Brasil Made in China - Final PDF
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ISBN: 978-85-68302-02-6
CDD: 300
CDU: 339
2
ndice
Prefcio 5
Parte I
Introduo: O mundo made in China e o metabolismo
do capitalismo no sculo XXI 11
O fator China 13
Sonho (ou pesadelo) chins? 21
Amrica LaChina 25
O Consenso de Beijing e o debate sobre extrativismo 30
Parte II
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia? 45
Breve histrico de uma aliana Sul-Sul 47
Neodesenvolvimentismo e internacionalizao subordinada 51
Alimentando o drago, ou as novas equaes de dependncia 56
China: parceira estratgica do neodesenvolvimentismo 64
China e o Pr-Sal 69
China na Amaznia 71
Arco Norte e o complexo agromineral 74
O linho de Belo Monte: a Pan-Amaznia como fronteira 92
hidroeltrica mundial
Amaznia e capitalismo de fronteira 97
Parte III
Para alm do dilema desenvolvimentismo-extrativismo 101
Anexos
Anexo I: A China no setor de energia no Brasil 107
Anexo II: Atos 109
3
4
Prefcio
Verena Glass
Fundao Rosa Luxemburgo
5
relaes Sul-Sul , foi se materializando enquanto realidade cada vez mais
presente um novo player do capitalismo do sculo XXI em nossa regio: uma
potncia chamada China, que vende quase tudo que voc usa e compra uma
boa parte do que produzido nos monocultivos, nas minas e nos poos de
petrleo do pas.
A bem da verdade, como se verificar na leitura deste livro, as relaes
dos pases latino-americanos e, em especial, o Brasil com a China no so
to recentes. Mas, como pontuado aqui, a percepo de que o mundo made
in China tem se imiscudo no cotidiano de um espectro cada vez mais amplo
de pessoas, e de forma cada vez mais aguda. Do sojicultor vendedora de ba-
tom, do camel aos presidentes de grandes empreiteiras, da garotada vida por
tecnologia ao indgena espoliado por projeto barrageiro na Amaznia, todos
comungam da presena chinesa em suas vidas, para o bem ou para o mal.
Para o leitor que baliza sua medida de aprovao das polticas de de-
senvolvimento nos preceitos da economia, a atuao da China na Amri-
ca Latina e no Brasil, detalhada neste livro, certamente merecer calorosos
aplausos. Como principais compradores de commodities e bens naturais da
regio, os chineses tm adotado, em troca, um crescente protagonismo nos
investimentos em infraestrutura e demais facilitadores do processo produ-
tivo (numa relao win-win bastante bem-vista pelo mercado). Com a van-
tagem adicional de que, diferentemente de Cortez e seus tiros de arcabuz
(ou dos EUA e seus marines), a China (por enquanto) declaradamente pa-
cifista e se ocupa dos territrios exclusivamente atravs de acordos comer-
ciais, mercados vidos e investimentos vultosos.
Esta mesma sanha consumista de mercadorias primrias da nossa regio e
o concomitante empenho em fomentar nos territrios latino-americano e bra-
sileiro mecanismos de barateamento dos custos das respectivas cadeias produ-
tivas, porm, assumem contornos bem menos atraentes se vistos pelo prisma
dos direitos humanos e da natureza, das populaes tradicionais e dos ind-
genas, das soberanias alimentar e energtica, da preservao ambiental e da
biodiversidade e, principalmente, das resistncias ao aniquilamento das diver-
sidades em nome do que se achou por bem chamar de progresso e crescimento.
O neodesenvolvimentismo, adotado em larga medida pelos governos
sul-americanos (dos mais aos menos progressistas), tem embasado, nas l-
timas dcadas, os discursos e as polticas que transitam da singular acele-
rao do crescimento promoo e sustentao de programas sociais e de
combate pobreza (em boa medida via rentismos). Marcadamente neoex-
6
trativo, teve o mrito de, paulatinamente, suprimir do consciente coletivo
progressista o paradoxo que a promoo de bem-estar via explorao
predatria bens naturais.
Mas o que realmente promete este progressismo de resultados? O
iderio progressista-desenvolvimentista que em grande medida logrou a
diminuio de desigualdades e da pobreza, mas no foi capaz de operar as
transformaes estruturais no cerne poltico, social e econmico do poder
vem abandonando os envoltrios sociais de seus projetos de crescimento
econmico, e o que tem emergido de forma nua e crua so as estruturas
das cadeias produtivas da extrao de bens primrios (incluindo a a terra e
a gua usadas na produo agropecuria extensiva), numa lgica made in
China de busca por eficincia.
o que evidencia o debate a partir do captulo China na Amaznia
desta publicao. Descrito em mincias, o projeto de interveno produ-
tiva do governo brasileiro na Amaznia, em boa parte impulsionado pelas
demandas chinesas por maior eficcia nos processos produtivos e de esco-
amento de gros, minrios, madeira e petrleo, inclui estradas, hidrovias,
hidreltricas e linhas de transmisso que rasgam e violam sem pruridos al-
guns dos territrios mais ricos do pas em biodiversidade e mais frgeis em
proteo s suas populaes nativas.
O estilo veni, vidi, vici adotado pelo governo na implantao de pro-
jetos como as hidreltricas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira (RO),
Belo Monte, no rio Xingu (PA), So Manuel, no rio Teles Pires (MT) e ago-
ra So Luiz do Tapajs, em gestao no rio Tapajs (PA), evidenciam um
fator preocupante: estes, como todos os demais projetos do Programa de
Acelerao do Crescimento (PAC 2) em andamento na regio, j foram alvo
de protestos, revoltas ou ocupaes. Todos acumulam um sem nmero de
aes judiciais, todos se transformaram em vetores de conflito, e nenhum
cumpriu as condicionantes sociais e ambientais obrigatrias dos processos
de licenciamento.
Esse desenvolvimentismo conquistador vem impregnado de uma
ameaa grave ao Estado de Direito, medida que sua capacidade de avan-
o depende, cada vez mais, do atropelo das legislaes sociais, ambientais
e (inclusive) econmicas ou, mais alm, da inobservncia intencional de
preceitos constitucionais. Cada vez mais autorreferendados, os represen-
tantes dos chamados setores produtivos em todas as esferas de poder (in-
clusive no Judicirio) tm adotado uma ousadia crescente nos ataques ao
7
que consideram entraves e obstculos expanso e segurana de seus in-
vestimentos, fazendo com que cada vez mais a Constituio seja incapaz de
garantir proteo s vtimas desse processo.
O retrocesso tico que tem marcado as polticas desenvolvimentistas
de vrios governos progressistas vem acompanhado de outro elemento que
remete aos tempos os histricos da narrativa e o cronolgico da publi-
cao de As veias abertas: a violncia do Estado contra os retardatrios
do progresso, numa reproduo profundamente colonial da supremacia da
urbanidade moderna sobre os territrios serviais. Ou seja, a prioriza-
o absoluta das necessidades intrnsecas ao urbano energia, matrias
primas, protena, etc. -, que tambm a fora motriz e o horizonte do de-
senvolvimento chins, que se d com o sacrifcio daqueles que no cabem
mais neste tempo; porque no se inserem nas cadeias de consumo, no se
inserem na matriz produtiva, no servem ao capital e insistem em ocupar
territrios riqussimos com o singular propsito de neles viver.
importante salientar que, quando se fala em violncia de Estado, no
apenas a psicolgica, poltica e jurdica que est sobre a mesa, mas a fsica,
com uso de armas e incurso de foras policiais e militares contra as insurgn-
cias sociais. No toa, o governo brasileiro criou sua prpria fora militar a
Fora Nacional de Segurana , que, com a Polcia Federal, tem assumido os
processos repressivos contra indgenas, camponeses e trabalhadores descon-
tentes para garantir os interesses pblico-privados do capital pblico-privado,
sob um discurso no de represso, mas de proteo e segurana. Mais alm, esse
mesmo discurso transforma em interesse nacional os investimentos do capital
privado, e em ameaas soberania e segurana do pas quaisquer movimentos
de resistncia (inclusive os advindos do Ministrio Pblico em forma de aes
judiciais que questionam violaes legais e/ou constitucionais).
