Renata - Priore - Lima - Expansão de São Carlos

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UNIVERSIDADE DE SO PAULO

Escola de Engenharia de So Carlos


Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo

O PROCESSO E O (DES)CONTROLE DA EXPANSO


URBANA DE SO CARLOS (1857-1977)

RENATA PRIORE LIMA

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-


Graduao em Arquitetura e Urbanismo da
Escola de Engenharia de So Carlos da
Universidade de So Paulo, sob orientao da
Profa. Dra. Sarah Feldman, como parte dos
requisitos para obteno do ttulo de Mestre em
Teoria e Histria da Arquitetura e do Urbanismo.

So Carlos
Agosto de 2007
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Tratamento


da Informao do Servio de Biblioteca EESC/USP

Lima, Renata Priore


L732p O processo e o (des)controle da expanso urbana de
So Carlos (1857-1977) / Renata Priore Lima;
orientadora: Sarah Feldman. - So Carlos, 2007.

Dissertao (Dissertao-Programa de Ps-Graduao


em Arquitetura e Urbanismo. rea de Concentrao:
Arquitetura, Urbanismo) - Escola de Engenharia de So
Carlos da Universidade de So Paulo, 2007.

1. Expanso urbana. 2. Loteamento. 3. Legislao


urbanstica. 4. Planejamento urbano. I. Ttulo.

2
Dedico este trabalho aos meus pais,
Newton Lima Neto e Maria Cristina
Priore, minha av Ondina Pirr Priore
(in memorian) e minha amiga
Alessandra Pinheiro (in memorian).

3
AGRADECIMENTOS

com grande emoo que inicio a redao dos Agradecimentos, e isso ocorre por dois
motivos. Por um lado, pelo sentimento de buscar contribuir, de alguma forma, para o resgate
da memria de So Carlos, que minha cidade natal, e por outro, por perceber a importncia
de cada pessoa que, direta ou indiretamente, contribuiu para a realizao deste trabalho. Em
primeiro lugar, agradeo aos meus pais, Newton Lima Neto e Maria Cristina Priore, no s
por respeito, mas por profunda gratido pelo apoio e, sobretudo, pelo amor dedicado. Em
segundo lugar, agradeo minha orientadora, a Professora Sarah Feldman, que desde o incio
orientou esta pesquisa com muita disciplina, mas principalmente com interesse e respeito pelo
trabalho desenvolvido.

Agradeo tambm minha famlia e, sobretudo, minha tia Solange e ao meu irmo
Eduardo, que me receberam em uma etapa decisiva da pesquisa. Ao companheiro de minha
me, Roberto Tomasi, aos meus avs Mario e Ondina (in memorian), s minhas tias Giselda e
Silvia, pelo carinho e pela pacincia. Agradeo tambm s minhas amigas Lvia Bueno,
Ludmila Freitas, Mariana Pezzo, Maria Isabel Patrcio, Deise Arenhart, Ana Vilanueva e
Alessandra Pinheiro (in memorian), que comigo conviveram, de longe ou de perto, obrigada
pelos bons fluidos e pelos ensinamentos. Aos funcionrios da USP, especialmente Marcelo
Celestin e Ceneviva, pelo bom humor e presteza; Universidade de So Paulo, pela
oportunidade de estudo; e aos meus colegas de curso, pelas horas de divertimento, pelas
pizzadas, especialmente minha amiga Fabiana Cervolo.

Aos funcionrios e membros da Prefeitura Municipal de So Carlos, especialmente


arquiteta Sandra Motta, pelo apoio e incentivo; Juliana Geraldi, Fernanda Favoretto,
Ethel Cristina Chiari da Silva, Nivaldo Sigoli, Alberto Engelbrecht e Nilsnia Rosria
Gonalves Marmo, pelas informaes fornecidas e pelo tempo dedicado. Sergio Pepino,
diretor da Ciesp So Carlos; e ao professor Sylvio Rosa, presidente da Fundao Parqtec,
pelas entrevistas concedidas. Agradeo tambm coordenadora do curso de arquitetura e
urbanismo da UNIP de Campinas, a professora Sandra Duarte, pela confiana e pelo apoio
contnuo, e toda a instituio da Universidade Paulista, pela oportunidade de trabalho. Por
fim, agradeo ao meu namorado, Eduardo Gold, pelo carinho, pela ajuda intelectual e por
todos os momentos de alegria que me proporcionou nas etapas mais difceis deste percurso.

Muito obrigada a todos vocs.

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RESUMO

Expanso urbana. Este trabalho consiste no estudo do processo de expanso urbana


de So Carlos, entre 1857 e 1977, a partir dos loteamentos implantados e das formas de
controle e de planejamento da expanso urbana. Foram analisadas as principais mudanas e
continuidades no contexto socioeconmico nacional, estadual e municipal, nas formas de uso
e ocupao do solo, na estrutura administrativa municipal de planejamento e no arcabouo
legal urbanstico construdo ao longo do perodo. Foram identificados trs perodos bem
definidos do processo de expanso da cidade. No primeiro perodo, de 1857 a 1929, durante o
ciclo cafeeiro paulista, a expanso ocorreu de forma concentrada e contnua, e o controle era
realizado pela Cmara, com a aplicao de cdigos de posturas. O segundo, de 1930 a 1959,
caracterizou-se pelo grande crescimento da rea urbana rumo rodovia, durante o surto
industrial paulista dos anos 1950. Nesse momento, o controle da expanso era realizado pelo
poder executivo, com parmetros urbansticos de incentivo expanso urbana. E no terceiro,
de 1960 a 1977, durante o regime militar, a expanso ocorreu de forma perifrica e
descontnua, sendo o controle realizado por meio de um conjunto de leis urbansticas, as leis
de loteamentos, zoneamento e edificaes. Nesse perodo, aumentou o poder de ao dos
loteadores. A atuao da estrutura municipal de planejamento, assim como a legislao,
oscilou entre momentos de controle e descontrole, acompanhando os novos interesses e
demandas sociais em curso. As fontes primrias de pesquisa consistiram em mapas, plantas e
fotos areas da cidade de So Carlos; plantas dos projetos dos loteamentos implantados;
legislao urbanstica, como leis, decretos e cdigos municipais, estaduais e federais;
contratos de loteamentos; fichas de cadastro dos loteamentos implantados no municpio; e
entrevistas com os funcionrios municipais. A sistematizao desse material resultou em
mapas, grficos e tabelas, que compuseram este trabalho.

Palavras-chave: expanso urbana, loteamentos, legislao urbanstica, planejamento urbano.

5
ABSTRACT

Urban expansion. This work consists in the study of So Carlos, SP urban


expansion process, between 1857 and 1977 years, from the implanted land divisions into lots
and from the urban expansion instruments of control and planning. It is analyzed the main
changes and continuities of the national, state and municipal socioeconomic context; of land
use and occupation forms; of the municipal administrative structure of planning, and also of
the urban legislation constructed throughout the period. There are three well defined periods
in the studied process. In the first one, between 1857 the 1929, during the So Paulo Coffee
Cycle, the expansion occurred in a continuous and concentrated way and the control was
made by the Municipal Council through the application of Cdigo de Posturas
determinations. The second period, between 1930 and 1959, during the quick So Paulo
industrial development process, is characterized by a rude expansion into the highway
direction. At this moment, the expansion control in So Carlos was made by the executive
power, by using urban parameters to incentive urban expansion. And the third period,
between 1960 the 1977, during the military regimen, the expansion occurred in a peripheral
and discontinuous way, being the control carried through a new set of urban laws, such as the
law of land divisions into lots, the law of zoning and the law of buildings. In this period it
also increased the immovable enterpriser action power. The performance of the municipal
structure of planning, as well as the legislation, oscillated between controlled and
uncontrolled moments, followed by new interests and social demands. The original
documents used in this research are maps, plants and aerial photos from So Carlos city;
projects of implanted land divisions; municipal, state and federal urban laws and codes;
contracts and registration cards of the land divisions plans implanted in the city; and also
interviews with the municipal employees. The systematization of this material resulted into
maps, graphs and tables showed along this work.

Key-words: urban expansion, land divisions, urban legislation, urban planning.

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SUMRIO

INTRODUO..................................................................................................................................9

CAPTULO 1 FUNDAO E CONSOLIDAO DO NCLEO URBANO DE SO


CARLOS DO PINHAL: dos primeiros caminhos aos primeiros loteamentos (1857-1929) ......15

1.1 A FORMAO DO TERRITRIO SO-CARLENSE DURANTE O SCULO XVIII .........16


1.1.1 O morgado de Mateus e o ordenamento das cidades paulistas .................................................16
1.1.2 O Picado de Cuiab e a ocupao dos sertes de Araraquara .................................................20
1.1.3 As sesmarias das terras dos pinhais: a participao dos Arruda Botelho na formao do
territrio so-carlense.........................................................................................................................22
1.1.4 A reserva do patrimnio e a fundao da cidade ......................................................................24

1.2 ECONOMIA CAFEEIRA E DESENVOLVIMENTO DA INDSTRIA PAULISTA:


PARTICIPAO DE SO CARLOS NA REDE DE CIDADES DO INTERIOR .........................26
1.2.1 A implantao das ferrovias e a expanso da produo do caf ...............................................26
1.2.2 O rpido desenvolvimento da economia cafeeira em So Carlos .............................................29
1.2.3 A crise do caf e o encolhimento da populao municipal .......................................................31
1.2.4 A participao dos imigrantes no nascimento da indstria em So Carlos...............................33

1.3 A EXPANSO URBANA CONCENTRADA E CONTNUA ..................................................36


1.3.1 Os momentos do processo de expanso urbana no perodo 1857/1929....................................36
1.3.2 1857/1889: os arruamentos iniciais e o traado do primeiro eixo de expanso ........................39
1.3.3 1889/ 1893: o investimento na infra-estrutura urbana e os primeiros loteamentos ..................42
1.3.4 1894/ 1929: a desacelerao da expanso urbana .....................................................................47

1.4 A CMARA MUNICIPAL NO CONTROLE DA EXPANSO ...............................................50


1.4.1 A criao da Cmara Municipal de So Carlos e os Cdigos de Posturas de 1866 e 1880 ......50
1.4.2 O Cdigo de Posturas de 1905..................................................................................................52
1.4.3 O Cdigo de Posturas de 1929 e a transferncia da administrao do solo urbano para o
prefeito municipal ..............................................................................................................................54

CAPTULO 2 DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, CRESCIMENTO DA


POPULAO OPERRIA E RETOMADA DA EXPANSO URBANA (1930-1959) ...........60

2.1 A EXPANSO INDUSTRIAL NO BRASIL PS-1930 E A HEGEMONIA DA


INDSTRIA PAULISTA: desenvolvimento da vocao industrial so-carlense.............................61
2.1.1 Da Era Vargas ao Programa de Metas: investimentos estatais na indstria brasileira..............61
2.1.2 A indstria paulista: concentrao na capital e formao da rede intercidades ........................64
2.1.3 A estruturao da economia industrial e a demanda por habitao ..........................................68

2.2 A EXPANSO URBANA RUMO RODOVIA ......................................................................74


2.2.1 Os trs momentos da expanso urbana do perodo 1930/1959 .................................................74
2.2.2 Novos eixos de expanso e o poder de atrao da rodovia .......................................................82
2.2.3 Novos padres urbansticos em So Carlos: ruptura com a cidade do sculo XIX ..................87

2.3 O PODER EXECUTIVO NO CONTROLE DA EXPANSO: os parmetros urbansticos


de incentivo expanso urbana .........................................................................................................93
2.3.1 Posicionamento da elite industrial no controle poltico nacional e os novos paradigmas
urbanos da cidade industrial...............................................................................................................93
2.3.2 Fortalecimento do poder executivo na administrao do solo urbano: incentivo
construo de moradias e as leis de permetro urbano aps 1940......................................................97

7
2.3.3 A atuao especulativa do mercado imobilirio e a regulamentao por contratos de
loteamentos ......................................................................................................................................100
2.3.4 As novas instituies de planejamento e a criao da Comisso Tcnica do Plano Diretor
em 1959............................................................................................................................................104

CAPTULO 3 - DO CONTROLE AO DESCONTROLE: a institucionalizao do


planejamento e a crescente ao da especulao imobiliria (1960-1977)................................109

3.1 MILAGRE ECONMICO E A POLTICA DE DESCONCENTRAO INDUSTRIAL .....110


3.1.1 Das reformas de base e ampliao dos movimentos sociais ditadura militar.......................110
3.1.2 Interiorizao da indstria paulista e o Programa de Cidades Mdias....................................115
3.1.3 Crescimento da indstria em So Carlos e a criao da UFSCar ...........................................119

3.2 A EXPANSO URBANA PERIFRICA E DESCONTNUA................................................123


3.2.1 A intensificao do processo de expanso urbana e a reestruturao do sistema virio.........123
3.2.2 Os novos eixos de expanso urbana rumo periferia .............................................................131
3.2.3 A verticalizao no centro e a diversificao dos padres de loteamentos.............................135

3.3 A ESTRUTURAO DO SETOR DE PLANEJAMENTO URBANO EM SO CARLOS ..141


3.3.1 A criao do SERFHAU e do BNH e as novas leis federais e estaduais................................141
3.3.2 O Plano Diretor de 1962 com a participao do CPEU ..........................................................144
3.3.3 O PDDI com a participao do CEPAM, do IBAM e da EESC.............................................150

3.4 A ESTRUTURAO DE UMA LEGISLAO URBANSTICA PARA SO CARLOS ....156


3.4.1 As leis resultantes do Plano Diretor de 1962: lei de loteamentos de 1962, lei da zona
industrial e lei de habitao..............................................................................................................156
3.4.2 As leis resultantes do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado aprovado em 1971: a
lei de permetro e zoneamento, a lei de edificaes e a nova lei de loteamentos ............................161
3.4.3 A liberao da ampliao do permetro urbano e a consolidao do descontrole da
expanso urbana...............................................................................................................................167

CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................173

REFERNCIAS.............................................................................................................................181

8
INTRODUO

So Carlos uma cidade do interior paulista, ento com cerca de 200 mil habitantes,
localizada em um dos maiores eixos industriais do pas. Alm da economia industrial e
agrcola desenvolvida, tem importantes centros pblicos de ensino superior, responsveis pelo
desenvolvimento de pesquisa cientfica. So Carlos uma das cidades pertencentes ao ciclo
do caf paulista do sculo XIX, que se industrializou e se expandiu a partir do incio do final
dos anos 1940. O municpio, que faz fronteira com as cidades de Ibat, Araraquara, Amrico
Brasiliense, Rinco, Luiz Antonio, Descalvado, Analndia, Ribeiro Bonito, Brotas e
Itirapina, est localizado a 232 km de distncia da cidade de So Paulo, sendo acessado pelas
rodovias Washington Lus e Anhanguera.

Figura 1 Localizao da cidade de So Carlos. Fontes: mapas da SMHDU (2002).

9
Este trabalho consiste no estudo do processo de expanso urbana de So Carlos, entre
1857 e 1977, a partir dos loteamentos implantados, das formas de controle e de planejamento
da expanso urbana. Para isso, so analisadas as principais mudanas e continuidades no
contexto socioeconmico nacional, estadual e municipal, nas formas de uso e ocupao do
solo, na estrutura administrativa municipal de planejamento e no arcabouo legal urbanstico
construdo ao longo do perodo.

Um dos aspectos que motivou a realizao desta pesquisa foi a existncia de uma
lacuna em estudos amplos sobre o processo de expanso urbana de So Carlos, com nfase no
controle da expanso e nos padres urbanos caractersticos de cada perodo. Outro incentivo
para a realizao desta pesquisa foi a possibilidade de contribuir com a elaborao de estudos
sobre cidades do interior do Estado de So Paulo, que juntas compem uma complexa rede de
cidades no-metropolitanas de grande peso na economia e no desenvolvimento social do
Estado e do pas.

Na literatura existe ampla produo de trabalhos sobre So Carlos. Entre as pesquisas


que contriburam para a realizao deste trabalho sero destacadas as de maior relevncia.
Para entender o momento de fundao da cidade, foram importantes os trabalhos de Ary Pinto
das Neves (1957), Vilmo Guimares Melo (1975) e Margarida Cintra Gordinho (2004). Sobre
o desenvolvimento socioeconmico da cidade, destacaram-se as obras de Regina Devescovi
(1985), Ulysses Semeghini (1988), Oswaldo Truzzi (2000), Regina Claudia Laisner (1999) e
Alexandre Dozena (2001). Sobre a formao da estrutura de ensino superior no municpio,
destacou-se o trabalho de Ana Lcia Vitale Torkomian (1996). Com relao ao
desenvolvimento da estrutura administrativa do municpio, foram de grande contribuio as
pesquisas de Itamar Moraes Amador (1990) e Jonas Modesto Abreu (2000). No estudo do
processo de expanso foram fundamentais as pesquisas de Ary Pinto das Neves (op. cit.),
Dagmar Abadia Bisinotto (1988), Luclia Maria Lot Lavandeira (1999), e principalmente o
trabalho de Regina Devescovi (op. cit.).

A proposta deste estudo surgiu durante um estgio realizado na Secretaria Municipal


de Habitao e Planejamento Urbano da Prefeitura Municipal de So Carlos
(SMHDU/PMSC), em que se iniciou a coleta das fontes primrias desta pesquisa. Para a
anlise do processo de expanso, as principais fontes primrias selecionadas foram as fichas
de cadastro dos loteamentos implantados no municpio, os contratos dos loteamentos
registrados em cartrio, o mapa digital da rea urbana de So Carlos, organizado pela
10
SMHDU/PMSC, os diagnsticos do Plano Diretor de So Carlos aprovado em 2005, do Plano
Diretor do municpio de So Carlos de 1962 e do Plano Diretor de Desenvolvimento
Integrado do municpio de So Carlos, aprovado em 1971, fotos areas e mapas do municpio,
alm de plantas de loteamentos implantados.

Ao longo do perodo estudado, foram identificadas trs formas de parcelamento na


cidade de So Carlos. A primeira foi o arruamento, realizado e controlado pela Cmara
municipal, tpico do sculo XIX. A segunda foi o loteamento, no qual existe um proprietrio,
que vende a terra em pequenas parcelas visando ao lucro, sendo essa a principal forma de
parcelamento presente no processo de expanso investigado. E a terceira forma de
parcelamento identificada foi o parcelamento espontneo, termo utilizado pela prefeitura
municipal, ao referir-se queles parcelamentos que surgiram, sem nenhum controle da Cmara
ou da Prefeitura, ao longo de todos os perodos pesquisados.

Para a anlise da estrutura administrativa e da legislao urbanstica, foram coletadas


leis, decretos e cdigos municipais, estaduais e federais em diferentes arquivos da Prefeitura
municipal. Tambm foram realizadas entrevistas com tcnicos da Prefeitura de So Carlos e
com outros membros da sociedade que contriburam muito para o processo de investigao
com suas informaes a partir de sua vivncia. Para a contextualizao socioeconmica e
poltica foram utilizados os trabalhos de Paul Singer (1968), Barjas Negri (1996), Boris
Fausto (2004), Lucila Reis Brioschi (1999) e Antonio da Costa Santos (2002). Alm disso, os
trabalhos sobre o processo de planejamento e estruturao do territrio de Flvio Villaa
(1998), Murilo Marx (1991), Maria Flora Gonalves (1994), Nabil Bonduki (2004) e Sarah
Feldman (2005) foram de fundamental importncia.

Considerando o desenvolvimento econmico do municpio, as caractersticas fsico-


territoriais do processo de expanso, as estratgias de controle e a estrutura administrativa do
setor de planejamento da administrao municipal foram identificados trs perodos, entre
1857 e 1977, que estruturaram os captulos da dissertao. O primeiro perodo, 1857/1929,
iniciou-se com o traado do primeiro eixo virio da cidade e com o surgimento dos
arruamentos implantados em funo desse eixo. Historicamente, no processo de estruturao
das cidades brasileiras, foi crescente a regularidade dos traados. Segundo Teixeira (2004, p.
10-13), a gnese dos planos de muitas cidades brasileiras de organizao geomtrica encontra-
se no urbanismo portugus, de origem renascentista, implantado no Brasil a partir do governo
do primeiro-ministro Marques de Pombal. Este padro geomtrico foi trazido pelos
11
engenheiros-militares, que, com uma formao terica erudita, foram atores determinantes
no planejamento e na construo destas cidades reais e na afirmao da regularidade do
urbanismo portugus. O modelo geomtrico de arruamentos tornou-se o padro caracterstico
do ncleo urbano inicial das cidades paulistas que surgiram durante os sculos XVIII e XIX.
Em So Carlos, o padro urbano caracterstico desse perodo foi exatamente o da cidade de
traado ortogonal e homogneo, sendo o territrio municipal controlado pela Cmara e pela
Igreja.

Nesse perodo, a economia e a organizao social do municpio estruturavam-se no


meio rural, onde era cultivado o principal produto da economia municipal, estadual e
nacional, o caf. A ferrovia, que teve papel central na organizao fsico-territorial do
municpio, atraiu a expanso com o prolongamento de ruas e com a realizao dos primeiros
loteamentos em reas prximas. Alm disso, a ferrovia transportava passageiros do campo
para a rea urbana e para outras cidades do Estado, bem como mercadorias vindas e levadas
para a capital, ao mesmo tempo em que nascia a indstria, motivada pela chegada So
Carlos dos imigrantes europeus a partir do final do sculo XIX. Mas com a decadncia do
ciclo do caf, no incio do sculo XX, a cidade mergulhou em profunda crise econmica. A
migrao campocidade foi crescente, modificando a estrutura social urbana, que contribuiu
com o surgimento dos novos paradigmas da cidade industrial. Uma das mudanas mais
significativas que refletiu no processo investigado foi a aprovao de um novo cdigo de
posturas para So Carlos, em 1929, apresentado no Captulo 1.

O segundo perodo, 1930/1959, caracterizou-se por um perodo de consolidao da


economia industrial no municpio e pela reestruturao do poder pblico municipal
modificado pelo Cdigo de Posturas de 1929. Nesse momento, foi transferida a atribuio de
controle do solo municipal para o poder executivo, concentrando-o nas mos do prefeito,
enquanto ocorria a transio da hegemonia poltica, da oligarquia para as elites industriais em
ascenso. Esse perodo ocorreu durante o fim do ciclo do caf e acompanhou o processo de
consolidao da economia industrial no Estado de So Paulo. Em So Carlos, alm do
desenvolvimento do setor de produtos no-durveis, como o txtil, de mveis, lpis, comidas
e bebidas, surgiu uma nova vocao industrial voltada para o setor mecnico e eltrico,
motivado pela instalao da Escola de Engenharia de So Carlos.

Com o aquecimento do processo industrial, acelerou-se o processo de expanso


urbana, tornando a terra cada vez mais disputada na cidade. A produo de loteamentos para a
12
populao de baixa renda, que passou a crescer rapidamente, tornou-se um investimento
lucrativo, desde que realizado de forma precria em terras baratas. E como no existia
nenhum tipo de empecilho legal e instrumento de controle da ao dos loteadores, tornou-se
cada vez mais comum os loteamentos realizados prximos ao limite da rea urbana. Para
Singer (1982, p. 21-23), ao se construir loteamentos prximos rea rural e incentivar
famlias de baixa renda a transferirem suas residncias para esse local, duas vantagens so
proporcionadas aos loteadores: a espacializao da segregao social e a valorizao, em
longo prazo, de suas glebas remanescentes, que ficaram entre a cidade e essas terras loteadas.
Estas vantagens foram tornando o mercado imobilirio em So Carlos cada vez mais
especulativo.

A expanso urbana passou a ser cada vez mais incentivada pelo poder pblico municipal
e ganhou novas dimenses. Ao mesmo tempo, o setor automobilstico nacional crescia, e a
rede rodoviria tornava-se mais importante do que a ferroviria. Segundo Villaa, as vias
regionais, tais como estradas e ferrovias, so os elementos mais poderosos de atrao da
expanso urbana, porque, alm do transporte de carga, tambm transportam passageiros e
geram urbanidade nos pontos de transbordo. Alm disso, as estradas intermunicipais
proporcionam rpido deslocamento e tambm podem ser utilizadas no transporte municipal
cotidiano (VILLAA, op. cit., p. 82). As mudanas no sistema de transporte desse perodo
provocaram redirecionamento da ocupao urbana em So Carlos, rumo rodovia. O
crescimento da rea urbana foi muito expressivo, tendo ocorrido principalmente pela
implantao de loteamentos contguos rodovia Washington Lus. Mas o traado deixava de
ser aquele homogneo e ortogonal da cidade tradicional, assumindo um novo padro virio,
de reas pblicas e de redes de infra-estrutura, descontnuo e precrio em relao rea
anteriormente urbanizada. Em 1959, foi criada a Comisso do Plano Diretor para elaborar um
plano urbanstico para o municpio, marcando o incio do perodo de estruturao do setor de
planejamento urbano local, que procurava estabelecer mais limites ao processo de expanso,
como aborda o Captulo 2.

O terceiro perodo, 1960/1977, caracteriza-se por um momento de expanso urbana


descontnua rumo periferia e pela institucionalizao do planejamento urbano em So
Carlos. Nesse perodo, a economia industrial se desenvolveu rapidamente, em um processo
que ficou conhecido como milagre econmico, durante o tenso momento poltico do regime
militar, quando a economia crescia a partir da aquisio de muitos emprstimos

13
internacionais. A industrializao de bens durveis cresceu em todo o Estado de So Paulo,
principalmente com o incio da implantao do Programa de Cidades Mdias pelo governo
federal. A Universidade Federal de So Carlos foi criada no final dos anos 1960 para dar
suporte ao Estado na formao universitria e no desenvolvimento de novas tecnologias.

Nesse perodo, tornou-se estratgia do mercado imobilirio o investimento em glebas


localizadas entre os loteamentos perifricos e a rea urbana consolidada, para aguardar sua
valorizao aps a estruturao e ocupao dos loteamentos populares. Essa ocupao era
estimulada pelos empreendedores com a doao de parte dos lotes ou venda a preo baixo e
parcelado. Com isso, o mercado imobilirio tornava-se cada vez mais especulativo, sendo um
empecilho para a expanso equilibrada e organizada da cidade. So Carlos passou a ser cada
vez mais segregada, com a populao de baixa renda morando de um lado, ricos de outros,
professores de outros, etc. Para Villaa (op. cit., p. 142, 313-329), a segregao urbana ocorre
quando diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em
diferentes regies. Em muitos casos, a concentrao se inicia com as famlias de alta renda,
que escolhem os melhores lugares da cidade, com os melhores servios, comrcios e
oportunidades de emprego, alm das maiores qualidades do stio natural. Dessa forma,
formam-se diferentes localizaes na cidade, com padres distintos, que conformam espaos
extremamente heterogneos. Alm disso, a segregao urbana no acontece apenas entre o
centro e a periferia, mas fragmenta o espao urbano como um todo.

Em So Carlos, a atuao especulativa do mercado imobilirio e o aprofundamento da


segregao urbana foram crescentes. No entanto, foram elaborados dois planos diretores, e um
conjunto de leis urbansticas, como as leis de loteamentos de 1962 e 1971, a lei de
zoneamento de 1971 e a lei de edificaes de 1971, que modificou as formas de controle da
expanso urbana. Travou-se nesse perodo um duelo entre o controle e o descontrole da
expanso. O perodo se encerrou em 1977, quando foi aprovada uma nova lei de permetro
urbano, que abriu precedncia para uma ocupao cada vez mais extensiva e segregada da
rea urbana, como mostra o Captulo 3.

14
CAPTULO 1 FUNDAO E CONSOLIDAO DO
NCLEO URBANO DE SO CARLOS DO PINHAL: dos
primeiros caminhos aos primeiros loteamentos (1857-1929)

15
1.1 A FORMAO DO TERRITRIO SO-CARLENSE DURANTE O SCULO
XVIII

1.1.1 O morgado de Mateus e o ordenamento das cidades paulistas

Este captulo aborda o processo de formao do territrio do municpio de So Carlos,


relacionando-o com a ocupao do Estado de So Paulo durante os sculos XVIII e XIX.
Tambm ser discutido o surgimento do ncleo urbano e sua fundao em 1857, bem como o
processo de desenvolvimento da cidade at 1929, ano de aprovao de um novo Cdigo de
Posturas que inaugurou um marco no controle da expanso urbana de So Carlos.

A ocupao do territrio paulista foi pouco expressiva entre os sculos XVI e XVII.
Nesse perodo, as polticas de colonizao portuguesa concentravam-se principalmente nas
lavouras de cana do Nordeste brasileiro e nas minas de Gois, no Centro-Oeste do pas.
Segundo Melo (1975), no sculo XVI a populao paulista concentrava-se na cidade de So
Paulo e em algumas vilas do litoral, como Santos, So Vicente e Itanham. No sculo XVII,
as terras do interior do Estado comearam a ser lentamente ocupadas. Os povoamentos
atingiram inicialmente a rea do Vale do Paraba e depois foram avanando para o interior.
Nesse perodo, 12 novos municpios foram criados, entre eles Mogi das Cruzes, Itu, Jundia e
Sorocaba (MELO, op. cit.).

O primeiro aspecto que fomentou a ocupao das terras brasileiras foi o acirramento
da disputa entre os reinos de Portugal e Espanha por reas das colnias. Isso deixou as terras
brasileiras em permanente risco de invases, principalmente espanholas, levando o governo
portugus a adotar medidas de proteo, entre elas, o povoamento das terras mais suscetveis
s invases dos rivais. A consolidao da ocupao do territrio paulista tornou-se uma meta
para o governo portugus, e as principais estratgias adotadas em prol da proteo das terras
da colnia foram elaboradas pelo primeiro ministro de Portugal, o Marques de Pombal (1750-
1777) (BRIOSCHI, 1999, p.37; SANTOS, 2002, p.34).

Para que ocorresse o efetivo povoamento do territrio paulista foi necessria a


concesso da autonomia poltica Capitania de So Paulo, que havia sido subordinada ao
governo do Rio de Janeiro em 1748. A recuperao da autonomia poltica paulista ocorreu em

16
1765, no incio do governo de dom Luis Antonio de Sousa Botelho Mouro, o morgado de
Mateus 1 (1765-1775), fiel seguidor dos projetos pombalinos.

As polticas lusitanas para o Estado de So Paulo procuravam alcanar uma mais


estrita organizao do Estado e fomentar atividades econmicas mais lucrativas (BRIOSCHI,
op. cit., p.42), e para isso era fundamental a criao de novas vilas e povoados sobre o
territrio. Com efeito, a partir de ento, novas vilas foram criadas e muitas sesmarias foram
concedidas como forma de motivar o povoamento dessas terras. Houve tambm incentivo da
metrpole para a expanso e diversificao das atividades agrcolas no Estado, por meio de
investimentos na produo de cana-de-acar e em outros tipos de lavoura destinadas
exportao. Outras medidas adotadas durante o morgado de Mateus foram: restabelecimento
da Casa de Fundio de So Paulo e abertura de estradas e caminhos pelo interior do Estado.

O morgado de Mateus foi decisivo para o expressivo desenvolvimento econmico que


ocorreu no Estado de So Paulo nos sculos seguintes, pois colocou de lado os traos da
economia de subsistncia e introduziu um novo circuito produtivo e uma rede de estradas que
deu incio construo de mercados regionalmente especializados (SANTOS, op. cit., p.35).
O morgado de Mateus tambm foi determinante na definio das caractersticas urbansticas
das novas vilas paulistas, desenhadas a partir de regras simples e racionais, com desenho das
vias formando uma grelha ortogonal, cujas quadras teriam tamanho e forma padronizadas, tal
como ocorreu nos primeiros traados virios da freguesia de Campinas, realizados em 1774
(SANTOS, op. cit., p. 86-87).

1
Segundo Santos (2002, p. 45), as origens polticas do morgado de Mateus conferem-lhe condies de governabilidade para
detalhar, com a Corte, um projeto para o Estado do Brasil. Afinal, descendia de importantes colonizadores com relevantes
servios prestados em solo brasileiro para a Corte portuguesa.

17
Figura 2 Planta da cidade de Campinas, apud SANTOS (op.
cit., p. 149).

As caractersticas urbansticas das novas vilas paulistas que surgiram durante e aps o
morgado de Mateus tiveram como referncia os princpios presentes no projeto iluminista que
estava sendo colocado em prtica em Portugal naquele perodo. Esses parmetros
racionalistas foram usados na obra tcnica e esttica da reconstruo do centro de Lisboa,
inaugurado em 1775. O centro da capital portuguesa havia sido destrudo por um grande
maremoto, seguido de incndio, em 1755. Segundo Santos (op. cit., p. 42):

A Lisboa reconstruda simbolizaria o espao de representao da poltica


mercantilista ilustrada do secretrio de Negcios do Reino, a capital do
poder iluminista em Portugal, colocando esse notvel esforo construtivo da
metrpole no quadro geral da modernidade urbanstica europia.

18
Figura 3 Planta do centro novo da cidade de Lisboa, inaugurado em 1775, apud Santos (op. cit., p. 42).

Campinas foi uma das cidades fundadas por determinao de Botelho Mouro, que
ordenou:

[...] porquanto tenho encarregado a Francisco Barreto Leme formar uma


povoao na paragem chamada Campinas do Mato Grosso, distrito de
Jundia, em stio onde se achar melhor comodidade e preciso dar norma
para a formatura da referida povoao: Ordeno que esta seja formada por
quadras de sessenta ou oitenta varas cada uma, e da para cima, e que as ruas
sejam de sessenta palmos de largura mandando formar as primeiras casas
nos ngulos das quadras, de modo que fiquem quintais para dentro a entestar
uns com os outros (PUPO, 1969, p. 45).

Dessa forma foi fundada Campinas, nas terras de Barreto Leme, em que as primeiras
ruas foram traadas no entorno da Igreja matriz. De forma semelhante surgiram outras
cidades do Estado, durante a segunda metade do sculo XVIII e o sculo XIX, como So
Carlos, que nasceu em torno de uma capela e cujo espao urbano foi concebido com padres
racionais e homogneos. Assim tambm ocorreu com Ibat, Franca, Ja, Limeira,
Araraquara, entre tantas outras.

19
Figura 4 Plantas do ncleo urbano inicial das cidades de Franca, So Carlos e Ibat. Fonte: Bacelar (1999, p. 123); Melo,
(op. cit., s/p).

1.1.2 O Picado de Cuiab e a ocupao dos sertes de Araraquara

No incio do sculo XVII, foi descoberta a existncia de ouro na terra dos ndios
Goiazes, na regio dos atuais Estados de Gois e Minas Gerais. A partir da, novos caminhos
foram abertos recortando o territrio paulista para abrir passagem para as tropas que partiam
da vila de So Paulo e seguiam em direo s minas no interior do pas. A principal estrada
aberta durante o perodo aurfero foi o Caminho de Gois, que j existia desde o sculo
anterior, mas foi ampliado e ganhou dimenso de estrada em 1725, ligando So Paulo regio
das minas. Esse trajeto passava pelas terras das cidades de Campinas, Jundia, Mogi Mirim,
Mogi Guau, Cajuru, Batatais, Franca e Ituverava, sendo denominado Estrada do
Anhanguera.

Nas terras ao longo desse caminho surgiram vrios povoamentos e pequenos vilarejos,
principalmente nos pontos de repouso de tropas dos viajantes. Muitos desses pontos de
permanncia transformaram-se em vilas e cidades ao longo dos anos. Segundo Brioschi (op.
cit., p. 47), entre 1727 e 1736, foram feitos cerca de 69 registros de sesmarias ao longo do
caminho, alm das concesses feitas aos descobridores das minas de Gois. Essas sesmarias
deram origem s cidades de Campinas, Porto Feliz e Mogi Mirim, entre outras. Os sertes
distantes do Estado de So Paulo, localizados a oeste do Caminho de Gois, s foram
ocupados no sculo seguinte (BRIOSCHI, op. cit., p. 36-47).

20
No final do sculo XVIII, foi aberto um novo acesso s minas de Gois, que passava
pelas terras desocupadas do centro-oeste do Estado. Esse novo caminho, que ficou conhecido
como Picado de Cuiab, partia de So Paulo, passando por Sorocaba, Itu e Piracicaba, e
seguia no sentido noroeste, atingindo Rio Claro e os sertes de Araraquara. Em 1799, Carlos
Bartholomeu de Arruda Botelho, que era dono de grande parte das terras dos sertes de
Araraquara, foi chamado pelo capito-general de So Paulo para supervisionar os trabalhos de
abertura da nova estrada. Uma vez finalizado, o caminho inseriu toda a regio de Araraquara
em uma rota comercial, conectando-a capital. Posteriormente, o Picado de Cuiab tambm
foi usado para o trfego das tropas que atuaram na Guerra do Paraguai (GORDINHO, 2004,
p. 25).

Muitas sesmarias de terra foram requeridas ao longo do Picado de Cuiab, as quais


resultaram no nascimento de inmeras vilas, assim como ocorrera ao longo do Caminho de
Gois. Assim surgiu So Carlos, em 1857, e Araraquara, em 1817 (BISINOTTO, 1988, p.
28).

PICADO
DE CUIAB

CAMINHO DE
GOIS

Figura 5 Desenho esquemtico do Picado de Cuiab e do Caminho de Gois, apud Bisinotto (op. cit. p. 40).

21
No encontro do Picado de Cuiab com o Crrego Gregrio surgiu o primeiro
povoado do municpio de So Carlos, justamente em um dos pontos de repouso de tropas que
seguiam para a regio das minas. Nesse encontro formou-se um pequeno aglomerado de
palhoas (...) para o fornecimento de pouso de descanso e abastecimento das caravanas
(DEVESCOVI, 1985, p.17). A partir da foram sendo instalados pequenos estabelecimentos
pecurios e agrcolas que abasteciam as tropas (DEVESCOVI, op. cit.).

Essa estrada recortava a atual rea urbana da cidade de So Carlos e interceptava o


Crrego Gregrio na regio do atual mercado municipal, que foi onde o povoado se formou.
Segundo Neves (1957, p. 2):

A estrada de Cuiab seguia ao lado do rancho e da venda do Inacinho


Mineiro, vencendo a ladeira pelo traado da atual Rua Episcopal at infletir
para oeste no rumo da rua 15 de Novembro, para novamente ganhar o norte
pela antigamente chamada estrada boiadeira, hoje Miguel Petroni, seguindo
pelo traado da estrada velha de Araraquara, em demanda capela de So
Bento j existente desde 1817.

1.1.3 As sesmarias das terras dos pinhais: a participao dos Arruda Botelho na
formao do territrio so-carlense

A cidade de So Carlos se formou em terras dos antigos sertes de Araraquara onde


havia extensos bosques naturais de pinheiros de araucria situados no planalto central do
Estado. Esses bosques conferiram parte do nome original cidade de So Carlos do Pinhal.
Essa regio, situada a 232 quilmetros da cidade de So Paulo, no sentido noroeste, 2 foi
inicialmente ocupada por ndios que foram desaparecendo medida que a civilizao
portuguesa avanava sobre o territrio.

Em 1785, Carlos Bartholomeu de Arruda Botelho adquiriu a primeira sesmaria que


comps as terras do municpio. Depois disso, houve mais duas geraes de Carlos na famlia
dos Arruda Botelho, que foram importantes personalidades no processo de construo do
territrio so-carlense. Carlos Bartholomeu nasceu em 1740 na regio de Itu, que era uma

2
Posteriormente, o nome da cidade passou a ser apenas So Carlos.

22
regio isolada das demais vilas paulistas. Carlos se dedicou carreira militar, tendo se
destacado como alferes na colnia militar de Iguatemi (GORDINHO, op. cit., p. 13-15).

Ao retornar da colnia de Iguatemi para Itu, Carlos Botelho foi enviado para
Piracicaba e foi promovido a sargento-mor. Nesse momento, Carlos Bartholomeu fez um
pedido coroa portuguesa de concesso de uma sesmaria na regio dos campos de
Araraquara. Uma vez concebida as terras da Sesmaria do Pinhal, Carlos Bartholomeu se
mudou com sua famlia para sua nova propriedade, onde construiu a primeira sede da Fazenda
do Pinhal. Com Maria Siqueira, Carlos teve quatro filhos: Manoel Joaquim Pinto, Maria
Francisca, Eugenia Antonia e Carlos Jos (GORDINHO, op. cit., p. 16, 17 e 21).

Em 1786, Carlos Bartholomeu comprou mais uma sesmaria, que havia sido concedida
a Manoel Martins em 1781. Naquele mesmo ano, 1786, o filho mais velho de Carlos
Bartholomeu, Manoel Joaquim, requereu outra sesmaria nos campos de Araraquara, contgua
primeira adquirida pela famlia. Em 1795, Carlos Bartholomeu voltou para Piracicaba, onde
adquiriu mais uma sesmaria. Em 1815, ele voltou para Piracicaba, onde, em pouco tempo,
faleceu. O filho mais novo de Carlos Bartholomeu, Carlos Jos Botelho, conhecido pela
populao da cidade como Botelho, tambm seguiu carreira militar e se destacou na carreira
poltica, bem como seu irmo Manoel Joaquim.

Tendo nascido em Piracicaba, mas crescido em Araraquara, Carlos Jos foi o herdeiro
das terras do Pinhal. As sesmarias herdadas tinham limites pouco precisos, e a legislao
imperial, segundo Gordinho (op. cit.), era bastante confusa. Em 1831, Carlos Jos decidiu
delimitar suas terras com preciso e para isso chamou um juiz que demarcou o permetro da
sesmaria do Pinhal. Ele tambm construiu uma nova casa-grande na Fazenda do Pinhal com
uma capela, cujo santo protetor era So Carlos Borromeu. A imagem do santo, presente na
capela da residncia, mais tarde foi doada Capela de So Carlos do Pinhal (GORDINHO,
op. cit., p. 23-29).

Carlos Jos de Arruda Botelho foi o primeiro presidente da Cmara Municipal de


Araraquara, onde vivia com sua famlia. Em 1854, faleceu nessa vila e foi enterrado antes de
ver a fundao do distrito de So Calos do Pinhal. A principal parte de sua herana foi
deixada para um de seus filhos, Antonio Carlos de Arruda Botelho, que vivia em Piracicaba
com sua esposa, cuidando de negcios prprios. A sesmaria do Pinhal foi dividida entre os

23
herdeiros, mas a sede da fazenda do Pinhal, bem como a maior parte das terras de Carlos Jos,
passou a pertencer a Antonio Carlos (GORDINHO, op. cit., p. 37).

Alm da sesmaria do Pinhal, duas outras sesmarias compuseram o territrio de So


Carlos, cujas demarcaes ocorreram apenas no sculo seguinte. A sesmaria do Monjolinho,
correspondente parte noroeste da cidade, foi judicialmente limitada em 1810 e concedida a
Joo Alves de Oliveira. Em 1812, foi demarcada a sesmaria do Quilombo, na regio do atual
distrito de Santa Eudxia, que foi doada ao capito Demtrio Jos Xavier (NEVES, op.cit., p.
1).

Com efeito, a concesso de sesmarias foi uma prtica muito utilizada durante o
perodo do Brasil colonial, sendo o principal sistema de aquisio e ocupao de terras no
Brasil. Em 1822, ano da independncia, foi suspenso o sistema de concesso de terras e
abolido o regime de demarcao e doao de sesmarias. At 1850, as formas de obteno de
terra ficaram imprecisas, pois o antigo regime no foi substitudo por outro at essa data.
Nesse intervalo, 1822/1850, a obteno de terra era feita por posse, o que no era uma prtica
regulamentada. Tal prtica tornou-se muito comum e, como a aprovao da lei de terras foi
tardia, demorou muito para que suas regulamentaes fossem incorporadas ao cotidiano
imperial. A Lei de Terras de 1850 definiu a terra como propriedade privada, devendo ser, a
partir de ento, comercializada por meio do sistema de compra e venda. Dessa forma, coibia-
se a livre prtica da doao de terras e proibia-se a posse arbitrria do solo (MARX, 1991, p.
103).

1.1.4 A reserva do patrimnio e a fundao da cidade

Em meados do sculo XIX, Carlos Jos de Arruda Botelho, conhecido como Botelho,
decidiu doar parte de suas terras para a Igreja, para a construo de uma capela para seu santo
protetor. O local onde pretendia construir a capela era prximo ao antigo pouso dos viajantes,
onde nascera o primeiro povoado das terras so-carlenses. Esse terreno j era utilizado para a
realizao de cultos religiosos e era cercado por vrias casas (NEVES, op. cit., p. 1-3).

De acordo com as tradies do perodo, a Igreja deveria aprovar o terreno sugerido


pelo proprietrio para a construo da capela, e s assim o patrimnio poderia ser delimitado.

24
Mas para que o terreno para a construo da Igreja fosse aceito, era necessrio o cumprimento
de uma srie de determinaes e exigncias feitas pela Igreja. Como aponta Brioschi (op. cit.,
p. 80):

Havia determinaes explcitas quanto localizao de uma capela, que iam


desde um stio alto e arejado, longe de lugares insalubres e sujos,
implantao em rea isolada o suficiente para a realizao de procisses no
seu entorno, mas com alguns moradores sua volta e, talvez um requisito da
maior importncia para os doadores, que a terra tivesse comprovao legal
da posse.

