Cultive o Bom Humor (Luiz Miguel Duarte)

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APRESENTAÇÃO

O bom humor é uma forma de olhar a realidade. A outra é o mau humor. Embora o
mau humor sempre se imponha, por força e amedrontamento, o bom humor na verdade é
muito mais poderoso e superior. Até Deus é bem-humorado, e ri dos impérios, estes sim é que
são mal-humorados, que se arvoram contra ele e contra o seu povo (Sl 2,4). Os poderosos
deste mundo temem o bom humor, porque este relativiza as pretensões absolutistas e,
portanto, ameaça tudo o que se pretenda como cabal, definitivo e inquestionável. Mas o bom
humor questiona tudo, libertando as pessoas de tudo o que se arrogue como prisão definitiva.
A vida, é certo, é um Grande Problema, que se divide em pequenos e pequeninos
problemas, e viver é, afinal de contas, enfrentar e resolver problemas. Se os problemas são
encarados com mau humor, eles aumentam em muito o seu tamanho e se tornam difíceis de
resolver. Ao contrário, se forem enfrentados com bom humor, eles já se encontram cinqüenta
por cento resolvidos. Quem é sensato, portanto, trata logo de aprender e de cultivar o bom
humor como a grande ferramenta que ajuda a viver.
Saber rir das situações liberta-nos de ficar presos sempre nas mesmas e chatas situações.
Saber rir de si mesmo é o primeiro passo para libertar-se de formas de viver inadequadas e
encontrar formas melhores, mais espaçosas e mais gratificantes. Dizem que a pessoa que não
sabe sorrir jamais deve entrar para o mundo do comércio. Os vendedores que, de braços
cruzados, esperam seriamente os fregueses, já fecharam a loja.
O bom humor é, de fato, a grande conquista da humanidade. Na natureza, somente os
humanos aprenderam a sorrir, libertando-se de tudo o que cerceia a vida, a fim de construir
uma história. Mas é conquista, e conquista que exige dedicação. Aquele misterioso sorriso dos
chineses, por exemplo, vem sendo elaborado pelo menos há cinco mil anos de história.
Todavia, nunca é tarde para começar, e o presente livro apresenta alguns passos do caminho.
Ivo Storniolo
UM MARMANJO
NA
RODA-GIGANTE

“Agarre o momento presente,


consciente de que é tudo o que você tem.”
Wayne Dyer
Você lembra a primeira vez que brincou numa roda-gigante? Você pode
achar graça, mas aquela curiosidade de menino da roça, aquele desejo impetuoso
de ficar virando numa roda-gigante só satisfiz aos 35 anos de idade. A convite de
um sobrinho, decidi matar a vontade. E, embalado pela gigantesca roda, eu
parecia uma criança extasiada e feliz num mundo fantástico. Uma coisa
aparentemente boba, no entanto capaz de gerar uma inesquecível e gratificante
experiência.
Muitas pessoas não realizam os sonhos de sua vida porque simplesmente
deixam o tempo correr. Querem conhecer uma bela região do país e adiam a
viagem para quando os filhos crescerem. Anseiam por visitar um santuário
famoso, porém antes precisam ajuntar mais dinheiro. Gostariam de oferecer aos
amigos uma festinha, por ocasião dos 15 anos da filha, entretanto não o fazem
porque a casa está em reforma...
O tempo, implacável, passa e com ele as pessoas inevitavelmente vão
incorporando as marcas da idade. Chega a hora em que a saúde não é mais a
mesma, a disposição diminui, os interesses tomam novos rumos. Não raro,
quando se trata de casal, um dos dois se despede do cenário deste mundo e se
transporta para o além, sem saborear a realização da maioria dos seus sonhos.
A vida nos dá lições a que precisamos prestar atenção. Por isso convém
valorizar cada instante da nossa vida e solenizar os momentos que quisermos. Não
é necessário esperar que haja motivos, basta dar os motivos. Cinco anos de
casamento, primeiro aniver-sário do bebê, festas de fim de ano, carnaval... todo
acontecimento merece ser comemorado.
A festa dá equilíbrio à vida. A vida em si é séria e exigente. A festa vem para
descontrair o ambiente, deixar-nos mais soltos, mais autênticos. Ninguém está
falando em extravagância, que é o contrário da alegria e do sucesso da festa.
Estamos falando de uma necessidade de todo ser humano. Dizemos que
precisamos esfriar a cabeça: eis o momento da festa! Queremos erguer um brinde
aos recém-casados: aí está a festa! E ninguém venha me dizer que só os ricos
podem festejar… Não, o sentido da festa está gravado no íntimo de toda pessoa,
não importa sua condição social.
Assim, sem compromisso de fixar datas para as festas que pretendemos
inventar, o marido surpreenderá sua esposa em qualquer dia do mês, ofertando-
lhe um ramalhete de formosas flores. A esposa será criativa em pleno meio de
semana e servirá um saboroso prato que o marido aprecia. O aluno irá presentear
a professora com um viçoso botão de rosa que colheu sexta-feira de
manhãzinha...
Aproveite cada dia da vida e encontre razões para se alegrar. Não espere o
futuro para comemorar seja lá o que for. O futuro não existe, por isso não deixe
escapar as ocasiões de CELEBRAR A VIDA.
O BOM HUMOR
DE
FREI ACÁCIO

Um riso satisfeito
vale mais que cem gemidos.
Adágio popular
Você já viu aqueles cachorrinhos zangados que ficam rodopiando ao redor
de si mesmos, na tentativa de morder o próprio rabo? Fazem dele um inimigo a
combater. Parecem não suportar o que acham estranho. Ai de quem relar neles!
Em nossa sociedade encontram-se pessoas de difícil convivência. São
normalmente uma pilha de nervos e pouca coisa basta para ficarem irritadas. Se
os outros lhes desejam bom-dia, não respondem. Se lhes pedem que horas são,
limitam-se a indicar os ponteiros do relógio. Se lhes falam do clima quente,
mal-dizem-no; se estiver frio, resmungam...
Não resolve a justificativa de que são pessoas de índole difícil, ou idosas, ou
doentes. Para o bem das relações humanas, convém que elas busquem a cura para
seus achaques e orientações de como viver em sociedade.
Felizmente, há exemplos, e não poucos, de pessoas reconciliadas com a vida.
Na congregação dos paulinos, há um confrade que aprendi a respeitar e admirar
pela sua discrição e grande capacidade de rir dos próprios limites. Seu nome é frei
Acácio, e desde jovem convive com acentuada deficiência visual. Enxerga bem
pouco. Sempre pelejou com tratamento médico, na esperança de melhorar o al-
cance da visão. Enquanto a recuperação total não vem, frei Acácio tem passado
por situações desconfortáveis e às vezes engraçadas.
Não é raro ele bater em alguma coluna do prédio ou topar com as portas de
vidro. Houve ocasiões em que, por falta de maior clarida de no ambiente, ele até
andou se machucando.
É bom dizer logo que nesses casos frei Acácio jamais se enerva; em geral ri de si
mesmo e, tateando, prossegue seu caminho.
O grande número de anos vividos, a dificuldade de enxergar, os incômodos
que daí provêm, nada disso faz frei Acácio perder o bom humor e a alegria de viver.
Pelo contrário, como se fosse dono de perfeita saúde, ele se desloca, viaja, revê
os parentes e vibra na companhia dos amigos.
Onde frei Acácio busca essa paz perene? Como se explica sua inabalável
harmonia com o mundo, consigo mesmo e com os outros? Talvez por ser homem de muita
oração e profunda intimidade com Deus. Ou simplesmente por ter aprendido
desde criança os elementos básicos da boa convivência. O certo é que frei Acácio
transita pela vida, satisfeito, sem ser pesado a ninguém.
Contam que o grande cientista Einstein era muito distraído. Esquecia nomes,
números, compromissos. Certa ocasião, perdeu-se nas planícies ao redor de
Princeton (Estados Unidos), onde costumava caminhar.
Entrou numa casa à beira do caminho e pediu para telefonar. Ligou para sua
família porque não se lembrava do número da residência e talvez nem mesmo da
rua.
Outra vez, por volta do meio-dia, uma pessoa encontrou Einstein no caminho
que do câmpus universitário de Princeton conduz para o alto da colina em que se
achava o Centro de Pesquisas Atômicas. Einstein parou e disse ao outro: “O
senhor pode me dizer se eu vim pela calçada da direita ou da esquerda?” O outro
respondeu: “Pela calçada da direita. Por quê?” Einstein concluiu: “Então já
almocei.” É que antes do almoço ele costumava subir pela calçada da esquerda…
Creio que o cientista tinha bons motivos para rir das próprias trapalhadas.
Ao longo da vida é bem fácil que você dê um fora ou faça algum fiasco.
Passará mesmo por situações ridículas. Os outros acharão graça e rirão às suas
custas. Pois bem, parece que a atitude mais sensata é rir junto, rir de si mesmo. E
sairá dessa sabendo que outras situações cômicas, e até constrangedoras, vão
acontecer-lhe. Não se apoquente; mantenha o espírito desarmado. Reconhecer os
próprios limites e admitir publicamente que cometemos erros é bom começo para
vivermos com simplicidade. Desse modo, mais facilmente, os outros se
aproximarão de nós. Sem medo de serem rechaçados.
O SORRISO
DO
CACHORRO

