Revista PGM 17
Revista PGM 17
PROCURADORIA-GERAL
DO MUNICPIO
DE PORTO ALEGRE
P853r PORTO ALEGRE. PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE. Revista da Procuradoria-Geral do Municpio
de Porto Alegre. Porto Alegre : CEDIM : Unidade Editorial da Secretaria Municipal da Cultura, n.17,
out.2003, 476p.
ISSN: 1415-3491
1
Doutor em Filosofia do Direito pela USP. Professor de Filosofia do Direito dos Programas de Ps-Graduao
(Mestrado e Doutorado) da UFGRS, PUCRS e UNISINOS.
16 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 17
1. Preliminares
2
Otfried HFFE, O que a justia?. p. 101. Como a presente reconstruo parte de Aristteles e Toms de Aquino,
ser restringida a expresso tica social crist somente s encclicas papais, nas quais a tradio aristotlico-
tomista o quadro filosfico de referncia.
18 / Revista da PGM
3
ARISTTELES. tica a Nicmaco, 1, 1129a.
4
ARISTTELES. Retrica I, 9, 1366b.
5
ARISTTELES. tica a Nicmaco V, 1, 1129b.
Artigos e Estudos / 19
6
idem. V, 2, 1130b.
7
idem, V, 2, 1131a.
8
idem, V, 4, 1132a.
9
TOMS DE AQUINO. Suma Teolgica, II-II, q. 60, a. 3.
20 / Revista da PGM
10
idem, op. cit., q. 58, a.5.
11
idem, op. cit., q. 58, a. 6.
12
idem, op. cit., q. 58, a.7.
13
TOMS DE AQUINO. op. cit., q. 61, a.1.
Artigos e Estudos / 21
14
idem, op. cit., q. 63, a.1.
15
idem, ibidem.
16
idem, op. cit., q. 61, a.1.
17
idem, op. cit. q. 61, a. 2.
18
idem, op. cit. q. 58, a. 12.
22 / Revista da PGM
que eles assimilam em geral justia legal, mas que no sabem distinguir
claramente da justia distributiva.25
O jesuta francs Antoine, no seu Cours dconomie sociale, de 1899,
desenvolve no contexto de uma teoria da Economia Poltica, uma teoria da
justia, em que reitera os significados tradicionais de justia legal, justia
distributiva e justia comutativa.
A justia legal, segundo Antoine, a vontade constante dos cidados
de dar sociedade o que lhe devido, a disposio habitual a contribuir, sob
a direo da autoridade suprema, ao bem comum, eis o que ns chamamos de
justia legal.26 Antoine se pergunta se a justia legal identifica-se com o
que vem sendo chamado de justia social. Para ele, a resposta deve ser afirma-
tiva, uma vez que h identidade de objeto, o bem comum. Assim, a justia
social consiste na observncia de todo direito tendo o bem social comum
por objeto e a sociedade civil como sujeito ou como termo.27 Na medida em
que a sociedade civil s existe na totalidade dos seus membros, a definio
de Antoine pode ser lida do seguinte modo: todos os membros da sociedade
civil devem colaborar na obteno do bem comum (sujeito da justia social)
e todos devem participar do bem comum (termo da justia social).
28
PIO XI. Quadragesimo anno, n. 74.
29
idem, op. cit., n. 75.
30
PIO XI. Divini Redemptoris, n. 32.
26 / Revista da PGM
31
idem, op. cit., n. 51.
32
TOMS DE AQUINO. op. cit., q. 58, a. 7.
33
PIO XI. op. cit., n. 51.
34
JOO XXIII. Mater et magistra, n. 135 e 136.
Artigos e Estudos / 27
35
Trcio Sampaio FERRAZ JR.. A legitimidade na Constituio de 1988, p. 53
28 / Revista da PGM
36
idem, ibidem.
Artigos e Estudos / 29
38
O termo, tornado clebre na filosofia por Hegel, na sua Fenomenologia do Esprito, tornou-se uma das questes
mais candentes da filosofia poltica. Para a perspectiva aqui adotada, do igual reconhecimento, ver Charles
Taylor, A poltica do reconhecimento in Argumentos filosficos, p. 241-274.
32 / Revista da PGM
39
KANT. Fundamentao da metafsica dos costumes, p. 77.
40
HEGEL. Princpios da filosofia do direito, pargrafo 36, p. 56.
41
ARISTTELES. tica a Nicmaco, V, 4, 1132a.
Artigos e Estudos / 33
42
Cham PERELMAN. La giustizia, p. 40-49.
34 / Revista da PGM
Na justia, d-se algo a algum, porque isso lhe devido. Este dever
funda-se na relao social em questo.
Em uma relao de troca entre indivduos (voluntria ou involuntria),
verifica-se a necessidade de uma perfeita identidade entre o que foi dado e o
43
Cf. Luis Fernando BARZOTTO. A democracia na constituio, captulo 5.
Artigos e Estudos / 35
44
HEGEL. Fenomenologia do esprito, par. 184, p. 144.
36 / Revista da PGM
45
Joo XXIII. Mater et magistra, n. 83.
46
idem, n. 82.
Artigos e Estudos / 39
2.7 Formulao
47
Cf. Cornelius CASTORIADIS. Valor, igualdade, justia, poltica: de Marx a Aristteles e de Aristteles at ns, p.373-
380.
40 / Revista da PGM
boa para os seus membros. Esta concepo de vida boa assume um carter
normativo pelo fato de os bens que a compem (liberdade, sade, etc.) serem
afirmados como direitos. As pessoas tornam-se partcipes da comunidade
quando esto engajadas em um processo de garantir os mesmos direitos para
todos. Cada um deve respeitar nos outros os mesmos direitos que exige para
si. A contrapartida se impe: todos tm os mesmos deveres, como membros da
comunidade. Deste modo, a justia social que forma o lao constitutivo da
comunidade, uma vez que a existncia da comunidade, depende do fato de
todos, como membros da comunidade terem a mesma coisa, isto , os
mesmos direitos e deveres, e no do fato de estarem submetidos a um poder
comum, ou habitar o mesmo territrio.
48
Cf. ARISTTELES. tica a Nicmaco, V, 5, 1132b.
Artigos e Estudos / 41
49
mile DURKHEIM. Da diviso do trabalho social, p. 37.
50
Cf. Michael WALZER. Las esferas de la justicia.
51
Alasdair MACINTYRE. Animales racionales y dependientes, p. 153-154.
52
ULPIANO. Digesto, I, 1, 10.
53
idem, ibidem.
42 / Revista da PGM
Por sua vez, a justia social pode ser fundamentada no carter social
do ser humano. Carente de uma plenitude que s pode ser alcanada na rela-
o com outrem, a pessoa humana se v envolvida em uma rede de relaes de
dever. Todos devem algo a todos como membros da comunidade. Em primeiro
lugar, todos devem ter reconhecida sua dignidade como seres humanos, o que
no campo jurdico-poltico significa que todos tm direitos e deveres idn-
ticos: cada cidado possui os mesmos direitos jurdicos e polticos, e nesta
medida, todos podem desenvolver o auto-respeito, que consiste na cons-
cincia da prpria dignidade e certa capacidade para p-la em ao54 e que
depende apenas do status de pessoa humana membro da comunidade.
A justia social, embora articulada como conceito no interior da tra-
dio de pesquisa racional55 que o aristotelismo, a sistematizao, em
termos da teoria da justia, do valor da dignidade da pessoa humana presen-
te no desenvolvimento da civilizao ocidental. A conscincia de um dever
de justia para com o outro em virtude da sua simples humanidade foi formu-
lada de vrios modos na nossa civilizao. Vamos arrolar algumas dessas fr-
mulas, todas, em maior ou menor grau, podendo fundar eticamente a justia
social.
O honeste vivere, um dos preceitos do direito de Ulpiano, no poderia
ser interpretado como uma deferncia humanitas presente no outro, um
dever de justia cujo contedo seria respeitar e favorecer o desenvolvimento
da personalidade alheia56? A segunda formulao do imperativo categrico
de Kant tambm pode servir de suporte ao ideal de justia social: Age de tal
maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente
como meio.57 A formulao mais sinttica do fundamento da justia social,
que exige para cada um o que este est disposto a atribuir aos outros como
membros da comunidade, est na regra de ouro: Como quereis que os ou-
tros vos faam, fazei tambm a eles.58
54
Michael WALZER. Esferas de la justicia, p. 288 e 286.
55
Cf. Alasdair MACINTYRE. Justia de quem?Qual racionalidade?, passim.
56
Fritz SCHULZ. Princpios del derecho romano, p. 212.
57
Immanuel KANT. Fundamentao da metafsica dos costumes, p. 69.
58
Lucas 6, 31.
Artigos e Estudos / 43
Preliminares
59
Joaquim Barbosa GOMES. Ao afirmativa e princpio constitucional da igualdade.
60
idem, op. cit. p. 40.
61
idem, op. cit., p. 113.
62
idem, ibidem.
63
Utilizamos a transcrio apresentada no apndice da obra citada de GOMES, p. 245-295.
44 / Revista da PGM
65
GOMES, op. cit., p. 266.
46 / Revista da PGM
66
Robert NOZICK. Anarquia, Estado, Utopia, p. 156.
67
GOMES, op. cit., p. 66.
68
GOMES, op. cit. p 293-294.
Artigos e Estudos / 47
69
DWORKIN. Uma questo de princpio, p. 439.
70
idem, op. cit., p. 443.
71
GOMES, op. cit., p.69.
72
Gomes expe uma outra tentativa de fundar a tese da justia distributiva - a idia de que todos nascemos
iguais. Mas uma distribuio sempre supe diferenciao, e a prpria poltica de ao afirmativa elege critrios
no universalmente partilhados para a distribuio de bens.
48 / Revista da PGM
73
Jeremy BENTHAM. Uma introduo aos princpios da moral e da legislao, p. 4.
74
DWORKIN, op. cit., p. 451.
75
Pio XII apud CALVEZ/PERRIN, op. cit., vol. 2, p. 200.
Artigos e Estudos / 49
76
A principal obra sobre o tema, no Direito Constitucional brasileiro, a de INGO WOLFGANG SARLET. Dignidade
da pessoa humana e direitos fundamentais.
50 / Revista da PGM
77
O constituinte brasileiro no inovou neste ponto. Ele apenas assumiu o que est disposto no art. XXVI da
Declarao Universal dos Direitos Humanos, de 1948: Todo homem tem direito educao. A educao deve ser
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instruo elementar ser obrigatria. A instruo
tcnico-profissional ser generalizada; o acesso aos estudos superiores ser igual para todos, em funo dos
mritos respectivos.
Artigos e Estudos / 51
rol de bens necessrios vida boa o ensino superior, ela efetuar uma mudan-
a na sua Constituio, assegurando a cada cidado brasileiro um direito
pblico subjetivo a uma vaga nas instituies universitrias. O constituinte
transformar um direito social de justia distributiva em um direito social de
justia social. De qualquer modo, no reservaria vagas a membros deste ou
daquele grupo tnico, mas garantiria a todos os brasileiros, vagas no ensino
superior.
Determinado o tipo de direito social que o direito educao em
nvel superior na Constituio de 1988, resta avaliar se as teses da justia
comutativa ou distributiva seriam aptas a sustentar um programa de ao
afirmativa como aquele analisado no caso Bakke.
A tese da justia comutativa consiste, como foi visto, em compensar
ou indenizar membros de grupos que, no passado e no presente, foram discri-
minados. Mas isso consiste em reduzir essas pessoas condio de vtimas e
no de cidados iguais aos outros, o que viola a sua dignidade. Todos devem
a todos o respeito pela sua condio de pessoa humana e de cidado, nin-
gum podendo ser considerado um membro alheio comunidade, o que ocor-
reria se alguns fossem considerados vtimas, e outros no. Como bem viu
Rosanvallon, a tese da justia comutativa consiste em reduzir o direito cons-
titucional ao direito civil, em reduzir o cidado vtima, tendncia domi-
nante nos Estados Unidos, pas criador das polticas de ao afirmativa: A
redistribuio social no se fundamenta no reconhecimento de direitos soci-
ais propriamente, mas deriva de uma radicalizao dos direitos civis. Espe-
ram-se efeitos sociais no do reforo do vnculo nacional, mas do aperfeio-
amento da lgica individualista. Uma concepo muito ampla de reparao
nos prejuzos serve, neste caso, de substituto de um exerccio poltico de
solidariedade. Em uma sociedade de reparao generalizada, a figura central
da interao social a de vtima (grifo no original) de outrem, e no do
cidado. (...) No como membros da comunidade, e tendo por isso certos
direitos sociais, que as minorias procuram hoje beneficiar-se das transfern-
cias pblicas; elas o fazem apresentando-se como vtimas, de um dano atual,
mas tambm de alguma injustia passada.78
Se a sociedade brasileira uma comunidade de pessoas humanas que se
78
Pierre ROSANVALLON. A nova questo social, p. 63.
52 / Revista da PGM
79
Ronald DWORKIN. Uma questo de princpio, p. 450.
80
Paul RICOEUR. Em torno ao poltico, p. 115.
Artigos e Estudos / 53
prope. Michael Sandel esboa o que poderia ter sido uma carta de uma
Universidade comunicando a um candidato sua aprovao graas s polticas
de ao afirmativa: Ainda que no seja o resultado de seu prprio esforo,
resulta que casualmente voc possui as caractersticas que a sociedade preci-
sa neste momento, caractersticas que nos propomos a explorar para benef-
cio da sociedade admitindo-o como estudante.81 Ou seja, o fato de que o
estudante pertence a um grupo minoritrio, visto como caracterstica rele-
vante, tendo em vista o objetivo social de ter mais membros de minorias nas
Universidades ou exercendo certas profisses. A sua presena na Universida-
de um meio para atingir um fim poltico desejvel.
Alguns podem tentar aproximar esta viso da tradio aristotlica, na
qual a justia distributiva d algo a algum em vista do bem comum. Essa tese
equivocada por duas razes.
Em primeiro lugar, deve-se afastar a viso do bem comum da viso de
utilidade social de Bentham e Dworkin. O bem comum da tradio aristotlica
no o bem da maioria, mas o bem de todos. A distribuio visa imediatamente
ao bem do particular e mediatamente o bem comum, o bem de todos. Deste
modo, aquele que no beneficiado diretamente em uma distribuio, ser
beneficiado de um modo indireto, na medida em que pertence comunidade.
Em segundo lugar, para a tradio aristotlica, a justia distributiva
trata daquilo que a comunidade deve ao indivduo. Ou seja, visa-se direta-
mente ao bem do particular e indiretamente ao bem da sociedade como um
todo. Visar diretamente ao bem comum, manipulando os critrios de distri-
buio em nome de alguma finalidade coletiva, significa destruir a justia
distributiva e utilizar os envolvidos na distribuio como meros instrumentos
de fins que lhes so alheios.
Em cada distribuio, deve verificar-se a causa da distribuio, isto ,
o critrio de distribuio prprio a cada esfera distributiva.82 O parentesco
no o critrio adequado para distribuir cargos pblicos, o mrito no o
critrio adequado para distribuir bens no interior de uma famlia. Nas distri-
buies, a utilizao do critrio prprio a cada esfera garante que o bem do
particular o fim que est sendo buscado.
81
Michael SANDEL. El liberalismo y los limites de la justicia, p. 180.
82
Cf. Michael WALZER. Las esferas de la justicia.
54 / Revista da PGM
IV. CONCLUSO
83
Para esta crtica dos programas de ao afirmativa a partir do argumento da pessoa humana como fim e no
como meio, cf. Michael SANDEL, El liberalismo y los limites de la justicia, p. 171-186.
Artigos e Estudos / 55
BIBLIOGRAFIA
84
ULPIANO. Digesto I, 1,1.
56 / Revista da PGM
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WALZER, Michael. Las esferas de la justicia. Mxico: Fondo de cultura econmica,
1997.
O PRINCPIO DA LEGALIDADE NO
ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
1
Advogado, mestrando em Direito Econmico pela Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, foi
bolsista da Fapesp no programa de iniciao cientfica, tendo desenvolvido a pesquisa na cadeira de Direito do
Estado, igualmente na Faculdade de Direito da USP.
58 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 59
Introduo
rou a prpria noo de Lei, incluindo nesta uma vertente material. Como resul-
tado, veremos que no s o Executivo ganhou preponderncia, como tambm
os regulamentos passaram a figurar ao lado da Lei formal como estatuies
primrias.
Nas linhas a seguir, demonstraremos as caractersticas deste Estado de
Bem- Estar Social, com isso ser possvel compreender a necessidade de um
papel normativo extraparlamentar, e por fim trataremos especificamente desta
caracterstica normativa, sua relao com a legalidade e com o poder regula-
mentar, escopo sincero deste artigo.
2
No desconhecemos a acepo de Elias Daz em Estado de Derecho y Sociedad Democrtica, Edicusa, Madrid,
1973, 5. ed., na qual o autor sugere a noo do Estado Democrtico de Direito, como contraposio ao Estado
Social. Todavia, para efeitos de compreenso das alteraes da legalidade julgamos suficiente a contraposio
entre o Estado Liberal e o Estado Social.
Artigos e Estudos / 61
3
Legaz y Lacambra. Luis El Estado de Derecho en la Actualidad, Editorial Reus, Madrid, 1934, p. 81.
4
Novais, Jorge Reis. Contributo para uma Teoria do Estado de Direito do Estado de Direito Liberal ao Estado
Social e Democrtico de Direito. Coimbra, 1987. p. 51.
5
Novais, Jorge Reis. Contributo...op. cit. p. 212.
62 / Revista da PGM
6
Com relao a esta identificao da lei com a vontade geral, Novais ensina que a lei entendida como
estatuio da vontade geral se resolvia o problema poltico, (...) ou mais significativamente, o problema
poltico resolvia-se, afinal, em termos jurdicos. Como antes exposto a questo da limitao do poder poltico
estatal se traduz em uma limitao jurdica deste. Novais, Jorge Reis, op. cit. p. 88.
Artigos e Estudos / 63
7
Rousseau, Jean Jaques. O Contrato Social, Martins Fontes, So Paulo, 1996, p. 20.
8
Idem.
9
Ibidem.
10
Rousseau, Jean Jaques, op. cit. p. 22.
64 / Revista da PGM
11
Bonavides, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. So Paulo: Malheiros, 1996, p. 40.
Artigos e Estudos / 65
12
Garca Pelayo, Manuel. Las Transformaciones Del Estado Contemporaneo. Alianza Universidad. p. 18.
13
Pelaz, Francisco Jos Contraeras. op. cit. p. 14.
14
Garca Pelayo, Manuel. op. cit. p. 17.
66 / Revista da PGM
15
A esse respeito ver Venncio Filho, Alberto. A Interveno do Estado no Domnio Econmico o direito pblico
econmico no Brasil. Renovar, Rio de Janeiro, Edio Fac-similar da ed. 1968.
