Modulo6 - UrgenciaEmergencia - Metabólicas e Respiratórias PDF

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Curso de Especialização em

Linhas de Cuidado em Enfermagem


URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

módulo vi: LINHA DE CUIDADO NAS URGÊNCIAS/EMERGÊNCIAS


CLÍNICAS RESPIRATÓRIAS E METABÓLICAS
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República Dilma Vana Rousseff
Ministro da Saúde Alexandre Padilha
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)
Diretora do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em Educação na Saúde

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitora Roselane Neckel
Vice-Reitora Lúcia Helena Pacheco
Pró-Reitora de Pós-Graduação Joana Maria Pedro
Pró-Reitor de Extensão Edison da Rosa

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


Diretor Sérgio Fernando Torres de Freitas
Vice-Diretora Isabela de Carlos Back Giuliano

DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
Chefe do Departamento Lúcia Nazareth Amante
Subchefe do Departamento Jane Cristina Anders

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM


Coordenadora Vânia Marli Schubert Backes
Subcoordenadora Odaléa Maria Brüggemann

COMITÊ GESTOR
Coordenadora Geral do Projeto e do Curso de Especialização Vânia Marli Shubert Backes
Coordenadora Didático-Pedagógica Kenya Schmidt Reibnitz
Coordenadora de Tutoria Lúcia Nazareth Amante
Coordenadora de EaD Grace Terezinha Marcon Dal Sasso
Coordenadora de TCC Flávia Regina Souza Ramos
Coordenadoras Pólos Silvana Martins Mishima, Lucieli Dias Pedreschi Chaves, Lucilene
Cardoso

EQUIPE DE APOIO
Secretaria: Claudia Crespi Garcia e Viviane Aaron Xavier
Tecnologia da Informação: Fábio Schmidt Reibnitz

AUTORAS
Sayonara Barbosa
Grace Terezinha Marcon Dal Sasso

REVISÃO TÉCNICA
Lolita Dopico da Silva
© 2013 todos os direitos de reprodução são reservados à Universidade Federal de Santa Catarina.
Somente será permitida a reprodução parcial ou total desta publicação, desde que citada a fonte.

Edição, distribuição e informações:


Universidade Federal de Santa Catarina
Campus Universitário, 88040-900 Trindade – Florianópolis – SC

M6 - Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências Clínicas Respiratórias e


Metabólicas

B238c BARBOSA, Sayonara


Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem: Linha de
cuidado nas urgências/emergências clínicas respiratórias e metabólicas /
Sayonara Barbosa; Grace Marcon Dal Sasso – Florianópolis (SC): Universidade
Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, 2013.
140 p.

ISBN: 978-85-88612-63-1

1. Urgência e Emergência. 2. Enfermagem - Assistência.

CDU – 616-083.98

Catalogado na fonte por Anna Khris Furtado D. Pereira – CRB14/1009

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL


Coordenação Geral da Equipe Eleonora Milano Falcão Vieira, Marialice de Moraes
Coordenação de Design Instrucional Andreia Mara Fiala
Design Instrucional Master Márcia Melo Bortolato
Design Instrucional Maragareth Rejane da Silveira
Revisão Textual Ariele Louise Barichello Cunha
Coordenação de Design Gráfico Giovana Schuelter
Design Gráfico Fabrício Sawczen
Design de Capa Rafaella Volkmann Paschoal
Projeto Editorial Cristal Muniz, Fabrício Sawczen
UFSC/ENFERMAGEM/PEN

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
LINHAS DE CUIDADO EM ENFERMAGEM

MÓDULO VI
LINHA DE CUIDADO NAS URGÊNCIAS/EMERGÊNCIAS
CLÍNICAS RESPIRATÓRIAS E METABÓLICAS

FLORIANÓPOLIS
2013
Carta do Autor
Caro aluno,
Neste módulo, compartilharemos com você aspectos fundamentais no cui-
dado ao paciente em condições de urgências¬/emergências clínicas respi-
ratórias, metabólicas e intoxicações exógenas. Este módulo é composto por
três unidades: Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respi-
ratórias; Aplicação da metodologia da assistência nas urgências/emergên-
cias metabólicas e eletrolíticas; e Aplicação da metodologia da assistência
nas intoxicações exógenas, grupos farmacológicos, e técnicas e procedimen-
tos de assistência ventilatória. Ao trilhar todas estas unidades você estará
construindo um caminho para exercer a sua prática profissional de forma
melhor fundamentada o que lhe propiciará prestar um cuidado mais ade-
quado aos pacientes. Que você faça uma excelente caminhada!

Sayonara Barbosa, Dra.


Grace Marcon Dal Sasso, Dra.

Nós somos o que fazemos repetidas vezes. Portanto, a excelência não é um ato, mas um hábito.
Aristóteles
Objetivo Geral
Ao final da leitura deste Módulo você deverá compreender os principais as-
pectos do cuidado de enfermagem aos pacientes nas urgências/emergências
respiratórias clínicas, metabólicas, eletrolíticas e intoxicações exógenas.

Carga Horária
45 horas.
Sumário

Unidade 1 – Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias ...........11


1.1 Introdução ................................................................................................................................... 11
1.2 Avaliação clínica do enfermeiro: anamnese, exame físico, laboratorial e exame por imagem...................... 11
1.2.1 Anamnese...............................................................................................................................................12
1.2.2 Exame físico............................................................................................................................................12
1.2.3 Exame laboratorial e por imagem................................................................................................................21
1.2.4 Exame por imagem...................................................................................................................................24
1.3. Insuficiência respiratória aguda........................................................................................................ 29
1.3.1. Fisiopatologia .........................................................................................................................................30
1.3.2. Insuficiência respiratória aguda - classificação..............................................................................................31
1.3.3 Asma......................................................................................................................................................34
1.3.4 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).................................................................................................37
1.3.5 Pneumonia..............................................................................................................................................42
1.3 Distúrbios acidobásicos ................................................................................................................... 45
1.5 Grupos farmacológicos.................................................................................................................... 50
1.6 Oxigenoterapia.............................................................................................................................. 56
1.7 Intubação endotraqueal................................................................................................................... 61
1.7.1 Antes da intubação:..................................................................................................................................62
1.7.2 Durante o procedimento:...........................................................................................................................62
1.7.3 Após o procedimento:................................................................................................................................62
1.8 Registro........................................................................................................................................ 63
1.9 Ventilação mecânica invasiva........................................................................................................... 64
1.9.1 Parâmetros básicos para regulagem do ventilador mecânico.................................................................................. 64
1.9.2 Modalidades ventilatórias...........................................................................................................................65
1.10 Alarmes...................................................................................................................................... 66
1.11 Resumo ..................................................................................................................................... 70
1.12 Fechamento ............................................................................................................................... 71
1.13 Recomendação de leitura complementar ......................................................................................... 71
Unidade 2 - Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas
e eletrolíticas ..................................................................................73
2.1 Introdução ................................................................................................................................... 73
2.2 Emergência metabólica diabética...................................................................................................... 73
2.3 Cetoacidose diabética..................................................................................................................... 74
2.4 Estado hiperosmolar não cetótico...................................................................................................... 82
2.5 Acidose lática................................................................................................................................ 84
2.6 Hipoglicemia................................................................................................................................. 85
2.7 Distúrbios hidroeletrolíticos.............................................................................................................. 88
2.7.1 Distúrbios do potássio................................................................................................................................88
2.7.2 Hipercalemia............................................................................................................................................89
2.7.3 Hipocalemia.............................................................................................................................................95
2.8 Distúrbios do cálcio......................................................................................................................... 97
2.8.1 Hipercalcemia..........................................................................................................................................97
2.8.2 Hipocalcemia.........................................................................................................................................102
2.9 Distúrbios do sódio (Na+)............................................................................................................. 105
2.9.1 Hipernatremia........................................................................................................................................105
2.9.3 Hiponatremia.........................................................................................................................................108
2.10 Resumo ................................................................................................................................... 110
2.11 Fechamento ............................................................................................................................ 111
2.12 Recomendação de leitura complementar ....................................................................................... 111
Unidade 3 – Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas
intoxicações exógenas. ...................................................................113
3.1 Introdução ................................................................................................................................. 113
3.2 Abordagem inicial......................................................................................................................... 114
3.3 Intoxicação por organofosforados e carbamatos................................................................................ 116
3.4 Classificação do paciente intoxicado por chumbinho no primeiro atendimento....................................... 119
3.5 Intoxicação por fármacos e drogas não lícitas................................................................................... 121
3.5.1 Substâncias do tipo Anfetamina  (arrebites, bolinhas)..................................................................................122
3.5.2 Substâncias Alucinógenas ou do tipo psicodélica..........................................................................................122
3.5.3 Barbitúricos - Pentobarbital, Secobarbital, Amobarbital..................................................................................123
3.5.4 Narcóticos.............................................................................................................................................123
3.5.5 Sedativos não barbitúricos (exemplos: Diazepam, Cloriadiazepóxido, Orazepam, Lorazepam, Midazolam)..........124
3.6 Intoxicação por acidentes com animais peçonhentos....................................................................................... 126
3.6.1 Serpentes..............................................................................................................................................126
3.6.2 Acidentes botrópicos ...............................................................................................................................126
3.6.3 Acidentes crotálicos ................................................................................................................................127
3.6.4 Acidentes laquéticos ...............................................................................................................................128
3.6.5 Acidentes elapídicos ...............................................................................................................................128
3.7 Aranhas...................................................................................................................................... 131
3.7.1 Loxoscelismo.........................................................................................................................................131
3.7.2 Foneutrismo..........................................................................................................................................132
3.7.3 Latrodectismo........................................................................................................................................132
3.7.4 Foneutrismo..........................................................................................................................................133
3.7.5 Loxocelismo...........................................................................................................................................133
3.7.6 Latrodectismo........................................................................................................................................133
3.8 Escorpiões................................................................................................................................... 134
3.9 Resumo ..................................................................................................................................... 137
3.10 Fechamento.............................................................................................................................. 137
3.11 Leitura Complementar:................................................................................................................ 137

Referências....................................................................................................138
Minicurrículo do(s) autor(es)...........................................................................141
UNIDADE 1
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Unidade 1 – Aplicação da metodologia da assis-


tência nas urgências respiratórias
Ao final desta unidade o aluno será capaz de aplicar a metodologia da as-
sistência nas urgências respiratórias

1.1 Introdução
Os distúrbios respiratórios são uma causa frequente de procura por aten-
dimento nas unidades de emergência. Por implicarem em condições que
rapidamente colocam a vida em risco, é preciso que o enfermeiro tenha
condições de identificar precocemente as alterações presentes e riscos po-
tenciais e intervir prontamente, de modo a propiciar melhores resultados
para o paciente.

Nesta unidade você aprenderá a reconhecer as principais condições de ur-


gências clínicas respiratórias, de forma a implementar o cuidado de enfer-
magem para os pacientes com estes distúrbios.

O primeiro passo na metodologia de assistência de enfermagem está vol-


tado para a identificação dos problemas do paciente. Portanto, nesta uni-
dade, você também aprenderá como identificar as alterações relacionadas
ao sistema respiratório, de modo que possa planejar a assistência de enfer-
magem e avaliar os resultados das intervenções de enfermagem.

1.2 Avaliação clínica do enfermeiro: anamnese,


exame físico, laboratorial e exame por imagem.
Devido à necessidade de intervenção rápida, que geralmente é observada
na unidade de emergência, nem sempre é possível ter o tempo adequado
para a identificação das necessidades afetadas dos pacientes. Entretanto,
por mais curto que seja esse tempo, é importante que o enfermeiro apli-
que uma metodologia de identificação de problemas para que, em seguida,
possa identificar os principais pontos voltados para o cuidado e posterior-
mente implementar as ações de enfermagem.

11
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Para que a conduta de enfermagem seja realizada de forma rápida e efi-


ciente, é importante que o enfermeiro conheça os principais critérios de
avaliação respiratória, de modo a identificar evidências de obstrução das
vias aéreas ou de insuficiência respiratória aguda.

1.2.1 Anamnese
Na anamnese (ou história clinica) são obtidas as informações de interesse
do enfermeiro que permitem compreender as dimensões do processo saú-
de-doença vivenciado pelo paciente. A anamnese também visa à relação
enfermeiro-paciente. É fundamental que a anamnese siga um roteiro para
facilitar o cruzamento e análise das informações na sequência. Dentre al-
guns dos dados mais comumente obtidos destacam-se:

• Identificação do paciente: nome, idade, naturalidade, procedência,


profissão, ocupação.
• Motivo da admissão ou queixa principal.

• História clínica atual: características dos sinais e sintomas - início


(súbito, gradual), evolução (contínua, intermitente), intensidade, fa-
tores agravantes e associados.
• História pregressa: alergias, patologias prévias, intervenção cirúrgi-
ca, internações, traumatismo, acidentes, medicamentos em uso.
• História familiar: patologias prévias - enxaqueca, acidente vascu-
lar cerebral (AVC), tuberculose (TBC), hipertensão arterial sistêmica
(HAS), diabetes melittus (DM), câncer (CA),  cardiopatias,  entre outras.
• Hábitos de vida: dieta, ingesta líquida, etilismo, tabagismo, uso de
drogas, eliminação fisiológica: fezes e urina (aspecto, frequência, vo-
lume, odor).

1.2.2 Exame físico


O exame físico é uma etapa fundamental para o planejamento do cuidado
de enfermagem, no qual o paciente é avaliado por meio de sinais e sin-
tomas, procurando por anormalidades que podem sugerir problemas no
processo de saúde e doença. Esse exame deve ser realizado de maneira
sistematizada, no sentido céfalo-caudal, através de uma avaliação minu-
ciosa de todos os segmentos do corpo utilizando as técnicas propedêuticas:
inspeção, palpação, percussão e ausculta.

12
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Inspeção
A inspeção envolve uma observação global da aparência do paciente e in-
clui a visão, a escuta e o odor. O objetivo da inspeção é observar os dados
normais e alterações do paciente, prestando atenção a mudanças óbvias e
súbitas que podem requerer investigação posterior. Vários são os parâme-
tros a serem observados na inspeção, tais como (a) frequência respiratória,
(b) o ritmo respiratório, (c) a qualidade da respiração, (d) o grau de esforço
ventilatório, (e) a cor da pele, (f) presença de deformidades, (g) estado men-
tal, (h) tosse, todos descritos a seguir (MOORE, 2007):

a) Frequência respiratória – A frequência respiratória deve ser contada


por um minuto inteiro, e avaliada em uma das seguintes categorias:
• Eupneia ou frequência “normal” – nas frequências entre 12 a 20
movimentos ventilatórios por minuto (mvm).

• Taquipneia – frequências superiores a 20 por minuto, geralmen-


te é o primeiro indicador de dificuldade respiratória. Possíveis
causas incluem febre, ansiedade, dor, problemas circulatórios, ou
ainda, anemia.

• Bradipneia – frequência respiratória inferior a 10 movimentos


respiratórios por minuto. Pode ser um indicativo de elevação da
pressão intracraniana, depressão do centro respiratório, overdose
por narcóticos, deterioração severa na condição do paciente, hi-
potermia.

• Hiperpneia - Aumento na profundidade da respiração além do


normal, que pode existir com ou sem hiperventilação. Pode estar
presente em diferentes situações tais como acidose metabólica,
febre, ansiedade.

b) Ritmo – o ritmo respiratório tem ciclos regulares, com a fase


expiratória ligeiramente mais longa que a fase inspiratória. Uma
curta pausa é normal entre a expiração e a próxima inspiração. O
movimento do tórax deve ser igual, bilateral e simétrico. Geralmente,
o ritmo respiratório é diferente entre homens e mulheres. Nos
homens, o ritmo respiratório parece ser originado do abdômen
ou diafragma, e as mulheres tendem a respirar pela musculatura
torácica ou dorsal. O uso excessivo da musculatura abdominal
indica um aumento do esforço ventilatório. É importante que você
esteja alerta das diferentes circunstâncias nas quais os pacientes
parecem usar a musculatura abdominal, porque isso irá prevenir
uma avaliação incorreta.
13
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Na observação do ritmo, é importante identificar a dispneia, que é a expe-


riência subjetiva de sensações respiratórias desconfortáveis. Apesar do seu
caráter subjetivo, algumas definições antigas misturam o verdadeiro sinto-
ma com a presença de sinais físicos, tais como batimento de asas do nariz
ou elevações da frequência respiratória. A dispneia também possui algu-
mas denominações especiais (MARTINEZ; PADUA; TERRA FILHO, 2004):

• Platipneia – é o nome dado à sensação de dispneia, que surge


ou se agrava com a adoção da posição ortostática, particular-
mente em pé. Classicamente, esse fenômeno ocorre em pacien-
tes com quadros de pericardite. Também pode estar presente
na hipovolemia.
• Trepopneia - é a sensação de dispneia, que surge ou piora em
uma posição lateral, e desaparece ou melhora com o decúbito
lateral oposto. É uma queixa não específica, que pode surgir em
qualquer doença, comprometendo um pulmão mais intensa-
mente do que o outro. Pode estar presente no derrame pleural
unilateral ou paralisia diafragmática unilateral.
• As alterações no ritmo podem também indicar distúrbios
subjacentes, tais como: Respiração de Kussmaul - um padrão
respiratório que se caracteriza por inspirações profundas
seguidas de um período de apneia e uma expiração rápida e
breve, acompanhado por outro período de apneia. Resulta da
estimulação do centro respiratório cerebral; ocorre nos casos
de acidose diabética.
• Respiração de Cheyne-Stokes - o padrão respiratório se apresenta
como período de apneia seguido por aumento progressivo da
amplitude respiratória, até atingir um máximo, quando então
diminui progressivamente, entrando em um novo período de
apneia. Esse ritmo respiratório ocorre mais comumente em
pacientes com insuficiência cardíaca congestiva grave, poden-
do também estar presente em vigência de lesões do sistema
nervoso central, hipertensão intracraniana, intoxicação por
morfina.
• Respiração de Biot - É caracterizada por irregularidade impre-
visível. Períodos de apneia irregulares seguidos por períodos
respiratórios com frequência e amplitude variáveis, sem qual-
quer padrão de sucessão entre eles. Ocorre em pacientes com
hipertensão intracraniana e lesões do sistema nervoso central.

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Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

A frequência, o ritmo e a qualidade dos movimentos


ventilatórios são pontos-chave da função respiratória, podendo
também ser indicadores de disfunção neurológica.

c) Qualidade da respiração
Normalmente, o movimento torácico é simétrico. Falência da parede to-
rácica em elevar-se adequadamente pode indicar fibrose, colapso de lo-
bos superiores ou obstrução brônquica. Dor torácica súbita e aguda, como
encontrada no pneumotórax, pode inibir o paciente a realizar respirações
profundas, resultando em hipoventilação alveolar.

d) Grau de esforço ventilatório


O uso de musculatura acessória (tais como dos músculos esternocleidomas-
toideo, escaleno e trapézio) pode indicar dificuldade ventilatória. O paciente
também pode apresentar ortopneia. Pacientes com dificuldade expiratória
podem ter anormalidades de retração pulmonar e/ou resistência de vias
aéreas, em condições como enfisema, edema pulmonar ou asma. Aumento
do esforço inspiratório pode indicar obstrução de vias aéreas superiores por
corpo estranho ou anafilaxia, por exemplo. É importante observar a influên-
cia da severidade da dificuldade respiratória em atividades comuns, como
caminhar ou falar. Outros sintomas físicos incluem a respiração com lábios
fechados na expiração, em pacientes que tentam forçar a saída do ar de al-
véolos hiperdistendidos. Batimentos de asa de nariz pode indicar dificuldade
respiratória em adultos, embora seja mais comum em crianças.

Se a expansão torácica é menor do que o normal (3 a 6 cm),


observe se há evidência de que o paciente está usando
músculos acessórios quando respira, incluindo elevação dos
ombros, retração dos músculos intercostais e uso dos músculos
escalenos e esternocleidomastóideos.

e) Cor da pele
A cianose pode ocorrer quando há uma grande quantidade de hemoglo-
bina não saturada, e pode ser detectada quando a saturação de oxigênio
no sangue arterial cai abaixo de 85%. A cianose geralmente é considerada
um sinal tardio da disfunção respiratória, entretanto é sujeita a uma varia-
ção considerável. A cianose é de difícil avaliação sob luz artificial e melhor
identificada nos lábios e na língua. Há dois tipos de cianose.

15
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

A aparência clínica da cianose deve sempre ser considerada


cuidadosamente, já que sua ausência ou presença geralmente
é determinada de modo subjetivo. Considere que as impressões
podem ser influenciadas por fatores como elasticidade e cor da
pele, iluminação ambiente e estado do leito capilar, que podem,
por vezes, sugerir uma aparência cianótica. Se há sugestão de
cianose, correlacione-a a outras alterações clínicas.

• A cianose periférica, que geralmente indica má circulação,


é observada na pele e leito ungueal e melhor identificada ao
redor dos lábios, lóbulo da orelha e ponta dos dedos.
• A cianose central, que indica problemas circulatórios ou venti-
latórios, é indicada por uma cor azulada na língua e lábios. Na
ausência de cianose central, a cianose periférica indica proble-
mas circulatórios em vez de distúrbios respiratórios.

Palavra do profissional
Deve-se ter uma atenção especial ao avaliar a cor da pele em
pacientes de pele com cor escura, pois as mudanças na cor da
pele, particularmente cianose, não são facilmente detectáveis.
É importante notar que pacientes anêmicos podem ter
hemoglobina insuficiente para produzir a cor azulada das
membranas mucosas que caracteriza a cianose.

f) Presença de deformidades
O baqueteamento digital ocorre como resultado de uma condição crônica
formada durante um longo período de tempo. Isso pode ser indicativo de
hipoxemia originada por doença pulmonar crônica ou cardiovascular.

Deformidades do tórax anterior podem afetar a qualidade da respiração. O


diâmetro do tórax anterior e posterior deve ser comparado com o diâmetro
de um lado a outro. Se o diâmetro anteroposterior é aproximadamente o
dobro da medida do diâmetro de um lado a outro, isso indica o formato
de “tórax em barril” causado pelo enfisema. Deformidades espinhais tais
como cifose também influencia a expansão pulmonar.

16
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

g) Estado mental
A redução do nível de consciência do paciente e/ou a alteração do estado
mental pode indicar hipoxemia. Os sinais podem incluir um comporta-
mento inapropriado, agitação e confusão mental. Qualquer mudança no
estado mental deve ser comunicada imediatamente, pois isto pode indicar
que o cérebro esta sofrendo privação de oxigênio. Se não forem tomadas
medidas apropriadas e imediatas, o paciente pode desenvolver deteriora-
ção do quadro clinico e apresentar inconsciência, que pode resultar em
dano cerebral irreversível.

É importante considerar que a redução do nível de consciência


pode estar também associada a alterações estruturais do
sistema nervoso central, ou ainda à ocorrência de hipoglicemia,
encefalopatia hepática e urêmica.

h) Tosse
Avaliação da tosse do paciente é importante, pois indica a dificuldade de
eliminação de secreção ou líquidos que estejam obstruindo os pulmões ou
vias aéreas. A avaliação da tosse inclui várias observações importantes,
sendo o escarro um indicativo útil da patologia pulmonar.

Palpação
É o uso do toque para identificar sinais físicos, e geralmente é usada para
determinar a densidade dos tecidos e movimento do tórax. Outras con-
dições que podem ser determinadas pela palpação incluem: temperatura
e turgor da pele, simetria de movimento ventilatório, expansão torácica,
uso de musculatura ventilatória, qualidade das vibrações pulmonares,
crepitação (enfisema subcutâneo), posição traqueal. A palpação da caixa
torácica pode ser particularmente efetiva no diagnóstico diferencial. Ela é
realizada colocando ambas as mãos no tórax posterior (ou anterior) com
os polegares em contato na linha média espinhal (ou esternal). O tórax
deve mover-se simetricamente. Movimentos assimétricos do tórax podem
indicar: atelectasia unilateral, pneumotórax, tórax instável (fratura de cos-
telas), dentre outras condições.

A palpação da traqueia revela a sua localização e serve como um indicador


da posição do mediastino. No paciente idoso um desvio da traqueia para a
direita pode ocorrer devido à pressão de arco aterosclerótico da aorta. A tra-
queia pode estar desviada para lado oposto ou mesmo lado do lado afetado.
Dentre os estados patológicos indicados por desvios traqueais destacam-se:
17
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Para o lado afetado: atelectasia, paralisia de nervo frênico,


fibrose.
• Para o lado contralateral: consolidação, tumor de
mediastino, pneumo e hemotórax.

A palpação também é usada na determinação do frêmito (vibrações da


parede torácica criadas durante a fala ou ventilação). As vibrações duran-
te estas atividades são conduzidas através dos brônquios e parênquima
pulmonar até a superfície da pele, onde as oscilações são sentidas como
vibrações da parede torácica. O frêmito bilateral deve ser checado e com-
parado na parede torácica posterior e anterior. Aumento no frêmito está
associado com condições que aumentam a densidade do tecido. Materiais
sólidos ou líquidos entre os tecidos transmitem a vibração melhor que o ar.
Diminuição no frêmito ocorre quando há uma quantidade anormal de ar
no pulmão ou espaço pleural.

Percussão
A informação obtida pela percussão é limitada. Apenas lesões grandes ou
processos patológicos (por exemplo, derrames pleurais com mais de 500 ml)
podem ser determinados por esta técnica. A avaliação de estruturas subja-
centes (identifica ar, líquido ou material sólido) é realizada através da per-
cussão sobre osso, músculo, líquido ou tecido pulmonar consolidado para
produzir um o respectivo som. Áreas de tecido preenchidas com ar produ-
zem sons ressonantes (timpânicos), que são normais sobre o tecido pulmo-
nar sadio. Áreas de tecido hiperinflado produzem sons hiperressonantes.

Ausculta
Os sons ventilatórios são reflexos do modo como o ar circula nas vias aére-
as, podem ser normais ou anormais. Os tipos de sons normais são:

a) Som traqueal
Som de caráter tubular, timbre rude, presente nas duas fases da respira-
ção, mais intenso na expiração, ouvido principalmente na região cervical
anterior e esternal.

b) Som brônquico
Variante do som traqueal ouvido sobre as zonas de projeção dos brônquios
de grande calibre, principalmente sobre o manúbrio esternal. O compo-

18
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

nente expiratório é mais pronunciado do que o inspiratório, seu timbre é


rude e o tom grave. É anormal quando detectado em zonas representativas
de projeção dos sons da periferia dos pulmões.

c) Som broncovesicular
É ouvido nas regiões paraesternais, infra e supraclaviculares e possui algu-
mas características dos sons brônquico e vesicular. É mais grave que o som
vesicular e mais suave do que o som brônquico, é audível igualmente na
inspiração e expiração. A expiração tem duração e intensidade iguais, não
havendo pausa entre elas.

d) Som vesicular ou murmúrio vesicular


É o som ouvido na periferia pulmonar durante a respiração normal, du-
rante a inspiração e o início da expiração, não se percebendo qualquer
intervalo silencioso entre as fases da respiração. São mais suaves, menos
ásperos e com um tom mais agudo do que os sons brônquicos. Audível em
todo o tórax excetuando-se as regiões de projeção dos outros sons. O mur-
múrio vesicular é audível, normalmente, no restante do tórax. A inspiração
tem intensidade e duração maiores que as da expiração; ausculta-se toda
a inspiração e somente o terço inicial da expiração; o som é suave, não ha-
vendo pausa entre inspiração e expiração.

O som vesicular encontra-se com a sua intensidade aumentada


quando: o paciente respira amplamente com a boca aberta,
após esforço, em crianças e em pessoas emagrecidas; nos
portadores de afecções pulmonares unilaterais – no lado não
afetado. O som apresenta intensidade diminuída nas seguintes
condições: pneumotórax, hidrotórax, espessamento pleural,
enfisema pulmonar, dor torácica, obstrução das vias aéreas
superiores, oclusão parcial/total de brônquios ou bronquíolos.
A fase expiratória do som vesicular está prolongada na asma
brônquica, enfisema e bronquite.

