Apostila Hidrologia
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Apostila Hidrologia
CAPÍTULO 1
CONCEITOS BÁSICOS
1.1 Introdução
Hidrologia é uma ciência multidisciplinar que lida com a ocorrência, circulação e distribuição das
águas na Terra.. Devido à natureza complexa do ciclo hidrológico e da sua relação com o clima, tipos de
solo, topografia e geologia, a hidrologia se confunde com outras ciências que fazem parte da geografia
física, tais como: meteorologia, geologia e oceanografia.
A atmosfera terrestre, os oceanos, as geleiras, os lagos, os rios e a crosta terrestre contêm cerca de 1
x1018m3 de água, distribuídos da seguinte forma (Peixoto e Oort, 1990 apud Tucci, 1993):
Apesar da abundância, a distribuição espacial e temporal da água sobre a Terra é bastante irregular
causando problemas de excesso de água em alguns lugares e escassez em outros.
Aos problemas que ocorrem devido à aleatoriedade dos eventos hidrológicos vieram se somar aos
causados pela intervenção humana sobre o meio ambiente, que, em diversos lugares, alcançou um nível
crítico, afetando o clima e as condições de vida em escala global. Os estudos hidrológicos são utilizados
para avaliar o efeito destas ações antrópicas sobre os recursos hídricos, realizar previsões sobre o que
pode ocorrer no futuro, e que medidas podem ser adotadas para evitar ou reduzir as conseqüências
negativas para o bem estar da humanidade.
A Hidrologia Aplicada tenta superar estes problemas através da previsão de eventos extremos e da
disponibilidade dos recursos hídricos. Como ainda não é possível prever com segurança e com
antecedência os eventos hidrológicos, por serem estes aleatórios, a estatística, com base em registros
passados, é uma ferramenta de suporte à hidrologia.
O objetivo do estudo ou projeto determinará a fase do ciclo hidrológico e a escala de interesse.
Basicamente, existem dois grupos de estudo: (1) a estimativa de disponibilidade e demandas e (2) a
previsão de eventos extremos. O primeiro grupo se aplica a: planos diretores de bacias; estudos de
impacto ambiental; projetos de abastecimento; projetos de irrigação; projetos de geração de energia. O
segundo grupo se aplica a: projetos de proteção contra enchentes; projetos de grandes obras: barragens,
pontes, estradas; projetos de drenagem. Desta forma, pode-se resumir os principais objetos de interesse
do engenheiro hidrólogo nos seguintes itens:
1. Vazões máximas esperadas em galerias de drenagem ou bueiros;
2. Capacidade requerida de reservatórios para garantir suprimento de água adequado para irrigação
ou abastecimento urbano;
1.2 Histórico
Os primeiros estudos hidrológicos de que se tem registro tinham objetivos bastante práticos. Há 4000
anos, foi instalado no rio Nilo um nilômetro (escala para leitura do nível do rio Nilo), ao qual apenas
sacerdotes tinham acesso. A taxa de imposto a ser cobrada durante o ano dependia do nível de água do
rio Nilo. A primeira referência a medição de chuva data de cerca de 2000 anos, na Índia. Neste caso o
total precipitado no ano também servia como base para cálculo de impostos.
É interessante observar que as primeiras medições hidrológicas foram realizadas para servir a
propósitos sociais e políticos, ao invés de serem usados como base para projetos de obras hidráulicas ou
para o entendimento de fenômenos hidrológicos.
Na história recente da hidrologia foram observados grandes avanços a partir de 1930, quando agências
governamentais de países desenvolvidos começaram a desenvolver seus próprios programas de pesquisas
hidrológicas. Sherman (1932), o hidrograma unitário; Horton (1933), a teoria da infiltração; Gumbel
(1941) propôs a distribuição de valores extremos para análise de freqüência de dados hidrológicos.
A introdução da computação digital na hidrologia, nas décadas de 1960 e 1970, permitiu que problemas
hidrológicos complexos fossem simulados como sistemas completos pela primeira vez. O primeiro
modelo hidrológico completo foi desenvolvido pela Universidade de Stanford (1966). Este modelo pode
simular os processos mais importantes do ciclo hidrológico: precipitação, evapotranspiração, infiltração,
escoamento superficial, escoamento subterrâneo e escoamento em canais. Outros modelos foram
desenvolvidos em seguida: HEC-1 (1973), Corpo de Engenheiros do Exército Americano; ILLUDAS
(1974), e outros.
No Brasil, os primeiros textos publicados em hidrologia são de Garcez (1961) e Souza Pinto et al.
(1973). Por ocasião do Decênio Hidrológico Internacional, foi implantado no Rio Grande do Sul, com a
participação da UNESCO, o primeiro curso de pós-graduação em Hidrologia, junto ao Instituto de
Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do sul (IPH). O IPH tem sido responsável
pelo desenvolvimento de modelos de simulação hidrológica, tais como os modelos IPH, determinísticos,
tipo chuva-vazão, e os modelos MAG, para auxiliar na gestão de bacias.
Hoje existem inúmeros cursos de pós-graduação no país, que mantêm uma comunidade científica com
interesse específico em hidrologia. Em 1977, foi fundada a Associação Brasileira de Recursos Hídricos,
que tem publicado trabalhos científicos que são apresentados em simpósios, hoje internacionais, e
também publica revistas técnicas e livros de hidrologia.
Na etapa seguinte, parte da precipitação sofre interceptação antes de tocar o solo, ficando retida na
vegetação até ser evaporada ou alcançar o solo, quando a precipitação exceder a capacidade de retenção
da vegetação, ou pela ação dos ventos.
A água retida em depressões do solo tende a infiltrar. A infiltração ocorre enquanto a intensidade da
precipitação não exceder a capacidade de infiltração do solo, ou seja, enquanto a superfície do solo não
estiver saturada.
A partir do momento em que foi excedida a capacidade de retenção da vegetação e do solo e a
superfície do solo já estiver saturada, passa a haver escoamento superficial. A água, impulsionada pela
gravidade para cotas mais baixas, forma pequenos filetes que tendem a se unir e formar cursos d’água,
que continuam fluindo até encontrar riachos que formarão rios, de porte cada vez maior, até atingir um
oceano ou um lago.
O escoamento subterrâneo acontece quando a porção de precipitação infiltrada percola até os aqüíferos
subterrâneos (zona de saturação), escoando de forma bastante lenta. Quando o escoamento da água
infiltrada ocorre na zona de aeração do solo (camada insaturada) até aparecer como escoamento
superficial é chamado de escoamento de base. Este escoamento mantém a vazão de base dos rios em
períodos de estiagem.
Parte da água armazenada no solo será consumida pela vegetação voltando, em seguida, à atmosfera
pelas folhas das plantas, em um processo chamado transpiração. O fenômeno de evaporação se inicia
antes mesmo da chuva tocar o solo, após a formação da precipitação. A evaporação ainda ocorre
diretamente do solo desprovido de vegetação. Nos lagos, mares e oceanos, rios e outros corpos d’água a
evaporação devolve a água à atmosfera, completando o ciclo hidrológico, estando, outra vez disponível
para ser precipitada.
O ciclo hidrológico em uma bacia pode ser representado, em unidades de altura (mm ou polegadas)
pela equação do balanço hídrico (Equação 1.1):
P – R – G – E – T = ∆S (1.1)
Onde P = precipitação; R = escoamento superficial; G = escoamento subterrâneo ou de base; E =
evaporação; T = transpiração; S = armazenamento.
Com o crescimento da população mundial, as alterações ao meio ambiente se tornaram mais importantes,
causando maiores mudanças às características do escoamento nas bacias hidrográficas. A derrubada da
vegetação natural para o desenvolvimento da agricultura aumenta a superfície de solo exposto, com óbvia
diminuição da proteção natural da vegetação. Esta perda de proteção diminui o potencial de infiltração
do solo, aumenta o escoamento superficial e resulta em grandes perdas de solo. Nos últimos dois
séculos, o crescimento das cidades tem modificado drasticamente a paisagem nos arredores destes
centros urbanos. A urbanização tem interferido significativamente nos processos envolvidos no ciclo
hidrológico.
Entretanto, embora tradicional, esta prova deixa ainda vacilante o sertanejo. Nem sempre desanima,
ante os seus piores vaticínios. Aguarda, paciente, o equinócio da primavera, para definitiva consulta
aos elementos. Atravessa três longos meses de expectativa ansiosa e no dia de S. José, 19 de março,
procura novo augúrio, o último.
Aquele dia é para ele o índice dos meses subseqüentes. Retrata-lhe, abreviadas em doze horas,
todas as alternativas climáticas vindouras. Se durante ele chove, será chuvoso o inverno: se, ao
contrário, o Sol atravessa arrazadoramente o firmamento claro, estão por terra as suas esperanças.
QUESTIONÁRIO
1. Como o ciclo hidrológico pode ser alterado em uma bacia em estado natural ?
2. Quais as etapas do ciclo hidrológico que são afetadas pela urbanização?
3. Defina o balanço hídrico. Descreva a sua equação.
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CAPÍTULO 2
BACIA HIDROGRÁFICA
2.1 - Introdução
A bacia hidrográfica pode ser entendida como uma área onde a precipitação é coletada e
conduzida para seu sistema de drenagem natural isto é, uma área composta de um sistema de
drenagem natural onde o movimento de água superficial inclui todos os usos da água e do solo
existentes na localidade (Magalhães, 1989).
Os limites da área que compreende a bacia hidrográfica são definidos topograficamente como
os pontos que limitam as vertentes que convergem para uma mesma bacia ou exutório.
As bacias hidrográficas caracterizam-se pelas suas características fisiográficas, clima, tipo de
solo, geologia, geomorfologia, cobertura vegetal, tipo de ocupação, regime pluviométrico e
fluviométrico, e disponibilidade hídrica.
A delimitação de cada bacia hidrográfica é feita numa carta topográfica, seguindo as linhas
das cristas das elevações circundantes da seção do curso d’água em estudo. Cada bacia é assim, sob o
ponto de vista topográfico, separada das restantes bacias vizinhas.
No entanto, as águas que atingem a seção do curso d’água em estudo poderão provir não só
do escoamento superficial como também do escoamento subterrâneo, que poderá ter origem em bacias
vizinhas. E, inversamente, parte do escoamento superficial poderá concentrar-se em lagos ou lençóis
subterrâneos que não tem comunicação com o curso de água em estudo, não contribuindo para a sua
vazão.
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As características fisiográficas de uma bacia são obtidas dos dados que podem ser extraídos
de mapas, fotografias aéreas e imagens de satélite. São: área, comprimento, declividade e cobertura
do solo, que podem ser expressos diretamente ou, por índices que relacionam os dados obtidos.
Figura. 2.3 - Bacia Arredondada e as características do escoamento nela originado por uma
precipitação uniforme
Uma bacia elíptica, tendo a saída da bacia na ponta do maior eixo e, sendo a área igual a da
bacia circular, o escoamento será mais distribuído no tempo, produzindo portanto uma enchente
menor (Fig. 2.4).
Figura 2.4 - Bacia elíptica e as características do escoamento nela originado por uma precipitação
uniforme
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As bacias do tipo radial ou ramificada são formadas por conjuntos de sub-bacias alongadas
que convergem para um mesmo curso principal. Neste caso, uma chuva uniforme em toda a bacia,
origina cheias nas sub-bacias, que vão se somar, mas não simultaneamente, no curso principal.
