COSTA, Umbundismo Angola PDF
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Abril de 2015
Umbundismos no Português de Angola
Abril de 2015
DECLARAÇÃO
A candidata,
__________________________________________________________
Lisboa, _________de_____________de____________
Declaro que esta tese se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar.
A Orientadora,
___________________________________________________
Lisboa, _______de________________de__________________
Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Doutor em Linguística, na área de especialização em Lexicologia,
Lexicografia e Terminologia, realizada sob a orientação científica da Professora
Doutora Maria Teresa Rijo da Fonseca Lino.
a)
DEDICATÓRIA
b)
AGRADECIMENTOS
c)
UMBUNDISMOS NO PORTUGUÊS EM ANGOLA
d)
RESUMO
e)
Abstract
f)
LISTA DE ABREVIATURAS
LA(s)----------------------------------------Línguas Africanas
LO-------------------------------------------Língua Oficial
LP-------------------------------------------Língua Portuguesa
LM------------------------------------------Língua Materna
LE-------------------------------------------Língua Estrangeira
L1-------------------------------------------Língua Primeira
L2-------------------------------------------Língua Segunda
Lu-------------------------------------------Língua umbundu
Lh-------------------------------------------Língua de Hospedagem
PE-------------------------------------------Português Europeu
PA-------------------------------------------Português em Angola
JA-------------------------------------------Jornal de Angola
La-------------------------------------------Língua Angolana
La(s)----------------------------------------Línguas Angolanas
LL-------------------------------------------Língua Local
LL(s)----------------------------------------Línguas Locais
LN(s)---------------------------------------Línguas Locais
Lkik-----------------------------------------Língua kikongo
Or.des.-------------------------------------Origem desconhecida
g)
Or. LB-------------------------------------Origem Língua Bantu
Kimb---------------------------------------Kimbundu
Kik-----------------------------------------Kikongo
n.f.----------------------------------------Nome Feminino
n.m.--------------------------------------Nome Masculino
Lo-----------------------------------------Língua de Origem
cl.-----------------------------------------Classe
n.n.---------------------------------------Nome Neutro
Ul------------------------------------------Unidade lexical
Ul(s)---------------------------------------Unidades lexicais
h)
INDICE
0- INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------1
0.1- Contextualização------------------------------------------------------------------------------------3
0.2- Objectivos---------------------------------------------------------------------------------------------5
0.3- Hipóteses----------------------------------------------------------------------------------------------6
2.3- Terminologia-----------------------------------------------------------------------------------------41
i)
2.4- Inovação Lexical e Formação de Novas Unidades Lexicais-------------------------------43
2.4.1- Neologia--------------------------------------------------------------------------------------------48
2.5-Língua e Cultura-------------------------------------------------------------------------------------54
j)
3.4.2.4- Processos morfológicos utilizados nos processos de umbundização------------91
k)
4.3.6- Alguns Umbundismos relativos a Animais-----------------------------------------------154
5.1.1- O dicionário--------------------------------------------------------------------------------------175
5.1.3- A dicionarística----------------------------------------------------------------------------------182
6. CONCLUSÃO------------------------------------------------------------------------------------------192
7. BIBLIOGRAFIA----------------------------------------------------------------------------------------196
l)
7.3.1. Jornais e Revistas (angolanas)---------------------------------------------------------------204
7.4. Sites--------------------------------------------------------------------------------------------------204
m)
8. LISTA DE FIGURAS
n)
9. LISTA DE QUADROS
9. 18. QUADRO 18: Aspectos da Substituição da Consoante /s/ pela Dupla /ss/-------110
9.19. QUADRO 19: Aspectos da Substituição da Consoante /C/ pelo Dígrafo /Ch/----111
o)
9.21. QUADRO 21: Aspectos da Substituição de Consoantes--------------------------------112
p)
10. ANEXOS--------------------------------------------------------------------------------------------------I
q)
INTRODUÇÃO
1
A nossa investigação tem como tema “Umbundismos no Português de Angola –
Proposta de um Dicionário de Umbundismos.”
2
Actualmente, apesar de uma grande parte dos jovens angolanos não saber
expressar-se em línguas nacionais, essa mesma juventude (e não só) procura conhecer
cada vez mais as suas raízes e tradições e na sua comunicação em Língua Portuguesa,
embora inconscientemente recorre, frequentemente, a unidades lexicais e expressões
próprias dessas línguas, aportuguesando-as, fazendo com que a variante do Português
ganhe uma característica peculiar. Aliás, não é em vão que grande parte de músicos
angolanos cante em línguas nacionais, sobretudo em Kimbundu e Umbundu;
mencionamos apenas alguns exemplos como o conceituado músico Barceló de
Carvalho “Bonga”, Lourdes Van-Dúnem, Jacinto Tchipa e outros.
0.1. Contextualização
3
deve encorajar os investigadores, no sentido de “acompanhar” e aprofundar mais a
questão, de forma a encontrar os benefícios dessas transformações, pois a língua,
como já referimos, reflecte, antes de tudo, a realidade cultural de um povo.
4
0.2. Objectivos
Com este estudo, pensamos contribuir, num futuro (a médio prazo), para a
elaboração de um Dicionário Bilingue Umbundu- Português, apresentando um estudo
por equivalências, de maneira a servir melhor o público de todo o espaço lusófono que
queira visitar ou viver no Centro-sul de Angola.
0.3. Hipóteses
6
- No Português em Angola estão presentes os empréstimos lexicais
provenientes das Línguas Nacionais, muito em especial do Umbundu, que
apresentámos ao longo deste trabalho;
7
Por último, efectuámos a análise dos diferentes tipos de Umbundismos
encontrados no Português contemporâneo de Angola.
8
CAPÍTULO I
GEOLINGUÍSTICO ANGOLANO
9
1.1. Situação Sociolinguística
Segundo pesquisas feitas por Amélia Mingas (2000: 35- 36), em termos de
falantes, estatisticamente, estima-se que a Língua Umbundu ocupe o primeiro lugar,
totalizando cerca de 2.500.000 locutores, num universo constituído por diversas
Línguas Nacionais. Porém, segundo as nossas investigações, a julgar pelo cessar da
guerra, em 2002, este número pode ter aumentado significativamente, pois houve
uma explosão dos ovimbundu que viveram vários anos no cativeiro da UNITA e com a
paz, regressaram às cidades, vindo a engrossar o número estimado por Amélia Mingas
em 2000. Pesquisas muito mais recentes ainda apontam para a existência de mais de
5.500.000 falantes do Umbundu; como referimos acima, hoje, esses dados carecem de
10
confirmação, facto que será feito, em finais de 2015, com a publicação dos resultados
do censo populacional, realizado em Maio de 2014.
in FERNANDES, J., NTONDO, Z., (2002: 57), Angola Povos e Línguas, Editorial Nzila, Luanda
11
1.1.1. Línguas bantu e não-bantu em Angola
Teophile Obenga (cf. 1977: 376) afirma que ao classificar as línguas bantu
significa classificar as diferentes etnias bantu, pois estas são designadas pelo mesmo
termo, que serve para designar os seus falantes.
Por sua vez significa pessoa/as, vindo do lexema muntu (singular) e bantu
(plural).
12
Esta designação surge pela primeira vez na obra de Wilhelm Bleek, em 1862,
fazendo referência a um conjunto de línguas, com características comuns, línguas
essas que eram faladas, maioritariamente, na África ao sul do Equador.
Assim, podemos afirmar que o povo bantu fala línguas pertencentes à mesma
família de línguas, embora englobe etnias diversificadas.
13
(província do Kwanza-Sul), a Sul, a Língua Nhyaneka – Humbi e o Oshihelelo, (na Huíla)
e ainda a sudoeste, encontramos a Língua Ngangela, na província do Kwando-
Kubango.
Apesar dessas áreas, e segundo Zavoni Ntondo (cf. 2002: 55), a língua em
estudo estende-se por outras províncias vizinhas, como: Namibe, parte nordeste do
Kwando- Kubango, Huíla e parte sul da província do Kwanza-Sul.
Sem medo de errar, hoje, podemos encontrar uma boa parte da comunidade
linguística umbundu, na capital do país, por ser o ponto de confluência de todas as
línguas do país.
14
1.1.2.1. Alguns costumes dos ovimbundu
Cada povo tem os seus costumes, a sua maneira de estar na sociedade que de
alguma forma reflectem a sua cultura.
Para os ovimbundu, o dançarino passa a ser visto como uma figura pública que
domina a arte da dança, conquistando assim um espaço de referência na sociedade em
que está inserido.
15
Culturalmente, essa dança é usada na komba (em que se despe o luto,
depois de terminado o tempo estipulado) de quem em vida também foi
dançarina dessa modalidade.
FIGURA Nº 01
Dança só de mulheres
16
Esta cerimónia conhece o seu término com o enterrar dos umbigos das
crianças junto ao cruzamento e as roupas da parturiente, no momento do parto, são
atiradas ao rio, pelo curandeiro que acompanhou o parto e os primeiros dias desses
bebés. Chegada a hora da atribuição dos nomes, esses bebés, recebem os nomes dos
animais mais temidos na fauna angolana. Segundo os pares nascidos, eles serão:
FIGURA Nº 02
FIGURA Nº 03
17
Segundo os costumes, ao longo do seu crescimento esses bebés devem ser
tratados de igual forma; devem usar roupas idênticas e serem alvos dos mesmos
direitos, evitando assim possíveis ciúmes e aborrecimentos entre eles.
Se por infelicidade um dos gémeos morre, a mãe não deve chorar, nem
entristecer-se diante do outro sobrevivente, evitando assim que o outro irmão se
aperceba do óbito.
Para além destes, existem outros costumes, como é o caso dos akokoto e da
chuva.
O povo ovimbundu venera muito os seus antepassados. Para isso, constrói
pequenas casotas, que designam por akokoto ou atambo (segundo o caso), onde
depositam os seus venerandos. Considera-se o akokoto um lugar sagrado, onde
encontramos sepulturas dos antepassados.
Na cultura dos ovimbundu, embora hoje já com tendência a desaparecer,
existe a crença de que, quando uma pessoa morre, o seu espírito permanece entre os
seus, como uma manifestação efectiva do poder, da personalidade e conhecimento
dessa mesma pessoa na sociedade.
Por isso, crê-se que os espíritos têm uma influência poderosa sobre os vivos.
Daí o cuidar bem dos seus túmulos para que não haja uma “revolta” desses espíritos.
É permitido visitar esses akokoto. Porém há uma série de rituais à volta dessa
permissão. Para se ter acesso a essa visita é necessário que os visitantes unjam os
pulsos e os tornozelos com óleo de palma e de elimbui (um produto cujo nome vem de
elimbo que significa purificação). Depois de ser ungido e purificado, então o visitante
tem acesso ao akokoto.
Essa visita é acompanhada por um guia, uma pessoa indicada pela corte da
embala, que geralmente é um soba e cabe a ele tomar a dianteira (ir sempre à frente).
Quando o local a visitar é o etambo, lugar onde se encontram as caveiras dos
antepassados, o ritual de purificação é bastante mais rigoroso. Usa-se o primeiro passo
18
do processo anterior; em seguida, o visitante deposita uma quantia monetária no
balaio; em seguida, entrega-se à autoridade uma garrafa de walende (aguardente) e
um galo. Depois de se realizar o ritual com todos os elementos entregues, então pode-
se entrar no etambo.
FIGURA Nº 04
Cisângua
19
Terminado o ritual, se não chover, é sinal de que os antepassados não
gostaram da cerimónia. Será necessário repetir a cerimónia. Caso chova, é sinal de que
os antepassados gostaram muito do ritual feito.
Os ovimbundu existem há muitos séculos, ao longo dos quais foram
acumulando experiências e vivências que, hoje, resultam numa cultura complexa.
Assim, as crenças e os costumes são o resultado das vivências desta
sociedade.
20
europeias (caso do inglês). Essa realidade, por um lado mostra a carência de
autonomia gráfica da Língua Umbundu e, por outro lado, constitui uma oportunidade
para tornar fácil a leitura e a escrita, nessa língua, para os seus principiantes que
possuam alguns conhecimentos dos sistemasgráficos das línguas bantu e das línguas
neolatinas.
