Memória Da Dança: Importância, Registro, Preservação e Legado
Memória Da Dança: Importância, Registro, Preservação e Legado
Memória Da Dança: Importância, Registro, Preservação e Legado
LIANA VASCONCELOS
MEMRIA DA DANA:
IMPORTNCIA, REGISTRO, PRESERVAO E LEGADO
NITERI
2014
LIANA VASCONCELOS
MEMRIA DA DANA:
IMPORTNCIA, REGISTRO, PRESERVAO E LEGADO
NITERI
2014
LIANA VASCONCELOS
MEMRIA DA DANA:
IMPORTNCIA, REGISTRO, PRESERVAO E LEGADO
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof. Me. Mrio Ferreira de Pragmcio Telles
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________
Prof. Me. Luiz Carlos Mendona
Universidade Federal Fluminense
_____________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Augusto Fernandes Rodrigues
Universidade Federal Fluminense
Dedico este trabalho a meus pais, primeiros e eternos incentivadores e
apoiadores do meu amor pela dana. Sem eles ao meu lado, no teria conseguido
realizar o sonho de fazer da dana a minha profisso, a minha viso de mundo e o meu
modo de vida.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, eternos incentivadores de todos os meus sonhos e que nunca
mediram esforos para me ajudar a realiza-los. Meus maiores exemplos de seres
humanos. Eternamente grata. E ao meu irmo, Fernando, por ser um exemplo de
dedicao e entrega profisso. Seu amor pela Medicina inspira meu amor pela Dana.
Ao meu orientador, Mrio Pragmcio, por ter aceitado o meu convite e por ter
me ajudado a manter os ps no cho, quando a minha veia artstica se sobrepunha s
teorias acadmicas durante a escrita. E tambm por ter tido uma enorme pacincia com
a loucura que a minha vida artstica e sua carga horria nada convencional. Tambm
agradeo Universidade Federal Fluminense e todo o seu corpo Docente, por terem
acrescentado muito minha formao intelectual.
Ao meu eterno professor Paulo Melgao, por ter instigado em mim, desde cedo,
o interesse pela Memria e pela Histria da Dana, me fazendo crescer muito como
artista e pesquisadora. Ao meu mestre Luiz Carlos Nogueira ARAD, por ter enxergado
em mim um potencial e acreditado nele. Juntos, desbravamos fronteiras com a dana
pelo Brasil e pelo mundo. Agradeo tambm Regina Miranda, que ampliou
infinitamente o meu olhar sobre o mundo das artes e da cultura, me levando a danar em
lugares nunca antes imaginados. Minha viso artstica se transformou aps nos
conhecermos.
Friedrich Nietzsche
RESUMO
A dana uma arte efmera, no momento em que ela se realiza ela tambm se desfaz,
ficando presente somente na memria de quem a presenciou. Este trabalho se objetiva a
pesquisar como e por que importante preservar a memria e a histria da dana,
detalhando suas formas existentes de registro, mapeando os seus acervos, refletindo
sobre como se estabelece a transmisso de seu conhecimento para as geraes futuras e
considerando o corpo do bailarino como o principal lugar de memria desta arte. Prope
ainda a criao do Museu Vivo da Dana no Brasil, um espao onde passado, presente e
futuro desta arte dialoguem em ritmo incessante e aonde cada corpo danante se sinta
uma pea viva de seu acervo.
ABSTRACT
Dance is an ephemeral art, in the moment it realized it is also vanished, leaving only in
memory of those who witnessed. This study aims to investigate how and why it is
important to preserve the memory and history of dance, detailing the existing forms of
registering it, mapping their collections, considering how the transmission of their
knowledge is made to future generations, supposing the body of the dancer as the main
memorys place of this art and proposing the creation of the Alive Museum of Dance in
Brazil a space where past, present and future of this art make connections and each
dancing body feels like a living part of its collection.
Introduo Pg. 09
levantamento Pg. 21
Concluso Pg. 41
Referncias Pg. 44
Anexos Pg.48
INTRODUO
1
O respeito pelos superiores e a hierarquia entre os bailarinos um fator fundamental na tradio da
dana clssica.
2
No Ballet Clssico, uma obra de repertrio aquela que entrou para a histria da dana a partir de
determinados critrios como universalidade, atemporalidade, aceitao de pblico e passou a fazer parte
do acervo de diversas companhias pelo mundo.
10
registros audiovisuais de hoje em dia. Como ento remontar uma obra de repertrio
desse tipo na Contemporaneidade? possvel ser completamente fiel ao original? E
indo mais alm, como fazer para que esta mesma obra faa sentido para o pblico de
hoje, sabendo que o mundo evoluiu e que alguns gestos e aes que na poca da criao
faziam sentido, na atualidade j no fazem mais? Isso impe uma tentativa de fazer
com que a tradio e a evoluo, que por vezes possuem certa relao de antagonismo,
passem a caminhar juntas.
J a dana Contempornea um estilo que no tem uma tcnica e nem uma linha
de pensamento definida. Ela est mais ligada questo da performance, que objetiva
acontecer apenas uma vez, no aqui e no agora. Nela, no to crucial a questo da
preservao da tradio, pois ela movida a mudanas, acompanhando a vida na
atualidade. Portanto, necessita de outra abordagem da memria corporal, mais relativa
memria individual daquele bailarino que a executa no momento, do que coletiva.
E temos as danas populares, que tradicionalmente so passadas de gerao em
gerao, mas que esto cada vez mais se perdendo em funo de um mundo regido pela
globalizao, pelo capitalismo e por uma busca enlouquecida pela inovao. Logo, o
processo de salvaguarda junto aos grupos, algo imprescindvel no caso das danas
populares.
Neste trabalho, optei por me aprofundar mais na memria da dana no Ballet
Clssico, por ser minha rea de atuao e de maior interesse, alm de existirem
pouqussimos trabalhos sobre esse tema na Dana Clssica, enquanto que a Dana
Contempornea j possui uma srie de tericos refletindo acerca deste assunto, como
Denise Siqueira, Daniel Trcio e Paula Salosaari. Nas danas populares, diversos
estudos j vm sido realizados pelos tericos especialistas em Patrimnio Cultural
Imaterial, sobre os processos de proteger a memria do jongo e do frevo, por exemplo.
No me limitarei nesta pesquisa a nenhuma localidade especfica, tratarei deste
tema a nvel global, afinal a dana uma linguagem universal, pois, por s depender do
corpo, no sofre com a barreira das diferentes lnguas e suas tradues obrigatrias.
Como bailarina e pesquisadora de dana, refletindo sobre a realidade brasileira,
percebo a falta de um lugar especfico de encontro desses atores sociais da memria da
dana e dos diversos tipos de registros j existentes dessa arte. Um espao aonde esses
agentes pudessem acessar este contedo material, compartilhar e trocar conhecimentos e
experincias entre si, movimentando e dando vida a essa memria.
11
Para este trabalho, foi realizado um breve levantamento das instituies, acervos
e lugares de memria da dana relevantes no Brasil e um estudo de caso, em especial,
de uma instituio cultural francesa, que utilizarei como exemplo para uma proposta de
ao para o tema em relao situao no Brasil. No poderia deixar de contribuir com
um levantamento de dados atravs do mtodo de observao participante, por ser
bailarina profissional h mais de seis anos, estudar dana h mais de vinte anos e
vivenciar em meu cotidiano tudo o que permeia este assunto.
