Nusdeo. Pagamentos Por Servicos Ambientais
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1
LITTLE, Paul. Os desafios da poltica ambiental no Brasil. In LITTLE, Paul E. Polticas ambientais no
Brasil. Anlises, instrumentos e experincias. So Paulo: Peirpolis, 2003, p 18.
2
SILVA-SANCHEZ, Solange. Cidadania ambiental. Novos direitos no Brasil. So Paulo: Annablume,
2. Ed., 2010, p. 66 -79.
A segunda fase, voltada ao controle da poluio industrial, desponta nos anos
70, como resultado do um processo de industrializao sem controle de efeitos
ambientais no pas. As primeiras iniciativas de edio de normas legais voltadas a esse
controle foram estaduais, at em razo da poltica de industrializao do governo militar
de ento3.
A fase da gesto integrada dos recursos naturais deve ser enxergada tambm no
contexto da evoluo da preocupao ambiental no cenrio das relaes internacionais e
da posio conquistada pela questo na agenda diplomtica6. Esse processo
internacional corre em paralelo com a organizao de grupos ambientalistas na
sociedade civil brasileira, cujo papel foi decisivo no salto que se d na disciplina
jurdica da proteo ambiental entre a edio da lei 6938, em 1981, e a promulgao da
Constituio Federal de 1988, com seu importante captulo sobre o meio ambiente7.
3
A exemplo da lei paulista 997/1976, voltada ao controle da poluio.
4
Lei 6766 de 19/12/1977.
5
A definio de meio ambiente da lei demonstra essa viso interligada. O meio ambiente conceituado,
no artigo 3, como conjunto de condies, leis, influncias e interaes de ordem fsica, qumica e
biolgica, que permite,abriga e rege a vida em todas as suas formas.
6
NOBRE, Marcos. Desenvolvimento sustentvel. Origens e significado atual. In NOBRE, Marcos e
AMAZONAS, Maurcio. Desenvolvimento sustentvel: a institucionalizao de um conceito. Braslia:
IBAMA, 2002, p 45-48.
7
SILVA-SANCHEZ, Solange. Op. cit., 89-94.
pblica ambiental8. Assim, estabelece princpios, objetivos, instrumentos e at uma
estrutura institucional o SISNAMA dos rgos competentes para sua implantao.
A implementao dos objetivos colocados pela poltica tem como um dos seus
desafios, num ambiente democrtico, a necessidade de lidar-se com um conjunto
heterogneo de atores polticos, como instituies e agncias governamentais,
movimentos sociais, empresas e organizaes ambientalistas. Os interesses desses
atores so divergentes ou contraditrios e, assim, a arquitetura da poltica ambiental
deve objetivar a sua incluso e uma participao consciente e efetiva em todas as etapas
do processo de formulao e gesto das polticas11.
8
BUCCI, Maria Paula Dallari. Op. cit. (o conceito de poltica pblica), p. 11.
9
Artigo 2.
10
Artigo 4.
11
LITTLE, Paul. Op. cit., p. 18. A discusso sobre a participao nas polticas ambientais ser
aprofundada no item 4.4., abaixo.
O desenho institucional fundamental da poltica consiste no Sistema Nacional do
meio ambiente SISNAMA. A noo de sistemas relaciona-se articulao de
competncias entre os diferentes entes da federao com competncia numa
determinada matria. O sistema de sade, organizado pela prpria Constituio no
Sistema nico de Sade, SUS, um exemplo ilustrativo.
Na medida em que a Constituio Federal atribui competncia aos entes dos trs
nveis federativos para proteger o meio ambiente, combater a poluio e preservar as
florestas, a fauna e a flora12, o SISNAMA articula a atuao dos rgos e entidades da
Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios competentes em matria ambiental13.
12
Artigo 23.
13
Artigo 6. Da lei 6938/81.