Malcom Guthrie (cf. 1948: 50), pesquisador das línguas africanas, classificou as
línguas bantu em grupos denominados de “zonas” e, por conseguinte, atribuiu uma
letra a cada uma dessas zonas e um número à cada língua de cada zona diferente.
É sabido que a Língua Portuguesa foi um legado trazido pelos portugueses para
o nosso país; desde a sua chegada, conviveu e continua a conviver com outras línguas
encontradas, que são as línguas de origem bantu.
António Costa, citado por Muamba Neto (cf. 2012: 26), afirma que a existência
da Língua Portuguesa, em Angola, ocorre numa sociedade caracterizada por uma forte
estratificação linguística, partilhando o mesmo espaço sociológico com os outros
idiomas geneticamente distintos. É esse facto que faz com que Angola seja um país
plurilingue, tal como a maioria dos países africanos, possuindo uma composição
sociolinguística muito complexa e heterogénea.
A aposta na eliminação das línguas dos autóctones era tão grande que o
famoso decreto nº 77 de 9 de Dezembro de 1921 comportava os seguintes artigos:
22
Art.3º- “O uso da língua indígena só é permitido, em linguagem
falada, na catequese;”
23
ideologia colonial, os nativos só podiam tornar-se «civilizados»
depois de demonstrarem o domínio da língua portuguesa. Como
consequência desta ideologia colonial, as autoridades coloniais
baniram as línguas autóctones dos domínios institucionais, o que
condicionava a mobilidade social ao conhecimento do português.
Por exemplo, a partir dos princípios do séc. XX, tornou-se política
obrigatória que todas as escolas usassem o português como meio
de ensino”.
Porém essa chamada de atenção para tal valorização, não lhes concede, de
imediato, o estatuto de línguas oficiais a par do Português. Esse é apenas o privilégio
do Português.
De salientar que, em Angola, ainda hoje, podemos encontrar pessoas que não
falam o Português, mas sim, a sua língua autóctone, como língua materna,
principalmente nas zonas rurais. Para essas pessoas, o Português, se o souber falar,
será uma língua segunda.
24
comunicação, ainda é bastante grande, sobretudo nas zonas rurais.
Havia ainda uma outra novidade; é que esse ensino era feito, exclusivamente,
na língua materna das crianças, em Umbundu, no caso. Foi um esforço muito grande
feito pelos missionários, pois tinham eles, primeiro, de aprender a língua dos
autóctones para depois ensinar nessa língua. Tal esforço resultou numa publicação, em
1914, na Missão de Kamundongo, no Bié, de uma obra em Umbundu, intitulada:
“elivulu lyoku lilongisa okutanga”, com a seguinte tradução em português «O livro para
25
aprender a ler».
É de salientar que, esse contributo, virado para as línguas nacionais, era apenas
autorizado para as Missões cristãs evangélicas. As missões católicas não podiam
ensinar numa língua nativa, tal como podemos ler no decreto-lei de Norton de Matos
(1921: 40):
Segundo David Gallagher (cf. 1952: 50), os professores dessas escolas tinham
de ser cidadãos portugueses e com uma formação pedagógica numa escola normal ou
então ter a frequência de três anos no Liceu.
26
1.3- Características da Língua Umbundu
Estas são algumas das características das línguas que, no entanto, podem
apresentar aspectos específicos. Assim, as línguas bantu são diferentes foneticamente,
mas também a nível morfológico, embora conservando as etimologias das unidades
lexicais.
Sendo uma língua de origem africana, pertencendo ao grupo das línguas bantu,
ela tem um sistema linguístico com características próprias que a distingue das outras
línguas bantu.
A Língua Umbundu, tal como a Língua Portuguesa, dispõe das seguintes letras
do alfabeto: /A/, /B/, / C/, /D/, /E/, /F/, / G/, /H/, /I/, /J/, /K/, /L/, /M/, /N/, /O/, /P/,
/S/, /T/, /U/, /V/, /Y/, /W/.
As letras /Q/, /R/, /X/, /Z/, não existem na Língua Umbundu. Estes sons são
substituídos ou puramente eliminados.
27
Por exemplo, o som [r], em Umbundu é quase sempre substituído por [l]; salvo
nos casos em que o locutor tem um bom domínio do Português ou faz algum esforço
por dominá-lo: laranja > lalanja.
Na língua em estudo, para além das letras descritas, ainda encontramos o som
[Ñ], nasalizado, que é uma variante do [N].
Em Umbundu, os sons [f], [h], [k], [l], [m], [n], [p], [s], [t], [v] têm um valor
único, representando, cada um deles, um único som. Já a letra /b/, na escrita e na
pronúncia, nunca aparece de forma isolada, mas sim, sempre antecedida da letra /m/,
atribuindo-lhe um carácter mais áspero, no início e no meio de vários vocábulos. Esse é
o caso de mbimbi, ombelela, mbwale, etc.
Por sua vez, a letra /c/ tem sempre o valor [ʃ], como por exemplo: ocipala,
ocipito.
A /n/ quer seja nasalizada, quer não seja, também intermedeia ou/ e introduz
as letras /g/ e /j/.
Existe ainda uma outra particularidade: a /j/ pode formar o grupo de letras
/dj/, reforçado pela /n/, passando assim para o grupo /ndj/.
Exemplos: Nasapalo (mãe do/a Sapalo = sábado), sondjamba (pai dos gémeos =
olondjamba), sekulu (o mais velho, o idoso).
28
Quanto às vogais, também encontramos as mesmas da Língua Portuguesa: /a/,
/e/, /i/, /o/, /u/; podem ser orais e nasais.
Sabe-se que as orais, na sua pronúncia, não exigem fluxo de ar pelas fossas
nasais (elyapu = diabo). As nasais, porém, são auxiliadas com o fluxo de ar pelas fossas
nasais. Este é o caso das seguintes palavras: omolã (criança), ukulũ (maior de idade).
Referindo-nos aos falantes da Língua Umbundu, de uma forma geral, esses não
conseguem realizar certos sons, concretamente o Z, característico da Língua
Portuguesa. Este som é quase sempre trocado por S.
Exemplos:
Segundo Agnela Barros (2002: 38), os falantes da Língua Umbundu têm uma
outra característica ao realizarem o Português que é a paragoge, consistindo esta em
acrescentar o (i) e, em alguns casos, o (e) no infinitivo dos verbos, como se pode
verificar nos casos seguintes:
29
Na escrita, podemos observar uma certa concentração, algum esforço em
procurar “respeitar” as regras da escrita da Língua Portuguesa, segundo a norma
europeia.
30
Esse decreto mudou o curso da história dos falantes nativos, começando com o
aportuguesamento de unidades lexicais das línguas dos indígenas que foram perdendo
a sua originalidade, marcando assim a aculturação dos nativos.
31
CAPÍTULO II
32
2.1- Lexicologia e Lexicografia
33
Segundo Teresa Lino (1979: 12), “…com o desenvolvimento das teorias da
sintaxe, procura-se uma definição da especificidade do léxico e a sua articulação com
as suas componentes/subcomponentes do modelo linguístico. Aqui o léxico é entendido
como “…partie d’une grammaire…” [….]. As primeiras regras de organização formal e
semântica do léxico são propostas pela lexicologia estrutural, (…) principalmente em
«campos lexicais» e «campos semânticos»”.
Segundo Mário Vilela (cf. 1994: 9), a Lexicologia é a ciência que estuda as
unidades lexicais de uma língua. O léxico é como que um “dicionário ideal” dessa
mesma língua, pois estuda as unidades lexicais, em todos os seus aspectos, podendo
incluir a etimologia, a formação de palavras, a morfologia, fonologia, a sintaxe, e a
semântica.
34
A autora defende que na descrição das entradas lexicais não se especificam
informações morfossintácticas redundantes. Tal informação pode predizer-se a partir
da informação armazenada no léxico.
Segundo alguns autores, aprender uma palavra é muito mais do que aprender
os seus significados, pois é necessário reconhecer, primeiramente, a palavra e só
depois interiorizá-la. A interiorização da palavra pelo falante requer as suas colocações
em diversos signos fonológicos, semânticos, conceptuais e sintácticos, pois as palavras
com poucas ligações significativas são pouco conhecidas pelos falantes, enquanto as
que possuem muitas ligações significativas são também bastante conhecidas.
Quanto à língua de especialidade, Kocourek (1991: 20) afirma que, “…a língua
de especialidade será uma sublíngua dita natural…”, enriquecida de elementos
branquigráficos, como as abreviaturas e idiográficos que se integram nela,
conformando-se às suas dependências gramaticais.
Para Chicuna, (cf. 2003: 58), uma língua de especialidade é aquela que é
utilizada e entendida num grupo restrito de especialistas que a utilizam para atingir os
objectivos da sua comunicação especializada, sem ambiguidades e com precisão.
Quanto ao léxico, Guilbert, (cf. 1971), entende que ele é o inventário de todas
as lexias de um dado estado da língua. Podemos então entender o léxico de uma
língua, genericamente, como o conjunto de todas as unidades lexicais que dela fazem
parte. Neste contexto, a definição de unidade lexical pode ser difícil, pois cada falante,
de qualquer idade e de qualquer estatuto, não conhece a totalidade das unidades
lexicais que constituem a sua língua.
Segundo Lehmann, (1998 : 4), o léxico pode ser definido do seguinte modo:
36
Mário Vilela (1994: 14) afirma que o léxico é “o subsistema da língua mais
dinâmico, …” por ser o elemento chamado, mais directamente, a configurar, a nível
linguístico, a novidade. Por isso, nele se reflectem todas as mudanças, inovações
políticas, económicas, sociais, culturais, científicas, etc.
Uma língua quando não se renova está sujeita ou condenada à morte. Para
que tal não aconteça, é necessária a sua inovação ao longo do tempo, inovação que
contribui para a mudança e evolução da língua.
37
Para melhor nos situarmos na Lexicologia, ciência do léxico, há que distinguir
dois conceitos fundamentais e essenciais: o léxico e o vocabulário.
Leiria (2006: 29) afirma que “O léxico deixou de ser um apêndice da gramática
para se converter numa das componentes preferenciais da descrição linguística.”
38
mais le signe à l’intérieur du système. Tout signe appartient à un ensemble (ou à
plusieurs) par rapport auquel se détermine sa valeur exacte” (Teresa Lino, 1979: 14).
39
Seguindo esta característica das línguas, todos os dias vão surgindo unidades
lexicais novas nas línguas, fruto de uma necessidade de designar novas realidades e
conceitos que, no dia-a-dia, vão surgindo.
A constatação feita pelo autor e investigador das línguas de Cabinda pode ser
aplicada à Língua Umbundu uma vez que esta, tal como o Kiyombe, fazem parte do
mosaico linguístico de Angola.
Uma língua não pode existir sem as unidades lexicais da língua corrente e sem
os termos científicos que remetam para o mundo extralinguístico.
2.3- Terminologia
De acordo com Barros (2004), apud (Walter Moreira, 2007), o termo deve ser
entendido como uma unidade lexical que assume um conteúdo específico relativo a
um conceito dentro de uma área do conhecimento específico.
41
Linguística que se preocupa com a significação das unidades lexicais.
Ainda que nova, como ciência, a Terminologia possui registos muito antigos.
Como exemplo, Barros (cf. 2004), refere-se à existência de dicionários temáticos
monolingues, feitos pelos sumérios em forma de tijolos de argila, desde o ano 2600 a.
C. Não há aqui preocupações com a língua de representação, como irá aparecer
posteriormente; trata-se apenas de compilação de termos.
Na opinião de Bluteau, citado por GÜNTER (1994: 675), “Todas as línguas têm
singulares excellencias e cada nação lhe parece o seu idioma melhor de todos”.
43
Segundo Graça Rio-Torto (cf. 1998: 110), na formação de palavras, ou seja, no
aparecimento de palavras novas, inovando a língua, a própria língua recorre a certos
processos como: a derivação e a composição, se bem que ainda pode recorrer a outros
como o subtractivos e supressivos que são processos de alguma forma ligados aos dois
primeiros.