16
Vanossi, Jorge Reinaldo. El Estado de Derecho em el Constitucionalismo Social. Editorial Universitria de
Buenos Aires, Buenos Aires, 1982, p.29.
17
Venncio Filho, Alberto. A Interveno do Estado no Domnio Econmico.. op. cit. p. 11.
18
En terminos generales, el Estado social significa histricamente el intento de adaptacin del Estado tradicional
a las condiciones sociales de la civilizacin industrial y postindustrial com sus nuevos y complejos problemas,
pero tambin com sus grandes posibilidades tcnicas, econmicas y organizativas para enfrentarlos Garca-
Pelayo, Manuel, op. cit. p. 18.
Artigos e Estudos / 67
19
A esse respeito ver Oliveira, Francisco. Os direitos do Antivalor a economia poltica da hegemonia imperfeita.
Vozes, Petrpolis, RJ, 1998.
20
Oliveira, Francisco. Os direitos do Antivalor a economia poltica da hegemonia imperfeita. Vozes, Petrpolis,
RJ, 1998, p. 37.
68 / Revista da PGM
Pois enfim, como ente poltico organizado para oferecer respostas aos
problemas surgidos no modo de produo capitalista, o Estado de Bem-Estar
Social teve como seu pressuposto necessrio uma reorganizao na atividade
do Poder Pblico. A extrema limitao deste, promovida pelo Estado Liberal,
impedia uma atuao prestativa na direo da execuo das polticas pblicas
e do financiamento do capital. Se o exerccio do poder no sculo XVIII era
limitado como meio de atingir as finalidades da incipiente classe burguesa,
nesta nova adjetivao de Estado o exerccio de suas atividades ser o de
ampla participao nos negcios sociais e econmicos.
Ora, isso trouxe conseqncias em alguns aspectos prprios do Estado
Liberal como a radical diviso de poderes e a concepo exclusivamente
formal do Princpio da Legalidade. Sem sombra de dvida, o exerccio do Poder
manter-se- racionalizado e juridicizado, sendo a Legalidade um princpio pre-
sente para tanto. Entretanto, por certo, a Legalidade no ser mais um instru-
mento de circunscrio do Estado, concebida exclusivamente no seio do Parla-
mento.
21
Garca Pelayo, Manuel, op. cit. p. 63.
70 / Revista da PGM
22
Acerca da identidade entre uma funo normativa do Executivo e um Estado de Bem - Estar Social, vale a lio
de Eros Grau: Observe se que no h, na hiptese, atribuio de funo legislativa, mas sim de funo
normativa (regulamentar) a esses rgos e entidades; adiante retornarei a esse ponto. Resultam enriquecidas,
destarte, as funes atribudas Administrao, que j no se bastam no mero exerccio do poder de polcia,
consubstanciado na fiscalizao do exerccio de atividades pelos particulares, mas agora compreendem tambm
o poder de estatuir normas destinadas regulao desse mesmo exerccio. Ao exercerem funo normativa que
lhes incumbe, rgo e entidades da Administrao dinamizam o que tenho denominado capacidade normativa
de conjuntura. Grau, Eros Roberto. O Direito Posto e o Direito Pressuposto. Op. cit. p. 231.
23
Grau, Eros Roberto. Crtica da Separao dos Poderes. In O Direito Posto e O Direito Pressuposto, Malheiros, So
Paulo, 2002, 4. ed. p. 231.
24
A respeito da distino entre as formas de interveno do Estado no e sobre o domnio econmico Grau, Eros
Roberto. A Ordem Econmica na Constituio de 1988. Malheiros, So Paulo, 1999.
Artigos e Estudos / 71
25
Ferraz Jr., Trcio Sampaio. Introduo ao Estudo do Direito tcnica, deciso, dominao. Atlas, So Paulo,
1996, 2. ed. p. 126.
72 / Revista da PGM
uma norma jurdica, uma relao vinculante, de sujeio, que envolve um co-
metimento (autoridade) e um relato (contedo obrigatrio da norma).26 Por-
tanto, no exerccio de seu papel normativo, o Executivo no apenas d
operatividade lei, atribuio da atuao regulamentar, mas estatui de forma
primria, cria obrigaes e inova na ordem jurdica. Voltando uma vez mais
dialtica, ressalte-se que esta atuao normativa do Executivo pressupe a
plena vigncia do Princpio da Legalidade, pois por meio de lei que se habi-
lita a competncia para regular.
Saliente-se que a deslegalizao acima referida no significa uma eli-
minao da lei parlamentar como fonte de estatuio primria, como cuidamos
de tratar; a adaptao do Princpio da Legalidade dialtica, decorrendo da
sntese alcanada a manuteno da Reserva Legal para determinadas matrias.
Conforme se aludiu, a habilitao de competncia no o nico papel reserva-
do Legalidade no Estado de Bem - Estar Social, ao lado da Lei como autorizadora
da funo normativa, exsurge um segundo papel, e de muito interesse, qual
seja, o que decorre da manuteno do Princpio da Reserva de Lei. Assim como
verdade que o Welfare State procedeu a uma disjuno de ambos os princpi-
os, igualmente verdade que no eliminou nenhum deles. Conquanto possa ter
mitigado a necessidade de lei formal para dispor de todas as matrias, isso no
significa que determinados contedos no mais exijam tratamento formal de
lei parlamentar.
Nessa toada, as Constituies que positivaram a nova adjetivao soci-
al do Estado mantiveram determinadas questes reservadas a um tratamento
legal. Para estas, permanece a lei formal como instrumento primrio de
estatuio.
Refletindo especificamente sobre a Constituio Federal de 1988, no-
tar-se- que as assertivas acima desenvolvidas adquirem validade. De fato, a
Carta Magna construiu um Estado de Bem - Estar Social. Os artigos 1 e 3 e
ainda as Ordens Econmica e Social no permitem ilao diferente. Trata-se da
positivao de um Estado Democrtico de Direito cujas finalidades so, entre
outras, a erradicao da pobreza e a construo de uma sociedade livre, justa e
solidria. A Ordem Econmica, fundada na livre iniciativa, prescreve a justia
26
Para uma conceituao de cometimento e relato, ver Ferraz Jr. Trcio Sampaio. Introduo ao Estudo do
Direito... op. cit.
Artigos e Estudos / 73
social e a existncia digna como suas finalidades. Demais disso, como princ-
pios da Constituio Econmica esto presentes alguns tpicos de um Estado
de Bem - Estar, tais como a busca pelo pleno emprego e a distribuio de renda
garantida de forma reflexa no inciso VII do art. 170 - reduo das desigual-
dades regionais e sociais. Mesmo a propriedade privada, tutelada na Ordem
Econmica, indica se tratar de um Estado de Bem - Estar, dado que o Welfare
State no se constitui em um Estado Socialista, muito ao contrrio, sim um
modelo de Estado que integra e garante a economia capitalista.
De forma coerente com o supra - exposto, a Constituio Federal cuidou
de desfazer a sobreposio entre a Legalidade e a Reserva de Lei. Determinadas
matrias podem ser tratadas por meio de leis-medida e conseqente ato
normativo da Administrao, outras, por sua vez, apenas e to somente por
meio de leis formais. Como exemplo de ambas, pode-se mencionar a Ordem
Tributria, tida sempre como captulo da legalidade extrema. De fato, por ra-
zes bvias, em regra as matrias tributrias so reservadas Lei, veja-se o
disposto no art. 150, I, da Constituio Federal:
Concluso
27
Para uma conceituao do Wellfare State como Estado de Bem-Estar Social dirigido reproduo da fora de
trabalho e acumulao do capital e seu papel de mediao entre ambos, Oliveira, Francisco. O Surgimento do
Antivalor. In Os Direitos do Antivalor economia poltica da hegemonia imperfeita. Vozes, Petrpolis, 1998.
76 / Revista da PGM
BIBLIOGRAFIA
1
Procurador do Municpio de Porto Alegre. Equipe de Execues Fiscais. Ps-graduando em Advocacia Municipal
pela UFRGS/Fundao Escola Superior de Direito Municipal.
78 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 79
1. INTRODUO
2
II ENCONTRO SUL-BRASILEIRO DE DIREITO CONSTITUCIONAL, Jornada Jos Neri da Silveira, 8 de dezembro de
2002, Faculdade de Direito da UFRGS.
80 / Revista da PGM
3
STRECK, Lenio. Jurisdio Constitucional e Hermenutica. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2002.
4
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro:Campus, 1992.
5
MARSHALL, T.H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
Artigos e Estudos / 81
6
HESSE, Konrad. Elementos de Direito Constitucional da Repblica Federal da Alemanha, Traduo de Lus Afonso
Heck. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998, p. 23.
Artigos e Estudos / 83
7
Disponvel em: http://gemini.stf.gov.br
84 / Revista da PGM
8
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil, 1983, apud KRELL, Andreas J.,
Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.
Artigos e Estudos / 85
9
HESSE, K. Elementos..., p. 289.
10
HECK, Lus Afonso. O Tribunal Constitucional Federal e o Desenvolvimento dos Princpios Constitucionais. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1995.
Artigos e Estudos / 87
11
STRECK, Lenio Luiz. Jurisdio Constituio e hermenutica. Uma nova crtica do Direito. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2002.
88 / Revista da PGM
13
KRELL, Andreas J. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris, 2002.
92 / Revista da PGM
reitos sociais. Por concepo funcional entenda-se aquela que atribui aos di-
reitos sociais uma funcionalidade reparadora, situando-os face aos direitos
civis e polticos numa relao de subsidiariedade. Nessa linha de argumenta-
o, os direitos sociais seriam direitos de segunda ordem, eventualmente res-
peitados, no porque tenham a mesma natureza dos direitos fundamentais
constitutivos da personalidade humana, mas por responderem a demandas so-
ciais e econmicas conjunturais. Essa teoria deriva da teoria da reserva do
possvel. Parte da premissa de que existe uma impossibilidade objetiva na
implementao dos direitos sociais. A teoria do mnimo social procura
minimizar a teoria da reserva do possvel, ao sustentar que a pessoa, sem o
mnimo necessrio existncia, perderia a condio inicial da liberdade, que
a sobrevivncia14. introduzido no debate uma dimenso moral. inserida a
vinculao do exerccio da liberdade, valor superior no Estado Constitucional
Liberal, questo da sobrevivncia. Por essa teoria, a garantia dos direitos
sociais operaria a materializao da liberdade.
Luis Roberto Barroso sustenta, nessa linha de argumentao, que mui-
tas normas constitucionais sobre direitos sociais, por no possurem um mni-
mo de condies para sua efetivao, acabam servindo como libi para criar a
imagem de um Estado que responde normativamente aos problemas reais da
sociedade. Andreas Krell atribui uma funo preponderantemente ideolgica
para os direitos sociais, que constituiriam uma forma de manipulao ou de
iluso, que imuniza o sistema poltico para outras alternativas. A funo ide-
olgica positiva dos direitos fundamentais sociais programticos da Constitui-
o brasileira residiria em seu papel de referncia para que possa contribuir
para a transformao progressiva do sistema social.
7. Concluses
14
TORRES, Ricardo Lobo (Org.) Teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
15
CORTINA, Adela. Ciudadanos del Mundo: hacia une teoria de la ciudadania. Madrid, Alianza: Editorial, 1998.
Artigos e Estudos / 93
legislador um espao de conformao amplo (BverfGE 18, 257 [273]; 29, 221
[235]). Ao lado disso, o princpio ganha significado para a interpretao de
direitos fundamentais, especialmente ento, quando deve ser decidido sobre a
constitucionalidade de regulao da concesso de prestaes estatais (compa-
rar, por exemplo, BverfGE 33, 303 {331 f.]; 36, 237 (248 f. - opinio divergen-
te); 38, 187 [197]; 39, 316 [326 f.]; 42, 176 [188]; 42, 263 [298];42, 291
[313 f.]). No entanto, o princpio do Estado Social no capaz de traar
limites diretos aos direitos fundamentais (BverfGE 59, 231 [262 f.])16.
O contedo e significado do princpio do Estado Social bem explicado
por Konrad Hesse, op. cit., p. 173, in verbis:
16
Jurisprudncia extrada de Hesse, Konrad, Elementos.., p. 172, nota de rodap n. 28.
96 / Revista da PGM
17
Hesse, Konrad. Elementos..., p. 32, nota de rodap n. 23.
Artigos e Estudos / 97
18
BverfGE 24, 33 (52); 25, 371 (396 f.), apud Hesse, K. Elementos..., p. 174, nota 29.
98 / Revista da PGM
8. BIBLIOGRAFIA
res, 1967.
SMEND, Rudolf. Constitucin y Derecho Constitucional (trad. Jos M. Beneyto).
Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1985.
STRECK, Lnio. Jurisdio constitucional e hermenutica. Porto Alegre: Livraria
do Advogado Editora, 2002.
TORRES, Ricardo Lbo. A cidadania multidimensional na era dos direitos, in:
o mesmo (org.). Teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Reno-
var, 1999, p. 239-336.
WEBER, Max. Economia y Sociedad. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 1944.
OPERAES URBANAS
CONSORCIADAS: A NOVA REGULAO
URBANA EM QUESTO
1
Doutorando em Direito Econmico e Financeiro pela Universidade de So Paulo.
102 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 103
Introduo
2
O reconhecimento do conflito como questo jurdica e da funo distributiva a ser exercida pelo Estado no
pode ser compreendido simplesmente como uma evoluo do esprito. O sculo XX foi prdigo de embates e
entrechoques que foram expondo, progressivamente, a contradio constitutiva do modo de produo capitalista.
Se, em um primeiro momento, bastava ao Estado reconhecer a igualdade jurdica para evitar o colapso do sistema
pelo aprofundamento de suas contradies, no sculo XX a manuteno do sistema vai exigir do Estado o
reconhecimento da diferena, a assimilao parcial do conflito, para que se mantenham as condies objetivas
necessrias livre circulao do capital e ao apaziguamento da radical contradio do sistema. Bercovici,
Gilberto e Massonetto, Lus Fernando. Os Direitos Sociais e as Constituies Democrticas Brasileiras: Breve
Ensaio Histrico, mimeo. A transformao do papel do Direito pode ser apreendida em Ruy Fausto, Marx: Lgica
e Poltica, So Paulo, Brasiliense, 1987, tomo II, p. 287-329: Poder-se-ia dizer a mesma coisa a propsito da
fixao da relao jurdica enquanto lei do Estado.(...) O Estado guarda apenas o momento de igualdade dos
contratantes negando a desigualdade das classes para que, contraditoriamente, a igualdade dos contratantes seja
negada e a desigualdade das classes seja posta. (p. 300) O Estado, dissemos, o guardio da identidade. Ele
garante o funcionamento de relaes que no podem ser abandonadas a elas mesmas, mesmo em circunstncias
normais, justamente porque elas so contraditrias (p. 311). Um direito particular se desenvolveu, em cujas
bases est exatamente a idia de que entre capitalistas e trabalhadores assalariados a relao de um tipo tal que
ela no pode mas ser assimilada s relaes contratuais reguladas pelo velho direito civil. O direito passa a
reconhecer no que o contrato seja aparente, mas que se trata de um contrato de natureza particular, em que uma
das partes reconhecida como sendo mais fraca do que outra. Tal o fundamento jurdico do chamado direito
social (p. 317). O sentido desta transformao o seguinte no capitalismo clssico a identidade (das partes)
ocultava a contradio (entre as classes). No capitalismo contemporneo no mais a identidade mas a diferena
que oculta a contradio. (p. 319)
106 / Revista da PGM
3
GRAU, Eros Roberto. Direito urbano. So Paulo: Ed.RT, 1983, p.72-74.
Artigos e Estudos / 107
4
A questo muito bem exposta por Pedro Escribano Collado: o direito do proprietrio est submetido a um
pressuposto de fato, qualificao urbanstica dos terrenos, cuja fixao da competncia da Administrao, de
natureza varivel, de acordo com as necessidades do desenvolvimento urbanstico das cidades, cuja apreciao
corresponde tambm Administrao. Apud SILVA, Jos Afonso da. Direito Urbanstico Brasileiro. So Paulo:
Malheiros Editores, 1997, p. 68-69
108 / Revista da PGM
5
GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econmica na Constituio de 1988. So Paulo: Malheiros Editores, 7. ed., 2002,
p. 64.
6
Idem, p. 174.
110 / Revista da PGM
O Estatuto da Cidade
7
Na doutrina, temos a caracterizao das Operaes Urbanas como modalidades especiais de interveno urbana
com participao e recursos da iniciativa privada. SILVA, Jos Afonso da. Aspectos Relevantes da Lei n 13.260/
01 Operao Urbana gua Espraiada, Mimeo.
112 / Revista da PGM
8
Art. 32. (...)
1 Considera-se operao urbana consorciada o conjunto de
intervenes e medidas coordenadas pelo Poder Pblico Municipal,
com a participao dos proprietrios, moradores, usurios
permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcanar
em uma rea transformaes urbansticas estruturais, melhorias
sociais e valorizao ambiental.
Artigos e Estudos / 113
Concluso
produzir efeitos imediatamente, enquanto que a maior parte deve ficar relegada
ao captulo das boas intenes legislativas.
Assim sendo, necessrio analisar as condies materiais para a
efetivao dos institutos criados. E aqui a tendncia parece apontar para a
plena concretizao dos dispositivos relativos s operaes urbanas, em detri-
mento das normas de planejamento e interveno do Estado no domnio eco-
nmico. Em uma conjuntura na qual a poltica fiscal determina a efetividade
das normas de planejamento e interveno, as restries impostas Federa-
o, traduzidas na produo sucessiva de supervits fiscais e na manuteno
dos servios da dvida em nveis elevadssimos, impelem os novos investimen-
tos s formas existentes de captao de recursos privados. No caso dos Muni-
cpios, inegvel a atrao pelos recursos advindos das operaes urbanas,
dada a escassez de recursos oramentrios para impulsionar o desenvolvimen-
to urbano.
Nesta perspectiva, importante salientar alguns aspectos de natureza
fiscal decorrentes da edio do Estatuto da Cidade. Aps mais de duas dcadas
de discusso sobre as possibilidades de admisso no ordenamento jurdico
ptrio do instituto do solo criado, o Estatuto teve o mrito de reconhecer
expressamente a outorga onerosa do direito de construir como forma de finan-
ciamento da infra-estrutura das cidades. Seja por sua capacidade arrecadatria,
to importante em tempos de restries oramentrias, seja por seu alto po-
tencial extrafiscal, revelado nas possibilidades de controle dos vetores de cres-
cimento da cidade e do controle do estoque e fluxo de outorga pelo Poder
Pblico, a admisso da outorga onerosa um importante captulo na efetivao
da poltica urbana conforme prevista na Carta de 1988. Mais do que isso, a
outorga onerosa importante instrumento para o enfrentamento do conflito
distributivo, na medida em que oferece receita de capital para o financiamento
de infra-estrutura nas regies mais precrias da cidade, onerando as regies
mais desenvolvidas, com maior oferta de infra-estrutura e, portanto, maior
apelo aos novos empreendimentos imobilirios geradores de outorga.
