Renata - Priore - Lima - Expansão de São Carlos
Renata - Priore - Lima - Expansão de São Carlos
Renata - Priore - Lima - Expansão de São Carlos
So Carlos
Agosto de 2007
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
2
Dedico este trabalho aos meus pais,
Newton Lima Neto e Maria Cristina
Priore, minha av Ondina Pirr Priore
(in memorian) e minha amiga
Alessandra Pinheiro (in memorian).
3
AGRADECIMENTOS
com grande emoo que inicio a redao dos Agradecimentos, e isso ocorre por dois
motivos. Por um lado, pelo sentimento de buscar contribuir, de alguma forma, para o resgate
da memria de So Carlos, que minha cidade natal, e por outro, por perceber a importncia
de cada pessoa que, direta ou indiretamente, contribuiu para a realizao deste trabalho. Em
primeiro lugar, agradeo aos meus pais, Newton Lima Neto e Maria Cristina Priore, no s
por respeito, mas por profunda gratido pelo apoio e, sobretudo, pelo amor dedicado. Em
segundo lugar, agradeo minha orientadora, a Professora Sarah Feldman, que desde o incio
orientou esta pesquisa com muita disciplina, mas principalmente com interesse e respeito pelo
trabalho desenvolvido.
Agradeo tambm minha famlia e, sobretudo, minha tia Solange e ao meu irmo
Eduardo, que me receberam em uma etapa decisiva da pesquisa. Ao companheiro de minha
me, Roberto Tomasi, aos meus avs Mario e Ondina (in memorian), s minhas tias Giselda e
Silvia, pelo carinho e pela pacincia. Agradeo tambm s minhas amigas Lvia Bueno,
Ludmila Freitas, Mariana Pezzo, Maria Isabel Patrcio, Deise Arenhart, Ana Vilanueva e
Alessandra Pinheiro (in memorian), que comigo conviveram, de longe ou de perto, obrigada
pelos bons fluidos e pelos ensinamentos. Aos funcionrios da USP, especialmente Marcelo
Celestin e Ceneviva, pelo bom humor e presteza; Universidade de So Paulo, pela
oportunidade de estudo; e aos meus colegas de curso, pelas horas de divertimento, pelas
pizzadas, especialmente minha amiga Fabiana Cervolo.
4
RESUMO
5
ABSTRACT
6
SUMRIO
INTRODUO..................................................................................................................................9
7
2.3.3 A atuao especulativa do mercado imobilirio e a regulamentao por contratos de
loteamentos ......................................................................................................................................100
2.3.4 As novas instituies de planejamento e a criao da Comisso Tcnica do Plano Diretor
em 1959............................................................................................................................................104
REFERNCIAS.............................................................................................................................181
8
INTRODUO
So Carlos uma cidade do interior paulista, ento com cerca de 200 mil habitantes,
localizada em um dos maiores eixos industriais do pas. Alm da economia industrial e
agrcola desenvolvida, tem importantes centros pblicos de ensino superior, responsveis pelo
desenvolvimento de pesquisa cientfica. So Carlos uma das cidades pertencentes ao ciclo
do caf paulista do sculo XIX, que se industrializou e se expandiu a partir do incio do final
dos anos 1940. O municpio, que faz fronteira com as cidades de Ibat, Araraquara, Amrico
Brasiliense, Rinco, Luiz Antonio, Descalvado, Analndia, Ribeiro Bonito, Brotas e
Itirapina, est localizado a 232 km de distncia da cidade de So Paulo, sendo acessado pelas
rodovias Washington Lus e Anhanguera.
9
Este trabalho consiste no estudo do processo de expanso urbana de So Carlos, entre
1857 e 1977, a partir dos loteamentos implantados, das formas de controle e de planejamento
da expanso urbana. Para isso, so analisadas as principais mudanas e continuidades no
contexto socioeconmico nacional, estadual e municipal, nas formas de uso e ocupao do
solo, na estrutura administrativa municipal de planejamento e no arcabouo legal urbanstico
construdo ao longo do perodo.
Um dos aspectos que motivou a realizao desta pesquisa foi a existncia de uma
lacuna em estudos amplos sobre o processo de expanso urbana de So Carlos, com nfase no
controle da expanso e nos padres urbanos caractersticos de cada perodo. Outro incentivo
para a realizao desta pesquisa foi a possibilidade de contribuir com a elaborao de estudos
sobre cidades do interior do Estado de So Paulo, que juntas compem uma complexa rede de
cidades no-metropolitanas de grande peso na economia e no desenvolvimento social do
Estado e do pas.
A expanso urbana passou a ser cada vez mais incentivada pelo poder pblico municipal
e ganhou novas dimenses. Ao mesmo tempo, o setor automobilstico nacional crescia, e a
rede rodoviria tornava-se mais importante do que a ferroviria. Segundo Villaa, as vias
regionais, tais como estradas e ferrovias, so os elementos mais poderosos de atrao da
expanso urbana, porque, alm do transporte de carga, tambm transportam passageiros e
geram urbanidade nos pontos de transbordo. Alm disso, as estradas intermunicipais
proporcionam rpido deslocamento e tambm podem ser utilizadas no transporte municipal
cotidiano (VILLAA, op. cit., p. 82). As mudanas no sistema de transporte desse perodo
provocaram redirecionamento da ocupao urbana em So Carlos, rumo rodovia. O
crescimento da rea urbana foi muito expressivo, tendo ocorrido principalmente pela
implantao de loteamentos contguos rodovia Washington Lus. Mas o traado deixava de
ser aquele homogneo e ortogonal da cidade tradicional, assumindo um novo padro virio,
de reas pblicas e de redes de infra-estrutura, descontnuo e precrio em relao rea
anteriormente urbanizada. Em 1959, foi criada a Comisso do Plano Diretor para elaborar um
plano urbanstico para o municpio, marcando o incio do perodo de estruturao do setor de
planejamento urbano local, que procurava estabelecer mais limites ao processo de expanso,
como aborda o Captulo 2.
13
internacionais. A industrializao de bens durveis cresceu em todo o Estado de So Paulo,
principalmente com o incio da implantao do Programa de Cidades Mdias pelo governo
federal. A Universidade Federal de So Carlos foi criada no final dos anos 1960 para dar
suporte ao Estado na formao universitria e no desenvolvimento de novas tecnologias.
14
CAPTULO 1 FUNDAO E CONSOLIDAO DO
NCLEO URBANO DE SO CARLOS DO PINHAL: dos
primeiros caminhos aos primeiros loteamentos (1857-1929)
15
1.1 A FORMAO DO TERRITRIO SO-CARLENSE DURANTE O SCULO
XVIII
A ocupao do territrio paulista foi pouco expressiva entre os sculos XVI e XVII.
Nesse perodo, as polticas de colonizao portuguesa concentravam-se principalmente nas
lavouras de cana do Nordeste brasileiro e nas minas de Gois, no Centro-Oeste do pas.
Segundo Melo (1975), no sculo XVI a populao paulista concentrava-se na cidade de So
Paulo e em algumas vilas do litoral, como Santos, So Vicente e Itanham. No sculo XVII,
as terras do interior do Estado comearam a ser lentamente ocupadas. Os povoamentos
atingiram inicialmente a rea do Vale do Paraba e depois foram avanando para o interior.
Nesse perodo, 12 novos municpios foram criados, entre eles Mogi das Cruzes, Itu, Jundia e
Sorocaba (MELO, op. cit.).
O primeiro aspecto que fomentou a ocupao das terras brasileiras foi o acirramento
da disputa entre os reinos de Portugal e Espanha por reas das colnias. Isso deixou as terras
brasileiras em permanente risco de invases, principalmente espanholas, levando o governo
portugus a adotar medidas de proteo, entre elas, o povoamento das terras mais suscetveis
s invases dos rivais. A consolidao da ocupao do territrio paulista tornou-se uma meta
para o governo portugus, e as principais estratgias adotadas em prol da proteo das terras
da colnia foram elaboradas pelo primeiro ministro de Portugal, o Marques de Pombal (1750-
1777) (BRIOSCHI, 1999, p.37; SANTOS, 2002, p.34).
16
1765, no incio do governo de dom Luis Antonio de Sousa Botelho Mouro, o morgado de
Mateus 1 (1765-1775), fiel seguidor dos projetos pombalinos.
1
Segundo Santos (2002, p. 45), as origens polticas do morgado de Mateus conferem-lhe condies de governabilidade para
detalhar, com a Corte, um projeto para o Estado do Brasil. Afinal, descendia de importantes colonizadores com relevantes
servios prestados em solo brasileiro para a Corte portuguesa.
17
Figura 2 Planta da cidade de Campinas, apud SANTOS (op.
cit., p. 149).
As caractersticas urbansticas das novas vilas paulistas que surgiram durante e aps o
morgado de Mateus tiveram como referncia os princpios presentes no projeto iluminista que
estava sendo colocado em prtica em Portugal naquele perodo. Esses parmetros
racionalistas foram usados na obra tcnica e esttica da reconstruo do centro de Lisboa,
inaugurado em 1775. O centro da capital portuguesa havia sido destrudo por um grande
maremoto, seguido de incndio, em 1755. Segundo Santos (op. cit., p. 42):
18
Figura 3 Planta do centro novo da cidade de Lisboa, inaugurado em 1775, apud Santos (op. cit., p. 42).
Campinas foi uma das cidades fundadas por determinao de Botelho Mouro, que
ordenou:
Dessa forma foi fundada Campinas, nas terras de Barreto Leme, em que as primeiras
ruas foram traadas no entorno da Igreja matriz. De forma semelhante surgiram outras
cidades do Estado, durante a segunda metade do sculo XVIII e o sculo XIX, como So
Carlos, que nasceu em torno de uma capela e cujo espao urbano foi concebido com padres
racionais e homogneos. Assim tambm ocorreu com Ibat, Franca, Ja, Limeira,
Araraquara, entre tantas outras.
19
Figura 4 Plantas do ncleo urbano inicial das cidades de Franca, So Carlos e Ibat. Fonte: Bacelar (1999, p. 123); Melo,
(op. cit., s/p).
No incio do sculo XVII, foi descoberta a existncia de ouro na terra dos ndios
Goiazes, na regio dos atuais Estados de Gois e Minas Gerais. A partir da, novos caminhos
foram abertos recortando o territrio paulista para abrir passagem para as tropas que partiam
da vila de So Paulo e seguiam em direo s minas no interior do pas. A principal estrada
aberta durante o perodo aurfero foi o Caminho de Gois, que j existia desde o sculo
anterior, mas foi ampliado e ganhou dimenso de estrada em 1725, ligando So Paulo regio
das minas. Esse trajeto passava pelas terras das cidades de Campinas, Jundia, Mogi Mirim,
Mogi Guau, Cajuru, Batatais, Franca e Ituverava, sendo denominado Estrada do
Anhanguera.
Nas terras ao longo desse caminho surgiram vrios povoamentos e pequenos vilarejos,
principalmente nos pontos de repouso de tropas dos viajantes. Muitos desses pontos de
permanncia transformaram-se em vilas e cidades ao longo dos anos. Segundo Brioschi (op.
cit., p. 47), entre 1727 e 1736, foram feitos cerca de 69 registros de sesmarias ao longo do
caminho, alm das concesses feitas aos descobridores das minas de Gois. Essas sesmarias
deram origem s cidades de Campinas, Porto Feliz e Mogi Mirim, entre outras. Os sertes
distantes do Estado de So Paulo, localizados a oeste do Caminho de Gois, s foram
ocupados no sculo seguinte (BRIOSCHI, op. cit., p. 36-47).
20
No final do sculo XVIII, foi aberto um novo acesso s minas de Gois, que passava
pelas terras desocupadas do centro-oeste do Estado. Esse novo caminho, que ficou conhecido
como Picado de Cuiab, partia de So Paulo, passando por Sorocaba, Itu e Piracicaba, e
seguia no sentido noroeste, atingindo Rio Claro e os sertes de Araraquara. Em 1799, Carlos
Bartholomeu de Arruda Botelho, que era dono de grande parte das terras dos sertes de
Araraquara, foi chamado pelo capito-general de So Paulo para supervisionar os trabalhos de
abertura da nova estrada. Uma vez finalizado, o caminho inseriu toda a regio de Araraquara
em uma rota comercial, conectando-a capital. Posteriormente, o Picado de Cuiab tambm
foi usado para o trfego das tropas que atuaram na Guerra do Paraguai (GORDINHO, 2004,
p. 25).
PICADO
DE CUIAB
CAMINHO DE
GOIS
Figura 5 Desenho esquemtico do Picado de Cuiab e do Caminho de Gois, apud Bisinotto (op. cit. p. 40).
21
No encontro do Picado de Cuiab com o Crrego Gregrio surgiu o primeiro
povoado do municpio de So Carlos, justamente em um dos pontos de repouso de tropas que
seguiam para a regio das minas. Nesse encontro formou-se um pequeno aglomerado de
palhoas (...) para o fornecimento de pouso de descanso e abastecimento das caravanas
(DEVESCOVI, 1985, p.17). A partir da foram sendo instalados pequenos estabelecimentos
pecurios e agrcolas que abasteciam as tropas (DEVESCOVI, op. cit.).
1.1.3 As sesmarias das terras dos pinhais: a participao dos Arruda Botelho na
formao do territrio so-carlense
2
Posteriormente, o nome da cidade passou a ser apenas So Carlos.
22
regio isolada das demais vilas paulistas. Carlos se dedicou carreira militar, tendo se
destacado como alferes na colnia militar de Iguatemi (GORDINHO, op. cit., p. 13-15).
Ao retornar da colnia de Iguatemi para Itu, Carlos Botelho foi enviado para
Piracicaba e foi promovido a sargento-mor. Nesse momento, Carlos Bartholomeu fez um
pedido coroa portuguesa de concesso de uma sesmaria na regio dos campos de
Araraquara. Uma vez concebida as terras da Sesmaria do Pinhal, Carlos Bartholomeu se
mudou com sua famlia para sua nova propriedade, onde construiu a primeira sede da Fazenda
do Pinhal. Com Maria Siqueira, Carlos teve quatro filhos: Manoel Joaquim Pinto, Maria
Francisca, Eugenia Antonia e Carlos Jos (GORDINHO, op. cit., p. 16, 17 e 21).
Em 1786, Carlos Bartholomeu comprou mais uma sesmaria, que havia sido concedida
a Manoel Martins em 1781. Naquele mesmo ano, 1786, o filho mais velho de Carlos
Bartholomeu, Manoel Joaquim, requereu outra sesmaria nos campos de Araraquara, contgua
primeira adquirida pela famlia. Em 1795, Carlos Bartholomeu voltou para Piracicaba, onde
adquiriu mais uma sesmaria. Em 1815, ele voltou para Piracicaba, onde, em pouco tempo,
faleceu. O filho mais novo de Carlos Bartholomeu, Carlos Jos Botelho, conhecido pela
populao da cidade como Botelho, tambm seguiu carreira militar e se destacou na carreira
poltica, bem como seu irmo Manoel Joaquim.
Tendo nascido em Piracicaba, mas crescido em Araraquara, Carlos Jos foi o herdeiro
das terras do Pinhal. As sesmarias herdadas tinham limites pouco precisos, e a legislao
imperial, segundo Gordinho (op. cit.), era bastante confusa. Em 1831, Carlos Jos decidiu
delimitar suas terras com preciso e para isso chamou um juiz que demarcou o permetro da
sesmaria do Pinhal. Ele tambm construiu uma nova casa-grande na Fazenda do Pinhal com
uma capela, cujo santo protetor era So Carlos Borromeu. A imagem do santo, presente na
capela da residncia, mais tarde foi doada Capela de So Carlos do Pinhal (GORDINHO,
op. cit., p. 23-29).
23
herdeiros, mas a sede da fazenda do Pinhal, bem como a maior parte das terras de Carlos Jos,
passou a pertencer a Antonio Carlos (GORDINHO, op. cit., p. 37).
Com efeito, a concesso de sesmarias foi uma prtica muito utilizada durante o
perodo do Brasil colonial, sendo o principal sistema de aquisio e ocupao de terras no
Brasil. Em 1822, ano da independncia, foi suspenso o sistema de concesso de terras e
abolido o regime de demarcao e doao de sesmarias. At 1850, as formas de obteno de
terra ficaram imprecisas, pois o antigo regime no foi substitudo por outro at essa data.
Nesse intervalo, 1822/1850, a obteno de terra era feita por posse, o que no era uma prtica
regulamentada. Tal prtica tornou-se muito comum e, como a aprovao da lei de terras foi
tardia, demorou muito para que suas regulamentaes fossem incorporadas ao cotidiano
imperial. A Lei de Terras de 1850 definiu a terra como propriedade privada, devendo ser, a
partir de ento, comercializada por meio do sistema de compra e venda. Dessa forma, coibia-
se a livre prtica da doao de terras e proibia-se a posse arbitrria do solo (MARX, 1991, p.
103).
Em meados do sculo XIX, Carlos Jos de Arruda Botelho, conhecido como Botelho,
decidiu doar parte de suas terras para a Igreja, para a construo de uma capela para seu santo
protetor. O local onde pretendia construir a capela era prximo ao antigo pouso dos viajantes,
onde nascera o primeiro povoado das terras so-carlenses. Esse terreno j era utilizado para a
realizao de cultos religiosos e era cercado por vrias casas (NEVES, op. cit., p. 1-3).
24
Mas para que o terreno para a construo da Igreja fosse aceito, era necessrio o cumprimento
de uma srie de determinaes e exigncias feitas pela Igreja. Como aponta Brioschi (op. cit.,
p. 80):
A doao de terras para a Igreja nem sempre era feita sem nenhum interesse, pois era
comum que essa doao trouxesse prestgio aos doadores, alm de vantagens materiais, pois
nos arredores da capela passavam a se instalar residncias e estabelecimentos comerciais que
aumentavam o movimento do local, atraindo cada vez mais interessados em viver ali. Esse
movimento, em longo prazo, criava a possibilidade de venda de lotes no entrono do
patrimnio, para chcaras e outras moradias (BRIOSCHI, op. cit., p. 80). Em So Carlos,
isso de fato acabou acontecendo, embora o usufruto dessas vantagens tenha sido dos herdeiros
da sesmaria do Pinhal, uma vez que Carlos Jos faleceu antes da inaugurao da capela.
25
precisa ao dito fecho (ALMANAQUE DE SO CARLOS DE 1894, apud
BISINOTTO, 1988, p. 55-56).
3
Segundo Brioschi (op. cit., p. 77), a freguesia era o local de sede de uma igreja paroquial e que tambm servia para a
administrao civil. O vocbulo vila era utilizado para o que hoje conhecemos como a sede de um municpio, e suas terras
eram chamadas de Termo, cujos limites eram imprecisos. O Termo da vila era dividido em freguesias.
26
que rapidamente se espalhava pelo territrio paulista: o caf. Os dados da Tabela 1 mostram o
crescimento das exportaes do gro, que, em 1880, j representava mais de 50% de todo o
valor obtido com as exportaes, mostrando tambm a queda dos demais produtos (NEVES,
op. cit., p. 2).
27
SO CARLOS
CAMPINAS
SO PAULO
Figura 6 Mapa com a rede de ferrovias do interior do Estado de So Paulo no incio do sculo XX (GERODETTI &
CORNEJO, 2003; mapa da So Paulo Railway, [sp]).
28
1.2.2 O rpido desenvolvimento da economia cafeeira em So Carlos
Em 1840, o primeiro cafezal nas terras do municpio formado por cinco mil ps, foi
plantado por Carlos Jos de Arruda Botelho. O caf se tornava um produto muito rentvel
nesse perodo, e o nmero e o tamanho das lavouras foi crescendo, o que atraiu novos
moradores para a regio. Com a decadncia do ciclo de minerao durante o sculo XIX,
muitos mineiros acabaram se fixando nas terras dos pinhais. Outros habitantes que tambm
chegavam nessas terras nesse perodo foram fazendeiros paulistas, vindos de Itu, Capivari e
outras vilas mais antigas, que transferiram suas residncias, junto com seus bens, para se
dedicarem ao cultivo desse gro (BISINOTTO, op. cit., p. 37).