“O mundo pertence aos otimistas.


Os pessimistas são meros espectadores.”
Dwight Eisenhover
Um escritor russo conta que, certo dia, Jesus caminhava com seus
discípulos pelas estradas da Palestina. De repente um fedor horrível foi invadindo
as delicadas narinas de todos os componentes do grupo. O mau cheiro provinha
de uma carniça de cachorro em decomposição, ao lado do caminho. As reações
dos transeuntes foram as mais variadas. Um deles, ao dar com o cão morto,
esboçou um ar de desprezo e tapou o nariz; outro escarrou, demonstrando nojo;
um terceiro disparou em rápida carreira para fugir do ar contaminado... e todos
observavam qual seria a atitude do Mestre diante do cadáver do cachorro. Jesus
serenamente aproximou-se, fixou nele o olhar e disse: “Que dentes lindos ele
tem!”
Quem descobre coisas boas numa carniça de animal, com maior razão
consegue enxergar o que há de bom no ser humano. Deus é assim: vai além da
superfície, da sujeira, da repugnância natural e se encanta com o essencial.

PESSOAS
ALEGRES,
OTIMISTAS
E
DILIGENTES
ENERGIZAM,
COM
BONS
FLUIDOS,
ONDE
QUER
QUE
ESTEJAM
Somos desafiados diariamente a ultrapassar o aspecto visível, corriqueiro e,
por vezes, enfadonho das pessoas com quem convivemos. Porque a convivência
do dia-a-dia nos desperta dos sonhos românticos, das fantasias mirabolantes e
nos arremessa para a crua realidade. E é no interior desta realidade que vamos
notar e acolher o novo, o diferente, os dons de cada pessoa.
Quero que a minha geração me ajude a viver e conviver de modo saudável,
em ambiente onde cada qual se interessa pelo bem do outro. Onde as pessoas se
compreendem, se reconciliam, se abraçam, e de novo se dispõem a caminhar, sem
peso na consciência, nem amarras no coração.
Quero poder saborear a companhia de pessoas otimistas, que têm nos lábios
palavras de benquerença, e nos olhos, o sincero desejo de bem conviver.
Não exijo de mim nem dos outros a perfeição, mas me sentirei feliz ao ver
que no relacionamento entre as pessoas predominam o respeito e a harmonia.
Pessoas alegres, otimistas e diligentes transformam o lugar em que trabalham.
Energizam, com bons fluidos, onde quer que estejam. Para elas não há tempo
ruim, não recusam os compromissos imprevistos, nem se espantam diante dos
novos projetos.
Você é assim?
Se é, dou-lhe as boas-vindas. O mundo pre-cisa de você. Vamos encher o
universo de gente que busca soluções aos intermináveis proble mas sociais.
Vamos povoar a terra de pessoas solidárias, fraternas, animadas, bem
relacionadas.
Um provérbio oriental diz: “Quem não sabe sorrir não abra uma loja!”.
O EXERCÍCIO
DA
PACIÊNCIA

“Todo poder humano é constituído


de paciência e tempo.”
Honoré de Balzac
Isabel tem 64 anos e está enxergando cada vez menos. Seu corpo franzino e
seus gestos delicados escondem a mulher forte que é. Na juventude seguiu o
costume da família: casou-se e ficou morando na roça.
Seu primeiro filho nasceu deficiente e recebeu o nome de Roberto. Depois,
vieram outros quatro filhos sadios. À medida que o tempo foi passando, os filhos
cresceram e saíram de casa, a fim de se arrumarem na vida. Saiu de casa também
o marido, que não mais voltou.
Isabel ficou sozinha cuidando do Roberto, que também cresceu e virou
homem robusto. Robusto, porém dependente em praticamente tudo.
A deficiência o privou da fala, dos movimentos das pernas e do controle de
algumas funções fisiológicas, como urinar e evacuar. Por isso, à semelhança de
nenê frágil e vulnerável, Roberto sempre dependeu do auxílio da prestimosa mãe,
para alimentar-se, tomar banho e outras necessidades.
Por causa desse filho, que já ultrapassou a casa dos quarenta anos de idade,
Isabel quase não se ausenta, não passeia, não se diverte. No entanto recebe, com
alegria e simplicidade, a visita de parentes e amigos.
Não obstante a vista curta e as marcas da idade, Isabel não poupa esforços
para acudir, com afeição, o filho deficiente. E o faz sem murmurar contra a sorte
ou a vida.
Essa mulher é modelo de inesgotável PACIÊNCIA.
A paciência é ingrediente indispensável para o cultivo do bom humor.
Entretanto, atualmente nossa paciência é submetida à prova a todo instante,
principalmente nos grandes centros urbanos. Você já reparou como muitos
motoristas descarregam sua fúria sobre o acelerador e a buzina de seus carros? No
trabalho, alguns encarregados de repartição tratam seus colegas ou subalternos
com rispidez e arrogância, sem nenhum tributo à boa educação. Na escola, por
vezes, alunos ofendem seus professores; outras vezes, são os mestres que
discriminam seus discípulos. No consultório médico, enquanto esperam a
chamada, certas pessoas folheiam raivosamente aquelas revistas velhas,
empilhadas sobre a mesinha de centro.
São pessoas impacientes. Mal-humoradas.
Reconheço que há situações que nos forçam a sair do sério e provocam em
nós mal-estar ou mesmo revolta. Leia, por exemplo, esta manchete que, no mês
de abril de 1997, chocou profundamente o povo brasileiro: “Em Brasília, cinco
jovens de classe média alta atearam fogo e mataram o índio Galdino Jesus dos Santos”.
Como não indignar-se dian-te desse crime hediondo? Galdino ocupava a função
de conselheiro em sua comunidade no sul da Bahia e tinha ido à capital federal
para uma série de reuniões com procuradores da República, parlamentares e
membros do alto escalão do Ministério da Justiça e da Fundação Nacional do
Índio.
Outros fatos nos fazem perder o autocontrole: como pode uma pessoa
manter-se calma, sabendo que está sendo duramente caluniada? Esses exemplos
nos ajudam a não confundir paciência com ingenuidade ou omissão. A verdade
dos fatos deve vir à tona. Os direitos devem ser reivindicados. Não posso tapar
os ouvidos e os olhos diante de alguém que está sendo injustiçado. Cabe-me
erguer a voz na tentativa de eliminar o mal, ainda que para isso eu precise aplicar
boa dose de veemência.
Voltemos, porém, ao mundo da calma, onde as relações se dão em clima de
diálogo e entendimento recíproco.
Contemplemos a natureza, que é mestra na arte da paciência. As sementes
lançadas na terra necessitam de tempo para germinar e se desenvolver. O
embrião humano leva meses, que podem parecer intermináveis, até reunir
condições para ingressar neste mundo. E as rochas? Não se formam ao longo de
milhares de anos?
Não precisamos escapar da vida real. Acontecimentos corriqueiros se
encarregam de nos exercitar a paciência: o bebê que acorda chorando, o trote ao
telefone, na madrugada; o mau cheiro e a insolência do cachaceiro que trança as
pernas pela rua e vem em minha direção pedindo uns cobres... e a lista não tem
fim.
Ora, certamente há várias maneiras de se conquistar a nobre e rara virtude da
paciên-cia. Em todo caso, permita que eu lhe proponha repetir, com convicção
e várias vezes por dia: “Sou uma pessoa calma... cada vez mais calma!”
Se mantiver a paciência e puser em prática este propósito, poderá sentir, em
pouco tempo, significativas mudanças nos seus relacionamentos.

