Juvenatrix 129 PDF
Juvenatrix 129 PDF
Juvenatrix 129 PDF
INTERNET
Blogs: www.infernoticias.blogspot.com & www.juvenatrix.blogspot.com
E-mail: [email protected] / Twitter: www.twitter.com/juvenatrix
Site Boca do Inferno: http://bocadoinferno.com/author/renato-rosatti/
Portal Gore Boulevard: http://gore-boulevard.webnode.com.br/novidades/walpurgis-rites/
EDITORIAL
O destaque dessa edio o artigo sobre a obra literria de H. P. Lovecraft em Lngua Portuguesa, escrito
e pesquisado por Marcello Simo Branco, e atualizado para 2011.
Sdito do Fanzinato
Na primeira semana de Julho eu resenhei aqui o livro Enciclonrdia: Almanaque de Cultura Nerd, de Lus Flvio Fernandes &
Rosana Rios, e apontei que alguns termos faltantes denunciam o quo esquisito eu sou (com alguns outros fazendo
companhia), na escala de nerdice e perante o que hoje central dentro da subcultura. Pois "fanzine" outro termo essencial
para os nerds da minha gerao, faltante no almanaque. Como era possvel ser um f ativo de fico cientfica na dcada de
1980 e 90, sem editar ou ler fanzines? Hoje em dia, em que os blogs substituram os fanzines - sem jamais igual-los! -, a
maioria dos fs ativos nunca viu um. E muitos nem sabem o que , o que me obriga a definir o termo.
"Fanzine" o "magazine", ou revista, do f. F de qualquer coisa, e no Brasil os fanzines mais comuns e populares so os de
histrias em quadrinhos e de msica - neste ltimo caso, geralmente de rock underground. H uma controvrsia de que o
primeiro fanzine brasileiro seria de quadrinhos ou de fico cientfica, ambos surgidos em 1965 com semanas de diferena.
Mas provavelmente o primeiro fanzine brasileiro foi dedicado s cantoras do rdio ou aos artistas de cinema...
Mimeografado, xerocado, impresso em grfica off-set, em impressora matricial oulaser, o fanzine o jornalzinho caseiro, o
boletim do clubinho de literatura ou f-clube de algum ou alguma coisa que rbita nas esferas da cultura popular e do
entretenimento, e que por alguma razo cativou o seu editor.
Os fanzines de fico cientfica foram muito importantes na historia do gnero, no Brasil. O primeiro que se conhece foi O
CoBra, lanado na 1. Conveno Brasileira de Fico Cientfica, em 1965 em So Paulo, logo seguido de Dr. Rob, boletim
da Associao Brasileira de Fico Cientfica, criada durante esse evento. Tiveram vida curta, e depois disso os fanzines
voltam cena em 1981 e 1982, vinculados a grupos de fs de FC que pertenciam ou brotaram de clubes de astronomia
amadora. Foram o Star News, da Sociedade Astronmica Star Trek, de So Paulo, e o Boletim Antares, do Clube de Fico
Cientfica Antares, surgido do Clube de Astronomia Antares, de Porto Alegre. Logo em 1983 surge oHiperespao, editado por
Cesar Silva, Jos Carlos Neves & Mrio Dimov Mastrotti a partir de Santo Andr, talvez o primeiro fanzine desse perodo
criado fora de um clube de astronomia, algo que logo virou a norma. Space foi um fanzine nordestino, Millennium outro
fanzine sulista. Em 1985 foi publicado o nmero zero daquele que seria o Somnium, fanzine do Clube de Leitores de Fico
Cientfica, um dos mais importantes da dcada de 1980, juntamente com Megalon, criado por Marcello Simo Branco &
Renato Rosatti. Rosatti sairia mais tarde para criar os seus fanzines especializados em horror, Juvenatrix e Astaroth, ambos
ainda em circulao, em formato PDF.
Essas publicaes amadoras foram to importantes, que h quem prefira chamar a Segunda Onda da Fico Cientfica
Brasileira de "Gerao Fanzine", o que excluiria todos aqueles autores que nunca escreveram para eles. Mas dentre os muitos
que o fizeram esto Braulio Tavares, Ivan Carlos Regina, Jorge Luiz Calife, Henrique Flory, Daniel Fresnot, Roberto Schima,
Carlos Orsi, Atade Tartari, Martha Argel, Jos dos Santos Fernandes, Fbio Fernandes, Lcio Manfredi, Gerson Lodi-Ribeiro,
Finisia Fideli, Andr Carneiro, Carlos Mores, Sid Castro, Maria Helena Bandeira, Octvio Arago e dezenas de outros que
ainda esto por a ou fizeram a sua contribuio e se retiraram.
claro, eu participei da onda dos fanzines escrevendo, desenhando e editando, desde 1983, quando me tornei um f ativo.
Meu primeiro conto apareceu em um fanzine (o Hiperespao N. 11), algumas das minhas primeiras polmicas tambm.
Houve um tempo em que eu publicava trs ou quatro: Papra Uirand Especial, Borduna & Feitiaria, The Brazuca Review e
O Rhodaniano, a ponto de agrup-lo sob o termo de "Fbrica de Fanzines do Causo".
Mas a fbrica fechou e eu fui fazer outras coisas, entre elas me conectar Internet e escrever esta coluna, depois de ser
apresentado por Antonio Luiz Costa ao Terra Magazine.
E a Renato Rosatti inventou de me enviar o DVD contendo o documentrioFanzineiros do Sculo Passado, dirigido por
Mrcio Sno e disponvel em http://vimeo.com/19998552. Toquei o DVD com dedos trmulos, hesitei em comear a assisti-lo.
Digo "comear" porque tive de parar e desde ento tenho enrolado Rosatti, at que semana retrasada andei folheando alguns
fanzines antigos e finalmente consegui ir empresa de fotocpias para imprimir nmeros de Papra Uirand Especial para o
pesquisador Edgar Smaniotto, de modo que homeopaticamente eu me vacinei contra o choque de nostalgia, e deu pra terminar
de v-lo. Porque nostalgia di, e a dor da nostalgia s vezes fatal.
Ah, todas as tardes, noites e madrugadas fazendo fanzines... No h nada que se compare. Escrever certamente no to bom,
e talvez at mesmo ser publicado profissionalmente no seja to satisfatrio. Apenas algum que foi fanzineiro pode saber
como se dedicar de corpo e alma a um produto perecvel, completamente margem e sem qualquer afetao, doado sem fins
lucrativos a uma causa que s o seu corao entende (j que o juzo certamente no entende) por que ela cala to fundo.
O despojado documentrio de Sno tem o subttulo de Captulo 1: As Dificuldades para Botar o Bloco na Rua e a Rede Social
Analgica. composto apenas de depoente + fundo, no tem imagens auxiliares, sequer as capas dos fanzines mencionados;
no tem roteiro nem estratgia de exposio do assunto - abre mo de uma abordagem histria ou sociolgica, esquece
qualquer teoria da cultura, abre mo de definies formais, no contextualiza, no elabora, no aprofunda, no analisa, no
disseca, no envolve com adornos de espcie alguma. So s os fanzineiros falando individualmente da sua experincia, mas a
montagem faz com que soem como se estivessem dialogando - mantendo as distncias, porm, como quando se comunicavam
com leitores e colegas do Brasil todo e de outros pases, usando apenas os correios.
A maioria dos fanzines mencionados de msica e quadrinhos. O nico com uma conexo com a literatura o Juvenatrix de
Renato Rosatti. Os outros fanzineiros eu no conhecia e nem preciso conhecer, pois j sei aquilo que interessa - so todos
meus irmos em armas, meus companheiros de utopia. Cada um deles fala da sala de brinquedos da sua casa, a partir do canto
com suas guitarras, do seu lugar nos subrbios, de cidades do interior e das capitais, mas como se todos estivessem sentados
mesma mesa numa festa entre amigos em que cada um compareceu do jeito que se sente melhor e onde no existe classe
social ou desnvel cultural. Durante os depoimentos, as expresses "liberdade", "arte", "expresso democrtica", "sem
censura", "independncia" so repetidas e sublinhadas. "Fanzine marca pessoal e ideologia." E o "Fanzinato", uma expresso
que eu no conhecia, espao de amizade, amor, paixo e doao - pagar pra fazer, ao invs de esperar lucro.
o amadorismo como dedicao ao gesto de amor por um objeto cultural qualquer que nos preenche e nos fazer querer
preencher.
O subttulo e vrias situaes exploradas nos depoimentos do a entender que o assunto do documentrio o anacronismo de
mquinas de escrever, tesoura e cola ao invs de editores de texto e programas de paginao; correio ao invs de e-mail;
fanzineiros sem recursos engabelando os correios para poder enviar dinheiro escondido e fanzines como carta social, ao invs
de blogueiros sem recursos fazendo gatos na rede de energia para blogar de madrugada... Mas o que sobressai esse
testemunho das relaes sociais muito mais lentas e talvez por isso mesmo mais duradouras, feitas distncia mas nem por
isso com menos interesse e respeito.