Rosa Virgínia Matos e Silva, citada por Rio-Torto (1998: 110- 111) afirma:
Em relação a isso, Vilela (1994: 55) dá-nos uma série de exemplos dos quais,
destacamos dois:
44
Sabemos que o morfema básico é aquele elemento recorrente numa família
de palavras, que transporta o significado lexical, constituindo a forma de partida na
formação.
Ainda segundo Mário Vilela (cf. 1994: 57), os morfemas flexionais são aqueles
que não modificam o significado lexical da base e constituem as diferentes formas de
uma palavra. São os mesmos aos que o autor chama de morfemas gramaticais (os
transportadores da marca do género, número, tempo, pessoa e aspecto).
45
Mário Vilela (1994: 54) diz que a “sufixação é o processo que, no léxico
português, se apresenta mais enriquecedor por possuir maior fecundidade ou
produtividade lexical”.
Segundo Mário Vilela, “…De entre estes, os mais produtivos são: ada (balada,
abalada…), agem, para a formação do feminino (embalagem, terraplanagem…).
Também Graça Rio-Torto (cf. 1998) apresenta alguns sufixos que intervêm na
formação de novas unidades lexicais. Afirma que os sufixos mento (ferimento), ção
(precaução), gem (passagem), ão (tropeção) e nça (vingança) constituem os
operadores da formação de palavras na Língua Portuguesa mais eficazes.
46
Uma outra opinião é a de Celso Cunha (2000: 85) que define a formação de
palavras como sendo
Sabe-se que um acrónimo é uma unidade lexical formada por letras ou grupos
de letras, que se pronuncia como uma palavra, tendo uma estrutura silábica própria da
língua onde se forma. Ex: UNITA (União Nacional para a Independência Total de
Angola), TAAG (Transportadora aérea de Angola).
Por outro lado, uma amálgama é uma unidade lexical constituía com uma parte
de uma outra palavra (ou mais palavras), formando uma nova unidade lexical.
Alina Villalva, in Mira MATEUS (2003: 973), é da mesma opinião dos autores
anteriores sobre a composição morfológica das unidades lexicais, ao afirmar que este é
um processo disponível:
47
A língua é um bem constituído património comum. Daí a necessidade de
conservá-la, tornando-a viva e dinâmica.
2.4.1. Neologia
48
Falando do léxico das línguas em contacto, o empréstimo de novas unidades é
inevitável, em consequência da situação e da necessidade da comunicação entre o
locutor A com os interlocutores B de línguas diferentes.
49
2.4.1.1. Tipos de neologismos
51
neologismos estáveis e já enraizados que devem ser rapidamente dicionarizados para
o seu perpetuamento. No entanto, alguns ainda são sentidos como verdadeiros
neologismos, unidades lexicais novas, recentemente chegados ao Português, em
contexto angolano.
Por conseguinte, tornam o seu uso difícil para o falante nativo que não tenha
contacto com a língua-fonte, colocando-o, com frequência, numa situação difícil, por
não saber pronunciá-las, escrevê-las ou ainda por não as entender; a importação, em
massa, de unidades lexicais que muitas vezes substituem as vernáculas, pode
descaracterizar o idioma receptor.
52
lexicais como: futebol, clube, bife, desporto e outras, em Português. Uma coisa, porém
é certa. Não podemos evitar a importação de unidades lexicais, sobretudo neste
mundo globalizado como é o nosso, onde os meios de comunicação que possuímos
nos aproximam directamente de comunidades falantes de outras línguas.
Por isso, o critério da instabilidade pode ajudar nesta tarefa de selecção: uma
unidade é considerada neológica quando apresenta sinais de instabilidade de natureza
semântica, morfológica, fonética ou ortográfica.
53
Assim, a instabilidade morfológica pode traduzir-se, por exemplo, pela
hesitação, em relação ao género de uma nova palavra. Um exemplo disso é o caso do
termo sida, em que existe uma certa hesitação: a sida/ o sida.
Segundo Isabel Faria (cf. 2009), a noção de cultura está ligada a várias
vertentes. Uma delas é a concepção antropológica da cultura que é relativamente
nova, pois surge em finais do séc. XIX, princípios do séc. XX, visando o estudo do “outro
não ocidental”.
54
Para Émile Durkheim, op cit. Isabel Faria, no campo da cultura, a sociologia
elege como principal preocupação o estudo do «facto social», pois esta procura
compreender a sociedade como um conjunto coeso de unidades sociais possuidoras
de leis próprias, onde a cultura assume, de preferência, uma função integradora.
Segundo Max Weber, op cit Isabel Faria, (2009), o objecto da sociologia deve
ser fundamentalmente a captação da relação de sentido da acção humana, levando a
compreendê-lo. Aqui, Max Weber propõe que seja aplicado o método mais profundo
contido nas acções de um indivíduo e não apenas o aspecto exterior dessas acções.
55
2.6. Contribuição Lexicográfica em Angola
Com esta iniciativa, esperamos que, num futuro bastante próximo, haja mais
obras lexicográficas nesta língua, conferindo-lhe um carácter científico.
56
CAPÍTULO III
57
3.1. Contacto do Português com as Línguas Bantu de Angola
Fazendo uma curta estada em Luanda, por exemplo, e falando com os seus
habitantes, pode observar-se a “nova língua”, repleta de unidades lexicais que talvez
ocasionariam mal entendidos em outros sítios, sobretudo em Portugal.
Por exemplo, o termo “velho”, em Portugal, não seria o mais indicado para
designar alguém com mais idade do que nós. Nesse contexto, “ser velho” teria uma
carga pejorativa; é sinónimo de desvalido, ultrapassado e caduco.
58
velho” ou “o mais velho” constitui uma biblioteca viva. Por isso, ele deve ser
respeitado pela camada mais jovem.
O mesmo ocorre com certas unidades lexicais como: avô, tio(a), pai, mãe, que,
no Português Europeu, não têm a mesma significação que no Português em Angola.
Estas unidades levariam a dificuldades de compreensão ou mesmo, a sentimentos de
ofensa, por parte de locutor que desconhecem a sua significação em contexto
angolano.
Como sempre acontece nas línguas em contacto, esses nomes acabaram por
ser adaptados à fonética das LNs, sobretudo os termos ligados a aspectos religiosos. A
primeira missão cristã realiza-se na zona linguística kikongo e aí, desde muito cedo, os
nativos começaram a usar nomes portugueses com a conversão daqueles ao
cristianismo, religião do colonizador.
60
Num contacto de línguas e culturas, embora a influência seja feita a nível de
zona, tal fenómeno não é limitado. Existe sempre a possibilidade de propagação por
vários meios. Aliás, Manuel Martins (1958: 124), referindo-se a este facto, diz:
61
Na cultura africana, em geral, e em Angola, em particular, o nome tradicional
que se atribui à criança, vai moldá-la ao longo da sua educação.
Ndjepele Isabel
62
3.1.1. Os falantes do Português
Segundo Amélia Mingas (cf. 2000: 52), já nos anos 30 era possível encontrar
em Angola crianças cuja língua primeira era o Português.
Apresentamos também outro estudo realizado por Pepetela sobre os falantes que para
além do Português, dominam uma LN (cf. Miguel, Maria Helena, 1997: 32-33):
63
Estudos, relativamente recentes, são favoráveis à atribuição do Português,
como língua materna, a um número significativo de crianças e jovens angolanos,
sobretudo das grandes cidades de Angola.
64
“… a independência… consolidou a veicularidade da LP no país,
pois a língua confinada às capitais do país e províncias, ela chegou
às populações rurais devido ao fenómeno guerra”.
65
anos 1500 e 1700 esse povo emigrou do Norte e do Este de Angola para a área de
Benguela. Assim, inicialmente os ovimbundu não habitavam Benguela. Essa é fruto do
processo de emigração.
Alcançada a paz, uma parte dos ovimbundu, que se tinha refugiado nas cidades
citadas anteriormente, regressou às suas zonas de origem, enquanto uma outra parte
considerável permaneceu nas zonas urbanas.
66
Segundo Zavoni Ntondo e João Fernandes (cf. 2002: 57) existem catorze
variantes desta língua que são: Ambwi, Kacisanje, Kakonda, Lumbu, Mbalundu,
Mwanya, Ndombe, Nganda, Sambu, Sele, Viye, Sumbe, Cikuma e Wambu.
Por sua vez, Vatomene Kukanda, op cit por Filipe Zau2, fazendo referência a
essas variantes, distribui-as por regiões.
REGIÕES VARIANTES
- Cisanje
- Hanya ou Mwanha
- Lumbu
- Nganda
- Sele
- Sumbe ou Pinda
- Sambu
- Wambu
2
- Artigo do Jornal de Angola, de 12 de Janeiro de 2010: 44
67
Portanto, cada uma dessas variantes, embora seja uma parte do todo, que é a
Língua Umbundu, ela apresenta características que a faz diferente das outras, quer
seja por aspectos fonológicos, quer por particularidades semânticas ligadas ao léxico
partilhado pelas diversas variantes que compõem a mesma língua.
Falando de pronúncia das letras, estaremos aqui a tocar, ainda que de leve, às
questões ligadas à fonologia é o ramo da linguística que estuda o sistema sonoro das
línguas.
Segundo Arruda (2004: 8), “…da variedade de sons que o aparelho vocal pode
produzir, e que é estudado pela fonética, só um número relativamente pequeno é
usado distintivamente em cada língua” [….] “Quando falamos ou escrevemos, usamos
palavras.”
Os sons são representados, na escrita, por letras e, essas podem ser vogais ou
consoantes.
68
Na palavra amor, por exemplo, há duas vogais e seu respectivo som, /a/ = [ a]
e /o/ = [o] e duas consoantes /m/ e /r/. As duas consoantes, em Português, não têm
som, pois para o terem apoiam- se em outras letras que, normalmente, são as vogais.
aA (a) Amor
bB (bê Berro
cC (cê) Círculo
dD (dê) Dedo
eE (é) Erro
fF (efe) Farra
hH (agá) Hora
iI (i) Idade
jJ (jota) Jarra
kK (capa) Cadeira
lL (ele) Lata
mM (eme) Mala
nN (ene) Nelo
69
oO (ó) Óbito
pP (pê) Porta
qQ (quê) Quadro
rR (erre) Rato
sS (esse) Sapato
tT (tê) Tecto
uU (u) Uva
vV (vê) Verde
xX (xis) Xavier
zZ (zê) Zeferino
70
3.3. Sistema Linguístico do Umbundu
71
QUADRO Nº 04 – Classesda Língua Umbundu
1ª Omu -, u- Omu-, u-
3ª u- u- u- u-
8ª Ovi- o- o- Vi
9ª - e-, o- e-; o- i-
14ª u- u- u- u-
72
18ª Vo- Vo- Vo- Vo-
É com base nestas dezoito classes que são formados os substantivos, os verbos,
os adjectivos e os advérbios em Umbundu.
Quanto a esta questão, Zavoni Ntondo (2006: 50) afirma que os substantivos
simples, na língua bantu, são formados, de uma maneira geral, por um lexema ao qual
se junta um prefixo, tornando-se apto a assumir uma função sintáctica num
enunciado.
A transferência de uma classe para outra é feita por meio de dois processos
que são a substituição de prefixos e / ou a adição de prefixos.
Como exemplo, temos: ekalu (carro), classe 5; o seu plural insere-se numa
outra classe, 6, akalu (carros). Formando o mesmo substantivo no grau aumentativo,
temos que trocar o prefixo e para o prefixo oci e aí, teremos o substantivo ocikalu
73
(carrão), inserindo- se assim na classe 7. O seu plural passará para a classe 8, com o
prefixo ovi; teremos então o substantivo ovikalu (carrões).
Ainda segundo Zavoni Ntondo (cf. 2002: 75), entre todas as classes que
constituem o sistema das línguas africanas, neste caso da Língua Umbundu, a classe 15
é de verbo-nominal, pois para algumas línguas ela engloba verbos e substantivos.
74
Etimba Atimba Corpo Corpos
Cl. 11; pref. olu – sing. Cl. 10; pref. olo – pl.
Cl. 12; pref. oka – sing. Cl. 13; pref. otu – pl.
