Aula 1 - Princípios Da Conservação Da Natureza
Aula 1 - Princípios Da Conservação Da Natureza
Aula 1 - Princípios Da Conservação Da Natureza
O fato de ser delineada como uma ferramenta educacional para pblicos diversos faz com
que essa sistematizao seja bastante diferente de uma simples lista de tpicos importantes,
tais com o ndice dos livros citados anteriormente. Em primeiro lugar, cada item ou tpico no
um ttulo, mas um princpio, uma afirmativa de um conceito ou uma meta que por si s
uma ideia para direcionar professores e engajar estudantes. Cada princpio reflete
descobertas de uma variedade de pesquisas disponveis em livros, talvez nem sempre to
facilmente acessveis para todos os grupos de estudantes.
tentador ver a biologia da conservao apenas como uma outra rea especializada,
relevante para poucos e sem importncia para a vida cotidiana. Dada a magnitude do impacto
da humanidade sobre a Terra, no entanto, o ensino da conservao deve ser considerado um
dos pilares da boa cidadania em qualquer nao (Orr 1992,2004). O desenvolvimento das
diretrizes para o ensino da conservao pela SCB acompanha a trajetria seguida por outras
sociedades profissionais para o desenvolvimento das diretrizes em seus respectivos campos.
(Giliard et al. 1988; Geological Society of America 1999; North
American Association for Environmental Education 1999; American Chemical Society 2003).
Alm disso, cada professor deve desenvolver exemplos destes princpios que sejam
relevantes para seus alunos, no contexto do desenvolvimento do conhecimento de seu
ambiente local e de uma apreciao para a condio da biosfera como um todo. Assim, este
documento cobre princpios que so aplicveis em qualquer regio do mundo, e tambm
reconhece que os utilizar com xito em alguma regio especfica depende da familiaridade
com as caractersticas e com as realidades de conservao daquela regio. Apesar de os
princpios aqui contidos representarem uma anlise detalhada da disciplina da biologia da
conservao, no consideramos este documento um delineamento final sobre o ensino da
conservao. Ao contrrio, esperamos que a publicao destas diretrizes marque o incio de
um dilogo na comunidade internacional sobre objetivos, valores e conceitos da biologia da
conservao; sobre ameaas diversidade biolgica, integridade ecolgica e sade
ecolgica; e sobre estratgias para sua proteo um dilogo sobre o ensino da conservao.
Estes cinco tpicos objetivos, valores, conceitos, ameaas e aes formam a
sistematizao dos cinco temas dominantes dos princpios. Reconhecemos que um nmero
significante de princpios da biologia da conservao aqui apresentados no so
simplesmente fatos empricos ou predies tericas, mas resultados desejados baseados em
opinies carregadas de valores. No se trata de um desvio da norma para a biologia da
conservao, trata-se, na verdade, de atributo chave para a disciplina (Barry & Oelschlaeger
1996; Meine & Meffe 1996).
Princpios da Biologia da Conservao
(C) Sade Ecolgica: uma medida relativa da condio de um sistema ecolgico com
relao sua resilincia ao stress e habilidade de manter sua organizao e autonomia
ao longo do tempo.
(1) A sade ecolgica avaliada atravs de uma combinao de medidas, sendo que
nenhuma delas pode ser considerada um ndice de sade quando isolada. Variveis
pertinentes incluem produtividade (habilidade do sistema de produzir mais biomassa),
complexidade (nmero de elementos no sistema, nmero de conexes entre esses
elementos e fora das interaes entres eles), e resilincia (a capacidade de retornar a
um determinado estado aps uma perturbao) e so determinadas em funo dos
sistemas no alterados pelas aes humanas.
(2) A sade ecolgica concentra-se nos processos baseados nos padres de biodiversidade
e integridade ecolgica que podem ser observados.
Tema II. Importncia da Diversidade Biolgica, da Integridade Ecolgica e
da Sade Ecolgica
(I) Extino: refere-se ao trmino de uma linha evolutiva. Pode ocorrer como resultado de
aes humanas ou no humanas. No entanto, a taxa de extino devida ao humana
muito maior atualmente que a taxa geralmente encontrada nos registros fsseis antes
da interferncia humana.
(1) Extino a expectativa de longo prazo para todas as populaes 99,9% ou mais de
todas as espcies que existiram algum dia j se extinguiu.
(2) Linhagens de um nvel inferior que o de espcie (exemplo, subespcie, raa) extinguem-
se mais frequentemente do que espcies, o que contribui para a eroso da diversidade
biolgica.
(3) As extines independentes de aes humanas resultam de eventos estocsticos atuando
por longos perodos.