Em termos estruturais, este trabalho foi dividido em quatro captulos. O primeiro
trata da memria da dana em si e sobre a importncia de sua preservao. O segundo
captulo aborda as formas de registro da dana existentes e traz um levantamento dos
lugares de memria da dana no Brasil. O terceiro reflete sobre a memria corporal do
bailarino e a tradio do Ballet Clssico. Por ltimo, o quarto captulo realiza um breve
estudo de caso do Muse de la danse em Rnnes, na Frana e prope para o Brasil a
criao de um espao que almejaria preencher essa grave lacuna no acervo da memria
artstica brasileira de dana.
"Meu corpo o templo da minha arte. Eu exponho-o como altar para a adorao
da beleza [...] (LEVER, 1988), disse certa vez Isadora Duncan, a bailarina americana
pioneira da dana moderna. O corpo humano com toda a sua constante transformao e
natureza complexa de acmulo de informaes, vai ser sempre objeto de estudo dentro
de muitas reas de pesquisa cientfica. Mas, na dana, especialmente no Ballet
Clssico, o estudo da importncia e da preservao da memria do corpo algo
essencial, pois, como procuro justificar, a arte do bailarino acontece em si mesmo.
Assim, a arte e a memria da dana coabitam no mesmo espao, o corpo do artista, logo
so intrnsecas, necessitando de estudos mais aprofundados para uma melhor
compreenso desta questo, algo que este trabalho se prope a realizar.
Todo e qualquer tipo de registro, seja ele documental, crtico, fotogrfico ou
audiovisual, de extrema funcionalidade no campo da arte da dana. Mas preciso ir
alm, quando se trata de uma arte em que o corpo diz o que as palavras e imagens no
conseguem expressar.
12
I MEMRIA SOCIAL E DANA
13
Nesse sentido, a arte da dana tida como uma forma de memria de seu tempo,
que ganha corpo pela eternizao da arte como um bem da cultura, como expresso
tcnica e esttica em coerncia com o tempo e o local em que produzida.
No h como pensar em dana sem enaltecer seu carter de coletividade. Desde
seus primrdios ela foi utilizada em rituais grupais para celebrar a colheita, evocar a
chuva, enunciar guerras ou homenagear aos deuses. E mesmo posteriormente, enquanto
dana cnica j postulada como uma manifestao artstica, a dana visou sempre
interao com o outro, seja ele um danarino que tambm est em cena ou toda a
plateia, para quem se dana.
O conceito de Memria Coletiva de Maurice Halbwachs, socilogo considerado
um dos precursores no estudo da memria, importante para o estudo deste campo na
dana. Para Halbwachs, a memria individual existe sempre a partir de uma memria
coletiva. As lembranas so construdas no cerne de um grupo. Ele no nega totalmente
a memria individual, mas enfatiza a relao intrnseca entra as lembranas e a
coletividade, procurando demonstrar que sem substratos comuns, as sociedades no
poderiam funcionar. Segundo Regina Abreu: A metfora emblemtica do modelo de
sociedade halbwachiano corresponde imagem da orquestra em que os msicos so
capazes de se harmonizar para executar uma mesma sinfonia, e de que essa
harmonizao depende de uma memria coletiva. (ABREU, 2002).
Fazendo uma analogia desta metfora da orquestra para a arte da dana,
podemos pensar em um corpo de baile de um Ballet Clssico de repertrio, aonde todos
os bailarinos precisam danar em unssono, necessitando de uma mesma gama de
conhecimentos tcnicos, conceituais e histricos daquela obra. Essa memria coletiva
essencial para a execuo de uma obra desta magnitude e para a transmisso da mesma
s geraes futuras.
Entretanto, vale enfatizar que essa memria vai se estabelecendo atravs das
redes de interao e comunicao entre os indivduos ao longo do tempo e que,
portanto, no existe apenas uma memria correta, mas uma diversidade delas, tantos
quantos forem os laos de pertencimento deste grupo. Para Halbwachs, as lembranas
constituem sistemas independentes e para que a memria de um indivduo seja apoiada
pela de outros, preciso que haja coerncia e pontos de contato entre ambas, para que a
memria coletiva possa ser restabelecida, reconstruindo o passado e assegurando
certa totalizao.
14
Como exemplo, pensemos na dissoluo de uma companhia de dana. Com o
seu fim, a memria daquele grupo de bailarinos se despedaa e se dispersa. Cada
indivduo carregar suas prprias lembranas construdas ali e possivelmente no futuro,
se indagados, possvel que ocorram divergncias de histrias, diferentes interpretaes
e lembranas incompletas. Mas ao juntar vrios integrantes do grupo em um espao que
remeta ao seu passado coletivo, espera-se que essa memria se condense e se reconstrua
de uma maneira mais completa, com uma maior riqueza de detalhes e referenciais,
apresentando-se mais verossmil sua histria.
Entretanto, para que essa homogeneidade acontea, provavelmente, um campo
de disputa se estabelecer, pois a memria social possui sempre uma dimenso poltica.
Cada ator social simultaneamente agente e espao de negociao na disputa de
sentidos, onde algumas ideias e estratgias sero permitidas, enquanto outras sero
omitidas, silenciadas ou manipuladas. O tempo produz combinaes dos silncios e das
vozes ativas ou silenciadas pelos indivduos e grupos. Segundo Le Goff, tornar-se
senhores da memria e do esquecimento uma das grandes preocupaes das classes,
dos grupos, dos indivduos que dominam as sociedades histricas(LE GOFF, 1994).
Fica evidente que a estruturao da memria social est intimamente relacionada com o
mbito do poder poltico. Na dana, esses tipos de disputa acontecem, por exemplo,
durante a remontagem ou reconstruo de obras coreogrficas, quando entram em jogo
diferentes pontos de vista estticos e de interpretao entre os remontadores. A memria
social ento um processo contnuo e tenso, deflagrado pelas relaes, afetos e jogos de
fora entre os indivduos e grupos. Nesse sentido este dilogo entre os estudos da
memria social e da dana torna-se um instigante caminho a ser trilhado e descoberto,
pois amplia as possibilidades de entendimento dessa ltima, enquanto arte, linguagem,
forma de expresso, tcnica e campo cultural.
15
estilos, evolues tcnicas e mudanas no corpo danante. Todas essas transformaes
refletem no que a dana hoje, em suas mais variadas formas.
Para aquele que dana, importante tomar conhecimento desta histria, para
que, alm de se sentir pertencente a ela, possa atuar tambm como um agente cultural de
transformao neste campo. So obrigao e responsabilidade de cada gerao, sua
maneira, contribuir de alguma forma para o acrscimo do conhecimento humano. Segundo
Michael Pollack, a memria exerce um papel fundamental ao proporcionar o sentimento
de continuidade e coerncia necessrio para a construo dos sentidos de
pertencimentos sociais, de um indivduo ou de um grupo. Seguindo este mesmo
pensamento, Ana Lgia Trindade afirma que Memria tempo otimizado, sendo
crucial para a evoluo cultural de um pas e para a afirmao de sua
identidade.(TRINDADE, 2009). Ainda, segundo a autora, memria respeito. Ao se
relembrar, identificar e denominar as obras e seus criadores, garante-se a merecida
perpetuao do trabalho de quem contribuiu com a histria desta expresso artstica.