Ora, se esse o pacote que acompanha a dimenso incontornvel nas
reconfiguraes civilizatrias em curso, que esto redefinindo em grandes li-
nhas os fluxos de matria e energia no planeta e o metabolismo do capitalis-
mo no sculo XXI, como descrito neste livro o advento da nova era made
in China, no abusivo questionar at que ponto o jogo no campo Sul-Sul
no segue as mesmas regras do modelo hegemnico do Norte. At que ponto
a aposta em uma fora contra-hegemnica como os BRICS, por exemplo, no
reproduz a mesma relao de subordinao colonizada das populaes que
historicamente foram vitimadas sob a dominao do capitalismo euro-ame-
ricano? Para o campons ou a comunidade indgena, faz alguma diferena
8
se o agrotxico que os contamina americano ou chins? Se a mineradora
canadense ou chinesa? Se a soja que ocupa seus territrios alimentar sunos
na Espanha ou chineses na China? Como justificar que o sonho chins ma-
terializa pesadelos desenvolvimentistas em escalas inditas, como aponta
esta publicao?
Essas so algumas das reflexes que o livro apresenta a seus leitores, a
partir da dissecao do papel da China em nosso pas e em nossas vidas. Pro-
vavelmente haver momentos em que o leitor pensar consigo mesmo que,
dada a voracidade dos mercados internacionais e o mata-mata no ringue
global do capitalismo, na falta de para onde correr at que o emaranhamen-
to inexorvel de Brasil e China no assim to mal. Afinal, trata-se de uma
relao de mtuo benefcio.
Ser mesmo? De fato, o olhar atento captar, inclusive nas linhas que re-
latam as vantagens econmicas de uma determinada fatia da sociedade brasi-
leira nas relaes com a China, que este livro uma convocao urgente para
o questionamento dos rumos que o Brasil vem trilhando. Apenas garantir o
ter (como tem buscado o governo com suas polticas de facilitao de acesso
ao consumo), sem garantir a liberdade plena de ser, no o bastante.
Muito j se falou em estabelecer limites ao desenvolvimento. Muito j se
lutou pela garantia dos direitos da parcela da populao mais frgil de nosso
pas. Muito j se criou, em termos de alternativas, para provar que a premissa
de que no h outro jeito falaciosa. Ento como possvel que as lutas por
avanos das conquistas sociais e que as bandeiras reivindicatrias pela multipli-
cao de diversidades venham sendo suplantadas e substitudas pela urgncia
agnica das resistncias contra os retrocessos que ameaam o que j havia sido
garantido? Quanto do esbulho da Amrica Latina relatado em As veias aber-
tas no tem sido reproduzido (de forma repaginada ou ipsis litteris) sob olhares
condescendentes e/ou coniventes dos discpulos do neodesenvolvimentismo?
Em sua trajetria no Brasil, no Cone Sul, na Amrica Andina e na Am-
rica Central, a Fundao Rosa Luxemburgo tem buscado entender, introje-
tar, apoiar, instrumentalizar e difundir processos emancipatrios que rom-
pam com o modorrento pensamento nico imposto por um tradicionalismo
colonialista transvestido de urgncia da modernidade. Este livro , assim,
mais uma pequena contribuio para o debate sobre o que fomos, o que es-
tamos e o que seremos ou podemos ser.
So Paulo, dezembro de 2014.
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Parte I
Introduo
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O Brasil made in China Parte I
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Introduo: o mundo made in China e o metabolismo do capitalismo no sculo XXI
O fator China
A ascendncia da China como nova potncia global e seus efeitos na
economia, na poltica e em questes de segurana internacional demar-
cam um novo momento geopoltico que os analistas definem como o fim
do Sculo Americano e o incio do Sculo do Pacfico, com a sia como novo
centro de gravidade da economia mundial.7
Estimativas recentes baseadas na paridade do poder de compra apon-
tam que at o final de 2014 a economia chinesa deve ultrapassar os EUA e
assumir o posto de primeira economia mundial, antecipando o prognstico
calculado para ocorrer somente em 2019.8 Assim, a China recupera a posi-
o que detinha at 1890, quando foi suplantada pelos EUA como primeira
economia mundial.9 At o final do sculo XIX a China se manteve frente
da Europa como maior economia do Planeta (chegando a deter aproxima-
damente um tero da produo global de bens e servios), quando foi ento
subjugada pela Inglaterra e aliados atravs da Guerra do pio, episdio que
marca a incorporao do pas moderna economia de mercado.10
O peso da China no cenrio internacional resultado de um pro-
cesso relativamente recente, que comea a tomar corpo, de forma plani-
ficada, a partir das reformas introduzidas no pas de 1978/79 em diante.
O crescimento chins comeou nos anos 1980, mas passou a impactar
o mundo ao longo dos anos 1990, se consolidando no final da primeira
dcada do sculo XXI, quando se torna a segunda economia do mundo.
Antes disso, a China estava devastada nos primeiros anos do sculo
XX. Aps sculos de poder centralizado, viu seu territrio ser entregue
s foras estrangeiras. Entre 1800 e 1985, o pas passou por cinco guerras
externas (da Guerra do pio s invases japonesas) e mais cinco guerras
civis (de Taiping Revoluo Cultural). Em funo das particularidades
do seu processo histrico, a Revoluo Comunista criou as condies para
sua industrializao massiva, que impactou dramaticamente nas dinmi-
cas do capitalismo global.
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O Brasil made in China Parte I
Por essa tica, o que aparece como a demanda chinesa por recursos
naturais como petrleo, gs, minrios e commodities agrcolas, deve ser
compreendido, tambm, como expresso dessa grande transformao de
fundo e que joga luz sobre importantes reconfiguraes geopolticas em
curso. No cenrio internacional, no qual a sia passa agora a assumir o
posto de novo centro de gravidade da economia mundial, so as relaes
construdas para atender essa demanda garantindo oportunidades, ne-
gcios e contratos que do pistas de como funciona o metabolismo do
capitalismo do sculo XXI.
A dimenso metablica dos processos globais e de como estes se ins-
crevem e determinam os territrios no uma novidade, fruto do novo
papel e peso da China. Ela constitutiva e intrnseca ao capitalismo, en-
tendido como sistema-mundo que se configura desde a Europa a partir
do sculo XV at alcanar dimenses planetrias com potencial hoje
de integrar os espaos mais extremos do planeta (do petrleo do rtico
soja na Patagnia, at a hidroeletricidade na Amaznia e a minerao
submarina).27 Neste horizonte, os prospectos atuais sobre a urbanizao
massiva da sia (e partes da frica) alertam para a escala e a acelerao
desse processo e a insustentvel reproduo ecolgica, material e social
do que se naturalizou como desenvolvimento.
Como j apontado aqui, a contnua demanda por matrias-primas e
recursos para alimentar um mundo cada vez mais urbano o que sustenta
as estratgias de crescimento econmico. Esse arcabouo depende da na-
turalizao de teses e do discurso que garante que entramos na inexorvel
era urbana da histria da humanidade um ponto de forma alguma pac-
fico e que requer uma compreenso muito mais complexificada das foras
e relaes de poder que esto imbricadas na conformao do tecido socio-
espacial e da existncia planetria como compartilhada e codependente.28
A urbanizao exerce um papel central no imaginrio hegemnico do
desenvolvimento, autorizando a submisso de natureza, territrios, povos,
populaes e modos de vida e a violncia real e simblica que acompanha
esse processo para alimentar a cidade. O urbano hoje representaria, as-
sim, uma condio a qual todas as relaes poltico-econmicas e socioam-
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Amrica LaChina
O fluxo de comrcio exterior e o aumento dos investimentos diretos da
China nos pases da Amrica Latina e do Caribe vm crescendo exponen-
cialmente desde a primeira visita do Presidente Hu Jintao regio em 2004,
tendncia fortalecida ao longo da ltima dcada com a elaborao da primei-
ra estratgia de poltica da China especfica para a regio lanada no final
de 2008.38 O Documento de Poltica da China para Amrica Latina e o Caribe
expressa pela primeira vez o desejo do governo Chins de ver suas relaes
com a regio do ponto de vista estratgico e sobre a importncia de coope-
rar politicamente para a construo de um mundo harmonioso, destacando
que um importante componente no mbito da cooperao Sul-Sul que a
relao econmica e comercial seja recproca e mutuamente benfica.