Não acha que o marcante exemplo de Isabel haverá de lançar luz sobre nossos atos,
predispondo-nos a corrigir nossas atitudes de impaciência?
A FESTA
DOS
INOCENTES

“Sei que meu trabalho é uma gota no oceano,


mas sem ele o oceano seria menor.”
Madre Teresa de Calcutá
Era o segundo domingo de agosto, dia dos Pais. Na capela do Seminário
Paulino, a comunidade reunida elevou a Deus preces em favor dos pais vivos e
falecidos. No fim da celebração, os participantes se retiraram, exceto dois
seminaristas, André e Gilberto, que permaneceram imóveis onde estavam
sentados. André chorava a cântaros. A seu lado, estava o amigo Gilberto, calado,
sem perguntar a causa de tanta desolação, sem saber como consolar. Apenas
deixou-se ficar próximo, vigilante, oferecendo o apoio de sua presença. Mas a
explicação logo veio: André havia perdido o pai recentemente e de modo trágico;
fora assassinado.
O gesto solidário de Gilberto não foi suficiente para eliminar a dor do amigo,
mas certa-mente ajudou a serenar-lhe o espírito.
Solidariedade se traduz em atos concretos: estar junto, interessar-se pelo
outro, principalmente em situações difíceis. Estar ao lado gratuitamente, sem
calcular o tempo, sem indagar o porquê do lamento... Mas, parece que a
sociedade caminha na direção oposta.
Sei que a situação não está fácil para a maioria do povo, e que todos devem
prosperar, mas acho pesado o papo das pessoas que só falam em ganhar dinheiro,
ficar ricas, aumentar o patrimônio. Só enxergam cifras. Só se preocupam com
lucros. Vivem em função de multiplicar seus haveres, nem sempre por caminhos
honestos.
Não quero fazer pacto com esta sociedade sem graça, alicerçada sobre a
técnica e o lucro. Por vezes tenho a sensação de que a GRATUIDADE foi
banida de nossa convivência. Por que não posso, generosamente, estar ao lado do
meu vizinho enfermo, sem que ele fique me devendo obrigação? O que me
impede de dar um prato de comida quente, num dia qualquer, ao velhinho que
todo dia não tem o que comer?
“Ao dares um almoço ou jantar, não convides os amigos nem os irmãos nem os parentes,
nem os vizinhos ricos; para que não teconvidem por sua vez, e te retribuam do mesmo modo.”
São conselhos de Jesus (cf. Lc 14,12).
Minha avó materna, Eulália, uma vez por ano preparava um jantar especial
para convidados especiais. Ela dizia que era a festa dos inocentes. Quem eram esses
inocentes? Eram as crianças mais pobres da redondeza. Chegavam com suas
respectivas mães. Olhos acesos, barriga vazia e água na boca. Vovó a todos
recebia com carinho e os servia com paciência e alegria de coração.
Pouca coisa lembro da vovó Eulália, porque eu era pequeno quando ela
morreu. Mas a cena do anual jantar das crianças carentes ficou indelével na
minha memória. Vovó, sem o saber, deu-nos uma lição de vida. Os exemplos
arrastam.

Qual foi seu mais recente gesto de gratuidade?


Qual será o próximo?
ABAIXO
AS
INCERTEZAS

“Um homem de fé não barganha,


nem apresenta condições a Deus.”
Gandhi
Quando eu tinha oito anos, vivi uma temporada no meio de lavouras e
pastos, no sul de Minas Gerais. Não faltavam, naquela área, riachos e pequenas
lagoas. Pois bem, por vezes a seca prolongada punha em risco a plantação e a
colheita. Os mais velhos, então, encontravam uma saída para conseguir a chuva:
mandavam os filhos aguar o cruzeiro.
O ritual seguia uma ordem: o grupo de crianças ia até a lagoa, cada qual
enchia de água sua garrafinha e, todos, ajoelhados e cantando hinos religiosos,
seguiam em direção a uma cruz de madeira, fixada na colina. Ali chegando, todos,
com a seriedade que o ato propunha, despejavam a água no cruzeiro. Certos de
que em breve a chuva haveria de vir. E cho -via, de fato, ainda que demorasse
alguns dias.
Os leitores, além de duvidarem da minha narração, perguntam o que isso tem
a ver com FÉ.
É que estamos habituados a complicar a fé. Fazemos grandes esforços
tentando convencer a Deus a respeito de nossas necessidades. O ensinamento de
Jesus, porém, nos remete para a simplicidade. “Eu digo a vocês: quem não recebe como
criança o reino de Deus, nunca entrará nele” (Lc 18,17). Não entra na compreensão da
bondade do Pai, não entra na intimidade com as pessoas da Trindade.
Seremos pessoas de fé quando nos soltarmos nos braços de Deus, com a
certeza de que ele nos protegerá. Seremos pessoas de fé quando deixarmos cair os
cálculos, as dúvidas, e filialmente apresentarmos a Deus nossos sinceros desejos.
O Pai celeste quer e pode dar o que há de melhor para seus filhos e filhas.
Não somos nós que organizamos o calendário de Deus. Não nos compete
informar-lhe a hora em que tem de nos brindar com de-terminada graça. Deus
não se deixa capturar por nossas manipulações. É pedir e confiar. O Senhor não
falha, ainda que, por vezes, não nos atenda segundo nossas expectativas. Deus é
livre para escolher o melhor para nós.
O campo da fé é entusiasmante. Você entra numa dinâmica da qual não quer
mais sair. Vê realizar-se aquele prenúncio de Jesus: “Eu garanto a vocês, quem
acreditar em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas” (Jo 14,12).
E se alguém ainda tem resquícios de incerteza, sirva-se das palavras de Jesus,
que assegura: “Tudo o que vocês pedirem na oração, acreditem que já o receberam, e assim
será” (Mc 11,22).
AOS PÉS
DO
MESTRE