Um dos maiores pensadores de movimento do sculo XX, Rudolf Laban,
levantou a questo de que a efemeridade intrnseca da dana aliada falta de sistemas
de registros eficientes fez com que grande parte da histria da mesma se perdesse com o
tempo, no deixando vestgios. Em sua obra, Dana educativa moderna, ele afirma:
16
intencionalidade quanto ao porvir, desenhando um mundo possvel com a vida que se
quer viver e aquilo que se quer lembrar. O conceito de memria que produzido no
presente uma forma de pensar o passado em funo do futuro que se deseja.
Cabe ressaltar que a memria em dana seriam as lembranas de tudo o que
cerca este campo cultural: todos os seus atores sociais, os espetculos e suas formas de
registro, os elementos cnicos, as crticas, as companhias de dana, os discursos dos
coregrafos, a memria dos corpos dos bailarinos e tudo mais que de alguma forma
tenha composto a cadeia produtiva da dana em tempos anteriores.
Em pases europeus e norte-americanos algumas iniciativas relevantes para a
preservao da memria da dana j vm sendo tomadas h tempos. Talvez por serem
lugares aonde exista um maior interesse, reconhecimento e investimento na rea cultural
como um todo. No Brasil, a preocupao com a memria da dana recente. No
existem muitos acervos especializados nessa rea nos centros culturais, bibliotecas e
fundaes. Muito material encontra-se em arquivos privados ou depsitos de
companhias de dana, no estando, portanto, acessveis populao.
O Brasil j exportou centenas de excelentes profissionais de dana que fizeram
carreira fora e tornaram a dana brasileira extremamente reverenciada no exterior. E
muitas vezes, estes, no so lembrados em sua terra natal. Est na hora do Brasil
tambm reverenciar a sua dana e memria, que dizem muito sobre a formao, as
qualidades e a diversidade do seu povo.
17
II AS FORMAS DE REGISTROS DA DANA
Uma srie de detalhes das produes em dana do sculo passado e grande parte
das famosas bailarinas do sculo XIX e incio do sculo XX, como Marie Taglioni e
Anna Pavlova, s se tornaram conhecidas pelas geraes atuais atravs de litogravuras 3
ou fotos.
3
Essa tcnica de gravura envolve a criao de marcas ou desenhos, sobre uma matriz (pedra calcria)
com um lpis gorduroso. A base dessa tcnica o princpio da repulso entre gua e leo.
18
A documentao fotogrfica de dana, fonte iconogrfica de imagem fixa, contem
informaes e detalhes sobre a coreografia, figurinos, iluminao, cenrio e corpos dos
bailarinos. uma das principais mdias da dana, no apenas funcionando como
registro, mas tambm como material de divulgao das obras, das companhias de dana
e dos bailarinos.
Os livros de dana costumavam ser, em geral, de trs tipos. Alguns eram livros
de carter histrico, que retratavam a linha do tempo desta arte, abordando as suas fases
estticas, como por exemplo, Histria da Dana, de Maribel Portinari. Outros eram
livros de Terminologia, que ensinavam a nomenclatura dos passos da tcnica de dana
bem como o detalhamento de sua execuo, como o famoso Fundamentos da Dana
Clssica, de Agripina Vaganova. E existiam ainda as biografias dos grandes bailarinos
ou coregrafos, que revelavam as dificuldades e as glrias de suas carreiras, como o
Nureyev: A Biography, de Peter Watson.
Atualmente, alm desses trs tipos, existem novas publicaes de livros de dana
que dialogam com as demais artes, com a filosofia, sociologia, comunicao e outras
cincias. Isso se deve em grande parte presena da dana no ambiente universitrio,
que suscitou uma maior pesquisa nesta rea, principalmente em relao dana
contempornea.
Com o avano da tecnologia se tornou possvel registrar a dana em vdeo. Da
memria em imagem fixa, passou-se memria em movimento. O vdeo transformou-
se em um grande aliado nas remontagens de ballets e tambm na divulgao e
disseminao da dana pelo mundo. Pessoas que nunca haviam tido acesso a um
espetculo de dana puderam apreci-lo atravs de vdeos.
Finalmente, com o atual advento da Internet e das Redes Sociais, nas quais
milhares de fotos e vdeos so publicados a cada segundo, a dana chegou ao seu grau
mximo de globalizao desde os seus primrdios. A mdia constitui, atualmente, o
principal lugar de memria das sociedades contemporneas.
Assim como a msica tem a sua notao prpria que a partitura, a dana
tambm possui a sua notao coreogrfica. Alm de objetivar o armazenamento para a
19
perpetuao da informao, a notao coreogrfica ainda auxilia ao coregrafo em suas
criaes e na transmisso de uma obra ao corpo de baile. Nestes dois ltimos casos, a
utilizao do vdeo tambm seria vlida, mas a notao coreogrfica ainda mais fiel
em relao obra original, pois no apresenta intervenes interpretativas dos bailarinos
executantes do vdeo. Ela retrata em sinais, a pura inteno do coregrafo, sem
influncias externas.
A dana ento, apesar de ser uma arte na qual corpos se expressam sem
depender de palavra ou smbolo algum, precisou aderir escrita em prol de sua
memria e histria. A notao da dana descreve os movimentos com smbolos
ideogrficos ao invs de linguagem verbal. Segundo Ana Lgia Trindade (2009), a
notao coreogrfica ainda mais complexa que a musical e conta com poucos
profissionais especializados.
Muitas formas diferentes de anotao de dana foram criadas, mas os dois
sistemas principais usados na cultura Ocidental so Labanotation (tambm conhecido
como Kinetography Laban) e Benesh Movement Notation.
O Labanotation considerado o mais completo e tambm o mais complexo. Foi
criado por Rudolf Von Laban, importante coregrafo e terico da dana do sculo XX.
A anlise do Movimento neste tipo de notao feita em quatro categorias: corpo,
esforo, forma e espao. A notao consiste em trs linhas dispostas verticalmente, que
so lidas de baixo para cima e no da esquerda para a direita, como a leitura ocidental.
Isso vantajoso, pois qualquer coisa que acontea do lado esquerdo do corpo pode ser
escrita do lado esquerdo da pauta e igualmente com o lado direito.
J o Benesh Movement Notation, criada pelo ingls Rudolf Benesh e patenteada
em 1955, utiliza o pentagrama como base da notao coreogrfica, como se o bailarino
fosse literalmente um instrumento musical. uma forma de analogia entre o compasso
musical e o movimento coreogrfico. Na pauta, anota-se com sinais e traos, a posio e
20
o movimento da cabea, dos braos e mos e das pernas e ps. Esse tipo de notao
lido da esquerda para direita e do alto da pgina ao fundo.
A notao coreogrfica uma grande aliada ao mercado da dana, pois alm da
sua importncia como fonte documental de memria, ela ainda se revela um campo
frtil em relao pesquisa, tanto no meio acadmico quanto no meio de criao
coreogrfica.
