Estudo de Vigas - Concreto 1
Estudo de Vigas - Concreto 1
Estudo de Vigas - Concreto 1
Flexão simples é a flexão sem a força normal, apenas com a atuação do momento fletor e da força
cortante. Caso ocorra a força normal, o campo de estudo se refere à flexão composta, mais característica
para os pilares.
Já no caso das lajes, despreza-se a força cortante, e temos a flexão pura.
Para desenvolver o estudo da flexão simples, iremos nos concentrar nas vigas que, segundo a definição da
NBR 6116, são os “elementos lineares em que a flexão é preponderante”.
Basicamente, a função das vigas é receber as cargas das lajes e transmiti-las aos pilares. Sua armadura é
composta de barras longitudinais (responsáveis pela resistência à tração causadas pela flexão) e por
estribos (responsáveis pelo combate às tensões de compressão e tração geradas na seção transversal, e
às tensões de cisalhamento). Tensão é o esforço por unidade de área, que varia de acordo com as
características geométricas da peça. O que importa é conhecer o valor máximo.
Num raciocínio inverso à laje armada em uma só direção, podemos comparar as barras longitudinais
como a armação principal, e como armação secundária a armação transversal (paralela ao lado menor),
sendo neste caso, os estribos. Quando a armadura longitudinal estiver apenas na região tracionada, é
necessário ter um porta-estribos, composto por duas barras na região comprimida, o que mantém os
estribos na posição de projeto.
O método elástico especifica que devemos calcular as tensões máximas e compará-las com as tensões
determinadas em experimentos de laboratório. Se esta for menor que aquela, garante-se a segurança.
Este é o método de cálculo clássico, ou método das tensões admissíveis.
No entanto, o método mais adotado atualmente consiste em calcular o momento capaz de romper a
peça, e compará-lo com o momento solicitante calculado em função da carga atuante. O estudo é feito na
ruína da estrutura. Obtém-se o coeficiente de segurança (ou de ponderação) dividindo-se o momento ao
qual a peça resiste até o momento responsável pelo colapso (momento solicitante).
M: momento fletor solicitante
Logo, no equilíbrio,
Cc: resultante de compressão no concreto Cc.Z = Ts.Z = M
Ts: resultante da tração no aço
z: distância (braço de alavanca)
ESTÁDIOS DE TENSÃO:
A ruptura da viga por flexão é lenta e gradual; já se for causada pelos esforços cortantes é abrupta e
imediata. Assim, a resistência da viga ao cortante deve ser maior que a resistência à flexão.
A maneira pela qual o cálculo estrutural analisa o comportamento de uma seção de concreto consiste em
carregá-la, gradativamente, do zero à ruptura (são aplicados esforços de ruptura: esforços máximos
permitidos oriundos da multiplicação dos esforços solicitantes - de serviço - pelo coeficiente de
segurança). Isto permite acompanhar 3 (ou 4) etapas bem características que uma peça estrutural
submetida à flexão passa, do início do carregamento ao colapso. Cada uma destas etapas de tensão é
chamada de ESTÁDIO.
ESTÁDIO I
ESTÁDIO Ia: σct < fct, onde fct = resistência do concreto à tração. Corresponde ao início do
carregamento, e por isso as tensões são pequenas. O diagrama de tensões é linear ao longo da seção
transversal da peça, conforme a lei de Hooke (a intensidade da força elástica é diretamente proporcional
à deformação: σ = ε E).
ESTÁDIO Ib: σct = fct. cálculo do momento fletor de fissuração (solicitação que pode provocar o início da
formação de fissuras). É como se não houvesse armadura: o cálculo pode ser feito tratando a estrutura
de CA como concreto simples: substitui-se a armadura por concreto de área α vezes a área da armadura,
sendo α a relação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto.
O início da fissuração, que ocorre no instante que as tensões de tração (σct) superam a resistência do
concreto à tração (fct), determina o fim do ESTÁDIO I e início do ESTÁDIO II. É nessa fase que é calculada a
armadura mínima.
ESTÁDIO II
σct > fct e σs < fyd. Concreto trabalhando à compressão no regime elástico enquanto as tensões de
tração são desprezadas (concreto fissurado).
