A Civilização Pela Palavra - Hansen
A Civilização Pela Palavra - Hansen
A Civilização Pela Palavra - Hansen
HANSEN, Joo Adolfo. A civilizao pela Palavra. In: LOPES, Eliane et alli (org.). 500 anos
de educao no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, 2000, p. 19-41.
P. 21: Nos sculos XVI e XVII, nas misses jesuticas do Brasil e do Maranho e do
Gro Par, a iniciativa de fazer da pregao oral o instrumento privilegiado de divulgao da
palavra divina pressupunha que a luz natural da Graa inata ilumina a mente dos gentios
objeto da catequese, tornando-os predispostos converso.
P. 24: Desde o sculo XVI, os decretos e as medidas que combatiam a tese da sola
scriptura confirmavam a origem divina e a infalibilidade da persona mystica do papa.
P. 25: (OBS: subordinao livre figura do rei como governante escolhido por
Deus).
Para obter tal subordinao livre, que interessa ao bem comum, a educao deve
tornar mais homem, lema do Ratio Studiorum usado pela Companhia de Jesus a partir de
janeiro de 1599. Ou seja, deve dar conta das trs faculdades que, segundo a filosofia
escolstica, definem a pessoa humana: a memria, a vontade e a inteligncia. Ao faz-lo, deve
ensinar-lhes o auto-controle, visando a harmonia dos apetites individuais e a amizade do
restante corpo poltico do Estado. Por outras palavras, mais homem quem aprende a agir
segundo a recta ratio agibilium e a recta ratio factibilium da Escolstica, a reta razo das
coisas agveis e a reta razo das coisas factveis, visando o bem comum da concrdia e da
paz do todo do Estado.
J no sculo XVI, os jesutas passaram a definir a representao em geral como
theatrum sacrum, teatro sacro ou encenao da sacralidade da teologia poltica que reativa a
eloqncia dos antigos autores pagos e dos padres e doutores da Igreja patrstica e
escolstica como modelo oral para os pregadores contra-reformados.
P. 27: (OBS: trs saberes: docere (ensinar), delectare (agradar), movere (persuadir).
P. 37: Como foi dito, o sermo sacro inscreve o destinatrio em uma tipologia da
memria, da vontade e do entendimento, que classifica e distribui as formas sociais da
audio entre dois modelos, discrio e vulgaridade. Os tipos do discreto e do vulgar
so compostos nele com tcnicas diversas; as citaes latinas de autoridades de vrios
gneros, como Lucano, Ovdio, Ccero, Sneca, Tcito, Tito Lvio, Quintiliano; a erudio
cannica, que cita textos dos doutores da Patrstica e da Escolstica; a prudncia, a
versatilidade, agudeza, o decoro, a etiqueta especificam o discreto. Quanto ao vulgar, fala
daquilo que no entende, ou seja, no entende o que ouve, tendo a memria, a vontade e a
inteligncia corrompidas pelo gosto das aparncias e deixando-se levar pelos efeitos sem
conhecer as causas. Na natiga sociedade de ordens, a oposio discreto/vulgar no
correspondia simetricamente, contudo, oposio sociolgica de dominante/dominado. A
poltica catlica era inseparvel da tica e definia a discrio como uma virtude poltica que
era, antes de tudo, uma qualidade intelectual, no sendo especfica de nenhum estamento
particular.