Naturismo Como Ele e Praticado Na Colina Do Sol
Naturismo Como Ele e Praticado Na Colina Do Sol
Naturismo Como Ele e Praticado Na Colina Do Sol
Luciana R. Arrial1
RESUMO
O presente artigo versa sobre como é praticado o naturismo na Comunidade Naturista Colina do Sol, localizada
no município de Taquara/RS, partindo do Estudo de Caso, com seis entrevistados a partir de entrevistas semi-
estruturadas e observações participantes junto aos sujeitos colineiros domiciliados, no qual a apreciação de dados
ocorreu por meio de análise qualitativa textual, traduzindo as possibilidades pelas quais essa prática de nudez
coletiva se constitui em Educação Ambiental à luz da teoria da Complexidade, proposta pelo filósofo francês
Edgar Morin. O objetivo desta reflexão é demonstrar como se manifesta o conhecimento, a linguagem, a
compreensão, através da convivência prosaica e poética que definem as relações de educabilidade ambiental. A
educação ambiental é compreendida neste artigo como educação participatica e reflexiva, inserida no projeto de
edificação de um outro mundo possível.
Palavras-Chave: Naturismo; educação ambiental; complexidade.
ABSTRACT
This paper reports a case study which describes how Naturism is practiced in Colina do Sol, a community
located in Taquara, RS, Brazil. I used semi-structured interviews and participant observation with six subjects
who live in the community and qualitative textual analysis to work on the data. It shows how this collective
practice constitutes itself as Environmental Education in the light of the Theory of Complexity, developed by
Edgar Morin, a French philosopher. This reflection aims at demonstrating how knowledge, language, and
comprehension show themselves through prosaic and poetic life, which defines the relations regarding
environmental educability. In this paper, Environmental Education is perceived as participant and reflexive
education, part of the construction project of a better world.
Key words: Naturism; Environmental Education; Complexity.
À guisa da introdução
Construí este artigo com a esperança de romper tabus, inclusive os meus, tendo a
possibilidade de superação, através da educação ambiental, em uma comunidade naturista,
1
Mestre em Educação Ambiental – PPGEA/FURG, Especialista em Gráfica Digital - UFPel, Arquiteta e Urbanista - UFPel.
Endereço eletrônico: [email protected]
537
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
não como receita de bolo, com respostas prontas e/ou soluções para os problemas ambientais,
mas como uma contribuição por um mundo possível, solidário e justo.
Meu olhar de pesquisadora iniciou-se a partir da combinação da minha própria
experiência de observadora participante; do envolvimento no campo da pesquisa aliada a uma
abordagem teórica sobre a estética e a ética, mediante o desenvolvimento da dissertação de
Mestrado em Educação Ambiental intitulada “A ética e a estética dos corpos nus: um estudo
de caso do naturismo como proposta de Educação Ambiental”. Então, desse momento em
diante, pude vivenciar a vida naturista, com todos os pudores e toda ansiedade inerente a este
estudo.
O filósofo Edgar Morin, autor da Teoria da Complexidade, entende o ser humano
como um ser complexo, capaz de se auto-organizar e de estabelecer relações com o outro, e
é nessa relação de alteridade que o sujeito encontra a autotranscendência, superando-se,
interferindo e modificando o seu meio num processo de auto-eco-organização a partir de
sua dimensão ética que reflete seus valores, escolhas e percepções do mundo.
Este artigo foi edificado através das entrevistas semi-estruturadas, ocorridas no mês
de setembro de 2008, com seis colineiros residentes e domiciliados no Centro Naturista
Colina do Sol, escolhidos pelas histórias de vida.
A primeira entrevistada, “Candinat”, tem 54 anos de idade, é bioquímica aposentada.
Sua primeira experiência naturista foi na Praia do Pinho no ano de 1994, por apenas seis horas
de convívio. Candinat é sorridente e possui uma empatia singular com todas as pessoas. Em
setembro de 1995, conheceu a Colina do Sol e, no ano de 1996, já havia adquirido uma
cabana, onde reside atualmente.
O entrevistado “Col”, como será denominado nesta pesquisa, é extremamente
reservado como ser humano, mas disposto a contar suas descobertas desde a infância, na
Inglaterra, onde lembra de ir a um bosque próximo a sua residência, com aproximadamente 8
ou 10 anos e onde tirava a roupa simplesmente pelo prazer de ficar nu ao sol.
