A Utopia Social Do Conde de S. Bento

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A Utopia Social e Filantrpica do

Conde de S. Bento

Trabalho de Pesquisa
realizado no mbito da Disciplina

Cincia Poltica
Turma 12 D/E

Docente responsvel
Jos Guilherme Abreu

Escola Secundria de D. Dinis


Santo Tirso

Ano lectivo de 2009/2010

ndice
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1- Introduo

1.1- Apresentao e agradecimentos, Prof. Jos Guilherme Abreu


1.2- Enquadramento curricular do tema, Sarah Lotfy e Carla Barbosa
1.3- Utopias e Utopistas Sociais, Brbara Borralho
1.4- Doutrina Social da Igreja, Andreia Carneiro e Cristiana Monteiro

2- Vida e Obra do Conde de S. Bento

2.1- Dados biogrficos, Fbio Pacheco e Diogo Pinheiro


2.2- Aco benemrita e filantrpica, Fbio Pacheco e Diogo Pinheiro
2.3- Nobilitaes Rgias e Condecoraes Civis, Carla Barbosa

3- O Legado do Conde de S. Bento,

3.1- O Testamento do Conde de S. Bento, Ana Raquel Soares e Marta Oliveira


3.2- A obra de Jos Lus de Andrade, Rui Ribeiro e Pedro Dias

4- Anlise da Obra e da Aco do Conde de S. Bento

4.1- Pedagogia e pedagogos sociais, Helena Gomes e Marcelo Carneiro


4.2- O caso de Friedrich Frbel, Rui Ribeiro e Pedro Dias
4.3- A Fbrica de Fiao de Santo Tirso, Fbio Pacheco e Diogo Pinheiro

5- Ilaes finais, Fbio Pacheco, Diogo Pinheiro e Brbara Borralho

5.1- Sntese,
5.2- Quadro Comparativo

6- Bibliografia

7- Anexos

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1. Introduo
1.1- Apresentao e agradecimentos:

A ideia de realizar um estudo no mbito da disciplina Cincia Poltica sobre o Conde de S.


Bento, resultou da visita que os alunos da turma D/E do 12 ano, em regime de aula,
fizeram Exposio sobre o Bicentenrio do Conde de S. Bento que esteve patente na
Biblioteca da Escola Secundria de D. Dinis, no incio do 3 Perodo.
Havendo previamente estudado as ideologias polticas, nomeadamente aquelas que mais se
debruaram, durante o sculo XIX, sobre a Questo Social, e que por isso viriam a de-
signar-se ideologias socialistas, os alunos foram tomando conscincia de que o Conde de S.
Bento era uma personagem que aparentemente se encaixava dentro da noo de filantropia
social ou patronal que animava o iderio do chamado socialismo utpico.
A existncia de habitaes e de terrenos de cultivo no interior do recinto da Fbrica de
Fiao de Santo Tirso, fundada por iniciativa do Conde parecia indiciar a presena de refe-
rncias flagrantes aos objectivos e mtodos preconizados pelos socialistas utpicos, tendo
um aluno da turma referido que aquela fbrica lhe fazia lembrar um Falanstrio.
Pensei ento que seria pedagogicamente interessante organizar uma pesquisa no sentido de
tentar apurar, se possvel, da consistncia, ou no, da hiptese formulada.
Entre outros aspectos que a seguir se enunciaro, tal objectivo era desde logo uma opor-
tunidade adequada para ensaiar os passos da aplicao do mtodo cientfico no desenvolvi-
mento da investigao em Cincias Humanas, pois a formulao de hipteses e a sua verifi-
cao constituem passos metodolgicos de importncia capital para o ensaio de estudos
cientificamente conduzidos, pois mesmo que a hiptese se viesse a manifestar como refu-
tvel ou inconfirmvel, ainda assim ter-se-ia avanado na boa direco no que concerne
aquisio e desenvolvimento de boas prticas, na organizao da pesquisa e do estudo.
E foi isso, apenas, o que se fez. No foi uma resenha biogrfica sobre o Conde de S. Bento.
No foi uma descrio das obras que ficaram a dever-se aco benemrita do Conde,
embora na pesquisa todas elas se encontrassem implicadas.
Em vez disso, o estudo visou analisar o pensamento e a aco de alguns dos mais repre-
sentativos utopistas, filantropos e socialistas cristos do sculo XIX, tipificar algumas linhas
de aco e verificar depois se essas mesmas linhas coincidiam ou se compatibilizavam com
a linha de aco do Conde de S. Bento.
Para tanto, a turma foi dividida em sete grupos de dois alunos cada, mais outro de um
aluno, correspondendo estes oito grupos ao tratamento de outras tantas temticas, funci-

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onando como subtemas do tema global, de tal forma que o trabalho final resultou do
concurso de todos esses subtemas, visando o esclarecimento possvel da questo inicial.
Numa primeira fase, os alunos partiram procura da informao necessria ao apuramento
dos factos, cabendo aqui dirigir uma palavra de agradecimento ao Doutor lvaro Moreira
do Museu Abade Pedrosa, pelas facilidades dadas de requiso de bibliografia especializada
e pela cedncia do restante material e informao concedida. Da mesma forma importa
agradecer ao Dr. Nuno Olaio do Centro Cultural de Vila da Aves, pelo envio de material
muito detalhado sobre o monumento/esttua de homenagem ao Conde de S. Bento, Assim
como importa agradecer tambm aos responsveis e funcionrios da Misericrida de Santo
Tirso e da Biblioteca Municipal, pelo apoio e informaes prestadas.
Sintetizando, com este trabalho pretendia-se:
1. Aplicar e desenvolver conhecimentos adquiridos no mbito do currculo de Cincia Poltica
2. Aprofundar conhecimentos sobre a Histria e a Sociedade da Comunidade
3. Integrar o estudo da Realidade Local no mbito do conhecimento da Realidade Geral
4. Familiarizar os alunos com as rotinas de investigao em Cincias Humanas
Relativamente ao formato do resultado final da pesquisa, privilegiou-se a apresentao
sucinta e sintetizada, resultante da anlise directa das fontes e do apuramento dos factos,
tendo sido pedido aos alunos para condensarem a informao obtida em tabelas, por forma
a que da anlise dessas tabelas estes poderem retirar as necessrias ilaes.
Importan no entanto dizer que o desenvolvimento deste estudo deparou-se com problemas
que contrariaram a obteno de concluses esclarecedoras, desde logo comeando pela
carncia de estudos de raiz que pudessem fornecer os dados que a sua realizao exigia,
pois a figura do Conde de S. Bento ainda no se encontra estudada pela literatura especia-
lizada com a profundidade que este trabalho requeria, uma vez que como bvio essa
investigao no pode ser realizada no mbito de estudos de nvel secundrio.
Importar aguardar que a investigao especializada investigue melhor esta curiosa figura
da filantropia social portuguesa. Uma figura que no nica, pois a mesma se enquandra
no mbito do painel de brasileiros de torna viagem que enriquecidos com os negcios do
Eldorado brasileiro, e no deixando descendncia legtima, regressam endinheirados
Ptria, onde doam em Testamento parte muito significativa dos seus bens, servindo as
Misericrdias locais de zeladores e administradores de um patrimnio que por vezes chega
a ser avultado, como sudece com o Conde de Ferreira, que de melhor (e primeiro) ir
definir os contornos identificadores da figura do afortunado brasileiro-e-benemrito