Estamos na era da internet, das mltiplas mdias digitais e das agitadas redes
sociais virtuais. A dana, como arte do movimento, no poderia ficar de fora de toda
essa inovao. H alguns anos, o coregrafo norte-americano William Forsythe,
comeou a desenvolver junto com membros de sua companhia, suas primeiras ideias em
relao a uma nova forma de representao da dana na internet. Sua coreografia One
Flat Thing, reproduced, do ano 2000, serviu de ponto inicial para esse projeto. A pea
foi meticulosamente registrada, de maneira que o espectador pudesse observar os
bailarinos filmados com uma cmera situada acima deles. Posteriormente, eles
pesquisaram como os movimentos de cada um dos bailarinos poderiam se tornar mais
visveis, atravs de elementos virtuais geomtricos auxiliares, como por exemplo,
linhas.
No Motion Bank, cada bailarino corresponde ento a uma linha. Ou seja, aquele
que dana se transforma em instrumento, em uma voz dentro de uma orquestra virtual
de movimentos. A tela do computador fica dividida horizontalmente em duas partes: na
superior, v-se a gravao em vdeo de uma coreografia; embaixo, ao mesmo tempo,
essa espcie de partitura digital. O todo pode ser comparado traduo da dana em
uma nova forma de visualizao e tambm uma inovao em seu registro. Um tipo de
notao coreogrfica virtual.
Diversos outros artistas e pesquisadores trabalham com o coregrafo buscando
preencher progressivamente essa memria do movimento, fazendo com que essa
representao visual da dana seja utilizvel de diversas outras maneiras e se propague
em outros meios, mdias e multides.
21
2.4. Acervos e lugares de memria da Dana no Brasil: um breve
levantamento
4
Rumos Dana: http://novo.itaucultural.org.br/explore/rumos/?ae=danca
22
O Projeto de Extenso Memria Viva, uma parceria dos cursos de Dana e
Cinema e Audiovisual do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Cear
(ICA/UFC) teve por objetivo elaborar uma cartografia das histrias da dana a partir da
memria dos artistas que viveram as primeiras iniciativas de formao e de criaes
artsticas no Cear. A iniciativa tem como aes a realizao de oficinas e palestras
com profissionais da dana brasileira e a produo de documentrios com artistas
precursores da dana no Cear, para que suas histrias sejam conhecidas.
Com essas aes, o Memria Viva procura conectar tanto os alunos dos
cursos de Dana e de Cinema e Audiovisual, como a populao em geral,
com o universo da dana no Cear, percebendo suas relaes com a dana
brasileira e mundial. Afinal, o que se percebe um desconhecimento em
torno das pessoas e dos processos histricos que foram imprescindveis para
que uma trajetria de dana se efetivasse no Cear, possibilitando uma srie
de aes artsticas e polticas que culminaram na criao de editais, festivais,
programas pedaggicos em escolas pblicas e a prpria implantao da
graduao em Dana na UFC. (GONALVES; BRUM, 2012)
No Rio de Janeiro, foi criada pela ONG ECOAR, a plataforma Mapa da Dana5.
Esta plataforma contempla: um ambiente de busca de pontos de dana na cidade do Rio
de Janeiro, uma rede social, uma rea educativa com ambiente de ensino online, e ainda
um local de notcias sobre a cadeia produtiva da dana, em todas as suas vertentes. A
iniciativa prope-se a disponibilizar uma cartografia da produo de dana no Rio de
Janeiro, indicando pontos geolocalizados em um mapa, com informaes de endereo,
telefone, site e descrio, atravs da tecnologia Google Maps. Um dos objetivos desta
cartografia promover a descentralizao do territrio, integrando pessoas das mais
diversas regies da cidade do Rio de Janeiro (Zona Norte, Zona Sul, Zona Oeste),
enfatizando a possibilidade de encontros e de intercmbio. A plataforma tambm
objetiva integrar tanto as aes, instituies e artistas que j possuem algum tipo de
interlocuo com o circuito artstico da dana, quanto os novos agentes do mercado.
Logo, este projeto alm de funcionar como um registro da cadeia produtiva da dana
carioca, ainda estabelece importantes conexes entre os seus agentes sociais.
Como ltimo e mais recente exemplo de acervo e lugar de Memria da dana
brasileira: O Programa de Registro e Memria da So Paulo Companhia de Dana,
instituio criada em 2008 pelo Governo do Estado de So Paulo e atualmente sob a
direo de Ins Boga. Este programa contempla uma srie de aes: Canteiro de
5
Mapa da Dana: http://mapadadanca.coletivoecoar.org/
23
Obras, uma srie de documentrios produzidos a partir de um panorama do
funcionamento cotidiano da companhia de dana, atravs de depoimentos e imagens de
artistas e espetculos. Os documentrios so distribudos gratuitamente em instituies
educativas, culturais e em universidades. Outra importante ao do programa a srie
Figuras da Dana, com o lanamento de DVDs com depoimentos pblicos de artistas
que constituem a histria da dana no Brasil. Na gravao, o prprio artista
homenageado conta sua histria em entrevista diretora da companhia e tambm
dialogando com o pblico e com pessoas que fizeram parte de sua trajetria. At o ano
de 2014, j foram lanados vinte e seis DVDs desta srie.
A companhia tambm produz anualmente, um livro com publicaes de autores
convidados de diversas reas, estabelecendo conexes entre a dana e outros campos de
pesquisa. Em agosto de 2013, realizou o seu primeiro Seminrio Internacional de
Dana, que englobou conferncias, mesas-redondas, encontros temticos e espetculos
de companhias profissionais. Grupos de discusso refletiram durante dois dias sobre
quatro diferentes temas: Memria da Dana; Produo Cultural; Performance e Novas
Mdias e Projetos Artsticos Educacionais. As reflexes provenientes desses debates
foram publicadas em um livro, com selo de cultura acadmica. E no ambiente virtual, a
companhia lanou o programa Dana em Rede, uma enciclopdia colaborativa online
da dana, que busca conhecer e divulgar a dana do pas, apresentando at o momento
mais de oitocentos verbetes, com o objetivo de ampliar e democratizar o acesso a esta
arte.
Diante deste extenso programa, a So Paulo Companhia de Dana se apresenta
na atualidade, como o mais frtil e atuante centro de pesquisa, divulgao e produo
em dana. Um exemplo de instituio para a memria da dana brasileira.
24
III A MEMRIA CORPORAL DO BAILARINO
Toda forma de registro da dana, seja ela digital ou material, tem a sua
relevncia e cada uma contribui de uma maneira especfica na preservao e
transmisso desta arte. Mas nada substitui aquele que o instrumento de execuo, o
objeto de apreciao e o mais eficiente e autntico meio de transmisso de memria da
dana: o corpo.
O corpo do bailarino contm em si a histria dessa arte. Conhecimentos de
sculos de histria da dana foram sendo transmitidos de mestre a mestre, de corpo a
corpo, at chegar aos corpos danantes da atualidade, que apreendem e vivenciam todo
esse legado em seu fazer artstico dirio. Para Foucault, o corpo uma superfcie de
inscrio dos acontecimentos, sendo inteiramente marcado de histria. Esse corpo
absorve os conhecimentos, sente seus reflexos e os incorpora. Depois de
experimentados na carne durante alguns anos, esses conhecimentos so transmitidos a
outro corpo, e assim por diante. Este movimento entre passado e presente faz da histria
uma verdadeira coreografia de corpos, como afirma Daniel Trcio.