O entrevistado Col, com 72 anos de idade, é engenheiro de telecomunicações, inglês,
aposentado, que reside no Brasil desde 1973, casado com a também entrevistada “Mar” que
possui 45 anos. Mar é uma pessoa discreta, chegando, por vezes a ser tímida.
A entrevistada Mar não era naturista antes de conhecer Col. É natural de Fortaleza –
Ceará e trabalhava em eventos sociais na produção de fotografias e filmes. Iniciou a prática
do naturismo há 25 anos atrás quando foram pela primeira vez até a praia de Tambaba no
Estado da Paraíba.
538
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
O entrevistado Jô, com 64 anos de idade, administrador aposentado, casado com Ast
de 52 anos, ex-empresária. Ele tornou-se naturista há cinco anos (data da entrevista:
21/09/2008), ela é naturista desde a Praia do Pinho, há quatorze anos. Jô aderiu ao naturismo
em função da história de amor com Ast, “sem pré-julgamentos, sem obstáculos, sem pré-
conceitos”, segundo suas próprias palavras.
“Tuca” reside na Colina do Sol desde a sua fundação, tendo saído apenas por 15 dias,
ao longo desses anos da Colina. Tuca tem 60 anos de idade e pratica o naturismo desde os 22
anos, iniciando em Ibiza – Espanha. Tuca é o seu pseudonome na Colina do Sol, e assim
preferiu que ficasse figurado neste trabalho. Tuca tem sua sobrevivência devido à concessão
da área do camping. Viajou pelo mundo, mas escolheu a vila naturista para fixar residência
definitiva.
dos fenômenos, gerando uma complexa sinergia. O princípio hologramático diz respeito à
imbricada relação entre a parte e o todo, onde o todo é maior que a soma das partes, sendo que
o todo contém a parte e nela está contido.
A cultura que caracteriza as sociedades humanas é organizada/organizadora via
veículo cognitivo da linguagem, a partir do capital cognitivo coletivo dos
conhecimentos adquiridos, das competências aprendidas, das experiências vividas,
da memória histórica, das crenças míticas de uma sociedade. Assim se manifestam
as representações coletivas, consciência coletiva,imaginário coletivo. (...) Cultura e
sociedade estão em relação geradora mútua; nessa relação, não podemos esquecer
as interações dos indivíduos, eles próprios portadores/transmissores de cultura, que
regeneram a sociedade, a qual regenera a cultura (MORIN, 2005c, p.19).
A cultura fornece aos indivíduos o seu saber acumulado, os seus paradigmas, a sua
lógica, os seus mecanismos de aprendizagem retroagindo com suas normas, regras, posturas,
proibições, que organizam as sociedades e governam os comportamentos individuais. Tudo
isso sugere a existência de um “tronco comum indistinto entre conhecimento, cultura e
sociedade” (Ibidem, p.21).
O conhecimento do naturismo, tal como ele é praticado na Colina do Sol, portanto, é
produto/produtor da realidade colineira que comporta intrinsecamente uma dimensão
cognitiva.
Ignorar que a cultura colineira está vitalmente receptiva ao mundo exterior, de onde
tira conhecimentos objetivos e que conhecimentos e ideias migram entre culturas, seria
ignorar a aquisição de informações, de descobertas, que podem modificar a cultura,
transformarem uma sociedade ou mesmo, mudar o rumo da história. Como exemplo, tem-se o
uso de internet banda larga, a fim de facilitar a comunicação dos sujeitos colineiros com as
mais diversas culturas.
Dessa forma, o conhecimento está ligado à estrutura da cultura, à organização social, à
práxis. É determinado, condicionado, produzido, mas também determinante, condicionante e
produtor. O conhecimento transita pelos espíritos individuais, que dispõem de autonomia
potencial, a qual pode tornar-se um pensamento pessoal (Ibidem: 27).
Mantendo o mesmo vocabulário, a linguagem comporta a possibilidade de exprimir os
dois estados da existência humana, o prosaico e o poético (MORIN, 2005d, p.135).
Na linguagem poética, as palavras conotam mais do que denotam, evocam,
transformam-se em metáforas, impregnam-se de uma nova natureza evocativa,
inovadora, encantatória. A prosa denota, precisa, define. Está ligada à nossa
atividade racional – lógica – técnica (Ibidem, p.136).
