Estratégias de Coping PDF
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Carmen Lpez-Snchez
Universidade de Alicante
Resumo
A adolescncia uma fase desenvolvimental marcada por desafios. No sentido de conhecer melhor as estratgias
que os adolescentes utilizam para lidar com o stress, pretendeu-se com este estudo apresentar as propriedades psicomtricas da Escala de Estratgias de Coping na Adolescncia (Burnett & Fanshawe, 1997), testada junto de uma
amostra de adolescentes portugueses, explorando diferenas em funo do gnero e da idade. Os resultados permitiram encontrar uma estrutura factorial vlida e com consistncia interna genericamente adequada. Os dados
permitem perceber diferenas nas estratgias de coping, com as moas a procurar mais apoio dos outros e melhoria pessoal, enquanto os rapazes utilizam mais frequentemente drogas ou o humor. Em funo da idade verificouse uma relao positiva com o uso de substncias e diminuio da procura de apoio da famlia e de profissionais.
Os dados so discutidos luz da literatura e implicaes para a prtica so apresentadas.
Palavras-chave: adolescncia; coping; psicometria.
Abstract
Adaptation of the Adolescent Coping Strategies Scale in a Portuguese sample. Adolescence is a developmental period marked by challenges. In order to better understand the strategies that adolescents use to cope with stress,
it is intended with this study to present the psychometric properties of the Adolescent Coping Strategies Scale (Fanshawe & Burnett, 1997), tested with a sample of Portuguese adolescents, exploring differences by gender and age. The results allowed to find a valid and generally adequate internal consistency factor structure. The
data allow to discern differences in coping strategies, with the girls to seek more support from others and personal improvement, while boys more often use of drugs or humor. We found a positive relationship between age
and substance use and decreased demand for support from family and professionals. The data are discussed
according to literature and implications for practice are presented.
Keywords: adolescence; coping; psychometrics.
Resumen
Adaptacin de la Escala de Estrategias de Afrontamiento en la Adolescencia en una muestra Portuguesa. La adolescencia es
un periodo de desarrollo marcado por los desafos. En el presente estudio se presentan las propiedades psicomtricas
de la Escala de Estrategias de Afrontamiento en la Adolescencia (Fanshawe y Burnett, 1997) con el fin de comprender mejor las estrategias que utilizan los adolescentes para hacer frente al estrs. El instrumento ha sido probado en
una muestra de adolescentes portugueses, explorando las diferencias por sexo y edad. Los resultados permitieron
encontrar una estructura factorial con una consistencia interna vlida y adecuada. Los datos permiten discernir las
diferencias en las estrategias de supervivencia, donde las chicas tienden a buscar ms apoyo de los dems y la mejora
personal, mientras que los chicos emplean ms a menudo el consumo de drogas o el demanda del humor. Dependiendo
de la edad se verifica una relacin con el consumo de sustancias y la disminucin de la demanda de apoyo familiar y
profesional. Los datos se analizan en base a la literatura y se presentan las implicaciones para la prctica.
Palabras clave: adolescencia; afrontamiento; psicometra.
DOI: 10.5935/1678-4669.20150003
adolescncia uma fase desenvolvimental marcada por desafios importantes a diversos nveis,
desde os desafios escolares e de carreira, relao
com a famlia ou na rede de pares, at s prprias alteraes
hormonais, cognitivas e cerebrais (e.g.: Casey et al., 2010;
Gestsdottir & Lerner, 2008; Zimmer-Gembeck & Skinner,
2008). Embora a literatura permita perceber que a maioria
dos adolescentes capaz de lidar eficazmente com estes desafios (Kenny, Dooley, & Fitzgerald, 2013), cerca de um tero
experimentam elevados nveis de stress (e.g.: Arbour-Nicitopouos, Faulkner, & Irving, 2012; Schraml, Perski, Grossi, &
Simonsson-Sarnecki, 2011). Como referem em reviso Skinner e Zimmer-Gembeck (2007), esta reao tem o potencial de
moldar as relaes sociais, a sua fisiologia e o percurso desenvolvimental dos adolescentes, pelo que lhe importa perceber
os agentes stressores e, especialmente, como os adolescentes
lidam com estas situaes, que estratgias de coping utilizam.
