Livro 2 - COAF - Casos - Casos - Agosto2014 PDF
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Livro 2 - COAF - Casos - Casos - Agosto2014 PDF
MINISTRO DA FAZENDA
Guido Mantega
CONSELHEIROS DO COAF EM 01/04/2014
ndice
AGNCIA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA
SECRETRIO-EXECUTIVO DO MINISTRIO DA Joo Paulo de Freitas Lamas
FAZENDA
Paulo Rogrio Caffarelli BANCO CENTRAL DO BRASIL
Flvia Maria Valente Carneiro
PRESIDENTE DO CONSELHO DE CONTROLE DE
ATIVIDADES FINANCEIRAS COMISSO DE VALORES MOBILIRIOS
Antonio Gustavo Rodrigues Waldir de Jesus Nobre
Casos & Casos: II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro / Ministrio 09. Tarjetagem......................................................................................................25
da Fazenda, Conselho de Controle de Atividades Financeiras Braslia: COAF, 2014
Patrocnio: FEBRABAN (Federao Brasileira de Bancos) 10. Jogos de Azar por meio de Ttulos de Capitalizao......................................28
1.Lavagem de dinheiro Brasil. 2. Corrupo administrativa Brasil. 3. Crime contra a 11. Desvio de Recursos Pblicos com Convnios.................................................32
administrao pblica Brasil. I. Brasil. Conselho de Controle de Atividades Financeiras.
Permitida a reproduo total ou parcial desta publicao, desde que citada a fonte.
Existem inmeros meios utilizados pelos criminosos para lavar dinheiro, tornando a
deteco e preveno desse crime um problema complexo tanto para as autoridades
quanto para os diversos setores econmicos engajados nesse esforo.
SETORES ENVOLVIDOS:
Sistema Financeiro Nacional
DESCRIO DO CASO:
Integrantes de quadrilhas abordam clientes de instituies financeiras nos terminais
de autoatendimento das agncias, alegando que no possuem conta corrente e que
precisam receber, com urgncia, uma transferncia de recursos para o pagamento de
despesas mdicas de familiares (ou outra justificativa similar). Prometem o pagamento
de comisses s pessoas abordadas, que, seduzidas pela possibilidade de facilmente
ganhar algum dinheiro, aceitam emprestar temporariamente suas contas para viabilizar
o recebimento de tais transferncias (1).
De posse dos nmeros das contas bancrias (2), os criminosos utilizam estas contas para
receber recursos decorrentes de crimes como, por exemplo, falso sequestro, sequestro
relmpago e estelionato, em que as pessoas so foradas ou induzidas (3)
a realizar transferncias de valores ou depsitos (4).
Repasse Titulares
Informam que no possuem conta
da conta
corrente e precisam receber, com
urgncia, uma transferncia de
SINAIS DE ALERTA DE INTELIGNCIA FINANCEIRA:
recursos, que sero destinados, por
exemplo, ao pagamento de 1. Recebimento de recursos com imediata realizao de saques em espcie.
despesas mdicas de familiares.
2. Movimentao de recursos incompatvel com o patrimnio, atividade
econmica e capacidade financeira.
Da conta do servidor pblico, parte dos recursos sacada em espcie (5) e parte transferida
para contas de pessoas ligadas, por graus de parentesco, ao prefeito da cidade(6).
Os criminosos repassam s
informaes e nmero da conta
As caractersticas da movimentao financeira indicam possvel fraude em processo
para efetuar a transferncia. licitatrio. Os depsitos realizados pela empresa na conta do servidor sugerem o pagamento
de propina para o direcionamento da licitao.