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1.2- Enquadramento curricular do tema:

O trabalho sobre a Utopia Social do Conde de S. Bento, realizado no mbito da disciplina de


Cincia Politica insere-se, de acordo com o programa da disciplina, em moldes gerais, no que
diz respeito ao desenvolvimento de aptides e conhecimentos de fundo, como se refere:

Finalidades:
1. Proporcionar conhecimentos bsicos relativos a vida poltica, quer em geral, quer especificamente em Portugal
2. Potenciar o desenvolvimento de uma perspectiva crtica sobre o mundo e sobre a vida em sociedade.

Relativamente a metas especficas de aprendizagem, o mesmo programa refere:

Objectivos gerais
Do domnio cognitivo:
Compreender a complexidade poltica, articulando-a com a sociedade, com a economia e com a evoluo das
mentalidades.
Do domnio socioafectivo:
Desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo e individualmente;
Assumir opinies prprias, de forma esclarecida e fundamentada;
Desenvolver as capacidades de argumentao e reflexo.
Competncias relativas ao saber fazer:
Ler e interpretar diferentes tipos de documentos relativos aos temas da disciplina;
Construir textos fundamentados e coerentes;
Utilizar tcnicas de pesquisa, de tratamento e de apresentao de informao;
Competncias relativas ao saber ser:
Colaborar de forma responsvel nas tarefas propostas;
Adoptar atitudes de tolerncia, de solidariedade, de cooperao e de no-discriminao;

Tematicamente, o trabalho inseria-se no currculo de Cincia Poltica, como se segue:

Unidade II As Ideias Politicas no Quadro do Estado Moderno


2.3 As ideologias polticas
2.3.2 As principais correntes ideologicas: Socialismo.

Sobre os mtodos de abordar e desenvolver o tema o Programa refere:

Gesto do tema
Partindo de um conceito simples de ideologia poltica, estendida como conjunto de valores colectivos
orientados para a aco, devero ser reconhecidas as principais correntes ideolgicas no quadro constitucional.
Os alunos devero identificar o socialismo e os seus pensadores de referncia, nomeadamente, os utopistas
Robert Owen, Charles Fourrier e o Conde de Saint-Simon.

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1.3- Utopias e Utopistas Sociais:

O Socialismo surge de incio como uma continuao do perodo do Iluminismo, em


Frana, no sculo XVIII e teve de conectar-se s ideias base que j existiam. No entanto a
fonte verdadeira do socialismo reside nas condies econmicas, na consciencializao para
os antagonismos entre as classes existentes na sociedade moderna as que tm e as que
no tm, assalariados e burgueses e a anarquia existente.

Se nos referirmos ao socialismo num sentido amplo podemos incluir quase tudo o que se
opes ao individualismo, ou seja, a todas as doutrinas e teorias que se ocupem
primordialmente do sector social, do conjunto de relaes humanas dando preponderncia
aos aspectos individualistas. Em comum aos vrios movimentos socialistas ao longo dos
tempos surge a preocupao em melhorar a sociedade, tornando-a mais justa e igualitria,
combatendo tudo o que se opusesse a esse ideal.

Os primeiros socialistas catalogados para a posteridade como utpicos so bastante


diferentes dos que se seguiram. As suas teorias eram muito incoerentes em certos aspectos
mas que, apesar disso, no podem ser consideradas como simples utopias. No entanto,
geralmente, no passavam disso, de formulaes tericas. Este primeiro pensamento
socialista influenciava alguns sectores da sociedade mas no o movimento operrio (mais
tarde denominado de proletariado propriamente dito; o socialismo e o movimento
operrio no sabiam encontrar-se.

O pensamento dos socialistas utpicos foi formulado, no incio, por Saint-Simon, Charles
Fourier, Louis Blanc e Robert Owen. No sculo XIX, com o capitalismo a desenvolver-se
desde a Revoluo Industrial, aumenta nas cidades o nmero de operrios a trabalhar para
receberem baixos salrios. As crticas ao liberalismo resultam da constatao de que a livre
concorrncia no trouxe o equilbrio prometido e esperado, instaurando, pelo contrrio
uma ordem injusta e imoral.

Os diversos tericos do socialismo possuem diferentes ideias e propem solues distintas,


porm possvel reconhecer algumas semelhanas entre elas:

Tentam reformar a sociedade com a ajuda e boa vontade de todos;


Todas as tentativas no ultrapassam uma tendncia fortemente filantrpica e paternalista:
melhoria de alojamentos e higiene, aposta na educao atravs da construo de escolas,
aumento dos salrios, reduo de horas de trabalho
Seguidamente, recorrendo a um quadro, passo a apresentar os principais socialistas
utpicos que iniciaram movimentos em prol desse mesmo socialismo nos seus pases:
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Aps uma leitura atenta de todas estas caractersticas dos principais socialistas utpicos,
impossvel, no mbito deste trabalho, no estabelecer algumas comparaes relativamente
obra social levada a cabo pelo Conde de S. Bento. A diferena mais notria entre eles
reside sobretudo na religio, uma vez que o Conde de S. Bento era um devoto enquanto
Fourier, por exemplo, critica a religio.

De seguida apresento um quadro com os aspectos em comum entre os socialistas utpicos


e as obras sociais do Conde de S. Bento:

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Por uma anlise atenta do quadro possvel notar que a obra social do Conde de S. Bento
bastante semelhante ao que era defendido e apregoado por Robert Owen. A preocupao
com a educao e com a garantia de emprego s pessoas de forma a melhorar a sociedade
so pontos importantes e fulcrais. Muita da aco benemrita do Conde em tudo idntica
ao pensamento socialista. Contudo de louvar que o Conde de S. Bento foi para alm da
Utopia e transformou em realidade a educao, a agricultura, a indstria e a religio na
antiga vila (agora cidade) de Santo Tirso.

