Alvatir Festa Amazonia
Alvatir Festa Amazonia
Alvatir Festa Amazonia
MANAUS
2009
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Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
Sociedade e Cultura na
Amazônia, como requisito parcial
para a obtenção do título de
Mestre em Sociedade e Cultura
na Amazônia, na linha de
pesquisa I: Sistemas Simbólicos e
Manifestações Socioculturais.
MANAUS
2009
3
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
Sociedade e Cultura na Amazônia,
como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em
Sociedade e Cultura na Amazônia,
na linha de pesquisa I: Sistemas
Simbólicos e Manifestações
Socioculturais.
BANCA EXAMINADORA
AGRADEÇO
7
Regina Prado
8
Resumo
ABSTRACT
The context of the presentation of folkloric group of Manaus in the Folkloric Festival
of Amazonas or in any other event of the cycle of the June parties of Manaus it is just
the tip of the it hoists berg of an intense and extensive production permeated by a lot of
work. Like this, this research, whose theme if expresses in your own title - " Party gives
work": the multiple dimensions of the work in the organization and production of
folkloric groups of the city of Manaus is ruled in an anthropological approach and your
objective is to discover the meanings of the work for the people that act in those groups.
10
Sumário
Introdução ................................................................................................................ 12
1 Manaus e o ciclo das festas juninas ..................................................................... 15
1.1 Manaus, a capital do Amazonas .......................................................................... 15
1.2 Junho, tempo de festa e devoção ......................................................................... 17
1.3 Os grupos folclóricos de Manaus ........................................................................ 27
1.3.1 Boi Bumbá ........................................................................................................ 30
1.3.2 Garrote .............................................................................................................. 33
1.3.3 Ciranda ............................................................................................................. 39
1.3.4 Pássaro .............................................................................................................. 42
1.3.5 Tribo Indígena .................................................................................................. 45
1.3.6 Cacetinho.......................................................................................................... 48
1.3.7 Quadrilha ......................................................................................................... 50
1.3.8 Dança Nordestina ............................................................................................ 53
2. Pelas ruas da cidade .......................................................................................... 55
2.1 O grupo .............................................................................................................. 57
2.2 A casa ................................................................................................................. 60
2.3 A rua ................................................................................................................... 61
2.4 O bairro............................................................................................................... 64
2.5 Encontros em outros lugares da cidade............................................................... 69
2.5.1 Arraiais............................................................................................................. 75
2.5.2 Festivais folclóricos de bairros........................................................................ 78
2.6 O encontro maior: Festival Folclórico do Amazonas......................................... 84
3 Festa dá trabalho................................................................................................ 106
3.1 Junho, tempo de festa, devoção e trabalho ....................................................... 106
3.2 Organização e produção em três grupos folclóricos da cidade de Manaus:
Dança Nordestina Justiceiros do Sertão, Quadrilha Juventude na Roça e Boi-
Bumbá Brilhante .....................................................................................................107
3.2.1 Organização e produção na Dança Nordestina Justiceiros do Sertão ........... 109
3.2.2 Organização e produção na Quadrilha Juventude na Roça .......................... 112
3.2.3 Organização e produção no Boi-Bumbá Brilhante ...................................... 120
11
Introdução
uma intensa e extensa produção, envolvendo relações sociais onde diversas reuniões são
realizadas para discutir e tomar várias definições, tais como: estabelecer o calendário
apresentação de novas músicas; temática a ser abordada nas apresentações; das relações
extensa produção é permeada por muito trabalho. Como dizem, “colocar um grupo dá
trabalho!”.
Assim, esta pesquisa, cujo tema se expressa em seu próprio título - “Festa dá
fotográfico, vídeos, discos e fitas K-7, assim como observação participante nos locais
13
serviram de locus do estudo1 para o objeto da pesquisa – trabalho nos grupos folclóricos
de Manaus.
juninas na Cidade de Manaus, onde se prioriza aspectos dos grupos folclóricos que
estão inseridos neste ciclo de festas e busca-se entender o significado das ações
simbólicas que os indivíduos que tomam parte nesses grupos inscrevem em suas
condutas, e faz-se uma articulação com os dados obtidos no campo com registro em
cidade que são importantes para esses grupos e que se constituem como lugares das
1
Sobre locus do estudo, Clifford Geertz em Interpretações das Culturas, esclarece que “O
locus do estudo não é o objeto. Os antropólogos não estudam as aldeias (tribo, cidades,
vizinhanças...) eles estudam nas aldeias.
14
significados do trabalho para as pessoas que dedicam parte de suas vidas a essas
brincadeiras.
1. Capítulo
Qual a apresentação mais importante? Até qual mês o grupo faz apresentações em
as festas juninas de Manaus constituem-se, para além dos eventos circunscritos ao mês
organização e produção dos grupos folclóricos, tem seu ápice no mês de junho com o
de Rio Preto da Eva e a Oeste com o Município de Novo Airão. A área territorial de
Manaus é de 11.159,5 km², área urbana de 377 km² , área de expansão urbana de 100
km². Localização: Latitude 03º 07S, Longitude: 59º 57W, Altitude: 67,00m. Com
relação ao fuso horário, Manaus tem uma hora a menos em relação a Brasília e quatro
de 2006 do IBGE. Sua área urbana é de 11.401 Km². Na cidade existem 58 bairros,
subdividídos nas seguintes Zonas: Norte, Sul, Centro-Sul, Leste, Oeste e Centro-Oeste.
região possui duas estações distintas: a chuvosa (inverno), de dezembro a maio, período
em que a temperatura mostra-se mais amena, com chuvas freqüentes; e a seca (verão ou
torno de 38ºC, chegando a atingir quase 40ºC, no mês de setembro. Costumam ocorrer,
durante todo o ano, fortes pancadas de chuva de pouca duração. Assim como o clima, o
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regime de cheia e vazante dos rios também varia a cada seis meses, atingindo os níveis
máximos nos meses de maio a julho; e mínimos, nos meses de outubro a dezembro.
apresenta-se para o grupo como tempo de festa, ou seja, mês de brincadeira. Nota-se
que, festa e brincadeira têm o mesmo sentido para as pessoas que tomam parte nos
São João Batista, São Pedro e São Marçal e estas festas, chamadas juninas ou joaninas,
Neste mês temos também o início do verão amazônico. Regina Prado em Todo
camponesa no início da década de setenta do século vinte, portanto essa assertiva não
pode ser tomada como modelo definitivo para Manaus, sobretudo no período em que
estudo os grupos folclóricos, 2006 e 2007. Como foi mostrado no calendário de eventos
carnaval com as bandas e blocos carnavalescos nas ruas e praças da cidade, o desfile das
período do inverno, pois, fevereiro é tempo de chuva. Além disso, as festas em casas
média cinco mil pessoas todos os sábados, servem para mostrar que, mesmo tendo a
concepção polar de tempo em verão x inverno, Manaus não apresenta a distinção entre
realizadas nos centros urbanos ou não, é adentrar em um universo onde festa como
recreação é também festa como devoção. A esse respeito, Leandro Tocantins nos mostra
que,
sobre as piras ardentes nas festas eneanas orientais onde queimavam a efígie do Sol.
Sobre a festa de São João Batista, Tocantins, valendo-se das referencias de Teófilo
Braga, cita que “A festa de São João Batista em todos os povos europeus está ligada a
Brinquedo de São João2 fala das festas de juninas de seu tempo de criança – primeira
2
O filme etnográfico Boi Bumbá de Manaus: Brinquedo de São João, dirigido por Sérgio Ivan Gil
Braga, realizado como o apoio da Fundação Villa-Lobos e Secretaria Municipal de Cultura –
Prefeitura Municipal de Manaus, foi premiado pela Associação Brasileira de Antropologia em
2006.
20
metade do século vinte, referindo-se às fogueiras diz “nas ruas de Manaus eram milhões
de fogueiras, nossos olhos ficavam doentes de tanta fumaça. Era um fogaréu na época!”.
expõem que “A noite de 23 de junho, na Amazônia, é sempre uma das maiores noites na
Amazônia. Os jornais dão notícias de mais de cinco mil fogueiras que ardem na cidade.
Nós mesmos contamos duas mil e trinta e duas, por onde podemos passar, num passeio
Observações feitas nas festas juninas de Manaus nos ciclos de 2006 e 2007,
enfim, feitas para de fato queimar durante a festa. Vistas nas festas em casas de famílias
situadas em ruas de pouco fluxo de veículos, estando geralmente postas à frente da casa,
entre a parte frontal da residência e a rua. Nota-se que na atualidade, poucas são as ruas
dos bairros de Manaus do tempo em que Moacir Andrade foi criança cujo fluxo de
veículos e pedestres permitam fazer e queimar uma fogueira. Contundo, nas ruas de
pouco fluxo dos bairros das Zonas Oeste, Centro-Oeste, Leste, Norte e mesmo nas Zonas
Sul e Centro-Sul da cidade, fogueiras convencionais queimam nas vésperas e no dia dos
santos juninos.
uma fogueira convencional que vi, e não foram poucas. Em festas de condomínios
21
tora ou serrada em uma diversidade de matéria-prima como base de sua confecção, entre
as quais as mais usadas são canos em PVC, cilindros de papelão ou de fibra de carbono
mas também podem ser propriamente em madeira, sendo ornadas com folhas de papel ou
tecidos com coloração vermelha, amarela e laranja formando um conjunto cromático que
reproduzirá a coloração do fogo. No ciclo das festas juninas em Manaus algumas lojas
ornamentação para festas, sendo que os grupos folclóricos produzem para suas
As fogueiras imateriais estão nas duas formas de fogueira descritas nos parágrafos
anteriores, pois, residindo na mentalidade das pessoas, são elas que geram a necessidade
representação de uma fogueira convencional (artificial). Mas considero que elas estejam
também nas formas gráficas dos impressos de divulgação dessas festas, quando o desenho
fogueira como iconografia fundamental da publicidade das festas juninas mostra o caráter
imaterial do que se idealiza como elemento constitutivo de uma festa junina. Não se
festeja o santo sem acender a fogueira em sua honra e essa fogueira, mesmo não tendo
calor físico, ela terá o calor da memória das pessoas que cultuam ou tomam parte nessas
festas. Conforme Araújo, “as fogueiras de São João também têm um sentido sagrado,
22
místico, oculto, que o povo faz ou revela sem sentir, por força da tradição popular”
Como nos verso de uma música do grupo folclórico Quadrilha Juventude na Roça
“Vamos acender a fogueira da vida/ sem violência, sorriso nos lábios e o perfume da
flor/ dança com a gente e esquece a dor”, a fogueira3, enquanto um bem simbólico do
ciclo das festas juninas de Manaus que, materializada ou não em suas formas
superação da vida doída, ou seja, do cotidiano vivido com índices elevados de violência e
Se Manaus não apresenta a dualidade sugerida por Prado (2007) de “tempo das
festas” e o “das não festa”, apresenta muito do que Tocantins(2000) observou sobre as
da Cultura – SEC não permitiu o uso foguetório pirotécnico dos grupos folclóricos que
nele se apresentam. Assim como qualquer tipo ou uso de fogo na apresentação dos
grupos. Estando explicita a noção de que o uso desses fogos põe em risco a integridade
3
Ver BACHELARD, Gaston. (1999) A psicanálise do fogo. São Paulo, Martins Fontes.
23
física dos participantes do Festival. Os chamados fogos quentes, aqueles que emitem
Amazonas, mesmo contrariando o gosto dos brincantes, foram proibidos. Mas o que se
viu foi a transgressão à norma, posto que muitos grupos, mesmo sob risco de sofrerem
Estado da Cultura incrementou a Barraca das Tradições onde muitos dos costumes
descritos por Tocantins foram realizados, inclusive no dia de São João, 24 de junho,
uma fogueira convencional foi acesa e queimou até que a madeira virasse cinza e,
mesmo sem um isolamento do local onde estava a fogueira, não houve qualquer
4
O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial / PNPI, instituído pelo Decreto n˚ 3.551, de 4 de
agosto de 2000, viabiliza projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção
da dimensão imaterial do patrimônio cultural brasileiro.
24
de cada um dos quatro santos juninos: Santo Antônio, São João, São Pedro e São
Marçal. Na Barraca das Tradições muitas das formas de devoção popular a esses santos
foram realizadas, tais como as simpatias, adivinhações e rezas. Foi possível notar que
filas se formavam para que as rezadeiras podessem tirar quebranto das crianças,
também, muitos jovens consultavam as diversas formas de adivinhação para saber suas
também conhecido como padroeiro dos pobres, santo casamenteiro, sempre sendo
quase familiar, com intimidades, chega a ser, por vezes, irreverente, debochado e quase
5
Santo Antônio, segundo o material de divulgação da Barraca das Tradições da SEC,
chamava-se Fernando de bulhões nasceu em Lisboa em 15 de agosto 1185, numa família de
posses. Aos 15 anos entrou para um convento agostiniano, primeiro em Lisboa e depois em
Coimbra, onde provavelmente se ordenou. Em 1220 trocou o nome para Antônio e ingressou
na ordem Franciscana, na esperança de exemplo dos mártires, pregarem aos sarracenos no
Marrocos. Após uns anos de catequese nesse país, teve de deixá-lo devido a uma enfermidade
e seguiu para a Itália. Ficaram célebres os sermões que proferiu em Forli, Provença,
Languedoc e Paris. Em todos esses lugares suas prédicas encontravam forte eco popular, pois
lhe eram atribuídos feitos prodigiosos, o que contribuiu para o crescimento de sua fama de
santidade. Antônio morreu a caminho de Pádua em 13 de junho de 1231. Foi canonizado em
13 de maio de 1232 (apenas 11 meses depois de sua morte) pelo papa Gregório IX. Sua
veneração é muito difundida nos países latinos, principalmente em Portugal e no Brasil.
Padroeiro dos pobres e casamenteiros é invocado também para o encontro de objetos pedidos.
Sobre seu tumulo, em Pádua, construída a basílica a ele dedicada.
25
junho também são conhecidas como “joaninas” justamente em homenagem a São João.
popular, reforçando relações sociais entre grupos e pessoas, que se realiza ao redor da
fogueira por meio da declamação alternada três vezes das seguintes falas: a primeira
pessoa fala – “São João disse ...”, a segunda pessoa responde – “São Pedro confirmou
...”, retoma a primeira pessoa – “Que nós fossemos compadres ...”, e novamente a
luta com a imensidade dos rios e mares irritados pelas temporárias. Na cidade de
6
Segundo o material de divulgação da Barraca das Tradições da SEC, os cristãos do oriente e
do ocidente celebram o nascimento de são João batista no dia 24 de junho. Também coincide,
nas duas tradições, a data em que se celebram o seu martírio em 29 de agosto. João é filho de
Zacarias que, por causa sua pouca fé, tornou-se mudo, e de Isabel, aquela que era estéril. O
nascimento de João Batista anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a
esterilidade se tornara fecundidade e o mutismo, exuberância profética. O evangelho lhe da o
cognome de “Batista’’, porque ele anuncia um novo rito de ablução (MT 3,13-17), na qual o
batizado não imerge sozinho na água, como nos ritos e nos batismo judaicos, mas recebe a
água das mãos de um ministro. João pretendia mostrar assim que o homem não se pode
purificar sozinho, mas que toda santidade vem de Deus. João batista é também lembrando
como um homem de grande mortificação. Talvez tenha ele sido iniciado esta disciplina nas
comunidades religiosas do deserto. Mas tradição lembra, sobretudo seu caráter profético. Ele é
profeta por um duplo titulo. Antes de tudo é profeta no sentido em que essa palavra era
entendida no Antigo Testamento; aliás, João é o maior dos profetas de Israel, porque pode
apontar objeto de suas profecias (MT,11 7-15; Jô 1,1928).
7
Segundo o material de divulgação da Barraca das Tradições da SEC, São Pedro (segundo a
tradição teria morrido em 67 d.c) foi uns dos doze apóstolos de Jesus cristo, está escrito no
novo testamento e, mais especificamente, nos quatro evangelhos. O seu nome original não era
Pedro, mas sim Simão. Nos livros dos “Actos dos Apóstolos” e na “Segunda Epístola de
Pedro”, aparece ainda uma variante grega do seu nome original: Simeão. Cristo apelidou-o de
Petros - Pedro, nome grego, masculino, derivado da palavra “petra”, que significa “pedra” ou
“rocha”. Pedro tem uma importante teologia católica- romana. É considerado o príncipe dos
apóstolos e o fundador, junto com são Paulo, na Igreja de Roma (a Santa Sé), sendo – lhe
reconhecido ainda o título de primeiro papa, essa circunstância é invocada pela Igreja Católica
para que o papa detenha uma posição de supremacia sobre toda a Igreja Católica. Para as
outras denominações cristãs, Pedro também recebe uma grande importância, por causa de
suas epistolas canônicas, porém não recebe o mesmo tipo de tratamento da Igreja Católica.