Palco de criao desde as primeiras representaes artsticas construdas na
histria da humanidade, o corpo est no centro do fenmeno das artes, tanto do ponto de
vista de sua produo quanto o de sua recepo. As mos do maestro, os olhos do
fotgrafo, a voz do cantor, os ouvidos do pblico. O corpo inerente existncia da
arte. Quanto dana, ela requer o corpo por inteiro, em funcionamento harmnico da
cabea aos ps, da musculatura s articulaes. Ela o corpo em si. Costuma-se dizer
que a dana a arte do movimento, mas essa postulao no de todo correta, pois para
que a dana acontea no necessrio que acontea um deslocamento no espao e sim,
que o lugar do corpo seja um lugar dinmico, pois o movimento pr-condio de sua
existncia. Na profundidade dos corpos, em seu plano microscpico, encontramos to
somente movimento. Apenas do ponto de vista da macropercepo, que se pode falar
em repouso.
25
O investimento no estudo do corpo bem como das suas representaes e
apreenses fundamental para que este seja conhecido e reconhecido como o principal
lugar de memria6 da arte da dana.
3.1. O corpo
6
NORA, Pierre.
26
religiosas, que s permitiam a abertura de cadveres para a verificao de santidade ou
para preparos funerrios.
Com esse movimento, o lao entre a arte e a cincia se estreitou medida que
ambas enunciaram uma nova representao para o corpo; ou seja, a partir da
compreenso do mundo e do prprio eu, atravs de um olhar invasivo que
desvelou o interior corpreo e o desnudou ao exibir sua forma, produziu-se o
avano das descobertas cientificas gerando novos conhecimentos sobre o
corpo; desse modo, a habilidade artstica de Leonardo da Vinci, ao realizar
suas pesquisas, contribuiu significativamente. (BARBOSA, 2011)
7
Equipamentos que tm um propsito e uma funo especfica, prtica e til no cotidiano. So
comumente chamados assim os dispositivos eletrnicos portteis como celulares, smartphones, tablets e
etc.
27
Essa multiplicidade relativa interpretao que se d ao corpo nas mais
diferentes pocas da histria importante para reconhecer que o fenmeno do corpo
o fenmeno mais rico, mais claro, mais compreensvel: deve ser posto em primazia, sem
que descubramos seu significado ltimo (NIETZSCHE, 2008).
28
no h tcnica e tampouco transmisso se no h tradio (MAUSS, 1974). O corpo do
bailarino clssico, mais do que todos os outros, precisa ser um corpo dcil, conceito
de Michel Foucault, segundo o qual, dcil um corpo que pode ser submetido, que
pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeioado. A disciplina sujeita o
corpo a um determinado tempo e a um espao especfico. Um corpo disciplinado a
base da eficincia de um gesto. No caso do Ballet Clssico, a base da eficincia de
todos os seus movimentos tcnicos:
Ao bailarino clssico exigido esse corpo treinado e dcil, que repete todos os
dias e exaustivamente um conjunto de exerccios e movimentos, sob a tutela de um
mestre, com objetivo de se chegar prximo perfeio tcnica exigida pela dana
clssica, cuja idealidade do vocabulrio terminolgico projeta-se nos corpos e os faz
convergir para uma paisagem que a do Corpo de Baile. Neste, todos os corpos
danantes precisam parecer iguais, como se fossem um s, e necessitam reproduzir os
movimentos da mesma forma.
O corpo do bailarino considerado um corpo belo, na condio dos
movimentos realizados se conformarem a padres formais de harmonia e de elegncia e
a elevadas exigncias tcnicas, por vezes at antinaturais. Em eterna busca pelo
virtuosismo tcnico, pela graciosidade e leveza, este corpo interroga a si prprio: seus
limites, suas configuraes, suas possibilidades, sua resistncia, sua vulnerabilidade, sua
permeabilidade e sua entrega.
A formao em Ballet Clssico dura em mdia nove anos, como , por exemplo,
na Escola Estadual de Dana Maria Olenewa, da Fundao Theatro Municipal do Rio de
Janeiro. Escola esta, pioneira no Brasil, fundada em 1927 e principal formadora dos
talentos nacionais das ltimas dcadas. Durante este perodo de formao, o bailarino
vai adquirindo, passo a passo, um extremo domnio corporal, postura e percepo
espacial, que normalmente o difere visivelmente das outras pessoas no praticantes
desta arte. A aprendizagem da tcnica do bailado clssico acontece da seguinte forma:
29
diante do espelho, auxiliado por seu mestre, o aluno aprende a fazer corresponder certa
posio dos membros a certa tenso sinestsica, criando assim uma espcie de mapa
interior dos movimentos, que lhe permitir mais tarde evoluir de maneira correta sem
precisar recorrer a uma imagem exterior do seu corpo, como faz o reflexo do espelho.
A dana integra vrias funes cerebrais ao mesmo tempo. Ela envolve
simultaneamente processos sinestsicos, racionais, musicais e emocionais. Danar exige
um tipo de coordenao interpessoal no espao e tempo quase inexistente em outros
contextos sociais. Durante um espetculo de Ballet Clssico, uma bailarina movimenta
todos os msculos do seu corpo e muitas vezes, em direes opostas e intensidades
diferentes. O seu crebro est trabalhando intensamente, pensando em cada movimento
que precisa ser realizado, tentando esquecer as dores das leses recorrentes dos
treinamentos e ainda, preocupado em transmitir os sentimentos e as emoes da
personagem que ela est interpretando.
Em sua obra Assim falou Zaratrusta, Friedrich Nietzsche, filsofo que muito
escreveu sobre a dana, revelou sobre o danarino dionisaco: os meus calcanhares
erguiam-se, os meus dedos tentavam entender-te- pois aquele que dana nos dedos dos
ps que traz os ouvidos (NIETZSCHE, 1995). Todo o corpo do bailarino tambm um
receptor sonoro. O ritmo fundamental. O bailarino precisa executar cada movimento
simultaneamente a cada nota musical tocada. preciso muita ateno e muita
concentrao para essa conexo rtmica acontecer, o que implica em um enorme
autocontrole fsico e emocional. No a toa que na Antiguidade, os gregos acreditavam
que dos melhores bailarinos se faziam os melhores guerreiros, conforme afirma Maribel
Portinari.
Graas natureza particular do seu movimento, o corpo que dana toma como
ponto de partida o desequilbrio e no volta a sair dele. Sua arte consiste em construir,
driblando a gravidade, um grau mximo de instabilidade, desarticulando as articulaes,
segmentando os movimentos, separando os membros e os rgos, com o objetivo de
poder reconstruir um sistema de equilbrio infinitamente delicado, uma espcie de caixa
de ressonncia ou amplificador dos movimentos microscpicos do corpo.