75
No grupo das variáveis, encontramos os substantivos, adjectivos, numerais,
pronomes e verbos, pois os artigos, esses não existem nesta língua. Já no das
invariáveis, encontramos: advérbios, conjunções, preposições e interjeições.
Um estudo feito pela UNESCO, nos anos 1981-1982, fixou a ortografia das
Línguas nacionais, onde se enquadra a Língua Umbundu, com o seguinte alfabeto:
76
Ny [ny] Ovinyangã Trapos
77
O grafema /c/ adquire um valor diferente daquele que é representado no
Português; ele adquire, em Umbundu, o valor [ ʃ ].
Tal como nos outros grafemas, o /d/ também nunca aparece sozinho; é sempre
associado também ao grafema /n/ que o precede, como vemos nos seguintes casos.
Os dois grafemas mais próximos, /g/ e /j/, também em Umbundu, são sempre
precedidos de /n/ ou ainda com o grupo de grafemas /nd/, formando o grupo /ndj/ e
/ng/, simultaneamente, para se produzir um som mais áspero.
De uma forma geral, a Língua Umbundu usa o alfabeto latino (aquele que é
usado no Português).
É de referir que, essa língua, embora não seja língua de comunicação em todo o
país, é reconhecida pela UNESCO como uma das línguas africanas (angolana) com
maior expressividade, pois é utilizada por um grande número de falantes angolanos
como uma das línguas de comunicação regional, sobretudo nas actividades comerciais
informais, como é o caso dos mercados. Mais de cinco milhões de pessoas usam-na
como língua primeira e/ ou como língua segunda.
Apesar de essa língua não estar ainda inserida no sistema de ensino, ela é
usada nos meios de Comunicação Social, como é o caso da Rádio e da TV, em
programas próprios, o que dá, de alguma forma o respaldo jurídico (oficial).
78
3. 4. Interferências entre o Português e o Umbundu
William Mackey, citado por Chicuna (2003: 48), entende que interferência é a
utilização de elementos de uma língua, quando falamos ou escrevemos numa outra
língua.
79
Este autor faz referência à interferência como um “desvio”, por ocorrer nos
enunciados constituídos por falantes bilingues. O “desvio” é um fenómeno de
agramaticalidade na língua.
Mas o contacto entre as duas línguas não origina apenas interferências a nível
do discurso em indivíduos bilingues e plurilingues, mas origina também:
80
Segundo Chicuna (2000: 45), aportuguesamento é o
- Camisa; n. f. s.
(ombindja); n. s. cl. 9
81
Ora, insistindo no uso desse termo, segundo Malumbu, (cf. 2007: 48), cairíamos
naquilo que o autor chama de neologismos intoleráveis, como é o caso das unidades
lexicas: oparede, em vez de ocimano e Isabele, em vez de Ndjepele, etc.
- Chave; n. f. s.
(osapi); n. s.cl. 9
82
Apresentamos, no quadro seguinte, algumas dessas unidades portuguesas que
foram umbundizadas:
Em Umbundu Em Português
Ekalu Carro
Ekolowa Coroa
Elasola Lençol
Elesu Lenço
Elola Roda
Elivulu Livro
Elyapu Diabo
Etambo Templo
Etelusu Terço
Kalolo Carlos
Kapatasi Capataz
Kapitango Capitão
Kaluvayu Carvalho
83
Katapila Caterpilar
Mesene Mestre
Ocalumingu Domingo
Ocasapalo Sábado
Ocikonde Condenado
Ocindalatu Contratado
Ocipato Biscato
Ofesita Festa
Ofumbelo Fumbeiro
Ofwofwo Fósforo
Ohalupa Harpa
Ohama Cama
Okalyavoso Calabouço
Okasaku Casaco
Okatisimu Catecismo
Okupulukãla Purgar
Okutalavaya Trabalhar
84
Olalyu Rádio
Olupale Cidade
Olusendu Centavo
Olwoso Arroz
Omakalãu Macarrão
Omaletelo Martelo
Omangu Banco
Ombalãu Avião
Ombaile Baile
Ombindja Camisa
Ombolu Bolo
Omesa Mesa
Omisola Camisola
Ondjapãw Sabão
Ondjipela Algibeira
Ongayeta Gaita
Opekalo Pecado
85
Osapato Sapato
Osapi Chave
Osemana Semana
Osikaleta Bicicleta
Osikata Escada
Osikola Escola
Osindiyu Gentio
Osipayu Cipaio
Osola Zorra
Osuka Açúcar
Otelefwone Telefone
Ovela Vela
Owalende Aguardente
Manu Mano
Naseketa Secretária
Noha Noé
Satana Satanás
Ukonde Condenação
86
3.4.2.2.Bantuização de portuguesismos em Umbundu, Kimbundu e Kikongo
Onelã (Lu)
Oneka (Lu)
Ekalu (Lu)
Kalu (Kik.)
87
3.4.2.3. Umbundização e aportuguesamento de topónimos
88
Antes da chegada dos portugueses, Angola era constituído por vários reinos
famosos e a designação desses reinos; estava ligada a grupos étnicos que habitavam
uma certa região.
- Cidade - Cidade
Bengo
Benguela
Cabinda
89
Cunene
- Roçadas - Xangongo
Huambo
Huíla
- Folgares - Kapelongo
90
diferentes (línguas africanas) e (língua portuguesa), com sistema lexical, fonológico e
sintáctico nitidamente diferenciados”.
- Etambo; n. s. cl. 5
(templo); n. m.s.
91
- Etelusu; n. s. cl. 5
(terço); n. m. s.
Tal como acontece na palavra anterior, o morfema /e/, prefixado ao nome, tem
a função de determinante.
- Naseketa; n. s. cl.9
(secretária); n. f. s.
- Ocalumingu; n. s. cl. 9
(domingo); n. m. s.
92
- Ocasapalo; n. s. cl. 9
(sábado); n. m. s.
- Ocikonde; n. s. cl. 7
(condenado); n. m. s.
- Ocindalatu; n. s. cl. 7
(contratado); n. m. s.
93
- Ocipato; n. s. cl. 7
(biscato); n. m. s.
- Ocitanda; n. s. cl. 9
- Owalende; n. s. cl. 9
(aguardente); n. f. s.
94
O Umbundu é uma língua que “adapta” os empréstimos. Aliás, essa é a
característica de todas as línguas que, ao longo do tempo, enquadram unidades
lexicais que vêm de outras línguas, adaptando-as fono-morfologicamente e
semanticamente.
95
CAPÍTULO IV
CORPUS DE UMBUNDISMOS :
96
4.1. Linguística de Corpus
Segundo Irene Mendes (cf. 2009: 45)3, a investigação sobre as línguas baseada
em corpus tem já uma tradição. Um exemplo muito claro é o dos estruturalistas
americanos (Bloomfield, Sapir e Pike) que, na sua investigação utilizaram vários textos
narrativos orais, para a realização do seu trabalho, relativamente a essas línguas que
se realizavam oralmente.
Antes dos anos 60, para a constituição de corpora, existiam vários princípios
(metodologias), dependentes do investigador que tinha o privilégio de observar dados
que ocorriam naturalmente.
Ao conjunto desses dados, Kennedy (cf. 1998: 13- 19) designou de corpus pré-
electrónico. Segundo Shlesinger (cf. 1998: 448) o referido corpus servia para a
interpretação e descrição. Assim, os investigadores observavam, interpretavam e
descreviam tais dados, sem recorrerem ao corpus electrónico. Nesse tipo de
tatamento de dados, abundava muito empirismo.
Tendo em conta as afirmações de Shlesinger (cf. 1998: 487) e LEECH (cf. 1997: 1
com a modernização dos meios informáticos e das metodologias, nos anos 60,
introduziram-se os corpora informatizados; assim, os linguistas passaram a ter
melhores condições de trabalho e melhores resultados, pois passaram a analisar
grandes quantidades de corpora.
3
- Tese de Doutoramento em Linguística
97
interesse da linguística portuguesa; muitos investigadores começaram a apoiar as suas
investigações em corpora digitalizados.
98
O corpus deve ser representativo, pertinente econstituído, tendo em conta os
objectivos da investigação; assim o afirma Madalena Contente (2008: 149): “O corpus
deve ser representativo relativamente ao objectivo da investigação…”
Rute Costa e Raquel Silva, (2008: 5), falando da organização de corpus para
Textos de especialidade escritos, dizem o seguinte: “Le texte de spécialité peut,
simultanément, être compris comme la production et le produit d’une communauté de
communication restreinte. Dans le texte se concentrent tous les éléments linguistiques
et extralinguistiques qui résultent de l’interaction du langage avec la vie sociale, …”
Quer com isso dizer que, os corpora a serem analisados numa pesquisa devem
ser o produto da convivência comunitária; devem ser algo concreto, que deve ser
testado junto dessa mesma comunidade linguística. Queremos com isso dizer que, os
corpora constituídos para esta investigação são são de facto o resultado da vida e da
cultura dos ovimbundu, que constitui o nosso público de pesquisa.
Ainda Borba (2003: 79) afirma que “…o léxico é realmente um setor
privilegiado. No corpus organizado, percebe-se, por amostragem, que há áreas
99
preferenciais de ocorrências…” Portanto, esta forma de organização é perceptível em
todos os corpora preparados para o estudo e análise.
- plantas (8 vocábulos),
100
De referir que, o corpus oral que nós utilizámos provem das gravações feitas
aos falantes da Língua Materna Umbundu, das observações dos falantes em diversas
situações de uso da língua. Depois de gravadas e observadas, esses Umbundismos
foram transcritos por nós e informatizados, para assim constituir-se no corpus de
Umbundismos de que dispomos para a análise.
Esse método foi por nós adoptado por causa da excassez da bibliografia
relativa à Umbundismos.
Trabalhámos com estes autores por entendermos que, eles são os potenciais
criadores de neologismos em qualquer língua.
101
como é o caso dos topónimos e de alguns antropónimos; tivemos ainda em conta
alguns aspectos socioculturais próprios da cultura umbundu relativos a aspectos
sociais, nomes de plantas, alimentos, instrumentos musicais, trazendo assim à reflexão
os vários processos de formação dos Umbundismos e alguns aspectos semânticos e
lexiculturais que cada um deles pode carregar, na Língua Umbundu, influenciando, de
alguma forma, a Língua Portuguesa.
Tais corpora foram analisados numa perpectiva quase bilingue para uma
melhor compreensão, sem no entanto ser um estudo propriamente bilingue, pois o
nosso objectivo não é a proposta de um dicionário bilingue, porque este prossegue
objectivos diferentes daqueles que pretendemos com este estudo. Logo, a nossa
proposta, num futuro próximo, é a criação de um Dicionário monolingue de
Umbundismos que entraram e se instalaram na Língua Portuguesa.
4.2.1-Umbundismos no Português
102
factos gerais da vida social e cultural, nomes de plantas, de animais e instrumentos
musicais que entraram no Português que, hoje, se fala em Angola.
103
tratamento da bílis
104
Neste contexto, podemos encontrar as mais variadas situações, de tal forma
que, conhecendo um pouco da cultura do povo, podemos, através do antropónimo,
chegar a interpretar toda uma situação que envolveu um certo indivíduo, naquela
longínqua data da sua concepção e nascimento.
Segundo Manuel Martins, citado por Teresa Costa (2013: 44), hoje, em
Angola, “…raros são os jovens…que, além do seu nome tradicional, não possuem
também um nome português e até mesmo um, dois ou mais apelidos…”, embora
algumas famílias, em nome da modernidade e talvez por influência da cultura alheia,
rejeitem os sobrenomes africanos. Hoje, muitos angolanos, pelos nomes, são
confundidos com os portugueses.
105
QUADRO Nº 11 – Deformação gráfica de antropónimos umbundu
4.2.1.1.1.Adaptações fonológicas
106
portugueses inexistentes no Umbundu ou para conceitos umbundu inexistentes em
Português.