26
diferentemente dos demais santos juninos, a fogueira para ele não se faz com madeira, é
feita com palha e com ela podem ser queimados os adornos usados nas festas dos
Na cidade de Manaus, as festas juninas estão nas casas, nas ruas, nos bairros, nas
quadras das escolas, nos espaços abertos das igrejas católicas, nos clubes das indústrias
do Distrito Industrial, nos eventos oficiais de órgãos públicos de política cultural. São
e de turismo. Nelas, os grupos folclóricos de Manaus brincam ou, dito de outra forma,
junho e vão até setembro, sendo possível em alguns casos um grupo folclórico ser
que os santos do mês de junho dão o motivo para as festas, mas estas festas juninas se
estendem por um período que vai além do mês de junho. Desta forma, podemos dizer
que junho, enquanto tempo de festas, compreende um ciclo que inicia após o carnaval,
quando começam os ensaios dos grupos folclóricos, tem seu ápice no mês de junho com
8
Conforme material de divulgação da Barraca das Tradições da SEC, São Marçal, discípulo de
cristo, e bispo, foi parente muito chegado de santo Estevão protomártir. Seu pai se chamou
Marcelo e sua mãe Elizabete, da tribo de benjamim. Foi um dos setenta discípulos de cristo
que o seguiu continuamente. Com quinze anos, foi batizado por são Pedro, conforme ordem
do próprio Jesus Cristo, juntamente com seus pais. Segundo a tradição ele era o garoto que
tinha os cincos pães de cevada e dois peixes, que Jesus Cristo fez o milagre da multiplicação
dos pães e alimentou cinco mil homens no deserto, sem contar mulheres e crianças, conforme
relata São João no seu evangelho. Ele estaria na última Ceia, ajudando cristo a lavar os pés
dos discípulos. Fez muitos milagres em vida, não somente ressuscitado mortos e recuperando
paralíticos, bem como acabando com incêndios. Homem de muita oração e jejuns constantes,
somente alimentava-se pela tarde, e andava sempre descalço. Veio a falecer, de febres, aos
vintes e oito anos de episcopado, com a idade de cinqüenta e nove anos, quarenta da
ascensão do senhor.
27
bairros e arraiais. Como dizem as pessoas que tomam parte nessas manifestações,
suas danças e representações dramáticas no período das festas juninas. Cada uma dessas
manifestações é representada por vários grupos folclóricos, desta forma, existem vários
folclóricas em categorias e as várias disputas dos grupos folclóricos por títulos dentro
ressurreição...), isto é, a luta dum bem contra um mal, que os bailados coletivos, e por
Nos vários grupos que se apresentam nas festas juninas de Manaus, percebe-se o
complexo de morte e ressurreição e o drama da luta do bem contra o mal, o que Mário
como grupos folclóricos, definição esta que tem o mesmo sentido de brincadeira, pois,
as pessoas desses grupos usam o termo brincadeira com o mesmo sentido de grupo
seguinte resposta: “Esse ano nossa brincadeira vai sair com 46 pares, fora os casais de
“nosso grupo folclórico tem 27 anos só de Festival, fora o tempo em que brincávamos
por aí”. Nota-se que os termos brincadeira e grupo folclórico são duas formas de se
referir a mesma coisa, o que nos permite dizer que para essas pessoas as duas formas
Não buscaremos estabelecer data ou período em que esses grupos passaram a ser
perspectiva das pessoas que tomam parte nos grupos folclóricos de Manaus e a
para aqueles que tomaram ou tomam parte nesses grupos. Pesquisadores como Robert
Araújo (1974), Moacir de Andrade (1978), Alvadir Assunção (2008) entre outros,
grupo de pessoas brincando boi nas ruas da cidade de Manaus que se tem é de Robert
Avé-Lallemant na obra Viagens no Rio Amazonas, 1859, onde relata o boi que viu em
Manaus em junho daquele ano, período em que estas manifestações não eram
personagens, a dança, a coreografia e a peça dramática que um boi não real lhe
ruas da cidade no início da segunda metade do século XIX por um grupo de pessoas no
1.3.1 Boi-bumbá
protagonista do auto. Mãe Catirina grávida deseja comer a língua do boi predileto do Sr.
Amo, Pai Francisco atende o desejo e mata-o, dando vazão ao enredo onde ao final Dr.
da Vida ou Pajé irá ressuscitar o boi de estimação do amo. Quanto aos personagens,
tanto na literatura quanto nos relatos de brincantes bem como nas observações sobre o
fato que temos feito, estes sofrem variações. Contudo, além do Boi, Pai Francisco, Mãe
Manaus: aspectos de sua aculturação (1973 [1974]) lista os bois que desfilaram pelas
cercados, vadeavam noite a dentro com seu séqüito colorido de personagens juninos de
ruas de Manaus, podemos perceber uma formação predisposta para encarar confrontos,
Tira Prosa, Tira Teima, Rica Prenda e Garantido, referindo-se a eles como “famosos
com nomes e tradições respeitosas pela população” (p.161). Percebe-se no autor uma
presenciamos discussões entre agentes sociais que atuam nos grupos folclóricos e os
que faz com que esses bois representem o chamado “boi tradicional de Manaus”. Fora
dos bois de Parintins, seja no ritmo, nas indumentárias, na forma de dançar e em outros
alegorias.
ritmo e os instrumentos musicais, assim como a forma de tocar são idênticos aos bois de
instrumentos básicos utilizados pela batucada eram surdos de marcação e caixas, que
eram tocados com baquetas, portanto, instrumentos, ritmo e forma de tocar eram
Contudo, após a apresentação desse boi, a menos de cinco metros e menos de cinco
33
minutos de sua apresentação oficial, na área da dispersão9, foi possível ver outro ritmo,
horizontal e tocaram com as mãos de forma direta, sem usar baquetas, cantando toadas
de outras épocas. Além da música, foi possível observara uma forma de dançar que não
Amazonas - CCPA, que é o local aonde o Festival vem sendo realizado desde 2005.
1.3.2 Garrote
cuidar da turma. Pode-se dizer que o garrote é a versão do Boi-bumbá para a garotada.
Bois-bumbás. Os Amos, que representam o dono do Boi, neste caso Garrote, exercem
função de cantador no auto, também os personagens cômicos como Mãe Catirina, Pai
Francisco, Mãe Maria, Cazumbá, Doutor da Vida, são sempre observados em suas
futuro daqueles garotos e os comparam com antigos atores desses papéis. Outros
9
Área destinada aos componentes do grupo e suas alegorias após sua apresentação, tendo
que desocupá-la antes do termino do grupo que o sucedeu na arena de apresentação. Assim
como a área de concentração é um lugar onde o grupo permanece apenas os instantes que
antecedem sua apresentação, a dispersão é um lugar de passagem do grupo na local onde se
realiza o Festival Folclórico do Amazonas. Se um brincante de um grupo que já realizou sua
apresentação queira permanecer no local onde se realiza o Festival, terá que se acomodar em
outro lugar que não seja as áreas de concentra e dispersão, tão pouco na arena.
34
brincantes como o que dá movimento ao Garrote que é chamado de miolo, por passar
toda a apresentação de baixo do Garrote é muito admirado e também são analisados por
pessoas dos Bumbás. O Garrote está para o Boi-Bumbá, como as categorias de base,
A história de vida dos senhores que exercem a função de amo em alguns grupos
de boi na atualidade, os chamados Mestres dos Bois de Manaus10, mostra que muitos
aprender brincado sobre cada ato do auto do boi, a característica dos papeis de todos os
Nascimento, mais conhecido com Mestre Zé Preto. Este mestre começou a freqüentar os
dois anos é amo de boi. Quando criança conheceu os antigos mestres que iniciaram nas
brincadeiras de boi no final do século XIX e se fizeram famosos nas primeiras décadas
2006, ano no qual Mestre Zé Preto comemorava setenta anos como cantador de boi,
10
O Projeto Mestres dos Bois-Bumbás de Manaus: Cantando e Contando a História deriva de
um projeto mais amplo e em execução chamado Levantamento Preliminar para o Inventário
dos grupos Folclóricos de Manaus, que tem como objetivo inventariar as referências
culturais dos grupos folclóricos de Manaus por meio da metodologia do Inventario Nacional de
Referências Culturais – INRC para solicitar a inscrição das referências culturais desses grupos
como Patrimônio Cultural Nacional de Natureza Imaterial junto ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN no Livro das Celebrações.
35
A teia de significados e relações que pretendo descrever tem como ponto inicial
anuncia que ambos estariam encerrando suas atividades e lhes são entregues placas de
naquele ano cinqüenta anos brincando em boi e Mestre Zé Preto setenta. Mais que uma
de uma forma de cantar boi, a qual muitos chamam de “boi tradicional de Manaus”, pela
estética musical que tem como modelo o espetáculo dos bois de Parintins12. Antes de
assistia a apresentação, indo para a área de dispersão. Ao encontrar com os dois mestres
com minha família e resolvi parar”; Zé Preto respondeu de outra forma, “eles quiseram
fazer essa homenagem, eu aceitei. Mas enquanto tiver boi me chamando eu estarei lá!”.
espetáculo Mestres dos Bois de Manaus: Cantando e Contando a História, em 2007, ele
11
Apresentador do boi é personagem inserido com o processo parintinização dos boi de
Manaus e tem como função narrar as seqüências dos atos dramáticos propostos para a
apresentação do boi. Sua atuação é avaliada sendo contado como item a ser julgado nas
apresentações dos bois da super-categoria de Manaus.
12
Ver Os bois-bumbás de Parintins. Braga. Sérgio Ivan Gil – Rio de Janeiro: Funarte/ Editora
Universidade do Amazonas, 2002. Também, O espetáculo do boi-bumbá: folclore, turismo e as
múltiplas alteridades em Parintins. SILVA, José Maria da. – Goiânia: Ed. da UCG, 2007.
36
nos diz que “recebe, aos sete anos de idade (1936), um boizinho de uma yalorixá que
tinha uma casa de cura em frete a minha casa lá na Rua Codajás no Bairro de
Cachoeirinha, ela pediu que o boi se chamasse Beija-Flor, a partir de então começa
minha trajetória de cantador de boi, que já dura setenta e um anos”. Nessa teia de
recebia de sua entidade a obrigação de botar um boi em Manaus, por sua vez, buscou
auxílio em sua colega de Manaus, também sacerdotisa da religião Mina Gêge-nagô, que
logo incumbi o seu compadre, Mestre Zé Preto a ser o Amo do boi, ou seja, aquele que
iniciado como cantador aos sete anos por uma sacerdotiza e, após setenta anos, quando a
baixaram alguns entidades onde inclusive uma travou por alguns minutos um desafio de
versos de improviso com Mestre Zé Preto, já fora do barracão, acenderam uma fogueira
e um verdadeiro banquete foi oferecido: tacacá, caruru, bolo podre, bolo de milho,
13
No ritual do batismo os padrinhos seguram um pires com uma vela acesa. O padre entra em
cena com um ramo e uma garrafa d’água na mão e recita os seguintes versos: Eu ti batizo boi/
Pela tua formosura/ Só não ti dou nome de gente/ Porque você és criatura. Geralmente o
batizado coincide com ensaio geral. É uma festa na qual o boi é oficialmente entregue à
comunidade. (ASSUNÇÃO, 2008, p. 95)
37
iniciada na Religião Mina, e nele só brincavam mulheres, o que não era comum para a
época. Alvadir Assunção (2008) expõe informações sobre este boi, mostrando suas
Dona Esperança Rosa Matos uma negra maranhense que residia à rua
Urucará, entre a Santa Isabel e a Ipixuna. Era muito querida na comunidade
por ser alegre, prestativa e correta nas suas ações. Realizava festas
monumentais e bem freqüentadas, pois era muito organizada e enérgica nas
suas promoções. Em 1937, Dona Esperança foi ao maranhão se preparar
para exercício de suas atividades religiosas no centro da mãe Joana Gama,
quando retornou, entre outras missões, trouxe a de fundar o bumbá Luz de
Guerra, que passou a ensaiar no cruzamento das ruas Urucará e Ipixuna, no
mesmo lugar do boi Garantido. Ao comparecer a Chefatura de Policia para
tirar a licença, Dona esperança teve algumas dificuldades, pois chefe de
policia não gostou do nome Luz de Guerra. Dona Esperança com muito
jeito, explicou que a brincadeira era de paz e que haveria ordem disciplina.
A licença foi concedida e o boi saiu às ruas do bairro da Cachoeirinha com
cerca de trinta brincantes, do sexo feminino, todas fantasiadas. Até a
batucada era constituída só de mulheres. A única exceção era o senhor
Manoel Raimundo Gomes, vulgo Tucuxi, pai do Dionísio, um dos
fundadores do corre campo e da Mãe Zulmira, do batuque do Morro da
Liberdade. É ainda a mãe Zulmira quem lembra que Dona Esperança era
repentista, tiradora de verso na dança do coco e uma ótima compositora de
toadas. Achando, inclusive, que as toadas que o Jorge Macaco cantava era
de autoria dela. E lembra com saudades de uma toada que identificava o Luz
de Guerra, que viveu apenas poucos anos, mas marcou a sua passagem na
história dos bumbás. Uma estrela de ouro/ Que alumia no mar/ Como a
38
um boi de garotos, um garrote. Conforme Assunção (2008) “muitos anos depois, mais
ou menos no início da década de sessenta, surgiu o garrote luz de guerra, sob a direção
Os Garrotes são julgados por critérios semelhantes aos dos Bumbás, apresentam
o auto do boi, mas, também se esforçam para imitar a configuração musical e visual dos
José IV, Zona Leste, mesmo tendo onze anos de existência, portanto, um dos mais
novos grupos de garrote, se orgulha por não sofrer influências de Parintins. Em uma
1.3.3 Ciranda
Ciranda como:
Amazonas, é sempre citado o nome do Professor Silvestre como a pessoa que trouxe
xeque. É cantada com uma voz principal seguida de uma segunda voz que em alguns
versos de determinadas músicas dão vez ao coro uníssono dos pares de brincantes que
estão na roda. Seus pares formam coreografias muito bem ensaiadas em um bailado que
sempre muito bem polidos e na cabeça chapéu tipo panamá. Alguns usam sobre a blusa
coletes ornamentados com muito brilho. As mulheres usam vestidos bordados com
fitilhos, rendas e também muito brilho. Estes vestidos são decotados tanto nas costas
quanto nos bustos, são curtos e rodados de tal forma que ao primeiro acorde do
Caçador, o Carão, Mãe Benta, Senhor Norato, Senhor Manelinho. Sendo os dois
veste com um tecido preto com uma peça em madeira que representa cabeça do carão,
este brincante encena, junto com o Caçador, um ato dramático permeado por lances
cômicos que termina com a morte do carão. Após este ato, tem-se a despedida da
14
Pássaro lendário do Amazonas. Existem muitas lendas em que é parte importante da
narração. É uma ave pernalta coberta de plumagem bruno escuro e pintas brancas no pescoço
e na cabeça que se espalham pelo peito. Mede aproximadamente setenta centímetros de
comprimento. Possuem um bico comprido, mais ou menos uns dez centímetros. Carne
saborosa os caçadores costumam apanhá-lo nas margens dos rios, lagos paranás, furos,
igapós, e alagados onde vive caçando bichinho e pequenos peixes com que se alimentam. Seu
nome cientifico é: Aramus scolopanceus Gmelin, pertence a família dos aramídeos. (Moacir
Andrade - p.355).
41
momento da apresentação da ciranda onde há uma grande interação com o público uma
vez que o carão assusta as crianças e bica as cabeças das pessoas, esconde-se atrás de
pessoas que não fazem parte do grupo e o caçador, por sua vez, em gestos sugere ao
público que está à procura do pássaro. Em versos da música executada neste ato, como:
“Como se engorda o Carão? Como se engorda o Carão? Com azeite de coco verde e
rodado que pode ter estampas floridos, mas que geralmente é todo branco, traz adornos
assemelha aos das rodantes das casas de religião de matrizes africanas. Na música que
apresenta esta personagem, podemos notar que esta pode ter sido inspirada nas escravas
de ganho17, pois em um dos versos temos que ela vende doces para iaiá: “Mãe Benta
fiai-me um bolo/ não posso senhor, os bolos são de iaiá/ não foram feitos para
qualquer gente”.