(4) Taxas de extino podem variar ao longo do tempo. Em ocasies raras durante a histria
da Terra, as taxas de extino foram altas, se comparadas com as taxas mais baixas de
outras situaes. Alguns desses perodos de altas taxas de extino chamados de
extino em massa esto associados com eventos geolgicos extremos, mas, em outros
casos, as causas so desconhecidas.
(5) Taxas de extino causadas pela ao humana so mais altas que as taxas normais do
sistema e so iguais ou at maior que as taxas apresentadas durante as extines em
massa.
(6) Um dado nmero de espcies pode ser mantido em um sistema se a taxa de extino for
igual taxa de especiao no tempo evolutivo, mas cair se espcies perdidas por
extino excederem as ganhas pela especiao (caso da extino em massa e das
extines humanamente induzidas que ocorrem atualmente).
Tema IV. Ameaas Diversidade
Biolgica, Integridade Ecolgica e Sade Ecolgica
(D) Padres de extino: atualmente as espcies se esto extinguindo a uma taxa nunca
antes vista na histria humana, sendo que somente durante as grandes extines em
massa foi observado algo semelhante.
(1) O padro de extines entre espcies observado hoje no tem precedentes na histria
humana. Essas extines destroem a diversidade biolgica, a integridade e a sade
ecolgicas com consequncias no longo prazo.
(2) Atualmente, a taxa de extino maior que a taxa de especiao. Assim, espcies esto
sendo extintas de tal maneira que no h como serem substitudas pela evoluo por
milhes de anos.
(E) Causas iminentes de extino: os seres humanos causam a extino atravs de quatro
aes primrias: a destruio do hbitat, a modificao do hbitat, a super-explorao (tais
como a caa e a colheita em excesso) e a introduo de espcies exticas.
(1) Os efeitos das atividades humanas sobre uma espcie ameaada de extino so
influenciados pela magnitude das atividades no espao e no tempo.
(2) Diferentes espcies e grupos de espcies podem ser extintos ou estarem ameaados de
extino como resultado de uma combinao de diferentes atividades humanas.
(3) Diferentes espcies e grupos de espcies podem ser mais suscetveis extino por
determinados tipos de atividade humana do que por outras.
(4) A atividade humana pode alterar interaes entre as espcies, resultando em extino de
mltiplas espcies em um sistema (por exemplo, cadeias trficas).
(G) Efeitos domin: a extino de uma espcie pode causar extino de outras espcies de
maneira imprevisvel como resultado da interao entre elas na natureza; tais extines
subsequentes podem, por sua vez, afetar outras espcies, causando como que um efeito
de ondas por todas as partes de um ecossistema.
(1) A degradao da diversidade biolgica, da integridade e da sade ecolgicas, em um
determinado nvel de organizao biolgica, pode acarretar impactos subsequentes na
diversidade biolgica, na integridade e na sade ecolgicas em outros nveis.
(2) A extino ou a degradao do hbitat pode, por sua vez, causar impactos extras, levando
a uma srie de mudanas em cascata no ecossistema.
(3) difcil, se no impossvel, prever com antecedncia as maneiras como os efeitos em
cascata ocorrero, mas seus efeitos podem ser grandes e de longa durao.
(H) Condio histrica dos ecossistemas: a condio atual da maioria dos ecossistemas
dramaticamente diferente daquelas encontradas no passado em razo da ao dos seres
humanos.
(1) As aes das sociedades humanas histricas e atuais tm resultado em modificaes
drsticas na maioria dos ecossistemas terrestres e aquticos atuais.
(2) Os seres humanos, tanto individualmente como em sociedade, tm feito escolhas
baseadas em valores sobre o quanto a condio de um ecossistema pode ou deve ser
modificada, sendo que essas escolhas determinaram, e continuam a determinar, a
condio e a composio do mundo natural.
(I) Padres em mutao: as ideias das pessoas sobre o que constitui a condio normal da
natureza so fortemente influenciadas pelas experincias ao longo de suas vidas,
independente de essas condies j terem sido alteradas pelos humanos no passado.
(1) medida que a diversidade biolgica, a integridade e a sade ecolgicas declinam, cada
gerao v o novo nvel mais baixo como normal, e isso afeta o julgamento de valor que
as pessoas fazem sobre o mundo natural, influenciando assim a tomada de decises sobre
o uso da terra.
(2) medida que a exposio das pessoas aos sistemas naturais declina, como um resultado
das mudanas culturais e da falta de acessibilidade, sua percepo das condies
normais da natureza muda.
(A) Proteo de espcies ameaadas: Exige-se que espcies ameaadas de extino sejam
protegidas da explorao e da perda de hbitat.
(1) As atividades de proteo das espcies individuais tm como foco a identificao de
fatores que levam ao declnio no tamanho da populao e na remediao desses fatores.