Portanto, a cheia crescerá, estacionará, ou diminuirá na medida em que forem se fazendo sentir as
contribuições das diferentes sub-bacias (Fig. 2.5).
Figura 2.5 - Bacia ramificada e as características do escoamento nela originado por uma precipitação
uniforme
a) Fator de Forma: O fator de forma - Kf - é a relação entre a largura média e o comprimento axial
da bacia. Mede-se o comprimento da bacia (L) quando se segue o curso d’água mais longo desde
a desembocadura até a cabeceira mais distante da bacia. A largura média (L) é obtida quando se
divide a área pelo comprimento da bacia.
L
Kf =
L, (2.1)
A A
L= Kf =
mas L (2.2) logo L2 (2.3)
Onde A e L são respectivamente área da bacia em km2 e comprimento do rio principal em km.
O fator de forma é um índice indicativo da tendência para enchentes de uma bacia. Uma
bacia com um fator de forma baixo é menos sujeita a enchentes que outra de mesmo tamanho, porém
com maior fator de forma. Isso se deve ao fato de que numa bacia estreita e longa, com fator de forma
baixo, há menos possibilidade de ocorrência de chuvas intensas cobrindo simultaneamente toda sua
extensão; e também numa tal bacia, a contribuição dos tributários atinge o curso d’água principal em
vários pontos ao longo do mesmo, afastando-se, portanto, da condição ideal da bacia circular discutida
no item seguinte, na qual a concentração de todo o deflúvio da bacia se dá num só ponto.
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2.3.2 - Relevo
Diversos parâmetros foram desenvolvidos para refletir as variações do relevo em uma bacia. Os
mais comuns são:
a) Declividade da bacia. Apesar de haver diversos métodos para estimar a declividade da bacia, o
mais comum é simular o da Equação 2.8, sendo que a diferença de cota (H) deve se referir a toda
bacia e não apenas ao canal. Há ainda o método das quadrículas associadas a um vetor. Esse
método é mais completo que o anterior e consiste em determinar a distribuição percentual das
declividades do terreno por meio de uma amostragem estatística das declividades normais às
curvas de nível em um grande número de pontos na bacia. Esses pontos devem ser locados num
mapa topográfico da bacia por meio de um quadriculado que se traça sobre o mesmo.
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A Tabela 2.1 apresenta os passos utilizados para o cálculo de uma curva hipsométrica, a qual é
mostrada na (Fig. 2.6).
1 2 3 4 5 6
Cota (mm) Ponto Área (km2) Área Acumulada (km2) % Acumula
Médio(m) da
940-920 930 1,92 1,92 1.08 1,08
920-900 910 2,90 4,82 1,64 2,72
900-880 890 3,68 8,50 2,08 4,80
880-860 870 4,07 12,57 2,29 7,09
860-840 850 4,60 17,17 2,59 9,68
840-820 830 2,92 20,09 1,65 11,33
820-800 810 19,85 39,94 11,20 22,53
800-780 790 23,75 63,69 13,40 35,93
780-760 770 30,27 93,96 17,08 53,01
760-740 750 32,09 126,05 18,10 71,11
740-720 730 27,86 153,91 15,72 86,83
720-700 710 15,45 169,36 8,72 95,55
700-680 690 7,89 177,25 4,45 100
Total 177,25
c) Elevação média da bacia. A variação da altitude e a elevação média de uma bacia são, também,
importantes pela influência que exercem sobre a precipitação, sobre as perdas de água por evaporação
e transpiração e, consequentemente, sobre o deflúvio médio. Grandes variações da altitude numa
bacia acarretam diferenças significativas na temperatura média a qual, por sua vez, causa variações na
evapotranspiração. Mais significativas, porém, são as possíveis variações de precipitação anual com a
elevação.
A elevação média é determinada por meio de um retângulo de área equivalente à limitada pela curva
hipsométrica e os eixos coordenados; a altura do retângulo é a elevação média. Outro método é o de
utilizar a equação
Σe.a
E=Σ (2.8)
A
Onde: E= elevação média
e= elevação média entre duas curvas de nível consecutivas
a= área entre as curvas de nível
A= área total
Outro fator importante no estudo das elevações da bacia é a Altura Média da Seção de Controle
(Desembocadura), a qual representa uma carga potencial hipotética a que estão sujeitos os volumes de
excesso de chuva e constitui um fator que afeta o tempo que levariam as águas para atingir a seção de
controle. Essa altura é determinada pela diferença entre a elevação mediana e a elevação do leito na
desembocadura.
Obtém-se a declividade de um curso d’água, entre dois pontos, dividindo-se a diferença total de
elevação do leito pela extensão horizontal do curso d’água entre esses dois pontos.
A declividade do canal pode ser descrita como:
∆H
S=
L (2.9)
Onde S é a declividade (m/m), H é diferença de cota (m) entre os pontos que definem o início e o fim
do canal (nascente e foz), L é o comprimento do canal entre estes pontos (rio principal).
Outra forma de determinar a declividade é utilizada para terrenos com declividade constante,
podendo-se até determinar através desta declividade o tempo de percurso da precipitação. Caso o
curso d’água tivesse uma declividade constante igual a declividade equivalente, o tempo de percurso
seria determinado da seguinte maneira:
Considerando-se que o tempo de percurso varia em toda a extensão do curso d’água com o
recíproco da raiz quadrada da declividade, dividindo-se o perfil de álveo em um grande número de
trechos retilíneos, tem-se que a raiz quadrada da declividade equivalente constante é a média
harmônica ponderada da raiz quadrada das declividades dos diversos trechos retilíneos, tomando-se
como peso a extensão de cada trecho. Logo,
S13/ 2 =
∑L i
(2.10)
L
∑ S
i
i
Onde:
S i = Di (2.11)
Sendo,
Di= declividade de cada trecho, logo:
2
∑ Li
S =
Li
3
∑
D
i
(2.12)
Onde: Li = distância real medida em linha inclinada
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Para uma bacia hidrográfica, a ordem principal é definida como a ordem principal do
respectivo canal. A Figura 2.8 mostra a ordenação dos cursos d’água de uma bacia hipotética. Neste
caso, a ordem principal da bacia é 4.
b) Densidade de Drenagem
A densidade de drenagem (D) é a razão entre o comprimento total dos cursos d’água em uma
bacia e a área desta bacia hidrográfica. Um valor alto para D indicaria uma densidade de drenagem
relativamente alta e uma resposta rápida da bacia a uma precipitação.
LT
D=
A (2.13)
Onde LT é a extensão total dos cursos d’água e A é a área da bacia hidrográfica.
Exemplo: A área da bacia é 115 Km2, a extensão total dos cursos d’água é 29,0Km. A densidade de
drenagem é, portanto:
LT 29
D= = = 0,25km / km 2
A 115
Segundo SWAMI (1975), índices em torno de 0,5km/km2 indicaria uma drenagem pobre,
índices maiores que 3,5km/km2 indicariam bacias excepcionalmente bem drenadas.
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Como tempo de concentração de uma bacia, entende-se o tempo necessário para que uma
partícula de água se desloque do ponto mais distante da bacia até o exutório da mesma. Existem
diversas formulas para a sua determinação sendo a maioria empírica. Destacamos a fórmula de
Kirpich (1940), por ser a mais usada:
0 ,385
3
t c = 0,95 L
∆H
Sendo:
uma ação regularizadora de caudais, sobretudo nos climas secos. No caso de grandes cheias com
elevados caudais a sua ação é, no entanto, praticamente nula. Além da influência que exerce na
QUESTIONÁRIO
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CAPÍTULO 3( parte 2)
PRECIPITAÇÃO
3.1 INTRODUÇÃO
A precipitação pode assumir diversas formas, incluindo: chuva, neve, granizo e orvalho. Com
relação à hidrologia, apenas chuva e neve são importantes. Este curso tratará apenas da precipitação
pluviométrica, já que a precipitação de neve não é significativa no Brasil.
Por sua capacidade para produzir escoamento, a chuva é o tipo de precipitação mais
importante para a hidrologia e o principal elemento da maioria dos projetos hidrológicos. Os
problemas de engenharia relacionados com a hidrologia são em sua grande maioria conseqüência de
chuvas de grande intensidade ou volume e da ausência de chuva em longos períodos de estiagem.
Chuvas de grande intensidade em áreas urbanas causam o alagamento das ruas, porque o sistema de
drenagem não é projetado para chuvas muito intensas. Precipitações de grande intensidade podem,
ainda, causar danos à agricultura e a estrutura de barragens. A ausência de chuvas por longos períodos
reduz a vazão dos rios, causando a diminuição do nível dos reservatórios. Vazões reduzidas devido à
falta de chuva trazem danos ao ambiente do curso d’água, além de reduzir a água disponível para
diluição de poluentes. A diminuição do nível dos lagos e reservatórios reduzem a disponibilidade da
água para usos como: abastecimento, irrigação e geração de energia. É evidente, então que os
problemas surgem quando a precipitação ocorre em situações extremas (mínimos ou máximos) de
intensidade e/ou freqüência, ou quando os intervalos entre precipitações são excessivamente longos.
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Convectivas: quando em tempo calmo, o ar úmido for aquecido na vizinhança do solo, podem-se criar
camadas de ar que se mantêm em equilíbrio instável. Perturbado o equilíbrio, forma-se uma brusca
ascensão local do ar menos denso que atingirá seu nível de condensação com formação de nuvens, e
muitas vezes, precipitações. São as chuvas convectivas, características das regiões equatoriais, onde
os ventos são fracos e os movimentos de ar são essencialmente verticais, podendo ocorrer nas regiões
temperadas por ocasião do verão (tempestades violentas). São, geralmente, chuvas de grande
intensidade e de pequena duração, restritas a áreas pequenas. São precipitações que podem provocar
importantes inundações em pequenas bacias.
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Orográficas:
Quando os ventos quentes e úmidos, soprando geralmente do oceano para o continente, encontram
uma barreira montanhosa, elevam-se e se resfriam adiabaticamente havendo condensação do vapor,
formação de nuvens e ocorrência de chuvas. São chuvas de pequena intensidade e grande duração,
que cobrem pequenas áreas. Quando os ventos conseguem ultrapassar a barreira montanhosa, do lado
oposto projeta-se uma sombra pluviométrica, dando lugar a áreas secas ou semi-áridas causadas pelo
ar seco, já que a umidade foi descarregada na encosta oposta;
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3.4 PLUVIOMETRIA
3.4.1 INTRODUÇÃO
A medição da quantidade da água que cai em uma região é dita pluviometria. Sendo os
diversos tipos de precipitação, de um modo geral, medidos indiscriminadamente através do seu
equivalente em água pela chamada altura pluviométrica (diz-se que caíram x mm de chuva).
• Altura pluviométrica (h): é a espessura média da lâmina de água precipitada que recobriria a
região atingida pela precipitação admitindo-se que essa água não se infiltra, não evapora, nem
escoa para fora dos limites da região. A unidade de medição habitual é o milímetro de chuva.
• Duração (X): é o período de tempo durante o qual a chuva cai. As unidades normalmente
utilizadas são minuto ou hora.
• Intensidade (i): é a precipitação por unidade de tempo, obtida com a relação i = h/X. Se Expressa
normalmente em mm/h ou mm/min. A intensidade de uma precipitação apresenta variabilidade
temporal, mas, para a análise dos processos hidrológicos, geralmente são definidos intervalos de
tempo nos quais é considerada constante.