19
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Os tipos de sons normais adventícios ou anormais classificam-se em:

a) Sons contínuos
São os sons que se superpõem ao som vesicular, podendo ser ouvidos em
qualquer fase da respiração. Resultam de condições no parênquima pul-
monar que favorecem a transmissão do som, tais como a consolidação. São
mais extensos na expiração. Esses sons podem ser intensos e obscurecer os
sons normais da respiração. Podem ocorrer na inspiração e/ou na expiração,
ser localizados ou difusos e ser encontrados em pequena ou grande quan-
tidade; todas essas características devem ser registradas. Dividem-se em:

• Ronco
É usado para denominar os sons graves com ruído alto, semelhan-
tes ao roncar ou ressonar das pessoas. São produzidos quando as
vias respiratórias maiores estão repletas de líquido.
• Sibilo
Sons agudos produzidos pelas vias respiratórias quando em cons-
trição e que ocorrem durante a expiração; semelhantes a um as-
sobio ou chiado.
b) Sons descontínuos
São sons explosivos, intermitentes e de curta duração. São pequenos sons
de estalidos, borbulhante ou do tipo chocalho que se ouvem numa parte do
pulmão. Eles ocorrem quando o ar se move através das vias respiratórias
repletas de líquido. Dividem-se em:

• Estertores finos (ou crepitantes) - frequência relativamente


alta, pequena amplitude e duração mais curta, não são influen-
ciados pela tosse e são ouvidos na metade final da inspiração.
O som não se altera com a tosse, modifica-se com a mudança
de posição e é influenciado pela gravidade. O som é comparado
ao ruído produzido por um velcro.
• Estertores grossos (ou bolhosos) - têm frequência mais baixa
e maiores amplitude e duração que os estertores finos, são ou-
vidos principalmente no início da inspiração e em quase toda
a expiração e são modificados ou mesmo desaparecem com a
tosse. Modifica-se com a tosse e não se altera com a posição do
paciente.
• De origem pleural - Atrito pleural: apresenta-se como um
ruído irregular, descontínuo, mais intenso na inspiração e nas
regiões axilares inferiores. Frequentemente comparado com o
ranger de couro atritado. Tem grande duração, baixa frequência
e tonalidade grave, mais comum nas regiões axilares inferiores.
20
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Saiba mais
Neste site você encontra um tutorial que irá auxiliá-lo na
avaliação dos sons pulmonares - <http://www.virtual.unifesp.
br/unifesp/torax/>

1.2.3 Exame laboratorial e por imagem


Os exames laboratoriais auxiliam na identificação das diferentes intercor-
rências. Um exame frequentemente realizado na avaliação da função res-
piratória do paciente em unidade de emergência é a gasometria arterial. A
obtenção da amostra de sangue para a realização deste exame tem uma
série de implicações que dizem respeito à maneira correta de realização do
exame, armazenamento e transporte da amostra. Amostras que demoram
a chegar ao laboratório, ou coletadas de modo incorreto comprometem os
resultados do cuidado de saúde ao paciente.

• Gasometria arterial

A análise dos gases do sangue arterial é uma parte essencial da avaliação


e manuseio do estado de oxigenação e equilíbrio acidobásico do paciente.
A utilidade deste exame como acessório ao diagnóstico depende da capa-
cidade de interpretação correta de seus resultados.

A gasometria do sangue arterial consiste na análise dos gases sanguíneos


(oxigênio, dióxido de carbono), bicarbonato e pH, permitindo a avaliação
da oxigenação, da adequação da troca gasosa nos pulmões e do o estado
acidobásico. Os gases sanguíneos devem ser interpretados conjuntamente
com a história clínica do paciente e exame físico.

• Oxigenação

Os valores da gasometria arterial que refletem a oxigenação incluem a


pressão parcial de oxigênio no plasma arterial (PaO2) e a saturação arterial
de oxigênio da hemoglobina (SaO2).

a. PaO2
É a pressão parcial de O2 dissolvida no sangue arterial. A PaO2 nor-
mal (ou pO2) é de 80 a 100 mmHg ao nível do mar. A pO2 diminui
no idoso; o valor de indivíduos de 60 a 80 anos de idade varia de 60
a 80 mmHg.

21
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

b. SaO2
Refere-se à quantidade de oxigênio ligado à hemoglobina. A satu-
ração normal de hemoglobina varia de 93 a 99%. A SaO2 é muito
importante porque a maioria do O2 fornecido aos tecidos é trans-
portado através da hemoglobina.
Tanto a PaO2 quanto a SaO2 são usadas para avaliar a oxigenação. A dimi-
nuição da oxigenação do sangue arterial (pO2 menor que 80 mmHg) é refe-
rida como hipoxemia. Hipoxemia é diferente de hipóxia, que é diminuição
de oxigênio a nível tissular. A força com que o oxigênio liga-se à molécula
de hemoglobina tem implicações clínicas importantes. Se o oxigênio liga-se
fracamente, a hemoglobina pode liberar o oxigênio antes que alcance os te-
cidos que dele necessitam. Se o oxigênio liga-se muito fortemente, ele pode
não ser transferido aos tecidos. A força da ligação oxigênio-hemoglobina é
graficamente representada na curva de dissociação da hemoglobina, que
pode ser usada para estimar a PaO2 se a saturação de oxigênio é conhecida.
Por exemplo, a pO2 é 97 mmHg e está associada com uma SaO2 de 97%. Se
a pO2 cai para 80 mmHg, a SaO2 cai apenas para 95%. Porém, se a pO2 cai de
80 para 60 mmHg, a SaO2 irá cair de 95 para 90%. Embora estes exemplos
reflitam uma diminuição da pO2 o paciente não estaria imediatamente com-
prometido já que a hemoglobina ainda está bem saturada com O2 .

A zona crítica da curva da dissociação da oxihemoglobina ocorre


quando a pO2 cai abaixo de 60 mmHg. A este ponto, a curva cai
de forma aguda e pequenas mudanças na pO2 são refletidas
em grandes mudanças na saturação de O2. Estas mudanças
na SaO2 podem provocar uma diminuição significativa no O2
fornecido para os tecidos.

• Ventilação / estado ácido-básico

Os valores que refletem a ventilação e o equilíbrio ácido/básico incluem o


pH, pCO2 e o HCO3.O pH: refere-se à concentração de íons hidrogênio (H+)
no sangue. O pH é o logaritmo negativo da concentração de íons H+. O pH
normal varia de 7.35 a 7.45. Se ocorre elevação dos íons H+, ocorre queda
do pH, resultando em acidemia. Por outro lado, uma diminuição de íons H+
resulta em um pH elevado e consequente alcalemia.

O sufixo –mia é usado para referir-se à alteração no pH. O sufixo


-ose refere-se à condição ou processo que causa a alteração no pH.

22
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

a) PCO2: ou PaCO2
É a pressão parcial de CO2 dissolvida no plasma arterial. A PCO2 normal
varia entre 35 a 45 mmHg e sua concentração é regulada pelo sistema
neurológico. Uma pCO2 > 45 mmHg indica acidose respiratória, e um valor
inferior a 35 mmHg indica alcalose respiratória. Se um paciente hipoventi-
la, o CO2 é retido, levando a acidose respiratória. Se um paciente hiperven-
tila, o excesso de CO2 é eliminado pelos pulmões, resultando em alcalose
respiratória.

b) HCO3
É a concentração de bicarbonato de sódio no sangue. A sua faixa de norma-
lidade vai de 22 a 26 mEq/l. O HCO3 é regulado pelos rins. O bicarbonato
neutraliza ácidos. A regulação do equilíbrio acidobásico ocorre por meio
do sistema tampão, que pode ser descrito como um mecanismo para neu-
tralizar os ácidos. Três sistemas tampão existem para a manutenção do
equilíbrio acidobásico: o sistema tampão no sangue, no sistema respirató-
rio e no sistema renal.

c) O sistema tampão do sangue


É ativado quando ocorrem mudanças na concentração de íons H+; quando
estes se elevam, o pH cai, resultando em acidose. O bicarbonato combi-
na com o íons H+ para formar ácido carbônico (H2CO3), que por sua vez
quebra-se em CO2 (eliminado pelos pulmões) e água, através da seguinte
reação: H+ + HCO3 ↔ H2CO3 ↔ H2O + CO2.

d) O sistema tampão respiratório


Atua através da eliminação do excesso de CO2 dos pulmões. Este processo
inicia-se assim que ocorre uma alteração ácido/básica.

e) O sistema tampão renal


Funciona excretando o excesso de íons H+ e retendo bicarbonato. Este sis-
tema é ativado mais lentamente e pode levar mais de dois dias para regu-
lar o equilíbrio acidobásico.

Compensação
É o termo usado para descrever os mecanismos corporais para a restaura-
ção do pH normal, quando confrontado com estados de acidose ou alcalo-
se. Em um pH normal, a proporção de bicarbonato para o dióxido de car-
bono é de 20:1. A compensação envolve o ajuste do pCO2 ou bicarbonato
usando o componente que não está afetado para voltar esta relação para
20:1. Por exemplo, durante um problema respiratório, os rins fazem esta

23
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

compensação ajustando o bicarbonato (esta resposta é lenta, leva mais de


24 horas) e em um problema metabólico, os rins compensam ajustando o
dióxido de carbono (resposta rápida, ocorre em questão de minutos).

1.2.4 Exame por imagem


O RX é um tipo de radiação eletromagnética penetrante e invisível ao olho
humano, com comprimento de onda menor que o da luz visível. Os raios
X são produzidos quando se bombardeia um alvo, como um metal, com
elétrons em alta velocidade. Essa capacidade de penetração permite que
os raios X sejam utilizados para fazer imagens do interior do corpo huma-
no. Uma radiografia tradicional é criada quando os raios X penetram uma
estrutura e produzem imagens em um filme fotográfico.

Cada radiografia apresenta em suas imagens um continuum de sombras


que variam do preto ao branco devido ao modo como as estruturas ou te-
cidos do corpo absorvem o feixe de raio X. Os raios X penetram os tecidos
corporais que tem mínima densidade de tecido, tais como ar ou estruturas
preenchidas com ar, e produzem áreas negras ou escuras na radiografia;
estas áreas são chamadas radiolucentes. Áreas ou tecidos corporais que
não podem ser penetradas pelos raios X são radiopacas e apresentam-se
claras ou brancas na radiografia. Assim, cada estrutura ou tecido corporal
tem diferente radiodensidade.

Existem quatro densidades radiológicas:

a) Gás (ar) que aparece negro ou radiolucente; exemplos são gás ou ar


na traqueia, brônquios ou estômago.
b) Gordura, que aparece cinza ou menos radiolucente do que o ar; um
exemplo é o tecido gorduroso ao redor do músculo.
c) Água (partes moles) que aparece branco com discreta radiopacidade;
exemplos são o coração, vasos sanguíneos, músculos e diagragma.
d) Ossos (ou metal) que aparecem completamente brancos ou
completamente radiopacos; exemplos são ossos, depósitos de cálcio,
próteses e meio de contraste.

24
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Raio X do tórax
O RX de tórax é um instrumento diagnóstico importante na identificação rá-
pida de anormalidades respiratórias na unidade de emergência. O RX de tórax
pode fornecer confirmação de observações clínicas, mostrar limites anatômi-
cos e também identificar mudanças no quadro respiratório do paciente.

Figura 1: Densidades básicas das estruturas e tecidos torácicos na radiografia do tórax.

Fonte: Siela (2008)

25
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Figura 2: estruturas ou tecidos torácica frontal.

Fonte: Siela (2008)

Na identificação das diferentes estruturas corporais no RX, se duas estru-


turas de densidade igual são adjacentes, não é possível identificar a borda
de cada uma das estruturas. Este fenômeno é chamado de sinal da silhue-
ta e é utilizado para identificar estruturas torácicas normais e localizar do-
enças pulmonares. Esse sinal só é válido para estruturas com densidades
de partes moles

O sinal da silhueta pode ser usado para diferenciar estruturas anteriores


das posteriores na radiografia de tórax. Por exemplo, espera-se o sinal da
silhueta em uma área de consolidação no lobo superior esquerdo do pul-
mão porque este lobo faz limite com o lado esquerdo do átrio e mediastino.
Como tanto a área de consolidação quanto o coração são densidades de
água, o bordo esquerdo do átrio não pode ser diferenciado da borda do lobo
superior esquerdo do pulmão.

26
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Visualização do RX
A incidência padrão do tórax é a radiografia póstero-anterior ou abreviada-
mente “tórax PA”. O termo póstero-anterior refere-se à direção do feixe de
raios X que, neste caso, atravessa o paciente de trás para frente. Por outro
lado, na incidência antero-posterior (AP), o feixe de raio X atravessará o
paciente da frente para trás. Comparada com a radiografia AP, a radiografia
PA apresenta imagens com menor magnificação e maior nitidez. As radio-
grafias AP ou PA são visualizadas como se você estivesse olhando de frente
para o paciente. Em todas as radiografias, o lado esquerdo do paciente fica
a sua direita.

Outra incidência de rotina é a incidência em perfil. Por convenção, nessa


radiografia o lado esquerdo do tórax é posicionado contra o chassi. A inci-
dência do tórax em perfil permite a detecção de lesões atrás do coração,
mediastino ou diafragma. A visão lateral também permite a visualização
da coluna de ar na traqueia, veia cava inferior, espaço retroesternal, mar-
gem posterior do coração e contorno diafragmático.

Método sistemático de visualização

Como um método sistemático de visualização do RX do tórax, as diferentes


estruturas podem ser avaliadas separadamente, tais como:

a) Partes moles: Consistem principalmente em gorduras e algumas


densidades de água. Os tecidos devem aparecer simétricos quando
comparados de lado a lado. Tecido da mama é um exemplo de tecido
mole. Às vezes, a sombra do tecido da mama obscurece o tecido da
região inferior do pulmão.
b) Traqueia: Aparece como uma coluna de
tecido radiolucente ou de densidade de Carina: ou crista antero-
gás entre as clavículas ou sobre a coluna -posterior ou esporão
vertebral. A Carina é normalmente sagital. É o ponto onde a
posicionada aproximadamente no traquéia termina e tam-
nível da 6ª costela anterior ou T4. bém, o mais sensível a
Quando um tubo endotraqueal está estímulos.
bem posicionado, a extremidade do
tubo está aproximadamente de 3 a 5
cm acima da Carina.
c) Ossos do tórax: Escápula, clavículas, coluna e costelas são
identificáveis como densida de de osso.

27
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

d) Espaços intercostais: Cada espaço intercostal é numerado de


acordo com a costela acima dele. A largura do espaço intercostal
é determinada pela medida do grau do ângulo costovertebral
relativo às costelas posteriores. O ângulo normal é 45 graus; com
espaços intercostais alargados, o ângulo pode dobrar a mais de 90
graus. Espaços intercostais alargados ocorrem em condições como
DPOC, pneumotórax e derrame pleural que aumentam o volume
pulmonar. Por outro lado, espaços intercostais estreitados ocorrem
na atelectasia e fibrose intersticial, que estão associadas a condições
que diminuem o volume pulmonar.
e) Diafragma: Tem densidade de água e cada hemidiafragma tem
forma de domo. O hemidiafragma direito normalmente é mais alto
no tórax que o esquerdo, devido ao fígado. A elevação diafragmática é
evidente quando menos de nove a dez costelas estão visíveis, e pode
ser causada por distensão abdominal, compressão do nervo frênico
ou colapso pulmonar. A depressão diafragmática está presente
quando 11 a 12 costelas estão visíveis. A depressão ou achatamento
do diafragma está associado com hiperinflação do pulmão ou tórax
como no DPOC e pneumotórax.
f) Mediastino: inclui o coração, grandes vasos, traqueia e brônquios-
fonte direito e esquerdo. O coração e os grandes vasos possuem
densidade de água, e a traqueia e brônquios têm densidade de ar.
O átrio direito forma a borda direita do coração. O ventrículo direito
não pode ser detectado diretamente na radiografia de tórax porque
esta estrutura está localizada no centro da sombra do coração.
A veia cava superior está visualizada acima da sombra da aorta
ascendente no tórax direito.
g) Campos pulmonares: constituídas principalmente de ar e muito
pouco tecido ou sangue. Assim os campos pulmonares são
visualizados como áreas de densidade de ar/gás ou como uma área
completamente radiolucente.

28
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Saiba mais
Nos sites indicados a seguir, você encontrará um rico material
que lhe ajudará a sistematizar melhor a avaliação das
radiografias torácicas.
Avaliação sistemática de radiografias do tórax:
<http://www.2gse.cbmerj.rj.gov.br/documentos/Protocolo%20
UPAs%2024h/Cap_114.pdf>
Radiografia simples do tórax: incidências, aspectos técnicos e
sistematização da análise.
<http://xa.yimg.com/kq/groups/19318271/1182650970/name/
RaioX>
Métodos de diagnóstico por imagem aplicados ao tórax.
<http://www.hcnet.usp.br/inrad/departamento/graduacao/
aula_2009/Highlights_Torax.pdf>

Agora que você já sabe como avaliar a função respiratória do paciente, ve-
jamos algumas condições que se apresentam com frequência na unidade
de emergência.

1.3. Insuficiência respiratória aguda


A insuficiência respiratória aguda (IRpA) pode ser definida como a incapa-
cidade do sistema respiratório em desempenhar sua principal função, ou
seja, promover adequadamente a oxigenação do sangue arterial e a elimi-
nação do gás carbônico.

A insuficiência respiratória aguda é definida como uma diminuição na


pressão arterial de oxigênio (PaO2) a menos de 60 mmHg (hipoxemia) e
uma elevação na pressão arterial de gás carbônico para valores superiores
a 50 mm Hg (hipercapnia), com um pH inferior a 7.35.

É importante distinguir a insuficiência respiratória aguda e crônica. A insu-


ficiência respiratória crônica é definida como a deterioração da função da
troca gasosa do pulmão que se desenvolveu insidiosamente ou que tem per-
sistido por um longo período após um episódio de insuficiência respiratória
aguda. A ausência de sintomas agudos e a presença de acidose respiratória
sugere a cronicidade da insuficiência respiratória. Duas causas de insufici-
ência respiratória crônica são a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
e doenças neuromusculares. Pacientes com estes distúrbios desenvolvem a
tolerância a uma piora gradual da hipoxemia e da hipercapnia.
29
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Pacientes com insuficiência respiratória crônica podem


desenvolver insuficiência respiratória aguda. Por exemplo, um
paciente com DPOC pode desenvolver uma exacerbação ou
infecção que provoca deterioração adicional da troca gasosa.

1.3.1. Fisiopatologia
Na insuficiência respiratória aguda os pulmões são incapazes de realizar
as trocas gasosas de forma adequada, e há vários mecanismos envolvidos
nesse processo. A troca  gasosa  adequada  depende  do funcionamento  de
diferentes etapas relacionadas a diferentes componentes do sistema respi-
ratório. Essas etapas são: ventilação, perfusão, relação, ventilação/perfusão
e difusão. Qualquer condição que interfira nestas etapas pode provocar
insuficiência respiratória aguda.

Ventilação
É o processo responsável pela renovação do gás alveolar, resulta de um
uma ação integrada entre o centro respiratório, localizado no sistema
nervoso central, vias nervosas que inervam os músculos respiratórios, cai-
xa torácica (estrutura osteomuscular) e os pulmões. Alterações na ventila-
ção levam ao prejuízo do aporte de oxigênio e eliminação de CO2 e podem
ocorrer em situações que provoquem alteração da elasticidade pulmonar
(ex: enfisema), obstrução alveolar (ex: asma), modificações na expansibili-
dade pulmonar (presença de secreção, tumor ou fibrose na parece alveolar)
ou ainda diminuição da frequência respiratória (acometimento do sistema
nervoso, deformidades da caixa torácica e/ou músculos respiratórios).

Perfusão
Os pulmões são bastante irrigados pela corrente sanguínea, sendo que os
pequenos vasos são os responsáveis pela sua atividade funcional, ou seja,
pelas trocas gasosas. A perfusão pulmonar pode ser alterada por obstrução
do vaso sanguíneo (doenças tromboembólicas, por exemplo), redução dos
capilares pulmonares (enfisema).

30
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Relação ventilação/perfusão (V/Q)


Para que as trocas gasosas se processem adequadamente, deve haver uma
relação adequada entre os alvéolos ventilados e a perfusão dos capilares
correspondentes. Ou seja, os valores finais da PaCO2 e da PaO2 resultam
de interações entre a ventilação alveolar e o fluxo sanguíneo, sendo que
a relação V/Q é maior nos ápices pulmonares. O espaço morto pulmonar
é caracterizado por alvéolos ventilados, mas não perfundidos, já a situa-
ção oposta é chamada de shunt, ou seja, quando há alvéolos não ventila-
dos, mas perfundidos adequadamente. As alterações na relação V/Q são
as causas mais comuns de distúrbios das trocas gasosas. Quadros grave
de hipoxemia arterial, a qual é caracterizada pela baixa concentração de
oxigênio arterial, como ocorre em pneumonias extensas, é consequência
da presença de áreas de shunts.

Difusão
É a troca gasosa entre o ar no interior do alvéolo e o sangue no interior
do capilar pulmonar, por difusão passiva através da membrana alvéolo-
-capilar. A difusão ocorre pela diferença de concentração do oxigênio, que é
maior no alvéolo do que no capilar, e do gás carbônico, maior no capilar do
que no alvéolo. Diferentes fatores podem alterar a capacidade de difusão
pulmonar, tais como o espessamento e alteração da composição da mem-
brana alveolocapilar (ex: doença intersticial pulmonar) ou a redução da
superfície da membrana alveolocapilar (observado no enfisema).

Também é importante considerar que o ar inspirado tenha


níveis adequados de oxigênio. Por exemplo, a diminuição da
pressão barométrica em altitudes elevadas pode provocar
insuficiência respiratória.

1.3.2. Insuficiência respiratória aguda - classificação


Baseado nos mecanismos de hipoxemia e hipercapnia, a insuficiência res-
piratória aguda pode ser classificada em:

• Tipo I (falência de oxigenação, ou hipoxêmica): condições onde


a ventilação é normal, sendo a hipoxemia secundária a alteração
ventilação/perfusão (V/Q), shunt ou defeito de difusão. Gasometrica-
mente há hipoxemia, sem retenção de gás carbônico. A PaCO2 pode
estar até mesmo baixa, pois há uma tentativa de compensar a hipo-
xemia com hiperventilação.
31
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Tipo II (falência de ventilação, ou hipercápnica): condições onde as


alterações nas trocas gasosas decorrem da hipoventilação. Gasome-
tricamente há hipoxemia e hipercapnia.

Principais causas de insuficiência respiratória aguda


As causas de IRpA podem ser divididas conforme o acometimento dos dife-
rentes componentes do sistema respiratório necessários para a ventilação
(PÁDUA; ALVARES; MARTINEZ, 2003).

• Sistema nervoso central: lesões estruturais do SNC (neoplasia, in-


farto, hemorragia, infecção); drogas depressoras do SNC; doenças da
medula: trauma raqui-medular, neoplasia, infecção, infarto, Síndro-
me de Guillain-Barré, poliomielite.
• Sistema nervoso periférico: doenças causadas por neurotoxinas:
tétano, botulismo, difteria; Miastenia gravis; Paralisia diafragmática
bilateral; Intoxicação por organofosforado.
• Disfunção da musculatura respiratória: distúrbios eletrolíticos (hi-
pofosfatemia, hipomagnesemia, hipocalemia, hipocalcemia); distro-
fias musculares.
• Disfunção da parede torácica e pleura: cifoescoliose; obesidade; tó-
rax instável (múltiplas fraturas de costelas).
• Obstrução das vias aéreas superiores: edema de laringe (traumáti-
co, anafilático); aspiração de corpo estranho; paralisia de cordas vo-
cais bilateralmente; estenose de traqueia, traqueomalácia; tumores
nas vias aéreas superiores; apneia do sono obstrutiva.

Apresentação clínica
A IRpA pode ocorrer em decorrência de diferentes condições patológicas,
com sintomas e sinais específicos e diversos e, assim, pode apresentar-se
clinicamente de forma muito variada. Entretanto, independente da etiolo-
gia da IRpA, alguns dados são comuns, tais como:

• A alteração do nível de consciência, que ocorre pela queda da ofer-


ta de oxigênio ao sistema nervoso central, que em condições fisioló-
gicas, recebe 20% do oxigênio total.
• A taquipneia (>20 respirações/minuto, em adultos) é o dado mais
importante no exame físico do paciente com suspeita de IRpA. Este
dado é objetivo e obtido facilmente, com elevação precoce; valores
progressivamente maiores correlacionam-se, em geral, com maior
gravidade, seu acompanhamento ao longo do tempo é um bom

32
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

parâmetro de monitorização da evolução da IRpA. Por outro lado,


quando a causa da IRpA se relaciona com a incapacidade de gerar
ou conduzir o estímulo respiratório, o paciente pode apresentar-se
com bradipneia (ex: intoxicação por drogas depressoras do sistema
nervoso central).
• Cianose central e de extremidades, que ocorre na hipoxemia. A de-
tecção de cianose labial e de extremidades só ocorre com níveis de
PaO2<50mmHg (ou até mesmo <40mmHg, dependendo do observa-
dor), não sendo, portanto, um achado precoce.
• A presença de tiragens intercostais, batimentos de asas do na-
riz e a utilização da musculatura acessória da respiração também
são achados clínicos comuns na IRpA. Evolutivamente o paciente
pode desenvolver respiração paradoxal, dado sugestivo de fadiga
do diafragma. A partir do momento em que se instala a hipoxemia,
associada ou não à hipercapnia, surgem os sintomas relacionados
a elas. A hipoxemia determina alterações no sistema nervoso cen-
tral, podendo ocorrer agitação, confusão mental, instabilidade dos
movimentos e, posteriormente, depressão do sensório e coma. Em
relação ao sistema cardiovascular, inicialmente ocorrem taquicar-
dia e hipertensão arterial. Com o tempo, entretanto, desenvolvem-
-se bradicardia, depressão miocárdica e choque. Já a hipercapnia
determina progressivamente confusão mental, sonolência e coma.
As alterações cardiovasculares são variáveis, embora a elevação do
gás carbônico determine vasodilatação e hipotensão, ela também
promove a liberação de catecolaminas que contrabalançam esses
efeitos. Na maioria das vezes, há taquicardia e tendência de hipo-
tensão arterial.

Intervenções de enfermagem na insuficiência respiratória aguda


Acompanhe os procedimentos a serem observados no caso de ocorrência
de insuficiência respiratória aguda:

1. Abra as vias aéreas e posicione o paciente em decúbito dorsal hori-


zontal.
2. Hiperextenda o pescoço, salvo em suspeita de trauma cervical.
3. Aspire vias aéreas superiores, se necessário.
4. Retire prótese dentária.
5. Instale oxigenioterapia conforme prescrição.
6. Eleve decúbito, exceto se houver risco de trauma raquimedular.

33
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

7. Instale oximetria de pulso e acesso venoso.


8. Observe sinais de piora da hipoxemia precocemente, como diminui-
ção do nível de consciência, diminuição da saturação de oxigênio e
cianose.
9. Verifique sinais vitais periodicamente.
10. Avalie padrão respiratório periodicamente.

Para maiores esclarecimentos, vamos exercitar esse aprendizado de acordo


com o proposto:

Caso I: Em um plantão na emergência você recebe a Sra. M.A., de 64 anos, com


quadro de confusão mental, sudorese intensa, taquipneica e fazendo uso de muscu-
latura acessória. Ela chega acompanhada da filha, que informa que após o almoço a
Sra. M.A. vomitou em grande quantidade. Qual seria sua conduta de enfermagem
nesta situação?

Saiba mais
<http://www.fmrp.usp.br/revista/2003/36n2e4/7_insuficiencia_
respiratoria.pdf>.

1.3.3 Asma
A asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por hiperrespon-
sividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo,
reversível espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinica-
mente por episódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito
e tosse, particularmente à noite e pela manhã ao despertar (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2012). Resulta de uma in-
teração entre genética, exposição ambiental a alérgenos e irritantes e ou-
tros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos
sintomas. Os fatores responsáveis pelo desencadeamento de uma crise
asmática são conhecidos como gatilhos. Entre os principais, destacam-se
(DALCIN; PERIN, 2009):

• Infecção viral.

• Alérgenos (poeira, ácaros, pólen, pelo de animais, entre outros).

• Fumaça de cigarro.

34
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

• Irritantes químicos e poluição ambiental.

• Mudanças climáticas.

• Exercícios físicos vigorosos.

• Medicamentos (anti-inflamatórios não esteroides e betabloqueado-


res).
• Estresse emocional.