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1.4- A Doutrina Social da Igreja:

No sculo XIX, o desenvolvimento da ideologia socialista estabeleceu-se como suporte de


pensamento poltico entre diversos movimentos operrios. As revolues e os protestos
colocavam os trabalhadores como personagens munidos de uma viso poltica contrria
aos pressupostos que explicavam o sistema capitalista. Desta maneira, o ideal da luta de
classes deixa de ser uma mera interpretao para figurar vrios eventos da poca.
Atenta a estas transformaes, a Igreja Catlica decidiu reunir os seus principais dirigentes
para discutir as questes envolvendo a relao entre burguesia e proletariado. Ao mesmo
tempo, deve-se destacar que essa mesma preocupao ligava-se ao contedo ideolgico de
muitos movimentos que pregavam explicitamente o fim das manifestaes religiosas. A
ideia da crena religiosa como coisa prejudicial comeava a preocupar os clrigos.
No ano de 1891, o papa Leo XIII publicou a encclica Rerum Novarum. Segundo este
documento, o papa estabelecia a sua expressa oposio luta entre classes defendida pela
doutrina marxista. Em seu lugar, o lder mximo da Santa S colocava a religio como um
instrumento capaz de arrefecer as desigualdades no mundo. Dessa forma, a moral e o
amor cristo de empregados e empregadores poderiam ser ponto fundamental para que a
justia social fosse alcanada.
Com o tempo, vrios cristos fortaleceram a sua preocupao para com os problemas de
cunho poltico e social. No sculo XX, o envolvimento da Igreja com esses temas
aprofundou-se quando o Conclio Vaticano II (1962 - 1965) reafirmou o papel social e
poltico a ser exercido pelo cristo. Nessa mesma poca, o movimento da chamada
Teologia da Libertao fez com que muitos clrigos e fiis realizassem projetos sociais e
organizassem discusses polticas no interior das parquias.
Actualmente, muitos representantes mais conservadores da Igreja defendem que o
envolvimento dos catlicos devem restringir-se apenas aos assuntos de ordem espiritual.
Paralelamente, tambm pode-se ver que o prprio comportamento religioso
contemporneo veio a desarticular essa associao entre f e poltica. Hoje em dia, a busca
pelo conforto material imediato e o ideal de salvao individual contriburam para que a
igreja politizada perdesse seu espao.
Na encclica Rerum Novarum, o Papa reconhece a gravidade das questes sociais
provocadas pelo capitalismo, pelo que s os valores cristos poderiam corrigir esses males
sociais. Mas, ao mesmo tempo, ele colocou-se contra quaisquer alternativas igualitrias,
revolucionrias, ao afirmar que "a teoria socialista da propriedade colectiva deve

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absolutamente repudiar-se como prejudicial queles membros a que se quer socorrer,
contrria aos direitos naturais dos indivduos, como desnaturando as funes do Estado e
perturbando a tranquilidade pblica." (Rerum Novarum, n. 7) No entender dos tericos do
socialismo cristo, o cristianismo tem em si mesmo valores socializantes, pelo que o
capitalismo reconhecido como contrrio aos valores da f crist.
A par do enquadramento da doutrina da Igreja, pode ainda falar-se de socialismo cristo,
que um movimento poltico de esquerda que defende simultaneamente ideais cristos e
socialistas. Os millitantes deste movimento advogam que o socialismo e o cristianismo
esto ambos interligados e so compatveis um com o outro.
O socialismo de matriz crist, comumente denominado pelos catlicos de Movimento
Social Cristo ou Movimento Cristo Social, teve o seu incio em meados do Sculo XIX,
nas obras de vrios doutrinrios cristos (ex: Henri de Saint Simon, Lamennais, Albert de
Mun, Frederick Denison Maurice, Charles Kingsley, Thomas Hughes, Frederick James
Furnivall, Adin Ballou e Francis Bellamy). Estes escritores propunham um socialismo
novo, baseado nos ideais do cristianismo, oposto luta de classes e ao atesmo, mas
preocupado com as reivindicaes das classes pobres e trabalhadoras, propondo um
governo mais justo e uma sociedade mais equilibrada. Este novo socialismo, afastado do
materialismo marxista, defende as organizaes sindicais, as lutas dos trabalhadores em
prol de melhores condies de trabalho e de vida e a justia social.
O socialismo cristo desenvolveu-se, mais tarde nos crculos catlicos, como um ramo ou
variante progressista da catolicismo social no qual o socialismo cristo ganhou muita fora
aps a encclica "Rerum Novarum" do Papa Leo XIII, que em oposio ao socialismo de
Proudhon e, mais tarde, ao marxismo ou socialismo cientfico, mas opondo-se tambm e
de igual modo ao capitalismo, o catolicismo social recusa a luta de classes, promove a
colaborao entre patres e trabalhadores e prega a aplicao da doutrina catlica e a
interveno do Estado para corrigir os males criados pela industrializao, criando uma
maior justia social e uma distribuio mais equitativa da riqueza produzida e pretendia
assim constituir uma resposta crist para a questo social alternativa corrente dominante
da Associao Internacional dos Trabalhadores (depois Internacional Socialista).
Em Portugal o socialismo cristo teve inicio com a AC Aco Catlica, de onde sairam
mais tarde lideres do MDP/CDE e na JOC Juventude Operria Catlica, actualmente est
no Portugal Pr-Vida.

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Os principais aspectos desta temtica encontram-se condensados na seguinte tabela:

Corrente Autor Ideias Exemplos Obras


Freiherr Defendeu os direitos da Fundou as ordens religiosas de A questo
von Igreja frente ao Estado irmos da escola e das irms da operria e o
Ketteler Alemo. escola, para trabalhar nos cristianismo
estabelecimentos educativos que (1864)
Catolicismo Reivindicou o aumento de
tinha criado.
salrios, frias, reduo da
social carga horria de trabalho Trabalhou para instituir orfanatos
e eliminao do trabalho e para resgatar lares. Em 1851
infantil. fundou a Congregao das Irms
da Divina Providncia.

Frederick Acredita que a poltica Em 1848, fundou uma escola The Kingdom of
Denison no deve ser separada da superior para mulheres. Christ (1838)
Maurice religio
Em 1854, criou uma escola para
Admirador das ideias de trabalhadores.
Robert Owen

Robert Defende que a iniciativa Construiu, em Lanark, casas A New View of


Socialismo Owen privada tem um papel melhores para seus empregados, Society (1813)
cristo fundamental a construiu uma escola e ainda
Report to the
desempenhar no processo montou, em sua empresa, um
County of
de melhoria das condies armazm onde as mercadorias
Lanark (1829),
de vida das pessoas, de poderiam ser adquiridas a um
superao da desigualdade preo mais justo. Reduziu a The New Moral
social e econmica. jornada de trabalho para dez World (1834)
horas dirias, recusou-se a con-
tratar crianas com idade inferior
a dez anos.