10V
P= (3.1)
A
Fig 3.3 - Esquema de funcionamento Fig 3.4 - Foto Fig. 3.5 - Diagrama de chuva
A medida correta das alturas de precipitação está longe de ser simples, basicamente pelas seguintes
razões:
a) Seja qual for o seu tipo, o pluviômetro cria uma perturbação aerodinâmica que modifica mais ou
menos o campo das precipitações, originando, na sua vizinhança imediata, turbilhões que afetam a
quantidade chuva e sobretudo a neve captada.
b) Há poucos locais ao mesmo tempo suficientemente abrigados para reduzir ao mínimo o efeito
aerodinâmico acima referido e, entretanto, convenientemente desobstruídos para fornecer uma
amostra típica válida da região, seja qual for a direção do vento e da perturbação pluviosa.
c) Uma medida de chuva não pode ser nunca repetida.
d) A amostra revelada pelo pluviômetro é sempre extraordinariamente pequena em relação ao
conjunto da chuva que nós supomos por ela determinada sobre uma zona sempre muito extensa;
ela é tanto menos representativa quanto mais importante for a heterogeneidade espacial da chuva
sobre a zona considerada.
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A situação ideal é a localização em uma área grande, plana e livre de árvores e edifícios que
possam interceptar a precipitação. Além disso, para reduzir os efeitos do vento, deve-se instalar
barreiras baixas, com envolventes cilíndricos ou tapumes, a uma distância do pluviômetro não inferior
ao dobro da sua altura. Modernamente também se usam telas que envolvem a curta distância a
superfície receptora, conseguindo muito aproximadamente realizar um pluviômetro
“aerodinamicamente neutro”.
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Mas se as divisões do tempo forem iguais a unidade, a intensidade média de cada intervalo
exprime-se pelo mesmo número que a altura de precipitação relativa ao mesmo intervalo; por isso,
nesses casos pode-se marcar nas ordenadas simplesmente as alturas de precipitação.
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1M M M
Px = x Pa + x Pb + x Pc (3.4)
3 Ma Mb Mc
Onde:
Px - É a variável que guardará os dados corrigidos
Mx - Média aritmética da estação com falha
Ma, Mb e Mc - Média aritmética das estações vizinhas
Pa, Pb e Pc - É o dado da estação vizinha, ao posto com falha, do mesmo ano que utilizamos
para preencher a falha.
Esse tipo de análise é utilizada para verificar a homogeneidade dos dados, isto é, se houve
alguma anormalidade na estação pluviométrica, tal como mudança de local ou das condições do
aparelho ou modificação no método de observação.
Este método consiste em selecionar os postos de uma região (que deve ser considerada
homogênea do ponto de vista hidrometerológico), acumular para cada um deles os valores (mensais
ou anuais conforme a análise), plotar em um gráfico cartesiano os valores acumulados
correspondentes ao posto a consistir (eixo ordenado) com os valores médios das precipitações
mensais acumuladas em vários pontos da região (eixo das abscissas) que servirá como base para
comparação.
Se os valores dos postos a consistir forem proporcionais aos observados na base de
comparação, os pontos devem se alinhar segundo uma única reta. A declividade desta reta determina o
fator de proporcionalidade entre ambas as séries. Quando os pontos não se alinham podem ocorrer as
seguintes situações:
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Uma vez finalizada a análise de consistência, pode ser necessária uma revisão dos valores
previamente preenchidos. O preenchimento das séries é uma tarefa efetuada antes da consistência para
evitar distorções no gráfico de Dupla Massa, mas se neste gráfico forem observadas modificações de
tendência, o preenchimento poderá ser revisado.
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A precipitação média, calculada por este método, nada mais é do que a média aritmética dos valores de
precipitação medidos na área da bacia, o que implica na admissão de que todos os pluviômetros têm a mesma
influência na bacia em estudo.
O valor da média calculado por tal método apresenta algumas restrições para ser considerado
consistente: os aparelhos de medição de precipitação devem estar distribuídos uniformemente na área da bacia;
o relevo não deve ser acidentado; a área deve ser plana; e que os dados observados nos aparelhos não se
distanciem do valor da média. Além disso, só poderá ser feita a média aritmética com postos dentro da bacia.
Deve ser utilizada a seguinte formula:
∑h i
Onde:
h i = altura de precipitação de cada posto
h= 1
(3.6) n = número de postos
n
A precipitação média é calculada pela média ponderada, entre a precipitação hi de cada estação e o peso
a ela atribuído Ai, que corresponde a área de influência de cada posto, de acordo com a seguinte fórmula:
40
Grupo de Recursos Hídricos – Notas de aula de Hidrologia
Universidade Federal da Bahia – Departamento de Engenharia Ambiental Apostila 2011.1
∑ (A i ⋅ hi )
h= 1
(3.13)
AT
Onde:
Ai = área do polígono interna à bacia (área de influência do posto)
h i = precipitação observada em cada aparelho
AT = área total da bacia
n = número de posto.
Os postos pluviométricos trabalhados não têm que estar necessariamente dentro da bacia. Esse
método dá bons resultados em terrenos levemente acidentados, quando a localização e exposição dos
pluviômetros são semelhantes e as distâncias entre eles não são muito grandes.
h=
∑ (A ⋅ h )
i i
(3.14)
Sendo:
Ai = área parcial da bacia hidrográfica
∑A i correspondente à determinada altitude;
h = precipitação correspondente a uma
certa altitude.
É considerado o método mais preciso no cálculo da precipitação média sobre uma bacia.
Consiste na ponderação das precipitações médias entre as duas isoietas que delimitam cada região
utilizando como fator peso as suas respectivas áreas.
De posse do mapa das isoietas da região, podemos calcular a média da seguinte forma:
h +h Sendo:
∑ i 2 i +1 ⋅ A1 hi e h i+1 = precipitação das duas
h= isoietas sucessivas que delimitam a
∑ Ai região;
(3.15) Ai = área de cada região limitada
entre duas isoietas e/ou a linha que
delimita à bacia.
QUESTIONÁRIO
3. Quais são os critérios utilizados para a escolha dos postos que serão utilizados
como referência para o preenchimento de falhas?
EXEMPLOS RESOLVIDOS
1M M M
Px = x Pa + x Pb + a Pc
3 Ma Mb Mc
1 655,73 655,73 655,73
P1984 = 430,4 + 417,7 + 373,1
3 686,69 660,44 632,08
P1984 = (410,99 + 414,72 + 387,06 ) = 404,26mm
1
3
2- Calcular a média das chuvas das estações acima pelo método da Média Aritmética Simples
(somente estações dentro da Bacia).
3.8.1 Introdução
Neste capítulo citaremos apenas dois métodos o método da Califórnia e o método de Kimbal.
m
F= (Método Kimbal)
n +1
m
F= (Método Califórnia)
n
Onde: F = freqüência com que foi igualado ou superado um evento de orcem “m”
m = número de ordem
n = número de anos de observação
Os dados devem ser ordenados em ordem decrescente e a cada um é atribuído o seu número de ordem
m.
Tabela 1: Exemplo método de Kimball
Tr = 1/ P
Exemplo 1: Uma precipitação com 1% de probabilidade de ser igualada ou superada num ano tem um
Tr = 100 anos.
Exemplo 2: Se uma chuva h tem um período de recorrência de 50 anos isto significa que, em média(!),
esta chuva é igualada ou excedida a cada 50 anos.
Exemplo 3: Em outros termos: A chuva h tem uma probabilidade P= 1/T =1/50 = 0,02 (ou 2%) de ser
igualada ou excedida, em um ano qualquer.
Na Hidrologia podemos estudar eventos que excedem determinado valor “x” (probabilidade de
excedência, P[X ≥ x ] ), ou seja, valores máximos ou eventos que não excedem determinado valor
“x” (probabilidade de não excedência, P[X ≤ x ] ), ou seja, valores mínimos. Resumindo:
1
T= , para a análise de máximos.
P[ X ≥ x ]
1
T= , para a análise de mínimos.
P[ X ≤ x ]
Variáveis hidrológicas como precipitação anual, calculada como a soma dos efeitos de vários
eventos independentes tendem a seguir a distribuição normal, cuja função densidade de probabilidade
se segue:
1 x−µ
2
−
2 σ
f (x ) =
1
e
σ 2π
x−µ
Fazendo-se a transformação para a variável reduzida, t = , temos a distribuição reduzida:
σ
e −t
2
f (t ) =
1 2
,
2π
Abaixo segue a ilustração gráfica de uma distribuição normal reduzida e acumulada, respectivamente:
f.d.p.
φ(x )
68.27%
µ− σ µ µ+ σ x
x
f.d.
Φ(x )
1
Φ(b )
Φ(a )
0.5
0
a b x
µ
3.8.4.2 Ajuste de um modelo de probabilidades- Método Gráfico
O ajuste da série de valores anuais de precipitação segundo a curva normal é muito facilitado pelo uso
de papéis de probabilidade, no qual a distribuição normal se apresenta como urna reta que passa por
Os períodos de retorno são definidos por T = 1 / F(X) para F(x) < O,5 e T = 1 / l - F(x) para F(x) >
O,5 e apresentam, a repartição de freqüência mostrada na tabela abaixo.
Exemplo: Dadas as precipitações médias anuais abaixo, analisar graficamente o ajuste da distribuição
normal à série de dados em questão
Ano P(mm)
1980 489,33
1981 651,4
1982 764,52
1983 850,38
1984 282,49
1985 417,58
1986 435,2
1987 859,51
1988 911,5
1989 1313,12
1990 767,59
1991 668,78
1992 736,8
1993 754,81
1994 806,48
1995 644,04
1996 447,42
1997 418,55
1998 401,05
Para o caso da distribuição normal têm-se uma reta que passa por três pontos distintos:
µ ; F (µ ) = 50% = 664,24mm
µ − σ ; F (µ − σ ) = 15,87% = 664,24 − 244,52 = 419,72mm
µ + σ ; F (µ + σ ) = 84,13% = 664,24 + 244,52 = 908,76mm
Plota - se por fim, no papel de probabilidade da distribuição em estudo os valores obtidos da amostra
e a reta da distribuição ajustada.
1 x−µ
2
−
2 σ
f (x ) =
1
e
σ 2π
x−µ
Fazendo-se a transformação para a variável reduzida, t = , temos a distribuição reduzida:
σ
e −t
2
f (t ) =
1 2
,
2π
A integral da função acima não possui solução analítica. A tabela abaixo relaciona valores da
variável reduzida t com as variáveis x e F(x).
EXEMPLO Estimar a precipitação média anual mínima para um período de retorno de 10 anos,
através do método analítico (método dos momentos), levando em consideração a média e o desvio da
série de chuvas dada.
Média anual
Solução:
(mm)
282,49 Temos as seguintes estimativas amostrais:
418,55
401,05
447,42 x = 664,24 mm
417,58
644,04 s = 244,52 mm
489,33
668,78
Para o dado período de retorno, temos:
806,48
754,81
→ F ( x ) = = 0,1
764,52 1 1 1
T= =
651,40 P[ X ≤ x ] F ( x ) T
850,38
1313,12
767,59 x−x
Consultando a tabela, temos t = -1,3 →t = → -1,3 =
911,50 s
859,51
435,20 X − 664,24
→x = 346,36 mm (precipitação média anual mínima)
736,80 244,52
É necessário saber, com base nos dados observados, utilizando os princípios da probabilidade,
as máximas precipitações que possa vir a ocorrer, com determinada frequência. Tratando-se de dados
de chuvas diárias a ferramenta estatística utilizada é o método de Gumbel.