Na patogenia da asma, está envolvida uma variedade de células e media-


dores inflamatórios que atuam sobre a via aérea e levam ao desenvolvi-
mento e manutenção dos sintomas. A crise asmática, ou exacerbação da
asma, corresponde à agudização do quadro de obstrução e hiperresponsi-
vidade das vias aéreas. Durante a exacerbação, ocorre edema e infiltrado
inflamatório da parede brônquica e aumento da produção de muco. Isso
causa o estreitamento da luz das vias aéreas, que, por sua vez, reduz o
fluxo de ar dos pulmões.

A crise de asma é causada por diferentes gatilhos que induzem à infla-


mação nas vias aéreas e provocam broncoespasmo. Esses desencadeantes
variam de pessoa para pessoa e de momento para momento na história
da doença. Os principais desencadeantes da crise asmática, identificados
na prática clínica, são: alérgenos inalatórios, infecção viral das vias aéreas,
poluentes atmosféricos, exercício físico, mudanças climáticas, alimentos,
aditivos, drogas e estresse emocional. Menos frequentemente, outros fa-
tores podem contribuir como desencadeante: rinite alérgica, sinusite bac-
teriana, polipose nasal, menstruação, refluxo gastroesofágico e gestação
(DALCIN; PERIN, 2009).

O mecanismo pelo qual a limitação aguda do fluxo aéreo é desencadeada


varia de acordo com o fator desencadeante. A broncoconstrição induzida
pelos alérgenos resulta da produção de mediadores inflamatórios depen-
dentes da liberação de imunoglobulina e pelos mastócitos. Entretanto, a
broncoconstrição aguda pode também ocorrer devido à hiperresponsivi-
dade das vias aéreas a uma variedade de estímulos não alérgicos. Nessa
situação, os mecanismos envolvidos na bronconstrição aguda são, além
dos mediadores inflamatórios, os reflexos neurais desencadeados por es-
timulação central e local. Qualquer que seja o fator desencadeante, a via
final comum desse processo resulta em contração da musculatura lisa das
vias aéreas, aumento na permeabilidade capilar, extravasamento capilar,
edema e espessamento da mucosa brônquica.

35
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

O estreitamento variável das vias aéreas, em decorrência da inflamação


brônquica e do aumento do tônus brônquico, é característica da crise as-
mática e responsável pelo aumento da resistência ao fluxo aéreo, hiperin-
flação pulmonar e desuniformidade ventilação/perfusão. Com a progres-
são da obstrução ao fluxo aéreo na crise asmática grave, a insuficiência
respiratória ocorre como consequência do aumento do trabalho respira-
tório, da troca gasosa ineficaz e da exaustão dos músculos respiratórios.

Sinais e sintomas
A manifestação subjetiva de “aperto no peito”, acompanhada de tosse seca,
geralmente marca o início de uma crise asmática. Em seguida, a respiração
se torna rude e bem audível, com presença de sibilos, principalmente à ex-
piração. Os pulmões se tornam hiperinsuflados e há aumento no diâmetro
anteroposterior do tórax. Os pacientes geralmente apresentam taquipneia
(FR > 20 irpm), taquicardia e hipertensão sistólica leve. Nos casos mais
graves, ocorre uso da musculatura respiratória acessória com tiragem in-
tercostal, cornagem, cianose, redução ou desaparecimento difuso do mur-
múrio vesicular à ausculta (Brasil, 2010a).

Intervenções de enfermagem
1. Avaliar o nível de consciência.
2. Abrir via aérea.
3. Verificar respiração.
4. Administrar oxigênio suplementar sob máscara 10 a 15 litros por
minuto.
5. Monitorizar o paciente com cardioscópio, oxímetro de pulso.
6. Obter acesso venoso periférico com cateter calibroso.
7. Colher gasometria arterial de pacientes intensamente dispnéicos,
com alterações do nível de consciência ou hemodinâmicas.
8. Radiografar tórax no leito, caso o paciente apresente febre, sinais
de complicação (infecciosa ou pneumotórax) ou esteja em estado
grave.
9. Indicar a intubação e a ventilação mecânica nos pacientes com ní-
vel de consciência deprimido ou que apresentem fadiga extrema.
10. Assistir ventilação, caso necessário, com bolsa antes de proceder à
intubação.

36
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

11. Empregar broncodilatadores por via inalatória para reverter bron-


coespasmo, os mais utilizados no ambiente extra-hospitalar são os
agonistas beta adrenérgicos seletivos por via inalatória.
12. Utilizar corticosteróides por via intravenosa no estado de mal asmá-
tico, o efeito demora até seis horas, o medicamento de escolha é a
metilprednisolona na dose de 125 mg IV.
13. Evitar o uso de aminofilina devido a seu alto potencial de toxicidade.
Os principais efeitos colaterais são: taquicardia, arritmias, náuseas,
vômitos e convulsões.
14. Iniciar ventilação assistida caso necessário.
15. Manter continuamente monitorizados o ritmo cardíaco, oximetria e
pressão arterial não invasiva.

1.3.4 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)


A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma enfermidade respi-
ratória prevenível e tratável, que se caracteriza pela presença de obstrução
crônica do fluxo aéreo, que não é totalmente reversível. A obstrução do fluxo
aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamató-
ria anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos, causada
primariamente pelo tabagismo. Embora a DPOC comprometa os pulmões,
também produz consequências sistêmicas significativas, tais como a deple-
ção nutricional, a disfunção dos músculos esqueléticos, que contribui para
a intolerância ao exercício, e as manifestações relacionadas a comorbidades
comumente observadas nestes pacientes. Essas manifestações têm sido re-
lacionadas à sobrevida e ao estado geral de saúde dos pacientes (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA, 2004). 

O processo inflamatório crônico pode produzir alterações dos brônquios


(bronquite crônica), bronquíolos (bronquiolite obstrutiva) e parênquima
pulmonar (enfisema pulmonar). A predominância destas alterações é vari-
ável em cada indivíduo, tendo relação com os sintomas apresentados.

Muitas definições têm enfatizado as expressões “enfisema pulmonar” e


“bronquite crônica”, de acordo com o local em que ocorre o principal me-
canismo da limitação crônica ao fluxo aéreo: pequenas vias aéreas (bron-
quite) ou destruição parenquimatosa (enfisema), sendo este predomínio
variável de indivíduo para indivíduo.

O enfisema é definido como o alargamento anormal e permanente dos


espaços aéreos distais aos bronquíolos terminais. Ele é acompanhado pela
destruição da parede das vias aéreas – ou destruição das superfícies de
troca gasosa – sem fibrose evidente (condição presente na definição para

37
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

a distinção do comprometimento alveolar encontrado nas pneumonias in-


tersticiais). O termo enfisema é, portanto, de natureza patológica, ainda
que seja com frequência – e de forma inadequada - utilizado para des-
crição de um quadro clínico. As alterações patológicas características do
enfisema podem preceder a identificação da obstrução ao fluxo aéreo.

A bronquite crônica, por sua vez, é definida como a presença de tosse pro-
dutiva crônica por pelo menos três meses em cada um de dois anos con-
secutivos, em um paciente em que outras causas de tosse crônica tenham
sido afastadas. Esta definição, diferentemente da observada no enfisema, é
de natureza clínica e epidemiológica, não guardando, no entanto, relação
direta com a limitação ao fluxo aéreo, podendo precedê-la ou mesmo estar
ausente nos pacientes com obstrução aérea significativa.

Causas
A identificação dos fatores de risco representa ponto importante para o
desenvolvimento de estratégias para a prevenção a tratamento da DPOC.
Dentre os principais fatores destacam-se:

• Tabagismo: responsável por 80 a 90% das causas determináveis da DPOC.

• Poluição domiciliar (fumaça de lenha, querosene).

• Exposição ocupacional a poeiras e produtos químicos ocupacionais.

• Poluição atmosférica. A poluição aérea pela queima de combustíveis


fósseis, principalmente pela emissão de veículos a motor.
• Infecções respiratórias recorrentes na infância.

• Suscetibilidade individual.

• Desnutrição na infância.

• Deficiências genéticas (responsáveis por menos de 1% dos casos),


como alfa1 antitripsina.

Fisiopatologia
Na DPOC, ocorre uma inflamação crônica nas vias aéreas centrais e pe-
riféricas, além dos alvéolos e dos vasos pulmonares causando dispneia,
aumento de secreção brônquica e hipertensão pulmonar. No enfisema, a
inflamação ocasiona comprometimento da elastina do alvéolo e por con-
sequência perda de sua integridade. Na bronquite crônica, a inflamação
desencadeia disfunção ciliar, dilatação dos bronquíolos e acúmulo de se-
creções. Ocorre, então, obstrução brônquica, aumento da resistência das

38
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

vias aéreas e limitação do fluxo expiratório, ocasionando hiperinsuflação


pulmonar. Em ambas as situações, as mudanças são progressivas e usual-
mente não reversíveis, ao contrário da asma, que geralmente é reversível.

Sinais e sintomas
Os principais sintomas incluem dispneia aos esforços que pode progredir
para dispneia de decúbito (ortopneia) e dispneia paroxística noturna, tos-
se produtiva matinal (pois há um acúmulo das secreções/muco produzidos
durante a noite na árvore traqueobrônquica), hemoptise, expectoração.

Alguns autores, para serem mais didáticos dividem os sintomas de DPOC


em aqueles que são vistos mais frequentemente na bronquite crônica, da-
queles que são prevalentes no enfisema pulmonar. Assim, ao exame físico
podem ser encontrados sinais característicos de dois estereótipos clássi-
cos: os sopradores róseos e os inchados azuis.

Mais uma vez é bom lembrar que estamos falando em extremos


de um espectro de manifestações clínicas que podem ocorrer
na DPOC. A maioria dos pacientes apresenta um pouco de cada
uma das figuras a seguir:

39
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Sopradores róseos Inchados azuis


Enfisema Bronquite

Nos inchados azuis há cianose, sinais de cor


Nos sopradores róseos há pletora e tórax em pulmonale (turgência jugular patológica, ascite,
tonel, dispnéia do tipo expiratória, sem cor pul- edema de membros inferiores); na ausculta,
monale e sem hipoxemia; na ausculta pulmonar os murmúrios vesiculares também estão dimi-
há diminuição dos murmúrios vesiculares e nuídos, mas há presença de ruídos adventícios
ausência de ruídos adventícios. (roncos, sibilos e estertores - devido à presença

Gordo, brevilíneo. de quantidades maiores de muco).

Fácies “dorminhoco” Magro, longilíneo

Dispnéia discreta Fácies “angustiada”

Não utiliza ponto de ancoragem Dispnéia intensa

Muita tosse com expectoração Utiliza ponto de ancoragem

Edema e ICC Pouca tosse com expectoração

↑CO2, ↓O2, ↑HCO3, ↑volume globular Edema e ICC raros

Pouca obstrução Gasometria normal

Obstrução grave

Fonte: http://pulmaosarss.files.wordpress.com/2010/10/dpoc-netter.jpg

40
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Intervenções de enfermagem
1. Verificar o nível de consciência.
2. Providenciar desobstrução de vias aéreas
3. Verificar respiração.
4. Administrar oxigênio suplementar sob máscara dez litros por minu-
to observando cuidados com depressão respiratória.
5. Assistir respiração com BVM, se indicado.
6. Manter saturação > 90%.
7. Monitorizar o paciente com cardioscópio, monitor de pressão arte-
rial não invasivo, capnógrafo e oxímetro de pulso.
8. Obter acesso venoso periférico com cateter calibroso.
9. Obter sangue para: hemograma, gasometria arterial, função renal,
eletrólitos e coagulação.
10. Providenciar ECG de 12 derivações.
11. Tratar os fatores de descompensação.
12. Radiografar tórax em PA e perfil, se possível.
13. Aplicar CPAP sob máscara em pacientes colaborativos.
14. Intubar imediatamente pacientes com nível de consciência depri-
mido (Glasgow ≤ 8), instabilidade hemodinâmica ou fadiga extrema.
15. Empregar broncodilatadores por via inalatória para reverter bronco-
espasmo (principalmente os anticolinérgicos). Evitar a aminofilina
devido a seu alto potencial de toxicidade.
16. Considerar o emprego de corticosteróides IV especialmente em pa-
cientes com broncoespasmo intenso (20 a 40 mg de metilpredniso-
lona 8 em 8 horas).
17. Iniciar ventilação assistida, caso necessário.
18. Manter continuamente monitorizados o ritmo cardíaco, oximetria e PNI.

41
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Saiba mais
A seguir disponibilizamos sites de interesse para consultar
e aprofundar mais sobre as Doenças Broncopulmonares
Obstrutivas Crônicas (DPBOC).
• DPOC - definições e conceitos - as bases clínicas. <http://
www.sopterj.com.br/atualizacoes_tematicas/2009/05.pdf>.
• Consenso Brasileiro de DPOC: <http://www.
jornaldepneumologia.com.br/PDF/Suple_124_40_DPOC_
COMPLETO_FINALimpresso.pdf>.

1.3.5 Pneumonia
A pneumonia é uma inflamação do parênquima pulmonar provocada por
vários microorganismos, incluindo bactérias, micobactérias, fungos e vírus.
As pneumonias são classificadas como pneumonia adquirida na comuni-
dade, pneumonia nosocomial, pneumonia no hospedeiro imunocompro-
metido e pneumonia aspirativa.

Fisiopatologia
Normalmente, as vias aéreas superiores previnem que partículas poten-
cialmente infecciosas alcancem o trato respiratório inferior. A pneumo-
nia surge da flora normal presente em pacientes cuja resistência tenha
sido alterada ou da aspiração da flora presente na orofaringe; os pacientes
frequentemente tem uma doença aguda ou crônica subjacente que pre-
judica as defesas do organismo. A pneumonia também pode resultar de
organismos na corrente sanguínea que penetram na circulação pulmonar
e em seguida no leito capilar pulmonar. A pneumonia afeta a ventilação e
a difusão. Uma reação inflamatória pode ocorrer nos alvéolos, produzindo
um exsudato que interfere com a difusão de oxigênio e de gás carbônico.
Glóbulos brancos, a maioria neutrófilos, também migram para os alvéolos
e preenchem os espaços que normalmente estão preenchidos com ar. Áre-
as do pulmão não são adequadamente ventiladas devido às secreções e ao
edema da mucosa que provocam oclusão parcial dos brônquios ou alvéo-
los, com uma resultante diminuição na tensão do oxigênio alveolar. Pode
ocorrer broncoespasmo nos pacientes com doença reativa das vias aéreas.
Devido à hipoventilação, ocorre alteração na relação ventilação-perfusão
na área afetada do pulmão. O sangue venoso que entra na circulação pul-
monar passa pela área não ventilada e vai pobremente oxigenado para o
lado esquerdo do coração. A mistura do sangue oxigenado e não oxigenado

42
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

ou pobremente oxigenado resulta em hipoxemia arterial. Se uma porção


substancial de um ou mais lobos está envolvida, a doença é chamada pneu-
monia lobar. O termo broncopneumonia é utilizado para descrever a pneumo-
nia que é distribuída de forma irregular e foi originada em uma ou mais
áreas localizadas dentro dos brônquios, estendendo-se para o parênquima
pulmonar adjacente. A broncopneumonia é mais comum do que a pneu-
monia lobar.

Sinais e sintomas
A pneumonia apresenta sinais e sintomas variados dependendo do tipo,
organismo causal, e presença de doença subjacente. Entretanto, não é
possível diagnosticar uma forma específica de pneumonia apenas pelas
manifestações clinicas. O paciente com pneumonia estreptocócica geral-
mente tem um início súbito com calafrios, febre rapidamente crescente
(38.5 a 40.5 C) e dor torácica pleurítica agravada pela respiração profunda
e tosse. O paciente apresenta taquipneia, acompanhada por outros sinais
de angústia respiratória (respiração curta, uso de musculatura acessória)
e o pulso apresenta-se rápido. Uma bradicardia relativa pode sugerir infec-
ção viral, infecção por micoplasma ou infecção por Legionella. Alguns pa-
cientes apresentam uma infecção do trato respiratório superior (congestão
nasal, por exemplo) e o início dos sintomas da pneumonia é gradual e não
específico. Os fatores predominantes podem ser cefaleia, febre baixa, dor
pleurítica, mialgia, rash e faringite. Após alguns dias, ocorre a eliminação
de escarro mucóide ou mucopurulento. Na pneumonia severa, o paciente
apresenta vermelhidão na face e o leito ungueal mostra cianose central.
O paciente pode apresentar ortopneia, preferindo ficar sentado inclinado
para frente, em um esforço de melhorar a troca gasosa sem tossir ou res-
pirar profundamente. Há sudorese profusa e o paciente fica cansado facil-
mente. O escarro frequentemente é purulento, entretanto este não é um
fator confiável do agente etiológico.

Na pneumonia estreptocócica, estafilocócica e por Klebsiella, pode haver


expectoração de escarro com traços de sangue. Os sinais e sintomas da
pneumonia também podem depender da condição subjacente do pacien-
te. Diferentes sinais ocorrem em pacientes com condições como câncer,
e aqueles que estão realizando tratamento com imunossupressores, que
diminuem a resistência a infecções. Tais pacientes apresentam febre, cre-
pitações e consolidação do tecido pulmonar, incluindo aumento do frêmito
tátil (vibração vocal detectada na palpação), sons respiratórios brônquicos,
egofonia e pectoriloquia.

43
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Estas mudanças nos sons ventilatórios ocorrem porque o


som é transmitido melhor por meio de tecido sólido ou denso
(consolidação) do que através de tecido preenchido com ar.

Escarro purulento ou mudanças discretas nos sintomas respiratórios po-


dem ser o único sinal de pneumonia em pacientes com DPOC. Pode ser
difícil determinar se um aumento dos sintomas é uma exacerbação da do-
ença subjacente ou um processo adicional infeccioso.

Intervenções de enfermagem
1. Mantenha vias aéreas desobstruídas e forneça oxigenação adequada.
2. Obtenha amostra de escarro.
3. Se o paciente não conseguir expectorar, realize aspiração.
4. Para prevenir a disseminação de infecção, descarte as secreções cor-
retamente.
5. Monitorize os valores da gasometria arterial, especialmente se o pa-
ciente estiver hipóxico.
6. Avalie o estado respiratório do paciente frequentemente, auscultan-
do-o, pelo menos, a cada 4 horas.
7. Avalie a efetividade dos medicamentos administrados
8. Avalie o estado respiratório, incluindo frequência, profundidade, fa-
cilidade das ventilações, dispneia, uso de musculatura acessória e
diminuição dos sons ventilatórios.
9. Observe mudanças no estado mental, cor da pele, cianose.
10. Observe a qualidade da tosse e a capacidade em eliminar secreções
incluindo a consistência e características do escarro, pois a remoção
de secreções previne a obstrução de vias aéreas e seu acúmulo pode
levar a piora da infecção e consolidação dos pulmões.
11. Mantenha o paciente com oximetria de pulso.
12. Mantenha o paciente com cabeceira elevada.
13. Encoraje a tosse e a respiração profunda.
14. Realize higiene oral.

44
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

1.3 Distúrbios acidobásicos


Os distúrbios acidobásicos podem surgir a partir de causas respiratórias
ou metabólicas. As quatro categorias de desequilíbrios acidobásicos são:
acidose respiratória, alcalose respiratória, acidose metabólica e alcalose
metabólica. Cada uma destas categorias pode ainda ser classificada como
compensação ausente, compensação parcial e compensação total. No mó-
dulo anterior você conheceu os mecanismos de compensação do equilíbrio
ácido básico e os componentes envolvidos neste equilíbrio. Agora, você co-
nhecerá os distúrbios, suas causas mais comuns e como interpretar a sua
ocorrência por meio da gasometria arterial.

Acidose respiratória
A acidose respiratória é definida como o pH inferior a 7.35 com uma PaCO2
maior que 45 mmHg. A acidose é causada pelo acúmulo de CO2 que com-
bina-se com a água no organismo para produzir gás carbônico, formando
o ácido carbônico e assim diminuindo o pH do sangue. Ocorre quando o
sistema respiratório falha em eliminar o CO2 tão rapidamente quanto é
produzido, provocando uma diminuição no pH. Qualquer condição que re-
sulte em hipoventilação pode provocar acidose respiratória. Essas condi-
ções incluem:

• Depressão do sistema nervoso central relacionada à lesão cerebral,


medicamentos como narcóticos, sedativos ou anestesia.
• Prejuízo da função muscular ventilatória relacionada à lesão da me-
dula espinhal, doenças neuromusculares ou medicamentos bloque-
adores neuromusculares.
• Distúrbios pulmonares tais como atelectasia, pneumonia, pneumo-
tórax, edema pulmonar ou obstrução brônquica.
• Embolia pulmonar maciça.

• Hipoventilação devido à dor, lesão ou deformidade da parede toráci-


ca, ou distensão abdominal.
Em um paciente com acidose respiratória, o pH está baixo. Na acidose res-
piratória crônica (como ocorre com o paciente com DPOC) há níveis eleva-
dos de PaCO2, mas o pH encontra-se normal, devido à compensação renal.
Os sinais e sintomas da acidose respiratória relacionados com o sistema
pulmonar incluem dispneia e respirações superficiais. Manifestações do
sistema nervoso central incluem cefaleia, diminuição do nível de consci-
ência ou confusão. Se os níveis de CO2 tornam-se extremamente elevados,
podem ser observados letargia e irresponsividade. Os sintomas cardiovas-

45
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

culares incluem taquicardia e arritmias. Aumentar a ventilação corrige


a acidose ventilatória. O método para alcançar tal resultado depende da
causa da hipoventilação. Causas que podem ser corrigidas rapidamente
incluem pneumotórax, dor e depressão do sistema nervoso central relacio-
nado à medicação. Se a causa não poder ser resolvida rapidamente, pode
ser necessária a utilização de ventilação mecânica. Embora os pacientes
com hipoventilação frequentemente necessitem do recebimento de oxigê-
nio suplementar, é importante lembrar que a utilização isolada de oxigênio
não irá corrigir o problema que provocou a acidose respiratória.

Alcalose respiratória
A alcalose respiratória é definida como o pH maior que 7.45 com uma
PaCO2 inferior a 35 mmHg. Ocorre quando o sistema respiratório elimina
o CO2 mais rapidamente do que este é produzido. Qualquer condição que
cause hiperventilação pode resultar em alcalose respiratória. Estas condi-
ções incluem:

• Respostas fisiológicas, tais como ansiedade ou medo.

• Dor

• Aumento das demandas metabólicas, tais como febre, sepse.

• Lesões do sistema nervoso central.

Em relação aos sinais e sintomas da alcalose respiratória, como alterações


do sistema nervoso central incluem-se cefaleia leve à intensa, confusão,
dificuldade para concentração e visão turva. Dentre os sintomas cardíacos
destacam-se as arritmias e palpitações. Adicionalmente, o paciente pode
apresentar boca seca, sudorese intensa, espasmos em membros superiores
e inferiores. Pacientes que apresentam alcalose respiratória apresentam
um grande esforço ventilatório e devem ser monitorados intensamente
pelo risco de desenvolvimento de fadiga muscular. Quando a musculatu-
ra respiratória alcança a exaustão, pode ocorrer instalar-se a insuficiência
respiratória aguda.

Acidose metabólica
Ocorre por acúmulo de ácidos metabólicos ou perda de base. Ocorre quan-
do o pH está inferior a 7,35, a PaCO2 está normal e o [HCO3-] está diminu-
ído (< 22mEq/l). Frequentemente, devido à rápida intervenção do sistema
respiratório para compensar as anormalidades do pH, ocorre à respiração
de Kussmaul, que é um padrão respiratório para eliminar o CO2, em uma
tentativa de normalizar o pH. Condições que podem produzir acidose me-
tabólica incluem o metabolismo anaeróbico, uma das causas mais comuns

46
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

(produção de ácido lático) ou distúrbio metabólico primário como a ceto-


acidose diabética. Outras causas incluem insuficiência renal, cetoacidose
diabética, metabolismo anaeróbico, overdose de drogas (salicilato). A aci-
dose metabólica também pode ocorrer por perda excessiva de base, como
acontece na diarreia.

No sistema nervoso central, as manifestações da acidose metabólica in-


cluem cefaleia, confusão e letargia, que podem evoluir para o coma. Tam-
bém é frequente o desenvolvimento de arritmias, e o surgimento da respi-
ração de Kussmaul, que ocorre na tentativa do organismo de compensar
o pH aumentando a eliminação de CO2. Pele quente, náusea e vômitos
também são observados.

Assim como a maioria dos distúrbios acidobásicos, o tratamento da acido-


se metabólica depende da causa. A presença de acidose metabólica indica
a necessidade de buscar a origem de hipoxemia, pois esta pode levar a um
metabolismo anaeróbico disseminado, mas a hipóxia de qualquer tecido
produzirá ácidos metabólicos como resultado de metabolismo anaeróbico
ainda se a PaO2 estiver normal. O modo apropriado de corrigir a causa da
acidose é otimizar a perfusão tecidual aos tecidos hipóxicos. Outras causas
de acidose metabólica devem ser consideradas.

Alcalose metabólica
Ocorre quando o pH está superior a 7,35, a PaCO2 está normal ou ligeira-
mente elevada, e o [HCO3-] está elevado (> 22mEq/l). Tanto o excesso de
base quanto à perda de ácidos no organismo podem provocar alcalose me-
tabólica. O excesso de base ocorre da ingestão excessiva de antiácidos, uso
excessivo de bicarbonato ou uso de lactato em diálise. A perda de ácidos
pode ocorrer secundária a vômitos intensos, administração excessiva de
diuréticos, níveis elevados de aldosterona.

Os sintomas de alcalose metabólica são principalmente neurológicos e


musculoesqueléticos. Os sintomas neurológicos incluem vertigem, letar-
gia, desorientação, convulsões e coma. Os sintomas musculoesqueléticos
incluem fraqueza, dores e tremores musculares. O paciente pode apresen-
tar náusea, vômitos e depressão respiratória. A alcalose metabólica é o dis-
túrbio acidobásico de maior dificuldade de manejo.

47
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Quadro 1: Valores de referência dos parâmetros da gasometria arterial (ao nível do mar):

Parâmetros Valores

PH 7,35 a 7,45

CO2(mmHg) 35 a 45

PO2(mmHg) 80 a 120

SatO2(%) 97%

BE +2a-2

HCO3(mEq/l) 22 a 26

Fonte: Cataletto (2011)

Como interpretar a gasometria arterial?

Os gases do sangue arterial devem ser interpretados sistematicamente.


Primeiramente, avalia-se a oxigenação. Depois disso, é verificado o estado
acidobásico. Em seguida, é identificado o distúrbio primário. Por último, a
compensação, se ela existir. O quadro abaixo apresenta os passos para a
interpretação gasométrica.

Passos para a interpretação gasométrica


De modo simplificado, têm-se os seguintes passos:

a) Avaliar a oxigenação – a oxigenação é analisada, avaliando-se a


PaO2, SaO2, hematócrito e hemoglobina. Se a PaO2 está abaixo do
valor normal, existe hipoxemia.
b) Avaliar o estado acidobásico – avaliar os seguintes indicadores
individualmente.
• Se o pH estiver menor do que 7,35, existe acidemia.
• Se o pH estiver maior do que 7,45, existe alcalemia.
• Se o pH estiver normal, isso pode indicar ausência de distúrbio
ou distúrbio compensado.

48
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

c) Determinar o distúrbio acidobásico – a gasometria geralmente pode


refletir apenas um distúrbio:
• Se a PaCO2 estiver menor do que 35, indica alcalose respirató-
ria e se maior que 35, acidose respiratória.
• Se o bicarbonato estiver menor do que 22, indica acidose meta-
bólica. Se for maior do que 26, indica alcalose metabólica.

Podem ocorrer dois distúrbios simultaneamente. Geralmente um dos dis-


túrbios é considerado primário, enquanto o outro é chamado compensató-
rio, pois tenta restaurar o equilíbrio acidobásico. Para determinar a causa
primária do desequilíbrio acidobásico, avalie o pH, associando-o ao compo-
nente que está alterado. Se este estiver inferior a 7,4 o distúrbio primário é
acidose. Por outro lado, se o pH é superior a 7,4 o distúrbio primário é uma
alcalose.

Um exemplo de dois distúrbios simultâneos ocorre durante a parada cardí-


aca, em que pode ocorrer acidose respiratória e metabólica (acidose mista)
devido à hipoventilação e acidose lática.

