Guia Técnico N.º 1: Vigilância Da Saúde Dos Trabalhadores Expostos A Radiação Ionizante
Guia Técnico N.º 1: Vigilância Da Saúde Dos Trabalhadores Expostos A Radiação Ionizante
Guia Técnico N.º 1: Vigilância Da Saúde Dos Trabalhadores Expostos A Radiação Ionizante
º 1
VIGILÂNCIA DA SAÚDE DOS
TRABALHADORES EXPOSTOS A
RADIAÇÃO IONIZANTE
2
FICHA TÉCNICA:
EDITOR:
Direção-Geral da Saúde
Alameda D. Afonso Henriques, 45, 1049-005 Lisboa
Tel: 218 430 500 | Fax: 218 430 530 | E-mail: [email protected] | http://www.dgs.pt
Direção-Geral da Saúde
Junho 2016
3
4
ÍNDICE
1. PREÂMBULO ....................................................................................................................................... 9
2. ENQUADRAMENTO ......................................................................................................................... 10
7. DOSIMETRIA ..................................................................................................................................... 30
8.1. Responsabilidades................................................................................................................................ 35
8.2. Objetivos da vigilância da saúde ........................................................................................................39
8.3. Exames de saúde ..................................................................................................................................39
8.3.1. ANTES do início da atividade de trabalho com exposição a radiação ionizante ........................... 41
8.3.1.1. Informação prévia ..................................................................................................................... 41
8.3.1.2. Anamnese ................................................................................................................................... 42
8.3.1.3. Exame objetivo .......................................................................................................................... 44
8.3.1.4. Exames complementares de saúde ......................................................................................... 44
8.3.2. DURANTE a atividade de trabalho com exposição a radiação ionizante ....................................... 46
8.3.2.1. Informação prévia ..................................................................................................................... 46
8.3.2.2. Anamnese ................................................................................................................................... 47
8.3.2.3. Exame objetivo .......................................................................................................................... 48
8.3.2.4. Exames complementares de saúde ......................................................................................... 48
8.3.3. EM SITUAÇÕES EXCECIONAIS de exposição a radiação ionizante .................................................... 48
8.3.3.1. Informação prévia ..................................................................................................................... 50
8.3.3.2. Anamnese ................................................................................................................................... 51
8.3.3.3. Exame objetivo .......................................................................................................................... 51
8.3.3.4. Exames complementares de saúde ......................................................................................... 51
8.3.4. APÓS a cessação da atividade de trabalho com exposição a radiação ionizante ........................ 52
8.4. Avaliação da aptidão para o trabalho ................................................................................................ 53
5
8.4.1. Critérios de restrição e de inaptidão para o trabalho ...................................................................... 53
8.5. Informação/formação a prestar ao trabalhador exposto a radiação ionizante ........................... 56
10.1. Enquadramento..................................................................................................................................59
10.2. Informação complementar ...............................................................................................................60
ANEXO ....................................................................................................................................................... 67
6
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1. Caracterização das duas categorias de efeitos das radiações ionizantes na saúde humana
............................................................................................................................................................................14
Quadro 2. Estimativas de valores projetados de doses agudas absorvidas para 1 % de incidência de
morbilidade e mortalidade envolvendo órgãos e tecidos humanos adultos após exposição a raios
gama em todo o corpo ....................................................................................................................................15
Quadro 3. Doenças profissionais associadas à exposição profissional a radiação ionizante ................17
Quadro 4. Lista indicativa de trabalhos/atividades suscetíveis de ocasionar doença profissional dada
a exposição profissional a radiação ionizante .............................................................................................. 20
Quadro 5. Limites de dose de radiação ionizante estabelecidos a nível nacional ...................................21
Quadro 6. Classificação dos trabalhadores para monitorização e vigilância ...........................................24
Quadro 7. Número de trabalhadores monitorizados em Portugal, distribuídos por setores de
atividade, no período 2008 a 2014 .................................................................................................................26
Quadro 8. Classificação das zonas de trabalho ............................................................................................ 28
Quadro 9. Principais requisitos para a classificação da zona de trabalho ................................................29
Quadro 10. Tipo de dosímetros individuais com relevância no contexto de saúde ocupacional ..........31
Quadro 11. Exames complementares de saúde para os trabalhadores expostos a radiações
ionizantes (categoria A e B) ............................................................................................................................. 45
Quadro 12. Exemplos de situações de saúde que na avaliação do médico do trabalho podem
constituir contraindicação (permanente/definitiva ou temporária) em trabalhadores expostos a
radiações ionizantes ........................................................................................................................................54
Quadro 13. Proteção da trabalhadora grávida e lactante ...........................................................................55
Quadro 14. Principais parâmetros da proteção radiológica .......................................................................58
Quadro 15. Vantagens e limitações dos principais indicadores biológicos ..............................................61
7
8
1. PREÂMBULO
O presente Guia Técnico é resultado do trabalho conjunto realizado pelos elementos do citado
Grupo, que tem por finalidade identificar as boas práticas de prevenção do risco profissional e
de vigilância da saúde dos trabalhadores expostos a radiações ionizantes (exposição
ocupacional). Não é abrangida a exposição de utentes em resultado do seu diagnóstico ou
tratamento (exposição médica) nem outros casos de exposição da população, designadamente
situações de emergência (exposição do público).
9
2. ENQUADRAMENTO
As fontes de radiação são utilizadas em todo o mundo para uma grande variedade de fins
benéficos no âmbito da indústria, medicina, investigação, agricultura e educação (1), sendo
a sua utilidade indiscutível.
Não obstante os seus benefícios, reconhece-se que poderá existir “detrimento para a
saúde” humana associado à exposição profissional a radiação ionizante (artigo 2º do
Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de novembro). Os potenciais danos na saúde do
trabalhador poderão conduzir à redução da esperança e qualidade de vida em virtude de
efeitos estocásticos e/ou efeitos determinísticos.
