Tese Construção Colaborativa Do Conhecimento
Tese Construção Colaborativa Do Conhecimento
Tese Construção Colaborativa Do Conhecimento
DIFUSO DO CONHECIMENTO
Salvador
2016
MARISE OLIVEIRA SANCHES
Salvador
2016
SIBI/UFBA/Faculdade de Educao Biblioteca Ansio Teixeira
Tese apresentada como requisito parcial para obteno do grau de doutor em Difuso do
Conhecimento, ao Programa de Pesquisa e Ps-graduao em Difuso do Conhecimento, da
Universidade Federal da Bahia,
Banca Examinadora
O caminho do conhecimento, que escolhi como ponte de ligao espiritual com a fora
csmica conhecida como Deus, no um processo fcil de ser encarado. Com ele um mar
revolto de emoes e pensamentos anda sempre muito prximo da razo e nos deixa,
muitas vezes, rodando num carrossel interminvel de conceitos que vo e voltam num
processo de morte e vida; altos e baixos; pois para alcanar o conhecimento nossa
mente funciona como um processo ainda pouco conhecido. Palavras como tica, justia,
poder, pululam em minha mente, cobram respostas, mas academicamente se transformam em
conceitos, que nem sempre so representativos para os seres humanos. Infelizmente!
Neste caminho/processo estive muito s, mas no solitria! Dividi com minha famlia, muitos
amigos e amigas, minhas angstias, minhas crises existenciais e at de trabalho. Por isto,
preciso agradecer muito!
E inicio agradecendo de corao aos meus filhos Bruno e Rafael; minhas noras Eny e
Raphaela; meu netinho e minhas netinhas: Mikael, Brenda e Laura, por compreenderem e
respeitarem minha escolha e tambm minha ausncia fsica, pois espiritualmente sempre
estive com eles. Depois ao meu irmo e irms, Mrcia, Mrcio e Marze, que me deram
suporte estrutural para que este trabalho fosse possvel. As minhas queridas: Ana Lcia e
Zoraida (primas), Valda (tia) e Luciana (sobrinha), que acreditaram, mais que todos, antes de
tudo no meu potencial, e posteriormente no potencial do trabalho e incentivaram com palavras
de fora, apoio e carinho, para que ele se concretizasse.
Agradeo a minha especial amiga, irm, Eliane Neves, que como um anjo assumiu a
transcrio das entrevistas, transcrevendo a maioria delas. Alm disso, me deu suporte com
um espao especial para me isolar e conseguir produzir, e ainda, ofereceu seu ombro nos
meus momentos de crise existencial e, muitas vezes, refletiu comigo a estrutura do texto. A
outra amiga especial e colega de doutorado, Brbara Dultra, que alm de me incentivar muito,
refletir sobre conceitos e teorias, me ajudou a manter o equilbrio, com sua medicina
alternativa e terapia holstica. Aos amigos e amigas, Ronaldo Santos, Jorge Luis, Cndida e
Elizabeth, que me ajudaram muito a no deixar a peteca cair, como diz o dito popular, me
fazendo rir e relaxar.
Aos meus entrevistados, professores e professoras: Albrico Freitas Neto; Cludio Xavier;
Cristiane Andrade de Oliveira (Kithi); Elisangela Silva; Fulvia Rocha; Hernane Pereira; Isabel
Moraes; Jailton Reis; Jamile Borges; Jos Carlos Oliveira de Jesus; Jos Luis Michinel;
Leliana Santos de Souza; Lucimar Silva; Marcelo Matos; Maria Ldia Mattos; Maria Luiza
Seixas; Marilene Lobo; Patrcia Magris; Ramone Moraes; Roberta Cunha; Roberto Sidnei
Macedo; Rosel S; Shirlene Santana. Silvio Jos Conceio; Teresinha Carvalho e Vera Lcia
Fartes; agradeo pelo apoio, afeto e acolhimento, bem como a generosidade da
disponibilidade do seu tempo e suas memrias para a (re)criao da histria da REDPECT e
da RICS. Sem eles no seria possvel esta histria ser to expressiva.
Agradeo muito a Teresinha Fres Burnham, minha grande Mestra Sbia e amiga especial, que com
suas dicas espontneas me fez enxergar a articulao de teoria e prtica, e a compreender a diferena
entre cotidiano e senso comum. E mais que isso, me apresentou Castoriadis, possibilitando que
enxergasse o que era ser autnoma e compreendesse o cunho poltico do imaginrio social.
A todos os professores e professoras da minha banca de qualificao: Francisco Fialho, Dante Galeffi,
Teresinha Fres Burnham, Leliana Sousa e Eduardo Oliveira, agradeo todas as detalhadas
contribuies, pois me ajudaram muito na reviso dos quatro primeiros captulos, e me fizeram ver
que alm de trabalhar com um mosaico vivo, estava tambm trabalhando com o complexo dos
complexos; e que construir conhecimento muito mais do que o que diz a teoria do conhecimento.
A Eduardo Oliveira meu orientador, agradeo muito por ter sido o meu grande contraponto
durante o processo de orientao, me fazendo enxergar o que no deveria ser o meu texto e
como deveria dialogar com ele. Agradeo muito tambm a minha co-orientadora Leliana
Sousa, que praticando a escuta sensvel, soube me tranquilizar durante minhas catarses, me fazer
acreditar que eu era capaz de me autorizar, refletir e escrever minha tese, apenas dando apoio, dicas
tericas, afeto.
Agradeo especial e principalmente ao grande amigo Paul Burnham, que com sua sabedoria, num bate
papo informal, me provocou para a primeira reflexo que originou o objeto de investigao deste
trabalho. Este foi o marco inicial, a mola propulsora que desencadeou todo este estudo/processo.
Agradeo muito aos amigos do CAOS/REDPECT, que debateram, discutiram e trocaram comigo
saberes, prticas acadmicas, ou do senso comum, os quais foram fundamentais para o
aprofundamento terico-prtico desta pesquisa.
Finalmente, agradeo ao PPGE em Difuso do Conhecimento, Hlio e Bia, que auxiliaram com o
apoio estrutural, administrativo, durante este processo de doutoramento.
Mas quando tudo est explicado, quando o ser est pleno,
quando a razo dissipou as lendas e os sonhos, ento o
inexplicvel se manifesta, como um resduo potico; um
resduo que no existe, pois s a sua inexistncia lhe
permite escapar ao ciclo das explicaes objetivas.
Entretanto, ele faz sinal a Genet, manifesta aos seus olhos
esse sentido obscuro que permanece quando o ser j
esmagou os vencidos da histria, essa vitria inexistente
do vencido, que obceca sem trgua os vencedores.
The focus of this thesis is the process of Collaborative Knowledge Construction within a
multireferential / complex perspective. The basis for the analysis of this construction was a
plurality of knowledge practices in two research networks: the Cooperative Research and
Intervention in (In)formation, Curriculum, and Work Network - REDPECT and the Interactive
Network of Research and Post-graduate Studies in Knowledge and Society - RICS, both
created from researcher initiatives at the Federal University of Bahia - UFBA. How the
collaborative construction of knowledge in such networks contributes to the construction and
dissemination of scientific academic knowledge of its author-researchers was of central
interest. The underlying thread to this study is a deepening of the theoretical understanding of
the concept Collaborative Knowledge Construction. This concept was central to the
research dissertation: "Collaborative Construction on the Training Course for Knowledge
Managers in Distance Learning - CFGC", defended in 2011 at the Faculty of Education,
Federal University of Bahia, and was found to require greater theoretical underpinning. The
deepening of these theoretical grounds is reached through dialogical argumentation during the
study, and the key concepts: (1) collaboration; (2) complexity and multireferentiality; and (3)
knowledge and cognition, together with secondary concepts raised in the process. The search
for answers to the research questions in the Study takes place through the Method / Modeling
of Mosaic Memorial. This research design shows how these forms of knowledge practices are
constituted, and enriches the techniques and analytic procedures that guide the weaving of the
research into a Quanti-Qualitative / Participatory approach, with characteristics of Ethno
research through the Contrastive Analysis Method. The information gathered during the
fieldwork in documents from the networks researched and interviews with some of their
members, achieved the Study objectives as well as clarifying the importance of the
collaborative process in building knowledge for the (in) formation of cognitive analysts and
other researchers; so establishing a cognitive modeling mosaic, both complex and
multireferential
AD Anlise do Discurso
GC Gesto do Conhecimento.
MC Mapa de Citaes
RH Recursos Humanos
RI Repositrio da UFBA
1 TESSELA: INTRODUO 19
1.1 PASSOS PARA A CONSTRUO DO CONCEITO DE CONSTRUO 20
COLABORATIVA
1.2 RESULTADOS DA CONSTRUO COLABORATIVA 23
1.3 CONSTRUO COLABORATIVA DO CONHECIMENTO: O CONCEITO 25
1.4 O CERNE DA QUESTO 26
1.4.1 O Problema e a Problemtica 27
1.5 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA 32
1.5.1 Pressupostos 34
1.6 OBJETIVOS / RESULTADOS PRETENDIDOS 35
1.6.1 Objetivo Geral 35
1.6.2 Objetivos Especficos 36
1.7 A ORGANIZAO DOS CAPTULOS/TESSELAS DO MOSAICO 37
REFERNCIAS 260
REFERNCIAS VIDEOGRFICAS 266
APNDICES 267
APNDICE A Disciplinas cursadas no DMMDC 268
APNDICE B Mapa de Referncias 269
APNDICE C Mapa de Citaes Construo do Conhecimento 276
APNDICE D Matriz de Anlise - MA 277
APNDICE E Linha do Tempo das Redes de Pesquisa 278
APNDICE F Investigao Mosaico no Scielo 282
APNDICE G Roteiro para as Entrevistas 283
19
1 TESSELA: INTRODUO
Toda tese de alguma maneira uma histria. Revela quase sempre um caminho
metodolgico, acadmico, percursos vividos. Esta tambm uma tese que conta parte de uma
histria, porque tem caractersticas de memorial do caminho investigativo de duas redes de
pesquisa e seus integrantes, aqui denominados autores-pesquisadores. Mas, toma o cunho de
uma etnopesquisa ao relatar experincias de vida, experienciaes do meu caminho
acadmico-cientfico. Em sentido inverso, pois acontece da prtica, da vida profissional,
cotidiana, para a academia. Um retorno.
1
Objeto/tema daquela pesquisa de mestrado que, por questes operacionais, ou falta delas, ainda est por
acontecer.
2
Nome como conhecida nos meios acadmicos a Profa. Dra. Teresinha Fres Burnham, Professora
Associada da UFBA, desde 1992 at a atualidade.
20
Os resultados mais amplos so apresentados como os que fizeram com que o objetivo
geral fosse alcanado, conforme explicitado na referida dissertao:
Pode-se afirmar que este objetivo foi alcanado, pois em diversos fragmentos dos
dilogos analisados efetivamente detectou-se o processo de construo
colaborativa, inclusive explicitado em falas dos prprios sujeitos-construtores. Esta
3
Parte desse texto tem origem na minha dissertao de mestrado: Construo Colaborativa do Curso de
Formao de Gestores do Conhecimento atravs da EAD CFGC (2011), e, para no tornar o texto cansativo
com citaes da prpria autora, resolvi apresentar todas as citaes curtas entre aspas em estilo:Itlico.
Entretanto, para evitar repetio da fonte dessas citaes mantive a indicao da pgina nas longas e o mesmo
tipo de letra escolhido para este procedimento. Isto se repete ao longo de todo o texto.
4
EDC-704 - TEE - Educao a Distncia e Difuso do Conhecimento.
5
EDC-A27 Educao a Distncia
6
PPGE-FACED/UFBA Programa de Ps-graduao em Educao - Faculdade de Educao/Universidade
Federal da Bahia.
21
E, foram tambm apresentados nos resultados, a partir de uma analogia do que foi alcanado
nas categorias de anlise, por categoria/objetivo especfico. Na oportunidade, foi detectada
uma implicao e o ibricamento entre o discurso dos sujeitos-construtores do CFGC,
conforme identificado na dissertao, os conceitos trabalhados no estudo e as categorias de
anlise, conforme as perguntas de investigao:
objetivar as questes colocadas em paralelo, muitas vezes sem uma conexo com o tema
que est sendo construdo. Uma metfora foi levantada para a compreenso da mediao:
A mediao que passa de pessoa para pessoa, medida dos saberes de cada um, ao
mesmo tempo em que organiza e d sentido ao conhecimento construdo, pois so
muitas ideias colocadas e todas elas podem ser potencialmente importantes para a
construo;
7
Em portugus a palavra feedback significa opinio.
25
O cuidado com a traduo das linguagens de uma rea do conhecimento para outra,
para construir sem destruir, o que se est discutindo.
Apresentada a sntese dos resultados das anlises e sua importncia, achei significativo
trazer tambm as consideraes finais daquele estudo, por encaminharem o objeto e os
pressupostos desta investigao/tese.
O estudo do CFGC significou muito para minha (in)formao e me fez refletir sobre a
importncia da construo colaborativa do conhecimento para a intersubjetividade da
existncia dos sujeitos num ambiente de visada multirreferencial. Considerando que a
problemtica desse nosso mundo globalizado, plural, complexo, no facilita a cada rea
isoladamente (in)formar competncias e habilidades para a sobrevivncia desses sujeitos.
Assim, acreditando que, esses sujeitos necessitam experimentar o convvio com outras
reas, com multirreferncias, para construir sua (in)formao, foi que me conscientizei da
necessidade de compreender o que vinha a ser construo coletiva colaborativa do
conhecimento.
26
Ento, todas essas reflexes, os dilogos com os autores sobre os conceitos estudados
e os resultados alcanados na dissertao me levaram a definir a construo
coletiva/colaborativa como:
o pressuposto de ser uma proposta inovadora, mesmo porque esta no seria uma
formao comum, tinha notcias na poca de apenas trs cursos de Mestrado e um
curso de Especializao, em Gesto do Conhecimento a nvel nacional, localizados no
sul do pas;
as muitas dvidas, tenses e novos desafios, que esses sujeitos certamente teriam
diante de conceitos e tecnologias relativamente novos.
Este estudo parte do pressuposto de que este saber em rede, este mosaico epistemo-
terico-metodolgico vem sendo construdo na REDPECT, a partir das investigaes de
diversos pesquisadores. Esta rede de pesquisa se origina8 no primeiro grupo de pesquisa da
FACED/UFBA, fundado por Fres Burnham em parceria com outros professores, o Ncleo
de Ensino, Pesquisa e Extenso em Currculo, Trabalho e Construo do Conhecimento
NEPEC. Embora, embrionariamente, este saber j viesse sendo praticado no grupo de estudos
Currculo, Essncia e Contexto9.
Nestes trs espaos-tempos, desde 1980 at 2003, foram formados com as mesmas
caractersticas trs grupos de pesquisa. O primeiro, essa linha de pesquisa de Currculo que se
transformou em Ncleo de pesquisa; o segundo espao-tempo, por sua vez se transformou em
uma rede de pesquisa, a partir do doutorado de Fres Burnham, a REDPECT. Ento, em
2003, outra rede de pesquisa foi formada no terceiro espao-tempo. Desta vez em paralelo
com a REDPECT, a RICS, mas com um diferencial, para alm de todas as caractersticas de
rede, multirreferencial/complexa como a REDPECT, ela se torna uma rede multi-
institucional10.
8
Segundo Fres Burnham (2015), em entrevista realizada em 18/03/2015, para este estudo.
9
Grupo de estudos formado por professores da FACED, de maneira espontnea/individual. Na dcada de 80,
ainda no institucionalizado chamava-se Currculo, Essncia e Contexto, posteriormente passou a se chamar
Currculo, Cincia e Tecnologia, e, na dcada de 90 institucionalizou-se como NEPEC.
10
O histrico desses grupos ser mais detalhado no Captulo 5 desta tese, quando da apresentao, em seo
especfica, do contexto histrico das redes de pesquisa em anlise.
29
Formao de professores;
Cultura;
Sade e Educao;
Gesto do Conhecimento;
Educao e Trabalho;
Anlise Cognitiva.
11
Redes de pesquisa ligadas FACED/UFBA, coordenadas por Fres Burnham poca.
12
Pesquisadores, orientandos em iniciao cientfica, mestrandos, doutorandos, ps-doutorandos e visitantes.
13
Tecnologias de Informao e Comunicao.
30
Este ltimo a obra maior, o mosaico em (in)formao, que busca se instituir como
campo, mas que ainda est em processo de investigao, em terreno ainda pantanoso -, como
diz Fres Burnham em suas aulas da disciplina Anlise Cognitiva AnCo, do DMMDC -, por
estar em pleno processo de investigao/escrutnio. A AnCo tem como base epistemolgica
estes e outros temas/mosaicos, mas se coloca cientificamente como um sistema aberto a novas
descobertas/contribuies.
Por todo o exposto enfatizo que, fundamentar esse saber em mosaico, no perodo que
delimita o objeto desta investigao -, de 1997 a 2007 -, envolve um trabalho intenso de
escrutnio de documentos destas redes de pesquisa e testemunhos dos pesquisadores. Este
ltimo elemento ser tratado no captulo que detalha a investigao e os mtodos
investigativos, mas, alm disso, preciso aprofundar as reflexes sobre alguns desafios:
Acredito que, a pergunta que provocou este estudo pode dar abertura para vrias
possibilidades de resposta e tornar exequvel esta investigao, tanto para o tempo/recursos
disponveis, quanto por se tratar de elementos, fenmenos, fatos e dvidas relacionadas ao:
passado de duas redes de pesquisa e ao futuro pela institucionalizao desse saber em
mosaico, que pode ser o elemento potencial para a efetivao do sonho de tornar o
conhecimento um bem pblico; e ainda, do ponto de vista de acesso aos dados quantitativos,
facilidade de acesso s informaes qualitativas, por ser membro das redes de pesquisa, onde
estas esto acervadas, em dois espaos-tempos:
Para dar continuidade a este caminho investigativo, todos esses elementos tratados,
que compem e problematizam a questo provocativa deste mote, me levaram a refletir sobre
novas questes, por exemplo: Como justificar esse estudo? Qual sua relevncia para minha
vida? Qual sua relevncia para a Academia? De que maneira poder contribuir com a
cincia e a sociedade?
1.5.1 Pressupostos
Inicialmente, provocada pelo objeto desta investigao no pensei que seria to difcil
definir/traar o que efetivamente gostaria de alcanar com este estudo. Foram diversas
tentativas at conseguir faz-lo, mas depois de muito refletir e traar objetivos que foram se
modificando a medida de cada verso da tese, cheguei concluso de que para compreender a
construo colaborativa do conhecimento, na perspectiva de um ambiente
multirreferencial/complexo, precisava aprofundar o conceito construdo, conforme
anteriormente mencionado.
14
Uma checklist pode ser utilizada para diversas atividades de gesto. Segundo o site
http://www.significados.com.br/checklist/, esta [...] palavra a juno de check (verificar) e list (lista). Este
portal define que checklist [...] um instrumento de controle, composto por um conjunto de condutas, nomes,
itens ou tarefas que devem ser lembradas e/ou seguidas.
36
Fonte: Quadro elaborado para apresentao dos Objetivos Especficos e ilustrar seu
processo de construo.
Dessa forma, foram definidos os objetivos e os resultados que pretendo alcanar com
esta tese. Seguindo ento o curso do texto, apresento na prxima seo a organizao do
trabalho, ou captulos, que o compe.
37
Com esta descrio do contedo que compe os captulos/tesselas desta tese, encerro a
primeira tessela deste mosaico multirreferencial/complexo, e encaminho o texto para o
segundo captulo, a Tessela 2: O individual, o Coletivo um Saber em Mosaico.
39
Foi pela voz de Aaron Cicourel, na primavera de 1987, durante um curso sobre
etnometodologia e sociolingustica [...], que tomei conhecimento do pensamento de
Garfinkel. Meu interesse se intensificou a partir da afirmao forte de que o ator
social no um idiota cultural. [...] Cansava-me, j naquela poca, digerir modelos
e elaboraes sempre reivindicando para si o conhecimento absoluto do real sem
sujeito.
Esta descoberta abria nova perspectiva para os estudos do autor, como ele prprio
afirma ao dizer que sua intuio indicava que imbricada quela afirmao emergia uma
fecunda elaborao terica em relao [...] conduo do sujeito social para as discusses que
situam o homem em sociedade. (MACEDO, 2004, p. 110) Na viso de Macedo, mesmo a
perspectiva mais crtica permanecia fiel as grandes teorias, e, o ator social, em geral, no
tinha voz nem vez diante de posturas tericas que se queriam quase sempre narcsicos faris
do mundo.
Sem dvida esta realidade dos bastidores da academia assusta os autores, ou melhor,
os condiciona a interpretar segundo um modelo institucionalizado, o que engessa sua
criatividade e os saltos qualitativos que eles poderiam, ou gostariam, de dar em suas
pesquisas, muitas vezes so fadados a ficar apenas no desejo, no pensamento. Porm, para a
compreenso da viso do outro, os seres sociais, humanos, precisam interpretar, o que no
fcil ou simples. Acredito que esta talvez possa ser a chave para o pensamento crtico,
autnomo.
40
conceito de prtica ainda ser nebulosa na etnometodologia, como coloca o autor, resolvi
apresentar minha histria de vida, meu saber construdo no cotidiano, na REDPECT e no
senso comum. Tendo como objetivo trazer o leitor, de alguma maneira, para o espao de onde
falo -, antes mesmo de ter fundamentado teoricamente este trabalho -, para a leitura e
compreenso de como interpreto e analiso as informaes da minha prpria vida, pois de
certa forma ser semelhante a que utilizarei na anlise das informaes levantadas no campo
emprico. Para alm disso, explicitar minha implicao, meu embricamento, com o objeto em
investigao, conforme prope a etnopesquisa.
De certo que h uma dificuldade nesta narrativa, no que diz respeito delimitao das
fronteiras entre a narrativa autobiogrfica e a escolha de determinados momentos que
intencionalmente justificam as escolhas do presente.
Minha formao scio-cultural se deu, inicialmente, num lar de classe mdia baixa na
cidade de Salvador, com todos os desejos e medos daqueles que viveram o Brasil nos anos
sessenta e setenta da ditadura militar. Os fragmentos de memria da escola primria, ainda em
escola confessional catlica, se fazem plenos de hinos religiosos, formao de filas separadas
em grupos de meninos e meninas, uniformes, muita obedincia e disciplina.
Sem muitos exemplos no seio familiar e nos grupos societrios com os quais convivi,
o modelo de bem-estar a se conquistar na vida residia no se formar na Escola Normal,
casar, ser me e dona de casa. Parte desse movimento se realizou at os idos de 1976, mas
algo de novo ocorreu a partir da formao iniciada em Secretariado Executivo.
15
Parte desse texto se origina no Memorial que apresentei para a seleo do doutorado em 2010.2.
42
O termo ingls coach tem origem no mundo dos esportes e designa o papel de
preparador, o tcnico", como conhecemos. Exercer este papel requer o compromisso de
apoiar pessoas/profissionais a realizar metas, isto fundamental na medida em que o coach
atua no campo do desempenho - resultado e realizao pessoal - e influencia no
desenvolvimento de padres ticos, comportamentais e de excelncia. Para facilitar a
compreenso mutua desses valores e a troca rica de experincias, torna-se necessrio que a
relao entre cliente e coach seja de muita confiana, portanto, este profissional incentiva a
prtica do feedback. Essa prtica, alm de abrir um espao para a confiana mutua,
proporciona a analise crtica da situao experienciada, abrindo espao tambm para novas
perspectivas que ampliam a conscincia do cliente e o fortalecimento da sua autoestima.
16
Traduzindo para o portugus: treinador.
44
17
Servio Social da Indstria, Departamento Regional da Bahia - SESI DR-BA; Companhia de Eletricidade do
Estado da Bahia COELBA; Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA - SR BA.; Sercose
Corretora de Seguros; Fundao Garcia Dvila (Equipe de Apoio do Parque Garcia Dvila, patrimnio
histrico-cultural da Bahia); Faculdade Baiana de Cincias FABAC, Equipe da FORTBRASIL (empresa de
factoring), Ativa (Empresa de Recursos Humanos) e SOSVida (Sade).
45
a ensinar mas aprende a ensinar ao ensinar algo que reaprendido por estar sendo ensinado.
(FREIRE, 2001, p. 259)
com esta viso que interajo com meus alunos. Uma escolha s vezes difcil, por
utilizar em minhas aulas a construo colaborativa do conhecimento, a perspectiva crtica,
autnoma. O que provoca inicialmente neles uma espcie de competio, at o momento que
compreendem a crtica como processo de feedback e no de avaliao simplesmente. E ainda
que, a avaliao processual e no um castigo, como muitos veem no senso comum.
Com o pensamento ainda inebriado com estas sabias palavras de Freire. Imaginando o
acolhimento que elas representam para os alunos, me coloco neste papel/espao no qual sou
tambm aluna e exponho minhas prprias impresses sobre a vida acadmica. Como se pode
ver na prxima seo.
Na academia somos seres vagantes, iluminados, ou no, por novas ideias e ideais, em
eterna incompletude, eterna busca de perguntas e respostas quase nunca fechadas, completas
e/ou respondidas. Perguntas estas que nos levam a respostas evasivas, as quais, por sua vez,
nos remetem a novas perguntas, numa espiral enlouquecedora de conceitos e teorias
inacabadas e ricas de novas possibilidades, elementos, fenmenos, significados e
significantes.
Nesta busca de saberes que nos (in)formam e mantm viva nossa curiosidade
cientfica, vamos produzindo/construindo conhecimento, estabelecendo parmetros
cognitivos, produzindo novos conceitos, que pensamos onipotentemente serem nossos, mas
que no fundo sabemos serem eles formados por vrios discursos de outros sujeitos na busca
de produzir novos conhecimentos tambm incompletos nessa espiral infinita de aprendizagem
e (trans)formao humanas.
me atraia como um im, minha prpria histria, ao meu caminhar acadmico na sua
cientificidade transformadora e me perguntei na poca: Por que no tentar agora o
doutorado?
Essa minha histria, que teve um comeo onde, na maioria dos percursos acadmicos
de outras pessoas seria o fim, o fechamento, de um processo de aprendizagem, de graduao
ou de ps-graduao, mas que para mim foi o incio. A partir desse beco, desse afunilar do
momento da deciso, da dicotomia do fazer ou no fazer doutorado, me veio outra
questo: Para quem est fazendo Mestrado, o que significa fazer o doutorado?
Mais uma vez cheguei num momento de escolha, de uma nova escolha, e decidi fazer
o doutorado. Mas esta deciso me levou a um novo por que e a retomar do ponto onde tudo
comeou na minha histria acadmica, um novo momento de xtase, um passo na espiral de
aprendizagem, da (in)formao, e com este trabalho, pressupus responder a essa questo,
partindo dessa minha histria.
Esta deciso de retomar minha histria tem sua razo de ser, pois foi um caminhar
produtivo de construo de conhecimento at a deciso de fazer o Mestrado e a escolha do
tema a ser pesquisado.
Sem perceber, fui cumprindo as trs motivaes maiores para aceitar o convite de
(re)organizar a REDPECT. O trabalho inovador foi fluindo, fui conhecendo aos poucos os
elementos que constituam aquela rede de pesquisa, as linhas de pensamento dos
pesquisadores, alm de me sentir gratificada por estar de alguma forma colaborando com a
instituio que me proporcionou um espao gratuito de (in)formao.
18
O CID na poca era considerado um sub-grupo da REDPECT, mas a partir de 2009, com a mudana de
coordenao e paradigmas passou a ser considerada uma linha de pesquisa da REDPECT.
19
Fundao de Apoio a Pesquisa do Estado da Bahia.
48
A partir deste ponto surgiram as primeiras questes que originaram a minha pesquisa.
Em 2007.2, esse processo de reconstruo teve sua continuidade na disciplina: EDC-A69
Currculo e Educao a Distncia, quando foi construda a estrutura do CFGC. A experincia
desse processo complexo proporcionou uma significativa aprendizagem coletiva, e deixou
tambm uma srie de interrogaes sobre um construir tenso, cheio de idas e voltas e sempre
inacabado, que me provocaram para a problematizao do meu Anteprojeto de Mestrado.
Alm de todas as verses citadas neste projeto, foi ainda destas construes que: se
originou a primeira proposta do Mestrado em Difuso do Conhecimento; dois artigos; um
captulo de livro e duas apresentaes em eventos cientficos, sendo que uma delas foi feita
por mim no KM Brasil 2009 Knowledge Management Brasil: 8 Congresso Brasileiro de
Gesto do Conhecimento.
20
Ambiente Virtual de Aprendizagem, ou Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
21
Comunidades Virtuais de Aprendizagem, ou Comunidade Virtual de Aprendizagem.
49
Como se pode ver atravs desta, que uma das trs linhas de pesquisa do DMMDC, o
curso um complexo que tem como objetivo maior instituir e consolidar a rea
interdisciplinar de pesquisa em anlise cognitiva relacionada aos processos de criao,
organizao, gesto e, especialmente, difuso do conhecimento. (APCN, 2007, p. 1)23
22
Disponvel em: http://www.difusao.dmmdc.ufba.br/node/84.
23
Disponvel na APCN CAPES Caracterizao do Curso, aprovada em 30/07/2007, pela CAPES. As APCN
definitivas datam de 02/09/2007.
24
Conhecimento: Anlise Cognitiva, Ontologia e Socializao CAOS, Linha de Pesquisa da REDPECT.
50
Concluo esta narrativa, apresentando como ilustrao da minha vida prtica, ou seja, a
prxis pedaggica das aulas de gesto e tcnicas secretariais, na Escola de Administrao da
UFBA EAUFBA, como Professora Substituta e orientadora de Iniciao Cientfica, para
alunos de graduao. Esta sem dvida foi a oportunidade esperada de retribuio instituio
que me (in)forma e reforma, como diz Freire. A contribuio com os iniciados na vida
acadmica e o retorno s origens, rea de administrao, aps longa viagem sobre diversas
reas do conhecimento. Talvez um exerccio de disjuno, como diz Morin, para a
25
Professora da UFBA, orientadora dos programas de ps-graduao em Difuso do Conhecimento (DMMDC)
e em Educao (PPGE) na UFBA, pesquisadora da REDPECT, na linha de pesquisa CAOS, Ps-doutora em
Sociologia e Poltica do Currculo, na University of London, Doutora em Fiolosofia pela University of
Southampton, Mestre em Educao pela UFBA, e Licenciada em Histria Natural pela UCSAL.
51
(re)ligao dos saberes, mas com certeza um exerccio dirio da construo colaborativa,
processo utilizado nas aulas que ministro.
Descobri, a partir de um discurso de Fres Burnham em sala de aula que esta tese
quase que em sua integralidade se institui como uma extensa pesquisa, desde o incio do
processo de aprendizagem, pois meu retono a academia, conforme mencionado na introduo
deste projeto, aps anos de experincias profissionais no mundo empresarial (me graduei em
1978 e retornei em 2006), me obrigou a investigar exaustivamente na literatura, em
peridicos, em documentos, arquivos, os saberes que me eram apresentados na REDPECT.
O tema da aula ministrada por Fres Burnham a qual me refiro, versava sobre
Experincia flmica e prticas educativas pedaggicas estava como estagiria do mestrado
em educao, participando na sua disciplina de graduao: EDC 271 Iniciao ao trabalho
acadmico, em 2010.2 -, no discurso mencionado ela dizia que os filmes so como
documentos que tem marcas textuais de fico e estrutura, e ainda que:
O cinema ao mesmo tempo em que lhe d [o ldico], cria uma epistefilia, ou seja, a
vontade de saber cada vez mais, o prazer de ter acesso quela realidade, o mergulho
diegtico (a fico, a estrutura dramtica), vontade e o prazer de se perder naquilo
que se v, se relacionando com a prpria histria de vida. (FRES BURNHAM,
2010, s.p.)26
26
Referncia no publicada, pois faz parte dos meus apontamentos/registros no referido estgio.
52
Estar na rede, observando, enfrentando novas demandas, novos saberes, prticas, era
como assistir e ao mesmo tempo participar de um filme, fico e estrutura, como ela dizia
na aula; a vontade de saber cada vez mais, participar do prazer de ter acesso quela
realidade, aps tantos anos de distncia, vivendo a realidade dura da vida prtica, do
conhecimento muito operacional, de gesto e do senso comum. Ento, tudo era novo,
inovador, revigorante, exercitar o estar estudante, pesquisadora, o intelecto, me embriagava,
me fazia mergulhar na vontade e [no] prazer de me perder no que observava, participava,
Foi essa busca incessante de (in)formao que me levou ao mestrado e logo aps ao
doutorado, a ideia de dar continuidade a minha formao acadmica, mudando totalmente de
rea do conhecimento e profissional, uma louca experincia, que muitas vezes me fez sentir
perdida, insegura, as vezes at incompetente.
Horas em que tive vontade de abandonar tudo, desistir. Entretanto, alguma coisa maior
que minha vontade me impelia a continuar, e, uma delas se revelou na ideia de formao
apresentada por Fres Burnham naquela aula, qual seja: tornar-se o que , do acumulo de
experincia e o processo de se conhecer, como ser no mundo, sabendo-se que [nesse
processo] vai se formando, e ainda que, toda experincia que lhe faz se perder e se achar,
27
Idem nota anterior, nmero 25.
53
forma. Isto me deu foras para continuar. Foi atravs desta experincia que descobri a
modelagem de produo em mosaico criada pela REDPECT.
compreender e trazer a tona este saber que desemboca nos ltimos trabalhos desta rede de
pesquisa, a AnCo.