Em 4 de fevereiro de 1857, o bispo de So Paulo, D. Antonio Joaquim de Mello,


autorizou a construo da primeira capela da cidade (NEVES, op. cit., p. 1). O patrimnio de
terra doado por Carlos Jos, tal como normalmente ocorria, foi feito em nome do santo
padroeiro do povoado, sendo gerido pelo chamado fabriqueiro que administrava os bens do
santo.

A doao de terras para a Igreja nem sempre era feita sem nenhum interesse, pois era
comum que essa doao trouxesse prestgio aos doadores, alm de vantagens materiais, pois
nos arredores da capela passavam a se instalar residncias e estabelecimentos comerciais que
aumentavam o movimento do local, atraindo cada vez mais interessados em viver ali. Esse
movimento, em longo prazo, criava a possibilidade de venda de lotes no entrono do
patrimnio, para chcaras e outras moradias (BRIOSCHI, op. cit., p. 80). Em So Carlos,
isso de fato acabou acontecendo, embora o usufruto dessas vantagens tenha sido dos herdeiros
da sesmaria do Pinhal, uma vez que Carlos Jos faleceu antes da inaugurao da capela.

Em 1851 ocorreu o ato de reserva do patrimnio de So Carlos. O terreno doado pelos


Arruda Botelho media 300 por 500 braas de faces e tinha os seguintes limites:

[...] principia no canto do cultivado de Antnio Carlos de Arruda Botelho,


seguindo por um rumo posto ultimamente a preencher as ditas 500 braas e
depois far a quadra procurando o alinhamento da povoao e depois medir-
se-o 300 braas e depois far a quadra; procurando o mesmo alinhamento
da dita povoao e depois medir-se- o que achar at encontrar a fronteira do
dito cultivado de Antonio Carlos de Arruda Botelho, e depois far a quadra,
procurando o fecho onde teve princpio, divisando esta ltima quadra pela
beira do caminho cultivado, e bem assim a quadra procurar sua direo

25
precisa ao dito fecho (ALMANAQUE DE SO CARLOS DE 1894, apud
BISINOTTO, 1988, p. 55-56).

Durante muitos anos, o patrimnio de So Carlos no foi tombado, o que no impediu


o desenvolvimento da cidade.

Antonio Carlos de Arruda Botelho, o principal herdeiro de Carlos Jos, seguiu a


carreira poltica, a exemplo do pai. Sua vida pblica tambm teve incio em Araraquara, onde
foi presidente da Cmara entre 1857 e 1860. Durante o primeiro ano de seu mandato, Antonio
Carlos enviou um pedido ao presidente da provncia para a criao do distrito de Paz de So
Carlos do Pinhal, onde estava sendo erguida a capela. Com o pedido concebido, Antonio
Carlos adquiriu prestgio poltico e econmico que o levou a alcanar o ttulo de Conde do
Pinhal (GORDINHO, op. cit., p. 31, 42-43).

Em 20 de abril de 1857, o Distrito de Paz de So Carlos do Pinhal passou a existir


oficialmente, junto com a inaugurao da capela. Inicialmente, o distrito estava vinculado
Cmara Municipal de Araraquara. Em 1858, foi criada a freguesia de So Carlos do Pinhal, e,
em 1865, o distrito foi elevado categoria de vila, 3 adquirindo, dessa forma, autonomia
poltica (NEVES, op. cit., p. 1,2).

1.2 ECONOMIA CAFEEIRA E DESENVOLVIMENTO DA INDSTRIA PAULISTA:


PARTICIPAO DE SO CARLOS NA REDE DE CIDADES DO INTERIOR

1.2.1 A implantao das ferrovias e a expanso da produo do caf

No incio do sculo XIX, a minerao na regio de Gois entrou em decadncia, e os


mineiros passaram a realizar o caminho inverso ao realizado durante os dois sculos
anteriores, partindo das minas do interior do pas em busca de novas oportunidades em outras
regies. Muitos se dirigiram provncia de So Paulo e se espalharam pelos povoados e
freguesias j existentes. Nesse momento, os produtos brasileiros tradicionais, tais como cana-
de-acar e algodo, vinham perdendo espao no setor de exportao para um novo produto

3
Segundo Brioschi (op. cit., p. 77), a freguesia era o local de sede de uma igreja paroquial e que tambm servia para a
administrao civil. O vocbulo vila era utilizado para o que hoje conhecemos como a sede de um municpio, e suas terras
eram chamadas de Termo, cujos limites eram imprecisos. O Termo da vila era dividido em freguesias.

26
que rapidamente se espalhava pelo territrio paulista: o caf. Os dados da Tabela 1 mostram o
crescimento das exportaes do gro, que, em 1880, j representava mais de 50% de todo o
valor obtido com as exportaes, mostrando tambm a queda dos demais produtos (NEVES,
op. cit., p. 2).

Tabela 1 Percentual de exportao de mercadoria (1821-1900) Brasil.

Decnio Total Caf Acar Fumo Algodo Borracha Couro/Pele


1821-1830 85,3 18,4 30,1 2,5 20,6 0,1 13,6
1831-1840 88,7 43,8 24,0 1,9 10,8 0,3 7,9
1841-1850 86,3 41,4 26,7 1,8 7,5 0,4 8,5
1851-1860 88,3 48,8 21,2 2,6 6,2 2,3 7,2
1861-1870 88,2 45,5 12,3 3,0 18,3 3,1 6,0
1871-1880 92,4 56,6 11,8 3,4 9,5 5,5 5,6
1881-1890 89,5 61,5 9,9 2,7 4,2 8,0 3,2
1891-1900 93,4 64,5 6,6 2,2 2,7 15,0 2,4
Fonte: Ministrio da Fazenda apud Fausto (2004, p. 191).

A produo e exportao do caf cresciam, mas existia a dificuldade de transporte do


produto at o porto de Santos, que era o principal porto de exportaes do Estado. Essa
dificuldade devia-se presena de uma grande barreira geolgica formada pela Serra-do-Mar,
que separa o litoral do interior. Para resolver essa questo, foi construda a estrada de ferro
SantosJundia, inaugurada em 1867, que transps essa barreira. A adoo dessa estratgia foi
determinante para o desenvolvimento da economia do interior, e a associao cafferrovia
tornou-se a condio de expanso da cafeicultura no Estado de So Paulo (NEGRI, 1996,
p.32).

A rede ferroviria paulista se expandiu significativamente entre 1870 e 1928. Segundo


Negri, em 1870 a rede ferroviria do Estado tinha apenas 139 quilmetros, os quais ligavam
Santos a Jundia. Em 1880, j eram 2.425 quilmetros de trilhos construdos, que
representavam cerca de um quarto do total do pas. Em 1890, existiam 3.373 quilmetros de
trilhos no Estado de So Paulo. Em 1920 eram 6.616, e, em 1928, a rede ferroviria do Estado
somava sete mil quilmetros de extenso. As novas ferrovias abrangiam praticamente todo o
Estado e teceram uma consistente rede intercidades (NEGRI, op.cit., p. 32).

27
SO CARLOS

CAMPINAS

SO PAULO

Figura 6 Mapa com a rede de ferrovias do interior do Estado de So Paulo no incio do sculo XX (GERODETTI &
CORNEJO, 2003; mapa da So Paulo Railway, [sp]).

Com efeito, as ferrovias tiveram papel fundamental na configurao do territrio


paulista, tanto na rea rural quanto urbana. Na rea rural a estrada de ferro facilitou o
escoamento da produo e, na rea urbana, aproximou o campo da cidade, o que possibilitou
a transferncia de residncias da rea rural para a urbana (BRIOSCHI, op. cit., p. 59). Outro
aspecto decorrente da expanso da ferrovia foi o crescimento populacional no Estado e o
incio do crescimento dos povoados e vilas existentes. Na cidade de So Paulo, por exemplo,
o crescimento populacional e a urbanizao foram muito expressivos nesse perodo. Entre
1872 e 1893, a populao urbana paulistana passou de 31.385 habitantes para 130.775
habitantes (SINGER, 1968, p. 23). Em So Carlos, a populao, bem como a rea urbana,
cresceu nesse perodo, como ser mostrado a seguir.

28
1.2.2 O rpido desenvolvimento da economia cafeeira em So Carlos

Em 1840, o primeiro cafezal nas terras do municpio formado por cinco mil ps, foi
plantado por Carlos Jos de Arruda Botelho. O caf se tornava um produto muito rentvel
nesse perodo, e o nmero e o tamanho das lavouras foi crescendo, o que atraiu novos
moradores para a regio. Com a decadncia do ciclo de minerao durante o sculo XIX,
muitos mineiros acabaram se fixando nas terras dos pinhais. Outros habitantes que tambm
chegavam nessas terras nesse perodo foram fazendeiros paulistas, vindos de Itu, Capivari e
outras vilas mais antigas, que transferiram suas residncias, junto com seus bens, para se
dedicarem ao cultivo desse gro (BISINOTTO, op. cit., p. 37).

O caf rapidamente se alastrou pelas terras do municpio, tornando-se a principal


economia da regio. Dessa forma So Carlos se inseriu no ciclo do caf paulista, que era a
base da economia brasileira desde o final do ciclo de minerao. Mas, apesar da hegemonia
cafeeira, tambm eram cultivados outros tipos de lavouras, como algodo, milho, mandioca e
pastagens como a pecuria (GORDINHO, op. cit., p. 31, 2-3).

Em 1880, foi autorizada a ligao frrea entre So Carlos e Rio Claro, que era
essencial para que se efetivasse o escoamento do caf. A ferrovia foi inaugurada trs anos
mais tarde, em 1883, ligando So Carlos capital e ao porto de Santos, por Rio Claro. Em
1893, foi construda a ligao ferroviria entre So Carlos e o distrito de Santa Eudxia, e, em
1894, a comunicao foi ampliada at Ribeiro Bonito (MELO, op. cit., p. 87).

O trem foi decisivo para a transformao da cidade: aproximou a rea rural da urbana,
dinamizou o escoamento da produo de caf e tambm facilitou a ligao do municpio com
a capital e com outras cidades da regio. Com isso, a vida urbana se modernizou, e a cidade
passou a atrair novos habitantes, principalmente os fazendeiros, que transferiram suas
residncias da rea rural para a urbana. A populao do municpio cresceu significativamente
nesse perodo, passando de 6.897 habitantes, em 1874, para 16.104, em 1886. A partir de
ento, desaparece, quase que totalmente, a primeira So Carlos de taipa e barrote, dando
lugar a prdios ilustres (NEVES, op. cit., p. 20-21).

Ainda segundo Neves (op. cit., p. 20-21):

29
Incentivo para a modernizao urbana era, sem dvidas, o trem,
descarregando diariamente materiais de construo, importados da Europa.
Surgem prdios cobertos de ardsia inglesa, com madeiramento de pinho de
riga e pisos de cermica francesa e italiana.

No final do sculo XIX a agricultura comeou a dar os primeiros passos rumo


mecanizao. Neves (op. cit., p. 20-21) descreveu o esprito da poca:

O sopro de progresso que se fazia sentir em toda a provncia paulista


aviventava tambm as terras do altoplano central. Floresciam os cafezais e o
produto alcanava bons preos nos mercados do mundo deixando nos cofres
das fazendas grossos saldos, que exigiam reaplicao imediata.

O rpido desenvolvimento da cultura cafeeira em So Carlos foi, em grande parte,


garantido pela expressiva imigrao estrangeira para o Brasil. Em 1889, a escravido foi
abolida no Imprio, e a imigrao passou a ser incentivada pelo governo, como forma de
equacionar a questo da falta de mo-de-obra. Grande parte dos imigrantes europeus fixou-se
no Estado de So Paulo, principalmente nas cidades onde a economia do caf prosperava. Em
pouco tempo, os estrangeiros j eram a maioria em So Carlos.

Segundo Melo (op. cit., p. 112), o Relatrio de 1893 indica que, neste ano, entraram,
em So Carlos, 3.788 imigrantes sados da Hospedaria dos Imigrantes vindos principalmente
da Itlia. Durante as trs dcadas seguintes, a imigrao continuou ocorrendo, e, entre 1901 e
1930, entraram 19.332 imigrantes em So Carlos. Com isso a populao total do municpio
cresceu mais de 330%. E como parte desses imigrantes se fixou na rea urbana, aumentou a
demanda por moradia e por terrenos na cidade. A tabela a seguir mostra a composio da
populao rural aps a chegada dos imigrantes, que vieram de vrios pases da Europa e se
tornaram maioria no municpio. O nmero de negros, ex-escravos africanos e seus
descendentes tambm era superior ao nmero de brancos brasileiros.

30
Tabela 2 Composio da populao rural (1899) municpio de So Carlos.

Origem Nacionalidade Nmero de pessoas Porcentagem


Italianos 10.396
Espanhis 1.356
Exterior

Portugueses 886
Austracos 447 85,53%
Alemes 211
Polacos 119
Franceses 3
Brasileiros pretos (*) 1.242
Brasil

14,47%
Brasileiros brancos 1.028

TOTAL 15.688 100%


Fonte: Estatstica Agrcola do Municpio de So Carlos apud Melo (op. cit., p. 111). (*) Este termo foi apresentado por Melo dessa
forma e provavelmente o termo utilizado no perodo do levantamento estatstico.

1.2.3 A crise do caf e o encolhimento da populao municipal

No incio da dcada de 1920, a economia cafeeira entrou em crise, abalando toda a


economia nacional. Essa crise desestabilizou profundamente a sociedade so-carlense, que se
apoiava essencialmente em um nico pilar: o caf. No final do sculo XIX a produo do gro
havia se alastrado por todo o Estado, o que elevou demasiadamente a oferta do produto no
mercado, implicando desvalorizao. Segundo Neves (op. cit., p. 98):

A crise cclica do caf vinha de longe [...] entre os anos de 1890 e1894. [...]
O que se conseguiu foi a alternncia de anos de euforia e anos de penria,
que no conseguia esconder, aos olhos dos mais avisados, a previso da crise
final, que se delineava inevitvel.

As oscilaes da comercializao do caf se agravaram com a crise econmica


mundial, que ocorreu em 1929, deflagrada aps a Quebra da Bolsa de Nova York. A crise
desaqueceu o comrcio internacional de exportao, embora a produo de caf no tenha
sido reduzida, o que gerou enorme excedente do produto e grandes prejuzos aos produtores.
A ltima tentativa do governo brasileiro foi a adoo da estratgia de queima dos estoques de
caf, que foi amplamente aplicada em So Carlos, como aponta Neves (op. cit., p. 99):
31
Em So Carlos, em frente aos enormes armazns reguladores, construdos
na rea vizinha antiga estao do Hipdromo, alm da Vila Isabel, colunas
de fumaa alternavam-se no ar e o perfume adstringente do caf queimado
enchia a cidade, quando soprava forte o vento sul. [...] Esta loucura coletiva
durou de 1931 at 1944.

A produo do caf decaiu absurdamente em todo o Estado, e o empobrecimento dos


antigos produtores foi inevitvel. A decadncia da economia cafeeira desencadeou uma
grande crise social na cidade, e a populao passou a diminuir, assim como ocorria em outras
cidades da regio. Segundo Melo (op. cit., p. 89, 122), a baixada paulista entrou em processo
de estagnao demogrfica, sendo 12% em 1900, 11,5% em 1920 e 9,32% em 1934, da
populao paulista. Os novos imigrantes que chegaram ao pas depois do incio da crise
passaram a se instalar nos centros urbanos maiores, principalmente na cidade de So Paulo.
Mas, apesar do decrscimo geral da populao municipal, a participao da populao urbana
cresceu nesse perodo, pois houve significativa migrao do campo para a cidade, tendo a
participao da populao urbana passado de 17,2% em 1886 para 32% em 1920, o que se
pode observar na Tabela 3.

Tabela 3 Populao urbana e rural (1881-1929) municpio de So Carlos.

Ano Populao urbana % Populao rural % Total


1881 1.500
1886 2.764 17,2 % 13.340 82,8% 16.104
1891 5.000
1894 8.000
1914 13.000
1920 15.404 32% 36.860 68% 54.225
1926 17.365
Fonte: Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud Devescovi (1985, p. 58).

A migrao campocidade foi crescente nas dcadas seguintes e se acentuou na


dcada de 1930. Em 1940, mais de 50% da populao j vivia na cidade, como mostrar o
captulo seguinte. O grfico a seguir mostra a evoluo da populao total do municpio de
So Carlos at o incio do sculo XX e o decrscimo populacional das duas primeiras dcadas
deste sculo.

32
Grfico 1 Populao (1874-2000) municpio de So Carlos.

220
200
Nmero de habitantes (milhares)

180
160

140
120
100
80

60
40
20

0
1874 1886 1900 1920 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Ano
Populao total
Populao urbana
Populao rural

Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud Devescovi
(1985, p. 58).

1.2.4 A participao dos imigrantes no nascimento da indstria em So Carlos

O timo desempenho da produo e comercializao de caf paulista durante o ciclo


do caf significou, segundo Negri, o nascimento do capitalismo brasileiro. O boom cafeeiro
provocou aumento proporcional da entrada de capital no Estado, o que implicou uma
estruturao do sistema financeiro, que ocorreu com a abertura de inmeras casas bancrias.
Esse novo sistema financeiro substituiu as antigas relaes dos comissrios do caf.
Durante o auge do perodo cafeeiro, ocorreu mais um fenmeno importante, o nascimento da
indstria. As primeiras indstrias surgiram a partir do excedente de capital acumulado pelo
sistema cafeeiro. Essas pequenas unidades produtivas tambm apareceram para dar suporte
produo cafeeira, pois produziam materiais para a construo e manuteno dos trilhos da
ferrovia, tais como peas e ferramenta, bem como itens utilizados nas lavouras de caf, como
mquinas, peneiras, sacos, entre outros (NEGRI, op. cit., p. 31, 35, 40). Tanto a urbanizao
quanto a industrializao foram fomentadas por mais um aspecto decisivo: a chegada de

33
imigrantes estrangeiros ao Brasil. Esses imigrantes que vieram em grande quantidade,
principalmente da Europa, passaram a compor uma massa de trabalhadores livres e
assalariados que provocou o imediato crescimento do mercado consumidor interno.

O setor industrial entrou em processo de expanso a partir do incio da Primeira


Guerra Mundial (1914-1919). Nesse momento, o comrcio internacional sofreu profundo
desaquecimento, provocando imediata reduo das importaes e exportaes brasileiras. O
Estado de So Paulo se beneficiou desse processo, pois j havia um setor agrcola
desenvolvido e um setor industrial estruturado. Dessa forma, o Estado passou a atender parte
da demanda de diversas regies do pas. Segundo Negri (op. cit., p. 33):

Os dados da expanso industrial de So Paulo no deixam dvidas: em 1907


a indstria paulista j concentrava 15,9% do valor da produo industrial
brasileira e 30,7% em 1914. A dcada de 1920 iria propiciar nova expanso
consolidando o processo de concentrao em seu espao territorial que em
1929 responderia por 37,5% do valor da produo do pas.

Alm da expanso industrial, a agricultura tambm se diversificava nesse momento.


De acordo com o censo de 1920, o Estado de So Paulo era responsvel por 25% da produo
agropecuria do pas. Nesse ano, o Estado j era o maior produtor de caf, arroz e feijo, o
segundo maior produtor de milho e de batata inglesa e tambm possua o segundo maior setor
avirio e terceiro maior setor de bovinos entre os Estados brasileiros.

Em So Carlos, o processo de industrializao tambm teve incio durante o ciclo do


caf. Naquele momento, as fbricas eram pequenas e quase artesanais e existiam para dar
suporte produo de caf e manuteno das ferrovias (TRUZZI, 2000, p. 113-117). Por
volta de 1890, novas fbricas surgiram na cidade. Isso aconteceu aps a chegada dos
imigrantes europeus. Os imigrantes eram trabalhadores assalariados e, portanto, consumidores
em potencial. Alm disso, tambm possuam conhecimento tcnico fabril, trazidos de seus
pases de origem. Esses aspectos contriburam para a pequena expanso industrial que
sucedeu o perodo de sua chegada ao municpio. Muitas das novas fbricas foram criadas
pelos prprios imigrantes. Em 1898 e 1914 foram criadas duas fbricas produtoras de
peneiras, pregos, arames e telas: a Antnio Narvaes & Cia e a Indstria Giometti. Pequenas
fbricas de materiais de construo civil tambm surgiram, produzindo tijolos, grades,

34
portes, batentes, ladrilhos, etc. A Companhia de Fiao e Tecidos So Carlos foi fundada em
1911. Nesse momento se formava a burguesia industrial, junto com a burguesia comercial e a
classe operria da cidade (TRUZZI, op. cit., p. 148, 121-122).

O nmero de estabelecimentos industriais foi crescendo progressivamente e, em 1894,


a cidade comportava 110 unidades produtivas. Com a deflagrao da decadncia da economia
cafeeira, durante os anos 1920, ocorreu uma nova expanso das indstrias no municpio. Elas
produziam bebidas, alimentos, mveis, vesturios, calados, entre outras mercadorias, e se
instalavam, necessariamente, na rea urbana, principalmente em regies prximas Estao
Central de trem. A fbrica de lpis, que se tornaria a Johann Faber, fundada em 1926,
instalou-se muito prxima estao. Em 1924, o nmero de estabelecimentos industriais
elevou-se para 183 (DEVESCOVI, op. cit., p. 62), como mostram os dados da tabela a seguir.

Tabela 4 Estabelecimentos industriais (1894-1924) municpio de So Carlos.

Ano Nmero de estabelecimentos industriais


1894 110
1914 129
1924 183
Fonte: apud Devescovi (op. cit., p. 62).

A economia da cidade foi aos poucos readquirindo dinamismo e passou a atrair


famlias que at ento viviam na rea rural. O setor de servios cresceu junto com o setor
industrial, e ambos acabaram fomentando o processo de urbanizao na cidade. Tal processo
vinha acontecendo em todo o Estado. A expanso urbana ocorreu no nmero e no tamanho
das cidades, sendo que, entre 1870 e 1929, o nmero de municpios no Estado de So Paulo
saltou de 81 para 245 (DEVESCOVI, op. cit., p. 34). As cidades j existentes passaram a se
expandir, acompanhando o ritmo de crescimento da indstria. Em So Carlos esse processo
foi evidente, como ser mostrado a seguir.

35
1.3 A EXPANSO URBANA CONCENTRADA E CONTNUA

1.3.1 Os momentos do processo de expanso urbana no perodo 1857/1929

A expanso da rea urbana de So Carlos, desde o momento de sua fundao, passou


por ritmos variados. Nesse primeiro perodo, de 1857 a 1929, a rea urbana e sua expanso
eram controladas pela Cmara Municipal, com o Cdigo de Posturas, como principal
instrumento de controle do solo. Isso ocorreu desde o momento do traado do primeiro eixo
virio da cidade, em 1857, e se entendeu at 1929, quando o controle da expanso urbana foi
transferido para o prefeito municipal. Nesse perodo, do ponto de vista da expanso e das
formas de controle do uso do solo, podem ser discriminados trs momentos distintos.

O primeiro momento se iniciou em 1857 (ano oficial de criao do distrito de So


Carlos do Pinhal), quando surgiram os primeiros arruamentos da cidade a partir da definio
do primeiro eixo de expanso urbana, no sentido nortesul (rua So Carlos), formando uma
grelha ortogonal com ruas paralelas e perpendiculares ao eixo. Nesse momento, a doao de
datas, bem como a venda de terras a baixo custo, era feita pela Cmara Municipal e pela
Igreja. Esse momento se encerrou em 1889, e no ano seguinte comearam a ser realizados os
primeiros loteamentos com terras que no pertenciam mais Cmara ou Igreja, mas eram de
propriedade privada. No segundo momento, 1890 a 1893, ainda auge da economia cafeeira,
quando a cidade atraa muitos imigrantes, a rea urbana se expandiu significativamente, com a
implantao dos primeiros loteamentos, sendo a ferrovia a principal indutora da expanso. A
Cmara Municipal controlava a abertura dos loteamentos, impondo regras rgidas de
arruamento e demarcao dos lotes. Em 1893, foi implantado o ltimo loteamento dessa
significativa de expanso.

Entre 1894 e 1929 ocorreu uma desacelerao no processo de expanso que coincidiu
com a crise da economia cafeeira. Ao mesmo tempo, ampliavam-se as exigncias para a
aprovao dos novos planos de arruamentos. A Tabela 5 mostra a evoluo do crescimento da
rea urbana durante esse perodo. Entre 1889 e 1893, houve crescimento de quase 50% da
rea urbana, resultante de quatro loteamentos, enquanto entre 1894 e 1929 apenas um
loteamento foi implantado, gerando crescimento de 4,67% da rea urbana. E neste perodo,

36
1857/1929, quatro parcelamentos espontneos foram realizados, representando crescimento
de 11,15% da rea urbana.

Tabela 5 rea urbana (1857-1989) municpio de So Carlos.

Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos


Perodo rea urbana rea acumulada
Nmero (1) Crescimento (%)
(hectares) (2) (hectares)
1857-18l88 1 247,0 247,0 0
1889-1893 4 117,0 364,0 47,37
1894-1929 1 17,0 381,0 4,67
s/d 4 42,5 423,5 11,15
1930-1959 55 927,61 1351,11 254,62
1960-1977 53 789,79 2140,9 58,45
1978-1989 46 967,7 3108,6 45,20
Fontes: (1) Registros Loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves (1957); Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros
trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa digital
do municpio de So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos (s/d).

Os arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos implantados entre 1857 e


1929 so apresentados na Tabela 6, com os respectivos anos de implantao, reas dos
parcelamentos e nome dos proprietrios. No Mapa 1, pode-se observar a rea urbana de So
Carlos formada entre 1857 e 1929 e onde esto destacados os diferentes momentos nesse
processo de expanso.

Tabela 6 Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos (1857-1929) municpio de So Carlos.

rea
Ano implantao Nome do parcelamento (1) Proprietrio (1)
(1) parcelamento
(hectares) (2)
1857 Centro (arruamentos) Patrimnio municipal e Igreja 247,0
1889 Vila Nery Joaquim Alves S. Nery 15,00
1891 Vila Isabel Casimiro C. O. Guimares 17,00
1891 Vila Pureza Manoel Antnio Mattos 26,80
1893 Vila Prado Leopoldo de Almeida Prado 57,70
1920 Vila Marcelino Jos Barbieri 17,00
Subtotal rea loteamentos 380,6
s/d Parcelamento espontneo 1 7,80
s/d Parcelamento espontneo 2 FEPASA 6,70
s/d Parcelamento espontneo 3 FEPASA 21,90
s/d Parcelamento espontneo 4 6,10
Subtotal rea parcelamentos espontneos 42,5
Total 423,5
Fontes: (1) Registros Loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves (1957); Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e
outros trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 (s/d).

37
38
1.3.2 1857/1889: os arruamentos iniciais e o traado do primeiro eixo de expanso

Antonio Carlos de Arruda Botelho, o fundador da cidade de So Carlos, foi o


responsvel pelo traado do primeiro eixo virio da rea urbana. A rua So Carlos (atual
avenida So Carlos) foi concebida em 1856, no sentido nortesul, e traada sobre uma grande
colina, contgua ao enquadramento do ptio da capela. As demais ruas foram abertas em
funo desse eixo, paralelas e perpendiculares, nos sentidos nortesul e lesteoeste. As
quadras mediam 90 metros por 90, sendo formadas por um desenho ortogonal rgido em
forma de grelha, semelhante ao implantado em grande parte das cidades paulistas criadas no
sculo XVIII e XIX.

Figura 7 Foto da rua So Carlos (atual avenida So Carlos) em 1866 (regio do mercado
municipal). Fonte: Fundao Pr-Memria de So Carlos.

Em 1858, o pequeno povoado tinha apenas sete quarteires localizados ao sul do ptio
da capela. O solo urbano era dividido em datas, que eram pequenas pores de terra que
serviam para a construo dos edifcios. A expanso urbana de So Carlos para o norte
dependeu das doaes do proprietrio da sesmaria do Monjolinho, Joo Alves de Oliveira,
que ocorreu em 1868, e assim a cidade pde subir o alto da colina na direo norte. Nesse
mesmo ano, outras doaes de terras foram feitas para a cidade. Inicialmente, dona
Alexandrina Melchiades de Alkimin doou parte de sua propriedade. Em seguida, foram os
condminos pr-indiviso da sesmaria do Pinhal que acrescentaram novas glebas rea
urbana. Dessa forma, a vila caminhou para o alto da colina, com o prolongamento das ruas j
39
antes traadas e com a abertura das transversais seguintes, na direo norte, ao longo do
principal eixo de expanso formado pela rua So Carlos (NEVES, op. cit., p. 6). A rea
urbana, aps as primeiras expanses dos arruamentos deste subperodo, 1857/1888, chegou a
medir cerca de 260 hectares, rea correspondente atual regio central da cidade.

Avenida So Carlos

CAPELA

Figura 8 Planta do ncleo urbano de So Carlos. Fonte: Amador (1985, s/p).

As primeiras datas ou os primeiros lotes da cidade foram doados pelo prprio


fundador, por concesses feitas grtis, por estar dentro do prazo para isso permitido pela
doao feita ao respectivo patrimnio. 4 Essas datas mediam oito braas de frente e 20 de
fundo. Entre 1859 e 1867, as datas passaram a ser cobradas, e seu valor variava de 2 mil a 5
mil ris. Em 1869, algumas datas situadas at o terceiro quarteiro da Matriz passaram a
custar 10 mil ris. Em 1886, o valor da data chegou a 50 mil ris. Nesse momento, a vida
urbana ainda era pouco movimentada, pois a maioria da populao vivia no campo. As

4
Carta de doao de terras de 1856, escrita por Carlos Botelho. Citado por Maria Ceclia B. Ferraz apud Neves (op. cit., p.
3).

40
edificaes citadinas eram muito simples e pobres, a maioria construda de pau-a-pique ou de
madeira, cobertas com palha (NEVES, op. cit., p. 3-7).

O traado formado pelas ruas, quadras e lotes era austero e homogneo e tinha o
desenho ortogonal caracterstico das cidades paulistas implantadas desde meados do sculo
XVIII. Esse traado pode ser verificado na Figura 9. As ruas eram amplas e todas tinham a
mesma largura, assim como os passeios; todos os edifcios eram implantados na divisa do
lote com os passeios, e a arborizao era insignificante (Figura 10).

LOCAL DA ANTIGA
CAPELA
AVENIDA SO CARLOS

PRAA
CORONEL
SALLES INST.LVARO
GUIO

RUA D. ALEXANDRINA

Figura 9 Traado ortogonal das quadras prximas ao enquadramento da capela. Essa situao foi registrada na dcada de
1980, mas ilustra o padro fundirio do centro da cidade de So Carlos que se formou durante o sculo XIX. Embora o
tamanho dos lotes tenha se modificado, o desenho das quadras se manteve. Apud Marques (1986, p. 209).

Figura 10 Rua Major Jos Incio em 1896. Fonte: arquivos da Fundao Pr-Memria/PMSC.

41
O miolo das quadras era composto por espaos livres formados pelas reas no
edificadas do fundo dos lotes (Figura 11). Essas reas eram arborizadas, situao que at hoje
persiste na configurao urbana dos trechos menos transformados do centro da cidade.
Segundo Neves (op. cit., p. 21), no fundo dos lotes existiam verdadeiras chcaras, com
abundncia de arvoredo frutfero e at palmeiras imperiais.

LOCAL DA
ANTIGA
CAPELA

JARDIM PRAA ANTIGO


PBLICO CORONEL LARGO SO
DO PTIO SALLES SEBASTIO
DA MATRIZ

Figura 11 Planta com contraste de cheios e vazios de um fragmento do centro urbano de So Carlos. Essa situao foi
registrada na dcada de 1980, mas ilustra o padro de ocupao dos lotes e quadras do centro da cidade de So Carlos
durante o sculo XIX. Apesar das modificaes sofridas ao longo dos anos, as relaes dos edifcios com os lotes se
mantiveram em grande parte dos casos. Apud Marques (op. cit., p. 206).

1.3.3 1889/ 1893: o investimento na infra-estrutura urbana e os primeiros loteamentos

No perodo 1889/93, ocorreu significativa expanso da rea urbana, passando de 247


hectares para 364. Isso representou crescimento da rea urbana de 47,37% em apenas quatro
anos (Mapa 1 e Tabela 5). Nesse momento a populao urbana crescia, tendo passado de 5
mil habitantes, em 1891, para 8 mil habitantes, em 1894 (Tabela 3). A implantao da estao
ferroviria central, em 1884, localizada no alto de uma colina, atraiu a expanso em sua
direo, gerando a extenso das ruas do ncleo inicial, como as ruas General Osrio e Bento
Carlos at a praa em frente Estao Central. Do outro lado da cidade, a implantao do
novo cemitrio, em 1890, ao norte do centro urbano, provocou outro eixo de expanso. Na
direo sudeste, a cidade crescia ao longo do antigo caminho para Descalvado, a rua

42
Raimundo Corra. A leste, a urbanizao ocorria ao longo das ruas Padre Teixeira e Marechal
Deodoro, na direo da Vila Nery, como mostra a figura a seguir.

Figura 12 Mapa da rea urbana da cidade de So Carlos formada entre 1857 e 1929, com os principais eixos de expanso do
perodo.

A Vila Nery foi o primeiro loteamento implantado na cidade, em 23 de maro de


1889, na direo leste, cuja rea era de 15 hectares. Outro loteamento do perodo foi a Vila
Dona Pureza, aberta em 1891, com 26,8 hectares, na regio oeste, onde foi construda a Santa
Casa de Misericrdia. Essa vila foi realizada por meio do parcelamento da Chcara Matos, e,

43
para dar acesso a ela, foi feito o prolongamento das atuais ruas Carlos Botelho e XV de
Novembro. A Vila Pureza foi implantada em uma rea de 27 hectares, tendo 380 lotes e uma
praa central. No lado oposto da cidade, a sudeste, foi implantada a Vila Isabel, em 1891, em
uma rea rural bem isolada do limite da rea urbana, cerca de 17 hectares, composta por 16
quarteires, divididos em 10 datas (NEVES, op. cit., p. 25).

Figura 13 Foto Vila Nery em 1917 e o Sr. Joaquim Alves de Souza Nery, proprietrio das terras. Fonte: Fundao Pr-
Memria de So Carlos.

Segundo Lavandeira (1999, p. 73), a Vila Prado e a Vila Nery eram bairros
compostos, principalmente, por operrios qualificados, funcionrios especializados de
qualificao mdia e pequenos comerciantes. medida que a burguesia industrial e
comercial se formava e ampliava seu poder aquisitivo, tambm passava a ocupar imveis do
centro da cidade. Mas, alm dessa rea, essa classe emergente ocupou imveis da regio da
Santa Casa, no loteamento Vila Pureza. A Vila Marcelino foi ocupada pela populao
operria, e depois dela nenhum novo loteamento foi implantado na cidade at 1935. O
crescimento da rea urbana s retomou o dinamismo aps a expanso industrial que sucedeu o
incio da Segunda Guerra Mundial, como ser visto no prximo captulo.

A Vila Prado, o maior dos loteamentos da cidade do sculo XIX, com 58 hectares, foi
implantada em 1893 em uma rea contgua linha do trem e prxima estao ferroviria
central, na direo sudoeste da cidade. Essa vila foi ocupada por famlias de ferrovirios, por

44
pequenas fbricas que surgiam nesse momento e por seus trabalhadores. Segundo Neves (op.
cit., p. 25):

A avenida central (popularmente chamada rua larga) estendia-se por mil e


quinhentos metros e foi traada com cem palmos de largura. As transversais,
com espaos de cem metros de uma a outra, em bom estilo ferrovirio,
chamavam-se apenas por nmeros, de 1 a 10 travessa, at encontrar a
estrada do Arruda (rua Leopoldo Prado). Logo, seria esta a mais populosa
regio da cidade, como permanece at hoje.

J se verificava, no momento, uma segregao socioespacial na cidade, onde o centro


era habitado pela elite oligrquica e pela emergente classe de comerciantes e donos de
fbricas, enquanto junto ferrovia viviam operrios, ferrovirios e pequenos comerciantes. E
toda a cidade era objeto de interesse da elite, pois significava para a burguesia cafeeira, no
s um espao privilegiado para a realizao do capital, mas tambm o locus do controle
social e da preservao de seus interesses de classe (DEVESCOVI, op. cit., p. 48, 54).
Segundo a autora, os fazendeiros eram os grandes proprietrios dos imveis urbanos, cuja
maior parte era usada para aluguel.

O rpido crescimento da economia cafeeira em So Carlos, que ocorreu


principalmente aps a implantao da ferrovia no municpio, em 1883, levou parte dos
fazendeiros a investir o capital acumulado, a partir dos rendimentos do caf, em setores da
economia urbana nascente, principalmente nos setores comercial e imobilirio. Com o
desenvolvimento de novas atividades urbanas, a cidade passou a se equipar, tanto em aspectos
de infra-estrutura quanto no sistema financeiro. Segundo Melo (op. cit., p. 52, 107), no final
do sculo XIX e incio do sculo XX, a cidade de So Carlos j comportava dois bancos,
vrias casas de comercializao de caf, sendo a primeira Casa Bancria da cidade criada em
1890. O Banco Unio de So Carlos e o Banco de So Carlos comearam a funcionar em
1892 (DEVESCOVI, op. cit., p. 55-58).

Os fazendeiros bem-sucedidos tambm passaram a investir em obras bsicas


necessrias ao desenvolvimento da cultura e do comrcio do caf e ao crescimento da cidade
(DEVESCOVI, op. cit., p. 87, 89). Melhoramentos como a implantao de redes de transporte
por bondes, telefonia, entre outros, garantiram a estruturao da cidade. Os bondes de

45
transporte urbano comearam a circular em 1885, inicialmente movidos por trao animal.
Em 1890, foram contratados servios pblico e particular de abastecimento de gua potvel e
de coleta de esgoto. Nesse mesmo ano, foi encomendado um levantamento planialtimtrico da
rea urbana e seu mapeamento, para que fossem identificadas as edificaes e para que
fossem orientadas as novas construes. O sistema de gua e esgoto foi implantado em toda a
regio habitada nesse perodo. A luz eltrica chegou cidade em 1893, e a rede de
distribuio e o sistema hidreltrico de gerao de energia foram instalados pela Companhia
de Luz Eltrica de So Carlos (NEVES, op. cit., p. 20-21). Em 1894, foi criada a Companhia
Telephonica Saocarlense, e, no incio do sculo XX, foram construdas pequenas
hidroeltricas responsveis pela produo de energia no municpio. Em 1913, iniciou-se a
construo da grande usina do Quilombo, que trouxe substancial reforo rede energtica
(BISINOTTO, op. cit., p. 31).

Alm das obras de infra-estrutura, tambm foram construdos nesse perodo alguns
edifcios importantes. Em 1883, tiveram incio as obras do edifcio da Cmara Municipal,
localizada no Largo Municipal, onde est instalada at hoje. A primeira sesso da Cmara
nesse prdio ocorreu em 1884. O Teatro Ypiranga (posteriormente denominado Teatro So
Carlos) foi inaugurado em 1892, por Bento Carlos de Arruda Botelho, e atraiu para a cidade
grande nmero de companhias de variedades (NEVES, op. cit., p. 68; 40). Em 1893, foram
abertas a Santa Casa de Misericrdia e a Casa de Caridade, que ofereciam atendimento
mdico populao. Em 1895, foi inaugurado o jardim pblico do Ptio da Matriz, atual
praa Coronel Paulino Carlos Botelho. A cidade era extremamente prspera no final do sculo
XIX. Um relatrio enviado ao Presidente do Estado em 1893 descrevia:

So Carlos do Pinhal, uma das belas cidades e dos mais ricos municpios do
Estado (...) registrou que, em nascimentos e em casamentos foi superior a
Piracicaba, Araraquara e Guaratinguet, sendo inferior, apenas, a Ribeiro
Preto. 5

Ressalta-se que, embora o calamento das ruas ainda no tivesse sido realizado at
1893 e a rede de iluminao pblica estivesse em implantao, a rede de abastecimento de
gua potvel e de coleta de esgoto j atendia a cidade como um todo, evidenciando o

5
Relatrio apresentado ao Presidente do Estado, 1893, apud Melo (op. cit., p. 89).

46
progresso referido no relatrio enviado ao presidente da Cmara, bem como a homogeneidade
no tratamento do espao urbano.

1.3.4 1894/ 1929: a desacelerao da expanso urbana

Os anos posteriores a 1893 no tiveram o mesmo dinamismo de crescimento da rea


urbana apresentado no subperodo 1883/93; pelo contrrio, esse processo foi lento at 1929,
desmotivado pela crise da cafeicultura. Neste perodo, 1894/1929, apenas um novo
loteamento foi implantado, a Vila Marcelino, aberta em 1920, vizinha da Vila Isabel,
localizada na direo sudoeste da cidade. Por outro lado, houve relevante crescimento da
populao urbana, que passou de 8 mil habitantes, em 1894, para cerca de 17 mil habitantes,
em 1926, marcando o processo de xodo rural. Isso evidencia que, apesar do reduzido nmero
de loteamentos implantados, a cidade se adensou nesse perodo.

A Vila Marcelino foi um loteamento privado implantado por Jos Barbieri, com rea
de 17 hectares. A maioria de seus lotes seguia o padro estabelecido pelo Cdigo de Posturas
de 1905, com 17 x 44 metros de faces. Mas outros lotes no fundo do loteamento mediam 10 x
70 metros, contrariando a legislao do perodo.

47
Figura 14 Parte do plano de arruamento da Vila Marcelino, implantada em 1920. Fonte: arquivo de planta de loteamentos da
SMHDU/Prefeitura Municipal de So Carlos.

A Vila Marcelino foi implantada ao longo da rua Raimundo Correa, atrs da fbrica
Toalhas So Carlos, sendo ocupada principalmente por operrios. Esse setor da cidade atraa
as maiores fbricas do perodo, tais como Toalhas So Carlos, Johann Faber, Cia e Indstria
Giometti; e j vinha sendo ocupado, desde a implantao da Vila Prado e da Vila Isabel, por
operrios e outros profissionais pouco especializados. As reas dos parcelamentos
espontneos 6 que se formaram nesse perodo surgiram da ocupao de reas da FEPASA,
contguas linha frrea. Conhecidas como Coloninhas da Fepasa, foram ocupadas por
famlias de ferrovirios.

Em 1913, iniciou-se o calamento das ruas do centro com paraleleppedos. Os bondes


eltricos entraram em circulao em 1914 (NEVES, op. cit., p. 32-33, 70), facilitando o
transporte urbano e possibilitando o acesso s reas mais distantes do centro. Em 1929, a
regio central foi ocupada por residncias urbanas de fazendeiros de caf, principalmente
6
No foram obtidas as datas exatas da implantao desses parcelamentos espontneos, mas com certeza surgiram depois da
implantao da ferrovia, em 1883.

48
sobrados, e por pequenos estabelecimentos comerciais e industriais (DEVESCOVI, op. cit., p.
51). Em 1903, entrou em funcionamento o primeiro pavilho do Mercado Municipal, e, em
1907, o segundo (NEVES, op. cit., p. 32-33, 70). Em 1911, foi implantada a Escola Estadual
de Segundo Grau Instituto lvaro Guio, localizado na esquina da avenida So Carlos com a
rua Padre Teixeira, onde ficava o Largo So Sebastio. O projeto dessa escola, que ocupava
uma quadra inteira do centro, foi realizado por Carlos Rosencrantz (FERREIRA et al., 1998).

Figura 15 Foto do edifcio e da planta original do projeto da Escola Estadual de Segundo Grau Instituto lvaro Guio,
construda em 1911. Fonte: Ferreira et al. (1998).

Em relao ao subperodo anterior, a expanso da rea urbana se estendeu junto


indstria, abrangendo a populao operria provavelmente vinda da rea rural, ao mesmo
tempo em que toda a rea urbana se adensava. Em termos de infra-estrutura, a cidade era, em
1929, totalmente iluminada, mas a pavimentao das ruas concentrava-se na regio central
habitada pela elite.

Em 1923, foi construda a primeira rodovia de acesso ao municpio, que, depois,


denominou-se Rodovia Washington Lus. Ligava So Carlos atual Rodovia Anhanguera,
que fazia a ligao Ribeiro PretoSo Paulo (NEVES op. cit., p. 32-33, 38). O primeiro
automvel, segundo Neves, chegou cidade entre 1906 e 1910 (NEVES op. cit., p. 36). A
rodovia foi ganhando importncia progressivamente como via de transporte intermunicipal.
Esse elemento foi determinante no processo de expanso urbana do perodo 1930/1977.