No contexto geral da Amrica Latina, o fortalecimento e a interde-
pendncia das relaes com a China, tanto ao nvel individual dos pases
como nas perspectivas de integrao regional, hoje um fator de recon-
figuraes econmicas e polticas estruturais. De acordo com estudo da
CEPAL, considerando a evoluo do comrcio dos pases da regio com a
China observada ao longo da ltima dcada, a previso que at 2016 o
pas ultrapasse a Unio Europeia e torne-se o segundo mercado de destino
das exportaes da Amrica Latina, bem como o segundo lugar de origem
das importaes para a regio, atrs apenas dos EUA39 (analistas preveem,
no entanto, que em 15 anos a China ultrapasse os EUA como principal
parceiro comercial da regio).40 Em que pese a relevncia comercial chi-
nesa para todos os pases, at o momento (2014) o Chile o nico pas na
regio com um acordo de livre comrcio com a China.
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O Consenso de Beijing
e o debate sobre
o extrativismo na
Amrica Latina
O relacionamento poltico e econmico entre a China e os pases latino-
-americanos e caribenhos cresceu exponencialmente nos ltimos dez anos.
Esse crescimento foi possvel graas feliz coincidncia entre a consolida-
o da posio da China como segunda maior economia mundial com o re-
cente perodo de crescimento econmico e desenvolvimento social da regio
latino-americana e caribenha. O Brasil e nossa regio soubemos utilizar o
aumento dos preos das commodities, na ltima dcada, para resgatar algu-
mas dvidas histricas com suas respectivas sociedades. Reduzimos a pobre-
za, combatemos as desigualdades e aumentamos o bem-estar de nossos ci-
dados, incorporando milhes de excludos a uma emergente classe mdia.
Construmos tambm economias com fundamentos mais slidos. No h dvidas
de que a desacelerao mundial nos afeta, mas no provoca mais o desarranjo
macroeconmico de outrora.57
Mauro Vieira, Ministro das Relaes Exteriores do Brasil, Beijing, janeiro 2015.
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Introduo: o mundo made in China e o metabolismo do capitalismo no sculo XXI
gia, reduzam os custos e agilizem o transporte via oceano Pacfico. Isso inclui
o acesso s matrias-primas mais bvias (minrio de ferro, cobre, petrleo
e madeiras tropicais) e investimentos em energia que servem aos processos
extrativos e de processamento locais, assim como infraestruturas (rodo-
vias, ferrovias, hidrovias, portos, etc.) que tambm garantem a produo e
o escoamento de commodities agrcolas (com destaque para a soja), contri-
buindo para assegurar de forma continuada e crescente o atendimento ao
mercado domstico chins em mdio e longo prazo. Atrelada fundamental-
mente demanda chinesa, essa estratgia apontada como denominador
comum e como condio de continuidade do atual modelo de desenvol-
vimento instalado na regio. Por sua vez, os crescentes conflitos sociais e
ambientais, marcadamente entre as populaes diretamente afetadas nas
reas impactadas pela indstria extrativa nos vrios pases, tm tido um pa-
pel catalisador, tanto na percepo das lutas comuns, como nos processos
de anlise, discusso e proposio de alternativas para a regio.
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NOTAS
1. Lavender, Paige. American Flags Made In China Now Banned In U.S. Military, 21/02/2014.
Huffington Post. Disponvel em: <http://www.huffingtonpost.com/2014/02/21/american-
flags-banned_n_4830566.html; South Korean military to replace made-in-China national
flags>, acesso em 07/06/2014; e South Korean military to replace made-in-China national
flags, 07/06/2014. WantChina Times. Disponvel em <http://www.wantchinatimes.com/
news-subclass-cnt.aspx?id=20140607000006&cid=1101>, acesso em 20/12/2014.
2. Disponvel em: <http://blogs.aljazeera.com/blog/americas/brazils-flag-made-china>,
acesso em 20/12/2014. Produtores nacionais de bandeiras se queixam da impossibilidade de
competir com o preo das importadas, ao mesmo tempo que reclamam da baixa qualidade:
uma bandeira correta deve ter 27 estrelas representando os estados da federao, com
tamanhos e posicionamentos especficos. A maioria das bandeiras brasileiras vindas da
China tem 23, 24 ou 25 estrelas, distribudas aleatoriamente.
3. Pearson, Samantha. Brazils carnival is made in China. Financial Times, 06/03/2011.
Segundo a Associao Brasileira da Indstria Txtil (Abit), em 2011, 80% dos tecidos para
as fantasias de carnaval j eram importados do pas asitico (alm de strass, lantejoulas,
pedras e plumas para as alegorias de luxo). Apesar dos esforos da estatal petroleira
Petrobras para expandir a sua prpria produo de polister no Nordeste, improvvel
que o Carnaval seja made in Brazil no futuro prximo. Segundo o presidente da Associao
Brasileira de Importadores Txteis (Abitex), Jonatan Schmidt,o papel da China no carnaval
do Rio de Janeiro fundamental, e explicou que se o governo proibir as importaes de
tecido sinttico, a confeco (de fantasias para o carnaval) simplesmente vai parar.
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4. E
conomy, Elisabeth and Levi, Michael. (2014) By all means necessary Chinas: how Chinas
resource quest is changing the world. Oxford University Press, Oxford.
5. N
o obstante, aps o ciclo de crescimento das ltimas trs dcadas, a economia chinesa
entra agora em um perodo de transio, apontando mudanas no sistema produtivo,
em um contexto onde o Estado e o partido reconhecem a necessidade de reorientaes
profundas, mencionadas nos planos quinquenais e nas declaraes pblicas (e que tem
a ver, entre outros, com o envelhecimento da populao e os graves impactos ambientais
gerados pelo modelo de crescimento at aqui).
6. H
ung, Ho-fung (Ed.) (2009). China and the transformation of global capitalism. John
Hopkings University Press, Baltimore.
7. H
aass, Richard N. Why Europe no longer matters The Washington Post, 17/06/2011.
Disponvel em: <http:/www.washingtonpost.com/opinions/
whyeuropenolongermatters/2011/06/15/AG7eCCZH_print.html>, acesso em 20/12/2014.
8. rowning the dragon. The Economist. Disponvel em: <http://www.economist.com/blogs/
C
graphicdetail/2014/04/daily-chart-19>, acesso em 30/04/2014. Clculo com base em dados
do International Comparision Programme/ONU, FMI e The Economist, a partir da paridade
do poder de compra, ndice que de forma mais precisa que a comparao dos produtos
internos brutos descreveria as diferenas em prosperidade material.
9. Nolan, Peter (2012). Is China buying the world? Polity Press, London.
10. L
ovell, Julia (2011). The Opium War: drugs, dreams and the making of China. Pan Macmillan,
Austrlia. Exportadora de seda, ch e porcelana a China na poca no demonstrava
interesse por comprar as manufaturas inglesas, acumulando assim grande parte da prata
que circulava no mundo e gerando para Inglaterra um grande dficit comercial, principal
motivo na deflagrao da Guerra do pio (1839-1842 e 1856-1860). Como no conseguia
ampliar seu mercado consumidor com a venda de suas manufaturas, a Inglaterra passou a
comercializar ilegalmente pio para os chineses (produzido na ndia, ento sua colnia),
que logo transformou o vcio em uma epidemia nacional. Como resultado da guerra, a China
teve que abrir os portos ao livre comrcio, pagar pesadas indenizaes e ceder a ilha de Hong
Kong para os britnicos (Hong Kong foi concesso britnica at 1997). Rosa Luxemburgo na
obra Acumulao do Capital [1912(1970)], Cap. 28, A Introduo da Economia de Mercado,
trata extensamente do episdio da Guerra do pio e suas consequncias para a China.
11. tory, Jonathan (2004).China: a corrida para o mercado. O que a transformao da China
S
significa para os negcios, os mercados e a nova ordem mundial. So Paulo: Futura.
12. Harney, Alexandra (2008). The China price: the true cost of chinese competitive advantage.
13. Nolan, Peter (2012). Is China buying the world ? Polity Press, London.
14. T
refis, Team (2014). Challenges Wal-Mart Faces In Mexico andChina, Forbes, 04/02/2014.