14
Cf. MACHADO, Paulo Affonso L. Direito ambiental brasileiro. So Paulo: Malheiros, 2010, p. 160
ambiental brasileira e propiciou um avano notvel da legislao ambiental, e mesmo da
sua efetividade, decorrente do respaldo dado pelo Poder Judicirio a essa legislao15.
O estudo dos instrumentos das polticas ambientais numa tica jurdica compe-
se de vrios ngulos complementares. Numa perspectiva macro de compreenso da
prpria poltica, aspectos como seu desenho, articulao e avaliao no devem ser
perdidos de vista. Por outro lado, comportam uma anlise do ponto de vista interno, vale
dizer, dos aspectos jurdico-dogmticos que garantem sua legalidade, aplicabilidade e
articulao a outros institutos jurdicos do ordenamento em questo.
15
Um exemplo desse respaldo consiste na posio consolidada no Superior Tribunal de Justia quanto
aplicao das regras do Cdigo Florestal (lei 4771/1965). Essa questo ser aprofundada no item 4.5.2,
abaixo.
16
Artigo 5. da lei 6938/81.
4.3.1. Instrumentos de comando e controle
17
Cf. MOTTA, Ronaldo Sera. Instrumentos econmicos e poltica ambiental. Revista de direito
ambiental, n. 20, out/dez 2000, p. 87 e NUSDEO, Ana Maria. O uso de instrumentos econmicos nas
normas de proteo ambiental. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo, v 101,
2006, p. 364.
18
NUSDEO, Fbio. Desenvolvimento e ecologia. So Paulo: Saraiva, 1975, p. 78.
princpios que fundamentam as regras mais concretas de comportamento, em especial os
da preveno e da precauo, relacionados priorizao de medidas que evitem a
ocorrncia do dano ambiental. O primeiro, assim, expressa a preferncia a ser dada pelo
ordenamento jurdico s medidas que evitem a ocorrncia do dano ambiental. O
segundo, definido da Declarao do Rio de Janeiro de 1992, determina que a ausncia
de certeza cientfica absoluta no deve ser razo para o adiamento de medidas
economicamente viveis para a preveno da degradao ambiental quando houver
ameaa de danos graves ou irreversveis19.
Esse controle, como sabido, d-se com base no instrumento dos padres. A
fixao dos padres, por sua vez, baseia-se em diferentes estratgias. Padres de
emisso referem-se imposio de limitaes de lanamento no ar ou na gua de
diferentes classes de poluentes, por fonte poluidora. Assim, criam deveres para as
pessoas fsicas ou jurdicas vinculadas a essas fontes. Padres de qualidade, por sua vez,
estabelecem limites mximos para a presena de determinadas substncias na atmosfera
e na gua ou ainda no tocante aos decibis para os rudos. Servem para orientar a
atividade de controle da poluio pelos rgos responsveis. A fixao dos dois tipos de
padro deve ser complementar, pois s vezes, o acmulo de poluentes emitidos dentro
19
Princpio 15. Disponvel em http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&id
Estrutura=18&idConteudo=576. Acessado em 19/08/2010.
dos limites de emisso para as fontes individuais pode resultar na ultrapassagem dos
padres gerais de qualidade.
20
Cf NUSDEO, Ana Maria O. Op. cit (o uso de instrumentos econmicos)p. . Cf. ainda ANDERSON et
al. Environmental improvement through economic incentives. In FINDLEY, Roger, FARBER, Daniel R.
e FREEMAN, Jody. Cases and Materials on environmental law. St. Paul: West Publishing, 2003, p. 338-
340 65.
da legislao21 e cujo objetivo demonstrar a necessidade de criao de instrumentos de
incentivo preservao.
21
Por exemplo MOTTA, Ronaldo S. e OLIVEIRA, Luiz R. e ALTAFIN, Iara G. Proambiente: Uma
poltica de pagamentos por servios ambientais no Brasil. Universidade de Brasila, disponvel em
http://www.sober.org.br/palestra/9/421.pdf
22
As regras relativas s unidades de conservao sero analisadas no item 4.5.3, abaixo.
