
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CONCLUSES
As crianas devem ser supervisionadas de forma ativa e constante. Muitos acidentes
ocorrem rapidamente e de forma silenciosa.
Ensinar as crianas, quanto mais cedo possvel, a compreender os riscos aos quais esto
expostos, suas consequncias e a importncia da preveno.
A melhor forma de evitar os acidentes na infncia a preveno. Esta comea dentro
de casa e, principalmente, com a participao e exemplo dos pais e, em extenso, dos
professores e educadores.
Programas educativos devem ser promovidos tanto dentro como fora das escolas, pois
so uma ferramenta muito importante na educao para se evitar acidentes.
REFERNCIAS
CRIANA SEGURA BRASIL. Cuidados para uma criana segura. Disponvel em: <http://www.
criancasegura.org.br>.
CRIANA SEGURA BRASIL. Dicas de Preveno. Disponvel em: <http://criancasegura.org.br/page/dicasde-prevencao>.
ATIRAR. Acidentes e incidentes com armas de fogo. Disponvel em: <http://www.mvb.org.br/campanhas/
acidentesearmas.php>.
BABYCENTER. O que fazer em caso de quedas. Disponvel em: <http://brasil.babycenter.com/baby/
protecao/quedas/>.
BABYCENTER. Queimaduras em crianas: o que fazer. Disponvel em: <http://brasil.babycenter.com/
baby/protecao/queimadura/>.
BLOG DA CRIANA. Dicas de Preveno de Atropelamento. Disponvel em: <http://www.blogdacrianca.
com/dicas-de-prevencao-de-atropelamento>.
BLOG EM DEFESA DA CRIANA SAUDVEL. Como proteger seu filho de quedas e prestar primeiros
socorros a crianas. Disponvel em: <http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2009/05/20/comoproteger-seu-filho-de-quedas-e-prestar-primeiros-socorros-a-criancas/>.
BLOG EM DEFESA DA CRIANA SAUDVEL. Manual para evitar o Afogamento de Crianas. Disponvel
em: <http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2009/10/06/manual-para-evitar-afogamentos-de-criancas/>.
CRESCER. Manual de primeiros socorros contra envenenamentos de crianas. Disponvel em: <http://
revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI72784-16889,00.html>.
E.EDUCACIONAL. Armas de fogo. Disponvel em: <http://www.educacional.com.br/reportagens/acidentes/
armas.asp>
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Com base no trabalho da ONG Criana Segura, os episdios mostram que os cuidados com a sade da criana e
do adolescente comeam com hbitos preventivos incorporados s rotinas domsticas e ao dia-a-dia das famlias.
http://www.futuratec.org.br/details.php?id=163b21335cf823d7569278a5d59287b8eb9c3169
http://www.professorjosa.com.br/2010_08_15_archive.html
Sistema de reteno equivalente Conjunto de elementos que contm uma combinao de tiras com fechos
de travamento, dispositivo de ajuste, partes de fixao e, em certos casos, dispositivos como: um bero
porttil porta-beb, uma cadeirinha auxiliar ou uma proteo antichoque que devem ser fixados ao veculo,
mediante a utilizao dos cintos de segurana ou outro equipamento apropriado instalado pelo fabricante
do veculo com tal finalidade.
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SEXUALIDADE
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A orientao de gnero, por sua vez, pode ser compreendida como a preferncia sexual
direcionada para o mesmo sexo ou para sexo oposto o comportamento homossexual ou
heterossexual, respectivamente.
A orientao sexual no pode ser a medida do valor de uma pessoa e no deve influenciar
o julgamento moral de algum. O adolescente deve compreender que, independentemente da sua
escolha sexual, o mais importante viver a sexualidade respeitando a si e ao outro.
Homossexualidade
Homossexualidade no considerada um transtorno psquico/mental. Portanto, deve ser
encarada com respeito e postura isenta de atitudes de preconceito e discriminao.
Na adolescncia, vive-se um perodo crtico quanto a quem se , e qual o objeto de desejo;
a poca das experincias no campo da sexualidade, e a inconstncia dos vnculos objetais que
os jovens estabelecem com seus parceiros nem sempre significa tendncia promiscuidade. Na
adolescncia, as experincias homoafetivas4 so comuns, sem que isso represente homossexualidade.
Durante a adolescncia, comumente os jovens participam de jogos sexuais com outros jovens
do mesmo ou de outro sexo. Isso no se caracteriza como orientao homossexual, j que essa
definio ocorrer ao longo do processo de estabelecimento da identidade.
A preferncia homossexual ocasiona grandes conflitos pessoais, e a rejeio social causa de
vultoso sofrimento, que pode potencializar outros problemas como uso de drogas, fracassos escolares
e depresso. A denominao opo sexual no mais cabvel, pois sabe-se que uma questo de
orientao-afetivo-sexual, e no de uma escolha planejada, racional e consciente. um processo
bem mais complexo, que inclui fatores psicolgicos, sociais, culturais, familiares e genticos.
MITOS E TABUS
Mitos so explicaes, interpretaes da realidade que transformam a realidade social em
algo natural e aceitvel.
Exemplos:
Mulher mais frgil do que o homem.
Sensualidade, doura e afeto so coisas de mulher.
Virgindade sinal de pureza na mulher.
O homem um ser dominante por natureza.
A masculinidade demonstra-se por rudeza, vigor e fora fsica.
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masturbatria e permeada por muita curiosidade sobre o prprio corpo e o de seus iguais. o
momento do conhecimento corporal.
A masturbao (autoerotismo) importante dentro do processo de aceitao do prprio
corpo, da descoberta das sensaes genitais fsicas de autoconhecimento e autoestima. Contribui
para descarga de tenses. H muitos mitos que ainda perduram em relao a essa prtica,
entretanto ressaltamos novamente: mediante o encontro consigo mesmo que o adolescente
poder, quando adulto, estabelecer vnculos mais estveis, nos quais haver um reconhecimento
do outro e de si mesmo. A masturbao, comum a ambos os sexos, no deve ser proibida e sim
orientada, explicando ao adolescente o limite de um comportamento socialmente adequado. As
brincadeiras sexuais so permeadas pela curiosidade em relao ao sexo oposto.
A maioria das primeiras experincias sexuais geralmente ocorrem na etapa mdia (14 aos 17
anos). H uma grande carga de energia sexual, podendo acontecer a iniciao sexual de forma no
protegida. Os relacionamentos so marcados por um comportamento exploratrio e autocentrado.
A iniciao sexual um momento que mobiliza curiosidade, expectativa e angstia quanto
a uma srie de aspectos, inclusive conflitos em relao virgindade, especialmente, quando h
questes ligadas religio e a valores familiares. Na etapa tardia (17 aos 20 anos), o desenvolvimento
fsico est completo.
Os contatos tendem a ser menos autocentrados e apenas exploratrios, e passam a ter uma
caracterstica mais relacional, isto , valorizam-se o vnculo, a intimidade e o compartilhar. H uma
tendncia a maior conscincia quanto s consequncias do comportamento sexual e necessidade
de proteo. O ficar, o rolo, podem ser resultado de grande ansiedade. A cultura e o grupo
social definem regras baseadas em mitos, crenas, conceitos e preconceitos, que podem criar um
repertrio de informaes sobre sexualidade e relacionamentos que favoream ou no a dissoluo
dessa ansiedade em torno das relaes afetivas. A prtica sexual na adolescncia sofre grande
influncia do grupo de amigos, de fatores emocionais; o desejo de ser igual, a curiosidade, a
vontade de entrar no mundo adulto, sendo homem ou mulher, so motivaes bastante fortes.
Existem diferenas, de forma geral, entre o comportamento sexual de garotos e de garotas.
Para as garotas, o componente afetivo costuma ter grande importncia; para os garotos, h uma
emergncia maior no impulso de satisfao imediata. O contato com o outro tem muito mais a
caracterstica de busca de autoconhecimento, pois a busca por si mesmo, pela descoberta do Eu.
Normalmente, durante a adolescncia os relacionamentos tm vnculos intensos, porm
frgeis. Os adolescentes vivenciam as experincias sexuais de forma imprevisvel e, com frequncia,
desprotegidos quanto contracepo e preveno de doenas podendo se tornar um problema
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devido falta de informao, de comunicao entre os familiares, tabus ou mesmo pelo fato de ter
medo de assumi-la (CAMARGO, 2009).
As caractersticas de comportamento adolescente como onipotncia, o mito da
invulnerabilidade e a curiosidade sobre a fertilidade contribuem para a prtica sexual desprotegida
Mas h de se levar em conta que o comportamento sexual varia de acordo com idade e cultura, e
nas culturas variam de acordo com os distintos perodos histricos de sua existncia.
VIVNCIAS NA ADOLESCNCIA
As vivencias das diversas, experincias na adolescncia desenvolvida de forma individual ou
em grupo, pode contribuir para que adolescentes vivenciem a sexualidade e suas relaes afetivas
de forma satisfatria, criativa e sem riscos, vinculados ao respeito mtuo e sem discriminao de
gnero (COSTA, 2012) .
Busca de identidade a busca de experincias que possibilitem a descoberta de si
mesmo (ABERASTURY, A. & NOBEL, 1991).
Consistem em um processo de busca: com encontros fortuitos, com as paixes repentinas,
e transitrias. Neste momento ocorre a redescoberta do prprio corpo, quando o
adolescente percebe uma nova imagem corporal em funo das transformaes iniciadas
na puberdade.
Busca de uma figura idealizada, consiste na identificao com o outro, que ele gostaria
de ser.
Jogos de seduo, o meio de conseguir o que deseja com facilidade, e rapidez seja em
relao questo sexual ou no.
Ficar / Rolo / Namoro. So relacionamentos sem compromissos, mais frequente na
primeira e segunda fase da adolescncia.
Descoberta de papis sociais e de gnero, o adolescente se percebe como parte de uma
coletividade, isso o torna capaz de uma atitude, de um posicionamento e comportamento
em relao ao sexo feminino e masculino.
Conquista de novos espaos sociais. Junto aos seus iguais constituem grupos com os
mesmos interesses, tentam infringir normas e limites.
Aventura. O adolescente vivencia o novo, sem pensar em consequncias No seu
pensamento tudo pode. Est sempre em busca de aes estimulantes
271
272
persuadir, induzir. Orientar aponta para uma posio de ajuda na escolha de opes e visa ao
estmulo autonomia do adolescente. As informaes precisam ser claras e teis no sentido de
diminuir a ansiedade, o medo e as fantasias sobre aspectos que possam ser focados de forma
objetiva. essencial que o profissional mostre-se receptivo aos sentimentos do adolescente,
que saiba ouvi-lo com seriedade, interesse e compreenso. importante observar pistas de
comportamentos que apontem para contradies, ambivalncias e riscos, pois a orientao, nesses
momentos, pode ser necessria e til.
O incio, o meio e o final da adolescncia so de certa forma etapas distintas, com conflitos
distintos, entretanto com um nico pano de fundo: a busca de identidade. necessrio orientar
a iniciao da atividade sexual, bem como sua continuidade, sempre contextualizando-a no
processo de desenvolvimento psicossexual e motivando os laos afetivos. A elevao da autoestima
do adolescente um fator de grande proteo no exerccio da sexualidade. Por meio dela o
adolescente poder estar mais seguro para dizer sim e no nas diversas situaes Estimular
aes de responsabilidade dos adolescentes de ambos os sexos quanto a questes de anticoncepo
e preveno de doenas fundamental.
Os veculos de informao so fontes de grande influncia na formao dos jovens e
crianas. Os profissionais da educao devem estar preparados para discutir e orientar pais e
adolescentes, tanto com argumentaes com base cientficas quanto desenvolvendo uma viso
crtica dos modelos prontos, mensagens implcitas, esteretipos e idealizaes.
Trabalhar o projeto de vida com os adolescentes fundamental, pois quando estes se
percebem tendo perspectiva de futuro com metas, planos e objetivos, ampliam a forma de ver a
prpria vida e suas responsabilidades. Adolescentes com conflitos emocionais pessoais e familiares
apresentam maior risco de prtica sexual desprotegida, da a necessidade de estar atento ao
trabalho efetivo com a famlia, sempre num sentido de integrao e resgate do potencial familiar
na resoluo dos problemas.
importante ter o cuidado de no assumir uma posio autoritria, discriminatria ou
preconceituosa em relao s atitudes do adolescente. Ele precisa ser respeitado e compreendido
de uma forma ampla, contextualizada em seu meio e em sua histria de vida.
S assim o profissional poder ajud-lo a aumentar a autoestima, o respeito prprio, e
muitas vezes a resgatar valores importantes para seu projeto de vida.
Deve-se explicar aos alunos que sexualidade no implica fatalmente o binmio pnis-vagina.
Que eles no confundam sexual com genital. A sexualidade ampla e difusa, e todo corpo
humano ertico e erotizvel6. A abordagem da sexualidade deve ser imbuda de conhecimentos
slidos isento de ideias preconceituosas, sem mitos ou tabus.
273
Deve comear o mais cedo possvel, deve ser contnua, iniciada no seio da famlia e
complementada na escola e por profissionais de sade. A maioria dos adolescentes pouco
conscientizada a respeito de sexualidade e reproduo e tem dificuldade de dizer no atividade
sexual ou negociar a prtica do sexo seguro. Negar ao adolescente informaes sobre sexualidade
e sexo seguro no impede o incio precoce atividade sexual. Educao sexual de qualidade
possibilita ao adolescente a condio de saber qual o momento apropriado para iniciar uma
atividade sexual segura, saudvel e prazerosa.
Diante de perguntas sobre sexo:
No fique vermelho, sorria.
Nada de embaraos.
Responda com informaes corretas, sem fantasias.
Nunca deixe uma pergunta sem resposta.
Seja sucinto.
Utilize um vocabulrio compreensvel.
Inicie com informaes mais simples.
Nunca seja vulgar.
Sexo assunto srio e limpo.
preciso investir no processo de educar.
necessrio levar o adolescente a refletir sobre valores, sobre seus potenciais e limites
pessoais, sobre a dupla responsabilidade para consigo e com o outro , a no se deixar levar
pelo estmulo, pela fantasia e pela curiosidade, e ajud-lo a ter projeto de vida. A sexualidade
tende a desenvolver-se por etapas, espontnea e adequadamente, se no houver interferncias
que provoquem impedimentos, desvios, ou exacerbaes. Deve haver compreenso, aceitao,
orientao, estmulo, respeito ao ritmo e velocidade de cada indivduo, para que se manifeste
de forma plena e saudvel. A normalidade psicossexual do indivduo depende de um sentimento
bom de prazer e segurana em abraar, acariciar e ter contato corporal.
REFERNCIAS
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275
GRAVIDEZ NA ADOLESCNCIA
Gravidez na adolescncia sempre existiu quando a vida sexual aps a menarca iniciava
muito cedo com intuito de preservao da espcie, uma vez que o tempo de vida era muito curto.
Na rede pblica nos ltimos cinco anos, houve um decrscimo no nmero de partos
na adolescncia, isso se deve ao trabalho contnuo de preveno a gravidez na adolescncia.
(YAZAKI, 2008).
O Ministrio da Sade mostra que a quantidade desses procedimentos em adolescentes de
10 a 19 anos caiu em 22,4% de 2005 a 2009. Em 2005, foram registrados 572.541, enquanto
,em 2009, foram realizados 444.056 partos em todo o pas. (M.S., 2010)
Ainda assim no Brasil tem ocorrido um significativo aumento da fecundidade no grupo de
15 a 19 anos em relao ao grupo de mulheres adultas. O aumento do gravidez ocorre mais em
algumas regies, nelas esto includas as mais pobres e de baixa escolaridade.
Apesar da diminuio de partos na adolescncia, a gravidez nesta faixa etria ainda
um dos maiores problemas sociais e de Sade Pblica de alguns pases desenvolvidos, como os
Estados Unidos e a Inglaterra. (MELHADO, 2008)
A gravidez na adolescncia tem contribudo para aumentar a populao mundial
consequentemente, contribui para o impacto ambiental. Quanto mais seres humanos nascem mais
lixo produzido, e maior a degradao ambiental.
preciso levar em conta os resduos produzidos pelas indstrias ao se fabricar materiais
que sero utilizados desde o parto e no decorrer da vida desta criana, por exemplo:
277
Resduos slidos
Resduos slidos so materiais no degradveis utilizados em parto normal ou no de
adolescente (seringas luvas frascos, agulhas equipo e frascos de soro etc.), assim como resduos
resultante da fabricao de brinquedos e outros produtos utilizados por criana, como, por
exemplo, fraldas.
O material das fraldas levam de 400 a 500 anos para se degradar; enquanto se desfazem,
contaminam lenis de gua potvel, com micro-organismos, que esto presente nas fezes e
urina. Ao serem destinadas aos lixes, oportunizam vetores a transportar bactrias, fungos, vrus,
disseminando doenas, criando de imediato um problema de sade publica.
Resduos lquidos
Lquidos utilizados durante o parto e para desinfeco do ambiente interno.
Qboa.
Detergente.
Litros de vircon.
lcool.
Os detergentes impedem a decantao e a deposio de sedimentos e, como reduzem a
tenso superficial, permitem a formao de espuma na superfcie da gua. Tal fato impede o
desenvolvimento da vida aqutica. (P.A, 1988)
NECESSIDADES ESSENCIAIS
As necessidades essenciais do ser humano so: vitais, psicossociais e espirituais, e esto
fortemente presentes na adolescncia.
Necessidades Vitais
As necessidades vitais esto relacionadas sobrevivncia do indivduo, tais como alimentos,
sono, lazer, atividades fsicas, meio ambiente, sexo, proteo fsica. Dentro dessas necessidades,
o sexo na adolescncia vivenciado por curiosidade, presso do grupo e para suprir outras
necessidades fsicas e psquicas. Como exemplo pode ser citada a carncia afetiva que leva os
adolescentes a afirmarem-se mediante relaes sexuais superficiais, nas quais prevalece apenas o
contato fsico, resultando em gravidez inoportuna. A falta de projeto de vida e de estmulo faz com
que os adolescentes, s vezes, busquem o sexo como forma de colorir a vida. (AUGUSTO, 2012)
278
Necessidades Psicossociais
As necessidades psicossociais so complexas e nem sempre satisfeitas totalmente, trazendo
angstias, ansiedade, insatisfaes e conflitos. A gravidez vem somar conflitos aos que so prprios
da adolescncia. Algumas vezes a gravidez a forma encontrada para aliviar o sentimento de
solido e ter algum para amar e cuidar.
As necessidades de encontrar-se e de ser reconhecida como pessoa passam pela ideia
inconsciente de que o papel de me amplamente valorizado e desejado, e que a gravidez aparece
como uma forma de mudar o destino.
Conclui-se que a gravidez pode ser uma tentativa de conquistara to desejada emancipao,
de fugir do ncleo familiar de origem e constituir sua prpria famlia. Com a gravidez, a emancipao
almejada d lugar dependncia ditada pela prpria gestao, impedindo a jovem de continuar
a vida de antes.
necessrio mencionar que a dependncia materna, independente da sua vontade,
ainda muito forte, impedindo que a adolescente desempenhe essa funo com tranquilidade e
discernimento.
Existe tambm a vontade de ser me para testar a fecundidade e feminilidade, alm do
prprio desejo de ter o filho.
Necessidades Espirituais
A espiritualidade oferece conforto e significado para aquilo que est alm da compreenso,
passando por afeio, amor, compreenso, perdo e aceitao. Adolescentes vivem crises
religiosas, e nem sempre a espiritualidade est presente nessa fase da vida, mas na gestao ela
ajuda a conviver com dvidas, incertezas do presente e do futuro.
CAUSAS DE GRAVIDEZ NA ADOLESCNCIA
Menarca precoce
A menarca precoce ocorre num momento de grande imaturidade psicossocial, tornando a
jovem mais suscetvel ao incio do exerccio sexual. (AUGUSTO, 2012) A iniciao sexual pode
ocorrer levada pela curiosidade prpria da idade, como meio de expresso de amor e confiana,
mas tambm pode estar relacionada solido, carncia afetiva e necessidade de autoafirmao.
279
Mdia
Os meios de comunicao estimulam o erotismo1, valorizam o sexo repassando mensagens
fantasiosas. A mdia no mostra, nem ensina que o sexo desprotegido pode resultar numa gravidez,
assim como a gravidez das suas consequncias.
Idade
As probabilidades de gravidez inoportuna sero maiores quanto menor for idade da
adolescente. (AUGUSTO, 2012)
Condio econmica
As adolescentes com piores condies socioeconmicas so as qus saem da escola em
busca do mercado de trabalho, portanto perde oportunidade de conhecimento e so as que mais
levam adiante a gravidez.
Maturidade
O raciocnio de causa e efeito abstrato e hipottico. Assim, o adolescente incapaz de
imaginar-se em situaes de longo prazo. O pensamento concreto caracterizado por resolues
de problemas de curto prazo, ou seja, no capaz de elaborar uma responsabilidade de longo
prazo, como usar anticoncepcionais para prevenir uma gravidez. Alm disso, muitas adolescentes
tm a maternidade como nica expectativa alcanvel, repetindo o modelo da me e da av que
tiveram filhos ainda adolescentes. (BOUZAZ, 2004)
Na adolescncia, frequente o predomnio do impulso sexual sobre a capacidade cognitiva
de programao. (VIMMER, 1999)
Educao
A desinformao com relao contracepo2 retarda o incio do uso de contraceptivo
em torno de um ano aps o incio da atividade sexual, e mesmo quando usado, se faz de forma
inadequada. (AUGUSTO, 2012) O desconhecimento das funes corporais quanto capacidade
reprodutiva contribui para que ocorra atividade sexual desprotegida e despreocupada. Outras
causas: abuso de drogas, falta de dilogo entre pais e filhos, ausncia de projeto de vida.
280
281
Consequncias psicossociais
ALEITAMENTO MATERNO
Deve-se incentivar o aleitamento materno para a me adolescente, conscientizando-a dos
benefcios tanto para o beb quanto para ela ( mais barato, aumenta a imunidade do beb, diminui
a morbimortalidade4 infantil etc.). A adolescente deve receber informaes sobre a importncia
de alimentar o beb no seio por no mnimo quatro meses, mas de preferncia que esse tempo
seja maior. Deve-se orientar que no existe leite fraco, que a cor clara porque a gordura nele
existente insaturada e mais presente no final da mamada, quando o leite mais calrico. A
orientao sobre o aleitamento ao seio deve ser iniciada precocemente. A baixa escolaridade um
fator para o desmame precoce. (ESCOBAR, 2002)
SADE REPRODUTIVA
Para compreender os mtodos contraceptivos, necessrio saber como ocorre a reproduo
humana.
Reproduo feminina
O corpo da mulher sofre a ao de vrios hormnios, os quais so produzidos na hipfise5,
localizada no crebro, e estimulam os ovrios a produzir o estrognio. Sob a ao desse hormnio,
282
283
284
O anticoncepcional oral (plulas) que tomado diariamente no deve ser esquecido. Tem
alta eficcia.
Plulas ps-coito ou contracepo de emergncia (plula do dia seguinte) so utilizados para
os casos de estupro, relaes sexuais no protegidas, no programadas e com risco de gestao.
Devem ser usadas at 72 horas aps a relao.
O Anticoncepcional injetvel eficaz, e uma opo para a adolescente que esquece de
tomar a plula ou tem intolerncia gstrica, com o uso por via oral. Existem ainda outros mtodos,
como adesivo, plula vaginal etc. O melhor anticoncepcional oral aquele que tem baixo custo,
de fcil acesso, e tem menos efeitos colaterais9.
REFERNCIAS
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285
7 Vasectomia Cirurgia que faz o homem ficar estril, corta os canais deferentes por onde passa o
espermatozide, no interfere na potencia sexual.
8
286
O ADOLESCENTE E A FAMLIA
287
A organizao ativa da vida e as evolues sob os mais diversos aspectos levam os membros
da famlia a estar continuamente avaliando seus conceitos e pontos de equilbrio mediante os mais
diversos padres existentes no grupo. Fritjof Capra ratifica a relevncia da questo do equilbrio
interno e externo ao afirmar: Com efeito, a experincia de nos sentirmos saudveis envolve a
sensao de integridade fsica, psicolgica e espiritual, um sentimento de equilbrio entre os vrios
componentes do organismo e entre o organismo e seu meio ambiente. (CAPRA, 1982)
Dentre as muitas maneiras de conceituao da famlia, a de abordagem social a define como
um sistema sociocultural aberto e em transformao.
Esses conceitos, estabelecidos por meio da abordagem social, definem a famlia como um
sistema sociocultural aberto e em transformao. Tal definio traduzida pela certeza de
que o desenvolvimento implica mudanas e estgios sob os quais emergem novos critrios para
a reorganizao, com o surgimento de novas alteraes, caracterizando diversas transformaes.
Antropologicamente, e tendo como referncia a anlise de Dupuis (1989), verifica-se que
h seis ou mais milnios os egpcios e indo-europeus descobriram a relao entre o ato sexual e a
procriao, o que inaugura a conscientizao da humanidade a respeito da paternidade, uma vez
que at ento imperava a estruturao familiar centrada na sociedade matrilinear2.
A histria do processo de evoluo da famlia e da sociedade d a saber que o homem
primitivo buscou a mulher com as finalidades de relacionar-se sexual e emocionalmente e procriar;
esta o acompanhou, desde o perodo Paleoltico, em estilo de vida nmade. O pai ausentava-se
para longos perodos de caa e retornava ao seu local de partida com o suficiente para garantir
a sobrevivncia familiar; mulher competia o cuidado da prole e dos alimentos. Mesmo com a
diviso de trabalho, homem e mulher compartilhavam o poder, e havia igualdade na contribuio
da economia domstica.
No perodo posterior, o Neoltico, surge o primeiro agrupamento tribal de cunho familiar,
sob a gide do domnio masculino, originando o patriarcado; o homem deixa de ser caador
para tornar-se fazendeiro; sedentariza-se, fixa a famlia em um determinado espao, acumula
suprimentos e torna-se menos envolvido nas questes dos filhos e da casa, as quais se tornam de
responsabilidade da mulher. Com a atribuio de poder e autoridade sobre as decises importantes
e drsticas, instaura-se a onipotncia masculina3 (MARQUES, BERRUTI, FARIA, 1991).
O homem vivia com sua famlia, mas tinha medo que algum se aproximasse e roubasse seus
filhos, seu afeto, seu espao e seus bens. Na sua ausncia, um outro homem poderia aproximar-se
de sua mulher, mostrando-se mais forte, mais interessante e melhor protetor. Naquele tempo, os
riscos de perder a famlia eram grandes, portanto, deveriam ser eliminados.
288
A esse respeito, afirma Bottura Jnior (1994): ... Podemos deduzir que o abrigo e a casa
foram uma conquista natural e necessria ideia de proteo da mulher e dos filhos. O homem
procurou fixar-se para estar mais perto da famlia e, ao mesmo tempo, controlar melhor sua
paternidade.
Assim, a sociedade foi se organizando, mediante o controle da paternidade, da famlia,
da propriedade e da criao de meios que facilitassem esse tipo de vida. Os papis5 do casal
parental estabeleceram-se baseados na complementaridade4, cada um no seu territrio especfico
de atuao: o homem no papel econmico e social relacionado produo, e a mulher, com a
reproduo e suas contingncias.
A famlia detm o conceito de ... unidade bsica de desenvolvimento emocional... e abriga
conceitos de origem emocional, cujo desenvolvimento estabelece tipos de comportamento, os
quais regulam suas atividades sociais e culturais, em que o ciclo de vida contemplado como
uma conexo intergeracional na famlia, na perspectiva de um fenmeno natural de vida com pelo
menos trs geraes que envolvem atravs do tempo (PACCOLA, 1994).
H muitos fatores envolvidos para compor o Universo Familiar, fatores esses de tal
complexidade que tornam a famlia um sistema totalmente diferente de qualquer outro, com leis
e regras de funcionamento peculiares. um sistema, que embora se movimente, no exclui seus
integrantes, o que, sem dvida, muitas vezes, aumenta o nvel de tenso interna.
No podemos entender a famlia separada do contexto histrico e cultural em que se
encontra. Ela precisa de sua histria anterior e far projees no seu futuro; como se o que foi e
o que vir estivessem juntos, criando a possibilidade do presente.
Pela compresso de Carter e McGoldrick, a famlia est sujeita a estressores verticais e
horizontais que interferem na sua dinmica. O vertical compe-se com o padro de funcionamento
das geraes anteriores: mitos, tabus, segredos, histrias e legados familiares. O fluxo horizontal
caracteriza-se pelos estressores e ansiedades oriundos da famlia conforme ela avana no tempo
e vivencia as transies do ciclo. Esses estressores so compostos por fatores predizveis e
impredizveis como morte precoce, doena crnica, acidente ou outra alterao abrupta no ciclo.
Ao administrar as ansiedades, a famlia apresenta suas habilidades em realizar as mudanas
necessrias e, ao mesmo tempo, conservar suas estruturas bsicas j organizadas.
No podem ser ignoradas as circunstncias externas que tm o poder de modificar o contexto
interno da famlia, como, por exemplo, a violncia, a condio social, as drogas, a cultura, que
fazem parte de um conjunto de dificuldades que agitam as estruturas e bases familiares.
H uma diversidade de classificao das fases que caracterizam os movimentos da famlia;
o ciclo descrito por Cerneny e Berthoud (1997) compreende:
289
290
291
Desse modo, v-se configurada a j citada complementaridade de papis distintos: o homem como
responsvel pela produo e pelo status social e a mulher, pela reproduo e relao humana.
Momento singular da histria ocorre nos anos 1960-75, quando emerge uma espcie de
hostilidade ao princpio da famlia patriarcal, evidenciada pela revolta contra a autoridade, por
parte de estudantes universitrios americanos e europeus, contra professores, naes, ptrias, e
se origina uma outra forma de autoridade, mais adequada a um perodo de mudanas profundas
da sociedade. Nesse momento surgem o feminismo; a modificao das normas h muito vigentes
no seio das famlias; uma nova realidade das relaes entre homens e mulheres; o divrcio, no
mais encarado como transgresses dos bons costumes, passa a ser cada vez mais corrente e aceito;
levantamentos realizados a respeito apontam que os divrcios sucedem 30% dos casamentos,
levando, na maioria deles, a mulher situao da monoparentalidade.
Progressivamente e paralelamente vo ocorrendo modificaes nos casamentos tradicionais,
que na atualidade ganham espao como novas maneiras de ser famlia. A esse respeito, escreve
Elizabeth Roudinesco ... o surgimento da noo da famlia recomposta, que remete a um
duplo movimento de dessacralizao do casamento e de humanizao dos laos de parentesco.
(ROUDISNESCO, 2003)
Decorrncia dessa recomposio a modificao da dinmica dos ncleos familiares, com
a possibilidade de serem agora integrados por apenas um dos progenitores e aqui nos referimos
chamada famlia monoparental; ou os lares onde h dois pais ou duas mes; assim como se
torna cada vez mais frequente a convivncia de filhos de unies anteriores dos pais que se tornam
irmos, ao lado de tambm meio-irmos advindos da presente composio familiar.
Na atualidade, paternidade impe-se a necessidade de adaptao ao estgio do contexto
social de ps-modernidade, muito relacionada transformao por que tem passado a condio
feminina. Essas adaptaes incluem a compreenso de que a sociedade de hoje privilegia a
superioridade intelectual, valoriza a vivncia comunitria e a performance tecnolgica.
A complementaridade tradicional alterou-se a partir da ascenso social e econmica das
mulheres: a parceria, o intercmbio de papis, as negociaes. O casal de hoje forma-se a partir
de escolhas que priorizam a afetividade, e a relao prossegue na busca pela revoluo das
identidades pessoais.
J no h a questo fundamental do dever de fundar uma famlia, criar uma instituio,
e sim viver da maneira mais enriquecedora possvel, em nvel individual e de casal. Advm desse
fato que a relao torna-se mais vulnervel a rupturas, na medida em que tende a desfazer-se com
relativa facilidade quando no satisfaz mais s expectativas de um dos dois ou de ambos. Surge
292
nova situao: a necessidade de preservar a dupla pais/filhos quando se dissolve o casal parental,
para garantir questes fundamentais como o sentido de filiao, a histria pessoal e a relao com
cada um dos pais.
No tem sido fcil ao homem e mulher construir seus lugares de pai e me na sociedade
ps-industrial, especialmente quando se percebe que a redefinio de papis encontra-se
vinculada disposio da mulher em conceder ao homem espao para exercer a paternidade
na vida dos filhos.
ESTRUTURAO DOS VNCULOS FAMILIARES
Segundo Brazelton (1988), os vnculos comeam a ser desenvolvidos em perodo anterior
concepo, no desejo do imaginrio da mulher e do homem que vo formar a famlia, que vo
estruturar um espao para o recebimento de um novo sujeito, e que vo demarcar o papel, o
lugar e a funo6, seus significantes7 e significados8 na relao. Essa demarcao vai delimitar
a funo paterna e a materna; nesse momento, se estabelece o significado da famlia e sua rede
de parentesco. Inicialmente surgem os vnculos biolgicos para, posteriormente, no processo de
crescimento, se estabelecerem vnculos simblicos, afetivos e sociais.
Segundo Melo (1991), a partir da estruturao de vnculos familiares, torna-se possvel
a estruturao de vnculos nos espaos amplos do grupo social, como nas comunidades e no
entorno da sociedade, pois, no contato com seu grupo, os vnculos vo demarcar os lugares,
os papis e as fronteiras9 que contornam quem o outro no universo das relaes, dentro da
interdio (ou restrio) da cultura a que o sujeito pertence.
Um adolescente j foi um beb, e esse processo inicial marcar certamente sua identidade.
Mahler (1982) estudou com profundidade o processo de separao/individuao10 e cr na
interao circular como facilitador para moldar a personalidade do beb e de sua me, seu
parceiro adulto.
Portanto, quando se pensa no adolescente, deve-se ter em mente o que ele foi e o que
poder ser, buscando conhecer todo o processo pelo qual passou o indivduo, para compreender
melhor as expectativas acerca do que pretende ser.
Mahler (1982) postula que a fase simbitica11 e o processo de individuao/separao
esto diretamente ligados s questes de identidade. Melhor que ela mesma o faz no possvel
descrever o aporte, inclusive filosfico, que nos traz no mago de sua obra, quando toca na
comumente chamada angstia existencial humana ... a eterna luta do homem contra a fuso12 e
o isolamento... Pode-se julgar todo o ciclo vital como um processo mais ou menos bem sucedido
293
294
Lacan chama de pai idealizado a esta imagem de um pai autor das leis, princpio das mesmas, temido
e admirado, ao qual o menino delega a onipotncia de seus pensamentos, um poder ilimitado, ainda que
obscuro em suas razes, protetor e castigador. (ABERASTURY e SALAS, 1984).
Em relao ao social, o papel do pai assume particular valor, pois uma de suas funes
constituir-se mediador entre o sistema de parentesco e outros sistemas mais abrangentes. Desse
modo, o rompimento do vnculo dual propicia a liberao da criana para o mundo.
Dor (1991) oferece fundamentais contribuies ao afirmar que a funo paterna pode ser
potencialmente exercida por outra pessoa mesmo que no idealmente que a cumpra na
qualidade de representante da realidade; isso porque a funo paterna mantm a virtude simblica
estruturante mesmo na ausncia do Pai real, quando algum outro incumbe-se de representar a
figura de lei.
Assim, a dimenso do Pai simblico transcende a contingncia do homem real.
Sobre essa questo, considera Pontes (1998):
Na funo paterna atuam tambm as mulheres, como as avs e as tias que ajudam mes solteiras ou separadas
a cuidar das crianas. At irmos e irms acabam exercendo essa funo em muitas famlias em que falta o
pai seja porque morreu, seja porque no quer ou no sabe exerc-la. E isso comum, infelizmente. Seja
quem for, essa terceira pessoa indispensvel. Pela prpria natureza da relao da me com o filho, ela no
pode ser tambm a personificao dos limites. Ela inicia esse processo quando nega leite ao beb que pede
sem ter fome, mas precisa de algum que seja a imagem dessa regra afetiva.
295
apenas pelo nascimento, por adoo, casamento, e os membros podem ir embora somente
pela morte, se que ento. Nenhum outro sistema est sujeito a essas limitaes. (CARTER e
GOLDRICK, 1995).
Estamos longe de acreditar hoje que h apenas uma forma, a mais correta, de ser famlia.
Um casal homossexual, pais solteiros, filhos adotivos, todas essas so possibilidade de existncia
da famlia.
Dentro desse contexto, surge a necessidade de garantir questes fundamentais, como o
sentido de filiao, a histria pessoal, reproduo e a relao com cada um dos pais, mesmo que
seja mediante filiao e paternidade adotiva.
A instituio familiar tem sido estabelecida em nossa cultura fundamentada nos laos de
sangue. Quando tratamos da famlia com filhos adotivos, surgem, naturalmente, questionamentos
sobre a convenincia ou no de incluir no grupo familiar uma pessoa estranha na condio de
filho. Na relao parental adotiva, no existe a ligao hereditria na quase totalidade dos casos
e, em nossa sociedade, ela um pressuposto indiscutvel que dita as normas de valorizao e
continuidade familiar.
As relaes familiares, no seu aspecto emocional, no so garantidas pelas ligaes
sanguneas ou pelas caractersticas que passam de pais para filhos por hereditariedade, mas sim
pelos vnculos afetivos que se estabelecem.
Ao analisarmos determinados aspectos da maternidade-paternidade como, por exemplo,
pais que geram filhos e no os amam ou pais que, por qualquer circunstncia, tm dificuldade de
am-los, percebemos a complexidade da relao de amor e descobrimos que amar sem conviver
torna-se extremamente difcil. O amor pede uma relao de presena e aconchego. A convivncia
familiar , de fato, um componente fundamental para o estabelecimento da relao de afeto; no
dia a dia que se percebe que a maternidade-paternidade transcende a rea restrita da procriao
biolgica, porque
...ser pai ou me no significa, a nvel emocional e psicolgico, conceber, gerar e dar luz uma criana,
mas sim um desejo e uma capacidade de se envolver afetivamente, em imensa profundidade com o outro ser
humano que representaria a continuidade de seus pais. A paternidade essencialmente afetiva e pode ou no
se estabelecer na paternidade biolgica ou na adoo. (BERTHOUD, 1997)
O filho adotivo surge como um agente de realizao e de prazer, mesmo quando sua
trajetria tumultuada e difcil. A deciso de adoo precisa ser alicerada em uma segura
conscincia parental.
Faz parte das expectativas das pessoas a identificao nos filhos de alguma caracterstica
sua, como a comprovao de que esto cumprindo um rito de continuidade, o que lhes d uma
296
sensao de estar realizando sua misso e seu desejo de perpetuao. Nesse caso, a semelhana
dos filhos com os pais produz nestes uma sensao de normalidade, por estarem desempenhando
sua inquestionvel funo reprodutiva.
A observao de Dolto (1985) nos orienta: A exigncia inconsciente do filho adotivo,
de ser ainda mais carnalmente e mais visivelmente filho deles do que teria sido dos pais de
nascimento, encontra correspondncia nos pais adotivos, que depositam todas as suas esperanas
nessa criana, destinada a perenizar-lhes o nome e a fazer frutificar o amor e os esforos que
fazem por ela.
Quando buscamos compreender a verdadeira filiao, colocamos a consanguinidade em
segundo plano, uma vez que o espiritual e o afetivo que comandam a relao familiar. Sobre esse
aspecto, Frankl (1978) oferece uma ideia para ser pensada: Pode-se, afinal, afirmar com razo:
o filho bem carne da carne de seus pais, mas no esprito de seu esprito. Ele sempre e
somente um filho fsico, e isto na mais verdadeira acepo do termo: no sentido fisiolgico. Pelo
contrrio, no sentido metafsico, cada filho propriamente filho adotivo; adotamo-lo no mundo,
dentro do ser. Essa viso do homem como filho acentua a compreenso de que o componente
fisiolgico no sobressai ao aspecto metafsico (espiritual). A adoo suplanta o fato biolgico para
concretizar a condio de filho. Dentro da diversidade, as famlias podem encontrar a unidade,
criando, assim, um ambiente em que cada um de seus membros, com a sua histria, escreve a
histria do grupo.
Filhos que no receberam de seus pais biolgicos ou adotivos boa qualidade de amor
tendem a apresentar, na adolescncia, problemas, tais como: confuso quando identidade
sexual; falta de amor-prprio; represso agressividade e, em consequncia, a necessidade de
afirmao; ambio e curiosidade exploratria; bloqueios relativos sexualidade; problemas de
aprendizagem; dificuldade em assumir valores morais e responsabilidades, e em desenvolver
senso do dever e de obrigaes perante os outros. A ausncia de limites acarreta dificuldade
em exercer autoridade e em respeit-la. Pode colaborar para maior suscetibilidade a problemas
psicolgicos, e mesmo drogadio, delinquncia, sendo todos esses sintomas envolvidos por
grande revolta contra a sociedade patriarcal, como reflexo do ressentimento pelo pai faltoso.
Segundo Schettini (1998), a efetivao da adoo o resultado de um processo intencional
de acolhimento emocional que os pais ou pai e (ou) me proporcionam ao adotado. Trata-se,
portanto, de uma adoo, que tem duplo sentido, uma vez que o filho tambm adota seus pais.
Esse vnculo que une o adotante ao adotado to real como o que une o pai ao filho de sangue,
e os efeitos que do primeiro emergem so to reais como os que decorrem do segundo, apenas o
que une as partes no biolgico, mas psicolgico-social.
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Tm que abandonar a imagem de si mesmos que seu filho criou para a qual colaboraram
e na qual se instalam.
J no podem funcionar como lderes ou dolos; ao contrrio, impe-se-lhes aceitar uma
nova relao, permeada de ambivalncias e crticas.
As capacidades e conquistas emergentes do filho obrigam os pais a enfrentar suas prprias
capacidades e avaliar seus sucessos e fracassos. Nessa prestao de contas, o filho acaba por
assumir o lugar de testemunha implacvel do realizado e do frustrado.
As mudanas corporais do adolescente, que sinalizam sua capacidade procriativa, produzem
situao conflituosa nos pais. Podem coincidir no mesmo momento familiar marcos da histria
pessoal de seus membros: a menarca e a menopausa, o auge e o declnio da virilidade.
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Ainda segundo Kalina, a direo que toma o sentimento gerado pelo crescimento dos filhos
vai indicar em que medida este se tornar produtivo ou no para a vivncia dos pais. Entendo
e nomeando esse sentimento como inveja, poder ser perniciosa se pretender paralisar e (ou)
destruir as possibilidades de ser e agir; e ser positiva se impulsionar para tentativas de reformular
a maneira de ser, mediante alternativas novas para suprimento de necessidade desse momento
especial de vida.
Na prtica do relacionamento pais-filhos, a vivncia inadequada da inveja conduzir
represso, desvalorizao do que for feito pelos filhos, estimulando e reforando nelas
dependncia e incapacidade. Ao contrrio, lidando de maneira saudvel com esse sentimento, os
pais podem ter a oportunidade de incorporar em sua prpria vivncia caractersticas presentes na
de seus filhos adolescentes, como, por exemplo, a coragem renovada para lutar por seus direitos
e ideais, reformular metas, recriar suas verdades, desafiar a vida.
H, no entanto, aqueles que reagem juventude dos filhos de maneira derrotista, geralmente
quando no conseguem atingir a perspectiva necessria para acompanhar o processo; como se
assumissem para si os lutos e perdas inerentes ao despertar da vida adulta.
O fato torna-se observvel quando os adolescentes descobrem seus pais como falveis,
incompletos, imperfeitos; a desidealizao das figuras parentais acompanhada pela respectiva
recproca, pois os pais passam pela sensao de que, de certa maneira, tambm esto perdendo
seus filhos.
Ao movimento de afastamento progressivo do adolescente rumo a seus prprios caminhos
corresponde a necessidade dos pais de redefinirem seus papis, funes e projetos; o adolescer
dos filhos oferece ao casal a oportunidade de retomar a vida a dois, com o enfrentamento e
aproveitamento das perdas e dos ganhos pessoais acumulados.
A fase final da adolescncia marca a reorganizao da estrutura familiar, pela flexibilizao
de preceitos, tais como autoridade e poder decisrio, que at ento regeram sua dinmica.
CONCLUSO
A famlia muda e se adapta de acordo com os movimentos histricos, convivendo com
alteraes de valores, de padres ticos, econmicos, polticos e ideolgicos, cuja finalidade
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300
DOLTO, Franoise. Como orientar seu filho, v.1; traduo de Ruth Rissin Josef. Rio de Janeiro: F. Alves,
1983.
DOR, Jol. O Pai e Sua Funo Em Psicanlise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
DUPUIS, Jacques. Em Nome Do Pai Uma Historia Da Paternidade, s/e, So Paulo: Martins Fontes,
1989.
ERIKSON, E. H. Identidade, Juventude e Crise. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
ERIKSON, E. H. Infncia e Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
FRANKL, Viktor E. Fundamentos Antropolgicos da Psicoterapia, trad. Renato Bittencourt. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, 1978.
KALINA, Eduardo e LAUFER, Halina. Aos Pais de Adolescentes. Rio de Janeiro: Cobra Norato, 1974.
MAHLER, Margaret. O processo de separao individuao. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1982.
MARQUES, Ademar, BERRUTI, Flvio e FARIA Ricardo. Os caminhos do Homem. Belo Horizonte: L,
1991.
MELO, Zlia Maria. Violncia y Famlia: Supervivencia em la casa y en la calle (Tese de doutorado em
Psicologia) Universidad de Deusto, Bilbao: 1991
PACCOLA, Marilene Krom. Leitura e diferenciao do mito. So Paulo: Summus, 1994.
PONTES, David. De pai para me, Gazeta do Povo, Curitiba, 10 de maio de 1998.
ROUDINESCO, Elizabeth. A Famlia em Desordem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003
SCHETTINI FILHO, Luiz. Compreendendo os Pais adotivos. Recife: Edies Bagao, 1998.
Sistema Segundo Ludwig Von Bertalanffy, um complexo de elementos em interao; segundo Hall e
Fagen, um conjunto de objetos e de relaes entre os objetos e seus atributos.
Complementaridade Termo criado pelo fsico N. Bohr e adaptado por N. Ackerman. O termo
complementaridade faz referncia aos padres especficos das relaes e dos papis dos membros da
famlia, que permitem a expresso dos afetos, dos cuidados e da lealdade, da incompletude e das diferenas
s quais confrontado cada membro da famlia.
Papel a parte que se espera que cada indivduo desempenhe numa situao social. Isto tem sido
estudado particularmente em grupos em que possvel distribuir um papel a cada membro: lder, mediador,
palhao, membro fiel, etc. Qualquer indivduo pode desempenhar diferentes papis, e pode, por isso,
experimentar conflito de papis, quando dois grupos entram em contato. Por exemplo: adolescentes que
encontram sua famlia quando esto em companhia de sua turma.
301
Funo Ao prpria ou natural de um rgo, aparelho ou mquina; cargo, servio, ofcio; o conjunto de
direitos, obrigaes e atribuies duma pessoa em sua atividade profissional especfica.
302
Dilermano Brito
So substncias naturais ou sintticas que agem seletivamente sobre as clulas nervosas que
atuam sobre o sistema nervosa central, ou seja, psico = mente e trpica = atrao.
Costuma-se dividi-las classicamente em trs grupos:
a) Psicolpticas So substncias que diminuem a atividade mental, reduzido o tnus
psquico, seja pela diminuio da viglia, estreitando a faixa do poder intelectual, seja
deprimindo as tenses emocionais, em geral produzindo relaxamento. Fazem parte
desse grupo os hipnticos como os derivados barbitricos (por exemplo: gardenal), os
neurolpticos (por exemplo: cloropromazina) e os tranquilizantes como os derivados
benzodiazepnicos (por exemplo: valium).
b) Psicoanalpticos So substncias que possuem ao elevadora do tnus psquico,
ou seja, estimulam o sistema nervoso central e a vigilncia, diminuem a fadiga momentnea,
estimulam o humor como os derivados do iminoestilbeno (como o insidon), estimulantes
da vigilncia como os derivados anfetamnicos (como o pervitin e o ecstasy).
c) Psicodislpticos So substncias desestruturantes da atividade mental, produzindo
quadros semelhantes a psicoses, como delrios, alucinaes etc. Fazem parte desse grupo
os embriagantes como inalantes qumicos (por exemplo: clorofrmio), os alucingenos ou
despersonalizantes (por exemplo: maconha), entre outros.
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304
Naturalmente, deve-se ter muito cuidado com as chamadas drogas permitidas como o
lcool e o tabaco, j que so drogas perigosas e podem levar dependncia inclusive orgnica,
porm so de livre comercializao e encontradas nas mais variadas situaes. Os adultos, em geral,
no admitem que seu traguinho dirio de bebida alcolica, ou o fumo, tenha qualquer relao com
o vcio, ignorando que isso os torna gradualmente escravos e serve de pssimo exemplo a crianas
e adolescentes. E, assim, sem dvida o prprio meio familiar pode exercer influncias danosas.
PRINCIPAIS DROGAS OU GRUPOS DE DROGAS DE ABUSO
Maconha
A maconha uma planta, o cnhamo, cientificamente a Cannabis sativa L.
No Brasil, dependendo da regio, tem vrios nomes tpicos como erva, diamba, liamba,
dirijo, birra, pango, fumo-de-Angola; fora do Brasil conhecida como pot, marijuana, Mary Jane,
charas etc.
Estudiosos afirmam que a planta conhecida h mais de 5.000 anos antes de Cristo papiros
do conta que os chineses, naquela poca, utilizavam-na para extraes de dentes, colocando um
macerado da planta sobre o dente afetado at insensibilizao e, aps, faziam a retirada. Sabe-se
que o ch com que Helena (conhecida na histria como Helena de Tria) fez seu marido o rei
Menelau dormir, o Nephente, nada mais era que um ch feito com folhas de maconha, e quando
este rei acordou, Helena j estava a caminho de Tria com o prncipe Pris, o que ocasionou a
famosa Guerra de Tria.
Modernamente, entende-se por haxixe a resina que envolve as inflorescncias, em que se
concentra uma percentagem muito maior do princpio psicoativo, o tetrahidrocanabinol. Alis,
a palavra assassino parece originar-se do rabe hashishin, que seria literalmente usurios de
hashishe, isto porque uma temida seita do Oriente, no sculo XI, comandada por Hassan-IbnSabhad, tinha por hbito utilizar o haxixe antes das batalhas contra seus inimigos, principalmente
os cristos, combatendo-os com incrvel ferocidade. Eram conhecidos como hashishens, corruptela
que derivou at ns como assassinos.
Hoje, em funo dos processos qumicos e das culturas inovadoras, a planta desenvolvese vrias vezes ao ano (variedades masculina e feminina) com aumento gradativo do princpio
psicoativo o tetrahidrocanabinol (THC). Inclusive, h poucos anos, foi feita uma forma hbrida
de maconha com at 40% de THC, contra um normal atual de at 15%, com gravssimas
consequncias sobre o crebro e todo o organismo humano, qual, por seu odor desagradvel,
deu-se o nome de skunk, que literalmente quer dizer gamb.
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306
Sistema Reprodutor
um dos sistemas que sofrem os maiores malefcios do produto. Na maioria dos usurios do
sexo masculino, produz espermatognese, bem como deformidades de espermatozoides, podendo
ocorrer ainda reduo de tamanho e peso dos testculos.
Em usurios do sexo feminino, desregula o ciclo e pode prejudicar o feto durante a gravidez,
com malformao, lbio leporino, fenda no vo palatino, lentido de reflexos, irritao.
Interfere no desenvolvimento do feto, podendo inclusive provocar aborto, mudanas
cromossmicas, ou seja, mutagnicas, que alteram a herana, bem como pode produzir sutis
anomalias no desenvolvimento de diversos sistemas.
Um biliosimo de grama de THC, quando no crebro, age sobre o hipotlamo, o qual
por sua vez age sobre a pituitria que regula as funes endcrinas e os hormnios sexuais e
da reproduo.
Os hormnios sexuais masculinos diminuem consideravelmente, principalmente a testoterona,
que o hormnio da libido, do estmulo, podendo ocorrer ainda diminuio de gonadotropina,
que o hormnio da ereo.
H entre adolescentes uma ideia de que a maconha afrodisaca, mas, como vimos
organicamente, o contrrio. Ocorre que a maconha possui forte ao desinibitria ao agir sobre
os centros enceflicos, o que para jovens e ansiosos pode inicialmente parecer, portanto, ser
estimulante sexual.
Pesquisas recentes revelam um aumento proporcional no homem de hormnios femininos
aumento de nveis plasmticos de estrgenos , sendo inclusive motivo de preocupao entre os
adolescentes, pois pode causar ginecomstica (aumento das mamas).
Alm disso, vrios estudiosos provaram rupturas cromossomticas, diviso grosseira,
crescimento lento do ncleo das clulas. Do normal de 46 cromossomos, foi encontrado cerca de
1/3 das clulas com 8 a 38 cromossomos.
E ainda h quem diga que a maconha no uma droga muito perigosa. Ou ignorante ou
mal intencionado.
Em geral, nota-se modificao da fisionomia, do pulso, da presso arterial, influncia sobre
a diurese, modificao da glicemia com aumento do apetite para doces, pois queima acares
orgnicos em grande quantidade alterando em um todo a funo pancretica. Influencia ainda a
percepo do tempo (horas podem parecer minutos e vice-versa), produz midrase (dilatao da
pupila), sensao de leveza, crises de choro ou de riso, desmotivao, mudanas de personalidade,
congesto das conjuntivas com olhos avermelhados, secura de boca e garganta e at horripilao
(pelos eriados).
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agente vasoconstritor; mas, em funo dos efeitos colaterais, essa prtica foi abandonada em
favor dos anestsicos sintticos. Hoje sobrevive apenas como droga de abuso.
Seus principais sintomas e efeitos so os descritos a seguir. Mediante absoro pela mucosa
do nariz, ocorre anestesia dessa mucosa, e como a droga altamente vasoconstritiva e sempre
vem acompanhada de agentes custicos utilizados em sua extrao, pelo uso contnuo provoca uma
destruio dessa parte do organismo, com perfuraes e at destruio do septo nasal, sendo que
geralmente esse processo de destruio acompanhado de sangramento, o que serve de evidncia
de uso. A cartilagem interna do nariz sofre um processo de eroso conhecido como nariz de rato,
pois como se aquele animal gradativamente viesse a roer internamente o nariz do usurio.
Se injetado, pode manifestar abcessos, necrose e posteriormente cicatrizes mltiplas.
Os transtornos psicomotores, denominados ebriedade cocanica, so caracterizados por
forte excitabilidade, tornando-se o usurio, quando da ao da droga, loquaz, alegre, agitado
e em algumas vezes com crises de violncia, imaginando maior lucidez e claridade intelectual. O
indivduo torna-se audacioso e aparentemente mais disposto contra a fadiga. possvel que se
torne extremamente irritado e agressivo, podendo cometer atos e at crimes violentos.
No homem a capacidade gentica, pelo uso contnuo, se perde; porm, a apetncia sexual e
o erotismo se mantm, e como no obtm satisfao fisicamente, inclina-se patologia sexual. J, a
mulher passa por um estado de exaltao ertica com perda do pudor e insatisfao. Em ambos,
h perda de inibies.
A capacidade psquica cada vez menos produtiva e mais desviada.
A anorexia habitual, juntamente com alteraes do olfato, da audio zumbidos e silvos ,
da viso com diplopia e diminuio da agudeza visual, alm de insnia rebelde.
A sensibilidade cutnea est bastante alterada, com pruridos, formigamentos, produzindo
a sensao que pequenos insetos que caminham sobre a pele (microzoopsia), e muitos
viciados tentam ca-los, cutucando-se com agulhas, ocasionando leses.
Podem ocorrer ainda alucinaes, delrios com gritos e prantos, reaes rapidssimas no
raciocinando com clareza e bom senso, mania de perseguio, iluses de carter confusional,
ansiedade, com uma mrbida predisposio para o crime ou at mesmo suicdio, envelhecimento
prematuro, os viciados morrem velhos e secos, pele e osso.
O usurio de cocana encontra no vcio uma fuga da realidade, de modo a desinibir-se
e criar coragem, sentindo euforia e xtase, podendo atingir as razes da paranoia, tornando-se
preguioso, hipcrita, indolente, aptico, com laos afetivos degradados.
Casos mais srios so manifestados por transtornos mentais logo desenvolvidos, por
transtornos nervosos acentuados e transtornos circulatrios e respiratrios com calafrios, desmaios,
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alterao da frequncia respiratria, que poder originar parada respiratria e consequente parada
cardaca, ocorrendo, em geral, de incio severa hipertenso, caindo aps, at colapso.
Em doses superelevadas, a morte ocorre quase fulminante por sncope respiratria ou
circulatria, atribuda ao direta sobre o miocrdio.
Sabe-se que a cocana altera o mecanismo de produo de neurotransmissores impedindo
que a dopamina (neurotransmissor responsvel pelo prazer orgnico) seja reabsorvida, e, assim,
doses elevadas desse constituinte orgnico ficam excitando os neurnios, com fortes doses de
prazer. Porm, quando se esgota momentaneamente a produo desse produto, ocorre uma
depresso profunda, e, ento, o usurio buscar absorver novas quantidades de cocana, para
que a depresso desaparea, e assim sucessivamente.
Tambm bloqueia o mecanismo que devolve outro neurotransmissor, a norepinefrina, para
o nervo, o que provoca um crescimento dos nveis desse produto no sistema nervoso central,
produzindo um perigoso aumento da frequncia cardaca.
Pensar que os filhos de usurios venham a nascer com problemas compreensvel. Hoje,
sabe-se que as crianas, filhos de usurios de cocana e seus produtos mais baratos como a merla
e o crack, apresentam hiperatividade e alta irritabilidade, bem como dificuldade no aprendizado,
insuficincia heptica e crebro menor. Por atravessarem facilmente (como todo psicotrpico)
a placenta, esses produtos circulam livremente no feto, e este, ao nascer, sente falta da droga,
manifestando a criana choro intenso, irritabilidade, tremores e dificuldades para mamar, entre
outros. Os pequeninos sofrem e precisam ser tratados com tranquilizantes, e muitas vezes vo
direto para a UTI.
J o crack uma preparao simplificada da cocana, feita geralmente a partir da pasta bsica,
no sofre processos de purificao, e o produto usado para misturar-se pasta bsica, tambm
quimicamente uma base leve, facilita a rpida absoro do princpio ativo e uma diminuio da
excreo, da porque os efeitos so to rpidos, ocorrendo em poucos segundos, mais intensos e
duradouros. No primeiro momento ocorre uma forte excitao mental, seguida de fcil irritabilidade
e lassido, levando o usurio a buscar rapidamente o pseudo prazer.
Dependendo do tipo de personalidade do usurio, este poder desenvolver uma conduta
esquizofreniforme e (ou) manaco depressiva.
Por provocar esse efeito de excitao muito rpido e aps a depresso, o que leva ao uso
repetidamente, os usurios tornam-se rapidamente prisioneiro desta droga, correndo sempre risco
de vida. Por isso mesmo em tratamentos e internaes tm tantas recadas. Tal fato resume-se
nas palavras de um usurio, aps vrias tentativas frustradas de internamento para tratamento:
A droga mais forte do que eu. No comeo eu usava, agora ela que me usa.
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que afasta as tenses de cada dia. Podem-se notar tontura, fraqueza, dor de cabea (pode
provocar uma encefalopatia irreversvel), aperto torxico, marcha cambaleante como a do brio,
embaamento visual, tremores, respirao alterada, fibrilao ventricular (que pode levar
morte), arritmias, labilidade emocional, dificuldade de respirao pelo edema pulmonar quase
sempre presente, nuseas, vmitos, inconscincia e at paralisia, chegando ao coma e morte.
No raro, desenvolvem caractersticas psicticas. Alguns hidrocarbonetos clorados (por exemplo,
clorofrmio) podem deprimir a capacidade de contrao do msculo cardaco, e como resultado o
organismo, inclusive o prprio corao, no recebe o suprimento usual de sangue.
Sintomatologia paralela o emagrecimento precoce e a presso baixa.
O delrio quase sempre precede a inconscincia.
Em contato com a pele, produzem irritao, descamao e rachaduras.
Pelo uso contnuo, o usurio apresentar estreitamento da fenda palpebral, conhecida como
olhar de mormao.
Ainda, pelo uso contnuo, aps a euforia inicial, nota-se ataxia, ou seja, desordem e falta de
coordenao nos movimentos voluntrios, contrastando com a integridade de fora muscular, habilidade
emocional, atrofia difusa (principalmente cerebral), alm de alguns relatos de zumbidos nos ouvidos.
Segundo os usurios, o que mais manifestam so vertigens, tonturas, coragem inicial, menos
fome durante o efeito do produto e sensao de borboletas, ou seja, parece que observam
borboletas coloridas, pequenas, sobrevoando suas cabeas.
No Brasil a prtica de cheirar cola de sapateiro tem o nome de cheirar (como no caso da
cocana) ou ainda de cheirar lol, como j visto, enquanto nos EUA glue sniffing.
Nos casos agudos, podero ocorrer bitos por insuficincia respiratria ou ao direta sobre
o miocrdio, com parada cardaca.
Nas necrpsias tm-se encontrado petquias nos pulmes, corao e crebro entre outros,
hemorragias mltiplas, congesto de todos os rgos, necrose ou degenerao gorda do corao,
fgado, rins e suprarrenais ocorrendo ainda em alguns casos anemia e aplasia de medula.
Os solventes orgnicos constituem uma sria ameaa sade e ao bem-estar da sociedade.
Seu uso mais danoso do que o abuso de muitas outras drogas e, ainda assim, poucos esforos
tm sido empreendidos para combater esta prtica.
LSD
Sigla em alemo de Lyseng Sure Diethylamid, ou seja, dietilamida do cido lisrgico,
obtido pela primeira vez por Albert Hofman, nos laboratrios Sandoz, na cidade de Basilia, na
312
Sua, em 1938, mas somente em 1943 aps absoro acidental pelo prprio Hofman que suas
propriedades alucinognicas foram registradas.
Geralmente usado por via oral, em face de sua solubilidade em gua, sendo que 20
microgramas j provocam efeitos marcantes; tambm pode ser injetado, inalado ou at absorvido
pela pele.
um dos psicognicos mais potentes de que se tem conhecimento. Em geral, sob a ao
do produto as pessoas sofrem alteraes marcantes do humor, tornam-se emotivas, riem ou
choram mediante ligeira provocao. Os efeitos marcantes mais caractersticos so as distores
ou alteraes de percepes visuais ou tteis (alucinaes). Durante o efeito do produto, chamado
pelos usurios de delrios, distrbios de afetividade, afetao do estado de nimo, alteraes de
padres motores, incluindo a catotonia.
O LSD tambm provoca um fenmeno chamado de sinestesia, pelo qual a pessoa pode
ver sons, cheirar cores, ouvir objetos.
H fases de excitao e depresso, podendo ocorrer inclusive suicdios, muitos dos quais
involuntrios, pois pela sensao de leveza que o produto provoca o usurio tem a sensao de
poder voar e, assim, se lana de alturas para a morte.
Perturba os processos intelectuais levando confuso e dificuldade de raciocinar.
Segundo os consumidores, os efeitos mais frequentes so as sensaes de despersonalizao,
perda da imagem do corpo e desrealizao, no sabendo se as coisas acontecem de verdade ou
no, alm de alteraes na percepo de formas, tamanho, cor e distncia. Por exemplo, um
consumidor de LSD descreveu ter visto uma garrafa de cerveja derreter-se e transformar-se em
um cinzeiro.
A fisiologia no est devidamente esclarecida, porm sabe-se que atua inibindo a serotonina
em nvel dos centros subcorticais (hipotlamo e hipocampo), sugerindo efeitos importantes no
crebro. um verdadeiro transformador mental, com espetacular efeito alucingeno. Alguns
estados de intoxicao manifestados pela LSD assemelham-se a certas reaes esquizofrnicas
agudas, sendo a psicose desenvolvida de carter reversvel e em certos casos irreversvel.
Seus efeitos citogenticos como danos aos cromossomos esto devidamente confirmados,
trazendo anomalia fetal, alm de aumentar o risco de aborto.
Notam-se acentuada midrase (dilatao pupilar), geralmente taquicardia, de incio hipo e
aps hipertenso, salivao, resultantes de uma descarga do sistema nervoso autnomo, assim como
tremores, dores pelo corpo, nuseas, aumento dos reflexos orgnicos, congesto da face e mucosas.
Autores enumeram as ocorrncias somticas e psquicas observadas no transcurso do
psicoma lisrgico, reunindo-as em trs grupos:
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Muitas pessoas que comeram cogumelos alucingenos por engano, confundindo-os com
comestveis, passaram por experincias terrveis que incluam sensao de angstia, de morte e
alucinaes com figuras ttricas e aberrantes.
Os usurios crnicos (no comum) apresentam deficits de memria.
Embora desenvolvam rpida e acentuada tolerncia aos seus efeitos psicolgicos, pela
supresso essa tolerncia desaparece em poucos dias, e por no provocar sndrome de abstinncia
quando deixam de ser usados, os cogumelos desses grupos no provocam dependncia orgnica,
somente psicolgica.
pio Morfina Herona
pio uma palavra que deriva do grego e significa suco. obtido quando se fazem
incises na cpsula verde da papoula, flor muito bonita, denominada cientificamente Papaver
somniferum L., uma das plantas mais antigas que a humanidade conhece.
O suco leitoso obtido das cpsulas de papoula secado ao ar, transformado numa massa
marrom por oxidao com o oxignio do ar e aps moagem transforma-se num p amarronado
que vem a ser o pio.
Esse produto contm vrios alcaloides psicoativos, porm merecem destaques como droga
psicotrpica a morfina, a herona e seu derivado.
Em geral, o pio fumado. Isso teve incio no sculo XIX na China e em alguns pases
da Europa, como a Inglaterra, primeiro pas a ser contaminado em massa. As plulas de pio
eram vendidas em Londres em grande nmero, tendo com apologista Thomaz de Quincey, que
chegou a escrever um livro intitulado Confisses de um ingls comedor de pio, narrando
suas experincias com o produto, suas desventuras e agruras do vcio, na tentativa de livrar-se
dele. Nessa cidade havia casas prprias para as pessoas fumarem o produto, hbito talvez levado
pelos chineses. Aos poucos, pelas proibies governamentais, em funo da percepo dos efeitos
nefastos, tal hbito foi deixado de lado. Atualmente o hbito de fumar pio em pases ocidentais
pouco comum, porm seus alcaloides e derivados esto entre as piores drogas para aprisionar
os seres humanos.
Droga perigosssima que escraviza, pois leva dependncia orgnica com destruio e
morte. Naturalmente os efeitos e consequncias so devidos aos seus alcalides, principalmente
morfina, que veremos a seguir.
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Morfina
Nome dado pelas suas propriedades sedativas, derivando do deus grego do sono, Morfeu.
, sem dvida, o principal princpio ativo do pio, quer pela sua ao teraputica de suprimir
a dor, quer pela multiplicidade de seus efeitos como droga de abuso.
Pode ser introduzida no organismo pelas vias oral, retal e parenteral (esta via, de injees,
a mais usual).
Uma vez no organismo, age sobre o SNC exercendo ao narctica de supresso dor,
manifestada por analgesia, sonolncia, alteraes do humor e obnubilao mental. Em pacientes
com dor, mesmo em pequenssimas quantidades tem-se notado certa euforia, que pode ser
resultado do alvio obtido. Em pessoas normais pode ocorrer disforia com nuseas, vmitos e
ansiedade acentuada.
As disposies fsica e mental ficam prejudicadas, com incapacidade de concentrao,
distrbios do intelecto, apatia, letargia, baixa acuidade visual. As extremidades tornam-se pesadas,
o corpo fica quente por mudanas na circulao cutnea, a face e em particular o nariz podem
apresentar prurido, ocorrendo tambm secura de boca. Os efeitos psicolgicos ultrapassam a ao
analgsica por muitas horas.
Em quem no tem dor e usa o produto como droga de abuso, produz uma intensa excitao.
Como a morfina interage com os neurotransmissores imitando a endorfina (analgsico natural
do crebro), ocupando seus receptores naturais, d a iluso de uma enxurrada desse analgsico,
quando ento os neurnios cortam a produo de endorfina, o que provoca dores insuportveis
e grande mal-estar, que s podem ser aplacados com nova dose. Como o corpo quimicamente
adapta-se com a droga, extremamente difcil deixar o vcio.
Por produzir rpida tolerncia, as doses so rapidamente aumentadas para os mesmos
efeitos, levando a crises pronunciadas de sonolncia com pronunciada depresso respiratria.
No homem os centros psquicos so os primeiros a serem atingidos, com perda de ateno
e de autodomnio e impossibilidade de coordenar ideias. Os centros inibidores so paralisados, e
o viciado tona-se um ser reflexo.
Nas pupilas, destaca-se a miose, com estreitamento delas mesmo no escuro, em certo grau.
Por ser um constante depressor da respirao, mesmo em pequenas doses, a morte quase sempre
ocorre por parada respiratria ou complicaes pulmonares, tais como edema ou pneumonia.
Ressalta-se que o perodo de excitao , sem dvida, devido depresso dos centros
superiores de inibio.
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Anfetaminas
A anfetamina um produto sinttico com aes poderosas sobre o SNC e popularmente
identifica um grupo de substncias quimicamente assemelhadas. Originalmente foi sintetizada
por um qumico alemo em 1887. Em 1930, foi redescoberta, tendo sido largamente utilizada
pelos militares na Segunda Guerra Mundial diminuir a fadiga. Muitos soldados retornaram
espalhando sua fama de droga revigoradora. Ao perceber-se que diminua a vontade de comer,
passou a ser explorada pela indstria farmacutica, a partir da dcada de 1950, com essa
finalidade, da para ser usada como droga de abuso, na dcada de 1960, foi um pulo. Nessa
poca muitos norte-americanos viciados em herona foram tratados (erradamente) com injees
intravenosas de anfetaminas, numa tentativa de substituio de drogas, pois acreditava-se que as
anfetaminas no provocavam vcio orgnico em qualquer grau e, portanto, tirariam o usurio do
vcio, sem problemas.
Algumas dcadas atrs, a droga era conhecida no Brasil como bolinha. Hoje em dia
temos o ice (gelo, em ingls), na realidade metedrina, um tipo de anfetamina produzido em
forma de pedras cristalinas da o nome ice , em geral ingerido com refrigerantes. Como toda
anfetamina, provoca euforia, inapetncia e diminui a sensao de cansao, porm leva a uma
hiperestesia sensitiva com os sentidos mais aguados, a luz fica mais intensa e as cores mais
vivas. Os reflexos ficam mais rpidos, possvel razo por ser apreciada por internautas (tambm
chamam-na droga dos internautas), que podem passar vrias horas navegando na internet com
rpidos reflexos. Com o passar do tempo, causam srios problemas ao usurio, levando a leses
ou descolamento da retina, podendo causar cegueira, alm de alta ansiedade, crises de paranoia,
taquicardia e todos os demais efeitos causados pelos anfetamnicos descritos adiante.
A mais utilizada no Brasil o ecstasy metilenodioximetanfetamina (MDMA). Com
poderes fortssimos de estmulo ao ser humano, sua ao mais prolongada, por isso mesmo
muito utilizada em boates do mundo inteiro, onde conhecida simplesmente por E, para muitas
horas de euforia, porm com consequncias altamente devastadoras. Alis, de todos os derivados
anfetamnicos, por produzir alucinaes, foi, h anos passados, retirado das prateleiras como
moderador de apetite. O ecstasy aumenta a quantidade de dopamina e norepinefrina no crebro
(como todos anfetamnicos), provocando estmulo e euforia, e mexe com os nveis de serotonina
alterando o funcionamento do crtex sensorial, o que causa as alucinaes. Isso faz com que
os sentidos, em especial o tato, fiquem mais aguados, dando vontade de tocar nas pessoas,
razo porque ficou conhecida tambm como a droga do amor. O que no bem verdade, pois
a capacidade do homem de manter uma ereo se reduz, e se alguns usurios so induzidos ao
320
sexo, ficam to distrados que dificilmente o orgasmo atingido; em ambos os sexos, podem
ocorrer anomalias sexuais na tentativa de conseguir satisfao.
De modo geral, os anfetamnicos so dilatadores dos brnquios, estimulantes respiratrios e
depressores do apetite, por inibirem o centro do apetite no crebro. No incio do uso, perturbam
inibies, trazem lapsos de confuso e amnsia, aumentam a autoconfiana (o que pode ser
perigoso para os usurios mais propensos a correr riscos), so agentes hipertensores, elevam a
atividade psicomotora e, durante o efeito, reduzem o cansao, porm esse efeito antifadiga pode
ser seguido de fadiga pronunciada e depresso.
Muitos atletas, profissionais ou no, usam esses produtos para se dopar, na tentativa de
aumentar seus rendimentos esportivos. Muitas vezes aumentam o flego, mas a distrao os
atrapalha, alm do que a droga no os ensina a serem atletas.
Um fato interessante que esses compostos so conhecidos como copilotos, pois muitos
motoristas que os usam para espantar o sono e o cansao largam o volante de seu veculo por
estarem certos de que algum dirige em seu lugar, acontecendo, assim, graves acidentes.
Motoristas consomem o que chamam de rebite, ou seja, misturam bolinhas com
caf ou bebidas alcolicas para dirigir por longos perodos sem sentir sono. No caso de mistura
com bebidas alcolicas, os anfetamnicos revertem o efeito depressor do lcool, devido sua
capacidade de estimular o crebro, permanecendo o indivduo desperto por mais tempo. Porm
h possibilidade de crises de ausncia, como j visto, ocasionando graves acidentes.
Estudiosos do assunto afirmam que os sintomas de loucura provocados por doses repetidas
so incio de uma psicose paranica com mania de perseguio, alucinaes auditivas e visuais,
em condies de clara conscincia, indistinguvel da esquizofrenia aguda ou crnica. Ao contrrio
do esquizofrnico, o viciado geralmente tem conscincia de que esses sentimentos so provocados
pela droga. A qualquer momento pode tornar-se violento e agressivo. Na depresso fsica ou
mental, resultado de largas doses, o suicdio comum.
Com o uso, apresentam nervosismo acentuado, irritabilidade, vertigens, nuseas, dilatao
pupilar, tremores, loquacidade, manias, delrios e at alucinaes, excitao psicomotora,
insnia, anorexia (mais no plano inicial de uso), arritmias, bruxismo (contrao da mandbula),
taquicardia, dispneia, hipertenso e hiperglicemia, anria, fazendo com que lquidos se acumulem
no organismo e, assim, nos medicamentos de manipulao para emagrecimento, se misturam
diurticos. Se a intoxicao for aguda, chega-se ao coma e at morte. Pode ocorrer hipertermia
(42C ou mais), tambm causa de morte.
De incio produzem euforia e sensao de aumento da capacidade fsica, provocando
acidentes psquicos rapidamente.
321
Seus efeitos anorexgenos mais marcantes so: diminuio inicial da motilidade gstrica
(aps algum tempo, h uma adaptao orgnica), depresso central da fome, aumento da atividade
fsica, com consequente aumento do desgaste de energia e queima de calorias.
Outros efeitos encontrados podem ser: verbosidade acelerada e eloquncia inesgotvel
fala com rapidez, mudando de um assunto para outro tornando-se difcil a compreenso ,
instabilidade psicomotora, inquietude, ranger de dentes, alergia gua, pruridos, forte sudao,
em geral ftida, assim como o hlito, secura de mucosas, contraes musculares com fortes dores
(evidentemente na falta dos produtos esses sintomas so aumentados, fazendo com que o usurio
apresente vrias equimoses, fruto de quedas ou apertes nos locais doloridos), desconfiana,
mesmo de pessoas amigas, e hiperacusia, em que sons soam dolorosamente. No incio da gravidez,
pode produzir mal-formao.
O uso prolongado pode conduzir mudana de personalidade, levando a psicoses. Pelo uso
contnuo, produz tolerncia, ou seja, as doses tero que ser aumentadas para os mesmos efeitos,
e essa tolerncia desenvolve-se mais rapidamente em relao euforia e sensao de bem-estar.
Com o cessar do uso, ocorre a dvida, notando-se angstia, medo, pnico, paranoias,
mal-estar fsico (sndrome de abstinncia), o que leva o usurio a novas doses. Sabe-se que as
anfeteminas atuam no crebro imitando neurotransmissores como a dopamina, ocupando seus
receptores, o que causa euforia. A dependncia em geral mais psicolgica do que orgnica,
pois possvel a reversibilidade ao estado primitivo orgnico, quando da supresso de uso com
tratamento especializado.
Alm da dopamina, outro neurotransmissor, a noradrenalina, tambm influenciado pelos
efeitos dos antetamnicos no crebro. Como os compostos anfetamnicos so desativados lentamente
pelo organismo, necessrio mais tempo para que os excessos de dopamina e noradrenalina
sejam consumidos, resultando num efeito mais prolongado.
Doses extremamente altas de anfetamnicos podem causar danos permanentes nos vasos
sanguneos que irrigam o crebro; devido ao aumento da presso arterial, podem ser fatais ou
causar um derrame, com risco de paralisias permanentes. Esse um dos riscos que correm as
pessoas que ingerem esses produtos como moderadores de apetite.
O uso mdico dos anfetamnicos hoje em dia bastante restrito. Em geral, faz-se no
tratamento da obesidade, por atuarem no hipotlamo ventrolateral facilitando a liberao
de noradrelina, que inibe a ingesto de alimentos. Pelos mltiplos efeitos psicoestimulantes
associados, dependncia e tolerncia, esse uso questionvel.
H dois padres principais de abuso. O primeiro intermitente, alternando-se o uso
contnuo de altas doses por dias, at a exausto ou o fim do estoque da droga, com um perodo
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323
So usados em geral pela via oral, mas tambm so administrados por via parenteral (injees)
e retal. Difundindo-se por todo o organismo, so potentes depressores gerais. Assim, deprimem o
SNC de maneira acentuada, deprimem as atividades dos nervos, dos msculos lisos, esquelticos
e cardacos. Em geral, produzem analgesia, sono, hipnose, anestesia e ao anticonvulsiva, bem
como irregularidades nas fases do sono normal.
Muitas vezes, nota-se nistgmo (movimentos oscilatrios dos globos oculares).
Sobre o SNC produzem vrios graus de depresso, variando de sedao leve ao coma.
Geralmente o intoxicado apresenta marcha semelhante do brio, titubeane e com ataxia.
Pode apresentar faces congestas, sudorese, lentido de reflexos (por isso quem usa esses produtos
no pode por lei dirigir veculos automotores), ocorrendo vertigens, nuseas e vmitos.
Em muitos usurios pode ocorrer idiossincrasia adquirida, manifestada sob forma de
ressaca, excitao ou mesmo dor.
Os problemas respiratrios podem manifestar-se com bradipneia, apneia, taquipneia, edema
pulmonar agudo e asfixia, com possibilidade de choque e parada cardaca.
A morte poder ocorrer por depresso bulbar (em parada respiratria), fibrilao ventricular,
broncopneumonia e complicaes (muito comum em casos de altas doses) ou ainda por unemia
com leso renal acentuada.
Os derivados benzodiazepnicos, embora guardem caractersticas em comum com os
derivados barbitricos, no so to agudos em seus efeitos depressores e suas consequncias;
porm, os mesmos variam mais com a suscetibilidade individual do que com a dose ingerida,
alm de potencial de dependncia bem inferior. Naturalmente, o risco aumenta com a dose
diria, da porque em casos de uso medicamentoso deve-se usar a menor dose possvel no
menor prazo possvel.
A sintomatologia dos efeitos inclui sonolncia, relaxamento, ataxia, depresso, confuso
mental, torpor, vertigens, zumbido e, em altssimas doses, at o coma e a morte.
Assim como os derivados barbitricos, provocam lentido de reflexos, incoordenao
motora (proibido dirigir sob seu uso) com consequente diminuio da atividade mental, falhas de
memria e diminuio da libido com impotncia sexual.
Tambm notam-se secura de boca, eventuais nuseas e vmitos, constipao intestinal,
oligria e tremores.
Para alguns derivados, tm-se observado irregularidades menstruais e estmulo do apetite.
A retirada desses produtos deve ser lenta e gradual, para evitar manifestaes graves de
supresso.
Fuja deles.
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Plantas Alucingenas
Nunca em nenhum momento da histria existiu uma civilizao livre de qualquer tipo de
droga, sendo impossvel determinar quando as sociedades primitivas comearam a consumir
drogas alucinognicas.
As comunidades indgenas do mundo inteiro sempre consumiram drogas alucinognicas,
porm a grande maioria as usa em cerimoniais religiosos. Os ndios americanos conheciam
substncias to perigosas, consideradas mgicas, que somente eram usadas pelos xams (espcies
de feiticeiros). A fumaa aspirada, de muitas plantas, era considerada alimento dos espritos,
concentrada no rito religioso.
Os Incas mascavam folhas de coca, restritas aos cultos religiosos de incio.
A origem do culto ao peyote est perdida no tempo, sabendo-se que os Astecas e
posteriormente os apaches foram grandes consumidores. Inclusive at hoje existe (de forma
clandestina) uma seita nos EUA e no Mxico que cultua as fatias (moedas) do cactus como
divinas: a Native American Church.
A maconha, entre outras, e o prprio lcool etlico tiveram em pocas passadas conotaes
religiosas, enquanto ndios sul-americanos usavam (e usam) plantas, razes e folhas de produtos
os mais variados com poderes alucingenos, porm a cincia sempre condenou este uso, pelas
consequncias orgnicas de seus princpios.
Assim, observa-se que desde h muito tempo toda a humanidade, e no somente os ndios,
busca nas drogas um amparo para crenas religiosas, em determinadas circunstncias.
Em geral, os princpios ativos so produtos que se enquadram como psicodislpticos de
psico = mente; sufixo lptico (do grego captar) e prefixo dis (perturbar), ou seja, produtos que
perturbam a atividade mental.
Na Regio Norte do Brasil, principalmente, algumas plantas so usadas at hoje em
carter religioso.
ndios do alto Xingu h muitos anos bebem caapi, de potentes efeitos alucingenos,
preparado com a casca de um cip, o jagube ou mariri (Banisteriopsis caapi).
Os ndios bolivianos e peruanos da regio amaznica usam esse mesmo cip com o nome de
ayahuasca (em quchua, cip das almas), ou yag (sonho azul), ou ainda, mihi, dapa, pinde,
natema, misturado com folhas de uma planta conhecida como rainha ou chacrona (Psychotria
viridis), que usada ao ch para potencializar seus efeitos.
Essas plantas ajudaram a fundar duas religies no Brasil: o Santo Daime, ou simplesmente
Daime, e a Unio do Vegetal (UDV).
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326
Jamais o problema dever ser banalizado nem dramatizado, e em caso de seu filho ter
entrado nesse drama, procure ajuda especializada. Jamais sejam pais liberais demais nem
repressores ao excesso, mas lembrem-se de que preciso impor limites aos jovens para que no
venham a sofrer no futuro.
Devem mostrar que a vida ter percalos, e, se estiver ntegro, a chance de vencer
obstculos grande. Porm, aqueles que se drogam, alm de no ultrapassar esses obstculos,
ainda enfrentam novos problemas, pois haver deteriorao da mente e corpo, problemas sociais
de convivncia na sociedade (tico, moral, de sade, com a polcia, a justia etc.), com o agravante
de que, ao passar o efeito da droga com todas as suas consequncias orgnicas, os problemas
continuam, e houve perda de tempo precioso para solucion-las.
Se no h defeito fsico, ningum precisa de muletas emprestadas para viver, pois se drogando
so amparados por algo efmero, sem que consigam resolver seus dramas ou fugir deles.
A luta da sociedade moderna contra as drogas deve ser mais eficaz, pois a cada dia surgem
novas drogas, mais atrativas, arrebanhando mais e mais membros da comunidade. preciso que
se encare mais seriamente o problema, de frente, sem mistificaes.
Deve-se educar as novas geraes sobre o perigo das drogas psicotrpicas fornecendo bases
e orientaes, dando condies ao homem de viver a sua realidade, sem a necessidade de recorrer
a sonhos impossveis e a viagens desastrosas.
Este apanhado d uma ideia das principais drogas deste universe que atingem a moderna
humanidade, mostrando sua complexidade e a fragilidade humana diante delas, no esgotando o
assunto nem houve mesmo tal pretenso.
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do lcool no significa que quem o usa seja considerado um alcolico. A maior parte da populao
mundial faz uso no abusivo do lcool, sendo por diversos motivos uma substncia considerada
legal e de uso social. O lcool no considerado droga pela sociedade, mas uma droga muito
perigosa, geralmente apresentada s crianas no prprio seio da famlia.
A sociedade comporta-se de forma bastante cnica em relao ao lcool, pois, ao mesmo tempo
em que incentiva o uso, com macias propagandas na mdia, rejeita totalmente os indivduos que
abusam do lcool ou mesmo adoecem por causa dele. Essa no aceitao faz com que estas pessoas
sejam consideradas fracas de carter, malandras, insensveis, perigosas, rejeitadas e excludas do
convvio social de forma estigmatizante1 e preconceituosa, diferentemente do que acontece com a
maioria das outras patologias, que cursam2 com alteraes comportamentais.
Poucas doenas estigmatizam tanto o portador de problemas com o lcool, tanto quanto,
rejeitam e pr-julgam o doente. Essa rejeio social traz enormes entraves ao enfrentamento deste
problema tanto por parte da famlia quanto da sociedade e da prpria medicina, pois as famlias
relutam durante muito tempo a procurar ajuda especializada.. Os portadores do alcoolismo
ou tambm chamado pelos especialistas de Sndrome de Dependncia3 ao lcool, j ento
diagnosticados, so profundamente desacreditados em virtude da aparncia fsica, do grau no
qual o comportamento possa representar risco aos outros. Violncia, agresses e tumultos sempre
esto associados intoxicao alcolica.
Assim, compreender a doena alcolica de que estamos falando exige de cada um o
desprendimento da postura preconceituosa e moralista existente e a aceitao de que o alcoolismo
uma doena incurvel, progressiva e fatal, mas que pode ser detida e controlada.
O professor ir abordar, na maioria das vezes, no os alunos j portadores da doena,
que sero minoria, mas sim jovens que esto bebendo de forma absolutamente prejudicial e que
precisam de orientao precisa, compreensiva e assertiva4 sobre os riscos para sua sade.
Os comportamentos desses indivduos esto sempre associados a medo, raiva, revolta,
violncia, agressividade e tumultos. Esse tipo de ao no acontece obrigatoriamente em
situaes comuns na escola, mas estaro sempre dependendo do grau de intoxicao5 que o
jovem possa apresentar.
A partir dessas informaes bsicas, fundamentadas cientficamente, os mestres se
sentiro muito mais seguros e confiantes, no hesitantes, e assertivos em lidar com alunos em
situao de crise6.
lcool a droga, entre as lcitas (lcool) e ilcitas, que mais avana no consumo entre
jovens, apesar de muitas pessoas acreditarem que no seja. Hoje, os jovens bebem muito e de
forma altamente prejudicial e no h mais distino entre o beber dos meninos e das meninas.
330
Elas bebem hoje as mesmas quantidades e tipos de bebidas dos meninos. Nos ltimos anos houve
significativas mudanas no contexto familiar, com evidentes modificaes nos relacionamentos
entre pais e filhos. Com essa ciso da famlia, muitos valores foram alterados, e a linha que separa
o muito absurdo do muito normal est cada vez mais tnue, jovens bebem com o estmulo dos
pais, e estes tm dificuldades em impor limites. A apresentao dos jovens s bebidas alcolicas
muitas vezes servida pelos prprios pais, pois uma espuminha da cerveja no vai fazer nenhum
mal. A sociedade em modernizao e mais liberada est abrindo mo de muitos valores e
deixando de cumprir algumas normas preestabelecidas, prejudicando principalmente a juventude.
As pesquisas feitas no Brasil entre estudantes de primeiro e segundos graus de escolas
privadas e particulares vm apontando o incio da experimentao de lcool, em faixas etrias
cada vez mais precoces.
Na dcada de 1970, o primeiro uso de lcool acontecia entre os 16 a 18 anos, sendo
que duas dcadas aps a faixa de incio de uso caiu para 12 a 13 anos. Atualmente pesquisas
tm mostrado que a faixa etria de uso experimental7 est diminuindo. Tudo isso, mesmo com a
proibio de venda de bebidas alcolicas para menores.
Grfico 1
Bebidas
Alcolicas
Cigarro
Maconha
Diferentemente do que noticiada na mdia, a droga mais consumida pela populao adulta
so o lcool e o tabaco. Pela forte presso que essas indstrias exercem sobre as pessoas, levamnas a acreditar que o lcool e mesmo o tabaco, que so consideradas drogas por serem socialmente
331
aceitas. No esquecer que os pais tm enorme responsabilidade na conduta que os filhos possam
vir a ter alguma experincia com bebidas alcolicas.
O Brasil nas ltimas dcadas, por meio de organizaes governamentais, centros de
excelncia e universidades, tem podido avaliar, mediante levantamentos epidemiolgicos8 que
fornecem dados diretos do consumo de drogas, a real situao das drogas em uma determinada
comunidade. Diversos levantamentos tm propiciado uma radiografia do comportamento das
drogas, quais os tipos mais prevalentes, quais as populaes em condies de risco. Esses
levantamentos envolvem diversos setores da comunidade, pesquisas com estudantes de ensino
fundamental, mdio e universidades, tanto pblica quanto privadas, pesquisas nas residncias
dos entrevistados, crianas em situao de rua etc. O Primeiro Levantamento domiciliar (2001)
sobre uso de drogas psicotrpicas9 foi obtido em questionrios que foram entregues a cidados
das 107 maiores cidades do pas. Considerando somente o lcool, a pesquisa mostrou que 68,7%
das pessoas j tinham experimentado lcool pelo menos uma vez na vida. Evidenciou tambm
que pessoas que preenchiam os critrios diagnsticos para dependncia chegavam a 11,2% dos
pesquisados.
Quatro anos aps, 2005, no Segundo Levantamento familiar, 75% das pessoas j tinham
experimentado lcool pelo menos uma vez na vida e 12,3% foram diagnosticados como dependentes
do lcool10. As idades pesquisadas variavam dos doze aos dezesseis anos, e surgiram ento os
primeiros indcios de que as crianas em idades mais precoces j se relacionavam com o lcool de
forma prejudicial (ver Tabela 2).
LCOOL
2001
2005
68,7%
75%
Dependentes
11.2%
12,3%
332
Apesar disso no so encontrados relatos de intoxicaes srias ou beber prejudicial nesta faixa
etria. Demonstrou, contudo, que 65,2% j haviam experimentado lcool pelo menos por uma vez
na vida, que 63,3% j haviam feito algum uso no ltimo ano e que 44,% haviam usado bebidas
alcolicas no ltimo ms. Chama a ateno, de forma bastante preocupante, que 11,75 relataram
uso de bebidas seis ou mais vezes no ltimo ms e 6,7% faziam uso de bebidas vinte ou mais vezes
no ms. Estes dois ndices revelam caractersticas de beber frequente e beber pesado. A reflexo
necessria aqui, que, apesar de no termos uma epidemia de drogas, conforme apregoado, no
podemos minimizar as relaes que os jovens vm tendo com as bebidas alcolicas. A participao
da famlia e principalmente da escola de extrema importncia. crescente hoje em dia os alunos
que so flagrados em pleno colgio e mesmo em sala de aula fazendo uso de bebidas (tubo11) em
atitudes desafiadoras.
A compreenso deste artigo exige a necessidade do conhecimento de termos que so usados
na problemtica do lcool e que permitem uma compreenso mais adequada do que esta grave
condio mdica.
Sendo assim, vamos aos termos:
a) Droga: toda substncia natural ou sinttica que, introduzida no organismo vivo,
modifica uma ou mais de suas funes produzindo alteraes em seu funcionamento.
Diferentemente do que se pensa, o lcool uma potente droga que age sobre o sistema
nervoso cerebral.
b) Sndrome de dependncia ao lcool: o conjunto de elementos como, tolerncia, sintomas
de abstinncia, dificuldades em controlar o consumo, gasto de muito tempo e dinheiro
para conseguir a bebida, tenta diminuir ou parar o consumo do lcool, sem sucesso.
c) Sndrome de abstinncia: so sinais e sintomas que aparecem quando o indivduo
dependente diminui as doses ou tenta parar de usar o lcool. Esses sintomas vo se
agravando at a possibilidade de causar a morte do usurio. So sintomas da abstinncia:
suores, frequncia cardaca maior do que 100 batimentos por minuto, tremores de
extremidades, insnia, nusea / vmitos, alucinaes / iluses (tcteis, visuais, auditivas),
agitao, convulses.
d) Tolerncia: quando o organismo necessita de doses cada vez maiores de lcool para
conseguir determinado efeito. Com o tempo h uma adaptao do crebro a essa
quantidade e so ento necessrias muito mais doses para se atingir o mesmo efeito que
se conseguia anteriormente.
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335
Com a intensidade das emoes desse perodo conturbado, pelas culpas, vergonhas
e indefinies, a presena de uma substncia que desinibe (no caso o lcool) faz esquecer as
dores, melhora a autoconfiana, relaxa nos contatos sociais, principalmente com o sexo oposto,
e encontra no beber social um alvio para sua confuso.
Estar no grupo estar na onda e passar a usar o lcool com significado ritualstico
representando a possibilidade efetiva de ter um passaporte para a aceitao de todos, principalmente
dos colegas, pois agora se considera adulto. A imagem mais forte desse momento o jovem
ou a jovem fazendo uso provocativo e acintoso de bebidas, em pblico. Esse comportamento
desafiador faz parte de sua convico de ter a liberdade de fazer suas prprias escolhas. A relao
estabelecida com o lcool pode, dependendo da histria familiar, uso de bebidas pelos pais, carga
hereditria etc. colocar o jovem em perigo. Quanto mais precocemente o jovem comear a beber,
mais probabilidade ele ter de se tornar no futuro um dependente alcolico. Na sua conduta
adulta, o jovem acredita que conseguir parar de beber quando quiser, pensa ter domnio
total sobre sua ingesto14, mas corre muito risco com a probabilidade de no conseguir. Assim, o
inocente beber socialmente pode se transformar rapidamente em beber problemtico,
2. O PROBLEMA ALCOLICO
Vamos aprender agora como acontece a marcha da doena alcolica a partir do momento
em que uma pessoa experimenta bebida alcolica pela primeira vez. Vamos acompanhar esta
evoluo seguindo o desenho acima.
336
A partir de duas linhas que se cruzam, uma vertical com uma horizontal: a horizontal (da
esquerda para a direita) a ausncia de qualquer sinal de dependncia15 e no seu extremo oposto
a presena de sinais de dependncia.
Na linha vertical, da mesma forma, na parte inferior a no existncia de problemas e na
superior a presena de problemas. No importa aqui que tipos de problemas, pois estes sero
vistos na sequncia deste captulo. Identificamos ento quatro quadrantes, representados pelas
letras A, B, C e D:
a) so colocados no primeiro quadrante (A) aqueles indivduos que bebem, mas no
apresentam problemas nem tem sintomas de abstinncia, poderamos cham-los de
bebedores sociais ou bebedores normais, o que alis no fcil caracterizar claramente
devido ampla variao de formas de beber. A maior parte das pessoas bebe
moderadamente e representa a maior parte da populao adulta, sem que essas pessoas
sejam rotuladas como doentes alcolicas. A cultura de uma determinada populao, a
influncia desta no ambiente familiar, as prticas religiosas menos tolerantes em relao
ao beber, esto associadas a um consumo de bebidas alcolicas mais moderado;
b) no quadrante (B) esto os indivduos que sem apresentarem sintomas de abstinncia16,
j passam a apresentar problemas comportamentais, p.ex., beber e dirigir, complicaes
clnicas etc. e podem ser chamados de bebedores problema. A quantidade de bebida
ingerida e o padro de uso so levados em conta para esta caracterizao de beber
problemtico. Supe-se que fatores ambientais (ambiente familiar com eventos
estressantes frequentes) e genticos estejam envolvidos nesse padro de beber. Em
relao gentica, estudos tendem a confirmar a existncia da predisposio gentica
para os comportamentos de consumo. Filhos de pais alcolicos tm probabilidade de
25% de desenvolverem a doena;
c) no quadrante (C) esto, ento, os dependentes, que apresentam problemas mais graves
do que os bebedores problema e tm evidentes sinais de dependncia ao lcool.
Note que no existe nenhuma categoria de bebedor no quadrante (D) pois seria incompatvel
a ausncia de problemas sendo o indivduo portador dos sintomas de dependncia.