540
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
poíesis e, é possibilidade – téchne. É a ação do saber que dirige o fazer. Então, compreender-
se as relações, definindo através da téchne, a concepção desses atos, dessas conexões, faz
parte de empatia e identificação.
O que faz com que se compreenda alguém que sorri, não é analisar o tempo do sorriso
ou a intensidade, mas saber o significado do sorriso e da emoção. Por isso faz-se necessário
compreender a paixão, e é isso que permite a verdadeira comunicação humana.
A Colina do Sol possibilita uma realidade sensível aos órgãos sensoriais e ao
condicionamento de significação, que é acessada e captada pelos nossos sentidos. Uma vida
de prosa e poesia. Afinal, como fala o entrevistado Jô: “Somos seres complexos, não amebas!
Somos o sopro da vida, prosa e verso.”
541
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
Colina do Sol, sem as quais, acredita-se, o espaço seria desorganizado por indivíduos guiados
pela má fé.
Existe a ética em todas as comunidades, das mais primitivas às mais evoluídas, para a
coexistência humana, dependendo da cultura e da educação. Lembra-nos que rir, chorar,
sorrir, não são atos aprendidos ao longo da educação, são inatos, embora moldados de acordo
com a educação.
Na poética temos o amor e o estado de felicidade. Na Colina do Sol, o estado
dominante é o poético, é o da afetividade e do respeito mútuo, porque como diz o entrevistado
Col: “é difícil ter animosidade com alguém, sem roupas!”
Isso não significa dizer que os colineiros vivem em total e plena concordância dos atos
individuais de cada sujeito somente porque estão desnudos. De forma alguma. O que se
constata é um respeito entre os cidadãos, primado pela auto-aceitação.
Percebe-se que, como são poucas as famílias residentes, eles protegem-se, aproximam-
se e resguardam-se. Conhecem profundamente os hábitos e maneiras de ser de cada um,
identificando quando os atos individuais podem ser desaprovados em virtude do seu bem-
estar sensibilizado.
A súbita abundância e a evidente disponibilidade de querer viver em bem-estar
cotidianamente pode-se alimentar a convicção de que viver na Colina do Sol é uma
possibilidade de dialógica da razão-paixão e que pode ser adquirida a partir do exercício dessa
possibilidade aumentada com a prática do amor e da solidariedade. Essa é, contudo, uma
verdade assim como uma utopia, pois a possibilidade de viver na Colina do Sol depende
primeiramente do grau de aceitação do naturismo e das regras impostas; posteriormente, de
estar consciente de seus atos e responsabilidades.
A síntese reveladora é o desnudar-se de si mesmo para si mesmo, pelo puro prazer de
estar vivo, independente da imagem refletida no espelho e, por fim, para com os outros. Ou
seja, aceitar que há seres diferentes na estrutura da composição de sua imagem perante o
outro, que há pensamento diferente do outro, que há ação diferentemente do outro. Ou, como
fala a entrevistada Candinat:
Aqui, tu vai te relacionar com a pessoa a partir do que acontece no transcorrer dos
diálogos. Na empatia. Se a pessoa for especial, se tem afinidade, pode iniciar um
relacionamento, uma amizade, totalmente alheia ao cargo, a dinheiro, à cultura. Aos
poucos as pessoas vão se descobrindo. Isso é impossível estando vestido. Quando
sai daqui, criamos uma imagem artificial, às vezes não. Mas o certo é que sempre
criamos uma imagem, um rótulo. Quando tu está no meio de um bando de pelados,
tu não vai fazer uma avaliação antes sobre a pessoa, somente no que esta pessoa
está te dizendo.
542
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
543
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
agradável, com significado particular para cada um, onde o amor é a vontade de cuidar e de
preservar. Um impulso de expandir-se, ir além, alcançar o que “está lá fora” (Ibidem, 2004,
p.24).
Amar é contribuir para o mundo, cada contribuição sendo o traço vivo do eu que
ama. (...) Amar diz respeito à auto-sobrevivência através da alteridade. E assim o
amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abrigar; e também à carícia, ao
afago e ao mimo(...) Amar significa estar a serviço, colocar-se à disposição,
aguardar a ordem. Mas também pode significar expropriar e assumir a
responsabilidade (Ibidem: 24).