Conhecendo estas estratgias, e intervindo adequadamente,
podemos potenciar o ajustamento individual, a sade e o bem-estar nesta faixa etria (Compas, Connor-Smith, Saltzman,
Thomsen, & Wadsworth, 2001; Garcia, 2010; Sveinbjornsdottir & Thorsteinsson, 2008).
Por estes motivos, o presente trabalho pretende centrarse nas estratgias que os adolescentes utilizam para lidar com
estas situaes ou contextos mais desafiantes as chamadas
estratgias de coping. Para isso, os autores propem-se explorar, na populao portuguesa, as caractersticas psicomtricas
de uma verso, reduzida, de uma das escala de coping mais
estudadas junto de adolescentes, a Adolescent Coping Orientation for Problem Experiences (Patterson & McCubbin, 1987), e
perceber as estratgias de coping em funo de variveis sciodemogrficas como o gnero e a idade.
O estudo do coping
O coping tem sido definido como o conjunto de estratgias, cognitivas e comportamentais, que os indivduos utilizam para gerir, reduzir, minimizar e lidar com as exigncias
internas e externas (Lewis & Frydenberg, 2002; ZimmerGembeck & Skinner, 2008). Desde as perspectivas fisiolgicas
de Selye (1956), muitas propostas tm sido apresentadas para
o estudo do stress e do coping. Apesar das diversas abordagens, a maioria dos estudos tem sido influenciada pela teoria
transacional ou interaccionista de coping de Lazarus (1980).
Nesta perspectiva, so essenciais dois tipos de processos na
resposta aos acontecimentos stressantes: a avaliao sobre as
qualidades desse stressor (o potencial de ameaa); e as estratgias de coping que o indivduo pode utilizar para lidar com
esses acontecimentos stressantes. Dessa forma, os processos
de avaliao e o coping so, assim, entendidos como processos
transacionais, na medida em que existe uma constante interao entre a pessoa e o meio, continuamente em mudana
(Folkman & Lazarus, 1991).
Baseados nesses pressupostos, diferentes autores agruparam as estratgias de coping em categorias ou estratgias.
De acordo com Compas e colaboradores (2001), poderamos
distinguir entre estratgias focadas no problema ou focadas na emoo. As focadas no problema envolvem esforos para mudar a fonte de stress, como a procura e recolha
de informao, explorao de solues possveis ou aes
13
que permitam alterar os stressores. J as estratgias focadas na emoo envolvem a mudana da resposta emocional
do indivduo ao stress, o que pode envolver respostas como
a procura de apoio ou a expresso das emoes. Se as estratgias focadas nos problemas parecem associar-se a maior
sade (McMahon et al., 2013; Penley, Tomaka, & Weibe,
2002), as estratgias focadas nas emoes tendem a ser associadas a consequncias mais negativas, por exemplo,
consumo de lcool (Wills, Sandy, Yaeger, Cleary, & Shinar,
2001), perturbaes do humor (Miers, Rieffe, Terwogt, Cowan, & Linden, 2007; Thompson et al., 2010), problemas de
comportamento (Elgar, Arlett, & Groves, 2003) ou mesmo
comportamentos suicidrios (McMahon et al., 2013).
Numa outra tipologia, Frydenberg e colaboradores
(2004) distinguem entre estratgias: as focadas no problema, com o objetivo de lidar positivamente com o problema, mantendo otimismo em relao sua resoluo; referncia a outros, envolve o contacto e suporte da rede social
de apoio dos adolescentes, por exemplo, os pares, amigos,
famlia, professores; e as estratgias no-produtivas, que
envolvem estratgias respostas emocionais negativas ou
estratgias de evitamento como por exemplo, ignorar o
problema, preocupar ou auto-culpabilizar-se (Frydenberg
& Lewis, 1991, 2004). Enquanto as duas primeiras so entendidas como mais adaptativas, as estratgias emocionais
tm sido associadas a efeitos mais negativos na sade fsica
e psicolgica (e.g.: Aldao, Nolen-Hoeksema, & Schweizer,
2010; Frydenberg & Lewis, 1991, 2004).