Por que fanzinar soa to melhor do que blogar, eu me pergunto? Quando chega uma colaborao o editor abre o envelope e a
l para saber se vale a pena. E depois ao datilograf-la ele a torna um pouco sua, e ao mont-la na pgina faz dela ainda mais
parte dele mesmo. Depois, com o fanzine pronto, lido pela primeira vez como um conjunto, o caminho inverso - o reencontro
com a personalidade e as intenes do colaborador que se dispor a todos aqueles passos conhecidos de escrever, envelopar,
colar, ir ao correio postar, tudo para aparecer no seu fanzine. O editor de fanzine se sente no centro no meio de uma teia em
que ele participante construtor de sentidos e de mensagens que chegam a ele de outras partes e outras mentes.
Talvez seja isso - ou simplesmente seja como o f militante do meu tempo lidava com a sua paixo. Talvez a paixo do
blogueiro no seja menor, apenas diferente, e a rede de que ele participa tambm lhe transmita a mesma sensao de conexo
ntima e calorosa.
Rosatti diz no documentrio que fanzine como um vrus. Por isso que, por mais que eu ache a sensao de editar um
fanzine a mais recompensadora, impossvel retornar a ela sem devotar energia demais nessa atividade. Seria fcil voltar a
editar meus fanzines - muito mais difcil desistir deles outra vez.
EVENTOS
CONTOS
Licantropia por Alexandre Cthulhu (Portugal)
1971 Guerra de Angola.
O nosso objetivo era uma pequena provncia a nordeste de Nambuangongo, onde se conservava um foco de resistncia
de contra-guerrilha, cuja misso era produzir e distribuir propaganda politica, pr independncia, que servia para incitar as
populaes a agirem contra ns. Eu comandava a companhia n 23 do corpo de fuzileiros especiais, e j contava com duas
comisses no Ultramar.
A estrada por onde seguamos, fora cortada por uma grande vala, que tornou impossvel a progresso motorizada por
aquele caminho, ento, a companhia teve de prosseguir a p pela mata cerrada.
A progresso era lenta. Seguamos em duas colunas, por uma longa picada que se estirava pelo meio do mato denso e
mido. Segundo os meus clculos, estvamos a uns dois quilmetros do nosso objetivo, e logo ordenei concentrao total
minha companhia, que j manifestava alguma fadiga fsica. Contudo, eu conhecia-os, e sabia at onde eles podiam ir, portanto,
no seriam alguns quilmetros que os iam derrotar.
Um estranho silncio quebrou todos os rudos que a mata desprendia, e mesmo antes de eu ordenar aos meus homens
para cessarem a progresso, escutei um rugir grave e profundo, que me assombrou de terror. Um leo monstruoso irrompeu do
meio do denso capim, e de garras ao alto, lanou-se sobre os meus homens de uma forma violenta e atroz, atacando-os com
ferocidade. De imediato, fiz pontaria cabea da fera, e mesmo antes que ela arrancasse a perna ao cabo Esteves, disparei uma
rajada de tiros que o fizeram tombar inerte no cho. Depois deste incidente conclu que, caso cassemos numa emboscada, no
sobraria ningum para contar a histria, tal no era o cansao que se tinha apoderado da minha companhia.
Por fim, alcanamos o nosso objetivo. A primeira aldeia abria-se para ns, como que expelida do meio do mato cerrado
e sombrio.
O cheiro carbonizado a esturro invadiu-me as narinas, o que me fez sentir o azedume da destruio e da morte. Ordenei
para que a companhia se mantivesse queda, e formei uma equipe de reconhecimento, da qual eu me inclu. ramos cinco e
avanamos devagar. medida que fomos progredindo em direo aldeia, mais me convenci de que aquilo que nos esperava,
no ia ser nada bom. O Demnio tinha estado por ali, era certo. As casas estavam queimadas e destrudas, os corpos humanos
jaziam, desmembrados pelas ruas a cu aberto, onde s os ces sarnentos se deslocavam com vida, num cenrio mrbido e
lgubre, devorando o que restava dos cadveres j dilacerados. Eu no fazia ideia do que se tinha passado aqui, mas algo
muito mau deixara a sua marca, por certo. Um ataque areo?...Um genocdio?... Mas, perpetrado por quem? ramos ns, e
apenas ns quem tnhamos como misso (confidencial), atacar aquela provncia, e destruir os seus ncleos ativos!
Inesperadamente, as minhas indagaes foram interrompidas por um gemido agudo e medonho, que me assombrou. Um
grito humano; de uma criana, talvez. Eu e os meus homens avanamos na sua direo, com a esperana de ainda poder salvar
algum. Algum que nos pudesse traduzir o que se tinha passado ali. Penetramos pela senzala adentro, e oh, Cus! Um cenrio
macabro de horror residia diante dos nossos olhos incrdulos. Corpos humanos jaziam ali, desfeitos em pedaos,
completamente rasgados e dilacerados pelos ces esfomeados, e no mago daquele cenrio macabro, conservava-se uma
criana efmera. O inocente chorava, gesticulando os seus braos ossudos, demonstrando um claro desespero, o que fez com
que eu me aproximasse dele para o aclamar; afinal eram os seus familiares quem jaziam ali, mesmo sua frente. Ao tentar
agarrar-lhe os bracitos, fui inesperadamente atacado pelo mido, que me mordeu nas mos, e de seguida no brao e peito.
Atirou-se a mim como um co selvagem, tal no foi o vigor das suas dentadas.
Os meus instintos de combatente acusaram...receio. Oh, aquilo no era uma criana normal, ela tinha-se transformado
em algo. Num animal raivoso, e eu... tentei mat-lo, mas mesmo antes que o fizesse, vi a sua vida a esvair-se dos seus olhos
pequenitos, mas terrivelmente medonhos.
*
Abril irrompera pela vida dos portugueses, como o sol, depois da tempestade.
Eu, tal como milhares de camaradas regressava para a minha vida, que tinha deixado anos antes, para combater na
maldita guerra. Ansiava voltar a abraar Leonor, a namorada que deixara desfeita em lgrimas quando parti no St Maria,
naquela manh fria de Janeiro de 68. Pretendia tambm voltar para o emprego que tinha na Siderurgia Nacional, onde eu era
eletricista. Eu estava de volta. Vivo e cheio de vontade de devorar a vida.
Mas nem tudo estava como eu sonhava. Oh, no de maneira nenhuma. O pior dos pesadelos ainda estava para vir. Na
manh seguinte ao meu regresso, vesti a minha melhor farpela e sa em demanda da minha querida Leonor. Pelo caminho
ainda tive tempo de comprar um arranjo com rosas vermelhas. As suas favoritas.
Ela vivia numa habitao dois quarteires abaixo da minha, e foi num instante que me dirigi sua porta, onde bati com
suavidade. Do outro lado surgiu um indivduo fininho com ar pattico, mas distinto.
- O que deseja? Inquiriu ele com um ar desdenhoso.
- Quero falar com a Leonor, no se importa de a chamar? Requeri eu.
- Ela no est... mas j agora, quem o senhor?
- Sou... espera l!... Impacientei-me E, quem o senhor? Perscrutei eu, robustecendo o meu tom de voz.
- Sou o marido!
A frase suou-me como um tiro pela cara adentro. A minha garganta gelara-se e eu no consegui dizer mais nada. Voltei
costas. Como pde ela ter-me feito uma coisa destas? Eu amava-a, e prometi-lhe voltar vivo e inteiro. Casaramos, assim que
eu voltasse... mas ela no quis esperar.
No dia seguinte, dirigi-me a Paio Pires, onde ficava a siderurgia Nacional, pois pretendia falar com o encarregado, o
senhor Figueiredo, para voltar para o posto de trabalho que eu deixara vago. Um tipo gordo e de cabelo desgrenhado apareceu-
me pela frente e apresentou-se:
- Chamo-me Baltazar. Estou a substituir o velho Figueiredo, que Deus tem... grunhiu ele.
- Que aconteceu ao senhor Figueiredo? Apressei-me a indagar.
- Bateu a bota. Respondeu ele, desdenhosamente. Mas, o que queres tu?.. Emprego?
- H?... Sim. Eu sou eletricista, e... Balbuciei eu, recobrando do choque da notcia.
- No h emprego rapaz. Tenho apenas uma vaga para as limpezas. Ests interessado? Perguntou ele com um escrnio
repugnante.
Nunca esperei que a minha vida se transformasse neste inferno. Sentia-me to triste e s, que a ideia de ter morrido na
frica com uma bala na cabea, perfurou no meu esprito como um consolo mrbido e cruel.
Nessa tarde, regressei casa cansado e indolente, pois pelo regresso tinha bebido vrias cervejas e vinho, que me
deixaram meio atravessado. Assim que me deitei, adormeci logo, sem pensar em mais nada.
A lua cheia perturbou a noite com a sua magnitude perversa. O silncio noturno incomodou-me, e eu ergui-me da cama
num grande impulso irracional. Sentia a cabea vazia, mas em compensao, o corpo estava forte. Forte como nunca. Tinha
fome. Oh, mas no uma fome qualquer. Fome de sangue e de carne crua. O que estava a acontecer comigo?... Os meus braos
estavam mais volumosos e...peludos. E os meus dentes!? Oh, cus! Os incisivos sobressaam at ao lbio inferior! Contemplei
a lua, e uivei estridentemente.
- Um pesadelo! Tudo no passou de um pesadelo.
Suspirei eu, entre suores frios. Mas nem tudo fora um sonho. A fome que eu sentira, mantinha-se, e at se adensara.