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2- Vida e Obra do Conde de S. Bento

2.1- Dados biogrficos

O Conde de So Bento, Manuel Jos Ribeiro, que nasceu em Santo Tirso em 2 de Agosto
de 1807 e ali morreu em 26 de Maro de 1893, filho de Domingos Jos Ribeiro e de sua
mulher D. Rosa Maria Martins.

Embarcou para o Brasil com 11 anos de idade, depois de receber alguma instruo
elementar na escola de sua terra. O navio porm foi assaltado por piratas e o jovem s com
muita dificuldade conseguiu regressar a Portugal, depois deste primeiro malogro.

Ajudado pelo seu conterrneo Manuel Lus de Paiva, teve como empregado da casa do
comendador Jos Bento da Silva, seu primeiro patro.

At 1832 andou procura de fortuna por algumas cidades do Baixo Amazona (Santarm e
Alenquer), regressando a Santa Maria de Belm, onde se fixou na casa de Jos Pais de
Sousa ate 1837, ano em que se estabeleceu por conta prpria.

Em 1874, numa das suas visitas a Portugal, j 67 anos, no mais voltou ao Par, instalando-
se definitivamente na vila de Santo Tirso.

Auxiliado pelo seu sobrinho Jos Lus de Andrade liquida a sua casa comercial no Brasil e
transfere para Portugal a grande fortuna que possua.

Um ano depois do seu regresso, 1875, era agraciado com a Comenda de Nossa Senhora da
Conceio de Vila Viosa.

Por Decreto-Lei de 20 de Janeiro de 1881 foi Comendador Ribeiro agraciado com o ttulo
de Visconde de So Bento.

No princpio de 1882 adquiriu o novo titular a casa e a quinta do mosteiro de Santo Tirso.

As Quintas do Mosteiro, de Dentro e de Fora so hoje ocupadas pela Escola Agrcola do


seu nome, que o Conde de So Bento aps as ter comprado, doou Santa Casa da
Misericrdia com o fim de ali instalar um Asilo Agrcola.

A 3 de Janeiro de 1886 foi inaugurado na vila o edifcio para uma ampla escola de ambos
os sexos mandada construir e mobilar pelo Visconde de So Bento.

Por Decreto de 6 de Maio de 1886 foi o Visconde de So Bento elevado a Conde.

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Em 9 de Agosto de 1890 foi concedida ao Conde de So Bento a medalha de ouro de
Instruo Nacional.

O Conde de So Bento cedeu todo o terreno que o hoje ocupado pelo Parque D. Maria
II (anteriormente tinha o nome e de Praa Conde de So Bento).

nesta praa a poente que encontramos o edifcio que o Conde mandou construir para o
Hospital da Misericrdia e, como tal, serviu o concelho durante longos anos.

Os seus sentimentos filantrpicos levaram-no a dotar aquela vila com grandes benefcios:
fundou uma escola e um hospital, custeando o respectivo funcionamento, restaurou a
capela do Senhor dos Passos, assegurou as despesas do culto, e cedeu vastos terrenos da
sua quinta Cmara Municipal da vila para abertura de novas ruas.

Construiu a Fbrica de Santo Tirso, a primeira empresa industrial desta vila, garantindo
trabalho para 40 operrios tirsenses.

Por outro lado, teve tambm preocupaes religiosas, tendo feito uma srie de benefcios
Igreja de Santo Tirso, bem como a reedificado a Capela do Senhor dos Passos.

No dia 26 de Maro de 1893, faleceu o Conde de So Bento que residia numa casa de
azulejos situado no Campo 29 de Maro, actual Praa Conde de So Bento.

O Conde de So Bento repousa no jazigo que lhe foi mando erigir por seu sobrinho e
herdeiro Jos Lus de Andrade e que se acha colocado ao meio do claustro da igreja.

Fora da Vila a sua actividade tambm foi meritria: reconstruiu a igreja de Santiago da
Carreira (V. N. de Famalico) e da matriz de Santiago dos Arcos; mandou construir as
capelas de Santa Cristina, de Santiago de Bougado e de Nossa Senhora das Dores, na
Trofa, etc..

Tem um monumento em Santo Tirso, com esttua, inaugurado em 1892 e foi dado o seu
nome Escola Pratica de Agricultura, na mesma vila.

O ttulo de Visconde foi-lhe concedido em 1881 por D. Lus, e o mesmo monarca elevou-
o a Conde em 1886.

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Smula dos dados

Manuel Jos Ribeiro, Conde de So Bento, nasceu na Quinta de Poldres, em S.


Miguel das Aves, Concelho de Santo Tirso a 2 de Agosto de 1807, e morreu em
1807 Snato Tirso, no dia 26 de Maro de 1893. Era filho de Domingos Jos Ribeiro
e de sua mulher D. Rosa Maria Martins, ambos de origem modesta.

1818 Embarcou para o Brasil com 11 anos de idade

Procurou fortuna por algumas cidades como Santarm e Alenquer, regressando


1832 a Santa Maria de Belm, onde se instalou em casa de Jos Pais de Sousa ate
1837.

1874 Instalou-se definitivamente na vila de Santo Tirso.

Auxiliado pelo seu sobrinho Jos Lus de Andrade liquidou a sua casa comercial
1874 no Brasil e transferiu para Portugal a sua grande fortuna.

Agraciado com a Comenda de Nossa Senhora da Conceio de Vila Viosa.


1875

Por Decreto-Lei de 20 de Janeiro de 1881 o Comendador Ribeiro foi agraciado


1881
com o ttulo de Visconde de So Bento por D. Lus.

1882 Adquiriu a quinta do mosteiro de Santo Tirso.

Em 3 de Janeiro foi inaugurado na vila um edifcio para uma ampla escola de


1886 ambos os sexos mandada construir e mobilar pelo Visconde de So Bento.