15
Esses versos são de domínio público e são cantados por todos os grupos de ciranda de
Manaus, pois não há apresentação de ciranda sem o ato da morte do carão. Os demais versos
de músicas de cirandas citados também são de domínio popular.
16
Ver DARTON, Robert (1986) O grande massacre de gatos e outros episódios da história da
cultura francesa. Rio de Janeiro: Graal.
17
Sobre a importância da mão-de-obra escrava na composição das fortunas na região de
Manaus durante o terceiro quartel do século XIX, ver SAMPAIO, Patrícia de Melo. Os Fios de
Ariedne. Tipologia de Fortunas e Hierarquias Sociais em Manaus: 1840-1880. Manaus: Editora
Universidade do Amazonas, 1997, pp. 142-143.
42
de cura por meio de ervas medicinais e rezas. O Seu Manelinho pode ser entendido
como a figura do regatão, pois na letra da música que este é apresentado temos a
descrição de alguém que viaja em seu barquinho pela Amazônia e leva produtos de
1.3.4 Pássaro
Nos dias em que estive no Festival Folclórico do Amazonas nas edições de 2006 e
citar na integra o que escreve Andrade (1978) sobre um grupo chamado Pássaro Japiim,
será uma pessoa que mora no castelo. A princesa manda chamar a camponesa
que finge nada saber. O caçador que não encontrou o passarinho vai à casa da
feiticeira para pedir sua ajuda. A malvada entrega-lhe uma bala enfeitiçada.
Saindo dali, num bosque, o perverso caçador vê o passarinho e, atirando , mata
o pobre avizinha. A fada, ao ouvir o tiro, manda as borboletas encantadas
avisarem à princesa da morte de seu pássaro. A princesa ficou muito triste. O
vassalo pede ajuda ao amo, que comunica ao guarda, correndo, vai à maloca
dos índios que moram no bosque e estes prendam o caçador. Mas a feiticeira
aparece e oferece uma bebida encantada aos índios que logo adormecem e
assim salva caçador. Porém o efeito da bebida passa e estes, furiosos, prendem
a feiticeira e levam-na à presença da princesa. Lá chegando, diz que o pássaro
não está morto, mas adormecido. Mandado chamar, chega o doutor que apesar
dos esforços nada consegue descobrir sobre a morte do pássaro. Então é
chamando pajé que com uma mágica, faz o pássaro acordar. Esse é o resumo
do drama do japiim que nas noites de são João desfila pelas ruas de Manaus
cantando e dançando com suas roupas coloridas e seus cânticos originais, cuja
tradição terminará recolhida pelas pesquisas dos nossos folclóricos e
estudiosos de antropologia. O japiim, como todas as manifestações folclóricas,
tem suas danças e os seus cânticos para momentos apropriados. Quando o
grupo desfila pelas ruas da cidade e quando esta chegando a uma residência
onde vai realizar uma exibição, canta a marcha de chegada: Aqui vai chegando
o japiim/ Vem espalhando alegria do japiim/ Neste dia festejando nosso belo
japiim/ A mocidade nesta vida dá primores/ Assim brincamos todos os
louvores/ Outra alegria de qualquer um passarinho/Não vale tanto como
nosso japiim/Brincamos neste dia primoroso/ É de alegria só poder ser mesmo
assim/ Neste dia festivo e primoroso/ Estamos festejando o nosso belo japiim
(ANDRADE, 1978, p.130)
século passado; a relação entre políticas de governa para cultura e grupos folclóricos.
Outro aspecto que destaco é estrutura da dança dramática, pois permite perceber
tem sua estrutura dramática e personagens semelhantes aos do grupo descrito na citação
acima. Se substituir a figura do pássaro japiim pelo inseto abelha pouca dessemelhança
será encontrada, sendo possível dizer que, mesmo que os cordões de pássaros estejam
com numero reduzido grupos, sua formação ou estrutura está presente nas festas do
letras são em língua geral (nhengatu) onde abordam temas relacionados a guerras, a
Andrade (1978) faz considerações a respeito de duas tribos folclóricas das festas
maneira,
fogo cada uma, bailando na escuridão das estradas como se fossem grandes
pássaros extraterrenos, dançando aqui e acolá, perpetuando a tradição
através dos anos ... A Iurupixuna se destaca por ser a mais numerosa em
termo de brincantes. Aparecida em Manaus por volta 1959 encantou a
cidade com suas dezenas de índias fartamente vestidas de policrômicos
penachos dezenas de colares autênticos, confeccionados por índios. Os
conjuntos da tribo dos iurupixunas são formados de moças e rapazes dos
bairros de Manaus que dançam pelas ruas da cidade nas noites juninas,
causando admiração aos que tem a oportunidade de vê-lo.
Como outros conjuntos folclóricos do amazonas a tribo dos
iurupixunas é compostas de vários personagens que desempenham com
graça e beleza o drama que se desenrola sob uma música monótona,
acompanhada de sons surdos de tambores que enchem a noite com ritmos
exóticos. Os principais personagens da tribo são: A índia, filha poderoso
tuxaua, um curandeiro e os números índios da tribo. Como complementos,
os índios portam algumas aves como corujas, papagaio, arara e animais
pequenos, preguiça, macaco, cobra que exibem aos circundantes. Antes de
começarem as danças, o tuxaua falando sempre em língua geral, pede aos
brincantes que se dividem em duas grandes alas. No meio fica a índia
branca, índia principal em torno da qual se desenrola todo enredo.
(ANDRADE, 1978, p. 89 E 96).
respeito ao uso das ruas como espaço das brincadeiras, denunciando a possibilidade do
referência são manifestações folclóricas do tipo Tribo. Ao que diz respeito sobre a rua
descritas por Andrade (1978), com trajes em plumagem natural, mas com bastante
plumagem artificial. Encenam um ritual onde o pajé livra outro indígena de algum mau
período junino de Manaus não possui uma grande quantidade de grupos como é o caso
dos bois, cirandas, quadrilhas, danças nordestinas, mas, são sempre presentes no
Festival Folclórico do Amazonas, contudo, não são tão freqüentes nos festivais de
bairros e nos arraias. Dentre as diferenças da configuração visual descrita por Andrade
(1978) com as que vi nas edições de 2005, 2006 e 2007 do Festival, são a ausência de
Apesar dessa manifestação folclórica não ser tão freqüente nos festivais
folclóricos de bairros e arraiais, não possuindo uma grande quantidade de grupos, suas
seus grupos.
48
apresentações dos grupos folclóricos de Manaus nos Festivais aos mestres da cultura
deslocou até o centro da arena, apanhou um microfone, pediu que parasse a música e
justificou-se perante o público: “nós tivemos muitas dificuldades para chegar até aqui,
o caminhão atrasou, só chegou agora, e eu com ele, mas nosso grupo está aqui, e está
Esse senhor, que trajava uma bermuda que certamente foi uma calça comprida,
pois os fiapos à altura do joelho denunciavam, vestia uma blusa que há alguns anos foi
Amazonas – CEFET, calçava sandálias e na cabeça um chapéu tipo caubói que é de seu
uso cotidiano e não para a apresentação no grupo, estava visivelmente suado e cansado,
nas suas roupas, fragmentos de materiais usados nas indumentárias eram aparentes.
logo foi reconhecido, “Olha! É o Seu Preto” alguém exclamou próximo a mim na
em massa, foi aplaudido como não fora as autoridades na abertura daquele Festival.
1.3.6 Cacetinho
49
manifestação folclórica de Manaus que faz representações alusivas aos povos indígenas
da região Amazônica. Nas descrições de Andrade (1978) sobre a Tribo dos Tarianos,
Festival, exibiram-se com a seguinte formação: por duas filas de homens que trajam
penacho na cabeça que conjuga uma longa cabeleira. Sendo uma fila de cor distinta da
outra, geralmente uma azul e outra vermelha. Portam dois tipos de cacetes
confeccionados de galhos de árvores, um com 1,30m e outros dois com 0,70cm. Estes
cacetes são utilizados nas encenações de guerra que se dá entre as filas de cores
nas indumentárias dos bois. Contudo, a aparente simplicidade das indumentárias dos
50
grupos, onde representações de lutas permeiam a dança que é conduzida por músicas
executadas por solos de um saxofone, que é marcado por um bumbo e, entre um solo e
outro se houve gritos de guerra. Predominam homens nestes grupos folclóricos, mas há
mulheres que representam as índias das tribos. Essas manifestações culturais são
trajando cores vermelhas contra o que traja azul. Nas Cavalhadas tem-se o enfretamento
entre uma ala de vermelhos contra azuis quando encenam a luta entre cristãos e mouros,
de origem ibérica. Outro estaria nas técnicas de lutas com porretes ou bastões, que se
1.3.7 Quadrilha
Danças palacianas do séc. XIX, que abriam os bailes da corte em qualquer país
transformação das quadrilhas nos diz que: “popularizada sem que perdesse o prestigio
aristocrático, vivida, transformada pelo povo que lhe deu novas figuras e comandos
Quadrilhas Tradicionais. São as que representam uma festa no interior, ou seja, uma
compositores nacionais que fizeram músicas com este motivo. Vários pares formam
uma quadrilha que contracenam com um casal de noivos, o juiz ou o padre como
principais personagens.
Nos textos dos casamentos, temas como adultério, traição, bigamia, jogo de
recorrentes. São comuns nas apresentações oficiais destas quadrilhas alegorias que
tapioca.
chamados trajes caipiras, caracterizados por homens com calças remendadas, blusas
tecidos quadriculados. Pares com trajes que remetem à aristocracia, usam os homens
paletós com gravatas, calças de tecido fino e chapéus novos, as mulheres com vestidos
entretanto, alguns são ornados com rendas e artesanato regional. Segundo uma
52
informante, as gravuras de livros e filmes de época são fontes importantes nas pesquisas
Uma versão recente em Manaus são as Quadrilhas Funk, onde a música das
substituídas pelo funk18. O termo fank surge na virada da década de 60 para 70 e passa
próprias dos DJ,s desses grupo. Em suas indumentárias observamos: nos homens ao
invés do chapéu de palha, usam bonés, lenços ou boinas militares, vestem calças pretas
indumentária das quadrilhas caipiras, e usam botas pretas tais quais aquelas usadas por
cantores de rock. As mulheres usam saias que são geralmente pretas, mas a exemplo
dos homens usam uma blusa ou algum colete quadriculado. Dançam coreografias muito
desigualdades sociais e desmandos políticos são, nas Quadrilhas Funk, substituídas por
18
Sobre a história do funk no Brasil, ver VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio de
janeiro, Jorge Zahar, 1988.
53
uma forma direta e contundente de se fazer critica social. Como diz Câmara Cascudo:
uma manifestação folclórica das festas juninas da cidade que, segundo depoimentos
apresentavam nas festas juninas do bairro e no Arraial de Santa Rita decidiu fazer uma
quadrilha diferente. Um informante afirma ter partido dele a idéia de criar uma
quadrilha diferente,
fazer referências às histórias e aos costumes dos nordestinos uma vez que daquele
grupo muitos eram descendentes de nordestinos. Assim, acabaram por criar uma nova
folclórica que deriva das quadrilhas, chamada de Dança Nordestina, está inserido em
um processo que tem, além da influência dos próprios nordestinos e seus ascendentes na
cidade, dois fatores preponderantes para sua formação: o fenômeno musical de Luiz
Gonzaga com a massificação do baião e outros ritmos musicais do nordeste cujas letras
cria novas formas, resignifica determinadas práticas e gera novos grupos folclóricos na
cidade de Manaus.
19
O filme O Cangaceiro de Lima Barreto, é um exemplo de filmes que tiveram essa abordagem
em meados do século vinte.
55
2. Capítulo
tipos de rostos daqueles que fazem parte do grupo em uma tentativa de identificar “tipos
sociais”, atribuindo classe e raça aos mesmos. Certamente, esse primeiro olhar nos daria
descrição etnográfica tal qual a do alemão Avé-Lallemant (1980) citada neste capítulo,
No entanto, para saber mais sobre um grupo folclórico, é preciso partir da noção
descrever a apresentação seria apontar apenas a ponta do ice berg dessa produção. A
descrição da apresentação não dá conta da dimensão das relações sociais que permeiam
o grupo, envolvendo reuniões para discutir e tomar várias decisões, tais como:
é composta por muito trabalho, que, por sua vez se apresenta em múltiplas dimensões.
Regina de Paula Santos Prado, na obra Todo Ano Tem – As festas na Estrutura
ensina que,
Há, nesta citação, um tom de indignação que nos permite supor que a autora,
sofisticada. Por se tratar de uma forma de sociabilidade em que as redes de relações que
estratégias de sobrevivência.
comunidade em Tönnies (1947). Para esse autor, comunidade está relacionada com a
que é do grupo, ou que pertence ao grupo e o grupo o reconhece como tal, ou seja, o
os dois juntos.
2.1 O Grupo
lampião pelo Grupo de Jovens Marianos da Igreja de Santa Rita de Cássia no Bairro da
matriz africana, como o Pássaro Papagaio tendo a frente uma sacerdotisa chamada
“obrigação” às divindades.
Alguns por meio das iniciativas culturais das escolas públicas, como no caso da
dança do Cacetinho, Conhecido também como Dança dos Tarianos, surgido na antiga
mesma maneira, a chamada Ciranda do Ruy na Escola Estadual Ruy Araújo, bairro de
Cachoeirinha.
58
Outros grupos se formam a partir das festas juninas entre famílias, vizinhos e
amigos onde, em um primeiro momento, organizam danças para alegrar suas próprias
festas, em seguida vão ampliando a organização do grupo de tal maneira que este passa
a ser mais importante que a própria festa que o gerou. A Quadrilha Juventude na Roça,
Seringueiros é outro exemplo que pode ser dado como grupo que inicia como uma
de Manaus.
semelhantes, mas que não estão exclusos de conflitos. Reside justamente nos conflitos e
Manaus. A ruptura, que pode ser tomada como dramática em seu primeiro momento e
divergências.
outros bairros e zonas da cidade, que mesmo se distanciando fisicamente do seu bairro
enfim, levam também pessoas e com elas suas culturas, assim, sendo essas pessoas de
59
Manaus. Portanto, à medida que a cidade se expande, expande-se com ela formas de
em tantas outras formas de diferenciação, mas uma coisa parece ser comum a todos -
tanto para aqueles da primeira metade do século passado quanto aos que surgiram neste
início de século - são as estratégia para levantar recursos para suas atividades.
produção dos grupos folclóricos são práticas antigas. Muitos grupos, além do empenho
ter a assinatura neste livro é, também, um pressuposto de prestígio, pois é preciso pagar
para assinar; assim como festas com rifas e bingos que somadas às demais, respondem
alegorias e adereços.
60
2.2 A casa
não possuem sede, que é estrutura comum a organizações sociais formais. A sede é a
ensaia-se na rua enfrente a casa desta pessoa. Quando o ensaio de um grupo se realiza
musicais. Em algumas dessas casas, as travessas e vigas das estruturas do telhado são
som amplificada de pequeno ou médio porte é objeto comum a todas as casas de “donos
61
construção de uma área que se liga a cozinha. Estes espaços constituem-se em uma
extensão da casa a partir da cozinha para o fundo do terreno e tem acesso por dentro da
casa e também por fora da casa via um corredor entre a parede lateral da casa e a cerca
uma grande mesa que pode servir tanto para o trabalho de concepção quanto para o
também são usadas para armazenar material do grupo. A partir dessa observação,
podemos dizer que a casa do dono da brincadeira é, além de residência dele e de sua
2.3 A rua
rua, por sua vez, é uma referência no bairro. A rede de relações ao local de moradia
constrói um vasto sistema de comunicação social que une as ruas e becos do mesmo
bairro e outros bairros da cidade entre si, em Manaus. É, a partir da casa do “dono da
trocas com outros lugares da cidade, ampliando significativamente seu espaço social.
62
Isso ocorrendo, sobretudo, quando o grupo sai para brincar em outro bairro ou quando
praças, campos de futebol e o próprio bairro). O termo área é utilizado com certa
freqüência por pessoas que integrantes de grupos folclóricos para definir os espaços de
espaço doméstico é, também, compreendida como área de um grupo, bem como a rua e
demais espaços públicos do próprio bairro, assim como outros lugares da cidade podem
formulando a oposição entre a casa e a rua. Para o autor, cada um desses termos, “casa”
perigo.
entre a casa e a rua. Dito de outra forma, o autor aponta um espaço intermediário entre
é usual na linguagem do grupo que pesquisou, mas que pode ser tratado como uma
noção mais geral, uma categoria que também designa relação, regras, normas. Magnani
que a fundada nos laços familiares, porém mais densa, significativa e estável
que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade. Pessoas de
pedaços diferentes, ou alguém em trânsito por um pedaço que não é o seu, são
muito cautelosas: o conflito, a hostilidade estão sempre latentes, pois todo
lugar do pedaço é aquela parte desconhecida do mapa e, portanto, do perigo.
