Flávio Da Silva Alves PDF
Flávio Da Silva Alves PDF
Flávio Da Silva Alves PDF
Pr - Reitoria de Graduao
Curso de Psicologia
Braslia - DF
Junho 2015
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Braslia
2015
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________________________________________________________________
Prof. Msc. Helosa Maria Vivo Marques (orientadora)
Universidade Catlica de Braslia UCB
____________________________________________________________________
Profa. Msc. Ana Cristina de Alencar Bezerra Oliveira (banca examinadora)
Universidade Catlica de Braslia UCB - Psicologia
Braslia
2015
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DEDICATRIA
Dedico esse trabalho em memoria do meu primo Cleiton Fagner Silva Neres
falecido em 2008, meu melhor amigo, foi com ele que aprendi a correr atrs dos sonhos e
lutar em prol daquilo que acreditamos. Aps sua sada sbita deste plano terrestre e a
maneira como se deu, fizeram com que o interesse em conhecer o ser humano e suas
A minha esposa e companheira que esteve sempre ao meu lado nessa trajetria,
literalmente ao meu lado, pois a conheci nesse curso, estudamos juntos e nos formamos,
Ao Padre Francisco Assis Felintro de Oliveira, que pai e amigo, dele vieram os
incentivos e o apoio para superar obstculos e enfrentar os desafios dia aps dia.
A toda minha famlia: minha filha Maria Clara que o incentivo para muitas
superaes e realizaes. Aos meus pais Aparecido Fernandes e Maria Moreira que de
maneira indireta foram suportes para essa conquista. Dedico aos meus irmos: Darlan e
AGRADECIMENTO
Agradeo exclusivamente a Deus, pois foi Ele quem me deu foras para enfrentar
todas as situaes difceis que surgiram no decorrer desses anos para hoje poder olhar tudo
que se passou e poder afirmar que nada, absolutamente nada se conquista sem a Tua
sabedoria.
academia e que me ensinaram a ser uma pessoa mais madura diante das aflies
conhecimento e respeito que exerceu no decorrer de dois semestres com o intuito de poder
Oliveira pelos seus ensinamentos que foram determinantes para a concluso definitiva
Agradeo tambm todo corpo docente com quem tive o privilgio de estar junto
nesse perodo, pois sem eles transmitindo o que sabem, muitos sonhos iriam sucumbir.
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RESUMO
Atos criminosos frequentemente so associados a aes cometidas por pessoas intituladas como
loucas, principalmente quando esses crimes esto relacionados a homicdios, parricdios e
filicdios, contudo, esta afirmao permite o seguinte questionamento: ser que a loucura se faz
sempre presente nesses acontecimentos? Buscando responder este questionamento o presente
estudo teve como objetivo compreender a relao da esquizofrenia com a prtica criminal. Buscou
ainda verificar como se d a compreenso desta pessoa aps o cometimento da ao criminosa, e
tambm apresentar as medidas de segurana aplicadas aos portadores de transtornos mentais que
cometem crimes. Utilizou-se como fonte de dados artigos e livros que datam do perodo de 1995 a
2015, sendo essas produes cientficas nacionais sobre a associao entre criminalidade e
transtornos mentais. O levantamento bibliogrfico alcanou um total de 55 estudos indexados nas
bases de dados Scielo e Google Acadmico, Lilacs e BVS (Biblioteca Virtual em Sade) e alm de
livros. Os resultados mostraram que os esquizofrnicos esto sujeitos a aes criminosas assim
como aqueles que no possuem qualquer transtorno mental. Concluiu-se ainda que os portadores de
esquizofrenia tm maior chance de serem vtimas de crimes, uma vez que o preconceito e o
desconhecimento sobre a esquizofrenia e suas manifestaes clnicas, fazem com que os portadores
de transtornos mentais sejam vistos como pessoas capazes de cometer atos violentos, naturalmente
perigosos e por esse motivo so associados a potenciais criminosos.
