Curso de Analise Real PDF
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análise
δε
real
Cassio Neri
Curso de Análise Real
Cassio Neri
Professor do Instituto de Matemática - UFRJ
3 Números reais 29
3.1 A polêmica descoberta dos incomensuráveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 ⋆ Cortes de Dedekind. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3 Números reais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.4 Exercı́cios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
v
vi SUMÁRIO
4 Seqüências e séries 47
4.1 Seqüências e subseqüências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.2 Seqüências convergentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.3 Seqüências monótonas e seqüências limitadas. . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.4 Seqüências de Cauchy. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.5 Limites infinitos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.6 Operações com limites. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.7 ⋆ Limite superior e limite inferior. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.8 Séries. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
4.9 ⋆ A série dos inversos dos primos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.10 Exercı́cios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5 Topologia de R 67
5.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.2 Pontos interiores e conjuntos abertos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
5.3 Pontos de aderência e conjuntos fechados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.4 Conjuntos compactos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.5 Conjuntos densos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
5.6 Exercı́cios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
6 Limite e continuidade 77
6.1 Limite de funções. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6.2 Os quinze tipos de limite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
6.3 Funções contı́nuas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.4 O Teorema do Valor Intermediário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6.5 Funções contı́nuas definidas em compactos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
6.6 ⋆ Pontos fixos para funções contı́nuas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
6.7 Exercı́cios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7 Derivada 93
7.1 Derivabilidade e derivada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
SUMÁRIO vii
Bibliografia 157
Índice 159
viii SUMÁRIO
Capı́tulo 1
Uma forma de caracterizar um conjunto é através da lista dos seus elementos, escrevendo-
os separados por vı́rgulas “,” no interior de duas chaves “{” e “}”.
EXEMPLO
1.3.
Seja P a propriedade “é um número presente na face de um dado” e seja
1
A = x ; P (x) . Então A = {1, 2, 3, 4, 5, 6}, i.e. , A é o mesmo conjunto do Exemplo 1.2.
1
2 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TEORIA DOS CONJUNTOS
Análogamente,
B = {n ; existe um inteiro m tal que n = 2m}.
Estamos preparados para a demonstração. Seja n ∈ A. Então existe um inteiro m tal que
n = 4m = 2(2m). Como m é inteiro, 2m também é. Concluı́mos que n ∈ B.
Como n é um elemento arbitrário de A (além de n ∈ A não fizemos nenhuma hipótese
sobre n) concluı́mos que qualquer que seja n ∈ A temos n ∈ B, i.e, que todo elemento de A
pertence a B, ou seja, que A ⊂ B. Isto termina a demonstração.
EXEMPLO 1.8. Sejam A = {1, 2}, B = {3} e C = {A, B}. Tente se convencer de que
todas as afirmativas abaixo são verdadeiras.
A ∈ C, B ∈ C, {A} ⊂ C, {B} ⊂ C,1∈ / C, 2 ∈ / C, 3 ∈
/ C.
Perceba
ainda
que é errado dizer {2} ⊂ C, {3} ⊂ C ou {2} ⊂ C. Entretanto, é verdade
que {3} ⊂ C (esta é simplesmente a quarta das afirmações acima).
DEFINIÇÃO 1.12. Se C é uma coleção não vazia de conjuntos, então a união ou reunião
da coleção C é formado pelos elementos que pertencem a pelo menos um membro de C. Em
sı́mbolos, [
A = {x ; existe A ∈ C tal que x ∈ A}.
A∈C
Dissemos anteriormente que um conjunto pode ser definido pela lista de seus elementos.
Devemos ressaltar que a ordem dos elementos na lista não importa e que repetições são
irrelevantes. Desta forma,
Repare que (a, b) 6= (b, a) salvo se a = b e que (a, a) 6= (a). De maneira análoga definimos
triplas ordenadas (a, b, c) ou n-uplas ordenadas (a1 , . . . , an ).
1.5 Funções.
Todos sabemos que o valor da prestação de uma televisão comprada em 12 parcelas iguais
e sem juros depende do seu preço à vista. Por isto, dizemos que o valor da prestação é função
do preço à vista. Neste caso, se x é o preço à vista, então o valor da prestação é x/12. A
função “valor da prestação” a cada “valor à vista” x associa o “valor da prestação”, dado por
x/12. De maneira geral, uma função associa, através de uma regra precisa, cada elemento de
um conjunto a um único elemento de outro conjunto (os dois conjuntos em questão podem
ser iguais).
O exemplo anterior é de uma função numérica definida através de uma fórmula, mas nem
toda função é deste tipo. Por exemplo, cada pessoa possui um único tipo sangüı́neo, logo,
podemos considerar a função que a cada elemento do conjunto das pessoas associa o seu tipo
sangüı́neo que é um elemento do conjunto {A, B, AB, O}. Mudando a regra a função muda.
Assim, a função anterior é diferente da função que a cada pessoa associa o tipo sangüı́neo do
pai.
DEFINIÇÃO 1.17. Sejam A e B dois conjuntos não vazios. Uma função f : A → B (lê-se
1.5. FUNÇÕES. 7
Note que não deve haver exceção à regra: todo x ∈ A possui uma imagem f (x) ∈ B. Por
outro lado, pode existir y ∈ B que não seja imagem de nenhum x ∈ A. Note também que,
dado x ∈ A, não deve haver ambigüidade com respeito a f (x). Entretanto, o mesmo elemento
y ∈ B pode ser imagem de mais de um elemento de A, i.e., pode ocorrer f (x1 ) = f (x2 ) com
x1 6= x2 .
Por definição, f, g : A → B são iguais se são dadas pela mesma regra de associação, ou
seja, se
f (x) = g(x) ∀x ∈ A.
A condição acima só tem sentido (podendo ser falsa) se f e g tiverem o mesmo domı́nio (no
caso A). No entanto, é dispensável que f e g tenham o mesmo contradomı́nio. Por esta
razão, podemos considerar iguais duas funções de contradomı́nios diferentes. Desta forma, a
função
h : {alunos da UFRJ} → {números inteiros positivos},
que a cada x ∈ {alunos da UFRJ} associa seu ano de entrada na UFRJ é igual a função g do
Exemplo 1.18.
Mais grave é considerar que funções de domı́nios diferentes sejam iguais. Entretando,
cometemos este abuso quando, por exemplo, o domı́nino de uma função contém o domı́nio da
outra. Quando a prudência mandar, devemos lidar com os conceitos de restrição e extensão.
EXEMPLO 1.24. Seja A = {a, b}. A função f , definida por f (x) = x para todo x ∈ A,
não é sobrejetiva de A em {a, b, c} mas é sobrejetiva de A em {a, b}. De modo geral, toda
função é sobrejetiva na sua imagem.
Faremos a seguinte convenção de terminologia. Diremos que uma função f tem a proprie-
dade P em A, se f|A tem a propriedade P . Por exemplo, dizer que f é injetiva em A significa
que f|A é injetiva. Isto é muito usual, sobretudo em conversas informais entre matemáticos.
Entretanto, isto deve ser usado com cuidado para não cairmos em armadilhas (veja Exercı́cio
12 do Capı́tulo 6).
Temos que f é injetiva e sobrejetiva e, portanto, bijetiva. Temos ainda que g é injetiva mas
não é sobrejetiva e h não é injetiva e nem sobrejetiva.
A definição anterior faz sentido pois dado x ∈ A temos que f (x) ∈ f (A) e como f (A) ⊂ C
temos f (x) ∈ C. Neste caso podemos aplicar g e encontrar g(f (x)) ∈ D.
Observamos ainda que a operação de composição de funções é associativa, i.e., se f :
A → B, g : C → D e h : E → F com f (A) ⊂ C e g(C) ⊂ E, então temos
(h ◦ g) ◦ f (x) = (h ◦ (g ◦ f ))(x) = h(g(f (x))) ∀x ∈ A.
1.6 Famı́lias
Dissemos anteriormente que a palavra famı́lia é usada para designar conjuntos de conjun-
tos. De fato, este é o principal uso da palavra famı́lia mas não o único. Na verdade, uma
famı́lia é uma função para a qual usamos uma notação especial.
DEFINIÇÃO 1.30. Sejam I e C conjuntos não vazios. Uma famı́lia (Ai )i∈I de elementos
de C é uma função A : I → C para a qual denotamos por Ai (em vez de A(i)) a imagem
de i por A. Dizemos que a famı́lia está indexada pelo ı́ndice i ∈ I, que I é o conjunto de
ı́ndices e que Ai é o i-ésimo elemento (ou membro) da famı́lia. Quando I é o conjunto dos
números naturais substituı́mos a palavra famı́lia por seqüência.
Os gramáticos que nos perdoem mas usamos o sufixo “ésimo” em i-ésimo mesmo quando
i não é um número cardinal.
Observe que na notação (Ai )i∈I não aparece o contradomı́nio C da função. Por isto,
ao introduzirmos uma famı́lia, é obrigatório dizer que tipo de objetos constituem o seu con-
tradomı́nio. Por exemplo, uma famı́lia de pessoas é uma função cujo contradomı́nio é um
conjunto de pessoas. Da mesma forma, uma famı́lia de macacos é uma função cujo contra-
domı́nio é um conjunto de macacos (agora são os biólogos que hão de nos perdoar).
10 CAPÍTULO 1. NOÇÕES DE TEORIA DOS CONJUNTOS
Como dito anteriormente, o uso mais freqüente do termo famı́lia é quando o contradomı́nio
é uma coleção de conjuntos. Trata-se, então, de uma famı́lia de conjuntos. Neste caso,
existem notações especiais para a união e a interseção da coleção. Se (Ai )i∈I é uma famı́lia
de conjuntos, então a união e a interseção da famı́lia são definidas, respectivamente, por
[ [ \ \
Ai = B e Ai = B,
i∈I B∈C i∈I B∈C
sendo C a imagem de A. Desta forma, x pertence a união da famı́lia (Ai )i∈I se, e somente se,
existe B ∈ C tal que x ∈ B. Mas como C é a imagem de A, isto acontece quando, e somente
quando, existe i ∈ I tal que x ∈ Ai . Do mesmo modo, constatamos que x é elemento da
interseção de (Ai )i∈I se, e somente se, x ∈ Ai para todo i ∈ I. Em sı́mbolos
[ \
Ai = {x ; existe i ∈ I tal que x ∈ Ai } e Ai = {x ; x ∈ Ai para todo i ∈ I}.
i∈I i∈I
O sı́mbolo ∞ (infinito) que aparece nas notações anteriores não é um número. Ele é
apenas um sı́mbolo tipográfico cujo papel é dizer que tanto a união quanto a interseção da
famı́lia (Ai )i∈I são tomadas para todo i ∈ {1, 2, 3, . . . }. Este mesmo sı́mbolo aparecerá em
várias notações ao longo do texto sendo que em cada uma delas seu papel será diferente.
Porém, sempre devemos ter em mente que infinito não é número!
1.7 Exercı́cios.
1 - Sejam A, B e C subconjuntos de um conjunto X. Mostre que
a) A ∪ ∅ = A;
b) A ∩ ∅ = ∅;
c) A ∪ X = X;
d) A ∩ X = A;
e) ∅∁ = X;
1.7. EXERCÍCIOS. 11
f ) X ∁ = ∅;
g) A ⊂ B e B ⊂ C =⇒ A ⊂ C;
h) A ⊂ B =⇒ B ∁ ⊂ A∁;
i ) A ∩ (B ∪ C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩ C);
j ) A ∪ (B ∩ C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪ C);
k) (A ∪ B)∁ = A∁ ∩ B ∁;
l ) (A ∩ B)∁ = A∁ ∪ B ∁.
i. A ⊂ B;
ii. A ∩ B = A;
iii. A ∪ B = B.
5 - Dê um exemplo que mostre que podemos não ter igualdade entre os conjuntos do
exercı́cio (4.b).
b) f −1 (C ∩ D) = f −1 (C) ∩ f −1 (D).
Observação: Neste exercı́cio, f −1 tem o sentido da Definição 1.22.
PRINCÍPIO 2.2. (Da Boa Ordem) Todo subconjunto não vazio de N possui elemento
mı́nimo, ou seja, se B ⊂ N com B 6= ∅, então existe n ∈ B tal que n ≤ m para todo
m ∈ B.
O Princı́pio da Indução (e suas variantes) é usado para demonstrar que certas propriedades
são verdadeiras para todo número natural. A estratégia é a seguinte. Definimos o conjunto A
constituı́do pelos números naturais que possuem uma certa propriedade P . A seguir, mostra-
se que A satisfaz (2.1) e (2.2). Daı́, concluı́mos que A = N e, portanto, que P é verificada por
todo número natural. Este tipo de argumento é chamado de demonstração por indução.
13
14 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
TEOREMA 2.4. Se vale o Princı́pio da Boa Ordem, então vale o Princı́pio da Indução.
TEOREMA 2.5. Se vale o Princı́pio da Indução, então vale o Princı́pio da Boa Ordem.
Demonstração. Seja B ⊂ N não vazio. Suponhamos por absurdo que B não possua
elemento mı́nimo. Em particular, 1 ∈
/ B (senão 1 seria elemento mı́nimo de B). Seja
A = {n ∈ N ; n < m ∀m ∈ B}.
DEFINIÇÃO 2.7. Seja A um conjunto não vazio. Se existe n ∈ N e uma função injetiva
g : A → {1, . . . , n} diremos que A é finito, caso contrário, A é infinito. O menor número
n que verifica esta propriedade é dito número de elementos de A. Escrevemos #A = n.
Diremos também que o conjunto vazio é finito e que seu número de elementos é 0.
Observamos que o número de elementos de um conjunto finito A não vazio é bem definido
graças ao Princı́pio da Boa Ordem. De fato, o conjunto dos números n ∈ N que verificam a
propriedade “existe função injetiva g : A → {1, . . . , n}” é um subconjunto não vazio (pois A
é finito) de N e portanto possui um elemento mı́nimo.
Vejamos outro exemplo de contagem. Um professor vai aplicar uma prova e não tem
certeza se a sala destinada a este efeito tem um número suficiente de cadeiras para acomodar
os alunos. Ele pode contar as cadeiras e os alunos e comparar os resultados para obter a
resposta. Uma alternativa óbvia a este método é pedir aos alunos que se acomodem e três
coisas podem acontecer ao final do processo:
No primeiro caso temos que o número de alunos é maior que o de cadeiras, no segundo
caso ocorre o contrário e, finalmente, no terceiro eles são iguais. Obtemos assim a resposta
à pergunta “qual conjunto tem mais elementos?” sem necessariamente conhecer os números
de elementos dos conjuntos envolvidos. Estas considerações motivam a seguinte definição.
16 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
DEFINIÇÃO 2.8. Sejam A e B dois conjuntos não vazios. Dizemos que A e B têm a
mesma cardinalidade ou que a cardinalidade de A é igual à de B e escrevemos #A = #B,
se existe uma bijeção f : A → B. Caso contrário dizemos que eles não têm a mesma
cardinalidade ou que suas cardinalidades são diferentes e escrevemos #A 6= #B.
A definição anterior faz sentido mesmo se os conjuntos A e B são infinitos. Nela o sı́mbolo
#A isoladamente não tem nenhum sentido. Apenas as expressões #A = #B e #A 6= #B
têm. Por outro lado, se A é finito então #A é um número natural e tendo eles a mesma
cardinalidade temos que #A = #B e esta “igualdade” tem dois sentidos distintos: como
igualdade de números naturais e como apresentado na Definição 2.8. Porém a “igualdade”
cocorre num sentido se, e somente se, ocorre no outro. Por esta razão, podemos pensar no
conceito de cardinalidade como generalização do conceito de número de elementos.
Feita esta definição, temos que A 6= ∅ é enumerável se, e somente se, #A ≤ #N.
É verdade que #A ≤ #B se, e somente se, #B ≥ #A mas este fato carece de demons-
tração.
Portanto,
!∁∁ !∁
∁
+∞ +∞ +∞
!
\ [ ∁ [
∁
F (X0 ) = g f F i (A) =g f F i(A) = g f F i (A)
i=0 i=0 i=0
+∞ +∞ +∞ +∞
\
i
∁ ∁ \
i
\
i
\
= g f F (A) = F F (A) = F (A) = F i (A) = X0 .
i=0 i=0 i=1 i=0
Segue que X0∁ = F (X0 )∁ = g f (X0 )∁ . Concluı́mos que g é uma bijeção de f (X0 )∁ em X0∁,
logo, g −1 é uma bijeção de X0∁ em f (X0 )∁. Também temos que f é uma bijeção de X0 em
f (X0 ). Destas observações segue que h : A → B dada por
f (x) se x ∈ X0 ,
h(x) =
g (x) se x ∈ X0∁,
−1
é bijetiva.
A primeira vista esta demonstração pode parecer mirabolante. Vejamos que, de certa
forma, ela é muito natural.
O objetivo é construir uma bijeção h de A em B. Estão à nossa disposição dois ingre-
dientes: uma função f de A em B e uma função g de B em A, ambas injetivas. Existem,
portanto, dois “caminhos” naturais que vão de A até B: f e g −1 . Considerando isto na de-
finição de h, o problema resume-se a decidir quais pontos de A seguirão o primeiro caminho
e quais seguirão o segundo. Ou seja, dividimos A em duas partes complementares, X0 e X0∁,
e fazemos h = f em X0 e h = g −1 em X0∁.
1
Georg Ferdinand Ludwig Philipp Cantor: ⋆ 03/03/1845, São Petersburgo, Rússia - † 06/01/1918 Halle,
Alemanha.
2
Felix Bernstein: ⋆ 24/02/1878, Halle, Alemanha - † 03/12/1956, Zurique, Suı́ça.
3
Friedrich Wilhelm Karl Ernst Schröder: ⋆ 25/11/1841, Mannheim, Alemanha - † 16/07/1902, Karlsruhe,
Alemanha.
18 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
A função h será bijetiva se, e somente se, as imagens de X0 e X0∁ forem complementares
(em B). Ou seja, devemos escolher X0 de modo que f (X0 )∁ = g −1 X0∁ ou, de modo
equivalente, g f (X0 )∁ = X0∁. A última equação é rescrita como F (X0 ) = X0 , sendo F
definida na demonstração.
Por verificar F (X0 ) = X0 , X0 é dito ponto fixo de F . Argumentos de ponto fixo são
bastante usuais em Análise. A idéia, intuitiva, é a seguinte. Considere uma função φ : Y → Y
para a qual queremos encontrar um ponto fixo. Tomamos y ∈ Y e iteramos φ “infinitas” vezes
obtendo o resultado y0 . Aplicando φ a y0 , teremos como resultado φ iterada “infinitas” vezes,
a partir de y, ou seja, encontraremos novamente y0 . Portanto, φ(y0) = y0 . A descrição dada
aqui foge aos padrões de rigor da Matemática. A idéia de iterar “infinitas” vezes é formalizada
tomando a seqüência
φ(y), φ(φ(y)), φ(φ(φ(y))), . . .
e verificando se ela tende a algum elemento que, naturalmente, esperamos ser ponto fixo de
φ. Para completar este programa, precisamos dos conceitos de limite e continuidade. Estes
conceitos, fundamentais à Análise, serão explorados nos próximos capı́tulos.
Na demonstração anterior não foi necessário considerar limites. Isto, pois é natural dizer
que uma seqüência de conjuntos encaixantes:
A1 ⊃ A2 ⊃ A3 ⊃ . . .
T+∞
“converge” para n=1 An .
EXEMPLO 2.12. Seja A um conjunto não vazio. É evidente que #A = #A pois a função
identidade Id : A → A dada por Id(x) = x para todo x ∈ A é uma bijeção.
EXEMPLO 2.14. #Z = #N. Escrevendo Z = {0, 1, −1, 2, −2, 3, −3, . . . } uma bijeção de
f : N → Z nos salta aos olhos. Ela é dada por f (1) = 0, f (2) = 1, f (3) = −1, f (4) =
2, f (5) = −2, f (6) = 3, . . . , mais precisamente,
m se n = 2m, m = 1, 2, 3, . . .
f (n) =
−m se n = 2m + 1, m = 0, 1, 2, . . .
..
(2,1) (2,2) (2,3) (2,4) .
..
(3,1) (3,2) (3,3) .
..
(4,1) (4,2) .
..
(5,1) .
..
.
EXEMPLO 2.16. Vamos mostrar que #N < #P(N). Ora, a função f : N → P(N) dada
por f (n) = {n} é obviamente injetiva, logo, #N≤ #P(N). Suponhamos, por absurdo, que
exista uma bijeção g : N → P(N). Seja A = n ∈ N ; n ∈ / g(n) . Como g é bijetiva,
existe m ∈ N tal que g(m) = A. Das duas, uma: ou m ∈ A ou m ∈ / A. Se m ∈ A, então
m∈ / g(m) = A, que é absurdo! Por outro lado, se m ∈ / A, então m ∈ g(m) = A o que
também é absurdo. Concluı́mos que não existe bijeção de N em P(N).