“Quem nos poderá separar


do amor de Cristo?”
Paulo, apóstolo
Naquela tarde havia, ao redor de Jesus, uma alegria geral. Os discípulos
voltavam das missões, e cada um chegava cheio de novidades. Jesus então os
convidou a se afastarem do burburinho da multidão, a fim de narrarem as
maravilhas que Deus havia operado por meio deles.
“Venham, vamos a um lugar sossegado...!” Benditas e oportunas palavras!
Felizes, como crianças que aprendem a andar e conquistam o espaço, os
discípulos comunicavam a experiência de agir em nome de Jesus: tinham visitado
numerosas aldeias, haviam abençoado os moradores e, por suas mãos, muitos
doentes ficaram curados.
À medida que foram narrando os grandes sinais realizados junto ao povo, os
discípulos sentiam-se impulsionados a louvar e agradecer a Deus. Com certeza
também puderam reconhecer sua indignidade no lidar com o poder de Deus e
então pediam perdão. Ao mesmo tempo, imploravam a proteção divina e novas
luzes para a futura e definitiva missão evangelizadora. Deste modo, a vida dos
discípulos se tornou oração.
“Venham, vamos descansar um pouco!” Bem-aventurado descanso na
companhia do Mestre da humanidade.
O mundo anda carente e sedento desta convivência. No entanto, semelhantes
a baratas tontas, muitas pessoas seguem buscando não sabem o quê e bebendo de
quaisquer fontes. Elegem temporariamente um modo cômodo de expressar sua
fé, vão atrás de pregadores exaltados e evitam assumir qualquer compromisso
com a comunidade. Nada que exija parte de seu tempo ou pequena parcela de sua
dedicação. Insatisfeitas com sua expressão religiosa superficial, sem demora
saltam para outros templos, à cata de novas emoções... Será apenas mais uma
tentativa frustrante. O que lhes falta é um autêntico encontro com Jesus.
O anseio profundo que envolvera os missionários, naquela ocasião, é o
mesmo que nos invade hoje. Desejamos ardentemente chegar aos pés do Mestre,
para lhe falar dos nossos fracassos e realizações, limites e conquistas.
Queremos aco-modar-nos em sua presença a fim de abastecer-nos de
confiança, coragem e novo impulso para enfrentar a lida do dia-a-dia. Isso é orar.
Isso é COMUNICAR-SE COM DEUS. Nem sempre essa comunicação
supõe o uso de palavras; aliás, por vezes é mais fecunda quando as palavras
cedem lugar ao silêncio e à contemplação. Outras vezes sentimo-nos impelidos a
manifestar a fé comunitariamente: com alegria ouvimos a proclamação da
Palavra, rezamos salmos, cantamos hinos e aclamações e, através de gestos
simbólicos, celebramos a vida.
Há, portanto, muitos modos de orar. O que não pode faltar ao ser humano
são esses momentos de retiro, de parada, de recolhimento. Ocasião propícia para
extravasar o que lhe vai por dentro: pesares e angústias, sonhos e alegrias.
“Não só de pão vive o homem”, afirma Jesus. Além da dimensão física, a pessoa
necessita cultivar devidamente sua dimensão espiritual. Este é o caminho do
equilíbrio, da harmonia.
Se não satisfizer a dimensão espiritual, o ser humano corre o risco de
embrutecer. E daí para a prática de atos irracionais, a distância é mínima.

Você está dando o devido valor à sua dimensão espiritual?


Qual é a qualidade da sua oração?

SE
NÃO
SATISFIZER
A
DIMENSÃO ESPIRITUAL, O
SER
HUMANO CORRE
O
RISCO
DE EMBRUTECER
PERDOAR
É
LIBERTAR-SE

“Perdoar e esquecer é raro,


mas não impossível.”
Machado de Assis
Havia um homem, meu vizinho, com fama de briguento e insuportável.
Uma das proezas que conseguiu ao longo da vida foi aumentar a lista dos que o
detestavam. Ora, para a maioria das pessoas chega o tempo em que a doença se
aninha e alastra, afetando o corpo e abalando o espírito. Pois bem, para esse
senhor também os anos passaram e a doença chegou impetuosa e começou
inexorável processo de destruição.
Embora o enfermo piorasse a cada dia, parecia que lhe restava algo a realizar.
É que, como numa dança macabra, seus adversários bailavam em sua mente,
atormentando-o. Não estava preparado para perdoar, tampouco para pedir
perdão. Por isso, não conseguia morrer, nem viver. Mas, houve um dia em que o
moribundo surpreendeu a todos. Mesmo debilitado, de repente ergueu-se e saiu
para visitar, um a um, os vizinhos das desavenças. Foi, reconciliou-se com cada
qual, pediu perdão e também perdoou. Voltou para casa, deitou-se e morreu em
paz.
Tenho encontrado muita gente que acha difícil perdoar. A dificuldade de
perdoar parece ter sua origem na auto-imagem que a pessoa cria e fomenta a
respeito de si mesma. Aqui entra em jogo a ofensa. Quando é que uma pessoa se
sente ofendida? Justamente quando sua auto-imagem sofre algum arranhão. Ela
se considera insuperável, auto-suficiente, invulnerável, e alguém chega tratando-a
de incompetente. Está criado o alvoroço: a pessoa reage, ignora as boas maneiras,
e revida com palavras grosseiras. Ou então, por medo ou conveniência, engole a
afronta e a manda para o fundo do baú do seu inconsciente. Problema não
resolvido, cedo ou tarde vem à tona de forma violenta, com requintes de ódio e
sede de vingança.
Você já recebeu um duro golpe, um desaforo provocante? Pois bem, essa
carga pesada, sobretudo se vem de pessoas queridas, desequilibra sua harmonia
interior. Neste caso, por mais longo e trabalhoso que seja o processo de perdoar,
a atitude mais razoável é perdoar a si mesmo. Reconcilie-se com seus defeitos,
erros e culpas. Somente o perdão que conceder a si mesmo será capaz de
restabelecer em seu ser a paz e a harmonia, e ainda o abrirá à possibilidade de
perdoar ao outro.
Por isso, PERDOE A SI MESMO . Deixe cair sua auto-imagem. Aquela que
você quer, a todo custo, ostentar diante dos colegas e amigos. Seja você mesmo,
sem necessidade de desgastar-se para manter uma imagem que pode vir a
quebrar-se a qualquer momento. Mas, a fim de que a libertação seja completa,
PERDOE TAMBÉM AOS OUTROS, mesmo que o coração relute e os
sentimentos oponham resistência.
E você experimentará quanto o perdão é excelente fator de saúde física,
psicológica e espiritual.
O QUE FAZER
COM O
MAU HUMOR?

“Estou sempre alegre.


Esta é a maneira de resolver
os problemas da vida.”
Charles Chaplin
Contrariamente ao que muitas pessoas pensam, creio que podemos
permitir-nos momentos de mau humor. Você há de convir comigo: em nosso dia-
a-dia há circunstâncias adversas que nos tiram o bom humor.
A esse respeito saiba o que algumas pessoas me disseram:
Uma senhora, recentemente separada do marido: “O que me irrita são as atitudes
irresponsáveis do meu ex-marido. Ele tem deveres legais em relação a mim, aos filhos e a casa
e não os cumpre. Não suporto isso!”
Um assalariado: “Meu bom humor desaparece quando vejo alguns governantes gastando
fortunas com festas pessoais, enquanto a população se consome por um prato de comida!”
Uma jovem otimista: “Detesto ficar perto de pessoas pessimistas, carrancudas,
derrotistas. Isso interfere no meu bom humor”.
Quanto a mim, houve um dia em que repentinamente perdi não só o bom
humor. Foi de roldão, também, toda a minha reserva de paciência e boa
educação. Em pleno meio-dia, no centro de São Paulo, um larápio grandalhão
enfiou a mão em meu bolso, acreditando haver ali dinheiro. Não havia, mas a
agressão foi tão forte que fui atirado ao chão. Sob os olhares assustados de
muitos passantes, levantei-me cambaleando, limpando mãos e roupa, enquanto o
assaltante se afundava no meio da multidão. Você imagina o que eu senti? A
harmonia cedeu lugar à raiva, e, em vez de palavras amáveis, vomitei
impropérios!
Cada pessoa tem seus motivos por que experimenta o gosto azedo do mau
humor. E, embora seja difícil admitir, esses ímpetos de mau humor nos restituem
ao nosso verdadeiro lugar: somos o que somos. Sem necessidade de afivelar uma
máscara sorridente e falsa. Por que andar por aí, cheios de salamaleques, dizendo
“tudo bem”, quando, de fato, nossa vontade é deix ar extravasar o vulcão de
pequenas revoltas, mágoas e de questões não resolvidas?
Entretanto, se nos permitimos instantes de mau humor, queremos também
que sejam ocasiões cada vez mais raras, com duração cada vez mais curta. Não é
o mau humor que apregoamos, é o bom.
O bom humor
• torna o trabalho mais leve
• amortece o golpe inimigo
• testemunha a presença de Deus e, enfim... irrita a pessoa mal-humorada!
As pessoas bem-humoradas granjeiam grande número de amigos,
provavelmente têm menos chance de sofrer infarto, e mostram menos idade do
que têm na realidade.