49
1.4 A CMARA MUNICIPAL NO CONTROLE DA EXPANSO

1.4.1 A criao da Cmara Municipal de So Carlos e os Cdigos de Posturas de 1866 e


1880

A administrao das cidades brasileiras, durante o perodo colonial e imperial, era


realizada pela Cmara Municipal, escolhida por meio de eleies diretas, assim como
determinavam os cdigos utilizados pelos portugueses em suas colnias. Esses cdigos
consistiam, principalmente, nas Ordenaes Afonsinas, de 1446, e Manuelinas, de 1521, e, a
partir de 1603, as Filipinas. Junto com essas ordenaes estavam as atribuies dos
municpios. Entretanto, elas eram vagas e evasivas e atribuam autonomia e abrangncia das
cmaras na ordenao do municpio. Por muito tempo no houve nenhuma legislao
especfica da colnia brasileira. A Cmara Municipal originalmente se formava no momento
de criao de uma nova vila ou povoao e consistia em uma corporao formada pelos
oficiais da Cmara (formada por procuradores, juzes ordinrios e vereadores) que se
dedicavam a resolver os eventuais problemas da vida no termo ou territrio municipal,
naquele patrimnio ou fora dele, no mundo rural e no urbano, de forma autnoma (MARX,
1999, p. 36).

Com a promulgao da Carta Imperial de 1824 (de carter constitucional), que visava
estabelecer maior organizao do imprio e das provncias, os poderes judicirios das cmaras
foram limitados. Mas, por outro lado, foram mantidas as outras atribuies da Cmara de
cunho administrativo, legislativo, econmico e policial. A partir da, os cdigos de posturas,
elaborados pelas edilidades (vereadores), deveriam, necessariamente, ser aprovados pelas
Assemblias e pelo presidente de cada provncia, o que afetou o mbito decisrio das
localidades. Uma vez aprovado, o Cdigo de Posturas era o principal instrumento utilizado
pela Cmara, apresentando regras para os arruamentos, alinhamentos, entre outros parmetros
de ocupao do municpio. E era tambm tarefa da Cmara fiscalizar o cumprimento das
posturas e dos cdigos, o respeito pelos alinhamentos e pelas demarcaes e a manuteno
dos bons costumes (MARX op. cit., p. 37-38).

As cmaras eram normalmente formadas pelos representantes das elites locais, que,
por muito tempo, foi controlada pelas lideranas rurais, cujo controle era motivo de grandes

50
disputas. Como efeito, o mandonismo local vigia por todo o Imprio com disputas de poder,
rixas de famlias e parentelas, desmandos de toda espcie, tendo em vista o controle das
Cmaras Municipais (BRIOSCHI, op. cit., p. 81). Em So Carlos, essas disputas
aconteceram de forma acirrada, principalmente entre dois grupos polticos liderados, por um
lado, pela famlia dos Salles e, por outro, pela tradicional famlia dos Botelho (ABREU, 2000,
p. 39).

A primeira composio da Cmara Municipal de So Carlos ocorreu em 1865, quando


a cidade foi elevada categoria de vila, desmembrando-se da Cmara Municipal de
Araraquara. Nesse momento, a Cmara de So Carlos passou a administrar seu prprio
territrio, tendo que elaborar um Cdigo de Posturas prprio, que foi aprovado em 1866. Esse
cdigo, que regulamentou as formas de ocupao e organizao das terras rurais e urbanas,
entre outros aspectos, passou por algumas alteraes ao longo deste perodo, 1866/1929. Entre
1865 e 1929, foram elaborados quatro cdigos de posturas para So Carlos.

O primeiro Cdigo de Posturas de So Carlos aprovado em 1866 foi compilado do de


Araraquara. Este determinava a forma de doao das datas de terra, as quais a Cmara
Municipal concedia s pessoas que quisessem fixar residncia na cidade. O cdigo tambm
definia que os terrenos deveriam ter medida padronizada de 17 metros de largura por 44
metros de profundidade. Segundo o texto desse documento:

da privativa competncia da Cmara a concesso de terrenos, por cartas de


datas, do patrimnio desta vila e suas freguesias, no podendo este favor ser
concedido a um s indivduo, e correspondente a cada data 17 m de frente e
44m de fundo (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1880, artigo 10, apud
BISINOTTO, op. cit., p. 64).

O cdigo de 1866 tambm atendeu s exigncias estabelecidas pela Lei de Terras,


definindo, alm da forma de concesso de terras, o tamanho dos terrenos e o permetro de
diviso das reas urbana e rural. O permetro da cidade coincidia com os limites do
patrimnio municipal, definido pelo seguinte texto:

51
Artigo 1: Enquanto no se fizer regular o tombamento do patrimnio de
So Carlos do Pinhal, o permetro da cidade de So Carlos compreender a
rea contida nos limites tidos atualmente como divisas do mesmo
patrimnio (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1880, artigos 1, 2, 3 e
24, apud BISINOTTO, op.cit., p. 65-66).

O arruador, nomeado pela Cmara, passou a ser exigido em todas as povoaes do


municpio, e sua tarefa era: proceder ao alinhamento das ruas todas as vezes que pela
Cmara isto lhe for ordenado ou pelo fiscal requisitado (SO CARLOS, Cdigo de Posturas
de 1880 artigos 1, 2, 3 e 24, apud BISINOTTO, op.cit., p. 65-66).

Em 1880, foi aprovado um novo Cdigo de Posturas em So Carlos, que manteve os


padres urbansticos de formato e tamanho das quadras e tamanho dos lotes definidos pelo
cdigo anterior. Nesse cdigo a rea urbana permanecia limitada pelo permetro do
patrimnio, e os arruamentos, fiscalizados pelo arruador. Mas as novas posturas tambm
trouxeram mudanas, pois diferenciavam as ruas das estradas municipais e dos caminhos
vicinais, definindo a largura de cada tipo de via. Todas as ruas do municpio deveriam ser
alinhadas, tendo 13 metros de largura, salvo se por um obstculo invencvel no for possvel
dar-lhes esta largura. As estradas municipais deveriam ter oito metros e oitenta centmetros
de largura, sendo quatro metros e quarenta centmetros de leito e dois metros e vinte de
roada de cada lado, e os caminhos vicinais seis metros e sessenta centmetros de largura,
dos quais quatro metros e quarenta de leito e um metro e dez centmetros de roada de cada
lado.

Esses padres nos arruamentos realizados entre 1857 e 1889 sero obedecidos e
conferem a homogeneidade do traado, que uma caracterstica do processo de expanso
desse subperodo.

1.4.2 O Cdigo de Posturas de 1905

Em 1905, um novo Cdigo de Posturas foi aprovado para So Carlos, definido pela lei
municipal nmero 58. Essa lei abrangia o distrito de So Carlos do Pinhal e o distrito de Ibat,
que somente em 1953 foi desmembrado de So Carlos.

52
Em relao ao cdigo anterior, o novo Cdigo de Posturas manteve algumas
determinaes. As ruas e reas pblicas da cidade mantinham-se sob responsabilidade da
Cmara, e o arruador, funcionrio da cmara, fiscalizava a correta execuo dos alinhamentos
e nivelamentos dos novos edifcios e arruamentos. Entre as formas de aquisio de terras, os
terrenos da rea do patrimnio devoluto continuavam sendo concedidos a particulares em
datas de 17 metros de frente e quarenta e quatro de fundo, como acontecia desde o primeiro
Cdigo de Posturas estabelecido em 1866 (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1905, lei n.
58, fl.147).

Em relao aos cdigos anteriores, a lei era mais detalhada e apresentava uma srie de
restries para as intervenes na rea urbana e possua uma seo especfica para tratar dos
aspectos urbanos, intitulada Seco Urbana. A largura das ruas foi ampliada de 13 para 14
metros, devendo ser paralelas e perpendiculares s existentes. As caladas deveriam medir
1,75 metros de largura e seriam feitas em pedra ou cimento.

A mudana mais significativa trazida pelo novo cdigo foi relacionada ao limite da
rea urbana. Pela primeira vez se estabeleceu o limite entre a rea rural e urbana, sendo a
ltima subdividida em duas categorias: cidade e subrbio. A rea urbana, segundo o texto da
lei, compreendia toda a rea edificada do patrimnio e tambm as reas que a Cmara
incorporasse ao seu domnio, ou seja, a rea urbana deixava de se constituir apenas pela rea
do patrimnio, como acontecia at a aprovao dessa lei. Caberia Cmara determinar a
linha que dever separar o subrbio da cidade (SO CARLOS, Cdigo de Posturas de 1905,
lei n. 58, captulo I). A definio do limite entre rural e urbano no representou o maior
controle do espao urbano, pois no momento de aprovao do Cdigo de 1905, os
loteamentos Vila Nery, Vila Isabel, Vila Pureza e Vila Prado, que ampliaram a rea urbana
em quase 50%, j haviam sido implantados, ou seja, a possibilidade de mudana de permetro
no se tornou uma ferramenta de controle da expanso, pelo contrrio, veio legitimar o
processo de expanso que j havia se consumado.

Com o incio da Repblica, ocorreu uma nova diviso no poder municipal, separando
o poder legislativo da Cmara do poder executivo e administrativo exercido pelo prefeito
municipal. So Carlos, em 1905, ainda no contava com um prefeito municipal, e sim com
um intendente da municipalidade, que no era soberano em relao Cmara Municipal,
ainda a responsvel pela administrao do espao urbano. A Igreja tinha relativo poder sobre

53
o espao urbano e podia doar terrenos, mas apenas aqueles pertencentes rea de reserva do
patrimnio. A figura a seguir ilustra a estrutura administrativa do municpio em 1905.

Figura 16 Estrutura administrativa de So Carlos em 1905. Fonte: So Carlos, Lei n. 58 Cdigo de Posturas de 1905.

Essa estrutura ambgua modificou-se completamente com a aprovao do Cdigo de


Posturas de 1929, como ser mostrado a seguir.

As mudanas administrativas que sucederam o cdigo de 1905 encaminharam cada


vez mais a transferncia das atribuies de controle do territrio municipal da Cmara
Municipal para o prefeito. Em So Carlos, o primeiro prefeito da cidade foi nomeado em
1908, o mdico Rodolfo Gasto Fernandes de S, ligado ao grupo poltico dos Botelho. Seu
mandato durou at 1910. Mas as trs gestes seguintes foram representadas por seguidores da
famlia Salles, que atuaram at 1919. A alternncia de poder entre botelhistas e sallistas
continuou durante os anos 1920. Em 1928, foi fundada a sede do Partido Democrtico em So
Carlos, que era um partido nacional em crescimento, formado principalmente por membros
dos setores econmicos urbanos. Nesse momento, esse partido ainda era pouco representativo,
mas em pouco tempo seria muito forte na cidade (ABREU, op. cit., p. 41-42).

1.4.3 O Cdigo de Posturas de 1929 e a transferncia da administrao do solo urbano


para o prefeito municipal

Quatorze anos aps a aprovao do Cdigo de Posturas de 1905, um novo cdigo foi
aprovado para o municpio de So Carlos, pela lei n. 283/29. O Cdigo de Posturas de 1929
foi aplicado ao distrito sede de So Carlos e ao distrito de Ibat, como no cdigo anterior, e
incluiu mais um distrito em sua abrangncia, o de Santa Eudxia, que at hoje se mantm
como parte do municpio. O territrio municipal era dividido em rea rural e urbana, sendo a
ltima subdividida em cidade e subrbio, dividido da mesma forma que no cdigo anterior. A
rea urbana continuava sendo definida como rea reservada ao patrimnio, e as demais reas,
54
incorporadas pela Cmara Municipal (SO CARLOS, 1929, artigo 2). Entretanto, o Cdigo
de 1929 tambm apresentou uma srie de mudanas que foram determinantes no processo de
expanso urbana no perodo seguinte.

Uma das mudanas mais significativas realizadas pelo cdigo de 29 foi a criao de
uma nova estrutura administrativa municipal, a qual fortaleceu o poder executivo concentrado
no prefeito municipal. Com isso, grande parte das atribuies que pertenciam Cmara foi
repassada Prefeitura. Os artigos 376 e 377 diferenciavam essas atribuies da seguinte
forma:

O artigo 376 - Para a execuo de suas leis, posturas e outras deliberaes,


a Cmara Municipal ter os empregados que julgar necessrios, os quais no
exerccio de suas funes sero subordinados ao Prefeito.

Artigo 377 - Cabe privativamente ao Poder Legislativo municipal criar e


extinguir os empregos municipais, bem como marcar e alterar as atribuies
e remuneraes dos respectivos funcionrios e regular os casos e condies
de sua aposentadoria.

A nova estrutura administrativa para a municipalidade foi dividida em reparties,


como mostra a figura a seguir (SO CARLOS, 1929, artigo 378)

55
Figura 17 Estrutura administrativa em So Carlos. Fonte: So Carlos (1929).

Nessa nova estrutura, a Prefeitura assumiu o controle do solo urbano. O artigo 3, por
exemplo, determinava que o poder Executivo, para boa distribuio dos servios e para
melhorar a fiscalizao, poder dividir a cidade e o municpio em distritos. Alm disso,
qualquer alinhamento, nivelamento ou licena para construir deveria ser requerido ao prefeito
municipal, e nenhuma obra dentro do permetro da cidade poderia ser iniciada sem licena da
Prefeitura. A Cmara Municipal teve seu poder limitado, passou a ser responsvel pela
fiscalizao da implantao dos arruamentos e a realizao dos alinhamentos e nivelamentos
dos terrenos urbanos e demais obras. Sua funo era velar pela fiel observncia quanto
respeitar a higiene e segurana das obras ou edificaes e o embelezamento da cidade, vila,
povoaes e arrabaldes (SO CARLOS, 1929, artigo 30). Mesmo essa fiscalizao no era
atribuio exclusiva da Cmara, pois deveria ser realizada por um engenheiro da Cmara
junto com o fiscal da Prefeitura. O engenheiro da Cmara, em alguns casos, poderia ser
substitudo pelo arruador.

O Cdigo de Posturas de 1929 trouxe mudanas tambm nas formas de uso e


ocupao do solo. A lei determinava que os edifcios ficassem afastados 4,4 metros do

56
alinhamento frontal do terreno, devendo ser esta uma rea ajardinada. Isso inseria o recuo
frontal obrigatrio do edifcio em relao divisa do lote com o passeio, que at ento no
existia. A largura dos passeios no poderia ser inferior a 2,5 metros em todas as ruas, com
exceo da rua So Carlos e das praas e avenidas, onde deveriam ter, no mnimo, trs metros
(SO CARLOS, op. cit., artigo 16). Ampliou-se a dimenso dos passeios que, no cdigo
anterior, deviam ter no mnimo 1,75 metros. Alm disso, essa lei tambm determinava a
criao de um quadriltero, dentro da rea urbana, onde s poderiam ser construdos sobrados,
assim como descrito no cdigo:

Artigo 32 - Os proprietrios de terrenos compreendidos entre as ruas 13 de


Maio, Alexandrina, at a rua 7 de setembro, desta at a rua So Carlos e a
rua So Carlos de Marechal Deodoro at 13 de Maio, inclusive as ruas
transversais dentro deste permetro, no podero construir edifcios que no
tenham pelo menos dois pavimentos incluindo o trreo (SO CARLOS, op.
cit., artigo 32).

Essa determinao significou a criao de uma rea com uso restritivo, sendo
provavelmente realizado para garantir o alto padro do centro da cidade, que era o local de
residncia da elite. E proibiu determinados tipos de usos dentro da cidade, como fbricas de
sabo, leo e velas; curtumes; mquinas de beneficiar caf, arroz e milho; depsito de sal em
grande quantidade; e outros estabelecimentos que exalassem vapores nocivos atmosfera;
prejudicassem a salubridade pblica ou causassem algum incmodo vizinhana (SO
CARLOS, op. cit., artigo 123). Alm disso, o Cdigo de 1929 tambm legislou sobre as
licenas para funcionamento de indstrias, regulamentou o trnsito pblico, o trnsito de
veculos, os rudos, as queimadas e roadas, os divertimentos pblicos, as comodidades dos
habitantes, a higiene das ruas e praas, entre outros aspectos (SO CARLOS, op. cit., artigos
95, 123).

Os parmetros para o prolongamento e abertura de novos arruamentos, alinhamentos e


nivelamentos da cidade tambm foram modificados, sendo esse um dos aspectos de maior
mudana nesse processo. At a vigncia do cdigo de 1905, as ruas existentes deveriam
conservar em seu prolongamento a largura e direo que tivessem, e as novas teriam pelo
menos 14 metros de largura, sendo paralelas ou perpendiculares em relao umas s outras,
salvo especial deliberao da Cmara. Mas o artigo 4 do novo cdigo de 29 determinava que

57
as avenidas tivessem largura proporcional sua importncia e que as praas e os largos
deveriam ser convenientemente dispostos e estudados, as ruas paralelas e perpendiculares
deixaram de ser uma exigncia, e isso significou o surgimento de uma variedade de traados e
larguras dos novos arruamentos.

Pelo novo cdigo, os parcelamentos passaram a ser denominados diviso de


terrenos, e para que fossem realizados era necessria a apresentao de um plano de
arruamento com planta, em duplicata, junto com o perfil longitudinal e transversal cotados, e
requerida a licena Prefeitura. Para ser aprovado, os arruamentos deveriam estar dentro do
plano geral de arruamentos organizado pela municipalidade ou deveriam atender s boas
regras do urbanismo, assim como determinava o artigo 4. O novo cdigo ficou vigente por
dcadas e foi a nica lei a determinar os parmetros e padres urbanos em So Carlos at
1962, quando foi aprovada a lei de loteamentos. Assim, esse cdigo acabou influenciando o
processo de expanso de todo o perodo seguinte, como ser visto no prximo captulo.

Ao realizar uma leitura crtica dessa lei, pde-se perceber que, por um lado, a
realizao dos parcelamentos tornou-se mais rgida por causa da necessidade de aprovao
pelo poder executivo do plano tcnico de arruamentos do novo parcelamento. Mas, por outro
lado, os parmetros de desenho urbano tornaram-se vagos e passaram a poder ser definidos
caso a caso, desde que estivessem de acordo com o plano geral de arruamentos. Entretanto,
no se tem conhecimento da existncia desse novo plano geral de arruamentos, ou seja, abriu-
se mo do antigo plano em grelha, que permitia uma expanso homognea e controlada da
rea urbana, deixando uma lacuna em seu lugar. Pela lei, os planos de arruamentos deveriam
ser aprovados pelo prefeito municipal, que mudava de quatro em quatro anos.

Em sntese, pde-se perceber que a cidade e as formas de controle de sua expanso


mudaram bastante ao longo deste perodo. No momento de fundao do distrito, em meados
do sculo XIX, o caf movia a economia, e a elite agrria controlava a cidade. Mas, como
naquele momento o imprio ainda mantinha forte elo com a metrpole colonizadora, as leis e
os costumes lusitanos ainda influenciavam a sociedade brasileira, inclusive na forma de
organizao das cidades, que eram regulamentadas por cdigos de posturas, preenchidos por
normas e parmetros urbanos determinados pelos portugueses. Assim nasceu So Carlos, bem
como centenas de outros ncleos urbanos que surgiram nos sertes paulistas, at ento
inspitos, em plena ascenso do ciclo econmico do caf. As semelhanas do padro urbano
existente entre So Carlos e outras cidades do interior do Estado de So Paulo nascidas no
58
mesmo perodo so evidentes, a comear pelo tipo de traado das ruas, o tamanho e a forma
dos lotes e quadras, sendo todos formados por uma grelha ortogonal, modulada, racional e
austera. Mas o processo de expanso de cada uma dessas cidades foi peculiar.

So Carlos se desenvolveu de forma lenta e contnua at o final do sculo XIX,


quando se evidenciou significativo processo de expanso durante o auge da economia
cafeeira. Depois desse crescimento, houve desacelerao nesse processo. Na dcada de 1920,
quando o pas j se modernizava, o pensamento urbanstico era reformulado a partir do
surgimento de novos paradigmas centrados na questo do progresso e da eficincia urbana
enquanto tinha incio a migrao campocidade. Em So Carlos, o novo Cdigo de Posturas
de 1929 incorporou parte das mudanas trazidas por esses novos paradigmas. Os novos
parmetros urbansticos para prolongamento e abertura de arruamentos e realizao de
alinhamentos, bem como a nova estrutura administrativa que transferiu o controle da
expanso urbana da Cmara Municipal para o prefeito municipal, foram os principais marcos
de ruptura do processo analisado. A partir da, toda a cidade passou a se desenvolver sob nova
lgica, que acompanhava os processos sociais e econmicos que ganharam novos rumos com
as revolues polticas e a expanso do setor industrial que ocorreram a partir de 1930.

59
CAPTULO 2 DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL,
CRESCIMENTO DA POPULAO OPERRIA E
RETOMADA DA EXPANSO URBANA (1930-1959)

60
2.1 A EXPANSO INDUSTRIAL NO BRASIL PS-1930 E A HEGEMONIA DA
INDSTRIA PAULISTA: desenvolvimento da vocao industrial so-carlense

2.1.1 Da Era Vargas ao Programa de Metas: investimentos estatais na indstria


brasileira

O processo de desenvolvimento da economia brasileira durante o perodo 1930/59


esteve diretamente ligado expanso do setor industrial. O poder pblico investiu grande
parte de seus esforos e recursos na criao de um parque industrial consistente, implantado
principalmente nas regies Sul e Sudeste do pas. Em 1930, Getlio Vargas assumiu a
Presidncia da Repblica aps a Revoluo de 1930, dando novos rumos ao processo de
desenvolvimento social e econmico no Brasil.

Durante seu governo, as principais metas perseguidas foram a ampliao do poder


poltico do governo federal e o controle estatal do desenvolvimento econmico do pas. A
poltica adotada por Getlio foi extremamente centralizadora. Em novembro de 1930, ele
assumiu o Poder Legislativo, alm do Poder Executivo que j exercia, dissolvendo o
Congresso Nacional e os legislativos estaduais e municipais. No ano seguinte, em 1931, foi
implantado o Cdigo dos Interventores, estabelecendo as normas de subordinao dos
interventores ao poder central. Nesse perodo, foram elaboradas vrias estratgias para
contornar a crise do caf, buscando aumentar as importaes do produto, que diminuram
bruscamente, e elevar seu preo no mercado internacional 7 . Mas a principal aposta era feita na
indstria brasileira, que se tornara cada vez mais dinmica desde o perodo da Primeira
Guerra Mundial (FAUSTO, 2004, p. 332-334).

Como estratgia de controle da crise do caf, parte da produo do gro era destruda
para reduzir a oferta de mercado do produto e elevar o preo de venda. Esse esquema foi
utilizado at 1944, e durante esses 13 anos foram queimadas cerca de 78,2 milhes de sacas
de caf. As exportaes chegaram a crescer, mas os valores da comercializao do produto
continuavam diminuindo, o que representava prejuzo enorme para a economia cafeeira
decadente (SINGER, 1968, p. 43-47). No setor industrial, grandes investimentos estatais eram

7
Em 1931, foi criado o Conselho Nacional do Caf (CNC), rgo federal criado para gerir a economia cafeeira, vinculado ao
Ministrio da Fazenda. Em 1933, foi criado o Departamento Nacional do Caf (DNC), para substituir o CNC (FAUSTO,
op. cit., p. 333).

61
realizados, principalmente em obras de infra-estrutura, e no preparo de mo-de-obra tcnica
especializada.

Em 1942, foi aprovado um decreto-lei que instituiu a Lei Orgnica do Ensino


Industrial e foi lanada a poltica de substituio de importaes, para incentivar a produo
industrial interna. Os resultados dessa poltica foram positivos, e entre 1939 e 1949 a indstria
brasileira cresceu em mdia 7,8% ao ano, sendo esta uma taxa superior ao crescimento
verificado entre 1919 e 1939 e muito acima da taxa de crescimento populacional do pas
durante o perodo (NEGRI, 1996, p. 73, 367-368, 61).

No final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o processo de industrializao do


pas se intensificou. O cenrio poltico internacional era tenso aps a Segunda Guerra
Mundial, quando teve incio um novo tipo de disputa, que ocorreu entre os Estados Unidos
(capitalista) e a URSS (socialista), conhecida como Guerra Fria. O mundo ficou, durante
dcadas, polarizado entre capitalismo e socialismo, e, de uma forma ou de outra, todos os
pases foram influenciados. No Brasil, o sistema capitalista tornou-se hegemnico, e era
intensa a represso ao comunismo. Os principais acordos econmicos foram estabelecidos
com os Estados Unidos, e o setor industrial ganhou impulso a partir de investimentos de
capital norte-americano. Nesse momento, o Estado de So Paulo tornava-se o principal alvo
dos investimentos estatais e estrangeiros, contribuindo para o desenvolvimento da indstria no
Estado, que assumia novas dimenses, principalmente na cidade de So Paulo, que nesse
momento j era o maior plo industrial do pas (SCHIFFER, 2004, p. 84).

Durante o governo do presidente Dutra (1945-1950), o projeto de expanso industrial


teve continuidade. Em 1950, a produo do setor industrial superou a produo agrcola e
provocou um aceleramento no processo de urbanizao brasileiro, simultaneamente
transio do pas, que se inseria em novo patamar do processo de acumulao (SCHIFFER,
op. cit., p. 84).

Em 1951, Getlio Vargas reassumiu a Presidncia da Repblica, dessa vez por meio
de voto popular. O governo democrtico de Getlio foi marcado por uma intensa oposio,
principalmente das tendncias liberais, que tentavam forar a renncia do presidente. O
governo foi perdendo o apoio das foras armadas e da opinio pblica, tendo entrado em crise
quando o principal lder da oposio, Carlos Lacerda, sofreu um atentado, uma tentativa de
assassinato. Algumas semanas depois, Getlio Vargas se suicidou no Palcio do Catete,

62
encerrando, de forma trgica, a Era Vargas. Caf Filho assumiu a presidncia aps a morte de
Vargas e governou at 1955 (FAUSTO, op. cit., p. 417-422).

A industrializao continuava sendo a principal meta do governo, e novos


investimentos pblicos foram realizados para a expanso desse setor. Os investimentos
federais ocorreram principalmente em sistemas de transporte e em gerao de energia. O
Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE) foi criado em 1952, e a Petrobrs
foi fundada em 1953, 8 como parte do projeto estatal. O processo industrial no pas avanou,
mas alguns aspectos, tais como altos ndices de inflao do mercado internacional, que
chegaram a atingir 20,8%, em 1953, impediram o crescimento econmico almejado pelo
governo (FAUSTO, op. cit., p. 409).

A poltica estatal pr-industrializao continuou no governo seguinte. O Programa de


Metas 9 foi a principal estratgia da poltica econmica do governo JK10 (1956-1961). Novos
investimentos foram feitos no setor de infra-estrutura e de estmulo industrializao, nesse
perodo. O governo tambm procurou atrair capital estrangeiro para o desenvolvimento da
indstria, dos quais grande parte foi aplicada no setor de alta tecnologia. Dos 485 milhes de
dlares que entraram no pas entre 1955 e 1960, mais da metade do valor foi destinada
indstria automobilstica e produo de mquinas (SINGER, op. cit., p. 89).

Os resultados do Programa de Metas representaram significativo aumento do setor


industrial. Segundo Fausto (op. cit., p. 427):

Os resultados do Programa de Metas foram impressionantes, sobretudo no


setor industrial. Entre 1955 e 1961, o valor da produo industrial,
descontada a inflao, cresceu em 80%, com altas porcentagens nas
indstrias do ao (100%), mecnica (125%), de eletricidade e comunicaes
(380%) e de material de transporte (600%).

8
Em 1953 foi baixada a Instruo n. 70 da Superintendncia da Moeda e Crdito (Sumoc), que visava estimular as
exportaes e favorecer as importaes de bens essenciais ao desenvolvimento econmico (FAUSTO, op. cit., p. 572).
9
O Programa de Metas possua 31 objetivos distribudos em seis grandes grupos: energia, transportes, alimentao, indstria
de base e educao. O programa tambm tinha uma meta-sntese, que era a construo de uma cidade nova para ser sede da
capital federal. Outra vontade poltica desse governo era vencer a burocracia, e para isso foram criados vrios rgos
paralelos administrao pblica existente, como, por exemplo, a Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene) (FAUSTO, op. cit., p. 425-426).
10
Em 1956, Juscelino Kubitschek e Joo Goulart assumiram, respectivamente, a Presidncia e Vice-Presidncia da
Repblica. O Governo JK cumpriu todo o seu mandato, que se encerrou em 1961. Nesse perodo, a estabilidade poltica se
manteve, trazendo otimismo populao, que estava desestimulada em decorrncia dos longos anos de recesso econmica.
A idia do desenvolvimento de cinqenta anos em cinco, divulgada na propaganda oficial do governo, empolgou toda a
sociedade (FAUSTO, op. cit., p. 425- 426).

63
Esse perodo ficou conhecido como a primeira fase da industrializao pesada
brasileira, que teve incio em 1956 e se entendeu at 1970. Essa fase foi marcada pela
heterogeneidade dos investimentos estatais aplicados nas diferentes regies do pas. Isso
ocorreu uma vez que as indstrias de bens de consumo se espalharam por todo o territrio
nacional, embora as empresas de bens intermedirios e de bens de produo tenham se
concentrado nas regies mais desenvolvidas, por requerer grande aporte de capital, mercado
consumidor, infra-estrutura bsica e de servios e complementaridade inter-industrial. Os
Estados da regio Centro-Sul do Brasil eram os que melhor atendiam aos requisitos da
expanso industrial, e foi onde o setor mais cresceu (SCHIFFER, op.cit., p. 85).

2.1.2 A indstria paulista: concentrao na capital e formao da rede intercidades

O Estado de So Paulo tomou a dianteira do processo de expanso industrial, pois


contava com o maior e mais equipado parque industrial do pas. Alm disso, o Estado tinha
uma populao urbana significativa, que contribuiu para o fomento desse processo. Em 1938,
a produo industrial paulista representava 43,2% do total nacional, e, em 1958, a indstria do
Estado era responsvel por mais da metade de toda a produo nacional, como mostram os
dados da tabela a seguir. Nesse momento, a agricultura paulista tambm era a mais avanada e
se destacava em relao aos outros Estados (SINGER, op.cit., p.177).

Tabela 7 Produo industrial (1938-1958) Brasil.

Estados 1938 1958


S. Paulo 43,2% 53,2%
Distrito Federal Rio 14,2% 11,2%
Minas Gerais 11,3% 5,7%
Rio Grande do Sul 10,7% 8,1%
Outros Estados 20,6% 21,8%
Brasil 100,0% 100 0%
Fontes: Singer (1968, p. 177).

64
A capital do Estado e sua regio metropolitana concentraram a maior quantidade de
investimentos feitos na indstria nacional nesse perodo, o que confirmou a hegemonia
industrial dessa regio no cenrio nacional. Segundo Negri (op. cit., p. 118), o ritmo de
crescimento da indstria metropolitana foi, durante a dcada de 1950, superior indstria
interiorizada, e, em 1959, a Grande So Paulo concentrava 71,1% do valor de produo
industrial do Estado. Contudo, apesar da polarizao industrial ocorrida na capital, o processo
de industrializao das cidades do interior tambm foi relevante nesse perodo. Em 1959,
existiam no interior de So Paulo mais de 19 mil estabelecimentos do setor da indstria de
transformao. Tais estabelecimentos empregavam 232,3 mil pessoas, o que representava
32,2% dos postos de trabalho no Estado e 14% dos empregos do pas. A produo industrial
do interior representava, nessa data, 33,4% do valor da produo industrial estadual e 14% de
toda a indstria de transformao brasileira (Tabela 8).

Tabela 8 Pessoal ocupado e valor da produo industrial (1956-1970) Estado de So Paulo.

Regio do Estado Pessoal ocupado Valor da produo


de So Paulo 1956 1959 1970 1956 1959 1970
1. Regio metropolitana 67,7 70,7 70,1 66,6 71,1 70,7
2. Interior paulista 32,3 29,3 29,9 33,4 28,9 29,3
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Municpios do interior
Litoral 1,6 1,5 1,8 3,9 4,3 4,2
Vale do Paraba 3 2,9 3,6 2 2,1 3,1
Sorocaba 5,2 4,9 3,6 3,9 3 2,3
Campinas 12,5 11,3 12,2 10,3 8,9 10,5
Ribeiro Preto 4,5 3,9 3,9 4,9 3,9 3,6
Bauru 2,1 1,4 1,4 2,1 1,3 1,2
So Carlos 0,55 0,56 0,46 0,42
S. J. do Rio Preto 1 0,9 0,9 1,6 1 1
Araatuba 0,6 0,7 0,6 1,1 1,1 0,8
Presidente Prudente 0,7 0,8 0,7 1,7 1,9 1,3
Marlia 1,1 1 1,2 1,9 1,4 1,3
Fontes: Negri (op. cit., p. 129), a partir de dados da Fibge Censos Industriais de 1960 e 1970 e pesquisa Industrial de So Paulo de
1956; Devescovi (1985, p. 139).

Pode-se verificar, a partir da anlise dos dados da Tabela 8, que, em 1959, Campinas,
Ribeiro Preto e Sorocaba apresentavam valores de produo industrial bastante expressivos
em relao ao conjunto das cidades do Estado, com, respectivamente, 8,9%; 3,9%; e 3,0% do

65
total do valor da produo industrial paulista. Outras cidades do interior, como So Carlos,
Araatuba e So Jos do Rio Preto, industrializavam-se de forma mais lenta. Em 1959, So
Carlos concentrava 0,55% dos postos de trabalho da indstria do Estado e 0,46% do valor da
produo paulista. Mas esses valores, apesar de serem pequenos, se comparados a outras
cidades e principalmente capital, foram muito importantes no conjunto da produo
industrial do Estado.

Ao longo desse perodo, consolidou-se ainda mais a rede intercidades do interior de


So Paulo, que comeou a se formar durante o ciclo do caf. Agora, formava-se uma rede
industrial intermunicipal que, apesar de heterognea, foi se tornando representativa na
economia estadual e nacional. Essa formao esteve diretamente ligada ao desenvolvimento
industrial de cada cidade, que, em muitos casos, acabaram se especializando em um ou dois
ramos de produo. Juntas, as cidades do interior do estado acabaram conformando um
parque industrial dinmico e diversificado.

A construo da rede intercidades do interior do Estado de So Paulo teve incio com a


construo das ferrovias no final do sculo XIX e incio do sculo XX, como visto no
Captulo 1. Mas no perodo 1930/59, essas conexes ganham novas formas e dimenses e
passam a se estruturar a partir da implantao e expanso das rodovias. No perodo
1928/1955, a extenso da rede rodoviria federal passou de 113,6 mil quilmetros para 459,7
mil quilmetros de extenso. No Estado de So Paulo, a rede rodoviria estadual foi alvo de
grandes investimentos, ao mesmo tempo em que diminuam os investimentos na ferrovia.
Com efeito,

O incio da dcada de 1950 marca com clareza a inflexo do sistema


ferrovirio para o rodovirio e, todos os planos rodovirios, elaborados a
partir da, apenas confirmam esta tendncia. As execues que se sucederam
passaram a configurar um sistema de circulao terrestre em que as grandes
interligaes e adensamentos da rede ficam cada vez mais dependentes das
rodovias, que passaram a diminuir, gradativamente, as distncias entre
pequenos ncleos urbanos ou agrcolas, como tambm as de mdios e
grandes ncleos urbanos interiorizados e destes com a regio da Grande So
Paulo (NEGRI, op. cit., p. 80).

Em 1956, j existiam no Estado mais de 9,2 mil quilmetros de rodovias, dos quais 1,1
mil asfaltados, partindo da capital. Essas rodovias seguiam no sentido do Rio de Janeiro (via

66
Dutra), em direo ao litoral (via Anchieta), e para o interior (via Anhanguera). Entre 1954 e
1955, foi pavimentado um grande trecho da Rodovia Washington Lus que liga So Carlos
Rodovia Anhanguera (sentido capital), bem como s cidades vizinhas Araraquara e Rio Claro
(NEGRI, op. cit., p. 80). Essas novas vias facilitaram a conexo entre So Carlos e a capital,
bem como com outras cidades do Estado, principalmente de sua regio, o que contribuiu
significativamente para seu desenvolvimento econmico e social.

O rpido desenvolvimento da indstria brasileira contribuiu para o crescimento das


migraes internas interestaduais e principalmente da migrao campocidade, provocando
aumento das taxas de urbanizao nacional, estadual e local. O principal destino das famlias
migrantes costumava ser as cidades em processo de expanso econmica, que eram as que
ofereciam maiores possibilidades de obteno de postos de trabalho. O Estado de So Paulo
recebeu grande parte desse fluxo, que se dirigiu principalmente cidade de So Paulo e a
outras cidades de seu entorno.

Em 1940, a taxa de urbanizao nacional era de apenas 26,4%, enquanto a mesma


taxa, no Estado de So Paulo, somava 44,1%. Em 1950, a taxa de urbanizao brasileira era
de 36,2%; no Estado de So Paulo atingia 52,6% da populao estadual e na cidade de So
Paulo, 87,6%. Em 1960, o processo de urbanizao se intensificou, com 45,5% da populao
brasileira vivendo em cidades. No Estado de So Paulo a populao urbana representava
62,6% do total. Esses ndices continuaram aumentando nas dcadas seguintes, como mostram
os dados da tabela a seguir.

Tabela 9 Taxa de urbanizao (1940-1991) Brasil, Estado de So Paulo, municpio de So Paulo.

Ano Brasil (%) Estado de So Paulo (%) Municpio de So Paulo (%)


1940 26,40 44,1
1950 36,20 52,6 87,6
1960 45,50 62,6
1970 56,8 80,3
1980 68,86 88,6
1991 77,13 92,8
Fontes: Santos (1996, p. 29, 137); Rossini (1999, p. 226).

67
Na Grande So Paulo, o processo de urbanizao ocorreu de forma muito mais rpida
e intensa do que em qualquer outra regio do pas. Em 1950, essa regio abrigava 29,2% da
populao total do Estado, com 2,7 milhes de habitantes, dos quais 2,2 milhes viviam na
capital. As cidades do interior cresciam nesse perodo, porm em ritmo bem mais lento
(SINGER, op. cit., p. 87).

Tabela 10 Populao (1934-1960) So Paulo, So Carlos, Ribeiro Preto, Franca.

Ano So Paulo So Carlos Ribeiro Preto Franca


1934 51.620 81.565 60.237
1940 1.337.644 48.609 79.783 55.760
1950 2.198.096 47.731
1960 3.825.351 62.045 145.268 66.702
Fontes: Censos do IBGE 1950 e 1960. Pires (1999, p. 197).

Observando a Tabela 10, pode-se verificar que houve decrscimo populacional nas
cidades do interior entre 1934 e 1940. De fato, nesse perodo, todo o interior de So Paulo
sofria com a crise econmica do caf e com o poder de atrao populacional e industrial que a
cidade de So Paulo exercia. Mas, a partir de 1940, muitas das antigas cidades produtoras de
caf j haviam se reestruturado economicamente a partir da industrializao, nas quais o
crescimento populacional passou a ocorrer de forma exponencial. Em Ribeiro Preto a
populao aumentou de 79.783 habitantes, em 1940, para 145.268 pessoas, em 1960, e, em
Franca, de 55.760 habitantes para 66.702 habitantes. Em So Carlos, a populao municipal
passou de 48.609 habitantes para 62.045 habitantes, no mesmo perodo.

2.1.3 A estruturao da economia industrial e a demanda por habitao

Na dcada de 1930, perodo de recesso econmica que sucedeu o declnio do ciclo do


caf paulista, ocorreu a transio da economia cafeeira para a economia industrial na cidade
de So Carlos. Em 1932, foi criada a Escola Industrial, mais tarde denominada Escola Tcnica
Federal Paulino Botelho, como parte da poltica nacional de industrializao, para

68
qualificao da mo-de-obra industrial, configurando importante centro de formao da mo-
de-obra operria da cidade. Tambm no incio dos anos 1930, foi criada a Associao
Comercial e Industrial de So Carlos, que passou a organizar os setores industriais e
comerciais no municpio. O setor agrcola tambm se reestruturava nesse momento, e, aos
poucos, as lavouras de caf cediam espao para novas culturas agrcolas. A produo de leite,
por exemplo, foi ampliada, e, em 1937, foi criada a Cooperativa de Laticnios de So Carlos
(NEVES, op. cit., p. 104).

Em 1939, o incio da Segunda Guerra Mundial contribuiu para o crescimento da


demanda por produtos industrializados de abastecimento do mercado interno, medida que
diminua a oferta dos produtos importados. Nesse momento, So Carlos se inseria no processo
de expanso da indstria nacional. Segundo Truzzi (op. cit., p. 137),

Para avaliar a profuso dos estabelecimentos industriais durante a poca da


guerra, basta observar que, das 224 empresas existentes em So Carlos em
1945, relacionadas pelo Catlogo de Indstrias do Estado de So Paulo, 97
delas haviam sido fundadas aps 1939.

Em 1939, a indstria em So Carlos contava com 117 estabelecimentos, empregava


2.566 funcionrios e tinha participao de aproximadamente 0,53% no valor total de produo
do Estado de So Paulo. Na dcada de 1940, ocorreu crescimento de 48,7% no valor de
produo da indstria, embora sua participao no valor total do Estado tenha diminudo para
0,39%. Em 1959, o pessoal ocupado na indstria em So Carlos somava 4.597 trabalhadores,
que atuavam em 264 estabelecimentos, e a participao na produo do Estado chegou a
0,46%. O desenvolvimento industrial foi progressivo nas dcadas seguintes, como mostram os
dados da tabela a seguir.

69
Tabela 11 Evoluo da atividade industrial (1939-1975) municpio de So Carlos.

Participao Participao
Crescimento
Nmero Pessoal pessoal valor de
Ano valor de
estabelecimentos ocupado ocupado do produo do
produo (%)
Estado (%) Estado (%)
1939/40 (1) 117 2.566 0,78 0,53
1949 180 3.359 0,58 48,7 0,39
1959 264 4.597 0,55 155,6 0,46
1970 345 7.235 0,56 110,5 0,42
1975 376 11.122 0,61 253,5 0,58
Fontes: Devescovi (op. cit., p. 139), a partir de dados da FIBGE (Censos industriais de 1940, 1950, 1960, 1970 e 1975). Legenda: (1)
Pessoal ocupado e nmero de estabelecimentos referem-se a 1940 (1 de setembro); valor da produo refere-se a 1939.

No perodo ps-guerra, novos investimentos estatais e estrangeiros foram realizados


no setor, beneficiando o processo de implantao das indstrias de bens de consumo durveis
em So Carlos. Em 1945, comeou a funcionar na cidade a Indstria Pereira Lopes (IPL),
fabricante de geladeiras e materiais de refrigerao. Essa indstria se desenvolveu
rapidamente e se transformou na lder nacional em seu segmento de atuao. Em 1950, a IPL
empregava 55 funcionrios, entre operrios e administrativos. Em 1955, contava com 650
funcionrios, produzindo quase um quarto das geladeiras do pas. A IPL foi transferida da
capital para So Carlos, por seu proprietrio, o mdico e empresrio Ernesto Pereira Lopes, 11
e seus scios. Pereira Lopes tambm se tornou importante liderana poltica da cidade
(TRUZZI, op.cit.).

Entre 1950 e 60, a famlia Pereira Lopes instalou vrios estabelecimentos industriais
na cidade e tambm contou com o apoio e a participao de capital norte-americano em seus
negcios. Foram implantadas a Companhia Brasileira de Tratores (CBT), a So Francisco
S.A. (produtora de mquinas e ferramentas), a Pelopls S.A. (produtora de mquinas
operatrizes), a Plsticos So Carlos S.A., a Grfica Correio de So Carlos e a Sociedade
Intercontinental de Compressores Hermticos (SICOM) (DEVESCOVI, 1985, p. 164-165). O
ramo txtil tambm se desenvolveu nesse perodo, com a Fbrica de Tapetes So Carlos
11
Ernesto Pereira Lopes nasceu na cidade de So Paulo em 1905. Era filho de um portugus gerente de uma casa comercial
na capital do Estado. Viveu em So Paulo at 1929, onde estudou e se graduou na Faculdade de Medicina de So Paulo.
Mudou-se para So Carlos no final da dcada de 1920 para dar incio sua vida profissional, onde instalou um consultrio
mdico. Em 1940, Ernesto retornou para So Paulo transferindo seu escritrio. Passou ento a atuar na Clnica Mdica da
faculdade onde se formou. Nesse perodo fundou uma indstria de motores eltricos em sociedade com seus irmos,
chamada IPL (Indstria Pereira Lopes). Em 1945, Ernesto retornou So Carlos para onde tambm transferiu sua indstria,
que passou a produzir foges eltricos e a gs (TRUZZI, 2000, p. 167-168).

70
alcanando maior destaque (SEMEGHINI, 1988, p. 148). Alm do setor industrial, o
desenvolvimento de agricultura tambm foi significativo entre 1930 e 1959, tendo se
diversificado nesse perodo. Em 1955, a participao dos diferentes produtos no valor do total
da produo agrcola era: 29,08% de caf; 20,85% de cana-de-acar; 11,43% de milho;
10,27% de algodo; e 28,37% de outros produtos (SO CARLOS, Plano Diretor Urbano
1962, p. 45).