Em 1880, foi autorizada a ligao frrea entre So Carlos e Rio Claro, que era
essencial para que se efetivasse o escoamento do caf. A ferrovia foi inaugurada trs anos
mais tarde, em 1883, ligando So Carlos capital e ao porto de Santos, por Rio Claro. Em
1893, foi construda a ligao ferroviria entre So Carlos e o distrito de Santa Eudxia, e, em
1894, a comunicao foi ampliada at Ribeiro Bonito (MELO, op. cit., p. 87).
O trem foi decisivo para a transformao da cidade: aproximou a rea rural da urbana,
dinamizou o escoamento da produo de caf e tambm facilitou a ligao do municpio com
a capital e com outras cidades da regio. Com isso, a vida urbana se modernizou, e a cidade
passou a atrair novos habitantes, principalmente os fazendeiros, que transferiram suas
residncias da rea rural para a urbana. A populao do municpio cresceu significativamente
nesse perodo, passando de 6.897 habitantes, em 1874, para 16.104, em 1886. A partir de
ento, desaparece, quase que totalmente, a primeira So Carlos de taipa e barrote, dando
lugar a prdios ilustres (NEVES, op. cit., p. 20-21).
29
Incentivo para a modernizao urbana era, sem dvidas, o trem,
descarregando diariamente materiais de construo, importados da Europa.
Surgem prdios cobertos de ardsia inglesa, com madeiramento de pinho de
riga e pisos de cermica francesa e italiana.
Segundo Melo (op. cit., p. 112), o Relatrio de 1893 indica que, neste ano, entraram,
em So Carlos, 3.788 imigrantes sados da Hospedaria dos Imigrantes vindos principalmente
da Itlia. Durante as trs dcadas seguintes, a imigrao continuou ocorrendo, e, entre 1901 e
1930, entraram 19.332 imigrantes em So Carlos. Com isso a populao total do municpio
cresceu mais de 330%. E como parte desses imigrantes se fixou na rea urbana, aumentou a
demanda por moradia e por terrenos na cidade. A tabela a seguir mostra a composio da
populao rural aps a chegada dos imigrantes, que vieram de vrios pases da Europa e se
tornaram maioria no municpio. O nmero de negros, ex-escravos africanos e seus
descendentes tambm era superior ao nmero de brancos brasileiros.
30
Tabela 2 Composio da populao rural (1899) municpio de So Carlos.
Portugueses 886
Austracos 447 85,53%
Alemes 211
Polacos 119
Franceses 3
Brasileiros pretos (*) 1.242
Brasil
14,47%
Brasileiros brancos 1.028
A crise cclica do caf vinha de longe [...] entre os anos de 1890 e1894. [...]
O que se conseguiu foi a alternncia de anos de euforia e anos de penria,
que no conseguia esconder, aos olhos dos mais avisados, a previso da crise
final, que se delineava inevitvel.
32
Grfico 1 Populao (1874-2000) municpio de So Carlos.
220
200
Nmero de habitantes (milhares)
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1874 1886 1900 1920 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Ano
Populao total
Populao urbana
Populao rural
Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud Devescovi
(1985, p. 58).
33
imigrantes estrangeiros ao Brasil. Esses imigrantes que vieram em grande quantidade,
principalmente da Europa, passaram a compor uma massa de trabalhadores livres e
assalariados que provocou o imediato crescimento do mercado consumidor interno.
34
portes, batentes, ladrilhos, etc. A Companhia de Fiao e Tecidos So Carlos foi fundada em
1911. Nesse momento se formava a burguesia industrial, junto com a burguesia comercial e a
classe operria da cidade (TRUZZI, op. cit., p. 148, 121-122).
35
1.3 A EXPANSO URBANA CONCENTRADA E CONTNUA
Entre 1894 e 1929 ocorreu uma desacelerao no processo de expanso que coincidiu
com a crise da economia cafeeira. Ao mesmo tempo, ampliavam-se as exigncias para a
aprovao dos novos planos de arruamentos. A Tabela 5 mostra a evoluo do crescimento da
rea urbana durante esse perodo. Entre 1889 e 1893, houve crescimento de quase 50% da
rea urbana, resultante de quatro loteamentos, enquanto entre 1894 e 1929 apenas um
loteamento foi implantado, gerando crescimento de 4,67% da rea urbana. E neste perodo,
36
1857/1929, quatro parcelamentos espontneos foram realizados, representando crescimento
de 11,15% da rea urbana.
rea
Ano implantao Nome do parcelamento (1) Proprietrio (1)
(1) parcelamento
(hectares) (2)
1857 Centro (arruamentos) Patrimnio municipal e Igreja 247,0
1889 Vila Nery Joaquim Alves S. Nery 15,00
1891 Vila Isabel Casimiro C. O. Guimares 17,00
1891 Vila Pureza Manoel Antnio Mattos 26,80
1893 Vila Prado Leopoldo de Almeida Prado 57,70
1920 Vila Marcelino Jos Barbieri 17,00
Subtotal rea loteamentos 380,6
s/d Parcelamento espontneo 1 7,80
s/d Parcelamento espontneo 2 FEPASA 6,70
s/d Parcelamento espontneo 3 FEPASA 21,90
s/d Parcelamento espontneo 4 6,10
Subtotal rea parcelamentos espontneos 42,5
Total 423,5
Fontes: (1) Registros Loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves (1957); Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e
outros trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 (s/d).
37
38
1.3.2 1857/1889: os arruamentos iniciais e o traado do primeiro eixo de expanso
Figura 7 Foto da rua So Carlos (atual avenida So Carlos) em 1866 (regio do mercado
municipal). Fonte: Fundao Pr-Memria de So Carlos.
Em 1858, o pequeno povoado tinha apenas sete quarteires localizados ao sul do ptio
da capela. O solo urbano era dividido em datas, que eram pequenas pores de terra que
serviam para a construo dos edifcios. A expanso urbana de So Carlos para o norte
dependeu das doaes do proprietrio da sesmaria do Monjolinho, Joo Alves de Oliveira,
que ocorreu em 1868, e assim a cidade pde subir o alto da colina na direo norte. Nesse
mesmo ano, outras doaes de terras foram feitas para a cidade. Inicialmente, dona
Alexandrina Melchiades de Alkimin doou parte de sua propriedade. Em seguida, foram os
condminos pr-indiviso da sesmaria do Pinhal que acrescentaram novas glebas rea
urbana. Dessa forma, a vila caminhou para o alto da colina, com o prolongamento das ruas j
39
antes traadas e com a abertura das transversais seguintes, na direo norte, ao longo do
principal eixo de expanso formado pela rua So Carlos (NEVES, op. cit., p. 6). A rea
urbana, aps as primeiras expanses dos arruamentos deste subperodo, 1857/1888, chegou a
medir cerca de 260 hectares, rea correspondente atual regio central da cidade.
Avenida So Carlos
CAPELA
4
Carta de doao de terras de 1856, escrita por Carlos Botelho. Citado por Maria Ceclia B. Ferraz apud Neves (op. cit., p.
3).
40
edificaes citadinas eram muito simples e pobres, a maioria construda de pau-a-pique ou de
madeira, cobertas com palha (NEVES, op. cit., p. 3-7).
O traado formado pelas ruas, quadras e lotes era austero e homogneo e tinha o
desenho ortogonal caracterstico das cidades paulistas implantadas desde meados do sculo
XVIII. Esse traado pode ser verificado na Figura 9. As ruas eram amplas e todas tinham a
mesma largura, assim como os passeios; todos os edifcios eram implantados na divisa do
lote com os passeios, e a arborizao era insignificante (Figura 10).
LOCAL DA ANTIGA
CAPELA
AVENIDA SO CARLOS
PRAA
CORONEL
SALLES INST.LVARO
GUIO
RUA D. ALEXANDRINA
Figura 9 Traado ortogonal das quadras prximas ao enquadramento da capela. Essa situao foi registrada na dcada de
1980, mas ilustra o padro fundirio do centro da cidade de So Carlos que se formou durante o sculo XIX. Embora o
tamanho dos lotes tenha se modificado, o desenho das quadras se manteve. Apud Marques (1986, p. 209).
Figura 10 Rua Major Jos Incio em 1896. Fonte: arquivos da Fundao Pr-Memria/PMSC.
41
O miolo das quadras era composto por espaos livres formados pelas reas no
edificadas do fundo dos lotes (Figura 11). Essas reas eram arborizadas, situao que at hoje
persiste na configurao urbana dos trechos menos transformados do centro da cidade.
Segundo Neves (op. cit., p. 21), no fundo dos lotes existiam verdadeiras chcaras, com
abundncia de arvoredo frutfero e at palmeiras imperiais.
LOCAL DA
ANTIGA
CAPELA
Figura 11 Planta com contraste de cheios e vazios de um fragmento do centro urbano de So Carlos. Essa situao foi
registrada na dcada de 1980, mas ilustra o padro de ocupao dos lotes e quadras do centro da cidade de So Carlos
durante o sculo XIX. Apesar das modificaes sofridas ao longo dos anos, as relaes dos edifcios com os lotes se
mantiveram em grande parte dos casos. Apud Marques (op. cit., p. 206).
42
Raimundo Corra. A leste, a urbanizao ocorria ao longo das ruas Padre Teixeira e Marechal
Deodoro, na direo da Vila Nery, como mostra a figura a seguir.
Figura 12 Mapa da rea urbana da cidade de So Carlos formada entre 1857 e 1929, com os principais eixos de expanso do
perodo.
43
para dar acesso a ela, foi feito o prolongamento das atuais ruas Carlos Botelho e XV de
Novembro. A Vila Pureza foi implantada em uma rea de 27 hectares, tendo 380 lotes e uma
praa central. No lado oposto da cidade, a sudeste, foi implantada a Vila Isabel, em 1891, em
uma rea rural bem isolada do limite da rea urbana, cerca de 17 hectares, composta por 16
quarteires, divididos em 10 datas (NEVES, op. cit., p. 25).
Figura 13 Foto Vila Nery em 1917 e o Sr. Joaquim Alves de Souza Nery, proprietrio das terras. Fonte: Fundao Pr-
Memria de So Carlos.
Segundo Lavandeira (1999, p. 73), a Vila Prado e a Vila Nery eram bairros
compostos, principalmente, por operrios qualificados, funcionrios especializados de
qualificao mdia e pequenos comerciantes. medida que a burguesia industrial e
comercial se formava e ampliava seu poder aquisitivo, tambm passava a ocupar imveis do
centro da cidade. Mas, alm dessa rea, essa classe emergente ocupou imveis da regio da
Santa Casa, no loteamento Vila Pureza. A Vila Marcelino foi ocupada pela populao
operria, e depois dela nenhum novo loteamento foi implantado na cidade at 1935. O
crescimento da rea urbana s retomou o dinamismo aps a expanso industrial que sucedeu o
incio da Segunda Guerra Mundial, como ser visto no prximo captulo.
A Vila Prado, o maior dos loteamentos da cidade do sculo XIX, com 58 hectares, foi
implantada em 1893 em uma rea contgua linha do trem e prxima estao ferroviria
central, na direo sudoeste da cidade. Essa vila foi ocupada por famlias de ferrovirios, por
44
pequenas fbricas que surgiam nesse momento e por seus trabalhadores. Segundo Neves (op.
cit., p. 25):
45
transporte urbano comearam a circular em 1885, inicialmente movidos por trao animal.
Em 1890, foram contratados servios pblico e particular de abastecimento de gua potvel e
de coleta de esgoto. Nesse mesmo ano, foi encomendado um levantamento planialtimtrico da
rea urbana e seu mapeamento, para que fossem identificadas as edificaes e para que
fossem orientadas as novas construes. O sistema de gua e esgoto foi implantado em toda a
regio habitada nesse perodo. A luz eltrica chegou cidade em 1893, e a rede de
distribuio e o sistema hidreltrico de gerao de energia foram instalados pela Companhia
de Luz Eltrica de So Carlos (NEVES, op. cit., p. 20-21). Em 1894, foi criada a Companhia
Telephonica Saocarlense, e, no incio do sculo XX, foram construdas pequenas
hidroeltricas responsveis pela produo de energia no municpio. Em 1913, iniciou-se a
construo da grande usina do Quilombo, que trouxe substancial reforo rede energtica
(BISINOTTO, op. cit., p. 31).
Alm das obras de infra-estrutura, tambm foram construdos nesse perodo alguns
edifcios importantes. Em 1883, tiveram incio as obras do edifcio da Cmara Municipal,
localizada no Largo Municipal, onde est instalada at hoje. A primeira sesso da Cmara
nesse prdio ocorreu em 1884. O Teatro Ypiranga (posteriormente denominado Teatro So
Carlos) foi inaugurado em 1892, por Bento Carlos de Arruda Botelho, e atraiu para a cidade
grande nmero de companhias de variedades (NEVES, op. cit., p. 68; 40). Em 1893, foram
abertas a Santa Casa de Misericrdia e a Casa de Caridade, que ofereciam atendimento
mdico populao. Em 1895, foi inaugurado o jardim pblico do Ptio da Matriz, atual
praa Coronel Paulino Carlos Botelho. A cidade era extremamente prspera no final do sculo
XIX. Um relatrio enviado ao Presidente do Estado em 1893 descrevia:
So Carlos do Pinhal, uma das belas cidades e dos mais ricos municpios do
Estado (...) registrou que, em nascimentos e em casamentos foi superior a
Piracicaba, Araraquara e Guaratinguet, sendo inferior, apenas, a Ribeiro
Preto. 5
Ressalta-se que, embora o calamento das ruas ainda no tivesse sido realizado at
1893 e a rede de iluminao pblica estivesse em implantao, a rede de abastecimento de
gua potvel e de coleta de esgoto j atendia a cidade como um todo, evidenciando o
5
Relatrio apresentado ao Presidente do Estado, 1893, apud Melo (op. cit., p. 89).
46
progresso referido no relatrio enviado ao presidente da Cmara, bem como a homogeneidade
no tratamento do espao urbano.
A Vila Marcelino foi um loteamento privado implantado por Jos Barbieri, com rea
de 17 hectares. A maioria de seus lotes seguia o padro estabelecido pelo Cdigo de Posturas
de 1905, com 17 x 44 metros de faces. Mas outros lotes no fundo do loteamento mediam 10 x
70 metros, contrariando a legislao do perodo.
47
Figura 14 Parte do plano de arruamento da Vila Marcelino, implantada em 1920. Fonte: arquivo de planta de loteamentos da
SMHDU/Prefeitura Municipal de So Carlos.
A Vila Marcelino foi implantada ao longo da rua Raimundo Correa, atrs da fbrica
Toalhas So Carlos, sendo ocupada principalmente por operrios. Esse setor da cidade atraa
as maiores fbricas do perodo, tais como Toalhas So Carlos, Johann Faber, Cia e Indstria
Giometti; e j vinha sendo ocupado, desde a implantao da Vila Prado e da Vila Isabel, por
operrios e outros profissionais pouco especializados. As reas dos parcelamentos
espontneos 6 que se formaram nesse perodo surgiram da ocupao de reas da FEPASA,
contguas linha frrea. Conhecidas como Coloninhas da Fepasa, foram ocupadas por
famlias de ferrovirios.
48
sobrados, e por pequenos estabelecimentos comerciais e industriais (DEVESCOVI, op. cit., p.
51). Em 1903, entrou em funcionamento o primeiro pavilho do Mercado Municipal, e, em
1907, o segundo (NEVES, op. cit., p. 32-33, 70). Em 1911, foi implantada a Escola Estadual
de Segundo Grau Instituto lvaro Guio, localizado na esquina da avenida So Carlos com a
rua Padre Teixeira, onde ficava o Largo So Sebastio. O projeto dessa escola, que ocupava
uma quadra inteira do centro, foi realizado por Carlos Rosencrantz (FERREIRA et al., 1998).
Figura 15 Foto do edifcio e da planta original do projeto da Escola Estadual de Segundo Grau Instituto lvaro Guio,
construda em 1911. Fonte: Ferreira et al. (1998).
49
1.4 A CMARA MUNICIPAL NO CONTROLE DA EXPANSO
Com a promulgao da Carta Imperial de 1824 (de carter constitucional), que visava
estabelecer maior organizao do imprio e das provncias, os poderes judicirios das cmaras
foram limitados. Mas, por outro lado, foram mantidas as outras atribuies da Cmara de
cunho administrativo, legislativo, econmico e policial. A partir da, os cdigos de posturas,
elaborados pelas edilidades (vereadores), deveriam, necessariamente, ser aprovados pelas
Assemblias e pelo presidente de cada provncia, o que afetou o mbito decisrio das
localidades. Uma vez aprovado, o Cdigo de Posturas era o principal instrumento utilizado
pela Cmara, apresentando regras para os arruamentos, alinhamentos, entre outros parmetros
de ocupao do municpio. E era tambm tarefa da Cmara fiscalizar o cumprimento das
posturas e dos cdigos, o respeito pelos alinhamentos e pelas demarcaes e a manuteno
dos bons costumes (MARX op. cit., p. 37-38).
As cmaras eram normalmente formadas pelos representantes das elites locais, que,
por muito tempo, foi controlada pelas lideranas rurais, cujo controle era motivo de grandes
50
disputas. Como efeito, o mandonismo local vigia por todo o Imprio com disputas de poder,
rixas de famlias e parentelas, desmandos de toda espcie, tendo em vista o controle das
Cmaras Municipais (BRIOSCHI, op. cit., p. 81). Em So Carlos, essas disputas
aconteceram de forma acirrada, principalmente entre dois grupos polticos liderados, por um
lado, pela famlia dos Salles e, por outro, pela tradicional famlia dos Botelho (ABREU, 2000,
p. 39).
51
Artigo 1: Enquanto no se fizer regular o tombamento do patrimnio de
So Carlos do Pinhal, o permetro da cidade de So Carlos compreender a
rea contida nos limites tidos atualmente como divisas do mesmo
patrimnio (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1880, artigos 1, 2, 3 e
24, apud BISINOTTO, op.cit., p. 65-66).
Esses padres nos arruamentos realizados entre 1857 e 1889 sero obedecidos e
conferem a homogeneidade do traado, que uma caracterstica do processo de expanso
desse subperodo.
Em 1905, um novo Cdigo de Posturas foi aprovado para So Carlos, definido pela lei
municipal nmero 58. Essa lei abrangia o distrito de So Carlos do Pinhal e o distrito de Ibat,
que somente em 1953 foi desmembrado de So Carlos.
52
Em relao ao cdigo anterior, o novo Cdigo de Posturas manteve algumas
determinaes. As ruas e reas pblicas da cidade mantinham-se sob responsabilidade da
Cmara, e o arruador, funcionrio da cmara, fiscalizava a correta execuo dos alinhamentos
e nivelamentos dos novos edifcios e arruamentos. Entre as formas de aquisio de terras, os
terrenos da rea do patrimnio devoluto continuavam sendo concedidos a particulares em
datas de 17 metros de frente e quarenta e quatro de fundo, como acontecia desde o primeiro
Cdigo de Posturas estabelecido em 1866 (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1905, lei n.
58, fl.147).
Em relao aos cdigos anteriores, a lei era mais detalhada e apresentava uma srie de
restries para as intervenes na rea urbana e possua uma seo especfica para tratar dos
aspectos urbanos, intitulada Seco Urbana. A largura das ruas foi ampliada de 13 para 14
metros, devendo ser paralelas e perpendiculares s existentes. As caladas deveriam medir
1,75 metros de largura e seriam feitas em pedra ou cimento.
A mudana mais significativa trazida pelo novo cdigo foi relacionada ao limite da
rea urbana. Pela primeira vez se estabeleceu o limite entre a rea rural e urbana, sendo a
ltima subdividida em duas categorias: cidade e subrbio. A rea urbana, segundo o texto da
lei, compreendia toda a rea edificada do patrimnio e tambm as reas que a Cmara
incorporasse ao seu domnio, ou seja, a rea urbana deixava de se constituir apenas pela rea
do patrimnio, como acontecia at a aprovao dessa lei. Caberia Cmara determinar a
linha que dever separar o subrbio da cidade (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1905,
lei n. 58, captulo I). A definio do limite entre rural e urbano no representou o maior
controle do espao urbano, pois no momento de aprovao do Cdigo de 1905, os
loteamentos Vila Nery, Vila Isabel, Vila Pureza e Vila Prado, que ampliaram a rea urbana
em quase 50%, j haviam sido implantados, ou seja, a possibilidade de mudana de permetro
no se tornou uma ferramenta de controle da expanso, pelo contrrio, veio legitimar o
processo de expanso que j havia se consumado.