Por Decreto de 6 de Maio de 1886 o Visconde de So Bento foi elevado a


1886
Conde por D. Lus.

Em 9 de Agosto foi concedida ao Conde de So Bento a medalha de ouro de


1890
Instruo Nacional.

1892 Foi inaugurado em Santo Tirso um monumento com a sua esttua.

O seu nome foi dado Escola Prtica de Agricultura de Santo Tirso que passou
1892 a designar-se: Escola Profissional Agrcola Conde de S. Bento

1893 Morreu em Santo Tirso em 26 de Maro de 1893.

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2.2- Aco benemrita e filantrpica

Para dar conhecimento das aces de beneficncia por parte do Conde de S. Bento, as
mesmas foram divididas por trs tabelas. A primeira tabela refere as doaes feitas fora do
pas, nomeadamente no Brasil. A segunda refere as aces benemritas feitas em Portugal
excluindo as doaes relativas a Santo Tirso, pois estas encontram-se se na tabela posterior.

Aps a anlise da primeira tabela, podemos concluir que a quantia mais elevada dirige-se s
meninas pobres e rfs assim como s vivas, mas, se efectuarmos o somatrio das
quantias restantes entregues a hospitais e afins, podemos concluir que, em conjunto, este
tipo de instituies recebe aproximadamente metade de todos estes donativos.

Na segunda tabela verificamos uma panplia de destinatrios que variam entre hospitais,
regies do Norte de Portugal e centros de caridade (tambm no norte). Mais uma vez se
verifica uma maior preocupao com os hospitais e estabelecimentos de caridade, facto este
que se comprova pela maior quantia a estes atribudas.

Na terceira e ltima tabela verificamos que, em relao s outras freguesias, Santo Tirso
recebe mais obras de beneficncia (apenas em nmero o podemos confirmar visto que no
foram encontrados valores monetrios). Verificamos tambm que, a maioria das obras e
subsdios destinaram-se a fins religiosos.

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3. O Legado do Conde de S. Bento
3.1- Testamento do Conde de S. Bento

Em nome de Deus Amen. Eu Manoel Jos Ribeiro, estando de


perfeita sade e em perfeito juzo e no sabendo quando Deus ter
determinado que findem meus dias de vida me deliberei fazer o meu
testamento e ltima vontade que como se segue. () Declaro que
tenho vivido no estado de solteiro e nunca tive filhos () no tenho
herdeiro algum a quem por direito compita a minha herana ()

Testamento do Conde de S. Bento, In,

Manoel Jos Ribeiro fez parte do grupo de muitos portugueses que voluntariamente emi-
graram para o Brasil e, depois de longos e rduos anos de trabalho, conseguiu finalmente
voltar de l com a sua valiosa fortuna.

Fez vrias tentativas para conseguir atingir o seu objectivo sendo que, das primeiras vezes
que embarcou, para alm dos barcos onde viajava serem de fraca envergadura, ou
encontraram piratas que lhes roubaram ou depararam-se com tempestades.

Visto ter uma fortuna com muitos nmeros, o Conde So Bento quis escrever o
testamento um pouco mais cedo pois no queria que esse dinheiro casse nas mos erradas
e o seu trabalho durante anos fosse feito para depois no honrar o esforo.

A sua fortuna teve vrios destinatrios sendo que, para alm do seu sobrinho, Jos Luiz
dAndrade, que ficou com o remanescente da fortuna (no sabendo ns ao certo o valor
desta quantia) os seus bens foram muito bem distribudos por hospitais, igrejas,
estabelecimentos de caridade e pessoas carenciadas (pobres, doentes, vivas e meninas
pobres e escravos).

Na nossa opinio, o alto da sua herana foi o facto de ter concedido liberdade a todos os
seus escravos e, para alm da liberdade, a remunerao monetria por anos de sofrido
trabalho. Mas a sua herana tem muito que se lhe diga.

A sua herana incidiu mais sobre os hospitais, sendo que no total cerca de 32.000$000
foram dirigidos para estes estabelecimentos; seguidos das pessoas carenciadas s quais
contribui com aproximadamente 28.000$000 (este valor inclui o valor doado aos
estabelecimentos de caridade); as igrejas que contou com um valor estimado em

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24.500$000; mas tambm deixou umas pequenas quantias para o Governo Portugus, para
a sua casa comercial e deixou algumas quantias no banco para ficar a render para o seu
herdeiro.

Podemos observar que, apesar de estar muitos anos no Brasil, e de ter sido este o pas que
o ps numa situao econmica bastante avantajada, no esqueceu nunca as suas origens
sendo que a maior parte dos destinatrios da sua herana se encontram em Portugal e,
maioritariamente, se no um todo, no norte do pas.

O Conde So Bento nomeou trs pessoas para a sua herana: 1- Jos Luiz dAndrade
(sobrinho); 2- Sr. Dr. Augusto Thyago Pinto; 3- Sr. Victor Rodrigues dOliveira. O Conde
de So Bento decidiu nomear trs herdeiros pois, se quando o Conde morresse, o seu
primeiro herdeiro tambm j se encontrasse morto, a sua herana passaria para o segundo e
se o mesmo tivesse acontecido com este, passaria para o terceiro. O seu verdadeiro
herdeiro foi a sua primeira opo, o seu sobrinho, que soube honrar a memria do tio e
continuar com a sua obra.

tambm de salientar que, morte do seu herdeiro, Jos Luiz dAndrade, todo o seu
dinheiro passa para corporaes religiosas e estabelecimentos de caridade escolha do
herdeiro.

21
Destinatrios Bens Observae
Jos Luiz dAndrade Casa comercial Scio da casa comercial
Casa comercial 400$000 Fundos da casa comercial
Governo Portugus 30$000 Inscries do Governo Portugus
Bancos Algumas quantias A vencer juros. Quando o Conde morrer passa
tudo para nome do herdeiro.
Destinatrios Bens Observaes
Todos os seus escravos, tanto de Liberdade Um ano depois de morrer (ao do seu herdeiro)
homens como de mulheres
Escravos 100$000 Retirado do dinheiro da herana e sendo que
100$000 era por escravo
Missas Retirado do dinheiro da herana (25dias
pela sua alma e 25 dias pela alma dos avs)
Igrejas 500$000 Esmolas
Pobres 400$000 4$000 para cada pobre sendo que estes so
escolhidos pelo herdeiro
Hospital dos Lazaros 8.000$000 Melhoramentos
Destinatrios Bens Observaes
Doentes do hospital dos 40$000 Para cada doente
Lazaros
Hospital da caridade de 4.000$000
Santo Tirso
Meninas pobres e honestas e 16.000$000 As esmolas sero de 500$000 sendo que
vivas nas mesmas estas so escolha do herdeiro
circunstncias
Hospital da Ordem Terceira 4.000$000
de So Francisco
Igreja de Senhor de 8.000$000
Matosinhos
Senhor Bom Jesus de Braga 8.000$000 Obras
Destinatrios Bens Observaes
Igreja So Torquato 8.000$000 Obras
Hospital de Santo Antnio - Porto 12.000$000
Hospital da Trindade - Porto 4.000$000
Estabelecimentos de caridade - Porto 12.000$000 Este dinheiro ser distribudo por estes sendo
escolhidos pelo herdeiro
Jos Luiz dAndrade Remanescente