Em 1948, foi implantada a Escola de Engenharia de So Carlos, EESC, ligada


Universidade do Estado de So Paulo (USP), com os cursos de Engenharia Mecnica e
Eltrica. 12 A EESC passou a atrair profissionais qualificados, provenientes de vrias regies
do pas, que transferiram residncia para o municpio. Alm do curso de graduao, a Escola
de Engenharia de So Carlos passou a desenvolver pesquisas na rea de tecnologia,
contribuindo para a definio da vocao industrial do municpio, voltada para a produo de
materiais mecnicos e eltricos. Contou tambm com a parceria do governo norte-americano
para o intercmbio de professores e equipamentos. 13

Uma das primeiras conseqncias do avano industrial em So Carlos foi o


crescimento da diviso do trabalho entre campo e cidade. Em meados dos anos 1930, teve
incio o processo de inverso populacional entre campo e cidade, embora a populao total do
municpio tenha diminudo, em conseqncia da crise da cafeicultura. Em 1940, a populao
urbana ultrapassou a rural. A taxa de urbanizao atingiu 52,30%, bem superior mdia
nacional de 26,40% e similar taxa de urbanizao estadual de 52,6%. Esse processo teve
continuidade nas dcadas seguintes, como mostram a tabela e o grfico a seguir.

12
Segundo Torkomian, a Escola de Engenharia de So Carlos (EESC) foi criada em 1948 pela Universidade de So Paulo,
sendo efetivamente instalada quatro anos mais tarde (TORKOMIAN, 1996, p. 34).
13
Informao coletada em entrevista com professor Sylvio Rosa, presidente da Fundao Parqtec, em agosto de 2006.

71
Tabela 12 Populao e taxa de urbanizao (1874-1960) municpio de So Carlos.

Taxa Taxa
Populao Populao Populao
Ano urbanizao urbanizao
total urbana rural
So Carlos (%) Brasil (%)
1874 6.897
1886 16.104
1900 55.729
1920 54.225
1934 51.620 20.791 30.829 40,30
1940 48.609 25.746 22.863 52,30 26,40
1950 47.731 32.703 15.028 64,70 36,20
1960 62.045 50.851 11.194 75,10 45,50
Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud
Devescovi (1985, p. 58).

Grfico 2 Populao (1874-2000) municpio de So Carlos.

220

200
Nmero de habitantes (milhares)

180

160

140

120

100

80

60

40

20

0
1874 1886 1900 1920 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Ano

Populao total
Populao urbana
Populao rural

Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud Devescovi
(1985, p. 58).

72
A migrao campocidade se acentuou nos anos 1940, e a taxa de urbanizao em So
Carlos chegou a 64,70% em 1950. Nesse ano, a populao total do municpio somava 47.731
habitantes, dos quais 4.675 moravam no distrito de Ibat; 30.830, na rea urbana de So
Carlos; 186, no distrito de gua Vermelha; 657, em Santa Eudxia; e o restante, na zona rural
(SO CARLOS, Plano Diretor, 1962, n.p.). Em 1953, o distrito de Ibat foi desmembrado de
So Carlos, elevando-se categoria de municpio, mas a populao urbana de So Carlos
continuou crescendo. Em 1960, sua taxa de urbanizao atingia 75,1%, com 50.851 pessoas
vivendo na cidade e apenas 11.194 morando no campo. Esse crescimento da populao
urbana gerou a necessidade de novas moradias urbanas. A situao da habitao na cidade
tornou-se precria em 1940, assim como descreve Camargo (apud DEVESCOVI, op. cit., p.
79),

Os bairros urbanos e suburbanos de So Carlos se superlotam, apresentando


atualmente grande densidade, havendo casas de dois ou trs cmodos, em
que moram oito ou dez pessoas, na maior promiscuidade e, muitas vezes, na
maior misria. E h sempre falta de casas para alugar, enquanto nas fazendas
abundam os prdios vazios.

A moradia de aluguel era, at o incio do sculo XX, a forma mais comum de


residncia urbana em So Carlos, e a maioria das casas da cidade pertencia aos fazendeiros
cafeicultores. Em 1900, existiam 1.350 edifcios na rea urbana, dos quais 65% eram
alugados. Em 1952, a maioria das residncias era prpria, e apenas 22%, alugadas
(DEVESCOVI, op. cit., p. 217-218).

Em 1942, o mercado de aluguis foi regulamentado pela lei do inquilinato, 14 que


congelou o valor dos aluguis, provocando diminuio da rentabilidade para proprietrios dos
imveis. Inicialmente, essa lei surgiu como medida emergencial, implantada pelo Governo
Vargas, mas acabou sendo mantida por duas dcadas. A queda dos rendimentos provocada
nos negcios de aluguel popular ficou evidente, tornando esse o negcio inseguro e instvel, o
que contribuiu para desestimular novas aplicaes no setor (BONDUKI, 2004, p. 209). A

14
A lei do inquilinato teve carter bastante intervencionista do Estado e possuiu vrias verses entre 1942 e 1964. Por meio
dela, apostava-se na defesa do inquilino pela imposio de restries aos reajustes dos aluguis e aos despejos
injustificados. A partir dessa lei os proprietrios passaram a ser discriminados quando buscavam fazer valer seu direito de
propriedade e eram constantemente acusados pelos males da m urbanizao e das ms condies de habitao
(BONDUKI, op. cit., p. 227).

73
desvalorizao do mercado de aluguis contribuiu para o aprofundamento da crise
habitacional que atingiu grande parte dos centros urbanos em expanso do pas. Segundo
Bonduki (op. cit., p. 247),

A crise da habitao que atingiu os no-proprietrios nas principais cidades


brasileiras a partir da dcada de 1940 foi conseqncia da profunda mudana
no mercado de proviso habitacional. Embora influenciada pela conjuntura
econmica da Segunda Guerra, essa mudana foi estrutural e era parte dos
novos rumos tomados pela economia e sociedade brasileiras.

Como alternativa crise habitacional, surgiram novas formas de residncia para a


classe operria que se formava. A casa prpria, construda em loteamento popular, tornava-se
a principal delas. Na cidade de So Paulo esse novo padro habitacional se difundiu
rapidamente. 15 Em So Carlos, embora em uma escala bem menor do que na capital, os
loteamentos populares tambm se multiplicaram pela cidade, principalmente a partir do final
da dcada de 1940.

2.2 A EXPANSO URBANA RUMO RODOVIA

2.2.1 Os trs momentos da expanso urbana do perodo 1930/1959

A expanso urbana de So Carlos entre 1930 e 1959 foi marcada por trs momentos. O
primeiro, entre 1930 e 1947, definiu-se por um crescimento urbano lento, tendo ocorrido a
implantao de novos loteamentos, que resultaram em um expanso muito limitada da rea
urbana. Essa desacelerao ocorria paralelamente crise econmica que acompanhou a
decadncia da cafeicultura, bem como ao fortalecimento de uma nova elite econmica
formada por industriais e comerciantes. O controle da expanso urbana j era realizado pela
Prefeitura Municipal, que deveria aprovar os planos de arruamento de acordo com o Cdigo
de Posturas aprovado em 1929. O segundo momento teve incio com a implantao de dez
15
Como apontou Bonduki (op. cit., p. 294), Entre 1940 e 1950, cerca de 100 mil famlias, mais de meio milho de pessoas,
passaram a morar em casas prprias. A grande maioria em loteamentos perifricos (...). Enfrentar e dominar a periferia
passou a ser a tarefa cotidiana de centenas de milhares de trabalhadores, que construram em silncio uma cidade muito
maior do que a So Paulo oficial.

74
parcelamentos entre 1948 e 1949, anos que evidenciaram o crescimento da rea urbana. Os
novos loteamentos tinham padro semelhante ao da cidade preexistente, estabelecido durante
o sculo XIX, em que os arruamentos e a forma das quadras geravam um desenho contnuo.
Nesse momento, a economia do municpio voltava a apresentar sinais de progresso, com
aumento do nmero de indstrias e da populao urbana no municpio. O terceiro momento,
durante os anos 1950, consolidou-se com a economia industrial e se caracterizou por um
grande crescimento da rea urbana, com a implantao de loteamentos novos, realizados sob
um controle pouco rgido, que deu margem a uma atuao facilitada dos loteadores.

No perodo de 1930/59, a rea urbana mais do que triplicou, passando de cerca de 400
hectares para 1.350 hectares (Tabela 13). Esse crescimento tornou-se exponencial nos anos
seguintes (Grfico 3). A populao urbana cresceu nesse perodo, passando de 25.746
habitantes, em 1940, para 50.851 habitantes, em 1960.

Tabela 13 rea urbana (1857-1989) municpio de So Carlos.

Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos


Perodo rea urbana rea acumulada
Nmero (1) Crescimento (%)
(hectares) (2) (hectares)
1857-1929 10 423,5 423,5
19301959 55 927,61 1351,11 254,62
19601977 53 789,79 2140,9 58,45
19781989 46 967,7 3108,6 45,20
Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves (1957); Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e
outros trabalhos tcnicos e acadmicos; (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir do mapa
digital do municpio de So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos (s/d).

75
Grfico 3 Crescimento da rea urbana (1874-2000) municpio de So Carlos.

3500,0

3000,0

2500,0
rea urbana em hectares

2000,0

1500,0

1000,0

500,0

0,0

57 88 93 29 39 49 59 69 77 79 89
18 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19

Ano

Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas tcnicos SMHDU e
outros trabalhos tcnicos e acadmicos; (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir
do mapa digital do municpio de So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.

A Tabela 14, a seguir, contm informaes dos loteamentos implantados em So


Carlos no perodo 1930/59, com: nome dos loteamentos, ano de implantao, nome do
proprietrio e rea parcelada em hectares. O Mapa 2 ilustra as informaes da Tabela 14, onde
se verifica a localizao dos loteamentos implantados durante o perodo e suas respectivas
datas de implantao. Nesse perodo, dois loteamentos espontneos foram localizados, que
juntos somaram um total de 34,7 hectares, sendo um deles o Tijuco Preto.

76
Tabela 14 Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos (1857-1929) municpio de So Carlos.
Ano rea parcelamento
Nome do parcelamento (1) Proprietrio (1)
implantao (1) (hectares) (2)
1935 Jd. So Carlos Arrudas Botelho 16,80
1939 Vila Bela Vista Saba Sallum 53,00
1940 Vila Irene 1,23
1948 Vila Palmares Joo Pereira da Costa Martins 2,30
1948 Vila Lutfalla Fiao de Tecidos Lutfalla 13,00
1948 Vila Sonia Fiao de Sedas So Carlos 3,30
1948 Vila Monteiro 1. Gleba Jorge Vieira Monteiro 17,00
1949 Vila Elizabeth Arnold Schimid 15,50
1949 Vila Pelicano Rosina Pelicano 10,00
1949 Vila So Jos Jos Ventura de Medeiros 34,00
1949 Vila Faria Isaura Oliva Faria 8,50
1949 Vila Leonardo (parte da V. S. Jos) Leonardo Petrilli 1,80
1950 Vila Alpes Marclio Barbieri 11,00
1950 Vila Arnaldo Arnaldo Antoniolli 3,30
1950 Vila Marques 3,00
1950 Vila Nery Prolongamento Galhardi; Gianotti, e outros 18,00
1950 Vila Santo Antonio 19,00
1951 Jardim Lutfalla Imobiliria Lutfalla 15,50
1951 Vila Marigo Francisco Marigo 10,00
1951 Vila Monteiro 2 Jorge Vieira Monteiro 21,00
1951 Vila Celina Lafael Petroni e outros 1,88
1951 Chcara do Parque Domingo Teixeira Pinto 10,00
1951 Vila Marina Guerino Petrilli 5,70
1952 Jardim Macarenco Espolio do Trofim Macarenco 9,20
1952 Jd. Paraso Salomo Gantus 12,00
1953 Jd. Paulista Coriolano Jos Gibertoni 12,00
1954 Cidade Jardim Sociedade Marwill Ltda. 33,00
1954 Jd. Cruzeiro do sul Imobiliria Lutfalla Ltda. 91,00
1954 Jd. So Paulo Itagiba Cardoso de Toledo e outros 30,00
1955 Chcara Bataglia Giacomini Bataglia/Antnio Massei 6,30
1955 Vila Laura Soc.Imobiliria e Construtora Corsi 6,20
1955 Chcara Parollo Dileta Parollo 4,00
1955 Chcara So Caetano NC 10,60
1955 Jd. Pacaembu Guerino Petrilli 20,00
1955 Vila Costa do Sol 1 lvaro Augusto Pao e Joo Pao 14,00
1955 Vila Jacobucci Domingos Jacobucci 26,00
1955 Vila Nossa Sra. de Ftima Francisco Marigo 4,40
1955 Vila Rancho Velho Ana Doria Fernandes 12,10
1955 Vila So Gabriel Leonardo Petrilli 10,00
1955 Jd. Joquei Clube 1 Omar de Souza Ribeiro 45,60
1955 Jd. Joquei Clube 2 Omar de Souza Ribeiro Includo no valor anterior
1955 Jardim So Joo Batista Leonardo Petrilli 20,50
1955 Jd. S. Helena Dr. Estanislau Melinas 10,30
1955 Jd. Brasil Francisco Marigo 9,00
1955 Pq. Industrial 1 Alfredo Petrilli 41,00
1958 Pq. Industrial 2 Alfredo Petrilli Includo no valor anterior
1956 Jd. Santa Maria I Joo de Francisco 6,20
1956 Vila Deriggi Irmos Deriggi 14,60
1957 Jd. Paulistano Vicente Petrilli 32,70
1957 Pq. Estncia Sua Arnold Schimid 36,20
1958 Jardim Bandeirantes Irmos Damha 22,80
1958 Cidade Universitria (USP) Irmo Crnkovic 37,00
1959 Jd. Centenrio Dr. Jos Ribeiro de Paiva 21,40
Subtotal rea loteamentos 892,9
1948 P. espontneo 5 (Tijuco Preto) 27,40
s/d Parcelamento espontneo 6 7,30
Subtotal rea parcelamentos espontneos 34,7
Total 927,61
Fontes: (1) Registros Loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros trabalhos
tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 (s/d, NC).

77
78
2.2.1 A acelerao da expanso urbana no final da dcada de 1940

O primeiro loteamento urbano implantado em So Carlos aps a implantao da Vila


Marcelino, em 1920, foi o Jardim So Carlos, em 1935, loteamento com rea de
aproximadamente 17 hectares, na regio central. Alguns anos mais tarde, em 1939, foi
realizado o loteamento Vila Bela Vista, localizado na regio da Vila Prado, na direo sudeste
do ncleo urbano, o qual representou incremento de 53 hectares na rea urbana, conforme
dados da Tabela 14 e do Mapa 2. O Jardim So Carlos e a Vila Bela Vista foram implantados
para abrigar a populao operria que crescia na cidade nesse perodo.

No final da dcada de 1940, a populao da cidade cresceu significativamente,


medida que se intensificava a migrao campocidade e que cresciam as vagas de trabalho
nas novas fbricas do municpio, passando de 117 vagas, em 1940, para 180, em 1949 (Tabela
11). Nesse momento, teve incio um novo ciclo de crescimento da rea urbana, ininterrupto e
exponencial. Novos loteamentos comearam a ser realizados pela iniciativa privada. Em
1948, cinco novos empreendimentos foram implantados na rea urbana de So Carlos: Vila
Palmares, Jardim Lutfalla, Vila Snia, primeira gleba da Vila Monteiro e parcelamento
espontneo do Tijuco Preto. Em 1949, foram abertos mais cinco loteamentos: Vila Elizabeth,
Vila Pelicano, Vila So Jos, Vila Faria e Vila Leonardo. A implantao desses
parcelamentos foi muito significativa, pois representou a retomada da expanso da rea
urbana, que, em 1940, possua aproximadamente 470 hectares, e entre 1948 e 1949 cresceu
37%, passando a 645 hectares, conforme dados da Tabela 14.

No sentido norte sul, a avenida So Carlos continuava sendo o principal eixo de


expanso. Mas novos eixos tambm comearam a se formar. A sudoeste, dois eixos virios
tornaram-se importantes: a avenida Jos Pereira Lopes, cujo desenho seguia o novo padro de
arruamentos, largos e sinuosos, iniciava-se no viaduto da Fepasa, prximo Estao Central,
e seguia contornando a Vila Bela Vista, at dar acesso Indstria Pereira Lopes. Na direo
nordeste, ocorreu o prolongamento da rua Doutor Carlos Botelho, com a abertura da rua
Miguel Giometti. Essa rua foi realizada para dar acesso Vila Elizabeth. Na mesma direo
foi aberto outro eixo virio importante, a rua Tot Leite, que junto com a rua Miguel Giometti
dava acesso a um dos loteamentos mais distantes do centro, a Vila So Jos.

79
Os primeiros loteamentos que surgiram nesse final de dcada foram fruto do
parcelamento de pequenas propriedades rurais, principalmente de chcaras localizadas em
terras prximas rea urbana. O jornal do perodo, Correio de So Carlos, relatou como eram
realizados esses parcelamentos:

De um certo tempo para esta parte, as chcaras foram se transformando em


vilas, cujos terrenos loteados e arruados constituem esplndidos bairros. Esse
fenmeno ocorreu naturalmente em virtude do grande xodo rural que tem-
se [sic.] observado em quase todas as cidades do nosso Estado. (...) So
Carlos no fez exceo. Aqui tambm deu-se incio a loteamentos de
terrenos, muitos dos quais, antigas chcaras, estavam, por isso mesmo,
entravando a exploso da cidade e conseqentemente agravando, cada vez
mais, o problema da moradia (Jornal Correio de So Carlos apud ABREU,
op. cit., p. 76).

A expanso da rea urbana tornava-se necessria medida que a populao urbana


crescia, pois iam se tornando escassos os lotes e edifcios vagos e apartamentos para
habitaes familiares. A falta de moradia, em determinado momento desse perodo, tornou-se
um problema para a cidade, e a Prefeitura Municipal passou a incentivar novos loteamentos e
a construo de casas populares para abrigar a populao em crescimento. A municipalidade
chegou, inclusive, a lotear parte das terras de seu patrimnio para a construo de habitaes
populares. O mesmo jornal local notificou que:

O Sr. Luiz Augusto de Oliveira (...) declarou que pensamento da


Municipalidade, uma vez de posse das duas quadras, dividi-las em quarenta
lotes, que sero vendidos a baixo preo. Essa medida vir beneficiar a
cidade, pois proporcionar a construo de numerosas casas, suavizando o
angustiante problema das moradias, embelezar a Vila Nery, que ser dotada
com muitos prdios (Jornal Correio de So Carlos apud ABREU, op. cit., p.
62).

At o incio da expanso industrial do final dos anos 1940, a terra urbana do municpio
era pouco disputada, e os terrenos e edifcios da cidade pertenciam principalmente ao
patrimnio dos fazendeiros. 16 Mas, com o processo de industrializao, a terra urbana passou
a ser imprescindvel para o desenvolvimento das atividades da sociedade industrial, tornando-

16
Sobre esse assunto, consultar Captulo 1.

80
se cada vez mais concorrida. Esses aspectos contriburam para o aquecimento do mercado
imobilirio.

O mercado imobilirio passou por reestruturao, tornando-se cada vez mais dinmico
e promissor, incorporando comerciantes e industriais locais, os quais se tornaram os principais
investidores no negcio de compra e venda de lotes nesse perodo. Eles contavam com o
apoio direto da Prefeitura Municipal na realizao de loteamentos. No caso do loteamento
Vila Monteiro, por exemplo, um dos primeiros loteamentos implantado em 1948, o prefeito
municipal, Sr. Lus Augusto de Oliveira, procurou pessoalmente o proprietrio da Chcara do
Cachimbo, Sr. Monteiro, para pedir que este abrisse ruas e lotes em sua propriedade
(ABREU, 2000, p. 60). O projeto do loteamento foi concebido, e a venda dos terrenos, a
prazo, foi divulgada na imprensa, como mostra a figura a seguir.

Figura 18 Anncio de venda de lotes na Vila Monteiro. Fonte: Jornal Correio


de So Carlos apud Abreu (op. cit., p. 69).

A Vila Monteiro conectou os loteamentos da Vila Marcelino e Vila Isabel, que eram
isolados da malha urbana, e a venda de seus lotes foi muito rpida, como notificado pelo
jornal Correio de So Carlos:

81
Essa rea de terra foi dividida em 331 lotes, de acordo com as posses de
pessoas dos mais variados rendimentos. Ao que fomos informados, at
ontem, j haviam sido vendidos 258 lotes. (...) Percorrendo e examinando
detalhadamente aquela nova parte da cidade contamos vinte e duas casas j
construdas e 13 ainda em construo (apud ABREU, op. cit., p. 60).

O sucesso do empreendimento levou o proprietrio, Sr. Monteiro, a idealizar novos


loteamentos, e, em 1951, teve incio a execuo do prolongamento da Vila Monteiro. Outros
loteamentos realizados nesse final de dcada tiveram processo de implantao semelhante.

2.2.2 Novos eixos de expanso e o poder de atrao da rodovia

Durante a dcada de 1950, a expanso urbana em So Carlos foi ainda mais intensa. A
rea urbana, que em 1949 atingia cerca de 650 hectares, dobrou de tamanho em apenas dez
anos, passando para 1.370 hectares em 1959. Esse crescimento ocorreu em todas as direes,
mas em diferentes propores, tendo sido realizados 41 novos parcelamentos.

No incio da dcada de 1950, a expanso mais acentuada ocorreu na direo leste, com
os loteamentos Vila Arnaldo, Vila Marques, Vila Nery prolongamento e Santo Antnio, em
1950; Chcara do Parque, em 1951; Chcara Parollo, Vila Rancho Velho e Jardim Brasil, em
1955; e Vila Deriggi, em 1956. Na primeira metade da dcada de 1950, tambm foram
implantados loteamentos na direo sudeste, a Vila Alpes, em 1950; a Vila Monteiro 2, em
1951; e o Jardim So Paulo; em 1954. Ao sul, foram implantados o Jardim Cruzeiro do Sul,
em 1954; e o Jardim Pacaembu, em 1955. A oeste surgiu o Jardim Paraso, em 1952; e o
Jardim Paulista, em 1953.

No processo de expanso urbana dos anos 1950/59, novos eixos de expanso se


formaram, direcionando o crescimento da rea urbana, enquanto alguns eixos antigos se
mantiveram. A principal mudana nos eixos de expanso foi gerada pela reestruturao da
Rodovia Washington Lus, que facilitou a ligao do municpio com outras cidades da regio,
tais como Araraquara e Rio Claro e com a cidade de So Paulo. Progressivamente, essa
rodovia tornou-se a mais importante via regional de acesso ao municpio, bem como o eixo
preferencial de transporte de passageiros entre cidades e canal principal de escoamento de
mercadorias, deixando a rodovia com um papel secundrio nessas funes. Essa
82
transformao acompanhava o processo de crescimento do setor automobilstico e do
transporte rodovirio, que ocorria em todo o pas nesse perodo. Esse aspecto tornou-se
evidente durante os anos 1950, quando as rodovias assumiram papel estrutural no processo de
configurao da rea urbana das cidades brasileiras.

Com efeito, a partir da modernizao de sua infra-estrutura, a Rodovia Washington


Lus tornou-se importante eixo de atrao de loteamento, tendo muitas ruas prolongadas at
seu limite (Figura 19).

rea urbana e permetro em 1947 rea urbana e permetro em 1958

Figura 19 rea urbana de So Carlos e seu permetro urbano em 1947 e 1958. Fonte: Mapa de loteamentos em So Carlos
realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir do mapa digital do municpio de So Carlos/SMHDU 2002; plantas dos
loteamentos e leis de permetro urbano.

Na direo leste, o principal eixo de expanso manteve-se, como no perodo


1857/1929, definido pela rua Marechal Deodoro, que foi prolongada para dar acesso aos
novos loteamentos. Na direo sudeste, a rua Raimundo Correa manteve-se como importante
eixo de expanso, como no perodo anterior, mas foi prolongada at a avenida Getlio Vargas,
que se tornava o principal eixo de expanso da direo sudeste. A avenida Getlio Vargas
estabeleceu importante conexo do setor industrial que se formava no quadrante sudeste, ao
mesmo tempo em que se tornava um dos principais acessos cidade.
83
VILA
AVENIDA ISABEL
GETLIO
VARGAS

PRAA
ITLIA

AVENIDA
SO
CARLOS

Figura 20 So Carlos em 1955. Fonte: Fundao Pr-Memria da PMSC.

Na direo sul, manteve-se o eixo de expanso formado pela avenida So Carlos, mas
outro eixo se formou com a abertura da rua Coronel Leopoldo Luiz do Prado, que se iniciava
na Praa Itlia, um dos extremos da avenida So Carlos, passando sob o trilho do trem para
dar acesso ao Jardim Cruzeiro do Sul. Embora em menor intensidade, a ferrovia tambm
continuava atraindo a expanso e, apesar de perder importncia no transporte de passageiros,
continuava ativa no transporte de carga. Alm da rua Coronel Leopoldo Luiz do Prado, que
cruzava o trilho do trem, um novo eixo de expanso surgiu na direo sul, a avenida
Morumby, que ligava a cidade estrada de acesso ao municpio de Ribeiro Bonito.

Mas foi a partir da metade dos anos 50 que a expanso se acelerou de nordeste a
noroeste. Na direo norte, onde a expanso foi mais extensa, foram implantados os
loteamentos Chcara Bataglia, Vila Laura, Vila So Gabriel, Jardim So Joo Batista e Jardim
Santa Helena, em 1955. Nessa direo j haviam sido implantados os loteamentos Vila
Marigo, Vila Celina e Vila Marina, em 1951; e Jardim Macarenco, em 1952. Na regio
nordeste, foram implantados o loteamento Chcara So Caetano, Vila Costa do Sol 1, Vila
Jacobucci e Vila Nossa Senhora de Ftima, em 1955; Jardim Santa Maria I, em 1956; e
Parque Estncia Sua, em 1957. Na direo noroeste foram abertos os loteamentos Jardim

84
Lutfalla, em 1951; Cidade Jardim, em 1954; Jardim Jquei Clube 1 e 2 e Vila Parque
Industrial 1, em 1955; Jardim Paulistano, em 1957; Jardim Bandeirantes e Vila Parque
Industrial 2, em 1958; e Jardim Centenrio, em 1959.

Com essa expanso surgiram novos eixos na direo norte, nordeste e noroeste, dos
quais muitos se formaram pelo prolongamento de ruas at a rodovia Washington Lus. Na
direo nordeste, a rua Antnio Blanco, apesar de estreita, ganhou importncia por ser
prolongada at a avenida Araraquara, que se conectava rodovia, tornando-se o principal eixo
de expanso da regio nordeste. Na direo noroeste, a rua Miguel Petroni, tambm conectada
rodovia, adquiria relevncia como eixo de expanso. Essa via, cujo traado original um
fragmento do antigo Picado de Cuiab, passou a atrair alguns loteamentos, tais como Jardim
dos Bandeirantes e Jardim Centenrio.

85
VILA
ELIZABETH

Figura 21 Principais eixos de expanso do perodo 1930/59. Fontes: Registros dos loteamentos implantados na Secretaria
Municipal de Habitao e Desenvolvimento Urbano (SMHDU); Base cartogrfica a partir de levantamentos
aerofotogramtricos de 1998 e mapa da SMHDU 2002; Plantas de Loteamentos (SMHDU); PMSC, Decreto municipal
837/47; PMSC, Decreto Municipal 3729/58.

Os loteamentos implantados nesse perodo possuam tamanhos variados, de acordo


com o tamanho da gleba do proprietrio ou da poro que o empreendedor queria parcelar. O
Tijuco Preto media 27 hectares; a Vila Monteiro, 17 hectares; e a Vila Elizabeth, 16 hectares.

86
Os outros eram menores, como Vila Faria, com 8 hectares; e Vila Sonia, com 3 hectares. A
Vila Irene foi o menor de todos os loteamentos da dcada e possua rea de apenas 1,5 hectare
de rea loteada, dividida em duas quadras.

O tamanho e o nmero de lotes de cada parcelamento tambm variaram.


Tradicionalmente, at 1929, os lotes mediam 750 m (17 x 44 m), mas, nos novos
empreendimentos, o tamanho dos lotes produzidos variou entre 300 e 800 m de rea. Na Vila
So Jos, por exemplo, foram implantados 420 lotes, medindo 525 m. Na Vila Bela Vista
foram implantados lotes de 500 m. Mas a maioria dos loteamentos do perodo possua lotes
de 300 m, tal como no Jardim So Carlos, na Vila Elizabeth, no Jardim Jquei Clube, no
Parque Estncia Sua e no Jardim So Paulo.

A populao residente em cada um desses loteamentos era diferente e se concentrava


pela classe social ou pelo tipo de trabalho realizado pelo chefe de famlia. Segundo
Lavandeira (1999, p. 73, 77-79), a Vila Elizabeth e a Vila Pureza foram os principais destinos
das famlias de alta renda, que deixavam o centro da cidade em decorrncia do aumento do
nmero de estabelecimentos comerciais na rea. No lado oposto da cidade, ao sul, os novos
loteamentos Jardim Cruzeiro do Sul, Pacaembu e Pelicano foram sendo ocupados pela
moradia de trabalhadores semi-especializados e no-especializados. A Vila So Jos foi
habitada por famlias de mdia e baixa renda, enquanto o loteamento Cidade Jardim e o
Jardim Santa Paula, prximos EESC, foram destinados a uma populao de maior
qualificao profissional, principalmente professores da Escola de Engenharia. As indstrias
concentravam-se, principalmente, prximas Estao Central da ferrovia, mas, aos poucos,
foram se espalhando por toda a rea urbana.

2.2.3 Novos padres urbansticos em So Carlos: ruptura com a cidade do sculo XIX

O processo de expanso urbana do perodo 1930/59 deu incio construo de um novo


padro urbanstico em So Carlos. At 1929, a expanso urbana era regulamentada pelos
Cdigos de Posturas de 1866, 1888 e 1905. No padro urbano criado durante o sculo XIX e
incio do sculo XX, os quarteires tinham todas as faces iguais medindo 90 metros e as ruas

87
tinham de 13 a 14 metros de largura, sendo paralelas e perpendiculares avenida So Carlos,
assim como visto no Captulo 1.

Figura 22 Padro urbano tradicional da cidade de So Carlos, formado desde o sculo XIX at o final dos anos
1940. Foto tirada em 1960. Fonte: Fundao Pr-Memria de So Carlos.

Com o novo Cdigo de Posturas, aprovado em 1929, algumas variaes no traado foram
permitidas. Nessa lei, j no era exigido o sistema virio ortogonal, mas determinava-se que
as ruas estivessem dentro do plano geral de arruamento organizado pela municipalidade (SO
CARLOS, Lei 215/1918, artigo 4). O novo cdigo foi pouco aplicado no controle da
expanso at o final dos anos 1940 em decorrncia da baixa quantidade de loteamentos
realizada nesse perodo. A expanso urbana que ocorreu no final da dcada de 1940 mostra
que, apesar do Cdigo de Posturas de 1929 ampliar as possibilidades de outros tipos de
desenho urbano diferente do ortogonal, existia uma preocupao com a manuteno da
continuidade do padro urbano preexistente, pois a maioria dos novos loteamentos respeitou a
modulao e a ortogonalidade do antigo traado, sendo as novas ruas implantadas ortogonal
ou paralelamente ao eixo principal formado pela avenida So Carlos.

88
Seguindo essa lgica foram implantadas Vila Elizabeth, Vila So Jos, Vila Leonardo,
entre outras, que mantiveram o padro de arruamento e tamanho das quadras existentes (Mapa
1 e Figura 23).

Vila Leonardo

Vila So Jos

Figura 23 Trecho do projeto original dos loteamentos Vila So Jos (1949) e Vila Leonardo (1949), aprovados
pela Prefeitura Municipal de So Carlos. Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.

Em determinado momento, entre o final dos anos 1940 e incio dos 1950, cuja data
no se pode precisar, um novo padro de arruamentos e desenho de quadras comeou a se
formar. A heterogeneidade do traado urbano foi se tornando comum, pois cada novo
loteamento implantado possua um desenho peculiar e diferente dos demais, com tamanho e
formato de quadras e de lotes variados, cujo desenho era concebido pelo loteador ou pelo
projetista por ele contratado. Como esses projetos no ocorreram em continuidade do espao
urbano gerado, a ocupao urbana foi aos poucos se tornando fragmentada, o que pode ser
verificado no parcelamento do Tijuco Preto (de 1948), que foi um dos primeiros loteamentos
que rompeu o padro existente.

Um jornal local notificou que no Tijuco Preto as ruas so tortas, sinuosas, por onde
mal cabe uma carroa, destoando das demais da cidade, traadas quando da sua fundao,
todas com 12 metros de largura e passeios de mais de trs metros, retas, impressionantemente
retas (Jornal Correio de So Carlos apud ABREU, op. cit., p. 81). Com efeito, o Tijuco
Preto, que surgiu de um parcelamento espontneo, foi implantado com ruas estreitas, que no

89
formavam uma malha ortogonal nem eram contnuas s vias preexistentes; alm disso, as
quadras tinham faces de tamanho e formas heterogneas, como se pode verificar na Figura 24.
Esse tipo de descontinuidade foi se tornando cada vez mais comum nos loteamentos da
dcada seguinte.

Figura 24 esquerda, imagem de um fragmento do tecido urbano tradicional da cidade, construdo ao longo do sculo XIX,
e, direita, foto area do loteamento Tijuco Preto, que surgiu com um parcelamento espontneo no final dos anos 1940.
Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.

O traado ortogonal, com quadras de faces iguais, era menos lucrativo,


economicamente pouco eficiente, por acomodar um nmero relativamente pequeno de lotes
em relao ao tamanho da gleba loteada. Assim, com a expanso do mercado imobilirio
voltado para a abertura de loteamentos, surgiu um desenho das quadras que acomodava
grande nmero de lotes, sendo mais compridas e menos profundas. Nesse momento, em que
crescia o pessoal ocupado na indstria, surgia uma demanda por lotes para residncia dessa
populao. Os lotes se tornaram cada vez menores, medindo, em muitos casos, 300 m, o que
era bem inferior aos 750 m do lote-padro da cidade tradicional. O novo padro de quadra
pode ser verificado no loteamento popular Jardim Cruzeiro do Sul, implantado em 1954,
como mostra a figura a seguir.

90
Figura 25 Fragmento da planta original do loteamento Jardim Cruzeiro do Sul. Fonte: SMHDU/PMSC.

Outro aspecto determinante na mudana do padro urbanstico desse perodo foi a


popularizao do automvel, que ocorreu durante os anos 1950, quando houve significativo
aumento do nmero de veculos particulares na cidade, que implicou na transformao de
todo o sistema virio. As ruas secundrias dos novos loteamentos eram estreitas, enquanto as
vias de trnsito rpido e avenidas eram mais largas e destinavam-se ao fluxo mais eficiente
dos automveis. Essas mudanas no sistema virio possibilitaram a articulao da rea central
com regies cada vez mais distantes do ncleo urbano, o que passou a gerar uma ocupao
urbana extensiva e de baixa densidade, como mostra a imagem area de 1969, do loteamento
Jardim Pacaembu, implantado em 1955.

Jardim Pacaembu

Figura 26 Foto area do Jardim Pacaembu em 1969. Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.

91
O novo padro urbano acabou trazendo aspectos negativos para a rea urbana, o que
chamou a ateno da opinio pblica.

No obstante So Carlos ter nascido planejada, sofreu desde h 20 anos a esta


parte uma deturpao urbanstica verdadeiramente contrastadora. Os bairros
que foram aparecendo como um milagre das mil e uma noites fugiram por
completo aos traados antigos, de ruas largas e retas, para dar lugar a ruas
estreitas e sinuosas, como se realmente sofrssemos de crise de terreno (...)
(Jornal Correio de So Carlos apud ABREU, op. cit., p. 81).

As diretrizes de implantao dos loteamentos era tarefa da Prefeitura, mas nesse


momento ainda no existia equipe de planejamento nem leis urbansticas que regulassem as
novas necessidades da cidade moderna, que crescia dia a dia. O plano de arruamentos e o
padro de expanso ortogonal e homogneo foram tornando-se coisa do passado.

As mudanas no controle de expanso trazidas pelo Cdigo de Posturas de 1929 e pela


lei de habitao de 1948 tornaram flexveis os parmetros urbanos para novos parcelamentos
e acabaram abrindo caminho para uma atuao cada vez mais autnoma dos loteadores. O
problema que muitos empreendedores passaram a atuar sem a mnima responsabilidade com
o espao pblico urbano, e a vontade de ganhos cada vez maiores levava esse perfil de
empreendedor a evitar a realizao das reas pblicas de forma adequada. Em muitos casos,
no eram reservadas reas para a construo de praas, escolas ou postos de sade. Com isso,
apesar da grande rea loteada no perodo 1930/59, a quantidade de rea pblica foi muito
reduzida. No Jardim Cruzeiro do Sul, por exemplo, foram implantados 1.605 lotes, mas sem
uma nica rea verde, nem institucional, apesar de o projeto original aprovado pela Prefeitura
prever uma rea de lazer. O mesmo ocorreu na Chcara Bataglia, Vila Derigge, Jardim
Bandeirantes, Vila Jacobucci, Vila Alpes, Vila Celina, entre outros. 17

No processo de implantao de loteamentos nesse perodo havia precariedade ou


ausncia de redes de infra-estrutura. Em muitos casos, o loteador apenas abria as ruas e j
comeava a vender os lotes, sem colocar asfalto, sarjeta, iluminao pblica, etc. Isso ocorria
principalmente nos loteamentos populares. Normalmente, a infra-estrutura era implantada
posteriormente, por meio de rateio dos compradores dos lotes ou por ao da Prefeitura, que

17
Conforme dados retirados do mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006 a partir do mapa
digital do municpio de So Carlos/SMHDU, 2002, e plantas dos loteamentos.

92
era pressionada pela populao. Mrio Maffei, 18 ex-prefeito e So Carlos, comenta como
ocorria esse processo:

No loteamento Cidade Industrial (1954) com os Petrilli, depois de 25 anos


ainda no tinha escritura. E praticamente ele fez assim: ele desenhou no
papel, aprovou e comeou a vender os lotes. No havia rua, no havia... o
mximo que eles punham eram guias, mas o municpio j tinha feito as ruas
para eles. No punham gua, no punham luz, no punham nada. 19

As condies de acessibilidade aos loteamentos tambm foi alterada nesse perodo,


tendo piorado em decorrncia do aumento das distncias, das novas reas urbanas com o
centro da cidade, principalmente dos loteamentos populares, implantados em glebas cada vez
distantes. O primeiro loteamento mais distante e de difcil acesso foi a Vila So Jos,
implantada em 1949, que era isolada da malha viria existente. O Jardim Cruzeiro do Sul foi
implantado no extremo sul da cidade e tambm apresentava problemas de acessibilidade. Uma
das maiores barreiras de acesso a esse loteamento era a linha frrea. O loteamento Jardim
Jockey Clube, de 1955, foi o primeiro a atravessar a rodovia Washington Lus, ao norte da
rea urbana, deixando a populao residente isolada da cidade pela rodovia.

Assim formava-se o novo tecido urbano de So Carlos, cada vez mais heterogneo e
fragmentado, o que aprofundava a segregao socioespacial.

2.3 O PODER EXECUTIVO NO CONTROLE DA EXPANSO: os parmetros


urbansticos de incentivo expanso urbana

2.3.1 Posicionamento da elite industrial no controle poltico nacional e os novos


paradigmas urbanos da cidade industrial

O poder poltico e a administrao pblica passaram por profundas mudanas no


perodo 1930/59, com as reformas polticas que sucederam o golpe de estado que deu incio

18
Mrio Maffei foi prefeito de So Carlos entre 1972 e 1976.
19
Abreu (op. cit., p. 83), citando parte da entrevista realizada com Mrio Maffei em 9/3/2000.

93
ao Estado Novo. Nesse momento, em que a sociedade industrial e urbana se consolidava e
uma nova elite se fortalecia, era natural que uma nova estrutura poltica se formasse no pas.
Essas transformaes ocorreram nas esferas federal e estadual e repercutiram com evidncia
em So Carlos.

At 1930, inexistia no Brasil uma poltica nacional coesa e centralizada, e os Estados


atuavam com considervel autonomia poltica e econmica, sendo o poder poltico
centralizado pelas oligarquias rurais. A revoluo de 30 deu incio a Era Vargas, que marcou
o comeo da construo do iderio de um Estado forte, capaz de controlar o desenvolvimento
social e de promover a modernizao, urbanizao e industrializao do pas. Os Estados
federativos foram perdendo autonomia poltica e oramentria e tiveram que se submeter s
decises e repasses da Unio. Durante o governo de Getlio Vargas, o governo federal
tambm assumiu uma postura assistencialista e passou a construir uma slida estrutura
burocrtica no Estado. Com isso, novas instituies, rgos estatais e cargos pblicos foram
criados, e inmeros procedimentos burocrticos tornaram-se obrigatrios, resultando na
ampliao da mquina estatal (FAUSTO, op. cit., p. 331). Essas modificaes foram pautadas
por uma teoria administrativa inspirada no modelo norte-americano, que substituiu a
hegemonia exercida pela ideologia francesa no quadro terico dos estudos sobre
administrao no Brasil (FELDMAN, 2005, p. 46).

Na primeira reforma constitucional desse perodo, realizada em 1934, os Estados


perderam autonomia, enquanto o poder poltico dos municpios foi fortalecido. Os recursos
municipais foram elevados com a Constituio de 1934, quando houve uma reforma tributria
que garantiu recursos prprios aos municpios. O poder executivo local tambm foi
modificado pela ampliao do poder poltico do prefeito municipal. Mas essa autonomia
poltica e financeira dos municpios teve curta durao, sendo novamente modificada em
1937, quando teve incio o regime ditatorial do Estado Novo, aps o golpe de estado liderado
por Getlio Vargas. O Congresso Nacional, as assemblias estaduais e as cmaras municipais
foram dissolvidas, e o governo federal passou a administrar o pas por meio de decretos-lei.
Em 1938, foi criado o Departamento Administrativo do Servio Pblico (DASP), que deu
incio a uma reforma administrativa, que visava modernizao do servio pblico, tendo
como referncia o servio pblico existente nos Estados Unidos. Esse rgo passou a intervir
nos Estados e municpios de forma impositiva e autoritria, delegando interventores a servio

94
do governo federal para assumir os governos estaduais e locais (ZAHN, 1983, p. 261;
FAUSTO, op. cit., p. 365; FELDMAN, op. cit., p. 46-47).

Desde a fundao do municpio, em 1857, as oligarquias rurais controlavam as decises


polticas em So Carlos, tendo a famlia Botelho, dona de grande parte das terras do
municpio, como principal liderana poltica durante todo o sculo XIX. No incio dos anos
XX, tornou-se acirrada a disputa pelo controle poltico na Prefeitura, que foi polarizado entre
dois grupos, os Salles e os Botelho, como visto no Captulo 1. Essas duas tendncias se
alternaram no controle do poder local por dcadas, sendo ambos pertencentes oligarquia.

Os primeiros indicativos de mudanas no controle poltico municipal e que tambm


interferiram diretamente no controle da terra urbana aconteceram com a aprovao do Cdigo
de Posturas em 1929, que fortaleceu o poder executivo, tornando o poder deliberativo do
prefeito municipal superior a qualquer outro, inclusive da Cmara municipal, como tambm
foi abordado no captulo anterior.

Em 1930, junto com a crise econmica que abalava a cidade e com as perspectivas de
mudanas trazidas pela Nova Repblica, o governo municipal de So Carlos entrou em um
perodo de instabilidade. Foram oito administraes diferentes em apenas oito anos, entre
prefeitos e interventores, como parte do processo de transio poltica das elites oligrquicas
para a industrial emergente. 20

Em 1931, foi fundada a Associao Comercial e Industrial de So Carlos (ACISC), que


passou a reivindicar participao nas decises poltico-administrativas municipais. Mesmo
assim, a Cmara municipal, eleita em 1936, ainda tinha a maioria dos acentos ocupada por
polticos representantes dos grandes fazendeiros. A partir de 1938, com os impactos da
ditadura do Estado Novo, o governo municipal foi assumido por um interventor pertencente
sociedade local e ligada oligarquia, mas que trabalhava a servio do governo federal. Assim,
o Dr. Carlos de Camargo Salles assumiu a Prefeitura, interrompendo o mandato de Dr. Jos
Fonseca de Teixeira Barros (ABREU, op. cit., p. 104, 47-48). O perodo de interventores do
Estado Novo foi longo e durou at 1945.

20
Segundo Abreu, aps a Revoluo de 1930, o poder executivo da cidade foi assumido por uma junta governativa, composta
por quatro integrantes, que atuaram por cerca de dois meses. No final de 1930, assumiu um membro do grupo dos Salles,
Annanias Evangilista de Toledo, que governou por quatro meses. Ele foi sucedido por Antnio Milito de Lima, da faco
botelhista. Em 1932 ocorreu a Revoluo Constitucionalista, e, com a derrota militar paulista, o governo federal passou a
interferir na poltica local, impondo ao municpio o governo executivo do gacho Dr. Jos Maria de Souza (ABREU, op.
cit., p. 43-45).

95
Em 1946, foi aprovada uma nova constituio federal que devolveu autonomia poltica
aos municpios. Entretanto, a autonomia financeira local no foi plenamente alcanada, e as
prefeituras continuaram dependendo de decises do governo do Estado e do governo federal
no repasse de verbas. 21 Em 1948, ocorreram eleies livres para prefeito e vereadores em So
Carlos. O prefeito eleito foi Luiz Augusto de Oliveira, que encerrou o perodo de hegemonia
das elites agrrias e tambm colocou um ponto final na alternncia de poder entre Salles e
Botelho. Luiz Augusto de Oliveira, que pertencia ao Partido Social Progressista (PSP),
colocou, definitivamente, a elite industrial e comercial no controle poltico da cidade
(ABREU, op. cit., p. 46-50).