Geralmente, as distribuições de valores extremos de grandezas hidrológicas se ajustam a
distribuição de Gumbel ou distribuição tipo I de Fisher-Tippett, que veremos a seguir.
(− γ )
F ( x) = P ( X ≤ x) = e − e Para Probabilidade de não excedência
(− γ )
F ( x) = P( X ≥ x) = 1 − e − e Para probabilidade de excedência
Onde:
σn
y = (X − X f )
P = probabilidade de um valor extremo da série ser
maior ou igual a variável
Sx X = o valor analisado,
y = variável reduzida,
Xf = moda dos valores extremos,
Y
X f = X − S x n Sx = desvio padrão da variável X (série de valores
σn extremos),
x = média da variável x, (série de valores extremos),
Yn, σn = respectivamente média e desvio padrão da
variável reduzida y para uma amostra de n valores
extremos.
1
y = − ln ln
F (x )
O Tempo de retorno para o caso de não excedência é T= 1/ F(x), logo F(x) = 1/T. Dessa forma,
y = − ln[ln T )]
1
y = − ln ln
F (x )
1
= 1 − F ( x)
T
T −1
Então: F ( xt ) =
T
Que substituído na equação resolvida para y resulta em:
T
yt = − ln ln
T − 1
Os valores de Yn e de σn são dados pela tabela
EXEMPLO: Calcular a precipitação máxima para um período de recorrência de 100 anos utilizando
o método de Gumbel, a partir da série de dados abaixo.
T 100
Como: y = − ln ln (III), logo: y = − ln ln = 4,60
T − 1 100 − 1
1,0566
Substituindo III em II, temos: 4,6 = (X – 80,05)
28,76
X = 205,23 mm é a precipitação máxima com período de retorno de 100 anos.
a onde:
i=
(t + b ) i = intensidade (mm/h)
t = duração (horas)
a e b = constantes dependentes da região considerada
Se t > 2 horas, podemos ter
onde:
c i = intensidade (mm/h)
i=
( )tn
t = duração (horas)
c e n = constantes dependentes da região
considerada
Correlacionando intensidades e durações das chuvas, verifica-se que quanto mais intensa for
uma precipitação, menor será a sua duração. Analisando-se as relações intensidade–duração–
frequência nos dados de chuvas observadas, determina-se para os diferentes intervalos de duração da
chuva, qual o tipo de equação e qual o número de parâmetros dessa equação que melhor caracterizam
aquelas relações.
Em geral, essas equações representativas das relações I-D-F são do tipo.
Onde
c i = intensidade
i=
(t − t o )n t= duração
to, c, n = parâmetros a determinar de acordo com o
local.
Onde:
K = fator de frequência.
c
Substituindo o valor de c na equação i = , obtem-se da maneira mais completa:
(t − t o )n
KT m
i=
(t − t 0 )n
(3.26)
• As isozonas B e C tipificam a
zona de influência marítima,
com coeficientes de
intensidade suaves.
• As isozonas E e F tipificam as
zonas continental e do
nordeste, com coeficientes de
intensidade altos.
• A isozona D tipifica as zonas
de transição (entre continental
e marítima). Esta isozonas se
prolonga caracterizando a zona
de influência do rio
Amazonas.
• As isozonas G e H tipificam a
zona da caatinga nordestina,
com coeficientes de
intensidade muito altos.
• A isozona A coincide com a
zona de maior precipitação
anual do Brasil, com
coeficientes de intensidade
baixos.
O tempo de recorrência não tem influência prática nesta relação. Sendo que a diferença
entre 1 e 10.000 anos de recorrência representa +0,1% de influência.
A tabela de Taborga identifica isozonas de igual relação, para diferentes tempos de recorrência.
A tabela incluída no mapa de isozonas identifica, para cada uma delas, a relação 6 minutos /
24 horas de alturas de precipitação, para tempos de recorrência entre 5 e 50 anos e para um tempo de
recorrência de 100 anos, sendo este último de pouco uso na prática. (essa relação é valida somente
para tempos de duração entre 6 minutos e 1 hora).
METODOLOGIA
Para a conversão das máximas chuvas diárias, em chuvas com duração entre 6 minutos e 24
horas, adota-se a seguinte metodologia:
- Converte-se a chuva de 1 dia em chuva de 24 horas, multiplicando-se a primeira pelo fator 1,095,
como já foi explicado anteriormente.
- Determina-se na figura 3.15, a isozona correspondente ao projeto.
- Calculam-se, com essas percentagens e a chuva de 24 horas (100%), as alturas de precipitação
para 6 minutos e 1 hora.
- Determinam-se no papel de probabilidades de Taborga, as alturas de chuva para 24 horas, 1 hora e 6
minutos de duração.
- Traçam-se as retas das precipitações de 6 minutos para 1 hora e 1 hora para 24 horas, no papel de
probabilidades.
- Para qualquer tempo de duração contido entre 6 minutos e 24 horas, lê-se a altura correspondente
no gráfico de papel de probabilidades.
CAPÍTULO 4
EVAPORAÇÃO E EVAPOTRANSPIRAÇÃO
4.1 Introdução
A evaporação é o processo pelo qual a água se transforma do estado líquido para o de vapor.
Embora o vapor d’água possa ser formado diretamente, a partir da fase sólida, o interesse da
hidrologia está concentrado nas perdas por evaporação, a partir de superfícies líquidas (transformação
de líquido em gás). Além da evaporação, o retorno da água para a atmosfera pode ocorrer através do
processo de transpiração, no qual a água absorvida pelos vegetais é evaporada a partir de suas folhas.
Evapotranspiração é o total de água perdida para a atmosfera em áreas onde significativas perdas de
água ocorrem através da transpiração das superfícies das plantas e evaporação do solo.
A evaporação e a transpiração representam uma porção significativa do movimento da água
através do ciclo hidrológico. Em comparação com o escoamento, a evaporação e a transpiração não
são variáveis muito importantes para a engenharia hidrológica. Com exceção de algumas situações de
projeto, a evaporação é considerada apenas como parte da equação de perdas, representando uma
pequena fração das perdas durante uma precipitação. As perdas por evaporação são importantes no
projeto de grandes reservatórios, devendo ser consideradas nestes projetos.
4.2 Evaporação
Evaporação é o processo físico no qual um líquido ou sólido passa ao estado gasoso, devido à
radiação solar e aos processos de difusão molecular e turbulenta. Além da radiação solar, outras
variáveis como: temperatura do ar, vento e pressão de vapor, também interferem na evaporação
principalmente em superfícies livres de água.
Os métodos normalmente utilizados para determinar a evaporação são:
• evaporímetros;
• transferência de massa;
• balanço de energia;
• balanço hídrico.
Evaporímetros
Os evaporímetros são instrumentos que possibilitam uma medida direta do poder evaporativo da
atmosfera, estando sujeitos aos efeitos de radiação, temperatura, vento e umidade. Os mais
conhecidos são os atmômetros e os tanques de evaporação.
Atmômetros: são equipamentos que dispõem de um recipiente com água conectado a uma placa
porosa, de onde ocorre a evaporação. Cabe destacar o de Piché, bola preta e branca, e Bellani. O
mais comum entre estes é o de Piché, constituído de um tubo de vidro com 11 cm e discos planos
horizontais de papel de filtro, com 3,2 cm de diâmetro, ambos os lados são expostos ao ar.
O balanço energético de um atmômetro difere consideravelmente do balanço de uma superfície livre
de água, solo descoberto ou vegetado. A energia para evaporação provém da radiação, transporte de
calor sensível e condução de calor através do recipiente de abastecimento. A instalação, geralmente
bem acima da superfície do solo e o meio circundante, afetam as reações deste aparelho, tornando-o
pouco confiável. Tem como pontos positivos a fácil instalação, operação e portabilidade.
Tanques de evaporação: podem ser reunidos em quatro classes: enterrados, superficiais, fixos e
flutuantes. O mais usado em nível mundial é o tanque classe A, Figura 5.1, que tem forma circular
com um diâmetro de 121 cm e profundidade de 25,5 cm. Construído em aço ou ferro galvanizado,
deve ser pintado na cor alumínio e instalado numa plataforma de madeira a 15 cm da superfície do
solo. Deve permanecer com água variando entre 5,0 e 7,5 cm da borda superior. A taxa de
evaporação, medida com auxilio de uma ponta limnimétrica apoiada em um tranquilizador, é resultado
das mudanças de nível de água no tanque, levando em consideração a precipitação ocorrida. A
manutenção da água entre profundidades recomendadas, evita erros que podem chegar a 15% do valor
determinado, quando por exemplo, o nível de água estiver 10cm abaixo dos níveis estabelecidos.
Também a água dentro do tanque deve ser renovada regularmente para evitar a turbidez, responsável
por erros que podem superar 5% dos valores determinados.
Ao instalar um tanque de evaporação, deve-se dar especial atenção à finalidade a que se destina a
informação evitando, desta maneira, ampliar os erros cometidos correntemente. O fato do tanque
ser instalado sobre o solo faz com que as paredes do mesmo sofram influência da radiação e da
transferência de calor sensível, traduzindo-se num aumento da evaporação medida. Os tanques são
mais suscetíveis à advecção do que, por exemplo, uma comunidade vegetal. Alguns estudos
atribuem incrementos na temperatura de 2 a 5ºC e redução na umidade relativa de 20 a 30%, ao
nível do tanque, quando instalados sobre pisos inadequados. Quando circundados por cultivos de
elevada estatura, subestimam a evaporação. Os valores da evaporação medida em tanques superam
os obtidos em lagos e/ou reservatórios, devido às diferenças de volume, superfície, localização e
também pelo fato do lago e/ou reservatório depender da variação do transporte de massa e balanço
de energia, que influenciam os dias subsequentes, enquanto que no tanque, isto não ocorre. O fator
que relaciona a evaporação de um reservatório e do tanque classe A oscila entre 0,6 e 0,8, sendo 0,7
o valor mais utilizado.
São métodos que se baseiam na primeira lei de Dalton, e podem ser expressos por:
EO = C (es − e ) (4.1)
onde: Eo = evaporação
e = pressão de vapor do ar
C = coeficiente característico da localidade
es = pressão de vapor de saturação na temperatura da superfície
N ⋅ f (w )(es − e )
C =
f (r )
(4.2)
Balanço hídrico
dV = I − Q − E0 ⋅ A + P ⋅ A
dt
(4.3)
onde
V = volume de água contido no reservatório;
t = tempo;
I = vazão total de entrada no reservatório;
Q = vazão de saída do reservatório;
Eo = evaporação;
P = precipitação sobre o reservatório;
A = área do reservatório.
Utilizando as unidades usuais de cada variável, e considerando que o volume e a área podem se
relacionar por uma função do tipo V = a Ab , (V em hm e A em km2) ou utilizando tabelas, a Equação
4.3 resulta em
Eo ( mm/mês ) = 2,592.( I - Q )/A + P - 1000 . a b A b-l . [A( t+1 )-A( t )]/∆t (4.4)
O uso de uma equação de balanço hídrico para estimar a evaporação é teoricamente correto, pois
demais variáveis limitam este procedimento. As imprecisões ficam por conta principalmente das
contribuições diretas que aportam ao reservatório. Quando a contribuição direta não controlada é
grande, o erro na sua avaliação pode produzir erros significativos na determinação da evaporação.