Ainda neste grfico, observe que os assim chamados de bebedores sociais podem, no correr
do tempo, evoluir para bebedores problemas e que, com a aceitao de tratamento ou mesmo por
deciso prpria, podem voltar a beber socialmente. O mesmo NO acontece com os bebedores
337
que evoluem para dependente do lcool, pois essa condio diagnosticada por mdico especialista
implica a impossibilidade de jamais voltar a beber socialmente, sendo, ento, a abstinncia total,
condio obrigatria para o resto da vida.
A evoluo do beber social at a dependncia no acontece de uma forma sequencial, no
como se o grfico fosse o mostrador de um relgio. Um indivduo pode ser um bebedor social
durante toda a sua vida mesmo que em determinados perodos faa uso abusivo de lcool. O
bebedor problema no conseguir por muito tempo permanecer nessa condio tambm sem
ajuda mdica.
No possvel estabelecer por quanto tempo um indivduo que tenha uma histria familiar
de alcoolismo, e as vulnerabilidades, sociais, psicolgicas e biolgicas permaneer em cada fase
desta. Existem estudos que estimam que a partir do momento em que um indivduo inicie sua vida
alcolica e que tenha esses fatores desencadeantes leve de 9 a 12 anos para desenvolver a doena.
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340
para as mulheres. Este tipo de beber muito prejudicial pois no se conhece ainda que efeitos
vo ser desencadeados no bebedor, p.ex. agressividade, impulsividade, violncia. Em mdia e
dependendo de fatores diversos, leva mais de uma hora para que o organismo processe e elimine
uma dose de bebida.
Observe abaixo as equivalncias em unidades de lcool em cada tipo de bebida:
UNIDADES DE LCOOL EM CADA DOSE DE BEBIDA
85 ml de vinho do
Porto, vermutes ou
licores
140 ml de vinho de
mesa
de cerveja contm
cerveja
duas doses)
341
60 kg
70 kg
80 kg
0,27 g
0,22 g
0,19 g
0,54 g
0,44 g
0,38 g
0,81 g21
0,66 g22
0,57 g
Importante tambm conhecer os padres de uso que um indivduo pode ter e quais so as
evidncias fsicas e comportamentais s quais est sujeito, dependendo da quantidade de doses
que ingeriu. Observe na tabela abaixo:
1 a 2 doses
3 a 5 doses
SINTOMAS
Euforia, sensao de bem-estar, desinibio, sociabilidade, sensao de prazer, alegria
desproporcional, leve comprometimento da autocrtica23, comportamentos de risco
Fala arrastada, lentificao dos movimentos, reflexos diminudos, andar hesitante e
incoordenado, dificuldades de concentrao, ateno dispersa, lentificao de pensamento
Diplopia24, nuseas e vmitos, dificuldades de raciocnio, agravamento da concentrao,
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populao tem esse tipo de relao com as bebidas alcolicas. Na sequncia do relacionamento,
mesmo que aps beber sinta-se fisicamente mal, este desconforto superado e muitas vezes
percebido como algo que est fugindo do controle, passa um perodo, ou de parada completa
de beber ou reduz drasticamente o uso. Com frequncia pode fazer reflexes sobre seu atual
relacionamento com as bebidas alcolicas, o que pode modificar seu padro de uso para aquela
fase em que beber no determinava nenhum tipo de desconforto.
Na continuao do uso e dos eventuais abusos25, cresce a dificuldade de perceber o que
est acontecendo e cada vez mais difcil parar ou diminuir o consumo. Para fins didticos,
dizemos que a transformao do bebedor social para problema comea a caracterizar-se. O hbito
at ento de no ter preferncia especfica para determinado tipo de bebida, indiferente ao
teor alcolico de cada uma, passa a ser mais frequente a busca por bebidas com maior teor
alcolico. Por exemplo, abandonar as bebidas mais fracas (fermentadas26) como cerveja,
vinho etc. trocando-as por bebidas mais fortes (destilados27), como usque ou cachaa. Essa
modificao do padro de uso das bebidas que acompanhado por um aumento na frequncia
da ingesto, leva a um aumento do custo emocional. Existe ainda a percepo de que algo de
ruim possa estar acontecendo. H um aumento do custo emocional, com eventuais perodos
de tristeza ou perodos mais longos de desnimo, apatia e desinteresse. Tenta diminuir o
uso, mas no consegue. Angustia-se com a compulso para beber. So evidentes tambm as
modificaes na personalidade do bebedor. No trabalho ou na escola, torna-se mais arredio,
desconfiado, tende ao isolamento, evita contato com os colegas ou superiores e professores.
comum ouvir-se: Ele mudou demais seu jeito de ser. Entretanto, tanto a frequncia das
alteraes de humor, sintomas depressivos, cansao frequente, desnimo, quanto irritabilidade,
agressividade, impacincia, respostas inapropriadas a estmulos mnimos, so sintomas que
obrigatoriamente no significam um quadro de depresso clssico, mas sim uma resposta
negativa s modificaes que esto ocorrendo em sua vida, Cada vez mais reage de forma
intelectualizada, buscando maneiras de explicar racionalmente o que se passa com sua vida.
Esse comportamento caracteriza o aperfeioamento dos chamados mecanismos de defesa28.
5. MECANISMOS DE DEFESA
Todos os seres humanos, durante seu desenvolvimento emocional, desenvolvem formas de
preveno contra o sofrimento emocional. Desde criana usamos esses mecanismos como forma
de evitar o sofrimento psquico, real ou imaginrio. So chamados de mecanismos de defesa,
so inconscientes e so de diversos tipos. Para nosso entendimento, vamos nos fixar em trs
343
mecanismos mais usados por aqueles com problemas relacionados com o lcool. Durante todo
o processo que se iniciou nas primeiras experimentaes com o lcool, alguns mecanismos j
vinham funcionando inconscientemente. Negao, racionalizao e projeo so os principais,
alm da represso que mais adiante ser comentada.
A Negao o processo inconsciente em que o indivduo tenta descaracterizar um fato
acontecido, no levando em conta sua inteligncia. Por exemplo: um aluno sendo flagrado em um
teste usando mtodos ilcitos, ao ser abordado pelo professor, geralmente iniciar a frase com:
No, eu no estava colando. Importante lembrar que essa resposta no implica que o aluno
esteja mentindo. A reao imediata e instantnea a manifestao da defesa psquica contra as
consequncias que adviro de seu comportamento.
Da mesma forma, o mecanismo de Racionalizao implica o fato de ser tentada uma
explicao, uma razo para o que aconteceu. No caso do aluno acima, este mecanismo poderia se
manifestar como: Eu estou com uma gripe muito forte e somente olhei para o lado, para espirrar.
Note que, imediatamente aps a abordagem, a frase acontece imediatamente, no havendo tempo
para ser pensada uma resposta. Novamente no se trata de uma mentira. E a projeo tem como
funo aliviar o sofrimento que est por vir, isentando o indivduo de qualquer responsabilidade
sobre o fato que lhe est sendo imputado, jogando a culpa ou projetando em outro. No caso do
aluno, a resposta seria: Foi o meu colega ao lado que estava colando.
A Represso o mecanismo inconsciente que impede o psiquismo de acesso a componentes
ameaadores. Reprimir sentimentos de um bebedor ele no conseguir perceber a sua condio
de progressivamente vir perdendo o controle sobre seu trabalho, famlia e de sua prpria maneira
de beber. Esses mecanismos no acontecem obrigatoriamente nesta ordem.
Voltando ao nosso bebedor, entendemos ento que todo seu comportamento quando
confrontado com a alterao de sua relao com a bebida usar destes mecanismos. Evidentemente
que, este sistema de defesa opera contra o indivduo, pois impede a percepo bvia das
modificaes que esto ocorrendo em sua vida. Mesmo com todo esse processo em andamento,
ainda no temos como caracteriz-lo como doente alcolico.
Observando em nosso grfico, ainda estamos identificando um bebedor problema. que
mesmo nas atuais condies da vida do indivduo, mesmo na presena de algum acontecimento
estressante, perda de trabalho, separao conjugal etc. ele ainda ter condies de reverter o
quadro, voltando a beber socialmente. A capacidade de resgatar sua sade fsica e mental so
fatores positivos para sua recuperao.
A relao danosa com o lcool continua crescente, o sofrimento emocional piora, e o indivduo
tem cada vez mais dificuldades em se sentir bem. As mudanas que ocorrem em seu comportamento,
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Pela incapacidade de modificar o uso da bebida, o indivduo vai perdendo o contato com a
realidade e tendo um progressivo comprometimento do julgamento. No podemos, contudo, esquecer
que a sndrome de dependncia ao lcool malevel, muitas vezes surpreendente, no imutvel.
Esse verdadeiro caleidoscpio de sintomas, alteraes fsicas, emocionais, comportamentais que
compem a sndrome, exige dos profissionais uma experincia ampla de todas as nuances desta
doena, possibilitando que a avaliao da histria de cada paciente possa definir qual procedimento
mdico deva ser aplicado, a avaliao da necessidade ou no de internamento em clnica de
desintoxicao, visando proteg-lo de complicaes clnicas e psiquitricas.
6. IDENTIFICAO DE UM USURIO
Pode parecer muito fcil a identificao de um jovem que esteja se envolvendo com lcool,
mas no podemos negar que a presena de outros tipos de droga pode tambm fazer parte
da vida do adolescente ou adulto jovem. Familiares e professores tm grande importncia e
responsabilidade na percepo de que algum problema possa estar acontecendo. Os indicativos
que o jovem apresenta podem, muitas vezes, ser confundidos com comportamento absolutamente
normais, prprios da fase em que se encontra, por exemplo, agressividade, alteraes de
comportamento etc., fazem parte da adolescncia normal. No cabe, nunca, aos pais ou os
professores se apressarem em tentar fazer um diagnstico do que est se passando, pois este
somente poder ser feito por um profissional especializado.
Vamos apresentar alguns indicativos de possvel envolvimento com alguma substncia lcita
ou ilcita:
a) cansao frequente, mudanas nos hbitos alimentares, ou perda do apetite perodos de
intensa ingesto de alimentos;
b) uso de culos escuros para esconder os olhos avermelhados, possvel indicativo de abuso
de lcool ou outra droga;
c) uso de camisas mangas compridas, nos dias de calor, para esconder marcas de uso de
seringas para drogas injetveis;
d) uso de disfaradores de hlito alcolico, dropes, balas de hortel e pedaos de jornal
mastigados (o papel absorvente do jornal e a tinta so potentes diminuidores do
hlito alcolico);
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Criar um bom vnculo afetivo que permita se aproximar precocemente e abrir as portas
para o incio de possvel ajuda.
Passar informaes reais, falando do compromisso do no uso e o respeito famlia e
comunidade.
Estimular seus valores positivos.
Oferecer ajuda de maneira firme, direta, objetiva, sem jamais firmar nenhum tipo de
pacto com o aluno, no sentido de no ser comunicado aos pais o que est acontecendo
com ele. Agir de maneira afetiva, isto , no ameaando, no criticando, mostrar-se
interessado em ajud-lo e mostrando as opes que a comunidade lhe oferece para poder
ser encaminhado.
Manter acompanhamento permanente sobre o comportamento e a evoluo apresentada,
mesmo em caso de estar em tratamento.
6.2. Dicas para um bom entendimento com um adolescente
Dilogo
Reflita como est seu relacionamento com seus filhos. Converse sempre com eles, no
importa o assunto. Conte-lhes histrias, brinquem. O dilogo fornece uma relao de confiana
entre eles e voc. Se houver entraves no relacionamento, discuta com eles e nunca haja pela
emoo ou de forma precipitada.
Responsabilidade
Ensine-lhes o conceito de responsabilidade, a capacidade de responder por seus atos, pagar
por seus erros e cumprir com suas obrigaes. Mostre tambm pelo seu exemplo a importncia de
se responsabilizar pelas suas coisas, mesmo as mais simples.
Limites
Os jovens precisam aprender que no podem fazer tudo o que querem. Estabelea limites
do que aceitvel para a famlia, mas em algumas situaes seja flexvel, mostrando a eles essa
sua disposio.
Disponibilidade
Mesmo com a frentica atividade que a vida nos impe, considere que voc precisar estar
disponvel para ajud-los em suas solicitaes, dvidas e sentimentos. Ajude-os, mas no resolva
o problema por eles.
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Frustrao
Desde o incio de nosso desenvolvimento emocional convivemos com a frustrao. Uma
carncia emocional, material ou desejo no cumprido desencadeia sentimentos de injustia ou
mesmo de raiva. Ensine-lhes a receber um NO, importante aprender que no se pode ter ou
fazer tudo, principalmente quando se tratar de questes que envolvem liberdade.
Respeito e Serenidade
Trata-se de sentimento interno de considerao e estima positiva por uma pessoa, associao,
propriedades etc. Aprender o que respeito fundamental para a construo de um homem de
bem. E que ao dizer-lhes um no ou repreend-los no se culpe, voc quer sempre o melhor para
eles. Eles sabem disso, mesmo que no o admitam.
Espiritualidade
Independentemente da orientao religiosa, procurar incutir no jovem os princpios e as
prticas da espiritualidade, transform-los em melhores pessoas.
Admisso de falhas
No negue, minimize ou finja que no percebe seus erros. Converse francamente, mostre
que voc identificou a conduta inadequada, cobre os limites e d as orientaes necessrias
Valores positivos
Incentive seus filhos a atividades que valorizem a vida, esportes, artes.
Futuro
Procure gradativamente encaminh-los para atividades que futuramente os auxiliem na escolha
da profisso. Argumente, motive-os a buscar informaes a respeito de sua provvel profisso.
Chegamos ao final deste captulo esperando que tenha servido para o aprendizado de como
pode um indivduo, com o passar do tempo, vir a se tornar um dependente do lcool, portanto um
alcoolista ou alcolico, com grande probabilidade de vir a morrer. Pudemos rever tambm que
nossos preconceitos podem vir a estigmatizar um abusador de lcool, tornando quase impossvel
o encaminhamento para ajuda. Vimos tambm que existem fatores que protegem o jovem de
envolver-se perigosamente com o lcool e fatores que facilitam o desencadear da doena alcolica.
E, por ltimo, lembrando que a famlia sofre muito a cada evoluo da doena de seu
familiar, e passa a ter comportamentos muito parecidos aos do bebedor, pois, a famlia tambm
nega, racionaliza e culpa, pessoas e situaes que seriam responsveis pelo drama que se desenrola.
O que um familiar de um bebedor pode fazer? Diferentemente do que se pensa, que
no adianta ajudar se ele no concordar os familiares podem usar estratgias para motiv-lo a
350
aceitar ajuda. Existem grupos de autoajuda, sendo o mais conhecido, Alcolicos Annimos, que
uma irmandade de bebedores que tem como objetivo a manuteno da sobriedade e juntos
compartilharem seus sofrimentos e as mudanas necessrias para retomar suas vidas, recuperando
sua sade, sua famlia, seu emprego. Fazer um bebedor ou bebedora aceitar comparecer a um
grupo no tarefa fcil. Como agir ento? Familiares so muito bem recebidos nos grupos de
familiares de alcolicos, chamado de Al-Anon. Aqui alm de aprenderem o que o alcoolismo,
aprendem a controlar suas ansiedades e discutem temas relativos ao relacionamento que os
familiares podem ou no ter com seus bebedores. Como agir, por exemplo, para motiv-los na
busca do tratamento.
E para no esquecer jamais: alcoolismo uma doena de evoluo crnica, progressiva,
incurvel e fatal, mas que pode ser DETIDA.
REFERNCIAS
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FORMIGONI et al. (1992). A Interveno Breve na Dependncia de Drogas. Adaptado do Manual de triagem
e avaliao inicial do Addiction Research Foundation, Toronto, Canad.
LINKS
Todos os links abaixo apresentam informaes sobre drogas em geral, com caractersticas prprias de cada
uma, a histria das drogas, orientaes para pais, educadores e jovens em geral.
A Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas, SENAD, disponibiliza farto material relacionado a drogas em
geral. So gratuitas e esto disponveis para download no site www.senad.gov.br:
a) Curso de Preveno ao uso de drogas para educadores de escolas pblicas.
b) F na Preveno
c) Srie por dentro do assunto (cartilhas)
e
SUPERA: material impresso e tambm disponvel em CD-ROM em www.supera.org.br/senad
VIVAVOZ 0800-510-0015:
uma central telefnica de orientaes e informaes sobre a preveno ao uso indevido de drogas. O telefonema
gratuito e o atendimento sigiloso, atendendo das 8 s 24 horas, de segunda a sexta-feira. A pessoa no
precisa se identificar.
OBID Observatrio Brasileiro de Informaes sobre Drogas
Aqui voc encontrar informaes sobre endereos de grupos de autoajuda em todo o Brasil, clnicas para
tratamento e demais recursos da comunidade.
Portal: http://www.obid.senad.gov.br
Para contatos com os Conselhos Estaduais e Municipais sobre Drogas, as informaes podem ser obtidas a partir
dos sites:
E outros
www.einstein.br/alcooledrogas
353
www.cebrid.epm.br
www.unifesp.br/dpsicobio/uded
www.grea.org.br
www.abead.com.br
www.alcoololicosanonimos.org.br : Alcolicos Annimos: atende aos portadores de problemas com o lcool,
presta informaes, orienta os possveis participantes da Irmandade fornecendo endereos das reunies em
todo o Brasil
www.al-anon.org.br: informaes, atendimento e orientaes para familiares de alcolicos, fornecendo endereos
das reunies em todo o Brasil.
www.sobriedade.org.br :Pastoral da Sobriedade.
Assertividade a capacidade de expor de maneira clara, honesta e firme o que se pensa, sente ou quer, de
modo a no desrespeitar o direito das outras pessoas em relao aos seus prprios direitos.
Intoxicao So as mudanas fsicas e psicolgicas do uso intensivo de lcool em curto perodo de tempo.
So os estudos do que acontece com as pessoas em geral, quantas vivem em determinado local, como vivem etc.
10 Sndrome de abstinncia So sinais e sintomas que aparecem quando o indivduo dependente diminui
as doses ou tenta parar de usar o lcool. Estes sintomas vo se agravando at a possibilidade de causar a
morte do usurio.
11 Tubo Mistura de bebida alcolica com refrigerante ou similar, geralmente em litro e compartilhado
com colegas.
12 Perodo de latncia Depois da agitao dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais tranquila
que se estende at a puberdade. Nesse perodo da vida sua autoestima j no depende exclusivamente da
aprovao externa, tendo a prpria crtica ao proceder de forma certa ou errada.
354
13 A adolescncia uma fase mais crtica do desenvolvimento, representa um verdadeiro rito de passagem ,
da infncia para a vida adulta.
14 Ingesto o consumo de uma substncia por um organismo.
15 Sndrome de dependncia ao lcool o conjunto de elementos como, tolerncia, sintomas de abstinncia,
dificuldades em controlar o consumo, gasto de muito tempo e dinheiro para conseguir a bebida, tenta
diminuir ou parar o consumo do lcool, sem sucesso.
16 Sintomas de abstinncia Suores, frequncia cardaca maior do que 100 batimentos por minuto, tremores
de extremidades, insnia, nusea/vmitos, alucinaes/iluses (tcteis, visuais, auditivas), agitao,
convulses.
17 Fator de risco Condio que possa aumentar a probabilidade da ocorrncia de um perigo ou agravamento
de uma situao preexistente.
18 Fatores protetores so aqueles que protegem o indivduo de fatos que podero agredi-lo fsica, psquica ou
socialmente, garantindo um desenvolvimento saudvel.
19 Happy hour Reunio com finalidade de uso ou abuso de bebidas aps o perodo de aulas ou do trabalho.
20 Dose padro uma quantidade de bebida alcolica que tem cerca de 14 gramas de etanol puro.
21 Estes valores so incompatis com o que determina a lei seca (at 0,60g) passveis de punio.
22 Estes valores so incompatveis com o que determina a lei seca, passveis de punio.
23 Autocrtica Dificuldade se fazer avaliao correta de seu comportamento.
24 Diplopia Viso dupla.
25 Abuso qualquer consumo que cause dano, ameace causar dano na sade fsica e mental do indivduo
e tambm consequncias sociais.
26 Fermentadas So preparadas pelo processo de fermentao, por meio de reaes espontneas de um
composto orgnico, pela presena de um fermento que o decompe.
27 Destilados Bebidas alcolicas purificadas por meio do processo de destilao a partir de uma substncia
fermentada, como frutas, gros etc.
28 Mecanismos de defesa So aes psicolgicas que tm por finalidade reduzir qualquer manifestao que
pode colocar em perigo a integridade do psiquismo, em que o indivduo no consiga lidar com situaes
que por algum motivo considere ameaadoras. So processos subconscientes ou mesmo inconscientes que
permitem mente encontrar uma soluo para conflitos no resolvidos no nvel da conscincia.
29 Tolerncia quando o organismo necessita de doses cada vez maiores de lcool para conseguir
determinado efeito.
30 Induzido Causado ou determinado pelo uso de bebida alcolica.
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bitos da Doena Pulmonar Obstrutiva Crnica (DPOC), popularmente conhecida como enfisema
pulmonar e bronquite crnica.
Pedgio Caro Cobrado em Vidas:
Uso de tabaco matou 100 milhes de pessoas no sculo 20. Se as tendncias atuais
continuarem, o tabaco matar um bilho de pessoas no sculo 21.
O tabaco mata no mundo mais de 5 milhes de pessoas por ano e responde por um em
cada 10 mortes entre os adultos.
O tabaco matar mais de 8 milhes de pessoas no mundo anualmente at o ano de2030,
com 80% dessas mortes em pases de baixa e mdia renda.
O fumo passivo mata mais de 600.000 pessoas em todo o mundo a cada ano, incluindo
165.000 crianas.
A produo de tabaco provoca danos ao meio ambiente por usar agrotxicos em demasia,
poluir e inutilizar os lenis freticos, alm de desviar terrenos agrcolas que poderiam
ser usados para produzir alimentos.
Pedgio no Brasil:
Os custos com o tabaco no Brasil, segundo estudo do Banco Mundial realizado levando em
considerao as internaes hospitalares associadas ao tabagismo ocorridas no SUS entre 1996 a
2005, giram em torno de Us$ 500 milhes de dlares.
Aproximadamente R$ 340 milhes (Reais) so gastos apenas com internaes para os casos
de cncer, doenas cardiovasculares e respiratrias atribuveis ao tabagismo. Soma que equivale
a quase 30% dos custos hospitalares totais do SUS para o tratamento dessas enfermidades.
Lembre: Isso decorre do fato do tabagismo estar relacionado a tipos de patologias diferentes,
gerando outros 52 cdigos internacionais de doenas. Por isso, o fumo leva a um nmero de bitos
de cerca de 200.000 pessoas por ano no Brasil, matando mais que a Malria, a Varola e a AIDS
juntas, segundo dados do Instituto Nacional do Cncer (INCA) e do Ministrio da Sade do Brasil.
Recentemente o IBGE revelou que o nmero de fumantes no Brasil de 24,6 milhes, e destes
81,3% (20 milhes) esto acima de 18 anos. E, segundo o Datafolha, h em relao ao cigarro uma
opinio favorvel ao aumento de impostos, com 63% da populao acenando favoravelmente, e
88% concordam que impostos pagos pela indstria deveriam ir para o setor de sade.
Em 2011 o governo brasileiro adotou finalmente uma medida histrica para protegera
sade pblica demais de 190 milhes de brasileiros ao promulgaruma lei de controle abrangente
360
do tabaco.Assinado pela Presidente da Repblica, a nova lei tornou o Brasilo maior pas do
mundo completamente livre do fumo ativo e passivo.
Entrementes, vale ressaltar que outros ajustes ainda so necessrios como a proposio para
se proibir venda de cigarros em permetro escolares, popularizar a espirometria teste para avaliar
a funo pulmonar e que permite diagnsticos mais precocemente da DPOC (o popular teste do
sopro) assim como uma maior vigilncia para coibir a venda avulsa do produto, o que poderia em
muito melhorar a proteo junto a crianas e adolescentes. Afinal, a nicotina comprovadamente a
droga que provoca mais mortes no mundo e diretamente responsvel por mais de 90% dos casos
de cncer de pulmo, doena com prognstico1 ruim e extremamente letal2.
Em relao s doenas crnicas algumas solues podem ser apontadas como sugestes
e serem adotadas no apenas pelo poder pblico, mas que, devido ao grande ganho que
podem proporcionar tanto em sade como em termos de produtividade econmica, deveriam
ser obrigatoriamente do conhecimento e perseguidas pelos administradores de planos de sade
privados e pelas empresas e indstrias brasileiras.
1. Que pelo menos 80% das doenas cardiovasculares, derrames cerebrais e diabetes
mellitus tipo 2; e 40% dos casos de cnceres poderiam ser previniveis ao se incentivar
uma dieta saudvel, a prtica de exerccios regulares, e evitando-se o uso de todos
derivados do tabaco como, por exemplo, cigarros ou Narguil3;
2. Que a OMS estima que se houvesse uma reduo adicional de 2% no nmero de mortes
por doenas crnicas no Brasil, nos prximos 10 anos; isso permitiria ao pas um
ganho econmico de 4 bilhes de dlares; dinheiro este que poderia ser aplicado
em Sade e educao, e eliminar assim, o pior peso que uma terra pode suportar, que
a ignorncia.
TABAGISMO ATIVO, TABAGISMO PASSIVO E TABAGISMO TERCIRIO
Tabagismo Ativo: Uma Receita Maligna!
Convidamos voc a um exerccio de imaginao para que possamos passar os significados
e riscos envolvidos no fumo. Se fossemos reproduzir a criao de um cigarro tal qual a realizao
de uma receita culinria, teramos que conseguir mais de 4.000 produtos qumicos. Desses,
cerca de 2.000 j vm in natura na prpria folha do tabaco, e outros 2.000 so produzidos
espontaneamente a partir da combusto do produto.
361
362
363
Benzeno
2-naftilamina
4-aminobifenila
Nquel
Polnio
CP (APS EXPIRAO) + CS
5-10
39
31
13-30
1-4
A presena da fumaa do tabaco nas casas, locais de trabalho, dentro dos carros ou em
ambientes de lazer condiciona a existncia dos fumantes passivos. Ainda que se calcule que
os adultos no-fumantes expostos poluio tabagstica ambiental (PTA) inalem em mdia 1%
da fumaa que chega a um fumante ativo, a concentrao das substncias txicas da CS no
meio ambiente est condicionada por diversos fatores, como o nmero de fumantes ativos e a
intensidade de seu consumo e as dimenses fsicas e ventilao do local.
Quanto fumamos sem-querer:
LOCAL
Bar
Restaurante (rea para no fumantes)
Escritrio (livre)
Presena de algum fumando 1 mao ao dia
Carro (janelas fechadas)
PERMANNCIA
2 horas
2 horas
8 horas
24 horas
1 hora
NMERO DE CIGARROS
4
1+
6
3
3
Embora felizmente no Brasil o fumo seja proibido por lei em bares e restaurantes, lembramos
que nosso pas continental, e nem sempre as leis so cumpridas.
364
NO EXPOSTO A PTA
0,8
1,6
FUMANTE PASSIVO
2
7,7
FUMANTE ATIVO
27
139
Outra maneira de medir a exposio por meio de um aparelho porttil chamado monoxmetro7
que mede a concentrao de monxido de carbono no sangue sem a necessidade de testes
laboratoriais.
Por que este problema to importante?
Embora nosso objetivo neste projeto seja dar nfase sade, no podemos deixar de
lembrar o tamanho do prejuzo em todos os sentidos nos quais estamos sendo vtimas:
PROBLEMAS DE SADE EM CRIANAS
Pneumonias em Crianas menores de 18 meses
Asma (exacerbao da doena)
Asma (incio da doena)
Otite Mdia Aguda
Baixo Peso ao Nascimento
Morte Sbita Infantil
INTERNAES/ANO
7500 15000
Fonte: CDC, EUA; James H. Price, PhD, MPH University of Toledo, 2001
Acredita-se que o fumante passivo est exposto a 1/3 do risco que o tabagista ativo est
vivendo. O nmero de mortes em incndios causados por bitucas de cigarro chega a 250 casos
ao ano nos Estados unidos. Imagine: se voc est em um prdio em que haja algum fumando a
chance do prdio pegar fogo j 3 vezes maior!
365
Estima-se que nos EUA, 440.000 pessoas morram a cada ano por doenas relacionadas
como o tabagismo ativo e que 53.000 falecem como consequncia da exposio passiva fumaa
do tabaco. Assim, para cada 8 mortes causadas pelo forma ativa do vcio 1 morre pela sua forma
ditapassiva.
Exposio a Poluio Tabgica Ambiental (PTA) no ambiente de trabalho
A exposio ocupacional PTA afeta at 80% de todos os trabalhadores, o que significa
um risco para a sade. Estima-se a prevalncia de fumantes na maioria das empresas em torno de
18% 24% da fora de trabalho. Observe abaixo os nveis e nicotina em determinados ambientes
de trabalho, segundo a European Network for Smoking Prevention 2001.
REA
NICOTINA NO AR (mcg/m3)
Clubes Noturnos
37,1
Servios
3,0
Indstria
2,7
Escritrios
0,6
Ambientes de Trabalho
0 0,39
1,3 5,9
8,6 10
US Department of Health and Human Services. The health consequences of involuntary smoking. Report of the Surgeon General.
Washington, DC, Public Health Service, 1986.
366
Como Resolver?
A ideia propiciar tratamento para abandonar o vcio, conscientizar para que ele no se
desenvolva, e a criao de locais livres do cigarro. Programas de sade devem ser desenvolvidos
com os seguintes propsitos:
Programas integrados preveno e ao tratamento do tabagismo como dependncia
qumica, so mais efetivos que a realizao de intervenes separadas ou isoladas;
Incluir dentre os objetivos de sade e segurana no trabalho a discusso do tabagismo
na CIPA, SIPAT e outras atividades proativas.
Integralidade de aes e participao de todos os setores envolvidos nos processo garante
o alcance e a manuteno do programa;
A implementao do ambiente livre do cigarro o primeiro passo para prevenir o
tabagismo passivo e estimular os fumantes a deixar de fumar.
MAS, O QUE TABAGISMO TERCIRIO?
A associao de nicotina com poeira da casa de tabagistas foi relatada pela primeira vez em
1991. A posteriori fora estabelecido relao da presena de nicotina em superfcies empoeiradas
at quando se fumava fora de casa e em tecidos de automveis limpos e preparados para a venda.
Fato corroborado pela constatao de que o binmio nicotina-poeira permanece aps fumantes
terem mudado de suas casas, mesmo depois destas estarem vagas por dois meses e terem sido
preparadas para novos residentes, s vezes com piso novo e pintura.
Apesar do termo Fumo de Terceira Mo (FTM) ter aparecido pela primeira vez na
literatura medica em 2006, o FTM s foi popularizado aps artigo publicado na revista cientfica
Pediatrics notabilizando o conceito, inclusive junto a mdia no especializada, ao esclarecer que
o tabagismo tercirio ou Fumo de Terceira mo a contaminao por fumaa de tabaco que
permanece nos ambientes e em superfcies, aps o cigarro ter sido apagado.
Compostos qumicos encontrados no FTM & Potencial Risco a Sade
A constatao de que a nicotina associada poeira pode formar outros compostos txicos,
como a nitrosamina mutagnica N-metil-N-nitrosamino -NNAe a carcinognica, N-nitrosonornicotina
(NNN), a partir do contato com cido ntroso, um poluente encontrado no ar de cidades, foi intudo
367
368
369
E os benefcios?
Os benefcios podem ser resumidos a uma palavra: Liberdade!
E a liberdade com a sade pode resumir outra palavra: VIDA!
Minutos & horas aps parar de fumar:
Seu corpo ir beneficiar assim que as primeiras horas aps deixar de fumar. Voc pode
comear a perceber os benefcios de sade, como a reduo da tosse, dentro das primeiras semanas.
Nas primeiras horas aps ter parado de fumar, os nveis de monxido de carbono, um
produto qumico nocivo presente no fumo do cigarro, comeam a cair. O alto nvel de monxido
de carbono acumulado no sangue de quem fuma txico porque limita a quantidade de oxignio
que se pode carregar no sangue.
Fumar aumenta a presso sangunea e faz o corao bater mais rpido. No entanto, tanto
a presso arterial quanto os batimentos cardacos vo comear a cair para nveis normais logo
depois de parar de fumar.
Aps dois minutos, a presso arterial e a pulsao voltam ao normal; aps duas
horas, a nicotina ser filtrada pelo rim e no haver mais nicotina no sangue. Este fato leva
sndrome de abstinncia descrita acima.
Aps oito horas, o nvel de oxignio no sangue, conhecido como saturao de oxignio tende
a se normalizar; e aps 12 a 24 horas, os pulmes j funcionam melhor.
Dias Melhores:
Em cerca de dois dias, o olfato j percebe melhor os odores e o paladar j degusta a comida
melhor. Comea-se, ento, a voltar a perceber que a vida tem cheiro, e este bom!
Em um ano, o risco de morte por infarto do miocrdio se reduz metade ao que
um fumante apresentava quando ainda fumava. Esta uma vantagem inquestionvel e constitui
um grande marco para a sade.
Entre cinco a dez anos, o risco de sofrer infarto ser igual ao de quem nunca fumou e,
aps 20 anos, o risco de contrair cncer de pulmo ser um pouco maior em comparao ao das
pessoas que nunca fumaram.
Parar de fumar a atitude mais importante que o fumante pode fazer a si
mesmo, em termos de viver melhor. No s no aspecto de sade, como tambm para
a autoestima.
Procure informaes sobre a necessidade de se recorrer ao auxlio mdico, afinal h como
se livrar da dependncia da nicotina, e se livrar de uma vez por todas. Estimule um tabagista a
procurar tratamento.
370
371
Essa populao produz uma enorme quantidade de resduos de cigarros por dia, denominados
popularmente bitucas ou pontas de cigarro. Pelo menos 4,5 trilhes destas bitucas (que no so
biodegradveis) so depositados anualmente no mundo.
Um outro ponto a ser levado em considerao a cada ano cerca de 600 milhes de rvores
so destrudas para fornecer papel para desidratar (secagem necessria na produo e preparo
para a indstria) a folha de tabaco. Dito de outro modo, uma rvore destruda para que se
fabriquem 300 cigarros.
Esses fatos conjugados geram um alto impacto para o meio ambiente de todo o planeta, mas
sobretudo para os pases que mais produzem tabaco no mundo. Quem so eles? China, Estados
Unidos, Brasil, Turquia e Indonsia so os cinco pases que mais produzem tanto folhas de tabaco
como cigarros manufaturados, ratificando que o cigarro e seus derivados so ambientalmente
insustentveis.
O PAPEL DO PROFESSOR NO COMBATE AO TABAGISMO
Quem ama Educa!
Iami Tiba
Se a educao sozinha no pode transformar a
sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.
Paulo Freire
Segundo pesquisa do Jornal Estado de So Paulo, cerca de 85% das pessoas querem parar
de fumar. O porqu delas no pararem j foi abordado nos tpicos anteriores, e est intimamente
relacionado capacidade de a nicotina viciar rapidamente os seus usurios, levando-os a uma
condio patolgica denominada dependncia.
Sabendo quo o fumo pode ser prejudicial para a sade, e de que forma as indstrias
associadas ao tabagismo focam na busca de novos clientes, sobretudo as crianas, os jovens e as
mulheres, as perguntas que se seguem so:
J que a maioria das pessoas sabem do risco de doenas ligadas ao fumo, como ento fazer
para que elas no fumem? Ou como ajudar aquelas que j fumam a parar de fumar?
preciso que todos os envolvidos no mbito das reas de educao e sade passem a
apresentar estes riscos associados ao tabagismo de forma criativa por meio de experincias,
pesquisas prticas e feiras de cincia.
372
A hiptese que levantamos sobre o mtodo de ensino. Damos muita teoria e informao,
mas de uma certa forma ensinamos pouco sobre como usar estas informaes aprendidas.
O certo seria, talvez, propor que as aulas didticas fossem cada vez menos didticas, e
sim mais motivadoras, e que estimulassem a curiosidade e fossem mais relacionadas com a vida
presente e futura de nossos alunos.
Assim sendo, sabendo que o cigarro provoca diminuio no fornecimento de sangue para a
pele, levando esta a ressecar e a envelhecer mais precocemente, um experimento com uma planta
que recebe oxignio e outra que recebe fumaa de cigarro poderia ser criado para que as crianas
e adolescentes possam realmente pesquisar e constatar por meio do seus experimentos que a
planta submetida fumaa do cigarro se desgastar muito mais rpido e poder inclusive morrer
se o experimento no for interrompido.
Um outro ponto a ser destacado pelo professor o exemplo. Uma vez que o professor
a base de uma sociedade educada, cabe a ele dar o exemplo e no fumar em seu ambiente de
trabalho e nem na proximidade dos seus alunos.
Vale ressaltar que, por outro lado, nada, nem ningum pode impedir um professor de ser
ele mesmo fumante. O fato aqui de suma importncia porque preciso ratificar e passar a
mensagem que antes de mais nada o fumante precisa ser tratado de uma maneira acolhedora,
compreensiva e respeitosa, de maneira a ser orientado que o tabagismo tem tratamento, e este
estar disponvel para todos que assim o desejarem. Em contrapartida, o exemplo do professor em
tambm respeitar seus alunos e os ambientes livres de tabaco deve ser resguardado a qualquer
custo. E isso antes de mais nada uma questo de respeito e de justia.
IDEIA PRINCIPAIS
1. Dano Ambiental
O tabaco indubitavelmente um poluente, e muito mais perigoso que a poluio ambiental,
pois fumando 20 cigarros por dia, inalam-se 400 mg de matria particulada, e a concentracao de
matria particulada de 0,1 mg na atmosfera urbana.
Nos ambientes onde se fuma, o ar torna-se poludo rapidamente pela presena das suas
numerosas substncias txicas.
Hoje o tabaco a maior fonte de poluio ambiental, e o grau de poluio tabgica ambiental
varia de acordo com as dimenses e a disposio arquitetnica dos recintos, a aerao, o nmero
de fumantes e a quantidade de tabaco consumido.
373
374
3. Comrcio e Propaganda
Uma mistura ardente, os publicitrios criativos tiveram muito sucesso ao impor para o
pblico em geral o gosto pelo consumo do cigarro. As mensagens mentirosas contidas na maioria
das campanhas criadas pela indstria tabaqueira costumam destacar de maneira enganosa
atributos e qualidades relacionadas ao cigarro e ao fumante, como o controle do peso e a sensao
de liberdade e independncia.
E pior, do a entender que os danos para o organismo so insignificantes e longnquas, atrativo
tentador para os adolescentes que comeam a viciar-se. Como constatao alarmente, estudos de
comunicao social revelam que dois tero dos filmes infantis mais vistos em todos os tempos,
contm cenas em que esto presentes o lcool e o cigarro. Usando o comportamanto e os sentimentos
dos jovens, a propagaganda de um cigarro apresentava frases provocantes do estilo: Perder alguma
coisa boa?.... Fique por dentro, Conformar-me com pouco?...Fique por dentro
Ao longo do tempo as campanhas de venda de cigarro propagavam o ato de fumar como
algo divertido para fazer, sofisticado e moderno. Apresentavam o cigarro como um meio fcil de
conseguir uma autoimagem positiva ou o segredo para ser aceito no grupo.
Na parceria de sucesso entre a publicidade e o consumo de cigarros, o cinema e suas
estrelas foram muito utilizadas
(Tapia E. Tabaco. A guerra do Fumo.Europa Press Ltda. Copyright Laboratorios Pfizer
Ltda. 2008: 44-45;69-70)
4. Doenas causadas pelo uso de derivados de tabaco
O tabagismo causa cerca de 50 doenas diferentes, principalmente as doenas
cardiovasculares tais como: a hipertenso, o infarto, a angina, e o derrame. responsvel por
muitas mortes por cncer de pulmo, de boca, laringe, esfago, estmago, pncreas, rim e bexiga
e pelas doenas respiratrias obstrutivas como a bronquite crnica e o enfisema pulmonar. O
tabaco diminui as defesas do organismo e com isso o fumante tende a aumentar a incidncia de
adquirir doenas como a gripe e a tuberculose. Como um irritante das vias areas exacerba as
doenas como a asma, rinite alrgica e sinusite. Esta relacionado a osteoporose, anemia e perda
da massa muscular. O tabaco tambm causa impotncia sexual.
(http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/tabagismo.htm)
375
REFERNCIAS
CENTRO BRASILEIRO DE INFORMAES SOBRE DROGAS PSICOTPICAS (Escrito por Luiz Gonzaga
dos Santos Filho), 10 de maro de 2009.
LABORATRIOS PFIZER LTDA, Tapia E. Tabaco. A Guerra do Fumo, 2008.
MEDSI, Jandira Torreiro de Carvalho, O Tabagismo Visto sob Vrios Aspectos, Rio de Janeiro.
Uma toxina, num contexto cientfico, uma substncia de origem biolgica que provoca danos sade de
um ser vivo ao entrar em contacto
O termo carcingeno, refere-se a qualquer substncia, ou outro agente fsico ou biolgico que provoque,
agrave ou sensibilize o organismo para o surgimento de um cncer
Nicotina o nome de uma substncia alcalide bsica, lquida e de cor amarela, que constitui o princpio
ativo do tabaco
Equipamento mdico que mede o monxido de carbono no ar exalado.Usado para medir o dano causado
pela fumaa de cigarro no pulmo
376
INTRODUO
Leonardo Boff, em seu livro Saber cuidar: tica do humano, compaixo pela terra
(2011), entre tantas ideias, apresenta-nos a seguinte reflexo, prpria da era da complexidade:
A sociedade contempornea, chamada sociedade do conhecimento e da comunicao, est
criando, contraditoriamente, cada vez mais incomunicao e solido entre as pessoas. Como
decorrncia desse status quo surge o descaso/descuido/negligncia/abandono dos nossos ideais
de liberdade, igualdade, fraternidade e respeito para conosco, para com nossa famlia, nossas
crianas e adolescentes, nossa casa, nosso Estado-Nao, a Terra como Gaia1. nesse contexto
de contradies entre conhecimento e ignorncia, comunicao e isolamento, prazer e violncia,
cuidado e abandono que trazemos a temtica das substncias psicoativas de abuso (SPA)2,
comumente denominadas drogas3. Vale lembrar que consumir drogas uma prtica milenar a
ponto de podermos afirmar que no existe sociedade sem drogas. Seus padres de consumo so
importantes reveladores antropolgicos ajudando a conhecer e compreender culturas, mitos, ritos
e crenas, sistemas de referncias existenciais e religiosas das diferentes sociedades.
Se em determinado momento as sociedades conviviam com suas drogas e estabeleciam
seus padres e normas morais e ticas de consumo, com a globalizao as drogas tornaram-se
universais e a mais democrtica das substncias, tornando-se acessveis aos diversos pblicos,
377
sem restrio de gnero ou classe social. Assistimos a seu surpreendente processo de adaptao a
inmeras realidades, tendo impacto na economia, na sade, na educao, na segurana pblica,
na poltica, nos espaos de (com)vivncia, portanto, na concepo de sustentabilidade4 em suas
mltiplas facetas.
Ao nos referirmos ao termo droga, por sua histria focada nos modelos clnico e repressor,
normalmente esperamos relatos de suas caractersticas, fisiologia, respostas comportamentais
e consequncia social, dada a ampla bibliografia bioqumica, mdica, psicologizante e legal
disponvel nos vrios idiomas, incluindo as especficas s drogas mais consumidas no mundo.
Nesse captulo, no entanto, daremos nfase aos aspectos educacionais ligados ao tema, ou seja,
privilegiaremos as informaes bsicas que as mes/pais e professoras(es) devem saber para atuar
como sujeitos da preveno em casa e na escola, tornando-se presena educativa5 na vida das
crianas e adolescentes, como prope Antnio Carlos Gomes da Costa (1997).6
Nesse sentido, destacamos que o foco da preveno7 a pessoa, no a droga. Por isso,
precisamos ser expertes em gente antes de querermos saber tudo sobre drogas. Da a importncia
de os pais/mes conhecerem de fato seus filhos e filhas, suas caractersticas de personalidade,
quem so seus amigos, seus talentos, os lugares onde gostam de estar, bem como as professoras
e professores interessarem-se pelo universo das histrias de vida dos estudantes, contextualizando
os contedos da aprendizagem e variando as situaes de estmulo-aprendizagem. Famlia e
escola devem e podem estimular o prazer de estudar em substituio ao prazer fugaz da droga.
No negligenciaremos, no entanto, neste captulo, as informaes sobre as drogas, em especial as
que constituem a realidade brasileira, mantendo viva a discusso para o desafio educacional da
preveno do abuso de drogas8.
DESENVOLVIMENTO HUMANO: MLTIPLAS POSSIBILIDADES DE RELAO
Acredito que todos ns sabemos que, embora nasamos Homo sapiens, s nos tornamos
homens e mulheres no convvio social. Weber (2008) argumenta que a possibilidade de nos
tornarmos humanos ocorreu com a prevalncia do investimento parental decorrente do arranjo
familiar de nossos ancestrais. Com isso, o que poderia ser considerado desvantagem, a absoluta
dependncia das crianas e adolescentes, permitiu mltiplas possibilidades de educao e
desenvolvimento, mesmo que sob os cuidados permanentes dos adultos.
Acredita-se que, independentemente do modelo de famlia existente na qual se inclui a pessoa em
desenvolvimento, a relao entre os seus membros de maneira ativa e compartilhada, permitir estruturar
alicerces mais consistentes para as experincias futuras que surgiram ao longo da convivncia, estendendo-se
em condies mais seguras para o enfrentamento de dificuldades (WEBER, 2008, p.34)
378
379
tomo social (seu mundo pessoal e afetivo) e seu status sociomtrico (sua cota de amor nos grupos
a que pertence) (FONSECA F, 1980).
Dessa forma, a droga, antes de ser uma escolha pessoal pode ser compreendida como
sintoma de uma doena social, sinalizando uma sociedade em crise de valores socioambientais
(ausncia de cuidados). A sociedade doente permite o abuso13 como forma de expresso de sua
contribuio ao desenvolvimento humano e ambiental sem modelos referenciais, com dificuldades
de resolver seus conflitos, com pouca ou nenhuma opo de prazer, falsa noo de poder e
ausncia de projetos de vida.
Nesse contexto, a droga pode ser entendida como toda substncia psicoativa, natural ou
sinttica que, disponibilizada para uso/abuso, interfere no comportamento humano (sensao,
percepo, estado emocional) causando prejuzos nas reas individual, familiar, social e de trabalho,
porque expe a diferentes situaes de risco quem dela se utiliza, podendo causar dependncia.
A droga, suas formas, tipos, modalidades e padres de consumo, soma-se aos fatores
agressores e estressores da vida, como a fome, a poluio ambiental, as violncias, a desigualdade
social, o trnsito, os agrotxicos, a competitividade, o consumismo, a vida sedentria, a excluso
social, o esgotamento dos recursos do planeta, a superpopulao mundial, enquanto buscamos a
sustentabilidade social e planetria.
Diante disso, a forma mais usual de referenciar a droga relacionada aos efeitos que
seu uso provoca no organismo e no comportamento humano, em detrimento de outras formas
de represent-la, tais como a legalidade14 ou ilegalidade15, a forma de consumo, a origem,
produo ou manipulao. O conhecimento sobre as drogas, na preveno, visa melhor conhecer
o contexto em que vive a criana, o adolescente, o adulto, suas caractersticas e personalidade,
bem como facilitar o dilogo entre pais/mes e filhos(as) e entre estudantes e professores. Por isso,
usaremos neste texto a classificao mais genrica sem, contudo, ferir o rigor tcnico-cientfico
que o tema exige.
Assim, as drogas ou substncias psicoativas de abuso, com base em seus efeitos no sistema
nervoso central, podem ser classificadas em trs grandes grupos:
1. Depressoras do Sistema Nervoso Central (psicolpticas): diminuem a capacidade de
resposta da atividade mental, reduzindo as possibilidades e competncias relacionadas
s atividades psquicas e motoras, tais como a viglia, a ateno, a fala, os movimentos,
o poder intelectual, a memria, a prontido, o controle das emoes e reaes.
Geralmente produzem sonolncia, relaxamento, sedao. So exemplos os barbitricos,
os tranquilizantes, o lcool.
380
DROGA
lcool
CLASSIFICAO
Depressor e
desestruturante da
atividade mental
FORMA
DE USO
EFEITOS DO ABUSO E
RISCOS
Euforia, falta de coordenao
motora, diminuio dos
reflexos, impulsividade,
descontrole emocional,
diminuio da capacidade
de julgamento e do nvel de
conscincia.
Ingesto
Riscos: emagrecimento,
alteraes hepticas e
gastrointestinais, dores
musculares, disfuno sexual,
apagamento, desnutrio,
delrio, alucinaes,
dependncia, sndrome
alcolica fetal.
Estimulante
fumado,
mascado
Ansiedade, irritabilidade,
tremores, insnia,
agressividade, sudorese,
convulses, nuseas,
delirium tremens.
Ansiedade, nervosismo,
irritabilidade, tremores,
aumento do apetite,
insnia, mal-estar,
Riscos: complicaes
dificuldades nas atividades
respiratrias, cardiovasculares,
intelectuais, melhora nos
cncer, enfisema, dependncia.
sentidos do gosto e odor.
Excitao, anorexia, distrao,
relaxamento, tremores finos.
Tabaco
EFEITOS DA FALTA
381
DROGA
CLASSIFICAO
Depressora e
Maconha, haxixe desestruturante da
atividade mental
Cocana
crack
Estimulante
desestruturante da
atividade mental
FORMA
DE USO
EFEITOS DO ABUSO E
RISCOS
Desmotivao, apatia, dilatao
das pupilas, distoro da
percepo espao-temporal,
fadiga, vertigens, sonolncia,
variao do humor, distrbios
de percepo e julgamento,
diminuio da libido sexual,
larica, comprometimento motor,
depresso.
fumado
Fumada,
inalada,
injetada
382
EFEITOS DA FALTA
Irritabilidade, inquietao,
hiperatividade, ansiedade,
insnia, cefaleia.
Apatia, depresso,
desorientao, delrio,
ansiedade, insnia ou
sono prolongado, dores
abdominais e musculares.
DROGA
Ecstase
Anfetaminas
Inalantes ou
solventes
CLASSIFICAO
Estimulante e
desestruturante da
atividade mental
Depressores e
desestruturantes da
atividade mental
FORMA
DE USO
EFEITOS DO ABUSO E
RISCOS
EFEITOS DA FALTA
ingerida
inalados
383
DROGA
LSD
CLASSIFICAO
Desestruturante da
atividade mental
FORMA
DE USO
absoro
EFEITOS DO ABUSO E
RISCOS
EFEITOS DA FALTA
Heroina
Morfina
Barbitricos
Calmantes
Tranquilizantes
(medicamentos)
Depressora
desestruturante da
atividade mental e
Depressores
injetada
Ingeridos
ou
injetados
Fonte: Adaptao a partir do Guia de Identificao das Drogas (KOSSOBUDZKI; CARAZZAI; FREGA, s.d.); BRASIL, SENAD,
2002; ASINELLI-LUZ, 2000).
384
No campo da preveno, a viso educacional das drogas facilita o dilogo, facilita o diagnstico
precoce de problemas, auxilia na compreenso dos efeitos e fatores ligados ao consumo de drogas
e no deve ser utilizada para destacar nem banalizar as substncias psicoativas e seus efeitos, e
sim problematiz-las. Isso porque os efeitos de uma droga nem sempre o mesmo para diferentes
pessoas. Seus efeitos dependem da droga (caractersticas, grau de pureza, outros componentes da
mistura, quantidade de uso, forma de utilizao, legalizada ou ilegal), do usurio (caractersticas,
idade, relao altura e peso, estado emocional, expectativas, condies doconsumo, grau de
dependncia, companhias) e local, ou seja, o ambiente em que o uso acontece (lugar pblico ou
privado, maior ou menor disponibilidade da substncia, permissibilidade ou represso, tempo de
disponibilidade para o consumo, companhia de amigos).
QUEBRANDO PARADIGMAS
Na viso educacional, no existem drogas leves e drogas pesadas. Por isso devemos nos
referir a uso leve e uso pesado de drogas, mesmo que a farmacologia indique maiores ou menores
riscos relacionados a algumas substncias psicoativas.Vimos anteriormente que depende das
condies de uso, de quem a usa e o motivo do consumo naquele momento. Da mesma maneira
que as drogas legalizadas no representam menor risco do que as drogas consideradas ilegais em
cada pas. At porque as leis que probem ou regulamentam o uso de drogas variam de um pas
para o outro, bem como de uma droga para outra. Da mesma forma devemos evitar comparar uma
substncia com outra, evitando construir representao de que h uma escala de maior ou menor
gravidade ligada ao uso/abuso.
Para a preveno, evitar o uso ou prorrogar o primeiro consumo cada vez mais tarefa
primordial da educao familiar e escolar. Por isso costumamos ressaltar que a pior droga a
nossa, ou seja, aquela que fazemos uso, independente de qual ela seja, pois sempre estaremos
sujeitos a situaes de risco relacionadas ao seu consumo, bem como vulnerveis a novas
substncias, geralmente sintticas, disponibilizadas pela sociedade. Nesse sentido, o exemplo
ainda o melhor procedimento para educar.
Ressaltamos que as substncias psicoativas sempre estiveram ligadas histria das
civilizaes, associadas busca de melhor desempenho (nas guerras, no trabalho, na vida sexual,
na atividade intelectual e na produo artstica), na cura de doenas, transcendncia, rituais
religiosos, desejo de poder e formas originais de prazer. Alm disso, estudos mostram que as
pessoas sem adequadas informaes sobre os efeitos das drogas, com sade deficiente, insatisfeitas
385
com sua qualidade de vida, com personalidade deficientemente integrada, com fcil acesso s
drogas, ideia de invunerabilidade e de impunidade so mais propensos ao abuso de drogas.
Assim, a viso educativa sobre as drogas nega-se ideia de improviso, de fazer qualquer
coisa de qualquer jeito. Exige sim o acesso aos materiais pedaggicos e prope a anlise crtica
deles. Tarefa que desafiadora para mes/pais e professores/as.
RELEMBRANDO CONCEITOS
Ao abordarmos as drogas e seus efeitos (quadro n.1), uma palavra-chave esteve sempre
presente: a dependncia16. um conceito ligado ao campo da sade pblica e isenta o
dependente qumico17 da responsabilidade de sua histria de abuso que antecede a doena.
Assim como coloca a famlia e a escola em posio de guardis da possibilidade da abstinncia18,
na medida em que so setores importantes da rede de (re)insero social do dependente qumico.
No consumo de drogas h o fenmeno da tolerncia19 que ajuda a famlia a perceber a alterao
do padro de consumo de droga, alertando sobre a possibilidade da dependncia.
Edwards e Lader (1994), na obra A natureza da dependncia de drogas, trazem interessante
abordagem histrica dos conceitos de adio20, dependncia e abuso de drogas que demonstram
o carter poltico dos mesmos, expressando os relacionamentos do poder dominante (p.28). Foi
a partir do entendimento da doena alcoolismo, no entanto, que em 1962, o Ministrio da Sade
justificou o aprimoramento do tratamento mdico especializado (p.28).
No contexto educativo, a dependncia entendida em sua concepo una, sem a dicotomia
dependncia fsica21 e dependncia psicolgica22, necessria no campo clnico para dar
suporte s intervenes. Compreender a dependncia como doena crnica, incurvel, mas
tratvel, apesar dos possveis deslizes23 e recadas24, ajuda a famlia e a escola a entenderem a
dificuldade do dependente em controlar o consumo de drogas, a reestruturar a dinmica da casa,
do estudo, do trabalho, evitando a codependncia25.
Do mesmo modo, a escola pode ensinar a preveno, desenvolvendo nos estudantes o
sentimento de solidariedade, possibilitando o retorno e a manuteno dos sujeitos aos estudos,
usurios ou no, dependentes ou no, em seu espao, promovendo a sustentabilidade pessoal e
social em seu cotidiano. Reforamos que isso possvel na concepo de mesossistema, ou seja,
famlia, escola e sade interagindo em prol de um objetivo comum.
No tratamento da dependncia, a abstinncia da droga provoca um quadro de mal-estar
intenso e persistente, principalmente no incio, necessitando, muitas vezes, de interveno
386
Educar para a preveno fazer escolhas e ter como foco a pessoa, compreender os fatores
e processos que promovam o desenvolvimento humano integral, responsveis por fortalecer e
construir habilidades e competncias nas pessoas. Trata-se do estudo das foras e virtudes do ser
humano comum.Assim, prevenir pode ser considerado como sinnimo de educar. A preveno
promove o autoconhecimento30 e autoestima31, o fortalecimento da identidade32 pessoal e
cultural e o desenvolvimento da comunicao interpessoal. Propicia a vivncia e reflexo a respeito
de valores ticos universais33 e a sensibilizao em questes de gnero34 e tnicas, alm da
resoluo pacfica de conflitos.
No campo da preveno, acolher as estratgias de reduo de danos35 abre perspectivas
de acolhimento para sujeitos que no pretendem ou ainda no conseguem interromper o uso
de drogas. Nesse caso, a reduo de danos permite o uso de medidas que diminuem os danos
provocados pelo uso de drogas (CRUZ, 2006, p.15). A reduo de danos uma proposta de
sade pblica que ultrapassa a viso linear do abuso de drogas e atinge o patamar dos direitos
387
humanos. Possibilita que o dependente grave seja reconhecido como sujeito de direitos, (re)insirase no sistema de sade, sendo-lhe permitido repensar sobre sua (in) capacidade de abstinncia
das drogas e as outras possibilidades de consumo, reduzindo danos sade e potencializando a
sustentabilidade pessoal e do sistema.
A reduo de danos, como outra interveno no campo do consumo e da dependncia de
drogas, envolvem aspectos tcnicos, ticos, sociais, culturais, educacionais, espirituais, legais, no
mbito de cada rea do conhecimento, exigindo a atuao de mltiplos profissionais. So muitas
as experincias humanas que esto em jogo, iniciando pelo fracasso das iniciativas de preveno.
Alguns exemplos de procedimentos de reduo de danos: oferecer, junto ao tratamento da
dependncia, o acesso a exames clnicos para doenas transmissveis por via venosa ou sexual para
quem faz uso de drogas injetveis, as terapias de substituio (uso da metadona aos dependentes
de herona, uso de benzodiazipnicos no tratamento da dependncia do lcool, por exemplo), as
campanhas de trnsito que propem a dissociao do ato de beber do ato de dirigir e a proibio
do fumo em lugares pblicos e fechados. Vale destacar que esses procedimentos no impedem
e nem contradizem as possibilidades de agir em prol de diminuir o consumo e controlar a oferta
de lcool e outras drogas. Atualmente a reduo de danos uma das bases que fundamentam a
assistncia a usurios de drogas no Brasil.
O Art. 227 Constituio Federal: Doutrina da Proteo Integral (1988) assim expressa:
dever da famlia, da sociedade e do Estado, assegurar, com absoluta prioridade, o direito vida, sade,
alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e
convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao,
explorao, violncia, crueldade e opresso (Destaque da autora).
388
O conhecimento de possveis aspectos relacionados presena de rede de apoio social e afetiva, coeso
ecolgica na famlia, escola instituio e at mesma na rua, bem como aspectos pessoais como valores/
moralidade, autoestima, criatividade, sentido para vida e para realizao, bem-estar, otimismo, humor,
altrusmo, sociabilidade, autoeficcia e perspectivas de futuro, podem servir como fatores de proteo e busca
de alternativas para um desenvolvimento mais saudvel (LIBRIO; KOLLER, 2009, p. 23)
389
390
Inadequao curricular;
Forma conflituosa e discriminatria para tratar os conflitos;
Descuido com o patrimnio e a infraestrutura escolar.
fundamental que a famlia e a escola compreendam a importncia do diagnstico precoce,
considerando relevante todo e qualquer sinal ou mudana de comportamento significativa em
seus filhos/estudantes para, de imediato, pedir ajuda especializada e agir preventivamente. Num
primeiro momento, o dilogo sempre a melhor forma de mostrar que reconhecem e acolhem
seus filhos/estudantes como eles/as so e esto dispostos a ouvi-los/as e ajud-los.
Tambm importante saber que a dependncia pode e deve ser tratada, sendo possvel o seu
controle quanto mais cedo for diagnosticada. Nesse sentido bom conhecer os servios disponveis
em sua cidade e regio e os diversos tipos de interveno clnica. A saber: psicoterapias individuais
e grupais; tratamento em regime ambulatorial; tratamento em regime de internao; grupos de
Mtua Ajuda (AA, NAA, Amor Exigente) e para os familiares; tratamento farmacolgico (para os
casos de intoxicao, sndrome de abstinncia, perodo ps-abstinncia e craving, manuteno)
e Terapia Breve (ASSIST), entre outros mtodos de enfrentamento da dependncia qumica.
Pais/mes e professores/as precisam saber que a busca do prazer e curiosidades acerca
da sexualidade e drogas so legtimas, lcitas e fazem parte da cultura dessa civilizao. Por
isso, manter a relao de confiana entre adolescentes, educadores, pais/mes, profissionais
de sade e comunidade, bem como o compromisso de fornecer informaes corretas do ponto
de vista cientfico e evitar emitir valores pessoais (por exemplo, idade para a primeira relao
sexual, droga leve e droga pesada). Devem expressar claramente os valores que regem seus
prprios comportamentos e orientam sua viso de mundo, exercendo, sem medo, suas funes
paterna/materna e de educador/a.
CONSIDERAES FINAIS
Resistir s drogas num mundo estressante e desafiador uma deciso complexa mesmo
para um adulto. Como no o ser para crianas, adolescentes e jovens que so vulnerveis, perante
as experincias diferenciadas que trazem, como valor agregado, ideia de poder e de prazer. Se
a informao ajuda, por outro lado a sua ausncia fragiliza ainda mais quem dela necessita para
tomada de deciso. Muitas so as fontes de informao embora poucas sejam direcionadas para
pais/mes e professores(as). Os livros tcnicos assustam e dificultam a aproximao afetiva e o
dilogo prazeroso entre pais/mes e filhos.
391
Os motivos pelos quais os jovens usam drogas j so bem conhecidos: fugir de problemas
com a famlia/com os pais, querer ser aceito num grupo de amigos, experimentar sensaes
novas e gostosas, sentir-se mais solto, menos tmido, ir contra as regras da sociedade, escapar de
pensamentos e sentimentos ruins, ficar mais vontade em festas e programas, estudar e aprender
com mais facilidade, fazer alguma coisa no tempo livre, aumentar a criatividade, se conhecer.
Nesse contexto, uma pergunta silenciosa explode no ar: como uma relao de amor incondicional
entre pais/mes e filhos pode ser tambm a causa de tanto dano?
Educar uma prtica quase impossvel, que exige muita pacincia e perseverana, da
qual mes e pais no podem se furtar. Implica uma sintonia fina entre o que se deve permitir
no incentivo liberdade e o que se deve reprimir para facilitar a incluso na vida societria
(FREITAS, 2002, p. 46). Da a importncia dos limites e a educao em valores como medidas
essenciais de preveno, no s em relao ao abuso de drogas, como tambm no processo de
desenvolvimento da resilincia38, superando diferentes dificuldades e conflitos, comuns na vida
em sociedade, em especial na fase escolar.
Tomar decises e fazer escolhas , por sua vez, exerccio cotidiano de extrema complexidade.
Talvez porque negamos o que sempre soubemos: cada um de ns habitado por mltiplos
personagens, abrigados dentro de uma s pele, atendendo por um nico nome. E nem sempre
esses personagens esto todos de acordo, diante de uma deciso importante (ARATANGY,
1998, p.10-110).
Rever posies, ressignificar conceitos, resgatar valores exigem coragem e discernimento.
Mais do que isso, requer desejo e intencionalidade. Nossos filhos e filhas dependem de ns tanto
quanto dependemos deles para exercermos nossa maternidade/paternidade. Da mesma forma,
professores e professoras no so educadores sem seus complementares: os estudantes.
Faamos de nossas casas e escolas espaos e lugares da vida plena, da relao verdadeira
pelo afeto. Amar preciso, prevenir necessrio. Sonhemos outro mundo possvel para nossos
jovens, em nosso lar, em nossas escolas, em nosso pas e em nossa casa Terra.
Parafraseando Quintana, No corra atrs das borboletas. Cuide do jardim que elas viro
at voc.
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393
Droga toda substncia psicoativa (age no Sistema Nervoso Central - SNC) que interfere no comportamento
humano (sensao, percepo, estado emocional) causando prejuzos nas reas individual, familiar, social e
de trabalho, porque expe a diferentes situaes de risco quem dela se utiliza, podendo causar dependncia.
Abuso de drogas Uso errado de drogas, uso excessivo de drogas, ultrapassa os limites, transgredir, noo
de poderio, abuso da confiana, premeditao do ilcito.
394
13 Abuso Uso errado, excessivo, ultrapassa os limites, transgredir, noo de poderio, abuso da confiana,
premeditao do ilcito.
14 Legalidade O que permitido por lei, segue padres legais, est garantido por lei.
15 Ilegalidade O que est fora da lei.
16 Dependncia A utilizao da substncia continuada, apesar da existncia de um problema persistente
ou recorrente, fsico ou psicolgico, provavelmente causado ou exacerbado por sua utilizao (GIGLIOTTI;
CARNEIRO; ALELUIA,2008, p. 34).
17 Dependente qumico Pessoa que desenvolveu a dependncia em decorrncia do padro de consumo
(abuso) de uma ou mais drogas.
18 Abstinncia Fase em que no h consumo de drogas.
19 Tolerncia Necessidade de quantidades crescentes de substncias para atingir o efeito desejado.
20 Adio Diferente da dependncia, a adio no tem uma basefarmacolgica, portanto, no se refere
a uma doena, muito mais uma conduta, algo que pode ser considerado como um desvio, um estigma
contrrio vontade.
21 Dependncia fsica A dificuldade em abandonar a droga est nas alteraes orgnicas que provoca
tendo em vista j estar adaptado sua presena. Ou seja, a supresso da droga provoca a sndrome de
abstinncia.
22 Dependncia psicolgica A dificuldade em abandonar a droga est relacionada a alteraes psicolgicas,
ou seja, o forte desejo de sentir o bem-estar e o prazer relacionados s experincias com a droga. A
ausncia da droga no provoca a sndrome de abstinncia (sinais e sintomas orgnicos).
23 Deslizes Situaes no intencionais de contato com a droga que mobilizam sua correo.
24 Recadas Busca intencional pela droga acarretando o abandono do estado de abstinncia, mobilizando
novas estratgias de interveno e tratamento. As recadas so previsveis no tratamento e, por isso, devem
ser prevenidas.
25 Codependncia Corresponde dinmica de inter-relao (familiar) em que o comportamento do familiar
(pai, me, esposo, esposa) se deixa afetar pelo comportamento do dependente qumico e, em decorrncia,
passa a viver em funo desse outro, obcecado em controlar o seu comportamento, esquecendo-se da
prpria vida. Frequentemente a codependncia refora e mantm o comportamento de abuso de drogas.
26 Sndrome de abstinncia Desenvolvimento de alterao comportamental mal-adaptativa e especfica
substncia, com prejuzos fisiolgicos e cognitivos, devido cessao ou reduo do uso pesado e
prolongado de uma substncia.
27 Usurio Pessoa que faz uso/abuso de substncias psicoativas de abuso. O uso pode ser experimental,
ocasional, frequente, pesado e abusivo, nem sempre resultando em dependncia.
28 Dependente Pessoa que, por seu padro de consumo de drogas, desenvolveu a dependncia qumica a
uma ou mais substncias.
29 Traficante Contraventor que est ligado ao trfico de drogas. Na legislao brasileira um criminoso,
independente da forma e quantidade de droga.
395
30 Autoconhecimento Percepo que a pessoa tem de si, de suas capacidades e habilidades, bem como se
comporta em funo disso.
31 Autoestima Valor que a pessoa tem de si e que determina seus comportamentos consigo mesma, com os
outros e com o mundo.
32 Identidade Caracterstica, forma de ser e identificar-se
33 Valores ticos universais Princpios universais, pautados pela tica, que norteiam as relaes humanas.
34 Gnero Caracterstica pessoal relacionada identidade social feminina e masculina. Diz respeito
identificao dos papis sociais homem e mulher.
35 Reduo de danos Utilizao de medidas que diminuam os danos provocados pelo uso de drogas para
aqueles que usam drogas e para os grupos sociais com os quais convivem, mesmo quando os indivduos
no pretendem ou no conseguem interromper o consumo dessas substncias (CRUZ, 2006).
36 Fator de proteo Condio que pode estar presente no indivduo, na famlia, na escola, entre os pares,
na comunidade ou na sociedade e que pode contribuir para diminuir a probabilidade de envolvimento
com a droga, com a violncia, impedindo o aparecimento de novos casos, mesmo quando h fatores de
risco presentes.
37 Fator de risco Toda sorte de eventos negativos de vida que, quando presentes no contexto ecolgico da
pessoa, aumentam a probabilidade de que esta apresente problemas fsicos, psicolgicos, comportamentais
e sociais de envolvimento com a droga ou outras formas de violncias.
38 Resilincia Capacidade de resistncia e proteo da integridade, superando situaes adversas, de
grande risco e forte presso.
396
SADE COLETIVA
397
estado de bem-estar, pois o enfrentamento das mudanas do corpo, suas inadequaes quanto
alimentao, seus problemas de funcionamento quando acometido por mal-estares, cansao,
desgastes, leses e doenas as mais diversas, nos tornam pessoas vulnerveis e que esto sujeitas
a muitas adversidades.
Assim, prefervel pensar que o que ocorre a cada um tem que ser enfrentado e superado
da melhor maneira possvel. Para isso, vamos buscar uma nova viso, que nos permita olhar para
a sade de outra forma, sem nos preocuparmos em atingir um estado permanente de bem-estar,
em que tudo esteja perfeito, mas nos concentrando no que preciso fazer para enfrentar o que
acontece em nossas vidas, que pode estar afetando este bem-estar.
Assim, prope-se pensarmos numa concepo mais dinmica de sade.
SADE a capacidade de lidar com as adversidades da vida, sejam elas fsicas ou psquicas. Ou
seja, uma capacidade que cada um tem e pode desenvolver para enfrentar o que desafia a plenitude
da vida do ponto de vista biolgico e mental afetando o potencial que todos tm de agir e interagir
no mundo. (NAZARENO, 2012, no publicado).
Essa viso nos coloca o desafio de desenvolver capacidades e tambm de superao para
que se possa atingir o potencial que cada um tem de viver uma vida mais plena.
Da mesma maneira, pode-se pensar que a sade de muitas pessoas vivendo juntas, numa
comunidade ou sociedade, precisa ser muito mais do que atingir um estado de bem-estar coletivo
como um fim em si mesmo, mas como o desenvolvimento das capacidades destas comunidades ou
sociedades para trabalhar com todos os elementos que podem afetar a sade dos seus membros.
Portanto, pode-se conceber sade coletiva dentro dessa perspectiva e no apenas como a
soma da sade de cada indivduo da coletividade:
398
Vejam, quando temos uma EPIDEMIA1, todos tm que se mobilizar, o pessoal da sade
tem que passar informaes sobre como evitar a doena, isto , como no pegar a doena, e
como impedir que ela passe para outras pessoas, alm de orientar quem adoece como proceder
para se cuidar e procurar cuidados de sade, mdicos ou hospitais quando necessrio.
Nos ltimos tempos, o Brasil tem enfrentado diversas epidemias que requerem medidas de
sade coletiva. Citam-se como exemplo as epidemias de:
GRIPE2 A (H1N1) 2009 2010 todo o mundo e no Brasil mais no Sul.
DENGUE desde os anos 1980 em diversos estados, principalmente Sudeste (Rio de
Janeiro, Minas, So Paulo) Nordeste, Norte, Centro-Oeste, e menos no Sul.
Tambm tem situaes de doenas que no fazem epidemias de grandes propores, mas
ocorrem em lugares menores, s numa cidade, numa escola, creche, asilo, fbrica, enfim num
lugar menor, da chamamos SURTO3, que uma epidemia localizada. Tambm existem vrios
exemplos de surtos, tais como: de MENINGITE4, HEPATITE5 A, LEPTOSPIROSE6, INFECES
ALIMENTARES, e muitas outras.
SADE NO O CONTRRIO OU A AUSNCIA DE DOENA
Veja s, pode-se ter sade, mais ou menos sade, pouca sade e ao mesmo tempo adquirir ou
ter doenas. Isso at complicado de pensar, mas h vrios exemplos como os a seguir descritos.
Existem pessoas que quase nunca ficam doentes ou quando ficam tm manifestaes
mais leves, por exemplo, quando so acometidas de certas infeces como a gripe, melhoram
rapidamente, no complicam e logo voltam s suas atividades. Dizemos ento que ela uma
pessoa saudvel ou mais saudvel do que outras que pegam a mesma gripe, ficam um longo
tempo de cama, demoram a se recuperar e s vezes complicam e precisam tomar antibiticos,
chegando alguns casos at a ir para o hospital com pneumonia7. O mesmo pode-se dizer para
outras doenas como gastroenterites8 que causam diarreias9. Essas doenas so muito comuns,
e a grande maioria das pessoas tem vrias vezes ao ano o que chamamos de episdios de
infeces respiratrias agudas e infeces intestinais.
Ocorre que importante saber que existem grupos da populao que tm maior facilidade
para complicar no caso de infeces agudas como estas, so as pessoas com mais idade e aqueles
que j tm uma doena crnica, precisam tomar remdios e tm uma imunidade10 mais baixa e
uma resistncia11 menor aos agentes12 de infeces13, como os micrbios14, devido a isso.
399
Outro grupo mais suscetvel15 a ter mais infeces so as crianas pequenas, pois, embora elas
tenham uma imunidade e resistncia normal o seu organismo, precisa ter contato com os diversos
agentes de doenas infecciosas como vrus16, bactrias17, fungos e outros para poder desenvolver a
imunidade de dois tipos: celular (produzir clulas de defesa) ou humoral (produzir anticorpos).
Ento vemos que crianas pequenas tm muitas vezes febre que nem sempre complica
quando elas so saudveis. Isto porque o seu sistema imune e seus mecanismos de resistncia
funcionam bem; j as crianas menos saudveis, por exemplo, as desnutridas, que tm outras
doenas, de nascena ou que adquiriram, complicam mais.
Resumindo: quem adoece mais e quando adoece complica mais, mais suscetvel.
Crianas pequenas pegam mais infeces por ainda estarem desenvolvendo os seus
mecanismos de defesa (imunidade e resistncia).
Idosos ao fazer infeces complicam mais por terem, com a idade, diminudo os
mecanismos de defesa
Idosos com doenas que demoram (crnicas18 e degenerativas19) tambm adoecem mais
e complicam mais
Crianas com doenas de nascena ou adquiridas debilitantes tambm complicam mais.
Por isso numa comunidade as crianas, os idosos e os doentes crnicos so considerados
uma populao que precisa de ateno e cuidados especiais.
Quando a gente pensa assim e organiza os servios de sade para esta prioridade, atuase em termos de SADE COLETIVA, prope-se a oferecer ateno a esses grupos prioritrios
quanto s doenas infecciosas mais comuns. Para algumas delas existem at VACINAS20 que
conseguem prevenir, isto , evitar as doenas.
VACINA, A PREVENO MELHOR E MAIS CONHECIDA
Segundo o Ministrio da Sade (2012), as vacinas so consideradas um dos principais
fatores contribuintes para a reduo de doenas imunoprevenveis na populao mundial.
Nosso pas tem realizado muitas campanhas de vacinao nos ltimos anos e com isso tem
conseguido controlar muitas doenas e at erradicar21 outras. A VAROLA22 foi erradicada do
Brasil em 1969 e do mundo em 1973. A poliomielite23 ou paralisia infantil est erradicada desde
1989 e das Amricas e o sarampo24 est controlado no ocorrendo mais casos por transmisso25
de dentro do pas, s mediante de casos que vm de fora.
400
Isso muito importante para todos ns, pois muitos ficavam paralticos e at morriam no
passado por essas doenas que so prevenveis por vacina. Para a maioria doenas a vacinao
no consegue erradicar, mas protege as pessoas e reduz enormemente a quantidade de casos e
mortes, como as abaixo:
TTANO26
DIFTERIA27
COQUELUCHE28
SARAMPO
CAXUMBA
RUBOLA29
POLIOMIELITE
FEBRE AMARELA30
HEPATITE B
TUBERCULOSE31
Essas so as principais doenas para as quais dispomos de vacinas que so aplicadas de
rotina nas crianas menores de 5 anos e que ajudaram a diminuir muito os casos e as mortes. Mas
existem algumas vacinas mais recentes que tambm so aplicadas de rotina nas crianas menores
de 5 anos e ajudaram a diminuir alguns tipos de doenas, como as vacinas contra as infeces
graves por
AGENTE
Pneumococo
Meningococo C
Haemophylus influenzae tipo B
Rotavirus
DOENAS EVITADAS
pneumonias, meningites, otites32 por pneumocco
meningite por meningococo C
meningites, pneumonias, otites por Hib
diarreias por este vrus
Mesmo contra a gripe existe uma vacina que aplicada todo ano em campanhas para os
idosos, para as gestantes, para o pessoal de sade, indgenas e alguns outros grupos.
A vacina da hepatite B tambm utilizada em grupos especiais com maior risco como os
profissionais de sade, e pessoas que pela sua profisso ou comportamento tm risco de entrar
em contato com sangue, como os usurios de drogas injetveis, ou tm contato sexual de risco.
Os idosos tambm tm mais infeces graves pelo pneumococo e por isso devem tomar a vacina
contra o pneumococo, alm de continuar a se prevenir com a vacina contra a difteria e o ttano.
401
DOSE
1 dose
3 doses
3 doses +
2 reforos
2 doses
1 dose +
Reforos
2 doses
3 doses +
1 reforo
2 doses +
1 reforo
1 dose +
reforos
2 doses
IDADE
Ao nascer
Ao nascer, 1 ms e 6 meses
2, 4 e 6 meses
15 meses e 4 anos
2 e 4 meses
6 meses
15 meses, 4 anos
e nas campanhas
2 e 4 meses
2, 4 e 6 meses
12 meses
3 e 5 meses
15 meses
9 meses
A cada 10 anos
12 meses e 4 anos
PROTEGE CONTRA
Tuberculose grave
Hepatite B
Meningite por Hib +
Difteria, Ttano, Coqueluche e
Poliomielite ou Paralisia Infantil
Diarria por rotavrus33
Pneumonia, otite, meningite causada
pelo pneumococo
Meningite e doena grave causada
pelo meningococo C
Febre Amarela
Sarampo, Caxumba e Rubola
Fonte: Adaptado de MINISTRIO DA SADE. Programa Nacional de Imunizaes. Calendrio Bsico de Vacinao da Criana.
402
DOSE
3 doses
1 dose a cada 10 anos
1 dose a cada 10 anos
2 doses
FAIXA DE IDADE
11 a 29 anos
11 a 19 anos
11 a 19 anos
11 a 19 anos
PROTEGE CONTRA
Hepatite B
Difteria e Ttano
Febre Amarela
Sarampo, Caxumba e Rubola
Fonte: Adaptado de MINISTRIO DA SADE. Programa Nacional de Imunizaes. Calendrio de Vacinao do Adolescente
Os adultos de 20 a 59 anos tambm devem ser protegidos caso ainda no tenham sido
vacinados contra a Hepatite B, s que se recomenda apenas para aquelas pessoas que tm mais
risco de adquirir, os chamados Grupos Vulnerveis. Para o Sarampo, a Caxumba e a Rubola
todos podem ser vacinados se ainda no o foram, continua-se recomendando os reforos contra
Difteria e Ttano e tambm contra Febre Amarela a cada 10 anos. Veja no quadro abaixo:
QUAIS AS VACINAS RECOMENDADAS PARA OS ADULTOS?
VACINA
Anti-Hepatite B para
Grupos Vulnerveis*
Dupla tipo adulto dT
Antiamarlica
Trplice Viral SCR
DOSES
3 doses
1 dose a cada 10 anos
1 dose a cada 10 anos
2 doses
FAIXA DE IDADE
PROTEGE CONTRA
30 a 59 anos
Hepatite B
20 a 59 anos
Difteria e Ttano
Febre Amarela
Sarampo, Caxumba e Rubola
Fonte: Adaptado de MINISTRIO DA SADE. Programa Nacional de Imunizaes. Calendrio de Vacinao do Adulto
* Grupos Vulnerveis Hepatite B: Gestantes, aps o primeiro trimestre de gestao; trabalhadores da sade; bombeiros,
policiais militares, civis e rodovirios; caminhoneiros, carcereiros de delegacia e de penitenciarias; coletores de lixo hospitalar e
domiciliar; agentes funerrios, comunicantes sexuais de pessoas portadoras de VHB; doadores de sangue; homens e mulheres
que mantm relaes sexuais com pessoas do mesmo sexo (HSH e MSM); lsbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais,
(LGBT); pessoas reclusas (presdios, hospitais psiquitricos, instituies de menores, foras armadas, dentre outras); manicures,
pedicures e podlogos; populaes de assentamentos e acampamentos; potenciais receptores de mltiplas transfuses de sangue
ou politransfundido; profissionais do sexo/prostitutas; usurios de drogas injetveis, inalveis e pipadas; portadores de DST.
E os idosos? Com certeza tambm podem ser vacinados, assim como os adultos, com a
diferena de que no preciso mais proteo contra Sarampo, Rubola e Caxumba, mas por
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sua vez precisamos proteg-los contra a Gripe que mais grave entre eles e tambm contra as
infeces pelo Pneumococo, em especial a pneumonia que nesta idade pode ser mais grave. Veja
no quadro abaixo:
QUAIS AS VACINAS RECOMENDADAS PARA OS IDOSOS?
VACINA
Anti-Hepatite B para
Grupos Vulnerveis
DOSES
FAIXA DE IDADE
3 doses
PROTEGE CONTRA
Hepatite B
Antiamarlica
Dose anual
Antipneumoccica
Dose nica
60 anos e mais
Difteria e Ttano
Febre Amarela
Fonte: Adaptado de MINISTRIO DA SADE. Programa Nacional de Imunizaes. Calendrio de Vacinao do Idoso
DOENAS CRNICAS
Doenas crnicas, como, por exemplo, derrames35, paralisias, asma, doenas do corao,
cncer36 e outras, so doenas que demoram e fazem as pessoas ficar debilitadas, sem conseguir
fazer bem o que faziam normalmente e algumas vezes at acamadas.
Elas so muito comuns em pessoas de mais idade, mas podem acometer adultos, mais jovens
e at crianas. As famlias precisam dedicar um cuidado maior a essas pessoas, principalmente
quando eles ficam sem condies de fazer o que faziam antes, ou seja, trabalhar, estudar, andar,
comer, se relacionar normalmente. Enfim, inspiram muitos cuidados em casa, devem ser levados
aos servios de sade para consulta mdica, laboratrios para exames, obter os remdios, porm
em alguns casos os tratamentos so bons e eles se recuperam quase totalmente, devendo manter
o acompanhamento e o tratamento indicado.
Nas Unidades de Sade existem programas para Controle da Hipertenso Arterial37,
Controle do Diabetes38 e em alguns lugares outros programas se houver doenas frequentes, como
asma, epilepsia, transtornos mentais.
Ao conhecer algum que possa se beneficiar destes programas, importante orientar para
procurar a Unidade de Sade mais prxima, no municpio onde a pessoa reside.
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agir, se alimentar, trabalhar sem que existam condies favorveis da organizao da sociedade
que estimulem os hbitos e comportamentos saudveis. Por exemplo, ter atividades fsicas e no
ficar parado a maior parte do tempo algo que fcil para muitas pessoas, cujo trabalho exige
mais esforo, para as crianas e adolescentes at natural estar sempre brincando, correndo,
andando de bicicleta etc., e com isso se gasta muita energia do corpo.
Mas cada vez que temos uma vida mais cmoda, andamos de carro ou nibus, sentamos a
maior parte do tempo, no precisamos nos esforar porque as mquinas fazem a parte pesada do
trabalho (mquina de lavar roupas, cortar grama, automveis, tratores etc.) e a vida vai ficando
mais sedentria.
O sedentarismo no unicamente uma opo pessoal, mas um comportamento socialmente
produzido por um estilo de vida que incorpora mais mobilidade por veculos sem gasto energtico
pessoal, em funo de distncias, trnsito, concentrao urbana; trabalho progressivamente menos
dependente do esforo fsico humano; lazer crescentemente realizado de forma passiva, enfim
contribuies da modernidade para ao bem-estar do ser humano que o torna cada vez menos
agente de fora fsica no mundo com consequente menor gasto energtico.
Ento, importante o papel de todos, dos trabalhadores e dos patres, dos que produzem e
dos que consomem, dos que vivem com mais recursos e dos que vivem com menos, para contribuir
com a criao de um meio e uma forma de vida socialmente mais saudvel em todos estes pontos.
Exemplos:
1. Se nas escolas, nas cantinas s venderem doces, frituras e outros alimentos pouco
saudveis, vai ser difcil os estudantes conseguirem matar sua fome sem adquirir hbitos
prejudiciais. As merendas escolares tambm precisam ter cardpios atrativos com
alimentos saudveis para estimular a aquisio de melhores hbitos. Comer s batata
frita, salgadinhos gordurosos com refrigerante, doces o comeo de vcios alimentares
que podem afetar precocemente a sade cardiovascular e induzir a obesidade com todas
as suas consequncias.
2. A necessidade de preparo cada vez mais rpido das refeies tem feito as pessoas
consumirem alimentos cada vez mais industrializados e com substncias qumicas,
conservantes etc. Em longo prazo, no se sabe a consequncia para a sade. Ento,
importante estimular o consumo de alimentos frescos, ou semi-industrializados com um
mnimo de aditivos qumicos e sdio.
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Alm dessas DSTs existem outras, como a gonorreia, cancro mole, infeces por clamdia, e
tambm preciso lembrar, da transmisso das Hepatites B e C que pode ocorrer pelo contato sexual.
As mudanas nos comportamentos ligados sexualidade foram muito acentuadas nas
ltimas dcadas e sem dvida novas concepes das relaes sexuais, mais livres e menos fixas,
desvinculadas de compromissos conjugais formam um cenrio em que se alerta para os riscos e
para as consequncias em termos de sade. Por isso chama-se a ateno de todos em termos de
preveno que consiga reduzir a transmisso e que facilite o diagnstico e tratamento precoce as
DSTs; algumas tm cura, mas no caso da AIDS, mesmo sem cura, o tratamento contnuo reduz a
probabilidade da transmisso e a pessoa vive mais.
A organizao de servios que permita esse trabalho, a divulgao de informaes, estmulo
educao para uma sexualidade segura, campo da sade coletiva.
COMO SO AS RELAES INTERPESSOAIS E EM GRUPO
O modo como nos relacionamos tem uma influncia forte na sade mental. Viver em
sociedade significa que precisamos uns dos outros, mas alguns conseguem se relacionar melhor
do que outros.
Morar, trabalhar, estudar em sociedade implica conviver com outras pessoas, se relacionar
para trocar ideias, trabalho, comida, dinheiro o que implica conhecer os interesses de cada um,
dos grupos e seus prprios interesses.
Sabe-se, por exemplo, que ter com quem conversar de forma confiante pode auxiliar a
expor problemas e trocar ideias que ajudam a super-los, e isso significativo na preveno de
transtornos mentais, em que o isolamento social no permite que esta habilidade se desenvolva.
Desenvolver relaes para satisfazer as nossas necessidades afetivas de amor, amizade,
companheirismo, parceria, tudo isso implica respeitar as diferenas e buscar relacionamentos
positivos e estimulantes.
claro que isso no fcil e que nem sempre as coisas caminham nesse sentido
saudvel, e as relaes humanas esto permeadas de violncia, explorao, desrespeito, abusos,
desvalorizao etc. Quando isto ocorre de forma a que pessoas com mais poder praticam abusos
fsicos ou psicolgicos com outros mais vulnerveis, considera-se uma violncia. Quando esses
comportamentos so frequentes, tolerados, estimulados nos grupos sociais e comunidades, tem-se
um problema de sade coletiva que merece uma abordagem preventiva educacional.
Pessoas que vivem nesses ambientes muitas vezes dependendo de sua capacidade de
superao acabam tendo dificuldades de lidar com o que acontece e apresentam alteraes,
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transtornos mentais e comportamentais que podem ser leves, outras vezes graves e incapacitantes.
Se h uma predisposio individual, esse ambiente pode potencializar o agravo ou servir como
gatilho para a ecloso de sintomas mais graves.
Pode-se entender que essas alteraes muitas vezes so uma forma de resposta, isto , o
modo como elas conseguem lidar psiquicamente com situaes bastante aflitivas ou angustiantes,
e nem todos tm a capacidade de achar sadas que no sejam prejudiciais a si mesmo e(ou) aos
outros.
Os transtornos mentais e comportamentais so considerados a epidemia do sculo XXI,
a depresso, os abusos de drogas, alcoolismo, transtornos obssessivo-compulsivos, e tantos outros
tm sido exaustivamente relatados e indicados como um problema de sade pblica.
O estmulo aos fatores protetores da sade mental, em todos os ambientes de convivncia,
no trabalho, na escola, no esporte e na sociedade em geral, uma necessidade a ser contraposta
ao modelo de sociedade competitiva e intolerante que predomina.
O crescimento e desenvolvimento das crianas e adolescentes em ambientes psicologicamente
favorveis a relaes respeitosas e igualitrias, embora sabidamente preventiva de transtornos
mentais, um caminho ainda a ser explorado em termos de sade coletiva.
CONDIES DE VIDA: MORADIA, TRABALHO E DESLOCAMENTO
Os lugares onde as pessoas vivem ou trabalham tambm podem contribuir em muito para
o seu estado de sade, tanto por serem insalubres ou por permitirem relaes sociais pouco
saudveis.
Os ambientes insalubres geralmente so aqueles midos, escuros, pouco ventilados, sujos,
sofrem inundaes ou ainda no oferecem proteo adequada para mudanas do clima, chuvas,
ventos, luz do sol intensa, temperaturas extremas e, portanto, so ambientes sem conforto adequado
para moradia, estudo, trabalho e mesmo o lazer.
Os exemplos dos problemas ligados falta de saneamento bsico e higiene so inmeros:
Tuberculose doena da pobreza
Diarrias
Verminoses
Leptospirose
Muitas vezes no ambiente onde passamos muito tempo temos exposio a poeiras, rudos,
calor, frio, luz, substncias qumicas e at radiaes que afetam a integridade do organismo e
provocam alteraes que se persistentes geram doenas. Outras vezes a realizao das atividades
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humanas provoca pela repetio ou exposio s foras mecnicas presentes, por exemplo,
mquinas, leses, acidentes e doenas que so chamadas de ocupacionais.
Ao verificar a enormidade de pessoas feridas, mutiladas e mortas em acidentes de trnsito
geradas em nossas sociedades, nas cidades e nas estradas, percebemos que a forma como
construmos nossas cidades e organizamos a mobilidade dentro delas e entre elas resulta em
condies que podem propiciar mais ou menos esses problemas dependendo da organizao dos
transportes nesses meios.
O CONSUMO E OS RESDUOS
Uma vez que vivemos em sociedade e que construmos um meio ou sociosfera que permite
o estabelecimento de relaes sociais de produo e consumo, essas relaes, bem como todas as
condies materiais geradas no meio, podem e devem ser analisadas como produtoras de mais ou
menos SADE, para os indivduos e para as coletividades humanas.
Na sociedade o consumo crescente, h muito estmulo para aumentar a produo de
bens, que duram cada vez menos e so descartados rapidamente. O uso de embalagens para
quantidades cada vez menores estimula o comrcio de produtos que so fabricados em longas
distncias e no estimula a produo local o que se torna sem dvida pouco SUSTENTVEL.
Isso cria cada vez mais problemas para manejar, isto , o que fazer com o lixo de resduos
slidos, onde colocar ao final. Os impactos no ambiente esto se acumulando, repercutindo
tambm na sade das populaes humanas.
Exemplo: a dengue, cujo vetor46, o mosquito Aedes aegypti47, j tinha sido erradicado do
Brasil em 1942 e reentra nos anos 80, dissemina-se para quase todo o pas, provoca uma srie de
epidemias sucessivas e continua sendo um enorme problema de sade pblica, com mais de um
milho de casos notificados em 2010 no Brasil. O controle da proliferao do mosquito no meio
ambiente hoje muito mais difcil, tendo em vista o tipo de resduos encontrados, garrafas PET,
embalagens plsticas, longa vida, pneus e outros artefatos que acumulam gua de chuva e servem
de criadouros em vastos ambientes urbanos, impedindo que o controle pelas vistorias domiciliares
seja efetivo na reduo da infestao predial.
ATENO SADE
Como as sociedades geraram a necessidade de alguns dos membros cuidarem uns dos outros
quando eles esto doentes, do Paj das tribos indgenas at ao mais sofisticado neurocirurgio que
manipula algo to precioso quanto o crebro humano?
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1 MDICO
1 ENFERMEIRA
1 TCNICO DE ENFERMAGEM
2 AUXILIARES DE SADE
4 a 5 AGENTES COMUNITRIOS DE SADE
As equipes que tm a parte de odontologia tambm contam com:
1 DENTISTA
2 AUXILIARES DENTAIS
Esses profissionais devem trabalhar em equipe, como o prprio nome diz, e o mais importante
que com esta diviso de reas eles trabalham com uma populao definida no muito grande de
em torno de 100 a 1200 famlias, sendo no mximo 4.000 a 5.000 pessoas residentes.
As reas so subdivididas em microreas menores, com aproximadamente 250 a 300
famlias cada e os agentes comunitrios de sade cuidam, cada um de uma Microrea, onde
devem visitar periodicamente as famlias para conhecer os problemas e as necessidades das
pessoas e servir de ligao com a UBS51 e o restante da equipe.
Os demais membros da equipe como mdicos e enfermeiros tambm realizam visitas
domiciliares de casos indicados e podem selecionar as famlias que precisam de um acompanhamento
mais frequente, seja para controle de doenas, necessidade de tratamento domiciliar, problemas
sociais ou situao. As consultas mdicas e odontolgicas na UBS so marcadas pela procura
direta e tambm por indicao a partir das visitas.
COMO MUDAR
Ora, se a gente pensar, desejar sade para uma pessoa que est trabalhando em condies
precrias ou vivendo numa habitao inadequada, ou ainda, enfrente situaes estressantes de
relacionamento pessoal, soa at como ironia, no ?
A que entra o entendimento de que muitas das situaes de vida em que as pessoas se
encontram, no so, nica e exclusivamente, questes de escolhas ou opes pessoais, mas sim
condies objetivas encontradas em seus caminhos que precisam ser enfrentadas e cuja mudana
no depende somente dos indivduos, mas sim do COLETIVO, que pode ser um grupo, uma
comunidade ou a sociedade em geral.
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Ento, vemos que, embora existam possibilidades das decises individuais afetarem a
sade, nem sempre as mudanas que precisam ser feitas dependem das pessoas isoladamente,
mas sim do seu conjunto, ou seja, do coletivo.
disto tudo que trata a SADE COLETIVA.
Os seres humanos diferenciam-se dos outros animais, embora estes tambm apresentem
relaes de sociabilidade (que esto sendo cada vez mais estudadas) pela sua capacidade de
dar um sentido sua existncia individual e coletivamente. Como esses sentidos partilhados
socialmente afetam e condicionam o desenvolvimento da vida dos grupos humanos e, portanto, a
sade das coletividades, ou seja, da sociedade, esta uma tarefa de SADE COLETIVA.
REFERNCIAS
MINISTRIO DA SADE. Assessoria de Comunicao Social. Disponvel em: <http://portalsaude.saude.
gov.br/portalsaude/noticia/3591/162/calendario-de-vacinacao-atende-a-todas-as-idades.html> Acesso em :
20/06/2012.
NAZARENO, 2012. Por uma concepo dinmica de sade. No publicado.
WALDMAN, E. A. e GOTLIEB, S. L. D. Glossrio de epidemiologia. Informe Epidemiolgico do SUS. 7:
5-27, 1992.
WHO (World Health Organization) 1946. Constitution of the World Health Organization. Basic Documents.
WHO. Genebra.
Gripe ou Influenza Infeco viral que afeta o sistema respiratrio, mais precisamente o nariz, a garganta
e os brnquios. O contgio ocorre principalmente por meio das secrees das vias respiratrias da pessoa
infectada ao falar, tossir ou espirrar. Ocorre o ano todo, com aumento final no do outono e durante
o inverno. Os vrus influenza subdividem-se em trs tipos: A, B e C, de acordo com sua diversidade
antignica, podendo sofrer mutaes.