As preocupações relativas aos efeitos adversos para a saúde humana por exposição
profissional à radiação ionizante levaram a que, em 1960, fossem estabelecidas pela
Organização Internacional do Trabalho (OIT) na “Convenção (N.º 115) sobre a Proteção dos
Trabalhadores contra Radiações Ionizantes” medidas adequadas para assegurar uma
proteção eficaz dos trabalhadores neste âmbito. Em 1974, esta mesma Organização
através da “Convenção (N.º 139) sobre cancro profissional” veio estabelecer que o número
de trabalhadores expostos às substâncias e agentes cancerígenos, como a radiação
ionizante, e a duração e nível dessa exposição deverão ser reduzidos ao mínimo e,
paralelamente, deverão ser assegurados os exames de saúde necessários durante a
atividade de trabalho e depois desta cessar, de forma a possibilitar a avaliação da
exposição e/ou do estado da saúde do trabalhador em relação ao(s) risco(s)
profissional(ais) que poderão ocasionar o cancro profissional.
Neste sentido, de acordo com a Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro e suas alterações
(introduzidas pela Lei n.º 42/2012, de 28 de agosto, pela Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro,
pelo Decreto-Lei n.º 88/2015, de 28 de maio, e pela Lei n.º 146/2015, de 9 de setembro), as
“atividades que impliquem a exposição a radiações ionizantes” são consideradas de “risco
elevado” e “suscetíveis de implicar riscos para o património genético” dado que podem
“causar efeitos genéticos hereditários, efeitos prejudiciais não hereditários na progenitura ou
atentar contra as funções e capacidades reprodutoras masculinas ou femininas”. A mesma Lei
determina ainda que cabe à entidade empregadora e, consequentemente, ao respetivo
Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho/Serviço de Saúde Ocupacional (SST/SO),
assegurar uma proteção eficaz dos trabalhadores expostos a fatores de risco profissional,
como a radiação ionizante, de forma a reduzir até ao nível mais baixo possível a
exposição profissional e assim garantir a saúde, segurança e bem-estar dos
trabalhadores expostos.
10
radiação ionizante e posteriormente tenham um adequado e contínuo acompanhamento
do seu estado de saúde.
NOTA 1 - Definições:
11
radioisótopos e os radiofármacos, as quais são denominadas de fontes radioativas (vide
ponto 4 da Nota 1).
Por sua vez, estas fontes radioativas podem ser “seladas” ou “não-seladas”. As fontes
radioativas “seladas” têm características que impedem a dispersão do material radioativo,
por oposição às fontes “não-seladas” que podem ser dispersas aquando da
utilização/aplicação. Por exemplo, os radiofármacos utilizados em Medicina Nuclear são
fontes “não-seladas”, encontrando-se estes, na maioria das vezes, na forma líquida para
injeção em pacientes.
4. EFEITOS NA SAÚDE
Quando expostas à radiação ionizante, as células podem sofrer danos biológicos devido à
ação física e/ou química dessa radiação nos átomos que formam as células. Ao ocasionar a
ionização e excitação dos átomos esta radiação afeta as moléculas podendo levar à rutura
de ligações moleculares na cadeia de ADN (efeito direto) e à formação de radicais livres
que vão reagir quimicamente (efeito indireto) podendo causar danos às células, aos
tecidos e aos órgãos, assim como afetar o funcionamento do corpo inteiro.
a. A radiação ionizante pode atravessar a matéria sem sofrer interação com a mesma
e sem causar danos;
b. A radiação ionizante pode danificar a célula, mas esta é reparada adequadamente
pelo organismo;
c. A radiação ionizante pode matar a célula ou impedir que esta se reproduza, mas
sem provocar danos aos tecidos; contudo, quando o número de células afetadas
pela radiação ionizante é suficientemente grande, o funcionamento do
tecido/órgão irradiado poderá ficar comprometido (efeitos determinísticos);
d. A radiação ionizante desencadeia uma modificação do material genético da célula
irradiada (quebras simples, duplas e alterações de base) que poderá conduzir a
aberrações, rearranjos ou mutações celulares (efeitos estocásticos).
Assim, os efeitos da radiação ionizante na saúde humana dividem-se em efeitos
determinísticos e efeitos estocásticos (vide Figura 1). Os efeitos determinísticos são
observáveis quando a dose é superior a um determinado limiar (2) e com um grau de
severidade que lhe é proporcional.
12
Figura 1. Efeitos biológicos das radiações ionizantes
Efeitos
Genéticos Mutações cromossómicas
13
Quadro 1. Caracterização das duas categorias de efeitos das radiações ionizantes na saúde humana
Exemplo de
Definição sumária Limiar de dose Gravidade
doenças
Catarata,
Resultam da exposição à
Existe limiar de dose A gravidade Anemia,
radiação ionizante que
a partir do qual depende da Lesões
Efeitos provoca danos celulares ou
podem surgir os dose absorvida cutâneas,
determinísticos a morte celular e que
efeitos pelo órgão ou Fibrose
prejudica a função do
determinísticos. tecido. pulmonar,
tecido ou órgão irradiado.
etc.
Tal acontece porque a sensibilidade dos tecidos à radiação ionizante é variável (2) (6),
sendo diretamente proporcional à atividade proliferativa celular e inversamente
proporcional à maturidade celular. Assim, ovários, testículos, medula óssea, tecido linfático
14
e cristalino são alguns dos tecidos mais radiossensíveis. Neste sentido, consideram-se
como principais efeitos determinísticos: indução da esterilidade temporária e
permanente, nos testículos e nos ovários; redução da eficácia do processo formador de
sangue, levando a uma diminuição do número de células do sangue; vermelhidão da pele,
descamação e formação de bolhas, possivelmente levando a uma perda da superfície da
pele; indução da opacidade do cristalino e deficiência visual (catarata); processos
inflamatórios, que podem ocorrer em qualquer órgão (2) – vide Quadro 2.