Mesmo aps 18 anos de operao, a Walmart tem apenas 405 lojas na China. A rede tem tido
problemas na compreenso mais exigente dos consumidores chineses e de suas decises
de compra, nem sempre orientadas pelo fator preo e mais inclinadas a buscar produtos
sob medida e um ambiente de compras que tenha o toque local. Enquanto as estratgias do
Walmart para se adaptar aos gostos locais no tm sido frutferas, a cadeia de varejo local grupo
de varejo Sun-Art tem sido extremamente bem-sucedida. Sua imitao do modelo de negcios
do Walmart e uma melhor compreenso do comportamento do consumidor tm ajudado
ganhar clientes. Disponvel em: <http://www.forbes.com/sites/greatspeculations/2014/04/02/
challenges-wal-mart-faces-in-mexico-and-china/>, acesso em 02/2014.
15. isponvel em: <http://www.carbonbrief.org/blog/2014/10/how-much-of-china-carbon-
D
dioxide-emissions-rest-of-the-world-responsible-for>, acesso em 201/12/2014.
16. ascal Lamy, diretor geral da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), escreveu que a: O
P
comrcio internacional se mede atualmente por aquilo que se conhece como valor bruto.
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O Brasil made in China Parte I
O valor comercial total de uma importao se atribui a um nico pas de origem quando
este produto chega alfndega. Isto funcionava corretamente nos tempos do economista
David Ricardo: h duzentos anos Portugal vendia vinho feito em Portugal e comprava
tecidos ingleses feitos na Inglaterra. Hoje o conceito de pas de origem est obsoleto. O
que chamamos feito na China est realmente montado na China, mas seu valor comercial
procede destes numerosos pases [e patentes] que antecederam a montagem. J no tem
sentido pensar no comrcio em termos de eles e ns. Financial Times, 22/01/2011.
17. arbosa, Alexandre de Freitas (2013). A China e a nova diviso internacional do trabalho.
B
In: Conjuntura, Fundao Perseu Abramo, n. 6, p17-19. So Paulo.
18. Pinheiro-Machado, Rosana (2013). China, passado e presente: um guia para compreender a
sociedade chinesa. Artes e Ofcios, Porto Alegre.
19. Chien, Yi. Lim, Jssica (2011) Fake Stuff: China and the rise of counterfeit goods. Routledge,
London.
20. Miller, Tom (2012). Chinas Urban Billion: The Story Behind the Biggest Migration in Human
History. Zed Books, London.
21. isponvel em: <http://esa.un.org/unpd/wup/Highlights/WUP2014-Highlights.pdf>,
D
acesso em 20/12/2014.
22. Disponvel em: <http://urbanizationproject.org/blog/by-tag/tag/urbanization>, acesso em
20/12/2014.
23. Disponvel em: <http://www.bloomberg.com/infographics/2014-09-09/global-megacities-
by-2030.html> (grfico), acesso em 20/12/2014.
24. O discurso economicista e quantitativo que em nvel global promove a emergncia das
novas classes mdias reduz a caracterizao da incluso e estratificao social aos
critrios de renda e consumo. No caso brasileiro, uma reflexo crtica desta perspectiva
e de sua funo na sustentao do projeto poltico desenvolvimentista aponta a falta de
acesso a direitos, ao capital cultural e simblico e em especial aos privilgios das classes
mdias tradicionais. Ver Souza, Jess (2010). Os Batalhadores Brasileiros: Nova Classe
Mdia ou Nova Classe Trabalhadora?, Belo Horizonte: UFMG, 2010.
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29. A nova era Xi-Li (Xi Jinping e Li Kequiang), que se iniciou em 2013, marca a quinta gerao
do Partido Comunista Chins (PCC) no poder. A trajetria atual da China est diretamente
imbricada no processo histrico que, a partir das reformas iniciadas em 1979, vem
executando etapas, sempre de forma planificada e coordenada. Em 2012, a China sediou
o 18 Congresso do Partido Comunista da China, o qual encerrou a administrao Hu-
Wen (Hu Jintao e Wen Jiabao, quarta gerao de lderes do PCC), que foi marcada pela
ideia de desenvolvimento cientfico e pelo projeto Construindo uma Sociedade Harmoniosa
Socialista. O que ficou evidente neste perodo de dez anos (2002 a 2012) foi um excepcional
crescimento econmico, atingindo escala planetria.
30. isponvel em: <http://www.nytimes.com/2012/10/03/opinion/friedman-china-needs-
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37. T
he Wall Street Journal (MAPA); o grupo HKND contratou as consultoras australiana MEC
Mining (Mining Engineering Consultants) e a belga SBE (Studiebureau voor Bouwkunde en
Expertises) especializadas em obras hidrulicas, engenharia civil e geotecnia. A americana
McKinsey tambm leva a cabo anlises de mercado e de crescimento de comrcio global
que fundamentem economicamente o canal. Disponvel em: <http://www.publico.pt/
economia/noticia/a-nicaragua-vai-ser-serrada-a-meio-para-juntar-o-pacifico-ao-
atlantico-1620425>, acessado em 20/12/2014.
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41
O Brasil made in China Parte I
42
Introduo: o mundo made in China e o metabolismo do capitalismo no sculo XXI
2013, 11% do gasto militar global), no conta at o momento com nenhuma base militar
no exterior. Disponvel em: <http://eleconomista.com.mx/economia-global/2014/04/14/
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43
44
Parte II
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
Neodesenvolvimentismo
e internacionalizao
subordinada
Apesar do histrico de quatro dcadas de relaes diplomticas, o atu-
al patamar de vinculao entre Brasil e China foi, em grande medida, fruto
da orientao da poltica externa que comea com o primeiro governo Lula
51
O Brasil made in China Parte II
A partir do incio do sculo XXI se formou no Brasil uma frente poltica identifi-
cada com o neodesenvolvimentismo que foi a base ampla e heterognea de
sustentao da poltica de crescimento econmico e de transferncia de ren-
da que teve incio com os governos de Lula da Silva e continuidade com Dilma
Rousseff. Em outro plano, neodesenvolvimentismo identifica a ideologia oficial
do governo brasileiro e sua base de sustentao, alicerado no xito eleitoral
das polticas sociais e de combate pobreza e transferncia de renda, progra-
mas que so engrenagens-chave para garantir a manuteno e reproduo
do modelo extrativista e que tambm dependem de um forte papel do Estado,
trao comum a outros pases da Amrica Latina.19 Contudo, diferentemente de
pases como a Bolvia, a Venezuela e o Equador, o investimento nos programas
sociais do Brasil no est diretamente dependente da renda extrativa, j que
a soja e minerao, os produtos que lideram a pauta, so de grupos privados
(contudo, esse cenrio modifica-se com as perspectivas futuras de uso para
a renda do petrleo, com o Fundo Social do Pr-Sal, que ser referido adiante,
ainda que a Petrobras no seja uma empresa 100% pblica).
(...) ao longo dos governos FHC, sobretudo em funo das negociaes da ALCA,
a grande burguesia interna passou a se aglutinar contra a abertura unilateral do
mercado interno, e os efeitos negativos da implantao do neoliberalismo ortodo-
xo no Brasil. Esta frao que rene, no seu ncleo, as empresas de capital predomi-
nantemente nacional, algumas estatais e, perifericamente, algumas multinacio-
nais aqui instaladas, ascendeu politicamente nos governos Lula. Por isso, o Estado
brasileiro usou sua maior autonomia de ao para tomar posies cujo resultado
direto foi o atendimento de interesses econmicos da grande burguesia interna,
resultados esses que podem ser resumidos em: proteo ao mercado interno, au-
mento das exportaes e impulso conferido internacionalizao das empresas
brasileiras. A posio poltica do Estado brasileiro transitou na passagem destes go-
vernos de subordinao passiva para subordinao conflitiva. (grifo nosso)21
53
O Brasil made in China Parte II
54
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
A China, que importa 23% dos nossos produtos, pode parar de investir em uma
poro de coisas. Mas 1,3 bilho de pessoas l seguem precisando almoar, jantar
e lanchar. Est havendo uma queda de preos [dos alimentos exportados], mas
no creio em alterao de volume. Mesmo com o embargo [de potncias interna-
cionais], os russos continuam se alimentando de frango. As pessoas tm de co-
mer. E a gente no exporta produtos muito agregados, consumidos por pessoas
ricas. Exportamos carne, que a massa come, um produto processado por l.31
55
O Brasil made in China Parte II
por sua vez, isolada ou combinada com o milho, o componente bsico das
raes que alimentam as diversas cadeias de produo de carne).