4 Meningite Inflamao das membranas que revestem o encfalo e a medula espinhal, as meninges,
causada por bactrias, vrus, parasitas, fungos e menos comumente, por certas drogas. As meningites
bacterianas so clinicamente mais graves e tem maior importncia em sade pblica pela sua capacidade
de ocasionar surtos e epidemias.
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Hepatite Doena que leva inflamao do fgado, pode ser causada por vrus, uso de alguns remdios,
lcool e outras drogas, alm de doenas autoimunes, metablicas e genticas. Os sintomas so cansao,
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febre, mal-estar, tontura, enjo, vmitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes
claras. As hepatites virais mais comuns so as causadas pelos vrus A, B e C e mais raramente pelos vrus
D e E. A transmisso por contaminao fecal-oral no caso da A e E, enquanto a B e C se transmitem por
contato com sangue, hemoderivados, transfuso e contato sexual, a D ou delta depende da existncia do
vrus B para causar doena.
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Leptospirose Doena que passa dos animais para os homens, causada por uma bactria do tipo Leptospira
eliminada principalmente na urina de roedores, permanece em colees de gua e pode contaminar pessoas
ao entrar em reas urbanas alagadas pela chuva, em colees de guas rurais de lagoas, represas e riachos.
A bactria invade o corpo por pequenas leses de pele ou pelas mucosas em contato com a gua (oral, nasal
e ocular).
7 Pneumonia Doena inflamatria do pulmo, afeta especialmente os alvolos, apresenta febre, dor
torcica, dificuldade para respirar, geralmente causada por uma infeco, por bactrias, vrus, fungos e
parasitas, mas h uma srie de outras causas.
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Gastroenterite Caracterizada pela inflamao do trato gastrointestinal que afeta o estmago (gastro) e o
intestino delgado (entero) e que se manifesta por meio de diarreia, vmitos, dores e clicas abdominais.
Podem ser infecciosas causadas por vrus, bactrias, protozorios e parasitas intestinais, ou no infecciosas
geralmente devidas a doenas inflamatrias.
9 Diarreia Consiste no aumento do nmero de evacuaes e/ou a presena de fezes amolecidas, com
consistncia pastosa e(ou) at mesmo lquidas nas evacuaes.
10 Imunidade Resistncia usualmente associada presena de anticorpos que tm o efeito de inibir microorganismos especficos ou suas toxinas responsveis por doenas infecciosas particulares.
11 Resistncia Conjunto de mecanismos especficos e inespecficos do organismo que servem de defesa
contra a invaso ou multiplicao de agentes infecciosos, ou contra os efeitos nocivos de seus produtos
txicos.
12 Agente Entidade biolgica, fsica ou qumica cuja presena ou deficincia capaz de causar doena.
13 Agente Infeccioso Agente biolgico capaz de produzir infeco ou doena infecciosa.
14 Micrbio ou Micro-organismo Organismos unicelulares (ou acelulares, os vrus) que s podem ser vistos
ao microscpio. Incluem os vrus, as bactrias, os protozorios, as algas unicelulares e algumas formas de
fungos (as leveduras).
15 Suscetvel Qualquer pessoa ou animal que supostamente no possui resistncia suficiente contra um
determinado agente patognico, que a proteja da enfermidade caso venha a entrar em contato com o
agente.
16 Vrus Agentes infecciosos de pequeno tamanho, acelulares que apresentam genoma constitudo de uma
ou vrias molculas de cido nuclico (DNA ou RNA), as quais possuem a forma de fita simples ou dupla.
17 Bactria Micro-organismo unicelular, chamado de procarionte, desprovido de envoltrio nuclear e
organelas membranosas.
18 Doena Crnica uma doena que no resolvida num tempo curto, prolongando-se por meses e anos
ou o resto da vida. Geralmente no pe em risco a vida da pessoa num prazo curto. No entanto, pode ser
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extremamente sria, afetar a qualidade de vida das pessoas e at causar a morte. Incluem tambm todas as
condies em que um sintoma existe continuamente. Muitas delas no apresentam sintomas, a maior parte
do tempo, mas caracterizam-se por episdios agudos perigosos e(ou) muito incomodativos.
19 Doenas Degenerativas So assim chamadas porque elas provocam a degenerao de todo o organismo,
envolvendo vasos sanguneos, tecidos, ossos, viso, rgos internos e crebro.
20 Vacina Preparao contendo micro-organismos vivos ou mortos ou suas fraes, possuidora de
propriedades antignicas. As empregadas para induzir em um indivduo a imunidade ativa e especfica
contra um micro-organismo.
21 Erradicao Cessao de toda a transmisso da infeco pela extino artificial da espcie do agente em
questo.
22 Varola Doena viral, exclusiva de humanos, que se encontra erradicada no mundo desde outubro de
1977, quando foi registrado o ltimo caso, na Somlia.
23 Poliomielite ou Paralisisa Infantil Doena infecto-contagiosa viral aguda, de transmisso fecal-oral,
caracterizada por um quadro de paralisia flcida, de incio sbito.
24 Sarampo Doena viral, de transmisso respiratria, altamente contagiosa, principais sintomas so febre
alta, tosse, conjuntivite (olhos vermelhos), coriza, e pequenas manchas brancas na parte interna da boca,
seguidas de uma erupo ou exantema que comea no pescoo, na face e se espalha pelo corpo
25 Transmisso Transferncia de um agente etiolgico animado de uma fonte primria de infeco para um
novo hospedeiro. A transmisso pode ocorrer de forma direta ou indireta.
26 Ttano Doena infecciosa aguda no contagiosa, causada pela ao de exotoxinas produzidas por um
bacilo, as quais provocam um estado de hiperexcitabilidade do sistema nervoso central, manifesta-se com
febre baixa ou ausente, hipertonia muscular mantida, hiperreflexia e espasmos ou contraturas paroxsticas.
27 Difteria Doena transmissvel aguda, toxiinfecciosa, causada por bacilo toxignico, que frequentemente se
aloja nas amgdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, em outras mucosas e na pele. caracterizada
por placas pseudomembranosas tpicas.
28 Coqueluche Doena infecciosa aguda, de transmisso respiratria, compromete especificamente o
aparelho respiratrio (traqueia e brnquios) e se caracteriza por paroxismos de tosse seca.
29 Rubola Doena a vrus transmitida por via respiratria. Seus principais sintomas so febre, dor de cabea,
dor pelo corpo, dificuldade ao engolir, nariz entupido e aumento de gnglios cervicais e suboccipitais
seguidas de manchas avermelhadas pelo corpo ou exantema.
30 Febre Amarela Doena infecciosa febril aguda, causada por um vrus transmitido por vetores artrpodes,
que possui dois ciclos epidemiolgicos distintos (silvestre e urbano).
31 Tuberculose Doena infecto-contagiosa, de transmisso respiratria, especialmente pela tosse, causada
por uma bactria que afeta principalmente os pulmes, mas tambm pode ocorrer em outros rgos do
corpo, como ossos, rins e meninges (membranas que envolvem o crebro), de evoluo lenta e extremamente
debilitante, est associada precrias condies de moradia, trabalho e nutrio, por isso considerada de
causalidade social.
32 Otite Inflamao do ouvido, geralmente de origem infecciosa.
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33 Rotavrus da famlia Reoviridae So classificados em grupos, subgrupos e sorotipos de acordo com sua
composio antignica. At o momento, tm-se sete grupos antignicos: A, B, C, D, E, F e G que causam
infeco no ser humano, em outros mamferos e aves.
34 Infeco Penetrao, alojamento e, em geral, multiplicao de um agente etiolgico animado no
organismo de um hospedeiro, produzindo-lhe danos, com ou sem aparecimento de sintomas clinicamente
reconhecveis.
35 Derrame Cerebral ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) uma doena vascular decorrente do entupimento
(isquemia) ou rompimento (hemorragia) de vasos sanguneos cerebrais, com comprometimento neurolgico,
de incio sbito na qual o paciente pode apresentar paralisao ou dificuldade de movimentao dos
membros de um mesmo lado do corpo, dificuldade na fala ou articulao das palavras e dficit visual sbito
de uma parte do campo visual
36 Cncer Doena caracterizada pelo crescimento desordenado de clulas que se dividem sem respeitar os
limites normais, invadem e destroem tecidos adjacentes, e podem se espalhar para lugares distantes no
corpo, mediante de um processo chamado metstase.
37 Hipertenso Arterial Doena crnica determinada por elevados nveis de presso sangunea nas artrias,
o que faz com que o corao tenha que exercer um esforo maior do que o normal para fazer circular o
sangue atravs dos vasos sanguneos
38 Diabetes Mellitus uma doena metablica, de evoluo crnica, caracterizada por um aumento anormal
do acar ou glicose no sangue. A glicose a principal fonte de energia do organismo, porm, quando em
excesso, pode trazer vrias complicaes sade quando no tratada adequadamente.
39 Higiene Conjunto de conhecimentos e tcnicas para evitar doenas infecciosas usando desinfeco,
esterilizao e outros mtodos de limpeza com o objetivo de manter e fortalecer a sade.
40 Saneamento Bsico Relaciona-se com o abastecimento de gua potvel, o manejo de gua pluvial, a
coleta e tratamento de esgoto, a limpeza urbana, o manejo de resduos slidos e o controle de pragas e
qualquer tipo de agente patognico, visando a sade das comunidades.
41 Verminose Doena provocada por agentes especficos, denominados parasitas, especialmente
endoparasitas que vivem no interior do corpo do hospedeiro.
42 Amebase Infeco por parasita ou protozorio que acomete o ser humano podendo ficar restrita ao
intestino, o principal sintoma a diarria, que pode no ocorrer, febre e sintomas diferentes dependendo
do rgo invadido.
43 Enfisema Doena pulmonar obstrutiva crnica caracterizada pela dilatao excessiva dos alvolos
pulmonares, o que causa a perda de capacidade respiratria e uma oxigenao insuficiente.
44 Doenas Sexualmente Transmissveis (DST) Patologias antigamente conhecidas como doenas venreas.
So doenas infecciosas que se transmitem essencialmente (porm no de forma exclusiva) pelo contato
sexual. O uso de preservativo (camisinha) tem sido considerado como a medida mais eficiente para prevenir
a contaminao e impedir sua disseminao.
45 Aids ou Sndrome da Imunodeficincia Adquirida Estgio mais avanado da infeco que ataca o sistema
imunolgico, causada pelo vrus da imunodeficincia humana HIV, ataca as clulas de defesa do corpo e
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o organismo fica mais vulnervel a diversas doenas, de um simples resfriado a infeces mais graves como
tuberculose ou cncer.
46 Vetor Artrpode que transfere um agente infeccioso da fonte de infeco para um hospedeiro suscetvel.
47 Aedes Aegypti Mosquito que popularmente conhecido como mosquito-da-dengue ou pernilongorajado, bem adaptado a zonas urbanas, ao domiclio humano, onde consegue reproduzir-se e pr seus
ovos em pequenas quantidades de gua limpa, pobres em matria orgnica em decomposio e sais que
preferivelmente estejam sombreados e no peridomiclio.
48 Ateno Primria Sade (APS) ou Ateno Bsica Tambm denominada cuidado de sade primrio,
foi definida pela Organizao Mundial da Sade em 1978 como Ateno essencial sade baseada
em tecnologia e mtodos prticos, cientificamente comprovados e socialmente aceitveis, tornados
universalmente acessveis a indivduos e famlias na comunidade por meios aceitveis para eles e a um custo
que tanto a comunidade como o pas possa arcar em cada estgio de seu desenvolvimento, um esprito de
autoconfiana e autodeterminao. parte integral do sistema de sade do pas, do qual funo central,
sendo o enfoque principal do desenvolvimento social e econmico global da comunidade. o primeiro
nvel de contato dos indivduos, da famlia e da comunidade com o sistema nacional de sade, levando
a ateno sade o mais prximo possvel do local onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo o
primeiro elemento de um processo de ateno continuada sade. (Declarao de Alma-Ata)
49 Resfriado Doena infecciosa viral do aparelho respiratrio superior que afeta sobretudo a cavidade nasal.
Os sintomas incluem tosse, garganta inflamada, coriza e febre, que normalmente desaparecem ao fim de
sete a dez dias, embora alguns dos sintomas se manifestem at trs semanas.
50 Traqueobronquite Doena do aparelho respiratrio caracterizada pela inflamao dos brnquios, com
excessiva produo de muco, ocorre com febre, tosse produtiva e s vezes sibilos. A maior causa da doena
so infeces virais, mas tambm pode ocorrer por algumas bactrias.
51 Unidade Bsica de Sade (UBS) So locais onde so prestados atendimentos bsicos e gratuitos em
Pediatria, Ginecologia, Clnica Geral, Enfermagem e Odontologia. Os principais servios oferecidos pelas
UBS so consultas, inalaes, injees, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, tratamento
odontolgico, encaminhamentos para especialidades e fornecimento de medicao bsica.
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A reflexo sobre a sustentabilidade uma questo que diz respeito nossa relao com os
outros, pois o trabalho para preservar as condies sustentveis da vida no um empreendimento
individual, mas coletivo. Portanto, trata-se de algo que traz consigo uma dimenso tica.
A tica1 o campo dos valores. Valor aquilo que pode ser adjetivado como bom, desejvel,
digno de imitao, verdadeiro, justo, responsvel etc. Digo, por exemplo, que ser honesto bom.
Portanto, a honestidade , para mim, um valor. Ao contrrio, a desonestidade eu qualifico como um
mal. Isso quer dizer, um contravalor. Digo tambm que pensar nas geraes futuras, preservando
o meio ambiente, uma atitude louvvel, responsvel, eticamente correta, e assim por diante. Ao
contrrio, destruir o meio ambiente ou adotar um estilo de vida que no leve em conta o futuro da
humanidade agir de forma irresponsvel e, portanto, contrria tica.
Acontece que, s vezes, no sabemos direito o que se deve escolher. Os valores se confundem,
se misturam. Isso ocorre quando, por exemplo, as pessoas no sabem se melhor ganhar a vida
honestamente ou usar de meios ilcitos para enriquecer (h quem ache que a desonestidade
simplesmente uma questo de esperteza). Recentemente, uma reportagem de televiso mostrava
funcionrios pblicos afirmando que cobrar comisses indevidas para aprovar projetos faz parte
da tica do mercado2. Isso confundir tudo, trocar o bem pelo mal como se fossem sinnimos.
isso que se pode chamar de crise tica.
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realmente comprometidos com a defesa da vida em todos os seus aspectos. Mas, em nosso
tempo, muitos deixaram as bssolas de lado e preferiram adotar relgios para calcular o ndice
de produtividade e de aproveitamento do tempo. Querem andar muito, mesmo que no saibam
ao certo para onde esto caminhando. E o caminho escolhido poder estar conduzindo a todos
para um futuro comprometedor. Sob o ponto de vista da sustentabilidade, o caminho poder nos
conduzir ao paraso na terra ou ao abismo. A escolha nossa!
VALORES E IDEOLOGIA4
Quando uma determinada cultura determina que algo ruim e deve ser evitado, surgem
mecanismos de coao e de represso a fim de impedir que os indivduos adotem aqueles
comportamentos. Ao contrrio, quando algo considerado um valor, as culturas incentivam e
promovem a adoo das aes e prticas que correspondem a ele. Surgem, desse modo, o que
Karl Marx5 designou de aparelhos ideolgicos6, ou seja, os mecanismos sociais que se prestam a
imprimir em ns o conjunto de ideias motriz de nossas condutas.
A famlia, a escola, a religio e o Estado, na opinio de Marx, so as principais instituies
que cuidam de nos dizer o que devemos e o que no devemos fazer. As leis, os princpios
religiosos, os cdigos morais e as lies escolares formam o carter das pessoas de modo a
fazerem corresponder ao padro moral adotado, ou seja, ideologia dominante.
Desse modo, numa sociedade patriarcal, por exemplo, todos crescem sabendo que o pai a
figura central na famlia, a mulher lhe deve obedincia e respeito, as principais tarefas sociais so
desempenhadas por homens, os homens controlam a poltica e a religio, e assim por diante. Os
aparelhos ideolgicos nos ensinam como as coisas devem ser.
Numa sociedade baseada no modo capitalista de produo, os aparelhos ideolgicos tendem
a nos tornar pessoas preocupadas em consumir, pois isso o que movimenta o mercado. Assim,
para que se consiga fazer as pessoas compreenderem a necessidade de uma atitude de vida
diferente, mais sustentvel, preciso mudar o modo como pensam e agem em relao a si mesmas,
aos outros e ao prprio planeta. preciso um processo de conscientizao, uma tomada de atitude
crtica em relao ideologia consumista7, que contrria ideia de sustentabilidade. A noo de
sustentabilidade implica a busca de alternativas que levem ao equilbrio entre consumo, produo
e conservao do meio ambiente e dos recursos naturais.
Uma ressalva importante: essa condio ideolgica da vida humana no de todo negativa.
Na verdade, ela imprime as condutas-padro, aqueles comportamentos coletivamente aceitos, por
vezes necessrios para a organizao social. Contudo, as pessoas podem ser educadas para no
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simplesmente responder cegamente aos padres, mas para agir com senso crtico e com esprito
livre. Assim nascem os sistemas democrticos, os regimes de liberdade e as sociedades abertas.
A imposio dos valores, contudo, sob diferentes formas de violncia, que deve ser considerada
perniciosa. Sobre isso, vale a pena ver a crtica de Michel Foucault8, em sua obra Microfsica do
Poder, assim como o texto de Karl Popper9, Sociedade Aberta e seus Inimigos.
CRISE DE VALORES
Quando ramos pequenos, nossos pais sabiam muito bem quais valores deveriam nos
ensinar: ser honestos, verdadeiros, procurar fazer sempre o bem etc. O que era o bem ou o mal
pareciam estar bem definidos e ningum tinha dvida sobre os valores morais. Hoje, contudo, ns
que crescemos e somos pais e mes, nos sentimos por vezes perdidos. Vivemos, sem dvida, um
momento de crise tica.
O que significa dizer que vivemos um momento de crise de valores? Em primeiro lugar,
refere-se a uma mudana cultural que est redefinindo os valores de nossa sociedade.
A crise de valores se expressa na confuso entre o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e injusto. Em
outras palavras, a confuso entre valor e contra-valor. Os valores so produtos culturais, sujeitos s variaes
do tempo e do espao. Sempre que uma determinada cultura decide eleger alguma atitude (porque o campo
da tica o campo das atitudes) como valor, estabelece-se o contra-ponto com a atitude oposta. Assim,
atitude positiva de respeito vida, por exemplo, contrapem-se a morte e a violncia. Quanto mais clara fica
a oposio entre os dois pontos, mais fora tem o valor tico estabelecido. Onde reside, ento, a confuso de
valores? Parece-nos que ela nasce da aproximao dos plos antagnicos: em nosso tempo, por exemplo, vida
e morte convivem numa quase perfeita harmonia. (OLIVEIRA, 2005)
Para muitos, essa redefinio pode parecer um fato comum e, talvez, sem grandes
consequncias. Porm, creio que se trata de algo muito grave a que devemos dar ateno. Em
nossa opinio, trata-se de uma crise profunda, ou seja, de uma crise que muda o nosso modo de
ser e de se posicionar diante da vida. Em termos gerais, pode-se dizer que a crise tica de nosso
tempo corresponde a uma inverso de valores e no a uma ausncia de valores.
Pensemos um pouco: se antes os interesses comuns e coletivos eram mais importantes do
que os interesses privados, a sociedade mostra que hoje o que realmente importa a vida de cada
um. Houve no a eliminao de um valor, mas sua substituio por outro: o interesse pblico deu
lugar aos interesses pessoais que, no raras vezes, se deixam levar pelo egosmo. Houve, portanto,
uma inverso de valores.
Vejamos outros exemplos concretos.
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a) A violncia passou a ser vista como algo normal e aceitvel. De fato, se pensarmos bem,
convivemos, diariamente, com ndices cada vez mais elevados de violncia. No cinema
e na televiso, as cenas de violncia so cada vez mais explcitas. Convivemos tanto com
essas imagens que nos tornamos, aos poucos, indiferentes. Quem de ns se assusta ao
ver um corpo humano destrudo por uma bomba? Quem fica chocado com cenas de
violncia urbana, assaltos, assassinatos, crimes passionais? Quem deixa de dormir por
causa dos frequentes sequestros que ocorrem todos dias nas grandes cidades? Ns nos
acostumamos com a violncia: ela parece normal. At mesmo os desenhos animados
(aparentemente inofensivos e inocentes) trazem uma carga elevada de mensagem em
favor da violncia. Tambm os jogos eletrnicos trazem diversas opes para brincar de
matar, brincar de fazer guerra etc.
b) Outro exemplo da inverso de valores: a corrupo parece ter virado moda em nosso
pas. A injustia tornou-se regra comum em muitos setores da sociedade. O cenrio
poltico do pas, os escndalos que derrubam deputados e ministros, a generalizao
da corrupo mostram que as pessoas passaram a dar mais valor aos seus interesses
pessoais do que honra, dignidade e ao respeito pela populao. O individualismo e
o egosmo parecem imprimir profundamente suas marcas em cada um de ns: cada um
por si e Deus por todos parece ser a regra de ouro, o princpio moral que orienta, nesses
tempos de crise, as nossas escolhas.
c) Ainda outro exemplo concreto desse quadro de inverso de valores a busca do prazer.
Isso parece ser a nica coisa que de fato interessa. Assim, os relacionamentos tornaramse descartveis: ficar passou a ser uma forma de relao na qual se tem direito a tudo e
no se tem dever de nada. Interessa apenas curtir. No h respeito nem responsabilidade.
E quem fala desses valores taxado de antiquado e careta. Vivemos na cultura do
hedonismo10, isto , do culto do prazer e da satisfao imediata de nossos desejos. Nada
mais interessa seno o conforto (temos controle remoto para tudo) e o que exige menos
esforo (tudo o que dever ou obrigao passou a ser visto com maus olhos). Para
alguns, jogar o lixo na rua mais fcil do que procurar o lugar adequado! Isso um
exemplo tpico de atitude hedonista.
d) Quanto questo da sustentabilidade, veja-se tambm que ocorrem muitas situaes
de inverso de valores: no que diz respeito sustentabilidade social11, por exemplo,
percebe-se que a acumulao de renda e de patrimnio nas mos de poucos um
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com um pssaro libertado de sua gaiola que, por no saber onde ir, acaba sentado sobre ela e at
volta para dentro dela.
As modernas teorias psicolgicas, sobretudo a psicanlise, escancararam a intimidade
humana, numa atitude desesperada de resgate da identidade pessoal. Dramas, conflitos, neuroses
e traumas foram todos desmitificados, restando a conscincia pura de um homem desnudo e
sem rumo. Foram destrudos os mitos, mas nada foi colocado em seu lugar. Quem o homem? De
onde veio? Para onde vai? Qual o sentido da vida? No encontramos resposta para estas questes
no novo quadro de valores que se apresenta. Antes, encontramos atitudes de dissimulao e de
fuga, atitudes que pretendem refugiar o homem no desfrute do passageiro e no deleite do ftil. Em
consequncia, ao invs de encontrarmos pessoas cada vez mais donas de si e livres, encontramos
pessoas sempre mais dependentes dos mecanismos que lhes ofereceram esse tipo de liberdade. A
droga, o sexo, o poder, a vida cmoda so alguns dos analgsicos oferecidos conscincia exausta
do homem de nosso tempo.
O educador precisa estar atento a esse fenmeno. Os nossos educandos esto muito
interessados nas ofertas que lhes so feitas: prestgio, visibilidade social, fama, dinheiro, luxo,
sexo, prazer sem medida, fortes emoes, atitudes radicais, droga, xtase, desfrute, deleite,
facilidades, conforto... Esta a linguagem que o nosso tempo usa. Evidentemente, seu poder de
seduo muito forte. At ns camos nas amarras de suas propostas. O educando, no entanto,
parece mais vulnervel. Discursos e iniciativas que tendem a mobilizar as pessoas para as questes
de responsabilidade social e a sustentabilidade so aceitos com mais dificuldade, pois parecem
no corresponder aos ideais de vida que foram ideologicamente assentados na viso de mundo
das pessoas.
A liberdade prometida pelos contravalores leva escravido, dependncia e ao desespero.
O homem perde sua identidade: no sabe quem , no sabe o que quer, no sabe para onde vai.
No estranho notar que o nmero de deprimidos e estressados aumentou assustadoramente nos
ltimos anos. Isso no resultado, apenas, do ritmo alucinante da vida moderna, mas, sobretudo,
da perda de identidade: fazemos muito sem saber para que, andamos muito sem saber para onde,
buscamos muito sem saber direito o que queremos. Lembre-se de que deixamos as bssolas de
lado e adotamos relgios.
Crise de significado (OLIVEIRA, 2005)
Decorrente da crise de identidade, a crise de significado ou de sentido parece nos envolver
cada vez mais. Qual o sentido da vida? Qual o sentido das coisas? Qual o sentido da histria?
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Qual o sentido da prpria cultura humana? A mentalidade17 que privilegia o descartvel (da
roupa ao automvel, das relaes amorosas e sexuais s doutrinas e opes religiosas) no pode,
certamente, oferecer resposta crise de sentido. Uma prtica educativa que leve em conta a
sustentabilidade18 corresponde a um esforo para dar sentido vida pessoal e comunitria. O
educador precisa encontrar formas de, em sua prtica educativa cotidiana, recuperar o valor do
permanente, daquilo que faz parte de nossa essncia, daquilo que fica quando todo o resto muda.
O sentido da vida no est naquilo que escapa mo, mas naquilo que plantamos, com razes
profundas, no terreno da prpria histria pessoal e coletiva. Assim, na sala de aula, podemos dar
preferncia s coisas que, de fato, permanecem: no somente os resultados imediatos da nota,
mas o aprendizado significativo, para citar apenas um exemplo.
Nesse sentido, importante levar em conta que educar para a vida19 muito mais do
que simplesmente ensinar a como passar pela vida. Ns, educadores, por vezes nos dedicamos
simplesmente a formar a mente e as mos sem formar o corao de nossos educandos. Enchemos
suas cabeas de teorias e de respostas, mas pouco ensinamos a fazerem perguntas significativas.
por isso que a vida se esvazia e os valores passam a ser banalidades. Da nasce a violncia,
o desencanto, o desespero que levam muitos jovens a se refugiarem em falsos abrigos, como
as drogas.
CRISE OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO
A cultura ocidental, na maioria das vezes, admite a crise como um elemento negativo. Estou
em crise significa, geralmente, no estou bem. Contudo, sob a perspectiva oriental, a crise
tem uma importncia significativa. Ela se apresenta, de fato, como oportunidade de crescimento.
Crise como crtica
Nos momentos de crise, fazemos a crtica de tudo o que nos afeta e faz parte de nossa vida:
nossas escolhas, decises, referncias e valores. A anlise crtica nos faz perguntar sobre o que de
fato queremos, o que de fato importa para ns. Esse aspecto fundamental para que vivamos de
modo consciente, sem sermos simplesmente levados pela mar ou conduzidos como rebanhos. A
educao tem um papel fundamental nesse campo, quando orienta os educandos para a liberdade
e a responsabilidade.
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a igualdade brilhe em nossos olhos e que a justia reine em nosso pas. Precisamos todos nos
empenhar por construir um mundo melhor, passando de uma tica relativista a uma tica
comunitria e solidria. Desse modo, a crise de valores de nosso tempo pode ser um momento
fecundo de renovao humanitria.
INDICAES DE LEITURA
BOFF, Leonardo. Crise: oportunidade de crescimento. Campinas: Verus, 2002.
CHOMSKY, Noam. A minoria prspera e a multido inquieta. Braslia: UnB, 1997.
ECO, Umberto. Cinco escritos morais. Rio de Janeiro: Record, 1998.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
OLIVEIRA, Paulo Eduardo de. Sala de Aula: espao de vivncia tica. Revista Educao Marista. Curitiba,
Editora Universitria Champagnat, Ano V, n. 10, p. 5-11, jan/jun 2005.
OLIVEIRA, Paulo Eduardo de. Educar para a vida: reflexes para pais e educadores. Petrpolis: Vozes,
2007.
POPPER, Karl. Sociedade aberta e seus inimigos. So Paulo/Belo Horizonte: EDUSP, Itatiaia, 1975.
Indicao de link: Sobre esta reportagem, leia mais neste link: <http://fantastico.globo.com/Jornalismo/
FANT/0,,MUL1679161-15605,00.html>.
Indicao de filme: Sobre este tema, veja-se o vdeo tica e ecologia: desafios para o sculo XXI, do intelectual
brasileiro Leonardo Boff. <http://www.youtube.com/watch?v=-TU9BmDbcZw&feature=relmfu>.
Ideologia Conjunto de ideias, princpios ou valores que determinam a forma como as pessoas compreendem
a realidade. Por exemplo, quando se diz da ideologia consumista, estamos falando do conjunto de ideias
que fazem as pessoas compreenderem o consumo como uma prioridade, algo a ser buscado, um valor a ser
conservado. Nesse sentido, a palavra ideologia tem um aspecto negativo, como algo que deve ser analisado
com olhar crtico.
5 Karl Marx (1818-1883), filsofo alemo, responsvel pelo desenvolvimento de um pensamento crtico
em relao base econmica da sociedade, sobretudo a estrutura capitalista. Prope o socialismo e o
comunismo como formas alternativas de superao das desigualdades sociais produzidas pelo sistema
capitalista. Sua principal obra O Capital.
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Aparelhos ideolgicos Conjunto de instituies scias como a famlia, a escola, a religio e o Estado que
servem para propagar as ideologias, ou seja, o conjunto de ideias e de valores prprios de uma cultura ou
sociedade determinada.
Indicao de link: Para uma compreenso mais aprofundada do tema da ideologia do consumo, pode-se
ler o artigo de Lindomar Teixeira Luiz, sugerido neste link: <http://revistas.unoeste.br/revistas/ojs/index.
php/ch/article/viewFile/204/105>.
Michel Foucault (1926-1984), filsofo francs, destacado professor do Collge de France. Sua obra analisa,
de modo especial, as relaes de poder que se estabelecem na sociedade. Sua inteno identificar o que
ele denominou genealogia do poder, isto , as origens ou as razes do poder que se estabelecem entre as
pessoas no cotidiano da vida social. Entre suas obras, destaca-se Vigiar e Punir.
Karl Popper (1902-1994), filsofo austraco. Sua obra integra a preocupao com o mtodo cientfico e
as questes sociais. Defende a ideia de que nosso conhecimento falvel e provisrio e, por isso, ningum
pode obrigar outra pessoa a aceitar de forma dogmtica as suas ideias. Entre suas obras destaca-se Em
busca de um mundo melhor.
10 Doutrina ou pensamento que afirma constituir o prazer, s ou principalmente, a felicidade da vida. Assim,
para o hedonista, ser feliz significa ter prazer e evitar tudo aquilo que vai contra o prazer e cause desconforto
ou exija esforo.
Indicao de link: Para uma leitura complementar acerca do hedonismo, ver o seguinte link: <http://
www.infoescola.com/filosofia/hedonismo/>.
11 Indicao de link: Para uma compreenso mais ampliada do conceito de sustentabilidade social, ver o
seguinte link: <http://www.atitudessustentaveis.com.br/sustentabilidade/sustentabilidade-social/>.
12 A palavra relativismo deriva de relativo. O relativo o que est em relao com outro, portanto no
absoluto, no nico. Dizer que uma norma moral relativa significa afirmar que ela no tem um valor
absoluto como nica norma moral, pois pode haver outra norma, at mesmo contrria primeira, que
poder ser reconhecida como vlida.
13 Moralista Aquilo ou aquele que se deixa guiar cegamente pela moral, tornando-se fantico cumpridor das
leis. Diz-se da pessoa para quem os princpios morais, por vezes rgidos e carentes de reviso, esto acima
de qualquer outra coisa.
14 Indicao de filme: Para uma compreenso mais ampla acerca deste tema, veja-se o famoso filme O
nome da rosa, inspirado no romance de mesmo nome do escritor italiano Umberto Eco.
Link para o filme: <http://www.youtube.com/watch?v=tNGa0GTYFpQ>.
15 A palavra secularismo deriva de secular, que em latim significa mundo. Na mentalidade medieval, as
coisas do mundo eram separadas das coisas sagradas, as coisas da religio e de Deus. Desse modo,
a expresso secular ou secularismo passou a designar as realidades, ambientes, costumes ou tradies
desvinculadas do aspecto religioso ou eclesial, isto , das igrejas.
16 Newtoniano-cartesiano Concepo filosfica e cientfica apoiada nas ideias de Isaac Newton e de Ren
Descartes, segundo os quais tudo pode ser reduzido a uma compreenso lgica e matemtica. a uma
compreenso lgico-matemtica.
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17 Mentalidade Forma pela qual as pessoas veem as coisas numa determinada poca. Assim, fala-se da
mentalidade medieval ou moderna, referindo-se ao modo com as pessoas da Idade Mdia ou da Idade
Moderna compreendem a vida, o mundo e a sociedade.
18 Indicao de link: Para uma leitura complementar sobre a importncia da educao para a sustentabilidade,
veja-se o link que segue: <http://www.atitudessustentaveis.com.br/conscientizacao/a-importancia-daeducacao-ambiental-sustentabilidade/>.
19 Sobre este tema, ver nosso livro Educar para a vida: reflexes para pais e educadores. Petrpolis: Vozes, 2007.
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esse progressivo apagar de valores e emoes que orienta a vida dos cidados que
Sennett chama de Corroso do Carter. Nessa direo, pretendemos fazer um exerccio terico
e recuperar a memria antropolgica e ontolgica ao enfatizar a livre motricidade e o lazer
como instrumentos da naturalidade humana que sempre estiveram a servio do seu equilbrio
(emocional) e da sua felicidade, e, tambm, posicionar a educao emocional nesse contexto do
ncleo familiar.
SOBRE O LAZER
Renunciamos ao tempo livre. No ao tempo cronolgico (o do lazer), mas ao descanso
interior, libertao total, ao distanciamento mental do mundo de que necessitamos para arranjar
espao para os elementos mais delicados da nossa vida. Deixamo-nos guiar pela velocidade, pelo
movimento (tudo acontece j) e pelos impulsos. J nada duradouro (RIEMEN, 2012, p.27). Esta
afirmao diz bem o onde estamos hoje!
Sobre o lazer encontramos diferentes concepes. Com base na reviso apresentada por
Almeida e Gutierrez (2005), podemos encontrar de acordo com o perodo histrico diferentes
tendncias de lazer. Partimos de uma definio clssica de Dumazedier (2000, p. 34), que
demonstra a dicotomia entre trabalho e lazer, posicionando o lazer como um conjunto de ocupaes
s quais o indivduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se,
recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informao ou formao desinteressada,
sua participao social voluntria ou sua livre capacidade criadora aps livrar-se ou desembaraarse das obrigaes profissionais, familiares e sociais. J as definies contemporneas discutem o
lazer no mundo globalizado, a excluso das classes menos favorecidas e as opes de lazer para
a populao, como veremos a seguir.
No mundo globalizado, segundo os autores, as opes de lazer esto concentradas nas classes
mais altas da sociedade nos parques temticos, estrutura de turismo, academias de ginsticas e
escolas de esportes, espetculos de teatro, cinemas, apresentaes nacionais e internacionais de
msica, bares e restaurantes finos. Como tendncia atual na discusso do tema do lazer, os autores
utilizam a definio da deciso individual do lazer e no mais vinculado diretamente h umtempo
determinado socialmente. Destacam que alm da associaodo lazer educao e controle da
criminalidade, sua aproximao comtemas como qualidade de vida, incentivo atividade fsica e
valorizaoda cultura so eminentes.
Segundo Lombardi (2005, p. 14), o lazer to fundamental quanto o transporte, a
educao, a moradia, a sade, o saneamento bsico e a alimentao so para a vida de todo e
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qualquer ser humano. O lazer tem como funes o descanso, o divertimento e o desenvolvimento
humano pessoal e social... Dessa forma, a vivncia de um lazer de qualidade pode proporcionar
a emancipao de um homem crtico e criativo, capaz de gerar e vivenciar normas e valores
questionadores da atual ordem estabelecida.
Nessa lgica do lazer como instrumento de desenvolvimento humano e como deciso
individual que se pauta a ligao do lazer e da (livre) motricidade, como caminhos para o
desenvolvimento da inteligncia emocional. Pois na busca de seres humanos mais desenvolvidos,
no sentido da naturalidade humana com autonomia de decises, que podemos encontrar uma
forma de desenvolvimento de seres humanos mais emocionalmente inteligentes, que saibam
interagir melhor com seus pares e com o ambiente em que vivem.
SOBRE A LIVRE MOTRICIDADE
Tomamos tambm como referncia a atividade fsica natural, ou naturalista, homem e
natureza, materializada na livre motricidade. Esse conceito parte do pressuposto de que a se
encontram as premissas de um desenvolvimento motor e emocional saudvel e de uma vida motora,
educativa social e emocional de qualidade. O sentido da livre motricidade agrega as atividades
reconhecidas como de aventura, radicais e abertas (ecolgicas). So matrias motoras que, na sua
essncia, esto enquadradas numa abordagem ps-estruturalista prxima da subjetividade das
emoes e da imaginao. (CAMILO CUNHA, 1999b).
Por meio dessas atividades, ocorre a instrumentalizao do corpo pela ao das prticas
de significao, dando suporte a um paradigma a que poderemos chamar de um movimentar-se
cognitivista, desenvolvimentista e qualitativo pelas emoes. Esse movimentar-se possibilita uma
abertura s experincias.
Talvez esteja mais de acordo com um conceito de movimento e de formao e interveno
social, como:
Funo do conhecimento;
Esttico/ Expressivo;
Comunicao/ Relao;
Higiene/ Sade abordagem mdica quer na escola, quer na sociedade;
Compensao;
Agonstica Auto e Htero-Emulao;
Catarse;
Inteligncia Emocional, como almofada desses sentidos eabrangncias de movimento.
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matemtica. Foram bons instrumentos (Filosofia e a Cincia) para subirmos, como so os degraus
da escada e o corrimo, mas talvez no um patamar em que fiquemos nem num terrao para
contemplarmos o verdadeiro cu. (MEDANHA, 2002, p. 83-84).
LAZER E LIVRE MOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO DA SUSTENTABILIDADE NA
PERSPECTIVA DA INTELIGNCIA EMOCIONAL
Analisando a palavra emoo, seus dois derivados do latim e movere, e-moo
significam afastar-se mover-se, em que na ao est implcita uma emoo (GOLEMAN, 1995,
p. 20) ou, como apontam Mrtin e Boeck (2004, p. 79), mover-se para fora, ao movimento e a
mudana. Nesse sentido, podemos entender que no existem emoes sem ocorrer o sentido de
movimento ou livre motricidade. Esse movimento pode ser entendido na traduo literal como
uma ao motora ou, em outra interpretao, a oposio ao conformismo, estagnao, ao parar
no tempo e no espao e na perspectiva da sustentabilidade, o movimento em busca da melhoria
da qualidade de vida (Sustentabilidade Social), o movimento respeitando os diferentes valores
entre os povos e as especificidades locais (Sustentabilidade Cultural), o movimento em direo
integrao social e ao respeito ao prximo (Sustentabilidade Ambiental).
Entre as vrias definies sobre o termo inteligncia emocional, Greenberg e Snell (1999,
p.126) argumentam que as emoes possuem vrias facetas, incluindo pelo menos quatro
consideradas bsicas. A primeira faceta composta por um componente expressivo e motor, referese ao fato de o ser humano expressar as suas emoes por meios motores mediante a linguagem
corporal, nesta faceta que o movimento explicita ou representa os valores sociais globais e
locais; a segunda faceta, um componente sentimental, refere-se ao estado de esprito interno ou a
sentimentos derivados de diferentes situaes vivenciadas, nesta faceta que o movimento exala
sentimentos, entre eles o da unio, do respeito ao prximo; a terceira faceta, um componente
controlador, que indica a capacidade de controlar os sentimentos; nesta faceta que, por meio do
movimento experimentado ou vivenciado contextualmente, o ser humano olha para dentro de si,
percebe-se como ser nico e ao mesmo tempo social, portanto consegue controlar suas emoes
entre outras razes, para a busca da melhor qualidade de vida; a quarta faceta um componente de
processamento de informao, que indica a capacidade de processar as informaes transmitidas
pelos outros ou aquelas que fazem parte dos trs primeiros componentes, nesta faceta o movimento
utilizado como meio de interpretaes e aprendizados, por meio dos gestos, olhares, sorrisos,
esforos. Tambm nesta faceta que as interpretaes so contextualizadas e ao observar e
entender o que o outro quer transmitir com o movimento, com o gesto, com o olhar, se est no
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caminho do respeito ao outro, do respeito cultura e histria do outro. So nestes pontos que
observamos a ligao entre movimento, inteligncia emocional e sustentabilidade.
Na perspectiva do lazer, se for observada a definio clssica de Dumazedier (2000,
p.34) sobre o lazer como um conjunto de ocupaes s quais o indivduo pode entregar-se de
livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para
desenvolver sua informao ou formao desinteressada, sua participao social voluntria ou
sua livre capacidade criadora aps livrar-se ou desembaraar-se das obrigaes profissionais,
familiares e sociais.
Encontramos um cruzamento entre os conceitos de emoo, inteligncia emocional, lazer e
sustentabilidade, ou seja, um comportamento humano, em oposio ao conformismo do mundo
profissional, da falta de tempo e do estresse da sociedade ps-moderna. Um movimento humano
em busca de sua sustentabilidade no sentido de garantir e melhorar para o futuro as condies
que permitem os processos no presente. O comportamento livre, voluntrio com o objetivo de
repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se, assegurar as condies futuras ideais, pode ser mais
facilmente adotado por aqueles que conseguem expressar as suas emoes, entendem seu estado
de esprito interno ou os sentimentos derivados de diferentes situaes vivenciadas, culturais
e sociais, possuem a capacidade de controlar os sentimentos e de processar as informaes
transmitidas pelos outros.
Se considerarmos o desenvolvimento do ser humano como preconiza Gardner (1994) para
o desenvolvimento e o relacionamento das inteligncias mltiplas, entendendo que o ser humano
desenvolve-se pela interao e interligao entre todas as suas inteligncias, o resultado final, ou
melhor colocado, o resultado momentneo do indivduo em um determinado tempo de sua vida, o
resultado das interaes e interligaes entre os diferentes tipos de inteligncias ou comportamentos
que envolvem este ser humano, ou seja, entre a interao e interligao de tudo aquilo que faz parte
do humano, entre eles, o movimento, o esporte, a cultura, o meio social, o meio ambiente, o lazer
e a inteligncia emocional. Em relao ao esporte, Kerkoski (2001 e 2009) encontrou indicaes
de que o contexto do esporte, que envolve o movimento humano, at certo ponto espontneo, livre
ecriativo, um campo frtil para o desenvolvimento de aptides da inteligncia emocional, ou seja,
parece haver uma ligao entre o movimento e o desenvolvimento da inteligncia emocional e por
que no em um sentido especulativo o desenvolvimento da sustentabilidade.
Especificamente observando o desenvolvimento da inteligncia emocional, entendendo
que esta afeta e afetada pelas aes de lazer, como preconizado por Gardner (1995) para
as inteligncias mltiplas, a infncia e a adolescncia so as fases de aprendizado emocional
que vo determinar os hbitos, as emoes bsicas ou as competncias ao longo de toda a vida
subsequente. (GOLEMAN, 1995, p.13).
439
A importncia dos primeiros anos de vida tambm observada ao longo da obra de Shapiro
(2002), referente inteligncia emocional das crianas. O autor, ao descrever os aspectos
que envolvem a educao emocional nas crianas, enfatiza as caractersticas ou competncias
do quociente emocional, que so desenvolvidas desde o nascimento e, dependendo dessas
caractersticas, parecem possuir uma idade tima de desenvolvimento, que pode variar desde o
nascimento at a idade de 6 a 7 anos e de 11 a 13 anos.
Dessa forma, as competncias emocionais, ou facetas como observado anteriormente, so
desenvolvidas essencialmente nas primeiras idades e parece que muitas dessas caractersticas
acompanham a pessoa no decorrer de sua idade adulta, ou em outras palavras, aprender a ser
emocionalmente inteligente uma forma de preparar-se para o futuro ou sustentar o aprendizado
das primeiras idades na fase adulta.
Nas estratgias de ensino, a figura dos pais serve de exemplo, numprimeiro momento,
dividindo este papel mais tarde com os professorese adultos do ambiente escolar que, segundo
Brenner e Salovey (1999,p.226) so aqueles que socializam as emoes ao expor as crianass
suas interaes com outros alunos e professores, ao ensinar e instruire ao controlar as oportunidades
oferecidas pelo ambiente. Por isso agrande importncia, como referido anteriormente, da noo
de umnovo conceito de escola. Entenda-se, tambm, aqui, que entre as vrias oportunidades
oferecidas pelo ambiente esto as atividades e os meios oportunizados para o lazer. O ensino
do lazer, sob a perspectiva dainteligncia emocional, inicia-se com o ensino das competncias
emocionais por meio das oportunidades ofertadas e dos exemplos dados pelos pais, e continua
o seu desenvolvimento e aperfeioamento pelas oportunidades ofertadas e exemplos dados
pelos professores, dentrode uma viso de escola/sociedade ps-moderna, repetindo o que foi
abordado anteriormente, em que h lugar para movimentar-se, lugar de experincias, reflexo,
autoconhecimento, autoeducao, desenvolvimento pessoal, vivncias e aprendizagem. A escola/
sociedade como lugar de vida, de cultura e de sociedade, de lazer e movimento, orientada para
eresoluo de problemas, necessidades, expectativas, objetividade, subjetividade sustentabilidade,
disciplinada e ancorada nas emoes.
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441
Cleverson V. Andreoli
Fabiana de Nadai Andreoli
Cristiane Piccinini
Andra da Luz Sanches
INTRODUO
Os cientistas reconhecem atualmente que a Terra um sistema autorregulador1 composto
de todas as suas formas de vivas, incluindo os seres humanos e todas as partes materiais que a
constituem, o ar, os oceanos e as rochas da superfcie. O sistema da Terra regula o seu clima
e a sua qumica. Uma vez que a Terra se assemelha a um organismo vivo e reage a tudo o que
fazemos, adicionar gases de estufa atmosfera tem consequncias muito diferentes do que se o
mesmo acrscimo fosse feito num planeta morto, como Marte.
Em todas as escalas espaciais, a diversidade a principal caracterstica do nosso planeta.
Olhando do espao possvel perceber a extraordinria diversidade de paisagens dentro de
cada continente e cada oceano. Observe o mapa do nosso continente. Veja o quo diversificado
ele . Temos um pouco de tudo! De desertos at florestas exuberantes, de regies com clima
tropical at regies cobertas permanentemente por neve, de reas localizadas no nvel do mar
at reas com grandes altitudes. Cada uma dessas paisagens habitada por uma extraordinria
diversidade de espcies.
443
444
potencial etc. A natureza mantm o equilbrio mediante a reserva de energia por parte de alguns
organismos, que possuem a capacidade de reter em si parte da energia de alta entropia3 que
sugam da natureza. Isso quer dizer que tais organismos agem de modo a colaborar para o equilbrio
ecolgico. Porm, quando a capacidade desses organismos superada, a desorganizao do meio
ambiente vem tona pela entropia negativa (desequilbrio). Quando isso acontece, alguns alertas
so possveis de serem observados, como a extino de determinadas espcies ou o desequilbrio
entre pocas de chuvas e secas (MORALEZ et al., 2008).
O meio ambiente pode se harmonizar em um sistema aberto por meio da homeostase, ou
seja, pela autorregulao. Conforme exemplo descrito por Moralez (2008), a visita excessiva de
turistas em uma ilha pode causar a degradao do sistema presente, no caso, a beleza intocada da
natureza. O controle quanto ao nmero de visitantes, como ocorre na Ilha do Mel, em Pontal do
Paran-PR, mantendo o baixo fluxo de pessoas, contribui para a homeostase local.
Mesmo sabendo da importncia de se estudar a diversidade da vida em todos seus nveis,
a diversidade de espcies certamente o item mais conhecido e estudado.
O conceito de espcie biolgica vem sofrendo influncia pela ampliao do conhecimento
gentico atual, assim como pela evoluo dos organismos. Atualmente acredita-se que a capacidade
de intercruzamento ou da troca de combinao gentica entre indivduos, em condies normais,
a principal caracterstica de separao entre espcies.
Esse conceito reconhece que indivduos ou populaes podem variar quanto a aparncia e
at mesmo ser de raas distintas (como por exemplo, as raas de ces) e ainda corresponderem
a mesma espcie, desde que possam se reproduzir livremente dando origem a filhotes frteis.
Contudo, essa determinao de espcie no se aplica para os micro-organismos e algumas
plantas, pois podem apresentar sistemas reprodutivos especiais ou diferentes entre os indivduos,
ou seja, o conceito de espcie biolgica baseado na capacidade de intercruzamento no funciona
para esses organismos. Sendo assim, atualmente, o conceito de espcie se baseia principalmente
em diferenas genticas ou de aparncia, desde que consideradas suficientemente significativas,
do que na sua separao reprodutiva.
Para se caracterizar a diversidade de espcies de um determinado local, a maneira
mais simples contar ou listar as espcies existentes. Esta contagem chamada de riqueza de
espcies. Porm, para algumas plantas e micro-organismos o que contamos so formas distintas
e no exatamente espcies biolgicas. Portanto, a diversidade de espcies apresenta significados
diferentes para animais, plantas e micro-organismos.
445
Biodiversidade atual
A Conservation International (CI) denomina Pas de Megadiversidade os pases mais
ricos em biodiversidade do mundo. Os critrios avaliados so o nmero de espcies de plantas
endmicas4 e o nmero total de espcies de mamferos, aves, rpteis e anfbios.
Campeo absoluto de biodiversidade terrestre, o Brasil rene quase 12% de toda a vida
natural do planeta. Concentra 55 mil espcies de plantas superiores (22% do total mundial), muitas
delas endmicas; 524 espcies de mamferos; mais de 3 mil espcies de peixes de gua doce;
entre 10 e 15 milhes de insetos (a grande maioria ainda por ser descrita); e mais de 70 espcies
de psitacdeos: araras, papagaios e periquitos (COSTA, 2010; LEWINSOHN e PRADO, 2005).
Isto ocorre devido ao fato de o pas apresentar regies com diferentes zonas climticas, variando
entre trpico mido, semirido e reas temperadas, gerando diversas zonas biogeogrficas, tais
como a Floresta Amaznica, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Campos Sulinos e a Mata Atlntica.
O conhecimento do homem sobre as espcies que coexistem na Terra ainda muito incipiente.
As estimativas cientficas sobre o nmero de espcies variam de 2 a 100 milhes, contudo, a maioria
dos estudos aceita o nmero de 10 milhes como o mais prximo da realidade. Destas, menos de 1,8
milho foram devidamente classificadas e descritas cientificamente, conforme apresenta o quadro
abaixo. A figura a seguir demonstra algumas estimativas numricas acerca de espcies catalogadas
em diferentes bancos de dados e projees numricas de espcies a serem descritas.
Estimativas numricas sobre a biodiversidade da Terra
446
BRASIL
MUNDO
VRUS
310 - 410
3.600
800 - 900
4.300
FUNGOS
13.090 14.510
70.600 72.000
PROTISTAS
7.650 10.320
76.100 81.300
Protozorios
3600 4.140
36.000
Algas
4.180 5.770
37.700 42.900
43.020 - 49.520
263.800 279.400
Musgos (Brifitas)
1.800 3.100
14.000 16.600
Samambaias (Pteridfitas)
1.200 1.400
9.000 12.000
15
806
40.000 45.000
240.000 250.000
ANIMAIS
103.780 136.990
1.279.300 1.359.400
Invertebrados
96.660 129.840
1.218.500 1.298.600
PLANTAS
Esponjas (Porferos)
300 - 400
6.000 7.000
470
7.000 11.000
1.040 2.300
12.200
1.280 2.880
15.000 25.000
1.000 1.100
12.000 15.000
Moluscos
2.400 3.000
70.000 100.000
329
6.000 7.000
Artrpodes
88.790 118.290
1.077.200 1.097.400
Insetos
80.750 109.250
950.000
400 - 500
11.000 15.100
5.600 6.500
80.000 93.000
2.040
36.200 39.300
7.120 7.150
60.800
155
960
3.261
27.400
Anfbios
687
5.504
Rpteis
633
8.163
1.696
9.900
541
5.023
168.640 212.650
1.697.600 1.798.500
Aves
Mamferos
TOTAL
Fonte: Lewinsohn e Prado (2005).
447
448
Extines de espcies
Durante toda a histria da vida na Terra, os organismos foram expostos a variaes climticas;
variaes estas responsveis em grande parte pelos padres atuais de diversidade, distribuio
e abundncia das espcies (NAVAS e CRUZ-NETO, 2008). Acredita-se que se as condies
climticas mudam, podem ocorrer diferentes tipos de ajustes nova condio, ocasionando at
mesmo extino local ou total das espcies.
Anteriormente, comentamos que grandes extines em massa foram possivelmente
causadas por mudanas climticas que aconteceram no passado, tratando-se de um processo
natural. Destaca-se que o processo natural no significa desejvel, pois naturais so as erupes
vulcnicas, os impactos de esteroides sobre a Terra, entre outros. E, ainda, fenmenos biolgicos
decorrentes da ao antrpica (causados pelo homem) no so considerados naturais.
O grande e recente crescimento demogrfico das cidades reduziu expressivamente a
cobertura vegetal do pas, formando, geralmente, pequenos e isolados fragmentos florestal.
Para vrias espcies, muitos desses fragmentos podem no disponibilizar a rea e/ou
condies mnimas necessrias para sua reproduo (SANTOS et al., 2001; CUTLER 1991;
GILPIN e SOUL, 1986), ou a fragmentao avanada a ponto de no permitir a disperso
de espcies entre os fragmentos, o que leva a desaparecimentos locais (LIMA e ROPER, 2004;
SEKERCIOGLU, 2002). Porm, essas reas podem disponibilizar abrigo e alimento a muitas
espcies nativas e esses efeitos podem at ser favorveis a algumas populaes de carter
generalista, por oferecer, por exemplo, novas fontes de alimento ou outros recursos importantes
para reproduo (BOTKIN, 1990).
A Floresta Atlntica considerada o tipo de formao mais ameaada do Brasil e uma das
principais do mundo, alm de possuir o maior ndice de endemismos do pas, possui tambm a
maior taxa de espcies nas categorias de ameaadas de extino (IBAMA, 2005).
Segundo IBAMA (2012), uma espcie ameaada de extino aquela cuja populao
est decrescendo a ponto de coloc-la em alto risco de desaparecimento na natureza em futuro
prximo. No Brasil, existem 776 espcies de animais includos em alguma categoria de ameaa ou
extino adotada pelo meio cientfico, dos quais 514 so vertebrados (o que corresponde a mais
de 8% das espcies deste grupo descritas para o pas).
Apesar de ainda no sabermos com preciso quantos organismos habitam a biosfera,8
nossa capacidade em promover a eroso gentica tem sido notvel. A taxa de extino de espcies
nos ltimos 50 anos considerada equivalente quela que ocorreu em 1950 anos anteriores,
configurando o chamado sexto evento de extino em massa. O tamanho da biodiversidade global
449
estimado hoje entre 30 e 50 milhes de espcie, das quais mais da metade so insetos. O
Brasil considerado o pas de maior biodiversidade por concentrar em seu territrio entre 20%
e 25% de todos os organismos vivos do planeta em seus ricos e diversos biomas9 e ecossistemas
associados (SEGHESE, 2006).
Como citado, o Brasil responsvel por cerca de 20% da biodiversidade de todo o globo
terrestre, apresentando espcies da fauna e da flora riqussimas, porm, a sociedade, de maneira
geral, no conhece a importncia atual e futura do pas para a sobrevivncia e para a qualidade
de vida da prpria humanidade.
As florestas brasileiras, por exemplo, representam uma importante fonte de riquezas,
tanto de forma direta, de matria-prima para diversos setores estratgicos, como tambm pelas
suas influncias ambientais positivas na manuteno da biodiversidade, no equilbrio de gases
atmosfricos, no ciclo hidrolgico e no controle da eroso.
Durante os ltimos 18 anos, a riqueza medida pelo PIB per capita aumentou 34%. No mesmo
perodo, o capital natural (a soma de todos os recursos naturais, de florestas a combustveis fsseis)
caiu 46%, como revela o Indicador Inclusivo de Riqueza (IIR), um ndice criado experimentalmente
para rebater ao PIB e avaliar o progresso de uma nao. O que queremos mostrar que o Brasil
retirou mais recursos da natureza do que cresceu economicamente. Caso o capital natural, o
humano e os produtos manufaturados fossem avaliados em conjunto, o crescimento no pas seria
de apenas 3%.
A Mata Atlntica um bom exemplo de como os recursos naturais vm diminuindo com
o passar dos anos. Esta formao vegetal cobria 1.300.000 km, ou cerca de 15% do territrio
nacional, inclusive o Paraguai e a Argentina, atualmente encontra-se cerca de 7,9% da rea
original (92,1% do que havia j foi devastado), ou seja, cerca de 1% do territrio brasileiro.
Segundo o Ministrio do Meio Ambiente, nos anos de 2008 e 2009, o desmatamento na Mata
Atlntica reduziu. O bioma mais ameaado do pas perdeu nesse perodo 248 km2 da cobertura
vegetal. Esse nmero inferior mdia anual do perodo de 2002 a 2008, que era de 457 km2.
No que se trata da fauna brasileira, o trfico de animais silvestres10 uma das maiores
atividades predatrias. Das florestas brasileiras so retirados em mdia 12 milhes de animais a
cada ano. Dentro dessa estatstica, para cada animal vendido nove morrem. O trfico de animais
s perde para o trfico de drogas e de armas na escala dos mais rentveis. Este trfico tem
sobrevivido da misria humana, explorando pessoas simples que fazem da venda de animais um
meio trgico de se obter dinheiro, causando assim enormes e irreparveis danos na natureza.
450
451
452
Florestas, 2011), possuindo grande relevncia no que concerne a funes voltadas ao equilbrio
ecossistmico e preservao e conservao dos recursos naturais (TAMANINI, 2012).
Considera-se rea de preservao permanente (APP) as faixas marginais de qualquer curso
dgua natural, desde a borda da calha do leito regular. A delimitao das reas de preservao
permanentes em relao largura do rio, segundo a Lei n 12.651/2012 (Novo Cdigo Florestal)
, apresentada na tabela a seguir:
Tabela 1 rea de preservao permanente em relao largura do rio
LARGURA MXIMA DO RIO (metro)
APP (metro)
30 (trinta)
De 10 (dez) a 50 (cinquenta)
50 (cinquenta)
100 (cem)
200 (duzentos)
500 (quinhentos)
453
454
455
PRINCIPAIS USOS
Lei n. 9.985/2000
CATEGORIA DE MANEJO
Desenvolvimento de pesquisa
cientfica e de educao ambiental
Produo florestal
Reservas extrativistas
Reserva de desenvolvimento
sustentvel; refgio de vida
silvestre; monumento natural
456
Ao todo so 1.606 UCs (884 federais, 631 estaduais e 91 municipais), totalizando uma
rea de 1.514.342 Km2. No Paran, as UC somam mais de 75 unidades para proteo dos
recursos naturais nos trs nveis (Federal, Estadual e Municipal), divididas entre APA, Estao
Ecolgica, Floresta Estadual e Nacional, Monumento Natural, Parque Estadual e Nacional,
Reserva Biolgica e RPPN.
Corredores de biodiversidade
A fragmentao de habitats representa a maior ameaa para a biodiversidade do planeta
(TABARELLI e GASCON, 2005). Como principais consequncias, acarreta no isolamento
das formaes e populaes remanescentes, alteraes nos fluxos gnicos, intensificao das
competies, alteraes da estrutura e qualidade de habitats, extines de espcies e perda de
biodiversidade (CAMPOS e AGOSTINHO, 1997; METZGER, 1998; BIERREGAARD et al.,
1992; PRIMACK e RODRIGUES, 2001).
No Estado do Paran, o processo de ocupao territorial desordenado resultou em
significativas perdas de biodiversidade. Estima-se que a partir de um nmero aproximado de
7.000 espcies vegetais ocorrentes no estado, cerca de 70% (5.000) tm hoje seus ambientes
alterados a ponto de colocar em risco os processos de interao dos ecossistemas. A Lista
Vermelha de Plantas Ameaadas de Extino no Estado do Paran relaciona 593 dessas espcies
consideradas em situao crtica (PARAN, 1995). O estudo realizado para o Livro Vermelho da
Fauna Ameaada no Estado do Paran (MIKICH e BRNILS, 2004), diagnosticou 344 espcies
da fauna paranaense, relacionando 163 espcies consideradas ameaadas de extino.
O planejamento do uso do solo, considerando a distribuio espacial dos remanescentes
florestais, tornou-se uma importante ferramenta para propostas que visam minimizao dos
impactos causados pela fragmentao de habitat. Considerando os limitados recursos humanos e
financeiros disponveis para aplicao na rea ambiental, h necessidade de esforos para otimizar
as aes de proteo biodiversidade. Portanto, o planejamento do uso do solo deve primar pela
adequao tcnica, que assegure a conservao das reas de maior fragilidade, a estabilidade e a
manuteno das funcionalidades de cada ambiente.
Quando o conceito de Corredores Ecolgicos surgiu na dcada de 1990, defendia a
minimizao do impacto provocado pela fragmentao desses locais. Nos fragmentos florestais
isolados, observa-se um empobrecimento contnuo de populaes e espcies, que atinge todo
o funcionamento do sistema. O estabelecimento de corredores uma estratgia baseada na
457
458
visam oferecer um direcionamento da fauna para os cursos hdricos, conforme proposta da funo
dos corredores.
Os corredores so implantados em regies que possuem grande importncia ecolgica.
Basicamente, para a construo dos corredores so utilizados instrumentos como as reas de
Preservao Permanente, especialmente ao longo dos rios, Reserva Legal, alm da implantao
de pequenos fragmentos de vegetao que permitem o trnsito de espcies, conhecidos como ilhas
de vegetao. Existe uma interao muito grande entre a vegetao e a fauna, sendo que a maioria
das espcies arbreas tropicais polinizada por insetos e aves e suas sementes disseminadas por
uma diversidade grande de animais. Assim, a fragmentao de uma rea de vegetao natural cria
barreiras para a disperso dos organismos entre os fragmentos, j que o movimento de algumas
espcies depende da habilidade de disperso e do comportamento migratrio delas.
CONSIDERAES FINAIS
De maneira geral, o conceito de biodiversidade compreende no apenas as espcies de
animais e plantas, mas tambm todas as diferentes populaes e variaes genticas existentes
dentro de cada espcie.
A biodiversidade ameaada principalmente pelas modificaes ambientais, como, por
exemplo, a fragmentao e(ou) o desmatamento de florestas que acabam eliminando ambientes
propcios para desenvolvimento de espcies. As mudanas climticas em escala global e regional
esto ocorrendo, atualmente, extremamente rpida, e este conjunto de mudanas vem limitando
as possibilidades de respostas da natureza, acelerando a taxa de extino das linhagens biolgicas.
Nunca se viveu um perodo em que a quantidade de espcies ameaadas de extino foi
to grande como a que estamos vivenciando num curto perodo de tempo. Uma vez extinta, essa
espcie no ser mais encontrada na natureza e, consequentemente, poder vir afetar diretamente
a cadeia alimentar. Pode-se dizer que a maior parte da ameaa de extino das espcies
substancialmente decorrente da atividade humana.
Para reverter a situao, necessria uma mudana fundamental no modo em que sociedades
funcionam e como os indivduos vivem. Esta mudana precisa envolver o sistema econmico,
sistema de valor de indivduos e de sociedade, convices religiosas, direitos humanos e as rotinas
dirias de indivduos. Ser difcil parar o avano da extino e reverter o declnio das populaes
de espcies ameaadas. Nas prximas dcadas os processos atuais continuaro intensificando e
uma grande parte da diversidade biolgica da Terra ser perdida.
459
460
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e os elementos no viventes de um setor ambiental definido no tempo e no espao, cujas propriedades
globais de funcionamento (fluxo de energia e ciclagem de matria e autorregulao controle) derivam das
relaes entre todos os seus componentes, tanto os pertencentes aos sistemas naturais quanto os criados ou
modificados pelo homem.
Entropia Grandeza termodinmica associada ao grau de desordem. Mede a parte da energia que no
pode ser transformada em trabalho. A entropia tem como princpio a organizao, ou a disponibilidade da
energia em realizar trabalho.
462
Endmicas Uma espcie cuja distribuio esteja limitada a uma zona geogrfica definida.
Degradao Termo usado para qualificar os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos
quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade ou a capacidade
produtiva dos recursos naturais.
Relaes trficas So as relaes existentes entre os nveis trficos. Podem ser de diversos tipos, mas, em
geral, so subdivididos em dois grandes grupos: as Harmnicas e as Desarmnicas. No caso, relacionandose s cadeias alimentares, h predominncia de relaes desarmnicas, em virtude da predao existente
entre os nveis.
Processo evolutivo uma contnua transformao das espcies por meio de alteraes produzidas de
uma gerao para outra.
Biosfera Tudo o que vive no ar, no solo, no subsolo e no mar forma a biosfera.
Biomas Palavra derivada do grego bio-vida, e oma-sufixo que pressupe generalizao (grupo, conjunto),
deve ser entendido como a unidade bitica de maior extenso geogrfica, compreendendo vrias comunidades
em diferentes estgios de evoluo, porm denominada de acordo com o tipo de vegetao dominante.
10 Espcies silvestres Todo aquele pertencente s espcies nativas, migratrias e quaisquer outras, aquticas
ou terrestres, que tenha a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do territrio
brasileiro e em suas guas jurisdicionais.
463
MUDANAS CLIMTICAS
UMA ABORDAGEM CONCEITUAL SOBRE
ESTE PROBLEMA AMBIENTAL GLOBAL
Cleverson V. Andreoli
Fabiana de Nadai Andreoli
Pedro Kiatkoski Kim
Kau de Andrade Monteiro
INTRODUO
O ser humano, como forma de vida integrante da biosfera, depende do meio ambiente
para sua sobrevivncia, consequentemente, explora os recursos naturais disponveis e modifica o
espao de acordo com suas demandas e convenincias.
Nos primrdios de sua existncia, com a prtica do nomadismo, o ser humano buscou
reas providas dos recursos naturais necessrios sua perpetuao, que, quando esgotados,
demandavam a busca de novas reas, fato que, apesar da explorao realizada, permitia a
recuperao do ambiente objeto do uso.
Ao longo do tempo a humanidade aprendeu a controlar e explorar os ambientes naturais
de modo que no mais se fez necessria a busca de novas reas de explorao, iniciando o
desenvolvimento de prticas agrcolas e a domesticao e criao de animais. Tais fatores
permitiram o assentamento e desenvolvimento de comunidades, os quais foram condicionados
principalmente disponibilidade dos recursos naturais e de condies climticas favorveis,
culminando na criao de cidades geralmente localizadas s margens de rios, lagos, esturios,
entre outros.
465
466
Por esse motivo, trata-se de uma soluo complexa, que exige uma avaliao integrada de
todos os fatores ambientais, sociais e econmicos inerentes. Contudo, para podermos discutir sobre
tais problemas, necessrio que seja feita uma breve abordagem conceitual sobre os principais
assuntos relacionados ao tema.
DIFERENA ENTRE CLIMA E TEMPO
Popularmente os termos clima e tempo1 so empregados para se referir mesma
coisa, no entanto, trata-se de duas coisas distintas. O tempo, nesse caso, refere-se ao estado
momentneo das condies meteorolgicas de uma determinada regio, como, por exemplo,
quando dizemos num dia de chuva que o tempo est chuvoso. J o clima refere-se a uma
caracterstica de condio meteorolgica de uma determinada regio, ou seja, a variao do
tempo em uma regio durante um longo perodo cronolgico que determina o clima desse
local. Portanto, o termo clima trata dos padres de comportamento da atmosfera em suas
interaes com as atividades humanas e com a superfcie do Planeta durante um longo perodo de
tempo, ao passo que o termo tempo trata do estado momentneo das condies meteorolgicas.
Com o dinamismo da atmosfera e a complexidade dos seus fenmenos se faz necessria uma
anlise conjunta dos elementos do clima, a fim de possibilitar a definio de tipologias climticas.
Ao longo dos anos, diversos climatologistas desenvolveram mtodos prprios de classificao do
clima adaptados a suas regies de interesse, embasados em concepes clssicas do clima, como,
por exemplo, aquelas descritas por Kppen,
Wilhelm Kppen desenvolveu diversos modelos de classificao do clima que at hoje
servem como base para elaborao de outros esquemas. O modelo desenvolvido por este
cientista categoriza 05 (cinco) grandes grupos climticos principais que correspondem s regies
fundamentais, do Equador aos Plos (1- Tropicais chuvosos, 2- Secos, 3- Temperados Chuvosos/
Moderadamente Quentes, 4- Frios com Neve-Floresta e 5- Polares). As regies supracitadas
so divididas em subgrupos, que so determinados de acordo com a distribuio sazonal da
precipitao juntamente com as caractersticas de temperatura, totalizando 24 tipos climticos.2
(AMBIENTE BRASIL, 2012)
Assim como a vida influencia a atmosfera, as condies meteorolgicas tambm influenciam
diretamente a vida humana do nosso planeta, modificando cultural e fisicamente as atividades
desenvolvidas pelos seres vivos, principalmente pelo fato de a atmosfera (local onde ocorrem as
mudanas de tempo e clima) ser muito dinmica, faz-se necessrio o aprendizado da estrutura
atmosfrica, que onde se do essas alteraes de tempo e clima.
467
O QUE ATMOSFERA
Atmosfera (palavra de origem grega, atmos=gs e sfera=esfera) o nome dado massa
gasosa que envolve o nosso planeta. Ela que permite a vida na terra, resfriando e esquentando,
chovendo e secando. Como forma de representao da rea ocupada pela atmosfera em relao
ao Planeta Terra, no globo azul em uma sala de aula, a poro que representaria a atmosfera a
camada de tinta azul que envolve esse globo.
Mas do que feita a atmosfera? A atmosfera pode at parecer invisvel, mas composta
de molculas gasosas de vrios elementos, basicamente nitrognio (78%) e oxignio (21%),
alm de outros gases de menor expresso, conforme ser descrito adiante.
E por que a atmosfera no vai embora pelo espao? Por ser composta por vrias
molculas e partculas de diferentes elementos, tambm influenciada pela lei da gravidade e
pelo campo magntico que envolve o Planeta Terra, fatores que permitem que ela no se v pelo
espao a fora.
Alm de servir como regulador da Terra, mantendo durante a noite o calor emitido pelo
sol e incidido durante o dia, a atmosfera age ainda como um filtro natural do planeta, impedindo
a entrada da maioria dos raios solares nocivos vida, assim como protege o planeta contra
fragmentos espaciais, sendo estes desintegrados no momento de sua entrada na atmosfera3.
ORIGEM E EVOLUO DA ATMOSFERA
Mas a atmosfera nem sempre foi assim. H aproximadamente 4,6 bilhes de anos, a exploso
de uma supernova ocasionou uma precipitao radioativa numa nuvem de gs vizinha, fazendo
com que parte desta nuvem comeasse a se condensar sob o seu prprio peso, formando o Sol e os
planetas. Aps a formao da Terra ocorreu uma coliso desta com outro planeta, fundindo-a em
parte e ao mesmo tempo separando dela uma massa de rocha derretida, que, aps condensao
e aprisionamento no campo gravitacional da Terra, deu origem Lua. Essa fuso permitiu a
segregao das rochas, quando as mais pesadas foram direcionadas ao centro do Planeta e as mais
leves flutuavam, posteriormente esfriando, formando a crosta.
O longo perodo compreendido entre o incio da Terra at pouco tempo antes de a vida
comear foi caracterizado por colises constantes de corpos espaciais com a Terra, intensas
atividades de vulcanismos e alta radioatividade. Esse perodo durou cerca de 1 bilho de anos e
ao longo deste a Terra esfriou e desenvolveu gases que formaram a primeira atmosfera duradoura.
Com as erupes iniciais houve a fuga de gases volteis para a camada exterior da crosta terrestre.
468
Esses gases liberados, juntamente com os gases que predominavam na nebulosa primitiva que
deu origem ao sistema solar (Hidrognio e Hlio), formaram a Atmosfera Primitiva. poca,
tratava-se de uma atmosfera redutora, ou seja, um sistema que contm compostos com capacidade
de reduzir outras substncias no meio, mais precisamente, processo em que ocorre uma reduo
no nmero de oxidao de um tomo ou no nmero de cargas positivas de um on. Dessa forma, a
condio da Terra era inspita. Infere-se que os gases liberados para o exterior da crosta terrestre
tinham a seguinte proporo:
medida que a Terra resfriava e os gases eram liberados, a atmosfera primitiva comeou
a ficar saturada de vapor de gua, posteriormente precipitando dos cus iniciando a formao
dos oceanos.
Nessa poca no existia oxignio na composio da atmosfera. H indcios que apontam que
poca os raios ultravioletas solares atingiam a superfcie terrestre atuando sobre as molculas
existentes na atmosfera. Acredita-se que a radiao atuou como agente de ruptura das molculas de
gua na formao do hidrognio e oxignio. O hidrognio era liberado para o espao e o oxignio
foi inicialmente se fixando ao Ferro, formando os dixidos e, posteriormente, sendo liberado para
a atmosfera. O aparecimento de organismos fotossintticos (processo fundamental na regulao
dos teores de Dixido de Carbono) foi fundamental para a formao do oxignio atmosfrico,
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470
CAMADAS ATMOSFRICAS
A atmosfera constituda de camadas estruturadas em forma de conchas concntricas e
cada uma delas possui sua funo. A primeira camada a partir da crosta terrestre chamada de
Troposfera, sendo a camada mais fina da atmosfera e tambm a que concentra a maior parte
dos gases (aproximadamente 75% do total). Possui altitude perto de 7 km nos polos e cerca
de 17 km no equador por conta do movimento de rotao da Terra. medida que subimos,
entramos na Estratosfera (camada logo acima da Troposfera) e a fronteira entre as duas camadas
chama-se Tropopausa. Essa fronteira melhor entendida quando analisamos as mudanas de
temperaturas na medida em que subimos na atmosfera. O ar quente tende a subir e se expandir, e
ao passo que se expande, resfria. Ao atingir prximo de -50 C estaramos entrando na tropopausa.
A Troposfera, alm de ser a poro com maior concentrao dos gases, possui um percentual
de 99,99% da quantidade de vapor de gua de toda a atmosfera. Pode ser analisada em vrias
subdivises, a exemplo da Camada Limite da Atmosfera (CLA), que corresponde ao extrato
mais baixo da troposfera (at 1 km de altitude) e que sofre diretamente influncia da superfcie
terrestre, sendo caracterizada pela turbulncia trmica com inverses durante os perodos do dia
e noite.
A Estratosfera, camada superposta Troposfera, atinge cerca de 50 km de altitude.
Nessa camada, ao contrrio da Troposfera, onde a temperatura cai 7C por km medida que
subimos, a temperatura aumenta quanto mais subimos. A Estratosfera uma camada muito
estvel, bem diferente da Troposfera, que produz os fenmenos climticos como as chuvas,
ventos, furaces etc. Por esses motivos a Estratosfera utilizada pelos avies para fugir de
instabilidades da Troposfera.
A explicao para a estabilidade da Estratosfera est na diferena de temperatura ao
longo dela, onde as pores mais baixas so mais frias (-50C) e as pores mais altas so mais
quentes (2C), impossibilitando a troca de calor por conveco (algo que acontece na Troposfera),
consequentemente no havendo movimentao das molculas, tornando-a mais calma.
A Camada de Oznio (camada que protege a superfcie terrestre dos raios ultravioletas
provindos do sol) se encontra na Estratosfera. Essa camada possui uma espessura de 22 km
de alta concentrao desse gs. O Oznio (O3), embora seja um gs diferente quimicamente do
Oxignio (O2), estruturalmente so muito parecidos. A explicao sobre o aumento da temperatura
quando da elevao da altitude na Estratosfera que os raios ultravioletas so parcialmente
absorvidos pela camada de Oznio, desorganizando os tomos e quebrando o O3, gerando energia
e consequentemente aumentando a temperatura nesta poro da atmosfera. (MMA, 2012a)
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472
importncia dessa fina camada que nos protege das ameaas exteriores, como os meteoros vindos
do espao e de raios ultravioletas emitidos pelo sol. (LOVELOCK, 2006)
DENSIDADE E PRESSO ATMOSFRICA
Como j vimos anteriormente, a atmosfera composta por vrios gases que sofrem a ao da
gravidade e, portanto, tem peso, caso contrrio escapariam da Terra e se dispersariam no espao.
Assim, esses gases exercem presso sobre a superfcie terrestre, denominada presso atmosfrica,
tendo como unidade de medida o hectopascal, atmosfera padro (atm) e milibar (bar).
A atmosfera tem seu volume e densidade variveis, modificando-se medida que se afasta
da superfcie terrestre, consequentemente, a presso atmosfrica varia de acordo com a altitude.
Por exemplo, em grandes altitudes o ar rarefeito (menor quantidade de partculas de ar por
unidade de volume), consequentemente a presso atmosfrica ser menor se comparada a regies
ao nvel do mar, onde o ar mais denso (maior quantidade de molculas de ar por unidade de
volume) e a presso atmosfrica maior. Esse fenmeno pode ser notado quando descemos uma
serra em direo praia e sentimos um incmodo no ouvido, ou seja, a presso atmosfrica est
aumentando gradativamente medida que a altitude diminui.
O decrscimo da densidade com a altura se d de forma bastante rpida. Em uma altitude
de 5,6 km a densidade j a metade se comparada com a densidade ao nvel do mar. Em 16 km
j passa a ser 10% da densidade ao nvel do mar e em 32 km corresponde a apenas 1% do valor.
Ou seja, um decrscimo exponencial da densidade em relao altitude, quanto mais prximo
da superfcie mais denso ser o ar, tornando-se rarefeito com o aumento da altitude.
A fora da gravidade comprime a atmosfera, sendo o local de maior presso atmosfrica
aquele prximo superfcie da Terra. Ao nvel do mar a presso atmosfrica padro 1013
hPa. Para determinar a presso atmosfrica ao nvel do mar o fsico italiano Evangelista Torricelli
realizou uma experincia, colocando um tubo de 1 metro de comprimento completamente cheio
de mercrio, com a boca tampada virada para baixo, dentro de um recipiente tambm cheio de
mercrio. Aps destampar a boca do tubo o cientista observou que a coluna de mercrio desceu
e se estabilizou no nvel 76 cm, restando o vcuo na parte vazia do tubo.
Mas por que o tubo com mercrio no foi completamente esvaziado quando a boca foi
destampada? Por causa da presso que a atmosfera exerceu sobre a superfcie exposta do mercrio
que estava no recipiente, impedindo que a coluna de mercrio dentro do tubo escoasse para o
recipiente alm dos 76 cm. Com isso, concluiu-se que a presso exercida pela coluna de mercrio
473
se equivaleu presso atmosfrica quando atingiu 76 cm, portanto, se estabilizou neste ponto. Por
meio desta experincia calculou-se a presso atmosfrica mdia ao nvel do mar, considerando
que ela equivalente presso exercida pela coluna de 76 cm de mercrio.
A temperatura tambm influencia a presso atmosfrica. Quando o ar se esquenta suas
molculas se expandem, tornando-o menos denso, consequentemente, diminuindo a presso
atmosfrica. Seguindo o mesmo raciocnio, o ar se comprime medida que esfria, tornando-se
mais denso e, portanto, aumentando a presso atmosfrica. Assim, nas reas mais quentes do
planeta (Equador) so constatadas presses atmosfricas menores e, consequentemente, presses
maiores so encontradas em locais mais frios (Polos). Portanto, podemos dizer que a latitude
influencia de forma diretamente proporcional a presso atmosfrica, pois quanto menor a latitude
(proximidade ao Equador) menor a presso e vice-versa, ao contrrio da altitude, que influencia
a presso atmosfrica de forma inversamente proporcional, como j visto anteriormente.
A presso atmosfrica varia com o tempo ao longo do dia e durante o ano. As variaes
temporais se relacionam s mudanas de temperatura do ar em funo da variao de temperatura
da superfcie ao longo do dia e das estaes do ano.
GRANDES CIRCULAES ATMOSFRICAS
A Atmosfera algo dinmico, e se analisada dessa forma deve ser considerada a
movimentao do ar e consequente troca de influncias que o ar proveniente de uma regio leva
a outra, formatando-se assim em um sistema complexo de sistemas atmosfricos.
A atmosfera terrestre, como j visto, um conjunto de gases preso terra pela ao da
gravidade, cujos movimentos so descritos pelas leis da mecnica dos fludos e da termodinmica.
Os movimentos do ar so nutridos pela distribuio desigual da energia solar e influenciada
diretamente pela rotao terrestre.
A Atmosfera encontra-se em constante movimento, ficando difcil captar e representar de
maneira fiel as leis que regem esse constante dinamismo, contudo, com a localizao dos campos
mdios de presso atmosfrica (ou centros atmosfricos de ao) por meio de cartografia fica mais
fcil entender toda essa movimentao. Esses centros atmosfricos so classificados como de alta
presso (anticiclonais) ou de baixa presso (ciclonais ou depresses).
A circulao geral da atmosfera pode ser observada na figura, que traz os principais
movimentos da atmosfera em escala planetria.
474
475
local. Os fatores que influenciam diretamente esses elementos so: latitude, altitude, relevo,
vegetao, continentalidade/maritimidade e atividades humanas.
A latitude um importante fator, pois trata do posicionamento do Planeta em relao a
outros astros, condicionando a quantidade de energia na Terra. A rotao da Terra, por exemplo,
em volta do seu prprio eixo proporciona a diferenciao entre dia e noite em um determinado
local do Planeta, implicando uma diferenciao na entrada de energia na atmosfera. A inclinao
do eixo da terra e o prprio movimento de translao (movimento da Terra ao redor do sol)
tambm propiciam uma diferenciao de distribuio da energia emitida pelo Sol. Em resumo, a
latitude de um lugar, como tambm a poca do ano, define o ngulo com que os raios do Sol iro
incidir sobre a superfcie daquele local.
O relevo outro fator que influencia o clima de uma regio, principalmente em decorrncia
de variao de altitude, forma e posio, e orientao das vertentes. Quando consideramos dois
lugares com a mesma latitude, porm com diferentes altitudes, o local com maior altitude ter
menor temperatura, enquanto o local mais prximo ao nvel do mar ter maior temperatura. A cada
100m de elevao da altitude diminui-se aproximadamente 0,3C.
A posio e forma de um relevo podem favorecer ou dificultar fluxos de calor e umidade
entre reas prximas, como, por exemplo, a Cordilheira dos Andes que barra a penetrao de
umidade proveniente do Oceano Atlntico e Amaznia para o oeste do Chile, deixando o clima do
deserto de Atacama mais seco.
A orientao do relevo em relao ao sol ir definir as vertentes mais aquecidas e mais
secas, bem como aquelas mais frias e midas, influenciando assim no clima da regio.
A vegetao serve como regulador de umidade e temperatura de uma regio. Nota-se que
no interior de reas de florestas a temperatura inferior s reas vizinhas no florestadas. Isso
se d por causa da copada e troncos das rvores, que barram a radiao solar direta. Nessas
reas florestadas o processo de infiltrao de gua no solo mais eficiente, havendo maior
disponibilidade de gua no solo dessas regies, o que torna a evaporao e evapotranspirao
mais hbeis, deixando o ambiente mais mido e frio.
Os mares e oceanos so fundamentais para regulao do clima no Planeta, pois so os
principais fornecedores de gua para a Troposfera e controlam a distribuio de energia entre
continentes e oceanos. Os mares e oceanos induzem a temperatura do ar conforme a temperatura
da superfcie aqutica, fazendo com que o ar se resfrie a partir das baixas temperaturas das guas
superficiais frias, inibindo a formao de nuvens e, consequentemente, de chuvas. O contrrio
acontece em locais de superfcies aquticas quentes, esquentando o ar e elevando a formao
476
de nuvens e chuvas. Os locais muito distantes dos mares e oceanos sofrem com o efeito da
continentalidade, sentido principalmente nas temperaturas e umidades do ar. Nessas regies a
amplitude trmica acentuada, pois o aquecimento e resfriamento do ar se tornam mais rpido.
As atividades humanas tambm atuam sobre o clima. Como exemplo disso temos as ilhas
de calor, ou ilhas trmicas, que so reas de intensidade distinta de aquecimento do ar, criadas
pela modificao da paisagem natural pela ocupao humana, onde possvel observar que a
temperatura dos centros urbanos superior as regies perifricas. Contribuem significativamente
para a ocorrncia desse fenmeno as atividades de produo, notadamente industriais, de
transporte e lazer das grandes cidades, no entanto, importante ressaltar que os centros urbanos
apresentam diversas contribuies para a alterao do clima nessas regies. (MENDONA, 2007)
INVERSO TRMICA
Como j visto anteriormente, na Troposfera, o ar se resfria medida que aumenta a altitude.
Assim, o ar mais prximo da superfcie mais quente, portanto, mais leve e tem a tendncia de
subir. Nas grandes cidades essa dinmica faz com que os gases poluentes, advindos das indstrias
e automveis, sejam dispersos mais facilmente (figura).
A diferena de temperaturas entre o ar das camadas mais baixas (prximas superfcie)
e mais altas da Troposfera faz com que o ar circule verticalmente, onde o ar quente sobe e vai
se resfriando gradativamente, empurrando o ar frio para baixo, que ser aquecido, repetindo o
fenmeno. Quando a superfcie terrestre se resfria rapidamente forma uma camada de ar frio
abaixo da camada de ar quente, fato que ocorre com maior frequncia nos invernos em perodos
noturnos, ocasionando a inverso trmica.
Desse modo, a Inverso Trmica pode ser definida como uma condio meteorolgica
que ocorre quando uma camada de ar quente se sobrepe a uma camada de ar frio, dificultando
o movimento ascendente do ar, uma vez que o ar frio mais pesado. A poluio emitida pela
rea urbanizada ento fica contida abaixo da camada de ar quente, criando uma faixa cinza no
horizonte da cidade (SMOG5), resultado da poluio concentrada na camada mais prxima da
superfcie (figura).
477
A inverso trmica um fenmeno natural que ocorre em todo o ano, atingindo altitudes
mais baixas no inverno, principalmente nos perodos noturnos.
EFEITO ESTUFA
A atmosfera depende de algumas condies para que tenha possibilidades de abrigar
vida. Uma das condies a temperatura, que certamente no seria da forma como hoje sem
o Efeito Estufa.
O Efeito Estufa um processo natural de aquecimento da atmosfera, que se no existisse, o
planeta teria cerca de -18C de temperatura mdia (ao invs de 15C), existiria abundantemente
gua em estado slido e seguramente no haveria condies de abrigar vida.
O efeito estufa funciona da seguinte forma: a radiao atravessa a atmosfera e aquece
a superfcie da Terra. Parte dessa energia retorna a atmosfera, mas nem toda ela consegue
atravessar a camada de gases que envolvem o Planeta, como o vidro de uma estufa. Cerca de
30% da radiao solar refletida de volta ao espao pela atmosfera (nuvens e partculas) e pela
superfcie da Terra. A reflexividade (Albedo6) da superfcie do planeta varia de acordo com o
material refletivo.
De modo simplificado, a radiao solar que atinge a superfcie convertida em energia
trmica, aquecendo o Planeta e evaporando a gua. O calor da superfcie sobe para a atmosfera,
478
uma parte dele vai para o espao e outra parte absorvida pelos gases do efeito estufa, que
emitem a energia de volta para o Planeta. Quanto mais alta a coluna de gases do efeito estufa
maior a quantidade de energia emitida de volta, reaquecendo a superfcie e a baixa atmosfera,
num processo constante.
479
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Voltando aos tempos atuais, a partir da dcada de 1980 so observados com maior
frequncia os chamados Fenmenos Climticos Extremos, que so eventos como furaces,
enchentes, secas, tornados, que podem causar catstrofes sociais e ambientais. Esses eventos
demonstram sinais de mudanas no clima do Planeta. Apesar de que sempre haver incertezas
sobre um sistema to complexo como o clima e to diversificado quanto o ecossistema do nosso
481
Planeta, as evidncias, no caso o aumento desses fenmenos climticos extremos, tornam cada vez
mais essas incertezas em medo e alerta. (UNFCCC, 2012)
Em 1988 houve a primeira reunio entre governantes e cientistas sobre mudanas climticas,
realizado em Toronto no Canad. A partir da a ONU (Organizao das Naes Unidas) criou
um rgo chamado IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanas Climticas) composto por
delegaes de 130 pases do mundo todo com a funo de promover avaliaes regulares sobre
mudanas climticas. A criao desse rgo se deu pela percepo de que as atividades humanas
exercem forte influncia sobre o clima global. (IPCC, 2012)
O primeiro relatrio do IPCC foi publicado em 1990, e demonstrou uma necessidade de
criao da Conveno do Quadro das Naes Unidas para Mudanas do Clima, conveno essa
formada para governantes discutirem polticas sobre mudanas climticas. De acordo com esse
relatrio, seria preciso a reduo em 60% de todas as emisses de CO2 para a atmosfera.
Um segundo relatrio foi publicado em 1995 e os estudiosos chegaram concluso de que
as atividades humanas causam impacto significativo no clima global, criando assim um grande
desafio aos grupos defensores da utilizao das fontes de energia no renovveis fosseis. A partir
de 1995 foram criadas as Conferncias das Partes, que seriam encontros para a discusso dos
assuntos relacionados s mudanas climticas globais. (MMA, 2012b)
Na Conferncia das Partes de 1997, no Japo (Kyoto), foi assinado o Protocolo de Kyoto,
que se constituiu no primeiro acordo que vincula o comprometimento dos pases com as maiores
emisses de gases do efeito estufa em diminui-las. O objetivo deste Protocolo estabilizar a
concentrao de gases do efeito estufa a um nvel que impea a interferncia perigosa no sistema
climtico. O protocolo estabelece que os pases industrializados devem reduzir suas emisses para
5,2% em relao aos nveis de 1990, para o perodo de 2008-2012. Estabeleceu-se ainda no
Protocolo de Kyoto trs mecanismos de flexibilidade para a reduo de emisses, a Implementao
Conjunta (Joint Implementation), Comrcio de Emisses (Emissions Trading) e Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo MDL (CDM Clean Development Mecanism).
Em contrapartida teoria do aquecimento global pelo acrscimo dos gases de estufa pelas
atividades antrpicas, da existncia do efeito estufa e da camada de oznio8, atualmente h
algumas vertentes que defendem a inexistncia destes fenmenos.
CAMADA DE OZNIO
Quando estudamos os problemas atmosfricos, no podemos deixar de citar aqueles
relacionados diminuio da camada de oznio. Como j visto, a camada de oznio encontra-se
482
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Esse tipo de mecanismo foi estruturado no princpio do Poluidor Pagador, em que se prev
a cobrana de uma taxa para alguma iniciativa de correo daquela poluio. (ARAJO, 2007)
Dentre os diversos segmentos de mercado que podero se favorecer do comrcio dos
crditos de carbono, na esfera do MDL, destacam-se:
a) Projetos de recuperao de gs de aterro sanitrio, de gs de autfonos, biodigestor e
outros gases;
b) Energias limpas (biomassa, hidreltrica, elica, solar etc.);
c) Troca de combustveis (leo x gs, biomassa etc.);
d) Eficincia energtica e eficincia em transporte (logstica);
e) Melhorias/tecnologias industriais: cimento, petroqumica, fertilizantes etc.;
f) Projetos florestais (reflorestamento ou florestamento).
Somente aps a reduo que a empresa poder negociar o crdito de carbono.
CARBONIZAO DA ECONOMIA E MATRIZ ENERGTICA
Como j vimos, um dos principais responsveis pela emisso de gases de efeito estufa na
atmosfera a utilizao de combustveis fsseis, e sabemos que na grande maioria dos pases
essa fonte de energia utilizada em larga escala, sendo considerada uma fonte de energia no
renovvel, pois no pode ser renovada em curto perodo de tempo. Porm, esta no a nica
fonte de energia disponvel no mundo.
No intuito de diminuir emisses e frear o aquecimento global, alguns pases esto buscando
fontes alternativas de energia, as chamada fontes renovveis. As fontes de energias renovveis
so menos poluentes e recebem essa denominao por serem provenientes de recursos capazes
de se refazer em curto perodo de tempo, ao contrrio dos no renovveis.
A matriz energtica de um pas se trata da quantidade de energia disponvel neste para
sua utilizao. As empresas multinacionais, grandes organizaes financeiras, empresas estatais e
rgos reguladores so agentes com grande participao na dinmica do mercado energtico. Os
derivados de petrleo integram a maior parte da energia utilizada no mundo:
Derivados de Petrleo 42,3%
Eletricidade 16,2%
Gs Natural 16,0%
Energias Renovveis 13,6%
Carvo Mineral 8,4%
Outras 3,5% (IEA, 2007)
485
Por ser a fonte de energia mais utilizada no mundo, o petrleo passa a exercer no
apenas um papel econmico, mas tambm geopoltico. Nesse contexto, os derivados de petrleo
trazem consigo, juntamente com a riqueza, toda uma srie de disputas comerciais, financeiras e
diplomticas, bem como conflitos.
A questo da utilizao de derivados de petrleo est ligada ao rpido crescimento da
utilizao de energia, e depende tambm da quantidade de fontes disponveis, que nesse caso
abundante. Por ser muito poluente, as nicas alternativas para a no utilizao dessas fontes de
energia no renovveis seria a restrio de oferta dos derivados de petrleo, e principalmente o
uso de fontes alternativas de energia renovvel. Assim, a partir da queda na produo de petrleo,
a disponibilidade de outras fontes de energia ser decisiva para a economia global.
Nesse contexto a bioenergia uma alternativa vivel e promissora, para ocupar maior espao
na matriz energtica mundial, principalmente para atender ao setor de transportes. Mas para que
essa tendncia funcione, preciso observar caractersticas especficas de cada regio avaliando as
potencialidades agrcolas e o desempenho energtico ambiental de cada cultura.
No Brasil, essa tendncia j uma realidade. A matriz energtica brasileira apresenta a
matriz energtica mais renovvel do mundo com 45,3% de sua produo proveniente de fontes
como recursos hdricos, biomassa e etanol, alm de energia solar e elica. Essa atual situao
se deu desde 1975 com a implementao da poltica de incentivo ao etanol, que desenvolveu a
pesquisa sobre o biocombustvel no Brasil.
Comparados com os combustveis provenientes do petrleo, os biocombustveis apresentam
caractersticas que o colocam como menos poluentes. Analisando alguns fatores, pode-se dizer
que a utilizao de biocombustveis no aumentaria o aquecimento da atmosfera. Isso ocorre em
virtude da biomassa (cana-de-acar, soja, mamona etc..) capturar em seu crescimento parte do
carbono emitido, caracterizando-se como um sistema fechado de emisso e captura de carbono.
Ao contrrio da utilizao dos combustveis fsseis, que no contempla um ciclo de liberao e
captura, sendo que a quantidade liberada no capturada totalmente, j que so fontes de CO2
estocadas a milhares de anos no perodo carbonfero e em quantidades no compatveis com a
quantidade capturada por estes agentes absorvedores.
Porm, sabe-se que as queimadas emitem grandes quantidades de gases do efeito estufa.
Desse modo, caso seja preciso substituir uma floresta (fonte de absoro de carbono) por uma rea
de plantio novo para produo de biocombustveis, as emisses geradas para essa mudana de uso
do solo podem acarretar numa restrio da atividade, pois afetariam o equilbrio quantitativo entre
as emisses e capturas de carbono.
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2011 COP 17 Durban: Foi o frum multilateral mais amplo (com 195 pases) para
discutir e adotar medidas contra o aquecimento global. A maior novidade que o texto
aprovado prev que todos os pases devero participar de um processo para, futuramente,
reduzir o volume de carbono que atiram na atmosfera, inclusive os menos desenvolvidos.