22
3.2- A obra de Jos Lus de Andrade

1832, Setembro, 25- Nascimento de Jos Luis de Andrade

Joze filho legitimo de Joaquim Luis e de Maria Roza do Lugar de Villa verde desta freguezia de So
Thom de Negrellos Nasseo aos vinte e sinco de Setembro de mil e oito Centos e trinta e dous e aos vinte e
Sete do dito ms, e anno eu Joo Alvares Neto vigario desta Igraja o baptizei Solemnemente com a
imposio dos Santos Olios foro Seos padrinhos Antonio Joze Ferreira solteiro do lugar do Pedraal, e
Queteria Maria viuva das Pombinhas ambos desta freguezia de So Thom de Negrellos he neto materno
de Domingos Joze Ribeiro e de Roza Martins do lugar de Poldraens freguezia de So Miguel das Aves
termo de Barcellos e paterno de Antonio Luis e de Maria de Jezus desta freguezia de So Thom

Jos Luis de Andrade, sobrinho de Conde S. Bento, recebeu ordens desse mesmo tio para
dar aviamento a coisas notveis que no nos podemos esquecer. Em primeiro lugar doou
quatro contos Junta da Parquia de santo Tirso, para a recontruo do claustro da igreja
que ruira. Este dinheiro foi concedido no s para este efeito como tambm para alguns
melhoramentos da mesma igreja. Os quatro contos seriam pagos ao ritmo das obras e com
o encargo de uma comemorao ao aniversrio da morte de Conde S.Bento. Jos Luis de
Andrade teve tambm uma importante contribuio no que toca ampliao da residncia
paroquial

Aquando da morte do seu tio, deixando o Conde S. Bento ainda por acabar o mausolu
que se viria a levantar o claustro gtico do mosteiro, Jos Luis de Andrade decide mandar
acab-lo

Legado de Jos Luis de Andrade

Relao de Bens

Quinta de Fora e de Dentro, Azenha com trs rodas, moinhos novos e casa de
moradia, o Rego dos Frades

Fraco da Quinta de Dentro- as Nogueiras- a Norte e Ocidente da Igreja

Salo da Porta Branca

Quarto que fica debaixo da escada que dava servido para a Sala da Porta Branca

Ala norte do segundo piso do 1claustro

Coelheira

Escadaria para o Salo da Porta Branca, desde a Porta Branca

O Recibo (Sto)

23
4. Anlise da Obra e da Aco do Conde de S. Bento

4.1- Pedagogia e pedagogos sociais

Jean-Jacques Rousseau

Jean-Jacques Rousseau nasceu em 1712 em Genebra. O seu nascimento coincide com o


sculo das luzes, sendo por isso um dos filsofos iluministas mais importantes de sempre.
Inspirou diversos movimentos que procuravam a liberdade, pois defendia que todos os
homens nascem livres e que a liberdade faz parte da natureza do homem.

Apesar de ter desenvolvido teorias a diversos nveis, aqui iremos apenas focar as que so
relativas educao. Para tal, no podemos de deixar de falar na sua obra Emlio. Nesta
obra, Rousseau fala-nos na importncia da liberdade na educao, e na necessidade de
oferecer um aprendizado que ensine a evitar a influncia da opinio de outros. A educao
deve ser assim, pela e para a liberdade.
Uma curiosidade que no pode deixar de ser referida, a ironia de que, anos antes de
escrever Emlio, Rousseau deixou os seus cinco filhos num orfanato.

Johann Heinrich Pestalozzi

As obras de Rousseau influenciaram mentes em todo mundo.


Johann Heinrich Pestalozzi foi um pedagogo suo que nasceu na cidade de Zurique em
1746, cuja principal influncia foi Rousseau e sua obra Emlio.
Em obras como The Evening Hours of a Hermit (1780) ou Leonard und Gertrud (1781),
Pestalozzi defende que a educao deveria ser feita no s a nvel moral, mas tambm a
nvel intelectual, baseando-se na compreenso do mundo da criana. A aprendizagem
deveria ser feita atravs de experiencias concretas e no atravs do tradicional mtodo de
ensino, a memorizao.

Com a invaso francesa na Sua, muitas crianas ficaram votadas ao abandono. Em 1798,
Pestalozzi reuniu-as num convento abandonado e educou-as segundo as suas crenas.

Com o passar do tempo, as ideias pestalozianas foram-se difundindo pelo mundo. A


implementao destas na Amrica, foi feita por Joseph Neef, que mais tarde iria leccionar
em New Harmony, o falanstrio idealizado por Robert Owen, um famoso socialista
utpico.

24
Phillipp Emanuel von Fellebnberg

Fellenberg nasceu em 1771, na cidade de Berna no seio de uma famlia abastada. A


intimidade existente entre seu pai e Pestalozzi, fez com que este fosse a sua principal
influncia.
Viajando entre Berna, Paris e Alemanha, comeou a aperceber-se da corrupo existente
entre a vida poltica, o que fez com que se voltasse para a educao dos mais jovens.

Assim em 1799, comprou um terreno em Hoffwyl, perto de Berna, onde criou uma
instituio que seguia os modelos estabelecidos por Pestalozzi. Com isto Fellenberg
pretendia elevar as classes todas ao mesmo nvel, e tornar a agricultura no s como a base
da aprendizagem, mas como algo to digno como a cincia.

Juntamente com a sua mulher, dedicou-se a esta instituio para o resto da sua vida.

Fellenberg acaba por vir a ser considerado como O Melhor Cidado da Sua Ptria.
Morre em 1844, em Berna.