SUMMARY
ALVES, Flvio da Silva. Mental disorders and the crime: is schizophrenia a synonym of
dangerousness? Term Paper (Course of Psychology). Braslia: Catholic University of Braslia.
2015.
Criminal acts are frequently associated to acts committed by people called mad, especially when
these crimes are associated to homicides, parricides and filicides. However, this affirmative allows
asking a question: madness is something present in these situations? Looking for an answer for this
question, this study work had the objective to understand the relation between schizophrenia and
criminal practice, besides seeking verify how is the understanding of this person after committing
the criminal act, and also show security measures applied to people with mental disorders. To do
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so, it was used as source of data articles and books which dating back in the period of 1995 to 2015
which are national scientific productions about the association between criminality and mental
disorders. The bibliographic research has collected an amount of 55 studies indexed in Scielo and
Google Scholar databases, Lilacs and BSV (Virtual Library in Health) and books. At the end, 29
research studies was listed and analyzed considering items as much as the publishing year, the
scientific journal where it was published, the qualis of the journal, the context contemplated in the
studies and the methods used by the researcher. The results showed that the schizophrenics are
vulnerable to criminal acts as much as the ones who have no kind of mental disorder. Moreover, it
was concluded that carriers of schizophrenia have more chances to be victims, once that the
prejudice and lack of knowledge makes people with mental disorders are seen as people capable of
committing violent acts, and for this reason they are associated to potential criminals.
SUMRIO
1. INTRODUO............................................................................................... 9
2. REFERNCIALTERICO..............................................................................11
4. DISCUSSO ................................................................................................ 35
5. CONCLUSO .............................................................................................. 37
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................ 38
9
1. INTRODUO
documentrio A casa dos mortos, trouxe uma inquietude a respeito da relao entre o
portador de transtornos mentais especificamente o esquizofrnico e a forma como eles so
julgados e tratados; e se de fato um sujeito que estivesse com algum transtorno e no
consciente de suas aes poderia ser condenado a um modelo de tratamento ineficiente e
cruel que mais parece com uma condenao perptua como apresentado no documentrio.
Ainda nesse perodo acadmico alguns casos surgiram na mdia como o assassinato
do cartunista Glauco e seu filho, ocorrido em 2010. Carlos Eduardo, acusado de cometer o
assassinato, foi preso aps cometer novo assassinato no ano de 2013 e diagnosticado como
esquizofrnico. Outro caso que influenciou ainda mais esse trabalho, foi o ocorrido no
bairro Realengo, Rio de Janeiro, no ano de 2011, conhecido como Massacre de Realengo
quando um jovem entrou em uma escola municipal e realizou diversos disparos que
vitimaram alunos da instituio com idades que variavam de 13 a 16 anos e em seguida
cometeu suicdio. Durante as investigaes descobriu-se que o atirador era portador de
esquizofrenia e no estava fazendo o tratamento adequadamente.
Assim, o presente estudo objetiva de forma geral apresentar uma reviso
bibliogrfica sobre a relao entre a esquizofrenia e a criminalidade. E especificamente
estabelecer uma relao entre transtornos mentais e a prtica criminal; conceituando
transtornos mentais e esquizofrenia; com o intuito de verificar a relao entre crime e
esquizofrenia e por fim apresentar as medidas de segurana aplicadas aos portadores de
doenas mentais que cometeram crimes.
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2. REFERENCIAL TERICO
temporariamente o lugar da lepra, porm mais adiante, a loucura que ter um significado
maior.
Tendo em vista a necessidade de internao e tratamentos das pessoas com doena
venrea, essa acaba se tornando exclusivamente de domnio mdico. Com a internao
desses doentes, se somam aos loucos em um espao moral de excluso. As pessoas
acometidas de lepra, doenas venreas e loucura representavam os excludos da sociedade.
(FOUCAULT, 1972, p. 12)
Segundo Foucault (1972), na Renascena os loucos eram colocados em navios e
levados pelos marinheiros para outros lugares, longe da sua cidade de origem. Esses se
aportavam em outras cidades e eram escorraados, pois eram permitidos nas cidades
apenas os seus prprios loucos. Contudo, em algumas cidades uns eram acolhidos e
levados para priso, outros chicoteados publicamente.
