Naufrágio Da Biblioteca Queimada - Cartografia de Sombras - Claudio Parmiggiani PDF
Naufrágio Da Biblioteca Queimada - Cartografia de Sombras - Claudio Parmiggiani PDF
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cartografia de sombras
Claudio Parmiggiani
Seleção, tradução e apresentação de Joana Corona
alguns pontos, sem deixar de marcar o intervalo2. Entre as narrativas, há uma DIDI-HUBERMAN, Georges. Sculture
carta ao filósofo francês Jean-Luc Nancy, considerando a relação não apenas d’ombra - aria polvere impronte
intelectual, mas também de amizade que há entre ambos. Há, por fim, um fantasmi. Trad. Alessandro Serra.
Milano: Mondadori Electa, 2009.
poema da série Quadros, na qual ele esboça uma cartografia em que cada
poema tem como título o nome de uma cidade diferente.
2
Os textos foram publicados anteriormente em outros livros ou catálogos, e Todos os textos aqui publicados têm
como fonte o livro: PARMIGGIANI,
reunidos na antologia Fede in niente ma totale (Fé em nada mas total), de Claudio. Fede in niente ma totale.
2010, com prefácio de Jean-Luc Nancy e organização de Andrea Cortellessa. Firenze: Le Lettere, 2010 (pp. 20, 21,
No ritmo da repetição e do diferimento, algumas perguntas retornam em 22, 53 e 251). As imagens têm como
fonte o livro: Petrolio (Petróleo).
seus textos: “Como uma ideia ganha forma?” Ou: “Como se forma uma
Milano: Charta, 2009 (organizado
imagem?” Em Parmiggiani, a biblioteca pega fogo e naufraga, ao mesmo por Claudio Parmiggiani, com texto
tempo, enquanto desenha uma cartografia de sombras, feita de cinzas, de de Luca Massimo Barbero).
fumaça e fuligem.
imagem 1 :
Scultura d’ombra, (Escultura de sombra, da série Delocazione),
2003 | fogo, fumaça, fuligem | Museu Fabre, Montpellier
imagem 2 :
Scultura d’ombra (Escultura de sombra), 2007
fogo, fumaça, fuligem. Palácio Fabroni, Pistoia
Coleção Palácio Fabroni
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Como se fosse uma língua que falasse
Eu gostava de observar, destacados pelo pó, a passagem, o traço do adeus das coisas. A
auréola, a ilusão, a sombra daquilo que havia sido.
Olhar a marca quase luminosa que uma presença qualquer, por exemplo, de um quadro
arrancado da parede, deixava naquele espaço. O espaço puro, abstrato, da sua marca
imaterial.
Pegar um quadro, jogá-lo fora e dirigir-se para dentro de sua sombra, para observar
além, mais longe.
Não colocava apenas perguntas sobre a finitude, mas alimentava fantasias sobre a
fisicalidade do ausente, sobre a corporeidade da sombra. Não o vazio, mas escavar
no vazio. Naquelas impressões espectrais, mudas, nebulosas, havia um mundo, uma
aurora, quase uma perspectiva. Naquelas órbitas, naquele infinito nada me parecia ser
igualmente absoluto, assim como um quadro de Malevich. A percepção de um grau
superior da imagem. Pintar com a fumaça; na paleta há sombra e tempo.
imagem 3 :
Na mostra de Veneza, o gesto de tirar era o de fazer. Não acrescentar, mas dispersar.
Semelhante a uma antiga alegoria do vento; um anjo de bochechas inchadas que sopra. Delocazione (Deslocamento), 1970-
Resultado: sobre uma parede, a exalação da fumaça, a agonia de uma chama, a marca 1997 | fogo, fumaça, fuligem |
Centro Georges Pompidou, Paris,
de uma respiração. Como atravessar a célebre ponte de Veneza: um suspiro.
1997
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A ilha do silêncio
Caro Jean-Luc,
Desejo uma arte antiteatral, para que esta possa viver sua vida sinceramente,
desprovida de espetacularização, como pensada por uma microssociedade ou
por uma sociedade secreta.
Penso em qualquer coisa como uma visão, algo que exprima o sentido de uma
memória, que se assemelhe a um objeto profético.