TEXTO
TEXTO
TEXTO
TEXTO – REFRESCO
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça
que está naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal
risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse – “ai meu Deus, que
história mais engraçada!” E então a contasse para a cozinheira e
telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a
quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de
vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol,
irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa (que não sai de casa), enlutada
(profundamente triste), doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois
repetisse para si própria – “mas essa história é mesmo muito engraçada!”
Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher,
a mulher bastante irritada como o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha
história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois
que esta, apesar de sua má-vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito,
e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele
riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria
perdida de estarem juntos.
Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera, a minha história chegasse – e tão
fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com
lágrimas de alegria; que o comissário ((autoridade policial) do distrito (divisão territorial em que se
exerce autoridade administrativa, judicial, fiscal ou policial), depois de ler minha história,
mandasse soltar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes
dissesse – “por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!” E que assim
todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e
espontânea homenagem à minha história.
E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse
atribuída a um persa (habitante da antiga Pérsia, atual Irã), na Nigéria (país da África), a um
australiano, em Dublin (capital da Irlanda), a um japonês, em Chicago – mas que em todas as
línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo
de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: “Nunca ouvi
uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até
hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza
algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já
estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou (introduziu-se lentamente em)
por acaso até nosso conhecimento; é divina.”
E quando todos me perguntassem – “mas de onde é que você tirou essa história?” – eu
responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a
contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um sujeito
contar uma história...”
E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um
só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e
sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
07) Por que o autor não contaria aos outros que havia inventado a história engraçada para alegrar
a moça triste e doente? Copie a alternativa correta:
(a) porque, na verdade, a moça triste não existia
(b) por que ele mesmo não achava a história engraçada
(c) por modéstia e humildade
(d) porque não acreditariam que ele fosse capaz de inventar aquela história
08) Afinal, que história Rubem Braga inventou para alegrar e comover tantas pessoas?
Na crônica, o autor não contou a história engraçada, ficou apenas no desejo, na aspiraçao.
09) Na sua opinião, o que mais sensibiliza as pessoas: histórias engraçadas ou dramáticas?
Justifique.
Resposta Pessoal.
TEXTO: O"IMPEACHMENT" E A AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE PRESIDENCIAL- COM
INTERPRETAÇÃO/GABARITO
3) Das referências ao impeachment feitas abaixo, a única que não se encontra no texto é:
a) trata-se de um instituto criado por constitucionalistas brasileiros.
b) pode ser incluído entre as falhas do sistema presidencialista.
c) carece, enquanto processo, de presteza e simplificação.
d) constitui um instrumento constitucional ultrapassado.
4) A referência explícita ao parlamentarismo, no texto, ocorre:
a) somente no primeiro parágrafo
b) nos dois primeiros parágrafos
c) somente no último parágrafo
d) nos dois últimos parágrafos
6) O primeiro parágrafo do texto revela que a alusão à máxima “mais vale, no governo, a
instabilidade que a irresponsabilidade” se deve a:
a) uma crítica de Rui Barbosa
b) um estudioso das Constituições
c) autores de origem anglo-saxônica
d) alguns críticos do presidencialismo
Atividades
3- No segundo parágrafo, o autor diz que “o destino dos cachorros ´é esse mesmo de se
tornarem propriedade dos homens”. Qual das alternativas abaixo traduz melhor a expressão
usada pelo autor?
( ) Por causa da fidelidade, o cão sempre é acolhido pelo homem.
( ) Por não poder sobreviver sozinho, o cão acaba sendo acolhido pelo homem. X
( ) Todo cão sempre busca a companhia do homem.
( ) Todo cão recebe proteção do homem por causa de sua fidelidade.
4- Através do texto você pode sentir quem era o homem, personagem da crônica de João
Clímaco Bezerra. Para ele, o cão representava a figura de um :
( ) amigo. X
( ) acompanhante.
( ) companheiro.
( ) animal.
5- Agora, você vai caracterizar a personagem. Ela é uma figura que nos impressiona
principalmente porque se apresenta:
( ) conformista e persistente.
( ) esperançosa e inquieta. X
( ) desesperançosa e abatida.
( ) intranquila e nervosa.
7- No final da crônica, a atitude que a personagem assume, e que nos fez admirá-la ainda mais, é
de:
( ) renúncia, decisão e gratidão. X
( ) insistência, decisão e gratidão.
( ) renúncia, indecisão e agradecimento.
( ) paciência, indecisão e gratidão.
8- Produção de texto. Na história não sabemos o que aconteceu com o homem e o seu cachorro,
após saírem andando por cima dos trilhos. O que você acha que pode ter acontecido com os
dois? Use a sua imaginação e invente um final para a crônica de João Clímaco Bezerra.
nterpretaçaã o Croô nica - (7º ao 9º) Tecnologia
A TECNOLOGIA
Crônica de Nacélio Simoa, 8º ano SGA-CEProfessor Maurício Araújo
Com o vento lambendo meu rosto e um calor de mil graus em plena manhã, percebi um
casal de idosos que acabara de sentar naquele banco quase quebrado. Acho que esperavam
algum transporte para ir à cidade, já que precisamos nos deslocar do nosso pacato lugar para
resolvermos nossos problemas.
Ele parecia meio que revoltado, algo o intrigava. Aproximei-me sem despertar sua atenção,
descobri que falava de internet. Não era bem essa palavra que ele fazia uso, mas desvendei que
esse era o assunto. Ele dizia para aquela senhora que ouvia suas inquietações:
- Esse povo de hoje só vive nesse tal de facebook.
-Verdade. A minha neta ganhou de presente um celular e agora não faz outra coisa, senão
cutucar aquele troço. Não gosto disso! Falou aquela senhora.
Entre tantas conversas naquele banco da praça, o senhor então resolveu amenizar o tom
do diálogo:
-Me recordo da dona Toinha que comprou uma televisão e resolvi ir a sua casa para vê-la
depois de tantas conversas na vizinhança sobre a novidade. Saí correndo desesperado
tropeçando os pés no batente da porta da casa quando a vi funcionar.
-É o ônibus!
-Vamos então.