23
Cf. STEWARD, Richard B. A new generation of environmental regulation? Capital University Law
Review, v. 29, 2001, p. 21.
24
Instrumentos econmicos e poltica ambiental. Revista de direito ambiental no. 20, 2000, p. 88.
Afinal, normas fixando padres de emisso ou solues tcnicas e, ainda, os processos
de licenciamento e as solues mitigadoras para o empreendimento que deles advm
representam custos significativos para atividades ou projetos.
25
Cf. Nusdeo, Ana Maria. Op. cit.( O uso de instrumentos ...), p. 365-366.
26
Cf. BOBBIO, Norberto. Op. cit., p. 23-32.
27
MOTA, Ronaldo S. Op. cit, p. 88 e NUSDEO, Ana Maria. Op. cit.( O uso de instrumentos ... ), p. 366-
368. Note-se que classificao pode ser comparada com aquela apresentada por Fbio Nusdeo (op. cit.),
p. 81-92), entre as medidas de finanas pblicas e medidas com base no mercado, embora no haja plena
coincidncia entre os dois pares de categorias.
preo de um recurso natural. No segundo caso, fala-se em instrumento econmico
deficitrio, que subsidia a diminuio do preo ou estimula condutas de preservao.
Em contrapartida, requerem o aumento da carga fiscal em outras atividades para seu
financiamento.
28
MOTTA, Op. Cit. p. 89-90. e Nusdeo, Ana Maria. Op. cit. (O uso de instrumentos econmicos), p. 366.
29
Para o conceito de externalidades, vide o item 1.1, do captulo 1, acima.
30
Especificamentre na lei 9433/1997.
monitoramento. A imposio de tributos sobre a utilizao de bens poluentes ou de
recursos naturais no renovveis ou escassos permite que o financiamento recaia, no
sobre a sociedade, mas sobre os grupos que causam maior presso sobre o meio
ambiente.
31
Vide, a respeito da proposta de criao da contribuio ambiental no Brasil, MOTTA, Ronaldo S.,
OLIVEIRA, Jos Marcos D. e MARGULLIS, Srgio. Proposta de tributao ambiental na atual reforma
tributria brasileira. IPEA. Texto de discusso 738, www.ipea.gov.br/pub/td738pdf, p. 17-21.
32
Para uma discusso sobre os limites impostos pelos princpios do direito tributrio brasileiro
implementao dessas medidas, confira-se SCHOUERI, Luiz Eduardo. Normas Tributrias Indutoras em
Matria Ambiental e FERRAZ, Roberto. Tributao ambiental orientada e espcies tributrias no Brasil.
Ambos em TORRES, Heleno T. Direito tributrio ambiental. So Paulo: Malheiros, 2005, p. 235-256. e
333-353, respectivamente.
33
O conceito do princpio do poluidor-pagador ser abordado no item 5.2.4., do captulo 5, abaixo.
de um preo ou exao sobre utilizao de um recurso natural, mesmo que no implique
na gerao de danos ao ambiente.
34
Reforming Environmental Law. In REVESZ. Richard. Foundations of Environmental Law. New York:
Oxford University Press, 1987, p. 135/136.
A criao de um sistema de teto e comrcio d-se a partir das seguintes medidas.
Em primeiro lugar, a autoridade ambiental estabelece um limite total (teto) de emisses
de determinado(s) poluente(s) para um conjunto de fontes num determinado lapso
temporal. A segunda etapa a de dividir esse teto em quotas. Em seguida, essas quotas
so distribudas entre as fontes, conforme critrios definidos na regulamentao do
programa. Os critrios mais comuns so o histrico passado de emisses de cada agente
ou leiles. Essas quotas podem ser negociadas entre as fontes. O quarto componente
refere-se ao estabelecimento de um sistema de verificao das suas emisses pelas
empresas para gerar informaes a serem reportadas autoridade reguladora.
