Eletrônica de Potência - Introdução À Disciplina
Eletrônica de Potência - Introdução À Disciplina
Eletrônica de Potência - Introdução À Disciplina
Pomilio
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http://www.dsce.fee.unicamp.br/~antenor/pdffiles/ee833/hist.pdf
Eletrônica de Potência J. A. Pomilio
Seja com máquinas eólicas, hidráulicas ou a vapor, a transmissão da energia se fazia de forma
mecânica, por meio de eixos, roldanas, engrenagens, etc., como ilustrado a seguir. O controle
independente de cada tipo de maquinário era, assim, de maior complexidade e limitado em termos de
flexibilidade de aplicações. Em outras palavras, a energia mecânica não se constitui em um bom vetor
energético, ou seja, é difícil de ser levada de um local a outro e conveniente transformada.
Transmissão mecânica de força motriz: tração animal, roda d’água e máquina a vapor
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A eletricidade
A eletricidade, como tema de investigação científica remonta ao século XVIII. Desde a
antiguidade a produção de eletricidade se fazia apenas por meio eletrostático, o que significava a
capacidade de obter um potencial elétrico elevado, mas fortemente dependente do processo de descarga,
ou seja, não se dispunha de uma fonte de tensão minimamente constante e, assim, da possibilidade de
obter uma corrente constante de valor significativo.
Na segunda metade do século XVIII, um assistente de médico italiano Luigi Galvani1, ao tocar
o nervo ciático de uma rã com um escalpelo metálico, verificou uma contração muscular na região tocada
sempre que uma máquina eletrostática produzia uma faísca. Tal observação fez com que Galvani
investigasse a relação entre a eletricidade e a animação - ou vida. Os resultados das investigações de
Galvani geraram muita especulação sobre tal relação. Não à toa, a escritora Mary Shelley em
romance Frankenstein, vincula a animação do corpo do ser criado pelo Dr. Frankenstein a uma descarga
de eletricidade.
Cena do filme “Jovem Frankenstein” (Mel Brooks, 1974), na qual uma descarga elétrica confere vida ao
novo ser.
No entanto Galvani não via a eletricidade como a essência da vida, acreditando que a eletricidade
animal vinha do músculo. A divulgação de suas descobertas levaram à invenção da primeira bateria
elétrica por Alessandro Volta2.
Volta fez observações no trabalho de Galvani e realizou experimentos próprios, concluindo que as
rãs não produziam eletricidade. O que ocorria era que os metais utilizados na conexão dos nervos e
músculos da rã geravam a eletricidade, e a passagem da corrente causava as contrações. Volta percebeu
que as contrações nos músculos das rãs ocorriam e continuavam enquanto houvesse um circuito e que
fossem utilizados contatos de metais heterogêneos. Disto ele concluiu que o princípio de excitação residia
nos metais. Concluiu também que a corrente elétrica surgia quando estes metais estavam separados por
um meio condutor, como as pernas da rã ou uma solução salina e o músculo funcionava apenas como um
condutor e detector biológico da corrente elétrica.
1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Luigi_Galvani
2
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alessandro_Volta
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Em 1800 Volta idealizou a pilha voltaica, dispondo diversos discos metálicos empilhados em
série, separados por discos de feltro encharcados de solução condutora.
Bateria de Volta
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/54/VoltaBattery.JPG/450px-VoltaBattery.JPG
Com tal invenção, os estudiosos da eletricidade passaram a dispor de uma fonte perene de
eletricidade, que teve resultados revolucionários. A produção de eletricidade, ao longo de toda a primeira
metade do século XIX provinha, pois, de reações eletroquímicas, fontes de Corrente Contínua (CC). A
primeira bateria recarregável, do tipo chumbo-ácido, foi inventada em 1859, por Gaston Plantè.
As pesquisas realizadas na primeira metade do século XIX resultaram nas descobertas das leis
fundamentais do eletromagnetismo. As descobertas de Michael Faraday e Joseph Henry, de forma
autônoma, em 1831, fazendo a vinculação dos fenômenos elétricos aos magnéticos, abriram as portas para
outras formas de produção de energia elétrica, em maior quantidade e, portanto, à aplicação produtiva da
eletricidade.
Faraday Henry
Poucos anos depois, conhecida a propriedade de campos eletromagnéticos interagirem entre si,
produzindo ação mecânica, começaram os desenvolvimentos dos motores elétricos3.
3
http://en.wikipedia.org/wiki/Electric_motor
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Dínamo de Siemens5 (esq.) e de Gramme (dir)6 e dínamo de seis polos7 patenteado por René Thury em
1883 (abaixo).