Nesta etapa, o concreto já não resiste à tração, surgindo fissuras nesta região tracionada. Assim,
despreza-se a resistência do concreto à tração; contudo a zona de compressão continua sob a lei de
Hooke: tensões lineares, de zero (na linha neutra) ao valor máximo (na borda mais comprimida).
No ESTÁDIO II, é possível verificar o comportamento da estrutura em serviço, seja no estado limite de
abertura de fissuras ou no estado limite de deformações excessivas.
Como o carregamento continua crescendo, as fissuras e a linha neutra vão na direção da borda
comprimida, e as tensões de tração e compressão aumentam, podendo atingir ou não o escoamento –
início do ESTÁDIO III (o ESTÁDIO II termina com o início da plastificação do concreto comprimido).
ESTÁDIO III
Obs:
Como visto no estudo de lajes nervuradas, para facilitar o cálculo, a Norma permite a
adequação do gráfico para a forma retangular. A tensão é 0,85fcd se a largura da seção (na
linha neutra) não diminuir em direção da borda comprimida. Caso contrário, adota-se
0,80fcd.
Para que o raciocínio de cálculo no ESTÁDIO III seja viável, algumas hipóteses devem ser seguidas (as
mesmas serão melhor detalhadas um pouco mais à frente):
- As seções transversais se mantém planas até a ruptura;
- O encurtamento de ruptura do concreto à compressão é igual a 3,5 mm/m, ou 3,5%0 (três e meio
permilagem, ou por mil) .
- O alongamento máximo do aço na tração é de 10mm/m, ou 10 %0 (dez permilagem, ou por mil).
DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO:
Agora, serão vistas as deformações. Considera-se que o colapso de uma estrutura à flexão ocorre na
ruptura do concreto submetido à compressão ou da armadura submetida à tração. Quando o aço ou o
concreto atinge seu limite de deformação causada por tensões de compressão e tração (ocasionando,
respectivamente, encurtamento e alongamento), entra-se no campo chamado DOMÍNIO. São, portanto,
representações das deformações (ε) existentes na seção transversal.
A linha neutra percorre o espaço de - a + . Entre X=0 e X=h, a LN estará dentro da seção da peça.
RETA A:
É uma linha que representa a tração uniforme (ou axial):
todos os pontos, inclusive as armaduras, estão com
tração no limite (εyd =10 ‰). As armaduras As1 e As2
estão com a mesma tensão de tração fyd (a mesma do
início de escoamento do aço).
A força normal está no centro de gravidade da seção
transversal.
A seção está totalmente tracionada (εcd=0), sendo as armaduras a única fonte de resistência. Porém, a
tração não é uniforme, pois a deformação varia, na borda superior, de 10 ‰ a 0 (10%0 <= εyd <= 0). Na
armadura inferior, a deformação permanece em 10 ‰ (εyd = 10 ‰)
Assim, a linha neutra desce de - a zero, e está fora da seção transversal, com X (altura da LN) negativo.
No momento que passa pela borda superior, dá-se o limite entre os domínios 1 e 2.
Neste domínio, o concreto está inteiramente fissurado, e a ruína se dá pelo alongamento do aço
DOMÍNIO 2:
É quando o concreto começa a sofrer encurtamento causado pela compressão. Em decorrência desta
deformação, o domínio 2 é subdividido em duas partes:
- Domínio 2b: a deformação vai de 2%0 a 3,5%0 (2 <= εcd <= 3,5%0)
Como a seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida, a linha neutra inicia-se em zero, e
cresce até o valor X2lim (0 ≤ X ≤ X2lim), cujo cálculo será visto mais adiante.
Assim, classifica-se o domínio 2 como dimensionamento à seção subarmada, uma vez que a armadura
tracionada é aproveitada ao máximo, com εsd = 10 ‰, mas o concreto comprimido não, com
εcd ≤ 3,5 ‰ (como se houvesse sobra, desperdício de concreto). Ou seja, a armadura escoa antes da
ruptura do concreto à compressão.
Este domínio configura-se como a divisa entre a ruína por exclusivo alongamento da armadura e a
ruptura do concreto comprimido (próximos domínios).
DOMÍNIO 3:
Na borda superior, o concreto está comprimido no valor máximo de εcd = 3,5 ‰, estando assim, na
ruptura. Na borda inferior, a deformação de alongamento na armadura tracionada está entre a
deformação de início de escoamento e 10 ‰ (εyd <=εsd <= 10%0).