Como é feita a determinação da compensação do equilíbrio acidobásico?

Se há alguma anormalidade no equilíbrio acidobásico, um ou mais siste-


mas-tampão são ativados para revertê-la. Por exemplo, se o paciente tem
acidose respiratória (pH baixo e PaCO2 alta) os rins irão responder, retendo
mais HCO3- e excretando íons H+ (alcalose metabólica). Por outro lado, se
um paciente está em acidose metabólica (pH baixo, HCO3- baixo) os pul-
mões irão responder eliminando mais CO2 (alcalose respiratória).

Há três estágios de compensação:

1. Ausente (pH está anormal com o pCO2 ou [HCO3-] anormal e o ou-


tro componente normal.
2. Parcial (pH está anormal, com o pCO2 ou [HCO3-] anormal e o outro
componente também está anormal refletindo a tentativa do orga-
nismo em compensar o distúrbio.
3. Completa (a [HCO3-] e pCO2 estão em uma proporção de 20:1 pro-
duzindo um pH normal, porem os valores da [HCO3-] e pCO2 estão
anormais).

49
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Saiba mais
A seguir, você encontra um site de referência importante para
aprofundar os distúrbios acidobásicos, não deixe de consultar.
Distúrbios do equilíbrio acidobásico
<http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/3332/
disturbios_do_equilibrio_acido_basico.htm>

1.5 Grupos farmacológicos


É fundamental que o enfermeiro conheça os medicamentos que são utili-
zados nos pacientes com os diferentes distúrbios respiratórios e metabó-
licos. Devido às diferentes composições químicas e à frequente adminis-
tração simultânea de outros medicamentos, podem ocorrer antagonismos
ou sinergismos. Também é importante saber os principais efeitos adversos,
de forma que o enfermeiro possa administrar essas medicações de uma
forma segura aos pacientes.

Nesta unidade, você conhecerá os principais grupos farmacológicos que


são utilizados para o cuidado dos pacientes com distúrbios respiratórios
e metabólicos. A terapia medicamentosa utilizada nos pacientes portado-
res de distúrbios respiratórios é variada e individualizada em função das
causas desencadeantes e dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos. De
forma que o enfermeiro possa prestar um cuidado que atenda as neces-
sidades do paciente de forma segura, é fundamental que conheça os me-
dicamentos que são utilizados nos pacientes com os diferentes distúrbios
respiratórios. Devido às diferentes composições químicas e à frequente
administração simultânea de outros medicamentos, podem ocorrer anta-
gonismos ou sinergismos. Também é importante saber os principais efeitos
adversos, de forma que o enfermeiro possa administrar essas medicações
de uma forma segura aos pacientes. Dentre os grupos farmacológicos
mais frequentemente utilizados nos pacientes com distúrbios respirató-
rios, destacam-se os broncodilatadores, e os corticosteroides.

50
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Broncodilatadores
Os broncodilatadores provocam o relaxamento da musculatura lisa das
vias aéreas, melhorando o seu calibre. Podem ser administrados por várias
formas, particularmente na forma de sprays de aerossol ou nebulizadores.
Os broncodilatadores por via inalatória são um componente essencial no
tratamento da asma e DPOC. Estes medicamentos são agrupados em dife-
rentes grupos.

Agonistas adrenérgicos
Esta classe terapêutica inclui a adrenalina, a terbutalina, fenoterol e sal-
butamol.

Mecanismo de ação
A ação no sistema respiratório é decorrente da estimulação dos receptores
beta2 adrenérgicos presentes no pulmão, que resulta no relaxamento da
musculatura lisa da árvore traqueobrônquica, com consequente bronco-
dilatação. Além disso, inibem a liberação de mediadores químicos envol-
vidos na precipitação das crises de broncoespasmo. O tempo de início do
efeito terapêutico dos medicamentos desta classe são diferentes, porém a
metabolização de todos é hepática e a excreção renal. O inicio do efeito da
adrenalina é imediato (um minuto) quando usada por via inalatória. A ter-
butalina quando administrada por via oral, tem efeito em 30 a 45 minutos,
com meia vida de 11 a 16 horas. O salbutamol tem seu início de ação em
2 a 3 horas (via oral) com meia vida de 3,7 a 5 horas. O inicio de ação ina-
latória do fenoterol é rápido (5 minutos) sendo o pico do efeito obtido nos
primeiros 30 a 60 minutos, com duração de 3 a 4 horas.

Pontos a observar
O uso destes agentes deve ser cuidadoso nos pacientes portadores de dia-
betes, doenças cardiovasculares, hipertireoidismo, aterosclerose cerebral,
quadros convulsivos, hiperplasia prostática, glaucoma e idosos. É reco-
mendado que a adrenalina seja diluída quando utilizada na nebulização.

Derivados da xantina
Este grupo farmacológico inclui a teofilina e seus congêneres, como a ami-
nofilina.

51
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Mecanismo de ação
Estes agentes provocam inibição da fosfodiesterase, reduzindo a degrada-
ção do AMP cíclico; com isso, há aumento deste mensageiro no interior da
célula, que produz efeitos semelhantes aos agonista beta2 adrenergicos.
Entretanto, os níveis séricos da teofilina necessários para exercer essa ação
broncodilatadora são maiores que a faixa terapêutica habitual, sugerindo
que o medicamento possa aumentar as concentrações intracelulares do
cálcio e causar inibição dos receptores de adenosina.

Pontos a observar
A administração dos derivados de xantina deve ser cautelosa em idosos,
pacientes com doenças cardiovasculares ou hepáticas, com úlcera péptica
ativa, diabetes e hipertireoidismo. A aminofilina é utilizada preferencial-
mente por via endovenosa, o que demanda cuidados relativos à incompa-
tibilidade com outros medicamentos, muitas vezes infundidos de modo
simultâneo. Sua infusão deve ser feita de forma lenta e diluída. Desse
modo, é recomendado evitar a administração concomitante com os se-
guintes agentes: amiodarona, ciprofloxacina, claritromicina, dobutamina e
ondanstrona. Como a dose terapêutica da aminofilina é muito próxima do
nível tóxico, é fundamental observar os sinais de toxicidade, especialmen-
te em idosos que incluem: náusea, vômito, ansiedade, agitação, insônia,
taquicardia e convulsões.

Anticolinérgicos
O principal agente é o ipratrópio.

Mecanismo de ação
Sua ação broncodilatadora é resultado da inibição da liberação de acetil-
colina das terminações nervosas parassimpáticas da musculatura lisa brô-
nquica. Este anticolinérgico também provoca redução das secreções pro-
duzidas pelas mucosas nasal e brônquica. A sua ação broncodilatadora
ocorre em 1 a 3 minutos, com pico entre 1,5 a 2 horas.

Pontos a observar
Deve ser administrado com cautela em mulheres que estão amamentan-
do, crianças menores de 12 anos e pacientes com glaucoma ou hipertrofia
prostática.

52
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

No quadro abaixo, você pode observar algumas das reações adversas e in-
terações medicamentosas dos broncodilatadores.

Quadro 2: Reações Adversas e interações medicamentosas dos broncodilatadores

Medicamen- Reações adversas por sistemas hu-


Interações medicamentosas
to manos

Neurológico: ansiedade, cefaleia, insônia,


confusão.
↑ toxicidade da adrenalina:
Cardiovascular: taquicardia (uso parenteral),
Anestésicos inalatórios halogenados,
palpitação, hipertensão, arritmias, angina, vaso-
alfa e betabloqueadores, antidepres-
constrição, morte súbita.
sivos tricíclicos, inibidores da MAO
Adrenalina Digestivo: náusea, vômitos.
↓ efeito broncodilatador:
Genito-urinário: retenção urinária em pacientes
Betabloqueadores
com obstrução do fluxo urinário, diminuição do
fluxo sanguíneo renal. ↓ hipoglicemiantes orais:

Musculo-esquelético: tremor, fraqueza Hipoglicemiantes orais

Miscelânea: aumento da sudorese.

Neurológico: cefaleia, ansiedade, vertigem. ↑ efeito fenoterol:


Cardiovascular: palpitação, taquicardia. Ipratróprio, simpaticomiméticos,
Digestivo: vômitos. inibidores da MAO e antidepressivos
Fenoterol
Respiratório: irritação da orofaringe, tosse. tricíclicos

Musculo-esquelético: tremores, cãimbras ↓ efeito broncodilatador:

Miscelânea: urticária, exantema. betabloqueador

Neurológico: sonolência, insônia, cefaleia,


ansiedade, convulsão, vertigem, zumbido,
inquietação, alucinação, irritabilidade.

Cardiovascular: palpitação, taquicardia, hiper- ↑ toxicidade do salbutamol:


tensão, angina, hipotensão, angioedema. Simpaticomiméticos, metildopa,
Respiratório: ressecamento nasal, irritação inibidores da MAO e antidepressivos
Salbutamol
do nariz e orofaringe, tosse, broncoespasmo tricíclicos
paroxístico. ↓ efeito broncodilatador:
Digestivo: náusea, vômito, alteração do paladar, betabloqueador
epigastralgia.

Musculo-esquelético:

Miscelânea:

53
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Neurológico:
↑ toxicidade da terbutalinal:
Cardiovascular:
Simpaticomiméticos, metildopa,
Respiratório:
inibidores da MAO e antidepressivos
Terbutalina Digestivo: tricíclicos
Musculo-esquelético: tremores, câimbras, ↓ efeito broncodilatador:
fraqueza.
betabloqueador
Miscelânea: urticária, hipocalemia, sudorese.

↑ toxicidade da aminofilina:

Álcool, alupurinol, betabloquea-


dores, bloqueadores dos canais de
Neurológico: ansiedade, agitação, insônia, tontu- cálcio, cimetidina, ciprofloxacino,
ra, cefaleia, convulsões. claritromicina, corticoides, diuré-
Cardiovascular: palpitação, taquicardia, hipo- ticos de alça, efedrina, isonizaida,

Aminofilina tensão. metrotexato, contraceptivos orais,

Digestivo: náusea, vômito, anorexia, diarreia. tiabendazol, tacrina, hormônios


tireoidianos, verapamil
Miscelânea: taquipneia, movimentos muscula-
res involuntários, urticária. ↓ efeitos da aminofilina:

Carbamazepina, cetoconazol, iso-


proterenol, fenobarbital, fenitoina,
rifampicina, simpaticomiméticos

Neurológico: ansiedade, tontura, cefaleia, ansie-


dade, insônia, sonolência, visão borrada.

Cardiovascular: palpitação, taquicardia, hipo ou


hipertensão, fibrilação atrial, angioedema. ↓ toxicidade do ipratrópio:

Respiratório: broncoespasmo, reação de hiper- Medicamentos com efeitos anticoli-


Ipratrópio
sensibilidade, ronquidão, laringoespasmo. nérgicos e outros com propriedades

Digestivo: náusea, vômito, constipação, cólica, anticolinérgicas

xerostomia.

Miscelânea: disúria, retenção urinária, exante-


ma cutâneo, prurido, urticária e midríase.

Fonte: Secoli e Tolon (2007)

54
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Corticosteroides
Os corticosteroides são utilizados para reduzir a inflamação brônquica, e
são os agentes mais antiinflamatórios mais efetivos utilizados para tra-
tar pacientes com obstrução reversível do fluxo de ar. Os corticosteroides
atuam agem sobre as respostas imunes e reduzindo a inflamação. Dro-
gas sistêmicas como dexametasona, metilprednisolona e prednisona são
administradas durante um evento respiratório agudo como insuficiência
respiratória aguda ou exacerbação do DPOC. Estes medicamentos inicial-
mente são administrados por via endovenosa e quando o paciente está
estabilizado, podem ser substituídos pela sua forma oral. Pacientes com
asma comumente utilizam esteroides inalatórios, que também suprimem
a resposta imune reduzindo a inflamação das vias aéreas.

Quadro 3: Reações adversas e observações no uso de corticoides.

Medicamentos Reações adversas Observações

Insuficiência cardíaca
Arritmias
Esteróides Utilizado com cautela em pacientes
Edema
sistêmicos com infarto agudo do miocárdio
Colapso circulatório
Dexametasona recente, hipertensão, doença renal
Tromboembolismo
Metilprednisolona e úlcera gastrointestinal.
Úlcera péptica
Prenisona Monitorizar pressão sanguínea e
Hiperglicemia
glicemia.
Hipocalemia
Insuficiência suprarenal

Esteróides Não são utilizados para o tratamen-


inalatórios Rouquidão to de asma aguda.
Beclometasona Boca seca Recomendado uso de espaçador
Budenosida Sibilos para melhorar a eficiência da admi-
Triancinolona Broncoespasmo nistração do medicamento.
Flunisolida Candidíase oral Enxaguar a boca do paciente após o
Fluticasona Cefaleia uso para prevenir infecção fúngica
oral.

Fonte: Secoli e Tolon (2007)

55
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Técnicas e procedimentos de assistência ventilatória


Os pacientes que apresentam distúrbios respiratórios apresentam, em ní-
veis diversos, a necessidade do uso de oxigênio complementar, de acordo
com a gravidade de sua situação clínica. O conteúdo que apresentamos a
seguir tem o objetivo de discutir as diferentes técnicas e procedimentos
utilizados na assistência ventilatória de forma que possibilite sua admi-
nistração corretamente de forma a atender as necessidades dos pacientes.

1.6 Oxigenoterapia
Oxigenoterapia é o termo utilizado para o uso clínico de oxigênio suple-
mentar e consiste na administração de oxigênio acima da concentração do
gás ambiental normal ao nível do mar (21%). O objetivo da oxigenoterapia é
corrigir a hipoxemia, através da otimização da oferta de oxigênio e, conse-
quentemente, manter a oxigenação tecidual adequada, além de promover
a diminuição da carga de trabalho cardiopulmonar através da elevação dos
níveis alveolar e sanguíneo de oxigênio. A oxigenoterapia é indicada para
pacientes com hipoxemia aguda e aqueles com sintomas de hipoxemia
crônica ou sobrecarga cardiopulmonar.

Em casos de administração de medicamentos por meio de


micronebulizador, o uso de oxigênio só será necessário se
o paciente já estiver em oxigenoterapia. Se não for o caso, o
micronebulizador deverá ser ligado à rede de ar comprimido.

Segundo a American Association for Respiratory Care (AARC,2007), as indica-


ções básicas de oxigenoterapia são:

• PaO2 < 60 mmHg ou Sat O2 < 90 % (em ar ambiente).

• Sat O2 < 88% durante a deambulação, exercício ou sono em portado-


res de doenças cardiorrespiratórias.
• IAM.

• Intoxicação por gases (monóxido de carbono).

• Envenenamento por cianeto.

56
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Classificação dos sistemas de oxigenoterapia


Os sistemas de fornecimento de oxigênio podem ser classificados de acor-
do com a concentração a ser liberada, em sistema de baixo e alto fluxo.
Entretanto, estas concentrações dependerão da profundidade inspiratória
de cada paciente. Quanto mais profunda a inspiração do paciente, maior
a diluição do oxigênio fornecido e menor a fração inspiratória de oxigênio
(FiO2). Desse modo, um sistema que forneça somente uma parte do gás
inspirado sempre irá produzir uma FiO2 variável. Podemos obter uma FiO2
fixa, se utilizarmos um sistema de alto fluxo ou um sistema com reserva-
tório, daí a necessidade de eleger-se um sistema adequado.

Sistemas de Baixo Fluxo


Fornecem oxigênio suplementar às vias aéreas diretamente com fluxos de
8 l/min. ou menos. Como o fluxo inspiratório de um indivíduo adulto é
superior a este valor, o oxigênio fornecido por este dispositivo de baixo
fluxo será diluído com o ar, resultando numa FiO2 baixa e variável. Estes
sistemas incluem a cânula nasal, o cateter nasal e o cateter trans-traqueal.

• Cânula nasal ou óculos – utilizam-se fluxos inferiores a 8l/min.,


mas podem causar desconforto e ressecamento nasal, mesmo com
dispositivos de umidificação acoplados. A cânula nasal e confor-
tável para os pacientes, não interfere com a fala ou a alimentação.
Pode fornecer níveis de FIO2 de 0.24 a 0.40 com taxas de fluxo de até
8 l/min. em adultos. Importante destacar que a quantidade de oferta
de oxigênio pode variar de conforme o tempo inspiratório e a frequ-
ência e profundidade da respiração. Uma boa regra é considerar que
para cada litro de oxigênio fornecido, a FiO2 eleva-se aproximada-
mente em 4%.
• Cateter nasal – Este dispositivo deveria atingir a úvula; no entanto,
sua inserção geralmente se faz às cegas até uma profundidade igual
à distância entre o nariz e o lóbulo da orelha. Como este cateter
afeta a produção de secreção, deverá ser removido e substituído por
um novo pelo menos a cada 8 horas e preferencialmente, na narina
oposta. A concentração de oxigênio através deste dispositivo varia
conforme a quantidade de fluxo de oxigênio fornecido por minuto,
o tamanho dos seios da face e a frequência e volume respiratório do
paciente, tendo valores aproximados de: 1l = 24% ; 2l = 28% ; 3l =
32% ; 4l = 36% ; 5l = 40% ; 6l = 44%.
• Máscara Facial – As máscaras faciais são os sistemas mais comu-
mente utilizados. Existem três tipos de máscaras: a simples, a de
reinalação parcial e a de não reinalação.

57
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• A máscara facial simples deve cobrir a boca e o nariz. O corpo da


máscara em si coleta e armazena oxigênio entre as inspirações do
paciente, e a expiração se faz através de orifícios laterais ou pela
própria borda da máscara. A variação de entrada de ar de uma más-
cara simples é de 5 a 12 l/min., para se obter uma oxigenação satis-
fatória. Com fluxos inferiores a 5l/min., o volume da máscara atua
como espaço morto e provoca a reinalação do CO2. Como alguns
pacientes relatam claustrofobia com este dispositivo, geralmente é
utilizado apenas por um curto período. Importante cautela na sua
utilização por pacientes com DPOC e que estejam retendo CO2, pois
baixos fluxos podem provocar reinalação e elevar os níveis e CO2.
Libera concentrações de 40% a 60%.
• A máscara de reinalação parcial não contém válvulas. Durante a
inspiração, o oxigênio flui para o interior da máscara e passa direta-
mente ao paciente e durante a expiração parte do ar é armazenado
na bolsa. Como a porção inicial do gás expirado é oriunda do espaço
morto anatômico, a bolsa possui, sobretudo, oxigênio e pouco CO2.
À medida que a bolsa se enche de oxigênio e gás do espaço morto,
dois terços finais da expiração escapam através das portas de expi-
ração da máscara. Esta máscara pode fornecer um suplemento de
oxigênio entre 40 a 70%, com uma estabilidade variável. Esta bolsa
requer um fluxo mínimo de 10 l/min. para prevenir o seu colapso na
inspiração.
• A máscara de não reinalação impede a reinalação através de válvu-
las unidirecionais. Contém uma bolsa reservatório de oxigênio com
uma válvula unidirecional entre o reservatório e a máscara. Deve
ser assegurado que o reservatório seja preenchido antes de aplicar
a máscara ao paciente, para prevenir o acúmulo e a reinalação de
gases espirados. As máscaras de reinalação são capazes de admi-
nistrar 90-95% de oxigênio com uma taxa de fluxo de 15 l/min. Pode
ser utilizada em pacientes críticos que ainda podem ter ventilação
espontânea, como nos pacientes severamente hipoxêmicos que não
tem fatores de risco para insuficiência respiratória hipercápnica.

Sistemas de Alto Fluxo


Os sistemas de alto fluxo fornecem uma determinada concentração de
oxigênio em fluxos iguais ou superiores ao fluxo inspiratório máximo do
paciente, assim asseguram uma FiO2 conhecida.

• Máscara de Venturi - é um sistema de alto fluxo, no qual o oxigênio


passa por um orifício sob pressão, causando aspiração do ar am-
biente para o interior da máscara. Desta forma, o paciente respira a

58
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

mistura de ar ambiente mais oxigênio. Pela máscara de Venturi são


fornecidas diferentes concentrações de O2 controladas por meio de
diluidores codificados em seis cores para diferentes concentrações
de 24%, 28%, 31%, 35%, 40%, 50%. O sistema é mais comumente
usado por pacientes que devem evitar altos níveis de oxigênio, por
exemplo, aqueles com DPOC, ou pacientes com risco de desenvolver
hipercapnia devido à administração de oxigênio.
Quadro 4: Concentrações e Fluxo de oxigênio de acordo com a cor do conector da Máscara de
Venturi

Conector Concentração O2 Fluxo O2

Azul 24% 4 L/min.

Amarelo 28% 4 L/min.

Branco 31% 6 L/min.

Verde 35% 8 L/min.

Vermelho 40% 8 L/min.

Laranja 50% 12 L/min.

Fonte: McGloin (2008)

Geradores de Fluxo – São recursos utilizados para gerarem alto fluxo atra-
vés de arrastamento de ar. A fonte de oxigênio passa através de duas vál-
vulas de agulha; uma propulsiona o jato, determinando a quantidade de ar
arrastado e a outra fornece oxigênio suplementar para aumentar a FiO2.
Este tipo de gerador é utilizado para se realizar ventilação não invasiva
através de máscara facial siliconizada e é acoplado a uma fonte de 50 pseg,
fornecendo concentrações de O2 de 30% a 100% com fluxos até 100l/min.

59
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

No quadro abaixo, você pode identificar as diferenças entre o fluxo e a FiO2


ofertada de acordo com os diferentes dispositivos.

Quadro 5: Diferenças entre o fluxo e a FiO2 ofertada de acordo com os diferentes dispositivos.

Fluxo de O2
Dispositivo FiO2 Considerações de enfermagem
(l/min.)

Baixo Fluxo

Mais confortável do que a máscara; pode irritar nari-


Cânula nasal 1-6 0.24 – 0.44
nas e pele ao redor dos ouvidos.

Máscara facial Paciente pode sentir desconforto e recusar a sua utili-


5 - 10 0.30-0.60
simples zação; útil no transporte de pacientes.

Paciente pode sentir desconforto e recusar sua utili-


zação; ajustar o fluxo de modo que a bolsa do reser-
Máscara de rei- vatório não colabe (não perca o lúmen grudando suas
8 - 12 0.40-0.70
nalação parcial paredes) quando o paciente respira; boa para utilização
a curto prazo (<24 hs), para pacientes que necessitam
maior concentração de oxigênio.

Paciente pode sentir desconforto e recusar sua utiliza-


ção; ajustar o fluxo de modo que a bolsa do reserva-
Máscara sem tório não colabe quando o paciente respira; boa para
10-15 0.60 – 0.80
reinalação utilização a curto prazo (<24 hs) para pacientes que
necessitam maior concentração de oxigênio; fornece
uma concentração maior de O2 sem intubação.

Alto fluxo

Paciente pode sentir desconforto e recusar-se a utilizar.


Máscara de
4-12 0.24-0.50 Útil para pacientes com retenção crônica de CO2, tais
Venturi
como aqueles com DPOC.

Fonte: Pruitt e Jacobs (2003)

60
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

1.7 Intubação endotraqueal


A intubação endotraqueal é um procedimento pelo qual é inserido um
tubo/cânula nas vias aéreas para manter a ventilação/oxigenação adequa-
da diante da ineficiência ou ausência de ventilação/respiração, garantindo
assim, a permeabilidade das vias aéreas e minimizando a aspiração do
conteúdo gástrico (CALIL; PARANHOS, 2007; MORTON et al., 2006). Dentre
os objetivos para a utilização da via aérea artificial destacam-se: estabe-
lecimento de uma via aérea pérvia e artificial, proteção da via aérea com
balão insuflado, instalação de ventilação mecânica e facilitação de desobs-
trução de vias aéreas (MORTON et al., 2006). A intubação traqueal pode ser
oral ou nasal. Como alguns dos critérios de intubação podem ser citados:

• Quando outros métodos não oferecem oxigenação adequada.

• Hipoxemia grave.

• Risco iminente de morte.

• Presença de importante desconforto respiratório.

• Rebaixamento do nível de consciência (escala de Glasgow igual ou


inferior a oito).
Como qualquer procedimento invasivo e realizado em situação de urgên-
cia, também pode desenvolver algumas complicações tais como:

• Trauma da arcada dentária, tecidos moles, boca ou nariz e das cor-


das vocais;
• Intubação gástrica ou seletiva do brônquio fonte direito;

• Vômitos, podendo causar broncoaspiração.

Outras complicações tardias podem aparecer como edema da glote, lesão


da traqueia e das cordas vocais e infecções pulmonares, tanto pelo proce-
dimento em si como pela aspiração traqueal sem técnica asséptica.

As intervenções de enfermagem podem ser classificadas em antes, durante


e após a intubação. É importante destacar que pela urgência da situação,
todo o material para a realização do procedimento deve estar prontamente
disponível. O que inclui tubos de diferentes tamanhos (testar o tubo a ser
introduzido quanto ao funcionamento do balonete), laringoscópio com vá-
rias lâminas, (testadas quanto ao funcionamento da lâmpada), máscara-
-bolsa-válvula, xilocaína spray, seringa de 20 ml, fonte de vácuo para aspi-
ração e fonte de oxigênio. Importante ressaltar a necessidade de material
de proteção individual, conforme a precaução necessária.

61
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

1.7.1 Antes da intubação:


• Observar quando o paciente recebeu a última refeição ou ingeriu lí-
quidos, observar presença de distensão gástrica, pois pacientes com
distensão gástrica ou aqueles que recentemente alimentaram-se
possuem risco elevado de broncoaspiração, sendo em alguns casos
indicada a instalação de sonda nasogástrica em sifonagem.
• Observar nível de consciência, ansiedade e grau de dificuldade res-
piratória. Exceto nos casos de parada cardíaca são usados sedativos
e/ou bloqueadores neuromusculares.
• Remover próteses dentárias.

1.7.2 Durante o procedimento:


• Observar traçado cardíaco ao monitor: a hipoxemia pode provocar
taquicardia e batimentos ectópicos. Uma resposta vagal também
pode ocorrer à medida em que o tubo passa pela faringe, produzin-
do bradiarritmias.
• Oximetria de pulso – durante a intubação é indicado que a saturação
ao oxímetro não caia a menos de 90%. Se ocorrer, pode ser indicado
que a tentativa de intubação seja suspensa e o paciente hiperoxige-
nado até que a saturação se eleve. Nestes casos, deve ser ventilado
com máscara-bolsa-válvula conectados ao oxigênio a 15 l/min.

1.7.3 Após o procedimento:


• Fixar o tubo com cadarço ou material de rotina da instituição - To-
dos os tubos devem ser fixados para diminuir a sua movimentação
e prevenir a extubação não planejada. É recomendado que a fixação
seja realizada com fita acima das orelhas bilateralmente para pre-
venir a oclusão da veia jugular.
• Confirmar a localização do tubo.

• Auscultar primeiramente sobre o epigástrio, depois o lado superior


e inferior esquerdos do tórax, e o lado superior inferior direito. A
localização é adequada quando o ar não é ouvido sobre o epigástrio
e os sons respiratórios bilaterais são ouvidos por todos os campos
pulmonares. Se o ar for ouvido sobre o epigástrio significa que o tubo
entrou no esôfago em vez da traqueia. O tubo deve ser removido e
feito nova tentativa.

62
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

• Observar a expansão e retração bilateral e simétrica do tórax.

• Providenciar realização de radiografia de tórax.

• Realizar aspiração traqueal sempre que for necessário, conforme


avaliação clínica.

Sons ventilatórios identificados apenas em um lado


indicam intubação seletiva de um brônquio-fonte, sendo
mais comumente o direito. Nestes casos, o tubo deve ser
reposicionado. Para tanto, esvaziar o balonete, tracionar o tubo
de 1 a 2 cm e inflar novamente o balonete, checando a posição.

1.8 Registro
• Sinais vitais frequentes e leituras do oxímetro de pulso devem ser
registrados antes durante e após a intubação.
• Registrar medicamentos utilizados, o profissional que realizou o
procedimento, tamanho do tubo utilizado, marca de inserção em ní-
vel da comissura labial, pressão de enchimento do balonete.
• Registrar como foi confirmada a localização da posição do tubo e se
o mesmo foi reposicionado.