Temos que h é bem definida e é, claramente, injetiva (observe que h(A) ∩ h(B) = ∅ pois os
elementos de h(A) são números pares enquanto que os de h(B \ A) são ı́mpares).
Mais geralmente...
S+∞
PROPOSIÇÃO 2.18. Se, para cada n ∈ N, An é enumerável, então n=1 An é enumerável.
Demonstração.
S+∞ Sem perda de generalidade, podemos supor que An 6= ∅ para todo n ∈ N.
Seja A = n=1 An .
Por hipótese, para cada n ∈ N, temos que An é enumerável, logo, existe fn : N → An
sobrejetiva. Vamos mostrar que a função
f : N × N −→ A
(n, m) 7−→ fn (m)
Como é alta temporada, o hotel está lotado. Porém, o painel localizado em sua entrada
informa que há vagas disponı́veis! Chega um homem de camiseta florida, carregando uma
pequena e elegante valise marrom. Ele pede um quarto a Hilbert que responde:
– Apesar do hotel estar completamente lotado, providenciarei um quarto vazio para o
senhor. Aguarde um minuto, por favor.
Aproveitando que os hóspedes são muito solı́citos, pelo autofalante, Hilbert se dirige a
eles:
– Perdoem-me por incomodá-los. Gostaria de pedir a cada um de vocês que troque de
quarto. Quem está ocupando o quarto n passará ao quarto n + 1. Grato pela compreensão.
E o cliente, satisfeito, se instala no quarto número 1.
A época é de muita procura. Chega um ônibus de excursão com uma infinidade enuméravel
de cadeiras. Todas estão ocupadas mas, de acordo com as estritas normas de segurança do
lugar, ninguém viaja em pé. O animador do grupo, facilmente reconhecı́vel por sustentar uma
pequena flâmula vermelha com a marca da agência, dirige-se a Hilbert solicitando os quartos
que havia reservados para seus clientes.
Confirmando a reserva, Hilbert solicita um minuto para providenciar os quartos. Nova-
mente pelo alto-falante, dirige-se aos hóspedes:
– Perdoem-me por incomodá-los outra vez. Peço novamente que troquem de quarto,
desta vez, obedecendo a seguinte regra: quem estiver ocupando o quarto n mudará para o
quarto 2n. Mais uma vez, agradeço a compreensão.
Hilbert informa ao animador que ele seu grupo podem acomodar-se. Quem está na cadeira
m ocupará o quarto 2m − 1.
Fim do verão e o hotel se esvazia. Outra excursão chega. O animador, com bandeira
amarela, é menos experiente que seu colega e não reservou os quartos antecipadamente pois
acreditava em baixa ocupação no outono. O ônibus está cheio mas, novamente, não há
pessoas em pé. Além disto, para cada número real há uma cadeira no ônibus com aquele
número! Surpreendentemente, Hilbert informa que, apesar do hotel estar completamente
vazio, não há vagas suficientes para acomodar a todos. E, amavelmente, sugere o Hotel Real
que é maior que o seu.
No próximo capı́tulo veremos porque Hilbert não podia receber o último grupo.
Lembramos que um número racional é aquele que pode ser expresso como razão entre
dois inteiros m, n ∈ Z, com n 6= 0, i.e.,
m
∀x ∈ Q, ∃m ∈ Z, n ∈ N tais que x = .
n
22 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
Q é o conjunto dos números racionais. Como m/1 = m para todo m ∈ Z temos que
Z ⊂ Q.
Como fizemos com N e Z admitiremos neste curso que o leitor já está familiarizado com as
propriedades básicas do conjunto Q. Nesta e nas próximas duas seções revisaremos algumas
destas propriedades e estudaremos outras menos familiares.
x + y = y + x e x · y = y · x ∀x, y ∈ K.
(x + y) + z = x + (y + z) e (x · y) · z = x · (y · z) ∀x, y, z ∈ K.
x · (y + z) = (x · y) + (x · z) ∀x, y, z ∈ K.
EXEMPLO 2.21. O terno (Q, +, ·), onde + e · são as operações usuais de adição e multi-
plicação (de números racionais), é um corpo.
A Propriedade (iii) nos diz que zero existe e é único. Na verdade a unicidade do zero pode
ser demonstrada a partir de sua existência, i.e., poderı́amos substituir o sı́mbolo “∃!” por “∃”
que não faria diferença. De fato, suponhamos que 0 e 0′ sejam dois zeros, ou melhor, dois
elementos neutros da adição. Mostraremos que 0 = 0′ . Como 0 é elemento neutro da adição,
0 + y = y para todo y ∈ K. Em particular, para y = 0′ , temos 0 + 0′ = 0′ . Da mesma
maneira, obtemos que 0′ + 0 = 0. Portanto, 0′ = 0 + 0′ = 0′ + 0 = 0.
Analogamente a existência do oposto de x implica a sua unicidade. De fato, suponhamos
que y e z são opostos de x. Isto significa que x + y = 0 e x + z = 0, logo x + y = x + z.
Adicionando y aos dois lados da equação obtemos
As operações de um corpo podem ser estendidas às funções com contra-domı́nio neste
corpo. Este é o objeto da próxima definição.
24 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
DEFINIÇÃO 2.23. Uma relação ≤ num corpo (K, +, ·) é dita ordem total ou, simples-
mente, ordem se valem as seguintes propriedades.
iv. f é estritamente crescente quando x < y implica que f (x) < f (y).
2.7 Exercı́cios.
1 - Mostre, por indução, que 12 + · · · + n2 = n(n + 1)(2n + 1)/6 para todo n ∈ N.
2 - Mostre que
1 1 1 1
+ +···+ ≥ ∀n ∈ N.
n n+1 2n 2
3 - Seja X ⊂ N um subconjunto infinito. Prove que existe uma única bijeção crescente
f : N → X.
26 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
4 - Use a Proposição 2.17 para mostrar, de maneira diferente do Exemplo 2.14, que Z é
enumerável.
7 - Denotamos {0, 1}N ao conjunto de todas as funções f : N → {0, 1}. Mostre que
#{0, 1}N = #P(N).
Sugestão: Para cada f ∈ {0, 1}N considere o conjunto f −1 (1).
8 - Seja A um conjunto não vazio. Denotamos por A{1,2} ao conjunto das funções
f : {1, 2} → A. Mostre que #A{1,2} = #A2 .
1
Jacques Bernoulli: ⋆ 27/12/1654, Basiléia, Suı́ça - † 16/08/1705, Basiléia, Suı́ça.
28 CAPÍTULO 2. NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS E RACIONAIS
Capı́tulo 3
Números reais
29
30 CAPÍTULO 3. NÚMEROS REAIS
e, logo, n também é. Provamos que tanto m quanto n são pares contradizendo o fato que
eles não possuem divisor comum maior que 1. Isto mostra que 1 e d são incomensuráveis.
A comensurabilidade entre dois segmentos quaisquer é equivalente ao√fato que todo
número é racional! A incomensurabilidade entre 1 e d significa que d = 2 não é racio-
nal. Isto mostrou aos Pitagóricos que, ao contrário do que eles preconizavam, os números
(inteiros) e suas razões não eram capazes de explicar tudo. Acredita-se este resultado foi
descoberto e revelado por Hippasus de Metapontum1 que, por este motivo, foi expulso da
confraria (pior, segundo a lenda, ele foi jogado ao mar).
Foi Eudoxo2 quem resolveu a crise surgida com a descoberta dos incomensuráveis intro-
duzindo uma nova definição de proporção de segmentos tal como ela aparece no livro V de
“Os Elementos” de Euclides3 .
Vimos na seção anterior que os números racionais são insuficientes. Por isto, devemos
completá-los introduzindo o corpo ordenado (R, +, ·, ≤) dos números reais. O conjunto R
contém o conjunto dos números racionais. Existem várias maneiras de construir este corpo
ordenado. Neste texto, optamos pela construção através de cortes de Dedekind4 [4] que pode
ser vista como uma modernização da idéia de Eudoxo.
Com certeza o leitor está habituado a trabalhar com números reais. Porém, se este é seu
primeiro Curso de Análise, é muito provável que ele nunca tenha visto a definição de número
real. O objetivo desta seção é cobrir esta lacuna.
Os gregos da época pitagórica conheciam e manipulavam números racionais e apenas
eles. Suas demonstrações eram baseadas nas propriedades dos racionais
√ e somente nelas. Por
outro lado, eles sabiam que existiam outros “números” (por exemplo 2) e, pelo fato de não
saberem como eles eram, os gregos eram incapazes de manipulá-los. Este foi o motivo da
crise descrita na seção precedente.
Peço ao leitor que se comporte, simultaneamente, com duas posturas diferentes. Deve
esquecer tudo o que conhece sobre números reais - até mesmo a existência. Deve admitir, neste
momento, que conhece, além de Teoria dos Conjuntos, apenas funções, números racionais e
suas propriedades (operatórias, ordem, etc). Por outro lado, o leitor deve manter em mente
o conjunto dos números reais pois a experiência adquirida com ele nos guiará para a sua
construção. Sabendo onde se deve chegar fica mais fácil percorrer o caminho ate lá.
A mesma tipografia usada para as definições, exemplos, teoremas, etc será usada, e iden-
tificada pela palavra IDÉIA, para explicar a idéia intuitiva sobre os números reais que estará
1
Hippasus de Metapontum: ⋆ ≈ 500 A.C., Metapontum, Itália - † ?
2
Eudoxo de Cnido: ⋆ 408 A.C., Cnido, Turquia - † 355 A.C., Cnido, Turquia.
3
Euclides de Alexandria: ⋆ ≈ 325 A.C., ? - † ≈ 265 A.C., Alexandria, Egito.
4
Julius Wihelm Richard Dedekind: ⋆ 06/10/1831, Braunschweig, Alemanha - † Braunschweig, Alemanha.
3.2. ⋆ CORTES DE DEDEKIND. 31
por trás das demonstrações e definições que a seguirão. Porém, elas servem apenas para isto
e não podem ser usadas como fato constatado. Começamos por uma destas idéias.
IDÉIA. Seja A um intervalo (de números reais) aberto, ilimitado inferiormente e limitado
superiormente. Claramente, existe a ∈ R tal que A = (−∞, a). Reciprocamente, dado um
número real a o intervalo (−∞, a) é aberto, ilimitado inferiormente e limitado superiormente.
Desta forma, existe uma correspondência biunı́voca entre números reais e intervalos abertos,
ilimitados inferiormente e limitados superiormente. A nossa construção será baseada nesta
correspondência: consideraremos intervalos do tipo (−∞, a) e no conjunto de tais intervalos
definiremos uma relação de ordem assim como operações de soma e multiplicação. Ao final
diremos que cada intervalo destes é um número real.
O nosso trabalho consiste então em definir um intervalo aberto, ilimitado inferiormente e
limitado superiormente, i.e., um intervalo do tipo (−∞, a) sem considerar o número a que,
rigorosamente falando, não existe! A definição seguinte cumpre este objetivo.
i. A 6= ∅ e A∁ 6= ∅.
IDÉIA. As duas primeiras condições da Definição 3.1 implicam que A é um conjunto da forma
(−∞, a) ∩ Q ou (−∞, a] ∩ Q. A terceira condição exclui a segunda possibilidade (quando
a ∈ Q) dizendo que A não tem máximo.
DEFINIÇÃO 3.3. O cortes da forma Z(r) = {p ∈ Q ; p < r}, com r ∈ Q, são ditos
cortes racionais.
IDÉIA. Sejam a e b dois números reais. Temos que a ≤ b se, e somente se, (−∞, a) ⊂
(−∞, b). Isto nos indica que a relação de inclusão entre cortes é a maneira natural de definir
32 CAPÍTULO 3. NÚMEROS REAIS
uma relação de ordem no conjunto Ω. Já sabemos que a relação de inclusão é transitiva
e anti-simétrica. Porém, ela não é completa pois existem A ⊂ Q e B ⊂ Q que não são
comparáveis, i.e., nem A ⊂ B nem B ⊂ A. Entretanto se A e B são cortes uma destas
inclusões deve ser verdadeira. Este é o assunto do próximo teorema.
C = {r ∈ Q ; r = p + q com p ∈ A e q ∈ B}
é corte.
OBSERVAÇÃO 3.7. É fácil ver que se A, B ∈ Ω são tais que Z(0) ⊂ A ∩ B, então
Z(0) ⊂ A ⊕ B.
Fica assim definida uma operação de adição entre cortes. Mostraremos que esta operação
satisfaz algumas das propriedades da adição em um corpo.
3.2. ⋆ CORTES DE DEDEKIND. 33
i. A ⊕ B = B ⊕ A;
ii. (A ⊕ B) ⊕ C = A ⊕ (B ⊕ C);
iii. A ⊕ Z(0) = A.
é corte.
i. A = Z(0) ⇐⇒ ⊖A = Z(0);
(n − 1)r nr (n + 1)r
p=s− , t=s− e q =s− .
2 2 2
É fácil ver que t, q ∈ A∁ e t < q, logo, −q ∈ ⊖A. Também temos p ∈ A e r = p − q. Segue
que r ∈ A ⊕ (⊖A).
IDÉIA. Queremos definir multiplicação de cortes. A primeira idéia é imitar a definição da
soma. Definimos o conjunto C, produto dos cortes A e B, formado pelos produtos p · q sendo
p ∈ A e q ∈ B. Porém, isto não funciona pois o conjunto C não é corte. Para ver isto,
considere o exemplo A = B = Z(2). Neste caso, C = Q. De fato, −1, 1 ∈ A e se r < 0,
então r ∈ B. Segue que −r, r ∈ C e, portanto, C = Q.
Vamos adaptar esta idéia inicialmente para cortes “positivos”. Posteriormente, estendere-
mos a definição para todos os cortes. Como vimos no Exercı́cio 13 do Capı́tulo 2, o produto
de números positivos é positivo. Portanto, tomando apenas os racionais positivos nos cortes
A e B obteremos apenas os racionais positivos de C. Para que C seja corte, faltará incluir
os racionais negativos.
C = {r ∈ Q ; r < 0 ou r = p · q com p ∈ A, q ∈ B, p ≥ 0 e q ≥ 0}
é corte.
IDÉIA. Para estender a definição de produto para cortes não positivos, procedemos como
quando aprendemos a multiplicar números negativos pela primeira vez (no Ensino Fundamen-
tal). Fazemos o produto dos módulos e ao resultado impomos o sinal de acordo com a regra
dos sinais. Vejamos a definição de módulo de um corte e, em seguida, a definição geral do
produto.
i. A ⊙ B = B ⊙ A;
ii. (A ⊙ B) ⊙ C = A ⊙ (B ⊙ C);
iii. A ⊙ Z(1) = A.
A primeira igualdade segue da terceira linha de (3.1), a segunda igualdade é a parte já
demonstrada do teorema e a terceira igualdade segue da segunda linha de (3.1). Deixo para
o leitor a tarefa de terminar a prova do teorema.
é corte.
p1 = s · (r −1 )n−1 e t = s · (r −1 )n .
i. se A ⊂ B, então A ⊕ C ⊂ B ⊕ C;
ii. se A ⊂ B e Z(0) ⊂ C, então A ⊙ C ⊂ B ⊙ C;
3.2. ⋆ CORTES DE DEDEKIND. 39
Vemos que r−(p+q) < 0 e, portanto, p+(r−p−q)/2 < p. Segue que p+(r−p−q)/2 ∈ Z(p).
Analogamente, q + (r − p − q)/2 ∈ Z(q). Concluı́mos que r ∈ Z(p) ⊕ Z(q). Tomemos agora
r ∈ Z(p) ⊕ Z(q) e sejam s ∈ Z(p) e t ∈ Z(q) tais que r = s + t. Como s < p e t < q,
temos r = s + t < p + q. Concluı́mos que r ∈ Z(p + q).
Note que aplicando o item (ii) a q = −p obtemos Z(0) = Z(p) ⊕ Z(−p) e, portanto,
⊖Z(p) = Z(−p).
(iii) Suponhamos inicialmente p ≥ 0 e q ≥ 0, de modo que Z(0) ⊂ Z(p) ∩ Z(q). Seja
r ∈ Z(p · q), i.e., r < p · q. Se r < 0, então temos imediatamente r ∈ Z(p) ⊙ Z(q).
Suponhamos r ≥ 0. Teremos então p > 0 e q > 0. Seja s = (r + p · q)/2, de modo que
r < s < p · q. Temos
r s
r = p· · q· .
s p·q
Vemos que r/s < 1 e, portanto, pr/s < p. Segue que pr/s ∈ Z(p). Da mesma maneira
q · s/(p · q) ∈ Z(q). Concluı́mos que r ∈ Z(p) ⊙ Z(q). Seja agora r ∈ Z(p) ⊙ Z(q). Se r < 0,
então trivialmente temos r ∈ Z(p · q). Suponhamos r ≥ 0. Existem s ∈ Z(p) e t ∈ Z(q) tais
40 CAPÍTULO 3. NÚMEROS REAIS
DEFINIÇÃO 3.25. Seja Γ ⊂ Ω, não vazio. Se existir S ∈ Ω que seja a menor cota superior
de Γ, isto é,
i. A ⊂ S para todo A ∈ Γ;
Na Seção 3.2 definimos um corpo ordenado completo (R, +, ·, ≤) dito dos números reais
e tal que Q ⊂ R. Daqui por diante, não precisaremos nos servir da definição de número real.
Tudo que precisamos saber é que (R, +, ·, ≤) é um corpo ordenado completo, isto é, (R, +, ·)
satisfaz as propriedades da Definição 2.20, além disto, a relação ≤ em R satisfaz as condições
da Definição 2.23 e, finalmente, vale a completeza dada pelo Teorema 3.30 abaixo.
DEFINIÇÃO 3.28. Seja A ⊂ R, não vazio. Se existir s ∈ R que seja a menor cota superior
de A, isto é,
i. a ≤ s para todo a ∈ A;
DEFINIÇÃO 3.29. Seja A ⊂ R, não vazio. Se existir i ∈ R que seja a maior cota inferior
de A, isto e,
i. i ≤ a para todo a ∈ A;
Demonstração. Observamos que as definições 3.28 e 3.25 são equivalentes, diferindo apenas
na notação. Da mesma forma, a primeira afirmação do Teorema 3.30 é uma nova versão do
Teorema 3.27.
A segunda afirmação do Teorema 3.30 é conseqüência da primeira. De fato, verifica-
se facilmente que se A é limitado inferiormente, então B = {−x ; x ∈ A} é limitado
superiormente e inf A = − sup B.
Um número real que não é racional é dito número irracional. O Exercı́cio (1.c) da
Seção 3.4 mostra a existência de um número irracional. Vamos considerar uma variação deste
exemplo.
i. [a, b] = {x ∈ R ; a ≤ x ≤ b};
Quando a = b, temos [a, a] = {a} e [a, a) = (a, a) = (a, a] = ∅. Logo, o conjunto vazio
e conjuntos unitários são intervalos. Estes dois tipos de intervalo são ditos degenerados
enquanto que os outros são ditos não degenerados.
Intervalos dos tipos (iii), (vi), (viii) e (ix) são ditos abertos. O intervalo ∅ e os intervalos
dos tipos (i), (v), (vii) e (ix) são ditos fechados.
e ∅ são os únicos intervalos que possuem esta propriedade. Perceba também que existem
intervalos que não são abertos nem fechados.
O próximo teorema é outra conseqüência da completeza.
TEOREMA 3.34. (Dos Intervalos Encaixantes) Se [an , bn ] n∈N é uma seqüência de
T
intervalos encaixantes, i.e., [an , bn ] ⊃ [an+1 , bn+1 ] para todo n ∈ N, então +∞
n=1 [an , bn ] 6= ∅.
3.4 Exercı́cios.
1 - Seja A = {p ∈ Q ; p < 0 ou p2 < 2}. Mostre que
a) A é corte;
b) A ⊙ A ⊂ Z(2);
3.4. EXERCÍCIOS. 45
Sugestão: (1.a) Seja p ∈ A tal que p ≥ 0. Mostre que se h < 1 é bem escolhido, então
tomando q = p + h teremos q ∈ A e p < q.
(1.c) Proceda por absurdo e, usando a Proposição 3.24, conclua que se Z(r) = A com r ∈ Q
então r 2 = 2.
2 - O objetivo deste exercı́cio é dar outra demonstração para o Teorema 3.27. Seja Γ ⊂ Ω
não vazio e limitado superiormente e seja S a interseção de todas as cotas superiores de Γ,
i.e., \
S= M,
M ∈Σ
sendo Σ = {M ∈ Ω ; M é cota superior de Γ}. Sem usar o Teorema 3.27, mostre que
a) S é corte;
b) S é cota superior de Γ;
c) S é subconjunto de toda cota superior de Γ.
Conclua que S é o supremo de Γ.
3 - Lembremos que o módulo de x ∈ R, denotado por |x|, é definido por
x se x ≥ 0,
|x| =
−x se x < 0.
4 - Seja I ⊂ R um intervalo. Mostre que I é limitado se, e somente se, existe a > 0 tal
que I ⊂ (−a, a).