Nos permetros das operaes urbanas, no entanto, tambm potencial
distributivo desaparece. Como os recursos obtidos no permetro da operao
devem ser aplicados em obras de infra-estrutura na prpria rea da operao,
toda a receita de capital gerada no empreendimento fica restrita
Artigos e Estudos / 117
Bibliografia
SILVA, Jos Afonso da. Direito Urbanstico Brasileiro. So Paulo: Malheiros Edi-
tores, 1997.
A CONCESSO ESPECIAL PARA FINS
DE MORADIA NA CONSTITUIO
FEDERAL E NO ESTATUTO DA CIDADE
UMA EXEGESE DA MP N 2.220 DE
04 DE DEZEMBRO DE 2001
1
Procuradora do Municpio de Porto Alegre. Procuradora-Geral Adjunta de Polticas Locais. Especialista em Direito
Municipal. Membro da Direo gacha do Instituto O Direito por um Planeta Verde. Representante da ANAMA
(Associao Nacional dos Municpios e Meio Ambiente) na Cmara Tcnica de Assuntos Jurdicos do Conselho
Nacional do Meio Ambiente.
120 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 121
INTRODUO
2
O Estatuto da Cidade a denominao da Lei Federal N 10.257/01.Entrou em vigor em 10 de outubro de 2001.
3
Nesse sentido ALMEIDA, Fernanda Dias Menezes, Competncias na Constituio de 1988. So Paulo: Atlas, 1991
4
Art. 1 Constituio Federal.
5
O sistema de governo presidencialista foi decidido em plebiscito realizado em 21/04/93, em cumprimento ao
que disps o art. 2 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias da Constituio Federal.
6
ATALIBA, Geraldo, Regime Constitucional e Leis Nacionais e Federais, RDP 53-54, p. 59 e segts.
7
Na Constituio as competncias esto elencadas nos arts. 21 e 22 da Unio, art. 25 dos Estados e 30 dos
Municpios, sem prejuzo de outras definidas ao longo do texto constitucional.
122 / Revista da PGM
8
Classificao adotada por Ingo Sarlet. O autor no refere o direito moradia diretamente, at porque poca
da publicao da obra a Emenda Constitucional n 26 no havia sido publicada. SARLET, Ingo Wolfgang, A
eficcia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998.
9
SARLET, Ingo Wolfgang, A eficcia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p.259
10
O Prof. Ingo, op. citada acima, utiliza a expresso normas de cunho programtico, alertando quetambm
estas normas so dotadas de eficcia e no podem ser consideradas meras proclamaes de cunho ideolgico ou
poltico, p. 265.
Artigos e Estudos / 123
que entendemos ser pertinente, qual seja, a propriedade pblica exercendo sua
funo social, em decorrncia da prpria Constituio Federal.
Ainda na Constituio Federal, no captulo da poltica urbana, o art.
183, est assim gizado:
11
art. 182, caput A poltica de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Pblico municipal, conforme
diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funes sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (grifei)
12
Art. 182, 2. A propriedade urbana cumpre sua funo social quando atende s exigncias fundamentais
de ordenao da cidade expressas no plano diretor.
124 / Revista da PGM
13
CARVALHO SANTOS, J. M. Cdigo Civil Brasileiro Interpretado. Rio de Janeiro.Livraria Freitas Bastos, 1987, 11.
edio, vol. VII, p. 426.
Artigos e Estudos / 125
tido para a poltica urbana em uma mesma ocupao, p. ex., que contgua e
no respeita marcos abstratos decorrentes dos limites fsicos das glebas, ser
possvel a regularizao somente da rea privada. O exemplo destacado no
incomum, refletindo a realidade das cidades brasileiras.
Veja-se, ainda, que a insero do art. 183 no captulo da poltica urba-
na tem uma finalidade, qual seja, a consagrao do direito moradia nas
cidades brasileiras. Tanto isto verdade que apenas adquire o direito aqueles
que residem diretamente ou mantm a sua famlia, numa clara vinculao da
finalidade do instituto com o direito moradia.
Vale aqui destacar as palavras de Eros Grau14:
14
GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econmica na Constituio de 1988 (interpretao e crtica). So Paulo :Editora
Revista dos Tribunais, 1991, 2. edio, p.181.
15
Art. 1 da Lei 10.257/01. Na execuo da poltica urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituio
Federal, ser aplicado o previsto nesta Lei.
Pargrafo nico . Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem
pblica e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurana e do
bem - estar dos cidados, bem como do equilbrio ambiental.
126 / Revista da PGM
16
No Estatuto da Cidade, a concesso para fins de moradia est prevista como instrumento da poltica urbana
(art. 4, inc. V, letra h)
17
A concesso especial para fins de moradia est prevista no art. 4, inc. IV, letra h do Estatuto da Cidade.
Originalmente constava nos artigos 15 a 20 da mesma lei, sendo que foram vetados pelo Presidente da Repblica.
Posteriormente foi publicada a Medida Provisria 2220, de 04 de setembro de 2001. Esta Medida provisria
permanece em vigor por fora da Emenda Constitucional N 32, de 11/09/2001, que em seu art. 2 assim disps:
As Medidas Provisrias editadas em data anterior da publicao desta emenda continuam em vigor at que
medida provisria ulterior as revogue explicitamente ou at deliberao definitiva do Congresso Nacional.
18
O art. 53, que criava inc. III no art. 1 da Lei da Ao Civil Pblica foi revogado pela MP n 2180-35/2001.
Na mesma MP foi inserido novamente o direito ordem urbanstica, s que constando como inc. VII do art. 1,
sem renumerao dos demais, demonstrando que o problema foi de tcnica legislativa e no de supresso do
direito a ser tutelado pela ao civil pblica.
19
At a Constituio de 1988, os planos diretores dispunham sobre a rea urbana das cidades e no sobre as
cidades como um todo. Alm disso, tradicionalmente os planos diretores eram fsico-territoriais e no de gesto
como atualmente exigvel.
Artigos e Estudos / 127
24
Lus Roberto Barroso, Op.cit., p. 28 : O Estado federal americano nasceu de um movimento centrpeto, que
aglutinou os treze Estados que se libertaram da dominao inglesa e que, pela convenincia de se unirem mais
estreitamente, superando a precariedade de uma confederao, abdicaram de sua soberania, delegando-a a um
Poder Central e se tornando simplesmente autnomos.
25
Apud Crmen Lcia Antunes Rocha, op. cit., p. 219.
26
Infelizmente Emendas Constitucionais posteriores a 1988 vm sucessivamente comprometendo a autonomia
financeira de Estados e Municpios.
Artigos e Estudos / 131
27
Para aprofundar o tema veja a obra Licitao e Contrato Administrativo, Carlos Ari Sundfeld, editora Malheiros,
1994, p.28
28
O STF j se manifestou sobre o tema na ADIn 927-3, movida pelo Estado do Rio Grande do Sul, decidindo,
liminarmente, pela suspenso da aplicao a Estados, Distrito Federal e Municpios da expresso permitida
exclusivamente para outro rgo ou entidade da Administrao Pblica de qualquer esfera de governo.
Artigos e Estudos / 133
29
Art. 133 -
I - reconhecida idoneidade moral;
II - idade superior a vinte e um anos;
III - residir no Municpio.
30
Para exemplificar, a Constituio Federal estabelece ser competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municpios a proteo do meio ambiente, o combate poluio em qualquer de suas formas e a
preservao das florestas, da fauna e da flora. a denominada competncia administrativa do art. 23 da Carta
Magna. Decorrente desta competncia e da inexistncia de regra constitucional prevendo convnios para execuo
de leis de outros entes federativos, como era sob a gide da Constituio anterior, os Municpios, na ausncia da
fiscalizao dos outros entes, podem aplicar a legislao federal ou estadual, para preservao do meio ambiente.Esta
regra pode ser de importante aplicao, especialmente aps o advento da lei dos Crimes Ambientais, a qual
compilou na parte das Infraes Administrativas a gama de condutas vedadas, inclusive no meio urbano, sob
pena da aplicao das respectivas sanes.
134 / Revista da PGM
31
1 art. 24
Artigos e Estudos / 135
32
No estamos defendendo o direito desapropriao da concesso para fins de moradia. Estamos tratando de
indenizao em funo de um direito subjetivo reconhecido pelo Estado.
33
Historicamente Unio, Estados e Municpios no tm controle de seus bens. Os cadastros so falhos, os registro
so omissos e houve na Histria recente do Pas uma poltica clientelista de ocupao dos bens pblicos.
136 / Revista da PGM
34
Lei das Licitaes e Contratos
35
A petio inicial da Adin est disponvel na pgina do Supremo Tribunal Federal, acessando a Adin 927-3.
36
O pedido era mais amplo e est assim resumido: Expresses dos Estados ... e dos Municpios do caput do
artigo 1; Estados ... e Municpios do pargrafo nico do artigo 1 e Os Estados ... os Municpios do artigo
118 da Lei n 8.666, de 21 de junho de 1993. E, ainda, mediante interpretao, do significado que, por fora das
expresses acima, d por extensivas aos Estados e Municpios as regras do artigo 17, inciso I , alneas b e c,
inciso II, alneas a e b e pargrafo 1. Art. 1 Essa Lei estabelece normas gerais sobre licitaes e contratos
administrativos pertinentes obra, servios, inclusive de publicidade, compras, alienaes e locaes no mbito
dos Poderes da Unio, DOS ESTADOS, do Distrito Federal E DOS MUNICPIOS . Pargrafo nico. Subordinam-se ao
regime desta Lei, alm dos rgos da administrao direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundaes
pblicas, as empresas pblicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou
indiretamente pela Unio, ESTADOS, Distrito Federal E MUNICPIOS . Art. 118 OS ESTADOS, o Distrito Federal, OS
MUNICPIOS e as entidades da administrao direta devero adaptar suas normas sobre licitaes e contratos ao
disposto nesta Lei. Art. 017 A alienao de bens da Administrao Pblica, subordinada existncia de
interesse pblico devidamente justificado ser precedida de avaliao e obedecer s seguintes normas: I -
quando imveis depender de avaliao prvia e de licitao na modalidade de concorrncia , dispensada esta nos
seguintes casos: (... ) b) doao , permitida exclusivamente para outro rgo ou entidade de Administrao
Pblica; c) permuta, por outro imvel que atenda aos requisitos constantes do inciso 00X do art. 024 desta Lei;
(...) 0II - (...) a) - doao permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, aps avaliao de sua
oportunidade e convenincia scioeconmica, relativamente escolha de outra forma de alienao; b) permuta
, permitida exclusivamente entre rgos ou entidades da Administrao Pblica . 1 - Os imveis doados com
base na alnea b do inciso 00I desse artigo, cessadas as razes que justificaram a sua doao, revertero ao
patrimnio da pessoa jurdica doadora, vedada sua alienao pelo beneficirio . (Lei de Licitaes)
Artigos e Estudos / 137
tncia de autonomia dos entes federativos para dispor de seus bens. Aduziu
que, embora a existncia da competncia da Unio para legislar sobre licitao
e contratao para a administrao pblica, tal competncia se restringe
edio de normas gerais na qual no se inclui o detalhamento exaustivo dos
contratos e a vedao das entidades locais de dispor de modo geral sobre seus
bens. Elencou como fundamento a existncia de dispositivo na Constituio
do Rio Grande do Sul, devidamente regulamentado, e em processo de implan-
tao, que prev um amplo plano social de assentamento urbano, transferindo
as reas urbanas pertencentes ao Estado aos moradores de baixa renda que as
tenham ocupado, sem oposio judicial, por prazo superior a cinco anos. Re-
quereu fosse deferida, mediante interpretao conforme a Constituio, a
inconstitucionalidade do significado que d os dispositivos apontados como
extensivos aos estados-membros e aos Municpios.
O Supremo Tribunal Federal acolheu a tese da interpretao conforme a
Constituio e deferiu em parte a medida cautelar pleiteada, em deciso assim
ementada:
povo (em sua maioria) e de uso especial para destinar a concesso especial
para fins de moradia? No seria uma apropriao privada de um espao pbli-
co...? Este nos parece ser o debate que a sociedade precisa fazer. Definitiva-
mente em nossa concepo, a concesso especial para fins de moradia previs-
ta no captulo da poltica urbana da Constituio Federal e regulamentada no
Estatuto da Cidade, no se trata de mera apropriao privada de espao pbli-
co. O direito de morar tem finalidade pblica, e a irregularidade urbana est
sendo tratada como poltica pblica porque atingiu ndices to alarmantes que
no mais um problema de carncia individual, mas uma anomalia social que
merece ser enfrentada pela sociedade. Assim sendo, a concesso para fins de
moradia tem finalidade pblica e como tal precisa ser tratada. No estamos
aqui defendendo a possibilidade de desafetao incondicional dos bens de uso
comum do povo e de uso especial para qualquer fim, mas sim para aqueles que
tenham finalidade pblica, da a importncia de analisar a motivao da
desafetao pretendida como requisito para sua concretizao.
Nos Tribunais, a matria tambm vem sendo debatida. O Superior Tribu-
nal de Justia j enfrentou o tema algumas vezes, exarando decises em ambos
o sentidos. Relacionamos algumas decises que corroboram o entendimento
acima expressado, a saber:
RESP 33493/SP
1993/0008153-5
Administrativo. Desafetao de bens pblicos.
Art. 17 da Lei 6.766/79.
-O comando contido no art. 17 da lei 6766/79
dirige-se ao loteador, proibindo-o de alterar a
destinao dos espaos livres de uso comum.
-A edilidade poder faz-lo, desde que por
regular autorizao legal.
-Recursos conhecidos e providos
STJ, 1 Turma, Relator Min. Cesar Asfor
Rocha, deciso de 22/11/93
RESP 28058/SP
1992/0025543-4
Administrativo. Ao Civil Pblica.
Loteamento Urbano. Desafetao dos espaos
Pblicos. Alegao de ofensa ao art. 17 da lei 7347/
142 / Revista da PGM
TJRS
Apelao Cvel n 597157072
Rel. Joo Armando Bezerra Campos
Ao popular. Habilitao de interessados
como assistentes simples. Desafetao de imvel.
Ordenamento e urbanizao de espao urbano em que
se formou h mais de trinta anos uma vila onde
residem duas mil pessoas. Ato sem qualquer eiva de
ilegalidade ou ilegitimidade. Apelos providos.
2 Cmara Cvel do TJRS, Rel. Des. Joo
Armando Bezerra Campos, julgado em 28/04/99
38
Instituto previsto na Lei Orgnica do Municpio de Porto Alegre, regulamentado pela Lei Municipal n 242, que
prev o direito concesso real de uso para os ocupantes de imveis de propriedade do Municpio, no -
proprietrios de outro imvel, que estivessem residindo no imvel at 31 de janeiro de 1989.
144 / Revista da PGM
40
Dicionrio Brasileiro de Cincias Ambientais. Thex Editora, 1999. Pedro Paulo de Lima e Silva, Antonio Guerra,
Patrcia Mousinho, Ceclia Bueno, Flvio de Almeida, Telma Malheiros e lvaro Bezerra de Souza Jr.
146 / Revista da PGM
41
DELLA GIUSTINA, Vasco. Leis Municipais e seu Controle constitucional pelo Tribunal de Justia. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2001, p.189
148 / Revista da PGM
CONCLUSES
42
Para aprofundar o tema ver : VELOSO, Zeno. Controle Jurisdicional da Constitucionalidade, Belo Horizonte,
2000; MENDES, Gilmar Ferreira. Controle da Constitucionalidade. Aspectos Jurdicos e Polticos. So Paulo: Saraiva,
1990 e O Poder Executivo e o Poder Legislativo no Controle da Constitucionalidade, in Revista Trimestral de Direito
Pblico 19, So Paulo: Malheiros, 1993.
Artigos e Estudos / 149
1
Trabalho Premiado como Tese no XXVIII Encontro Nacional de Procuradores Municipais, ralizado em Natal/RN.
Texto publicado na Revista Interesse Pblico, Ano 4, n. 15, julho/setembro de 2002, Porto Alegre: Notadez,
2002, p. 143/157.
2
Procuradora do Municpio de Porto Alegre. Equipe de Patrimnio e Domnio Pblico. Mestre em Direito Pblico
Instituies do Estado, pela Pontifcia Universidade Catlica do RS. Membro do Instituto dos Advogados do Rs.
152 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 153
Introduo
3
Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 1988:
Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios:
I zelar pela guarda da Constituio, das leis e das instituies democrticas e conservar o patrimnio pblico;
4
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio. Elementos de Direito Administrativo. So Paulo, Revista dos Tribunais,
2000. p. 753/755.
5
Cdigo Civil Brasileiro:
Art. 67 Os bens de que trata o artigo antecedente s perdero a inalienabilidade, que lhes peculiar, nos casos
e forma que a lei prescrever.
6
Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 1988:
Art. 37. A administrao pblica direta, indireta, fundacional, de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficincia e, tambm, ao seguinte:
(...)(redao dada pela Emenda Constitucional n 19, de 04.06.1998)
154 / Revista da PGM
10
VILA, Humberto Bergmann. op. cit., p. 126/127.
11
FREITAS, Juarez. Estudos de Direito Administrativo 2. ed., Rev. e atual., So Paulo, Malheiros, 1997, p. 66.
12
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Princpios constitucionais do processo administrativo disciplinar. So Paulo,
Max Limonad, 1998; p. 161.
156 / Revista da PGM
13
MARTN, Manuel Guedea. in VERA, Jos Bermejo e Outros. Derecho Administrativo - Parte Especial. 4. ed.,
Civitas, Madrid, 1999; p. 347: En nuestro ordenamiento jurdico cabe distinguir entre la utilizacin de los
bienes demanialies por las Administraciones pblicas titulares de los mismos o por particulares. El uso de los
bienes demaniales por la Administracin puede revestir dos formas: utilizacin admnistrativa y reserva demanial.
La utilizacin por los particulares de los bienes demaniales admite, tambin, dos formas como son los usos
comunes y los usos privativos.
14
SUNDFELD, Carlos Ari, e CMARA, Jacintho de Arruda. Concesso de direito real de uso de utilidade pblica
Possibilidade de o poder pblico conferir a particular a gesto exclusiva de seus bens para fins de utilidade
pblica. Hiptese em que a outorga independer de licitao, por ser esta inexigvel., Boletim de licitaes e
contratos. vol. 10, n. 12, p. 593 a 602, dez. 1997, p.594.
15
Ibid, p. 596.
16
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 9. ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris,
2002; p. 902.
Artigos e Estudos / 157
17
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26. ed., atualizada, So Paulo, Malheiros, 2001, p.
485/490.
18
Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988:
Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre:...
XXVII normas gerais de licitao e contratao, em todas as modalidades, para as administraes pblicas
diretas, autrquicas e fundacionais da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas pblicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173,
1, III;
158 / Revista da PGM
19
Constituio da Repblica Federativa do Brasil ,de 1988:
Art. 37: ...