Olhei-me ao espelho e... estava tudo normal comigo. Mas havia algo que ainda me incomodava e persistia: A fome. No uma
fome vulgar, daquelas que se sacia no frigorifico. No. Era uma fome voraz e desconforme, que me consumia e descontrolava
por completo. Fome de carne crua, de sangue, associada a uma impiedosa vontade de... matar!
Ento no esperei mais tempo e sai janela afora em demanda de uma vitima. Ah, mas no uma vitima qualquer. Aqueles
que me traram e me desconsideraram ainda tinham contas a ajustar comigo. Agora, corria-me nas veias um mpeto de
retaliao que eu no conseguia dominar.
Da minha casa, at moradia de Leonor, demorei poucos segundos, e no pensem que fui bater porta de novo. No,
desta vez entrei pela varanda das traseiras. Penetrei pelo quarto deles adentro, e vi que o barulho o tinha acordado. A ele,
aquele finrio que me roubou a minha querida Leonor, enquanto eu combatia pela ptria. Observei que ele pegara numa arma
para atirar em mim, mas nem lhe dei tempo para pensar. Pulei para cima dele, e ataquei-o com toda a fora das minhas garras,
que lhe abriram um rasgo no peito. Seguidamente mutilei-lhe o brao direito com uma dentada apenas. Oh, se vocs vissem o
que ele grunhiu enquanto o sangue lhe jorrava do membro amputado. J no era o mesmo ser desdenhoso que me atendera
porta naquela tarde. Agora ele era a minha vtima. Sorvi o seu sangue e acabei com a vida dele quando lhe ferrei o pescoo,
mais precisamente na zona da veia jugular.
O rosto belo e gentil de Leonor transfigurara-se num cariz de horror e pnico perante a minha carnificina canibalesca.
- Eu amo-te! Suspirou ela entre soluos.
- Por que me esqueceste? Grunhi.
- Pensei que no voltavas.
- Lembro-me de te ter prometido que voltaria...
- Desculpa!... A voz dela embargara-se nas lgrimas que lhe escorriam pela face. Considerei em deix-la viva;
ponderei pedir-lhe que casasse comigo conforme prometera. Mas mesmo antes de terminar as minhas reflexes, j as minhas
garras a lhe tinham desmanchado a cara, outrora... encantadora. Ela ainda gritou algo, que no cheguei a compreender, mas
julgo que fora uma splica pela sua vida. Mas a traidora no merecia misericrdia e por isso foi esquartejada como uma porca
numa festa alentejana. Fi-la sofrer em cada um dos golpes que lhe desferi, at ao ltimo suspiro em agonia mortal. Estava
morta. Parecia que dormia, o que me fez recordar, quando dormia em paz, ao meu lado.
Por fim percebi que j me demorava na sua habitao, e de imediato me ausentei dali, sem qualquer estardalhao para
ningum me ver. Saltei sobre a cobertura, e de telhado em telhado caminhei vrios quilmetros, at chegar ao rio. Dirigi-me
at ao ponto, e dali mergulhei nas guas sujas do Tejo. Nadei tranquilamente at outra margem, e levado pelo meu faro
agudo, segui o rastro do odor daquele homem nojento que se riu na minha cara durante a tarde. Oh, no pensem que foi difcil
dar com ele. Havia uma casa de meninas, onde os encarregados tinham a mania de pernoitar, e foi ali mesmo que fui dar com
ele. Esperei que ele sasse para o abordar.
- Lembras-te de mim?
- Oh, claro. s o gajo que quer trabalho. J te disse: tenho uma vaga para as limpezas...
Nem o deixei terminar a frase, pois parti-lhe o maxilar apenas com a fora que imprimi, apertando o polegar e o
indicador contra a sua queixada. Depois, levei-o de rojo at um pinhal que havia ali prximo. E foi a que me vinguei dele.
Dei-lhe um golpe to forte no estmago, abrindo-lhe um rasgo de meio metro, que lhe fez saltar as vsceras para fora.
Seguidamente chacinei-o em todas as partes do corpo, at ele ficar transformado num monte de carne defecada.
Olhei para lua, e notei que ela se degradara no firmamento, tal como a sede de sangue e vontade de matar se tinha
esgotado no meu corpo. Apenas restava o meu esprito, que nunca se alterou, e agora estava s. Tinha de regressar a casa.
Queria parar com tudo aquilo, e foi o que fiz.
Ca na cama, antes do relgio da igreja irromper pela madrugada, anunciando as sete da manh. Dormi longa e
tranquilamente at ao fim da tarde desse mesmo dia. Quando despertei, recordei-me logo de tudo o que fizera na noite anterior
e chorei. No havia forma de demonstrar o meu arrependimento. Olhei pela janela e vi as pessoas a transitarem livremente
pelas ruas. Oh, como eu desejava voltar a ter uma vida normal. Eu sentia que estava doente. A fome de sangue e carne crua,
bem como a vontade demonaca de matar seres vivos, assolava-me a alma, e embrenhava-se no meu esqueleto, deixando-me
beira da loucura. No sabia o que tinha, mas com certeza fora infectado por alguma doena... O mido na frica. Teria sido
ele?... Os cadveres que jaziam em seu redor, completamente dilacerados, teriam sido assassinados por ele?... Talvez! No
havia maneira de saber. Ento, s me restavam duas sadas: Continuava a matar at ser preso, ou ento, apontar uma pistola
cabea e carregar no gatilho...
Todos os meus sonhos, por heterogneos que possam ser uns em relao aos outros, se baseiam sobre uma crena legendria
fundamental de que nosso mundo foi, em um momento, habitado por outras raas que, porque praticavam a magia negra,
foram destitudas de seu poder e expulsas, mas vivem sempre no espao exterior... Sempre dispostas a retomar a posse desta
terra... H.P. Lovecraft
Este trabalho tem por objetivo relacionar toda a obra conhecida de fico em prosa do escritor americano Howard Phillips
Lovecraft (1890-1937), um dos mais carismticos e influentes artistas de horror do sculo XX. Uma primeira verso foi
publicada no fanzine Megalon, sob minha edio, no nmero 42, de novembro de 1996. E no por acaso, pois foi uma edio
temtica sobre o autor.
Esta a oitava atualizao de um trabalho que est dividido em trs etapas. Na primeira h uma tabela sobre os seus livros
publicados em lngua portuguesa. Na segunda h outra tabela com a listagem das antologias, revistas e sites onde algumas de
suas histrias apareceram. Na terceira tabela h o principal, ou seja, a relao de todas as suas peas de fico at onde pude
apurar e, dentre elas, o que mais nos interessa aquelas que foram publicadas em lngua portuguesa.
Embora este seja, possivelmente, o mais amplo levantamento bibliogrfico das histrias de Lovecraft publicado em nosso
idioma, h lacunas e dvidas. Desta forma, este um trabalho que vem sendo periodicamente atualizado, at que toda a obra
de Lovecraft seja publicada em portugus. Particularmente nesta oitava atualizao, o trabalho foi efetivamente realizado por
Denilson Ricci e Mrio Jorge Vargas que se tornam, desta forma, colaboradores principais deste trabalho. Nesse sentido, desde
a primeira atualizao tenho contado com a colaborao de outros fs e especialistas do Brasil e de Portugal, a quem agradeo
e nomeio. Antnio de Macedo, Carlos Paran, Fritz Peter Bendinelli, Ivo Luiz Heinz, Joo Leocdio da Anunciao, Jorge
Candeias, Mrio Jorge, Miguel Nunes, R.C. Nascimento, Renato Rosatti, Rogrio Ribeiro e Vincius Valter de Lemos. Todos
lovecraftianos de boa cepa!
TABELA 1
LIVROS DE H.P. LOVECRAFT PUBLICADOS EM PORTUGUS EM ORDEM CRONOLGICA
Ano em
Ttulo em Portugus Original Editora Categoria
Portugus
The Case of Charles Dexter
1956 Os Mortos Podem Voltar Vampiro n.103 romance
Ward
1966 O Que Sussurrava nas Trevas The Dunwich Horror and Others GRD coletnea (3)
1982 Um Sussurro nas Trevas The Dunwich Horror and Others Francisco Alves coletnea (7)
At the Mountains of Madness
1983 A Casa das Bruxas Francisco Alves coletnea (4)
and Other Tales of Terror
O Horror Sobrenatural na Supernatural Horror in
1987 Francisco Alves ensaio
Literatura Literature
The Statement of Estampa Livro
1987 Os Demnios de Randolph Carter coletnea (4)
Randolph Carter B 17
The Case of Charles Dexter
1988 O Caso de Charles Dexter Ward L&PM romance
Ward
Biblioteca de
1988 Nas Montanhas da Loucura At the Mountains of Madness Bolso Dom novela
Quixote 38
Horror em Red Hook: e outros
1991 Horror in Red Hook Ed. Vega Coletnea(?)
contos
1991 A Tumba... e Outras Histrias The Tomb Francisco Alves coletnea (17)
The Case of Charles Dexter
1997 O Caso de Charles Dexter Ward L&PM Pocket romance
Ward
1998 A Maldio de Sarnath The Doom that Came to Sarnath Iluminuras coletnea (20)
The Dream-Quest of Unknown
1998 Procura de Kadath Iluminuras coletnea (6)
Kadath
2000 O Horror em Red Hook The Horror at Red Hook Iluminuras coletnea (9)
2000 O Chamado de Cthulhu The Call of Cthulhu Campanrio 1 coletnea (2)
2000 Na Noite dos Tempos The Shadow Out of Time Campanrio 8 noveleta
2000 A Sombra Sobre Innsmouth The Shadow Over Innsmouth Campanrio 3 novela
2000? A Coisa no Umbral The Thing on the Doorstep Campanrio 4 coletnea (2)
2000 Sussurros nas Trevas Whisperer in the Darkness Campanrio 5 novela
2001? O Habitante da Escurido ? The Haunter of the Dark Campanrio 9 ? novela ?