Dessa forma, Foucault descreve:
O louco um ser, sem cho e suas idas e vindas pela imensido das guas fez com
que a loucura se fizesse conhecida por toda parte e se tornasse uma forma de expresso da
literatura e das artes, no qual o louco no mais visto como uma figura marginalizada ou
de bobo, mas sobre tudo como um detentor da verdade. Esse fascnio apresentado nas
imagens e quadros de difceis compresso, no qual representariam algo obscuro e
inacessvel da verdade, porem existente nas entranhas da terra e precisariam ser
desvendados. (FOUCAULT, 1972, p. 19-27)
Ainda na Renascena a loucura aparece como sarcasmo ao saber, descrito por
Erasmo com uma viso crtica e uma stira moral apresentada por Bosh (apud Foucault,
1972, p.33). O primeiro, afirma a existncia da loucura como uma fraqueza humana a
partir do apego do homem por si mesmo, no qual esse iria se iludir com suas fraquezas e
no mais reconhecer a realidade do mundo, mas a realidade que esse homem acredita
existir. J Bosh v nas pinturas a essncia do homem com suas fraquezas e emoes, sendo
visto atravs do seu interior e assim apresentando seu fascnio.
13
Nesse perodo a viso crtica da loucura vai ganhando espao, enquanto a viso
trgica vai perdendo seu domnio, no qual a loucura comea a ser considerada como uma
forma relativa a razo, e a razo domina a emoo.
a loucura torna-se uma das prprias formas da razo. Aquela integra-se nesta,
constituindo seja uma de suas foras secretas, seja um dos momentos de sua
manifestao, seja uma forma paradoxal na qual pode tomar conscincia de si
mesma. De todos os modos, a loucura s tem sentido e valor no prprio campo
da razo. (FOUCAULT, 1972, p. 39)
No sculo XVIII a loucura passou a ser vista como objeto do saber mdico,
caracterizando-a como doena mental e, portanto, passvel de cura. Somente no Sculo das
Luzes, a razo passou a ser vista como cerne dos estudos, e a partir dela o homem teve a
oportunidade de conquistar a liberdade e a felicidade. (SILVEIRA E BRAGA, 2005)
Kessler e Augustin (2014) declaram que a partir do sculo XX, houve uma
separao vertical entre a razo e a desrazo: constituindo, portanto, no mais como algo
indeterminado que daria acesso s foras do desconhecido, mas como o Outro da razo
segundo o discurso da prpria razo.
De acordo com Frayze-Pereira (1984) pode-se classificar a loucura como:
2.2 A esquizofrenia
sintomas que compem o diagnstico ser muito variada. O autor apresenta uma tabela com
os critrios diagnsticos para a esquizofrenia, conforme a seguir:
1. Pelo menos um, dos seguintes esto presentes durante pelo menos um ms:
a. Delrios
b. Alucinaes
c. Discurso desorganizado (descarrilhamento frequente ou incoerncia)
d. Comportamento altamente desorganizado
e. Sintomas negativos (ex: humor no-modulado, falta de motivao, pobreza de
fala, inabilidade de experimentar prazer)
2. O funcionamento em reas como trabalho, relaes sociais e auto cuidado
encontram-se marcantemente abaixo de nveis anteriores.
3. Os sintomas persistem durante pelo menos seis meses.
4. Os sintomas no so decorrentes de um transtorno de humor maior (depresso,
mania).
5. Os sintomas no so decorrentes de abuso de substncia, medicamentos ou de uma
condio mdica geral.
Fonte: Holmes (1997, p. 241)
sendo a internao, quando possvel, a ltima alternativa a ser adotada, ocorrendo somente
quando a crise for intensa e representar risco para o paciente e seus familiares. O autor
afirma ainda que quando ocorrer internao, essa medida deve durar o mnimo possvel (15
a 30 dias) e deve estar associada a administrao de antipsicticos e acompanhamento
mdico.