Pode-se dizer ento que, este saber em mosaico, a forma de fazer pesquisa acadmico-
cientfica da REDPECT, aprofunda a questo da transversalidade, atravs da anlise
contrastiva, ao utilizar a base terico-espistemolgica da multirreferencialidade,
complexidade, preenchendo assim as lacunas deixadas pelo isolamento das disciplinas. A
fragmentao unidisciplinar a que se referem os autores.
paixo no uma coisa s nossa, essa paixo algo provocado pelo saber da mediao, dos
professores-orientadores -, tambm autores-pesquisadores -, da REDPECT. Este saber instiga
o caminhar de cada um, dia a dia, a cada encontro nas reunies do grupo de pesquisa, a cada
discusso em rede. E o mais importante, que seja qual for a opinio, feedback ou descoberta,
tratada com o mesmo respeito por todos, indistintamente.
Quando algumas pessoas dizem que a REDPECT pulsa, o meu orientador -, enquanto
professor-orientador, integrante da rede -, uma dessas pessoas, e penso que quando se fala
em pulsar, se fala da existncia de uma corrente invisvel que percorre essa rede, como se
fosse sangue correndo nas veias de quem nela convive. Uma rede viva, de emoes, de
sensaes, de subjetividades, intersubjetividades, experincias, prticas, de um caminhar vivo,
at de disputas de poder/territrio, mas sem certezas absolutas ou verdades concretas.
Na realidade, acredito que existe outro elemento deste saber em rede, representado por
este pulsar que o expandir e o encolher da rede, a efemeridade das entradas e sadas
dos autores-pesquisadores, ao seguir seu prprio caminho acadmico-cientfico. Ao irem
busca de concretizar suas escolhas de temas/objetos, ou ao darem continuidade a estes em
outros espaos de aprendizagem.
Essa paixo pelo conhecer, pelo investigar, prprias da curiosidade dos seres humanos
em busca de transformaes/mudanas/solues, a questo do afeto embutida no acolhimento
aos visitantes, quando provocadas por este saber da/em rede -, seja pelo respeito acadmico-
cientfico, ou institucional; pela necessidade de fundamentao terica das suas
pesquisas/investigaes; pela simples busca do prprio saber; pela necessidade de
reconhecimento/aceitao; ou at, pelo contraponto aos temas que pesquisam -, o retorno
relatado informalmente por integrantes da rede e visitantes positivo.
58
Estamos falando de uma rede de pesquisa que, utilizou como recurso pedaggico a
educao distncia, processos de iniciao a pesquisa, a anlise contrastiva. Recursos
pedaggicos da construo colaborativa, da pario das ideias, da discusso de conceitos
clssicos e tambm contemporneos, da cartografia dos pensamentos de diversos autores. A
encruzilhada de diversas epistemologias, como disse meu orientador, o Prof. Eduardo
Oliveira no meu processo de orientao.
Estamos falando de uma rede que, usou um caminho alternativo para enfrentar o
neoliberalismo. Que atravs da transversalidade, buscou na autonomia, na autoria, na
produo do conhecimento de maneira colaborativa, multirreferencial/complexa, desmistificar
a estratgia do capitalismo para manipulao dos saberes, prticas. Lutando contra a
territorialidade, a apropriao indbita dos construtos de outras comunidades, na sua busca de
tratar o conhecimento como um bem pblico, de respeitar esse conhecimento
tradicional/ancestral, de buscar nesses saberes a articulao de conceitos que, na poca, eram
considerados unicamente cientficos, universais, uma verdade absoluta.
28
Embora no tenha como formalizar essa afirmao, porque a estou baseando apenas em comentrios de
visitantes s reunies da rede, pretendo fundament-la com as entrevistas aos autores-pesquisadores, que fazem
parte da Tessela 5 Construo Colaborativa do Conhecimento: Como uma Trajetria se transforma em histria
e a histria uma Tra(ns)jetria, na qual sero apresentadas as anlises.
59
Diz Fres Burnham (2009)30 que, [...] mais do que modelar o conhecimento, fazer
com que as reas se conversem, para tornar o conhecimento compreensvel. Eu descobri o
nvel de detalhe que eu contrastava a literatura, na verdade o que estvamos fazendo era
anlise cognitiva.
Isto porque, era uma (in)formao que levava a formao de uma escola, de um saber,
que eu defendo hoje, como, existente e atuante numa REDPECT que eu conheci, atuante hoje
nas discusses do CAOS, em todos os projetos que passaram pela rede durante esse perodo.
Isto por que, as discusses eram ricas, diversificadas, multirreferenciais, aceitava a
complexidade de todos os temas e buscava compreenso dessa complexidade.
Talvez, Morin seja considerado como um contrabandista dos saberes, mas ele, na sua
trajetria, busca essa unio das disciplinas, uma prtica dessas redes nas suas
produes/construes colaborativas. Uma experincia reconhecidamente rica por visitantes e
autores-pesquisadores das redes, como se pretende ilustrar na tessela dos
29
Perspectiva da REDPECT que ser detalhada na Tessela 5, quando da apresentao do histrico destas redes
de pesquisa.
30
Em 05/06/2009, no seminrio semestral de planejamento da REDPECT (registro/anotaes que fiz durante o
evento).
60
Nossa trajetria de vida nos faz construir nosso conhecimento do mundo - mas este
tambm constri seu prprio conhecimento a nosso respeito. Mesmo que de
imediato no o percebamos, somos sempre influenciados e modificados pelo que
vemos e sentimos. Quando damos um passeio pela praia, por exemplo, ao fim do
trajeto estaremos diferentes do que estvamos antes. Por sua vez, a praia tambm
nos percebe. Estar diferente depois da nossa passagem: ter registrado nossas
pegadas na areia - ou ter de lidar tambm com o lixo com o qual porventura a
tenhamos poludo.
Pensar neste ser humano e ou/no mundo, tambm nos remete a pensar na filosofia, que
reflete/problematiza os problemas do mundo e o reflexo destes na vida dos seres humanos. E,
quando cheguei rede, trazendo uma bagagem de uma experincia de dezoito anos numa
multinacional, reconhecida no mundo empresarial como uma instituio de sucesso 31,
decepcionada, manipulada por todo um sistema capitalista, frio, desumano, fiquei encantada.
No s com o acolhimento que fui recebida, como tambm com o leque de possibilidades que
se abriu para minha formao.
31
A multinacional a que me refiro, foi a pioneira na inveno e comercializao das TIC e, por muitas dcadas,
considerada a primeira no ranking desse segmento de mercado. Porm, sempre pensando na acumulao de
bens, de capital, se perdeu no calculo das consequncias da utilizao dos programas de qualidade total e
tambm de reengenharia, alimentados pelo neoliberalismo. Teve tantos prejuzos financeiros que demorou a se
reerguer, assim como aconteceu com tantas outras corporaes que utilizaram esses programas.
61
Na MatriX32, existia o engodo de que as pessoas eram seu patrimnio mais importante.
Ns colaboradores acreditvamos completamente nisso. Mas, no livro O Poder das
Organizaes: A dominao das multinacionais sobre os indivduos, Pags et al (1987),
apresentam um estudo que contraditoriamente confirma isso e ao mesmo tempo diz
exatamente o contrrio, testemunhado pelos colaboradores entrevistados por eles.33
[...] est associada a uma imagem inconsciente feminina. O motor de sua dominao
psicolgica a oferta retirada do amor, bem mais que a coero, a interdio, a
castrao, diriam os psicanalistas. A liberdade de movimentao do homem da
organizao, sua iniciativa, provm do fato de que ele transcendeu o temor do pai,
do chefe e da ameaa de castrao que ele representa. Mas ele s pode ser livre ao
abrigo da organizao, aderindo s suas regras e sua filosofia. Sua liberdade tem
por contrapartida e por condio uma regresso mais profunda, uma dependncia em
relao organizao me; uma demanda de amor insatisfeito pela me e um medo
de perder seu amor, constantemente cultivado pela organizao. (PAGS et al,
1987, p. 37)
32
Nome que estou intitulando a referida multinacional por questes ticas.
33
No texto esses pesquisadores batizam a multinacional como TLTX.
62
[...] A possibilidade de ter iniciativas no trabalho faz aceitar a dureza. [...] a adeso
aos grandes princpios faz aceitar a ideologia da empresa. [...] o prazer que se tem
pelo trabalho, do qual se aprende a no abdicar. Inversamente, o salrio, as alegrias
do poder que cada um sua maneira desfruta, de uma forma ou de outra, a seu nvel,
amenizam as dvidas, os escrpulos morais que possam nascer; fazem com que
suportem os conflitos inerentes ao sistema psicolgico, a angstia permanente, o
vazio interior, a pobreza da vida particular e das relaes pessoais. (PAGS et al,
1987, p. 29)
Sintetizando este sistema, Pags et al (1987), dizem tratar-se de uma [...] organizao
sistmica,
Na poca eu no pensava em poltica, nem queria lidar com questes polticas. Minha
viso de poltica estava restrita a impresso de que no passava de politicagem. Eu tinha
sofrido uma lavagem cerebral, era grave e eu no sabia. A minha famlia se queixava da falta
da me, da falta da esposa, da famlia, da filha, da falta da..., qualquer ttulo familiar que
existisse, porque antes de tudo vinha a MatriX e o meu trabalho.
63
Vejo hoje, que essa manipulao tinha um nome, era o neocapitalismo mascarado de
neoliberalismo, e, mesmo considerando que na academia existem outras questes que eu
crtico, porque acredito que afasta o ser humano da sua essncia, mesmo assim, foi o espao
que me despertou para a poltica. No uma poltica num vis marxista como apregoada hoje,
mas sim com sua essncia da definio da questo do trabalho. Isto porque, acredito que o
trabalho muito importante para o ser humano. O trabalho em Marx, mas o enfrentamento ao
Neoliberalismo da REDPECT, que vem da trajetria de anarquista de Fres Burnham e se
concretiza no seu Mtodo de Anlise Contrastiva, com a transversalidade. Uma estratgia
utilizada como ponto de fuga da horizontalidade e da verticalidade.
A RICS, uma rede criada por outra rede, mas com outros pensadores, com outras
linhas de pesquisa e instituies. Autores-pesquisadores de outras reas do conhecimento,
como a matemtica, a fsica, a qumica etc. Esta foi maneira escolhida para fazer essas
pessoas refletirem juntas, a articulao entre cincias humanas e cincias exatas, com o
objetivo de que as humanas entendessem as exatas e vice versa. Uma tarefa difcil ainda
embrionria at hoje. Uma buscando compreenso na/da outra. As pessoas das cincias
humanas resistem s exatas, as pessoas das exatas resistem s humanas, mas j h uma
compreenso, uma articulao entre elas de alguma forma.
34
Surge da articulao dos integrantes da REDPECT e dos pesquisadores das instituies parceiras, como
uma rede de passagem para o DMMDC. Histria que ser mais aprofundada na Tessela 5, reservada para as
anlises.
64
para sua vida. Entretanto, esta lgica possui elementos que so importantes, que precisam ser
refletidos, a soluo no s isolar a rea, ou recort-la e retir-la das nossas vidas, mas sim,
pensar no que essa rea contribui para a vida humana; como vamos utilizar esse conhecimento
para a nossa vida. E a a filosofia entra com uma questo fantstica, que une todas as reas.
Vamos analisar criticamente, filosofar, questionar, parir ideias, discutir em grupo, e as
investigaes em rede colaborativa fazem isso. O acolhimento, o respeito, seja a que rea for,
seja a que ttulo tenha. Isto, como afirmo anteriormente, uma prtica da REDPECT.
dos indgenas da Amaznia, levam para o seu pas e registram e os patenteiam como se
fossem seus. Qual o resultado disso? A partir disso, impunemente, eles so legalmente
proprietrios de conhecimentos que no foram eles que construram, que eram originalmente
um conhecimento de um povo especfico, muitas vezes passado de pai para filho, portanto
um conhecimento ancestral que no foi valorizado pelos cientistas Brasileiros. Estes, muito
preocupados com a lgica da produo de conhecimento, com a quantidade e no com a
qualidade. Portanto, preciso repensar essa lgica, refletir e destitu-la.
Precisamos rever esses conceitos, que essa lgica impe. Dizer no para a construo
de teses e dissertaes que ficam nas prateleiras das bibliotecas, sem difundir esses
conhecimentos, sem publiciz-los. Pressupe-se que estes trabalhos tenham sido construdos,
segundo observao emprica de fatos e fenmenos que envolvem os seres humanos e os
atingem direta ou indiretamente, e tragam em seu bojo sugestes de solues. Portanto, se
todos tivessem acesso livre s informaes cientficas, estudos, intervenes, conhecimentos,
certamente situaes em que a crena ingnua, permissiva, submissa, de pessoas que ficam
distantes dos grandes centros e grandes corporaes no aconteceria. Certamente no seriam
incautas vitimas da esperteza de quem detm, prioriza a informao como elemento de
exerccio de poder, de fama, de fortuna. As diferenas certamente diminuiriam, quia
acabariam.
Como soluo para estas questes a REDPECT optou por (in)formar acadmicos,
desde a iniciao cientfica. Faz-los refletir, exercendo a pedagogia de Paulo Freire, de
professores aprendizes com seus alunos. Ento, todos na rede exerciam esta prtica, sem
diferenas. Embora, isto no queira dizer que no existiam conflitos, eles existiam tanto
internos quanto externos. Os externos ligados ao estado, poltica, manipulada pelo
capitalismo h muito tempo. Os internos como num processo grupal, ou dinmica de grupo. O
grupo tinha seus conflitos, ningum negava conflitos, acreditando que o conflito potencializa
o crescimento.
Ento, existiam os aspectos que representavam esse processo grupal, como existe em
qualquer grupo. E as diferenas de pensamento, como qualquer grupo multirreferencial. Cada
um defendia sua rea, como aprendeu a fazer desde a escola primria, a partir da manipulao
existente h muito tempo. Primeiro na escola exrcito, depois na escola qualidade total, o erro
zero. Pergunta-se: Como fazer com que essas pessoas que vinham sendo formadas nessas
escolas, com essas caractersticas, pudessem pensar diferente?
A rede planejava a sua agenda a cada incio de semestre da UFBA, segundo a seguinte
estrutura:
Nessa rede, rica de saberes, prticas, eu sentia uma energia que surgia nas nossas
discusses, como um pulsar pelo saber, um frisson para construir conhecimento e todos
colaboravam, contribuam com suas reflexes, para que o colega, no momento que tivesse que
enfrentar sua banca de avaliao, pudesse enfrentar tranquilo, por que j tinha enfrentado o
crivo do seu prprio grupo nestas orientaes coletivas. Recebamos convidados para refletir
com eles questes de outras reas, as quais muitas das vezes no eram diretamente ligadas
com nossos prprios trabalhos, mas o enriqueciam muito com o compartilhamento de
saberes. Ento, era muito bom trabalhar e participar dessas discusses, era incrvel quanto isto
ampliava o horizonte, o intelecto de todos.
Hoje compreendo que, embora parecesse que trabalhvamos com reas diversificadas,
divergentes, na realidade essas reas eram o lastro atravs do qual se trabalhava com a AnCo,
buscando estabelecer dilogos com/entre pesquisadores destas, para socializao do
conhecimento. Alimentando o sonho de (trans)form-lo em bem pblico, bem comum,
como comunho de ideias e ideais.
2. A mediao passa de pessoa para pessoa medida dos saberes de cada um dos
participantes: autores-pesquisadores do conhecimento em construo;
visitantes/colaboradores e tambm aprendizes que aprofundam temas
multirreferencialmente. Um processo complexo de compartilhamento desses saberes,
atravs de sugestes (brainstorming) espontneas, sem crticas negativas.
Retomando o que exponho nas tesselas anteriores, esta tese tem como tema a
Construo Colaborativa do Conhecimento, na perspectiva multirreferencial / complexa. Seu
objeto prope fundamentar e analisar esta construo como um saber que se desenvolve nas
investigaes de duas redes de pesquisa de visada multirreferencial complexa - REDPECT e
RICS - para responder a questo: Como a construo colaborativa do conhecimento, segundo
uma rede de pesquisa multirreferencial, contribui para a construo e difuso do
conhecimento acadmico cientfico dos autores pesquisadores?
(3) Cognio.
35
Sanches (2011).
71
Esta construo foi possvel atravs dos dilogos com os autores: Comasseto (2006);
Dias (2000, 2004); Maada e Tijiboy (1998); Knihs e Arajo Jr. (2007); Piaget (1973); Mason
(1998) e Okada (2003); Ncleo Minerva, Centro de Competncia Nnio Sculo XXI da
Universidade de vora (2000), Hetkowski (2007), Fres Burnham et al (2007).
36
Partes deste texto foram construdas tanto na elaborao do projeto de pesquisa desta tese, quanto em Artigo,
apresentado pela autora como atividade de avaliao da disciplina: EDC A87 Sistemas Complexos, ao PPG-
DMMDC/UFBA, professor: Garcia Vivas, no semestre 2012.1.
37
Conceito que retomo nesta tessela para dar um encaminhamento lgico ao texto.
38
Sanches (2011, p. 40).
72
39
Vide nota de rodap no 36 deste captulo.
75
A partir desta perspectiva, este no um mosaico artstico, uma pea imvel que se
admira numa exposio, num museu, numa parede, num vaso etc., mas o fluxo do processo de
construo deste, representado aqui pela cognio destes autores-pesquisadores das/nas redes
de pesquisa. Entretanto, para faz-lo compreensvel e me apropriar dos seus elementos
(trans)duzidos, (trans)formados, resolvi conhecer/apresentar um pouco da histria dos
mosaicos e como eles se constroem.
40
<http://www.aulete.com.br/mosaico#ixzz3bepTHVX1>. Link para acesso a fonte do significado de Mosaico.
Acesso em: 18 jan.2015.
76
Esta caracterstica do mosaico lembra que, do conjunto de pequenas peas podem ser
criadas, ou construdas, imagens que retratam uma poca, ou a marca registrada de um artista
que escolheu este tipo de obra para manifestao de suas ideias criativas.
Ainda buscando informaes sobre o termo mosaico, trago a do site Infoescola (s.d.,
s.p.), que o apresenta como sendo uma
[...] expresso artstica na qual [...] o artista, organiza pequenas peas coloridas e as
colam sobre uma superfcie, formando imagens. As peas a serem utilizadas em um
mosaico podem ser pequenos fragmentos de pedras, como mrmore, granito,
pedaos de vidro, seixos, pedras semipreciosas e outros materiais, sobre qualquer
superfcie, seja ela fixa ou transportvel. O termo mosaico originrio de
mosaicon, que significa musa. Essa forma de arte j existe h milnios, pois do
Oriente os sumrios, por volta de sete mil anos atrs, j revestiam pilastras com
cones de argilas coloridas e fixadas em massa, formando uma decorao geomtrica.
Os gregos e os romanos tambm utilizavam a tcnica do mosaico no auge de suas
culturas para decorarem os pisos e as paredes das construes.
[...] Cristianismo passa a ser oficialmente a religio do Imprio Romano, a arte que
vinha sendo produzida, desde que os cristos eram intolerados e perseguidos pelos
romanos, uma arte de pinturas em paredes e tetos das catacumbas, os novos
mausolus e templos passam a ser decorados por mosaicos, abordando os temas de
histrias do Antigo e Novo Testamento. Neste perodo a tcnica se desenvolve, os
artistas se tornam mais hbeis, e a qualidade das obras aumentam devido o
desenvolvimento da tcnica, sendo a expresso mxima na arte bizantina do perodo
romntico. Os sarcfagos decorados pelos fiis chegavam a sofisticao de
possurem relevos em seus mosaicos. (INFOESCOLA, s.d., s.p.)
O site The Mosaics Yone Lins fala sobre a histria do mosaico e sua origem. Que o
[...] mosaico tem momentos fragmentados da sua origem at os dias de hoje, para algumas
fontes o termo [...] mosaicon [...] significa musa, e que, sua traduo quer dizer
77
pacincia das musas". E ainda que, essa [...] arte teve origem nas antigas civilizaes
como o Egito e a Mesopotmia.
[...] sc.VIII A.C., quando os gregos utilizavam pedras cortadas em cubos para
pisos, refinando a tcnica no sc.V A.C.
Na Grcia foi encontrado um dos documentos mais antigos relativo arte do
mosaico (meados do sculo III A.C).
Num fragmento de papiro descreve-se o mtodo para execuo de um pavimento
numa sala de banhos.
E ainda que, na poca romana, a arte do mosaico espalha-se pelos templos, teatros,
estabelecimentos pblicos, lojas, mercados, etc.. Este site apresenta a linha do tempo da
histria do mosaico, do sculo XVI ao sculo XIX:
Esta parte da histria contada por Yone Lins traduz o mosaico como uma tcnica,
entretanto neste estudo o mosaico um caminho terico, epistemolgico, metodolgico e
poltico, utilizado por duas redes de pesquisa, para construo de conhecimento, em processo
colaborativo.
78
Esses [...] detalhes mais precisos [...] citados, podem ser os nveis de qualificao,
ou construo de conhecimentos tericos sobre o tema em estudo por esses autores, quando da
fundamentao de questes inerentes pesquisa em desenvolvimento. A contribuio de cada
um nessa construo colaborativa. E, [...] as partes gerais e ornamentais [...], consideradas
aqui como superficiais, ou externas, fica a cargo dos pesquisadores iniciantes, de maneira
implcita, pois no se distribui tarefas hierarquicamente, mas sim cada um se compromete
naturalmente por uma rea que se acredite capaz de construir. Portanto, cada um d sua
colaborao para a construo de cada mosaico/obra construdo/a, ou [...] obra musiva
construda [...] a vrias mos/pensamentos/reflexes. Embora, afirme Illustratus (2010, s.p.)
que:
A partir de todo o exposto surge uma questo: Utilizo o mosaico como uma metfora
para fundamentar/compreender o processo de construo colaborativa do conhecimento, ou
como uma metodologia?
muitos temas, conceitos, autores, e teorias transitam e dialogam com seus autores-
pesquisadores. (In)formando, (re)formando, (trans)formando saberes, prticas em
inteligncia coletiva, a construo do conhecimento desta rede de pesquisa. Portanto, estes
contedos abordados, discutidos, construdos de maneira coletiva/colaborativa, formam a
segunda dimenso da obra musiva, as tesselas, as pequeninas peas que a REDPECT
utiliza para montar o mosaico da construo do conhecimento.
Porm, esta dimenso baseada na complexidade humana, por no ser apenas uma
superfcie, uma base material concreta, na qual so embutidas as tesselas para a formao
do mosaico, envolve um grande desafio. O de compreender as diferenas e lidar com elas. Por
isto, achei por bem refletir sobre a complexidade humana e sua problemtica.
O ser humano visto como um carro de ltimo modelo, inclusive com computador de
bordo. A mente considerada computador, a inteligncia artificial dominando em diversos
setores. O ser humano j ento se comportando como produto de consumo e no apenas
consumidor. A realidade dos espertos, no o ganha a ganha, como na poca do escambo, mas
o ganha perde, predador. O homem predador de si mesmo e dos outros homens.
A vida humana se perdendo, enquanto se ilude o homem com essa barganha com
tecnologias inventadas por ele prprio, paradoxalmente para uma vida mais prtica, para a
qualidade de vida.
Indivduos que se preocupam com a natureza e suas necessidades falam deste evento
como um grito de alerta do planeta, mas outros continuam predadores. Sem se darem conta
do fato de que esta a resposta do planeta que est se fazendo sentir em doses homeopticas,
de catstrofe em catstrofe, lentamente, mas o homem o afastou de si mesmo, da sua origem
natural, da sua essncia, sua alma.
Um filsofo que acredita no esprito diria: da sua alquimia. Eu digo da sua ligao
direta com a terra, com a natureza. Criaturas humanas vivendo da guerra, do vicio da guerra,
empresrios vivendo da/para a morte, da venda de equipamentos blicos da mais alta
tecnologia de matar. As crianas utilizando jogos digitais de terceira e quarta gerao
tecnolgica, nos quais a morte, a violncia, entretenimento. Ento, pergunto: Onde ser que
vo parar esses futuros homens?
Os valores ticos so uma piada para os jovens, um mico como eles dizem, que
ficam em encontros casuais, em vez de amar; que idolatram histrias de amor de mutantes e
vampiros. Aonde chegaro? Como vivero, quando o planeta sangra nos garimpos e os rios
morrem alimentados pelos produtos qumicos, esgotos, dejetos das mais sofisticadas
tecnologias industriais?
82
Pergunto ento: Quem realmente este ser que anda canta, sorri, chora, ama, odeia,
venera, mata, acolhe, trabalha, aprende, apreende, produz, brinca? Que mistrios envolvem
este pensar abstrato de um sistema ainda pouco conhecido, mas to pesquisado pelos
cientistas? Onde esto as certezas to proclamadas pela mecnica, pela fsica, quando as
dvidas imperam neste mundo catico, que deveria acolh-lo, mas que muitas vezes lhe
hostil e frio?
Acontece, porm, que existem muitas dvidas e incertezas neste mundo que parece to
perfeito quando se tem contato com as belezas dos fractais. O caos da vida na natureza no o
mesmo do trnsito, da atuao dos polticos ou das organizaes, sejam elas quais forem.
Inclusive as das grandes cidades que alimentam a violncia, a discrdia, a falta de tica e de
solidariedade humanas.
Pretender que este ser, movido por um sistema to complexo de redes neurais e
sanguneas, possa compartilhar conhecimento numa construo colaborativa, sem que este
fenmeno seja no mnimo considerado como um sistema complexo: de teias polticas; redes
de comunicao/informao, mediadas por esta ou aquela tecnologia; pedir muito ao sistema
humano.
atravs dos meios miditicos, televisivos, WEB, internet e outras tecnologias -, invenes dele
mesmo, paradoxalmente perdido que se sente achado -, o acompanham em todas as dimenses
da sua vida: fsica, psquica, orgnica, sentimental e espiritual.
Imaginar que este ser, que viaja entre ordem e desordem, evolui na transcendncia do
caos e constri conhecimento na fronteira entre cognio e experincia, pudesse estar isento
da influncia de todos esses elementos no seu desempenho normal de ser humano seria
acreditar no improvvel.
O cenrio deste mundo externo, seu mundo, seu contexto, seus anseios, os acompanha
para este mundo virtual, que tambm real, concreto e ao mesmo tempo abstrato voltil. Um
paradoxo que os segue onde quer que estejam como se tivessem na mente inmeras
interrogaes, um monstro matemtico, um fractal, seus crebros cobrando padres de
perfeio, mas suas vidas se apresentando no to perfeitas assim.
Como apaziguar a sua insegurana, quando seu parceiro de construo traz uma
questo de outra rea do conhecimento, a qual ele no domina, mas que fundamental
para sedimentar/fundamentar conceitos da sua prpria, despertando medos e anseios
de perda de poder, sentimentos de invaso do seu espao, seu domnio?
Um dos problemas mais graves nesses embates o medo dos erros, de se exporem
perante os colegas, ou at mesmo de utiliz-los como oportunidades, lacunas a serem
trabalhadas/preenchidas em prol da prpria construo e do sucesso do projeto
coletivo/colaborativo. Estes medos nada mais so que reflexos de uma formao que busca a
verdade e est alicerada na busca da certeza e na competio do vencedor contra o
perdedor.
Por todo o exposto, considero aqui para uma primeira abordagem de ampliao do
conceito, a construo colaborativa do conhecimento como um sistema complexo,
dinmico, uma rede de relacionamentos de dimenses: objetivas, subjetivas e inter-trans-
subjetivas, que envolve os sujeitos construtores. Principalmente, e, sobretudo, quando numa
visada multirreferencial de mundo.
E ainda, na medida do possvel, os dilogos com autores como Ardoino, Freire, Fres
Burnham, Macedo, Morin, Piaget, cujos pensamentos foram considerados como lastro para a
construo gradual dos referenciais tericos daquele estudo, sero aqui utilizados como
bases iniciais desta investigao. Isto porque, esta pretende ampliar e potencializar essas bases
como mosaicos construdos a partir do entrelaamento/(inter)relao dos conceitos principais
entre si e com os secundrios, e a articulao destes com os eixos epistemolgicos.
Espero que esta dinmica facilite a anlise crtica dos registros levantados nos projetos
selecionados para anlise, assim como aconteceu na pesquisa concluda. Todavia, alguns
conceitos que emergiram nas anlises daquela pesquisa, foram considerados aqui como
conceitos emergentes para uma reflexo/anlise mais profunda, buscando o significado da
presena destes no processo de construo colaborativa do conhecimento. As prximas sees
apresentam os principais elementos que compe a cartografia que proponho analisar.
Alm disto, como a perspectiva epistemolgica na qual esto baseados estes conceitos
foco a multirreferencial/complexa, os conceitos de multirreferencialidade e complexidade
tambm compem a cartografia dos principais conceitos que se articulam numa construo
colaborativa do conhecimento.
Pensar em encruzilhada me remeteu a uma das cartas do tar mitolgico grego. Ento,
me aproprio do significado da carta do Mago (um dos arcanos maiores), para expor as
possibilidades de escolha que uma encruzilhada pode apresentar. Os arcanos maiores no tar
descrevem a viagem arquetpica, da vida e significa no tar que: [...] no obstante os detalhes
especficos que uma vida possa ter, longa ou curta, banal ou dramtica, boa ou m, certos
estgios do desenvolvimento psicolgico sero atravessados por todos ns indistintamente.
(SHERMAN-BURKE, 1988, p. 15)
O tar aqui utilizado como uma metfora para fundamentar esta encruzilhada de
epistemologias, com as quais os autores-pesquisadores da REDPECT e RICS se deparam num
ambiente complexo/multirreferencial. A confuso que este ambiente plural provoca e os
diversos caminhos, bases tericas, que tm a escolher para seguir com suas pesquisas,
individuais e/ou coletivas. Principalmente quando coletivas, porque une a complexidade
humana, a pluralidade cultural, a diversidade de contextos, multireferncias, diversas vises
de mundo etc. A nvel psicolgico, o Mago
[...] representa o guia. Significa que em algum ponto dentro de ns, no obstante o
quanto estejamos perdidos ou confusos, sempre vai existir um vislumbre das
profundezas do inconsciente para indicar-nos que direo deveremos tomar e que
escolhas poderemos fazer. (SHERMAN-BURKE, 1988, p. 25)
o todo esse processo que se prope cclico, fluido, possibilitado pela Mediao, se
concretiza no Compartilhamento, na disseminao/difuso do conhecimento, que se
busca tornar um bem pblico.
A antiga patologia do pensamento dava uma vida independente aos mitos e aos
deuses que criava. A patologia moderna da mente est na hipersimplificao que no
deixa ver a complexidade do real. A [...] da ideia est no idealismo, onde a ideia
oculta a realidade que ela tem por misso traduzir e assumir como a nica real. A
doena da teoria est no doutrinarismo e no dogmatismo, que fecham a teoria nela
mesma e a enrijecem. A patologia da razo a racionalizao que encerra o real
num sistema de ideias coerente, mas parcial e unilateral, e que no sabe que uma
parte do real irracionalizvel, nem que a racionalidade tem por misso dialogar
com o irracionalizvel. (p. 15)
Considerando esta reflexo de Morin, podemos dizer ento que cada linha de
pensamento tenta levar seu pblico para o tema que domina e se fechar nele mesmo, no se
importando com a complexidade do real, a face oculta do ideal, o enrijecimento terico,
nem o desvelar do racional atravs do dilogo com o que no racional, sua incompletude.
Quando deixamos de discutir amplamente temas que vo contra estas teorias/pensamentos, os
consideramos como sistemas fechados, completos. A consequncia disto que deixamos de
estabelecer um dialogo com o impensvel e isto pode mutilar a complexidade do
conhecimento em questo.
Morin (2007, p. 15), com esta reflexo prope [...] sensibilizar para as enormes
carncias de nosso pensamento, e compreender que um pensamento mutilador conduz
necessariamente a aes mutilantes. Por isto, preciso [...] tomar conscincia da patologia
contempornea do pensamento. Diz ainda o autor que,
Isto me conduziu a pensar a questo dos desafios do analista cognitivo e sua projeo
no mundo, conforme as consideraes de Galeffi (2011, s.p.), na apresentao do livro
mosaico: Epistemologia, construo e Difuso do conhecimento:
Esta sem dvida no uma realidade apenas do analista cognitivo, mas tambm do
homem contemporneo e os desafios do seu mundo. Viver coletivamente uma necessidade
que se concretiza cotidianamente. Mltiplas habilidades e competncias so exigncias no s
aos profissionais na atualidade, mas tambm aos pais para orientar e acompanhar os filhos
neste complexo mundo globalizado, multicultural; aos professores para orientar e aprender
junto com seus alunos, cada vez mais inteligentes, complexos, informatizados, politizados etc.
Para se construir conhecimento neste mundo complexo, multirreferencial, multirreferente
preciso se conscientizar de que,
41
(ma.ni.que.s.mo). sm. 1. Fil. Doutrina do persa Mani ou Manes (sc. III) segundo a qual o mundo foi criado
e dominado por dois princpios antagnicos, o bem absoluto, que representado por Deus, e o mal absoluto,
representado pelo Diabo. 2. Forma de julgamento ou de avaliao que reduz uma questo a dois aspectos opostos
e incompatveis. Disponvel em: Read more:< http://www.aulete.com.br/maniquesmo#ixzz3e5bm4vTR>.
