Adoção e Devolução: Resgatando Histórias (2015) - Patrícia Moraes
Adoção e Devolução: Resgatando Histórias (2015) - Patrícia Moraes
Adoção e Devolução: Resgatando Histórias (2015) - Patrícia Moraes
ADO ÇÃO E
DEVOLUÇAO
Resgatando Histórias
PACO || EDITORIAL
Conselho Editorial
ISBN: 978-85-8148-787-8
CDD: 150
Índices para catálogo sistemático:
Família 306.85
Relacionamento entre pais e filhos 306.874
Psicologia 150
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
A Ana Beatriz, Maria Eduarda e João Pedro
pelo tempo roubado e pelo prazer de viver a
maternidade e a fecundidade do afeto todos
os dias de nossas vidas.
Patrícia Jakeliny Ferreira de Souza Moraes
Referências 133
Glossário 141
SIGLAS
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Os porquês deste estudo
A sobrevivência da ligação diante das “tempestades
emocionais” ou das pequenas “ventanias” dá aos in
tegrantes do grupo familiar o sentimento de uma
vinculação sólida e real. Estamos falando aqui do
que eu chamaria da verdadeira adoção, que é a que
todos almejam, e se caracteriza pelo sentimento vivo
de estar ligado e em sintonia com alguém importan
te. (Levinzon, 2004, p. 133)
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Capítulo 1
Breve percurso histórico
sobre a adoção
1. Adoção no Brasil
Para entendermos a adoção nos tempos atuais é preciso, an
tes de tudo, refletirmos sobre os principais motivos que levam
crianças e adolescentes a serem acolhidos em instituições que re
cebiam o nome de orfanatos e abrigos para menores. O intuito
deste livro não é um resgate histórico sobre esse processo, pois
muitos outros estudiosos já o têm feito de forma exemplar. Esta
colaboração busca contribuir com a discussão sobre adoção cor
relacionando o tema com a legislação atual, especificamente no
que se refere às propostas e determinações da Política Nacional
de Assistência Social (PNAS/2004), do Plano Nacional de Pro
moção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adoles
cente à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC/2006), do
Plano Distrital de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária
(PDCFC/2007) e da Lei 12.010/09.
A adoção constitui-se em uma medida legal2, com caráter de
excepcionalidade e irrevogabilidade, o que vem ganhando grande
repercussão, inclusive em nível jurídico, permitindo maior aber
tura e análise da atuação dos profissionais que trabalham com
a questão. Ainda assim, vislumbramos lacunas acerca de alguns
aspectos práticos que interferem sobre as possibilidades da vincu
lação afetiva e que serão explorados ao longo desta obra.
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8. Iniciado em 2005 por iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância
e Juventude (Unicef), com cooperação técnica da Associação Brasileira Terra dos
Homens e apoio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), do Instituto
Camargo Corrêa e do Instituto C&A, o GT Nacional Pró-Convivência Familiar
e Comunitária reuniu representantes governamentais (estados e municípios) e
não governamentais para a discussão e proposição de parâmetros nacionais para o
atendimento em serviços de acolhimento para crianças e adolescentes.
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13. ECA, art. 101- Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a
autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: (...)
VII – Acolhimento Institucional; VIII – Inclusão em programas de atendimento
familiar; IX – colocação em família substituta.
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Capítulo 2
Aproximação do conceito de família
1. Da família idealizada à família possível
[...] mas as coisas tem que mudar, as famílias estão
se desfazendo. Houve um descompasso da vida fa
miliar. A gente foi criada nesse ambiente de família
[...].F[2][D] (Janete, 2010)
14. Para detalhamento sobre o conceito de família ver Kowalik. Noções do Direito
Familiar, Panóptica, p. 129-149.
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ção dos direitos, das obrigações e a identidade legal pode ser alterada.
A família adotiva deve cumprir com todas as funções de família, não
só as de subsistência material, mas também permitir espaço para a
reconstrução dos vínculos de filiação e colaborar amplamente na in
ternalização do sentimento de autoestima, chave para o processo de
desenvolvimento de uma personalidade sadia e construtiva.