Conforme afirma Elkis e Louz (2007) Os antipsicticos representam o principal
tratamento para pacientes com esquizofrenia. Em pesquisa realizada pelos autores eles
apresentam novos antipsicticos que esto abrindo maiores perspectivas no campo do
tratamento da esquizofrenia, dentre eles: Asenapina, ACP-103, Bifeprunox, Paliperidona,
Risperidona de Ao Prolongada e Sertindol.
Almasan e Gimenez (2006) destacam que alm do tratamento medicamentoso h
abordagens de tratamento de orientao dinmica que apresentam timos resultados, como
terapia individual e de grupo, alm de abordagens familiares, como grupos de apoio.
Diante dos seus estudos, Carrara (1998) conclui que a noo de monomania
apresentada, implicava na interpretao psiquitrica de certos crimes, tendo um significado
decisivo na histria da psiquiatria e de seu objeto, pois foi por meio da monomania que se
teve a loucura enquanto alienao mental, consequentemente a doena no se caracterizava
mais pelo delrio.
obra o mdico prope o estudo das causas do crime a partir do homem criminoso.
(PENTEADO, 2000).
Penteado (2000) informa que em seus estudos Lombroso concluiu que, por um
efeito necessrio da sua natureza o criminoso arrastado a prtica do crime, ele acreditava
que a natureza criava um delinquente e a sociedade lhe dava os meios para delinquir. O
autor afirma tambm que o principal erro de Lombroso foi sua abordagem generalizada,
apesar de no negar a influncia do meio social sobre o indivduo criminoso e dar maior
importncia a preveno geral, sobretudo educao, o mdico quis padronizar os
criminosos fsica e psicologicamente, afirmando que muitos deles eram criminosos
incorrigveis.
Posteriormente, surge a teoria sociolgica, apresentada por Ernico Ferri, seguidor
de Lombroso. Esta teoria no se dedicava exclusivamente a fatores biolgicos ou
antropolgicos, mas sim a fatores crimingenos definidos como antropolgicos fsicos e
sociais. O delito deixou de ser voltado exclusivamente ao livre arbtrio e a capacidade do
homem em escolher entre o bem e o mal. (DE PAULA, 2013)
Diferentemente de Lombroso e Ferri, que voltaram seus estudos ao delinquente,
Garfalo voltou seus estudos ao crime em si. O estudioso buscava ligar o sujeito s
definies legais. Para Garfalo o comportamento criminal no se associa a uma patologia,
mas sim a um dficit comportamental de cunho psquico ou moral. (DE PAULA, 2013)
A partir de ento surgiram vrias outras escolas criminolgicas, como por exemplo
a cientfica, que teve a psicanlise como mtodo de anlise de anomalias de fundo nervoso,
e a escola crtica que postula a respeito da personalidade do direito penal tendo a pena
como fim para a defesa social.
Sob o aspecto jurdico e legal, o art. 1 da Lei de Introduo ao Cdigo Penal,
Decreto Lei n 3.914 de 09 de Dezembro de 1941, traz a seguinte definio de crime:
elemento principal deste grupo o fato do agente criminoso ser considerado normal e
socialmente ajustado, correspondendo assim a um desvio social. (MARANHO, 1995).
Cerqueira e Lobo (2004) destacam que o desvio um termo apreciativo e
relacional, s pode ser aplicado quando se pressupe o que reto. O desvio sempre
relativo a uma das caractersticas do homem considerado padro por nossa sociedade.
Quando isso ocorre o indivduo pode ser considerado como criminoso.
Existem vrios tipos de crimes e de criminosos. Segundo Maranho (1995) a partir
do momento que a capacidade de adaptao vida social e particularmente, s exigncias
as normas morais codificadas, chega a delimitar-se ou faltar, o indivduo deve se encaixar
em uma as trs classes abaixo:
a) Ocasional puro que chega a delitos de levssima gravidade por causas e
circunstncias completamente acidentais;
b) Por situaes ambientais desfavorveis, hbitos prejudiciais, ms companhias,
sugestes, imorais;
c) Por estados emocionais e passionais.