Atualmente o consumoper capita dos 1,3bilho de habitantes daChina
de 4,7 quilos deprotena animal, porano.32 O brasileiro consome em mdia 94
quilos de carne por ano (bovina, a suna e a de frango), sem contar o consumo
de ovos, peixes e crustceos.33 O aumento do consumo de carnes (e protenas
animais industriais) e sua disponibilidade a preos acessveis um componen-
te central do imaginrio do desenvolvimento e funciona como critrio objetivo
e palpvel para a populao - da melhora do padro de vida, sendo reivin-
dicado at mesmo para atestar o sucesso de polticas econmicas. No Brasil o
frango (alm do iogurte) foi um dos smbolos do plano Real: na poca do lana-
mento do plano, em 1994, 1 quilo de frango chegou a custar 1 real.34
Alimentando o drago,
ou as novas equaes
de dependncia
O agronegcio, que lidera a pauta de produtos exportados para Chi-
na, pleiteia responder por 23% do PIB e 37% da gerao de empregos no
pas.35 o principal setor que vem exercendo empenho sistemtico e es-
tratgico em buscar aliana e expanso de oportunidades na exportao
para a China. Em 2012, a Confederao Nacional da Agricultura (CNA)
inaugurou um escritrio de representao da entidade em Beijing com ob-
jetivo de promover os produtos agropecurios nacionais e atrair investi-
mentos chineses para o Brasil, dando um passo efetivo rumo internacio-
nalizao da CNA. Em junho de 2013, aconteceu em Pequim o I Foro de
Ministros de Agricultura da China - Amrica Latina e Caribe.
56
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
9,4% do total; seguido do Japo (8,3%); Taiwan (8,0%); Estados Unidos (7,9%);
Austrlia (5,1%); e Alemanha (4,8%). Por continente, apesar do peso estratgico
das matrias primas da Amrica Latina para a indstria chinesa, a sia o prin-
cipal abastecedor do mercado chins: em 2013, somou 56% do total (seguido
pelo do continente americano, incluindo EUA, com 16%; Unio Europeia com 11%;
frica com 6%; e Oceania com 5%). J as exportaes chinesas so direcionadas
em grande parte aos vizinhos da sia, que absorveram 51% do total; seguidos
do continente americano com 24%, da Unio Europeia com 15% e da frica com
4%. Individualmente, Hong Kong foi o principal destino das vendas chinesas com
17,4% do total em 2013. Seguiram-se: Estados Unidos (16,7%); Japo (6,8%); Co-
reia do Sul (4,1%); Alemanha (3,0%) e Pases Baixos (2,7%).
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O Brasil made in China Parte II
160
140 China
Outros
120
frica do Norte e Oriente Mdio
100 Amrica Latina 1/
80 Sudeste Asitico
Unio Europia 2/
60
40
20
0
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020
1/ Inclui Mxico
2/ Exclui as exportaes dentro da Unio Europia (i.e., entre os pases membros do bloco)
160
140 Outros
Brasil
120
Argentina
60
40
20
0
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020
60
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O Brasil made in China Parte II
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O Brasil made in China Parte II
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
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O Brasil made in China Parte II
China e o Pr-Sal
Em outubro de 2013, o leilo para a concesso do campo de Libra na
Bacia de Santos (volume estimado entre 8 e 12 bilhes de barris de petr-
leo, uma das maiores reas das reservas do Pr-Sal) foi arrematado por um
consrcio que inclui a Petrobras e as duas maiores empresas chinesas de
energia: a China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) e o fundo
privado China National Petroleum Corp (CNPC), alm da anglo-holande-
sa Royal Dutch Shell e a francesa Total.63
Para o leilo do campo de Libra, a fatia mais nobre do Pr-Sal e alvo
de intensos protestos64 , eram esperadas propostas de dezenas de em-
presas estrangeiras. Este foi tambm o primeiro leilo sob o novo marco
regulatrio do petrleo, em vigor desde 2010 e que substituiu o regime de
concesses pelo regime de produo partilhada anterior (o modelo atual-
mente em vigor garante uma participao ampla da Petrobras e de entes
estatais na explorao dos poos, ainda que em parceria com empresas
privadas). Por uma srie de condicionantes do novo modelo, poucas em-
presas se apresentaram, e caso as empresas chinesas no tivessem partici-
pado, avalia-se, o primeiro leilo sob o novo regime teria sido um fracasso
poltico e econmico; especula-se inclusive que a entrada das chinesas foi
pr-acertada entre os governos do Brasil e da China.65
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
China na Amaznia
Assim como no petrleo, na gerao e distribuio de energia hi-
dreltrica na Amaznia as estatais chinesas lograram integrar consrcios
vencedores ou adquirir direitos de participao para a execuo de pro-
jetos estruturantes nos rumos da economia e da poltica energtica do
Brasil em mdio e longo prazo.
O principal diferencial dos novos projetos de hidroeletricidade na
regio amaznica a parceria entre estatais brasileiras e chinesas e o fato
de as obras em questo estarem no centro dos maiores conflitos socioam-
bientais no cenrio nacional nos ltimos anos, emblemticos da conduo
do modelo de desenvolvimento e do atropelo, pelo governo, dos processos
de licenciamento ambiental, da questo indgena e seu direito consulta
prvia, em um histrico de violaes da legislao ambiental, dos direitos
das populaes atingidas, da responsabilidade fiscal (no caso da partici-
pao do BNDES), direitos trabalhistas, etc. A oposio a esses projetos,
como a hidreltrica de Belo Monte, no Par, tem gerado grande mobiliza-
o nacional e internacional, e so eles o principal exemplo, na prtica,
das disputas em torno dos interesses e das lgicas que sustentam o desen-
volvimentismo no Brasil; assim como oferecem o melhor exemplo de suas
profundas contradies.
O significado da entrada da China nesses projetos especficos de-
manda sua considerao no marco das macroestratgias de ocupao
71
O Brasil made in China Parte II
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O Brasil made in China Parte II
Arco Norte e o
complexo agromineral
A consolidao do Arco Norte crucial na estratgia de crescimento
do agronegcio brasileiro para a prxima dcada. Segundo a CNA, soja e
milho sero desbravadores da logstica na nova fronteira do Arco Norte e
a tendncia futura que fertilizantes, carnes, derivados de madeira e cana
tambm saiam do pas por essa regio.75 Essa rota de exportao tambm
central nos planos de expanso da fronteira minerria. Alm disso, pode vir
a somar-se, no futuro, ao canal interocenico que a China pretende abrir na
Nicargua, integrando-se assim aos novos fluxos e rotas globais.
RR BELO MONTE
AP
Rio Negro
Rio Solimes
Rio
Amazonas
AM Rod.
Transamaznica MA
Rio Madeira
PA
AC Rio Araguaia Rio Tocantins
RO
TO
JIRAU
MT
Hidreltricas
TELES
PIRES
Portos e terminais
Rodovias
Hidrovias em operao e planejadas
Transmisso de energia
Ferrovias j existentes
Ferrovias em construo
Ferrovias em estudo ou aguardando
licena ambiental
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
Sergipe (SE)
Sais de Potssio
Bahia (BA)
Bauxita, Ferro, Vandio,
Agregados, Nquel e Cromo
Itaituba (PA) Pedra Azul/Salto da Divisa (MG)
Ouro Grafita
Governador Valadares (MG)
Gemas
Urucum (MS) Esprito Santo (ES)
Mangans e Ferro Rochas Ornamentais
Cobre Rio de Janeiro (RJ)
Ouro Agregados
Alumnio Gois (GO)
Cobre, Nquel e Ouro Arax (MG) Quadriltero Ferrfero (MG)
Estanho Nibio Ferro, ouro, Mangans e Bauxita
Ferro-Mangans
So Paulo (SP)
Grafita Agregados
Caulim Rio Grande do Sul (RS) Castro (PR)
Nquel Ametista e Agregados Talco
Carvo Cricima (SC)
Agregados Carvo
81
O Brasil made in China Parte II
RR AP SUBESTAO
XINGU
PA
Belm
Xingu
Altamira
AM Rio Xingu
MA CE RN
Parauapebas
USINA DE PI PB
BELO MONTE
PE
AL
Palmas SE
TO
BA
MT
Campos Belos
GO
Braslia
Goinia Una
MG
SUBESTAO
ESTREITO Patrocnio ES
MS
SP Belo
Horizonte
Ribeiro
Preto
PR So Paulo
86
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
Amaznia e capitalismo
de fronteira
A flexibilizao da legislao ambiental (como a para licenciamento e
tratamento dos passivos) e o retrocesso nos direitos sociais, submetidos ao
interesse nacional dos projetos de desenvolvimento, reforam a caracteri-
zao da Amaznia como fronteira social e jurdica. E na lgica do capi-
talismo de fronteira, a incorporao e subjugao dos povos e territrios.