Devido ao recorte dado ao presente trabalho, não estende
remos a discussão sobre as propostas do acolhimento familiar,
porém ressaltamos que essa possibilidade caracteriza também
uma via de proteção à criança e adolescente vítima de abandono.
Assim como a adoção, essa modalidade de acolhimento familiar
também representa uma resposta às necessidades não satisfeitas
pela família biológica, uma resposta que oferece à criança ou
adolescente vítima de abandono uma possibilidade de ter um
ambiente acolhedor, indispensáveis para o seu desenvolvimento.
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Capítulo 3
O fenômeno da adoção em
um contínuo desvelar-se
1. Análises dos fragmentos dos discursos:
a adoção a partir das falas das famílias e da
expressividade das crianças adotivas
Este capítulo apresenta a análise de fragmentos dos discur
sos obtidos pelas entrevistas com quatro famílias que passaram
pelo processo de adoção, bem como a análise dos desenhos dos
seus respectivos filhos adotados. O objetivo foi compreender os
indicadores positivos e negativos que possibilitaram a vinculação
adotiva a partir da teoria apresentada nos capítulos anteriores.
Para melhor visualização dos quatro casos estudados, segue
Tabela 1.
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22. Todos os nomes utilizados nos quatro fragmentos foram substituídos por
pseudônimos, visando preservar o anonimato das famílias entrevistas.
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Joana relatou que Isabel foi “dada” a uma família aos três me
ses, passando por outros três lares diferentes, até completar seis
anos de idade, mencionou que isso se deveu ao “difícil compor
tamento apresentado pela criança”, assim, dizia a entrevistada:
“[...] como ela era uma criança muito difícil, as pessoas sempre a
devolviam [...]”. Depois da última devolução, Joana decidiu-se
pela adoção de Isabel. Essa conduta nos sugeriu uma atitude da
mãe altruísta e amedrontada no que tange à culpabilização defe
rida pela mãe biológica de Isabel.
[...] Quando ela voltou pra casa da mãe, esta me pediu para
que eu ficasse com ela, eu não queria, mas a situação da
família era muito complicada, difícil [...], a mãe ficou me
questionando, eu fiquei com medo de me sentir responsabi
lizada se acontecesse alguma coisa com ela e acabei pegando
a Isabel, exigi que fosse adoção legal.
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[...] meu pai estuprou minha irmã, ele bebia muito, ele está fora
gido da polícia. Minha mãe tentou dar minha irmã para outra
mulher, e para outra, mas as pessoas não quiseram. Minha mãe
nunca tentou dar meu irmão pra ninguém. Não sei se eles es
tão com alguém hoje. Não sei quantos anos eles têm.[...].
Isabel retratou com sua fala uma família violenta, a qual Joa
na nomeou como “complicada”. Todavia, em ambas as falas per
cebemos a urgência de uma intervenção que deveria ter sido via
bilizada na época em que a criança ainda se encontrava morando
com a família biológica, porém em nenhum momento Joana
menciona ter acionado o Conselho Tutelar ou qualquer outro
órgão de garantia dos direitos da criança. O caminho encontrado
para solucionar o sofrimento de Isabel foi sua retirada da família
biológica, a partir de sua adoção.
23. Grifos de Ghirard (2008), que refere-se a Eva Giberti (1992b), a qual utiliza-o
frequentemente para referir-se à origem da criança vista pelos pais adotivos como
“desqualificada”, desvalorizada.
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ela tinha tanta vontade de me fazer sofrer, que era uma coisa im
pressionante [...] alguma coisa ela tem [...]”.
Em outro momento diferente da entrevista com a mãe, so
licitamos a Isabel que fizesse o desenho do que desejava para o
seu futuro. Ela expressou verbalmente e depois pelo desenho, seu
desejo de cuidar de crianças espertas.
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[...] ela sempre foi uma boa pessoa, uma boa mãe, mas era
muito difícil dela me compreender e eu compreender ela.
Era difícil porque ela tinha o jeito dela [...] o que ela passou,
não sei se foi o que ela passou com os pais dela, pra ela ser
daquele jeito que ela sempre foi [...].