Para além da soleira da casa, portanto, não surge repentinamente o resto do
mundo. Entre uma e outra situa-se um espaço de mediação cujos símbolos,
normas e vivências permitem reconhecer as pessoas diferenciando-as, o que
termina por atribuir-lhes uma identidade que pouco tem a ver com a produzida
pela interpelação da sociedade mais ampla e suas instituições (MAGNANI,
1998, p. 116-117).
possibilidade de contato com pessoas que não estão vinculadas pelos laços de
parentesco. Os freqüentadores de um pedaço, ou aqueles que podem circular por ele não
são totalmente estranhos. Dessa forma, o pedaço pode ser considerado uma espécie de
Contudo, Magnani (1998) assinala que o pedaço, como uma espécie de modulação da
rua, precisa ser construído, ele não é dado e nem foi previsto pelo planejamento urbano,
pessoas dos grupos folclóricos de Manaus tem semelhanças com a noção de pedaço
trabalhado por Magnani (1998), visto que área e pedaço estão relacionados a espaços
grupo, que é também local de festas e outras reuniões e que pode ser tanto a rua quanto
grupo. O fator que diferencia a noção de “pedaço” à noção de “área” é o fato de que um
único grupo folclórico de Manaus pode considerar outros lugares da cidade como sendo
2.4 O bairro
seja, a casa do “dono da brincadeira”, a rua e ao bairro. Como a noção de área está
relacionada a espaços de sociabilidade dos grupos, nota-se que estas áreas se tornam
importantes pelas relações simbólicas que são criadas pelo grupo. É comum ouvir
grupo.
Diferente de bairro, que tem sua delimitação geográfica definida por critérios e
fundado o grupo ou onde residem muitas pessoas que pertencem ao grupo, assim como
acaba por constituir um lugar a ser identificado como área do grupo. Entretanto, a área
de um grupo pode ser constituída não apenas da casa do “dono da brincadeira”, da rua e
do bairro, podendo ir além dos limites do seu bairro, estabelecendo outros pontos na
Urbanos, do livro Imaginários Urbanos, diz que o território é físico, mas é também
Manaus, no que diz respeito aos limites dos bairros e das zonas geográficas da cidade
enquanto territórios físicos, não dão conta de compreender a noção de área dos grupos
folclóricos, pois estes inscrevem na cidade territórios que vão além dos limites físicos
como os mapas oficiais e propõe que deva nascer uma “cartografia simbólica”. Essa
não admite pontos precisos de corte, por sua expressão de sentimentos coletivos ou de
O mesmo autor diz também que território não é mapa, mas croqui, o qual vive
Silva nos permite dizer que a noção de área de um grupo folclórico pode ser
Silva (2001) oferece melhores condições para apreender uma noção territorial que não
sou dali da Cachoeirinha!” ou “Eu sou da Quatorze!”. Esses depoentes, por mais que
não morem nos referidos bairros (Cachoeirinha e Praça 14), quando vão falar do seu
como pessoa de um bairro a qual não moram há décadas. Seria esse o bairro mental ou
o endereço simbólico, nele não chegam as correspondências postadas pelo correio, para
67
de Manaus, desde a sua fundação ocorrida em 1982, mudou de local de ensaios várias
vezes. Em 2007 fez seus ensaios enfrente à Morada do Samba Luizinho Sá, que é um
próximo ao sambódromo de Manaus para serem usados como barracões das escolas de
Ouvimos de algumas pessoas que ali (enfrente aos barracões das escolas de samba) é
área do Brilhante. Contudo, o Brilhante não deixou de ser do Bairro São José dos
Campos, Zona Leste, onde mora o “dono da brincadeira” ou, dito de outra forma,
presidente do boi. Nota-se que o Brilhante tem relação de parceria com as escolas de
samba da Zona Leste (A Grande Família e Mocidade do Coroado), pois, em 2007 usou
difícil imaginar que o grupo folclórico Boi-Bumbá Brilhante esteja estreitando relações
com a escola de samba Unidos da Alvorada, cujas cores são azul e branco,
situações é identificado como sendo do Bairro da Cachoeirinha, mesmo que não ensaie
lá há décadas.
Mesmo nos casos em que o bairro ou determinado local do bairro não esteja
explícito no nome do grupo, ele é vinculado na fala dos marcadores dos grupos (nas
quadrilhas e danças nordestinas, os marcadores são aqueles que dão voz de comando na
Cachoeirinha”, neste caso o nome do bairro não faz parte do nome do grupo mas é
recorrente nessas chamadas para dar vinculação ao grupo com sua área. Outro exemplo,
neste caso, Vila Mamão não é bairro e sim um determinado local de um bairro. Existe
outro caso, que é a vinculação à Escola em que ensaiam ou aonde foram criados: Tribo
Araújo (Escola Estadual Rui Araújo). De uma forma ou de outra a característica básica
da vinculação do grupo folclórico com sua área, ou seja, sua rua, seu bairro, um local do
bairro, local de ensaios, ou ainda como lugar onde foi criado, é uma característica
importante que identifica o grupo e gera sentimento de identidade nas pessoas que nele
tomam parte.
responsabilidade por estar representado seu bairro, sua rua, seu local de fundação ou
qualquer outro ponto de sua área. Esta representação que opera uma expansão de um
grupo a outras áreas da cidade, faz com que estes grupos sempre aprimorem as
brincadeira” e outras pessoas que exercem liderança dentro do grupo usam em suas
falas frases que ajudam na auto-estima do grupo, estimulando o empenho das pessoas
nas diversas atividades que envolvem a produção do grupo folclórico, como por
exemplo: Não mediremos esforços; vamos nos dedicar ao máximo; não vamos fazer
feio; faremos o melhor trabalho; vamos trabalhar pra ganhar o Festival; vamos
trabalhar para ser o melhor do ano; São frases bastante usadas nessas reuniões.
mandato ou candidato a algum cargo eletivo, portanto, pessoas que podem ajudar
Vamos trabalhar para ganhar o Festival, afinal de contas nos somos da Cachoeirinha!
Vamos trabalhar duro para mostrar que o nosso grupo é o que melhor representa
nosso bairro.
que residem próximas a esses eventos, mas também aos grupos folclóricos de Manaus.
São os convites para participar de festivais e arraias que geram as agendas dos grupos
próprio nome, o grupo, além de construir uma identidade, estabelece diferenças com os
demais grupos, estas podem estar externadas em discussões sobre a qualidade das
Tinha a tia que colocava banca lá no Boulevard, mais pra cima, perto do
cemitério. Naquele tempo agente sabia qual era o boi só em ouvir a
batucada. Então o Mina de Ouro tava brincando na área, ali perto do curral e
cantavam: ê ferro ê aço/ eu to te procurando e não acho / ê ferro ê aço/ eu
to te procurando e não acho /se eu encontrar boi Corre Campo/ eu pego eu
estraçalho. Sabe que o pessoal ali era metido a brabo... Aí a tia, que já
descia com sua banca, disse – compadre lá vem boi, e pelo batuque é Corre-
Campo. Aí o negão ouviu bem e mandou: lá vem boi Corre-Campo / boi
bonito boi amigo (história narrada em uma roda de samba na casa do
Basinho, em 1997).
Não cabe aqui tratar da veracidade da história que ouvi de um senhor que morou
no Boulevard Álvaro Maia, mas sim apontar três fatos importantes que esta narrativa
horário, pois o boi, na época narrada, saia final da tarde e retornava no final da
madrugada; segundo, a circulação de um grupo em outras áreas da cidade, uma vez que
20
Ver BRANDÃO, Carlos, Rodrigues. A cultura na rua. Campinas: Papirus, 1989.
71
local do Bumbá Mina de Ouro; terceiro, que a rivalidade pode ser simbólica, como nos
desafios em versos, mas pode também ser física como o próprio verso sugere.
narrados por informantes de sua pesquisa, bem como e em versos de toadas de desafio
cantadas por esses informantes, publicados no referido livro. Além de outras fontes
como jornais de época e entrevistas com pessoas que brincaram boi nesse período, na
leitura dos próprios versos podemos perceber que os bumbás rivalizavam não só em
músicas, mas agressões físicas aconteciam e estavam relacionadas a encontros nas ruas
O contrário falou que no boulevard não podemos passar/ temos que passar,
ê, ê, temos que passar/ temos que passar que estrada é pública e a pisada é
federal (...) pisei, pisei, pisei/ pisei porque agüento / eu pisei no boi
contrário no bairro do Entrocamento (...) pisei, pisei, pisei / pisei volto a
pisar/ eu pisei no boi contrário no alto do boulevard.
bairros diferentes mesmo que isso implicasse em confrontos físicos, brigas de fato. Na
com os capoeiristas que estavam à frente dos bois em Belém no século dezenove e, com
capoeira está implícita nos bois de Manaus dessa época”. Esse é um pensamento que
tem encontrado nos fóruns sobre cultura afro-brasileira na cidade de Manaus um espaço
72
músicas do boi, que aqueles que tomam parte nessas brincadeiras recordam e gostam de
cantar sempre que lembram, chamam as toadas com temas de rivalidade ou com essa
Bumbá Corre-Campo é o Boulevard Álvaro Maia, na zona sul, que no sentido bairro
Avenida Constantino Nery, próximo aos bairros Presidente Vargas e Chapada e, liga-se
a ponte que atravessa para o Bairro da compensa, dando acesso à zona oeste da cidade.
Bairro do Entrocamento, ao qual se refere a letra, era uma das formas como chamavam
a área onde se encontram o Boulevard Álvaro Maia e a atual Avenida Djalma Batista,
do Batuque ou terreiro de Maria Lobão e Joana Estrela. Este é um dos pontos da cidade
do Bolervard Álvaro Maia próxima ao Cemitério São João Batista. Portanto, área do
Diz o Mestre Zé Preto que na década de 30 quando não havia disputa entre os
21
Ver Os bois-bumbás de Parintins. BRAGA, Sérgio Ivan Gil – Rio de Janeiro: Funarte/ Editora
Universidade do Amazonas, 2002.
73
aluguel (os táxis de hoje) e descia e subia o Boulevard, aquilo era pra mostrar que a
No curral do meu boi/ tinha uma roseira / se não me falha a memória / era
rosa palmeirão/ eu tinha o maior zelo com a roseira porque ela só me dava
flor no mês de São João / um belo dia logo que amanheceu mandei o
vaqueiro aguar/ já era tarde o boi contrário comeu /comeu, comeu, o boi
contrário comeu/ mais vaqueiro cadê minha roseira /o boi contrário comeu.
Rosa Palmeirão é uma toada que mesmo de forma não agressiva ou direta, está
espaço das relações sociais das pessoas que fazem parte de um grupo folclórico de boi-
atividades do grupo, portanto, não pode ficar desprovido de olhares atentos de seus
brincantes.
Mas, o fato da roseira que ficava no curral ter sido comida pelo boi contrário
sugeri que o bairro ou a área do bairro onde se situa o curral, enquanto território de um
grupo era visitado, quando convidado, ou “invadido”, quando não havia prévio
consentimento, por outros grupos. Nessa inter-relação entre grupos, como em qualquer
22
Ver Assunção, Alvadir. O auto do boi-bumbá corre campo e outros famas. Manaus: Edições
Muiraquitã, 2008.
74
Para Ana Fani (1994), o lugar pode ser uma maneira de decomposição do
produzido pelo Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga, premiado em 2006 pela Associação
inter-relação que havia entre esses grupos sociais na primeira metade de século XX,
Como não ir a outro lugar da cidade? Uma vez que, ao sair para dançar em outro
lugar, o grupo é o seu local em expansão, mesmo brigando, pois o conflito é inerente às
relações sociais. Até aqui as citações e comentários desta parte do trabalho dão conta de
de um lugar para o outro a pé. Contudo, hoje, quando um grupo vai se apresentar em
fala de alguns “brincantes” desses grupos é comum ouvir, “prefiro perder para qualquer
Petrópolis, há dois níveis de rivalidade, uma que abrange todas as quadrilhas da cidade,
rivalidade no próprio bairro e essa rivalidade próxima parece ser mais aguçada. A
Petrópolis é de três quarteirões, uma ensaia na quadra que hoje chamam de Ginásio
Marupiuara, mas que foi a Quadra da escola de samba Unidos de Petrópolis, e a outra
dentro do seu grupo e decide sair, ou é excluído, é possível que este vá para o grupo
rival, mas pode procurar outros grupos que não aquele grande rival ou engajar-se para
do próprio bairro e implica em uma dinâmica que gera novos grupos no bairro, uma vez
certos grupos que se rivalizam. De forma preventiva, mesmo que não se tenha notícia
do Amazonas.
2.5.1 Arraias
Arraiais são as festas promovidas por paróquias das igrejas católicas, são
organizadas por grupos de jovens ou outras organizações dessas igrejas. São realizados
nas áreas externas da igreja, sejam nas quadras, nos estacionamentos, na rua enfrente a
feitas de plástico ou TNT com predominância nas cores azul, vermelho, amarelo, mas
apresentador faz sorteios, rifas, bingos e leilões e executam músicas de bandas de forró
comum constar na programação uma banda musical local que faz som ao vivo.
77
percorria todas as rodas de conversas, tomava cerveja com grupos de pessoas que
estavam ali, dando animo ao evento. Notei que após 23h quase não havia bebida e
comida a disposição para venda, e uma “barraqueira” disse que já haviam vendido
quase tudo, o que demonstra a participação das pessoas nessas festas. Esse Arraial de
Os anos 70, foi marcado por uma identidade definitiva para o Bairro de Santo
Antônio, que no dia 18 de abril de 1971 aconteceu a inauguração da
construção da igreja da comunidade, e para comemorar os festejos do
padroeiro Santo Antonio no mês de junho acontecia (até hoje acontece), o
Arraial conhecido na época como quermesse ... Os mais antigos moradores
destacavam que o Arraial de santo Antônio era o mais famoso de nossa capital
... A festa era uma oportunidade de lazer e entretenimento para os moradores
da comunidade, os jogos de diversão mais conhecidos no arraial da
comunidade eram: o jogo do preá, jogo da lata, bingos, oferecimento de
músicas, barraca do beijo e etc. Hoje o arraial continua sendo realizado na
paróquia de Santo Antônio na qual atrações diversas são apresentadas no palco
montado na área do estacionamento da igreja, e os comunitários e a
participação maciça dos jovens através das competições como shows de
calouros, leiloes americanos, música ao vivo, barracas com comidas típicas e
brincadeiras diversas. (SOUZA, 2008, p. 28)
A opção por descrever as observações feitas neste arraial se deu pelo fato de que
Santo Antônio é um dos quatro santos festejados no mês de junho e, como já foi dito,
este arraial se dá na Igreja de Santo Antônio que esta localizada no bairro de Santo
bairro recebem o nome de um santo festejado em junho. No mesmo bairro ocorre uma
78
outra festa do ciclo junino chamada de Festival Folclórico de Santo Antônio, que se
realiza no final do mês de julho, mas que não ocorre no âmbito da igreja.
Arraial é, também, uma designação utilizada para definir demais festas juninas
da praia da Ponta Negra chamado de Arraial da Cidade. Este evento ocorre no último
final de semana do mês de maio e conta com shows de bandas locais e de artistas
associações dos bairros, por grupos de amigos, ou por alguma pessoa do bairro que
julho de 2008, há um texto que conta a história desse festival, nele, percebe-se a
Início dos anos 90 era apenas uma brincadeira tradicional em festas juninas,
pau de sebo, que reunia cerca de 20 moradores da Comunidade do Campo
do Penarol.