Finalmente, a autoridade compara as emisses das empresas com as suas quotas
(originalmente distribudas ou adquiridas) e impe penalidades se aquelas ultrapassarem
essas35. A articulao entre o limite total teto e a possibilidade de comrcio de
emisses explica a denominao desse instrumento de mercado como cap and trade, na
lngua inglesa, que podemos traduzir como teto e comrcio de quotas.
35
MCALLISTER, Lesley. Beyond playing banker: The role of the regulatory agency in emissions
trading. American Bar Association Administrative Law Review, n. 59, 2007, p. 274. E NUSDEO, Ana
Maria. El papel de los mercados y de los derechos de propriedad en la proteccin ambiental. In ALVEAR
Helena e BERGALHO, Paola. Derecho y propriedad. Buenos Aires: Libraria Edicciones, 2008, p. 275.
36
Essa descrio baseada em PERCIVAL et al. Environmental regulation. Law, Science and Policy.
New York: Aspen Publishers, 4th ed., 2003, p.542- 246 e MCALLISTER, Lesley. Op. cit. p, 273-277.
Vide tambm NUSDEO, Ana Maria. Op. cit. (El papel de los mercados), p. 275-278.
contnuas, em sequncia enviados EPA. O programa e pode-se dizer que seu sucesso
exigiu investimentos por parte dessa agncia e um corpo bem treinado de
funcionrios.
37
Para uma descrio do programa e desses resultados, cf. McAlister, op. cit, p. 293-298.
Embora haja a possibilidade de transaes entre empreendimentos que reduzam
suas emisses e interessados em instalar ou ampliar suas unidades, no h
regulamentao dispondo sobre a criao de ttulos representativos da reduo de
emisses e os critrios para sua transferncia. Por outro lado, o fato de ser atrelado ao
licenciamento incentiva a manuteno do crdito pelas empresas que o obtiveram, para
um possvel uso futuro, desestimulando o comrcio38.
Assim, embora os pagamentos por servios ambientais possam ser realizados por
sistemas pblicos corretores de externalidades, aproximando-se das caractersticas de
instrumentos precificados, podem tambm ser decorrentes de sistemas de mercado
criados para sua comercializao.
38
Em 29 de abril de 2010, porm, foi assinado um termo de cooperao tcnica entre a CETESB, a
Bovespa, a Bolsa de Mercadorias e Futuros e a Fiesp para a implementao de um mercado de emisses
de poluentes atmosfricos. http://noticias.ambientebrasil.com.br/exclusivas/2010/04/30/54373-exclusivo-
sao-paulo-vai-implantar-mercado-de-creditos-de-emissao-de-poluentes-atmosfericos.html. Acessado em
28 de julho de 2010.
39
Artigo 18 do Decreto 5975 de 30/11/2006.
40
Vide o item 1.3.6, do captulo 1, acima no qual foram discutidas as transaes associadas ao seqestro e
estocagem de carbono.
A gerao dos crditos negociveis de carbono d-se ao cabo de um processo
denominado pela literatura de ciclo do projeto, no qual intervm rgos pblicos,
agentes privados e rgo supra-nacional, vinculado s Naes Unidas: o Conselho
Executivo41.
41
A descrio dessas etapas est descrita na Portaria 01 da Comisso Interministerial de Mudanas do
Clima, de 11/09/03. Dado o interesse no funcionamento do processo de elaborao de projetos no mbito
do MDL, muitos trabalhos publicados descrevem e explicam as etapas de um projeto. Uma boa exposio
encontra-se em SABBAG, Bruno K. O protocolo de Quioto e seus crditos de carbono. Manual jurdico
Brasileiro de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, So Paulo: LTr 2008, p. 47-57.
42
Criada pelo Decreto de 7/07/1999.