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FLUXOGRAMA:
03 | OPERAES COM COMRCIO EXTERIOR
Saques
Tais operaes indicam que os recursos, ao invs de serem enviados pelos meios oficiais,
no saem efetivamente dos pases de origem. Os valores creditados em Reais nas contas
dos beneficirios finais tm origem no Brasil, configurando um sistema alternativo
de remessas, no qual empresas de transferncia de numerrio localizadas no exterior,
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associadas a empresas brasileiras que atuam como doleiros, so utilizadas para viabilizar Para honrar o pagamento das remessas, aqui no Brasil, as empresas associadas s
o trnsito internacional de recursos financeiros, margem dos sistemas oficiais de remessadoras, transferem os valores para as contas correntes e de poupana dos
monitoramento e controle (de acordo com a regulamentao brasileira, as transferncias beneficirios em todo o territrio nacional (2). Em geral, so contas tituladas por
de valores do exterior devem, obrigatoriamente, transitar por uma instituio autorizada pessoas fsicas com ocupaes diversas (tais como estudantes, professores, esteticistas,
pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de cmbio). auxiliares de escritrio, pensionistas, entre outros), por vezes com baixa renda,
possivelmente familiares de imigrantes brasileiros no exterior, ou de alguma forma a
Em geral, os titulares das contas no Brasil, a partir das quais so realizadas as transferncias, eles relacionados.
so pessoas jurdicas com atividades nos setores de servios, que tm como caractersticas,
a movimentao de recursos de terceiros e/ou a precificao subjetiva de seus produtos Alternativamente, ao invs das transferncias, so realizados tambm depsitos de
(representao comercial, fomento mercantil, casas de cmbio, agncias de turismo, valores em espcie, em terminais de auto-atendimento ou mesmo nos guichs de caixa
cobrana, consultoria, assessoria, gesto empresarial, publicidade, organizao de eventos). de instituies financeiras (2). Isso ocorre, principalmente, em praas localizadas na
Tais empresas, aparentemente de fachada, em geral tm pouco tempo de existncia, regio de fronteira, em Estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran, Mato
possuem scios muito jovens, no apresentam histricos financeiros e empresariais Grosso do Sul e Mato Grosso, onde existem vrias cidades vizinhas a cidades nos pases
compatveis com a movimentao financeira realizada. limtrofes, nas quais h grande movimentao de Reais (R$) no comrcio, em razo
compras por brasileiros.
Para no chamar a ateno, so utilizadas simultaneamente diversas empresas. Aps
algum tempo, ou diante de questionamentos pelas instituies financeiras detentoras Como esse sistema alternativo de remessas viabiliza a movimentao de recursos do e
das contas, ou por autoridades de investigao, as empresas param de operar e so para o exterior fora dos mecanismos de monitoramento e controle e sem a identificao
substitudas por outras, constitudas com quadro societrio distinto. dos envolvidos, tambm atrativo para a movimentao de valores oriundos de outros
crimes, como trfico de entorpecentes, contrabando, descaminho, desvio de recursos
pblicos, corrupo, entre outros.
Na maioria das vezes, os recursos que abastecem as contas dessas empresas so originados
de outras empresas (3) dedicadas ao comrcio e/ou representao comercial(de
Os remetentes e os beneficirios das remessas iniciadas no exterior so utilizados como
produtos eletrnicos, dispositivos de informtica, ou outros itens importados, tais como
laranjas para movimentar valores provenientes, direta ou indiretamente, de crimes,
roupas, tecidos, instrumentos musicais, equipamentos e materiais de uso mdico).
sem deixar registros que permitam a identificao de seus autores (principalmente nos
Muitas dessas empresas possuem em sua razo social indicativos de atuao direta
casos em que os crditos nas contas so realizados por meio de depsitos em espcie).
no comrcio exterior (termos como importao e/ou exportao, importadora
e/ou exportadora), sem, contudo, apresentarem registros de operaes comerciais
internacionais, que justifiquem suas supostas atividades.
Tais caractersticas indicam possvel envolvimento dessas empresas com prticas ilcitas,
como subfaturamento de importaes e interposio fraudulenta no comrcio exterior.
Os importadores registram as operaes de importao por valores inferiores aos das
reais negociaes e efetuam o pagamento dos valores registrados pelas vias legais (4).
Para completar o pagamento do valor real da importao, utilizam o sistema alternativo
de remessas: transferem valores para as contas daquelas empresas no Brasil (5) que,
associadas s empresas de transferncia internacional de numerrio no exterior, se
encarregam de fazer chegar os recursos nas contas do exportador, utilizando os recursos
acolhidos das pessoas que nelas depositaram valores para serem enviados ao Brasil (6).
Dessa forma, os valores que deveriam ser remetidos para o Brasil, so, na prtica, reme-
tidos para outros pases, para efetuar o complemento das importaes subfaturadas (7).