No Brasil, o processo histrico de constituio da fronteira reflete v-
cios intrnsecos da nossa sociedade, na qual o principal trao estruturante
seria a negao alteridade do outro.102 Na histria brasileira, grupos sociais
(e tnicos) tiveram sua alteridade negada por no serem reconhecidos como
iguais, ou mesmo como sujeitos, na medida em que no compartilham os
mesmos projetos e mesmas aspiraes dos grandes grupos econmicos, da
burocracia estatal, e em toda forma de manifestao do Estado e dos inte-
resses a ele associados. O que decorre dessa percepo, na qual o outro no
e no pode ser outro, a violncia real e simblica perpetrada para, de
fato, subtrair fisicamente a alteridade ou oposio dinmica de desenvol-
vimento central. noo de fronteira como ponta da histria, fetichizada
com uma dimenso modernizadora e transformadora da sociedade, con-
trape-se uma noo de fronteira como encontro de foras desiguais, em
que as vtimas so os povos indgenas, ribeirinhos, pequenos agricultores,
sertanejos, posseiros e migrantes em busca de terra. No caso da Amaznia,
nas frentes pioneiras do capitalismo de fronteira, a escravido por dvida
ou peonagem constitui um dos elementos da acumulao primitiva no in-
terior da reproduo ampliada do capital. Uma peculiaridade da situao
de fronteira no Brasil que ela reflete a modalidade do desenvolvimento
capitalista em nossa sociedade que, diversamente do que ocorreu em outras
sociedades capitalistas, depende acentuadamente da renda da terra para
assegurar a sua reproduo ampliada, fazendo uso da violncia sistemtica
como parte constitutiva desse processo.
87
O Brasil made in China Parte II
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
NOTAS
90
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
em conta apenas dois critrios: o valor das exportaes de bens e servios nos ltimos 12
meses que antecederam a data da reviso e o valor das reservas internacionais denominadas
naquelas moedas pelos outros pases membros do FMI. Nas revises da composio da cesta,
variam a proporo do peso de cada uma das quatro moedas fortes, mas no a incluso de
moedas novas. Chegou-se a especular, antes da ltima reviso, que as chamadas moedas
commodities, de pases grandes exportadores de matrias-primas, seriam includas na cesta,
em particular o dlar australiano, o dlar neozelands e o dlar canadense. Isso porque, at
h pouco tempo, as discusses centravam apenas no quo grande, em termos de liquidez,
teriam de ser essas moedas para incluso na cesta, alm de variveis como a participao delas
no comrcio internacional e quo conversveis elas teriam de ser. Alm da reviso da cesta,
est em curso ainda uma discusso sobre um novo papel que o SDR deveria desempenhar no
sistema monetrio internacional a exemplo da emisso de bnus pelo FMI denominados em
SDR. Entre os tpicos, discute-se, por exemplo, se o SDR deveria ter uma participao maior
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14. isponvel em: <https://www.g20.org/sites/default/files/g20_resources/library/g20_note_
D
global_infrastructure_initiative_hub.pdf>, acessado em 20/12/2014. Ver tambm <http://
www.globalinfrastructureinitiative.com/>, acessado em 20/12/2014.
15. isponvel em: <https://www.g20.org/g20_priorities/g20_2014_agenda/strengthening_
D
energy_markets>, acessado em 20/12/2014.
16. O Acordo, uma proposta encabeada pelos EUA, no foi unnime e no teve valor legal: os
pases membro da negociao apenas tomaram nota do seu contedo. Contudo, foi um
passo decisivo para salvar do fracasso perante a mdia e a opinio pblica, uma vez que o
momentum que foi criado poca na expectativa da Conferncia de Copenhague produziu
grandes expectativas de que seria fechado um acordo global para o clima, o que nas condies
imediatas ps-crise de 2008, no teria sido possvel. O Acordo de Copenhague, criticado por ser
uma espcie de golpe no que vinha sendo negociado sob a norma do consenso at ali, permitiu
dar novo flego e abrir uma nova expectativa temporal e poltica para um acordo climtico.
17. lm disso, o conselho conta com 10 membros no permanentes, eleitos para mandatos de
A
dois anos, mas que no possuem direito ao veto de propostas.
18. m uma esperada reforma, para a qual h presso em novas regras definidas at 2015,
E
pleiteiam um assento permanente alm do Brasil, a ndia, a Alemanha e o Japo.
19. onsiderando que a extrao de recursos naturais o elemento em comum no corao
C
da redefinio das estratgias de desenvolvimento na regio, a interface entre direitos
humanos e a questo ambiental, direito consulta prvia, assim como o direito
autodeterminao esto instalados hoje no cerne da tenso entre os movimentos sociais
e povos indgenas e populaes tradicionais que resistem e se opem aos projetos de
minerao, petrleo e gs, hidroeltricas, rodovias e agroexportao e s aes dos
governos progressistas na Amrica Latina que promovem tais iniciativas.
20. oito Jr, Armando. E Galvo, Andria (orgs.) (2012). Poltica e classes sociais no Brasil dos
B
anos 2000. Ed. Alameda, So Paulo.
21. erringer, Tatiana (2014). Bloco no poder de poltica externa nos governos FHC e Lula. Tese
B
de doutorado em Cincia Poltica, IFCH/UNICAMP. Disponvel em: <http://www.ifch.
unicamp.br/informacoes/arq_eventos_noticias/a90s_Tatiana%20Berringer%20de%20
Assump%C3%A7%C3%A3o.pdf>, acessado em 20/12/2014.
22. a 8 edio do Ranking das Multinacionais Brasileiras 2013. O estudo anual traz um
panorama detalhado da internacionalizao das empresas brasileiras. Na edio de
91
O Brasil made in China Parte II
92
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
93
O Brasil made in China Parte II
94
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
57. P
ACS (2012). A histria contada pela caa ou pelo caador? Perspectivas sobre o Brasil em Angola
e Moambique. Disponvel em: <http://www.pacs.org.br/files/2013/03/Relatorio-Africa.pdf>,
acessado em 20/12/2014 e <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-compete-
com-china-e-india-para-investir-na-africa-imp-,906290>, acessado em 20/12/2014.
58. esde 2007, quando assinou os contratos de concesso de Moatize, a Vale investiu em
D
Moambique US$ 4,5 bilhes em projeto integrado de mina, ferrovia e porto. o projeto
de produo de carvo de Moatize, em fase de duplicao, ligado a uma ferrovia de 912 km
o Corredor Nacala e a um porto de guas profundas na localidade de Nacala--Velha,
provncia de Nampula. Quando a expanso de Moatize for concluda, no fim de 2015, a Vale
e seus parceiros tero desembolsado, no total, algo como US$ 8,3 bilhes. Disponvel em:
<http://www.defesanet.com.br/africa/noticia/15710/Vale-coloca-projeto-de-carvao-de-
Mocambique-em-xeque-/>, acessado em 20/12/2014.
59. isponvel em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/04/1266520-megaprojeto-
D
da-vale-e-alvo-de-protestos-em-mocambique.shtml>, acessado em 20/12/2014.