Surgiu a idéia de realizar um arraial no mês de junho, em 1993 deu início do
Festival Folclórico. No início recebemos apenas o apoio da comunidade
local, a partir de 1996 houve interesse de grupos folclóricos de toda a cidade
de Manaus, pouco tempo depois sendo o mais disputado e comentado entre
79
setembro. O início de suas realizações tem motivo na disposição dos grupos que
disputam o Festival Folclórico do Amazonas, pois muitos preferem não fazer nenhuma
Nos bairros, os festivais têm duração maior que os arraiais das igrejas, durando
duas ou mais semanas e não são estabelecidos a partir da data comemorativa aos santos
das paróquias, como acontecem nos arraiais. As datas de realização dos festivais
data de tal forma que não conflitem com os festivais de bairro que ficam mais próximos
comunidade, pois no período em que se realiza não se pode jogar bola, as instalações
que neles são feitas impossibilitam a prática de futebol naquele período, tais instalações
No Bairro Parque 10, Zona Centro Sul ocorrem dois grandes festivais
Folclóricos, sendo que os que mais agregam público são realizados em campos de
80
futebol. No Bairro São José I, Zona Leste, o festival folclórico o mais antigo se realiza
do Bairro de Santo Antonio – Zona Oeste. Da mesma forma como aqueles festivais
que parte dele fica ocupado pelas instalações do festival. Existem outros festivais de
bairros, mas ficaria muito extensa a lista se citássemos todos, preferi citar aqueles que
pelo mesmo motivo que nos levou ao arraial de Santo Antônio, ou seja, o festival se
insere no que estamos classificando como festas do ciclo junino de Manaus, embora se
participávamos do arraial, mas decidimos fazer uma festa mais ampla, mais aberta e aí
Antônio, diz que, “Nos anos 80 período em que finaliza a época dos famosos arraiais,
e posteriormente iniciava uma nova era, o período dos grandes eventos os famosos
festivais folclóricos”. Mesmo que essa afirmação leva a entender que com o advento do
81
festival, o arraial deixa de existir, percebemos, no campo, que ambos coexistem sem
Nesses festivais, os espaços das barracas são vendidos. O valor cobrado por um
espaço para venda no festival, a prestação de contas e a aplicação dos recursos advindos
da venda desses espaços são sempre motivos de discussões entre grupos de moradores e
Diversas barracas que vendem comidas típicas da época como bolo podre,
festival fecha contrato com alguma empresa de bebidas, há uma padronização das
“simples”, onde o espetinho com carne é oferecido com farinha tipo uarini-ova ou
quantidade em bacias plásticas e podem ser consumidas a vontade assim como o molho
de tucupi com pimenta que ficam em bisnagas ou em uma pequena bacia plástica com
com seus jogos de azar e brinquedos como roda gigante, pula-pula, e as brincadeiras de
82
pescaria, em alguns festivais são comuns os jogos de roleta onde figuram escudo dos
capeta que é a mistura de várias bebidas destiladas como cachaça, vodka e conhaque,
com leite condensado, amendoim torrado, frutas como limão e abacaxi junto com
escandalosa, pirarucu de casaca, sobremesas, como pudins, bolo podre, tortas de banana
e uma diversidade de salgados com massa de macaxeira e recheados com carne, galinha
Regatão23 são duas das mais famosas barracas profissionais que dividem opiniões dos
venda de bebidas e comidas, bem como o palco onde se apresentam bandas músicais e,
lazer da própria cidade, uma vez que são realizados em todas as zonas e em diversos
apresentações dos grupos folclóricos de Manaus por quase seis meses, a contar de maio
e indo até final de setembro ou início outubro, fazendo com que esses grupos visitem
alargamento das fronteiras sociais, pois, conforme Prado (2007, p. 53) a festa só é
“gente de fora”.
Assim como os grupos folclóricos que, de forma direta ou indireta, vinculam seu
nome ao nome do próprio bairro, ou a denominação dada a certa área do bairro onde se
da Cidade Nova (zona norte de Manaus) são exemplos de vinculação direta do evento
indireta, pois quando é necessário dar uma referência sobre a localização desse festival,
o evento à determinada área do bairro, ao campo de futebol para ser mais específico, e
ao próprio bairro.
“brincadeira”.
(2004) sobre uma festa realizada por moradores de uma das ruas do conjunto Cidade
Nova I, Zona Norte de Manaus, em uma noite de São João, revela o sentido inscrito na
ação de membros de um grupo folclórico a respeito uma apresentação, mesmo que esta
decorrer do ciclo junino, que se prolonga por quase todo o verão, e se constituem em
número de pessoas que nele circulam a cada edição e as histórias e memórias a seu
mil pessoas estiveram no Festival no decorrer dos trinta dias em que foi realizado.
Para se ter uma noção da quantidade de pessoas que circulam pelo Festival, não
se pode olhar apenas para as arquibancadas, sobretudo em dias úteis da semana, pois se
corre o risco de ter a impressão de que o evento não agrega um grande público. É
bebidas, o fluxo de pessoas nas áreas de concentração e dispersão, notar que quando um
grupo folclórico chega no estacionamento dos ônibus que os conduzem, outro grupo
está saindo do estacionamento, retornando a seu bairro. Em média se tem cinco horas de
86
apresentações por dia o que dá ao Festival um público flutuante, são pessoas que muitas
vezes chegam apenas para ver a brincadeira ou o grupo folclórico de sua preferência ou
Contudo, nos finais de semana o público aumenta de tal forma que as arquibancadas
chegam a lotar.
Bairro de Educandos, Zona Sul, que disputa como manifestação folclórica dança
alusivas a ritos das religiões de matrizes africanas, levou mais de vinte mil pessoas em
junho tendo como local o Centro Cultural Povos da Amazônia - CCPA, localizado na
Zona Sul da cidade, entre os Bairros do Crespo e Lagoa Verde, próximo ao Distrito
exposição museológicas, auditórios, bibliotecas e uma arena com 5000m² que serve de
palco para os grupos folclóricos, mas que em outras datas tem outros usos, com
associações de grupos folclóricos passaram a tomar medidas junto aos grupos filiados
no sentido de criar estratégias que possibilitem a ocupação do espaço da arena com seus
brincantes é um exemplo de uma dessas medidas para dar conta do espaço físico da
nova arena dos grupos. Outra medida seria a produção de alegorias com dimensões
maiores que as que os grupos costumavam usar em suas apresentações, que passaram a
Internacional Futebol Clube, clube que tinha equipe de futebol e realizava em sua sede,
que ainda existe localizada no Boulevard Álvaro Maia, bailes e outros eventos sociais,
chamaram de Festival Folclórico. Este concurso teve como objetivo angariar recursos
para o Clube. A seu exemplo, outros festivais foram realizados entre as décadas de 40 e
N0
ANO PREFEITO INSTITUIÇÕES LOCAL
FESTIVAL
Av. João Coelho C/
I 1946 Pedro Severino Bar Balalaica
Leonardo Malcher
Av. João Coelho C/
II 1947 Raimundo Ribeiro Bar Balalaica
Leonardo Malcher
II 1948 Raimundo Ribeiro Bar Balalaica Ajuricaba
IV 1949 Raimundo Ribeiro Bar Balalaica Ajuricaba
V 1950 Raimundo Ribeiro Bar Balalaica Ajuricaba
VI 1951 Álvaro B. Melo Bar Balalaica Praça Gen. Carneiro
Campo Ipiranga
VII 1952 Álvaro B. Melo Inter F. Clube
Cachoeirinha
VIII 1953 Aluízio Brasil Inter F. Clube Parque Amazonas
IX 1954 Aluízio Brasil Inter F. Clube Praça Gen. Carneiro
X 1955 Estênio Neves Inter F. Clube Praça Gen. Carneiro
XI 1956 Gilberto Mestrinho Inter F. Clube Praça Gen. Carneiro
24
Demóstenes Mafra, na atualidade exercendo a vice-presidência da Associação dos Grupos
Folclóricos de Manaus – AGFM, possui um vasto acervo sobre os grupos folclóricos de Manaus
e o Festival Folclórico do Amazonas. Tem se dedicado a escrever sobre o tema embora, até o
presente não tenha publicado. O quadro citado consta em textos de autoria de Mafra e por ele
doado ao Acervo Bibliográfico e Audiovisual de patrimônio Cultural da Secretaria Municipal de
Cultura de Manaus – SEMC, estando à disposição do publico no Museu do Homem do Norte.
88
Sendo que estes festivais, mesmo que de alguma forma recebessem apoio da
cidade.
A partir dos anos cinqüenta, inclui-se nas festas da cidade uma outra, com
capacidade de mobilização surpreendente: era o Festival Folclórico do
Amazonas realizado na Praça General Osório sempre no mês de junho
(OLIVEIRA, 2003, p. 153).
1957, apresenta vários fatores que podem, de forma direta ou indireta, ter influenciado
ao Brasil que tinha o Amazonas em seu roteiro de viagem, junho de 1957, o que pode
Manaus.
agenda de política cultural do país nas esferas federal, estadual e mesmo municipal.
89
era de ascensão do populismo trabalhista que estendia seus braços sobre os grupos
Amazonas”.
surgimento do Festival, “O Festival Folclórico foi motivado pelas grandes brigas que
havia entre bois rivais, daí o Festival surge para dar racionalidade às rivalidades entre
grupos diferentes, que gerava desordem nas ruas da cidade, passando a disputa para o
conjunto de todos esses fatores é o melhor caminho, pois o fato é que este festival foi
criado em 1957 por iniciativa do Grupo Archer Pinto, proprietário de O Jornal e Diário
Por muitos anos o Festival foi realizado na Praça General Osório, deixando de
ser realizado naquele local quando a Praça passou a integrar a estrutura do Colégio
25
Alvadir Assunção em seminário ocorrido no dia 22 de agosto de 2008 – Dia Nacional do
Folclore, no evento Semana do Folclore, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura de
Manaus, realizado no Museu do Homem do Norte.
26
Moacir Andrade em seminário ocorrido no dia 22 de agosto de 2008 – Dia Nacional do
Folclore, no evento Semana do Folclore, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura de
Manaus, realizado no Museu do Homem do Norte.
90
colégio. Durante o tempo em que foi realizado na Praça General Osório, o Festival
deixou marcas na memória das pessoas que dele participavam, sendo estes brincantes
Festival na Praça General Osório, é comum ouvir falas no sentido de que ali foi o
Colégio Militar, o Festival deixou de existir naquele local, sendo transferido para a
Praça da Bola da SUFRAMA (local onde hoje se encontra o CCPA), mas, na opinião
Oliveira, não alcançou a mesma importância. Ainda tratando sobre o Festival, Oliveira
duas pessoas que, conforme o autor é na essência real e poderia ocorrer entre duas
pessoas que viveram Manaus entre os anos vinte e sessenta, período em análise na sua
Também acabou.
Oliveira (2003), ao nos dar lições de como compreender o espaço urbano, diz
Amazonas, ver o que se esconde atrás da paisagem visível não pareceu ser tarefa fácil.
Conforme Roberto Cardoso de Oliveira, olhar, ouvir e escrever são três etapas
visualizá-lo. Seja qual for esse objeto, ele não escapa de ser apreendido pelo
esquema conceitual da disciplina formadora de nossa maneira de ver a
realidade (OLIVEIRA, 2000, p. 18).
história social do conceito de folclore seria uma das maneiras de domesticação teórica
do olhar quando se parte para um estudo sobre festival folclórico ou grupos folclóricos.
Assim, sem a tal domesticação teórica do olhar o discurso dos agentes sociais que
prestam informações à pesquisa e demais dados coletados não nos permitiriam análises
consistentes.
Beira mar, cujos versos, “Furou o pandeiro mestre, furou/ agora foi pra história o
pandeiro mestre furou e meu boi-bumbá vai embora/ me lembro ainda com
Um outro olhar é possível, desde que saibamos onde se localizam esses grupos
na cidade e saber que os mesmos não saem mais às ruas a pé ao se deslocarem para suas
apresentações. Hoje, para ver um grupo na rua se deslocando de um lugar para o outro,
em Manaus, é preciso que se tenha um ato de observação mais apurado. Pois eles
“andam” não mais a pé, o que tornava fácil vê-los e ouvi-los. Precisamos estar atentos a
muitos ônibus, vans e carros pequenos que circulam nas noites da cidade de Manaus a
partir do início de junho, indo até setembro. Dessa forma será possível vê-los e até
92
mesmo ouvi-los, pois, canta-se muito dentro desses veículos em que circulam
Dessa forma, dentre os motivos que podem levar a acreditar que o Festival
acabou, destaco quatro: a noção saudosista típico da abordagem folcloristica que nos
tá morto”; a pouca atenção do poder público para com o evento; a falta de espaço nos
Folclórico do Amazonas pode ter desaparecido para muitos olhares, mas não acabou. O
que se tinha, até 2005, era um descaso das políticas culturais do estado e do município
para o Festival e com os grupos folclóricos que nele tomam parte. Os recursos públicos,
quando apareciam, vinham em atraso e o que vinha estava muito aquém das demandas
dos grupos folclóricos, não havia um local específico e com estrutura adequada para a
realização do Festival, bem como pouca divulgação nos meios de comunicação sobre o
evento.
Então vale perguntar por onde andou o Festival Folclórico do Amazonas durante
Folclóricos de Manaus,
Ana Fani (1994) em A (Re) Produção do Espaço Urbano nos diz que os movimentos
espacial e que os movimentos sociais urbanos no país, a partir da década de 70, tem
representem perante aos órgãos do poder público que tratam sobre políticas culturais.
Neste contexto, em 1979, visando uma estrutura mais adequada para suas
de futebol Vivaldo Lima) para a Bola da SUFRAMA; adquirir terreno para edificar
folclóricos junto ao poder público. Essa reunião foi registrada em ata, onde outras
providências foram definidas como elaborar estatuto, produzir ficha cadastral para os
O que o autor chama de grupo, em nosso caso são as associações, uma vez que
elas existem a partir do ato da delegação e são dotadas do conjunto de coisas que
de oráculo de Bourdieu:
Amazonas. Nota-se que os interesses defendidos dizem respeito aos valores dos
recursos financeiros repassados pelo poder público aos grupos, prazos de liberação dos
Em 2007 entrou na pauta das associações a luta por um espaço com estrutura
semelhante à Morada do Samba Luizinho Sá, onde estão os barracões das escolas de
samba do grupo especial de Manaus. Este espaço reivindicado pelas associações será
de Manaus, localizado nas proximidades do CCPA. Percebe-se que nos últimos três
anos alguns espaços do Distrito Industrial já vem sendo usados por grupos folclóricos,
já serviu como casa noturna, no mesmo ano, o Corre Campo fez uso de um terreno nas
dois bois para a produção de suas indumentárias e alegorias ficam próximos à sede
e indumentárias que não são bens voltados à economia de mercado, pois ainda não se
dinâmica sociocultural dos grupos folclóricos de Manaus mais uma vez ressignifica
lugares da cidade que não foram planejados para eles. Abstrai-se desse processo que, as
formas pelas quais os agentes sociais dos grupos folclóricos de Manaus têm produzido
o urbano, faz com que a cidade, que não é construída para eles, se reinvente,
adequando-se a grupos sociais que não estão na pauta de discussão dos que a planejam.
96
internas de suas relações de poder, uma vez que ao tratarem de questões em esferas
Manaus para a realização do Festival, que chegou a acontecer ali, mas logo os grupos
saíram para realizá-lo em outros locais, inclusive com infra-estrutura inferior ou sem
Para Lefebvere (1991) o direito à cidade inclui, entre outras coisas, o direito à
representam, que se deu por via de mobilizações políticas e manifestações públicas que
pessoas que tomam parte nos grupos folclóricos, é esse Festival o evento mais
importante realizado naquele local. A construção do CCPA com espaço para o Festival,
mesmo que estivesse se ordem judicial emitida por autoridade judiciária ou laudo
a mobilização social dos grupos folclóricos redefiniu a obra, definindo seu espaço para
A luta por esse espaço é histórica, por isso a Praça da Bola da SUFRAMA tem
um significado para gerações posteriores aquelas que vivenciaram o tempo dos festivais
no General Osório e mesmo para aqueles que vivenciaram os dois momentos e foram
sacralizado pela presença do Papa João Paulo II em 1981, mas também como “lugar da
brincadeira se apresentar”, uma vez que é cantada em quase todos os bois e festivais
Muito cantada na época, sua letra nos faz entender que na Bola da SUFRAMA o
Festival teve sim sua importância, ao menos para pessoas que a ele dedicam parte de
suas vidas.
2006 e 2007, tem sido resultado de parcerias entre as quatro associações – AGFAM,
Amazonas.
99
Porém, os recursos não são distribuídos em partes iguais aos grupos folclóricos.