107
b) Mudança da Vogal Final
Alguns nomes, no Umbundu, por natureza própria dessa língua, têm a vogal
final /u/. Com o aportuguesamento, passaram a terminar em /o/:
c) Ditongação
108
4.2.1.1.1.2. Sistema consonântico
a) A Perda da Pré-nazalização
109
c) Substituição da lateral /l) pela vibrante /r/
110
e) Substituição da consoante /c/ pelo dígrafo /ch/
111
QUADRO Nº 21 – Aspectos da Substituição de Consoantes
112
4.3.1. Topónimos e seu valor semântico
113
Gaston Miron, op cit. Zavoni Ntondo (2006: 12), afirma que “quando um povo
pode escolher ser outro, nega-se enquanto povo e é um outro povo que está no seu
lugar”.
Em relação a este topónimo, há uma história ligada a este Rei. Viye funcionou,
primeiramente, como uma alcunha que foi dada a um caçador que se instalou, na
época, na região de Ekovongo, dedicando-se à caça, utilizando bois. Para exercer a sua
“profissão”, pedia bois emprestados aos donos da terra. Sempre que fosse ao encontro
de alguém da terra, para fazer esse pedido, dirigia-se em Umbundu, dizendo:
“Olongombe viye”, o que significa: “Que venham os bois.”
O facto de o caçador repetir a mesma frase, sempre que fosse pedir esse
“serviço”, foi alcunhado pelos donos da terra: “Sekulu viye weya.”; a frase significa: “O
velho, o século viye veio.”
O seculo viye familiarizou-se tanto com os donos da terra que esses deixaram-
se organizar por ele, levando essa região à independência que culminou com a
proclamação do reino Viye, hoje Bié.
114
Com a implantação colonial, no Viyé, facto consumado pelo general Silva
Porto, a cidade passou a chamar-se Silva Porto- Bié, em honra do seu conquistador e
1º Governador.
Era assim designado porque o Lupito, sendo uma cidade costeira, ligava o
interior do país com o Oceano Atlântico, sinal de ligação com o mundo exterior, pois o
angolano tinha a noção e consciência de que o mundo não acabava na sua terra; para
além da sua, existiam outras terras e outros povos, embora não conseguisse imaginar
que para além da imensidão das águas do mar (kalunga - o infinito) existissem povos.
Com a presença dos colonos, o topónimo passou a designar-se Lobito.
115
Logo, Kamunda, em Umbundu, significa montanha pequena.
116
CAMACUPA (Kamakupa) – o nome deriva de ohamayakupa, que apesar de
parecer uma unidade lexical, é na verdade uma frase com a seguinte tradução em
português: “Cama de fardos”. O topónimo atribuído à localidade tem fundamentos
históricos, por ser em memória ao lugar de encontro das caravanas comerciais, vindas
de todas as regiões do interior e como ponto de partida para as regiões do litoral.
Sendo um lugar de altos negócios, os ladrões concentravam-se nas proximidades para
atacarem as caravanas. Com a finalidade de se defenderem desses ataques e
salvaguardarem as suas cargas, os comerciantes dormiam por cima dos seus atados ou
fardos (akupa) de negócios. Daí o topónimo Kamacupa.
117
CICALA – o topónimo deriva do verbo okukala que significa estar, ficar ou
permanecer.
Hoje o topónimo, para além de designar uma localidade, acabou por ser
também atribuído ao rio que banha a região do mesmo nome. Sendo um rio
navegável, os portugueses, na altura, construíram aí uma capitania que servia de
ponto de ligação com o Reino dos Ngangelas. Hoje é uma região fronteiriça com a
província do Kwandu- Kubango.
CIVAVA – o topónimo deriva do nome ovava que significa água. Civava foi o
nome de um dos reis que não resistiu da luta contra os brancos no reino de ondulu.
Expulso da região pelos brancos, foi instalar-se nos arredores do Kunhinga, onde
fundou a sua aldeia denominando-a de Tunda Civava = “Sai água.” Com o andar do
tempo, a aldeia passou a chamar-se apenas de Civava.
118
Não entendendo o Umbundu, os portugueses acharam que o homem lhes
dissera que a região se chamava kupemba. Com o processo de aportuguesamento, a
região passou a chamar-se de Cuemba.
Como tantos outros nomes ligados a histórias, hoje, ekovongo acabou por
perpetuar-se.
119
QUADRO Nº 22 – Aportuguesamento de Topónimos
Ayamba Aiamba
Cavaya Chavaia
Cikuma Chicuma
Etata Tata
Kahoko Cahoco
Kalusele Calussele
Kalusinga Calussinga
Kapelongo Capilongo
Katavola Catabola
Kambueyo Cabueio
Kavaya Cabaia
Mbambi Bambi
Mbandwa Bandua
Mbembwa Bembua
Ndulu Andulo
Onamano Namano
Ovihopyo Biópio
120
Vingondo Bingondo
Viye Bié
- CIMBOTO; n. s. cl. 7
- CINAWAMUILE; n. s. cl. 7
Literalmente, significa: aquilo que você viu, aquilo por que passaste.
Este antropónimo pode ser dado à criança que nasça em situações difíceis dos
pais, lembrando-lhes que, o facto de a criança ter nascido, esse é semelhante àquele
por que passou. Logo, a situação pode vir a repetir-se. Poderão ficar, de novo, sem ela
como “foram” os seus irmãos.
122
Estes antropónimos são atribuídos para, de alguma forma, pedirem aos
“deuses” a protecção dessas crianças, pois acredita-se que, dando nomes como estes a
essas crianças, como são nomes um tanto quanto feios, essas poderão ser poupadas
da morte por esses deuses a quem os pais acreditam.
São várias e facetadas situações que podem ser associadas ao nome Civole.
Ao atribuir este nome a uma criança, tem por objectivo fazer “repousar” nela o
sentimento de vencer todos os obstáculos da vida, quer dos pais da criança, da família
mais alargada ou até mesmo da própria comunidade em que ela se insere.
Mais uma vez, por se tratar de um verbo, o prefixo ka tem valor de advérbio de
negação. O antropónimo deriva do verbo okupya que significa cozer. O antropónimo é
dado à criança que tenha nascido precocemente.
123
- KALEMBE; v. cj. cl. 15
O antropónimo é dado a uma criança que se crê ser superdotada e sábia; num
“exercício” do futuro, prevê-se e torce-se para que ela seja tudo o que se augurou.
- KALOVELA; n. s. cl. 9
- KALUEYO; n. s. cl. 11
124
limpeza da tristeza da família, ou seja, com nascimento dessa criança, toda a tristeza é
banida, surgindo assim os momentos de alegria.
- KAMATI; n. s. cl. 9
- KAMBOLO; n. s. cl. 9
- KAMBUNDU; n. s. cl. 9
- KANDJALA; n. s. cl. 12
125
Em Umbundu, quando alguém se dirige a outra pessoa para dizer-lhe que tem
fome: “Okandjala kambala, akome!” = “A fominha dói-me, arrasa-me. Ai!”. Essa é uma
tradução literal da expressão. Traduzindo pelo sentido, teríamos: “Amigo, estou com
fome. Acuda-me!”
- KANDUKO; n. s. cl. 9
Kange é uma forma verbal conjugada que, em Português, tem o significado de:
“… é meu.”
Normalmente, pode ser usado com dois sentidos diferentes: cange e kange.
Como formas do verbo ser, tal como em Português, elas funcionam ligadas ao
adjectivo/ substantivo.
126
Logo, quando em Umbundu se usa o ci é porque se refere a algo grande e
quando se usa o prefixo ka, se refere a algo pequeno.
Então, ao dizer “aka kange”, quer dizer que “isto, pequeno/ pequenino, é
meu…” e, ao dizer “eci cange”, está- se a dizer “isto, grande/ grandalhão é meu…”
Essas formas, quando ocorrem como nomes próprios, são sempre atribuídos a
crianças que vieram ao mundo em circunstâncias conflituosas das mães ou porque
nasceram com pouco peso: “Mesmo pequenino, este filho é meu.”
- KANGUYA; n. s. cl. 9
- KANEPA; n. s. cl. 9
- KAPEMBA; n. s. cl. 9
Portanto, toda a criança que nasce nesse mês tem o sinónimo de fartura,
porque coinscide com essa fartura em que os parentes vivem a partir desse mês.
- KASISE; n. s. cl. 16
127
- KASUMWA; n. s. cl. 5
- KATIMBA; n. s. cl. 5
- KATITO; n. s. cl. 12
Esta forma é antecedida pelo prefixo ka, que designa negação. Assim, a forma
verbal katulici/ katulisi significa: “Não nos separamos”; “Só a morte nos separa”.
128
Este antropónimo pode ser atribuído a uma criança que, segundo os pais, tem a
missão de “fechar” a maternidade dos pais; de ser o último filho. De alguma forma, vai
traduzir a vontade dos seus pais de não terem mais filhos = Kayke = vai fechar. Mas
também pode traduzir uma outra realidade: “fechar” a maldição de perder sempre
outros filhos.
- KOSEKE; n. s. cl. 5
- KOSENGE; n. s. cl. 17
129
- KULEMBI; v. cj. cl. 15
Este é um antropónimo que se atribui à criança cuja concepção foi difícil e que
dependeu de muitos tratamentos tradicionais.
- KUVOLO; n. s. cl. 17
Este antropónimo pode ser atribuído a uma criança que seja primogénita dos
pais ou ainda a uma criança que nasça depois de um ou mais irmãos falecidos (fazendo
assim referência à saída).
- LUMBONGO; n. s. cl. 11
130
Assim, numa primeira reflexão, podemos dizer que esse nome pode ter várias
significações, remetendo para situações também diversificadas: uma primeira, poderá
ser o da pobreza e uma outra, o da riqueza.
Queremos com isso dizer que, a criança poderá ter nascido na época de
pobreza ou de riqueza dos seus progenitores ou da sua família.
Ex: “Mbandje mwele ciwa…”. Tadução literal: “Olha mesmo bem p’ra mim…”
- NDJALIYOWIÑGI; n. s. cl. 9
131
Na cultura umbundu, quando uma família é muito hospedeira, trata com muito
carinho qualquer pessoa que apareça em sua casa; assim, as pessoas atribuem-lhe,
precisamente, essa designação “Ondjaliyowiñgi” = “Pai/ mãe das multidões”.
- NAMBUNDI; n. s. cl. 9
- SAMWENHO: n. s. cl. 9
- SANDJIYOMEKE; n. s. cl. 9
É galinha cega, porque é sabido que ela tem o hábito de esgravatar, procurando
assim alimentos. Nesse seu acto de esgravatar, encontra muitos alimentos e nem
sempre ela própria chega a beneficiar-se do que ela procurou; são outros que se
alimentam deles, os pintainhos.
132
- SOMA; n. s. cl. 9
(Soba); n. m. s.
- SUELELÃ; n. s. cl. 5
133
- UHWASI; n. s. cl. 3
Vasole é um adjectivo: aquele que é amado por todos; que é querido por todos.
Tem origem no verbo okusola (gostar/ amar). O antropónimo Vasole é atribuído a uma
criança que tenha sido desejada durante muito tempo.
Este nome pode ser uma réplica, em termos de significado, àquilo que pode ter
acontecido antes do nascimento da criança em causa.
134
O antropónimo tem como “missão” expulsar os maus espíritos dessa nova
criatura que, nasceu no seio da família, de tal forma que, a sua permanência seja a
garantia da felicidade dos seus pais e familiares.
Na cultura dos ovimbundu existem antropónimos que são muito mais ousados
e que, só por si, constituem autênticas frases, com lições morais muito profundas.
135
- CINAVASUKA; v. cj. cl. 15
Para que na velhice, tenhamos alguém que nos ampare, que nos cuide, é
importante que nasçamos e criemos o nosso próprio filho, porque contar apenas com
a caridade das pessoas, no futuro, não é suficiente. Só os nossos filhos sentirão o dever
de cuidar dos próprios pais. Daí o antropónimo citawove.
Contém uma lição de moral: A vida é para ser levada de forma sábia, sem
pressas.
136
- NANGOSOLE; v. cj. cl. 15
Sindjekumbi é um verbo que significa “Espere pelo raiar do sol/ Espere pelo
dia…”. Este verbo, normalmente, refere-se ao nascimento do filho, cuja concepção foi
bastante difícil.
137
Numa expressão umbundu, aparentemente simples, em Português temos uma
oração complexa. Essa expressão pode ter vários significados e várias ocorrências,
tendo em conta os diferentes contextos em que pode estar inserida.
