Revista Scripta
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07, 2009 1
2 Scripta Uniandrade, n. 07, 2009
SCRIPTA UNIANDRADE
NMERO 7 ANO 2009
ISSN 1679-5520
CONSELHO EDITORIAL
Anna Stegh Camati, Brunilda T. Reichmann, Sigrid Renaux.,
Mail Marques de Azevedo, Cristiane Busato Smith
CONSELHO CONSULTIVO
Prof. Dr. Maria Slvia Betti (USP), Prof. Dr. Anelise Corseuil (UFSC), Prof. Dr. Carlos
Dahglian (UNESP), Prof. Dr. Laura Izarra (USP), Prof. Dr. Clarissa Menezes Jordo
(UFPR), Prof. Dr. Munira Mutran (USP), Prof. Dr. Miguel Sanches Neto (UEPG), Prof.
Dr. Thas Flores Nogueira Diniz (UFMG), Prof. Dr. Beatriz Kopschitz Xavier (USP),
Prof. Dr. Graham Huggan (Leeds University), Prof. Dr. Solange Ribeiro de Oliveira
(UFMG), Prof. Dr. Hans Ulrich Gumbrecht (Stanford University), Prof. Dr. Aimara da
Cunha Resende (UFMG), Prof. Dr. Clia Arns de Miranda (UFPR), Prof. Dr. Simone
Regina Dias (UNIVALI), Prof. Dr. Claus Clver (Indiana University).
(1564-1616)
Publicao anual
ISSN 1679-5520
Apresentao 07
DOSSI TEMTICO:
RELEITURAS CONTEMPORNEAS DE SHAKESPEARE
Apropriaes/adaptaes de Shakespeare:
o Hamlet intermiditico de Robert Lepage 73
Thas Flores Nogueira Diniz
A dramaturgia da misturada:
A histria do amor de Romeu e Julieta, de Ariano Suassuna 229
Paulo Roberto Pellissari
Resenha 325
Luiz Roberto Zanotti
Dossis dos prximos nmeros 331
Normas da revista 333
(. . .)
Notas
1
A propsito da dificuldade de definio da poesia lrica, e de sua interao com
outros gneros, ver LINDLEY, 1985, p. 13 e 23. No caso de Shakespeare, o autor
considera a presena do lrico em Romeu e Julieta, III, v, sob a forma da aubade.
2
A propsito, resumo a definio de poema lrico encontrada no dicionrio de termos
literrios de M. H. Abrams: poema que expressa os sentimentos, percepes e
pensamentos de uma persona potica, de modo intensamente pessoal, emocional
ou subjetivo (ABRAMS, 1993, p. 123).
3
A propsito, ver Songs and Dances from Shakespeare. The Broadside Band. Saydisc
Records, England, 1995.
4
DUFFIN, Ross D. Shakespeares Songbook. New York: D. D. Norton & Company,
2004. A edio, anotada e complementada por CD , inclui gravaes muito variadas,
com baladas, canes de amor, cnones, canes bquicas (drinking songs), entre os
quais Hold Thy Peace, It Was a Lover and His Lass, Jog On, There Dwelt a
Man in Babylon, You Spotted Snakes. Outro estudo interessante Songs from
Shakespeares Plays and Popular Songs of Shakespeare Time, organizado por Tom Kines
em 2007. Cf tambm o CD Songs and Dances from Shakespeare. The Broadside Band.
Director Jeremy Barlow, Deborah Roberts (soprano) e John Potter (tenor).
5
A propsito, ver http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=
1847184. Acesso: 07 mar. 2009.
Sigrid Renaux
sigridrenaux@terra.com.br
Nota
1
Todas as outras associaes simblicas usadas so desta obra.
REFERNCIAS
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Sigrid Renaux
Ps-Doutora em Literatura Inglesa e Norte-Americana pela Universidade de
Chicago, EUA.
Doutora em Lngua Inglesa, Literatura Inglesa e Literatura Norte-Americana pela
USP.
Professora Titular de Literatura Inglesa e Norte-Americana do Curso de Letras da
UNIANDRADE.
Professora do Mestrado em Teoria Literria da UNIANDRADE.
Professora Titular de Literaturas de Lngua Inglesa da UFPR (aposentada).
O poder da monarquia
Elisabete era uma atriz nata. E a arte havia aperfeioado a natureza. A sua
educao enfatizara a retrica: isto , o uso da linguagem como um veculo
A histria mais antiga das mulheres foi devotada a se esmiuar sobre crnicas
em busca de rainhas, abadessas e mulheres sbias a serem contrapostas a
figuras masculinas equivalentes em autoridade e capacidade, criando heronas
imagem de heris: Joana dArc, Florence Nightingale, Catarina, a Grande.
Essa verso de carto postal, ou de lbum de figurinhas da histria das
mulheres, embora tenha valor ao afirmar que as mulheres podem ser
competentes e poderosas, tinha duas fraquezas reforava o falso efeito do
Sinto que o corao vai rebentar de dio. Eu no posso esperar! Quem ousa
repetir que meu cime era infundado? Minha mulher mandou cham-lo,
marcaram hora e local, est tudo combinado. Quem poderia pensar em
coisa semelhante? Minha cama ficar manchada, meus cofres sero saqueados,
minha reputao dilacerada. E eu no s tenho que aguentar todas essas
infmias, como ainda sou obrigado a ouvir as maiores ofensas da boca
daquele que me ultraja. Nomes! Apelidos! Qualificativos! Lcifer, ainda vai.