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FLUXOGRAMA: 04 | DESVIOS DE RECURSOS
PBLICOS MUNICIPAIS
Titular
DESCRIO DO CASO:
Diversas
da conta contas R$
correntes Belo Horizonte R$ R$ Empresa recm-criada, sem funcionrios registrados,passa a movimentar,
e poupanas
Importadora Lojas de varejo repentinamente, em suas contas bancrias, recursos incompatveis com a sua capacidade
R$
Outros destinatrios R$ econmico-financeira. Os recursos so oriundos, em sua maioria, de rgos da
Prestadora administrao pblica municipal (1).
de servios
O quadro societrio da empresa formado por um agente poltico, que j foi funcionrio
da prefeitura, e por seus parentes.
Saques em espcie R$
Dinheiro Prestadora
de servios Outros depositantes
Os recursos que ingressam na conta da empresasotransferidos para outras empresas, ligadas
ao scio agente poltico e a seus parentes (2), ou sacados em espcie de forma fracionada (3).
Em contatos realizados pelas instituies financeiras nas quais mantm suas contas, a
empresa oferece resistncia ao fornecimento de informaes para a atualizao cadastral e
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no apresenta fundamentao ou justificativa econmica para os recursos movimentados.
As caractersticas da movimentao financeira indicam possvel esquema para ocultar
05 | ADULTERAES
ou dissimular o desvio de verbas pblicas. As transferncias de valores, da conta que DE COMBUSTVEL
recebeu os crditos de rgos da administrao pblica, para pessoas fsicas e outras
empresas, so artifcios utilizados para dificultar a identificao dos autores do desvio.
SETORES ENVOLVIDOS:
FLUXOGRAMA: Fabricao e comrcio de tintas, solventes e outros produtos qumicos e petroqumicos
Postos de Combustveis
Sistema Financeiro Nacional
DESCRIO DO CASO:
Scio Scio Scio Scio Dinheiro
Empresas que atuam na fabricao e comrciode produtos qumicos e petroqumicos,
tais como solventes e tintas, apresentam movimentaes financeiras caracterizadas por:
a. recebimento de transferncias e de depsitos em espcie,provenientes de postos
de combustveis e de empresrios com atuao nesse mesmo setor (1); e
b. recebimento de grande quantidade depsitos em espcie realizados por outras
empresas tambm do ramo de fabricao e comrcio de produtos qumicos e
Empresa 1 Empresa 2 Empresa 3
Empresa Recm criada petroqumicos (2).
Saques fracionados
c. Em geral, as empresas depositantes dos valores em espcie no possuem
Scio
Recebe Recebe Recebe e transferncias Scio
empregados registrados e so constitudas por scios que tm vnculos
empregatcios com outras empresas, com histrico salarial e financeiro
incompatvel com os valores movimentados.Por vezes, os scios tm registros
criminais relacionados venda de combustveis adulterados e sonegao fiscal.
Parente 2 Dinheiro Parente 1
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Essas empresas, aparentemente de fachada, efetuam os depsitos por curto perodo
de tempo e, em seguida, so substitudas por outras empresas, com quadro societrio
06 | COMRCIO IRREGULAR DE VALE
distinto, porm com as mesmas caractersticas. ALIMENTAO E REFEIO
As caractersticas da movimentao indicam que, provavelmente, os reais proprietrios
das empresas de fachadaso os mesmos donos dos postos de combustveis, que utilizam
interpostas pessoas para figurarem como scios e usam essas empresas para adquirir das
empresasdo ramo de fabricao de produtos qumicos e petroqumicos (3), os insumos SETORES ECONMICOS ENVOLVIDOS:
(especialmente o solvente)necessrios para o processo deadulterao de combustveis (4).
Empresas do Segmento de Alimentao
Os depsitos em espcie realizados pelas empresas de fachada, para o pagamento da Empresas Emissoras de Cartes e TquetesAlimentao/Refeio
aquisio dos insumos, bem como a substituio sistemtica dessas empresas por outras Sistema Financeiro Nacional
com quadro societrio distinto, dificultam o rastreamento da origem dos recursos e a
identificao dos autores do esquema criminoso de adulterao de combustveis.
