Marcadores Discursivos e Efeitos de Sentido
Marcadores Discursivos e Efeitos de Sentido
Marcadores Discursivos e Efeitos de Sentido
Resumen: El objetivo de ese artculo es reflexionar sobre los efectos de sentido provenientes de
elementos denominados marcadores del discurso, desde la perspectiva de la Lingstica de la
Enunciacin, una vez que la Pragmtica y la Lingstica Textual son insuficientes para ofrecer
explicaciones plausibles ante la diversidad de efectos contextuales de estas unidades. Para lograr
tal finalidad, se analizar un corpus formado por textos publicados, entre los meses de enero y
marzo de 2012, en la seccin Cartas del Lector, de la revista Veja.
Palabras-clave: marcadores discursivos; sentido; Enunciacin.
Resumo: O objetivo deste artculo refletir sobre os efeitos de sentido procedentes de elementos
denominados marcadores do discurso, a partir das noes da Lingustica da Enunciao, posto
que a Pragmtica e a Lingustica Textual no so suficientes para oferecer explicaes plausveis
diante da diversidade de efeitos contextuais dessas unidades. Para esse fim, analisaremos um
corpus formado por textos publicados no primeiro trimestre de 2012, na seo Cartas do Leitor,
da revista Veja.
Palavras-chave: marcadores do discurso; sentido; Enunciao.
Introduo
Sentido, forma, sujeito. Nas ltimas dcadas, esses termos esto cada vez mais
presentes nas pesquisas de carter lingustico, em especial no mbito dos estudos enun-
ciativos. Pensar em enunciao implica questionar como forma e sentido se articulam,
possibilitando que o sujeito se marque na lngua. Como recordam Flores e colegas
(2008, p. 19) ao comentar sobre os estudos de Authier-Revuz, a enunciao um es-
tudo que prev que estrutura e sujeito no so disjuntos, mas que esto imbricados e
implicados.
Como nos recorda Mari (2008, p. 13), segundo a abordagem que se faa sobre o
sentido (seja semntica, seja pragmtica), a construo de sentido est atrelada ao sistema,
ao sujeito ou ao processo histrico. Tal afirmao comprova que o lugar do sentido est
na lngua, lugar tambm onde o sujeito se marca, no independente dos fatores sociais,
histricos e ideolgicos. Portanto, qualquer aspecto da materialidade lingustica requer
uma reflexo sobre a questo do sujeito, o que implica que a discusso sobre aspectos
relacionados s marcas do sujeito e s condies de produo necessita de uma anlise
detalhada que ressalte os mecanismos lingusticos presentes em uma materialidade.
Entre vrios elementos que tecem a materialidade lingustica, existem algumas
unidades que so identificadas comumente como elementos que conectam segmentos em
um mesmo enunciado ou vinculam enunciados. Entre algumas categorias gramaticais que
[...] procedimentos lingsticos por meio dos quais se estabelecem, entre segmentos do
texto (enunciados, partes dos enunciados, pargrafos e seqncias textuais), diversos
tipos de relaes semnticas e/ou pragmticas, medida que se faz o texto progredir.
(KOCH, 2005, p. 53)
[...] o sujeito no pode ser, tacitamente, considerado o objeto de estudo de uma teoria
lingstica, nem mesmo de uma teoria da lingstica da enunciao, tomada no sentido
estrito. O que parece ser levado em conta sempre a representao que a enunciao d
do sujeito da lngua.
Procedimentos metodolgicos
Depois de explicitar os eixos tericos desse trabalho, cabe esclarecer quais so
os aspectos metodolgicos que nos guiam. Temos como base o princpio do paradigma
indicirio de Ginzburg (1989, p. 152), que se fundamenta em um saber de tipo venerat-
rio, determinado pela capacidade de, a partir de dados aparentemente negligenciveis,
remontar a uma realidade complexa no experimentvel diariamente. Desse modo, os
indcios encontrados nas anlises das amostras podem auxiliar-nos a esboar um determi-
nado fenmeno que ocorre amplamente na materialidade lingustica.
As amostras esto formadas por textos da seo Carta ao Leitor, da revista Veja,
publicados no primeiro trimestre de 2012. Depois de recopilados, identificamos os mar-
cadores discursivos em tal materialidade, considerando as caractersticas da modalidade
escrita. Nesse sentido, preciso delimitar o que seria um enunciado nessa modalidade e,
como esse processo exigiria uma longa discusso e fugiria aos propsitos desse artigo,
apenas vamos esboar as noes que nos auxiliaram a definir o que enunciado em nos-
sas amostras.
Desse modo, para este trabalho, concordamos com os comentrios de Garca
(2002) que considera aspectos ortogrficos e prosdicos, pois tais marcadores se locali-
zam em posio inicial do enunciado; depois de ponto final, ponto e vrgula e dois pontos
(quando este signo de pontuao equivale ao ponto final); e depois de inciso ou final de
enunciado, uma vez que esses elementos possuem uma independncia entonativa que
lhes permite mobilidade dentro do enunciado.