Exemplo: a precipitação total no mês de janeiro foi de 154 mm, a vazão de entrada drenada pelo rio
principal foi de 24 m3/s. Este rio drena 75 % da bacia total que escoa para o reservatório. Com base
nas operações do reservatório ocorreu uma vazão média de saída de 49 m3/s. A relação entre o volume
e a área do reservatório encontra-se na tabela abaixo. O volume no início do mês era de 288.106 m3 e
no final 244.106 m3. Estime a evaporação no reservatório.
Área Volume
Km2 106 m3
10 10
30 60
90 270
110 440
Tabela 4.1 – Relação entre volume e área
Duas soluções podem ser usadas. A primeira utiliza diretamente a Equação 4.3 e a outra a Equação
4.4. No primeiro caso evita-se o erro de ajuste de uma função para a relação entre a área e o volume,
mas no segundo é mais fácil de operar com todas as variáveis envolvidas.
• A( t+l ) = 92,12 km2 e A( t ) = 81,43 km2 , a área média fica A = 86,78 km2
• a variação de volume é = (288 - 244) . 106 = 44 . 106
• a variação de vazão é = (24/0,75 - 49) = -l7 m3/s.
4.3 Evapotranspiração
A evapotranspiração é considerada como a perda de água por evaporação do solo e transpiração das
plantas. A evapotranspiração é importante para o balanço hídrico de uma bacia como um todo e,
principalmente, para o balanço hídrico agrícola, que poderá envolver o cálculo da necessidade de
irrigação.
O solo, as plantas e a atmosfera podem ser considerados como componentes de um sistema
fisicamente inter-relacionado e dinâmico, no qual os vários processos de fluxo estão interligados
como os elos de uma corrente. Neste sistema, é valioso e aplicável o conceito de potencial hídrico, ou
seja, o fluxo de água ocorre dos pontos de maior potencial para os de menor potencial (o fluxo ocorre
em direção do gradiente de potencial negativo).
A quantidade de água transpirada diariamente é grande em relação às trocas de água na planta, de
modo que se pode considerar o fluxo através da planta, em curtos períodos de tempo, como um
processo em regime permanente. As diferenças de potencial, em distintos pontos do sistema são
proporcionais à resistência do fluxo. A menor resistência ao fluxo é encontrada na planta. E a maior
resistência é encontrada no fluxo das folhas para a atmosfera, devido à mudança do estado líquido
para vapor. A passagem para a atmosfera ocorre através dos estômatos localizados nas folhas e a
diferença total do potencial entre o solo e a atmosfera pode chegar a centenas de bares. O transporte
de água desde as folhas até a massa de ar ocorre também através do processo de difusão de vapor,
sendo proporcional ao gradiente de tensão do vapor de água. A umidade relativa ou seja, a relação
entre a tensão real e a de saturação de vapor, relaciona-se exponencialmente com o potencial hídrico.
A transferência de água de uma área cultivada, onde a umidade do solo não é um fator limitante,
ocorre segundo sua intensidade potencial e, qualquer variação será devida somente a diferenças de
condições meteorológicas, incluindo os efeitos de advecção. De acordo com Berlato e Molion (l981),
o controle exercido pela vegetação seria através da sua estrutura, afetando o albedo, a rugosidade e o
sistema radicular. Na medida em que diminui a umidade do solo, ocorrem restrições à transferência
de água para a atmosfera, que passa a depender não somente das condições meteorológicas, mas
também do sistema radicular das plantas, bem como de outras características, como o estado
fitossanitário das mesmas. Esta condição permite distinguir entre evapotranspiração potencial e real.
Evapotranspiração potencial (ETP): quantidade de água transferida para a atmosfera por evaporação e
transpiração, na unidade de tempo, de uma superfície extensa completamente coberta de vegetação de
porte baixo e bem suprida de água.
Evapotranspiração real (ETR): quantidade de água transferida para a atmosfera por evaporação e
transpiração, nas condições reais (existentes) de fatores atmosféricos e umidade do solo. A
evapotranspiração real é igual ou menor que a evapotranspiração potencial (ETR < ETP).
Informações confiáveis sobre evapotranspiração real são escassas e de difícil obtenção, pois
demandam um longo tempo de observação e custam muito caro. Já a evapotranspiração potencial,
pode ser obtida a partir de modelos baseados em leis físicas e relações empíricas de forma rápida e
suficientemente precisas. Várias teorias, relacionam a ETR e ETP em função da disponibilidade de
água no solo. Apesar destas tentativas não existe, ainda hoje, nenhuma teoria que seja aceita
universalmente.
Sendo um processo complexo e extremamente dinâmico, que envolve organismos vivos como o solo
e a planta é muito difícil estabelecer um valor exato de evapotranspiração real. Entretanto, a
conjugação de inúmeras informações associadas ao conceito de ETP, nos permite estimativas
suficientemente confiáveis para a grande maioria dos nossos objetivos.
As diferenças entre a evapotranspiração real e potencial diminuem sempre que os intervalos de
tempo utilizados para o cálculo da segunda são ampliados (um mês ou mais).
A seguir são apresentados alguns procedimentos usualmente empregados para medir ou estimar a
evapotranspiração:
• medidas diretas;
• métodos baseados na temperatura;
• métodos baseados na radiação;
• método combinado;
• balanço hídrico.
Medidas diretas
a) Método de Thorthwaite
12
I = ∑i (4.7)
1
onde,
1, 514
t
i= (4.8)
5
a = equação cúbica da forma:
A equação de Thornthwaite é bastante complexa para uso prático, mas pode ser facilmente aplicada
com o auxilio de um nomograma específico. Como a temperatura do ar é um elemento geralmente
medido em postos meteorológicos com bastante precisão, substituiu-se o índice de calor pela
temperatura média anual, construindo um nomograma com: temperatura média anual (ºC) e
temperatura média mensal (ºC). Com esse nomograma, calcula-se diretamente a evapotranspiração
mensal.
Esse método, como o de Thornthwaite, utiliza a temperatura média mensal e um fator ligado ao
comprimento do dia. Os dados são obtidos em base pela fórmula:
t ⋅ p⋅k
u= (4.10)
100
onde u é o uso consultivo mensal (em polegadas); t a
temperatura média mensal em ºF; p é a percentagem de horas diurnas do mês, sobre o total de horas
diurnas do ano; k é um coeficiente empírico mensal, que depende da cultura, do mês e da região
(valor tabelado).
O método de Blaney e Criddle foi adaptado ao uso das unidades do sistema métrico decimal e à
escala Celsius. É a seguinte a fórmula de Blaney Criddle modificada
E = (t − 0,5T ) ⋅ p ⋅ k (4.11)
CAPÍTULO 5
SOLOS E INFILTRAÇÃO
5.1 Características Geológicas
O estudo geológico dos solos e subsolos tem por objetivo principal a sua classificação
segundo a maior ou menor permeabilidade, dada a influência que tal característica tem na rapidez de
crescimento das cheias. A existência de terrenos quase, ou totalmente, impermeáveis, impede a
infiltração facilitando o escoamento superficial e originando cheias de crescimento repentino. Já os
permeáveis ocasionam o retardamento do escoamento devido à infiltração, amortecendo as cheias. Na
Figura 1 abaixo, ilustra-se o que se acabou de falar:
O estudo hidrológico de uma bacia deverá, pois, comportar a análise das suas características
térmicas, análise esta em que deverão intervir observações de trocas de calor entre solo e atmosfera,
superfície da água e atmosfera, etc.
A localização geográfica da bacia hidrográfica é determinante das suas características térmicas.
Assim, a variação da temperatura faz-se sentir com:
• latitude - a amplitude térmica anual está também relacionada com a latitude, - é máxima nos pólos
e mínima no equador;
• proximidade do mar - as maiores amplitudes térmicas verificam-se nas zonas continentais, áridas,
enquanto que em regiões submetidas à influência marítima apresentam uma certa uniformidade
térmica;
• altitude - a temperatura diminui com a altitude. De uma forma geral, poderemos dizer que as
regiões mais elevadas apresentam temperaturas mais baixas;
• vegetação - por ação da menor fração de energia solar que atinge o solo e do calor absorvido pela
evapotranspiração das plantas, a temperatura média anual de uma região arborizada pode ser
inferior em 10 C ou 20 C à uma região desarborizada;
• tempo - a temperatura começa a elevar-se ao nascer do sol e atinge o máximo 1 a 3 horas depois
do sol ter atingido a altitude máxima. A variação da temperatura faz-se sentir também durante o
ano segundo as estações, sendo maior ou menor conforme a localização geográfica, como atrás foi
referido.
Quando ocorre uma chuva rápida, as pessoas freqüentemente procuram abrigo sob alguma
árvore que esteja próxima. Admite-se que a árvore será uma proteção temporária, já que ela
intercepta a chuva na fase inicial do evento. Poder-se-ia concluir que uma bacia coberta por uma
floresta produziria menos escoamento superficial do que uma bacia sem árvores.
O escoamento em telhados é outro exemplo do efeito do tipo de cobertura da bacia sobre o
escoamento. Durante uma precipitação, o escoamento em calhas de telhados começa logo depois de
iniciada a chuva. Telhados são superfícies impermeáveis, inclinados e planos, portanto, com pouca
resistência ao escoamento. O escoamento em uma vertente gramada com as mesmas dimensões do
telhado terá início bem depois do escoamento similar no telhado. A vertente gramada libera água em
taxas e volumes menores porque parte da água será infiltrada no solo e devido a maior rugosidade da
superfície gramada, o escoamento será mais lento. Conclui-se então que o escoamento em superfícies
impermeáveis resulta em maiores volumes e tempos de deslocamento menores do que o escoamento
em superfícies permeáveis com as mesmas dimensões e declividades.
Estes dois exemplos conceituais servem para ilustrar como o tipo de ocupação do solo afeta as
características do escoamento em uma bacia. Quando as outras características da bacia são mantidas
constantes, as características do escoamento tais como volume, tempo e taxas de vazões máximas
podem ser bastante alteradas. Portanto, o tipo de ocupação da bacia e uso do solo deve ser definido
para a análise e projeto em hidrologia.
O tipo de cobertura e uso do solo é especialmente importante para a hidrologia. Muitas
questões problemáticas em projetos hidrológicos resultam da expansão urbana. A percentagem do
solo impermeabilizado é comumente usada como indicador do grau de desenvolvimento urbano.
Áreas residenciais com alta densidade de ocupação têm taxas de impermeabilização variando entre 40
e 70%. Áreas comerciais e industriais são caracterizadas por taxas de impermeabilização de 70 a
90%. A impermeabilização de bacias urbanas não está restrita à superfície: os canais de drenagem
são normalmente revestidos com concreto, de modo a aumentar a capacidade de escoamento da seção
transversal do canal e remover rapidamente as águas pluviais. O revestimento de canais é muito
criticado, já que este tipo de obra transfere os problemas de enchentes de áreas à montante do canal
para áreas à jusante.
5.5 Infiltração
Infiltração é a passagem de água da superfície para o interior do solo. Portanto, é um processo que
depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da sua
superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior.
A medida em que a água infiltra pela superfície, as camadas superiores do solo vão umedecendo de
cima para baixo, alterando gradativamente o perfil de umidade. Enquanto há aporte de água, o perfil
de umidade tende à saturação em toda a profundidade, sendo a superfície, naturalmente, o primeiro
nível a saturar. Normalmente, a infiltração decorrente de precipitações naturais não é capaz de saturar
todo o solo, restringindo-se a saturar, quando consegue apenas as camadas próximas à superfície,
conformando um perfil típico onde o teor de umidade decresce com a profundidade.