Com o incio da Repblica, ocorreu uma nova diviso no poder municipal, separando
o poder legislativo da Cmara do poder executivo e administrativo exercido pelo prefeito
municipal. So Carlos, em 1905, ainda no contava com um prefeito municipal, e sim com
um intendente da municipalidade, que no era soberano em relao Cmara Municipal,
ainda a responsvel pela administrao do espao urbano. A Igreja tinha relativo poder sobre
53
o espao urbano e podia doar terrenos, mas apenas aqueles pertencentes rea de reserva do
patrimnio. A figura a seguir ilustra a estrutura administrativa do municpio em 1905.
Figura 16 Estrutura administrativa de So Carlos em 1905. Fonte: So Carlos, Lei n. 58 Cdigo de Posturas de 1905.
Quatorze anos aps a aprovao do Cdigo de Posturas de 1905, um novo cdigo foi
aprovado para o municpio de So Carlos, pela lei n. 283/29. O Cdigo de Posturas de 1929
foi aplicado ao distrito sede de So Carlos e ao distrito de Ibat, como no cdigo anterior, e
incluiu mais um distrito em sua abrangncia, o de Santa Eudxia, que at hoje se mantm
como parte do municpio. O territrio municipal era dividido em rea rural e urbana, sendo a
ltima subdividida em cidade e subrbio, dividido da mesma forma que no cdigo anterior. A
rea urbana continuava sendo definida como rea reservada ao patrimnio, e as demais reas,
54
incorporadas pela Cmara Municipal (SO CARLOS, 1929, artigo 2). Entretanto, o Cdigo
de 1929 tambm apresentou uma srie de mudanas que foram determinantes no processo de
expanso urbana no perodo seguinte.
Uma das mudanas mais significativas realizadas pelo cdigo de 29 foi a criao de
uma nova estrutura administrativa municipal, a qual fortaleceu o poder executivo concentrado
no prefeito municipal. Com isso, grande parte das atribuies que pertenciam Cmara foi
repassada Prefeitura. Os artigos 376 e 377 diferenciavam essas atribuies da seguinte
forma:
55
Figura 17 Estrutura administrativa em So Carlos. Fonte: So Carlos (1929).
Nessa nova estrutura, a Prefeitura assumiu o controle do solo urbano. O artigo 3, por
exemplo, determinava que o poder Executivo, para boa distribuio dos servios e para
melhorar a fiscalizao, poder dividir a cidade e o municpio em distritos. Alm disso,
qualquer alinhamento, nivelamento ou licena para construir deveria ser requerido ao prefeito
municipal, e nenhuma obra dentro do permetro da cidade poderia ser iniciada sem licena da
Prefeitura. A Cmara Municipal teve seu poder limitado, passou a ser responsvel pela
fiscalizao da implantao dos arruamentos e a realizao dos alinhamentos e nivelamentos
dos terrenos urbanos e demais obras. Sua funo era velar pela fiel observncia quanto
respeitar a higiene e segurana das obras ou edificaes e o embelezamento da cidade, vila,
povoaes e arrabaldes (SO CARLOS, 1929, artigo 30). Mesmo essa fiscalizao no era
atribuio exclusiva da Cmara, pois deveria ser realizada por um engenheiro da Cmara
junto com o fiscal da Prefeitura. O engenheiro da Cmara, em alguns casos, poderia ser
substitudo pelo arruador.
56
alinhamento frontal do terreno, devendo ser esta uma rea ajardinada. Isso inseria o recuo
frontal obrigatrio do edifcio em relao divisa do lote com o passeio, que at ento no
existia. A largura dos passeios no poderia ser inferior a 2,5 metros em todas as ruas, com
exceo da rua So Carlos e das praas e avenidas, onde deveriam ter, no mnimo, trs metros
(SO CARLOS, op. cit., artigo 16). Ampliou-se a dimenso dos passeios que, no cdigo
anterior, deviam ter no mnimo 1,75 metros. Alm disso, essa lei tambm determinava a
criao de um quadriltero, dentro da rea urbana, onde s poderiam ser construdos sobrados,
assim como descrito no cdigo:
Essa determinao significou a criao de uma rea com uso restritivo, sendo
provavelmente realizado para garantir o alto padro do centro da cidade, que era o local de
residncia da elite. E proibiu determinados tipos de usos dentro da cidade, como fbricas de
sabo, leo e velas; curtumes; mquinas de beneficiar caf, arroz e milho; depsito de sal em
grande quantidade; e outros estabelecimentos que exalassem vapores nocivos atmosfera;
prejudicassem a salubridade pblica ou causassem algum incmodo vizinhana (SO
CARLOS, op. cit., artigo 123). Alm disso, o Cdigo de 1929 tambm legislou sobre as
licenas para funcionamento de indstrias, regulamentou o trnsito pblico, o trnsito de
veculos, os rudos, as queimadas e roadas, os divertimentos pblicos, as comodidades dos
habitantes, a higiene das ruas e praas, entre outros aspectos (SO CARLOS, op. cit., artigos
95, 123).
57
as avenidas tivessem largura proporcional sua importncia e que as praas e os largos
deveriam ser convenientemente dispostos e estudados, as ruas paralelas e perpendiculares
deixaram de ser uma exigncia, e isso significou o surgimento de uma variedade de traados e
larguras dos novos arruamentos.
Ao realizar uma leitura crtica dessa lei, pde-se perceber que, por um lado, a
realizao dos parcelamentos tornou-se mais rgida por causa da necessidade de aprovao
pelo poder executivo do plano tcnico de arruamentos do novo parcelamento. Mas, por outro
lado, os parmetros de desenho urbano tornaram-se vagos e passaram a poder ser definidos
caso a caso, desde que estivessem de acordo com o plano geral de arruamentos. Entretanto,
no se tem conhecimento da existncia desse novo plano geral de arruamentos, ou seja, abriu-
se mo do antigo plano em grelha, que permitia uma expanso homognea e controlada da
rea urbana, deixando uma lacuna em seu lugar. Pela lei, os planos de arruamentos deveriam
ser aprovados pelo prefeito municipal, que mudava de quatro em quatro anos.
59
CAPTULO 2 DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL,
CRESCIMENTO DA POPULAO OPERRIA E
RETOMADA DA EXPANSO URBANA (1930-1959)
60
2.1 A EXPANSO INDUSTRIAL NO BRASIL PS-1930 E A HEGEMONIA DA
INDSTRIA PAULISTA: desenvolvimento da vocao industrial so-carlense
Como estratgia de controle da crise do caf, parte da produo do gro era destruda
para reduzir a oferta de mercado do produto e elevar o preo de venda. Esse esquema foi
utilizado at 1944, e durante esses 13 anos foram queimadas cerca de 78,2 milhes de sacas
de caf. As exportaes chegaram a crescer, mas os valores da comercializao do produto
continuavam diminuindo, o que representava prejuzo enorme para a economia cafeeira
decadente (SINGER, 1968, p. 43-47). No setor industrial, grandes investimentos estatais eram
7
Em 1931, foi criado o Conselho Nacional do Caf (CNC), rgo federal criado para gerir a economia cafeeira, vinculado ao
Ministrio da Fazenda. Em 1933, foi criado o Departamento Nacional do Caf (DNC), para substituir o CNC (FAUSTO,
op. cit., p. 333).
61
realizados, principalmente em obras de infra-estrutura, e no preparo de mo-de-obra tcnica
especializada.
Em 1951, Getlio Vargas reassumiu a Presidncia da Repblica, dessa vez por meio
de voto popular. O governo democrtico de Getlio foi marcado por uma intensa oposio,
principalmente das tendncias liberais, que tentavam forar a renncia do presidente. O
governo foi perdendo o apoio das foras armadas e da opinio pblica, tendo entrado em crise
quando o principal lder da oposio, Carlos Lacerda, sofreu um atentado, uma tentativa de
assassinato. Algumas semanas depois, Getlio Vargas se suicidou no Palcio do Catete,
62
encerrando, de forma trgica, a Era Vargas. Caf Filho assumiu a presidncia aps a morte de
Vargas e governou at 1955 (FAUSTO, op. cit., p. 417-422).
8
Em 1953 foi baixada a Instruo n. 70 da Superintendncia da Moeda e Crdito (Sumoc), que visava estimular as
exportaes e favorecer as importaes de bens essenciais ao desenvolvimento econmico (FAUSTO, op. cit., p. 572).
9
O Programa de Metas possua 31 objetivos distribudos em seis grandes grupos: energia, transportes, alimentao, indstria
de base e educao. O programa tambm tinha uma meta-sntese, que era a construo de uma cidade nova para ser sede da
capital federal. Outra vontade poltica desse governo era vencer a burocracia, e para isso foram criados vrios rgos
paralelos administrao pblica existente, como, por exemplo, a Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene) (FAUSTO, op. cit., p. 425-426).
10
Em 1956, Juscelino Kubitschek e Joo Goulart assumiram, respectivamente, a Presidncia e Vice-Presidncia da
Repblica. O Governo JK cumpriu todo o seu mandato, que se encerrou em 1961. Nesse perodo, a estabilidade poltica se
manteve, trazendo otimismo populao, que estava desestimulada em decorrncia dos longos anos de recesso econmica.
A idia do desenvolvimento de cinqenta anos em cinco, divulgada na propaganda oficial do governo, empolgou toda a
sociedade (FAUSTO, op. cit., p. 425- 426).
63
Esse perodo ficou conhecido como a primeira fase da industrializao pesada
brasileira, que teve incio em 1956 e se entendeu at 1970. Essa fase foi marcada pela
heterogeneidade dos investimentos estatais aplicados nas diferentes regies do pas. Isso
ocorreu uma vez que as indstrias de bens de consumo se espalharam por todo o territrio
nacional, embora as empresas de bens intermedirios e de bens de produo tenham se
concentrado nas regies mais desenvolvidas, por requerer grande aporte de capital, mercado
consumidor, infra-estrutura bsica e de servios e complementaridade inter-industrial. Os
Estados da regio Centro-Sul do Brasil eram os que melhor atendiam aos requisitos da
expanso industrial, e foi onde o setor mais cresceu (SCHIFFER, op.cit., p. 85).
64
A capital do Estado e sua regio metropolitana concentraram a maior quantidade de
investimentos feitos na indstria nacional nesse perodo, o que confirmou a hegemonia
industrial dessa regio no cenrio nacional. Segundo Negri (op. cit., p. 118), o ritmo de
crescimento da indstria metropolitana foi, durante a dcada de 1950, superior indstria
interiorizada, e, em 1959, a Grande So Paulo concentrava 71,1% do valor de produo
industrial do Estado. Contudo, apesar da polarizao industrial ocorrida na capital, o processo
de industrializao das cidades do interior tambm foi relevante nesse perodo. Em 1959,
existiam no interior de So Paulo mais de 19 mil estabelecimentos do setor da indstria de
transformao. Tais estabelecimentos empregavam 232,3 mil pessoas, o que representava
32,2% dos postos de trabalho no Estado e 14% dos empregos do pas. A produo industrial
do interior representava, nessa data, 33,4% do valor da produo industrial estadual e 14% de
toda a indstria de transformao brasileira (Tabela 8).
Pode-se verificar, a partir da anlise dos dados da Tabela 8, que, em 1959, Campinas,
Ribeiro Preto e Sorocaba apresentavam valores de produo industrial bastante expressivos
em relao ao conjunto das cidades do Estado, com, respectivamente, 8,9%; 3,9%; e 3,0% do
65
total do valor da produo industrial paulista. Outras cidades do interior, como So Carlos,
Araatuba e So Jos do Rio Preto, industrializavam-se de forma mais lenta. Em 1959, So
Carlos concentrava 0,55% dos postos de trabalho da indstria do Estado e 0,46% do valor da
produo paulista. Mas esses valores, apesar de serem pequenos, se comparados a outras
cidades e principalmente capital, foram muito importantes no conjunto da produo
industrial do Estado.
Em 1956, j existiam no Estado mais de 9,2 mil quilmetros de rodovias, dos quais 1,1
mil asfaltados, partindo da capital. Essas rodovias seguiam no sentido do Rio de Janeiro (via
66
Dutra), em direo ao litoral (via Anchieta), e para o interior (via Anhanguera). Entre 1954 e
1955, foi pavimentado um grande trecho da Rodovia Washington Lus que liga So Carlos
Rodovia Anhanguera (sentido capital), bem como s cidades vizinhas Araraquara e Rio Claro
(NEGRI, op. cit., p. 80). Essas novas vias facilitaram a conexo entre So Carlos e a capital,
bem como com outras cidades do Estado, principalmente de sua regio, o que contribuiu
significativamente para seu desenvolvimento econmico e social.
67
Na Grande So Paulo, o processo de urbanizao ocorreu de forma muito mais rpida
e intensa do que em qualquer outra regio do pas. Em 1950, essa regio abrigava 29,2% da
populao total do Estado, com 2,7 milhes de habitantes, dos quais 2,2 milhes viviam na
capital. As cidades do interior cresciam nesse perodo, porm em ritmo bem mais lento
(SINGER, op. cit., p. 87).
Observando a Tabela 10, pode-se verificar que houve decrscimo populacional nas
cidades do interior entre 1934 e 1940. De fato, nesse perodo, todo o interior de So Paulo
sofria com a crise econmica do caf e com o poder de atrao populacional e industrial que a
cidade de So Paulo exercia. Mas, a partir de 1940, muitas das antigas cidades produtoras de
caf j haviam se reestruturado economicamente a partir da industrializao, nas quais o
crescimento populacional passou a ocorrer de forma exponencial. Em Ribeiro Preto a
populao aumentou de 79.783 habitantes, em 1940, para 145.268 pessoas, em 1960, e, em
Franca, de 55.760 habitantes para 66.702 habitantes. Em So Carlos, a populao municipal
passou de 48.609 habitantes para 62.045 habitantes, no mesmo perodo.
68
qualificao da mo-de-obra industrial, configurando importante centro de formao da mo-
de-obra operria da cidade. Tambm no incio dos anos 1930, foi criada a Associao
Comercial e Industrial de So Carlos, que passou a organizar os setores industriais e
comerciais no municpio. O setor agrcola tambm se reestruturava nesse momento, e, aos
poucos, as lavouras de caf cediam espao para novas culturas agrcolas. A produo de leite,
por exemplo, foi ampliada, e, em 1937, foi criada a Cooperativa de Laticnios de So Carlos
(NEVES, op. cit., p. 104).
69
Tabela 11 Evoluo da atividade industrial (1939-1975) municpio de So Carlos.
Participao Participao
Crescimento
Nmero Pessoal pessoal valor de
Ano valor de
estabelecimentos ocupado ocupado do produo do
produo (%)
Estado (%) Estado (%)
1939/40 (1) 117 2.566 0,78 0,53
1949 180 3.359 0,58 48,7 0,39
1959 264 4.597 0,55 155,6 0,46
1970 345 7.235 0,56 110,5 0,42
1975 376 11.122 0,61 253,5 0,58
Fontes: Devescovi (op. cit., p. 139), a partir de dados da FIBGE (Censos industriais de 1940, 1950, 1960, 1970 e 1975). Legenda: (1)
Pessoal ocupado e nmero de estabelecimentos referem-se a 1940 (1 de setembro); valor da produo refere-se a 1939.
Entre 1950 e 60, a famlia Pereira Lopes instalou vrios estabelecimentos industriais
na cidade e tambm contou com o apoio e a participao de capital norte-americano em seus
negcios. Foram implantadas a Companhia Brasileira de Tratores (CBT), a So Francisco
S.A. (produtora de mquinas e ferramentas), a Pelopls S.A. (produtora de mquinas
operatrizes), a Plsticos So Carlos S.A., a Grfica Correio de So Carlos e a Sociedade
Intercontinental de Compressores Hermticos (SICOM) (DEVESCOVI, 1985, p. 164-165). O
ramo txtil tambm se desenvolveu nesse perodo, com a Fbrica de Tapetes So Carlos
11
Ernesto Pereira Lopes nasceu na cidade de So Paulo em 1905. Era filho de um portugus gerente de uma casa comercial
na capital do Estado. Viveu em So Paulo at 1929, onde estudou e se graduou na Faculdade de Medicina de So Paulo.
Mudou-se para So Carlos no final da dcada de 1920 para dar incio sua vida profissional, onde instalou um consultrio
mdico. Em 1940, Ernesto retornou para So Paulo transferindo seu escritrio. Passou ento a atuar na Clnica Mdica da
faculdade onde se formou. Nesse perodo fundou uma indstria de motores eltricos em sociedade com seus irmos,
chamada IPL (Indstria Pereira Lopes). Em 1945, Ernesto retornou So Carlos para onde tambm transferiu sua indstria,
que passou a produzir foges eltricos e a gs (TRUZZI, 2000, p. 167-168).
70
alcanando maior destaque (SEMEGHINI, 1988, p. 148). Alm do setor industrial, o
desenvolvimento de agricultura tambm foi significativo entre 1930 e 1959, tendo se
diversificado nesse perodo. Em 1955, a participao dos diferentes produtos no valor do total
da produo agrcola era: 29,08% de caf; 20,85% de cana-de-acar; 11,43% de milho;
10,27% de algodo; e 28,37% de outros produtos (SO CARLOS, Plano Diretor Urbano
1962, p. 45).
12
Segundo Torkomian, a Escola de Engenharia de So Carlos (EESC) foi criada em 1948 pela Universidade de So Paulo,
sendo efetivamente instalada quatro anos mais tarde (TORKOMIAN, 1996, p. 34).
13
Informao coletada em entrevista com professor Sylvio Rosa, presidente da Fundao Parqtec, em agosto de 2006.
71
Tabela 12 Populao e taxa de urbanizao (1874-1960) municpio de So Carlos.
Taxa Taxa
Populao Populao Populao
Ano urbanizao urbanizao
total urbana rural
So Carlos (%) Brasil (%)
1874 6.897
1886 16.104
1900 55.729
1920 54.225
1934 51.620 20.791 30.829 40,30
1940 48.609 25.746 22.863 52,30 26,40
1950 47.731 32.703 15.028 64,70 36,20
1960 62.045 50.851 11.194 75,10 45,50
Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud
Devescovi (1985, p. 58).
220
200
Nmero de habitantes (milhares)
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1874 1886 1900 1920 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Ano
Populao total
Populao urbana
Populao rural
Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud Devescovi
(1985, p. 58).
72
A migrao campocidade se acentuou nos anos 1940, e a taxa de urbanizao em So
Carlos chegou a 64,70% em 1950. Nesse ano, a populao total do municpio somava 47.731
habitantes, dos quais 4.675 moravam no distrito de Ibat; 30.830, na rea urbana de So
Carlos; 186, no distrito de gua Vermelha; 657, em Santa Eudxia; e o restante, na zona rural
(SO CARLOS, Plano Diretor, 1962, n.p.). Em 1953, o distrito de Ibat foi desmembrado de
So Carlos, elevando-se categoria de municpio, mas a populao urbana de So Carlos
continuou crescendo. Em 1960, sua taxa de urbanizao atingia 75,1%, com 50.851 pessoas
vivendo na cidade e apenas 11.194 morando no campo. Esse crescimento da populao
urbana gerou a necessidade de novas moradias urbanas. A situao da habitao na cidade
tornou-se precria em 1940, assim como descreve Camargo (apud DEVESCOVI, op. cit., p.
79),
14
A lei do inquilinato teve carter bastante intervencionista do Estado e possuiu vrias verses entre 1942 e 1964. Por meio
dela, apostava-se na defesa do inquilino pela imposio de restries aos reajustes dos aluguis e aos despejos
injustificados. A partir dessa lei os proprietrios passaram a ser discriminados quando buscavam fazer valer seu direito de
propriedade e eram constantemente acusados pelos males da m urbanizao e das ms condies de habitao
(BONDUKI, op. cit., p. 227).