-O importante é valorizar e respeitar esta nova tecnologia, afinal, não podemos fazer nada
para detê-la, apesar dela tanto nos ajudar.
-Cuidado com o batente, não vá bater o pé de novo!
-Claro que não!
Aquela cena chamou minha atenção, pois percebi como a tecnologia influencia
diretamente na vida das pessoas, jovens ou idosos. E se você leitor, gostou do meu texto e se
interessou por ele, posso te enviar pelo e-mail, afinal, hoje tudo depende apenas de um clique.
a) Gênero:
_________________________________________________________
b) Tipo discursivo ou tipologia (expositivo, argumentativo, narrativo, descritivo, injuntivo...):
_________________________________________________________
c) narrador (personagem, observador ou onisciente):
_________________________________________________________
d) Domínio discursivo (literário, jornalístico, religioso, acadêmico...):
_________________________________________________________
e) Tipo de discurso (direto ou indireto):
_________________________________________________________
5ª) No trecho: “Ele parecia meio que revoltado, algo o intrigava. Os termos destacados indica que
o homem estava
a) entristecido e com raiva.
b) indignado e angustiado.
c) com raiva e desconsolado.
d) indignado e incomodado.
6ª) “Me recordo da dona Toinha que comprou uma televisão...”, neste trecho, percebemos o uso
da linguagem
a) formal.
b) informal.
c) técnica.
d) gíria.
7ª) “Saí correndo desesperado tropeçando os pés no batente da porta da casa quando a vi
funcionar.” A palavra em destaque se refere a
a) porta.
b) batente.
c) televisão.
d) casa.
8ª) Segundo o texto, o homem se aproximou para ouvir a conversa. Que diálogo de um dos
personagens abaixo revela o assunto da conversa entre os moradores?
a) “-Verdade. A minha neta ganhou de presente um celular...”
b) “-Vamos então.”
c) “-Me recordo da dona Toinha que comprou uma televisão...”
d) “- Esse povo de hoje só vive nesse tal de facebook...”
9ª) Na fala da personagem: “... senão cutucar aquele troço.”, o que podemos compreender sobre
o cotidiano vivido por aquela senhora?
a) Ela faz uso das tecnologias apesar de não gostar.
b) Ela demonstra repúdio com o uso de algumas tecnologias.
c) Apesar de detestar a tecnologia, ela apoia claramente o seu uso por familiares.
d) Aborrece quem faz uso das tecnologias.
10ª) “-Cuidado com o batente, não vá bater o pé de novo!” Que fato este diálogo retoma?
_______________________________________________________
11ª) Apesar da inquietude por parte dos personagens sobre o uso de algumas tecnologias, que
frase revela o apoio a tecnologia de um dos personagens?
_______________________________________________________
13ª) Na frase: “Não era bem essa palavra que ele fazia uso, mas desvendei que esse era o
assunto.” A palavra em destaque introduz uma
a) conclusão.
b) explicação.
c) oposição.
c) adição.
14ª) Percebe-se no final que o autor Nacélio Simoa dialoga com o leitor quando escreve: “E se
você leitor, gostou do meu texto e se interessou por ele, posso te enviar pelo e-mail, afinal, hoje
tudo depende apenas de um clique.” no termo em destaque, ele faz uso de uma figura de
linguagem conhecida como
a) metáfora.
b) ironia.
c) catacrese.
d) hipérbole.
GABARITO
1. a) Crônica b)Narrativo c)Observador d)Literário e)Direto
2. Tecnologia
3. Os pássaros
4. b
5. b
6. b
7. c
8. d
9. b
10. Retoma a história contada pelo velho anteriormente quando viu a televisão pela primeira vez.
11. “O importante é valorizar e respeitar esta nova tecnologia, afinal, não podemos fazer nada
para detê-la, apesar dela tanto nos ajudar.”
12. c
13. c
14. d
ATIVIDADES DO 6º AO 9º ANO
TEXTOS DIVERSOS: Tatuagem
Enfermeira inglesa de 78 anos manda tatuar mensagem no peito pedindo para
não proceder a manobras de ressuscitação em caso de parada cardíaca.
(Mundo Online, 4, fev., 2003)
Ela não era enfermeira (era secretária), não era inglesa (era brasileira) e não tinha 78
anos, mas sim 42; bela mulher, muito conservada. Mesmo assim, decidiu fazer a mesma
coisa. Foi procurar um tatuador, com o recorte da notícia. O homem não comentou:
perguntou apenas o que era para ser tatuado.
– É bom você anotar – disse ela – porque não será uma mensagem tão curta como
essa da inglesa.
Ele apanhou um caderno e um lápis e dispôs-se a anotar.
– “Em caso de que eu tenha uma parada cardíaca” – ditou ela –, “favor não proceder
à ressuscitação”.
Uma pausa, e ela continuou:
– “E não procedam à ressuscitação, porque não vale a pena. A vida é cruel, o mundo
está cheio de ingratos.”
Ele continuou escrevendo, sem dizer nada. Era pago para tatuar, e quanto mais
tatuasse, mais ganharia.
Ela continuou falando.(...). Àquela altura o tatuador, homem vivido, já tinha
adivinhado como terminaria a história (...). E antes que ela contasse a sua tragédia
resolveu interrompê-la.
– Desculpe, disse, mas para eu tatuar tudo o que a senhora me contou, eu precisaria
de mais três ou quatro mulheres.
Ela começou a chorar. Ele consolou-a como pôde. Depois, convidou-a para tomar
alguma coisa num bar ali perto.
Estão vivendo juntos há algum tempo. E se dão bem. (...). Ele fez uma tatuagem
especialmente para ela, no seu próprio peito. Nada de muito artístico (...). Mas cada vez que
ela vê essa tatuagem, ela se sente reconfortada. Como se tivesse sido ressuscitada, e
como se tivesse vivendo uma nova, e muito melhor, existência.
6- O uso do vocábulo “então”, que abre a fala final de Nasreddin, serve para que apresente
ao seu pai
(A) a conclusão que tirou da resposta. (B) a hora de encerrarem aquela conversa.
(C) a justificativa para acordar mais tarde. (D) a hipótese de que estava com a razão.
O silêncio do rouxinol
[...]