Você faz parte do grupo dos bem-humorados?


DAR
E
RECEBER
CARINHO

“Apesar de adultos,
necessitamos de carícias, toques, carinhos.
Tudo isso é o alimento ideal
para o desenvolvimento do ser humano.”
Roberto Shinyashiki
Era sexta-feira santa. A procissão do Senhor morto já estava terminando. Foi-
me confiado o ofício de fazer, na igreja, a pregação conclusiva. Proferi a
mensagem, enfocando o sentido da vida e morte de Jesus. Em seguida, dei a
bênção a todo o povo e me retirei para a sacristia. Despojei-me das vestes
litúrgicas e voltei à igreja. Uma multidão de pessoas se movimentava lentamente
rumo à imagem do Senhor morto. Cada um queria tocá-lo, como se estivesse
prestando a derradeira homenagem a um ente querido.
Após observar o panorama, sentei-me próximo ao altar. Logo apareceram
algumas crianças e perguntaram se eu era o mesmo que antes estivera fazendo a
pregação. Em seguida, uma senhora apresentou-me seus três filhos e me pediu
para abençoá-los. Toquei na fronte de cada um e fiz breve oração recomendando-
os à proteção de Deus. Outras crianças, outras mães, vários adultos foram
despon-tando. Todos queriam ser tocados e receber a bênção.
Olhei para o centro da igreja e vi duas filas: uma dirigia-se para o Senhor
morto, a outra encaminhava-se em minha direção. Pessoas de todas as idades e
condições. Assustei-me um pouco, mas já não tinha como escapar... Adaptei-me
à realidade imprevista e, em nome do Senhor, continuei impondo as mãos e
abençoando os filhos e filhas de Deus.
Essa cena mostra uma das maneiras que as pessoas encontram para receber
um toque benfazejo. Desde o nascimento, o ser humano tem necessidade de tocar
e ser tocado. A própria medicina tem recomendado que, após o parto, o recém-
nascido permaneça algum tempo estendido sobre o ventre materno. Esta troca de
energias parece ser fundamental para que a criança se desenvolva de modo
harmonioso.
Pela vida afora, crianças, adolescentes e adultos vão experimentando quanto
é importante o toque carinhoso, o abraço sincero, o beijo cordial. Li uma
reportagem informando que grande número de pessoas, nos Estados Unidos,
marcam consulta e vão ao médico, não porque estejam enfermas, mas para
receber um toque humano.
Sabemos, pelas páginas do evangelho, que Jesus não economizava toques e
carícias. Por isso também curava tanta gente. E se deixava tocar pela multidão.
Muitas pessoas queriam, pelo toque, demonstrar amor e gratidão por ter sido
libertadas por ele.
Hoje, mais que em outros tempos, empresários, médicos, pedagogos e outros
profissionais estão prestando atenção ao valor do toque e utilizando-o no intuito
de melhorar as relações interpessoais.
A literatura universal ultimamente tem dado expressivo destaque a temas
como: o toque terapêutico, a cura pelas mãos, a energia sutil, a arte da cura
energética, terapias bioenergéticas e outros.
Os líderes religiosos têm, nas celebrações litúrgicas, amplas possibilidades de
valorizar o toque, já que não existe celebração sem expressão corporal

Você já abraçou alguém hoje?


Já recebeu abraços?
UM
OLHAR
DIFERENTE

“Só existe amor verdadeiro


quando não se espera nada em troca.”
Saint-Exupéry
Gibran Kalil, em sua obra O Filho do Homem, conta que Maria Madalena
via Jesus passar com freqüência diante de sua casa, conversando animadamente
com seus discípulos. Ela tinha imensa curiosidade de se aproximar dele e
perguntar uma coisa. Tanto desejou, que um dia encontrou-se frente a frente com
ele e lhe dirigiu a pergunta que estava na ponta da língua: “Mestre, me diga: por
que você me olha diferente de todos os outros homens?” Jesus fixou nela o olhar
profundo e terno e lhe respondeu: “Maria, eu olho para você diferente dos outros homens
porque amo você por você mesma, sem esperar nada em troca.”
AMAR SEM NADA ESPERAR EM TROCA: este é o grau máximo do amor.
É comum em nossos relacionamentos humanos esperar que os outros nos
cumulem de elogios, agradecimentos, consideração... Criamos expectativas a
respeito de fatos e de pessoas. E, dado que essas manifestações nem sempre
acontecem, terminamos sofrendo. Visitamos velhos amigos, esperando que todos
nos recebam calorosamente. O namorado marca encontro com sua amada,
imaginando a intensidade dos beijos. Pode ser que nada disso se verifique. E aí
vem a decepção, o mau humor. Tudo isso, por quê? Porque a realidade não
coincidiu com a expectativa.
Sei que é difícil atingir um bom nível de liberdade interior, mas sei também que,
quanto mais livre me encontro interiormente, menos dependo do que os outros
pensam ou dizem a meu respeito. Eles têm a liberdade de me criticar e mesmo
humilhar, mas eu terei a liberdade de continuar acreditando nos meus valores
pessoais, sem me deixar abater por seus duros ataques. Oxalá possamos atingir
um grau de maturidade tal, que nem os elogios nem as broncas a nós endereçados
consigam interferir em nosso bom humor.
Certa vez, Jesus estava jantando na casa de Simão, quando irrompeu
inesperadamente na sala uma pecadora famosa. Com suas lágrimas banhava os
pés do Mestre e os enxugava com seus longos cabelos. Era manifestação de amor
e arrependimento.
O dono da casa e alguns convidados, que se consideravam perfeitos,
começaram a pensar mal diante do que viam. Eis que o olhar de Jesus esbarra nos
olhares maliciosos e indignados deles. Jesus não se intimida, nem interrompe o
gesto benevolente da pecadora. Pelo contrário, livre e soberano, permanece
impassível diante do julgamento mordaz dos que o censuravam. E corrige-lhes o
mau juízo.
Jesus está acima das opiniões desfavoráveis dos seus opositores. O que
pensam e comentam a respeito de sua pessoa e obras não tem o poder de desviá-
lo dos seus bons propósitos. Sua capacidade de amar não depende da resposta
positiva, ou negativa, de quem quer que seja. Com efeito, Jesus, “tendo amado os
seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”.

Você ama sem nada esperar em troca?


POR QUE
TANTOS
MEDICAMENTOS?