REFERNCIAS
BAMBER, Linda. Comic Women, Tragic Men. Stanford: Stanford University
Press, 1982.
RESUMO: Juntamente com sua equipe, ABSTRACT: Together with his team, the
o dramaturgo canadense Robert Lepage playwright Robert Lepage has created a
criou um centro de pesquisa em Quebec, multicultural research centre in Quebec
o Ex Machina, que emprega um mtodo that employs a revolutionary method of
revolucionrio de produo baseado em production based on two principles: the
dois princpios: a reescrita de obras recycling of already existing texts and the
anteriores e a combinao da arte meshing of types of performance art and
performtica com as novas tecnologias. new technologies. This text aims at
Este texto pretende analisar o espetculo analyzing the spectacle Elsinore according
Elsinore de acordo com estes princpios. to these two principles. This one man show
Esta performance solo ser analisada will first be analysed as an adaptation
primeiramente como uma adaptao que which depends on a canonical text for the
depende de um texto cannico para o theme, characters and ideas around which
tema, personagens e idias em torno dos the spectator is stimulated to participate.
quais o espectador estimulado a Then, the analysis will have as its basis
participar. Em seguida, a anlise ter the richness of the resources that Lepage
como base a riqueza dos recursos que has incorporated into the text, taking
Lepage incorporou ao texto, a inter- intermediality beyond the traditional
midialidade, tomada como algo muito mixing of media, resulting in a totally
alm da tradicional mistura de mdias, intermedial work
resultando em um espetculo totalmente
intermiditico
Notas
*
Uma verso reduzida deste texto foi apresentada no II ABRALIC, em So Jos do
Rio Preto em 2009.
1
[] realizes the potential of liberating a text from its original setting and at the
same time it suggests how innovation might prove at least as reductible as historical
accuracy.
2
Disponvel em: http://www.theexit.org/media/hamlet.html. Acesso em: 9 jun.
2009.
3
The play was spliced-up into a collage with lines juxtaposed, sequences rearranged,
characters dropped or blended, and the entire thing played out in short discontinuous
fragments which appeared like subliminal flashes out of Hamlets life, in every case,
used Shakespeares words, though radically rearranged.
4
Disponvel em: http://www.changeperformingarts.it/Lepage/elsinore.html.
Acesso: 5 out. 2009.
5
Para um estudo desta tcnica, ver o captulo 4, Practical Workshops and Rehearsal
Techniques (DUNDJEROVIC, 2009, p. 89-141).
REFERNCIAS
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A relutncia em aceitar o que o filho lhe contara torna-se ainda mais plausvel
se levarmos em considerao o fato de que Gertred realmente acreditava que
o filho estivesse louco. Por fim, uma outra demonstrao de amor ao Rei
acontece quando Laertes esbraveja com este que seu pai fora assassinado, e a
Rainha interfere, em defesa do Rei, alegando que Corambis (Polnio em Q1)
fora assassinado, sim, mas no por Cludio.
As aes e as palavras registradas no Primeiro In-Quarto revelam
uma Rainha cuja face maternal bem mais impactante do que nas outras
duas verses. Alm de acreditar em Hamlet e se dispor prontamente a auxili-
lo quando este lhe revela a trama do assassinato do pai, Gertred se mostra
constantemente preocupada com o filho, com o seu bem-estar, sua segurana
e sanidade. E a maneira como Gertred se despede de Horcio na cena exclusiva
evidente demonstrao dos fortes sentimentos maternos da Rainha em Q1:
Notas
1
A traduo dos trechos originalmente em lngua inglesa de nossa autoria.
2
Isto , A Trgica Histria de Hamlet Prncipe da Dinamarca por William
Shakespeare Como diversas vezes encenada pelos criados de sua Alteza na Cidade
de Londres: assim como em ambas as Universidades de Cambridge e Oxford, e em
outras localidades.
REFERNCIAS
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Introduo
HAMLET: No creio. Desde que ele foi para a Frana, eu tenho treinado
constantemente. Eu vencerei, com a vantagem que me oferecem. Mas no
podem imaginar a angstia que sinto aqui no corao; mas no importa.
Para chegar ao ponto em que a ausncia radical das atrizes dos palcos
da renascena2 d lugar audcia da mulher de representar Hamlet,
necessrio voltar na histria, para o momento em que sobe ao palco a primeira
atriz a encarnar o heri. E aqui, a histria comea no nos palcos de Londres,
mas nas provncias; a protagonista no uma atriz destacada, mas algum de
reputao suspeita, que se faz passar por homem e, como tal, acaba na priso,
onde partilha a cela com outros detentos.
Sob o pseudnimo de Charles Brown, persona adotada na vida e no
teatro, Charlotte Charke (c.1713-1760) exerceu ofcios tradicionalmente
reservados aos homens: foi pajem do Conde de Anglesey; vendeu salsichas,
foi padeiro e estalajadeiro. No teatro tambm ousou exercer funes tipicamente
masculinas: liderou um grupo de atores mambembes; gerenciou o Little Theatre
em Haymarket, em Londres; manipulou marionetes com expertise; foi
dramaturga; e encarnou papis masculinos: Tragedo, personagem da pea The
London Merchant, de George Lillo, em 1731; Rodrigo, de Otelo, em 1732 e, por
diversas vezes, Hamlet.
Filha caula do ator, dramaturgo e poeta laureado Colley Cibber e da
atriz Katherine Shore, aos 16 anos Charlotte rompeu com os pais para se
casar com o violinista Richard Charke, que logo depois a abandonou, com
uma filha pequena. Sem poder contar com a ajuda financeira, nem com a
proteo e respeitabilidade do pai, precisou lutar contra as inmeras dificuldades
enfrentadas pelas mulheres em um mundo masculino, que lhes oferecia raras
opes profissionais.