43
O conceito de linha de base j foi apresentado no item 1.3.6.1, do captulo 1, acima.
c) Contribuio para distribuio de renda a ser gerada direta ou indiretamente
pelos benefcios econmicos do projeto populao de baixa renda.
44
Uma lista mnima, descrevendo quem so os principais atores foi estabelecida pela Resoluo 03/2003.
Quanto frustrao dos objetivos ambientais de certos mecanismos de mercado,
aponta-se que a necessidade de conferir fluidez s transaes de mercado para
possibilitar a sua eficincia econmica acaba por prejudicar o lastro ambiental das
transaes, ou comprometer sua integridade ambiental. Essa entendida como
capacidade de cumprir os objetivos para os quais foram criados sem ocasionar danos e
prejuzos ambientais colaterais45.
45
Cf. VOIGT, Christina. Is the clean development mechanism sustainable? Some critical aspects.
Sustainable development law and policy, v. 8, 2007-2008, p. 16.
46
VOIGT, Christina. Op. cit., p. 16-17.
Por outro lado, a anlise da adicionalidade inclui tambm uma dimenso
econmica, na qual a aprovao de projetos baseia-se na hiptese de que no se
realizariam na ausncia do incentivo econmico garantido pela obteno dos crditos.
Mas esse aspecto no objeto de anlise criteriosa, sendo aceitas afirmaes genricas
no sentido de que, na falta dos crditos, a empresa no faria o investimento necessrio.
Assim, acaba-se por aprovar projetos que poderiam ser desenvolvidos mesmo na
ausncia do mercado de carbono47.
47
SCHNEIDER, Lambert. Key lessons learned on the CDM and its use in the EU ETS Briefing paper for
a workshop by Ecologic at the EU Parliament, 3 June 2008. Disponvel em http://ecologic-
events.eu/cdm-workshop/documents/schneider_briefing.pdf. Acessado em 03/08/2010.
48
MCCALISTER. Op. cit., p.295.
O xito do programa de controle de deposio cida, por sua vez, pode lanar
luz para a necessidade dos mecanismos de mercado utilizados em polticas ambientais
serem submetidos a um controle e fiscalizao pblicos. A defesa dos instrumentos de
mercado para a proteo ambiental freqentemente relacionada a algum tipo de
descrena na habilidade do Poder Pblico para regular o controle da poluio ou a
conservao ambiental, ou no mnimo convenincia de reduo dos seus custos. A
experincia desse programa norte-americano permite contradizer a idia ingnua de que
os mecanismos de mercado podem prescindir de um aparato de controle e
direcionamento pblico nas polticas em questo. A discusso sobre o pagamento por
servios ambientais deve levar em considerao esses elementos.
49
Cf. CHINN, Lily. Can the Market Be Fair and Efficient? An Environmental Justice Critique of
Emissions Trading, Ecology Law Quarterly, 1999, p. 80-125 e DRURY, Richard T.,et alli.. Pollution
Trading and environmental injustices: Los Angelesfailed experiment air quality policy. Duke
Environmental Law & Policy Forum,Spring, 1999, p. 231-253.
50
Cf. NUSDEO, Ana Maria. Justia ambiental. Dicionrio de Direitos Humanos. Escola Superior do
Ministrio Pblico da Unio. Disponvel em http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-
index.php?page=Justi%C3%A7a+ambiental. Acessado em 05/10/2010.
empreendimentos de grande impacto ambiental alternativas implantao de
tecnologias de controle da poluio e efetiva reduo de sua emisses.
Outro elemento da crtica diz respeito falta de controle e discusso pblica dos
programas de comrcio de emisses. A criao de instrumentos regulatrios de
comando e controle permite a realizao de audincias pblicas e a possibilidade de
participao social. As decises quanto s emisses de poluentes em sistemas que
adotam o comrcio, porm, so tomadas pelas fontes emissoras, sem espao para a
discusso pblica52.