Manutenção do tubo endotraqueal


• Verificar a profundidade de inserção do tubo endotraqueal na co-
missura labial, com a finalidade de identificar precocemente a ocor-
rência de intubação seletiva ou extubação não planejada.
• Ao avaliar as secreções, sinais e sintomas de vias aéreas adequa-
das incluem: presença de reflexo de tosse e deglutição, ausência de
estertor e de broncoespasmo, ausência de dificuldade respiratória.
• Manter a pressão do balonete entre 15-25 mmHg (20 a 34 cm H2O),
pois diminui o risco de lesão traqueal ou aspiração por oclusão ine-
ficiente. Dentre os sinais que evidenciam uma oclusão ineficiente
destacam-se: vazamento de ar audível ou auscultado sobre a larin-
ge, paciente capaz de articular sons, e balão piloto vazio e alarme de
baixa pressão no ventilador mecânico.

63
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Monitorizar continuamente sinais e sintomas de extubação não pla-


nejada, que incluem: vocalização, alterações na ausculta respirató-
ria e distensão gástrica.
• Manter o paciente com a cabeceira elevada, em pelo menos 30 graus.

• Instalar a oxigenioterapia prescrita.

1.9 Ventilação mecânica invasiva


Consiste em um suporte ventilatório com utilização de pressão positiva
empregado em pacientes que estejam fazendo uso de qualquer tipo de
via aérea artificiais (tubo endotraqueal ou cânula de traqueostomia) que
fazem a conexão entre o dispositivo ventilatório e o paciente. Embora o
paciente em ventilação mecânica geralmente fique internado em Unidade
de Terapia Intensiva, é relativamente comum que alguns pacientes perma-
neçam algumas horas na unidade de emergência, em espera por transfe-
rência para outra unidade ou instituição, ou por indisponibilidade de vaga.

Compartilhando
O papel do enfermeiro na assistência ventilatória mecânica é
intenso, extenso e complexo. Os cuidados de enfermagem para
minimizar os eventos adversos da instalação e manutenção da
ventilação mecânica incluem a monitorização dos parâmetros
ventilatórios, o controle das condições gerais do paciente, a
umidificação e o aquecimento dos gases inalados, a mobilização
e a remoção de secreções.

1.9.1 Parâmetros básicos para regulagem do ventilador mecânico


Os parâmetros podem variar de uma rotina para outra, mas de uma forma
geral eles consistem em:

• Fração inspirada de oxigênio – concentração percentual de oxigê-


nio no ar inspirado; pode variar de 0.21 a 1.0. Geralmente, na fase
inicial da VM a FiO2 indicada é de 100%. A FiO2 é reajustada confor-
me análise da gasometria arterial seguinte, sendo progressivamente
reduzido, objetivando uma FIO< 0,5, porém adequada para manter
uma oxigenação adequada, ou seja, superior a 90%.

64
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

• Frequência respiratória – recomenda-se uma frequência respirató-


ria de 12 incursões por minuto para pacientes estáveis.
• Volume corrente – é o volume de ar fornecido a cada ventilação. É
calculado para a regulagem inicial de 7 a 8 ml/kg para prevenir le-
são pulmonar por hiperdistensão alveolar. O volume pode variar se
utilizada pressão positiva ao final da expiração (PEEP).
• Fluxo inspiratório - velocidade com que o volume corrente é libera-
do a cada ciclo; geralmente é regulado de 5 a 6 vezes o volume mi-
nuto ou conforme o peso e pode variar de 0,7 tempo inspiratório de-
sejado em ventilação controlada, geralmente entre 40 e 60 l/minKg.
• Relação inspiração: expiração - na respiração normal, a inspiração
é mais curta que a expiração; na ventilação mecânica esta relação
geralmente é de 1:2, com tempo inspiratório de 0,8 a 1,2 segundos.
• Sensibilidade - usada para determinar o esforço do paciente para
iniciar um ciclo na modalidade ventilação assistida.
• PEEP (pressão expiratória final positiva) – iniciada geralmente e
5cmH2O; recurso utilizado para otimizar a pressão positiva ao fim
da expiração, de forma a manter os alvéolos abertos, em substitui-
ção ao mecanismo da glote.
• Para a escolha da modalidade ventilatória a ser utilizada, é consi-
derada a condição clínica do paciente e os objetivos da ventilação
mecânica; a modalidade ventilatória determinará como o paciente
irá interagir com o equipamento.

1.9.2 Modalidades ventilatórias


Algumas das modalidades ventilatórias mais comuns são:

• Ventilação mecânica controlada: os ciclos ventilatórios são contro-


lados pelo equipamento, independentemente do seu esforço inspi-
ratório do paciente, de acordo com a programação da frequência
respiratória, volume corrente ou pressão inspiratória máxima pre-
determinados pelo operador. Não há sensibilidade programada nes-
te modo.
• Ventilação assistida controlada: o ciclo ventilatório será preferencial-
mente iniciado pelo esforço inspiratório do paciente. É programado o
esforço necessário para disparar o ciclo. Através do ajuste da sensibi-
lidade pode-se permitir que o paciente inicie a inspiração nos ciclos
assistidos, porém, a finalização da fase inspiratória e início e final da
expiração dão-se exclusivamente pelo ventilador mecânico. Se o pa-
ciente não iniciar a inspiração, ciclo assistido, o ventilador mecânico o
inicia no modo controlado, daí o nome assisto-controlado.
65
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Ventilação mandatória intermitente sincronizada: este modo ven-


tilatório consiste na correlação entre modo controlado, assistido e
espontâneo, conforme a capacidade ventilatória do paciente. Permi-
te que o paciente respire espontaneamente nos intervalos de ciclos
ventilatórios controlados pelo equipamento. Nos ciclos espontâneos
a frequência respiratória e o volume corrente variam de acordo com a
capacidade são controlados pelo paciente. Se o paciente não iniciar o
ciclo, modo assistido, o ventilador o faz no modo controlado. Os ciclos
controlados são sincronizados ao esforço inspiratório do paciente.
• Espontânea ou CPAP (Pressão positiva continua nas vias aéreas): con-
siste na manutenção de uma pressão positiva continua nas vias aé-
reas durante os ciclos ventilatórios espontâneos, otimizando a oxige-
nação e prevenindo o colapso alveolar ao final da expiração. Consiste
em uma modalidade de desmame ventilatório e, por isso, faz-se fun-
damental avaliar a capacidade do paciente em manter um ciclo res-
piratório completo sem esforço. Necessita de frequência respiratória
como back-up de segurança, programada por meio de tempo.

1.10 Alarmes
Os sistemas de alarme são necessários para advertir os enfermeiros sobre
a ocorrência de problemas na ventilação mecânica, e devem permanecer
sempre ligados e com valores limites dos parâmetros ajustados adequa-
damente às necessidades do paciente. O disparo dos alarmes pode estar
relacionado à condição do paciente, ao ventilador ou ao circuito ventilató-
rio. Os alarmes de baixa pressão advertem para a desconexão do paciente
do ventilador ou para extravasamentos do circuito. Já os alarmes de alta
pressão advertem para as pressões crescentes. Os alarmes de falha elétrica
são necessários para todos os ventiladores. Os alarmes nunca devem ser
ignorados ou desligados, e o disparo de qualquer alarme deve ter sua cau-
sa avaliada imediatamente. Algumas condutas relacionadas ao disparo de
alarmes de ventiladores mecânicos estão no quadro abaixo.

66
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Quadro 6: Condutas relacionadas ao disparo de alarmes de ventiladores mecânicos

Tipo de alarme Possíveis causas Conduta

Mau funcionamento das válvulas


do ventilador, conexão errada das
traqueias do circuito com o paciente,
obstrução ou dobradura do circuito, Aspirar secreções, posicionar ou trocar
intubação seletiva. Diminuição da TOT/TQT (obstrução), aferir a pressão
complacência pulmonar, ascite e dis- do cuff, tranquilizar o paciente e avaliar
tensão abdominal, pneumotórax es- ajuste da sedação, rever parâmetros (VC,
Alarme de aumento de pontâneo e hipertensivo, pneumonia, FR, fluxo, I:E), ajustar sensibilidade e
pressão em vias aéreas. atelectasia, edema agudo pulmonar alarmes, corrigir dobraduras do circuito,
(EAP), derrame pleural, broncoes- retirar água condensada do circuito e
pasmo, hipersecreção e tampões usar coletores, ajustar o limite máximo
mucosos (“rolhas” de secreção). acima da pressão de pico se essa não for
Tosse e mordida do tubo orotraqueal, excessiva.
assincronismo paciente/ventilador,
presença de água condensada no
circuito e valor limite baixo.

Melhora da complacência pulmonar, Verificar o balonete, a posição e o


como a melhora do quadro de edema tamanho do dispositivo ventilatório.
agudo pulmonar. Diminuição da Observar se há vazamento no balonete
resistência à passagem do fluxo de ar, do tubo. Verificar o dreno torácico: se
como a desconexão ou “fratura” do houver perda de ar, deve-se auscultar o
Alarme de pressão
circuito, vazamento ao redor da via paciente e verificar a ventilação. Checar
baixa em vias aéreas
aérea artificial, fístula broncopleural, as conexões e coletores, trocando as pe-
vazamento na válvula expiratória; ças defeituosas, ventilar manualmente o
pressão insuficiente na rede de paciente e checar a rede e a necessidade
gases, desconexão do paciente do de trocar as válvulas redutoras, corrigir
ventilador. os parâmetros e ajustar os alarmes.

Desconexões ou fratura dos circuitos,


balonete desinsuflado ou fura-
do, presença de ar extra-alveolar
(barotrauma), circuito complacente,
As ações de enfermagem são as mesmas
Alarme de diminuição piora da complacência e aumento
adotadas frente aos alarmes de pressões
de volume da resistência à passagem do fluxo
baixas descritas acima
de ar, fluxo inspiratório inadequado,
comprometimento da válvula expi-
ratória, permitindo escape na fase
inspiratória.

67
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

São relacionadas com situações de


Checar os ajustes dos parâmetros
aumento da complacência ou dimi-
ventilatórios, atentar para os ciclos respi-
nuição da resistência à passagem do
ratórios com altos volumes e se possível
fluxo. Podem ocasionar volutrau-
reduzir os valores pressóricos. Alarme
Alarme de aumento de ma, indicando lesões pulmonares
da fração inspirada de oxigênio (FiO2):
volume relacionadas a repetidas distensões e
a ocorrência de pressões inadequadas
pressurização do tórax, incluindo al-
de oxigênio e ar comprimido sempre
terações da permeabilidade vascular,
dispara o alarme pelo misturador de
uma cascata de reações inflamató-
gases (blender).
rias e dano alveolar difuso.

Em condições de alarmes de altera-


ções da FiO2 (valores diferentes da
concentração prescrita), deve-se: calibrar
o sensor, chamar a assistência técnica,
Fonte de oxigênio com a pressão verificar a pressão da rede e trocar as
baixa, fechada ou com defeito no válvulas redutoras. Deve-se ficar atento
blender. Ou, ainda, pode estar alto para que o paciente não apresente des-
FiO2 baixa
se a fonte de ar comprimido estiver conforto respiratório por
com a pressão baixa, fechada ou com hipóxia e observar sinais clínicos de
defeito no blender. desconforto respiratório, como cianose,
e queda da saturação de oxigênio
(oximetria), entre outros. Se necessário,
providenciar a troca do respirador (Cin-
tra, 2003; Silva, 2006).

Comprometimento neurológico, No caso de taquipneia, deve-se avaliar


sedação inadequada, má adapta- a causa e a necessidade de sedação e/
ção ao modo ventilatório, dor ou ou analgesia, tranquilizar o paciente,
Alarme de frequência desconforto e aumento do trabalho verificar o ajuste da sensibilidade,
respiratória respiratório, como a fadiga muscular verificar saturação do paciente, conferir
em casos de desmame ventilatório, a frequência respiratória do paciente por
defeito do sensor de fluxo, autocicla- outro método e caso o respirador tenha
gem do aparelho e ajuste inadequado detectado a frequência erroneamente
da sensibilidade. chamar a assistência técnica.

Avaliar o paciente, ventilar em modo


Comprometimento neurológico, controlado ou aumentar a FR do apare-
Alarme de apneia:
sedação inadequada, ajuste inade- lho, verificar se o respirador detecta as
indica interrupção ou
quado da frequência respiratória, da ventilações espontâneas do paciente,
redução da ventilação
sensibilidade ou do tempo de apneia. calibrar ou trocar o sensor, ajustar a
espontânea.
sensibilidade e o tempo de apneia e rever
a sedação.

Fonte: Oufen Junior e Carvalho (2007)

68
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

Saiba mais
Complemente a seguir sua aprendizagem sobre ventilação
mecânica acessando os sites disponibilizados abaixo:
Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades
ventilatórias.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-
37132007000800002&script=sci_arttext>
Modos de assistência ventilatória
Disponível em: <http://www.fmrp.usp.br/revista/2001/vol34n2/
modos_assistencia_ventilatoria.pdf>

Intervenções de enfermagem
Mantenha a cabeceira do paciente elevada em 30 a 45 graus, se não houver
contraindicação, pois este procedimento previne a pneumonia associada à
ventilação mecânica.

• Avalie a expansão e a simetria torácica, realizando ausculta pulmonar.

• Monitorize o padrão respiratório e a administração do oxigênio por


meio da oximetria de pulso, avaliação dos gases sanguíneos e cap-
nografia, quando disponível.
• Mantenha atenção constante aos alarmes do ventilador mecânico
Avalie constantemente sinais de hipoxemia (taquicardia, dispnéia,
confusão mental, cianose, baixa saturação de oxigênio).
• Avalie frequentemente o estado geral do paciente através da moni-
torização dos sinais vitais e cardiovasculares.
• Avalie os sinais neurológicos – nível de consciência, pupilas e mo-
tricidade.
• Mantenha fixação adequada do tubo endotraqueal, mantendo-a se-
guro, trocando-a uma vez ao dia ou sempre que necessário.
• Registre a altura do tudo endotraqueal na altura da comissura labial

• Manter o alinhamento adequado da cabeça e pescoço de forma a


prevenir o deslocamento do tubo dentro da traqueia.
• Realize higiene oral utilizando solução antisséptica de forma siste-
mática ou sempre que necessário.

69
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Realize aspiração endotraqueal sempre que necessário, avaliando e


registrando o padrão da secreção aspirada. Em casos de uso de alta
PEEP ou precaução aérea, utilizar o sistema de aspiração fechado.
• Remova secreções da cavidade oral quando clinicamente indicado,
com técnica padronizada.
• Registre os parâmetros fornecidos pelo ventilador no prontuário do
paciente.
• Manter o ar a ser administrado umidificado e aquecido. Trocadores
de calor e umidade, com membrana de filtro ou não, podem ser uti-
lizados se o paciente não tiver contraindicações (hipovolemia, hipo-
termia, distúrbios de coagulação); nestes casos, considerar o uso de
umidificador aquecido.
• Monitorar a adequada oclusão da traqueia por meio da ausculta em
região cervical.
• Registrar a pressão do balonete 3 vezes ao dia, pelo menos.

• Evitar condensação de fluidos nos circuitos de ventilação e despre-


zar o conteúdo dos copos de drenagem quando houver.
• Realizar ou indicar a mudança de posição no leito, levando em con-
sideração a condição pulmonar, por meio de radiografia de tórax e
mecânica pulmonar.

1.11 Resumo
Nesta unidade você aprendeu os diferentes distúrbios respiratórios mais
comuns no atendimento de emergência, bem como suas diferenças e simi-
laridades. Também aprendeu a identificar e avaliar distúrbios acidobásicos
e a interpretar suas manifestações por meio da gasometria arterial.

Como você deve ter percebido, a identificação destas alterações é comple-


xa e necessita ser realizada prontamente, de modo a garantir um cuidado
seguro e que atenda às necessidades do paciente. Para tanto, sempre tenha
em mente a importância de realização do cuidado de enfermagem de uma
forma metodológica como vimos nesta unidade, contemplando também a
classificação de risco de forma a otimizar o tempo de atendimento.

70
Aplicação da metodologia da assistência nas urgências respiratórias

1.12 Fechamento
Os distúrbios respiratórios e acido-básicos são comuns na emergência.
Exercite sua habilidade de avaliação destas condições, que muitas vezes
são prejudicadas pela ausência de possibilidade de realização de exames
laboratoriais, onde a experiência clínica tem valor fundamental.

1.13 Recomendação de leitura complementar


Como leitura complementar sugerimos que você acesse o site: <http://
www.fmrp.usp.br/revista/2008/VOL41N3/SIMP_6Equilibrio_acido_base.
pdf> que trata do Equilíbrio Ácido-Básico.

71
UNIDADE 2
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Unidade 2 - Aplicação da metodologia da assis-


tência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

2.1 Introdução
As desordens metabólicas e hidroeletrolíticas podem variar muito, tanto
na sua apresentação clínica quanto na sua classificação. Muitas vezes,
alguns sinais e sintomas frequentemente são similares a outras situações
de emergência. O conteúdo que apresentamos a seguir tem o objetivo de
discutir o reconhecimento e o cuidado dos pacientes que apresentam de-
sordens específicas tais como: hiper e hipoglicemia, hiper e hipocalemia,
hiper e hiponatremia e acidose metabólica.

Ao final deste conteúdo você deverá ser capaz de conhecer e intervir nas
principais desordens metabólicas e desequilíbrios hidroeletrolíticos em si-
tuações de urgência/emergência

2.2 Emergência metabólica diabética


A diabete mellitus é um grupo comum de desordens metabólicas carac-
terizada por hiperglicemia crônica que resulta de deficiência relativa de
insulina, resistência à insulina ou ambas. A diabetes é comumente pri-
mária, mas pode ser secundária para outras condições, ao qual inclui a
pancreática (ex. pancreatite total, pancreatite crônica, hemocromatose) e
doenças endócrinas (ex. acromegalia e síndrome de Cushing). Ela pode ser
induzida por fármacos, mais comumente pelos diuréticos tiazídicos e cor-
ticosteroides (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO,
2005; KWON; TSAI, 2007). Divide-se em:

• Diabetes Tipo 1 (Diabetes insulina dependente)

• Diabetes Tipo 2 (Diabetes não insulino-dependente)

Quais são então as emergências médicas metabólicas? Dentre elas desta-


cam-se conforme Nimmo et al. (2009), Martins, Scalabrini Neto e Velasco
(2005), e Kwon e Tsai (2007).

73
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Cetoacidose diabética (DKA).

• Diabete não cetótica hiperosmolar.

• Acidose lática.

• Hipoglicemia.

Saiba mais
Para aprofundar mais sobre o Diabetes recomendamos os links
dos sites abaixo, com vídeos bastante interessantes, em:
Diabetes o que é e como prevenir: <http://www.youtube.com/
watch?v=GOo6nGSkcwU&feature=related>
Diabetes: <http://www.youtube.com/watch?v=nyvu2euX8tM&f
eature=related>
Diabetes Mellitus: <http://www.youtube.com/watch?v=LdBKnJ
xfk88&feature=fvwrel>

Vamos estudar cada uma delas separadamente!

2.3 Cetoacidose diabética


É a marca da diabetes tipo 1. Ela normalmente não ocorre em diabetes
não insulino-dependente, entretanto, recentemente a cetoacidose diabé-
tica está sendo reconhecida em alguns tipos de diabetes tipo II, especial-
mente em culturas Afro-Caribenhos. Lembre-se que podem ser prescritos
aos pacientes, insulina para controle do diabetes, e, estes não serem ainda
insulino-dependentes (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO;
VELASCO, 2005; KWON; TSAI, 2007).

A cetoacidose ocorre nas seguintes circunstâncias:

• Estresse de doenças intercorrentes (exemplo: sepse) – em torno de


30 a 40%;
• Interrupção da terapia de insulina – em torno de 20 a 25%

• Diabetes previamente não diagnosticada – em torno de 25%

74
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

A Cetoacidose Diabética é definida como:


Hiperglicemia (>14mmol/l = mg/dl). Acidose Metabólica (ph<
7.35 ou bicarbonato < 15mmol//l)
Anion gap elevado (ferramenta clínica para diferenciar os tipos
principais de acidose metabólica. Ela é calculada através do
nível de sódio menos os níveis de cloro e bicarbonato somados:
Anion gap = ( [Na+] ) - ( [Cl-]+[HCO3-] ) (NIMMO et al., 2009).

Você sabia que 8,9% dos pacientes com diabetes tem um episódio de cetoa-
cidose diabética em um ano: 42% dos pacientes com cetoacidose têm mais
do que um episódio: 14% dos pacientes com glicose (superior) > 11mmol/l
e qualquer queixa, têm cetoacidose, e 25% dos pacientes com cetoacidose
têm novo início de diabetes, e, ainda, a cetoacidose, neste caso, pode não
ter causa subjacente (NIMMO et al., 2009).

Fisiopatologia da Cetoacidose Diabética


A cetoacidose é um estado de catabolismo incontrolado associado com a
deficiência de insulina. A deficiência de insulina é uma pré-condição ne-
cessária, uma vez que somente uma modesta elevação nos níveis de in-
sulina é suficiente para inibir a cetogênese hepática, e pacientes estáveis
não desenvolvem prontamente a cetoacidose quando a insulina é retirada
(NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO, VELASCO, 2005; KWON;
TSAI, 2007).

Outros fatores incluem excesso de hormônio regulador e depleção de flui-


dos. Na ausência de insulina, a produção de glicose hepática acelera e a
captação periférica pelos tecidos, tais como o tecido muscular, é reduzida.
A elevação dos níveis de glicose levam à diurese osmótica, perda de fluidos
e eletrólitos, e desidratação. A osmolaridade do plasma se eleva e diminui a
perfusão renal (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELAS-
CO, 2005; KWON; TSAI, 2007).

Paralelamente, rápida lipólise ocorre, levando a elevada circulação dos


níveis de ácidos graxos livres. Os ácidos graxos livres são quebrados em
coenzima acyl-CoA dentro das células do fígado e então esta retorna e é
convertida em corpos cetônicos dentro da mitocôndria. O vômito leva a
posterior perda de fluidos e eletrólitos. O acúmulo de corpos cetônicos pro-
duz uma acidose metabólica. O excesso de cetonas é excretado na urina,
mas também aparece na respiração, produzindo um hálito semelhante
àquele da acetona (NIMMO et al., 2009; MARTIN; SCALABRINI NETO; VE-
LASCO, 2005; KWON; TSAI, 2007).

75
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

A compensação respiratória para a acidose leva à hiperventilação. A de-


sidratação progressiva prejudica a excreção renal de íons hidrogênios e
cetonas, agravando a acidose. Como o pH cai abaixo de 7.0, os sistemas de
enzima pH dependente funcionam menos efetivamente em muitas célu-
las. Portanto, a cetoacidose diabética não tratada é inevitavelmente fatal
(NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005; KWON;
TSAI, 2007).

Sinais e Sintomas
Como então podemos avaliar os sinais e sintomas?

• Os sinais do diabetes descontrolado são: poliúria e perda de peso.

• Os sinais da acidose são: hiperventilação, respiração de Kussmaul e


vômito.
• Dor abdominal semelhante à de abdômen agudo (exclua IAM - In-
farto Agudo do Miocárdio) e pense em condições intra-abdominais
disparadas pela cetoacidose (como, por exemplo, a pancreatite).
• Sintomas de estado mental alterado, confusão e torpor são comuns
e coma pode ser observado em até 5% dos pacientes.
• Choque hipovolêmico e morte podem ocorrer em casos extremos.

• Durante o exame avalie o estado de hidratação, frequência da res-


piração, hálito cetônico e temperatura (especialmente fique atento
à hipotermia).

Palavra do profissional
Na cetoacidose pode haver hipotermia, mesmo na presença
de infecção subjacente, portanto, menospreze a avaliação da
temperatura corporal em busca de sinais de infecção. A pele
é normalmente seca (ao contrário da hipoglicemia). Os olhos
ficam caídos na severa desidratação.

76
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

A seguir, no quadro 6 abaixo, apresentamos um resumo dos principais ní-


veis de alteração da cetoacidose:

Quadro 6: Principais níveis de alteração da cetoacidose

Depleção
Severidade HCO3 pH Vômito
de volume

Cetose ≥20 mEq/l >7.35 Nenhum a leve. Não

Cetoacidose Leve 15-20mEq/l 7.30-7.35 Moderado; compensado Normalmente não

Moderada; evidência
Cetoacidose moderada 10-15 mEq/l 7.2-7.3 Comum
clinica

Cetoacidose severa < 10 mEq/l <7.2 Normalmente >7-10% Frequente

Fonte: NIMMO et al. (2009)

Para entender melhor os ensinamentos, vamos analisar o seguinte caso:

Caso 1: Você recebe um paciente, Sr. MNO, na Unidade de Emergência, do sexo mas-
culino, 49 anos acompanhado de sua esposa, vomitando, confuso, pálido e hálito ce-
tônico. Sua pele está discretamente fria e sudoréica. SV revelam PA: 160/90mmHg;
P:120bpm; FR: 28mvpm e T:35,5°C. A esposa revela que MNO é diabético e faz uso
de insulina regular há seis anos. Segundo informações MNO faz controle diário da
glicemia capilar. Neste período, revela ainda que o Sr MNO perdeu bastante peso e
vem se sentido muito fraco.

Como proceder nesta situação?

Palavra do profissional
Lembre-se de utilizar os conhecimentos adquiridos no Módulo
anterior (V) para estabelecer a classificação de risco deste
paciente nesta situação. Veja que ele se apresenta confuso.
A classificação que o paciente deve receber é a Laranja, pois
apresenta alteração do nível de consciência. A continuidade
do atendimento não deve levar mais do que dez minutos.
Selecione a terminologia de referência que você aprendeu no
início deste módulo e dê continuidade a sua linha de cuidado.

77
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Relembrando o Módulo V:

Número Nome Categoria Cor Tempo Alvo Min

1 Emergente Vermelho 0

2 Muito Urgente Laranja 10

3 Urgente Amarelo 60

4 Pouco Urgente Verde 120

5 Não Urgente Azul 240

A seguir, vamos estruturar as Intervenções de Enfermagem para os pacien-


tes nesta situação fundamentada em Nimmo et al. (2009), Martins, Scala-
brini Neto e Velasco (2005) e Kwon e Tsai (2007). Lembre-se de seguir a ter-
minologia de referência de sua unidade para a padronização do Processo
de Enfermagem, conforme salientamos no Módulo V.

Intervenções de Enfermagem
Após a classificação inicial continue monitorando o paciente e prestando
os cuidados necessários como:

1. Explique ao paciente e sua família os procedimentos e cuidados que


serão executados.
2. Mantenha o paciente confortável e monitore os sinais vitais.
3. Avalie nível de consciência aplicando a escala de coma de Glasgow,
avaliando reflexos e sensibilidade.
4. Avalie a glicemia, que nesse caso normalmente é alta, mas não sem-
pre, e os valores são acima de 17mmol/l (300mg/dl). A taxa de glice-
mia deve ser medida na chegada do paciente e de hora em hora para
as fases agudas do tratamento. Após o paciente estar fora do quadro
de cetoacidose, a glicemia deve ser monitorada continuamente, a
cada oito horas. Outras investigações incluem: ureia e eletrólitos,
hematócrito, gases sanguíneos, cultura de urina e sangue, raio X de
tórax, amilase sérica.
5. Mantenha veia calibrosa puncionada e instale SF0,9%, conforme
prescrição médica.

78
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

6. Faça reposição de fluidos, se necessário: este é o mais importante


passo no gerenciamento da cetoacidose. Restaurar a perda de fluido
ajudará a corrigir a desidratação pela acidose metabólica e minimi-
zar a perda dos eletrólitos, como resultado do ajustamento dos dois
parâmetros anteriores. Não existe, contudo, guidelines conclusivos
para a terapia de fluidos, mas geralmente a média de reposição deve
ser de 1l em 30 minutos, então 1l em 1 hora, 1litro em 2 horas, 1 litro
em 4horas e 1 litro em 6hs. Quando a glicose plasmática cair abaixo
de 250 mg/dl e as cetonas desaparecerem do sangue, mude o soro
para glicose a 5%.

Na cetoacidose, o paciente pode sofrer de falência pré-renal,


ou pode ter prejuízo renal preexistente. Dar potássio nestas
condições pode ser danoso ao paciente, portanto, é aconselhável
dar o primeiro litro de solução salina e medir o débito urinário,
se estiver adequado (1 a 2 m/kg/h), então o potássio pode ser
administrado com segurança. Caso contrário, use pouco ou
nenhum potássio. (NIMMO et al., 2009).