Quando o aporte de água à superfície cessa, isto é, deixa de haver infiltração, a umidade no interior
do solo se redistribui, evoluindo para um perfil de umidade inverso, com menores teores de umidade
no nível próximo à superfície e maiores nas camadas mais profundas. Nem toda umidade é drenada
para as camadas mais profundas do solo, já que parte é transferida para a atmosfera por
evapotranspiração.
Nas camadas inferiores do solo geralmente é encontrada uma zona de saturação, mas sua influência
no fenômeno da infiltração só é significativa quando se situa a pouca profundidade.
Em um solo natural o fenômeno da infiltração pode ser ainda mais complexo se os diversos
horizontes, desde a superfície até a zona de alteração próxima à rocha, tiverem texturas e estruturas
diferenciadas, apresentando comportamentos hidráulicos diferentes.
1 2 3 4 5
Tempo Volume Lido Variação do Volume Altura da Lâmina Capacidade de Infiltração
(min) (cm3) (cm3) (mm) (mm/h)
Um solo seco tem maior capacidade de infiltração inicial devido ao fato de se somarem às forças
gravitacionais e às de capilaridade o fato do solo ter maior capacidade para absorver a água..
A permeabilidade do solo, que pode ser afetada por outros fatores como cobertura vegetal,
compactação, infiltração dos materiais finos, etc., é fator preponderante no fenômeno da infiltração da
água, pois o seu fluxo para baixo depende primordialmente desse fator.
Não se deve confundir permeabilidade com capacidade de infiltração. Permeabilidade é a
velocidade de filtração para um gradiente unitário de carga hidráulica em fluxo saturado através de
um meio poroso. Não depende das condições de contorno, mas depende primordialmente do tamanho
e distribuição dos grãos do solo e da temperatura da água.
A capacidade de infiltração, por sua vez, é também um fenômeno de fluxo da água do solo, sua
medida depende direta e indiretamente da temperatura da água e da condição de contorno, qualquer
que seja a profundidade do solo.
Todas as equações usadas para cálculo da infiltração, foram desenvolvidas na forma que despreza a
carga de uma eventual lâmina de água sobre o solo. A seguir apresenta-se uma das mais usadas
equações já desenvolvidas para calculo da infiltração.
A partir de experimentos de campo, Horton (1939) estabeleceu para o caso de um solo submetido a
uma precipitação com intensidade sempre superior à capacidade de infiltração, uma relação empírica
para representar o decaimento da infiltração com o tempo (ramo B-C da Figura 6.1), que pode ser
apresentada da seguinte forma:
f = f c
+ (f 0
− f )e
c
− kt
(5.1)
K = ( fo − fc) / Fc (5.2)
onde t=tempo decorrido desde a saturação superficial do solo; f = capacidade de infiltração no tempo
t, f0 = capacidade de infiltração inicial, fc= capacidade de infiltração final e Fc = área do gráfico
Curva de Infiltração
A capacidade mínima de infiltração fc, teoricamente seria igual à condutividade hidráulica saturada
Ksat, se não houvesse o efeito do ar aprisionado no interior do solo, dificultando a infiltração. Por
isso, fc é normalmente menor que Ksat.
Exemplo 5.1: estabeleça a equação da capacidade de infiltração de Horton a partir da Tabela 5.1:
Tempo Capacidade de Infiltração
(horas) (cm/hora)
1 3,4
2 2,9
3 2,6
4 2,3
5 2,1
6 1,9
7 1,8
8 1,7
9 1,6
10 1,5
Tabela 5.1 - Dados de infiltração obtido sem campo
1. Faça um gráfico da capacidade de infiltração x tempo
2. Determine fc e f0
3. Determine K
Solução:
1.
2. fc=1,5 cm/hora
fo=3,4 cm/hora
f − f
3. k= 0 c
Fc= área sombreada
F c
no gráfico
Desta mesma forma são calculadas as áreas referentes aos outros intervalos de tempo
obtendo-se a seguinte tabela:
Tempo Capacidade de infiltração Fci
(horas) (cm/hora) (cm)
1 3,4
2 2,9 1,65
3 2,6 1,25
4 2,3 0,95
5 2,1 0,70
6 1,9 0,50
7 1,8 0,35
8 1,7 0,25
9 1,6 0,15
10 1,5 0,05
Fc 5,85
Tabela 5.2 – Cálculo de Fc
Suponhamos uma seção de curso d’água, a que corresponde determinada bacia hidrográfica. Seja h,
a altura total da precipitação. Nem toda a água precipitada na bacia influenciará o escoamento, isto é,
a vazão na seção em estudo.
Se designarmos por:
D- as perdas por evapotranspiração expressos em mm de altura de chuva
R- as águas que ficam retidas quer em lençóis subterrâneos, quer em geleiras e neves expressas
também em mm
h − D − R − R' = he (5..3)
em que he = altura eficaz da precipitação correspondente à precipitação na bacia, diminuída das perdas
por evapotranspiração, das águas que ficaram retidas no solo através da infiltração (águas
subterrâneas, gelos, mares, etc.) e acrescidas da restituição feita de águas retidas em períodos
anteriores. Será a altura média da lâmina de água, que precipitada uniformemente sobre a referida
bacia, representaria o volume total de água que iria influenciar o escoamento na seção do curso de
água em estudo.
Relações Funcionais
De acordo com o método apresentado pelo SCS (Soil Conservation service-1957) a entre
precipitação total e precipitação efetiva se relacionam pela seguinte fórmula:
=
(P −0,2S ) 2
P e
P + 0,8S
(5.4)
Os autores verificam que em média, as perdas iniciais representavam 20% da capacidade máxima. (o
que justifica o termo 0,2*S)
25400
S= − 254 (5.5)
CN
Esta expressão foi obtida em unidades métricas. A equação original em unidades inglesas
estabelece o valor de CN numa escala de 1 a 100. Esta escala retrata as condições de cobertura e solo,
variando desde uma cobertura muito impermeável (limite inferior) até uma cobertura completamente
permeável (limite superior). Esse fator foi tabelado para diferentes tipos de solo e cobertura.
5.9 O valor CN
No capítulo 6 deste módulo será apresentado o método do SCS (U.S Soil Conservation
Service) para a determinação do escoamento superficial resultante de uma precipitação. A
determinação das perdas provocadas pela infiltração da água precipitada no solo irá depender do tipo
de cobertura em questão, ou da combinação entre diferentes tipos de cobertura. Os quatro tipos de
solo considerados por esse método são:
Solo A: Solos com alta capacidade infiltração. Solos arenosos profundos com pouco silte e
argila;
Solo B: Solos com media capacidade de infiltração. Solos arenosos menos profundos do que o
tipo A e com permeabilidade superior à média;
Solo C: Solos com baixa capacidade de infiltração, contendo percentagem considerável de
argila. Pouco profundo;
Solo D: Solos com capacidade de infiltração muito baixa, contendo argila expansiva, pouco
profundos.
Cada tipo de cobertura possui um valor CN correspondente (tabelas 2.2 e 2.3), sendo que este
valor varia entre 0 e 100, que são respectivamente os casos de impermeabilidade e permeabilidade
máxima.
Os valores das constantes nas Tabelas 2.2 e 2.3 referem-se a condições médias de umidade
antecedente. Os autores apresentam correções aos valores tabelados para situações diferentes da
média. As condições consideradas são as seguintes: AMC I – situação em que os solos estão secos.
No estágio de crescimento, a precipitação acumulada dos cinco dias anteriores é menor que 36mm e
em outro período, menor que 13mm; AMC II – situação média em que os solos correspondem a
umidade da capacidade de campo; AMC III – situação em que ocorrem precipitações consideráveis
nos cinco dias anteriores e o solo encontra-se saturado. No período de crescimento, as precipitações
acumuladas nos cinco dias anteriores, são maiores que 53mm e no outro maior que 28mm.
Na Tabela 2.4 é apresentada a correspondência entre a situação media das outras tabelas e as
condições de umidade que se diferenciam.
em curvas de nível 62 74 82 85
Plantações terraceado em níveis 60 71 79 82
de cereais em fileiras retas 62 75 83 87
em curvas de nível 60 72 81 84
terraceado em níveis 57 70 78 89
Plantações pobres 68 79 86 89
de normais 49 69 79 94
legumes ou boas 39 61 74 80
cultivados
pobres em curvas de nível 47 67 81 88
normais em curvas de nível 25 59 75 83
boas em curvas de nível 6 35 70 79
Pastagens
normais 30 58 71 78
esparsas de baixa transpiração 45 66 77 83
normais 36 60 73 79
Campos densas de alta transpiração 25 55 70 77
permanentes
normais 56 75 86 91
más 72 82 87 89
de superfície dura 74 84 90 92
QUESTIONÁRIO
CAPÍTULO 6
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
6.1. Introdução
Das fases básicas do ciclo hidrológico, talvez a mais importante para o engenheiro seja a do
escoamento superficial, que é a fase que trata da ocorrência e transporte da água na superfície
terrestre, pois a maioria dos estudos hidrológicos está ligada ao aproveitamento da água superficial e à
proteção contra os fenômenos provocados pelo seu deslocamento.
Como já foi visto a existência de água nos continentes é devida à precipitação. Assim, da
precipitação que atinge o solo, parte fica retida quer seja em depressões quer seja como película em
torno de partículas sólidas. Quando a precipitação já preencheu as pequenas depressões do solo, a
capacidade de retenção da vegetação foi ultrapassada e foi excedida a taxa de infiltração, começa a
ocorrer o escoamento superficial. Inicialmente, formam-se pequenos filetes que escoam sobre a
superfície do solo até se juntarem em corredeiras, canais e rios. O escoamento ocorre sempre de um
ponto mais alto para outro mais baixo, sempre das regiões mais altas para as regiões mais baixas até o
mar.
O processo do escoamento inclui uma série de fases intermediárias entre a precipitação e o
escoamento em rios. Para entender o processo do escoamento é necessário entender cada uma destas
fases. Esta seqüência de eventos é chamada de ciclo do escoamento.
O ciclo do escoamento pode ser descrito em três fases: na primeira fase o solo está seco e as
reservas de água estão baixas; na fase seguinte, iniciada a precipitação, ocorrem interceptação,
infiltração e escoamento superficial; na última fase o sistema volta a seu estado normal, após a
precipitação. Fatores como tipo de vegetação, tipo de solo, condições topográficas, ocupação e uso
do solo, são fatores que determinam a relação entre vazão e precipitação. A seguir, são descritas as
fases do ciclo do escoamento superficial em uma região úmida.
1a Fase:
Após um período de estiagem, a
vegetação e o solo estão com pouca
umidade. Os cursos d’água existentes
estão sendo alimentados pelo lençol
d’água subterrâneo que mantém a vazão
de base dos cursos d'água. Quando uma
nova precipitação se inicia, boa parte da
água é interceptada pela vegetação, e a
chuva que chega ao chão é infiltrada no
solo. Exceto pela parcela de chuva que
cai diretamente sobre o curso d'água,
não existe nenhuma contribuição para o
escoamento nesta fase. Parte da água
retida pela vegetação é evaporada
2a Fase:
3a Fase:
O ciclo do escoamento em uma região árida ou semi-árida é diferente do que ocorre em uma região
úmida. Nas regiões árida e semi-árida, a água subterrânea costuma estar em camadas muito profundas
do solo, bem abaixo do leito dos rios. Por isso, a maior parte da vazão dos rios depende apenas da
precipitação e, como longos períodos de estiagem separam os períodos chuvosos, os rios são
intermitentes.