73
desvalorizao do mercado de aluguis contribuiu para o aprofundamento da crise
habitacional que atingiu grande parte dos centros urbanos em expanso do pas. Segundo
Bonduki (op. cit., p. 247),
A expanso urbana de So Carlos entre 1930 e 1959 foi marcada por trs momentos. O
primeiro, entre 1930 e 1947, definiu-se por um crescimento urbano lento, tendo ocorrido a
implantao de novos loteamentos, que resultaram em um expanso muito limitada da rea
urbana. Essa desacelerao ocorria paralelamente crise econmica que acompanhou a
decadncia da cafeicultura, bem como ao fortalecimento de uma nova elite econmica
formada por industriais e comerciantes. O controle da expanso urbana j era realizado pela
Prefeitura Municipal, que deveria aprovar os planos de arruamento de acordo com o Cdigo
de Posturas aprovado em 1929. O segundo momento teve incio com a implantao de dez
15
Como apontou Bonduki (op. cit., p. 294), Entre 1940 e 1950, cerca de 100 mil famlias, mais de meio milho de pessoas,
passaram a morar em casas prprias. A grande maioria em loteamentos perifricos (...). Enfrentar e dominar a periferia
passou a ser a tarefa cotidiana de centenas de milhares de trabalhadores, que construram em silncio uma cidade muito
maior do que a So Paulo oficial.
74
parcelamentos entre 1948 e 1949, anos que evidenciaram o crescimento da rea urbana. Os
novos loteamentos tinham padro semelhante ao da cidade preexistente, estabelecido durante
o sculo XIX, em que os arruamentos e a forma das quadras geravam um desenho contnuo.
Nesse momento, a economia do municpio voltava a apresentar sinais de progresso, com
aumento do nmero de indstrias e da populao urbana no municpio. O terceiro momento,
durante os anos 1950, consolidou-se com a economia industrial e se caracterizou por um
grande crescimento da rea urbana, com a implantao de loteamentos novos, realizados sob
um controle pouco rgido, que deu margem a uma atuao facilitada dos loteadores.
No perodo de 1930/59, a rea urbana mais do que triplicou, passando de cerca de 400
hectares para 1.350 hectares (Tabela 13). Esse crescimento tornou-se exponencial nos anos
seguintes (Grfico 3). A populao urbana cresceu nesse perodo, passando de 25.746
habitantes, em 1940, para 50.851 habitantes, em 1960.
75
Grfico 3 Crescimento da rea urbana (1874-2000) municpio de So Carlos.
3500,0
3000,0
2500,0
rea urbana em hectares
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
57 88 93 29 39 49 59 69 77 79 89
18 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19
Ano
Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas tcnicos SMHDU e
outros trabalhos tcnicos e acadmicos; (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir
do mapa digital do municpio de So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.
76
Tabela 14 Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos (1857-1929) municpio de So Carlos.
Ano rea parcelamento
Nome do parcelamento (1) Proprietrio (1)
implantao (1) (hectares) (2)
1935 Jd. So Carlos Arrudas Botelho 16,80
1939 Vila Bela Vista Saba Sallum 53,00
1940 Vila Irene 1,23
1948 Vila Palmares Joo Pereira da Costa Martins 2,30
1948 Vila Lutfalla Fiao de Tecidos Lutfalla 13,00
1948 Vila Sonia Fiao de Sedas So Carlos 3,30
1948 Vila Monteiro 1. Gleba Jorge Vieira Monteiro 17,00
1949 Vila Elizabeth Arnold Schimid 15,50
1949 Vila Pelicano Rosina Pelicano 10,00
1949 Vila So Jos Jos Ventura de Medeiros 34,00
1949 Vila Faria Isaura Oliva Faria 8,50
1949 Vila Leonardo (parte da V. S. Jos) Leonardo Petrilli 1,80
1950 Vila Alpes Marclio Barbieri 11,00
1950 Vila Arnaldo Arnaldo Antoniolli 3,30
1950 Vila Marques 3,00
1950 Vila Nery Prolongamento Galhardi; Gianotti, e outros 18,00
1950 Vila Santo Antonio 19,00
1951 Jardim Lutfalla Imobiliria Lutfalla 15,50
1951 Vila Marigo Francisco Marigo 10,00
1951 Vila Monteiro 2 Jorge Vieira Monteiro 21,00
1951 Vila Celina Lafael Petroni e outros 1,88
1951 Chcara do Parque Domingo Teixeira Pinto 10,00
1951 Vila Marina Guerino Petrilli 5,70
1952 Jardim Macarenco Espolio do Trofim Macarenco 9,20
1952 Jd. Paraso Salomo Gantus 12,00
1953 Jd. Paulista Coriolano Jos Gibertoni 12,00
1954 Cidade Jardim Sociedade Marwill Ltda. 33,00
1954 Jd. Cruzeiro do sul Imobiliria Lutfalla Ltda. 91,00
1954 Jd. So Paulo Itagiba Cardoso de Toledo e outros 30,00
1955 Chcara Bataglia Giacomini Bataglia/Antnio Massei 6,30
1955 Vila Laura Soc.Imobiliria e Construtora Corsi 6,20
1955 Chcara Parollo Dileta Parollo 4,00
1955 Chcara So Caetano NC 10,60
1955 Jd. Pacaembu Guerino Petrilli 20,00
1955 Vila Costa do Sol 1 lvaro Augusto Pao e Joo Pao 14,00
1955 Vila Jacobucci Domingos Jacobucci 26,00
1955 Vila Nossa Sra. de Ftima Francisco Marigo 4,40
1955 Vila Rancho Velho Ana Doria Fernandes 12,10
1955 Vila So Gabriel Leonardo Petrilli 10,00
1955 Jd. Joquei Clube 1 Omar de Souza Ribeiro 45,60
1955 Jd. Joquei Clube 2 Omar de Souza Ribeiro Includo no valor anterior
1955 Jardim So Joo Batista Leonardo Petrilli 20,50
1955 Jd. S. Helena Dr. Estanislau Melinas 10,30
1955 Jd. Brasil Francisco Marigo 9,00
1955 Pq. Industrial 1 Alfredo Petrilli 41,00
1958 Pq. Industrial 2 Alfredo Petrilli Includo no valor anterior
1956 Jd. Santa Maria I Joo de Francisco 6,20
1956 Vila Deriggi Irmos Deriggi 14,60
1957 Jd. Paulistano Vicente Petrilli 32,70
1957 Pq. Estncia Sua Arnold Schimid 36,20
1958 Jardim Bandeirantes Irmos Damha 22,80
1958 Cidade Universitria (USP) Irmo Crnkovic 37,00
1959 Jd. Centenrio Dr. Jos Ribeiro de Paiva 21,40
Subtotal rea loteamentos 892,9
1948 P. espontneo 5 (Tijuco Preto) 27,40
s/d Parcelamento espontneo 6 7,30
Subtotal rea parcelamentos espontneos 34,7
Total 927,61
Fontes: (1) Registros Loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros trabalhos
tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 (s/d, NC).
77
78
2.2.1 A acelerao da expanso urbana no final da dcada de 1940
79
Os primeiros loteamentos que surgiram nesse final de dcada foram fruto do
parcelamento de pequenas propriedades rurais, principalmente de chcaras localizadas em
terras prximas rea urbana. O jornal do perodo, Correio de So Carlos, relatou como eram
realizados esses parcelamentos:
At o incio da expanso industrial do final dos anos 1940, a terra urbana do municpio
era pouco disputada, e os terrenos e edifcios da cidade pertenciam principalmente ao
patrimnio dos fazendeiros. 16 Mas, com o processo de industrializao, a terra urbana passou
a ser imprescindvel para o desenvolvimento das atividades da sociedade industrial, tornando-
16
Sobre esse assunto, consultar Captulo 1.
80
se cada vez mais concorrida. Esses aspectos contriburam para o aquecimento do mercado
imobilirio.
O mercado imobilirio passou por reestruturao, tornando-se cada vez mais dinmico
e promissor, incorporando comerciantes e industriais locais, os quais se tornaram os principais
investidores no negcio de compra e venda de lotes nesse perodo. Eles contavam com o
apoio direto da Prefeitura Municipal na realizao de loteamentos. No caso do loteamento
Vila Monteiro, por exemplo, um dos primeiros loteamentos implantado em 1948, o prefeito
municipal, Sr. Lus Augusto de Oliveira, procurou pessoalmente o proprietrio da Chcara do
Cachimbo, Sr. Monteiro, para pedir que este abrisse ruas e lotes em sua propriedade
(ABREU, 2000, p. 60). O projeto do loteamento foi concebido, e a venda dos terrenos, a
prazo, foi divulgada na imprensa, como mostra a figura a seguir.
A Vila Monteiro conectou os loteamentos da Vila Marcelino e Vila Isabel, que eram
isolados da malha urbana, e a venda de seus lotes foi muito rpida, como notificado pelo
jornal Correio de So Carlos:
81
Essa rea de terra foi dividida em 331 lotes, de acordo com as posses de
pessoas dos mais variados rendimentos. Ao que fomos informados, at
ontem, j haviam sido vendidos 258 lotes. (...) Percorrendo e examinando
detalhadamente aquela nova parte da cidade contamos vinte e duas casas j
construdas e 13 ainda em construo (apud ABREU, op. cit., p. 60).
Durante a dcada de 1950, a expanso urbana em So Carlos foi ainda mais intensa. A
rea urbana, que em 1949 atingia cerca de 650 hectares, dobrou de tamanho em apenas dez
anos, passando para 1.370 hectares em 1959. Esse crescimento ocorreu em todas as direes,
mas em diferentes propores, tendo sido realizados 41 novos parcelamentos.
No incio da dcada de 1950, a expanso mais acentuada ocorreu na direo leste, com
os loteamentos Vila Arnaldo, Vila Marques, Vila Nery prolongamento e Santo Antnio, em
1950; Chcara do Parque, em 1951; Chcara Parollo, Vila Rancho Velho e Jardim Brasil, em
1955; e Vila Deriggi, em 1956. Na primeira metade da dcada de 1950, tambm foram
implantados loteamentos na direo sudeste, a Vila Alpes, em 1950; a Vila Monteiro 2, em
1951; e o Jardim So Paulo; em 1954. Ao sul, foram implantados o Jardim Cruzeiro do Sul,
em 1954; e o Jardim Pacaembu, em 1955. A oeste surgiu o Jardim Paraso, em 1952; e o
Jardim Paulista, em 1953.
Figura 19 rea urbana de So Carlos e seu permetro urbano em 1947 e 1958. Fonte: Mapa de loteamentos em So Carlos
realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir do mapa digital do municpio de So Carlos/SMHDU 2002; plantas dos
loteamentos e leis de permetro urbano.
PRAA
ITLIA
AVENIDA
SO
CARLOS
Na direo sul, manteve-se o eixo de expanso formado pela avenida So Carlos, mas
outro eixo se formou com a abertura da rua Coronel Leopoldo Luiz do Prado, que se iniciava
na Praa Itlia, um dos extremos da avenida So Carlos, passando sob o trilho do trem para
dar acesso ao Jardim Cruzeiro do Sul. Embora em menor intensidade, a ferrovia tambm
continuava atraindo a expanso e, apesar de perder importncia no transporte de passageiros,
continuava ativa no transporte de carga. Alm da rua Coronel Leopoldo Luiz do Prado, que
cruzava o trilho do trem, um novo eixo de expanso surgiu na direo sul, a avenida
Morumby, que ligava a cidade estrada de acesso ao municpio de Ribeiro Bonito.
Mas foi a partir da metade dos anos 50 que a expanso se acelerou de nordeste a
noroeste. Na direo norte, onde a expanso foi mais extensa, foram implantados os
loteamentos Chcara Bataglia, Vila Laura, Vila So Gabriel, Jardim So Joo Batista e Jardim
Santa Helena, em 1955. Nessa direo j haviam sido implantados os loteamentos Vila
Marigo, Vila Celina e Vila Marina, em 1951; e Jardim Macarenco, em 1952. Na regio
nordeste, foram implantados o loteamento Chcara So Caetano, Vila Costa do Sol 1, Vila
Jacobucci e Vila Nossa Senhora de Ftima, em 1955; Jardim Santa Maria I, em 1956; e
Parque Estncia Sua, em 1957. Na direo noroeste foram abertos os loteamentos Jardim
84
Lutfalla, em 1951; Cidade Jardim, em 1954; Jardim Jquei Clube 1 e 2 e Vila Parque
Industrial 1, em 1955; Jardim Paulistano, em 1957; Jardim Bandeirantes e Vila Parque
Industrial 2, em 1958; e Jardim Centenrio, em 1959.
Com essa expanso surgiram novos eixos na direo norte, nordeste e noroeste, dos
quais muitos se formaram pelo prolongamento de ruas at a rodovia Washington Lus. Na
direo nordeste, a rua Antnio Blanco, apesar de estreita, ganhou importncia por ser
prolongada at a avenida Araraquara, que se conectava rodovia, tornando-se o principal eixo
de expanso da regio nordeste. Na direo noroeste, a rua Miguel Petroni, tambm conectada
rodovia, adquiria relevncia como eixo de expanso. Essa via, cujo traado original um
fragmento do antigo Picado de Cuiab, passou a atrair alguns loteamentos, tais como Jardim
dos Bandeirantes e Jardim Centenrio.
85
VILA
ELIZABETH
Figura 21 Principais eixos de expanso do perodo 1930/59. Fontes: Registros dos loteamentos implantados na Secretaria
Municipal de Habitao e Desenvolvimento Urbano (SMHDU); Base cartogrfica a partir de levantamentos
aerofotogramtricos de 1998 e mapa da SMHDU 2002; Plantas de Loteamentos (SMHDU); PMSC, Decreto municipal
837/47; PMSC, Decreto Municipal 3729/58.
86
Os outros eram menores, como Vila Faria, com 8 hectares; e Vila Sonia, com 3 hectares. A
Vila Irene foi o menor de todos os loteamentos da dcada e possua rea de apenas 1,5 hectare
de rea loteada, dividida em duas quadras.
2.2.3 Novos padres urbansticos em So Carlos: ruptura com a cidade do sculo XIX
87
tinham de 13 a 14 metros de largura, sendo paralelas e perpendiculares avenida So Carlos,
assim como visto no Captulo 1.
Figura 22 Padro urbano tradicional da cidade de So Carlos, formado desde o sculo XIX at o final dos anos
1940. Foto tirada em 1960. Fonte: Fundao Pr-Memria de So Carlos.
Com o novo Cdigo de Posturas, aprovado em 1929, algumas variaes no traado foram
permitidas. Nessa lei, j no era exigido o sistema virio ortogonal, mas determinava-se que
as ruas estivessem dentro do plano geral de arruamento organizado pela municipalidade (SO
CARLOS, Lei 215/1918, artigo 4). O novo cdigo foi pouco aplicado no controle da
expanso at o final dos anos 1940 em decorrncia da baixa quantidade de loteamentos
realizada nesse perodo. A expanso urbana que ocorreu no final da dcada de 1940 mostra
que, apesar do Cdigo de Posturas de 1929 ampliar as possibilidades de outros tipos de
desenho urbano diferente do ortogonal, existia uma preocupao com a manuteno da
continuidade do padro urbano preexistente, pois a maioria dos novos loteamentos respeitou a
modulao e a ortogonalidade do antigo traado, sendo as novas ruas implantadas ortogonal
ou paralelamente ao eixo principal formado pela avenida So Carlos.
88
Seguindo essa lgica foram implantadas Vila Elizabeth, Vila So Jos, Vila Leonardo,
entre outras, que mantiveram o padro de arruamento e tamanho das quadras existentes (Mapa
1 e Figura 23).
Vila Leonardo
Vila So Jos
Figura 23 Trecho do projeto original dos loteamentos Vila So Jos (1949) e Vila Leonardo (1949), aprovados
pela Prefeitura Municipal de So Carlos. Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.
Em determinado momento, entre o final dos anos 1940 e incio dos 1950, cuja data
no se pode precisar, um novo padro de arruamentos e desenho de quadras comeou a se
formar. A heterogeneidade do traado urbano foi se tornando comum, pois cada novo
loteamento implantado possua um desenho peculiar e diferente dos demais, com tamanho e
formato de quadras e de lotes variados, cujo desenho era concebido pelo loteador ou pelo
projetista por ele contratado. Como esses projetos no ocorreram em continuidade do espao
urbano gerado, a ocupao urbana foi aos poucos se tornando fragmentada, o que pode ser
verificado no parcelamento do Tijuco Preto (de 1948), que foi um dos primeiros loteamentos
que rompeu o padro existente.
Um jornal local notificou que no Tijuco Preto as ruas so tortas, sinuosas, por onde
mal cabe uma carroa, destoando das demais da cidade, traadas quando da sua fundao,
todas com 12 metros de largura e passeios de mais de trs metros, retas, impressionantemente
retas (Jornal Correio de So Carlos apud ABREU, op. cit., p. 81). Com efeito, o Tijuco
Preto, que surgiu de um parcelamento espontneo, foi implantado com ruas estreitas, que no
89
formavam uma malha ortogonal nem eram contnuas s vias preexistentes; alm disso, as
quadras tinham faces de tamanho e formas heterogneas, como se pode verificar na Figura 24.
Esse tipo de descontinuidade foi se tornando cada vez mais comum nos loteamentos da
dcada seguinte.
Figura 24 esquerda, imagem de um fragmento do tecido urbano tradicional da cidade, construdo ao longo do sculo XIX,
e, direita, foto area do loteamento Tijuco Preto, que surgiu com um parcelamento espontneo no final dos anos 1940.
Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.
90
Figura 25 Fragmento da planta original do loteamento Jardim Cruzeiro do Sul. Fonte: SMHDU/PMSC.
Jardim Pacaembu
91
O novo padro urbano acabou trazendo aspectos negativos para a rea urbana, o que
chamou a ateno da opinio pblica.
17
Conforme dados retirados do mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir do mapa
digital do municpio de So Carlos/SMHDU, 2002, e plantas dos loteamentos.
92
era pressionada pela populao. Mrio Maffei, 18 ex-prefeito e So Carlos, comenta como
ocorria esse processo:
Assim formava-se o novo tecido urbano de So Carlos, cada vez mais heterogneo e
fragmentado, o que aprofundava a segregao socioespacial.
18
Mrio Maffei foi prefeito de So Carlos entre 1972 e 1976.
19
Abreu (op. cit., p. 83), citando parte da entrevista realizada com Mrio Maffei em 9/3/2000.
93
ao Estado Novo. Nesse momento, em que a sociedade industrial e urbana se consolidava e
uma nova elite se fortalecia, era natural que uma nova estrutura poltica se formasse no pas.
Essas transformaes ocorreram nas esferas federal e estadual e repercutiram com evidncia
em So Carlos.
94
do governo federal para assumir os governos estaduais e locais (ZAHN, 1983, p. 261;
FAUSTO, op. cit., p. 365; FELDMAN, op. cit., p. 46-47).
Em 1930, junto com a crise econmica que abalava a cidade e com as perspectivas de
mudanas trazidas pela Nova Repblica, o governo municipal de So Carlos entrou em um
perodo de instabilidade. Foram oito administraes diferentes em apenas oito anos, entre
prefeitos e interventores, como parte do processo de transio poltica das elites oligrquicas
para a industrial emergente. 20
20
Segundo Abreu, aps a Revoluo de 1930, o poder executivo da cidade foi assumido por uma junta governativa, composta
por quatro integrantes, que atuaram por cerca de dois meses. No final de 1930, assumiu um membro do grupo dos Salles,
Annanias Evangilista de Toledo, que governou por quatro meses. Ele foi sucedido por Antnio Milito de Lima, da faco
botelhista. Em 1932 ocorreu a Revoluo Constitucionalista, e, com a derrota militar paulista, o governo federal passou a
interferir na poltica local, impondo ao municpio o governo executivo do gacho Dr. Jos Maria de Souza (ABREU, op.
cit., p. 43-45).
95
Em 1946, foi aprovada uma nova constituio federal que devolveu autonomia poltica
aos municpios. Entretanto, a autonomia financeira local no foi plenamente alcanada, e as
prefeituras continuaram dependendo de decises do governo do Estado e do governo federal
no repasse de verbas. 21 Em 1948, ocorreram eleies livres para prefeito e vereadores em So
Carlos. O prefeito eleito foi Luiz Augusto de Oliveira, que encerrou o perodo de hegemonia
das elites agrrias e tambm colocou um ponto final na alternncia de poder entre Salles e
Botelho. Luiz Augusto de Oliveira, que pertencia ao Partido Social Progressista (PSP),
colocou, definitivamente, a elite industrial e comercial no controle poltico da cidade
(ABREU, op. cit., p. 46-50).