Charlotte transformou sua dura experincia de vida na autobiografia
A Narrative of the Life of Mrs. Charlotte Charke (1755), a primeira autobiografia
de uma atriz inglesa. um relato de suas aventuras e desventuras no teatro
itinerante, quando excursionou com uma pequena companhia pelo interior do
pas, interpretando, entre outros papis, o personagem Hamlet. Embora a
Uma mulher mais bem equipada que um homem para interpretar papis
como L Aglion e Hamlet. Esses papis retratam rapazes de 20 ou 21 anos
com mentes de homens de 40. Um rapaz de 20 anos no pode compreender
a filosofia de Hamlet nem o entusiasmo potico de LAiglon. Um homem
mais velho [...] no tem a aparncia de um rapaz, nem possui a pronta
adaptabilidade de uma mulher que consegue combinar a leveza do corpo de
um jovem com a maturidade de pensamento de um homem. Uma mulher
mais facilmente aparenta o papel, e ainda tem a maturidade mental para
compreend-lo.6
Com verve e acidez, Beerbohm conclui seus comentrios sobre o que classificou
como uma aberrao e produto da vaidade desmesurada da atriz:
Reprovam-me por ser ativa demais, viril demais. Parece que na Inglaterra
deve se representar Hamlet como um triste professor alemo. [...]. Dizem
que meu desempenho no tradicional. Mas o que tradio? Cada ator
traz suas prprias tradies [. . .]. Na cena da capela Hamlet decide no matar
o rei, que est rezando, no por ser indeciso e covarde e sim por ser inteligente
e tenaz. Quero mat-lo quando estiver pecando, no quando se encontra
num instante de arrependimento, pois quer que ele v para o Inferno, e no
para o Cu. Aos que esto absolutamente determinados a ver em Hamlet
Quadro 22: Chegou a hora de ele ocupar seu lugar entre os jovens de sua
idade.
Quadro 23: O senhor considera seguro mand-lo para Wittenberg?
Quadro 24: A senhora o ensinou como guardar bem o seu segredo?
Concluso
REFERNCIAS
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SHAKESPEARE, William. Hamlet. Trad. Millr Fernandes. Porto Alegre: Editora
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Ser ou no ser
Machina fatalis
Concluso
Marcia A. P. Martins
mmartins@puc-rio.br
RESUMO: Este artigo faz, inicialmente, ABSTRACT: This article briefly presents
uma breve apresentao das 13 tradues the 13 Brazilian translations of
brasileiras da tragdia Macbeth, de William Shakespeares Macbeth published to the
Shakespeare, publicadas at hoje; a seguir present and proceeds to examine the
se detm na realizada pelo poeta translation published by the Modernist
modernista Manuel Bandeira, com o poet Manuel Bandeira, analyzing the
objetivo de examinar as estratgias formal strategies he employed. Emphasis
formais por ele empregadas. A anlise is given to the solutions found by
focaliza especialmente as solues Bandeira when recreating in Portuguese
encontradas pelo tradutor para recriar em the blank verse that is the most
portugus o pentmetro jmbico branco, characteristic meter of Shakespearean
que o metro mais caracterstico da drama and the rhymed couplets of
poesia dramtica shakespeariana, e o trochaic tetrameter spoken by the Weird
tetrmetro, com rimas emparelhadas, que Sisters. Generally speaking, Bandeira
aparece na fala das bruxas. De modo geral, chooses the decasyllable, increases the
Bandeira opta pelo decasslabo, aumenta number of lines so as to minimize cuts
o nmero de versos com o fim de in the text and attempts to preserve a
diminuir a necessidade de fazer cortes no sharp contrast between the verse
texto e procura manter bem ntido o associated with the witches and that
contraste entre o verso das bruxas e o reserved for the noble characters, using a
dos nobres, utilizando um metro mais shorter, rhymed line in opposition to the
curto rimado para se opor ao decasslabo unrhymed decasyllable.
branco.
Sergeant
Doubtful it stood;
As two spent swimmers, that do cling together
And choke their art. The merciless Macdonwald
Worthy to be a rebel, for to that
The multiplying villanies of nature
Do swarm upon himfrom the western isles
Of kerns and gallowglasses is supplied;
And fortune, on his damned quarrel smiling,
Showd like a rebels whore: but alls too weak:
For brave Macbethwell he deserves that name
Disdaining fortune, with his brandishd steel,
Which smoked with bloody execution,
Like valours minion carved out his passage
Till he faced the slave;
Which neer shook hands, nor bade farewell to him,
Till he unseamd him from the nave to the chaps,
And fixd his head upon our battlements.
Oficial
Indecidida.
Era ver dois exaustos nadadores
A agarrar-se e a anular sua percia.
O implacvel Macdonwald bem talhado
Para rebelde, pois de vilanias
To cumulado pela natureza
Das ilhas de oeste recebeu reforo
De tropas irlandesas, e a Fortuna
Sorria-lhe diablica empreitada
Como rameira de soldado. Tudo
Debalde, pois Macbeth (merece o nome),
Zombando da Fortuna, e com a brandida
Espada fumegante da sangrenta
Carnificina, abre passagem como
O favorito do valor e enfrenta
O miservel. Sem lhe dar bons dias,
Descose-o de um s golpe desde o umbigo
At s queixadas, corta-lhe a cabea,
Crava-a numa seteira.