“Quem ama não adoece.” *


Dr. Marco Aurélio Dias da Silva
Certa vez encontrei um homem de setenta anos, de pele viçosa e sem
rugas. Seus cabelos, naturalmente pretos, e seu corpo firme e enxuto lhe
conferiam aparência jovial. Ao perguntar-lhe a razão de invejável saúde,
respondeu-me com simplicidade: “Ao longo da minha vida procurei evitar qualquer
tipo de extravagância.” Por extravagância ele entendia, principalmente, excesso de
bebida alcoólica, fumo, noitadas em claro…
Sabem uma coisa que me deixa intrigado? É o exagero de farmácias
pipocando em nossas cidades. Por que tantos medicamentos, esperando
intermináveis filas de clientes, todo dia? O povo está mesmo doente, ou as
pessoas viciaram em tomar remédio?
Enquanto não encontro resposta conciliadora, proponho que busquemos com
seriedade e persistência um bem que todos apreciamos e queremos ter: a SAÚDE.
Se você me permite, assinalo alguns elementos que são considerados
indispensáveis para a preservação da saúde:
1. Alimentação adequada. Trata-se de ingerir alimentos saudáveis, evitar
conservas, priorizar cereais fibrosos, verdura e frutas. Recomenda-se mastigar
bem e pausadamente cada bocado. Beber durante a refeição é prejudicial à
digestão e compromete o aproveitamento das substâncias nutritivas. Prejudicial
também é comer em demasia: Quem come tudo num dia, no outro assovia. Costume
benéfico é manter horários fixos para as refeições.
2. Sono suficiente. Toda pessoa, para sentir-se repousada, tem necessidade de
certo número de horas de sono. Se tem insônia, busque orientações de
profissionais competentes. Nem convém dormir demais por preguiça de se
levantar. Antes de adormecer, solte o corpo, relaxe. Ponha o coração em paz,
entregue a Deus o que você fez durante o dia. Reconcilie-se com todos os que
fazem parte de sua convivência. Diga boa-noite ao Pai do céu, peça-lhe a bênção
e um sono restaurador.
ACIMA DE TUDO
O
RESPEITO

“A perfeição da pedra
não vem com os golpes do martelo,
mas com a dança e a canção da água.”
Tagore
Quase toda vez que saíam de casa era um deus-nos-acuda. Altair, o marido,
arrumava-se depressa e se dirigia até a garagem para aquecer o motor do carro.
Enquanto isso, Fabiana, a esposa, às pressas dava os últimos retoques na higiene
pessoal. Lá fora, Altair, inquieto, começava a buzinar. Aflita, Fabiana agitava-se.
Ainda lhe faltava desligar o fogão, fechar janelas e portas. Finalmente
apresentava-se para a viagem de sete quilômetros. Deparava-se com o marido,
cheio de azedume, despejando sobre ela palavras ofensivas. Você imaginou o
clima pesado que se criou por causa de ninharias?
Nesse episódio fica fácil detectar as falhas na relação interpessoal. Por parte
do marido faltaram principalmente sensibilidade e RESPEITO.
Respeito é o que se espera no relacionamento marido-mulher. Também no
tocante às relações sexuais, que devem ocorrer em clima de diálogo e comunhão.
Não pode haver autêntica relação sexual se não for acompanhada de perdão,
compreensão e solidariedade.
É como se houvesse uma aliança recíproca, mais ou menos nestes termos:
“Confie em mim, estou com você em qualquer situação, seja ela favorável, perigosa ou adversa.
Você não é para mim objeto de uso e consumo. Não preciso do seu corpo, como instrumento de
prazer ou redutor de tensões. Preciso de você, da sua experiência, do seu apoio. Não exijo de
você perfeição nem dependência. Ao mesmo tempo, peço que não me critique ou ofenda pelos
erros que cometo sem querer. Diga-me as coisas sem ironizar. Detesto ironia. As palavras e
atitudes irônicas não me ajudam a superar dificuldades. Ao contrário, me intimidam,
entristecem e geram insegurança...”
E, como se fossem declaração de amor, as palavras poderiam continuar
fluindo sinceras, isentas de mágoa ou rancor.
O respeito, naturalmente, não se restringe ao âmbito conjugal ou familiar. É
indispensável em qualquer estado de vida. Vale para todas as raças, idades e
condições sociais.
Respeitar é, antes de tudo, aceitar que a outra pessoa seja física e psicologicamente
diferente de mim. Aceitá-la como é. Sem exigir dela o que vai além de suas
condições. Sem julgá-la. “Fica sabendo que, quando vais ao templo, Deus, em vez de te
julgar, te recebe”, escrevia Saint-Exupéry. É isso que desejo: acolher. É isso que
peço: alguém que me acolha como sou, e me ensine a ser melhor. Alguém que
respeite o meu ritmo e minhas limitações e se disponha a caminhar comigo, que
eu ainda preciso crescer!
Respeitar é não invadir a privacidade da outra pessoa . Não me é permitido mexer
em seus pertences: armários, roupas, estojos, diários, cartas, fotos, CDs...
Tampouco me cabe forçá-la a revelar-me seus sentimentos ou escancarar o
cantinho secreto do coração. Posso até me dispor a ouvir o que ela tem a dizer,
mas ela é que decide se quer manifestar-se ou não.
Só estarei em condição de respeitar meus semelhantes, se eu for capaz de
respeitar a mim mesmo. E isso faço ao tomar consciência de que sou dotado de
razão e liberdade. Além disso, existe em cada pessoa uma dimensão de mistério,
cujo alcance nos escapa. É a grande dimensão do desconhecido que nos põe em
relação com a imagem do próprio Deus, que é o supremo desconhecido.
Por que muitas pessoas não respeitam a si mesmas? Porque ignoram essa
dimensão do sagrado que está no mais fundo delas mesmas. A consciência que
tenho do mistério e do sagrado que existem em mim faz com que eu me ame e
não permita que os outros me diminuam.

Quando virá o tempo em que as relações humanas terão como fundamento o respeito recíproco?
PAIXÃO
POR
LIVROS

“É claro que meus filhos terão computadores,


mas, antes disso, terão livros.”
Bill Gates
Maria Luiza é mulher de meia-idade e ostenta traços de beleza que o tempo
não foi capaz de apagar. Mas o que nela se destaca é sobretudo sua comunicação
viva e envolvente. Graduada em filosofia, sempre cultivou indomável paixão por
livros.
Tanto se dedicou às várias expressões da literatura, que acabou contagiando
seus três filhos, despertando neles o gosto pela leitura. De que modo? Lançou
mão de um expediente simples, mas criativo: adquiriu o hábito de espalhar livros
e revistas por todos os cômodos da casa, sem esquecer o banheiro.
Um dos filhos assimilou de tal modo o costume de ler que, com 19 anos, lia
até debaixo do chuveiro. Abria uma revista e a apoiava no parapeito da janela e ia
devorando-a enquanto se banhava. As folhas ficavam encharcadas e praticamente
imprestáveis. Mas a mãe não ligava para seu estado deplorável; antes, sentia-se
gratificada por saber que o hábito de ler implantara-se definitivamente em sua
família. Ela mesma comemorava, com entusiasmo: “Quem gosta de ler não se sente
sozinho nunca.”
As pessoas que, com freqüência, ocupam-se com a leitura de boas mensagens,
em breve verificarão suas vantagens: poderão tornar-se mais educadas, adquirir
aguçado senso crítico em face da realidade, e estar mais capacitadas para
enfrentar os desafios da vida.
Entretanto, na vasta gama de literatura ao alcance de todos, encontram-se
também publicações que salientam e incentivam a violência, a vingança o crime,
a pornografia...
É comum ouvirmos dizer que LIVRO É ALIMENTO. Ora, ninguém é tão
imprudente a ponto de ingerir ou oferecer alimento estragado a quem quer que
seja. Cabe a cada um escolher o que é bom, útil, saudável...
Entre as incontáveis publicações escritas, existe uma que supera a todas em
conteúdo e nú-mero de leitores: trata-se da Bíblia Sagrada.
Livro por excelência dos cristãos, a Bí blia narra a experiência do povo de
Deus antes da vinda de Cristo (Antigo Testamento) e a caminhada dos cristãos
do 1º século (Novo Testamento).
A Bíblia contém a palavra de Deus. Palavra que alimenta, conforta, ensina,
admoesta e questiona aqueles que a recebem e põem em prática.