XXI - ressalvados os casos especificados na legislao, as obras, servios, compras e alienaes sero contratados
mediante processo de licitao pblica que assegure igualdade de condies a todos os concorrentes, com
clusulas que estabeleam obrigaes de pagamento, mantidas as condies efetivas da proposta, nos termos da
lei, o qual somente permitir as exigncias de qualificao tcnica e econmica indispensveis garantia do
cumprimento das obrigaes.
20
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 495.
Compra e venda: o contrato civil ou comercial pelo qual uma das partes (vendedor) transfere a propriedade de
um bem a outra (comprador), mediante preo certo em dinheiro (CC, art. 1.122, e C. Comercial, art. 191).
21
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 496.
Dao em pagamento: a entrega de um bem que no seja dinheiro para solver dvida anterior.
22
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 496.
Doao: o contrato pelo qual uma pessoa (doador), por liberalidade, transfere um bem do seu patrimnio para
o de outra (donatrio), que o aceita (CC, art. 1165).
23
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 497.
Permuta: o contrato pelo qual as partes transferem e recebem um bem, uma da outra, bens, esses, que se
substituem reciprocamente no patrimnio dos permutantes.
24
COSTA, Nelson Nery. Curso de direito municipal brasileiro. Rio de Janeiro, Forense, 1999, p.195: incorporao
ocorre quando o Municpio constitui empresa paraestatal, participando com seu patrimnio, que fica incorporado
nova pessoa jurdica, podendo ser de dinheiro ou de bens mveis ou imveis. Deve haver prvia avaliao e
autorizao legal. Observe-se que este conceito no se aplica apenas quando o ente federativo em questo o
Municpio. Mesmo entendimento professa Jos dos Santos Carvalho Filho. op. cit., p. 911.
25
Igual entendimento tem Hely Lopes Meirelles. Op. cit., p. 482.
26
Lei n 8.666/93, com as alneas e e f do inc. I do art. 17 com redao introduzida pela Lei n 8.883, de
08.06.94:
Art. 17 - ...
I - ...
f) alienao, concesso de direito real de uso, locao ou permisso de uso de bens imveis construdos e
destinados ou efetivamente utilizados no mbito de programas habitacionais de interesse social, por rgos ou
entidades da Administrao Pblica especificamente criados para esse fim.
Artigos e Estudos / 159
naes. V-se isto na alnea f do inciso I26 do citado artigo pois a locao, a
permisso de uso e a concesso de direito real de uso no podem ser conside-
radas alienaes, mas apenas a transferncia da posse direta do bem. Assim,
percebe-se que a Lei de Licitaes trata, ainda, das relaes entre administra-
do e administrador no uso do bem pblico.
O art. 17 diz quais so os requisitos e formas para realizar a alienao e
o uso do bem pblico, conforme a categoria de mveis e imveis. O caput de
tal artigo27 determina que deve existir avaliao prvia e interesse pblico, e
estes requisitos valem para os dois tipos de bens.
O regime de utilizao do bem pblico permite que o titular transfira a
outro rgo ou entidade da Administrao Pblica a posse direta do bem (al.
f do inc. I do art. 17 da Lei n 8.666/93). Est dispensada a licitao se o
uso do bem for para implantao de programas habitacionais de interesse so-
cial, seguindo a poltica de desenvolvimento urbano traada pela Constituio
Federal de 1988, a qual d prioridade para o respeito ao cumprimento da fun-
o social do imvel urbano e deixa claro que este bem deve ser utilizado,
precipuamente, para fins de moradia.
A Constituio Federal, ao estabelecer no art. 18328 as novas condies
para a aquisio do domnio pelo uso do bem imvel (lapso de tempo, rea do
imvel, forma de uso e exigncia de no ser proprietrio de outro bem), tam-
bm ratificou o entendimento que os bens pblicos no so usucapveis29,e
que o direito de uso poder ser respeitado por meio da concesso de uso ou
concesso de direito real de uso (art. 183, 1o).
O festejado Estatuto da Cidade30 pretendia abordar, nos arts. 15 a 20, a
concesso de direito real de uso especial para fins de moradia, artigos vetados
27
Lei n 8.666, de 21.06.1993:
Art. 17. A alienao de bens da Administrao Pblica, subordinada existncia de interesse pblico devidamente
justificado, ser precedida de avaliao e obedecer s seguintes normas: ...(grifamos)
28
Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 1988:
Art. 183. Aquele que possuir como sua rea urbana de at duzentos e cinqenta metros quadrados, por cinco
anos, ininterruptamente e sem oposio, utilizando-a para sua moradia ou de sua famlia, adquirir-lhe- o
domnio, desde que no seja proprietrio de outro imvel urbano ou rural.
1o - O ttulo de domnio e a concesso de uso sero conferidos ao homem ou mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil.
2o - Esse direito no ser reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
29
Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 1988:
Art. 183....
3o - Os imveis pblicos no sero adquiridos por usucapio.
30
Lei n 10.257, de 10.07.2001.
160 / Revista da PGM
31
CARVALHO PINTO, Jos dos Santos. Op. cit., p. 897.
32
Lei n 8.666, de 21.06.93:
Art. 17. ...
2 A Administrao poder conceder direito real de uso de bens imveis, dispensada licitao, quando o uso
se destina a outro rgo ou entidade da Administrao Pblica.
Artigos e Estudos / 161
33
Medida Provisria n 2.220, de 04.09.2001:
Art. 1 - Aquele que, at 30 de junho de 2001, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposio, at duzentos e cinqenta metros quadrados de imvel pblico situado em rea urbana, utilizando-o
para sua moradia ou de sua famlia, tem o direito concesso de uso especial para fins de moradia em relao ao
bem objeto da posse, desde que no seja proprietrio ou concessionrio, a qualquer ttulo, de outro imvel
urbano ou rural.
1 - A concesso de uso especial para fins de moradia ser conferida de forma gratuita ao homem ou mulher,
ou a ambos, independentemente do estado civil.
2 - O direito de que trata este artigo no ser reconhecido ao mesmo concessionrio mais de uma vez.
3 - Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legtimo continua, de pleno direito, na posse de seu antecessor,
desde que j resida no imvel por ocasio da abertura da sucesso.
34
Sundfeld, Carlos Ari, e Cmara, Jacintho de Arruda, Op. cit., p. 600.
35
COSTA, Jos Rubens. Doao de bens municipais populao carente e a lei de licitaes, Boletim de Direito
Municipal, vol. 12, n. 6, p. 321 a 323, jun. 1996; p. 322.
162 / Revista da PGM
36
Superior Tribunal de Justia. RESP 59448/SP. Relator Min. Garcia Vieira. Primeira Turma. Mesmo sentido: RESP
717-SC, RESP 55276/ES, RESP 55565/ES, RESP 55275/ES.
37
MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 6. ed., So Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2002; p.
303.
38
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antnio, op. cit., p. 765.
Artigos e Estudos / 163
39
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos, op. cit., p. 891.
40
Neste sentido CARVALHO FILHO, Jos dos Santos, op. cit., p. 893/894.
41
Processo n 8854-02.00/99-2 Interessado: Executivo Municipal de N.H. Assunto: Consulta Sesso
Plenria de 22.03.2000. REVISTA INTERESSE PBLICO Ano 3, especial sobre licitao, dezembro de 2001,
Sapucaia do Sul, Notadez, 2001.
42
GASPARINI, Digenes. Direito Administrativo, 5. ed., rev. e ampl., So Paulo, Saraiva, 2000; p. 690.
164 / Revista da PGM
43
MEDAUAR, Odete, op. cit., p. 307.
44
Igual entendimento tem CARVALHO FILHO, Jos dos Santos, op. cit., p. 901/902, sendo que acrescenta a
possibilidade de cesso entidade privada que desempenhe atividade no - lucrativa que beneficie a coletividade.
E Digenes Gasparini, op. cit., p. 691.
45
CARVALHO FILHO, Jos dos Santos, op. cit., p. 896.
46
GASPARINI, Digenes, Op. cit., p. 690.
47
Decreto-lei n 271, de 28 de fevereiro de 1967:
Art. 7 - instituda a concesso de uso de terrenos pblicos ou particulares, remunerada ou gratuita, por
tempo certo ou indeterminado, como direito real resolvel, para fins especficos de urbanizao, industrializao,
edificao, cultivo da terra, ou outra utilizao de interesse social.
1 A concesso de uso poder ser contratada por instrumento pblico ou particular, ou por simples termo
administrativo, e ser inscrita e cancelada em livro especial.
2 Desde a inscrio da concesso de uso, o concessionrio fruir plenamente do terreno para os fins estabelecidos
no contrato e responder por todos os encargos civis administrativos e tributrios que venham a incidir sobre o
imvel e suas rendas.
3 Resolve-se a concesso antes de seu termo, desde que o concessionrio d ao imvel destinao diversa da
estabelecida no Contrato ou Termo, ou descumpra clusula resolutria do ajuste, perdendo, neste caso, as
benfeitorias de qualquer natureza.
4 A concesso de uso, salvo disposio contratual, transfere-se por ato inter vivos ou por sucesso legtima
ou testamentria, como os demais direitos reais sobre as coisas alheias, registrando-se a transferncia.
48
GASPARINI, Digenes, op. cit., 692; CARVALHO FILHO, Jos dos Santos, op. cit., p. 896/897.
Artigos e Estudos / 165
49
CARVALHO PINTO, Jos dos Santos. Op. cit., p. 897.
50
MEIRELLES, Hely Lopes. Op. cit., p. 491.
166 / Revista da PGM
51
Superior Tribunal de Justia. RESP 717/ SC. Data de julgamento: 11/12/1997. Segunda Turma. Min. Relator
Adhemar Maciel.
52
Superior Tribunal de Justia. RESP 55565-5/ES. Data do julgamento: 01/06/1995, Primeira Turma.
Artigos e Estudos / 167
53
CRETELLA JR., Jos, Comentrios s leis de desapropriao, p. 22
54
Lei Complementar n 101, de 04.05.2000:
Art. 44. vedada a aplicao da receita de capital derivada da alienao de bens e direitos que integram o
patrimnio pblico para o financiamento de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos regimes de previdncia
social, geral e prprio dos servidores pblicos.
168 / Revista da PGM
Permisso de uso
Autorizao de uso
Concesso de direito real de uso
3. Concluso
55
Decreto-lei n 271, de 28 de fevereiro de 1967:
Art. 7 - instituda a concesso de uso de terrenos pblicos ou particulares, remunerada ou gratuita, por
tempo certo ou indeterminado, como direito real resolvel, para fins especficos de urbanizao, industrializao,
edificao, cultivo da terra, ou outra utilizao de interesse social.
1 A concesso de uso poder ser contratada por instrumento pblico ou particular, ou por simples termo
administrativo, e ser inscrita e cancelada em livro especial.
2 Desde a inscrio da concesso de uso, o concessionrio fruir plenamente do terreno para os fins estabelecidos
no contrato e responder por todos os encargos civis administrativos e tributrios que venham a incidir sobre o
imvel e suas rendas.
3 Resolve-se a concesso antes de seu termo, desde que o concessionrio d ao imvel destinao diversa da
estabelecida no Contrato ou Termo, ou descumpra clusula resolutria do ajuste, perdendo, neste caso, as
benfeitorias de qualquer natureza.
4 A concesso de uso, salvo disposio contratual, transfere-se por ato inter vivos ou por sucesso legtima
ou testamentria, como os demais direitos reais sobre as coisas alheias, registrando-se a transferncia.
56
GASPARINI, Digenes, op. cit., p. 692; CARVALHO FILHO, Jos dos Santos, op. cit., p. 896/897.
Artigos e Estudos / 169
1
Trabalho apresentado no Curso de Desarrollo Profesional sobre Impuestos a la Propiedad Inmobiliaria en
Amrica Latina, desenvolvido pelo Lincoln Institute of Land Policy, na cidade de Cambridge Massachusetts
- EUA.
2
Procurador do Municpio de Porto Alegre. Coordenao Jurdica de Assuntos Legislativos.
172 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 173
3
A taxinomia utilizada para distinguir os impostos em diretos e indiretos , no entender de um amplo leque de
tericos do Direito Tributrio, desprovida de qualquer contedo jurdico. Convm esclarecer que a estamos
utilizando neste caso, to-somente, para evidenciar que, nos chamados impostos sobre o consumo, o repasse da
carga impositiva tributria um fato econmico real.
4
Informe do FORUM BRASIL CIDADO, Justia Fiscal e Social para Reconstruir o Brasil, 2002, p.08.
Artigos e Estudos / 175
5
Art. 156. Compete aos Municpios instituir impostos sobre:
(...)
I propriedade predial e territorial urbana;
(...)
1 - Sem prejuzo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, 4, II, o imposto previsto no inciso
I poder:
I ser progressivo em razo do valor do imvel; e
II ter alquotas diferentes de acordo com a localizao e o uso do imvel. (Pargrafo dado pela EC 29, de
13.09.2000)
176 / Revista da PGM
6
MACHADO, Hugo de Brito. Progressividade e seletividade no IPTU. In IPTU, Aspectos Jurdicos Relevantes.
Coord. Marcelo Magalhes Peixoto So Paulo: Quartier Latin, 2002. p. 259-62.
178 / Revista da PGM
mente, e no o fez.7
Ressalte-se que a progressividade fiscal no IPTU no tem somente como
finalidade a realizao do princpio da capacidade contributiva, mas , em
ltima instncia, a concretizao de um ideal de igualdade material e de justi-
a fiscal. Para o doutor Everardo Maciel, citado pelo Prof. Hugo Machado em
seu artigo, a igualdade que realiza a justia a igualdade horizontal. A nosso
ver, entretanto, a mxima aristotlica que citamos no prefcio deste trabalho
e que foi eternizada pelo insigne Rui Barbosa diz diferente: a verdadeira igual-
dade consiste em aquinhoar desigualmente aos desiguais na medida em que se
desigualam8 :
7
A respeito do assunto, so louvveis as palavras de Sacha Calmon Navarro Coelho, em seu Manual de Direito
Tributrio, 2. ed., RJ: Forense, 2002, p.206: notvel, no particular, como tratadistas de renome, tirantes os
leguleios, continuam a proclamar que o IPTU um imposto real, denunciando com isso: a) a m assimilao de
lio da Cincia das Finanas; e b) insuficiente acuidade de anlise jurdica, decorrente de repetio, sem esprito
crtico, de avelhantadas afirmaes. Sem embargo, estamos convencidos de que tal vezo enraza-se, a par dos
vcios acima expostos, em uma lembrana malcompreendida de certo tipo obrigacional que existia entre os
romanos. Referimo-nos obrigao ambulatria, em que a prestao era certus na e certus quando, mas o sujeito
passivo tanto podia ser conhecido como no, por isso que a coisa ambulava com o dono, e este nem sempre era
o mesmo (ambulant cum dominus). Este tipo de obrigao era comum em tributos que recaam sobre bens
imveis, terras e edificaes. Os romanos no se preocupavam com a coisa, por isso que a sua propriedade
ambulava, em sentido legal, com seu dono, e este era exatamente quem devia pagar o tributo, fosse l quem
fosse. A muitos, pareceu que a pessoa no tinha importncia, mas a coisa, irrelevante o seu dominus, da a idia
de um tributo real. Ora, dava-se extamente o contrrio. A pessoa do proprietrio era o que importava, por
isso que o tributo incidia sobre a condio jurdica ser proprietrio: o imposto era pessoal. Real era o
direito.
8
Com o surgimento e a evoluo do Estado Democrtico de Direito, passou-se a buscar as efetivas dimenses do
princpio da igualdade e, num primeiro momento, partiu-se do pressuposto da existncia de uma igualdade
material de todos os cidados, sintetizada no pensamento de Rui Barbosa. Ocorre, porm, conforme assevera
Elizabeth Carraza, em obra adiante citada, que no mundo ftico no existe a igualdade absoluta. As desigualdades
existem e decorrem da prpria natureza. Devem, porm, ser minimizadas pelo Estado, no desempenho de suas
funes, sempre que, ao lume da Carta Fundamental, sejam ilegtimas.
9
ATALIBA, Geraldo. Hiptese de incidncia tributria. 6. ed., Malheiros Ed., 2000, p. 141.
Artigos e Estudos / 181
10
ATALIBA, Geraldo. Progressividade e capacidade contributiva, Separata da Revista de Direito Tributrio,
1991, p. 49.
182 / Revista da PGM
11
Estereotipada por longos anos de vida rural, um dos efeitos da improvisao quase forada de uma espcie de
burguesia urbana no Brasil, est o que Srgio Buarque de Holanda (in Razes do Brasil 21. ed., Rio de Janeiro:
Jos Olympio, 1989, p. 55) chama de mentalidade de casa-grande, que invadiu as cidades e conquistou todas
as pessoas, sem excluso das mais humildes. Ou seja, num pas que, durante a maior parte de sua existncia, foi
terra de senhores e escravos, os centros urbanos brasileiros, desde os seus primrdios, nunca deixaram de se
ressentir fortemente da ditadura dos domnios rurais. (n. do autor)
12
DE CESARE, Claudia Monteiro. An Empirical Analysis of a Property Tax System: a Case Study from Brazil.
Artigos e Estudos / 183
13
Conforme ensina A L. Machado Neto, in Compndio de Introduo Cincia do Direito, Ed. Saraiva, So Paulo,
1969, p. 75, ao lado do justo, costuma-se afirmar que formam o plexo axiolgico-jurdico um total de sete
valores: ordem, segurana, poder, paz, cooperao, solidariedade e justia e, ao se privilegiar, demasiadamente,
um dos valores, por maior importncia que possa ter, no caso, a busca do justo, fatalmente se desatender aos
demais.
14
Conforme Machado Neto, op. cit., onde resume a teoria de Wilhelm Dilthey e aprecia a formulao, com base
nela, de Cssio, sobre o mtodo emprico-dialtico, p. 268.
15
BRUNO, Gilberto Marques. A Progressividade do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana. In
IPTU, aspectos jurdicos relevantes. Coord. Marcelo Magalhes Peixoto So Paulo: Quartier Latin, 2002, p. 215.
Artigos e Estudos / 185
16
NYGAARD, Gustavo. Presupuestos Legales y Constitucionales para la Creacin de Impuestos sobre la Propiedad
Urbana. Texto interno ao Curso de Desarrollo Profesional sobre Impuestos e a Propiedad Inmobiliaria, Lincoln
Institute of Land Policy, Cambridge USA, 2003.
Artigos e Estudos / 187
17
BARRETO, Aires Fernandino. Imposto Predial e Territorial Urbano IPTU, in Curso de Direito Tributrio, vol.
2, 2. Edio, Ed. CEJUP, Belm, 1993, p. 318.
18
Cfe. CICONELO, Ricardo Malachias. O Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbano IPTU e sua Base
de Clculo, in IPTU, Aspectos Jurdicos Relevantes. Coord. Marcelo Magalhes Peixoto So Paulo: Quartier
Latin, 2002, p. 553.