O valor recebido por cada grupo está relacionado a três fatores: a associação a qual o
grupo está filiado; a categoria na qual o grupo se encontra e, por último, a manifestação
Com relação à associação a qual o grupo folclórico está filiado, o valor recebido
por cada grupo pode variar entre as associações de acordo com as taxas administrativas
grupos filiados a cada associação, que varia de ano a ano, implica no valor que cada
acordo com o numero de filiados, e sim um valor fixo para as três associações. Há
Garanhão, pois, a associação que tiver um desses grupos como filiado, receberá um
Essas categorias correspondem ao nível em que cada grupo folclórico se encontra por
sendo uma disputa interna em cada associação, não havendo disputa entre grupos de
uma associação com grupos de outra associação, exceto no caso dos bois-bumbás da
super-categoria.
100
grupo folclórico pode chegar, Categoria Especial, que é a categoria intermediaria entre
cada uma dessas categorias varia de acordo com a associação e é redefinida a cada ano.
grupo que se encontra na Categoria Especial, que por sua vez recebe um valor maior
Tribos e Cacetinhos não há diferença no valor que recebem. Por exemplo, os grupos
uma Quadrilha ou um Cacetinho. Nos casos dos grupos folclóricos pertencentes a uma
qual o grupo esteja filiado e à categoria a qual se encontre. A exceção são os grupos
Bumbás da Super-Categoria recebem valores superiores aos grupos que estão na mesma
categoria, mas que pertencem à outra manifestação folclórica. Por exemplo, o Boi-
Bumbá Corre Campo pertence à Super-Categoria dos bumbás e recebe recursos maiores
Independente dos Grupos Folclóricos de Manaus. Nos Festivais de 2005, 2006 e 2007,
disputa entre grupos folclóricos filiados em associações diferentes, uma vez que o
disputam entre si no Festival. Percebe-se que esses três grupos se posicionam contrários
sábado e o último no domingo, sendo três horas de apresentação para cada um deles. A
Desde 2005 que a disputa entre esses três bois, mesmo ocorrendo dentro do
80.000,00 (oitenta mil reais), sendo metade repassada pela Prefeitura e outra metade
pelo Governo do Estado. Tendo um acréscimo em 2006 e, em 2007 esses três grupos
tiveram repasses na ordem de R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais) para cada
um.
em média setenta mil pessoas estiveram no CCPA em cada uma das três noites dos
bumbás de Manaus.
grupos folclóricos filiados a LIGFM, sendo que no dia 16 apresentou-se também o Boi-
Como cada uma dessas associações gera suas disputas internas, uma vez que
contra os grupos de sua associação, exceto no caso dos bois da Super-Categoria, temos
várias disputas por títulos em uma única edição do Festival, o que gera vários grupos
Especial e Categoria A. Como cada associação gera suas próprias disputas, ou seja,
empate no primeiro lugar em uma das categorias de alguma associação o numero sobe.
103
dão após o carnaval. Contudo, os recursos que esses órgãos destinam aos grupos
muitas vezes até 30% da receita anual das pequenas empresas”, disse o
empresário.
Pagamento postergado é tido como risco - Na opinião do gerente do rei dos
tecidos, Josias Agripino, o pagamento postergado é um risco calculado por se
tratar de um contrato de cavalheiros entre os lojistas e as associações
folclóricas, que já mantêm uma longa história de relacionamento comercial.
De acordo com gerente, o lucro da venda deve ser encarado muito mais como
um investimento em curto prazo, já que os lojistas não poderão contar com
esse dinheiro até a libertação pelo executivo estadual e municipal da verba
destinada aos eventos folclóricos. “O dinheiro demora a sair, mas ele
seguramente virá”, acrescentou Agripino.
Segundo dados da AFGAM (Associação dos Grupos Folclóricos do
Amazonas), dentre os grupos da super-categoria, nível mais luxuoso do
Festival Folclórico, as cirandas são de longe as danças que mais gastam no
comércio da capital, algo cuja média é superior a R$ 10 mil. O presidente da
AFGAM, Raimundo Nonato, afirmou que a associação tem 62 grupos, dos
quais duas cirandas, cada uma com 100 dançarinos, pertencem à super-
categoria. “Se contabilizarmos o número de grupos das outras duas
associações folclóricas, pertence-se que os festivais de dança, antes de serem
alternativas de crescimento cultural, têm sua importância assegurada no
desenvolvimento da economia local”, asseverou Raimundo Nonato. (Jornal do
Commércio, 2007, Caderno: Economia, p. 7).
parte de seu faturamento anual oriundo dos grupos folclóricos, tendo, portanto uma
relação de confiança entre empresários e dirigentes, pois vendem antes da liberação dos
articula o seu discurso no sentido de que a liberação dos recursos dos convênios pela
são depositados nas contas correntes das associações, estas, repassam aos grupos
folclóricos. Os grupos folclóricos prestam contas com recibos e notas fiscais de serviços
responsáveis pela aplicação destes recursos que inclusive por força dos convênios,
material para a elaboração de indumentárias e alegorias, assim como são utilizados nas
alegorias.
106
3. Capítulo
Festa dá trabalho
Sabe-se que São João, São Antônio, São Pedro e São Marçal, os santos do mês
de junho dão o motivo para as festas juninas, mas estas festas não se limitam ao mês de
junho, estendendo-se por um período que vai além do mês setembro, chegando a
outubro. Observa-se que junho não é apenas um mês de 30 dias, e sim um tempo de
festas com motivos juninos como festivais folclóricos e arraiais por onde se apresentam
inicia após o carnaval, com as primeiras reuniões e ensaios dos grupos folclóricos, tem
Portanto, as festas juninas se estendem por quase todo o verão na cidade de Manaus.
e essa preparação para as festas inicia após o carnaval e que as apresentações a partir de
devoção, mas também tempo de muito trabalho para aqueles que assumem
apresentações desses grupos. Por outro lado, na relação com o poder público o discurso
local por meio das relações de trabalho no âmbito dessa produção. Contudo, as
sejam estes por meio de suas promoções do próprio grupo ou por intermédio de
convênios com órgãos públicos gestores de políticas culturais, são dirigidos em função
Boi-Bumbá Brilhante
medida possuem semelhanças também, o que certamente nos permitirá ver formas de
um grupo para o outro, assim como alegorias, que no caso do Boi-Bumbá Brilhante é
fator de julgamento, portanto, quesito obrigatório. Outro fator para essa escolha reside
dentro desses grupos. Com essa escolha buscamos apreender múltiplas dimensões do
várias referências literárias a respeito dos bois de Manaus. Outro motivo é fato de que
Manaus e recebem o maior público em seu dia de apresentação, por certo, múltiplas
Juventude na Roça. A escolha deste grupo de deve ao fato de que esta quadrilha é a que
mais vezes foi campeã do Festival Folclórico do Amazonas, sendo o mais antigo grupo
folclórica deriva das quadrilhas e apresentam indumentárias muito específicas que são
deu especificamente pela riqueza das indumentárias que este grupo vem apresentando
Sertão
casa da “dona da brincadeira”, localizada no Bairro São José III, Zona Leste. O acesso
ao espaço da casa onde são produzidas as indumentárias é feito por uma entrada lateral
110
entre a parede da casa e o muro lateral da casa vizinha que leva a uma área coberta e
calçada no fundo da casa e se liga à cozinha por uma porta. Portanto, o espaço de
produção é uma extensão da casa da “dona do grupo”, nele observamos três mesas com
das indumentárias, bordados das indumentárias, venda de rifas, bingos e passagens para
inicia seu processo de criação, segundo ela: “no dia da apresentação, depois que passa
o sufoco eu fico ali criando, começo pelos destaques, vejo os movimentos, as cores, os
bordados e já começo a pensar no próximo ano”. Contando com a ajuda do seu filho e
de mais um integrante do grupo, esta senhora faz, com retalhos que são guardados
grupo no Festival Folclórico do Amazonas que as indumentárias que o grupo irá usar no
ano seguinte começam a ser concebidas. Desta forma, a configuração visual das
para o preparo dos figurinos do ano de 2007. Nesse processo de concepção trabalham
trabalhou tem sua indumentária. Aqueles que participam dos eventos do grupo
vendendo suas cotas de bingo, rifas e passeios adquirem 50% de suas indumentárias, os
excedentes dos que vendem mais cobre aqueles que vendem menos. Considerando que
grupo, representa 50% do valor da indumentária, tem-se nestas atividades uma parte
importante do trabalho de produção do grupo, posto que estes recursos cobrem diversas
despesas com aquisição de material para a confecção das indumentárias. Este tipo de
trabalho implica em vender fora do grupo, o que ajuda a divulgar o nome do grupo em
outros lugares que pode resultar na inclusão de novos membros ao grupo, isto porque
começa a partir das 13h e se estende até às 6h do dia seguinte. O momento ideal de
a pela parte da noite quando o trabalho é intensificado a partir das 23h, quando chegam
os brincantes que se dedicam àquelas atividades, mas que estudam no turno noturno das
escolas públicas do bairro e alguns que trabalham durante o período diurno. Como não
e se caracteriza como reunião social do grupo, as pessoas gostam daquele trabalho pelo
convívio que ele proporciona. Nele, a solidariedade com os membros do grupo que por
112
excedente do trabalho dos que estão nas atividades que supre o trabalho dos ausentes.
Neste grupo, o trabalho é realizado em grande medida a partir das 23h, momento
locais de produção são os ateliês das costureiras e costureiros que prestam serviços para
o grupo. Esses ateliês funcionam nas casas dessas pessoas e são localizadas próximas ao
costureiras desenvolveram técnicas de bordados que são utilizados nos chapéus, nas
formal, apenas estabelecendo o valor por cada vestido ou paletó acabado. Contudo,
nota-se que as pessoas envolvidas na produção das indumentárias são brincantes, ex-
familiar, que há mais de quinze anos produz os sapatos usados pelas mulheres nas
dificuldades quando conheceu o pessoal da Juventude na Roça, pois não mais conseguia
vender a produção para as saparias e nem para vendedores ambulantes e nem para o
interior. O proprietário relata que aquele era um momento difícil e não sabia o que
sapatos das mulheres, que são brancos de salto e com adornos de flores artificiais. O
mesmo não foi necessário para os homens, pois usam sapatos pretos que mesmo sendo
confortáveis para dançar. A partir daquele ano esse tipo de calçado foi sendo
Manaus e também nas escolas de samba de Manaus. Percebe-se que não há qualquer
tem-se uma relação recíproca de confiança, pois não há data especifica de pagamento.
fábrica é uma parcela do valor total como entrada e a entrega dos sapatos uma semana
prefeitura, que em nenhum ano tem data certa para ser liberado, e de outros recursos
brincadeira” que discute com alguns membros do grupo os desenhos que elabora. A
artes ou em desenho técnico e nunca fez qualquer tipo de curso relacionado à área. Essa
pessoa desenvolveu sua própria técnica de desenho e utiliza folhas de caderno com
pauta ou folhas de caderno de desenho, caneta e lápis de cor. Esses figurinos não seriam
quadro indicativo.
trabalham nas costuras, desenhos que não expressariam muita coisa a um olhar de quem
115
não pertence ao grupo, logo são definidos como belos. As especificidades estão
implícitas na linguagem estética do grupo, o que faz com que uma linha tremula traçada
do grupo que a interpretam dizendo que ali pode ficar um tipo de renda ou feito um tipo
papel pouco adequado para desenho remetem a tons e combinações que aquelas pessoas
sabem usar. Outros detalhes como corte e moldes são logo abstraídos sem grandes
dificuldades, uma vez que aquelas pessoas envolvidas na produção das indumentárias
são, há muito, iniciadas no processo de produção do grupo, o que nos permite dizer que
pessoas envolvidas nessa etapa passam a apresentar sugestões de tipos de tecidos e suas
respectivas estampas, assim como material de acabamento com suas variadas cores e
formas para a produção das indumentárias. Contudo, essas informações obtidas nas
incursões ao mercado que irão materializar o figurino que ainda está no papel são
elaboração do protótipo e que ainda passará pelo olhar de outros membros do grupo,
Nota-se que todo esse trabalho é muito próprio das indumentárias femininas, ou
como chamam, “o vestido das mulheres”, pois a indumentária masculina não sofre
grandes alterações por se tratar de um paletó sobre uma blusa branca, calça comprida
branca, sapato preto e chapéu de palha. Sendo esse paletó confeccionado pelo mesmo
116
costureiro e sua equipe há mais de vinte anos, a única decisão no “paletó dos homens” é
ser suficiente para confeccionar mais de setenta indumentárias. Por isso, as pessoas que
tecidos, cetins, rendas, bordados, fitilhos e flores artificiais, levam também o preço de
nas lojas. Conforme um informante, “é possível ter que mudar algum detalhe do
margem esquerda do Rio Solimões: “havia um equívoco nas quadrilhas que observava
chapéus puídos. As pessoas no interior não se vestem dessa forma, ainda mais quando
vão para festa”. Essa inquietação ajudou-a na criação do grupo folclórico Quadrilha
Juventude na Roça em 1977, com figurinos bem elaborados fugindo do estigma de que
o homem que vive no meio rural só veste farrapos, mesmo em dias de festa.
figurino onde as indumentárias as calças dos homens eram de tecido tipo tergal em cor
vestidos longos com rendas e estampas floridas, mas da mesma forma que a
indumentária dos homens, não havia remendos nem retalhos que caracterizassem como
Hora e Vitória Régia. Após o carnaval de 1981, Herrera fez o desenho dos figurinos da
imagem do homem do meio rural como aquele que só se veste com trapos, não cuida
sujos e rostos com sarnas balizou a produção do figurinista. Portanto, foi a crítica da
momento importante para esse grupo. É o momento em que o grupo é aceito e inserido
costureiros recebem por cada vestido ou paletó produzido. Como já foi dito, a sala da
casa dessas costureiras e costureiros são os ateliês de costura e como esses pertencem
118
ao grupo, alguns são membros da própria diretoria. Essas casas são tomadas como local
de constantes visitas por vários membros do grupo. Esses visitantes que vão aos ateliês
que está sendo produzido em outros ateliês do grupo próprio grupo, sobre o que sabem
tratados, histórias sobre anos anteriores são lembradas, promessas para o êxito do grupo
comentados.
Muitas dessas pessoas acabam por ajudar na produção, assim, mesmo que o
momentos é possível ouvir das pessoas com mais de sessenta anos de idade que “não é
de hoje que a gente brinca quadrilha aqui!”, fazendo referência a um grupo folclórico
dessas pessoas a referência sobre “brincar quadrilha”, explica-se pelo fato de que
Cabras do Lampião era classificado como quadrilha, em seus primeiros anos, recebendo
oficial do grupo, trabalha-se quase que vinte e quatro horas por dia. Percebe-se que os
119
eventuais atrasos nas entregas das indumentárias e a extensão das horas de trabalho por
dia na reta final não são uma decorrência da falta de capacidade do grupo em produzir
materiais utilizados na produção, como tecidos, rendas e fitas. Visto que as costureiras e
imediata por cada peça entregue, mesmo não tendo um contrato formal, estes aceitam
vender fiado para o grupo, desde que a responsabilidade seja da diretoria e não de um
relação. Não tendo dinheiro não tem material, isso faz atrasar a produção, uma vez que,
pois reside nas estratégias do grupo em promover vendas de rifas, bingos e feijoadas o
em que esses eventos são promovidos, cada brincante recebe uma cota de rifas, bingos e
feijoadas, aqueles que conseguem vender sua cota garantem o pagamento do trabalho
de costura ao prestarem conta com a diretoria que, por sua vez pagará as dívidas do
grupo. Os que não conseguem vender toda sua cota são ajudados pelos brincantes que
tem mais facilidade para vender e, este bom vendedor do grupo diz à diretoria para qual
brincante está indo seu excedente. Os brincantes que não cobrirem o valor da costura
com a venda dessas promoções, terão que completar com recursos próprios o valor da
pagar o valor do trabalho de costura, que pode ser feito pelas estratégias de vendas das
Campos, na Zona Leste, foi o local de produção das indumentárias e adereços até o ano
de 2006, assim como, a rua onde se situa foi o local de ensaios. O espaço da casa do
“dono do boi” possui uma estrutura coberta que liga a cozinha da casa ao muro do
fundo do terreno, cujo acesso é feito por uma passagem lateral entre a cerca que divide
o terreno ao terreno vizinho e uma parede lateral da casa. Neste espaço ficam mesas que
são usadas para reuniões do grupo e para produzir as indumentárias, tendo um espaço
estruturas metálicas de fantasias. Esse espaço é também local de festas do grupo como a
R$ 240.000,00 para estes três grupos. Com o aumento dos recursos financeiros
esses grupos em 2007. Em 2008, cada um desses bois recebeu R$ 211.000,00, sendo R$
Estado.
o Boi Brilhante transferiu suas atividades de produção das indumentárias, das alegorias
e adereços, assim como os ensaios, que também foram transferidas para a Morada do
Samba Luizinho Sá, onde estão os barracões das escolas de samba de Manaus, no bairro
da Alvorada.
produção do Boi Bumbá Brilhante através de uma pessoa vinculada ao Boi Bumbá
grupo.
boi há muito tempo, não havia um contrato formal e sim acertos estabelecidos por
disco do boi, fazer captação de recursos e articular as relações entre as duas primeiras
pretendiam realizar na arena, essa é a etapa inicial da concepção. Esta etapa ficou sob
28
Especialidade da arquitetura que trabalha na produção de estruturas que ocupam espaços
em momentos específicos e depois devem ser removidas, não são permanentes. Esse
conceito abarca as alegorias de escolas de samba e de grupos folclóricos, segundo o
informante do boi Brilhante que prestou essa informação, outros exemplos de arquitetura
efêmera são: lojas e mostruários construídos para feiras e exposição em centros de
convenções e que após o evento devem ser removidas; a construção de estruturas de cenários
natalinos em ambientes como shopping center e que só tem função para aquele período.