Em Umbundu há um ditado que diz: “cimbiwa eci cikasi peka, polé ecicikasi
kutima kacimbiwa”.Tradução literal: “Deita-se fora o que se tem na mão, porém o que
está no coração é impossível.” Isto quer dizer que, quando uma coisa se torna costume
em nós, mal ou bem, é difícil disfazer-se dela. Daí o nome wakulyiata que traduzido
para o Português, significa: “Ele pisou-te”.
Quando alguém nos pisa no pé, a dor e a acção não é permanente. Mas quando
alguém espezinha o nosso coração, a mágoa e a pressão exercida é constante. Daí o
antropónimo wakulyiata.
138
Todos estes antropónimos têm origem em nomes (alguns, como vimos,
derivam de verbos); dependem sempre de variadas circunstâncias e situações em que
os nascimentos ocorrem.
De sublinhar que, muitos desses nomes são atribuídos, apenas pelo simples
facto de já existirem nas famílas, uma forma de perpetuar o nome.
- CIKANHA; n. s. cl. 15
- CILOMBO; n. s. cl. 7
- CILULU; n. s. cl. 7
- CIMBUMBA; n. s. cl. 7
139
Entre os ovimbundu, o/ a viúvo/a é “conhecido/ a” por ocimbumba. Logo, o
prefixo o tem a função de determinante: o/ a viúvo/ a.
- CINHANGÃ; n. s. cl. 7
- CISAPA; n. s. cl. 7
- CISINGI; n. s. cl. 7
- CIVELA; n. s. cl. 7
- CIVINDA; n. s. cl. 7
- EKISIKISI; n. s. cl. 5
140
- EKUMBI; n. s. cl. 5
- EPALANGA; n. s. cl. 5
- EUÂ; interj.
É uma interjeição e que muitas vezes tem uma função de advérbio com o
valor de afirmação. Ela significa: tudo bem, sim, concordo, com certeza.
- HENDA; n. s. cl. 9
- HEMBI; n. s. cl. 9
Tal como o antropónimo anterior, também ele pode ocorrer como nome e/
ou como adjectivo. O antropónimo hembi tem origem no adjectivo ohembi, com o
significado de mentira ou mentiroso.
- KAMAPUNHU; n. s. cl. 5
141
- KAMBUTA; n. s. cl. 15
- LONDAKA; n. p. cl. 9
- LONEKE; n. p. cl. 9
- LUMBUNGULULU; n. s. cl. 11
- MOKO; n. s. cl. 9
- NDJINDU; n. s. cl. 9
142
- OCILYAGU; n. s. cl. 7
- OHANDA; n. s. cl. 9
Perto das aldeias existem lugares elevados, uma montanha, com um cimo
plano, onde as senhoras vão produzir a chamada fuba limpa da pedra, muito apreciada
pelas pessoas economicamente bem posicionadas, pois esse produto é comercializado
a um preço bastante elevado.
FIGURA Nº 05
- OLOHAKU; n. p. CL.10
Tradicionalmente, olohaku são sandálias feitas com pele de boi, onde se coloca
143
uma parte da sola e umas tiras, também feitas com o mesmo material, para passar à
volta do pé. Na época moderna, já encontramos olohaku feitos a partir de pneus
gastos, mas preservando o mesmo modelo tradicional.
FIGURA Nº 06
- OLOMUNDO; n. p. cl. 10
(piquenique); n. m. s.
144
culinária para essas crianças.
(Hérnia testicular); n. s. f.
- OSEKULU; n. s. cl. 9
- WELEMA; n. s. cl. 9
145
Umbundu. Cada povo tem os seus hábitos e costumes gastronómicos. A língua veicula
a cultura de um povo de que fazem também parte a alimentação e a designação dos
alimentos. É nesse contexto em que encontramos algumas designações que abaixo,
trataremos de descrever.
- ESUANGA; n. s. cl. 5
Quanto à citiengã (chitiengã), essa tem a mesma preparação, com uma ligeira
diferença: antes de colocar no pilão, as folhas são passadas rapidamente por água
quente sem deixar cozer e só depois são trituradas, no pilão, sem esmagá-las na
totalidade. Levam-se a cozer muito bem e só depois, são refogadas da mesma forma
que a esuanga.
- OCITINA; n. s. cl. 7
146
algum molho.
FIGURA Nº 07
Ocitina
- OKAMBUENHA; n. s. cl.12
Normalmente, essa comida faz parte do cardápio das pessoas com pouco poder
económico. Apesar disso, há pessoas, mesmo tendo um poder económico aceitável,
por una questão cultural, em momentos específicos, preferem comer kabuenha.
147
FIGURA Nº 08
Peixe Kabuenha
- OLAMA: n. s. cl. 10
(rama); n. f. s.
- OLOMBI; n. s. cl. 10
Todas essas verduras, para os ovimbundu, depois de fervidas com água e sal e
feito o refogado, servem de guarnição do pirão (uma pasta feita com farinha de milho),
alimento básico para o povo Umbundu.
148
- OLOMBUA (lombuá; jimboa); n. s. cl. 10
FIGURA Nº 09
- OMAHINI: n. s. cl. 9
(Leite azedo); n. m. s.
149
alimento com bastantes nutrientes.
- OMUKAKU; n. s. cl. 9
FIGURA Nº 10
Omukaku
- UTIETIE: n. s. cl. 14
(Urzélia); n. f. s.
- VIMBELELE; n. p. cl. 4
É uma variante de okambuenha e designa peixe miúdo; mas pode ser também
designado de ovimbelele. A unidade lexical é quase sempre usada no plural e,
150
raramente, no singular, que seria ocimbelele (peixe miúdo).
- CILYONGOMBE; n. s. cl.9
Embora não seja uma planta medicinal, segundo Francisco Yambo (2003: 37) é
uma erva que cresce nos pântanos e que serve para a alimentação do gabo bovino.
Vulgarmente é conhecido por okulya ku’ongombe = comida do boi.
Esta unidade lexical pode adquirir outros significados associados, como: o que
mata ou matou o boi.
- OCANDALA; n. s. cl. 9
(Xandala); n. f. s.
Designa uma planta do tipo cato, babosa, cujos poderes medicinais são bem
conhecidos em quase todo o mundo. Entre os ovimbundu, as folhas dessa planta
servem para curar, entre tantas doenças, a hepatite C e algumas doenças venéreas.
151
FIGURA Nº 11
A Planta Ocandala
- OLONGESO; n. p. cl. 10
É uma erva que se encontra na selva e que produz um pequeno tubérculo com
poderes afrodisíacos. Para que produza os efeitos desejados, é mastigada.
- OLONGUPA; n. p. cl. 9
(Amendoin); n. m. s.
152
Ele pode ser comido de diferentes maneiras: fervido, assado, frito. Ainda se
pode comer com sal ou com o açúcar.
-OMBUNDI: n. s. cl. 9
(lupro); n. m. s.
- OMBULUTUTU; n. s. cl. 9
FIGURA Nº 12
Ombulututu
153
- SENDJE; n. s. cl. 5
- UYOMBE; n. s. cl. 12
Uyombe é uma planta com poderes medicinais que se encontra nos bosques.
Quando numa família existe um moribundo, procuram-se as folhas dessa planta que
são colocadas em água norma, depois espremem-se e colocam-se sobre os olhos do
doente, pois crê-se que tais folhas tenham poder de descerrar os olhos de quem esteja
moribundo.
Evocando Francisco Yambo que afirma que, na cultura dos ovimbundu, existe o
costume de nomes de plantas e de animais serem usados como antropónimos.
- CIHUNGULO; n. s. cl. 9
(Coruja); n. s. f.
154
dos ovimbundu ou portuguesa, sabemos e conhecemos o comportamento da coruja.
Ela é um animal de dupla fisionomia: nem é rato, tão pouco é pássaro.
- CIMBYAMBYULU; n. s. cl.7
(borboleta); n. s. f.
-CIMUKO; n. s. cl. 7
(ratazana); n. f. s.
- EKELENGE; n. s. cl. 5
(gato); n. m. s.
-ENYENYA; n. s. cl. 5
(escorpião); n. m. s.
155
mortífero.
- EPENGWE: n. s. cl. 5
- HOSI; n. s. cl. 9
( Leão); n. m. s.
- KACENHE; n. s. cl. 9
(Pequeno grilo); n. m. s.
- KAHANGA: n. s. cl. 9
156
perseguir alguém…). Daí, kahanga, poder significar caçador de avestruzes.
- KAPUKA; n. s. cl. 5
- KAMBOVO; n. s. cl. 9
(tipo de pássaro); n. m. s.
- KAMBWA; n. s. cl. 9
(cãozinho, cachorinho); n. m. s.
- KAMUKU; n. s. cl. 9
- KANDIMBA; n. s. cl. 9
(coelhinho); n. m. s.
157
- KANDJILA; n. s. cl. 9
- KANGUALI; n. s. cl. 9
FIGURA Nº 13
Onguali (Perdiz)
- KASANDJI; n. s. cl. 9
- KASIMA; n. s. cl. 9
(macaquinho); n. m. s.
158
- NENDE; n. s. cl. 9
(rola); n. f. s.
- NGANDO; n. s. cl. 9
(jacaré); n. m. s.
- NDJAMBA; n. s. cl. 9
(elefante); n. m. s.
- NGOMBE; n. s. cl.9
(boi); n. s. m.
159
- NGONGA; n. s. cl. 9
(gavião); n. m. s.
Tal como o nome anterior, este também tem o mesmo processo de formação;
recebe a vogal de aumento o, passando para ongonga que é uma ave de rapina.
- NGUEVE; n. s. cl. 2
(hipopótamo); n. m. s.
O nome em causa tem o morfema zero na sua formação. Apesar disso ele faz
parte da classe 2 porque faz o seu plural em a e ou em va, dependendo do termo em
causa; logo, temos: vangueve.
- OCINHAMA: n. s. cl. 7
Mais uma vez, o nome proposto, como antropónimo, funciona sem o prefixo o,
passando para cinhama, que em português significa animal. Em Umbundu, usa-se
como um hiperónimo (animal).
- OCISONDE; n. s. cl. 7
160
- OHOMBO; n. s. cl. 9
(cabra); n. f. s.
- OMBAMBI: n. s. cl. 9
- ONGULI; n. s. cl. 9
(hiena); n. f. s.
- ONGULU; n. s. cl. 9
O nome ongulu, que pode ocorrer como antropónimo (Ngulu) significa porco,
em Português. Em qualquer cultura, o porco é sinónimo de sujidade. A suposta
sujidade pode estar associada às circunstâncias do nascimento ou da concepção da
criança.
- ONHAÑGE: n. s. cl. 9
Onhañge é o nome que é dado à boeira (uma ave). Quando o nome ocorre
como um antropónimo, normalmente, é usado sem o prefixo o.
161
4.3.7. Alguns umbundismos relativos a instrumentos musicais
162
Nomes da classe 5:
- ELIMBA; n. s.
(Marimba), n.f.s.
FIGURA Nº 14
- ELYUMA; n. s.
(Trombeta), n.f.s.
- EKOLOWA; n. s.
163
- ENDINGU; n. s.
É um batuque “forrado”, nos dois lados, com a pele de animais, tocado com a
ajuda de dois paus, designados de ovisino.
- ENGWENA; n. s.
(Corneta), n.f.s.
- EPWITA; n. s.
(batuque), n.m.s.
Batuque atravessado por uma vara de caniço e que se toca com as mãos
molhadas, para assim produzir o som gutural.
FIGURA Nº 15
164
Nomes da Classe 7:
- OCISINO; n. s.
É o pau utilizado para tocar o endingu. Para que esse endingu produza o som
requerido, é necessário usar os ovicino (plural de ocisino).
- OCIÑOÑA; n.s.
- OCINGUFU; n.s.
- OCISANDJI; n. s.
(Harmónica), n.f.s.
165
FIGURA Nº 16
- OCITAMBA; n.s.
166
4.3.7.1.1. Hiponímia e hiperonímia
Segundo J. Lyons (1977), a hiponímia é a relação que existe entre uma unidade
lexical mais específica ou subordinada.