SINAIS DE ALERTA DE INTELIGNCIA FINANCEIRA:
1. Recebimento de recursos de valores expressivos, enviados por emissoras de
FLUXOGRAMA: cartes e tquetes alimentao/refeio.
2. Empresas com dados cadastrais semelhantes, sem empregados registrados,
cujos scios aparentemente no possuem capacidade econmica para justificar
a movimentao financeira registrada.
Conta
Bancria 3. Alternncia de mesmas pessoas fsicas nos quadros societrios de empresas
Empresas Fantasma relacionadas em comunicaes suspeitas.
Movimentao Incompatvel 4. Realizao de saques em espcie, que apresentem atipicidade em relao
atividade econmica do cliente ou incompatibilidade com a sua capacidade
Scios Empregados econmico-financeira.
Postos de Gasolina Salrios
Incompatveis
Empresa 5. Movimentao de recursos incompatvel com o patrimnio, atividade
econmica e capacidade financeira.
D I
Insumos para adulterao Postos de 6. Movimentao de quantia significativa por meio de conta at ento pouco
Laranjas
Gasolina movimentada.
7. Recebimento de recursos oriundos de empresas investigadas por desvio de
D
recursos pblicos.
Postos de Scios Histrico Criminal
Gasolina 8. Envolvimento de pessoas que possuem registros criminais.
Depsitos Fabricante de tintas e solventes
em espcie
Laranjas
I D Insumos para adulterao Postos de DESCRIO DO CASO:
Gasolina
Empregados
Empresas recm-criadas, sem funcionrios registrados, cadastradas como restaurantes,
Scios Salrios
Empresa
lanchonetes, bares ou similares, passam a receber, em suas contas bancrias, valores
Incompatveis
Fabricantes de Qumicos e Petroqumicos expressivos enviados por empresas emissoras de cartes e tquetes do tipo vale
Movimentao Incompatvel alimentao/refeio (1).
Conta
Bancria
Em geral, as empresas possuem scios ou procuradores comuns (2), que aparentemente
Empresas Fantasma
no tm capacidade econmico-financeira para justificar os valores movimentados por
seus empreendimentos. Algumas vezes, os scios so ligados, direta ou indiretamente, a
pessoas com registros criminais (3).
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As caractersticas da movimentao indicam que tais empresas compram, com desgio, 07 | AQUISIO DE IMVEIS COM
crditos de cartes e tquetes do tipo vale-alimentao/refeio recebidos por trabalhadores
(4) e que os recursos financeiros para o pagamento das compras so provenientes de DESVIO DE RECURSOS PBLICOS
atividades ilcitas, especialmente trfico de drogas e desvio de recursos pblicos (5).
Emissoras
de Cartes Sacam Em determinada data, a fundao recebe recursos da instituio de ensino (1) e, em data muito
prxima ao repasse, compra imveis (2) e transfere os recursos para as empresas que venderam
os imveis (3). Pouco tempo depois, a fundao vende os mesmos imveis instituio de
ensino que a criou, por valores muitas vezes superiores aos praticados na compra.
Beneficirios
Dinheiro em espcie finais
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Analisados os registros de transaes imobilirias, verifica-se que os imveis pertenceram,
anteriormente, fundao (*), foram recomprados anos depois pela prpria fundao,
08 | PIRMIDE FINANCEIRA
pelos mesmos valores e, em data prxima da recompra, revendidos instituio de COM MARKETING MULTINVEL
ensino (5), porm com valores muitas vezes superiores aos das compras originais (6).
Dinheiro
Imvel
Imvel
DESCRIO DO CASO:
Recebe Vende
Empresas recm-criadas, cadastradas em geral como do ramo de informtica e similares
Adquiriu
(como provedores de internet, consultoria em tecnologia da informao, produo de
softwares) passam a receber, em suas contas bancrias, valores expressivos, provenientes
de vrias localidades e de remetentes diversos (1).Os crditosso realizados por meio de
Empresa fantasma
depsitos em espcie ou transferncias eletrnicas, em valores inicialmente baixos ou
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fracionados, mas que se somados resultam em montantes elevados. FLUXOGRAMA:
Transfere
Esse investimento inicial, conforme prometido pelas empresas, seria recuperado em Scio
curto prazo pelo participante, a partir da remunerao pela prestao dos servios ou da
venda dos produtos e, principalmente, pelas comisses com novos recrutamentos, que Mesmos telefones
Mesmos endereos
em seguida se converteriam em ganhos financeiros exponenciais.