92
a partir desta lgica que a complexidade foi assumida como um dos eixos
epistemolgico da construo colaborativa do conhecimento. Ela prope uma dinmica de
anlise similar proposta na metodologia deste estudo, ou seja, as informaes significativas
sero selecionadas e organizadas em matrizes para as anlises, as no significativas rejeitadas,
tudo isso em funo da cartografia terica proposta e das questes/objetivos a serem
respondidos/alcanados. Estes elementos finais podem ser considerados aqui como este
ncleo de noes-chaves que Morin apresenta.
Esta lgica fica mais clara na concepo de complexidade que este autor apresenta a
partir da sua resposta questo: Como o senhor definiria a complexidade?. Pergunta feita
pela jornalista Djnane Kareh Tager, no livro Meu Caminho: Entrevistas com DJnane
Kareh Tager:
Eu diria, inicialmente, que complexo tudo aquilo que no pode se reduzir a uma
explicao clara, a uma ideia simples e, muito menos, a uma lei simples. Mas isso,
evidentemente, no suficiente. Vou referir-me origem latina da palavra:
complexus significa o que tecido em conjunto. O conhecimento complexo
procura situar seu objeto na rede qual ele se encontra conectado. De maneira
inversa, o conhecimento simplificador visa a conhecer isolando seu objeto,
ignorando [...] o que o liga a seu contexto e, mais amplamente, a um processo ou a
uma organizao global. O conhecimento complexo objetiva reconhecer o que liga
ou religa o objeto a seu contexto, o processo ou a uma organizao em que ele se
inscreve. Na verdade, um conhecimento mais rico, mais pertinente a partir do
momento em que o religamos a um fato, um elemento, uma informao, um dado,
de seu contexto. (MORIN, 2010, s.p.)42
42
No foi possvel citar a pgina, pois s consegui uma cpia digitalizada do livro Meu Caminho: Entrevistas
com DJnane Kareh Tager, na qual os nmeros das pginas foram cortadas.
93
Desta maneira, o isolamento do objeto de seu contexto pode fazer com que o
conhecimento perca sua pertinncia, ou se transforme em outro objeto ou conhecimento
diferente do que se busca ou que se quer construir. Contextualizar, portanto, uma maneira de
compreender o objeto em toda sua complexidade e tambm as caractersticas da rede de
referncias a qual este est conectado.
[...] elaborar, trocar, transmitir, expressar, traduzir, mobilizar afetos, ideias, opinies,
crenas. [...] linguagens muito diferentes umas das outras, pelos modelos que
implicam, at mesmo em razo de suas vises de mundo subjacentes, que coexistem
e se justapem atravs de tudo o que nos parece mais banal aceitar como bvio.
(ARDOINO, 1998, p. 25)
Retomo tambm um dialogo com Fres Burnham (1998), baseado em Ardoino (1989,
1992), para esta interpretao hermenutica do objeto em estudo, das diversas linguagens
acima mencionadas, no qual ela diz que a anlise de fenmenos segundo a
multirreferencialidade
Embora, Doll reflita sobre os sistemas abertos fundamentando currculos, tema que
no est em discusso nesta tese, mas que tambm no est distante do nosso objeto. Desde
que, o processo de construo colaborativa do conhecimento potencializa a: aprendizagem,
criatividade, interpretao e compreenso etc., para (in)formao dos autores-pesquisadores.
Portanto, resolvi utilizar para fundamentar esta questo.
Para, alm disto, a prtica de feedback vem sendo citada nesta tese fluidamente nos
captulos 1 e 2, como uma tcnica que traz ganhos nas relaes intra(trans)subjetivas dos
autores-pesquisadores e tambm na minha histria de vida profissional, no exerccio da
confiana mutua com os clientes e analise crtica da situao experienciada; na prxis da
construo colaborativa do conhecimento em sala de aula, incentivando a perspectiva crtica,
a autonomia para os meus alunos; no respeito as opinies em reunies de orientao coletiva
das redes de pesquisa; na possibilidade de manter o foco no tema atravs do respeito ao
feedback (comentrios) dos presentes s reunies, numa construo colaborativa.
96
NATUREZA
SEMESTRE PERODO DISCIPLINAS CURSADAS DA PROFESSORES
DISCIPLINA
Na referida dissertao, ainda como pressuposto, um dos pontos fortes colocados como
caracterstica da construo colaborativa era o despertar da conscincia para a apropriao de
conceitos pertinentes ao tema, a valorizao das descobertas, atravs do dialogo entre as
percepes do sujeito com as contribuies de autores que tratam desse tema, mesmo assim as
buscas no foram muito frutferas, foram encontradas evidncias43 como:
43
Estes resultados e os abaixo citados nesta pgina esto disponveis na mencionada dissertao, em Sanches
(2011, p. 40-41).
100
Essa confuso entre cooperao e colaborao, foi argumento para refletir sobre o
conceito de construo colaborativa do conhecimento construdo, atravs do dialogo com os
autores44 que contriburam para a definio deste. poca, a mencionada confuso conceitual
emergiu dos dilogos com os autores que investigam estes temas, medida que fui fazendo o
levantamento da literatura. Mas, como esta confuso foi explicitada neste estudo em uma das
entrevistas feitas com um dos autores-pesquisadores45, eu achei pertinente retomar aquela
fundamentao destes conceitos, e ampli-la a partir do material tratado, reescrevendo e
consultando novos autores.
Dizem eles ainda, que possvel analisar a palavra colaborao como co-laborar, ou
seja, co-trabalhar, trabalhar junto. (p. 4) Embora na perspectiva Piagetiana colaborao tenha
um sentido aparentemente contrrio a estas definies de Knihs e Arajo, isto porque
colaborao para eles se assemelha muito a definio de cooperao de Piaget, que argui no
livro Piaget ou a Inteligncia em Evoluo que a
[...] colaborao resume-se reunio das aes que so realizadas isoladamente pelos
parceiros, mesmo quando o fazem na direo de um objetivo". (p. 81).
44
Apresentados na Tessela 3 Construo Colaborativa - Reflexes Terico-Epistemolgicas desta tese.
45
Esta confirmao est disponvel na anlise da entrevista de Silva (2015), nas pginas 215-216, Tessela 5.
CONFIRMAR APS FINAL DA REVISO
101
Neste ponto Cogo (2006), estabelece uma comparao entre o que outros autores
pesquisados por ela apresentam sobre esses conceitos e o que Piaget por sua vez apresenta,
dizendo que: [...] cooperao e colaborao so apresentadas por Piaget de forma inversa,
46
Todas as citaes de outros autores foram tambm escrutinadas, portanto foram colocados nas referncias
desta tese. Embora, tenham sido citadas como no primeiro texto encontrado.
47
Referncia citada por Costa & Franco: MEHLECKE, Q. T. C.; TAROUCO, L. M. R. Ambiente de Suporte
para Educao a Distncia: a mediao para aprendizagem cooperativa. In: RENOTE: Revista Novas
Tecnologias na Educao, Porto Alegre, v. 1, n. 1, fev. 2003.
48
Referncia citada pela autora: Campos M. Comunidades em rede: da publicao construo de
conhecimentos. In: Maraschin C, Freitas LBL, Carvalho DC. Psicologia & Educao. Porto Alegre (RS):
Editora da UFRGS; 2003.
102
A partir disso fica confirmado que realmente existe uma inverso e, como sempre
fao, comeo a me inquirir, problematizando a questo. Por que essa inverso? Ser uma
questo de interpretao? Ou quem sabe talvez problemas na traduo? Ser que a confuso
existente entre cooperao e colaborao no vem dessa inverso? Por que as pessoas
confundem tanto esses conceitos? Ser que por conta da imbricao entre eles?
Fui buscar ento a definio de ambiente cooperativo em Mason (1998) 49, traduzida
e sintetizada por Okada (2003), como um
Partindo dessa lgica, a confuso que existe entre cooperao e colaborao pode estar
centrada na interpretao de cooperao dos autores das Cincias da Informao, para
elaborao de AVA, um ambiente virtual de cooperao. E em Piaget como uma [...] norma
racional e moral indispensvel para a formao das personalidades [...], e tambm como [...]
o grau mais elevado de socializao [...], como citado anteriormente. Portanto uma questo
que est ligada ao desenvolvimento do sistema intelectual do ser humano, ou seja, o processo
de amadurecimento desse sistema, mas em interao com o meio em que atua. Isto porque
est relacionado com o nvel mental de operao do indivduo e a ao social entre
indivduos.
49
Referncia citada: MASON, R. (1998) Models of Online Courses - The Open University - Institute of
Educational Technology. Disponvel em: http://www.aln.org/alnweb/magazine/vol2_issue2/Masonfinal.htm.
103
Abro este espao para enfatizar o que diz Okada, a importncia do bom
relacionamento e proximidade de todos, o que acredito ser possvel a partir da internalizao
dos princpios de colaborao, que neste processo de construo de conhecimento tambm
potencializa a inteligncia coletiva do grupo, conforme explicita o mapa conceitual desse
processo/estudo. Chamo a ateno tambm para a colaborao colocada como princpio,
portanto comum aos seres humanos, questo que ser esclarecida no decorrer do texto.
[...] epistemologia gentica pode ser compreendida como uma teoria processual, a
qual concebe a construo do conhecimento na ao do sujeito. O conhecimento, no
entendimento de Jean Piaget, no est pr-determinado nas estruturas internas do
sujeito, nem nas caractersticas do objeto, mas sim na interao que ocorre entre o
sujeito e o objeto. (PIAGET, 1973, apud COGO, 2006, p. 681)
Diante deste contexto, pensando a EaD como instrumento pedaggico que potencializa
os AVA para a formao de CVA, fui buscar dialogar com Dias (2004, p. 8) para essa
fundamentao na sua afirmao: Os processos e estratgias colaborativas integram uma
abordagem educacional na qual os alunos so encorajados a trabalhar em conjunto na
construo das aprendizagens e desenvolvimento do conhecimento. H ento a uma
mudana, uma transformao nos papis do aluno e do professor.
Sobre estes papis Dias (2004), explicita que a [...] aprendizagem colaborativa
baseada num modelo orientado para o aluno e o grupo, promovendo a sua participao
104
dinmica nas actividades e na definio dos objectivos comuns do grupo. (p. 8). Diz ainda
que, nesta abordagem [...], o papel tradicional do professor desloca-se para novos espaos de
aco e desenvolvimento da relao entre o professor e o aluno no processo de ensino-
aprendizagem [...]. portanto, um [...] professor investido das funes de facilitador,
acompanhante e tutor das actividades do aluno. Dias (2000, p. 147-148)
Quanto a questo de como se processou essa mudana, Dias (2000), esclarece que se
Neste sentido, considerando a dimenso social, que Dias (2000) levanta ao falar da
aprendizagem colaborativa, mais uma vez percebo que na viso de Piaget esta dimenso
social est ligada a cooperao e no a colaborao. Muito embora ele relacione de maneira
estreita estes conceitos ao afirmar, como citado acima, que colaborao refere-se troca de
informaes entre os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, o que interpreto
como socializao do conhecimento construdo. Alm disso aparece tambm nesta fala de
Dias, a questo da pedagogia tradicional, o modelo centrado na transmisso, sendo
deslocado desse modelo para o orientado pelo processo de construo de conhecimento,
atravs da socializao. Esta (trans)formao desejada/trabalhada por Piaget prxis na
REDPECT e na RICS, embora de maneira implcita nos seus registros.
Neste ponto fao um parntese para refletir sobre essa passagem do individual para o
cooperativo, ou seja, na minha percepo a cooperao aqui tem a haver com um trabalho que
embora feito individualmente seja cooperativo. Isto se justifica nesta partilha deste trabalho
individual no coletivo, para o crivo de todos, (trans)formando esta cooperao em
colaborao. Retorno a essa questo nas anlises das entrevistas, na Tessela 5, quando alguns
105
Dias (2000, p. 161) fala que o [...] princpio da partilha fundamental para a
formao das redes de ideias interrelacionadas, estratgias e teorias [...]. Esta uma questo
importantssima para o processo de construo colaborativa do conhecimento, por que
atravs dessas redes de ideias interrelacionadas que o grupo incorpora ao seu cotidiano
princpios de autonomia, de autoria, de anlise crtica do conhecimento construdo, de respeito
ao outro e suas diferenas, exercitando efetivamente o ser colaborativo e a prxis do
trabalho em rede.
Nesta definio o Ncleo Minerva, assim como Piaget, aborda a questo social, s que
a partir da colaborao e no da cooperao. Eles destacam a [...] participao activa e a
interaco, tanto dos alunos como dos professores [...] na aprendizagem colaborativa e o
conhecimento
[...] como um constructo social e, por isso, o processo educativo favorecido pela
participao social em ambientes que propiciem a interaco, a colaborao e a
avaliao. Pretende-se que os ambientes de aprendizagem colaborativos sejam ricos
em possibilidades e propiciem o crescimento do grupo. (s.p.)
Vejo nesta definio do Ncleo Minerva um elo com os estudos de Piaget, quando eles
apresentam o conhecimento como um construto social, ou seja, a socializao como potncia
do processo educativo. Eles no fazem uma comparao entre cooperao e colaborao
entretanto apresentam um mapa para classificar as mximas50, ou caractersticas, que
diferenciam a aprendizagem tradicional -, que tanto Piaget lutou para modificar -, e a da
aprendizagem colaborativa, resultado dessa modificao. Intitulei este mapa como Quadro 4
- Mximas sobre aprendizagem tradicional e colaborativa, e o apresento abaixo como
ilustrao dessas questes:
50
Embora mximas seja um termo pouco utilizado no Brasil, resolvi mant-lo como no texto original.
106
Mximas sobre
[...] onde os sujeitos constroem laos sociais, os quais esto fundados sobre links
territoriais, nem sobre relaes institucionais, tampouco sobre as relaes de poder,
mas a partir do compartilhamento de saberes, de aprendizagens, de processos
dialgicos e comunicativos abertos e recprocos. A tomada de conscincia possvel
quando aliada a um processo coletivo, dinmico e responsvel. (s.p.).
Segundo a autora, neste processo est a gnese da inteligncia coletiva em que cada
participante transforma-se em imigrante da subjetividade, desenvolvendo habilidades para
lidar com a imprevisibilidade, [...] atravs da mobilizao tica e cooperativa
(HETKOWSKI, 2007, s.p.). Interessante observar que em Hetkowski a cooperao
considerada como mobilizao poltica, medida que envolve a tica e a criatividade, ou a
habilidade para lidar com situaes imprevisveis.
Hoje, evidencia-se cada vez mais que a Sociedade da Aprendizagem pode passar a
ser uma perspectiva de evoluo da sociedade da informao e da sociedade do
conhecimento, pois os seres sociais estariam se pondo constantemente em processo
de aprendizagem, onde tudo no-esttico e est sempre em construo.
Quem participa e est atento a este movimento, percebe que a inteligncia est
distribuda por toda parte. Nenhum indivduo, rea, corporaes ou corpo social
detentora exclusiva do saber. Assim, reconhecer e aceitar a diversidade e a
pluralidade cultural, aceitando as identidades sociais fazem com que aprendentes
possam se reunir para a construo e difuso de novos conhecimentos. Ou seja, os
aprendentes possuem um papel mais ativo no seu aprendizado individual e coletivo.
(FRES BURNHAM et al, 2007, p. 4)
Acredito ser importante enfatizar ainda que, discutir e ampliar o estudo dessas
diferenas, entre conceitos chaves para a compreenso da construo colaborativa do
conhecimento, possibilitou no s o esclarecimento de questes especficas sobre os conceitos
de cooperao e colaborao, como tambm perceber que essas questes so mais
aprofundadas nas Cincias da Informao para fundamentar os AVA, e o trabalho
cooperativo/colaborativo em redes de estudos, pesquisas, sociais etc. medida que estes
ambientes necessitam ser estruturados como atrativos do seu pblico alvo e tambm que
facilitem a navegao para a interao e compartilhamento de saberes, atingindo assim o seu
objetivo meio, ou seja, potencializar a construo do conhecimento.
Neste estudo, este mosaico composto por elementos de outros mtodos aqui
considerados como tesselas do mosaico, so eles:
51
Importante frisar que, Modelagem aqui no considerada na perspectiva de repetio de modelos, mas sim
na da arte que transforma artesanalmente matria prima, como por exemplo, a argila, em obra de arte. Portanto,
metaforicamente modelagem na tica da construo, de moldagem.
52
Anlise Cognitiva e Espaos Multirreferenciais de Aprendizagem, slide 43.
53
Grupo que faz parte da REDPECT, onde nasceu o DMMDC em conjunto com outros grupos de outras
instituies.
109
(2) a inspirao na abordagem inicial da Anlise do Discurso para a seleo dos recortes
selecionados nos principais projetos dessas redes;
54
Conforme (in)formao em sala de aula, nos estgios de Mestrado e Doutorado com Fres Burnham,
semestres: 2009.2, 2010.1 e 2010.2 (Mestrado); 2012.1 e 2012.2 (Doutorado).
110
Esperando que, ao final deste trabalho investigativo, este objetivo permita alcanar o
resultado mais amplo da pesquisa, ento, detalhei as questes a serem trabalhadas na anlise
das informaes levantadas, numa configurao que as categoriza para o levantamento dos
recortes a serem analisados, a partir dos objetivos especficos traados retomados na prxima
subseo. Este detalhamento apresenta o passo a passo, o caminho da investigao e d
continuidade linha de raciocnio do objeto a ser pesquisado, conforme a metodologia
original.
Para que este detalhamento fosse possvel, foram levantados os dados/informaes que
perfazem o perodo de 1997 a 2007, nos principais projetos de pesquisa destas duas redes de
pesquisa, tendo em vista o objeto de investigao desta tese, conforme explicitado no
Captulo/Tessela 1, ou seja: a fundamentao e anlise da Construo Colaborativa do
Conhecimento, como um saber destas duas redes de visada multirreferencial complexa.
Alm disto, os referidos projetos, acervados nestas duas redes, geraram construes
outras dos autores-pesquisadores destas, que sero citadas no decorrer dessa investigao, isto
porque foram a base de sustentao, molas propulsoras para que trabalhos como:
monografias, dissertaes, teses de doutorado e ps-doutorado, artigos, captulos de livro e
intertextos, fossem produzidos no perodo traado. Embora, a princpio, estes trabalhos no
112
nas entrevistas, a partir dos recortes que trouxeram evidncias das categorias de anlise, com
o mesmo procedimento/objetivo. Indo alm, busco registrar o caminho trilhado entre
Teoria, Consulta ao Corpus e Anlise, num processo cclico ao longo de todo o trabalho.
dos registros dialgicos dos discursos dos autores consultados, sobre os conceitos que
emergem neste complexo, e imbricado mosaico -, utilizando o instrumento de
registro Mapa de Citaes - MC (APNDICE C, p. 276), no qual esses registros so
organizados;
1) uma anlise horizontal de cada fonte de informao pelo modo como o mapa foi
configurado, objetivando conseguir uma viso de conjunto de cada fonte
bibliogrfica no MC; e de cada documento/projeto investigado e entrevistas realizadas,
nos recortes/discursos sistematizados por categoria na respectiva MA;
Diz Benetti (2008, slide 32)56 que, a regra bsica na construo de um corpus :
selecionar preliminarmente; analisar essa variedade; ampliar o corpus de dados at que no se
descubra mais variedade (este o ponto de saturao do tamanho, e onde o corpus termina).
nesta perspectiva que esto sendo construdos os corpora terico e emprico.
56
Essa uma das REFERNCIAS VIDEOGRFICAS citadas nesse estudo.
57
Esta tcnica foi utilizada por Fres Burnham em sua tese de doutorado (no perodo de 1976 a 1982), para
levantamento de fontes tericas e fundamentais para aquele estudo e difundida por ela para (in)formao dos
autores-pesquisadores da REDPECT.
116
DESCRITORES
BIBLIOGRAFIA
INTENCIONALID. PLENITUDE DE
NECESSIDADE HISTORI[CI]DADE CINCIA ESTTICA
(VONTADE) CONHECIMENTO
1 DAMSIO, "A criatividade
Antonio. O requer uma memria
mistrio da fecunda para fatos e
conscincia: habilidades, uma
do corpo e sofisticada memria
das emoes operacional,
ao excelente capacidade
conheciment de raciocnio,
o de si. So linguagem. Mas a
Paulo: conscincia est
Companhia sempre presente no
das Letras, processo da
2000. criatividade, no s
porque sua luz
indispensvel, mas
porque a natureza de
suas revelaes guia
o processo da
criao, de um modo
ou de outro, com
maior ou menor
intensidade (p. 398)".
2 OSTROWER
, Fayga.
Criatividade
e processos
de criao.
Petrpolis:
Vozes, 1987.
58
Esta Matriz do Mapa de Citaes no est completa, faltaram ainda os Descritores: Romper Regras; Risco;
Diferena; Mudanas Bioqumicas; Mudana Cognitiva; Problema; Ideia; Presso Exterior sobre o Organismo;
Potencial Criador; Possibilidade de Criao (instrumentos); Inovao x Repetio (Teste = Experimentar vrias
vezes at funcionar); Insight; Atitude (Ao); Estranhamento; Conveno (Desequilbrio) Estranhamento
(Acomodao-Ao); Medo (Condio); Abertura para ser Afetado.
117
Categorias de Anlise
Tipo de
Referncia
Ref.
Cognio Conhecimento
2. o tipo de produo, se livro, captulo de livro, artigo etc.; e ainda, se for o caso,
em que local foi encontrado o recorte: introduo, prefcio, captulo, contra capa
ou orelha;
Interessante observar inicialmente que nesse MC, no Prefcio do livro, Mariotti fala
sobre Cognio, Conhecimento, tica, Autonomia, Subjetividade, mas no diz nada
sobre Percepo, Linguagem e Explicao. Em contra partida, no Captulo 1 do livro
Maturana fala sobre Cognio, Conhecimento, Percepo, Linguagem, Explicao,
mas nada diz sobre tica, Autonomia e Subjetividade. Esta observao apenas um
exemplo simples de anlise, de algo que est visvel assim que se observa o mapa, que
demonstra as diferentes vises que existem sobre um mesmo objeto.
Outra observao importante tem a haver com a estrutura do mapa e a viabilizao das
anlises. O uso de cores diferentes nas colunas de categorias uma estratgia de
designer, um recurso grfico, para visualizao rpida de cada Autor, Recorte e
Categoria. Ento,
na anlise horizontal voc tem o que cada autor fala nas diversas categorias
e as cores dessas categorias so diferentes;
na anlise vertical, voc tem o que diversos autores falam sobre uma
categoria por vez, e cada categoria tem apenas uma cor.
Em sntese, esta tcnica faz uma cartografia dos conceitos achados nos dilogos com
os autores pesquisados em formato diferenciado da de fichamento, que usualmente
feito para obras individuais e no permite o contraste entre diferentes fontes de
informao. O mapo, como carinhosamente chamamos na REDPECT, no se
diferencia apenas pelo registro/anlise de diferentes fontes organizadas num s espao,
mas tambm pela possibilidade de ter mo comentrios e ideias que surgem
durante o processo de registro/anlise. Com isto, abaixo do prprio trecho recortado
pode-se ter uma compreenso crtica deste, baseada ou no em outros autores, e as
ideias que surgiram durante a leitura reflexiva;
119
Conceitos Principais:
Metodologia de Pesquisa
59
Este levantamento teve incio desde os cursos realizados no PPGE/FACED/UFBA (2007 e 2008), antes
mesmo do mestrado, se ampliou como autora-pesquisadora da REDPECT (desde 2007), na
elaborao/desenvolvimento de projetos de pesquisa, como mestranda em educao (2009-2011), doutoranda em
difuso do conhecimento (2011 at a atualidade) e nas reunies e discusses da linha de pesquisa da REDPECT,
o grupo CAOS.
60
Para, alm disso, a prospeco de conceitos de temas correlatos, tais como Compreenso e Interpretao;
Compartilhamento e Difuso do Conhecimento; Inteligncia Coletiva e Pluralidade Cultural; Mediao; Poder;
Dinmica de Grupo; todos estes tambm estudados no grupo de pesquisa.
120
Embora na dissertao de mestrado tenha intitulado esse Corpus apenas como: Corpus
Emprico; passei a intitul-lo nesta tese como Corpus Emprico/Analtico. emprico
medida que apresento o locus de investigao, e, analtico quando me proponho a realizar
uma anlise mais ampla, fluida, viva, no decorrer do texto, contando duas histrias, uma de
vida e outra de trajetria acadmico-cientfica. Isto vai acontecendo, fluindo, vou
refletindo, escrevendo e analisando em sequncia, sem me ater apenas s anlises das
categorias indicadas nas MA. Por isto, resolvi iniciar a apresentao da dimenso emprica
refletindo um pouco mais sobre o Mosaico, j que este foi o caminho escolhido para a
construo desta metodologia.
61
A MA apresentada est sem a coluna de Observaes, na qual so registrados comentrios, ideias e
dilogos com os autores investigados, por conta do espao disponvel para sua ilustrao.
121
O que o Mosaico?
Aps essa reflexo, tive a certeza que s assim poderia utilizar o Mosaico como um
caminho, o fazer, os elementos constitutivos desse caminho, para a construo colaborativa
do conhecimento. Iniciei ento um escrutnio sobre o termo na internet, a ttulo de pesquisa
lxico-histrica do mosaico e suas aplicaes, como apresentado a seguir:
1. Histria do Mosaico;
2. Arte e Mosaico;
3. No Scielo;
4. Peridicos da CAPES.
Seguindo esta lgica, os achados na Internet, em sua maioria mostraram que o termo
Mosaico utilizado para caracterizar uma coleo de algo, ou de alguma coisa. Quase
sempre como: uma metfora; como um caminho; como um vrus.
Mosaico como vrus transmitido por uma espcie de mosca e cigarra aos vegetais;
Mosaico patognico;
62
No Apndice F Investigao: Mosaico no Scielo (p. 282), apresento apenas um recorte da cartografia
para ilustrao dessa investigao, isto porque, tanto pela extenso das informaes como pela grande
quantidade de pginas, e ainda por ser esta uma pesquisa meio e no especfica para o objeto em estudo, no
justificava sua apresentao completa nos Apndices. VERIFICAR PGINA APS FINALIZAO DA
REVISO
124
Ento, para construo do Captulo 3, resolvi retomar os achados das duas primeiras
reflexes: (1) Histria do Mosaico e (2) Arte e Mosaico; e, a partir das minhas prprias
reflexes sobre a histria e arte do mosaico, construir/modelar este caminho, na perspectiva
indicada anteriormente, como um moleiro ao trabalhar com a modelagem em cermica, com
as memrias das minhas experincias nas redes de pesquisa e as narrativas dos outros autores-
pesquisadores.
O resultado disto foi que o mosaico foi fundamentado no Captulo 3 com os diversos
significados encontrados, dentre eles como a musa, traduzida como pacincia das
musas63. Meu interesse por este significado do mosaico est centrado na questo da
pacincia em trabalhar com pequeninas peas de diversos materiais, tamanhos e formatos
para, com persistncia reproduzir ou criar uma imagem.
63
As frases citadas nesta pgina so parte das citaes de Yone Lins, referenciadas nas pginas 76 a 77 deste
estudo.
125
64
Matriz de Anlise. Vide Apndice D (p. 277). VERIFICAR APS FINAL DA REVISO
126
4) foi feita uma anlise preliminar desta produo por tipo e perodo, e como no foram
encontradas produes no perodo delimitado para o estudo, o levantamento passou a
ser feito nos Currculos Lattes dos orientadore(as) citados(as), a partir das referncias
e datas de defesa, ou concluso, dos textos/pesquisas e suas referncias foram
organizadas em um documento intitulado: Linha do Tempo das Redes de Pesquisa
(APNDICE E, p. 278), o qual foi dividido em sees por data de incio e concluso
dos projetos acervados;
REDPECT:
RICS:
65
Existem controvrsias quanto ao perodo de trmino da RICS, algumas pessoas acreditam que ela acabou na
implantao do doutorado, outras que ela existe at a atualidade. Este mistrio desvelado na Tessela 6
Anlises dos Construtos: Mosaicos da REDPECT e da RICS, com as anlises das entrevistas.
128
Iniciei esta tese com a certeza de que a REDPECT tinha construdo uma nova
episteme. Num primeiro momento, essa nova episteme era a construo colaborativa do
conhecimento; num segundo, incoerentemente, no mesmo texto, era a AnCo e a construo
colaborativa passava a ser um mosaico. Depois ainda a concebi como elemento dessa nova
episteme. Tudo isso refletia no s as minhas dvidas individuais, mas e/tambm as dvidas
da comunidade da difuso do conhecimento, dos Analistas Cognitivos, que esto buscando
instituir esse novo campo do saber, do conhecimento, a AnCo.
66
Para facilitar a visualizao das falas dos autores-pesquisadores, distinguindo-as das citaes das fontes
bibliogrficas, resolvi apresent-las em fonte calibri, com um ponto a mais que as mencionadas citaes e em
estilo itlico. Ento as citaes foram apresentadas em pit 10, estilo normal e as entrevistas em pit 11, estilo
itlico. Alm disso, os autores-pesquisadores so apresentados no incio de suas falas com o nome completo e o
nome que assina suas publicaes, e no decorrer da entrevista s pelo sobrenome e ano que foi feita a entrevista.
131
A situao se apresentava para mim na poca como estar perdida entre autores,
conceitos, disciplinas, professores etc., caminhando entre colegas tambm perdidos. Naquele
momento de reflexo, ainda no incio dos estudos do meu projeto de doutorado, encaminhava
meus pensamentos para a problemtica da construo colaborativa do conhecimento, tema
que me motivou, provocou desde o mestrado, e me faltava o ar quando me questionava: O que
fazer? Qual a melhor escolha? Que caminho seguir? Onde seria melhor focar?
Mesmo assim, ainda tinha dvidas quanto ao melhor objeto e esta uma prtica
constante na minha vida. Como um ser complexo, sempre busco muitas possibilidades, abro
muitas frentes e depois fico confusa para escolher o caminho a seguir.
Fui amadurecendo o tema nas disciplinas, discutindo com colegas e professores sobre
ele. Na realidade o processo de doutoramento foi amadurecendo minhas ideias, mas durante
muito tempo a nica certeza neste mar de dvidas, metaforicamente falando, era que, a
partir da instituio da AnCo como campo do conhecimento mais amplo, mosaico composto
pela articulao das grandes reas68 do conhecimento, essa nova episteme se concretizaria.
Isto depois de anos de estudos, produes, construdas colaborativamente em redes de
pesquisa, neste caso a REDPECT e a RICS.
67
Adgio popular que me veio cabea para confirmao da minha dvida.
68
Cincias Exatas e da Terra; Cincias Biolgicas; Engenharias; Cincias da Sade; Cincias Agrrias;
Cincias Sociais; Cincias Humanas; Lingustica, Letras e Artes.
132
Transitar entre domnios de saber e dizer que eles no existem, ou que suas fronteiras
no deveriam existir complicado, pe por terra anos de dominao e poder, deteno do
saber, conforme argui Foucault sobre o balizamento dos mecanismos de poder no interior
dos prprios discursos cientficos:
[...] a qual regra somos obrigados a obedecer, em uma certa poca, quando se quer
ter um discurso cientfico sobre a vida, sobre a histria natural, sobre a economia
poltica? A que se deve obedecer, a que coao estamos submetidos, como, de um
discurso a outro, de um modelo a outro, se produzem efeitos de poder? Ento, toda
essa ligao do saber e do poder, mas tomando como ponto central os mecanismos
de poder [...]. (FOUCAULT, 1977, p. 226-227)
133
Ento, reflito que, para a compreenso de fenmenos cientficos, que antes deveriam
ser explicados, comprovados, experimentados, independentemente das subjetividades, e inter-
trans-subjetividades, dos sujeitos envolvidos -, pelo contrrio, com uma distncia tima do
seu objeto -, necessrio se faz conhecer sua histria. a partir desse pressuposto que busquei
e trago aqui a histria das redes de pesquisa, multirreferenciais, complexas, REDPECT e
RICS, que tiveram sua origem a partir do Grupo de Estudo Currculo Essncia e Contexto e
do Ncleo de Ensino, Pesquisa e Extenso em Currculo, Trabalho e Construo do
Conhecimento NEPEC.
Este o marco inicial da histria da REDPECT e da RICS. A partir deste ponto, tudo
histria: de vida, institucional, de sonhos, devaneios, devir. Na prxima seo, numa dinmica
densa, polilgica, na qual se articulam conceitos, significados, significantes, anlise,
contraste, transversalidade, poltica, amor, sonhos etc.
O mosaico vivo tomar forma de maneira progressiva, como uma linha do tempo,
apresentar o percurso dos autores-pesquisadores, suas trajetrias acadmicas e suas histrias
de vida, de (in)formao, de (trans)formao, suas Tra(ns)jetrias, iniciando pela a origem do
processo de construo colaborativa do conhecimento.
Buscando o porqu desses modos, fui encontrando informaes sobre a sua instituio
como uma forma diferenciada daquelas outras em uso na FACED, desde que comeou a
funcionar o grupo de pesquisa sob a coordenao de Fres Burnham.
[...] isso est l na minha infncia. [...] Eu venho de uma famlia que sempre
teve muita preocupao com o social, e minha me era aquela pessoa que
fazia trabalho comunitrio. [...] participei da escola primria multisseriada
onde minha me era professora e foi l que eu fui alfabetizada, mas eu no
me lembro, porque [...] era muito criana nessa poca [...]. Mas, a partir dos
[...] meus seis, sete anos, minha me largou tudo e foi morar numa
comunidade, e foi Diretora dessa escola da comunidade. [...] Como [ela] era
muito religiosa, uma catlica muito vinculada a igreja, o trabalho dela tinha
sempre muita relao com a igreja catlica.
