Participação Política Convencional e Não Convencional: Dois Fenômenos Contraditórios?
Participação Política Convencional e Não Convencional: Dois Fenômenos Contraditórios?
Participação Política Convencional e Não Convencional: Dois Fenômenos Contraditórios?
Resumo
Tendo em vista a produo terica na academia e as recentes manifestaes populares que
eclodiram no pas nos ltimos meses o presente artigo tem como escopo fundamental realizar
um exerccio reflexivo acerca do fenmeno da participao poltica, buscando elementos
tericos capazes de ajudar a compreender como se estabelecem as dinmicas participativas
nas sociedades complexas contemporneas, tentando evidenciar at que ponto a participao
poltica convencional e no convencional, distino usualmente utilizada no meio acadmico,
pode ser considerada contraditria. Para isso, nos debruamos sobre as principais perspecti-
vas analticas sobre o tema, visando colaborar com a discusso sem qualquer pretenso de
esgot-la.
Palavras-chave: Participao Poltica; Democracia; Tese da Convergncia e da Divergncia.
Introduo
O fenmeno da participao poltica tem sido objeto de investi-
gao da literatura desde as clssicas obras de filosofia poltica, num
contexto fortemente marcado pelo predomnio dos homens nos ditames
do regramento social. Pode-se dizer que nas tradicionais civilizaes,
principalmente a grega, poltica e participao ressalvado os aspectos
que levantaremos na primeira seo eram palavras sinnimas j que os
laos que ligavam esses dois vocbulos estavam fortemente estreitados.
Entretanto, com a complexificao da sociedade moderna, a participao
passou a ser percebida inclusive na academia como o ato de partici-
par do processo poltico tradicional, elegendo uma elite poltica capaz de
representar os nossos interesses (CONSTANT, 1985; GURZA LAVAL-
LE, 2011). Durante muito tempo a produo intelectual sobre participa-
o debruou-se sobre os espaos tradicionais da poltica, renegando a
existncia de um outro tipo de participao que nasce na sociedade civil,
externada por meio de movimentos sociais, associaes, conselhos etc.
(GURZA LAVALLE, 2011).
Hoje, o cnone acadmico mundial, sobretudo da Amrica La-
tina, tem produzido um substancial aporte terico sobre participao
poltica, frequentemente com o olhar voltado para a participao exis-
tente nos chamados espaos no convencionais da poltica. So refe-
rncias nesse campo: Adrin Gurza Lavalle, Archon Fung, Alberto
Melucci, Pippa Norris, Robert Putnam, Ronald Inglehart, entre tantos
outros que vm produzindo nesse nicho epistemolgico.
Na primeira seo deste artigo a preocupao inicial propor uma
reflexo sobre a democracia grega considerada o bero da democracia
direta para problematizar suas limitaes e falsas anlises, j que o fato
de todos terem o direito de participar da vida pblica no necessariamente
traduzia-se em uma democracia sem vcios. Seguindo a reflexo sobre
participao, a seo seguinte esboar consideraes sobre a participao
poltica, estabelecendo algumas reflexes sobre perspectivas tericas dessa
rea. Por fim, tentaremos elucidar como a literatura vem enfrentando as
proximidades e distanciamentos entre a participao poltica convencional
e no convencional, demonstrando que essas duas formas de distino da
participao dominam a agenda acadmica e podem ser compreendidas
pela tica da tese da convergncia e da divergncia.
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1 Importante destacar que a qualidade de cidado na antiguidade grega era bastante limitada,
visto que mulheres, estrangeiros, escravos e crianas eram excludos das decises polticas.
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2 Quando falamos em contornos universais estamos nos referindo ao fato de que todos
aqueles considerados cidados gregos participavam de forma ativa da vida poltica. importan-
te destacar que na Grcia uma parcela significativa da sociedade era excluda do processo
poltico como as mulheres e pobres.
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Consideraes finais
Um dos objetivos deste artigo era problematizar a questo da
participao poltica, trazendo, para isso, um resgate histrico da evo-
luo desse objeto terico no cerne da teoria poltica.
Para isso, iniciamos retratando a clssica democracia grega reve-
lando haver uma falsa ideia de que nessa democracia a participao
poltica era plena. Na realidade o que os achados de Urbinati (2010) e
Manin (1995) evidenciam que nem todos os cidados participavam
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