Tempo de
D - Dose absorvida
Efeito Órgão/tecido desenvolvimento
(Gy)
do efeito
Morbilidade Esterilidade temporária Testículos 3-9 semanas ~0,1
Esterilidade permanente Testículos 3 semanas ~6
Esterilidade permanente Ovários < 1 semana ~3
Diminuição do sangue no Medula óssea 3-7 dias ~0,5
processo de formação
Fase principal de Pele (grandes áreas) 1-4 semanas <3-6
avermelhamento da pele
Queimaduras na pele Pele (grandes áreas) 2-3 semanas 5-10
Queda de cabelo Pele 2-3 semanas ~4
temporária
Catarata (deficiência visual) Olhos Vários anos ~1,5
Mortal Síndrome de medula óssea:
idade sem assistência médica Medula óssea 30-60 dias ~1
com bons cuidados Medula óssea 30-60 dias 2-3
médicos
Síndrome gastrointestinal:
sem assistência médica Intestino delgado 6-9 dias ~6
com cuidados médicos Intestino delgado 6-9 dias >6
convencionais
Pneumonite Pulmões 1-7 meses 6
O dano causado pela radiação varia ainda de acordo com a suscetibilidade individual e a
capacidade de reparação celular: se pessoas de diferentes graus de suscetibilidade são
expostas à radiação, o limite de dose de um dado tecido, para efeitos determinísticos de
gravidade suficiente para ser observável será atingido em doses mais baixas nos
indivíduos mais sensíveis; com o aumento da dose, mais pessoas vão sofrer o efeito
observável, até uma dose acima do qual todo o grupo mostra o efeito (2).
15
hematopoiético e o gastrointestinal. O intervalo de tempo que decorre entre a exposição e
o início de sintomas pode dar indicações da dose absorvida e do dano provocado pela
radiação. As alterações no sangue periférico, decorrentes de uma lesão no sistema
hematopoiético, podem ocorrer muito rapidamente após um acidente. Por exemplo, uma
3
descida na contagem de linfócitos para menos de 1000 células por mm em 24 h é
indicativo de uma lesão muito grave pela radiação. Quando a dose é suficientemente
elevada, pode ocorrer a morte devido à grave depleção de células e à inflamação de um ou
mais órgãos vitais do corpo (sistema hematopoiético, trato gastrointestinal e sistema
nervoso central, em ordem decrescente de sensibilidade).
Salienta-se ainda que alguns efeitos podem também ocorrer (1) como resultado dos
efeitos determinísticos sobre outros tecidos. Por exemplo, a inflamação e eventual fibrose
dos vasos sanguíneos irradiados podem resultar em danos para os tecidos irrigados por
esses vasos sanguíneos.
A International Commission on
Radiological Protection (ICRP) (27)
Os efeitos estocásticos envolvem a modificação
estima que para baixas doses (<100
não-letal do material genético de células somáticas
mSv) é cientificamente razoável supor
ou germinativas do indivíduo exposto. que o aumento de cancro é
Caracterizam-se por uma relação probabilística, ou diretamente proporcional ao
seja, a probabilidade para que ocorra o efeito (mas aumento de dose (aproximação
não a sua gravidade) depende da dose de radiação linear). A doses muito baixas os
ionizante (vide Nota 2). Essa modificação é estudos epidemiológicos não
16
indução de cancro num trabalhador exposto a radiação ionizante aumenta com o aumento
da dose de radiação.
De acordo com a Lista das Doenças Profissionais (Decreto Regulamentar n.º 6/2001, de 5
de maio, alterado pelo Decreto-Regulamentar n.º 76/2007, de 17 de julho), as principais
doenças que se encontram associadas à exposição profissional a radiações ionizantes são
as indicadas no Quadro 3.
Dado que a radiação ionizante pode ser um precursor de cancro num indivíduo exposto
profissionalmente, e tendo em conta que os casos de cancro induzidos por radiação, à
data, não podem ser identificados relativamente a outros cancros através de meios
médicos ou biológicos (1), os trabalhadores que estiveram expostos à radiação ionizante
em alguma fase da sua vida profissional e que, posteriormente, desenvolveram cancro
devem ser objeto de uma cuidadosa avaliação de risco profissional que identifique o nexo
de causalidade, podendo determinar, a qualquer momento, a participação de doença
17
profissional (vide Informação Técnica 9/2014 da DGS “Diagnóstico, conhecimento,
prevenção e reparação da doença profissional”). Fatores como o período de latência, o
tempo desde a exposição e/ou a idade atingida no momento do diagnóstico, a idade
durante a exposição e a influência de outras exposições ambientais, comportamentais ou
sociais (como o tabagismo, no caso de cancro do pulmão) (1), devem ser levados em
consideração no estabelecimento do nexo de causalidade.
É desta forma indispensável que nos registos clínicos dos trabalhadores expostos conste,
designadamente, a história de vida de exposição à radiação ionizante, a relação dose-
resposta, o tipo de exposição (aguda ou prolongada) e o tipo de cancro, sempre que este
ocorra. De realçar que após o trabalhador ter terminado a exposição a radiação ionizante,
os registos relativos a esta exposição profissional devem ser conservados durante, pelo
menos, 40 anos – artigo 46.º da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro e suas alterações.
“As pessoas submetidas durante o trabalho, por conta própria ou de outrem, a uma exposição”
decorrente de atividades laborais “suscetível de produzir doses superiores a qualquer dos
níveis iguais aos limites de dose fixados para os membros do público” – artigo 3.º do Decreto-Lei
n.º 165/2002, de 17 de julho.