Na época de Salomão, o melhor dos reis, um homem comprou um rouxinol que
possuía uma voz excepcional. Colocou-o numa gaiola em que nada faltava ao pássaro e na
qual ele cantava, horas a fio, para encanto da vizinhança.
Certo dia, em que a gaiola havia sido transportada para uma varanda, outro pássaro
se aproximou, disse qualquer coisa ao rouxinol e voou. A partir desse momento, o
incomparável rouxinol emudeceu.
Desesperado, o homem levou seu pássaro à presença do profeta Salomão, que
conhecia a linguagem dos animais, e lhe pediu que perguntasse ao pássaro o motivo de
seu silêncio.
O rouxinol disse a Salomão:
– Antigamente eu não conhecia nem caçador, nem gaiola. Depois me apresentaram a
uma armadilha, com uma isca bem apetitosa, e caí nela, levado pelo meu desejo. O caçador
de pássaros levou-me, vendeu-me no mercado, longe da minha família, e fui parar na
gaiola deste homem que aí está. Comecei a me lamentar noite e dia, lamentos que este
homem tomava por cantos de gratidão e alegria. Até o dia em que outro pássaro veio me
dizer: “Pare de chorar, porque é por causa dos seus gemidos que eles o mantêm nessa
gaiola”. Então, decidi me calar.
Salomão traduziu essas poucas frases para o proprietário do pássaro. O homem se
perguntou: “De que adianta manter preso um rouxinol, se ele não canta?”. E lhe devolveu a
liberdade.
8- No trecho “...cantava, horas a fio, para encanto da multidão.”, a expressão “horas a fio”
tem o sentido de
(A) de vez em quando. (B) durante muito tempo.
(C) pousado em um fio. (D) sem cobrar por isso.
9- A decisão de não mais cantar, comunicada pelo rouxinol a Salomão, que a traduziu para
o homem, teve, como consequência, o homem
(A) não entender a tradução. (B) ficar desesperado. (C) libertar o rouxinol. (D) silenciar
o rouxinol.
CANÇÃO
Cecília Meireles. Viagem. In: Obra poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
5) “Pus o meu sonho num navio /e o navio em cima do mar; / - depois, abri o mar com as
mãos, / para o meu sonho naufragar”.
a) A palavra sonho não está usada no sentido comum, de imagens que acontecem enquanto
dormimos. Quando estamos acordados, com o que sonhamos?
b) Sonho, nesse sentido, então, tem um significado próximo ao de uma dessas
palavras: falsidade, ilusão, realidade.escolha a melhor.
c) O que aconteceu com o sonho do poeta?
3) a- Ambos queimam.
b- Em A, o verbo foi usado em sentido figurado, porque o olhar não queima de verdade,
como o sol.
4) a- Os olhos de Joana brilham como estrelas. Ou: Os olhos de Joana são brilhantes como
as estrelas.
b- Os olhos de Joana são estrelas
5) a- Sonhamos com o que não temos, com as coisas que queríamos poder fazer...
b- Tem um significado próximo de ilusão.
c- O poeta afundou o próprio sonho.
6) a- A quarta estrofe sugere que o poeta não quer que o sonho volte, pois tudo está
perdido mesmo.
b- Ela quer que o navio chegue ao fundo e que o sonho desapareça.
Avaliação para 5º e/ou 6º ano
Prova de Literatura – Professora: _________________ – Data: ____/_____/_____
Aluno(a): ____________________________________ nº: ______ Turma: ______
A causa da chuva
Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos.
Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas não chegavam a
uma conclusão.
_ Chove só quando a água cai do telhado de meu galinheiro - esclareceu a galinha.
_ Ora, que bobagem! - disse o sapo de dentro da lagoa. - Chove quando a água da
lagoa começa a borbulhar suas gotinhas.
_ Como assim? - disse a lebre. - Está visto que só chove quando as folhas das
árvores começam a deixar cair as gotas d'água que têm dentro.
Nesse momento começou a chover.
_ Viram? - gritou a galinha. - O telhado de meu galinheiro está pingando. Isso é
chuva!
_ Ora, não vê que a chuva é a água da lagoa borbulhando? - disse o sapo.
_ Mas, como assim? - tornou a lebre - Parecem cegos! Não vêem que a água cai das
folhas das árvores?
Millôr
Fernandes
Caverna
Houve um dia,
no começo do mundo
em que o homem
ainda não sabia
construir sua casa.
Então disputava
a caverna com bichos
e era aí sua morada.
Que sinais
deixaremos nós
para o homem do futuro?
Roseana Murray. Casas. Belo Horizonte: Formato, 2004.
Viagem de Bonde
(Fragmentos)
Era o Bonde Engenho de Dentro, ali na Praça Quinze. Vinha cheio, mas como diz,
empurrando sempre encaixa. O que provou ser otimismo, porque talvez encaixasse metade
ou um quarto de pessoa magra, e a alentada senhora que se guindou ao alto estribo e
enfrentou a plataforma traseira junto com um bombeiro e outros amáveis soldados, dela
talvez coubesse um oitavo. Assim mesmo, e isso prova bem a favor da elasticidade dos
corpos gordos, ela conseguiu se insinuar, ou antes, encaixar. E tratava de acomodar-se
gingando os ombros e os quadris à direita e à esquerda, quando o bonde parou em outro
poste, e o soldado repetiu o tal slogan do encaixe. E foi subindo − logo quem! − uma
baiana dos seus noventa quilos ... E aquela baiana pesava seus noventa quilos mas era
nua, com licença da palavra, pois com tanta saia engomada e mais os balangandãs,
chegava mesmo era aos cem...
(O Melhor da crônica brasileira. Raquel de Queiroz/Viagem de Bonde.Editora Olympio.Rio
de Janeiro/1980.p.53)
7- O trecho que apresenta característica de humor é
(A) “Era o Bonde Engenho de Dentro, ali na Praça Quinze. Vinha cheio, mas como diz, ... “
(B) “Assim mesmo, e isso prova bem a favor da elasticidade dos corpos gordos, ela
conseguiu se insinuar, ou antes, encaixar. “
(C) “E aquela baiana pesava seus noventa quilos mas era nua, com licença da palavra, pois
com tanta saia engomada e mais os balangandãs, chegava mesmo era aos cem... “
(D) “quando o bonde parou em outro poste, o soldado repetiu o tal slogan do encaixe.“
Prova de Português - 8º ano - Interpretação
Avaliação de Português – 8º ano – Data: __ /__ /__valor: __ – Nota:
Aluno(a): ______________________Nº: _____ Turma : ____
Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos
usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de quinhentos é um erro igual ao de
afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este
respeito a influência do povo é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções
novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade.