DUNCAN
bravo primo!
digno cavaleiro!
At o prprio
Corvo est rouco, que crocita entrada
Fatdica de Duncan sob as minhas
Ameias. Vinde, espritos sinistros
Que servis aos desgnios assassinos!
Dessexuai-me, enchei-me, da cabea
Aos ps, da mais horrvel crueldade!
Espessai o meu sangue, prevenindo
Todo acesso e passagem ao remorso;
De sorte que nenhum compungitivo
Retorno da sensvel natureza
Abale a minha determinao
Celerada, nem faa a paz entre ela
Bem conheo
As delcias de amar um tenro filho
Que se amamenta: embora! eu lhe arrancara
s gengivas sem dente, ainda quando
First Witch
When shall we three meet again
In thunder, lightning, or in rain?
Second Witch
When the hurlyburlys done,
When the battles lost and won.
Third Witch
That will be ere the set of sun.
First Witch
Where the place?
Second Witch
Upon the heath.
Third Witch
There to meet with Macbeth.
First Witch
I come, Graymalkin!
Second Witch
Paddock calls.
Third Witch
1 BRUXA.
Quando novamente as trs nos juntamos
No meio dos raios e troves que amamos?
2 BRUXA.
Quando terminada esta barulhada,
Depois da batalha perdida e ganhada.
3 BRUXA.
Antes de cair a noite.
1 BRUXA.
Em que lugar?
2a BRUXA.
Na charneca.
3 BRUXA.
Ali vamos encontrar
Com Macbeth.
l BRUXA.
Irms, o Gato nos chama!
2 BRUXA.
O Sapo reclama!
3 BRUXA.
J vamos! J vamos!
TODAS.
O Bem, o Mal,
tudo igual.
Depressa, na nvoa, no ar sujo sumamos!
Second Witch
By the pricking of my thumbs,
Something wicked this way comes.
Open, locks,
Whoever knocks!
Enter MACBETH
MACBETH
How now, you secret, black, and midnight hags!
What ist you do?
ALL
A deed without a name.
MACBETH
I conjure you, by that which you profess,
Howeer you come to know it, answer me:
Though you untie the winds and let them fight
Against the churches; though the yesty waves
Confound and swallow navigation up;
2 BRUXA.
Pelo comichar
Do meu polegar
Sei que deste lado
(Entra Macbeth)
MACBETH.
Eh, horrendas bruxas, filhas do demnio,
Que estais fazendo?
TODAS.
Obra que no tem nome.
MACBETH.
Eu vos conjuro, pela negra arte
Que, como quer que fosse, conseguistes
Aprender, respondei-me: ainda que os ventos,
Soltos por vs, furiosos, arremetam
Contra as igrejas; ainda que nas bravas
Ondas soobrem todos os navios;
Assim, logo antes da entrada em cena de Macbeth, o verso das bruxas se reduz ao
pentasslabo, o que maximiza o contraste com o decasslabo da fala do protagonista.
As anlises apresentadas no se pretendem exaustivas, mas cremos
que elas sejam suficientes para ao menos levantar algumas das estratgias
adotadas pelo tradutor e esboar uma avaliao delas. Ainda que se possa
discordar de algumas solues pontuais de Bandeira, suas escolhas bsicas
parecem felizes: optou pelo decasslabo, o verso longo do portugus que,
conforme argumentamos, mesmo exigindo alguma compresso e omisso
prefervel ao dodecasslabo; aumentou o nmero de versos com o fim de
diminuir a necessidade de fazer cortes no texto; e manteve bem ntido o
contraste entre o verso das bruxas e o dos nobres, utilizando um metro mais
curto rimado para se opor ao decasslabo branco. Podemos dizer, parafraseando
as palavras do personagem Macbeth (Ato I, cena 7)2, que o Bandeira tradutor
fez sem medo tudo o que cumpre a um poeta.
Notas
1
No final de 2007 surgiram denncias na imprensa e em listas na internet de que a
editora Martin Claret teria plagiado tradues de obras clssicas, inclusive de peas de
Shakespeare. Para mais informaes, ver http://www1.folha.uol.com.br/ folha/
ilustrada/ult90u357418.shtml e http://naogostodeplagio.blogspot.com. Acesso em
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IV P Castelo I
Floresta
I II
M
(Figura 1)
M = Manso do Norte
Fortes = I, II, III, IV, V
T0 T1 T2 T3 T4
(Figura 2)
T0 T1 T2 T3 T4 T5
Por um tempo, parecia que este trabalho [Kagemusha] nunca iria ver a luz do
dia. Exasperado, porque eu queria que o pblico de todo o mundo
entendesse as idias que eu tinha para esse filme, eu comecei a pintar quase
diariamente, transformando essas imagens em pinturas estticas. Eu
preparei centenas de imagens naquela poca. A mesma coisa aconteceu com
Ran. Um longo tempo se passou antes que a produo fosse iniciada.
(KUROSAWA, 1986, p. 5)
Por exemplo, se uma cena conta com a presena de trs atores, todos os trs
estaro falando e se movimentando livre e naturalmente. Para mostrar como
as cmeras A, B e C se deslocam para cobrir a ao, mesmo uma descrio
completa de continuidade em cena insuficiente. O operador mediano
tambm no entenderia um diagrama com movimentos de cmera. Creio
que, no Japo, os nicos capazes de compreend-la so Asakazu Nakai e
Takao Sait. As trs posies de cmera mostram-se diferentes do incio ao
fim de cada tomada, e passam por vrias transformaes nesse perodo.