De acordo com Engel (1999) de maneira puramente negativa, a loucura vista
como o avesso da ordem. Sinnimo de agitao, exagero, arrebatamento, imoderao,
desregramento, impulsividade, imprevisibilidade e periculosidade e circunscrita aos limites
de "uma segunda natureza", ela definida como "um excesso que falta".
Assim, necessrio levar em considerao os aspectos internos e externos que
envolvem os portadores de esquizofrenia, pois esse conjunto interfere diretamente no
comportamento apresentado pelo indivduo. Conforme afirma Nicolau (2002)
Por sua vez, Moura (2010) afirma que os distrbios de personalidades presentes no
portador de esquizofrenia se apresentam na forma de delrios em que os pacientes se
sentem influenciados e possudos por outra pessoa, que os obriga a fazerem o que no
23
querem, e no eco do seu pensamento eles procuram no pensar para no ouvir o que se
passa nos seus pensares.
Mitjavila e Mathes (2012, p. 03) afirmam que atualmente, no existe consenso na
literatura mdica sobre as relaes entre doena mental e criminalidade, do ponto de vista
do valor etiolgico da primeira para predizer a segunda. Contudo, percebe-se que a
medicina psiquitrica tem sido utilizada frequentemente pelo poder jurdico com o objetivo
de se obter pareceres de competncia tcnica e amparo legal para determinar a
periculosidade criminal de indivduos diagnosticados como doentes ou portadores de
transtornos mentais.
Cabe destacar que a relao entre a mente humana e seus transtornos com
comportamentos criminosos bastante complexa. Neste universo esto inclusos vrios
fatores, biolgicos, psicolgicos, sociais, culturais, religiosos e econmicos. Todos estes
interagem para a realizao de aes agressivas e tanto portadores de transtornos mentais
quanto aqueles considerados normais possuem chances de cometer crimes. (MENEZES,
2001)
Para Teixeira e Dalgalarrondo (2008 apud MIRANDA FILHO, 2014) outra viso
sobre criminalidade, atribuda a participao de pessoas com transtornos mentais, insere a
complexidade que envolve a compreenso acerca do comportamento dos esquizofrnicos.
Os autores afirmam que alguns portadores de esquizofrenia so mais suscetveis a
apresentar comportamentos violentos do que a populao geral, devido ao fato de
possurem transtorno psictico que pode estar acompanhado de perturbaes no
pensamento, na emoo e no comportamento. Contudo, o autor deixa claro que em relao
a toda a violncia social, a participao destes estatisticamente mnima no mapa da
criminalidade, sendo o principal fator motivador para os atos de violncia nestes pacientes,
o delrio, principalmente o delrio com contedo de controle ou paranide.
Segundo Serafim e Rigonatti (2006) Legrand du Saulle criou o conceito de
perodo mdico-legal das psicoses. Segundo o estudioso antes de aparecerem sintomas
declarados da doena esquizofrenia, surgem perturbaes do carter e do senso moral,
culminando com a prtica de atos bastante diferentes dos usuais da pessoa.
Assim, delitos cometidos pelos esquizofrnicos no perodo mdico-legal da doena
so caracterizados pelo carter sbito, imotivado, absurdo ou bizarro. O infrator, muitas
vezes nem tenta se esconder aps o delito ou o faz de maneira muito ineficiente.
(SERAFIM e RIGONATTI, 2006)
24
O exame citado na presente lei trata-se de um laudo pericial que segundo Almeida
(2010) deve ser realizado por pessoas que possuam conhecimentos cientficos, nomeados
25
Assim, o laudo mdico pericial traz informaes importantes para que o processo
siga a diante. Sendo que, o artigo 182 do Cdigo de Processo Penal determina que o juiz
tem liberdade para aceitar ou rejeitar o laudo pericial no todo ou em parte. Devendo-se
ressaltar que o laudo pericial, conhecido como laudo de sanidade mental, o especifico
para a verificao da sanidade mental do agente e o seu grau de periculosidade.