2001? Nas Montanhas da Loucura At the Mountains of Madness Campanrio 6 novela
The Case of Charles Dexter
2001? O Caso de Charles Dexter Ward Campanrio n.7 romance
Ward
2001 O Horror de Dunwich The Dunwich Horror Campanrio 2 coletnea (2)
2001 Nas Montanhas da Loucura At the Mountains of Madness Iluminuras coletnea (4)
2001 Dagon Dagon Iluminuras coletnea (8)
Black Sun
2002 Os Fungos de Yuggoth Fungis from Yuggoth poesias
Editores
2003 A Cor que Caiu do Cu The Colour Out of Space Iluminuras coletnea (9)
2004 O Intruso The Outsider Fio da Navalha coletnea (7)
Os Melhores Contos de Howard Os Melhores Contos de Howard Sada de
2005 coletnea (8)
Phillips Lovecraft Phillips Lovecraft Emergncia
2007 A Tumba... e Outras Histrias The Tomb L&PM Pocket coletnea (17)
Os Melhores Contos de Howard Os Melhores Contos de Howard Sada de
2007 coletnea (11)
Phillips Lovecraft II Phillips Lovecraft II Emergncia
Os Melhores Contos de Howard Os Melhores Contos de Howard Sada de
2008 coletnea (15)
Phillips Lovecraft III Phillips Lovecraft III Emergncia
O Horror Sobrenatural em Supernatural Horror in
2008 Iluminuras ensaio
Literatura Literature
2008 Herbert West - Reanimador Herbert West - Reanimator Editora Quasi coletnea (3)
Os Melhores Contos de Howard Os Melhores Contos de Howard Sada de
2009 coletnea (09)
Phillips Lovecraft IV Phillips Lovecraft IV Emergncia
O Chamado de Cthulhu e Outros O Chamado de Cthulhu e Outros
2009 Hedra coletnea (7)
Contos Contos
The Case of Charles Dexter
? O Caso de Charles Dexter Ward Ed. D. Quixote ?
Ward
Os Melhores Contos de Howard Os Melhores Contos de Howard Sada de
2010 coletnea (33)
Phillips Lovecraft V Phillips Lovecraft V Emergncia
2010 A Sombra de Innsmouth The Shadow Over Innsmouth Hedra novela
2010 Um Sussurro nas Trevas The Whisperer in Darkness Hedra noveleta
2011 Nas Montanhas da Loucura At the Mountains of Madness Hedra novela
2011 A Cor que Caiu do Cu The Colour Out Of Space Hedra noveleta
Numa anlise breve da tabela acima, constatamos 42 livros de Lovecraft publicados em lngua portuguesa. Destes, 29 no
Brasil e apenas 13 em Portugal no caso, as editoras portuguesas so Estampa, Vampiro (uma coleo da editora Livros do
Brasil), Biblioteca de Bolso Dom Quixote, Black Sun Editores, Fio da Navalha, Vega, Quasi e Sada de Emergncia. Na
verdade o nmero exato dos livros publicados deve ser 41, pois o livro O Habitante da Escurido, da editora Campanrio,
provavelmente no foi publicado, apenas anunciado quando da edio do nmero oito da Coleo Os Mitos de Cthulhu, o
livro Na Noite dos Tempos.
Outro aspecto que chama a ateno a repetio dos ttulos. Com isto vrias histrias se repetem em ttulos levemente
diferentes, alm de que a maioria dos seus livros se constitui de coletneas. Inclusive, o nmero entre parnteses aps a
palavra Coletnea, na coluna Categoria, indica o nmero de histrias do livro.
Algo curioso nesta tabela observar que na coleo Os Melhores Contos de Howard Phillips Lovecraft em seu quinto
volume o livro que mais tem trabalhos publicados de Lovecraft em um nico volume (33).
O primeiro livro de Lovecraft publicado em lngua portuguesa foi Os Mortos Podem Voltar, em 1956 depois republicado em
1997 pela mesma coleo em Portugal. J no Brasil o pioneirismo coube a Gumercindo Rocha Dorea, com sua editora GRD,
em 1966. O escritor e editor Fausto Cunha foi outro grande publicador, por meio de sua direo da Coleo Mestres do Horror
e da Fantasia, pela Francisco Alves Editora, nos anos 80.
E durante os anos 90 e incio deste sculo XXI, as editoras Iluminuras (de So Paulo) e Campanrio (de Londrina, Paran),
retomaram com vigor a publicao de Lovecraft, com belas edies, incluindo muitos contos inditos. Outra editora que
comeou a publicar foi a Hedra que, assim como a Campanrio e a Iluminuras antes, se aproveitou do fato da obra do autor
americano ter entrado em domnio pblico, liberando-as de pagar direitos autorais, fato este que deve se repetir nos prximos
anos. Mesmo assim, ainda h histrias interessantes e importantes a serem publicadas, conforme ser visto na Tabela 3.
Nestes ltimos anos o destaque vem sendo os portugueses que publicaram, atravs da editora Sada de Emergncia, 5
coletneas, alm de uma antologia de 464 pginas inspirada nos universos ficcionais de Lovecraft, escrito por 14 autores
lusitanos e com ilustraes. Se fato que existem contos neste perfil de autores brasileiros e portugueses publicados em
fanzines e sites, este A Sombra Sobre Lisboa inaugura entre ns na forma de livro, uma iniciativa tradicional na lngua inglesa,
a de autores que escrevem fices baseadas em temas lovecraftianos. No caso deste livro, situados em Lisboa, a cidade das
sete colinas. Publicado em 2006, foi organizado por Lus Corte Real.
Como vocs podem observar Lovecraft at que no foi to pouco publicado em nosso idioma o problema maior com relao
a edio limitada de cada livro, motivo pelo qual quase sempre no achamos suas obras em livrarias...
TABELA 2 ANTOLOGIAS, REVISTAS E SITES QUE PUBLICARAM HISTRIAS DE H.P. LOVECRAFT EM
ORDEM ALFABTICA
Ano em
portugu Ttulo em
s portugus Original Editora Categoria Conto Ttulo original
Antologia de
Mistrio Ross
? Pynn n.1 ? ? antologia Na Catacumba In the Vault
Antologia de
Mistrio Ross
06.1967 Pynn n.10 ? ? antologia Terror de morte Cool air
Antologia de
Mistrio Ross O terrvel caso de
07.1967 Pynn n.11 ? ? antologia doutor Muoz Cool air
Sada de
Emergncia
2008 Bang! n. 4 Bang! (internet) antologia Ele He
Best-Seller de Best-Seller de Portugal The Colour Out
1972 Fico Cientfica Fico Cientfica Press antologia of Space
Aquele Velho The Terrible Old
1970? Cine Mistrio n.2 Idem Bloch revista Estranho Man
Depois Sete
Histrias de
1998 Horror e Terror 0 Record antologia O tmulo The tomb
E-group Yahoo E-group Yahoo Grupo de
2002- Cultolovecraftian Cultolovecraftian discusso coletnea
2004 o o (internet) (45)
Fico de Polpa Fico de Polpa
2007 Vol. 1 Vol. 1 Fsforo antologia O Co de Caa The Hound
The Statement
O Depoimento de of Randolph
Randolph Carter Carter
Heavy Metal O Horror de The Dunwich
1979 (outubro) Heavy Metal ? revista HQ Dunwich Horror
Globo
Juvenil e
08.1976 Kripta #2 Kripta Gibi revista HQ Ar frio Cool air
Globo
Juvenil e
07.1964 Meia-Noite n. 195 Meia-Noite Gibi revista Na Catacumba In the Vault
Os melhores Os melhores
contos de horror, contos de horror, Nova Os ratos nas The rats in the
2005 medo e morte medo e morte Fronteira antologia paredes wall
Os melhores Os melhores
contos de FC: De contos de FC: De
Jlio Verne aos Jlio Verne aos Argonauta
1965 astronautas astronautas 100 antologia O Templo The Temple
Os melhores
? contos fantsticos ? Arcdia antologia
1983 Nova n.112 ... Abril revista
Os mais belos
contos alucinantes
e os mais famosos Casa Editora Os ratos nas The rats in the
1945 autores ... Vecchi Ltda antologia paredes wall
Panorama
1968/196 Obras-primas da Masterpieces of Antologias The Colour Out
9 FC 2o volume Science Fiction n. 3 antologia of Space
Pesadelo Pesadelo
galctico: galctico:
Antologia de Antologia de
histrias histrias Nova Crtica
1977 espantosas espantosas (Porto) antologia O indizvel The Unnamable
1974 Planeta n. 28 Plante Trs revista Hypnos Hypnos
Site coletnea
2004 Sitelovecraft Sitelovecraft (internet) (55)
Spektro#9 Mundo Fechado na
1979 (agosto) Spektro Latino revista Catacumba In the Vault
Mundo
? Spektro (?) ? Latino revista HQ
Nyarlathotep,Az
Nyarlathotep,Azath athot, A Histria
Site coletnea ot, History of do
2000 Turno da Noite Turno da Noite (internet) (3) Necronomicon Necronomicon
Globo
X-9 172, Nov/48 Juvenil e O terrvel caso de
1948 1948 X-9 Gibi revista doutor Muoz Cool air
Globo
Juvenil e
1949 X-9 178 X-9 Gibi revista O Intruso The Outsider
Em um artigo sobre Lovecraft publicado na revista Spektro, de agosto de 1979, afirma-se que contos do autor teriam sido
publicados j nos anos 40 e tambm nos anos 50 por uma revista pulp chamada Policial em Revista (conhecida anteriormente
com Suplemento Policial em Revista), editada pela Empresa A Noite. Como no foi possvel averiguar a veracidade desta
afirmao, no inclui esta revista na tabela acima.
