NORMA CASSARES - Como Fazer Conservação Preventiva

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CASSARES, Norma Cianflone. Como Fazer Conservação Preventiva em Arquivos e Bibliotecas.

São Paulo: Arquivo do Estado e Imprensa Oficial, 2000.

A melhor maneira para estabelecer critérios de conservação é conhecendo a natureza dos materiais
componentes dos arquivos, e seu comportamento diante dos fatores de degradação a que estão
expostos.  Como normalmente não há profissionais especializados em conservação e restauração
nas instituições, o guia pretende traçar princípios fundamentais sobre esses temas, para auxiliar os
profissionais sem experiência na área. (p.11)
Geralmente, é inviável para uma instituição a contratação de profissionais especializados na área,
para desenvolver programas de conservação e restauração do acervo. Por isso, esse guia tenta
auxiliar no cuidado preventivo dos documentos – incluindo armazenamento adequado, higienização
do ambiente e princípios básicos de intervenção.
Conceitos: (p.12)
 Preservação: é um conjunto de medidas e estratégias de ordem administrativa, política e
operacional que contribuem direta ou indiretamente para a preservação da integridade dos
materiais.
 Conservação: é um conjunto de ações estabilizadoras que visam desacelerar o processo de
degradação de documentos ou objetos, por meio de controle ambiental e de tratamentos
específicos (higienização, reparos e acondicionamento).
 Restauração: é um conjunto de medidas que objetivam a estabilização ou a reversão de
danos físicos ou químicos adquiridos pelo documento ao longo do tempo e do uso,
intervindo de modo a não comprometer sua integridade e seu caráter histórico.
A totalidade do acervo da Câmara Municipal de Araras tem o papel como suporte da informação,
além de tintas das mais diversas composições. O papel é basicamente composto por fibras de
celulose de diferentes origens. Sua degradação ocorre quando essas fibras são rompidas por algum
tipo de agente nocivo. (p.13)
 “A acidez e a oxidação são os maiores processos de deterioração química da celulose.
Também há os agentes físicos de deterioração, responsáveis pelos danos mecânicos dos
documentos. Os mais frequentes são os insetos, os roedores e o próprio homem”.
 É preciso diminuir ao máximo possível o ritmo de deterioração dos documentos, através de
cuidados com o ambiente, a higiene, o acondicionamento e o manuseio.
Fatores de degradação dos documentos:
1. Fatores Ambientais
a. Temperatura e umidade relativa: quando elevadas, aceleram as reações químicas de
deterioração do suporte, sobretudo do papel, além de criarem ambientes propícios
para proliferação de fungos e insetos (“conforto ambiental”). Doutro modo, quando
muito baixas, elas ressecam e distorcem os suportes. As flutuações de temperatura e
umidade são ainda mais nocivas, pois os documentos são higroscópicos, “isto é,
absorvem e liberam umidade muito facilmente e, portanto, se expandem e se
contraem com as variações de temperatura e umidade relativa do ar”. Essas variações
aceleram o processo de deterioração, ocasionando craquelamento de tintas,
ondulações nos papéis, danos nas emulsões de fotos, etc. (p.13-14)
Recomendação: temperatura em torno de 20°C e a umidade relativa de 45% a 50%.
Evitar oscilações de 3°C de temperatura e 10% de umidade relativa.
a. Radiação e luz: a radiação da luz (sobretudo a UV), em conjunto com a oxidação,
torna o papel frágil, quebradiço, amarelecido e escurecido. Simultaneamente, a tinta
desbota, alterando a legibilidade dos documentos.
Recomendação: manter o nível de luz o mais baixo possível, utilizar iluminação
artificial e filtros de radiação UV em janelas e lâmpadas fluorescentes.
b. Qualidade do ar: o ar possui poluentes gasosos
2. Agentes Biológicos
a. Fungos: fragilizam o suporte, causam manchas intensas, de difícil remoção.