2012 COP 18 Doha: 36 pases aderiram ao segundo perodo de pacto do Protocolo de
Kyoto, que vai de janeiro de 2013 a dezembro de 2020. As metas de reduo de emisso
de gases de efeito estufa do conjunto de pases significa uma reduo de 18% de emisses
de pases desenvolvidos em relao s taxas de 1990. Pases como Estados Unidos,
Canad, Japo, Rssia e Nova Zelndia no esto participando deste segundo perodo,
enfraquecendo a ferramenta. Iniciou-se discusso para novo acordo que deve gerar um
novo instrumento com fora de lei com compromissos entre todos os pases, de acordo com
suas responsabilidades histricas e com uma distribuio equitativa entre todos. Espera-se,
portanto, que pases que hoje esto fora do Protocolo de Kyoto e as grandes economias
assumam compromissos muito maiores do que os pases mais pobres.
O QUE PODEMOS FAZER PARA CONTRIBUIR COM A SOLUO DO PROBLEMA
Observando todos os problemas relacionados ao aquecimento global e poluio da
atmosfera, percebemos que a soluo ainda est distante, e que se no houver uma conscientizao
em nvel mundial, em todas as esferas da sociedade, juntamente com uma ao mais efetiva,
poderemos no conseguir reverter os problemas atuais.
Algumas medidas podem ser tomadas singularmente, mas podem fazer muita diferena
globalmente. Uma delas a economia de energia. Para a maioria dos habitantes a oportunidade
mais fcil de diminuir as emisses de gases do efeito estufa estaria dentro de casa. Como exemplo,
podemos citar o uso de lmpadas mais econmicas para reduzir um pouco o consumo de energia,
pois, alm de contribuir no combate a crise climtica, economiza-se diretamente na conta de luz.
Mais uma alternativa a reduo de emisses de carros e outros meios de transporte.
A manuteno dos automveis a primeira etapa e pode reduzir consideravelmente a emisso de
gases poluentes. A utilizao de transportes pblicos e alternativos pode ser uma boa medida para
alcanar esse objetivo, pois com o inchao das cidades e o crescimento do nmero de veculos
nas ruas, fica imprescindvel a utilizao de meios menos poluentes, com nfase utilizao do
transporte coletivo. A escolha cuidadosa de seu veculo, bem como da possibilidade de utilizao
de combustvel alternativo aos derivados de petrleo, so boas opes para contribuir com o
clima global, e sempre que possvel, evitar a utilizao de veculos em atividades que podem ser
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realizadas sem os mesmos, pois assim voc contribuir para a diminuio do trfego urbano, da
emisso de gases de efeito estufa e do consumo de combustveis fsseis, alm de cuidar da sua
sade com uma boa caminhada.
Diminuir o consumo consumir menos energia na fabricao e transporte, ou seja, para
cada etapa do processo de produo h emisses de combustveis fsseis. Dessa forma, consumir
menos gastar menos energia. Reduzir, reutilizar e reciclar parece ser o lema para diminuio
de emisses em relao ao consumo. A ideia comprar menos, escolher itens durveis e no
descartveis, consertar ao invs de jogar fora e passar para outra pessoa o que no for utilizado.
A moderao do consumo de carne vermelha tambm um passo para a sade e para reduzir a
emisso de gases do efeito estufa, pois, alm do desmatamento em funo da criao de reas de
confinamento de gado e pastagens, h emisso de metano por parte dos bovinos e mais emisses
no transporte e processo produtivo.
Alm de tudo isso, quanto mais pessoas estiverem sabendo sobre os problemas causados
pelas emisses de gases do efeito estufa em nosso clima, maior ser o consenso e mais abrangentes
sero as contribuies pessoais. Assim, a informao e divulgao podero ajudar a minimizar
esses problemas, tornando nosso clima cada vez melhor.
LINKS INTERESSANTES:
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/abc/index.html
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/Planetinha_e_sua_turma.pdf
http://enos.cptec.inpe.br/
http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/
vimeo.com/26882644
http://www.protocolodemontreal.org.br/eficiente/sites/protocolodemontreal.org.br/pt-br/site.php?secao=
fotos&pub=38
http://www.youtube.com/user/PMontrealBR
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classificacao_dos_climas_do_brasil.html >
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download/523573-177959/CUE0062008.pdf>. Acesso em 23-04-2012.
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Clima e tempo As condies meteorolgicas (tempo) podem mudar diversas vezes em apenas um dia.
Como exemplo, podemos citar o tempo de Curitiba, que como j de costume, pode mudar drasticamente
em questo de horas. J o clima de Curitiba, considerado frio, ter esta classificao alterada apenas se
forem constatadas alteraes nas condies meteorolgicas ao longo de anos.
Tipos climticos Segundo classificao do clima do IBGE, o Brasil est dividido em cinco zonas climticas:
Equatorial, Tropical Zona Equatorial, Tropical Nordeste Oriental, Tropical Brasil Central e Temperado.
<ftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/mapas_murais/clima.pdf>.
Atmosfera H indcios de que, antes da formao da atmosfera seria impossvel a permanncia da vida
terrestre pelo fato do grande nmero de colises de fragmentos espaciais com o nosso planeta.
O cientista James Lovelock atesta na sua Teoria de Gaia a inexistncia de vida em planetas como Marte e
Vnus mediante a comparao de suas atmosferas com a atmosfera da Terra, onde as atmosferas destes
planetas encontram-se em estado de equilbrio qumico, sendo dominadas por gases geralmente no
reativos, como o dixido de carbono, ao passo que a atmosfera da Terra encontra-se em desequilbrio
qumico, caracterizada por uma mistura instvel de gases, como oxignio e metano, que reagem entre
si e, no entanto, coexistem. Sabendo da instabilidade qumica da mistura de gases da atmosfera e, em
contrapartida, da manuteno constante de sua composio ao longo de perodos extensos, o cientista
prope a pergunta: Poderia ocorrer que a vida na Terra no apenas formasse a atmosfera, mas que tambm
a regulasse, mantendo-a em uma composio constante e em um nvel favorvel para os organismos?
O SMOG, nome dado coluna de poluio causada pela inverso trmica, pode causar srios problemas
de sade populao das grandes cidades. Sua terminologia tem origem na juno das palavras da lngua
inglesa smoke (fumaa) e fog (nevoeiro).
Albedo o termo astronmico utilizado para determinar a claridade ou escurido de um planeta e, portanto,
sua refletividade. A temperatura da superfcie do planeta depende do equilbrio entre o calor recebido pelo
sol e o calor devolvido ao espao. Em reas mais claras, como calotas polares, a refletividade pode atingir
70 a 80 por cento da luz solar que incide sobre elas. reas mais escuras, como florestas e oceanos, tm
baixo albedo e, portanto, absorvem mais e refletem menos luz solar.
Infravermelho A ttulo de ilustrao, a molcula de gua formada por trs tomos, um de oxignio e
dois de hidrognio, que se interligam em um ngulo de 105, como um bumerangue. Esta molcula pode
se girar e dobrar em um V mais fechado ou mais aberto, e a frequncia dos movimentos coincidem com a
frequncia do infravermelho emitido da Terra.
8 Camada de oznio Atualmente alguns cientistas defendem que o aquecimento global, assim como a
existncia e a destruio da camada de oznio pelos CFCs, so manobras que visam atender interesse
polticos. Sugesto <http://www.youtube.com/watch?v=winWWplmyMk&feature=player_embedded>.
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Cleverson V. Andreoli
Fabiana de Nadai Andreoli
Annelissa Gobel Donha
Ana Camila Palma Kotinda
A gua se destaca como um dos recursos essenciais para o desenvolvimento, pois alm da
importncia direta para o consumo humano, sua disponibilidade est relacionada produo
de alimentos, energia e muitos produtos industrializados. O crescimento da populao humana,
associado a um grande aumento do consumo, determinou um novo patamar na demanda de
recursos naturais e de produo de resduos. Nesse contexto, devemos compreender a crise da
gua como resultado de um processo inadequado de apropriao e uso dos recursos naturais,
que tem duas grandes consequncias: a reduo dos volumes pelo crescimento da demanda do
recurso hdrico e a reduo paulatina da qualidade da gua em funo da poluio, visto que
quanto maior o consumo de gua, maior a produo de efluentes que deterioram sua qualidade e
comprometem seu potencial de uso, limitando a sua disponibilidade.
Assim, apesar de vrias notcias e discusses afirmarem a diminuio do fornecimento de
gua no mundo, isso no de todo verdade, a gua no est diminuindo e sim a demanda por
ela que vem aumentando gradativamente, visto que a populao mundial vem apresentando um
crescimento acelerado, sendo estimado pelas Naes Unidas que a populao atual de 7 bilhes
poder atingir o nmero de 8 a 11 bilhes at 2050, dependendo das polticas populacionais para
os prximos anos.
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Desse total de 2,76% de gua doce, 2,14% est na forma slida, em geleiras, e apenas
0,0091% da gua encontra-se disponvel em rios e lagos, sendo passvel de utilizao ainda a
gua subterrnea, que representa 0.61%, conforme observado abaixo.
O relatrio anual das Naes Unidas (ONU) relata que hoje existem 1,1 bilho de
pessoas praticamente sem acesso gua doce, e trs principais problemas agravam o quadro
de disponibilidade hdrica mundial: a degradao dos mananciais; o aumento exponencial e
desordenado da demanda; e o descompasso entre a distribuio das disponibilidades hdricas e a
localizao das demandas, pois as guas esto distribudas de forma heterognea, tanto no tempo
como no espao geogrfico. (AYIBOTELE, 1992)
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No Brasil existem doze grandes bacias hidrogrficas3: a do Rio Amazonas, do Rio Tocantins,
Atlntico Nordeste Ocidental e Nordeste Oriental, do rio So Francisco, dos rio Paraba, as do
Atlntico Sul e Sudeste, Atlntico Leste, a do rio Paran e Paraguai, a do Rio Uruguai.
Na distribuio do uso pelas regies, a do Paran (que consome mais) supera as demais
em todos os tipos de uso, com exceo da irrigao, onde se destacam as regies do Atlntico
Sul e do Uruguai, especialmente devido ao arroz irrigado por inundao. A regio do Atlntico
Sudeste apresenta usos relevantes no abastecimento humano urbano e industrial, devido a suas
grandes metrpoles. Atlntico Sudeste e Paran so as nicas regies em que a indstria baseada
no uso da gua prepondera sobre as demais atividades econmicas, com a irrigao apresentando
intensidade prxima. A regio do Atlntico Nordeste Ocidental apresenta um considervel uso
humano,indicando um menor nvel das atividades econmicas usurias de gua. Por sua vez, a
regio do Paraguai a nica em que a atividade de criao animal se sobressai em relao aos
demais, indicando a fora da agropecuria local.
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Por meio desses dados possvel perceber que, proporcionalmente, os maiores desperdcios,
aqui representados pela vazo de retorno7, ocorrem no ambiente urbano (abastecimento urbano
e uso industrial), onde os ndices chegam a 80%. J no ambiente rural, apesar do maior volume
consumido, a perda de gua de 49% no abastecimento rural, 32% no uso da gua para irrigao
e 7% na dessedentao de animais.
Na mdia mundial, cerca de 70% dos recursos hdricos disponveis atualmente so
destinados irrigao, contra apenas 20% para a indstria e menos de 10% para abastecimento
da populao (higiene e consumo direto). Nos pases desenvolvidos, o porcentual de uso da gua
para irrigao ainda maior, chegando prximo dos 80%.
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Ambiente Rural
No ambiente rural existe uma demanda de gua alta para agricultura, principalmente
para irrigao, que, como j vimos, representa a maior fatia do consumo, mas tambm utilizada
na aplicao de insumos agrcolas, e na criao de animais. A gua um fator essencial de
desenvolvimento rural, e o consumo sustentvel exige o gerenciamento adequado dos efluentes
agrcolas em relao contaminao e tambm a eficincia no setor de irrigao.
Uma pessoa adulta precisa de 4 litros de gua por dia para beber, mas para produzir seu
alimento dirio, considerando todo o ciclo produtivo, desde o preparo do solo at o consumo, so
necessrios de 2 a 5 mil litros.
De acordo com os clculos da Organizao para Agricultura e Alimentao (FAO), agncia
das Naes Unidas (ONU), a simples melhora de 1% na eficincia do uso da gua de irrigao,
nos pases em desenvolvimento de clima rido, significaria uma economia de 200 mil litros de
gua, por agricultor, por hectare8/ano. O suficiente para matar a sede de 150 pessoas, no perodo.
Mesmo sendo o setor que mais consome gua, a agricultura de irrigao tende a crescer
algo em torno de 15% a 20% nos prximos 30 anos, atendendo demanda por mais alimentos
de uma populao projetada em 8 bilhes de pessoas, alm de responder demanda econmica
por produtos agrcolas de maior valor agregado.
Para evitar problemas, a FAO sugere a adoo de tecnologias mais eficientes do que a
tradicional inundao de campos ou o uso generalizado de aspersores e piv central (os dois
mtodos mais utilizados no Brasil). A gua subterrnea tem sido vista como uma segunda opo
para a irrigao devido baixa qualidade das guas superficiais, mas isso exige um uso controlado,
j que tem sido observado, em alguns lugares, o rebaixamento dos aquferos9.
No h uma nica soluo para manter a segurana alimentar quando a gua escassa.
Todas as fontes de gua, chuva, canais de irrigao, guas subterrneas e guas servidas so
importantes, todas podem ser desenvolvidas em condies adequadas, e a melhor combinao de
uso do solo, tipo de cultivo e fonte de gua devem responder s caractersticas de cada ecossistema.
A escolha da tecnologia mais adequada e, sobretudo, a promoo de mtodos de irrigao
que evitam o desperdcio fundamental para atender demanda por alimentos, com o mnimo de
impactos ambientais, como a degradao dos solos, dos aquferos ou os processos de salinizao10.
Alm da alta vazo de consumo pela irrigao, a agricultura tambm considerada a
segunda maior fonte de poluio do pas, atrs do lanamento de esgoto domstico. Essa poluio
causada pelo manejo agrcola inadequado, que vai desde o assoreamento dos rios causado
pela devastao de matas ciliares, a compactao do solo impossibilitando infiltrao de gua
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Aps a captao, que pode ser feita por meio de fontes superficiais ou subterrneas, a gua
tratada de acordo com o uso pr-destinado (consumo humano, industrial etc.). O tratamento
feito em uma Estao de Tratamento de gua (ETA). Aps o tratamento a gua conduzida pela
rede de distribuio de gua at os pontos de consumo. Aps o uso, a gua carregada dos mais
diversos compostos (esgoto) conduzida at uma Estao de Tratamento de Efluentes (ETE) e
aps atingir os padres compatveis com a capacidade de biodegradao, o efluente lanado no
corpo hdrico receptor. O recolhimento das guas pluviais urbanas pelo sistema de drenagem e o
respectivo escoamento em corpos dgua receptores tambm fazem parte deste ciclo.
GESTO DAS GUAS
A forte demanda de gua no Brasil aliada aos problemas de poluio domstica e industrial
que contaminam mananciais tornam crticas as situaes de sustentabilidade nas grandes
concentraes urbanas. Dentre os principais problemas referentes ao Ciclo Urbano da gua,
destaca-se a degradao da qualidade da gua do manancial devido ao lanamento irregular
de esgoto sanitrio. De acordo com os dados do Ministrio da Sade, 65% das internaes
hospitalares so resultado da inadequao dos servios e aes de saneamento, sendo estas
doenas responsveis anualmente por 50.000 mortes de crianas, a maioria com menos de um
ano de idade (MPOSEPURB- DESAN, 1999).
A medida mais eficaz de controle da contaminao da gua a implantao de sistemas
de coleta e tratamento de esgotos domsticos e industriais para evitar que despejos brutos sejam
lanados nos corpos dgua, poluindo-os. A adoo de prticas corretas de coleta e disposio
final do lixo tambm constitui medida de controle da poluio da gua. Depsitos inadequados de
resduos slidos, no solo ou diretamente em corpos dgua, podem resultar na poluio da gua.
O tratamento de gua feito para que esta tenha condies adequadas para o consumo, ou
seja, para que a gua se torne potvel. Para isso aplicada uma srie de processos livrando a gua
de qualquer tipo de contaminao e evitando a transmisso de doenas. Esses processos ocorrem
em etapas, dentro de uma estao de tratamento (ETA), conforme apresentado a seguir:
504
Coagulao: quando a gua na sua forma natural (bruta) entra na ETA, ela recebe, nos tanques,
uma determina quantidade de sulfato de alumnio. Esta substncia serve para aglomerar
partculas slidas que se encontram na gua como, por exemplo, a argila.
Floculao: em tanques de concreto com a gua em movimento, as partculas slidas se
aglutinam em flocos maiores.
Decantao: em outros tanques, por ao da gravidade, os flocos com as impurezas e partculas
ficam depositados no fundo dos tanques, separando-se da gua.
Filtrao: a gua passa por filtros formados por carvo, areia e pedras de diversos tamanhos.
Nesta etapa, as impurezas de tamanho pequeno ficam retidas no filtro.
Desinfeco: aplicado na gua cloro ou oznio para eliminar micro-organismos causadores de
doenas.
Fluoretao: aplicado flor na gua para prevenir a formao de crie dentria em crianas.
Correo de PH: aplicada na gua uma certa quantidade de cal hidratada ou carbonato de
sdio. Esse procedimento serve para corrigir o PH da gua e preservar a rede de encanamentos
de distribuio.
Servios
Abastecimento de gua
Coleta de esgotos
ndice detratamento dosesgotos gerados (%)
Nota: Para clculo do IN046 estima-se o volume de esgoto gerado como sendo igual ao volume de gua consumido.
505
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Para lavar a loua na pia com a torneira aberta, durante quinze minutos, gastam-se 240
litros. Limpar os restos dos pratos com uma escova, usar a gua retida na cuba para
ensaboar a loua e abrir a torneira s na hora do enxgue gera uma economia de 220
litros.
Esquea a mangueira na hora de lavar a calada. gua, s depois de varrer bem as
folhas e a sujeira.
Use as lavadoras de loua e de roupa apenas quando estiverem cheias.
Ateno aos pequenos vazamentos. Aquelas gotas que insistem em pingar da torneira da
cozinha significam um gasto extra de 46 litros por dia. As torneiras devem ser fechadas
por completo depois do uso e consertadas se apresentarem qualquer defeito.
Com uma mangueira semiaberta, gastam-se 560 litros para lavar o carro. Se o servio for
feito com um balde, o consumo de 40 litros.
LINKs
http://www.ana.gov.br/bibliotecavirtual/ :site oficial da Agencia Nacional de guas com informaes sobre qualidade dos recursos
hdricos nacionais, mapas georreferenciados e publicaes educativas sobre a gua
http://www.uniagua.org.br/ :site de educao ambiental
http://www.agua.bio.br/ :rede de educao ambiental com temas variados incluindo a gua
Principais ideias:
1) O crescimento da populao humana, associado a um grande aumento do consumo,
determinou um novo patamar na demanda de recursos naturais e de produo de
resduos, nesse contexto, devemos compreender a crise da gua como resultado de um
processo inadequado de apropriao e uso dos recursos naturais, que tem duas grandes
consequncias: a reduo dos volumes pelo crescimento da demanda do recurso hdrico
e a reduo paulatina da qualidade da gua, que limita a sua disponibilidade.
2) Ciclo da gua: O Ciclo da gua que tem seu incio com a evaporao das guas dos
oceanos, lagos e rios. Essa evaporao se d por causa do calor provocado pelo Sol e
pela ao dos ventos, transformando a gua do estado lquido para o estado gasoso. O
vapor de gua, por ser mais leve que o ar, sobe na atmosfera formando nuvens, quando
as nuvens so atingidas por temperaturas mais baixas, o vapor de gua se condensa e
se transforma em gotculas que se precipitam de volta superfcie em forma de chuva.
Nas regies muito frias, essas gotculas podem se transformar em flocos de neve ao se
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precipitarem. As guas da chuva ficam retidas no solo e nas reas onde h vegetao
essa gua usada pelas plantas. Outra parte da gua acaba indo para os rios e lagos. A
gua no utilizada pelas plantas passa atravs do solo e de rochas permeveis, e acaba
se dirigindo para grandes reservatrios no subterrneo, formando o chamado lenl
fretico, que fluem de volta para os oceanos. A evaporao das guas da superfcie
terrestre constante e novos ciclos se formam a todo instante.
3) A medida mais eficaz de controle da contaminao da gua a implantao de sistemas
de coleta e tratamento de esgotos domsticos e industriais. Com isso, evita-se que despejos
brutos sejam lanados nos corpos dgua, poluindo-os.
4) A adoo de prticas corretas de coleta e disposio final do lixo tambm constitui
medida de controle da poluio da gua. Depsitos inadequados de resduos slidos, no
solo ou diretamente em corpos dgua, podem resultar na poluio da gua.
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SHANNA FREEMAN, S. HowStuffWorks - Como funciona a gua. 2008. <http://ciencia.hsw.uol.com.br/
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Scientificand Cultural Organization: Paris.
US Geological Survey Bulletin (USGS), 1999. Disponvel em: <http://pubs.usgs.gov/bul/b2189/b2189.pdf>
2 Hidrosfera Termo vem do grego hidro + esfera = esfera da gua. Compreende toda a gua existente no
planeta.
3 Bacia hidrogrfica Toda a rea de contribuio que forma um determinado rio, est associada
existncia de nascentes, divisores de guas e caractersticas dos cursos de gua, principais e secundrios,
denominados afluentes e subafluentes.
4
Usos Consuntivos So aqueles onde, durante o uso, retirada uma determinada quantidade de gua dos
mananciais, e depois de utilizada, uma quantidade menor e(ou) com qualidade inferior devolvida, ou
seja, parte da gua retirada consumida durante seu uso.
Vazo de retirada Vazes captadas nos mananciais para atividades de uso consuntivo da gua.
7 Vazo de retorno Vazes decorrentes de despejo da parcela remanescente da vazo de retirada para
atividades de uso consuntivo da gua, ou seja, parcela no consumida da vazo de retirada.
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Hectare Uma unidade de medida de rea equivalente a 100 ares ou a um quadrado cujo lado igual a
cem metros.
Aquferos uma formao ou grupo de formaes geolgicas que pode armazenar gua subterrnea. So
rochas porosas e permeveis, capazes de reter gua e de ced-la.
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Cleverson V. Andreoli
Fabiana de Nadai Andreoli
Jorge Justi Junior
INTRODUO
Podemos comear este captulo com a seguinte questo: voc alguma vez j se perguntou,
ou tem conhecimento sobre a importncia dos solos, seja ela ambiental ou agrcola?
Podemos ento rebater esta questo com outras trs: Mas o que vem a ser o solo? H algum
estuda exclusivamente os solos? Ele tem realmente alguma importncia ambiental e agrcola?
Sendo assim, ao longo deste captulo tentaremos esclarecer a temtica acerca deste assunto,
e principalmente, demonstrar o quanto importante ele ao meio ambiente, a agricultura e a
sociedade como um todo. A premissa fundamental deste captulo a insero deste conhecimento
na sociedade permitindo um melhor entendimento quanto preservao ambiental em geral. De
fato, Foucalt (2001) afirma que prticas sociais podem produzir domnios do saber, que alm de
criarem novos objetos, conceitos e tcnicas, tambm so responsveis pelo nascimento de novos
sujeitos e de sujeitos de conhecimento.
O que se perceber aqui, que o solo fundamental ao desenvolvimento de diversas
atividades humanas, das quais podemos citar algumas principais: construo civil (fundaes,
telhas, tijolos, etc), tratamento de resduos (esgoto, resduos slidos etc.), produo de alimentos
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Algumas vezes, dependendo de seu processo de formao, esses horizontes podem estar ausentes,
bem como pode haver a formao de novos horizontes, com menor ocorrncia. Segundo Embrapa
(2009), os solos quando examinados a partir da superfcie consistem de sees aproximadamente
paralelas denominadas horizontes ou camadas que se distinguem do material de origem
inicial, como resultado de adies, perdas, translocaes e transformaes de energia e matria.
O clima, tipo de material de origem e a deposio do material orgnico na superfcie
conferem ao perfil de solo; cores diferenciadas. Normalmente as camadas mais superficiais,
constitudas pelo horizonte A tendem a apresentar cores mais escuras em funo do maior teor de
matria orgnica. No horizonte B as cores variam do vermelho (regime de formao mais seco) a
amarelo (regime de formao mais mido). Por fim, reas onde o solo se encontra saturado por
gua, devido oxidao do ferro, a colorao tende a ficar plida, acinzentada, podendo inclusive
haver mosqueados de colorao avermelhada.
TIPOS DE SOLOS
A embrapa, em parceria com diversas instituies de ensino e pesquisa de todo o Brasil,
vem ao longo dos anos desenvolvendo e aprimorando o Sistema Brasileiro de Classificao de
Solos. Esse sistema, considerando o territrio nacional, dividem os diferentes tipos de solos em
Nveis Categricos. O primeiro e o mais importante, denominado ordem, separa os solos em
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Atividade Qumica Definida pela Capacidade de Troca de Ctions (CTC), que tem
papel importante na reteno de substncias contaminantes, ou ainda de nutrientes,
da ento sua importncia como filtro sob o ponto de vista ambiental, e na agricultura,
influenciando na fertilidade dos solos, respectivamente. Analogamente, a CTC atua como
uma espcie de im, e os nutrientes seriam simples peas de metal atradas por estas
cargas do solo.
Material mineral x material orgnico Na massa de solo podemos separar duas fraes,
uma mineral e outra orgnica. Normalmente, temos o predomnio da frao mineral.
A frao orgnica se concentra nas camadas superficiais do solo em decorrncia da
decomposio da vegetao em sua superfcie, enquanto nas camadas mais profundas,
onde o solo est em processo de formao (intemperizao da rocha), esta frao
reduzida. A frao mineral fornece nutrientes as plantas de forma mais lenta, enquanto
a orgnica, estes nutrientes esto prontamente disponveis. Outro aspecto importante a
se considerar que a frao orgnica do solo responsvel por armazenar carbono, um
dos principais gases responsveis pelo efeito estufa e aquecimento global.
As caractersticas citadas acima so apenas algumas de muitas outras, porm, dentre todas,
essas so as mais comuns e diretamente relacionadas aos aspectos agrcolas e ambientais. Alm
disso, todas elas se relacionam entre si, uma influenciando e sendo influenciada por outras.
IMPORTNCIA AGRCOLA DOS SOLOS
O solo imprescindvel para as atividades agrcolas em larga escala, pois, alm de servir
de suporte as plantas (viso simplista), fornece nutrientes e gua para o seu desenvolvimento.
Porm podemos consider-lo como um recurso no renovvel, principalmente no que tange aos
seus nutrientes. A agricultura empregada de forma intensiva responsvel pelo depauperamento
do solo por diversas vias, dentre elas podemos destacar a absoro dos nutrientes pelas plantas,
sem haver sua reposio (ciclagem de nutrientes) por meio de adubaes, ou ainda, a instalao
de processos erosivos que carreiam partculas de solo, com nutrientes adsorvidos3 a elas, para
as partes mais baixas do terreno. As queimadas, muito comuns num passado recente, tambm
eram responsveis pela degradao dos solos, visto que alguns nutrientes so volteis4, como
o nitrognio, alm de ser eliminada praticamente toda a microflora e microfauna das camadas
superficiais do solo.
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Dessa forma, podemos dizer que efetivamente, a principal importncia dos solos para a
agricultura o fornecimento de nutrientes e gua para as plantas. No basta apenas ter um solo
com nutrientes e gua, se estes, por alguma razo, no estiverem disponveis s plantas; ento,
numa anlise geral, devemos considerar a quantidade armazenada de nutrientes e gua e tambm
sua pronta disponibilidade vegetao.
Solos mais desenvolvidos tendem a ter uma melhor fertilidade natural, porm o que
determina sua disponibilidade a carga do solo e qual o percentual dela est ocupada com
estes nutrientes (saturao por bases). No solo h um elemento, conhecido como Alumnio, que
alm de ser txico, limita a absoro de nutrientes pelas plantas ocupando a maior parte das
cargas, conhecida CTC, o mesmo comportamento vlido quando nos referimos acidez do
solo (pH), que tambm responsvel por limitar a absoro de nutrientes pelas plantas, mesmo
que tenhamos uma boa disponibilidade deles no solo. O desequilbrio de nutrientes outro fator
que pode vir a interferir na absoro; o excesso ou falta de um determinado elemento pode vir a
limitar a absoro dos demais.
Conforme citado, para o desenvolvimento das plantas, h o consumo dos nutrientes do
solo, devido a este fato que devemos rep-los por meio de adubaes, que podem ser qumicas,
minerais ou ainda com a adio de material orgnico. Caso no se proceda a essa reposio,
haver o depauperamento do solo, reduzindo gradativamente a produtividade ao longo do tempo,
at que no se consiga mais viabilizar um cultivo agrcola no terreno degradado.
Mesmo que os solos se encontrem em condies originais no que tange fertilidade
(disponibilidade de nutrientes), as plantas dependem de certa quantidade, que muitas vezes no
so encontradas nos solos em condies naturais. Para tal, tambm se faz necessria a adubao,
com objetivo no s de repor a reserva consumida pela planta, mas tambm suprindo sua demanda
de absoro, que, conforme citado, podem ser de trs tipos: a qumica, a mineral e a orgnica.
Na adubao qumica geralmente consideramos como fertilizantes apenas os macronutrientes
Nitrognio (N), Fsforo (P) e o Potssio (K), da ento o nome dos adubos de NPK. Quando
citamos nmeros, como exemplo 4-14-8, nos referimos proporo de cada um desses elementos
no adubo, respectivamente, ou seja, neste caso o adubo exemplificado teria quatro partes de
Nitrognio (N); 14 partes de Fsforo (P) e oito partes de Potssio (K). Porm, muitas vezes
temos no solo deficincia de outros elementos, sejam eles macronutrientes ou micronutrientes.
Em ambos os casos, faz-se necessria a consulta a um engenheiro agrnomo, que ir indicar quais
nutrientes e a quantidade de cada um a ser aplicado para uma determinada cultura agrcola e tipo
de solo, com base nas anlises de solo e na necessidade de cada cultura.
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uma maior aerao, fato que resulta numa rpida decomposio do material orgnico aliada baixa
carga destes tipos de material, significando que o solo ter poucos agregados e estrutura fraca,
tornando-os muito suscetveis eroso, mesmo tendo uma elevada velocidade de infiltrao.
IMPORTNCIA AMBIENTAL DOS SOLOS
Do ponto de vista ambiental, ao se abordar um dos assuntos mais discutidos atualmente:
a disponibilidade de gua com qualidade, pouco se fala sobre o que o solo (caractersticas
intrnsecas) pode vir a contribuir para a manuteno dessa qualidade. Solos com uma elevada
carga (CTC Capacidade de Troca de Ctions) tm um elevado poder de filtro, vindo a reter
eventuais contaminaes do solo, antes mesmo de atingir o lenol fretico ou um corpo hdrico.
Solos saturados com gua, no entanto, possuem uma carga quase nula, consequentemente uma
capacidade filtrante baixa, sendo uma das justificativas para a preservao de plancies e pores
baixas prximas a canais de drenagem.
Certas caractersticas dos solos lhe conferem uma determinada capacidade filtrante, e a
CTC pode ser considerada como um dos principais agentes deste comportamento. Normalmente,
quando um determinado tipo de solo apresenta CTC baixa, a profundidade do perfil e a textura
acabam compensado tal deficincia. Dessa forma, o uso em locais com solos de baixa CTC,
pequena espessura e textura arenosa, o risco de contaminao da gua subterrnea elevado.
Assim, podemos concluir que, caso os solos no tivessem caractersticas e propriedades
filtrantes, a qualidade da gua que consumimos estaria seriamente comprometida.
J os solos com elevados teores de material orgnico, comuns em reas de vrzea quando
drenados, passam pela decomposio acelerada do material orgnico (oxidao) com a liberao
de GEE Gases de Efeito Estufa, principalmente Dixido de Carbono e Metano (cujo potencial
de aquecimento global 21 vezes superior ao CO2), apontados por algumas literaturas como os
grandes responsveis pelo aquecimento global. A exemplo disso, se considerarmos um solo de
vrzea, com solos turfoso com profundidade no inferior a 2 metros, poderamos atingir cerca
de 2.000 toneladas de carbono armazenado em um hectare; quantidade esta equivalente ao que
uma floresta comercial de Pinus, plantada em 3 hectares, fixa em pelo menos 18 anos de ciclo.
A drenagem destes solos tem ainda outras implicaes ambientais negativas, dentre elas o
que chamamos de subsidncia, que trata do rebaixamento do nvel do solo por perda de volume,
inicialmente pela retirada da gua, e posteriormente pela decomposio da matria orgnica
de forma acelerada. Esse comportamento pode implicar danos a eventuais edificaes e (ou)
estruturas que existam nestes solos.
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Ainda no que se refere aos solos de vrzea, devemos considerar sua importncia como
regulador hdrico dos rios, visto que atuam semelhantes a uma esponja, ou seja, em perodos
de chuva, em que se tem a vazo dos rios aumentada, essas reas absorvem o excedente de gua,
retendo-o temporariamente, e liberando esta gua armazenada gradativamente em perodos de
estiagem, mantendo uma certa constncia na vazo dos rios, e mitigando os efeitos dos picos de
vazo, como cheias, alagamentos, inundaes, ou o secamento do curso hdrico, respectivamente.
Entre as dcadas de 1970 e 1980 o Ministrio da Agricultura promoveu um programa
denominado Pr-vzea que dava incentivos e facilidade aos agricultores na abertura de novas
reas agrcolas, por meio da drenagem das reas de vrzea. O material orgnico desses solos
lhes confere uma grande fertilidade, porm temporria, visto que rapidamente decomposta,
alm disso no havia a devida reposio de nutrientes, cujas implicaes j foram relatadas. O
desenvolvimento de um programa desse tipo s foi possvel devido ao conhecimento limitado sobre
esses solos, j que para o seu sucesso haveria um grande impacto ambiental, por meio da liberao
de grandes quantidades de carbono para a atmosfera, perda de nutrientes, rebaixamento do nvel
do solo (subsidncia), interferncia sobre o regime hdricos dos rios, e rpido depauperamento
dos solos, inviabilizando seu uso futuro na agricultura.
Outro fato importante a se considerar sobre os solos no que tange ao meio ambiente, cada
vez mais comuns nos noticirios, so a instabilidade de encostas e o risco de deslizamentos (risco
geotcnico) em perodos chuvosos. Na verdade, esses eventos so consequncia de uma soma
de aspectos: climtico (intensidade e frequncia de chuvas), pedolgico (caractersticas do solo)
e antrpico (ocupao em reas de fragilidade ambiental). A dinmica de deslizamentos ocorre
quando o solo superficial, na encosta, fica saturado por gua em decorrncia de um grande
volume de chuva, passando a se comportar como um fluido; este processo ocorre naturalmente e
pode ser considerado como um dos fatores responsveis pela formao dos solos e da paisagem.
O problema est na ocupao desordenada e descontrolada dessas reas, que deveriam ser
destinadas preservao, colocando, dessa forma, toda uma populao em risco.
Por se tratar de reas de encosta, normalmente os solos so pouco espessos (rasos) por
apresentarem impedimento rochoso logo abaixo, diminuindo assim sua capacidade de infiltrao,
armazenamento de gua e estabilidade.
Conforme exposto, percebe-se a fragilidade dos solos, cujas caractersticas e propriedade
esto intimamente relacionadas entre si, e que qualquer modificao que ocorra em uma delas
pode vir a comprometer o sistema (solo) como um todo, implicando no somente sua degradao,
mas tambm de toda uma cadeia ambiental dependente dele gua, flora e fauna , dessa forma
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considerando o uso do solo, muitas vezes o que se aplica ao meio rural no vivel ao urbano, e
vice-versa.
Conforme exposto at ento as principais formas de degradao do solo, que devem ser
evitadas, mitigadas ou controladas so: perdas de solo por processos erosivos; contaminao do
solo por resduos diversos; uso agrcola intensivo; e superdosagens de insumos agrcolas, sendo
estes ltimos dois exclusivos de reas rurais, enquanto os primeiros podem ocorrer tambm em
reas urbanizadas.
Visando reduzir ou controlar a degradao do solo, podem ser adotadas trs diferentes
linhas de atuao (EPAMIG, 2009):
Prticas de carter vegetativo Visam manuteno ou instalao de cobertura
vegetacional sobre o solo, que ter importante papel em aumentar a rugosidade do solo
(reduo da velocidade da enxurrada) ou ainda facilitar a infiltrao da gua no solo.
Algumas tcnicas permitem a incorporao da massa verde no solo como forma de
adubao. Dentre essas prticas, podemos citar:
- Plantio direto na palha cobertura do solo, menor revolvimento, em contrapartida
maior compactao do solo;
- Pousio descanso do solo e incorporao de massa verde;
- Rotao de culturas reduo de pragas, adubo verde, ciclagem de nutrientes,
incorporao de nutrientes (fixao de nitrognio);
- Manuteno da cobertura vegetal nativa pouca interveno no solo, alm da
cobertura atuar na mitigao dos processos erosivos, o mesmo pode ser realizado
com a silvicultura;
- Manejo de pastagem em reas de pecuria evitar a presso de pastagem em
demasiado, principalmente na formao de caminhos preferenciais dos animais,
realizao de adubao e calagem da pastagem, evitando o surgimento de manchas
de solo exposto.
Prticas de carter edfico6 Tm relao com as caractersticas e propriedades do solo,
normalmente so dependentes das outras duas prticas. Dentre as tcnicas, tm-se: a
determinao da capacidade de uso dos solos, que ir permitir o planejamento do uso do
solo; a incorporao da massa verde como adubo; eliminao de queimadas; correo da
acidez do solo (calagem) e adubaes.
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Granulometria Quantidade, normalmente expressas em percentual, das fraes areia, silte e argila em
uma amostra de solo.
Adsorver Quando tomos, molculas ou ons so retidos na superfcie de uma partcula em decorrncia
de ligaes qumicas ou fsicas.
5 Serrapilheira Camada superior de solos sob floresta, correspondente ao horizonte orgnicos de solos
minerais, consistindo de restos de vegetao como folhas, ramos, caules, cascas de frutos, em diferentes
estdios de decomposio (CURI et al., 1993).
6
Edfico Relativo ao solo. Resultante ou influenciado por fatores inerentes ao solo ou outro substrato, mais
por fatores climticos.
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Cleverson V. Andreoli
Fabiana de Nadai Andreoli
Tamara Vigolo Trindade
Cinthya Hoppen
INTRODUO
O acelerado processo de transformao por que passa a sociedade contempornea apresenta
consequncias ambientais significativas, as quais apenas recentemente tm sido objeto de maior
ateno por parte de todos, governos e sociedade em geral. (CALDERONI, 2003)
A dificuldade da gesto de resduos tem duas componentes: a enorme quantidade de
resduos gerados e a sua composio. A ltima gerao consumiu uma quantidade maior de
recursos do que o conjunto de todas as populaes humanas, desde o seu aparecimento na Terra.
Antigamente, os resduos eram orgnicos1 e voltavam para a natureza por meio da decomposio.
Em decorrncia da industrializao que aumentou a produo de produtos inorgnicos que no
se decompem (ou que requerem um tempo muito grande para se degradar), tais como o vidro,
plstico, metais, borracha, houve um grande aumento na produo de resduos.
Associado ao aumento da produo de bens decorrentes da tecnologia de extrao de recursos
naturais e da sua manufatura, principalmente a partir da revoluo industrial, a sociedade ampliou
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muito suas demandas. Paralelamente os bens que no passado tinham uma vida til muito longa
passaram a ser substitudos com grande intensidade, at chegarmos era dos produtos descartveis.
A adequada gesto dos resduos representa um dos grandes desafios atuais da humanidade.
A busca incessante de conforto fez com que a sociedade extrasse da natureza os recursos
naturais, que muitas vezes so posteriormente desperdiados acarretando em uma maior
quantidade de resduos slidos, causando impactos ambientais2. Como grande parte desses
recursos provenientes da natureza so modificados, no retornam natureza facilmente, pois
muitas vezes dependem de processos especiais para sua preparao para a reciclagem.
Ainda no cenrio de transformao, hoje perdura na sociedade a ideia da obsolescncia
planejada, sendo os produtos projetados para terem uma durabilidade e tempo de vida menor e,
consequentemente, havendo a necessidade de se comprar mais vezes o mesmo produto. Dessa
forma, os produtos so trocados por ficar obsoletos e no por se estragar, repercutindo diretamente
no aumento da produo de resduos.
Certamente, o aumento da quantidade de resduos slidos um grave problema ambiental,
pois necessrio levar em considerao que o planeta um sistema fechado, ou seja, em que
no h troca de matrias com o meio e, portanto, o resduo o resultado de um processo de
transformao da natureza.
Alm disso, ao considerar a Terra como um sistema fechado, devemos perceber que
os resduos slidos so, na realidade, ou deveriam ser considerados, as matrias-primas para
produo de outros artefatos, evitando, assim, a explorao de recursos naturais, que so finitos.
Nesse sentido, importante destacar a diferena entre resduos slidos e lixo.
Lixo X Resduos Slidos
Os resduos slidos so gerados a partir de atividades de origem industrial, domstica, hospitalar,
comercial, agrcola, de varrio entre outras e podem ser utilizados como matria-prima3.
Diferentemente desta definio, lixo pode ser entendido como algo impossvel de ser reaproveitado,
e definido como coisas inteis, imprestveis, velhas e sem valor; qualquer material produzido pelo
homem que perde a utilidade e descartado.
Assim, o termo aqui utilizado ser resduos slidos, j que todo o pensamento est fundamentado
na possibilidade de reutilizao, partindo do pressuposto que os resduos sero matria-prima para
a produo de novos artefatos. Dessa forma, entende-se resduo como matria-prima em local
inadequado.
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A problemtica que envolve a questo dos resduos slidos no est apenas relacionada com
a quantidade gerada, mas sim, e principalmente, pela forma de destinao final; ao descartaros
resduos em reas a cu aberto, conhecidas como lixes,4 as consequncias de poluio ambiental
causadas por essa forma de destinao podem acarretar na contaminao tanto do solo quanto
dos recursos hdricos.
Os lixes, alm de se tornarem um grave problema de sade pblica, em virtude da
disposio inadequada dos resduos, so fontes de sobrevivncia para muitos, evidenciando um
grave problema social. E nesse sentido, uma discusso tica pode ser levantada, j que o que
sobra para alguns fundamental para sobrevivncia de outros: enquanto muitos passam fome,
outros desperdiam alimentos.
Surge nesse cenrio a necessidade de gerenciar toda a cadeia dos resduos slidos. O
primeiro passo reduzir a produo de resduos por meio da diminuio do consumo (consumo
responsvel). Cabe destacar que como essa etapa de gerao de resduos precede as demais,
quanto menos resduo gerado, melhor para o meio ambiente.
Posteriormente deve-se aumentar ao mximo a reutilizao e reciclagem, promovendo o
correto depsito e tratamento dos resduos slidos, conforme estabelecido na Agenda 21,5 durante
a CNUMAD Conferncia das Naes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento ocorrida
no Rio de Janeiro em 1992.
No item 21.4 do captulo 21, da Agenda6 21, ficou estabelecido que o manejo ambientalmente
saudvel desses resduos deve ir alm do simples depsito ou aproveitamento por mtodos seguros
dos resduos gerados e buscar resolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os
padres no sustentveis de produo e consumo. Isso implica a utilizao do conceito de manejo
integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade nica de conciliar o desenvolvimento com
a proteo do meio ambiente. (MMA, 2012)
Assim, as aes devem estar relacionadas com os seguintes programas:
(a) Reduo ao mnimo a produo dos resduos;
(b) Aumento ao mximo da reutilizao e reciclagem ambientalmente saudveis dos resduos;
(c) Promoo do depsito e tratamento ambientalmente saudveis dos resduos;
(d) Ampliao do alcance dos servios que se ocupam dos resduos.
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Assim, nota-se o trip da sustentabilidade que envolve a questo dos resduos slidos:
Aspecto ambiental: forma de disposio inadequada dos resduos;
Aspecto social: o lixo como forma de sobrevivncia de muitos;
Aspecto econmico: resduos slidos como matria-prima.
CONDIO ECONMICA X PRODUO DE RESDUOS
O cenrio nacional e internacional da produo de resduos slidos est diretamente
relacionado com a poca em que vivemos, bem como o modo de vida da populao, ou seja, com
a condio econmica da populao.
PASES RICOS E POBRES
Nos pases mais industrializados, as quantidades de resduos produzidos so maiores. Quanto
mais rico o pas, mais lixo se joga fora, comprovando assim que a composio e a quantidade de
resduos produzidos esto diretamente relacionadas com o modo de vida dos povos.
A relao da produo de resduos com as condies econmicas tambm pode ser
observada com o perodo do ms. Geralmente, no comeo do ms, quando temos maior poder de
compra, o resduo produzido tambm sofre variao, tanto em quantidade quanto em composio.
LOCALIZAO DAS CIDADES
A localizao das cidades tambm se relaciona com a produo de resduos. Cidades
litorneas costumam receber no vero vrias vezes mais pessoas que sua populao normal e isso
interfere diretamente na quantidade de resduos slidos gerada. As cidades que possuem turismo
no inverno tambm vivenciam o mesmo problema.
PANORAMA DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS NO BRASIL
Produo de Resduos no Brasil
De acordo com ABRELPE (2011), o ndice per capita de gerao de resduos slidos
urbanos no Brasil passou de 378,4 kg/hab/ano em 2010 para 381, 6kg/hab/ano em 2011,
havendo um aumento de 0,8% na gerao nesse perodo, conforme a figura a seguir:
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Essa gerao de resduos slidos urbanos no Brasil foi considerada como um crescimento
expressivo entre os anos de 2010 e 2011, superando a taxa de crescimento populacional urbano,
que foi de cerca de 0,9% no perodo. A comparao da quantidade total gerada em 2011 com
o total de resduos slidos urbanos coletados mostra que 6,4 milhes de toneladas de resduos
slidos urbanos deixaram de ser coletados no ano de 2011 e, por consequncia, tiveram destino
imprprio (ABRELPE, 2011).
Na comparao entre o ndice de crescimento da gerao com o ndice de crescimento da
coleta, percebe-se que este ltimo foi ligeiramente maior do que o primeiro, o que demonstra uma
ampliao na cobertura dos servios de coleta de RSU no pas.
Composio dos Resduos Slidos Urbanos (RSU)
A composio gravimtrica mdia dos RSU coletados no Brasil bastante diversificada
nas diferentes regies, uma vez que est diretamente relacionada com caractersticas, hbitos e
costumes de consumo e descarte da populao local. A figura a seguir apresenta uma mdia para
a composio gravimtrica no Brasil.
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O aterro sanitrio a forma de destinao final mais utilizada no Brasil, atingindo em 2011
o ndice de 58,1%. No entanto, pode-se notar pela figura abaixo que o lixo ainda continua sendo
uma alternativa de disposio final bastante utilizada, apresentando um percentual igual a 17,7%
em 2010 (ABRELPE, 2011).
Destinao final de RSU (t/dia)
Classificao de resduos
Como j definido, resduos slidos so gerados a partir de atividades de origem industrial,
domstica, hospitalar, comercial, agrcola, de varrio entre outras e podem ser podem ser
utilizados como matria-prima. Em contrapartida, lixo pode ser entendido como algo intil, que
no pode ser reaproveitado.
Com isso pode-se dizer que quando se mistura todo o material descartado, temos o lixo.
Quando fazemos a separao do lixo e encontramos materiais que podem ser reutilizados, temos
o resduo slido. (SILVA e ALMEIDA, 2010)
Tecnicamente, resduo slido definido como resduos no estado slido e semi-slido
resultante de atividades da comunidade de origem industrial, domstica, hospitalar, comercial,
agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio lodos provenientes dos sistemas
de tratamento de gua, aqueles gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem
como determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel seu lanamento na rede pblica
de esgotos ou corpos dgua, ou exijam para isto solues tcnicas e economicamente viveis em face
da melhor tecnologia disponvel (NBR 10.004/2004 Classificao de Resduos Slidos8).
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Assim, esta etapa pode ser considerada temporria, mas, sem dvida, fundamental para o
xito do PGRS, pois pode facilitar a coleta dos resduos.
Para o acondicionamento temporrio de resduos, podem ser utilizadas caambas,
contineres e lixeiras destinadas coleta de resduos reciclveis (coleta seletiva), dependendo do
tipo de resduo. Cabe destacar que fundamental a identificao dos recipientes onde os resduos
sero acondicionados, identificando com figuras (cores) e dizeres qual o tipo de resduos que
corresponde quele recipiente, visando facilitar o correto descarte de resduos. De acordo com a
Resoluo CONAMA 275/2001, foram estabelecidas padres de cores para os diferentes tipos de
resduos para identificao de coletores, conforme abaixo:
Azul: papel / papelo;
Vermelho: plstico;
Verde: vidro;
Amarelo: metal;
Preto: madeira;
Laranja: resduos perigosos;
Branco: resduos ambulatoriais e de servios de sade;
Roxo: resduos radioativos;
Marrom: resduos orgnicos;
Cinza: resduos geral no reciclvel ou misturado, ou contaminado no passvel de separao.
A coleta seletiva permite que os materiais que podem ser reciclados sejam separados dos
demais, ou seja, os materiais reciclveis so separados em papis, plsticos, metais, vidros, sendo
que o lixo orgnico (restos de alimentos, podas de rvores, folhas secas e outras partes das
rvores) so utilizados para a fabricao de adubos orgnicos por meio da compostagem10 ou so
(deveriam) encaminhados para o aterro sanitrio.
Cabe destacar que as pilhas e baterias tambm devem ser separadas, pois, se descartadas
inadequadamente no meio ambiente, podem causar contaminao do solo em virtude da presena
de metais pesados em sua composio. Ainda nesse grupo enquadram-se os resduos hospitalares
em virtude da contaminao biolgica que podem apresentar, sendo que eles devem ser segregados
dos demais resduos e destinados incinerao.
Coleta
O passo seguinte a coleta dos resduos anteriormente acondicionados de forma correta.
Esta etapa deve ser realizada com frequncia para evitar que o resduo fique muito tempo exposto
540
e ocorra emisso de odores e atrao de vetores. Por esse motivo, a regularidade imprescindvel,
pois reduz o acmulo de resduos nos recipientes de acondicionamento.
Cabe destacar que a coleta geralmente realizada por caminhes, que transportam o resduo
at o destino final pretendido.
Ainda nesta etapa pode-se dizer que caso o acondicionamento de resduos seja feita de
forma adequada, realizando a segregao do lixo, a coleta facilitada, favorecendo posteriormente
a reciclagem. Ressalta-se ainda que, quando possvel, deve ser realizada coleta peridica de
resduos especiais como pilhas, baterias e lmpadas fluorescentes.
Dessa forma, a coleta seletiva dos resduos contribui de forma direta para a sustentabilidade,
pois reduz significativamente o consumo de recursos naturais, bem como minimiza a possibilidade
de poluio dos recursos hdricos e solo.
Transporte
Aps a etapa de coleta dos resduos, o prximo passo corresponde ao transporte desses
resduos etapa de tratamento, e posteriormente, destinao final.
O transporte dos resduos geralmente realizado por caminhes especficos para tal finalidade.
Nesta etapa, devem ser tomados alguns cuidados com relao s exigncias legais, buscando
sempre verificar e atender s normas de transporte de resduos da localidade, bem como atentar
para o arquivamento de certificados e manifesto de transporte de resduos, j que, por meio
destes, possvel assegurar que o resduo foi transportado de forma adequada at o destino final,
que pode ser a reciclagem ou o tratamento.
Reciclagem
A reciclagem um processo no qual os resduos so reaproveitados para um novo produto,
economizando matria-prima que seria necessria para a produo destes novos produtos.
A reciclagem facilitada pelo correto acondicionamento dos resduos, por meio da
realizao da coleta seletiva. Cabe destacar que as associaes dos catadores tambm contribuem
para a reciclagem, uma vez que eles realizam a coleta dos resduos e posteriormente efetuam a
venda para as recicladoras, aumentando o ndice de separao de materiais para a reciclagem.
Em Curitiba, foi implantado o Projeto EcoCidado, em 2007 e voltado para os catadores de
materiais reciclveis de Curitiba. Tem como gestor a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e
a Fundao de Ao Social FAS, como principal parceira do projeto. Foi implantado como
541
542
preciso primeiramente escolher uma rea no quintal. No preciso que a rea seja
concretada, desde que o piso de terra esteja compactado para impedir a infiltrao do chorume11.
Prepare sua rea de compostagem em local fresco e seco, protegido da chuva e da insolao direta.
Depois da definio da rea necessrio colocar uma primeira camada de 5 cm de resduo
de palha ou folhas secas junto ao local definido. Sobre esta camada, coloque restos de comida e
outros resduos orgnicos de fcil decomposio como misturados. Depois, polvilhe um pouco de
terra (cerca de 5 cm) ou sobreponha uma nova camada de palha ou folhas secas. Intercale estas
camadas at atingir a altura mxima de 1m.
Faa sempre montes pequenos, de no mximo 1m x 1m x 1m (comprimento x largura x
altura) para facilitar a movimentao e revolvimento do material. Uma vez por semana, procure
revirar o monte de composto e molh-lo superficialmente. Lembre-se que quanto mais triturado
estiver o resduo primrio, mais rpida ser sua decomposio e o preparo do composto orgnico.
O ideal que os materiais tenham entre 10 e 40 milmetros de tamanho.
Caso prepare o composto orgnico em reas abertas, evite misturar restos e pedaos de
carne, que podero atrair insetos e roedores.
Com o passar dos dias perceber que a temperatura do monte estar aumentando. No
se preocupe, pois ela se elevar at aproximadamente 70C com o decorrer dos dias. Nunca se
esquea de revolver o monte, pois isso ajuda a aerar a massa e manter a temperatura adequada.
Se acontecer alguma coisa diferente, pode ser que o processo de compostagem no esteja
ocorrendo adequadamente. Veja abaixo como solucionar os problemas que podem ocorrer durante
o processo de compostagem
EXEMPLOS
MOTIVOS
SOLUES
Mal cheiro
falta de oxignio
revolver
Cor branco-acinzentada
revolver e umedecer
Excesso de umidade.
excesso de gua
Aps esse perodo, o composto pode ser utilizado como adubo orgnico em uma infinidade
de espcies vegetais como em fruticultura, jardins, paisagismo, gramados, reflorestamento,
produo de mudas, gros etc.
543
Destinao final
A ltima etapa do Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos refere-se destinao final
dos resduos, configurando-se como um grande desafio para as cidades em virtude da grande
quantidade de resduos gerada.
Como alternativas de disposio final podem ser citadas:
- Lixo12
Esta uma forma inadequada de disposio de resduos, pois o local no possui nenhum
tipo de tratamento. O resduo disposto diretamente no solo, o que pode causar diversos tipos de
contaminao, alm da atrao de vetores e odores, no possuindo nenhuma tcnica de tratamento,
bem como podendo se encontrar em locais inadequados.
Essa disposio ainda tem como agravante a presena de pessoas, as quais se utilizam da
garimpagem do lixo como forma de sobrevivncia e at mesmo para alimentao, podendo ainda
adquirir vrias doenas, tornando-se, dessa maneira, um grave problema social.
- Aterro Controlado
Os aterros controlados, ao contrrio do aterro sanitrio, visa apenas cobertura dos resduos
com uma camada de terra, evitando a proliferao de vetores e o seu carreamento pelas guas
pluviais, no dispondo de rea impermeabilizada, nem tratamento do chorume ou coleta e queima
de biogs.
Essa forma de disposio prefervel ao lixo, mas ainda no considerada a melhor
forma, pois ela apenas minimiza os impactos ambientais e no previne a poluio ambiental.
(CETESB, 2012)
- Aterro Sanitrio
O aterro sanitrio uma alternativa de disposio final que consiste na compactao dos
resduos slidos em camadas. O solo impermeabilizado, o chorume coletado e posteriormente
tratado, evitando a contaminao das guas subterrneas. O gs metano gerado em virtude da
decomposio anaerbia13 da matria orgnica no interior do aterro, muitas vezes, queimado,
podendo tambm ser realizado o aproveitamento energtico para gerao de energia eltrica.
Atualmente, os aterros sanitrios vm sendo severamente criticados porque no tm como
objetivo o tratamento ou a reciclagem dos materiais presentes no lixo urbano. De fato, os aterros
sanitrios so uma forma de armazenamento de lixo no solo, alternativa que no pode ser considerada
a mais indicada, uma vez que os espaos teis a essa tcnica tornam-se cada vez mais escassos.
544
Alm disso, o aterro sanitrio um passivo ambiental, j que esta rea nunca poder ser
novamente utilizada em virtude do grande armazenamento de resduos e produo contnua de
gs metano.
As principais caractersticas do aterro sanitrio so:
- Impermeabilizao da base do aterro, evitando o contato do chorume com as guas
subterrneas, podendo ser com geomenbranas14 sintticas;
- Instalao de drenos de gs, constituindo-se como um canal de sada do gs metano do
interior do aterro para a atmosfera. Esse gs pode ser apenas queimado e transformado
em gs carbnico15 ou pode ser recolhido para o aproveitamento energtico.
- Sistema de coleta de chorume, por meio de drenos que coletam o lquido decorrente
da decomposio da matria orgnica. Este lquido coletado enviado para sistema de
tratamento de efluentes.
- Sistema de tratamento de chorume, onde o mesmo coletado e encaminhado para um
sistema de tratamento para posterior descarte em um curso hdrico. O tratamento pode
ser feito no prprio local ou o chorume coletado pode ser transportado para um local
apropriado (geralmente uma Estao de Tratamento de Esgotos). O tipo de tratamento
varia, podendo ser utilizados tratamentos mais convencionais por meio da utilizao de
lagoas anaerbias, aerbias e lagoas de estabilizao ou tambm mediante a adio de
substncias qumicas ao chorume.
- Sistema de drenagem de guas pluviais, evitando que as guas se juntem ao chorume.
Esse sistema de captao e drenagem de guas de chuva tem por objetivo drenar a gua
por locais apropriados para evitar a infiltrao e contato com o chorume, minimizando o
volume a ser tratado.
- Incinerao
A incinerao a tcnica de queima de resduos, a qual altamente utilizada nos pases
desenvolvidos e que possuam indisponibilidade de rea e capacidade de altos investimentos. Esta
tcnica visa diminuio da quantidade e volume de resduos, bem como a sua toxicidade. No
entanto, gera o problema da gerao da cinza aps a queima, a qual ainda necessita de um destino
final adequado.
Esta tcnica consiste na combusto16 controlada de resduos com temperaturas acima de
900C a 1.200C, transformando o resduo em dixido de carbono, vapor de gua e cinza,
545
podendo gerar a eliminao de gases txicos, necessitando, dessa forma, de filtros especiais,
para evitar a poluio do ar. Uma das vantagens desta tcnica que a combusto pode ser
transformada em energia trmica.
Poltica Nacional de Resduos Slidos
Em 2 de agosto de 2010 foi instituda a Poltica Nacional de Resduos Slidos17 (PNRS),
por meio da Lei n. 12.305. Esta marco histrico da gesto ambiental no Brasil, pois lana uma
viso moderna na luta contra um dos maiores problemas do planeta: o lixo urbano (CEMPRE
Poltica Nacional de Resduos Slidos Agora lei). A PNRS rene princpios, objetivos,
instrumentos e diretrizes para a gesto dos resduos slidos.
A Poltica Nacional de Resduos Slidos distingue o lixo que pode ser reaproveitado ou
reciclado e o que no passvel de reaproveitamento, se referindo tambm aos demais tipos
de resduos.
A tabela abaixo apresenta as alteraes decorrentes aps a instituio da Poltica Nacional
de Resduos Slidos, mostrando um panorama de como era antes e como ficar depois da Lei
n. 12.305.
O que muda com a Lei n. 12.305?
ANTES
DEPOIS
Poder Pblico
Falta de prioridade para o lixo urbano
Existncia de lixes na maioria dos municpios
Resduo orgnico sem aproveitamento
Coleta seletiva cara e ineficiente
Empresas
Inexistncia de lei nacional para nortear os
Marco legal estimular aes empresariais
investimentos das empresas
Novos instrumentos financeiros impulsionaro a
Falta de incentivos financeiros
reciclagem
Mais produtos retornaro indstria aps o uso
Baixo retorno de produtos eletrnicos ps-consumo
pelo consumidor
546
ANTES
Desperdcio econmico sem a reciclagem
DEPOIS
Reciclagem avanar e gerar mais negcios com
impacto na gerao de renda
Catadores
Catadores reduzem riscos sade e aumentam
renda em cooperativas
Cooperativas so contratadas pelos municpios para
Informalidade
coleta e reciclagem
Aumenta a quantidade e melhora a qualidade da
Problemas de qualidade e quantidade dos materiais
matria a ser reciclada
Trabalhadores so treinados e capacitados para
Falta de qualificao e viso de mercado
ampliar produo
Explorao por atravessadores e riscos sade
Populao
No separao do lixo reciclvel nas residncias
Falta de informao
Fonte: Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) Poltica Nacional de Resduos Slidos Agora lei.
Em nvel estadual, o Estado do Paran promulgou em 1999 a Lei PR n. 12.493, que rege os
princpios e normas referentes a gerao, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte
e destinao final dos resduos slidos no Paran, visando o controle da poluio... Essa Lei
responsabiliza as empresas geradoras de resduos por todas as etapas da gesto e disposio final
dos resduos, assim como do passivo ambiental causado pela desativao da fonte geradora e
recuperao de reas degradadas. Tambm probe o lanamento in natura a cu aberto, a queima
a cu aberto, o lanamento em corpos dgua, terrenos baldios, redes pblicas, poos, em redes
de drenagem pluvial, de esgotos, de eletricidade e de telefone.
O lixo um dos maiores problemas dos centros urbanos. Alm da sujeira que enfeia as
cidades, representa foco de doenas graves. A coleta do lixo atribuio da Prefeitura, mas
cuidar e evitar que ele venha a ser depositado nos crregos e em lugares inadequados uma
responsabilidade de todos ns!
547
548
Apucarana:
Sacola Verde, o programa uma iniciativa da Prefeitura de Apucarana e tem como
objetivo o incentivo na distribuio de sacolas plsticas na colorao verde, nas quais,
posteriormente, sero acondicionados os resduos reciclveis limpos e secos. Nas demais
sacolas sero acondicionados os resduos midos o orgnicos. Estas sacolas verdes so
recolhidas por caminhes da prefeitura e encaminhadas para a Cooperativa de Catadores
de Apucarana. A coleta acontece de segunda a sbado.
Blitz Ecolgica, o programa visa orientao sobre destinao de lmpadas, pilhas,
baterias e pneus usados com coleta todo segundo sbado de cada ms.
Programa de Reciclagem do leo Vegetal (PROVE), o programa promove a
transformao de leo vegetal usado em novos produtos. Em locais predeterminados
sero distribudas embalagens padronizadas; o leo depositado e posteriormente
coletado nos mesmos pontos de distribuio das embalagens.
Bolsa de resduos: este programa tem como objetivo a negociao de resduos entre
indstrias, por meio de compra, venda, troca ou doao, viando agregar valores aos resduos
transformando-os em matria-prima ou insumo na fabricao de produtos. Para participar do
programa Bolsa de Resduos, pode ser qualquer empresa estabelecida no pas ou de outros pases,
desde que possua representante legal autorizado. um programa patrocinado pela Confederao
Nacional da Indstria (CNI) e apoio das Federaes dasIndstrias Estaduais. Atualmente
desenvolvido nos estados do Par, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Gois e Paran. (BOLSA DE
RESDUOS, 2012)
CONCLUSES
Nota-se, por meio do exposto, que a questo dos resduos slidos envolve diversas esferas, as
quais possuem relao direta com a qualidade de vida da populao, bem como com os princpios
da sustentabilidade, j que o consumo responsvel faz que se reduza de forma significativa a
quantidade de resduos gerada.
Outro fator importante a se considerar o grande problema ambiental que vem sendo
gerado em decorrncia da destinao final inadequada dos resduos, prejudicando a qualidade
ambiental do meio em que vivemos.
549
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Lixo uma forma inadequada de disposio final de resduos slidos, que se caracteriza pela simples
descarga do lixosobre o solo, sem medidas de proteo ao meio ambiente ou sade pblica. Fonte:
<http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/residuos/res12.html>.
551
15 Gs carbnico Um dos principais gases do efeito estufa (GEEs), o dixido de carbono (CO2), sendo este
o responsvel por 80% do aquecimento causado pelo homem, enquanto o metano (CH4), que 21 vezes
mais potente que o dixido de carbono.
16 Combusto Ao de queima, uma reao qumica de uma substncia com o oxignio, que produz luz e
calor, ou apenas calor.
17 Sugesto de link: Acesso poltica nacional de resduos slidos: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>.
552
CONSUMO RESPONSVEL
Valdir Fernandes
Afonso Vieira
1. INTRODUO1
Crescimento populacional, urbanizao, industrializao e tecnologia, por um lado,
e degradao socioambiental, por outro, so algumas das caractersticas do processo de
desenvolvimento das sociedades contemporneas, a partir da Revoluo Industrial.
Segundo dados da Organizao das Naes Unidas (ONU), a populao mundial passou de
3 bilhes de habitantes em 1960 para 7 bilhes em 2011. No Brasil passou-se de 70 milhes
de habitantes em 1970 para mais de 190 milhes em 2010 (IBGE, 2010). Houve tambm
intensa migrao para os centros urbanos. Em 1960, 34% da populao mundial vivia em centros
urbanos. Em 2011 esse percentual subiu para 82% na Amrica do Norte, 80% na Amrica Latina
e Caribe, 73% na Europa, 70% na Oceania, 42% na sia e 40% na frica (ONU, 2011). 36%
da populao brasileira moravam nas cidades em1950, em 2010 a proporo urbana passou para
84%, (IBGE, 2010).
O processo de industrializao tambm foi intenso. Se houve a migrao porque as
principais atividades produtivas geradoras de emprego e renda se deslocaram do campo para os
centros urbanos. O crescimento populacional e a Revoluo Industrial, causas e consequncias
diretas da urbanizao, e do desenvolvimento tecnolgico, elevaram exponencialmente o uso de
energia e de recursos naturais, ao mesmo tempo aumentando sobremaneira a gerao de resduos
553
e a produo de poluentes, tais como os gases de efeito estufa, metais pesados que contaminam
solos, rios e mares, pesticidas de uso agrcola. Esse aumento das atividades humanas, por meio
da produo e do consumo, uma ameaa capacidade da Terra de fornecer os recursos e de
absorver resduos e efluentes (ONU, 2011). Ainda no conhecido o ponto de resilincia2 do
Planeta Terra.
Associam-se aos problemas de dilapidao dos recursos naturais e da qualidade do
ambiente fsico, as graves desigualdades sociais. Embora o PIB mundial tenha aumentado de
5,3 trilhes, em 1960, para 69,6 trilhes em 2010, quase um quarto da populao mundial
ainda vive abaixo das linhas de pobreza, o que significa menos de 1,25 dlar por dia. Os dados
sobre a renda per capita nos vrios pases tambm ilustram as diferenas em relao ao acesso
aos benefcios produzidos pelo crescimento econmico. Enquanto em 2010 a renda per capita
nos Estados Unidos era de 46,5 mil dlares/ano, no Brasil esse valor cai para 10,7 mil dlares,
e em Uganda para apenas 509 dlares. Portanto, a degradao ambiental, que historicamente
vem sustentando o crescimento econmico, prejudica todos em termos de qualidade de vida, mas
beneficia economicamente apenas parte da populao da Terra.
O crescimento econmico e a urbanizao, segundo Fernandes (2008, p. 2), proporcionaram:
paradoxalmente crescente melhora na qualidade de vida, advinda da infraestrutura (reduo de tempo e
distncia atravs dos meios de transportes e comunicao; melhora na condio de trabalho e lazer, a partir
do desenvolvimento tecnolgico e de gesto; qualidade de servios, diversidade de bens de consumo quase
individualizados aos respectivos gostos) e, ao mesmo tempo, crescente diminuio dessa mesma qualidade de
vida no que se refere s condies psicolgicas e sociais (presses de todas as ordens, alto stress) e da reduo
da qualidade dos bens naturais (gua, ar, solo, produtos agrcolas e outros bens essenciais provenientes e
derivados da natureza).
554
555
2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL4
A partir do cenrio supracontextualizado, evidenciando os dois principais problemas que
abalam a humanidade, a degradao do ambiente e a desigualdade social, o tema sustentabilidade
tem se tornado agenda emergente, amplamente debatido. Tem levado vrios setores da sociedade
a se mobilizarem em prol de uma maior conscientizao na construo e divulgao de um saber
que possa contribuir para, se no sanar, pelo menos minimizar a contradio estabelecida. Tratase de conciliar a necessidade de produzir bens necessrios qualidade de vida das sociedades
e ao mesmo tempo preservar os elementos naturais igualmente responsveis por esta mesma
qualidade de vida.
A partir da conscincia desta contradio por parte de alguns setores sociais, a busca de
solues tem evoludo em todo o mundo, podendo ser observado tambm os seus reflexos no Brasil.
Segundo Barbieri (2009), a preocupao com os problemas ambientais decorrentes dos processos
de crescimento e desenvolvimento deu-se lentamente e de modo muito diferenciado entre os
diversos agentes, indivduos, governos, organizaes internacionais, entidades da sociedade civil.
E poder-se-ia resumir essa evoluo em algumas etapas. Primeiramente, pode-se afirmar que
houve certa ignorncia, negligncia e at indiferena da maioria das pessoas consumidores,
produtores de bens e servios em relao percepo da problemtica ambiental. E as aes
para lidar com as consequncias oriunda desses problemas ambientais so de natureza reativa,
corretiva e repressiva, a partir de multas, proibies e atividades de controle da poluio em
relao s atividades industriais e de consumo. Em seguida essa problemtica percebida como
um problema generalizado, confinado nos limites dos Estados nacionais, que intervm na resoluo
desses problemas ambientais com estmulos substituio de processos produtivos poluidores,
estudos de impacto ambiental, licenciamento de empreendimentos, entre outros. E numa terceira
etapa, toda essa problemtica percebida de maneira global, planetria, de forma que suas
consequncias podem atingir a todos como resultado do modelo de desenvolvimento concebido
e praticado pelos pases. Ento, passa-se a questionar as polticas e metas de desenvolvimento, a
racionalidade subjacente e a prpria noo de desenvolvimento apenas baseada no crescimento
econmico. dimenso econmica, so agregadas aquelas de natureza ambiental, ecolgica,
territorial, poltica, cultural e social, constituintes inseparveis do que se convencionou denominar
desenvolvimento sustentvel.
O termo sustentvel, originado do latim sustentare, significa sustentar, defender, favorecer,
apoiar, conservar e cuidar. Segundo definido pelo Relatrio Nosso Futuro Comum, conhecido
tambm com Relatrio Brundtland (1987), Desenvolvimento Sustentvel ... aquele que atende
556
557
copiado dos pases centrais (Europa e Estados Unidos). O desenvolvimento endgeno, segundo
Godard et al. (1987), consiste em que sociedades nacionais e locais adquiram certo domnio como
atores do seu prprio desenvolvimento.
Dimenso ecolgica, refere-se conservao da natureza (dos ecossistemas), levando em
conta seus elementos biolgicos e fsico-qumicos. A sustentabilidade ecolgica significa parcimnia
no uso dos recursos, considerando sua capacidade de resilincia, devendo, portanto, serem
priorizados os recursos renovveis. o que Dansereau (1999, p. 303) define como prospeco
ecolgica, que significa levar em conta os critrios e limites do meio ecolgico, em contraste
aos critrios econmicos, histricos, culturais e polticos e de construo da territorialidade. O
mesmo deve se dar no plano das disciplinas correspondentes economia, histria, sociologia,
entre outras, que devem revisar seus esquemas a partir de uma perspectiva dos limites ecolgicos.
A partir desta premissa, torna-se fundamental a mudana nos padres de consumo e a reverso do
modelo cultural que sustenta os padres atuais, de elevado consumo de energia e demais recursos
e gerador de resduos. Essa dimenso remete prpria sustentao da economia como atividade
dependente dos recursos naturais. Remete tambm noo de necessidade objetiva, em contraste
com as necessidades subjetivas socialmente construdas.
Dimenso ambiental, incorpora as dimenses territorial e ecolgica, e est intimamente
ligada com a compreenso dos limites e capacidades dos ecossistemas. Como afirma Merico
(1996, p. 30), a biosfera no cresce e a fonte de todos os recursos que alimentam a economia
e lugar de deposito dos resduos e rejeitos. Portanto, deve-se respeitar dois pressupostos bsicos:
no retirar dos ecossistemas mais do que a sua capacidade de regenerao; no lanar aos
ecossistemas mais do que a sua capacidade de absoro. A partir desta compreenso, o ambiente
resultado das atividades humanas na biosfera.
Dimenso territorial, deve considerar a ocupao planejada do espao, respeitando
os limites impostos pelo sistema ecolgico na construo da territorialidade5. Precisa levar em
conta o equilbrio na ocupao do espao, principalmente considerando a distribuio entre
meio urbano e rural. Necessrio se faz polticas que contenham a expanso urbana, em muitos
casos privilegiada na prpria alocao de recursos governamentais em infraestrutura e fomento
produo como um todo, favorecendo o abandono do campo. Portanto, a valorizao da produo
sustentvel no campo, inclusive com polticas de formao tcnica para atividades neste meio,
tendo em vista a conservao de ecossistemas e da biodiversidade, configura aes importantes
rumo sustentabilidade espacial ou territorial.
Dimenso econmica, significa garantir a viabilidade econmica do desenvolvimento,
no sentido de construir um modelo produtivo vivel, provedor das necessidades sociais e
558
condio necessria para erradicao da pobreza, sem a exausto dos recursos naturais que
o sustentam. Portanto, no dilapidador dos recursos naturais e no degradador do equilbrio
sociocultural. Desenvolvimento econmico diversificado, intersetorial, com capacidade de
inovao e modernizao contnua dos instrumentos de produo. A economia como atividade
humana provedora das necessidades sociais.
Dimenso poltica, se d em dois mbitos: nacional, a democracia como expresso prtica
dos direitos humanos. O estado como expresso coletiva da sociedade envolvendo seus vrios
setores e interesses, manuteno das instituies democrticas e segurana jurdica, a partir da
construo de regras estveis e duradouras, considerando as trs esferas, federal, estadual e
municipal; internacional, a busca incessante pela paz e cooperao entre os povos, a reduo
das assimetrias entre norte e sul, compartilhamento de responsabilidades, controle do sistema
financeiro internacional, estabelecimento e aplicao efetiva de princpios de precauo na gesto
ambiental dos recursos naturais, visando prevenir as mudanas climticas globais, conservao
da biodiversidade biolgica, respeito diversidade cultural, gesto efetiva dos patrimnios da
humanidade, cooperao cientfica e tecnolgica, a partir da compreenso de que se trata de
patrimnio construdo historicamente, portanto, de propriedade e uso comum da humanidade.
Embora no se possa afirmar que j esta havendo uma mudana de paradigma, algumas
prticas, a partir da perspectiva da sustentabilidade, j ocorrem em nvel mundial. A ttulo de
ilustrao citam-se algumas aes.
Durante as crises financeiras de 2007, 2008 e 2009, a Coreia do Sul, utilizou quase a
totalidade dos recursos destinados a reaquecer a economia em tecnologia verde. Aquele pas
resolveu ser a primeira nao no mundo a ter uma Economia Verde6. Essa atitude se deu a partir
da percepo de que se trata de uma mudana necessria e ao mesmo tempo uma oportunidade
de desenvolvimento tecnolgico, com resultados econmicos inerentes. A percepo que h
enormes oportunidades em tecnologias sustentveis, diante do desafio em que a humanidade e a
economia se encontram. Os primeiros que realizarem essas oportunidades podero inaugurar um
outro estilo de vida e de economia e ao mesmo tempo estaro ajudando a salvar o planeta.
A proposta de uma Economia Verde7 est na agenda de desenvolvimento internacional, e
foi tema central na prxima Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento Sustentvel,
no Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho de 2012. A Rio + 20, como foi apelidada a referida
conferncia, tratou da Economia Verde, no contexto do desenvolvimento sustentvel e da
erradicao da pobreza.
H inmeras oportunidades de trabalho e renda relacionadas preservao ambiental,
como, por exemplo, na conservao e manejo sustentvel de florestas e rios, no tratamento dos
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560
561
562
563
estabelecerem um vnculo com esse espao comum de todos, que o mundo, [os quais nos demanda
respeito e atitude responsvel, quer quando produzimos, quer quando consumimos].
4. CONSIDERAES FINAIS
O homem est sempre em constante interao, em relao permanente com aquilo que cria
e com o ambiente que o cerca, seja ele organizacional, educacional, urbano ou ecolgico, o seu
meio ambiente. E se o que ele cria com o desenvolvimento tecnolgico for provido de valores
humanos positivos e sustentveis, com certeza estar ajudando a preservar e no ultrajar a sua
moradia: meio ambiente. Se, por um lado, preciso humanizar a economia que se tornou a
ameaa mais grave ecologia por outro, so necessrios valores ticos a fim de minimizar
os efeitos da crise ambiental, resultante de crise antropolgica, da humanidade em relao ao
ambiente. A soluo desta crise depende de comportamentos ticos, como cidados, empresrios,
governantes, no que se refere a um novo modo de produzir e consumir.
A mudana climtica, a extino macia de espcies, a degradao dos oceanos, por um
lado, e questes sociais relacionadas falta de emprego, m distribuio de renda, aumento
populacional, por outro, convocam para um esforo coletivo, com todas as organizaes, governo,
sociedade civil, comunidade cientfica, para uma tomada de conscincia de que somos responsveis
pela sade do planeta, e que podemos ainda nos reunir para corrigir os rumos dessas situaes,
pois as respostas que daremos a esses desafios afetaro toda a humanidade, quer positivamente,
quer negativamente. como nos alerta Diamond (2007), quando afirma que o fracasso de uma
sociedade pode recair sobre povos perifricos em reas frgeis, mas tambm sobre sociedades
avanadas e criativas como a nossa. Como afirma Eduardo Galeano, que tal se delirarmos por
um momento [...] para imaginar um outro mundo possvel, no qual o ar estar limpo de todo o
veneno que no provenha dos medos humanos.10
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2 Resilincia A palavra resilincia tem origem no latim (reslio: retornar a um estado anterior).
Resilincia a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado devolvida quando
cessa a tenso causadora da deformao elstica (HOUAISS; VILLAR, 2001). Adaptando-se questo
ambiental, ou a uma viso sistmica, resilincia a capacidade de um sistema de superar o distrbio
imposto por um fenmeno externo e manter-se inalterado. a resilincia que determina o grau de defesa,
ou vulnerabilidade, do sistema s presses ambientais externas.
3
Racionalidade econmica pode ser definida como a instrumentalizao de toda a vida em funo de finalidades
e critrios econmicos. A racionalidade econmica pode ser definida como aplicao da racionalidade
instrumental para finalidades de contedo predominantemente econmico. A racionalidade instrumental
consiste na capacidade de construir os meios para se atingir os fins (FERNANDES, 2008, pp. 14-19).
O termo territorialidade associa-se ideia de integrao de uma rea efetivamente ocupada pela populao,
pela economia, a produo, o comrcio, os transportes, a fiscalizao, em fim, onde se do as relaes
(HAESBAERT, 2002).
566
6 Economia Verde, aquela que resulte em um bem-estar humano melhor e mais igualdade social,
ao mesmo tempo reduzindo os riscos ambientais e as carncias ecolgicas. Uma Economia Verde se
caracteriza pelo foco dos investimentos em atividades relacionadas conservao ambiental ou visando
aproveitar e potencializar o capital natural, social e humano, considerando em suas decises os limites
do planeta e os interesses sustentveis da sociedade. (Programa Ambiental das Naes Unidas (United
Nations Environmental Programme UNEP).
7
567
TICA E CONSUMO
Ricardo Tescarolo
INTRODUO
A transformao que a humanidade e a Terra experimentam hoje, embora no represente
uma novidade, , sem dvida, um fenmeno indito em sua radicalidade e rapidez. Nesse
contexto crtico e dinmico, impe-se a necessidade de mudanas radicais em sistemas to
complexos como redes de transporte, matrizes energticas, governana pblica e privada e
modelos e sistemas educacionais.
Os inditos desafios provocaram a emergncia de uma nova tica, constituda na sustentao
universal da ao que acompanha a vida e contribui para transformar as realidades humanas, na
medida em que foi a negao dessa condio que deflagrou novos problemas.
A crise atual produto de uma cosmoviso1 fundada no materialismo e em uma perspectiva
exclusivamente antropocntrica. Em tal concepo, o ser humano tratado como mo de obra e
mercadoria e a natureza como matria-prima. Os dados disponveis demonstram claramente que
a crise planetria decorre da convico de que a felicidade depende em grande parte do consumo
de quantidades crescentes, e no mais das vezes desnecessrias, de bens materiais e servios.
A isso se denomina consumismo, processo de natureza econmica e social baseado na criao e
desenvolvimento sistemticos de um desejo compulsivo de comprar e consumir cada vez mais.
O consumismo uma das caractersticas culturais mais marcantes da sociedade atual,
sendo as crianas e os jovens os mais atingidos pelos excessos que provoca, como a obesidade,
569
570
Benjamin Barber, em seu livro com o sugestivo ttulo Consumido Como o mercado corrompe
crianas, infantiliza adultos e engole cidados(2007), explica que a recente crise financeira
mundial destruiu certos mitos, como o de que o capitalismo pode triunfar fabricando desejos e
necessidades, e no produtos. A nova religio do consumismo desenfreado, com sua induo
de crianas catedral do comrcio, sacraliza (as) novas necessidades (p. 62).
Veja o caso, publicado no jornal Folha de S. Paulo (Domingo, 29 de abril de 2012
Cotidiano, p. 7), do desequilbrio existente entre a infraestrutura hdrica disponvel no serto
nordestino e o aumento da renda de seus habitantes. Essas pessoas no dispem de gua encanada,
mas possuem TVs LCD, antenas parablicas, e at geladeiras e mquinas de lavar roupa. Segundo
a Fundao Getlio Vargas, mencionada na reportagem, a renda da regio Nordeste cresceu
42% entre os anos de 2001 e 2009 (cf. FGV), mas o total de casas com gua encanada na regio
cresceu apenas 6,9% (cf. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica).
Outro exemplo encontra-se descrito no relatrio publicado pela Organizao para a
Agricultura e o Alimento (Food and Agricultural Organization FAO) da Organizao das Naes
Unida (ONU), o setor de produo de carne animal produz mais efeito estufa do que todo o
sistema de transporte, sendo hoje a maior fonte de degradao da terra e da gua.
As pessoas esto consumindo cada vez mais carne animal a cada ano, provocando um
aumento de 229 milhes de toneladas entre 1999/2001 para 465 milhes de toneladas em
2050.Tal crescimento cobrar um altssimo preo ambiental, de acordo com o relatrio da FAO
(ONU) Livestocks Long Shadow Environmental Issues and Options. O custo ao meio ambiente
em consequncia da produo de carne animal precisa ser cortado pela metade, apenas para
evitar que o problema piore alm de seu nvel atual.3
Por tudo isso, uma vida mais simples e frugal a iniciativa imediata que todos podemos
tomar, no significando, entretanto, que a tica da responsabilidade seja contrria ao prazer,
mas sim que os prazeres que ela valoriza no provm do consumo exagerado (SINGER, 2006,
p. 304). A consequncia so os altos nveis de endividamento pessoal, menos tempo
livre e o meio ambiente danificado, sinais evidentes de que o consumo excessivo est
diminuindo a qualidade de vida das pessoas (cf. Estado do mundo 2004, World Watch
Institute: www.worldwatch.org).
Vale enfatizar, todavia, que deve-se evitar uma postura reducionista. Sem dvida, a sociedade
do consumo dever ser corrigida e enquadrada, mas no posta no pelourinho. Portanto, no se
deve rejeitar tudo, ainda que muito precisa ser reajustado e reequilibrado a fim de que a ordem
tentacular do hiperconsumo no esmague a multiplicidade dos horizontes da vida (LIPOVETSY,
2007, p. 370).
571
Assim, para enfrentar e ajudar superar a profunda e grave crise atual, a humanidade conta
com uma nova tica.
A TICA EMERGENTE
A palavra tica tem origem no termo grego ethos, que se refere aos usos e costumes
vigentes numa sociedade e tambm, secundariamente, aos hbitos individuais (COMPARATO,
2006, p. 96).
O dicionrio eletrnico Houaiss define tica como parte da filosofia responsvel pela
investigao dos princpios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento
humano, refletindo a respeito a essncia das normas, valores, prescries e exortaes presentes
em qualquer realidade social.
A tica pode chegar ao nvel das questes prticas,
como o tratamento dispensado s minorias tnicas, a igualdade para as mulheres, o uso de animais em
pesquisas e para a fabricao de alimentos, a preservao do meio ambiente, o aborto, a eutansia e a
obrigao que tm os ricos de ajudar os pobres (SINGER, 2006, p.9).
572
afirma: a histria dos esforos humanos para subjugar a natureza tambm a histria da
subjugao do homem pelo homem (p. 109).
nesse contexto de perplexidade que a nova tica se apresenta: como movimento
transformador que transcende ao modernismo progressista, ainda que o reconhea, e se empenha
para favorecer um hbitat planetrio sustentvel para seres vivos interdependentes, alm e contra
o apelo disfuncional do mercado competitivo global (OSULLIVAN, 2004, p. 26).
A tica assume, por conseguinte, um novo sentido radical: no s como responsabilidade
individual, mas tambm coletiva, levando em conta as consequncias das intervenes humanas
no mundo, muitas vezes inconscientes, mas sempre produtoras de consequncias, construtivas
ou destrutivas.
A tica da responsabilidade reconhece a dimenso vital da relao entre todas as pessoas
e destas com o Planeta; representa a origem primordial dos valores; constitui o encontro do
conhecimento e da conscincia; estabelece-se como a condio fundamental da liberdade e da
solidariedade universais; e propicia a interveno humana no mundo. Isso implica a adoo de
uma dupla concepo contempornea de tica: como ptica dos valores irrenunciveis e como
negociao dos consensos com vistas a normas jurdicas e a criao de instituies, que tero efeitos
autorreguladores na dinmica social das sociedades complexas (ASSMANN, 1996, p. 230).
O novo paradigma, portanto, no resulta apenas de reforma ou mudana, mas da
transformao completa de essncia, forma, natureza e estrutura da civilizao contempornea de
tal modo veloz, profunda e abrangente que significa de fato verdadeira metamorfose antropolgica.
Alain Touraine (2007) categoriza esse processo como o conjunto das transformaes
profundas das sociedades contemporneas (p. 17). Tal condio anuncia a progressiva substituio
do paradigma social por outro mediante inexorvel processo de dessocializao [tambm
decomposio, ou declnio] (idem, p. 23). A reconhecida dessocializao acompanhada
pela generalizao de uma violncia de mil formas e faces, que rejeita todas as normas e os
valores sociais (idem, p. 240).
Na viso do socilogo francs, no esforo de se criar instituies e regras que sustentaro a
liberdade e a criatividade das pessoas, coloca-se em risco a sociedade. Por tal razo, considera-se
tambm que
a possibilidade de sobreviver dignamente neste planeta depende da aquisio de uma nova mentalidade
[que] precisa, entre outras coisas, ser talhada em uma epistemologia radicalmente diferente que ir orientar
as atitudes relevantes. Assim sendo, acima de toda a sua intrnseca beleza, os meandros epistemolgicos [...]
parecem imprescindveis (VARELA; THOMPSON; ROSCH, 2003, p. 46).
573
A tica assume aqui um sentido mais radical: no s como responsabilidade pelo outro,
mas tambm em relao s consequncias das nossas aes muitas vezes inconscientes e no
intencionais, mas sempre produtoras de consequncias, construtivas ou destrutivas na escola,
onde seus atores agem e so principalmente mistrio.
A tica, ento, no ser apenas sistmica ou ontolgica, mas tambm e principalmente
interpessoal, porque reconhece a dimenso sagrada da relao de cada pessoa com a outra, o que
pode representar uma interrogao, um desafio ou uma ameaa, mas tambm uma resposta, um
perdo, uma presena ou uma promessa.
A tica representa a origem primordial dos valores; constitui o encontro do conhecimento
e da conscincia; representa a condio fundamental da liberdade e da solidariedade universais,
como utopia e mistrio; e propicia a atividade teleolgica de interveno humana no mundo.
No fosse desse modo, o sentido tico de toda ao acabaria se diluindo na bruma da
no intencionalidade, da determinao inevitvel e do no protagonismo humano. Isso implica a
necessidade de se estabelecerem critrios e princpios que inspiram e julguem a ao humana.
Mesmo porque a tica, como corresponsabilidade solidria e com validade intersubjetiva, a
urgente condio de se resolverem os problemas que podem mesmo levar a espcie humana
extino (DUSSEL, 2000, p. 572-574).
Tal possibilidade real, na medida em que corremos o risco de banir o resto da vida ao
renunciar a prpria tica, que se fundamenta em uma posio em favor da vida e da pessoa contra
o formalismo e o universalismo abstrato; contra o racionalismo absoluto, reconhecendo a natureza
s vezes irracional das atitudes humanas; e contra uma perspectiva de inspirao analtica que se
disfara de anlise da linguagem moral (VZQUEZ, 1998, p. 245).
Uma tica, enfim, que sirva de referncia para o juzo crtico das aes das pessoas em
sociedade e como capacidade de julgar da vida do esprito, ao tomar como princpio os valores
humanos. E ela que ser capaz de condicionar e parcializar uma listagem moral que, tomando
como princpio, hbitos e costumes, limita-se a determinar o que proibido ou permitido, certo
ou errado, lcito ou ilcito, meramente prescrevendo obrigaes e condenaes. Principalmente
a tica, como essa capacidade de julgamento, propiciar o dilogo de cada pessoa com a sua
prpria conscincia e com as conscincias das outras pessoas, despertando-as de uma eventual
indiferena em relao agresso vida e dignidade do prximo.
Embora as pessoas aparentemente tenham preservado e mobilizem sua capacidade de
desencadear processos de interveno transformadora, ela acabou se tornando uma prerrogativa
dos cientistas que, sem a textura das relaes humanas, ampliaram a esfera dos negcios
574
humanos a tal ponto que extinguiram a consagrada linha divisria e protetora entre a natureza e
o ser humano (ARENDT, 2001, p. 337).
Como consequncia, a cosmoviso exclusivamente antropocntrica, em sua natureza
analtica, cientificista e instrumentalmente racional da realidade universal, separou a Noosfera a
dimenso humana e social da Biosfera a camada viva no reflexiva que alimenta e sustenta a
Noosfera que por sua vez depende de sua preservao, numa simbiose cheia de energia, mas
complexa e delicada (CHARDIN, 2003, p. 210).
Para tanto, preciso que todos sejamos capazes de, mesmo fazendo prevalecer nosso
livre-arbtrio,
agir de maneira aberta, no condicionada pelo apego e volies egostas. Essa abertura e essa sensibilidade
incluem no apenas a esfera imediata das percepes da prpria pessoa: possibilitam-na tambm a estimar os
outros e a desenvolver uma percepo compassiva das aflies alheias (VARELA, J.F et al., 2003, p 132).
Os princpios determinantes do livre arbtrio, segundo Kant (2002), devem ser representados
com os verdadeiros mveis da ao, mesmo porque, de outro modo, poderia at ser observada
a legalidade de nossos atos, mas no uma moralidade, vigiada pela tica, de nossas intenes. E
tudo, ento, seria pura hipocrisia, e at as normas e as leis acabariam por ser odiadas e mesmo
desacatadas, se a obedincia decorresse apenas por consideraes de proveito prprio. Nesse
caso, a letra da lei, como legalidade, at apareceria em nossa ao, mas seu esprito, como tica,
no se manifestaria em nossas intenes (p. 275-280).
A vontade e o livre-arbtrio, assim como o sentimento de responsabilidade, pondera Isaiah
Berlin (2002), poderiam ser apenas uma iluso, na medida em que no seramos de fato livres,
inexoravelmente submetidos ao determinismo histrico e incapazes de viver sem pensar que somos
de fato livres em nossa vontade. Nesse sentido, a vontade e o livre-arbtrio no passariam de uma
espcie de liberdade ilusria.
Como negar, entretanto, a nossa livre vontade diante da impossibilidade de se determinar
o futuro sem se comparar o que acontece com o que aconteceria se no tivesse ocorrido o que de
fato aconteceu? Como resolver tal paradoxo? Afinal, o futuro imprevisvel, mas se constri com
as histrias pessoais que constituem a histria do mundo que se projeta no futuro.
O livre-arbtrio pode at nascer de impulsos e desejos, mas s sustenta projetos de vida se
envolver a previso de consequncias que decorrem da ao por impulso, o que exige pensar
nelas como resultados de nossa ao, em face e luz dos sinais do que vemos, ouvimos ou
tocamos, isto , de sua significao (DEWEY, 1979, p. 66).
575
576
investigaes das dimenses mais profundas do pensamento humano, torna esse empreendimento
vivel, destacando aqui o protagonismo de professores e professoras nas escolas. Isso pressupe
um compromisso com a bondade do mundo, uma bondade que pode ser infinitamente multifacetada
e plural, mas que reconhecemos como sendo muito maior e mais poderosa que ns mesmos
(SOLOMON; HIGGINS, 2003, p. 100).
imperativo, pois, promover uma reflexo crtica sobre a educao para que esta no se reduza
a uma instrumentalizao exclusivamente analtica ou categorizadora, tampouco a uma viso de
mundo em que sua constituio sistmica e complexa seja eliminada na tentativa de entend-lo.
Por fim, vale destacar a referncia que Zygmund Bauman (2011) faz a Vclav Havel,
escritor, intelectual e dramaturgocheco, ltimo presidente da Checoslovquia e primeiro presidente
da Repblica Checa, que quase sozinho conseguiu derrubar um dos mais sinistros baluartes dos
campos comunistas soviticos. Segundo Bauman, Havel dispunha de trs armas apenas:
esperana, coragem e obstinao. So armamentos primitivos, sem nada de altamente tecnolgico. E so as
mais mundanas e comuns dentre as armas: todos os homens as possuem e as tm pelo menos desde a Era
Paleoltica. Apenas, ns as usamos muito raramente (p.36).
Armados assim desse poderoso arsenal, a escola pode lutar pelo consumo sustentvel que
representa um salto qualitativo catalisador de caractersticas que articulam temas como justia e
defesa do meio ambiente e da cidadania, destacando as prticas coletivas como norteadoras de
um processo que, embora considere cada consumidor em sua individualidade, prioriza as aes
na sua dimenso poltica pblica.
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http://youtu.be/dhdpWmm2RH0Sociedade e Consumo
http://youtu.be/lyPSIYuCLH4CONSUMO CONSCIENTE: pequenas atitudes, grandes realizaes!
O Banco Mundial uma instituio financeira de mbito global que propicia emprstimos para pases em
desenvolvimento para programas de capitalizao. O objetivo principal do Banco Mundial a reduo
da pobreza.
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4
Solipsista Relativo ao Solipsismo, doutrina segundo a qual existe apenas o Eu, sendo os outros humanos
meros partcipes da nica mente pensante.
579
TICA E PS-MODERNIDADE:
DESAFIOS A UMA EDUCAO PARA A SUSTENTABILIDADE
581
582
583
mais adequado falar ainda de modernidade em uma fase mais adiantada? A questo de fundo a
legitimao da prpria ps-modernidade como corrente autnoma e independente.
A segunda pergunta coloca o problema conceitual ligado questo da cronologia e da
histria: Ser o ps-modernismo um estilo (caso em que podemos razoavelmente apontar como
seus precursores o dadasmo10, Nietzsche ou mesmo, como preferem Kroker e Cook, as Confisses
de Santo Agostinho, no sculo IV) ou devemos v-lo estritamente como um conceito periodizador
(caso no qual debatemos se ele surgiu nos anos 50, 60 ou 70)? (HARVEY, 1992, p. 47).
A terceira questo coloca o problema do potencial revolucionrio do ps-modernismo ao se
abrir para horizontes desconhecidos (ou encobertos):
Ter ele um poder revolucionrio em virtude de sua oposio a todas as formas de metanarrativa11 (incluindo o
marxismo, o freudismo e todas as modalidades de razo iluminista) e da sua estreita ateno a outros mundos
e outras vozes que h muito estavam silenciados (mulheres, gays, negros, povos colonizados com sua histria
prpria)? Ou no passa da comercializao e domesticao do modernismo e de uma reduo das aspiraes
j prejudicadas deste a um ecletismo de mercado vale tudo...? (HARVEY, 1992, p. 47)
Alm disso, a ps-modernidade parece se definir no por sua identidade prpria, mas,
negativamente, em funo do conceito de modernidade, procurando identificar seus objetos, seus
conceitos e seus princpios. Desse modo, as questes acerca da natureza da ps-modernidade nos
colocam um problema igualmente significativo: o da avaliao do prprio conceito de modernidade.