Embora naquela comunidade no tivesse uma igreja [catlica] -, foi uma
luta da comunidade pra construir a igreja -, e como tinha muito protestante,
como se chamava na poca. [...] quatro ou cinco denominaes, e era uma
guerra, porque a construo da igreja virou um objeto de poder. E, ento
ela abriu a escola pra todas as atividades religiosas da igreja [...] catlica, as
outras igrejas no chegavam perto. No sei se porque no pediam ou se
porque ela vetava.
Aqui fao uma pausa na histria de Fres Burnham, para refletir sobre este poder
produzido no cotidiano, na viso de Foucault (1977, p. 229), que diz sobre isto:
H efeitos de verdade que uma sociedade como a sociedade ocidental, e hoje se pode
dizer a sociedade mundial, produz a cada instante. Produz-se verdade. Essas
produes de verdades no podem ser dissociadas do poder e dos mecanismos de
poder, ao mesmo tempo porque esses mecanismos de poder tornam possveis,
induzem essas produes de verdades, e porque essas produes de verdade, tm
elas prprias, efeitos de poder que nos unem, nos atam. So essas relaes
verdade/poder, saber/poder [...] essa camada de [...] relao, que difcil apreender
[...].
69
Entrevista realizada em 18 de maro de 2015.
135
[...] realidade era que, o grande compromisso dela era fazer com que todas
aquelas crianas fossem, no s alfabetizadas, mas efetivamente tivessem
um contato maior com o conhecimento e com o desenvolvimento deles
como crianas.
Continuando a histria, Fres Burnham (2015) fala sobre o que tornava aquela Escola
num espao diferenciando e como j naquela poca a construo colaborativa do
conhecimento era utilizada, no caso, como um recurso pedaggico, mas que antes de tudo era
um processo de construo de conhecimento social e coletivo, no qual a comunidade do em
torno compartilhava.
Uma das coisas que me lembro que, a maioria dos alunos dessa escola
eram muito pobres, mas pobres mesmo de no ter o que comer, e as mes
no queriam levar os alunos, no queriam matricular, porque os meninos
no tinham sapato, no tinham alpercata, no tinham roupa etc. [...] E a o
que que ela fazia? Combinava com as mes -, cansei de ir com minha me
visitar a casa pra convencer a famlia a matricular o menino na escola [...]
ela fazia [...] arrecadao de roupas usadas, de sapatos usados [...] (ela
sempre teve muito amigo, muita amiga, muita relao) -, ento ela fazia
coleta para levar para escola e distribuir.
A partir disto surge a tica, representada pela solidariedade e respeito ao outro e suas
necessidades mais bsicas. Sem alarde, de maneira implcita, todos exercitaram a tica, na
prtica da vida cotidiana daquela escola.
A merenda era coletiva, ningum sabia o que o outro levava pra merendar,
[...] naquela poca no tinha merenda escolar, ento cada um levava sua
merenda. [...] O que que ela fazia? Toda criana que chegava com a
merenda ia para o fundo da escola, tinha uma mesa grande, e colocava sua
merenda l. Ento ela via quantas crianas estavam na sala, o que que
aquilo ali dava e complementava [com] banana, manga, mamo etc. [que
ela] trazia, [...] dividia aquilo, e todo mundo merendava, e todo mundo
ficava feliz da vida. [...] porque no tinha essa coisa de fulano trouxe isso,
sicrano trouxe aquilo.
A tica no se resumia a diviso do lanche, mas tambm mediao da aprendizagem.
A professora criou um mtodo de monitorao a partir do nvel de cada aluno e tambm do
conhecimento compartilhado, uma das caractersticas da construo colaborativa do
conhecimento. Ento,
137
[...] ela fazia [com] que [...] os melhores alunos sentassem com os que
tinham mais dificuldade pra ensinar, e isso ela aprendeu na escola
multisseriada. [...] Teve pocas de minha me trabalhar em escola
multisseriada no interior, com 50, 60 aluno, numa sala s, ela sozinha como
professora, e conseguia fazer o pessoal do 5 ano trabalhar com o pessoal
do 3. Bem, com isso o que que acontecia? A gente estudava sempre em
grupo.
Esta inspirao na escola multisseriada, a qual sem dvida representa um grande
desafio, j que abriga crianas de diferentes nveis de conhecimento e idades em uma nica
turma. Esta uma dura realidade ainda no Brasil de hoje. Isto acontece em escolas rurais, a
Revista Educao (2011, s.p.)70, em reportagem de E.F. & Rubem Barros, diz que [...] as
classes com alunos de diversas idades em localidades isoladas representam um dos maiores
desafios pedaggicos da educao brasileira. Sem dvida uma realidade complexa, como
os autores intitulam a reportagem. Isto confirma este desafio.
O mais grave que, a reportagem informa ainda que [...] as turmas multisseriadas,
[...] no so avaliadas pela Prova Brasil e/ou pelo Sistema de Avaliao da Educao Bsica
(SAEB). Isto hoje! Imagine como no era h tantos anos atrs! Apesar das dificuldades que
este tipo de escola representa para os professores, esse conhecimento a Professora Edith
trouxe para esta escola onde foi diretora, e eu o percebo como um trabalho colaborativo.
Embora este no fosse reconhecido como tal na poca, questionei a Fres Burnham na
entrevista: J era um trabalho coletivo/colaborativo? Ela confirmou, dizendo que:
[...] as vezes estava em casa e os colegas da sala vinham pra estudar juntos,
por que: era a casa onde tinha mais livro, [...] mais papel, essas coisas
assim. E tudo isso ela fazia, por causa do compromisso com a igreja, e
porque tambm eu acho que ela era uma educadora nata, nata quer dizer,
a vida a levou a construir esses processos.
Mas isto no ficou s na experincia da infncia para Fres Burnham, como ela
mesma reconhece na entrevista. Continuou acontecendo at a universidade, quando a maioria
das colegas tinha feito apenas [...] o curso pedaggico, no tinham feito curso cientfico e
70
Verso online, disponvel em: <http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/163/artigo234869-1.asp>.
138
inteira, eu sempre achei que a gente s pode aprender com o outro. Ento, exemplificando
essa mxima ela conta uma nova experincia j como professora:
[...] toda vez que [...] trabalha[mos] com o conhecimento, numa perspectiva
emancipadora, [...] [estamos] tendo uma costura poltico-epistemolgica.
Tem um texto que saiu da Conferncia Brasileira de Educao, [de] 1992, no
livro Educao Bsica71, [...] um texto que eu escrevi naquela poca, chama-
se: O vazio poltico-epistemolgico da escola pblica, onde a gente
discute exatamente isso. [...].
E essa [uma] dimenso [...] que por mais que a gente queira [...] no vai
conseguir atingir o outro, nem o outro vai conseguir lhe atingir, nem [...]
[vamos] ter essa troca, esse intercmbio, se [...] no tiver[mos] afeto e
sentimento nos ligando. E, eu acho que isso era uma das coisas mais
fundamentais do nosso trabalho coletivo, entendeu? Porque a gente
muito ligado pelo afeto, pela amizade, pela preocupao, pelo respeito ao
outro, pela solidariedade, eu acho que isso foi sempre muito marcado. E
acho [tambm] que as origens dessa minha preocupao, que no s
minha, que de um coletivo, vem muito dessa minha infncia nessas
comunidades.
Neste estudo essa dimenso representada pelo verbo afetar, ou seja, a forma como se
provoca o outro para uma resposta, um sentimento. Castoriadis (1982, p. 324), associa esse
afeto formao das representaes na/pela psique, diz ele que: [...] esta afirmao ,
alis, mais do que redundante, a psique isso mesmo, emergncia de representaes
acompanhadas de um afeto e inseridas num processo intencional. Fres Burnham coloca a
afetividade e o sentimento como uma das caractersticas marcantes desse trabalho coletivo.
71
A referncia completa do livro : SOARES, Magda Becker, KRAMER, Snia, LDKE, Menga et al. Escola
bsica. Campinas: Papirus: Cedes; So Paulo: Ande: Anped, 1992. (Coletnea CBE)
139
Existe um elo que liga esse coletivo segundo ela, que se concretiza na [...] preocupao e
respeito ao outro, na solidariedade, no afeto, amizade [...].
Essa questo do afeto tambm uma das caractersticas das redes de pesquisa em
estudo, no seu cotidiano. Muitos trabalhos acadmicos vm sendo construdos com esse tema.
Segundo o Professor Gustavo Bittencourt Machado (2010, p. 22)72, em sua tese de ps-
doutoramento, o
[...] vendo o papel que a escola pode ter nessa transformao, porque por
exemplo dessa escola que eu tava falando, que tinha essa ligao grande
com a igreja etc., a gente teve [alunos que se formaram] advogados, a
gente teve muitas professoras, a gente teve contadores, a gente teve coisas
assim fantsticas [...], tem um textinho que eu recupero isso chamado:
Revisitando a Visconde73, que saiu na revista do IAT [...]. Ento, isso sempre
foi uma preocupao muito grande daquela escola, todos os professores
faziam um trabalho que era o mais articulado possvel [...]. E os professores
sentiam muito a preocupao uns com os outros, a preocupao da direo
da escola com a questo [do] afeto, a humanidade. Como tudo era
valorizado. Era uma coisa linda, linda, linda.
Na minha percepo a articulao dos saberes, to trabalhado nas produes da
REDPECT e da RICS, tambm influenciada por uma herana dessa experincia de uma
Escola Integrada Comunidade.
72
Integrante da linha de pesquisa CAOS/REDPECT e atual Coordenador, portanto Autor-pesquisador nesse
estudo.
73
Referncia completa do texto citado: FRES BURNHAM, Teresinha. Revisitando a Visconde: Uma
Experincia de Educao Integral numa Escola integrada a Comunidade. Cadernos IAT, Salvador, v.1, n.1, p.15-
31, dez. 2007.
140
[...] tinha uma criana, que era filho da servente da escola, e se chamava
Josias, todo mundo o chamava Josias de Maria, era terrvel, o menino no
parava um minuto e todo mundo dizia esse menino vai dar pra ruim, [...]
batia nos outros [...] era muito agressivo e tal,. Esse menino chegou na
escola, ele j tinha uns 8 pra 9 anos, e a me dele dizia que ele no podia ir
porque no tinha dinheiro pra sair, era aquela desculpa, e a Josias [...]
ganhou alpercata de couro, ganhou roupa, no sei que, e foi pra escola.
Os primeiros dias de Josias na escola ningum aguentava porque ele no
parava sentado, no adiantava o autoritarismo do professor daquele poca,
porque ele era terrvel. E eu me lembro que, ela como diretora, quando a
professora se queixava de Josias, ela dizia: Deixe Josias comigo. A trazia
exerccio, botava Josias junto dela, comeava a conversar, pedia a Josias
ajuda, pedia a Josias pra tomar conta das outras crianas, [...] no final de
dois anos e meio Josias conseguiu um emprego, ele devia estar com 11, 12
anos, conseguiu emprego no armazm que tinha [na comunidade] e virou a
pessoa mais ilustrada do armazm, porque o dono do armazm no sabia
ler direito era ele que fazia as cadernetas dos fregueses, [...] as somas, [...]
74
Slvio Jos Conceio, um dos autores-pesquisadores da REDPECT, tambm entrevistado neste estudo. A
referncia completa da mencionada dissertao : CONCEIO, Silvio Jos. Aprendizcidade ou as escolas
invisveis: A cidade como espao de aprendizagem. 2006. 121 f. Orientadora: Profa. Dra. Maria Inez da Silva de
Souza Carvalho. Dissertao (mestrado) Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educao, Salvador,
2006.
141
as listas de dividas, os controles todo. Depois ele foi pro ginsio. Fez ginsio
no Colgio de So Caetano, depois eu no sei, perdi o contato. Mas, a irm
dele que a gente no perdeu o contato, virou professora da escola em que a
gente tinha estudado.
Pessoas expoentes na profisso e na poltica tambm foram alunos dessa escola. A
exemplo disso Fres Burnham citou:
[...] a gente tinha quermesse, tinha leilo, [...] como as pessoas no tinham
muito dinheiro, os leiles no eram leiles de valor, eram leiles de tempo,
ento, voc tinha um objeto, e esse objeto, cada um dava o que podia 20
centavos, 30 centavos, 40 centavos, 1 real -, 1 cruzeiro naquela poca, se eu
no me engano -, e ela ia recolhendo, quando o [...] alarme tocava e
parava, [...] a pessoa que tinha feito o ltimo lance resgatava. Ento, coisas
assim que eram super criativas e que ajudavam as pessoas.
As mximas da Professora Edith, ou melhor, os princpios que regiam suas aes
didtico-pedaggicas, diz Fres Burnham que:
[...] foi uma coisa assim que marcou a gente. Ela dizia [...] uma coisa que eu
achava interessante, muito interessante: Quem no sabe ler e escrever e
interpretar, no vai a lugar nenhum.
Ento, esses meninos -, ela no dizia meninos e meninas -, s dizia os
meninos, esses meninos precisam aprender a ler e a escrever, e a saber as
coisas bsicas da vida. A gente tinha aula de nutrio, a gente tinha aula
de boas maneiras, a gente tinha aula de higiene era educao integral no
sentido que se faz.
Ela confirma a minha interpretao de que a origem da construo
coletiva/colaborativa do conhecimento vem da sua experincia de formao numa Escola
integrada a uma comunidade. Reconhece tambm a semelhana da pedagogia de Paulo Freire
com a Professora Edith.
Ento todas essas coisas eu acho que me ajudaram muito a ter essa
preocupao com a questo coletiva. Quando eu conheci Paulo Freire eu me
apaixonei por Paulo Freire, porque eu via minha infncia toda retratada. Era
impressionante!
142
No, no surge [a] a construo colaborativa. Mas, [...] isso foi uma
experincia, isso acontecia em muitos outros grupos, porque, por exemplo,
a Escola Parque aqui foi outro grande exemplo. [...] no se pode comparar a
Escola Parque com a Visconde de Mau, porque uma era um microcosmo
bem micriquinho, como a gente pode dizer, e a outra era aquela coisa
potente, enorme. [tambm] o trabalho que foi feito, [...] na escola primria
do Instituto Normal, que depois passou a se chamar Isaias Alves.
Ela continuou falando do trabalho do Isaias Alves como primoroso, das maravilhas
que aconteciam no curso primrio, da beleza daquele trabalho. Corroborei com o
reconhecimento de que aquela foi uma gerao de professores diferentes, mas questionei: Por
que, que tudo isso se perdeu? Sua resposta colocou a responsabilidade no perodo poltico
delicado porque passava o Brasil na poca da ditadura militar:
[...] mas foi um trabalho feito por todos ns, e, teve mais gente, mas agora
eu no me lembro. [...] fizemos todo um levantamento, a partir da
documentao, a partir de falas e conversas com alguns professores e
tambm com alguns alunos, [...] saiu at um documento da coordenao,
sobre esse trabalho, mostrando o que era o Mestrado, como tinha surgido,
a sua histria, e mostrando a situao daquela poca e as perspectivas.
A capacidade de articulao do grupo foi reconhecida, e ela declarou que foi muito
interessante, por que
[...] eu lembro bem de Tereza Coutinho dizendo um dia, que a gente podia
fazer vrias crticas a muita coisa, mas que o que no podia se criticar era a
capacidade de articulao que a gente tinha, ns que fazamos o trabalho,
pra construir esse trabalho em conjunto; e Delvair dizia assim: esse trabalho
precisa ser escrito, essa metodologia precisa ser escrita, se vocs no
escreverem eu vou escrever [...].
Nesta fala ela coloca a construo colaborativa como potencial de articulao coletiva,
e para, alm disso, um meio de aprendizagem e tambm de prtica transversa; quando na
prxima fala ela traduz essa articulao como a capacidade de contornar as situaes,
mesmo com a alteridade do ambiente e tocar o trabalho independente das interferncias
externas ao grupo.
75
Pensando alto sobre o perodo, Fres Burnham disse que: foi em 76 que eu sa, j com o Mestrado, eu fui da
primeira turma, a gente comeou o estudo quando voltei, em 1982, levantando toda a documentao a partir de
1971 se eu no me engano.
144
E eu, participei muito nesse processo e aprendi muito com ele, aprendi
muito mesmo, at porque, nessa poca tinha correntes muito diferenciadas
na escola, pessoas que viviam em tenso com outras e etc., e quando Tereza
falava nessa capacidade de articulao era por que a gente conseguiu ir
contornando as situaes e recebendo informaes e trabalhando com isso.
E esse aprendizado no parou nesse ponto, pelo contrrio, foi se ampliando nas
discusses do grupo de estudos Currculo Essncia e Contexto, que deu origem ao Ncleo
de Ensino, Pesquisa e Extenso em Currculo, Trabalho e Construo do Conhecimento, o
NEPEC, conforme apresento na prxima subseo.
[...] principalmente a partir de uma motivao que era a forma com que o
grupo discutia currculo, fundamentalmente a partir do debate sobre
conhecimento [...]. [...] Um debate que, lembro muito bem das obras que de
certa maneira inspiravam o que estava posto. [...] era um debate que, da
minha perspectiva j apontava para a construo colaborativa do
conhecimento, mas que esse termo no existia ainda [...]. [...] foi o livro de
Luckmann & Bergman, A Construo Social da Realidade [...] Aquele
trabalho ali na realidade foi minha primeira insero, eu diria mais reflexiva
[...].
A motivao de Macedo, estava baseada no
76
Roberto Sidnei Alves Macedo (MACEDO, R. S. A.) - Atualmente Professor Titular da UFBA, credenciado
nos PPG de Mestrado e Doutorado em Educao e Doutorado no DMMDC. Nesse contexto coordena o Grupo
de Pesquisa FORMACCE em Aberto. Foi Coordenador do GT de Currculo da ANPED, no perodo 2013-2015.
145
[...] Ardoino, tem um texto interessante que faz uma crtica [...] ideia de
construo. Ele vai nos dizer que -, inclusive ele cita Piaget - na realidade a
construo aponta pra ideia de que voc vai construindo. ele faz inclusive a
ideia de edificao, com fundamento, com alvenaria, tijolo em cima de
tijolo, uma mtrica j um tanto quanto colocada de como vai ser esse
processo de planejamento, ou seja, ele vai dizer: olha, isso pode at existir
a dentro [da construo] mas no se reduz a isso. O trabalho por exemplo
com o imaginrio, com a imaginao criativa, e tambm em Deleuze que
radicaliza isso. Para Deleuze todo conceito uma criao, seja l qual for.
Ento, nessa perspectiva a construo est contida na criao, que vai alm do
processo de construir. Inclusive, na sua obra Etno Pesquisa Implicada ele coloca sua viso
de colaborao como o pertencimento, e a criao de saberes. E enfatiza que, [...] da
perspectiva que a gente vem caminhando muito mais coerente criao. Se pouca, se muita,
se rompe com tudo, se no rompe, mas um processo criativo. Neste ponto percebo certa
dicotomia entre a engenharia (construo) e a arquitetura (esttica, arte). Isto porque ele
coloca a construo como elemento constitutivo da criao e na minha viso uma est
ontologicamente ligada outra. No construir est a criao, e isto envolve articulao com
conhecimentos construdos conscientemente, inconscientemente, no coletivo ou no, no
imaginrio ou no. A criao acontece tambm a partir do ambiente que a construo
colaborativa propicia: um ambiente plural que potencializa a criatividade.
[...] nome do grupo por isso era o Peter McLaren. Eu fico muito preocupado
particularmente com isso, com esse descarte, que na realidade isso esteve
na base da construo colaborativa por uma inspirao marxista, que ainda
existe s que est sendo, na minha perspectiva, colocada de lado como se
isso no tivesse mais nenhuma pertinncia. O que eu no concordo.
Ele se coloca contrrio a deixar de [...] discutir essa epistemologia da Escola de
Frankfurt que esteve na base das nossas discusses, l enquanto grupo, antes do NEPEC.
Portanto, a construo colaborativa do conhecimento para Macedo, est baseada na Teoria
Crtica do Currculo, que se pauta na Escola de Frankfurt. Ele cita o nome de Peter McLaren
como ttulo do GT que trata da teoria crtica do currculo no (In)Formacee. Ento para
fundamentar essa questo resolvi trazer uma citao de uma entrevista de Peter McLaren
(2001), a Revista Currculo sem Fronteiras, quando ele responde a questo Poder-se-ia,
ento, dizer que voc um marxista consumado.
77
(In)formacee - Encontro Internacional de Estudos, Pesquisas e Intervenes em Currculo e Formao,
evento do Grupo de Currculo, Complexidade e Formao - FORMACEE/FACED/UFBA, Coordenado pelo
Professor Sidnei Macedo, que acontece bi-anualmente.
147
[...] eu entendo que l j existia essa semente, sem essa denominao, que
agregava, eu diria filosoficamente, correntes fenomenolgicas e correntes
crticas. Essas duas perspectivas pra mim [...] do o tom de uma perspectiva
colaborativa, na medida em que a gente j percebia o trabalho com
currculo, com o outro. A gente no admitia se debater currculo sem levar
em conta essa perspectiva, eu diria fenomenolgica, antropolgica, crtica.
Ns no iramos ser caracterizados como estudiosos de currculo e que
tambm interferamos em prticas curriculares de uma perspectiva, de uma
viso, eu diria, do especialista burocrtico e distanciado.
Ento, ele coloca as abordagens fenomenolgicas e as crticas como perspectivas, que
j naquela poca, determinava um modo de se trabalhar com o outro, portanto
coletiva/colaborativamente. Logo depois, seguindo o roteiro da entrevista ele apresenta a
epistemologia solidarista, como a grande contribuio no s do grupo de estudo, como
tambm do NEPEC na sua vida acadmica, dizendo que [...] a grande contribuio foi essa
epistemologia solidarista, que v o trabalho com currculo de uma forma radicalmente
cooperativa.
[...] pra mim uma radicalidade [...]. - [...] a criao, eu queria, usar esse
termo, a criao colaborativa do conhecimento, ta certo? - uma
radicalidade, ou seja, um debate que pede uma perspectiva ontolgica,
uma condio humana [...]. [...] em sendo assim, eu imagino que tem que
ser uma radicalidade. Isso quer dizer o que entre ns aqui do Formacee, nos
nossos estudos de currculo e formao, no possvel, da nossa
perspectiva, no trabalhar currculo e formao, se no a partir de uma
construo ou de uma criao colaborativa do conhecimento.
Ele coloca a construo colaborativa como uma radicalidade por ser esta uma
condio humana, e tambm que este um debate que pede uma perspectiva ontolgica, por
conta desta condio. Macedo apresenta o que est na base dessa perspectiva colaborativa,
desde o NEPEC, como sendo o no [...] imaginar que existe um senso comum fora da
construo acadmica do conhecimento, e exemplifica:
Sim, isso mesmo, uma radicalidade, e vai justamente nisso que voc acabou
de colocar, esse sentido. [...] se a gente no trabalha com currculo e
formao, e ai o que o Formacee como um grupo que comea a ser
pensado a partir da relao com o NEPEC e os meus interesses por pensar
formao. No pensar currculo sem deixar de pensar em formao, nos
processos formativos, no s de professores, no geral, quer dizer, o que est
na base dessa perspectiva, no imaginar que existe um senso comum fora
da construo acadmica do conhecimento por exemplo. [...]
Diz ainda que, a partir de uma construo ou de uma criao colaborativa do
conhecimento, e de que todos ns, somos capazes de descritibilidade, de inteligibilidades e
de analisibilidades,
Embora no seja a rea que estuda ou atua, o Professor Sidnei, inspirado em Paulo
Freire, coloca sua opinio sobre o compartilhamento e a difuso do conhecimento como um
tema a ser tratado com o rigor crtico,. Quanto ao NEPEC enfatiza: a construo colaborativa
como prtica do ncleo de pesquisa; o aspecto das orientaes coletivas e a pluralidade dos
saberes abordados. Portanto, a multirreferencialidade dos temas estudados naquele ncleo.
Ele confirmou sua participao nas orientaes coletivas no NEPEC, o que uma
informao importante para concretizar a origem de um dos principais elementos da
formao dos autores-pesquisadores e da construo colaborativa do conhecimento. Mas,
ele no aprofundou a questo, preferindo fazer uma crtica forte, como denominou, sobre o
comportamento dos grupos de pesquisa como espaos fechados aos pares, aps a
transformao dos ncleos de pesquisa em grupos. Isto tambm levanta outro elemento da
construo colaborativa do conhecimento, que ser tratado tambm em outras entrevistas, a
questo do ambiente aberto ao pblico em todas as reunies/discusses dos grupos. Portanto,
uma caracterstica que diferencia os grupos abertos a pluralidades culturais e tericas.
Cada qual no seu grupo de pesquisa. Quando o NEPEC existia isso no era
assim, eram vrios grupos juntos. Voc entende? Ento, voc tinha
Teresinha, Felipe Serpa entre outros, Srgio Farias, juntos, ali produzindo.
Claro, cada um tinha o seu interesse mais especfico mais realado, mas
produzindo ali num debate cooperativo. E que inclusive fazia com que voc
soubesse que o pessoal do Srgio Farias e o pessoal de Felipe estava
fazendo, imagina: Felipe, Teresinha, entre outros juntos.Mas isso medida
que se fez essa opo nesse fim de semana, e eu no sei localizar pra voc a
data que eu no lembro agora, foi um horror. Cada um se identificou. O que
salva um pouco, so as identificaes.Ento esto muito prximos das
relaes com a REDPECT, com Eduardo, com Dante, [nos procuramos] para
as bancas, os nossos estudantes que tem identificao, sabem que tem
identificaes: por que no bota Teresinha, por que no bota Dante [...] na
minha banca? [...] Quer dizer foi o que restou.
Da crtica Macedo refora a importncia da construo colaborativa afirmando que,
[...] Ento, esse debate que voc est fazendo na sua Tese sobre a
construo colaborativa do conhecimento como um processo poltico e
ideolgico, aqui tem muita gente que descarta e luta contra, porque no
gosta da tica que est por traz disso, ou inspirando isso, no gosta da
poltica [...], nem da esttica, nem da cultura que ta inspirando isso. E eu
diria a voc mais, nem de algum nvel de espiritualidade que isso possa
estar fazendo.
Que a questo da transcendncia, no ? Inquiri e ele confirmou, mas com um
adendo: [...] o que transformou nesses guetos chamados aqui na FACED de grupos de
pesquisa e concluiu: Infelizmente o que a gente faz ainda hoje em relao a construo,
como voc est colocando, a construo colaborativa do conhecimento, so nossas
identificaes. Ele confirmou tambm a minha interveno ao afirmar que era uma minoria
e acrescentou:
151
E muito assim, muito tnue, isso poderia ser muito mais colocado. Obvio,
que eu no vou [...] criar aqui uma iluso de que a Academia e suas
vaidades tambm dificultam. Isso est na Instituio e tambm nas pessoas,
mas eu acho que isso no resistiria a um planejamento solidrio em que os
grupos pudessem se encontrar, como algo da vontade da Instituio.
Porque tem pessoas que poderiam dar realce a isso.
Pois , e trazer a sua contribuio no ? Questionei e complementei: porque essa
questo da colaborao de necessidade humana. Ele respondeu: Para ns antolgico.
Colocar a colaborao como algo inesquecvel, digno de ser lembrado ou notvel foi muito
importante para este estudo. Principalmente porque o conceito construdo estar
simultaneamente, de maneira fluida, acompanhando as entrevistas, suas anlises, na busca de
ser aprofundado, quem sabe at ampliado.
Quero agradecer a voc, dizer que eu sou essa histria. Por mais que
Teresinha no goste, mas eu continuo chamando-a de minha Professora.
Fica zangada com negcio de Professora, mas Teresinha foi o comeo de
absolutamente tudo, minha insero nesse processo de conhecimento, e de
como lidar com o conhecimento. Isso eu reconheo o tempo todo e vou
reconhecer para sempre. E a sntese que voc faa uma bela Tese, porque
um assunto interessante.
Alm disso ele pediu:
Neste ponto fao uma pausa para apresentar esse artigo. Esse artigo Michael
Nielsen78 (2011, s.p.), e foi escrito especialmente para o The Wall Street Journal. Intitula-se:
O futuro da cincia est na colaborao e apresenta inicialmente uma experincia de um
matemtico em rede colaborativa. Diz ele:
78
Segundo o The Wall Street Journal, de 01 nov.2011, Disponvel em:
<http://online.wsj.com/article_email/SB10001424052970204528204577010441798001750-
lMyQjAxMTAyMDAwNjEwNDYyWj.html?mod=wsj_valetbottom_email>. Acesso em: 06 out.2012, Nielsen
um dos pioneiros da computao quntica e escreveu o livro "Reinventing Discovery: The New Era of
Networked Science" (Reinventando a Descoberta: A Nova Era da Cincia em Rede, sem traduo para o
portugus), de onde esse texto foi adaptado.
153
mais poderosas que uma. Ele chamou o experimento de Projeto Polmata ("Polymath
Project").
Quinze minutos depois de Gowers abrir o blog para discusso, um matemtico
hngaro-canadense publicou um comentrio. Quinze minutos depois, um professor
de matemtica do ensino mdio dos Estados Unidos entrou na conversa. Trs
minutos depois disso, o matemtico Terence Tao, da Universidade da Califrnia em
Los Angeles, tambm comentou. A discusso pegou fogo e em apenas seis semanas
o problema foi solucionado.
Embora tenham surgido outros desafios e os colaboradores dessa rede nem sempre
tenham encontrado todas as solues, eles conseguiram criar uma nova abordagem
para solucionar problemas. O trabalho deles um exemplo das experincias com
cincia colaborativa que esto sendo feitas para estudar desde galxias at
dinossauros.
Assim, encaminho esta histria para outra entrevista, desta vez com a autora-
pesquisadora Professora Maria Roseli Gomes Brito de S (S, M. R. G. B.)79.
79
Maria Roseli Gomes Brito de S (S, M. R. G. B.) - Professora Associada da UFBA. Atualmente desenvolve
atividades de ensino, pesquisa e extenso na Graduao e nos PPG em Educao, e Mestrado Profissional em
Currculo, linguagens e inovaes pedaggicas na FACED/UFBA. Lder do Grupo de pesquisa FEP Formao
em Exerccio de Professores, com pesquisas e publicaes sobre currculo, formao de professores, formao de
professores em exerccio, narrativas (auto)biogrficas e pedagogia.
154
[...] em primeiro lugar eu quero dizer que fico muito feliz de poder participar
da reconstituio dessa histria, porque me sinto meio que [...] scia
fundadora, [...] acho que uma pretenso dizer isso, mas, mais ou menos
com Teresinha. Eu vou dizer como. E, em segundo lugar eu quero dizer o
seguinte, que talvez o que eu v narrar aqui seja muito mais anterior a rede,
[...] porque eu pouco participei [...] participei da REDPECT, das aes da
REDPECT quando ela se constituiu como REDPECT. Eu participei do projeto
original, eu dei entrada como pesquisa, Teresinha como coordenadora e
pesquisadora, mas ns ramos do mesmo Departamento80, nessa poca da
rede, e eu entrei como, vamos dizer assim, como co-autora do projeto com
ela no Departamento, mas eu fiquei pouco tempo, foi pouco tempo a minha
atuao na rede.
Como colega de Departamento de Fres Burnham, e autora-pesquisadora no NEPEC,
S declara que participou da construo/elaborao do Projeto de Pesquisa da REDPECT.
Depois inicia sua histria no NEPEC:
Para mim essa histria comeou em 1990, alis antes disso, pode-se dizer,
eu fui criadora do NEPEC, por isso que eu digo que eu me sinto fundadora.
No fundadora das ideias, porque eu acho que a matriz dessas ideias
Teresinha Fres, mas eu sinto [...] muito orgulho de dizer isso, [...] que sou
scio-fundadora. Quando eu falo da linha de currculo, digo que sou
fundadora porque j estava com Teresinha quando [...] ela criou o NEPEC.
Quer dizer, depois teve vrias nomenclaturas, mas ele originalmente era
Ncleo de Ensino, Pesquisa e Extenso em Currculo, Trabalho e Construo
do Conhecimento.
A histria de S (2015) inicia em 1990. Portanto sua entrevista ainda no faz parte
daquelas que sero analisadas, mas sim da construo da histria dos grupos que deram
origem a REDPECT e a RICS. Ela continua narrando sua participao nesta histria:
Ento, uma coisa que voc fala muito, quer dizer, esse termo chave que
voc usa, que a questo do conhecimento, hoje se fala mais de difuso,
naquela poca ns falvamos mais da construo do conhecimento. E eu
lembro bem que [...] entrei no Mestrado [...] na turma de 1990. Naquela
poca ns no tnhamos ainda orientador, e eu j discutia a questo do
trabalho, da formao, ento, na poca era segundo grau.
Apesar da participao mais efetiva de S ter acontecido na dcada de 90, ela faz uma
retrospectiva narrando do ponto no qual tudo comeou:
80
Na FACED/UFBA.
155
Ento eu acho que isso uma coisa importante. Mas anterior a isso tem a
criao do NEPEC, no ? E tambm, eu gosto de registrar isso porque [...]
foi uma inovao, vamos dizer assim. Tinha claro, a questo da criao de
um grupo de pesquisa, que era uma demanda [...] da Ps-Graduao [em
Educao], mas ele foi criado, tambm com as suas especificidades e muito
de acordo com a orientao de Teresinha. Eu me lembro que ns, naquela
poca, j trabalhvamos com a questo da memria, j levantvamos, ns
fazamos crnicas, contando mesmo assim experincias como alunos, ou
como professores, quem quisesse, mas basicamente como alunos. Na
poca, pela nossa idade, [experincias] no primrio.