(MACHADO DE ASSIS. Apud Luft, Celso Pedro. Vestibular do português).
Vamos imaginar que a indústria farmacêutica desenvolveu uma pílula que pudesse
prevenir doenças do coração, obesidade, diabetes e reduzir o risco de câncer,
osteoporose, hipertensão e depressão.
Já temos esse remédio. E não custa nada. Está a serviço de ricos e pobres, jovens e
idosos. É a atividade física.
(Gro Harlem Brundtland, diretora geral da OMS – Organização Mundial da Saúde) Folha de
São Paulo, 6 abr. 2002.
2- De acordo com o texto, o remédio que não custa nada e está a serviço de ricos e pobres,
jovens e idosos:
(A) é uma pílula fabricada pela indústria farmacêutica.
(B) só é encontrado nas farmácias.
(C) é a atividade física.
(D) ainda não existe.
O cachorro
As crianças sabiam que a presença daquele cachorro vira-lata em seu apartamento
seria alvo da mais rigorosa censura de sua mãe. Não tinha qualquer cabimento: um
apartamento tão pequeno que mal acolhia Álvaro, Alberto e Anita, além de seus pais, ainda
tinha de dar abrigo a um cãozinho! Os meninos esconderam o animal em um armário
próximo ao corredor e ficaram sentados na sala à espera dos acontecimentos. No fim da
tarde a mãe chegou do trabalho. Não tardou em descobrir o intruso e a expulsá-lo, sob os
olhares aflitos de seus filhos.
Granatic, Branca. Técnicas Básicas de Redação.
3- No texto, fica claro que haverá um conflito entre as crianças e a mãe, quando as
crianças
(A) resolvem levar um cachorro para casa, mesmo sabendo que a mãe seria contra.
(B) levam para casa um cachorro vira-lata, e não um cachorro de raça.
(C) decidem esconder o animal dentro de um armário.
(D) não deixam o animal ficar na sala.
Publicidade
Tchau, tchau
Nunca foi tão fácil secar uma espinha
A gente acha que cuidar da pele dá trabalho. Que nada! Chato mesmo é encarar
aquela espinha que insiste em aparecer na cara da gente nas horas mais impróprias: o
primeiro dia de aula ou o encontro com o menino que a gente está a fim. Pele bem cuidada
dá uma levantada incrível no visual, né? Então, mãos à obra com a linha Clearskin da
Avon, que tem oito produtos que facilitam a nossa vida. Além de combaterem a acne (eles
são feitos com ácido glicólico, um poderoso derivado da cana-de-açúcar), eles deixam a
pele super-hidratada.
Borgatto, Ana; Bertin, Terezinha, Marchezi, Vera. Tudo é linguagem.
Ingenuidade
Na boca da caverna
Gritei, vibrando:
– TE AMO!
TE AMO!
TE AMO!
E o eco respondeu,
Lá de dentro da caverna:
– TE AMO!
TE AMO!
TE AMO!
E eu, ingênuo, acreditei...
Elias, José. Amor adolescente.
7- A repetição, pelo eu poético, da expressão “TE AMO!” , que ecoou dentro da caverna,
reforça
(A) a intensidade da paixão do eu poético.
(B) a ingenuidade do eu poético.
(C) a beleza do primeiro amor.
(D) o eco dentro da caverna.
O Último Computador
Luís Fernando Veríssimo
A Mulher no Brasil
A história da mulher no Brasil, tal como a das mulheres em vários outros países,
ainda está por ser escrita. Os estudiosos têm dado muito pouca atenção à mulher nas
diversas regiões do mundo, o que inclui a América Latina. Os estudos disponíveis sobre a
mulher brasileira são quase todos meros registros de impressões, mais do que de fatos,
autos-de-fé quanto à natureza das mulheres ou rápidas biografias de brasileiras notáveis,
mais reveladoras sobre os preconceitos e a orientação dos autores do que sobre as
mulheres propriamente ditas. As mudanças ocorridas no século XX reforçam a
necessidade de uma perspectiva e de uma compreensão históricas do papel, da condição
e das atividades da mulher no Brasil.
Cadernos de João
(…) Na última laje de cimento armado, os trabalhadores cantavam a nostalgia da
terra ressecada.
De um lado era a cidade grande: de outro, o mar sem jangadas.
O mensageiro subiu e gritou:
- Verdejou, pessoal!
Num átimo, os trabalhadores largaram-se das redes, desceram em debandada,
acertaram as contas e partiram.
Parada a obra.
Ao dia seguinte, o vigia solitário recolocou a tabuleta: “Precisa-se de operários”,
enquanto o construtor, de braços cruzados, amaldiçoava a chuva que devia estar caindo
no Nordeste.
(Anibal Machado, Cadernos de João )
A LUA NO CINEMA
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!
1 - Nos versos “Não tinha porque era apenas / uma estrela bem pequena” da
segunda estrofe do poema, o uso da palavra “porque” introduz
(A) a causa de não ter namorado.
(B) uma oposição a um filme engraçado.
(C) a consequência de uma história de amor.
(D) uma comparação do tamanho da estrela com a intensidade da luz.
2- Este poema
(A) explica o nascimento do cinema.
(B) faz a propaganda de um filme engraçado.
(C) apresenta as características de uma lua solitária.
(D) conta a história de uma estrela que não tinha namorado.
O CONTO DA MENTIRA
Rogério Augusto
Todo dia Felipe inventava uma mentira. “Mãe, a vovó tá no telefone!”. A mãe largava
a louça na pia e corria até a sala. Encontrava o telefone mudo.