Seqncia de
prefeitos Prefeitos de So Carlos Perodo do mandato
municipais
8 Paulino Botelho de Sampaio (Revoluo) 14/4/1930 a 15/11/1931
9 Antnio Milito de Lima (Revoluo) 14/4/1931 a 15/11/1932
10 Dr. Jos Maria de Souza 16/11/1932 a 31/4/1933
11 Cel. Carlos Simplicio R. da Cunha 1/5/1933 a 16/8/1933
12 Dr. Durval Accioli 17/8/1933 a 9/3/1934
13 Dr. Samuel Valentie de Oliveira 10/3/1934 a 9/4/1935
14 Dr. Sizenando de Toledo Porto 10/4/1935 a 27/7/1935
15 Ananias Evangelista de Toledo 28/7/1935 a 12/2/1936
16 Dr. Joo Sabino 5/3/1936 a 23/7/1936
17 Elias Augusto de Camargo Salles 27/7/1936 a 22/10/1937
18 Dr. Jos Fonseca de Teixeira Barros 23/10/1937 a 18/5/1938
19 Dr. Carlos de Camargo Salles 21/5/1938 a 24/7/1941
20 Sabino de Abreu Camargo 20/8/1941 a 21/11/1945
21 Dr. Celso Penteado 24/11/1945 a 13/12/1945
22 Sabino de Abreu Camargo 14/12/1945 a 10/1/1947
23 Joo Neves Carneiro 10/1/1947 a 1/7/1947
24 Luiz Botelho de Abreu Sampaio 2/7/1947 a 31/12/1947
25 Prof. Luiz Augusto de Oliveira 1/1/1948 a 20/2/1951
26 Leoncio Zambel 20/2/1951 a 30/10/1951
27 Dr. Jos Paulo Spalini 30/10/1951 a 8/11/1951
28 Antonio Massei 1/1/1952 a 1/1/1956
29 Prof. Luiz Augusto de Oliveira 1/1/1956 a 1/7/1956
30 Francisco Xavier Amaral Filho 1/7/1956 a 7/7/1956
31 Dr. Alderico Vieira Perdigo 7/7/1956 a 31/12/1959
Fonte: Arquivos da Seo de Expediente da Prefeitura Municipal de So Carlos.
21
Segundo Zahn (op. cit., p. 261), a partir da Constituio de 1946, volta a ser assegurada a autonomia municipal, sob o
ponto de vista poltico, administrativo e financeiro, na medida em que so garantidas: eleies do Prefeito e Vereadores; a
administrao prpria, no que concerne ao seu particular interesse; a decretao de tributos prprios e a organizao dos
servios pblicos locais .
96
Entre os eleitos para a Cmara Municipal em 1948, apenas dois, dos 27 vereadores
pertencia antiga elite agrria, sendo a maioria das cadeiras ocupada por membros dos
setores industrial e comercial da cidade. Em 1947, o mais bem-sucedido industrial da cidade,
Ernesto Pereira Lopes, 22 dono da IPL, elegeu-se deputado na Assemblia Constituinte de
So Paulo. Nas eleies seguintes, Pereira Lopes elegeu-se deputado federal. Sua carreira
poltica foi to bem-sucedida, que o empresrio acabou cumprindo cinco mandatos no
Congresso Nacional (TRUZZI, op. cit., p. 167-168).
22
A primeira atuao de Ernesto Pereira Lopes foi como vereador e presidente da Cmara Municipal de So Carlos em 1935,
com a legenda do Partido Democrtico. Em 1945, o mdico e empresrio retornou cidade, aps um perodo fora, e filiou-
se sigla UDN, junto a qual deu continuidade sua vida poltica. Durante suas campanhas para eleies Pereira Lopes,
como era conhecido, sorteava foges e geladeiras para os que levavam seus ttulos aos comcios (TRUZZI, op. cit., p. 167-
168).
23
So Carlos, (1948). Estabelece normas para facilitar a construo de habitaes econmicas e oferece outras providncias.
FPM/PMSC.
24
Esse assunto foi tratado com maior profundidade no subitem 2.2.4 deste captulo.
97
Figura 27 Recorte da lei de habitao n. 1004/ 48. Fonte: Fundao Pr-Memria de So Carlos.
Outra mudana importante no controle da expanso urbana que ocorreu durante esse
perodo foram as sucessivas alteraes no permetro urbano. A delimitao do permetro
existia desde o primeiro Cdigo de Posturas de 1866, mas at os anos 1940 se manteve pouco
alterada. Em 1940, foi criada a primeira lei exclusiva para delimitao do permetro urbano,
pelo decreto 540/40, 25 que determinava:
O permetro definido em 1940 envolvia uma rea de 515 hectares, sendo menor do que a
rea j loteada nessa data, que era de aproximadamente 470 hectares, incluindo o centro da
cidade. Mas, com a acelerao do processo de expanso urbana, no final dos anos 1940, as
modificaes do permetro tornaram-se cada vez mais freqentes, acompanhando o ritmo de
implantao dos novos loteamentos. Em 1947, por meio do decreto 837/47, de 1947, o
25
At ento essa definio era feita por um artigo do Cdigo de Posturas de 1929.
98
permetro urbano foi redefinido, envolvendo uma rea de 674,9 hectares. Esse alargamento j
previa o aumento dos loteamentos, mas a rea loteada no havia sido ampliada e permanecia
com 469,6 hectares, desde 1940. 26 Em 1950, o permetro foi novamente modificado pela lei
municipal n. 3729/50. O novo permetro englobou rea de 1.043 hectares, e os loteamentos j
ocupavam cerca de 1.280 hectares do territrio municipal. Esses dados podem ser verificados
na tabela e na figura apresentados a seguir.
26
Essa lei tambm definiu o permetro urbano dos distritos de Ibat e Santa Eudxia.
99
Figura 28 Evoluo da rea urbana do municpio de So Carlos (1857-1962).
Alm dessa omisso, que abria precedncia para a atuao arbitrria dos loteadores, a
lei n. 58/37 acabou criando um srio problema para os municpios, pois cobrava a inscrio
imobiliria dos contratos de compra e venda sem impor as exigncias e os limites desses
contratos. Na prtica, os contratos passaram a conter muitas clusulas urbansticas especficas
para cada loteamento, as quais no se restringiam ao aspecto fundirio; tambm
determinavam os parmetros urbansticos dos loteamentos, que pela lei deveriam ser
elaborados pela Prefeitura. Esses contratos, elaborados a servio do empreendedor dos
loteamentos, estabeleciam os recuos obrigatrios de ocupao do lote, suas taxas de ocupao
e aproveitamento, o uso do solo de cada quadra dos loteamentos e a localizao das reas
pblicas. Com isso, a Prefeitura assumiu uma postura passiva no controle do desenvolvimento
urbano, tendo apenas que fiscalizar as irregularidades, enquanto se eximia da tarefa de
proposio do desenho da cidade.
101
Uma vez aprovadas pela Prefeitura e inscritas no registro imobilirio, tais
restries tornam-se clusulas urbansticas que vinculam a todos os
interessados do loteamento loteador, proprietrio o compromissrio de
lote, seus sucessores e at mesmo a Municipalidade que as aprovou.
Alm disso, uma vez registrados os contratos em cartrio, qualquer clusula s poderia
ser modificada se todos, 100% dos proprietrios dos lotes, aprovassem as alteraes. 27 E,
embora o decreto 58/37 tenha sido modificado pela lei 6766/79, a obrigatoriedade do registro
do contrato foi mantida. A interpretao e aplicao desse artigo da lei variaram de municpio
para municpio.
A pessoa tinha l uma gleba; ento, eu sabia que essa pessoa tinha essa
gleba, e que essa gleba era bem localizada, ela estava junto cidade,
terminava a cidade comeava a gleba. Ento eu procurava essa pessoa e
falava: olha, voc no quer fazer um projeto de loteamento, n, faz prazo,
no ? (...). Ento a pessoa fazia os clculos, por exemplo, se voc vai
vender essa gleba s, um preo, agora, se voc lotear e vender em lotes
voc vai apurar muito mais (...). Ento eu chamava para mim todo esse
trabalho, de projeto, de tudo, e, vamos supor, eu falava: olha, 30% meu e
70% seu, ento a gente fazia e prestava contas de 70 e ficava com 30%. 28
Normalmente, esses lotes eram vendidos a prazo, com grande nmero de prestaes. A
maioria desses empreendimentos foi realizada pela nova elite poltica e econmica da cidade.
Segundo Abreu, para se ter uma idia, dos 53 loteamentos realizados entre 1948 e 1959, 25
empreendimentos, ou seja, 47,17% do total, foram realizados por donos de empresas dos
setores de comrcio e indstria. Os proprietrios da Fiao de Tecidos Lutfalla Ltda., por
27
Segundo o texto da lei: A inscrio no pode ser cancelada seno: a) em cumprimento de sentena; b) a requerimento do
proprietrio, enquanto nenhum lote for objeto de compromisso devidamente inscrito, ou mediante consentimento de todos
os compromissrios ou seus cessionrios, expresso em documento por eles assinados ou por procuradores com poderes
especiais (BRASIL, 1937, artigo 6).
28
Entrevista com Arnaldo Jos Mazzei, sobrinho do ex-prefeito Antonio Massei, apud Abreu, (op. cit., p. 105).
102
exemplo, implantaram, em 1949, a Vila Lutfalla e logo diversificaram seu ramo de atuao,
abrindo a Empresa Imobiliria Lutfalla, em 1951. Nesse mesmo ano, aprovaram o Jardim
Lutfalla e, em 1954, realizam o maior loteamento do perodo, o Jardim Cruzeiro do Sul
(ABREU, op. cit., p. 92).
29
Segundo Singer, a especulao um aspecto perverso do processo de urbanizao nas cidades capitalistas. Para o autor, A
especulao consiste, no fundo, numa antecipao das economias externas que, num prazo previsvel, devero beneficiar
determinada rea e deste modo valoriz-la. O curioso que sua prpria ao a auto-alimenta, j que, ao ocasionar aumento
do preo da terra, ela justifica uma elevao da procura especulativa, pois a valorizao presente prenuncia a valorizao
futura (SINGER, op. cit, p. 63-65).
103
muita responsabilidade e sem compromisso com o conjunto urbano gerado. Esses fatores
contriburam para a formao de uma rea urbana heterognea em termos de distribuio
socioespacial, infra-estrutura, padro urbano, condies de acessibilidade, etc. A continuidade
do processo de expanso urbana aumentava a necessidade de regulamentao e controle
exercidos pelo poder pblico.
No final dos anos 1940 e durante os anos 1950, o governo do Estado de So Paulo
aumentou o repasse de verbas s prefeituras destinadas aos trabalhos de planejamento
institucional e, em 1947, foi aprovada a Lei Orgnica dos Municpios, que estimulava os
municpios elaborao de seus planos diretores. Essa lei tambm abria a possibilidade de as
prefeituras lotearem as reas do patrimnio municipal para amenizar a crise de habitao
urbana que se agravava durante os anos 1940.
104
Figura 29 Estrutura administrativa do municpio de So Carlos em 1929 (esquerda) e estrutura administrativa do municpio
de So Carlos em 1953 (direita). Fontes: So Carlos (1929); So Carlos (1953).
Nesse perodo, o rgo de planejamento assumia, na esfera pblica, papel cada vez
mais central na administrao pblica, assim como propunha o urbanista Anhaia Mello, que
difundia o modelo norte-americano de administrao urbana. As idias de Anhaia Mello eram
divulgadas por meio de palestras e publicaes realizadas ao longo de dcadas, atuando como
consultor de diversos planos diretores realizados principalmente no Estado de So Paulo.
Nesse perodo, foram criados o Instituto Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM), em
1952, e a Escola Brasileira de Administrao Pblica da Fundao Getlio Vargas (EBAP),
que passou a funcionar como centro de treinamento de tcnicos para o servio pblico. Em
1955 foi criado o Centro de Estudos e Pesquisas Urbansticas (CPEU).
105
O CPEU era um centro de pesquisa, dirigido pelo urbanista e professor Anhaia Mello,
e funcionava na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo. Os
trabalhos e estudos desenvolvidos pelo CPEU envolviam a orientao e elaborao de planos
diretores municipais e o auxlio na organizao de setores especficos de planejamentos
dentro da administrao, que era formada por equipes multidisciplinares que atuavam por
meio de parcerias e consultorias. Os trabalhos desenvolvidos pelo CPEU tiveram grande
influncia na reestruturao administrativa federal, estadual e municipal, durante um longo
perodo, tendo atuado em inmeras cidades do interior do Estado de So Paulo (FELDMAN,
op. cit, p. 217-228).
No por acaso, em 1959 foi criada a Comisso do Plano Diretor, por determinao da
lei municipal n. 3907, de 1959. Essa comisso era interdisciplinar e foi composta para a
elaborao do primeiro Plano Diretor da cidade. Seus trabalhos tiveram incio em 1960. Esse
plano contou com o suporte tcnico da Escola Politcnica de So Paulo, pela participao do
CPEU, cujos trabalhos estavam sob orientao do urbanista Anhaia Mello. Tambm teve a
participao de professores da Escola de Engenharia a So Carlos. A partir da, teve incio um
novo momento do processo de expanso urbana em So Carlos, condicionado por novas
formas de controle elaboradas pelos trabalhos de planejamento urbano institucional, sendo
esse assunto objeto de anlise do Captulo 3.
A partir dos dados analisados neste captulo, pode-se concluir que as mudanas
sociais, polticas e econmicas que ocorreram no perodo 1930/59 foram determinantes no
processo de construo de uma nova forma de organizao socioespacial na cidade de So
Carlos. A cidade cresceu muito nesse perodo e triplicou sua rea urbana, tendo o crescimento
do setor industrial como principal motor desse processo. Como visto, nos anos 1930, a
expanso industrial na cidade comeou a dar seus primeiros passos, de forma semelhante a
outras cidades do interior do Estado de So Paulo. Esse crescimento intensificou-se no final
dos anos 1940, quando contou com incentivos e recursos pblicos, bem como com o
financiamento do governo norte-americano. Nesse momento, o municpio finalmente superou
a crise decorrente da decadncia da economia do caf, oferecendo novas perspectivas
econmicas para o municpio. No final da dcada de 1950, So Carlos j era um municpio
predominantemente urbano, sendo sede de um grande nmero de indstrias e de uma
importante universidade, a Escola de Engenharia de So Carlos, ligada USP, na qual
funcionavam dois centros de pesquisa nas reas de Engenharia Mecnica e Eltrica.
106
Com o desenvolvimento do transporte rodovirio e com a popularizao do
automvel, no mundo capitalista industrializado, ampliavam-se, na cidade estudada, as
possibilidades de ocupaes de terras rurais cada vez mais distantes da rea urbana. O
aumento do nmero de veculos nas ruas da cidade pressionou uma reestruturao do sistema
virio, que rompeu com a estrutura ortogonal de ruas de 13 e 14 metros que havia se formado
durante o sculo XIX. Nesse momento, as vias assumiam larguras e desenhos variados, com o
intuito de tornar mais dinmicos os deslocamentos. Isso contribuiu para a expanso extensiva
da malha urbana, que passou a gerar uma ocupao de baixa densidade, o que exigiu grande
expanso das redes de infra-estrutura, como asfalto, energia eltrica, drenagem, saneamento e
transporte, aumentando significativamente os gastos do poder pblico com infra-estrutura
urbana.
O poder pblico local no tinha ferramentas para controlar o ritmo de atuao do mercado
imobilirio, que se intensificou durante a dcada de 1950. O sistema de proposio do projeto
dos loteamentos permitia autonomia dos empreendedores em arbitrarem o padro urbano de
cada loteamento. O projeto deveria estar de acordo com as diretrizes urbansticas da cidade,
mas elas eram imprecisas e pouco exigentes.
107
Os novos loteamentos, que se multiplicaram na cidade durante os anos 1950, possuam
larguras de ruas, tamanho e forma de quadra e de lote diferentes entre si, o que desestruturou a
continuidade da cidade tradicional. A quantidade de reas pblicas foi cada vez mais reduzida
nos novos loteamentos, pois os loteadores queriam realizar o maior nmero de lotes possvel
em uma mesma gleba, o que criou problemas para a Prefeitura, como a falta de rea para a
implantao de escolas, postos de sade, entre outros equipamentos institucionais nas reas
que se adensaram. A infra-estrutura tambm era precria em alguns loteamentos,
principalmente nos populares, distantes do centro da cidade.
108
CAPTULO 3 - DO CONTROLE AO DESCONTROLE: a
institucionalizao do planejamento e a crescente ao da
especulao imobiliria (1960-1977)
109
3.1 MILAGRE ECONMICO E A POLTICA DE DESCONCENTRAO
INDUSTRIAL
3.1.1 Das reformas de base e ampliao dos movimentos sociais ditadura militar
A trajetria poltica brasileira durante o perodo 1960/1977 foi tensa, marcada pelo
confronto entre o grupo poltico da direita conservadora, hegemnico na composio da elite
nacional, e a esquerda ascendente, motivada pela vitria da revoluo comunista em Cuba, em
1959. Em 1960, ocorreram eleies presidenciais para a sucesso do mandato de Juscelino
Kubitschek, a ltima eleio presidencial direta at 1989. A escolha do presidente era
separada da escolha do vice, e ao final do pleito foi eleito Jnio Quadros, do PTN, para
presidente e Joo Goulart vice, pela coligao formada pelos partidos PSD/PTB. Apesar da
significativa vitria de Jnio Quadros, que venceu com 48% dos votos, seu mandato foi curto,
tendo renunciado sete meses depois. O governo de Jnio Quadros foi polmico por ter
atendido, ao mesmo tempo, aos anseios de conservadores e da esquerda, sendo um marco a
condecorao de Fidel Castro e Che Guevara, lderes da revoluo cubana. Alm disso, a
conjuntura econmica do pas era desfavorvel em decorrncia do crescimento da dvida
externa que chegava a 3,8 bilhes de dlares, enquanto a inflao superava os 30% ao ano em
1960 (FAUSTO, 2004, p. 436-437).
Com a renncia de Jnio, a Presidncia da Repblica foi assumida pelo ento vice-
presidente Joo Goulart. Sua posse tambm foi conturbada, pois, sendo membro da esquerda
poltica, sua ascenso presidente era encarada como uma ameaa segurana nacional pelos
conservadores e pelos militares que compunham o governo de Jnio Quadros. Aps vrias
negociaes e manifestaes, o sistema de governo foi modificado pelo Congresso Nacional
de presidencialista para parlamentarista, o que reduzia o poder do novo presidente que
assumiu o governo em 7 de setembro de 1961 (FAUSTO, op. cit., p. 436-442).
Joo Goulart governou por trs anos, e seu governo foi interrompido pelo golpe militar
de 1964. Durante seu governo, os maiores avanos ocorreram no setor social, e houve
fortalecimento dos movimentos sociais, tanto rurais quanto urbanos. Nos setores urbanos,
destacou-se a organizao do movimento em torno da UNE e do movimento sindical. As
metas do governo eram articular uma aliana entre o Estado, a classe operria organizada e a
110
burguesia industrial nacional, calcada no nacionalismo e em reformas sociopolticas chamadas
reformas de base, que incluam a reforma agrria, para ampliar o acesso do campons
terra rural, e a reforma urbana.
Embora a poltica do governo Jango fosse composta por uma srie de medidas
necessrias para o desenvolvimento nacional, as estratgias adotadas feriam os interesses de
uma parcela da classe dominante que se sentiu lesada pelas possibilidades de uma melhor
distribuio de renda e da ampliao dos direitos civis. O grupo de direita ultraconservador
acabou se aproximando da corrente militar de oposio a Jango, para articular um golpe de
Estado (FAUSTO, op. cit., p. 443-454).
Com o primeiro Ato Institucional, o AI-1, o Congresso Nacional foi mantido, embora
com poderes reduzidos, mas tornou-se possvel a cassao de mandatos do executivo ou
legislativo e o afastamento de membros das foras armadas e do setor judicirio. Alm disso,
a atuao do movimento operrio e do movimento estudantil foi reprimida com o fechamento
de uma srie de sindicatos e da UNE. Muitos polticos tiveram seu mandato cassado, entre
eles, Leonel Brizola e Juscelino Kubitschek. O AI-2, de outubro de 1965, vetou
completamente as eleies diretas para presidente e extinguiu os partidos polticos, restando
apenas o partido Arena, governista, e o MDB, de oposio. O AI-3, de fevereiro de 1966,
impediu as eleies diretas para governo dos Estados. Em dezembro de 1968, foi decretado o
AI-5, o ato institucional mais rgido de todo o regime. O governo passou a poder intervir nos
Estados e municpios nomeando interventores federais para substituir os prefeitos e
111
governadores. Alm disso, a garantia de habeas corpus para acusados de crimes contra a
nao foi suspensa, e a impressa foi totalmente censurada. O Congresso Nacional foi fechado,
podendo ser reaberto ou novamente fechado conforme ordens do presidente. Novas cassaes
foram realizadas, e a tortura aos opositores do regime tornou-se parte dos mtodos de
governo. O AI-5 foi mantido at 1979.