Questionei: Seria experincias de vida? Fres Burnham e Matos, em suas entrevistas,
falam dessa experincia tambm.
156
Veja bem, no fui eu. Foi o seguinte, ns tnhamos essa linha que era de
Currculo Essncia e Contexto, que na poca era para ser Currculo,
Contedo e Contexto. O que a gente queria trabalhar era com a relao
entre a vida concreta dos alunos, o entorno da escola etc. Como isso podia
[...] enriquecer, podia transformar um currculo to formal, como a gente
dizia, to distante do cho mesmo da escola.
Isto se detalha em nota de rodap da entrevista feita por Jocelma Rios81 com Fres
Burnham (2012), publicada na Revista Poisis, na qual ela fala que o NEPEC foi o [...]
primeiro ncleo de pesquisa criado na FACED/UFBA, na segunda metade do ano (julho) de
1990, denominado inicialmente Ncleo de Ensino, Pesquisa e Extenso em Currculo,
Trabalho e Construo do Conhecimento, e ainda que, em seguida passou [...] a ser em
Currculo, Cincia e Tecnologia. Naquela entrevista ela justifica a criao do NEPEC
dizendo que:
[...] motivada pelo interesse de entender como que esse professor poderia abordar e
tornar significativo o conhecimento cientfico (conhecimento este distante do
cotidiano das pessoas), visando formar, no sujeitos, mas formar pessoas, que
pudessem compreender a cincia como uma base para a compreenso da sua prpria
81
Doutoranda no DMMDC e tambm autora-pesquisadora do CAOS/REDPECT na poca.
157
vida e de sua leitura de mundo. Assim sendo, foi um trabalho feito com muito
cuidado, tentando entender quem era aquele professor, como ele era formado, como
desempenhava este papel de mediador/tradutor. [...]. (FRES BURNHAM, 2012, p.
2)
O mais interessante que, logo depois ela afirma que: Hoje reconheo que aquele foi
o primeiro estudo de anlise cognitiva que realizei, mas abordarei este ponto na prxima
tessela: a Consideraes (In)conclusivas (na pgina 249).
Depois deste adendo, sigo com a narrao de Fres Burnham, da histria do Grupo de
Estudos e do NEPEC a origem das redes.
Ento, [...] o primeiro processo nosso foi muito interessante, que foi de
recuperar as nossas histrias de vida escolar e cada uma escreveu, sobre
158
No era uma escolinha, era uma professora que tinha uma escolinha, e eu
fazia parte dessa escolinha porque ela era vizinha. A me dela era minha
madrinha. Ento era assim, tinha menino de 5 ano, de 3 ano, de 2 ano,
de 1 ano. Era uma coisa, eu mamava de mamadeira, voc imagina essa
coisa como que era, e o tempo que foi isso.
E a a gente passou da escola primria para a escola secundria, vamos
falar a linguagem da poca. [...] S que eu tranquei minha matricula do
mestrado e esse grupo continuou e [...] foi ampliado. Foi quando Roberto
Sidnei entrou e eu tinha assim as noticias de vez em quando de algumas
pessoas que comearam a ampliar. Agora eu no sei como foi, no tenho
registro disso na minha cabea porque eu sai, [...] que Teresinha conduziu
isso, [mas] todos os trabalhos de mestrado tinham a haver com essas
histrias. Ento eu tenho um pezinho no NEPEC e depois eu volto para a
REDPECT muito depois [...].
82
Alm da experincia na rea de Educao, com nfase em Educao Distncia, a Profa. Dra. Maria Ldia
Mattos membro integrante, portanto autora-pesquisadora, do CAOS/REDPECT.
159
Ento assim, foi uma forma bem peculiar mesmo de criar um grupo de
pesquisa, era diferente daquela dureza da pesquisa, mas isso no quer dizer
que no tivesse todo o suporte terico. Era praticar mesmo aquela ideia de
que voc, o cotidiano ou as suas histrias de vida fornecem referncias
importantes pra voc trabalhar com currculo e com construo do
conhecimento. Sempre nessa relao currculo, trabalho e construo do
conhecimento. Ento, assim, [...] com a questo colaborativa eu acho que
eu citaria essa coisa de [...] de Teresinha comear a orientao coletiva.
Aqui S aborda a questo da orientao coletiva como elemento do processo de
construo colaborativa, o que venho fazendo ao longo do texto. Isto enfatiza essa questo
como importante para este estudo e sua origem a partir da coordenao de Fres Burnham.
Alm disso, traz a prtica da vida cotidiana e da narrativa das histrias de vida como
caracterstica inovadora no s para um grupo de pesquisa como tambm para os estudos de
currculo. E continua trazendo suas memrias:
Este sem dvida foi um grande projeto guarda-chuva do NEPEC que gerou muitos
trabalhos construdos colaborativamente. Pelo que pude perceber nas entrevistas foi um
perodo muito frtil, abundante, que teve inicio no NEPEC e se estendeu at a REDPECT.
Retomarei esta questo na anlise das entrevistas. Na minha percepo, nesta fala de S ficou
claro que este no foi apenas um projeto, mas um programa que abrigava outros projetos
vinculados ao CNPq, inclusive de outra unidade, a UNEB. Esta informao me fez
questionar: Ento j era multi-institucional naquela poca? Ela respondeu:
[...] porque ela teve esse grupo, que era com alguns professores. Era
Marina, o pessoal que era do Departamento 2, eram os colegas dela, de
Departamento, e depois foi que ela criou o NEPEC, foi em 1980. Isso a eu
tenho [...] esse registro que foi em, 80 no, 90.
Questionei ento: O NEPEC foi o primeiro grupo, o pioneiro, aqui na Faculdade de
Educao? Sua resposta a essa pergunta foi:
[...] daqui, que eu conhea, foi. Eu no sei foi o primeiro ou no, [...] porque
teve Trabalho e Educao, ou Educao e Trabalho, que era de Iracy
Picano. Mas com essas caractersticas eu posso dizer que foi o primeiro.
Assim, de agregar [...] um grupo de professores, de alunos de graduao, de
ps-graduao e de ter atividades regulares. Um grupo grande mesmo.
Porque tinha os grupos de estudo, mas eram mais [...] informais. No tinha
essa vinculao com o CNPq. Era j um grupo de pesquisa, ensino e
extenso.
Ento, pode-se dizer que o NEPEC foi o primeiro grupo de pesquisa, ensino e extenso
da Faculdade de Educao da UFBA. Diz S (2015) que,
162
[...] o NEPEC realmente cumpria essas funes todas. E eu acho que [...] uma
coisa que [...] eu no sei at que ponto interesse da sua pesquisa, mas eu
acho que em termos do curso de ps-graduao daqui, do programa, que
o NEPEC foi como um [...], no o celeiro, como se fosse gerar outros.
Ento, assim, [...] vrios grupos de pesquisa, [...] vrias linhas de pesquisa
que tem hoje na Faculdade, nasceram no NEPEC. Assim, o NEPEC acolhia.
Como j era um grupo institudo, ele acolhia pessoas [...] que vinham,
traziam vrios referenciais.
Essa fala de S (2015) mostra que foi na poca do NEPEC que a Escola REDPECT se
originou. Isto porque, se foi no NEPEC que nasceram vrias linhas de pesquisa da Faculdade
de Educao, ento j naquela poca era um espao de aprendizagem e formao de
pesquisadores. Acredito que poderia chamar o NEPEC de espao plural de aprendizagem e
construo do conhecimento, de visada multirreferencial, devido ao acolhimento indistinto de
variados referenciais e vrias vises de mundo. S continua a histria:
[...] a linha de gesto saiu da, [...] depois [um grupo] que passou a ser
LEPEL. Celi Tafarel passou pelo NEPEC. Ento as pessoas se abrigavam, ele
tinha muito essa coisa de acolher e de abrigar. como se fosse assim a
coisa mater. Ento, assim, tinha muito isso.
Interessante denominao mater para o NEPEC. Nos registros da memria de S
(2015), a partir desse acolhimento, desse abrigo as pessoas que discutiam os mais
diversos temas achavam abrigo no NEPEC. Ento, como se naquela poca o grupo fosse a
clula me, a Matriz, a escola, que dava suporte e apoio as iniciativas tericas de diversas
linhas de pensamentos na FACED. Depois essas linhas se formavam, construam
conhecimento coletivamente e seguiam seu prprio caminho, se instituindo, se autorizando
como linhas autnomas. Na minha percepo o NEPEC foi uma grande escola, que formou
inmeros autores-pesquisadores e se (trans)formou em rede. Da, S traz nova sugesto para
este estudo:
[...] isso eu quero dizer que tem a haver com a questo que voc fala dessa
viso, da questo da multireferencialidade, que o NEPEC j tinha. Esse
pensamento de que possvel voc ter mltiplas referncias, e muitas
diferenas, at de referencial, [...] e voc, com essas mltiplas referncias,
com mltiplas interpretaes, d conta de fazer discusses, de fazer
anlises e tal. Ento, eu acho que isso uma coisa que foi importante para
a Ps-Graduao, assim, para o curso, vamos dizer assim, como um todo.
Aqui h uma confirmao da minha percepo quanto a visada multirreferencial desde
o NEPEC, e, alm disso, sua importncia para o crescimento e ampliao da ps em
Educao, para o curso como um todo, conforme S mesma diz.
A partir desse ponto, Fres Burnham (2015), narra suas impresses o primeiro projeto
do NEPEC:
Ainda no, mas j era. E a participaram Rosel, Ana Lda, Tuca, que no era
orientanda, ns trabalhvamos juntas. Ela trabalhava no IAT83 [...], se eu
no me engano teve umas horas alocadas para fazer esse trabalho. Mara
Tapioca, que era do IFBA, Avelar que era da Secretaria de Educao, [...]
teve mais gente. [...] conseguimos alguns bolsistas de Iniciao Cientfica e
esses bolsistas tambm vieram. Nessa poca [tambm] veio Jlio, [...] Lvia
Rosrio, que era Pedagoga. Cresceu bastante. Eu sei que vieram vrias
pessoas tivemos uma equipe que ficou fixa e dava sustentao para o
NEPEC funcionar. Ldia eu acho que estava nesse perodo tambm, porque
ela estava fazendo mestrado e no era minha orientanda. Ela era
orientanda de Haid, porque trabalhava com Formao de Professores [...].
Ns fizemos esse trabalho, que inclusive foi uma coisa muito linda, porque
na poca [...] teve aqui na Bahia um grande seminrio, que foi o primeiro
seminrio de currculo do Brasil, e foi dado suporte pelo INEP. Ento, [...]
veio: Iracema de Pernambuco, Circe Vital Brasil do Rio de Janeiro, Bernadete
Gatti de So Paulo, [...] Fernando, se eu no me engano do Rio Grande do
Norte, Pedra, [...] no tenho muita certeza. Eu sei que a nata de professores
de Currculo do Brasil veio para esse primeiro seminrio. [...].
Foram trs dias, e nessa poca ns samos com propostas muito
interessantes. [...] Quando Circe Vital Brasil veio trouxe um termo que a
gente gostou muito, que foi o termo Intertexto, e ela falou da necessidade
de se criar textos. [...] Ela era esposa de um grande mdico, se eu no me
engano, ele era Psiquiatra, conhecido no Brasil inteiro. [...] Ela era uma
pessoa maravilhosa e no sei se ela ainda t por aqui ou se j foi. Ela trouxe
esse termo intertexto, dizendo que era um texto que era composto de vrios
textos anteriores e que era um processo onde vrias pessoas participavam.
Ento, eu casei isso com a questo da multirreferencialidade.
Quando Fres Burnham falou em multirreferencialidade, e, sendo este um dos
conceitos que compe o eixo epistemolgico deste estudo, aproveitei para esclarecer sobre a
origem dele nessa tra(ns)jetria. Ento fiz as seguintes perguntas: J tinha surgido a
multirreferencialidade? Ela aquiesceu e fiz nova pergunta: Quando surge a
multirreferencialidade? Sua resposta foi:
83
Instituto Ansio Teixeira IAT.
165
[...] ns estudvamos [...] com Teresinha, [...] o que hoje Thoms Tadeu
chama de Teorias Crticas de Currculo, [...] e tambm trazamos j
trazamos textos que iam para a questo da hermenutica. Ento assim, era
um mosaico, talvez como voc fala, no como voc est fazendo a, mas,
tinha uma coisa que a gente fazia e que, o pessoal da Paris 8 j trabalha
muito, a questo da bricolage. Quer dizer, ns trabalhvamos muito com
essa bricolagem, essa construo mesmo coletiva em que o encaixe no era
to previsvel por isso que voc precisava costurar mais. Ento, voc
precisava, bricolar voc... uma coisa que voc precisa ter muita arte, pra
voc ir colando.
Fazendo uma comparao entre bricolage e mosaico, ela levanta aqui uma nova
caracterstica para o mosaico, na perspectiva multirreferencial, complexa, a questo de ter
muita arte pr [...] ir colando, pelo seu referencial diferenciado. Entretanto que, mesmo assim
vai costurando. O emprego desse termo costurando - remete a tessitura do mosaico, a
moldagem das tesselas nessa tecelagem do conhecimento. E, lembrando o que o Prof. Fialho,
disse no dia da qualificao do meu trabalho, talvez a arte que ele acredita ser possvel trazer
167
na minha tese, seja exatamente essa maneira de costurar, articular, tecer a trama, para dar
sentido s construes coletivas colaborativas da rede. Diz S ainda que,
[...] o NEPEC [...] nos anos 90, [...] realmente [...] uma projeo muito
grande nacionalmente. Acho, no me lembro, [...] que Teresinha chegou a
ser a Coordenadora do GT na ANPED. Ento ns transitvamos mesmo,
amos [...] apresentar trabalhos nas reunies da ANPED, ns os mestrandos,
os orientandos. E, e eu acho que teve um marco tambm muito importante
nessa poca desse bum do NEPEC, que foi um Seminrio que foi feito em
conjunto com o INEP, [...] em 1994. Um seminrio sobre Currculo, que foi
quando Teresinha apresentou aquele texto dela sobre
Multireferencialidade, Subjetividade, Complexidade. Aquele texto que j
virou um clssico [...] Foi um seminrio que foi organizado pelo NEPEC e
pelo INEP, e gerou a publicao do nmero, acho que nmero 58, do [Em
Aberto] do INEP.
Trago ento para fundamentar o que foi exposto at aqui, o caminho
terico/metodolgico, o referencial terico estudado que trilhou o NEPEC e seus autores-
pesquisadores, os quais S (2004) apresenta em sua tese de doutorado. Diz ela que, muitos
Alm desses autores da teoria crtica do currculo, ela tambm apresenta os tericos
que tratam do trabalho docente e da formao de professores, dizendo que o
Com a exposio dos autores que dialogaram com o NEPEC, nos estudos dos autores-
pesquisadores, encerro a histria do Grupo de Estudo Currculo Essncia e Contexto e do
NEPEC, embora, pontualmente nas anlises apresentadas, outros autores-pesquisadores e
suas contribuies para este estudo, sero chamados em alguns dilogos.
Apresentar as anlises crticas dos construtos Mosaicos montados com base nos
registros acervados na REDPECT e na RICS, e tambm nas entrevistas dos autores-
pesquisadores, que a partir deste estudo tambm so peas/tesselas do mosaico destas duas
redes, o principal propsito da Tessela 6. Entretanto, antes de entrar na dinmica/sistema de
anlise propriamente dita, achei por bem enfatizar que, desde o plano do projeto de tese
(Quadro 8 - vide pgina seguinte), da escrita deste texto e at a Qualificao da tese, estava
coletando e analisando informaes da dimenso emprica em dois campos:
Acontece porm que aps a realizao de algumas entrevistas uma questo ficou
evidente, a riqueza da memria desses autores-pesquisadores em sua (in)formao como
pesquisadores autores, autnomos, a partir do seu cotidiano/trajetria nessas redes.
Isto me provocou novas reflexes: Diante de toda essa riqueza no seria melhor
mudar o rumo da anlise? Voc agora tem material vivo, o cotidiano da rede, vai desistir
dele? Ser que no seria melhor incluir na MA questes que, alm das questes norteadoras,
provocassem a memria desses pesquisadores sobre as suas histrias na rede,?
Questes Norteadoras:
1) Que evidncias indicam o processo de construo colaborativa do
conhecimento na REDPECT e na RICS?
2) Que bases, terico-epistemolgicas, sustentam as construes
colaborativas do conhecimento na REDPECT e na RICS?
3) Que evidencias podem demonstrar o compartilhamento dessas
construes colaborativas na REDPECT e na RICS?
METODOLOGIA
A Pesquisa em sua abordagem macro a quanti-qualitativa, de inspirao fenomenolgica - mas sua especificidade est baseada no mosaico metodolgico e se configura em: caractersticas da Etnopesquisa Crtica
e Multirreferencial (MACEDO, 1998, 2002, 2004), tomando, em especial/profundidade, o Mtodo de Anlise Contrastiva MAC (FRES BURNHAM, 2002) como caminho.
Mtodo: Mtodo/Modelagem em Mosaico Memorial: Anlise Contrastiva
Dinmica da pesquisa: Anlise Cognitiva (AnCo)
Captulos/TesselaS DA
TESE
Tessela 1: Introduo - Cenrio, Objeto, Objetivos e a Organizao dos Tesselas.
Tessela 2: O Individual, o Coletivo, um Saber em Mosaico.
Tessela 3: Construo colaborativa do conhecimento - Reflexes terico-epistemolgicas
Tessela 4: Metodologia - Aprofundando a dinmica do estudo, a partir do CFGC.
Tessela 5: Anlise crtica dos construtos/mosaicos das redes de pesquisa
Tessela 6: Concluses - Resultados e Consideraes finais
Fonte: Quadro elaborado conforme orientao de Lubisco (2013, p. 26), em seu livro "Manual de Estilo Acadmico".
171
Num processo de anlise detalhada quando surgem dvidas que exigem do analista
reflexes outras que no as especficas da prpria anlise, muitos so os elementos
envolvidos. Isto faz com que muitas vezes o caminho se torne longo e minucioso e at que se
consiga atingir uma soluo j se processou
[...] uma longa e complexa prospeco, um laborioso (mas tambm prazeroso) "vai e
vem" entre o que se encontrava (ou se questionava por no entendimento,
compreenso "lacunar") e as ausncias enfrentadas (de possibilidades de
interpretao) no contedo [...] e as mltiplas ofertas (ainda que parciais)
"garimpadas" na literatura pesquisada. Se assim [] para esse estgio, menos longa e
complexa no [] a anlise em profundidade levada a efeito nos [recortes]
selecionados para essa anlise. (FRES BURNHAM, 2002, s.p.)
O trabalho exaustivo, mas tambm prazeroso, como diz a autora. Encontrei nas
falas dos autores-pesquisadores a dimenso artstica da tese, a beleza deste cenrio, o
Mosaico Vivo que tanto buscava encontrar.
Seguindo ento nessa busca enveredei na anlise das entrevistas e deixei os projetos
como itens ilustrativos, tpicos da histria das redes, a ser contada no decorrer deste texto. A
escolha estava feita, mas apesar disto estes projetos no perderam sua importncia diante das
construes colaborativas que abrigaram e dos marcos que significaram para a vida desses
autores-pesquisadores, conforme dito por eles mesmos nas entrevistas.
Alm disto, esta produo que estes projetos provocaram, motivaram, vo fazer parte
da abordagem quantitativa deste estudo. Mas, num processo de construo de conhecimento
toda mudana gera consequncias e, neste caso, o resultado desse deslocamento do foco da
anlise foi que o volume de informaes a serem sistematizadas/analisadas cresceu muito.
Passaram de:
Para:
Entretanto, surgiu ento mais uma tessela desse mosaico complexo, que precisava ser
teorizada para dar conta do processo das entrevistas, ou levantamento de informaes, o grupo
focal. Encontrei em Gondim (2003), citando Morgan (1997) e Veiga & Gondim (2001), a
definio de grupos focais que mais se aproximou do que estava buscando, ao dizerem que
uma tcnica de pesquisa que
[...] coleta dados por meio das interaes grupais ao se discutir um tpico especial
sugerido pelo pesquisador. Como tcnica, ocupa uma posio intermediria entre a
observao participante e as entrevistas em profundidade. Pode ser caracterizada
tambm como um recurso para compreender o processo de construo das
percepes, atitudes e representaes sociais de grupos humanos (p. 151).
[...] exerce um papel mais diretivo no grupo, pois sua relao , a rigor, didica, ou
seja, com cada membro. Ao contrrio, o moderador de um grupo focal assume uma
posio de facilitador do processo de discusso, e sua nfase est nos processos
psicossociais que emergem, ou seja, no jogo de interinfluncias da formao de
opinies sobre um determinado tema. Os entrevistadores de grupo pretendem ouvir a
opinio de cada um e comparar suas respostas; sendo assim, o seu nvel de anlise
o indivduo no grupo. A unidade de anlise do grupo focal, no entanto, o prprio
grupo. Se uma opinio esboada, mesmo no sendo compartilhada por todos, para
efeito de anlise e interpretao dos resultados, ela referida como do grupo.
174
Como o intuito era ouvir a histria de cada participe dessas/nessas redes e buscar
evidncias do processo de construo colaborativa do conhecimento a partir das inter-trans-
subjetividades dos sujeitos autores-pesquisadores, me colocava mais como ouvinte que como
moderadora nas entrevistas. Os prprios entrevistados assumiram espontaneamente o papel de
moderadores. Talvez pela sua (in)formao na rede, isto porque, quando nas discusses nas
atividades das Redes, esse papel era amplamente praticado.
175
Fonte: Construdo.
84
Embora tenha citado apenas Gondim (2003), pela pertinncia com o que queria apresentar, li tambm: DIAS,
Cludia Augusto. Grupo Focal: tcnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Disponvel em:
<https://moodle.ufsc.br/pluginfile.php/1255610/mod_resource/content/0/Tecnicade_coleta_deDados.pdf>. Acesso
em: 21 jul.2015; e RESSEL et al. O uso do Grupo Focal em Pesquisa Qualitativa. Disponvel em:
<http://www.scielo.br/pdf/tce/v17n4/21.pdf>. Acesso em: 21 jul.2015.
176
Este crescimento das categorias de anlise se deveu ao fato de que, como o volume de
informaes ficou muito grande, ficou impraticvel analis-las sem fragment-las. Esta
inclusive uma das caractersticas fundamentais do MAC, pulverizar para facilitar a
(re)construo do texto aps as anlises, pensando na anlise contrastiva.
Sobre Anlise Detalhada, como o caso desta investigao, diz Fres Burnham
(2002, s.p.)85 que, a pretenso era [...] fazer uma prospeco que, ao mesmo tempo,
permitisse fragmentar os TAs [Transcritos Anotados] em unidades analiticamente viveis,
sem quebrar demasiadamente [...] [o] fluxo e as interaes. Estes transcritos anotados neste
processo so as entrevistas transcritas.
Ento, para esse detalhamento analtico, as sistematizaes dos recortes das entrevistas
seguiram uma lgica, uma dinmica, um sistema de anlise do processo de construo do
conhecimento, conforme Quadro 11 abaixo, que apresenta as categorias e as sub-categorias
mencionadas.
Fonte: Construdo.
85
Descrevendo o Mtodo de Anlise Contrastiva desenvolvido no seu trabalho de ps-doc: FRES
BURNHAM, T. Cognitive aspects of the implementation of lessons by biology student teachers.
Southampton: Faculty of Educational Studies, University of Southapton, 1983.
177
Este foi o momento da reconstituio descrito no MAC. Aqui fiz a [...] avaliao da
qualidade dos registros, sua codificao segundo as categorias e sub-categorias apresentadas
no Quadro 11 acima. Embora, devido mudana de objeto de anlise, no tivesse sido
necessrio fazer uma [...] ficha [...] para [...] reordenar os documentos em unidades que
[...] [integrassem] cada tipo de registro para cada evento registrado, formando assim as
UAs86. Em suma, todas as entrevistas foram sistematizadas numa nica matriz de anlise e
fiz a reconstituio das entrevistas seguindo o
[...] objetivo [...] [d]a organizao da informao em unidades que tornassem vivel
a formao de um conjunto de documentos representativos de cada evento
registrado, de forma que se pudesse estabelecer relaes entre as formas verbais e
no-verbais da traduo, de acordo com a sequencia e os significados
contextualmente construdos ao longo do processo [...]. (FRES BURNHAM, 2002,
s.p.)
Estas [...] peas que, por fora da fragmentao dos registros, pareciam inicialmente
desconexas [...], [...] foram sendo [...] [colocadas] nos seus respectivos lugares. Aps essa
86
Unidades de Anlise.
87
Dirio de Bordo ou Dirio de Campo, instrumento do cotidiano dos autores-pesquisadores, utilizado na
REDPECT para anotaes pertinentes ao objeto investigado durante visitas ao campo emprico, ou em
momentos de discusso em/na rede.
178
Seguindo os passos do MAC, foi feito um escrutnio com duas fases articuladas. Na
primeira fase a Explorao Inicial e na segunda a Anlise Detalhada.
[...] no momento anterior, fragmentos foram "colados", formando uma UA, como
um quebra-cabea pr-montado, em que se v o todo, mas de forma entrelaada, sem
a nitidez de seus componentes, a explorao inicial teve como finalidade
desemaranhar o complexo de registros e das informaes neles contidas [...].
conhecimento especfico que se objetiva traduzir; recursos materiais usados como elementos
de organizao do processo de traduo [...]. (FRES BURNHAM, 2002, s.p.)
Aps essa fase inicial de explorao, fiz a (re)analise da MA, conforme recomenda o
MAC,
Ento, para ficar mais claro esse lugar da interpretao, resolvi fazer um adendo
para uma reflexo terico-prtica sobre a AD, considerando esta como mais uma tessela do
mosaico metodolgico e parte da fase inicial de explorao, segundo o MAC.
88
Conforme citado na sub-seo 4.2.3. A Pesquisa e sua Abordagem, na pgina 112 deste texto.
89
Jos Carlos Oliveira de Jesus, um dos autores-pesquisadores da REDPECT e sua tese, um dos construtos
mosaicos da rede, em 2010. Por isto no faz parte das produes que vo compor a histria desta rede.
180
[...] noo de formao discursiva, ainda que polmica, bsica na AD, pois permite
compreender o processo de produo dos sentidos, a sua relao com a ideologia e
tambm d ao analista a possibilidade de estabelecer regularidades no
funcionamento do discurso.
[...] as formaes discursivas delimitam aquilo que pode ou deve ser dito,
obviamente em um dado contexto. Pode-se afirmar que as palavras mudam de
sentido conforme as condies propcias91 dentro de uma repartio discursiva.
Alm disso, evocando o conceito bakhtiniano do dialogismo na linguagem, cabe,
aqui, acrescentar que a palavra do outro implica uma condio para a construo de
qualquer discurso. (SILVA, D. E. G. 2002, p. 11)
A partir desta questo do dialogismo indicada por Silva, o entrevistador tambm tem
uma participao na construo do discurso do entrevistado, e tambm interfere nessas
condies propcias de que fala o autor. Portanto, medida que existe um roteiro de
entrevista, alm dos fatores comuns AD, o pesquisador tambm delimita o que ser dito,
mesmo que no tenha a inteno de engessar as memrias do entrevistado.
90
Produzi parte desse texto como trabalho final da Disciplina EDC A39 Anlise de textos na pesquisa em
educao, do PPGE/FACED/UFBA, no semestre 2007.1. Um artigo intitulado: Anlise do Discurso Uma
questo de Mtodo
91
Condies de Produo, que delimitam o que ser dito.
181
Fonte: Construdo.
Neste ponto ser analisado: o como se diz, o que se diz, em que circunstncias
diz. Partindo dos princpios da no transparncia dos sujeitos e dos discursos, esta fase da
AD se ocupa com o que est "por detrs" dos enunciados e vai buscar no ideolgico a relao
entre o "dito" e o "no dito", a partir das posies de sujeito ocupadas pelos indivduos, na
sociedade. Gustavo (s.d, s.p.) diz que para Michel Pcheux (1995), a
A prof Freda Indursky (1998), indica que existe uma diferena entre sentido e efeito
de sentido. Diz ela que existe [...] a um deslocamento, a partir do qual no mais possvel
pensar na transmisso de informao entre interlocutores. Pensar nesses termos conduz a uma
concepo de sentido prvio estabilizado, verdadeiro, nico, sem lugar para a ambiguidade,
para o desvio e o mal-entendido [...]. Diz ainda a autora que isso recusado pela Anlise do
Discurso e tambm que nesse
[...].quadro terico, postula-se que o sentido sempre pode ser outro, e isto est na
dependncia do lugar em que os interlocutores se inscrevem. Ou seja, nada garante
que um discurso produza o mesmo sentido tanto para quem o formulou como para
quem o interpretou. Entre os interlocutores h um intervalo que vai muito alm do
espao fsico que o separa. H que considerar tambm por posies ideolgicas
diversas, inscritas em formaes discursivas igualmente diferentes, as quais so
responsveis pela produo no-coincidentes, atribudos a um mesmo dizer.
(INDURSKY, 1998, p. 35)
Partindo desse princpio, trabalhar com a interpretao vai exigir o aporte de dois
tipos de dispositivos:
Alm disso, precisamos reconhecer, como fala o autor citando Orlandi (1996)93, que
92
Jos Luis Michinel, outro autor-pesquisador da REDPECT, que inclusive j foi Coordenador da REDPECT e
tambm foi um dos entrevistados para este estudo.
93
ORLANDI, E. Interpretao: autoria, leitura e efeitos do trabalho simblico. Petrpolis: Vozes. 1996.
184
nesta perspectiva, que tomei a AD como base para a explorao inicial do discurso
dos autores-pesquisadores nas entrevistas. Na busca de significados/significantes das
relaes linguagem/pensamento/mundo destes sujeitos nas redes de pesquisa investigadas.
Embora a AD no tenha sido aprofundada como mtodo, mas sim como auxiliar nas anlises,
a partir de alguns fatores/dispositivos considerados preliminares, conforme o dialogo com os
autores citados.
nessa fase, realizada a partir de TAs, que, ao se processar uma prospeco refinada
do contedo das UAs, comea-se, propriamente, a construo da anlise contrastiva [...].
Assim disse Fres Burnham (2002, s.d., s.p.). Mas esse laborioso vai e vem dos TAs, que a
autora descreve, foi sem dvida a maior dificuldade que encontrei em trabalhar com a Anlise
Contrastiva. No especificamente o vai e vem, porque at estimulante, mas sim a questo
do realizar, a prtica desse processo infinitamente mais densa do que diz a literatura.
como estar num barco a vela numa tempestade em alto mar; ou tambm como estar num
labirinto como diz Castoriadis (2009, p. 50), quando fala do pensamento, efetivamente
dentro do labirinto.
Pensar no sair da caverna, nem substituir a incerteza das sombras pelos contornos
ntidos das prprias coisas, a luz vacilante de uma chama pela luz do verdadeiro Sol.
entrar no Labirinto, mais exatamente fazer ser e aparecer um Labirinto, ao passo
que se poderia ter ficado estendido entre as flores, voltado para o cu. perder-se
nas galerias que no existem seno porque as cruzamos incansavelmente, caminhar
em crculos no fundo de um beco sem sada, cujo acesso se fechou atrs de nossos
185
passos at que esta rotao abra, inexplicavelmente, fissuras nas paredes por onde
se pode passar.
Aqui fao uma pausa, pensando neste processo como uma montanha russa, mas vejo
que seria uma metfora que no condiz com os diversos caminhos que se revelam medida
que analiso os recortes. Isto porque numa montanha russa o caminho, embora seja de altos e
baixos, de cabea para baixo ou no, sempre o mesmo caminho, mas neste processo de
anlise contrastiva so muitos os caminhos e encruzilhadas.
A [...] nica escolha que nos resta [...], diz Castoriadis (2009, p. 50) ainda falando
do labirinto do pensamento, [...] mergulhar nesta galeria mais do que naquela outra, sem
saber onde podero conduzir-nos, nem se nos levaro eternamente a esta mesma encruzilhada
ou a uma outra que seria exatamente igual.
S mesmo com o Mago do tar, ou com as vises que me adivinham durante esse
percurso para conseguir dar conta. Percebi ento que tudo isso tinha um significado, mas s
fui saber que todos esses eventos faziam parte do meu processo de construo do
conhecimento quando ouvi minha banca na Qualificao do Doutorado.
186
Por tudo isso, resolvi apresentar esta anlise detalhada na prpria histria da rede
(re)construda a partir:
de minha prpria memria/histria de vida nas redes, que vem sendo contada desde a
Tessela 1 desta tese, de maneira fluida, e que s ser encerrada com as consideraes
finais do estudo.
Construir uma histria baseada nas memrias das pessoas uma tarefa rdua,
entretanto coisas curiosas aconteceram nas entrevistas, durante as transcries e continuam
acontecendo na sistematizao e anlises. Aqui entrevistas e histrias de vida se misturam, se
implicam, se contrapem, mas principalmente deram muito prazer tanto a quem fez seu
memorial oral quanto para quem ouviu as histrias.
DMMDC, que participou da construo colaborativa da RICS; e duas com Fres Burnham, na
busca de aprofundar minhas informaes sobre a Anlise Contrastiva e o Mosaico. Ento,
nesse primeiro plano, contando com a minha implicao em 2006 e 2007, somavam 13 (treze)
entrevistas. Mas ainda queria ouvir mais duas pessoas do NEPEC, fechava o processo em 15
(quinze) entrevistas.