Como um esquema geral, coloco a cmera A nas posies mais ortodoxas,
uso a B para tomadas rpidas e decisivas e a cmera C funciona como uma
espcie de unidade de guerrilha. (1990, p. 280)
Nos filmes Trono manchado de sangue e Ran, esse recurso das trs cmeras
utilizado nas longas sequncias externas de batalha uma vez que muitos
atores, figurantes e cavalos esto envolvidos na filmagem, alm do exrcito de
pessoas participando nos bastidores. Todos devem desempenhar a sua funo
organicamente durante a gravao de uma sequncia desse tipo como se
fizessem parte das engrenagens de uma mquina. Esse processo descrito no
documentrio A.K. por Chris Marker (Documentrio-vdeo, 1985), que registra
no making-of de Ran a movimentao que antecede a gravao14 da sequncia
da emboscada a Hidetora, ambientada no Castelo III. Esta sequncia, que
est parcialmente descrita no documentrio, inclui cenas desde a desocupao
do Castelo III e a subsequente ocupao da edificao por Hidetora (Rei
Lear) at a batalha e a invaso deste mesmo Castelo pelas tropas dos dois
Esse autor ainda apresenta a opinio do diretor russo Andrei Tarkovsky (1932-
1986) para reforar o seu pensamento sobre essa questo: o diretor russo
tambm era contrrio aos que pretendem que a montagem o elemento
determinante de um filme. Dito de outra forma, que o filme seja criado na
mesa de montagem (citado em ESCOREL, 2006, p. 20). Resta salientar que
esse posicionamento no desmerece a importncia da edio, mas polemiza o
carter onipotente e salvador que lhe foi imputado por alguns diretores e
tericos. Um deles, Orson Welles, afirmava que
Olhe este lugar desolado / onde existiu um majestoso castelo / cujo destino
caiu na rede / da luxria, do poder / [Ali] vivia um guerreiro forte na luta /
mas fraco diante de sua mulher / que o induziu a chegar ao trono / com
traio e derramamento de sangue. / O caminho do mal o caminho da
perdio / e seu rumo nunca muda.23 (KUROSAWA, [Filme-vdeo], 1957)
Notas
1
Os termos que envolvem o uso dos conceitos de aproximao e distanciamento no
se referem tentativa de estabelecer uma comparao entre as obras a partir de um
critrio de fidelidade. Sabe-se que uma traduo intersemitica assegura um amplo
grau de liberdade e de criatividade para aqueles que esto envolvidos no processo
tradutrio. Os conceitos que dizem respeito ao estabelecimento de equivalncias entre
os sistemas semiticos esto sendo aplicados no presente estudo conforme a proposta
discutida por Thas F. N. Diniz (2003, p. 27-42).
2
O homem mau dorme bem foi listado em terceiro lugar, apesar de ser anterior a Ran, por
estar inserido na conjuntura do sculo XX ao invs de estabelecer uma relao com a
poca feudal japonesa, como ocorre nas outras duas verses. A traduo literal do seu
ttulo para o portugus quanto pior o homem, melhor ele dorme, o que evidencia
com mais preciso as sutilezas do enredo.
REFERNCIAS
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Brunilda T. Reichmann
brunilda9977@gmail.com
ABSTRACT: This reading of the film RESUMO: Esta leitura do filme Macbeth,
Macbeth, by Roman Polanski, is focused de Roman Polanski, concentra-se em
on interpolations introduced by the film interpolaes introduzidas pelo cineasta
director in his adapted version of the em sua adaptao da pea homnima de
homonymous play by Shakespeare. We Shakespeare. Escolhemos trs momentos
have selected three scenes in Polanski do filme de Polanski que extrapolam o
film that extrapolate the dramatic text: texto dramtico: o prlogo ou incipit, no
the prologue, or incipit, in which the qual as bruxas realizam seus encantos; a
witches perform their charms; the visualizao do assassinato do Rei
showing of King Duncans assassination Duncan, um episdio que apenas
which is only reported in Shakespeare; narrado em Shakespeare; e a visita
and the visit to the witches den by caverna das bruxas por Donalbain, irmo
Donalbain, the younger brother of mais novo de Malcolm herdeiro
Malcolm the legitimate heir to the legtimo do trono e rei da Esccia no final
throne and king of Scotland at the end da pea e do filme. Chega-se concluso
of the play and of the film. The conclusion que a interpolao das trs cenas
reached is that the interpolation of the three intensifica a dramaticidade do filme,
scenes intensifies the dramaticity of the amplia o questionamento sobre a
film, amplifies the questioning about natureza e o destino humanos e atualiza
human nature and destiny, and updates o rico subtexto que o dramaturgo
the rich subtext that the playwright inscreve em seu texto ao adaptar as fontes
inscribes in his text when he adapts histricas para fazer uma crtica violncia
historical sources to criticize the violence de seu tempo.
of his time.
Polanskis interpolations
Lady Macbeth: Out, damned spot! Out, I say! One: two: why, then tis time
to do t. Hell is murky. Fie my lord, fie! A soldier, and afeard? What
need we fear who knows it, when none can call our powr to accompt?
Yet who would have thought the old man to have had so much
blood in him? [] What, will these hands neer be clean? [] Heres
the smell of the blood still. All the perfumes of Arabia will no
sweeten this little hand. Oh, oh, oh! (V.1.38-43, 46, 53-55, my
emphasis)
The feeling of fear, horror and pain is increased by the constant and the
recurrent images of blood; these are very marked, and have been noticed by
others, especially by Bradley, the most terrible being Macbeths description
of himself wading in a river of blood, while the most stirring to the
imagination, perhaps in the whole Shakespeare, is the picture of him gazing,
rigid with horror, at his own blood-stained hand and watching it dye the
whole green ocean red.