Essas vrias possibilidades lgicas, no entanto, esto necessariamente ligadas a uma tomada de posio a
respeito de uma outra questo que est inscrita na prpria palavra ps-modernismo, a saber, a da avaliao
do que agora deve ser chamado de alto modernismo, ou de modernismo clssico. De fato, quando procedemos
ao inventrio inicial dos vrios artefatos culturais que poderiam, plausivelmente, ser caracterizados como
ps-modernos, forte a tentao de procurar alguma semelhana familiar entre produtos e estilos to
heterogneos, no neles mesmos, mas sim em algum impulso ou esttica comum do alto modernismo, contra
o qual eles reagem, de uma forma ou de outra. (JAMESON, 1997, p. 80)
Para dar alguns exemplos familiares: a msica moderna era o que chamamos msica
clssica (Beethoven, Bach, Mozart). A msica ps-moderna, no entanto, configura-se nos novos
ritmos, no rock pesado, no funk e numa srie de outras extravagncias musicais. Vejamos outro
caso: a pintura moderna, como a obra de Leonardo Da Vinci, por exemplo, tinha desenhos bem
definidos, cores bem escolhidas e separadas etc. A pintura ps-moderna12, no entanto, mostra
figuras abstratas, cores misturadas, tintas espalhadas de forma irregular: alguns at perguntam
essa tinta jogada na parede arte?. Na moda, podemos encontrar outro exemplo significativo:
o modo como as pessoas se vestiam na modernidade era clssico (ternos e vestidos). Na psmodernidade, vale-tudo (roupas curtas, jeans rasgado, tnis com palet, saias at o cho ou muito
acima do joelho, cores misturadas e muito mais).
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Isso que ocorre em campos to diversos (como a msica e a moda) tambm influencia o
campo da moral (dos valores e costumes). Pense nesse nico exemplo: no perodo moderno, as
pessoas iniciavam um relacionamento pelo namoro, que consistia em um perodo relativamente
longo, com o consentimento dos pais e era, em geral, feito de contatos superficiais. Hoje, como so
os relacionamentos? Diz-se at que as pessoas no mais namoram, elas ficam e isso d direito
a tudo, j no primeiro dia.
O MAL-ESTAR PS-MODERNO
Todas essas transformaes culturais geram certo mal-estar: porque as coisas pareciam mais
definidas e claras e, hoje, tudo parece confuso, incerto, sem regras bem estabelecidas. Perdemos
as certezas e no sabemos mais por onde caminhar. Antigamente, os pais sabiam o que ensinar a
seus filhos. E hoje? H muitas dvidas. Muitos pais e mes se omitem, simplesmente porque no
sabem ao certo o que o bem ou o mal: tudo parece estar misturado.
Assim, a ps-modernidade pode representar possibilidade de libertao das amarras e da
rigidez racional, mas tambm pode gerar mal-estar. Na medida em que subverte a ordem de
um mundo fixado no determinismo, em todos os campos, gera desconforto e insegurana. Isso
porque, como afirma Zygmunt Bauman13, ao mesmo tempo que traa suas fronteiras e desenha
seus mapas cognitivos, estticos e morais, ela no pode seno gerar pessoas que encobrem limites
julgados fundamentais para a sua vida ordeira e significativa, sendo assim acusadas de causar a
experincia do mal-estar como a mais dolorosa e menos tolervel. (BAUMAN, 1998, p. 27)
A chamada era ps-industrial, a partir dos anos 50 do sculo XX, foi bruscamente substituda
por um modelo cultural avesso racionalidade cientfica estabelecida pela modernidade. Tratase de um movimento de reao rudeza moderna, expressa por Robert Musil quando afirma:
A verdade que a cincia favoreceu a ideia de uma fora intelectual rude e sbria que torna
francamente insuportvel todas as velhas representaes metafsicas e morais da raa humana
(MUSIL In: LYOTARD, 1998, p. vii). Na expresso de Harvey, a ps-modernidade indicou uma
preocupao de construir para as pessoas, e no para o Homem. (HARVEY, 1992, p. 45)
Passou-se a considerar, ento, a insuficincia dos princpios da cincia clssica, propondo novas
categorias de compreenso do conhecimento (pensamento sistmico e complexo, por exemplo).
Substantivos mais especializados como complexidade ou complexificao aparecem no decorrer do sculo
XX (em campos como a ecologia, a etologia ciberntica, as redes, a sistmica...), e novas caractersticas
decorrem progressivamente disso, enriquecendo o conceito. Mas, antes de mais nada, so posies filosficas
que se afirmam. Trata-se de uma tomada de posio epistemolgica. Jol de Rosnay tem razo ao fazer
585
de seu macroscpio uma nova tica, enquanto que para Edgar Morin o postulado do pensamento complexo
corresponde essencialmente a uma reforma, se no mesmo a uma revoluo, do procedimento de conhecimento
que quer de agora em diante manter juntas perspectivas tradicionalmente consideradas como antagnicas
(universalidade e singularidade). (ARDOINO In: MORIN, 2001, p. 550)
Em consequncia, uma nova compreenso da sociedade como rede. Se a viso linear parece
corresponder racionalidade moderna, a estrutura em rede esboa a perspectiva ps-moderna.
Como tendncia histrica, as funes e os processos dominantes na era da informao esto cada vez mais
organizados em torno de redes. Redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difuso
da lgica de redes modifica de forma substancial a operao e os resultados dos processos produtivos e de
experincia, poder e cultura. Embora a forma de organizao em redes tenha existido em outros tempos e
espaos, o novo paradigma da tecnologia da informao fornece a base material para sua expresso penetrante
em toda a estrutura social. (CASTELLS, 1999, p. 497)
Alm disso, nossa prpria imagem do universo foi alterada, substituindo-se a viso linear14
por uma viso complexa15: deixamos os mitos e aderimos a teorias inovadoras sobre a origem
do cosmos, sem as adotar em definitivo, mas como posies que nos ajudaro a dar passos mais
largos no futuro:
A Natureza jamais vai deixar de nos surpreender. As teorias de hoje sero consideradas brincadeiras de
criana por futuras geraes de cientistas. Nossos modelos de hoje certamente sero pobres aproximaes
para os modelos do futuro. No entanto, o trabalho dos cientistas do futuro seria impossvel sem o nosso,
assim como o nosso teria sido impossvel sem o trabalho de Kepler, Galileu ou Newton. Teorias cientficas
jamais sero a verdade final: elas iro sempre evoluir e mudar, tornando-se progressivamente mais corretas e
eficientes, sem chegar nunca a um estado final de perfeio. (GLEISER, 1997, p. 397)
Essa viso da cincia como um quadro de referncias provisrias uma das notas da
racionalidade ps-moderna. Ao invs da inflexibilidade, do dogmatismo e da certeza, sugerem-se
a tolerncia, a modstia e a conscincia da provisoriedade.
A cincia, assim, passa a adotar outro modelo de racionalidade. Essas transformaes
parecem ter se originado a mesmo no mbito da cincia (e da verdade), a partir das revolues
cientficas da segunda metade do sculo XIX. (LYOTARD, 1998, p. vii) Tais revolues
favoreceram a crtica ao estatuto determinista e dogmtico da racionalidade moderna, abrindonos a outras possibilidades de compreenso da razo, do saber e da cultura. Veja-se, por exemplo,
a contribuio da teoria da evoluo, a teoria termodinmica, as geometrias no euclidianas,
as lgicas no clssicas, a teoria psicanaltica, a teoria da relatividade de Einstein, entre outros
exemplos. Numa palavra, as revolues cientficas ocorridas a partir de ento levaram quilo que
Ilya Prigogine16 chama de o fim das certezas. (PRIGOGINE, 1996)
586
Embora a cincia tenha sido o bero dessa revoluo, no se deve limitar o alcance apenas
aos territrios da cincia. Antes, deve-se notar que a expresso ps-modernidade ... designa o
estado da cultura aps as transformaes que afetaram as regras dos jogos da cincia, da literatura
e das artes. (LYOTARD, 1998, p. xv) Mas, ainda, deve-se considerar a ps-modernidade como
uma questo que afeta, sobretudo, o campo das ideias e da filosofia, pois a que se encontra o
ncleo do turbilho das transformaes ocorridas.
Na filosofia, a mescla de um pragmatismo americano revivido com a onda ps-marxista e ps estruturalista que
abalou Paris de 1968 produziu o que Bernstein chama de raiva do humanismo e do legado do Iluminismo.
Isso desembocou numa vigorosa denncia da razo abstrata e numa profunda averso a todo projeto que
buscasse a emancipao humana universal pela mobilizao das foras da tecnologia, da cincia e da razo.
(HARVEY, 1992, p. 46)
Em outras palavras, deixou-se de lado aquele modo de pensar em que a razo era capaz
de tudo e comeou-se a admitir os limites da prpria razo: no somos capazes de explicar tudo e
nossas explicaes no devem, portanto, ser tomadas como definitivas (a ltima palavra sobre as
coisas), mas como aproximaes provisrias. Nesse sentido, a questo da sustentabilidade ganha
novo impulso, pois preciso sempre estar em atitude de reviso constante de nossas teorias e
pontos de vista, a fim de encontrar caminhos sempre novos e mais adequados para a organizao
da vida em todos os seus contextos (social, cultural, econmico, poltico, ambiental etc.). Uma
viso menos dogmtica da cincia, como a ps-modernidade sugere, permite assim uma abertura
maior dimenso da sustentabilidade.
TICA PS-MODERNA
Nesse emaranhado de transformaes, tambm a moralidade sofre o influxo da mudana,
uma vez que os pressupostos da moralidade moderna passam a ser severamente criticados. Desse
modo, no se pode ocultar a crise moral que se instaura na ps-modernidade.
A crise moral de nosso tempo uma crise do pensamento iluminista17. Porque, embora esse possa de fato ter
permitido que o homem se emancipasse da comunidade e da tradio da Idade Mdia em que sua liberdade
individual estava submersa, sua afirmao do eu sem Deus no final negou a si mesmo, j que a razo, um
meio, foi deixada, na ausncia da verdade de Deus, sem nenhuma meta espiritual ou moral. Se a luxria e o
poder so os nicos valores que no precisam da luz razo para ser descobertos, a razo tinha de se tornar
um mero instrumento para subjugar os outros. (HARVEY, 1992, p. 47)
A crise moral atual se instaura como consequncia de uma atitude que tpica da psmodernidade: a preferncia pela parte, ao invs do todo. Essa nota caracterstica o que
parece ser o fato mais espantoso sobre o ps-modernismo: sua total aceitao do efmero,
587
Os nossos discursos (tambm em sala de aula, tambm sobre a moral) perdem seu valor
absoluto (no so mais metanarrativas): so provisrios e pragmticos, ou seja, servem para
resolver problemas prticos, nascidos do dia a dia, mas no para explicar a vida humana como
um todo.
A IMPOSSIBILIDADE DE CONSTRUIR UMA MORAL GERAL
Portanto, todo o empenho em construir uma moralidade universal, apoiada em uma
metanarrativa totalizante do homem, passa a ser visto com desconfiana. Ao contrrio, nascem
as moralidades locais e fragmentrias, para as pessoas concretas, uma moralidade fortemente
embebidas em subjetividade e em particularismos de novos discursos. Assim, o nico caminho
para eliminar o fascismo de nossa cabea explorar as qualidades abertas do discurso humano,
tomando-as como fundamento, e, assim, intervir na maneira como o conhecimento produzido
e constitudo nos lugares particulares em que prevalea um discurso de poder localizado.
(HARVEY, 1992, p. 50)
588
Desse modo, a reflexo tica na ps-modernidade no pode estar fixada em uma viso
totalizante19, mas nos fragmentos de um discurso de poder que se estabelece na microfsica das
relaes interpessoais e institucionais, como afirma Michel Foucault. (FOUCAULT, 1992) No
cabem mais os velhos quadros referenciais gerais, as velhas tbuas de leis que se aplicam a tudo
e a todos. Se, por um lado, isso pode conduzir a um relativismo tico, desembocando num vale
tudo moral, tal situao permite, de outra parte, que o formalismo (presente em culturas morais
dogmticas) d lugar espontaneidade e transparncia (dos regimes morais subjetivos). No se
trata, como algum poder nos acusar, de uma frouxido tica ou de um ceticismo moral absoluto.
Ao contrrio, trata-se apenas de estabelecer regras de moralidade a partir dos traos que definem
nossa condio presente: a provisoriedade, a flexibilidade, a no permanncia.
Ao invs de se escrever uma moral geral, prefere-se a atitude de quem rascunha regras e
normas para um homem concreto, situado numa condio concreta. No um homem abstrato,
de acordo com certo ideal de humanidade, mas um homem situado, um ser-a (na expresso de
Martin Heidegger (HEIDEGGER, 2002)), um homem para o qual no implicam os conceitos
universais, mas a concretude do aqui e do agora.
No se trata, tambm, de uma adoo do niilismo20 como a mais nova moral. Trata-se,
antes, da conscincia de que no se podem definir sentidos totalizantes (como o sentido da vida,
do bem e da verdade), mas apenas sentidos intersubjetivamente compartilhados. Assim, pode-se
dizer que no h valores, mas to somente valores para ns.
Nesse processo de redescoberta da tica e da moral, no h certezas definitivas, pois isso
nos conduziria ao mesmo caminho do qual queremos nos livrar. Como afirma John Calhoun,
devemos considerar que o intervalo entre a decadncia do antigo e a formao e estabelecimento
do novo constitui um perodo de transio, que sempre deve ser marcado necessariamente pela
incerteza, pela confuso, pelo erro e pelo fanatismo selvagem e implacvel. (CALHOUN In:
HARVEY, 1992, p. 115)
DESAFIOS PARA UMA EDUCAO EM VISTA DA SUSTENTABILIDADE
A ps-modernidade traz alguns desafios prementes para a educao, sobretudo para uma
educao voltada preocupao com a sustentabilidade, ou seja, com a formao de geraes de
pessoas cada vez mais preocupadas com as condies de vida atuais e futuras da humanidade e
do prprio planeta.
Em primeiro lugar, no se pode mais considerar que nossos saberes so absolutos: antes,
so conhecimentos provisrios, embora nosso empenho seja sempre em chegar verdade, como
589
afirma o filsofo Karl Popper. (POPPER, 1985) Portanto, ao invs do dogmatismo e da arrogncia
intelectual, devemos desenvolver a modstia e a tolerncia. A esse respeito, duas produes do
cinema podem nos ajudar a refletir: Sociedade dos Poetas Mortos21 e O sorriso de Monalisa22.
Em segundo lugar, deve-se respeitar muito mais a individualidade de cada aluno. No valem
mais os mtodos de igualao, que reduziam todas as diferenas e as caractersticas peculiares de
cada aluno numa viso geral. Vale, sim, o jeito prprio de pensar, os valores pessoais, as escolhas
de cada um, os interesses particulares etc.
Por fim, cabe aos educadores preparar os educandos para a incerteza, para os novos
desafios, para a busca constante de aprimoramento: mais do que ensinar respostas prontas para
tudo, deve-se ensinar que as respostas que temos so sempre tentativas provisrias. Mais do
que aprender respostas de cor, preciso aprender a fazer novas perguntas e a buscar respostas
sempre novas. Estamos num processo de evoluo individual, social e cultural: no somos seres
estticos, mas dinmicos. Toda a conscincia que hoje se desenvolve, em relao s questes de
sustentabilidade, prova de que estamos a caminho da construo de um mundo melhor, como
sublinhou Karl Popper. (POPPER, 1989)
INDICAES DE LEITURA
ARDOINO, Jacques. A complexidade. In: MORIN, Edgar. A religao dos saberes: o desafio do sculo
XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001, p. 550.
BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da ps-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 27.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. So Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 497.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
GLEISER, Marcelo. A dana do universo: dos mitos de criao ao Big-Bang. So Paulo: Companhia das
Letras, 1997, p. 397.
HARVEY, David. Condio Ps-Moderna. So Paulo: Loyola, 1992, p. 45.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrpolis: Vozes, 2002.
JAMESON, Fredric. Ps-modernismo: a lgica cultural do capitalismo tardio. So Paulo: tica, 1997, p. 80.
KANT, Immanuel. Fundamentos da Metafsica dos costumes. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.
LYOTARD, Jean-Franois. A condio ps-moderna. 5. ed. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1998, p. vii.
POPPER, Karl. Conjecturas e refutaes. Braslia: UnB, 1985.
POPPER, Karl. Em busca de um mundo melhor. Lisboa: Fragmentos, 1989.
PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas. So Paulo: Unesp, 1996.
590
A palavra paradigma deriva do grego e significa padro ou modelo. Trata-se de um conceito bastante
utilizado ultimamente, sobretudo depois que o filsofo da cincia Thomas Kuhn o popularizou em seu livro
A estrutura das revolues cientficas, de 1972.
Indicao de vdeo: Para uma compreenso mais didtica do conceito de paradigma, veja-se o vdeo
A questo dos paradigmas, de Joel Barker, acessvel no seguinte link: <http://www.youtube.com/
watch?v=IkKnBjfuJ-8>.
3 A modernidade corresponde ao perdo que vai do final da Idade Mdia (sculo XIV) at a Revoluo
Francesa (sculo XVIII).
4
Entende-se por razo, do ponto de vista filosfico, a capacidade que os seres humanos tm de compreender
a realidade e a si prprios, construindo diversos tipos de saberes para explicar a existncia de si e do
mundo (como os mitos, as doutrinas religiosas, as teorias cientficas, as concepes filosficas).
5 Immanuel Kant (1724-1804), filsofo prussiano, tornou-se um dos principais pensadores do perodo
moderno. Entre suas obras, destacam-se as trs crticas: Crtica da Razo Pura, Crtica do Juzo e Crtica
da Razo Prtica.
6
Indicao de vdeo: Para uma maior compreenso deste ponto, veja-se o filme O ponto de mutao,
baseado no livro de mesmo ttulo do pensador Fritjof Capra. Acesse este filme no seguinte link: <http://
www.youtube.com/watch?v=7tVsIZSpOdI>.
Indicao de link: Para uma compreenso mais ampla do conceito de ps-modernidade, veja-se o artigo
indicado no seguinte link: <http://www.espacoacademico.com.br/035/35eraylima.htm>.
Indicao de vdeo: Veja-se a entrevista com o pensador Fritjof Capra, no seguinte endereo: <http://
www.youtube.com/watch?v=P6-yuMpk6B8>.
10 O dadasmo foi um movimento artstico da chamada vanguarda artstica moderna, iniciado em Zurique,
em 1916, durante a Primeira Guerra Mundial. Foi formado por um grupo de escritores, poetas e artistas
plsticos, dois deles desertores do servio militar alemo, liderados por Tristan Tzara, Hugo Ball e Hans
Arp. A palavra dada indica a falta de sentido que pode ter a linguagem (como na fala de um beb),
que simboliza o carter anti-racional do movimento, claramente contrrio Primeira Guerra Mundial e
aos padres da arte estabelecida na poca. Em poucos anos o movimento alcanou, alm de Zurique, as
cidades de Barcelona, Berlim, Colnia, Hanver, Nova York e Paris. Muitos de seus seguidores deram
incio posteriormente ao surrealismo e seus parmetros influenciam a arte at hoje.
11 Metanarrativa uma forma de explicao geral ou global de um determinado contexto a partir de uma
nica teoria ou expresso terica.
591
12 Indicao de link: Para a compreenso da arte ps-moderna, sobretudo no que diz respeito ao grafite,
por exemplo, veja-se o artigo de Emlio Fernandes Rocha, disponvel em: <http://repositorio.aev.edu.br/
files/a84f032a7699c663041a4101effc.pdf>.
13 Indicao de vdeo: Sobre a noo de ps-modernidade no pensamento de Zygmunt Bauman, veja-se
este vdeo do Prof. Luiz Felipe Pond, no link: <http://www.youtube.com/watch?v=58MMs5j3TjA>.
14 Por viso linear entende-se o modo de compreender a realidade a partir da simplicidade das relaes
de causa e efeito: todo efeito resultado de uma causa correspondente. Determinando-se a causa, pode-se
prever o efeito e vice-versa.
15 Por viso complexa entende-se um modo de compreenso da realidade que supera a simplicidade da
viso linear, pois admite que um determinado efeito pode ter diversas causas e de diferentes origens. Tratase de uma abordagem que surge, sobretudo, a partir dos novos conceitos da cincia, como a Teoria do Caos
e as Lgicas Heterodoxas, por exemplo.
16 Indicao de vdeo: Para uma compreenso mais ampla da ideia de fim das certezas, veja-se o vdeo
do prprio Ilya Prigogine, prmio Nobel de Qumica, indicado no seguinte link: <http://www.youtube.
com/watch?v=tuqrvPQ7nAk>.
17 O pensamento iluminista est vinculado a pensadores como Rousseau, Voltaire, Diderot, entre outros, que
julgavam ser a razo humana a nica luz capaz de iluminar as trevas da humanidade, conduzindo-nos
liberdade e ao progresso.
18 Indicao de link: Veja-se um artigo complementar sobre tica e responsabilidade social no seguinte link:
<http://mapadaterra.wordpress.com/2008/04/16/etica-e-responsabilidade-social/..
19 Viso totalizante corresponde a um ponto de vista em que determinada concepo ou ideia pode ser
aplicada a todas as pessoas, universalmente.
20 Por niilismo entende-se uma concepo que defende a ausncia de sentido nas coisas, na realidade, na
histria e na prpria vida. O termo deriva do latim, nihil, que significa nada.
21 Indicao de vdeo: Pode-se acessar uma cena significativa deste filme no seguinte endereo: <http://
www.youtube.com/watch?v=kW__708OGRA&feature=results_video&playnext=1&list=PL656681F8B
BAED17C>.
22 Indicao de vdeo: Pode-se acessar uma cena significativa deste filme no seguinte endereo: <http://
www.youtube.com/watch?v=1w9QYDmV3MU&feature=related>.
592
INTRODUO
Para que seja compreendida toda a conjuntura do trabalho infantojuvenil na sociedade
brasileira, preciso resgatar o processo histrico, econmico, poltico e social de que trata o tema,
pois acaba sendo impossvel interpretar todos os fatores inerentes questo, caso este no seja
contextualizado.
Nesse sentido, vlido no somente abordar os motivos que levaram historicamente milhares
de crianas e adolescentes inserir-se precocemente do mercado de trabalho, como tambm entender
esta dinmica e estabelecer algumas propostas, que, por sua vez, apresentaro o Desenvolvimento
Sustentvel como alternativa na contribuio da erradicao do trabalho infanto juvenil.
Alis, uma realidade que necessita ser explorada, pois o exerccio da cidadania
infantojuvenil passa por uma fragilidade nos dias atuais, estando at mesmo em descompassado
em relao proteo integral estabelecida pelo Estatuto da Criana e do Adolescente.
Esse fato identificado na insero precoce no mercado de trabalho, pois crianas
e adolescentes deixam de gozar a idade pertinente ao seu desenvolvimento, para garantir, na
maioria das vezes, o seu sustento e o da prpria famlia. Ou seja, realizando atividades perigosas
e que podem vir afetar sua formao fsica, cognitiva, social, moral e psicolgica, pois o trabalho
593
insalubre ocasiona tais danos, que muitos alcanam a vida adulta. Na realidade, o que se acaba
percebendo a adultizao prematura de crianas e adolescentes na sociedade brasileira.
Sendo asim, no decorrer deste texto se busca no somente entender tais relaes, mas tambm
compreender as vrias faces deste grave problema social e que at os dias de hoje predominam.
1. BREVE CONSIDERAES HISTRICAS SOBRE O TRABALHO INFANTOJUVENIL NA
SOCIEDADE BRASILEIRA
O trabalho infantojuvenil esteve presente em praticamente toda a histria da sociedade,
tanto na brasileira como nas sociedades internacionais, porm, adquiriu maior visibilidade em
determinados perodos histricos. Entretanto, as pesquisas referente a este grave problema social,
como o tratamento terico dado a esta temtica, no so to recentes na literatura.
Muitos so os estudiosos que apontam a utilizao da fora de trabalho infantojuvenil, como
sendo algo que teve incio a partir da Revoluo Industrial, porm, existem teorias que relatam
outro contexto histrico. Ou seja, com relao sociedade brasileira, a cultura da insero precoce
no mercado de trabalho esteve presente desde os primeiros momentos da colonizao, mas,
segundo Moura (2008, p.259), intensificou-se no perodo de industrializao1 e urbanizao2,
pois foram os responsveis por formar os grandes centros econmicos do Brasil e neles, crianas
e adolescentes trabalhavam em fbricas, principalmente da indstria txtil.
Como se nota, foi com o processo da industrializao na sociedade brasileira que se
intensificou a utilizao do trabalho de crianas e adolescentes. Alis, foi nesse momento histrico
que tambm ocorreu o xodo rural3, que, por sua vez, promoveu o aumento de migrantes nas
cidades e a disputa por emprego, agravando, dessa forma, a relao com o trabalho. Isto porque
com este aumento populacional, restou a luta pela sobrevivncia, visto que, segundo Romero
(2005, p. 135), a famlia como um todo foi forada a trabalhar, cada um se tornou responsvel
pela produo de sua prpria fora de trabalho.
Dessa forma, percebe-se que no foi somente a luta pela sobrevivncia personificada na
pobreza que colaborou com o ingresso precoce no mercado produtivo, mas o fato de as pessoas
trabalharem por menos dinheiro, serem mais facilmente disciplinadas para o trabalho e no
estarem organizadas em sindicatos, contribuiu, e muito, para que essa realidade se consolidasse.
Na verdade, acreditava-se que o trabalho seria a melhor forma de combater a preguia e
a vadiagem4 dos filhos das famlias que no detinham poder econmico naquela poca, e para
confirmar tal relao, foram implantadas polticas pblicas e religiosas de carter moralizador, ou
seja, foi por meio de
594
uma concepo higienista e saneadora da sociedade, que se buscou atuar sobre os focos da doena e da
desordem, portanto, sobre o universo da pobreza, moralizando-o. A degradao das classes inferiores
interpretada como um problema de ordem moral e social. Garantir a paz e a sade do corpo social entendido
como uma obrigao do Estado. (RIZZINI, 1997, p.27).
Assim, com a reproduo do discurso favorvel a essa prtica, pois se acreditava fielmente
que o trabalho era a nica forma de fazer com que os filhos da classe trabalhadora no cassem
na temida marginalidade e delinquncia5, que crianas e adolescentes pobres foram inseridos
no mercado produtivo. Dessa maneira, o cio e a vadiagem acabaram sendo combatidos por meio
do trabalho. Ocorreu, ento, uma disparidade entre classes sociais6, pois os filhos das famlias de
poder aquisitivo elevado, a forma de seus filhos e filhas ocuparem esse tempo com lazer, esportes, estudando
ou em reunies com amigos. Para as crianas e jovens de baixa renda, no entanto, no existem essas opes e
assim o trabalho o remdio indicado tanto para suprir a necessidade de sobrevivncia quanto para afastar
os riscos da vadiagem. (NEPOMUCENO, 1999, p. 347)
Alm do trabalho nas indstrias e tambm no campo, na dcada de 1920 era comum
meninas que se encontravam institucionalizadas em orfanatos7 ou asilos serem retiradas dessas
instituies para trabalhar em casas de famlia. Segundo Rizzini (1999, p. 384), a famlia se
responsabilizava em vestir, alimentar e educar a criana em troca de seu trabalho, depositando
uma pequena soma em uma caderneta de poupana em seu nome. Alis, uma prtica que durou
at a dcada de 1980.
Para entender essa dinmica, basta analisar a forma diferenciada com que as classes sociais
se relacionam com o trabalho. Diferentemente da classe trabalhadora, o trabalho veio para a
classe detentora do poder econmico
como uma boa fruta madura, no tempo certo, depois de um longo perodo de crescimento e preparao, da
ele pode ser saboreado, curtido, mesmo quando d trabalho para descascar e separar a polpa da semente.
Para os pobres, a grande maioria deste pas, o trabalho chega cedo, antes do tempo, como fruta verde que
amarga na boca e d dor de barriga. (TAVARES, 2002, p. 131)
Com essas informaes histricas, possvel compreender a forte conotao valorativa que
persiste nos dias atuais sobre o trabalho precoce como representao social positiva, tanto nas
famlias empobrecidas quanto na sociedade em geral. E esse o motivo pelo qual o trabalho
infantojuvenil visualizado como sendo algo bom e no degradante para o desenvolvimento fisico,
cognitivo, social, moral e psicolgico daqueles que deixam de viver a idade pertinente ao seu
desenvolvimento, para garantir sua sobrevivncia, ou seja, deixam de ser crianas quando nem
adultos podem ser.
595
596
cermicas, entre outros. J na rea urbana, crianas e adolescentes trabalham em lixes, como
catadores de papel, no comrcio de rua, na distribuio de jornais e revistas, engraxates e, ainda,
em atividades ilcitas, como o trfico de drogas e a explorao sexual. Entretando, a explorao
do trabalho mais presente no setor informal, nos quais se encontram empresas no registradas,
terceirizadas10 e dependentes de mercados instveis. Todas elas so atividades que provocam
inmeras sequelas sade fisica e mental destes que deixaram de viver a infncia e adolescncia
para tornarem-se adultos produtivos.
Alis, tornando-se foradamente adultos trabalhadores que correm o risco de prejudicar
sua sade, pois muitos estudos comprovam que o trabalho precoce traz inmeros prejuzos
sade e educao a baixa escolaridade e evaso escolar , bem como problemas fsicos e
traumas psicolgicos pela baixa autoestima e pela necessidade de adquirir maturidade antes do
devido tempo.
Nesse sentido, propcio pontuar que so vrios os motivos que os levam a ingressar
precocemente no mercado de trabalho, sendo a pobreza o principal deles. Ademais, o fato de
querer ter seu prprio dinheiro, ser mais livre e ter alguma ocupao, os fatores culturais, como
a crena de que filho das famlias que no detm poder econmico tem que trabalhar ou que o
trabalho disciplinador, aliados aos fatores de sobrevivncia, como a necessidade de ajudar no
oramento famliar, podem impelir esse ingresso ilegal no mercado de trabalho.
Atualmente, ainda elevado o nmero daqueles que continuam precocemente trabalhando.
No entanto, como j foi dito, o nmero de crianas e adolescentes que trabalham no pas vem
caindo nos ltimos anos, pois se buscou ao longo desse perodo realizar aes conjuntas para o
combat-lo. Tanto que 2009, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios11
(http://noticias.uol.com.br/especiais/pnad/2010), havia 4,2 milhes de trabalhadores brasileiros
com idade entre cinco e 17 anos, o que significa nvel de ocupao de 9,8% do total das pessoas
na faixa etria. Em 2008, esse nmero era de 4,4 milhes (10,2% do total).
Segundo dados histricos da Pnad, desde 1995, o percentual de crianas ocupadas entre
cinco e nove anos caiu de 3,2% para 0,8% do total; entre os trabalhadores de 10 a 14 anos, o
percentual despencou de 18,7% para 6,9%; entre adolescentes de 15 a 17 anos, a mdia caiu de
44% para 27,4%. Porm mesmo com a reduo em ritmo acelerado, o pas ainda contabilizava,
no ltimo ano, 123 mil crianas de cinco a nove anos trabalhando sendo 69% delas do sexo
masculino. Entre 10 e 13 anos, esse nmero de 785 mil, enquanto 3,3 milhes de trabalhadores
tinham entre 14 e 17 anos.
A Pnad mostra, tambm, que h uma diferena considervel entre as regies no que diz
respeito ao trabalho infantil. O Nordeste concentrava 437 mil dos 908 mil trabalhadores entre
597
cinco e 13 anos (48% do total). J o Sudeste, com uma populao 60% maior, tinha 182 mil.
Apesar da liderana, o Nordeste foi a regio que apresentou maior reduo entre 2008 e 2009
nessa faixa etria, com a erradicao de 98 mil postos de trabalho infantil.
Diante disso, verifica-se que mesmo com o esforo para combat-lo, ainda falta muito para
erradicar este grave problema social. Assim, o caminho a ser percorrido longo e continua
merecendo maior visibilidade no somente por parte da sociedade civil, mas tambm do Estado,
pois estamos falando de cidado de direitos e no mais do menor12.
3. POLTICA DE ATENDIMENTO DA CRIANA E DO ADOLESCENTE NA SOCIEDADE
BRASILEIRA: DE MENOR A CIDADO
Muitos anos se contabilizaram na luta social e poltica em defesa dos direitos da criana e
do adolescente, at chegar-se a um consenso por parte do Estado brasileiro e da sociedade civil
em mudar a passagem da situao irregular13 para a proteo integral14, ou seja, de menor
a cidado.
Com a criao do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA), em 13 de julho de 1990,
mediante a Lei n. 8.069, foram definidos vrios marcos legais de proteo integral criana e ao
adolescente, que tm por excelncia orientar a poltica social de atendimento, sendo que o ECA
passou a regulamentar os artigos 227e 228 da Constituio Federal.
Esses dois artigos tambm vo ao encontro dos acordos internacionais firmados pelo Brasil
na Conveno de n. 138 da Organizao Mundial do Trabalho (OIT), que, nessa data, acabou
definindo a unificao internacional das polticas pblicas sobre o trabalho infantil.
Pode-se mesmo considerar a regulamentao constitucional e a promulgao do ECA como
sendo um dos desdobramentos mais importantes da histria da infncia e da juventude brasileira,
pois acredita-se que estas no trouxeram apenas mudanas de contedo, mtodo e gesto, mas
possivelmente inovaes no campo do atendimento, da promoo, da defesa e da proteo integral.
Mas, para entender toda essa dinmica legislativa, pela qual o menor passou a ser, pelo
menos, visualizado como cidado de direitos, vlido apresentar a histria que antecedeu
a implantao do Estatuto da Criana e do Adolescente, porque, at 1927, ano da criao do
Cdigo de Menores, estes eram desprovidos totalmente de direitos por parte do Estado, apenas
contavam com a proteo de seus pais, quando os protegiam. Na realidade, desde a chegada dos
colonizadores at o incio do sculo XX no se registra, no corpo do Estado brasileiro, a presena
de aes que possam ser caracterizadas enquanto poltica social. (COSTA, 1990, p. 13).
598
Foi somente na dcada de 1920 que o Estado buscou implantar um sistema pblico de
ateno infncia, sendo este o Cdigo de Menores de 1927. No entanto, foi uma poltica
que buscava no somente controlar a infncia e adolescncia brasileira que no detinha poder
econmico, como tambm cuidava
[...] das questes de higiene e da delinqncia, estabelecia a vigilncia pblica sobre a infncia. Classificava
os menores em duas categorias bsicas: os abandonados e os delinqentes, estabelecendo a vigilncia sobre
a amamentao, os expostos, os abandonados e os maltratados, autorizando-se o juiz a retirar o ptrio poder.
[...] O juiz devia buscar a regenerao do menor, definindo-se explicitamente que as questes da infncia
abandonada e delinqente eram de carter pblico. (FALEIROS, 2005, p. 5)
Mas, para colocar em prtica o que se pretendia nessa poca, como est descrito a cima,
foi necessrio criar nacionalmente entidades de carter disciplinador. Dentre elas, a Legio
Brasileira de Assistncia (LBA); a Fundao Darcy Vargas; a Casa do Pequeno Jornaleiro; a
Casa do Pequeno Lavrador; a Casa do Pequeno Trabalhador e a Casa das Meninas, enfim,
instituies em que o trabalho era tido como instrumento disciplinador de crianas e adolescentes
que apresentavam, segundo a poltica pblica, desvio de conduta e que fossem considerados
uma ameaa sociedade.
Alm de eles serem obrigados a frequentar tais instituies, buscou-se desenvolver, tambm,
uma poltica de prtica repressiva, por meio da criao do SAM (Servio de Assistncia ao Menor).
Implantado em 1942, tratava-se de um rgo ligado ao Ministrio da Justia, equivalente ao
Sistema Penitencirio atual, e que tinha por finalidade corrigir e disciplinar adolescentes que
cometiam ato infracional.
O SAM perdurou por algumas dcadas, e a nica ao realizada caracterizou-se pelo
tratamento desumano adotado contra a integridade fisica, moral, social e psicolgica dos
adolescentes atendidos. As crticas foram diversas por parte da opinio pblica e pela imprensa
oposicionista, sendo o motivo de sua extino no ano de 1964.
A extino do SAM fez com que os dirigentes polticos da poca implantassem uma nova
ordem disciplinadora de atendimento criana e ao adolescente, sendo, ento, criada a Poltica
Nacional de Bem-estar do Menor PNBEM (Lei Federal n. 4.513/64). Esta, por sua vez, criou
outro rgo nacional executor de sua poltica, a Fundao Nacional de Bem-estar do Menor
(Funabem), e como executores estaduais as Fundaes Estaduais do Bem-estar do Menor (Febems).
O principal objetivo dessas entidades era a implantao de uma nova poltica de atendimento e de
interveno, pois sua finalidade era superar as prticas de crueldade adotadas pelo SAM. Porm,
na prtica a realidade foi outra, pois
599
algumas dessas instituies tornaram-se verdadeiros centros de crimes e de violncia fsica e sexual e
segundo pesquisas, a maioria dos jovens que eram internados, no tinha cometido crime, ou infrao
alguma. Aocontrrio,eram internados muitas vezes, por serem economicamente pobres e estarem nas ruas.
(RIZZINI, 1999, p. 380)
Sendo assim, nota-se que o Cdigo de Menores de 1927, alm de implantar uma poltica
pblica de carter menorista, tambm proporcionou apenas o controle social daqueles que
foram frutos da vida miservel que enfrentavam. Em vigor por mais de cinquenta anos, este s foi
revogado com a promulgao da Lei n. 6.697, em 10 de outubro de 1979, dando, assim, origem
ao Cdigo de Menores de 1979.
Esse, por sua vez, partia da concepo
de que as crianas e os adolescentes quando se encontravam na rua, sem escola, sem casa, sem alimentao,
assim como aqueles que perambulavam, que furtavam ou roubavam, eram todos, igualmente, fruto de
carncias, de desajustamentos e de desorganizao famliar, portanto, encontrava-se em situao irregular,
necessitando de medidas de proteo. [...] a doutrina da situao irregular partia do princpio de que a origem
dos problemas dos menores estava no abandono moral, afetivo e material por parte dos responsveis [...]
no havia uma distino entre abandonados e delinqentes, e se fazia um vnculo automtico entre pobreza
e criminalidade. Disso resultava que as crianas e os adolescentes pobres passavam a ser objeto potencial
de interveno do sistema de administrao da justia de menores, justificando a privao de liberdade de
milhares de jovens em instituies, sob a gide de proteo do Estado. (ROSA, 2001, p. 194)
Como se observa, essa nova poltica de atendimento manteve o carter repressivo do sistema
anterior, no apresentando, assim, nada de novo, bem pelo contrrio, apenas uniu-se postura
tecnocrtica e autoritria advinda da ditadura militar15, continuando, dessa forma, a proporcionar
uma poltica que ainda reconhecia crianas e adolescentes, fruto da desigualdade social, cidados
sem direitos. (BUIAR, 2009, p.56)
Na realidade, ambos os cdigos conseguiram adotar apenas uma poltica assistencialista
resumida em atitudes tecnocrticas e autoritrias, que se configuraram como uma poltica de
controle social. Um exemplo a ser citado foram as vrias Febems criadas nos estados brasileiros,
que se transformaram em grandes presdios para os adolescentes que cometiam ato infracional,
o que nos leva a crer que o atendimento adotado nos anos de 1970 e 1980 no passou de uma
verdadeira atrocidade humana que se baseou nos atos de opresso e de obedincia daquele
momento histrico.
O Cdigo de Menores de 1979 s foi revogado com o fim da ditadura militar na dcada de
1980, quando nasceu um outro panorama poltico e institucional, conquistado pela participao
de diversos segmentos sociais que, unidos, lutaram para alcanar uma administrao estatal
mais democrtica. Diante dessa nova conjuntura, iniciaram-se vrias discusses em relao aos
600
problemas inerentes aos meninos e s meninas em situao de risco, que sobreviviam nas ruas das
cidades. Tais reflexes resultaram em oficinas, reunies e debates que proporcionaram uma nova
viso ao atendimento criana e ao adolescente, impulsionando, assim, um movimento nacional
mais amplo.
Com a formao da Comisso Nacional da Criana e Constituinte, que teve como
objetivo realizar um amplo processo de sensibilizao e conscientizao da opinio pblica e
dos parlamentares constituintes, representantes de instituies internacionais, de organizaes
governamentais e no governamentais que participaram deste movimento, conseguiram, de certa
forma, uma presso significativa para a conquista da incluso de artigos voltados aos direitos da
criana e do adolescente na Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988.
A marca dessa luta nada mais foi do que a incluso dos artigos 227 e 228 na Carta Maior
e, aps de um ano da promulgao da Constituio16, foi aprovado o Estatuto da Criana e do
Adolescente-ECA, que fez revogar o Cdigo de Menores de 1979 e superar a doutrina de situao
irregular, passando a propagar a doutrina de proteo integral, que tem, at hoje, a orientao
de garantir os direitos integrais de toda e qualquer criana e adolescente que tenha menos de
18 anos de idade. Porm, convm frisar que o Princpio da termo integral impe famlia, ao
Estado e a toda a sociedade o dever conjunto de assegurar s crianas e aos adolescentes uma
vida digna, evidentemente com sade, alimentao, educao, lazer, profissionalizao, cultura e
respeito, protegendo-os de qualquer discriminao, violncia, explorao, negligncia, crueldade
e (ou) opresso.
Sendo assim, o menor passou a ser considerado cidado de direitos, pois at a
promulgao do ECA, como a histria demonstra claramente, o conceito menor era especialmente
destinado s crianas e aos adolescentes pobres e que, consequentemente, eram tratados como
perigosos e marginais.
Alis, foi com a promulgao do ECA que o trabalho deixou de ser visualizado como
a soluo para a criminalidade e passou a ser tratado como direito profissionalizao e
proteo no trabalho para adolescentes entre 14 e 18 anos de idade.
4. ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O DIREITO PROFISSIONALIZAO E A
PROTEO NO TRABALHO: LEI DO JOVEM APRENDIZ
Acredita-se que a regulamentao do ECA, no ano de 1990, no foi apenas um avano
poltico e social, mas um direito cidadania, pois crianas e adolescentes deixaram de ser rotulados
como menores e passarama ser tratados como cidados de direitos em situao peculiar de
desenvolvimento, sem distino de etnia, credo ou poder aquisitivo.
601
Queira-se ou no, tal conquista ocorreu h trs dcadas, e talvez seja esse o motivo pelo
qual a proteo integral ainda no foi internalizada por parte da famlia, da sociedade e do Estado
brasileiro. Basta observar as notcias, as reportagens e os artigos que denunciam a prtica do
trabalhoinfanto juvenil, que nada mais que a apropriao ilegal da fora de trabalho de crianas
e adolescentes. Porm, o que aqui se pretende tratar, especificamente, a modalidade de trabalho
legalizado que o adolescente pode exercer, pois existe uma legislao especfica que os protege
como trabalhador aprendiz. Ou seja, o direito ao trabalho por meio da profissionalizao, que
deve ocorrer juntamente com o processo de aprendizagem.
Alis, por meio dessas condies que o adolescente pode atuar nas indstrias como
trabalhador aprendiz e tendo, de certa maneira, sua proteo integral garantida e o direito ao
conhecimento terico-prtico.
Pelo fato de o Estatuto da Criana e do Adolescente garantir o direito profissionalizao
e a proteo ao trabalho de adolescentes acima de 14 anos de idade, ser de suma importncia
citar e at mesmo descrever a Lei Federal n. 10.097/2000 Lei do Menor Aprendiz, publicada
em 19 de dezembro de 2000, que trouxe para as Consolidaes das Leis Trabalhistas os preceitos
constitucionais voltados proteo integral.
Porm, convm ressaltar que, em 2005, essa legislao sofreu alteraes que proporcionaram
mudana referente idade estabelecida, haja vista que anteriormente considerava-se aprendiz
todo adolescente trabalhador entre 14 e 18 anos de idade. Mesmo sendo aprovada em 2000,
sua regulamentao s aconteceu em 1. de dezembro de 2005, com a publicao do DecretoLei n. 5.598/2005, que acabou estabelecendo em seu texto a alterao da idade e algumas
outras providncias.
Dessa forma, incorpora-se como aprendiz o cidado com mais de 14 anos e menos de 24
anos de idade, que tem por direito celebrar o Contrato de Aprendizagem, nos termos do art. 428
da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT). Enfim, direitos e deveres estabelecidos em lei e que
sero abordados minuciosamente do decorrer deste texto.
4.1 Contrato de Aprendizagem
um contrato de trabalho especial, tendo de ser acordado, por escrito, entre trabalhador
aprendiz e empresa contratante; no documento deve conter o prazo estabelecido de aprendizagem,
que no pode ultrapassar dois anos, sendo que sua validade pressupe anotaes em carteira de
trabalho e Previdncia Social.
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606
gerado e, consequentemente, as aes que devem ser tomadas para o enfrentamento deste
grave problema social.
Sendo assim, dever de cada pas cumprir as normas estabelecidas internacionalmente, e
cada um deve identificar e eliminar todo e qualquer trabalho que promova ilegalmente abuso fsico,
psicolgico, cognitivo e sexual de crianas e adolescentes. No Brasil, por exemplo, definiramas atividades nas ruas, com agrotxicos, lixo e de servio domstico como trabalho perigoso e
insalubre. J a escolha do dia Mundial Contra o Trabalho Infantil tem por objetivo estimular todas
as naes a adotarem normas para aes slidas no combate a esse tipo de atividade.
Considerando tais metas e visualizando o trabalho precoce e insalubre como um grave
problema social, vlido observar que, ao longo de vrios anos, muitas foram as aes para
combat-lo, apesar disso infelizmente no se obteve o xito esperado. Tanto assim que o trabalho
infantojuvenil perdura at hoje. O que se pode constatar que em meio a tantos esforos, algo
falhou, impedindo a erradio total deste tipo de atividade.
No entanto, acredita-se que o Desenvolvimento Sustentvel seja uma das alternativas no
combate realidade vivenciada por milhares de crianas e adolescentes que perderam a idade
pertinente ao seu desenvolvimento para tornarem-se precocemente adultos produtivos.
Na verdade, o conceito de sustentabilidade no se restringe apenas s questes ambientais,
como muitos acreditam, engloba sete aspectos principais, que buscam envolver: Sustentabilidade
Social (melhorar a qualidade de vida da populao, visando equidade na distribuio de renda, por
meio da diminuio das diferenas sociais, considerando, tambm, a participao em organizaes
populares); Sustentabilidade Econmica (envolver o pblico com o privado, sendo que os
investimentos de ambas as partes sero regularizadas e compartilhadas entre padres de produo
e consumo, visando, assim, ao acesso cincia e tecnologia); Sustentabilidade Ecolgica (utilizar
recursos naturais que devam minimizar os danos causados aos sistemas de sustentao da vida,
reduzindo dessa forma os resduos txicos e a poluio, o que prev a reciclagem de materiais e
energia, bem como a conservao, buscando, assim, estabelecer tecnologias limpas e de maior
eficincia, ou seja, regras para uma adequada proteo ambiental); Sustentabilidade Cultural
(respeitar os diferentes valores entre os povos e incentivar o processo de mudana que englobam as
especificidades locais); Sustentabilidade Espacial (manter o equilbrio entre o rural e o urbano,
adotando prticas que visam ao equilbrio de migraes, desconcentrao das metrpoles, adoo
de atividades agrcolas mais inteligentes e no agressivas sade e ao ambiente, assim como o
manejo sustentado das florestas e a industrializao descentralizada); Sustentabilidade Poltica
(estabelecer a descentralizao do poder, principalmente na gesto de recursos e na participao
poltica, buscando construir espaos pblicos comunitrios e, tambm, maior autonomia dos
607
608
REFERNCIAS
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609
Urbanizao Aumento proporcional da populao urbana em relao populao rural. Segundo esse
conceito, s ocorre urbanizao quando o crescimento da populao urbana superior ao crescimento da
populao rural.
xodo rural O deslocamento de pessoas da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades).
Vadiagem No ter ofcio e nem emprego - no ter renda que lhe assegure prover a prpria subsistncia
Classes sociais No Brasil existem pobres, ricos e muito ricos, cada uma dessas pessoas faz parte de uma
classe social, ou seja, um grupo de pessoas que tem o mesmo poder aquisitivo, a mesma funo, os mesmos
interesses. Para Karl Marx, em toda sociedade caracterizada por um capitalismo desenvolvido, existem a
classe dominante e a classe dominada, como consequncia desta diviso, a humanidade presenciou vrias
lutas de classes, ou seja, cada uma tentando impor o seu jeito e sua maneira de viver para tentar superar e
dominar as demais.
Orfanato Estabelecimento assistencial, pblico ou particular, que tem por finalidade abrigar crianas e
adolescentes abandonados, que eram retirados de suas familias ou no possuiam pais.
OIT (Organizao Internacional do Trabalho) foi criada em 1919, como parte do Tratado de Versalhes,
que ps fim Primeira Guerra Mundial. Fundou-se sobre a convico primordial de que a paz universal
e permanente somente pode estar baseada na justia social. a nica das agncias do Sistema das
Naes Unidas com uma estrutura tripartite, composta de representantes de governos e de organizaes
de empregadores e de trabalhadores. A OIT responsvel pela formulao e aplicao das normas
internacionais do trabalho (convenes e recomendaes). As convenes, uma vez ratificadas por deciso
soberana de um pas, passam a fazer parte de seu ordenamento jurdico. O Brasil est entre os membros
fundadores da OIT e participa da Conferncia Internacional do Trabalho desde sua primeira reunio.
UNICEF (Organizao Internacional do Trabalho Fundo das Naes Unidas para a Infncia) est presente
no Brasil desde 1950, liderando e apoiando algumas das mais importantes transformaes na rea da
infncia e da adolescncia no Pas, como as grandes campanhas de imunizao e aleitamento, a aprovao
do artigo 227 da Constituio Federal e o Estatuto da Criana e do Adolescente, o movimento pelo acesso
universal educao, os programas de combate ao trabalho infantil, as aes por uma vida melhor para
crianas e adolescentes no Semirido brasileiro. O UNICEF est presente em praticamente todo o territrio
nacional. O trabalho das equipes do UNICEF impacta diretamente e para melhor a vida das crianas, dos
adolescentes e de suas famlias.
10 Terceirizadas A terceirizao pode ser adotada por uma empresa no apenas quanto aos servios, mas
tambm quanto a bens ou produtos.
11 Todos os dados estatsticos do Pnad e alguma parte do texto referente aos dados fornecido nesta pgina
foram retirados do site: <http://noticias.uol.com.br/especiais/pnad/2010/ultimas-noticias/2010/09/08/
trabalho-infantil-continua-em-queda-mas-ainda-ha-mais-de-4-milhoes-de-pequenos-trabalhadores.jhtm>.
610
12 Menor Perodo em que crianas e adolescentes, filhos de famlia pobre, eram visualizados como
ameaa ordem nacional. Quando menos privilegiados socialmente e economicamente, mais inseridos
esto neste conceito.
13 Situao irregular Correspondia a um estado de patologia (doena) social, entendida de forma ampla.
Na patologia social se encontram os jovens em situao de risco. Na aplicao dessa doutrina (situao
irregular), o juiz de menores era quem tratava dos problemas assistenciais e jurdicos, via sistema Judicirio
do Estado. O juiz podia tomar decises sobre a situao (destino) de determinada criana ou adolescente,
sem sequer escut-lo ou at mesmo desconsiderar a vontade de seus pais.
14 Proteo integral A Doutrina da Proteo Integral significa um grande avano na formulao de polticas
pblicas. As crianas e os adolescentes passaram a ser considerados sujeitos de direitos, para quem deve
ser respeitada a condio peculiar de ser humano em desenvolvimento. Na prtica, isso exige de cada um
dos cidados, do poder pblico e da sociedade, que coloquem crianas e adolescentes como prioridade de
suas aes e preocupaes.
15 Ditadura militar O perodo da poltica brasileira em que os militares governaram o Brasil. Essa poca vai
de 1964 a 1985. Caracterizou-se pela falta de democracia, supresso de direitos constitucionais, censura,
perseguio poltica e represso aos que eram contra o regime militar.
16 Constituio um conjunto de normas (regras e princpios) supremos do ordenamento jurdico de um
pas. Limita o poder, organiza o Estado e define direitos e garantias fundamentais; se for flexvel, suas
normas desempenham a mesma funo, mas encontram-se no nvel hierrquico das normas legislativas.
611
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direito diferena. Por um lado, a demanda por igual reconhecimento exige que as pessoas
sejam tratadas sem considerao a suas diferenas; todos os seres humanos so compreendidos
como iguais em relao aos direitos humanos, que so considerados inerentes ao homem e
universais, ou universalizveis. Por outro lado, em nome da poltica das diferenas preciso
reconhecer e at fomentar particularidades, como em relao s minorias tnicas (que o caso dos
indgenas no Brasil, dos aborgenes na Austrlia, dos povos ciganos na Europa), ou s mulheres,
aos afro-descentes etc.
Vejamos ento, inicialmente, o que significa igualdade real e formal, para depois tratarmos
da discriminao (e do preconceito) e de quando um discrimen (uma distino) possvel, lcito.
Os juristas costumam distinguir dois tipos de igualdade, a formal e a real (ou material).
A igualdade formal a estabelecida idealmente, perante a lei. Todos so iguais perante a lei.
Assim que, a todos est assegurado o direito de no ser submetido tortura ou a tratamento
desumano ou degradante (art. 5, inc. III, CF/88). A igualdade formal importante, assegurando
aos cidados direitos e imunidades que devem ser observados.
Mas por meio da igualdade real que se busca a igualdade de fato, no plano das relaes,
na vida social e econmica. Essa a igualdade que atende mais satisfatoriamente ideia de
sustentabilidade social, porque permite o exerccio de direitos fundamentais, como o direito
educao e ao trabalho, assim como assegura possibilidade de acesso aos mecanismos e processos
de deciso poltica e garante igualdade de oportunidades.
A nossa Constituio contempla normas destinadas busca da igualdade real, por exemplo,
quando prev o benefcio de prestao continuada, que um benefcio que a Seguridade
Social paga pessoa com deficincia que comprove no possuir meios para prover a prpria
subsistncia ou de t-la provida pela famlia (inciso V do art. 203 da CF/88), no valor de um
salrio mnimo mensal.
Bem, mas ento vejamos o que preconceito e discriminao. A diversidade biolgica e
cultural prpria das sociedades humanas, mas o homem comum tem dificuldade para encar-la
como tal e para compreender a humanidade como nica, porque ele vive numa cultura especfica
e tradicional, sem a percepo da dimenso da sociedade humana e do outro, aquele que
diferente. Temos a tendncia de negar as diferenas que no compreendemos e a condenar as
experincias do outro que nos chocam.
O preconceito constitui uma atitude interior do indivduo ou grupo, uma ideia pr-concebida
acerca de algo ou algum. O preconceito conduz discriminao e normalmente est relacionado
ausncia de conhecimento sobre a realidade do outro, do diferente. o que acontece, por
614
exemplo, quando deixamos de contratar uma pessoa com deficincia, por entendermos que no
tem a desejada capacidade laboral, avaliando-a por suas limitaes, no por suas habilidades
Em geral o preconceito se presta a justificar a explorao econmica, a dominao poltica, ou
a ocultar antagonismos de classe. Segundo Arnold M. ROSE (ROSE, op. cit., p.165.), o preconceito
traz uma sensao de poder aos membros do grupo dominante, seja ele racial, nacional, religioso,
seja de gnero (relativo s mulheres). Os membros deste grupo, ainda que estejam no seu ltimo
escalo, sentem-se superiores aos membros da minoria. uma vantagem ilusria, j que se abre
mo de outras satisfaes de prestgio reais. Alm do preconceito, h o esteretipo, que muitas vezes
desencadeia prticas discriminatrias. O esteretipo3 o rtulo, a noo padronizada a respeito
de certas pessoas ou grupos, generalizando-se caractersticas. Podem ser positivos e negativos. Por
exemplo, a ideia de que todo japons inteligente, ou todo ndio preguioso, ou todo judeu sovina,
ou toda loura burra.
O esteretipo mantido e veiculado pelos meios de comunicao, podendo ser absorvido
e tornar-se crena que conduz a ao do indivduo. Preconceitos e esteretipos esto presentes
nas relaes sociais, atuando na manuteno de ideias e justificando as diferenas de tratamento
existentes. O preconceito tem um carter mais individual, enquanto o esteretipo apresenta-se
mais fortemente como um produto cultural e social.
A discriminao, diversamente do preconceito, implica necessariamente uma ao, que
produz um impacto diferencial e negativo nos membros do grupo discriminado. Uma ao
educativa e persuasiva pode contribuir para a diminuio do preconceito e para a reviso dos
esteretipos, levando valorizao das diferenas e da diversidade. J no caso da discriminao,
entretanto, por se tratar de prtica, h de se usar tambm dispositivos legais, ou no se ter
alterao no quadro das desigualdades. (BENTO In: _____, op. cit., p.21)
A palavra discriminar apresenta dois significados, o de distinguir ou diferenciar, utilizados
num sentido neutro; e o sentido pejorativo que adquiriu ao longo do sculo XX, de parcialidade,
favoritismo, fanatismo ou intolerncia, que o sentido com que mais frequentemente empregamos
a expresso atualmente.
A discriminao representa um fenmeno social. Por ser social, dinmica, varivel no
tempo e no espao. Isso ocorre porque no diz respeito a uma caracterstica inerente ao sujeito,
mas a algo que se constri na relao com o outro, a uma valorao comparativa.
Nesse sentido est a Conveno Internacional dos Direitos das pessoas com Deficincia da
ONU, aprovada em dezembro de 2006 e ratificada pelo Congresso Nacional brasileiro em julho
de 2008, o que significa que passou a valer para ns como lei interna. Por essa conveno e
615
pela definio que ela traz de pessoa com deficincia, em seu artigo 1, fica claro que considera
a deficincia como sendo da sociedade, no da pessoa: pessoas com deficincia so aquelas que
tm impedimentos de natureza fsica, intelectual ou sensorial, os quais, em interao com diversas
barreiras, podem obstruir sua participao plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas.
Quer dizer, a sociedade que no tem os mecanismos apoios e instrumentos necessrios
para que aquela pessoa possa desenvolver-se plenamente e exercer seus direitos. Porque no
podemos imaginar que uma pessoa que tenha deficincia fsica, por exemplo, que necessite de
cadeira de rodas, encontre os mesmos obstculos morando num stio no interior do Paran,
sendo de famlia humilde, que aquela que mora em Munique, na Alemanha, onde todas as
caladas e veculos de transporte coletivo so adaptados e ela tem acesso mais fcil cadeira
de rodas motorizada.
Claro que existem deficincias que comprometem e limitam muito as possibilidades de
uma pessoa, quanto educao, ao trabalho e vida social. Mas mesmo para estas, o acesso a
recursos mdicos, de tratamentos fisioterpicos e psicopedaggicos, pode fazer muita diferena
no desenvolvimento.
Tomando mais um exemplo, uma mulher sabe que mulher porque se relaciona com o
outro, que o homem, percebendo a diferena entre eles. Uma pessoa percebe que negra ao
ter contato com o outro, que o branco, ou o amarelo, por exemplo. Como se v, a diferena no
est na pessoa, mas na relao que ela constri com o outro, Por isso a aceitao do diferente
uma atitude que todos deveramos adotar, porque em outro contexto todos ns poderamos nos
tornar o diferente.
Maurcio Godinho DELGADO conceitua a discriminao como ...conduta pela qual se
nega pessoa tratamento compatvel com o padro jurdico assentado para a situao concreta por
ela vivenciada... (DELGADO In: VIANA; RENAULT, op. cit., p.97-114)
Egdia Maria de Almeida AIEXE afirma que a discriminao em regra atinge um grupo de
pessoas unidas por um trao comum:
Neste sentido, o ato de discriminar compe-se, antes de tudo, de uma generalizao dos atributos extrnsecos
das pessoas de um grupo como sinnimos de uma ou mais qualidades vistas como negativas. O efeito a
negao da individualidade de cada componente do grupo e sua dissoluo em um todo imaginrio, que
recebe uma categorizao estigmatizante a partir dos valores daquele que discrimina. (AIEXE In: VIANA;
RENAULT, op. cit., p.337)
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vivenciam, no obstante no sejam dela vtima. Limita, pela excluso, a possibilidade de reunir no
ambiente de trabalho, ou num local de lazer, ou numa universidade, indivduos com experincias,
talentos, histrias de vida e habilidades diversas.
Ns j caminhamos bastante nos ltimos anos em relao diminuio da discriminao.
A maioria das pessoas j sabe que ilegal deixar de contratar algum porque negro, ou porque
mulher, por exemplo. Mas ainda temos muito a avanar no sentido de uma igualdade efetiva
e da aceitao do diferente. No raro vemos notcias nos jornais de pessoas espancadas e at
mesmo mortas, porque so indigentes que moram nas ruas, ou porque so homossexuais, ou que
sofrem presso de colegas porque so obesas. Ainda temos que fazer um grande esforo para nos
considerarmos uma sociedade inclusiva.
PARGRAFOS COM AS IDEIAS PRINCIPAIS DO TEXTO:
No h como se imaginar sustentabilidade social e diminuio das diferenas sociais com a
perpetuao de prticas discriminatrias na escola, no trabalho, no acesso aos servios de sade
e aos servios pblicos em geral. A dignidade pressupe o direito igualdade.
A Constituio Federal Brasileira assegura no art. 5, caput, o princpio da igualdade,
ao estatuir que todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza. O princpio
da igualdade est diretamente ligado ao princpio da no discriminao. Porm, o princpio da
igualdade no absoluto. Algumas distines so lcitas e a prpria Constituio estabelece
algumas dessas distines, como a proteo ao trabalho do menor.
Por um lado, a demanda por igual reconhecimento exige que as pessoas sejam tratadas
sem considerao a suas diferenas; todos os seres humanos so compreendidos como iguais
em relao aos direitos humanos, que so considerados inerentes ao homem e universais, ou
universalizveis. Por outro lado, em nome da poltica das diferenas preciso reconhecer e
at fomentar particularidades. Isso no significa discriminar no sentido negativo da palavra. A
discriminao, diversamente do preconceito, implica necessariamente uma ao, que produz um
impacto diferencial e negativo nos membros do grupo discriminado. No diz respeito a uma
caracterstica inerente ao sujeito, mas a algo que se constri na relao com o outro, a uma
valorao comparativa.
Maurcio Godinho DELGADO conceitua a discriminao como ...conduta pela qual se
nega pessoa tratamento compatvel com o padro jurdico assentado para a situao concreta
por ela vivenciada... (DELGADO In: VIANA; RENAULT, p.97-114) No mbito das relaes de
trabalho, para que o fator diferenciador seja vlido, deve ser vinculado objetiva e logicamente
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Preconceito Um julgamento prvio negativo, uma ideia pr-concebida acerca de algo ou algum.
Discriminao Conduta (ao ou omisso) que viola direitos das pessoas com base em critrios injustificados
e injustos, como a raa, o sexo, a idade e outros.
Esteretipo Atributos relativos a pessoas ou grupos, que so generalizados como uma espcie de rtulo.
a ideia, por exemplo, de que todo japons inteligente, ou de que todo ndio preguioso. Pode ser positivo
ou negativo, mas sempre equivocado, na medida em que generaliza caractersticas e comportamentos a
todos os integrantes daquele determinado grupo ou segmento.
Racismo Ideologia que defende a existncia de hierarquia entre grupos humanos com base em raas que
reputa existentes, marcadas por caractersticas fsicas, hereditrias e culturais.
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EMPREENDEDORISMO NO CONTEXTO
DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL
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empreendedor da sua populao. Vale lembrar, o setor produtivo o grande responsvel pela
gerao de emprego e contribuio de tributos. Estimular o empreendedorismo5 pode ser uma das
sadas para o enfrentamento dos problemas brasileiros.
As alteraes nas formas de emprego, mediante a terceirizao de servios, e a maior
complexidade tecnolgica no processamento de produtos primrios e secundrios so frutos da
competitividade. So novas situaes que criam oportunidades no mercado, porm, implicam que
instituies e indivduos ampliem seu potencial empreendedor.
DESENVOLVENDO O ESPRITO EMPREENDEDOR: APRENDIZAGENS NECESSRIAS
As caractersticas necessrias ao bom empreendedor podem ser adquiridas e desenvolvidas.
Na formao de empreendedores, fundamental que as pessoas sejam preparadas para agir e
pensar com autonomia, liderana e criatividade, inovando e ocupando com prazer e emoo o
espao no mercado.
necessrio para isso, em primeiro lugar, entender as perspectivas possveis, agindo com
iniciativa e comprometer-se na busca de informaes.
Importa ressaltar que no se trata de opor empreendedor a empregado, pois so conceitos
que no se excluem. Trata-se de preparar as pessoas para viver um momento em que as
transformaes so rpidas, no qual o mais importante saber aprender e criar, transformando
conhecimento em riqueza. Atitudes mentais so mais importantes que habilidades especficas.
Como identificar o empreendedor? Como permitir o desenvolvimento de empreendedores
na comunidade?
Algumas atitudes e competncias do empreendedor devem ser adquiridas. preciso: aprender
a aprender, estando aberto para novos conhecimentos e tecnologias; usar a criatividade para superar
obstculos; capacitar-se para correr riscos calculados; aprender a tomar decises mais acertadas,
fazendo planejamento com viso estratgica; e trabalhar em grupo, valorizando iniciativas e parcerias
em que todos ganham. Os atributos apresentados a seguir qualificam o empreendedor:
1. Autoconhecer-se uma primeira necessidade para que o empreendedor seja bemsucedido, como primeiro passo para desenvolver as habilidades empresariais, o
conhecimento de seus pontos fortes e fracos;
2. Criar oportunidades alm disso, a capacidade de identificar e criar oportunidades,
a capacidade gerencial e de planejamento e a habilidade para vencer desafios so
fundamentais;
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EMPREENDEDORISMO E DESENVOLVIMENTO:
CONHECENDO OS FATORES NECESSRIOS
Fazer investimentos para que os recursos cresam o mesmo que promover desenvolvimento
da economia e o que desafia o empreendedor. O empreendedor capaz de desenvolver esses
recursos na sua empresa e na sua comunidade, buscando o crescimento sustentvel comum,
exercendo sua liderana de forma positiva.
Na economia a iniciativa privada detm a fora de trabalho, bem como os fatores de
produo pelos quais recebe remuneraes correspondentes.
Para os economistas, so quatro as categorias (PERES, 2005) dos fatores ditos primrios
de produo, descritos a seguir:
Primeiro, os recursos naturais, cuja remunerao o aluguel ou a renda. Os recursos naturais
consistem nos bens usados na produo e so extrados diretamente da natureza. Precisam de
transformao mediante a tecnologia para tornarem-se teis ao homem. Compreendem os minerais,
a gua, o vento, as terras cultivadas ou no, entre outros. O Brasil cultiva aproximadamente 50
milhes de hectares com lavouras e 160 milhes de hectares com pastagens naturais e artificiais.
Estudos indicam (MENDES, 1998) um potencial de mais 290 milhes de hectares de terras
propcias para a agropecuria, ainda inexplorados. Considerando a rea total do pas, de 850
milhes de hectares, as terras j ocupadas com agropecuria e aquelas com potencial representam
500 milhes de hectares, cerca de 60% do total, o que evidencia a sua vocao agrcola.
Em seguida, os recursos fsicos: infraestrutura e tecnologia cuja remunerao so os
juros e os royalties. Os recursos fsicos correspondem infraestrutura econmica disposio
da sociedade. Compreendem os transportes, telecomunicaes, energia, abastecimento de gua,
saneamento e sistemas educacionais. Ainda so recursos fsicos as mquinas, os equipamentos,
as benfeitorias, as construes e os insumos disposio das empresas. Tambm a tecnologia
pertence a essa categoria de recursos, envolvendo os conhecimentos de produo, de automao
e informtica, biotecnologia7, entre outros.
O terceiro fator de produo o trabalho, cuja remunerao o salrio. Os trabalhadores
dispem da sua prpria fora de trabalho como fator de produo. A importncia dos recursos
humanos para a economia dos pases aumenta no contexto da competitividade. Avalia-se a fora
de trabalho dos pases mediante o capital8 humano, considerando-se a sade da populao,
a qualidade e quantidade da educao recebida como fatores objetivos de anlise. A sade
proporciona disposio e disponibilidade para o trabalho, a educao traduz-se em conhecimentos
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O primeiro critrio de avaliao est baseado na confiana entre as pessoas e das pessoas
na sua comunidade. A confiana que permite a formao de redes de relacionamento entre elas
e os grupos, facilitando as negociaes e os investimentos. Portanto, se no h confiana, no h
desenvolvimento. A confiana (VIEIRA, 2005) a expectativa positiva de que o outro no agir
de modo oportunista ou imprevisvel. Trata-se, ento, de um exerccio de convivncia construtiva
entre as pessoas, uma conquista e no uma imposio.
O segundo critrio a capacidade de as pessoas ou comunidades trabalharem em grupo
para resolver problemas comuns, sem esperar que outros o faam.
O terceiro fator para avaliar o capital social est ligado ao civismo, ou seja, o compromisso das
pessoas ou das comunidades com respeitar regras, leis, propiciando convivncia cidad e saudvel.
O capital social no propriedade de apenas um grupo. interessante observar que quanto
mais esse tipo de recurso desenvolve-se nas comunidades, mais todos podem usufruir dele, sem
que este se desgaste ou acabe como os recursos fsicos, por exemplo.
Nas economias nas quais o totalitarismo ou regimes pouco democrticos (PERES, 2000)
foram praticados pelos governos, verificou- se diminuio do capital social. Nessas situaes, a
populao no sabe em quem confiar, e as relaes clientelsticas formam-se porque os detentores
do poder concedem favores a certos grupos.
O paternalismo tambm prejudica o capital social, porque causa dependncia dos mais
fracos, retira-lhes a iniciativa de lutar para autoafirmar-se.
Por fim, a corrupo o grande perigo para o capital social. Alm de ser criminosa e
desrespeitosa lei, destri a confiana da populao nas instituies, retira-lhes a esperana e
prejudica o desenvolvimento.
A educao comprometida com aspectos de cidadania pode ser um grande impulso para o
crescimento do capital social.
Os empreendedores tambm so grandes responsveis pelo surgimento e desenvolvimento
do capital social, porque que exercem uma liderana comprometida com o seu crescimento pessoal
e das comunidades e so criativos na busca de solues para problemas comuns enfrentados,
entre outros aspectos.
Exemplos de capital social podem ser observados na sociedade.
Uma prtica antiga no meio rural e j quase abandonada, o mutiro, um desses exemplos:
o produtor que necessitasse realizar uma tarefa podia contar com os vizinhos. Havia confiana e
todos se dispunham a contribuir com seu servio, numa atitude de ajuda mtua. Havia cumprimento
de regras e trabalho em grupo: geralmente o mutiro terminava com festejos e comida farta.
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1. Diagnstico
uma fotografia da situao atual da empresa ou do empreendedor, um levantamento de
todos seus recursos atuais, independentemente da atividade em que se pretenda investir (iniciar
ou incrementar). composto pelas seguintes partes:
Inventrio dos capitais
um levantamento, uma descrio dos recursos que a empresa/empreendedor possui
antes de fazer o investimento. So classificados como capital natural, fsico, financeiro,
humano e social. importante arbitrar valores aos trs primeiros. Avaliam-se os recursos
humanos quanto a de sade, escolaridade, atitude, disponibilidade e competncias no
trabalho das pessoas envolvidas (empreendedor, funcionrios e parceiros).
Anlise de rentabilidade (eficincia):
um levantamento de custos diretos de cada atividade atual, sua receita e margem bruta.
Viabilidade de longo prazo
um levantamento dos custos fixos e margem lquida da empresa rural. Esta anlise
demonstra se as atividades atuais so sustentveis no longo prazo, isto , se pagam a
conta das depreciaes e se remuneram os capitais imobilizados da empresa.
Planejamento estratgico
O diagnstico termina com a elaborao do planejamento estratgico (PERES, 2000), no
qual so estudados pontos fortes e fracos da empresa ou do empreendimento, ameaas e
oportunidades do ambiente externo a ser enfrentado. Partir dessa anlise, estabelecemse misso, objetivos, estratgias e metas a serem alcanadas. Esse planejamento (PE)
deve estar afinado com os desejos, vocao do gestor/empreendedor e com a realidade
da qual participa a empresa (metas factveis, reais). O planejamento estratgico uma
orientao de longo prazo, expressa a viso da empresa e deve ser compatvel com os
prximos passos do Projeto.
2. Estudo de Mercado
Esta a fase mais difcil de obter dados, pois o mercado dinmico e imprevisvel. Muitas
vezes as informaes de mercado no esto facilmente disponveis, ou so de difcil acesso. Outras
vezes, as informaes precisam ser obtidas mediante pesquisas diretas em campo, feitas pelo
prprio empreendedor, o que demanda tempo e recurso.
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Nessa etapa, preciso estudar bem a tecnologia a ser adotada para obter os ndices
de produtividade plausveis por meio dos seus coeficientes tcnicos. Desenham-se, ento, o
cronograma de receitas, de gastos e de investimentos para estruturar as atividades, uma vez que
so cruciais para o empreendedor poder levantar oramentos factveis.
O sistema de produo proposto pode ser estudado com base em produtividade mdia da
regio, dados obtidos em institutos de pesquisa e extenso, incluindo-se visitas a empresas de sucesso.
Nesta etapa, necessrio relacionar as futuras e necessrias aquisies de mquinas e
equipamentos, construo ou reforma de benfeitorias, operaes e atividades a serem realizadas,
e at mesmo considerar se haver necessidade de contratar ou treinar mo de obra. importante
apresentar a memria de clculo de toda a oramentao.
Efetuar um oramento bem estruturado, com cronograma e coeficientes compatveis com a
realidade, facilita consideravelmente a avaliao da viabilidade da situao proposta e da empresa
como um todo.
4. Avaliaes
A anlise de viabilidade de um investimento precisa ser realizada sob diversos ngulos, para
que este demonstre ser consistente e sustentvel ao longo do tempo, como segue.
Anlise econmica (SILVA In: PERES, 2003, p.361-395)
Os instrumentos de avaliao so ferramentas da matemtica financeira: Valor Presente
Lquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), Taxa de Retorno de Fischer, relao
Benefcio Custo (B/C) e PAYBACK. Avalia-se se os capitais aplicados tm retorno
compatvel com as taxas de mercado, alm do horizonte de tempo em que o que foi
investido retornar.
Anlise financeira
Os instrumentos de avaliao so o fluxo de caixa e a capacidade de pagamento. Avaliase se a empresa rural ter condies financeiras de bancar o investimento com seus
recursos prprios ou de terceiros, e como ser o cronograma de amortizaes.
Anlise ambiental
Avaliam-se os possveis impactos que a nova atividade gera no meio ambiente e quais sero
os cuidados para prevenir problemas ambientais relacionados com a atividade produtiva.
Anlise poltica e social
Avalia-se se a nova situao traz benefcios para a comunidade interna e externa da
empresa rural (valorizao das pessoas, aumento de renda, capacitao) e a disposio
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Fatores de produo Diz-se dos recursos utilizados no processo produtivo de um setor da economia.
Biotecnologia Aplicao de processos biolgicos produo de materiais e substncias para uso industrial,
medicinal, farmacutico.
8 Capital Riqueza ou valores disponveis. Conjunto de bens produzidos pelo homem que participam da
produo de outros bens (basicamente, mquinas e equipamentos). Recursos monetrios investidos ou
disponveis para investimento. Fundo de dinheiro ou patrimnio de uma empresa.
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Commodities Refere-se matria-prima, produto sem distino de marca, em estado bruto, mercadoria
geralmente comercializada em bolsas (mercado futuro). Exemplos: petrleo, ouro, soja, milho, entre outros.
10 Cadeias agroindustriais Diz-se do conjunto de empresas que compem um setor produtivo que engloba
desde fornecedores de insumos, produtores rurais, indstria de transformao e distribuidores (atacadistas
e varejistas), at chegar ao consumidor final.
11 Bens de capital Bens durveis que participam do processo produtivo como mquinas, equipamentos,
benfeitorias e no so consumveis no curto prazo.
12 Oramento Ato ou efeito de orar; avaliao, clculo, cmputo. Avaliao do custo de obra ou de servio
a ser executado.
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EDUCAO TRIBUTRIA
INTRODUO
Quando observamos a vida em sociedade, reconhecemos, sem dificuldade, que existem
necessidades comuns que precisam ser satisfeitas. Em cada cultura e segundo o estgio de
desenvolvimento das sociedades, essas necessidades variam em seu significado e grau. Alm
disso, elas podem ser materiais e no materiais, mas sero sempre interdependentes.
No mundo contemporneo, educao, trabalho, sade, alimentao, segurana, habitao,
locomoo, cultura e lazer esto entre as principais expresses que validamos como necessidades
bsicas. A necessidade bsica, entendida como uma condio necessria do ser humano, se no
atendida, pode provocar uma espcie de desintegrao social (GALTUNG, 1980. p.64).
H, entretanto, outras diferenas no que se refere ao conceito de necessidades bsicas.
De um lado, temos necessidades cuja satisfao depende do indivduo, de sua motivao e
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Para que o Estado possa cobrar imposto do contribuinte preciso que exista um fato
gerador (momento, quando o imposto gerado). Portanto, fato gerador a prtica de um ato
que gera o imposto. Receber salrio, obter lucro, constituir renda, comercializar, etc. podem ser
fatores geradores que permitem ao Estado cobrar imposto.
Na iminncia ou no caso de guerra externa, a Unio poder instituir impostos
extraordinrios, dentro ou fora de sua competncia tributria, os quais sero suprimidos
gradativamente, cessadas as causas de sua criao (Art. 154, II, CF).
TIPOS DE TRIBUTO
TRIBUTO = Receita derivada que o Estado recolhe do patrimnio dos indivduos, baseado no seu
poder imposicional, regulado por normas de Direito Pblico que constituem o Direito Tributrio.
Imposto
Taxa
Contribuio de
melhoria
Emprstimo
compulsrio
Prestao que o Estado ou outra pessoa jurdica de direito pblico interno exige de
contribuintes que se coloquem em determinada situao considerada por lei como
fato gerador e que deve ser posteriormente restituda em prazo certo, legalmente
estabelecido.
Contribuio
especial
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uns dos outros, templos de qualquer culto, patrimnio, renda ou services dos partidos polticos,
livros, jornais, peridicos e o papel destinado sua impresso (Art. 150, CF).
Resumo dos Impostos, segundo Esferas de Competncia
IMPOSTOS DE COMPETNCIA FEDERAL
DENOMINAO
INCIDNCIA
FATO GERADOR
BASE DE
CLCULO
CONTRIBUINTE
CTN, art. 19
Produtos de
Entrada de
IMPORTAO (II)
procedncia
mercadoria no
CTN, art. 23
estrangeira
Produtos nacionais ou
CTN, art. 29
nacionalizados
Imvel, por natureza,
PROPRIEDADE
titular do
TERRITORIAL RURAL
municpio
domnio,
EXPORTAO (IE)
Peso/Qtde. Valor
Importador
territrio nacional
Sada de produto do
Peso?Qtde. Valor
Exportador
territrio nacional
Propriedade,
Valor fundirio
Proprietrio,
CTN, art. 43
Disponibilidade
Aquisio da
Montante real,
possuidor
Titular da
RENDA E PROVENTOS
econmica ou jurdica
disponibilidade
arbitrado ou
disponibilidade
DE QUALQUER
de rendas e proventos
(ITR)
presumido
NATUREZA (IR)
CTN, art. 46
Produtos
Desembarao
Preo normal + II
Importador,
PRODUTOS
industrializados
aduaneiro, sada do
+ encargos;
industrial,
estabelecimento
INDUSTRIALIZADOS
CTN, art. 63
Operao de crdito,
Entrega da moeda
Preo corrente
Montante da
OPERAES DE
cmbio e seguro ou
nacional ou
obrigao ou
partes conforme
CRDITO, CMBIO
relativas a ttulos ou
estrangeira, emisso
moeda, prmio,
a lei estabelecer
E SEGURO OU
valores mobilirios
aplice e a emisso,
valor nominal ou
RELATIVAS A
transmisso ou
cotao em bolsa e
TTULOS OU VALORES
resgate de ttulos ou
o preo
(IPI)
Grandes fortunas,
valores mobilirios
Propriedades das
Valor do
Declarante
GRANDES FORTUNAS
grandes fortunas
patrimnio
proprietrio das
(IGF)
complementar
considerado
grandes fortunas
MOBILIRIOS (IOF)
grande fortuna
644
INCIDNCIA
FATO GERADOR
BASE DE
CLCULO
CONTRIBUINTE
CF,art. 155, I, a
Bens ou direitos
Transmisso causa
TRANSMISSO CAUSA
transmitidos por
mortisee doao
direitos
MORTIS E DOAO DE
herana ou doados
legatrio ou
donatrio
Mercadoria nacionale
Sada ou entrada
Valordda
Comerciante,
CIRCULAO DE
estrangeira,
no estabelecimento
operao, valor
industrial,
MERCADORIAS
alimentao e bebida e
e fornecimento por
de transao + II importador ou
E PRESTAES
DE SERVIOS DE
a intermunicipal e
TRANSPORTE E
comunicao
e preo dos
servios
Veculos automotores
Propriedade do
servios
Valor venal
Proprietrio
veculo
ou preo de
de veculo ou
venda ou de
arrematante
COMUNICAO (ICMS)
PROPRIEDADE
DE VECULOS
+IPI+ despesas
AUTOMOTORES (IPVA)
arrematante e
prestador dos
arrematao
INCIDNCIA
FATO GERADOR
BASE DE
CLCULO
CONTRIBUINTE
CTN,art. 32
Proprietrio,
PROPRIEDADE
util e posse
titular do domnio
PREDIAL E
na zona urbana do
e possuidor
Transmisso da
Adquirente dos
TRANSMISSO INTER
relativos a imveis
propriedade e cesso
bens e direitos
bens e direitos
Preo do servio
Prestador de
de direitos
VIVOS DE BENS
IMVEIS (ITBI)
SERVIOS DE
Servios
Prestao do servio
servios
QUALQUER NATUREZA
(ISS)
645
O contribuinte
Aquele que responsvel pelo pagamento do tributo e que possui direitos e deveres na
ordem tributria o contribuinte. Em poucas palavras, contribuinte quem contribui, quem paga
o imposto.
contribuinte a pessoa, fsica ou jurdica, que apresente um determinado patamar de renda
ou que realize, com habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, operaes de
circulao de mercadorias ou prestaes de servios de transporte interestadual e intermunicipal
e de comunicao, ainda que as operaes ou prestaes se iniciem no exterior.
Alm do fato gerador, outra condio se faz necessria para nomear o contribuinte: trata-se
da sua capacidade econmica ou contributiva.
Capacidade contributiva pode ser entendida como a soma de riqueza disponvel, depois de
satisfeitas as necessidades elementares da existncia, que pode ser absorvida pelo Estado, sem reduzir
o padro de vida do contribuinte e sem prejudicar as suas atividades econmicas (GRIZIOTTI, apud
NOGUEIRA, 1999, p. 12). Existe contribuinte, portanto, sempre que houver um fato gerador e
for revelada sua capacidade contributiva.
A medida do imposto
Como dissemos, o peso tributrio imposto ao contribuinte est dimensionado de acordo
com a sua capacidade contributiva. Na nossa Constituio, a capacidade contributiva decorre
do respeito capacidade econmica... (e) consagra a necessidade de atender razoabilidade,
proporcionalidade e adequao de incidncia tributria s situaes concretas (LOPES, 2000, p.
1.103-4). Da entender-se que a ningum ser cobrado um imposto desproporcional sua renda
e ao seu lucro. Da reconhecer o sentido do teto que separa contribuintes de no contribuintes
segundo a sua renda.
No dimensionamento do tributo que se aplica aos produtos, h frmulas que buscam ajustar
essas dimenses de proporcionalidade e de razoabilidade do imposto. Elas se fundamentam numa
classificao dos impostos em fixos e proporcionais.
Os impostos fixos referem-se ao montante estabelecido pela lei e so aplicveis a todas as
unidades da matria tributvel, sem levar em conta o valor do objeto da matria tributada.
Nos impostos proporcionais, o montante no fixo. Aplica-se, ento, uma alquota que
incide sobre o valor da matria tributada.
Alquota o percentual pelo qual se determina o valor do tributo.
646
ALQUOTA
7%
12%
25%
17%
647
648
SIGLA
II
IE
IMPOSTO SOBRE
Importao
Exportao
SIGLA
IMPOSTOS
SOBRE O
PATRIMNIO
E A RENDA
CLASSIFICAO
DOS IMPOSTOS
IMPOSTOS
EXTRAORDINRIOS
Unio
Unio
IMPOSTO SOBRE
COMPET.
ITR
Unio
IPTU
Mun.
ITBI
Mun.
IR
Unio
IPVA
Est./DF
IGF
Grandes Fortunas
Unio
ITD
Est./DF
SIGLA
IMPOSTOS
SOBRE A
PRODUO E
CIRCULAO
COMPET.
IMPOSTO SOBRE
COMPET.
IPI
Produtos Industrializados
Unio
ICMS
Est./DF
IOF
Unio
ISS
Mun.
SIGLA
IMPOSTO SOBRE
Lanados por Motivo de Guerra
COMPET.
Unio
FONTE: PIRES, A. R. Manual de Direito Tributrio. 10. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2000. p. 25
649
Exportao.
emprego.
Evaso fiscal
atitude do contribuinte que se nega ao sacrifcio fiscal d-se o nome de evaso fiscal.
Quando a evaso fiscal configura-se como uma infrao lei, h fraude fiscal. A ocultao do
imposto a pagar ou sonegao uma das fraudes fiscais mais correntes em nossa realidade.
Outra evaso ilegtima a que se materializa na faixa de fronteira geopoltica, tambm
chamada descaminho de direto. Essa fraude implica a entrada de mercadorias em territrio nacional
sem o correspondente pagamento de impostos alfandegrios. muitas vezes confundida com o
contrabando. A diferena est em que este ltimo entendido como entrada de mercadorias no
territrio nacional no permitida por lei.
650
A evaso fiscal tem, como uma de suas conseqncias, o repasse de nus aos demais
contribuintes. Alm disso, perdem-se recursos com os quais o Estado estaria realizando um
nmero maior de obras para o bem social.
INFRAES FISCAIS
ELISO Toda conduta que, por meio lcito, evita ou retarda a ocorrncia do fato
gerador da obrigao tributria ou reduz os efeitos que lhe so prprios.
EVASO Toda conduta que, por meio ilcito, impede ou modifica a configurao do
fato gerador de obrigao tributria.
INFRAO Negligncia, impercia ou imprudncia no cumprimento do dever
tributrio.
DELITO Fraude fiscal deliberada.
FRAUDE Todo delito que decorre da ao ou omisso dolosa (ao consciente e livre
dirigida a um fim ilegtimo) tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a
ocorrncia do fator gerador da obrigao tributria principal ou a excluir ou modificar
suas caractersticas essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido ou
evitar ou diferir o seu pagamento.
SONEGAO Todo delito que decorre de uma ao ou omisso dolosa tendente a
impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade
fazendria, seja do fato gerador da obrigao tributria principal, seja das condies
pessoais do contribuinte, suscetveis de afetar a obrigato tributria principal ou o
crdito tributrio correspondente.
Entre as principais consequncias da Sonegao Fiscal, destacam-se as seguintes:
Desvio dos cofres pblicos do imposto pago pelo contribuinte.
Concorrncia desleal em detrimento do contribuinte que recolhe os impostos regularmente.
Diminuio da capacidade do Poder Pblico para satisfazer as necessidades sociais e de
investimento.
A sonegao fiscal no Brasil, no obstante ter um carter criminoso, alcana um ndice
muito alto. Estima-se que, para cada real recolhido, um sonegado. Supe-se, tambm, que esse
tipo de fraude lesa o errio pblico, na atualidade, em um montante que se aproxima aos 22%
do PIB.
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652
Em face do que foi exposto, pode-se estimar o grau de complexidade da questo tributria
e fiscal. O tributo responde a vrios fins e sua interpretao pode torn-los ambguos. S uma
atitude tica na anlise de todas as interaes possveis desse fenmeno pode levar a propostas
que reduzam as contradies e os vcios instalados neste processo.
Em razo de tantas implicaes, a Educao Tributria, como tema curricular transversal,
deve incorporar a fora da compreenso crtica e do nimo pedaggico, de modo que a escola
653
possa corroborar com a emergncia de geraes com novas mentes, muito mais solidrias e
entendidas sobre o que o tributo pode fazer pelo progresso e pela justia social. E isso, num futuro
que no precisa estar to longe.
REFERNCIAS
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654
INTRODUO
O termo sustentabilidade1 pode soar anacrnico2 em um texto histrico que se ocupa do
povoamento de um territrio cujas origens remontam h mais de trezentos anos. No entanto se, por
um lado, as aes dos colonizadores e as polticas governamentais foram extremamente agressivas
e dominadoras em relao ao espao conquistado e as populaes a elas submetidas; por outro,
essas mesmas iniciativas podem ser vistas como o germe de algumas prticas que, mesmo sendo
meramente utilitrias, acabaram resultando numa conscientizao que inclusive mundial
sobre os efeitos danosos de se ignorar as consequncias de uma explorao desordenada das
dimenses econmicas, sociais e culturais dos recursos naturais e humanos.
Assim, um estudo sobre a ocupao de qualquer territrio habitado, inclusive do que
posteriormente se chamaria Paran, pode debruar-se sobre questes cruciais. Dentre elas, o
demorado despertar das autoridades pblicas, dos cientistas e dos cidados comuns para problemas
que envolvem, no s a preservao dos recursos naturais como queriam os ambientalistas3 de
primeira hora4 , mas tambm tudo aquilo que diz respeito sustentao da vida humana em
sociedade. Como bem lembra Richard Rogers (2001): significa encontrar meios socialmente
mais consistentes, economicamente mais eficientes e ecologicamente mais corretos de produzir e
distribuir os recursos existentes.
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O caso do Paran no foge das circunstncias universais, desde a sua colonizao pelos
europeus, numa poca em que as relaes homem-ambiente, eu e o outro, estavam pautadas
por uma concepo de mundo em que a natureza era subordinada aos interesses humanos, at
chegar ao tempo presente quando se busca, em termos globais, permitir o acesso aos recursos
naturais, culturais e econmicos com vistas a um futuro sustentvel.
Primeiramente, o territrio praticamente desabitado passou pelo estgio predatrio e
socialmente injusto do incio da ocupao, dando origem a um longo perodo de hibernao em
que a Metrpole5 organizou a nova conquista, ao seu bel prazer, sem cogitar no que hoje se coloca
como proteo dos ecossistemas6 e equilbrio das desigualdades sociais.
Em um segundo momento, vivenciou a conjuntura7 em que tiveram incio, mundialmente,
medidas que visavam sanar os males que afligiam as populaes citadinas8, como os surtos
epidmicos e as molstias crnicas. Mtodos pontuais adotados em mbitos nacionais e local e,
atualmente, considerados insuficientes diante das novas descobertas da cincia e da tecnologia em
prol da sade e da qualidade de vida humanos.
O terceiro patamar foi aquele em que o mundo acordou para uma nova concepo da
relao entre o homem e seu meio, diante das ameaas vida do planeta, para criar polticas que,
segundo a definio de Kazazian (2005), geram um desenvolvimento que concilia crescimento
econmico, preservao do meio ambiente e melhora das condies sociais. No Paran, polticas
de preservao ambiental desenvolveram-se em contraponto a prticas que geravam poluio9 e
promoviam desmatamentos10.
Finalmente, o presente estgio quando governos e sociedades tomam conscincia da
necessidade de promover iniciativas de cunho poltico, socioeconmico, educativo e ecolgico que
permitam humanidade acessar os recursos atuais, sem privar seus descendentes da possibilidade
de usufruir livremente dessas riquezas naturais. Um projeto adequado ao pensamento de Morin
(2007), que prope (...) desenvolver uma tica do gnero humano, para que possamos superar
esse estado de caos e comear, talvez, a civilizar a terra.
essa trajetria que se procurar abordar nas pginas seguintes.
EUROPEUS E INDGENAS: VIVNCIAS E ESTRATGIAS DE SOBREVIVNCIA11
No incio do sculo XVI, ao sul do extenso territrio que comeava a ser ocupado por
portugueses e espanhis, a oeste da linha de Tordesilhas, estendia-se uma regio coberta por
planaltos e montanhas e entrecortada por inmeros cursos dgua. Nesse amplo espao natural,
favorecidos pela relativa amenidade do relevo e do clima, perambulavam, h milnios, grupos
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se aproveitaram os portugueses para transgredir aquela linha imaginria, ocupando, por meio
de diversas estratgias, inclusive a da fora, os territrios em questo. Essa incorporao das
terras brasileiras ao Imprio portugus assinalou o incio de seu processo de ocidentalizao. O
resultado desse fenmeno, em todos os locais em que ocorreu, foi a destruio das demais formas
de organizao econmico-social.
A relao entre o portugus e o indgena no novo territrio causou, ento, um impacto
resultante do total desrespeito autonomia dos seres humanos, s suas condies de vida, bem
como conservao de seu espao vital.
No caso dos lusitanos27, porm, a relao com o gentio foi fundamental para a sobrevivncia
naquelas regies inspitas, pois o empreendimento portugus, notadamente no sul da zona colonial,
teria sido impossvel sem ele. Essa convivncia, medida que inseriu o ndio nos interesses da
Metrpole28, estabeleceu condies para a troca de elementos da cultura material e simblica
entre ambos os povos.
Mediante a inevitvel miscigenao29 dos lusos com as mulheres indgenas, houve uma
interao dos costumes diferenciados do ndio, do europeu e, mais tarde, do negro, fazendo
que, naquela sociedade, coexistissem mltiplos arranjos domsticos e familiares e vrias formas
de trabalho. Do contato entre as nativas e os portugueses advieram os mamelucos30, hbridos
culturais31, que foram agentes da circulao de hbitos, tcnicas e conhecimentos do universo
cultural de suas mes indgenas.
A composio e reelaborao das tradies lusitana e autctone32 originou uma outra forma
de viver o modo caipira33 , que passou a ser o substrato econmico e cultural da populao
livre e pobre; uma massa annima que lentamente se desenvolveu nos sculos XVI e XVII e cujos
traos ainda esto presentes nos usos, nas falas e nas crenas dos habitantes do que mais tarde
seria chamado de Paran Tradicional denominao que abrange o litoral e os dois primeiros
planaltos de seu territrio, at a regio de Guarapuava e Palmas. A formao da cultura caipira e a
utilizao dos costumes e do idioma autctone no significaram, porm, hegemonia34 do nativo, pois
toda a formao colonial expressava uma relao de subordinao do indgena ao europeu. Assim,
intensificou-se a explorao do homem pelo homem, consagrando uma desigualdade social que se
perpetuaria em solo brasileiro pelos sculos seguintes.
A populao resultante da miscigenao manteve, entretanto, a forma itinerante35 do roar
indgena e incorporou, para fins alimentares ou medicinais, os frutos da terra; adotou ao costume
de transportar e guardar alimentos em cestos de fibras ou taquara, utilizando-se tambm das
tcnicas indgenas para a confeco de armadilhas. Diferentemente das populaes de outros
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viverem junto a povoaes civis (...). (Sesso da Cmara Municipal de Curitiba, 04 de dezembro
de 1766) Uma iniciativa que visava, pela fora, a insero social dos chamados vagabundos
para evitar-se a perturbao da ordem vigente.
Em tais condies, restava a muitos viver da extrao de produtos locais como a congonha
palavra que, poca, designava a erva-mate , produto nativo, de fcil acesso, e h muito
conhecido e utilizado como bebida ou remdio. Apesar de a Coroa interessar-se logo por sua
explorao, foi somente ao final do sculo XVIII que ela passou a ter peso na economia regional e
envolver boa parte da populao em sua extrao, beneficiamento52 e comrcio.