Apesar destas evidncias, os estudos tm sido realizados
essencialmente sobre jovens e adultos, sendo mais escassa
a investigao realizada junto das populaes mais jovens
(Frydenberg, 2014; Schwarzer & Schwarzer, 1996; ZimmerGembeck & Skinner, 2011). Alis, grande parte da avaliao
do coping tem sido centrada nas orientaes dos adultos (e. g.,
Garcia, 2010) e s depois adaptada para as populaes mais
jovens, o que contribui para a manuteno de dvidas e controvrsia quanto sua conceptualizao, dimensionalidade,
nmero e tipo de estratgias mais eficazes (Boubeta, Iglesia,
Ongarato, & Liporace, 2011; Skinner, Edge, Altman, & Sherwood, 2003). Considerando as mudanas desenvolvimentais
nesta faixa etria importante para o estabelecimento de estilos de vida, importa explorar melhor estes processos junto da
populao adolescente (Garcia, 2010).
14
O presente estudo
Numa reviso crtica de escalas, Sveinbjornsdottir e
Thorsteinsson (2008) verificam limitaes nos instrumentos existentes, seja ao nvel de informao sobre o desenvolvimento das medidas, alguma confuso semntica ou dados
psicomtricos mais pobres. Apesar das diferenas, estes instrumentos permitem captar um conjunto de informao relevante para a compreenso destas estratgias de coping na
adolescncia e contribuem para a constituio de um bom
quadro de referncia para novos instrumentos (Burnett &
Fanshawe, 1997). O Adolescent Coping Orientation for Problem Experiences (A-COPE) (Patterson & McCubbin, 1987)
Mtodo
Participantes
A amostra do estudo constituda por 783 adolescentes, maioritariamente do sexo feminino (61,4%, n = 481,
para 38,6% do sexo masculino, n = 302), com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos (M = 16,30, DP = 0,931),
que frequentavam cursos do Ensino Secundrio. Da amostra
27,8% frequentava o 10 ano (n = 218), 40,1% frequentava o
11 ano (n = 314) e 32,1% frequentava o 12 ano (n = 251).
Instrumentos
Foi utilizada a Escala de Estratgias de Coping na Adolescncia (Burnett & Fanshawe, 1997), um instrumento que
resulta do refinar da escala de 54 itens Adolescent Coping
Orientation for Problem Experiences (Patterson & McCubbin,
1987). A reduo de itens e eliminao de subescalas do instrumento original deu origem Escala de Estratgias de Coping na Adolescncia, com 26 itens e 10 subescalas: melhoria pessoal; focus no positivo; procura de apoio espiritual;
recurso ao humor; procura de diverses; descarga emocional;
uso de drogas; procura de apoio familiar; procura de apoio de
outros; procura de apoio profissional. Essas subescalas foram
ainda agrupadas em trs fatores de segunda-ordem ou domnios superiores do coping: resoluo positiva dos problemas;
respostas emocionais ao problema; e procura de apoio social
para responder ao problema. Foi ainda utilizado um questionrio scio-demogrfico para recolher informaes sobre
o gnero, idade e escolaridade dos adolescentes.
Procedimento
Para a elaborao deste trabalho foram, inicialmente,
contactados os autores dos instrumentos, no sentido de obter autorizao para a sua adaptao para a populao portuguesa e utilizao neste estudo. A Escala foi submetida a uma
primeira traduo pelos autores deste trabalho, e retroverso
por um tradutor nativo de um pas de lngua inglesa, para
comparao das verses pelos autores da verso original. Com
o acordo destes, a verso experimental foi discutida com um
grupo piloto, no sentido de avaliar a inteligibilidade dos itens.