A
BÍBLIA
É
COMPANHEIRA
INDISPENSÁVEL
NA
CAMINHADA
DO
DIA-A-DIA
Muitas pessoas, ao longo da história do cristianismo, foram tocadas por essa
Palavra, que mudou radicalmente o rumo de suas vidas. Por exemplo, Francisco
de Assis (“Vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres”), Agostinho de Hipona
(“Vivamos honestamente”), Teresa de Lisieux (“Vou indicar-vos um caminho
que ultrapassa a todos: o amor”)…
Em nossos dias é raro encontrar alguma família que não conheça a Bíblia. Em
geral a possui, não como enfeite de biblioteca, mas como companheira
indispensável na caminhada do dia-a-dia.
Evidentemente a palavra que a Bíblia contém somente surtirá efeito em quem
a lê com fé. Se não for assim, perderá sua eficácia e tornar-se-á leitura enfadonha
e inútil.

Você tem o hábito de ler? O quê?


Qual é a parte da Bíblia que mais influencia sua vida?
BRINCAR
DE
ARTISTA

“A música é a alma do universo.


Dá vôo à imaginação,
alegra o espírito, afugenta a tristeza.
Dá vida a tudo o que é bom e justo.”
Platão
Quem de nós, algum dia, não brincou de artista? Em minha infância, de vez
em quando, a criançada da vizinhança se reunia para se divertir. Vinha o Roberto,
filho do alfaiate, depois a Glorinha, de olhos negros e cabelo trançado; apareciam
também a bela Simone, já beirando a adolescência, e muitas outras crianças. Eu,
garoto tímido, ali pelo meio.
Uma das brincadeiras mais apreciadas era fazer teatro. Ensaios rápidos sob a
liderança do simpático Toninho, dez anos de idade. Cada pequeno artista liberava
o próprio poder criador, a fantasia, o entusiasmo, e o espetáculo se dava. Os
atores e as atrizes mirins, esquecidos das tarefas escolares, mergulhavam no
mundo do faz-de-conta e tudo executavam com precisão.
A infância é apenas um dos pontos minúsculos na vida das pessoas. Por isso,
o passar dos anos nos obrigou a dar adeus ao mundo fantástico da nossa
meninice. Contudo, não perdemos o gosto pela arte, a qual, através de suas várias
expressões, foi se incorporando em nossa história pessoal.
Pense na escultura. Você já observou algum artista esculpindo um tronco de
madeira? É fabuloso. Ele pega um tronco roliço, rústico e, com instrumentos
apropriados, escava, corta, apara, burila, lixa... até que, como por encantamento,
emerge o rosto de formosa mulher. A imagem que residia dentro do artista passou
a habitar a madeira. Magnífico. O grande escultor Miguelângelo tenta explicar o
processo: “Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo o que
não é necessário.”
E o mundo da música? Aqui as imagens fluem aos borbotões. Parece um
sonho: o sanfoneiro Severino animando o arrasta-pé, nos fins de semana, na
fazenda do Jurandir; o professor Osvaldo Urvaneja, de origem espanhola,
manejando com maestria seu inseparável violino, dele extraindo sons
encantadores; a elétrica Daniela, com sua voz e energia contagiantes,
magnetizando a multidão de fãs.
Pois bem, a música tem o poder misterioso de nos transportar a outras
dimensões. Mexe com nosso organismo. Desperta sentimentos de alegria,
entusiasmo, saudade, tristeza... Deixa-nos recolhidos, reflexivos, relaxados,
orantes, ou nos empurra para o meio do salão, onde os corpos se agitam ao ritmo
frenético de instrumentos de corda ou percussão.
A arte como um todo exerce poderoso influxo sobre nosso comportamento.
Teatro, música, escultura, cinema, programas de tevê, enfim, as variadas formas
de arte podem tornar-se elemento gerador de humanismo e solidariedade, ou – se
forem mal usadas – transformar-se em veículo capaz de embrutecer e degradar o
ser humano.
Quando um artista põe seus dons a serviço do bem e do belo, então temos
uma ARTE DIGNA E EDIFICANTE. Arte que nos enleva, plenifica e nos faz
sentir a grandeza de Deus, o artista e criador por excelência.
PROPONHA-SE
NOVOS
DESAFIOS

“Se você estiver dando o melhor de si,


não terá tempo de preocupar-se
com o fracasso.”
S. Brown
Noêmia, a quem recordo com carinho, tem a idade que ninguém lhe dá:
oitenta anos. Casou, criou nove filhos. Educou-os para a vida. Ensinou-lhes os
caminhos de Deus. Ao completar 67 anos, a morte visitou sua casa e levou-lhe o
marido, que ela tanto amava. Na ocasião, Noêmia, dominada pela solidão e
tristeza, isolou-se e passou algum tempo sem achar graça em sua vida de viúva.
Não durou muito esse pesadelo. De repente, como a despertar de profundo
sono, ela se propôs dar novo sentido à sua existência. Munida de boa vontade e
coragem, apresentou-se aos dirigentes da igreja de sua cidade, disposta a
colaborar no que fosse preciso.
Começou a visitar os doentes, levando-lhes sempre conforto e ânimo,
acompanhados de sincero sorriso. Orava com eles e falava-lhes do amor
misericordioso de Deus.
Depois uniu-se a um grupo de senhoras que ajudavam na manutenção do
seminário diocesano. Sem preguiça, sacola na mão, em geral a pé, às vezes de
carro, a avó Noêmia percorria a cidade recolhendo mantimentos, roupas e mesmo
dinheiro, em vista de sustentar a formação dos seminaristas.
Ainda hoje, com a idade que tem, anda o dia todo visitando seus doentes, que
não cessam de solicitar sua confortadora presença. Não lhe sobra tempo nem
encontra motivos para reclamar da vida.
Noêmia é mulher dinâmica e reconciliada com o mundo. Não ficou presa nas
traiçoeiras malhas de um passado triste, mas abriu-se para um futuro fecundo.
Em contrapartida, há pessoas que param de desabrochar e crescer porque se
fixam em algum ponto negativo do passado.
Colecionam episódios tristes desde os tempos da infância: recordam e
encenam com detalhes, como que vivenciando de novo, uma surra que levaram
ao voltar da escola; suspiram ao se lembrarem da raiva que alimentavam contra a
professora de matemática; maldizem aquele parente já idoso e pobre que na
juventude pediu e levou boa soma de dinheiro e nunca mais a restituiu.

ESTÁ
EM
NOSSO
PODER
TRANSFORMAR
AS
RELAÇÕES
HUMANAS
Encerrada s no mundo das desilusões e amarguras, essas pessoas deixam de
dar passos significativos na direção da vida, da partilha, dos grandessonhos... Sem
perspectivas, vivem a repetir: “Não tenho sorte!”, “Tudo dá errado comigo!”... E
por não se disporem a viver, definham.
Quero a companhia de pessoas que, apesar dos embates do dia-a-dia, confiam
no seu potencial, dão a volta por cima e se lançam para novos projetos.
Que tal começar agora uma reviravolta em seus relacionamentos?
Diga hoje alguma palavra capaz de animar um amigo aborrecido.
Está freqüentemente pensando naquele parente que há 13 anos não dá
notícias? Não sabe onde está? Procure-o. Mova-se. Busque-o com todos os
meios. Escreva para ele. Use o telefone. Ligue para as emissoras de rádio. Vá à
televisão. E prepare-se para o prazer do reencontro!
Mande breve mensagem para aquela velha amiga com quem você brigou no
fim de semana e diga-lhe: “Você me perdoa?” Ela está ansiosa para reatar a
amizade com você. Tome a iniciativa. Não é humilhação, trata-se de gesto nobre,
próprio de pessoas maduras.
Quando, ao telefone, responderem “alô”, diga: “A paz do Senhor esteja com
você!”. Está com medo da reação? Experimente.
Está em nosso poder transformar as relações humanas. Acredite na força de
sua palavra e utilize-a.
A VIDA
NÃO ACABA
AQUI