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jeito, dizia: Porque você fez isso, porque você fez aquilo,
sendo que eu não tinha feito. Aí ela ficava na cabeça dela
que eu tinha feito, que tinha sido eu, a culpada sempre era
eu. [...] se eu tivesse que mudar alguma coisa, voltar atrás
seria difícil, porque meus pensamentos já são outros, os dela
também, e as coisas mudam, muitas vezes ela já pediu pra
mim voltar, pra ficar com ela que ela ia tentar me compre
ender, mas nunca deu certo [...].
[...] o que eu queria é que tudo na minha vida pudesse dar cer
to, eu pudesse ainda ter essa família, essa família que me ado
tou [...] às vezes bate aquela saudade (chora), mas a saudade é
por conta da convivência que vivi com ela e com meus irmãos.
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com esse irmão era a elaboração da dor da rejeição que ainda estava
muito presente: “[...] esse trabalho meu complicou tudo pra ir lá,
mas ele não me impede não, é questão de tempo pra mim, eu estava
dando um tempo, mas eu vou tentar ir lá, eu vou lá visitar eles.”
Entretanto, quando se viu longe dessa família, Cláudia pro
pôs uma mudança real e significativa em sua vida: “[...] O que
sonho pro meu futuro é ter minha casa, meu carro, meu marido,
meus filhos, penso fazer uma faculdade, me formar. É o que eu
sempre quis e ainda quero.” Seu desejo pareceu somar-se à neces
sidade de mostrar que era capaz de superar as dificuldades que
passou: “[...] vou seguindo minha vida [...] mas a gente tem que
está aí, firme e forte, agradecendo a Deus.”
Em outro momento, durante a entrevista com a mãe, esta
se mostrou comovida quando mencionou a vontade de acolher
novamente a filha. A mãe falou muito do perdão, remetendo-nos
à hipótese de que este ato assumiria o poder de subverter o outro,
qual seja, a devolução:
[...] você quer vir? Quer ter uma mãe? Quer ter uma casa?
Quer comida? Quer ir trabalhar? Quer vir estudar? Então eu
posso oferecer isso pra ela, ela não pode me oferecer nada,
ela é uma pobre coitada [...] eu não preciso dela pra nada.
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[...] é uma culpa que não existe, mas eu penso porque tudo
não poderia ter sido diferente. Eu queria tanto ter conheci
do ele menor, ter poupado ele de sofrimento ruim que ele
deve ter sofrido.
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[...] a adaptação foi muito por ele, essa perda nossa foi uma
perda irreparável, você pode brigar com o Guilherme, danar
com ele, que daqui a dois segundos ele já está com uma carinha
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[...] Esses dias fui falar da mãe dele, porque hoje é que ele
está tocando nesses assuntos, e ele disse, “mas a minha mãe
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[...] sua mãe te amou tanto que te deixou lá, porque se você
tivesse com ela hoje com a situação de vida que ela tinha,
você estaria até no crime, usando drogas, como a gente vê
esses meninos de rua por aí, não é porque eles querem essa
vida pra eles, é porque eles não tem uma estrutura de famí
lia. Então ela percebeu que não ia dá conta de você e preferiu
te deixar lá, do que você depois se envolver no mundo do
crime. Então amar também é isso, acho que você não pode
ter raiva da sua mãe por isso [...] é o que eu falo pra ele, é de
hoje em diante, daqui pra frente, não tem como voltar atrás.
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[...] Ele é meu filho, com tudo que um filho tem de bom e
de ruim. Quando falo de filho eu penso sendo um pedaço
de mim. E ele nasceu do meu coração [...] e faço por ele
tudo o que a gente faz por um filho, de dar a vida, de morrer
de dar um braço, uma perna, ele é amado, amado, eu vejo
ele como um presente de Deus.
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Para Lilian a adaptação com Júlia foi fácil, seu desejo de desen
volver a maternagem já vinha sendo elaborado antes da chegada
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[...] hoje vejo que tem o tempo certo pra começar a orientar
e ela compartilhou muito isso com a irmã, de que estava
muito angustiada, e que foi muita novidade pra ela, muita
coisa nova ao mesmo tempo, era muita coisa pra ela lidar.
Esse processo de treinamento, do novo dentro de uma casa.