544
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
545
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
“Tudo é tão real para nós que acreditamos que o ano, o século e o milênio começam
naquele dia e naquela hora, que nem nos damos conta dos tempos diferentemente marcados e
ritualizados por grupos culturais que se reconhecem a partir de origens diversas” (Ibidem:
286).
A entrevistada Candinat lança uma abordagem interessante sobre a questão do tempo
cronológico e o nosso tempo de vida, pois, segundo ela, damos maior importância a dedicar-
se para o outro e para a aquisição de bens materiais, pagando com uma moeda escassa e rara,
a moeda vida.
Se eu estou consciente e ainda favorecida pela possibilidade de viver em um lugar
como esse, eu tenho mais tempo e a possibilidade de ter um olhar mais próximo
para a natureza e para dedicar um tempo maior para mim e para os outros. Esse
dedicar um tempo para as coisas que a gente sente que acha importante é o que faz
a grande diferença, pois no estilo de vida atual não dedicamos tempo a nada. O
tempo já é uma moeda inexistente!
546
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
O oásis
O sentimento de pertencimento à Colina do Sol descortina a experiência estética,
trazendo através da expressão da fala, do olhar e da entonação da voz, o amor e o apego às
ideias e ao lugar.
É importante destacar que o oásis mencionado, Colina do Sol, é como ter uma visão
romântica do lugar. Verdade, contudo, é preciso lembrar que só desfrutam desse oásis aqueles
que possuem estabilidade econômica, no caso de aposentados, ou quem têm uma renda fixa
ou, ainda, no caso daqueles sujeitos que têm a concessão para executar determinadas
atividades profissionais nos limites geográficos da Colina do Sol. Pode-se citar: os
proprietários do mercado, os da loja de souvenir, os construtores, os do restaurante.
Desfrutam desse oásis, também, aqueles que visitam a Colina do Sol, que alugam ou
que possuem cabanas ou mesmo barracas no camping, que colaboram, de certa forma, para
uma maior vivência social, mesmo que na sazonalidade anual, circulando a renda dos
moradores colineiros.
É imprescindível dizer que o abastecimento alimentar das famílias moradoras provém
das compras do mercado ou necessariamente precisam deslocar-se até a zona urbana do
município de Taquara, pois a Colina do Sol é como uma pequenina vila, em grandes períodos
do ano, outono e inverno, permanecem somente os que lá residem.
O Centro Naturista Colina do Sol não possui posto médico para atender a casos de
emergência e urgência, entretanto, mesmo estando isolados e em meio a uma quase mata
547
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
fechada, não se recordam de acidentes com animais silvestres. Como num ecossistema
equilibrado, há predadores das cobras, como os lagartos, por isso que um grupo defende a
ideia em favor da zona restrita a animais domésticos, pois, segundo estes, os animais
domésticos afugentam os lagartos que por conseqüência permitiriam que cobras aparecessem
no local. Contudo, no caso de acidente por picada de cobra o único lugar habilitado para
aplicar o soro é um posto de saúde na cidade de Taquara, isto é, a 12 km. Segundo o
entrevistado Col, ele “prefere andar pelas trilhas e ruas e não entre as cabanas, pois as folhas
se acumulam e escondem o perigo...”
Percebe-se como um lugar possível de se viver em consonância com o ambiente
natural, nesse aspecto é um oásis. Um oásis que os colineiros vislumbram manter, sem a
transformação rápida do lugar, com consciência dos atos, sem asfalto, com poucas cabanas,
com a preservação da flora e fauna, pois conforme o entrevistado Jô: “A visão arquitetônica
da paisagem da Colina do Sol através de um processo natural cria uma biodiversidade tão
grande que forma um ecossistema. A simetria é uma invenção do processo matemático de
redução. Fortalecemos a intocabilidade, a beleza do descobrimento da assimetria.”
Um oásis em que se pode privilegiar um banheiro térreo no qual a parede externa de
fechamento e vedação do compartimento destinado ao box do chuveiro tem um grande painel
de vidro fixo, visualizando a paisagem que se configura pelo mato, e Candinat ressalta que
“isso só pode ter no box de um banheiro de uma naturista!”
Painel de vidro fixo instalado no box do banheiro, substituindo a parede de vedação externa.