A vazão, ou volume escoado por unidade de tempo, é a principal grandeza que caracteriza o
escoamento. Normalmente é expressa em m3/s ou em l/s. O hidrograma é a denominação dada ao
gráfico que relaciona a vazão no tempo. A distribuição da vazão no tempo é resultado da interação de
cobertura da bacia: a cobertura da bacia, como a vegetal, tende a retardar o escoamento e aumentar
as perdas por evapotranspiração. Nas bacias urbanas, onde a cobertura é alterada, tomando-se mais
impermeável, acrescida de uma rede de drenagem mais eficiente, o escoamento superficial e o pico
aumentam. Este acréscimo de vazão implica o aumento do diâmetro dos condutos pluviais e dos
custos;
modificações artificiais no rio: o homem produz modificações no rio para o uso mais racional da
água. Um reservatório para regularização da vazão tende a reduzir o pico e distribuir o volume
(Figura 6.4b), enquanto a canalização tende a aumentar o pico, como mostra a bacia urbana;
solo: as condições iniciais de umidade do solo são fatores que podem influenciar significativamente o
escoamento resultante de precipitações de pequeno volume, alta e média intensidade. Quando o
estado
de umidade da cobertura vegetal, das depressões, da camada superior do solo e do aqüífero forem
baixos, parcela ponderável da precipitação é retida e o hidrograma é reduzido.
Para caracterizar o hidrograma e o comportamento da bacia são utilizados alguns valores de tempo
(abcissa), relacionados a seguir:
O hidrograma pode ser caracterizado por três partes principais: ascensão, altamente correlacionada
com a intensidade da precipitação, e com grande gradiente; região do pico, próximo ao valor máximo,
quando o hidrograma começa a mudar de inflexão, resultado da redução da alimentação de chuvas
e/ou amortecimento da bacia. Esta região termina quando o escoamento superficial acaba, resultando
somente o escoamento subterrâneo; recessão, nesta fase, somente o escoamento subterrâneo está
contribuindo para a vazão total do rio.
O escoamento superficial, que caracteriza as duas primeiras partes do hidrograma pode ser descrito
por modelos hidrológicos. Para simular o escoamento superficial é necessário separá-lo do
escoamento subterrâneo e obter a precipitação efetiva que gerou o escoamento.
A recessão identificada pelo escoamento subterrâneo pode ser representada por uma equação
Qt = Q0 ⋅ e −α .t (6.1)
onde Qt = a vazão após t intervalos de tempo; Q0 = vazão no tempo de referência zero; α = coeficiente
de recessão. Este coeficiente pode ser determinado através da plotagem num papel log-log dos
valores de vazão, defasados de t intervalos de tempo. A declividade da reta permite estimar o valor de
α.
Os escoamentos são em geral definidos em: superficial, que representa o fluxo sobre a superfície do
solo e pelos seus múltiplos canais; subsuperficial, que alguns autores definem como o fluxo que se dá
junto às raízes da cobertura vegetal e; subterrâneo, que é o fluxo devido à contribuição do aqüífero.
Em geral, os escoamentos superficial e subterrâneo correspondem a maior parte do total, ficando o
escoamento subsuperficial contabilizado no superficial ou no subterrâneo. Para que os mesmos sejam
analisados individualmente é necessário separar no hidrograma a parcela que corresponde a cada tipo
de fluxo.
A parcela de escoamento superficial pode ser identificada diretamente do hidrograma observado por
métodos gráficos que se baseiam na análise qualitativa apresentada no item anterior. A precipitação
efetiva que gera o escoamento superficial é obtida quando não se dispõe dos dados observados do
hidrograma ou deseja-se determinar os parâmetros de um modelo em combinação com o hidrograma
do escoamento superficial. Na Figura 7.6 são apresentados três métodos gráficos tradicionalmente
usados.
Método 1: extrapole a curva de recessão a partir do ponto C até encontrar o ponto B, localizado
abaixo da vertical do pico. Ligue os pontos A, B e C. O volume acima da reta ABC é o escoamento
superficial e o volume abaixo é o escoamento subterrâneo;
Método 2: este é o método mais simples, pois basta ligar os pontos A e C por uma reta;
Método 3: o método consiste em extrapolar a tendência anterior ao ponto A até a vertical do pico,
encontrando o ponto D. Ligando os pontos D e C obtém-se a separação dos escoamentos.
N = 0,872 ⋅ A0 , 2 (6.2)
onde N = tempo entre o pico do hidrograma e o tempo do ponto C, em dias; A é a área da bacia em
km2;
b) o tempo entre a última precipitação e o ponto C, que termina o escoamento superficial é o tempo de
concentração. Utilizando uma das equações para determinar o tempo de concentração, é possível
estimar aproximadamente o ponto C. O valor obtido pode não estar em concordância com o
hidrograma observado, mas permite diminuir dúvidas entre mais de um ponto de inflexão, escolhido
visualmente;
A vazão máxima pode ser estimada com base na precipitação, por métodos que representam os
principais processos da transformação da precipitação em vazão e pelo método racional, que engloba
todos os processos em apenas um coeficiente ( C ).
O método racional é largamente utilizado na determinação da vazão máxima para bacias pequenas
(≤ 2 km2). Os princípios básicos desta metodologia são: a) considera a duração da precipitação
intensa de projeto igual ao tempo de concentração. Ao considerar esta igualdade admite-se que a
bacia é suficientemente pequena para que esta precipitação ocorra, pois a duração é inversamente
proporcional à intensidade. Em bacias pequenas, as condições mais críticas ocorrem devido a
precipitações convectivas que possuem pequena duração e grande intensidade; b) adota um
coeficiente único de perdas, denominado C, estimado com base nas características da bacia; c) não
avalia o volume da cheia e a distribuição espacial de vazões.
• Fórmula Racional
Da definição de coeficientes de deflúvio, pode-se escrever:
onde: C é o coeficiente de deflúvio
Q Q é a vazão - (m3/s)
C= (6.3) i é a intensidade de chuva - (m/s)
i⋅A A é a área de drenagem – (m2)
volume precipitado por unidade de tempo. Então, a vazão (Q) corresponde a uma chuva de
intensidade ( i ) sobre toda a área de drenagem (A), chuva esta que dure um tempo tal que toda a área
Q = C ⋅i ⋅ A (6.4)
2 3
Se i é dado em mm/h, A em km e se deseja Q em m /s, a fórmula racional, ou equação (6.4), fica:
Q = 0,278C ⋅ i ⋅ A (6.5)
A aplicação da fórmula racional, depende do conhecimento do coeficiente de deflúvio C.
Pode-se também calcular o valor de C para uma chuva de características conhecidas, desde que se
conheça a variação de vazão correspondente.
Exemplo: Dada a Tabela 6.2, com dados de vazão e sabendo-se os valores da área de drenagem
(A=115.106 m2) e da altura de chuva (h=160 mm), procede-se da seguinte forma para calcular o
coeficiente de deflúvio:
1 6 18,2 4 6 21,5
12 30 12 19,2
18 52 18 18,2
0 58 0 17,3
2 6 63,5 5 6 15,5
12 55 12 14
18 46,3 18 10,5
0 43,3
3 6 32,8
12 27,7
18 29,8
Tabela 6.2 - Dados de vazão
40
vazão (início do escoamento superficial ) e o
seu ponto final no ponto de máxima curvatura e, 30
0 17,3 17,3 0
5 6 15,5 15,5 0
12 14 14 0
18 10,5 10,5 0
Tabela 6.3 – Separação do escoamento
Para esse exemplo obtemos o seguinte valor:
Ve = 6.166.368,00m3
Apesar de representar aproximação relativamente grosseira, pois o valor de C calculado para a bacia
em questão, estritamente, só serviria para a chuva e condições para as quais foi calculado, a fórmula
racional, com o valor calculado do coeficiente de deflúvio poderia ser utilizada para outras
intensidades com duração tal que toda a bacia contribua.
Qe
Qu = (6.7)
C ⋅h
Duração da Chuva: basicamente para cada duração de chuva tem-se uma hidrógrafa unitária. É
claro que, devido ao fato de o escoamento superficial ser constante e igual a 1 cm, a vazão de pico de
uma hidrógrafa unitária será tanto maior quanto menor a duração da chuva e o tempo base de
escoamento será tanto menor quanto menor for a duração da chuva.
superficial.
Snyder:
Snyder ( 1938 ) foi um dos primeiros a estabelecer um HU sintético com dados dos Apalaches (
USA ) com bacias de 10 a 10.000 mi² de área de drenagem. Esse método consiste na confecção de um
gráfico, tendo como base os fatores descritos abaixo:
Tempo de pico:
t p
= Ct (L L ) e
0,3
( horas ) (6.8)
=
t p
t r
5,5
( horas ) (6.9)
Se a precipitação estudada tiver duração tR superior a duração tr calculada, o valor tp deverá ser
substituído por:
(
+ t
,
− tr )
tp = tp
, R
( horas ) (6.10)
4
A vazão de pico para uma precipitação de duração tr e volume 1 cm fica:
2,75 C p A
Q = (ou tp’ se for o caso) (m³/s) (6.11)
p
t p
Onde A= área de drenagem em Km²; Cp= coeficiente que varia entre 0,56 e 0,69.
Exemplo: determine o hidrograma unitário sintético pelo método de Snyder para uma bacia com os
seguintes dados: A=115 Km²; L=29,5 Km; Lc=5Km. Adote Ct=1,50 e Cp=0,625.
Solução:
• Tempo de pico
tp=Ct ( Lc x L )0,3
tp=( 1,50 ) [ (29,5/2 ) x 29,5 ]0,3 → tp=9,31 hs
Deve-se procurar desenhar a curva, mantendo a altura de chuva unitária, sendo um trabalho de
tedioso e sujeito a variadas interpretações. Esse procedimento é ajustado através do calculo da área do
gráfico, obtendo-se, assim, o volume escoado, que para transformar em lâmina d’água (altura de
chuva unitária) divide-se pela área da bacia. Deve-se ter o cuidado de observar a compatibilização das
unidades.
SCS
O Soil Conservation Service (SCS, 1957) apresentou um método para determinação do hidrograma
unitário em que o mesmo é considerado um triângulo como se vê na Figura 6.10.
A área do triângulo é igual ao volume precipitado Q, ou seja:
q ⋅t ' q ⋅t
+ =Q
b p b e
(6.13)
2 2
2⋅Q
q = (6.14)
b
t p '+ t e
sendo te = H × Tp (6.15)
A equação acima fica:
2⋅Q
q = (H + 1) ⋅ (6.16)
b
t p
'
Os autores adotaram H=1,67 com base na observação
de várias bacias.
Para uma precipitação efetiva de 1 cm, sobre a área A, em Km², tp’ em horas, a equação da vazão fica:
A
q = 2,08 × (6.17)
b tp'
O tempo Tp’, contado do inicio da precipitação, representa uma correção no tempo de pico para efeito
de aplicação do método, sendo igual a:
Sendo recomendado que o tempo de concentração da bacia seja calculado pela seguinte fórmula, já
apresentada anteriormente:
0 , 385
L3
t c = 0,95 ( horas ) (6.19)
D
te= 1,67tp’ ( 6.20)
a) inicialmente verifica-se qual o caminho entre o ponto mais extremo da bacia e a seção principal.