Tabela 15 Prefeitos municipais (1930-1959) municpio de So Carlos.

Seqncia de
prefeitos Prefeitos de So Carlos Perodo do mandato
municipais
8 Paulino Botelho de Sampaio (Revoluo) 14/4/1930 a 15/11/1931
9 Antnio Milito de Lima (Revoluo) 14/4/1931 a 15/11/1932
10 Dr. Jos Maria de Souza 16/11/1932 a 31/4/1933
11 Cel. Carlos Simplicio R. da Cunha 1/5/1933 a 16/8/1933
12 Dr. Durval Accioli 17/8/1933 a 9/3/1934
13 Dr. Samuel Valentie de Oliveira 10/3/1934 a 9/4/1935
14 Dr. Sizenando de Toledo Porto 10/4/1935 a 27/7/1935
15 Ananias Evangelista de Toledo 28/7/1935 a 12/2/1936
16 Dr. Joo Sabino 5/3/1936 a 23/7/1936
17 Elias Augusto de Camargo Salles 27/7/1936 a 22/10/1937
18 Dr. Jos Fonseca de Teixeira Barros 23/10/1937 a 18/5/1938
19 Dr. Carlos de Camargo Salles 21/5/1938 a 24/7/1941
20 Sabino de Abreu Camargo 20/8/1941 a 21/11/1945
21 Dr. Celso Penteado 24/11/1945 a 13/12/1945
22 Sabino de Abreu Camargo 14/12/1945 a 10/1/1947
23 Joo Neves Carneiro 10/1/1947 a 1/7/1947
24 Luiz Botelho de Abreu Sampaio 2/7/1947 a 31/12/1947
25 Prof. Luiz Augusto de Oliveira 1/1/1948 a 20/2/1951
26 Leoncio Zambel 20/2/1951 a 30/10/1951
27 Dr. Jos Paulo Spalini 30/10/1951 a 8/11/1951
28 Antonio Massei 1/1/1952 a 1/1/1956
29 Prof. Luiz Augusto de Oliveira 1/1/1956 a 1/7/1956
30 Francisco Xavier Amaral Filho 1/7/1956 a 7/7/1956
31 Dr. Alderico Vieira Perdigo 7/7/1956 a 31/12/1959
Fonte: Arquivos da Seo de Expediente da Prefeitura Municipal de So Carlos.

21
Segundo Zahn (op. cit., p. 261), a partir da Constituio de 1946, volta a ser assegurada a autonomia municipal, sob o
ponto de vista poltico, administrativo e financeiro, na medida em que so garantidas: eleies do Prefeito e Vereadores; a
administrao prpria, no que concerne ao seu particular interesse; a decretao de tributos prprios e a organizao dos
servios pblicos locais .

96
Entre os eleitos para a Cmara Municipal em 1948, apenas dois, dos 27 vereadores
pertencia antiga elite agrria, sendo a maioria das cadeiras ocupada por membros dos
setores industrial e comercial da cidade. Em 1947, o mais bem-sucedido industrial da cidade,
Ernesto Pereira Lopes, 22 dono da IPL, elegeu-se deputado na Assemblia Constituinte de
So Paulo. Nas eleies seguintes, Pereira Lopes elegeu-se deputado federal. Sua carreira
poltica foi to bem-sucedida, que o empresrio acabou cumprindo cinco mandatos no
Congresso Nacional (TRUZZI, op. cit., p. 167-168).

2.3.2 Fortalecimento do poder executivo na administrao do solo urbano: incentivo


construo de moradias e as leis de permetro urbano aps 1940

A transferncia poltica, bem como todas as mudanas socioeconmicas que vinham


acontecendo desde os anos 1930, teve impactos diretos na configurao e no controle da rea
urbana. Um dos maiores empenhos realizados pelo prefeito Luiz Augusto de Oliveira foi na
reduo da demanda por habitao, que aumentava desde o aquecimento do processo de
expanso industrial e do crescimento populacional no municpio. Em 1948, a Prefeitura
Municipal de So Carlos aprovou uma nova lei, a lei 1004/48, que diminua as exigncias
mnimas para a construo de moradia urbana. Tal lei estabelecia normas para facilitar a
construo de habitaes econmicas, 23 o que incentivava a construo de habitao
destinada populao operria. Por meio dessa lei, a Prefeitura se dispunha a fornecer,
mediante pagamento dos futuros proprietrios do imvel, o projeto arquitetnico de casas
populares. A lei no impunha o tamanho mnimo de lote, mas exigia recuo frontal de quatro
metros para a construo das casas-padro, sendo menos restritiva do que, ainda vigente, o
Cdigo de Posturas de 1929, que exigia lotes de 44 x 17 metros. 24 Uma das conseqncias
dessa lei foi a reduo do lote urbano em praticamente todos os novos loteamentos
implantados aps sua aprovao.

22
A primeira atuao de Ernesto Pereira Lopes foi como vereador e presidente da Cmara Municipal de So Carlos em 1935,
com a legenda do Partido Democrtico. Em 1945, o mdico e empresrio retornou cidade, aps um perodo fora, e filiou-
se sigla UDN, junto a qual deu continuidade sua vida poltica. Durante suas campanhas para eleies Pereira Lopes,
como era conhecido, sorteava foges e geladeiras para os que levavam seus ttulos aos comcios (TRUZZI, op. cit., p. 167-
168).
23
So Carlos, (1948). Estabelece normas para facilitar a construo de habitaes econmicas e oferece outras providncias.
FPM/PMSC.
24
Esse assunto foi tratado com maior profundidade no subitem 2.2.4 deste captulo.

97
Figura 27 Recorte da lei de habitao n. 1004/ 48. Fonte: Fundao Pr-Memria de So Carlos.

Outra mudana importante no controle da expanso urbana que ocorreu durante esse
perodo foram as sucessivas alteraes no permetro urbano. A delimitao do permetro
existia desde o primeiro Cdigo de Posturas de 1866, mas at os anos 1940 se manteve pouco
alterada. Em 1940, foi criada a primeira lei exclusiva para delimitao do permetro urbano,
pelo decreto 540/40, 25 que determinava:

O prefeito municipal de So Carlos, usando de suas atribuies, de


conformidade com o artigo 5 do decreto lei n.1202 de 8 de abril de 1939 e
nos termos da Resoluo n. 1129, de 1940, do Departamento Administrativo
do Estado. Decreta: Artigo 1 - a zona urbana e suburbana da cidade de So
Carlos ficam com as seguintes delimitaes (...).

O permetro definido em 1940 envolvia uma rea de 515 hectares, sendo menor do que a
rea j loteada nessa data, que era de aproximadamente 470 hectares, incluindo o centro da
cidade. Mas, com a acelerao do processo de expanso urbana, no final dos anos 1940, as
modificaes do permetro tornaram-se cada vez mais freqentes, acompanhando o ritmo de
implantao dos novos loteamentos. Em 1947, por meio do decreto 837/47, de 1947, o

25
At ento essa definio era feita por um artigo do Cdigo de Posturas de 1929.

98
permetro urbano foi redefinido, envolvendo uma rea de 674,9 hectares. Esse alargamento j
previa o aumento dos loteamentos, mas a rea loteada no havia sido ampliada e permanecia
com 469,6 hectares, desde 1940. 26 Em 1950, o permetro foi novamente modificado pela lei
municipal n. 3729/50. O novo permetro englobou rea de 1.043 hectares, e os loteamentos j
ocupavam cerca de 1.280 hectares do territrio municipal. Esses dados podem ser verificados
na tabela e na figura apresentados a seguir.

Tabela 16 rea urbana e permetro urbano (1905-1962) municpio de So Carlos.

Permetro urbano Lei/ decreto definio do rea urbana loteada


Ano
(hectares) permetro urbano (hectares)
Lei n. 283 - Cdigo de
1929 306,8 398,0
Posturas
1940 514,9 Decreto 540/40 469,6
1947 674,9 Decreto 837/47 469,6
1958 1.042,9 Decreto 3729/58 1.280,2
1962 1.638,0 Decreto 4567/62 1.453,21
Fontes: Mapas de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006; leis e decretos que definem permetro urbano.

Verifica-se que a legislao veio a reboque do processo de expanso, regularizando a


ocupao urbana da rea rural.

26
Essa lei tambm definiu o permetro urbano dos distritos de Ibat e Santa Eudxia.

99
Figura 28 Evoluo da rea urbana do municpio de So Carlos (1857-1962).

2.3.3 A atuao especulativa do mercado imobilirio e a regulamentao por contratos


de loteamentos

Com o desenvolvimento da sociedade industrial, que ocorria, preferencialmente, na


rea urbana, as disputas por terrenos na cidade tornavam-se cada vez mais freqentes. Em
1937, ano de incio da ditadura do Estado Novo, foi aprovado o decreto-lei federal n. 58/37,
que dispunha sobre loteamentos e venda de terrenos pagos em prestaes. A principal
100
exigncia dessa lei era a obrigatoriedade de os loteamentos serem registrados em cartrio,
criada como forma de regularizar a situao dos ttulos de propriedade dos terrenos. Os
loteadores passaram a ser obrigados a registrar, em cartrio, os seguintes documentos: plano
do loteamento e memorial descritivo assinados por profissional habilitado, contratos de
compra e venda e ttulos dos lotes, alm de certides negativas dos impostos. Entretanto,
apesar de a lei estabelecer normas civis de proteo propriedade, seu texto era
completamente omisso quanto s dimenses urbansticas de parcelamento e outros parmetros
urbansticos ou diretrizes de expanso urbana (BRASIL, 1937).

Alm dessa omisso, que abria precedncia para a atuao arbitrria dos loteadores, a
lei n. 58/37 acabou criando um srio problema para os municpios, pois cobrava a inscrio
imobiliria dos contratos de compra e venda sem impor as exigncias e os limites desses
contratos. Na prtica, os contratos passaram a conter muitas clusulas urbansticas especficas
para cada loteamento, as quais no se restringiam ao aspecto fundirio; tambm
determinavam os parmetros urbansticos dos loteamentos, que pela lei deveriam ser
elaborados pela Prefeitura. Esses contratos, elaborados a servio do empreendedor dos
loteamentos, estabeleciam os recuos obrigatrios de ocupao do lote, suas taxas de ocupao
e aproveitamento, o uso do solo de cada quadra dos loteamentos e a localizao das reas
pblicas. Com isso, a Prefeitura assumiu uma postura passiva no controle do desenvolvimento
urbano, tendo apenas que fiscalizar as irregularidades, enquanto se eximia da tarefa de
proposio do desenho da cidade.

Os parmetros urbansticos definidos nos contratos se tornaram objeto de grande


discusso jurdica ao longo dos anos. As clusulas dos contratos que definiam os padres
urbansticos ao gosto do loteador, em muitos casos, acabaram determinando o padro
socioeconmico do loteamento. No poder judicirio, essas imposies contratuais ficaram
conhecidas como clusulas convencionais (FREITAS, 2001, p. 146). Sendo assegurados pelo
decreto-lei n. 58/37, os contratos de loteamentos no poderiam ser modificados nem mesmo
por lei municipal, o que se tornou um enorme problema para os rgos de planejamento que
precisavam realizar reformulaes nas cidades.

Ainda segundo Freitas (op. cit., p.146):

101
Uma vez aprovadas pela Prefeitura e inscritas no registro imobilirio, tais
restries tornam-se clusulas urbansticas que vinculam a todos os
interessados do loteamento loteador, proprietrio o compromissrio de
lote, seus sucessores e at mesmo a Municipalidade que as aprovou.

Alm disso, uma vez registrados os contratos em cartrio, qualquer clusula s poderia
ser modificada se todos, 100% dos proprietrios dos lotes, aprovassem as alteraes. 27 E,
embora o decreto 58/37 tenha sido modificado pela lei 6766/79, a obrigatoriedade do registro
do contrato foi mantida. A interpretao e aplicao desse artigo da lei variaram de municpio
para municpio.

Em So Carlos, a atuao dos loteadores, segundo um empreendedor da cidade


naquele momento, atuavam da seguinte forma: primeiro procuravam uma gleba passvel de
ser loteada e com boa localizao, depois procuravam os proprietrios das terras e propunham
uma parceria para a realizao do loteamento e a venda dos lotes. Normalmente os loteadores
ficavam com 30% do lucro da venda dos terrenos, e o dono das terras, com 70%. Um loteador
do perodo descreveu como ocorriam as negociaes.

A pessoa tinha l uma gleba; ento, eu sabia que essa pessoa tinha essa
gleba, e que essa gleba era bem localizada, ela estava junto cidade,
terminava a cidade comeava a gleba. Ento eu procurava essa pessoa e
falava: olha, voc no quer fazer um projeto de loteamento, n, faz prazo,
no ? (...). Ento a pessoa fazia os clculos, por exemplo, se voc vai
vender essa gleba s, um preo, agora, se voc lotear e vender em lotes
voc vai apurar muito mais (...). Ento eu chamava para mim todo esse
trabalho, de projeto, de tudo, e, vamos supor, eu falava: olha, 30% meu e
70% seu, ento a gente fazia e prestava contas de 70 e ficava com 30%. 28

Normalmente, esses lotes eram vendidos a prazo, com grande nmero de prestaes. A
maioria desses empreendimentos foi realizada pela nova elite poltica e econmica da cidade.
Segundo Abreu, para se ter uma idia, dos 53 loteamentos realizados entre 1948 e 1959, 25
empreendimentos, ou seja, 47,17% do total, foram realizados por donos de empresas dos
setores de comrcio e indstria. Os proprietrios da Fiao de Tecidos Lutfalla Ltda., por

27
Segundo o texto da lei: A inscrio no pode ser cancelada seno: a) em cumprimento de sentena; b) a requerimento do
proprietrio, enquanto nenhum lote for objeto de compromisso devidamente inscrito, ou mediante consentimento de todos
os compromissrios ou seus cessionrios, expresso em documento por eles assinados ou por procuradores com poderes
especiais (BRASIL, 1937, artigo 6).
28
Entrevista com Arnaldo Jos Mazzei, sobrinho do ex-prefeito Antonio Massei, apud Abreu, (op. cit., p. 105).

102
exemplo, implantaram, em 1949, a Vila Lutfalla e logo diversificaram seu ramo de atuao,
abrindo a Empresa Imobiliria Lutfalla, em 1951. Nesse mesmo ano, aprovaram o Jardim
Lutfalla e, em 1954, realizam o maior loteamento do perodo, o Jardim Cruzeiro do Sul
(ABREU, op. cit., p. 92).

A campanha publicitria dos loteamentos populares, divulgadas na imprensa local,


anunciava prmios, como tijolos e telhas, queles que adquirissem lotes naqueles
empreendimentos, como forma de incentivo ocupao dos loteamentos precrios. Muitos
deles eram vendidos a prazo e, alm de serem implantados em regies de difcil acesso,
apresentavam carncia ou ausncia de infra-estrutura ou servios, e assim ficaram por muitos
anos. A segregao urbana e o crescimento da periferia foram se aprofundando medida que
a cidade crescia (DEVESCOVI, op. cit., p. 220).

Os loteamentos aprovados neste perodo, 1929/59, eram registrados em cartrio, sendo


obrigatria a existncia do contrato de loteamento. Eles continham as chamadas clusulas
convencionais que, em muitos contratos, assumiram fora de lei. Essas clusulas, por sua vez,
tambm se constituram como elementos de valorizao de certos empreendimentos, pois, em
reas onde os loteadores tinham a inteno de atrair um pblico de alta renda, os contratos
possuam clusulas mais restritas, e nos loteamentos populares, os contratos eram mais
permissivos.

A Vila Elizabeth, que um loteamento de alto padro socioeconmico, foi um dos


primeiros da cidade com contrato, no qual as clusulas s permitiam o uso residencial e
institucional e definiam um ndice de ocupao de 70%, alm de um ndice de aproveitamento
de 1,4. Enquanto isso, nas demais regies da cidade, ainda no existia nenhuma restrio
urbanstica. Na Vila Monteiro 2, por exemplo, era proibida a construo de barraco ou
galpo, e era exigido um recuo frontal de quatro metros. Na Cidade Jardim era proibida a
construo de indstria, barraces, vilas ou cortios. Ressalta-se que essa possibilidade de
interveno dos loteadores contribuiu para o aprofundamento da especulao imobiliria.29

As atividades de comercializao do espao urbano se tornaram cada vez mais


especulativas com o passar dos anos, sendo grande parte dos novos loteamentos realizada sem

29
Segundo Singer, a especulao um aspecto perverso do processo de urbanizao nas cidades capitalistas. Para o autor, A
especulao consiste, no fundo, numa antecipao das economias externas que, num prazo previsvel, devero beneficiar
determinada rea e deste modo valoriz-la. O curioso que sua prpria ao a auto-alimenta, j que, ao ocasionar aumento
do preo da terra, ela justifica uma elevao da procura especulativa, pois a valorizao presente prenuncia a valorizao
futura (SINGER, op. cit, p. 63-65).

103
muita responsabilidade e sem compromisso com o conjunto urbano gerado. Esses fatores
contriburam para a formao de uma rea urbana heterognea em termos de distribuio
socioespacial, infra-estrutura, padro urbano, condies de acessibilidade, etc. A continuidade
do processo de expanso urbana aumentava a necessidade de regulamentao e controle
exercidos pelo poder pblico.

2.3.4 As novas instituies de planejamento e a criao da Comisso Tcnica do Plano


Diretor em 1959

O poder pblico brasileiro passou por muitas reformas administrativas no perodo


1930/59. Os novos paradigmas urbanos modernos, que se formavam no Brasil nesse perodo,
influenciaram as reformas administrativas dos rgos pblicos que procuravam adquirir maior
dinamismo e novo perfil.

No final dos anos 1940 e durante os anos 1950, o governo do Estado de So Paulo
aumentou o repasse de verbas s prefeituras destinadas aos trabalhos de planejamento
institucional e, em 1947, foi aprovada a Lei Orgnica dos Municpios, que estimulava os
municpios elaborao de seus planos diretores. Essa lei tambm abria a possibilidade de as
prefeituras lotearem as reas do patrimnio municipal para amenizar a crise de habitao
urbana que se agravava durante os anos 1940.

Em 1953, ocorreu uma nova mudana da estrutura administrativa municipal em So


Carlos (SO CARLOS, Lei n. 3.729/1958, FPM/PMSC, fl. 69). A estrutura administrativa
tornou-se bem mais complexa, sendo criados rgos auxiliares e novas reparties que foram
subdividas em sub-reparties e comisses com tarefas especficas. Nesse momento, ainda
no era institudo um rgo especfico de planejamento urbano, mas a funo de elaborar
planos de urbanismo e de expanso das cidades e dos distritos tornava-se atribuio da
secretaria de obras, que era tambm o setor onde se aprovava novos loteamentos. Ressalta-se
que essas tarefas ficavam a cargo de engenheiros, no existindo na nova estrutura
administrativa nenhum cargo de arquiteto ou urbanista (SO CARLOS, op. cit., fl 73).

104
Figura 29 Estrutura administrativa do municpio de So Carlos em 1929 (esquerda) e estrutura administrativa do municpio
de So Carlos em 1953 (direita). Fontes: So Carlos (1929); So Carlos (1953).

Nesse perodo, o rgo de planejamento assumia, na esfera pblica, papel cada vez
mais central na administrao pblica, assim como propunha o urbanista Anhaia Mello, que
difundia o modelo norte-americano de administrao urbana. As idias de Anhaia Mello eram
divulgadas por meio de palestras e publicaes realizadas ao longo de dcadas, atuando como
consultor de diversos planos diretores realizados principalmente no Estado de So Paulo.
Nesse perodo, foram criados o Instituto Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM), em
1952, e a Escola Brasileira de Administrao Pblica da Fundao Getlio Vargas (EBAP),
que passou a funcionar como centro de treinamento de tcnicos para o servio pblico. Em
1955 foi criado o Centro de Estudos e Pesquisas Urbansticas (CPEU).

105
O CPEU era um centro de pesquisa, dirigido pelo urbanista e professor Anhaia Mello,
e funcionava na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo. Os
trabalhos e estudos desenvolvidos pelo CPEU envolviam a orientao e elaborao de planos
diretores municipais e o auxlio na organizao de setores especficos de planejamentos
dentro da administrao, que era formada por equipes multidisciplinares que atuavam por
meio de parcerias e consultorias. Os trabalhos desenvolvidos pelo CPEU tiveram grande
influncia na reestruturao administrativa federal, estadual e municipal, durante um longo
perodo, tendo atuado em inmeras cidades do interior do Estado de So Paulo (FELDMAN,
op. cit, p. 217-228).

No por acaso, em 1959 foi criada a Comisso do Plano Diretor, por determinao da
lei municipal n. 3907, de 1959. Essa comisso era interdisciplinar e foi composta para a
elaborao do primeiro Plano Diretor da cidade. Seus trabalhos tiveram incio em 1960. Esse
plano contou com o suporte tcnico da Escola Politcnica de So Paulo, pela participao do
CPEU, cujos trabalhos estavam sob orientao do urbanista Anhaia Mello. Tambm teve a
participao de professores da Escola de Engenharia a So Carlos. A partir da, teve incio um
novo momento do processo de expanso urbana em So Carlos, condicionado por novas
formas de controle elaboradas pelos trabalhos de planejamento urbano institucional, sendo
esse assunto objeto de anlise do Captulo 3.

A partir dos dados analisados neste captulo, pode-se concluir que as mudanas
sociais, polticas e econmicas que ocorreram no perodo 1930/59 foram determinantes no
processo de construo de uma nova forma de organizao socioespacial na cidade de So
Carlos. A cidade cresceu muito nesse perodo e triplicou sua rea urbana, tendo o crescimento
do setor industrial como principal motor desse processo. Como visto, nos anos 1930, a
expanso industrial na cidade comeou a dar seus primeiros passos, de forma semelhante a
outras cidades do interior do Estado de So Paulo. Esse crescimento intensificou-se no final
dos anos 1940, quando contou com incentivos e recursos pblicos, bem como com o
financiamento do governo norte-americano. Nesse momento, o municpio finalmente superou
a crise decorrente da decadncia da economia do caf, oferecendo novas perspectivas
econmicas para o municpio. No final da dcada de 1950, So Carlos j era um municpio
predominantemente urbano, sendo sede de um grande nmero de indstrias e de uma
importante universidade, a Escola de Engenharia de So Carlos, ligada USP, na qual
funcionavam dois centros de pesquisa nas reas de Engenharia Mecnica e Eltrica.

106
Com o desenvolvimento do transporte rodovirio e com a popularizao do
automvel, no mundo capitalista industrializado, ampliavam-se, na cidade estudada, as
possibilidades de ocupaes de terras rurais cada vez mais distantes da rea urbana. O
aumento do nmero de veculos nas ruas da cidade pressionou uma reestruturao do sistema
virio, que rompeu com a estrutura ortogonal de ruas de 13 e 14 metros que havia se formado
durante o sculo XIX. Nesse momento, as vias assumiam larguras e desenhos variados, com o
intuito de tornar mais dinmicos os deslocamentos. Isso contribuiu para a expanso extensiva
da malha urbana, que passou a gerar uma ocupao de baixa densidade, o que exigiu grande
expanso das redes de infra-estrutura, como asfalto, energia eltrica, drenagem, saneamento e
transporte, aumentando significativamente os gastos do poder pblico com infra-estrutura
urbana.

A estrutura administrativa e a legislao urbanstica modificaram-se para dar conta da


regulamentao de um novo tipo de mercado, que se consolidava junto com o comrcio de
lotes urbanos, bem como com as novas exigncias da sociedade moderna. Tais mudanas
poltico-administrativas da sociedade local significaram a existncia de novos interesses e
disputas presentes nas formas de controle das transformaes do espao urbano.

De modo geral, as mudanas da legislao urbanstica ficaram aqum das necessidades de


controle, e a fiscalizao foi omissa em muitos casos. A lei de permetro urbano que poderia
ser usada para definir os limites da expanso veio a reboque do processo de expanso,
regularizando a ocupao urbana da rea rural. Dessa forma, o loteador foi adquirindo cada
vez mais poder para atuar, enquanto a Prefeitura se afastava da elaborao do desenho da
cidade. Em nvel federal, o decreto n.58 de 1937 exigia que os loteamentos urbanos fossem
registrados em cartrio, mas isso foi parcialmente implantado em So Carlos, sendo mais
permissivo em termos de parmetros de desenho urbano e restritivo quanto preservao do
direito de propriedade.

O poder pblico local no tinha ferramentas para controlar o ritmo de atuao do mercado
imobilirio, que se intensificou durante a dcada de 1950. O sistema de proposio do projeto
dos loteamentos permitia autonomia dos empreendedores em arbitrarem o padro urbano de
cada loteamento. O projeto deveria estar de acordo com as diretrizes urbansticas da cidade,
mas elas eram imprecisas e pouco exigentes.

107
Os novos loteamentos, que se multiplicaram na cidade durante os anos 1950, possuam
larguras de ruas, tamanho e forma de quadra e de lote diferentes entre si, o que desestruturou a
continuidade da cidade tradicional. A quantidade de reas pblicas foi cada vez mais reduzida
nos novos loteamentos, pois os loteadores queriam realizar o maior nmero de lotes possvel
em uma mesma gleba, o que criou problemas para a Prefeitura, como a falta de rea para a
implantao de escolas, postos de sade, entre outros equipamentos institucionais nas reas
que se adensaram. A infra-estrutura tambm era precria em alguns loteamentos,
principalmente nos populares, distantes do centro da cidade.

Esses aspectos acabaram gerando um tecido urbano heterogneo que tambm


direcionou as concentraes socioespaciais e contribuiu para o aprofundamento da
estratificao social no territrio urbano. Essas questes estavam presentes em vrias cidades
em expanso do Estado e contriburam para que o governo do Estado exigisse a elaborao de
planos diretores, que pareciam ser uma tima soluo para os problemas urbanos. Em So
Carlos essas recomendaes foram seguidas, e, em 1959, foi criada a Comisso do Plano
Diretor, dando incio ao processo de construo do planejamento institucional em So Carlos.

108
CAPTULO 3 - DO CONTROLE AO DESCONTROLE: a
institucionalizao do planejamento e a crescente ao da
especulao imobiliria (1960-1977)

109
3.1 MILAGRE ECONMICO E A POLTICA DE DESCONCENTRAO
INDUSTRIAL

3.1.1 Das reformas de base e ampliao dos movimentos sociais ditadura militar

A trajetria poltica brasileira durante o perodo 1960/1977 foi tensa, marcada pelo
confronto entre o grupo poltico da direita conservadora, hegemnico na composio da elite
nacional, e a esquerda ascendente, motivada pela vitria da revoluo comunista em Cuba, em
1959. Em 1960, ocorreram eleies presidenciais para a sucesso do mandato de Juscelino
Kubitschek, a ltima eleio presidencial direta at 1989. A escolha do presidente era
separada da escolha do vice, e ao final do pleito foi eleito Jnio Quadros, do PTN, para
presidente e Joo Goulart vice, pela coligao formada pelos partidos PSD/PTB. Apesar da
significativa vitria de Jnio Quadros, que venceu com 48% dos votos, seu mandato foi curto,
tendo renunciado sete meses depois. O governo de Jnio Quadros foi polmico por ter
atendido, ao mesmo tempo, aos anseios de conservadores e da esquerda, sendo um marco a
condecorao de Fidel Castro e Che Guevara, lderes da revoluo cubana. Alm disso, a
conjuntura econmica do pas era desfavorvel em decorrncia do crescimento da dvida
externa que chegava a 3,8 bilhes de dlares, enquanto a inflao superava os 30% ao ano em
1960 (FAUSTO, 2004, p. 436-437).

Com a renncia de Jnio, a Presidncia da Repblica foi assumida pelo ento vice-
presidente Joo Goulart. Sua posse tambm foi conturbada, pois, sendo membro da esquerda
poltica, sua ascenso presidente era encarada como uma ameaa segurana nacional pelos
conservadores e pelos militares que compunham o governo de Jnio Quadros. Aps vrias
negociaes e manifestaes, o sistema de governo foi modificado pelo Congresso Nacional
de presidencialista para parlamentarista, o que reduzia o poder do novo presidente que
assumiu o governo em 7 de setembro de 1961 (FAUSTO, op. cit., p. 436-442).

Joo Goulart governou por trs anos, e seu governo foi interrompido pelo golpe militar
de 1964. Durante seu governo, os maiores avanos ocorreram no setor social, e houve
fortalecimento dos movimentos sociais, tanto rurais quanto urbanos. Nos setores urbanos,
destacou-se a organizao do movimento em torno da UNE e do movimento sindical. As
metas do governo eram articular uma aliana entre o Estado, a classe operria organizada e a

110
burguesia industrial nacional, calcada no nacionalismo e em reformas sociopolticas chamadas
reformas de base, que incluam a reforma agrria, para ampliar o acesso do campons
terra rural, e a reforma urbana.

Embora a poltica do governo Jango fosse composta por uma srie de medidas
necessrias para o desenvolvimento nacional, as estratgias adotadas feriam os interesses de
uma parcela da classe dominante que se sentiu lesada pelas possibilidades de uma melhor
distribuio de renda e da ampliao dos direitos civis. O grupo de direita ultraconservador
acabou se aproximando da corrente militar de oposio a Jango, para articular um golpe de
Estado (FAUSTO, op. cit., p. 443-454).

A crise econmica do pas se agravou entre 1962 e 1963, contribuindo para a


instabilidade do governo. O nmero de greves cresceu muito em 1963, chegando a 172
paralisaes. Entre os militares, a conspirao contra Jango aumentava junto com a idia de
uma interveno defensiva, que se apoiava no falso discurso do combate ao comunismo e
da garantia da segurana nacional. O movimento golpista foi ascendente e contava com o
apoio dos setores mais conservadores da sociedade civil. Em 31 de maro de 1964, ocorreu o
golpe de Estado, que colocou os militares na esfera mxima do poder poltico nacional, dando
incio ao longo perodo ditatorial que foi bastante traumtico para a sociedade brasileira. A
atuao do governo militar ocorreu com base em Atos Institucionais (AI), que consistiram em
decretos presidenciais. Esses atos modificavam a Constituio Federal, impondo novas regras
sociedade, e, a cada novo Ato Institucional, o regime foi se tornando mais severo
(FAUSTO, op. cit., p. 466-481, 495).

Com o primeiro Ato Institucional, o AI-1, o Congresso Nacional foi mantido, embora
com poderes reduzidos, mas tornou-se possvel a cassao de mandatos do executivo ou
legislativo e o afastamento de membros das foras armadas e do setor judicirio. Alm disso,
a atuao do movimento operrio e do movimento estudantil foi reprimida com o fechamento
de uma srie de sindicatos e da UNE. Muitos polticos tiveram seu mandato cassado, entre
eles, Leonel Brizola e Juscelino Kubitschek. O AI-2, de outubro de 1965, vetou
completamente as eleies diretas para presidente e extinguiu os partidos polticos, restando
apenas o partido Arena, governista, e o MDB, de oposio. O AI-3, de fevereiro de 1966,
impediu as eleies diretas para governo dos Estados. Em dezembro de 1968, foi decretado o
AI-5, o ato institucional mais rgido de todo o regime. O governo passou a poder intervir nos
Estados e municpios nomeando interventores federais para substituir os prefeitos e
111
governadores. Alm disso, a garantia de habeas corpus para acusados de crimes contra a
nao foi suspensa, e a impressa foi totalmente censurada. O Congresso Nacional foi fechado,
podendo ser reaberto ou novamente fechado conforme ordens do presidente. Novas cassaes
foram realizadas, e a tortura aos opositores do regime tornou-se parte dos mtodos de
governo. O AI-5 foi mantido at 1979.

A perseguio aos lderes da esquerda ocorreu de forma ostensiva em 1969, quando o


governo foi assumido por uma junta militar. O governo Mdici, que sucedeu a Junta Militar,
foi responsvel pela tortura, pela morte e pelo desaparecimento de muitas pessoas. Entre 1969
e 1973, a guerrilha foi banida, com a morte de seus principais lderes, e ocorreu a
neutralizao dos principais movimentos de oposio ao governo. O general Ernesto Geisel,
que governou de 1974 a 1977, deu incio ao processo de abertura poltica, que foi lento e s se
evidenciou no governo seguinte, do general Figueiredo. Um dos marcos do governo Geisel foi
a reorganizao do movimento sindical, que assumiu novo formato, organizado no interior
das fbricas. Nesse movimento, tiveram destaque as mobilizaes dentro das indstrias
automobilsticas do ABC paulista.

Nessa conjuntura poltica do perodo militar de ampla represso e autoritarismo, o


desenvolvimento econmico foi profcuo. O primeiro presidente militar, Castelo Branco,
recuperou a estabilidade econmica do pas, tendo o dficit pblico anual reduzido de 4,2%
do PIB, em 1963, para 1,6%, em 1965. Os dois governos seguintes tomaram providncias
para facilitar a expanso do crdito ao consumidor e controlar a inflao, sendo bem-
sucedidos. Em 1968, o pas apresentou sinais de recuperao. Entre 1969 e 1973, ocorreu o
chamado milagre brasileiro, quando houve grande expanso do setor industrial brasileiro,
bem como a diversificao da exportao de produtos agrcolas. O milagre ficou conhecido
como um perodo de grande crescimento do PIB 11,2% em 1969 e 13% em 1973 ,
combinado com baixos ndices de inflao, que no ultrapassaram a mdia de 18% ao ano.

A indstria nacional apresentou representativos ndices de crescimento,


principalmente nos setores automobilstico, de produtos qumicos e material eltrico. Nesse
momento, a construo civil tambm crescia, sendo fomentada pelos recursos
disponibilizados pelo Banco Nacional de Habitao (BNH), criado durante o regime militar
(FAUSTO, op. cit., p. 473, 482, 485).

112
O xito econmico desse perodo ocorreu com uma grande interveno do Estado, que
incentivava as exportaes pela reduo e iseno de tributos, ao mesmo tempo em que
indexava salrios, concedia crditos, etc. Mas essa expanso econmica tambm teve seu
saldo negativo. Em primeiro lugar, foi realizada uma srie de emprstimos estrangeiros que
contriburam para o aprofundamento da dvida externa. Alm disso, o pas tornava-se cada
vez mais dependente de produtos importados, principalmente do petrleo. Muitas polticas
sociais foram praticamente abandonadas nesse perodo, deixando o pas com indicadores
sociais muito baixos nas reas de sade, educao e habitao. A m distribuio de renda,
que j era histrica no pas, tambm foi agravada, e a compresso dos salrios dos
trabalhadores menos especializados reduziu o poder aquisitivo da populao de classe
socioeconmica baixa (FAUSTO, op. cit., p. 485-487).

As cidades tiveram crescimento acelerado nesse perodo, principalmente pela


migrao campocidade. A populao brasileira tambm crescia rapidamente, passando de 70
milhes de habitantes, em 1960, para 93 milhes, em 1970. Durante os anos 1960, a
populao urbana brasileira ultrapassou a rural, passando de quase 31 milhes, em 1960, para
cerca de 53 milhes de habitantes, em 1970. A taxa de urbanizao brasileira continuou
crescendo na dcada seguinte, passando de 45,50%, em 1960, a 56,8%, em 1970, e atingindo
68,86% (GONALVES, 1994, p. 42).

Algumas capitais acentuaram o processo de metropolizao. Em 1970 a regio


metropolitana de So Paulo possua populao superior a 8 milhes de habitantes, seguida do
Rio de Janeiro, com quase 7 milhes, Recife, com 1,8 milho, Belo Horizonte, com 1,66
milho, e Porto Alegre, com 1,57 milhes de pessoas vivendo na regio conurbada. Esse
processo de metropolizao teve continuidade durante a dcada de 1970 (GONALVES,
op.cit., p. 42). Esses dados podem ser verificados na Tabela 17.

113
Tabela 17 Populao total das regies metropolitanas (1970 e 1980) Brasil.

Regio metropolitana Populao total


1970 1980
Belm 655.901 999.165
Recife 1.791.322 2.859.469
Salvador 1.147.821 2.472.131
Belo Horizonte 1.658.482 3.462.905
Rio de Janeiro 6.891.521 9.600.528
So Paulo 8.139.730 15.199.423
Curitiba 821.233 1.975.624
Porto Alegre 1.574.239 3.015.960
Total das regies metropolitanas 23.717.028 42.214.024
Brasil 93.165.565 119.002.706
Fontes: Gonalves (1994, p. 42); Censos do IBGE.

O intenso desenvolvimento urbano ocorrido no perodo 1960/1977 trouxe uma srie de


implicaes ao cotidiano da sociedade brasileira, que resultaram em novas formas de
organizao social e espacial. Nos anos 1960, o ritmo de fabricao de veculos sobre rodas se
intensificou, aumentando consideravelmente a frota nacional e causando grande impacto nas
cidades em crescimento. Entre 1957 e 1968, a frota de automveis aumentou cerca de 360%,
e a de nibus e caminhes cresceu 194% e 167%, respectivamente (FAUSTO, op. cit., p.
429). O intenso processo de urbanizao foi acompanhado do empobrecimento da populao
menos qualificada e do agravamento da m distribuio de renda entre as famlias brasileiras.
Como resultado, as cidades em expanso cresceram de maneira precria, a partir do
alastramento das periferias pobres.

Em 1972, foi lanado o I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND), como


estratgia do governo Mdici. Uma das diretrizes desse plano era viabilizar a criao de nove
regies metropolitanas no pas, a serem polarizadas pelos seguintes municpios: So Paulo,
Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Salvador e Belm.
Essa idia, de concentrao metropolitana, foi invertida no governo seguinte. Em 1974, no
primeiro ano do Governo Geisel, foi lanado o II Plano Nacional de Desenvolvimento. O II
PND (1975/1979) surgiu com novos objetivos que visavam impulsionar a desconcentrao
dos grandes centros, que haviam crescido demais e de forma descontrolada. Esse plano
continha diretrizes para a aplicao de recursos estatais em cidades mdias que tivessem o
potencial de se tornarem plos irradiadores de desenvolvimento (RIZZO, 1993, p. 57).

114
O II PND tambm tinha um foco voltado para a ampliao da capacidade energtica
do pas, procurando tornar a economia nacional menos vulnervel s oscilaes dos pases
produtores de petrleo, para o incentivo ao desenvolvimento da grande empresa nacional
privada e para a produo de bens de capital, alm de prever grandes investimentos nas
empresas estatais, como Petrobrs, Eletrobrs e Embratel.

3.1.2 Interiorizao da indstria paulista e o Programa de Cidades Mdias

A primeira fase da industrializao pesada, que ocorreu no pas ao longo dos anos
1960, teve os maiores ndices de crescimento registrados no Estado de So Paulo. A
superioridade industrial paulista, em relao aos outros Estados, j era evidente, como visto
no captulo anterior. Entre 1949 e 1970, o ndice de crescimento industrial do Estado
continuou superior mdia nacional, registrando 9,2% no Estado de So Paulo, enquanto os
demais Estados cresceram a uma mdia de 7,2% (NEGRI, 1996, p. 105, 112). O
desenvolvimento industrial paulista tambm no foi homogneo entre a capital, a regio
metropolitana e o interior, semelhante ao ocorrido no perodo anterior. Entretanto, neste
perodo 1960/1977, ocorreu uma redefinio dos eixos da expanso industrial paulista, que,
em ltima anlise, desencadeou o processo de desconcentrao metropolitana.

A cidade de So Paulo passava por grande transformao durante os anos 1960,


atraindo mais indstrias leves do que pesadas, tais como a txtil, alimentcia, de mobilirio,
editorial e grfica, que eram menores e menos poluentes. Contribuiu para esse processo a
nova preferncia das grandes indstrias em se instalar nas cidades do entorno de So Paulo,
onde as terras eram mais baratas, os tributos menores, alm de serem servidas por uma ampla
estrutura de transporte ferrovirio e rodovirio em expanso. Alm disso, So Paulo se
transformava em um importante centro de servios, cujo processo pde ser verificado pela
progressiva mudana do uso do solo, ocorrida principalmente nas regies em processo de
adensamento. Com a contnua atrao de novos moradores, os centros e subcentros da cidade
acabavam atraindo novos estabelecimentos de comrcio e servios. Essa mudana ocorreu em
diferentes regies da cidade, e gradativamente o setor de comrcio e servios tornou-se um
complexo que passou a atender no apenas o pblico da capital, mas do Estado como um
todo, e muitas vezes de outros Estados (SINGER, 1968, p. 74-75).
115
Na regio metropolitana de So Paulo, houve grande desenvolvimento das indstrias
de material de transporte e de metalurgia. Esse setor, que nos anos 1960 representava um
quarto do valor de produo total, nos anos 1970 j somava um tero do valor de toda a
produo industrial da regio metropolitana de So Paulo. A indstria do interior tambm se
expandiu durante a dcada de 1960 e se diversificou com o crescimento do setor industrial de
bens de capital e de bens de consumo durvel, principalmente o setor de mecnica, e da
produo de bens intermedirios (qumica, metalurgia, borracha, papel e papelo, etc.).
Algumas regies do interior apresentaram taxas de crescimento superiores mdia estadual,
tais como Vale do Paraba e Campinas, que com isso elevaram sua participao na receita do
Estado (NEGRI, op. cit., p. 123-126).

Em 1967, o Estado concentrava 57,3% de todo o produto industrial brasileiro, e em


1970, a Grande So Paulo concentrava 71% do valor da transformao industrial de todo o
Estado. Mas nesse momento as cidades do entorno da cidade de So Paulo j cresciam mais
do que a capital: no perodo 1959/1970, a participao da regio metropolitana, exceto So
Paulo, no valor de produo estadual passou de 15,5% para 26,9%, enquanto a participao da
capital diminua de 51,1% para 43,8%. A contribuio do interior no valor da produo
industrial do Estado, que havia diminudo durante a dcada de 1950, em decorrncia do
grande poder de atrao metropolitana, voltou a crescer na dcada de 1960, passando de
28,9%, em 1959, para 29,3%, em 1970. Esses valores tenderam a aumentar durante os anos
1970, e, em 1980, a produo do interior representava 41,3% de toda a produo industrial do
Estado (NEGRI, op. cit., p. 119).

So Carlos tinha ndices de participao no valor de produo do Estado relativamente


pequenos, de 0,42%, em 1970, e 0,58%, em 1980. Mas em conjunto com as demais cidades
industriais do Estado, esse nmero tornava-se bastante relevante. Esses dados podem ser
verificados na tabela a seguir.

116
Tabela 18 Concentrao espacial do valor da produo industrial (1956-1980) Estado de So Paulo.

Regies Em relao a So Paulo Em relao ao Brasil


1956 1959 1970 1980 1956 1959 1970
1. Regio metropolitana 66,6 71,1 70,7 58,6 34,8 37,1 38,5
Capital 51,1 51,7 43,8 30,1 26,7 27,0 23,8
Outros municpios 15,5 19,4 26,9 28,5 8,1 10,1 14,7
2. Interior paulista 33,4 28,9 29,3 41,3 17,2 15,1 15,9
So Carlos 0,46 0,42 0,58
TOTAL DO ESTADO 100, 0 100, 0 100, 0 100,0 52,2 55,7 54,4
Fontes: Negri (op. cit, p. 117), a partir de dados da Fibge Censos Industriais de 1960 e 1970 e pesquisa Industrial de So Paulo de
1956.

O governo estadual lanou, em 1974, o Programa de Cidades Mdias, que seguia as


diretrizes do II Plano Nacional de Desenvolvimento, de criao de plos regionais no interior
dos Estados. Esse programa propunha a realizao de investimentos em cidades de tamanho
intermedirio, procurando redirecionar a migrao das grandes metrpoles para as cidades
menores, e principalmente a interiorizao da indstria no estado. O Programa de Cidades
Mdias foi efetivamente implantado a partir de 1976, sendo os resultados alcanados
principalmente durante os anos 1980.

So Carlos foi inserido na regio de Ribeiro Preto, junto com Araraquara, Franca,
Jaboticabal, Barretos e Bebedouro. Nesse momento, cada cidade teve de elaborar um
diagnstico do municpio, que era exigido para a liberao dos fundos FDTU (Fundo de
Desenvolvimento de Transporte Urbano) e FNDU (Fundo Nacional de Desenvolvimento
Urbano).

Segundo Negri (op. cit., p. 178), a adoo desse programa permitiu a realizao de
importantes investimentos em infra-estrutura urbana nos centros urbanos do interior de So
Paulo, capacitando-os para receber os eventuais investimentos industriais idealizados nas
polticas de descentralizao industrial da rea metropolitana". Os maiores investimentos do
programa foram realizados na ampliao da malha viria estadual, para facilitar as ligaes
das cidades do interior com a regio metropolitana, na rede de saneamento bsico, tais como
pavimentao de ruas, na construo de escolas e de ncleos habitacionais. Entre 1972 e
1975, houve grande investimento nas rodovias, que facilitaram o trnsito rodovirio inter-
cidades do interior (NEGRI, op. cit., p. 183).