O garoto havia inventado morte do cachorro, nota dez em matemática, gol de cabeça
em campeonato de rua. A mãe tentava assustá-lo: “Seu nariz vai ficar igual ao do
Pinóquio!”. Felipe ria na cara dela: “Quem tá mentindo é você! Não existe ninguém de
madeira!”.
O pai de Felipe também conversava com ele: “Um dia você contará uma verdade e
ninguém acreditará!”. Felipe ficava pensativo. Mas no dia seguinte...
Então aconteceu o que seu pai alertara. Felipe assistia a um programa na TV. A
apresentadora ligou para o número do telefone da casa dele. Felipe tinha sido sorteado. O
prêmio era uma bicicleta: “É verdade, mãe! A moça quer falar com você no telefone pra
combinar a entrega da bicicleta. É verdade!”
A mãe de Felipe fingiu não ouvir. Continuou preparando o jantar em silêncio.
Resultado: Felipe deixou de ganhar o prêmio. Então ele começou a reduzir suas mentiras.
Até que um dia deixou de contá-las. Bem, Felipe cresceu e tornou-se um escritor. Voltou a
criar histórias. Agora sem culpa e sem medo. No momento está escrevendo um conto. É a
história de um menino que deixa de ganhar uma bicicleta porque mentia...
Olá, mãe!
A lebre e a tartaruga
Era uma vez... uma lebre e uma tartaruga.
A lebre vivia caçoando da lentidão da tartaruga.
Certa vez, a tartaruga, já muito cansada por ser alvo de gozações, desafiou a lebre
para uma corrida.
A lebre, muito segura de si, aceitou prontamente. Não perdendo tempo, a tartaruga
pôs-se a caminhar, com seus passinhos lentos, porém firmes.
Logo a lebre ultrapassou a adversária e, vendo que ganharia fácil, parou e
resolveu cochilar.
Quando acordou, não viu a tartaruga e começou a correr.
Já na reta final, viu finalmente a sua adversária cruzando a linha de chegada, toda
sorridente.
Moral da história: Devagar se vai ao longe!
http://www.qdivertido.com.br/verconto.php?codigo=29
Dica: Quando as provas ficam grandes, costumo imprimir duas páginas por folha. Basta
clicar em propriedades, na bandeja da impressora, e escolher a opção duas páginas por
folha, clicar em ok e pronto!
Papo maluco
O sujeito entra num bar, senta-se à mesa e logo um garçom aparece.
— Boa noite, o que o senhor toma?
— Tomo vitamina C pela manhã, o ônibus para ir ao serviço e uma aspirina quando
tenho dor de cabeça.
— Desculpe, mas acho que não fui claro. Eu quis dizer do que é que o senhor
gostaria?
— Ah! Tudo bem! Gostaria de ter um Ferrari, de casar com a Gisele Bündchen e
mandar a minha sogra para o inferno.
— Não é nada disso, meu senhor! — Continua o garçom, ainda calmo. — Eu só
gostaria de saber o que o senhor deseja de beber.
— Ah! É isso? Bem... o que é que você tem?
E o garçom:
— Eu? Nada, não! Só tô um pouco chateado porque o meu time perdeu pro São
Caetano.
GABARITO:
1- Desenho, quadrinhos.
2- a) Os personagens são a moça e a mãe. Há diálogo entre eles, porque estão
conversando.
b) Não, a fala da mãe é adivinhada pelas respostas da filha.
3- Respostas variadas.
4- Preguiça, sono, cansaço, enjoo.
5- a) Sim, a mãe continua mandando na filha, porque a figura da galinha que representa a
mãe é muito maior.
b) Sim, ela esconde a filha debaixo da asa.
6- Porque quando o leitor pensa que é só o freguês que não entende o que o garçom quer
dizer, este passa a agir da mesma forma que o freguês.
7- No próprio texto, temos: “Eu só gostaria de saber o que o senhor quer beber”.
8- Sugestão: O que é que você tem pra beber?
9- “Ah! Tudo bem”!
10- Age com calma, educadamente. Afinal, na condição de servir o freguês, o garçom tem de
ser atencioso, paciente e respeitar pequenos deslizes, provocações ou mesmo algumas
atitudes estranhas para que o cliente tenha boa impressão sobre os serviços prestados no
local.
Atividades de interpretação - 8º e 9º
Conversa de botequim
Vadico e Noel Rosa
1) Logo no primeiro verso, por meio do uso de um vocativo, fica claro quem fala e quem
escuta nessa “conversa”.
a) A quem a personagem que fala na canção se dirige?
b) Quem é a personagem que fala?
2) Observe como o tamanho dos versos desta canção varia muito. Pensando também no
título, como você explicaria esse fato?
3) No entanto, para realizar-se como canção, a letra e a melodia devem manter ainda alguma
regularidade. Assinale as rimas da canção.
4) Em que modo estão os verbos usados pela personagem para se dirigir ao garçom? Por
quê?
Gabarito:
1) Logo no primeiro verso, por meio do uso de um vocativo, fica claro quem fala e quem
escuta nessa “conversa”.
a. A quem a personagem que fala na canção se dirige? Ao garçom.
b. Quem é a personagem que fala? O cliente de um bar ou botequim.
2) Observe como o tamanho dos versos desta canção varia muito. Pensando também no
título, como você explicaria esse fato? A canção imita a fluidez e a coloquialidade da fala.
3) No entanto, para realizar-se como canção, a letra e a melodia devem manter ainda alguma
regularidade. Assinale as rimas da canção.
4) Em que modo estão os verbos usados pela personagem para se dirigir ao garçom? Por
quê?
Os verbos estão no imperativo. Eles definem o tipo de relação que se estabelece entre
as personagens da canção.
5) Na primeira estrofe, o “cliente” faz ao garçom uma série de pedidos.
a. O que ele pede?
Um média (xícara de café com leite), um pão quente com manteiga, um guardanapo e
uma gelada.
VOCABULÁRIO:
Furgão: Carro coberto, para transporte de bagagens ou pequena carga.
Fresta: Abertura estreita na parede, para deixar passar a luz e o ar.
Dissipar: dispersar, desfazer, fazer desaparecer.
Visar: Ter como objetivo; ter em vista.
Jovialidade: Alegre, prazenteiro.