60. Conforme texto daLei 11.772/2008. No Brasil, cabe VALEC-Engenharia, Construes e
Ferrovias S.A (uma empresa pblica, sob a forma de sociedade por aes, controlada pela
Unioatravs doMinistrio dos Transportes) o planejamento econmico e administrativo
de engenharia de umaestrada de ferro; sua construo, operao, explorao e sistemas de
interligao com outras modalidades de transportes; implantao e operao de sistemas
de armazenagem, transferncia e manuseio de produtos e bens a serem transportados;
elaborao de estudos de viabilidade para a expanso da malha ferroviria. A VALEC sub-
concedeu em dezembro de 2007 a operao daFerrovia Norte-Sulpara aVALEpor um
perodo de 30 anos. Disponvel em: <http://www.valor.com.br/brasil/3355280/governo-
redefine-trechos-das-concessoes-ferroviarias#ixzz3ISaXJcL3>, acessado em 20/12/2014.
61. D
isponvel em: <http://www.valor.com.br/sites/default/files/apresentacao_bernardo_
figueiredo_0.pdf> e <http://www.logisticabrasil.gov.br/>, acessado em 20/12/2014.
62. ntre os atos assinados pelos dois presidentes, inclui-se o Memorando de Entendimento
E
sobre Cooperao Ferroviria entre o Ministrio dos Transportes e a Comisso Nacional de
Desenvolvimento e Reforma da China e um Memorando de Entendimento para cooperao
no setor de infra-estrutura entre o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e o Banco
de Desenvolvimento da China (CDB).
63. A
oferta do grupo define para a Unio a parcela mnima de 41,65% do leo a ser produzido, no
local. CNPC, CNOOC e Petrobras tm 10% do grupo cada uma, enquanto Shell e Total tm 20%
cada. Os 30% restantes tambm cabem Petrobras, que entra como operadora do consrcio.
Calcula-se que o campo de Libra v requerer um investimento entre US$ 200 bilhes e US$ 400
bilhes para explorao em 35 anos. Disponvel em: <http://www.cebc.org.br/sites/default/
files/chinabrasil_update_ed_9_lamina_visualizacao_0.pdf>, acessado em 20/12/2014.
64. isponvel em: <http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/10/21/tentativa-de-
D
invasao-a-area-do-leilao-do-pre-sal-deixa-ao-menos-2-feridos.htm>, acessado em 20/12/2014.
65. Navigating Risks in Brazils energy sector: the chinese approach (outubro 2014).
66. isponvel em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2014-08/investimentos-
D
de-quase-r-150-bilhoes-consolidam-industria-naval-no-brasil>, acessado em 20/12/2014.
67. C
ampos Neto, Carlos Alvares da Silva e Pompermayer, Fabiano Mezadre (Eds.) (2014).
Ressurgimento da Indstria Naval no Brasil: 2000-2013. IPEA, Braslia. Disponvel em: <http://
www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=23082>,
acessado em 20/12/2014.
68. Criado h quatro anos pela Lei 12.351/2010, o fundo pretende constituir fonte de recursos
para o desenvolvimento social em diversas reas, como cincia, educao, sade e cultura.
Para isso, so destinadas a ele as parcelas do bnus de assinatura destinada ao fundo pelos
95
O Brasil made in China Parte II
contratos de partilha de produo; dos royalties que cabe Unio; da receita a partir da
comercializao de petrleo, de gs natural e de outros hidrocarbonetos fluidos da Unio;
os resultados de aplicaes financeiras sobre suas disponibilidades e os recursos do fundo
por lei. A partir da aprovao da Lei 12.858/2013, metade do dinheiro arrecadado a cada ano
ser dividida para projetos educacionais (75% do valor) e sade (25%). Porm, a destinao
depende da formalizao de regras pelo Poder Executivo, que ainda no foi feita. Disponvel
em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-06-17/sem-regulamentacao-fundo-
social-do-pre-sal-retem-verbas-de-educacao-e-saude.html>, acessado em 20/12/2014.
69. Disponvel em: <http://infopetro.wordpress.com/2014/07/14/a-entrada-e-os-proximos-
passos-dos-chineses-no-setor-de-petroleo-no-brasil/>, acessado em 20/12/2014. A
estratgia de compra de ativos e fuses e aquisies contribuem para um rpido aumento da
produo de petrleo por parte das empresas subsidirias ou com participao chinesa. Com
esta estratgia, a velocidade de acesso ao marcado maior. Alm disso, a crise financeira
internacional em 2008 criou excelentes oportunidades para as empresas chinesas adquirirem
empresas europeias financeiramente fragilizadas e que possuam ativos e operaes no
Brasil. Com a aquisio de participaes na Repsol Brasil (40%) e da Galp Brasil (30%) por
US$7,1 bilhes e US$4,8 bilhes, respectivamente, a Sinopec desponta como a principal
Chinesa no Brasil. A Repsol Sinopec surge como uma grande empresa de E&P no Brasil, cujo
valor de mercado atinge US$17,8 bilhes. A Galp Energia, por sua vez, possui vinte projetos
de explorao e uma forte participao no Pr-Sal, atuando nos campos de Lula/Iracema,
Iara, Carcar e Jpiter.A Sinochem por sua vez j tem uma participao importante no
mercado Brasileiro, mediante aaquisio em 2010 de uma participao de 40% no campo de
Peregrino que operado pela Statoil,produzindoatualmente cerca de 80 mil barris por dia.
Alm disto, a empresa est explorando petrleo em cinco blocos na bacia do Esprito Santo.
70. isponvel em; <http://oglobo.globo.com/economia/emprego/o-trabalho-que-pre-sal-da-
D
10544608#ixzz3HxvTP5O9> e <http://oglobo.globo.com/economia/investimentos-no-pre-
sal-para-os-proximos-30-anos-movimentarao-us-17-trilhao-10440618#ixzz3Hxy9uOFN>,
acessado em 20/12/2014. O clculo considera as previses de investimentos para o Pr-Sal
do Instituto Brasileiro de Petrleo (IBP) e seus impactos macroeconmicos apurados pelo
Instituto Brasileiro de Economia da Fundao Getulio Vargas (Ibre/FGV). O IBP estima que
o Pr-Sal receber diretamente US$ 700 bilhes em recursos que sero aplicados na fase
de explorao e desenvolvimento da produo (o chamado capex). A maior parte desses
recursos est concentrada nos primeiros sete anos de atividade. Outros US$ 700 bilhes
sero consumidos ao longo da produo do campo (o chamado opex). A conta trilionria se
baseia em uma reserva do Pr-Sal estimada de 50 bilhes a 60 bilhes de barris de petrleo,
incluindo as reas onde j houve descobertas e as que ainda sero descobertas. O volume
projetado para o Pr-Sal na rea em que j houve descobertas soma 15,4 bilhes de barris.
H ainda Libra, com reservas estimadas entre oito e 12 bilhes de barris. Para se ter uma
ideia do tamanho da potencial riqueza que existe sob o sal, a reserva provada brasileira, que
considera basicamente o petrleo encontrado no ps-sal, soma hoje 15,7 bilhes de barris.
71. Garzn, Paulina (2014). Manual Legal sobre Regulaciones Ambientales y Sociales Chinas para
los Prstamos e Inversiones en el Exterior. Um guia para las comunidades locales. CDES, Quito.
72. Entre os atos bilaterais no marco dos quarenta anos de relaes diplomticas Brasil-China
foram assinados o Acordo de Cooperao entre Eletrobras e State Grid Corporation of China
(SGCC) e o Acordo de Cooperao Estratgica entre Eletrobras, Furnas, China Three Gorges
Corporation e CWEI (Brasil) Participaes Ltda.
73. isponvel em: <http://www.macauhub.com.mo/en/2014/11/12/energias-de-portugal-
D
sells-assets-in-brazil-to-china-three-gorges/>, acessado em 20/12/2014.
74. isponvel em: <https://www.ambienteenergia.com.br/index.php/2014/07/furnas-
D
assina-acordo-com-grupo-chines-para-construcao-da-uhe-tapajos/24349>, acessado em
20/12/2014.
75. Disponvel em: <http://agro.gazetadopovo.com.br/noticias/20-milhoes-de-toneladas-
96
Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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O Brasil made in China Parte II
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Brasil e China: sinergia ou novas equaes de dependncia?
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100
Parte III
O que melhor: exportar commodities que tem produo high tech (embora o
produto seja bem homogneo, talvez petrleo offshore) ou produto industriali-
zado de elevado contedo tecnolgico?