[...] acho que por conta de tudo que ela já viveu enquanto
estava no Abrigo, e ver situações de crianças sendo devolvidas,
processos não concretizados, esperanças frustradas, eu acho
que ela veio com essas preocupações, mas eu não me dava
conta que ela vinha com essas preocupações. [...] ninguém
vive cinco ou seis anos dentro de um Abrigo impunemente. E
ela viveu uma realidade muito dolorosa dentro desse Abrigo.
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[...] Não foi só comigo que ela teve uma família, ela teve
essa segurança com essa família aqui dessa casa, com a mi
nha família do Rio, que de cara recebeu ela como membro
da nossa família, pessoas como avó, com a família da Môni
ca que também a acolheu.
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[...] Ela tem qualidades que eu não tenho, ela tem defeitos
que eu não tenho. E nós somos diferentes mesmo, e eu te
nho que respeitar isso. Isso pra mim tem que ser um pro
cesso de muito respeito porque eu não adotei também uma
criança pequena, um processo que não seja só a vontade da
mãe que prevalece, até porque eu também tenho vontade.
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Capítulo 4
Retomando as zonas de sentido
1. Indicadores favoráveis e indicadores
desfavoráveis no processo de adoção
Visando compreender o processo de vinculação adotiva dentro
da dinâmica familiar, identificamos alguns indicadores, que deno
minamos aqui como zonas de sentido, comuns aos participantes
desse estudo, que tiveram grande relevância no processo de adoção.
É imprescindível mencionar que, devido à complexidade e diversi
dade de cada caso estudado, fez-se necessário distribuir as zonas de
sentido por família pesquisada, o que possibilitou a identificação
das semelhanças e diferenças presentes nos discursos dos sujeitos.
Desse modo, analisamos os conteúdos das entrevistas confor
me conceitua González-Rey (2002), classificando-os em zonas de
sentido. Para o autor, o pesquisador progressivamente vai cons
truindo os elementos que considera relevantes. Ele ainda refere
-se às zonas de sentido como:
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mais sobre a história de vida que ela traz, saber o que ela vai precisar
que tipo de acolhimento será necessário oferecer, quais são os desejos
e os sonhos dessa criança. É imprescindível que tanto a criança como
a família se conheçam minimamente antes do encontro concreto.
A Lei 12.010/09 trouxe um avanço em termos de reflexão sobre
adoção, pois passou a exigir que os candidatos a pais por adoção
passem pelo processo de preparação. Todavia, a lei coloca isso an
tes do estudo psicossocial. Isso ainda continua sendo um entrave,
pois o espaço de tempo entre esse preparo, o estudo e o acolhimen
to de uma criança na família adotiva é muito extenso, salvo raras
exceções. Isso continua interferindo no distanciamento do que é
trabalhado nos programas de preparação para adoção e no que a
família vive em seu encontro real com a criança adotada. Talvez um
acompanhamento mais sistematizado no estágio de convivência
possibilitasse a essas famílias lidar com seus anseios e medos quando
a criança imaginada se torna real. Entendemos aqui que o processo
ideal de adoção necessita de dois momentos, o que antecede o psi
cossocial, e o que antecede a ida da criança para essa família.
Esta questão é bastante complexa, coordenar as necessidades
dos pais e das crianças representa um constante desafio para os
profissionais que lidam com o tema, pois requer tanto do Judici
ário como do Executivo uma sensibilização sobre a causa. Além
disso, requer ações pontuais, como a contratação de mais profis
sionais preparados sobre o tema para efetivação dos programas
de adoção, assim como o aumento no quadro funcional do Ju
diciário para a realização dos estudos psicossociais; a contratação
de profissionais preparados nos serviços de acolhimento, visando
uma preparação da saída da criança, mais grupos terapêuticos
com espaços para discussões das demandas reais que a criança
apresenta após o acolhimento na família adotiva e, sobretudo,
ações processuais que ultrapassem os entraves burocráticos.
Sobre o último ponto indicado acima, Winnicott (1999)
afirma que a demora pode ser séria e destruir um bom trabalho,
de modo que quando os pais recebem a criança, muita coisa já
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Considerações finais
Encontros e desencontros nos
processos de adoção
A compreensão da vinculação afetiva na adoção teve como aporte
teórico a teoria familiar sistêmica e a teoria do vínculo de Pichon-Ri
vière (1986). Essas duas teorias viabilizaram entender o processo de
adoção pela análise dos vínculos internos e externos desenvolvidos
no processo de filiação. Além disso, as análises dos discursos e da ex
pressividade das crianças contaram com a leitura prévia de algumas
bibliografias que circunscrevem o tema da adoção.