No foi assim que aconteceu. De repente fui envolvida por pessoas que informavam
outras pessoas que queriam participar, que recomendavam nomes e me passavam contatos.
Enfim, a rede pulsava novamente off line. Foram duas semanas intensas e no final dessa roda
viva as entrevistas realizadas somavam 27 (vinte e sete). Mas, como na rede nada muito
usual, ou dogmatizado, para conseguir cumprir essa demanda tive que fazer entre essas
entrevistas: duas por Grupo Focal, mas com transcries individuais; uma delas via
questionrio, na verdade um roteiro que fiz para as entrevistas e este foi respondido de So
Paulo via e-mail; outra foi feita por skype, pois o entrevistado estava em Barreiras.
Uma das coisas que mais deixei claro nas entrevistas, embora isto tenha demandado
mais tempo nas transcries e anlises, foi o meu desejo de no engessar as pessoas, de deix-
las vontade. Isto realmente deu muito trabalho e horas exaustivas de transcrio. As pessoas
ficaram to soltas que falaram por muito tempo. Foram lindas e ricas histrias, que sero
apresentadas parcialmente a partir deste ponto, atravs das categorias de anlise deste estudo,
conforme esto apresentadas no Quadro 11, pgina 176 deste texto, iniciando pela sub-seo,
tessela, Histrias de Vida dos autores-pesquisadores na REDPECT.
A primeira categoria da Matriz de Anlise deste estudo, uma das tesselas que compe
o mosaico da construo colaborativa do conhecimento, diz respeito s Histrias de Vida dos
autores-pesquisadores na/em rede. Especificamente: o ano de seu ingresso; a motivao que
os fez procurar essa rede; e a/as contribuio/contribuies que a rede trouxe para suas vidas.
Entretanto essa categoria foi criada para compor a linha do tempo dessa rede, atravs do
registro das memrias de alguns de seus participes, enfim contar sua prpria histria.
em mim certo sentimento de perda por no poder utiliz-las na integra, ou mesmo todas, dada
a riqueza que estas apresentavam, diante do prazo que tinha para concluso da tese.
Mas, a partir da perspectiva de novos trabalhos que podem ser oriundos deste, minha
conscincia foi se acalmando e pude enfim apresentar os textos reconstitudos, selecionados
por categoria. Tomando como ponto de partida essas histrias de vida dos autores-
pesquisadores no cotidiano da rede.
94
Magris Nicolau atualmente professora assistente da Universidade do Estado da Bahia-UNEB - Campus I -
Salvador/Ba; pesquisadora da UNEB e da UFBA; doutoranda no DMMDC e integrante do CAOS/REDPECT.
Portanto, autora-pesquisadora.
189
Quando eu entro na Rede, que na verdade ainda no era Rede, era NEPEC
ainda. [...] Eu pego exatamente o momento da transio e quando ns
samos da FACED e vai pro ICI, porque Teresinha vai ser Diretora, ns fomos
como alguma coisa que no sabamos o que , que era a Rede, s que ela
j tinha constitudo o nome Rede, ela j vinha trabalhando esse nome, pelo
que entendamos. J se constitua a Rede que era todos aqueles contatos
que ela tinha construdo no processo do NEPEC, de todos os projetos, de
toda pesquisa. Com isso, [...] ns perdemos a ideia do NEPEC, aquele sonho
todo que eu tinha de entrar no NEPEC, que era o sonho de todo graduando,
ou graduado, quem estava na ps.
Isto porque j no era possvel o NEPEC dar conta, ns sofremos muito
porque o sonho de consumo era ser NEPEC, todo mundo queria ter no seu
currculo o NEPEC, e de repente no tnhamos mais, e ns vamos para l
com a ideia da Rede, e [s se falava em rede]. E era Rede de Pesquisa,
Interveno, porque era uma caracterstica que Teresinha demarcava era o
processo de interveno, s que em Currculo e Trabalho. Ento ns
sabamos que tinha essa construo. A ideia e alguns projetos vieram
conosco, porque j se constituam como projeto da Rede, que era o Xing,
que era o de Formao do Trabalhador, e outros projetos menores e os
projetos dos orientandos dela, e nos mudamos para o ICI.
A mudana da rede para o ICI e dos autores-pesquisadores do continuidade a histria
relatada por Magris Nicolau (2015):
tranquilo de se entender, ela conseguia organizar, mas para ns era um conhecimento muito
novo, [...] era um negcio muito difcil [...]. Resultado disso que, [...] tnhamos que
estudar o que era informao, o que era o sistema de informao, e [...] tudo em muito pouco
tempo.
[...] naquele momento muita gente achava aquilo uma loucura, mas ns
ficamos pensando assim: como a tradio, como as origens, como isso t
tudo presente, mesmo no mundo acadmico. E comeamos a ver que aquilo
ali no era simplesmente o mundo acadmico, mas que ali cabiam todas as
coisas, principalmente a nossa vida e era de tal forma que realmente
vivamos na Rede, dormamos e acordvamos na Rede, isso era um processo
sem fim. E foi quando saiu o nome e nos sentimos com identidade,
autorizados.
[...] Outro problema forte dentro da Rede naquele momento, era a construo do
processo de autonomia, o sofrimento da construo do processo de autonomia, porque
Teresinha nos provocava para construir uma autonomia que nunca tnhamos sabido o que era
[...], diz Magris Nicolau (2015). Apesar da maioridade de todos que participavam do
cotidiano da rede, muitos j graduados, trabalhando, no sabamos. Isto porque, segundo ela
[...] autonomia no simplesmente tomar conta de si. Teresinha comeou a dar
responsabilidades que ns achvamos que no tnhamos condies de ter. Somadas a isso
[...] vieram vrias coisas: os Projetos de Iniciao Cientfica, [logo depois] os do ICI, que era
justamente a Construo dos Espaos de Aprendizagens da Cidade do Salvador, nos espaos
de informao, a vem a ideia da (in)formao [...]
192
Assim sendo, a discusso sobre a (in)formao muito mais que uma palavra
inserida no nome de um grupo de pesquisa. Lago (2005, p. 23)96, traz essa questo dizendo
que:
95
Referncia completa: FRES BURNHAM, Teresinha et al. Gesto do Conhecimento no Nordeste Brasileiro:
Espaos de (In)formao e Trabalho. Workshop Brasileiro de Inteligncia Competitiva e Gesto do
Conhecimento. 3.2002, So Paulo. In: Anais do Congresso anual da Sociedade Brasileira de Gesto do
Conhecimento, 1, 2002. So Paulo: SBGC / ABRAIC, 2002.
96
Autora-pesquisadora, em sua Dissertao de Mestrado.
97
Referncia completa na Nota de Rodap nmero 85 (p. 176).
193
[...] considera-se que este projeto99 possa, atravs dessas alternativas de Info-
Educaco, contribuir significativamente para a construo de uma Sociedade de
Aprendizagem baseada no imbricamento de atividades (in)formacionais e
produtivas, trazendo a aprendizagem para o local de trabalho e a experincia laboral
para os espaos de (in)formao, de forma a tornar a democratizao da informao
/ conhecimento muito mais do que mero discurso e as organizaes em espaos
multirreferenciais de aprendizagem. (p. s.p.)
A partir de todas as questes aqui colocadas, corroboro com Magris Nicolau (2015),
quando diz:
[...] nada t a de graa. Colocado para [...] atrelar [a rede] ao ICI. No, era
muito maior do que isso, no era porque ns estvamos no ICI que
precisvamos ter a (in)formao, era porque a informao era
constitutiva do trabalho que desempenhvamos e talvez o trabalho que ela
[Fres Burnham] j desempenhasse antes, e ns comeamos a ver que isso
fazia todo sentido. Ento, quando o ICI, que ainda no era ICI, era Faculdade
de Biblioteconomia e Cincia e passa a ser Instituto de Cincia da
Informao, claro que a Rede explode, [...] inclusive conosco [...], no
sentido de que aumentou o nmero de trabalhos, ns tnhamos [muito]
trabalho, a Rede crescia [vertiginosamente]. Ns no tnhamos noo, do
tamanho, da dimenso que a Rede tomava.
Porm, em algum momento teria que acontecer essa conscientizao, o grupo teria que
construir essa noo [...] de que na verdade a REDPECT que constri a identidade do ICI
[...], mas isto s acontece, segundo ela,
98
Na poca dessa discusso a REDPECT estava trabalhando com a pesquisa da Info-Educao, ainda como um
novo campo do conhecimento.
99
Gesto do Conhecimento no Nordeste Brasileiro: Espaos de Produo do Conhecimento e (In)formao de
Gestores. Vide Referncias.
194
Claro que muita gente pode no ter visto isto, mas s ler a trajetria do ICI, a
histria do ICI, afirma Magris Nicolau (2015). E continua, a histria pode [...] at ser
contada sem falar da Rede, mas impossvel pra quem passou aquele tempo l [...], no
perceber isso. E, estabelecendo certa comparao entre o passado e o presente daquela
poca, diz ela que,
Isto quer dizer que onde estivermos -, no importa o local, o espao -, seremos o outro
e os outros, portanto, em tudo que pensarmos esses mltiplos estaro presentes, antes at,
conforme diz Castoriadis, de refletirmos sobre qualquer questo.
195
Ento assim, tudo que [Fres Burnham] nos deu ela recebeu, e foi por [...]
receber e saber lidar com o que recebeu, ou seja, por todo mundo que
passou por ela, por toda experincia de vida dela, pela prpria experincia
do NEPEC. Ento assim, deu a Rede uma construo com um significado
muito maior. Voc v que [...] a Rede [...] vai se multiplicando, e eu no vou
dizer que ela vai se modificando. No, no acredito que uma mudana, eu
digo sempre, a Rede se atualiza, como um clique no mouse, como fazemos,
como voc acabou de fazer, em relao tela [do seu celular]: est
dormindo; quando voc abre, acorda. Ento como quando ns estamos
com uma pgina no computador e de repente ns samos um pouco,
largamos um pouquinho e voltamos, quando voltamos, vamos l no clique
do atualizar, e essa atualizao traz, emerge novas questes, novas
proposies. Novas vises. como o prprio Felipe Serpa dizia: novas
precipitaes. E eu lembro que em algumas discusses dele e Teresinha em
algumas bancas, ele dizia a ela que ficava feliz por ver a aprendiz
superando o mestre [...].
muito lindo! Ento, a comeamos a entender que aquilo que ela
construa, era uma construo do que ela fazia nela mesma. O que no
fcil, ns sabemos, que para nos manter nesse processo de atualizao, que
no de modificao, que muito mais que uma transformao, porque
era uma coisa que ela nos ensinava para entendermos as questes da
tecnologia, do que a tecnologia podia nos proporcionar, ento, essa ideia de
atualizar-se muito diferente do que modificar-se, do que transformar-se.
Adoto daqui em diante esse conceito de atualizao, que na minha interpretao tem
em seu bojo a modificao e a (trans)formao, segundo o discurso de Magris Nicolau
(2015), passando em seguida para a primeira categoria de anlise das entrevistas dos autores-
pesquisadores: Evidncias que indicam o processo de construo colaborativa do
conhecimento.
A segunda parte dessa histria contada a partir das memrias vividas no cotidiano da
rede pela Professora Maria Ldia Pereira Mattos (MATTOS, M. L. P.)100, a Professora Maria
100
Fao breve apresentao de Mattos na nota de rodap nmero 82, na pgina 158.
196
Luiza Coutinho Seixas (SEIXAS, M. L. C.)101, e o Professor Raimundo Cludio Silva Xavier
(XAVIER, R. Claudio S.)102. Para Seixas (2015) essa histria comea no ano de 1999, para
Mattos (2015) em 2000 e para Xavier (2015) em 2002. Portanto no perodo de 1999 a 2002.
Essa foi uma das entrevistas que fiz com caractersticas de grupo focal, conforme
mencionei anteriormente. Isto enriqueceu ainda mais os saberes e prticas que emergiram das
memrias desses autores-pesquisadores. A princpio pelo acolhimento de Mattos, ao nos
receber com sua peculiar hospitalidade, e depois pela cumplicidade e afetividade que se
instalou no ambiente durante nosso encontro.
Inicio ento essa histria com o relato da experincia de entrada de Xavier (2015), do
qual todos compartilharam e estabeleceram links com suas prprias histrias.
[...] eu andava [muito] nessa poca com Patrcia [...] ramos efetivamente
colegas. Mais do que colegas da Universidade, no caso na UNEB, ramos
tambm colegas no mestrado, [...] aquela coisa que era nova. Mas a ela me
apresentou a Maria Ldia, e, eu lembro que foi num perodo muito
fantstico. Foi assim que eu conheci a rede, porque tinham os seminrios e
tinha toda semana os dias desses encontros, dessas reunies, aqueles
encontros que eram para a formao do pesquisador.
[...] eu peguei Maria Ldia falando com Patrcia algumas vezes: voc t
sumida, no aparece para os seminrios, os encontros, no sei que, sim
mas tinha que apresentar no sei que. Eu acompanhei vrias vezes essas
cobranas.
Um belo dia eu estava sozinho, eu no estava com Patrcia. A ela me
agarrou pelo brao, abriu a porta da sala, onde estava acontecendo a
reunio da Rede, e falou assim: voc no quer participar das reunies da
Rede no? Ah, Patrcia j me falou, mas ela no tem vindo, venha
agora. E eu ca assim e tal. Estava acontecendo, e engraado, porque foi
assim uma coisa meio mgica, [...] era mesmo a formao do pesquisador.
O que que estava sendo discutido ali? Metodologia, pesquisa. E era uma
coisa religiosa, se eu no me engano era tipo: tera e quinta, eram dois dias
na semana, era uma coisa religiosa. Estava l era Seminrio de Formao.
Ento tinham os grupos [...].
E Seixas (2015) complementa: [...] porque Teresinha tinha um negcio de orientao
coletiva, lembra? Ele confirma e ela continua: Que voc foi participar, no foi? Fao uma
101
Seixas possui graduao em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia (1998) e mestrado em Educao
pela Universidade Federal da Bahia (2006). Atualmente Professora Assistente 2, da Universidade Salvador.; e
tambm integrante da REDPECT e autora-pesquisadora.
102
Xavier Professor Adjunto na Universidade do Estado da Bahia-UNEB, Doutor em Cincias e Tecnologias
da Comunicao (Departamento de Comunicao e Arte, Universidade de Aveiro, Portugal - 2008) com bolsa
CAPES; Mestre em Educao (Currculo e Tecnologias da Comunicao UFBA, 2004). e tambm integrante da
REDPECT e autor-pesquisador.
197
Foi um momento de descobertas. Na fala de todos estava implcito que, embora o tema
no fosse estudado como tal era uma prtica que se concretizava a partir do cotidiano na/da
rede. Ento, eram dois eventos construdos colaborativamente o Seminrio de Formao de
Pesquisadores e a Orientao Coletiva. Portanto duas evidncias dessa construo. Alm
disso, a categoria do cotidiano conforme Seixas apresenta. Este sim, era um tema novo
emergindo.
conceito de cotidiano, para analisar o de colaborao, j que era implcito, embora explicitado
no cotidiano, na ao dos autores-pesquisadores.
Encontrei tambm em Maffesoli (2007, p. 71) uma frase que talvez possa mostrar o
porqu desta questo: [...] a vida cotidiana apresenta sempre vrias possibilidades, pois no
unvoca. [...]. Isto pode ser uma fonte inesgotvel de pesquisa, portanto um espao de
aprendizagem muito rico. Alm disso, h a possibilidade da compreenso do mundo comum
compartilhado na interao com o outro, ou outros, e suas diferenas, alteridades.
Em Berger & Luckman (1985) ainda com a viso da sociologia -, achei respaldo
terico para a compreenso dessa interao com esses outros:
[...] os outros tm uma perspectiva deste mundo comum que no idntica minha.
Meu aqui o l deles. Meu agora no se superpe completamente ao deles.
Meus projetos diferem dos deles e podem mesmo entrar em conflito. De todo modo,
sei que vivo com eles num mundo comum. O que tem a maior importncia que eu
sei que h uma contnua correspondncia entre meus significados e seus significados
neste mundo que partilhamos em comum, no que respeita realidade dele. A atitude
natural a atitude da conscincia do senso comum a muitos homens. O
conhecimento do senso comum o conhecimento que eu partilho com os outros nas
rotinas normais, evidentes da vida cotidiana. (p. 36)
Para isto, eu, como participe desse espao de aprendizagem do pesquisador, necessito
conhecer as especificidades do conceito de cotidiano, preciso estud-lo com os diversos
autores, sejam eles da rea de psicologia, sociologia etc. Essa a lgica da REDPECT.
[...] nas orientaes, todo mundo tinha uma coisa muito interessante, eu
no posso deixar de falar. Todo mundo trazia uma coisa com seus
orientadores. Grosso modo que, os orientadores no orientavam, que
199
Quando eu fiz o seminrio com esses meninos na rede, caiu minha ficha na
formao de pesquisador. Alan tinha passado pela rede e tinha comeado a
pensar num curso de formao de pesquisador. Eu comecei a trabalhar
minha cabea na questo da formao, porque eu entendia que eu tava
sendo formada, mas isso no era formalizado. Ento, o primeiro passo foi
[...] sentar com Teresinha, e ns dissemos no vamos montar um curso,
vamos fazer eventos que faam parte de uma formao.
Foi quando apareceram esses dias de reunio, que era de formao, onde
eu [...] trazia [...] professores de outras unidades. Teresinha me dizia:
fulano, beltrano, ela entrava em contato, e eu, conversava com as
pessoas, fazia um atestado para esses professores colocarem no Currculo
Lattes e eles vinham, davam uma aula para o grupo. Por exemplo: teve um
trabalho que foi feito na REDPECT, uma [...] aula sobre Oralidade, de
Ubirat de Castro Esse texto um dos textos mais bonitos, fui eu que
transcrevi.
Mattos conta ainda, a histria do Jornal Nag, que passa de boca em boca, mas no
tem registro. A partir disso, eu dou uma pausa para refletir sobre essa questo da falta de
registro das realizaes da REDPECT e do passar de boca em boca a histria, uni as duas
coisas, e ento me questionei: Ser que esta questo no se justifica na Ancestralidade, do
implcito nessas comunidades, que refletiram no conhecimento ancestral das vivncias do
coletivo da rede e tambm das experincias contadas por Teresinha nas entrevistas, nas
reunies, palestras? Pode ser que isto faa parte do conhecimento implcito construdo nessas
experincias que cada um traz para a rede em suas narrativas, mas que no so registradas
200
Ento, foram coisas assim, [...] vividas por mim, e muito da minha cabea.
Eu entrava nessas maluquices de fazer isso acontecer, [...] foi quando
Cludio v [...] que era a formao do pesquisador, que no existia
formalidade, [...] que no se deu na grade curricular [...] etc.
Seixas (2015), complementa a fala de Mattos:
103
Oliveira : cineasta, produtor, e professor substituto de cinema da Universidade Federal do Recncavo
Baiano. Possui graduao em Psicologia (2002) e Mestrado em Educao, pela Universidade Federal da Bahia
(2006).
201
Na rede tinha isso assim, porque a [...] pluralidade das pessoas ali [...] voc
tinha nveis em relao academia. Voc tinha doutor, tinha mestre, tinha
graduando, tinha uma poca que tinha at aluno de ensino mdio na rede.
A voc imagine [...] a loucura que no era. Mas ao mesmo tempo era
interessante ver como a maneira, a aura da rede, ela no valorava muito
isso, no sentido do poder da palavra. Claro que institucionalmente isso tem
um peso. Se voc est numa reunio, ou na discusso de alguma coisa,
quando um doutor fala, mas mais por uma questo de habilidade, por
uma questo de verdade da palavra, ou de razo da palavra, mais a
habilidade do falar mesmo, assim... que o timbre intimidava. Mas quem se
arriscasse a falar, falava e isso tinha o mesmo peso da palavra de um
doutor, de um ps-doutor, isso no era questo. Isso era interessante.
Oliveira (2015) confirma a questo do construir colaborativamente na/em rede, sem
distino de ttulo. Inclusive enfatiza a aura da rede como responsvel pela no valorizao
dessa questo, na realidade, at coloca como uma questo pessoal, uma deciso individual de
se arriscar ou no.
Para entrar especificamente na questo das bases tericas que sustentam o processo de
construo mencionado, Barbosa (2015) primeiro aborda sua experincia de adaptao na
rea acadmica:
[...] a verdade que quando [...] eu trabalhei no CEPED105, que era uma rea
tcnica de pesquisa, [...] onde voc vira tcnico, voc no tem um momento
de leitura e reflexo, como voc tem quando est [...] na universidade. Essa
que a verdade. Tanto que quando ns vamos para o mestrado,
doutorado, [...] saindo de um trabalho tcnico, temos certa barreira at
conseguir [compreender as questes]. Por isso que o pessoal que da rea
d o salto. E voc, at comear a refletir mesmo, do ponto de vista terico,
um tanto complicado.
Concordei empaticamente com Barbosa, porque como meu processo de adaptao foi
similar ao dela, senti mais ou menos as mesmas coisas. Ento disse: nas primeiras leituras
eu no entendia nada, nada mesmo. Continuando a histria ele confirmou:
[...] exatamente, falta um mtodo, falta uma prtica de fazer aquilo, porque
quando voc est na vida profissional, tudo para hoje, correndo, ns no
conseguimos pensar muito, [tudo acontece no] fazer, essa que a
verdade. Quando entramos na rea acadmica no, ns comeamos a
refletir. Sentimos a necessidade de teorizar, pronto, isso a que precisa.
Ento, eu fao isso porque isso, tem que ter a razo por que eu fao, e a
razo por que eu fao a teoria, essa que a verdade.
Nesse dialogo com Barbosa (2015), como ela tambm veio da vida profissional para a
academia, acabei tendo uma viso diferenciada dessa questo, e, de certo, foi muito
104
Barbosa bacharel em Biblioteconomia pela UFBA (1966) e licenciada em Letras Vernculas pela
Universidade Catlica do Salvador (1972); tem o Diplme d'tudes Approfondies en Information Scientifique et
Technique, pela Universit Aix-Marseille III e o Mestrado em Cincia da Informao pelo Instituto de Cincia
da Informao da Universidade Federal da Bahia (2005); tambm autora-pesquisadora da REDPECT.
105
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento CEPED.
203
[...] era meu Deus do cu, ns trabalhvamos. Esse projeto mesmo [que
estou tentando lembrar] era uma base. Eu vou levantar isso pra voc,
porque sinceramente essas coisas j esto um tanto esquecidas na minha
memria, mas nesse projeto e outros que eu tinha da rede, que talvez ainda
tenha [...], traz muito essa viso do que tnhamos discutido. [...] Muito [...] a
questo da Educao, [...] das Metodologias. Que era uma coisa que
nos faltava muito. [...] Mtodos o desenvolvimento de pesquisa, o fato
de no ser ortodoxa. E at assim, uma discusso que ns tnhamos muito
era de no trazer a metodologia [...] das reas duras, fsica, para as
reas sociais da forma que ela era, [...] sem uma adaptao, sem um
teste sobre isso. E essa discusso, por exemplo, do discurso do mtodo,
que no poderia servir como ele era dentro das reas sociais. Ento, ns
trabalhvamos, discutamos muito isso a. Multirreferencialidade,
Complexidade. Inclusive esse trabalho que ns apresentamos l na
Sociedade Brasileira de Gesto do Conhecimento, era sobre isso,
multirreferencialidade.
Intervi: porque a complexidade em Morin social, no matemtica. Ela aquiesceu.
Ento, neste momento fao uma breve retrospectiva para pontuar as bases tericas que
Barbosa levanta nessa sua narrativa. Ela citou: educao; pesquisa, quando fala de
metodologias, mtodos, desenvolvimento de pesquisa, o fato de no ser ortodoxa; a discusso
para adaptar as questes tericas das cincias chamadas duras, as exatas, por exemplo, a
fsica, sem uma reflexo sobre sua adaptao s cincias humanas, inclusive as da rea social
tambm, exemplificando com a reflexo do discurso do mtodo. Barbosa finaliza essa fala
com a multirreferencialidade e a complexidade, na viso de Morin. E complementa falando
dos autores estudados, medida que eu incentivava sua memria:
com Lvy, at fomos para palestra dele [...]. [...] inteligncia coletiva, isso,
[...] discutamos isso com Pierre Lvy.
Neste ponto, retomei a discusso sobre a metodologia e o mtodo que ela citou,
questionando: Essa discusso que voc traz da metodologia e o mtodo, seria uma discusso
mais para a rea social? Para o qualitativo, no isso? A (trans)formao de quanti em quali?
[...] isso . At por que, pelo que eu conheo das ideias de Teresinha e tal,
no era mesmo. Ento essa era a colocao, tenho que ficar assim: o
pesquisador tem que ficar afastado do seu objeto? No era mesmo.
Muito pelo contrrio, na rede todos tm que trazer a sua histria de vida. Corroborei
com ela, que deu continuidade:
anlise. Deste ponto em diante os fragmentos de memria referentes a esta base terica sero
de Oliveira (2015). Sua fala inicia exatamente do ltimo ponto que foi abordado por Barbosa,
embora ele o trate como produo do conhecimento:
Ento, como diz o dito popular caiu minha ficha. Ele, assim como Fres Burnham,
estava me conduzindo a construir conhecimento, a compreender como de fato a rede funciona,
do ponto de vista terico e epistemolgico. E o que mais fantstico, a descoberta foi
triplamente interessante: primeiro por que aconteceu a partir de um novo conceito, a esttica,
nesta anlise considerada como mais uma evidncia da base terica do processo de construo
coletivo/colaborativo na/em rede; em segundo, pela surpresa de ter percebido uma experincia
de construo colaborativa do conhecimento acontecendo na minha frente, de maneira
colaborativa, e comigo participando ao mesmo tempo do processo; e terceiro, porque ele
tambm estava construindo conhecimento, neste ping-pong, de forma dialgica. Com a
tecnologia, a ferramenta da construo colaborativa, como ele fala anteriormente na categoria
de anlise do processo de construo.
Retomo ento o dialogo com Oliveira (2005), que confirma a minha afirmativa de que
simplesmente o terico e o epistemolgico as vezes no d conta, dizendo:
No d conta.
Retruquei: As vezes no, quase nunca. Ao que ele respondeu:
[...] quase nunca d conta, porque a tem outra coisa tambm que
importante, que isso foi muito a rede tambm, que o modo de vida, a
maneira como se vive na rede, ali. A maneira das reunies, a maneira como
o conhecimento tratado, a maneira como o conhecimento
compartilhado, tudo isso, isso esttica. Isso reflete [...] no conhecimento
l, quando ele vai l para o suporte. Quando voc tenta colocar ele no
papel, no filme, no seja l o que que for.
Ele esclareceu:
Isso fortssimo!
Tem uma imagem que eu gosto de usar tambm que da aura, no sentido
assim, que a rede ela uma aura tambm. [...] A impresso que me d
uma aura, no sentido [...] de clima, de uma organizao, porque diz assim:
como que catico e no se desfaz. Porque tem um princpio
organizativo naquilo.
Reforcei: Tem a autorganizao. Eu trago a autorganizao como parte do processo de
construo colaborativa. Ele confirma:
Exato. Isso Teresinha. [...] Isso realmente, ela mesmo, eu acho. Por mais
que ela queira negar, inegvel. Porque ela a criao dessa aura mesmo.
Eu entendo quando ela nega esse lugar, mas eu acho que mais uma
negao estratgica do que epistemolgica.
106
Ver citao completa no captulo/tessela 5, pgina 181.
207
Dei minha opinio sobre esta colocao: Voc esclareceu isso para mim, eu no
conseguia compreender. Sendo assim, talvez seja para no morrer esse esprito criativo que
ela tem, esse esprito inovador, essa coisa da visionria.
, porque tem essa coisa mesmo. [...] Acho que T faz uma confuso, que eu
no sei at que ponto confuso. Mas tipo assim, o sujeito dela no tem a
haver com a autoria da rede, a autoria ela coletiva. Que nem um filme.
Quando voc faz um filme, quando voc dirige um filme, a autoria no
sua, enquanto diretor. Porque o cara que vai fazer direo de arte, as cores
que ele vai colocar que vo aparecer; o autor que voc t filmando que
no voc, entendeu? o cara que t com a cmera na mo, que no o
seu olho o olho de outra pessoa.
Depende de N pessoas, no ? Questionei e sua resposta foi
[...] ento, so N pessoas construindo uma coisa, tudo bem que voc est
dando, voc cria uma aura para aquilo ali [...]
Ficou lindo esse negcio da aura! Elogiei e ele continuou:
[...] voc criou, voc fez, oh gente o roteiro mais ou menos isso aqui que
eu estou imaginando, mas isso aqui s minha imaginao. No sei se vai
ser isso [...] e a, como que ns fazemos isso aqui? Ou, no tem isso
aqui, no tem esse roteiro, mas eu tenho mais ou menos uma ideia que
, sei l, fazer um grupo de pesquisa que seja colaborativo, a criao
dessa...
Entidade? Complementei e ele respondeu:
[...] , mas uma entidade vazia, porque ela precisa ser vazia para que
as pessoas deem sentido a ela, entendeu?
Ai que lindo Marcelo! Elogiei incentivando. Voltei ao dialogo com Oliveira dizendo:
Se, uma construo colaborativa, no momento que eu estou aqui com voc... Ele
interrompeu:
Total sempre, porque ego. Tem ego envolvido, e quando o ego bate com
outro ego ele no colabora, ele quer disputar territrio, ele quer disputar
poder, entendeu? Mas eu acho que o barato da rede que apesar disso ela
se manteve, porque isso rola, em qualquer lugar isso rola, qualquer filme...
uma questo de dinmica de grupo. Complementei. Com esta fala de Oliveira
(2015), percebi que mais uma questo do mosaico colaborativo, conceito secundrio do mapa
conceitual deste estudo, emerge no dialogo: a dinmica de grupo. Alm disso, surge uma
nova questo a (des)colaborao, um conceito que denomina os pontos nevrlgicos
desse processo, que envolve disputa de poder, de territrio. Como esta investigao trata de
208
uma rede plural, multirreferencial, posso dizer a disputa por privilegiar uma ou outra rea do
conhecimento. E ainda, remetendo a psicologia, aos egos, entra tambm a vaidade, a
soberba etc., sentimentos da onipotncia humana.
Ele confirma:
[...] opera, centrado em cumprir uma tarefa, que funciona como um elemento
organizador do grupo. Como a tarefa desenvolvida por pessoas e ns humanos
temos uma parte que consciente e outra inconsciente, temos duas vertentes da
tarefa: uma explicita - a consciente; e outra implcita - a inconsciente. (REGIS,
2006, p. 22)
Ora se assim , essa disputa de poder que se estabelece nas relaes intersubjetivas
entre os sujeitos que compem o grupo, tambm tem uma dimenso consciente e
inconsciente. Se, somado assim somos sujeitos mltiplos, formados por diversos discursos,
estas relaes se transformam em inter-trans-subjetivas, conforme indico nas pginas 80 e 81
deste estudo, ao fundamentar estes embates -, que acontecem numa construo colaborativa -,
como inerentes complexidade humana.
Falando sobre as dificuldades dos grupos, Regis (2006, p. 23) argui que:
[...] com o do jardineiro que, com muita pacincia e sabedoria, estuda o terreno,
prepara a terra, ali coloca as sementes, rega, espera o tempo de brotar, continua
cuidando, esperando o tempo de elas crescerem, florescerem e darem suas flores
e/ou frutos. E o processo no tem fim; h sempre um recomear. (p. 24)
Dito isso, retorno a entrevista de Oliveira (2015), a partir da fala Mas eu acho que a
questo toda falar, ok. Independente disso, ok, ns brigamos, ns nos violentamos, nos
batemos, nos agredimos [...]; e complemento: Mas ns construmos juntos. Ele d
continuidade:
Ele retoma:
Porque eu acho importante, tem que ver como que fala isso, mas eu acho
importante pontuar as infelicidades, entendeu? Porque a que os outros
vo aprender. Porque aprender com o que deu certo fcil, mas saber por
que, onde que deu errado...
210
Ele no completou a frase, sei agora que estava utilizado a tecnologia da construo
colaborativa, naquele momento ainda no tinha essa (in)formao. Ento, acrescentei: E eu
quero sair do meu local de conforto, o espao administrao, porque na administrao voc
estuda casos de sucesso. E a vida no s sucesso.
Isto inclusive ficou como uma mxima de Fres Burnham, que apreendi trabalhando
com ela no projeto de gesto do conhecimento, ela sempre dizia isso: [...] vamos ver o que
no deu certo. Ela enfatizava sempre isso nas aulas, reunies da rede etc.
Volto entrevista de Oliveira, do ponto que ele concorda com minha fala:
Ento essa a contradio, entendeu? E voc vai ter que lidar com essa
contradio [...] entre personalizar e no personalizar, e eu acho legal
aparecer isso, entendeu?
Respondi com humor personalizar ou no personalizar? Eis a questo. Vou colocar
um ttulo. E rimos muito.
Com essa contradio, que ficou para minha reflexo e que deixo tambm para o
leitor deste texto, encerro a categoria que indica as bases tericas das redes investigadas.
Remeto ento o texto para a terceira e ltima categoria de anlise: Evidncias que podem
demonstrar o compartilhamento das construes de conhecimento na rede.