Precaução: Cautela, cuidado.
Espesso: Grosso, denso.
Intrepidez: Valentia, coragem.
Mosaico: Embutido de pedrinhas de cores, dispostas de modo que formem desenhos.
Delituoso: Que constitui delito; culposo.
Tonificar: Dar vigor a; fortificar.
Hipnótico: substância que produz sono.
Gozo: prazer, satisfação.
3. Em “Um leve ruído: a adoração se encobriu de trevas” , o que fez Davi mudar de atitude
foi o fato de
A) Cláudia esboçar um leve sorriso.
B) o quarto da tia Olga estar fechado.
C) ter-se lembrado do noivo de Cláudia.
D) Cláudia se mexer na cama.
E) estar chegando a hora de o leiteiro passar.
5. A palavra “trabalho” escrita entre aspas, deve ser vista como uma ironia, devido ao fato
de (o)
A) antagonista trabalhar em ofícios desgastantes.
B) trabalho do personagem ser muito cansativo.
C) noivo possuir um harém.
D) Jorge Antar trabalhar em ofícios não respeitáveis.
E) jovem ser responsável e ter bons hábitos.
6. O local escolhido por Davi para observar a chegada do caminhão, antes do crime, foi
A) o fundo do jardim.
B) atrás de um pilar.
C) embaixo do tanque de lavar.
D) pequena lateral da casa.
E) um esconderijo na parede.
8. O personagem principal não aprovava o casamento da irmã com Jorge Antar porque
A) o noivo tinha um harém.
B) o noivo era malandro e mentiroso.
C) Cláudia não amava o noivo.
D) era muito ciumento.
E) agia como pai da moça.
9. Todas as frases abaixo são precauções para tornar o crime perfeito, exceto
A) “... pisando sempre na parte cimentada do quintal...”
B) “Fez sumir na lata de lixo o vidrinho lavado”.
C) “Calçou as luvas que estavam debaixo do travesseiro”.
D) “... aqueceu-lhes as solas para secá-las mais rapidamente”.
E) “... contemplou a irmã adormecida.”
11. Apesar de não conhecer o rapaz, Davi concluiu que o entregador de leite era jovem
porque
A) entregava o leite com rapidez.
B) parecia dançar quando andava.
C) sabia dirigir um furgão.
D) a neblina tragava as luzes vermelhas do furgão.
E) acordava de madrugada todos os dias.
12. Para não levantar suspeitas, Davi tomou algumas atitudes com relação à irmã. Uma
delas foi:
A) reprimir Cláudia a toda hora.
B) não lhe dar mais conselho.
C) não falar mais com ela.
D) contemplar a irmã adormecida.
E) deixá-la viajar com o noivo.
13. A lógica do título “Crime mais que perfeito” foi fundamentada com o fato de que
A) o personagem principal matou apenas Jorge Antar.
B) por ironia, Davi matou também a irmã do criminoso.
C) a polícia achava que fosse suicídio.
D) tudo fora premeditado com muita perfeição.
E) houve uma total impunidade do protagonista.
15. Cláudia Ortiz disse ao irmão que viajaria na sexta-feira para a capital. No entanto, ela se
encontrava no (a)
A) companhia do noivo.
B) shopping, fazendo compras.
C) quarto de tia Olga.
D) casa de uma amiga.
E) seu quarto, dormindo.
16. Em “A noite demorou, mas acabou gerando a madrugada”, representa que a(o)(s)
A) noite passava com rapidez.
B) madrugada demorou a chegar.
C) era véspera do dia do casamento.
D) horas passaram despercebidas.
E) tempo estacionou.
A modorra
Um dia Pedrinho enganou Dona Benta que ia visitar o tio Barnabé, mas em vez disso
tomou o rumo da mata virgem de seus sonhos. Nem o bodoque levou consigo. “Para que
bodoque, se levo o saci na garrafa e ele é uma arma melhor do que quanto canhão ou
metralhadora existe?”
Que beleza! Pedrinho nunca supôs que uma floresta virgem fosse tão imponente.
Aquelas árvores enormes, velhíssimas, barbadas de musgos e orquídeas; aquelas raízes
de fora dando ideia de monstruosas sucuris; aqueles cipós torcidos como se fossem
redes; aquela galharada, aquela folharada e sobretudo aquele ambiente de umidade e
sombra, lhe causaram uma impressão que nunca mais se apagou.
Volta e meia ouvia um rumor estranho, de inambu ou jacu a esvoaçar por entre a
folhagem, ou então, de algum galho podre que tombava do alto e vinha num estardalhaço
— brah, ah, ah… — esborrachar-se no chão.
E quantas borboletas, das azuis, como cauda de pavão; das cinzentas, como casca
de pau; das amarelas, cor de gema de ovo!
E pássaros! Ora um enorme tucano de bico maior que o corpo e lindo papo amarelo.
Ora um pica-pau, que interrompia o seu trabalho de bicar a madeira de um tronco para
atentar no menino com interrogativa curiosidade.
Até um bando de macaquinhos ele viu, pulando de galho em galho com incrível
agilidade e balançando-se, pendurados pela cauda, como pêndulos de relógio.
Pedrinho foi caminhando pela mata adentro até alcançar um ponto onde havia uma
água muito límpida, que corria, cheia de barulhinhos mexeriqueiros, por entre velhas
pedras verdoengas de limo. Em redor erguiam-se as esbeltas samambaiaçus, esses fetos
enormes que parecem palmeiras. E quanta avenca de folhagem mimosa, e quanto musgo
pelo chão!
Encantado com a beleza daquele sítio, o menino parou para descansar. Juntou um
monte de folhas caídas; fez cama; deitou-se de barriga para o ar e mãos cruzadas na nuca.
E ali ficou num enlevo que nunca sentira antes, pensando em mil coisas em que nunca
pensara antes, seguindo o voo silencioso das grandes borboletas azuis e embalando-se
com o chiar das cigarras.
De repente, notou que o saci dentro da garrafa fazia gestos de quem quer dizer
qualquer coisa.
Pedrinho não se admirou daquilo. Era tão natural que o capetinha afinal
aparecesse…
— Que aconteceu que está assim inquieto, meu caro saci? — perguntou-lhe em tom
brincalhão.