19
Art. 97 (CTN): Somente a lei pode estabelecer: (....) II a majorao de tributos, ou sua reduo,
ressalvado o disposto nos arts. 21.26,39,57 e 65; (....) IV a fixao da alquota do tributo e da sua base de
clculo, ressalvado o disposto nos arts. 21,26,39,57 e 65; (...)
20
Cfe. CICONELO, Ricardo Malachias. op. cit., p. 554.
188 / Revista da PGM
21
Antes de mais importa recordar que as Plantas Genricas de Valores consistem na fixao de critrios
genricos de apurao dos valores do metro quadrado de terreno e de construo, dos fatores de correo e dos
mtodos de avaliao. Revestem assim a natureza jurdica de presunes legais, o que redunda no caso concreto
em atribuir ao imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana uma base de clculo presumida. (...) Ora,
a planta genrica de valores no pode revestir a natureza de uma presuno legal absoluta ou uma fico legal.
Se assim fosse, ela no faria prova do valor venal do terreno ou de construo, mas substituir-se-ia prova,
dando como provado precisamente aquilo que se pretende provar. (Presunes no Direito Tributrio, in Caderno
de Pesquisas Tributrias Vol. 9 , Ed. Resenha Tributria, So Paulo, 1984, p. 93)
Artigos e Estudos / 189
22
Elizabeth Nazar Carrazza (IPTU e progressividade. Curitiba: Juru Editora, 1. ed. 3. tiragem, 2002, p. 91)
afirma, com inteira razo, que O IPTU como todo e qualquer imposto deve obedecer ao princpio da
capacidade contributiva, que vem expresso no artigo 145, 1, da Constituio Federal. Por incidir sobre o direito
de propriedade, a capacidade contributiva a que alude a Constituio Federal e que o legislador ordinrio dever
levar em conta ao criar o imposto de natureza objetiva. Refere-se a uma manifestao objetiva de riqueza do
contribuinte (ter um imvel). Este o fato-signo presuntivo de riqueza, a que se refere ALFREDO AUGUSTO
BECKER. (o grifo nosso)
23
DERZI, Misabel. Do imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana. So Paulo: Saraiva Ed., 1982,
p.63.
O GESTOR MUNICIPAL DE SADE A
PRESTAO DOS SERVIOS
DE SADE E A RESPONSABILIDADE
CIVIL PS CONSTITUIO
FEDERAL DE 19881
1
Trabalho Premiado como Tese no XXVIII Encontro Nacional de Procuradores Municipais, realizado em Natal/RN.
Texto publicado na Revista Interesse Pblico, Ano 4, n. 15, julho/setembro de 2002, Porto Alegre: Notadez,
2002.
2
Procuradora do Municpio de Porto Alegre. Equipe de Assuntos Urbansticos e Meio Ambiente.
192 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 193
Introduo
A idia de reparao
3
PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de Direito Civil. 4. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1979, Vol. III, p.
500.
194 / Revista da PGM
4
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 2. ed., So Paulo, Saraiva, 1986, vol. 7., p. 4.
5
DIAS, Jos de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 10. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1995 Vol. I, p.
Artigos e Estudos / 195
6
CAVALIEIRI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., So Paulo: Malheiros, 2000, p. 166.
196 / Revista da PGM
7
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 16. ed., So Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 1991,
p. 547-548.
8
BACELAR FILHO, Romeu Felipe. Responsabilidade Civil extracontratual das pessoas jurdicas de direito privado
prestadoras de servio pblico, in Interesse Pblico, n. 6, 2000, p. 41.
Artigos e Estudos / 197
9
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 16. ed., So Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 1991,
p. 551.
10
CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado. 2. ed., So Paulo: ed. Malheiros,1996, p. 148.
11
CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., So Paulo: Malheiros, 2000, p. 173.
198 / Revista da PGM
12
BACELAR FILHO, Romeu Felipe. Responsabilidade Civil extracontratual das pessoas jurdicas de direito privado
prestadoras de servio pblico, in Interesse Pblico, n. 6, 2000, p. 144.
13
CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., So Paulo: Malheiros, 2000, p. 174.
14
BACELAR FILHO, Romeu Felipe. Responsabilidade Civil extracontratual das pessoas jurdicas de direito privado
prestadoras de servio pblico, in Interesse Pblico, n. 6, 2000, p. 46.
Artigos e Estudos / 199
lizao de sua atividade, desde que a concesso tenha por objeto atividade
diretamente constitutiva do desempenho do servio pblico.15
15
CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado. 2. ed., So Paulo: ed. Malheiros,1996, p. 148.
16
Cdigo Civil, art. 1545: Os mdicos, cirurgies, farmacuticos, parteiras e dentistas so obrigados a satisfazer
o dano sempre que da imprudncia, negligncia ou impercia, em atos profissionais, resultar morte, inabilitao
de servir, ou ferimento.
17
CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., So Paulo: ed. Malheiros, 2000, p. 272.
18
CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil.2. ed., So Paulo: Malheiros, 2000, p. 272.
19
DIAS, Jos de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 10. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, p.253.
200 / Revista da PGM
20
DIAS, Jos de Aguiar. Da responsabilidade Civil. 10. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, vol. I, p. 255.
21
FRADERA, Vera Maria Jacob. Responsabilidade Civil dos mdicos. In Ajuris, n. 55, 1992, p. 116-139.
22
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade Civil do mdico. Revista dos Tribunais n. 718, p. 33.
23
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade Civil do mdico. Revista dos Tribunais n. 718, p. 33.
Artigos e Estudos / 201
Natureza da Obrigao
Na Idade Mdia, penas severas eram aplicadas aos mdicos que ocasionavam
eventos letais. E no raras vezes imputava-se como culpa o que era apenas
atestado de precariedade da arte de curar. Foi Montesquieu quem iniciou uma
nova corrente de idias no sentido de afastar de sobre a cabea dos mdicos a
espada de Dmocles da sano penal. Desde ento comeou a ser reconhecida
uma certa liberdade de iniciativa dos mdicos e a necessidade de tolerncia
para com os erros devidos prpria imperfeio da cincia hipocrtica. 29
O objeto do contrato mdico no a cura, obrigao de resultado, mas a
prestao de tratamento e cuidados conscienciosos e atentos s aquisies cien-
tficas, quanto atualidade e eficcia das condutas adotadas. O que se quer
dizer que no se pode aceitar como satisfatria a conduta do mdico que trata
processo infeccioso com sangria, procedimento adotado at o sculo XIX.
A obrigao de meio, formulada por Demogue30, encerra a promessa de
emprego de procedimento diligente reputado, em princpio, como capaz de
proporcionar determinado resultado. Implica dever de ateno e diligncia,
visando a um fim que, todavia, no entra necessria e imperativamente nesse
dever, podendo deixar de se verificar, no obstante desempenhados satisfato-
riamente os deveres do devedor. O resultado abstrado, embora seja elemento
orientador da conduta objeto do contrato. Os meios empregados tm o sentido
de perseguio a um resultado desejado, embora a sua realizao no seja a
obrigao principal, mas o seu exaurimento. Ou seja, ainda que empregados
todos os meios para a obteno do resultado, com toda a tcnica, diligncia e
ateno exigveis, ele pode no ocorrer sem que isto implique inadimplemento
contratual, pois a obrigao instrumental (de meio), e no de resultado.
Mesmo assim, pela condio humana, est o homem destinado a sofrer
e morrer e, por isso, o fracasso na realizao dos objetivos mdicos no impli-
ca, por si mesmo, causa de dano ao enfermo. O mdico, no exerccio de sua
profisso, luta incessantemente contra esta condio; os seus atos com rela-
o ao paciente, visam a melhorar seu estado de sade, empregando, neste
objetivo, todos os seus conhecimentos e mxima diligncia.31
29
Citado por CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., So Paulo: ed. Malheiros,
2000, p. 275.
30
Conforme DIAS, Jos Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 10. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1995, Vol. I, Forense,
p. 284.
31
FRADERA, Vera Maria Jacob. Responsabilidade Civil dos mdicos. In Ajuris, n. 55, 1992, p. 116-139.
Artigos e Estudos / 203
32
FRADERA, Vera Maria Jacob. Responsabilidade Civil dos mdicos. In Ajuris, n. 55, 1992, p. 116-139.
33
CAVALIERI FILHO, Srgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., So Paulo: ed. Malheiros, 2000, p. 273.
34
FRADERA, Vera Maria Jacob. Responsabilidade Civil dos mdicos. In Ajuris, n. 55, 1992, p. 116-139.
204 / Revista da PGM
Culpa
39
DIAS, Jos Aguiar. Da responsabilidade civil. 10. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1995, vol. I, p. 262.
40
Publicado no DJU de 24/05/2002 Ata n 16/2002
206 / Revista da PGM
que o melhor agrupar a fora maior e o caso fortuito como fatos imprevisveis,
tambm chamados de acaso, porque so idnticos seus efeitos41.
Abordando o tema da assistncia mdica e os hospitais pblicos, espe-
cificamente, Ruy Rosado questiona sobre a incidncia da responsabilidade ob-
jetiva do Estado, independentemente da regularidade do servio prestado,
quando a atividade exercida para benefcio do cidado, que recebe do servio
pblico o tratamento para sua doena.42 Para no fugir do sistema adotado
pelo texto constitucional, prope soluo atravs do exame do requisito da
causa do dano: Na hiptese em que h o resultado danoso, apesar dos esfor-
os do servio pblico para o tratamento do doente, elimina-se a responsabi-
lidade do Estado sempre que a Administrao pblica demonstrar o procedi-
mento regular dos seus servios, atribuda a causa do resultado danoso a fato
da natureza.43
A soluo amparada na doutrina de Yussef Said Cahali, para quem a
excluso da responsabilidade da Administrao decorre da no-identificao de
nenhum nexo de causalidade entre o evento danoso e a atividade ou omisso do
Poder Pblico44, conciliadora, buscando seus prprios argumentos dentro da
estrutura da teoria da responsabilidade objetiva. E, por este caminho, tambm
se chega na excluso da responsabilidade civil do Estado pela assistncia m-
dica prestada a contento, ainda que o resultado da prestao do servio no
alcance a cura. Mas, estando no mbito da responsabilidade civil objetiva, o
nus da prova da regularidade da prestao do servio pblico da instituio
pblica, enquanto se trata de excludente de direito subjetivo.45
41
BACELAR FILHO, Romeu Felipe. Responsabilidade civil extracontratual das pessoas jurdicas de direito privado
prestadoras de servio pblico, in Interesse Pblico, n. 6, 2000, p. 39.
42
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do mdico. Revista dos Tibunais n. 718, p. 45: Pode ser
indenizado o dano produzido pela morte de um paciente internado em hospital pblico, para o qual a cincia
recomendava a realizao de cirurgia, efetuada com todos os cuidados e de acordo com as prescries mdicas,
mas que mesmo assim se revelou inexitosa causando a morte? Melhor incluir tal hiptese no mbito restrito da
responsabilidade pela culpa do servio, pois no parece razovel impor ao Estado o dever de indenizar dano
produzido por servio pblico cuja ao, sem nenhuma falha, tenha sido praticada para beneficiar diretamente o
usurio.
43
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade Civil do mdico. Revista dos Tibunais n. 718, p. 45.
44
CAHALI, Yussef Said. Responsabilidade Civil do Estado. 2. ed., So Paulo: Ed. Malheiros, 1996, p. 55.
45
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do mdico. Revista dos Tribunais n. 718, p.46: A melhor
soluo est no meio: no se atribui ao Estado a responsabilidade pelo dano sofrido por paciente que recorre aos
servios pblicos de sade, ainda quando provada a regularidade no atendimento dispensado, nem se exige da
vtima a prova da culpa do servio: em princpio, o Estado responde pelos danos sofridos em conseqncia do
funcionamento anormal de seus servios de sade, exonerando-se dessa responsabilidade mediante a prova de
regularidade do atendimento mdico-hospitalar prestado, decorrendo o resultado de fato inevitvel da natureza.
Artigos e Estudos / 207
46
STOCO, Ruy. Responsabilidade Civil dos profissionais liberais e prestadores de servios. Tribuna da Magistratura,
n. 96, p. 69.
47
STOCO, Ruy. Responsabilidade Civil dos profissionais liberais e prestadores de servios. Tribuna da Magistratura,
n. 96, p. 72: Da porque a antinomia acima verberada est justamente em que a responsabilidade objetiva alonga
o espectro do dever de indenizar, transcendendo os limites e as barreiras estabelecidas pelas partes na avena
contratual.
48
STOCO, Ruy. Responsabilidade Civil dos profissionais liberais e prestadores de servios. Tribuna da Magistratura,
n. 96, p. 71.
49
Cdigo Civil, Art. 1521, inciso III: Art. So tambm responsveis pela reparao civil: (...) III o patro, amo
ou comitente, por seus empregados, serviais e prepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou por
ocasio dele (art. 1522).
50
STOCO, Ruy. Responsabilidade Civil dos profissionais liberais e prestadores de servios. Tribuna da Magistratura,
n. 96, p. 71.
208 / Revista da PGM
51
STOCO, Ruy. Responsabilidade Civil dos profissionais liberais e prestadores de servios. Tribuna da Magistratura,
n. 96, p. 71.
52
STOCO, Ruy. Responsabilidade Civil dos profissionais liberais e prestadores de servios. Tribuna da Magistratura,
n. 96, p. 65.
53
Constituio Federal, Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa
dos Poderes Pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e
assistncia social.
54
Constituio Federal, Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municpios, e das seguintes contribuies sociais: I - dos empregadores, incidente sobre
a folha de salrio, o faturamento e o lucro; II - dos trabalhadores; III - sobre a receita de concursos de
prognsticos. 1 - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios destinados seguridade
social constaro dos respectivos oramentos, no integrando o oramento da Unio. 2 - A proposta de
oramento da seguridade social ser elaborada de forma integradas pelos rgos responsveis pela sade, previdncia
social e assistncia social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes oramentrias,
assegurada a cada rea a gesto de seus recursos.
Artigos e Estudos / 209
55
SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 14. ed., SP, 1997, Ed. Malheiros, p. 761.
56
Constituio Federal, Art. 198.As aes e servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralizao
com direo nica em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuzo dos servios assistenciais; III - participao da comunidade. Pargrafo nico. O sistema
nico de sade ser financiado, nos termos do art. 195, com recursos do oramento da seguridade social, da
Unio, dos Estados, dos Municpios, do Distrito Federal, alm de outras fontes.
210 / Revista da PGM
CONCLUSO
57
Lei n. 8.080, 19.09.90, Art. 16. direo nacional do Sistema nico de Sade - SUS compete: (...) XIV -
elaborar normas para regular as relaes entre o Sistema nico de Sade - SUS e os servios privados contratados
de assistncia sade.
Artigos e Estudos / 211
BIBLIOGRAFIA
1
Assessor Jurdico do Municpio de Porto Alegre. Presidente da Comisso Permanente de Inqurito/PGM. Mestrando
em Direito na UNISINOS. Especialista em Cincias Penais pela UFRGS e em Violncia Domstica contra Criana e
Adolescente pela USP/SP.
214 / Revista da PGM
Artigos e Estudos / 215
INTRODUO
2
BRASIL. Constituio da Repblica Federativa, de 05 de outubro de 1988; Organizao das Naes Unidas.
Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos da Criana, de 20 de novembro de 1989; e BRASIL. Lei Federal n
8.069, de 13 de julho de 1990.
3
OST, Franois. O tempo do direito, Traduzido por Maria Fernanda Oliveira. Lisboa: ditions Odile Jacob, 1999, p.
352: (no estado de urgncia) se torna extremamente difcil pensar o futuro no modo da promessa, o presente
que concentra toda a carga de expectativa normalmente lanada sobre o futuro, e na injuno imediata do
instante logo, na urgncia que a ao chamada a produzir-se.
4
Farroupilha/RS ter campanha contra agresso a crianas. Correio do Povo. Porto Alegre, 25 de junho de 2003:
Neste ano, a mdia mensal de atendimentos do Conselho Tutelar aos casos de maus-tratos subiu 142%.
5
Brandt DE Carvalho, Maria do Carmo (org.) et al. In Cadernos Populares. n. 09, So Paulo: CBIA e SITRA-EMFA,
1991, p. 07.
216 / Revista da PGM
6
No-cumprimento: mandado de injuno (art. 5, LXXI, CF), ao civil pblica (arts. 201, V c/c 220 e 221,
ECA). TJSP, Ap. 40.048.0/1-00, rel. Cunha Bueno), e no repasse de recursos (art. 261, pargrafo nico, ECA).
7
TARDELLI, Roberto. O que dizem as autoridades. In ECA em Revista. n.2, So Paulo: Pgina Leste, 1996, p.24.
8
ASCIUTTI, Cacilda M. Os Conselhos dos Direitos/Tutelares estariam funcionando como advogados da infncia
brasileira ou estariam contribuindo para a (re)produo da hierarquia do poder. So Paulo: IADES, 1999.
ANDRADE, Jos Eduardo de. Conselhos Tutelares: sem ou cem caminhos?. So Paulo: Veras, 2000. KAMINSKI,
Andr Karst. O Conselho Tutelar, a criana e o ato infracional: proteo ou punio?. Canoas: ULBRA, 2002.
Artigos e Estudos / 217
9
RIVERA, Deodato. A mutao civilizatria. In Brasil criana urgente: a lei. So Paulo: Columbus, 1990, p. 36-
37.
10
COSTA, Antnio Carlos Gomes da. O Estatuto da Criana e do Adolescente e o Conselho Tutelar. In A criana
e o adolescente em situao de risco em debate. DINIZ, Andra & LOBO, Ana Paula (orgs.). Rio de Janeiro:
Litteris, 1998, p. 18-19.
218 / Revista da PGM
11
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. So Paulo: Malheiros, 1990, p. 134.
12
RIO GRANDE DO SUL. Procedimentos Unificados para os Conselhos Tutelares do Rio Grande do Sul na aplicao
do Estatuto da Criana e do Adolescente. In Caderno de Resolues do 5 Encontro Estadual de Conselhos
Tutelares do RS. Porto Alegre: Comisso Estadual de Conselhos Tutelares do RS, 1999, item n. 07, p. 04. SANTA
CATARINA. Diretrizes de Ao e Atuao dos Conselhos Tutelares de Santa Catarina. In Estatuto da Criana e do
Adolescente: uma adoo irrevogvel.Blumenau: Nova Letra, 2001, item n. 06, p. 15. CONANDA. Resoluo n
75, de 22 de outubro de 2001. in Parmetros para criao e funcionamento dos Conselhos Tutelares. Braslia:
CONANDA, 2002, art. 8, p. 14.
13
VIVIANI, Eralton Joaquim. in Comentrios ao Estatuto da Criana e do Adolescente. SIQUEIRA, Liborni (org.).
Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 114.
14
MARQUES, Ademar de Oliveira. In Estatuto da Criana e do Adolescente comentrios jurdicos e sociais. CURY,
Munir (coord.) et al. So Paulo: Malheiros, 1992, p. 410. BRANDT DE CARVALHO, Maria do Carmo. A pedagogia
do Conselho Tutelar. In Cadernos de Ao. n. 02, Trabalhando Conselhos Tutelares. So Paulo: CBIA e IEE, 1992,
p. 14.
15
CARVALHO, Pedro Caetano de (coord.) et al. In Conselhos Tutelares - perguntas e respostas 1. Florianpolis:
CEDCA e ABMP, 1997, p. 23.
Artigos e Estudos / 219
16
GARRIDO DE PAULA, Paulo Afonso. Conselho Tutelar: atribuies e subsdios para o seu funcionamento. So
Paulo: CBIA, 1993, p. 9-10 e 19 a 36 (modelos com a presena ou a assinatura de trs conselheiros).
17
SDA, Edson. O ABC do Conselho Tutelar. Campinas: material impresso, 1992, p. 03.
220 / Revista da PGM
18
SDA, Edson. O ABC..., op. cit., p. 34-35.
Artigos e Estudos / 221
19
BALZAN, Newton Czar. O conceito de planejamento e sua aplicao aos sistemas educacionais e s atividades
de ensino alcance e limites no limiar do sculo XXI. In Educ. Bras. n. 18, (37). Braslia: 1996, p. 155 a 157.
20
BRANDT DE CARVALHO, Maria do Carmo. A pedagogia... op. cit, p. 18-19.
21
NETO, Wanderlino Nogueira. Papel poltico-jurdico dos Conselhos sociedade civil direo e formao. In
Indiferena derrube este muro. Porto Alegre: APMPA, 1997, p. 30.
222 / Revista da PGM
26
SDA, Edson. A proteo integral: um relato sobre o cumprimento do novo direito da criana e do adolescente
na Amrica Latina. Campinas: Ads, 1996, p. 174.
27
NETO, Wanderlino Nogueira. Estatuto... op. cit., p. 425. PORTO ALEGRE. Lei Municipal n 7.394, de 28 de
dezembro de 1993, art. 14, VIII.
28
GUARULHOS. Lei Municipal n 5.186, de 01 de outubro de 1998, art. 40.
29
GARRIDO DE PAULA. Paulo Afonso. Op. cit, p. 08.
224 / Revista da PGM
30
NETO, Wanderlino Nogueira. Papel poltico-jurdico... Op. cit., p. 26.
31
KAMINSKI, Andr Karst. Conselho Tutelar: dez anos de uma experincia na defesa dos direitos das crianas e
dos adolescentes. In Revista da Procuradoria-Geral do Municpio de Porto Alegre. n. 15, Porto Alegre: Unidade
Editorial, 2001, p. 84.
32
CHAVES, Antnio. Comentrios ao Estatuto da Criana e do Adolescente. 2. ed., So Paulo: LTr, 1997, p. 514.
CT de Navegantes-SC se esfora para manter atendimento. A Notcia. Joinville, de 02 de julho de 2003.
33
GARRIDO DE PAULA, Paulo Afonso. op. cit., p. 06.
34
OLIVEIRA, Marcos de. Vara da Infncia condena secretrio por no cumprir requisio do Conselho Tutelar de
Joinville-SC. A Notcia. Joinville, de 04 de abril de 2003.
35
CURY, Munir et al. Estatuto da Criana e do Adolescente Anotado. 3. ed., So Paulo: RT, 2002, p. 123.
36
CYRINO, Pblio Caio Bessa & LIBERATI, Wilson Donizeti. Conselhos e fundos no Estatuto da Criana e do
Adolescente. So Paulo: Malheiros, 1993, p. 121.
226 / Revista da PGM
Catarina possuem lei dispondo sobre o Conselho Tutelar, conhece-se que mui-
tos deles so conselhos de papel37.
Se um municpio possuir mais de um Conselho Tutelar, cada um deles
ser composto por cinco membros, sendo os Conselhos autnomos, uns em
relao aos outros. Com isso, podero planejar formas de ao e unir-se a
projetos diferentes, podendo at mesmo funcionar em horrios diversos, desde
que adequado realidade do municpio e a lei municipal assim autorize38. So
vistas, em alguns municpios com mais de um Conselho, leis que criam rgos
colegiados compostos por representantes de cada um deles, com o fim de
dirimir problemas comuns, definir e dirigir algumas aes conjuntas, represen-
tativas de todos39. H, ainda, aqueles municpios que, tendo mais de um Con-
selho, consideram-nos um nico Conselho, dividido em microrregies (talvez
defendendo uma autonomia nica).
O Estatuto limita o mnimo um de Conselhos por municpio, mas
no o mximo, e, enquanto seu projeto de lei previa a realizao de planto em
comarca, foro regional ou distrital com mais de 200.000 habitantes (art. 134,
2, PLS n 193/89), ele nada manifesta. Referimos antes, e aqui tambm
ocorrente, alguns municpios, mesmo diante da nova redao, seguem a previ-
so anterior, o que acaba noticiado e sustentado como uma previso atual40.
Compreendemos, porm, como outros autores, que o nmero de Conselhos deve
ser condicionado a um diagnstico do municpio e anlise dos dados de sua
realidade, o que significa considerar como indicadores, no s o tamanho da
populao, como a extenso do territrio, a densidade demogrfica, e a sua
realidade cultural, econmica e social41. Desta forma, cada municpio deve ter
o nmero de Conselhos que a sua realidade exigir.
Finalizando essas questes, lembramos, muitas vezes, interesses diver-
sos da proteo e defesa dos direitos da criana e do adolescente tm permeado
a indicao das candidaturas ao Conselho, atrelando-as a eles, o que tambm
37
MARIANO, Nilson. RS luta para montar rede de amparo criana. Zero Hora. Porto Alegre, de 15 de junho de
2003, p. 34. BEVILACQUA, Viviane. Defesa da Criana deve sair do papel. Dirio Catarinense. Florianpolis, de
25 de outubro de 2002, p. 22.
38
SOARES, Jud Jess de Bragana. Op. cit., p. 411.
39
PORTO ALEGRE, Lei Municipal n 7.394..., art. 13.
40
PORTO ALEGRE. Lei Municipal n 6.787..., art. 19. MARIANO, Nilson. O que Conselho Tutelar. Zero Hora.
Porto Alegre, 15 de junho de 2003, p. 35. ELIAS, Roberto Joo. Comentrios ao Estatuto da Criana e do
Adolescente. So Paulo: Saraiva, 1994, p. 113.
41
BRANDT DE CARVALHO, Maria do Carmo. A pedagogia... op. cit., p. 21-22.
Artigos e Estudos / 227
foi objeto de alerta logo aps a edio da lei, da motivo para se propor como
hiptese de destituio do conselheiro a atuao poltico-partidria42.
42
CARVALHO, Jeferson Moreira de. Nova redao para o art. 134 da lei 8069/90. In Caderno de Teses do 18
Congresso da Associao Brasileira de Magistrados e Promotores de Justia da Infncia e da Juventude. Gramado:
1999, tese n. 08, p. 19.
43
MARQUES, Ademar de Oliveira. Op. cit., p. 410.
44
SILVA, Paulo Cesar Pereira da. In Falhas do Estatuto da Criana e do Adolescente 395 objees. CAVALLIERI,
Alyrio (org.). Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 78 a 80.
45
BRASIL. Decreto n 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, art. 222. VIVIANI, Eralton Joaquim. Op. cit., p.
112. ALBERGARIA, Jason. Direito do Menor. Rio de Janeiro: Aide, 1995, p. 144.
228 / Revista da PGM
46
BRASIL. Lei Federal n 6.697, de 12 de outubro de 1979.
47
ROLLEMBERG, Francisco. Comisso Temporria Cdigo de Menores, 1990, p. 05-06. Demais projetos apresentados:
PLS n 255 (Sen. Nelson Carneiro) atualizao do Cdigo de Menores; e PLS n 279 (Sen. Mrio Lacerda)
modificar no que concerne ao instituto da adoo. O PLS n 193/89 acabou incorporado nos projetos PLS n
5.172/90 e PL n 1506/90, da Cmara de deputados, com mesma redao.
Artigos e Estudos / 229
48
PORTO ALEGRE. Lei Municipal n 7.394..., art. 33.
230 / Revista da PGM
49
SEDA, Edson. A proteo integral... Op. cit., p. 176-177 e 180-181.
50
Idem. Conselho Tutelar. In Estatuto da Criana e do Adolescente Sem Dvida. Santos: CMDCA, 1999, p. 55.
BRANDT DE CARVALHO, Maria do Carmo. A pedagogia... op. cit, p. 09 e 16.
51
SDA, Edson. A proteo integral... Op. cit, p. 179-180.
52
MARIANO, Nilson. op. cit., p. 35.
Artigos e Estudos / 231
Em que se nota que, mesmo diante do seu encargo de zelar pelo cumpri-
mento dos direitos declarados na lei como prioridade absoluta, e com atribui-
es de requisitar servios pblicos para o atendimento das medidas de prote-
o que aplicar, de representar judicialmente por descumprimento de suas de-
terminaes, e de encaminhar notcia de infrao ao Ministrio Pblico (art.
136, III, a e b, IV, ECA), o Conselho aceita a situao de demora na simples
obteno de um exame, repassando sua responsabilidade em garantir o direi-
to da criana (justificativa de existir) genitora, que cobrada pelo atraso em
obter um tratamento:
53
Ibidem, p.35.
54
ANDRADE, Jos Eduardo de. Op. cit., p. 80. KAMINSKI, Andr Karst. O Conselho Tutelar... op. cit., p. 173.
232 / Revista da PGM
55
COSTA, Antnio Carlos Gomes da. O p. cit., p. 20 e 22.
Artigos e Estudos / 233
56
VOGEL, Arno (elab.). Conselho Tutelar A comunidade resolvendo os problemas da comunidade. Braslia:
UNICEF e FLACSO, 1991, p. 33.
234 / Revista da PGM
57
COSTA, Antnio Carlos Gomes da. Op. cit., p. 19.
58
ANDRADE, Jos Eduardo de. Op. cit., p. 86.
59
VOGEL, Arno (elab.). Op. cit., p. 32-33.
Artigos e Estudos / 235
CONCLUSES
60
JANSSEN, Adrianus Martinus et al. In Estatuto da Criana e do Adolescente comentrios jurdicos e sociais.
CURY, Munir (coord.) et al. So Paulo: Malheiros, 1992, p. 421-422.
236 / Revista da PGM
61
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Traduo: Carlos Nelson Coutinho.Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 23
62
Ibidem, p. 24.
Artigos e Estudos / 237
63
TAVARES, Jos de Farias. Comentrios ao Estatuto da Criana e do Adolescente. Rio de Janeiro: Forense, 1992,
p. 114.
64
SOUZA, Percival de. In Falhas do Estatuto da Criana e do Adolescente 395 objees. CAVALLIERI, Alyrio
(org.). Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 75.
65
RAMOS, Maria Elisabeth de Faria. In Estatuto da Criana e do Adolescente comentrios jurdicos e sociais.
CURY, Munir (coord.) et al. So Paulo: Malheiros, 1992, p 409.
66
NETO, Wanderlino Nogueira. Estatuto... . Op.cit., p 426.
238 / Revista da PGM
67
COSTA, Antnio Carlos Gomes da. A mutao social. In Brasil criana urgente: a lei. So Paulo: Columbus,
1990, p.41.
Parecer n 1053/2002
4
O O princpio poltico da participao, que inclui as modalidades legislativas e judiciais, est diretamente
referido legitimidade das instituies democrticas, de modo que a participao nas decises administrativas
tende a aproximar o administrado de todas as discusses e decises em que seus interesses estejam diretamente
envolvidos.
5
A transparncia administrativa constitui uma mutao fundamental no direito da Administrao, cujo princpio
se impe como um dos princpios gerais do direito, ao inverso da tradio do segredo administrativo, quer seja
fundada na herana napolenica ou sobre o princpio da responsabilidade ministerial. O princpio ou dever de
transparncia comporta outras modalidades, como o direito de participar no procedimento de deciso em certos
domnios, a obrigao para a Administrao de publicar as informaes pertinentes, a obrigao de motivar os
atos administrativos individuais e o direito de acesso aos bancos de dados. Procedimento e motivao dos atos
administrativos, ento, so, j h algum tempo, os territrios onde se mede a transparncia da ao administrativa.
6
Cf. MOREIRA NETO, (nota 3), p. 18 a 22.
7
MARTINS-COSTA, Judith. O Regime das Concesses e Permisses Municipais. Anais do XXIV Encontro de Procuradores
Municipais, cujo tema foi O Municpio diante das Reformas Constitucionais. Porto Alegre: Assemblia Legislativa,
07 a 11 de setembro de 1998, Porto Alegre, 1998, p. 129.
8
inegvel que o sistema de representao, nas democracias contemporneas, vive um processo de crise de
legitimidade (absteno eleitoral, apatia e no-participao poltico-social, baixos ndices de filiao partidria),
cujas causas so, segundo Raul Pont: o processo de burocratizao e carter autoritrio das administraes e
parlamentares; a falta de controle dos eleitores e/ou do partido sobre os eleitos; (...) a falta de coerncia entre
projeto e programa eleitoral e a prtica dos eleitos; as trocas partidrias sem perda de mandato; (...) a incapacidade
de esses sistemas garantirem a reproduo do capitalismo com legitimidade frente evidncia de ser reprodutor
da desigualdade e exploraes socais. In: Democracia Representativa e Democracia Participativa. Texto da
comunicao apresentada no evento Seminrio Internacional sobre Democracia Participativa. Porto Alegre, 1999,
Informao por correio eletrnico: http://www.portoalegre.rs.gov.br, p. 5.
9
MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evoluo. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1992, p.214.
Pareceres / 245
10
Ver, sobre o tema: MORIN, Richard, LATENDRESSE, Anne. A Concertao e a parceria esclara dos bairros da
cidade de Montreal: uma contribuio para a democracia participativa?, tratando das mesas de bairro e das
corporaes de desenvolvimento econmico, da cidade de Montreal, fruto do movimento social urbano da
dcada de 80. As primeiras mobilizam seus membros em torno de questes de infra-estrutura urbana, habitao
social, plano diretor, localizao de equipamentos. As segundas, por sua vez, tm como misso a ajuda
reinsero no mercado de trabalho dos indivduos dele excludos e o apoio para as empresas de maneira a manter
e criar empregos, formando, com os setores pblicos e privados parcerias para intervir na esfera econmica.
Texto da comunicao apresentada no Seminrio Internacional sobre Democracia Participativa. Porto Alegre,
1999, Informao por correio eletrnico: http://www.portoalegre.rs.gov.br.
11
COUTO E SILVA (nota 2), p. 31. Ver, tambm, do mesmo autor, sobre o tema: Consulta formulada pelo Prefeito
Tarso Genro: Veiculao de Publicidade com Infrigncia eventual do art. 37, 1 das CF e Estatuto das Licitaes.
Possibilidade do slogan Administrao Popular. Revista da Procuradoria Geral do Municpio de Porto Alegre,
v.8, n9, agosto/1996, pp. 63/64 e Os Contratos de Gesto. Anais do XXIV Encontro Nacional de Procuradores
Municipais, pp. 37 a 48.
12
CAIO TCITO. Perspectivas do Direito Administrativo no Prximo Milnio. Revista de Direito Administrativo, n
212, abr./jun. 1998, p. 4.
13
De acordo com Judith Martins-Costa, embora a doutrina juspublicista brasileira, por muito tempo, concebesse
a permisso como ato administrativo (unilateral, precrio e discricionrio), o art. 16, inciso 18 e o art. 40 da
referida lei afirmam expressamente ser a permisso um contrato de adeso. In: Anais.... (nota 7), p. 129
246 / Revista da PGM
14
Cf. MOREIRA NETO, (nota 3), p. 30/31.
15
Cf. STASSINOPOULOS, Michel. Trait des Actes Administratifs. Atenas: Collection de LInstitut Franais dAthnes,
54, p. 19.
16
STASSINOPOULOS, (nota 15), p. 19.
17
EINSENMANN, Charles. O Direito Administrativo e o Princpio da Legalidade. Revista de Direito Administrativo,
Vol 56 , p. 54.
18
Ver MAURER, Harmut. Elementos de Direito Administrativo Alemo. Porto Alegre: Srgio Fabris Editor, 2000, p.
45. Traduo das conferncias realizadas em Porto Alegre, abril de 2000, por Lus Afonso Heck.
Pareceres / 247
dade que tem duas direes: a) formal, em que a emisso do ato se desenvolve
em conformidade com o esquema processual fixado em lei; b) material ou
substancial, em que o contedo do ato modelado pela norma. O princpio de
conformidade, ento, postula a existncia da regulamentao-modelo como
condio necessria para cada ato,19 de modo que a ausncia de regulamenta-
o impede a prtica do ato. Ento, pelo princpio da compatibilidade, a Admi-
nistrao pode fazer tudo o que no seja, de uma forma ou de outra, proibido
pela lei; o princpio da conformidade no permitir que a Administrao faa o
que no lhe for permitido, de uma forma ou de outra, por essa mesma lei.
Contrariedade o desacordo com o disposto numa norma plano da emisso
ou do contedo e, conformidade, a idia de similitude ou reproduo norma
como modelo do ato administrativo. A conformidade lgica ou racional o que
importa para a definio da legalidade. As relaes de compatibilidade ou
conformidade se suscitam quanto ao modo de produo dos atos e no s
quanto ao fundo, sendo, ento, requisitos de competncia e forma.
6. Advm da que as relaes entre a lei e o desempenho da funo
administrativa se caracterizam pela polivalncia, pois a legalidade administra-
tiva pode tanto significar precedncia da lei, preferncia da lei, compatibili-
dade ou no-contradio (Vorrang des Gesetzes), quanto ser a exigncia de que
a prtica de um ato pela Administrao corresponda sua previso em lei
vigente (princpio da reserva legal ou de conformidade Vorbehalt des Gesetzes).
A vinculao da Administrao legalidade, por conseguinte, manifesta-se
em dois vetores: a) sua competncia funda-se juridicamente, em textos legais
emanados do Parlamento, e no s nas instrues e comandos do prncipe; b)
os direitos dos particulares surgem como limite externo atividade da Admi-
nistrao e esta atividade est submetida ao controle judicial.20 Pela primazia
da lei (Vorrang des Gesetzes), ento, a Administrao est vinculada s leis
existentes; pela reserva de lei (Vorbehalt des Gesetzes), a atuao da Adminis-
trao deve ter um fundamento e uma autorizao legal.21 Por todas estas
razes, a Administrao pode fazer tudo o que no seja, de uma forma ou de
19
EINSENMANN, (nota 17), p. 56.