Como faremos em relação ao Potássio?

Potássio (K+)

1. Reponha eletrólitos se necessário: os níveis de potássio necessitam


ser monitorados com cuidado, quando os pacientes têm um déficit
total de potássio no corpo (até 1000mmol), embora os níveis de plas-
ma inicial possam não estar baixos (isso é a pseudohipercalemia).
Esta pseudohipercalemia normalmente está relacionada ao vômito
que acompanha o quadro de cetoacidose.
2. Quando a terapia de insulina é iniciada, isto leva à captação de po-
tássio pelas células com consequente queda nos níveis de K no plas-
ma. O potássio é, portanto, administrado tão logo a insulina seja
iniciada. A média deve ser de 20mmol de Kcl para cada litro de fluido
administrado; o que pode ser aumentado ou diminuído, dependen-
do do nível de potássio sérico a cada 2 horas.

79
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Sódio (Na+)

1. O paciente com cetoacidose diabética normalmente tem hiponatre-


mia (sódio baixo), o que, em muitos casos, é uma pseudohiponatre-
mia quando a hiperglicemia causa um artefato na medida dos níveis
de Na+. Para corrigir o Na, normalmente é usada a seguinte fórmula:

Na+ corrigido=Na+(glicose-5)/3.5.

Observe que, se a concentração de sódio sérico cai ou não se


eleva durante a reidratação, o paciente tem risco aumentado
de desenvolver edema cerebral. A falência na elevação do Na
sugere reidratação com excesso de água livre.

2. Monitore a oximetria de pulso no paciente, pois o excesso de água


livre pode comprometer a oxigenação.
3. Restaure o equilíbrio acidobásico com administração de medica-
mentos (conforme a prescrição médica). Os pacientes com rins sau-
dáveis rapidamente compensarão a acidose metabólica, assim que
o volume circulatório for restaurado. O bicarbonato deve ser consi-
derado somente se o pH está abaixo de 7.0.
4. Monitore a glicose sanguínea: mantenha a glicose sanguínea em
torno de 180-250mg/dl (10-14mmol/l).

Observe a necessidade de internação hospitalar e/ou


encaminhamento hospitalar deste paciente, providenciando
vaga e transporte se necessário.

5. Reponha nutrientes gradativamente e observe a aceitação do paciente.


6. Busque causas subjacentes. O exame físico pode revelar as fontes
de infecção. A febre não é comum mesmo quando a infecção está
presente. Se há suspeita de infecção, antibióticos de amplo espectro
devem ser iniciados assim que as culturas forem realizadas.

80
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Palavra do profissional
Você observou até aqui que as intervenções de enfermagem
ocorrem desde o momento da admissão do paciente e incluem
gerenciamento com medida de resultados destas intervenções.
Ou seja, é um processo contínuo e dinâmico que requer
monitoramento, vigilância e adequada tomada de decisão do
enfermeiro para garantir a segurança do cuidado. Não esqueça
de registrar suas ações no prontuário do paciente conforme
terminologia de referência de sua unidade.

Como vimos, a base do tratamento é a insulina, que permitirá o metabolis-


mo dos cetoácidos retidos e impedirá a formação de novos cetoácidos. Os
déficits de água, sódio e potássio também precisam ser corrigidos. O uso
de bicarbonato de sódio, além de controverso, é indicado muito raramente,
pois pode provocar alcalose de rebote, bem como riscos de hipertonicidade
e de acidose intracelular (MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

A American Diabetes Association recomenda o uso de bicarbonato de sódio


em doses baixas somente quando o pH for menor que 7,0 na seguinte for-
ma, segundo Martins, Scalabrini Neto e Velasco (2005):

• O pH entre 6,9 e 7,0: administrar 50mEq diluídos em 200ml de água


destilada IV em uma hora;
• O pH < 6,9: administrar 100mEq diluídos em 400 ml de água destila-
da IV em duas horas.

81
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

2.4 Estado hiperosmolar não cetótico


Essa condição caracteriza-se por severa hiperglicemia sem cetoacidose sig-
nificante, é característica emergência metabólica da diabetes tipo 2 não
controlada.

Fisiopatologia do estado Hiperosmolar não Cetótico


Os pacientes que normalmente apresentam esta condição são de média
idade ou idosos, frequentemente com diabetes não diagnosticada. Fatores
comuns que precipitam esta condição são: consumo de fluidos ricos em
glicose, medicações tais como diuréticos tiazídicos ou esteroides, doenças
intercorrentes, isquemia miocárdica, falência em aceitar as medicações e
pancreatite (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO,
2005; KWON; TSAI, 2007).

O coma não cetótico e a cetoacidose representam dois finais de um es-


pectro mais do que duas desordens distintas. As diferenças bioquímicas
podem parcialmente ser explicadas pela idade, função renal e grau de de-
ficiência de insulina (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO;
VELASCO, 2005; KWON; TSAI, 2007).

No estado Hiperosmolar não Cetótico, a deficiência de insulina


é relativa, não absoluta, e é conhecido que pequena quantidade
de insulina é suficiente para inibir a síntese de cetonas no corpo.
Isso explica porque eles não desenvolvem cetose e acidose. Os
sintomas neste caso são menos intensos que na cetoacidose
(NIMMO et al., 2009).

Sinais e Sintomas
Quais são então os principais sinais e sintomas?

• Desidratação e estupor ou coma (5%).

• Alteração do nível de consciência que é diretamente relacionado


com o grau de hiperosmolaridade.
• Evidência de doença subjacente, tais como pneumonia ou pielone-
frite podem estar presentes, e o estado hiperosmolar pode predispor
ao trauma, IAM ou insuficiência arterial em membro inferior.

82
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Intervenções de Enfermagem
Os mesmos princípios do gerenciamento da cetoacidose devem ser aplica-
dos com alguns ajustamentos. Como você deve proceder? (NIMMO et al.,
2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005; KWON; TSAI, 2007).

7. A osmolaridade do plasma é usualmente alta, ela pode ser medida


diretamente ou calculada como (2(Na(+)+K(+)) + glicose+ureia) to-
dos em mmol/l.
8. Avalie nível de consciência aplicando a escala de coma de Glasgow,
incluindo reflexos e sensibilidade.
9. Muitos pacientes são extremamente sensíveis à insulina, e a con-
centração de glicose pode despencar. A mudança resultante da os-
molaridade pode provocar dano cerebral
10. Os pacientes necessitam de uma dose mais baixa de insulina quan-
do eles são muito sensíveis; a insulina é infundida em uma veloci-
dade de 03 unidades por hora nas primeiras 2-3hs, aumentando a 06
unidades/hora se a glicose cai muito lentamente;
11. Administre SF a 0,9% como solução padrão; evite 0,45% de solu-
ção salina, uma vez que a diluição rápida do sangue pode provocar
maior dano cerebral do que algumas horas de exposição à hiperna-
tremia em excesso de 50%. Alguns especialistas, entretanto, defen-
dem o uso de 0,45% de solução salina se o sódio sérico é extrema-
mente alto.
12. Alguns especialistas defendem a profilaxia contra a trombose veno-
sa profunda com heparina.

Palavra do profissional
Esteja atento às diferenças e observe com rigor as alterações
dos pacientes.

83
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

2.5 Acidose lática


É uma complicação rara da terapia farmacológica diabética; sua significân-
cia clínica relaciona-se àquela semelhante à cetoacidose e deveria ser dife-
renciada desta com o intuito de fornecer um tratamento correto (NIMMO
et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005; KWON; TSAI,
2007).

A acidose lática é dividida em dois tipos:

• Tipo A: ocorre na presença de hipóxia, levando a diminuição da oxi-


genação tissular. O piruvato gera lactato devido à fosforilação defei-
tuosa (metabolismo anaeróbico).
• Tipo B: este tipo é gerado por toxina, e a oxigenação tissular é normal.

A acidose do tipo B pode ocorrer em pacientes diabéticos que fazem terapia


biguanida (especialmente fenoformina) que são inibidores da absorção de
glicose intestinal. O risco em pacientes que tomam metformina é extrema-
mente baixo desde que a dose terapêutica não exceda o recomendado e a
droga seja retida em pacientes com disfunção hepática e renal avançada.

Uma revisão na Cochrane em 2008 mostrou baixo risco


de acidose lática quando a metformina é usada em doses
terapêuticas padrão, a maioria dos médicos retiram a droga
quando a creatinina sérica alcança 150umol/l (MARTINS;
SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Principais características clínicas destes pacientes:

• Os pacientes apresentam severa acidose metabólica com um grande


anion gap, normalmente menos de 17mmol/l.
• Normalmente eles não apresentam hiperglicemia ou cetoses (em
contraste com a cetoacidose).
• O diagnóstico é confirmado por demonstrar as características acima,
acrescido a medidas séricas dos níveis de Lactato que está elevado.

84
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Intervenções de Enfermagem
Texto ou informações baseadas em (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALA-
BRINI NETO; VELASCO, 2005; KWON; TSAI, 2007).

• Suspenda a oferta de qualquer fármaco.

• Mantenha veia calibrosa puncionada.

• Aplique reidratação e suporte inotrópico, conforme o protocolo de


sua Unidade.
• Monitore a oximetria de pulso e os sinais vitais.

• Avalie nível de consciência, aplicando a escala de coma de Glasgow,


incluindo reflexos e sensibilidade.
• Administre bicarbonato 1,26% em casos severos conforme o proto-
colo de sua Unidade.
• Esteja vigilante e atento, pois a mortalidade pode chegar a 50%.

Palavra do profissional
Lembre-se, aplique o protocolo de classificação de risco nos
pacientes independentemente do diagnóstico médico e
prossiga com os cuidados de enfermagem conforme a situação
clínica do paciente exija.

2.6 Hipoglicemia
Esta é a complicação mais comum da terapia de insulina e de medicações
para a diabetes, sendo mais comum devido ao fato de que os pacientes
insulino-dependentes necessitam controle glicêmico mais rigoroso. Isso li-
mita o que pode ser alcançado com o tratamento de insulina, sem mencio-
nar a ansiedade que provoca aos pacientes e seus familiares (NIMMO et al.,
2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005; KWON, TSAI; 2007).

Virtualmente todos os pacientes experenciam sintomas intermitentes e


33% entrarão em coma em algum estágio de suas vidas.

Uma pequena minoria sofrerá ataques de hipoglicemias que serão tão fre-
quentes e severos quanto serão virtualmente incapacitantes.

85
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

No estudo Diabetes Control and Complications Trial (2002) os


pacientes no grupo de regime intensivo para o tratamento do
diabetes apresentaram 62 episódios de hipoglicemia a cada 100
pacientes/ano, episódios estes que precisaram atendimento
hospitalar (BOHN; DANEMAN, 2002).

Existem dois tipos de manifestações nestes pacientes que apresentam


hipoglicemia: as causadas pela neuroglicopenia (ausência de glicose no
sistema nervoso central) e as manifestações adrenérgicas causadas pela
hipoglicemia (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO,
2005; KWON; TSAI, 2007).

Quais são as principais características clínicas destes pacientes?

• São manifestações de neuroglicopenia: cefaleia, sonolência, ataxia,


convulsões, podendo progredir para déficits neurológicos focais.
• São manifestações adrenérgicas: palpitações, taquicardia, ansieda-
de, tremores e sudorese.

Nos pacientes idosos ou com diabetes de longa data, com


disfunção autonômica, ou fazendo uso de B-bloqueadores,
os sintomas adrenérgicos podem não aparecer, sendo muitas
vezes reconhecidos tardiamente. Tal fato pode provocar
sequelas irreversíveis nestes pacientes.

Intervenções de Enfermagem
Fundamentadas em Nimmo et al. (2009); Martins, Scalabrini Neto e Velasco
(2005); e Kwon e Tsai (2007).

• Qualquer paciente que chegue à Emergência ou unidade de atendi-


mento e que apresente agitação, confusão, coma ou mesmo com dé-
ficit neurológico localizatório, deve imediatamente submetido a uma
glicemia capilar. Pois, quanto mais precocemente for corrigida a hi-
poglicemia, menores serão as chances de provocar sequelas neurológicas.
• Se confirmada a hipoglicemia, deve-se infundir glicose a 50% IV.
Em pacientes sem acesso venoso, pode-se fazer o Glucagon IM/SC
(0,5mg 2,0mg).

86
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Embora o efeito da glicose IM ou SC seja fugaz e ineficaz em


segunda dose uma vez que depleta todo o estoque de glicogênio
hepático, é possível ganhar um tempo adicional em pacientes
sem acesso venoso fácil. E, lembre-se, somente o médico pode
prescrever a droga e o medicamento necessário para cada
situação clínica. Observe sempre o protocolo de sua instituição.

• Pode-se ainda tentar glicose por via oral, se a hipoglicemia é pouco


sintomática, oferecendo ao paciente a ingestão de algum carboidra-
to de rápida absorção como uma bala, um copo de água com açúcar
ou um tablete de açúcar.
• Verifique os sinais vitais do paciente.

• Observe continuamente o nível de consciência.

• Avalie o estado geral do paciente como sudorese, palidez cutânea,


tontura entre outros.
Outros aspectos do tratamento que devem ser observados são:

• Normalmente os médicos prescrevem tiamina juntamente com a


glicose para pacientes desnutridos, hepatopatas e alcoolistas. A tia-
mina pode ser usada por via IV ou IM, na dose de 100mg. O objetivo
é evitar a encefalopatia de Wernick-Korsakof.
• Nos pacientes que fazem uso de insulina, sem causa aparente para
a hipoglicemia, normalmente são solicitadas ureia e creatinina, pois
o paciente pode evoluir para insuficiência renal e ser necessário re-
duzir a dose de insulina.
• Aos pacientes diabéticos e que fazem uso de sulfonilureias, também
são solicitadas ureia e creatinina. Estes pacientes podem fazer gra-
ves hipoglicemias de repetição e necessitam de observação por 16 a
24 horas com glicemia capilar de h/h.

Se houver insuficiência renal ou a sulfoniluréia pela


clorpropamida, o paciente poderá apresentar hipoglicemia
durante vários dias.

87
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

2.7 Distúrbios hidroeletrolíticos


Vamos agora conhecer os principais desequilíbrios eletrolíticos em situ-
ações de emergência. Dentre eles destacamos os distúrbios de potássio:
hiper e hipocalemia; distúrbios do sódio: hiper e hiponatremia; distúrbios
do cálcio: hiper e hipocalcemia.

Os distúrbios eletrolíticos estão em uma lacuna de evidências e, muitas


vezes os pacientes estão em risco iminente de morte e que necessitam de
diagnóstico e tratamento. O diagnóstico mais usado é o laboratorial (hiper
ou hipo), mas algumas vezes o tratamento dessas anormalidades pode ser
iniciado antes de se conhecer o resultado do exame.

2.7.1 Distúrbios do potássio


Vamos inicialmente observar alguns aspectos da fisiopatologia do potássio?

Em média ingerimos entre 50 e 150mEq/L ao dia de potássio. Por outro lado


excretamos pelo suor 16-18MEq/l; pelas fezes 5-10mEq/L e o restante pelos
rins (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Figura 3: Mecanismo de excreção e absorção de K pelos rins.

Fonte: http://www.medicinapratica.com.br/

88
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

As principais alterações séricas no potássio são assim classificadas de


acordo com Nimmo et al. (2009); Martins, Scalabrini Neto e Velasco (2005):

Distribuição transcelular

1. Ácido-básico:
a. Acidose: para cada 0,1 unidade de pH que cai, o potássio se eleva
em 0,6 mEq/L.
b. Alcalose: para cada 0,1 unidade de pH que sobe, o potássio di-
minui em 0,1 mEq/L.
2. Insulina.
3. Aldosterona.
4. Agentes beta-adrenérgicos (epinefrina).

Alteração das reservas de potássio

1. Depleção — 1 mEq/L de redução para um déficit de 200-300 mEq.


2. Retenção — 1 mEq/L de aumento reflete um excesso de 200 mEq.

2.7.2 Hipercalemia
Dentre os distúrbios encontrados na prática clínica, os relacionados ao po-
tássio são muito frequentes e, muitas vezes, constituem-se em emergência
clínica. A Hipercalemia pode causar a morte súbita sem sinais de alerta.
Ela é definida como uma concentração sérica maior que 5mEq/L. Mais fre-
quentemente ela ocorre devido à liberação de potássio das células ou à
prejudicada excreção pelos rins. (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRI-
NI NETO; VELASCO, 2005).

Os sintomas incluem parestesias (alteração na sensibilidade), fraqueza


muscular, formigamento e mal estar. Pode não haver sinais clínicos. Vamos
então entender a Hipercalemia e compreender como prestar uma assis-
tência segura ao paciente que apresenta esta alteração em ambientes de
emergência na Rede de Atenção à Saúde. (NIMMO et al., 2009; MARTINS;
SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

O diagnóstico é feito pela identificação da elevação do potássio, o nível ab-


soluto e a taxa de aumento são importantes. Um aumento abrupto de 2
mmol, por exemplo, a partir de 4 mEq/L para 6 mEq/L, pode causar arrit-
mias, enquanto alguns pacientes com insuficiência renal crônica podem
tolerar níveis mais elevados. Deve-se considerar o nível de 6mEq/L como
potencialmente perigoso (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO;
VELASCO, 2005).
89
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

As alterações no ECG podem fornecer a primeira pista para


hipercalemia e a sua gravidade. O ECG pode ser normal na
presença de hipercalemia perigosa.

Quais são as principais causas da hipercalemia?

Dentre as principais causas destacam-se conforme (NIMMO et al., 2009;


MARTINS, SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005):

1. Excreção reduzida
• Falência renal.

• Fármacos como: diuréticos poupadores de potássio: espironolacto-


na, triantereno, amilorida; inibidores da (ECA) Enzima de conversão
da angiotensina e antagonistas da angiotensina II; anti-inflamató-
rios não hormonais.
• Hipoaldosteranismo: insuficiência adrenal

2. Alteração no potássio celular


• Os danos dos tecidos: rabdomiólise, trauma, queimaduras, hemóli-
se, hemorragia interna
• Drogas: suxametônio, digoxina, beta-bloqueadores

• Acidose

• Outros: hiperosmolaridade, falta de insulina, paralisia periódica

3. Ingestão excessiva
4. Pseudohipercalemia
• Trombocitose, leucocitose.

• Hemólise: in vitro ou amostragem

• Análise tardia do paciente

90
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Saiba mais
A seguir, convidamos você a aprofundar esta temática
acessando os links abaixo disponibilizados:
Alterações eletrocardiográficas pelos distúrbios eletrolíticos
em: <http://www.youtube.com/watch?v=1ZS1KlVQl9k>
Na série de vídeos em: <http://www.youtube.com/playlist?list=
PLC510C39C6BECE365>
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico:
<http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1344/
hipernatremia.htm>

Esperamos que você tenha assistido aos vídeos, mas ressaltamos que as
principais alterações do ECG (Figura 4) na Hipercalemia são:

• Intervalo PR prolongado.

• Ondas T pontiagudas ou apiculadas (em forma de tenda).

• Alargamento do intervalo QRS e ausência ou achatamento das on-


das P.
• Formação de onda sinusoidal

• Fibrilação ventricular ou assistolia.

Figura 4: Alterações ECG na hipercalemia.

Fonte: <http://ecgepm.com/2011/12/28/ecg-e-hipercalemia-principais-alteracoes-eletrocardio-
graficas/>

91
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Para entender melhor os ensinamentos, vamos analisar o seguinte caso:

Caso II: suponhamos que você recebe em sua unidade a paciente NFO, de 58 anos,
lúcida, queixando-se de formigamento nos braços e mal estar geral. Você verifica a
PA que se revela 160/90 mmHg. NFO relata que faz uso de Captopril 40mg há três
anos. Logo após a verificação da PA você percebe que NFO apresenta-se subitamen-
te sonolenta quase letárgica. Qual sua conduta neste caso?

Como principal conduta, você deve buscar a Estabilização Imediata. Quais


os cuidados de enfermagem que fazem parte desta etapa?

Palavra do profissional
Lembre-se de utilizar os conhecimentos adquiridos no Módulo
anterior (V) para estabelecer a classificação de risco desta
paciente nesta situação. Veja que ela apresentava-se lúcida
e subitamente fica sonolenta. A classificação que a paciente
deve receber é a Laranja, pois apresenta alteração do nível
de consciência. A continuidade do atendimento não deve
levar mais do que dez minutos. Selecione a terminologia de
referência de enfermagem que você aprendeu no início deste
curso e dê continuidade a sua linha de cuidado.

Como proceder então? Vejamos o que destacam ; Nimmo et al. (2009) e


Martins, Scalabrini Neto e Velasco (2005):

• Avalie inicialmente o ABCDE (vias aéreas, respiração, circulação, de-


ficiência ou incapacidade neurológica e exposição de ferimentos) e
trate adequadamente.
• Corrija a hipoxemia com oxigenoterapia.

• Puncione acesso venoso periférico em veia calibrosa.

• Monitore o ECG continuamente pelo monitor cardíaco

• Monitore a saturação de oxigênio.

Lembre-se que o tratamento específico depende das mudanças


no ECG e da concentração do potássio.

92
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

• Se o ECG mostra ondas T pontiagudas ou apiculadas ou mudanças


mais severas, gluconato de cálcio a 10% ou cloreto de cálcio a 10%
em quantidades de 1 ml podem ser administrados cpm, observan-
do-se rigorosamente o ECG . Espera-se que o traçado se normalize
quando o cálcio fizer efeito.

Se muito cálcio for administrado poderá resultar em parada


cardíaca em assistolia.

• A quantidade requerida varia de 2 ou 3mls para 20mls. Isso apenas


estabiliza o miocárdio dando tempo para instituir a terapia de redu-
ção do potássio. Esta dose pode ser repetida.

Somente o profissional médico pode prescrever e indicar a


medicação (drogas) que deve ser administrada.

• Na parada cardíaca, segue-se o algoritmo de suporte avançado de


vida conforme protocolo revisado pela American Heart Association
2010 e pode ser administrado 10mls de gluconato de Ca a 10%. Por
outro lado, a Fibrilação Ventricular poderá ser resistente a desfibri-
lação se o cálcio não for administrado.

Saiba mais
Convidamos você a entender melhor as novas recomendações
relacionadas a Parada Cardiopulmonar acessando o link
disponibilizado a seguir:
Guidelines RCP 2010: <http://heart.org/idc/groups/heart-public/@
wcm/@ecc/documents/downloadable/ucm_317343.pdf>

93
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Em continuidade aos exercícios propostos, questionamos: que alternativas


podem ser utilizadas para reduzir o potássio?

• Um Bolus IV de Solução de Dextrose 50ml a 50% com 5 a 10 U de Ac-


trapid (insulina solúvel) ou equivalente como por exemplo Humulin
S que levam em média 20-30 minutos para fazer efeito. Isso também
pode ser seguido de infusão lenta de dextrose de 10 a 20% correndo
entre 10ml/h e 50ml/h em bomba de infusão. Estas alternativas exi-
gem monitoramento da glicemia regularmente e infusão de insulina
quando necessário.
• Nebulizar com 5mg de salbutamol e repetir quando necessário. Ad-
ministrar bicarbonato de Na 1,26% IV. Iniciar a 100ml/h dosar os ní-
veis de HCO3 E K+. Isso não deve ser utilizado como rotina. A função
renal deve ser avaliada rigorosamente. Por isso monitore o débito
urinário e características da diurese.

Palavra do profissional
Lembre-se que esta paciente pode requerer encaminhamento
para uma Unidade especializada como uma UTI, por exemplo.
Assim, observe esta necessidade, desde o primeiro atendimento,
que pode ser uma Unidade de atenção primária ou qualquer
outro contexto da Rede de Atenção à urgência/emergência (RUE).

Então, diante do exposto, questionamos: qual o melhor método de remo-


ção do potássio?

De acordo com a literatura, o melhor modo para remover o potássio é res-


taurar o débito urinário e recuperar a função renal. A falência nesta remo-
ção pode indicar a necessidade de hemodiálise ou hemofiltração.

94
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Saiba mais
Não esqueça, continue aprofundando a temática acessando os
links abaixo disponibilizados.
Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico. Disponível em:
<http://www.mineralmed.com.pt/documentos/pdf/f1627aa5-
735a-40f6-b7b5-92d8fb2fc75d.pdf>
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico: <http://www.
medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1344/hipernatremia.
htm>
Hipercalemia: conduta na emergência. Disponível em: <http://
www.sumarios.org/sites/ default/files/pdfs/32966_4208.PDF>
Hipercalemia. Disponível em: <http://www.jbn.org.br/detalhe_
artigo.asp?id=2>

Outra alteração importante nas unidades de emergência é a acidose me-


tabólica. Vamos agora entender um pouco sobre essa situação clínica de
Hipocalemia.

2.7.3 Hipocalemia
É definida como uma concentração sérica de potássio menor que 3,5
mEq/L. Da mesma forma que ocorre com a hipercalemia, os principais
efeitos deletérios são em nervos e músculos, inclusive com danos no mio-
cárdio (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

As principais causas que levam a Hipocalemia são: alcalose metabólica, an-


fotericina B e altas doses de penicilina, B2 Agonistas (inalatório e parenteral),
diarreia (infecciosa, adenomas secretoras, laxantes, preparo de colonosco-
pia); diminuição de ingestas, diuréticos de alça e tiazídicos, insulinoterapia,
nefropatias perdedoras de sal, paralisia periódica hipocalêmica e tireotoxi-
cose, reposição de vitamina B12; sudorese excessiva, vômitos entre outros
(NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

As manifestações clínicas da hipocalemia dependem da


gravidade da hipocalemia, ou seja, potássio menor que 3mEq/L,
a velocidade com que a hipocalemia se instala na situação do
paciente e a própria doença de base do paciente.

95
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Nas hipocalemias mais graves (<2,5mEq/L), pode ocorrer fraqueza generalizada


(até a tetraplegia flácida), rabdomiólise, íleo paralítico, poliúria e distúrbios do rit-
mo cardíaco (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Saiba mais
Hipocalemia: Conduta na Emergência em: <http://www.
sumarios.org/sites/default/files/pdfs/48632_5802.PDF>
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico: <http://www.medicinanet.
com.br/conteudos/revisoes/1344/hipernatremia.htm>

Principais alterações ECG na Hipocalemia:

• Presença da Onda U

• Onda U maior que T

• Desaparecimento de T

• Prolongamento de PR

• Desaparecimento do QRS

Observe estas alterações na figura 5 abaixo:

Figura 5: Alterações ECG na Hipocalemia.

Fonte: http://www.medicinanet.com.br/

96
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Qual é então o tratamento da hipocalemia e qual o papel do enfermeiro


nesta situação?

Lembre-se que somente o profissional médico deve prescrever


fármacos e medicações. Observe sempre o protocolo de sua
instituição.

O grau de depleção de potássio corporal é variável, mas a regra geral, é a


de que para cada 1mEq/L de redução na concentração sérica, há um déficit
total de 150 a 400 mEq. (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO;
VELASCO, 2005).

Assim, o tratamento da hipocalemia inclui o tratamento da doença de base,


além de reposição do potássio que pode ser por via oral ou intravenosa.

Palavra do profissional
Após a concentração sérica de potássio, podem ser necessários
vários dias de reposição para recompor os estoques corporais
do íon no compartimento intracelular.

2.8 Distúrbios do cálcio


Dentre os distúrbios do cálcio destacam-se:

2.8.1 Hipercalcemia
Hipercalcemia severa (cálcio corrigido > de 3.0mEq/L) é incomum e nor-
malmente é devido ao hiperparatireoidismo, ou doença maligna (ex. mie-
loma). Os sintomas podem ser mascarados por malignidade subjacente.
Em qualquer indisposição, o paciente com malignidade conhecida deve ser
verificado o cálcio no soro, e a albumina (NIMMO et al., 2009; MARTINS;
SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Quais são então as principais causas da hipercalemia?

97
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Causas
• Hiperparatireoidismo primário e malignidade: tumores sólidos com
metástases ósseas. Estas duas causas correspondem a acima de 80%
dos casos.
• Hipercalcemia hipocalciúrica familiar.

• Sarcoidose, doença granulomatosa.

• Endócrino: tireotoxicose, doença de Addison; feocromocitoma.