Que realizam trabalhos que impliquem uma “exposição a fontes de radiação natural
da qual possa resultar uma dose efetiva anual superior a 1 mSv para os
trabalhadores” - artigo 15º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de novembro (e.g.
em estabelecimentos termais, grutas, minas, locais de trabalho subterrâneos ou
outros cujas condições ambientais tenham relevância para a dose efetiva anual, de
acordo com o artigo 15º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de novembro; ou ainda
18
as tripulações aéreas, de acordo com o artigo 16º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de
17 de novembro);
Para os quais for estimado que podem superar os “limites de dose para os membros
do público” - artigo 16º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de novembro.
Alerta-se ainda que os trabalhadores expostos podem ser ainda eventuais trabalhadores
“externos”, ou seja trabalhadores subcontratados que vão prestar serviços específicos em
zonas controladas de instalações radiológicas. Para estes trabalhadores, a Diretiva
90/641/EURATOM, transposta na legislação nacional pelo Decreto-Regulamentar n.º
29/1997, de 29 de julho, determina que devem ser monitorizados como trabalhadores
expostos. As doses recebidas por estes trabalhadores devem ser inseridas na sua
caderneta radiológica (radiation passport).
19
Quadro 4. Lista indicativa de trabalhos/atividades suscetíveis de ocasionar doença profissional dada
a exposição profissional a radiação ionizante
Fonte: Lista das Doenças Profissionais - Decreto Regulamentar n.º 76/2007, de 17 de julho
d) Membros do público.
20
Quadro 5. Limites de dose de radiação ionizante estabelecidos a nível nacional
Limite de Dose 150 mSv Valor anual Deve simultaneamente respeitar o limite de dose
equivalente do efetiva.
cristalino
500 mSv Valor anual Aplica-se à dose média numa superfície de 1 cm2,
Limite de Dose independentemente da área exposta.
equivalente para a pele Deve simultaneamente respeitar o limite de dose
efetiva.
Limite de Dose 500 mSv Valor anual Deve simultaneamente respeitar o limite de dose
equivalente para as efetiva.
extremidades
Aprendizes e estudantes que utilizam fontes de radiação - artigo 6.º e 9.º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17/11
Limites de Dose Valor limite Período Condição
100 mSv Valor para 5 Com idade igual ou superior a 18 anos - durante o
anos quinquénio o valor não deve ultrapassar uma dose
Limite de Dose efetiva consecutivos efetiva de 50 mSv em cada ano.
20 mSv Valor anual Com idade igual ou superior a 18 anos
6 mSv Valor anual Com idade entre os 16 e os 18 anos
Limite de Dose 50 mSv Valor anual Deve simultaneamente respeitar o limite de dose
equivalente do efetiva.
cristalino
150 mSv Valor anual Aplica-se à dose média numa superfície de 1 cm2,
Limite de Dose independentemente da área exposta.
equivalente para a pele Deve simultaneamente respeitar o limite de dose
efetiva.
Limite de Dose 150 mSv Valor anual Deve simultaneamente respeitar o limite de dose
equivalente para as efetiva.
extremidades
1
Trabalhadoras grávidas e lactantes (proteção durante a gravidez e amamentação) e membros do
público - artigos 5.º e 7.º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17/11
Limites de Dose Valor limite2 Período Condição
1 mSv Valor O limite pode ser excedido num determinado ano, desde
Limite de Dose efetiva anual que a dose média ao longo de 5 anos consecutivos não
exceda 1 mSv por ano.
Limite de Dose 15 mSv Valor anual Deve simultaneamente respeitar o limite de dose efetiva.
equivalente do
cristalino
50 mSv Valor anual Aplica-se à dose média numa superfície de 1 cm2,
Limite de Dose
independentemente da área exposta.
equivalente para a pele
Deve simultaneamente respeitar o limite de dose efetiva.
1
A dose equivalente recebida pelo feto não deverá exceder 1mSv durante o período da gravidez; a exposição da trabalhadora grávida
não deverá ultrapassar os limites de dose estabelecidos para os membros do público.
2
Os resultados das avaliações das tripulações de voo devem estar abaixo dos limites anuais para os membros do público – artigo 16.º
do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17/11.
No que respeita às trabalhadoras lactantes, determina-se que estas não podem desempenhar funções com risco significativo de
contaminação radioativa do organismo (ponto 3, artigo 7º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17/11).
21
No âmbito dos limites de dose de radiação (Quadro 5) considera-se que:
Dose absorvida “D” é a energia absorvida por unidade de massa: D=dE/dm, sendo
“dE” a energia média cedida pelas radiações ionizantes à matéria num elemento
de volume e “dm” a massa da matéria contida nesse elemento de volume. A dose
absorvida designa a dose média num tecido ou órgão e a sua unidade é o gray
(Gy).
Dose efetiva “E” (expressa em Sv) pondera os efeitos dos diferentes tipos de
radiação (wR) e as diferentes radiossensibilidades dos órgãos irradiados (wT – fator
de ponderação tecidular). Considera-se que é a soma da dose efetiva relevante a
partir da exposição a radiação externa ( ) e da exposição a radiação interna
que é dada pelas doses efetivas comprometidas por ingestão e por inalação. Na
expressão abaixo indicada, representa a dose efetiva comprometida por
unidade de incorporação devida à ingestão, para o radionuclídeo j (expressa em
Sv/Bq) e representa a dose efetiva comprometida por unidade de
incorporação devida à inalação para o radionuclídeo j (expressa em Sv/Bq). Estas
componentes de ingestão e inalação são para trabalhadores pertencentes ao
grupo etário “g”, estando quantificadas no Anexo II do Decreto-Lei nº 222/2008. Por
e são representadas as atividades totais incorporadas por ingestão e por
inalação, respetivamente, ambas expressas em Bq.