Posteriormente foi submetida a uma amostra de convenincia
aps obtida autorizao dos Conselhos Directivos de duas es-
15
Resultados
Validade e fidelidade
Atravs do teste de esfericidade de Bartlett e da medida
de Kaiser-Meyer-Olkin, foram encontrados os valores respectivamente de 4944,90 (p 0,01) e 0,83, que atestam a adequabilidade dos dados para a anlise factorial. Os 26 itens
foram submetidos a uma anlise fatorial exploratria forando a extrao de 10 factores. Atravs deste procedimento, foi
possvel encontrar uma soluo capaz de explicar 67,72% da
varincia. Tal como se pode verificar pela leitura da Tabela 1,
verificando-se a existncia de uma boa estrutura fatorial, com
a maioria dos itens a apresentar saturaes elevadas (genericamente superiores a 0.50) nos factores a que pertencem.
Excetua-se o item 6 (Digo coisas agradveis para os outros),
originalmente associado dimenso apoio aos outros, apresenta valores de saturao ligeiramente mais elevada no factor 5, relativo subescala Humor. Este resultado pode estar
associado escrita do item que parece no diferenciar entre
ambos os construtos, pelo que se optou pela sua eliminao.
Tabela 1
Estrutura Fatorial da Escala de Estratgias de Coping na Adolescncia
Fator
1
Vou igreja
0,97
22
Rezo
0,71
12
0,80
11
0,69
0,67
21
Fumo
0,80
10
0,58
24
0,58
16
0,76
26
0,73
-0,81
-0,53
25
0,64
0,53
-0,46
0,41
0,48
0,36
0,62
13
0,56
17
-0,74
-0,65
15
-0,74
14
-0,63
-0,41
18
0,80
23
0,47
0,44
10
0,42
20
0,47
-0,51
0,42
19
Vou ao cinema
-0,73
-0,46
16
Tabela 2
Correlaes entre as Estratgias de Coping na Adolescncia
1
1. Melhoria pessoal
2. Focus no positivo
0,37**
0,20**
0,09*
4. Recurso ao humor
0,18**
0,33**
0,09*
5. Procura de diverses
0,32**
0,20**
0,20**
0,25**
6. Descarga emocional
-0,21**
-0,17**
-0,03
-0,06
0,04
7. Uso de drogas
-0,11**
0,02
0,03
0,14**
0,18**
0,28**
0,43**
0,30**
0,33**
0,14**
0,32**
-0,19**
-0,11**
0,46**
0,40**
0,18**
0,37**
0,35**
-0,21**
0,06
0,34**
0,27**
0,15**
0,31**
0,08*
0,23**
-0,07
-0,01
0,42**
0,17**
** Correlao significativa para o nvel 0,01. * Correlao significativa para o nvel 0,05.
Tabela 3
Estudo de Dimensionalidade do Coping
Fator
1. Resoluo positiva do problema
Procura de apoio dos pares
0,75
Focus no positivo
0,57
Recurso ao humor
0,55
Melhoria pessoal
0,55
2. Resposta emocional
0,38
Uso de drogas
0,62
Descarga emocional
0,50
0,39
0,71
0,58
0,48
Procura de diverses
0,46
0,47
Coping na adolescncia
Como se apresenta na tabela 4, os adolescentes da amostra aparecem em situaes de stress, valorizar a procura de
apoio dos outros (M = 3,87, DP = 0,68), estratgias de focus
no positivo (M = 3,86, DP = 0,80) e tentativa de melhoria
pessoal (M = 3,64, DP = 0,81). Pelo contrrio, parecem utilizar
menos estratgias o uso de drogas (M = 1,66, DP = 0,80) ou
descarga emocional (M = 1,92, DP = 0,74).