5 - Seja A ⊂ R, não vazio e limitado superiormente. Mostre que s = sup A se, e somente
se:
i. s é cota superior de A;
46 CAPÍTULO 3. NÚMEROS REAIS
7 - Sejam A, B ⊂ R, não vazios e limitados tais que A ⊂ B. Prove que inf B ≤ inf A ≤
sup A ≤ sup B.
Seqüências e séries
Geralmente usamos a notação (xn )n∈N para representar uma seqüência x : N → R. Às
vezes a notaremos também por (x1 , x2 , . . . , xn , . . . ). Dizemos que xn é o termo de ordem
n ou que xn é o n-ésimo termo da seqüência.
Quando quisermos explicitar que a imagem da seqüência (xn )n∈N está contida em A ⊂ R
escreveremos (xn )n∈N ⊂ A.
Como seqüências são funções, as definições de função limitada, crescente, decrescente,
monótona, etc, também fazem sentido para seqüências.
47
48 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES
DEFINIÇÃO 4.5. Dizemos que (yk )k∈N é uma subseqüência de (xn )n∈N se existe uma
seqüência (nk )k∈N ⊂ N estritamente crescente tal que yk = xnk para todo k ∈ N.
EXEMPLO 4.6. Seja (xn )n∈N a Progressão Aritmética de termo inicial a e razão r. A
Progressão Aritmética (yk )k∈N de termo inicial a e razão 2r é uma subseqüência de (xn )n∈N .
De fato, tomando nk = 2k − 1 (k ∈ N) obtemos
C B
1 D
A
Figura 4.1: Espiral da convergência
continuemos andando por um tempo suficientemente longo. Por exemplo, nossa distância a
O será menor que 1 depois que passarmos pelo ponto D. Ou seja, em certo instante entramos
na bola de raio 1 centrada em O e dela não saı́mos mais. Da mesma forma, a partir de outro
instante (futuro) entramos na bola de raio 1/2, centrada em O, e aı́ ficamos. De modo geral,
dado qualquer número positivo ε, existe um instante a partir do qual nossa distância a O será
menor que ε. Aı́ está a definição. Para seqüências de números reais ela é expressa da seguinte
maneira.
DEFINIÇÃO 4.7. Uma seqüência (xn )n∈N é dita convergente se existe x ∈ R de modo
que
∀ε > 0, ∃N ∈ N tal que n ≥ N =⇒ |xn − x| < ε.
Neste caso, escrevemos xn → x e dizemos que x é limite da seqüência (xn )n∈N ou que xn
converge para (ou tende a) x quando n tende a mais infinito (n → +∞). Se (xn )n∈N não
é convergente, então dizemos que ela é divergente.
EXEMPLO 4.9. Considere a seqüência xn = 1/n para todo n ∈ N. Vamos mostrar que
xn → 0. Dado ε > 0, tomemos N ∈ N tal que N > 1/ε. Temos então 0 < 1/N < ε. Mas
se n ∈ N e n ≥ N, então xn = 1/n ≤ 1/N = xN . Logo, podemos escrever
xn → 0 e xn → 1.
lim xn = 0 e lim xn = 1.
n→+∞ n→+∞
Serı́amos levados a concluir que 0 = 1. Ora, é o sinal de igual “=” que nos leva a esta con-
fusão. Se não tivermos a unicidade do limite, então a notação limn→+∞ xn = x é fortemente
enganosa. Apenas para constar, informo ao leitor interessado a definição de convergência num
contexto mais geral (de espaços topológicos), do qual a nossa é um caso particular, permite
a não unicidade do limite (isto ocorre em espaços que não são de Hausdorff1 ). Entretanto, a
próxima proposição nos dará direito ao uso da notação limn→+∞ xn = x.
1
Felix Hausdorff: ⋆ 08/11/1868, Wroclaw, Polônia - † 02/01/1942, Bonn, Alemanha.
50 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES
n ≥ N′ =⇒ |xn − y| < ε.
Seja n o maior dos números N e N ′ . Para tal n as duas conclusões anteriores são válidas.
Temos então
|x − y| ≤ |x − xn | + |xn − y| < ε + ε = 2ε = |x − y|.
Concluı́mos que |x − y| < |x − y|, o que é absurdo.
PROPOSIÇÃO 4.11. Uma seqüência (xn )n∈N tende a x se, e somente se, toda subseqüência
de (xn )n∈N tende a x.
Demonstração. Suponhamos que exista x ∈ R tal que xn → x. Seja (yk )k∈N uma sub-
seqüência de (xn )n∈N , i.e., yk = xnk (∀k ∈ N) para alguma seqüência (nk )k∈N ⊂ N estrita-
mente crescente. Mostremos que yk → x. Seja ε > 0. Como xn → x, existe N ∈ N tal que
se n ≥ N, então |xn − x| < ε. Como (nk )k∈N ⊂ N é estritamente crescente, existe K ∈ N
tal que se k ≥ K, então nk ≥ N. Segue que
Portanto (yk )k∈N converge para x. A recı́proca é imediata (basta observar que (xn )n∈N é
subseqüência de si mesma).
Como corolário da proposição anterior, obtemos que se xn tende a x, então xn+2006 tende
a x. Não há nada de especial com o número 2006. Mais geralmente, fixado p ∈ N, temos que
se xn tende a x, então xn+p tende a x. É fácil perceber que a recı́proca também é verdadeira,
ou seja, se para algum p ∈ N temos que xn+p tende a x, então é porque xn tende a x.
Verifique! A importância deste fato é a seguinte. Se conhecermos alguma propriedade que
garanta a convergência de uma seqüência e soubermos que tal propriedade só é valida a partir
do seu p-ésimo termo então, ainda sim, podemos concluir que a seqüência é convergente.
Vejamos um exemplo esclarecedor.
4.3. SEQÜÊNCIAS MONÓTONAS E SEQÜÊNCIAS LIMITADAS. 51
É fácil ver que xn = 0 para todo n > 1000. Ou seja, (xn )n∈N é constante a partir do seu
milésimo-primeiro termo. Concluı́mos que ela é convergente.
a = min{x1 , . . . , xN , x − 1} e b = max{x1 , . . . , xN , x + 1}
temos imediatamente que xn ∈ [a, b] para todo n ∈ N. Portanto (xn )n∈N é limitada.
Demonstração. Vamos provar apenas a primeira parte da proposição já que a segunda se
demonstra de modo análogo. Seja s = sup{xn ; n ∈ N}. Dado ε > 0, tome N ∈ N tal que
x − ε < xN ≤ s. Logo, para n ≥ N, temos x − ε < xN ≤ xn ≤ s. Concluı́mos daı́ que
|xn − s| < ε.
Demonstração. Sejam (xn )n∈N uma seqüência limitada. Considere o seguinte conjunto:
Uma seqüência é de Cauchy se seus termos se aproximam uns dos outros. Repare que não
apenas termos consecutivos mas sim todos eles. É natural acreditar que qualquer seqüência
convergente é de Cauchy e vice-versa. Vamos admitir, por hora, que seqüências convergentes
são de Cauchy (este fato será demonstrado a seguir). Façamos alguns comentários sobre a
recı́proca.
√
Considere uma seqüência (xn )n∈N de números racionais convergente para, por exemplo, 2
(existe tal seqüência?). Sendo convergente ela é de Cauchy. Como a definição de seqüência
de Cauchy não faz menção ao limite, mesmo se só conhecêssemos números racionais ainda
estarı́amos de acordo que (xn )n∈N é de Cauchy. Porém, neste caso, não serı́amos capazes de
mostrar a existência do limite. Ou seja, se considerássemos apenas números racionais, não
seria possı́vel mostrar que toda seqüência de Cauchy é convergente.
Já que seqüências de Cauchy são convergentes em R mas não em Q, isto deve estar
relacionado à completeza. De fato, alguns autores usam seqüências de Cauchy de números
racionais para construir R. A vantagem desta construção é que ela pode ser empregada para
“completar” outros conjuntos (ou melhor, espaços métricos) que não sejam corpos ordenados.
TEOREMA 4.18. Uma seqüência é convergente se, e somente se, ela é de Cauchy.
1
Augustin Louis Cauchy: ⋆ 21/08/1789, Paris, França - † 23/05/1857, Sceaux, França.
4.5. LIMITES INFINITOS. 53
Demonstração. Seja (xn )n∈N uma seqüência convergente para o limite x. Dado ε > 0,
existe N ∈ N tal que se n ≥ N, então |xn − x| < ε/2. Portanto, se m, n ≥ N temos
ε ε
|xn − xm | ≤ |xn − x| + |x − xm | < + = ε.
2 2
Concluı́mos que (xn )n∈N é uma seqüência de Cauchy.
Reciprocamente, suponhamos que (xn )n∈N é de Cauchy. Um argumento análogo ao da
demonstração do Teorema 4.14 mostra que (xn )n∈N é limitada (verifique). Pelo Teorema
de Bolzano-Weierstrass, (xn )n∈N tem subseqüência (xnk )k∈N convergente para o limite x.
Mostremos que xn → x. Seja ε > 0. Como (xn )n∈N é de Cauchy, existe N ∈ N tal que
ε
n, m ≥ N =⇒ |xn − xm | < . (4.1)
2
Como xnk → x, existe k ∈ N tal que nk ≥ N e |xnk − x| < ε/2. Daı́ e de (4.1) segue
que, se n ≥ N, então
ε ε
|xn − x| ≤ |xn − xnk | + |xnk − x| < + = ε.
2 2
DEFINIÇÃO 4.19. Seja (xn )n∈N uma seqüência. Dizemos que xn tende a mais infinito
quando n tende a mais infinito ou que mais infinito é limite da seqüência e escrevemos
xn → +∞ ou limn→+∞ xn = +∞ se,
∀M ∈ R, ∃N ∈ N tal que n ≥ N =⇒ xn > M.
DEFINIÇÃO 4.20. Seja (xn )n∈N uma seqüência. Dizemos que xn tende a menos infinito
quando n tende a mais infinito ou que menos infinito é limite da seqüência e escrevemos
xn → −∞ ou limn→+∞ xn = −∞ se,
∀M ∈ R, ∃N ∈ N tal que n ≥ N =⇒ xn < M.
OBSERVAÇÃO 4.21. Com estas convenções sobre uso dos termos “seqüência conver-
gente” e de “limite de seqüência” a Proposição 4.11 também é válida (obviamente com outra
demonstração) se substituirmos x por +∞ ou por −∞.
Como xn > M é equivalente a −xn < −M, temos que xn → +∞ se, e somente se,
−xn → −∞. Portanto toda afirmação sobre limite mais infinito tem uma análoga para limite
menos infinito.
PROPOSIÇÃO 4.22. Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N convergentes para x e y, respectivamente,
e c ∈ R. Temos:
i. xn + yn → x + y;
ii. xn · yn → x · y;
iii. c · xn → cx;
Demonstração. (i) Seja ε > 0. Graças às convergências de (xn )n∈N e (yn )n∈N , existem N ′
e N ′′ tais que, se n ≥ N ′ , então |xn − x| < ε/2, e se n ≥ N ′′ , então |yn − y| < ε/2. Seja
N = max{N ′ , N ′′ }. Assim, se n ≥ N, então n ≥ N ′ e n ≥ N ′′ e, daı́,
ε ε
|(xn + yn ) − (x + y)| = |(xn − x) + (yn − y)| ≤ |xn − x| + |yn − y| < + = ε.
2 2
Mostramos assim que xn + yn → x + y.
(ii) Seja ε > 0. Como (xn )n∈N é convergente, ela é limitada. Logo, existe C > 0 tal que
|xn | < C para todo n ∈ N. Seja N ∈ N tal que se n ≥ N, então |xn − x| < ε e |yn − y| < ε.
Desta forma, para n ≥ N, temos
(iv) Seja ε > 0 e N ′ ∈ N tal que, se n ≥ N ′ , então |yn − y| < ε. Temos ainda que
y 6= 0, conseqüentemente, existe N ′′ ∈ N tal que, |yn | > |y|/2, i.e., |yn |−1 < 2|y|−1, quando
n ≥ N ′′ . Tomando N = max{N ′ , N ′′ }, para todo n ≥ N, temos que
1
− 1 = |y − yn | < 2 ε.
yn y |yn | · |y| |y|2
PROPOSIÇÃO 4.24. Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N duas seqüências e c > 0. Suponhamos que
xn → +∞. Temos:
iii. c · xn → +∞;
iv. x−1
n → 0.
DEFINIÇÃO 4.25. Dizemos que x ∈ R é valor de aderência de (xn )n∈N se existe sub-
seqüência de (xn )n∈N convergente para x.
O Teorema de Bolzano-Weierstrass diz que toda seqüência limitada possui valor de aderência.
Observe que se (xn )n∈N é limitada superiormente, então o conjunto dos seus valores de
aderência também é limitado superiormente (veja Exercicio (4.c)). Analogamente, se (xn )n∈N
é limitada inferiormente, então o conjunto de seus valores de aderência também é.
DEFINIÇÃO 4.26. Seja A o conjunto dos valores de aderência de (xn )n∈N . O limite
superior de (xn )n∈N é definido por
+∞ se (xn )n∈N é ilimitada superiormente;
lim sup xn = sup A se (xn )n∈N é limitada superiormente e A 6= ∅;
n→+∞
−∞ se (xn )n∈N é limitada superiormente e A = ∅.
Pode parecer estranho tomar −∞ como definição de limite superior de uma seqüência
limitada superiormente e sem valor de aderência. A razão é que, nestas condições, a seqüência
tende a −∞ (veja Exercı́cio 8). Desta forma, o resultado do parágrafo anterior também é
válido para limites infinitos.
PROPOSIÇÃO 4.27. Existe subseqüência (xnk )k∈N de (xn )n∈N tal que
Em particular, se lim supn→+∞ ∈ R, então este é o maior valor de aderência de (xn )n∈N .
4.8. SÉRIES. 57
Neste caso, é imediato que (xn )n∈N tem subseqüência que tende a +∞.
Suponhamos, agora, que (xn )n∈N seja limitada superiormente e A = ∅. Portanto,
lim sup xn = −∞.
n→+∞
Se (xn )n∈N for limitada inferiormente, então (xn )n∈N será limitada e, pelo Teorema de
Bolzano-Weierstrass, teremos A 6= ∅. Logo, (xn )n∈N é ilimitada inferiormente e, portanto,
tem subseqüência tendendo a −∞.
Finalmente, suponhamos que (xn )n∈N seja limitada superiormente e A 6= ∅. Como já
observado antes, A é limitado superiormente e, portanto, seu supremo s é finito. Vamos
mostrar que s ∈ A. Aplicando sucessivamente o resultado do Exercı́cio 5 do Capı́tulo 3
obtemos:
∃a1 ∈ A tal que s ≥ a1 > s − 1;
∃a2 ∈ A tal que s ≥ a2 > s − 1/2;
∃a3 ∈ A tal que s ≥ a3 > s − 1/3; . . .
Como a1 é valor de aderência de (xn )n∈N e s + 1 > a1 > s − 1, existe n1 ∈ N tal que
s + 1 > xn1 > s − 1. Também temos a2 ∈ A, logo, existe n2 > n1 tal que s + 1/2 > xn2 >
s−1/2. Prosseguindo deste forma, construı́mos uma subseqüência (xnk )k∈N convergente para
s. Segue que s ∈ A.
4.8 Séries.
DEFINIÇÃO 4.28. Considere uma seqüência (xn )n∈N . Para cada n ∈ N definimos
n
X
Sn = xi = x1 + · · · + xn .
i=1
P
A seqüência (Sn )n∈N é dita das somas parciais da série xn e xn é o n-ésimo termo ou
termo geral da série. Escrevemos
+∞
X
xn = lim Sn
n→+∞
n=1
P
quando o limite acima existe e, neste caso, ele é dito limite da série. Dizemos que xn
é convergente ou divergente
P se (S )
n n∈N é convergente ou divergente, respectivamente.
P
Finalmente, dizemos que xn é absolutamente convergente se a série |xn | é conver-
gente.
58 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES
Sn = 1 + r + r 2 + · · · + r n−2 + r n−1 .
P
Se r = 1, então é imediato que Sn = n. Segue que (Sn )n∈N diverge e, portanto, xn
diverge. Suponhamos r 6= 1. Multiplicando por Sn por r obtemos
rSn = r + r 2 + r 3 + · · · + r n−1 + r n
= 1 + r + r 2 + r 3 + · · · + r n−1 + r n − 1
= Sn + r n − 1.
P
Portanto, Sn = (r n − 1)/(r − 1). Assim, xn converge se, e somente se, |r| < 1 e, neste
caso,
+∞
X 1
xn = .
n=1
1−r
P P
PROPOSIÇÃO 4.30. Sejam xn e yn duas séries convergentes e c ∈ R. Temos que
P P P
i. (xn + yn ) é convergente para xn + yn ;
P P
ii. (c · xn ) é convergente para c · xn .
Demonstração. A demonstração
P Pé trivial: basta aplicar a Proposição 4.22 para as seqüências
das somas parciais de xn e de yn .
Observamos que, em geral,
+∞
X +∞
X +∞
X
(xn · yn ) 6= xn · yn .
n=1 n=1 n=1
TEOREMA 4.31.
P
i. xn converge se, e somente se,
n
X
∀ε > 0, ∃N ∈ N tal que n ≥ m ≥ N =⇒ xi < ε.
i=m
P
ii. Se xn converge, então xn → 0.
4.8. SÉRIES. 59
Demonstração. (i) O critério dado diz simplesmente que a seqüência das somas parciais é
de Cauchy. O resultado segue do Teorema 4.18.
(ii) Segue de (i), tomando m = n.
(iii) Observamos que para todo m, n ∈ N temos
m m
m
X X X
xi ≤ |xi | = |x |
i
i=n i=n i=n
P P
Portanto, por (i), a convergência de |xn | implica a de xn .
O item (iii) do teorema anterior está intimamente ligado ao fato de R ser completo.
Devemos ressaltar ainda que a sua recı́proca não é verdadeira, ou seja, existem séries que são
convergentes mas não absolutamente convergentes. Veremos um exemplo posteriormente.
Vamos tratar agora de alguns critérios de convergência para séries de termos positivos.
Claramente, todos os P critérios aqui expostos podem ser adaptadosPpara séries de termos
negativos. De fato, se xn é uma série de termos negativos, então (−xn ) é uma série de
termos positivos e, além disto, a primeira converge se, e somente se, a segunda converge.
Eventualmente,
P podemos usar também critérios sobre séries de termos positivos para uma
série xn que
P tenha termos de sinais variáveis. Ora, se ao aplicarmos algum destes critérios
para a série |xn | concluirmos que ela é convergente,
P então, como toda série absolutamente
convergente é convergente, concluiremos que P xn converge. Por outro lado, se o critério
nada disser, ou mesmo se ele nos informar
P que |xn | é divergente, em geral, nada poderemos
afirmar sobre a convergência da série xn .
Observamos também o seguinte fato, já mencionado no caso de seqüências.
P Os primeiros
termos de uma série nada influem na sua natureza. De fato, a série xn converge se, e
60 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES
P P
somente se, a série xn+2006 converge.
P De maneira geral, fixado p ∈ N a série xn é
convergente se, e somente se, a série xn+p é convergente. Desta forma, todos os critérios
que determinam a natureza de uma série através de alguma propriedade verificada por todos
os seus termos continuam válidos se a tal propriedade é verificada à partir de algum termo
(por exemplo, 2006). Por outro lado, não podemos desprezar nenhum termo de uma série
convergente quando estamos interessados em determinar o valor do seu limite.
PROPOSIÇÃO 4.33. Uma série de termos positivos é convergente se, e somente se, a
seqüência de suas somas parciais é limitada superiormente.
P
Demonstração. Por definição, xn é convergente se, e somente se, a seqüência de suas
somas parciais (Sn )n∈N é convergente. Como xn ≥ 0, temos imediatamente que (Sn )n∈N é
crescente. Logo, (Sn )n∈N é convergente se, e somente se, ela é limitada superiormente (ver
proposições 4.14 e 4.15)
TEOREMA 4.34. (Critério da Comparação) Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N tais que 0 ≤ xn ≤
yn para todo n ∈ N.
P P
i. Se yn converge, então xn converge.
P P
ii. Se xn diverge, então yn diverge.
P P
Demonstração. Sejam (Sn )n∈N e (Tn )n∈N as seqüências de somas parciais de xn e yn ,
respectivamente. De xn ≤ yn segue imediatamente que Sn ≤ Tn para todo n ∈ N. Assim,
se (Sn )n∈N é ilimitada superiormente, então (Tn )n∈N também é. Por outro lado, se (Tn )n∈N é
limitada superiormente, então (Sn )n∈N também é. Concluı́mos graças à Proposição 4.33.
P
EXEMPLO 4.35. Vamos estudar a natureza da série 1/np segundo os valores de p. É
claro que se p ≤ 0, então ela diverge pois neste caso limn→+∞ xn 6= 0.
Suponhamos 0 ≤ p ≤ 1. Temos 1/n ≤ 1/np para todo n ∈ N. Portanto, por comparação
com a Série Harmônica, concluı́mos que a série diverge.