Prosseguia tambm a produo e comercializao da farinha de mandioca, acrescida do
plantio do trigo, que era exportado para Santos, do arroz pilado e do feijo; estava presente uma
pequena explorao de madeiras e iniciava-se a criao de gado em currais53 esparsos. Plantaes
de cana foram introduzidas no litoral, dando incio produo de acar e aguardente54. A
pesca era igualmente importante na faixa martima, devidamente vigiada pela governana55 da
capitania56 de So Paulo que, em 1730, proibia essa atividade no distrito e nas enseadas da vila
de Paranagu, durante determinados meses do ano, para no prejudicar a reproduo dos peixes.
Nesse quesito, as preocupaes imediatistas da Coroa acabaram por criar inadvertidamente
uma cultura preservacionista57 que iria disseminar-se de uma forma emprica58 e quase intuitiva nas
populaes litorneas, criando prticas que permaneceram atravs do tempo em suas atividades
econmicas. Em pocas muito mais recentes, legislaes especficas viriam regulamentar perodos
determinados para caa e a pesca em todo o territrio nacional.
Em contrapartida, importava-se o sal, que era to escasso, a ponto de, ainda em 1763, devido
grande falta do produto, a cmara de Curitiba ter deliberado a compra de algumas pores para
serem distribudas entre os moradores. Juntamente com o sal, eram ainda importadas do exterior
ferragens e peas de algodo. (TRINDADE; ANDREAZZA; 2001)
INSTALA-SE UMA SOCIEDADE CAMPEIRA
Ao raiar do sculo XVIII, finalmente se dera a descoberta de ouro na regio das Minas Gerais
e surgiram consequentemente exigncias daquele mercado por animais de corte e, sobretudo de
transporte, o que incentivou o crescimento de fazendas de criao nos Campos Gerais. Cabeas
de gado vacum59, vindas do litoral, j existiam na localidade, mesmo antes da oficializao da vila
de Curitiba de onde, no incio do sculo XVIII, uma quantidade considervel de bois e cavalos
era exportados para Minas, So Paulo e Rio de Janeiro.
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No espao da fazenda, a vida era pacata e rstica, as casas, feitas de taipa de pilo71, tinham
poucos cmodos onde conviviam a famlia, escravos e ndios administrados72. A moblia, quase
inexistente, compunha-se de uns poucos catres73, bas, mesas, bancos e redes.
A ida s vilas se dava por conta das festas, das funes religiosas e da compra do sal.
Por outro lado, muitos proprietrios eram absentestas74 e visitavam muito pouco suas terras,
e eram seus capatazes75, responsveis pela vigilncia das propriedades, que assumiam o status
de fazendeiros.
Dessa forma, persistia nessa organizao social a separao campo-cidade, enquanto no
mundo ocidental iniciava-se, contrariamente, um movimento pela conservao de bosques e matas
e pela integrao da paisagem natural e de animais de estimao ao convvio domstico, muito em
consequncia dos avanos trazidos pela evoluo da histria natural e as descobertas cientficas
sobre as diversas espcies vivas.
Paralelamente economia do gado, as atividades voltadas para a subsistncia e a
exportao para outras regies prosseguia no planalto curitibano, com a produo da farinha
de trigo que complementava a de mandioca, h bastante tempo produzida no litoral. Na faixa
da marinha76, tambm fora iniciado o beneficiamento do arroz visando, da mesma forma,
exportao. O movimento do porto de Paranagu era, todavia, muito fraco, apesar da entrada de
vinhos, plvora, chumbo e chapus, alm de produtos de pequeno porte, que se acrescentavam
s importaes j existentes.
A formao da nova cultura campeira, mesmo configurando uma economia interna que
se mantinha de uma forma que se poderia denominarar como autossuficiente e relativamente
no predatria77 , no impedia a ascendncia dos costumes lusos, nem a ingerncia dos
representantes da Coroa portuguesa na vida da colnia. Assim, a organizao do cotidiano das
vilas era preocupao do Reino e, consequentemente, das cmaras municipais, s quais cabia
ordenar78 e retificar79 o comportamento da populao.
Ao final do sculo XVIII, medidas da Cmara j comeavam a apontar para o problema da
salubridade e do abastecimento de gua potvel, determinando obras para a limpeza das fontes
na vila e em seus arredores para evitar o uso das imundas guas que correm pelos rios mestres
que por admitirem imundos e perniciosos cheiros muitas vezes acontecem ocasionar doenas.
(Sesso da Cmara Municipal de Curitiba, 09 de janeiro de 1779)
Como visto, nada se deixava de prever ou de corrigir, desde o arruamento80, as normas
para a construo de casas, os festejos religiosos e profanos81, a limpeza da vila, os hbitos da
populao, o alistamento82 militar e, evidentemente, a organizao das atividades comerciais.
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Paran, desde meados do sculo XIX e incio do XX. Divididas entre os elementos locais e as
vrias etnias, as fbricas espelhavam a nova hierarquia socioeconmica: brasileiros e imigrantes
disputavam a rea nobre da madeira, do mate e dos cereais; os alemes predominavam nas
bebidas, nas fundies121, nos mveis, couros, vesturio; e estavam, de resto, presentes na maioria
das atividades fabris; italianos e poloneses concorriam na rea de alimentos.
A presena imigrante foi muito significativa tambm para as melhorias urbanas em diversas
localidades paranaenses, onde se disseminaram construes inspiradas nas tcnicas e nos estilos
europeus. Alteraram, ainda, a arquitetura religiosa de estilo colonial122 que passou a refletir o
ecletismo123 dominante na poca e a nova feio multicultural da sociedade. Apesar de diversos
atritos entre nacionais e imigrantes, a presena desses nas cidades propiciou o incio de uma
convivncia profcua124 entre as diversas culturas o que, no Paran, iria ser trao marcante de
sua identidade. A edificao da atual Catedral de Curitiba, no ltimo quartel do sculo XIX,
uma sntese dessa plurietnicidade. Contou com o trabalho de um arquiteto francs, engenheiros
italianos e alemes, alm de mestres-de-obras, artfices125 e operrios de diversas nacionalidades.
De toda maneira, nas diversas regies em que se instalaram, os estrangeiros foram agentes
de transformao. Nas cidades, porm, contribuam de forma peculiar para a construo de uma
nova forma de viver urbano que iria caracterizar o cotidiano dos paranaenses da em diante.
Muitas dessas transformaes espelhavam as ocorridas na Europa ocidental e nos Estados Unidos,
onde o crescimento das cidades e a insalubridade126 criada pelas aglomeraes populacionais
traziam riscos vida humana. Polticos e cientistas implementaram, ento, medidas sanitrias127
que contavam com os conhecimentos de mdicos, engenheiros e higienistas128 para combater
os males que acometiam os habitantes das urbes129 e propor teraputicas130 que garantissem o
equilbrio do espao citadino.
Toda essa renovao acontecia concomitantemente s transformaes radicais por que passava
a sociedade brasileira nas duas ltimas dcadas do sculo XIX, em funo da abolio da escravido
e da proclamao da Repblica. Nessa nova conjuntura haviam-se alterado significativamente as
relaes de trabalho, bem como os rumos polticos da nao. Foi tambm nesse perodo que
comearam a estabelecer-se, no novo estado do Paran, interesses capitalistas sob a influncia
progressiva de uma elite econmica ligada s indstrias ervateira, madeireira e, em menor grau,
ao setor agropecurio131. Esses grupos, formados por elementos nacionais ou estrangeiros, iriam
deter a fora poltica no Paran republicano, substituindo os fazendeiros tradicionais ligados ao
tropeirismo, que entrava em fase de retrao, sobretudo aps o desenvolvimento das vias frreas.
A alternncia dos grupos economicamente dominantes no quadro poltico do estado, em perodo
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de longa durao, consagrava um processo que impedia como em todo o Brasil a evoluo
para uma convivncia participativa, como viria a ser desejvel em tempos futuros, alm de impedir
o acesso das classes subordinadas a uma condio mais igualitria.
Um episdio marcante do perodo republicano no Paran foi a chegada das tropas gachas
da Revoluo Federalista de 1893, em cidades situadas na rota que levava a So Paulo e Rio de
Janeiro. Uma conjuntura que gerou desordem, desunio e oposies na poltica e na sociedade
locais, alm de desorganizar, por um tempo, suas atividades econmicas.
Na virada para o sculo XX, porm, a explorao da erva-mate que gradativamente adotara
um carter fabril pelo aperfeioamento tecnolgico132 e por uma nova organizao social do
trabalho133 atingiu seu auge; o mesmo aconteceu com a indstria madeireira que se desenvolveu
acompanhando o curso dos rios e os trilhos das ferrovias, atingindo a cifra de mais de meia centena
de serrarias134 em produo, por volta de 1900. Em consequncia, as florestas paranaenses quase
intocadas at a segunda metade do XIX, foram sendo exploradas e lentamente substitudas por
pastos e capoeiras.
Nessa poca, acompanhando as novas concepes sobre campo e cidade, crescia no mundo
ocidental uma valorizao dos contatos com a natureza e da sua preservao. Nos Estados Unidos
foi importante a disseminao de uma viso que preconizava a preservao da fauna, flora,
cursos dgua e solos, construindo pressupostos que ficaram conhecidos como conservacionismo e
geraram polticas que, em 1890, criaram reservas florestais de domnio pblico federal. No Brasil,
tais polticas vieram a dar origem, no incio do sculo XX, a uma legislao voltada s mesmas
preocupaes. Foi o comeo de um pensamento que se dirigia a determinadas aes sobre os
ambientes rural e urbano.
O Paran Tradicional ainda que fortemente ligado hegemonia econmica das grandes
fazendas, assistiu ao desenvolvimento das vrias atividades fabris e de um movimentado comrcio
que se opunha tendncia que antecipava a preocupao ambiental. No campo socioeconmico,
configurou-se uma classe operria nos ncleos urbanos de maior porte. Grosso modo, por volta de
1910, o Paran possua mais de 300 estabelecimentos onde trabalhavam cerca de 5.000 operrios,
ocupando o estado o quinto lugar no incipiente135 setor industrial do Brasil. Os principais ramos
dessa indstria eram a ervateira e a madeireira, alm da carpintaria, da fabricao de fsforos,
da fiao e da tecelagem. Os trabalhadores atuavam, ainda, nas fbricas de sabo, velas, vidros,
barricas e estabelecimentos manufatureiros de calados, chapus e na fabricao de queijos.
Nesse mundo laboral ocorriam, com certa frequncia, movimentos reivindicatrios derivados de
desentendimentos entre patres e empregados. A greve geral de 1917 constituiu, em todo o
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Brasil, um marco da organizao da classe trabalhadora que, em defesa dos seus interesses, saiu
s ruas em luta contra o empresariado e o governo. A presena pblica dessas pessoas, antes
relegadas s margens do sistema, desencadeou confrontos com a polcia que fizeram aflorar136
tenses h muito represadas, marcando a presena de reivindicaes por igualdade social que
perdurariam no Brasil at os dias atuais.
No conjunto desse desenvolvimento econmico e social do incio do Brasil republicano,
o trem funcionou como mensageiro do progresso. No Paran, abriu caminho entre Curitiba e
Paranagu, em 1885, estendendo-se depois a Ponta Grossa e atingindo o sul e o norte, integrando
as regies. Nas terras do norte onde se completava a ocupao dos vales dos rios das Cinzas,
Itarar e Paranapanema , chegava a Ourinhos, em 1908, com a construo da Estrada de Ferro
Sorocabana, destinada a atingir o oeste do Estado de So Paulo, via norte do Paran. Entretanto,
as melhorias de transporte e comunicao no se esgotaram com as ferrovias; desenvolveramse ainda as estradas de rodagem que, em 1917, iriam atingir 6.000 quilmetros em trfego.
No entanto, grande parte do transporte, sobretudo o do mate, ainda sofria a concorrncia das
carroas dirigidas pelos imigrantes, sobretudo russos brancos137 que, malsucedidos nas atividades
agrcolas, encamparam138 esse setor de prestao de servios.
A dilatao, cada vez maior da rede ferroviria esteve articulada aos propsitos de
companhias particulares, nacionais e estrangeiras, ocupadas em explorar a madeira das regies
dos rios Iguau e Paran, como foi o caso da Southern Brazil Lumber and Colonization e da
Brazil Railway (estrada de Ferro So Paulo-Rio Grande). A presena das duas empresas implicou
a expulso de posseiros e o empobrecimento de pequenos madeireiros, somando-se a eles os
empregados dispensados pela Estrada de Ferro, estimados em cerca de oito mil trabalhadores.
Da nasceu um exrcito de desocupados que se tornaram presa fcil de lderes pseudo-religiosos.
Essa situao ativou o messianismo presente na religiosidade popular levando os caboclos139,
despojados de condies de sobrevivncia, a deflagrar140, em 1912, a guerrilha da regio do
Contestado, com o objetivo de instaurar uma nova sociedade fundamentada em princpios msticoreligiosos, movimento duramente reprimido pelas foras do governo.
A excluso social e econmica advinda dos interesses do governo paranaense e das
companhias estrangeiras trouxe, assim, resultados danosos organizao da sociedade e ao
equilbrio ambiental no estado.
Alm das ferrovias, foi no setor dos servios pblicos eletricidade, carris141 urbanos
e telefonia e no financiamento das exportaes primrias que se deram os investimentos
estrangeiros por meio do London & River Plate Bank e do London & Brazilian Bank,
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posteriormente, Bank of London & South America. Enquanto isso, o setor industrial nascente
ficava a cargo dos investidores locais.
Paralelamente ao avano da modernizao, houve um rpido crescimento populacional no
estado. De 126.722 em 1872, o nmero de habitantes aumentou para 327.136, em 1900. No
municpio142 da capital, estimava-se j uma populao de 53.928, em 1905. No censo de 1920,
o Paran ocupava o 13 lugar no pas e sua populao atingia 685.711 habitantes, 2,2% da
populao brasileira.
Enquanto isso, ao levar o progresso para o interior, o trem revelava as carncias naquelas
regies. Insalubres, mrbidas e despidas de infraestrutura at a ltima dcada do sculo XIX, a maioria
das cidades paranaenses apresentava-se como palco de epidemias143, endemias144 e desconforto.
Alm de atender s necessidades da populao relativas higienizao145 e ao saneamento146,
a modernizao dos maiores centros urbanos no se dava apenas no mbito das polticas de
governo e na nova disposio dos espaos privados, mas tambm no aprimoramento dos ambientes
pblicos, inclusive nas reas de lazer, como cinemas, teatros e confeitarias.
Os novos lazeres opuseram-se s formas tradicionais de divertimento, caso do fandango,
que tenderam a isolar-se nas cidades do interior. Delineava-se, cada vez mais, a oposio
cidade-campo, criando-se a alteridade147 que permitiu a discriminao da populao rural pelos
citadinos148, em desacordo com uma prtica que visaria ao equilbrio entre esses dois espaos.
Paralelamente, as cidades paranaenses do incio do novo sculo foram incorporando
alguns signos da ento moderna tecnologia que, em nvel universal, manifestavam-se por meio
do telgrafo, do telefone e da luz eltrica; depois, dos automveis e bondes. Cientes tambm das
intervenes sanitaristas que eram realizadas nas capitais europeias, os governantes dirigiram
sua ateno para temas como o tratamento das guas, o escoamento de dejetos149 e a purificao
do ar por meio da vegetao.
A administrao pblica dedicou, assim, crescente ateno aos procedimentos de
embelezamento das cidades mediante a arborizao de ruas e praas e a criao de parques
destinados fruio de seus usurios. Medidas ainda incipientes, j que a mentalidade da poca
no alcanara os patamares de uma real preocupao com o entorno. (TRINDADE; OLIVEIRA;
SANTOS. 1997)
Em consequncia, o desenvolvimento das cidades no Paran da Primeira Repblica trouxe
consigo no apenas a reformulao dos hbitos das camadas privilegiadas. Ele imps um novo ritmo
s relaes urbanas e conduziu cena novos grupos que modificaram seus espaos e deram vida
ao seu cotidiano, enquanto outros ficavam isolados em sua invisibilidade, j que a desigualdade
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empresas como a Paran Plantation Limited e a Companhia de Terras do Norte do Paran, depois
Companhia Melhoramentos do Norte do Paran. A unio dos investimentos pblicos e privados
sem regulamentao adequada organizao social e econmica dos locais ento ocupados viria a
causar inmeros problemas que se refletiriam no futuro de todo o Paran. Dentre eles, os efeitos
nefastos163 da poluio e da exploso demogrfica ao equilbrio ambiental.
Efetivamente, o plantio acelerado do caf atingiu um ritmo intenso, dominando a paisagem
e estendendo-se a perder de vista. E se, no final do sculo anterior, a diversificao do Paran
dera-se, sobretudo, devido contribuio da cultura notadamente camponesa trazida pelos
imigrantes, nesse momento o mosaico cultural164 ampliava-se, em funo do deslocamento de
mineiros, paulistas e nordestinos em direo ao Norte do Estado.
As cidades que se multiplicavam apresentaram, nos primeiros tempos, um aspecto de
faroeste americano e os novos habitantes trouxeram para elas hbitos e costumes de homens da
zona rural. Esses pioneiros vieram a exercer uma ao dominante sobre a cultura tradicional
da regio, em detrimento do estabelecimento de uma diversidade enriquecedora para ambos
os lados.
Logo, porm, o crescimento vertiginoso da cultura cafeeira, nas dcadas de 1950 e 1960,
introduziu nas cidades, sobretudo em Londrina, a chamada capital do Norte, os signos do progresso
e da euforia que acompanham esse tipo de ocupao. De tal forma que, segundo o noticirio local,
para ela e outras cidades da regio, as estatsticas j nasciam velhas.
Em contraste com a regio Norte, salvo por alguns terrenos em que se desprezou o perigo
das geadas e se tentou a cultura do caf, o Oeste no recebeu o influxo165 dos capitais e da
ao dos cafeicultores paulistas, sendo porm alvo de um planejamento de ocupao por parte
do governo paranaense. Ali, companhias concessionrias166, sobretudo estrangeiras, praticavam
desordenadamente a extrao do mate e da madeira, utilizando como mo de obra a populao
local. Essas atividades, alm de causarem a destruio das matas nativas e das pequenas agriculturas
de subsistncia resultavam no empobrecimento dos habitantes da regio, sem que se atentasse aos
prejuzos causados prpria sustentao de sua qualidade de vida. Em contrapartida, a poltica do
governo atraiu uma frente povoadora constituda de migrantes de origem alem e italiana oriundos
do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina que se instalaram no local, desenvolvendo o cultivo
de cereais e oleaginosos167 e a criao de porcos o que, de certa forma, pela via da diversificao
provocada por sua presena, minimizou o estado de carncia econmica da regio.
No entanto, por bastante tempo, a insuficincia de transportes na regio retardaria sua
integrao ao conjunto do estado. Outro fator considerado desfavorvel foi a preferncia pelo
675
regime de pequena propriedade e pela colonizao de origem sulina que marcavam as aes
administrativas naquele momento e seriam apontadas, posteriormente, como indutores de
desorganizao e atraso. Alm disso, a instalao dos novos grupos acentuou a situao de misria
da populao local que passou a vagar desamparada por toda a extenso do territrio, em sentido
contrrio ao que seria desejvel para equilbrio dos movimentos migratrios.
Da mesma forma, no Sudoeste, a alienao de glebas para empresas particulares, como a
Marip, realizadas pelos governos federal e estadual fez com que terras fossem novamente ocupadas
por milhares de posseiros168, desencadeando tenses e confrontos. Da decorreram anos de luta que
acabaram, em 1957, num conflito armado, acompanhado por mortes e destruio. Cenas de tortura,
abuso das vivas dos camponeses mortos e cobrana indevida de impostos e contribuies marcaram
a ao dos jagunos das companhias, e at da polcia local, contra os habitantes da regio. Foi uma
campanha encabeada pelos detentores do capital e do poder que, pela fora, calaram as vozes dos
menos favorecidos impedindo-os de reagir situao de excluso a que foram submetidos e de pr
em ao o pleno exerccio de sua cidadania.
Apesar do advento da agricultura cafeeira e da colonizao de vrias pores de reas
devolutas, a industrializao paranaense ocupava, poca, uma posio diminuta no contexto
nacional 3,06% do total, em 1950 , mesmo tendo apresentado um crescimento interno de
850% em relao dcada de 1940. A torrefao169 e a moagem170 do caf ocupavam ainda 53%
da transformao dos produtos alimentares que era a grande atividade industrial.
Todavia, curiosamente, a explorao do mate e da madeira havia dado origem a uma burguesia
industrial, em oposio ao que ocorrera no restante do Brasil onde a classe economicamente
dominante era tradicionalmente formada por proprietrios de terra ou comerciantes. Essa burguesia
agia ativamente nas atividades exportadoras, investia no exterior e estendia seus interesses a
outros setores industriais, bancrios, de seguros e empresas areas.
No incio da dcada de 1960, a economia paranaense mantinha ainda sua base econmica
na agroindstria171 apresentando, porm, uma poltica de governo que agia de forma oposta ao
que se fizera nas gestes anteriores, quando os pontos-chave da administrao eram o povoamento
e a colonizao. Os dirigentes do novo perodo iriam considerar as correntes povoadoras que
ocuparam todo o territrio paranaense como fator indesejvel, por serem introdutoras da pequena
propriedade e da policultura, agora consideradas obstculos ao desenvolvimento, por provocarem,
muitas vezes, a formao de minifndios172 considerados prejudiciais ao progresso econmico. O
acesso a certos princpios considerados cientficos e tecnolgicos conduziu as polticas econmicas
de ento a implementar padres de produo, consumo e investimento que desconsideravam a
676
equidade que traria uma possibilidade de melhor distribuio de renda e a execuo de melhores
projetos sociais.
O tema da industrializao substituiu, portanto, o da vocao agrcola do estado e
apresentava-se a necessidade da ampliao da infraestrutura173 bsica, sobretudo rodovias e
energia eltrica. O aumento da malha viria174 integrou o porto de Paranagu e a capital ao
Norte e, medida que Curitiba tornou-se centro industrial de certa importncia no Sul do pas,
estreitaram-se seus laos econmicos com as diversas regies do estado e com So Paulo. Naquele
momento, sua populao havia atingido os 4.200.000 habitantes, o que representava uma marca
verdadeiramente inusitada175 de 102% em seu crescimento.
Ao lado da diversificao da agricultura176, o Censo Industrial de 1960 mostrou um Paran
que apresentava trs regies industriais: a do norte; o madeireiro, a oeste; e a do sul, centrada
basicamente em Curitiba. No transcorrer daquela dcada, embora a capital continuasse a ser a
regio mais desenvolvida industrialmente, houve uma significativa incrementao desse setor na
regio Norte. O fenmeno era reflexo dos problemas da superproduo177 e das geadas negras178
que reduziram significativamente a cultura do caf, trazendo novas formas de explorao agrcola
e industrial regio. De qualquer forma, o auge do ouro verde fora decorrncia de uma mudana
conjuntural da economia agroexportadora que teve uma trajetria breve, apesar de deixar marcas
indelveis naquela sociedade fronteiria179.
Com o declnio da cafeicultura, dentre os produtos agrcolas como o trigo, o milho, o feijo,
o amendoim, e a criao de sunos que compunham a base da economia paranaense, a cultura
da soja foi a que se imps aos mais importantes proprietrios rurais, pelo seu valor no mercado
exportador e pelo seu grande efeito na indstria e na urbanizao180. O apogeu da soja no
eliminou, porm, a necessidade de aumentar as possibilidades do estado no setor industrial,
o que foi implementado em 1972, com a criao da cidade industrial de Curitiba, (a CIC), em
Araucria, municpio vizinho da capital, com vistas ampliao de bens de consumo181 durveis
e bens de capital. Duas dcadas depois, outra investida do governo na rea industrial projetou a
instalao de um polo automotivo182 no estado pela atrao de montadoras, algumas das quais se
fixaram nos arredores de Curitiba.
Justamente no momento em que o Paran comeava a se afirmar como polo industrial no cenrio
nacional, em nvel internacional surgiam alertas quanto ao uso desordenado dos produtos qumicos
sobre a sade das pessoas e a reproduo de animais. E, mais que isso, sobre os perigos trazidos pela
poluio hdrica e atmosfrica e pelo desmatamento resultante das estratgias de ocupao da terra. A
Primeira Conferncia das Naes Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1972
677
na Sucia, divulgou outra corrente de pensamento que veio substituir o conservacionismo at ento
pioneiro: o ambientalismo, cuja proposta seria adotarem-se polticas dirigidas utilizao dos recursos
naturais e ao controle de processos poluitivos, visando conciliar meio ambiente e desenvolvimento
econmico. Novos conceitos como ecologia e ecossistema comearam a ser conhecidos, sobretudo,
no que se referia ao planejamento urbano a ecologia urbana definida como um sistema que
englobava as condies naturais e socioeconmicas que agiam sobre os organismos vivos, as
atividades humanas e o meio fsico.
No Brasil, desde o final da dcada de 1960 o governo militar, no poder desde 1964, tomou
algumas medidas para atender s mais recentes abordagens relativas ao meio ambiente: um novo
Cdigo Florestal (1967) e a criao da SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente, 1975);
das CETESB (Centro Tecnolgico de Saneamento Bsico, 1968), em So Paulo, e da SUREHMA
(Superintendncia dos Recursos Hdricos, 1978), no Paran. Por outro lado, a devastao e
poluio criadas pela atuao do Prolcool e a ocorrncia de diversos desastres ambientais
contriburam para o surgimento de uma conscincia ambientalista no pas, merc das presses
internacionais. Para as aglomeraes urbanas, o movimento ambientalista gerou polticas como os
Planos de Desenvolvimento Integrado que buscavam, entretanto, aplicar modelos exgenos183 sem
preocupao com as condies locais. (TRINDADE; OLIVEIRA; SANTOS. 1997)
No Paran, a fora da influncia econmica e cultural emanadas da capital e das regies
circunvizinhas184 permaneceu, no entanto, como um dos fatores que deram continuidade s
diferenas culturais que, no incio dos anos 1970, ainda marcavam o seu cenrio. E, mesmo
que as diversas ondas de povoamento houvessem introduzido a integrao de todo o territrio
e propiciado xitos no campo econmico e poltico; ou que se tenha formado um determinado
tipo de sociedade e oportunizada a fundao de muitas cidades, a metropolizao185 de vrias
regies do estado trouxe novos desafios em reas como meio ambiente186, sade, educao e
segurana pblica.
A resposta a esses desafios deu-se exemplarmente na capital pela introduo do Plano
Diretor de Curitiba, seguido de projetos de ordem social e ambiental que reuniram aes
prticas, legislao e conscientizao popular que tornaram realidade a sua implantao. Como
resultado, a cidade passou a ser vista internacionalmente como a Capital Ecolgica e sediou,
em 1992, o Frum Mundial das Cidades. Por outro lado, a integrao completa do estado e a
aplicao das polticas ambientais em todo o seu territrio ainda no haviam acontecido at o
final do segundo milnio.
Esse foi tambm o perodo em que a comunidade mundial chegou concluso de que as mais
consistentes polticas ambientais no seriam suficientes para garantir a sobrevivncia da espcie
678
humana no planeta. Um novo desafio que se colocava em vista da necessidade, sempre presente,
de se conciliar meio ambiente e crescimento econmico, j que a percepo da possibilidade de
esgotamento das reservas naturais e hdricas187 tornava premente a organizao de um movimento
em favor da consolidao de medidas de carter geral. Assim, na dcada de 1980, a ONU props
uma srie de restries expanso dos diversos pases, mediante o relatrio Brundtland que forjou
o princpio de desenvolvimento sustentvel, entendido como a inter-relao harmnica entre
economia e meio ambiente. Conceito aprofundado na ECO 92, no Rio de Janeiro, que props o
estabelecimento de compromissos de responsabilidade social a todos os pases participantes.
O novo milnio concretizou uma inquietao ainda maior quando se verificou que medidas
paliativas no solucionariam as probabilidades de desastres ecolgicos de cunho universal. De
desenvolvimento sustentvel passou-se, por conseguinte, ao conceito de sustentabilidade,
entendido como um modelo de espectro amplo e equilibrado, destinado no s preservao das
necessidades das geraes atuais, como s de sua descendncia. Dentre as deficincias a serem
eliminadas estariam a desigualdade poltica, econmica, social e cultural; o descaso com a sade;
a desinformao; e a pobreza extrema.
O Brasil acompanhou a passos relativamente lentos essa trajetria, com polticas voltadas,
na dcada de 1980 aps a redemocratizao do pas, minimizao do impacto ambiental
das obras pblicas e privadas sobre o espao natural, caso da criao do CONAMA (Conselho
Nacional de Meio Ambiente) e do artigo 225 da Constituio de 1988, que preconiza o direito
de cada cidado a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Tais propostas abrangiam
o mbito nacional com nfase nas grandes, mdias e pequenas cidades, mediante a ao das
diversas esferas do governo, considerando-se especificidades regionais que, por vezes, estariam
presentes dentro de um mesmo espao territorial caso do Paran. (TRINDADE; OLIVEIRA;
SANTOS. 1997)
Com efeito, nas ltimas dcadas do sculo XX, persistiram, como persistem ainda, as
diferenas que sempre marcaram o velho e o novo Paran. Em consequncia, no raiar do sculo
XXI o estado contempla ainda as marcas desse passado, em suas diferentes culturas regionais. Elas
refletem a interao de momentos diversos e de contingentes populacionais de origens plurais. O
litoral, os trs planaltos, os nortes, Velho e Novo, o oeste e o sudoeste, as faixas de fronteira, o mate,
o caf, os novos produtos agrcolas e as novas indstrias, esto a delineados no solo paranaense.
Toda essa diversidade tem sido levada em considerao pelos governos estaduais das ltimas
dcadas, quando se procurou conciliar polticas pblicas de desenvolvimento e sustentabilidade,
com aes voltadas no s recuperao das coberturas vegetais, como tambm preservao
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Sustentabilidade A capacidade de o ser humano interagir com o mundo preservando o meio ambiente
para no comprometer os recursos naturais das geraes futuras.
Ambientalista Movimento social que tem na defesa do meio ambiente sua principal preocupao.
683
Ecossistema Conjunto formado por todas as comunidades que vivem e interagem em determinada regio.
Conjuntura Encontro de determinadas circunstncias que se considera como o ponto de partida de uma
evoluo.
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114 Stio urbano Local em que a cidade se desenvolve, em contraposio a reas naturais ou rurais.
115 Densidade demogrfica Relao entre a superfcie e a quantidade de habitantes de uma regio, por
metros quadrados.
116 Populao nativa Habitantes naturais de um lugar.
117 Par e passo Algo que levado no mesmo passo.
118 Canchear Cortar ou picar o mate, reduzindo-o a pequenos pedaos.
119 Primeira necessidade O que absolutamente indispensvel.
120 Artesanal Arte ou tcnica de produzir objetos com trabalho manual.
121 Fundio Oficina em que se trabalha com metal fundido.
122 Estilo colonial Arquitetura da poca colonial que consistia em construes de pedra e cal, de taipa de
pilo ou de estuque, cobertas por telhas, com altura de 18 a 20 palmos.
123 Ecletismo Reunio de elementos de origens diversas que no chegam a uma unidade.
124 Profcua Proveitosa.
125 Artfice Operrio ou arteso que trabalha em determinado ofcio.
126 Insalubridade Estado de algo que no salubre/saudvel.
127 Sanitaria Relativa sade pblica; higinica.
128 Higienista Indivduo que possui conhecimentos e tcnicas para evitar doenas infecciosas usando
desinfeco, esterilizao e outros mtodos de limpeza com o objetivo de conservar e fortificar a sade.
129 Urbes Cidades.
130 Teraputica O tratamento de uma determinada doena pela medicina tradicional.
131 Agropecurio Setor que estabelece as relaes entre agricultura e pecuria.
132 Aperfeioamento tecnolgico Aplicao de princpios, sobretudo cientficos, a um determinado ramo
de atividade.
133 Organizao social do trabalho Sistema pelo qual as formas teis de trabalho so distribudas e efetuadas.
134 Serraria Estabelecimento onde se cortam madeiras.
135 Incipiente Que est no comeo
136 Aflorar Esboar; delinear.
137 Russo branco Indivduo nascido na Bielo-Rssia ou Rssia Branca.
138 Encampar Tomar posse; apoderar-se.
139 Caboclo Mestio de branco com ndio.
140 Deflagrar Acontecer repentinamente; provocar.
141 Carril Trilho.
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142 Municpio Circunscrio administrativa autnoma do estado, governada por um prefeito e uma cmara
de vereadores.
143 Epidemia Doena que surge rapidamente num lugar e acomete, ao mesmo tempo, grande nmero
de pessoas.
144 Endemia Doena que existe constantemente em determinado lugar e ataca nmero maior ou menor
de indivduos.
145 Higienizao Conjunto de medidas que visam tornar um local ou alguma coisa saudvel; tornar higinico.
146 Saneamento Conjunto de medidas que visam assegurar as condies sanitrias necessrias qualidade
de vida de uma populao, sobretudo por meio da canalizao e do tratamento dos esgotos.
147 Alteridade Reconhecimento recproco das diferenas culturais entre o eu e o tu.
148 Citadino Habitante da cidade.
149 Dejetos Fezes.
150 Informaes sobre ambientalismo, ecologia, sustentabilidade e polticas pblicas de preservao ambiental
tomaram como base: TRINDADE, E.M.C.; OLIVEIRA, D.; SANTOS, A.C.A. Cidade, homem e natureza:
uma histria das polticas ambientais de Curitiba. Curitiba: Unilivre, 1997.
151 Agroexportadora Setor agrcola destinado exportao.
152 Redemocratizao Ao que visa volta das instituies democrticas.
153 Aparelho do Estado Conjunto de rgos pblicos que asseguram ao governo o seu funcionamento.
154 Conjuntura Perodo de tempo de mdia durao, no qual possvel encontrar coerncia e periodicidade
nos movimentos histrico-econmicos e sociais.
155 Conservacionista Movimento poltico, social e cientfico que tem como objetivo a proteo dos recursos
naturais do planeta, incluindo espcies animais e vegetais, assim como os seus habitats para o futuro.
156 gide Proteo.
157 Desbravador Aquele que explora sertes; o primeiro que abre ou descobre caminho atravs de regio
mal conhecida; pioneiro.
158 Aporte de capitais Investimento financeirocom alguma finalidade.
159 Miragem Viso enganosa e fantstica.
160 Induzido Intencional.
161 Gesto Gerncia, administrao.
162 Loteamento Parcelamento da terra em lotes.
163 Nefastos Que acarretam a runa.
164 Mosaico cultural Conjunto heterogneo de prticas e vivncias diversas que convivem em um
determinado espao.
165 Influxo de capitais Afluncia, convergncia financeira.
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INTRODUO
A Lei Federal n. 10.639/2003 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
(LDB Lei n. 9.394/96) e tornou obrigatrio o estudo sobre a cultura e Histria da frica,
dos africanos e afrodescendentes no Brasil nas instituies pblicas e privadas de ensino. O
principal intuito dessa Lei foi estabelecer formas de combater o racismo. Diante dessa tarefa,
os meios escolares foram tomados por muitas dvidas e inquietaes. O que sabemos sobre a
frica? O que sabemos sobre a histria do negro e dos afrodescendentes no Brasil? Por que
estudar tais temticas?
Pesquisadores e educadores passaram ento a pensar estratgias de estudos para que muitos
dos questionamentos sobre esses temas pudessem ser abordados e colocados em prtica. Este artigo
que ora apresentado representa uma partcula da busca em trazer ferramentas e suscitar novas
abordagens para o estudo da Histria da frica, dos africanos e dos afrodescendentes no Brasil,
especialmente em seus aspectos polticos, sociais e culturais. Nesse sentido tambm possvel
reconhecer essa temtica relacionada a outros temas emergentes no momento, principalmente
a sustentabilidade de maneira abrangente, ou seja, sustentabilidade social, econmica, cultural,
poltica, ambiental e espacial.
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A sala de aula no pode ser o lugar no qual as desigualdades sociais e raciais sejam
perpetuadas. Os professores tm a responsabilidade de romper com os parmetros sociais
estabelecidos desde o perodo colonial e que podem ser sentidos ainda claramente no incio do
sculo XXI. Pois, as prticas de excluso, arraigadas na sociedade podem marcar a subjetividade
de alunos de diferentes estratos sociais. Alm disso, estas prticas podem ser reforadas em vrios
outros ambientes sociais, alm da prpria instituio escolar.
Cada dia os meios de comunicao, apresentam novos episdios sobre discriminao racial
que ocorrem no pas. A par disso, qualquer um de ns poderia relatar um evento que ocorreu
consigo ou que lhe fora relatado por outrem.
A prtica da discriminao racial faz parte do cotidiano e, muitas vezes, no ambiente
escolar que podemos verificar essas ocorrncias. De qualquer forma, a discriminao racial
decorrncia, como a maior parte dos preconceitos, de um ignorar e de uma falta de conhecimento
acerca das condies que fundamentam aquele encontro com o diferente e o desconhecido, que
muitas vezes o excludo como no caso do negro, da mulher, do homossexual, entre outros.
A escola em seu papel de formadora para a vivncia na sociedade e para a prtica plena
da cidadania poder ajudar na adoo de posturas polticas contra a discriminao das minorias
tnico-raciais e sociais, pois somente assim poder ser oferecida uma educao verdadeiramente
de qualidade para toda a sociedade brasileira.
A ideia de incluso, no Brasil, da Histria e da Cultura da frica, dos afrodescendentes e
africanos, no visa a uma substituio de uma viso eurocntrica por uma afrocntrica, mas sim
ampliar a base de conhecimentos, que permitam identificar e valorizar o papel que as minorias,
no caso a africana, tiveram na formao da sociedade brasileira. Somente assim o preconceito e a
discriminao histricas no Brasil podero ser superados.
A partir dessa premissa, escolheu-se estruturar este estudo da seguinte forma; num primeiro
momento, apresentar a legislao brasileira sobre o tema, abordando tambm sua urgncia e
necessidade de aplic-la; num segundo momento, partir para uma viagem ao grande continente
africano; e, por fim, chegar ao Brasil para conhecer um pouco mais sobre a chegada dos primeiros
africanos no nosso pas, e o regime de escravido a que foram submetidos.
A LEI N. 10.639/03: UM MARCO HISTRICO
A Lei n. 10.639/2003 alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9.394 / 1996), que
estabelece as diretrizes e bases da educao nacional, para incluir no currculo oficial da rede de
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No entanto, preciso ressaltar que junto aos grandes desafios, a frica no uma s, e sua
diversidade justamente a sua riqueza. Riqueza, por exemplo, no que se refere s suas belssimas
paisagens naturais, a sua vasta e variada vida selvagem. Agraciada por grandes vales frteis e
desertos gigantes, possui cerca de 8% das reservas de petrleo e gs natural, com destaque para
o Congo. Grandes extenses de savanas, h regies com clima temperado e outras com clima de
calor mido e outras onde a umidade quase zero, caso do deserto do Saara.
Por todo lado, h a ao do homem africano sobre a natureza, h roas, h grandes cidades,
h plantaes e campos para pastoreio. A fauna riqussima, l existem os grandes felinos como
o leo, o leopardo, o guepardo. H tambm outros grandes animais como o elefante, a zebra, a
girafa, o bfalo. Aves como a cegonha, o flamingo, o pelicano e ao avestruz.
A frica, portanto, um pas fascinante, de extremos que nos instiga pesquisa.
OS AFRICANOS E A FRICA ATLNTICA
No possvel que se compreenda a empresa de colonizao e explorao das Amricas,
em especial daquelas regies onde predominou a agricultura tropical de exportao, sem se fazer
uma forte relao com as regies fornecedoras de mo de obra para este empreendimento e que
se localizavam nas costas atlnticas da frica.
Os principais empreendimentos colonizadores da Amrica, em especial o sul dos atuais
Estados Unidos, as Antilhas e o Brasil, foram regies onde predominou o elemento africano como
principal fora de trabalho.
Dessa forma, podemos apresentar uma questo instigante: de onde provinham esses africanos
que tomaram parte na colonizao do continente americano? Em geral, podemos considerar que
a maioria originria da costa atlntica africana, geograficamente localizada a partir da costa do
Senegal e se estendendo at o sudoeste da frica, mais definidamente, em Angola.
No caso brasileiro, houve uma concentrao, conforme nos explicam Francisco Luna e
Herbert Klein (2010, p. 169), de cerca de 70% provenientes da regio de Angola e do Congo,
cujo destino principal foram as provncias do Rio de Janeiro e de So Paulo, alm das provncias
produtoras de acar do Nordeste, em especial Pernambuco. Cerca de 18% eram originrios
do Golfo de Benim, cujo destino final foi principalmente a Bahia, mas outras provncias tambm
recebiam cativos desta origem.
696
Fonte: <http://hitchcock.itc.virginia.edu/Slavery/details.php?categoryn
um=1&theRecord=21&recordCount=30>. Acesso em: 28/02/2013
Minas Gerais foi um caso especial. Como a provncia no dispunha de portos martimos,
acabou recebendo africanos de vrias outras provncias, o que fez com que em Minas Gerais
houvesse um equilbrio na origem dos cativos, o que no ocorria em outras regies.
Mas a origem dos africanos que foram estabelecidos no Brasil no se restringe a Angola
e Benim. Outras regies que tambm forneceram cativos foram Moambique, Golfo de Biafra,
Senegmbia, entre outras.
Isso, no entanto, no significa que houvesse uma preferncia dos proprietrios e comerciantes
por essa ou aquela etnia, pois no lhes cabia tal escolha.
697
A regio entre a Senegmbia e Angola, de acordo com Priore e Venncio (2002, p. 2), se
caracterizava por uma intensa natureza hostil, que apresentava uma grande variedade de obstculos
sobrevivncia humana. A crescente desertificao da regio do Saara, o desflorestamento de
reas ao sul do deserto levou a uma ocupao dispersa, mas no sem planejamento. Tambm
doenas endmicas atingiam pessoas e animais, como as temveis moscas ts-ts, portadoras da
tripanossomase. A malria apresentava-se com frequncia, assim como uma forma benigna da
varola e tambm doenas deformativas, como indicam achados de cultura material, impressos em
esculturas de terracota, feitas pelos iorubs. Tambm doenas causadas pelo consumo de gua
imprpria, ou sofrimentos descritos pelos portadores do chamado Verme da Guin. Associado
a todos esses flagelos, soma-se a fome, que torna todas as enfermidades ainda mais devastadoras.
Ainda essa, a fome, promovia uma completa desestruturao social, como exemplifica
Priore e Venncio: elas empurravam os grupos a trocar crianas por comida, famlias a vender
seus filhos e dependentes por um alqueire de sorgo ou milhete, e a homens e mulheres a se
deixar escravizar para no morrer de inanio (2004, p. 9). Todavia algumas regies, em alguns
perodos, eram poupadas desses flagelos, como foi o caso da bacia do Lago Chade, no sculo XVI.
H de se destacar que os flagelos climticos e as hecatombes da natureza tambm tinham o efeito
de promoverem mudanas radicais na sociedade, tais como a converso ao Isl ou a venda de si
mesmo para a escravido, com o objetivo de fugir do canibalismo e da morte. Podemos ressaltar
o quanto isso influenciou a forma de organizao familiar, visto que diante desse desafio de
sobrevivncia, os filhos acabaram por ser o maior bem que algum poderia ter, pois, esperava-se
que os filhos cuidassem dos pais na velhice e assegurassem a segurana da famlia. A mortalidade
era to alta na Costa do Marfim, conforme Priore e Venncio, que era preciso que uma criana
fosse a quarta da mesma me a morrer para ter direito a funerais (2004, p. 13). Esses evento
tambm teve como consequncia a promoo da prtica poligmica, pois, com vistas a valorizar
o aleitamento materno, na maioria das vezes o nico alimento da criana, as mulheres passaram
a amamentar seus filhos at os quatro anos de idade. Com o tabu que proibia a prtica sexual
durante o aleitamento, a poligamia se instalou como prtica aceitvel.
Em tal diversidade de cenrio, ante os grandes desafios para a sobrevivncia, h de se
abordar a questo do trabalho. De maneira geral, a organizao social africana girava em torno
de uma casa grande, dirigida por um chefe cercado de suas vrias esposas, filhos, irmos e outros
dependentes. Os agrupamentos desse tipo de famlia formavam as aldeias. Muitas delas tinham
como atividade principal o comrcio ambulante. Havia tambm uma modalidade de agricultura
extensiva, cultivando produtos diversos para garantir a subsistncia do grupo. Ao contrrio do
698
Ocidente, cujo direito propriedade chegou a se constituir como clusula ptrea, na frica, em
geral, com a terra abundante, mas em grades extenses pouco frtil, a propriedade privada no
era considerada como um bem maior. Em grande medida a riqueza dos reinos se dava por meio
de um sistema de taxas, extrao e guerra. Esta ltima, principal fonte de riqueza, pois a guerra
de conquista poderia resultar no acesso de bens materiais e fonte de mo de obra, visto que, como
j falamos, a taxa de mortalidade era muito alta e o escasso o nmero de trabalhadores, associada
a uma baixa taxa de mortalidade.
Neste ponto tocamos num tema delicado e polmico e em relao existncia da escravido
entre os africanos antes da chegada dos europeus. No entanto, essa escravido no se dava
da mesma forma entre todos os povos africanos, da mesma forma que no era semelhante
escravido praticada pelo capitalismo europeu nos seus empreendimentos coloniais na Amrica.
Segundo Priore e Venncio (2004, p. 36), na antiga frica atlntica, a escravido era domstica,
porm que depois da chegada dos europeus essa escravido se tornou comercial. Nesse sentido,
devemos destacar que houve uma conveniente adeso a uma prtica anterior convertendo-a em
modelo fornecedor eficiente de peas para a engrenagem do trfico internacional atlntico de
escravos que perdurou at meados do sculo XIX.
Conforme Luna e Klein (2010, p.16), muitos africanos foram enviados para sia, Europa
e Oriente Mdio como escravos, muito antes da chegada dos europeus. No entanto, no devemos
confundir os motivos e as formas dessa migrao forada com os milhes de escravos enviados
para as Amricas desde o sculo XVI at o XIX. At porque havia uma preferncia, no trfico
pr-colonizao, por mulheres e crianas, ao contrrio do trfico atlntico, que dava preferncia
para homens adultos.
Antes do descobrimento da Amrica, o principal intuito dos exploradores portugueses na
frica no era especificamente o comrcio de escravos ou produtos para o mercado europeu.
Seu objetivo principal em relao frica era a busca de ouro e outros metais preciosos. Mas
o comrcio de escravos no foi desprezado, pois poderia atender a uma demanda europeia por
escravos domsticos. Sabe-se que em algumas cidades portuguesas no final da Idade Mdia, os
escravos domsticos de origem africana chegaram a compor de 10% a 15% da populao local.
Tambm no prprio mercado africano os portugueses chegaram a fornecer escravos, levando
cativos de uma regio a outra, dentro da frica.
Somente em fins do sculo XV que o interesse por esses cativos foi renovado, pois agora
havia uma nova demanda, fomentada pela introduo do plantio da cana nas ilhas do leste do
Atlntico, como os Aores e a ilha da Madeira. Nelas, introduziu-se o sistema de agricultura
699
plantation4, e que associou a cultura da cana com a escravido africana e que posteriormente
seria adotada nas regies de agricultura tropical nas Amricas (sul dos Estados Unidos, Antilhas
e Brasil).
O processo de adoo da escravido africana no Brasil est firmemente ancorado na
economia de cultivos tropicais, em especial a cana, mas tambm do tabaco e do algodo, adotados
no Nordeste do Brasil, nas primeiras dcadas aps o descobrimento. Ainda que a escravido do
indgena tenha sido tentada e que tenha permanecido por mais tempo, em especial em regies
mais pobres do Brasil da poca, como So Paulo e Sul do Brasil, a escravido africana foi o
modelo de trabalho consolidado no perodo colonial e no Imprio.
Mas alm dessa viso puramente econmica, o trfico de escravos do Atlntico manteve
o Brasil fortemente conectado frica at muito depois da prpria independncia, pois o pas
continuou a receber grandes contingentes populacionais que ajudaram a formar o que seria depois
o povo brasileiro.
Existem, segundo Luna e Klein (2010, p. 39), muitos motivos para o xito da importao de
escravos africanos no Brasil. No perodo de 1570-1620, quando ocorreu o abandono da mo de
obra indgena e a transio para a mo de obra africana, os cativos trabalhavam mais nas funes
especializadas nos engenhos, como no beneficiamento do produto e menos no cultivo da cana.
Isso se deve ao fato de que muitos escravos eram provenientes da frica Ocidental, regio onde
j haviam sido desenvolvidas tcnicas avanadas de agricultura e metalurgia do ferro, o que os
tornava mais qualificados profissionalmente em comparao com os indgenas brasileiros.
No que concerne s doenas, os africanos eram originrios de ambientes nos quais as
doenas que tambm afligiam os europeus eram conhecidas e endmicas. Isso resultou em ondas
epidmicas que foram fatais para os ndios, mas no para europeus e africanos, mais acostumados
com os agentes patognicos delas causantes.
Assim, em termos de qualificao, sade e experincia em trabalho agrcola mais elaborado,
os africanos eram considerados superiores aos escravos indgenas. Disso resultou o fato de que um
escravo africano era trs vezes mais caro do que um indgena. E de acordo com o crescimento e a
consolidao da economia aucareira, emergiu um maior capital que possibilitou um incremento
no comrcio de escravos.
Quando os traficantes portugueses chegavam frica para fazer comrcio, eram recebidos
por soberanos que possuam uma corte regida por uma severa etiqueta, esses reis no tinham a
menor dvida de sua importncia e de sua igualdade em relao aos reinos europeus, como diz
Cmara Cascudo (1983, p.185), ombro a ombro, como quem se considerava, no mnimo, primo
dEl-Rei de Portugal.
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Nesse perodo, ao mesmo tempo em que trazamos alimentos da frica, mandvamos para
l especialmente o anans, que, segundo Cmara Cascudo, eram encontrados nos mercados
pblicos do litoral africano. O mamo, as batatas9, os magars, as goiabas e os aras.
A banana foi outra oferta africana para ns. Trazida para a frica da ndia, em Moambique
era chamada de figo; popular por l, acabou tambm por popularizar-se aqui, chegando-se a
ponto de a maior parte das pessoas imaginar que ela originria da Amrica.
Quando no incio do sculo XVI os portugueses iam em busca de escravos na Guin,
levavam consigo estanho, trajes, armas, mantas do Alentejo e cavalos. Um cavalo naquele perodo
valia sete escravos. Tambm aqui produziram, apesar da proibio dos portugueses, tecidos para
uso dos escravos.
No reino do Congo eles faziam um tecido feito de palmeiras, que dizem ter sido to sofisticado
que tinham uma superfcie como o veludo, e talvez fossem at mais sofisticados do que muitos
tecidos feitos na Itlia. Desde o sculo XII os africanos exportavam para a Europa um tecido
algodo de excelente qualidade, e passaram a exportar para o Brasil a partir do sculo XVI.
No campo do imaginrio, do fantstico e do lazer, contaram histrias fantsticas, que aos
poucos foram se incorporando ao grande universo europeu e indgena. Como bem prev Costa
e Silva (2012, p.20): Vindos da frica, bichos-papes, jogos e brinquedos desembarcaram no
Brasil. E lembranas de desfiles de reis, com seus enormes guarda-sis coloridos, que no Brasil
se reproduziram nos maracatus, nas congadas e nos reisados.
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Grande do Sul e Paran, possuam juntas uma populao cativa de aproximadamente 27 mil
escravos, alm de aproximadamente 13 mil pessoas livres de cor em 1811 (LUNA e KLEIN,
2010, p. 74). Isso tambm demonstra um aumento substancial na populao escrava, pois
,segundo o censo realizado em 1772 na Comarca de Paranagu, que abrangia o territrio
da futura Provncia do Paran, a populao total chegava a 7.627 moradores, sendo 2.936
homens, 2.979 mulheres e 1.712 escravos (CARDOSO, 1986, p. 48).
Segundo esse ltimo autor, em geral durante o perodo do Brasil independente, a regio do
Paran tinha em mdia uma populao escrava, composta por negros africanos, afro-brasileiros e
mulatos, da ordem de 30%, com tendncia diminuio, tendo em vista a poltica que tendia a
abolir o trfico negreiro e o crescente interesse dos governos imperial e provincial de incentivar
o desenvolvimento da imigrao europeia. Esse processo ser amplificado com o declnio e
definhamento dos campos e dos gados do Paran, sentido desde 1860. Associado ao processo,
podemos verificar um gradual declnio da populao escrava no Paran, graas ao fim do trfico
internacional de escravos e ao aumento do trfico interprovincial, que deslocava populao
escrava de regies menos dependentes da mo-de-obra cativa ou decadentes economicamente,
como Pernambuco, Bahia, Paran, para regies onde havia aumentado a demanda, como o
caso de So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Disso resultou uma diminuio da populao
escrava no Paran.
Segundo o Censo Nacional de 1872, o primeiro censo geral do pas, os resultados para
Provncia do Paran apontam que de uma populao de 126.692 habitantes, apenas 10.560
eram compostos por escravos, ou seja, 8,3%. Uma grande diminuio em comparao com a
mdia de 30% at 1860.
Por outro lado, o grande impulso que a imigrao ganha no Paran, em especial a partir de
1870, promove tambm a ao do poder pblico contra a instituio da escravido. Conforme
Ferrarini (1971, p. 138), o presidente Taunay comenta o fato num relatrio ao seu sucessor,
em 1886:
A escravido em toda a provncia se acha muito limitada, segundo se v na relao abaixo publicada, fornecidas
pelas coletorias, e com pequeno esforo ficar ela toda expurgada da terrvel e desastrosa instituio. De todos
os lados a iniciativa e generosidades particulares se empenham nisso de corao para glria dos brasileiros, e
uma das lembranas mais gratas de minha viagem aos Campos Gerais, e ao Serto de Guarapuava, ela ter se
tornado motivo para que 15 escravos na flor da idade gozassem dos benefcios da liberdade.
Relao dos escravos existentes na Provncia do Paran, 1886
Capital 579
Arraial Queimado 21
Votuverava 120
Assunguy 6
705
Campina Grande 34
Antonina 335
Paranagu 183
Porto de Cima 42
Morretes 172
Guaraqueaba 57
So Jos dos Pinhais 293
Lapa 490
Palmas 227
Guarapuava 259
Ponta Grossa 454
Palmeira 183
Castro 298
Tibagi 156
Pira 42
Campo Largo 241
Total: 4.192
Com base no exposto, podemos verificar que havia uma movimentao oficial para a
extino do regime escravista, anterior prpria assinatura da Lei urea, em 1888. Isso se deve
no apenas ao de sociedades de apoio emancipao, mas tambm ao forte interesse de
amplos setores da sociedade paranaense de tirar os entraves para uma imigrao europeia em
larga escala, o que era, em parte, retardado, devido permanncia da instituio escravocrata.
CONSIDERAES FINAIS
Nesses dez anos da Lei n. 10.639/2003 muitos foram os esforos para sua aplicao
nas escolas, mas ainda h muito a ser feito. E os avanos s sero realmente percebidos
medida que as pesquisas e os estudos a respeito da Histria e Cultura da frica e dos africanos e
afrodescendentes no Brasil sejam conhecidos. Por isso a importncia da publicao de artigos que
possam trazer informaes sobre esta temtica.
A escola ainda o lugar por excelncia do conhecimento, portanto, ela que deve estar
preparada para instigar, fomentar, fornecer, instrumentalizar, professores e alunos, para o estudo
do passado africano no Brasil. preciso para isso romper o bvio, necessrio ir alm do senso
comum de ver a frica como um continente meramente extico, longnquo e pobre. urgente que
se quebrem esses paradigmas h tanto tempo construdos. A Histria da frica e da presena dos
africanos e seus descendentes no Brasil deve ir alm da histria do escravismo, do sofrimento, das
mazelas desse passado, pois como bem prev os PCNs (1998, p.130-131)
706
O estudo histrico do continente africano compreende enorme complexidade de temas do perodo pr-colonial,
como arqueologia; grupos humanos; civilizaes antigas do Sudo, do sul e do norte da frica; o Egito como
processo de civilizao africana a partir das migraes internas. Essa complexidade milenar de extrema
relevncia como fator de informao e de formao voltada para a valorizao dos descendentes daqueles
povos. Significa resgatar a histria mais ampla, na qual os processos de mercantilizao da escravido foram
um momento que no pode ser amplificado a ponto que se perca a rica construo histrica da frica. O
conhecimento desse processo pode significar o dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista tico,
da escravido, de sua mercantilizao e das repercusses que os povos africanos enfrentam por isso.
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Continente Se considerarmos que as Amricas so dois continentes, a frica se torna o segundo maior
continente. Existem vrias formas de se categorizar os continentes, inclusive alguns critrios incluem
questes culturais e no apenas puramente fsicas.
Africner A lngua africner se desenvolveu a partir da colonizao holandesa na frica do Sul ocorrida
em meados do sculo XVII. A integrao dos colonos holandeses, que tambm tiveram influncias
dos huguenotes franceses e alemes, resultou numa lngua com caractersticas relativamente diversas
daquela da original. A partir do incio do sculo XX esses colonos passaram a se identificar como uma
categoria diversa daquela dos holandeses e passaram a se denominar africners e assim tambm o nome
de sua lngua.
708
Plantation Sistema agrcola tropical utilizado na Amrica para produo de produtos tropicais para a
exportao. Utilizava latifndios e mo de obra escrava e podia ser encontrada no Sul dos Estados Unidos
da Amrica, nas Antilhas e no Brasil, entre outros.
Hibiscos So vrios os tipos de hibiscos que eram apreciados pelos africanos, eram os hibiscus esculentus,
hibiscus sabdariffa, entre outros.
Vinagreira Esse tipo de hibiscus muito encontrado atualmente no Maranho, e estudos tm comprovado
seu alto teor de ferro e de fibras.
Batatas Em finais do sculo XVIII no interior de Moambique as batatas eram de subsistncia comum.
709
Um dos fatos mais significativos a nosso respeito (o autor refere-se humanidade) pode ser,
finalmente, que todos ns comeamos com o equipamento natural para viver milhares de espcies
de vidas, mas terminamos por viver apenas uma espcie. (GEERTZ, 1979, p. 57).
Os conceitos de cultura e o de sustentabilidade so de uso frequente nos dias atuais e
definem inmeras caractersticas ou situaes socioeconmicas e ou culturais. No arcabouo
socioantropolgico, a definio de cada um desses conceitos sustenta-se em referncias tericas
especficas. Se sustentabilidade originou-se da Teoria Econmica Neoclssica (1870) e se referia
utilizao e preservao da natureza, na dcada de 1980 (Lester Brown Instituto Worldwatch),
o conceito foi expandido para a noo de sociedade sustentvel: aquela capaz de satisfazer as
necessidades de seus componentes sem comprometer suas chances de sobrevivncia futura. Para
a discusso que importa aqui se considera que o conceito de sustentabilidade social merece a
mesma importncia dada ao de sustentabilidade ambiental, pois as sociedades e culturas humanas
so parte de uma paisagem que construram e ajudaram a modelar.
Diante do enfoque dominante que privilegia uma abordagem de conservao da natureza,
interessa reintegrar as noes de dinmica e de mudana, pois a sustentabilidade no pode (...)
significar um congelar da histria a reproduo incomensurvel de um equilbrio impossvel. Implica,
ao contrrio, uma capacidade de mudar constantemente, em funo de um enfrentamento sem trgua,
renovado entre as exigncias de reproduo da natureza e das sociedades (RAYNAUT, 1997, p. 370).
711
Sustentabilidade , pois, uma noo que no pode ser reduzida combinao de somente
duas exigncias: a de controle das perturbaes (imediatas ou de longo prazo), sofridas pelo
meio fsico e natural e a da manuteno da viabilidade econmica das formas de explorao
dos recursos desse meio. Trata-se, ao contrrio, de abord-la sob uma perspectiva global que
considere a diversidade e a complexidade das relaes cultura/sociedade/natureza, integrando
em particular as dimenses ligadas reproduo material e imaterial das comunidades humanas.
Mas a discusso central que faremos aqui sobre o conceito de cultura na Antropologia.
Portanto, comecemos por um alerta feito pelos antroplogos sobre a ampla utilizao do termo
cultura, que define inmeras situaes ou qualidades. A definio do senso-comum credita
cultura erudio. Por exemplo, ao se referir a uma pessoa com conhecimentos enciclopdicos
costumamos dizer que uma pessoa culta. Por outro lado, tambm quando nos referimos a
um determinado sistema numa empresa, falamos sobre cultura empresarial. O termo parece
ser muito conhecido, pois todos acreditam saber do que ele trata ou a que se refere. Mas no
isto o que acontece quando falamos do conceito utilizado pela Antropologia, que entende que
cultura define mais do que isso tudo.
Mas vamos ver como se inicia esta histria. O termo cultura, tal como empregado pela
Antropologia, comeou a ser cunhado na Alemanha, no final do sculo XVIII, em contraposio
s pretenses globais da expanso anglo-francesa, que considerava as outras sociedades como
um estgio, cujo pice seria a sua prpria civilizao2. Para os intelectuais burgueses alemes,
as diferenas culturais eram essenciais na defesa de sua unidade poltica. Assim, o Movimento
Romntico defendeu a ideia de Kultur em contraposio de civilizao. Para eles, o conceito
de cultura identificaria e diferenciava um povo e deveria ser compreendido no plural. No se
concebia a existncia de povos incultos. A cultura era vista como um legado ancestral, transmitido
por conceitos distintivos de uma determinada lngua e adaptada a condies de vida especfica.
Sustentado por essas concepes, o conceito antropolgico de cultura foi marcado por aquela
realidade e pelas exigncias nacionalistas alems contrrias s ambies da Europa ocidental.
Daquele ponto de vista, cultura definia uma unidade e demarcava as fronteiras de um povo e, como
j foi dito, se contrapunha ao conceito de civilizao. Este conceito sustenta-se no postulado da
unidade do Homem como espcie e foi herana do Iluminismo, nascido tambm no sculo XVIII.
Nesse raciocnio, cultura, por oposio natureza, consistiria no carter distintivo da espcie
humana em relao aos animais: a soma de saberes acumulados e transmitidos pela humanidade
considerada em sua totalidade, ao longo de sua histria, as diferentes formas de sustentabilidades
das culturas humanas. Englobaria, portanto, o conjunto integrado de conhecimentos, crenas,
712
sentimentos, regras e comportamentos que balizariam as aes e atitudes dos indivduos. Sempre
empregada no singular civilizao significa que entende a cultura como prpria da humanidade,
e est associada ideia de progresso, evoluo, educao e razo. O progresso nasceria da
instruo capitaneado pela civilizao, como um processo de evoluo linear da humanidade,
que levaria os povos considerados primitivos as formas mais simples de organizao social a
evolurem para alcanarem as formas mais complexas a sociedade europeia. A ideia era a de
que sociedades poderiam ser comparadas entre si por meio de seus costumes, isolados de seus
respectivos contextos. E que esses costumes teriam uma origem e, evidentemente, um fim. Todo
esse aparato conceitual de certa forma justificou a colonialismo, a expanso do modo de vida
ocidental e at mesmo ideologias nazi-fascistas que se espraiaram pelo mundo na primeira metade
do sculo XX.
Para se contrapor a esta viso evolucionista e etnocntrica, temos o exemplo do continente
Americano, cuja populao nativa havia atingido, antes da conquista europeia (1498-1500),
grande desenvolvimento cultural independente. Espcies animais e vegetais (a batata, o tabaco, o
cacau, o tomate, dentre outros alimentos) haviam sido domesticadas, produziam-se medicamentos,
indstria de tecelagem e cermica, trabalhavam-se metais com perfeio. Os Maias haviam chegado
noo de zero, pelo menos 500 anos antes de ter sido descoberta pelos Hindus, e construdo um
calendrio at o ano 2000. Alm disso, havia o avanado sistema poltico dos Incas3. Apesar de
desconsiderar essas condies, a ideia de civilizao teve seu lado positivo ao propor o postulado
da unidade do Homem como espcie.
Mas voltemos ideia de Kultur. Ento, o Movimento Romntico alemo, ao enfatizar
os costumes e as artes qualitativamente diversas, tornou-se uma das primeiras formulaes
importantes de expresses culturalmente variveis da vida humana. A partir de ento, passou-se
a pensar civilizao como a expresso de uma forma material e exterior de desenvolvimento, sem
relao necessria com o progresso da vida interior e espiritual do Homem.
nesse contexto que construdo o conceito antropolgico que enfatiza a cultura como
substantivo coletivo, um processo social que modela diferentes modos de vida. Supraindividual,
aprendida, partilhada e adquirida. Mas a ideia de cultura como um meio especifico, que surge
como o resultado da incompletude do ser humano em sua capacidade puramente biolgica
permanece. Cultura tambm corresponde capacidade do gnero humano em criar um meio
artificial, como a linguagem humana que combina smbolos capazes de expressar relaes entre
coisas, indivduos e acontecimentos e torna os humanos capazes de inveno e criatividade, de
estruturar e desestruturar, de formar snteses com o material fornecido pelo meio natural e social
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sociais so formas vazias de contedo e que cada sociedade as preenche diferentemente e que o
enfoque dos antroplogos deve ser o estudo das particularidades de cada uma delas.
O grande mestre dessa concepo foi o antroplogo Franz Boas (1858-1942), alemo
naturalizado norte-americano. Ele construiu a concepo antropolgica do relativismo cultural que
considerou um princpio metodolgico a fim de escapar do etnocentrismo: uma atitude coletiva que
consiste em repudiar outras formas culturais, religiosas, estticas, sociais e morais mais afastadas
daquelas com as quais nos identificamos (definio de LVI-STRAUSS, 1976, p. 59).
Para Boas, cada cultura nica e especfica e representa uma totalidade singular. Seu
esforo foi o de pesquisar o que fazia a unidade da cultura. Da sua preocupao em no apenas
descrever os fatos culturais, mas de compreend-los juntando-os ao conjunto ao qual estavam
ligados. Considerava que cada cultura adota um estilo prprio que se exprime pela lngua,
crenas, costumes, arte e no comportamento dos indivduos.
Boas foi um forte crtico das explicaes das diferenas entre os seres humanos que tinham
por base a caracterizao biolgica da raa, que resultou nos grandes conflitos do sculo XX. Seu
objetivo foi o de eliminar qualquer trao de determinismo. Essa eliminao o conduziu ao realce
da cultura, pois afirmou que deduzir formas culturais de uma nica causa est fadada ao fracasso.
Para ele, as vrias expresses da cultura esto inter-relacionadas, e uma no pode ser alterada
sem que cause um efeito sobre as restantes.
Essa definio pressupe que as vrias expresses da cultura sejam a base de modos de
vida particulares (BONTE & IZARD, 1992, p. 193) e que a produo simblica imanente a
qualquer sociedade humana. assim que o conceito de cultura surge como um instrumento capaz
de pensar a enorme diversidade cultural da humanidade. Pois demonstra a heterogeneidade
cultural como o resultado da capacidade especificamente humana de criar diferentes solues
para a manuteno da vida.
Ao observar as diversas sociedades, vemos a multiplicidade de prticas, processos de
sustentabilidade, instituies, normas, valores e crenas que do colorido e significao vida
social de cada uma delas. Da, podemos dizer que o conjunto de atitudes, crenas, maneiras de
se comportar mesa e os conhecimentos, mais ou menos compartilhados pelos seus membros,
compem sua cultura. At mesmo tendncias individuais, por exemplo, o dogmatismo ou a
tolerncia, a indiferena ou a rigidez so partes constitutivas e caractersticas de cada cultura,
assim como os direitos e deveres, a linguagem e os smbolos. O que determina, em nossa
sociedade, que o uso de calas seja preferencialmente masculino e o de saias feminino no tem
necessariamente conexo com as caractersticas fsicas de cada sexo, ou com a relao que advm
716
dessas caractersticas. Existem roupas para a noite, para o dia, para as tarefas domsticas e para as
festas e comemoraes. Cada uma delas remete para a natureza da atividade a ser desenvolvida,
para os determinantes de faixa etria e de grupo social. por se relacionar ao sistema simblico
que uma veste preferencialmente dirigida a um grupo sexualmente definido, no pela natureza
do objeto em si nem pela sua capacidade de satisfazer uma necessidade material (SHALINS,
1979, p. 189). As vestes, assim como os modos de falar e se comportar, reproduzem a distino
entre os indivduos numa determinada sociedade e entre esta e as outras.
Se cada agrupamento humano , a um s tempo, produtor e produto da cultura pode-se
interpret-la como uma das caractersticas da espcie humana, ao lado do bipedismo e de um
adequado volume cerebral. Cultura que se desenvolve simultaneamente com o prprio equipamento
biolgico (LARAIA, 1988, p. 59). Sob essa perspectiva, a cultura no foi acrescentada a um
animal acabado ou virtualmente acabado, foi um ingrediente, e um ingrediente essencial, na
produo deste mesmo animal (GEERTZ, 1979:59).
Do conjunto do reino animal, o ser humano o que nasce menos desprovido da capacidade
de sobreviver s suas prprias custas. um animal incompleto e inacabado que se completa
por meio de formas particulares de cultura. O beb depende de quem cuide dele, alimente-o,
agasalhe-o e o proteja por um longo perodo de tempo. Mesmo adulto, seu equipamento fsico
muito pobre. incapaz de correr como um antlope, no tem a fora do leo, nem a acuidade
visual de um lince (LARAIA, 1988, p. 40). No entanto, para suprir tudo isso, dotado de um
instrumental extraorgnico de adaptao, que no trouxe modificao anatmica significativa e
que, de certa forma, o auxiliou a libert-lo da natureza. o nico animal a transformar toda a
Terra em seu habitat (LARAIA, 1988, p. 42). Construiu o avio e conseguiu voar; o submarino, e
mergulhou no profundo oceano; adaptou lentes; conteve a fora das guas e dos ventos. Para isso
dependeu de um aprendizado codificado por conceitos e sistemas simblicos especficos. Castores
constroem diques; os pssaros, seus ninhos; as abelhas constroem suas colmeias. Todos os seres
vivos buscam seus alimentos, alguns deles de forma organizada e em grupos com base em um
aprendizado essencialmente codificado em seus genes e evocado por estmulos externos.
Para o ser humano diferente. Ele o resultado do meio cultural em que foi socializado.
Aprende com a experincia acumulada, reflete e recria constantemente formas de entender e
agir sobre o mundo. Seus sentidos e instintos so conduzidos pelos padres culturais. Sorrir ante
um estmulo agradvel ou franzir o cenho ao desagradvel so, at certo ponto, determinaes
genticas, mas o sorriso sardnico e o franzir caricato so, com certeza, culturais. (GEERTZ,
1979, p. 62)
717
aqui que comeamos a perceber o sentido do conceito cultura como um sistema simblico
que define mecanismos de controle, regras e instrues que indicam o que o nativo daquela
sociedade deve ou no fazer e como se comportar. Dessa perspectiva, cultura vista como um
cdigo de smbolos partilhados e toda prtica social relativa, provida de sentido e lgica para
aqueles que a praticam.
Assim, o modo de ver o mundo, os diferentes comportamentos e at mesmo a postura
corporal, ou os alimentos de que se gosta ou os que se rejeita so produtos de uma determinada
herana cultural recebida e ressignificada todo o tempo. Indivduos de uma mesma cultura podem
ser identificados por algumas caractersticas semelhantes: o modo de vestir-se, comer, caminhar,
agir, alm claro do uso da mesma lngua. Marcel Mauss (1872-1950), importante antroplogo
francs, afirmou que cada sociedade tem hbitos que lhe so prprios e que se pode falar at
mesmo de tcnicas corporais, para se referir s maneiras como os Homens sabem servir-se de
seus corpos. Para ele, o corpo o primeiro e o mais natural instrumento do homem. (MAUSS,
1974:217) Oferece exemplos interessantes, como quando diz que as crianas acocoram-se
normalmente, o que uma difcil posio para os adultos em nossa sociedade, mas postura
considerada natural entre os australianos que repousam sobre os seus calcanhares. Nossa cultura
enfatiza o uso da mo direita, sem considerar o ambidestrismo. Entre os mulumanos, a mo
esquerda jamais deve tocar na comida, assim como direita interditado o toque de certas partes
do corpo. Outro exemplo relacionam s tcnicas do parto. Entre as mulheres hindus o parto
feito com as mulheres em p, pois acreditam que Buda nasceu estando sua me agarrada, reta,
a um ramo de rvore (MAUSS, 1974:223). Interessante saber que os Massai (um povo africano)
dormem em p, enquanto Hunos e Mongis dormiam a cavalo sem interromper a marcha.
Os usos do corpo reafirmam as diferenas sexuais, associam-se ao gnero feminino e
masculino condicionados socialmente. Maneiras de se expressar, enfeites corporais, normas e
regras definem socialmente o gnero masculino e o feminino e marcam as diferenas. Entre os
povos indgenas do Brasil, o uso de enfeites e de pinturas corporais , prioritariamente, campo do
masculino. Mulheres raramente usam cocares, enfeites auriculares ou labiais e se os utilizam em
menor quantidade ou diversidade que os homens.
Podemos ainda citar as diferentes maneiras mesa e os hbitos alimentares, o que
definido como alimento bom ou ruim, forte ou fraco, a forma como se come. s vezes o ato
de comer pblico, s vezes privado. Algumas culturas consideram o arroto uma forma de
demonstrar satisfao com a comida, outras uma indelicadeza. O comer envolve muito mais que
ingerir nutrientes. Determina e determinado por selees, rituais, significados, sociabilidades.
718
Definies de cru e cozido, de forte ou fraco, de bom e ruim so escolhas, em certo sentido,
arbitrrias. O que ser comido por membros de uma sociedade humana sempre selecionado,
preparado, processado e classificado. Ideias e significados, muitas vezes, alteram o gosto ou a
finalidade e interditam o alimento. Sendo assim, as comidas e os modos de consumi-las pertencem
ao mbito da cultura e do o senso de identidade, so representados e identificados com base
em crenas e no imaginrio. a cultura quem impe as normas que prescrevem, probem ou
permitem comer (CANESQUI e GARCIA, 2005, p. 10). A alimentao tambm est articulada
sociedade em que se vive, a forma como ela se estrutura, produz e distribui os alimentos. Existe
ainda um condicional importante, o que se come est determinado pelas condies de acesso
ao alimento. Classes e grupos sociais, nas sociedades contemporneas, tm diferentes estilos de
comer, elegem diferentes alimentos possibilitados tambm por suas condies de compra.
Aqui entra a relao entre o indivduo e sua cultura, que sempre limitada. Quer seja por
no ser capaz de participar de tudo o que acontece, quer por enfrentar limites nessa participao,
muitos deles impostos pela prpria cultura. Nas sociedades contemporneas que se distinguem pela
especializao e pela diviso de trabalho e classe social, quase impossvel que um indivduo possa
dominar todos os aspectos de sua cultura. Um mdico, por exemplo, domina o funcionamento do
corpo humano, mas pode nada entender do movimento dos astros celestes ou dos procedimentos
necessrios para a alfabetizao de crianas e adultos. Mesmo que o indivduo domine um aspecto
de sua cultura a fundo, pode ser totalmente ignorante em outro. No entanto, sempre existe um
mnimo de conhecimento comum que permite a articulao entre os membros de uma sociedade
para que seja possvel a convivncia. Todos os que habitam uma grande cidade, por exemplo,
conhecem o funcionamento dos semforos e a funo de suas cores vermelha, amarela e verde;
tambm nunca se atirariam de janelas de prdios altos, a menos que sua vontade fosse o suicdio;
em toda sociedade, todos sabem e devem saber ou aprender aquilo que devem fazer em todas as
condies. (MAUSS, 1974, p. 230).
Apesar de ser um referencial dominado, em parte, pelos indivduos que o recebem das
geraes passadas, h consenso entre os estudiosos que existe uma dinmica e que as culturas
esto em constante transformao. A permanncia cultural acontece pela mudana e pouco tem
a ver com a manuteno da pureza ou autenticidade das tradies (MONTERO s.n.t., p. 05).
Mais recentemente a Antropologia comeou a tomar conscincia de que o binmio resistncia/
aculturao (ou desenraizamento) no constitui um quadro de referncia satisfatrio para
compreender os fenmenos culturais no contexto da incorporao progressiva das sociedades na
economia do mercado mundial. (MONTERO s.n.t., p. 3).
719
Enfim, pode-se considerar que o conceito de cultura utilizado sob algumas acepes: a
capacidade de simbolizao prpria da espcie humana; que esta simbolizao uma entidade
social relativamente autnoma e complexa; e que o sistema de smbolos coletivo. De fato, a
cultura diz respeito ordem simblica e exprime a forma como os seres humanos estabelecem
relaes entre si e com o mundo e interpretam estas relaes. Assim, a pluralidade cultural
indicativo da singularidade histrica e social de uma cultura. Quanto ao sentido, um gesto no
imediatamente visvel na ao social, mas est codificado e pblico, porque acessvel a todos. A
ao simblica, pois condensa toda uma mistura de significados que remete a outros contextos,
alm do especfico do comportamento observado (GEERTZ, 1989). Portando, para se entender
um gesto no basta somente conhecer a fisiologia ou a psicologia, preciso tambm conhecer
as tradies e crenas de um povo (MAUSS, 1974:221). Por isso mesmo concordamos com a
afirmao que diz que o conceito de cultura nomeia e distingue um fenmeno nico: a organizao
da experincia e da ao humanas por meio de smbolos. (SHALINS, 1997:41). E reforamos
aqui a afirmao de que a diversidade cultural, uma das principais caractersticas das sociedades
humanas, no se encontra definida no seu cdigo gentico. voz corrente que a humanidade , a
um s tempo, produto e produtora de cultura, pois a partir de regras e interdies ela atua sobre
o mundo, sobre ela mesma como um todo e sobre os indivduos.
A noo de etnia, ao contrrio da de raa, ao enfatizar aspectos culturais homogneos no
conjunto de pessoas, no desconsidera a miscigenao. Ela enfatiza as semelhanas culturais
dentro de uma populao. O uso da mesma lngua, a ocupao de um territrio comum, os modos
de agir e se comportar, as mesmas crenas e tradies, so as bases que constituem as relaes
da vida cotidiana e definem cada grupo tnico, mesmo que a cor da pele, o formato do rosto
ou os cabelos sejam diferentes. Esta abordagem possibilita compreender a enorme diversidade
de costumes, regras, interdies e relaes de parentesco que marcam a humanidade com esta
caracterstica particular: uma mesma espcie, mas to diferentes. E nos leva a pensar na misturada
realidade brasileira, a mistura biolgica, a dos costumes, a da religio...
O Brasil um pas continental, como costumamos dizer. De Norte a Sul, de Leste a Oeste
diferentes grupos tnicos misturaram-se nestes mais de 500 anos aps a chegada dos portugueses.
Antes disso, centenas de povos indgenas percorriam todo o Continente Americano, desbravando
caminhos, mais tarde usados pelos colonizadores. Neste caldo efervescente, moldou-se o brasileiro,
que no se define pelo bitipo. Somos brancos, somos negros, somos amarelados. Temos cabelos
pretos, loiros, avermelhados. Olhos amendoados, repuxados, azuis, verdes, castanhos, pretos,
amarelados. A lngua, herdada dos portugueses, uma s. Sotaques mil, quase diferentes
720
dialetos. O guri paranaense, o menino paulista, o garoto carioca. A religio, tambm marcada
pela diferena, Catlica, Evanglica. So o Candombl e outras inmeras seitas, que cobrem
nossa rica heterogeneidade.
FOLCLORE, LENDAS E SUPERSTIES
Tentativas de criar referncia histrica e identidade s naes emergentes levaram estudiosos
a recolher e registrar rituais, versos, melodias, cantos, danas, costumes, festas, crenas, lendas,
supersties e mitos transmitidos pela tradio oral, que pareciam representar uma herana
antigussima. Caso bem conhecido o dos clebres versos picos creditados falsamente a Ossian,
personagem inventado por James MacPherson (1762), que misturou mitologias e atribuiu a
Esccia glrias do passado da Irlanda, na tentativa de criar uma identidade nacional. Ossian era
um suposto guerreiro, que reafirmava valores tradicionais que deveriam ser resgatados, com
o objetivo de criar razes culturais nacionais para a Esccia, diferenciadas da Inglaterra. A
fraude s foi provada no final do sculo XIX. Outro caso o da suavizao do Conto Chapeuzinho
Vermelho, coletado pelos irmos Grimm na Alemanha (1806-1810), tambm conservado pela
tradio oral. A histria, devido ao seu trgico final, era originalmente destinada ao pblico
adulto, no a crianas8.
Esses estudiosos ficaram conhecidos como folcloristas e foram os primeiros a construir um
discurso sistemtico sobre a chamada cultura popular. Mas a palavra folclore foi empregada
pela primeira vez por Williiam J. Thoms, em 1842. Composta pelos vocbulos folk povo, e
lore conhecimento ou cincia, passou a designar o estudo das manifestaes do saber popular.
A maioria dos folcloristas buscava no povo razes autnticas que permitissem definir
uma autntica cultura nacional. O interesse pelos camponeses justificava-se pelo seu pretenso
isolamento. O grande equvoco conceitual foi, na tentativa de encontrar inmeros aspectos da vida
cultural, definir estas manifestaes como do povo ou popular.
No sculo XIX, essas definies tendiam a convergir para um purismo, segundo o qual o
campons idealizado (entendido como o povo) preservaria seus costumes, pois viveria mais perto
da natureza e, portanto, estaria menos marcado pelo modo de vida da elite ou do estrangeiro. Os
termos povo e popular so muito vagos e foram definidos de variadas formas pelos folcloristas. Por
princpio negava-se a condio de popular s outras camadas sociais que no as camponesas.
O fato que existe uma afinidade eletiva entre o popular e o nacional. Na Alemanha o interesse
pela cultura popular vinculou-se ao nacional e seu estudo buscou uma forma de identificar-se como
721
alemo. Na Itlia, o movimento conhecido por Ressurgimento, que culminou com a unificao do
pas em 1870, tambm descobriu o folclore como elemento de conscincia nacional.
Na Inglaterra, o j citado Tylor introduziu a noo de sobrevivncia para entender a
permanncia de certas formas de compreender, manifestar-se ou explicar o mundo, que, segundo
ele, se aproximariam do pensamento do homem primitivo: canes infantis, jogos de azar ou
o que definiu como ocultismo. As sobrevivncias seriam vestgios de hbitos milenares que
permaneceriam preservados.
No Brasil, a produo folclorstica no fugiu regra e enfatizou os aspectos autnticos
e comunitrios das chamadas culturas do povo, como base para definir o carter nacional.
Dentre os intelectuais que pensaram o Brasil podemos citar Silvio Romero (1851-1914), que
apesar de seus argumentos racistas foi considerado por Cmara Cascudo (1898-1986) um dos
fundadores da tradio dos estudos folclricos no pas. O brasileiro caracterizado como homem
sincrtico, constitudo pelo elemento popular oriundo da miscigenao cultural. Associam-se,
assim, identidade nacional e cultura popular. Mesmo mais tarde, com Mrio de Andrade (18931945), em pleno Modernismo, voltou-se a enfocar o folclore como expresso da identidade
nacional. Buscavam-se estrias e lendas, cantos e danas, msicas e performances que seriam
expresso da brasilidade ou que ajudassem a comp-la. Temos, ento, um trao comum com as
experincias alems e italianas: a questo nacional.
Mas, existe um problema conceitual, o da legitimidade do termo folclore. Advoga-se contra
ele apontando-se o empiricismo que caracterizaria essa tradio e que ...proviria em parte da
coincidncia entre o termo que identifica o objeto mais especificamente o tipo de manifestao
cultural estudada e o que nomeia seu estudo (VILHENA, 1997, p. 30). O empiricismo viria da
coleta de dados sem a orientao de uma metodologia elaborada, a veracidade da tcnica estaria
contida no olho do observador. Outro argumento aponta a pretenso de o folclore constituir-se
em disciplina parte, e no um campo de estudo frequentado por especialistas de diferentes
disciplinas. Imputa-se, ainda, a ele o presentismo, isto , a incapacidade de conseguir estabelecer
uma distncia adequada entre a perspectiva do pesquisador e a do objeto estudado ou, o contrrio,
tratar o objeto como inteiramente alheio.
Temas abordados pelos folcloristas so tratados pelas Cincias Sociais, particularmente
pela Antropologia e a Etnologia, num quadro conceitual regido por metodologias prprias. Essas
metodologias enfocam a totalidade das relaes sociais e culturais em seus contextos. No caso do
estudo dos mitos, por exemplo, v-los como prprios de sociedade outras que no as nossas, sem
fundamento objetivo ou cientfico, histrias de um universo puramente maravilhoso, entend-los
722
723
724
Este texto foi publicado anteriormente, modificado, in TORRES, Patrcia Lupion (Org.). Alguns fios para
entretecer o pensar e o agir. Curitiba: Senar-PR, 2007.
725
2 Civilizao foi um termo cunhado na Frana na dcada de 1750 e adotado pela Inglaterra. Tornouse popular em ambos os pases, pois explicou suas realizaes e justificou as exploraes imperialistas.
(SAHLINS, 2001, p. 22)
3
4 Etnologia, principalmente na Frana o termo ganhou amplitude para designar o estudo das sociedades
tribais ou povos indgenas.
5
Sessenta e um povos (28.2%) tm uma populao de at 200 indivduos; 50 (23.1%) entre 201-500; 37
(17.1%) entre 501-1.000; 43 (19.9%) entre 1.001-5.000; 09 (4.1%) entre 5.001-10.000; 05 (2.3%)
entre 10.001-20000; 01 entre 20001-30000; e02 com mais de 30.000. In: http://www.socioambiental.
org/pib/portugues/quonqua/quantossao/popindig.shtm
Na verso original, o lobo devora Chapeuzinho e sua av. Na verso suavizada, o caador liberta as duas
da barriga do lobo, enche-a com pedras, o que faz com que o lobo mau morra.
Os Kaingang, at o presente, formam grupos espalhados pelo oeste dos estados do Paran, Santa Catarina,
So Paulo, norte do Rio Grande do Sul e leste das Misses argentinas.
726
A histria da arte se confunde com a histria das sociedades, do pensamento e das crenas
do ser humano, bem como da construo significativa das moradias e das cidades. Ela expressa
o indivduo e a coletividade; o passado, o presente e o futuro; o espao e o lugar; o concreto e o
imaginrio; o mundo real e o fictcio; a realidade de cada um e o sonho.
Ao pensar em arte, esquecemos que ela est presente nos nossos muitos caminhos dirios,
seja na cidade, na praia ou no campo. Frequentemente, passamos por ela, mas no a vemos. Este
artigo tem como objetivo aguar a curiosidade e a percepo, fazendo-nos enxergar um pouco
mais da arte presente nos trajetos de cada um. Ela est em rochas e cavernas, em estruturas
arquitetnicas, dentro de museus, galerias e casas, nos imensos painis existentes em muitas
cidades, nas praas, nas igrejas, nas caladas, nos muros, no gibi, na revista, na publicidade e
em outros espaos.
Pode-se dividir a histria da arte no Paran em diferentes perodos:
Primeiros tempos
Pr-histrica, de aprox.8.000 a.C.1 poca dos descobrimentos, 1.500 d.C;
Proto-histrica, sculos XVI e XVII, caracterizada pelas redues jesuticas e vilas
militares espanholas, depois destrudas pelos bandeirantes.
727
Paran tradicional
Artistas viajantes, iniciada juntamente com a fase proto-histrica, at fins do sculo XIX,
caracterizada pelas obras de artistas estrangeiros viajantes no Estado;
Artistas imigrantes, nascidos no Paran ou que tm influncia marcante no desenvolvimento
artstico no sculo XIX, inclusive Mariano de Lima e sua escola.
A primeira metade do sculo XX: Andersen e o Paranismo
Alfredo Andersen e a escola de pintura espontnea que se forma em torno dele;
Paranismo: movimento desencadeado por Romrio Martins no fim do sculo XIX, com
a valorizao do regional, em reao contra a imitao da arte europeia.
Novas linguagens
de Integrao ao Modernismo, da dcada de 1940 at de meados dos anos 60;
e a contemporaneidade, da dcada de 1960 atualidade, perodo em que o Paran se
torna um centro de vanguarda.
PRIMEIROS TEMPOS
A ARTE PR-HISTRICA NO PARAN
Apesar de a presena humana nas Amricas, estimada em 30.000 anos (BLASI, 1980),
ser muito mais recente que na Europa e na frica, os artefatos e as manifestaes artsticas prhistricas no Novo Continente legam atualidade inmeros vestgios que permitem conhecer
alguns hbitos, crenas e um pouco da cultura e da organizao social de vrios grupos humanos
que viveram nesse territrio milnios atrs.
No Paran, de acordo com Araujo (2006, p. 2), destacam-se, sobretudo, trs grandes
segmentos: no litoral, grande profuso de sambaquis; na regio mais central, sobretudo no
Segundo Planalto, pinturas rupestres [...]; e no centro-sul, a presena de petroglifos. A cermica
tambm se faz presente em urnas funerrias, potes, gamelas, jarros, tigelas, alm de pequenas
figuras em pedra, representando animais (os zoolitos).
A pintura rupestre no Paran (a arte est nas pedras)
Arte rupestre quer dizer arte pintada ou gravada na rocha (do grego, rupes = rocha) e uma
das formas de arte do homem pr-histrico de todos os continentes. Certamente, havia, ainda,
728
arte sobre outros suportes (madeira, couro, folhas, tecidos, plumas e outros) que, por serem
perecveis, no deixaram rastro.
Nos pictogrifos de todos os continentes (do grego, picto = pintar; e graphein = grafar,
pintar, desenhar), so constantes a representao de animais e o uso dos pigmentos vermelho,
marrom e preto. Aparecem, tambm, a representao do ser humano, figuras geomtricas, pontos,
imagens que lembram o sol. Alm disso, h mos espalmadas e pegadas humanas deixadas
propositalmente em alguns stios. Provavelmente, cada uma dessas figuras est envolta em um
universo de rituais e de significados.
No Paran, as pinturas datam de 10.000 a 300 anos atrs: algumas remontam a bandos2
de humanos pr-ceramistas, portanto, de caadores e coletores de alimento; e outras a grupos
ceramistas ancestrais dos indgenas J (PARELLADA; LICCARDO, s.d), que acumulam alimento
em tigelas, jarros e potes, o que implica uma transio para o sedentarismo. Para Igor Chmyz
(apud SOARES, 2003, p. 73), as pinturas rupestres do Vale do Iap so feitas por ancentrais
dos Kaingangue pr-ceramistas. Sua idade estimada em 7.000 anos e pertencem chamada
tradio Umbu.
Atualmente, no Paran, so conhecidos cerca de 70 abrigos, lapas e/ou cavernas com
pinturas rupestres. A maioria est no Segundo Planalto, junto aos vales dos rios Iap, Tibagi,
Cinzas, Jaguaricatu e Itarar, e na escarpa de So Luiz do Purun (PARELLADA; LICCARDO,
s.d), formando um semicrculo que se inicia em Ponta Grossa, passando por Castro, Tibagi, Pira
do Sul, Jaguariava e Sengs (BARBOSA, 2004, p. 14). Esto presentes tambm, em menor
quantidade, no Primeiro Planalto, no alto rio Ribeira, e no Terceiro, em reas de rochas bsicas
da Formao Lavas da Serra Geral.
So trs os grandes grupos temticos que se veem nessas pinturas: animais, seres humanos
e desenhos geomtricos/grafismos. So, geralmente, pintados em locais altos e imprprios para
a habitao, o que mostra que no tinham funo decorativa. De modo geral, so desenhos
monocromticos, na maioria em vermelho, marrom ou preto. Predominam representaes de
animais da fauna local (veados galhados, coras, roedores, lagartos, tatus, porcos do mato, peixes,
aranhas e aves), mas h tambm desenhos esquemticos e estilizados da figura humana. Sinais
e elementos geomtricos, compostos por pontos, crculos e linhas, aparecem em profuso. Em
alguns paredes h pontos dispostos em linhas retas, circulares ou desenhando o contorno de
uma figura, feitos provavelmente com a ponta de um dedo, mergulhado em tinta vermelha. Muitas
vezes h imagens sobrepostas, o que aponta para contedos ritualsticos (ARAUJO, 2006, p. 2-3).
Estudiosos no descartam a possibilidade de muitas dessas pinturas serem sinais de orientao
729
para os povos pr-coloniais que, de acordo com os primeiros exploradores, viajavam muito a p,
de leste a oeste no Estado, na grande rede de caminhos do Peabiru.
Para Araujo (2006, p. 2-3), tais pinturas possuem o mesmo esprito narrativo, dinmico e
esquemtico, tendendo estilizao que caracteriza a arte rupestre da Espanha e do Continente
Africano. Apesar da recorrncia dos temas e da proximidade estilstica, observam-se diferenas
nos signos pictricos entre um abrigo e outro.
No centro-leste do Paran, em Ponta Grossa, Tibagi e Pira do Sul, como o caso do Guartel, as pinturas
geralmente tm cores vermelhas e marrons, sendo raras as pretas. Predominam as figuras de animais,
principalmente cervdeos, em perfil, e pssaros, tanto em perfil como de frente, ocorrendo com menor frequncia
lagartos, cobras, batrquios e peixes. As figuras humanas aparecem em menor quantidade, associadas muitas
vezes a animais e sinais geomtricos. Existem vrias representaes de animais enfileirados, sobrepostos ou
prximos a grades, alm de cena de pesca. Em vrios stios verifica-se a superposio de pinturas geomtricas
abstratas, mais recentes, geralmente em vermelho e caracterizadas por sucesses de pontos e grades [...].
No nordeste paranaense, principalmente nos municpios de Sengs e Jaguariava, existem muitos abrigos
com pinturas, em vermelho e marrom, onde a maioria das representaes so geomtricas. Predominam os
crculos, raiados ou no, traos, pontos e, com menor frequncia motivos geomtricos elaborados; a cor das
pinturas alterna-se entre o vermelho e o marrom. As pinturas localizam-se nas paredes e tetos dos abrigos,
situados preferencialmente no topo das escarpas arenticas e nas proximidades da borda dessas escarpas. [...]
Nas margens do canyon Chapadinha, em Pira do Sul, existem vrios abrigos arenticos com pinturas, inclusive
com figuras de animais e seres fantsticos (PARELLADA; LICCARDO, s.d).
Ainda no se sabe ao certo o significado dessas pinturas; mas, por analogia com outras
civilizaes pr-histricas e pelos animais e possveis armadilhas (grades quadriculadas)
representados, pode-se inferir que em parte esto ligadas a rituais de caa.
Os petroglifos
Os petroglifos (do latim: petra = rochedo, pedra; e do grego: glifo = esculpir, gravar) so
desenhos feitos nas rochas, mediante a inciso, o riscar, o picar ou o desgastar, com o uso de
instrumentos pontiagudos e duros como ossos, pedras e, eventualmente, pedaos de madeira dura
(GOMES, 2011). A quase totalidade dos petroglifos encontrados no Paran est em rochas a cu
aberto, cavernas e abrigos no Mdio e no Baixo Iguau3. Em Vargem Grande, Unio da Vitria,
Cruz Machado, Ivaipor e em outras localidades h numerosos stios arqueolgicos com incises
feitas por humanos, dos quais foram retirados, recentemente, objetos de pedra e cermica.
A maioria das incises de figuras geomtricas: linhas (simples, bi- e tripartidas), pontos,
crculos, tringulos, escadas, linhas onduladas, grades, com raras representaes figurativas.
H geometrismos que lembram patas de animais, aves e ps humanos; as linhas (estilizao do
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no lugar do ventre do animal uma grande cavidade em forma de tigela. Elas foram encontradas
principalmente junto aos sepultamentos, com vestgios da tinta vermelha com a qual pintavam os
corpos que iriam sepultar e, por essa razo, podem estar ligadas a prticas rituais. Alguns desses
sepultamentos apresentam oferendas mais elaboradas e em maior quantidade, o que indica a morte
de uma pessoa com status mais alto na comunidade e, portanto, uma sociedade hierarquizada.
Para Araujo (2006, p. 2), os zoolitos so esculturas, ao mesmo tempo figurativas e esquemticas
de aves, peixes e cetceos, que revelam conhecimento intuitivo da morfologia animal, vigoroso
sentido plstico e pureza de concepo.
Muitos sambaquis foram destrudos pela ao humana para a construo de prdios,
estradas e caladas. De alguns, estudiosos preservaram objetos e documentaram vestgios da
ao humana que mostram, alm dos objetos citados, pontas de machado (em pedra lascada,
semipolida e polida), objetos cortantes (lminas para cortar), pedras para bater (instrumentos de
percusso? quebra-cocos?), adornos, colares de conchas e caramujos e outros artefatos de pedra,
dente e ossos de animais (trabalhados ou no), em forma de instrumento cortante e pontas de
flexas, agulha, anzol, ponta de arpo ou furadores etc.