Na explorao das estratgias de coping na adolescncia
em funo do gnero, verifica-se que as moas apresentam
pontuaes mdias mais elevadas nas estratgias de coping
centradas na melhoria pessoal [t (773) = 2,97, p < 0,01], na
procura de apoio espiritual [t (774) = 2,90, p < 0,01], de diver-
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Tabela 4
Estatsticas Descritivas da Escala de Coping
Estatsticas descritivas
Rapazes
Moas
Mann Whitney
Min.
Mx.
DP
DP
DP
1. Melhoria pessoal
3,00
15,00
10,85
2,37
10,54
2,38
11,05
2,35
-3,15
0,00
2. Focus no positivo
2,00
10,00
7,66
1,58
7,70
1,59
7,64
1,57
-0,64
0,52
2,00
10,00
4,38
2,31
4,08
2,23
4,57
2,34
-3,07
0,00
4. Recurso ao humor
2,00
10,00
6,89
1,73
7,18
1,65
6,70
1,76
-3,45
0,00
5. Procura de diverses
2,00
10,00
6,06
2,06
5,76
2,08
6,24
2,03
-3,39
0,00
6. Descarga emocional
3,00
15,00
5,86
2,22
5,79
2,39
5,90
2,12
-1,32
0,19
7. Uso de drogas
3,00
15,00
5,04
2,42
5,60
2,71
4,68
2,13
-5,00
0,00
3,00
15,00
9,36
2,85
9,08
3,02
9,54
2,72
-1,94
0,05
4,00
20,00
15,54
2,66
15,14
2,90
15,80
2,47
-2,86
0,00
2,00
10,00
4,20
1,87
4,12
1,93
4,25
1,83
-1,20
0,23
Discusso
No presente estudo pretendamos apresentar as propriedades psicomtricas da adaptao da Escala de Estratgias de
Coping na Adolescncia (Burnett & Fanshawe, 1997) para a
populao portuguesa. Os resultados encontrados permitem
sustentar a manuteno da estrutura fatorial original, com a
generalidade dos itens a apresentar saturaes mais elevadas
nos fatores esperados. Excetua-se o item 6, que se refere
partilha de comentrios agradveis, originalmente associado
procura de apoio dos outros, mas que neste estudo apresenta valor prprio mais elevado em fatores relativos procura de
apoio de profissionais ou focus no positivo. Pelo baixo poder
de diferenciao do item, deve-se equacionar a sua eliminao
ou reescrita, de forma a preservar a estrutura interna da escala. Tambm, tal como a verso original (Burnett & Fanshawe,
1997), a subescala com mais baixa consistncia interna foi a
procura de diverses, o que, eventualmente, pode estar relacionado com as diferenas entre rapazes e moas. Alm disso,
no devemos deixar de considerar o efeito do nmero de itens
reduzido no valor de consistncia interna.
Pela existncia de um conjunto to alargado de correlaes entre fatores de primeira ordem, colocou-se a hiptese
da existncia de uma estrutura subjacente s estratgias avaliadas. E, de faco, uma anlise fatorial exploratria de segun-
18
vo e tentativa de melhoria pessoal. Tais dados parecem indicar uma maior tendncia para a utilizao de estratgias
adaptativas na forma como lidam com o stress, na linha de
estudos anteriores que apontam o uso mais prevalente de
estratgias focalizadas nos problemas (Frydenberg, 2014;
Lewis & Frydenberg, 2002; McMahon et al., 2013; Penley,
Tomaka, & Weibe, 2002). No sentido contrrio, parece ser
menos utilizadas estratgias de procura como o apoio espiritual, de apoio profissional, uso de drogas ou descarga
emocional. Deve ser considerado que este estudo considerou as estratgias de coping utilizadas pelos adolescentes, de
forma geral, na mesma linha que estudos anteriores (Kristensen et al., 2010) mas que no so os mais utilizados,
que se centram em stressores especficos.