112
O xito econmico desse perodo ocorreu com uma grande interveno do Estado, que
incentivava as exportaes pela reduo e iseno de tributos, ao mesmo tempo em que
indexava salrios, concedia crditos, etc. Mas essa expanso econmica tambm teve seu
saldo negativo. Em primeiro lugar, foi realizada uma srie de emprstimos estrangeiros que
contriburam para o aprofundamento da dvida externa. Alm disso, o pas tornava-se cada
vez mais dependente de produtos importados, principalmente do petrleo. Muitas polticas
sociais foram praticamente abandonadas nesse perodo, deixando o pas com indicadores
sociais muito baixos nas reas de sade, educao e habitao. A m distribuio de renda,
que j era histrica no pas, tambm foi agravada, e a compresso dos salrios dos
trabalhadores menos especializados reduziu o poder aquisitivo da populao de classe
socioeconmica baixa (FAUSTO, op. cit., p. 485-487).
113
Tabela 17 Populao total das regies metropolitanas (1970 e 1980) Brasil.
114
O II PND tambm tinha um foco voltado para a ampliao da capacidade energtica
do pas, procurando tornar a economia nacional menos vulnervel s oscilaes dos pases
produtores de petrleo, para o incentivo ao desenvolvimento da grande empresa nacional
privada e para a produo de bens de capital, alm de prever grandes investimentos nas
empresas estatais, como Petrobrs, Eletrobrs e Embratel.
A primeira fase da industrializao pesada, que ocorreu no pas ao longo dos anos
1960, teve os maiores ndices de crescimento registrados no Estado de So Paulo. A
superioridade industrial paulista, em relao aos outros Estados, j era evidente, como visto
no captulo anterior. Entre 1949 e 1970, o ndice de crescimento industrial do Estado
continuou superior mdia nacional, registrando 9,2% no Estado de So Paulo, enquanto os
demais Estados cresceram a uma mdia de 7,2% (NEGRI, 1996, p. 105, 112). O
desenvolvimento industrial paulista tambm no foi homogneo entre a capital, a regio
metropolitana e o interior, semelhante ao ocorrido no perodo anterior. Entretanto, neste
perodo 1960/1977, ocorreu uma redefinio dos eixos da expanso industrial paulista, que,
em ltima anlise, desencadeou o processo de desconcentrao metropolitana.
116
Tabela 18 Concentrao espacial do valor da produo industrial (1956-1980) Estado de So Paulo.
So Carlos foi inserido na regio de Ribeiro Preto, junto com Araraquara, Franca,
Jaboticabal, Barretos e Bebedouro. Nesse momento, cada cidade teve de elaborar um
diagnstico do municpio, que era exigido para a liberao dos fundos FDTU (Fundo de
Desenvolvimento de Transporte Urbano) e FNDU (Fundo Nacional de Desenvolvimento
Urbano).
Segundo Negri (op. cit., p. 178), a adoo desse programa permitiu a realizao de
importantes investimentos em infra-estrutura urbana nos centros urbanos do interior de So
Paulo, capacitando-os para receber os eventuais investimentos industriais idealizados nas
polticas de descentralizao industrial da rea metropolitana". Os maiores investimentos do
programa foram realizados na ampliao da malha viria estadual, para facilitar as ligaes
das cidades do interior com a regio metropolitana, na rede de saneamento bsico, tais como
pavimentao de ruas, na construo de escolas e de ncleos habitacionais. Entre 1972 e
1975, houve grande investimento nas rodovias, que facilitaram o trnsito rodovirio inter-
cidades do interior (NEGRI, op. cit., p. 183).
117
Nos anos 1970 e 1980, o interior se desenvolveu rapidamente. Em 1970, 22 cidades do
Estado tinham mais de 100 mil habitantes, entre as quais apenas uma (cidade de So Paulo)
tinha populao com mais de 500 mil habitantes. Em 1980, j existiam 30 municpios no
Estado com populao entre 100 e 500 mil habitantes e quatro cidades com mais de 500 mil
habitantes (GONALVES, op. cit., p. 51).
119
Cidades Mdias, realizado durante os anos 1970, acabou beneficiando o desenvolvimento de
toda a regio de So Carlos. Ribeiro Preto, que era a cidade sede da regio administrativa,
polarizou grande parte dos investimentos. Com ritmo de crescimento semelhante a So
Carlos, desenvolveu-se tambm a cidade vizinha Araraquara, que, diferentemente de So
Carlos, tinha desenvolvimento econmico ligado produo agroindustrial (SEMEGHINI,
op. cit., p. 148-150).
Participao Participao
Crescimento
Nmero Pessoal pessoal valor de
Ano valor de
estabelecimentos ocupado ocupado do produo do
produo (%)
Estado (%) Estado (%)
1939/40 (1) 117 2.566 0,78 _ 0,53
1949 180 3.359 0,58 48,7 0,39
1959 264 4.597 0,55 155,6 0,46
1970 345 7.235 0,56 110,5 0,42
1975 376 11.122 0,61 253,5 0,58
Fontes: Devescovi (1985, p. 139), a partir de dados da FIBGE (Censos industriais de 1940, 1950, 1960, 1970 e 1975). Legenda: (1)
pessoal ocupado e nmero de estabelecimentos referem-se a 1940 (1 de setembro); valor da produo refere-se a 1939.
120
Em 1970, um novo fato contribuiu para a conformao do perfil educacional e
tecnolgico que a cidade foi assumindo. Nesse ano, foi fundada a UFSCar, criada por decreto
federal em 1968. Com a inaugurao do campus da UFSCar, comearam a funcionar os
cursos de Licenciatura em Cincias e Engenharia de Materiais, o primeiro do Brasil com essa
especializao. Essa universidade, que era a primeira universidade federal do estado de So
Paulo, diversificou rapidamente seus cursos, tambm voltados s cincias exatas aplicadas,
abordando diversas reas da Engenharia.
Taxa
Taxa Taxa
Populao Populao Populao urbanizao
Ano crescimento urbanizao
total urbana rural So Carlos
anual Brasil (%)
(%)
1950 47.731 -0,18% 32.703 15.028 64,7 36,2
1960 62.045 2,66% 50.851 11.194 75,1 45,5
1970 85.425 3,25% 75.739 9.686 88,7 56,0
1980 119.542 3,42% 110.235 9.307 92,2 68,9
Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud
Devescovi (1985, p. 58).
122
Grfico 4 Populao total, urbana e rural (1874-2000) municpio de So Carlos.
220
200
Nmero de habitantes (milhares)
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1874 1886 1900 1920 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Ano
Populao total
Populao urbana
Populao rural
Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud
Devescovi (1985, p. 58).
123
gabinete do prefeito. O Escritrio Tcnico do Plano Diretor, criado pelo decreto n. 4013/1960,
foi responsvel pela elaborao do primeiro Plano Diretor (PD) para So Carlos e pelo
aumento do controle da expanso urbana na cidade. O segundo momento, com incio em
1968, foi definido a partir da aprovao do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
(PDDI), que originou uma srie de leis de controle de uso e ocupao do solo, que contribuiu
para a expanso concentrada na regio central e rarefeita na periferia.
No bojo desse processo, uma nova categoria de loteadores surgiu em So Carlos, para
atender ao mercado imobilirio da periferia em crescimento. Essa nova categoria era
extremamente especulativa e passou a lotear margem da legislao urbana recm-
implantada. Nesse duelo entre o controle e o descontrole, o controle municipal entrou com
desvantagem, pois, apesar das novas leis, o enfraquecimento dos poderes municipais e
estaduais nos anos de ditadura militar deixou o municpio com dificuldade para exercer seu
controle. Como resultado, os loteamentos precrios se proliferaram medida que a populao
urbana crescia. O coroamento desse processo ocorreu em 1977, com a aprovao da lei
municipal 7.821/77, que abriu precedncia para a ampliao aleatria do permetro urbano,
aumentando ainda mais o poder de ao dos loteadores especulativos.
124
1970, n.p.). O transporte rodovirio intermunicipal tambm se intensificou, dando
continuidade ao processo de substituio do transporte ferrovirio que j havia comeado no
perodo anterior.
Figura 30 Avenida marginal do rio Gregrio em 1974 e ala de acesso cidade pela rodovia Washington Lus em 1960.
Fontes: PMSC/arquivo da SMHDU e arquivo da Fundao Pr-Memria.
125
Tabela 21 rea urbana (1857-1989) municpio de So Carlos.
3500,0
3000,0
2500,0
rea urbana em hectares
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
57 88 93 29 39 49 59 69 77 79 89
18 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19
Ano
Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros
trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa digital do
municpio de So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.
126
loteamentos. Mas a rea loteada no perodo1960/1971 foi relevante, somando cerca de 400
hectares de novas terras urbanizadas. Entre 1970 e 1977, 329 hectares de terra foram
parcelados, em um total de 34 novos empreendimentos, e 5 parcelamentos espontneos foram
realizados, somando 18,63 hectares. Outro tipo de loteamento que surgiu nessa dcada foi o
loteamento alto padro fechado Parque Sabar, que foi o primeiro loteamento do
municpio que utilizou o fechamento com muro. O nome, o ano de implantao, a rea e o
proprietrio de cada um dos parcelamentos realizados nesse perodo podem ser verificados na
Tabela 22. Ressalta-se que os loteamentos e parcelamentos analisados foram aqueles
efetivamente implantados, tanto os aprovados quanto os no aprovados.
127
1976 Parque Sabar Sap agropecuria 17,00
1976 Jardim Santa Paula prolongamento Imobiliria Faixa Azul 4,00
1976 Morada dos Deuses Mira Assumpo Construtora 2,00
1976 Centreville Indstria Carlos Fachina 10,00
1976 Chcara Paraso (Maximino) Jos Maximino Jnior 3,70
1976 Estncia M. Alice Exemplo Empreendimentos Imobilirios 9,00
1976 Taba Yacy Imobiliria Faixa Azul 2,80
1976 Vila So Gabriel prolongamento Leonardo Petrilli Filho 22,00
1976 Jardim Ricetti prolongamento Thomaz Carreri 5,40
1977 Jd. Bethnia Mitra Diocesana de So Carlos 6,00
1977 Jd. Real Real Loteamentos e Empreendi/o 3,70
1977 Parque Anhembi Imobiliria Faixa Azul 3,60
Subtotal rea loteamentos 771,16
s/d Parcelamento espontneo 7 2,70
s/d Parcelamento espontneo 8 3,90
s/d Parcelamento espontneo 9 6,45
s/d Parcelamento espontneo 10 2,00
s/d Parcelamento espontneo 11 3,58
Subtotal rea parcelamentos espontneos 18,63
rea total de loteamentos 789,79
Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros
trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/ 2003-2006; (s/d).
500
450
400
350
300
240
250
200
154 150
150
100 80 76
69 71 74
62 68 64 60
54 52 50
38 39 39 42
50
21 21 21 18
12 14 12 13
1 - - - - - - - - - 3
-
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
Fontes: Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa digital do municpio de So
Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.
128
Durante a dcada de 1970, um novo tipo de loteamento surgiu em So Carlos as
chcaras de recreio , implantadas no meio rural, utilizadas como chcara de lazer para os
residentes da cidade. Oito loteamentos de chcaras de recreio foram realizados na rea rural
do municpio, estando, todos eles, bem prximos ao ncleo urbano. A maioria dos lotes
possua em mdia 5 mil m. Em 1974, foi implantado o Vale do Uirapuru, em 1975, foram
implantados o Encontro Valparaso, Estncia Balneria Concrdia, Estncia Santa Lcia e
Vale da Santa Felicidade. Em 1976, foram implantadas as chcaras de recreio Vale do Sol e
Parque Itaipu; e, em 1977, a Chcara Leila. A maioria desses empreendimentos foi aprovada
pela Prefeitura Municipal de So Carlos (Tabela 23).
Tabela 23 Loteamentos realizados na rea rural chcaras de recreio (1960-1977) municpio de So Carlos.
129
130
3.2.2 Os novos eixos de expanso urbana rumo periferia
131
rodovia Washington Lus e por dar acesso ao maior loteamento do perodo, o Jardim Santa
Felcia (Figura 31).
A sudoeste, ganharam importncia durante os anos 1960 a rua Henrique Gregori (ou
rua das Torres) e a rua Coronel Leopoldo Prado, que juntas formaram um binmio de acesso
Vila Boa Vista 1, Vila Boa Vista 2 e Vila Carmem, conectando essa regio com a avenida
So Carlos. No sentido nordeste, a avenida Capito Luiz Brando, que uma via de
continuao da rua XV de Novembro e que na dcada anterior j havia despontado como
vetor de expanso por dar acesso Vila Jacobucci, foi prolongada na dcada de 1960,
atravessando a rodovia Washington Lus, no sentido nordeste, para dar acesso ao Jardim Santa
Maria II. Ao sul, a avenida. Morumby, contgua ao leito da Fepasa, que se liga rodovia Luiz
Augusto de Oliveira, continuou a se expandir, dando acesso Vila Morumbi. No sentido
sudeste, em direo capital, a avenida Getlio Vargas atraiu o loteamento Jardim Maracan,
que, apesar de estar completamente isolado da malha viria, foi situada em uma rea contgua
rodovia Washington Lus (Figura 31).
132
Figura 31 Principais eixos de expanso do perodo 1960/77. Fontes: Registros dos loteamentos implantados na Secretaria
Municipal de Habitao e Desenvolvimento Urbano/SMHDU; Base cartogrfica a partir de levantamentos
aerofotogramtricos de 1998 e mapa da SMHDU 2002; Plantas de Loteamentos (SMHDU); PMSC, Decreto municipal
837/47; PMSC, Decreto Municipal 3729/58.
133
Entre 1971 e 1977, grande nmero de loteamentos foi implantado na rea urbana de
So Carlos, sendo a maioria de pequeno e mdio porte, espalhados por toda a cidade.
Loteamentos mdios e pequenos ocuparam os interstcios vazios da rea urbana consolidada a
norte, nordeste e noroeste, como a Vila Vista Alegre, de 1971, o Parque Arnold Schimid, de
1972, o Solar dos Engenheiros, de 1975, e o Jardim Nova Santa Paula e a Chcara Paraso, de
1976. Outros loteamentos desse perodo estabeleceram novas conexes com a rodovia
Washington Lus, como o Recreio So Judas Tadeu, de 1973, e o Jardim Nova So Carlos, de
1970, bem prximo rodovia e contguo aos loteamentos do perodo e da dcada anterior.
Tambm contguos ao tecido urbano consolidado, foram implantados o Jardim Beatriz, em
1971, na regio da Vila Prado, o Jardim Ricceti, de 1974, e seu prolongamento, em 1976,
prximos Vila Monteiro, entre outros. Destaca-se tambm nesse perodo a implantao de
trs loteamentos de alto padro: o Prolongamento do Parque Santa Mnica, acessado pela
recm implantada avenida marginal do Crrego do Monjolinho, de 1970; o Parque Sabar,
loteamento fechado por muros, contguo rodovia Washington Lus e isolado do tecido
urbano consolidado, de 1976; e o Jardim Cardinali, localizado prximo Vila Nery e de
difcil acesso, de 1974 (Mapa 3).
Nos anos 1970, alguns novos eixos se formaram e outros se fortaleceram como
atrativos para a expanso urbana. Uma mudana significativa nas direes dos eixos de
expanso ocorreu a partir da implantao das avenidas marginais do Crrego Gregrio e
Monjolinho, implantadas durante a dcada de 1970, que eram parte do anel perimetral
proposto pelo setor de planejamento municipal para contornar todo o ncleo urbano. A
avenida Comendador Alfredo Maffei, contgua ao Crrego Gregrio, surgiu de um
prolongamento na direo oeste da rua Jesuno de Arruda, at a rotatria de encontro dela
com a avenida Francisco Pereira Lopes, que marginal do Crrego do Monjolinho, que, por
sua vez, segue at a portaria de baixo da USP. Essas duas marginais tornaram-se os principais
eixos de expanso da direo oeste, junto com a rua Miguel Petroni. Uma grande parte da rea
contgua avenida Francisco Pereira Lopes foi ocupada pelo prolongamento do Jardim Santa
Mnica. A marginal do Crrego Gregrio tambm se tornou um eixo de expanso da direo
leste, dando acesso a vrios loteamentos, como o Centreville, o Jardim Maria Alice, o Jardim
Ricetti e seu prolongamento (Figura 31).
134
srie de novos loteamentos, como o Recreio So Judas Tadeu, o Parque So Jos, o Jardim
Ricceti, o Jardim Nova So Carlos, bem como vrios estabelecimentos industriais e
comerciais de grande porte. No sentido nordeste, no prolongamento das ruas XV de
Novembro e Marechal Deodoro, fortaleceu-se o eixo da rua Loureno Innocentini, que deu
acesso ao Parque Sabar, atravessando a rodovia para atingir o loteamento de Chcaras de
Recreio Monte Carlo.
A rua Miguel Petroni consolidou-se, durante os anos 1970, como um importante eixo
de expanso da regio noroeste da cidade, que se adensou com a implantao do campus da
USP, no incio dos anos 1970. Sendo uma continuao da rua Doutor Carlos Botelho, a rua
Miguel Petroni estabeleceu importante conexo do centro com a regio oeste, comunicando-
se com a rodovia Washington Lus, na direo noroeste. Ao longo desse eixo foram
implantados os loteamentos Taba Yacy e Morada dos Deuses. Outro eixo de expanso
importante no perodo foi a rua Coronel Jos Augusto de Oliveira, que deu acesso ao Distrito
Industrial Miguel Abdelnur e a outras indstrias que se instalaram na regio sudeste. Essa rua
tambm conectou a cidade com a rodovia Luiz Augusto de Oliveira, tambm conectada
rodovia Washington Lus, facilitando o acesso aos municpios de Ribeiro Bonito e Dourado
e ao interior do Estado de So Paulo.
Ao sul, um novo eixo de expanso se formou com a abertura da avenida Papa Paulo
VI, que cortou o loteamento Jardim Cruzeiro do Sul, oferecendo acesso ao isolado loteamento
Vila Monte Carlo e que, nos anos 1980, viabilizou a implantao do extenso e precrio
loteamento popular Cidade Aracy.
135
grandes parcelamentos, voltados, principalmente, para uma populao de mdio e baixo poder
aquisitivo. A partir dos anos 1970, surgiram muitos loteamentos pequenos, espalhados por
toda a cidade, atendendo a todas as classes sociais.
O traado virio tornou-se cada vez mais fragmentado, sendo cada um dos
loteamentos definido por um tipo de traado prprio e independente. Essa fragmentao
dificultava o acesso das novas reas. Os acessos aos novos loteamentos tambm se tornaram
cada vez mais precrios. O Jardim Santa Felcia, por exemplo, possua acesso nico formado
pela avenida Miguel Petroni. A maioria dos loteamentos era composta por lotes de 300 metros
quadrados, que levaram muito tempo para ser ocupados. Esse tipo de parcelamento acabou
provocando expanso urbana extensiva de baixa densidade. Esses loteamentos, embora no
fossem completamente isolados do sistema virio preexistente, foram implantados de tal
forma que acabaram formando enormes vazios entre seu limite e o limite das demais reas
urbanizadas. Isso aconteceu com evidncia a partir da implantao do Jardim Santa Felcia,
por exemplo, na regio noroeste, e com o Jardim Maracan a sudoeste.
Jardim
Santa Felcia
Jardim
Santa Felcia
Figura 32 Foto area do Jardim Santa Felcia, em implantao em 1969 (esquerda), e j em fase de ocupao,
em 1979 (direita). Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.