4
Massimo Guarnieri, “The Beginning of Electric Energy Transmission: part One”, IEEE Industrial Electronics Magazine,
March 2013. http://ieeexplore.ieee.org/stamp/stamp.jsp?tp=&arnumber=6482228
5
http://www.siemens.com/history/en/news/1057_dynamoelectric_principles.htm
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Nesse mesmo ano Galileo Ferraris desenvolveu estudos sobre o dispositivo de Gaulard e
identificou a existência de defasagem entre tensão e corrente, definindo os conceitos de potência ativa e
de fator de potência. Em 1885, Ferraris produziu um campo girante a partir de duas tensões defasadas,
sendo considerado, juntamente com Tesla, inventor do motor de indução.
Ainda em 1885, Otto Bláthy construiu um dispositivo com núcleo magnético fechado,
denominando-o de “transformador”. A invenção do transformador permitiu, por meio do ajuste das
relações de espiras, a efetivação do conceito de transmissão de energia em CA, com diversos
transformadores alimentados por uma mesma fonte de tensão e com secundários independentes.
Em 1888, Nikola Tesla inventa o motor de indução. As vantagens do uso de CA para transmissão
e distribuição de energia elétrica fizeram desta tecnologia a responsável pela formidável expansão da
eletrificação a partir do final do século XIX.
O funcionamento dos motores CA em velocidade constante, no entanto, impedia seu uso em
aplicações veiculares (trens, bondes, etc.) ou alguns processos industriais, como laminadoras. Nestas
aplicações, o motor CC mantinha seu predomínio, já que facilmente se alterava sua velocidade, mantendo
a necessidade de fornecimento de energia em corrente contínua, em potências relativamente elevadas.
Os sistemas de transmissão de energia em CC assumiram valores compatíveis com as aplicações
de transporte: 600 V em uso urbano (bondes), 1,5 kV em uso ferroviário (vias isoladas). Alguns sistemas
de transmissão com tensão mais elevada foram testados no final do século XIX, fazendo uso de
associações série de geradores e de cargas. As limitações técnicas de tal solução, combinadas com a
rápida implantação de sistemas CA, manteve linhas de alimentação CC limitadas aos sistemas de
transporte.
6
http://www.hbci.com/~wenonah/history/img/ed10.jpg
7
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rene_Thury_six_pole_dynamo.jpg
8
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/15/DMM_18206_Verteiltransformator_Gaulard_und_Gibbs.jpg
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http://en.wikipedia.org/wiki/File:DBZ_trafo.jpg
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http://www.sciencemuseum.org.uk/images/object_images/535x535/10323393.jpg
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http://twinkle_toes_engineering.home.comcast.net/~twinkle_toes_engineering/tesla_patent_381968.gif
12
A CCTLF inaugurou seu sistema de bondes elétricos com bitola métrica em 24 de junho de 1912. O cartão postal mostra o
veículo 38 na Avenida Andrade Neves em 1920. http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=470828
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O início da eletrônica
No início do século XX, a partir de experimentos realizados por Edison, que introduziu um eletrodo
com potencial positivo em sua lâmpada de filamento para evitar que houvesse deposição de material no
bulbo, Ambrose Fleming 13 identificou a capacidade de este dispositivo atuar como retificador. Ou seja,
converter uma alimentação CA em CC. Uma vez que a produção de eletricidade já se faz em CA, essa
invenção possibilitou o processamento da energia elétrica de forma a se adequar às cargas CC.
Foram também desenvolvidos outros dispositivos retificadores, como as válvulas a arco de
mercúrio 14, mais adequadas a aplicações de potência elevada, devido à maior capacidade de corrente
devido ao plasma criado pelo arco. Seu uso permitiu substituir os grupos motores-geradores para
produção de corrente contínua necessária aos sistemas de tração 15.
Nos anos 20 do século passado surgiu a Thyratron 16, que não é um dispositivo a vácuo, uma vez
que seu interior é ocupado por algum gás, responsável por ampliar a quantidade de íons e, em
consequência, a capacidade de condução de corrente. Seu comportamento é o de um interruptor que é
acionado por um terminal de disparo.
Com este dispositivo foi possível aprimorar os processos alimentados em CC, pois se tornou
viável o ajuste do valor da tensão e/ou corrente por meio de uma retificação controlada.
Ambrose Fleming e o Diodo à vácuo17, Thyratron a vapor de mercúrio, utilizada até 1950 18
Em 1925 fora registrada uma patente (concedida em 1930 a Julius Edgard Lilienfeld, reproduzida
a seguir) que se referia a “um método e um dispositivo para controlar o fluxo de uma corrente elétrica
entre dois terminais de um sólido condutor”. Tal patente, que pode ser considerada a precursora do que
viriam a ser os Transistores de Efeito de Campo de Junção (JFET), no entanto, não redundou em um
componente prático, uma vez que não havia, então, tecnologia que permitisse a construção do dispositivo,
nem havia material com a condição de condutividade necessária ao funcionamento do dispositivo. Isto se
modificou a partir do final da década de 40, com a nova tecnologia dos semicondutores.