Finalmente, consideremos o caso p > 1. Mostraremos que a série converge. Seja (Sn )n∈N
a seqüência das somas parciais. Para todo n ∈ N, temos
1 1 1
Sn = 1 + p
+ p +···+ p
2 3 n
1 1 1 1
≤ 1+ p + p +···+ p +···+ n
2 3 n (2 − 1)p
1 1 1 1 1 1 1 1
=1+ + + + + + +···+ +···+ n
2p 3p 4p 5p 6p 7p (2n−1 )p (2 − 1)p
n
2 4 2n−1 X
≤ 1 + p + p + · · · + n−1 p = (21−p )(i−1) .
2 4 (2 ) i=1
4.8. SÉRIES. 61
TEOREMA 4.36. (Teste da Razão, ou de d’Alembert1 ) Seja (xn )n∈N uma seqüência
de números estritamente positivos.
P
i. Se limn→+∞ xn+1 /xn < 1, então xn é convergente.
P
ii. Se limn→+∞ xn+1 /xn > 1, então xn é divergente.
Demonstração. (i) Tomemos r ∈ R tal que limn→+∞ xn+1 /xn < r < 1. O resultado do
Exercı́cio (4.a) garante que existe N ∈ N tal que xn+1 /xn < r para todo n ≥ N. Temos
então
xN +1 < rxN ;
xN +2 < rxN +1 < r 2 xN ;
xN +3 < rxN +2 < r 3 xN ;
..
.
De maneira geral, xn < r n−N xN , para todo n ≥ N.PTomando yn = r n−N xN (para todo
n ∈ N) temos que xn ≤ yn para todo n ≥ N. Como yn é uma Série Geométrica de razão
r ∈ (0, 1), ela é convergente. O resultado segue do Critério de Comparação.
(ii) Usando o resultado do Exercı́cio (4.b) concluı́mos que existe N ∈ N tal que xn+1 /xn ≥
1 para todo n ≥ N. Portanto, xn+1 ≥ xn para todo n ≥ N. Segue que a seqüência dos
termos gerais da série é crescente a partir do N-ésimo termo e, portanto, não converge para
zero. Logo, a série é divergente.
P
EXEMPLO 4.37. A série 1/n! é convergente pois
1/(n + 1)! n! 1
lim = lim = lim = 0.
n→+∞ 1/n! n→+∞ (n + 1)! n→+∞ n+1
P n
Analogamente, dado x ∈ R, mostra-se que x /n! é (absolutamente) convergente e, em
particular, xn /n! → 0. Esta série será revista na Seção 9.8.
Quando limn→+∞ xn+1 /xn = 1, o Teste da Razão nada permite concluir (nem con-
vergência nem divergência).
Há outras versões do Teste da Razão. A aqui apresentada não é a mais geral delas.
Por exemplo, em (i), podemos substituir o sı́mbolo de limite pelo sı́mbolo de limite superior
que a afirmação continua válida. Analogamente, a conclusão de (ii) permanece válida ao
substituirmos o sı́mbolo de limite pelo de limite inferior.
1
Jean Le Rond d’Alembert: ⋆ 17/11/1717, Paris, França - † 29/10/1783, Paris, França.
62 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES
EXEMPLO 4.38. P VejamosP exemplos para os quais o Teste da Razão não é conclusivo.
Considere as séries 1/n e 1/n2 . Já vimos que a primeira é divergente enquanto que a
segunda é convergente. Porém, para ambas temos que limn→+∞ xn+1 /xn = 1. De fato,
1/(n + 1) n 1/(n + 1)2 n2
lim = lim =1 e lim = lim = 1.
n→+∞ 1/n n→+∞ n + 1 n→+∞ 1/n2 n→+∞ (n + 1)2
TEOREMA 4.39. (Teste da Raiz, ou de Cauchy) Seja (xn )n∈N uma seqüência de
números positivos.
√ P
i. Se limn→+∞ n
xn < 1, então xn é convergente.
√ P
ii. Se limn→+∞ n
xn > 1, então xn é divergente.
√
Demonstração. (i) Seja r ∈ R tal que limn→+∞ n xn < r < 1. Do resultado do Exercı́cio
√ n
(4.a) obtemos que existe N ∈ N tal que n xn < r, ou seja, P nxn < r para todo n ≥ N. O
resultado segue por comparação com a Série Geométrica r .
(ii) Análogo ao item anterior.
√
Quando limn→+∞ n xn = 1, o Teste da Raiz nada permite concluir (nem convergência
nem divergência).
Também há outras versões do Teste da Raiz. A apresentada acima não é a mais geral de
todas. Por exemplo, (i) se generaliza ao substituirmos o sı́mbolo de limite pelo sı́mbolo de
limite superior. Analogamente, em (ii), podemos substituirmos o sı́mbolo de limite pelo de
limite inferior.
O Teste da Raiz é mais eficiente que o da Razão. Mais precisamente, em todos os casos
nos quais o Teste da Razão permite concluir (seja por convergência ou por divergência) o
Teste da Raiz também será concludente. Entretanto, o Teste da Razão é, em geral, mais fácil
de ser aplicado.
P
Demonstração. Suponhamos por absurdo que 1/pn converge. Portanto existe N ∈ N
tal que
+∞
X 1 1
< .
n=N n
p 2
Vamos mostrar que #A < M/2 e #B ≤ M/2 chegando assim a uma contradição.
O número de múltiplos do primo p que são menores que M é ⌊M/p⌋. Segue que
+∞ +∞
X M X M M
#A ≤ ≤ < .
n=N
pn n=N
p n 2
Também é fácil ver que todo m ∈ B pode ser escrito como m = a· b2 sendo a um produto
de primos distintos, todos menores que pN , e b2 um produto de quadrados de primos, também
menores que pN . Existem exatamente
√ 2N −1 números nas condições de a. Temos ainda que
2
b ≤ m ≤ M e portanto b ≤ M = 2N . Segue que existem, no máximo, 2N números nas
condições de b. Portanto #B ≤ 2N −1 · 2N = 22N −1 = M/2.
4.10 Exercı́cios.
1 - Seja (nk )k∈N ⊂ N uma seqüência crescente. Mostre que
a) se (nk )k∈N é limitada superiormente, então ela é constante a partir de um certo termo;
b) se (nk )k∈N é estritamente crescente, então nk ≥ k para todo k ∈ N. Conclua que
(nk )k∈N não é limitada superiormente.
5 - Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N seqüências convergentes para x e y, respectivamente. Su-
ponhamos que xn ≤ yn para todo n ∈ N. Mostre que
a) x ≤ y;
b) (Teorema do Sanduı́che) se (zn )n∈N é tal que xn ≤ zn ≤ yn e se x = y, então
zn → x.
6 - Sejam (nk )k∈N , (mk )k∈N ⊂ N estritamente crescentes e tais que nk ; k ∈ N ∪
mk ; k ∈ N = N. Mostre que (xn )n∈N converge para x se, e somente se, as subseqüências
(xnk )k∈N e (xmk )k∈N convergem para x.
7 - Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N convergentes para x e y, respectivamente. Mostre que
a) xn − yn → x − y;
b) se y 6= 0, então xn /yn → x/y;
c) xm m
n → x qualquer que seja m ∈ N.
8 - Seja (xn )n∈N uma seqüência limitada superiormente e que não tem valor de aderência.
Mostre que xn → −∞.
Mostre que
a) (xn )n∈N é crescente;
b) xn ≤ 2 ∀n ∈ N;
c) (xn )n∈N é convergente.
Determine lim xn .
n→+∞
e) xn+2 ≤ xn+1 ∀n ∈ N;
f ) (xn )n∈N converge e o seu limite x verifica x ≥ 0 e xm = a.
Sugestão: Em (10.b) use (10.a) e considere separadamente os casos x < y, x > y e
x = y. Use ainda a seguinte igualdade:
y m − xm
= y m−1 + y m−2 x + · · · + yxm−2 + xm−1 .
y−x
Em (10.c) proceda por indução. Em (10.d) use (10.b) e em (10.e) use (10.d). Finalmente
use a Proposição 4.15 em (10.f).
16 - Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N duas seqüências positivas tais que
xn
lim = c ∈ R \ {0}.
n→+∞ yn
66 CAPÍTULO 4. SEQÜÊNCIAS E SÉRIES
P P
Mostre que xn converge se, e somente se, yn converge.
18 - Use o Critério de Leibniz para dar um exemplo de uma série que é convergente mas
não é absolutamente convergente.
1
Gottfried Wilhelm von Leibniz: ⋆ 01/07/1646, Leipzig, Alemanha - † 14/11/1716, Hannover, Alemanha.
Capı́tulo 5
Topologia de R
5.1 Introdução.
A seguinte frase é facilmente aceita pela nossa intuição: “se x é um número próximo de 2,
então x2 é um número próximo de 4”. Outra, “x2 estará cada vez mais próximo de 4 quanto
mais próximo x estiver de 2”. Por esta razão dizemos que a função f (x) = x2 (para todo
x ∈ R) é contı́nua no ponto 2. Muitas das funções que encontramos na Análise são funções
contı́nuas. Queremos precisar o conceito de continuidade. Observe que para isto é necessário
estabelecer o que queremos dizer com “x é um número próximo de 2”.
Inicialmente, observe que a noção de “estar próximo” usada cotidianamente é uma noção
subjetiva. Por exemplo, suponhamos que um aluno de Engenharia de Produção da UFRJ,
morador de Niterói, responda a um colega ao ser perguntado onde é o COPPEAD. Possivel-
mente ele responderá “É longe. Fica depois da reitoria”. Por outro lado, se o mesmo aluno
viaja para Ribeirão Preto e lá o perguntarem em qual cidade ele mora, então, temendo que os
ribeirenses não conheçam Niterói, ele resolve precisar sua resposta dizendo que “fica perto da
cidade do Rio de Janeiro”. Certamente o aluno sabe que a distância entre o bloco F do CT e
o COPPEAD é menor que os 14 km da ponte Presidente Costa e Silva (a popular Rio-Niterói)
que separam as duas cidades.
Em Matemática, como em qualquer outra ciência, as idéias intuitivas e subjetivas são
muito bem vindas para ajudar a tornar conceitos abstratos em objetos mais “palpáveis”.
Tais idéias facilitam a compreensão e o desenvolvimento do conhecimento. Entretanto, em
definições e demonstrações, devemos lidar apenas com conceitos e fatos rigorosos e objetivos.
Idéias que dependam de interpretação do leitor, de acordo com sua opinião, não fazem parte
de nenhuma teoria matemática. É claro que, mesmo em Matemática, opiniões e divergências
de opiniões existem. Porém, uma demonstração (ou contra-exemplo) acaba com qualquer
polêmica sobre a veracidade de uma afirmação.
Para evitar esta subjetividade no conceito de proximidade, podemos refrasear o exemplo
dizendo que “a medida que x se aproxima de 2, x2 se aproxima de 4”, ou “se x tende a 2,
67
68 CAPÍTULO 5. TOPOLOGIA DE R
então x2 tende a 4”. O verbo tender nos faz pensar imediatamente no conceito de limite que
já foi explorado no capı́tulo anterior. Resumindo: os conceitos de proximidade e limite estão
intimamente relacionados.
A Topologia é o ramo da Matemática que trata destas questões de limite (e/ou proximi-
dade). A Topologia da Reta, isto é, a Topologia de R, é bem simples, para não dizer pobre.
Nela, os abstratos conceitos da Topologia Geral ganham formas mais concretas e compre-
ensı́veis. Poderı́amos usar estas formas simplificadas em nossa exposição porém, preferimos
argumentos mais gerais para facilitar a (futura) passagem do leitor ao estudo da Topologia em
contextos mais gerais. Mesmo que o leitor não venha a se especializar em Topologia, para se
aprofundar em Análise ou Geometria serão necessários outros conhecimentos que ultrapassam
os da Topologia da Reta.
OBSERVAÇÃO 5.2. É fácil ver que na definição anterior podemos substituir, sem perda
de generalidade, o intervalo aberto arbitrário por um intervalo da forma (x − ε, x + ε) com
ε > 0. Ou, em outros termos, x ∈ A◦ se, e somente se,
DEFINIÇÃO 5.3. Um conjunto A é aberto se todos os seus pontos são interiores, ou seja,
se A ⊂ A◦ (neste caso, A◦ = A).
EXEMPLO 5.4. O conjunto vazio é aberto! De fato, negar esta afirmação significa admitir
que ∅◦ ( ∅ e, em particular, admitir que existe x ∈ ∅.
EXEMPLO 5.5. O conjunto [0, 1] não é aberto pois, como já vimos, 1 ∈ / [0, 1]◦ . Da
/ [0, 1]◦ . Por outro lado, qualquer x ∈ (0, 1) é interior de [0, 1] ou seja
mesma maneira, 0 ∈
◦
[0, 1] = (0, 1).
As propriedades mais importantes dos conjuntos abertos são dadas no teorema abaixo.
É fácil ver que x é ponto de aderência de F se, e somente se, qualquer intervalo aberto
da forma (x − ε, x + ε), onde ε > 0, tem pontos de F .
Temos sempre F ⊂ F . Porém a inclusão inversa não é necessariamente verdadeira.
Tomemos, por exemplo, F = [0, 1). Temos 1 ∈ F pois a seqüência xn = 1 − 1/n é
convergente para 1 e além disto xn ∈ F para todo n ∈ N.
70 CAPÍTULO 5. TOPOLOGIA DE R
Seja (xn )n∈N uma seqüência convergente para x. Sabemos que se xn ≥ a para todo
n ∈ N, então x ≥ a. Do mesmo modo, se xn ≤ b para todo n ∈ N, então x ≤ b. Concluı́-
se que uma seqüência convergente de pontos em um intervalo fechado tem o seu limite no
intervalo. Ou seja, se F é um intervalo fechado e não vazio, então F = F .
EXEMPLO 5.9. O conjunto vazio é fechado! De fato, negar esta afirmação significa admitir
que ∅ ( ∅ e, em particular, admitir que existe (xn )n∈N ⊂ ∅.
EXEMPLO 5.10. O conjunto [0, 1) não é fechado pois, como já vimos, 1 ∈ (0, 1). Da
mesma maneira 0 ∈ (0, 1). Por outro lado, se (xn )n∈N ⊂ (0, 1) é convergente para x então
x ∈ [0, 1]. Segue que (0, 1) = [0, 1].
O conjunto vazio (e também R) são exemplos de conjuntos que são abertos e fechados
simultaneamente. Isto nos mostra, que ao contrário do que podem sugerir as palavras “aberto”
e “fechado”, estes dois conceitos não são excludentes. Porém, existe uma relação estreita
entre conjuntos abertos e conjuntos fechados.
PROPOSIÇÃO 5.11. Um conjunto é aberto se, e somente se, seu complementar é fechado.
A idéia desta definição é que se x é ponto de acumulação de F então x pode ser “apro-
ximado” por elementos de F , diferentes de x.
Segue imediatamente da definição que todo ponto de acumulação é também ponto de
aderência. Porém, a recı́proca não é verdadeira. Por isto, consideramos também a seguinte
definição.
Vejamos uma caracterização bem simples e de uso prático para conjuntos compactos.
TEOREMA 5.16. (Heine1 -Borel2 ) Um conjunto é compacto se, e somente se, ele é fe-
chado e limitado.
1
Heinrich Eduard Heine: ⋆ 16/03/1821, Berlim, Alemanha - dagger 21/10/1881, Halle, Alemanha.
2
Félix Edouard Justin Emile Borel: ⋆ 07/01/1871, Saint Affrique, França - † 03/02/1956, Paris, França.
72 CAPÍTULO 5. TOPOLOGIA DE R
DEFINIÇÃO 5.17. Uma cobertura aberta para K é uma coleção C de conjuntos abertos
tais que [
K⊂ A
A∈C
TEOREMA 5.18. Um conjunto K é compacto se, e somente se, toda cobertura aberta C
para K tem subcobertura finita, ou seja, existe C ′ ⊂ C finita que é cobertura para K.
TEOREMA 5.19. (Borel-Lebesgue1) Se C é um cobertura aberta para [a, b], então ela
tem subcobertura finita.
Demonstração. Procedemos por absurdo, supondo que C não tenha subcobertura finita.
Dividindo o intervalo [a, b] no seu ponto médio obtemos dois intervalos de comprimento
(b − a)/2. Para pelo menos um destes intervalos, que denotaremos [a1 , b1 ], não existe sub-
cobertura de C finita. De fato, se existissem C ′ , C ′′ ⊂ C finitas que fossem coberturas para o
1
Henri Léon Lebesgue: ⋆ 28/05/1875, Beauvais, France - † 26/07/1941, Paris, França.
5.5. CONJUNTOS DENSOS. 73
Demonstração. (Do Teorema 5.18) Suponhamos que K seja compacto (portanto limitado
e fechado). Seja C uma cobertura aberta de K. Como K é limitado podemos tomar a, b ∈ R
tais que K ⊂ [a, b]. Como K é fechado, o conjunto K ∁ é aberto. Temos claramente que
C ∪ {K ∁} é uma coberturaSaberta de [a, b]. Pelo Teorema de Borel-Lebesgue,
S existe C ′ ⊂ C
finita tal que K ⊂ [a, b] ⊂ A∈C ′ A ∪ {K ∁}. Daı́, concluı́mos que K ⊂ A∈C ′ .
Suponhamos agora que toda cobertura aberta de K possua subcobertura finita. Para
todo x ∈ K definimos Ax = (x − 1, x + 1). A coleção {Ax ; x ∈ K} é uma cobertura aberta
de K. Por hipótese, existem x1 < · · · < xn ∈ K tais que K ⊂ Ax1 ∪ · · · ∪ Axn . Logo,
K ⊂ (x1 − 1, xn + 1) e, portanto, K é limitado.
Vamos mostrar que K ∁ é aberto para concluir que K é fechado e, portanto, compacto
(pois já sabemos que ele é limitado). Seja y ∈ K ∁. Para todo x ∈ K definimos
|x − y| |x − y|
Ax = x − ,x+ .
2 2
Temos que (Ax )x∈K é uma cobertura aberta de K tal que y ∈ / Ax qualquer que seja x ∈ K.
Por hipótese, existem x1 , . . . , xn ∈ K tais que K ⊂ Ax1 ∪ · · · ∪ Axn . Tomando
1
ε= min{|x1 − y|, . . . , |xn − y|},
2
é fácil ver que (y − ε, y + ε) ⊂ K ∁. Mostramos que y ∈ (K ∁)◦ e, portanto, K ∁ é aberto.
m−1 m m m−1 1
<a<b< =⇒ b−a< − =⇒ b−a< .
n n n n n
Contradizendo n > 1/(b − a).
5.6 Exercı́cios.
1 - Seja A = [0, 1) ∪ (1, 2] ∪ {3}. Determine:
◦
a) A; b) A◦ ; c) A∁; d) A∁ .
iv. x ∈ X.
6 - Seja X ⊂ R. Mostre que X é o menor fechado que contém X, ou seja, mostre que
a) X é fechado;
b) qualquer que seja o fechado F tal que X ⊂ F , temos X ⊂ F .
8 - Mostre os ı́tens (ii) e (iii) da Observação 5.12 a partir das definições de conjunto
fechado e ponto de aderência.
9 - Dê um exemplo de famı́lia de abertos cuja interseção não é aberta. Dê um exemplo
de famı́lia de fechados cuja união não é fechada.
Limite e continuidade
77
78 CAPÍTULO 6. LIMITE E CONTINUIDADE
É fácil ver que 0 é ponto de acumulação de R \ {0}. Suponhamos que limx→0 f (x) = l.
Tomando ε = 1 na definição de limite, obtemos a existência de δ > 0 tal que |f (x) − l| < 1
quando 0 < |x| < δ. Portanto,
Absurdo!
EXEMPLO 6.3. Seja f : (0, 1] → R dada por f (x) = 1 para todo x ∈ (0, 1]. Observe que
0 não está no domı́nio de f mas é ponto de acumulação deste. Logo, faz sentido perguntar
se existe o limite de f (x) quando x tende a 0 e, no caso afirmativo, determinar o valor
do limite. Mostraremos que ele existe e vale 1. Seja ε > 0. Para todo x ∈ (0, 1] temos
|f (x) − 1| = |1 − 1| = 0 < ε. Portanto, tomando qualquer δ > 0, temos
QED1 .
Demonstração. Suponhamos que limx→x0 f (x) = l e mostremos que se (xn )n∈N ⊂ A\ {x0 }
e xn → x0 , então f (xn ) → l. Seja ε > 0. Por hipótese, existe δ > 0 tal que
Ora, xn → x0 , logo, existe N ∈ N tal que se n ≥ N, então |xn − x0 | < δ. Assim, para
n ≥ N, ao tomar x = xn em (6.1) obtemos |f (xn ) − l| < ε. Concluı́mos que f (xn ) → l.