Ingestão Inalação
Exposição Exposição
externa interna
22
limites foram estabelecidos abaixo do limiar de exposição que resulta na ocorrência de
efeitos determinísticos no ser humano e de efeitos estocásticos a um nível considerado
como aceitável. Neste sentido, estes limites de dose não devem ser considerados como
uma fronteira absoluta entre o “seguro” e o “perigoso”, mas sim como uma forma de
garantir que nenhum indivíduo recebe uma exposição considerada inaceitável em
termos de efeitos negativos para a sua saúde.
23
Quadro 6. Classificação dos trabalhadores para monitorização e vigilância
Categoria Exceções/Observações
Trabalhadores Monitorização
do
abrangidos individual (aplicáveis às categorias A e B)
trabalhador
Estima-se que em todo o mundo existam cerca de 6,5 milhões de trabalhadores (1)
monitorizados no âmbito da exposição ocupacional à radiação ionizante, dos quais 800 mil
(2) são trabalhadores do ciclo do combustível nuclear.
24
Em Portugal, de acordo com NOTA 3
dados do Registo Central de Registo Central de Doses (RCD): é o repositório nacional
Doses (RCD – vide Nota 3) das doses ocupacionais de trabalhadores expostos.
relativos ao período O Instituto Superior Técnico (IST), enquanto sucessor do
compreendido entre 2008 e Instituto Tecnológico Nuclear, I.P. (ITN) (Decreto-Lei nº
2014, o número de 29/2012 de 9 de fevereiro), tem sido a entidade nacional
trabalhadores monitorizados responsável por criar e manter atualizado o RCD, com o
tem vindo a aumentar, objetivo de controlar as doses acumuladas e realizar
existindo atualmente cerca avaliações estatísticas dos dados (26). Assim, ao RCD são
comunicadas as doses avaliadas e reportadas pelas
de 25.000 trabalhadores.
empresas de dosimetria relativas às instalações por elas
As fontes de radiação são controladas, não se pronunciando sobre a metodologia de
utilizadas/manipuladas por avaliação de doses ocupacionais nem sobre a qualidade
estes trabalhadores em das avaliações realizadas pelos prestadores de serviço de
diversos contextos profissionais dosimetria.
As áreas de atividade podem, por sua vez, ser subdivididas em áreas mais específicas,
permitindo uma caraterização do tipo de trabalho desenvolvido em cada uma delas. Na
Figura 2 apresenta-se esquematicamente os vários grupos considerados, tendo em conta a
forma de organização proposta pela ESOREX, que serviu de base aos relatórios do RCD
relativos aos anos 2000 a 2008.
25
Quadro 7. Número de trabalhadores monitorizados em Portugal, distribuídos por setores de
atividade, no período 2008 a 2014
Nº total de Setores
Ano
trabalhadores Indústria Investigação Medicina Minas
2008 14.278 1.926 490 11.827 35
2009 15.671 2.108 514 13.007 42
2010 18.266 2.296 605 15.325 40
2011 21.111 2.469 620 17.981 41
2012 22.466 2.598 685 19.144 39
2013 23.750 2.600 711 20.400 45
2014 25.450* 2.800 713 21.900 40
* Estimativa
Fonte: Registo Central de Doses (RCD)
Investigação Minas
26
6. AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO FATOR DE RISCO “RADIAÇÃO IONIZANTE”
Com base nos resultados da avaliação da exposição potencial e nos respetivos valores de
dose efetiva a que os trabalhadores podem estar sujeitos é possível estabelecer a sua
classificação.
27
6.2. Classificação das Zonas de Trabalho
Classificação Caracterização
de Zona
Área em que, por virtude das condições de trabalho existentes, seja possível que a exposição a que os
Zona
trabalhadores estão sujeitos durante um ano possa ultrapassar 3/10 de um dos seguintes limites de
Controlada
dose fixados:
Área em que, por virtude das condições de trabalho existentes, seja provável que a exposição a que os
Zona Vigiada trabalhadores estão sujeitos durante um ano possa ultrapassar 1/10 dos seguintes limites de dose
fixados mas não ultrapasse as 3/10 dos limites de dose:
28
Quadro 9. Principais requisitos para a classificação da zona de trabalho
Classificação
Requisitos que deverão ser assegurados no local de trabalho
de Zona
29
7. DOSIMETRIA
De acordo com os artigos 9.º e 10.º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de novembro, todos
os profissionais considerados como trabalhadores expostos a radiação ionizante
devem ser alvo de controlo dosimétrico com uma frequência definida em função da
sua classificação em categoria A ou categoria B (mensal e trimestral respetivamente –
vide Quadro 6).
De salientar, que o dosímetro não protege da radiação ionizante nem impede a ocorrência
de efeitos na saúde humana. Este dispositivo apenas regista a exposição à radiação no
ponto onde é colocado.
30
Com o dosímetro individual de extremidade (e.g. anel) avalia-se o equivalente de
dose à profundidade de 0,07 mm, o Hp(0,07).
Quadro 10. Tipo de dosímetros individuais com relevância no contexto de saúde ocupacional
B. Dosímetro de extremidade: é
aconselhada a sua utilização adicional
(e.g. dosímetro de anel e/ou de pulso
como ilustrado na figura) nas
atividades em que seja previsível
receber doses superiores a 3/10 do
limite legal de dose nas extremidades.