Entretanto, um conto foi de fato publicado em meados dos anos 40, Os Ratos nas Paredes. S que no na revista acima
citada, mas sim em uma antologia de contos. Segundo o editor do Sitelovecraft, Denilson Ricci, a antologia Os Mais Belos
Contos Alucinantes e os Mais Famosos Autores, circulou ao fim da Segunda Guerra Mundial, quando os papis eram de m
qualidade por causa da falta de papel, em razo dos efeitos do conflito.
Alm dessa, outra das primeiras histrias de Lovecraft publicadas no Brasil foi o clssico Cool Air, que primeiramente
apareceu como O Terrvel Caso do Doutor Munhoz, um ttulo sem uma referncia direta ao ttulo original em 1948, pela
revista X-9, da Globo Juvenil e Gibi.
Temos na tabela acima 22 ttulos diferentes, entre revistas, antologias, sites da internet e mesmo revistas de histrias em
quadrinhos. Mas como se percebe h muitas lacunas, principalmente quanto aos nomes originais das publicaes. Aqui o
Brasil tem uma vantagem: 18 ttulos, contra 7 de Portugal.
Pelo lado brasileiro: Antologia de Mistrio Ross Pynn, Cine Mistrio, Depois Sete Histrias de Horror e Terror, E-Group
Yahoo Cultolovecraftiano, Fico de Polpa Vol. 1, Heavy Metal, Kripta, Meia-Noite, As Melhores Histrias de Horror,
Medo e Morte, Os Mais Belos Contos Alucinantes e os Mais Famosos Autores, Nova, Planeta, Sitelovecraft, Spektro e X-9
(em oito revistas, quatro livros e dois sites). J em Portugal, temos: Bang!, Best-Seller de Fico Cientfica, Os Melhores
Contos de FC: De Jlio Verne aos Astronautas, Os Melhores Contos Fantsticos, Obras Primas da FC 2o Volume, Pesadelo
Galctico e Turno da Noite (em cinco livros e um site).
Vale tambm uma rpida observao sobre as publicaes de trabalhos de Lovecraft em lngua portuguesa na internet. Neste
levantamento h o registro dos endereos eletrnicos principais (citados na tabela e nas linhas acima). Hoje certo que
existem muitos outros desenvolvidos por fs , que tambm reproduzam ou mesmo traduzam obras do autor. Fica a sugesto
para uma eventual apurao sobre a quantidade real destes trabalhos presentes na internet.
A seguir a cronologia de sua obra em prosa conto, noveleta, novela e romance , com destaque para aquelas publicadas em
lngua portuguesa. A listagem inclui algumas histrias que no mais existem, alm de revises, colaboraes e excertos de
pequenos textos.
Tambm foi includo o seu principal trabalho de no-fico, por causa de sua representatividade no conjunto da obra do autor.
Lovecraft escreveu um grande volume de cartas e poesias certamente maior que sua fico em prosa , o que justificaria um
novo trabalho s para estas outras vertentes de sua obra. Em todo caso, algumas poesias e artigos vm sendo traduzidas para o
portugus pelos fs Denilson Ricci, Renato Suttana e alguns outros que colaboram com eles. E os trabalhos podem ser
encontrados nos endereos: http://www.sitelovecraft.com e http://br.groups.yahoo.com/group/cultolovecraftiano.
Na coluna Classificao, as histrias esto classificadas de acordo com as antologias em que foram publicadas nos Estados
Unidos, da seguinte maneira:
D Dagon and Other Macabre Tales
DH The Dunwich Horror and Others
HM The Horror in the Museun
MM At the Mountains of Madness and Other Novels
MW Miscellaneous Writings
NF Non-Fiction
Alm desta referncia editorial e levemente temtica, est discriminado tambm na coluna Ciclo quais histrias fazem
parte dos dois principais ciclos de histrias do autor, o chamado Ciclo dos Sonhos, da primeira fase de sua carreira e o
posterior Ciclo de Cthulhu, a parte mais impressionante de sua obra, desenvolvendo os tais seres de Cthulhu, ancestrais
extraterrestres antiqssimos da humanidade, no chamado horror cosmolgico, da seguinte maneira:
S (maisculo) para as histrias pertencentes ao Ciclo dos Sonhos;
C (maisculo) para as histrias diretamente pertencentes ao Ciclo de Cthulhu;
c (minsculo) para as histrias indireta ou vagamente pertencentes ao Ciclo de Cthulhu.
Como voc observar algumas das histrias so relacionadas a ambos os ciclos.
A Tabela 3, obviamente, a principal desta pesquisa. Melhor do que um comentrio detalhado sobre ela mais interessante
que o prprio leitor a percorra e descubra suas prprias nuances e vrias curiosidades. At porque ela est dividida em vrias
colunas, cada uma delas merecedora de uma anlise especfica. Mas, enfim, alguns nmeros principais: So 111 trabalhos,
sendo 110 de fico em prosa (contos, noveletas e novelas, alm de contos escritos em parceria), incluindo seu ensaio clssico
O Horror Sobrenatural na Literatura. Deste total de 110 contos de fico, 86 foram traduzidos para o portugus, ou seja,
78%. A porcentagem cresce um pouco se desconsideramos suas seis histrias dadas como no existentes entre os anos de
1897 a 1918 e uma perdida 1920. Seriam 103 histrias existentes (110 7 [seis inexistentes e uma perdida], o que nos
daria 84% das histrias existentes j vertidas para a nossa lngua. At que no est mal, mas ainda h muito por traduzir, ler e
se fascinar com os escritos do mestre do inominvel. Entre as histrias mais publicadas do autor em lngua portuguesa, The
Colour Out of Space est na liderana com 11 edies, seguida de perto por Cool Air publicada em dez edies.
J para quem f especialmente dos Mitos de Cthulhu, como eu, h a indicao das histrias direta e indiretamente
pertencentes ao ciclo, e o melhor: provavelmente todas as 25 histrias foram traduzidas. No possvel ter certeza, pois paira a
dvida quanto real publicao do livro O Habitante da Escurido (The Haunter of the Dark) conforme j apontado na
Tabela 1.
Mas no s: As histrias do chamado Dream Cycle, tambm foram publicadas em lngua portuguesa, conforme se observa
na coluna Ciclos da tabela acima. possvel que algumas histrias deste ciclo no tenham sido publicadas em portugus,
pois a pesquisa apurou apenas aquelas que saram em nossa lngua.
Como disse no incio, vale mais voc mesmo percorrer a cronologia da obra e descobrir o que lhe mais curioso, como f ou
pesquisador do autor. E, como nas Tabelas 1 e 2, h lacunas e pontos de interrogao que, espero, possam ser esclarecidas,
com a ajuda de outros fs e pesquisadores.
Com esta pesquisa, espero que os leitores e apreciadores dos universos onricos, cosmolgicos e horrorficos criados por
Howard Phillips Lovecraft possam ter mais um instrumento disposio para ampliar os seus conhecimentos e curiosidades,
alm de aperfeioar esta pesquisa com novas informaes e conhecerem novas histrias ainda no lidas.
E este trabalho tambm tem a inteno final de servir como um ponto de partida para uma eventual anlise crtica e comparada
das histrias do autor do indizvel. Ou pelo autor deste levantamento ou por outro crtico que se disponha a realiz-lo.
Referncias bibliogrficas:
BENDINELLI, Fritz Peter (2000). Howard Phillips Lovecraft Um Resumo Biogrfico. Palestra proferida no Clube de
Leitores de Fico Cientfica, fevereiro. No publicado.
BENDINELLI, Fritz Peter (2004). Coleo particular.
BRANCO, Marcello Simo (1996). A Obra de Lovecraft, Megalon 42 (edio especial sobre H.P. Lovecraft), novembro.
CAMP, L. Sprague de (1975). Lovecraft, A Biography. Ballantine Books, New York.
CULTO LOVECRAFTIANO (2004e). http://br.groups.yahoo.com/group/cultolovecraftiano.
FICO ONLINE (2004d). http://ficcao.online.pt.
FMITSUO (2004c). http://www.fmitsuo.pop.com.br/html/bibliografia.html
FREEESPACE (2004a). http://freespace.virgin.net/leticia.silva/biblport.htm.
HEINZ, Ivo Luiz (2006). Coleo particular.
JOSHI, S.T. (1996). Howard Phillips Lovecraft: A Vida de um Cavalheiro de Providence, Megalon 42 (edio especial
sobre H.P. Lovecraft), novembro.
JOSHI, S.T. (2004). H.P. Lovecraft: A Life. Necronomicon Press, terceira edio.