Reciprocamente, suponhamos que seja falso que limx→x0 f (x) = l. Isto significa que
existe ε > 0 tal que
Constrói-se desta maneira uma seqüência (xn )n∈N ⊂ A \ {x0 } convergente para x0 sem que
f (xn ) → l. Absurdo!
Vejamos como esta proposição facilita o cálculo de limites. Retomemos o Exemplo 6.5,
mostrando o mesmo resultado sem manipular ε’s e δ’s.
Aplicando as proposições 6.6 e 4.22 bem como o resultado do Exercı́cio 7 da Seção 4.10
demonstra-se facilmente a próxima proposição.
i. limx→x0 f (x) + g(x) = l + m;
ii. limx→x0 cf (x) = cl;
iii. limx→x0 f (x) − g(x) = l − m;
iv. limx→x0 f (x)g(x) = lm;
Já vimos um tipo de limite (a saber, limx→x0 f (x) = l). Nesta seção, veremos os outros
quatorze. Todos eles estão presentes na Tabela 6.1 (onde x0 e l denotam números reais e f
é uma função real de domı́nio A ⊂ R).
O limite que aparece na primeira linha e primeira coluna já foi definido. Os outros são
definidos com pequenas adaptações. O importante é entender o que significam limites iguais
a l, +∞ ou −∞ (cada um destes corresponde a um coluna da tabela), bem como o que
representam os sı́mbolos x → x0 , x → x+ −
0 , x → x0 , x → +∞ e x → +∞ (que correspondem
às linhas). Façamos alguns comentários a este respeito.
lim f (x) = l Como já vimos, isto significa que, por menor que seja ε > 0, podemos
concluir que |f (x) − l| < ε desde que x que verifique certa condição.
lim f (x) = +∞ Significa que, por maior que seja M > 0, podemos concluir que f (x) > M
desde que x que verifique certa condição.
lim f (x) = −∞ Significa que, por maior que seja M > 0, podemos concluir que f (x) <
−M desde que x que verifique certa condição.
x → x0 Como já vimos, isto significa que a condição sobre x é 0 < |x − x0 | < δ
para δ suficientemente pequeno. É necessário que x0 ∈ A \ {x0 }.
82 CAPÍTULO 6. LIMITE E CONTINUIDADE
x → x+
0 Lê-se x tende a x0 pela direita. Significa que que a condição sobre x
é 0 < x − x0 < δ para δ suficientemente pequeno. É necessário que
x0 ∈ A ∩ (x0 , +∞).
x → x−
0 Lê-se x tende a x0 pela esquerda. Significa que que a condição sobre x
é 0 < x0 − x < δ para δ suficientemente pequeno. É necessário que
x0 ∈ A ∩ (−∞, x0 ).
x → +∞ Lê-se x tende a mais infinito. Significa que que a condição sobre x é
x > N para N suficientemente grande. É necessário que A seja ilimitado
superiormente.
x → −∞ Lê-se x tende a menos infinito. Significa que que a condição sobre x é
x < −N para N suficientemente grande. É necessário que A seja ilimitado
inferiormente.
Para cada um dos quinze tipos de limite existem versões das proposições 6.6 e 6.9. A
Proposição 6.8 tem uma versão quase idêntica para limites da primeira coluna da Tabela 6.1.
Entretanto, para os outros tipos devemos tomar cuidado pois +∞ e −∞ não são números
reais, e por isto, não podem ser operados como se fossem: (+∞) + (+∞) = 2 · (+∞), ou
ainda, (+∞) + (−∞) = 0. Isto não faz sentido! Uma comparação entre as proposições 4.22
e 4.24 pode ajudar ao leitor a entender estas diferenças.
EXEMPLO 6.10. Seja A = [0, 1) ∪ {2}. Temos que 2 ∈ A mas 2 ∈ / A \ {2} = [0, 1].
Dada f : A → R, f (2) tem sentido ao contrário de limx→2 f (x). Por outro lado, 1 ∈ / Ae
1 ∈ A \ {1} = [0, 1]. Logo, não existe f (1), porém, pode existir limx→1 f (x).
6.3. FUNÇÕES CONTÍNUAS. 83
Alguns autores costumam denotar por C 0 (A), em vez de C(A), ao conjunto das funções
contı́nuas em A.
Observe que a definição de continuidade tem (como esperávamos) uma relação muito
grande com a definição de limite. Por esta razão, podemos facilmente adaptar os argumentos
dos exemplos 6.3, 6.4 e 6.5 para mostrar que são contı́nuas as funções f, g, h : A ⊂ R → R
dadas por f (x) = c, g(x) = x e h(x) = x2 para todo x ∈ A.
EXEMPLO 6.12. Este exemplo pretende acabar com o mito, geralmente apresentado nos
cursos de Cálculo I, que diz que funções contı́nuas são aquelas cujos gráficos são traçados
sem tirar o lápis do papel. Considere a função g : N → R dada por g(n) = n para todo
n ∈ N. Faça um esboço do gráfico de g e convença-se que não é possı́vel desenhá-lo sem
tirar o lápis do papel. Ora, a função g é a mesma do parágrafo anterior (com A = N) que,
como já sabemos, é contı́nua! Você está duvidando? Vejamos com mais detalhes. Sejam
ε > 0 e n ∈ N. Se x ∈ N e |x − n| < 1/2, então x = n e, portanto, |g(x) − g(n)| = 0 < ε.
Concluı́mos que g é contı́nua em n e, como n é arbitrário, que g é contı́nua!
Observe que tomamos δ = 1/2 independente de ε e de n. Mais que isto, nem a definição
de g não foi necessária na demonstração. Moral da história: funções definidas em N não
apenas são contı́nuas como são “muito contı́nuas”!
Passemos imediatamente às proposições que nos poupam, em muitos casos, o trabalho
com ε’s e δ’s. Todas elas têm demonstrações análogas àquelas encontradas na Seção 6.1.
Por esta razão omitiremos suas provas.
A proposição anterior, essencialmente, nos diz que funções contı́nuas são aquelas que
comutam com o sı́mbolo de limite, ou seja, f é contı́nua se, e somente se,
lim f (xn ) = f lim xn ,
n→+∞ n→+∞
desde que a seqüência (xn )n∈N esteja contida no domı́nio de f e seja convergente para um
ponto deste conjunto.
84 CAPÍTULO 6. LIMITE E CONTINUIDADE
Dado x0 ∈ R arbitrário, tomando seqüências (xn )n∈N ⊂ Q e (yn )n∈N ⊂ Q∁ convergentes para
x0 , obtemos que f (xn ) → 1 e f (yn ) → 0. Concluı́mos que f é descontı́nua em qualquer
ponto.
Demonstração. Seja (xn )n∈N ⊂ A convergente para x0 . Como f é contı́nua temos que
f (xn ) → f (x0 ) = y0 , e como g é contı́nua em y0 temos que g(f (xn )) → g(y0) = g f (x0 ) .
Segue que g ◦ f é contı́nua em x0 .
i. J = f (I) é um intervalo;
ii. Se f é injetiva, então f é monótona;
iii. Se f é injetiva, então a função f −1 : J → I é contı́nua.
EXEMPLO 6.24. Já vimos que f : R → R, dada por f (x) = x2 para todo x ∈ R, é
contı́nua. Mostremos que ela não é uniformemente contı́nua. Tomemos ε = 1. Para todo
δ > 0, tomando x = 1/δ − δ/4 e y = x + δ/2, temos que |x − y| < δ porém
|f (x) − f (y)| = |x2 − y 2| = δ|x − δ/4| = 1 = ε.
Isto mostra que f não é uniformemente contı́nua.
6.6. ⋆ PONTOS FIXOS PARA FUNÇÕES CONTÍNUAS. 87
O leitor já deve ter percebido que em Matemática é importante resolver equações, ou pelo
menos, mostrar a existência de soluções. Por exemplo, o Exercı́cio 10 do Capı́tulo 4 tratava
de mostrar que a equação (em x)
xm = a (6.5)
tem única solução positiva se m ∈ N e a ≥ 0. De fato, o que se demonstra é que a função
F : [0, +∞) → [0, +∞) dada por
xm − a
F (x) = x −
mxm−1
tem ponto fixo e que este é a solução procurada para a equação (6.5). Como neste exem-
plo, freqüentemente é conveniente transformar um problema de resolver uma equação num
problema de encontrar um ponto fixo para alguma função. Por esta razão, teoremas sobre
existência ou unicidade de pontos fixos podem ser interessantes.
O próximo teorema é uma conseqüência simples do Teorema do Valor Intermediário. Ele
se generaliza para dimensões maiores e, de fato, são estas generalizações que têm importância.
Mas não custa nada demonstrá-lo aqui.
TEOREMA 6.27. (Do Ponto Fixo de Brouwer1 ) Se f : [0, 1] → [0, 1] é contı́nua, então
f tem ponto fixo.
1
Luitzen Egbertus Jan Brouwer: ⋆ 27/02/1881, Rotterdam, Holanda - † 02/12/1966, Blaricum, Holanda.
88 CAPÍTULO 6. LIMITE E CONTINUIDADE
Demonstração. Seja g : [0, 1] → [0, 1] dada por g(x) = f (x) − x para todo x ∈ [0, 1].
Observamos que x é ponto fixo de f se, e somente se, x é raiz de g. Vamos então mostrar
que g tem raiz.
Ora, g(0) = f (0) − 0 ≥ 0 e g(1) = f (1) − 1 ≤ 0. Se g(0) = 0 ou g(1) = 0, então não
há nada mais a ser demonstrado. Suponhamos agora que g(0) > 0 e g(1) < 0. Neste caso,
como g é contı́nua, o Teorema do Valor Intermediário garante a existência de uma raiz de g
no intervalo (0, 1).
Vejamos outro teorema de ponto fixo que é útil mesmo nesta sua versão mais simples.
Como preliminar, definimos contração.
É fácil ver que se f é uma contração, então f é uniformemente contı́nua (veja Exercı́cio
6).
Demonstração. Vamos mostrar que a seqüência (xn )n∈N é de Cauchy. Seja ε > 0.
Por definição de contração, existe α ∈ (0, 1) tal que
|f (x) − f (y)| ≤ α|x − y| ∀x, y ∈ A.
Como α ∈ (0, 1), existe N ∈ N tal que
|x1 − x0 |αn
n≥N =⇒ < ε.
1−α
Concluı́mos que a seqüência (xn )n∈N é de Cauchy e, portanto, convergente para algum
a ∈ R. Como X é fechado obtemos que a ∈ X. Tomando o limite quando n → +∞ em
(6.6), da continuidade de f segue que a = f (a), ou seja, que a é ponto fixo de f .
Mostremos agora a unicidade. Suponhamos por absurdo, que existe b ∈ X ponto fixo de
f diferente de a. Temos
Absurdo.
O Teorema do Ponto fixo de Banach também é conhecido pelo nome de Método das
Aproximações Sucessivas de Picard1 ou Lema da Contração.
6.7 Exercı́cios.
1 - Para f : A → R, dê as definições rigorosas de limx→+∞ f (x) = l e limx→−∞ f (x) =
+∞.
3 - Nos exercı́cios abaixo, ⌊x⌋ denota a parte inteira de x ∈ R (veja a Definição 4.40).
Determine:
a) limx→+∞ x⌊1/x⌋;
b) limx→0 x⌊1/x⌋.
b)
x se x ∈ Q,
f (x) =
0 se x ∈ [0, 1] \ Q.
c)
1 se x = 0,
f (x) = 1/q se x = p/q com p, q ∈ Z positivos e primos entre si,
0 se x ∈ [0, 1] \ Q.
a) f é contı́nua e injetiva;
b) limx→+∞ f (x) = +∞;
c) existe e é contı́nua a função f −1 : [0, +∞) → [0, +∞).
√
A função f −1 é chamada de raiz m-ésima e é denotada por f −1 (y) = m y para todo
√
y ∈ [0, +∞) (ou, simplesmente, y quando m = 2).
92 CAPÍTULO 6. LIMITE E CONTINUIDADE
Capı́tulo 7
Derivada
O autor gostaria muito de ver a discussão que segue nos livros de Cálculo I. Como não a
encontrou, ele a fará aqui1 .
Partimos da seguinte observação. As funções afins (funções g : R → R da forma
g(x) = ax + b, sendo a e b constantes, i.e., funções cujos gráficos são retas) são mais simples
de serem manipuladas do que outras funções (cujos gráficos são curvas). Por isto, pode ser
útil saber se é possı́vel (e em caso afirmativo, de que modo) aproximar uma função qualquer
por outra que seja afim. Intuitivamente, dada a função f , queremos encontrar uma função
afim g que mais se pareça com f . Vejamos um exemplo que foge um pouco do contexto mas
que é suficientemente familiar para auxiliar nossa intuição.
Consideremos a Terra. Durante muitos milhares de anos, pensou-se que a superfı́cie
terrestre era plana. A razão é que o planeta era visto de muito perto. Só quando nos
afastamos dele, vemos que na realidade a sua superfı́cie é mais parecida com uma esfera do
que com um plano. Diz-se que que Aristóteles2 reparou isto vendo a sombra da Terra sobre a
Lua durante um eclipse. De certa forma, Aristóteles precisou recorrer à imagem da Terra vista
da Lua para poder perceber que a Terra não era plana. Ora, se a Terra parece (ou parecia)
plana significa que existe um plano que se parece muito com a Terra, certo? Na verdade,
sabemos que não é um plano, mas sim vários planos. Para um habitante de Tóquio, o plano
que mais parece com a Terra não é o mesmo que para nós. Isto nos indica que esta noção de
aproximação é local, isto é, dependendo do ponto onde nos colocamos percebemos de modo
diferente o objeto simples (reta, plano, etc) que mais parece com o objeto original (curva,
esfera, etc).
1
Agradeço ao colega Prof. Victor Giraldo pelas proveitosas discussões sobre o assunto e indico ao leitor
interessado a referência [8].
Victor Giraldo: ⋆ 05/01/1969, Rio de Janeiro, Brasil.
2
Aristóteles: ⋆ 384 A.C., Stagirus, Grécia - † 322 A.C., Chalcis, Grécia.
93
94 CAPÍTULO 7. DERIVADA
Voltando ao caso de uma função real. Dada a função f definida numa vizinhança de x0
queremos determinar a função afim g, dada por g(x) = ax + b, que mais se pareça com f
na vizinhança de x0 (lembre-se que esta semelhança é local, i.e., perto de x0 ). Determinar g
significa determinar as constantes a e b. Será mais conveniente, modificando a constante b,
escrever a função g na forma g(x) = a(x − x0 ) + b (convença-se que toda função afim pode
ser escrita desta forma).
Como proceder? A resposta depende, é claro, do que se entende por “aproximar uma
função”. Devemos precisar o que significa g ser a função afim que mais se parece com f
na vizinhança de um ponto. É natural de se exigir que a função g satisfaça as seguintes
condições:
i. g(x0 ) = f (x0 );
ii. limx→x0 f (x) − g(x) = 0.
É fácil ver que a primeira condição é equivalente a b = f (x0 ). A condição (ii) significa
que o erro r(x) = f (x) − g(x) cometido ao aproximar f por g no ponto x fica tão pequeno
quanto quisermos bastando para isto tomar x suficientemente próximo de x0 . Substituindo g
por sua expressão em (ii) obtemos
lim f (x) − a(x − x0 ) + f (x0 ) = 0 ⇐⇒ lim f (x) = lim f (x0 ) + a(x − x0 ) = f (x0 ).
x→x0 x→x0 x→x0
4 2.5 1.3
r2
r2
3 f r1 2.0 f 1.2 f r2
r1
r1
g2 g2 g2
2 1.5 1.1
g1 g1 g1
1 1.0 1.0
h h h
0 0.5 0.9
0 1 2 0.5 1.0 1.5 0.9 1.0 1.1
(a) h = 1. (b) h = 0, 5. (c) h = 0, 1.
f (x) − f (x0 )
f ′ (x0 ) = lim .
x→x0 x − x0
Se f é derivável em todo ponto do seu domı́nio, então dizemos simplesmente que f é de-
rivável. A função f ′ , definida no conjunto dos pontos onde f é derivável, que a cada x
associa f ′ (x) é chamada de derivada de f .
EXEMPLO 7.5. Vamos verificar que a função dada por f (x) = xn para todo x ∈ R (n ∈ N)
é derivável em qualquer ponto x0 ∈ R com f ′ (x0 ) = nx0n−1 . Temos
xn − xn0
lim = lim (xn−1 + xn−2 x0 + · · · + xx0n−2 + x0n−1 ) = nx0n−1 .
x→x0 x − x0 x→x0
Outros exemplos podem ser vistos em qualquer livro de Cálculo I. Vamos admitir conheci-
das várias funções e suas derivadas. Em qualquer curso de Análise o enfoque não deve estar
no cálculo de derivadas mas sim no estudo rigoroso de suas principais propriedades.
Como a equação acima é, trivialmente, verdadeira para y = f (x0 ) temos que ela é válida para
todo y ∈ B. Fazendo y = f (x) com x ∈ A, x 6= x0 , na equação acima e dividindo-a por
x − x0 , obtemos
g f (x) − g f (x0 ) f (x) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )
= g ′ f (x0 ) + r f (x) .
x − x0 x − x0 x − x0
Como f é contı́nua
em x0 e r é contı́nua em f (x0 ), da Proposição 6.17 obtemos que
limx→x0 r f (x) = 0. Concluı́mos a demonstração, fazendo x → x0 na equação acima e
usando a Proposição 6.8.
f −1 (yn ) − f −1 (y0 ) 1
lim = ′ .
n→+∞ yn − y0 f (x0 )
O resultado seguirá da Proposição 6.6.
Definindo xn = f −1 (yn ) para todo n ∈ N, temos que (xn )n∈N ⊂ A \ {x0 } e, como f −1 é
contı́nua em y0 , (xn )n∈N converge para x0 . Segue que
f −1 (yn ) − f −1 (y0 ) xn − x0 1
= → ′ quando n → +∞.
yn − y0 f (xn ) − f (x0 ) f (x0 )
7.3. EXTREMOS LOCAIS E O TEOREMA DO VALOR MÉDIO. 99
EXEMPLO 7.9. No Exercı́cio 13 do Capı́tulo 6 vimos que a função f : [0, +∞) → [0, +∞)
dada por f (x) = x2 para todo x ≥ 0 tem inversa contı́nua. Como a derivada de f só se
anula em 0, a Proposição 7.8 implica que f −1 é derivável em f (x) se x > 0, ou seja, f −1 é
derivável em (0, +∞). Além disto, em y = f (x) > 0, a derivada de f −1 é dada por
′ 1 1 1
f −1 (y) = = = √ .
f ′ (x) 2x 2 y
EXEMPLO 7.10. Seja f : [0, 1] ∪ (2, 3] → [0, 2] definida por f (x) = x se x ∈ [0, 1] e
f (x) = x − 1, se x ∈ (2, 3]. Temos que f é derivável com f ′ (x) = 1 para todo x no domı́nio
de f . Vimos no Exercı́cio 10 do Capı́tulo 6 que f é uma bijeção com inversa descontı́nua em
1. Portanto, f −1 não é derivável em 1.
f (x) − f (x0 )
lim+ ≤ 0.
x→x0 x − x0
100 CAPÍTULO 7. DERIVADA
Por outro lado, para x0 − δ < x < x0 temos f (x) − f (x0 ) /(x − x0 ) ≥ 0. Portanto
f (x) − f (x0 )
lim− ≥ 0.
x→x0 x − x0
Como dissemos anteriormente, o Teorema dos Extremos Locais é útil na determinação dos
extremos globais de uma função f : A ⊂ R → R. De fato, temos as seguintes implicações:
x0 é extremo global =⇒ x0 é extremo local
=⇒ f ′ (x0 ) = 0.
◦
x0 ∈ A e f é derivável em x0
Desta forma, se x0 é extremo global, então x0 pertence a algum dos três conjuntos abaixo:
EXEMPLO 7.13. Seja f : [0, 4] → R dada por f (x) = |x − 1|(5 − x) para todo x ∈ [0, 4].
Como f é contı́nua e A = [0, 4] é compacto, f tem extremos globais. Vamos determiná-los.
É imediato que
(1 − x)(5 − x) se 0 ≤ x ≤ 1,
f (x) =
(x − 1)(5 − x) se 1 < x ≤ 4.
Segue facilmente (verifique) que f é derivável em todo ponto x ∈ A \ {1}. Além disto,
2x − 6 se 0 ≤ x < 1,
′
f (x) =
6 − 2x se 1 < x ≤ 4.
Assim, todo extremo global pertence a algum dos três conjuntos abaixo:
A \ A◦ = {0, 4},
{x ∈ A◦ ; f não é derivável em x} = {1}.
Uma simples verificação nos dá f (0) = 5, f (1) = 0, f (3) = 4 e f (4) = 3. Portanto, 0 é o
ponto de máximo global e 1 é o ponto de mı́nimo global de f .