167
4.3.7.1.2.Holonímia e meronímia
Segundo Bergström e Reis (2000: 103), diz-se existir uma relação meronímia –
holonímia quando existe uma relação do todo pela parte e vice-versa.
HOLÓNIMOS MERÓNIMOS
Batuque Pele
Quissanje Teclado
Marimba Cabaça
168
4.4.Umbundismos em textos literários, científicos e jornalísticos
- NGOMBO; n. s. cl. 10
É um nome que provém do ekise- kise (singular), do (plural) akisi- kise, que
significa monstros; na cultura umbundu, é um personagem lendário que tem como
“missão” assustar ou ainda espantar crianças e adultos, em lugares obscuros ou outre
os assombrados.
- QUISSONDE; n. s. cl. 8
169
uma formiga muito voraz que pode atacar um ser humano.
- MARIMBONDO; n. s. cl. 6
170
- ANHARA; n. pl. cl. 6
- BALAMBAMBA; n. s. cl. 10
- BONHAR; v. cl. 15
- SAYOVO; v. cl. 15
171
- WANDITOMBI; v. cl. 15
172
CAPÍTULO V
173
5.1. História dos Dicionários
Cada uma dessas obras, dentro da sua área do saber, visa um estudo do
conhecimento que aborda.
5.1.1.O dicionário
175
semânticas. Podemos ainda afirmar que o dicionário é uma selecção concreta e
limitada da riqueza do léxico de uma determinada língua.
5.1.2.Tipos de dicionários
176
informações úteis, facilitando a comunicação, ao usar-se as siglas e as abreviaturas;
Para além dos dicionários citados, existem outros com diversos objectivos e
função específica na língua.
177
de uma mesma língua.
178
outra, sem querer, de forma espontânea, não a dissociamos da sua cultura.
Um outro autor, Hans Peter Kromann (1991: 2725), afirma que o verdadeiro
objectivo do dicionário bilingue é
Tendo em conta este pressuposto, a tradução que o utente faz, da sua língua
para uma língua estrangeira ou vice- versa, essa processa-se por meio de indicação de
equivalentes ou sinónimos interlinguísticos.
Portanto, a tradução que o falante faz da sua língua materna para uma língua
não materna, ou vice-versa, processa-se pela indicação de um equivalente,
considerado por alguns autores como sinónimo da vedeta ou termo da língua de
partida. Na falta de uma equivalência total ou parcial, a tradução deve ser feita através
179
de uma definição, explicando assim a significação da unidade lexical.
Ainda Alain Daniel, in Thomas SZENDE, (2000 : 31) tem uma opinião sobre os
dicionários bilingues, na língua, dizendo:
180
sobretudo as línguas bantu.
É quase essa ideia que é passada por Thomas SZENDE, (2000: 72), quando
afirma:
181
para descrever os empréstimos ao Umbundu.
5.1.3. A dicionarística
Luis Lara, in Ciências do Léxico (2004: 134), afirma que o dicionário, de uma
forma geral, é um tratado de interesse científico e interesse estético aliados aos
interesses legitimamente sociais e culturais, obrigando a um tratamento racional da
língua.
Ainda segundo o mesmo autor, hoje em dia, o dicionário deve ser visto como
um produto linguístico dos fenómenos verbais complexos (unidades lexicais) e não
apenas como um resultado da aplicação de vários métodos lexicográficos.
Continuando, Luis Lara (2004: 144), acrescenta que o dicionário deve ser visto
como um depósito da memória social e cultural do léxico, instrumento de informação
para as variadas sociedades que o utilizam, num determinado espaço e tempo.
5.1.3.1- Público-alvo
182
5.1.3.2. Macro e micro- estrutura do Dicionário de Umbundismos
183
língua Portuguesa em contexto africano.
184
5.1.3.2.1- Exemplos de entradas do Dicionário de Umbundismos
185
lexicográficos do Dicionário de Umbundismos.
186
187
188
189
190
191
6. CONCLUSÃO
192
De tudo quanto foi dito, podemos concluir que o contacto entre as línguas
(Português e Umbundu e vice-versa) é inevitável, pelo facto das duas línguas
conviverem no mesmo espaço linguístico, proporcionando assim o desenvolvimento e
enriquecimento das duas línguas.
Segundo Isaías Manuel (2011: 41), “No percurso de formação do sistema lexical
de uma língua, acumulam-se inumeráveis experiências e significações que os indivíduos
de uma comunidade antropo-sócio-cultural nele vão depositando, ao longo da sua
história”. Assim, o léxico, no caso das línguas em estudo, acumula experiências de
todos os falantes dessas línguas em contacto.
Estes exemplos, assim como que todas as unidades lexicais analisadas, foram
afectados a nível fonético, fonológico, morfológico e semântico.
193
No decorrer da nossa análise, confirmou-se que, na Língua Umbundu, o nome
não apenas identifica como também veicula valores culturais, históricos, sociais,
religiosos e políticos.
194
A nossa preocupação ao longo da nossa dissertação foi também mostrar que,
na cultura dos ovimbundu, o nome a ser atribuído a um novo ser humano que nasce
nessa sociedade pode ter diversas origens e associar-se a diversas circunstâncias. Logo,
qualquer nome, quer seja antropónimo ou gentílico, nome de animal ou da flora, quer
seja de um outro domínio pode ser utilizado como um antropónimo.
195
7. BIBLIOGRAFIA
196
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- “O Agora” (Semanário)
- “Angolense” (Semanário)
- “Folha 8” (Semanário)
- Independente” (Semanário)
7.3.2. SITE’s
- Os ovimbundu em Angola
8. ANEXOS
204
ANEXOS
I
ANEXO 1
Os Umbundismos na Literatura Angolana
II
EM ÓSCAR RIBAS
- Euâ – [euα], interj., or. Umb., adv. sim, confirmação, certeza; ex: “Olha aí. Será disso
que andas a procura? Euâ! É mesmo isso. Que bom ter encontrado! Já tinha perdido a
esperança”.
EM PEPETELA
- Baçulas – [basulαʃ], s.f., or.des., rasteiras; ex: “Quando jogamos à bola, o Romualdo
gosta de dar baçulas propositadas aos colegas. Essa atitude é muito feia”.
- Bubú – [bubú], s.m., or.des., camisa larga feita de panos coloridos, originária da
vizinha Rep. Democ. Congo; ex: “Os bacongos têm preferência em bubús coloridos”.
- Buelo – [bueu], s.m., or.des., pessoa não inteligente, de pouco raciocínio, burra (gíria
em Angola); “Infelizmente, na minha turma há muitos alunos buelos. São mesmo
incapazes de discorrer alguma coisa”.
- Hossi1 – [osi], s.m., or.umb., leão, (antrop.), nome que se dá a um dos filhos gémeos
- Jamba2 – [jãbα], s.m., or.umb., elefante, (antrop.), nome que se dá a um dos filho(a)s
gémeo(a)s, entre os ovimbundu; ex: “A minha irmã deu à luz, muito recentemente, um
casal de gémeos. A menina chama-se Ngueve e o menino Jamba”.
1
- Em Angola, entre os umbundos, miticamente, o leão e o elefante são símbolo de força
2
-Entre os umbundos, é o nome que se dá a um dos filhos gémeos. Quando são duas meninas ou um casal
= Jamba e Ngueve; dois meninos = Jamba e Hossi. Cf. DLPCACL: 2181 e DLP2003: 973
III
- Ngombo – [ngõbo], s., or. Umb., prática de advinhações, taurologia; “Alguns
angolanos gostam muito de consultar ngombo”.
- Quissonde – [kisõdə], s.m., or. Umb. (do ocisonde), formiga voraz, avermelhada que
pode atacar o homem; ex: “No tempo chuvoso há muito quissonde nas lavras. É
sempre um perigo para os lavradores”.
- Seculo3 – [sekúlu], s.m., or. umb. (do osekulu), idoso, mais velho (o mesmo que kota);
ex: “Os mais novos devem muito respeito aos seculos. Eles têm muita experiência de
vida”.
EM AMÉLIA MINGAS
- Brotuto – [brututu], s.m., or. umb. (do ombulututu), flora, um tubérculo com
propriedades medicinais; ex: “Quando sinto picadelas no fígado, tomo um chá de
brotuto. É santo remédio! Passa logo e não preciso de ir ao médico”.
- Bumbi – [bũbi], s.m., or.umb., hérnia testicular; ex: “O meu avô tem um grande
bumbi que lhe impede de andar. Terá mesmo que ser operado”.
- Cambuta – [kãbutα], s.m., or. umb. (do wambuta), pessoa de baixa estatura, anão;
ex: “O Mário é tão cambuta que no meio dos seus colegas ele fica perdido”.
- Gajaja – [gαjájα], s.f., or.LL., fruto angolano parecido a nêsperas; ex: “As crianças de
Benguela gostam muito da gajaja. E mesmo os adultos apreciam-na. Aliás, é um fruto
gostoso além de vitamínico”.
3
- O mesmo que cota. Cf. DLP2003: 442 e DLPCACL: 1007
IV
- Luando – [luãdu], s.m., or.LL., esteira; ex: “No Sul de Angola, durante o óbito, as
senhoras dormem em luandos, enquanto os homens passa as noites sentados”.
- Marimbondo – [marĩbõdμ], s.m., or. umb., (de alimbondo), insecto cuja ferradura é
bastante dolorosa; ex: “O meu avô foi atacado pelos marimbondos e tem a cara
inflamada”.
- Makunde – [mαkũdi], s.m., or.umb.,(de akunde), feijão frade; ex: “Quando fores ao
mercado, compre dois quilos de makunde para o almoço de sábado”.
NA IMPRENSA ANGOLANA4
- Jangos – [jãguʃ], s.m., or. umb. (do ondjango), tendas para reuniões nas aldeias
4
- A ordenação deste léxico é arbitrária, pois segue a ordem cronológica dos jornais e não a ordem
alfabética das palavras. E quanto à contextualização, ver na página 61 deste trabalho.
V
ANEXO 2
Os Umbundismos nos Falantes Angolanos (observação)
VI
- Aca5 – [akα], interj., or. umb.(Do haka), exprime admiração, raiva; ex: 1- “Ontem, a
noite fui ao Cine S. Paulo assistir uma peça de teatro. Foi muito bonito. Aca! Que coisa
tão bem feita! Foi uma maravilha!”. 2- “Há muita pobreza no mundo, sobretudo nos
países em via de desenvolvimento. Os governos desses países não têm em conta o seu
povo. Aca! Aí só reina a corrupção.”
- Anhara – [aɧárα], s.f., or. umb., uma planície desarborizada e com vegetação
rasteira; ex: “O centro de Angola tem muitas anharas.”
- Baúca – [bαúkα], s.f., or.des., lugar pouco cómodo no candogueiro e geralmente, tem
um preço mais reduzido que os demais lugares do candongueiro.
- Bilo – [bílo], s., or.des., confusão, barafunda; ex: “Em casa do meu vizinho há sempre
bilo. Todos os dias é um desassossego total.”
- Bonhar – [boɧαr], v.intr., or. umb., (do okuponha), não acertar o alvo; ex: “Esses
jogadores nunca conseguem meter um golo; sempre bonham na bola: Parece terem
gelatina nas pernas. Que pena. Assim nunca ganham o jogo”.
- Buage – [buágə], s.f. or. umb. e nh. (do ombwandge), amiga íntima; ex: “A Sandra é a
única buage que tenho. Entre ela e eu não há segredos.”
- Bulunga – [bulũgα], s.f., or.nh. (do ombulunga), o mesmo que quissângua; ex: “As
mulheres nhanecas alimentam os seus filhos com bulunga e mahine.”
5
- Cf. DLP2003, pp14
VII
- Cabuenha – [kαbμέɧα], s.f., or.umb. (do okambwenha), peixe miúdo, peixe
pequenino, geralmente seco, utilizado por gente de baixa renda; ex: “A cabuenha,
apesar de ser baratíssima, é muito boa. Assada ou frita, fica melhor!”
- Cacundar – [kakũdαr], v.intr. or.des., (de cacunda6), acto de pôr a crianças nas costas,
atada com um pano ou um porta- bebés; ex: “Por falta de hábito, eu já não consigo
cacundar uma criança, principalmente se ela é gorda. Dá-me cabo do peito.”