Recomendação: política de controle ambiental, que ataque o “conforto ambiental”
necessitado para a proliferação do fungo; higienização constante, com uso de
aspirador e sem água. (p.17-18)
b. Roedores: características semelhantes ao anterior. (p.18)
c. Insetos:
c1. Barata: São atraídas pelos mesmos fatores citados e infestam o ambiente
rapidamente. Atacam o papel e os revestimentos, além de manchar o suporte
com os excrementos. (p.19)
c2. Broca: dependem das mesmas condições citadas, mas podem se espalhar
rapidamente em caso de contato com material contaminado. Ataca não só o
suporte do documento, mas também o mobiliário, portas, pisos, etc.
Recomendação: higienização metódica, higienização e separação prévia de
todo exemplar que for incorporado ao arquivo e, em caso de material
contaminado, isolamento rápido para o tratamento. (p.19-20)
c1. Cupim: apresenta riscos não só para as coleções como para o prédio em si.
Geralmente, ao atacarem o acervo, é porque já estão instalados em todo o
prédio. A única solução é com ajuda profissional na área de conservação.
3. Intervenções Inadequadas: São “procedimentos de conservação” em um conjunto
documental (geralmente realizados por profissionais destreinados) que resultam em danos
ainda maiores que os iniciais. (p.21)
4. Problemas de manuseio: “o manuseio abrange todas as ações de tocar no documento, sejam
elas durante a higienização pelos funcionários da instituição, na remoção das estantes ou
arquivos para uso do pesquisador, nas foto-reproduções, na pesquisa pelo usuário”. O
suporte-papel tem uma resistência determinada pelo seu estado de conservação, e o
manuseio inadequado pode ser um fator de degradação frequente. (p.22)
a. Vandalismo e furto: As entradas e saídas do acervo devem ser controladas e as
janelas devem ser mantidas fechadas e trancadas. O acesso à área de guarda deve
estar disponível para um número restrito de funcionários. Durante a consulta pelo
usuário, este deve apresentar documento de identificação, e sua requisição de
documentos deve ser feita por escrito. Na devolução dos documentos, é preciso que
o funcionário faça uma vistoria geral em cada um. (p.22-23)
5. Conclusão: Muitas medidas para se evitar danos irreversíveis à documentação podem ser
adotadas sem um grande investimento: treinamento (e atualizações) de profissionais na área
de conservação; monitoração dos fatores ambientais; filtros contra luz UV e uma política
efetiva de higienização. (p.23-24)
Documentos danificados sofrem um processo de deterioração que progressivamente levam-nos a
um estado de perda total. Interromper esse processo, através de procedimentos mínimos de
intervenção, é o objetivo da Estabilização. Ela deve ser feita por um profissional capacitada,
portanto, o primeiro passo é determinar quem será capaz de executá-la. (p.25)
 O primeiro passo para a estabilização (e a própria conservação de acervos) é a utilização de
materiais de qualidade arquivística, isto é, aqueles livres de quaisquer impurezas,
quimicamente estáveis, resistentes e duráveis. Tais materiais “distinguem-se pela
estabilidade, neutralidade, reversibilidade e inércia”.  Papéis e adesivos alcalinos, papéis
orientais, borrachas plásticas, etc. (p.26)
 A higienização rotineira é outro elemento de estabilização e conservação preventiva. Isso
porque a sujidade é o agente de deterioração que mais afeta os documentos (escure, mancha
e desfigura-o). Durante a higienização, é um bom momento para se levantar dados sobre as
condições de conservação e executar os “primeiros socorros” para interromper um processo
de deterioração. O processo de limpeza se restringe à limpeza de superfície e tem como
objetivo de reduzir poeira, partículas sólidas, incrustações e resíduos de excrementos de
insetos. Essa é sempre a primeira etapa de qualquer tratamento mais intenso de conservação.