25
Quadro Sntese dos Pedagogos Sociais

Jean Jacques Rosseau Johann Heinrich Pestalozzi Phillipp Emanuel von Fellenberg

Nacionalidade Sua Sua Sua

Nas suas defende que a


educao deve ser pela e
para a liberdade, no John Pestalozzi afirmava que a
sentido de criar um Inspirado por Pestalozzi, amigo de seu
educao para alm de moral, deveria
ambiente sua volta ser intelectual. Pretendia que esta pai, Fellenberg foi um pedagogo suo
propicio ao seu fosse baseada no afecto e na
desenvolvimento e que defendeu o ensino da economia
compreenso do mundo da criana,
Teorias reproduo. opondo-se assim ao sistema rural. Para ele o trabalho manual devia
Rosseau afirmava que tradicional de aprendizagem atravs
servir ao mesmo tempo formao
necessrio oferecer um da memorizao. Para ele o ensino
aprendizado sobre a deveria ser feito atravs de intelectual
necessidade e evitar as experincias concretas.
influncias da opinio dos
outros.
Criou uma escola em Hoffwyl onde,
alm de ensinar economia rural,
praticava a agricultura, e onde tinha uma
Com a invaso francesa na Sua,
A destacar, a sua obra carpintaria e serralharia para construo
muitas crianas ficaram
Emlio publicada em 1762,
Aces abandonadas. Pestalozzi reuniu-os de instrumentos agrcolas.
na qual apresenta as suas
num convento e educou-os segundo
teorias sobre a educao.
os seus ideais. Fazia tambm distribuio de sopa a
todos os necessitados que iam aprender
servios rurais.

Discurso sobre as Cincias e


as Artes;
Discurso sobre a origem da
The Evening Hours of a Hermit;
desigualdade;
Obras Leonard and Gertrude;
Discurso sobre a Economia
Poltica How Gertrude Teaches Her Children
Emlio;
Do Contrato Social.
As ideias pestalozianas foram
Apesar de ter tratado o
implementadas na Amrica por um Foi considerado o melhor cidado da sua
tema da educao,
Curiosidades dos assistentes de Pestalozzi, Joseph
Rosseau abandonou os ptria.
Neef, que mais tarde iria leccionar
seus 5 filhos.
em New Harmony, Indiana.

26
4.2- O caso de Friedrich Frbel

Filho de um pastor protestante, Friedrich Frbel nasceu em Oberweissbach, no


sudeste da Alemanha, em 1782. Adotado por um tio, viveu uma infncia solitria, em
que se empenhou a aprender matemtica e a explorar as florestas perto de onde
morava. Aps cursar informalmente algumas matrias na Universidade de Jena,
tornou-se professor e ainda jovem fez uma visita escola do pedagogo Johan Heinrich
Pestalozzi em Yverdon, na Sua. Fundou sua primeira escola em 1816, na cidade
Vivncia alem de Griesheim. Dois anos depois, a escola foi transferida para Keilhau, onde
Froebel ps em prtica suas teorias pedaggicas. Em 1826, publicou o seu livro mais
importante, A Educao do Homem. Em 1851, confundindo Frbel com um
sobrinho esquerdista, o governo da Prssia proibiu as actividades dos jardins-de-
infncia. O educador morreu no ano seguinte mas, os jardins-de-infncia rapidamente
se espalharam pela Europa e pelos Estados Unidos.
Frbel considerava a Educao Infantil indispensvel para a formao da criana e
essa idia foi aceite por grande parte dos tericos da educao que vieram depois dele.
O objetivo das actividades nos jardins-de-infncia era possibilitar brincadeiras criativas.
As atividades e o material escolar eram determinados de antemo, para oferecer o
Mtodo mximo de oportunidades de tirar proveito educativo da actividade ldica. As
brincadeiras previstas por Frbel eram, quase sempre, ao ar livre para que a turma
de
interagisse com o ambiente. Para Frbel, era importante acostumar as crianas aos
Frbel trabalhos manuais. A actividade dos sentidos e do corpo despertariam o bichinho do
trabalho, que, segundo o educador alemo, seria uma imitao da criao do universo
por Deus.
Para Frbel, a natureza era a manifestao de Deus no mundo terreno e expressava a
unidade de todas as coisas. Isso tudo levava ao princpio de que a educao deveria
trabalhar os conceitos de unidade e harmonia, pelos quais as crianas alcanariam a
prpria identidade e a sua ligao com o eterno. A importncia do autoconhecimento
Crena no se limitava esfera individual, mas seria ainda um meio de tornar melhor a vida
em sociedade. Alm do misticismo e da unidade, a natureza continha, de acordo com
de
Frbel, um sistema de smbolos conferido por Deus. Era necessrio desvendar tais
Frbel smbolos para conhecer o que o esprito divino e como ele se manifesta no mundo.
A criana, segundo o educador, trazia em si a semente divina de tudo o que h de
melhor no ser humano. Cabia educao desenvolver esse bichinho e no deixar
que se perdesse. . Frbel adoptava, assim, a ideia contempornea do "aprender a
aprender". Para ele, a educao se desenvolve espontaneamente. De modo geral, a
pedagogia de Frbel pode ser considerada como defensora da liberdade.
Frbel defendia a educao sem imposies s crianas porque, segundo a sua teoria,
elas passam por diferentes etapas de capacidade de aprendizagem, com caractersticas
Ilaes especficas. Frbel no fez a separao entre religio e ensino, consagrada
actualmente, mas via a educao como uma actividade em que escola e famlia
finais
caminham juntas, outra caracterstica que o aproxima da prtica contempornea.

27
4.3- Fbrica de Fiao e tecidos de Santo Tirso

1893 Foi nesta data, no dia 26 de Maro que o Conde de So Bento morreu e deixou
a sua vontade expressa em testamento da construo de um estabelecimento
fabril na vila de Santo Tirso.
1894 A Santa Casa da Misericrdia de Santo Tirso ficava encarregue de executar a
disposio testamentria referente construo da fbrica de tecidos na vila
planeada pelo Conde de So Bento.

1896 Iniciou-se a construo da fbrica.

1897 A Fbrica j se encontra em funcionamento, tecendo panos crus, riscados e


fazendas.

1898 Tendo sido oficialmente inaugurada nesta data, as obras da construo da


fbrica prologaram-se at 1900.

1898 A chegada da primeira mquina a vapor que produzia energia suficiente para o
funcionamento de vrios teares da fbrica.

1903 Foi alargada a produo ao sector da fiao, adaptando-se posteriormente s


operaes de acabamentos e tinturaria.

1900 Instalao de luz elctrica no permetro da fbrica.

1906 Este estabelecimento adopta a designao de Fbrica de Fiao e Tecidos de


Santo Tirso, Lda.. Com o passar dos anos o nmero de trabalhadores foi
aumentando consideravelmente. Em meados do sculo, a fbrica j contava
com cerca de 1500 operrios.

1908 D. Manuel II visita a fbrica de Santo Tirso. Esta visita revela a importncia que
este estabelecimento tinha alcanado no incio do sculo.

1908 Neste perodo da industrializao algodoeira do concelho, este estabelecimento


transformou-se numa escola, fornecendo formao aos seus empregados e
servindo de exemplo para a criao de outras fbricas.