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09 | TARJETAGEM
SETORES ENVOLVIDOS:
Sistema Financeiro Nacional
Corretoras de Cmbio no Exterior
DESCRIO DO CASO:
Vrias pessoas fsicas domiciliadas em uma mesma regio de fronteira movimentam
recursos em suas contas correntes cujos valores so nitidamente incompatveis com seus
patrimnios, ocupaes profissionais e a capacidades financeiras.
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parcela (aproximadamente 5%) dos recursos que deixam as contas movimentadas. Os FLUXOGRAMA:
nmeros de depsitos e saques ocorridos nas contas movimentadas so claramente
incompatveis com a ocupao profissional ou atividade econmica dos titulares,
aparentemente no demonstrando serem resultados de atividades ou negcios normais.
Fronteira
Informaes levantadas por instituies financeiras indicam que os titulares das contas
movimentadas realizam operaes cambiais no autorizadas pelo Banco Central do
Brasil, efetuando depsitos dirios em suas contas correntes no Brasil, com posterior
saque em moeda estrangeira no exterior, cujos recursos so, em seguida, novamente
trocadospor Reais (R$) no mercado paralelo no exterior, com taxas de cmbio atrativas,
em casas de cmbios ou por meio de doleiros (3). Os valores em Reais (R$) so, ento,
novamente depositados nas contas correntes no Brasil, completando um ciclo da
operao, que gera percentual de lucro pequeno, mas no desprezvel (4). Os titulares Caixa ATM
das contas repetem esse ciclo vrias vezes, fazendo a travessia da fronteira, e auferindo
lucro de aproximadamente 1 a 1,5% do valor sacado em cada operao.
Moeda Estrangeira
precisam efetuar a converso dos recursos para moeda estrangeira, estando dispostos,
para isso, a pagar taxas de cmbio mais atrativas que as praticadas no mercado oficial.
Casa de Cmbio
Principais reas de incidncia: Foz do Iguau/PR, Ponta Por/MS, Epitaciolndia/AC e Drogas
Tabatinga/AM. Dinheiro Recursos de origem ilcita em Reais (R$)
Organizao
criminosa 2
Fronteira
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10 | JOGOS DE AZAR POR MEIO
DE TTULOS DE CAPITALIZAO
DESCRIO DO CASO:
O esquema consiste na descaracterizao do processo de comercializao de ttulos
de capitalizao, transformando-o em canal para a explorao ilegal de jogos de azar,
aproveitando-se da autorizao existentepara realizao de sorteios de prmios entre
seus consumidores, como forma de incentivar aquisio desse produto financeiro.
O ttulo de capitalizao uma economia programada de prazo definido, que pode ser
realizada em pagamento nico (PU) ou em parcelas peridicas (PP), em geral mensais
(PM). Durante o prazo de vigncia, o consumidor tem o direito de participar de sorteios
de prmios em dinheiro, e, ao final da sua vigncia, de receber parte ou totalidade do
dinheiro investido. A compra de um ttulo de capitalizao , portanto, uma forma
de guardar dinheiro e, ao mesmo tempo, de participar de sorteios.Como forma de
desencorajar o resgate antecipado da economia realizada, so aplicadas penalidades para
resgates realizados antes do trmino do prazo de vigncia do ttulo.
Ao contrrio da poupana tradicional, nem todo o montante pago pelo consumidor
do ttulo de capitalizao rentabilizado, uma vez que cada pagamento apresenta trs
componentes, que tm a seguinte destinao:
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quota de capitalizao - percentual destinado capitalizao, que compor o valor resgate dos valores capitalizados ao final da vigncia dos ttulos a uma organizao sem
a ser resgatado pelo consumidor ao final da vigncia do ttulo; fins lucrativos, que est ligada ao grupo econmico da sociedade de capitalizao (4).
quota de sorteio - percentual destinado a custear os prmios aos contemplados;
Os TCP, entretanto, so emitidos na forma de pagamento mensal, que permite, nas
quota de carregamento - percentual destinado a custear as despesas operacionais e
primeiras parcelas, a destinao de percentual muito pequeno (10%) para capitalizao.
administrativas da sociedade de capitalizao.