• Síndrome Milk-Alkali (consumo excessivo de cálcio e antiácidos ab-


sorvíveis).
• Imobilização (<16 anos de idade).

• Medicamentos como: análogos da vitamina D, anti-estrógenos, lítio,


tiazidas.
Os principais sintomas da Hipercalcemia são conforme destacam (NIMMO
et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005):

Sintomas:
• Sede

• Poliúria

• Constipação

• Náusea e anorexia

• Dor abdominal

• Depressão

• Confusão

Dentre as complicações da Hipercalcemia destacam-se

Complicações:
• Úlcera péptica

• Pancreatite aguda

• Fraqueza Muscular

• Psicose, sonolência, coma

• Calcificação da córnea

• Intervalo QT curto no ECG conforme exemplo na Figura a seguir:


98
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Figura 6: Esquema das modificações no ECG devido à hipercalcemia.

Fonte: http://www.fac.org.ar/6cvc/llave/c155/perezra.php

Em continuidade aos exercícios propostos, questionamos:

Caso III: suponhamos que você recebe uma paciente de 58 anos, senhora LJ, na
emergência referindo sede intensa, poliúria, náuseas e falta de apetite. Os sinais
vitais estão estáveis e após descartar alterações glicêmicas pela glicemia capilar
e história da paciente você suspeita de distúrbio de eletrólitos, neste caso o cálcio.

Avaliação
Como deve ser a avaliação e as intervenções de enfermagem neste caso?
Na avaliação, normalmente para todos os pacientes o profissional médi-
co solicitará (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO,
2005):

• Hemograma, coagulograma

• Ureia e eletrólitos

• Cálcio e fosfatos

• Albumina, magnésio e cálcio.

• Testes de função hepática

• Eletrocardiograma (ECG)

• Raio-X de Tórax

• Hormônio da paratireoide

99
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Ao mesmo tempo, o enfermeiro avalia os exames laboratoriais e de ima-


gem solicitados, associando-os com a condição clínica do paciente para
detectar qualquer anormalidade. Continuando a avaliação clínica e depen-
dendo da história específica do paciente outros exames podem ser solici-
tados pelo médico como:

• Exame ósseo e comprovação de mieloma.

• Cintilografia óssea.

• Testes de função da tireoide.

• Avaliação sérica da enzima conversora de angiotensina

• Urina das 24hs para avaliação de cálcio e creatinina.

• Teste curto de Synacthen (SST) para avaliar a produção de cortisol.

Tratamento
Dentre os principais aspectos do tratamento destacam-se:

O cálcio corrigido deve ser calculado ou deve-se fazer referência ao valor


ionizado. O tratamento de emergência é necessário se cálcio corrigido es-
tiver > 3,5 mEq / l (ionizado> 1,8 mEq / l). Entre 3 e 3.5mEq/L pode não ser
necessário tratamento de emergência, mas isto depende dos sinais e sin-
tomas (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Para cada grama de albumina que for abaixo de 40g/L, adicionar 0,02 mEq/L
ao cálcio não corrigido. Por exemplo, cálcio 2,62 mEq/L com uma albumina
de 30 g/L dá um cálcio corrigido de 2.62 + (10 x 0.02)= 2.82mEq/L (NIMMO
et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Em relação aos fluidos:

Deve-se repor fluidos com 0,9% de solução salina (adicionar cloridrato de


potássio quando necessário) irá diminuir o cálcio e aumentar a depuração
renal.

Checar a ureia, a creatinina e o cálcio duas vezes ao dia.

Em relação aos diuréticos:

Os diuréticos de alça (por exemplo, furosemida 40mg IV em bolus) podem


aumentar a perda de cálcio pela urina. Este procedimento não deve ser
iniciado até que os déficits de volume sejam repostos.

100
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

As tiazidas nunca devem ser utilizadas nestes casos porque


elas provocam a retenção de cálcio.

Em relação aos bisfosfonatos (medicamentos que, ao inibirem a atividade


das células destruidoras de ossos, aliviam as dores, reduzem o risco de
fraturas e suprimem as crises de hipercalcemia que implicam um risco de
vida), primeiramente corrija as deficiências de fluidos.

Uma única infusão de pamidronato irá diminuir os níveis de cálcio


em 2 a 4 dias (mas não de forma aguda). O efeito máximo é em uma semana.

Hipercalcemia recorrente pode ser tratada com infusões IV repetidas de


pamidronato.

Na hipercalcemia refratária relacionada ao câncer, o zoledronato pode ser


administrado assim que os déficits de sal e água sejam repostos.

Saiba mais
Saiba mais: Continue aprofundando os distúrbios do equilíbrio
hidroeletrolítico acessando o link sugerido a seguir:
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico:
<http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1344/
hipernatremia.html>

Outros aspectos que devem ser observados são: se o paciente estiver to-
mando digoxina, interromper o seu uso. Os esteroides também não devem
ser usados rotineiramente. Eles podem ser úteis na sarcoidose, mieloma e
na hipervitominose-D (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO;
VELASCO, 2005).

101
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Palavra do profissional
Não esqueça que, independentemente do diagnóstico médico,
você deve fazer a classificação de risco conforme aprofundado
no Módulo V. Mantenha vigilância constante do paciente
com adequada anamnese, avaliação clínica, laboratorial e de
imagens. Faça a transferência do paciente na rede de cuidado
conforme a sua necessidade e organize as informações do
paciente para que o cuidado tenha continuidade e segurança.

2.8.2 Hipocalcemia
Vamos agora ver outro distúrbio eletrolítico, a hipocalcemia. A Hipocalce-
mia espúria, que é a incapacidade de corrigir a albumina (verifique cálcio
ionizado). Adicionar 0,02 mEq / l ao cálcio total, para cada g/l de albumina
que estiver abaixo de 40g/l. ((NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI
NETO; VELASCO, 2005).

Causas:
• Hipoparatireoidismo cirúrgico.

• Falência renal.

• Deficiência de vitamina D.

• Hipomagnesemia.

Características Clínicas:
A Hipocalcemia leve pode ser assintomática. As características precoces
incluem:

• Ansiedade e nervosismo

• Parestesia em torno da boca, nos dedos do pé e das mãos.

As características tardias por sua vez incluem (especialmente se o Ca++


total for<1.9 mEq/l).

• Convulsões.

• Intervalo QT prolongado no ECG (Figura 6).

• Papiloedema.

102
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

• Câimbras musculares.

• Contrações musculares.

• Sinal de Chvostek (espasmo dos músculos faciais).

• Sinal de Trousseau (espasmo carpal).

Figura 7: Esquema das modificações do ECG na hipocalcemia.

Fonte: http://www.fac.org.ar/6cvc/llave/c155/perezra.php

Avaliação:
A investigação clínica deve incluir:

• Cálcio total e ionizado, albumina, fosfato e magnésio ajudam a es-


tabelecer a etiologia.
Intervenções de Enfermagem (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI
NETO; VELASCO, 2005).

É necessário para complicações graves como, por exemplo, convulsões,


disrritmias, tetania:

• Monitorar ECG.

• Monitorar sinais vitais

• Avaliar nível de consciência

103
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Administrar 5-10mls de cloridrato de cálcio a 10% ou gluconato de


cálcio a 10% IV, o que reverterá a tetania após 15 minutos.

Diminua a infusão IV em 0.5-2mg Ca/kg/hr (0.06 -0.22mls/kg/


hr) se paciente recebe gluconato de cálcio 10%; dilua 60mls de
gluconato de cálcio em 1 litro de glicose a 5%. (10% de gluconato
de cálcio contém 8.9 mg de Ca++ elementar por ml). O cálcio
oral pode ser introduzido quando a vitamina D estiver baixa
tão logo seja possível. Lembre-se, somente o médico pode
prescrever fármacos e medicações.

• A hipomagnesemia pode ser a causa da hipocalcemia. O tratamento


de emergência é com a reposição de Magnésio IV. A hipomagnesemia
é causada pelo alcoolismo crônico, inadequada absorção, tratamento
com ciclosporina, nutrição parenteral prolongada ou terapia diurética.
• As convulsões e as arritmias devem ser tratadas com sulfato de
Magnésio IV: 8 mmols de sulfato de magnésio diluído em 100 ml de
NaCl a 0.9% que deve ser infundido em 20 minutos. O ECG deve ser
monitorado e pode haver hipotensão.

Tratamento de casos leves e moderados:


• Pacientes levemente sintomáticos ou assintomáticos com hipomag-
nesemia crônicas, pode ser testada a reposição.
• Hipocalcemia primária: reposição oral ou IV de cálcio e vitamina D será
necessário.
• A hipocalcemia sintomática crônica: pode necessitar doses maiores
de cálcio oral até 7 g por dia em múltiplas doses divididas. A vitami-
na D usualmente necessária (0.25 a 1 micrograma por dia).
• Use vitamina D de ação mais curta análoga uma vez que irá tornar
mais fácil o efeito reverso se qualquer toxicidade ou hipercalcemia
aparecerem.

104
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Saiba mais
Continue aprofundando sobre esta temática tão importante para
o cuidado de enfermagem acessando o link sugerido a seguir:
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico: <http://www.medicinanet.
com.br/conteudos/revisoes/1344/hipernatremia.htm>

2.9 Distúrbios do sódio (Na+)


2.9.1 Hipernatremia
É definida como uma concentração sérica de sódio maior que 145mEq/L.
O sódio é o principal determinante da osmolaridade sérica e o mais im-
portante cátion do ambiente extracelular (MARTINS; SCALABRINI NETO ;
VELASCO, 2005).

Mas qual é então a principal consequência da hiperosmolaridade? Por es-


tar em maior concentração no ambiente extracelular ele provoca desidra-
tação celular. Na tentativa de evitar perda de água para o extracelular o
organismo se adapta e as células acumulam solutos. Este processo pode
levar dias e, por isso a correção rápida da hiperosmolaridade pode oca-
sionar entrada de água nas células e levar ao edema celular com sérias
consequências no sistema nervoso central (SNC) (MARTINS; SCALABRINI
NETO ; VELASCO, 2005).

Causas
As principais causas da hipernatremia são: (NIMMO et al., 2009; MARTINS;
NETO; VELASCO, 2005).

• Medicamentos: diuréticos de alça, lítio, anfotericina B, demecloci-


clina.
• Alterações eletrolíticas: hipercalcemia ou hipocalemia (causando
diabetes insipidus nefrogênico adquirido).
• Hiperglicemia com diurese osmótica e perda de água.

• Doença renal intrínseca (perda de água livre).

• Fase poliúrica da necrose tubular aguda.

105
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Perdas pelo trato gastrointestinal (vômitos, diarreia, fístulas, sonda


nasogástrica).
• Perdas pela pele (queimadura, sudorese excessiva).

• Diabetes insipidus central ou nefrogênico.

Saiba mais
Convidamos você para, a seguir, acesssar os links sugeridos
abaixo para que você possa aprofundar mais sobre a
hipernatremia.
Hipernatremia: uma revisão: <http://www.fcmmg.br/lat/
arquivos/Biblioteca/hipernatremia.pdf>.
Hipernatremia: <http://www.medicinanet.com.br/conteudos/
revisoes/1344/hipernatremia.htm>.
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico: <http://www.
medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1344/hipernatremia.
htm>

Manifestações Clínicas:
• Sede intensa

• Fraqueza muscular

• Convulsões

• Confusão mental

• Coma e morte

• Alterações osmóticas desencadeadas pela hipernatremia no SNC


podem ocasionar ruptura vascular, sangramento cerebral, hemorra-
gia subaracnóidea e sequelas neurológicas permanentes.

Na prática clínica, encontramos um paciente desidratado com


quadro neurológico proporcional à osmolaridade: com 320
mOsm/L, ocorre confusão mental; com 340 mOsm/L, surge o coma
e com 360 mOsm/L pode haver apneia (NIMMO et al., 2009).

106
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Tratamento:
O tratamento da hipernatremia tem três objetivos conforme destacam
Martins, Scalabrini Neto e e Velasco (2005):

• Tratar a doença desencadeante.

• Evitar uma redução rápida do sódio para evitar lesões adicionais no


SNC.
• Hidratar o paciente.

• Se o paciente estiver hipovolêmico, a prioridade é o soro fisiológico,


até conseguir estabilização hemodinâmica.
• Após a estabilização hemodinâmica, deve-se trocar a reposição vo-
lêmica para soro hipotônico (0,45% ou 0,22%).
• A taxa máxima de redução do sódio sérico para evitar edema cere-
bral iatrogênico é: máximo de 0,5 a 1mEq/L/h; e máximo de 12 mEq
em 24 horas.
• Deve-se sempre calcular a variação estimada de sódio com 1 L de
qualquer solução a ser infundida.

Uma queda muito rápida no sódio pode ser mais grave do que
a própria hipernatremia.

Intervenções de Enfermagem:
• Monitorar o quadro hemodinâmico.

• Puncionar veia calibrosa.

• Administrar volume.

• Avaliar o nível de consciência.

• Monitorar débito urinário.

• Fazer balanço hidroeletrolítico das 24horas.

• Observar e comunicar presença de convulsão, vômito, diarreia e su-


dorese excessiva.
• Estar atento às queixas do paciente.

107
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Em continuidade aos exercícios propostos, questionamos:

Caso IV: suponhamos que você recebe um paciente, senhor LO, de 58 anos, na emer-
gência com quadro de sudorese intensa e referindo fraqueza muscular. PA 120/80
mmHg e P: 86bpm. Por suspeitar-se de hipernatremia, o médico solicitou exames
de eletrólitos e constatou que o sódio era de 158mEq/L, potássio 4,6 mEq/L. Seu
peso era de 68 Kg. A partir de todos os cuidados de enfermagem realizados e o tra-
tamento médico iniciado a meta era normalizar o sódio. Como foi feito isso?

Neste caso específico o médico optou por infundir 1L de soro fisiológico


a 0,45%, pois o sódio do paciente iria variar -2,5, ou seja, iria passar de
150mEq/L para 155,5 mEq/L. Por isso, o uso de soro fisiológico a 0,45% é
preferível ao soro 0,9%. Se fosse infundido 1L de soro fisiológico a 0,9%, o
sódio do paciente iria variar apenas -0,12, ou seja, iria passar de 158 para
157,88 mEq/L. Seria necessário repor até 100L de soro fisiológico a 0,9%
(MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

2.9.3 Hiponatremia
A hiponatremia é definida como sódio sérico menor que 135mEq/L. Nor-
malmente é observado em 1.5% das admissões nas emergências hospi-
talares. Ocorre frequentemente por diluição (depuração de água renal in-
suficiente) ou por depleção. Muitas vezes, uma combinação de ambos os
fatores (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

Causas
Mais comumente as causas por diluição são provocadas em situações de:
(NIMMO et al., 2009; MARTIN; SCALABRINI NETO; VELASCO, 2005).

• Cirrose.

• Falência cardíaca.

• Síndrome nefrótica.

• Hipotireoidismo.

• Deficiência do hormônio adrenocorticotrófico.

• Síndrome da Secreção Inapropriada do ADH (Hormônio antidiuré-


tico): choque plasma e osmolaridade do sódio na urina, teste sinac-
then, raio-X de tórax e teste da função tireoidea.

108
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Mais comumente as causas por depleção são provocadas em situações de:

• Vômito e diarreia.

• Diuréticos

• Doença de Addison.

• Renal Salt Wasting.

Intervenções de Enfermagem
Conforme destacam Nimmo et al. (2009) e Martins, Scalabrini Neto e Ve-
lasco (2005):

• Colete informações precisas para estabelecer a taxa de aparecimen-


to de sintomas, qualquer causa óbvia, como por exemplo, o uso de
diuréticos.
• Avalie o nível de hidratação do paciente.

• Cheque a concentração de sódio na urina, antes de administrar


qualquer terapia IV.
• Puncione veia calibrosa.

• Avalie sinais vitais.

• Avalie nível de consciência.

• Monitore débito urinário.

Pacientes com sódio urinário >30mmol/l mais frequentemente


apresentam hiponatremia por diluição (exceto pacientes
com doença de e Addison e perda urinária de sal, bem como
pacientes que recebem terapia diurética).

109
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Manifestações Clínicas
Os sinais e sintomas relacionam-se à taxa de início mais do que ao grau
de queda do sódio (NIMMO et al., 2009; MARTINS; SCALABRINI NETO; VE-
LASCO, 2005).

Tenha sempre presente esta informação: Queda crônica para


110mmol/l pode ser bem tolerado, queda aguda para 127mmol/
é fatal.

• Na+ <130 mmol/l pode provocar cefaleia com náuseas e levam ao


coma e a parada respiratória. Isto é mais comum em mulheres em
idade fértil (16 a 45 anos).
• Na+ <120 mmol/l está associado com 50% de mortalidade. O desen-
volvimento crônico tem menor taxa de morbidade e mortalidade. Se
crônica mesmo a hiponatremia grave pode ser assintomática.

Saiba mais
Não esqueça de sempre aprofundar essa temática acessando o
link sugerido a seguir:
Distúrbio do equilíbrio hidroeletrolítico: <http://www.medicinanet.
com.br/conteudos/revisoes/1344/hipernatremia.htm>.

2.10 Resumo
Você aprendeu nesta Unidade que as desordens metabólicas e hidroeletro-
líticas podem variar muito, tanto na sua apresentação clínica quanto na
sua classificação. Muitas vezes alguns sinais e sintomas frequentemente
são similares a outras situações de emergência. O conteúdo que apresenta-
mos teve o objetivo de discutir o reconhecimento e o cuidado dos pacientes
que apresentam desordens específicas tais como: hiper e hipoglicemia, hi-
per e hipocalemia, hiper e hiponatremia e acidose metabólica.

Você percebeu que pode ser difícil detectar estes distúrbios na prática clí-
nica e que normalmente eles estão associados às diferentes situações ou
doenças de base que os pacientes apresentam.
110
Aplicação da metodologia da assistência nas desordens metabólicas e eletrolíticas

Um cuidado completo baseado em uma anamnese precisa, exame físico


adequado, exames laboratoriais e de imagem e, sobretudo, uma avaliação
rigorosa do quadro clínico do paciente são fundamentais para um cuidado
seguro e baseado nas necessidades do paciente.

A metodologia da assistência deve ser utilizada sempre que cuidar do pa-


ciente desde a classificação de risco conforme vimos no Módulo anterior e
as intervenções de enfermagem baseadas na evidência conforme vimos no
decorrer desta unidade.

2.11 Fechamento
As desordens metabólicas e os distúrbios hidroeletrolíticos estão normal-
mente associados a diferentes situações clínicas dos pacientes na emer-
gência. Muitas vezes não há exames laboratoriais e de imagem para auxi-
liar a avaliação clínica e o tratamento e cuidados subsequentes. Por isso,
faça uma cuidadosa anamnese e um exame físico apurado percebendo as
necessidades dos pacientes.

2.12 Recomendação de leitura complementar


Como leitura complementar sugerimos que você acesse o link sugerido
a seguir que trata dos distúrbios do equilíbrio ácido-base: <http://www.
google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&v
ed=0CCUQFjAA&url=http%3A%2F%2Frevistas.pucsp.br%2Findex.php%2F
RFCMS%2Farticle%2Fdownload%2F2407%2Fpdf&ei=AgCcUL2aO8W00QG5
8IGQCA&usg=AFQjCNFdL3xw86qMs9S9nanjbFQ38NZ2CA&sig2=X6jj4rV4
9n4_qwpZH7rHTQ>

111
UNIDADE 3
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Unidade 3 – Aplicação da metodologia da assis-


tência de enfermagem nas intoxicações exógenas
As intoxicações exógenas podem variar muito, em relação ao agente causal
e à manifestação clínica. Muitas vezes alguns sinais e sintomas frequen-
temente são similares a outras situações de emergência. O conteúdo que
apresentamos a seguir tem o objetivo de discutir o reconhecimento e o
cuidado dos pacientes que sofreram intoxicação aguda com as substâncias
mais frequentes no atendimento de urgência.

Ao final deste conteúdo você deverá ser capaz de conhecer e intervir nas
principais intoxicações exógenas em situações de emergência

3.1 Introdução
As intoxicações exógenas agudas têm se destacado entre os atendimen-
tos de urgência e emergência no país. Apresentam-se de diversas formas,
desde intoxicações acidentais até os casos de tentativas de autoextermí-
nio. Alguns autores caracterizam as síndromes tóxicas como conjunto de
sinais e sintomas agrupados e de forma consistente que quando identifi-
cados ajudam os profissionais a estabelecer um diagnóstico diferencial e
orientar na indução de terapias definitivas.

Estas intoxicações são extremamente graves e trazem consequências sé-


rias aos pacientes. Assim, um dado alarmante nos mostra conforme o Sis-
tema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas (SINITOX), que no
ano de 2009, foram notificados 101.086 casos de intoxicação a este serviço,
sendo que, destes, 26.753 foram causados por medicamentos e 5.253 por
agrotóxicos/uso agrícola.

No Brasil as principais causas de intoxicação em nosso meio são: os medi-


camentos; os animais peçonhentos; os produtos domissanitários.

Saiba mais
Para maiores esclarecimentos sobre este tema, acesse o link:
<http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?tpl=home>

113
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

É importante destacar que o tratamento das intoxicações é de difícil ma-


nejo, visto que as substâncias químicas, suas características e toxicidade
muitas vezes são desconhecidas pelos profissionais de saúde e a fisiopato-
logia das intoxicações também difere, dependendo do agente tóxico.

3.2 Abordagem inicial


No atendimento inicial das intoxicações exógenas devem ser consideradas
as síndromes que colocam a vida do paciente em risco e implementado o
seu pronto atendimento; esta é a fase de ressuscitação e avaliação inicial
(BRASIL, 2009).

O conhecimento das síndromes toxicológicas é essencial para o reconheci-


mento do agente intoxicante. A síndrome toxicológica é uma constelação
de sinais e sintomas que sugerem uma classe específica de envenenamen-
to. O quadro abaixo apresenta algumas das síndromes toxicológicas.

Quadro 8: Síndromes Toxicológicas

Síndrome Quadro clínico Causas

Boca seca, pele seca, rubor facial, midríase, íleo Anti-histamínicos, atropina,
paralítico, desorientação, hipertermia, retenção escopolamina, antidepressivos
Anticolinérgica
urinária, visão turva, alucinações, convulsão, coma, tricíclicos, vegetais beladona-
taquicardia. das e outros.

Lacrimejamento, sialorreia, miose, sudorese, bron-


Carbamatos, fosforados, fisos-
Colinérgica correia, incontinência fecal, vômitos, bradicardia,
tigmina e alguns cogumelos.
tremores, diarreia.

Simpaticomi- Ansiedade, vômitos, taquicardia, tremores, convulsão, Cocaína, teofilina, anfetamina,


mética midríase, sudorese. pseudoefedrina.

Coréia, atetose, hiperreflexia, hipertonia, trismo,


Extrapiramidal Haloperidol, fenotiazídicos
opistótono, rigidez, tremores.

Depressão respiratória, coma, miose, bradicardia,


Narcótica Heroína, codeína, propoxifeno.
hipotermia.

Confusão, estupor, depressão respiratória, delirium, Benzodiazepínicos, anticon-


Hipnótico-
letargia, disartria, hipotermia, parestesia, diplopia, vulsivantes, antipsicóticos,
-sedativa
visão turva, lentificação da fala, nistagmo. barbitúricos, etanol, fentanil.

Fonte: Centro de Informações Antiveneno da Bahia (2009)

114
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Cuidados gerais imediatos:


As primeiras medidas devem estar voltadas para a manutenção das fun-
ções vitais, procedente às técnicas de suporte básico de vida, tendo em
vista a estabilização do paciente (DAL SASSO et al., 2006; CENTRO DE IN-
FORMAÇÕES ANTIVENENO DA BAHIA, 2009; BRASIL, 2010b):

• Desobstrução de vias aéreas, aspiração de secreções, retirada de cor-


pos estranhos.
• Manutenção da respiração, ventilação e intubação se necessário.

• Manutenção da circulação, promovendo a estabilização hemodinâ-


mica; obter acessos venosos, coletar sangue para exames laborato-
riais de rotina e específicos.

Na sequência procure aprofundar o exame, seguindo as instruções a seguir:

1. Procurar identificar o agente intoxicante (embalagens e vidros va-


zios, informação com acompanhantes, atividade profissional, uso de
drogas).
2. Verifique a via de penetração (cutânea, inalatória, digestiva, ocular,
oral, parenteral, etc).
3. Verifique o tempo de exposição e o decorrido.
4. Guarde qualquer tipo de material para posterior análise: compri-
midos, embalagem de produtos, garrafas, seringas, plantas, vômitos
(entre outros).
5. Interrogue o paciente ou familiar sobre: sintomas prévios apresen-
tados, medidas tomadas antes da chegada à emergência (vômitos,
diluição com água ou leite, entre outros).
6. Inspecione a cavidade oral, para verificar a presença de materiais
estranhos, restos alimentares, resíduos do agente tóxico, queimadu-
ras de mucosas ou manchas, geralmente ocasionadas por soluções
cáusticas.
7. Verifique sinais de injeções em músculos e veias (toxicomanias).
8. Nunca provocar vômitos em crianças menores de dois anos, grávi-
das no terceiro trimestre, paciente inconsciente ou que tenha inge-
rido substâncias corrosivas ou derivados de petróleo.
9. Provocar vômitos ou realizar lavagem gástrica até 4 horas.
10. Observar instruções para venenos específicos.

115
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Monitorize o paciente para melhor observação das arritmias que po-


dem evidenciar risco de morte. Pacientes arrítmicos devem ser as-
segurados com boa oxigenação, débito cardíaco apropriado e a cor-
reção dos distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos. A hipotensão
arterial manifesta-se secundária nas intoxicações por betabloquea-
dores, metildopa, opióides etc. Aos pacientes que se apresentam hi-
potensos, a conduta imediata consiste na instalação de dois acessos
venosos para infusão de soluções cristalóides (Ringer lactato e soro
fisiológico).
• Controle a temperatura. A hipertermia (temperatura acima de 41ºC)
acarreta desnaturação das enzimas e comprometimento da função
mitocondrial, alterando todo metabolismo celular. Em consequên-
cia, o paciente pode apresentar apresenta quadros de arritmia, in-
suficiência cardíaca congestiva (ICC), edema cerebral, hipotensão ou
ainda insuficiência respiratória aguda (IRA).

A presença de bradicardia, taquicardia e hipotensão, anunciam


frequentemente a classificação do agente. Por exemplo, as
intoxicações por anfetaminas, atropina e derivados, cocaína,
fenotiazidas e antidepressivos tricíclicos manifestam-se por
taquicardia.

3.3 Intoxicação por organofosforados e carbamatos


A intoxicação exógena aguda por inseticidas carbamatos e organofosfora-
dos tem sido um problema frequente nos serviços de emergência. Há um
importante problema de saúde pública relacionado a esses inseticidas: a
utilização irregular de carbamatos e organofosforados como raticida (prin-
cipalmente o carbamato Aldicarb, classificado como extremamente tóxi-
co), e sua comercialização ilegal com o nome de chumbinho. Tais produtos
são utilizados como medicamentos e inseticidas fitossanitários, nemati-
cidas, larvicidas e acaricidas sistêmicos ou como zoossanitários, no cam-
po ou no lar, sendo responsáveis por intoxicações humanas e em animais
domésticos. Atualmente,  são utilizados com outras  finalidades como em
tentativas  de   suicídio, sendo também agentes  comuns   em   intoxicações
acidentais e profissionais, respondendo por um número significativo de in-
toxicações agudas (CALDAS, 2000).

116
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Esses agentes atuam inibindo a ação da enzima acetilcolinesterase, enzima


responsável pela degradação da acetilcolina, presente nas fendas sinápti-
cas do sistema nervoso autônomo, do sistema nervoso central e da junção
neuromuscular. A acetilcolina exerce sua atividade através de dois tipos
de receptores (CALDAS, 2000; MORAES, 1999; OLIVEIRA; MENEZES, 2004):

• Nicotínicos, presentes na placa motora, no sistema nervoso central


(medula) e nos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso au-
tônomo.
• Muscarínicos, presentes no sistema nervoso central (encéfalo) e nos
neurônios pós-ganglionários do sistema nervoso autônomo.
Os sintomas apresentam-se sob várias combinações, típicas daqueles por
excessiva estimulação dos diferentes receptores pela acetilcolina no sis-
tema nervoso central e autônomo, assim como na junção neuromuscular
esquelética.