117
Nos anos 1970 e 1980, o interior se desenvolveu rapidamente. Em 1970, 22 cidades do
Estado tinham mais de 100 mil habitantes, entre as quais apenas uma (cidade de So Paulo)
tinha populao com mais de 500 mil habitantes. Em 1980, j existiam 30 municpios no
Estado com populao entre 100 e 500 mil habitantes e quatro cidades com mais de 500 mil
habitantes (GONALVES, op. cit., p. 51).

Durante a dcada de 1970, a taxa anual de crescimento populacional brasileira foi de


2,48%, enquanto o crescimento da populao paulista foi muito superior, atingindo 3,49% ao
ano, principalmente pela atrao migratria exercida pela metrpole, que cresceu em mdia
4,46% ao ano. O interior do Estado crescia com menor intensidade, com taxa de 2,6% ao ano.
Esses ndices se inverteram durante a dcada de 1980, quando o interior passou a crescer mais
rapidamente do que a regio metropolitana. Mas, ainda nos anos 1970, quatro regies
administrativas do Estado se destacaram pelo crescimento populacional: Campinas, com 4,4%
ao ano; Santos, com 3,94% ao ano; So Jos dos Campos, com 3,88% ao ano; e Sorocaba,
com 2,84%, que superaram a mdia de crescimento populacional do interior do Estado. A
regio administrativa de Ribeiro Preto, que inclui So Carlos, cresceu em um ritmo um
pouco abaixo da mdia estadual, com taxa de 2,45% ao ano (GONALVES, op. cit., p. 46,
47).

Em So Carlos, houve decrscimo populacional durante os anos 1950. Mas apesar


desse decrscimo da populao total, houve crescimento da populao urbana, em decorrncia
da intensa migrao campocidade, que ocorreu naquela dcada. Durante a dcada de 1960, a
cidade recuperou seu ndice de crescimento, que chegou a 2,66% ao ano, e nos anos 1970
superou o crescimento da regio administrativa de Ribeiro Preto e de outras regies
administrativas de destaque, como a de Sorocaba. A taxa de crescimento populacional em So
Carlos nos anos 1970 foi de 3,25% e chegou a 3,45% em 1980 (Tabela 20). Esse crescimento
ocorreu por um novo tipo de migrao entre cidades e principalmente entre Estados.

O aumento populacional do interior ocorreu em sintonia com a expanso da indstria


paulista do interior durante as dcadas de 1970 e 1980, expressando o Programa de Cidades
Mdias. Segundo Negri (op.cit, p. 71), no perodo ps-1970, a regio metropolitana de So
Paulo reduziu sua participao no valor de transformao industrial do estado de 74,7%, em
1970, para 62,9%, em 1980, enquanto o interior crescia de 25,3% para 37,1% no mesmo
perodo. Nos anos 1980, o interior se desenvolvia com autonomia econmica bem mais forte
do que nas dcadas anteriores. Ribeiro Preto foi a cidade da regio que mais se desenvolveu;
118
Araraquara, Rio Claro, Americana, Limeira, Piracicaba, Araras e Ja tambm tiveram
desenvolvimento urbano expressivo. O eixo rodovirio formado pelas vias Anhanguera e
Washington Lus, que inclui So Carlos, tornou-se uma das regies industriais mais
importantes do estado, concentrando, em 1980, 48% do valor da transformao industrial do
interior (SEMEGHINI, 1988, p. 150).

Ainda segundo Negri (op. cit., p. 184):

No resta dvida de que os contnuos investimentos estaduais em infra-


estrutura econmica e social, dentro do territrio paulista interiorizado,
ofereceram condies para que as unidades industriais mais antigas
ampliassem suas instalaes, ao mesmo tempo que motivaram a instalao
de inmeras outras unidades novas.

Outro programa lanado em 1974 e que tambm teve grandes impactos no


desenvolvimento econmico do interior do Estado de So Paulo foi o Programa Pr-lcool,
que era parte do Programa Nacional do lcool. Esse tambm contou com grandes
investimentos do governo federal, que atraram a maior parte das destilarias de lcool que se
instalaram no pas nesse perodo. As regies do Estado que mais se destacaram foram as
tradicionais regies aucareiras de Piracicaba e Ribeiro Preto. Em termos quantitativos, entre
as safras de 1975/76 e 1979/80, a produo de lcool do interior de So Paulo cresceu sete
vezes, levando o Estado a uma participao de 70% do total da produo nacional (NEGRI,
op. cit., p. 187).

3.1.3 Crescimento da indstria em So Carlos e a criao da UFSCar

Em 1960, So Carlos se mantinha como um importante centro industrial do Estado,


em que as empresas dos setores mecnico e de material eltrico continuavam se destacando,
como vinha ocorrendo desde o perodo anterior. Contendo 250 estabelecimentos no setor
secundrio, a participao do municpio no valor de produo do Estado ainda era baixa entre
1959 e 1970, representando 0,46%, em 1959, e 0,42%, em 1970 (Tabela 19). No entanto, a
nova poltica estatal de incentivo ao desenvolvimento do interior, cunhada no Programa de

119
Cidades Mdias, realizado durante os anos 1970, acabou beneficiando o desenvolvimento de
toda a regio de So Carlos. Ribeiro Preto, que era a cidade sede da regio administrativa,
polarizou grande parte dos investimentos. Com ritmo de crescimento semelhante a So
Carlos, desenvolveu-se tambm a cidade vizinha Araraquara, que, diferentemente de So
Carlos, tinha desenvolvimento econmico ligado produo agroindustrial (SEMEGHINI,
op. cit., p. 148-150).

Em 1970, existiam 345 estabelecimentos industriais no municpio de So Carlos,


empregando 7.235 funcionrios. O setor secundrio cresceu bastante nos cinco anos
seguintes, e, em 1975, a indstria so-carlense j empregava aproximadamente 11 mil
funcionrios, significando crescimento de 53,7% em relao a 1970. Em valores de produo,
o crescimento entre 1970 e 1975 foi de 253%, elevando a participao da cidade no valor de
produo industrial no Estado, que, apesar de pequeno, passou de 0,56% para 0,58% (Tabela
19).

Tabela 19 Atividade industrial (1939-1975) municpio de So Carlos.

Participao Participao
Crescimento
Nmero Pessoal pessoal valor de
Ano valor de
estabelecimentos ocupado ocupado do produo do
produo (%)
Estado (%) Estado (%)
1939/40 (1) 117 2.566 0,78 _ 0,53
1949 180 3.359 0,58 48,7 0,39
1959 264 4.597 0,55 155,6 0,46
1970 345 7.235 0,56 110,5 0,42
1975 376 11.122 0,61 253,5 0,58
Fontes: Devescovi (1985, p. 139), a partir de dados da FIBGE (Censos industriais de 1940, 1950, 1960, 1970 e 1975). Legenda: (1)
pessoal ocupado e nmero de estabelecimentos referem-se a 1940 (1 de setembro); valor da produo refere-se a 1939.

A presena da Escola de Engenharia de So Carlos (EESC) colaborou para garantir o


prestgio da cidade, principalmente nos setores de engenharia mecnica e eltrica. Nessa
instituio trabalhava um qualificado quadro de professores que desenvolviam pesquisa nas
reas de exatas aplicadas. Em 1971, houve desmembramento dos docentes das reas de
Matemtica, Fsica e Qumica, formando o Instituto de Fsica e Qumica de So Carlos
(IFQSC) e o Instituto de Cincias Matemticas de So Carlos (ICMSC). No ano seguinte, foi
oficialmente criado o campus de So Carlos (TORKOMIAN, 1996, p. 34).

120
Em 1970, um novo fato contribuiu para a conformao do perfil educacional e
tecnolgico que a cidade foi assumindo. Nesse ano, foi fundada a UFSCar, criada por decreto
federal em 1968. Com a inaugurao do campus da UFSCar, comearam a funcionar os
cursos de Licenciatura em Cincias e Engenharia de Materiais, o primeiro do Brasil com essa
especializao. Essa universidade, que era a primeira universidade federal do estado de So
Paulo, diversificou rapidamente seus cursos, tambm voltados s cincias exatas aplicadas,
abordando diversas reas da Engenharia.

So Carlos passou a se diferenciar de outras cidades por seus centros de pesquisa de


base tecnolgica. Essa conjuntura trouxe impactos positivos para a cidade, que, aos poucos,
foi ampliando sua vocao industrial para a rea de alta tecnologia (TORKOMIAN, 1996, p.
34). Esse novo perfil foi tornando-se mais evidente nos anos 1980 e 1990, medida que
aumentavam os laos entre a indstria local e o desenvolvimento de pesquisa de ponta nos
laboratrios dessas instituies. Segundo Negri & Pacheco (1994, p. 71), de forma semelhante
a So Jos dos Campos e Campinas, So Carlos foi capaz de induzir, ainda que de forma
limitada, o desenvolvimento de empresas de base tecnolgica, pois a atividade de ensino e
pesquisa desenvolveu um mercado profissional e um ambiente de sinergia capaz de estimular
o surgimento de vrias pequenas empresas. E a presena dessas duas universidades tambm
refletiu no desenvolvimento da rea urbana, pois, ao envolver milhares de funcionrios e
estudantes, ambas as instituies provocaram reorientao dos eixos de expanso urbana.

O setor de comrcio e servios ainda era pouco desenvolvido em So Carlos, durante


os anos 1960, levando a populao da cidade a procurar outros centros vizinhos para suprirem
suas demandas, como Ribeiro Preto e Araraquara. Em 1970, o setor havia se diversificado, e
a consolidao comercial e de servios ocorreu principalmente na centro da cidade,
provocando significativas mudanas de uso e ocupao do solo dessa rea que j se adensava
com o incio do processo de verticalizao (DEVESCOVI, 1985, p. 186).

Nos setores de produo primria, So Carlos continuava se destacando na produo


de gros, como o caf, e principalmente na pecuria, mais precisamente no setor de laticnios,
cuja produo ocupava quase metade das terras produtivas do municpio. Durante os anos
1970, a agricultura so-carlense tambm cresceu no setor de produo de cana-de-acar,
incentivada pelo programa federal e estadual Pr-lcool (SEMEGHINI, op. cit., p. 148-149).
A expanso desse setor passou a atrair um novo padro de migrantes para So Carlos, que,
vindos de outros Estados, trabalhavam na lavoura, mas residiam na cidade, os bias-frias.
121
Com efeito, entre 1970 e 1980, o setor secundrio foi o que mais cresceu no
municpio, a uma taxa de 8,4% ao ano. Os setores da mecnica e txtil continuavam se
destacando, o primeiro representando 46% da receita industrial, enquanto o setor de alta
tecnologia se estruturava (SEMEGHINI, op. cit., p. 152). O desenvolvimento econmico foi
acompanhado pelo crescimento populacional, que j era exponencial desde o final dos anos
1940. A populao urbana continuou crescendo mais depressa do que a rural, tendo tambm
se intensificado o processo de urbanizao (Grfico 4). Em 1960, a populao so-carlense
era de 62.045 habitantes, e a taxa de urbanizao, de 75,10%, estava bem acima da brasileira,
registrada como 45,50%. Em 1970, a populao municipal chegou a 85.425 habitantes, e a
taxa de urbanizao, a 88,7%, superior taxa de urbanizao brasileira, que era de 56,0%, em
1970. Em 1980, a populao de So Carlos havia ultrapassado os cem mil, chegando a
119.542 habitantes, e a taxa de urbanizao era de 92,2 %, enquanto a taxa do pas era de
68,9% (Tabela 20). Com a acelerao do crescimento do processo de urbanizao, o processo
de expanso da rea urbana tambm acelerou, como ser visto no item 3.3 deste captulo. Esse
crescimento ocorreu com o novo processo migratrio que atingia o municpio, de carter
intermunicipal e interestadual, o que levou a populao de migrantes no municpio a
representar 19% da populao total em 1970 (SEMEGHINI, op. cit., p. 155).

Tabela 20 Populao e taxa de urbanizao (1950-1980) municpio de So Carlos.

Taxa
Taxa Taxa
Populao Populao Populao urbanizao
Ano crescimento urbanizao
total urbana rural So Carlos
anual Brasil (%)
(%)
1950 47.731 -0,18% 32.703 15.028 64,7 36,2
1960 62.045 2,66% 50.851 11.194 75,1 45,5
1970 85.425 3,25% 75.739 9.686 88,7 56,0
1980 119.542 3,42% 110.235 9.307 92,2 68,9
Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud
Devescovi (1985, p. 58).

122
Grfico 4 Populao total, urbana e rural (1874-2000) municpio de So Carlos.

220

200
Nmero de habitantes (milhares)
180
160

140

120

100

80

60
40

20

0
1874 1886 1900 1920 1934 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000
Ano
Populao total
Populao urbana
Populao rural

Fontes: Censos do IBGE. Dozena (2001, p. 42); Almanaque de So Carlos de: 1894, 1915, 1927 e Censo Demogrfico de 1920 apud
Devescovi (1985, p. 58).

3.2 A EXPANSO URBANA PERIFRICA E DESCONTNUA

3.2.1 A intensificao do processo de expanso urbana e a reestruturao do sistema


virio

O perodo 1960/1977 caracterizou-se pela construo de uma estrutura de


planejamento urbano na administrao municipal. Essa estrutura foi responsvel pela
introduo de um arcabouo urbanstico legal que contribuiu para a construo de um novo
padro urbano. Dois momentos so bem definidos no processo de expanso urbana desse
perodo. O primeiro iniciou-se em 1960, com a criao do primeiro setor municipal de
planejamento e de controle da expanso, o Escritrio Tcnico do Plano Diretor vinculado ao

123
gabinete do prefeito. O Escritrio Tcnico do Plano Diretor, criado pelo decreto n. 4013/1960,
foi responsvel pela elaborao do primeiro Plano Diretor (PD) para So Carlos e pelo
aumento do controle da expanso urbana na cidade. O segundo momento, com incio em
1968, foi definido a partir da aprovao do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
(PDDI), que originou uma srie de leis de controle de uso e ocupao do solo, que contribuiu
para a expanso concentrada na regio central e rarefeita na periferia.

Neste momento de 1971/77, existiu um confronto entre a legalidade e a ilegalidade


urbana que evidenciou o processo social que o pas atravessava, marcado pela confluncia de
dois processos antagnicos: o progresso econmico, por um lado, e o aprofundamento das
desigualdades sociais, por outro.

No bojo desse processo, uma nova categoria de loteadores surgiu em So Carlos, para
atender ao mercado imobilirio da periferia em crescimento. Essa nova categoria era
extremamente especulativa e passou a lotear margem da legislao urbana recm-
implantada. Nesse duelo entre o controle e o descontrole, o controle municipal entrou com
desvantagem, pois, apesar das novas leis, o enfraquecimento dos poderes municipais e
estaduais nos anos de ditadura militar deixou o municpio com dificuldade para exercer seu
controle. Como resultado, os loteamentos precrios se proliferaram medida que a populao
urbana crescia. O coroamento desse processo ocorreu em 1977, com a aprovao da lei
municipal 7.821/77, que abriu precedncia para a ampliao aleatria do permetro urbano,
aumentando ainda mais o poder de ao dos loteadores especulativos.

O crescimento da populao urbana municipal tambm ocorria de forma acelerada, por


causa do processo migratrio, interestadual e intermunicipal. A populao so-carlense
passou de 62 mil habitantes, em 1960, a 119 mil habitantes, em 1980. O ndice de urbanizao
passou de 75,10%, em 1960, para 92,2%, em 1980 (Tabela 20).

Em 1962, os bondes eltricos pararam de circular na cidade, e o transporte coletivo


passou a ser feito exclusivamente por nibus. Com isso, o processo de expanso foi
adquirindo maior dinamismo, pela possibilidade de a populao dependente de transporte
pblico poder morar em regies distantes do centro. O nmero de automveis tambm
cresceu nesse perodo, passando de 800 automveis, em 1950, para 1.900 automveis em
1960. Em 1967 esse nmero j havia se elevado para quase 5.000 automveis, aumentando
significativamente a demanda por vias mais largas (SO CARLOS, Plano Diretor Integrado

124
1970, n.p.). O transporte rodovirio intermunicipal tambm se intensificou, dando
continuidade ao processo de substituio do transporte ferrovirio que j havia comeado no
perodo anterior.

A mudana dos sistemas de transporte foi acompanhada por uma reestruturao do


sistema virio. O sistema de avenidas marginais aos crregos, adotado em muitas cidades em
expanso, era encarado como uma soluo adequada para resolver a questo viria. Muitas
obras de infra-estrutura virias foram realizadas nesse perodo, tais como a construo da
avenida marginal do Crrego Gregrio, ligando o centro regio oeste da cidade, e a ala de
acesso da rodovia Washington Lus cidade pela avenida So Carlos, ao norte do ncleo
urbano.

Figura 30 Avenida marginal do rio Gregrio em 1974 e ala de acesso cidade pela rodovia Washington Lus em 1960.
Fontes: PMSC/arquivo da SMHDU e arquivo da Fundao Pr-Memria.

O crescimento da rea urbana foi muito expressivo nesse perodo, passando de


1351,11 hectares, em 1959, para 2140,9 hectares, em 1977, com a implantao de 53
loteamentos (Tabela 21). O processo de expanso continuou de forma exponencial, assim
como no perodo anterior, e teve continuidade aps 1977 (Grfico 5).

125
Tabela 21 rea urbana (1857-1989) municpio de So Carlos.

Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos


Perodo rea urbana rea acumulada
Nmero (1) Crescimento (%)
(hectares) (2) (hectares)
1857-1929 10 423,5 423,5
1930-1959 55 927,61 1.351,11 254,62
1960-1977 53 789,79 2.140,9 58,45
1978-1989 46 967,7 3.108,6 45,20
Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros trabalhos
tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa digital do municpio de
So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.

Grfico 5 Crescimento da rea urbana (1874-2000) municpio de So Carlos.

3500,0

3000,0

2500,0
rea urbana em hectares

2000,0

1500,0

1000,0

500,0

0,0

57 88 93 29 39 49 59 69 77 79 89
18 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19

Ano

Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros
trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa digital do
municpio de So Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.

Durante a dcada de 1960, foram criados 14 novos loteamentos urbanos em So


Carlos, nmero bem inferior ao da dcada anterior, quando foram implantados 41

126
loteamentos. Mas a rea loteada no perodo1960/1971 foi relevante, somando cerca de 400
hectares de novas terras urbanizadas. Entre 1970 e 1977, 329 hectares de terra foram
parcelados, em um total de 34 novos empreendimentos, e 5 parcelamentos espontneos foram
realizados, somando 18,63 hectares. Outro tipo de loteamento que surgiu nessa dcada foi o
loteamento alto padro fechado Parque Sabar, que foi o primeiro loteamento do
municpio que utilizou o fechamento com muro. O nome, o ano de implantao, a rea e o
proprietrio de cada um dos parcelamentos realizados nesse perodo podem ser verificados na
Tabela 22. Ressalta-se que os loteamentos e parcelamentos analisados foram aqueles
efetivamente implantados, tanto os aprovados quanto os no aprovados.

Tabela 22 Arruamentos, loteamentos e parcelamentos espontneos (1960-1977) municpio de So Carlos.

Ano rea parcelamento


Nome do parcelamento (1) Proprietrio (1)
implantao (1) (hectares) (2)
1960 Jd. Santa Paula lvaro Anselmo Peres e outros 13,90
1961 Vila Boa Vista 1 Imobiliria Pinhal 52,00
1961 Jd. Alvorada Hermes Lusardo/Oswaldo Gantus 18,60
1962 Jd. Maracan 17,60
1965 Vila Carmem BOA VISTA 3 Joaquim da Rocha Medeiros 38,00
1966 Chcara So Joo Gysto Rossi 5,40
1966 Vila Boa Vista 2 Carola Rodemburg de Medeiros Neto 60,30
1966 Pq. Santa Mnica I Luiz Cunha Carneiro 8,76
1967 Chcara Casale 3,40
1968 Jardim Santa Felcia Romeu Tortorelli 146,00
1968 N. R. Silvio Villari Coop. Habitacional Cidade Azul 4,30
1969 Jd. S. Maria II Bichara Damha 6,00
1969 Vila Monte Carlo Lencio Zambel 24,50
1969 Vila Morumbi Eduardo Pulschen 8,00
1970 Parque Santa Mnica 2 Luiz da Cunha Carneiro 35,00
1970 Jardim Nova So Carlos Santo Rossetti 17,00
1971 Vila Vista Alegre Miguel Damha 5,00
1971 Jardim Santa Tereza Joo Orlando Ruggiero 6,40
1971 Loteamento dAquino Espolio de Vicente de Aquino 3,00
1971 Jardim Beatriz talo Gualtieri/ Arnaldo Jos Mazzei 23,00
1971 Jd. Jacobucci REA PBLICA 1,50
1972 Jd. Botafogo 1, 2 e 3 Arnaldo Mazzei e outros 17,00
1972 Jd. Guanabara Alfredo Petrilli 2,00
1972 Pq. Arnold Schimid Arnold Schimid 6,00
1972 Pq. So Jos Josefina Casale 19,00
1972 Pq. So Vicente de Paula Asilo de Mendicidade D. Maria Jacinta 4,00
1972 Vila Elisabeth Prolong Arnold Schimidt 2,00
1973 Jardim Maria Alice Miguel dos Santos Fries 9,00
1973 Recreio So Judas Tadeu Augusto de Aquino e outros 32,50
1974 Jardim Ricetti Alecia Monteiro Ricetti e outros 6,40
1974 Jardim Cardinalli talo Cardinalli e outros 6,00
1975 Vila Boa Vista 4 gleba d Joaquim Rocha Medeiros 5,00
1975 Solar dos Engenheiros Antenor Garcia Ferreira 1,50
1975 Jd. Mercedes Empreendimento Imob. Schimid 1,40
1975 Parque Primavera Jamaica Imveis 9,00
1975 Distrito Industrial Miguel Abdelnur Prefeitura Municipal de So Carlos 63,50

127
1976 Parque Sabar Sap agropecuria 17,00
1976 Jardim Santa Paula prolongamento Imobiliria Faixa Azul 4,00
1976 Morada dos Deuses Mira Assumpo Construtora 2,00
1976 Centreville Indstria Carlos Fachina 10,00
1976 Chcara Paraso (Maximino) Jos Maximino Jnior 3,70
1976 Estncia M. Alice Exemplo Empreendimentos Imobilirios 9,00
1976 Taba Yacy Imobiliria Faixa Azul 2,80
1976 Vila So Gabriel prolongamento Leonardo Petrilli Filho 22,00
1976 Jardim Ricetti prolongamento Thomaz Carreri 5,40
1977 Jd. Bethnia Mitra Diocesana de So Carlos 6,00
1977 Jd. Real Real Loteamentos e Empreendi/o 3,70
1977 Parque Anhembi Imobiliria Faixa Azul 3,60
Subtotal rea loteamentos 771,16
s/d Parcelamento espontneo 7 2,70
s/d Parcelamento espontneo 8 3,90
s/d Parcelamento espontneo 9 6,45
s/d Parcelamento espontneo 10 2,00
s/d Parcelamento espontneo 11 3,58
Subtotal rea parcelamentos espontneos 18,63
rea total de loteamentos 789,79
Fontes: (1) Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002); Entrevistas com tcnicos SMHDU e outros
trabalhos tcnicos e acadmicos. (2) Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/ 2003-2006; (s/d).

A implantao dos novos loteamentos foi bastante oscilante no perodo. Em 1963 e em


1964, por exemplo, nenhum loteamento foi implantado, e, em 1968, o parcelamento do solo
chegou a cerca de 150 hectares e, de 1969 a 1977, atingiu o mximo de 80 hectares em um
ano. Esses dados podem ser conferidos no grfico a seguir.

Grfico 6 rea urbana parcelada (1940-1977) municpio de So Carlos.

500

450

400

350

300

240
250

200

154 150
150

100 80 76
69 71 74
62 68 64 60
54 52 50
38 39 39 42
50
21 21 21 18
12 14 12 13
1 - - - - - - - - - 3
-
1940
1941
1942
1943
1944
1945
1946
1947
1948
1949
1950
1951
1952
1953
1954
1955
1956
1957
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977

Fontes: Mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa digital do municpio de So
Carlos/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.

128
Durante a dcada de 1970, um novo tipo de loteamento surgiu em So Carlos as
chcaras de recreio , implantadas no meio rural, utilizadas como chcara de lazer para os
residentes da cidade. Oito loteamentos de chcaras de recreio foram realizados na rea rural
do municpio, estando, todos eles, bem prximos ao ncleo urbano. A maioria dos lotes
possua em mdia 5 mil m. Em 1974, foi implantado o Vale do Uirapuru, em 1975, foram
implantados o Encontro Valparaso, Estncia Balneria Concrdia, Estncia Santa Lcia e
Vale da Santa Felicidade. Em 1976, foram implantadas as chcaras de recreio Vale do Sol e
Parque Itaipu; e, em 1977, a Chcara Leila. A maioria desses empreendimentos foi aprovada
pela Prefeitura Municipal de So Carlos (Tabela 23).

Tabela 23 Loteamentos realizados na rea rural chcaras de recreio (1960-1977) municpio de So Carlos.

Ano implantao (3) Nome do loteamento (2) Empreendedor (2)


1974 Pq. Vale do Uirapuru Joo Oian
1975 Encontro Valparaso Cardinali e Versa Imveis
1975 Estncia Balneria Concrdia Incorporadora e Imob. Serrana
1975 Estncia Santa Lcia Joo Kensei Sukomine
1975 Vale da Santa Felicidade Imobiliria Santa Felicidade
1976 Vale do Sol Jos Luiz Andrilli
1976 Pq. Itaipu Agropecuria Planalto
1977 Chcara Leila (Valparaso) Walter Favoretto
Fontes: (1) Nmero de referncia dos loteamentos adotada na pesquisa. (2) Registros dos loteamentos da SMHDU de So Carlos. (2)
Registros de loteamentos da SMHDU de So Carlos; Neves & Abreu (2002).

A localizao dos loteamentos urbanos implantados no perodo 1960/77 e suas


respectivas datas de implantao podem ser verificadas no Mapa 3 a seguir.

129
130
3.2.2 Os novos eixos de expanso urbana rumo periferia

Entre 1960 e 1970, um nmero pequeno de loteamentos, porm extensos, foi


implantado na rea urbana de So Carlos. Foram 14 novos loteamentos, que juntos somaram
406,76 hectares. Essa expanso ocorreu principalmente na poro oeste do ncleo urbano, que
havia tido a menor expanso no perodo anterior. Na direo noroeste foram implantados os
loteamentos Jardim Santa Paula, em 1960, e o Jardim Santa Felcia, em 1968. A sudoeste, a
Vila Boa Vista 1 foi implantada em 1961, a Vila Carmem, em 1965, e a Vila Boa Vista 2, em
1966. Na direo oeste, foi aberto o loteamento Parque Santa Mnica I, em 1966 (Mapa 3).

Os outros loteamentos implantados durante os anos 1960 espalharam-se pelos demais


setores da cidade. Em direo rodovia surgiram os loteamentos de mdias e pequenas
dimenses, como o Jardim Alvorada, em 1961, e o Jardim Santa Maria II, em 1969,
ultrapassando a rodovia. A sudeste, o Jardim Maracan foi implantado em 1962, contguo
pista da Washington Lus. Ao sul, a Vila Monte Carlo, de 1969, foi implantada em terreno
acidentado, formando um novo eixo de expanso que, durante os anos 1980 e 1990, seria
consolidado como a regio mais pobre e precria da cidade. Ao norte e a leste, novos
loteamentos surgiram nos interstcios de loteamentos existentes, como a Chcara Casale, de
1967, a Chcara So Joo, de 1966, sendo que a leste um nmero significativo de
parcelamentos espontneos foi implantado margem da legislao e autorizao da Prefeitura
Municipal (Mapa 3).

Ao longo da dcada de 1960, predominaram os grandes loteamentos. A Vila Boa Vista


1 ocupou rea de 52 hectares, e a Vila Boa Vista 2, de 60 hectares; o Jardim Santa Felcia, o
maior loteamento do perodo, ocupou 146 hectares de terras loteadas; e a Vila Carmem, 38
hectares. Os demais loteamentos possuam dimenso menor, como a Vila Monte Carlo, com
24,5 hectares, o Parque Santa Mnica1 e o Jardim Santa Maria 2, com 8,8 hectares e 6
hectares de terras loteadas, respectivamente (Tabela 22).

Alguns eixos de expanso do perodo anterior tiveram continuidade. A noroeste, a rua


Miguel Petroni tornou-se importante nos anos 1960 por dar acesso ao campus da Escola de
Engenharia, que tambm crescia e ampliava suas instalaes. Sendo uma continuao da rua
Dr. Carlos Botelho, a rua Miguel Petroni tambm tornou-se importante por se conectar

131
rodovia Washington Lus e por dar acesso ao maior loteamento do perodo, o Jardim Santa
Felcia (Figura 31).

A sudoeste, ganharam importncia durante os anos 1960 a rua Henrique Gregori (ou
rua das Torres) e a rua Coronel Leopoldo Prado, que juntas formaram um binmio de acesso
Vila Boa Vista 1, Vila Boa Vista 2 e Vila Carmem, conectando essa regio com a avenida
So Carlos. No sentido nordeste, a avenida Capito Luiz Brando, que uma via de
continuao da rua XV de Novembro e que na dcada anterior j havia despontado como
vetor de expanso por dar acesso Vila Jacobucci, foi prolongada na dcada de 1960,
atravessando a rodovia Washington Lus, no sentido nordeste, para dar acesso ao Jardim Santa
Maria II. Ao sul, a avenida. Morumby, contgua ao leito da Fepasa, que se liga rodovia Luiz
Augusto de Oliveira, continuou a se expandir, dando acesso Vila Morumbi. No sentido
sudeste, em direo capital, a avenida Getlio Vargas atraiu o loteamento Jardim Maracan,
que, apesar de estar completamente isolado da malha viria, foi situada em uma rea contgua
rodovia Washington Lus (Figura 31).

132
Figura 31 Principais eixos de expanso do perodo 1960/77. Fontes: Registros dos loteamentos implantados na Secretaria
Municipal de Habitao e Desenvolvimento Urbano/SMHDU; Base cartogrfica a partir de levantamentos
aerofotogramtricos de 1998 e mapa da SMHDU 2002; Plantas de Loteamentos (SMHDU); PMSC, Decreto municipal
837/47; PMSC, Decreto Municipal 3729/58.

133
Entre 1971 e 1977, grande nmero de loteamentos foi implantado na rea urbana de
So Carlos, sendo a maioria de pequeno e mdio porte, espalhados por toda a cidade.
Loteamentos mdios e pequenos ocuparam os interstcios vazios da rea urbana consolidada a
norte, nordeste e noroeste, como a Vila Vista Alegre, de 1971, o Parque Arnold Schimid, de
1972, o Solar dos Engenheiros, de 1975, e o Jardim Nova Santa Paula e a Chcara Paraso, de
1976. Outros loteamentos desse perodo estabeleceram novas conexes com a rodovia
Washington Lus, como o Recreio So Judas Tadeu, de 1973, e o Jardim Nova So Carlos, de
1970, bem prximo rodovia e contguo aos loteamentos do perodo e da dcada anterior.
Tambm contguos ao tecido urbano consolidado, foram implantados o Jardim Beatriz, em
1971, na regio da Vila Prado, o Jardim Ricceti, de 1974, e seu prolongamento, em 1976,
prximos Vila Monteiro, entre outros. Destaca-se tambm nesse perodo a implantao de
trs loteamentos de alto padro: o Prolongamento do Parque Santa Mnica, acessado pela
recm implantada avenida marginal do Crrego do Monjolinho, de 1970; o Parque Sabar,
loteamento fechado por muros, contguo rodovia Washington Lus e isolado do tecido
urbano consolidado, de 1976; e o Jardim Cardinali, localizado prximo Vila Nery e de
difcil acesso, de 1974 (Mapa 3).

Nos anos 1970, alguns novos eixos se formaram e outros se fortaleceram como
atrativos para a expanso urbana. Uma mudana significativa nas direes dos eixos de
expanso ocorreu a partir da implantao das avenidas marginais do Crrego Gregrio e
Monjolinho, implantadas durante a dcada de 1970, que eram parte do anel perimetral
proposto pelo setor de planejamento municipal para contornar todo o ncleo urbano. A
avenida Comendador Alfredo Maffei, contgua ao Crrego Gregrio, surgiu de um
prolongamento na direo oeste da rua Jesuno de Arruda, at a rotatria de encontro dela
com a avenida Francisco Pereira Lopes, que marginal do Crrego do Monjolinho, que, por
sua vez, segue at a portaria de baixo da USP. Essas duas marginais tornaram-se os principais
eixos de expanso da direo oeste, junto com a rua Miguel Petroni. Uma grande parte da rea
contgua avenida Francisco Pereira Lopes foi ocupada pelo prolongamento do Jardim Santa
Mnica. A marginal do Crrego Gregrio tambm se tornou um eixo de expanso da direo
leste, dando acesso a vrios loteamentos, como o Centreville, o Jardim Maria Alice, o Jardim
Ricetti e seu prolongamento (Figura 31).

A rodovia Washington Lus continuou exercendo grande poder de atrao. No sentido


sudoeste, o eixo formado pela avenida Getlio Vargas e rua Raimundo Correia atraiu uma

134
srie de novos loteamentos, como o Recreio So Judas Tadeu, o Parque So Jos, o Jardim
Ricceti, o Jardim Nova So Carlos, bem como vrios estabelecimentos industriais e
comerciais de grande porte. No sentido nordeste, no prolongamento das ruas XV de
Novembro e Marechal Deodoro, fortaleceu-se o eixo da rua Loureno Innocentini, que deu
acesso ao Parque Sabar, atravessando a rodovia para atingir o loteamento de Chcaras de
Recreio Monte Carlo.

A rua Miguel Petroni consolidou-se, durante os anos 1970, como um importante eixo
de expanso da regio noroeste da cidade, que se adensou com a implantao do campus da
USP, no incio dos anos 1970. Sendo uma continuao da rua Doutor Carlos Botelho, a rua
Miguel Petroni estabeleceu importante conexo do centro com a regio oeste, comunicando-
se com a rodovia Washington Lus, na direo noroeste. Ao longo desse eixo foram
implantados os loteamentos Taba Yacy e Morada dos Deuses. Outro eixo de expanso
importante no perodo foi a rua Coronel Jos Augusto de Oliveira, que deu acesso ao Distrito
Industrial Miguel Abdelnur e a outras indstrias que se instalaram na regio sudeste. Essa rua
tambm conectou a cidade com a rodovia Luiz Augusto de Oliveira, tambm conectada
rodovia Washington Lus, facilitando o acesso aos municpios de Ribeiro Bonito e Dourado
e ao interior do Estado de So Paulo.

Ao sul, um novo eixo de expanso se formou com a abertura da avenida Papa Paulo
VI, que cortou o loteamento Jardim Cruzeiro do Sul, oferecendo acesso ao isolado loteamento
Vila Monte Carlo e que, nos anos 1980, viabilizou a implantao do extenso e precrio
loteamento popular Cidade Aracy.

A implantao do campus da UFSCar, na direo norte, no teve impactos imediatos


no processo de expanso. Loteamentos em direo ao campus s se tornaram evidentes a
partir dos anos 1990.

3.2.3 A verticalizao no centro e a diversificao dos padres de loteamentos

O perodo 1960/77 caracterizou-se pela expanso da periferia, acompanhada da


verticalizao da regio central. Inicialmente, a expanso ocorreu com a implantao de

135
grandes parcelamentos, voltados, principalmente, para uma populao de mdio e baixo poder
aquisitivo. A partir dos anos 1970, surgiram muitos loteamentos pequenos, espalhados por
toda a cidade, atendendo a todas as classes sociais.

O traado virio tornou-se cada vez mais fragmentado, sendo cada um dos
loteamentos definido por um tipo de traado prprio e independente. Essa fragmentao
dificultava o acesso das novas reas. Os acessos aos novos loteamentos tambm se tornaram
cada vez mais precrios. O Jardim Santa Felcia, por exemplo, possua acesso nico formado
pela avenida Miguel Petroni. A maioria dos loteamentos era composta por lotes de 300 metros
quadrados, que levaram muito tempo para ser ocupados. Esse tipo de parcelamento acabou
provocando expanso urbana extensiva de baixa densidade. Esses loteamentos, embora no
fossem completamente isolados do sistema virio preexistente, foram implantados de tal
forma que acabaram formando enormes vazios entre seu limite e o limite das demais reas
urbanizadas. Isso aconteceu com evidncia a partir da implantao do Jardim Santa Felcia,
por exemplo, na regio noroeste, e com o Jardim Maracan a sudoeste.

Jardim
Santa Felcia

Jardim
Santa Felcia

Figura 32 Foto area do Jardim Santa Felcia, em implantao em 1969 (esquerda), e j em fase de ocupao,
em 1979 (direita). Fonte: arquivo SMHDU/PMSC.

Por outro lado, enquanto a periferia se alastrava, com lenta ocupao, no centro
ocorria um processo de verticalizao. O primeiro edifcio urbano com mais de dois
pavimentos foi o Irmos Stella, concludo em 1949, na rua General Osrio, e somente a partir

136
dos anos 1950 ocorreu a construo de edifcios em altura. O marco do incio da
verticalizao moderna em So Carlos aconteceu com a construo do Grande Hotel
Municipal, construdo pela famlia Pereira Lopes, no centro da cidade, cujas obras comearam
em 1952, e foram finalizadas em 1962. No incio dos anos 1960, o Edifcio Conde do Pinhal,
de estilo modernista, localizado na rua Major Jos Incio, em frente praa Coronel Salles,
foi concludo. Em 1967, foi inaugurado o Edifcio Vila Rica, que superou os dois edifcios
anteriores em altura, chegando a 14 pavimentos, com 54 apartamentos residenciais; ele foi
ocupado inicialmente por membros da elite local (GERALDI, 2005, p. 133, 141-164). Alm
disso, o setor bancrio, por necessitar de prdios modernos, contribuiu para o processo de
aquisio e demolio das antigas residncias do centro, que deram lugar a novos edifcios em
altura utilizados pelos Bancos (DEVESCOVI, op. cit., p. 185-186).

O processo de verticalizao ganhou maior visibilidade nos anos 1970, com a


construo do edifcio residencial Rosas de Prata, de 1974, localizado no centro, na esquina
da rua XV de Novembro com a rua So Joaquim, e do edifcio Racz Center, de 1975, de uso
comercial, localizado na avenida So Carlos, em frente ao Colgio lvaro Guio. O processo
de verticalizao no centro passou a representar o progresso econmico, bem como a
otimizao da utilizao do solo e a ampliao do lucro na venda dos imveis. A
verticalizao ocorreu pioneiramente e preferencialmente na rea central, porque essa rea,
tradicionalmente ocupada pela elite local, tornou-se cada vez mais disputada pela quantidade
e qualidade da infra-estrutura, comrcio e servios disposio. No incio dos anos 1970, foi
aprovada a lei municipal de edificaes 30 , que incentivava as construes em altura no ncleo
central da cidade. Esse assunto ser retomado no Item 3.4.

30
SO CARLOS. SE/PMSC (Seo de Expediente/Prefeitura Municipal de So Carlos). Dezembro de 1971. Dispe sobre
edificaes nesse municpio.

137
Figura 33 Vista area do centro de So Carlos em 1974, onde se observa os primeiros prdios, com vrios
pavimentos implantados na regio central. Fonte: arquivo da Fundao Pr-Memria/PMSC.

Outro processo que se evidenciou no centro da cidade no perodo 1960/77 foi o de


alterao do uso do solo. Nos anos 1960, houve grande transformao das antigas residncias
dos fazendeiros de caf em moradias estudantis e edifcios comerciais. Nos novos
loteamentos, predominou o uso do solo misto, com exceo das zonas industriais e do distrito
industrial, onde o uso era predominantemente industrial, e dos parcelamentos, cujos contratos
continham restries de uso e ocupao do solo. No Jardim Alvorada, por exemplo, foram
proibidas casas de pau-a-pique ou madeira; no Parque Santa Mnica, eram exigidos: recuo
frontal de 6 metros, lateral de 2 metros e recuo de fundos de 6 metros; na Vila Monte Carlo
foi proibido o desmembramento de lotes; e no jardim Santa Maria 2 no foram permitidas
casas escusas ou casas de madeira. Em alguns loteamentos s foi permitido o uso
residencial, tal como no Jardim Santa Paula e no Parque Santa Mnica.

importante ressaltar que, como no havia uma lei de controle de usos, as restries
definidas pelas clusulas contratuais dos loteamentos eram usadas como estratgia do
empreendedor imobilirio para garantir a estabilidade do uso de ocupao e,
138
conseqentemente, da valorizao dos imveis, procurando evitar a desvalorizao em casos
da instalao de usos incmodos. Esse tipo de clusula, conforme o decreto-lei federal n.
58/37, no poderia ser modificada sem o consentimento de 100% dos proprietrios dos lotes,
tornando-se uma camisa de fora para o setor de planejamento, como visto no Captulo 2. O
uso do solo misto, predominante na maior parte da cidade, foi encarado como um problema
pela equipe de planejamento urbano que trabalhou na cidade no incio dos anos 1960,
concluindo que:

Provocados pela falta de diretrizes do uso do solo, adquiriu a cidade o


desequilbrio entre a moradia, o trabalho e as funes de recreao; foi
constatado indstrias incmodas e nocivas, indevidamente localizadas nos
bairros residenciais, moradias em locais insalubres, a localizao do
comrcio, no preenchendo as necessidades dos bairros, e o equipamento de
ensino em locais desfavorveis s unidades residenciais (SO CARLOS,
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, 1962, n.p.).

Durante a dcada de 1960, ocorreu significativo aumento da quantidade de reas


verdes e institucionais nos novos loteamentos. Esse crescimento foi garantido pela primeira
lei de loteamentos (SO CARLOS, Lei n. 4411/1962, 1962), aprovada em 1962, que passou a
exigir a reserva de reas pblicas nos novos loteamentos, alm das ruas que tradicionalmente
eram doadas para o patrimnio municipal. Dos cerca de 400 hectares de rea loteada nessa
dcada, pelo menos 27 hectares eram de praas ou reas do sistema de lazer e 10 hectares
eram reas institucionais. Mas nem todos os empreendimentos foram realizados de acordo
com as exigncias de doao de reas pblicas. o caso do Jardim Santa Paula, da Chcara
Casale, da Vila Morumbi, do Jardim Santa Maria 2, do residencial Silvio Villari e do
loteamento Vila Boa Vista 2. Os loteamentos com maior quantidade de reas pblicas foram o
Jardim Santa Felcia, com quase 18 hectares de reas verdes e 2,7 hectares de rea
institucional, e a Vila Carmem, com 3,8 hectares de reas verdes e 1 hectare de institucional. 31

Esse perodo caracterizou-se pelo aprofundamento da segregao socioespacial. Os


loteamentos prximos USP continuaram sendo ocupados por chefes de famlias de
professores e profissionais especializados. O Jardim Santa Felcia foi ocupado por famlias de
mdio e baixo poder aquisitivo, assim como os loteamentos Vila Boa Vista 1, 2 e 3. O Parque

31
Clculo realizado a partir do mapa de loteamentos em So Carlos realizado para a pesquisa/2003-2006, a partir do mapa
digital do municpio de So Carlos da PMSC/SMHDU 2002 e plantas dos loteamentos.

139
Santa Mnica e seu prolongamento e o Parque Sabar foram os principais loteamentos
ocupados por famlias da elite local de alto padro socioeconmico A regio sul e sudeste
manteve-se como regio de residncia da populao pobre, assim como ocorreu no Jardim
Maracan (LAISNER, 1999, p. 47).

A implantao do Parque Sabar, em 1976, trouxe um novo aspecto ao processo de


expanso urbana de So Carlos. Esse foi o primeiro loteamento de alto padro do municpio,
totalmente isolado da rea urbana, fechado por muros e localizado em uma regio desocupada
na direo leste. Esse empreendimento o antecessor dos condomnios fechados, que se
tornaram comuns nos anos 1980 e 1990, e introduziu um novo padro de segregao
socioespacial.

Ao longo de todo o perodo 1960/77, a questo da implantao precria da infra-


estrutura se manteve, principalmente nos loteamentos mais perifricos, realizados para
atender s famlias de baixa renda. Eles eram entregues aos moradores sem pavimentao,
rede de coleta de esgoto, rede de abastecimento de gua e energia insuficientes e, muitas
vezes, distantes das linhas de transporte pblico.