(2) Espcies individuais podem ser auxiliadas tanto pelas atividades de proteo que tm
como alvo uma s espcie como pelas atividades de proteo que incluem espcies
mltiplas ou comunidades inteiras.
(3) Atividades de proteo de espcies ocorrem necessariamente em um clima de incerteza
devido aos efeitos estocsticos sobre o tamanho das populaes, tanto por causas
naturais quanto humanas.
(C) Uso da natureza pelo ser humano: o uso da natureza pelo ser humano pode ser
modificado de forma a diminuir os impactos causados nos sistemas ecolgicos.
(1) As iniciativas devem estar integradas de forma mais harmoniosa dentro do contexto de
seus ambientes naturais, ao invs de estar separado deles.
(2) Mudar as maneiras como os humanos usam a natureza de forma que imitem de modo
mais completo os processos ecolgicos naturais pode diminuir o impacto desses usos na
biodiversidade, na integridade e na sade ecolgicas.
(3) O impacto do uso da natureza pelos seres humanos na biodiversidade, na integridade
ecolgica e na sade ecolgica pode diminuir atravs da reduo da magnitude dos
impactos humanos tanto no espao quanto no tempo.
(4) Apesar de as reservas biolgicas e de os parques nacionais serem frequentemente um
componente da estratgia de conservao, o sucesso final desta depende da
reformulao das atividades humanas de modo que coexistam com a biodiversidade e
com os sistemas ecolgicos.
(E) Aumento das populaes naturais: espcies ameaadas de extino podem, em alguns
casos, ser beneficiadas pelo aumento de suas populaes por meio da introduo de
animais criados em cativeiro na natureza.
(1) Espcies e subespcies beira da extino na natureza podem ser beneficiadas atravs
da criao em locais como zoolgicos, aqurios, jardins botnicos e cativeiros.
(2) preciso tomar cuidado para manter a diversidade gentica de gerao a gerao e imitar
as presses seletivas que os organismos encontrariam na natureza. No caso dos animais,
melhor que no se habituem aos seres humanos.
(3) Programas de criao em cativeiro destinados conservao so caros e
consequentemente no so prticos para todas as espcies. No caso de algumas
espcies, esta criao se torna biologicamente impossvel. Para espcies ameaadas, no
entanto, a criao em cativeiro pode ser a nica estratgia disponvel para impedir a
extino imediata.
(F) Manejo de colheitas: O nmero de indivduos de espcies que so coletados na natureza
precisa ser controlado para que a probabilidade de extino de tal espcie no seja
aumentada significativamente pela colheita.
(1) Colheitas desordenadas podem acelerar ou causar extino.
(2) Pode-se promover a preservao das espcies das seguintes formas: controle de
colheitas, atravs de sua proibio total no caso de espcies raras, ameaadas ou em
perigo; controle de colheita por classes, estgios ou idades vulnerveis; limite no nmero
de indivduos coletados; limite na durao do tempo no qual a colheita pode ocorrer;
estabelecimento de reservas onde no h colheita.
(3) Para impedir a extino atravs da colheita em excesso de espcies, as sociedades
devem criar regras, levando em considerao a compreenso biolgica da demografia da
populao.
(G) Manejo de espcies exticas: esforos devem ser empreendidos com o intuito de diminuir
a probabilidade de uma espcie extica ser introduzida ou estabelecida com sucesso e
tambm de eliminar espcies exticas j estabelecidas, quando possvel.
(1) Espcies exticas so uma das maiores ameaas a espcies nativas e aos ecossistemas
no mundo.
(2) Espcies exticas podem espalhar-se tanto de forma acidental como intencional.
(3) A maioria das introdues de espcies exticas tem pouca chance de sucesso, mas
algumas podem ter consequncias devastadoras tanto ecolgica quanto
economicamente.
(4) Depois que uma espcie extica encontra-se estabelecida, difcil, se no impossvel,
erradic-la completamente.
(5) A habilidade de uma espcie extica em se estabelecer por si prpria influenciada tanto
por suas caractersticas (por exemplo, biologia reprodutiva) como pela condio da
comunidade natural na qual introduzida (por exemplo, comunidades ecologicamente
saudveis tendem a ser menos vulnerveis a invaso).
(H) Participao poltica: entenda e participe dos domnios das polticas humanas e do
estabelecimento de polticas, certificando-se de colocar no discurso pblico a importncia
de manter a biodiversidade nativa.
(1) Entenda os processos e as estruturas pelas quais se estabelece a poltica pblica
incluindo leis, regulaes administrativas e canais de lobby.
(2) Esteja familiarizado com as pessoas que desempenham papis-chave em uma gama de
nveis geogrficos, desde o local at o internacional.
(3) Compartilhe conhecimento e experincias sobre a biologia da conservao com
formadores de poltica sempre que houver, ou que se puder criar uma oportunidade.
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