TEOREMA 7.14. (Do Valor Médio) Se f ∈ C [a, b] (com a < b) é derivável em (a, b),
então existe c ∈ (a, b) tal que f (b) = f (a) + f ′ (c)(b − a).
f (b) − f (a)
g ′ (x) = f ′ (x) − .
b−a
Para terminar a demonstração basta mostrar que existe c ∈ (a, b) tal que g ′ (c) = 0. Obser-
vamos inicialmente que g(a) = g(b) = 0. Se g for constante, então não há mais nada a ser
demonstrado. Suponhamos que g não seja constante.
Graças ao Teorema de Weierstrass, g tem extremos globais em [a, b]. Como g não é
constante, um destes extremos, denotado c, é tal que g(c) 6= g(a) = g(b) e portanto c ∈ (a, b).
Do Teorema dos Extremos Locais segue que g ′(c) = 0.
Em particular temos o seguinte corolário.
COROLÁRIO 7.15. (Teorema de Rolle1 ) Se f ∈ C [a, b] (com a < b) é derivável em
(a, b) com f (a) = f (b), então existe c ∈ (a, b) tal que f ′ (c) = 0.
Demonstração. Trivial.
f (b) − f (a)
= f ′ (c) ≥ 0.
b−a
Segue que f (b) ≥ f (a). Portanto, f é crescente.
(ii) Análogo ao item (i).
(iii) Análogo ao item (i).
1
Michel Rolle: ⋆ 21/04/1652, Ambert, França - † 08/11/1719, Paris, França.
102 CAPÍTULO 7. DERIVADA
TEOREMA 7.17. (De Cauchy) Se f, g ∈ C [a, b] (com a < b) são deriváveis em (a, b)
e g ′ não se anula em (a, b), então g(a) 6= g(b) e existe c ∈ (a, b) tal que
Demonstração. Observamos inicialmente que g(a) 6= g(b), pois senão, pelo Teorema de
Rolle, g ′ se anularia em algum ponto de (a, b). Considere a função h, definida sobre [a, b],
dada por
f (b) − f (a)
h(x) = f (x) − f (a) − g(x) − g(a) .
g(b) − g(a)
É fácil ver que h satisfaz as hipóteses do Teorema de Rolle, logo existe c ∈ (a, b) tal que
h′ (c) = 0, ou seja,
f (b) − f (a) ′
f ′ (c) − g (c) = 0.
g(b) − g(a)
Daı́ segue imediatamente o resultado.
Anteriormente anunciamos que o Teorema de Cauchy era uma “generalização” do Teorema
do Valor Médio. Mas observe que na sua demonstração, usamos o Teorema de Rolle que
aparecia como caso particular do Teorema do Valor Médio. Ou seja, mostramos as seguintes
implicações:
Teorema do Valor Médio ⇒ Teorema de Rolle ⇒ Teorema de Cauchy ⇒ Teorema do Valor
Médio.
portanto estes três resultados são equivalentes.
definida por (f ′ )′ (x0 ) e denotada por f ′′ (x0 ). Se f ′ é derivável em I, então dizemos que f é
duas vezes derivável e f ′′ = (f ′ )′ é a segunda derivada de f . Analogamente, definimos
a terceira derivada, quarta derivada, etc. De modo geral, a n-ésima derivada de f em x0
é denotada por f (n) (x0 ). Convencionamos ainda que f (0) = f . Se f é n vezes derivável e
f (n) ∈ C(I), então dizemos que f é de classe C n em I, e escrevemos f ∈ C n (I). Finalmente,
se f ∈ C n (I) para todo n ∈ N, então dizemos que f é de classe C ∞ em I e escrevemos
f ∈ C ∞ (I).
TEOREMA 7.20. (Fórmula de Taylor com resto de Peano2 ) Seja f uma função n − 1
vezes derivável no intervalo I (se n = 1 esta hipótese é eliminada), e n vezes derivável em
x0 ∈ I. Se x0 + h ∈ I, então escrevendo
r(h)
lim = 0.
h→0 hn
O teorema anterior diz que, numa vizinhança de x0 , podemos aproximar uma função f
pelo seu Polinômio de Taylor de grau n. Ao fazê-lo, no ponto x0 + h, cometemos um erro
r(h) = f (x0 + h) − pn (x0 + h) que é um infinitésimo de ordem n, i.e., que tende a zero
mais rápido que hn quando h tende a 0. Este fato é, muitas vezes expresso, com a seguinte
frase: “r é o(hn ) quando h → 0”. Ou ainda, é usado o abuso de notação “r = o(hn )”.
O teorema seguinte fornece uma forma mais explicita para o erro da aproximação. Ele
também pode ser visto como uma generalização do Teorema do Valor Médio.
TEOREMA 7.21. (Fórmula de Taylor com resto de Lagrange1 ) Se f ∈ C n [a, b]
(com a < b, o caso b < a é análogo) e f é n + 1 vezes derivável em (a, b), então existe
c ∈ (a, b) tal que
f (n+1) (c)
f (b) = pn (b) + (b − a)n+1 ,
(n + 1)!
sendo pn o polinômio de Taylor de ordem n de f em torno de a.
A
f (b) = pn (b) + (b − x)n+1 .
(n + 1)!
Devemos mostrar que existe c ∈ (a, b) tal que f (n+1) (c) = A. Temos que g ∈ C [a, b] e
é derivável em (a, b). Além disto, g(b) = f (b) = g(a). Graças ao Teorema de Rolle, existe
c ∈ (a, b) tal que g ′(c) = 0. Por outro lado,
n n
′
X f (i+1) (c) i
X f (i) (c) i−1 A n f (n+1) (c) − A
g (c) = (b − c) − (b − c) − (b − c) = (b − c)n .
i=0
i! i=1
(i − 1)! n! n!
PROPOSIÇÃO 7.22. Seja f uma função definida num intervalo I e n vezes derivável em
x0 ∈ I com f ′ (x0 ) = · · · = f (n−1) (x0 ) = 0 e f (n) (x0 ) 6= 0. Temos:
f (xn−1 ) f (xn−1 )
f ′ (xn−1 ) = .
xn − xn−1
a xn xn−1
Então, existe δ > 0 tal que para qualquer x0 ∈ [a − δ, a + δ], a seqüência definida recursiva-
mente por
f (xn−1 )
xn = xn−1 − ′ ∀n ∈ N.
f (xn−1 )
é convergente para a.
1
Sir Isaac Newton: ⋆ 04/05/1643, Woolsthorpe, Inglaterra - † 31/03/1727, Londres, Inglaterra.
7.6. ⋆ REGRAS DE L’HOSPITAL. 107
Demonstração. Segue imediatamente das hipóteses que, no intervalo (a−ε, a+ε), a função
dada por
f (x)
g(x) = x − ′
f (x)
está bem definida e é derivável. Derivando g obtemos,
f ′ (x)2 − f (x)f ′′ (x) f (x)f ′′ (x)
g ′ (x) = 1 − = .
f ′ (x)2 f ′ (x)2
Segue que g ′ é contı́nua em a e que g ′ (a) = 0. Portanto, existe δ ∈ (0, ε) tal que |g ′(x)| ≤ 1/2
para todo x ∈ X = [a − δ, a + δ].
Vamos mostrar que g|X é uma contração. Sejam x, y ∈ X. Suponhamos, sem perda de
generalidade, que x < y. Pelo Teorema do Valor Médio, existe z ∈ (x, y) ⊂ X tal que
1
|g(x) − g(y)| = |g ′(z)| · |x − y| ≤ |x − y|.
2
f (x) f ′ (x)
lim = lim ′ .
x→+∞ g(x) x→+∞ g (x)
Demonstração. Considere a função F definida sobre um intervalo (0, b) por F (y) = f (1/y).
Analogamente definimos G(y) = g(1/y). Os seguintes fatos são de verificação imediata:
f (x) f ′ (x)
lim+ = lim+ ′ .
x→a g(x) x→a g (x)
Demonstração. Seja ε > 0. Suponhamos que limx→a+ f ′ (x)/g ′ (x) seja finito e igual a l
(no caso infinito, a demonstração é análoga). Sabemos que existe y > a tal que
f ′ (z)
z ∈ (a, y) =⇒ l−ε < < l + ε. (7.4)
g ′ (z)
7.7. EXERCÍCIOS. 109
Como limx→a+ f (x) = limx→a+ g(x) = +∞, existe δ > 0 (que podemos supor menor que
y − a) tal que
1 − g(y)/g(x)
a<x<a+δ =⇒ 1−ε< < 1 + ε. (7.5)
1 − f (y)/f (x)
Seja x ∈ (a, a + δ) ⊂ (a, y). Graças ao Teorema 7.17, existe z ∈ (x, y) ⊂ (a, y) tal que
f (x) 1 − f (y)/f (x) f (x) − f (y) f ′ (z)
= = ′ .
g(x) 1 − g(y)/g(x) g(x) − g(y) g (z)
Daı́ segue que
f (x) f ′ (z) 1 − g(y)/g(x)
= ′ · .
g(x) g (z) 1 − f (y)/f (x)
Daı́ e das relações (7.4) e (7.5) obtemos
f (x)
(l − ε)(1 − ε) < < (l + ε)(1 + ε),
g(x)
se f ′ (z)/g ′ (z) ≥ 0 (caso contrário, basta inverter as desigualdades acima). A conclusão segue
imediatamente.
Pequenas adaptações na demonstração anterior mostram que a proposição também é
válida nos casos x → b− e x → a. O próximo corolário trata do caso x → +∞ (analogamente,
trata-se o caso x → −∞). A demonstração é uma adaptação da idéia usada na demonstração
do Corolário 7.25 que, por esta razão, é deixada a cargo do leitor.
7.7 Exercı́cios.
1 - Sejam f : A → R e x0 ∈ A◦ tais que f é derivável em x0 e f ′ (x0 ) > 0. Mostre que
existem a, b ∈ A tais que f (a) < f (x0 ) < f (b).
7 - Seja f : R → R derivável, com derivada limitada. Mostre que existe c > 0 tal que a
função g : R → R, dada por g(x) = x + cf (x) para todo x ∈ R, é uma bijeção com inversa
derivável.
9 - Seja f : R → R derivável e tal que f (0) = limx→+∞ f (x) = 0. Mostre que existe
x > 0 tal que f ′ (x) = 0.
10 - Sejam f, g ∈ C 1 R tais que f ′ = f , g ′ = g e f (0) = g(0) = 1. Mostre que
a) f (x)f (−x) = 1 para todo x ∈ R;
b) g(x)f (−x) = 1 para todo x ∈ R;
c) f = g.
7.7. EXERCÍCIOS. 111
ln x
b) lim = 0.
x→+∞ |p(x)|
112 CAPÍTULO 7. DERIVADA
Capı́tulo 8
Integral de Riemann
DEFINIÇÃO 8.1. Chamamos partição de [a, b] qualquer P ⊂ [a, b] finito tal que a, b ∈ P .
O conjunto das partições de [a, b] é denotado P[a, b].
DEFINIÇÃO 8.2. Seja f uma função limitada em [a, b] e P = {x0 , . . . , xn } uma partição
de [a, b]. Para cada i ∈ {1, . . . , n}, tomemos
mi = inf{f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ]} e Mi = sup{f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ]}.
1
Arquimedes: ⋆ 287 A.C., Siracusa, Itália - † 212 A.C., Siracusa, Itália.
2
Georg Friedrich Bernhard Riemann: ⋆ 17/09/1826, Breselenz, Alemanha - † 20/07/1866, Selasca, Itália.
3
Jean Gaston Darboux: ⋆ 14/08/1842, Nimes, França - † 23/02/1917, Paris, França.
113
114 CAPÍTULO 8. INTEGRAL DE RIEMANN
a b
Figura 8.1: Interpretação geométrica soma superior e inferior para uma função contı́nua e
positiva.
EXEMPLO 8.4. Consideremos uma função f constante, igual a c, em um intervalo [a, b].
Seja P = {x0 , . . . , xn } uma partição de [a, b]. Temos
mi = inf{f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ]} = c.
Portanto,
n
X n
X
I(f ; P ) = mi (xi − xi−1 ) = c (xi − xi−1 ) = c(b − a).
i=1 i=1
É fácil ver que I(f ; P ) ≤ S(f ; P ). A proposição a seguir é uma generalização deste
resultado.
COROLÁRIO 8.6. Sejaf uma função limitada em [a, b]. Então I(f ; P ) ; P ∈ P[a, b] é
limitado superiormente e S(f ; P ) ; P ∈ P[a, b] é limitado inferiormente. Além disto,
sup I(f ; P ) ; P ∈ P[a, b] ≤ inf S(f ; P ) ; P ∈ P[a, b] .
DEFINIÇÃO 8.7. Seja f uma função limitada em [a, b]. Dizemos que f é (Riemann)
integrável em [a, b] se
sup I(f ; P ) ; P ∈ P[a, b] = inf S(f ; P ) ; P ∈ P[a, b] .
Neste texto, ao dizer que uma função é integrável ficará subentendido que ela é limitada.
EXEMPLO 8.9. Considere uma função f constante, igual a c, em [a, b]. Vimos no Exemplo
8.4 que I(f ; P ) = S(f ; P ) = c(b − a) para toda P ∈ P[a, b]. Segue daı́ que f é integrável
em [a, b] e
Z b
f (x)dx = c(b − a).
a
EXEMPLO 8.10. Considere a função f dada por f (x) = x para todo x ∈ R. Vamos
mostrar que f é integrável em [0, 1] e que sua integral, neste intervalo, vale 1/2. Para isto,
tomemos n ∈ N e consideremos a partição Pn = {x0 , . . . , xn }, sendo
i
xi = ∀i ∈ {0, . . . , n}.
n
Para cada i ∈ {0, . . . , n} temos
i i−1 1 i
xi − xi−1 = − = e Mi = sup{x ; x ∈ [xi−1 , xi ]} = xi = .
n n n n
Portanto,
n n
X X i n+1
S(f ; Pn ) = Mi (xi − xi−1 ) = 2
= .
i=1 i=1
n 2n
Analogamente obtemos I(f ; Pn ) = (n − 1)/2n. Concluı́mos que
n−1 n+1
≤ sup{I(f ; P ) ; P ∈ P[0, 1]} ≤ inf{S(f ; P ) ; P ∈ P[0, 1]} ≤ ∀n ∈ N.
2n 2n
Tomando o limite quando n → +∞ obtemos o resultado desejado.
8.2. INTEGRAL E FUNÇÕES INTEGRÁVEIS. 117
LEMA 8.12. Seja f uma função limitada em [a, b]. Então, f é integrável em [a, b] se, e
somente se,
∀ε > 0, ∃P ∈ P[a, b] tal que S(f ; P ) − I(f ; P ) ≤ ε. (8.5)
Portanto, tomando
inf S(f ; Q) ; Q ∈ P[a, b] − sup I(f ; Q) ; Q ∈ P[a, b]
ε= > 0,
2
obtemos que S(f ; P ) − I(f ; P ) > ε, contrariando (8.5).
Reportamo-nos mais uma vez à Figura 8.1. Veja que a quantidade S(f ; P ) − I(f ; P )
corresponde à área pintada de cinza e que não está riscada. O lema anterior nos diz que
esta quantidade será arbitrariamente pequena (bastando tomar uma partição adequada) se, e
somente se, f for integrável.
TEOREMA 8.13. Se f ∈ C [a, b] , então f é integrável em [a, b].
Seja P = {x0 , . . . , xn } uma partição de [a, b] tal que xi − xi−1 < δ, para todo i ∈ {1, . . . , n}.
Definindo,
O Teorema 8.13 e o Exemplo 8.11 são duas faces da mesma moeda (perceba que a função
vista naquele exemplo é descontı́nua em todo ponto). De fato, existe uma relação estreita
entre a integrabilidade e continuidade dada pelo Teorema de Lebesgue (a seguir) do qual o
Teorema 8.13 é um simples corolário. Outros resultados sobre integrabilidade a serem vistos
nesta seção também o são. Preferimos, no entanto, dar demosntrações particulares para cada
um deles como forma de aquecimento à intuição.
i. Z Z Z
b b b
f (x) + g(x) dx = f (x)dx + f (x)dx;
a a a
8.2. INTEGRAL E FUNÇÕES INTEGRÁVEIS. 119
ii. Z Z
b b
cf (x)dx = c f (x)dx;
a a
iii. Z Z Z
b b b
f (x) − g(x) dx = f (x)dx − f (x)dx.
a a a
Demonstração. Deixo a cargo do leitor a prova (se ele ainda não a fez) de que f + g, cf e
f − g são limitadas em [a, b].
Dado ε > 0, como f e g são integráveis, existe P = {x0 , . . . , xn } partição de [a, b] tal
que
Z b Z b
f (x)dx − ε < I(f ; P ) ≤ S(f ; P ) < f (x)dx + ε. (8.7)
a a
e Z Z
b b
g(x)dx − ε < I(g; P ) ≤ S(g; P ) < g(x)dx + ε. (8.8)
a a
Mostremos que f + g é integrável sobre [a, b] e que vale (i). Para cada i ∈ {1, . . . , n},
temos
sup f (x)+g(x) ; x ∈ [xi−1 , xi ] ≤ sup f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ] +sup g(x) ; x ∈ [xi−1 , xi ] .
Das duas últimas desigualdades concluı́mos que S(f + g; P ) − I(f + g; P ) < 4ε. Como ε > 0
é arbitrário, segue do Lema 8.12 que f + g é integrável. Além disto,
Z b Z b Z b Z b Z b
f (x)dx + g(x)dx − 2ε < f (x) + g(x) dx < f (x)dx + g(x)dx + 2ε.
a a a a a
Mostremos agora que cf é integrável sobre [a, b] e que vale (ii). Suponhamos c ≥ 0 (o
caso c < 0 é tratado de modo análogo). Multiplicando (8.7) por c e usando o resultado do
Exercı́cio 1, obtemos
Z b Z b Z b
c f (x)dx − cε ≤ I(cf ; P ) ≤ c f (x)dx ≤ S(cf ; P ) ≤ c f (x)dx + cε.
a a a
Segue que S(cf ; P ) − I(cf ; P ) ≤ 2cε. Novamente, como ε > 0 é arbritário, do Lema 8.12,
obtemos que cf é integrável. Tomando o limite quando ε → 0 concluı́mos (ii).
Obtemos que f − g é integrável em [a, b] e que vale (iii) como conseqüência imediata dos
resultados já demonstrados.
No espı́rito da proposição anterior, o leitor pode perguntar sobre o produto e o quociente
de funções integráveis. Observamos, desde já, que o quociente de funções limitadas pode não
ser limitado (quando o denominador tende a zero em algum ponto). Sobre o produto, será
preferı́vel adiar um pouco esta questão. Antes disto demonstraremos duas proposições.
Demonstração. Mais uma tarefa para o leitor: mostrar que |f | é limitada em [a, b].
8.2. INTEGRAL E FUNÇÕES INTEGRÁVEIS. 121
Dado ε > 0, seja P = {x0 , . . . , xn } uma partição de [a, b] tal que S(f ; P ) − I(f ; P ) ≤ ε.
Para cada i ∈ {1, . . . , n}, denotamos
M i ≤ |f (y)| + Mi − mi =⇒ M i − Mi + mi ≤ |f (y)|.
M i − Mi + mi ≤ mi =⇒ M i − mi ≤ Mi − mi .
PROPOSIÇÃO 8.17. Se f e g são integráveis em [a, b], então f g é integrável em [a, b].
Desta forma, para todo x ∈ [xi−1 , xi ], temos m2i ≤ f (x)2 ≤ Mi2 . Portanto,
O leitor deve perceber que é errado afirmar que a integral do produto é o produto das
integrais (procure um contra-exemplo).
PROPOSIÇÃO 8.18. Seja c ∈ (a, b). Uma função f é integrável em [a, b] se, e somente
se, ela é integrável em [a, c] e em [c, b]. Neste caso,
Z b Z c Z b
f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx. (8.9)
a a c
Demonstração. Fica (mais uma vez) para o leitor a tarefa de provar que f é limitada em
[a, b] se, e somente se, f é limitada em [a, c] e em [c, b].
8.2. INTEGRAL E FUNÇÕES INTEGRÁVEIS. 123
Segue daı́ que S(f ; P ) − I(f ; P ) ≤ 4ε. Concluı́mos que f é integrável em [a, b]. Além disto,
da relação acima obtemos,
Z c Z b Z b Z c Z b
f (x)dx + f (x)dx − 2ε ≤ f (x)dx ≤ f (x)dx + f (x)dx + 2ε.
a c a a c
124 CAPÍTULO 8. INTEGRAL DE RIEMANN
Do resultado obtido no Exemplo 8.8 obtemos que (8.10) também vale para a = 0 ou a = b.
Suponhamos agora que 0 < b < a. Neste caso, (8.10) perde o sentido pois o segundo termo
do lado direito não está definido. Entretanto, se f é limitada e integrável em [0, a], então,
novamente pela proposição anterior, podemos dizer que
Z b Z a Z a
f (x)dx = f (x)dx − f (x)dx.
0 0 b
Comparando a igualdade acima com (8.10) concluı́mos que só existe uma forma de definir
a integral de a até b, com b < a, para que (8.10) faça sentido. Esta é a motivação para a
próxima definição.