Foram encontrados, ainda, fragmentos de peas de cermica rudimentar, de argila misturada
a areia, mal queimada, no glasurada, a maioria sem ornamentao, em forma de copo, bacia,
tigela, cuia, vaso, jarro e outras. A argila era moldada em rolos grossos, dispostos em espiral at
dar-lhe a forma e o tamanho do recipiente desejado. O alisamento rudimentar permite reconhecer
a tcnica de sua elaborao. Os dimetros mais frequentes desses recipientes eram de cerca de
10 a 80 cm (BIGARELLA, 2011, p. 192-193, 229).
Em algumas peas de cermica h vestgios de ornamentao em relevo feita por reentrncias
regulares, levemente arredondadas ou retilneas, feitas talvez com auxlio da ponta de uma casca
de molusco ou da lateral de uma concha, que se sucedem em linhas horizontais sobrepostas. No
sambaqui de Matinho, no Paran, foi encontrada uma pedra com desenho geomtrico gravado:
um zigue-zague composto por trs linhas paralelas (BIGARELLA, 2011, p. 230, 247 e 214).
No interior do Estado, foram encontradas tigelas de cermica em vrios tamanhos, muitas com
esse mesmo tipo de ornamentao, talvez realizado com gravetos, e oriundas de tribos indgenas.
As urnas funerrias eram comuns em tribos indgenas do Noroeste do Paran.
A preservao depende de cada um (a arte depende de voc)
Seja pela ao do tempo, da eroso ou de fungos tpicos de regies midas, seja pela ao
destrutiva do ser humano, as expresses de arte pr-histrica encontradas no Paran so partes de
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um conjunto muito maior. Por desconhecimento da importncia dessa herana, por vandalismo ou
por irresponsabilidade de pessoas e instituies, muitas pinturas rupestres, petroglifos e sambaquis
so destrudos ou danificados por rabiscos, pichao, roubo, reaproveitamento do material ou
outro tipo de agresso. Apenas a conscincia do seu valor como patrimnio arqueolgico e
universal pode ajudar a preservar o que restou deles e permitir seu estudo de maneira sistemtica
e abrangente.
UM PARNTESE: OS INDGENAS E AS MISSES JESUTICAS
A arte dos povos indgenas (a arte est no cotidiano dos indgenas)
A arte e a cultura dos indgenas brasileiros, para Oldemar Blasi (apud ARAUJO, 2006, p.
5), tm seu apogeu muito antes da descoberta, pelos europeus, do Novo Continente. Blasi afirma
que, nos cerca de 30.000 anos da presena humana nas Amricas,
os nativos da terra, denominados ndios pelos conquistadores europeus que os subjugaram, desenvolveram
sua cultura material e espiritual distintamente, conforme a rea ocupada, embora sempre sob a inegvel
influncia dos agentes ambientais envolventes. [...] Tanto a capacidade de [criar] formas naturalistas ou no
como a de criar formas simplesmente imaginativas, so a causa da inusitada variedade de motivos empregados
pelos ndios. [...] O fato que impressiona que o ndio pr-histrico e histrico j havia chegado, muito antes
da vinda dos portugueses, a um alto grau de cultivo artstico, tendo intuitivamente descoberto muitas das leis
fundamentais da composio decorativa e da modelagem.
So esses povos que portugueses e espanhis encontram na regio que hoje compreende
grande parte do Paran, a Provncia do Guair, densamente povoada pelos Carijs, ramo dos
Guaranis. O Tratado de Tordesilhas tem como limite, ao sul, a cidade de Paranagu e, assim,
por quase dois sculos, toda essa regio constitui domnio espanhol. ali que os padres jesutas,
a partir de 1610, constroem as Misses Jesuticas do Guair, que chegam at os Campos
Gerais (ARAUJO, 2006, p. 6), mais tarde destrudas de modo avassalador pelos bandeirantes
escravagistas, que dizimam os jesutas e os indgenas.
Escavaes nas cidades fundadas na poca na Provncia de Guair mostram que muitas tm
incio nas prprias aldeias indgenas. Nelas achado grande nmero de peas em pedra e em
cermica, fusos e castiais, ao lado de objetos de tradio europeia como travessas e moringas,
cruzes e outros materiais de ferro fundido. A grande quantidade de cachimbos evidencia o uso do
tabaco e os fusos apontam para a tecelagem (os tecidos so frequentemente tingidos com o urucu)
e a fiao (redes, redes de pesca).
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A arte sacra luso-hispnico-brasileira (a arte est nos objetos dos ritos religiosos)
Os colonizadores espanhis e portugueses trazem suas crenas e vrios objetos que
consideram essenciais para a sua prtica religiosa nas casas e nas igrejas que constroem: so
crucifixos, clices, bblias, missais, hinrios, imagens, objetos para a realizao da missa e
outros. Nas escolas jesuticas, alm de ensinar os indgenas a ler, contar e cantar, ensinam-lhes
carpintaria, pintura, escultura, a construo de instrumentos musicais (violinos, flautas, harpas,
rgos), a fiao e a tecelagem, sempre nos padres europeus. Assim, muitas imagens e objetos
encontrados em igrejas de cidades prximas s Misses so, certamente, esculpidos ou modelados
por mos indgenas.
A ARTE NO PARAN TRADICIONAL
OS EXPLORADORES E OS PINTORES ITINERANTES
Vrios exploradores vem para o territrio onde hoje est delimitado o Estado do Paran,
em busca de aventura, poder e ouro. Muitas vezes, um soldado integrante de alguma expedio,
hbil nas artes visuais, registra a fauna, a flora, a paisagem e os habitantes dessas terras, os seus
usos e costumes, suas guerras e sua cultura4. Em outras expedies, enviado um artista com essa
funo. Alm disso, durante os sculos XVII a XIX h artistas viajantes estrangeiros que, atrados
pelo desconhecido e pelo extico, viajam voluntariamente para terras distantes, para retratar
e documentar a vida nessas terras, levando Europa as primeiras impresses e notcias sobre os
habitantes e a paisagem desse territrio.
So esses desenhistas, ilustradores e pintores que documentam, principalmente por meio de
desenhos, aquarelas e ilustraes, o que existia no atual Paran. Ao voltarem ao Velho Continente,
muitos publicam suas obras em livros, acompanhadas de crnicas de viagem, com a descrio
detalhada do que encontram. Pintam a exuberncia da paisagem natural e aspectos da vida em
sociedade dos indgenas e dos europeus e, mais tarde, dos africanos. So os responsveis inclusive,
por representar os aspectos geogrficos das terras que percorrem, elaborando os primeiros mapas
dessas terras.
Os primeiros artistas estrangeiros (a arte est nos documentos histricos)
Soares (2001) relata que, ainda no sculo XVI, histrias sobre o ouro dos Incas, contadas
por indgenas, viajantes e nufragos, atraem muitos aventureiros europeus, os quais acreditam
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poder localizar esse El Dorado navegando para o sul do Brasil, para alm da Ilha de Santa Catarina
(atual Florianpolis). Um pouco adiante, encontrariam o Rio La Plata e, adentrando o continente,
poderiam alcanar (e saquear) aquela terra. Para encurtar a distncia, alguns, como o espanhol
Cabeza de Vaca e seus homens, usam ramificaes do Caminho de Peabiru, transitado pelos
indgenas desde muito antes do descobrimento do Brasil, e que vai do litoral de So Paulo, Paran
e Santa Catarina at o Peru. De acordo com os Guaranis, no so eles que abrem esse caminho,
mas sim um deus ancestral. Como os Incas chamam seu imprio de biru, historiadores, hoje,
creem que esse caminho aberto pela civilizao incaica, com o intuito de ampliar seu domnio
ou difundir sua cultura para o sul, tendo encontrado o Atlntico (p = caminho; biru = Peru).
Partes dessa via e suas ramificaes cortam as terras paranaenses e so trilhadas por Cabeza de
Vaca, em sua viagem de 1540 a 1545 e por outros exploradores.
Nessa mesma poca, est na regio o soldado alemo Ulrich Schmidl (Schmidel), que
viera anteriormente na expedio de Pedro de Mendoza, rico cavaleiro da casa real, nomeado
primeiro adelantado (governador) da Provncia do Rio da Prata. Deveria descobrir o caminho
para o Peru e fundar trs fortalezas para a defesa do territrio (SOARES, 2001, p. 45). Schmidl
permanece no Prata por dezenove anos, percorrendo o mesmo caminho que Cabeza de Vaca.
Ao retornar Alemanha, publica, em 1557, o livro intitulado Verdadeira histria de uma viagem
extraordinria feita por Ulrich Schmidel von Straubingen, na Amrica ou Novo Mundo, de 1534
a 1554, sobre todos os seus sofrimentos de 19 anos, e a descrio dos pases e povos estranhos que
ele viu, escrita por ele prprio. O livro contm vrias ilustraes suas, que retratam indgenas nos
seus encontros ou batalhas com os europeus, naufrgios de caravelas, a fortificao da recmfundada Buenos Aires, batalhas entre diferentes tribos, a fauna, as terras e as aldeias indgenas,
com cercado circular e tabas redondas e outros temas. Porm, retrata o ndio de modo idealizado
(europeizado), como era comum nessa poca na Europa, que vivia o auge da Renascena5.
Outro ilustrador ainda de meados do sculo XVI, no Paran, o tambm soldado alemo
Hans Staden. Faz duas viagens ao Brasil: uma de 1547 a 1548, e a outra, de 1549 a 1555. Por
volta de 1550, o navio em que viaja arrastado por uma tempestade Baa de Superagui, onde
fica por algum tempo. Depois, em So Vicente, capturado pelos antropfagos Tupinambs, que
o levam para o sul. S consegue se salvar da morte por sua astcia, tornando-se apreciado pelos
indgenas que, a partir de ento, no permitrm que os deixe. Foge em 1555, a bordo de um navio
francs, que o leva de volta Alemanha. Em 1557, publica o livro Verdadeira histria e descrio
de uma terra de pessoas selvagens, nuas, cruis, devoradoras de gente, situada no novo mundo, a
Amrica, com descries detalhadas da vida dos Tupinambs, ilustradas por xilogravuras, e uma
ilustrao com detalhes geogrficos da costa, o primeiro mapa da baa de Paranagu.
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Na xilogravura do livro de Staden aparece um navio num mar revolto, com a proa embicada para a terra.
Um grande e esguio peixe (espada?) figura na parte de baixo, talvez sugerindo a brutalidade dos elementos
naturais. Dentro do navio, os marinheiros de mos juntas parecem estar rezando. A baa mostrada por
uma reentrncia com trs ilhas em seu interior representando as suas barras. Na parte de cima, h a
representao de dois animais, um jaguar e um gamb (?), com a palavra (Suprawa). Montanhas e rvores
representam respectivamente o relevo e a vegetao do entorno da baa (PICANO; MESQUITA, 2011, p. 4).
Nos Campos Gerais, regio de Ponta Grossa e Curitiba, cruzam-se os caminhos de Viamo
(no Rio Grande do Sul, a Sorocaba, em So Paulo) e do Peabiru, permitindo a comunicao e o
comrcio nesse territrio. Enquanto os muares fazem o trajeto sul-norte, vem do oeste a erva-mate,
cujo ch bebida comum para os indgenas, desde tempos pr-cabralinos. Trazida do territrio
paraguaio, a erva-mate primeiro cultivada no litoral paranaense e, logo, na regio de Curitiba,
constituindo um ciclo comercial relevante da economia local no sculo seguinte. Em 1750, pelo
Tratado de Madri, a Espanha reconhece a posse de Portugal sobre o territrio paranaense onde
as bandeiras haviam expulsado os jesutas hispnicos, agora parte da capitania de So Paulo
(ARAUJO, 2006, p. 11).
Da poca do reconhecimento dos grandes sistemas fluviais do Paran e da descoberta
dos campos de Guarapuava, com a chegada da expedio militar chefiada por Afonso Botelho
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737
no s localidades j importantes, como Castro, mas tambm pequenos centros que apenas surgiram, como
Jaguariava, Ponta Grossa ou Palmeira. Com o objetivo de completar a cobertura iconogrfica da regio, como
j o fizera em todo o vale do Paraba e no sudeste da Provncia de So Paulo, vai Lapa (CARNEIRO, 2001,
p. 13-14).
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739
origem a escolas para as suas crianas, igrejas para as suas manifestaes religiosas e associaes
recreativas para o seu lazer.
Os artistas
Assim, o sculo XIX conta, alm dos artistas viajantes, apenas de passagem no territrio
paranaense, com outros que acabam por ficar, nossos primeiros artistas imigrantes, e que tm
papel relevante, no apenas na documentao e no registro da paisagem natural e humana, mas
tambm no desenvolvimento de uma arte local. Seu estilo naturalista8 justifica-se pelo carter
documental das suas obras.
O litoral paranaense o primeiro territrio do Paran colonizado por portugueses e por
brasileiros atrados regio pela descoberta do ouro. Paranagu a vila mais importante da regio,
na qual transitavam os nobres que o ouro forja. Em consequncia dessa riqueza, de acordo com
Bini (1986, p. 40), esta a primeira vila que apresentou as condies para o desenvolvimento
artstico, entre 1791 e 1808, j atua o mestre Amaral Gurgel, professor de desenho que auxilia
no desenvolvimento da sensibilidade esttica em seus jovens alunos. Outro nome do contexto
artstico dessa cidade o pintor Noel Guillet.
Pertencem a esse grupo os artistas nascidos aqui Joo Pedro, O Mulato, artista
curitibano, primeiro desenhista de humor atuante no Brasil e que registra cenas em Curitiba,
Paranagu e Desterro (SC), nos idos de 1817; e Iria Correia, primeira pintora paranaense,
que estuda em Paranagu com as irms James e com as irms Toulois, radicadas na ento
capital da Comarca. Alm deles, figuram nesse grupo os artistas-imigrantes o alemo Frederico
Guilherme Virmond, provavelmente o primeiro a se radicar no Paran, em 1833, zologo,
pintor, miniaturista, retratista; John Henry Elliot, topgrafo, viaja por toda Comarca, um dos
primeiros paisagistas paranaenses e um dos primeiros nativistas em territrio nacional (ARAUJO,
1980, p. 20) pinta Curitiba, So Jos dos Pinhais e os indgenas; e o suo William Michaud,
que se radica em Superagui a partir de 1854, onde leciona e trabalha durante quase toda a segunda
metade do sculo. Os nicos artistas desse grupo que, depois de cerca de vinte no Brasil, acabam
voltando para a Europa so Joseph e Franz Keller, pai e filho. Engenheiros alemes, chegam
ao Brasil em 1856 para trabalhar nas novas estradas de ferro e de rodagem. Vm ao Paran em
1865 e suas obras ultrapassam o registro iconogrfico, pois constituem meticulosa documentao
cientfica, etnogrfica e arqueolgica, publicada na Alemanha, em 1874 (CARNEIRO, 2001).
740
Desde que se aufere a Curitiba o grau de capital, polticos, imprensa, letrados e professores
comeam a ir nova terra. O curitibano, ainda de feio roceira, procura ilustrar-se, lustrar-se
e aprumar-se moda, usos e costumes civilizados. E nessa busca por instruo e cultura, a
cidade atrai tambm importantes figuras parnanguaras: Pianos subiam, em lombadas de burros,
o Itupava e mestres msicos, os mais notveis, como Bento Menezes e Jacinto Manuel deixavam
sua velha e querida Paranagu pela nova terra do futuro (SANTOS FILHO, 1979, p. 98-99).
Alm disso, o mate d ao Paran uma aristocracia de viscondes e bares, a exemplo do
que ocorreu com a cana-de-acar no nordeste (LINHARES, 1969, p. 194), atrai o imigrante
741
que se adapta facilmente explorao da erva; um fator de fixao do homem terra; reativa o
setor comercial, fazendo surgir atividades paralelas: a fabricao de barricas, a criao de animais
para o transporte e uma nova categoria social: os produtores e os comerciantes (VALENTE,
1997, p. 54).
Baro do Serro Azul, o mate e a litografia (a arte est nos rtulos)
A partir de 1875, a maioria dos engenhos j est transferida do litoral para o planalto.
Algumas fases da comercializao do mate fomentam o desenvolvimento em outras reas, como,
por exemplo, a litografia9. Ildefonso Pereira Correia, o Baro do Serro Azul, importante ervateiro
e lder poltico, contrata dois artistas catales, Narciso Figueiras e Folch, para elaborar os
rtulos, impressos inicialmente por litografia para identificar o produto das barricas usadas no
transporte e na comercializao do mate. A contratao desses pioneiros da litografia no Paran,
relaciona a participao de ervateiros evoluo das artes grficas. Para tanto, o Baro do Serro
Azul adquire a Impressora Paranaense, fundada por Cndido Lopes, o introdutor da imprensa no
Paran, e a Litografia do Comrcio (CAROLLO, 1993, p. 44).
A Estrada de Ferro e a Visita do Imperador (a arte est no humor)
Muitos autores citam a inaugurao da Estrada da Graciosa (em 1873) e da Estrada de Ferro
entre o litoral e o planalto (em 1880) como a principal causa do desenvolvimento da regio. Comentam
o surgimento de vrias associaes literrias no Paran, de teatros e clubes e um entusiasmo quanto
palavra escrita e arte em geral: alargam-se os horizontes intelectuais de 1873 em diante. Os
jornais e revistas literrias monopolizam o entusiasmo dos intelectuais que do na prosa e no verso
nomes de grande valor para a literatura nacional (RODERJAN, 1967, p. 24).
para a inaugurao da Estrada de Ferro que o Imperador Pedro II e a Imperatriz Thereza
Christina vm a Curitiba.
Por detrs das festas, do beija-mo, do derrame de comendas, do Te Deum, dos bailes imperiais, da visita
s colnias, transpiram os anseios econmicos do Paran que comeava, os primrdios da nossa indstria, a
consolidao da agricultura, o apogeu da elite ervateira, os fundamentos do corredor de exportao que a
ferrovia Curitiba-Paranagu, a consolidao da imperial poltica de imigrao responsvel maior pela nossa
herana cultural multivariada (CARNEIRO, s.d., [p. 1]).
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diferentes datas (CARNEIRO, s.d., [p. 4]). Sua visita influi grandemente para o desenvolvimento
artstico de Curitiba, pois o Paran passava a existir como unidade poltica adulta que merecera
a visita imperial (BINI, 1986, p. 40).
Mariano de Lima e sua Escola (a arte est nos cenrios dos teatros)
nessa atmosfera de entusiasmo, que, em 1884, chega a Curitiba o cengrafo, pintor e
escultor portugus Mariano de Lima (1858-1942). Vem ao Brasil a trabalho, inicialmente para
o Rio de Janeiro e, logo, contratado para executar a decorao e os cenrios do Theatro So
Theodoro (depois, Theatro Guayra), em Curitiba. Ao final do seu contrato, cria, em 1886, a que
vem a ser a Escola de Belas Artes e Indstrias10. Apesar de sinais de uma atividade pictrica de
porte razovel no Paran, pelo menos a partir da dcada da emancipao, seja em realizaes
de indivduos isolados, seja em colgios como ocorrera em Paranagu, 1886 surge como marco
inicial da pintura na capital.
O fato tem ampla repercusso na imprensa, o engajamento de muitos homens da cultura da
cidade como seus professores, um nmero expressivo de alunos, proporcionando-lhes formao
de qualidade. Curitiba a terceira cidade no Brasil a ter uma escola de arte, atrs apenas do Rio
de Janeiro e Salvador (ARAUJO, 2006, p. 41). A Escola desempenha um papel decisivo tanto no
desenvolvimento das artes plsticas e da msica quanto no impulso que leva fundao da futura
Universidade do Paran.
So dois os modelos que servem de base para esse empreendimento. De um lado, as escolas
de ensino profissional do interior da Frana e, principalmente, o Conservatrio Nacional de Artes
e Ofcios de Paris, com a aplicao das cincias ao trabalho industrial. De outro, o Liceu de
Artes e Ofcios do Rio de Janeiro. A Escola divulga o ensino acadmico11 e adota o sistema de
premiaes (BAPTISTA, 1988, p. 6).
Mariano de Lima pinta retratos a leo de vrias personalidades da aristocracia e da liderana
da cidade. Entre os alunos de Mariano destacam-se Maria da Conceio Aguiar de Lima
com quem se casou e que o substitui na direo da Escola, quando abandona a cidade seu
trabalho de execuo acadmica tratado em detalhes (BINI, 1986, p. 41); Benedito Antonio
dos Santos Galvo, de quem se conhecem a escultura em gesso A gargalhada e outras peas,
inclusive desenhos a bico de pena com os quais ilustra o jornal O Paran Ilustrado (ARAUJO,
2006, p. 47). na Escola de Mariano que se originaram os mais expressivos escultores atuantes
no Paran, na primeira metade do sculo XX, entre os quais se destacam Joo Turin e Joo
Zaco Paran (Jan Zak).
743
Alfredo Andersen, considerado o pai da pintura paranaense, comentou anos mais tarde,
em entrevista imprensa, sobre a impresso que lhe causou uma visita feita em 1893 Escola
de Mariano de Lima: visitei a Escola de Artes e Indstrias, dirigida pelo Sr. Mariano de Lima,
impressionando-me bem essa ligeira visita. Encontrei as diferentes classes cheias de alunos:
crianas, moas, rapazes, e homens, todos trabalhando na melhor ordem. [...] Essa breve visita
fez de mim um admirador do Paran (DICIONRIO histrico-biogrfico... 1991, p. 256).
Um dos ex-alunos de Mariano de Lima, Paulo Ildefonso DAssumpo, depois de
continuar seus estudos no Rio de Janeiro, volta e torna-se professor da Escola de Mariano. Poucos
anos depois, passa a denegrir o antigo professor e sua escola, talvez como estratgia para obter
apoio, alunos e patrocnio para a criao do seu Conservatrio de Belas Artes, inaugurado em
1894, e que, mais tarde, passo a chamar-se Escola de Aprendizes e Artfices12. Isso causa o
declnio e o posterior fechamento da Escola de Mariano de Lima que, na sua fase final, dirigida
por Maria Aguiar de Lima.
A PRIMEIRA METADE DO SCULO XX
ALFREDO ANDERSEN E A PINTURA (a arte est nos atelis)
O pintor noruegus Alfredo Andersen (1860-1935) estuda em Oslo e em Copenhagen,
Dinamarca. Filho de um comandante de navios, aps viajar por toda a Europa, frica, ndia e
Estados Unidos, chega ao Brasil em 1871, permanecendo algum tempo em Cabedelo, Paraba,
e retorna, em seguida Noruega. Em 1893, empreende uma segunda viagem ao Brasil. Retido
em Paranagu por avaria do navio em que viajava, acaba residindo por cinco anos nesta cidade
do litoral paranaense e casando-se com D. Ana de Oliveira (PERODO DE..., 2001, p. 24).
Andersen j havia estado em Curitiba, em 1893, quando conheceu a Escola de Belas Artes
e Indstrias de Mariano de Lima, expressando sua admirao por ela. Em 1903, convidado
para pintar alguns retratos de famlia, a pedido de um amigo aceita alguns alunos. Logo faz
vrias exposies, pinta outros retratos e vende vrios quadros, fixando-se definitivamente na
cidade. Araujo (1980, p. 15) comenta que quando ele chega ao Paran, encontra o caminho
aberto por Mariano de Lima. [...] Em 1902, desgostoso Mariano de Lima deixa definitivamente o
Paran, cabendo a Andersen a misso de lanar os alicerces da criao de uma escola de pintura
paranaense, baseada no objetivismo visual13 que, sem estar presa a um formalismo acadmico,
oscila entre o realismo14 e o impressionismo15. Logo d aulas particulares de desenho e pintura,
criando uma espcie de escola livre no seu ateli, onde se renem inmeros jovens, alguns dos
quais se tornam grandes nomes da arte. Leciona ainda na Escola Alem, no Colgio Paranaense
744
e na Escola de Belas Artes e Indstrias, ento dirigida por Maria Aguiar de Lima (BINI, 1986,
p. 42).
Como pintor, Andersen dedica-se s paisagens, aos retratos e s cenas de gnero. nestas
que seus ideais humanitrios so mais claramente percebidos, pois retrata pessoas comuns em
suas prticas laborais, inseridas em uma paisagem ou em um contexto familiar, nos quais valoriza o
meio ambiente e as caractersticas da vida cotidiana. Nos seus retratos, percebe-se a sua maestria.
De modo geral, trabalha intensamente o claro-escuro, to caro aos pintores nrdicos (ARAUJO,
2006, p. 45).
Um dos seus maiores ideais criar uma Academia de Belas Artes, de ensino superior, ou
uma Escola Profissional de Desenho para Operrios, profissionalizante, ambas nos mais atuais
modelos europeus de ento, gratuitas, subsidiadas pelo governo. Foram muitas as promessas de
vrias autoridades nesse sentido, com o fito de o manterem no Paran, todas elas no cumpridas.
No entanto, sua pintura de caractersticas realistas-impressionistas marca a arte paranaense
por quase meio sculo e ele passa a ser chamado pai da pintura paranaense, tanto por
trazer ao Paran uma linguagem, na poca, revolucionria na pintura, quanto pela qualidade
artstica alcanada pelos seus discpulos. Dentre eles, destacam-se Lange de Morretes, Joo
Ghelfi, Estanislau Traple, Waldemar Curt Freyesleben, Gustavo Kopp, Theodoro De
Bona, Maria Amlia DAssumpo, Inocncia Falce, Isolde Htte, Augusto Pernetta,
Silvina Bertagnoli, Thorstein Andersen, Jos Daros. Todos, apesar de muitos estudarem
posteriormente na Europa, mantm a pincelada quase impressionista andersista, apoderandose, uns mais, outros menos, de elementos do expressionismo. Estes, ao lado de Turin e Zaco
Paran, so os nomes que predominam nas artes visuais em Curitiba nas primeiras dcadas do
1900, desenhando, pintando, esculpindo e ensinando (ARAUJO, 1980, p. 24-27).
Afora Andersen, j a partir dos anos 20, outros artistas da cidade ensinam pintura, desenho
e escultura em seus prprios atelis, ministrando cursos livres. Entre eles, Lange de Morretes e
mais tarde Guido Viaro. So estruturas informais de ensino da arte, que renem grande nmero
de interessados e de intelectuais.
PRINCIPAIS DISCPULOS DA ESCOLA DE MARIANO DE LIMA
O desenho de humor (a arte est na caricatura)
Depois de Joo Pedro, O Mulato, de incios do sculo XIX, apenas em 1870 que surge
o primeiro e efmero peridico humorstico e de caricaturas16 da Provncia, O Barbeiro, de
745
iniciativa de Joo Antonio de Barros Jr., que critica os poderosos da cidade, todos arraigadamente
conservadores e escravocratas. Dada a imensa reao, foi obrigado a fech-lo, lanando o jornal
Operrio da liberdade, primeiro peridico republicano do Paran e um dos primeiros do Brasil
(CARNEIRO, 1975, p. 28-31).
Somente cerca de duas dcadas depois o Paran tem outro caricaturista: o exmio litgrafo e
proprietrio da Litografia do Comrcio, que trabalhava, entre outros, para o Baro do Serro Azul,
na rotulagem dos produtos de erva mate, Narciso Figueras. Professor da Escola de Mariano
de Lima, leva seus alunos para estagiarem na sua empresa, o que explica, o surgimento de
toda uma gerao de excelentes caricaturistas e ilustradores em Curitiba, no final do sculo XIX
e incio do sculo XX (ARAUJO, 2006, p. 42), como Mariano Antonio de Barros [Mario
Barros] (Heronio) e Aureliano de Azevedo Silveira (Sylvio), Manoel Azevedo Silveira Netto
(Silveira Neto). De fato, a arte de humor, em Curitiba, tem uma primeira fase de ouro de final do
sculo XIX at a dcada de 1930. Outros caricaturistas da poca so Coelho Junior, Darvino
Saldanha (K. Brito), Olvio Dietzsch (Olvio), Otvio Guimares (O. Guimares), Pedro
Macedo (Macedo), Euclides Chichorro (Flix, Paulo), J. Lopes (Sepol), Simeo, Heltius e
Columeno, entre outros, alguns relacionados Escola de Mariano de Lima, outros no.
Com a Primeira Guerra Mundial, acontece um hiato na histria da caricatura no Paran,
at 1921, quando Alceu Chichorro (Eloy) cria a revista O anzol. Alceu, um dos caricaturistas
at hoje mais conhecidos da poca, estuda na Escola de Artfices, dirigida por Paulo Ildefonso
DAssumpo, que, por sua vez, fora discpulo de Mariano de Lima. Seus personagens, Chico
Fumaa, Dona Marcolina, Tot, Tancredo, Pascoalino e Minervino, entre outros, fazem parte da
vida da cidade. Suas charges tm sabor poltico e criticam a sociedade e a economia de modo
satrico. So usadas, tambm, para a publicidade de certas empresas e produtos (CARNEIRO,
1975, p. 51-55; BIA, 1994, p. 1).
A escultura (a arte est nos monumentos)
Joo Zaco Paran (Jan Zac) (1884-1961), polons naturalizado paranaense, adota o
nome Joo Zaco Paran, em homenagem a esse Estado. Frequenta a Escola de Mariano de
Lima a partir de 1898. Nestes anos produz muitos trabalhos e bustos de madeira de grande
valor expressivo, uma vez que representam o homem popular e nativo. Depois de estudar no
Rio de Janeiro, em Bruxelas e em Paris, fixa-se nesta ltima, lecionando na Escola Nacional de
Belas Artes. Tem esculturas em vrios museus europeus e em vrias cidades do mundo (BINI,
746
1986, p. 41-42). sua a esttua O Semeador, colocada na Praa Eufrsio Corra, em Curitiba
homenagem do imigrante polons cidade que o acolheu.
Joo Turin (1878-1949)17, escultor retratista e animalista, depois de estudar na Escola
de Mariano de Lima, estuda em Bruxelas e vive em Paris at 1922. Novamente radicado em
Curitiba, cria o Movimento Paranista (ser tratado em item especfico), com Lange de Morretes e
Joo Ghelfi (BINI, 1986, p. 41-42). Tem obras expostas em vrios pases. So suas as esculturas
Luar do Serto, colocada em frete Prefeitura de Curitiba, e Tigre esmagando a cobra, na entrada
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Paran. de sua autoria a obra Frade lendo, doada
pelo Governo brasileiro ao Papa Francisco, em visita ao Brasil em julho de 2013. A obra, que
mede 44 cm de altura, 18 cm de largura e 26 cm de profundidade, como todas as esculturas de
Turin, existe a partir do original em gesso. da segunda metade da dcada de 1930, e fundida
em bronze pela primeira vez em 2012.
PRINCIPAIS DISCPULOS DE ALFREDO ANDERSEN (a arte est nos museus, nas galerias de
arte e nas praas)
[Frederico] Lange de Morretes (1892-1954) estuda com Andersen, que o faz continuar
sua formao artstica na Alemanha, onde estuda, tambm, Zoologia. Por ter um nome comum
naquele pas, adota seu pseudnimo, em homenagem cidade em que nasceu. Retorna ao Brasil
em 1920, fixando-se em Curitiba. Em sua casa mantm um ateli, em que d aulas gratuitamente
de desenho anatmico, pintura e escultura. Vrios de seus alunos seguem carreira artstica, entre
eles Arthur Nsio, Kurt Boiger, Augusto Conte e Erbo Stenzel (SALTURI, 2007, p. 28). o mais
carismtico dos discpulos de Andersen, o que explica sua atuao na criao e na liderana
do paranismo nas artes visuais, ao lado de Turin e Ghelfi. Desgostoso com a poltica, transferese para So Paulo, onde se dedica paleontologia e malacologia. Ao retornar a Curitiba em
1946, continua seu trabalho cientfico no Museu Paranaense, com relevantes pesquisas sobre os
sambaquis, ao lado de Joo Jos Bigarella e outros. Em sua coleo esto preservados importantes
exemplos da arte pr-histrica paranaense (BIGARELLA, 2011). Um dos fundadores da Escola
de Msica e Belas Artes do Paran (Embap), em 1948, passa a lecionar Anatomia e Fisiologia.
Considerado grande paisagista e retratista, seu papel na formao de novos artistas e no paranismo
essencial para a histria da arte no Estado.
Joo Guelfi (1890-1925), um dos primeiros alunos de Andersen, falece em um acidente,
prematuramente. Bomio, brincalho e irreverente, alm de pintor, escultor e crtico de arte,
sob o pseudnimo de Ghibellinus. De acordo com Lange de Morretes (1953, p. 168), um
747
sonhador e tambm um esprito altamente crtico e, talvez, at mordaz. Com Turin e Lange de
Morretes, cria o paranismo nas artes visuais. Estuda em Paris entre 1913 e 1914 e, ao voltar,
transforma seu ateli em um ponto de encontro de artistas e intelectuais. Segundo Freyesleben,
traz entre suas obras uma srie de homens e mulheres quadrados, o que indica ser ele um dos
primeiros cubistas18 brasileiros. Grande parte das suas obras destruda, talvez por sua viva
(ARAUJO, 2006, p. 52), mas as que restam mostram uma viso integrativa do conjunto, do jogo
de cores e da iluminao (PINTORES..., 2001, p. 27). Com Gustavo Kopp e Annibal Schleder,
tambm discpulos de Andersen, completa o trio romntico da juventude bomia dos anos 1920
em Curitiba (ARAUJO, 2006, p. 53).
Estasnislau Traple (1898-1958) inicia seu aprendizado na arte com o litgrafo alemo
Alexander Pohl, na Impressora Paranaense. Em 1916, frequenta as aulas de Andersen, revelandose aptido para o retrato, a figura humana e a paisagem. Aos poucos, deixa a litografia e vive da
pintura e do ensino. No ateli que mantm com De Bona, tambm frequentado por Freyesleben,
Kopp e outros, era comum pintarem retratos uns dos outros. Em 1931, muda-se para Florianpolis,
retornando em 1948 para lecionar Desenho e Pintura na recm criada Embap. Continua com
sua escola particular de desenho e pintura, por onde passam inmeros novos talentos, como
lvaro Borges, Jefferson Cesar, Werner Jehring e outros (PEDROSO, [2006?], p. 13-14). Para
Araujo (2006, p. 52), dentre os alunos de Andersen o melhor retratista e o mais prximo do
realismo visual do mestre.
Waldemar Curt Freyesleben (1988-1970) um grande paisagista, retratista e autor de
vrios autorretratos. Para Joo Osrio Brzezinski (In JUSTINO, 2002, p. 29), o grande devotamento
a Andersen, mantido at o fim dos seus dias, no o impediu de se tornar o mais original de seus
discpulos. Algumas obras demonstram finura dos matizes e exatido de propores, outras
revelam equilbrio entre a simplicidade do desenho e euforia no empastamento, com uma liberdade
de tons, cujo exemplo maior a clebre pincelada verde, que leva a consider-lo precursor do
expressionismo19 no Paran. Um dos fundadores da Embap, lecionada Perspectiva e Sombras.
Jos Daros (1898-1981) inicia seu aprendizado artstico na Escola de Aprendizes e
Artfices e depois, com Andersen. Em 1918 parte para o Rio de Janeiro, onde se torna grande
amigo de Portinari e frequenta o ateli de Oswaldo Teixeira, de quem recebe orientao. Logo,
em Ponta Grossa, assume a cadeira de Desenho no Ginsio Regente Feij, tendo exercido grande
influncia local (ARAUJO, 2006, p. 53).
Theodoro De Bona (1904-1990), depois de aprender com Andersen, estuda em Veneza
por dez anos, participando dos movimentos artsticos da poca. Paisagista e retratista fundador
da Embap, onde leciona Pintura. Para Araujo (2006, p. 53), supera a simples classificao de
748
discpulo de Andersen para projetar-se como um dos mais significativos artistas paranaenses do
sculo XX. [...] Ao regressar para o Brasil em 1936, sua pintura considerada avanadssima para
a poca, [...] vibrante de movimento e respirando uma liberdade inslita, j neo-expressionista20.
Justino (2002, p. 23) afirma: De Bona nunca se permitiu a diluio da forma; a destruio
insinuada sem contudo romper a estrutura. visvel na sua obra a vontade de uma arte
universal. [...] A vontade de ultrapassar o efmero assemelha-se paixo cezanniana pela arte
duradoura, universal e singular, reconstituio da forma, todavia distante do acadmico.
PRINCIPAIS DISCPULOS DE LANGE DE MORRETES
Lange de Morretes descrito como muito preparado, grande e apreciado lder,
temperamental, que defende com fora e vigor os ideais paranistas. Assim, no de estranhar que
sua volta, tanto na escola que criou quanto na Embap, se agrupem em torno dele vrios jovens
artistas. Entre seus discpulos esto Arthur Nsio, Oswald Lopes, Augusto Conte, Kurt Boiger,
Erbo Stenzel e Waldemar Rosa.
Arthur Nsio (1906-1974) frequenta o ateli de Lange de Morretes, de 1924 a 1928, e o
de escultura, de Joo Turin, entre 1925 e 1927. Em 1928, vai estudar na Alemanha com os mais
renomados animalistas21 da poca, alm de cursar pintura de figuras, nus, paisagens e naturezamorta. Faz sucesso como artista naquele pas, mas perde tudo durante a Guerra, retornando ao
Brasil, em 1946. um dos fundadores da Embap, mas, por conta dos documentos perdidos na
Guerra, s comea a lecionar nessa instituio em 1964. Dedica-se especialmente pintura de
animais: cavalos, bois e vacas, galinhas, patos e perus, em um contexto buclico da paisagem com
seus lagos, campos, montes, matas, ou no jardim da sua casa, vez ou outra com a presena do
pinheiro. O que pinta surge por inteiro. To real que assusta, to belo que afronta, to simples
que comove. Ao escolher animais como tema, empenhou-se e, compreend-los verdadeiramente
(SANTOS, in JUSTINO, 2002, p. 32). Torna-se um dos mais importantes pintores animalistas do
Brasil. Suas obras refletem uma cultura pictrica romntico-naturalista, com certas caractersticas
impressionistas (ARAUJO, 2006, p. 55). Com sua pincelada nica, mistura as tintas na prpria
tela, o que confere leveza, volume e espontaneidade s obras.
Oswald Lopes (1910-1964), filho de Cndido Lopes, um dos fundadores da imprensa no
Paran, tem formao cultural de peso e afinado com as questes do seu tempo. Pintor e escultor,
estuda com Andersen, Lange de Morretes e Turin, adotando tanto o realismo/ impressionismo
dos seus mestres pintores quanto o paranismo, de Morretes e Turin, refletindo em suas opes
temticas e em sua experincia pessoal, as ideias do movimento paranista (PINTORES..., 2001).
749
Junto ao pinheiro, sempre presente em suas telas, retrata o casario dos imigrantes nos arredores da
cidade. Fundador da Embap, leciona Desenho Geomtrico e, mais tarde, Modelagem (ARAUJO,
2006, p. 55).
Erbo Stenzel (1911-1980), descoberto por Lange de Morretes, segue para o Rio de
Janeiro para estudar escultura, tornando-se assistente de Zaco Paran. Quando Turin falece, volta
a Curitiba para ministrar Escultura, na Embap. Porm, pela falta de espao para um ateli assume
a disciplina de Anatomia Artstica (ARAUJO, 2006, p. 102-103). Em 1952, convidado por
Bento Munhoz da Rocha Neto para projetar um monumento em comemorao ao Centenrio da
Emancipao Poltica do Estado, que construdo na Praa Dezenove de Dezembro, em Curitiba.
O homem que d um passo frente (de 8 metros de altura e 70 toneladas) representa o Paran,
destacando-se dos demais estados. Atrs dele, um obelisco e um painel horizontal em baixorelevo, que conta a histria do Estado (o outro lado recebe painel de Poty). A figura feminina,
Justia, foi projetada para o Tribunal de Justia, mas, hoje, est na praa com as demais peas.
Por no pertencer ao mesmo grupo, flagrante a diferena de tamanho entre as duas figuras.
Porm, todas as partes do conjunto so obras monumentais, de carter sinttico, inspiradas na
arte egpcia.
OUTROS ARTISTAS ESTRANGEIROS ATUANTES NO PARAN DE 1900 A 1950
Outros artistas, na maioria alemes, mas tambm italianos, portugueses e poloneses
radicam-se no Estado na primeira metade do sculo XX. Tm atuao relevante na histria da
arte paranaense e, conforme Araujo (2006, p. 56-59), esto ligados ao objetivismo visual realista/
impressionista. Entre eles, Hermann Schiefelbein, Guilherme Matter, Egidio Tonti, Pedro Macedo,
Joo e Genee Woisky, Czeslaw Lewandowski e Emma e Ricardo Koch.
Dentre eles, destaca-se Hermann Schiefelbein (1885-1933), um dos maiores nomes da
pintura no Paran, ao lado de Andersen e Viaro (FERREIRA, 2006, p. 36), estrangeiros como
ele. Estuda na Alemanha, especializando-se em desenho de animais. Emigra para o Brasil devido
Guerra, radicando-se em Porto Vitria, prximo a Unio da Vitria. Com uma pincelada mais
livre, trata a natureza com fluidez, transparncia, sensibilidade e sutileza (ARAUJO, 2006, p.
57). Para Justino (1986, p. 70), um pintor seguro, trabalhando com igual competncia a
paisagem e os animais e, em algumas obras, deixa transparecer uma larga maneira de ver, obtida
atravs de pinceladas soltas.
750
O PARANISMO
Regionalismo: um elemento novo e revolucionrio (a arte est nos mveis, nas molduras,
nas colunas, nas fachadas das casas, nas capas de revistas)
A dcada de 1920 o auge da visibilidade do movimento paranista, uma onda regionalista
que alcana todos os setores da sociedade curitibana. Desencadeado na literatura, por Romrio
Martins22, consiste na valorizao do genuinamente paranaense, especialmente o ndio, suas
lendas, o pinheiro e o pinho. fruto de uma reao contra a cultura estrangeira colonizadora
vigente. Nas artes plsticas, seus maiores representantes so Ghelfi, Turin e Lange de Morretes.
Alm deles, empresrios como Joo Groff, da revista Illustrao Paranaense, lutam por essa
ideologia e por esse estilo.
Araujo (1980, p. 25) afirma ter sido Ghelfi o inspirador do Estilo Paranista nas artes
plsticas, adotando motivos da regio como as araucrias, o pinho, os rostos de caboclos e a
paisagem paranaense como temas. Mas Turin, at o fim da sua vida, afirma ter sido ele o idealizador
desse novo estilo arquitetnico que descarta ornamentos de tradio europeia, substituindo-os por
elementos da vegetao local nas fachadas e do interior de casas. Elisabete Turin (1998, p. 44)
comenta que, ainda na Itlia, Turin j pensa em um estilo genuinamente paranaense, tendo o
pinheiro como inspirao. Ao regressar a Curitiba, em um encontro dele com Lange de Morretes
no ateli de Ghelfi, que este, sempre entusiasmado e sonhador, tomou de um pedao de carvo e
na parede do seu ateli traa, do tronco do pinheiro, um fragmento de fuste, sobre o qual compe
um grupo de pinhas como capitel (MORRETES, 1953, p. 168), concretizando a ideia de Turin.
Alm do pinheiro, cone do paranismo, outros elementos da flora paranaense, entre os quais a guabiroba, a
pitanga, o maracuj, o caf e o mate, fazem parte do estilo paranaense. Animais e ndios tambm se incluem.
Alguns [dos meus] projetos em que figuravam essa preferncia como a decorao do Salo Paranaense do
antigo Clube Curitibano na Rua XV de Novembro, a casa do Dr. Leinig, na Rua Jos Loureiro e a casa-ateli
do artista, na Rua Sete de Setembro no foram preservados (TURIN, 1998, p. 44).
Turin executa inmeras esculturas em que retrata onas da regio, painis com a presena
de cenas indgenas ou com motivos paranaenses, colunas com capitis de pinhas e pinhes, alm
de bustos e figuras de pessoas representativas da sociedade de ento. Afirma: Quantas vezes
ouvi dizer por pessoas de destaque e cultas, que acham banalssimas as decoraes de nossa
flora e preferem essas ornamentaes deturpadas e antiqussimas da Europa. Todo povo que vive
copiando no pode amar a terra em que vive porque vive escravo espiritualmente de outros povos
(TURIN, 1998, p.123).
751
So de Lange de Morretes estudos sobre a estilizao da pinha e do pinheiro, com base nos
quais at a atualidade se veem desenhos em caladas de Curitiba:
Centenas de pinhes foram estudados em suas propores, at que uma bela noite me foi dado fix-las
numa frmula geomtrica, saindo assim do empirismo em que at ento se encontrava a nossa ornamentao
paranista. Finalmente tinha conseguido o que, a meu ver, era de utilidade imediata. De posse do segredo
desdobrei a frmula para a forma plana e ornamentei-a com a caruma23, obtendo assim a sequncia que
fornecia os elementos para serem aplicados nos mais diferentes ramos da arte aplicada24 (MORRETES, 1953,
p. 224).
752
local, de uma conscincia nativista. O Movimento Pau-Brasil tem conscincia de que, sim, a
herana cultural brasileira sobretudo de pas colonizado, isto , europeia, mas que, em vez de
simplesmente copiar os modelos daquele continente, devemos nos apropriar e nos alimentar
deles, para, ento traduzi-la nossa maneira, de acordo com a nossa realidade, nossa paisagem
social, cultural e geogrfica. Contudo,
enquanto So Paulo, na dcada de 20, experimentava a ordem intuitiva e conceptual, a imaginao sem fios
do futurismo, a ordem verbal no-discursiva do expressionismo, a rebelio sistemtica do surrealismo, o
no-senso do dad e a construo do cubismo, o Paran contava com os discpulos de Andersen Lange de
Morretes, Ghelfi, Kopp, Freyesleben, e outros, alm de Zaco Paran e Turin exercitando-se no expressionismo.
Manfredini apontava o cubismo e o futurismo como criaes fruto da decadncia: representam percalos
incipientes do aniquilamento moral e intelectual para que se precipita a sociedade do nosso tempo, numa
descida impossvel de conter (JUSTINO, 1986. p. 70).
Sabe-se, porm, que apesar da exposio a essas novas linguagens, tambm em So Paulo
eram poucos os adeptos a elas. No Paran, mantinham-se as tendncias impressionistas e prexpressionistas que, apesar de naturalistas, no so rigidamente acadmicas. Tm uma linguagem
prpria, caracterstica e, inicialmente, inovadora. No entanto, alguns artistas nessa poca, j
respiram outros ventos.
Ares de mudana
Para Araujo (2006, p. 79), dois artistas so especialmente importantes como precursores
do Modernismo no Paran, principalmente pelo impacto que suas obras causaram: Theodoro De
Bona e Bruno Lechowsky.
Bruno Lechowski (1887-1941), pintor polons, instala-se em Curitiba de 1926 a 1929.
Prximo Praa Zacarias, monta sua exposio porttil, uma grande barraca onde expe suas
obras e na qual se entrava com o pagamento de um ingresso, com direito ao sorteio de uma obra.
Participa de vrias mostras na capital e no interior com os jovens artistas locais, que, ao lado dos
intelectuais da poca, aplaudem e assimilam seu descomprometimento com a pintura acadmica
e seu ousado uso das cores e pinceladas.
Rapidamente se integra ao grupo bomio, aqui se demora e impressiona! Sua presena considerada quase
mgica, sendo suas obras vistas por todos, na poca, como revolucionrias em cores e na total liberdade de
interpretao da natureza. [...] Tudo leva a crer ter sido ele o causador do Pr-Expressionismo que se observa
em certos alunos de Andersen como Freyesleben , que at o fim da vida guardariam uma sensao do
profundo impacto que lhes causam as suas obras (ARAUJO, 2006, p. 79).
753
De Bona, ao retornar de Veneza, aps dez anos de estudos, realizou uma exposio dos
seus trabalhos feitos na Itlia, a qual, segundo Araujo (2006, p. 80), modificaria os destinos
da pintura paranaense. Sua obras respiram uma liberdade inslita para a poca, causando
profunda impresso nos espectadores, entre eles, Guido Viaro.
Guido Viaro (1897-1971) foi pintor, desenhista, gravador, escultor e professor italiano,
radicado em Curitiba a partir de 1928. Para Ferreira (2006, p. 36-39), sua fonte de inspirao
o ser humano e o que o rodeia, desenvolvendo na sua arte um humanismo social, com nfase na
subjetividade da figura humana. Para Ayala (1981, p. 82), suas figuras obedecem a um corte
quase escultrico e surgem iluminadas de uma dramaticidade contida. Num expressionismo
filtrado por uma conscincia pungente do real, ele observou a natureza humana, a paisagem, os
smbolos religiosos, sobrepondo a tudo a misso e a responsabilidade do homem frente vida. A
subjetividade a essncia da sua obra, o que o torna um dos mais importantes impulsionadores
do modernismo27 no Paran, conduzindo, anos depois, integrao da arte local s linguagens
modernas. Dalton Trevisan assim se refere a ele: A sua arte no um calmante de gua com
acar, um soco no peito! No tampouco uma saudosa lembrana de telas clssicas. Leonardo,
mais Renoir e um pouco de Van Gogh; aquilo que A. Gide queria que um livro fosse: um saco
cheio de sementes.
Como Lange de Morretes e Traple, Viaro cria uma escola e acaba interferindo no
comportamento do prprio artista: abre-lhe a cabea. O ateli de Guido Viaro ento frequentado
por Osvaldo Pilotto, Nelson Luz, Turin, Dalton Trevisan (JUSTINO, 1986, p. 72). lembrado
como professor e mestre de grande nmero de artistas de peso das geraes seguintes: soube
ser respeitado pelos alunos e companheiros, muitos dos quais dele receberam forte e duradoura
influncia artstica. Muitas lies de humildade, de amor ao trabalho e de uma constante pesquisa
constituem a saudvel herana deixada a todos ns pelo mestre (FERREIRA, 2006, p. 37).
A escolinha de arte e outras instituies de ensino de arte (a arte est na escola)
relevante o fato de Viaro fundar, em 1937, uma Escolinha de Arte no Colgio Belmiro
Csar, dez anos antes do movimento pelas Escolinhas de Artes, deflagrado em todo o Brasil. Cria,
tambm, o Centro Juvenil de Artes Plsticas, no subsolo da Biblioteca Pblica do Paran. A
Escolinha de Artes do Colgio Estadual do Paran (Curitiba) se deve sua atuao na instituio.
Alm disso, participa do grupo que funda a Embap, ministrando aulas de Desenho, Composio
e Pintura por vrias dcadas.
De outro lado, o trabalho artstico e pedaggico de Andersen fora to consistente que,
754
depois da sua morte seu filho, Thorstein, continua seu trabalho no ateli que passa a chamar-se
Casa de Alfredo Andersen e, depois, Museu Alfredo Andersen. Dentre os muitos professores
que por ali passam, esto Guido Viaro e Luiz Carlos Andrade Lima, muitos deles no mbito do
CAPE Curso de Artes Plsticas na Educao, um dos pontos altos da atividade educacional da
instituio. No mais, ela serve como laboratrio para significativo nmero de artistas e tericos28
(KIRDZIEJ, 1986).
Outras importantes iniciativas nos anos 40 que concorrem para a consolidao das artes
no Paran so a criao do Salo Paranaense de Belas Artes, em 1944, nos quais comeam a
surgir novos movimentos artsticos, com a presena, lado a lado, do acadmico e do moderno; e
da Escola de Msica e Belas Artes do Paran, em 1948.
Quanto ao modernismo, necessria uma ruptura com as linguagens tradicionais, o que
ocorre apenas em 1946, com o Joaquim, um jornal lanado por Dalton Trevisan.
Joaquim (a arte est na revista)
At a dcada de 1940, excetuando-se Viaro, prevalecem os alunos de Andersen e um ou
outro pintor de tendncia mais moderna, com produo isolada, como Isolde Htte. A real ruptura
com o passado tem como veculo a revista Joaquim, de propriedade de Dalton Trevisan, dirigida
por Erasmo Pilotto e cujo ilustrador Poty, com Guido Viaro como um colaborador. Em 1946
d-se a edio do seu primeiro nmero. O Joaquim surge, como reao contra a permanncia do
simbolismo e do paranismo, rompendo com a mitificao dos poetas simbolistas e da pintura
dos andersistas. Trevisan, o jovem contista,
reage contra a falta de sintonia da produo curitibana com as ideias modernas e prope a profilaxia das letras
locais com o fim do mito Emiliano. A rebeldia no campo das letras tambm ocorre no campo das artes
visuais. Poty e Viaro so propostos como a nova expresso do tempo, e a mesma revista defende o fim do
mito Andersen. [...] O esprito irreverente da revista inspira outras revistas de jovens brasileiros, e o grupo
ganha notoriedade, promovendo edies especiais dos textos de Dalton Trevisan, publicadas em forma de
cordel, enquanto Poty inicia sua carreira de gravurista e ilustrador capaz de reproduzir com traos fortes o
contedo denso dos textos do contista. Decididamente, aps Joaquim o panorama das artes em Curitiba j
no o mesmo, e o Paran encontra a expresso capaz de sintoniz-lo com o sculo XX (CAROLLO, 1993,
p. 34-35).
No mbito das artes plsticas, Araujo (1980a, p. 41) complementa: Viaro e Poty so
os mais autnticos Joaquins das artes plsticas paranaenses. Embora cronologicamente mais velho do que a
Gerao de 45 pela renovao que introduziu, pelo dilogo que soube manter com as novas geraes,
pelo vigor de sua obra Viaro at o fim da vida manteve-se mentalmente jovem. [] A ele o Paran deve
755
A revista editada apenas at 1948, mas nesses dois anos traz discusso os aspectos mais
novos do que acontece nas artes no Rio de Janeiro, em So Paulo e em Paris, oxigenando o debate
local e instituindo quase que uma revoluo cultural. As propostas modernistas introduzidas no
Paran por Joaquim permitem que elementos de contestao e de renovao se desdobrem em
uma linguagem modernista que se consolida em Curitiba na dcada de 1950, somando-se s
tendncias existentes.
Poty (1924-1998) (a arte est no jornal e no painel) o nome artstico de Napoleon
Potyguara Lazzarotto. Dedica-se ao desenho, gravura, ilustrao de livros e jornais e realizao
de grandes murais. Desenha desde pequeno. Aos 14 anos, publica histrias em quadrinhos no
jornal Dirio da Tarde; aos 15-16, ilustra contos de Edgar Allan Poe e faz retratos de amigos, a
lpis ou nanquim. Aos 18, vai estudar no Rio de Janeiro. Aos 19, convidado para ilustrar um
primeiro livro, seguido de muitos, inclusive de Carlos Drummond de Andrade, Dalton Trevisan,
Guimares Rosa, Gilberto Freire, Valncio Xavier e Jorge Amado. Tem 24 anos, em 1946, ao
criar Joaquim, com Dalton Trevisan, atuando como ilustrador, ao lado de Viaro. Nesse ano,
mudou-se para Paris, onde conhece a litografia e de onde envia suas contribuies para a Revista.
Retorna ao Brasil em 1948, trabalhando como ilustrador em vrios jornais do Rio de Janeiro.
Sua exposio ainda esse ano mostra uma linguagem plstica prpria e madura, acrescida a um
domnio tcnico invejvel (JUSTINO, 1986, p. 72).
O desenho o seu principal meio de expresso, contudo, pelas suas obras monumentais,
seus painis e vitrais presentes em vrias cidades do Brasil e da Europa, que mais conhecido.
Para seus murais emprega materiais como madeira, vidro, cermica, azulejo e concreto aparente.
Mantendo-se em uma linguagem figurativa-expressionista30, seu primeiro mural em azulejos
foi executado em 1953, na face oposta ao mural de Stenzel, na Praa Dezenove de Dezembro, em
Curitiba. Depois deste foram mais de oitenta obras e grupos de obras monumentais, a maioria em
Curitiba e no Rio de Janeiro. No Paran, h murais seus na Lapa, Foz do Iguau, Paranagu, So
Jos dos Pinhais. Maring e Londrina. Seu interesse pelos murais deve-se possibilidade de fazer
uma arte que esteja ao alcance de todos: quer estar perto das pessoas: Me interessa o mural,
assim como a gravura, pela oportunidade de alcanar bastante gente (POTY in: NICULITCHEFF,
1994, p. 106).
756
Tanto nas gravuras quanto nos painis de Poty, v-se um grande poder de sntese, exigncia
das histrias em quadrinhos, da gravura e da ilustrao, em que deixa o detalhe para apresentar o
essencial, de rpida leitura. Assim so as obras de Poty: desenhos estilizados, traos econmicos,
que mais sugerem que retratam, dando pistas por meio da combinao de elementos soltos, em
cuja relao est a narrativa. Nos seus murais, painis e vitrais, cria uma espcie de histria em
quadrinhos sem palavras, construindo o discurso sequencialmente ou pela simples justaposio
dos elementos. Em Curitiba, so de Poty os vitrais da Biblioteca da PUC-PR, da Sinagoga Maurcio
Frischmans e da Igreja Cristo Rei.
Suas obras dialogam com o espao em que esto inseridas: a histria da aviao, no
Aeroporto Afonso Pena, em So Jos dos Pinhais; So Francisco de Assis e a religiosidade, no
Hospital das Clnicas de Curitiba; a Curitiba antiga, na regio central da cidade; os tropeiros, na
Lapa; os trabalhadores da usina de Itaipu, em Foz do Iguau; o caf, na Rodovia do Caf; a gua
e seus trajetos, no mural para a Sanepar; e assim por diante.
Sua obra personalssima, plana ou em relevo, ainda que retratando com frequncia a
paisagem urbana, os tipos, os hbitos e os costumes populares de sua terra, veio a adquirir
uma incontestvel dimenso universal, dificilmente igualada pelo trabalho de qualquer outro dos
nossos grandes artistas (FERREIRA, 2006, p. 167).
A ESCOLA DE MSICA E BELAS ARTES DO PARAN (a arte est na universidade)
Andersen, desde sua chegada, prope ao governo do Estado, inmeras vezes, a criao de
uma escola superior de ensino de arte, tendo como modelos as mais importantes instituies da
Noruega e do Rio de Janeiro. Foram dcadas de lutas e promessas. Aps seu falecimento e o fim
da Era Vargas, porm, vrios intelectuais e artistas da cidade, acompanhados por instituies de
arte e cultura e liderados por Fernando Corra de Azevedo, conseguem que o sonho do mestre e
de tantos outros fosse concretizado. no Governo Dutra, que promove um verdadeiro Ciclo das
Universidades, que possvel fundar a to sonhada Escola de Msica e Belas Artes do Paran
(PROSSER, 2004).
Os artistas plsticos que se unem ao grupo que funda em 1948 a Embap so, na maioria,
ex-alunos de Andersen, com exceo de Viaro, que tem uma linguagem mais avanada. No
corpo docente da Escola, portanto, prevalecem os artistas cuja linguagem era, ainda, a realistatradicional. Alm de msicos e outros pesquisadores, participam desse momento os seguintes
artistas plsticos: Osvaldo Pilotto, Oswaldo Lopes, Erasmo Pilotto, Estanislau Traple, Joo Turin,
757
Arthur Nsio, David Carneiro, Lange de Morretes, Guido Viaro, Joo Woiski, Jos Pen, Theodoro
De Bona e Waldemart Curt Freyesleben.
Nesse contexto, Viaro quem aponta para uma nova maneira do fazer artstico. Bini (2010,
p. 38) comenta que apesar de Andersen e alguns de seus alunos j haverem demonstrado
certa inquietude com relao arte acadmica, indo em direo a caminhos inovadores, [...]
principalmente com Guido Viaro que tem incio a nossa modernidade. Ele e seus alunos que
comeam a dissoluo da forma convencional; o uso abstrato da cor; o primado da emoo e o
distanciamento da imitao.
Em um depoimento, Fernando Velloso (in ARAUJO, 2006, p. 86), aluno das primeiras
turmas da Embap, afirma:
Tnhamos em Viaro um professor extraordinrio. [...] Deu-nos aquele impulso, aquela palavra de ordem que
faltava, que era: Procurem, pesquisem, faam o que quiserem. Ele praticamente oficializava e incentivava
a quebra de tabus e a indisciplina contra certos professores que nada viam alm dos cnones fixos. Foi assim
que ns comeamos a procurar, desacomodando-nos dos figurinos da academia. [...] Esse inconformismo
culminou com o chamado Movimento de Renovao, que [...] foi um momento histrico na pintura paranaense,
da ruptura com um passado j esgotado em termos de criatividade, onde se buscou pesquisar novas formas
de arte.
Assim a mudana se consolida em Curitiba na dcada de 1950, com Erasmo Pilotto (ento
testa da Secretaria de Educao e Cultura), Poty, Viaro, o grupo Garaginha, de Violeta
Franco, Alcy Xavier, Fernando Vellozo, Paul Garfunkel, Loio Prsio, Previdi, Domcio Pedroso
e muitos outros. Nas dcadas seguintes, os movimentos da vanguarda se fazem sentir nas artes
visuais com os discpulos de Guido Viaro e outros.
O CICLO DO CAF E AS NOVAS CIDADES NO NORTE DO ESTADO
Araujo (2006, p. 37-38) comenta que, embora haja registros de cultivo do caf no Paran
desde incio do sculo XIX, apenas a partir de 1860 que a riqueza da terra roxa comea a
atrair mineiros e paulistas que se estabelecem no Norte Pioneiro depois chamado de Norte Velho.
Jacarezinho (a arte est nas catedrais e igrejas)
Nesse primeiro momento da ocupao do Norte no Paran, a partir de 1910, seu principal
centro Jacarezinho. Essa cidade abriga na sua catedral, um dos mais importantes conjuntos
de arte religiosa do Estado, composto por murais de autoria de Eugnio Proena Sigaud e
escultura do espanhol Blasco y Vaquet, executados entre 1954 e 1957.
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114 metros, e inspirada na palavra escandinava poustinikki, que se refere a algum que se afasta
do mundo para ficar mais perto de Deus.
Em Maring esto dois painis de Poty: um no Teatro Calil Haddad e o outro na entrada
principal do Shopping Cidade, Feito em 1992, mais uma homenagem a importantes personagens
da histria de Maring, principalmente aos pioneiros, quando estavam em atividades urbanas ou
ligadas ao caf (MAIA; BULGARELLI, 2011, p. 45). Outra artista que assina seis painis em
Maring Deborah Kemmer, nas paredes do viaduto da Av. Tuiuti: um resumo da histria da
cidade. (a arte est nos viadutos)
Esto em Maring algumas obras de Henrique Arago, como a da Igreja So Francisco
de Assis e o monumento O Desbravador, no qual, abandonando a figura tradicional do pioneiro
com um machado na mo, representa-o como o ser que tenta romper os limites, para alar voo
(ARAUJO, 2006).
Outros painis existentes em Maring so o do Frum de Maring e o do Atacado, de
Zanzal Mattar; o de Eder Portalha, no Colgio Santa Cruz; o painel de azulejos construdo em
1952 e que hoje est nos fundos do Mercado Real; o painel indgena na Associao Indgena de
Maring (Assindi) e os do supermercado Super Muffato, a maioria feita por artistas de Maring
ou da regio.
O ciclo do caf, assim, foi semeador de novas cidades, cada qual com suas prprias
caractersticas, hoje importantes centros de arte e de cultura.
NOVAS LINGUAGENS
AS DCADAS DE 1950 E 1960 transio e abertura
Nos anos 50, ocorre o que Adalice Araujo chama de Revoluo Modernista.
Na Embap, os alunos de Viaro, buscam novas maneiras de expresso artstica, mais sintonizadas
com o seu tempo e com outros centros, experimentando rupturas em direo abstrao.
Decisivo para as artes plsticas no Paran o ano de 1957, com a criao da Galeria
Cocaco de Arte, por Ennio Marques Ferreira e Manuel Furtado, cujo lema Revoluo. a
primeira no Paran a trabalhar com arte moderna, atraindo um grupo de artistas e intelectuais.
Seus principais objetivos: tornar a Cocaco uma galeria de grande expresso e reformular o
Salo Paranaense, at ento mais ligado arte realista-impressionista da pintura local at ento.
Devido sua grande cobertura jornalstica, pelas novas propostas e por um dos seus membros ser
jornalista do Dirio da Tarde, a Cocaco tem grande projeo e impacto (ARAUJO, 2006, p. 86).
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ar, como a alma dele (apud ARAUJO, 2006, p. 89). considerado por alguns crticos de arte
um Van Gogh paranaense.
Nilo Previdi (1913-1982) autodidata, frequenta o ateli de Viaro e, mais tarde, graduase na Embap. Desde logo, dedica-se gravura e pintura e seu nome est ligado a todos os
movimentos de renovao da arte no Paran. Apesar de incurses no abstracionismo35, mantmse na arte figurativa, com temas de carter social. A partir de um curso dado por Poty, funda
o Centro de Gravura, com Violeta Franco e Loio Prsio (JUSTINO, 1986, p. 71), dirigindo-o
por anos e difundindo sobretudo a xilogravura, por consider-la mais prxima realidade local
(ARAUJO, 2006, p. 89). nico paranaense a participar, em 1951, da I Bienal de So Paulo,
torna-se ainda mais admirado por todos.
Luiz Carlos Andrade Lima (1934-1998) inicia no ateli de Viaro, que o incentiva a
cursar a Embap, onde, mais tarde, leciona Paisagem. Sua arte de ntido expressionismo social e
religioso. Nilza Procopiak (2007, p. 12) o compara a Toulouse-Lautrec, pois ele resgata o esprito
da cidade, com seus tipos caractersticos, seus frequentadores de bares e praas, as pessoas que
andam pelas ruas, as mulheres que vagam na noite, os desamparados. Tambm pinta amigos,
familiares, conhecidos, paisagens e naturezas mortas, animais de estimao e obras de carter
religioso, altamente dramticas e autobiogrficas. Para Araujo (2006, p. 90), ele um socilogo
da arte, desnudando com intensidade a dor existencial comum a todos os homens. Nas suas telas,
a cuidadosa composio inicial substituda pela indisciplina do espao, de cuja penumbra saem
os seus personagens conquista da luz.
Helena Wong (1938-1990), nascida em Pequim, China, chega a Curitiba em 1951. Aos
cinco anos de idade, acometida por grave doena reumtica degenerativa que perdura at o
fim da sua vida. Porm, sua obstinao pela vida e sua paixo pela arte se fundem nas suas telas,
nas cores contrastantes, nos traos comprometidos apenas com a emoo e com a liberdade de
criar, sem limites nem regras. De acordo com Velloso (2005, p. 12), ela imprime na totalidade
da sua obra uma desordem proposital para tornar mais evidente seu objetivo. Evita a todo custo
qualquer compromisso com uma sequncia lgica da obra ou mesmo com uma temtica que
conduza o espectador a uma leitura coerente. Seus personagens e objetos so propositalmente
deformados. Busca a destruio para erigir sua obra a partir dos escombros por ela mesma
produzidos. Transita entre o figurativo e o abstrato, indiferente a esse falso dilema. (a arte
est no deformado)
Ida Hanemann de Campos (1922), aluna de Viaro na dcada de 1940, mantm-se
ligada a uma figurao lrica, chegando algumas vezes abstrao, quando os elementos
vegetais de suas paisagens se fundem com outros ou com figuras humanas criando imagens
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simblicas de intenso e vibrante colorido (BINI, 2010, p. 40). Ao mesmo tempo, revela
profunda identificao com a terra, num quase novo paranismo, encontrado em seus desenhos
sobre lendas indgenas, nas suas peas de tapearia e nos seus murais. Nas duas ltimas, capta
a natureza como um movimento contnuo, em expanso, servindo-se dos elementos-smbolos do
pinheiro, desde sua germinao, a pinha, o sol, at o prprio pinheiro, o galho, o pinho e a
gralha azul. Seus elementos criam uma composio ao mesmo tempo movimentada e equilibrada,
em que os diversos elementos so unidos por curvas e contracurvas, visveis inclusive nas espirais
que formam (ARAUJO, 2006, p. 94).
Leonor Botteri (1916-1998) tambm foi aluna de Viaro, de 1942 a 1945. Para Bini,
a sua obra de um expressionismo estranho e inquietante, uma compulso interior, algo que
deveria ficar escondido, mas que rompe as barreiras e escapa. Um expressionismo nostlgico
e no marcado pela Guerra como o expressionismo europeu, mas que anuncia a mesma crise
do sujeito. Seu marido, Joo Genehr foi hbil vitralista36 e mosaicista37. So dele os vitrais e
mosaicos do Santurio Nossa Senhora do Perptuo Socorro e da Parquia Cristo Rei, em Curitiba
(a arte est nos vitrais).
Violeta Franco (1931-2006) dedica-se pintura, gravura e ao desenho. Ex-aluna de
Viaro e de Poty, funda, em 1949, a Garaginha, em Curitiba, um centro irradiador do modernismo
no Paran. Em 1953, com Fernando Velloso, Alcy Xavier, Nilo Previdi e Loio-Prsio, cria o
Clube de Gravura do Paran, que dirige at 1956. Geometriza, colore e sobrepe formas de
flores e outros elementos da natureza, em uma linguagem lrica e espontnea, forte, vibrante e
esfuziante, enquanto brinca com a transparncia.
Paul Garfunkel (1900-1981), francs, radicado no Brasil desde jovem, capta o instante,
a luz, as atmosferas, em uma linguagem que permanece impressionista mas, nem por isso,
deslocada do seu tempo. Araujo, em artigo de 1974, escreve: O que mais nos emociona em sua
vasta produo so os croquis e manchas rpidas, em que nos transmite a impresso primeira das
coisas. Como os impressionistas, sobretudo um artista de instantneos, em cujos toques nervosos
de grande vibrao mgica, capta a crnica da vida cotidiana.
Fernando Calderari (1939) natural da Lapa. um dos introdutores da arte abstrata no
Paran. Seja na pintura, na xilogravura ou na gravura em metal, faz constantes aluses ao tema
das marinhas, que prevalecem quando volta figurao. Foi aluno, professor e Diretor da Embap.
Fernando Velloso (1930) comeou seus estudos com Viaro e, depois, graduou-se na
Embap. Sua opo pela arte abstrata definitiva e usa a cor como elemento primordial, com a
qual trabalha planos e formas.
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Domcio Pedroso (1930) tem como tema principal velhos casarios e favelas que, de to
diludos entre linhas e planos superpostos, tendem ao abstracionismo.
Joo Osrio Brzezinski (1941) nasceu em Castro. Irreverente, contestador, satrico e
crtico, usa em suas obras a colagem de tecidos, estopa, fios, usa letras e palavras, criando volume
sobre a superfcie plana. Usa tambm o plstico e elementos kitsch38 em obras tridimensionais.
Seus elementos verbo-visuais, muitas vezes, so apenas palavras soltas, que sugerem a falta de
sentido das coisas.
So ainda muitos os artistas que atuaram nessa dcada, seguindo diferentes tendncias,
como, por exemplo, Jair Mendes, Franco Giglio e Alcy Xavier (os trs expressionistas, mas
o ltimo com incurses ao cubismo), Ren Bittencourt e Luiz Paulo Gnecco (transitam entre
o expressionismo e outras tendncias), Thomaz Wartelsteiner e Mrio Rubinski (influncia
raionista39 e arte metafsica40), Sofia Dyminski, Loio Persio, Erico da Silva (lirismo41),
Antonio Arney (arte pop42, arte povera43 e objets trouvs44), Waldemar Roza (arte ecolgica45),
Jorge Carlos Sade (Arte conceitual), Cleto de Assis (Neoconcretismo46 e Arte Povera), Alberto
Massuda e Nelson Luz (o fantstico), entre muitos outros.
A DCADA DE 1970 exploso criativa (a arte est nas ruas)
A abertura para a arte contempornea no Paran se consolida somente na dcada de 1970,
com os Encontros de Arte Moderna, projeto de Adalice Araujo e coordenao e design grfico
de Ivens Fontoura, ambos professores da Embap, e organizao do Diretrio Acadmico Guido
Viaro, do qual participam Maria Jos Justino e Fernando Bini, entre outros, guerrilha sada
de uma escola tradicional de arte. Os Encontros permitiram a circulao de informaes e
a atualizao esttica [...], fizeram transitar em Curitiba crticos e artistas dos mais arrojados,
provocando debates, workshops e happenings47 (JUSTINO, 2010, p. 70-71).
Araujo (2006, p. 128-129) comenta que, em torno dos Encontros, formam-se dois grupos.
O primeiro utiliza propostas experimentais, produzindo as obras polmicas da dcada de 1970,
com performances48, happenings e instalaes49. Esses novos modos do fazer artstico nas artes
visuais transcendem a tela, o papel, a escultura, de certa maneira estticas no tempo e acabadas,
para incluir parmetros como espao e tempo, em que o espectador no apenas percorre a obra
(na instalao), ou assiste ao seu desenrolar (na performance), mas, inclusive participa dela (no
happening). Nessas obras ditas abertas, a percepo, a perspectiva, o olhar e a ao do observador/
ator interferem na obra de arte. Alguns artistas desse grupo so Ivens Fontoura, Fernando
Bini e Lauro Andrade.
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Outras tcnicas adotadas por esses novos interventores urbanos so o stencil, o lambelambe57 e o sticker58, muitas vezes chamados de ps-graffiti.
H quem faa distines entre o simples throw-up, o wild-style e os personagens, considerando
esses dois ltimos como graffiti-arte, diferenciao que, no mundo dos artistas de rua, no bem
vista, pois todos consideram arte desde a mais simples pichao at o graffiti mais elaborado.
Entre os mais importantes artistas de rua de Curitiba, na atualidade, esto PauloAuma,
Caf, Siel, Cimples, Dose, Thiago Syen, Cnico, Aus, Galvo, Heal, Bolacha, Case, Veio, Noodle,
Japen, Destak, Amen, Iago, Ser, Conde, Mes, Porqu e outros. Sua arte pode ser vista por toda
a cidade. O bairro Stio Cercado, no entanto, o que se poderia chamar de a maior galeria a cu
aberto de arte urbana da cidade, pois, alm das muitas paredes e muros disponveis, as pessoas
dessa parte da cidade valorizam essa arte.
Outras cidades so igualmente grandes polos da arte de rua no Paran: Farinha e Leboard
atuam em Ponta Grossa; Caro, Hugo e Napa, em Londrina; Skor, em Maring; Tody, em Cianorte;
Aaron, em Guarapuava; Tiago, em Unio da Vitoria, alm de muitos outros grandes artistas.
Para PauloAuma, o graffiti no um estilo de arte: um estilo de vida, uma cultura. Por
isso, graffiti somente o que se faz na rua, entre amigos, espontaneamente. Todo o restante arte
ou painis no estilo do graffiti. Mesmo ao se pretender trazer a arte de rua para dentro da galeria,
ali ela no mais graffiti: uma pintura no estilo do graffiti. Na sua essncia, o graffiti uma arte
que ocorre nos espaos urbanos, democrtica porque ocorre prxima das pessoas e do pblico
passante, para a qual no se precisa pagar ingresso: est ao alcance de todos e feita para todos.
Muitos dos artistas de rua que comeam a pintar ainda na adolescncia, ingressam em
cursos afins, como artes visuais, publicidade, design grfico e arquitetura. Mas, ao pintarem na
rua, muitas vezes sentem as mesmas emoes de quando pintavam sem autorizao, colocando-se
em situao de risco.
DOIS PERSONAGENS NICOS
Efignia Rolim (a arte est no papel de balas, nas roupas)
Nascida no interior de Minas Gerais, em 1931, vem com o marido e seus nove filhos para
trabalhar na lavoura do caf, no norte do Estado, at que a geada negra dizima os cafezais,
nos anos 60. Com a famlia, tornou-se uma retirante e passou a viver albergada em Curitiba.
Efignia, uma sobrevivente desse cataclismo, mesmo sem tecido nem mquina de costura, salvou
a si e a sua prole confeccionando roupas de papel (LOPES, in PINHEIRO, 2012, p. 13). Sua
matria prima? Papis de bala, coloridos e esvoaantes, que encontra pelas ruas.
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Para Lopes, a esttica de Efignia a da fome. Quanta ironia: seu design vale-se de um
papel que embala caramelos e chocolates. E ela deu um destino fashion aos lixos de Curitiba. [...]
Uma estilista popular! Alm de vestidos, saias, chapus e adornos, Efignia tece com seus papis
de bala bonecas, bichos de brinquedo e outros objetos. Sempre coloridos, sempre em meio aos
seus poemas e na sua simplicidade. Sua risada e sua dana ecoam todos os domingos no Largo da
Ordem em Curitiba, onde vende suas obras, na Feirinha, e tambm em Museus de vrias cidades
mundo afora.
O Gralha (a arte est no gibi)
No incio da dcada de 1940, na pacata e tradicional Curitiba, Francisco Iwerten criou
o Capito Gralha, super-heri que veio de um planeta de homens alados, emprestando seus
poderes aliengenas ao combate ao crime no Paran. Contudo, o personagem teve vida breve,
pois foram lanados apenas dois nmeros de suas aventuras.
Seu retorno ocorreu em outubro de 1997, em comemorao aos 15 anos da Gibiteca
de Curitiba, criada por Key Imaguire. Para confeccionar a revista, foram convidados vrios
quadrinistas da cidade, que decidiram homenagear aquele cone esquecido dos quadrinhos
curitibanos, o Capito Gralha. Criaram uma verso atualizada do super heri: Alessandro Dutra
bolou o visual; Gian Danton e Jos Aguiar, a histria; Antonio Eder, Luciano Lagares, Tako
X, Edson Kohatsu, Augusto Freitas, Dutra e Aguiar, encarregaram-se da arte, enquanto
Nilson Muller tratou de preparar a capa da edio. A partir de ento foram editados vrios
nmeros (AGUIAR, 2001, p. [3-4]).
Agora descendente do Capito Gralha original, o heri iniciante convive com as agruras
do combate s injustias e os dilemas da adolescncia numa metrpole que a Curitiba do
futuro. O personagem inspirado na gralha azul, pssaro tpico da regio e que esconde
o pinho na terra, para com-lo depois, contribuindo para a sua germinao. Os demais so
inspirados em pessoas ou cones locais, como a Polaquinha, Araucria, Caf Expresso, Homem
Lambrequim e outros.
UM MOSAICO ABERTO
Maria Jos Justino (2010, p. 7) sintetiza o estado atual da arte no Paran da seguinte maneira:
Os artistas paranaenses, nesses ltimos quarenta anos, reacenderam o princpio modernista do
direito de errar: todo experimentalismo est autorizado. Arte como pesquisa, jogo, contaminao,
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medida que novas descobertas arqueolgicas so realizadas, essa datao se amplia; por isso, passvel
de mudanas e aparece entre 10.000 e 7.000, dependendo da fonte.
Walter Neves (In: BIGARELLA, 2011, p. 9) afirma: os grupos humanos, em termos de subsistncia e
de organizao social, so geralmente classificados em bandos, tribos, cacicados e estados. Estes ltimos
tambm conhecidos como sociedades complexas. Com rarssimas excees, grupos que sobrevivem de
caa e coleta e que, portanto, no produzem comida, dificilmente ultrapassam o estgio de bando. [...] Os
bandos clssicos de caadores-coletores caracterizam-se, sobretudo, pelo acesso igualitrio aos recursos da
paisagem.
As trs sub-bacias que compem a Bacia do Iguau formam uma larga faixa ao longo da fronteira de Santa
Catarina, que vai da nascente, a leste do Estado, na regio de Curitiba, at as Cataratas do Iguau, a oeste,
isto , at a fronteira com a Argentina e o Paraguai.
A fotografia inventada no decorrer do sculo XIX, mas apenas no final desse sculo substitui a pintura
e a ilustrao na sua funo de retratar fielmente a realidade. Ao ser aperfeioada e difundida, essa nova
tecnologia e maneira de fazer arte acaba por libertar as artes visuais, que passam a representar no mais
o que o artista v, mas o que pensa ou sente, sua viso de mundo, o que colabora para o surgimento das
vanguardas artsticas.
Aquarela Tcnica de pintura em que os pigmentos so dissolvidos em gua em maior e(ou) menor
quantidade. Geralmente pintada sobre papel de alta gramatura, com o uso de pincis. O resultado uma
pintura transparente, com nuanas cromticas muito sutis, o que conseguido pelo domnio da quantidade
de gua e de pigmentos utilizada e pela mistura espontnea das cores no prprio suporte.
Romantismo Movimento artstico e filosfico que surgiu em finais do sculo XVII na Europa, perdurando
at as dcadas finais do sculo XIX. Ope-se ao racionalismo, ao classicismo e ao iluminismo, centrandose no indivduo em seu lirismo, subjetividade, emoes, sonhos, fantasias, paixes, religiosidade, intuio,
saudade, identificao com a natureza e com os nacionalismos. Na pintura, as telas apresentam muito
movimento, retratam uma realidade emocionalmente intensa e plena de sensibilidade. Outros termos
relacionados a ele: exagero, pessimismo, busca pelo extico, a felicidade jamais atingida.
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Litografia Tcnica de reproduo mecnica de uma imagem, a partir de uma matriz desenhada com lpis
gorduroso sobre uma superfcie plana de pedra calcria (lito = pedra). Depois de pronto e seco o desenho,
mediante um processo qumico a gordura fixada na superfcie da pedra. A entintagem feita com um
rolo e a tinta, tambm gordurosa, adere somente nas partes engorduradas. A impresso feita colocandose uma folha de papel (ou outro suporte) sobre o desenho e pelo uso de uma prensa. So possveis vrias
cpias de uma mesma matriz. J na xilogravura (xilo = madeira) e na gravura em metal as imagens so
obtidas por meio de sulcos feitos nas matrizes, depois entintadas e passadas na prensa. At o sculo XIX,
esses eram os meios mais comuns de reproduo de imagens.
10 Em 1886, sob a direo de Antnio Mariano de Lima, estabelece-se a Escola de Desenho e Pintura,
depois chamada Escola de Artes Industriais do Paran e, finalmente, Escola de Belas Artes e Indstrias
do Paran.
11 Academicismo Inicialmente, o termo referia-se a um mtodo de ensino da arte, ensinado nas academias
de arte europeias, que apresentava uma pedagogia fortemente sistemtica, hierarquizada, ortodoxa e
rgida, que desprezava a importncia da criatividade e da originalidade. Era calcada sobre a imitao da
natureza, mas com concepes, teorias e modelos pouco flexveis e que valorizavam os grandes mestres
e o passado. O termo academicismo tem, atualmente, uma conotao pejorativa e usado para indicar
tendncias retrgradas, retricas, artificiais, tecnicistas, ortodoxas, tradicionalistas ou conservadoras.
12 Sua escola, depois Escola Tcnica de Curitiba, depois Centro Federal de Educao Tecnolgica do Paran
e, hoje, Universidade Tecnolgica Federal do Paran.
13 Objetivismo visual relativo ao naturalismo, em que as artes visuais (especialmente ao desenho, a pintura
e a escultura) eram representao e imitao da realidade objetiva visvel.
14 Realismo Movimento que surge nas ltimas dcadas do sculo XIX, na Frana, em reao contra o
romantismo, que retrata os ricos, a nobreza, os grandes eventos e uma vida idealizada. Apesar de ainda
se filiar ao objetivismo-visual, tem como tema a vida dos pobres, dos camponeses, com seus problemas e
costumes. Queria-se mostrar a realidade tambm da pobreza e do homem comum.
15 Impressionismo Com base na pesquisa tica no campo da Fsica, o impressionismo prioriza a incidncia
da luz e das cores nas superfcies das coisas. Assim, comea por iniciar uma destruio da forma, que
j no contorno, recorte no espao, mas nvoa, diluio. Os impressionistas buscavam a natureza no
como os naturalistas como mediao tcnica (JUSTINO, 1986, p. 71).
16 Caricatura um desenho que retrata um personagem real, enfatizando ou exagerando determinadas
caractersticas peculiares a ela. Geralmente envolve humor ou crtica.
17 Datao de Elisabete Turin, pesquisadora e Diretora da Casa Joo Turin (TURIN, 1998, p. 16 e 40).
18 Cubismo Movimento surgido no incio do sculo XX, teve como principais expoentes Picasso e Braque.,
que segmentavam as figuras em vrias formas geomtricas sobrepostas e justapostas, com o objetivo de
adicionar movimento e ou tridimensionalidade imagem.
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c) um terceiro grupo, em que a parte pretende se incorporar ao todo. Esta corrente prope incorporar os
valores culturais universais. Nesse grupo destaca-se Mrio de Andrade e desta vertente que sair o
grupo que mais tarde criar o Servio do Patrimnio Histrico Nacional, o SPHAN, com Rodrigo Melo
Franco (PENNA, 1999, p. 152; e OLIVEIRA in: LORENZO et al. (Org.)., 1997, p. 191).
27 Modernismo e subjetividade Se compreendermos que o subjetivismo uma das principais caracterstica
da Arte Moderna, poderemos tambm facilmente entender a importncia de Guido Viaro para a evoluo da
Arte Paranaense (ARAUJO, 2006, p. 84). O Modernismo tender ao abstracionismo e diluio da forma.
28 Que a partir da experincia a recebida passaram a atuar em outras instituies, como a Universidade
Federal do Paran, a Escola de Msica e Belas Artes do Paran (depois, Unespar), a Faculdade de
Educao Musical do Paran (depois, Faculdade de Artes do Paran e Unespar) e o Centro Federal de
Educao Tecnolgica (depois, Universidade Tecnolgica Federal do Paran) (KIRDZIEJ, 1986).
29 Bugrismo Preferncia temtica relacionada representao do indgena, seus traos fisionmicos, sua
vida e seus costumes.
30 Linguagem figurativa Que tem como referncia o mundo real, visvel, mesmo que no o represente de
maneira detalhada e convencional. Pode ser naturalista ou estilizada, mas sempre se refere ao que se v no
mundo exterior. O impressionismo e o expressionismo ainda so figurativos, apesar de menos preocupados
com verossimilhana. Seu oposto seria linguagem abstrata, que trata de formas, cores, linhas, manchas,
sem referncia ao mundo natural.
31 Fantstico Arte baseada no mundo onrico, dos sonhos e dos pesadelos, da fantasia, particularmente
importantes para a arteno Romantismo, no Simbolismo e no Surrealismo. A arte fantstica celebra a
fantasia, a imaginao, o mundo do inconsciente, o grotesco.
32 Fauve (l-se fve) O fauvismo foi um movimento do incio do sculo XX, com influncias de Van Gogh e
de Gaugin. Seus artistas buscavam usar nos seus quadros cores fortes e contrastantes, de modo arbitrrio
(fauves = feras) e intenso. Criavam impulsivamente, libertando-se do real e desobedecendo s regras
tradicionais da pintura. A realidade deformada com a movimentao dos reflexos e dos retorcidos. O
novo esprito de sntese deixa de lado o desenho e a forma e cria contrastes e coloridos inexistentes na
realidade do mundo visvel.
33 Tachismo Estilo de pintura abstrata que se caracteriza por pinceladas vigorosas e espontneas, manchas,
pngos e escorridos (do francs, tache = mancha).
34 Conceitual Movimento de meados do sculo XX at a dcada de 1970, valoriza mais a ideia e as
concepes que envolvem certa obra, do que o produto finalizado. Sua inteno fazer as pessoas pensarem
e refletirem sobre um conceito, uma crtica ou denncia.
35 Abstracionismo Na arte abstrata h um distanciamento da representao, da pintura enquanto transcrio
de detalhes. Os abstratos trabalham em um nvel de construo do real, afastando-se da arte meramente
descritiva. [...] No exagero afirmar que a arte abstrata significa a plena autonomia da arte (JUSTINO,
1986, p. 71). Renuncia ao figurativo para trabalhar as relaes entre cores, texturas, formas e superfcies,
compondo a obra de modo no representacional.
36 Vitral Usado principalmente nas igrejas, composto de vidros coloridos que geralmente representam
cenas, personagens ou determinados smbolos.
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37 Mosaico uma obra formada por inmeras pequenas peas de pedra, pastilhas de vidro, seixos e outros
materiais que, formam uma figura ou cena sobre uma superfcie, geralmente plana. Atualmente feito de
outros materiais tambm, como plstico, papel, conchas, azulejos etc.
38 Kitsch Refere-se a uma arte que propositalmente de mau gosto e em forma de crtica, que usa de objetos
e cones comuns do cotidiano, no refinados, para se opor a uma arte de drama e melodrama.
39 Raionismo Estilo de arte abstrata russa, que procura uma arte que flutue para alm da abstrao, fora do
tempo e fora do espao, quebrando as barreiras entre artista e pblico, usando traos que veem como raios
dinmicos de cores contrastantes representando linhas de luz refletida e cruzamento de raios refletidos a
partir de vrios pontos.
40 Arte metafsica Representao de um mundo visionrio relacionado ao inconsciente, para alm da
realidade fsica e visvel.
41 Lirismo Exaltao de sentimentos poticos pessoais.
42 Arte Pop Vale-se de elementos tomados da moderna civilizao mecnica sobretudo produzidos em srie
em seu aspecto mais trivial de objetos de consumo (DORFLES, in ARAUJO, 2006, p. 110). Discute a
cultura de massa oriunda do cinema, da propaganda, de objetos de consumo gerados pela industrializao,
decorrentes das novas tecnologias que estavam invadindo o Ocidente como fruto direto da americanizao
(ARAUJO, 2006, p. 110).
43 Arte Povera Busca uma linguagem de conscientizao sobre o empobrecimento moral que subverte
a sociedade de consumo. Alm disso, busca uma linguagem emotiva mediante a adoo de materiais
pobres, em um mundo tecnologicamente rico (ARAUJO, 2006, p. 112).
44 Objets Trouvsv uso de objetos preexistentes cujo significado alterado quando usados como obra de arte.
Os objets trouvs tm sua identidade como arte derivada do sentido dado por eles pelo artista e a partir da
histria social do prprio objeto.
45 Arte ecolgica Pode ser tanto uma arte que trata de temas ecolgicos quanto uma obra que realizada
no entorno natural, usando como matria prima a terra, a areia, galhos, folhas, pedras etc.
46 Neoconcretismo Busca novos caminhos, afirmando que a arte no um mero objeto, incorpora
efetivamente o observador, que pode tocar a obra, percorr-la, tornando-se parte dela. Assim, introduz a
subjetividade onde havia apenas objetividade (o objeto em si).
47 Happening Combina artes visuais e um teatro sem texto nem representao. Nos espetculos, distintos
materiais e elementos so combinados de forma a aproximar o espectador, fazendo-o participar da cena
proposta pelo artista (o happening se distingue da performance, na qual no h participao do pblico). Os
eventos apresentam estrutura flexvel, sem comeo, meio e fim. As improvisaes o acaso e a espontaneidade
conduzem a cena em ruas, antigos lofts, lojas vazias e outros. O happening ocorre em tempo real, [...] mas
recusa as convenes artsticas. No h enredo, apenas palavras sem sentido literal, nem separao entre
o pblico e o espetculo. Os atores no so profissionais, mas pessoas comuns. O happening gerado
na ao e, como tal, no pode ser reproduzido. Seu modelo primeiro so as rotinas e, com isso, ele borra
deliberadamente as fronteiras entre arte e vida (ENCICLOPEDIA ITAU..., 2013).
48 Performance Forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da msica. Nesse
sentido, a performance liga-se ao happening (os dois termos aparecem em diversas ocasies como sinnimos),
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sendo que neste o espectador participa da cena proposta pelo artista, enquanto na performance, de modo
geral, no h participao do pblico (ENCICLOPEDIA ITAU..., 2013).
49 Instalao Surge, inicialmente, sob o ttulo de Arte Ambiental, vinculando-se aos environnements, que
nascem da necessidade de ultrapassar os limites objetuais para ocupar todo o espao. J as instalaes
contemporneas abrangem uma grande gama de conceitos. Todavia, em linhas gerais, podem ser
compreendidas como um conjunto de materiais, objetos e aparelhos de multimdia ocupando um espao
em relao a um conceito formulado pelo artista (ARAUJO, 2006, p. 115). O pblico deixa de ser apenas
um observador para participar da obra, andando por ela em ao seu redor, observando-a dos inmeros
ngulos possveis e, at mesmo, tocando-a e transformando-a.
50 Arte na rua Arte realizada por artistas e estudantes de arte, que optam por realiz-la em espaos
urbanos pblicos, envolvendo o transeunte, o homem comum, a comunidade como um todo. Ainda assim,
a arte da academia, da galeria e do museu, que vai para a rua, portanto, acontece na rua. Difere da arte
de rua, que feita por adolescentes e jovens sem formao artstica e que brota de maneira espontnea
e inorgnica, propositalmente fora do sistema institudo de artes. A arte na rua faz parte desse sistema. A
arte de rua, no e, na atualidade, envolve todos os estilos do graffiti, do picho ao graffiti-arte, passando
pelo stencil, pelo lambe-lambe e pelo sticker. Ambas so arte urbana e interveno urbana.
51 Graffiti A definio de graffiti, em sentido amplo, inclui qualquer tipo de inscrio, escrita ou desenho.
O modern graffiti, de origem estadunidense, envolve especialmente assinaturas (tags) e personagens.
52 Stencil Recorte em negativo em folha de papel, papelo ou plstico resistente, tambm chamado mscara,
colocado contra a parede a ser marcada. A mscara e a parede recebem um jato de tinta monocromtica,
deixando, mediante os recortes, a marca, os dizeres e o desenho, como um carimbo (PROSSER, 2010,
p. 49)
53 Arte de rua Ver nota 50.
54 Throw-up ou bomb Assinatura rpida, simples, com poucos traos, geralmente em duas cores e duas
dimenses (PROSSER, 2010, p. 52).
55 Bubble letters Throw-up ou bomb com letras arredondadas.
56 Wild-style assinatura em vrias cores, em trs dimenses, cujas letras so complexizadas e entrelaadas
(PROSSER, 2010, p. 52).
57 Lambe-lambe Desenhos, poemas, manifestos ou colagens reproduzidos em papel, geralmente mediante
a serigrafia, o stencil ou a fotocpia (h alguns feitos mo) e ento colados sobre paredes e outros
suportes urbanos. Alm das mensagens do lambe-lambe em si, altamente crticas, lricas ou politizadas,
a combinao de vrios em um conjunto cria um mundo especfico de significados (PROSSER, 2010,
p. 49).
58 Sticker Pequeno adesivo criado artesanalmente, em srie ou no. colado em placas de sinalizao,
lixeiras, portas de garagem e outros suportes geralmente em metal, pelas suas dimenses e pela sua fcil
aderncia (PROSSER, 2010, p. 52).
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Marlia Diaz
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assuntos tratados lado a lado com a produo artstica mundial. (...) os objetos da cultura visual
que maior presena tm entre os meninos, as meninas e os adolescentes so os que recobrem
as paredes dos quartos, as imagens das pastas da escola, as revistas que lem, os programas de
televiso a que assistem, as apresentaes dos grupos musicais, os jogos de computador, suas
imagens na internet, a roupa, seus cones populares, etc. (HERNNDEZ, 2000, p.136).
A inteno maior em abrir as possibilidades imagticas observar e usar essas referncias
para a estruturao do saber, a contemplao, a educao dos sentidos, a ampliao do espao
perceptivo, a reflexo, a interpretao sobre o conhecimento esttico e crtico.
Para Hernndez, que trabalha nessa linha, a cultura tema central das cincias sociais. O
professor e escritor entende que todas as culturas so produtoras de imagens e que conhecer os
significados dessas produes importante para reconhecer o valor cultural de cada uma delas. A
cultura visual por sua vez interdisciplinar e se apresenta perante as mudanas vividas nas ltimas
duas dcadas na arte, cultura, imagem, histria, educao e esta vinculada noo de mediao,
de representaes, valores e identidades. Todos os atores implicados nesse campo de saberes so
(...) construtores e interpretes na medida em que a apropriao no passiva nem dependente,
mas interativa e de acordo com as experincias que cada indivduo tenha experimentado fora da
escola (HERNNDEZ, 2000, p.136).
CULTURA
Falar de cultura entrar em uma seara ampla e complexa, praticamente inesgotvel com a
possibilidade de inmeras abordagens.
A etimologia da palavra cultura surge
[...]do verbo latino colere, cultura era o cultivo e o cuidado com as plantas, os animais e tudo que se
relacionava com a terra; donde, agricultura. Por extenso, era usada para referir-se ao cuidado com as crianas
e sua educao, para o desenvolvimento de suas qualidades e faculdades naturais; donde puericultura. O
vocbulo estendia-se, ainda, ao cuidado com os deuses; donde culto. A cultura, escreve Hanna Arendt, era o
cuidado com a terra para torn-la habitvel e agradvel aos homens, era tambm o cuidado com os deuses,
os ancestrais e seus monumentos, ligando-se memria e, por ser o cuidado com a educao, referia-se ao
cultivo do esprito. Em latim cultura animi era o esprito cultivado para a verdade e a beleza, inseparveis
da Natureza e do Sagrado (In CHAU, 1996, p.11) (o grifo do original).