Como o consumidor possui interesse apenas na participao nos sorteios, uma vez que
transferiu o direito de resgate, no ocorre a continuidade do pagamento a partir do segundo
ms de vigncia dos ttulos, inviabilizando a formao da reserva a ser capitalizada. Como
O percentual dos pagamentos a ser destinado a cada uma dessas cotas depende da
as demais parcelas no so pagas, o ttulo cancelado e o pequeno percentual (10%)
periodicidade de pagamentos do ttulo comercializado. Nos ttulos de pagamento
destinado quota de capitalizao resgatado de forma antecipada (5).
nico (PU), a quota de capitalizao deve corresponder a no mnimo 50% do valor do
pagamento. J nos ttulos de pagamentos mensais (PM) ou de pagamentos peridicos
Os valores arrecadados com o pagamento da primeira parcela do TCP, quase que
(PP), o percentual destinado capitalizao para posterior resgate deve ser, nos trs
integralmente destinados quota de carregamento, entretanto, no so repassados
primeiros meses de vigncia, de no mnimo 10% e, a partir do quarto ms de vigncia,
sociedade de capitalizao. A empresa distribuidora repassa apenas o valor necessrio
de no mnimo 70%.
para a concretizao dos sorteios, uma vez que a sociedade de capitalizao concede, na
aquisio dos citados TCP, suposto desconto em montante praticamente correspondente
Os ttulos de capitalizao podem ser comercializados nas seguintes modalidades, entre
quota de carregamento da primeira parcela (6). Esse desconto, todavia, no repassado
outras: tradicional, popular e incentivo.
ao consumidor, que paga integralmente o valor da primeira parcela, isto , o valor
destinado s quotas de capitalizao, carregamento e sorteio.
Tradicional: tem por objetivo restituir ao titular, ao final do prazo de vigncia, no
mnimo, o valor total dos pagamentos efetuados pelo subscritor, desde que todos os O valor da quota de carregamento , portanto, retido pelo distribuidor, que deveria ser
pagamentos previstos tenham sido realizados nas datas programadas. remunerado apenas pelas atividades de divulgao e distribuio. A comercializao
Popular: tem por objetivo propiciar a participao do titular em sorteios, sem que dos ttulos de capitalizao , assim, descaracterizada, uma vez que o distribuidor tem
haja devoluo integral dos valores pagos. como objetivo apenas os lucros auferidos com o pagamento da primeira parcela do
Incentivo: est vinculado a um evento promocional de carter comercial institudo ttulo, explorando, para tanto, a possibilidade de realizao de sorteios de prmios e em
pelo subscritor. Nessa modalidade, uma pessoa jurdica, definida como empresa dinheiro.
promotora do evento, adquire ttulos de capitalizao para utilizao em promoes
comerciais individuais ou coletivas a ttulo de propaganda, mediante a distribuio Ademais, nos registros de contabilidade no verificado o repasse de valores a ttulo
gratuita de prmios, com o objetivo de alavancar as vendas de seus produtos de comisso pela sociedade de capitalizao corretora, que deveria ser a principal
ou aquisio de seus servios. Para realizar a promoo comercial, a empresa finalidade da venda de TCP, alavancada pela promoo comercial realizada por
promotora cede os direitos de sorteio desses ttulos de capitalizao ao consumidor meio dos TCI.
que adquire o produto ou servio, tornando a compra mais atrativa.
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11 | DESVIO DE RECURSOS
FLUXOGRAMA:
PBLICOS COM CONVNIOS
Cancelamento No paga 1. Movimentaes atpicas de recursos por organizaes sem fins lucrativos.
Vnculo demais parcelas 2. Recebimento de recursos enviados por organizao sem fins lucrativos
beneficiria de recursos pblicos.
3. Recebimento de recursos com imediata realizao de saques em espcie.
+
4. Empresas com dados cadastrais semelhantes, sem empregados registrados,
Cede direito de resgate do TCP
Mesmo grupo econmico
cujos scios tm vnculos pblicos.