DEFINIÇÃO 8.19. Seja f integrável em [a, b]. A integral de f de b até a é definida por
Z a Z b
f (x)dx = − f (x)dx.
b a
Demonstração. Seja ε > 0. Tomemos P = {x0 , . . . , xn }, partição de [a, b], tal que
S(f ; P ) − I(f ; P ) ≤ ε. Temos
n
X
F (b) − F (a) = F (xn ) − F (x0 ) = F (xi ) − F (xi−1 ) .
i=1
Para cada i ∈ {1, . . . , n}, aplicando o Teorema do Valor Médio a F em [xi−1 , xi ], obtemos a
existência de yi ∈ (xi−1 , xi ) tal que F (xi ) − F (xi−1 ) = F ′ (yi )(xi − xi−1 ). Substituindo na
relação acima obtemos
n
X n
X
F (b) − F (a) = F ′ (yi)(xi − xi−1 ) = f (yi)(xi − xi−1 ).
i=1 i=1
Portanto,
I(f ; P ) ≤ F (b) − F (a) ≤ S(f ; P ).
Além disto,
Z b
I(f ; P ) ≤ f (x)dx ≤ S(f ; P ).
a
Demonstração. Sejam x, y ∈ [a, b] com y < x. Seja ainda M ∈ R tal que |f (s)| ≤ M para
todo s ∈ [a, b]. Temos
Z x Z y Z x Z a
|F (x) − F (y)| = f (s)ds − f (s)ds = f (s)ds + f (s)ds
Za x Za x a
Z x
y
= f (s)ds ≤ |f (s)|ds ≤ Mds = M|x − y|.
y y y
Demonstração. Trivial.
8.4 ⋆ A constante π.
Nesta seção mostraremos que a constante π é irracional. Para cumprir esta tarefa é,
obviamente, necessário definir π. Ora, todos sabem que π é a razão entre o comprimento da
circunferência e seu diâmetro. Porém, estes são conceitos geométricos e necessitamos de uma
definição analı́tica. Da mesma forma, precisamos de definições analı́ticas para as principais
funções trigonométricas: seno e cosseno.
Na Seção 9.9 apresentaremos as definições analı́ticas das funções seno e cosseno e da
constante π. Por hora, apenas citamos algumas destas propriedades que serão utilizadas na
prova da irracionalidade de π. São elas.
i. As funções sen e cos são deriváveis com sen′ = cos e cos′ = − sen;
ii. sen(0) = sen(π) = 0 e cos(0) = − cos(π) = 1.
iii. 0 ≤ sen(x) ≤ 1 para todo x ∈ [0, π];
Para k ∈ {1, . . . , n}, temos que q n π 2k = q n−k pn ∈ N. Disto e do lema anterior, con-
cluı́mos que F (0), F (1) ∈ Z. Também temos G(0) = −πF (0) e G(1) = πF (1).
Derivando G uma vez e F duas vezes, obtemos
e Z
b
F g(b) − F g(a) = (F ◦ g)(b) − (F ◦ g)(a) = f g(x) g ′ (x)dx.
a
Daı́ segue o resultado.
O resultado segue daı́, observando que f ′ g e f g ′ são integráveis (Proposição 8.17) e usando
a Proposição 8.14 (i).
DEFINIÇÃO 8.29. Dizemos que A ⊂ R tem medida (de Lebesgue) nula se para todo
ε > 0, existe uma seqüência (In )n∈N de intervalos abertos e limitados tal que
+∞
[ +∞
X
A⊂ In e |In | ≤ ε,
n=1 n=1
130 CAPÍTULO 8. INTEGRAL DE RIEMANN
sendo que |I| representa o comprimento do intervalo I, ou seja, |I| = b − a se I = (a, b).
Conjuntos finitos ou, mais geralmente, enumeráveis tem medida nula como veremos nos
dois exemplos a seguir.
+∞ m m
X X X ε
|In | = |In | = = ε.
n=1 n=1 n=1
m
+∞ +∞
X X ε
|In | = n
= ε.
n=1 n=1
2
É fácil perceber que o intervalo [a, b], com a < b, não tem medida nula (pense nisto). A
demonstração mais natural deste fato, na opinião do autor, é tediosa, ou então, repleta de
afirmações, sem prova, do tipo “é fácil ver que”. Outra demonstração menos natural, porém
mais elegante, é indicada no Exercı́cio 6.
D = {x ∈ [a, b] ; f é descontı́nua em x}
Demonstração. Se a = b, então não há nada a ser demonstrado. Suponhamos que a < b.
Como f é limitada, existe M > 0 tal que −M ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ [a, b]. Desta
forma, para todo intervalo [c, d] ⊂ [a, b], temos que
sup{f (x) ; x ∈ [c, d]} − inf{f (x) ; x ∈ [c, d]} ≤ M − (−M) = 2M. (8.11)
Seja ε > 0. Como D tem medida nula, existe uma seqüência (Im )m∈N de intervalos
abertos e limitados tal que
+∞ +∞
[ X ε
D⊂ Im e |Im | ≤ .
m=1 m=1
4M
ε ε
x ∈ [y − δy , y + δy ] ∩ [a, b] =⇒ f (y) − < f (x) < f (y) + .
4(b − a) 4(b − a)
Desta forma, para todo intervalo [c, d] ⊂ [y − δy , y + δy ] ∩ [a, b], temos que
ε ε
sup{f (x) ; x ∈ [c, d]} − inf{f (x) ; x ∈ [c, d]} ≤ f (y) + − f (y) −
4(b − a) 4(b − a)
ε
≤ . (8.12)
2(b − a)
O conjunto P , formado pelos elementos de [a, b] que são extremos de algum dos intervalos
[a, b], In1 , . . . , Inp , Jy1 , . . . , Jyq tem, no máximo, 2+2(p+q) elementos. Portanto, P ∈ P[a, b].
Escrevendo P = {x0 , . . . , xn }, para cada i ∈ {1, . . . , n}, definimos
Da definição de P segue que, para todo i ∈ {1, . . . , n}, uma das duas possibilidades
abaixo ocorre:
e, portanto, f é integrável.
Vale a recı́proca da Proposição 8.32. Porém, antes de demonstrá-la necessitamos de um
lema que é importante por si só.
S+∞
LEMA 8.33. Se (An )n∈N é uma seqüência de conjuntos de medida nula, então n=1 An
tem medida nula.
S+∞
Demonstração. Sejam ε > 0 e A = n=1 An .
(n)
Para cada n ∈ N, temos que An tem medida nula. Logo, existe uma seqüência Im m∈N
de intervalos abertos e limitados tal que
+∞ +∞
[
(n)
X
(n) ε
An ⊂ Im e |Im |≤ .
m=1 m=1
2n
TEOREMA 8.34. (Lebesgue) Seja f limitada em [a, b]. Então, f é integrável em [a, b]
se, e somente se, o conjunto
D = {x ∈ [a, b] ; f é descontı́nua em x}
tem medida nula.
Demonstração. Já vimos (Proposição 8.32) que se D tem medida nula, então f é in-
tegrável. Tratemos agora da recı́proca. Podemos supor a < b, pois senão, não há nada a ser
demonstrado.
Para cada x ∈ D, como f é descontı́nua em x, existe ε > 0 tal que
∀δ > 0 ∃y ∈ [a, b] com |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| ≥ ε.
Neste caso, tomando m ∈ N tal que 1/m < ε, fica demonstrado que existe m ∈ N tal que
x ∈ Dm , sendo
Dm = x ∈ D ; ∀δ > 0 ∃y ∈ [a, b] com |x − y| < δ e |f (x) − f (y)| > 1/m .
S
Ou seja D = +∞ m=1 Dm . De acordo com o Lema 8.33, para mostrar que D tem medida nula
basta mostrar que Dm tem medida nula, qualquer que seja m ∈ N.
Fixemos m ∈ N. Dado ε > 0, tomemos P ∈ P[a, b] tal que S(f ; P ) − I(f ; P ) ≤ ε/2m.
Escrevemos P = {x0 , . . . , xn } e, para cada i ∈ {1, . . . , n}, definimos Ji = (xi−1 , xi ),
mi = inf{f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ]} e Mi = sup{f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ]}.
S
Definindo I = i ∈ {1, . . . , n} ; Dm ∩ (xi−1 , xi ) 6= ∅ , obtemos que Dm \ P ⊂ i∈I Ji .
Vamos mostrar que X ε
|Ji| ≤ . (8.13)
i∈I
2
Observamos que se i ∈ I, então existe x ∈ Dm ∩ (xi−1 , xi ). Da definição de Dm , obtemos
que existe y ∈ (xi−1 , xi ) tal que |f (x) − f (y)| > 1/m e, portanto, Mi − mi > 1/m. Agora,
se (8.13) não fosse verdade, então terı́amos a seguinte contradição:
ε 1 X 1 X X
< |Ji | = (xi − xi−1 ) < (Mi − mi )(xi − xi−1 )
2m m i∈I m i∈I i∈I
n
X ε
≤ (Mi − mi )(xi − xi−1 ) = S(f ; P ) − I(f ; P ) ≤ .
i=1
2m
134 CAPÍTULO 8. INTEGRAL DE RIEMANN
8.7 Exercı́cios.
1 - Sejam c ∈ R, P ∈ P[a, b] e f uma função limitada em [a, b]. Mostre que
a) se c ≥ 0, então S(cf ; P ) = cS(f ; P ) e I(cf ; P ) = cI(f ; P );
b) se c ≤ 0, então S(cf ; P ) = cI(f ; P ) e I(cf ; P ) = cS(f ; P ).
2 - Sejam P, Q ∈ P[a, b] e f uma função limitada em [a, b]. Mostre que se P ⊂ Q, então
I(f ; P ) ≤ I(f ; Q) ≤ S(f ; Q) ≤ S(f ; P ).
3 - Este exercı́cio mostra que podemos alterar uma função integrável em um ponto sem
perder a integrabilidade nem alterar a integral. Sejam c ∈ [a, b] e f uma função limitada e
integrável em [a, b]. Suponhamos que g é uma função definida em [a, b] e tal que f (x) = g(x)
para todo x ∈ [a, b] \ {c}. Mostre que g é limitada e integrável em [a, b] e
Z b Z b
g(x)dx = f (x)dx.
a a
8 - Seja f : [a, b] → R. Mostre que se f é contı́nua, com f (x) ≥ 0 para todo x ∈ [a, b] e
Z b
f (x)dx = 0,
a
Seqüências de funções
DEFINIÇÃO 9.1. Seja (fn )n∈N uma seqüência de funções de A em R. Dizemos que
(fn )n∈N converge simplesmente para f : A → R se
lim fn (x) = f (x) ∀x ∈ A.
n→+∞
Em outras palavras, para todo x ∈ A, a seqüência (numérica) (fn (x))n∈N converge para
f (x). Segundo a definição de seqüência convergente, temos
∀x ∈ A, ∀ε > 0, ∃N ∈ N tal que n ≥ N =⇒ |fn (x) − f (x)| < ε. (9.1)
EXEMPLO 9.3. Seja fn : [0, 1] → R dada por fn (x) = xn para n ∈ N e x ∈ [0, 1]. Se
x ∈ [0, 1), então xn → 0 e se x = 1, então xn → 1. Portanto, a seqüência (fn )n∈N é
simplesmente convergente para f : [0, 1] → R dada por
0 se x 6= 1,
f (x) =
1 se x = 1.
137
138 CAPÍTULO 9. SEQÜÊNCIAS DE FUNÇÕES
DEFINIÇÃO 9.4. Seja (fn )n∈N uma seqüência de funções de A em R. Dizemos que
(fn )n∈N converge uniformemente para f : A → R se
EXEMPLO 9.5. Para cada n ∈ N, seja fn : [0, 1] → R dada por fn (x) = x/n para todo
x ∈ [0, 1]. Dado ε > 0, tomemos N ∈ N tal que N > 1/ε. Assim, se n ≥ N e x ∈ [0, 1],
então x |x|
1
− 0 = ≤ < ε.
n n N
Portanto, (fn )n∈N converge uniformemente para a função nula.
9.3 Continuidade.
No Exemplo 9.3 apresentamos uma seqüência de funções contı́nuas que converge simples-
mente para uma função descontı́nua. A próxima proposição diz que este inconveniente não
ocorre se a convergência for uniforme.
|f (x) − f (x0 )| ≤ |f (x) − fn (x)| + |fn (x) − fn (x0 )| + |fn (x0 ) − f (x0 )| < 3ε.
TEOREMA 9.8. (Dini1 ) Sejam K ⊂ R compacto e (fn )n∈N ⊂ C(K). Se (fn )n∈N é
monótona e convergente simplesmente para f ∈ C(K), então a convergência é uniforme.
Demonstração. Suponhamos que (fn )n∈N seja decrescente (se for crescente, procedemos
de modo análogo), ou seja, f ≤ fn+1 ≤ fn para todo n ∈ N.
Para cada n ∈ N, fn − f ∈ C(K) e, como K é compacto, existe xn ∈ K tal que
Mn = fn (xn ) − f (xn ) é o valor máximo de fn − f . É fácil ver que (Mn )n∈N é decrescente e
positiva e, portanto, convergente para c ≥ 0. Mostremos que c = 0.
Da compacidade de K, obtemos subseqüência (xnk )k∈N convergente para x0 ∈ K. Para
k, m ∈ N com nk ≥ m, temos Mnk = fnk (xnk ) − f (xnk ) ≤ fm (xnk ) − f (xnk ). Fazendo
k → +∞, obtemos c ≤ fm (x0 ) − f (x0 ). Tomando o limite quando m → +∞, concluı́mos
que c ≤ 0 e, portanto, c = 0.
Dado ε > 0, tomemos N ∈ N tal que MN < ε. Assim, se n ≥ N e x ∈ K, então
Segue que |fn (x)−f (x)| < ε para x ∈ K e n ≥ N, ou seja, (fn )n∈N converge uniformemente
para f .
9.4 Integral.
A convergência simples não se comporta muito bem com respeito a integral, como mostra
o exemplo a seguir.
1
Ulisse Dini: ⋆ 14/11/1845, Pisa, Itália - † 28/10/1918, Pisa, Itália
140 CAPÍTULO 9. SEQÜÊNCIAS DE FUNÇÕES
TEOREMA 9.10. Seja (fn )n∈N uma seqüência de funções integráveis no intervalo [a, b]
convergente uniformemente para f . Então f é integrável e
Z b Z b
lim fn (x) dx = f (x) dx.
n→+∞ a a
9.5 Derivada.
Como uma seqüência de funções contı́nuas pode convergir simplesmente para uma função
descontı́nua, não é de se esperar que este tipo de convergência se comporte bem com deri-
vadas. Neste caso, mesmo a convergência uniforme não é muito satisfatória, como mostra o
próximo exemplo.
EXEMPLO 9.11. Seja fn : R → R dada por fn (x) = sen(nx)/n. Dado ε > 0, se N > 1/ε,
então, para n ≥ N e x ∈ R, temos
| sen(nx)| 1 1
≤ < < ε.
n n N
9.6. O ESPAÇO C(K). 141
Portanto (fn )n∈N converge uniformemente f = 0. Por outro lado, a seqüência (fn′ )n∈N não
converge para f ′ = 0, pois, por exemplo,
PROPOSIÇÃO 9.12. Seja (fn )n∈N ⊂ C 1 [a, b]). Se existe x0 ∈ [a, b] tal que (fn (x0 ))n∈N
converge e se (f ′ n )n∈N converge uniformemente para g : [a, b] → R, então (fn )n∈N converge
uniformemente para uma primitiva de g.
Demonstração. Dado x ∈ [a, b], pelo Primeiro Teorema Fundamental do Cálculo, podemos
escrever Z x
fn (x) = fn (x0 ) + f ′ (s)ds.
x0
Como (fn (x0 ))n∈N é convergente para, digamos, c e como (f ′ n )n∈N é uniformemente conver-
gente para g, obtemos que (fn (x))n∈N converge para
Z x
f (x) = c + g(s)ds.
x0
Mas g é contı́nua (pois é limite uniforme de uma seqüência de funções contı́nuas), logo, do
Corolário 8.23, segue que f é uma primitiva de g.
Para concluir que (fn )n∈N converge uniformemente para f , tome ε > 0 e escolha N ∈ N
tal que para n ≥ N tenhamos
C(K) = {f : K → R ; f é contı́nua }.
i. kf k ≥ 0;
iv. kf + gk ≤ kf k + kgk.
Finalmente,
demonstra (iv).
Repare na semelhança entre a propriedade (iv) e a desigualdade triangular. Não por acaso,
ela também é chamada de Desigualdade triangular.
Quando se deseja distinguir entre os vários tipos de norma, vários nomes são usados para a
norma aqui definida: norma do sup, norma C 0 , norma infinito, norma L∞ , etc. As razões
para os dois primeiros nomes são óbvias (lembre-se que C(K) também é denotado C 0 (K)).
Não nos interessam as razões para as duas últimas nomenclaturas. Outro nome bastante
usado é norma da convergência uniforme. A razão será explicada pela Proposição 9.16.
DEFINIÇÃO 9.15. Uma seqüência (fn )n∈N ⊂ C(K) é dita convergente em C(K) se
existe f ∈ C(K) de modo que
Neste caso, escrevemos fn → f e dizemos que f é o limite da seqüência (fn )n∈N ou que fn
converge para (ou tende a) f em C(K) quando n tende a mais infinito (n → +∞).
9.6. O ESPAÇO C(K). 143
Repare na grande semelhança entre esta definição e a Definição 4.7. Excluindo as dife-
renças de notação (xn ou fn ) e a natureza dos elementos das seqüências (em R ou C(K)),
a diferença notável é que, aqui, aparece a norma (em kfn − f k) e lá aparece o valor absoluto
(em |xn − x|).
Apesar desta diferença, como a norma tem propriedades semelhantes a do valor absoluto
(notadamente, vale a desigualdade triangular), muitos dos resultados sobre seqüências em R
têm correspondentes para seqüências em C(K). Como exercı́cio, baseie-se na demonstração
da Proposição 4.22 para mostrar que se fn → f e gn → g, então fn + gn → f + g.
A próxima proposição esclarece a razão do nome norma da convergência uniforme.
PROPOSIÇÃO 9.16. Sejam f ∈ C(K) e (fn )n∈N ⊂ C(K). Então fn → f se, e somente
se, (fn )n∈N converge uniformemente para f .
O item (ii) é imediato: na Definição 4.5, a condição que define subseqüência de uma
seqüência de números reais, não considera a natureza dos elementos da seqüência. Ou seja,
ela ignora que são números reais e considera apenas os ı́ndices. Portanto, a mesma definição
tem sentido para seqüências em C(K).
Para a limitação, lembremos que uma seqüência (xn )n∈N de números reais é limitada
quando existe M > 0 tal que |xn | ≤ M para todo n ∈ N. Inspirados no que já fizemos,
trocamos valor absoluto por norma.
DEFINIÇÃO 9.17. Uma seqüência (fn )n∈N ⊂ C(K) é limitada se existe M > 0 tal que
kfn k ≤ M para todo n ∈ N.
Cabe agora perguntar se toda seqüência limitada em C(K) tem subseqüência convergente
em C(K). Infelizmente a resposta é não. Consideremos novamente a seqüência (fn )n∈N do
144 CAPÍTULO 9. SEQÜÊNCIAS DE FUNÇÕES
Exemplo 9.3. É imediato que |f (x)| = |xn | ≤ 1 para todo x ∈ [0, 1] e para todo n ∈ N.
Logo, kfn k ≤ 1 para todo n ∈ N e, portanto, (fn )n∈N é limitada. Se ela tivesse subseqüência
convergente para f em C(K), então esta seria uniformemente convergente para f e, portanto,
simplesmente convergente para f . Concluirı́amos que f (x) = 0, se x ∈ [0, 1), e f (x) = 1, se
x = 1. Contrariando a continuidade de f .
Precisamos de uma hipótese adicional para obter o resultado requerido.
TEOREMA 9.18. (Arzelà1 -Ascoli2 ) Se (fn )n∈N ⊂ C(K) é limitada e equicontı́nua, i.e.,
S
O conjunto D = +∞ m=1 Dm é enumerável (pois é reunião enumerável de conjuntos finitos) e,
portanto, podemos escrever D = {x1 , x2 , . . . }.
Seja M > 0 tal que kfn k < M para todo n ∈ N. Para x ∈ K e n ∈ N temos
|fn (x)| ≤ kfn k < M de modo que (fn (x))n∈N é limitada. Em particular, (fn (x1 ))n∈N é
limitada, logo, pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, ela tem subseqüência (g1,k (x1 ))n∈N
convergente. Agora, usando que (g1,n (x2 ))n∈N também é limitada obtemos subseqüência
(g2,n (x2 ))n∈N convergente. Pela limitação de (g2,n (x3 ))n∈N existe subseqüência
(g3,n (x3 ))n∈N
convergente. Repetindo o processo, construı́mos uma seqüência (gi,n )n∈N i∈N de seqüências
tais que, se i ≥ j, então (gi,n )n∈N é subseqüência de (gj,n )n∈N e (gj,n(xj ))n∈N converge.