Fonte: acervo do entrevistado Col
Faz-se necessário indicar uma relação instaurada entre esse “santuário” colineiro com
o meio ambiente, pois parece que esses sujeitos preocupam-se individualmente com sua
alimentação natural. Não se quer dizer com isso que a Colina do Sol deve adotar princípios
548
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
549
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
de tal forma que dê fluidez para a cadeia que, inclusive, extrapola as áreas da Colina. Não
estamos isolados nessa configuração.”
É dessa fluidez continuada do meio ambiente, que a natureza inspira, sendo um
potente meio para desenvolver o sentimento de amor, exaltando a beleza nas pequenas e mais
discreta formas de arbustos, árvores, pássaros ou flores, entre outros. Nessa fluidez da
natureza, principalmente as crianças devem acostumar-se a sentir o belo, deslumbrando-se
com os elementos da natureza que levaram anos para atingir essa forma e que eles devem
ajudar a conservá-la para si e para as próximas gerações.
Sendo o ser humano um ser social, o verdadeiro sentido existencial revela-se,
unicamente, quando os interesses e ideais coincidem com a comunidade ou sociedade onde
estão inseridos. A formação dessa unidade permite ao ser humano entender e sentir o meio
ambiente como condição para sua própria existência e das futuras gerações.
Para tanto, a interpretação ambiental dos colineiros se faz presente através da Agenda
21, lançada por meio da nova administração. O entrevistado Jô diz que o guarda- chuva da
Colina do Sol “é” a Agenda 21. A partir desta, temos quatro sub-programas. Um deles é a
compostagem, naturalmente incentivada, pode ser individual, pode ser por zonas ou pode ser
pela Colina do Sol como conjunto. Esta iniciativa faz-se de modo muito lento, pois nas três
visitas à Colina do Sol, duas para o reconhecimento e a terceira para as entrevistas, observou-
se apenas atos isolados por parte de alguns moradores.
Outro item é a coleta seletiva de resíduos sólidos, que é um estágio conscientizador
para a nossa característica perdulária. Da redução de resíduos sólidos, parte-se, então, para a
não geração desses resíduos. Por fim, a preservação dos recursos hídricos, vitais para o
desenvolvimento humano.
É como imaginar com as ações descritas, um guarda-chuva virado, onde ao invés de
repelir a água, acolhe-se esta, gerando um processo de autoconhecimento, de saber, um
processo contínuo de aprendizagem de conscientização de nossas ações cotidianas. Afinal, os
seres humanos precisam se conscientizar, sendo algo que toque os seus corações.
Os agentes de mudança estão no mesmo nível dos poetas, dos educadores, dos
revolucionários. Essas pessoas são fundadores de mundo. Para nós seria mais fácil
implantar diretamente o programa da Agenda 21 e os subprogramas, mas de nada
adiantaria. Precisamos e necessitamos de conscientização. A nossa grande maioria
tem formação universitária, mas temos que agir conjuntamente, nada imposto de
cima para baixo pelo conselho. (entrevistado Jô)
550
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
Conforme Morin (2005e, p.137) “a dialógica da arte da vida deve ser para vigiar a
razão para impedir que mergulhe na cegueira e na fúria das paixões ou se perca em jogos e no
irrisório”.
De repente tu começas a ter um alívio, a perceber que tu está ótimo, então, porque
eu preciso de tudo aquilo que eu tenho lá na minha outra vida.
A metade ou mais das coisas que temos, nós precisamos para os outros. O que os
outros vão dizer ou pensar de mim? Mas quem é esse outro que é tão importante a
quem eu atribuo um valor tão grande. Não é nada! Nada! Nada!
Quem é esse outro que me olha tanto?
551
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
Quando a gente corta esse outro da vida, o outro como alguém de influência, de
julgamento sobre a minha vida! Esse outro a quem eu devo apresentar uma imagem
idealizada. Às vezes é pior: o outro é a nossa imagem refletida no espelho, mas em
algum momento percebemos isso.” (entrevistada Candinat)
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria da Conceição. In: CARVALHO, Edgar de Assis e MENDONÇA,
Terezinha (org.). Ensaios de Complexidade 2. Porto Alegre: Sulina, 2003, p. 284-311.
BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas. Trad.
Carlos Alberto Medeiros. Rio de janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.
MORIN, Edgar. Amor, poesia, sabedoria. 7. ed. Tradução de Edgar de Assis Carvalho. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005a
552
Rev. eletrônica Mestr. Educ. Ambient. ISSN 1517-1256, v. 23, julho a dezembro de 2009.
553