Constituem exemplo destas situações
os casos em que as mãos podem estar
expostas ao feixe de radiação (e.g. na
radiologia de intervenção ou na Fonte: Fonte:
manipulação de material radioativo) – http://rmehs.fullerton.edu/laboratorysafety/Ra http://www.crotreview.net/tag/radiation-
diation.asp, acedido no dia 27 maio de 2015 badges-dosimetry-badges, acedido no dia 27
vide Quadro 5. maio de 2015
parâmetros necessários para a dosimetria legal da grandeza Hp(3) – dosimetro.html, acedido no dia 27 maio de 2015
31
7.2. Boa prática na utilização do dosímetro
O trabalhador deve zelar pela boa utilização do(s) dosímetro(s) individual(ais) que lhe
está(ão) atribuído(s) e cumprir os prazos estabelecidos para a troca/devolução deste(s),
entregando-o(s) atempadamente ao responsável interno e/ou à entidade prestadora de
dosimetria contratualizada pela entidade empregadora.
Salienta-se que:
32
determinadas práticas profissionais numa dada instituição/estabelecimento, pelo
que no caso de alguma ocorrência anómala é da competência dessa instituição a
sua verificação, esclarecimento e adoção de medidas sempre que necessário.
bem como as caraterísticas da radiação presente no b. Empresa com sede social fora
de Portugal mas da
local de trabalho.
Comunidade Europeia: deve
Existem situações em que a utilização de mais do comunicar à DGS a
informação relativa à sua
que um dosímetro (vide ponto 1 da Nota 5),
autorização no país de
permite melhorar a estimativa de dose para o origem.
trabalhador:
33
i. Utilização de dois dosímetros de corpo inteiro, por cima e por baixo do avental
de chumbo (14).
ii. Utilização de dois dosímetros, passivo (de corpo inteiro) e ativo – nesta
situação, o dosímetro passivo regista o valor “legal” da exposição (total acumulado)
e o dosímetro ativo, que funciona em tempo real, é utilizado para efeitos de registo
interno da entidade empregadora (e.g. para indicação imediata do valor do débito
de dose ou da dose acumulada, beneficiando de alarmes predefinidos, permitindo
uma tomada de decisão durante a realização da atividade laboral).
Para o efeito, a entidade empregadora deve contratualizar entidades autorizadas pela DGS
(vide ponto 2 da Nota 5) para prestar serviços na área da proteção contra as radiações
ionizantes (entidades que fornecem os dosímetros, procedem à leitura dos mesmos e
comunicam os resultados das avaliações em prazos definidos, usualmente denominadas
por empresas prestadoras de serviços de dosimetria) têm de cumprir as disposições do
Decreto-Lei nº 167/2002, de 18 de julho, alterado pelo Decreto-Lei nº 184/2015, de 31 de
agosto.
34
À Direção-Geral da Saúde e ao Instituto da Segurança Social, I.P. (artigo 16º do
Decreto-Lei nº 165/2002, de 17 de julho; artigo 22º do Decreto-Lei nº 167/2002, de
18 de julho alterado pelo Decreto-Lei nº 184/2015, de 31 de agosto);
Sempre que no período de controlo for detetado num trabalhador um valor igual ou
superior a 2 mSv de dose efetiva ou 10 mSv de dose equivalente num órgão é
obrigatória a notificação desta situação à DGS pela entidade prestadora de serviços de
dosimetria (ponto 1, artigo 21º, do Decreto-Lei nº 167/2002 de 18 de julho).
8.1. Responsabilidades
35
Cabe ao empregador:
36
Cabe ao médico do trabalho:
A responsabilidade técnica da vigilância da saúde dos trabalhadores – artigo
107º da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro e suas alterações. O médico do
trabalho integra o Serviço de Saúde do Trabalho (interno, externo, ou outra
modalidade) organizado pela entidade empregadora.
Cabe ao trabalhador:
37
Cooperar ativamente para a melhoria do sistema de segurança e de saúde do
trabalho – artigo 17º da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro – designadamente na
otimização de procedimentos de modo a minimizar a dose de radiação recebida.
38
8.2. Objetivos da vigilância da saúde
Assim, considera-se que os exames de saúde devem ser realizados antes do início da
atividade de trabalho com exposição a radiação ionizante, durante a atividade de trabalho
com a referida exposição, em situações excecionais de exposição a radiação ionizante e
após a cessação da atividade com exposição a radiação ionizante – vide Figura 4.
39
Figura 4. Sequência de exames de saúde ao longo da atividade de trabalho com exposição a
radiação ionizante
EXAME DE SAÚDE
EXAME DE SAÚDE
EXAME DE SAÚDE
início da atividade de cessação da
atividade de trabalho com atividade de
trabalho com exposição a trabalho com
exposição a radiação exposição a
radiação ionizante radiação
ionizante ionizante
EXAME DE SAÚDE
EM SITUAÇÕES
EXCECIONAIS
de exposição a
radiação
ionizante
De salientar, que os trabalhadores têm direito de acesso a todos os dados relativos à sua
saúde, incluindo os relativos à monitorização individual das doses de radiação – artigo 14º
do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de novembro.
40
EXAME 8.3.1. ANTES do início da atividade de trabalho com
DE SAÚDE
exposição a radiação ionizante
41
o Equipamentos e materiais (e.g. radioisótopos) que emitem radiação
ionizante a que o trabalhador poderá estar exposto;
No essencial esta informação prévia deve ser fornecida à Saúde do Trabalho pelo Serviço
de Segurança do Trabalho e pelo Responsável pela Proteção Radiológica ou equivalente.
8.3.1.2. Anamnese
A. História profissional
Esta análise deverá ter por base a informação prévia constante no ponto 8.3.1.1..
42
Sobre antecedentes familiares, designadamente neoplasias, patologia tiroideia,
infertilidade, entre outros.
D. História clínica
Patologia hematológica;
Neoplasias;
Doenças cutâneas;
Patologia psiquiátrica;
Patologia cardiovascular;
Nas situações em que existe a necessidade de utilização de proteção respiratória, pode ser
particularmente importante caraterizar eventual patologia do foro da otorrinolaringologia
(ORL) ou do aparelho respiratório e avaliar a tolerância à proteção respiratória.