Definimos (fnk )k∈N por fnk = gk,k para todo k ∈ N.
Afirmamos que, se y ∈ D, então (fnk (y))k∈N é convergente. De fato, seja j ∈ N tal que
y = xj . Se k ≥ j, então fnk = gk,k é um termo de (gj,n )n∈N . Como (gj,n (xj ))n∈N converge,
concluı́mos a afirmação.
Mostremos que (fnk )k∈N converge simplesmente. Sejam x ∈ K, ε > 0 e m ∈ N tal que
m > 3/ε. De (9.3), obtemos que existe y ∈ Dm tal que |x − y| < δm e, portanto,
1 ε
|fn (x) − fn (y)| < < , ∀n ∈ N.
m 3
1
Cesare Arzelà: ⋆ 06/03/1847, La Spezia, Itália - † 15/03/1912, La Spezia, Itália.
2
Guido Ascoli: ⋆ 12/12/1887, Livorno, Itália - † 10/05/1957, Torino, Itália.
9.7. ⋆ EQUAÇÕES DIFERENCIAIS. 145
|fnk (x) − fnl (x)| ≤ |fnk (x) − fnk (y)| + |fnk (y) − fnl (y)| + |fnl (y) − fnl (x)|
2ε
≤ |fnk (y) − fnl (y)| + . (9.4)
3
Mas y ∈ D, logo, (fnk (y))k∈N é convergente e, portanto, de Cauchy. Segue de (9.4) que
(fnk (x))k∈N também é de Cauchy e, portanto, convergente. Seja f (x) = limk→+∞ fnk (x).
Falta mostrar que a convergência é uniforme. Seja ε > 0 e m > 3/ε. Escrevemos
Dm = {y1 , . . . , yp }. Como Dm é finito, existe k0 ∈ N tal que se k ≥ k0 , então
ε
k ≥ k0 =⇒ |fnk (y) − f (y)| ≤ , ∀y ∈ Dm .
3
Qualquer que seja x ∈ K, já vimos que existe y ∈ Dm para o qual vale (9.4). Fazendo
l → +∞, obtemos
2ε
|fnk (x) − f (x)| ≤ |fnk (y) − f (y)| + ≤ ε.
3
O que conclui a demonstração.
Há um pequeno erro na demonstração acima: não é possı́vel demonstrar que a seqüência
(nk )k∈N é estritamente crescente e, portanto, que (fnk )k∈N é uma subseqüência de (fn )n∈N .
Como exemplo, considere que (fn )n∈N seja constante. Neste caso, qualquer (nk )k∈N satisfaz
as condições da demonstração! Este erro pode ser corrigido sem muito esforço (Exercı́cio 3).
EXEMPLO 9.19. Seja g ∈ C [a, b] . Procuramos f ∈ C 1 [a, b] tal que
Uma situação pouco mais complicada que a do exemplo anterior ocorre quando do lado
direito da equação aparece a própria incógnita. Vejamos um exemplo.
EXEMPLO 9.20. Procuramos f ∈ C 1 R tal que
′
f (x) = f (x) ∀x ∈ R,
(9.6)
f (0) = 1.
Já vimos (Exercı́cio (10.c) do Capı́tulo 7) que existe no máximo uma solução de (9.6). Mostrar
que existe alguma solução é tarefa mais elaborada que será deixada para depois. Por hora,
diremos apenas que existe tal f , a chamada função exponencial, denotada por f (x) =
exp(x) ou f (x) = ex para todo x ∈ R. Agora vamos abordar outra questão relevante no
estudo de soluções de equações diferenciais: a regularidade. De acordo com o enunciado,
procuramos solução f na classe C 1 (R). Poderı́amos ter sido menos exigentes, procurando
f no conjunto das funções deriváveis (com derivadas não necessariamente contı́nuas). Nada
ganhamos ou perdemos fazendo isto. De fato, se f é derivável e f ′ = f , então f ′ é contı́nua
pois f é contı́nua. Concluı́mos que f ∈ C 1 (R). Ora, como f ∈ C 1 (R) e f ′ = f temos
que f ′ ∈ C 1 (R), isto é, f ∈ C 2 (R). Continuando o argumento (chamado de boot strap)
concluı́mos que f ∈ C ∞ (R).
Nas aplicações de EDO’s em áreas externas à Matemática saber que determinado problema
tem solução, única e regular (C 1 ou C ∞ , por exemplo) é quase sempre inútil. O que se espera,
de fato, é encontrar tal solução. Não existem métodos gerais para encontrar expressões
de soluções de EDO’s. Há apenas uma quantidade pequena de “receitas” cada uma delas
aplicável a um tipo particular de equação. O problema é mais sério do que o leitor, talvez,
possa imaginar. Na maioria dos casos, as soluções de EDO’s não podem ser escritas em
termos das funções elementares comumente usadas! (O exemplo clássico é a função f tal
2
que f ′ (x) = e−x para todo x ∈ R.) Neste caso, devemos usar esquemas numéricos para a
resolução de EDO’s.
De maneira geral estamos interessados no seguinte problema. Dada g : R → R e y0 ∈ R,
queremos encontrar f : [a, b] → R derivável e tal que
′
f (x) = g f (x) ∀x ∈ [a, b],
(9.7)
f (a) = y0 .
9.7. ⋆ EQUAÇÕES DIFERENCIAIS. 147
f (x1 ) − f (x0 )
f ′ (x0 ) ≈ =⇒ f (x1 ) ≈ f (x0 ) + f ′ (x0 )(x1 − x0 ) = y0 + g(y0)(x1 − x0 ).
x1 − x0
Assim, y1 = y0 + g(y0)(x1 − x0 ) é uma aproximação para f (x1 ) que será usada para obter
uma aproximação para f (x2 ), sendo x2 > x1 próximo de x1 . Temos
f (x2 ) − f (x1 )
f ′ (x1 ) ≈ =⇒ f (x2 ) ≈ f (x1 ) + f ′ (x1 )(x2 − x1 ) ≈ y1 + g(y1)(x1 − x2 ).
x2 − x1
Ou seja y2 = y1 + g(y1)(x2 − x1 ) é uma aproximação para f (x2 ). Continuamos o processo da
seguinte maneira. Dada uma partição (ou malha, como é chamada no contexto da Análise
Numérica) P = {x0 , . . . , xn } de [a, b], definimos y1 , . . . , yn , indutivamente, por
É razoável
esperar que yi seja uma boa aproximação para f (xi ) tanto melhor quanto menor
for max |xi − xi−1 | ; i ∈ {1, . . . , n} . Nos outros pontos de [a, b] \ P o valor da função f é
aproximado pela função φ que é afim em cada intervalo [xi−1 , xi ], i ∈ {1, . . . , n}, e que vale
yi−1 e yi em xi−1 e xi , respectivamente. Mais precisamente, φ : [a, b] → R é dada por
y0 se x = a,
φ(x) = (9.9)
yi − yi−1
· (x − xi−1 ) + yi−1 se xi−1 < x ≤ xi .
xi − xi−1
TEOREMA 9.21. (Peano) Seja g ∈ C(R) limitada. Então, para todo y0 ∈ R, existe
f ∈ C 1 [a, b] satisfazendo (9.7).
Demonstração. Seja M > 0 tal que |g| ≤ M. Dado n ∈ N, considere a partição uniforme
P = {x0 , . . . , xn } do intervalo [a, b]. Ou seja,
b−a
|xi − xi−1 | = , ∀i ∈ {1, . . . , n}.
n
Definimos y1 , . . . , yn por (9.8) e fn = φ dada em (9.9).
Segue que se x ∈ (xi−1 , xi ), então
′
fn é derivável em x e fn (x) = g yi−1 = g fn (xi−1 ) . Logo, |fn′ (x)| ≤ M.
148 CAPÍTULO 9. SEQÜÊNCIAS DE FUNÇÕES
Faremos isto mostrando que (fn )n∈N converge para f˜. Seja ε > 0. De (9.11) obtemos que
|f | ≤ L. Como g é uniformemente contı́nua no compacto [−L, L], existe δ > 0 tal que
Usando esta relação, (9.12) e supondo que n ∈ N seja suficientemente grande de modo
que M(b − a)/n < δ e kfn − f k < δ, obtemos
Z x n
X Z xi
′ ′
|fn (x) − f˜(x)| ≤ fn (s) − g f (s) ds ≤ fn (s) − g f (s) ds
a i=1 xi−1
n Z
X xi
= g fn (xi−1 ) − g f (s) ds
i=1 xi−1
n Z xi h
X i
≤ g fn (xi−1 ) − g fn (s) + g fn (s) − g f (s) ds
i=1 xi−1
Xn Z xi
≤ 2εds = 2(b − a)ε.
i=1 xi−1
c ∈ (0, 1), a função fc : [0, 1] → R dada por fc (x) = 0, se x ≤, c e fc (x) = (x − c)2 /4,
se x > c, é solução do PVI correspondente. Sob hipóteses adicionais sobre g (pertencer a
C 1 (R), por exemplo) é possı́vel demonstrar a unicidade de solução (ver [11]).
É possı́vel retirar a hipótese sobre a limitação de g mas paga-se um preço por isto. Neste
caso, a solução f estará definida numa vizinhança de apque, possivelmente, não contém b.
Considere, por exemplo, [a, b] = [0, 2], y0 = 1 e g(y) = |y|3 para todo y ∈ R. Neste caso,
a única solução é dada por f (x) = 4/(2 − x)2 que não está definida em b = 2
Perceba que na demonstração do Teorema de Peano usamos o Método de Euler de um
modo muito particular supondo que as partições eram uniformes. Além disto, da seqüência de
aproximações dada pelo Método de Euler, mostramos apenas que uma subseqüência converge
para a solução. Isto inviabiliza o Cálculo Numérico aproximado da solução pois não sabemos
qual é a seqüência dos indices que deve ser usada. Felizmente, sob condições suplementares
sobre g é possı́vel mostrar que a seqüência converge (ver [11]). Este fato está intimamente
ligado a questão da unicidade da solução. Reflita a respeito.
Um último comentário: apresentamos o chamado método explı́cito. Há também o Método
de Euler Implı́cito que tem vantagens sobre o explı́cito. Na verdade existem outros métodos
numéricos mais vantajosos que o de Euler. O leitor interessado poderá consultar [11].
i. log(1) = 0;
ii. A função logarı́tmo é derivável e log′ (x) = 1/x para todo x ∈ (0, +∞);
nxn−1 n
f ′ (x) = − = 0 ∀x ∈ (0, +∞).
xn x
Portanto f é constante, isto é, f (x) = f (1) = 0 para todo x ∈ (0, +∞).
i. exp(0) = 1;
Por definição, (FN )N ∈N converge simplesmente para exp. Fixado M > 0, mostraremos que
a convergência é uniforme em [−M, M].
Seja ε > 0. Como (FN (M))N ∈N converge para exp(M), existe N0 ∈ N tal que
A quantidade acima à direita tem sentido apenas para n ∈ N enquanto que aquela à
esquerda faz sentido para n ∈ R. Motivados por este fato, fazemos a seguinte definição.
DEFINIÇÃO 9.27. Dado a > 0 e x ∈ R, definimos ax = exp x log(a) .
152 CAPÍTULO 9. SEQÜÊNCIAS DE FUNÇÕES
Estas funções estão bem definidas (isto é, as séries convergem) graças ao Teste da Razão
(confira).
i. As funções sen e cos são deriváveis com sen′ = cos e cos′ = − sen;
ii. sen(0) = 0 e cos(0) = 1;
2 2
iii. sen(x) + cos(x) = 1 para todo x ∈ R. Em particular, sen(x), cos(x) ∈ [−1, 1]
para todo x ∈ R.
Temos que (SN )N ∈N e (CN )N ∈N convergem simplesmente para sen e cos, respectivamente.
Fixado M > 0, mostraremos que a convergência de (CN )N ∈N é uniforme em [−M, M].
P n
Seja ε > 0. Como M /n! converge (veja Exemplo 4.37), existe N0 ∈ N tal que
+∞
X Mn
N ≥ N0 =⇒ < ε.
n=2N +2
n!
′
Verifica-se facilmente que SN = CN para todo N ∈ N. Logo, (S ′ N )N ∈N converge unifor-
memente para cos em [−M, M].
Graças à Proposição 9.12, (SN )N ∈N converge para uma primitiva da função cos em
[−M, M], ou seja, sen′ (x) = cos(x) para todo x ∈ [−M, M]. Como M é arbitrário, se-
gue que sen′ (x) = cos(x) para todo x ∈ R.
Analogamente, mostra-se que cos′ = − sen.
(ii) Trivial.
2
(iii) Seja F : R → R dada por F (x) = sen(x))2 + cos(x) , para todo x ∈ R. Temos
F ′ (x) = 2 sen(x) sen′ (x) + 2 cos(x) cos′ (x) = 2 sen(x) cos(x) − 2 cos(x) sen(x) = 0.
Portanto, F é constante. Como F (0) = 1, concluı́mos a prova.
Da segunda propriedade do teorema anterior obtemos sen, cos ∈ C ∞ R . As propriedades
(i) e (ii) caracterizam sen e cos. Mais precisamente, temos o seguinte resultado.
154 CAPÍTULO 9. SEQÜÊNCIAS DE FUNÇÕES
TEOREMA 9.33. Existe uma constante c > 0 tal que sen é crescente e cos é decrescente em
[0, c] com sen(c) = 1 e cos(c) = 0. Além disto, para todo x ∈ R temos, sen(c + x) = cos(x)
e cos(c + x) = − sen(x).
Demonstração. Como cos é contı́nuo e cos(0) = 1, existe a > 0 tal que cos(x) > 1/2
para todo x ∈ [0, a]. Logo, neste intervalo, sen é estritamente crescente. Em particular,
sen(x) > sen(0) = 0 para todo x ∈ [0, a].
Vejamos que existe x > a tal que cos(x) < 0. Suponhamos que não. Neste caso, sen é
crescente em [0, +∞).
Seja x > a, pelo Teorema do Valor Médio, existe x ∈ (a, x) tal que cos(x) − cos(a) =
− sen(x)(x − a) ≤ − sen(a)(x − a). Segue que cos(x) → −∞ quando x → +∞, que é
absurdo.
Pelo que foi demonstrado, o conjunto {b ∈ (0, +∞) ; cos(x) ≥ 0 ∀x ∈ [0, b]} é não vazio
(contém a) e limitado superiormente. Seja c > 0 o seu supremo.
A função cos é positiva em [0, c] e, portanto, sen é crescente neste intervalo. Mas sen(0) =
0, logo, a função sen é positiva em [0, c] e, como cos′ = − sen, temos que cos é decrescente
neste intervalo.
Da definição de c e da continuidade da função sen obtemos cos(c) = 0. Do item (iii) do
Teorema 9.31, obtemos | sen(c)| = 1. Porém, sen(c) ≥ sen(0) = 0, logo, sen(c) = 1.
Considere as funções s, c : R → R dadas por s(x) = − cos(c + x) e c(x) = sen(c + x),
para todo x ∈ R. Vemos facilmente que s′ = c, c′ − s, s(0) = 0, e c(0) = 1. Pela Proposição
9.32, obtemos que s = sen e c = cos, completando a demonstração.
0 π 0 π π 3π 2π
2 2 2
−1 −1
(a) Em 0, π
2 . (b) Em [0, 2π].
9.10 Exercı́cios.
1 - Sejam (fn )n∈N uma seqüência de funções de A em R e f : A ⊂ R → R. Mostre
que (fn )n∈N não é uniformemente convergente para f se, e somente se, existe (xn )n∈N ∈ A
e ε > 0 tais que
|fn (xn ) − f (xn )| ≥ ε ∀n ∈ N.
2 - Seja a ∈ (0, 1). Considere fn : [0, a] → R dada por f (x) = xn para n ∈ N e x ∈ [0, a].
a) Mostre diretamente, a partir da definição de convergência uniforme, que (fn )n∈N con-
verge uniformemente para a função nula;
b) Use o Teorema de Dini para mostrar que (fn )n∈N converge uniformemente para a função
nula.
log(x)
loga (x) = ∀x ∈ (0, +∞).
log a
Mostre que
a) loga (ax ) = x para todo x ∈ R;
b) aloga (x) = x para todo x ∈ (0, +∞);
c) loga (xy) = loga (x) + loga (y) para x, y ∈ (0, +∞);
d) loga (xα ) = α loga (x) para x ∈ (0, +∞) e α ∈ R.
⋆ 6 - Seja f : R → R tal que f ′ = f . Mostre que existe C ∈ R tal que f (x) = C exp(x)
para todo x ∈ R;
Referências Bibliográficas
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P
[6] Erdös, P., Über die Reihe 1/p, Mathematica, Zutphen B 7 (1938), 1–2.
[7] Euler, L., Introductio in Analysin Infinitorum, Tomus Primis, Lausanne, 1748; Opera
Omnia, Ser. 1, Vol. 8.
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Doutorado, COPPE-UFRJ, 2004.
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Janeiro, 1976.
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157
158 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1971. Tradução de Principles of mathematical analysis., McGraw-Hill Book Company
Inc., New York-Toronto-London, 1953.
[18] Rudin, W., Real and Complex Analysis, McGraw-Hill Book Company Inc., New York-
Toronto-London, 1974.
[20] Volterra, V., Sui principii del calcolo integrale. Giornale di Matematiche 19 (1881),
333-372.
Índice Remissivo
159
160 ÍNDICE REMISSIVO
reais, 41 da adição, 22
ordenado, 24 da multiplicação, 23
completo, 40 Equações diferenciais ordinárias, 145
Corte, 31 Erdös, 62
inverso, 37 Espaço vetorial, 141
módulo, 35 Euclides, 30
oposto, 33 Eudoxo, 30, 113
racional, 31 Euler, 62, 147
Cota Extensão, 7
inferior, 24
superior, 24 Fórmula de Taylor com resto
Critério de Lagrange, 104
da Comparação, 60 de Peano, 103
de Leibniz, 66 Famı́lia, 3, 9
Fecho, 69
D’Alembert, 61 Fraenkel, 19
Darboux, 113 Função, 6
De Morgan, 11 afim, 93
Dedekind, 30 antiderivada, 126
Demonstração por absurdo, 2 bijetiva, 8
Demonstração por indução, 13 caracterı́stica, 46
Denso, 73, 75
composta, 8
Derivada
constante, 27
da diferença, 97
contı́nua, 77, 83
da soma, 97
em um ponto, 67, 83
de uma função, 96
crescente, 25
em um ponto, 96
decrescente, 25
do produto, 97
derivável, 96
por constante, 97
em um ponto, 94
do quociente, 97
derivada, 96
Desigualdade
diferença, 24
de Bernoulli, 27
estritamente
triangular, 45, 142
crescente, 25
Diferença
decrescente, 25
de seqüências, 64
monótona, 25
Diferença de dois conjuntos, 4
exponencial, 146, 149, 150
Dini, 139
identidade, 18
Distributividade, 23
ilimitada, 25
da união e da interseção, 11
injetiva, 8
Domı́nio, 7
integrável, 116
Elemento, 1 inversa, 9
de uma famı́lia, 9 invertı́vel, 9
mı́nimo, 13 limitada, 25
neutro inferiormente, 25
ÍNDICE REMISSIVO 161
irracional, 42 Problema
natural, 13 de Cauchy, 147
racional, 21 de Valor Inicial, 147
real, 41 Produto
Newton, 106 cartesiano, 4
Norma, 142 de cortes, 35
C 0 , 142 de seqüências, 54
da convergência uniforme, 142, 143 em um corpo, 22
do sup, 142 Progressão
infinito, 142 Aritmética, 47
L∞ , 142 Geométrica, 55
Oposto, 22 Q, 22
de um corte, 33
Ordem, 24 R, 41
Raiz
Par ordenado, 4 de dois, 42
Paradoxo de Russel, 5 m-ésima, 65, 91
Partição, 113 Regra
Peano, 103, 145 da Cadeia, 97
π, 152 de l’Hospital, 107, 108
Picard, 89 Restição, 7
Pitágoras, 29 Reta tangente, 96
Polinômio de Taylor, 103 Reunião, 3
Ponto Riemann, 113, 116
de acumulação, 71 Rolle, 101
de aderência, 69 Rudin, 149
de extremo, 86
global, 86 Série, 57
local, 99 absolutamente convergente, 57
de máximo, 86 convergente, 57
global, 86 divergente, 57
local, 99 Geométrica, 58
de mı́nimo, 86 Harmônica, 59
global, 86 Schöreder, 17
local, 99 Seqüência, 9, 47
fixo, 87, 88 constante, 47
interior, 68 convergente, 48, 49
isolado, 71 em C(K), 142
Ponto fixo, 18 crescente, 47
Pré-imagem, 8 das somas, 54
Primitiva, 126 das somas parciais, 57
Princı́pio de Cauchy, 52
da Boa Ordem, 13, 14 decrescente, 47
da Indução, 13, 14 divergente, 49
ÍNDICE REMISSIVO 163