Final considerations
Notes
1
Hubris: In Greek tragedy, the pride, the arrogance of the hero, responsible for his/her
downfall.
2
Nemesis: The wrath of the gods provoked by hubris.
3
All the references and citations of Macbeth are from The Signet Classic Shakespeare,
included in the bibliography.
4
Original in Portuguese: No quadro dessa articulao terica, sequncias iniciais de
um filme mesmo enquanto so passadas as informaes sobre a ficha tcnica sob
a forma de apresentao de crditos apresentam j as primeiras informaes diegticas.
A abertura de filmes, assim, pode ser lida nos mesmos termos de um incipit literrio,
ou ao que Genette (1982, p. 150) denomina paratexto: [...]toda espcie de pr ou
ps-liminar, constituindo-se como um discurso produzido a propsito do texto
que segue ou que precede o texto propriamente dito.
Brunilda T. Reichmann
PhD em Literaturas de Lngua Inglesa pela Nebraska University em Lincoln.
Professora Titular de Literatura Inglesa e Norte-Americana do Curso de Letras da
Uniandrade.
Editora da revista Scripta Uniandrade.
Professora do Mestrado em Teoria Literria da Uniandrade.
Professora Titular de Literaturas de Lngua Inglesa da UFPR (aposentada).
Co danado,
Pior que a angstia, do que a fome ou o mar,
Olha a tragdia que essa cama abraa:
Tua obra veneno para os olhos;
Que a ocultem. Graziano, guarde a casa
REFERNCIAS
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Janeiro: Editora Lacerda, 1999.
Denise: Eu quase vim por minha conta, sem esperar que voc me
chamasse.
Otelo: Eu ia ficar zangado
Denise: Por qu?
Otelo: Eu sou marido das antigas, no ? A primeira coisa que eu quero
da minha mulher obedincia.
Denise: Mas se eu resolver fazer alguma coisa?
Otelo: Antes tem que me consultar.
Ainda que Denise reclame de sua situao para Otelo, ela sempre
cede aos seus pedidos e, paciente, procura atender a todos os seus desejos,
nos moldes da mentalidade da poca. No podemos esquecer, no entanto, a
natureza transgressora da nossa Desdmona brasileira, que, tal qual a
shakespeariana, foge para se casar e enfrenta a fria de seu pai. O casamento,
no entanto, lhe d menos escolhas que sua vida como moa solteira, visto que
ela vive para esperar o marido. Naturalmente, o tdio faz com que ela reflita
sobre a sua situao e perceba que, mesmo com todas as imperfeies, sua
vida de solteira era melhor:
Denise: Cada vez que Otelo entra aqui como um furaco. [...] S por
algumas horas. Ele vem me visitar. Na nossa casa. Pacincia. Depois do
carnaval quem sabe. Ah, at l eu posso morrer. Sabe que a minha vida era
melhor. Eu, pelo menos, saia, ia ao colgio e agora...
Emlia: Quem mandou parar de estudar. S porque casou?
Denise: Eu vou morrer assim.
Notas
1
Contra-escrever, ou write back, na lngua original, uma noo que tem origem com
os estudos pscoloniais. Ver ASHCROFT, Bill; GRIFFITHS, Gareth; TIFFIN, Helen
(1998).
2
O escritor Aguinaldo Silva transps a tragdia shakespeariana, Otelo, o mouro de
Veneza, para o formato da minissrie televisiva. A produo e direo ficaram a cargo
de Paulo Afonso Grisoli. A minissrie teve uma hora e meia de durao e uma boa
recepo no Brasil e no estrangeiro, tendo sido exibida em emissoras de TV de 64
pases, entre elas a BBC de Londres.
3
A primeira adaptao de Otelo, o mouro de Veneza no Brasil foi teatral. Trata-se da pea
de Gonalves Dias, Leonor de Mendona (1846-7), como informa Barbara Heliodora
em Shakespeare no Brasil (2008, p. 326).
4
Para Sanders, a adaptao pode ser uma prtica de transposio, de transpor um
gnero especfico para outro, como em um ato de reviso por si s. A adaptao pode
se assemelhar prtica editorial em alguns aspectos, cedendo ao exerccio de desbastes
e podas. No entanto, pode tambm ser um procedimento de amplificao que se
engaja com a adio, expanso e interpolao (). A adaptao frequentemente se
associa ao comentrio crtico do texto-fonte, o que pode ser realizado, geralmente,
por meio da proposta de um ponto de vista revisado do texto original, adicionando
hipteses ou ainda dando voz aos personagens sem voz e aos marginalizados. Ao
mesmo tempo, a adaptao pode constituir uma tentativa de tornar textos relevantes
ou facilmente compreensveis para plateias ou leitores novos, por meio do processo
de aproximao e atualizao (2006, p. 19, minha traduo)
5
No devemos esquecer de mencionar a minissrie de Rede Globo Malu Mulher
(1979), que tratava dos conflitos e sucessos da vida de uma mulher separada (Regina
Duarte). Malu Mulher fez grande sucesso, ainda que tenha tido problemas com a
censura por apresentar temas ousados para a poca, como o aborto, a plula
anticoncepcional, o orgasmo feminino e a virgindade.