Eis os motivos do espao do corpo de quem dana causar tanto fascnio sobre o
espectador. Entre a visibilidade da superfcie corprea e a invisibilidade dos rastros
oriundos dos movimentos, a dana acontece. Que corpo esse que se empresta ao
mundo, que encanta os outros e se entrega ao ritmo da vida? o corpo que dana.
30
Como afirmou o coregrafo Bill T. Jones, em entrevista a Ins Boga, "O mundo se v
no corpo que dana (BOGA, 2009).
Quando uma bailarina mais velha mostra um passo ou uma variao a uma
jovem bailarina, a tica da profisso manda uma estrita obedincia e respeito:
ambas as partes acreditam que, com razo, uma forma de conhecimento
superior est sendo passada entre elas [...]. Os ensinamentos do mestre so
reverenciados por sua beleza e lgica, mas tambm porque eles so a nica
ligao que o bailarino mais jovem tem com o passado [...]. Essas relaes,
os laos entre mestre e aluno, que interligam os sculos e do ao Ballet a sua
base no passado. (HOMANS, 2010, traduo nossa)9
9
When an older dancer shows a step or a variation to a young dancer, the ethics of the profession
mandate strict obedience and respect: both parties rightly believe that a form of superior knowledge is
passing between them [...]. The teachings of the master are revered for their beauty and logic, but also
because they are the only connection the younger dancer has to the past [...]. It is these relationships, the
bonds between master and student, which bridge the centuries and give the ballet its foothold in the past.
(HOMANS, 2010)
31
bailarinos so treinados para ingerir e incorporar a dana torna-la parte do que eles so.
uma memria fsica.
Quando os bailarinos sabem uma coreografia, alm da apreenso intelectual, eles
a sabem com seus msculos e ossos. Portanto, as grandes obras do Ballet Clssico,
como O Lagos dos Cisnes, La Bayadre e Quebra-Nozes do coregrafo francs
Marius Petipa, no so possveis de serem totalmente gravadas em documentos
histricos, mas sim incorporadas nos bailarinos que j as vivenciaram. Sobre isso,
Duarte Jr. acrescenta: o saber reside na carne, no organismo em sua totalidade, numa
unio de corpo e mente [...] saber implica em saborear elementos do mundo e incorpor-
los a ns (ou seja, traz-los ao corpo, para que dele passem a fazer parte). (DUARTE
JR., 2003).
Corpo a Corpo. Experimentando na pele, quase como um patrimnio cultural
imaterial, comportando valores das tradies e costumes herdados de diferentes grupos.
Heranas, que muitas vezes no so tocadas, mas sentidas com o corao, conforme
acrescenta Sayonara Pereira. Dessa forma que as grandes obras da histria do Ballet
Clssico, os chamados Ballets de repertrio, foram sendo transmitidos ao longo dos
anos.
Mas ser que nada se perde nessas transmisses de gerao a gerao? No
ocorrem mudanas ao longo do tempo? realmente possvel remontar hoje uma obra
criada, por exemplo, h mais de um sculo, mantendo integralmente a sua
originalidade?
Essa reflexo sobre a originalidade de uma obra de repertrio requer uma srie
de abordagens. Primeiramente, ao longo dos anos, a tcnica do Ballet Clssico foi
evoluindo. O avano nos estudos da qualidade cintica dos movimentos e da anatomia
foi agregando novas possibilidades tcnicas e virtuosas aos executantes. O corpo dos
bailarinos tambm mudou esteticamente. Conforme Denise Siqueira:
32
meios de registros eficientes para que hoje pudssemos ter ideia do que realmente foram
essas verses originais. O que sempre se tentou preservar foi alm do enredo, a
identidade da obra como um todo, a sua essncia potica e o que ela representava para o
momento histrico em que foi concebida. Flvio Sampaio acrescenta que para a
remontagem dessas obras preciso que ali estejam contidas as regras que determinaram
a esttica de tal movimento artstico, sua potncia e a adaptao s possibilidades atuais
de realizao. E que quem reproduz uma obra do repertrio clssico, tanto o remontador
quanto o intrprete, tambm coautor da obra original e deve entend-la
profundamente.
Sobre as obras coreogrficas mais recentes, a partir do sculo XX, algumas
iniciativas foram tomadas para uma melhor preservao como, por exemplo, a criao
do The George Balanchine Trust, organizao responsvel pelos direitos autorais das
obras do grande coregrafo russo radicado nos Estados Unidos, George Balanchine.
Sobre isso, Jennifer Homans expe:
Outras organizaes de mesmo estilo foram tambm criadas para cuidar dos
direitos autorais e da preservao dos trabalhos de coregrafos como Jerome Robbins,
Antony Tudor e Frederick Ashton. Mas como defende Beatriz Cerbino, em seu artigo
Dana e Memria: usos que o presente faz do passado, mesmo que exista uma nica
fonte ou organizao para a remontagem dessas obras, necessrio perceber que ainda
assim um grande nmero de variveis est presente nesse processo, alterando maneiras
de representao e percepo. Cada remontagem est relacionada ao espao-tempo em
que foram produzidas e, por isso mesmo, nem menos nem mais originais.
A tradio vive ao longo da experincia dos seus usurios, recebendo nova vida
e perspectivas frescas ao longo do tempo, defende Paula Salosaari. Um espetculo
10
In this spirit, there has been an impressive effort to revive or document lost works, especially those of
George Balanchine. His known works are now copyrighted and controlled by a trust established after his
death []. If a company wish to mount one of his ballets, they must apply to the trust, which dispatches
repetiteurs- dancers who worked with the ballet master directly-to stage the work.(HOMANS, 2010).
33
nunca igual ao outro dentro de uma temporada de dois meses de uma companhia de
dana, que dir de um sculo para o outro. Isso uma caracterstica nata do Ballet
Clssico. Suas obras de repertrio vivem em um constante processo entre a efemeridade
e a permanncia. A cada apresentao efmera, que acontece ali na cena e se evapora no
ar, algo permanece. E passado adiante. Algo intraduzvel em palavras.
esse algo que faz o Ballet Clssico permanecer clssico, mantendo vivas as
obras de seu repertrio. Esse algo que s passvel de transmisso atravs do corpo a
corpo.
Como disse Martha Graham: O corpo diz o que as palavras no podem dizer11.
11
GRAHAM, Martha. Blood Memory- An autobiography. Doubleday, 1991.
34
IV- UM MUSEU DA DANA
35
reconhecendo que sob este, ocultam-se diversos grupos de interesses diferentes e s
vezes, at conflitantes. Segundo Mrio Chagas, existe atualmente uma srie de tipo de
museus: ecomuseus, etnomuseus, museus locais, museus de bairro e de vizinhana,
museus comunitrios, museus de sociedade, museus de territrio, alm dos j
consagrados tipos, como museu histrico, museu artstico, museu cientfico e museu
ecltico. O campo museal est passando por grande transformao e crescimento. Ele
se constitui na atualidade, como um corpo em movimento. E assim como um corpo,
instrumento de mediao, espao de negociao de sentidos, uma porta que liga e
desliga mundos, pessoas e temporalidades diferentes. Um museu da Dana se enquadra
dentro da categoria de museu artstico, e como tal, precisa ser democrtico e abrangente,
acolhendo tudo aquilo que se insere e se denomina como dana.