— Aconteceu que este lugar é o mais perigoso da floresta; e que se a noite pilhar
você aqui, era uma vez o neto de Dona Benta…
Pedrinho sentiu um arrepio correr-lhe pelo fio da espinha.
— Por quê? — perguntou, olhando ressabiadamente para todos os lados.
— Porque é justamente aqui o coração da mata, ponto de reunião de sacis,
lobisomens, bruxas, caiporas e até da mula-sem-cabeça. Sem meu socorro você estará
perdido, porque não há mais tempo para voltar para casa, nem você sabe o caminho. Mas
o meu auxílio eu só darei sob uma condição…
— Já sei, restituir a carapuça — adiantou Pedrinho.
— Isso mesmo. Restituir-me a carapuça e com ela a liberdade. Aceita?
Pedrinho sentia muito ver-se obrigado a perder um saci que tanto lhe custara a
apanhar, mas como não tinha outro remédio senão ceder, jurou que o libertaria se o saci o
livrasse dos perigos da noite e pela manhã o reconduzisse, são e salvo, à casa de Dona
Benta.
— Muito bem — disse o saci. — Mas nesse caso você tem de abrir a garrafa e me
soltar. Terei assim mais facilidade de ação. Você jurou que me liberta; eu dou minha
palavra de saci que mesmo solto o ajudarei em tudo. Depois o acompanharei até o sítio
para receber minha carapuça e despedir-me de todos.
Pedrinho soltou o saci e durante o resto da aventura tratou-o mais como um velho
camarada do que como um escravo. Assim que se viu fora da garrafa, o capeta pôs-se a
dançar e a fazer cabriolas com tanto prazer que o menino ficou arrependido de por tantos
dias ter conservado presa uma criaturinha tão irrequieta e amiga da liberdade.
— Vou revelar os segredos da mata virgem — disse-lhe o saci — e talvez seja você a
primeira criatura humana a conhecer tais segredos. Para começar, temos de ir ao
“sacizeiro” onde nasci, onde nasceram meus irmãos e onde todos os sacis se escondem
durante o dia, enquanto o sol está fora. O sol é o nosso maior inimigo. Seus raios
espantam-nos para as tocas escuras. Somos os eternos namorados da lua. É por isso que
os poetas nos chamam de filhos das trevas. Sabe o que é trevas?
— Sei. O escuro, a escuridão.
— Pois é isso. Somos filhos das trevas, como os beija-flores, os sabiás e as abelhas
são filhos do Sol.
Assim falando, o saci levou o menino para uma cerrada moita de taquaraçus
existente num dos pontos mais espessos da floresta.
Pedrinho assombrou-se diante das dimensões daqueles gomos quase da sua altura
e grossos que nem uma laranja de umbigo.
(LOBATO, Monteiro. O saci.
Modorra: vontade incontrolável de dormir.
Bodoque: arco com duas cordas e uma rede (malha) ou couro em que se põe a bola de
barro, pedra ou chumbo, com
que se atira. Também conhecido como estilingue.
Virgem: intacto, puro; diz-se da mata que ainda não foi explorada.
Inambu e jacu: espécies de ave.
Taquaraçu: espécie de bambu.
Pilhar: Agarrar, pegar.
1. Após capturar o Saci, Pedrinho enganou Dona Benta e foi para a mata. Diz o texto que o
menino não levou sequer o bodoque. Segundo seus conhecimentos sobre esse ser
lendário, explique por que o menino acreditava que o Saci era a melhor arma existente.
Pedrinho acreditava que o Saci possuía poderes mágicos e que poderia ajudá-lo em uma
situação de risco.
2. Pedrinho surpreendeu-se pela imponência, pela grandiosidade daquela floresta. Por que
essa mata virgem impunha sua importância? O que ela tinha de diferente de outras
florestas?
A mata visitada por Pedrinho ainda não havia sido explorada pelo homem, não havia
qualquer interferência humana , permanecendo com sua estrutura intacta.
3.No texto narrativo, há o momento em que se tem a apresentação, o início dos
acontecimentos. Quais são os fatos que indicam a situação inicial do texto?
Os fatos que correspondem a situação inicial são quando Pedrinho engana Dona Benta e
vai para a mata virgem.
4. O que Pedrinho fazia no momento em que notou que o Saci dentro da garrafa parecia
querer dizer alguma coisa?
O menino estava deitado, descansando.
5. No início da conversa entre o Pedrinho e o Saci, aquele falava em um tom brincalhão. O
que o Saci disse para que Pedrinho ficasse assustado? Explique o motivo do medo do
menino.
O saci afirmou que ali era o ponto mais perigoso da floresta , pois estavam bem no
coração da mata, lugar em que outros seres lendários habitavam .
6. Saci ofereceu ajuda para livrar Pedrinho dos perigos da noite e levá-lo de volta para
casa. Qual foi a condição estabelecida para que isso acontecesse
Pedrinho deveria devolver a carapuça ao Saci, bem como a liberdade dele.
7. Segundo o texto, “Pedrinho soltou o Saci e durante o resto da aventura tratou-o mais
como um velho camarada do que como um escravo.” O que significa tratar alguém como
um velho camarada? E como um escravo?
Tratar alguém como um velho camarada é o mesmo que tratar a um amigo, com respeito,
com brincadeiras e com certa intimidade. Já tratar a um escravo e exigir que se cumpram
determinados trabalhos, dar ordens e fazer com que estas sejam cumpridas.
8. O Saci é chamado no texto de “capeta”. Por que ele recebeu esse apelido?
Saci levou esse apelido por ser muito sapeca, fazer muitas travessuras .
9. O primeiro lugar a que o Saci levaria Pedrinho seria o sacizeiro. Como e onde era esse
lugar?
Era uma cerrada moita de taquaraçus num dos pontos mais espessos da floresta.
10. De acordo com o desfecho desse texto, Pedrinho chegou a ver algum outro Saci, que
não o que estava com ele? Qual foi a reação do menino nesse trecho?
O menino não chega a ver outro Saci, apenas sente-se assombrado por estar naquele lugar
em que esses seres nascem.