(p.26-27)
o Em suportes fisicamente frágeis ou de textura muito porosa (papel japonês,
ressecado ou que sofreu ataque de fungos) a higienização talvez não seja possível
 A limpeza mecânica da superfície é feita através de pincéis, flanela (para as encadernações,
somente), aspirador de pó com proteção bocal, bisturi, pinça, espátula e cotonete. (p.28)
“Materiais arquivísticos têm os seus suportes geralmente quebradiços, frágeis, distorcidos ou
fragmentados. Isso se deve principalmente ao alto índice de acidez resultante do uso de papéis de
baixa qualidade. As más condições de armazenamento e o excesso de manuseio também contribuem
para a degradação dos materiais. Tais documentos têm que ser higienizados com muito critério e
cuidado”. (p.31)
 Os documentos manuscritos exigem alguns cuidados particulares. Algumas tintas
ferrogálicas podem causar danos, pelo seu alto índice de acidez; outras, à base de água,
podem estar secas e pulverulentas; por fim, as cópias de carbono são fáceis de “borrar”, ao
mesmo tempo em que o tipo de papel utilizado para isso é fino e quebradiço, tornando o
manuseio arriscado. Em todos esses casos, a limpeza mecânica deve ser evitada. (p.31-32)
 Mapas e desenhos de arquitetura podem ser limpos com pó de borracha e cotonetes secos,
embebidos em álcool. Quanto ao pôsteres e cartazes, recomenda-se não limpar à área
pictórica, uma vez que suas tintas e suporte são muito frágeis. (p.32)
Quanto ao espaço físico da área de guarda, recomenda-se limpar pisos e estantes apenas com
aspirador de pó. Solventes exalam vapores ácidos, que danificam o papel, e a água desequilibra a
umidade relativa do ambiente. (p.33)
Pequenos reparos são intervenções diminutas que visam interromper um processo de deterioração
em andamento. Eles devem obedecer a critérios técnicos e éticos, de forma a não aumentar os
danos. Documentos muito antigos ou fragilizados só devem ser tratados por especialistas, enquanto
os demais permitem algumas intervenções simples ou moderadas. “Os materiais utilizados para esse
fim devem ser de qualidade arquivística e de caráter reversível. Da mesma forma, toda a
intervenção deve obedecer a técnicas e procedimentos reversíveis. Isso significa que, caso seja
necessário reverter o processo, não pode existir nenhum obstáculo na técnica e nos materiais
utilizados”. (p.33-34)
 Os materiais utilizados nesses reparos são basicamente adesivos e papéis especiais. “Os
adesivos se restringem à cola metilcelulose e à cola de amido, para reparos de suporte, e
mistura de metilcelulose e PVA (poliacetato de vinila), para reparo de encadernações. Os
papéis apropriados para reparos em suportes são constituídos por fibras especiais e de
natureza quimicamente neutra. Existe uma variedade enorme de papéis orientais e das mais
diversas gramaturas, cores e tipos de fibras”. (p.34)
O acondicionamento protege os documentos contra os danos, armazenando-os de forma segura.
Deve ser realizado utilizando materiais de qualidade arquivística e necessita ser projetado
apropriadamente para o fim a que se destina. Mais do que “embalar” o documento, ele é parte do
processo de conservação e preservação dos acervos. Os materiais mais utilizados nessa etapa são:
papéis e cartões neutros ou alcalinos; papelões; filmes de poliéster (marca Melinex ou marca
Therfane/ Rodhia); fita adesiva dupla neutra; tiras ou cadarços de algodão; tubos de PVC e tecido
de linho. (p.35-36)
 Os documentos devem ser analisados segundo sua natureza, o tipo de suporte, o estado de
conservação e as condições de uso e manuseio para se definir o acondicionamento mais
adequado. Mas, via de regra, as estruturas mais utilizadas são caixas de papelão; envelopes,
pastas, e folders feitos com os papéis e os cartões especiais; e poliésteres para a guarda de
documentos planos (cartazes).
“O armazenamento é o sistema que recebe o documento, acondicionado ou não, para ser guardado.
Consiste no mobiliário das salas destinadas à guarda do acervo: estantes, arquivos e armários”. Os
móveis mais adequados são os de metal esmaltado. A madeira não revestida ou de fórmica não são
recomendadas, pois facilitam o surgimento de agentes biológicos, além de emitirem de produtos
voláteis ácidos. (p.36-37).

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