KNOX, Robert H. e ECKHARDT, Jason C. (1990). The H.P. Lovecraft Centennial Calendar. Necronomicon Press.
LEMOS, Vincius Valter de (2003). Coleo particular.
LOVECRAFT, H.P. (1982). Um Sussurro nas Trevas. Francisco Alves Editora.
LOVECRAFT, H.P. (1983). A Casa das Bruxas. Francisco Alves Editora.
LOVECRAFT, H.P. (1987). O Horror Sobrenatural na Literatura. Francisco Alves Editora.
LOVECRAFT, H.P. (1991). A Tumba... e Outras Histrias. Francisco Alves Editora.
LOVECRAFT, H.P. (1997). O Caso de Charles Dexter Ward. L&PM Pocket.
LOVECRAFT, H.P. (1998b). Procura de Kadath. Editora Iluminuras.
MACEDO, Antnio de (2006). Comunicao por e-mail em 22 de setembro.
MEDEIROS, Ruby Felisbino (1999). ndice de Contos de Fico Cientfica e Fantsticos. Edio do autor.
NASCIMENTO, R.C. (1994). Quem Quem na Fico Cientfica Volume II: Catlogo de Fico Cientfica em Lngua
Portuguesa (1921-1993). Qanat Fantasia e Fico Cientfica.
NASCIMENTO, R.C. (1999). Argonauta 500 Edio Comemorativa. CLFC/Qanat Fantasia e Fico Cientfica.
NUNES, Miguel (2007). Comunicaes por e-mail em 20, 24 e 29 de outubro.
PARAN, Carlos (2004). Coleo particular.
REAL, Lus Corte, org. (2006). A Sombra Sobre Lisboa Contos Lovecraftianos na Cidade das Sete Colinas. Editora Sada
de Emergncia, Parede, Portugal.
RIBEIRO, Rogrio (2006). Comunicao por e-mail em 26 de abril.
RICCI, Denilson (2011). Coleo particular.
SADA DE EMERGNCIA(2008/11).http://www.saidadeemergencia.com
SITE LOVECRAFT (2004/11). http://www.sitelovecraft.com
SMITH, Reginald (1972). A Literatura Gtica Americana na Dcada de 30, Fico n.11, Jaime Rodrigues, org. Editora
Cedibra, Rio de Janeiro.
STABLEFORD, Brian (1993). H.P. Lovecraft, The Encyclopedia of Science Fiction, John Clute e Peter Nicholls, eds. St.
Martins Press.
TURNO DA NOITE (2004b). http://www.antigo.turnodanoite.com.
WILSON, Colin (1977). Prefcio, Parasitas da Mente, de Colin Wilson. Francisco Alves Editora, Coleo Mundo
Fantstico, nmero 6.
WILSON, Colin e LANGFORD, David (1997). H.P. Lovecraft, The Encyclopedia of Fantasy, John Clute e John Grant, eds.
St. Martins Press.
ZACHARIAS, Anna Creusa (1996). Os Mitos de Cthulhu, Megalon 42 (edio especial sobre H.P. Lovecraft), novembro.
CARDOSO, Athos Eichler (1934-49).As Revistas de Emoo no Brasil. Universidade de Braslia. Set/2009.
Marcello Simo Branco, jornalista e editor, um dos autores do Anurio Brasileiro de Literatura Fantstica (Devir Livraria).
Contato: [email protected]
K-Pax O Caminho da Luz (K-Pax) um drama com elementos de Fico Cientfica que estreou nos cinemas
brasileiros em 12/04/02, com uma dupla de timos atores encabeando o elenco, Kevin Spacey e Jeff Bridges.
O filme conta a histria de Prot (Spacey), um homem que aparece repentinamente numa estao de trens em New
York e ao tentar ajudar uma senhora vtima de assalto preso como suspeito por informar sua estranha origem: o distante
planeta K-Pax. Recolhido pela polcia e encaminhado para um hospital psiquitrico pblico, ele passa a ser paciente do Dr.
Mark Powell (Bridges) com quem cria uma forte interao e relao de amizade.
Prot explica que veio de K-Pax, um planeta distante mil anos luz da Terra, viajando atravs da poderosa energia da
luz, e seus conhecimentos em astronomia e supostas contribuies nas curas dos outros pacientes insanos do hospital
conseguem confundir o psiquiatra que acaba considerando-o como o mais convincente dos loucos (ou no?). O Dr. Powell
recorre ento a sesses de hipnose com Prot e consegue descobrir informaes importantes sobre seu passado obscuro que
podem esclarecer a verdade.
K-Pax um filme dramtico com um tema central de Fico Cientfica, na ideia de um aliengena visitando a Terra
(ou um humano louco que acha que de outro planeta), com um roteiro contado de forma cadenciada nas grandes
interpretaes de Spacey e Bridges, com dilogos interessantes e agradveis que tornam os longos 120 minutos de projeo
numa prazerosa atrao.
A eterna dvida sobre a real identidade de Prot permanece durante todo o filme, o que um grande mrito do roteiro
mantendo o interesse do espectador, podendo ter uma dupla interpretao no final.
Algumas cenas so memorveis como quando Prot, que adora frutas de nosso planeta, participa de uma sesso de
terapia com o Dr. Powell e devora com grande satisfao uma banana com casca e tudo e antes de terminar, com a boca ainda
cheia, diz que pela banana que comeu j valeu a viagem at a Terra.
Curiosamente, o filme lembra um outro semelhante, Starman O Homem das Estrelas (1984), dirigido pelo
especialista John Carpenter, onde justamente o aliengena dessa vez Jeff Bridges, que alega ter vindo de um outro mundo.
Em K-Pax ele est do outro lado e o psiquiatra que estuda o comportamento suspeito do extraterrestre Kevin Spacey.
Enfim, um filme agradvel, com uma histria suave, repleta de momentos poticos e de fantasia, sem efeitos
especiais, correrias, agitaes. Tudo transcorre calmamente, com situaes de interao com o pblico na tentativa de
descobrir o segredo da real identidade do simptico Prot, aliengena ou louco?
Observao: O filme foi exibido pela primeira vez na televiso aberta em 18/12/04, pela TV Globo, s 23:00 horas
na sesso Super Cine, que acontece aos sbados. E na Band foi exibido com o ttulo K-Pax O Caminho da Paz.
Um dos vrios subgneros do cinema de horror e fico cientfica que sempre explorado de uma forma muito
intensa aquele que aborda a temtica das catstrofes causadas por invases de insetos. muito fcil lembrarmos de vrios
filmes com a humanidade sendo ameaada por ataques de abelhas, aranhas, lesmas, formigas, baratas, gafanhotos, sem contar
a revolta de outros animais como ratos, sapos e pssaros, apenas para citar alguns exemplos. A FlashStar lanou no mercado
brasileiro de vdeo VHS e DVD em Agosto de 2005 mais um filme situado dentro desse contexto, Locusts O Dia da
Destruio (Locusts Day of Destruction), produo americana de 2005, especialmente para a televiso, dirigida por David
Jackson e estrelada por Lucy Lawless (de O Pesadelo). E nesse caso, o roteirista Doug Prochilo optou por escolher
gafanhotos modificados geneticamente como os insetos protagonistas da destruio (como sugere o subttulo).
A cientista chefe da diviso de insetos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, Maddy Rierdon (Lucy
Lawless), que tambm uma agente federal, descobre que o entomologista Dr. Peter Axelrod (John Heard) est trabalhando
sem autorizao numa experincia gentica com cruzamento de gafanhotos de espcies diferentes, e que havia criado um
inseto hbrido resistente a todos os pesticidas conhecidos, alm de ser mais forte, rpido, muito melhor reprodutor e viver bem
mais que os gafanhotos normais. Rierdon desconfia que a experincia um tipo de arma biolgica financiada pelo
Departamento de Defesa e ordena a incinerao imediata dos insetos e a demisso do cientista responsvel.
Porm, alguns gafanhotos conseguem escapar do laboratrio para o meio ambiente e se espalham rapidamente por
vrios Estados, reproduzindo-se numa escala descomunal formando imensos enxames que passam a destruir as plantaes e
at a usar a carne como fonte de alimento, ameaando animais e seres humanos nos campos e cidades.
Para tentar combat-los, Rierdon se une ao seu marido Dan Dryer (Dylan Neal), que trabalha no Departamento de
Agricultura das Naes Unidas, e com quem estava tendo uma crise conjugal por causa do excesso de trabalho prejudicando
a vida familiar. Alm tambm de utilizar os conhecimentos do Dr. Axelrod, agora arrependido por criar o gafanhoto hbrido
que pode causar uma tragdia de grandes propores. Juntos, eles procuram desesperadamente uma soluo para exterminar os
insetos destruidores e evitar que o exrcito, sob o comando do General Miller (Greg Allan Williams) e autorizado pelo Diretor
de Defesa Nacional William Rusk (Mark Costello), possa intervir no caso utilizando um gs secreto altamente venenoso,
desenvolvido como arma qumica e que poderia matar tambm muitas pessoas inocentes.