43
8.3.1.3. Exame objetivo
Deve-se proceder a uma avaliação de sinais e sintomas por órgãos e sistemas. O exame
físico deverá ser completo, de acordo com a boa prática da Saúde Ocupacional.
Pesquisa de adenopatias;
Na vigilância regular da saúde dos trabalhadores expostos a radiação ionizante devem ser
solicitados os exames complementares de saúde indicados no ponto I do Quadro 11.
Vários destes exames complementares enquadram-se na avaliação global da saúde do
trabalhador, não sendo específicos para o trabalhador exposto a radiações ionizantes.
Neste sentido, o médico do trabalho deve ter em consideração o resultado de exames a
que o trabalhador tenha sido submetido e que mantenham atualidade, devendo instituir a
cooperação necessária com o médico assistente (artigo 108º da Lei n.º 102/2009, de 10 de
setembro e suas alterações).
44
Quadro 11. Exames complementares de saúde para os trabalhadores expostos a radiações
ionizantes (categoria A e B)
Outros exames:
Avaliação eletrocardiográfica.
II. Para além do anteriormente exposto, podem ser solicitados, entre outros:
45
EXAME 8.3.2. DURANTE a atividade de trabalho com exposição a
DE SAÚDE
radiação ionizante
Para o efeito, realiza-se um exame periódico que deverá ter periodicidade mínima anual
para os trabalhadores de categoria A. Para os restantes trabalhadores expostos a
radiação ionizante (categoria B) os exames deverão ser anuais para os trabalhadores com
idade superior a 50 anos, e de 2 em 2 anos para os outros trabalhadores. O médico do
trabalho, face ao estado de saúde do trabalhador e aos resultados da prevenção dos riscos
profissionais, pode aumentar ou reduzir a periodicidade dos exames (artigo 108.º do
Decreto-Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro).
Neste contexto poderá ocorrer ainda a realização de exame ocasional, por exemplo, a
pedido do trabalhador (e.g. situação em que uma trabalhadora engravida), nas situações
de regresso ao trabalho depois de uma ausência superior a 30 dias por motivo de doença
ou acidente, ou nas situações em que existam alterações nos componentes materiais de
trabalho que possam ter repercussão nociva na saúde do trabalhador.
46
Atividades realizadas no posto em que o trabalhador está exposto a radiações
ionizantes;
8.3.2.2. Anamnese
47
8.3.2.3. Exame objetivo
Deve-se proceder à averiguação de sinais e sintomas por órgãos e sistemas. O exame físico
deverá ser completo, de acordo com a boa prática da Saúde Ocupacional.
48
Confirmar a aptidão do trabalhador para poder continuar a exercer as suas
funções, incluindo se existem patologias ou outras situações que constituam
contraindicação absoluta ou relativa para o desempenho profissional do
trabalhador.
Aferir o nível de conhecimento do trabalhador sobre os efeitos de saúde potenciais
relacionados com a exposição a radiação ionizante, assim como quanto às
principais medidas de prevenção (conhecidas e adotadas na situação excecional)
para minimizar o risco de exposição profissional.
Para o efeito realiza-se um exame ocasional ao trabalhador, de iniciativa do Serviço de
Saúde Ocupacional.
A. Situação acidental
A lei nacional prevê um “Regime de vigilância médica especial” nas situações em que são
excedidos os limites de dose previstos (vide Quadro 5) o qual deve ser desencadeado
pelo Serviço de Saúde Ocupacional – artigo 13º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de
novembro. Nestas situações, deve-se realizar de imediato um exame médico ao
trabalhador exposto, ficando este sob vigilância durante o período considerado necessário
para salvaguardar a sua saúde.
De sublinhar, que:
Os resultados destes exames deverão ser dados a conhecer à DGS “no prazo de 10
dias úteis após a sua realização” - artigo 13º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de 17 de
novembro;
As “condições de trabalho do trabalhador devem ser aprovadas pelo Serviço de Saúde
Ocupacional” antes do seu retorno ao local de trabalho artigo 13º do Decreto-Lei n.º
222/2008, de 17 de novembro;
O trabalhador não pode ser prejudicado em virtude de ser afastado do seu posto
de trabalho ou de uma área perigosa – artigo 17º do Decreto-Lei n.º 222/2008, de
17 de novembro.
49
B. Situação autorizada
50
Resultados da dosimetria física (registos de corpo inteiro e, quando
monitorizadas, também as dosimetrias parciais) – vide ponto 8.3.2.1..
8.3.3.2. Anamnese
Deve-se proceder à averiguação de sinais e sintomas por órgãos e sistemas. O exame físico
deverá ser completo, de acordo com a boa prática da Saúde Ocupacional.
51
EXAME 8.3.4. APÓS a cessação da atividade de trabalho com
DE SAÚDE
exposição a radiação ionizante
Neste contexto, o exame tem como principal objetivo verificar se existem alterações do
estado de saúde do trabalhador após o tempo de atividade profissional desenvolvido na
empresa/instituição, designadamente possíveis efeitos estocásticos.
O médico responsável pela vigilância da saúde deve entregar ao trabalhador, que deixar de
prestar serviço na entidade patronal, cópia da ficha clínica do respetivo trabalhador (artigo
109º da Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro e suas alterações), sempre que este o solicite.
52
8.4. Avaliação da aptidão para o trabalho
Considerar não apenas a doença em si, mas a situação concreta de saúde que a
mesma condiciona tendo em consideração a sua capacidade de compensação;
53
Quadro 12. Exemplos de situações de saúde que na avaliação do médico do trabalho podem
constituir contraindicação (permanente/definitiva ou temporária) em trabalhadores expostos a
radiações ionizantes
Patologia ORL Otorreia, perfuração timpânica (risco de acumulação de Profissionais que manipulem
(otorrinolaringologia) partículas radioativas em cavidades fechadas) radioisótopos, principalmente sob
a forma de fontes não-seladas
Outras Epilepsia não medicada e não controlada; perturbação Profissionais que comandam
Patologias psíquica com risco de alterações do comportamento; equipamentos que emitem
radiação ionizante que possam
estados ansiosos caracterizados como claustrofóbicos;
colocar em risco o próprio ou
arritmias ou patologia cardíaca com risco elevado de
terceiros
síncope; diabetes grave não compensada.