No mundo inteiro, so poucas as instituies que exercem a funo de museu da
dana. As principais e mais conhecidas na Amrica, so o Museo de La Danza de
Havana, em Cuba, e o The National Museum of Dance em Saratoga, nos Estados
Unidos. Na Europa, existem o Dansmuseet, em Estocolmo, na Sucia e o Muse de la
danse, em Rennes, na Frana.
Dentre estes, o que mais me chamou a ateno durante a pesquisa e instigou o
aprofundamento deste estudo, foi o Muse de la danse12 na Frana, por dialogar com
tudo o que acredito ser fundamental para o funcionamento de um espao com este
propsito. Farei um breve estudo de caso sobre este museu da dana francs, que me
inspirou a pensar em uma iniciativa para a realidade da memria da arte da dana
brasileira.
12
Site oficial: http://www.museedeladanse.org/fr
36
ideia de estabelecer uma espcie de taxonomia da dana, somente registrando,
arquivando e segmentando essa arte. Livrando-se da pejorativa ideia de museu morto e
parado no tempo, o museu da dana construdo pelos seus corpos transeuntes. Sua
misso ser um espao de vida, de diferentes pontos de vista, de discusses e
interpretaes e no somente um lugar de acumulao e representao.
Estamos em uma era onde os museus podem ser vivos e habitados tanto
quanto os grandes teatros e ainda possuir um espao virtual na rede. E exatamente
nesse vis que o Muse de la danse foi concebido.
Conforme pode ser conferido no site oficial do museu, diversas atividades so
realizadas em seu espao, criando esse movimento fsico e conceitual pretendidos pela
instituio. O Petit Muse de la danse, pequeno Museu da dana, um projeto
destinado ao pblico infantil, oferecendo s crianas a oportunidade de conhecer e
experimentar o universo da dana. Tudo isso, j focando na formao de plateia em
dana. Mesmo que essas crianas no venham a se tornar bailarinos no futuro, criaro o
habitus de apreciao pelos espetculos de dana, como defende o terico Pierre
Bourdieu. Segundo ele, o habitus corresponde capacidade dos sentimentos, dos
pensamentos e das aes dos indivduos de incorporar determinada estrutura social,
primeiro atravs da educao familiar, e depois transformados pela ao escolar. Com
esta ao educativa, o museu forma uma plateia habituada frequentao em dana, o
que essencial para o crescimento do mercado de dana.
Alm de oficinas prticas, workshops coreogrficos e um acervo documental, o
espao cultural disponibiliza tambm uma visita guiada, para atrair turistas e tornar o
museu mais acessvel, realizando uma espcie de mediao entre o contedo exibido e o
visitante, facilitando a experincia do mesmo.
Outra iniciativa muito interessante o Museu de Dana no Rdio, um
programa que vai ao ar periodicamente trazendo discusses relevantes com renomados
convidados, como por exemplo, o tema As profundas mudanas na dana trazidas pela
fotografia e cinema ao longo da modernidade. Tudo isso, alm de levar informao e
instruir os ouvintes, ainda aproxima e cria interesse em um pblico que provavelmente
no possua tanto contato com essa arte.
Um ponto forte de ao do museu a sua mobilidade, funcionando tambm
como um museu viral, criando frentes de atuao em diversos lugares e espalhando a
dana aonde ela no esperada. No projeto 20 bailarinos para o sculo XX Um
domingo no Champs Libres., vinte artistas realizaram performances em um espao
37
pblico de uma biblioteca, expondo alguns dos mais importantes solos de dana que
marcaram o sculo XX. Os visitantes da biblioteca se deparavam em um corredor com
um solo de Merce Cunningham, coregrafo norte-americano, ou apreciavam, por
exemplo, em plena escada uma dana de Isadora Duncan, uma das pioneiras da dana
moderna. Esse projeto cria uma nova forma de recompor a histria da dana em um
espao de leitura e conhecimento, com performances que permeiam o passado e o
presente em um ambiente no habitual de movimento. Inovando, disseminando e
formando pblico.
O Muse de la danse conta com o financiamento do Ministrio da Cultura e da
Comunicao, a pera de Rennes, a Rennes Radio Campus, dentre outras muitas
instituies. Um exemplo de real valorizao e afirmao da arte da dana na Frana.
O diretor, Boris Charmatz, escreveu um manifesto para o museu, intitulado
Manifesto for13 revelando seus pensamentos e reflexes sobre a ideologia deste
espao. Ele listou dez mandamentos do museu. Dentre estes, o do que o museu precisa
ser um museu de artistas, pesquisadores, colecionadores e curadores envolvidos
diretamente na vida do museu, reinventando-o a cada trabalho. O museu tambm
precisa ser excntrico, procurando no estabelecer uma taxonomia da dana e nem
fornecer uma definio conclusiva da disciplina. Outro mandamento que o museu
necessita ser incorporado, s pode ser desenvolver a partir dos corpos que se movem
por ele. Corpos de artistas, do pblico e tambm da equipe de funcionrios, que do
vida s obras. O diretor tambm defende que seja um museu permevel, que enxergue
uma concepo mais ampla de dana e se abra s diferenas. Defende ainda que seja um
espao de temporalidade complexa, lidando com o efmero, o perene, o experimental e
o patrimonial. Que seja ativo, reativo e mvel.
Por ltimo, ele afirma que o museu precisa ser cooperativo, trabalhando em
conjunto com uma rede de parcerias, desde instituies ligadas dana, como tambm a
outros museus, galerias de arte, escolas e universidades. Seu manifesto termina
sintetizando que o Muse de la danse um museu imediato, ele existe a partir do
momento em que o primeiro gesto danado.
13
CHARMATZ, Boris. Manifesto for. Disponibilizado na ntegra nos anexos. Disponvel em:
http://www.borischarmatz.org/sites/borischarmatz.org/files/images/manifesto_dancing_museum100401.p
df. Acessado em 18/07/2014.
38
Com uma ideologia democrtica, aberta ao futuro e com uma produo intensa,
o Muse de la danse um exemplo de espao de afirmao e reconhecimento da dana
em toda a sua amplitude como arte. Um exemplo a ser seguido.
39
espao funcionaria como um lugar de encontro da memria viva da dana, que so os
seus corpos danantes. Esses corpos que vo acumulando as experincias vividas em
cena, no fazer de sua arte e que depois tem a misso de transferi-las s geraes futuras,
funcionando como verdadeiros museus internos. Museus humanos.
A ideia que este Museu Vivo esteja em constante movimento, com uma
coreografia intermitente desses corpos/museus internos passantes em suas
dependncias, que, alm de um grande espao para exposies, contariam com um
teatro, salas de dana, videoteca, biblioteca, espao de convivncia e um restaurante.
O contato do pblico com a dana, dentro do museu, seria no somente de
apreciao esttica, mas tambm de experimentao prtica e experincia espetacular,
visando assim um aumento do nmero de frequentadores e apreciadores desta arte.
Como afirma Mrcia Strazzacappa:
40
O campo de trabalho para os profissionais da dana se ampliaria bastante com
este museu. Para bailarinos, coregrafos e companhias de dana que poderiam expor
suas obras no teatro, para professores que poderiam ministrar aulas e workshops nas
salas de dana e para os pesquisadores e curadores especializados, que realizariam
seminrios, grupos de pesquisa e exposies. Um ganho de enorme valor para toda a
classe.