Primeiramente, vale registrar o equvoco da distribuidora FlashStar ao optar por um ttulo nacional misto, utilizando
o original Locusts e traduzindo o subttulo para nosso idioma. O melhor e mais coerente seria trocar o Locusts por
Gafanhotos. Mas, independente disso, e falando especificamente do filme, podemos dizer que apenas mais um exemplar
do gnero, sem grandes atraes ou diferenciais, insistindo nos mesmos clichs e idias repetitivas de sempre, com todos os
eventos acontecendo com muita previsibilidade, justificando em parte ser uma produo para a televiso, pois a histria
bvia demais e sem ousadia. No tem cenas de violncia e mortes, os ataques dos gafanhotos so simples e inexpressivos, e as
solues para exterminar sua ameaa so artificiais e inverossmeis, alm de completamente apropriadas para facilitar o
trabalho do roteirista.
um filme americano ao extremo, daqueles que eles adoram fazer para eles mesmos, deixando claro que o mundo
termina em suas fronteiras. A salvadora da ptria, aquela que colocou em prtica a soluo para o problema da invaso dos
gafanhotos famintos, ficou a cargo de uma mulher que s aparece prximo do final (antes teve apenas uma breve cena onde o
diretor fez questo de mostrar o quanto ela atrapalhada e nerd ao deixar cair um objeto durante uma importante reunio).
Ela a cientista Lorelei Wentworth (Natalia Nogulich), do Departamento de Energia. E tambm no faltou aquela frase j
irritante de to explorada, diga para minha esposa e filha que eu as amo, quando algum est beira da morte.
O roteiro forado para que todos os eventos do filme possam interagir de forma a obter aquele tradicional desfecho
feliz de sempre. Da minha parte, ainda continuo torcendo para que algum dia os insetos possam triunfar sobre a raa humana
(que nesse caso manipulou a natureza na criao de um gafanhoto hbrido), e aguardo um diretor e roteirista que sejam
ousados o suficiente para contar uma histria mais prxima de algo real, fugindo pelo menos um pouco desse convencional
mundo de fantasia do cinema.
Locusts O Dia da Destruio (Locusts Day of Destruction, Estados Unidos, 2005) # 367 data: 30/01/06
Os anos 50 do sculo passado foram muito produtivos para o cinema fantstico, com uma infinidade de bagaceiras
super divertidas como Tarntula (Tarantula, EUA, 1955), produzido pela Universal em preto e branco, com direo de Jack
Arnold e roteiro de Robert M. Fresco e Martin Berkeley.
Curto com apenas 80 minutos de durao, considerado como um dos mais expressivos filmes com aranhas gigantes,
situado dentro do sub-gnero conhecido como big bug, ou seja, filmes que apresentam histrias com insetos de tamanhos
descomunais como formigas, gafanhotos, louva-deus, vespas e escorpies. Nesse caso, temos uma tarntula que
acidentalmente cresce a uma altura de 30 metros devido ao contato com um hormnio de crescimento de uma frmula
desenvolvida pelo cientista louco Prof. Gerald Deemer (o ingls Leo G. Carroll), especialista em biologia nutricional que
tambm se transformou num mutante grotesco por causa da mesma soluo qumica injetada em si mesmo. Trabalhando num
laboratrio isolado no deserto do Arizona, sua inteno era criar um nutriente especial capaz de auxiliar na alimentao da
populao mundial, numa preocupao com seu crescimento desenfreado no futuro e os problemas com a fome.
Porm, um casal formado pelo mdico local da pequena cidade de Desert Rock, Dr. Matt Hastings (John Agar),
juntamente com a estudante de biologia Stephanie Steve Clayton (Mara Corday), est desconfiado do misterioso trabalho de
pesquisa do cientista. Eles tentam investigar o caso e descobrem a ameaa mortal da tarntula gigante faminta por carne, que
passa a aterrorizar a regio atacando animais e pessoas, sendo combatida por bombas incendirias dos caas da fora area
americana.
Curiosamente, o ento ainda jovem ator Clint Eastwood, tem uma rpida e pequena participao prximo ao final do
filme, com o rosto parcialmente coberto por um capacete, no papel do lder do esquadro de avies de guerra. Ele que obteve
depois um estrondoso sucesso em sua carreira como ator e tambm como cineasta de grande reconhecimento.
Mesmo sendo uma produo tipicamente de baixo oramento e pelas dificuldades tcnicas existentes numa poca de
mais de meio sculo atrs, os efeitos especiais com a aranha gigante so timos e impressionam, apesar de obviamente as
cenas de ataques do enorme aracndeo serem escuras de forma proposital para esconder os defeitos e manter ao mximo o
clima de tenso.
O diretor Jack Arnold conhecido por suas incurses no cinema fantstico, sendo o responsvel por prolas como
Veio do Espao (53), O Monstro da Lagoa Negra (54) e O Incrvel Homem Que Encolheu (57). A bela atriz Mara
Corday esteve tambm em outro filme de inseto gigante, O Escorpio Negro (The Black Scorpion, 1957). O ator John Agar
(1921 / 2002) lembrado por suas participaes em inmeros filmes B de horror e fico cientfica como Revenge of the
Creature (1955), The Mole People (1956), The Brain From Planet Arous (1957), Attack of the Puppet People (1958),
Invisible Invaders (1959), Journey to the Seventh Planet (1962), O Monstro de Vnus (1966) e Women of the
Prehistoric Planet (1967).
Tarntula foi lanado em DVD no Brasil pela Continental, trazendo como material extra breves biografias de
Clint Eastwood e Jack Arnold, alm de um trailer original.
Tarntula (Tarantula, EUA, 1955) # 566 data: 25/06/11
A companhia cinematogrfica Hammer dispensa qualquer apresentao. Entretanto, embora tenha se especializado
em filmes de horror, com Drculas e Frankensteins coloridos que se sagraram clssicos, o que poucos sabem que o mtico
estdio foi alavancado por um filme de fico cientfica. Terror que Mata (The Quatermass Xperiment ou The
Creeping Unknown, nos Estados Unidos) foi o primeiro filme da produtora a conseguir projeo internacional. Fotografado
em preto-e-branco, Terror que Mata derivado de uma srie televisiva homnima, exibida no Reino Unido em seis
episdios, no ano de 1953.
Na trama, o cientista Bernard Quatermass o responsvel pelo lanamento do primeiro foguete tripulado a atingir o
espao (nesta poca, o homem ainda no havia pousado na Lua). Porm, quando a nave retorna Terra, dois dos trs
astronautas que formavam a tripulao desapareceram, e o sobrevivente, Victor Carroon, parece seriamente afetado.
Quatermass e a polcia britnica investigam o incidente, enquanto o sobrevivente Victor Carroon comea a sofrer
terrveis mutaes, lentamente sucumbindo ao poderoso parasita aliengena que domina o seu corpo.
Terror que Mata, assim como seus contemporneos A Mosca da Cabea Branca (The Fly, 1958), Vampiros de
Almas (The Invasion of Body Snatchers, 1956) e Fora Diablica (The Tingler, 1959), segue a linha clssica das produes
Sci-Fi que marcaram os anos 50: a mistura entre o horror e a fico. A srie que originou o filme, produzida e exibida trs
anos antes pela rede de televiso britnica BBC, fora um grande sucesso, marcando poca e definindo os moldes a serem
seguidos pelas produes semelhantes que seriam exibidas nas prximas dcadas. Nigel Kneale, roteirista criador do cientista
Bernard Quatermass, no aprovou a adaptao da srie para o cinema, disparando crticas pesadas sobre o desempenho do ator
Brian Donlevy (marido de Lillian Lugosi, viva de Bela Drcula Lugosi) na interpretao pouco carismtica de seu
personagem. Mas desavenas parte, O Experimento Quatermass (traduo literal do ttulo, bem mais feliz e interessante
do que a escolha das distribuidoras brasileiras), foi grande sucesso de pblico no Reino Unido e na Amrica, tornando o
Martelo conhecido em todo o mundo. Resultado, cofres cheios para a Hammer, portas abertas para a produo dos filmes
de Horror que imortalizariam a produtora. A prpria rede de televiso BBC embarcou no xito comercial do filme, produzindo
no mesmo ano uma nova minissrie, chamada Quatermass 2. Dois anos depois, em 1957, a Hammer lanou uma seqncia
para Terror que Mata, o timo Quatermass 2, com roteiro e argumento do j parceiro Kneale. Uma minissrie em seis
episdios, tambm da BBC, chamada The Quatermass and the Pit foi exibida entre 1958 e 1959, no Reino Unido, sendo
transportada para o cinema em 1967, pela Hammer (conhecida como Uma Sepultura Para a Eternidade, no Brasil). Em
1979, uma nova minissrie refilmagem da original, conhecida como Quatermass IV, foi lanada pela pouco conhecida
produtora britnica Euston Films. Em 2005, um ano antes da morte do roteirista Nigel Kneale, a BBC prestou uma grande
homenagem srie: o projeto Quatermass Experiment, uma refilmagem apresentada ao vivo dos estdios da emissora.
Recapitulando e contabilizando: foram trs filmes produzidos pela Hammer, quatro minissries e uma apresentao ao
vivo, fechando o ciclo (pelo menos at agora), desta que uma das mais importantes sries de fico cientfica de todos os
tempos.
Terror que Mata tem na direo o convencional, mas competente Val Guest, que tem no seu pequeno currculo,
mais de cinqenta longas, entre eles: O Abominvel Homem das Neves (The Abominable Snowman, 1957, com Peter
Cushing no elenco), o tambm sci-fi O Dia em que a Terra pegou fogo (The Day the Earth Caught Fire, 1962) e o clebre
longa no oficial de James Bond Cassino Royale (Casino Royale, com Peter Sellers, 1967).