Por outro lado, enquanto a periferia se alastrava, com lenta ocupao, no centro
ocorria um processo de verticalizao. O primeiro edifcio urbano com mais de dois
pavimentos foi o Irmos Stella, concludo em 1949, na rua General Osrio, e somente a partir
136
dos anos 1950 ocorreu a construo de edifcios em altura. O marco do incio da
verticalizao moderna em So Carlos aconteceu com a construo do Grande Hotel
Municipal, construdo pela famlia Pereira Lopes, no centro da cidade, cujas obras comearam
em 1952, e foram finalizadas em 1962. No incio dos anos 1960, o Edifcio Conde do Pinhal,
de estilo modernista, localizado na rua Major Jos Incio, em frente praa Coronel Salles,
foi concludo. Em 1967, foi inaugurado o Edifcio Vila Rica, que superou os dois edifcios
anteriores em altura, chegando a 14 pavimentos, com 54 apartamentos residenciais; ele foi
ocupado inicialmente por membros da elite local (GERALDI, 2005, p. 133, 141-164). Alm
disso, o setor bancrio, por necessitar de prdios modernos, contribuiu para o processo de
aquisio e demolio das antigas residncias do centro, que deram lugar a novos edifcios em
altura utilizados pelos Bancos (DEVESCOVI, op. cit., p. 185-186).
30
SO CARLOS. SE/PMSC (Seo de Expediente/Prefeitura Municipal de So Carlos). Dezembro de 1971. Dispe sobre
edificaes nesse municpio.
137
Figura 33 Vista area do centro de So Carlos em 1974, onde se observa os primeiros prdios, com vrios
pavimentos implantados na regio central. Fonte: arquivo da Fundao Pr-Memria/PMSC.
importante ressaltar que, como no havia uma lei de controle de usos, as restries
definidas pelas clusulas contratuais dos loteamentos eram usadas como estratgia do
empreendedor imobilirio para garantir a estabilidade do uso de ocupao e,
138
conseqentemente, da valorizao dos imveis, procurando evitar a desvalorizao em casos
da instalao de usos incmodos. Esse tipo de clusula, conforme o decreto-lei federal n.
58/37, no poderia ser modificada sem o consentimento de 100% dos proprietrios dos lotes,
tornando-se uma camisa de fora para o setor de planejamento, como visto no Captulo 2. O
uso do solo misto, predominante na maior parte da cidade, foi encarado como um problema
pela equipe de planejamento urbano que trabalhou na cidade no incio dos anos 1960,
concluindo que:
31
Clculo realizado a partir do mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa
digital do municpio de So Carlos da PMSC/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.
139
Santa Mnica e seu prolongamento e o Parque Sabar foram os principais loteamentos
ocupados por famlias da elite local de alto padro socioeconmico A regio sul e sudeste
manteve-se como regio de residncia da populao pobre, assim como ocorreu no Jardim
Maracan (LAISNER, 1999, p. 47).
Com efeito, desde o aceleramento do processo de expanso, no final dos anos 1940, o
padro de ocupao urbana em So Carlos se tornou muito heterogneo nas diferentes regies
32
Conforme dados coletados em entrevistas realizadas com tcnicos da SMHDU/PMSC/2005-2006.
140
da cidade, e nesse processo o controle limitado do poder pblico sobre a ao dos loteadores
especulativos teve grandes implicaes.
141
Para viabilizar as aes do SERFHAU, foi criado o Fundo de Financiamento de Planos
de Desenvolvimento Local Integrado, para financiar os programas desse departamento. A
liberao dos recursos, para a elaborao de planos, ficava condicionada criao de rgos
permanentes de planejamento e desenvolvimento local nos municpios.
142
administraes locais para assistncia tcnica no desenvolvimento do Plano Diretor, criando o
Centro de Estudos e Pesquisas de Administrao Municipal (CEPAM), junto Secretaria de
Estado e Negcios do Interior do Governo do Estado de So Paulo, em 1967 (BRASIL, Lei n.
4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit.).
143
foi forte. No caso de So Carlos, dois planos foram elaborados, tendo como parte dos
resultados a elaborao da legislao municipal dos anos 1960 e 1970. Um deles, finalizado
em 1962, foi assessorado pelo CPEU, e o outro, aprovado em 1971, foi realizado durante o
perodo do SERFHAU.
144
Em 1960, foi criado pelo decreto municipal n. 4013/1960 o Escritrio Tcnico do
Plano Diretor de So Carlos como rgo de Assessoramento do Plano Direto de So Carlos
(...) junto ao Gabinete do Prefeito. Esse decreto exigia a presena de um arquiteto no quadro
de funcionrios desse escritrio, cuja competncia seria de coordenar os trabalhos de
elaborao do plano. Pela primeira vez um profissional com essa formao seria incorporado
ao quadro de funcionrios municipais (SO CARLOS, 1960, artigo 1).
145
Figura 34 Estrutura administrativa de So Carlos, incluindo o Escritrio Tcnico do Plano Diretor, criado pelo
Decreto Municipal n. 4013/1960.
146
O posicionamento do rgo de planejamento urbano ligado diretamente ao gabinete do
prefeito seguia o modelo americano de administrao municipal, que, desde os anos 1930, foi
referncia para as reformas administrativas do servio pblico nos nveis federal, estadual e
municipal. No campo do planejamento urbano, na difuso dessa organizao, o engenheiro
Anhaia Mello teve papel fundamental. Em 1955, foi criado o Centro de Pesquisas e Estudos
Urbansticos (CPEU) na FAU-USP, que, segundo Feldman, foi o verdadeiro laboratrio para
as idias americanas difundidas por Anhaia Mello (FELDMAN, op. cit., p. 226) e atuou em
inmeras cidades do interior do Estado de So Paulo. Em So Carlos, o CPEU participou de
todo o processo de elaborao do primeiro Plano Diretor do municpio, para o qual props a
seguinte estrutura para elaborao do plano:
Figura 35 Estrutura de planejamento urbano de So Carlos, para elaborao do Plano Diretor de 1962. Fonte: So Carlos,
Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.
147
recreao e circulao. Para que as diretrizes do plano se efetivassem, era apontando que a
participao da comunidade no planejamento (...) a norma racional para a obteno de mais
eficiente receptividade das idias do plano, como garantia da sua realizao (SO CARLOS,
Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).
148
Para a elaborao desse plano foram realizados dois levantamentos preliminares: o
registro cadastral da cidade e o levantamento aerofotogramtrico. Alm disso, foi realizada
uma pesquisa detalhada dos loteamentos implantados no municpio, alm do levantamento de
outros dados. A partir da, a equipe produziu um extenso diagnstico que apontou as
principais carncias do municpio e tambm sugeriu uma srie de diretrizes para melhorar seu
desenvolvimento urbano.
Tambm foram propostas solues para melhorar o sistema virio para o tratamento
das praas e demais reas verdes. As diretrizes propostas para o sistema virio previam a
construo de uma avenida perimetral, circundando as bacias do crrego Gregrio e do Tijuco
Preto, a implantao de uma rede de avenidas proporcionando a ligao entre os bairros, a
realizao de obras para passagens em desnvel sobre os cruzamentos da rodovia e da
ferrovia, a implantao de vias marginais aos cursos dgua e ferrovia e a hierarquizao do
sistema virio com a redefinio da largura das ruas. Para o tratamento das reas livres foi
149
proposta a ampliao do sistema de recreio 33 a partir das seguintes aes: criao de parques e
jardins ao longo das marginais, formao de bosques nos fundos de vale, implantao de um
grande lago artificial, construo de praas de esportes, formao de cinturo verde de
chcaras entre a rea urbana e a rodovia Washington Lus e melhora no aproveitamento das
reas livres dos loteamentos implantados e dos futuros parcelamentos (SO CARLOS, Plano
Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).
O Plano Diretor, propriamente dito, no foi aprovado por lei especfica, mas algumas
diretrizes foram adotadas aps sua elaborao. A lei de loteamentos (SO CARLOS, lei n.
4411/1962, 1962), estabelecendo exigncias para a aprovao e implantao de loteamentos,
tambm foi aprovada. A lei de zoneamento, proposta pela equipe do plano, no foi aprovada.
Infelizmente, grande parte do material elaborado pela equipe do plano foi perdida pelas
administraes municipais seguintes, no restando nenhum exemplar no departamento de
planejamento urbano da Prefeitura.
Entre 1968 e 1970, foi elaborado o segundo Plano Diretor para So Carlos, o Plano
Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), que incorporou os princpios do planejamento
integrado difundidos pelo SERFHAU e exigidos pelo governo estadual pela lei orgnica dos
municpios. O PDDI foi elaborado pela equipe municipal do Plano Diretor, em parceria com a
Escola de Engenharia de So Carlos, cujo convnio foi firmado pela lei municipal n. 5853, de
1968. A equipe do PDDI contou com a assistncia tcnica do Centro de Estudos e Pesquisas
de Administrao Municipal (CEPAM) e do Instituto Brasileiro de Administrao Municipal
(IBAM) (SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). A equipe
do PDDI era composta pelo arquiteto Carlos Augusto Welker, professor da Escola de
Engenharia de So Carlos, como coordenador dos trabalhos de elaborao do plano; Luisa
Battaglia, arquiteta, chefe do Escritrio Tcnico do Plano Diretor da Prefeitura Municipal de
So Carlos; Antnio Domingos Battaglia, arquiteto, professor da Escola de Engenharia de So
Carlos; Gert Hermann Reichert e Jos Celso Contador, engenheiros professores da Escola de
33
O sistema de recreio foi definido pela equipe do plano como um conjunto de reas verdes livres utilizadas para atividades
de lazer e recreao, caracterizadas pelo recreio contemplativo, como bosques, lagos, jardins; e pelo recreio ativo, como
playgrounds, locais para jogos recreativos, etc. (SO CARLOS, Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).
150
Engenharia de So Carlos, como assessores de programao (SO CARLOS, Plano Diretor
de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).
151
O diagnstico sobre o setor fsico-territorial apontou a carncia de diretrizes claras de
uso e ocupao do solo e a falta de uma orientao tcnico-consultiva para os edifcios
urbanos. Tambm foram verificadas inmeras deficincias no traado virio, como a falta de
hierarquia viria e a conseqente sobrecarga da avenida So Carlos, responsvel pela ligao
norte-sul da cidade, e a dificuldade da travessia dos crregos que recortam a rea urbana
(SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). A malha viria
ortogonal implantada no sculo XIX tambm foi criticada por ter sido implantada em um
terreno acidentado, o que contribuiu para o surgimento de profundas eroses no solo urbano.
Sobre a estrutura viria dos parcelamentos mais recentes, foi apontado que provocavam
descontinuidade do tecido urbano, por no darem continuidade s ruas preexistentes (SO
CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). Essas descontinuidades
acabavam formando falhas na rea urbana formadas por grandes glebas desocupadas e
inteiras. Suspeitou-se, inclusive, que essas glebas eram mantidas como reservas do mercado
imobilirio (SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).
152
toda a populao, demandando altos investimentos pblicos em obras de infra-estrutura
onerosas. Outro problema dos loteamentos perifricos era a ausncia de servios essenciais
para as famlias pobres, como, por exemplo, o alcance da rede de transporte coletivo (SO
CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).
As propostas do plano foram elaboradas por diretrizes e por leis especficas e projetos
de leis. As diretrizes abordavam todos os problemas levantados no diagnstico, orientando,
por exemplo, o trato das vias pblicas, com a construo de guias e caladas e sua
arborizao, alm da implantao de um anel virio de ligao interbairros. Esse anel virio
desviaria o trnsito da avenida So Carlos por um sistema de marginas que percorreriam as
vrzeas dos trs crregos principais que cortam o ncleo urbano, sendo formado por
avenidas de trfego rpido, com o menor nmero possvel de cruzamentos em nvel.
Deveria ser realizado em etapas, podendo-se prever obras para os prximos 10 a 15 anos. A
funo do anel virio, alm de interligar os diversos bairros, seria a de permitir e incentivar a
ocupao dos terrenos prximos ao centro, mas de difcil acesso em virtude das condies
topogrficas e da precariedade do sistema virio atual (SO CARLOS, Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).
153
A nova estrutura administrativa municipal foi modificada em 1970, a partir da
proposta elaborada pelo IBAM (SO CARLOS, lei municipal n. 6453/1970, 1970). Em 1967,
a estrutura administrativa municipal j havia sido modificada pela lei municipal n. 5666/67,
na qual o Escritrio Tcnico do Plano Diretor deixava de existir como rgo diretamente
ligado ao gabinete do prefeito, tornando-se um rgo auxiliar independente, recebendo a
seguinte denominao: Plano Diretor. A nova estrutura, criada em 1970 e modificada por
decreto em 1971, tornou-se mais complexa, sendo subdivida em rgos que substituram as
antigas reparties, os quais foram pensados para intensificar o controle e aumentar a
qualidade do desempenho das atividades municipais. Entre os rgos de assessoramento do
prefeito, foi criada a Assessoria de Planejamento (ASPLA), que incorporou o setor do Plano
Diretor, o qual voltou a se ligar diretamente ao gabinete do prefeito (SO CARLOS, decreto
n. 6474, 1970). A ASPLA era composta pelos setores de Servios e Administrao, Escritrio
de Oramento e Programao, Escritrio Central de Cadastro e Escritrio Tcnico do Plano
Diretor (SO CARLOS, decreto n. 2/1971, 1971). As mudanas na estrutura administrativa e
o Regime Interno da Prefeitura Municipal de So Carlos elaborado pelo IBAM em 1970 so
ilustradas nas figuras a seguir. Nessa nova estrutura foram criadas as subprefeituras de Santa
Eudxia e gua Vermelha, como rgos de desconcentrao territorial.
154
Figura 38 Estrutura administrativa do municpio de So Carlos, definida em 1967 (esquerda), e estrutura
administrativa de So Carlos, em 1971, que criou a ASPLA, tendo sido elaborada com auxlio tcnico do IBAM
(direita). Fontes: So Carlos (lei municipal n. 5666/67,1967); So Carlos (decreto n. 6474/1970, 1970); So
Carlos (decreto n. 2/1971, 1971).
Figura 39 Capa do Regime Interno da Prefeitura Municipal de So Carlos, elaborado pelo IBAM e aprovado
pela lei n. 6474/1970 (direita). Fontes: Arquivo da Seo de Expediente/ PMSC.
155
O PDDI de 1970 foi aprovado em 1971, pela lei municipal n. 6684/71, de 24 de maro
de 1971, assinada pelo interventor federal Dr. Antnio Teixeira Viana. As demais leis
propostas pelo plano tambm foram aprovadas, como ser mostrado a seguir. De forma
semelhante ao PD de 1962, no restou nenhuma cpia do PDDI nos arquivos da Prefeitura
Municipal de So Carlos, sendo seu processo e produto cada vez mais esquecidos. Na Cmara
Municipal tambm so mnimos os registros do PDDI, constando apenas sua lei de aprovao.
Segundo funcionrios da Cmara, em meados dos anos 1990, todos os arquivos da Cmara
foram transferidos para um barraco prximo da UFSCar, onde ocorreram trs incndios
consecutivos. Com isso, grande parte da memria do processo de elaborao dos planos
diretores de So Carlos pode ter desaparecido.
3.4.1 As leis resultantes do Plano Diretor de 1962: lei de loteamentos de 1962, lei da zona
industrial e lei de habitao
Uma srie de exigncias foi feita para a abertura de vias nos terrenos do municpio.
Em primeiro lugar, foi proibida qualquer abertura de via sem a prvia autorizao da
Prefeitura. Para as vias da rea urbana e de expanso urbana, era obrigatrio que as vias
pblicas se adaptassem s condies topogrficas do terreno. As dimenses do leito e passeio
das vias pblicas deveriam ajustar-se natureza, ao seu uso e densidade da populao das
reas servidas a juzo da Prefeitura ou de acordo com as diretrizes do Plano Diretor. Essas
dimenses seriam correspondentes ao mltiplo de filas de veculos ou de pedestres. As ruas de
acesso deveriam ter largura mnima de nove metros, com leito no inferior a seis metros e
recuos mnimos de quatro metros da construo (SO CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962,
artigos 13-16).
III rea de expanso urbana da cidade e vilas que for prevista no Plano
Diretor do Municpio, devidamente aprovada pela Cmara Municipal para
atender ao crescimento da populao e ao desenvolvimento da rea urbana
(SO CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962, artigo 1).
34
Essa determinao da lei provavelmente foi fruto de alteraes realizadas pela Cmara, o que no se pode afirmar pela
insuficincia de evidncias, sendo uma questo para investigaes futuras.
159
realizada em 1962, pelo decreto municipal n. 4422, quando a rea urbana passou de 483,3
hectares, definida em 1958 (SO CARLOS, decreto n. 3728, 1958), para 1.034 hectares (ver
Mapa 3).
Outro problema que apareceu nesse plano foi o incentivo para que as novas ruas
fossem implantadas acompanhando a topografia do terreno, o que colocava de lado o traado
ortogonal. Com isso, os parmetros para os arruamentos ficaram pouco precisos, de forma que
s seria garantida a continuidade e funcionalidade da rea urbana se o departamento de
planejamento municipal desse conta de desenhar os loteamentos, como previsto na lei, o que
na prtica acabou no acontecendo.
Em 1966, foi delimitada a primeira zona industrial do municpio, pela lei municipal n.
5329, de janeiro de 1966, que definia o permetro da rea de uso industrial, localizada na
regio sudeste, prxima aos atuais edifcios do Sesi e da Ciesp (SO CARLOS, 1966). Em
1968, com a aprovao da lei municipal n. 5908, foram definidas as formas de utilizao
dessa zona, na qual seriam desapropriados dez alqueires, cuja rea era destinada a
proporcionar facilidades s novas indstrias que aqui queiram se instalar (SO CARLOS,
1968, artigo 1). As reas para a instalao das novas fbricas eram doadas, mediante
requerimento e assinatura de acordo, no qual as empresas deveriam cumprir algumas
exigncias. Entre as exigncias impostas pela Prefeitura, estava a obrigatoriedade da empresa
recolher os impostos e outros tributos no municpio; de iniciar as obras de construo da
fbrica em um prazo de seis meses; e de concluir e inaugurar o estabelecimento em um prazo
mximo de dois anos. Prefeitura cabia tomar as providncias necessrias para dotar essa
rea com melhoramentos pblicos, tais como: ruas, canalizaes de gua e esgoto, luz e fora,
pavimentao (SO CARLOS, 1968, artigo 1).
Em 1971, foi definido o permetro da segunda zona industrial do municpio, pela lei
municipal n. 6871/71, sendo essa rea contgua primeira zona industrial (SO CARLOS, lei
n. 6871/1971, 1971). Tanto o permetro da primeira quanto da segunda zona industrial foram
modificados algumas vezes, tendo, em 1981, recebido uma nova nomenclatura, de rea
industrial I e II, sendo esta ltima dividida em zona A e B (SO CARLOS, 1981). A lei de
permetro e zoneamento n. 6871/ 1971 criou a 3 zona industrial, contgua 1 e 2, mas
sendo bem maior do que as demais.
160
Em 1972, comeou a ser implantado o primeiro distrito industrial do municpio, criado
pela lei municipal n. 7.037, de setembro de 1972, e denominado distrito industrial Miguel
Abdelnur. Essa ao veio no bojo da poltica de expanso industrial do interior, sendo uma
estratgia utilizada por vrios municpios. Apesar da lenta ocupao do distrito, a localizao
do Miguel Abdelnur, na direo sudoeste da rea urbana, contribuiu para reforar o carter
industrial dessa regio, onde j existia a primeira e a segunda zonas industriais da cidade. O
distrito industrial foi um empreendimento realizado pela Prefeitura de So Carlos, no qual os
terrenos eram vendidos a partir de concorrncia pblica. As empresas tinham dois anos para
iniciar suas atividades e assim teriam iseno de impostos municipais de dez anos.
Prefeitura caberia a execuo de obras de infra-estrutura bsica, exceto asfalto, que seria pago
pelas indstrias. Neste acordo acabou ocorrendo o descumprimento de ambas as partes, o que
deixou a rea sem algumas redes de infra-estrutura bsica durante anos (CADERNO DA
TERCEIRA APRESENTAO CIESP DE AES REGIONAIS, 2004; SO CARLOS,
Lei n. 7037, 1972).
Outra lei aprovada aps a finalizao do Plano Diretor de 1962 foi a lei de habitao n.