Se tomarmos esses entendimentos e dados histricos, podemos perceber que na sua origem
a educao e cultura so indissociveis.
O conceito de cultura no passivo e requer entendimentos diversos sobre o ser humano,
seu contexto e o tempo histrico, enfim se constitui em um territrio mvel.
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(...) a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traos distintivos espirituais e
materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que
abrange, alm das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas
de valores, as tradies e as crenas1.
Muito alm de uma simples definio, a cultura faz parte do nosso dia a dia quando
repetimos palavras como califom suti, bureau escrivaninha ou cachette comprimido, termos
de origem francesa ou corruptela do francs utilizados no Estado da Paraba ou a expresso
brostolar a polenta, comumente utilizada entre os descendentes de italianos. Cultura tambm est
representada nas roupas utilizadas pelos russos, que comearam a chegar ao Sul do Brasil no
ano de 1878. Independente dos anos terem se passado, os descendentes dos russos vestem, at
os dias de hoje, as roupas assemelhadas de seus avs. Os homens mantm a tradio do uso
da barba e se trajam com calas de suspensrio bordado e as mulheres e crianas, com vestidos
longos, de cores vibrantes e cabelos presos dentro de uma touca do mesmo tecido do vestido.
Na regio dos Campos Gerais no Paran, em especial em Palmeiras, comum encontr-los no
comrcio ou pelas ruas.
Cultura cobrir o corpo todo com argilas coloridas diludas em gua, s pelo prazer de
faz-lo, escolher elementos vegetais e somar a pintura corporal como fazem os Homens de Kibish
das tribos africanas da Etipia, Sudo e Qunia no Vale do Rio Omo (disponvel em http://
etnoconverse.punt.nl/acesso em 15/05/2012)
Cultura o ato de fazer o seu prprio instrumento musical e saber toc-lo, tanto quanto saber
compor ou ouvir msica clssica. Est explicitada nos ditos populares pintados na traseira dos
caminhes, nas esculturas das figuras humanizadas nos canos de escape das oficinas mecnicas,
nos apelidos inventados pelo interior do nosso pas, que por vezes so mais empregados que os
prprios nomes. No artesanato em capim dourado do Jalapo no Tocantins, nas xilogravuras de
Bezerros em Pernambuco. No tacac de Belm do Par, na moqueca capixaba de Guarapari no
Esprito Santo ou no modo de preparar a carne de sol em Campina Grande, na Paraba.
Em sala de aula, se fizermos uma pesquisa sobre as brincadeiras de infncia dos avs, pais
e dos prprios alunos, estaremos levantando um universo que vai entrelaar costumes culturais
indgenas, africanos, portugueses, mas tambm costumes, modos de fazer de muitos outros
contextos. Das negras que cuidavam das crianas ficaram as lendas, as histrias carregadas de
valores, misticismo e emoes. Tema gerador para outros conhecimentos sobre a frica, africanos,
raas, negritude, racismo, o que ser negro e os modos de estar no mundo.
Dos chineses fica a eterna gratido pela inveno, do que por aqui convencionamos chamar
de papagaio, pipa, pandorga, raia, nomes diferentes do brinquedo, que confeccionado em papel
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de seda ou papel assemelhado e varetas finas, ganham os cus de vrios continentes, excelente
brinquedo para trabalhar em consonncia com a matemtica. A amarelinha, jogo da tradio
francesa vivido pelas crianas que nem sabem onde a brincadeira se originou. Cada pessoa ou
coletividade que se apropria de algum saber soma a este novo entendimento o seu referencial.
Sendo assim, a cultura viva e est em constante movimento no bojo do patrimnio cultural.
Para perceber melhor como vem se processando no Brasil este entendimento, tomemos a
Constituio da Repblica Federativa do Brasil no seu artigo 216, no qual o conceito de Patrimnio
Cultural foi ampliado:
Art. 216. Constituem patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial,
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria
dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expresso;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes
artstico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico,
paleontolgico, ecolgico e cientfico (disponvel em <www.jusbrasil.com.br/> acesso em
09/05/2012).
Em face das as infindveis possibilidades apresentadas na Constituio Federal cabe aos
professores e a equipe pedaggica da escola oportunizar processos educativos em que o aluno viva
intensamente os bens de natureza material e imaterial, a fim de criar pertena, construir valores
e ampliar o seu campo de referncias tornando a sua bagagem cultural muito mais abrangente.
Na escola cabe tambm instigar situaes problemticas para a realizao de projetos que
partam do interesse, por exemplo, dos alunos adolescentes com temas como a cultura Hip Hop.
Essa maneira de viver com o emprego de grias - cdigos especficos de comunicao, formas de
vestir, danar e se expressar na linguagem do grafite tambm uma forma de se impor no espao
do mundo circundante. Promover discusses, anlises sobre a esttica do que se produz nesta
linha, coloca o jovem como partcipe da construo da cidadania e da cidade. Conhecer a obra de
Jean-Michel Basquiat, artista plstico afro-americano e a sua histria de vida, estabelecer pontes
com a criao do rap nacional, pesquisa sobre grafite X pichao tambm podem contribuir para
o entendimento dos papis sociais para muito alm dos conceitos de cultura, pluralidade cultural,
785
arte e ou cidadania, mas da vida vivida pelos alunos, de identidade, dos links possveis com o
mundo, imbricando reas de conhecimento e outros saberes.
necessrio reconhecer, com efeito, que esta ordem humana da cultura no existe em lugar nenhum como
um tecido uniforme e imutvel, mas que ela se especifica, ao contrrio, numa diversidade de aparncias
e de formas segundo os avatares da histria e as divises da geografia, que ela varia de uma sociedade a
outra e de um grupo a outro no interior de uma mesma sociedade, que ela no se impe jamais de forma
certa, incontestvel e idntica para todos os indivduos, que ela est submetida aos acasos das relaes de
foras simblicas e a eternos conflitos de interpretao, que ela imperfeita, lacunar, ambgua nas suas
mensagens, inconstante nas suas prescries normativas, irregular nas suas formas, vulnervel nos seus modos
de transmisso e perpetuao (FORQUIN, 1993, p.14).
Desse modo, a cultura, uma espcie de matriz, inerente ao homem que aperfeioado
quando cria relaes de pertencimento, fortalecido pelo grupo social em que est inserido quando
transmite suas experincias, quando estrutura o conhecimento produzido pela sociedade de origem
e organiza-o, e principalmente quando se humaniza na descoberta do vivido.
MULTICULTURALISMO
A Inglaterra dos idos de 1970 foi o bero do entendimento e organizao dos pressupostos
sobre o multiculturalismo em relao ao ensino. Em face do nmero elevado de estrangeiros
no pas, a escola sofreu muitas dificuldades, pois a adaptao cultura local era complexa e a
delinquncia se disseminava. Era preciso diminuir a evaso escolar e aproximar culturalmente os
entendimentos dispares dos imigrantes, bem como prepar-los para o mercado de trabalho.
Nesse contexto, Raquel Mason foi a primeira educadora a sistematizar esses entendimentos
com a inteno de compreender os preceitos e o manejo das diferenas nas sociedades, desenvolver
uma viso crtica e antiracista, bem como abarcar a pluralidade de diferentes culturas, religies,
etnias e as relaes de gnero.
Partindo da realidade sociocultural dos alunos, do pressuposto da incluso e da importncia
da participao de todos no processo educativo, o fundamento da proposta era o dilogo entre as
diferentes culturas. Considerando que o professor ao adentrar a sala de aula leva com ele todo o seu
referencial, a sua histria de vida, o perfil esperado para colocar em prtica esses entendimentos
era de um profissional que trabalhasse conceitos e soubesse lidar com preconceitos, no sentido
de extingui-los ou, se impossvel, minimiz-los. Um professor capaz de trabalhar conflitos, mediar
situaes e apto para lidar com o progresso, com o crescimento de cada aluno, acreditando
sobremaneira no desenvolvimento humano. Por sua vez a escola deveria oportunizar espao para
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artefato. Mostras de fotografias, pinturas de tempos idos sobre a cidade, o bairro ou ainda conversas
com familiares que narrem histrias sobre diferentes costumes como a comemorao da Pscoa
entre os ucranianos, a festa do Divino Esprito Santo ou a Cavalhada de Pirenpolis em Gois,
a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, do Crio de
Nossa Senhora de Nazar em Belm do Par ou no Festival Folclrico de Parintins na Amaznia.
Todas essas referncias podem criar interfaces com o ensino das artes visuais, seja na
contemplao das imagens das festas, seja nas representaes passveis de serem realizadas com
a iconografia da cultura em questo, seja no reconhecimento da palheta de cores empregada na
festa, seja no contato com fotografias, seja no levantamento das diferenas culturais perante o
mesmo gesto, o mesmo fazer, o mesmo rito de passagem, entre outros.
Hoje consumimos produtos estrangeiros de toda ordem, quer seja em itens de vesturio,
na alimentao, na edificao de casas, no consumo de medicamentos, e quem efetivamente se
apresenta como o estrangeiro o vizinho que reside ao lado. Raramente encontramos com ele, no
interagimos, dele nada sabemos. No processo de construo de um multiculturalismo adaptado
brasilidade e aos problemas brasileiros, faz-se necessria a viso ampliada que vislumbra a
extenso territorial e a pluralidade cultural de cada regio, e tambm o que contemplado no
contexto de cada instituio e na relao pessoa a pessoa. Apresentam-se desafios de humanizao
tanto na esfera individual, social quanto na esfera poltica. Qui o Brasil de hoje possa ser
visto como uma caixa de Pandora, com relao incorporao de polticas pblicas referentes a
grupos populacionais especficos com base na valorizao de sua distino cultural, aps sculos
de esquecimento (SANSONE, 2007, s/p). A sala de aula, o espao escolar, as abordagens
empregadas podem nos auxiliar neste caminho para resgatar, restituir e construir saberes sobre
a arte plumria, sobre as ideias do colonizador em relao aos indgenas nas pinturas de Albert
Eckhout em sintonia com o que ser ndio e como vivem os ndios de hoje como, por exemplo,
no filme AUW UPTABI o povo verdadeiro.
No que concerne arte africana, cabe lembrar que importante ir alm dos processos de
fabrico dos instrumentos de ferro empregados para domesticar os negros no Brasil Colnia, da
arte das mscaras ou das esculturas de madeira, para destacar, dar nfase, valorizar sobremaneira
a esttica da arte africana.
Na cantaria e na azulejaria portuguesa, tanto no tempo pregresso como nas interfaces com
o hoje, um arqutipo pode ser contemplar imagens da azulejaria portuguesa nas paredes do
Centro Cultural de So Francisco em Joo Pessoa na Paraba, nas igrejas de Pernambuco, da
Bahia e de Minas Gerais e em muitas outras cidades brasileiras. Posteriormente apreciar a obra
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ser a postura do professor, mas no podemos negar que os PCN propuseram avanos no que diz
respeito s relaes humanas, s relaes de poder e tambm no mbito do reforo a identidade.
Na categoria dos temas transversais, o caderno que contempla a Pluralidade Cultural,
entendida como multiplicidade, heterogeneidade, variedade, tem mais proximidade com os
contedos do ensino da arte. Nele so listados contedos passveis de serem trabalhados em
sala de aula estabelecendo dilogo dos contedos prprios da arte com temas tais como: pintura
corporal, indumentria, vesturio, utenslios, decorao de moradias, culinria, brinquedos,
brincadeiras, festas, linguagem oral e escrita, rezas, crenas, plantas, receitas e outros (PCN,
Diversidade Cultural, 1997).
Para definir diversidade cultural, alguns falam sobre multiculturalismo, outros sobre pluriculturalismo
(PCN), e temos ainda o termo mais apropriado Interculturalidade. Enquanto os termos Multicultural e
Pluricultural pressupem a coexistncia e mtuo entendimento de diferentes culturas na mesma sociedade,
o termo Intercultural significa a interao entre as diferentes culturas. Esse deveria ser o objetivo da ArteEducao interessada no desenvolvimento cultural. Para alcanar tal objetivo, necessrio que a escola
fornea um conhecimento sobre a cultura local, a cultura de vrios grupos que caracterizam a nao e a
cultura de outras naes (BARBOSA, 2003, p 19).
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pode formar fibras para serem tecidas, voltando ao consumidor como camisetas, blusas, pijamas,
mantas e outros itens que podem materializar objetos e propostas de arte. Ou ainda se aproximar
dos entendimentos de Lipovetsky, que afirma que o surgimento e desenvolvimento das fibras
artificiais e sintticas, bem como os artigos ditos inteligentes ocasionaram pesquisas avanadas
na rea dos txteis como os tecidos que no amassam, prova de bala, que se adaptam a
mudanas climticas, tem ao anti-bacteriana e anti-fogo. Igualmente surpreendentes, so os
tecidos utilizados para as roupas de mergulho que se assemelham ao couro dos animais marinhos,
facilitando os movimentos e auxiliando a velocidade na gua (1989, p.65). A associao desses
conhecimentos tecnolgicos pode auxiliar na compreenso das dificuldades encontradas pelo
artista Cyril Christo ao embalar edifcios monumentais ou interferir na paisagem do deserto, de
ilhas, parques na modalidade da land art.
No universo da histria da arte possivelmente Frida Kahlo foi uma das artistas que mais
tentou salvaguardar as suas razes, seja na sua produo de pinturas polvilhadas com temas
nacionalistas, seja na luta poltica como militante do partido comunista, seja principalmente no uso
constante de trajes tpicos mexicanos. A obra de Frida merece estudo, mas seus trajes tambm
podem se converter em pesquisa e entendimento cultural.
A boneca Barbie e seu guarda-roupa diverso e plural, cone da cultura norte-americana,
tambm pode ser outro exemplo a ser tratado nas aulas de arte. Na contemporaneidade Barbie
suporte e aporte, tema em diferentes modalidades de arte: montagens, desenhos, pinturas,
instalaes, ourivesaria, fotografia, entre outras. Na internet possvel encontrar mais de 179.000
imagens da boneca, muitas representaes alvo de crticas, stiras, desmitificando uma srie de
esteretipos quando apresentada como uma pessoa idosa, gorda ou separada. A Revista ISTO
de 11 de abril de 2012 publicou uma matria sobre a produo da boneca Barbie careca. A
empresa americana Mattel, que produz a boneca, cedeu aos apelos de um grupo que a partir do
Facebook insistiu na importncia da boneca para elevar a autoestima de meninas com cncer
(DAUDN; PRADO, 2012, p.24). Uma das artistas mais polmicas, que explora montagens
dramticas com a boneca, a fotografa Mariel Clayton. Assunto que por certo vai interessar pradolescentes e adolescentes.
Na indstria de brinquedos muitos pases ocidentais produzem bonecas de papel, quase
sempre figuras femininas acompanhadas por uma coleo de vestidos, camisolas, roupas de praia
e adereos. Este brinquedo ainda causa ternura entre as mulheres como objeto da memria.
Instituir relaes entre o filme Patchwork, o acervo do Museu da Moda em Paris, o acervo
de vesturio tradicional do Museu de Antropologia da cidade do Mxico, permeados pela obra de
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Frida, Minie Sardinha, bonecas de papel e ou obras que usam a boneca Barbie, alm de temas,
modalidades ou perodos da histria da arte podem se constituir em momentos para discutir
cultura, o papel da mulher, questes de gnero ou outro tema afim. Qualquer fazer especial como
as rendas, bordados, crochet, tricot pode ser exposto na escola, na sala de aula para motivar
discusses estticas e oportunizar o conhecimento sobre as obras de Rosana Paulino e ou Rosana
Palasyan, que buscam inspirao e referncia nestes temas, ou ainda estabelecer analogia com os
fractais produzidos no gelo do sul do pas ou na arquitetura da Alhambra em Granada Espanha.
Importante destacar que independente da riqueza que nos cerca constata-se que estamos
vivendo uma pasteurizao cultural. Exemplos dessa homogeneizao cultural podem ser
observados na forma de vestir nos grandes centros urbanos, nas comidas fast food, nas construes
padronizadas dos shoppings em mbito mundial.
Clark alerta que a homogeneizao cultural a que estamos submetidos deforma as ideias e
os conceitos e que certamente acabar com a diversidade de padres culturais, bem como com a
dignidade do ser humano. Sem a diversidade, as entidades so destrudas e os homens ficam com
sua humanidade comprometida e sua vida empobrecida (1985, p.153).
Perante essas evidncias, o papel do corpo docente das escolas criar um currculo
que contemple a pluralidade cultural no como um apndice, como um contedo desprovido
de sintonia com outros saberes ou afastado, isolado no tempo histrico. Essa responsabilidade
pode ser agravada se somarem-se As mudanas crescentes no mundo e nas nossas formas de
entend-lo, devido compreenso das tecnologias do espao e do tempo, o que supe uma
ameaa estabilidade e permanncia de nosso conhecimento, tornando-os frgeis e provisrios
(HERNNDEZ, 2000, p.137).
O currculo uma teia mvel que deve sofrer ajustes permanentes e que peculiar a cada
contexto. A flexibilizao da legislao vigente um anseio para que este documento complexo,
que mostra muito mais que o elenco de disciplinas de um curso, seja adequado s necessidades de
cada regio, contemplando o perodo de colheita, perodo de cheia dos rios e outras caractersticas
das localidades. A falta dessa adequao continuar determinando a manuteno de erros
histricos, afastando o aluno da escola para auxiliar a famlia no trabalho da agricultura, no
plantio e ou colheita, no transporte da produo entre muitos outros motivos. Assim, a realidade
escolar e a sua histria, a cultura, as possibilidades humanas e fsicas, o perfil do alunado, os
equipamentos, instrumental disponvel na escola, entre outros dados, devem urdir essa teia e dar
o norte ao tipo de educao que desejamos e ao tipo de ser humano que ansiamos educar.
O volume de informaes dobrado a cada 10 anos e 90% do que uma criana ter
que dominar ao longo de sua vida ainda no foi produzido, enquanto a escola gira em torno de
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lixo. Computadores, mveis, materiais de construo, isso sem falar nos alimentos que poderiam
ser encaminhados para pessoas famintas ou reaproveitados em outro momento. bvio que
na rea de arte preciso comprar materiais, e isso correto e desejvel, mas quantos itens
poderiam ser suprimidos das listas enviadas aos pais ou instituies? Como seria diferente se a
escola se dispusesse a mudar o ponto de vista e at mesmo a acomodao no s em relao ao
reaproveitamento dos materiais, mas a maneira de interagir nos contextos!
(...) para aprender os contextos culturais e naturais, a sobreposio e os sentidos da realidade so requeridas
aes que permitam interpretar e trazer identidade aos espaos de vivncia escolar (CAMPOS, 2002, p.84).
Uma escola no meio da floresta, em um barco, uma classe multisseriada pode estabelecer
pontes com arte e cultura com o que v e conhece sobre rituais, festas, entretenimentos. Com o que
v e vive nos mercados, feiras, santurios, praas. Com os personagens que aqui e acol andam
pelas ruas inventam formas de se locomover em carros a manivela, de vestir-se com papis de
bala, de falar e de trabalhar imitando estrelas do rock. Atuar nessa perspectiva vai ajudar a criar
espao para trocas, transferncias, intercmbios e prioritariamente construir saberes, identificar
sabores ao ato de ensinar aprender em uma escola viva.
CONSIDERAES FINAIS
No mais possvel resistir mudana. No mais possvel vivermos como temos vivido.
A transformao de paradigma responsabilidade de todos nos habitantes que tecemos juntos
este planeta TERRA, sistema aberto, porm finito. inimaginavelmente difcil fazer tudo isso,
permanecer consciente e vivo no mundo adulto dia aps dia. O que significa que a educao
realmente o trabalho de toda uma vida e que precisamos rever entendimentos dados como
certos, olhar o horizonte e mudar o rumo muitas e muitas vezes ao longo de nossa existncia como
professores, como habitantes deste planeta.
O que podemos fazer no nosso microcosmo? Produzir menos lixo, cuidar da gua, caminhar
e andar de bicicleta em pequenos trechos ou at longos? Pintar com tintas naturais? Comer mais
alimentos orgnicos? Produzir polmeros com milho e penas de aves? Usar energia solar, elica?
Fotografar com o olho que v? Produzir sem esgotar as reservas naturais? Trabalhar com as mos
para desenvolver a inteligncia? Viver para muito alm da tolerncia acolhendo, respeitando e
aprendendo com o diferente? Aprender a escolher os representantes polticos? Lutar pela justia
e igualdade? Viver com tica?
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HERNNDEZ. Fernando. Cultura visual, mudana educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes
Mdicas Sul, 2000.
IAVELBERG. Rosa. Para gostar de aprender arte:sala de aula e a formao de professores. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
LIPOVETSKY, Gilles. O imprio do efmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. So Paulo:
Cia das Letras, 1989.
OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criao. Petrpolis: Vozes, 1984.
SANSONE, Livio. Que Multiculturalismo se quer para o Brasil? Cienc. Cult. Jun 2007, v.59 n.2 So Paulo Apr./
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Sites Pesquisados
http://etnoconverse.punt.nl/acesso em 15/05/2012
www.jusbrasil.com.br/ acesso em 09/05/2012
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SOUZA, Andra C. Batista de. Educao e diversidade cultural: o impacto da cultura popular no espao
escolar. Revista Extraprensa, Amrica do Norte, 1, ago. 2010. Disponvel em: http://200.144.190.194/celacc/
ojs/index.php/extraprensa/article/view/epx4-a1. Acesso em: 06 Mai. 2012.
Pintura Naif Arte ingnua, espontnea, realizada por artistas, geralmente sem formao acadmica que
pintam com cores intensas, sem preocupao com perspectiva, temas como fauna e flora, sincretismo
religioso, cenas interioranas, costumes tnicos. Um dos seus maiores representantes o pintor francs
Henri Rousseau e no Brasil Heitor dos Pazeres. A Frana, o Haiti, a Itlia, o Brasil e os pases, hoje
independentes, que compunham a ex-Iugoslvia Eslovnia, Crocia, Srvia, Bsnia-Herzegovina,
Montenegro e Macednia so os maiores representantes deste tipo de arte. O Brasil concentra 6.000 obras,
a maior coleo do mundo, no Museu Internacional de Arte Naif MIAN no Rio de Janeiro.
3 Pensamento sistmico uma forma de abordagem da realidade que surgiu no sculo XX, em
contraposio ao pensamento reducionista ou cartesiano, que visava fragmentao. visto como
componente do paradigma emergente, que tem como representantes cientistas, pesquisadores, filsofos
e intelectuais de vrios campos. Por definio, o pensamento sistmico inclui a interdisciplinaridade
(BEHRENS, 2005, p.53).
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Passemos agora a refletir sobre o tema da igualdade. H dois valores humanos fundamentais
a partir dos quais se constroem todas as diferentes moralidades: a igualdade e a liberdade. Sobre
a liberdade, veja-se o nosso artigo tica, liberdade e determinismo: os limites da ao humana e o
problema da sustentabilidade, nesta mesma publicao. Tratemos, aqui, do conceito de igualdade,
para podermos compreender como ele nos ajuda a refletir sobre o tema da sustentabilidade.
COMPREENDENDO O CONCEITO DE IGUALDADE
O que a igualdade? Pais e mes deveriam considerar seus filhos como iguais, tratando-os
sempre da mesma forma. Numa mesma nao, os cidados que ali vivem deveriam ser tratados
como pessoas iguais, de igual valor e com o mesmo direito de considerao. Quando corrijo os
trabalhos de meus alunos, devo consider-los iguais, usando para todos os mesmos critrios de
correo. No posso discrimin-los, ou seja, no posso estabelecer diferenas entre eles. Hoje,
como nunca antes, fala-se da necessidade de eliminar todas as formas de discriminao5: isso
significa estender cada vez o valor da igualdade a todas as pessoas.
Mas, em que meus alunos so iguais? Cada um vem de famlia diferente, suas personalidades
so diferentes, seus gostos e seus anseios diferem entre si, cada um tem suas prprias opinies e
sua viso de mundo, cada um tem uma histria pessoal que, em nada, se iguala dos outros. Na
verdade, eles parecem absolutamente diferentes.
E as pessoas, em que so iguais?
A HISTRIA DA DIFERENA
Para se entender melhor certos conceitos, mais fcil analisar o conceito oposto: as
definies negativas6 (dizer o que algo no ) podem nos ajudar tambm na compreenso do
conceito de igualdade. Analisemos, portanto, alguns captulos da histria da diferena, a fim de
compreender os passos que foram dados, historicamente, no caminho de conquista da igualdade.
Concepo naturalista
A diferena entre homens livres e escravos talvez seja uma das mais antigas formas de
discriminao. Aristteles7, apesar de sua genialidade em outras matrias, cedeu influncia
de sua cultura quando afirmou: Alguns homens nasceram para ser livres e outros, para ser
escravos. Evidentemente, Aristteles era um aristocrata8, porque se fosse escravo jamais diria
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isso (nossas ideias tendem a defender nosso status quo, ou seja, nossa posio social). De acordo
com essa concepo, est na prpria natureza de cada pessoa ser livre ou no. No depende
da escolha individual nem mesmo da forma de organizao social da comunidade em que vive:
depende, apenas, da disposio natural de ter nascido para. Esse parece ser o trao fundamental
de toda forma de discriminao: uma concesso natureza. Na verdade, trata-se de uma ideologia
(uma ideia-chave que mantm determinada estrutura social, como afirma Karl Marx9), que se
pode chamar naturalismo. E essa ideologia10 muito mais forte do que se pode imaginar.
A ideologia naturalista concede natureza todos os mritos ou toda a culpa de colocar as
pessoas em diferentes nveis sociais e isso importa na medida em que se disseminam as ideias de
que: a) no h uma causa social, mas apenas natural para as diferenas (ento no h injustia
social, apenas injustia natural, se assim se pode dizer); b) no h possibilidade de mudana,
pois a situao de cada um estabelecida de modo absoluto e definitivo: quem nasceu livre ou
escravo vai morrer livre ou escravo; c) o valor moral consiste em manter as coisas como a natureza
determinou, ou seja, cada qual ocupando seu papel no corpo social (no qual a uns cabe a funo
de cabea e, a outros, a de dedo do p).
A partir desse modo de compreender a realidade, torna-se difcil estabelecer aes em
vista da sustentabilidade poltica, social e cultural de uma comunidade, pois um dos pilares da
sustentabilidade a igualdade entre as pessoas.
Concepo religiosa
A discriminao tambm pode se apoiar numa justificativa religiosa. Alguns se acham
escolhidos, chamados diretamente por Deus, parte de um povo santo, enquanto outros no gozam
desse privilgio. As Cruzadas11 foram desencadeadas por essa ideia, assim como os inumerveis
conflitos religiosos de nosso tempo. A Inquisio Medieval12 justificava o uso da fora e da violncia
fsica, com direito absoluto sobre a vida das pessoas, a partir dessa noo de diferena religiosa.
Na poca dos grandes descobrimentos, constitua-se problema teolgico fundamental a
legitimidade do batismo dos indgenas: teriam eles alma como ns, povo escolhido? Pessoas negras
no podiam entrar para a vida religiosa, ao menos no com as mesmas vantagens dos brancos (So
Martinho de Lima, frade dominicano, era considerado um religioso de menor grau por ser negro
e, assim, passou sua vida inteira varrendo o ptio do convento onde viveu, no Peru).
At hoje, alguns preceitos morais, mesmo amparados por concepes religiosas, so
discriminatrios (como o impedimento de participao no culto queles que so divorciados, por
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exemplo; suicidas no tm direito missa de corpo presente outro exemplo; ou, ainda, muitas
mulheres sentem-se discriminadas por no terem o direito de exercer certas funes nas igrejas).
Concepo racional ou cientfica
A discriminao tambm pode ter origem em alguma concepo cientfica ou racional,
como no caso da considerao das pessoas que so normais e aquelas que so anormais. Os
exames psicotcnicos13 so instrumentos de verificao do grau de normalidade das pessoas e se
prestam a dizer quem apto e quem no o . Isso no ser tambm uma forma de discriminao?
O filsofo francs contemporneo Michel Foucault analisa, em sua obra Histria da Loucura14,
como o conceito de loucura foi sendo construdo ao longo do tempo, de acordo com aquilo que as
pessoas entendiam como sendo normal ou anormal.
Adolf Hitler15 tinha um projeto poltico-social apoiado na ideologia da diferena. Todos os
seus esforos estavam concentrados em provar, cientificamente, a existncia de uma raa superior
s outras, o que ele chama de raa ariana16. Assim, as pesquisas nazistas foram desenvolvidas
amplamente at o momento crucial: quando o prprio Hitler, como conta a histria, foi excludo
das medidas e quantificaes do que deveria ser a raa pura.
A cincia, em suas manifestaes mais recentes, tem levantado srios problemas quanto
manipulao da vida humana. A disputa reside no direito ou no de interferir nos processos
de gerao e de concluso da vida humana. Pode-se realizar pesquisas com embries? Podem
porque ainda no so pessoa humana, dizem alguns. No podem porque so pessoa humana
desde o primeiro momento, dizem outros. Podem-se desligar os aparelhos que mantm vivo um
doente h anos em estado vegetativo? Sim, porque esse paciente j no tem mais conscincia,
afirma algum. No, porque enquanto h vida cerebral ainda se deve respeitar a dignidade do
paciente, afirma outro.
Concepo social ou econmica
Por fim, ainda devem-se considerar os processos de discriminao justificados pela situao
social das pessoas. Ser pobre ou rico , sem dvida, uma das principais causas das diferenas entre
as pessoas e as naes. O problema da sustentabilidade social e econmica passa por esta questo.
Para alguns, adeptos da viso funcionalista, tal diferena no pode ser evitada, pois faz
parte do processo normal de funcionamento da mquina social17. Portanto, as pessoas no so
iguais e esta diferena que faz com que o tecido social funcione de modo adequado. Afinal, no
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pode haver uma indstria onde todos so patres, assim como no pode haver um corpo onde haja
apenas cabea. Esse argumento funcionalista, embora parea plausvel e lgico, est carregado
de carga ideolgica (isto , de uma concepo de ideias que servem para manter determinada
ordem social).
Para outros, contudo, partidrios de uma viso estruturalista, as diferenas fazem parte de
uma determinada estrutura social, cuja configurao pode ser alterada. Assim, concebe-se que as
estruturas de dominao podem dar lugar a estruturas de respeito e de igualdade. Parece ser esta a
ideia que fundamenta todas as mais recentes revolues sociais que presenciamos: as vtimas de
uma determinada estrutura de poder e de dominao lutam para se libertar da mesma estrutura,
dando vida a uma nova forma de viver em sociedade. Deve-se notar, contudo, que as estruturas
antigas do lugar a novas estruturas que, com o tempo, podero vir a ser substitudas por outras,
e assim por diante. E, em alguns casos, mudam-se as cores, mas no as paredes: h muitos
que lutam contra o machismo, porque querem que as mulheres ocupem o lugar dos homens,
mantendo-se a mesma estrutura de poder. Muitos dominados numa certa estrutura social passam
a ser os dominadores depois da revoluo.
A MORAL DA DIFERENA
As discriminaes, em suas vrias facetas, podem levar constituio da moral da diferena,
expressa, sobretudo, em ideias como: o mundo para poucos, o mundo trata melhor quem
se veste bem, aos amigos, as facilidades; aos outros, o rigor da lei, isso no coisa para
mulher, voc ainda muito criana para isso, isso coisa de pobre, isso coisa de preto
etc. Note-se que levou muito tempo para o Brasil considerar a discriminao como crime18.
Esses exemplos, retirados de expresses usados pela mdia ou no dia a dia das pessoas,
revelam o quanto nossa sociedade se orienta por uma moral discriminatria. Tal moral incapaz
de sustentar a construo de uma sociedade igualitria e que respeite a dignidade da pessoa
humana e, por isso, tambm incapaz de construir uma sociedade disposta a se empenhar em
prol da sustentabilidade19, sobretudo no campo econmico, social e poltico.
Por isso, no surpreende a brutal indiferena diante das grandes injustias que se cometem
com os diferentes (as crianas, as mulheres, os doentes, os pobres, os marginalizados etc.). Na
tica que se construiu a partir da moral da diferena, no se considera injustia a separao entre
os grupos e o tratamento desigual s pessoas.
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de antemo, antes mesmo de tomar conhecimento das coisas. O sexo , portanto, um fator de
diferenciao, assim como a cor, a classe social, a origem etc.
Tantas diferenas
Poderamos nos estender ainda mais nesse tema, mas o que foi dito suficiente para
esclarecer o quanto frgil o fundamento da diferena. Hoje, quando se fala dos direitos da
criana e do adolescente (temos inclusive um Estatuto para garantir tais direitos), dos direitos dos
idosos, dos estrangeiros, dos doentes, dos deficientes, percebe-se o quanto avanamos em termos
de conquista do ideal da igualdade.
Hoje se fala dos direitos das minorias26, porque no so apenas os interesses da massa
annima que esto em jogo. Cada um, cada pequeno grupo, cada pequena comunidade tem o
direito de defender sua forma prpria de vida, seus valores e sua cultura.
Por que as pessoas merecem respeito, independentemente de qualquer situao? Porque
so pessoas humanas: podem ser diferentes em quase tudo, mas nesse ponto somos todos iguais.
Ns somos humanos e isso o que garante nossa dignidade. No o sangue, a cor, a idade, o
sexo, o pas de origem, o dinheiro, a cincia e o nmero de diplomas que temos, nem mesmo a
religio ou o partido do qual fazemos parte: somos todos humanos e nisso est o fundamento de
nossa igualdade e de todo nosso empenho pela construo de uma sociedade mais sustentvel.
O VALOR DA IGUALDADE
A igualdade uma relao, no uma qualidade. Explico: uma qualidade ou atributo
algo que uma pessoa ou objeto tem. A expresso a mesa branca, por exemplo, designa uma
qualidade. uma afirmao que tem sentido. Contudo, qual o sentido da afirmao a mesa
igual? No h sentido algum nessa frase, porque a igualdade no uma nota, uma caracterstica,
mas uma relao: ela s pode ser entendida em si mesma, mas em razo de outro ser. Assim, a
frase a mesa igual cadeira pode ter sentido porque estabelece a relao entre a cadeira e a
mesa e, desse modo, denota algum trao comum entre ambas.
O mesmo pode ser aplicado ao valor da igualdade em relao s pessoas. Quando se diz
que todos os homens so iguais, embora a expresso parea ter sentido em si mesma, deve-se
perguntar: Iguais em qu?. Pois, no h simplesmente igualdade, mas sempre igualdade em
algum aspecto.
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De outro lado, enquanto se poderia dizer que numa determinada sociedade apenas uma
pessoa livre, no se pode dizer que apenas uma pessoa igual. A igualdade , portanto, um
valor moral que implica a relao entre as pessoas, seja na famlia, na escola ou na sociedade de
modo geral.
Desse modo, pode-se dizer que os homens so iguais em muitos aspectos ou critrios de
valor: na cor, na nacionalidade, na religio, nas ideias polticas, no sexo, na idade etc.
VALORES QUE SUSTENTAM O VALOR DA IGUALDADE
O valor da igualdade nos faz refletir sobre outros valores igualmente importantes que precisam
ser considerados, pois esses valores, por assim dizer, sustentam o prprio valor da igualdade.
Entre eles, destacam-se a individualidade, a conscincia, o livre arbtrio e a responsabilidade.
Individualidade
Significa que cada qual uma pessoa nica, que se define por si mesma, com gostos e
desejos pessoais. Quando digo eu sou eu, estou afirmando justamente a minha individualidade:
sou um indivduo, um ser nico. Por isso, no o marido que define a mulher nem a mulher
que define o marido: cada um tem seu prprio espao para ser quem . Do mesmo modo, no
o pai ou a me que definem o filho e fazem as escolhas por ele, mas ele mesmo que deve
se manifestar e mostrar quem (isso tambm serve para ns, professores, que muitas vezes
ofuscamos a individualidade de nossos educandos).
Conscincia
Embora Sigmund Freud27 tenha nos ensinado que nossa conscincia a menor parte
da mente (apenas a ponta do iceberg), ela constitui valor fundamental quando se considera a
igualdade entre as pessoas.
Todos ns, em maior ou menor grau, temos conscincia, isto , percebemos a ns mesmos,
assim como nossas aes, intenes, desejos e outros sentimentos, alm da conscincia de
espao e de tempo. No se pode dizer o mesmo dos animais (ao menos no no mesmo nvel de
conscincia que se atribui espcie humana). A conscincia nos permite responder s perguntas
fundamentais: Quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? O que quero fazer de minha vida?
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O respeito conscincia das pessoas um preceito moral fundamental: ningum pode violar
a conscincia de outro ou neg-la, assumindo para si o controle sobre as decises de outra pessoa.
Isso vale para a nossa prtica educativa: at que ponto ns respeitamos a conscincia de nossos
alunos? Ns damos espao para que eles se manifestem ou impomos sempre nossos pontos de
vista? Ns lhes damos espaos para expressar sua criatividade ou apenas exigimos que respondam
aos nossos modelos e padres?
Livre arbtrio
Embora associado noo de conscincia, o livre arbtrio pode ser definido como nossa
capacidade de decidir por ns mesmos. O psiclogo e pedagogo Jean Piaget nos ensinou que, na
evoluo de nossa conscincia moral, passamos por quatro estgios diferentes28. O primeiro
chamado de anomia: ao p da letra significa sem lei, ou sem norma. Nessa fase, ns nos
comportamos de modo a buscar prazer e fugir da dor. Choramos quando estamos com fome ou
com a fralda molhada e dormimos em paz quando estamos bem.
A segunda fase chamada de heteronomia (a lei do outro): nesse perodo, o que rege
nosso comportamento e conduta so as ordens dos pais e dos professores, sobretudo. Escove os
dentes, Faa sua lio de casa, Guarde seus brinquedos, Faam fila, Copiem do quadro
so exemplos de normas que vm de fora, s quais vamos nos acostumando a obedecer.
Em terceiro lugar vem a socionomia, ou a lei do grupo: somos guiados, nesse perodo, pelas
regras sociais, os padres de comportamento coletivo, damos valor moda e quilo que os outros
vo dizer da gente, cumprimos as regras do trabalho, as leis de trnsito e assim por diante.
Finalmente, vem a fase da autonomia, quer dizer, das minhas prprias regras e normas de
comportamento. Eu dirijo minha prpria vida, o que dizemos quando chegamos a essa fase.
Embora sigamos as orientaes que guiam a vida social (socionomia) e tambm algumas regras
que nos so ditadas por outros (heteronomia) ou pelos instintos (anomia), temos condies de
dizer: Isso eu quero fazer ou Isso eu no quero fazer.
A rigor, o livre arbtrio s existe quando h autonomia, ou seja, conscincia capaz de dirigir a
prpria vida e as prprias escolhas. Pessoas que s respondem s solicitaes dos prprios desejos
(entregam-se aos vcios, so escravos do prazer, desejam apenas as coisas mais fceis e cmodas)
ainda esto na fase da anomia. Por outro lado, aqueles que obedecem submissos e sem questionar
as normas dos outros (dos pais, do chefe, do cnjuge, do lder espiritual) esto paralisadas na
heteronomia. Aqueles que so guiados exclusivamente pela opinio do grupo (da moda, da televiso,
da cultura de massa) e no conseguem decidir por si mesmos prendem-se na socionomia.
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discurso, a retrica da moda, mas como uma atitude que nos leva ao comprometimento com o
outro (em primeiro lugar com nossos alunos, sobretudo com aqueles que mais precisam de afeto,
ateno, dedicao, pacincia).
O terceiro e ltimo ponto, decorrente da solidariedade, a responsabilidade social32: no
vivemos isolados no mundo, mas constitumos uma rede. Se nos salvarmos, nos salvaremos juntos;
se morrermos, morreremos juntos. Trata-se de uma tica planetria, no mais de uma tica
individual e intimista. Somos todos responsveis no apenas por nossas vidas individuais, mas
pela vida de todos os outros e pela vida do planeta. No questo de simples preferncia pessoal,
mas de conscincia comum, forjada desde o bero. Tal conscincia vai ser demonstrada em
gestos simples, mas significativos como o tratamento adequado do lixo, a preservao ambiental,
o cuidado pelo patrimnio comum de todos ns. A escola tem muito a contribuir nesse sentido.
A possibilidade de construo de um mundo mais tico e sustentvel est, sobretudo, nas mos
dos educadores.
INDICAES DE LEITURA
BARBOSA, Lvia. Igualdade e meritocracia: a tica do desenvolvimento nas sociedades humanas. Rio de
Janeiro: Fundao Getlio Vargas, 1999.
BERTRAND, Yves e outros. A ecologia na escola: inventar um futuro para o planeta. Lisboa: Instituto Piaget,
1998.
BOFF, Leonardo. Ethos mundial: um consenso mnimo entre os humanos. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
EYSENCK, Hans J. A desigualdade do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
PIAGET, Jean. A tomada de conscincia. So Paulo: Melhoramentos, 1974.
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ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens. Braslia: UnB, 1989.
A ONU Organizao das Naes Unidas Foi criada logo aps a Segunda Guerra Mundial, em 1945, em
substituio da Liga das Naes. Atualmente, a entidade tem 193 pases membros, entre eles o Brasil,
e sua sede fica na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
810
Indicao de link: Sobre o trabalho da ONU em relao ao tema da sustentabilidade, sobretudo quanto ao
meio ambiente, acesse o seguinte link: <http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-o-meio-ambiente/>.
Indicao de link: Para conhecer o trabalho da ONU no Brasil, acesse o site <http://www.onu-brasil.
org.br/>.
5 A palavra discriminao significa separao ou distino, o mesmo que criar diferenas. As pessoas
muitas vezes so separadas em razo de sexo, raa, religio, classe social, nvel de escolaridade etc. Uma
das questes mais importantes para a construo de uma sociedade mais sustentvel, do ponto de vista
social, o nosso empenho em eliminar toda forma de discriminao.
6
Definio negativa uma forma de explicar algo no por aquilo que este algo ou possui, mas pelo que
no ou no possui. Exemplo: o frio a ausncia de calor.
Filsofo grego, que viveu em Atenas no sculo IV a.C. Foi discpulo do tambm filsofo Plato, e exerceu
profunda influncia no pensamento ocidental at nossos dias.
Aristocrata um membro da aristocracia, uma forma de governo dos considerados melhores de uma
cidade ou nao. Trata-se, portanto, de um regime poltico que em si j estabelece no a igualdade, mas a
diferena entre as pessoas.
9 Karl Marx (1818-1883), filsofo alemo, responsvel pelo desenvolvimento de um pensamento crtico
em relao base econmica da sociedade, sobretudo a estrutura capitalista. Prope o socialismo e o
comunismo como formas alternativas de superao das desigualdades sociais produzidas pelo sistema
capitalista. Sua principal obra O Capital.
10 Ideologia um conjunto de ideias, concepes ou doutrinas que constituem o nosso modo de compreender
a realidade. O termo tem um carter negativo, pois mostra aquilo que as pessoas, mesmo sem perceber, so
ensinadas a ver na realidade como se fosse algo natural. Por exemplo: a ideologia naturalista faz as pessoas
acreditarem que a diferena que existe entre o escravo e o homem livre, ou entre o rico e o pobre, uma
questo natural, contra a qual nada se pode fazer.
11 As Cruzadas foram lutas religiosas travadas sob o patrocnio da Igreja Catlica, no perodo medieval, a fim
de derrotar os muulmanos e conquistar a Terra Santa, isto , a Palestina, pas onde viveu Jesus Cristo.
12 Indicao de link: Para uma compreenso mais aprofundada sobre a Inquisio, veja-se o seguinte link:
<http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/galileu/inquisicao.htm>.
13 Exames psicotcnicos so procedimentos de avaliao das condies psicolgicas de uma pessoa para
exercer determinada atividade ou trabalho.
14 Indicao de link: Para uma compreenso ampliada deste tema, ver os seguintes links: <http://www.
unicamp.br/~aulas/pdf3/24.pdf> e <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/veritas/article/
viewFile/4458/3367>.
15 Indicao de vdeo: Para compreender o tema com mais clareza, veja-se o vdeo disponvel em: <http://
www.youtube.com/watch?v=EwQFBef94ZY&feature=fvsr>.
16 Indicao de link: Para uma viso mais ampla desse tema, dentro da histria do Nazismo, ver o material
disponvel em: <http://educacao.uol.com.br/historia/nazismo-violencia-e-propaganda-foram-as-armas-deadolf-hitler.jhtm>.
811
17 Indicao de vdeo: O clssico filme Tempos Modernos, de Chaplin, faz uma excelente crtica desta
concepo. Para ver este filme, acesse: <http://www.youtube.com/watch?v=EGSY3FsOJn0>.
18 Indicao de link: Para uma abordagem jurdica desta questo, ver o material disponvel em: <http://
jus.com.br/revista/texto/169/crimes-de-racismo>.
19 Indicao de vdeo: Veja-se o documentrio que apresenta, na voz do telogo Leonardo Boff, a
Carta da terra, texto que nos ajuda a compreender as vrias dimenses e a urgncia de uma posio
mais firme e consciente em vista da sustentabilidade. Acesse o filme aqui: <http://www.youtube.com/
watch?v=P0vN9WvtcoU>.
20 Indicao de link: Diversos artigos sobre a Revoluo Francesa, escritos de forma didtica, podem ser
encontrados em: <http://www.brasilescola.com/historiag/revolucao-francesa.htm>.
21 Indicao de link: Sobre a Independncia dos Estados Unidos, ver os artigos apresentados em: <http://
www.brasilescola.com/historiag/independencia-estados-unidos.htm>.
22 Indicao de link: Sobre a Independncia do Brasil, ver os artigos apresentados em: <http://www.
brasilescola.com/historiab/independencia-brasil.htm>.
23 Indicao de link: Sobre a discriminao racial, ver o artigo disponvel em: <http://www.brasilescola.com/
sociologia/segregacao-racial.htm>. E sobre a escravido, no Brasil, acessar: <http://www.brasilescola.
com/historiab/escravidao-no-brasil.htm>.
24 Indicao de link: Sobre o tema da emancipao da mulher, veja-se o artigo disponvel em: <http://
www.recantodasletras.com.br/artigos/2847529>.
25 Sigmund Freud (1856-1939) foi um mdico austraco, que formulou a teoria conhecida como Psicanlise.
Sua principal contribuio foi a identificao do papel fundamental dos processos inconscientes na
mente humana.
26 Indicao de link: Sobre o direito das minorias, ver artigo bastante completo em: <http://tesseract.sites.
uol.com.br/direitosminorias.htm>.
27 Indicao de link: Para uma compreenso mais ampla do conceito de conscincia, em Freud, ver o artigo
disponvel em: <http://www.libertas.com.br/site/index.php?central=conteudo&id=467>.
28 Indicao de link: Sobre os estgios de formao da conscincia moral, segundo Piaget, ver o seguinte
artigo: <http://www.brasilescola.com/biografia/piaget-desenvolvimento-moral-na-crianca.htm>.
29 Indicao de link: Sobre a relao entre responsabilidade e sustentabilidade, veja-se o seguinte artigo:
<http://www.webartigos.com/artigos/responsabilidade-social-e-sustentabilidade/7197/>.
30 Indicao de vdeo: Para uma anlise do conceito de tica planetria, veja-se o vdeo disponvel em:
<http://www.youtube.com/watch?v=ymKmk2Z2LMY&feature=fvsr>.
31 Indicao de vdeo: Veja-se o documentrio disponvel em: <http://www.youtube.com/watch?v=SbOaS
j7Kb1k&feature=results_video&playnext=1&list=PL2C86C25FF657EB51>.
32 Indicao de vdeo: Sobre o tema da responsabilidade social, sobretudo nas empresas, veja-se o vdeo que
apresenta palestra promovida pelo Instituto Ethos: <http://www.youtube.com/watch?v=NvrXjIcqJmo>.
812
ARLINDO PHILIPPI Jr
Arlindo Philippi Junior tem Doutorado em Sade Pblica e Livre Docncia em Poltica e Gesto Ambiental
pela Universidade de So Paulo. Professor Titular da Universidade de So Paulo, Pesquisador FAPESP
e CNPq. Exerce atualmente a funo de Pr-Reitor Adjunto de Ps-Graduao da USP e Presidente
da Comisso de Ps-Graduao da Faculdade de Sade Pblica. ainda Coordenador pr-tempore da
nova rea de Cincias Ambientais da CAPES e Membro do Conselho Superior da CAPES; atuou como
Coordenador de rea Interdisciplinar da CAPES e foi membro titular do Conselho Tcnico Cientfico
de Ensino Superior (CTC-ES) da CAPES no perodo de 2007-2011. Publicou 46 artigos cientficos em
peridicos qualificados, 109 captulos de livros e 38 livros publicados e/ou organizados. Possui 172 itens
de produo tcnica. Participou, como convidado, de cerca de 500 eventos cientficos e tecnolgicos no
Brasil e no exterior. Orientou 18 dissertaes de mestrado, 13 teses de doutorado e supervisionou 6 psdoutorados, abrangendo as reas de Poltica, Planejamento e Gesto Ambiental, Engenharia Sanitria e
Ambiental e Tecnologias de Saneamento Ambiental, Planejamento Urbano e Regional, e Sade e Ambiente.
Participou de 53 projetos de pesquisa, entre os quais, coordenou 7 destes nos ltimos 5 anos. Atua com
nfase em Poltica, Planejamento e Gesto Ambiental. Em suas atividades profissionais interagiu com cerca
de 500 colaboradores em co-autorias de trabalhos cientficos. Alm das atividades acadmicas, exerceu
funes de direo no IBAMA, na CETESB e na SVMA, e coordenou a rea de Cincias Ambientais
do PADCT/MCT. Em seu currculo Lattes os termos mais frequentes na contextualizao da produo
cientfica e tecnolgica so: Poltica, Planejamento e Gesto Ambiental, Planejamento Urbano e Regional,
Saneamento e Sade Ambiental e Indicadores de Sustentabilidade.
Administrador, Mestre e Doutor nas temticas planejamento e gesto organizacional para o desenvolvimento
sustentvel e Ps-Doutor em Ecossocioeconomia e Cooperativismo Corporativo. pesquisador de
produtividade do CNPq, Coordenador Adjunto da rea em Cincias Ambientais da CAPES e consultor
ad hoc do SINAES/MEC. Membro do Comit Assessor da rea de Planejamento Urbano e Regional
da Fundao de Apoio Pesquisa do Paran (F. Araucria) e de Comits Tcnicos e Cientficos de
peridicos e eventos nacionais e internacionais. Realizou estgio com dois ecossocioeconomistas emritos,
813
Manfred Max-Neef (Ganhador do Prmio Nobel Alternativo) e Ignacy Sachs (um dos idealizadores do
Ecodesenvolvimento), alm do estgio no Complexo Cooperativo de Mondragn, Pas Basco, exemplo
mundial paradigmtico sobre cooperativismo. Foi professor visitante do Centro Brasileiro de Estudos
Contemporneos da Escola de Altos Estudos em Cincias Sociais, em Paris, e do Centro de Estudos
Ambientais da Universidade Austral do Chile (UACh). professor do Curso de Graduao em Turismo
e do Programa de Ps-Graduao (Mestrado e Doutorado) em Gesto Urbana/PUC-PR e do Mestrado/
Doutorado em Desenvolvimento Regional/FURB. Colabora nos Mestrados/Doutorados em Meio Ambiente
e Desenvolvimento e Sistemas Costeiros e Ocenicos, e no Mestrado em Turismo/UFPR. Coordena o
Ncleo de Ecossocioeconomia e em parceria o Ncleo de Polticas Pblicas. pioneiro em pesquisas
tericas e empricas sobre o tema Ecossocioeconomia das Organizaes, compreendendo Planejamento e
Gesto Organizacional para o Desenvolvimento Territorial Sustentvel, Arranjo Socioprodutivo e Poltico
de Base Comunitria e Turismo Comunitrio, Solidrio e Sustentvel na Amrica Latina. Publicou cerca
de 160 trabalhos entre peridicos especializados e anais de eventos nacionais e internacionais, alm de 7
livros e 18 captulos.
FERNANDO SOARES PINTO SANTANNA
Possui graduao em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Esprito Santo (1977), mestrado
em Hidrulica e Saneamento pela Universidade de So Paulo (1982) e doutorado em Chimie Industrielle
Et Environnement Universite de Rennes I (1994). Atualmente professor Associado da Universidade
Federal de Santa Catarina. Tem experincia na rea de Engenharia Sanitria e Ambiental, atuando nos
temas: Gesto Ambiental na Indstria, Produo Mais Limpa, Tratamento de Efluentes Lquidos Industriais
e Remediao de Solos e guas Contaminadas.
Doutorado em Planejamento Ambiental pela Universidade Tcnica de Berlin, Alemanha (1991) e PsDoutorado no Instituto de Tecnologia Ambiental da Universidade Tcnica de Berlin (2007). Mestrado em
Engenharia Civil pela Universidade de Waterloo, Canad (1979). Especializao em Planejamento Urbano
e Regional pela Universidade Dortmund, Alemanha (1986). Especializao em Saneamento Ambiental pela
814
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE (1976). Graduao em Engenharia Civil pela UFPE (1974).
Pesquisadora CNPq e FACEPE. Professora Associada do Departamento de Engenharia Civil da UFPE.
Membro do corpo docente permanente do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil- rea de
Concentrao Tecnologia Ambiental e Recursos Hdricos (Mestrado e Doutorado) da UFPE e do Programa
em Desenvolvimento e Meio Ambiente- Rede PRODEMA (Mestrado e Doutorado) da UFPE. Atualmente
Membro do Conselho Tcnico-Cientfico de Ensino Superior (CTC-ES) da CAPES como Coordenadora
da rea de Cincias Ambientais da Capes (2012-Atual), tendo atuado anteriormente como CoordenadoraAdjunta pro-tempore da rea de Cincias Ambientais (2011-2012) e como Presidente da Cmara de
Meio Ambiente e Agrrias da rea Interdisciplinar da CAPES (2009-2011). Membro Titular do Conselho
Municipal de Meio Ambiente do Recife COMAM (2009-atual), Membro da Rede de Estudos Ambientais
de Pases de Lngua Portuguesa REALP (2005-atual) e Sub-Chefe do Departamento de Engenharia Civil
da UFPE (2009-atual); Presidente da Associao dos Ex-Alunos da Universidade Tcnica de Berlin no
Brasil-Alumni TUB (2011-atual) e Diretora da Associao de Ex-Bolsistas da Alemanha AEBA/PE(2004atual). Editora da rea de Meio Ambiente da Revista de Engenharia Sanitria e Ambiental da Associao
Brasileira de Engenharia Sanitria e Ambiental-ABES. Parecerista de diversas revistas cientficas. Alm
disso, exerceu diversos cargos junto administrao pblica: Agncia Pernambucana de Meio AmbienteCPRH, Secretaria Estadual de Cincia, Tecnologia e Meio Ambiente, Fundao de Desenvolvimento da
Regio Metropolitana-FIDEM e Companhia Pernambucana de Saneamento COMPESA. Sua produo
cientfica e tecnolgica est contextualizada nas reas de: Planejamento e Gesto Ambiental; Saneamento
e Tecnologia Ambiental, Planejamento Urbano e Regional, Avaliao de Impactos Ambientais, Gesto de
Recursos Hdricos; Qualidade da gua, e Indicadores de Sustentabilidade.
MARIO AUGUSTO GONALVES JARDIM
Possui Graduao em Engenharia Florestal pela Universidade Federal Rural da Amaznia (1985),
Mestrado em Cincias Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade
de So Paulo (1991) e Doutorado em Cincias Biolgicas pela Universidade Federal do Par (2000).
Pesquisador Titular III do Museu Paraense Emlio Goeldi/Coordenao de Botnica, Professor Permanente
do Mestrado em Botnica da Universidade Federal Rural da Amaznia/Museu Paraense Emilio Goeldi; do
curso de Mestrado e Doutorado em Cincias Ambientais da Universidade Federal do Par/Museu Paraense
Emilio Goeldi/Embrapa-Amaznia Oriental e do Curso de Doutorado do PPG-Bionorte (Biodiversidade e
Biotecnologia) da UFAM. Atua como Ad hoc dos peridicos: Ambiente e gua, Magistra, Revista Arvore,
Revista Brasileira de Botnica, Revista de Cincias Agrrias, Acta Botanica Venezuelica, Revista Biotemas,
Revista Catinga, Neotropical Biology and Conservation, Oecologia Australis, Rodrigusia, Acta Botanica
Brasilica, Annales Botanici Fennici, Revista Brasileira de Arborizao urbana. Tem experincia na rea de
Botnica e Ecologia, com nfase em Botnica Aplicada e Ecologia Aplicada, atuando principalmente nos
seguintes temas: Manejo de Euterpe oleracea, Floresta de vrzea, Fenologia e Biologia da Reproduo,
Ecologia de ecossistemas amaznicos e Fitossociologia. Atua como membro do comit da rea de Cincias
Ambientais da CAPES.
Graduao em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paran (1976), mestrado em Engenharia
Civil Hidrulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de So Carlos-USP (1985) e doutorado em
Engenharia Civil Engenharia Hidrulica pela Universidade de So Paulo (2002). Professor da Pontifcia
Universidade Catlica do Paran, na graduao e junto ao Programa de Ps-Graduao-PPGTU, de
815
1980 a 2007. Professor da Universidade Federal do Paran, desde 1982, na graduao e junto ao
Programa de Ps-Graduao-PPGERHA. Experincia na rea de Engenharia Sanitria e Ambiental,
atuando principalmente nos seguintes temas: projeto e gesto da infraestrutura sanitria, tratamento de
esgotos sanitrio, reso da gua. Integra o Conselho Editorial da Revista ESA da Associao Brasileira de
Engenharia Sanitria e Ambiental-ABES. Atua na Diretoria da ABES desde 1992. Bolsista Produtividade
em Pesquisa 2 do CNPq.
OKLINGER MANTOVANELI JUNIOR
RICARDO OJIMA
Mestre em Sociologia (Unicamp, 2003) e Doutor em Demografia (Unicamp, 2007). Desenvolveu pesquisa
de ps-doutoramento no Ncleo de Estudos de Populao (NEPO/Unicamp, 2007-2009), com apoio da
Fapesp, sobre o tema: urbanizao, mobilidade populacional e meio ambiente. Entre 2009 e 2010 foi
coordenador do Sistema Estadual de Informaes sobre Saneamento (SEIS) na Fundao Joo Pinheiro
(FJP-MG) e professor na Escola de Governo do Estado de MG. Foi pesquisador do Ncleo de Estudos
de Populao (NEPO/Unicamp) e colaborador do Departamento de Demografia (Unicamp) entre 2010 a
2011. Desde agosto de 2011 professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Suas
pesquisas recentes tm se concentrado nos temas: urbanizao, mobilidade espacial da populao, teoria
demogrfica e mudanas ambientais.
Possui graduao em Engenharia Civil pela Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (1991),
engenharia ambiental pela Faculdade de Sade da USP (1993), mestrado em Resources Engineering
Universitat Karlsruhe (1996), doutorado em Sade Pblica pela Universidade de So Paulo (2002),
ps-doutorado em Sade Pblica pela Faculdade de Sade Pblica USP (2006). Atualmente professor
doutor na Escola de Engenharia de So Carlos da Universidade de So Paulo e vice-diretor do CRHEA
Centro de Recursos Hdricos e Ecologia Aplicada da EESC/USP. Tem experincia na rea de Engenharia
816
Ambiental, com nfase em Sade Ambiental e Sustentabilidade, atuando principalmente nos seguintes
temas: indicadores de sustentabilidade, desenvolvimento sustentvel, meio ambiente, sade pblica,
resduos slidos e gesto ambiental. Neste segundo semestre de 2013 est atuando junto ao Instituto de
Sustentabilidade Graham Universidade de Michigan Ann Arbor, EUA, no mbito do programa de
professor visitante CAPES/Comisso Fulbright.
VNIA GOMES ZUIN
Bacharel e licenciada em Qumica pela Universidade de So Paulo (1993), mestre em Cincias (Qumica
Analtica) pela Universidade de So Paulo (1997), doutora em Cincias (Qumica Analtica) pela
Universidade de So Paulo (2001), com estgio doutoral em Qumica Analtica Universit degli Studi
di Torino Itlia (2001). Doutora em Educao pela Universidade de So Paulo (2010). Ps-doutora em
Qumica pela Universidade de So Paulo (2004), e pelo Centro de Pesquisas Ambientais HelmholtzZentrum fr Umweltforschung / UFZ Alemanha (2005), com apoio da fundao Alexander von Humboldt
(AvH). Atualmente professora doutora da Universidade Federal de So Carlos junto ao Departamento
de Qumica (Adjunta III), credenciada ao Programa de Ps-Graduao em Qumica e ao Programa de
Ps-Graduao em Educao. Membro da comisso cientfica editorial da publicao Contribuies da
ps-graduao brasileira para o desenvolvimento sustentvel: Capes na Rio +20 e, desde 2012, integra
o Subcomit de Qumica Verde da International Union of Pure and Applied Chemistry (Subcommittee on
Green Chemistry IUPAC). Coordena, juntamente com o prof. Fernando Galembeck, a Sesso de Qumica
Verde da Sociedade Brasileira de Qumica (SBQ). Tem experincia na rea de Qumica e Educao, com
nfase em Cincias do Ambiente (Qumica Verde e Qumica Analtica Ambiental) e Educao Qumica
(Ambientalizao Curricular, Abordagem CTSA e Divulgao Cientfica em diferentes espaos sociais).
817
SOBRE OS AUTORES
Professora de Histria. Mestre e Doutora em Histria pela UFPR. autora de captulos de livros e de
artigos cientficos publicados. professora do Curso de Histria da Pontifcia Universidade Catlica do
Paran. Foi professora de Ensino Fundamental e Mdio junto Secretaria Estadual de Educao do
Paran e Rede Particular de Ensino. Atuou ainda como professora de Ensino Fundamental I junto
Prefeitura Municipal de Quatro Barras.
AFONSO VIEIRA
Geloga formada pela Universidade Federal do Paran em 2005. Atuou na rea de meio ambiente como
autnoma entre 2005 e 2007, executando mais de 20 projetos ambientais. Foi bolsista e pesquisadora da
UFPR no projeto de caracterizao das guas do Aqufero Guarani no Estado do Paran. Trabalhou na
rea de minerao Terra Engenharia no perodo de 2007 a 2011, executando trabalhos de pesquisa
mineral, licenciamentos, projetos de lavra, plano de controles ambientais entre outras atividades.
Biloga pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul em 1995, Mestre em Botnica pela Universidade
Federal do Paran em 2000. Atuou de 2000 a 2002 como Coordenadora de projetos de Recuperao de
reas Degradadas em consultoria ambiental. Trabalhou como funcionria e consultora ambiental autnoma
em cerca de 20 projetos ambientais. Atuou como docente na disciplina de Sistemtica de Plantas I, no Curso
de Cincias Biolgicas da UFMS/Campus Pantanal, CorumbMS. Participou como Analista de Projetos para
819
o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA / MMA). Proferiu palestras e minicursos na rea de Recuperao
de reas Degradadas e Macrfitas Aquticas, publicou 11 trabalhos em revistas cientficas desde 1996 na
linha de pesquisa de Plantas Terrestres e Aquticas. Faz parte da equipe da Andreoli Engenheiros Associados
desde setembro de 2003.
ANGELO JOSE DA SILVA
Possui graduao em Cincias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (1986), mestrado em
Cincia Poltica pela Universidade Estadual de Campinas (1996) e doutorado em Histria pela Universidade
Federal do Paran (2003). Ps-doutorado no Colgio do Mxico, Cidade do Mxico (2012). Atualmente
professor adjunto IV da Universidade Federal do Paran (UFPR). Tem experincia nas reas de Cincia
Poltica e Sociologia, com nfase em Sociologia, atuando principalmente nos seguintes temas: imagem
e conhecimento, arte urbana, marxismo, leitura, militncia poltica, identidade, movimento operrio.
coordenador acadmico do Centro de Estudos de Cultura e Imagem da Amrica Latina CECIAL.
Engenheira Agrnoma formada pela Universidade Federal do Paran em 1998, Mestre em Cincia do
Solo com especialidade em Geoprocessamento pela UFPR em 2003. Trabalhou na UFPR, Setor de
Cincias Agrrias, Departamento de Solos, realizando servios tcnicos especializados no Laboratrio de
Fotointerpretao e Geoprocessamento de 1999 a 2003. Docente no curso de Sistema de Informao
Geogrfica (SIG) Aplicado a Pesquisas em Botnica, Programa de Ps-Graduao em Botnica da UFPR, na
disciplina de Cartografia e Sensoriamento Remoto no Curso de Gerenciamento Ambiental pela Faculdade de
Tecnologia Cames, na disciplina de Gerenciamento e Planejamento de Projetos Ambientais na UNIPAR, no
curso de Licenciamento Ambiental no GBA Global Business Administration da Fundao Getlio Vargas
(FGV) e curso de Especializao em Geoprocessamento da PUCPR. autora de 17 trabalhos cientficos
publicados em congressos e revistas especializadas e 1 captulo de livro. Scia da Andreoli Engenheiros
Associados desde 2004 atuando como Gerente de Projetos e Especialista em Geoprocessamento responsvel
pela execuo e coordenao de trabalhos tcnicos especializados na rea ambiental.
Possui Licenciatura em Ensino da Educao Fsica pela Escola Superior de Educao do Instituto
Politcnico de Castelo Branco (1990), Mestrado em Cincias da Educao Metodologia da Ed. Fsica
pela Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Tcnica de Lisboa (1995), Doutoramento em
Estudos da Criana IEC- Universidade do Minho (2001), Agregao (Livre Docncia) em Cincias do
Desporto pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (2008); Ps-Doutoramento em Teoria e
Prtica Pedaggica em Educao Fsica pela Universidade Federal de Santa Catarina (2011); Atualmente
professor Auxiliar com Agregao da Universidade do Minho Instituto de Educao. Tem experincia
na rea de Formao de Professores com nfase em Educao Fsica, atuando principalmente nos
seguintes temas: Educao Fsica; Formao (Desenvolvimento Profissional e Pessoal); Formao Inicial e
Continua; Desporto; Representaes; Currculo; Identidades Profissionais; Jogo; Antropologia e Filosofia
das Atividades Corporais; Lazer, Recreao e Empreendedorismo.
820
Possui graduao em Histria Natural pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (1969), mestrado
em Educao pela Universidade Federal do Paran (1987) e doutorado em Educao pela Universidade de
So Paulo (2000). Tem especializao em Ensino de Cincias, em Psicodrama Pedaggico e em Preveno
da Violncia Domstica contra criana e adolescente. Atualmente professor associado 1 da Universidade
Federal do Paran. Tem experincia na rea de Educao, com nfase em preveno do abuso de
drogas, sexualidade, da homofobia na escola, da violncia contra a criana e o adolescente e educao
socioambiental. Tambm atua na rea da Responsabilidade Social. Atua na formao inicial e continuada
de professores, do educador social, de conselheiros tutelares e na formao do protagonismo juvenil. Foi
secretria regional da SBPC por duas gestes e atualmente faz parte do Conselho e do GT Educao da
SBPC. Foi membro da Comisso da Infncia e da Adolescncia da OABPR (2011-2012); membro do
Conselho Curador da Fundao Educacional Meninos e Meninas de Rua Profeta Elias; membro titular do
Conselho Estadual de Polticas sobre Drogas, pela UFPR. Participou do grupo de pesquisa coordenado por
Dra. Carolina Lisboa na pesquisa que investiga as relaes de amizade na infncia, as influncias parentais
e transio ecolgica na regio sul do Brasil (processo CNPq 477218/2008-3). pesquisadora na linha
da cognio, aprendizagem e desenvolvimento humano, do Programa de Ps-Graduao em Educao, do
Setor de Educao da UFPR, orientando teses e dissertaes na sublinha Educao Preventiva Integral e
Desenvolvimento Humano junto linha Cognio, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano. Participa
dos seguintes Ncleos e Grupos de Pesquisa: Educao, Ambiente e Sociedade (lder); Diversidades
em Educao; Preveno de Drogas na Escola. Coordenadora do NIED Ncleo Interdisciplinar de
Enfrentamento das Dependncias Qumicas da UFPR.
CINTHYA HOPPEN
Engenheira Qumica, formada pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran em 2000, MBA em Sistema
de Gesto Ambiental em 2001 pela PUCPR e Mestre em Engenharia de Recursos Hdricos e Ambiental pela
Universidade Federal do Paran em 2004. De 1999 a 2002 foi estagiria da Companhia de Saneamento
do Paran Sanepar atuando no Grupo Especfico de Consultoria, Intercmbio e Pesquisa, na rea de
pesquisa ambiental. Foi pesquisadora bolsista pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel
Superior CAPES, para desenvolvimento de pesquisa na rea de Engenharia Ambiental, em nvel de
mestrado (2002 2004). Trabalhou como pesquisadora no Programa de Saneamento Bsico (PROSAB)
para desenvolvimento de projeto junto Sanepar na rea de alternativas de usos de lodos de estao de
tratamento de gua e estaes de tratamento de esgoto de 2004 a 2006. Possui trabalhos publicados na
rea de saneamento ambiental, em que se destacam 12 trabalhos cientficos publicados em congressos e
quatro trabalhos publicados em revistas indexadas, alm de trs captulos de livro e cinco participaes em
mesas-redondas e palestras.
CLEVERSON V. ANDREOLI
Engenheiro Agrnomo, Mestre em Cincias do Solo e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela
Universidade Federal do Paran. engenheiro de Pesquisa da SANEPAR e professor do Programa de
Mestrado em Governana e Sustentabilidade do ISAE, e de Gesto Ambiental em cursos de especializao
da FGV, FAE e PUC-PR. Scio da empresa de consultoria ambiental, Andreoli Eng. Associados. Autor
821
e coordenador de 25 livros na rea ambiental, dentre os quais nove sobre lodo de esgoto e publicou
mais de 200 artigos cientficos. Foi Superintendente da SUREHMA, presidente da Associao Brasileira
de Entidades de Meio Ambiente ABEMA. Foi professor da UFPR, onde fundou e presidiu o Ncleo
Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento NIMAD. Realizou diversas consultorias para
entidades internacionais como o PNUMA Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente e para
o PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento na rea de gesto ambiental e para
a FAO na rea de gesto de recursos hdricos. Membro permanente da International Water Academy,
com sede em Oslo na Noruega. Membro do Conselho Editorial da Revista ESA e do Conselho Diretor
da Associao Brasileir a de Engenharia Sanitria e Ambiental ABES. Ganhador do Prmio FINEP de
inovao tecnolgica nos anos de 1998 e 2007.
CRISTIANE PICCININI
Biloga pela Universidade Estadual do Oeste do Paran (Campus Cascavel/PR) em 2002. Mestre em
Botnica na rea de Taxonomia e Ecologia de Microalga de gua Doce pela Universidade Federal do
Paran (Curitiba/PR) em 2005. Participou do curso de EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental e
Relatrio de Impacto Ambiental, da Academia de Engenharia e Arquitetura em 2006 e do curso de
Metodologias para Levantamento de Fauna para Licenciamento Ambiental, da Pr-Ambiente Assessoria
Ambiental em 2011. Docente da disciplina de Criptognica na Universidade Comunitria Regional de
Chapec UNOCHAPEC, em 2006. Publicou quatro trabalhos em revistas cientficas desde 2004
na linha de pesquisa de microalgas de gua doce diatomceas. Participou como consultora ambiental
autnoma em projetos ambientais. Atuou de 2006 a 2008 como tcnica e coordenadora de projetos para
empresas de consultoria ambiental. Atualmente ocupa o cargo de Assistente Ambiental III na Andreoli
Engenheiros Associados, desde 2009.
822
no Chile, Uruguai, Cuba, Bolvia. Participao em Congresso no exterior como professor convidado.
Apresentao e publicao de pesquisas. Trabalhos apresentado em congresso no Brasil e exterior.
Pioneira na implantao do servio da adolescncia na sade publica do Paran. Coordenao do curso
de Ps-Graduao em adolescncia de 1997 a 2007 na PUCPR Presidente da Departamento Cientifico de
adolescncia da SBP de 1998 a 2004.
DILERMANO BRITO
Engenheiro Qumico (1967). Especialista em Toxicologia (1979). Mestre em Toxicologia Forense (1982).
Professor da UFPR, professor de Toxicologia da Escola Superior de Polcia do Paran, Professor de
Toxicologia do Cursos de Ps-Graduao em Engenharia de Segurana. Presidente da Comisso Antidoping
da FPF. Autor de livros sobre toxicologia.
Possui graduao em Medicina pela Universidade Federal do Paran (1978), Aperfeioamento em Sade
Pblica pela Escola de Sade Pblica do Paran (1981) Especializao em Sade Pblica (1982) e
Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paran (1999). Atuou
como mdica sanitarista e epidemiologista na Secretaria de Estado da Sade do Paran de 1980 a 1999
nas reas de Vigilncia Epidemiolgica, Controle de Doenas, Informao em Sade e na Direo Tcnica
do rgo. Desde 1979 professora da Universidade Federal do Paran onde atua no Departamento de
Sade Comunitria na docncia da graduao em medicina e outros cursos da rea da sade, nas reas
de Sade Coletiva e Epidemiologia, coordena o Estgio de Sade Coletiva do 10 perodo do curso de
medicina. Participa do Programa de Ps-Graduao em Meio Ambiente e Desenvolvimento no Comit
Cientfico desde 2000 e na vice-coordenao desde setembro de 2008 realizando pesquisas e orientaes
sobre relaes sade, meio ambiente e desenvolvimento.
Historiadora social da arte paranaense e professora de Histria da Arte na Universidade Estadual do Paran /
Escola de Msica e Belas Artes do Paran, Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Mestre em
Educao e Especialista em Histria da Arte. Organiza eventos e edita publicaes artstico-culturais e
de pesquisa em arte. Ministra palestras e participa de mesas-redondas e debates sobre temas que vo da
arte de rua histria cultural de Curitiba, e da educao msica erudita contempornea, integrando a
arte, a antropologia, a sociologia e a poltica. Sua atividade didtica abrange crianas, jovens e a formao
de professores, bem como a orientao de novos pesquisadores. curadora de exposies de artistas
paranaenses, entre elas algumas que envolvem o graffiti, para as quais organiza/elabora catlogos de arte.
Seus principais livros publicados so: Graffiti Curitiba, 2010; Cem anos de sociedade, arte e educao
em Curitiba (1853-1953), 2004; Acervo Artstico da Associao Comercial do Paran, 2010; Catlogo
da exposio Elza Weimar Mller, 2010; Um olhar sobre a msica de Jos Penalva, 2000; Jos Penalva,
com a batina e a batuta (com Bojanoski), 2006; e A [des]construo da msica na cultura paranaense
(colaboradora com mais de 175 pginas); 2004. Dentre seus artigos sobre artes visuais destacam-se
A cidade como suporte da arte de rua: uma perspectivasociolgica e antropolgica, 2006; e O meio
ambiente natural e urbano no graffiti em Curitiba, 2010. Escreve, ainda, livros didticos para crianas
e professores na rea de artes para editoras como Yamaha, Musimed, IESDE Brasil e Positivo. Recebeu
vrios prmios pelo conjunto da sua obra.
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Licenciada em Histria e Mestre em Educao pela Universidade Federal do Paran; Doutora em Histria
Social pela Universidade de So Paulo. Ps-doutorado na Sorbonne Nouvelle-Paris III. Foi docente do curso
de Histria e dos cursos de Ps-Graduao em Histria da Universidade Federal do Paran. Atualmente
docente do curso de Histria e coordenadora do Mestrado Interdisciplinar em Cincias Humanas da
Universidade Tuiuti do Paran. Autora do livro Clotildes ou Marias. Mulheres de Curitiba na Primeira
Repblica (Fundao Cultural de Curitiba); organizadora da coletnea Mulheres no Paran. Sculos 19
e 20 (PGEHIS/UFPR); coordenadora e coautora do livro Homem, cidade e natureza. Uma histria das
polticas pblicas de Curitiba (UNILIVRE/SMMA), entre outros. Publicou vrios captulos de livros, artigos
em revistas especializadas e textos em anais de eventos cientficos.
Possui graduao em Licenciatura e Bacharelado em Histria pela Universidade Federal do Paran (1992),
mestrado em Programa de Pos-Graduao em Histria pela Universidade Federal do Paran (2000) e
doutorado em Histria pela Universidade Federal do Paran (2005). Atualmente professora da Pontifcia
Universidade Catlica do Paran e do Centro Universitrio Curitiba. Tem experincia na rea de Histria,
com nfase em Histria do Brasil Repblica.
Possui graduao em Engenheiro Agrnomo pela Universidade Federal de Santa Maria (1971), mestrado
em Economia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1980) e doutorado em Engenharia
de Produo pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente tcnico senior i da
Companhia Nacional de Abastecimento CONAB, professor da Associao Franciscana de Ensino Senhor
Bom Jesus, professor da Universidade Federal do Paran e Palestrista nas reas de Poltica econmica
e Agronegcio.
Engenharia Civil pela Universidade Federal do Esprito Santo em 1993, mestre em Engenharia Ambiental
pela Universidade Federal do Esprito Santo em 1996 e doutora em Educao pela Pontifcia Universidade
Catlica do Paran, PUC-PR em 2011. Atua desde 1997 na formao ambiental como professora
universitria da Pontifcia Universidade Catlica do Paran, nas graduaes em engenharia. Coordenadora
do curso de graduao em Engenharia Ambiental na PUCPR. Leciona na graduao em engenharia
ambiental nas disciplinas de Gesto Ambiental, Engenharia Sanitria e Ambiental, Trabalho de Concluso
de Curso e Estgio Supervisionado. Pesquisadora de dois grupos de pesquisas: Educao em Engenharia
e Engenharia Ambiental. As pesquisas esto divulgadas nos trabalhos publicados e em captulos de
livros. Atua em consultoria na rea ambiental e civil, e em auditoria ambiental.
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Mdica, formada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paran (UFPR). Mdica
Residente em Radiologia e Diagnstico por Imagem do Hospital So Vicente.
Possui graduao em Formao Pedaggica de Docentes pelo Fundao Faculdade Estadual de Filosofia
Cincias Letras Cornlio Procpio (1998), graduao em Agronomia pela Universidade Estadual de
Londrina (1986), especializao em Administrao Rural pela Universidade Estadual de Londrina (1997)
e mestrado em Educacao pela Universidade Estadual de Londrina (2003). Atualmente Colaborador do
Servio Nacional de Aprendizagem Rural e Scia-Fundadora do Turquino Planejamento e Consultoria
Agropecuria Ltda. Atuando principalmente nos seguintes temas: Cultura, Educao, meio rural, meio
urbano, etnografia.
Graduada em Servio Social pelas Faculdades Integradas Espirita; especialista em Poltica de Atendimento
Criana e ao Adolescente em Situao de Risco: nfase em educao e cidadania pelo Instituto Superior
de Ensino, Pesquisa e Extenso ISEPE; mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnolgica Federal do
Paran UTFPR Realizando pesquisas e atuando principalmente nos seguintes temas: Polticas de Direito na
rea da infncia e adolescncia, Trabalho infanto juvenil Lei do Jovem Aprendiz, Estatuto da Criana e do
Adolescente, Tecnologia e trabalho e Educao e trabalho. Email para contato: [email protected].
Engenheiro Agrnomo formado pela Universidade Federal do Paran em 2002, Auditor Ambiental pelo
Bureau Veritas Quality International (BVQI) em 2003, Especialista em Gesto, Auditoria e Percia Ambiental
pelo Instituto Martinus de Educao e Cultura em 2004, Mestre em Polticas Pblicas e Desenvolvimento
em 2013. Atua no setor de meio ambiente desde 2002 e na Andreoli Engenheiros Associados desde
2004. Professor dos cursos de Licenciamento Ambiental e Avaliao de Impactos Ambientais da Fundao
Getlio Vargas. autor de 13 trabalhos cientficos publicados em congressos.
Formado em Gesto Ambiental pela Faculdade Evanglica em 2009. Ingressou na Andreoli Engenheiros
Associados em 2008 e realizou cursos na rea de passivos ambientais: Processo de identificao e as
tomadas de deciso no gerenciamento de reas contaminadas pela Clean Environment Brasil e Avaliao
de Risco pela EDUTECH Ambiental.
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Formado em Sociologia pela PUCPR e Bacharel em Cincia Poltico pela Univali, com registro profissional
de socilogo MTB 354/PR, Bacharel em Direito pela PUCPR, jornalista profissional MTB 7601-PR.
ps-graduado em gesto social e polticas pblicas pela PUCPR. Foi coordenador Regional do Pronasci
Programa Nacional de Segurana Pblica com Cidadania pelo Min. da Justia. J Atuou em projetos sociais
em Timor Leste, para pases africanos e entidades italianas. Atualmenteexerce a funo de docncia na
cadeira de sociologia no Colgio Estadual do Parane na rea de assessoria empresarial.
Mdico Pediatra, formado pela Faculdade de Medicina da UFPR. Mdico Voluntrio no Hospital Infantil
Pequeno Prncipe. Mdico plantonista da Maternidade Nossa Senhora de Ftima Unidade de Neonatologia.
Professor colaborador da Disciplina de Pediatria e Puericultura da Pontifcia Universidade Catlica do
Paran, ministrando aulas e orientaes para os alunos de 5 e 6 anos e residentes em Pediatria na
Maternidade Nossa Senhora de Ftima. Mdico Consultor do Servio Nacional de Aprendizagem Rural
(SENAR-PR) da Federao da Agricultura do Estado do Paran no Programa Agrinho (Sade Infantil
e Sade do Adolescente). Coautor, Colaborador e Palestrante do Programa Agrinho- Sade e Programa
Famlia e Qualidade de vida (SENAR-PR).
Professora Doutora, Adjunto IV, aposentada do Departamento de Antropologia da UFPR, atuou na pesquisa
e na extenso como professora e orientadora na graduao e na ps-graduao Curso de Graduao em
Cincias Sociais, Especializao em Antropologia Social, Mestrado em Antropologia Social e Doutorado em
Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ministrou diversos cursos de Especializao, de Extenso Universitria,
palestras e mesas redondas. Foi vice-diretora do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR MAE, entre
2002 e 2006, quando acompanhou o projeto de restauro da edificao do antigo Colgio dos Jesutas, em
Paranagu, sede do MAE/UFPR. Instalou e respondeu pela Pr-reitoria de Extenso e Cultura da UFPR
durante a gesto 1990-94. Respondeu pela Vice-direo do Setor de Cincias Humanas, Letras e Artes da
UFPR, entre os anos de 1986-1990. Coordenou o Inventrio Nacional de Referncias Culturais na cidade
da Lapa/PR, sob a responsabilidade da 10 SR do IPHAN, entre 2004 e 2006. Respondeu pela Diretoria
de Patrimnio Cultural da Fundao Cultural de Curitiba em 2011; foi Secretria Geral do ICOMOS/
Brasil UNESCO 2009/2011. Publicou livros, alm de captulos de livros e artigos em jornais e revistas.
Atualmente desenvolve trabalhos de consultoria na rea de Patrimnio Cultural.
Possui graduao em Licenciatura em Educao Fsica pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran
(1991), especializao em Aprendizagem e Desenvolvimento Motor no Ensino da Educao Fsica
pela PUCPR (1992), especializao em Fisiologia do Esforo pela FAFICLA (1993), aperfeioamento
em Treinamento Desportivo no Voleibol pela Universitat Leipzig (1995), mestrado em Engenharia de
Produo pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001) e Doutorado em Estudos da Criana
na rea de Educao Fsica, Lazer e recreao pela Universidade do Minho (2009). professor da
Universidade Tecnolgica Federal do Paran desde 1992. Atua na graduao e ps-graduao com as
seguintes temticas: inteligncia emocional, antropometria, metodologia de pesquisa, voleibol e pedagogia
do desporto.
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Possui graduao em Direito Faculdades Integradas Curitiba (1990), graduao em Histria pela
Universidade Federal do Paran (1993), mestrado em Histria pela Universidade Federal do Paran
(1999) e doutorado em Histria pela Universidade Federal do Paran (2004). Atualmente professor
Adjunto III da Pontifcia Universidade Catlica do Paran, onde tambm Coordenadora do Curso de
Histria. Tem experincia na rea de Histria, com nfase em Histria Moderna, atuando principalmente
nos seguintes temas: histria da alimentao, etiqueta, diferenciao social, boas maneiras mesa,
comportamento adequado e boas maneiras; alimentos, smbolos, civilizao e histria e cultura africana.
Faz parte desde sua criao em 2004 do NEERE (Ncleo de Educao em Relaes tnicas da Escola de
Educao e Humanidades da PUCPR). Atualmente tambm coordenadora do curso de Especializao:
Histria Social da Arte da PUCPR, e coordena tambm o subprojeto em Histria do PIBID na PUCPR.
MARLIA DIAZ
Professora do Curso de Artes Visuais da UFPR, Mestre em Educao pela UFPR, especialista em
Metodologia do Ensino da Arte pela UFPR-FAP e Psicodrama Pedaggico, com formao em Educao
Artstica pela FAP e Pedagogia pela TUIUTI. Entre suas principais apresentaes de trabalhos esto
Pedagogia 95 Encuentro por la Unidad de los Educadores Latino Americanos O Fazer Cermico no
Municpio de Antonina Havana Cuba
2001 AMPAP O Fazer Cermico no Municpio de Antonina Recife PE.
2007 Palestra -Trs momentos da cermica no Brasil arqueolgica popular e contempornea
Universidade de Belas Artes Granada Espanha. Realizou projetos com comunidades na rea da
alfabetizao de adultos, desenvolvimento de arte popular, educao de crianas excepcionais entre outros.
Autora com Ana Maria Liblik de A avaliao em artes visuais no ensino fundamental e de captulos de
4 livros e 8 artigos sobre arte e seu ensino. Artista plstica dedicada a rea da escultura e da cermica
participou de 9 exposies individuais e 56 exposies coletivas. Possui obras em acervos de quatro
importantes Museus brasileiros.
Psicloga, Especialista em Adolescncia pelo PUC/PR. Especializao em Psicologia Clinica e Jurdica com
registro no Conselho Regional de Psicologia do Paran. Desde 1987 servidora pblica do Tribunal de
Justia do Estado do Paran, atuando como psicloga jurdica na rea da Infncia e Juventude, realizando
laudos, percias, pareceres, dentre outros. Foi supervisora e assessora na Assessoria de Apoio aos Juizados
da Infncia e Juventude, rgo vinculado diretamente a Corregedoria Geral da Justia do Estado do
Paran, onde fez parte da comisso de elaborao de diversas obras: Revistas da AAJIJ, Guia Informativo
da AAJIJ, Coletnea de Leis da rea da Criana e do Adolescente AAJIJ, Gibi Brasilzinho Estatuto da
Criana e do Adolescente, 1 e 2 edio e Gibi Brasilzinho Adoo.
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Possui graduao em Pedagogia pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (1981), mestrado em
Educao pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (1994) e doutorado em Engenharia de Produo
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002). Atualmente Coordenadora do curso de Pedagogia,
professora titular da Pontifcia Universidade Catlica do Paran e Professora permanente do mestrado
e doutorado em Educao da PUCPR. Diretora de EAD da Pr-reitoria de Extenso e Comunitria no
perodo de 2005 a 2009. Coordenadora responsvel pelo setor de avaliao e pesquisa do Centro de
Educao a Distncia da PUCPR no perodo de 2002 a 2003. Professora da UFSC nos programas de
Mestrado em Mdia e Conhecimento no perodo de 1999 a 2002. Gestora de projetos de utilizao de
ambientes virtuais de aprendizagem para oferta de disciplinas a distncia em cursos superiores. Diretora da
rea de Educao da PUCPR no perodo de 1995 a 1999 e de 2003 a 2005. Membro do conselho diretor
da PUCWEB no perodo de 2003 a 2005. Possui livros e captulos de livros publicados na Republica
Dominicana, no Peru, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Colmbia, no Mxico, em Portugal e no
Brasil. Assessora Pedaggica do SENAR-PR. Coordenadora do Programa Agrinho SENAR-PR. Tem
experincia na rea de Educao, atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologias educacionais,
educao a distncia, formao profissional, formao de professores, educao superior.
Filsofo e educador. MBA em Gesto Educacional (2012-2013). Ps-doutorado pela UFPR (2011).
Doutorado em Filosofia pela PUCSP (2003). Mestrado em Filosofia pela PUCSP (1996). Especializao
em Filosofia Poltica pela UFPR (1993). Especializao em Ensino Religioso Escolar pela Faculdade de
Filosofia de Lorena (1992). Licenciatura em Filosofia pela PUCPR (1990). Desde 2009, Professor
da Faculdade Cenecista de Campo Largo (FACECLA). professor tambm do Mestrado em Gesto
do Conhecimento no Centro Universitrio de Maring (CESUMAR). De 1995 a 2012, foi professor da
Pontifcia Universidade Catlica do Paran PUCPR. Foi professor, ainda, das seguintes instituies de
ensino superior: Universidade Federal do Paran; FAE Centro Universitrio Franciscano; Faculdade
Arquidiocesana de Filosofia de Curitiba. Como professor visitante, atuou no Centro Universitrio de Unio
da Vitria (UNIUV) e na Faculdade Diocesana de Filosofia de Unio da Vitria. Possui experincia de
22 anos em funes docentes e de gesto escolar e universitria. Tem experincia nas reas de Filosofia
e Educao. Atua principalmente nos seguintes temas: filosofia, tica, epistemologia, filosofia da cincia,
filosofia da educao, relao entre filosofia e educao, produo do conhecimento cientfico.
Possui graduao em Cincias Biolgicas (Zoologia) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1977),
Mestrado em Oceanografia Biolgica (1981) e Doutorado em Cincias (Oceanografia) pela Universidade
de So Paulo (1984). Trabalha desde 1981 no Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do
Paran (CEM/UFPR), onde ocupa atualmente o cargo de Professor Titular. Participou dos comits de
implantao e atuou como coordenador ou vice-coordenador dos cursos de Doutorado em Meio Ambiente
e Desenvolvimento (de 1993 a 2009), graduao em Oceanografia (desde 2000) e ps-graduao em
Sistemas Costeiros e Ocenicos (desde 2006) da UFPR. Foi membro do Comit Assessor de Oceanografia
do CNPq em duas oportunidades. o atual presidente da International Polychaetological Association
(trinio 2010-2013). Foi vice-coordenador do projeto Uso e Apropriao de Recursos Costeiros (RECOS)
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Mdico, Doutor em Pneumologia pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Professor Titular de
Pneumologia na Pontifcia Universidade Catlica do Paran. Responsvel pelo Ambulatrio de Oxigeniterapia
Domiciliar da Secretaria Municipal de Sade de Curitiba. Chefe do Programa de Residncia Mdica em
Pneumologia Da PUCPR-MEC. Mdico Pneumologista.
Gegrafo formado pela Universidade Federal do Paran em 2008 e Ps-graduado MBA em Gesto
Ambiental formado pela Universidade Federal do Paran em 2010. Atuou na rea de Geoprocessamento
entre 2004 e 2006 pelo Instituto Paranaense de Assistncia Tcnica e Extenso Rural EMATER-PR,
e entre 2006 e 2008 pelo Instituto de Terras, Cartografia e Geocincias do Paran ITCG. Em 2008,
ministrou palestra sobre Geoprocessamento e Meio Ambiente na Faculdade Evanglica do Paran. Autor
de dois trabalhos cientficos apresentados em Congressos. Trabalha na Andreoli Engenheiros Associados
desde 2008.
Engenheiro Agrnomo, formado pela Universidade Estadual de Londrina (1984). Advogado, formado
pela Universidade Estadual de Londrina (1999). Especialista em Formao Pedaggica de Docentes pela
Faculdade Estadual de Filosofia, Cincias e Letras de Cornlio Procpio (1998). Especialista em Direito
pela Universidade Estadual de Londrina (2000). Curso de Aperfeioamento para Ingresso na Carreira do
Ministrio Pblico do Paran/2001. Coautor e Palestrante do Programa Agrinho Cidadania e Trabalho
e Consumo. Instrutor na rea agronmica. Advogado, militante causas cveis e criminais.
RICARDO TESCAROLO
Possui doutorado em Educao pela USP Universidade de So Paulo (2003), mestrado em Educao
pela PUCSP Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (1993), graduao em Letras Portugus/
Ingls (licenciatura) e em Pedagogia (bacharelado e licenciatura). Estgio ps-doutoral na Fordham
University, USA (2011-2012). Professor do programa de Ps-Graduao Stricto Sensu (mestrado e
doutorado) em Educao da Pontifcia Universidade Catlica do Paran, onde tambm exerceu o cargo
de Pr-Reitor Comunitrio (2006-2012). Coordenador do Ncleo de Desenvolvimento Pedaggico das
Faculdades Pequeno Prncpe. Inscreve-se na linha de pesquisa; Teoria e Prtica Pedaggica; e integra
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Graduao em Odontologia pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (1983), Mestrado em Odontologia
Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1989) e Doutorado em Epidemiologia e Sade
Pblica University of London (1999). autora/editora de 36 artigos,2 livros e 21captulos de livros.
Atualmente professora Titular da Pontifcia Universidade Catlica do Paran e coordenadora do Programa
de Ps-Graduao em Odontologia rea de Concentrao em Sade Coletiva (mestrado e doutorado). Foi
Coordenadora da Rede de Ambientes Saudveis da Prefeitura Municipal de Curitiba. Coordena projetos
de cooperao nacional e internacional nas reas de promoo de sade e desenvolvimento local. Tem
experincia na rea de Sade Coletiva, atuando principalmente nos seguintes temas: promoo de sade,
polticas pblicas saudveis, epidemiologia, sade da famlia e sade bucal coletiva.
Engenheira Ambiental pela FAE Centro Universitrio em 2011 e Mestranda em Meio Ambiente Urbano e
Industrial pela UFPR (2013). Foi bolsista do PROSAB Programa de Pesquisas em Saneamento Bsico
financiado pela FINEP. Fez parte do Grupo de Desenvolvimento do Inventrio de Gases de Efeito Estufa
do Estado do Paran como estagiria da SANEPAR Companhia de Saneamento do Paran, e participou
da elaborao do Inventrio de Emisso de Gases de Efeito Estufa do Setor de Resduos no Paran Ano
Base 2005, realizado em parceria com IAP, SANEPAR, SEMA, PUCPR, Instituto das guas do Paran
e Governo do Estado do Paran. Possui participao em 1 captulo de livro publicado em 2011 na rea de
saneamento bsico. Atua na Andreoli Engenheiros Associados Ltda desde julho de 2010.
Possui graduao em Direito pela Universidade Federal do Paran (1996). Graduao em Cincias Sociais
pela Universidade Federal do Paran (1987), mestrado em Direito pela Universidade Federal do Paran
(2002) e doutorado em Direito pela Universidade Federal do Paran (2006). Atualmente professora de
Direito do Trabalho e Seguridade Social da Universidade Federal do Paran e Procuradora do Trabalho
do Ministrio Pblico do Trabalho. Tem experincia na rea de Direito, com nfase em Direito, atuando
principalmente nos seguintes temas: trabalho, discriminao, mulher, direito e gnero.
VALDIR FERNANDES
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Psicloga Clnica, com especializao em Ludoterapia, Adolescncia e Terapia de Casal; desenvolve suas
atividades profissionais em consultrio, e profere palestras sobre temas (Centro de Sade Metropolitano e
Centro Psiquitrico Metropolitano), e foi Presidente da Associao Arnaldo Gilberti Espao Paranaense
de Sade Mental, onde foi pioneira na implantao de Residncias Teraputicas no Estado da Paran.
WILSON MASKE
Possui graduao em Histria pela Universidade Federal do Paran (1992), mestrado em Histria do
Brasil pela Universidade Federal do Paran (1999) e doutorado em Histria pela Universidade Federal
do Paran (2004). Atualmente professor titular da Pontifcia Universidade Catlica do Paran. Tem
experincia na rea de docncia e pesquisa em Histria, com nfase em Histria Contempornea e em
Histria do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: imigrao, escravismo, imperialismo,
relaes internacionais. Atualmente desenvolve projeto de pesquisa concentrado na questo das relaes
entre Brasil e Alemanha Imperial, no perodo de 1871-1918, com especial foco no imperialismo alemo e
na imigrao alem para o Brasil.
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