Organizao TCP TCI
sem fins lucrativos
DESCRIO DO CASO:
Resgate do TCP
Uma organizao sem fins lucrativos consegue recursos pblicos mediante proposta de
convnio que contempla projeto relacionado sua rea de atuao (1). Paralelamente,
dirigentes da organizao sem fins lucrativos criam vrias empresas com atividade
no mesmo segmento de atuao da referida organizao. Tais empresas no possuem
empregados registrados, e esto, via de regra, sediadas em um mesmo endereo
residencial, em endereos prximos, ou ainda no endereo de um de seus scios (2).
A organizao sem fins lucrativos passa a remeter recursos via cheques para tais empresas,
com a suposta fundamentao de pagamento de servios prestados, que, de fato, no so
executados (3). Em seguida, os valores so sacados em espcie das contas das empresas
por funcionrios ou dirigentes ligados organizao sem fins lucrativos, que se tornam,
assim, os verdadeiros beneficirios dos recursos pblicos obtidos via convnio (4).
Aps a chegada dos recursos pblicos aos mentores do esquema criminoso, as empresas
criadas com o propsito de desvi-los, so canceladas via Distrato Social (5).
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FLUXOGRAMA: 12 | PONTUAO ARTIFICIAL EM PROGRAMAS
DE BENEFCIOS DE CARTES DE CRDITO
Presidente
Aps a gerao dos ttulos, as pessoas fsicas ou jurdicas que os criaram utilizam seus prprios
cartes de crdito para pag-los (2), depois do que os valores financeiros correspondentes
ingressam na conta corrente do cedente (3), que, em seguida, os utiliza para pagar as faturas
dos cartes de crditos usados na quitao daqueles mesmos ttulos (4).
Com este procedimento, repetido inmeras vezes, o titular do carto de crdito consegue
gerar, artificialmente, pontos em programas de benefcios (5), obtendo lucros com a sua
posterior venda a empresas de turismo (6).
40 | II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro | 41
RESULTADOS: 13 | COMRCIO ILEGAL DE CARVO VEGETAL
Para impedir a gerao artificial de pontos em programas de benefcios, os bancos
implementaram medidas restritivas a pagamentos de ttulos de cobrana com carto
de crdito, tais como a estipulao de limites mensais para pagamentos de ttulos de
cobrana, e a no pontuao, em programas de benefcios, de gastos com pagamentos SETORES ECONMICOS ENVOLVIDOS:
de ttulos de cobrana.
Siderurgia
Extrao de Carvo Vegetal
Sistema Financeiro Nacional
FLUXOGRAMA: Postos de combustveis
42 | II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro | 43
Para burlar estes controles e baratear os custos de produo do ferro-gusa, algumas
empresas siderrgicas utilizam ilegalmente o mesmo DOF para justificar a
14 | LAVAGEM DE DINHEIRO
comercializao de vrios carregamentos de carvo vegetal de origens diferentes (3). DO TRFICO DE DROGAS
As operaes fraudulentas so viabilizadas com a utilizao de notas fiscais frias (4)
e mediante a corrupo de servidores pblicos (5) que lanam informaes falsas no SETORES ECONMICOS ENVOLVIDOS:
sistema DOF (6).
Segmento de Loterias
Na tentativa de fraudar o fisco e apagar os rastros das operaes ilegais, as empresas Setor Hoteleiro
siderrgicas compram o carvo vegetal de origem ilcita por meio de pagamentos em
espcie (7), motivo pelo qual suas movimentaes financeiras passam a apresentar
numerosos e expressivos saques em espcie (8). Tambm realizam diversos pagamentos
SINAIS DE ALERTA DE INTELIGNCIA FINANCEIRA:
em cheques aos transportadores dos produtos de origem ilegal, que os descontam com 1. Movimentao de recursos incompatvel com o patrimnio, a atividade
desgio em postos de combustveis localizados na mesma regio (9). econmica e a capacidade financeira.
2. Realizao de depsitos em espcie, que apresentem atipicidade em relao
Em geral, a ocorrncia do fenmeno descrito coincide com expressivo aumento do atividade econmica ou incompatibilidade com a capacidade econmico-
volume e do valor total das operaes em espcie realizadas na regio onde esto financeira.
localizadas as siderrgicas que se utilizam do esquema criminoso. 3. Ganhar vrios prmios lotricos.