A tensão na armadura é a máxima permitida, fyd, ou seja, também é uma armadura econômica.
Este domínio é classificado como dimensionamento subarmado, mas quando se verifica a deformação
última do concreto simultaneamente com a deformação última da armadura (10%0), classifica-se como
seção normalmente armada.
A altura da linha neutra varia de X2lim até X3lim (X2lim ≤ X ≤ X3lim), servindo de fronteira entre os domínios 3
e 4.
DOMÍNIO 4
Na borda superior, o concreto continua na ruptura, comprimido no valor máximo de 3,5 ‰.
O aço, porém, não atinge o escoamento, e considera-se este domínio como seção superarmada: o
concreto atinge o encurtamento de ruptura antes da armadura escoar.
A deformação de alongamento na armadura tracionada varia de zero até εyd , ou seja, a tensão na
armadura é menor que a máxima permitida, fyd. A ruína é pelo encurtamento do concreto.
A altura da linha neutra pode variar de X3lim até a altura útil d (X3lim ≤ X ≤ d), sendo que, se ultrapassar,
entra-se no DOMÍNIO 4a, válido apenas para a flexo-compressão.
DOMÍNIO 4A
A seção está quase totalmente comprimida. A ruína permanece causada pela deformação de
encurtamento máximo do concreto na borda superior comprimida (εcd =3,5 ‰). A borda inferior está
com 0 <= εsd <= εyd.
Ambas as armaduras encontram-se comprimidas, embora a armadura próxima à linha neutra tenha
tensões muito pequenas (portanto, esta armadura é mal aproveitada).
A linha neutra ainda está dentro da seção transversal, na região de cobrimento da armadura menos
comprimida, ou seja, d ≤ X ≤ h.
DOMÍNIO 5
A seção está totalmente comprimida. A linha neutra está fora da seção transversal, com altura variando
de h até +. A ruína acontece pelo encurtamento do concreto.
Neste domínio é definido o ponto C, existente a 3/7 h a partir da borda mais comprimida. É por este
ponto que passa a linha inclinada do diagrama de domínios.
O diagrama terá forma de um triângulo (quando a altura da LN for igual a h) ou, com seu contínuo
deslocamento, de um trapézio.
RETA B
A compressão é uniforme, com a força normal de compressão
aplicada no centro de gravidade da seção transversal . A linha está
em +∞ , e todos os pontos da seção possuem encurtamento de 2
‰.
DIMENSIONAMENTO DE VIGAS:
Um ponto fundamental para início do cálculo é a obtenção da altura X da linha neutra. Ela dependerá do
tipo de aço. Obs: 0 X d
0,01 0,0035
dx X
X lim2 / 3 0,259d
LIMITE ENTRE O DOMÍNIO 3 E O DOMÍNIO 4:
yd 0,0035
dx X
0,0035d
X lim3 / 4
yd 0,0035
Lembrando que fyk 250MPa
250
aço CA-25: fyd 217,39MPa
1,15
217,39 Módulo de elasticidade do aço =
yd 0,001035 1,04%0
210.000 210 GPa = 210.000 MPa
fyk 500MPa
500
fyd 434,78MPa
aço CA-50: 1,15
434,78
yd 0,002070 2,07% 0
210.000
fyk 600MPa
600
fyd 521,74MPa
1,15
aço CA-60: 521,74
yd 0,00248 2,48%0
210.000
ROTEIRO PARA O DIMENSIONAMENTO:
1) determinar a altura da linha neutra
Caso esta limitação seja ultrapassada, entramos com o valor de fck e de Kc na tabela Kc x Ks para
determinar o novo βx. Com este novo valor de βx, teremos X = βx *d.
bw * d 2
Obs: lembrando que Kc
Md
4) cálculo da seção:
Md
a. se for no domínio 2 ou 3: As
Z * fyd
Md
b. se for no domínio 4: As
Z * sd
Md
Obs: se X foi obtido por meio de X = βx *d, a área da seção será As Kc
d sd
5) armadura mínima: As mín mín * b * h
6) espaçamento entre as bitolas:
2cm 2cm
eV eH
0,5dMáx 1,2dMáx
7.1 – Calcula-se M2d, que é a resultante da compressão sobre o aço multiplicada por (d – d´).