O primeiro caso que apresentamos se localiza em uma Carta do leitor que co-
menta os supostos malefcios dos produtos processados e industrializados, em resposta
a reportagem Abre alas para a desintoxicao (publicada em Veja, 22/02/2012). Nesse
exemplo, observamos o emprego dos estruturadores da informao considerados como
elementos organizadores do texto e desprovidos de valor argumentativo:
(02) Realmente, o Par para pessoas fortes. Afinal, no venha forte que eu sou do Norte. E alerto,
como se diz por aqui: Macaco, olha o seu rabo (VEJA, 21/03/2012).
(04) Ns deparamos com dois Brasil: um, da ascenso da classe media, do emprego e das multinacio-
nais; outro, da falta de saneamento bsico, dos juros exorbitantes, da corrupo e das leis jurssi-
cas. Mas avanamos. Deixamos de ser apenas o pas do futebol e das mulheres para comearmos
a ser reconhecidos l fora. Mas no sejamos pueris: ainda h muito a fazer para chegarmos l.
(VEJA, 11/01/2012)
Temos aqui dois valores de mas. O primeiro de valor concessivo que contrape
uma inferncia a um enunciado explcito (o Brasil no teve avanos versus o Brasil teve
avanos). O segundo possui um valor metadiscursivo, pois no vincula enunciados ex-
tremamente relacionados, mas sim liga um enunciado a outro que traz algum aspecto de
natureza interjetiva, indagativa ou injutiva que auxilia a progresso textual. Porm, alm
desses valores de teor argumentativo e estrutural, podemos notar efeitos relevantes com
relao ao aspecto enunciativo, pois estes conectores mas destacam dois enunciados que
enfatizaram marcas do sujeito.
No primeiro caso, enfoca a veemncia da opinio em um enunciado curto, cate-
grico, em que a fora do verbo em 1 pessoa do plural inequvoca porque representa
um coletivo ao mesmo tempo em que inclui o enunciador como mais um brasileiro que
(05) [...] Como representantes e guardies das leis, os juzes precisam ter reputao ilibada. Conforme
diz um velho ditado popular Quem no deve, no teme. Acho, inclusive que eles deveriam pres-
tar contas regularmente a alguma entidade fiscalizadora. (VEJA, 04/01/2012)
(07) Finalmente, pude me sentir brasileiro. Ao ler a entrevista de Romrio, percebi que nem tudo est
perdido (VEJA, 28/03/2012).
Consideraes finais
Aps as anlises realizadas nas amostras apresentadas, podemos tecer algumas
consideraes sobre o trabalho com os marcadores, partindo da evidncia de que as no-
es e metodologias dos campos da Lingustica Textual e da Pragmtica muito auxiliam
os pesquisadores diante dos problemas tericos e analticos referentes aos marcadores e,
portanto, temos que continuar revisitando seus postulados. No entanto, a Enunciao se
revela como campo de estudo produtivo no momento que os analistas elaboram novas
questes ou retornam s antigas indagaes sobre o papel dos marcadores na materia-
lidade lingustica e na representao da subjetividade na linguagem. Dessa maneira, h
alguns pontos que devemos avaliar.
Em primeiro lugar, apesar da relevncia dos fatores cognitivos, pragmticos e
estruturais dos marcadores, inclusive porque no se pode negligenci-los, acreditamos
que se devem focalizar os estudos nos fatores enunciativo-discursivos ligados aos mar-
cadores.
Em segundo lugar, no se deve chegar ao extremo de supervalorizar o papel isola-
do dos marcadores no enunciado. Observamos que tais mecanismos sempre esto acom-
panhados de outros ndices lingusticos, tais como verbos (em geral em 1 pessoa), adje-
tivos / locues adjetivas, modalizadores, posicionamento sinttico, emprego de pontos e
vrgulas, entre outros. importante observ-los em seu conjunto, entre outros elementos
da mesma categoria e / ou de outras diversas.
Em terceiro lugar, so os seus empregos contextuais e incomuns que se transfor-
mam em ndices enunciativos que norteiam, por sua vez, os efeitos de sentido pelos quais
o sujeito se marca. Tal aspecto deve ser considerado tanto na elaborao de uma termino-
logia e classificao mais homogneas quanto nas discusses sobre abordagens didticas
desses elementos no seu ensino em lngua materna e estrangeira.
Por ltimo, analisados em conjunto com outros mecanismos, os marcadores so
elementos basilares para refletirmos sobre as caractersticas de um ethos do enunciador
REFERNCIAS
______. Dernires leons. Collge de France 1968 et 1969. Paris: Ehess Gallimard /
Seuil, 2012.
FLORES, V. N.; SILVA, S.; LICHTENBERG, S.; WEIGERT, T.. Enunciao e gramtica.
So Paulo: Contexto, 2008.
VEJA. Edio 2250 a 2262, janeiro, fevereiro e maro de 2012. Disponvel em:
<http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx>. Acesso em: 20 maio 2012.