Para cada trecho desse caminho com características diferentes, pode-se calcular a velocidade com
base na declividade, segundo a expressão:
v= a s½;
sendo:
s= declividade em %
coeficiente a dado pela Tabela 6.4.
a
Tipo de cobertura
Floresta com solo coberto de folhagem 0,25
Área sem cultivo ou pouco cultivo 0,47
Pasto e grama 0,71
Solo quase nu 1,00
Canais com grama 1,51
Superfície pavimentada 2,00
Tabela 6.4 – Velocidade para Superfícies
0,7
S
2 ,6 ⋅ L + 1
0 ,8
= 25 , 4 (6.22)
t p 0 ,5
1900 ⋅ y
onde S é obtido pela equação como já explicado anteriormente; L= comprimento hidráulico em metro;
y= declividade em percentagem. O tempo de concentração pode ser obtido pela relação tp= 0,6 tc. A
expressão acima foi apresentada pelo SCS para uso em bacias de até 8 Km².
O tempo de concentração se modifica com a alteração da cobertura da bacia, principalmente devido
à urbanização. SCS (1975) apresenta modificação nos termos da Equação 6.20, quando ocorre
urbanização da bacia.
Na figura abaixo é apresentada a relação entre fl, fator de correção devido a modificação no
comprimento hidráulico e a percentagem do comprimento modificada.
100
comprimento hidráulico
% de modificação do
95
98
CN 90
CN
CN 85
75 CN 80
CN
70
CN
50
25
0
1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5
f1
a- fator f1
100
% de área impermeável
95
98
CN 90
CN
CN 85
75 CN 80
CN
70
CN
50
25
0
1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5
f2
b-fator f2
Para facilitar o calculo, SCS apresentou um hidrograma adimensional em função da vazão de pico e
tempo de pico. Conhecidos esses valores, pode-se determinar o hidrograma unitário utilizando os
fatores da Tabela 6.5, que estão, também, representados no gráfico abaixo para melhor
esclarecimento.
Solução:
a) condições atuais:
S= (25400/61)-254=162,4
Tp= 2,6 (2500)0,8 (162,4/25,4+1)0,7/(1900. 8 0,5)= 1,026 hr.
tc= tp/0,6=1,71 hr.
b) condições futuras:
S= (25400/83)-254 = 52,0
Tp= 2,6 (2500)0,8 (52/25,4 + 1)0,7 /(1900. 8 0,5 )=0,55 h
Corrigindo esse fator para f1=0,59 e f2=0,835, obtidos nas Figuras 6.11, resulta
Quando num local de interesse não existem dados para a determinação do HU, mas numa bacia
vizinha com características semelhantes há disponibilidade de dados que permita ajustar o HU, a
transposição pode ser realizada utilizando o seguinte procedimento:
t
C =( ⋅ )
p
t 0,7
(6.21)
L L c
q ⋅t
Cp = ⋅
p p
(6.22)
2,75 ⋅ A
d) determinação de L, Lc e A da bacia de interesse e utilização do Ct e Cp da bacia vizinha
para determinar os valores de tp, tr e Qp.
QUESTIONÁRIO
6.10.1- Generalidades
A análise de um hidrograma de um rio leva às seguintes conclusões:
• As vazões médias diárias apresentam valores variáveis mostrando tendências de acordo
com as estações e, ao mesmo tempo, uma aleatoriedade na ocorrência de variações;
• Pode-se definir, no período considerado, as vazões máximas, médias e mínimas;
• É possível determinar o período de vazões mínimas ou de vazões máximas.
Um grande número de fatores é responsável pela variação da vazão em um curso de água. São
eles:
• Geológicos
• Pluviométricos
• Umidade do solo
• Topografia
• Vegetação
• Forma da bacia
Freqüência de
50
ocorrência
37.26 - 33.14 1 40
33.14 - 29.02 2 30
29.02 - 24.90 7 20
10
24.90 - 20.78 13 0
20.78 - 16.66 11 0 20 40
16.66 - 12.54 28 Vazões m3/s
12.54 - 8.42 59
8.42 - 4.30 56
Total 180
E que o valor máximo de Q ocorre uma vez, em T, a expressão abaixo é chamada duração da
vazão Qi:
ti=1+Σ Fi
A curva de duração ou permanência é construída com valores de vazão na ordenada e com valores
de duração, geralmente em percentagem, na abscissa.
Intervalo
Intervalo Freqüênci Duração de
de vazões a Duração % Duração % vazões
45,5 0 0 0 0 45,5
41,38 1 1 0,55 0,55 41,38
37.26 2 3 1,67 1,67 37.26
33.14 1 4 2,22 2,22 33.14
29.02 2 6 3,33 3,33 29.02
24.90 7 13 7,22 7,22 24.90
20.78 13 26 14,44 14,44 20.78
16.66 11 37 20,56 20,56 16.66
12.54 28 65 36,11 36,11 12.54
8.42 59 124 68,89 68,89 8.42
4,3 56 180 100 100 4,3
Curva de Permanência
50
40
30
Vazão
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120
Duração(%)
Porém no Brasil não há seguros contra enchentes. A fixação do período de retorno se faz por
critérios, tais como:
• Vida útil da obra
• Tipo de estrutura
• Facilidade de reparação e ampliação
• Perigo de perda de vida
Alguns exemplos: Barragem de terra – 1000 anos; Barragem de concreto – 500 anos; Galeria de
águas pluviais – 5 a 20 anos;
• Média Q
=
∑Qi
n
n −1
2σ∑(Qi−Q) 2
Após o cálculo da média, desvio e coeficiente de obliqüidade, e considerando uma vazão para um
período de retorno, tem-se:
1
P= =A
Tr
Essa probabilidade corresponde à área de curva de densidade de probabilidade designada por (1-
A), sendo A(%) definido na tabela abaixo:
Com o valor de A e o valor do coeficiente de obliqüidade, através da tabela, tem-se o valor de x/σ.
Com esse valor (x/σ) e o valor do desvio, descobre-se x. Portanto, tem-se:
Q = X +Q
CAPÍTULO 7
7.1. Introdução
A variabilidade temporal das vazões fluviais tem como resultado visível a ocorrência de excessos
hídricos nos períodos úmidos e a carência nos períodos secos. Nada mais natural que seja
preconizada a formação de reservas durante o período úmido para serem utilizadas na
complementação das demandas na estação seca, exercendo um efeito regularizador das vazões
naturais.
Em geral, os reservatórios são formados por barragens implantadas nos cursos d'água. Suas
características físicas, em especial a capacidade de armazenamento, dependem das características
topográficas do vale no qual estará situado.
Como a ocorrência das vazões é aleatória, ou seja, não há possibilidade de previsão de ocorrências a
longo prazo, não é também possível prever-se com precisão o tamanho da reserva de água necessária
para suprimento das demandas de períodos de seca no futuro. Isto leva o planejador de recursos
hídricos a duas situações ineficientes: superdimensionar as reservas, às custas de investimentos
demasiados no reservatório de acumulação ou, subdimensionar as reservas às custas de racionamento
durante o período seco. Entre essas duas dimensões estaria aquela ótima.
No entanto, a situação é mais complexa do que o acima exposto, exatamente porque as vazões são
aleatórias. Assim, existirão períodos nos quais determinada dimensão de reservatório será suficiente e
outros em que não. A exceção ocorre nos casos extremos em que seja implantado um reservatório
excessivamente grande, que permita atender sempre a demanda, ou excessivamente pequeno, que
nunca o faça. A dimensão ótima para um reservatório deverá ser considerada em função de um
compromisso entre o custo de investimento na sua implantação e o custo da escassez de água durante
os períodos secos. O primeiro custo é diretamente proporcional e o segundo é inversamente
proporcional à dimensão do reservatório Quanto menor for a capacidade útil de acumulação de água,
ou seja aquela que pode ser efetivamente utilizada, mais provável é a ocorrência de racionamento.
Portanto, apenas na situação de extrema aversão ao racionamento seria ótima a decisão de construir-se
um reservatório que sempre pudesse acumular água para atender à demanda.
Há um risco de que o raciocínio previamente elaborado leve à errônea conclusão que, para o
atendimento a qualquer demanda hídrica seja suficiente a construção de um reservatório com
capacidade útil suficientemente grande de acumulação. Isso porque, obviamente, a capacidade útil de
acumulação de um reservatório poderá ser efetivamente utilizada se houver durante algum período
úmido água suficiente para enchê-lo. Já se introduziu um número suficiente de complexidades ao
problema para ser aconselhável iniciar a apresentação das soluções práticas. Mas, apenas para
constar, e com risco de assustar o estudante, é possível citar-se outras mais: a demanda pode também
ser variável e mesmo, aleatória como a vazão, e existem perdas de água em um reservatório, por
evaporação, infiltração e vazamentos. O fato é que o estudo de um reservatório, de regularização de
vazões exige o conhecimento de sua dimensão, das vazões afluentes, da demanda a ser suprida e das
perdas que poderão ocorrer.
Neste capítulo, basicamente, três problemas serão tratados. Primeiro, conhecidas as vazões naturais,
ou de entrada no reservatório, calcular o volume deste para atender a uma dada lei para as vazões
regularizadas ou de saída do reservatório. Segundo, dado um certo reservatório, determinar uma lei,
para as vazões regularizadas, que mais se aproxime da regularização total, isto é, da derivação
constante da vazão média. Terceiro, dados um reservatório e a lei de regularização, calcular os
volumes de água existentes no reservatório em função do tempo. As soluções destes problemas são
básicas para o projeto e operação de reservatórios de regularização de vazões.
Qr(t )
Y (t ) = (7.1)
Qmed
onde: Qr(t) é a vazão regularizada em função do tempo (t)
Qmed é a vazão média no período considerado.
Dada à seqüência no tempo, das vazões naturais [Q(t)], e conhecida a lei de regularização y(t), é
possível determinar a capacidade mínima do reservatório para atender a essa lei.
Aqui, a vazão regularizada [Qr(t)] é a soma de todas as vazões que saem do reservatório no tempo t.
Não se fará menção à evaporação mas está poderá ser computada como função da área líquida exposta
e de dados climatológicos. A evaporação poderá também ser subtraída das vazões naturais que entram
no reservatório.
A capacidade mínima de um reservatório para atender a uma certa lei de regularização é dada pela
diferença entre o volume acumulado que seria necessário para atender aquela lei no período mais
crítico de estiagem e o volume acumulado que aflui ao reservatório no mesmo período.
Considerando vários períodos de estiagem, o mais crítico é aquele que resulta na maior capacidade
do reservatório. Assim, pode-se calcular a capacidade do reservatório para vários períodos de
estiagens e adotar a maior capacidade encontrada.
Seja, por exemplo, um ano com a hidrógrafa dada na Figura 7.1:
V = Q ∆t
a ABR ABR
+ QMAI ∆t MAI + QJUN ∆t JUN + QJUL ∆t JUL + QAGO ∆t AGO + QSET ∆t SET (7.4)
Assim, a capacidade (Cr) mínima do reservatório para manter aquela lei de regularização,será:
C = V −V
r n a
Para derivar a vazão média (Qmed), o período crítico será definido pelo intervalo de tempo (t1, t2). É
claro que, para manter a vazão média (Qmed) durante o intervalo de tempo (t1, t2), se necessita do
volume (Vn):
V = Q (t − t )
n 2 1 (7.6)
Como o diagrama da Figura 8.3 é um diagrama integral, o volume (Vn) fica representado pelo
segmento EC.
Va = ∫ Qdt (7.7)
t1
Assim, a capacidade do reservatório, isto é, (Vn-Va) é representada pelo segmento ED, que por sua
vez é a soma de δ1 e δ2, conforme a Figura 7.3.