Com relao infra-estrutura, a lei de loteamentos aprovada em 1962 era pouco


exigente, como ser visto no Item 3.4. No caso do Jardim Santa Maria 2, por exemplo, apenas
a rede eltrica foi executada. Em outros loteamentos, tais como o Jardim Morumbi, o
Residencial Slvio Villari, Jardim Maracan e Jardim Alvorada, toda a infra-estrutura foi
implantada, mas de forma precria. J no Parque Santa Mnica, no Jardim Santa Paula e na
Vila Boa Vista, toda a infra-estrutura mnima foi realizada adequadamente. Dessa forma,
pode-se afirmar que se as restries de uso do solo, a localizao do empreendimento e a
quantidade de reas pblicas no foram aspectos diferenciadores do padro socioeconmico
dos loteamentos, mas por outro lado, a qualidade da infra-estrutura foi o elemento
diferenciador na definio do padro dos empreendimentos. Enquanto nos loteamentos de
classe mdia e de alto padro a infra-estrutura urbana era realizada de maneira adequada, nos
loteamentos de baixa renda a infra-estrutura era precria ou inexistente no momento da venda
dos lotes. 32

Com efeito, desde o aceleramento do processo de expanso, no final dos anos 1940, o
padro de ocupao urbana em So Carlos se tornou muito heterogneo nas diferentes regies

32
Conforme dados coletados em entrevistas realizadas com tcnicos da SMHDU/PMSC/2005-2006.

140
da cidade, e nesse processo o controle limitado do poder pblico sobre a ao dos loteadores
especulativos teve grandes implicaes.

No incio dos anos 1960, a possibilidade de elaborao do primeiro Plano Diretor da


cidade era muito comemorada. Um jornal local notificou o fato da seguinte forma:

O Plano Diretor do Municpio veio, pois, salvar nosso patrimnio


urbanstico, seriamente ameaado pelos negociantes de terrenos, que tudo
faziam para aumentar o nmero de lotes, contrariando os legtimos
interesses dos so-carlenses amantes de sua terra. Assim, merecem os mais
rasgados encmios quantos prestigiam o novo instituto de urbanismo da
cidade. Foi realmente um freio ganncia obtusa dos loteadores
gananciosos, contra a qual por vrias vezes e em exclusividade, nos
batemos anos a fio (Jornal Correio de So Carlos, 25/8/1960, apud
ABREU, 2000, p. 81).

3.3 A ESTRUTURAO DO SETOR DE PLANEJAMENTO URBANO EM SO


CARLOS

3.3.1 A criao do SERFHAU e do BNH e as novas leis federais e estaduais

O perodo 1960/1977 foi determinante no processo de institucionalizao do


planejamento urbano no Brasil. Em 1964, foi criado o Servio Federal de Habitao e
Urbanismo (SERFHAU), regulamentado em 1966 como rgo administrativo do governo
federal (FELDMAN, 2002, p. 216). O SERFHAU foi vinculado ao Ministrio do Interior e ao
Banco Nacional de Habitao (BNH) e tinha como atribuio ser uma:

Entidade elaboradora e coordenadora da poltica nacional no campo de


planejamento local integrado, estabelecida dentro das diretrizes da poltica
de desenvolvimento regional, em articulao com o Ministrio do
Planejamento e Ministrio de Coordenao dos Organismos Regionais
(BRASIL, Lei n. 4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit., p. 217).

141
Para viabilizar as aes do SERFHAU, foi criado o Fundo de Financiamento de Planos
de Desenvolvimento Local Integrado, para financiar os programas desse departamento. A
liberao dos recursos, para a elaborao de planos, ficava condicionada criao de rgos
permanentes de planejamento e desenvolvimento local nos municpios.

A criao SERFHAU foi resultado de reivindicaes dos meios ligados ao


planejamento urbano, que envolveu principalmente arquitetos e municipalistas desde os anos
1950. Os arquitetos reivindicavam a criao do Ministrio de Habitao e Urbanismo e a
realizao de uma poltica nacional de desenvolvimento urbano que realizasse o planejamento
local integrado (BRASIL, Lei n. 4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit., p. 218-219).
Durante os anos de existncia do SERFHAU, sua atuao se dirigiu s administraes
municipais, na organizao de equipes tcnicas e no incentivo ao processo de elaborao dos
planos. Nesse perodo, o SERFHAU,

Organiza seminrios envolvendo tcnicos, consultores, prefeitos, vereadores,


etc., institui um programa de capacitao de recursos humanos, cursos
tcnicos de alto nvel, cria um banco de dados de interesse municipal e edita
uma publicao peridica o Boletim Informativo do Serfhau com
metodologias, roteiros e manuais para elaborao de planos e projetos
(BRASIL, Lei n. 4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit., p. 221).

A atuao do SERFHAU no processo de elaborao dos planos diretores municipais


influenciou toda uma gerao de profissionais, tanto dos setores pblicos de planejamento,
como os funcionrios federais, estaduais e municipais; quanto do setor privado tcnicos das
empresas de consultoria (BRASIL, Lei n. 4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit.).

No Estado de So Paulo, a atuao do SERFHAU teve grandes repercusses. Em


1967, o governo do Estado de So Paulo aprovou a lei orgnica dos municpios, que
determinava que os municpios organizassem suas estruturas administrativas para planejar
suas atividades de forma a promover o desenvolvimento de sua comunidade, respeitando e
atendendo as peculiaridades locais. A lei orgnica tambm estabelecia que nenhum auxlio
financeiro ou emprstimo seria concedido pelo governo do Estado aos municpios que no
tivessem um Plano Diretor regularmente aprovado, aps trs anos de vigncia dessa lei.
(ESTADO DE SO PAULO, Lei n. 9842, 1967). O Estado se colocou disposio das

142
administraes locais para assistncia tcnica no desenvolvimento do Plano Diretor, criando o
Centro de Estudos e Pesquisas de Administrao Municipal (CEPAM), junto Secretaria de
Estado e Negcios do Interior do Governo do Estado de So Paulo, em 1967 (BRASIL, Lei n.
4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit.).

Desde os anos 1950, uma estrutura de planejamento urbano j vinha se formando no


Estado de So Paulo, tanto na capital quanto nas cidades do interior. Diversos rgos de
planejamento comearam a ser criados nas administraes pblicas e em outras instituies.
Alm desses, muitas empresas de consultoria surgiam para dar assessoria tcnica na
elaborao de planos diretores municipais. Os arquitetos foram muito atuantes nesse processo,
com destaque ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) (BRASIL, Lei n. 4380, de 1964,
apud FELDMAN, op. cit., p. 222, 223).

Alm do IAB, outras instituies ligadas ao planejamento surgiram durante os anos


1950, entre as quais o Centro de Estudos e Pesquisas Urbansticas (CPEU), criado em 1955,
na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo e dirigido por
Anhaia Mello; o Instituto Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM), criado em 1952; e
a Escola Brasileira de Administrao Pblica da Fundao Getlio Vargas (EBAP), como
centro de treinamento de tcnicos para o servio pblico. Esse grupo de instituies teve
atuao relevante na construo de um saber, na formao de tcnicos dentro e fora das
administraes municipais e na institucionalizao de um sistema hierarquizado de
planejamento (BRASIL, Lei n. 4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit., p. 222, 223).

No perodo de atuao do SERFHAU, mais de 90 planos diretores foram realizados


em cidades paulistas. Uma pesquisa realizada pela Escola de Engenharia de So Carlos
constatou que, em uma amostragem de 107 municpios do Estado, apenas 20 no tinham o
Plano Diretor em 1975. O CEPAM desempenhou importante papel no apoio tcnico
realizao desses planos, mas tambm desempenharam esse papel empresas de consultoria
privadas. A mesma pesquisa constatou que, entre 90 PDDIs realizados no Estado de So
Paulo at 1975, 38 haviam sido elaborados por empresas privadas de consultoria, enquanto 14
planos contaram com a colaborao do CEPAM em parceria com as prefeituras (BRASIL, Lei
n. 4380, de 1964, apud FELDMAN, op. cit., p. 228-229).

Embora no tenham permanecido nos rgos criados no perodo do SERFHAU ou os


planos no tenham sido aprovados em vrias cidades do interior, a repercusso desse processo

143
foi forte. No caso de So Carlos, dois planos foram elaborados, tendo como parte dos
resultados a elaborao da legislao municipal dos anos 1960 e 1970. Um deles, finalizado
em 1962, foi assessorado pelo CPEU, e o outro, aprovado em 1971, foi realizado durante o
perodo do SERFHAU.

3.3.2 O Plano Diretor de 1962 com a participao do CPEU

Em So Carlos, a institucionalizao do planejamento urbano na administrao


municipal teve, em 1959, a criao da Comisso do Plano Diretor. Essa Comisso, criada pela
lei municipal n. 3907/59, era presidida pelo prefeito e deveria ser integrada por dez pessoas da
comunidade, representante das seguintes categorias: engenheiro da Prefeitura, Cmara
Municipal, comrcio, indstria, lavoura e pecuria, profisses liberais, ensino, imprensa,
associaes recreativas e esportivas e um representante das classes trabalhadoras. Alm disso,
essa comisso seria assistida por um urbanista de sua escolha contratado pelo Prefeito para
orientao dos trabalhos de natureza tcnica, o qual dever tomar parte de suas reunies e
debates, mas sem direito a voto (SO CARLOS, 1959, artigo 2). Era competncia dessa
comisso:

1. Elaborar o Plano Diretor do Municpio de So Carlos, e aps sua


aprovao por lei, orientar e fiscalizar sua execuo e propor modificaes
que se tornassem necessrias;

2. Emitir parecer sobre todo projeto de lei ou medida administrativa de


carter urbanstico, ou relacionados com os servios de utilidade pblica do
municpio.

3. Promover estudos e divulgao de conhecimento urbanstico e


especialmente do Plano Diretor do municpio (SO CARLOS, 1959, artigo
3).

Segundo a lei, a comisso deveria entregar o Plano Diretor Cmara em um prazo de


dois anos.

144
Em 1960, foi criado pelo decreto municipal n. 4013/1960 o Escritrio Tcnico do
Plano Diretor de So Carlos como rgo de Assessoramento do Plano Direto de So Carlos
(...) junto ao Gabinete do Prefeito. Esse decreto exigia a presena de um arquiteto no quadro
de funcionrios desse escritrio, cuja competncia seria de coordenar os trabalhos de
elaborao do plano. Pela primeira vez um profissional com essa formao seria incorporado
ao quadro de funcionrios municipais (SO CARLOS, 1960, artigo 1).

Entre as competncias do Escritrio Tcnico destacam-se:

a) Estudar todos os assuntos relacionados com o planejamento territorial


do municpio;

b) Encaminhar os pareceres tcnicos emitidos sobre os assuntos


estudados Comisso do Plano para a conveniente soluo;

c) Manter permanente contato com o CPEU por intermdio do Arquiteto


Coordenador, para receber orientaes gerais dos trabalhos (SO
CARLOS, 1960, artigo 4).

Aps a criao do Escritrio Tcnico do Plano Diretor, a estrutura administrativa da


Prefeitura Municipal de So Carlos adquiriu o seguinte formato:

145
Figura 34 Estrutura administrativa de So Carlos, incluindo o Escritrio Tcnico do Plano Diretor, criado pelo
Decreto Municipal n. 4013/1960.

Alm do Escritrio Tcnico do Plano Diretor, diretamente ligado ao prefeito, criou-se


um setor de obras e viao que inclua a aprovao de plantas e loteamentos.

146
O posicionamento do rgo de planejamento urbano ligado diretamente ao gabinete do
prefeito seguia o modelo americano de administrao municipal, que, desde os anos 1930, foi
referncia para as reformas administrativas do servio pblico nos nveis federal, estadual e
municipal. No campo do planejamento urbano, na difuso dessa organizao, o engenheiro
Anhaia Mello teve papel fundamental. Em 1955, foi criado o Centro de Pesquisas e Estudos
Urbansticos (CPEU) na FAU-USP, que, segundo Feldman, foi o verdadeiro laboratrio para
as idias americanas difundidas por Anhaia Mello (FELDMAN, op. cit., p. 226) e atuou em
inmeras cidades do interior do Estado de So Paulo. Em So Carlos, o CPEU participou de
todo o processo de elaborao do primeiro Plano Diretor do municpio, para o qual props a
seguinte estrutura para elaborao do plano:

Figura 35 Estrutura de planejamento urbano de So Carlos, para elaborao do Plano Diretor de 1962. Fonte: So Carlos,
Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.

Nessa estrutura, uma comisso do Plano Diretor, um Escritrio Tcnico do Plano


Diretor, o CPEU, a Cmara Municipal e uma Seo de Cadastro apareceram como
participantes do processo.

Em 1962, foi concludo o Plano Diretor do municpio de So Carlos (SO CARLOS,


Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p), que tinha como principal meta planejar
a cidade futura para at 140 mil habitantes, limitando a zona urbana, zoneando e prevendo o
sistema virio para proporcionar o maior equilbrio das funes de habitao, trabalho,

147
recreao e circulao. Para que as diretrizes do plano se efetivassem, era apontando que a
participao da comunidade no planejamento (...) a norma racional para a obteno de mais
eficiente receptividade das idias do plano, como garantia da sua realizao (SO CARLOS,
Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).

O Plano Diretor do Municpio de So Carlos, finalizado em 1962, se estruturou em


duas partes. A primeira, denominada pesquisa, em que foram abordados os seguintes
aspectos: histrico, fsico, demogrfico, administrativo, financeiro, social e cultural e o
aspecto legal. A segunda parte, denominada anlise dos problemas urbansticos/fundamentos
do planejamento territorial/composio do plano, consiste na anlise dos dados e proposio
de diretrizes. Na proposio de diretrizes destacaram-se: setorizao da rea de expanso,
zoneamento, sistema virio, sistema de recreio e reas livres, leis urbansticas e plano de ao
(SO CARLOS, Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).

Figura 36 Capa do Plano Diretor do municpio de So Carlos de


1962. Fonte: arquivos da UEIM/UFSCar.

148
Para a elaborao desse plano foram realizados dois levantamentos preliminares: o
registro cadastral da cidade e o levantamento aerofotogramtrico. Alm disso, foi realizada
uma pesquisa detalhada dos loteamentos implantados no municpio, alm do levantamento de
outros dados. A partir da, a equipe produziu um extenso diagnstico que apontou as
principais carncias do municpio e tambm sugeriu uma srie de diretrizes para melhorar seu
desenvolvimento urbano.

Dos 45 loteamentos estudados, foram verificadas inmeras irregularidades, como a


ausncia de aprovao dos loteamentos pela Prefeitura, a carncia de reas livres e verdes, a
presena de grande nmero de lotes vagos, a precariedade da infra-estrutura urbana em grande
parte dos loteamentos, a descontinuidade do sistema virio, a presena de inmeros conflitos
de usos e a degradao dos mananciais do municpio. A equipe concluiu que as vrias regies
da cidade se expandiram desordenadamente, criando srios problemas para a
municipalidade, em decorrncia da inexistncia de legislao que exigisse o mnimo de
urbanizao a ser executado pelos loteadores, tal como uma lei de zoneamento (SO
CARLOS, Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p).

O relatrio do PD props uma srie de diretrizes fundamentadas nas orientaes do


CPEU. Essas diretrizes abordaram os aspectos mais relevantes dos problemas urbanos
identificados, tendo proposto a legislao urbanstica referente lei de zoneamento, lei de
permetro, para demarcar o limite da expanso urbana, e lei de loteamento. A lei de
zoneamento definia nove zonas urbanas, para as quais foram determinados os ndices de
ocupao e aproveitamento do lote, o nmero mximo de pavimentos dos edifcios, a
finalidade da utilizao do lote e a densidade demogrfica de cada zona (SO CARLOS,
Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.). A lei de loteamentos, visando
controlar a expanso urbana, criava novas exigncias para a implantao de loteamentos.

Tambm foram propostas solues para melhorar o sistema virio para o tratamento
das praas e demais reas verdes. As diretrizes propostas para o sistema virio previam a
construo de uma avenida perimetral, circundando as bacias do crrego Gregrio e do Tijuco
Preto, a implantao de uma rede de avenidas proporcionando a ligao entre os bairros, a
realizao de obras para passagens em desnvel sobre os cruzamentos da rodovia e da
ferrovia, a implantao de vias marginais aos cursos dgua e ferrovia e a hierarquizao do
sistema virio com a redefinio da largura das ruas. Para o tratamento das reas livres foi

149
proposta a ampliao do sistema de recreio 33 a partir das seguintes aes: criao de parques e
jardins ao longo das marginais, formao de bosques nos fundos de vale, implantao de um
grande lago artificial, construo de praas de esportes, formao de cinturo verde de
chcaras entre a rea urbana e a rodovia Washington Lus e melhora no aproveitamento das
reas livres dos loteamentos implantados e dos futuros parcelamentos (SO CARLOS, Plano
Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).

O Plano Diretor, propriamente dito, no foi aprovado por lei especfica, mas algumas
diretrizes foram adotadas aps sua elaborao. A lei de loteamentos (SO CARLOS, lei n.
4411/1962, 1962), estabelecendo exigncias para a aprovao e implantao de loteamentos,
tambm foi aprovada. A lei de zoneamento, proposta pela equipe do plano, no foi aprovada.
Infelizmente, grande parte do material elaborado pela equipe do plano foi perdida pelas
administraes municipais seguintes, no restando nenhum exemplar no departamento de
planejamento urbano da Prefeitura.

3.3.3 O PDDI com a participao do CEPAM, do IBAM e da EESC

Entre 1968 e 1970, foi elaborado o segundo Plano Diretor para So Carlos, o Plano
Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), que incorporou os princpios do planejamento
integrado difundidos pelo SERFHAU e exigidos pelo governo estadual pela lei orgnica dos
municpios. O PDDI foi elaborado pela equipe municipal do Plano Diretor, em parceria com a
Escola de Engenharia de So Carlos, cujo convnio foi firmado pela lei municipal n. 5853, de
1968. A equipe do PDDI contou com a assistncia tcnica do Centro de Estudos e Pesquisas
de Administrao Municipal (CEPAM) e do Instituto Brasileiro de Administrao Municipal
(IBAM) (SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). A equipe
do PDDI era composta pelo arquiteto Carlos Augusto Welker, professor da Escola de
Engenharia de So Carlos, como coordenador dos trabalhos de elaborao do plano; Luisa
Battaglia, arquiteta, chefe do Escritrio Tcnico do Plano Diretor da Prefeitura Municipal de
So Carlos; Antnio Domingos Battaglia, arquiteto, professor da Escola de Engenharia de So
Carlos; Gert Hermann Reichert e Jos Celso Contador, engenheiros professores da Escola de

33
O sistema de recreio foi definido pela equipe do plano como um conjunto de reas verdes livres utilizadas para atividades
de lazer e recreao, caracterizadas pelo recreio contemplativo, como bosques, lagos, jardins; e pelo recreio ativo, como
playgrounds, locais para jogos recreativos, etc. (SO CARLOS, Plano Diretor do Municpio de So Carlos, 1962, n.p.).

150
Engenharia de So Carlos, como assessores de programao (SO CARLOS, Plano Diretor
de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).

Figura 37 Equipe do Plano Diretor de desenvolvimento de So Carlos de 1970.


Fonte: SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.

O PDDI foi apresentado como um plano integrado, abordando os seguintes aspectos:


econmico, fsico-territorial, infra-estrutura social e de prestao de servios comunidade. O
plano tinha como objetivo proporcionar o bem-estar coletivo por meio do desenvolvimento
integrado, sendo o resultado um plano que deveria ser constantemente atualizado, sob pena
de se tornar obsoleto antes de sua implantao. Outro objetivo do plano era a produo de
instrumentos de ao, no formato de leis elaboradas para oficializar a programao proposta
e fornecer os instrumentos bsicos de controle de desenvolvimento fsico territorial (SO
CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). A estrutura do PDDI era
semelhante do Plano Diretor de 1962, composta por pesquisas e levantamento de dados e
diagnstico, seguida de uma segunda parte com propostas e por um conjunto de projetos de
leis urbansticas (SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).

151
O diagnstico sobre o setor fsico-territorial apontou a carncia de diretrizes claras de
uso e ocupao do solo e a falta de uma orientao tcnico-consultiva para os edifcios
urbanos. Tambm foram verificadas inmeras deficincias no traado virio, como a falta de
hierarquia viria e a conseqente sobrecarga da avenida So Carlos, responsvel pela ligao
norte-sul da cidade, e a dificuldade da travessia dos crregos que recortam a rea urbana
(SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). A malha viria
ortogonal implantada no sculo XIX tambm foi criticada por ter sido implantada em um
terreno acidentado, o que contribuiu para o surgimento de profundas eroses no solo urbano.
Sobre a estrutura viria dos parcelamentos mais recentes, foi apontado que provocavam
descontinuidade do tecido urbano, por no darem continuidade s ruas preexistentes (SO
CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.). Essas descontinuidades
acabavam formando falhas na rea urbana formadas por grandes glebas desocupadas e
inteiras. Suspeitou-se, inclusive, que essas glebas eram mantidas como reservas do mercado
imobilirio (SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).

O controle da abertura de novos loteamentos era precrio, segundo a equipe do PDDI,


e dificultado pela dependncia do cadastro imobilirio desatualizado. A equipe identificou a
prtica dos loteadores em determinar o uso do solo e criar restries urbansticas nos
loteamentos que pretendessem valorizar principalmente reas exclusivamente residenciais em
glebas prximas ao centro, para atrair famlias de mdio e alto padro socioeconmico. Essas
restries, presentes nas clusulas dos contratos de compra e venda, eram registradas em
cartrio, assumindo fora de lei. Alm disso, apontavam que as reas pblicas dos novos
parcelamentos destinadas construo de praas, escolas, entre outros, e reservadas por
exigncia da lei de loteamento de 1962 eram localizadas em reas imprprias para esse uso ou
prximas ao limite do loteamento mais afastado da rea urbana consolidada (SO CARLOS,
Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).

A questo da habitao possua problemas em todos os nveis, que eram derivados


do processo de expanso da cidade, da poltica tributria inadequada e da m distribuio de
renda da populao. Um dos problemas mais graves levantado pela equipe do plano foi a
existncia de loteamentos, muitas vezes clandestinos, realizados em condies bastante
precrias, localizados principalmente nas zonas perifricas, para famlias com baixo padro
socioeconmico. Nesses loteamentos, as ruas tm um perfil que nem sempre se acomoda ao
terreno, no se executam servios de urbanizao (...). A falta de infra-estrutura prejudicava

152
toda a populao, demandando altos investimentos pblicos em obras de infra-estrutura
onerosas. Outro problema dos loteamentos perifricos era a ausncia de servios essenciais
para as famlias pobres, como, por exemplo, o alcance da rede de transporte coletivo (SO
CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).

As propostas do plano foram elaboradas por diretrizes e por leis especficas e projetos
de leis. As diretrizes abordavam todos os problemas levantados no diagnstico, orientando,
por exemplo, o trato das vias pblicas, com a construo de guias e caladas e sua
arborizao, alm da implantao de um anel virio de ligao interbairros. Esse anel virio
desviaria o trnsito da avenida So Carlos por um sistema de marginas que percorreriam as
vrzeas dos trs crregos principais que cortam o ncleo urbano, sendo formado por
avenidas de trfego rpido, com o menor nmero possvel de cruzamentos em nvel.
Deveria ser realizado em etapas, podendo-se prever obras para os prximos 10 a 15 anos. A
funo do anel virio, alm de interligar os diversos bairros, seria a de permitir e incentivar a
ocupao dos terrenos prximos ao centro, mas de difcil acesso em virtude das condies
topogrficas e da precariedade do sistema virio atual (SO CARLOS, Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.).

As diretrizes para habitao foram bastante ousadas. A equipe inicialmente sugeriu a


elaborao de um plano municipal de habitao (SO CARLOS, Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado, 1970, n.p.), que deveria considerar, entre outros aspectos, as
demandas por moradia e a faixa de renda dos interessados. Props tambm incentivar as
experincias do tipo de habitaes em superquadras ou de condomnios horizontais e
encorajou a construo, pelo poder pblico, de alojamentos para estudantes. Tambm foram
elaboradas diretrizes para a expanso das redes de infra-estrutura, como a rede de energia
eltrica, hidrulica e saneamento, e de telefonia, mediante elaborao de projetos especficos,
a serem implantados pelos rgos responsveis. Os projetos de lei apresentados receberam
assistncia tcnica do CEPAM e do IBAM, entre os quais uma lei que alterou novamente a
estrutura administrativa do municpio. Outra diretriz elaborada pela equipe do PDDI foi a
elaborao de uma poltica municipal que evitasse a formao de grandes reas vazias no
tecido urbano, sendo necessria uma legislao tributria para condicionar a ocupao
contnua do stio urbano (SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado,
1970, n.p.).

153
A nova estrutura administrativa municipal foi modificada em 1970, a partir da
proposta elaborada pelo IBAM (SO CARLOS, lei municipal n. 6453/1970, 1970). Em 1967,
a estrutura administrativa municipal j havia sido modificada pela lei municipal n. 5666/67,
na qual o Escritrio Tcnico do Plano Diretor deixava de existir como rgo diretamente
ligado ao gabinete do prefeito, tornando-se um rgo auxiliar independente, recebendo a
seguinte denominao: Plano Diretor. A nova estrutura, criada em 1970 e modificada por
decreto em 1971, tornou-se mais complexa, sendo subdivida em rgos que substituram as
antigas reparties, os quais foram pensados para intensificar o controle e aumentar a
qualidade do desempenho das atividades municipais. Entre os rgos de assessoramento do
prefeito, foi criada a Assessoria de Planejamento (ASPLA), que incorporou o setor do Plano
Diretor, o qual voltou a se ligar diretamente ao gabinete do prefeito (SO CARLOS, decreto
n. 6474, 1970). A ASPLA era composta pelos setores de Servios e Administrao, Escritrio
de Oramento e Programao, Escritrio Central de Cadastro e Escritrio Tcnico do Plano
Diretor (SO CARLOS, decreto n. 2/1971, 1971). As mudanas na estrutura administrativa e
o Regime Interno da Prefeitura Municipal de So Carlos elaborado pelo IBAM em 1970 so
ilustradas nas figuras a seguir. Nessa nova estrutura foram criadas as subprefeituras de Santa
Eudxia e gua Vermelha, como rgos de desconcentrao territorial.

154
Figura 38 Estrutura administrativa do municpio de So Carlos, definida em 1967 (esquerda), e estrutura
administrativa de So Carlos, em 1971, que criou a ASPLA, tendo sido elaborada com auxlio tcnico do IBAM
(direita). Fontes: So Carlos (lei municipal n. 5666/67,1967); So Carlos (decreto n. 6474/1970, 1970); So
Carlos (decreto n. 2/1971, 1971).

Figura 39 Capa do Regime Interno da Prefeitura Municipal de So Carlos, elaborado pelo IBAM e aprovado
pela lei n. 6474/1970 (direita). Fontes: Arquivo da Seo de Expediente/ PMSC.

155
O PDDI de 1970 foi aprovado em 1971, pela lei municipal n. 6684/71, de 24 de maro
de 1971, assinada pelo interventor federal Dr. Antnio Teixeira Viana. As demais leis
propostas pelo plano tambm foram aprovadas, como ser mostrado a seguir. De forma
semelhante ao PD de 1962, no restou nenhuma cpia do PDDI nos arquivos da Prefeitura
Municipal de So Carlos, sendo seu processo e produto cada vez mais esquecidos. Na Cmara
Municipal tambm so mnimos os registros do PDDI, constando apenas sua lei de aprovao.
Segundo funcionrios da Cmara, em meados dos anos 1990, todos os arquivos da Cmara
foram transferidos para um barraco prximo da UFSCar, onde ocorreram trs incndios
consecutivos. Com isso, grande parte da memria do processo de elaborao dos planos
diretores de So Carlos pode ter desaparecido.

3.4 A ESTRUTURAO DE UMA LEGISLAO URBANSTICA PARA SO


CARLOS

3.4.1 As leis resultantes do Plano Diretor de 1962: lei de loteamentos de 1962, lei da zona
industrial e lei de habitao

At a aprovao da lei de loteamento de 1962, a implantao dos loteamentos em So


Carlos ocorria sem nenhuma regulamentao, pois a nica lei que definia padres urbanos era
o Cdigo de Posturas de 1929, que, desde a dcada de 1950, j havia cado em desuso, mesmo
porque o cdigo criava parmetros para a abertura de arruamentos, e no para a modalidade
de parcelamento definida como loteamento. Essa ausncia de legislao colaborou para a
atuao irresponsvel dos loteadores, que passaram a lotear em terras baratas e cada vez mais
distantes do centro, com ruas estreitas, lotes pequenos, pouca infra-estrutura, baixa quantidade
de reas pblicas. Essa forma de loteamento tornava-se cada vez mais especulativa e
possibilitava a ampliao crescente de lucros. Como visto, no final dos anos 1950 foi criada
em So Carlos uma equipe de planejamento urbano disposta a atuar no controle da expanso
urbana.

Segundo o diagnstico produzido, nesse momento havia ocorrido grande aumento de


rea parcelada por loteamentos que se expandiram desordenadamente, criando srios
problemas para a municipalidade, mais pelo fato da inexistncia de legislao que exigisse o
156
mnimo dos mesmos, a serem executados pelos loteadores (SO CARLOS, Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano, 1962, n.p.). Como resultado dos trabalhos da equipe do Plano
Diretor foi aprovada a primeira lei de loteamentos, n. 4411/1962.

Essa lei representou um marco no controle da expanso urbana no municpio, pois


criou uma srie de exigncias para a aprovao e implantao de loteamentos. Para a
aprovao do loteamento, o interessado deveria dar entrada por uma requisio, apresentando
a planta do terreno, o ttulo de propriedade e certido negativa dos impostos. Com isso, a
Prefeitura notificava ao interessado as restries que recaam sobre a gleba em questo, e o
interessado deveria requerer Prefeitura as diretrizes, juntando duas vias da planta do imvel
em escada de 1/1.000, contendo as edificaes do entorno e o desenho das propriedades, as
curvas de nvel, os bosques existentes, entre outras, assinadas pelo proprietrio ou seu
representante legal e por profissional devidamente habilitado pelo CREA (SO CARLOS, lei
n. 4411/1962, 1962, artigos 4, 5 e 6).

Em posse desses documentos, caberia Prefeitura traar na planta apresentada: as ruas


e estradas que comporiam o sistema geral de vias principais; as reas de recreao necessrias
populao, localizadas de forma a preservar as belezas naturais; as reas destinadas a usos
institucionais, necessrias ao equipamento. Com os esboos, caberia ao requerente organizar o
projeto definitivo, na escala de 1/1.000, em cinco vias, assinado por profissional devidamente
habilitado pelo CREA e pelo proprietrio, acrescido das seguintes indicaes e
esclarecimentos: planta de situao do loteamento, vias secundrias e reas de recreao
complementar; subdiviso das quadras em lotes, com a respectiva numerao, recuos
exigidos, devidamente cotados; dimenses lineares, memorial descritivo e projetos
complementares. O projeto seria encaminhado s autoridades militares, sanitrias e outras,
conforme exigncia do artigo 1 do decreto-lei federal n. 58/1937, para seu parecer (SO
CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962, artigos 7, 8 e 9).

O interessado apresentaria o projeto Prefeitura, e, se aprovado, seria assinado um


termo de acordo, no qual o loteador era obrigado a: transferir, imediatamente, a escritura
pblica de doao, sem qualquer nus para o municpio, as vias secundrias e reas
complementares de recreao, as ruas e estradas que compem o sistema geral de vias
principais, as reas de recreao necessrias populao, localizadas de forma a preservar as
belezas naturais e as reas de usos institucionais necessrias ao equipamento. Caberia ainda
ao loteador executar, prpria custa, no prazo fixado pela Prefeitura, a abertura das vias de
157
comunicao e praas, a colocao de guias e sarjetas, a rede de gua potvel, rede de esgoto
e iluminao; pagar o custo das obras e servios com os acrscimos legais, se executados pela
Prefeitura, subprefeitura de inscrio no dbito da dvida ativa, para cobrana executiva,
sendo que essas obras deveriam ser concludas antes do incio da venda dos lotes. Com a
assinatura desse termo de compromisso e pagamento dos devidos impostos, a Prefeitura
expediria o alvar de loteamentos revogvel se no fossem executadas as obras exigidas (SO
CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962, artigos 10 e 11 ).

Uma srie de exigncias foi feita para a abertura de vias nos terrenos do municpio.
Em primeiro lugar, foi proibida qualquer abertura de via sem a prvia autorizao da
Prefeitura. Para as vias da rea urbana e de expanso urbana, era obrigatrio que as vias
pblicas se adaptassem s condies topogrficas do terreno. As dimenses do leito e passeio
das vias pblicas deveriam ajustar-se natureza, ao seu uso e densidade da populao das
reas servidas a juzo da Prefeitura ou de acordo com as diretrizes do Plano Diretor. Essas
dimenses seriam correspondentes ao mltiplo de filas de veculos ou de pedestres. As ruas de
acesso deveriam ter largura mnima de nove metros, com leito no inferior a seis metros e
recuos mnimos de quatro metros da construo (SO CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962,
artigos 13-16).

Na lei de loteamentos tambm foram definidas as declividades mximas das ruas em


6%, para as vias principais; 10%, para as secundrias. Deveriam, ainda, ser reservadas faixas
de terra com largura de 12 metros junto a estradas de ferro, alm de linhas de transmisso de
energia eltrica, em que era obrigatria a existncia de faixas reservadas com a largura de 12
metros para as vias pblicas. Ao longo dos cursos dgua seriam reservadas reas para sistema
de avenida-parque, cuja largura seria fixada pela Prefeitura (SO CARLOS, lei n. 4411/1962,
1962, artigos 17-19).

Alm disso, os novos parcelamentos realizados na rea urbana deveriam respeitar os


seguintes parmetros. As quadras no poderiam ter comprimento superior a 450 m e largura
de 80 metros, em caso de quadras residenciais normais, sendo que, para as quadras com mais
de 200 metros de comprimento era obrigatria a existncia de passagens de pedestres a cada
150 metros, no mximo. Tambm seriam admitidas superquadras projetadas de acordo com o
conceito da unidade residencial, que podero ter largura mxima de 300 metros e
comprimento mximo de 600 metros. Alm disso, a rea mnima dos lotes urbanos
residenciais seria de 300 m, sendo a frente mnima de 10 metros, e o lote rural teria rea
158
mnima dos lotes na zona rural de 10 mil m, salvo se a gleba se situasse na rea de expanso
urbana prevista no Plano Diretor do municpio As divisas laterais dos lotes deveriam ser
perpendiculares ao alinhamento da via pblica, e no seriam permitidos terrenos de frente
para as vias de passagem de pedestre (SO CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962, artigos 22-
29).

Com todas essas exigncias, a lei de loteamentos de 1962 demonstra a disposio de


seus elaboradores em realizar uma expanso urbana controlada. Entretanto, essa lei criou uma
definio, que foi na contramo dessa inteno. O territrio do municpio foi dividido em:
reas urbanas da cidade e vilas existentes; rea rural; rea de expanso urbana (SO
CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962, artigo 2). Cada uma dessas reas tinha a seguinte
definio:

I rea Urbana: a que abrange as edificaes contnuas da cidade e das


vilas e suas adjacncias, servidas pelo menos por um dos seguintes
melhoramentos: iluminao pblica, esgoto sanitrio, abastecimento de
gua, rede de guas pluviais, calamento ou guia para passeio, executados
pelo municpio por sua concesso ou com sua autorizao. As linhas
perimtricas da rea urbana acompanharo a distncia mxima de 100
metros (cem metros) os limites dos melhoramentos ou da edificao
contnua da cidade e vilas do municpio.

II rea rural a rea do municpio excludas as reas urbanas.

III rea de expanso urbana da cidade e vilas que for prevista no Plano
Diretor do Municpio, devidamente aprovada pela Cmara Municipal para
atender ao crescimento da populao e ao desenvolvimento da rea urbana
(SO CARLOS, lei n. 4411/1962, 1962, artigo 1).

A questo que, ao definir que as linhas perimtricas da rea urbana acompanhavam a


distncia mxima de 100 metros da rea urbana, definida como a rea com edifcios, servida
por pelo menos um tipo de infra-estrutura urbana, permitiu-se que terras fora da rea
delimitada pela lei de permetro urbano fossem sucessivamente loteadas. Com isso, no se
estabelecia de fato o controle da expanso urbana. As conseqncias desse equvoco foram
imediatas 34 . Entre 1962 e 1971, vrios parcelamentos foram realizados alm da linha do
permetro, tais como Vila Boa Vista 2 e 3, Jardim Santa Felcia, Chcara de Recreio Monte
Carlo, Vila Monte Carlo, entre outros. Isso aconteceu, apesar da ampliao do permetro,

34
Essa determinao da lei provavelmente foi fruto de alteraes realizadas pela Cmara, o que no se pode afirmar pela
insuficincia de evidncias, sendo uma questo para investigaes futuras.

159
realizada em 1962, pelo decreto municipal n. 4422, quando a rea urbana passou de 483,3
hectares, definida em 1958 (SO CARLOS, decreto n. 3728, 1958), para 1.034 hectares (ver
Mapa 3).

Outro problema que apareceu nesse plano foi o incentivo para que as novas ruas
fossem implantadas acompanhando a topografia do terreno, o que colocava de lado o traado
ortogonal. Com isso, os parmetros para os arruamentos ficaram pouco precisos, de forma que
s seria garantida a continuidade e funcionalidade da rea urbana se o departamento de
planejamento municipal desse conta de desenhar os loteamentos, como previsto na lei, o que
na prtica acabou no acontecendo.

Em 1966, foi delimitada a primeira zona industrial do municpio, pela lei municipal n.
5329, de janeiro de 1966, que definia o permetro da rea de uso industrial, localizada na
regio sudeste, prxima aos atuais edifcios do Sesi e da Ciesp (SO CARLOS, 1966). Em
1968, com a aprovao da lei municipal n. 5908, foram definidas as formas de utilizao
dessa zona, na qual seriam desapropriados dez alqueires, cuja rea era destinada a
proporcionar facilidades s novas indstrias que aqui queiram se instalar (SO CARLOS,
1968, artigo 1). As reas para a instalao das novas fbricas eram doadas, mediante
requerimento e assinatura de acordo, no qual as empresas deveriam cumprir algumas
exigncias. Entre as exigncias impostas pela Prefeitura, estava a obrigatoriedade da empresa
recolher os impostos e outros tributos no municpio; de iniciar as obras de construo da
fbrica em um prazo de seis meses; e de concluir e inaugurar o estabelecimento em um prazo
mximo de dois anos. Prefeitura cabia tomar as providncias necessrias para dotar essa
rea com melhoramentos pblicos, tais como: ruas, canalizaes de gua e esgoto, luz e fora,
pavimentao (SO CARLOS, 1968, artigo 1).

Em 1971, foi definido o permetro da segunda zona industrial do municpio, pela lei
municipal n. 6871/71, sendo essa rea contgua primeira zona industrial (SO CARLOS, lei
n. 6871/1971, 1971). Tanto o permetro da primeira quanto da segunda zona industrial foram
modificados algumas vezes, tendo, em 1981, recebido uma nova nomenclatura, de rea
industrial I e II, sendo esta ltima dividida em zona A e B (SO CARLOS, 1981). A lei de
permetro e zoneamento n. 6871/ 1971 criou a 3 zona industrial, contgua 1 e 2, mas
sendo bem maior do que as demais.

160
Em 1972, comeou a ser implantado o primeiro distrito industrial do municpio, criado
pela lei municipal n. 7.037, de setembro de 1972, e denominado distrito industrial Miguel
Abdelnur. Essa ao veio no bojo da poltica de expanso industrial do interior, sendo uma
estratgia utilizada por vrios municpios. Apesar da lenta ocupao do distrito, a localizao
do Miguel Abdelnur, na direo sudoeste da rea urbana, contribuiu para reforar o carter
industrial dessa regio, onde j existia a primeira e a segunda zonas industriais da cidade. O
distrito industrial foi um empreendimento realizado pela Prefeitura de So Carlos, no qual os
terrenos eram vendidos a partir de concorrncia pblica. As empresas tinham dois anos para
iniciar suas atividades e assim teriam iseno de impostos municipais de dez anos.
Prefeitura caberia a execuo de obras de infra-estrutura bsica, exceto asfalto, que seria pago
pelas indstrias. Neste acordo acabou ocorrendo o descumprimento de ambas as partes, o que
deixou a rea sem algumas redes de infra-estrutura bsica durante anos (CADERNO DA
TERCEIRA APRESENTAO CIESP DE AES REGIONAIS, 2004; SO CARLOS,
Lei n. 7037, 1972).

Segundo Semeghini, a criao dos distritos industriais no municpio teve papel


secundrio no impulso ao crescimento econmico e populacional do municpio que ocorreu
aps a implantao. Para o autor, esse desenvolvimento esteve muito mais ligado nova
dinmica de crescimento existente em todo o Estado, associada s aes estatais, como a
implantao de infra-estrutura de transportes, comunicaes e energia eltrica e de incentivo
s exportaes realizadas nos anos 1970 (SEMEGHINI, op. cit., p.150-151).

Outra lei aprovada aps a finalizao do Plano Diretor de 1962 foi a lei de habitao n.
4666/1963, que revogou a lei de habitao n. 1004/48. Essa lei trouxe poucas mudanas, mas
apresentou novas exigncias para a construo de habitao popular econmica, como a
presena de recuos frontais de no mnimo 6 metros, para casas de at 1 dormitrio, e recuo
frontal de 8,5 metros para casas de 2 e 3 dormitrios.

3.4.2 As leis resultantes do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado aprovado em


1971: a lei de permetro e zoneamento, a lei de edificaes e a nova lei de loteamentos

Em 1971, a estrutura da legislao urbanstica de So Carlos foi modificada, aps a


concluso do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. No novo formato, foram criadas
161
trs leis vinculadas entre si: a de permetro e zoneamento, lei n. 6871/71; a de edificaes, lei
n. 6870/1971; e a nova lei de loteamentos, lei n. 6808/1971. As leis de edificaes e de
permetro e zoneamento, por apresentarem erros e imprecises, foram revistas, sendo a lei de
edificaes modificada pela lei n. 6910/1972; e a lei de permetro e zoneamento, pela lei n.
6878/72. Ressalta-se que essas duas leis aprovadas em 1972, em conjunto com as trs leis de
1971, compem o arcabouo legal de controle urbanstico que somente a partir da aprovao
do Plano Diretor do Municpio de So Carlos, aprovado em 2005, comearam a ser revistas.

A lei de permetro e zoneamento n. 6871/71 dividiu o territrio municipal em trs


tipos de zonas: zona urbana, subdividida em sede e distritos; zona industrial; e zona rural
(SO CARLOS, Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, 1970, artigo 1). A zona rural
foi considerada toda rea do municpio no includa dentro dos permetros urbanos e
industriais. Quanto definio da zona urbana, a nova lei foi responsvel por uma
importante alterao, pois definiu como zona urbana a rea interna ao permetro urbano (SO
CARLOS, lei n. 6871/1971, 1971, artigo 6). Dessa forma, ficou resolvido o problema criado
pela lei de loteamentos de 1962, que considerava como rea urbana as terras com no mnimo
dois tipos de melhoramentos urbanos, e o permetro se deslocava, sendo demarcado a uma
distncia de 100 metros do ltimo melhoramento ou edificao da cidade (SO CARLOS, lei
n. 4411/1962, 1962). A nova lei, de 1972, definiu as coordenadas da linha de permetro
urbano do distrito sede, do distrito de gua Vermelha e de Santa Eudxia, localizados na zona
rural (SO CARLOS, lei n. 6871/1971, 1971, artigos 7-9), determinando que apenas as
reas internas ao permetro urbano poderiam ser loteadas, sendo que qualquer loteamento de
terreno fora da rea definida pelo permetro urbano (...) ser considerado loteamento rural e
dever obedecer legislao adequada (SO CARLOS, lei n. 6871/1971, 1971, artigo 16).
Esses permetros seriam definidos por lei e atualizados a cada trs anos (SO CARLOS, lei n.
6871/1971, 1971, artigo 2).

A zona urbana do distrito sede foi subdivida em trs reas de expanso urbana. Os
permetros das reas de expanso seriam definidos e revisados pelo rgo de planejamento da
Prefeitura, aprovados pela Cmara, e tambm seriam atualizados de trs em trs anos. Pela lei,
foi definida a 1 rea de expanso urbana, como a rea central, destinada a uma
intensificao do uso do solo, com tendncia de ocupao por atividades comerciais,
recreativas, institucionais e de prestao de servios. A 2 rea de expanso urbana foi
considerada toda a rea com viabilidade econmica de extenso dos servios pblicos.

162
Destina-se predominantemente habitao, e a seus equipamentos complementares. E a 3
rea de expanso urbana a rea que no apresenta interesse imediato de ocupao, mas se
destina a verificar e controlar as tendncias naturais do crescimento (SO CARLOS, lei n.
6871/1971, 1971, artigo 6). As 1, 2 e 3 reas de expanso eram concntricas, sendo a
primeira correspondente ao centro da cidade, a 2 envolvendo a anterior por completo, e a 3
rea de expanso, a mais distante do centro, localizada entre a segunda rea e a linha
perimetral que separa a zona urbana da rural. Esse zoneamento pode ser verificado na Figura
40, a seguir.

Figura 40 Zoneamentos do municpio de So Carlos, definidos pela lei 6871/71.

Em 1972, foi aprovada a reviso da lei de permetro de zoneamento n. 6871/71, pela


lei 6878/72. A nova lei no revogou a antiga, mas deu nova redao a vrios de seus artigos.
Na lei de 1972, o municpio passou a ser dividido apenas em zona urbana e zona rural (SO
CARLOS, lei n. 6878/1972, 1972, artigo 1), tendo a zona industrial recebido a nova

163
nomenclatura de rea industrial que passava a pertencer zona urbana, junto com as 1, 2 e 3
reas de expanso. Para cada uma dessas reas existiam parmetros de uso e ocupao
diferentes, definidos conjuntamente pelas leis de edificaes e de loteamentos.