Leonardo Monastrio, IPEA
101
O Brasil made in China Parte III
102
Para alm do dilema desenvolvimentismo-extrativismo
103
O Brasil made in China Parte III
NOTA
1. isponvel em: <http://sna.agr.br/diretor-da-fao-alerta-sobre-os-riscos-das-mudancas-
D
climaticas/>, acessado em 20/12/2014.
105
106
Anexo I
A China no setor de
energia no Brasil
Como em outros pases da Amrica Latina, o investimento chins no
setor de energia guiado por uma combinao de planejamento governa-
mental com vistas a garantir sua segurana energtica em mdio e longo
prazo e as perspectivas de lucro dos projetos especficos. A composio
destes fatores entra no clculo de onde e por que investir.
No Brasil, a presena da China no setor de energia no mbito do petrleo
e gs j conta com pelo menos uma dcada de atuao no pas. Sua participa-
o no consrcio vencedor do leilo do campo de Libra em 2013 foi conside-
rado um divisor de guas na indstria de energia no Brasil e marca um novo
momento na consolidao dos investimentos chineses no setor, uma trajet-
ria iniciada em 2004, quando a Petrobras e a Sinopec assinaram um acordo de
aliana estratgica e a estatal brasileira contrata a Sinopec para construo
do gasoduto Gasene, funo de integrar as malhas de transporte de gs natu-
ral das regies Sudeste e Nordeste, dando nova configurao rede brasileira
(o gasoduto foi inaugurado em 2010).1 Em 2006, Petrobras e Sinopec firma-
ram um contrato de exportao de petrleo para China; em 2009, o Banco de
Desenvolvimento da China faz um emprstimo de US$ 10 bilhes de dlares
Petrobras. Em 2010, a Sinopec adquire 40% de participao na Repsol Brazil
por US$ $7,1 bilhes uma das maiores aquisies petrolferas j feitas pela
China; por US$ 3 bilhes a Sinopec adquire 40% de participao na explo-
rao do poo de guas profundas da Statoil (poo Peregrino); Petrobras e
Sinopec adquirem 20% em dois blocos exploratrios no nordeste do Brasil.
Em 2011, a Sinopec junta-se GDK e Ausenco para construir um mineroduto
de 400 km entre Minas Gerais e Esprito Santo para a mineradora Samarco; a
Sinopec assina acordo com a Petrobras para aumentar o fornecimento de gs
para o Rio de Janeiro; a Sinopec compra participao de 30% na Galp Energia
107
O Brasil made in China Anexos
Brazil por US$ 5,2 bilhes (Sinopec realiza um emprstimo adicional de US$
390 milhes para Galp Energia). Em 2012, a Sinopec integra consrcio para
construir uma fbrica de fertilizantes no Mato Grosso do Sul. Em 2013, Petro-
bras, Shell Total, CNOOC e CNPC (ambas chinesas) vencem o leilo do campo
de Libra, o mais importante e promissor do Pr-Sal at o presente.
A participao no consrcio vencedor para construo do linho de Belo
Monte sinaliza a entrada definitiva dos chineses no setor eltrico brasileiro. A
estatal State Grid est presente no Brasil desde 2010. Naquele ano, com um
investimento de US$ 989 milhes, comprou da Plena Transmissora do Brasil
(controlada pelas espanholas Elecnor, Isolux e Cobra) sete companhias bra-
sileiras (de um total de doze detidas pelo grupo) de transmisso de energia.
Desde ento, opera cerca de seis mil quilmetros de uma concesso de trinta
anos, j sendo a quinta maior empresa de transmisso de energia no pas.2 A
aproximao com a State Grid para uma parceria bilateral com a Eletrobras
nasceu durante a visita da Presidente Dilma Rousseff China, em 2011. A
parceria em torno da linha de transmisso de Belo Monte foi a primeira entre
as duas empresas no Brasil pode se repetir em outros projetos, bem como
fora do pas. As duas estatais, por exemplo, j sero scias em um projeto em
Moambique, do qual tambm participa o grupo Camargo Corra.3
A presena chinesa nos projetos de energia renovvel elica e solar no
Brasil insignificante: na elica, uma instalao de 30MW da Sinovel em
um parque operado pela Desenvix em Sergipe. Entre 2011 e 2012, trs das
maiores empresas de energia elica da China (Sinovel, Goldwind e Guodian
United Power) anunciaram inteno de estabelecer fbricas e escritrios no
Brasil; esses planos, contudo, no se materializaram ainda, e entre os fato-
res esto as regulaes nacionais que exigem componentes estritamente
nacionais.4 Em termos de energia solar, o nico investimento feito por uma
empresa chinesa foi o anncio da AstroEnergy de um projeto de US$ 350
milhes em gerao solar no estado Cear. Outro projeto que atraiu visi-
bilidade foi o suprimento e instalao de 5.000 painis fotovoltaicos pela
empresa Yingli Solar, a primeira empresa de energia solar a patrocinar uma
Copa do Mundo, na cobertura do estdio do Maracan no Rio de Janeiro.
A expanso chinesa nesse mbito est pendente de mudanas na poltica
de energia solar, que entre outros requisitos, segundo a proposta inicial,
108
Anexo I: A China no setor de energia no Brasil
Anexo II
Atos
Em julho de 2014, na celebrao dos 40 anos da parceria o presidente Xi
Jinping visitou o Brasil, ocasio em que foram concludos 56 atos bilaterais (32
dos quais assinados) logo aps a realizao da VI Cpula dos BRICS em Forta-
leza. Os temas dos atos bilaterais tratam da intensificao da pauta comercial,
que vai desde compras pblicas nos setores de segurana, a investimentos em
energia, agricultura, logstica, satlites, etc.; em geral os acordos ampliam e
garantem apoio chins (em termos de investimento e tecnologia) para setores
e dinmicas da economia brasileira, mas que reverberam em toda a regio.5
110
Anexo II: Atos
111
O Brasil made in China Anexos
112
Anexo II: Atos
NOTAS
1. Gasoduto da Integrao Sudeste-Nordeste (Gasene), o maior em extenso construdo no
Brasil nos ltimos dez anos. Obra do Plano de Acelerao do Crescimento (PAC), o Gasene
recebeu investimentos de R$ 7,2 bilhes. Tem 1.387 km, capacidade para transportar at 20
milhes de metros cbicos por dia de gs natural e gerou 47 mil empregos durante a construo.
Disponvel em: <http://oglobo.globo.com/economia/petrobras-inaugura-gasoduto-da-
integracao-sudeste-nordeste-3034013#ixzz3IfUHQmIj>, acessado em 20/12/2014.
2.
A State Grid comprou da Plena 75% do capital da Expansin Transmisso de
Energia Eltrica e 75% da Expansin Transmisso Itumbiara Marimbondo.
As outras cinco empresas Ribeiro Preto, Serra Paracatu, Poo de Caldas,
Itumbiara e Serra da Mesa foram 100% vendidas chinesa. Disponvel em:
<http://oglobo.globo.com/economia/estatal-da-china-compra-controle-de-sete-empresas-
de-energia-no-brasil-diz-valor-3007244#ixzz3IftEbLPQ>, acessado em 20/12/2014.
3. Disponvel em: <http://www.vallya.com/en/vallya-insights-pt/241-vitoria-de-linhao-de-
belo-monte-marca-avanco-da-china-no-brasil>, acessado em 20/12/2014.
4. om um processo de internacionalizao recente, as empresas elicas chinesas ainda
C
preferem exportar o equipamento manufaturado e so cautelosas em abrir fbricas em
outros pases sem uma demanda garantida.
5. isponvel em: <http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/
D
declaracao-conjunta-entre-a-republica-federativa-do-brasil-e-a-republica-
popular-da-china-sobre-a-visita-de-estado-do-presidente-xi-jinping-ao-brasil-e-o-
aprofundamento-da-parceria-estrategica-global-brasil-china-brasilia-17-de-julho-
de-2014>, acessado em 20/12/2014.
113
Crditos
das imagens
. 44
P Comrcio na R. 25 de Maro em So Paulo. Foto de Marcelo
Camargo, Agncia Brasil.
114
A Fundao Rosa Luxemburgo
115
Este livro foi composto nas fontes Conduit ITC
e PT Serif e impresso em papel reciclato 90g/m2
pela Nova Letra Grfica e Editora - Blumenau (SC).
116