211
Jos Conceio (2015) inicia sua fala em resposta a questo: Na sua percepo, como
que acontecia o compartilhamento e a difuso desse conhecimento que era construdo
colaborativamente na rede?
107
Jos Conceio graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFBA (2002) e mestre em Educao tambm
pela UFBA (2006). ainda autor-pesquisador da REDPECT.
212
individuais eram conhecidas naquela poca como orientao coletiva, mas tambm como
rodas de discusso. Pela minha experincia na rede, e o conhecimento da prtica de Fres
Burnham, ao arrumar a sala em crculo, imagino que vem da esse ttulo rodas de discusso.
Jos Conceio (2015) traz como evidncia de compartilhamento algo inusitado nas
entrevistas feitas:
da Informao, acho que era ACIA, ou alguma coisa assim, foi um encontro
nacional. Imagine, eu, estudante de arquitetura, com um trabalho mirim,
apresentando um trabalho l, pondo a cara na rua, mas isso era, perdo
do exemplo, o que ns tnhamos [do exemplo] de Teresinha.
Essa realmente era uma expresso muito usada por Fres Burnham no cotidiano da
rede: Vocs tem que por a cara na rua; mas tinham outras: [...] precisam aprender a se
expressar; [...] precisam enfrentar as situaes sem medo etc. Passei tambm por
experincias similares a essa que Jos Conceio (2015). Na minha percepo, o mais
importante disso so as mensagens subliminares que esto por trs dessas frases: se
autorizem; sejam autores; mesmo sem muita experincia acadmica, vocs possuem saberes
construdo que precisam ser compartilhados, difundidos; para conseguir recursos a rede
precisa aparecer. Estvamos sendo (in)formados no s como autores-pesquisadores, mas
tambm para (com)partilhar o mundo comum e enfrentar a vida, de maneira solidria,
humana.
Ento, Jos Conceio, retoma sua interpretao de Fres Burnham como lder,
concluindo assim suas contribuies para a anlise do compartilhamento e difuso do
conhecimento na rede, dizendo:
108
Oliveira de Jesus graduou-se Bacharel em Fsica (1988) pela UFBA, onde concluiu tambm a Licenciatura
Plena em Fsica (1989). Obteve o ttulo de Mestre em Fsica (1992) junto ao Departamento de Fsica da
Universidade Federal de Pernambuco, e obteve o ttulo de Doutor em Educao (2010) junto ao PPG em
Educao pela UFBA. tambm autor-pesquisador na REDPECT.
214
109
Cantina da Escola de Administrao da UFBA EAUFBA.
110
Citado na nota de rodap nmero 85 (p. 176).
215
Ento, duas coisas para mim foram muito importantes, a produo dos
Intertextos, como Mtodo de Pesquisa. Ento, a intertextualidade, [...]
como uma ferramenta de pesquisa, e a construo do Mtodo
Transversal, que eram aqueles Mapas que ns fazamos em papeis de
metro.
Intervi: Porque na poca ainda no tinha o computador, no ? Ela confirmou, mas
neste ponto interrompi a narrativa para a anlise desta fala. Os intertextos na realidade
possibilitavam fazer uma cartografia dos autores que tratavam o tema. Portanto, ampliavam a
pesquisa tanto dos temas quanto dos autores. Quanto aos mapas Silva apresentou uma anlise
mais profunda, aps o detalhamento, inicialmente falando da infraestrutura da rede:
[...] [essa separao em duplas] servia para que o prprio estudante fosse
[...] interrogando, tirando suas dvidas [...]. E o que que ns fazamos
ento?
111
Estudantes da ps-graduao aos graduandos.
216
Respondi a questo levantada por Silva (2015), com uma afirmao: Seria ento, no
primeiro momento um trabalho cooperativo. Isto porque, a fundamentao de colaborao e
cooperao foi apresentada neste texto112, no s porque so conceitos secundrios do
tema/objeto, como tambm para dirimir a confuso ainda existente nos meios acadmicos
sobre os mesmos. Ento a construo era cooperativa quando construda individualmente e
colaborativa quando era socializada e discutida no coletivo, que apresentava suas
contribuies.
112
Na seo 4.1 Lacunas e Controvrsias do Tema, da pgina 99 a 108.
113
Com o passar dos anos e o desenvolvimento das TIC, ele se atualiza, ento passa a ser feito atravs de
planilhas automatizadas.
114
A matriz original desse mapa foi apresentada neste estudo, no Quadro 5 Matriz de Mapa de Citaes
MC, na pgina 116.
217
Silva (2015) enfatiza sua importncia, embora no levante a questo poltica que
estava imbricada e implicada nesse processo:
Isso daqui foi a coisa mais importante que eu j aprendi at hoje em toda a
minha formao acadmica [...]. Isso foi a base para eu aprender a: fazer
projeto de pesquisa; [...] fazer uma leitura contrastiva e comparativa; [...] a
fazer uma leitura vertical, seja atravs de categorias, seja atravs [...] da
intertextualidade entre essas categorias e entre os autores. Ento, isso [
tambm] uma coisa que eu sempre, depois, j professora, [...] tento ensinar
aos meus estudantes, para que facilite a capacidade de leitura
interpretativa, [...] de articulao das ideias entre os autores. [...] Eu at
dizia a Teresinha que ela tinha que patentear [...] [essa
tecnologia/ferramenta].
Complementa indicando a contribuio da (in)formao de pesquisador para sua vida
no s acadmica, como tambm profissional.
[...] porque isso tem uma ferramenta. Ela foi criada muito antes de falarmos
nos Mapas Conceituais, Mapas Cognitivos. Aquilo ali era o nosso esteio para
a produo do conhecimento. E isso era absolutamente colaborativo [...]
Enfatizo aqui que, no decorrer das anlises detalhadas, os recortes selecionados por
categorias esto to imbricados e implicados com o todo, que no so apenas partes do todo,
mas tambm se articulam espontaneamente. Os entrevistados comeam falando de uma
questo e quando se apercebem j esto falando de outras. Por exemplo: nessa fala Jamile traz
o mapa original, criado ainda no NEPEC, como uma ferramenta, fala de produo do
conhecimento e tambm da colaborao. Os temas perfeitamente articulados.
115
No falo especificamente em leitura transversal, mas transversalidade (Vide pgina 59).
218
de aprendizagem116 que ela, desta vez de uma orientanda de mestrado: Leliana Santos de
Sousa117. E, embora o foco na apresentao desta entrevista seja o aprofundamento do
conhecimento sobre o Mtodo de Anlise Contrastiva e um de seus instrumentos o Mapa
Conceitual, apresentarei tambm alguns aspectos do seu discurso que caracterizam pontos
comuns ao NEPEC e a REDPECT.
Eu entrei justamente em 93, acho que foi at antes, [...] quando eu fui para
o mestrado, mas antes eu fazia disciplinas do mestrado como aluna
especial. Fiz vrias disciplinas, e [nesse perodo] conheci o NEPEC, e fui para
o NEPEC. [...] Comecei a fazer parte, participar das pesquisas. E foi l que eu
aprendi a fazer leitura transversal. Foi l tambm que: eu ouvi falar em
Barbier (Rene Barbier), [...] em Ardoino, com a multirreferencialidade. Ns
tivemos alguns cursos, [...] promovidos pelo NEPEC. Ento, Teresinha fazia
essa coisa assim de trazer algum para fazer uma palestra, uma
conferncia, uma conversa na verdade. Ela fazia sempre assim um encontro,
[...] para o grupo do NEPEC, mas abria para todos participarem. Abria para
os alunos da graduao, da ps-graduao. Essa era uma coisa muito
interessante, todos participavam. Vinham pesquisadores tambm.
Considero aqui essa prtica do NEPEC narrada por Sousa, como um exerccio de
compartilhamento e difuso do conhecimento. Ainda que na poca no se falasse no tema, a
prxis j d abertura para essa interpretao. A aprendizagem que Sousa pontua, traz saberes
do ncleo de pesquisa, que acompanharem a REDPECT, conforme cito de maneira fluida
116
O Ncleo de Pesquisa NEPEC.
117
GAUTHIER, Leliana de Sousa. SOUSA, Leliana S. de, como assina em suas publicaes, graduada em
Licenciatura em Cincias pela UFBA (1982); graduada em Pedagogia pela FACED/UFBA (1988); Mestre em
Educao pela UFBA (1996). Doutora em Cincias da Educao pela Universit Vincennes Saint-Denis Paris 8 -
Frana (2003). Atualmente Professora Adjunta da UNEB; Coordenadora das atividades de implantao do
Centro de Pesquisa em Educao e Desenvolvimento Regional (CPEDR) / UNEB, que rene grupos de pesquisa
na perspectiva da consolidao institucional; Lder do Grupo de pesquisa Educao, Etnicidade e
Desenvolvimento Regional (GEEDR). Desenvolve estudos nas reas de: Saberes e Prticas Interdisciplinares,
Cincias Humanas, Cincias Sociais Aplicadas, com nfase em Educao, Desenvolvimento Regional,
Tecnologias, Sustentabilidade, Gesto, Cultura, Memria, Interferncia cultural afro-indgena, Relaes tnico-
Raciais, Esttica e Anlise Cognitiva. Atua em pesquisas em colaborao de povos indgenas, afro-brasileiros. E
integra o quadro de docentes do Doutorado Multi-institucional e Multirreferencial em Difuso do Conhecimento
(DMMDC).
219
neste texto, mesmo com outras designaes118: a leitura transversal como o Mtodo de
Anlise Contrastiva; as palestras, conferncias, conversas, dilogos com pesquisadores
convidados, como Reunio de pera. Reunies estas abertas, assim como ela relata, ao
pblico em geral nas quais todos eram bem vindos.
Eu lembro que ns tivemos um curso com [...] Professor Crisostemo, que [...]
durante uma semana, me parece, [...], sobre as Teses de Feuerbach. Isso
foi muito bom, porque permitiu que fizssemos uma leitura, tipo uma
revisitao, na teoria de Marx. Ele fez justamente essa releitura [...] conosco
e foi muito bom em termos de aprendizagem. O NEPEC era um lugar onde
ns aprendamos muito, [...] no s por que entravamos na pesquisa e
amos pesquisando, [mas tambm] por que era uma coisa muito
espontnea, no fazer mesmo da pesquisa. E tudo era colocado na mesa e eu
achava isso muito bacana e muito parecido com a [...] casa da minha me.
Nesta fala, Sousa exemplifica a meno aos cursos proporcionados pelo NEPEC.
Neste caso uma releitura das Teses de Feuerbach, como muito boa para a aprendizagem do
grupo. Alm disso, fala da espontaneidade presente no cotidiano do ncleo, apresentando as
questes levantadas no curso como objeto de pesquisa. Dando continuidade a isto, ela coloca
que,
[...] o mapa da pesquisa, feito de papel metro, era colocado na mesa, era
todo dividido em quadros, e ns chegvamos naqueles quadros [...] verticais
e horizontais, e amos aprendendo. Tinha vrias pessoas no grupo[...] e
vinham tambm pessoas de outras disciplinas, [...] que faziam outros cursos
e todos participavam de tudo. Ento era interessante isso. Ento, vnhamos
com a investigao [emprica] e escrevia ali naquele quadro. Tinha os
quadros da pesquisa e os componentes que o compunha [...] e ns
escrevamos naquele quadro os [...] dados da nossa parte de pesquisa.
Ento isso depois Teresinha ensinava para ns. Quando eu sa para o campo
emprico, vnculo no era s isso no, era tudo. Tanto ns mostrvamos
aquilo que a gente tinha pesquisado no campo, quanto tambm mostrava
as nossas dvidas, as nossas questes e a teoria tambm. Porque ns
estudvamos ali [naquele quadro] as teorias tambm.
Neste ponto detectei no discurso de Sousa (2015), a questo da aprendizagem
compartilhada com outras reas de conhecimento, o que justifica a perspectiva
multirreferencial/complexa, outras vises de mundo sobre um mesmo tema. Mesmo que este
tema naquela poca ainda no fosse estudado, na prtica j se fazia sem esse reconhecimento.
118
Isto est detalhado nas pginas 66-67 deste texto, onde apresento o planejamento da agenda das reunies da
REDPECT.
220
Para alm disso, a pesquisa como uma prtica do cotidiano do grupo, naquele momento ainda
ncleo de pesquisa, e a interao, tambm como elemento dessa prtica.
[...] foi uma edio toda dedicada ao Currculo, e foi o NEPEC quem
organizou. E ali est a base de tudo isso praticamente, ali tem uma boa
parte dessa histria que estou lhe contando. Em Aberto [...] uma revista
temtica, ento essa edio foi s sobre Currculo. Inclusive todos os artigos
foram escritos tambm colaborativamente e por quem estava na poca.
Aqui Silva (2015), apresenta a produo colaborativa do NEPEC, no s com a
construo colaborativa de artigos, como tambm com a evidncia de compartilhamento e
difuso do conhecimento, a partir da organizao da edio da revista.
Percebi aqui com essa fala de Silva, a concretizao do meu pensamento sobre a
importncia dessa prtica de pesquisa, criada pela rede, quando ela fala que ningum faz
nada sozinho, e de alguma maneira isto est explcito neste texto. Percebi tambm, que
embora os termos todo, todos, tudo no sejam usadas num texto acadmico, pela ideia
de totalidade conforme fui orientada a no fazer, nas experincias de (informao) de
pesquisadores na rede, no poderia deixar de ser, pois a cada entrevista que escuto, analiso,
transcrevo, so as expresses que mais escuto. Isto talvez se deva ao fato de que ns, autores-
pesquisadores da rede, tanto praticamos o construir conhecimento colaborativamente que, nos
habituamos a utilizar sempre essas expresses que representam o plural, assim como que
construmos juntos.
[...] todos, todos estavam presentes, inclusive isso se estendia, a [...] esse
modos operandi, ele se estendia a todas as formas de relao que se tinha
ali dentro, tanto na dinmica da relao intelectual, da troca intelectual
quanto da troca interpessoal. Se havia qualquer problema entre indivduos,
sujeitos, ou por uma questo de assimetria intelectual, que inevitvel
tambm, no ?
Respondi a pergunta de Silva (2015): claro, essa uma questo de relaes
interpessoais. Retrucou ela:
[...] eu acho que a grande sabedoria que Teresinha tinha, digamos, como
Regente a frente da sua orquestra. Ento para utilizar outra expresso, do
mesmo modo que ela recusa essa ideia de personalismo, que ela no
personalista em momento nenhum, mas, como coordenadora geral do
projeto, ela regia, digamos [toda] aquela festa.
E chegava um determinado momento que ns sentamos que determinadas
situaes estavam difceis, e a coisa alterava e eu sem nem perceber que ela
tinha aquela coisa assim meio zen, meio de dizer assim: vamos ver at
onde vai. De monitorar a distncia. Hoje at [...] eu brinco assim: uma
espcie de me [...]. V at onde aquilo vai dar e em determinado
momento intervir na hora certa: bom agora vamos parar para acertar, o
que que est acontecendo, voc vai ficar com isso? Ento, aquilo muitas
vezes no esperava uma dinmica dessa. Era muita gente [...] convivendo
diariamente.
Questionei: Quantas pessoas? Ao que ela respondeu:
222
[...] inclusive tinham voluntrios, tamanha era a dinmica daquela sala que
os estudantes passavam e viam, era o nico grupo que tinha gente, de 2 a
6, das 8 as 18, as vezes at as 19, 20 horas. Ns ficvamos, ento, com a
sala sempre movimentada, as pessoas que passavam queriam saber o que
era, se interessavam, da um dia aparecia como voluntrio e ficava 6 meses,
e ficava participando da pesquisa.
Eu diria que, alm da dinmica o movimento de construo colaborativa em ebulio
atraia os visitantes. Alm disso, lembro que os estudantes, na minha poca, pediam para usar
os computadores, e mediante registro da sua atividade eles eram autorizados a utilizar, sem
restries, todos os equipamentos. Isto era uma orientao de Fres Burnham, solidria com a
diversidade. Por isto, considero este acolhimento como uma forma de compartilhamento e
difuso do conhecimento, e tambm de colaborao.
Ento, isso trouxe uma srie de elementos que para mim so constitutivos
[...] desse modo de fazer pesquisa. Ento, para alm de uma
operacionalidade, que se implementava ali com a construo dessas
ferramentas de pesquisa, haviam noes importantes: o acolhimento, a
solidariedade...
A colaborao. Provoquei e Silva (2015) continuou:
Ento, [...] isso era muito falante mesmo para ns. [...] Foi um elemento que
[...] nos sustentou, inclusive alguns de ns, mesmo quando o grupo esteve
em vias [...] de fechar. A sala esteve em vias de ser fechada. Porque, [...] no
lembro exatamente quando, Teresinha foi fazer o ps doutorado em
Londres, e nossas bolsas, se eu no me engano acabavam, mais ou menos
no meio do ano, maio ou junho. Com a ausncia de um coordenador [...],
alguns daqueles alunos, mestrandos, doutorandos, j tinham concludo [o
curso], e ns ficamos quase meio acfalos l. Ento, qual foi a tendncia
natural? Outros grupos de pesquisa que j emergiam, e a eu j estou
falando mais ou menos de 96, 97, antes de eu entrar para o mestrado [...]
em 97. [...] Se eu no me engano, 96 [...] Teresinha foi para Londres, e a,
outros grupos de pesquisa j cresciam. Ento, o NEPEC [...] junto com o
[grupo] de Nelson Preto, virou um grupo s. [...] e foram incorporados,
como linhas de pesquisa [da FACED]. Ento [...] esses dois grupos, se viram
um grupo, e [...] linhas de pesquisa [...] [internamente], [...] a linha de
Currculo e a linha de Comunicao.
Como esta fala traz um dado histrico que permeava aquele espao-tempo, mas no
estava diretamente ligado aos saberes, prticas da REDPECT, encerro a participao de Silva
(2015) nesta categoria que, como um adendo apresentou a origem e a dinmica do mapa de
citaes e, retomo as memrias de Oliveira de Jesus (2015). Retorno a ltima fala dele, onde
fala dos momentos de orientao informal, tambm coletiva, com Fres Burnham. Nesse
ponto eu havia lhe feito a seguinte pergunta: O mapa de citao, no ? Sua resposta foi:
Uma coisa assim. Ento, eu lembro que ali tem textos de Teresinha, texto
meu, de Michinel, um bocado de gente da poca, e anteriores tambm,
acho que de Ldia no teve. [...] Acho que alguns textos que nunca tinham
sido publicados foram includos ali. E, at a prpria construo desse texto,
[...] coletivo fazia parte tambm dessa coisa da difuso [...] dos projetos da
rede e da difuso em Rede. Talvez tenha despontado da do workshop de
lanamento desse texto, desse material.
Como teve na segunda edio, afirmei. E ele confirmou:
Isso. Uma coisa assim, que voc pudesse falar daquele captulo seu, [...] um
dia de atividade, cada um d quinze minutos, fala uma coisinha do seu
captulo, coloca ali para as pessoas, [...] a comunidade conhea, e
reconhea alguns ali.
225
Na segunda edio desse livro119, Maria Ldia organizou um evento com mesas
redondas, nas quais os autores apresentaram resumidamente seus textos. Ele ficou exultante:
Isso bom! Isso bom! [...] Outra coisa que era muito presente na rede, e
eu infelizmente, [...] tinha que fazer muita disciplina e acabei participando
pouco [...] foi a elaborao de projetos. A rede tinha essa coisa [...] de
colocar todo mundo na construo de um projeto. Ento, abriu edital do
CNPq, CAPES, FAPESB, a maioria participava da construo do projeto. Cada
um trazia sua contribuio, , um grupo menor fazia a edio, organizava,
preenchia aquelas coisas todas, e aquela coisa funcionava. E isso envolvia
alunos de Iniciao Cientfica, Mestrado, Doutorado. [...] Essa uma prtica
que no pode acabar nunca, porque ela forma o pesquisador.
Complementei, questionando: E tambm, pensando na questo da infraestrutura para a
pesquisa, era uma forma de conseguirmos equipamentos de ltima gerao, de conseguirmos
recursos, para o suporte a, no ?
[...] via isso com muito bons olhos e acho que no pode ser diferente disso.
O(a) Professor(a) de Pedagogia, [...] tem que ser formado na pesquisa, pela
pesquisa, pesquisando. E esse processo dentro da rede muito claro. Eu me
lembro das Metralhinhas como eles chamavam. No sei como est hoje,
mas desde o momento que eu entrei at o [...] que sai era um processo
formidvel. Sim, porque no momento que estava saindo, estava terminando
o Doutorado e fui me enterrando em Feira de Santana. A coisa tava
mudando um pouco, talvez at porque as pessoas ainda ficavam muito
dependentes [...] da liderana de Teresinha, e as reunies comearam a se
enfraquecer um pouco. [...] e isso no bom.
Eu acho que aquelas reunies era a melhor contribuio que podemos
pensar para a formao de Pedagogos, Mestres, Doutores. [...] Aquele
processo que a REDPECT, construiu, plantou e cuidou. Eu acho que deve
119
Referncias completas da 1 e da 2 edio dos livros mencionados: FRES BURNHAM, Teresinha;
MATTOS, Maria Ldia Pereira (Orgs.). Tecnologias da informao e educao a distncia. Salvador:
EDUFBA, 2004. 293 p.; FRES BURNHAM, Teresinha; MATTOS, Maria Ldia Pereira (orgs.). Tecnologias
da informao e educao a distncia. 2. Ed. - Salvador: EDUFBA, 2010. 364 p..
226
voltar a cuidar, [...] que deve formar mais pessoas, para deixar essa coisa
fluir, claro que ela vai se modificar. At porque as pessoas que geraram isso,
que acalentaram, vo se aposentar. No tem jeito. Ento, tem que ter
renovao, tem que ter pessoas que reconheam essas prticas [...] como
prticas transformadoras, fundamentais, Importantes, e deem continuidade
a isso. Eu acho que isso a.
Com esta fala encerro os fragmentos de memria de Oliveira de Jesus nesta categoria,
mas antes fao algumas consideraes. Aqui ele fala no s de compartilhamento e difuso de
conhecimento, mas tambm do processo colaborativo e das bases tericas que o sustenta. Fala
tambm da formao de pesquisador, utilizando duas metforas: a do plantio e os cuidados
necessrios para que a muda se (trans)forme em adulta e d seus frutos; e a da me que
gerou um filho, amamentou, acalentou. Ambas trazem embutidas em seu bojo, uma
mensagem de vida, de afeto e de formao, neste caso, especificamente a da formao em
Pedagogia, com o suporte do processo colaborativo que a REDPECT: construiu (a muda),
plantou e cuidou (revolveu a terra, adubou, regou). Recomenda que ela volte a cuidar,
embora com renovao, atualizao. Em sua viso, esse processo a melhor contribuio da
rede para a (in)formao de pesquisadores, e precisa ser reconhecido como prticas
transformadoras, que precisa ter reconhecida a necessidade da sua continuidade. Eu
complementei ao encerrar: Do Compartilhamento e Difuso desses conhecimentos, para que
no se percam, dada a sua importncia.
As Metralhas (2015) ingressaram na rede em 2003, mas s duas delas dentre as cinco,
eram bolsistas, as outras trs eram voluntrias. Como elas se denominaram na REDPECT
como as metralhas -, um grupo dentro de um grupo, como pontuaram na entrevista -, e,
120
Silva (2015) Graduada em Pedagogia pela UFBA (2007). Pesquisadora da UFBA e Docente da Faculdade
Evanglica de Salvador; e autora-pesquisadora neste estudo.
121
Rocha (2015) Mestre em Educao e Contemporaneidade pela UNEB (2013). Licenciada em Pedagogia
pela UFBA (2007); e autora-pesquisadora nesta investigao.
122
Moraes (2015) atua como professora em classes de Educao infantil e 1 ano na Lua Nova - Escola e Centro
de Estudos. Licenciada em Pedagogia pela UFBA (2008. E autora-pesquisadora nesta pesquisa.
123
Moraes, Ramone Lima (2015) Graduada em Pedagogia pela UFBA (2007); e autora-pesquisadora neste
estudo.
124
Cunha (2015) Graduada em Pedagogia pela UFBA (2007); e autora-pesquisadora.
227
[...] para mim e eu acho que paras meninas tambm, o que marcou [...] era
a forma como ela dava aula. A forma como ela falava de conhecimento, a
forma como ela falava dos sujeitos, dos alunos dela, porque ela no falava
alunos, tanto que todas as aulas ela dizia: arrumem as cadeiras, aqui no
cidad de 2 categoria. Ento eu acho que foi isso [...], esse ser diferencial
dela como professora [...], que nos atraiu, nos fez desejar. O respeito
tambm, que ela tinha por cada aluno, ela anotava cada um de ns. Ento,
deu vontade de descobri que espao era esse em que aquela pessoa estava
trabalhando. E assim, eu imagino que, como a Lis e Mel tambm, a nossa
surpresa ao chegar rede, com essa surpresa, receios e medos, era
exatamente porque ns no conseguamos ver essa ponte da ps-
graduao com a graduao.
Essa fala das Metralhas me lembrou de uma experincia com Fres Burnham no
Mestrado em Educao, enquanto minha orientadora. Ela fez essa ponte me colocando em
sala de aula a ttulo de estgio. Certamente tambm para que eu percebesse essa interao da
ps-graduao com a graduao, passasse por essa experincia. Embora ela estivesse sempre
presente, a sala de aula era minha e ela provocava ambas, a turma de estudantes de graduao
e a mim, como professora, estudante da ps-graduao, para essa interao/estudos. Eram
dois nveis interagindo, dialogando, construindo conhecimento. Ento, j naquele tempo ela
estava colocando em discusso essa ponte, porque que havia uma interlocuo dos
estudantes com a faculdade, implcita, mas explicitada em sala de aula, quanto a professores
que entregavam a sala aos estagirios e sumiam. Era uma discusso de primeiro nvel, entre
estudantes, mas as crticas eram consideradas como feedbacks, a serem analisados para uma
posterior modificao dos planos de aulas e comportamento dos professores. Teresinha
provocava com isso reflexes de diversas ordens: o pensamento crtico dos estudantes, a
relao professor x aluno, uma ponte entre a ps-graduao e a graduao, o
125
Vide pginas 173-174.
228
Retomo ento os fragmentos das memrias das Metralhas (2015), que deram
continuidade a questo da interao:
Essa troca que ns tnhamos sempre foi muito presente, e, eu acho que o
diferencial foi a gesto, a maneira como esse grupo foi gerido. Porque
obviamente que ns no podemos falar isso de outros grupos com toda
propriedade, primeiro porque no vivenciamos estes demais espaos, mas
assim, apesar de no vivenci-los ns tnhamos amigas. Outros colegas que
estavam em outros grupos e quando ns compartilhvamos [os saberes,
prticas da rede] vamos que no flua da mesma forma [em outros
espaos]. Ento eu acho que [...] a maneira como este grupo de pesquisa
era gerido [...] possibilitava essa construo colaborativa do conhecimento.
Surge aqui a questo da gesto como um diferencial da REDPECT diante de outros
grupos. Embora esta no tenha sido uma comparao aprofundada, estudada, emergia do
compartilhamento entre colegas e amigos de outros grupos de pesquisa. Esta observao sobre
a gesto, como facilitadora do processo de construo colaborativa, concretizada para elas na
coordenao da REDPECT, uma evidncia da auto-organizao, citada no mapa referencial
229
deste estudo. Ento, percebe-se no discurso das metralhas que esta auto-organizao esta
imbricada com a colaborao e a cooperao, a medida que esse mosaico do particular -
individual/cooperativo -, para o coletivo, do coletivo para o colaborativo, fazem parte da
cultura da Escola REDPECT de Formao de Pesquisadores.
[...] a escrita era individual. Claro cada um fazia o seu estudo no meio do
individual mesmo, comeava essa escrita individualmente, mas todas as
correes e at a construo do texto, [...] ia para o coletivo, porque um lia,
o outro relia: mas espera a, [...] o que eu li falava disso aqui tambm;
ento nos d para complementarmos. Ento o texto que voc pega como
seu no primeiro momento no mais seu. Depois que passou pela mo de
todo mundo, pelo olhar, vira do grupo.
Aqui ficou claro o processo de construo cooperativa/colaborativa do conhecimento,
mas veio a minha cabea tambm a cartografia possibilitada pela leitura intertextualizada,
conforme cita Silva (2015), ao apresentar as evidncias de construo colaborativa. Ento,
para minha surpresa, elas fazem a articulao dessa prtica com o mosaico:
Isso ns fazamos muito, esse mosaico que voc fala, [...] porque aquele
texto que anteriormente eu tinha escrito [provavelmente], j tivesse
palavras, j tivesse conceitos, j tivesse coisas completamente diferentes. E
as vezes, at [era] um ponto de vista que eu tinha, por uma leitura minha, j
[se modificava] pelas outras leituras. Isso era bastante desafiador!
Nesta fala fica claro que para alm do subgrupo Metralhas, a REDPECT enquanto
uma rede de pesquisa que prope um trabalho cooperativo/colaborativo aos seus autores-
pesquisadores, discute as produes cientficas no coletivo. Isto, implicitamente, concretiza a
autoria do particular para o coletivo, evidenciando a prtica da autoria/autonomia, com o
reconhecimento do outro tambm como autor daquela produo individual/particular em
construo. o compartilhamento, a interao, a (retro)alimentao aceita
compartilhadamente pelo grupo.]
E assim, eu vou falar do que Lis falou, com a propriedade de quem vivenciou
tambm outros grupos, quando ela diz assim: no d para saber dos
outros, sim, eu consigo falar. Porque apesar de receber todos os e-mails da
rede ainda, no tenho participado das discusses. Mas [...] participo de dois
outros grupos de pesquisa. E a voc consegue estabelecer esses parmetros
diferentes do que voc vivenciou, e que te ajuda nesses outros espaos,
ento voc consegue avaliar: [...] aqui diz que se faz um trabalho
colaborativo, mas no colaborativo, no acontece colaborativamente, eu
sei o que trabalho colaborativo, cooperativo.
230
Ento, [...] cito mesmo nesse captulo da rede, [...] algo que tem nos nossos
currculos e muito forte, que a presena de Teresinha. Depois que eu
entrei no mestrado, meu orientador, me disse assim: ter tido Teresinha
Fres no seu currculo para eu avaliar e escolher voc e no a outra, foi
importante. Porque a voc vem, com algo assim poxa, foi bolsista de
iniciao cientfica de Teresinha Fres. Ento essa menina deve ter alguma
competncia para fazer um trabalho de mestrado, sabe pelo menos
escrever, quando voc v l os trabalhos, e tal. Isso algo que marcou a
nossa histria, e que em muitos momentos eu j pude contar um
pouquinho. As meninas nos trabalhos que fazem e que viro a fazer ainda
nos seus mestrados e doutorados tambm, certamente vo [contar], no
tem [como] no citar essa vivncia, esse histrico na rede. Ento [...] aonde
vamos [...] acabamos citando.
Ns estvamos no Colquio Internacional de Alfabetizao, no Fiesta, com
Emlia Ferrero. Eu, Mel, Bel, Beta tambm participou, Eli no participou, e
Emlia Ferrero comeou a falar de Gesto do Conhecimento, falou de Gesto
de Informao [...]
Interpretando essa histria contada pelas Metralhas, percebi que citar a rede, contar as
histrias de vida da rede, as vivncias que marcaram as vidas desses autores-pesquisadores,
so evidncias do compartilhamento e difuso de conhecimento que se produzia coletiva /
colaborativamente na prpria REDPECT. Nas apresentaes dos projetos em Reunies de
Cenrio126, onde se socializava os trabalhos de cada grupo temtico/linha de pesquisa da rede.
Segundo as Metralhas (2015) existiam momentos de compartilhamento:
126
Citada na pgina 66 deste texto.
232
Com a apresentao das trs categorias de anlise deste estudo, encerro a sub-seo
6.2.1 REDPECT: A Transio / As Memrias, para a apresentao da prxima sub-seo,
que traz uma histria sintetizada da RICS Rede onde o Mosaico DMMDC se concretizou.
A histria da RICS no faz parte das anlises desta investigao, embora tenha sido
criada ainda no mesmo espao-tempo estudado e tambm faa parte desta tra(ns)jetria. Esta
rede de pesquisa foi idealizada no I Colquio Internacional Saberes, Prticas: Construo de
saberes, construo de prticas de (in)formao profissional na sociedade do conhecimento,
um evento criado pela REDPECT, que aconteceu no perodo de 02 a 04 de dezembro de 2002.
Sei que no se planta uma pedra, contudo utilizei o termo: plantada, para
caracterizar o processo do plantio como metfora. Uma muda de planta, o processo inicial
de uma nova planta, a partir de uma planta formada. Queria com isto significar o fazer de
outra maneira, outro modo, (trans)formar, renovar, dar outra direo para o conhecimento
construdo, ampliar, faz-lo criar asas e voar pelo nosso mundo, visando o bem comum da
humanidade.
feita para a Revista Poisis, por uma doutoranda do DMMDC, conforme foi citado no
decorrer deste texto127.
A ideia inicial era trazer falas de cada um desses integrantes da rede e construir um
mosaico semelhante ao que teci para a histria da REDPECT, e analis-la segundo as
categorias de anlise elaboradas e objetivos especficos pretendidos. Acontece, porm que, s
consegui entrevistar dois autores-pesquisadores que participaram da construo colaborativa
da RICS, ento resolvi apresentar o relato da histria de seu nascimento, implantao, o
objetivo de sua existncia e o da autora-pesquisadora que muito colaborou no processo multi-
institucional junto a UNEB, sua instituio de origem e como autora-pesquisadora da
REDPECT.