20
Cf. MAURER, (nota 18), p. 47 e SRVULO CORREIA, Jos Manuel. Legalidade e Autonomia Contratual nos
Contratos Administrativos. Coimbra: Almedina, 1987, p. 18
21
Cf. MAURER, (nota 18), p. 45.
248 / Revista da PGM
22
O comit executivo, alm dos partcipes do convnio, ainda conta com representantes da FIERGS e FEDERASUL.
Na fase de implantao, a Mottorola optou por no participar do comit.
23
Nos termos da Lei, o CA o rgo soberano da OS, isto , que define as polticas de atuao, tendo, inclusive,
competncia para alterar o Estatuto.
250 / Revista da PGM
cial e pleitear esta qualificao, na forma da lei, para que possa gerir recursos
pblicos e para que possa contratar servios com pessoas pblicas sem licita-
o, nos termos do art. 24, inciso XXIV da Lei n 8.666/93.
uso especial, nos termos do art. 15, inciso I, da Lei Orgnica. Nesta hiptese,
justifica-se o atendimento de relevante interesse social, que o desenvolvi-
mento tcnolgico e econmico e a inexigibilidade de licitao, sob modalida-
de de concorrncia, nos termos do caput do art. 25 da Lei n 8.666/93
inviabilidade de competio. Com efeito, de acordo com o Decreto Municipal
n 13.557, o terreno foi declarado de utilidade pblica para a especfica fina-
lidade de ser destinado ao Projeto CEITEC, isto , o concessionrio j est
determinado por ato do Poder Executivo, no havendo razo para se estabele-
cer uma competio neste particular. A concesso, ento, dever ser feita
mediante contrato, cuja minuta dever ser includa no processo administrati-
vo. O atendimento da condio prevista no pargrafo nico (ampla discusso
com a comunidade local) subsume-se, a meu ver, na concretizao e efetivao
da parceria com setores da sociedade civil organizada: universidades, FIERGS,
FEDERASUl, CUT/RS, etc. Deve ser considerado, ainda, que a implantao do
CEITEC, de certa forma, j foi discutida com a comunidade local, por ocasio da
elaborao do oramento anual e do plano de investimentos. O encaminha-
mento desta modalidade de utilizao do imvel mais gil, na medida em que
a Procuradoria Geral do Municpio, atravs de seu Procurador-Geral, o rgo
competente para faz-la.
14. Quanto participao de agentes polticos e funcionrios do Muni-
cpio na instituio do CEITEC e no Conselho de Administrao, a solicitao
tem que ser analisada em seus dois aspectos:
a) Para a constituio da entidade, que uma associao civil sem
carter lucrativo, regida pelo direito privado, necessrio que os agentes po-
lticos (Prefeito e Secretrios Municipais) participem como pessoas fsicas fun-
dadoras, porque teria que existir lei especfica autorizando o Municpio a cons-
tituir a entidade (lei que ainda no existe). Assim, como o CEITEC est institu-
do como um programa do Municpio, ou um projeto conjunto entre vrias
instncias governamentais; havendo, inclusive, destinao especfica de re-
cursos oramentrios e sendo a pessoa jurdica instituda uma figura mista,
formada por pessoas fsicas que representam os parceiros, no vejo bice a
esta participao. A contrario sensu, seria vedado aos agentes polticos serem
instituidores de clubes sociais, esportivos, associao de pais, organizaes
no-governamentais de diversos mbitos, etc. todas entidades da sociedade
252 / Revista da PGM
*******
HOMOLOGAO
ROGERIO FAVRETO
Procurador-Geral do Municpio
Parecer n 1056/2002
PLANO DIRETOR DE
DESENVOLVIMENTO URBANO E
AMBIENTAL APLICAO DE
REGRAS DE TRANSIO
o relatrio.
Inicialmente cumpre asseverar que a matria disciplinada pelos artigos
159 e 160 da Lei Complementar n 434/99 era tratada de forma bastante
detalhada pelo Plano Diretor revogado Lei Complementar n 43/79, artigos
370 a 379. O PDDUA vigente mais enxuto e requer uma certa dose interpretativa
na sua aplicao.
A questo est afeta ao direito de construir cujo controle prvio pela
Administrao Pblica Municipal se d mediante aprovao e licenciamento de
projeto arquitetnico. A licena por excelncia o instrumento de controle
urbanstico e estrutural da edificao.
Celso Antnio Bandeira de Mello afirma que: a licena para construir
o ato administrativo pelo qual o Executivo, exercitando competncia vincula-
da, libera a construo de determinada obra, por verificar e proclamar a conso-
260 / Revista da PGM
1
Citado por Toshio Mukai, Direito Urbano-Ambiental Brasileiro, 2. edio, Ed. Dialtica, p. 307/308.
Pareceres / 261
5 Os projetos de edificao e
licenciamento de construes, aprovados pela Lei
Complementar n 43, de 21 de julho de 1979, e vlidos
a partir da publicao desta lei Complementar,
mantero a validade e o prazo para incio de obras,
por 24 (vinte e quatro) meses aps a entrada em
vigncia desta Lei Complementar.
2
In RGPE, Porto Alegre, 10(26): 89-115, 1980.
3
FIGUEIREDO, Lcia Valle. Curso de Direito Administrativo, 5. edio, revista, atualizada e ampliada, Ed. Malheiros,
p.217.
264 / Revista da PGM
A considerao superior.
EAUMA, em 19.07.02.
******
HOMOLOGAO
ROGERIO FAVRETO
Procurador-Geral do Municpio
266 / Revista da PGM
Parecer n 1057/2002
2
Emenda Constitucional Carta Estadual foi recentemente aprovada com redao similar a ora proposta, modificando
o art. 149 da Constituio Estadual. O Governador do Estado props ADIn ao STF ( ADI - 2680, datada de 25 de
abril de 2002), at o presente momento sem deciso. relator o Ministro Gilmar Ferreira Mendes.
3
Art. 2 Constituio Federal
4
Art. 60, 4, inc. III da Constituio Federal
5
Art. 57, Pargrafo nico, letra a da Constituio revogada
Pareceres / 273
6
Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinrias cabe a qualquer membro ou Comisso da Cmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da Repblica, ao Supremo Tribunal
Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da Repblica, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores, ao Procurador-Geral da Repblica e aos cidados, na forma e nos casos previstos nesta Constituio.
1 So de iniciativa privativa do Presidente da Repblica as leis que:
I fixem ou modifiquem os efetivos das Foras Armadas;
II disponham sobre:
criao de cargos, funes ou empregos pblicos na administrao direta e autrquica ou aumento de sua
remunerao;
organizao administrativa e judiciria, matria tributria e oramentria, servios de pessoal da administrao
dos Territrios; (grifei)
servidores pblicos da unio e Territrios, seu regime jurdico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
organizao do Ministrio Pblico e da Defensoria Pblica da Unio, bem como normas gerais para a organizao
do Ministrio Pblico e da Defensoria Pblica dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios;
criao, estruturao e atribuies dos Ministrios e rgos da administrao pblica;
militares das Foras Armadas, seu regime jurdico, provimento de cargos, promoes estabilidade, remunerao,
reforma e transferncia para a reserva.
274 / Revista da PGM
I - o plano plurianual;
II - as diretrizes oramentrias;
III - os oramentos anuais;
Ao Direta de Inconstitucionalidade.
Tendo a lei impugnada estabelecido
regramento sobre Oramento e Plano Plurianual, bem
como Diretrizes Oramentrias, matria de
competncia do Executivo Municipal, padece a mesma
no s de vcio formal, por ter-se originado de projeto
oriundo do Legislativo, como de vcio material, por
infringir norma relativa independncia e harmonia
entre os Poderes Municipais.
Ao procedente. (ADIn 594106197, Rel. Des.
Gervsio Barcellos)
ORAMENTO. PROCESSO LEGISLATIVO
(INICIATIVA). COMPETNCIA DO PREFEITO
MUNICIPAL.
Inconstitucionalidade dos dispositivos da Lei
Orgnica que dispe sobre o programa oramentrio
do municpio. Falta de iniciativa do Chefe do Poder
Executivo. (ADIn 590067526, Rel.Des. Ruy Rosado
de Aguiar Junior)
8
Lei Complementar, conforme o ttulo j induz, complementa o disposto na Constituio Federal, tendo seu
fundamento de validade nesta. Para ser complementar Constituio precisa vigorar em todo o Pas, sendo
portanto, uma lei a ser editada pela Unio dirigida e compulsria para todos os entes federados.
Pareceres / 277
9
A Lei Complementar a que se refere o dispositivo constitucional a Lei de Responsabilidade Fiscal, publicada em
05.05.2000.
278 / Revista da PGM
sentar esta proposio que contraria o disposto nesta. Imaginem se cada Mu-
nicpio resolver por acrescer norma distinta da regra geral execuo dos seus
oramentos a insegurana jurdica que ir causar! Lembre-se que esta matria
est sujeita tanto a fiscalizao do Tribunal de Contas, quanto do Ministrio
Pblico, dos prprios edis municipais e de qualquer cidado. Assim, impres-
cindvel que as regras a serem respeitadas e que sero cobradas estejam muito
claras e precisas.
Alm deste dispositivo da Carta Federal, a Constituio Estadual, em
seu art. 146, estabelece expressamente que as finanas pblicas observaro o
disposto em lei complementar federal, reforando a incompetncia do Munic-
pio para legislar sobre a matria, a saber:
o parecer.
Porto Alegre, 26 de agosto de 2002.
******
HOMOLOGAO
Rogerio Favreto
Procurador-Geral do Municpio
Parecer n 1062/2003
ARGIO DE INCONSTITUCIONALIDADE
SEM REDUO DE TEXTO
veculos. Se de fato isto ocorre, afirma, a norma municipal pode estar inquinada
de vcio material de inconstitucionalidade em face do bloqueio de compe-
tncia para legislar sobre matria alheia a sua atribuio constitucional, bem
como colidir com as normas e princpios decorrentes da Constituio Federal a
respeito, ferindo, assim, o disposto no art. 8 da Constituio Estadual.
Conclui a referida Procuradora, quanto anlise de eventual ADIN a ser pro-
posta, pela necessidade de se estudar a possibilidade de argio de
inconstitucionalidade sem reduo de texto, compatibilizando com os dispositi-
vos da Constituio Estadual acerca do meio ambiente ecologicamente equilibrado:
1
VELOSO, Zeno. Controle Jurisdicional de Constitucionalidade, 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 186.
Pareceres / 287
2
PALU, Oswaldo Luiz. Controle de Constitucionalidade. Conceito, Sistemas, Efeitos. So Paulo: RT, 1999, p. 238.
288 / Revista da PGM
3
COELHO, Inocncio Mrtires. Declarao de Inconstitucionalidade sem Reduo de Texto, mediante Interpretao
Conforme, In Cadernos de Direito Tributrio e Finanas Pblicas 23, ano 6 , So Paulo: RT, 1998.
Pareceres / 289
A r t . 1 7 6 Os Municpios definiro o
planejamento e a ordenao de usos, atividades e
funes de interesse local, visando a:
( ...))
VIII impedir as agresses ao meio ambiente,
estimulando aes preventivas e corretivas;
******
HOMOLOGAO
ROGERIO FAVRETO
Procurador-Geral do Municpio
294 / Revista da PGM
Parecer n 1065/2003
PROJETO ESPECIAL DE
EMPREENDIMENTO DE IMPACTO
URBANO. LIMITAO DE ALTURA DO
PLANO DIRETOR DE
DESENVOLVIMENTO URBANO E
AMBIENTAL
Procuradora do Municpio
Anlise da incidncia do regime de volumetria
estabelecido no Plano Diretor de Desenvolvimen-
to Urbano e Ambiental no estudo do Projeto Es-
pecial classificado como Empreendimento de Im-
pacto Urbano de Primeiro Nvel. Artigo 61, 2,
da Lei Complementar n 434/99. As normas de-
vem ser entendidas dentro do sistema jurdico a
que pertencem como forma de dimensionar o bem
que se pretende tutelar. O enquadramento como
Projeto Especial no retira a incidncia das nor-
mas relativas ao controle das edificaes nem do
regime urbanstico previsto. A expresso normas
prprias, referidas nos artigos 11, 2, e 59 da
Lei Complementar n 434/99, determina a ne-
cessidade de regulamentao para fixao dos cri-
trios procedimentais do Estudo de Viabilidade
Urbana e licenciamento dos Projetos Especiais.
Pareceres / 297
1
FERNANDES, Edsio. O Tratamento Constitucional do Plano Diretor como Instrumento de Poltica Urbana. In
Direito Urbanstico. 1998.
Pareceres / 299
2
SILVA, Jos Afonoso. Direito urbanstico brasileiro. 3. ed., Ed. Malheiros, So Paulo: 2000, p. 59.
302 / Revista da PGM
3
COELHO, L.Fernando. Lgica Jurdica e Interpretao das leis. 2. ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro: 1981. p. 186.
304 / Revista da PGM
4
COELHO, L.Fernando. Lgica Jurdica e Interpretao das leis. 2. ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro: 1981, p. 195.
Pareceres / 305
Outro sentido que deve ser observado na interpretao das regras sobre
o projeto especial o fato, no caso concreto, dos limites de altura determina-
dos no Plano Diretor para a rea em que se localiza o imvel em questo.
Conforme a manifestao da Coordenadora da CAUGE, as edificaes localiza-
das na Av. Wenceslau Escobar, tem limite de altura de 27m; a outra, com frente
Rua Dr. Castro Menezes, tem limite de 9m. O limite de altura, por si s,
guarda uma relao com a paisagem da regio. Quando maior a restrio da
altura, maior o interesse na preservao de uma paisagem urbana
horizontalizada. Alis, a diretriz de preservao do ambiente natural da orla do
Guaba, agregada paisagem urbana local, expresso no Plano Diretor, demons-
tra que o limite de altura da regio quesito de relevncia no seu planejamen-
to.
Por isso, neste caso, o limite de altura mais que um elemento da
volumetria, uma diretriz do planejamento urbano da regio, e, como tal, no
pode ser relativizado sem regramento expresso.
Refora tal entendimento o disposto no artigo 11 do Plano Diretor:
CONCLUSO
******
HOMOLOGAO
ROGERIO FAVRETO
Procurador-Geral do Municpio
308 / Revista da PGM
Parecer n 1066/2003
1
Veja-se, a propsito, Celso Antnio Bandeira de Melo, in Ato administrativo e direitos dos administrados. So
Paulo: Revista dos Tribunais, 1981, p. 90.
Pareceres / 313
28.9.98, p. 236).
(...) AUTARQUIA. ADMINISTRATIVO.
REDUO DE JORNADA DE TRABALHO.
DECRETO 1.590/95 E LEI 8.270/91. (...) II. No
h nulidade no Decreto que determinou reduo da
jornada de trabalho, posto que a Constituio (art.
84, V) confere ao Presidente da Repblica o poder
para expedir ato de tal natureza e contedo. III. A
Lei n 8.270/91 fixa os limites mnimos e mximos,
deixando ao poder discricionrio, a faculdade da
fixao do horrio. (...). (TRF da 1 Regio, 2
Turma, AC n 01000109286, rel. Juiz Carlos
Fernando Mathias, j. em 5.11.97, DJ de 30.3.98, p.
181).
ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PBLICO
- LEGALIDADE DA ALTERAO DA JORNADA DE
TRABALHO - DECRETO N 1.590/95 (...) 1 - A
jornada de trabalho dos servidores pblicos pode ser
reduzida ou aumentada, dentro dos limites previstos
na Constituio Federal (C.F. art. 39, 3 c/c art.
7, inc. XIII), dentro do poder discricionrio do
Presidente da Repblica, segundo o interesse da
Administrao, sem qualquer vinculao entre a carga
horria exigida e os vencimentos dos servidores, que
so fixados por lei, conforme tem decidido,
reiteradamente, o Superior Tribunal de Justia e a
Primeira Seo deste Tribunal. (...). (TRF da 1
Regio, 1 Turma, AC n 01000639936, rel. Juiz
Plauto Ribeiro, j. em 5.9.00, DJ de 25.9.00, p. 24).
ADMINISTRATIVO. (...) ALTERAO DE
JORNADA DE TRABALHO. SERVIDORES DO INSS.
DECRETO N 1.590/95 E LEI N 8.270/91. I - Os
vencimentos relativos ao cargo referem-se por inteiro
jornada de trabalho a ele correspondente,
independentemente de modificao unilateral da
administrao da carga horria trabalhada. (...) II -
No h nulidade do decreto presidencial determinando
alterao de jornada de trabalho, pois a CF/88, em
seu art. 84, IV, dispe que o Presidente da Repblica
pode expedir decreto. III - A Lei n 8.270/91 fixa os
limites mnimo e mximo da jornada de trabalho dos
servidores, sendo de livre discricionariedade do
Presidente da Repblica a fixao deste horrio,
dentro dos ditames legais. (TRF da 1 Regio, 2
316 / Revista da PGM
******
HOMOLOGAO
ROGERIO FAVRETO
Procurador-Geral do Municpio
324 / Revista da PGM
SERVIO ESSENCIAL.
POSSIBILIDADE DE CORTE DO
FORNECIMENTO DE GUA
Procuradora do Municpio
Departamento Municipal de gua e
Esgotos de Porto Alegre
Municpio em Juzo / 329
Processo n 108763278
III - DO DIREITO
1
Ap. Cvel n 70003808987, 2 Ccvel, TJRS, Re. Des. Ney Wiedemann Neto.
Municpio em Juzo / 335
2
APC n 599260973, j. 02/03/00, 5 Ccvel, Rel. Des. Clarindo Favretto.
336 / Revista da PGM
pblico, se o pagamento por tal servio no efetuado, nada mais justo que o
mesmo seja cancelado. At porque, no seria justo nem razovel para com os
demais cidados que pagam, mensalmente, as suas contas de gua que apenas
alguns paguem as suas contas.
O Supremo Tribunal Federal tem admitido que a remunerao de servi-
os prestados por departamentos, companhias ou empresas de saneamento
constituem preo pblico (RTJ 33/147 e 81/931).
Deste modo, a proibio de uso de meios coativos ou vexatrios procla-
mada pelo Cdigo de Defesa do Consumidor no se aplica na espcie. In casu,
trata-se de preo pblico e no de tributo (RT 436/168).
No se pode prestar um servio gratuito populao, uma vez que
algum tem que cobrir com os custos da prpria prestao.
Assim, o corte ato perfeitamente legal praticado pela Autarquia r, no
objetivo da mantena do sistema pblico de saneamento.
A persistir os efeitos da medida liminar concedida em antecipao de
tutela (fl.36), estar-se- corroborando com a prtica do inadimplemento, na
medida em que no justo que uns paguem em detrimento de outros que so
inadimplentes.
Diante do exposto, requer digne-se V. Exa. julgar totalmente improce-
dente a ao interposta pelo autor, revogando-se a tutela concedida na fl. 36,
condenando o requerente nos consectrios de estilo, por ser medida de direito
e salutar justia.