29
O grupo define como pesquisa histórica e etnográfica uma compilação sobre o que
pretendem abordar em sua apresentação. Em 2007 o brilhante abordou os primeiros contatos
entre europeus e grupos indígenas da Amazônia, apresentou representações de práticas
culturais de grupos étnicos da Amazônia, fez alusão ao seringueiro e uma interpretação sobre
a origem do boi-bumbá no Amazonas. Não há, portanto, propriamente uma pesquisa histórica e
etnográfica, mas sim uma compilação que vai gerar as interpretações para conceber a
apresentação do grupo.
123
mesas para desenho técnico, computadores com sistemas para trabalhos de designer e
arquitetura e sala de reuniões. Uma das pessoas responsáveis pela produção neste
cronograma de trabalho apresentado por esta pessoa, aparecem três divisões básicas na
execução das alegorias: a metalurgia estrutural, chamada também de ferragem, onde são
pintura.
informação do “dono do boi” fala sobre uma despesa de R$ 60.000,00 (sessenta mil
ano seguinte. Isso pode ser visto no dia posterior a apresentação do boi, em 2007, no
etapas da produção que segue um cronograma onde equipes fazem trabalhos distintos e
precisam ser conjugadas. Isso não significa dizer que uma pessoa contratada para fazer
serviços de solda dos módulos que irão compor esculturas. Da mesma forma que poucas
acabamento das alegorias, fazendo com que haja sempre uma mudança de quadro
pessoal na produção das alegorias por força dessas setorizações e fluxo de produção.
Por isso, segundo um dos responsáveis por este barracão, o pagamento desse pessoal
poucos dias e logo é substituída por outra pessoa que vai operar um outro momento do
mesmo assim há divisões de trabalho visto que alguns só esculpem, outros só pintam,
barracão.
pareceu ser algo comum, pois paga-se diárias, ou se contrata mão-de-obra para
semanais, visto que são poucas as pessoas que permanecem muitos dias trabalhando
naquele barracão.
empresas contratadas nesse barracão são mínimas. Essa equipe que pertence ao próprio
boi recebeu os figurinos e alguma instrução para manusear matérias-primas que não
coordenado por uma pessoa que está no grupo há mais de dez anos e a equipe de dez
pessoas é formada por pessoas próximas ao “dono do boi”. O trabalho daquela equipe
durou mais de três meses e as pessoas moraram durante esse período nos alojamentos
que a estrutura daqueles barracões oferece. Nota-se que a família do “dono do boi”, ou
seja, do presidente, mudou-se para aquele local durante esse período e que fez
reproduzir naquela estrutura física que não era a da casa do “dono do boi” as mesmas
apresentação do boi.
receber remuneração alguma e ele respondeu que sim: “se o presidente chegasse e
dissesse, olha não dá pra pagar, eu faria do mesmo jeito. Gosto do boi, a remuneração
é simbólica, já estamos aqui há quatro meses, todos gostamos do boi, é mais pelo
coração que pelo profissionalismo. A gente fazia nos outros anos lá na casa do
presidente, lá era o galpão geral” . Nota-se que não há contrato formal entre o
126
bocalmente”.
seu grupo, assim, buscaremos revelar as atividades assumidas por esses sujeitos dentro
Para efeito deste trabalho, classificamos como dirigentes aquelas indivíduos que
apresentações dos grupos e, também as pessoas que não dançam no grupo, mas
pessoa que adquire relevância que se estende para além do grupo folclórico ao qual
Manaus.
nota-se que as posição dos indivíduos dentro da estrutura de seus grupos não pode ser
tomada como posição definitivamente estática, visto que as atividades assumidas pelos
sujeitos dentro do processo produtivo podem mudar seu status perante os demais
membros do grupo, ou mesmo estender seu status para a outros grupos. Conforme
Bourdieu (2007),
grupo que pertencem ou de outro grupo folclórico. Da mesma forma que indivíduos que
Assim, um brincante ou dirigente pode vir a assumir posição de artista ou, um artista
contratado pelo grupo pode se envolver afetivamente com o grupo ao ponto de se tornar
Coca30 diz que “eu sou “dono do boi”, sou dirigente, figurinista, costureiro, artista,
3.3.1 Dirigentes
indivíduos mais importantes nos grupos, tomando parte no planejamento e nas diversas
A definição “eu sou tudo”, proferida por Coca, define a posição e as atividades
30
Coca é o apelido do “dono do boi Brilhante”.
129
artista e mesmo de brincante, mas não tem o sentido de totalidade, uma vez que há
outras pessoas envolvidas nas diversas atividades do grupo, pois não há uma atribuição
de autoridade que implica em passar pelo crivo desses indivíduos todas as proposições
dos demais dirigentes, assim como suas próprias decisões (dos “donos de brincadeiras”)
próprios “donos de brincadeiras”, mas, notamos que alguns grupos optam em indicar
outros dirigentes para essa representação, pois entendem que algumas discussões no
âmbito das associações e suas relações com o poder público implicam em articulações e
Folclórico do Amazonas, sobre valor financeiro a ser divido entre grupos folclóricos,
que são tratadas por indivíduos cuja posição é de dirigente, mas com atividade
filiado.
brincadeira”, nunca toma uma decisão ou vota em algo dentro da associação sem que
antes consulte o “dono da brincadeira” e/ou a diretoria do grupo. Mesmo sendo o “dono
adotada é transferir a decisão para uma próxima reunião, para que possa consultar as
pessoas do seu grupo ou, quando não é possível, usam o telefone celular para verificar a
folclórico.
de assumirem determinadas posições frente aos grupos folclóricos. Certo dirigente usou
as seguintes palavras para atribuir suas atividades: “meu pai queria que eu fosse
3.6.2 Artistas
assim como os que desempenham determinados papéis nas dramatizações dos grupos
apresentações.
figurinos assistem com muita atenção filmes de época, com cenários e figurinos dos
séculos XVIII e XIX, para neles buscarem referência para seus desenhos, ou como
dizem se inspirar. Observa-se nesse grupo uma forma muito específica de técnica de
de toda a estrutura de apresentação do boi para o ano de 2007 foi também responsável
pesquisa e, também, que os indivíduos que assumem essas atividades dentro do grupo
31
As dramatizações em grupos folclóricos de Manaus cuja manifestação folclórica é Dança
Nordestina são sempre relativas a enfretamentos entre cangaceiros e a volante no semi-árido
da Região Nordeste do Brasil, nas primeiras décadas do século vinte.
132
Lembrando a fala de Coca, onde uma pessoa pode na verdade fazer um pouco de
especializadas. Há pessoas que não recebem ou cobram pelo trabalho artístico no grupo,
geralmente são aqueles que pertencem ao grupo. Contundo, os artistas que não
de 90 artistas dos bois de Parintins: “eram duas pessoas do município de Maués que
aprendemos muito com eles”. Perguntei como se dava a aprendizagem e a resposta foi:
a convivência no barracão.
pessoas contratadas por meio de três empresas de eventos, um informante fez uma
artista são os que estudam ou estudaram para trabalhar nessa área. Este informante
que era responsável pelos trabalhos nesse barracão do Brilhante, iniciou sua vida
133
escolas de samba em Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo, aperfeiçoando sua técnica em
é um artista com contrato formal e recebe por sua produção artística, tendo inclusive
Apesar dessa noção entre arte e cenotécnica apresentada por esse informante no
Brilhante, ou seja, aqueles que pertencem ao grupo e não precisam de contratos formais
para trabalhar no boi, mesmo que não tenham estudado artes, design ou arquitetura,
aprendendo”.
3.3.3 Brincantes
de Manaus, contudo esses grupos não existiriam se não houvesse pessoas que
134
ensaios antes mesmo do carnaval, sendo, portanto mais de cinco meses de ensaios
passos, sincronia do conjunto do grupo e aprendizagem das músicas. São nos ensaios
que os brincantes tomam conhecimento das decisões tomadas pelos dirigentes dos
enfim, as pessoas que estão nos ensaios gostam de estar naquele ambiente que adquire
ares de festa, ou mesmo, um preparo para o momento dos festivais e arraiais da cidade.
brincantes precisam se desprender de outras atividades pessoais para ter tempo para os
e passeios, configuram-se como uma das principais fontes de recursos financeiros que
esses grupos aplicam em suas produções. Tem-se, portanto, que brincante não é uma
32
As pessoas que dançam em grupos folclóricos de Manaus dominam técnicas específicas que
fundamentam o ato de dançar do grupo a qual fazem parte. Muitas vezes, mesmo em grupos
que sejam da mesma manifestação folclórica, como exemplo as quadrilhas, há distinção na
forma de dançar.
135
que algum brincante “ganhou” indumentária, mas quando se observar estas ocorrências
algo ao grupo. Brincantes que vendem muitos bingos, rifas e passeios não pagam suas
grupo, ou seja, assumindo outros papéis sociais, como aqueles brincantes que assumem
apresentações como rainhas do grupo, como noivas, como rendeiras e outros papéis de
destaque. Desta forma, é possível considerar que a posição assumida por esses
3.3.4 Folcloristas
como esses são resignificados gerando autodefinição para dirigentes dos grupos
serão tratadas questões sobre organização dos grupos e suas formas de criação e
produção, bem como relações de trabalho, gestão e as novas técnicas em diálogo com as
técnicas geradas no âmbito dos próprios grupos para conceber e produzir suas
apresentações.
136
brincadeira”, fazem uso do termo folclorista não apenas para denominar aqueles que
fizeram pesquisas e/ou publicaram algo a respeito dessas manifestações culturais, usam-
no também como autodefinição para si mesmos. Portanto, folcloristas são aqueles que
possuem mais de 175 grupos filiados, ou aqueles que são dirigentes ou “donos de
brincadeiras”.
importância. Cada grupo folclórico filiado a uma dessas associações credencia seus
grupos folclóricos que participam das associações usam o termo folclorista como forma
de identificação.
grupo sem deixar de ser brincante, ou mesmo exercer atividades de artista em seu
grupo, dito de outra forma, assumir múltiplos papéis no grupo e que, em certas
Municipal de Manaus.
137
folclorista não está apenas no âmbito das associações, mas também na relação que se
Nesta citação podemos notar que o atributo de folclorista começa a ser cunhado
assumir posição de dirigente em seu grupo, Ciranda do Ruy Araújo, ressaltando as doze
vezes que o grupo venceu o Festival Folclórico do Amazonas, sendo seis vezes
138
Destaque do Festival33. O fato de ter sido um dos fundares de uma das associações de
folcloristas. Percebe-se que os chamados mestres da cultura popular ligados aos grupos
folclóricos também são chamados de folcloristas, assim como outras pessoas que
tenham prestado serviços relevantes a esses grupos. Tem-se que o termo folclorista em
Manaus é usado para identificar as pessoas que adquirem importância dentro dos grupos
intelectuais contribuíram para estabelecer a idéia de cultura e de povo, bem como esses
significados se prolongam na atualidade. Para tanto, Ortiz faz, conforme suas palavras,
uma espécie de arqueologia do conceito. Segundo o autor, é no século XIX que a idéia
até os dias de hoje nas discussões que fazemos. “Os românticos são os responsáveis
33
O título de Destaque do Festival era concedido ao grupo folclórico que obtivesse a
pontuação máxima ou a maior pontuação dentre todos os grupos que estivessem participando
do Festival Folclórico do Amazonas. O grupo que adquiria esse obtinha duas vitórias, a de
melhor grupo de sua manifestação folclórica e a de melhor grupo do Festival do ano. Este título
deixou de ser concedido quando os grupos se dividiram em várias associações por conta de
que cada associação gera disputas especificas em seus grupos filiados, criando portanto,
vários campeões por ano.
139
Nesses clubes, reúnem membros da classe média para discutir e publicar, livros e
comenta a correspondência enviada pelos leitores à editora. Ele edita ainda sua própria
revista, “Notes and Queries”, para depois se enganjar na formação da Folklore Society,
que existe pouca diferença entre os lavradores ingleses e um negro da África Central,
folclorista, respaldado no positivismo, cria o museu das tradições populares. Como diz
Michel de Certeau, ele se contenta em mirar a “beleza morta”, pois o que interessa é o
botanização dos dados obtidos produz longos catálogos descritivos. Para Ortiz (1992),
portanto, de uma criação de intelectuais, que com intenções variadas, voltam-se para a
por uma relação romântica ao seu objeto. Mesmo com o relativo sucesso que os
a produção folclorística de então, formando uma geração de estudiosos que ainda têm
uma presença importante dentro dessa área em nosso país. Segundo o autor, a maioria
mobilização coordenada pela CNFL, cujo objetivo era justamente de criar essa
“especialidade”.
estadual e federal. Segundo Vilhena, no primeiro plano, no caso da esfera federal, pode-
se dizer que, o movimento folclorista ajudou a fundar no final dos anos cinqüenta
história.
país nas esferas federal, estadual e mesmo municipal. Contudo, esse sucesso relativo,
142
não parece ter sido alcançado na área da educação, sendo sempre uma cadeira ou tema
Dito de outra forma, ser folclorista significa ter autoridade para dialogar com agentes de
Desta forma, considera-se pelo viés dos grupos sociais inseridos nas
sujeitos que pensam e fazem desta manifestação o sentido de suas vidas, agregando
valores nas mais diferentes práticas, como religiosas, de trabalho, políticas, econômicas
e sociais.
públicos gestores de políticas culturais leva em conta os sinais e signos manifestos para
mostrar sua identidade, “características tais como vestimenta, língua, forma de casas ou
quais as performance são julgadas”, ambos os aspectos são relevantes para a identidade,
de fundar uma ciência positivista como no século XIX, ou criar uma disciplina
autônoma no interior das ciências sociais, e sim, gerar condição para que seus grupos se
143
perpetuem e façam bons espetáculos em suas apresentações no ciclo das festas juninas
na cidade. Desta forma, a autodefinição desloca dos intelectuais para os agentes sociais
dos grupos folclóricos o atributo de folclorista. Com essa resignificação, esses agentes
agregam capital simbólico, o que se configura como atributo importante nos diálogos
com os órgãos públicos de política cultural, mas também a idéia de missão, de devoção
justamente a satisfação de ver seu grupo nas ruas, ou seja, se apresentando nas festas do
produtivo, mas significa muito mais que isso, é o que em última instância buscaremos
4. Capítulo
Cidade de Manaus
de uma sofisticada organização que envolve diversas formas de relações sociais, dentre
Manaus.
afirma que é o trabalho que cria o próprio homem, assim, diz o autor,
condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até
considera produtivo apenas o trabalho que gera capital. Portanto, a taxa da mais-valia,
Desta forma, temos que o utilitarismo do pensamento burguês sobre o que seja
trabalho, não é suficiente para tratar das múltiplas dimensões do trabalho nos grupos
dimensões do trabalho que neles se apresentam podem ser tomadas como fato social
de interesse que, nas sociedades de tipo atrasado ou arcaico, faz que o presente
recebido seja obrigatoriamente retribuído? Que força existe na coisa dada que faz que
o donatário a retribua?
comparação precisa, o autor estuda o tema em áreas determinas e escolhidas, que são:
latino. Segundo Mauss, nas economias e nos direitos que precederam os nossos, não
Mas afinal, o quê se troca nas sociedades estudas por Mauss? Que bens estão em
O que eles trocam não são exclusivamente bens e riqueza, bens móveis e
imóveis, coisas úteis economicamente. São, antes de tudo, amabalidades,
banquetes, ritos, serviços militares, mulheres, crianças, danças, festas,
feiras, dos quais o mercado é apenas um dos momentos, e nos quais a
circulação é se não um dos termos de um contrato bem mais geral e bem
mais permanente. Enfim, essas prestações e contraprestações se estabelecem
de uma forma sobretudo voluntária, por meio de regalos, presentes, embora
elas sejam no fundo rigorosamente obrigatórias, sob pena de guerra privada
e pública. (MAUSS, 2003: p. 191).
chamá-la de potlach34, que quer dizer, nutrir, consumir. Nos estudos sobre grupos
34
Mauss explica que potlach é uma palavra chinook incorporada à linguagem corrente dos
brancos e índios de Vankouver ao Alaska (MAUSS, 2003, p. 191).