A partir do entendimento teórico foi possível o aprofunda
mento das zonas de sentido comuns a todos os sujeitos entrevista
dos que se desenvolveram na seguinte ordem: o desejo e sua falta; a
relação entre as motivações, o altruísmo e a realidade vivenciadas no
processo de adoção; a desvelação da família de origem como condi
ção do vínculo; a criança imaginária e a criança real; a preparação da
criança e do requerente para adoção, a partir da viabilização institu
cional; o vínculo familiar estendido e por fim a devolução a partir
da análise do silêncio dos pais e do sofrimento dos filhos adotivos.
Nesse sentido, identificamos como indicadores favoráveis à
adoção: a elaboração das motivações dos requerentes, a partir do
apoio institucional contínuo e do apoio de toda a rede relacional
da família adotante. Concluímos que quanto mais claros esta
vam para os requerentes os desafios da adoção, mais elaborado e
aceito foi para eles trabalharem suas limitações. Todavia, identi
ficamos uma preparação mais elaborada apenas na F[4][AP], que
inclusive não partiu do acompanhamento do Judiciário, nem do
serviço de acolhimento e sim da contratação de serviços particu
lares por essa família adotante.
Há de se considerar que tanto pais quanto filhos adotivos
devam ter à sua disposição serviços públicos que disponham de
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REFERÊNCIAS
AMARO, S. Crianças vítimas de violência: das sombras do so
frimento à genealogia da resistência – uma nova teoria científica.
Porto Alegre: AGE/EDIPURS, 2003.
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GLOSSÁRIO
Sistema de Garantia dos Direitos
É o conjunto de órgãos, entidades, autoridades, programas e
serviços de atendimento a crianças, adolescentes e suas respec
tivas famílias, que devem atuar de forma articulada e integrada
na busca de sua proteção integral, nos moldes do previsto pelo
ECA e pela Constituição Federal. Estes, por sua vez, ao enu
merar direitos, estabelecer princípios e diretrizes da política de
atendimento, definir competências e atribuições, instalaram um
sistema de “proteção geral de direitos” de crianças e adolescentes
cujo intuito é a efetiva implementação da Doutrina da Proteção
Integral. Esse sistema convencionou-se chamar de Sistema de
Garantia de Direitos. Nele incluem-se princípios e normas que
regem a política de atenção a crianças e adolescentes cujas ações
são promovidas pelo Poder Público (em suas esferas: União, esta
dos, Distrito Federal e municípios e Poderes Executivo, Legisla
tivo e Judiciário) e pela sociedade civil, sob três eixos: promoção,
defesa e controle social.
Proteção Social
Entende-se por proteção social as formas institucionalizadas que
as sociedades constituem para proteger parte ou o conjunto de
seus membros. Tais sistemas decorrem da ocorrência de certas vi
cissitudes da vida natural ou social, tais como a velhice, a doença,
o infortúnio, as privações. Neste conceito incluem-se também
tanto as formas seletivas de distribuição e redistribuição de bens
materiais (como a comida e o dinheiro) quanto os bens culturais
(como os saberes), que permitirão a sobrevivência e a integração,
sob várias formas, na vida social. Ainda, os princípios reguladores
e as normas que, com o intuito de proteção, fazem parte da vida
das coletividades (DiGiovani, citado em PNAS, 2004).
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Título Adoção e Devolução: Resgatando Histórias
Autor Patrícia Jakeliny F. S. Moraes
Vicente de Paula Faleiros
Coordenação Editorial Kátia Ayache
Assistência Editorial Augusto Pacheco Romano
Capa e Projeto Gráfico Matheus de Alexandro
Assistência Gráfica Bruno Balota
Preparação e Revisão Melissa Lemos
Formato 14 x 21 cm
Número de Páginas 148
Tipografia Adobe Garamond Pro
Papel Alta Alvura Alcalino 75g/m2
Impressão Psi7
1ª Edição Dezembro de 2014
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