54
OBSERVAÇÕES CLÍNICAS DE ALERTA EXEMPLO DE SITUAÇÃO
(Lista indicativa) PROFISSIONAL
ionizantes.
Gravidez Risco de irradiação do abdómen e respetivo feto. Trabalhadora grávida com posto de
trabalho na “zona controlada”
Nota: Os efeitos da radiação durante a gravidez têm uma
relação temporal com o tempo de gestação. O período de
maior risco para o feto situa-se entre as 3ª e 8ª semana de
gestação (período da organogénese) para malformações e,
ainda, entre a 9ª e a 15ª semana (período fetal precoce), com
um limiar de dose de cerca de 120 mSv para atraso mental.
No segundo trimestre (até à 25º semana) o limiar de dose
para atraso mental é de 500 mSv e no terceiro trimestre não
se espera aumento do risco de atraso mental ou de
malformações (15) (16).
De realçar, que a trabalhadora grávida e lactante deve ter uma proteção especial
durante a gravidez e o período da amamentação, que deve ser salvaguardado pela
entidade empregadora (vide Quadro 13).
55
Dada a inconsistência legislativa apresentada no
NOTA 6:
Quadro 13 e tendo em conta o atual conhecimento
técnico e científico, para efeitos de orientação em Contaminação radioativa:
contaminação de qualquer
matéria de vigilância da saúde deve considerar-se que
matéria, superfície ou ambiente
na aplicação dos artigos 51º e 54º da Lei 102/2009 de ou de um indivíduo por
10 de setembro, e suas alterações, que: substâncias radioativas. No caso
específico do corpo humano,
É proibido à trabalhadora grávida estar esta contaminação radioativa
exposta a radiação ionizante quando a inclui a contaminação externa
cutânea (adsorção) e a
exposição potencial é superior aos valores contaminação interna (inalação,
limite de dose que se encontram estabelecidos ingestão ou através de ferida
para o público em geral (vide Quadro 5). aberta), independentemente da
via de incorporação (artigo 2.º do
No que se refere à trabalhadora lactante esta Decreto-Lei n.º 174/2002 de 25
não pode desempenhar funções com risco de de julho).
56
9. GESTÃO DO RISCO PROFISSIONAL
•Assegurar que a exposição dos indivíduos à radiação ionizante seja tão baixa
quanto razoavelmente atingível, tendo em conta fatores económicos e
sociais. Este princípio é normalmente designado por princípio ALARA (As
Otimização
Low As Reasonably Achievable).
•A exposição dos indivíduos deve ser sempre mantida abaixo dos níveis
estabelecidos.
Limitação
57
Quadro 14. Principais parâmetros da proteção radiológica
58
Estimativa do risco profissional, isto é, perante a informação anteriormente
recolhida, deverá estimar-se a “probabilidade de ocorrência” (quantas vezes pode
ocorrer?) e a “gravidade do dano” (que dano pode ocorrer?);
10.1. Enquadramento
59
Exposições inexplicáveis;
Irradiações acidentais em pessoas sem dosímetro;
Irradiação não uniforme (a utilização de indicadores biológicos poderá ser mais
válida que a dosimetria física, apesar de também ela ter limitações significativas
neste tipo de exposições).
Para níveis mais baixos de exposição a radiação são utilizados outros biomarcadores,
normalmente indicadores de alterações no ADN, principal alvo celular da radiação
ionizante (19). Em casos de exposição crónica a baixas doses de radiação ionizante,
observa-se que a resposta celular inclui não só instabilidade cromossómica, como também
respostas adaptativas e efeitos bystander. Possíveis respostas adaptativas após exposição
prolongada a baixas doses de radiação são ainda um tema controverso na literatura
científica.
60
é difícil que apenas um indicador biológico cumpra todos os requisitos, o que pode
implicar que a avaliação inclua mais do que um biomarcador.
61
analisadas através da técnica de FISH (Fluorescent In Situ Hybridization ou hibridação in situ
com sondas fluorescentes).
A análise de translocações constitui um marcador menos sensível, uma vez que estas
apenas são detetadas em doses acima de 300 mGy (para indivíduos com menos de 40
anos) e 500 mGy (para indivíduos com mais de 40 anos). No entanto, as translocações são
preservadas ao longo de várias divisões celulares, sendo por isso um indicador útil no caso
de exposições que ocorreram no passado (25).
a) Âmbito geral:
Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, e suas alterações, introduzidas pela Lei n.º
42/2012, de 28 de agosto, pela Lei n.º 3/2014, de 28 de janeiro, pelo Decreto-Lei n.º
88/2015, de 28 de maio, e pela Lei n.º 146/2015, de 9 de setembro – estabelece o
regime jurídico da promoção da segurança e saúde do trabalho.
62
84/466/EURATOM; estabelece os critérios de aceitabilidade que as instalações
radiológicas devem observar quanto a planeamento, organização e funcionamento.
63
Diretiva 97/43/EURATOM: adotada em 30 de junho de 1997 estabelece os
mecanismos de proteção da saúde das pessoas contra os perigos resultantes de
radiações ionizantes em exposições radiológicas médicas. Esta diretiva procedeu à
regulamentação da exposição médica de pacientes às radiações ionizantes, quer com
fins de diagnóstico, quer terapêuticos.
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66
ANEXO
67
68