(ALMEIDA, 2010)
Segundo Andrade (2002), os critrios adotados para a verificao da
imputabilidade so trs, sendo eles classificados como: biolgico, psicolgico e
biopsicolgico. Sob o critrio biolgico ser analisada a capacidade mental do indivduo.
Quando no constatado qualquer transtorno mental ser verificado o critrio psicolgico
por meio da averiguao das condies em que o sujeito se encontrava emocionalmente. E
por fim ser verificado a associao dos dois aspectos apresentados anteriormente, o
biopsicolgico.
Diante dos critrios apresentados verifica-se que o esquizofrnico, um indivduo
considerado como inimputvel. Contudo, mesmo em patologias graves como a
esquizofrenia, o caso concreto deve ser analisado em detalhes e criteriosamente para que a
deciso pela inimputabilidade corresponda realidade do acusado. (DIMARE, 2010)
Em consequncia, os peritos devero realizar uma avaliao de risco (de carter
probabilstica) ou de periculosidade (baseando-se na histria pregressa e na avaliao do
estado atual do paciente. (FILHO E MORANA, apud RUSCHEL, 2012)
De acordo com Lotti (2013) a inimputabilidade ainda hoje recebe tratamento aqum
do que deveria, uma vez que para constat-la faz-se necessrio uma avaliao rigorosa e
cientfica. A culpa neste caso no levada em considerao, sendo as medidas de
seguranas atenuadas de acordo com o grau do delito provocado por aqueles considerados
inimputveis ou semi-imputveis.
Consta no artigo 319, alnea VII do Cdigo de Processo Penal, Decreto-Lei n
3.689, de 3 de outubro de 1941, que quando o indivduo for considerado inimputvel ou
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semi-imputvel pela percia tcnica dever ser aplicado a ele a seguinte medida de
segurana: internao provisria do acusado nas hipteses de crimes praticados com
violncia ou grave ameaa em hospitais de custdia ou tratamento ambulatorial.
Prado (2010 apud Dimare 2012) esclarece que com a legislao vigente, assuma-se
o sistema vicariante, onde deve-se optar entre a aplicao de pena ou medida de segurana,
conforme a situao de imputabildiade do autor. Destaca ainda que:
Para Ferreira (2001, apud Lebre, 2013) periculosidade criminal implica um juzo de
probabilidade de o agente vir a cometer novos fatos ilcitos-tpicos. a probabilidade de
reiterao criminal, a qual traduz essencialmente uma ideia de risco.
Assim, as medidas de segurana podem ser classificadas como pessoais, podendo
ser detentivas (internamento) ou no detentivas (liberdade vigiada), conforme a gravidade
do crime e a periculosidade do agente, alm de medidas de natureza patrimoniais
(confisco, interdio de estabelecimento ou de associao) (BITENCOURT, 2013)
Quanto a periculosidade, Silva (2007) declara que atribuda relativamente s
pessoas, por entenderem a propenso delas para o mal, a tendncia para o mal, revelada por
seus atos anteriores ou pelas circunstncias em que praticam o delito.
Ruschel (2012) afirma que caracterizada a periculosidade concreta ou presumida,
chega-se a inimputabilidade, que por fim, leva a obrigatoriedade de ser aplicada a medida
de segurana. O autor esclarece ainda que a restrio de liberdade ao ser convertida em
internao, no pode ultrapassar o tempo restante da pena prevista, que vai de um a trs
anos, aps este prazo dever ser realizado novo exame mdico legal, caso no apresente
fato indicativo de periculosidade, estar isento da medida de segurana.
si, crime algum (afinal, existe uma infinidade de pessoas portadoras de patologia
penal que no esto submetidas e nem precisam estar ao sistema penal).