SENTENA
Vistos etc.
Decido.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
1 peas obrigatrias:
2 peas no obrigatrias:
1. Introduo
Rh.
1) Defiro o pedido do Municpio, determinando
reserva de numerrio, para satisfao de crditos
decorrentes de impostos municipais, em processo de
execuo fiscal judicial.
Traga o Municpio, no entanto, cpia das
contas-gerais dos processos de execuo, lanadas pelo
contador judicial, para se verificar o total devido.
Como no h penhora noticiada, naqueles
processos, o pagamento ao Municpio se dar sem
preferncia, aps pago o credor deste.
2) D o leiloeiro, cincia a interessados na
compra da pendncia de dbitos junto
municipalidade.
3) Prossiga-se.
Diligncias legais.
Em, 29/08/02.
(a) MAURO CAUM GONALVES, Juiz de
Direito Substituto.
Municpio em Juzo / 353
O caput do art. 499 do CPC, que elenca de modo numerus clausus quem
pode recorrer de decises judiciais cveis, inclui em seu rol o terceiro prejudi-
cado, categoria em que se insere o agravante.
A legitimidade e interesse (rectius: necessidade) do agravante em re-
correr da deciso interlocutria antes mencionada e transcrita decorre da ne-
cessidade de afastar os efeitos ou comandos que prejudicam os interesses que
lhe competem defender. Essa , justamente, a tnica do preceito inscrito no
1 do dispositivo acima citado, de que deve haver nexo de dependncia entre
o interesse do terceiro prejudicado e a relao jurdica sub judice.
A legitimidade e interesse de sedizente terceiro prejudicado
interposio de recurso no precisa, necessariamente, corresponder ou se as-
semelhar aos requisitos da interveno de terceiros, como a assistncia. Mes-
mo assim, no caso, o agravante preenche os requisitos dessa modalidade de
interveno de terceiros.
O imvel sito na R. Jos Domingos Varella, 280, ap. 408, e objeto de
dbito tributrio por lanamentos de imposto predial e taxa de lixo, foi pe-
nhorado na execuo de sentena n 01194289805, de forma que ser nova-
mente levado venda judicial.
De outro lado, por fora do disposto no pargrafo nico do art. 130 do
Cdigo Tributrio Nacional (cujo caput trata da sujeio passiva indireta por
sucesso imobiliria), no caso de arrematao em hasta pblica, a sub-rogao
ocorre sobre o respectivo preo.
O feito em que lanada a deciso recorrida a execuo da sentena
que julgou procedente o pedido de condenao de Joo Alves Bertoi ao paga-
mento de cotas condominiais inadimplidas. Nos termos do inc. IV do art. 3 da
354 / Revista da PGM
4. Concluso
4.2 Mrito
5. Pedidos
5.1 Liminar
A concesso de liminar, nos termos dos arts. 527, III, e 558, ambos do
CPC, (5.1.1) de reserva da quantia devida, atualmente em R$ 1.424,82, con-
forme anexa memria de clculo atualizada.
Alternativamente, ad cautelam, no caso de haver licitantes em nova
hasta pblica, (5.1.2) liminar de reteno do lano, at o julgamento defini-
tivo deste recurso.
A medida se justifica pelo prejuzo decorrente da perda da garantia que
o imvel representa em relao ao dbito tributrio, seja pelo bem em si,
enquanto garantia real, seja pelo no aproveitamento do valor do lano.
******
Municpio em Juzo / 363
ACRDO
EXECUO DE SENTENA.
PREFERNCIA DO CRDITO FISCAL PERANTE
O CONDOMINIAL. INTELIGNCIA DO ART. 186
DO CTN. IMPRESCINDIBILIDADE DA PENHORA
PARA ASSEGURAR O DIREITO PREFERENCIAL
DA MUNICIPALIDADE. RESERVA DE QUANTIA,
EM FACE DA SUPERVENIENTE ARREMATAO
DO IMVEL, QUE SE IMPE, SOB PENA DE
PREJUZO AO SUJEITO ATIVO DA OBRIGAO
TRIBUTRIA. PROVA COLIGIDA QUE ACENA
COM A EXISTNCIA DE CRDITO CONSTITUDO
PELO LANAMENTO OBJETO DE EXECUO
FISCAL em tramitao. prescindibilidade dA
EXIBIO DE CONTAS-GERAIS diante da
demonstrao do montante da dvida.
Agravo Provido.
RELATRIO
VOTO
centavos).
Destarte, estou pelo provimento do agravo, para, sem prejuzo da reser-
va de numerrio determinada pelo juzo a quo, reconhecer a preferncia do
crdito fiscal do agravante perante o condominial e afastar a exigncia da
exibio de outros clculos, devendo a dvida tributria atualizada ficar restri-
ta ao montante de R$ 1.424,82 (um mil, quatrocentos e vinte e quatro reais, e
oitenta e dois centavos).
*****
370 / Revista da PGM
I - DOS FATOS
II DO DIREITO
III REQUERIMENTO
*****
Municpio em Juzo / 379
Processo n 112730289
Agravante: MUNICPIO DE PORTO ALEGRE
Agravado: PAULO ANTONIO AMARAL DA SILVA
Objeto: Interposio de agravo de instrumento, com pedido liminar.
Egrgia Cmara
SNTESE DA AO
DO DIREITO
REQUERIMENTO
******
Vistos
Oficie-se.
Aps, a douta Procuradoria de Justia para parecer.
Diligncias legais.
Recurso Ordinrio
******
1
Consideraes dos itens 2.1, 2.2, 2.3, 2.4, 3.1, 3.2, 3.3, 5.1, 5.2 da lavra do procurador Eduardo Mariotti
postas na contestao, que se reproduz por absoluta pertinncia s impugnaes ora articuladas em sede de
recurso.
Municpio em Juzo / 395
2.2. Partindo dessa premissa, aduziu que o ente tomador dos servios,
ora recorrente, a teor do disposto no inc. IV do enunciado 331 do TST, seria o
responsvel subsidirio pelos crditos trabalhistas que favorecem aos traba-
lhadores vinculados prestadora de servio. Tal responsabilidade seria deriva-
da de um dever de fiscalizao que se imporia ao tomador dos servios o qual,
uma vez descumprido, caracterizaria culpa in vigilando.
Levando ao extremo tal raciocnio, o rgo demandante conclui que h
um dever do tomador de servios de evitar a contratao de entes prestadores
de servio que declaradamente no utilizam trabalhadores sob vnculo de em-
prego, como o caso, por exemplo, das cooperativas de trabalhadores.
Diante dessas premissas acima resumidas, formulou o seguinte pleito:
Pelo exposto, pede a procedncia da ao para determinar que o Ru somente
possa firmar contratos de prestao de servios de natureza permanente com
pessoas fsicas ou jurdicas que utilizem na sua mo-de-obra de trabalhadores,
associados seus ou no, admitidos sob vnculo de emprego, sob pena de pagar
multa diria equivalente a 1.000 (hum mil) UFIRs (unidades fiscais de refern-
cia), ou unidade que venha a substitu-la, por trabalhador em relao ao qual
for violado o preceito, multa esta que dever ser revertida ao FAT (Fundo de
Amparo ao Trabalhador).
Cuidou-se, portanto, de pedido de condenao em prestao de no
fazer, que se traduziu pela proibio de a municipalidade firmar contratos
administrativos da natureza dos denunciados na presente demanda.
3.1. O primeiro aspecto que merece ser aduzido diz com a natureza da
matria ora submetida apreciao da Justia do Trabalho. Cuida-se, toda
evidncia, de matria absolutamente estranha aos lindes traados no art.
114 da Constituio da Repblica, eis que no se tem por escopo a aprecia-
o de dissdio entre trabalhadores e empregadores e tampouco se trata de
controvrsia decorrente de relao de trabalho.
Municpio em Juzo / 397
2
Acrdo da 2 Turma, TRT 4 Regio, Rela. Juza Dulce Olenca B. Padilha, julgado em 06/08/96 Ac.
95.019927-3 RO, cpia fls. 66/69
398 / Revista da PGM
IV - DAS CONDIES DA AO
DO INTERESSE DE AGIR
V DO MRITO
7
TRT- 4 Reg. REORO 96.0110811-4
8
TRT- 4 Reg. RO 95.00007610-4
Municpio em Juzo / 405
9
TRT- 4 Reg. REORO 94.023566-8
10
TRT - 4 Reg. REORO 94.022537-9
11
LTr 093/96, Cooperativas de Trabalho: avano ou retrocesso?
406 / Revista da PGM
******
ACRDO
EMENTA
EMENTA:: MUNICPIO
MUNICPIO.. CONTR
CONTRA ATO DE
PRESTAO DE SER VIOS. Ao Poder Pblico
SERVIOS.
cumpre organizar o seu pessoal, em termos de cargos,
empregos e funes pblicas na forma de como
previsto no art. 37 da CRFB/88, respectivos incisos e
correspondentes pargrafos, no que includa a previso
do inciso IX para situaes especiais, mas
excepcionadas, as atividades-meio a exemplo das
contempladas no entendimento sumulado por via do
Enunciado 331/TST.
Municpio em Juzo / 409
ISTO POSTO:
PRELIMINARMENTE
REEXAME NECESSRIO
3. CONDIES DA AO
corpo de leis de que fazem parte. Ora, a prpria Consolidao das Leis do
Trabalho que prev o funcionamento de sociedade cooperativa, sem a configura-
o de vnculo de emprego entre ela e seus associados, ou entre estes e os
tomadores do servio daquela.
Rogerio Favreto
1
Bem como artigo 19, inciso I, letra a, do Regimento Interno do Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande
do Sul.
Municpio em Juzo / 425
Senhor Secretrio:
2
Docs. 02.
426 / Revista da PGM
lmo. Sr.
Gerson Almeida,
MD. Secretrio de Governo Municipal de Porto Alegre,
Rua Uruguai, 155, 11 andar.
Porto alegre - RS.
Of n 028/GS
Senhor Promotor:
Gerson Almeida,
Secretrio do Governo Municipal
Excelentssimo Senhor
Dr. Fbio Medina Osrio
MD. Promotor de Justia de Defesa do Meio Ambiente
Nesta Capital
NOT. N 011/2003 MA
428 / Revista da PGM
ADVERTNCIA: o no comparecimento
injustificado importar em conduo coercitiva nos
termos do art. 129, inciso III e VI, da CF/88, artigo
26, inciso I, alnea a, e 80, ambos da Lei n 8625/
993, c/c o artigo 8, inciso I, Lei Complementar
n 75/93.
Ciente.
430 / Revista da PGM
4
Mirabete, Jlio Fabbrini, Processo Penal, Atlas, 8. ed., p. 710.
432 / Revista da PGM
Termos em que
******
434 / Revista da PGM
DECISO LIMINAR
N0 70005782263
2003/CVEL
DESPACHO
Vistos.
para tal oitiva, obtendo como resposta o termo de notificao de fl.23, datado
de 23/01/2003, da lavra do Dr. Fbio Medina Osrio, para que se apresentasse
na audincia o Sr.Sergio Menna, Diretor do EPHAC, no dia 24/01/2002, s 17h.
(4) Informado o parquet que o Sr. Sergio Menna encontrava-se em li-
cena de sade, determinou que a Sra. ELENA SANTOS GRAEFF fosse audincia
no lugar do Diretor do EPHAC. Este o ato que d causa presente pretenso.
de ser acolhido o HABEAS CORPUS PREVENTIVO pleiteado, a uma,
porque as informaes dos autos do conta de que inexiste qualquer urgncia
na oitiva aodada da paciente para o dia de hoje, haja vista que as licenas
para demolio foram suspensas (consoante declara a inicial), inexistindo nos
pronunciamentos do Ministrio Pblico objeto claro que d conta da ameaa
iminente de tal patrimnio, a duas, porque o expediente da autoridade coatora
efetivamente se afigura como violador do disposto no art.8, 10, da Lei 7.347/
85, no oportunizando o prazo de 10 dias para que as pessoas sejam ouvidas.
Cumpre destacar que o Poder Pblico Municipal no pode ficar dispo-
sio incondicional de qualquer outra instituio, eis que possui suas priorida-
des e demandas a serem atendidas, a despeito disto, inexistindo dados que
levem concluso de perigo ou potencialidade de dano oitiva apressada da
paciente, mais razovel e lcito assegurar o cumprimento do devido processo
legal que informa qualquer procedimento judicial ou administrativo.
Pelo exposto, concedo o HABEAS CORPUS PREVENTIVO paciente ELENA
SANTOS GRAEFF, para os fins de expedir, imediatamente, SALVO CONDUTO em
seu favor, visando garantir sua liberdade, e ainda para os efeitos desta no ser
constritada em face da notificao de fls. 23 e 23, verso.
Intime-se o Dr. Fbio Medina Osrio, no endereo declinado em fl.09.
Registre-se e Cumpra-se.
******
436 / Revista da PGM
SALVO CONDUTO
FAZ SABER
ficao de fls. 23 e 23 verso. DADO PASSADO nesta cidade de Porto Alegre, aos
vinte quatro dias do ms de janeiro do ano de dois mil e trs, eu, Margarete
Freitas da Silva, Secretria da Primeira Cmara Especial Cvel do Tribunal de
Justia do Estado do Rio Grande do Sul, digitei e subscrevi o presente, que vai
assinado pelo Sr. Desembargador Relator.
******
novo pedido de Habeas Corpus preventivo, sendo emitido novo salvo conduto
para a paciente.
Espera deferimento.
Rogerio Favreto,
Procurador-Geral do Municpio
OAB/RS n 26867
******
DECISO LIMINAR
Vistos.
******
Municpio em Juzo / 441
SALVO CONDUTO
FAZ SABER
cao de fl. 188. DADO E PASSADO nesta cidade de Porto Alegre, aos trinta e
um dias do ano de dois mil e trs, eu, Margarete Freitas da Silva, Secretria da
Primeira Cmara Especial Cvel do Tribunal de Justia do Estado o Rio Grande
do Sul, digitei e subscrevi o presente, que vai assinado pelo Sr. Desembargador.
1
Manual de Direito Administrativo / Manoel de Oliveira Franco Sobrinho 3. ed. Editora Coimbra 1951
p. 611 e 612.
446 / Revista da PGM
particular
particular..
A tese vlida para todas as legislaes. O
direito individual ter
termina
mina onde comea o da sociedade.
A comunho social no seria possvel sem a obrigao
individual de sacrificar
sacrificar-se
-se o interesse privado em favor
do interesse comum.
AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONTRA-RAZES
Pede Deferimento.
******
Municpio em Juzo / 447
ACRDO
RELATRIO
o relatrio.
VOTO
DESAPROPRIAO. INSTAL AO DO
DISTRITO INDUSTRIAL AUTOMOTIVO (MON-
TADORA FORD DO BRASIL S/A) EM GUAIBA.
IMISSO PROVISRIA. AVALIAO PRVIA.
DESNECESSIDADE. RECONHECIMENTO DA
EXCEPCIONALIDADE DA SITUACAO E DA
POTENCIALIDADE LESIVA DA DECISO QUE
CONDICINOU A IMISSO PROVISRIA DO
Municpio em Juzo / 451
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAO.
IMISSO PROVISRIA NA POSSE.
ADMISSIBILIDADE. O ART. 15 E PARGRAFOS
DO DECRETO-LEI N 3.365/41 SE ENCONTRA
RECEPCIONADO PELA CARTA POLTICA, QUE
CONDICIONA A DESAPROPRIAO POR
UTILIDADE OU NECESSIDADE PBLICAS A
PRVIA E JUSTA INDENIZAO DO
EXPROPRIADO, DE ACORDO COM O STF. NO CASO
DA IMISSO ANTECIPADA NA POSSE, ASSIM,
DESNECESSRIO O EXPROPRIANTE APURAR
TAL VALOR MEDIANTE ARBITRAMENTO
JUDICIAL PRVIO. AGRAVO PROVIDO. (AGRAVO
DE INSTRUMENTO N 70003902764, QUARTA
CMARA CVEL, TRIBUNAL DE JUSTIA DO RS,
REL ATOR: DES. JOO CARLOS BRANCO
CARDOSO, JULGADO EM 03/04/02).
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAO.
IMISSO PROVISRIA NA POSSE DE IMVEL
URBANO. DEPSITO DO VALOR CADASTRAL DO
IMVEL. LEI N. 3.365/41, ART. 15, 1, III.
SUFICINCIA.
Assentou o Egrgio Supremo Tribunal Federal
que os incisos do pargrafo 1 do art. 15 da Lei n
3.365/41 so compatveis com a Carta da Repblica,
de sorte que a justa indenizao nela prevista a que
se concretiza ao termo do processo expropriatrio e
no antes.
Em conseqncia, o valor cadastral fiscal,
desde que atualizado, serve como parmetro para o
depsito prvio autorizativo da imisso provisria na
posse do imvel, no caso de urgncia na sua ocupao.
II. Recurso conhecido e provido. (RESP 74131 / SP;
RECURSO ESPECIAL 1995/0045378-9 - DJ
DATA:20/03/2000 PG:00060 - Min. ALDIR
PASSARINHO JUNIOR).
o voto.
******
CONTRA-RAZES AO AGRAVO
EGRGIA CMARA:
Deve ser mantida a deciso recorrida, pela qual, oportunamente, foi
deferida a imisso provisria do Expropriante na posse da rea objeto da desa-
propriao, condicionada ao depsito da quantia ofertada na inicial, apurada
em laudo trazido com a inicial da ao de desapropriao.
A Agravante fundamenta sua pretenso recursal no entendimento
jurisprudencial, segundo o qual o valor a ser depositado pelo expropriante,
para obteno de sua imisso provisria na posse do bem expropriado, deve ser
apurado mediante arbitramento judicial prvio.
H muito j est assentado, porm, que esse entendimento no se ajus-
ta orientao jurisprudencial firmada pelo Plenrio do Supremo Tribunal Fe-
deral, e, mais, reveste-se de inquestionvel potencialidade lesiva apta a vulnerar
de maneira grave o interesse pblico.
No RE n 185.933-SP, Relator para o acrdo o Min. Moreira Alves, foi
confirmada a integral constitucionalidade do art. 15 e seus pargrafos do De-
454 / Revista da PGM
ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAO.
IMISSO PROVISRIA NA POSSE. ADMISSIBI-
LIDADE.
O art. 15 e pargrafos do Decreto-Lei n
3.365/41 se encontra recepcionado pela Carta
Poltica, que condiciona a desapropriao por utilidade
ou necessidade pblicas prvia e justa indenizao
do expropriado, de acordo com o STF. No caso da
imisso antecipada na posse, assim, desnecessrio o
expropriante apurar tal valor mediante arbitramento
judicial prvio. AGRAVO PROVIDO.
2
Silva, De Plcido e. Vocabulrio Jurdico. 10. edio. Rio de Janeiro: Forense, 1987.
458 / Revista da PGM
PEDIDO
JUSTIA!
PUBLICAES
Impresso e Acabamento