Intimidade Divina - Pe Gabrielde Sta M Madalena
Intimidade Divina - Pe Gabrielde Sta M Madalena
Intimidade Divina - Pe Gabrielde Sta M Madalena
Michael Haag
Maria Madalena
Da Bíblia ao Código Da Vinci: companheira de Jesus,
deusa, prostituta, ícone feminista
Tradução:
Marlene Suano
Professora do Departamento de História ‒ FFLCH/USP
Especialista em história e arqueologia do Mediterrâneo Antigo
Para Dasha, por trás dessas palavras
Título original:
The Quest for Mary Magdalene
(History and Legend)
Todos os esforços foram feitos para identificar possíveis detentores de direitos. Caso tenha
havido alguma violação involuntária, eventuais omissões serão incluídas em futuras edições.
L E IA MAR DA
L I Magadan
A Ruma GALILEIA
G
NEO
Tiberíades
Séforis Caná
Nazaré
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Naim
D
E
C
Cesareia
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RIO JORDÃO
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Pela
ME
L IS
SAMARIA
Sebasteia
R
MA
Jaffa
PEREIA
Lod
Jericó
Emaús
Jerusalém Betânia
JUDEIA Belém
Ascalon
0 10 20 Milhas Masada
0 10 20 30 Km
Introdução
E eis que uma mulher da cidade, que era uma pecadora, quando soube que ele
estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo e
colocou-se a seus pés por trás dele, chorando, e começou a lavar seus pés com
lágrimas, e os enxugava com os cabelos de sua cabeça, e beijou seus pés, e os
ungiu com o unguento. … E ele disse a ela: “Os teus pecados estão perdoados.”
Esta história foi substituída em 969 por uma leitura muito diferente,
desta vez a partir do capítulo 20 do Evangelho de João, em que uma
mulher identificada como Maria Madalena exige atenção não por causa
de seus supostos pecados, mas porque Jesus se revela a ela em primeiro
lugar na ressurreição.
Disse-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Ela, julgando
que ele fosse o jardineiro, disse-lhe: “Senhor, se tu o levaste, dize-me onde
o puseste, e eu o levarei embora.” Disse-lhe Jesus: “Maria.” Ela virou-se e
disse-lhe: “Raboni”, o que quer dizer “Mestre”.
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por ,4 mil anos, desde 59, quando o papa Gregório Magno declarou em
sua homilia que Maria Madalena era uma prostituta.
Não que alguém estivesse ouvindo a retratação do Vaticano em
969, ou talvez simplesmente preferissem a prostituta à mulher que
testemunhou a ressurreição – o acontecimento que está no centro da
religião que moldou a história e a cultura da maior parte do mundo
durante os últimos 2 mil anos. Seja qual for a razão, em 970, apenas um
ano depois que a Igreja católica mudou de ideia sobre Maria Madalena,
ela alcançou sucesso mundial no álbum Jesus Cristo Superstar (seguido
pelo musical em 97 e o filme em 973), quando, na pessoa de Yvonne
Elliman, cantou uma canção sentimental, “Eu não sei como amá-lo”,
sobre sua paixão por Jesus:
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E sucedeu que, depois disto, andava Jesus por cidades e aldeias, pregando
e anunciando a boa nova do reino de Deus; e os Doze o acompanhavam,
assim como certas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos
e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete
demônios, e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Susana, e
muitas outras, que o serviam com os seus bens.
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multidão com pães e peixes, Jesus “entrou no barco e foi para as costas
de Magdala”, que é o texto da versão do rei Jaime. A fonte grega que
foi seguida neste caso, no entanto, data apenas do século V, mas fontes
gregas mais antigas e mais confiáveis, tais como os manuscritos do início
do século IV, conhecidos como o Códice Sinaítico e o Códice Vaticano,
não mencionam “Magdala” de forma alguma. O Códice Vaticano, por
exemplo, diz que Jesus “entrou no barco e foi para as costas de Magadan”
– exatamente o que aparece em edições escolares modernas, como A Bíblia
Inglesa Revista, bem como em bíblias católicas e ortodoxas. Isto é apoiado
pela evidência dos Pais da Igreja, Eusébio e Jerônimo, o primeiro escre-
vendo no início do século IV, o segundo no final do século IV, que não
fazem nenhuma menção a qualquer lugar chamado Migdal ou Magdala;
eles falam apenas de Magadan.
No que foi, aparentemente, um ato de edição criativa, um copista
bizantino transformou Magadan em Magdala. Embora semelhantes, os
nomes Magadan e Magdala significam duas coisas diferentes. Magadan
deriva da palavra aramaica magad, que significa mercadoria preciosa, en-
quanto Magdala deriva do aramaico magdal e do hebraico migdal, signi-
ficando torre.
Mas a identificação de Magdala com Magadan começou a produzir
seu efeito. Antes da alteração bizantina do texto no Evangelho de Mateus,
os peregrinos que viajavam pela Terra Santa nada diziam sobre qualquer
lugar chamado Magdala. No início do século VI, no entanto, um pere-
grino chamado Teodósio deparou-se com Magadan, na margem ocidental
do mar da Galileia, e, influenciado pelo texto inventado, declarou que
ele tinha vindo para Magdala; “Magdale, ubi domna Maria nata est”, ele
escreveu em latim: “Magdala, onde a senhora Maria nasceu.”
Peregrinos viajando para a Terra Santa vicejaram em associações
com os evangelhos, e aqueles que seguiam na esteira de Teodósio ti-
nham o prazer de concordar que Magadan era o local de nascimento
de Maria Madalena. Por volta do século IX peregrinos mencionavam
uma igreja em “Magdala”, que supostamente compreendia a própria
casa de Maria Madalena, de onde os sete demônios tinham sido ex-
A mulher chamada Madalena 23
A torre de vigia