4666/1963, que revogou a lei de habitao n. 1004/48. Essa lei trouxe poucas mudanas, mas
apresentou novas exigncias para a construo de habitao popular econmica, como a
presena de recuos frontais de no mnimo 6 metros, para casas de at 1 dormitrio, e recuo
frontal de 8,5 metros para casas de 2 e 3 dormitrios.
A zona urbana do distrito sede foi subdivida em trs reas de expanso urbana. Os
permetros das reas de expanso seriam definidos e revisados pelo rgo de planejamento da
Prefeitura, aprovados pela Cmara, e tambm seriam atualizados de trs em trs anos. Pela lei,
foi definida a 1 rea de expanso urbana, como a rea central, destinada a uma
intensificao do uso do solo, com tendncia de ocupao por atividades comerciais,
recreativas, institucionais e de prestao de servios. A 2 rea de expanso urbana foi
considerada toda a rea com viabilidade econmica de extenso dos servios pblicos.
162
Destina-se predominantemente habitao, e a seus equipamentos complementares. E a 3
rea de expanso urbana a rea que no apresenta interesse imediato de ocupao, mas se
destina a verificar e controlar as tendncias naturais do crescimento (SO CARLOS, lei n.
6871/1971, 1971, artigo 6). As 1, 2 e 3 reas de expanso eram concntricas, sendo a
primeira correspondente ao centro da cidade, a 2 envolvendo a anterior por completo, e a 3
rea de expanso, a mais distante do centro, localizada entre a segunda rea e a linha
perimetral que separa a zona urbana da rural. Esse zoneamento pode ser verificado na Figura
40, a seguir.
163
nomenclatura de rea industrial que passava a pertencer zona urbana, junto com as 1, 2 e 3
reas de expanso. Para cada uma dessas reas existiam parmetros de uso e ocupao
diferentes, definidos conjuntamente pelas leis de edificaes e de loteamentos.
Em 1972, essa lei foi modificada pela lei municipal n. 6910/1972. Essencialmente, a
nova lei estabeleceu normas de ocupao das reas industriais, que passaram a ter ndice de
ocupao de 80% e ndice de aproveitamento de 3, e determinou que a 1 rea de expanso
estaria sujeita s normas do Condephaat, que preservava o entorno dos imveis tombados do
centro da cidade. A lei de edificaes de 1972 tambm modificou os ndices da 3 rea de
expanso, definindo o ndice de ocupao de 40% do lote e o ndice de aproveitamento de 1, o
que induziu uma ocupao de densidade baixa na rea de expanso mais perifrica. Com a
possibilidade de intensificar a construo na primeira rea de expanso, com ndice 6, os
terrenos centrais ficaram supervalorizados, e essa elevao de preos repercutiu no conjunto
da cidade.
A terceira lei, proposta pela equipe do PDDI e aprovada pela Cmara Municipal no
incio dos anos 70, foi a lei de loteamentos n. 6808/71, que revogou a antiga lei n. 4411, de
1962, impondo novas formas de aprovao dos loteamentos. Para a aprovao de qualquer
loteamento, prolongamento de vias pblicas ou abertura de novas vias, em qualquer das zonas
do municpio, o proprietrio deveria obter a aprovao da Prefeitura (SO CARLOS, lei n.
6808/1971, 1971, artigo 2).
Para a realizao do sistema virio dos novos loteamentos, foi definido que as
dimenses do leito e do passeio das novas vias pblicas deveriam ajustar-se natureza, ao seu
uso e densidade da populao das reas servidas, de acordo com as diretrizes do rgo de
165
planejamento da Prefeitura (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971, artigo 14), e que a
Prefeitura, por meio de seu rgo de planejamento, estabeleceria as dimenses mnimas das
vias pblicas, condies de abertura de ruas e demais elementos tcnicos necessrios para
garantir o bom funcionamento dos sistemas virio (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971,
artigo 15). Apesar da crtica da equipe do PDDI aos arruamentos ortogonais da rea central,
no foi exigido por essa lei que os arruamentos acompanhassem a topografia do terreno, ao
contrrio da lei de loteamentos 1962, revogada pela nova lei. Quanto ao tamanho das quadras,
pela nova lei, elas no poderiam ter nenhuma dimenso superior a 220 m, sendo a rea
mxima admitida para as quadras de 20.000 m (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971,
artigos 16 e 17). At ento, as quadras no poderiam ter dimenses maiores do que 450
metros de comprimento e 80 metros de largura.
A grande novidade da lei de loteamento de 1971 foi a exata definio das reas
pblicas dos novos loteamentos, reservadas para recreao e uso institucional. A quantidade
dessas reas no poderia ser inferior a: 12% da rea total a ser loteada, na 2 rea de expanso
urbana; 18% da rea total a ser loteada, na 3 rea de expanso urbana; 10% da rea total a ser
loteada nas zonas industriais; e 5% da rea total a ser loteada na zona rural. Para a 1 rea de
expanso no existia nenhuma exigncia (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971, artigo 20).
Alm disso, foi definido que, para as reas de recreao e de uso institucional, a localizao e
as dimenses seriam indicadas pelo rgo de planejamento da Prefeitura, para cada
loteamento, em funo da densidade de construo admitida, da localizao e do equipamento
pblico necessrio. Alm disso, uma vez aprovado o loteamento, nem a Prefeitura, nem o
proprietrio poderiam alterar o uso dos locais indicados (SO CARLOS, lei n. 6808/1971,
1971, artigos 18 e 19).
Essa lei tambm se diferenciou da lei de 1962 quanto s exigncias das obras e
servios pblicos a serem realizados pelo loteador. A lei de 1971 diminuiu a quantidade
mnima de infra-estrutura urbana exigida pela lei de 1962, que no vinha sendo cumprida
pelos loteadores. Segundo a lei de 1971:
166
Artigo 22 - Na 3 rea de expanso urbana ser sempre obrigatria a
abertura das vias pblicas, a colocao de guias e sarjetas, a colocao de
rede de gua ou de esgoto, devendo a Prefeitura exigir tambm outro dos
melhoramentos citados no artigo anterior.
Alm dessas trs leis, em 1974, foi aprovado um novo cdigo de posturas para o
municpio de So Carlos, que substituiu o superultrapassado Cdigo de Posturas de 1929.
Aprovado pela lei n. 7379/74, o novo cdigo continha uma srie de medidas de higiene, de
funcionamento dos estabelecimentos comerciais e industriais, entre outros aspectos, embora
deixasse de regulamentar a ocupao e o uso do solo, diferenciando-se bastante do cdigo
anterior. Com efeito, desde a aprovao do Cdigo de 1929, uma srie de leis urbansticas foi
sendo aprovada, revogando as disposies em contrrio e substituindo os parmetros
definidos naquele momento.
167
As condies de parcelamento do INCRA eram menos restritivas do que as
municipais, pois permitia o loteamento de glebas rurais, desde que a gleba estivesse dentro de
um raio de at dois quilmetros da linha de permetro urbano definida pelo municpio. O
INCRA tambm exigia, para a emisso da certido de diretrizes para os parcelamentos em
rea rural, que a rea fosse servida por uma rede de infra-estrutura urbana mnima (no
definida com preciso) e estivesse prxima a uma escola primria e a uma distncia mxima
de 3 mil metros de um posto de sade (SILVA, 1995, p. 151). Apesar de o direito urbanstico
prever que a lei mais restritiva soberana sobre a mais permissiva, a lei federal abriu
precedncia para o loteamento na zona rural. Essa possibilidade acabou incentivando a
realizao de um novo tipo de parcelamento da zona rural de So Carlos, a chamada chcara
de recreio, que se multiplicou pelo municpio. So exemplos de chcaras de recreio
implantadas na zona rural: Encontro Valparaso, Estncia Balneria Concrdia, Vale da
Felicidade, Parque Itaipu, Chcara Leila, entre outras.
Ainda no perodo 1960/1977, uma nova lei municipal, correlata lei municipal de
permetro e zoneamento, foi aprovada. Essa lei era sucinta, mas seu impacto foi abrangente e
complementava o descontrole da expanso urbana que as leis de loteamento e zoneamento
propiciavam. Em 1977, a lei n. 7821/77 desobrigou a atualizao do permetro urbano a cada
trs anos, o que abriu precedncia para que o permetro fosse alterado a qualquer momento.
Com efeito, a partir da aprovao dessa lei, o permetro passou a esticar em qualquer
direo e a ser sistematicamente ampliado. Ressalta-se que, para os loteadores, a linha de
permetro ainda era uma barreira, pois s era permitida a realizao de loteamentos para fins
urbanos dentro da rea urbana limitada pelo permetro. Portanto, a liberao do prazo de
atualizao do permetro facilitou a atuao dos loteadores, que, respaldados pela lei,
poderiam solicitar uma prvia ampliao do permetro na direo que quisessem parcelar.
Com isso, essa lei se tornou um marco no processo de expanso urbana de So Carlos, no
168
por seu controle, mas, pelo contrrio, por seu descontrole. A partir da, o permetro foi
sucessivamente ampliado.
Em 1978, o permetro foi modificado pela lei n. 7926/78; em 1979, pelas leis n.
8056/79 e 8095/79; e, em 1980, pelas leis n. 8170/80, 8459/1980 e 8529/80. Uma das
antecipaes mais evidentes foi aprovada para a implantao do loteamento Cidade Aracy,
pela lei 8170/80, na qual o permetro foi ampliado para envolver o loteamento que seria
aprovado dois anos depois desse alargamento. A figura a seguir ilustra o processo de
expanso urbana de So Carlos desde 1947 at 1989, mostrando a relao entre a linha de
permetro e a rea urbana.
169
Figura 42 Evoluo da rea urbana do municpio de So Carlos (1857-1989). Fonte: mapas 1, 2
e 3, realizados para a pesquisa.
170
Com efeito, o arcabouo legal implantado desde 1962 acabou no resistindo s
presses especulativas do mercado imobilirio e, no processo de expanso aps 1977, tornou
ainda mais evidente o triunfo dos loteadores. A cidade descontnua e segregada de hoje no
fruto de um acaso, mas de uma srie de aes legitimadas pelo poder pblico local e aceitas
pela sociedade.
A partir das anlises realizadas neste captulo, tornaram-se evidentes alguns aspetos
principais. A conjuntura socioeconmica nacional, entre os anos 1960 e1977, caracterizou-se
por um momento desenvolvimentista e autoritrio responsvel por um salto no processo de
industrializao e urbanizao no pas, acompanhado do aprofundamento das desigualdades
sociais. Em So Carlos, a economia da cidade se desenvolveu nesse perodo, ampliando seu
parque industrial de forma moderada. No setor educacional, a cidade se desenvolveu muito. A
implantao da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar), a primeira universidade
federal do Estado, no final dos anos 1960, contribuiu para a consagrao da cidade no mbito
do ensino universitrio e das pesquisas das reas tecnolgicas e dos estudos sociais. Mas, o
processo de expanso urbana no municpio foi desequilibrado, evidenciando as disputas
sociais caractersticas do perodo.
Apesar do regime militar autoritrio, muitos grupos de urbanistas atuaram pelo pas
em prol do desenvolvimento urbano planejado. Inmeras instituies pblicas de
planejamento urbano foram criadas nas esferas municipal, estadual e federal, entre elas o
Servio Federal de Habitao e Urbanismo (SERFHAU), pelo governo federal, o CEPAM,
pelo governo do Estado de So Paulo, e o Escritrio Tcnico do Plano Diretor, em So
Carlos. Entre 1960 e 1972, dois planos urbansticos foram realizados para o municpio. O
primeiro, elaborado entre 1960 e 1962, teve como principal produto a aprovao da primeira
lei de loteamentos em 1962, que definiu novos parmetros para os arruamentos e loteamentos
e novas exigncias para a aprovao desses empreendimentos. Em termos do desenho da
estrutura viria, esses parmetros eram flexveis, o que acabou incentivando arruamentos
diferentes em cada loteamento, muitas vezes desconectados entre si. Por outro lado, tornaram-
se severas as exigncias de infra-estrutura urbana aos loteadores, e, como resultado, a lei
acabou no sendo cumprida nesse aspecto.
Em 1971, foi aprovado o segundo plano urbanstico para So Carlos, o PDDI, que foi
responsvel pela elaborao das leis urbansticas, vigentes no municpio at hoje. As
principais leis derivadas desse plano foram a lei de permetro e zoneamento, a lei de
171
edificaes, a lei de loteamentos e a lei de reforma administrativa elaborada pelo Instituto
Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM). Ressalta-se que o municpio de So Carlos
no deixou de ter uma estruturao do setor de planejamento urbano, assim como inmeras
cidades do Estado de So Paulo, onde se destacou a atuao do CPEU, dirigido por Anhaia
Mello.
Se por um lado a legislao urbanstica era enrijecida, por outro a ao dos loteadores
se ampliava. Valendo-se das brechas da legislao, da insuficincia de fiscalizao e das
relaes clientelistas caractersticas da cultura poltica do governo local, os loteadores
passaram a atuar de forma cada vez mais especulativa. Aos poucos a legislao urbana foi
sendo modificada, atendendo cada vez mais aos interesses dos especuladores. O confronto
entre a permissividade e o controle se evidenciou na lei de zoneamento de 1971, na lei de
loteamentos e se completou com a aprovao da lei que liberou a ampliao do permetro
urbano em 1977. Com isso, grande parte dos objetivos das equipes dos planos dos anos 1960
e incio dos 1970, em garantir o desenvolvimento urbano equilibrado, praticamente se perdeu.
Os planos urbansticos de So Carlos foram sendo esquecidos, como produto e como
processo, mas isso no significa que no tenham tido impactos evidentes no processo de
expanso urbana de So Carlos, como visto ao longo do captulo. Desse confronto entre
planejadores e loteadores, formou-se na cidade um padro de ocupao onde o centro
vertical e concentrado, e a periferia extensa e rarefeita, que se tornou ainda mais evidente nos
anos posteriores a 1977.
172
CONSIDERAES FINAIS
O primeiro perodo, 1857 e 1929, teve incio com a criao do distrito de So Carlos
do Pinhal, em 1857, quando foi traado o primeiro eixo de expanso no sentido nortesul,
pelo fundador Antnio Carlos de Arruda Botelho, o futuro Conde do Pinhal. So Carlos
surgiu, como mandavam as tradies da poca, em volta de uma capela construda em nome
do santo padroeiro, para quem era doado o patrimnio de terras para o desenvolvimento da
cidade. Em So Carlos, essas terras foram doadas pela famlia dos Arruda Botelho, a famlia
mais tradicional da cidade. Esse territrio era administrado pela Igreja e pela Cmara
Municipal.
Nesse perodo, o controle da expanso era realizado pela Cmara Municipal, que
doava e vendia os terrenos urbanos. O controle exercido pela Cmara, que era dominada pelas
elites locais, era feito por meio de cdigos de posturas, que definiam as formas de concesso
173
de terras, o tamanho dos terrenos e o permetro de diviso da rea urbana da rea rural. Nesse
perodo, quatro cdigos foram aprovados: em 1866, 1880, 1905 e 1929.
175
Esse novo padro urbano acabou por trazer aspectos negativos para a rea urbana, o
que chamou a ateno da opinio pblica, que passou a pressionar o poder pblico com a
publicao de textos em jornais locais criticando as novas formas da cidade, o que aumentava
a necessidade de regulamentao e controle exercidos pelo poder pblico.
176
Novos fatos contriburam para a conformao do perfil educacional e tecnolgico que
a cidade foi adquirindo. Em 1968, foi fundada a UFSCar, a primeira universidade federal do
Estado de So Paulo, cujos cursos tambm eram voltados s cincias exatas aplicadas,
abordando diversas reas da Engenharia. Em 1972, foi institudo o campus da Universidade
de So Paulo em So Carlos, o que contribuiu para a consagrao da cidade no mbito do
ensino universitrio. So Carlos tambm passou a se diferenciar por seus centros de pesquisa
de base tecnolgica, trazendo impactos positivos para a cidade, que, aos poucos, foi
ampliando sua vocao industrial para a rea de alta tecnologia. Esse novo perfil tornou-se
mais evidente nos ano 1980 e 1990, medida que aumentavam os laos entre a indstria local
e o desenvolvimento de pesquisa de ponta nos laboratrios dessas instituies.
Uma das mudanas mais significativas nas direes dos eixos de expanso ocorreu
com a implantao das avenidas marginais dos crregos urbanos, durante a dcada de 1970,
que eram partes do anel perimetral previsto para contornar toda a cidade. Alm disso, a
rodovia Washington Lus continuou exercendo grande poder de atrao da expanso. Nos
novos loteamentos, predominou o uso do solo misto, com exceo das zonas industriais e do
distrito industrial, criado no incio dos anos 1970, com uso predominantemente industrial.
Nos novos loteamentos tornavam-se cada vez mais comuns os contratos registrados em
cartrio com clusulas que impunham regras de uso e ocupao do solo. Essas clusulas eram
utilizadas diante da ausncia de uma lei de zoneamento.
Nos anos 1970, novas leis resultaram do PDDI aprovado em 1971, entre elas a lei de
permetro e zoneamento, a lei de edificaes e a nova lei de loteamentos. Esse zoneamento
teve impactos evidentes no processo de expanso, resultando na verticalizao da regio
central e da ocupao de baixa densidade com grandes vazios urbanos e terrenos desocupados
nas regies mais afastadas do centro. A nova lei de loteamentos de 1971 diminuiu a
quantidade mnima de infra-estrutura urbana exigida pela lei de 1962, que no vinha sendo
cumprida pelos loteadores. Com isso, foi possvel a aprovao de muitos loteamentos que
tinham sido realizados durante os anos 1960 sem aprovao. A linha exata de permetro
urbano voltou a existir, e o permetro deveria ser atualizado de trs em trs anos.
Mas, se por um lado a legislao urbanstica tornava-se mais restritiva, por outro a
ao dos loteadores se ampliava. Valendo-se das brechas da legislao, da insuficincia de
fiscalizao e das relaes clientelistas caractersticas da cultura poltica do governo local, os
loteadores passaram a atuar de forma cada vez mais especulativa. Aos poucos a legislao
urbana foi sendo modificada, atendendo cada vez mais aos interesses dos especuladores. O
confronto entre a permissividade e o controle se agravou com a aprovao de uma nova lei
que liberou a ampliao do permetro urbano em 1977. Assim, grande parte do esforo das
equipes de planejamento dos anos 1960 e incio dos 1970 em garantir o controle da expanso
praticamente se perdeu. Um ciclo de descontrole da expanso urbana foi se fechando, e, no
processo de expanso aps 1977, tornou-se ainda mais evidente o triunfo dos loteadores. As
conseqncias foram ntidas na cidade nos anos aps 1977, com o sistemtico crescimento da
periferia, da segregao e da fragmentao do tecido urbano. Verifica-se, com isso, que a
cidade descontnua e segregada de hoje no fruto de um acaso, mas de uma srie de aes
legitimadas pelo poder pblico local e aceitas pela sociedade. Esse confronto entre o controle
e o descontrole se estendeu por dcadas, mas ainda est longe de ser resolvido.
180
REFERNCIAS
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Websites
181
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executivos do governo municipal de So Carlos e d outras providncias.
182
SO CARLOS. Decreto municipal n. 4013, de 1960. Dispe sobre o Escritrio Tcnico do
Plano Diretor e d outras providncias.
183
SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7037/1972, de 6 de setembro de 1972. Dispe sobre as
reas industriais e oferece outras providncias.
SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7309/1974, de 9 de maio de 1974. Altera o artigo 20, da lei
n. 6910, de 10/3/1972, e suprime o artigo 10 da lei 6871, de 1/12/71.
184
SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8056/1979, de 23 de julho de 1979. Altera a redao do art.
7 da lei 6871/71, modificado pelos artigos 8 e 9 da lei 6978/72 e pela lei 7926/78.
SO CARLOS. Lei n. 8670, de 1981. Disciplina o uso do solo dos permetros que descreve e
modifica a lei municipal n. 7993 de maro de 1979. (Zoneamento Industrial).
Planos diretores
185
TECNPOLIS. Jornal da Fundao Parque de Alta Tecnologia de So Carlos. So
Carlos: Fundao ParqTec, ano XI, nmero 77, edio especial.
Entrevistas
SGOLI, Nivaldo Sgoli. Entrevista concedida Renata Priore Lima. SMHDU/ PMSC.
Vrias sesses realizadas entre 2002 e 2007.
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