- Cafricar – [kafrikαr], v.intr., or.des., uma técnica que consiste em pôr , durante a luta,
a cabeça do adversário dentro do sovaco; ex: “Quando te envolveres numa briga,
esteja atento ao teu adversário, para não apanhares uma cafrica. Se apanhares,
estarás bem feito, pois é difícil sair dela.”
- Cafuquim – [kαfμkĩ], adj., or.umb., pobre, paupérrimo, sem recursos; ex: “A Luisa,
enquanto foi cafuquim era obediente. Agora abriu o olho e não respeita ninguém. É
toda cheia de «nove horas».”
- Calipela – [kαlipélα], adj., or.umb., (do epela), careca; ex: “Os produtos que uso para
arranjar o cabelo não são muito bons. Ultimamente o meu cabelo está a cair bastante.
Tenho medo de ficar calipela.”
- Calumba – [kαlũbα], s., or. umb. (do okulumba), escravo de alguém, empregado de
alguém; ex: “Os feiticeiros preferem ter netos ou sobrinhos como seus calumbas.
Dificilmente põem os próprios filhos nesse serviço que refere segredo.”
- Calundo – [kalũdμ], s.m., or. umb. (do elundu), cemitério, lugar onde repousam os
mortos.
6
- Cf DLP2003, pp274
VIII
- Candondo – [kãdõdo], s.m., or.kim., rato de tamanho pequeno; ex: “Ontem, durante
a noite, fui ruída por um candondo. Acordei com os dedos todos ruídos. Dá uma dor
danada.”
- Cangar – [kãgαr], v.intr., or.des., caça ao homem, cerco, rusga; ex: “No tempo da
guerra, em Angola, cangava-se muitos jovens para a tropa. Muitos morreram
tragicamente”
- Canguleiro – [kãgul⍺jru], s.m., or. Umb., homem que carrega/ transporta o cangulo.
- Canuco – [kαnúkμ], s.m., or.umb., criança, filho pequeno; ex: “O meu canuco faz anos
amanhã e não tenho dinheiro para dar um jantar.”
- Capuca – [kapúkα], s.f., or. umb.,(do epuca = bicho10), o mesmo que caporroto; Ex: “O
tio António está todos os dias com copos. Infelizmente está a dar cabo do fígado com
capuca.”
7
- Cf. DLPCACL, pp664
8
- Cf. DLP 2003, pp.295
9
- Cf. CLENIR, Louceiro et al., 1997, pp130
10
- Faz alusão a um bicho que é nocivo. Assim como o bicho também a aguardente torna-se nocivo ao
organismo, destruindo tudo o que é bom e saudável.
IX
- Cará – [kαrá], s.m., or. des. Batata- doce.
- Caular – [kαμlαr],v.intr., or.des., comprar algo por preço baixo para revenda; ex: “As
quitandeiras e as zungueiras, todos os dias, levantam-se muito cedo para caularem
artigos para a revenda, nas ruas de Luanda.”
- Corototô11 – [korôtotô], adj., or. umb. (do okukolokota), pessoa agarrada às coisas,
mão- de- vaca; ex: “O Adelino é um senhor muito corototô; não dá nada do que é
seu!.”
- Cuia – [kúiα], adj., or.des., bom, agradável, gostoso; ex: “O funge com a muamba de
galinha cuia. É o meu prato preferido.”
- Chana – [ʃánα],s.f., or.des., terreno coberto de capim rodeado por uma floresta; ex:
“No Planalto Central de Angola abundam muitas chanas. No tempo chuvoso, ficam
todas verdinhas. É uma paisagem muito bonita de se ver.”
11
- Cf. CLENIR, Louceiro et al., 1997, pp197
12
- Nas Províncias de Benguela e Huambo, Cupapata é o serviço de táxi em motorizadas. O termo é
alusivo ao acto de agarrar-se à cintura do condutor, enquanto se é transportado. Kupapata, em umbundu
significa apalpar.
X
- Chilicar – [ilikαr], v.intr., or.kim., enervar-se, sofrer ataque nervoso.
- Chilumba – [ilũbα],s.f., or. umb., oferta, ex: “No próximo domingo é a festa da nossa
Paróquia. O grupo dos jovens será responsável pela chilumba. Cada um deles trará o
que poder.”
- Chingombo – [ĩõbu], s.m., or.umb., quiabos; ex: “Sábado ensino-te a fazer o calulú
de peixe. Tens de preparar um quilo de peixe fresco grosso, um de peixe seco, gimboa
que baste, meio quilo de chingombo, tomate, cebola e óleo de palma.”
- Chinguive – [ĩίvε], s.m., or.umb., ressaca; ex: “Quando se passa a noite numa festa
a beber, no dia seguinte é difícil manter-se em pé. É necessário tomar uma boa sopa de
peixe, com muito gindungo para tirar o chinguive.”
- Chipala – [ipálα], s.f., or.umb., cara, rosto, face; ex: “A Rosa tem uma linda chipala.”
13
- Achamos tratar-se de uma bantuização do termo colono = coronho
14
- Cf. DLP2004, pp350
XI
- Damba – [dãbα], s.f., or. des., espécie de vale encravado entre morros; ex: “A cidade
do Lobito e a vila da Catumbela estão construídas entre dambas. No tempo chuvoso
para entrar naqueles bairros é muito difícil, porque o terreno torna-se escorregadio.”
- Ecuenje – [ekuẽe], s.m., or. LN’s., ritual da circuncisão; ex: “Em Junho, época do
cacimbo, é a altura ideal para ecuenje. Pelas temperaturas que fazem nessa altura, os
rapazes não apanham infecções e os resultados são melhores.”
- Epangüe – [epãμε], s.m. or.umb., o mesmo que cangonha; ex: “Na actualidade,
muitos jovens fumam epangüe.”
- Futucado – [futukadu],adj., or. umb.e kim., chateado, zangado; ex: “O patrão está
super futucado. Hoje ninguém pode aproximar-se dele.”
- Gando – [ãdu], s.m., or.umb. (do ongandu), jacaré, (top.), uma das Comunas da
Província do Kuito-Bié.
15
- Idem, pp351
16
- Cf. CLENIR, Louceiro, 1997, pp141. (Em Angola, o termo tem uma carga semântica muito forte)
17
- É um termo mais usado na Província de Benguela
18
- Cf. NADLP, pp997
XII
- Gongolô19 - [õolô], s.m., or. umb.(do egogolõ), centupeia, mil pés; ex: “O gongolô
parece ser um bicho inofensivo, mas é perigoso.”
- Handa20 – [hãdα], s.f., or.umb., (entre os umbundos) lugar onde se moe a farinha de
milho; ex: “Amanhã vamos sair muito cedo de casa porque temos muito milho para
moer na handa.”
- Lambula – [lãbúlα], s.f., or. des., sardinha grossa; ex: “Todos os fins-de-semana,
almoço com a minha família, no Panguila, Aprecio um bom prato de lambula grelhada
com molho de gindungo e cara cozida.”
- Lohaco – [luáku], s.m., or.umb., sandálias tradicionais; ex: “Os naturais do Bocoio
gostam de usar lohaco. Embora eu não seja bocoístas, também gosto de usá-los. Dão
bom andar e são muito práticos.”
- Maculu – [makulu], s., or.umb.(do amakulu): avô(ó), oxiúrios; ânus roído; ex: 1- “A
maculu Helena é muito boa. Cuida muito bem dos seus netos”; 2- ”As crianças que
gostam de comer pão seco têm tendência de criar maculu. Veja lá! Evita dar pão seco
ao teu filhote.”
- Macrueira – [mαkruαjrα], s.f., or.des., mandioca seca que serve para fazer farinha de
mandioca; ex: “Os camiões que vêm de Malange trazem muita macrueira. É melhor
comprarmos essa, porque a farinha que dela provém é branquinha. Faz um funge
delicioso!.”
19
- Idem, pp996
20
- Feito numa pedra ou em cimento com orifícios para pôr o milho
XIII
- Maiuia – [mαjμiα], adj. or.des., sem prestígio, não original, falsificado; ex:
“Raramente compro roupa nos armazéns da gajajeira. São todos malianos e a sua
roupa é de maiuia. Por isso é que é muito barata. Prefiro comprar a brasileira que é
muito mais cara, mas tem garantia de ser original.”
- Mucaco – [mukáku], s.m., or.umb., peixe seco assado sem demolhar; ex: “Hoje ao
almoço, vamos comer mucaco com pirão acompanhado de molho de tomate e
jindungo.”
- Muquifo – [mukífu], s.m., or.des., casebre, casa sem condições, lugar estreito; ex: “Se
eu tivesse bom ordenado, saia daquele muquifo. Estou cansada de viver naquelas
condições. Não sei porquê que a sorte não me toca.”
- Quibuto – [kibutu], s.m., or.umb. (do ocimbutu), meio saco, pequena quantidade de
qualquer produto; ex: “A Luísa ainda é muito criança, embora tenta uma boa altura.
Ela não aguenta com o quibuto de arroz.”
21
- Cf. DLP2004, pp1059
22
- Cf. DLP2003, pp1146
23
- Cf. DLPCACL, pp3041
XIV
- Quiconha – [kikόηα], s., or.Ln(s)., ataques epilépticos; ex: “O marido da Arminda
morreu de quiconha. Coitado, sofreu muito com a doença.”
- Quissingue – [kisĩi], s.m, or.umb., tronco de uma árvore; ex: “No próximo fim da
semana vamos passar o dia no campo. Não precisamos de levar banquinhos, porque há
lá muitos quissingues para nos sentarmos.”
- Quitengue24 – [kitẽi], s.m., or.des., um género de pano com cores muito vivas usado
em África; ex: “Quando fores a Luanda, compras-me uma peça de quitengue, pois
pretendo fazer um fato africano.”
24
-O termo é mais usado na Província de Benguela e as Províncias do Planalto Central de Angola
(Huambo e Kuito- Bié)
25
- Extracto do suplemento semanal do jornal de Angola (25-11-2004)
26
- motorizada do tipo Honda e de grandes velocidades, em alusão ao paraolímpico angolano, José
Sayovo, medalha d’ouro nos jogos Paraolímpicos de 2004, na Grécia.
XV
- Sarapieira27 – [sαrαpiαjrα], s.f., or.des., saco de ráfia; ex: “Quando fores fazer
compras, traz os produtos numa sarapiera, porque é mais forte e aguenta com o
peso.”
- Tantã28 - [tãtã], adj., or.des., aluado, amalucado, cabeça na lua; ex: “A Eunice é uma
boa senhora, porém, ultimamente, parece estar a ficar tantã.”
- Virosca30 – [virókα], adj., or.des., zarolho; ex: “A filha da Júlia nasceu virosca.
Infelizmente os médicos não conseguem corrigir o defeito.”
- Xixilar – [iilαr], v.intr., or.des., esperar sem garantias; longa espera; ex: “O Director
da Cimangola, gosta de fazer xixilar os clientes. Estes passam largas horas na fábrica
para conseguirem pelo menos vinte sacos de cimento. É desagradável.”
27
- É um termo mais usado na zona da Província de Benguela
28
- Cf.DLP2004, pp1584
29
- Por repetidas falhas de energia, em Angola, os consumidores recorrem a geradores. Porém, nem todos
conseguem adquiri-los. As pessoas da classe média utilizam os pequenos geradores que, pela sua fraca
potência, somente consegue arrancar alguns electrodomésticos e que consegue funcionar alguma largas
horas. Daí o nome que se lhes atribuem: uanditombi que em umbundu = desprezam-me. Subjaze naquela
expressão a seguinte lição: “Desprezam-me, porém também valho; consigo iluminar alguma coisa”.
30
- Cf. CLENIR, Louceiro et al., 1997, pp153
XVI
- Zazá31 – [zαzά], s. or.des., indivíduo de nacionalidade zairense; ex: “Nos últimos
tempos, muitos zazás entram de forma ilegal, em Angola.”
31
- Em Angola, zazá, é também o indivíduo regressado/ retornado da República Democrática do Congo,
ex- Zaire
XVII