“Os mortos são apenas invisíveis,


mas não ausentes.”
Leonardo Boff
Um dos meus colegas, zeloso sacerdote, vítima de hepatite fulminante, foi
arrebatado para Deus, aos 34 anos de idade. Com veneração escrevo e
pronuncio seu nome: José Carlos Feliciano dos Santos.
Pouparei aos leitores a crua descrição do impacto que causou em nós o seu
desaparecimento precoce. Porque era profundamente amado por todos os que
com ele conviveram. Mas ele continua habitando, ainda que de modo invisível, as
repartições onde trabalhava. Como um sacramento portador de bênçãos, sua
fotografia foi acolhida e permanece nas várias dependências que ele dirigia. Há
uma energia boa circulando por aqueles setores que o viam transitar todos os
dias. Com sua constante amabilidade e inesgotável zelo apostólico, ele imprimiu
indelével marca em nossos corações.
Este nosso velho companheiro e amigo, em sua breve existência, ensinou-nos
a valorizar o essencial da vida.
Tenho encontrado muitas pessoas que detestam ouvir falar dos mortos.
Alegam ser este assunto desagradável: melhor falar dos vivos! E eu gostaria de
revelar que a lembrança dos falecidos me faz bem. Principalmente quando se
trata de pessoas que foram significativas em minha vida. Como é o caso de minha
mãe.
A insuficiência cardíaca tirou-a do nosso meio, tendo ela 69 anos de idade.
Coube-me a honra de presidir a missa de corpo presente. Só não sabia se a
comoção me deixaria chegar ao fim da celebração. Contudo, eu já fizera a entrega
a Deus daquela que amei na vida e não tive como segurá-la por mais tempo entre
nós. Lembro-me de ter dito na homilia: “O que temos diante dos olhos não é
minha mãe, é apenas o símbolo dela; minha mãe na verdade está em Deus.”
Estas palavras e esta fé me ajudaram a permanecer sereno durante o velório. A
mãe partiu, mas ficamos com a consciência de que ela, na simplicidade, soube
administrar dignamente sua existência.
Os falecidos, longe de me assustarem, me impulsionam no caminho do bem.
Eles nos ajudam a redimensionar a vida. Apontam para o essencial. Convidam-
nos a VIVER INTENSAMENTE O TEMPO PRESENTE. Admoestam-nos a
respeito das ocasiões desperdiçadas em desavenças familiares.
São os mortos que nos informam não valer a pena arrastar, por anos a fio,
atitudes de ódio, prepotência ou orgulho. Tudo é passageiro. Os defuntos nos
perguntam se estamos deixando neste mundo obras ou virtudes que valham a
pena ser imitadas.
Por causa dos benefícios que a lembrança dos mortos me traz, não fujo deles;
ao contrário, são hóspedes bem-vindos aos meus sonhos e reflexões.

Que sentido você está dando para sua vida?


NÃO DEIXE
PARA
DEPOIS...

“Se tiverem vontade de chorar, chorem.


Se tiverem vontade de rir,
riam às gargalhadas.
Gritem, quando quiserem gritar.
Rolem pelo chão. Espantem a todos.”
Leo Buscaglia
Vivemos na era da comunicação, mas percebo que as pessoas, de modo
geral, não manifestam seus sentimentos mais profundos. As conversas são
superficiais: em vez de favorecer a partilha e a comunhão de vida, se reduzem a
mera troca de banalidades.
Há uma espécie de bloqueio em nós que nos impede de EXPRESSAR O
QUE SENTIMOS; então, muitas vezes camuflamos nossos sentimentos. E
sofremos por isso.
O escritor e sacerdote jesuíta John Powell conta a história de um pai que
amava profundamente seu filho adolescente. Amava, mas não sabia ou não
conseguia manifestar-lhe seu sincero amor. Aconteceu que um inesperado
acidente pôs fim à vida do filho. Para extravasar seu arrependimento, o pai
escreveu um bilhetinho e o pôs sobre o peito do filho:
“Meu querido filho, nunca lhe disse quanto o amava. Nunca lhe disse que você ocupava
uma grande parte do meu coração. Pensei que haveria uma ocasião propícia para isso: quando
se formasse, quando saísse de casa para viver sozinho, quando se casasse. Mas agora você
está morto e nunca haverá uma ocasião propícia. Por isso, escrevo este bilhete desejando que
Deus mande um de seus anjos lê-lo para você. Quero que saiba do meu amor por você e da
minha tristeza por nunca ter-lhe falado desse amor. Seu pai.”
Em geral somos propensos a esconder nossos sentimentos. Reprimimos uma
onda de raiva, abafamos uma irresistível vontade de chorar, perdemos a ocasião
de dizer a uma pessoa simpática: “acho bonito o teu sorriso!”.
Admiramos uma colega de escola, mas negamos-lhe o som de um elogio
sincero. Não a elogiamos por imaginar que ela se tornará orgulhosa. E assim
vamos nos fechando, encurtando os diálogos, reduzindo os relacionamentos.
Paramos de crescer.
Muitos relacionamentos entre casais se desgastam porque são fundados sobre
enganos, mentiras. As pessoas se iludem mutuamente; não se abr em, não
manifestam o que realmente estão sentindo. Gastam muita energia para esconder
a verdade.
Que tal mudarmos o registro: de sentimentos reprimidos para novos relacionamentos?
Diga hoje a quem você admira: “admiro você (por tal motivo)!”
Faça uma agradável surpresa àquela pessoa que ajudou você em situações
críticas. Telefone para revelar-lhe quanto ela é importante para você.
Ou então, escreva uma mensagem de amor a quem você ama de verdade.
Escreva e envie por correio normal ou correio eletrônico.
Deixe seu pai boquiaberto, dizendo-lhe as qualidades que você valoriza nele.
Renove, mediante gesto carinhoso, o amor que sente por sua mãe.
Envolva de emoção a mana caçula, expressando-lhe toda a sua benquerença.

Vamos começar?
Você acha que, depois disso, o mundo ainda será o mesmo?
CONCLUSÃO
Longe de ser uma coletânea de anedotas, os fatos e testemunhos aqui
narrados são suporte para realçar a importância de cultivar boas relações
interpessoais. Sonhei com este livro sendo utilizado nas salas de aula, nos
encontros de jovens e adultos, embora seja útil também para reflexão pessoal.
Não é ousadia pensar assim; é sincera esperança, uma vez que tentei resgatar,
nestas páginas, alguns valores humanos e cristãos, com o intuito de aplicá-los às
relações interpessoais e sociais. Valores perenes que, por diversos motivos, a
sociedade vem abafando e até descartando.
Evitei desenhar, com tintas escuras, o atual panorama dessa mesma
sociedade. Já estamos saturados com as imagens agressivas que vemos
diariamente na imprensa e na tevê. Em geral nos deixam assustados e
apreensivos.
Claro que não podemos ficar inertes, com cara de derrotados, à mercê dos
fatos brutais que ocorrem à nossa volta. Urge buscar, no mais fundo de nós
mesmos, as razões e os meios capazes de neutralizar a força do mal. Nossas
convicções e atitudes mostrarão que é possível arejar o lugar em que vivemos,
torná-lo mais atraente e seguro. Ainda que tenhamos de remar na contracorrente.
Por causa dos limites que nos paralisam, foge do nosso alcance obter grandes
transformações em nós e na sociedade. Mas podemos dar um passo por vez. Sem
dobrar-nos à tentação de desanimar. Quem não gostaria, por exemplo, de superar
um passado de tristeza e dar nova orientação à sua vida?
Voltemos, pois, a rir de corpo inteiro, feito crianças; a liberar o bom humor
que está preso dentro de nós. Sejamos sensíveis aos menores gestos de partilha e
solidariedade, que nos fazem mais humanos e menos máquinas, mais coração e
menos cérebro.
No final da caminhada, colheremos frutos de alegria por termos semeado o
bem, e aos que virão depois de nós entregaremos a herança de um mundo justo,
povoado de irmãos, com os quais Deus terá o prazer de conviver.

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