13
http://www.radio-electronics.com/info/radio_history/valve/hov.php
14
http://en.wikipedia.org/wiki/Mercury_arc_valve
15
Frank Dittmann, “The development of power electronics in Europe”, acessível em
www.ieeeghn.org/wiki/images/a/a7/DITTMANN.pdf
16
http://en.wikipedia.org/wiki/Thyratron
17
http://www.r-type.org/pics/aag0010.jpg
18
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Thyratron-Mercure.JPG
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Julius Edgard Lilenfeld e desenhos de sua patente do que viria a ser, décadas depois, um JFET19
Pedido de patente de dispositivo que aprtesenta o princípio de funcionamento dos transistores de efeito de
campo.
19
M. Guarnieri, “Trailblazers in Solid-State Electronics”, IEEE Industrial Electronics Magazine, December 2011, pp.
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O alto rendimento exigido no processamento da energia elétrica faz com que os dispositivos
devam atuar como interruptor quando, idealmente, não dissipam potência, pois apresentam ou tensão nula
(quando conduzem) ou corrente nula (quando abertos). A transição de um estado a outro, idealmente,
deve ser instantânea.
O primeiro dispositivo de estado sólido, que marca o nascimento do campo tecnológico a que
denominamos Eletrônica de Potência foi o SCR (Retificador Controlado de Silício), denominação dada
pela General Electric, em 1958 22,23. Tratava-se de um dispositivo com o mesmo comportamento biestável
da thyratron. Por tal razão, a denominação que se estabeleceu para o componente foi Tiristor.
20
http://nobelprize.org/educational/physics/transistor/history/
21
http://www.ti.com/corp/docs/company/history/timeline/popup.htm
22
Wilson, T.G. “The Evolution of Power Electronics”, IEEE Transactions on Power Electronics, Volume: 15 Issue:3, May
2000, page(s): 439 - 446
23
Masao Yano, Shigeru Abe, Eiichi Ohno, “History of Power Electronics for Motor Drives in Japan”, acessível em
www.ieeeghn.org/wiki/images/4/49/Yano2.pdf
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O sucesso dos inversores, ao permitir o controle de velocidade dos motores de indução, a partir
dos anos 90, praticamente eliminou o uso dos motores CC de escovas. É certo que ainda existem
aplicações com tais motores, mas os processos de troca de equipamentos sempre apresentam vantagens
para o uso dos motores CA associados aos inversores.
27
MOHAN, UNDERLAND, ROBBINS “Power Electronics: Converters, Applications and Design”, 2 nd edition, John Wiley,
1994.
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Sem Eletrônica de Potência não se aproveitam adequadamente as fontes limpas e renováveis de energia.
http://keetsa.com/blog/wp-content/uploads/2009/02/solar-wind-power.jpg
V
(kV)
12
SCR 12kV/1.5kA
10
8
6.5kV/
0.6kA 6.5kV/4.2kA
6 6kV/6kA
GTO/IGCT 4.8kV/5kA
4
2.5kV/1.8kA
2 1.7kV/3.6kA
IGBT
0 1 2 3 4 5 6 I(kA)
Materiais Emergentes
A Tabela I mostra propriedades de diversos materiais a partir dos quais se pode, potencialmente,
produzir dispositivos semicondutores de potência.
Carbetos de Silício são materiais sobre os quais se fazem intensas pesquisas. O gap de energia é
maior que o dobro do Si, permitindo operação em temperaturas elevadas. Adicionalmente apresenta
elevada condutividade térmica (que é baixa para GaAs), facilitando a dissipação do calor produzido no
interior do semicondutor. Sua principal vantagem em relação tanto ao Si quanto ao GaAs é a intensidade
de campo elétrico de ruptura, que é aumentada em uma ordem de grandeza. Outro material de interesse
potencial é o diamante. Apresenta, dentre todos estes materiais, o maior gap de energia, a maior
condutividade térmica e a maior intensidade de campo elétrico, além de elevada mobilidade de
portadores.
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Na tabela III tem-se, para um dispositivo que deve suportar 1 kV, as necessidades de dopagem e o
comprimento da região de deriva. Um dispositivo de diamante seria capaz de suportar 1 kV com uma
dopagem elevada com um comprimento de apenas 2 m, ou seja, 50 vezes menos que um componente
equivalente de Si.
Tabela III Dopagem e comprimento da região de deriva necessário para uma junção abrupta suportar 1
kV
Material Si GaAs SiC Diamante
-3 14 14 16
Dopagem (cm ) 1,3.10 5,7.10 1,1.10 1,5.1017
Comprimento (m) 100 50 10 2
Na tabela IV tem-se expressa a redução no tempo de vida dos portadores no interior da região de
deriva. Este parâmetro tem implicações sobre a velocidade de comutação dos dispositivos, sendo, assim,
esperável que componentes de diamante, sejam algumas ordens de grandeza mais rápidos que os atuais
componentes de Si.
Tabela IV Tempo de vida de portador (na região de deriva) para uma junção pn com ruptura de 1000 V
Material Si GaAs SiC Diamante
Tempo de vida 1,2 s 0,11 s 40 ns 7 ns
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