Infelizmente, em 1956, a Hammer ainda no contava com os astros Peter Cushing e Christopher Lee, parceiros
habituais nos grandes sucessos da produtora. Em Terror que Mata, o elenco, praticamente desconhecido, passa
despercebido, quando no aptico. Poderamos destacar o ator Richard Wordsworth interpretando o astronauta sobrevivente
Victor Carroon. Embora pronuncie apenas uma frase durante todo o filme (- Help me...), seu aspecto maltrapilho e catctico
torna o personagem realmente assustador.
A trilha sonora composta pelo colaborador freqente da Hammer, James Bernard, muito mal aproveitada. A
composio principal forte e carregada de suspense, mas fica em evidncia apenas nos crditos iniciais e finais.
O roteiro, de Nigel Kneale, reserva poucas surpresas e desenvolve mal o personagem Quatermass, j que pouco
sabemos dele. Agora, como entender um filme com tantas limitaes tornar-se um sucesso internacional e um inquestionvel
clssico do gnero?
Para responder a questo anterior somos obrigados a retornar ao contexto histrico da poca em que foi lanado
Terror que Mata. No ano de 1956, em plena corrida espacial, os Estados Unidos e a Unio Sovitica disputavam quem
seriam os pioneiros na explorao espacial. Os russos sairiam na frente, colocando em rbita o primeiro satlite artificial da
histria, o Sputnik 1, em 1957. Uma semana depois mandariam pro espao a coitada da cadela Laika, no Sputnik 2. Quatro
anos depois, em 1961, a espaonave Vostok 1 colocaria o primeiro humano ao espao, o russo Iuri Gagarin. Mas em 1969,
os americanos deram o xeque-mate, enviando a nave Apollo 11 at a Lua.
Mas o filme anterior a todos estes acontecimentos e o imaginrio popular era estimulado no s pelas possibilidades
reais da explorao espacial, mas tambm pelos milhares de supostos avistamentos de OVNIS, sendo o episdio mais famoso
o Caso Roswell, de 1947. A estava a frmula: novidades tecnolgicas, viagens espaciais e invases aliengenas. Da para
seres humanos virando vegetais era um passo. E o perodo foi extremamente frtil para o gnero chamado hoje de Sci-fi.
Quando a Fico Cientfica e o Horror se encontram
Embora gneros distintos, a fico cientfica e o horror so partes de um gnero maior, chamado Fantstico (tanto na
literatura quanto no cinema). E ambos apresentam traos comuns, como explorar o desconhecido e o imaginrio humano.
Enquanto a fico trabalha as possibilidades da cincia, o horror trabalha o medo e o psicolgico do ser humano.
E a fuso entre os dois gneros sempre rendeu obras interessantes, das quais muitas se tornaram verdadeiros clssicos.
Os dois maiores exemplares atuais da juno entre sci-fi e o terror so as sries Alien e Predador, que juntas somam seis
longas: "Alien, o Oitavo Passageiro (1979), "Aliens, o Resgate (1986), "Alien 3" (1992), "Alien, a Ressurreio" (1997), O
Predador (1987) e O Predador 2: A Caada Continua (1990); dois cross-overs: Alien vs Predador (2004) e Alien vs
Predador 2 (2007). Outra srie contempornea de relativo sucesso A Experincia (1995). Protagonizado pela bela
Natasha Henstridge, a trama do longa, que rendeu ainda duas seqncias: A Experincia 2 - A Mutao (1998) e A
Experincia 3 (2004), narra a trajetria e a perseguio a um ser hbrido aliengena que escapa de um laboratrio e deseja
proliferar sua espcie, consequentemente eliminando a raa humana (tagline parecida com a de Terror que Mata).
Mas foi mesmo entre as dcadas de 50 e 70 que o cinema chamado B se alimentou da frmula e consagrou diversos
clssicos como: Vampiro de Almas (1956), de Don Siegel, onde os seres humanos so substitudos por aliens sados de
vagens gigantes; O Monstro do rtico (The Thing from Another World, 1951), de Howard Hawks, refilmado por John
Carpenter trinta anos depois como Enigma de Outro Mundo ou A Mosca da Cabea Branca (The Fly, 1958), cujo remake
foi dirigido por David Cronenberg em 1986. Alm de divertidas e nostlgicas, so obras de valor histrico que influenciaram
diretamente produes mais modernas, mas que infelizmente permanecem inditas ou no tiveram edies altura no Brasil.
Terror que Mata (Quatermass Xperiment , Inglaterra, 1956). Direo: Val Guest. Roteiro: Richard H. Landau, Val Guest e
Nigel Kneale. Produo: Anthony Hinds e Robert L. Lippert. Fotografia: Walter J. Harvey. Msica: James Bernard.
Direo de Arte: J. Elder Wills. Maquiagem: Monica Hustler; Philip Leakey. Edio: James Needs. Elenco: Brian Donlevy
(Professor Bernard Quatermass), Jack Warner (Inspetor Lomax), Margia Dean (Judith ), Richard Wordsworth (Victor), David
King Wood (Dr Gordon Briscoe), Thora Hird (Rosemary 'Rosie' Rigley), Gordon Jackson; Harold Lang (Christie); Lionel
Jeffries (Blake); Sam Kydd; Jane Aird (Mrs. Lomax).
Para quem est procura de um thriller policial com produo totalmente europia, e no for muito exigente, s ir
at sua locadora de vdeo e pedir Anjo da Morte (Angel of Death, 2002), lanado em DVD e VHS pela FlashStar em
Agosto de 2005. O filme tem direo de Pepe Danquart e um elenco liderado pela dupla Mira Sorvino (de Mutao) e
Olivier Martinez (de Roubando Vidas), numa co-produo entre seis pases da Europa: Alemanha, Inglaterra, Frana, Itlia,
Espanha e Dinamarca.
O roteiro de Roy Mitchell, baseado em livro de David Hewson, no foge muito do convencional, mostrando
basicamente as aes de um assassino, envoltas numa atmosfera de mistrio e religio, e um grupo de detetives em seu
encalo, na conduo das investigaes. A policial Maria Delgado (a bela Mira Sorvino), que tem descendncia americana por
parte da me, decide sair de Madrid, a capital espanhola, para trabalhar na cidade de Sevilha, depois de que seu marido juiz foi
assassinado. L chegando em plena Semana Santa, ela recepcionada pelo chefe de polcia Capito Rodriguez (Ferm
Reixach), que escolhe uma dupla de detetives locais, Quemada (Olivier Martinez) e Torillo (Fodor Atkine), para trabalhar
com ela na investigao do assassinato brutal de dois irmos gmeos, onde era conhecido o fato de que o responsvel vestia
uma roupa e capuz vermelhos que cobriam todo o corpo, um tipo de vestimenta utilizado pelos penitentes, os seguidores da
Irmandade de Cristo, uma conservadora seita religiosa catlica.
Durante o trabalho de investigao, surge uma importante pessoa na trama, cujas informaes e revelaes podem
levar identidade do assassino. Ela uma senhora idosa, Dona Catalina Lucena (a veterana e experiente atriz Alida Valli), a
ltima descendente de uma famlia tradicional que foi perseguida e dizimada na guerra civil pelo regime fascista, sob o
comando do perverso tirano e lder revolucionrio Antonio Alvarez (Luis Lpez Tosar).
Inicialmente, a detetive Delgado precisa enfrentar, alm das aes do assassino e de uma tragdia familiar, tambm
uma receptividade ruim por parte do colega da polcia espanhola Quemada, que estava mal humorado por ter sido abandonado
pela mulher pouco tempo antes. Mas com o passar do tempo e a descoberta de importantes pistas para a soluo do caso, eles
tero que unir esforos para combater o inimigo.
Anjo da Morte um filme bem trivial, com uma hora e meia de durao, e apresentando todos os elementos sempre
presentes nas histrias de detetive. Tem um assassino inicialmente misterioso e que em breve o espectador j descobre sua
identidade e motivaes. Tem os investigadores trabalhando em sua captura, e nesse caso a tradicional dupla de detetives ainda
recebe a ajuda no solicitada de uma bela mulher. Tem as correrias, perseguies e tiroteios de praxe, e as informaes vo
surgindo aos poucos, com revelaes crescentes para o esclarecimento do mistrio. Ou seja, um filme bem comportado de
investigao policial, que no incita o espectador a pensar demais e tentar participar da trama. Vale apenas por curiosidade e
por uma diverso rpida e sem compromisso. Como detalhes que merecem um registro, temos uma cena divertida envolvendo
um turista americano arrogante (Tobias Oertel), que aps ser atacado pelo criminoso encapuzado e sobrevivido ferido, insulta
a polcia local mencionando a conhecida e histrica inquisio espanhola, e leva uma porrada na cabea merecida para
manter-se calado. E tambm a presena do mdico legista Dr. Hidalgo (Carlos Castanon) nas cenas dos crimes, para sempre
informar com acurada preciso e um profissionalismo mrbido a hora da morte das vtimas.
Anjo da Morte (Angel of Death (EUA) / Semana Santa (Frana) / (Alemanha / Inglaterra / Frana / Espanha / Itlia /
Dinamarca, 2002) # 368 data: 30/01/06
A morte apenas o comeo... de uma eterna vida de dor...