4. Realizao de depsitos em espcie por empresas aparentemente fantasmas.
DESCRIO DO CASO:
FLUXOGRAMA:
Um funcionrio pblico ganhou R$ 500 mil, no perodo de trs meses, por ter sido
sorteado em 18 prmios lotricos de diversas modalidades (1). Com o valor recebido, ele
adquiriu um hotel (2), que passou a movimentar recursos de volume expressivo em sua
Transporte ilegal conta corrente, justificadospela elevada taxa de ocupao e pelos altos preos cobrados
Carvo Ilegal pelas dirias (3).
Carvo Ilegal Navio de Carga
Descobriu-se, ento, que o funcionrio pblico estava, com certa frequncia, alugando
Utilizao
do mesmo DOF Nota fiscal Fria
Dinheiro
aeronaves para a realizao de voos destinados a regies de fronteira no norte do Pas.
Ao interceptar um dos vos, as autoridades descobriram, no interior da aeronave, a
Cheques
existncia de mais de meia tonelada de cocana.
Madeira Legalizada
Transporte Legal Saques
Sistema de DOF
Carvo
DOF
Cheques
Siderurgica Conta da Para inicialmente lavar o dinheiro proveniente do trfico de substncias
Siderrgica
Legalizado
Utilizao entorpecentes, o funcionrio pblico, que tinha relacionamento com alguns lotricos,
Dinheiro
do mesmo DOF comprou diversos prmios de pequeno valor, para os quais as casas lotricas possuem
Nota fiscal Fria
autonomia para efetuados respectivos pagamentos, justificando assim a origem dos
Carvo Ilegal
recursos obtidos ilicitamente.
Transporte Legal
9
Carvo Ilegal Informaes Falsas De posse desses recursos, o funcionrio pblico justificou a origem para a compra
Troca de cheques com desgio
Postos de Gasolina
do hotel. A subjetividade envolvida na precificao das dirias e a facilidade para
alterar os registros das taxas de ocupao, facilitou a criao da fundamentao
Corrupo de Funcionrio Pblico
econmica para a expressiva movimentao de recursos apresentada pelo hotel aps
Funcionrio Pblico
sua aquisio pelo funcionrio pblico.
44 | II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro | 45
Dessa forma, atravs da compra de bilhetes de loteria premiados e da subsequente
aquisio de empreendimentos lcitos, o funcionrio pblico encontrou uma forma
15 | FINANCIAMENTO DE CAMPANHA
delavar os recursos auferidos com o trfico de drogas (7). COM DESVIO DE RECURSOS PBLICOS
SETORES ENVOLVIDOS:
FLUXOGRAMA:
Administrao Pblica
Organizao No Governamentais (ONG)
Sistema Financeiro Nacional
46 | II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro II Coletnea de Casos Brasileiros de Lavagem de Dinheiro | 47
FLUXOGRAMA:
CRIMES ANTECEDENTES
N TIPOLOGIA Sistema
Org. Trfico ilcito
Financeiro Adm. Pblica
Criminosa de Drogas
Nacional
Aluguel de Contas
1 x
Bancrias
Corrupo e Fraude
2 x
em Licitao
Operaes com
3 x x
Dirigentes Scio Comrcio Exterior
Suposta Prestao de Servios Desvio de Recursos
4 x
Pblicos Municipais
Adulterao
5 x x
de Combustvel
Comrcio Irregular
Suposta
Campanha 6 de Vale Alimentao x x x
Prestao de Servios Subcontratao Financiamento
de Campanha Eleitoral e Refeio
Governo 1 Repasse de Recursos ONG Empresa Poltico
sem licitao
Aquisio de Imveis
7 com Desvio x x
de Recursos Pblicos
Pirmide Financeira
8 com Marketing x x
Multinvel
Dispensa de Licitao
9 Tarjetagem x x
Vnculo
Jogos de Azar
10 por meio de ttulos x x
Servidor de Capitalizao
Pblico
Desvio de Recursos
11 x x
Pblicos com Convnios
Pontuao Artificial
em Programas
12 x
de Benefcios
de Cartes de Crdito
Comrcio Ilegal de
13 x
Carvo Vegetal
Lavagem de Dinheiro do
14 x
Trfico de Drogas
Financiamento de Cam-
15 panha com desvio de x
Recursos Pblicos
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