Por fim, vale destacar ainda, que o fato da pessoa ser portadora de transtornos
mentais, no a faz um criminoso em potencial, ocorre que o esquizofrnico est mais
susceptvel aos delrios e alucinaes provocados pela doena, fazendo com que ele seja
visto por pessoas da sociedade como um indivduo perigoso, principalmente por
desconhecerem a patologia e os critrios legais de julgamento. (MOURA, 2010)
28
3. MTODO
Para ser includo no estudo, o artigo deveria: (a) apresentar uma discusso sobre a
origem e histria da loucura, (b) conceituar transtornos mentais e esquizofrenias (c)
discutir medidas de segurana aplicadas aos portadores de transtornos mentais que tenham
cometido crimes. Foram excludos do estudo artigos que: (a) comtemplassem qualquer
outra abordagem que no transtornos mentais, esquizofrenia e medidas de segurana, (b)
artigos que apresentavam estudos comparativos entre esquizofrenia e outros transtornos
mentais.
Inicialmente foram definidas as palavras chaves que seriam utilizadas na busca dos
artigos. Posterior definio, foi utilizado para a pesquisa bibliogrfica os seguintes
descritores: transtornos mentais, esquizofrenia, crime, medidas de segurana. As seguintes
bases de dados foram eleitas para busca dos estudos: Cientific Electronic Library Online-
(SciELO), Peridicos Eletrnicos em Psicologia- (PePSIC) e Biblioteca Virtual em Sade
Psicologia-(BVS- Psi). As buscas foram feitas por artigos que se encaixassem nos critrios
de incluso. A seleo foi realizada por meio da leitura dos ttulos e dos resumos dos
mesmos. Foram pr-selecionados ao todo, 27 artigos e realizanda a leitura completa do
estudo. Aps esta leitura foram selecionados 10 estudos. Estes artigos foram registrados
pelos seus dados em planilhas eletrnicas, geradas a partir do programa Excel da
Microsoft. Esta planilha continha tens para que tivesse informaes gerais, de forma
sinttica acerca dos estudos. Os itens da tabela foram os seguintes: (a) ano, (b) ttulo do
artigo, (c) revista cientfica publicada, (d) qualificao da revista cientfica, (e) palavra
chave identificada no artigo, (f) objetivo do estudo, (g) mtodo/ instrumentos de coleta, (h)
contexto da pesquisa, (i) delineamento, (j) sistema de anlise, (k) participantes, (l)
principais resultados, (m) concluso.
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A pesquisa dos artigos feita atravs dos descritores em relao a ocorrncia de crimes cometidos por portadores de transtornos
mentais/esquizofrenia, resultou em um total de 55 estudos sendo eles 15 livros, 3 Decretos Leis e 27 artigos e 10 monografias. O
universo do presente estudo utilizar 10 artigos que compem o quadro sntese a seguir:
4. DISCUSSO
5. CONCLUSO
Pode-se concluir que a partir das informaes colhidas ao longo deste estudo que os
indivduos com transtornos mentais, quando tratados adequadamente, no representam
qualquer risco acrescido de violncia sobre a populao em geral. O impacto global dos
transtornos mentais como um fator para a ocorrncia de crimes ocorre na sociedade como um
todo e parece estar sendo superestimada, possivelmente por intensificar o estigma j
circundantes transtornos psiquitricos.
O esquizofrnico est sujeito aos delrios e alucinaes paranoides e persecutrias
podendo leva-lo a ideias errneas, pode achar que est sendo perseguido por bandidos ou
achar que sua esposa o est traindo e num ato de defesa comete crime. O que se percebe,
que quando h tratamento medicamentoso e psicolgico, o esquizofrnico raramente cometer
algum crime.
Ento, quando o esquizofrnico comete um crime, est em surto psictico, portanto
no compreende o carter ilcito do delito -considera inimputvel-. Portanto esse sujeito
necessita de tratamento, pois o transtorno foi a causa do crime.
Recomenda-se que futuras pesquisas se concentrem em descobrir mecanismo que
possam fortalecer como medida de segurana o tratamento ambulatorial, pois o que se v
reproduzir, que, quando inimputvel, o sujeito recebe como medida de segurana
internao provisria em hospitais de custdia como sendo o nico a ser considerado.
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