M 2d
7.2 – calcula-se A´s A´s:
´sd (d d ´)
Md M 2d
7.3 – calcula-se As: As
sd (d 0,4 X ) sd (d d´)
Observações gerais:
Seção superarmada: o esmagamento do concreto vem antes da armadura escoar (εsd < εyd). Isto
ocorre quando se usa uma altura da peça menor do que aquela se fosse normalmente armada.
Não é recomendada na flexão simples, sendo característica do domínio 4.
Seção subarmada: a armadura escoa antes do concreto se romper (εsd >= εyd). Neste caso, a
altura é maior do que se fosse normalmente armada. Pode ser usada para economizar armadura,
característica do domínio 2 e 3.
Uma viga deve ter largura mínima de 12cm, exceto para vigas parede, que deve ser 15cm.
Vigas parede são vigas altas, onde a relação comprimento/altura é menor que 2 (vigas biapoiadas)
ou 3 (vigas contínuas), podendo receber carregamentos superiores ou inferiores.
Caso a viga tenha mais que 60cm de altura, faz-se necessário o uso de armaduras de pele, que são
barras longitudinais dispostas nas faces laterais da seção para evitar o surgimento de fissuras na
parte tracionada, combatendo a retração e os efeitos da variação da temperatura.
CISALHAMENTO
Na flexão simples e pura, consideramos como constante o momento fletor, e não levamos em conta a
ação do esforço cortante (V).
Na flexão dita não-pura, o momento é variável e há atuação do cortante. Sempre haverá a atuação de um
momento junto com o cortante que, inclusive, está relacionado ao ângulo de inclinação da viga em
relação ao seu eixo.
A fórmula geral do cisalhamento é , onde
τ = tensão tangencial devido o cortante;
V = esforço cortante na seção;
S = momento estático da área acima da fibra em consideração em relação à LN;
I = momento de inércia da seção em relação à linha neutra.
Para simplificação do cálculo, adota-se um modelo chamado
NOMENCLATURA:
BC → banzo comprimido: zona comprimida de concreto(Rcc);
BT → banzo tracionado: barras da armadura longitudinal de tração (Rst);
DC → diagonal comprimida: bielas comprimidas de concreto;
DT → diagonal tracionada: armadura transversal (estribos);
α → inclinação da diagonal tracionada (armadura);
β → inclinação das bielas de concreto (ou das fissuras).
Estribos sendo usados no combate ao cisalhamento:
Sendo Z a altura da treliça, a distância entre os estribos não deve ser superior a 2*Z (estribos inclinados)
ou a Z (estribos verticais).
Estribos a 45º são mais eficientes, pois acompanham a inclinação da tensão, e assim sua bitola pode ser
reduzida; porém possuem comprimento maior que aqueles armados a 90º.
Na prática, o consumo de aço torna-se praticamente o mesmo.
Para se realizar o cálculo à força cortante, nos baseamos em dois modelos chamados
• Modelos de Cálculo I: a treliça é a clássica, sendo as bielas de compressão inclinadas a 45º .
• Modelo de Cálculo II: a treliça é a generalizada, com inclinação das bielas variando de 30º a 45°.
Obs: lembrando do que é um esforço cortante:
Procedimentos de cálculo:
Verificação se as condições abaixo do E.L.U. estão atendidas:
Asw Vsw
(estribos inclinados a 45º)
S 55,4 * d
Asw Vsw
(estribos inclinados a 90º)
S 39,2 * d
Obs:
Asw/S : armadura transversal por unidade de comprimento
Asw : área de todos os estribos, em cm2/cm
Vsw em kN
d em cm
fck em MPa
Modelos de Cálculo II
Vrd3 = Vc + Vsw
Armadura mínima:
A Norma recomenda que, numa viga, existam estribos responsáveis pela existência de armadura
transversal mínima.
Tal valor é regulamentado pela taxa geométrica mínima sw calculado pela equação
onde
Asw f
sw 0,2 * ct ,m
bw * s * sen f ymk Asw = área da seção transversal total de cada estribo;
20 * f ct ,m
Asw,mín * bw
f ymk
Obs:
Asw,mín área mínima da seção transversal em cm2/cm
bw
Diâmetro mínimo: 5mm
10
Espaçamentos:
• mínimo: smín v 1cm onde v é o diâmetro do vibrador
Ancoragem: