Iemanjá
Iemanjá
CASTELO BRANCO
‘’IEMANJÁ, MITO E
SUA INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE.’’
FORTALEZA – CE
03/09/2018
A MITOLOGIA
-Lenda
Com o casamento de Obatalá, o Céu, com
Odudua, a Terra, que se iniciam as peripécias dos
deuses africanos. Dessa união nasceram Aganju, a
Terra, e Iemanjá (yeye ma ajá = mãe cujos filhos são
peixes), a Água. Como em outras antigas mitologias, a
terra e a água se unem. Iemanjá desposa o seu irmão
Aganju e tem um filho, Orungã. Orungã, o Édipo africano,
representante de um motivo universal, apaixona-se por
sua mãe, que procura fugir de seus ímpetos arrebatados.
Mas Orungã não pode renunciar àquela paixão
insopitável. Aproveita-se, certo dia, da ausência de
Aganju, o pai, e decide-se a violentar Iemanjá. Essa foge
e põe-se a correr, perseguida por Orungã. Ia esse quase
alcançá-la quando Iemanjá cai no chão, de costas e
morre. Imediatamente seu corpo começa a dilatar-se.
Dos enormes seios brotaram duas correntes de água que
se reúnem mais adiante até formar um grande lago. E do ventre desmesurado,
que se rompe, nascem os seguintes deuses: Dadá, deus dos vegetais; Xango,
deus do trovão; Ogum, deus do ferro e da guerra;
Olokum, deus do mar; Oloxá, deusa dos lagos; Oiá,
deusa do rio Niger; Oxum, deusa do rio Oxum; Obá,
deusa do rio Obá; Orixá Okô, deusa da agricultura;
Oxóssi, deus dos caçadores; Oké, deus dos montes;
Ajê Xaluga, deus da riqueza; Xapanã (Shankpannã),
deus da varíola; Orum, o Sol; Oxu, a Lua. Os orixás que
sobreviveram no Brasil foram: Obatalá (Oxalá), Iemanjá
(por extensão, outras deusas-mães) e Xango (por
extensão, os outros orixás fálicos). Com Iemanjá,
vieram mais dois orixás yorubanos, Oxum e
Anamburucu (Nanamburucu). Em nosso país houve
uma forte confluência mítica: com as Deusas-Mães,
sereias do paganismo supérstite europeu, as Nossas
Senhoras católicas, as iaras ameríndias.
INFLUÊNCIAS
-Iemanjá e a Música Popular Brasileira
Iemanjá, além da Bahia e dos candomblés, com as práticas de seu povo
e sua religiosidade, dos temas da vida árdua litorânea e do cotidiano dos
pescadores, no cenário da música popular brasileira, já é presente em letras de
canções desde os primórdios da radiodifusão em alguns de seus versos mais
líricos. Podemos citar É Doce Morrer no Mar (1943) e Quem vem pra Beira do
Mar (1954) de Dorival Caymmi. Caymmi demonstra profunda devoção ao orixá
em Dois de Fevereiro (1957), título que refere-se ao seu grande festejo na
Bahia na praia do Rio Vermelho, considerado por Jorge Amado como o único
que se poderia considerar descendente espiritual de Castro Alves, sendo
mencionado na obra de louvores a este último como "Poeta de negros
pescadores, de Iemanjá e dos mistérios pobres da Bahia(...)". Em Bahia de
Todos-os-Santos, Jorge Amado nos revela mais da natureza dessa relação de
Caymmi com Iemanjá: "A música religiosa do negro baiano, com suas
promessas a dona Janaína, com suas superstições e sua intimidade com os
deuses, ele a recuperou para nós do abandono em que estava desaparecendo,
abandono que não se explica como tanta coisa não se explica no Brasil. Muitas
de suas canções são dedicadas a Iemanjá, deusa das águas da Bahia, música
de pescadores, da praia e do mar, canções que formam a parte mais poderosa
e permanente de sua obra, a maior de toda a música popular brasileira." R.
Antonio abordando o contexto em torno de Iemanjá da primeira metade do
século XX, complementa: "(...) Caymmi, na década de de 1930, cantando uma
canção para Iemanjá. Em muitos lugares do Brasil e para muitas plateias,
naquela época, a canção soou de modo algo obscuro, não de todo
compreensível. Havia, ali, estranheza, uma face não iluminada, misteriosa.
Porque as pessoas, sem dominar por completo a dimensão referencial da
mensagem, não tinham como decodificá-la por inteiro. Mas, com o tempo - com
a crescente visibilidade da cultura negromestiça em nosso país; com a
entronização dos orixás no mundo da assim chamada 'cultura superior' -, tudo
mudou. A canção se tornou universalmente clara para os brasileiros.
-Cinema e Teledramaturgia
Suas aparições no cinema brasileiro são dramáticas. Vale destaque o
filme Barravento (1962), dirigido por Glauber Rocha, com sua retratação crítica
ao misticismo religioso popular. O filme retrata o papel e os dilemas de uma
figura masculina escolhida por Iemanjá em uma pequena aldeia de
pescadores. Este personagem emblemático deveria seguir uma vida celibatária
para não ofender a muito ciumenta divindade, vindo a felicidade e estabilidade
do pequeno povoado a depender dessa relação. O filme explora o aspecto
possessivo e vingativo do orixá, que causaria a morte da mulher que se
deitasse com o seu protegido. Em Noites de Iemanjá (1971), o filme dirigido por
Milton Barragan alcança um diálogo com a platéia a partir de elementos bem
sucedidos popularmente como mistério, erotismo e folclore, apresenta uma
personagem enigmática numa trama cercada por mortes, este arquétipo de
femme fatale associado a figura de Iemanjá em referência às sereias
mitológicas já evidenciava-se em estudos como o de Edson Carneiro. Em
Espaço Sagrado, (1976) documentário realizado na Bahia, o diretor Geraldo
Sarno, que apresenta o candomblé e suas práticas dentro do espaço sagrado,
retrata o ato de uma oferenda a Iemanjá. Em O Escolhido de Iemanjá (1978),
com direção de Jorge Durán, é invocada como intercessora de uma
comunidade pobre através dos terreiros e seu escolhido, o Comandante
Nelson, no conflito contra Gangsters imobiliários. Deste mesmo ano há também
o curta-metragem Dia de Iemanjá, dirigido por Lula Oliveira. Vale destaque A
Filha de Iemanjá (1981) com direção de Milton Barragan e a atuação de Mary
Terezinha como protagonista, onde Iemanjá é representada através da
personagem que se diz sua filha, que ressurge ao final do Longa-metragem
para o marido e a filha na praia.
-Festas
Uma das maiores festas ocorre em Rio Grande, no Rio Grande do Sul,
devido ao sincretismo com Nossa Senhora dos Navegantes. No mesmo
estado, em Pelotas a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes vai até o
Porto de Pelotas. Antes do encerramento da festividade católica acontece um
dos momentos mais marcantes da festa de Nossa Senhora dos Navegantes
em Pelotas, que em 2008 chegou à 77ª edição. As embarcações param e são
recepcionadas por umbandistas que carregavam a imagem de Iemanjá,
proporcionando um encontro ecumênico assistido da orla por várias pessoas.
Porto Alegre
A Festa de Nossa Senhora dos Navegantes em Porto Alegre é a maior
festa religiosa da cidade brasileira do sul do Brasil, e homenageia Nossa
Senhora dos Navegantes e seu sincretismo afro-brasileiro. É realizada no dia 2
de fevereiro de cada ano desde 1870. Originalmente, constava de uma
procissão fluvial, com embarcações que singravam o Lago Guaíba desde o
cais do porto, levando a imagem da santa do Centro da cidade até a Igreja de
Nossa Senhora dos Navegantes. Hoje, por determinação impeditiva da
Capitania dos Portos, a procissão é terrestre, levando a imagem desde a Igreja
de Nossa Senhora do Rosário, no Centro da cidade, até a Igreja de Nossa
Senhora dos Navegantes. Os organizadores da festa consideram que esta é a
segunda maior romaria religiosa do País, ficando atrás apenas do Círio de
Nazaré realizada em Belém do Pará. Com uma grande participação popular
tanto na realização da festa, como nas comemorações
ANGOLA
Angola, existe a crença na divindade que se chama Kianda, equivalente
a Iemanjá, protetora dos pescadores e rainha das águas. Faz-se, todo ano, a
Festa da Kianda em bairros praianos de Luanda, e na lagoa do Ibendoa, na
província de Bengo.
URUGUAI
Em Montevidéu, fiéis se reúnem na praia de Ramirez no bairro Parque
Rodó a cada 2 de fevereiro para celebrar o Dia de Iemanjá. Centenas de
milhares de pessoas se sentam à espera do pôr do sol antes de lançar
pequenos barcos com oferendas para o oceano. Em 2015, o governo uruguaio
estimou que 100 000 pessoas visitaram a praia para as celebrações.
CUBA
Em Cuba, as celebrações realizam-se todos os anos no dia 7 de
Setembro. Yemayá também tem as cores azul e branca, é uma rainha do mar
negra, assume o nome cristão de La Virgen de Regla e faz parte da santería
como santa padroeira dos portos de Havana. Lydia Cabrera fala em sete
nomes igualmente, especificando que apenas uma Iemanjá existe, à qual se
chega por sete caminhos. Seu nome indica o lugar onde ela se encontra. Na
santeria, Yemayá é a mãe de todos os seres vivos, bem como a proprietária
dos oceanos e mares.
BIBLIOGRAFIA
https://diplomatique.org.br/iemanja-a-mae-poderosa/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Iemanjá