1990 Encerramento da Fbrica de Fiao e Tecidos de Santo Tirso, Lda..

28
Fbrica de Fiao e tecidos de Santo Tirso

A Fabrica de Tecidos de Santo Tirso, somente tecelagem no incio, surge no cruzamento de


interesses de uma burguesia txtil, dos conhecimentos tcnicos da poca e da oportunidade
para se construir um estabelecimento fabril na vila de Santo Tirso pela vontade expressa
em testamento, do Conde de S. Bento.

No testamento de Manuel Jos Ribeiro, Conde de S. Bento o benemrito tirsense deixa um


legado destinado construo na vila de Santo Tirso de uma fiao de algodo.

Aps a sua morte, o seu testamentrio Jos Lus de Andrade, lega todos os bens Santa
Casa da Misericrdia de Santo Tirso.

Ser esta instituio a encarregada de executar a disposio testamentria referente ao


estabelecimento da fbrica. O processo tem incio durante o ano de 1894 atravs de
concurso pblico.

Do regulamento do concurso constava a obrigatoriedade da nova fbrica empregar 50


trabalhadores, preferencialmente de Santo Tirso e ainda que o investimento da sociedade
no capital social da empresa fosse pelo menos de 20.000$00 reis. Cumpridos estes
requisitos, iniciou-se a construo da fbrica, em 1896.

Em 1897 j se encontra a laborar, tecendo panos crus, riscados e fazendas. Tendo sido
oficialmente inaugurada em 1898 as obras de construo iro prologar-se at 1900. Em
1903 alarga a produo ao sector da fiao, adaptando-se posteriormente s operaes de
acabamentos e tinturaria.

Em 1906 este estabelecimento adopta a designao de Fbrica de Fiao e Tecidos de


Santo Tirso, Lda.. No final de oitocentos, aps poucos anos de funcionamento contava
com 400 trabalhadores, nmero que viria a crescer, empregando 1500 trabalhadores em
meados do sculo, alcanando 2000 trabalhadores pouco antes do seu encerramento em
1990.

A fbrica de Santo Tirso recebeu vrias visitas ilustres, das quais se destaca a de D. Manuel
II em 1908. Esta visita revela a importncia que este estabelecimento tinha alcanado no
incio do sculo.

Fbrica de caractersticas modernas neste perodo da industrializao algodoeira do


concelho, transformou-se numa escola, fornecendo formao aos seus empregados e
servindo de exemplo para a criao de outras fbricas.
29
Salo de tecelagem final do sc. XIX

Antigo salo de tecelagem com os teares para produo de riscados e zephires. Pode-
se observar um pormenor da linha de eixo que tocava as vrias mquinas por
transmisso area.

Central termoelctrica foto do final do sculo XIX

A fbrica recorreu desde o incio energia termoelctrica como fonte privilegiada, para
o funcionamento de vrias mquinas. Data de 1898 o primeiro registo de uma mquina
a vapor com destino a este estabelecimento, produzindo antes do virar do sculo
energia suficiente para o funcionamento de vrios teares. Proceder em 1900
instalao de luz elctrica no permetro da fbrica. Pode-se observar na fotografia a
primeira mquina a vapor de cilindro horizontal.
30
5- Sntese

Efectivamente, o Conde de S. Bento foi um grande impulsionador e factor de desenvolvi-


mento da vila, actualmente cidade, de Santo Tirso.
Destacou-se pelas diversas aces que efectuou quer a nvel social, quer a nvel econmico.
Desde muito jovem, Manuel Jos Ribeiro, o Conde de S. Bento, comeou por viajar, sendo a
sua primeira viagem efectuada ao Brasil, quando tinha apenas onze anos, depois de receber
alguma formao ou instruo na sua escola.
De facto, a vida fora do pas no foi fcil para o jovem, pois foram muitas as adversidades
que lhe foram surgindo ao longo do tempo, desde o assalto ao navio em que embarcava at
s muitas dificuldades que teve para fazer fortuna.
Aps 56 anos fora de Portugal, dos quais viajou pelo continente europeu e americano, em
busca de ideais e decerto fortuna, o Conde de So Bento regressou ao seu pas e instalou-se
definitivamente na vila de Santo Tirso. Com o auxlio do seu sobrinho, Jos Lus de
Andrade, transferiu para Portugal a grande fortuna que possua no Brasil.
Depois de se instalar definitivamente em Santo Tirso, o Conde comeou a implementar as
suas ideias e projectos que tinha em mente, fruto dos conhecimentos e experincia
adquirida nas viagens. Assim sendo, comeou por adquirir a quinta do mosteiro de Santo
Tirso. De seguida, o Conde mandou construir na vila uma escola prtica de agricultura,
planeada e mobilada por si que visava receber rfos e abandonados do concelho, aos quais
seria ministrado mais tarde o ensino primrio agrcola. Em 1892, passou a designar-se
Escola Profissional Agrcola Conde de S. Bento.
O Conde fundou ainda um hospital, restaurou a capela do Senhor dos Passos, assegurou as
despesas do culto, e cedeu vastos terrenos da sua quinta Cmara Municipal da Vila, para a
construo de novas ruas.
Aps a morte do Conde de So Bento, em 1893, foi ainda construda em Santo Tirso uma
Fbrica de Fiao, concretizando-se assim um dos seus objectivos firmados em testamento.
A Santa Casa da Misericrdia foi a instituio que ficou encarregue de executar a
construo da fbrica que foi inaugurada em 1898. Com o passar do tempo a fbrica foi
evoluindo e o nmero de trabalhadores foi aumentando ano aps ano.
Em concluso, entendemos que o Conde de So Bento teve indubitavelmente um grande
contributo para o crescimento de Santo Tirso, que hoje recorda com grande saudade e
gratido esta emblemtica figura da cidade.

31
Quadro comparativo entre os Socialistas Utpicos e o Conde de S. Bento

32
6- Bibliografia:

DIAS, Jos Amadeu Coelho, O Conde de S. Bento: um avense benfeitor de Santo Tirso. In Stimas
Jornadas Culturais de Vila das Aves. Vila das Aves: Fbrica da Igreja de S. Miguel das Aves,
1993.
PEREIRA, Maria Manuela Prior Caldas, Conde de S. Bento, Nome Ilustre de Santo Tirso, S.
Tirso, Cmara Municipal, 1984
PIMENTEL, Alberto, Santo Thyrso de Riba d'Ave, Santo Tirso, Club. Thyrsense, 1902
SANTOS, Eugnio dos, (dir.), Os Brasileiros de Torna-Viagem no Noroeste de Portugal. Catlogo
da Exposio, Lisboa, C.N.C.D.P., 2000.

33
ANEXOS

34
Dossier Iconogrfico

35

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