6
Aguinaldo Silva pode ter se inspirado tambm no filme francs Orfeu negro (1959),
dirigido por Marcel Camus. O enredo baseado na conhecida histria da mitologia
grega de Orfeu e Eurdice e na pea teatral de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, Orfeu
da Conceio. O filme ambientado no Rio de Janeiro durante a poca do
carnaval e narra a histria de um amor impossvel entre duas pessoas de universos
radicalmente diferentes. O conto de Anibal Machado, A morte da porta-estandarte
(1925), tambm se inclui nesta tradio narrativa uma vez que tematiza o cime
masculino, a objetificao da mulher e conflitos raciais, com o carnaval como pano de
fundo.
REFERNCIAS
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RESUMO: Este artigo discute a criao ABSTRACT: This study discusses The
artstica A histria do amor de Romeu e Julieta: love-story of Romeo and Juliet: a Brazilian
imitao brasileira de Matteo Bandello, version based on Matteo Bandello, an
de Ariano Suassuna, mostrando como a artistic creation by Ariano Suassuna,
narrativa do casal de amantes ganha nova showing how the story of the lovers
feio no processo de transculturao no acquires new contours in the process of
nordeste brasileiro. A recriao dramtica transculturation into Northeast of
de Suassuna de um folheto de cordel Brazil. The dramatic recreation of a
assume importantes funes sociais no chapbook by Suassuna assumes
contexto da cultura-alvo, dentre elas o important social functions in the context
estabelecimento de uma arte erudita of the target-culture, among them the
brasileira a partir das razes das establishment of a Brazilian high culture
manifestaes artsticas populares, um derived from the roots of popular artistic
empreendimento que constitui o projeto manifestations, an enterprise which
de vida do criador do Movimento constitutes the life project of the creator
Armorial. of the Armorial Movement.
KEY WORDS: Ariano Suassuna. The Romeo and Juliet narrative. Transtextuality.
Transculturation. Adaptation.
Romeu:
Eu tirei minha Gravata,
ela tirou o Vestido.
Eu o cinto, com Revlver,
ela, seus quatro Corpinhos.
As anguas engomadas
soavam nos meus ouvidos
como um tecido de seda
por vinte facas rompido.
Eu toquei seus belos peitos
que estavam adormecidos,
e eles se ergueram, de sbito,
como ramos de jacinto.
Naquela noite eu passei
Pelo melhor dos caminhos,
montado em Potrinha branca,
mas sem Sela e sem estribos.
Suas coxas me escapavam,
como Peixes surpreendidos,
metade cheias de fogo,
metade cheias de frio.
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Doc tenta mostrar aos Jets que o objeto de sua rixa com os Sharks um
pedao da rua no tem importncia. Ele chega a ser enftico a esse respeito,
ao afirmar que tal coisa interessa apenas a marginais, mas logo volta ao seu
tom de voz caracterstico, mostrando sua apatia e descrena. O comerciante
tenta ainda dar conselhos e procura relatar como as coisas eram quando tinha
a idade dos Jets, mas interrompido por Action. O jovem, em uma atitude
tpica de adolescente, replica que ningum sabe como ter a sua idade. Doc
perde a pacincia com Action e duro com ele, fazendo uso do duplo
significado da palavra dig. Action a usa no sentido de entender profundamente, ou
como melhor expressado, na forma da gria sacar. O comerciante aproveitar
Action: Quanto mais cedo vocs se derem conta disso, mais cedo vo sacar a
gente!
Doc: Eu vou enterr-lo em uma cova rasa, isso o que eu vou sacar.
Doc: Acorde! Essa a nica maneira para me comunicar com vocs? Fazer o
que todos vocs fazem? Estourar como um cano de gua quente?
Tony: O que deu em voc?
Doc: Por que vocs vivem como se estivessem em guerra? Por que vocs
matam?
Concluso
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Notas
*Este artigo foi escrito durante perodo de residncia ps-doutoral na Universidade
Federal de Minas Gerais.
1
Em Faultlines: Cultural Materialism and the Politics of Dissident Reading, Sinfield dedica
um captulo do livro discusso do lugar que o personagem deve ocupar dentro dos
estudos shakespearianos, ressaltando a descontinuidade da subjetividade do
personagem dramtico.
2
Todas as citaes da pea so retiradas da edio Arden Shakespeare, The Tempest,
organizada por Virginia Mason Vaughan e Alden T. Vaughan. As referncias, includas
entre parnteses, no texto, referem-se ao ato, cena e versos da pea, nessa ordem.
3
John Dryden e William Davenant esto entre os que iniciaram essa tradio
(SHAKESPEARE, 1999, p. 135).
4
importante lembrar que Rod escreveu esse ensaio no final do sculo XIX, quando
os Estados Unidos, motivados pela Doutrina Monroe, haviam aproveitado para
expandir suas fronteiras, confiscando a Califrnia, o Texas e o Novo Mxico, anexando-
REFERNCIAS
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Introduction
Conclusion
I would like to finish this study recalling the epigraph that opened it,
in which Susan Willis says that [p]lays are written to be performed,
performance is embodiment, embodiment is adaptation and interpretation
(1991, p. 86). In Howells made-for-TV film of Shakespeares The Winters
Tale, clearly the Bards words gain bodies, voices, gestures, colors, movements,
all of which are developed following a conception and interpretation of the
source text. There are many gains, derived from the specificities of television,
like the direct addressing to the camera and characters positioned in the
foreground or in the background, so that I cannot agree with Wells belief that
the medium of television has somehow reduced Shakespeare. On the
contrary, this production of The Winters Tale on made-for-TV film definitely
adds to the plays history and significance, at the same time that it offers
spectators and readers of Shakespeare another work of art, specifically as
television film, which is as relevant and memorable as those produced on
stage or screen.