51
CHINN, Lily. Op. cit., p. 82-83 e DRURY, Richard T.,et al.. Pollution Trading and environmental
injustices: Los angelesfailed experiment air quality policy.Duke Environmental Law & Policy
Forum,Spring, 1999, p. 254
52
DRURY, Richard et al. Op. cit. 278-279.
sustentvel do pas sede. Dada a vagueza do conceito, porm, tornam-se possveis
contribuies medocres.
53
COSBY, Aaron, MURPHY, Deborah, DREXLAGE, John and BALINT, John. Making development
work in CDM. Phase II of Development Divident Project, October 2006.Available at http://
www.iisd.org/pdf/2007/making_dev_work_cdm.pdf. Acessado em 04/18/2010.
54
Em levantamento dos 114 projetos aprovados nos anos de 2006 e 2007, a autora identificou que em
75% deles havia gerao de empregos permanentes. Houve transferncia de tecnologia em 58% dos
projetos. Cf. NUSDEO, Ana Maria. Clean Development Mechanism and Distributional Issues: Ana
analysis of the Brazilian certified projects. Trabalho apresentado na Conferncia Climate Law and
Developing Countries, IUCN Academy of Law, Ottawa, 2008. Disponvel em
http://www.iucnael.org/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=55&Itemid=6
1. Acessado em 27/05/2010.
Numa abordagem mais crtica, aponta-se a dificuldade de participao de
pequenas empresas nos projetos bem como da concentrao deles em certos pases e
regies economicamente mais dinmicas.
No Brasil, com efeito, a maior parte dos projetos tem como proponentes
empresas de maior porte nos setores industriais, sucroalcooleiro e de energia eltrica.
H grande participao de projetos de reduo de emisso de metano em fazendas de
sunos, mas todos propostos por uma mesma empresa de consultoria de carbono55.
55
MICHELLIS, Ceclia M. Organizaes que se beneficiam de projetos MDL no Brasil: uma anlise
sobre o acesso de pequenas e mdias organizaes aos mercados de carbono. In BROSE, Marcos (org.).
O pagamento por servios ambientais. O mercado de carbono promove a incluso social? Goiania:
Editora da UCG, 2009. P. 104-106. Esses dados dizem respeito aos 191 projetos aprovados no Brasil
entre os meses de janeiro e outubro de 2008.
56
COSBY, Aaron et. al. apontam que de todos os projetos de MDL submetidos at junho de 2006, os
pases de menor desenvolvimento (least developed countries) sediavam apenas 1,2% do total. Op. cit, p.
83-84.
57
Dentre os projetos aprovados nos anos de 2006 e 2007, 47 localizavam-se na regio sudeste, 32 na
regio sul , 30 na centro-oeste, 17 na nordeste e 9 na norte. Cf. NUSDEO, Ana Maria. Op. cit (Clean
Development Mechanism and Distributional Issues).
58
Essas restries dizem respeito limitao dos crditos provenientes desse projeto para contabilizao
do cumprimento das obrigaes de reduo de emisses pelos pases do Anexo 1, impostas pela deciso
COP no. 11/2001. Para uma explicao mais completa, vide o item 2.2.3.1.1, no captulo 2, acima.
Nesse sentido, pode-se considerar que a prpria concepo do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo torna-o um mecanismo de mercado voltado a redues de
emisses por setores econmicos dos quais esses grupos no participam. A demanda por
equidade, assim, poderia ser canalizada para a participao de grupos afetados nos
processos decisrios relevantes e pelo estmulo a projetos que gerem benefcios aos seus
trabalhadores e sua vizinhana. No caso dos servios ambientais, porm, h forte
potencial de incluso das populaes indgenas, tradicionais e de pequenos proprietrios
e agricultores familiares. Sua regulamentao e a implementao de programas
correlatos no deve desperdiar a oportunidade de promoo de objetivos de equidade
relacionados sua obteno de renda pela preservao ambiental e sua considerao
como agentes chaves no desenho