Tal como decorre de investigao anterior, parecem existir diferenas nas estratgias de coping em funo do gnero,
com as moas a recorrer mais frequentemente procura de
apoio familiar, espiritual e dos outros e diverses, estratgias mais focadas na procura de apoio dos outros e melhoria
pessoal. Estes resultados vo de encontro maioria da investigao, que refere que as mulheres tendem a procurar mais
o apoio social (Bermdez et al., 2009; Campos et al., 2012;
Frydenberg & Lewis, 1991; Rodrguez et al., 2012), estratgias que podem, muitas vezes ser tambm associadas dependncia, em vez de revelar uma capacidade de adaptao
s situaes stressantes (Lewis & Frydenberg, 2002). No
entanto, percebe-se tambm a utilizao mais frequente de
estratgias positivas como a procura da melhoria pessoal,
contrariamente a um conjunto de investigao que sugere
que as moas tendem a utilizar estratgias de coping focadas
na emoo ou evitamento da situao problemtica (Boo &
Wicherts, 2009; Frydenberg & Lewis, 1991; Hampel & Ptermann, 2006; Rodrguez, Torres, & Pez, 2012). Por outro
lado, os rapazes da amostra utilizam mais frequentemente
estratgias disfuncionais, seja pela utilizao de drogas ou
procura de humor. Enquanto a primeira estratgia, claramente disfuncional (Bermdez et al., 2009; Frydenberg & Lewis,
1991; Rodrguez et al., 2012), a segunda pode estar associada a uma resoluo mais positiva da situao desafiadora
(Erickson & Feldstein, 2007; Merza et al., 2009).
No que diz respeito relao entre as estratgias de coping e idade, verifica-se uma maior tendncia para a utilizao
do uso de substncias e diminuio da procura de apoio da
famlia e de profissionais. Estes resultados parecem ir de encontro ao encontrado na literatura, que associa a diminuio
do coping funcional, como as respostas emocionais, ao longo
da idade (Compas et al., 2001; Frydenberg, 2004, 2014), seja
pela ocorrncia de adversidades ou situaes de stress que o
adolescente no consegue ultrapassar ou outros desafios para
a utilizao de estratgias adequadas (Campos et al., 2012;
Zimmer-Gembeck & Skinner, 2008). A procura de maior autonomia (Zimmer-Gembeck & Skinner, 2011), numa etapa
do desenvolvimento em que a distncia com a famlia tende
a aumentar e maior proximidade ao grupo de pares, pode
ajudar a explicar a relao negativa com o apoio da famlia e as
experincias de consumo de drogas, tantas vezes associadas
proximidade ou presso entre os pares (Wills et al., 2001).
Ao contrrio de outros estudos, encontrou-se uma relao
negativa com a procura de ajuda de profissionais (Campos
et al., 2012; Zimmer-Gembeck & Skinner, 2011). Estes da-
Concluses
Este estudo instrumental permitiu perceber a boa adaptao desta medida para o contexto portugus, contribuindo
tambm para o melhor conhecimento do coping na adolescncia e a disponibilizao de um instrumento com boas propriedades para a investigao e a avaliao psicolgica. Contudo,
de considerar a necessidade da continuao de estudos, para a
confirmao da estrutura fatorial do modelo terico subjacente. Sugere-se, portanto, a replicao do estudo junto de novas
amostras, nomeadamente com populaes clnicas ou outros
grupos especficos, e com o recurso a tcnicas mais finas, de
equaes estruturais, para maior robustez no teste de validade do instrumento (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham,
2006).
No final deste trabalho, no podem deixar de ser consideradas algumas limitaes do estudo, nomeadamente o
recurso a uma amostra de convenincia. Seria ainda importante a utilizao de medidas de controle para favorecer a segurana em termos da validade de construto, convergente e
divergente. Existindo ainda discusses acerca da estrutura e
da dimensionalidade do coping (Skinner et al., 2003), importa
continuar os estudos, utilizando amostras mais diversificadas
e instrumentos que permitam refinar a sua validade de construto. Tendo em conta a importncia do coping no ajustamento dos indivduos, uma rea que deve manter o interesse da
investigao e prtica (Compas et al., 2001).
Referncias
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Recebido em 06.Set.14
Revisado em 01.Abr.15
Aceito em 09 Abr.15