127
Na pgina 156.
128
PEREIRA, H. B. B., concluiu seu doutorado em Engenharia Multimdia pela Universitat Politcnica de
Catalunya em 2002. Atualmente Professor Pleno do Departamento de Educao da Universidade do Estado da
Bahia e Professor Associado do SENAI ClMATEC. docente do Programa de Ps-graduao em Modelagem
Computacional e Tecnologia Industrial e do Doutorado Multi-institucional e Multidisciplinar em Difuso do
Conhecimento, tambm Consultor ad-hoc do Ministrio da Educao.
129
Localizado no Rio de Janeiro.
234
todos ns comeamos com algumas ideias. Ela tinha uma demanda que era
a ideia de tentar modelar a criatividade e Galeo e Bevilacqua estavam
trabalhando num modelo de difuso, inicialmente numa barra de ferro,
ento transmisso de calor e estavam fazendo associaes, mas tinha
algumas coisas que eles no conseguiam colocar. Ento se criou uma ideia
de tentar modelar alguns aspectos, como por exemplo, a criatividade. E
Teresinha leva essa necessidade, esse encaminhamento e comeamos a
discutir sobre [essa questo]. Alm disso, tambm surge ideia de criar
uma [nova] rede para estudar isso, da que surge a RICS, dessa ideia.
Ento desse precioso encontro de pesquisadores que surge o plano de criar a RICS,
conforme narrou Pereira (2015). Mas sua histria no para a, para iniciar esses trabalhos ele
se integra REDPECT130 que, embora fosse uma rede local ligada FACED/UFBA, j
abrigava outros pesquisadores de outras instituies como professores visitantes, convidados
etc. Ele continua:
130
Como menciono anteriormente, esta rede de pesquisa j era uma rede instituda desde 1997.
235
parceiros integrantes da RICS. Ento, como apresentei a perspectiva terica investigada pela
RICS, percebi que seria importante apresentar tambm em qual perspectiva a REDPECT
aborda a construo de conhecimento para um melhor entendimento de sua histria. Por isto,
deste ponto em diante apresento alguns fragmentos, tratados, das entrevistas dos autores-
pesquisadores, que falam sobre sua viso da concepo de conhecimento nesta rede de
pesquisa.
Essa investigao seguia um mtodo que consistia em trs etapas distintas: [...] a 1
etapa: [...] levantamento bibliogrfico [em] 10 [dez] textos peridicos indexados; a 2 etapa:
[...] entrevistas com professores; e uma 3 etapa [...] um trabalho de interveno direto em
duas escolas [...] daqui de Salvador. A [...] ideia era fazer esse contraponto, [entre] essas
categorias: Currculo, Trabalho e Construo do Conhecimento, [se] eram uma realidade do
cotidiano escolar, ou era, o que era chamado de utopia do discurso acadmico. Ou seja,
conclui Silva (2015), [...] se manifesta, vamos dizer na produo intelectual, mas no se
concretiza na materialidade da escola.
131
Esta investigao diz respeito ao Projeto guarda-chuva do NEPEC: Currculo, Trabalho e Construo do
Conhecimento: Relao vivida no Cotidiano da Escola ou Utopia de Discurso Acadmico?, conforme citado na
pgina 161 deste texto.
236
[...] tinha como inteno, [...] ser um grupo de pesquisa que fazia um
trabalho de iniciao em pesquisa, ou [...] de formao em pesquisa, que
Teresinha cunhou com (in)formao, o in dentro de parntese, porque
esse verbete cunhado com essa lgica designa uma formao informada,
em que o processo formativo um processo tambm auto reflexivo [...] do
conhecer como um processo de conhecer-se. E a REDPECT originalmente
teve essa inteno dinamizada pela teoria de construo de sentido, de [...]
significado, da Tese de Teresinha, que ela fez l em 1981, acho que finalizou
81, 82. Essa Tese de como [...] o sentido do conceito se relaciona dentro do
crculo do movimento do conhecimento, especificamente da relao entre o
mundo individual e o mundo natural, a partir de alguns conectores
especficos, como: tica, [...] cognio [etc.]. Ento esses conectores o que
move de alguma forma esta grande teoria sobre conhecimento e influenciou
[...] nos resultados da minha pesquisa, porque eu [...]uso esse referencial,
mas no chego a me aprofundar nele[...]. Mas o que eu acho que
interessante o que acontece na Redpect como espao de pesquisa.Tinha
uma peculiaridade diferente dos outros espaos, [...] o coletivo era discutido
como coletivo, era um espao para subjetividades, mas era um espao
absolutamente objetivado. O conhecimento no era jogado, lanado, como
um delrio filosfico, como especulaes de teoria, o conhecimento era
direcionado para uma produo cientfica, humana [...].
132
Conforme descrito na sub-seo 6.1 Anlise Contrastiva: O mtodo / sistema de anlise, da pgina 173 a 186
deste texto.
133
O autor-pesquisador Freitas Neto (2015), nome como citado em suas publicaes, foi orientando convidado
da REDPECT a partir do ano de 2003 e continuou como integrante desde ento. Albrico Salgueiro de Freitas
Neto, possui graduao em Licenciatura em Msica (2001); Mestrado em Cincia da Informao (2006) e
Doutorado em Difuso do Conhecimento, todos cursados e concludos na UFBA. Atualmente Pesquisador
voluntrio da UFBA, Professor de Msica da Secretaria Municipal de Educao de Salvador e Professor da
Secretaria de Educao de Camaari. Tem experincia na rea de Artes, com nfase em Msica, atuando
principalmente nos seguintes temas:Cegueira, Cego, Deficincia Visual, Anlise cognitiva.
237
Freitas Neto (2015) conclui dizendo que a prpria [...] dinmica das reunies da
Rede, aconteciam de modo que era em si mesma uma produo de conhecimento.
Confirmando assim o que outros entrevistados falaram em suas entrevistas.
E ao finalizar, ele menciona que foi na REDPECT que ele compreendeu isso, que [...]
foi um aprendizado nesse sentido [...], e que ele fala sempre para seus alunos como [...] isso
muito valoroso, porque conhecimento de vida, conhecimento de prtica, conhecimento
do ser humano lidando ali com o mundo. Algo que ele utiliza no ensino, na prxis, no seu
cotidiano. Essa fala de Matos explicita a questo humana mencionada por Freitas Neto acima,
238
Este interesse teve e tem como base a constatao muito atual, mas que j vem
sendo apresentada desde a dcada de 1950, inteligentemente, por dois cientistas de
referncia internacional: C.P.Snow135 no livro "As duas culturas" e M. Polanyi136,
em "Personal Knowledge" [...], constatao esta que assim expressa, mais
contemporaneamente, de modo sumrio, por Delanty137, nas pertinentes reflexes
que apresenta em "The Challenge of Knowledge": "Pode-se dizer que a histria dos
sistemas de pensamento poltico e social ocidentais a expresso de um conflito
profundo entre dois tipos de conhecimento: conhecimento como cincia e
conhecimento como cultura" (2001, p.1). Tal conflito revela-se tambm na histrica
dicotomia "racional - social" entre as abordagens empricas e normativas de
produo do conhecimento cientfico (LONGINO 138, "The Fate of Knowledge,
2002, p.68-96) e toma propores cada vez mais significativas quando se considera
a fora da "aplicao" dos conhecimentos cientficos, no impulso da cadeia
acelerada de transformaes tecnolgicas na sociedade contempornea, mas ao
mesmo tempo, o fato de que este um processo do qual poucos ainda participam
(SEVCENKO139, 2001). (DMMDC, APCN, 2007, p. 1)
134
Citado na pgina 60 deste texto.
135
SNOW, Charles P. As duas culturas e um segundo olhar. So Paulo: EDUSP, 1993.
136
POLANYI, Michael. Personal knowledge: towards a post-critical philosophy. Chicago: The University of
Chicago Press, 1976.
137
DELANTY, Gerard. Challenging Knowledge: The University in the Knowledge Society. Open University
Press. Place of publication: Philadelphia. Publication year: 2001. p. 192.
138
LONGINO, Helen E. The Fate of Knowledge. Winner of a 2002 Robert K. Merton Professional Award,
2002. 288 pp.
139
SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o sculo XXI: No Loop da montanha-russa. So Paulo: Companhia
da Letras, 2001.
239
Estas trs linhas, como guarda-chuvas, abrigam outros tantos projetos de pesquisa dos
integrantes da RICS e seus orientandos/doutorandos, inclusive os da REDPECT. Isto tudo
justifica essa deciso dos parceiros que idealizaram a RICS, de permanecerem na rede com
seus projetos, mesmo que no estivessem diretamente ligados ao programa. Dito isso, volto a
Pereira (2015), que continua narrando essa histria:
140
CARVALHO, T. G., como se denomina em suas publicaes, possui graduao em Cincias Sociais pela
Universidade Federal da Bahia (1976). Tem experincia na rea de Sociologia, com nfase em Sociologia,
atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de ps graduao, difuso do conhecimento,
desenvolvimento regional, pesquisa, educao superior e extenso. Atualmente doutoranda do DMMDC.
241
Com estas falas a autora-pesquisadora narra como entrou na REDPECT e iniciou sua
participao consciente no processo de implantao do DMMDC, e pontua a questo do
reconhecimento do outro independente do seu grau de instruo, ttulos etc.
E quando o caminho no era bem claro, ela perguntava assim: Mas ser
que o pr-reitor tal participar, dessa atividade? Porque era interessante
que os pr-reitores estivessem, e sabamos de antemo, que tinham alguns
pr-reitores que eram contra essa articulao, cada um queria o seu
doutorado [...]. E ela trabalhava j nessa abordagem colaborativa e
multirreferencial. Uma abordagem que permite ao coletivo dar sua
contribuio e tambm tirar o seu proveito. [Isto porque,] a gente aprende,
naquela coisa dela.
Aqui h uma reflexo sobre o conceito da abordagem colaborativa e multirreferencial,
como sendo uma questo onde todos ganham, pois permite que o coletivo possa contribuir e
aproveitar essa oportunidade para se (in)formar, ou seja (trans)formar, (trans)duzir a
(in)formao em saber, em conhecimento, atravs do exerccio prtico aliado a experincia
enriquecedora de Fres Burnham.
141
Vide citao pgina 212 deste texto.
242
E complementa Carvalho,
Carvalho (2015) continua sua narrativa: Ela trazia o mapa [...] numa parede, e aquele
mapa tinha o tamanho da parede, que voc podia ir ali, o tempo todo, crescendo junto com o
mapa. Interessante enfatizar essa colocao dela - crescer junto com o mapa, o tempo
todo -, porque acredito estar ligada ao cotidiano da rede. Em minha interpretao, esse
crescer tem a haver com a aprendizagem que se desenvolvia na prxis da pesquisa naquele
espao de aprendizagem, com a construo colaborativa do conhecimento.
142
Citado na pgina 55
143
Da pgina 56 a 60 deste texto.
243
[...] entre os pares, mas o que se chama pares na academia os que esto
no mesmo nvel. So os doutores, so os mestres, ali era difuso para todos
os participantes. Porque quem estava como Tcnico, como eu, nem sempre
tinha a linguagem. Quando Leliana fala em Castoriadis, eu vim pronunciar
esse nome recentemente, mas j ouvia a abordagem, a discusso, e j me
enamorava com isso.
A questo da difuso que Teresinha coloca no doutorado, desde o incio, a
Difuso do conhecimento, foi uma coisa assim que me chamou muita
ateno, porque ela envolvia todos os nveis, intelectuais, acadmicos,
saberes diversos, trazia para ns a clareza da participao das pessoas de
outros saberes, do ndio [por exemplo]. Eu tive uma oportunidade de ver
isso aqui com Leliana, e vi l com Teresinha. Teresinha com um seminrio
internacional e a participao do ndio que de uma maneira, que s vi essas
duas pessoas fazerem [...] nesses dois espaos. Leliana com a rede e
Teresinha com a RICS. E que os ndios vinham e cantavam, e participavam, e
traziam sua contribuio. Os saberes eram to importantes quanto o
conhecimento cientfico. Ento, essa horizontalidade a ideia do doutorado
foi de Teresinha Fres, e o desenvolvimento dessa ideia o conjunto que a
entram: LNCC, Moret, Hernane, Rosrio, [...] Othon Jambeiro. [...] j
encontrei Othon discutindo no grupo com Teresinha, e tinha uma
elaborao mesmo pra ser encaminhada a CAPES. Uma proposta aprovada
[...] j indo pra CAPES.
245
Considerando todas as questes que Carvalho (2015) levanta nestas falas, ficou claro: que
ela participou das primeiras discusses da RICS; da sua admirao com a iniciativa de Fres
Burnham considerar importantes diferentes saberes, acadmicos ou no, inclusive enfatizando
a questo ao dizer que os saberes [tradicionais] eram to importantes quanto o conhecimento
cientfico; o respeito que ela tem pelas necessidades e saberes do outro; sua liderana
horizontal; e a difuso do conhecimento envolvendo todos os nveis, de intelectuais a
tcnicos. Ficou claro ainda que, para ela a RICS era uma rede de produo cientfica, e, este
pensamento se justifica ao considerarmos os dezesseis projetos de pesquisa envolvidos nessa
rede de pesquisa, que compuseram a APCN de Projetos de Pesquisa do DMMDC.
Carvalho (2015), mexendo em seu mosaico memorial, relata como se estivesse falando
consigo mesma: [...] o quanto eu aprendi [...]. E eu complementei: O quanto voc aprendeu
e o quanto voc pde/pode contribuir com esse doutorado. Ela continua:
[...] pois , e reconstruir essa histria pensando que hoje o doutorado existe,
graas a uma construo coletiva, que o primeiro doutorado que o projeto
[oriundo] de uma construo coletiva e que envolve instituies diferentes,
atuando por conta desse doutorado, um chamado a responsabilidade.
Porque a UNEB, uma das instituies que Teresinha suou, para que
estivesse ali. E ela no desistiu, mas no desistiu pela sua capacidade,
pacincia, muita tolerncia, pense em tolerncia. [...] Porque a UNEB dizia
assim: no quero, empurrava e ela dizia assim: mas voc faz parte, no
brigava. [...] Quando ela via que a UNEB estava querendo sair, ela vinha e
fazia uma reunio aqui dentro. Envolvia as pessoas, trazia pessoas, envolvia
as pessoas daqui de dentro. E a UNEB empurrava, [...] mas ela nunca disse
[...] est me empurrando, ela dizia assim: a UNEB faz parte. Se
dependesse da UNEB pensar esse doutorado ela estaria mais junto, porque
esse doutorado o doutorado de todos, para todos e com todos, ele uma
construo, dessa Bahia, desse Brasil, desse mundo, tem gente de todas as
naes, o que no acontece nos outros doutorados. Porque so especficos:
Educao, Letras, esse daqui Anlise Cognitiva, para o mundo, para as
pessoas, para voc se deleitar e poder dizer: eu sou, eu estou, eu fao
parte. Esse doutorado Brasil, multirreferencial, multi-institucional,
multirracial, ele veio para agregar. Dentro do doutorado hoje ainda tem
gente que diz: eu no sei o que que eu sou, o que no tem sentido, E eu
vejo assim: voc Brasil, esse doutorado Brasil, que veio para congregar o
mundo. [...] esse doutorado o corao do Brasil que abarca todo o mundo.
Que fique claro, Teresinha Fres, a responsvel por essa congregao, por
essa juno, conjunta participativa consciente, onde a poltica de acesso ao
conhecimento est aberta a todos, para que todos tenham a oportunidade
de emancipar-se e construir essa nao, para que tenha condies de
igualdade, respeito, responsabilidade, coragem de dizer assim: eu sou capaz
de contribuir com esse pas e esse mundo, a humanidade faz parte, cada um
de ns faz parte. A humanidade sou eu, no ele que vai mudar, muda
comigo. Se eu no mudo, no existe cultura de mudana, a mudana de
cada um, e a voc faz a humanidade consciente, responsvel, lutadora.
Conhecimento um bem pblico, de uso pblico, para a transformao da
humanidade. E esse doutorado, eu espero que no seja o nico, que a gente
tenha outros, cada membro desse doutorado, voltado para o seu pas, seja
capaz de construir outro, igual ou melhor, que a gente cresa nessa
fraternidade multirreferencial/complexa. Como diz Morin, [...] complexidade
247
Este o ponto que Carvalho (2015) se emociona e se desculpa por isso. Ento, eu digo
para ela: Teresinha, a emoo sempre foi reconhecida nessa rede, ento esquea isto, porque
na minha tese eu quero emoo, razo, eu quero esprito, eu quero tica, eu quero tudo isso
que nos faz ser humano. E fundamento essa questo com uma citao de Morin (2007):
O conhecimento cientfico [...] foi durante muito tempo e com frequncia ainda
continua sendo concebido como tendo por misso dissipar a aparente complexidade
dos fenmenos a fim de revelar a ordem simples a que eles obedecem.
Mas [...] os modos simplificadores de conhecimento mutilam mais do que exprimem
as realidades ou os fenmenos de que tratam, [...] eles produzem mais cegueira do
que elucidao, ento surge o problema: como considerar a complexidade de
modo no simplificador? (p. 5).
Em resposta a essa colocao der Morin, trago o DMMDC como uma das
possibilidade de soluo para o problema, na perspectiva que Carvalho (2015) o coloca:
Ento, pra mim, as redes [...] so como a Fonte da Sade, que a gente
est sempre limpando os olhos, pra gente enxergar, aprender e
reaprender.
248
Aps a o dialogo com Pereira e Carvalho (2015), achei necessrio fazer algumas
consideraes sobre a histria da RICS contada por eles. Aqui foram apresentadas duas vises
desta histria: (1) a de um autor-pesquisador que fez parte do grupo que construiu
colaborativamente tanto a RICS como o DMMDC; (2) a de uma autora-pesquisadora que deu
suporte a sua implantao, no que diz respeito a multi-institucionalidade. Ambas vises
importantssimas para o conhecimento dessa histria. A primeira, viso bem objetiva, que
distingue as duas redes de pesquisa, cada uma em seu espao e momento; a segunda que
confunde as duas, embora compreenda a importncia de ambas nesse processo.
Muitas questes se clarearam para mim durante o processo de anlise, mas que, devido
sua abrangncia, no tenho como consider-las conclusivas. No mximo posso dizer que so
resultados da investigao. Na realidade, o referido processo de anlise se
(trans)formou em um extenso dialogo com os autores-pesquisadores entrevistados, e tambm,
no prprio processo de modelagem/construo do mosaico epistemo-terico-metodolgico e
poltico, que hoje posso chamar de Anlise Cognitiva. Com isto posso dizer tambm,
compreendi muito mais a rede e seus saberes, prticas.
Desvelei alguns mistrios sobre a AnCo, dentre eles que no apenas um processo de
anlise, mas sim um processo de construo colaborativa humano, que acontece consciente e
inconscientemente, tanto na dimenso individual quanto na dimenso coletiva, que tem como
resultado a inteligncia. E aqui, no separo esta inteligncia em individual e coletiva de
maneira proposital. Isto porque, cada ser humano individualmente um ser mltiplo que
carrega consigo o imaginrio social, construdo em sua interao com o mundo.
A partir dessa percepo, outro fato tambm ficou claro. Se continuasse tentando
manter as anlises aprisionadas s categorias, a uma estrutura preestabelecida, estaria
cometendo o mesmo erro que o processo de disciplinarizao, fragmentando o conhecimento,
permitindo que lacunas se estabelecessem.
Isto certamente faria com que a trajetria deste conhecimento, que estava sendo
construdo, modelado como um mosaico complexo, multirreferencial, a partir das diferentes
tesselas -, e diferentes significados -, que emergiam e iam sendo coladas145 ao texto, no
dessem forma ao desenho do resultado final pretendido, traado, ou seja, que o objetivo desta
144
Ou recortes, como o explicitado acima.
145
Uso o termo coladas, como foi citado por Silva (2015) na entrevista, apresentando a origem, o processo de
construo e a importncia dos Mapas de Citaes. Este mapa foi apresentado como evidncia no s de
construo colaborativa, como tambm do compartilhamento e a difuso do conhecimento construdo na rede..
251
Sendo assim, para dar um sentido lgico ao texto e facilitar sua compreenso, resolvi
apresentar de maneira sistemtica, por categoria, os resultados alcanados com a anlise
detalhada das entrevistas dos autores-pesquisadores da REDPECT, com a ressalva de que, na
medida do possvel, no sero apresentadas as repeties das evidncias. Ento, elenco a
seguir esses achados/tesselas do Mosaico, nesta tra(ns)jetria cognitiva:
o Currculo;
o Educao;
o Educao Distncia;
o Info-educao;
o Multirreferencialidade;
o Complexidade;
o Imaginrio social;
o Gesto da Informao;
253
o Construo do conhecimento;
o Esttica;
o tica;
o Inteligncia Coletiva;
o Espaos de aprendizagem;
o Gesto do conhecimento;
o Difuso do conhecimento;
o Poder;
o tica;
o Psicologia;
o Anlise Contrastiva;
o Tecnologia da Informao;
o Acolhimento;
o Solidariedade;
o Compartilhamento de Feedback;
o Auto-organizao;
o Autoria;
o Autonomia;
o (Retro)alimentao.
Por todos estes resultados encontrados nas anlises, considero que: o objetivo geral e
os objetivos especficos deste estudo foram plenamente alcanados. Hoje tenho uma
compreenso muito mais ampliada e aprofundada da construo colaborativa do
conhecimento, como esta compartilhada na rede, e tambm, como este processo, que se
prope (in)formar pesquisadores e analistas cognitivos precisava ser fundamentado como uma
modelagem cognitiva em mosaico, complexa e multirreferencial.
Prezados colegas:
Tenho o prazer de informar que a Cmara de Ensino de Ps-Graduao e Pesquisa
da Ufba aprovou, ontem tarde, por unanimidade, a nossa proposta do Doutorado
em Difuso do Conhecimento. Estamos todos de parabns!!!
Um abrao,Teresinha
Querida Teresinha,
Parabns pela vitria e por ser possuda pela ddiva da reunio em rede da
complexidade conjuntural. Fora de reunio de diferentes em uma mesma
convergncia criadora, co-criadora, desbravadora. Arquitetura de diferentes
conjugaes verbais e diferentes regimes de signos. Interfaciamento do que se
projeta em diferentes possibilidades. Modelagens que se experimentam no deixar ser
a multiplicao da fora pela coeso colaborativa, dialgica, inspirada no cuidado e
na afeio implicada, polissmica, polifnica, polilgica. Hermenutica-semitica-
computacional-logstica-heurstica-filosfica, tudo reunido em outras possibilidades
investigativas . Sistemas de sistemas em redes. Entradas e sadas fluxantes.
Modulaes e modelagens autopoticas,interpoticas e transpoticas. Pesquisas
257
Esta investigao uma das pequenas tesselas dessa modelagem em mosaico, mas a
partir dos resultados apresentados neste estudo, considero a construo colaborativa do
conhecimento como um dos eixos epistemolgicos da base terica do DMMDC. At o
momento, este tema permeava as atividades deste doutorado, de maneira implcita, desde as
aes didtico-pedaggicas e/at as produes/construes dos seus doutorandos. Todo lastro
apresentado no decorrer deste texto confirma esta questo.
Hipoteticamente, se algum refletir sobre isto, poderia levantar uma dvida: Ora, mas
este no um trabalho em equipe, como sempre foi feito em sala de aula? Porm, h um
diferencial na construo colaborativa que a cooperao e a autonomia. Todos os autores
que utilizam essa construo tm autoridade para sugerir, modificar, mediar, contribui uma
produo que sua, mas tambm do outro, ou outros. Alm disso, tm a certeza de serem
ouvidos, respeitados, mesmo que sua contribuio no seja aceita pelo/no coletivo.
258
Aps essa rpida passagem pelo histrico do DMMDC e seu eixo epistemolgico,
conduzo o texto para a prxima seo/tessela Processo de Construo do Conhecimento:
Transcendncia.
A cada dia da minha dedicao exclusiva, quase total, para concluir essa tese, buscava
me ancorar nessa dimenso para produzir/construir. Antes de entrar, ou at para entrar, no
labirinto dos meus pensamentos fazia rituais de orao, queima de incenso, velas, meditao,
utilizando o banho de cachoeira no chuveiro, para entrar em contato com a centelha de
divindade que existe mim, uma partcula do criador na criatura.
Sei que relatar esse processo no padro acadmico, no tambm ortodoxo, mas
como a proposta deste estudo est ligada ao processo de construo colaborativa do
conhecimento e tambm ao Mosaico DMMDC. Este doutorado que abriga, acolhe, cuida,
de todas as iniciativas para tornar o conhecimento um bem pblico, um bem comum,
acredito que este depoimento de um ser humano vai contribuir para o (re)conhecimento
259
daqueles que tambm passam por esse ritual acadmico, e tambm, a academia, a
perceberem que antes de qualquer ttulo o ser humano. E ainda que, sem essas
manifestaes de humanidade ele no um ser inteiro. E mais ainda, no tem como
(re)conhecer a pluralidade, a diversidade do outro e outros que partilham o mesmo
mundo.
REFERNCIAS
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OKADA, Alexandra Lilavati Pereira. Desafio para EAD: Como fazer emergir a colaborao e
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RIZZI, Claudia Brandelero, COSTA, Antnio Carlos da Rocha, FRANCO, Srgio Roberto
Kieling. Os Grupamentos Operatrios de Jean Piaget e suas Implicaes no Estudo da
Cooperao na Ao entre Agentes Humanos. In: XV Simpsio de Informtica na
Educao SBIE UFAM. 2004. p. 65-67.
XAVIER, Raimundo Cludio Silva e MATTOS, Maria Ldia Pereira. Apresentao. In:
Cognitiva e espaos multirreferenciais de aprendizagem: Currculo, educao distncia e
gesto/difuso do conhecimento. EDUFBA, 2012. p. 9-18.
REFERNCIAS VIDEOGRFICAS:
APNDICES
268
NATUREZA
SEMESTRE PERODO DISCIPLINAS CURSADAS DA PROFESSORES
DISCIPLINA
LEGENDA:
OB Obrigatria
OP Optativa
AT Atividade Obrigatria
DL Obrigatria de linha
OP* - Obrigatria para todos os bolsistas da CAPES
269
1. CONCEITOS PRINCIPAIS
CONCEITOS FOCO:
o CONHECIMENTO, COGNIO, APRENDIZAGEM / CONSTRUO COLABORATIVA
DO CONHECIMENTO E COGNIO;
EIXOS EPISTEMOLGICOS:
o MULTIRREFERENCIALIDADE E COMPLEXIDADE
REFERNCIAS:
FREIRE, Paulo. Carta de Paulo Freire aos professores. In: Educao Bsica.
2001, vol.15, n.42, pp. 259-268. ISSN 0103-4014. Disponvel em:
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270
REFERNCIAS:
OKADA, Alexandra Lilavati Pereira. Desafio para EAD: Como fazer emergir a
colaborao e cooperao em ambientes virtuais de aprendizagem?. In: Educao
online: teorias, prticas, legislao, formao corporativa. Marco Antnio da Silva
(org.). Edies Loyola, So Paulo, 2003. P. 275-292.
REFERNCIAS:
Gentilli, Pablo A. A.; SILVA, Tomaz Tadeu et al. Neoliberalismo, qualidade total
e educao: Vises crticas. 9. ed. Petrpolis: Editora Vozes, 2001.
OSORIO, Luiz Carlos. Psicologia grupal: Uma nova disciplina para o advento de
uma era. Porto Alegre: Artmed, 2003.
4. METODOLOGIA DE PESQUISA
REFERNCIAS:
DEMO, Pedro. Pesquisa Participante: saber pensar e servir juntos. 2004. (Srie
Pesquisa e Educao, v. 8) 140p.
Parte 1 do Mapa:
Categorias de Anlise
Tipo de
Referncia
Ref.
Cognio Conhecimento
MATURANA, Humberto Livro [... ]: a vida um processo de conhecimento; [...] Desde o Renascimento, o conhecimento
R.; VARELA, Francisco J. Prefcio: assim, se o objetivo compreend-la, em suas diversas formas tem sido visto como
A rvore do conhecimento: Humberto necessrio entender como os seres vivos a representao fiel de uma realidade
as bases biolgicas da Mariotti conhecem o mundo. Eis o que Humberto independente do conhecedor. Ou seja, as
compreenso humana. So Maturana e Francisco Varela chamam de produes artsticas e os saberes no eram
Paulo: Palas Athena, 2001. biologia da cognio. (p. 7). considerados construes da mente humana.
288 p. 6. Ed. Set/2007. [...]. (p. 7).
MATURANA, Humberto Livro [...] toda experincia cognitiva inclui aquele [...] A reflexo um processo de conhecer
R.; VARELA, Francisco J. Captulo I: que conhece de um modo pessoal, enraizado como conhecemos, um ato de voltar a ns
A rvore do conhecimento: Conhecer em sua estrutura biolgica, motivo pelo qual mesmos, a nica oportunidade que temos de
as bases biolgicas da o conhecer toda experincia de certeza um fenmeno descobrir nossas cegueiras e reconhecer que
compreenso humana. So Maturana individual cego em relao ao ato cognitivo as certezas e os conhecimentos dos outros
Paulo: Palas Athena, 2001. do outro, numa solido que [...] s so, [...] to tnues quanto os nossos. (p. 30).
288 p. 6. Ed. Set/2007. transcendida no mundo que criamos junto
com ele. (p. 22).
[...] Os estados de atividade neuronal [...] Toda reflexo, inclusive a que se faz Uma explicao sempre uma proposio
deflagrados por diferentes perturbaes esto sobre os fundamentos do conhecer humano, que reformula e recria as observaes de um
determinados em cada pessoa por sua ocorre necessariamente na linguagem, que fenmeno, num sistema de conceitos
estrutura individual, e no pelas nossa maneira particular de ser humanos e aceitveis para um grupo de pessoas que
caractersticas do agente perturbador. [...] O estar no fazer humano. Por isso, a linguagem compartilham um critrio de validao. (p.
que foi dito vlido para todas as dimenses tambm nosso ponto de partida, nosso 34).
da experincia visual (movimento, textura, instrumento cognitivo e nosso problema. (p.
forma etc.), bem como para qualquer outra 32).
modalidade perceptiva. (p. 27).
277
REDPECT
1997-2003
Natureza: Pesquisa.
Situao: Concludo.
Alunos envolvidos:
Graduao: 10;
Especializao: 2;
Mestrado acadmico: 7;
Mestrado profissionalizante: 0;
Doutorado: 4;
1998-2002
Natureza: Pesquisa.
Situao: Concludo.
Alunos envolvidos:
Graduao: 6;
279
Especializao: 0;
Mestrado acadmico: 5;
Mestrado profissionalizante: 0;
Doutorado: 4;
Integrantes:
Teresinha Fres Burnham Coordenador;
Marcelo Bernardo da Cunha;
Maria Luiza Coutinho Seixas;
Maria do Rosrio Paim de Santana;
Norma Carapi Fagundes;
Albrico Salgueiro de Freitas Neto;
Leonardo Cunha Mendona;
Jlio Csar Leal Pereira;
Maria de La Concepcion Novoa;
Eliane Santos Souza.
Nmero de orientaes: 2.
2002-2006
3. Projeto: Modelos e Estratgias de e-Learning no Ensino Superior.
Natureza: Pesquisa.
Situao: Concludo.
2003-2007
Natureza: Pesquisa.
Situao: Concludo.
Alunos envolvidos:
Graduao: 3;
280
Especializao: 0;
Mestrado acadmico: 3;
Mestrado profissionalizante: 0;
Doutorado: (0).
Integrantes:
Teresinha Fres Burnham Coordenador;
Conceio Sande Vieira;
Mauro Leonardo de Brito Albuqerque Cunha;
Tennessy Mnemosyne Sena Moreira;
Jailton Santos Reis;
Flvia de Aquino Rocha;
Elisngela de Jesus Silva;
Roberta Ribeiro Cunha;
Renato Marques Alves;
Isabel Oliveira de Moraes;
Ramone Lima de Moraes;
Washington Luiz Santos do Nascimento Dias;
Financiador(es):
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico Bolsa;
Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - Auxlio financeiro.
RICS
2003-Atualidade
2005-Atualidade146
Descrio: Este projeto tem o objetivo implantar a "Rede Interativa de Pesquisa e Ps-
Graduao em Conhecimento e Sociedade", voltada para produo e transferncia de
146
Existem controvrsias quanto ao perodo de trmino da RICS, algumas pessoas acreditam que ela acabou na
implantao do doutorado, outras que ela existe at a atualidade. Este mistrio ser desvelando na Tessela 5
com as anlises das entrevistas.
281
A RICS foi criada como uma rede de pesquisadores vinculados a diferentes grupos de
pesquisa, de diversas instituies brasileiras, interessados na relao conhecimento
sociedade, especialmente no que tange difuso e intercmbio daquele produzido em
diferentes setores da sociedade, principalmente nos campos da Cincia e da Tecnologia. Ao
longo de quatro anos esses pesquisadores investiram na formulao de uma proposta de um
doutorado multi-institucional, resultando na sua aprovao, em julho de 2007, pela CAPES.
A partir de ento, a RICS volta-se inteiramente para a implantao do DMMDC, que
atualmente composto por uma rea de concentrao e duas linhas de pesquisa, e agrega
pesquisadores de 07 (sete) instituies UFBA, LNCC / MCT, UEFS, UNEB, IFBA (ex
CEFET), UFABC e SENAI / CIMATEC.
Natureza: Pesquisa.