147
política, Mauss diz que a economia da troca-dádiva estava longe de se inserir nos
porém,
Nem todos somos ainda seres desse gênero. Em nossas massas em nossas
elites, o dispêndio puro e irracional é de prática corrente; ele é ainda
característico dos poucos fósseis de nossa nobreza. O homo oeconomicus
não está atrás, está adiante de nós; assim como o homem da moral e do
dever; o homem da ciência e da razão. O homem foi por muito tempo outra
coisa e não faz muito tempo que é uma máquina, complicada de uma
máquina de calcular. (MAUSS, 2003, p. 307).
Contudo, Mauss acredita que ainda estamos longe desse constante e glacial
moral o autor mostra como todos os fatos estudos por ele, em Ensaio Sobre a Dádiva,
Para Mauss, todos esses fenômenos são ao mesmo tempo jurídicos, econômicos,
religiosos e mesmo estéticos, morfológicos etc. Sobre o fato social total formulado por
148
Mauss, Braga (2002) explica que o mesmo pode ser analisado em diferentes códigos
formulação teórica sobre fato social total, partimos para uma analise sobre as múltiplas
Como ponto de partida dessa análise, cabe esclarecer que o que estou chamando
importante fazer algumas considerações sobre o que sobre a dimensão do trabalho nos
vista de forma isolada não dá conta não da totalidade das múltiplas dimensões do
Justificativas essas que não estão apenas na formalidade das prestações de contas sobre
35
Como já foi dito anteriormente, os grupos folclóricos de Manaus que se apresentam no
Festival folclórico do Amazonas recebem recursos financeiros do Governo e da Prefeitura
através de convênios que são assinados firmados com as associações de grupos folclóricos,
estas, por sua vez, repassam os recursos financeiros aos grupos filiados.
150
com políticos e agentes de órgãos públicos de cultura, estão sempre prontos a elevar
geração de emprego e renda. Esses indivíduos sabem, por vivência e sentimento, que há
outros motivos tão influentes quanto geração de emprego e renda, que, também, podem
ser justificativas importantes para o repasse de recursos públicos para seus grupos.
Contudo, sabem também que esse é o discurso mais convincente, ou o que mais agrada,
por que gera emprego e renda, pode ser compreendida pelo que Marx chama de a
supostamente natural, utilitarista, aponta para o fato de que nem tudo é classificado
sentimental. Portanto, restam pessoas e classes que mantém costumes que não aqueles
de uma economia utilitarista, mesmo que sejam em certas épocas do ano ou em certas
ocasiões.
aos grupos folclóricos de Manaus, percebe-se que nesses grupos não há apenas uma
151
indumentárias ou fazem alegorias caras para uso efêmero? Ou, porque se trabalha tanto
para fazer algo que consideram “brincadeira”? Nesse sentido, outras dimensões de
trabalho se apresentam.
códigos que pautam as relações entre as pessoas que deles participam. Códigos que
convênios e contratos regidos por legislação federal e que estão sujeitos inclusive a
interessando tanto as classes sociais quanto os clãs e as famílias” (Mauss, 2003, p. 309
e 310).
área ou sua transferência para outro lugar, cuja decisão não se baliza por códigos
diária, e o carisma, que atende as necessidades que vão além da rotina diária. Sobre as
São antagônicas sob muitos aspectos e, não obstante, têm em comum uma
peculiar muito importante: permanência. Sob este aspecto, são ambas
instituições de rotina diária. O poder patriarcal, especialmente, tem raízes no
atendimento das necessidades freqüentes e normais da vida cotidiana. A
autoridade patriarcal tem, assim, a sua origem na economia, ou seja, nos ramos
da economia que podem ser satisfeitos por meio de uma rotina normal. E, sob,
esse aspecto, a estrutura burocrática é apenas a contra-imagem do
patriarcalismo, transposta para a racionalidade. Como estrutura permanente
com um sistema de regras racionais, a burocracia é modelada de forma a
entender as necessidades previstas e repetidas por meio de uma rotina normal
(WEBER, 1982, p. 283)
públicos, cujo rigor pede prestações de contas com notas fiscais de mercadorias e de
representante, que pode ou não ser o “dono da brincadeira”), dito de outra forma, um
dos papéis sociais assumidos por este agente, que é de autoridade burocrática.
brincadeira, pode colocar em ação no âmbito do grupo uma decisão que pode ser
decisão do dirigente externa a outra face, ou papel social desse agente, o de autoridade
setenta do século passado, também pode ser vista pela perspectiva da adequação das
relações de grupos folclóricos por meio de seus “donos” (autoridade carismática) com
relações com os diversos grupos folclóricos apenas por meio de uma associação
constituída, além de todos os documentos exigidos pelo estado para seu funcionamento,
respeito dos grupos folclóricos de Manaus como: Se for campeão o grupo ganha um
valor em dinheiro como prêmio? Ou, Ganham dinheiro quando vendem indumentárias
sociais que se ordenam por lógicas que não se enquadram totalmente na racionalidade
Então, como entender que em muitos casos, pessoas de baixa renda possam sair
nas festas juninas em seus grupos vestidas com indumentárias cujo valor daria para
fazer reparos na estrutura de suas residências, ou comprar roupas e calçados novos para
seu uso cotidiano. Para tanto, faz-se necessário compreender o trabalho cuja dimensão
está relacionada ao código econômico, que segundo Mauss (2003) corresponde “as
entendemos hoje” (MAUSS, 2003, p. 310). Nesse sentido, a idéia de dispêndio puro,
os próprios agentes sociais dos grupos, para além de quererem ganhar o Festival,
bois de Parintins, considera que, “Nesta nova dimensão da festa é que se consolida a
Nos grupos folclóricos de Manaus, fazer melhor e mais bonito a cada ano, pode
ser traduzido como tornar mais luxuosa as apresentações que serão consumidas no ciclo
das festas juninas de Manaus, o que estabelece uma dimensão econômica consolidada
na idéia de prestação total ou potlach, que segundo Mauss (2003), significa nutrir,
A noção dos grupos folclóricos de Manaus de fazer melhor e mais bonito a cada
prestação total ou patlach. Mas, para que essa dimensão econômica suntuária se
brincadeira; passar o livro de ouro; bingos e rifas; passeios a balneários. Além dos
da arena do CCPA é pauta comum nas reuniões das associações de grupos folclóricos.
Por um lado, tem-se a concepção de que a redução no numero de grupos no Festival irá
aumentar a qualidade das apresentações, ou seja, poucos grupos, mas com recursos
inclusive que fosse adequado à transmissão por canal televisão. Por outro lado, o anseio
das dezenas de grupos por permanecer no Festival, entre os quais muitos desses são os
em matéria-prima como ferro que em certa medida pode ser consideradas como
para o ano vindouro significa economia de recursos. O material utilizado nas estruturas
próximos anos sejam ampliadas ou que tenham acabamento mais bem elaborados ou
assim como na ampliação dos valores que estado e prefeitura destinam para esses
grupos.
apresentam quando aprofundamos nossa observação. Para Mauss, são religiosos “de
2003, p. 310).
O trabalho cuja dimensão pode ser entendida pela mentalidade religiosa difusa
apresenta vários aspectos a serem cotejados. Primeiro, o fato de que festejar Santo
Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, constitui o motivo do ciclo das festas
religioso dos séculos iniciais da Cristandade”. A respeito das fogueiras, o autor fala
sobre as piras ardentes nas festas eneanas orientais onde queimavam a efígie do Sol.
Sobre a festa de São João Batista, Tocantins, valendo-se das referencias de Teófilo
Braga, cita que “A festa de São João Batista em todos os povos europeus está ligada a
podemos perceber que as festas de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal, ou
Como já foi dito, as comunidades católicas são importantes no ciclo das festas
folclóricos ou como núcleo social que organiza grupos folclóricos, como no caso da
grupos folclóricos justificam sua vivência e dedicação aos mesmo, temos com maior
“missão”. “Meus pais queriam que eu fosse médico ou advogado, mas eu me tornei
folclorista, e agradeço a Deus por essa missão”, esse é um depoimento já citado que
mostra o trabalho nos grupos folclóricos de Manaus não podem ser entendidos se não
apresenta de forma mais evidente, é o caso de muitos grupos de boi, sejam esses
passado tinham como base grupos sociais de religiões de matrizes africanas, como
Papagaio.
Nos grupos folclóricos de Manaus, o trabalho cuja dimensão é religiosa pode ser
das festas juninas dessa cidade a devoção sagrada aos santos católicos e às divindades
das religiões de matrizes africanas não se dissocia das formas profanas de devoção que
O aspecto estético das instituições totais propostos por Mauss abarca muito dos
significados dos grupos folclóricos de Manaus. Esses grupos folclóricos podem ser
dramáticas, seus objetos são indumentárias e alegorias que fabricam e usam com amor e
alegria, as festas juninas são os lugares onde se apresentam e são, como nos ensino
O código estético situa uma dimensão de trabalho que pode ser entendido como
Brilhante em 2007 situou artistas como aqueles que estudaram artes e são os que
concebem toda a produção, e os não artistas cuja função foi classificada como
como artistas do boi. Essa distinção se transfere para as formas contratuais, visto que as
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outro barracão e as relações contratuais são informais, se dão pelas relações pessoais
ensinou, nos mesmos aprendemos fazer... foi fazendo que nós aprendemos”, evidencia-
se essa noção.
remuneração pelo que fazem e há aqueles que se consideram artista, ou artista popular,
que fazem com ou sem remuneração, executam arte pelo apego a sua brincadeira.
Ambos situam-se na dimensão do trabalho que constrói a emoção estética dos grupos
folclóricos de Manaus.
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entre pessoas, caracterizando-se como uma forma de reunião social. Conforme Mauss
(2003),
observamos, na casa o trabalho possui um caráter muito mais de encontro entre pessoas
que tem afinidades e um compromisso com o grupo folclórico que não é construído pela
remuneração do trabalho que ali executam. Não significa dizer que não possam existir
ambiente da casa, onde mesmo havendo trabalho remunerado, ali era o espaço de
socialmente, por isso é comum brincarem tataravô, avô, bisneto, neto e filho de uma
Conclusão
início de uma descrição densa sobre as o ciclo das festas juninas em Manaus e uma
entendimento de Gertz (1978), etnografia é uma descrição densa que constitui um texto
de segunda ordem obtido pelo pesquisador com base na descrição das condutas sociais
festas populares de Manaus. Em seguida, situa-se as festas do ciclo junino e seu caráter
de devoção popular aos chamados santos juninos, buscando mencionar textos de autores
2007. Nesse sentido, são feitas observações sobre muitos elementos constitutivos dessas
festas descritos por autores consultados com as observações que fiz. Assim, tem-se uma
folclóricas que nela atuam, como os grupos folclóricos de Manaus onde as múltiplas
abordada. Percebemos que essas festas fazem parte da cidade e que grupos folclóricos
ocupam as ruas da cidade nesse período das festas juninas há muito tempo, como o boi
Andrade em 1978.
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densa, entretanto, com foco maior nos processos de sociabilidade dos grupos folclóricos
seus espaços de sociabilidade como: a casa dos “donos de grupo”, a rua, o bairro
atuação política (FANI, 1994; BOURDIEU, 1990) e como suas reivindicações são
1991).
apropriação da cultura popular mas que os principais interessados não fizeram parte de
sua concepção, a não ser por meio de protestos como não usar o sambódromo e abraçar
a Bola da SUFRAMA. Foi visto também como se processa a captação de recursos para a
produção dos grupos folclóricos, seja pelas práticas antigas ou por convênios com
festas juninas na cidade de Manaus, para além das festas e da devoção aos santos, pode
ser caracterizado como tempo de trabalho. Para tanto, optou-se, diante de um universo
Boi-bumbá Brilhante. Essa escolha se deu pelo fato de serem esses grupos pertencentes
sociabilidade do grupo e de trabalho não remunerado, o que parece ser comum a demais
partir de quatro categorias de sujeitos no âmbito dos grupos, que são: dirigentes,
quadrilha e dança nordestina, que nesses grupos que o trabalho tem caráter de
sem que haja contrato formal ou folha de pagamento. Há grupos em que os “brincantes”
devem pagar o valor do trabalho da costura das indumentárias, nesses, observamos que
os costureiros e costureiras são pessoas vinculadas ao próprio grupo. Nos grupos onde a
sociais atribuem suas permanências em atividades dos seus grupos por devoção a algum
medida, a partir das 23:00h, momento em que “brincantes” que trabalham na produção
“ajuda” do grupo.
No Boi Brilhante foi observado que havia uma divisão entre dois barracões. No
não havia um contrato formal e sim acertos estabelecidos por vínculos de proximidade
ou pertencimento.
assumir várias posições, assim, ser ao mesmo tempo dirigente, artista, brincante e ainda
Para entender que trabalho situado no capítulo três não se apresenta apenas
Folclóricos da Cidade de Manaus, com base na formulação teórica do fato social total
apresentada por Mauss (2003) em seu Ensaio Sobre a Dádiva, buscamos analisar os
desenvolvimento local não é suficiente para dar conta dos muitos significados
imbricados nas ações dos sujeitos que tomam parte na organização e produção dos
grupos folclóricos. Como dizemos, esta dimensão, classificada nesta dissertação como
oficial, é uma dimensão que se integra às demais dimensões do trabalho que materializa
Por outro lado, o trabalho nesses grupos apresenta uma dimensão jurídica que se
resguarda para resguardas garantias legais para ambas as partes, mas também apresenta
contratos que se estabelecem por relações pessoais entre membros dos grupos, ou seja,
captação de recursos não é voltado exclusivamente para ampliação dos bens materiais
ciclo junino. Como dizem: fazer melhor e mais bonito a cada ano.
nos outros grupos, estabelece uma nova dimensão suntuosa posto que à medida que um
grupo consegue reaproveitar material, faz economia de recursos que serão investidos
puro, puramente suntuoso uma vez que o que fazem é para ser consumido nas
consumo efêmero dos grupos aciona um seguimento lojista (os que fornecem matéria-
significativa de seus faturamentos anuais, bem como remunera pessoas que dominam
visto por meio das considerações a respeito da mentalidade religiosa difusa no tópico
que aborda a dimensão religiosa. Nele, podemos notar três aspectos dessa dimensão
como fator a motivar o trabalho: primeiro, festejar Santo Antônio, São João, São Pedro
“obrigação”.
propostos por Mauss (2003) abarca muito dos significados dos grupos folclóricos de
Manaus, pois esses podem ser caracterizados como danças que se apresentam com
alegorias que fabricam e usam com amor e alegria, sendo que as festas juninas são os
lugares onde se apresentam e são, como nos ensino Mouss (2003), causa de emoção
folclórico, que só é possível pelo saber-fazer (CERTEAU, 1994) dos muitos artistas
que atuam neles. Observamos também que há pessoas que se consideram artistas
artista, ou artista popular, que fazem com ou sem remuneração, executam arte pelo
que faz com que pessoas trabalhem nos seus grupos folclóricos pelo fato de gostarem de
estar naquele convívio com pessoas as quais possuem afinidades. Vimos que a oposição
consideradas como potlach ou sistemas prestações totais, posto que o trabalho que se
Manaus, diante das autoridades dos órgãos públicos de políticas culturais é percebido
patrocinadores, cujas possibilidades existem mediante lei federal de renuncia fiscal para
projetos culturais.
Nesse sentido, Nestor Garcia Canclini, em Culturas Hibridas (2006, p. 220), nos
ensina que “Não há folclore exclusivo das classes oprimidas, nem o único tipo possível
qualidade ao Festival”. Nesse sentido, propostas como reduzir o numero de grupos que
aos grupos que permanecerem nele, são colocadas à mesa. Em contra partida, a
serão armazenados para serem reaproveitados nos anos seguintes, teremos diminuição
Referências Bibliográficas
Memoria.
Popular, 2004.
1999.
1979.
2003.
PRADO, Maria Regina Santos. TODO ANO TEM. Museu Nacional, 1977.