Muitos itens so colocados em questo e discutidos quando se pensa na criao e
na funo de um museu, como foi exposto neste captulo. Mrio Chagas sintetiza:
41
CONCLUSO
42
um espao fsico especializado nesta memria e isso faz muito falta sua classe
artstica.
Toda fonte documental de registro da dana, seja ela digital ou material, tem a
sua relevncia e cada uma contribui de uma forma diferente na preservao e
transmisso desta arte. Mas, como foi defendido no terceiro captulo, nada substitui
aquele que o instrumento de execuo, o objeto de apreciao e o mais eficiente e
autntico meio de transmisso de sua memria: o corpo. Conhecimentos de sculos de
histria da dana foram sendo transmitidos de mestre a mestre, de corpo a corpo, at
chegar aos corpos danantes da atualidade.
O corpo o primeiro e o mais autntico instrumento do homem, com o qual ele
habita o mundo e a ele pertence. Cada poca da histria constri sua representao de
corpo em virtude de questes que atravessam a forma de vida do ser humano e seus
valores culturais. Quanto arte, o espao do corpo inerente sua existncia. A dana,
em especial, requer o corpo por inteiro, em completo funcionamento harmnico. Ela o
corpo em si. Seu corpo danante simultaneamente, um espao de expresso e de
construo de pensamento. So objeto e sujeito de sua arte. Ele se joga no espao,
expande limites, comunica em ritmo extasiante, induzindo o espectador a uma
experincia no redutvel a conceitos. O corpo que dana fala, sem precisar de palavras.
A dana promove a integrao de vrias funes cerebrais ao mesmo tempo,
envolvendo simultaneamente processos sinestsicos, racionais, musicais e emocionais.
Danar exige um tipo de coordenao interpessoal no espao e no tempo quase
inexistente em outros contextos sociais. Por isso, o corpo de quem dana causa tanto
fascnio no espectador. Entre a visibilidade da superfcie corprea, entre a invisibilidade
dos rastros oriundos dos movimentos e entre o equilbrio e o desequilbrio, a dana
acontece. E fascina.
Dentre todos os tipos de dana, o Ballet Clssico por excelncia o que mais faz
honras tradio. A profunda e respeitosa relao entre mestre e aprendiz o grande
pilar da tcnica clssica, que fez com que a mesma se sustentasse at os dias atuais.
Corpo a Corpo. Assim, as grandes obras da histria do Ballet Clssico, os
chamados Ballets de repertrio, foram sendo transmitidos ao longo dos anos. Mas
inegvel que mudanas foram acontecendo e que alguns detalhes foram se perdendo e
outros sendo acrescentados. Afinal, a tradio vive ao longo da experincia dos seus
usurios, recebendo nova vida e perspectivas frescas a cada poca.
43
Ao longo do tempo, a tcnica do Ballet Clssico evoluiu, o corpo dos bailarinos
mudou e a percepo do pblico foi se alterando. Mas o que sempre se tentou preservar
foi alm do enredo, a identidade da obra como um todo, a sua essncia potica e o que
ela representava para o momento histrico em que foi concebida.
Um espetculo nunca igual ao outro. Isso uma caracterstica nata do Ballet
Clssico. As suas obras de repertrio vivem em um constante processo entre a
efemeridade e a permanncia. A cada apresentao efmera, que acontece ali na cena e
se evapora no ar, algo permanece. E passado adiante. De um corpo, pelo corpo, para
outro corpo.
Refletindo sobre essa dualidade entre permanncia e efemeridade na dana e
entre corpo danante visvel e rastro de movimento invisvel, surgiu a ideia de um
espao para a memria da dana brasileira que lidasse com essas oposies: O Museu
Vivo da Dana no Brasil. Seu objetivo seria o de preservar e disponibilizar todas as
formas de registros materiais da dana e principalmente, o de abordar e integrar os
corpos danantes como as principais peas de seu acervo. Corpos estes que so
verdadeiros museus internos. Assim, um acervo vivo seria formado. Um acervo em
movimento.
Sob inspirao do Muse de la danse francs e agregando o conceito de Museu
Vivo, este espao funcionaria como um lugar de memria, fruio, criao e
principalmente um lugar aonde todas as tcnicas de dana teriam voz e seriam
reconhecidas em suas peculiaridades, promovendo uma maior unio de sua classe
artstica e uma ampliao no campo de trabalho para os profissionais desta rea.
O Museu Vivo da Dana no Brasil, com um acervo material especializado nesta
arte e com uma intermitente coreografia de corpos/museus internos passantes e
danantes em seu espao, seria uma alavanca transformadora e mais do que necessria
para a valorizao da memria da arte da dana no pas.
Um Museu Vivo. Um Museu em Movimento. Um Museu em Dana.
44
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABREU, Regina. Chicletes eu misturo com bananas? Acerca da relao entre teoria
e pesquisa em memria social. In: GONDAR, J & DODEBEI, Vera (Org.) O que
memria social? 2002, p. 35.
CERBINO, Beatriz. Dana e Memria: usos que o presente faz do passado. In:
BOGA, Ins.(org.) Primeira estao: ensaios sobre a So Paulo Companhia de Dana.
So Paulo: Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2009.
DUARTE JR. Joo Francisco. O sentido dos sentidos. 2 ed. Curitiba: Criar Edies
Ltda, 2003, p. 127.
45
FREIRE, Beatriz Muniz. O encontro museu/escola: o que se diz e o que se faz.
Dissertao de Mestrado. Rio de Janeiro: PUC, 1992.
HOMANS, Jenifer. Apollos angels: a history of ballet. New York: Random House
Trade Paperbacks, 2010.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. A histria, cativa da memria? Ver. Inst. Est.
Bras., So Paulo, 34:9-24, 1992. Disponvel em:
http://200.144.255.123/Imagens/Revista/REV034/Media/REV34-01.pdf
46
PEREIRA, Sayonara. Patrimnio experimentado na pele. In: BOGA, Ins (org.).
Terceiro Sinal: Ensaios sobre a So Paulo Companhia de Dana. So Paulo:
Annablume; So Paulo Companhia de Dana; Associao Pr-Dana, 2011.
47
MUSE DE LA DANSE. Disponvel em: <http://www.museedeladanse.org/fr>
Acessado em 03/07/2014.
MUSEO NACIONAL DE LA DANZA. Disponvel em: <http://www. balletcuba.
cult.cu/museo-nacional-de-la-danza/> Acessado em 03/07/2014.
NATIONAL MUSEUM OF DANCE. Disponvel em: < http://www. Dancemuseum
.org/> Acessado em 03/07/2014.
48
ANEXOS
49
50
51
52
53
Imagens ilustrativas dos captulos
-Introduo
54
-Captulo II- As formas de registro da dana
55
Motion Bank
56
III A memria corporal do bailarino
Um Corpo de Baile
57
A tradio e a transmisso do Ballet Clssico
58
IV- Um museu da Dana
59
Museu Vivo da Dana no Brasil: uma proposio
60