11. Releia os trechos a seguir e indique a quem corresponde a fala.
a) “’Para que bodoque, se levo o saci na garrafa e ele é uma arma melhor do que quanto
canhão ou metralhadora existe?”
Corresponde a fala de Pedrinho.
b) “Que beleza!”
Corresponde a fala do narrador.
c) “E pássaros!”
Corresponde a fala do narrador.
ATIVIDADE - Interpretação de texto (crônica)
A outra noite
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de vento sul e chuva, tanto lá como
aqui. Quando vinha para casa de táxi, encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a
ele que lá em cima, além das nuvens, estava um luar lindo, deLua cheia; e que as nuvens feias
que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas, colchões de sonho, alvas, uma paisagem
irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se
para mim:]
– O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra - pura, perfeita
e linda.
– Mas, que coisa. . .
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Depois continuou
guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em ser aviador ou pensava em outra coisa.
– Ora, sim senhor. . .
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um "boa noite" e um "muito obrigado ao senhor"
tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe tivesse feito um presente de rei.
(BRAGA, Rubem. A outra noite. In: PARA gostar de ler: crônicas. São Paulo: Ática, 1979.
Após ler o texto, assinale a alternativa correta nas questões 1 e 3 e responda as demais:
4. A outra noite a que o título se refere seria a vista somente pelo narrador ou aquela que o taxista
e seu amigo enxergavam?
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7. Nesse texto, o narrador é personagem? Justifique sua resposta copiando um trecho do texto.
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Leia também:
Interpretação com gabarito (Maneira de amar - Drummond)
Uma tarde de inverno, estava eu lá, na Rua Barão de Itapetininga, mexendo nas estantes de
uma livraria. (Não consigo passar por uma sem entrar para fuçar no meio dos livros. Desde que
eu tinha quatro anos de idade - o que já faz muito tempo - livro para mim é a coisa mais gostosa
do mundo. A gente nunca sabe que surpresa vai encontrar entre duas capas. Pode ser coisa de
boniteza, ou de tristeza, ou de poesia, ou de risada, ou de susto, sei lá. Um livro é sempre uma
aventura, vale a pena tentar!)
Pois bem, estava eu ali, muito entretida, examinando os livros, quando de repente senti que
alguém me puxava pela manga. Olhei para baixo e vi um menino - um garotinho de uns nove ou
dez anos, magrelo, sujinho, de roupa esfarrapada e pé no chão. Uma dessas crianças que andam
largadas pelas ruas da cidade, pedindo esmola. Ou, no melhor dos casos, vendendo colchetes ou
dropes, essas coisas. Eu já ia abrindo a bolsa para livrar-me logo dele, quando o garoto disse:
- Escuta, dona ... (naquele tempo, ninguém chamava a gente de tia: tia era só a irmã do pai
ou da mãe).
- O quê? - perguntei. - O que você quer?
- Eu ... dona, me compra um livro? - disse ele baixinho, meio com medo.
Dizer que fiquei surpresa é pouco. O jeito do menino era de quem precisava de comida, de
roupa, isso sim. Duvidei do que ouvira:
- Você não prefere algum dinheiro? - perguntei.
- Não, dona - disse o garoto, mais animado, olhando-me agora bem nos olhos. - Eu queria
um livro. Me compra um livro?
Meu coração começou a bater mais forte.
- Escolha o livro que você quiser - falei.
As pessoas na livraria começaram a observar a cena, incrédulas e curiosas. O menino já
estava junto
à prateleira, procurando, examinando ora um livro, ora outro, todo excitado. Um vendedor se
aproximou, meio desconfiado, com cara de querer intervir.
- Deixe o menino escolher um livro - falei. - Eu pago.
As pessoas em volta me olhavam admiradas. Onde já se viu alguém comprar um livro para
um molequinho maltrapilho daqueles?
Pois vou lhes contar: foi exatamente o que se viu naquela tarde, naquela livraria. O menino
acabou se decidindo por um livro de aventuras, nem me lembro qual. Mas me lembro bem da
minha emoção quando lhe entreguei o volume e vi seus olhinhos brilhando ao me dizer um
apressado obrigado, dona! antes de sair em disparada, abraçando o livro apertado ao peito.
Quanto aos meus próprios olhos, estes se embaçaram estranham ente, quando pensei
comigo:
"Tanta criança rica não sabe o que perde, não lendo, e este menino pobre - que certamente
não era um pobre menino - sabe o valor que tem essa maravilha que se chama livro!"
Isso aconteceu há vários anos. Bem que eu gostaria de saber o que foi feito daquele menino
...
"Tanta criança rica não sabe o que perde, não lendo, e este menino pobre - que certamente não
era um pobre menino - sabe o valor que tem essa maravilha que se chama livro!"
Com esse comentário, a narradora faz uma crítica em relação ao hábito de leitura entre crianças
de diferentes realidades sociais. Explique como se dá essa crítica.
2. Em um trecho da crônica, é dito que o menino pediu o livro meio com medo. Analise a situação
e explique o porquê de ele ter tido essa reação.
3. Você concorda com a afirmação de que "Um livro é sempre uma aventura"? Justifique.
4. Para você, por que as pessoas da livraria ficaram admiradas ao observar a cena do menino
escolhendo um livro?
5. A crônica é um gênero textual curto e com poucos personagens, inspirado em uma situação ou
fato do cotidiano, real ou imaginário.
GABARITO
1. A crítica refere-se ao fato de que há crianças que têm condições sociais e financeiras de
comprar e nem por isso se interessam pela leitura.
2. Possível resposta: porque, por se tratar de uma criança pobre, possivelmente ele deve ter
pensado que estaria sendo ousado em pedir algo para alguém que não conhecia ou que talvez a
estivesse incomodando.
3. Pessoal
4. Porque elas não esperavam ver atitudes como aquelas: um menino pobre pedindo um livro e a
narradora comprando-o para ele.
5.
a) A presença de um menino de rua em uma livraria pedindo um livro.
b) O fato (ou situação) é real, pois é passível de acontecer, e ocorreu com a narradora.
c) Em uma tarde inverno, cujo ano não foi especificado, em uma livraria na rua Barão de
Itapetininga, na cidade de São Paulo.