_________________________
Notes
1
To illustrate the fact that there was a lot of respect and little interpretation (or little
innovation as regards interpretation), Taylor says of Howells productions that [h]er
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Por um lado, ele [o teatro] era chamado para se apresentar na corte, e como
tal poderia parecer ser uma extenso do poder da realeza; por outro lado,
constitua uma modalidade de produo cultural na qual predominavam as
foras do mercado, e como tal ele ficava exposto influncia das classes
subordinadas e emergentes. No seria possvel esperar, portanto, uma relao
ideolgica livre de ambiguidades em relao s peas: ao contrrio,
provavelmente os tpicos que interessavam tanto aos escritores e s plateias
eram aqueles nos quais havia ideologias opostas em tenso. (DOLLIMORE;
SINFIELD, 1985, p. 211)1
Com essa vitria sobre seu rival, Prcia apresenta o anel a seu marido,
que ele reconhece ser o mesmo que ele havia dado ao doutor. Prcia, por sua
vez, faz uma provocao dizendo: Foi ele quem mo deu: perdo Bassnio,/
Mas, pelo anel, deitei-me com o doutor (p. 144). Anteriormente, ela j havia
feito uma ameaa ousada:
Notas
1
Todas as tradues de citaes de obras terico-crticas em ingls so minhas.
2
Travestimento (cross-dressing em ingls) significa vestir roupas do sexo oposto com
o propsito da mulher se passar por homem e do homem se passar por mulher
(DAVIDSON & WAGNER-MARTIN, 1995, p. 223).
3
Todas as referncias e citaes de O mercador de Veneza inseridas no texto, assinaladas
apenas pelo nmero das pginas, so da traduo da obra de Shakespeare por Barbara
Heliodora, listada nas referncias.
4
Os grifos so meus.
5
Copplia Kahn (WALLER, 1991, p.129), em um ensaio intitulado The Cuckoos
Note: Male Friendship and Cuckoldry in The Merchant of Venice, afirma que
Shakespeare estrutura o enredo dos anis de tal maneira para mostrar o paralelismo
e contraste da rivalidade entre Antonio e Prcia pela afeio de Bassnio, caracterizando
o conflito entre amizade masculina e casamento que aparece em quase todas as suas
peas.
REFERNCIAS
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So Paulo: Nova Fronteira, 1987.
Fig. 1. Capas dos contos shakespearianos de Sandman 13, 19 e 75, por Dave McKean.
***
A pea Sonho de uma noite de vero foi levado cena entre 1592 e 1595,
possivelmente num casamento. Tendo como cenrio os preparativos para o
casamento do duque ateniense Teseu e da rainha amazona Hiplita,
acompanhamos as peripcias de um grupo de atores, liderados por Bottom,
que ensaiam a pea Pramo e Tisbe, alm de dois casais, Hrmia e Lisandro,
Demtrio e Helena, e suas aventuras amorosas. Em meio s duas tramas,
temos os jogos amorosos entre o rei e a rainha das fadas, Oberon e Titnia.
Entre os dois deuses, Puck, servo de Oberon, espalha a confuso no apenas
em meio aos amantes, como tambm entre os atores, que assistem Bottom se
transformar num jumento para depois receber o amor de Titnia. interessante
notar que no apenas na trama, como tambm em suas aluses a fadas, stiros
e poes mgicas, a pea apresenta um tom de fantasia at ento indito na
Alm de Honan, outro autor que dedicou pginas relao entre a morte
de Hamnet e a composio da maior pea do dramaturgo foi Stephen Greenblatt
no livro Will in the World: how Shakespeare became Shakespeare. No captulo Um
prncipe entre as tumbas, o autor argumenta que o inexistente ritual fnebre
anglicano, em contraste com o suntuoso catlico, deve ter aprofundado a dor de
Shakespeare que, incapaz de prantear livremente por seu filho, comps uma pea
que trata, entre outras coisas, da morte de um pai e do sofrimento de um filho.
Baseado nesse dado biogrfico, Gaiman faz com que o menino Hamnet
vislumbre a importncia que seu pai dedica s histrias, s palavras e ao mundo
do teatro, em detrimento do interesse demonstrado a ele e a sua famlia. Num
dilogo em que o ator no escuta de fato a reclamao do menino, Hamnet surge
como um dos personagens principais da histria, fazendo par futuramente com
Judith, a outra filha de Shakespeare presente na histria A tempestade. Esse
afastamento familiar visvel no dilogo abaixo em que pai e filho dialogam sem
de fato escutar ou responder aos comentrios um do outro.
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Numa histria que inicia com uma discusso marital, Gaiman faz
Shakespeare deixar a composio de sua pea para frequentar uma das tavernas
de Stratford. L, somos apresentados a dois outros moradores do vilarejo que
formulam em seu dilogo a opinio comum sobre os dramaturgos no perodo
elisabetano. No to renomados quanto os poetas, os dramaturgos eram
considerados homens de profisso inglria, pouco valorizada, recebendo o ttulo
de Corvos da praga pelos pregadores religiosos. A razo desses insultos era que
o teatro elisabetano recebia a visita de um pblico ecltico, tanto de universitrios
e intelectuais, quanto de viajantes, aougueiros e prostitutas, entre muitos outros.
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9 O envio do artigo para publicao implica a aceitao das condies acima citadas.