A lei de edificaes n. 6870/1971 regulamentou a ocupao do solo urbano, tendo sido


a primeira a definir ndices de ocupao. Essa lei definiu parmetros de ocupao do solo para
as trs reas de expanso definidas pela lei de permetro e zoneamento. Foram estabelecidos
os seguintes ndices urbansticos: na 1 rea de expanso, correspondente ao centro da cidade,
o ndice de ocupao era de 100% da rea do lote, e o ndice de aproveitamento, de seis vezes
essa rea, podendo ainda ser acrescentados dois pavimentos de garagem, o que possibilitava a
verticalizao dessa rea. Para a 1 rea de expanso, o recuo frontal mnimo foi definido em
trs metros. Na 2 rea de expanso, o ndice de ocupao foi definido em 60%, o ndice de
aproveitamento, de 3, e recuo frontal mnimo de 3 metros, o que significou possibilidade de
aproveitamento do terreno bem menor do que na 1 rea de expanso. Na 3 rea de expanso,
o ndice de ocupao foi definido em 80%, e o ndice de aproveitamento, de 3. Esses
parmetros significaram uma possibilidade construtiva bastante elevada para toda a rea
urbana.

Em 1972, essa lei foi modificada pela lei municipal n. 6910/1972. Essencialmente, a
nova lei estabeleceu normas de ocupao das reas industriais, que passaram a ter ndice de
ocupao de 80% e ndice de aproveitamento de 3, e determinou que a 1 rea de expanso
estaria sujeita s normas do Condephaat, que preservava o entorno dos imveis tombados do
centro da cidade. A lei de edificaes de 1972 tambm modificou os ndices da 3 rea de
expanso, definindo o ndice de ocupao de 40% do lote e o ndice de aproveitamento de 1, o
que induziu uma ocupao de densidade baixa na rea de expanso mais perifrica. Com a
possibilidade de intensificar a construo na primeira rea de expanso, com ndice 6, os
terrenos centrais ficaram supervalorizados, e essa elevao de preos repercutiu no conjunto
da cidade.

Esse zoneamento teve impactos evidentes no processo de expanso e na definio de


novos padres que surgiram aps sua aprovao. O resultado foi o adensamento e a
verticalizao da regio central, e enquanto as regies mais afastadas do centro passaram a se
expandir, com uma densidade construtiva muito baixa e com a presena de enormes vazios
urbanos e terrenos desocupados. A foto a seguir no deixa dvidas das conseqncias dessa
lei.
164
Figura 41 Vista area da cidade de So Carlos em 2005, com destaque na rea central. Fonte: PMSC/SMHDU.

Os ndices da 1 rea de expanso foram novamente modificados pela lei n.


7309/1974, que acentuou ainda mais a diferena do padro da ocupao entre o centro e a
periferia e a valorizao dos terrenos. Pela nova lei, o ndice de ocupao da 1 rea de
expanso manteve-se em 100%, e o ndice de aproveitamento passou a ser 10 vezes a rea do
lote, podendo ainda ser acrescentados dois pavimentos de garagem. Mas, como o
desequilbrio entre as trs reas tornou-se muito evidente, foi aprovada uma nova lei em 1977
(SO CARLOS, lei n. 7802, 1977), reduzindo os ndices de ocupao e aproveitamento da
rea central. Pela lei n. 7802/1977, o ndice de ocupao ficou definido em 80%, e o de
aproveitamento, em 6, mais duas garagens.

A terceira lei, proposta pela equipe do PDDI e aprovada pela Cmara Municipal no
incio dos anos 70, foi a lei de loteamentos n. 6808/71, que revogou a antiga lei n. 4411, de
1962, impondo novas formas de aprovao dos loteamentos. Para a aprovao de qualquer
loteamento, prolongamento de vias pblicas ou abertura de novas vias, em qualquer das zonas
do municpio, o proprietrio deveria obter a aprovao da Prefeitura (SO CARLOS, lei n.
6808/1971, 1971, artigo 2).

Para a realizao do sistema virio dos novos loteamentos, foi definido que as
dimenses do leito e do passeio das novas vias pblicas deveriam ajustar-se natureza, ao seu
uso e densidade da populao das reas servidas, de acordo com as diretrizes do rgo de

165
planejamento da Prefeitura (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971, artigo 14), e que a
Prefeitura, por meio de seu rgo de planejamento, estabeleceria as dimenses mnimas das
vias pblicas, condies de abertura de ruas e demais elementos tcnicos necessrios para
garantir o bom funcionamento dos sistemas virio (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971,
artigo 15). Apesar da crtica da equipe do PDDI aos arruamentos ortogonais da rea central,
no foi exigido por essa lei que os arruamentos acompanhassem a topografia do terreno, ao
contrrio da lei de loteamentos 1962, revogada pela nova lei. Quanto ao tamanho das quadras,
pela nova lei, elas no poderiam ter nenhuma dimenso superior a 220 m, sendo a rea
mxima admitida para as quadras de 20.000 m (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971,
artigos 16 e 17). At ento, as quadras no poderiam ter dimenses maiores do que 450
metros de comprimento e 80 metros de largura.

A grande novidade da lei de loteamento de 1971 foi a exata definio das reas
pblicas dos novos loteamentos, reservadas para recreao e uso institucional. A quantidade
dessas reas no poderia ser inferior a: 12% da rea total a ser loteada, na 2 rea de expanso
urbana; 18% da rea total a ser loteada, na 3 rea de expanso urbana; 10% da rea total a ser
loteada nas zonas industriais; e 5% da rea total a ser loteada na zona rural. Para a 1 rea de
expanso no existia nenhuma exigncia (SO CARLOS, lei n. 6808/1971, 1971, artigo 20).
Alm disso, foi definido que, para as reas de recreao e de uso institucional, a localizao e
as dimenses seriam indicadas pelo rgo de planejamento da Prefeitura, para cada
loteamento, em funo da densidade de construo admitida, da localizao e do equipamento
pblico necessrio. Alm disso, uma vez aprovado o loteamento, nem a Prefeitura, nem o
proprietrio poderiam alterar o uso dos locais indicados (SO CARLOS, lei n. 6808/1971,
1971, artigos 18 e 19).

Essa lei tambm se diferenciou da lei de 1962 quanto s exigncias das obras e
servios pblicos a serem realizados pelo loteador. A lei de 1971 diminuiu a quantidade
mnima de infra-estrutura urbana exigida pela lei de 1962, que no vinha sendo cumprida
pelos loteadores. Segundo a lei de 1971:

Artigo 21 Na 2 rea de expanso urbana sero sempre obrigatrias as


aberturas das vias pblicas e a colocao de guias e sarjetas, devendo a
Prefeitura exigir tambm outro dos seguintes melhoramentos: rede de gua;
rede de esgoto sanitrio; rede de guas pluviais; sistema de proteo contra
eroso; pavimento ou estabilizao do leito; iluminao pblica.

166
Artigo 22 - Na 3 rea de expanso urbana ser sempre obrigatria a
abertura das vias pblicas, a colocao de guias e sarjetas, a colocao de
rede de gua ou de esgoto, devendo a Prefeitura exigir tambm outro dos
melhoramentos citados no artigo anterior.

Artigo 23 - Nas zonas industriais ser sempre obrigatria a colocao de


guias e sarjetas e a instalao de rede de guas pluviais.

Artigo 24 - Na zona rural ser sempre obrigatria a instalao de rede de


distribuio de energia eltrica, e a abertura das vias pblicas.

Dessa forma, a quantidade de redes de infra-estrutura obrigatria se reduziu e deixou a


critrio dos loteadores a implantao dos demais. Essa permissividade da lei acabou
possibilitando a aprovao de loteamentos precrios e incompletos, implantados durante os
anos 1960, que no tinham conseguido aprovao na Prefeitura. Mais uma vez a lei veio a
reboque do processo que j havia se efetivado.

Alm dessas trs leis, em 1974, foi aprovado um novo cdigo de posturas para o
municpio de So Carlos, que substituiu o superultrapassado Cdigo de Posturas de 1929.
Aprovado pela lei n. 7379/74, o novo cdigo continha uma srie de medidas de higiene, de
funcionamento dos estabelecimentos comerciais e industriais, entre outros aspectos, embora
deixasse de regulamentar a ocupao e o uso do solo, diferenciando-se bastante do cdigo
anterior. Com efeito, desde a aprovao do Cdigo de 1929, uma srie de leis urbansticas foi
sendo aprovada, revogando as disposies em contrrio e substituindo os parmetros
definidos naquele momento.

3.4.3 A liberao da ampliao do permetro urbano e a consolidao do descontrole da


expanso urbana

Em 1972, foi aprovada a lei federal n. 5868/1972, regulamentando a ocupao do solo


rural nos municpios, que interferiu no processo de expanso da cidade de So Carlos. Essa lei
atribuiu ao Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) o controle do solo
rural dos municpios, que levou a uma nova definio de zona urbana e zona rural, diferente
das definidas pela lei municipal de permetro e zoneamento.

167
As condies de parcelamento do INCRA eram menos restritivas do que as
municipais, pois permitia o loteamento de glebas rurais, desde que a gleba estivesse dentro de
um raio de at dois quilmetros da linha de permetro urbano definida pelo municpio. O
INCRA tambm exigia, para a emisso da certido de diretrizes para os parcelamentos em
rea rural, que a rea fosse servida por uma rede de infra-estrutura urbana mnima (no
definida com preciso) e estivesse prxima a uma escola primria e a uma distncia mxima
de 3 mil metros de um posto de sade (SILVA, 1995, p. 151). Apesar de o direito urbanstico
prever que a lei mais restritiva soberana sobre a mais permissiva, a lei federal abriu
precedncia para o loteamento na zona rural. Essa possibilidade acabou incentivando a
realizao de um novo tipo de parcelamento da zona rural de So Carlos, a chamada chcara
de recreio, que se multiplicou pelo municpio. So exemplos de chcaras de recreio
implantadas na zona rural: Encontro Valparaso, Estncia Balneria Concrdia, Vale da
Felicidade, Parque Itaipu, Chcara Leila, entre outras.

Essa possibilidade acabou enfraquecendo o controle da administrao municipal do


processo de expanso urbana. vlido lembrar que o controle do limite da rea urbana era
importante para o municpio porque as terras rurais urbanizadas dependiam da extenso das
redes de infra-estrutura e dos servios pblicos at seu limite, o que, dependendo da distncia
da gleba, poderia ser muito oneroso para o municpio. Por outro lado, as terras mais distantes
do centro eram as mais baratas e interessantes para os loteadores, que tiraram proveito da
coexistncia das duas leis.

Ainda no perodo 1960/1977, uma nova lei municipal, correlata lei municipal de
permetro e zoneamento, foi aprovada. Essa lei era sucinta, mas seu impacto foi abrangente e
complementava o descontrole da expanso urbana que as leis de loteamento e zoneamento
propiciavam. Em 1977, a lei n. 7821/77 desobrigou a atualizao do permetro urbano a cada
trs anos, o que abriu precedncia para que o permetro fosse alterado a qualquer momento.
Com efeito, a partir da aprovao dessa lei, o permetro passou a esticar em qualquer
direo e a ser sistematicamente ampliado. Ressalta-se que, para os loteadores, a linha de
permetro ainda era uma barreira, pois s era permitida a realizao de loteamentos para fins
urbanos dentro da rea urbana limitada pelo permetro. Portanto, a liberao do prazo de
atualizao do permetro facilitou a atuao dos loteadores, que, respaldados pela lei,
poderiam solicitar uma prvia ampliao do permetro na direo que quisessem parcelar.
Com isso, essa lei se tornou um marco no processo de expanso urbana de So Carlos, no

168
por seu controle, mas, pelo contrrio, por seu descontrole. A partir da, o permetro foi
sucessivamente ampliado.

Em 1978, o permetro foi modificado pela lei n. 7926/78; em 1979, pelas leis n.
8056/79 e 8095/79; e, em 1980, pelas leis n. 8170/80, 8459/1980 e 8529/80. Uma das
antecipaes mais evidentes foi aprovada para a implantao do loteamento Cidade Aracy,
pela lei 8170/80, na qual o permetro foi ampliado para envolver o loteamento que seria
aprovado dois anos depois desse alargamento. A figura a seguir ilustra o processo de
expanso urbana de So Carlos desde 1947 at 1989, mostrando a relao entre a linha de
permetro e a rea urbana.

169
Figura 42 Evoluo da rea urbana do municpio de So Carlos (1857-1989). Fonte: mapas 1, 2
e 3, realizados para a pesquisa.

170
Com efeito, o arcabouo legal implantado desde 1962 acabou no resistindo s
presses especulativas do mercado imobilirio e, no processo de expanso aps 1977, tornou
ainda mais evidente o triunfo dos loteadores. A cidade descontnua e segregada de hoje no
fruto de um acaso, mas de uma srie de aes legitimadas pelo poder pblico local e aceitas
pela sociedade.

A partir das anlises realizadas neste captulo, tornaram-se evidentes alguns aspetos
principais. A conjuntura socioeconmica nacional, entre os anos 1960 e1977, caracterizou-se
por um momento desenvolvimentista e autoritrio responsvel por um salto no processo de
industrializao e urbanizao no pas, acompanhado do aprofundamento das desigualdades
sociais. Em So Carlos, a economia da cidade se desenvolveu nesse perodo, ampliando seu
parque industrial de forma moderada. No setor educacional, a cidade se desenvolveu muito. A
implantao da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar), a primeira universidade
federal do Estado, no final dos anos 1960, contribuiu para a consagrao da cidade no mbito
do ensino universitrio e das pesquisas das reas tecnolgicas e dos estudos sociais. Mas, o
processo de expanso urbana no municpio foi desequilibrado, evidenciando as disputas
sociais caractersticas do perodo.

Apesar do regime militar autoritrio, muitos grupos de urbanistas atuaram pelo pas
em prol do desenvolvimento urbano planejado. Inmeras instituies pblicas de
planejamento urbano foram criadas nas esferas municipal, estadual e federal, entre elas o
Servio Federal de Habitao e Urbanismo (SERFHAU), pelo governo federal, o CEPAM,
pelo governo do Estado de So Paulo, e o Escritrio Tcnico do Plano Diretor, em So
Carlos. Entre 1960 e 1972, dois planos urbansticos foram realizados para o municpio. O
primeiro, elaborado entre 1960 e 1962, teve como principal produto a aprovao da primeira
lei de loteamentos em 1962, que definiu novos parmetros para os arruamentos e loteamentos
e novas exigncias para a aprovao desses empreendimentos. Em termos do desenho da
estrutura viria, esses parmetros eram flexveis, o que acabou incentivando arruamentos
diferentes em cada loteamento, muitas vezes desconectados entre si. Por outro lado, tornaram-
se severas as exigncias de infra-estrutura urbana aos loteadores, e, como resultado, a lei
acabou no sendo cumprida nesse aspecto.

Em 1971, foi aprovado o segundo plano urbanstico para So Carlos, o PDDI, que foi
responsvel pela elaborao das leis urbansticas, vigentes no municpio at hoje. As
principais leis derivadas desse plano foram a lei de permetro e zoneamento, a lei de
171
edificaes, a lei de loteamentos e a lei de reforma administrativa elaborada pelo Instituto
Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM). Ressalta-se que o municpio de So Carlos
no deixou de ter uma estruturao do setor de planejamento urbano, assim como inmeras
cidades do Estado de So Paulo, onde se destacou a atuao do CPEU, dirigido por Anhaia
Mello.

Se por um lado a legislao urbanstica era enrijecida, por outro a ao dos loteadores
se ampliava. Valendo-se das brechas da legislao, da insuficincia de fiscalizao e das
relaes clientelistas caractersticas da cultura poltica do governo local, os loteadores
passaram a atuar de forma cada vez mais especulativa. Aos poucos a legislao urbana foi
sendo modificada, atendendo cada vez mais aos interesses dos especuladores. O confronto
entre a permissividade e o controle se evidenciou na lei de zoneamento de 1971, na lei de
loteamentos e se completou com a aprovao da lei que liberou a ampliao do permetro
urbano em 1977. Com isso, grande parte dos objetivos das equipes dos planos dos anos 1960
e incio dos 1970, em garantir o desenvolvimento urbano equilibrado, praticamente se perdeu.
Os planos urbansticos de So Carlos foram sendo esquecidos, como produto e como
processo, mas isso no significa que no tenham tido impactos evidentes no processo de
expanso urbana de So Carlos, como visto ao longo do captulo. Desse confronto entre
planejadores e loteadores, formou-se na cidade um padro de ocupao onde o centro
vertical e concentrado, e a periferia extensa e rarefeita, que se tornou ainda mais evidente nos
anos posteriores a 1977.

172
CONSIDERAES FINAIS

Este estudo realizado sobre a cidade de So Carlos procurou revelar as principais


rupturas e continuidades no processo e no controle da expanso urbana entre 1857 e 1977.
Para isso, foram analisados o contexto socioeconmico, as caractersticas da rea urbana, a
estrutura administrativa municipal e a legislao urbanstica em cada um dos trs perodos
identificados.

O primeiro perodo, 1857 e 1929, teve incio com a criao do distrito de So Carlos
do Pinhal, em 1857, quando foi traado o primeiro eixo de expanso no sentido nortesul,
pelo fundador Antnio Carlos de Arruda Botelho, o futuro Conde do Pinhal. So Carlos
surgiu, como mandavam as tradies da poca, em volta de uma capela construda em nome
do santo padroeiro, para quem era doado o patrimnio de terras para o desenvolvimento da
cidade. Em So Carlos, essas terras foram doadas pela famlia dos Arruda Botelho, a famlia
mais tradicional da cidade. Esse territrio era administrado pela Igreja e pela Cmara
Municipal.

A expanso urbana do perodo 1857/1929, em um contexto em que o caf e a ferrovia


moviam a economia e a elite agrria controlava a cidade, ocorreu de forma concentrada e
contnua. Em 1857, foi traado, o primeiro eixo virio da rea urbana, a rua So Carlos, sobre
uma grande colina, contgua ao enquadramento do ptio da capela. As demais ruas foram
abertas em funo desse eixo, paralelas e perpendiculares, no sentido nortesul e lesteoeste,
com traado ortogonal herdado do urbanismo portugus. Entre 1889 e 1893, com a
implantao da ferrovia e a chegada dos imigrantes, a rea urbana teve expressivo
crescimento, com a implantao dos quatro primeiros loteamentos em apenas quatro anos.
Durante essa expanso, foram mantidos os padres urbansticos estabelecidos no momento de
fundao da cidade. Os anos posteriores no tiveram o mesmo dinamismo no processo de
expanso urbana, pelo contrrio, houve desacelerao nesse processo, junto com a crise da
cafeicultura.

Nesse perodo, o controle da expanso era realizado pela Cmara Municipal, que
doava e vendia os terrenos urbanos. O controle exercido pela Cmara, que era dominada pelas
elites locais, era feito por meio de cdigos de posturas, que definiam as formas de concesso

173
de terras, o tamanho dos terrenos e o permetro de diviso da rea urbana da rea rural. Nesse
perodo, quatro cdigos foram aprovados: em 1866, 1880, 1905 e 1929.

O Cdigo de Posturas de 1929 trouxe uma mudana significativa, com a criao de


uma nova estrutura administrativa municipal que fortaleceu o poder executivo, com o repasse
de grande parte das atribuies, que pertenciam Cmara, ao prefeito municipal. Outra
mudana que teve reflexos diretos no processo de expanso foi a desobrigao de as ruas
serem paralelas e perpendiculares e a exigncia da aprovao de um plano de arruamentos
pela Prefeitura, que deveria estar de acordo com o plano geral de arruamentos, organizado
pela municipalidade, ou atender s boas regras do urbanismo. Se, por um lado, a realizao
dos parcelamentos tornou-se mais rgida em decorrncia da necessidade de aprovao do
plano, por outro, os parmetros de desenho urbano tornaram-se vagos, podendo ser definidos
caso a caso. Ou seja, abriu-se mo do antigo traado ortogonal, que permitia uma expanso
homognea e controlada da rea urbana, deixando uma lacuna no controle do traado e dos
parmetros de desenho urbano.

O segundo perodo, 1930/1959, caracterizou-se pelo desenvolvimento industrial em


So Carlos, junto com o crescimento da populao operria e a retomada do processo de
expanso urbana. O Estado de So Paulo, que contava com o maior e mais equipado parque
industrial, tomou a dianteira do processo de expanso industrial, sendo o principal alvo dos
investimentos estatais e tambm de aplicaes estrangeiras, principalmente norte-americanas.
A capital e sua regio metropolitana concentraram a maior parte desses investimentos, o que
confirmou a hegemonia econmica dessa regio no cenrio nacional. Entretanto, apesar da
polarizao industrial ocorrida na cidade de So Paulo e na regio metropolitana, o processo
de industrializao das cidades do interior tambm foi relevante nesse perodo, quando se
consolidou a rede intercidades do interior de So Paulo. A consolidao dessa rede, que teve
incio durante o ciclo do caf, apesar de heterognea, resultou na construo de um parque
industrial no interior do Estado, dinmico e diversificado, que foi se tornando representativo
na economia estadual e nacional.

So Carlos acompanhou esse processo, e, em 1945, comeou a funcionar na cidade a


Indstria Pereira Lopes (IPL), fabricante de geladeiras e materiais de refrigerao. Em 1948,
foi implantada a Escola de Engenharia de So Carlos, EESC, com os cursos de Engenharia
Mecnica e Eltrica, que passou a atrair profissionais qualificados, vindos de vrias regies do
pas, transferindo residncia para o municpio, tendo tambm contribudo para o
174
desenvolvimento da vocao industrial do municpio, nos setores eltrico e mecnico. Nesse
momento, em que a sociedade industrial e urbana se consolidava, uma nova classe tornava-se
hegemnica no controle poltico da cidade, a elite industrial emergente. No final da dcada de
1950, So Carlos j era um municpio predominantemente urbano, sendo sede de grande
nmero de indstrias. O rpido desenvolvimento do setor industrial contribuiu para o
crescimento das migraes internas interestaduais e principalmente da migrao
campocidade, que provocou o aumento das taxas de urbanizao nacional, estadual e local.

A expanso urbana de So Carlos, entre 1930 e 1959, caracterizou-se por grande


crescimento da rea urbana, que triplicou de tamanho. Esse crescimento ocorreu em todas as
direes. Em um primeiro momento, entre 1930 e 1947, definiu-se um crescimento urbano
lento, com a implantao de um pequeno nmero de novos loteamentos, mas, a partir de 1948,
houve aceleramento do processo de expanso, e, em apenas dois anos, dez loteamentos foram
realizados. O terceiro momento definiu-se pela expanso, nos anos 1950, no momento de
consolidao da economia industrial, da estruturao das redes de transporte rodovirio e
incio do processo de popularizao do automvel. A principal caracterstica da expanso foi
a inflexo do tecido urbano rumo rodovia Washington Lus, com a maioria dos loteamentos
sendo traados em sua direo. Nesse perodo, a terra urbana tornava-se cada vez mais
concorrida, o que gerou aquecimento do mercado imobilirio.

Mas os loteamentos implantados possuam padro completamente diferente dos


existentes, definidos durante o sculo XIX. A heterogeneidade do traado urbano foi se
tornando comum, pois cada novo loteamento implantado tinha um desenho peculiar. A
quantidade de reas pblicas foi cada vez mais reduzida nos novos loteamentos, pois os
loteadores queriam realizar o maior nmero de lotes possvel em uma mesma gleba, o que
criou um problema para a Prefeitura, como a falta de rea para a implantao de escolas,
postos de sade, entre outras instalaes institucionais. A infra-estrutura tambm era precria
em alguns loteamentos, principalmente nos populares, distantes do centro da cidade. Esses
aspectos acabaram por gerar um tecido urbano heterogneo que tambm direcionou as
concentraes socioespaciais e contribuiu para o aprofundamento da segregao urbana. A
precariedade da periferia foi se aprofundando medida que a cidade crescia. Essa
heterogeneidade era permitida pelo Cdigo de Posturas de 1929, e, at a aprovao da lei de
loteamentos, em 1962, o Cdigo de 1929 permaneceu como principal instrumento de controle
da expanso urbana, sendo pouco eficiente.

175
Esse novo padro urbano acabou por trazer aspectos negativos para a rea urbana, o
que chamou a ateno da opinio pblica, que passou a pressionar o poder pblico com a
publicao de textos em jornais locais criticando as novas formas da cidade, o que aumentava
a necessidade de regulamentao e controle exercidos pelo poder pblico.

Em 1953, a aprovao de uma nova estrutura administrativa municipal sinalizou o


incio do processo de institucionalizao do planejamento urbano em So Carlos, com a
atribuio, recm-criada secretaria de obras, de elaborar planos de urbanismo e expanso da
cidade e dos distritos do municpio. Outra atitude tomada pelo poder pblico local foi a
criao da Comisso do Plano Diretor, em 1959, que fortaleceu o processo de construo do
planejamento institucional em So Carlos.

O terceiro perodo, 1960/1977, caracterizou-se pelo confronto entre o controle e


descontrole da expanso, com a institucionalizao do planejamento, por um lado, e com a
crescente ao da especulao imobiliria, por outro. O regime militar foi um momento
desenvolvimentista e autoritrio responsvel por um salto no processo de industrializao e
urbanizao no pas, s custas de muita represso, aprofundamento dos problemas sociais e
endividamento dos cofres pblicos, em decorrncia dos inmeros emprstimos adquiridos.

No perodo 1960/1977, houve redefinio dos eixos da expanso industrial paulista


que desencadeou o processo de desconcentrao da indstria metropolitana. O processo de
interiorizao da indstria paulista tornou-se ainda mais evidente nos anos 1970, incentivado
pelo Programa Nacional de Cidades Mdias, do governo federal. Grandes investimentos
foram feitos no interior durante nesse perodo, principalmente em rodovias, que facilitaram o
trnsito rodovirio, fortalecendo ainda mais a rede intercidades do interior paulista. O eixo
rodovirio formado pelas vias Anhanguera e Washington Lus, que inclui So Carlos, tornou-
se uma das regies industriais mais importantes do Estado e do pas.

So Carlos, apesar dos baixos ndices de participao no valor de produo industrial


do Estado, tambm apresentou significativo crescimento no setor. Durante os anos 1970, a
agricultura so-carlense tambm cresceu no setor de produo de cana-de-acar, incentivada
pelo programa federal e estadual Pr-lcool. A expanso desse setor passou a atrair um novo
padro de migrantes para So Carlos, que, vindos de outros Estados, trabalhavam na lavoura,
mas residiam na cidade, os bias-frias.

176
Novos fatos contriburam para a conformao do perfil educacional e tecnolgico que
a cidade foi adquirindo. Em 1968, foi fundada a UFSCar, a primeira universidade federal do
Estado de So Paulo, cujos cursos tambm eram voltados s cincias exatas aplicadas,
abordando diversas reas da Engenharia. Em 1972, foi institudo o campus da Universidade
de So Paulo em So Carlos, o que contribuiu para a consagrao da cidade no mbito do
ensino universitrio. So Carlos tambm passou a se diferenciar por seus centros de pesquisa
de base tecnolgica, trazendo impactos positivos para a cidade, que, aos poucos, foi
ampliando sua vocao industrial para a rea de alta tecnologia. Esse novo perfil tornou-se
mais evidente nos ano 1980 e 1990, medida que aumentavam os laos entre a indstria local
e o desenvolvimento de pesquisa de ponta nos laboratrios dessas instituies.

No perodo 1960/77, a expanso urbana ocorreu rumo periferia e de forma


descontnua. O crescimento da rea continuou ocorrendo de forma exponencial, assim como
no perodo anterior, quando o processo de expanso urbana gerou baixa densidade na periferia
e ocupao vertical na regio central. Ao longo da dcada de 1960, predominaram os grandes
loteamentos, principalmente para a populao de mdio e baixo poder aquisitivo, em regies
perifricas. A partir dos anos 1970, surgiram muitos loteamentos pequenos, espalhados por
toda a cidade, atendendo a todas as classes sociais, ocupando os interstcios vazios da rea
urbana consolidada. Dois tipos de loteamento tambm surgiram nessa dcada: o de alto
padro, fechado com muro, e as chcaras de recreio, implantadas no meio rural e utilizadas
como chcara de lazer aos residentes da cidade.

Uma das mudanas mais significativas nas direes dos eixos de expanso ocorreu
com a implantao das avenidas marginais dos crregos urbanos, durante a dcada de 1970,
que eram partes do anel perimetral previsto para contornar toda a cidade. Alm disso, a
rodovia Washington Lus continuou exercendo grande poder de atrao da expanso. Nos
novos loteamentos, predominou o uso do solo misto, com exceo das zonas industriais e do
distrito industrial, criado no incio dos anos 1970, com uso predominantemente industrial.
Nos novos loteamentos tornavam-se cada vez mais comuns os contratos registrados em
cartrio com clusulas que impunham regras de uso e ocupao do solo. Essas clusulas eram
utilizadas diante da ausncia de uma lei de zoneamento.

Nesse perodo, estabeleceu-se um confronto entre a legalidade e a ilegalidade urbana,


pois, enquanto a legislao urbanstica se estruturava, surgia uma nova categoria de loteadores
extremamente especulativa para atender ao mercado imobilirio da periferia em crescimento.
177
A questo da implantao precria da infra-estrutura foi evidente, principalmente nos
loteamentos mais perifricos, realizados para famlias de baixa renda. Eles eram entregues
sem pavimentao, sem rede de coleta de esgoto, sem rede de abastecimento de gua e com
energia insuficiente, alm de estarem, muitas vezes, distantes das linhas de transporte pblico,
contrariando a nova legislao aprovada no incio dos anos 1960. O traado virio tornou-se
cada vez mais fragmentado, sendo cada um dos loteamentos definido por um traado prprio,
o que dificultava o trnsito e o acesso a diferentes reas da cidade.

No processo de institucionalizao do planejamento urbano em So Carlos, dois


momentos so bem definidos. O primeiro, com incio em 1960, com a criao do primeiro
setor municipal de planejamento e controle da expanso, o Escritrio Tcnico do Plano
Diretor, como rgo permanente de planejamento vinculado ao gabinete do prefeito. Nesse
momento foi elaborado o primeiro plano diretor para o municpio, finalizado em 1962. O
segundo momento da institucionalizao do planejamento urbano em So Carlos ocorreu com
a elaborao e aprovao do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (PDDI), em 1971,
que originou uma srie de leis de controle de uso e ocupao do solo.

Em esfera nacional, o processo de institucionalizao do planejamento urbano j vinha


ocorrendo desde os anos 1950, pelas aes do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e pela
criao de uma srie de instituies de planejamento dentro e fora das administraes
municipais, como o CPEU, vinculado USP, o IBAM e o CEPAM. Algumas dessas
instituies assessoraram o processo de planejamento urbano em So Carlos nesse perodo. O
primeiro plano, de 1962, contou com o auxilio tcnico do CPEU, e o segundo, com o auxlio
do CEPAM, do IBAM e da EESC.

As atividades de planejamento urbano em So Carlos resultaram na estruturao de uma


legislao urbanstica municipal. Nos anos 1960, essa legislao foi composta pelas leis de
loteamentos de 1962, de habitao de 1963 e pela lei de criao da zona industrial de 1966. A
lei de loteamentos de 1962 representou um marco no controle da expanso urbana no
municpio, pois criou uma srie de exigncias para a aprovao e implantao de loteamentos.
Mas, por outro lado, essa lei passou a considerar que a linha de permetro urbana seria
definida por uma distncia de 100 metros do ltimo edifcio implantado em rea servida por
pelo menos um tipo de infra-estrutura urbana. Com isso, o permetro tornava-se irrelevante no
controle da expanso. Essa determinao da lei foi na contramo da inteno de aumento do
controle da expanso proposta pela equipe de planejamento e provavelmente foi fruto de
178
alteraes realizadas pela Cmara, o que no se pode afirmar pela insuficincia de evidncias,
sendo uma questo para investigaes futuras.

Nos anos 1970, novas leis resultaram do PDDI aprovado em 1971, entre elas a lei de
permetro e zoneamento, a lei de edificaes e a nova lei de loteamentos. Esse zoneamento
teve impactos evidentes no processo de expanso, resultando na verticalizao da regio
central e da ocupao de baixa densidade com grandes vazios urbanos e terrenos desocupados
nas regies mais afastadas do centro. A nova lei de loteamentos de 1971 diminuiu a
quantidade mnima de infra-estrutura urbana exigida pela lei de 1962, que no vinha sendo
cumprida pelos loteadores. Com isso, foi possvel a aprovao de muitos loteamentos que
tinham sido realizados durante os anos 1960 sem aprovao. A linha exata de permetro
urbano voltou a existir, e o permetro deveria ser atualizado de trs em trs anos.

Mas, se por um lado a legislao urbanstica tornava-se mais restritiva, por outro a
ao dos loteadores se ampliava. Valendo-se das brechas da legislao, da insuficincia de
fiscalizao e das relaes clientelistas caractersticas da cultura poltica do governo local, os
loteadores passaram a atuar de forma cada vez mais especulativa. Aos poucos a legislao
urbana foi sendo modificada, atendendo cada vez mais aos interesses dos especuladores. O
confronto entre a permissividade e o controle se agravou com a aprovao de uma nova lei
que liberou a ampliao do permetro urbano em 1977. Assim, grande parte do esforo das
equipes de planejamento dos anos 1960 e incio dos 1970 em garantir o controle da expanso
praticamente se perdeu. Um ciclo de descontrole da expanso urbana foi se fechando, e, no
processo de expanso aps 1977, tornou-se ainda mais evidente o triunfo dos loteadores. As
conseqncias foram ntidas na cidade nos anos aps 1977, com o sistemtico crescimento da
periferia, da segregao e da fragmentao do tecido urbano. Verifica-se, com isso, que a
cidade descontnua e segregada de hoje no fruto de um acaso, mas de uma srie de aes
legitimadas pelo poder pblico local e aceitas pela sociedade. Esse confronto entre o controle
e o descontrole se estendeu por dcadas, mas ainda est longe de ser resolvido.

Nos trs perodos estudados surgiu um tipo de parcelamento nos materiais


pesquisados, os chamados parcelamentos espontneos, que consistem em loteamentos
realizados margem da legislao e autorizao da Prefeitura, permanecendo sem aprovao.
Esses parcelamentos no so muito extensos e surgiram nos interstcios da rea urbana
consolidada, sendo mais um reflexo do descontrole do processo de expanso em So Carlos.
Esse assunto merece estudo mais detalhado.
179
No processo de pesquisa, ficou evidente a precariedade dos arquivos municipais, tanto
da Cmara Municipal quanto da Prefeitura. Grande parte dos documentos histricos foi
perdida em incndios em momentos de reforma da Cmara Municipal; outra parte
desapareceu ao longo dos anos. E apesar dos esforos que h alguns anos vm sendo
realizados pelo poder pblico local na recuperao de documentos, possvel que grande
parte da memria do municpio j tenha se perdido. Novos estudos sobre So Carlos sero
fundamentais no auxlio a esse resgate.

180
REFERNCIAS

a) Fontes primrias

Material iconogrfico da rea urbana e dos loteamentos implantados em So Carlos

SO CARLOS. Fundao Pr-Memria/Prefeitura Municipal de So Carlos (FPM/PMSC).


Fotos de situaes urbanas da cidade do final do sculo XIX e incio do sculo XX. .

SO CARLOS. Secretaria Municipal de Habitao e Desenvolvimento Urbano/Prefeitura


Municipal de So Carlos (SMHDU/ PMSC). Foto area da rea urbana de 1969.

SO CARLOS. SMHDU/PMSC. Foto areas da rea urbana de 1979.

SO CARLOS. SMHDU/PMSC. Fotos de situaes urbanas da cidade 2000-2005.

SO CARLOS. SMHDU/PMSC. Foto area da rea urbana 2005.

SO CARLOS. SMHDU/PMSC. Plantas dos loteamentos implantados em So Carlos


entre 1940 e 1990.

SECRETARIA MUNICIPAL DE HABITAO E DESENVOLVIMENTO URBANO.


Mapa digital da cidade de So Carlos. So Carlos, 2002. 132 arquivos (301 megabytes).
CD-ROM.

Dados sobre loteamentos implantados em So Carlos

SO CARLOS. SMHDU/FPM/PMSC. Fichas de cadastro dos loteamentos existentes no


municpio de So Carlos. So Carlos: [sd].

SO CARLOS. SMHDU/FPM/PMSC. Contratos registrados em cartrio dos


loteamentos. So Carlos: [sd].

SO CARLOS. SMHDU/PMSC. Tabela de exigncias, restries e implicaes


construtivas. So Carlos, 2005.

Websites

ASSEMBLIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SO PAULO (ALESP). Website oficial.


Disponvel em: <http://www.al.sp.gov.br>.

181
REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Governo Federal. Website oficial. Disponvel
em: <http://www.brasil.gov.br/governo_federal/legislacao/intro/>.

Leis urbansticas

BRASIL. Governo Federal. Decreto-lei n. 58/1937,de 1937. Dispe sobre o loteamento e a


venda de terrenos para o pagamento em prestaes.

BRASIL. Governo Federal. Lei n. 6766/1979, de 19 de dezembro de 1979. Dispe sobre o


parcelamento do solo urbano e cita outras providncias.

BRASIL. Cdigo Florestal. Governo Federal. Lei n. 4771/65, de 1965.

ESTADO DE SO PAULO. Lei Orgnica dos Municpios. ALESP (Assemblia Legislativa


do Estado de So Paulo Assuntos Municipais). Lei n. 01/1947, de 18 de setembro de 1947.

ESTADO DE SO PAULO. Lei Orgnica dos Municpios. ALESP. Lei n. 9842/67, de 19 de


setembro de 1967.

SO CARLOS. FPM/PMSC (Fundao Pr-memria/Prefeitura Municipal de So Carlos).


Cdigo de Posturas de 1905. Lei n.58.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Cdigo de Posturas de 1905. Lei 215/1918.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Cdigo de Posturas de 1929. Lei n. 283/1929, de 15 de agosto


de 1929.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Decreto-lei n. 540, de 11 de junho de 1940. Define as


delimitaes da zona urbana e suburbana.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Decreto n. 837/1947, de 27 de janeiro de 1947. Define as


delimitaes da zona urbana e suburbana.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Lei n. 1004/1948, de 28 de julho de 1948. Estabelece normas


para facilitar a construo de habitaes econmicas e oferece outras providncias.

SO CARLOS. Lei n.1751/1953, de 1953. Dispe sobre a organizao geral dos servios
executivos do governo municipal de So Carlos e d outras providncias.

SO CARLOS. Decreto n. 3728, de 1958. Define as delimitaes da zona urbana e


suburbana.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Lei n. 3.729/1958, de 23 de dezembro de 1958.

SO CARLOS. Lei municipal n. 3907, de 1959. Institui a Comisso do Plano Diretor do


municpio de So Carlos.

182
SO CARLOS. Decreto municipal n. 4013, de 1960. Dispe sobre o Escritrio Tcnico do
Plano Diretor e d outras providncias.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Lei n. 4411/1962, de 30 de maro de 1962. Dispe sobre


loteamentos e oferece outras providncias.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Decreto n. 4567/1962, de 19 de dezembro de 1962.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Lei n. 4666/1963, de 24 de maio de 1963. Nova redao da Lei


n. 1004, estabelece normas para a construo de habitaes populares econmicas.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Lei n. 5319/1966, de 28 de janeiro de 1966. Delimita a zona


industrial na cidade de So Carlos.

SO CARLOS. Lei Municipal n. 5666, de 1967.Dispe sobre a organizao geral dos


servios executivos do governo ao municpio de So Carlos e d outras providncias.

SO CARLOS. FPM/PMSC. Lei n. 5908/1968, de 25 de setembro de 1968. (Zoneamento


Industrial).

SO CARLOS. Lei municipal n. 5853, de 1968. Autoriza Prefeito Municipal a assinar


convnio com a Escola de Engenharia de So Carlos.

SO CARLOS. Decreto n. 6474, de 1970. (Estrutura Administrativa).

SO CARLOS. Lei municipal n. 6453, de 1970. Dispe sobre a Estrutura Administrativa da


Prefeitura Municipal e d outras providncias.

SO CARLOS. Decreto n. 2, de 1971. Altera dispositivos do Decreto n. 6474 de 28/08/70


que aprovou o Regimento Interno da Prefeitura Municipal de So Carlos.

SO CARLOS. Lei municipal n. 6684, de 1971. Aprova o Plano Diretor de Desenvolvimento


Integrado (PDDI) do municpio de So Carlos e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 6808/1971, de 26 de agosto de 1971. Dispe sobre


loteamento e abertura de vias de circulao.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 6870/1971, de 1 de dezembro de 1971. Dispe sobre


edificaes neste municpio.

SO CARLOS. SE/PMSC (Seo de Expediente/Prefeitura Municipal de So Carlos). Lei n.


6871/1971, de 1 de dezembro de 1971. Define o zoneamento do municpio, os permetros das
reas urbanas e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 6910/1972, de 10 de maro de 1972. Revoga a Lei n. 6870,


de 1 de dezembro de 1971.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 6878/1972, de 14 de junho de 1972. Nova redao de


diversos dispositivos da lei 6.871, de 1/12/1971.

183
SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7037/1972, de 6 de setembro de 1972. Dispe sobre as
reas industriais e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7180/1973, de 24 de abril de 1973. Modifica os permetros


da 1 e 2 rea de expanso urbana e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7309/1974, de 9 de maio de 1974. Altera o artigo 20, da lei
n. 6910, de 10/3/1972, e suprime o artigo 10 da lei 6871, de 1/12/71.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7558/1976, de 25 de fevereiro de 1976. Modifica o


permetro da 2 zona industrial, estabelecida no art.10, da lei n. 6871, de 1/12/71.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7677/1976, de 3 de novembro de 1976. Modifica o


permetro da 2 zona industrial e da 2 zona de expanso urbana e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7802/1977, de 6 de dezembro de 1977. Dispe sobre


edificaes neste municpio e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7821/1977, de 22 de dezembro de 1977. Modifica o


pargrafo nico do artigo 2 e o pargrafo 2 do artigo 6 da lei n. 6871, de 1/12/1971.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7833/1978, de 7 de maro de 1978. Modifica o permetro


da 2 zona industrial.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7926/1978, de 11 de setembro de 1978. Nova redao do


artigo 7, da lei n. 6871, de 1/12/1971, modificado pelos artigos 8 e 9 da lei 6978, de
14/6/1972.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7962/1978, de 21 de novembro de 1978. Modifica o


permetro da 2 zona industrial, estabelecido no artigo 10, da lei n. 6871, modificado pelas
leis n. 7309/74, 7558/76 e 7833/78.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7969/1978, de 6 de dezembro de 1978. Nova redao do


artigo 9, da lei n. 6871/71, que define o permetro urbano da rea do Distrito de Santa
Eudxia.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 7993/1979, de 19 de maro de 1979. Confere nova


delimitao da 2 zona industrial do municpio e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8010/1979, de 24 de abril de 1979. Altera o permetro


urbano do distrito de gua Vermelha e oferece outras providncias.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8043/1979, de 2 de julho de 1979. Disciplina o uso do solo


do permetro que descreve e oferece outras providncias. Disciplina o uso do solo na Vila
Elizabeth.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8044/1979, de 2 de julho de 1979. Dispe sobre a


preservao das reas do entorno do terminal rodovirio de passageiros, institui condies de
uso e ocupao do solo e oferece outras providncias.

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SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8056/1979, de 23 de julho de 1979. Altera a redao do art.
7 da lei 6871/71, modificado pelos artigos 8 e 9 da lei 6978/72 e pela lei 7926/78.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8091/1979, de 25 de outubro de 1979. Considera rea de


ampliao industrial e oferece outras providncias, conforme processo administrativo n.
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SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8095/1979, de 5 de novembro de 1979. Nova redao ao


art. 7 da lei 6871/71, modificada pelos artigos 8 e 9 da lei 6978/72 e pelas leis 7926/78 e
8056/1979.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8170/1980, de 1 de abril de 1980. Altera a redao do art.


7 da lei 6871/71, modificada pelos artigos 8 e 9 da lei 6978/72 e pelas leis 7926/78 e
8056/79.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8459/1980, de 29 de julho de 1980. Altera a redao do art.


7 da lei 6871/71, modificada pelos artigos 8 e 9 das leis 6978/72 e 8170/1980.

SO CARLOS. SE/PMSC. Lei n. 8529/1980, de 29 de outubro de 1980. Altera a redao ao


art. 7 da lei 6871/71, modificada pelos artigos 8 e 9 da lei 6978/72 e leis 7296/78, 8170/80 e
8459/80.

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Entrevistas

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Vrias sesses realizadas entre 2002 e 2007.

SGOLI, Nivaldo Sgoli. Entrevista concedida Renata Priore Lima. SMHDU/ PMSC.
Vrias sesses realizadas entre 2002 e 2007.

PEPINO, Sergio Pepino (Diretor da Ciesp So Carlos). Entrevista concedida Renata


Priore Lima. Agosto de 2006.

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Lima. Agosto de 2006.

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