Quadro 9: Efeitos muscarínicos, nicotínicos e sobre o SNC

Efeitos Muscarínicos Efeitos Nicotínicos Efeitos Sobre o SNC

Olhos: Borramento  da visão, mio-


se, hiperemia conjuntival;

Sistema cardiovascular: bradicardia, Sistema cardiovascular: Ansiedade, agitação;

hipotensão, bloqueio AV. taquicardia, hipertensão, Voz arrastada, ataxia.


palidez, midríase.
Trato gastrintestinal: incontinência Dispnéia;
fecal, diarreia,  tenesmo, náuseas, Músculo esquelético:
vômitos, dor   abdominal, hipermotili- fasciculações musculares, Paralisia respiratória central;

dade intestinal. fraqueza muscular, fadiga, Depressão do centro respirató-


cãibras, paralisia, tremores, rio e cardiovascular;
Aparelho urinário: aumento frequên-
arreflexia, paralisia flácida,
cia urinária, incontinência urinária. Sonolência, letargia, labilidade
insuficiência ou parada
Glândulas exócrinas: sialorréia, sudo- emocional, coma, cefaleia, con-
respiratória por fraqueza
rese, lacrimejamento. fusão mental, ataxia, tremores,
muscular. Hiporreflexia.
Sistema respiratório: hipersecreção respiração tipo Cheyne-Stokes,

brônquica, rinorréia, sibilos, roncos, dispnéia, fadiga, convulsões.

broncoespasmo, dispnéia, bronco-


constrição, cianose.

Fonte: Caldas (2000), Moraes (1999), Oliveira e Menezes (2004).

117
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• A gravidade e o tempo de início dos sintomas dependem da compo-


sição química do inseticida, do tempo e da via de exposição. Após
ingestão maciça, os sintomas aparecem em minutos, e na maioria
dos casos têm início de 30 min. a 12 h. Nos compostos lipossolúveis
podem retardar até 24 horas. A manifestação mais grave e usual
causa de óbito é a falência respiratória do centro respiratório, agra-
vado por excessiva secreção traqueobrônquica e broncoespasmo.
• No tratamento das intoxicações por organofosforados e carbamatos,
o uso de atropina é essencial, por ser um antagonista competitivo
da acetilcolina, tanto no sistema nervoso central quanto no sistema
nervoso autônomo. Os sinais de atropinização incluem midríase (o
mais precoce), taquicardia e ruborização cutânea. A retirada é lenta
e gradual, por pelo menos 24 horas, sendo restituída, se reaparece-
rem os sintomas.
O paciente com intoxicação por chumbinho deve ser classificado no primeiro
atendimento, em relação aos sinais apresentados, pois esta classificação,
conforme a gravidade, indicará a conduta a ser tomada (MORAES, 1999;
VANESSA, 2009).

Sinais Maiores e Menores na Intoxicação por Carbamato


Sinais menores: Sinais maiores Sinais de Gravidade

Diarreia Miose
Miofasciculação generaliza-
Náuseas Sudorese profusa
da e mantida
Vômitos Sialorréia
Insuficiência respiratória
Hipermotilidade intestinal Broncorréia
Coma
Dor abdominal (difusa e mal Relaxamento dos esfíncteres
Parada cardiorrespiratória
definida) Miofascirculações

Embora seja difícil diferenciar o quadro colinérgico agudo,


em relação à classe do agente etiológico, suspeita-se de
intoxicação por organofosforado quando o paciente é
oriundo de área rural, tem exposição ocupacional, ou quando
apresenta sintomatologia importante de acometimento do SNC
(convulsões), ou quando a atropinização é feita corretamente,
sem melhora da sintomatologia muscarínica.

118
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

3.4 Classificação do paciente intoxicado por chum-


binho no primeiro atendimento
Sabe-se que a utilização do chumbinho tem sido de larga escala nas ten-
tativas de suicídio. Assim, a seguir destacamos os graus de classificação do
paciente intoxicado por chumbinho conforme destaca Moraes (1999).

• Grau 0: sem sintomatologia duas horas após a  ingestão.

• Grau 1: um ou dois sinais menores até duas horas após a ingestão,


não mantidos.
• Grau 2: sinais menores, acompanhados   de   um sinal maior.

• Grau 3: sinais menores, acompanhados de dois sinais maiores, sem


comprometimento respiratório.
• Grau 4: sinais menores, acompanhados de  três ou mais sinais maio-
res, com comprometimento respiratório.
• Grau 5: quadro completo,  com pelo  menos um sinal de gravidade.

Conduta de acordo com a classificação de gravidade


Em seguida, abordaremos as principais condutas de acordo com a classifi-
cação da gravidade destacada anteriormente.

Grau 0: observação por 6 horas.

Grau 1: procedimentos a serem realizados nos casos supracitados:

• Lavagem gástrica (LG) com  seis litros ou mais de SF a 0,9% (enquan-


to sair o agente tóxico).
• Observação    por    12  horas.      Mantendo-se assintomático, liberar o
paciente. Caso apresente   sintomatologia,   reclassificar  e proceder
à conduta.
Grau 2:

• Lavagem gástrica (LG) com seis litros  ou mais de SF a 0,9% (enquan-


to sair o agente tóxico).
• Carvão ativado (CA) via sonda  nasogástrica (SNG), por lavagem, em
dose  única de 25g em 250ml de SF a 0,9% para adulto, e 0,5g/kg para
crianças.
• Catártico salino hidróxido  de magnésio - 30 ml via SNG 1 hora após CA.

119
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

• Atropina - 1mg, EV, de 15/15 min.

• Telerradiografia de tórax - quando houver suspeita de broncoaspi-


ração.
• Reavaliação de 2/2 horas, com nova classificação, quando necessá-
rio.
• Observação por pelo menos 12 horas, após término da atropinização.

Grau 3:

• LG com 8 litros de SF a 0,9% ou mais.

• CA via SNG, de 6/6 horas, até 24 horas.

• Catártico salino, 1 hora após cada dose do carvão.

• Atropina - 1,5mg, EV,   de 15/15 min. para adultos e 0,03mg/kg/dose,


de 15/15 min. para crianças.
• Telerradiografia de tórax.

• Medidas sintomáticas e de suporte.

• Reavaliação e nova classificação, se necessário, de 2/2 horas.

• Observação por pelo menos 18 horas, após término da atropinização.

É importante cautela com a atropinização destes pacientes, pois,


ao mesmo tempo em que podem ter uma melhora rápida, devendo
haver a diminuição da dose da atropina, podem evoluir com
comprometimento respiratório, necessitando aumentar a dose.

Grau 4:

• LG com 10L de SF a 0,9% ou mais.

• Atropina - 2,0 mg, EV, de 10/10 minutos, em adultos, e 0,05mg/kg/


dose, de 10/10 minutos, em crianças.
• CA via SNG, de 6/6 horas, por 24 horas.

• Catártico salino.

• Telerradiografia de tórax.

• Monitorização cardíaca.

• Medidas sintomáticas e de suporte.

120
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

• Reavaliação de 1/1 hora.

• Observação por no mínimo  24 horas após término da atropinização.

• Avaliar indicação de Unidade de  Terapia Intensiva (UTI), pelo risco


de desenvolver Insuficiência Respiratória.
Grau 5: idêntico ao grau 4, exceto:

• Atropina - 2mg, EV, de 10/10min, em adultos, e 0,05mg/kg/dose, de


10/10min, em crianças; Em   casos    muito graves   pode   ser au-
mentada a dose.
• Observação por 24 e 48 horas, no mínimo, após término da atropi-
nização.
• Indicação de UTI.

Ainda com relação à intoxicação por inibidores da


acetilcolinesterase, tanto os compostos organofosforados
quanto os carbamatos os grupos levam à hiperglicemia
transitória até 05 vezes superior aos valores normais, sendo,
contudo contraindicado o uso de insulina.

3.5 Intoxicação por fármacos e drogas não lícitas


As manifestações clínicas de um cliente com intoxicação variam de acor-
do com o fármaco/droga utilizados, mas os princípios subjacentes de tra-
tamento são essencialmente idênticos. As metas do tratamento para um
paciente que sofreu uma intoxicação por drogas são o suporte das funções
respiratória e cardiovascular e estimular a eliminação do agente. A se-
guir veremos as principais substâncias que se enquadram nesta categoria
de acordo com Pereira e Fonseca (2000), Pinho e Pereira (2001) e SINITOX
(2009):

121
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

3.5.1 Substâncias do tipo Anfetamina  (arrebites, bolinhas).


Anfetamina, Dextroanfetamina, Metanfetamina, MDMA (Ecstasy), MDEA
(Eve), MDA.

Manifestações Clínicas:
• Náuseas, vômito, anorexia, palpitações, taquicardia.

• Pressão arterial elevada.

• Taquipnéia.

• Ansiedade e nervosismo.

• Diaforese.

• Midríase.

• Comportamento repetitivo ou estereotipado.

• Irritabilidade, insônia, agitação.

• Percepções visuais errôneas, alucinações auditivas.

• Ansiedade temerosa, depressão, frieza, paranoia.

• Hiperatividade.

• Convulsões, coma, hipertermia, colapso cardiovascular, rabdomiólise.

3.5.2 Substâncias Alucinógenas ou do tipo psicodélica


Dietilamida do ácido lisérgico (LSD); cloridrato de fenciclidina (PCP, poeira
dos anjos); Mescalina, psilocibina, canabinóides (marijuana).

Manifestações Clínicas:
• Hipertensão branda.

• Confusão acentuada limiar ao pânico.

• Incoerência, hiperatividade, isolamento.

• Comportamento combativo; delírio, mania e autolesão.

• Alucinações.

• Hipertensão, hipertermia, insuficiência renal.

• Convulsões, coma, colapso circulatório e morte.

122
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

3.5.3 Barbitúricos - Pentobarbital, Secobarbital, Amobarbital.


Manifestações Clínicas:
• Depressão respiratória.

• Face ruborizada.

• Frequência cardíaca diminuída.

• Pressão arterial diminuída.

• Nistagmo crescente.

• Reflexos tendinosos profundos deprimidos.

• Alerta mental decrescente.

• Dificuldade em falar.

• Má coordenação motora.

• Coma e morte.

3.5.4 Narcóticos
Nessa categoria encontramos: cocaína, heroína, morfina, codeína, deriva-
dos sintéticos (metadona, maperidina), fentanil.

Manifestações Clínicas:
• Aumento da frequência cardíaca e PA.

• Hiperpirexia, convulsões e disritmias.

• Euforia seguida de ansiedade, tristeza e insônia, alucinação, psicose.

• Intoxicação aguda (overdose).

• Pupilas puntiformes.

• Pressão arterial diminuída.

• Acentuada depressão respiratória;

• Estupor (coma).

123
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

3.5.5 Sedativos não barbitúricos (exemplos: Diazepam, Cloria-


diazepóxido, Orazepam, Lorazepam, Midazolam).
Manifestações Clínicas:
• Depressão respiratória.

• Alerta mental decrescente.

• Confusão.

• Turvação da fala.

• Pressão arterial diminuída.

• Ataxia.

• Edema pulmonar.

• Coma e morte.

A maioria das intoxicações exógenas, propositais ou acidentais, aconte-


ce por ingestão de agentes tóxicos que podem ser removidos por meio de
lavado gástrico, embora este tenha sido considerado ineficaz por alguns
autores, pelo fato de o procedimento ser normalmente executado além
do tempo efetivo preconizado desde o momento da intoxicação (até duas
horas).

A lavagem gástrica deve se realizada pelo enfermeiro, através da sondagem


nasogástrica ou orogástrica. Inicia-se a infusão de soro fisiológico entre 5 e
6mL por kg, introduzindo no máximo de 250mL/por ciclo, sempre retirando
todo líquido infundido. Repita o lavado até que este retorne límpido. Para
elucidar o diagnóstico a respeito do agente tóxico, orienta-se que o lavado
seja submetido à análise.

Nas intoxicações exógenas, também podem ser utilizados adsorventes e


catárticos. Os adsorventes são substâncias que se ligam ao agente tóxico
e o tornam um composto estável. Entre elas estão terra de Fuller, a coles-
tiramina e o carvão ativado. O carvão ativado promove a diminuição da
absorção do agente tóxico, ao adsorver ou aprisionar o agente tóxico em
sua superfície, impedindo sua absorção pelo intestino. No entanto, é inati-
vo para substâncias químicas ionizadas, como ácidos minerais, ferro, lítio,
fluoreto e cianeto, derivados do petróleo, bases fortes e alcoóis.

124
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Os catárticos são utilizados também para a diminuição da absorção do


agente tóxico, acelerando seu trânsito através do trato gastrintestinal e im-
pedindo seu contato com as superfícies mucosas. Doses múltiplas devem
ser evitadas para evitar a diarreia, que pode resultar em graves distúrbios
hidroeletrolíticos. É contraindicado o seu uso em pacientes hipertensos,
portadores de ICC e insuficiência renal.

A utilização de adsorventes e catárticos exige critérios e supervisão rigoro-


sa. Por exemplo, em pacientes com ruídos hidroaéreos diminuídos, suspei-
te de obstrução intestinal. Neste caso, o tratamento deve ser interrompido.
Além disso, o enfermeiro deve realizar a ausculta abdominal e pulmonar,
pois o uso indevido do carvão ativado pode acarretar vômitos, aspiração e
pneumonite química, agravando ainda mais o quadro.

Algumas medidas específicas de eliminação dos agentes tóxicos incluem:

• Diurese forçada e alcalinização da urina.

• Hemodiálise.

• Hemoperfusão.

• Uso de antagonistas.

• Exsanguineotransfusão.

• Plasmaférese.

Saiba mais
Para aprofundar esta temática sugerimos que você acesse o
link abaixo disponibilizado
Livro digital: Protocolos das UPAs 24 horas - <http://www.2gse.
cbmerj.rj.gov.br/modules.php?name=Content&file=print&p
id=201>

125
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

3.6 Intoxicação por acidentes com animais peçonhentos


Animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno que
se comunica com dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno
passa ativamente. Portanto, peçonhentos são os que injetam veneno com
facilidade e de maneira ativa, como, por exemplo, serpentes, aranhas, es-
corpiões, lacraias, abelhas, vespas, marimbondos e arraias. Já  os animais
venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um apa-
relho inoculador (dentes, ferrões), provocando envenenamento passivo por
contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu),
(BRASIL, 2001).

3.6.1 Serpentes
Acidente ofídico ou ofidismo é o quadro de envenenamento decorrente da
inoculação de toxinas através do aparelho inoculador (presas) de serpen-
tes. O efeito do envenenamento produz manifestações locais e sistêmicas.
No Brasil, as serpentes peçonhentas são representadas por quatro gêneros:
serpentes do grupo Bothrops, Crotalus (cascavel); Lachesis (surucucu-pico-
-de-jaca) e Micrurus (coral-verdadeira), que provocam os correspondentes
tipos de acidentes ofídicos:

3.6.2 Acidentes botrópicos


São causados por serpentes da família Viperidae, principalmente os gêne-
ros Bothrops, Bothropoides, Bothriopsis e Rhinocerophis (jararacuçu, jararaca,
urutu, caiçaca, comboia). As manifestações locais evidenciam-se nas pri-
meiras horas após a picada, com a presença de edema, dor e equimose
imediatos na região atingida, que progride ao longo do membro acometido.
Enfartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompa-
nhados ou não de necrose. As marcas de picada nem sempre são visíveis,
assim como o sangramento nos pontos de inoculação das presas. Bolhas
com conteúdo seroso ou sero-hemorrágico podem surgir na evolução e dar
origem à necrose cutânea. As principais complicações locais são decorren-
tes da necrose e da infecção secundária, que podem levar à amputação e/
ou déficit funcional do membro.

126
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Manifestações sistêmicas
Sangramentos em pele e mucosas são comuns (gengivorragia, equimoses
a distância do local da picada), hematúria, hematêmese e hemorragia em
outras cavidades pode determinar risco ao paciente. Hipotensão pode ser
decorrente de sequestro de líquido no membro picado ou hipovolemia
consequente a sangramentos, que podem contribuir para a instalação de
insuficiência renal aguda. Bolhas, equimoses, necrose, oligúria e anúria,
levando a insuficiência renal aguda.

3.6.3 Acidentes crotálicos


São causados pelas cascavéis (Família Viperidae, espécie Crotalus durissus).
São identificadas pela presença de guizo, chocalho ou maracá na cauda e
têm ampla distribuição em cerrados, regiões áridas e semiáridas, campos
e áreas abertas.

Manifestações locais
Não se evidenciam alterações significativas. A dor e o edema são usual-
mente discretos e restritos ao redor da picada; eritema e parestesia são
comuns.

Manifestações sistêmicas
O aparecimento das manifestações neuroparalíticas tem progressão cranio-
caudal, iniciando-se por ptose palpebral, turvação visual e oftalmoplegia.

Distúrbios de olfato e paladar, além de ptose mandibular e sialorréia, po-


dem ocorrer com o passar das horas. Raramente a musculatura da cai-
xa torácica é acometida, o que ocasiona insuficiência respiratória aguda.
Essas manifestações neurotóxicas regridem lentamente, porém são total-
mente reversíveis. Pode haver gengivorragia e outros sangramentos discre-
tos. Progressivamente, surge mialgia generalizada. O paciente pode evoluir
com mioglobinúria, anúria e insuficiência renal aguda. Também ocorre au-
mento do tempo de coagulação e alterações visuais como diplopia, aniso-
coria. A ptose palpebral também pode estar presente.

127
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

3.6.4 Acidentes laquéticos


Também são causados por serpentes da família Viperidae. A surucucu é a
maior serpente peçonhenta do Brasil. Seu habitat é a floresta Amazônica e
os remanescentes da Mata Atlântica.

São semelhantes às descritas no acidente botrópico, predominando a dor e


edema, que podem progredir para todo o membro. A diferenciação clínica
se faz quando, nos acidentes laquéticos, estão presentes alterações vagais
como náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, hipotensão e choque.

Podem surgir vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico


nas primeiras horas após o acidente. As manifestações hemorrágicas limi-
tam-se ao local da picada na maioria dos casos.

3.6.5 Acidentes elapídicos


São causados por pelas corais-verdadeiras (família Elapidae, gênero Micru-
rus). São amplamente distribuídos no país, com várias espécies que apre-
sentam padrão característico com anéis coloridos.

Manifestações locais
Dor e parestesia na região da picada são discretos, não havendo lesões
evidentes.

Manifestações sistêmicas
Fácies miastênica ou neurotóxica (comum ao acidente crotálico) constitui
a expressão clínica mais comum do envenenamento por coral verdadeira,
complicação decorrente da progressão da paralisia da face para os múscu-
los respiratórios.

Tratamento
O tratamento é feito com a aplicação do soro (antiveneno) específico para
cada tipo de acidente, de acordo com a gravidade do envenenamento. A apli-
cação dos soros deve ser por via intravenosa, podendo ser diluídos ou não,
em solução fisiológica ou glicosada. Durante a infusão e nas primeiras horas
após a administração do soro, o paciente deve ser rigorosamente monito-
rado para a detecção precoce da ocorrência de reações, tais como urticária,
náuseas/vômitos, rouquidão e estridor laríngeo, broncoespasmo, hipotensão
e choque. Uma vez diagnosticada a reação, a soroterapia deve ser interrom-
pida e posteriormente reinstituída após tratamento da anafilaxia.
128
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Quadro 9: Recomendações do Ministério da Saúde de acordo com o tipo de acidente.

Nº de
Acidente Soro Gravidade
ampolas

Leve: quadro local discreto, sangramento em


2a4
Antibotrópico (SAB) pele ou mucosas; pode haver apenas distúrbio
na coagulação.

Botrópico Moderado: edema e equimose evidentes,


5a8
sangramento sem comprometimento do estado
Antibotrópico-laquético geral; pode haver distúrbio na coagulação.
(SABL)
Grave: alterações locais intensas, hemorragia
12
grave, hipotensão, anúria.

Moderado: quadro local presente, pode haver


10
sangramentos, sem manifestações vagais.
Laquético Antibotrópico-
laquético (SABL)
Grave: quadro local intenso, hemorragia intensa
20
com manifestações vagais.

Leve: alterações neuroparalíticas discretas; sem


5
mialgia, escurecimento da urina ou oligúria.

Moderado: alterações neuroparalíticas


Crotálico Anticrotálico (SAC) evidentes, mialgia e mioglobinúria. 10
(urina escura) discretas

Grave: alterações neuroparalíticas evidentes,


20
mialgia e mioglobinúria intensas, oligúria.

Considerar todos os casos potencialmente


Elapídico Antielapídico (SAE) 10
graves pelo risco de insuficiência respiratória.

Fonte: Brasil (2001)

129
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Intervenções de enfermagem
1. Coloque o paciente em repouso absoluto no leito, com elevação da
região atingida pela picada (posição de drenagem de edema).
2. Lave o local atingido com água e sabão e/ou solução antisséptica.
3. Remova anéis, pulseiras, roupas ou quaisquer objetos constrictivos.
4. Caso haja presença de garrote, não retirá-lo imediatamente (risco
de choque).
5. Instale acesso venoso em veia de médio calibre (antebraço/braço).
Não puncione o membro afetado. A retirada do garrote deverá ser
feita de forma gradual e lenta, levando-se em conta o nível de isque-
mia da extremidade.
6. Na administração da soroterapia, verifique na prescrição o tipo e
quantidade do soro. As ampolas deverão ser diluídas em 100 ml de
SG 5% e infundidas, via EV, com gotejamento rápido.
7. Realize profilaxia contra reações anafilactóides, com a administra-
ção prévia, 10 a 15 minutos, de anti-histamínico e corticóide confor-
me prescrição.
8. Observe possíveis reações precoces durante a infusão, com vigilân-
cia permanente até 2 horas após o término.
9. Caso seja observada urticária, tremores, tosse, náuseas, dor abdomi-
nal, rubor facial ou prurido, interromper imediatamente a infusão
do soro e informar ao médico assistente, para a conduta específica.
A soroterapia poderá ou não ser reiniciada a critério médico.
10. Realize balanço hídrico rigoroso, mantendo hidratação adequada
para diurese entre 30 a 40 ml/hora em adultos e 1 a 2 ml/kg/h em
crianças.
11. Mantenha o controle de sinais vitais.

Saiba mais
Convidamos você a acessar o link disponibilizado a seguir para
aprofundar seus conhecimentos sobre essa temática que atinge
muitas pessoas na rede de atenção em saúde.
Veja o Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes com
animais peçonhentos do Ministério da Saúde: <http://portal.
saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manu_peconhentos.pdf>

130
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

3.7 Aranhas
É denominado araneísmo o acidente provocado por aranha. Das 30.000 es-
pécies conhecidas, poucas possuem venenos ativo quando inoculado no
homem. As aranhas peçonhentas de importância para a saúde causam
quadros de envenenamento que se diferenciam tanto nos seus aspectos
epidemiológicos, como nos mecanismo de ação dos venenos, devendo ser
abordados como agravos distintos. As aranhas peçonhentas de interesse
para a saúde no Brasil são representadas pelos gêneros Loxosceles (aranha-
-marrom), Phoneutria (armadeira) e Latrodectus (viúva-negra), que apresen-
tam aspectos biológicos e distribuição geográfica bastante distintos.

3.7.1 Loxoscelismo
Provocado pela aranha marrom (Loxosceles).

Manifestações locais
A picada é usualmente pouco dolorosa, podendo passar despercebida; após
algumas horas, torna-se evidente dor semelhante à queimadura, eritema e
edema na região da picada, com equimose central, áreas de palidez (placa
marmórea) e, eventualmente, bolhas com conteúdo sero-hemorrágico; à
palpação, nota-se área endurecida. A lesão cutânea pode evoluir com ne-
crose seca e úlcera.

Manifestações sistêmicas
Acompanhando o quadro local, queixas inespecíficas como mal-estar, ce-
faleia, febre e exantema são comumente referidas pelos pacientes. A pre-
sença de hemólise intravascular caracteriza a chamada forma cutâneo-
-visceral do loxoscelismo, observada na minoria dos casos, em geral nas
primeiras 72 horas após a picada. Os casos graves podem evoluir com in-
suficiência renal aguda.

131
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

3.7.2 Foneutrismo
Causado pela Phoneutria (aranha-armadeira).

Manifestações locais
A dor local irradiada e de início imediato é o sintoma mais característico,
podendo ser bastante intensa nas primeiras três a quatro horas após a
picada; o quadro pode ser acompanhado por edema e sudorese no local e
parestesia ao longo do membro. As marcas dos pontos de inoculação po-
dem ou não ser visualizadas.

Manifestações sistêmicas
Em associação ao quadro local, os pacientes podem apresentar taquicar-
dia, hipertensão arterial, agitação psicomotora e vômitos. Crianças podem
apresentar manifestações graves, como sudorese profusa, sialorréia, pria-
pismo, hipotensão, choque e edema pulmonar agudo, que podem eventu-
almente levar a óbito.

3.7.3 Latrodectismo
Provocado pela Latrodectus (viúva-negra).

Manifestações locais
Geralmente o quadro se inicia com dor local de pequena intensidade, evo-
luindo com sensação de queimação; observa-se pápula eritematosa e su-
dorese localizada. Pode apresentar mialgia intensa, contraturas muscula-
res generalizadas e convulsões tetânicas.

Manifestações sistêmicas
São mais frequentemente observadas alterações motoras como dor irra-
diada e contrações espasmódicas dos membros inferiores, contraturas
musculares intermitentes, tremores, dor com rigidez abdominal (que pode
simular abdome agudo) e fácies latrodectísmica, caracterizada por contra-
tura facial e trismo dos masseteres.

Outras manifestações, menos frequentes, incluem opressão precordial, ta-


quicardia e hipertensão arterial, náuseas, vômitos, sialorréia e priapismo.

132
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

Tratamentos

3.7.4 Foneutrismo
O soro antiaracnídico ou antiloxoscélico é indicado a partir do momento
em que a hemólise é detectada e, no quadro cutâneo, quando o diagnóstico
é feito nas primeiras 72 horas; a limitação ao uso de antiveneno se deve
ao diagnóstico tardio, muitas vezes realizado já com a necrose cutânea
delimitada. Nesse caso, medidas de suporte, como uso de antissépticos, la-
vagem com permanganato de potássio (KMnO4) 1:40.000 e curativos locais
são recomendados até ser realizada a remoção da escara e acompanha-
mento cirúrgico para o manejo da úlcera e correção da cicatriz.

3.7.5 Loxocelismo
Tratamento sintomático para a dor com calor local e analgésico sistêmico.
Pode-se usar também infiltração anestésica local ou troncular com lidocaí-
na 2% ou similar, sem vasoconstritor (3-4 ml em adultos e 1-2 ml em crian-
ças). Havendo recorrência da dor, pode ser necessária nova infiltração, em
geral em intervalos de 60 minutos. Caso não haja resposta satisfatória ao
anestésico, recomenda-se o uso de meperidina 50-100 mg (crianças 1mg/
kg) IM. O soro antiaracnídico somente é preconizado nos casos moderados
e graves, onde há manifestações sistêmicas.

3.7.6 Latrodectismo
O soro antilatrodéctico encontra-se em fase experimental, não sendo dis-
ponível para uso de rotina. Assim sendo, o tratamento medicamentoso in-
clui, além de analgésicos sistêmicos, Benzodiazepínicos do tipo Diazepam
– 5-10mg (crianças, 1-2mg) IV, a cada 4 horas, se necessário, Gluconato de
cálcio 10% – 10-20ml (crianças, 1mg/kg) IV, a cada 4 horas, se necessário e
Clorpromazina – 25-50mg (crianças, 0,55mg/kg/dose) IM, a cada 8 horas, se
necessário.

133
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Quadro 10: Tipos de acidentes, soros, grau de gravidade e nº de ampolas

Nº de
Acidentes Soros Gravidade
ampolas

Leve: dor local, eritema, sudorese, piloereção. __

Moderado: dor local intensa, sudorese, vômitos


Foneutris- Antiaracnídico 2a4
ocasionais, agitação psicomotora, hipertensão arterial.
mo (SAA)

Grave: sudorese profusa, sialorréia, vômitos profusos,


5 a 10
priapismo, choque, edema pulmonar agudo.

Leve: aranha identificada, lesão incaracterística,


Antiloxos- __
ausência de comprometimento sistêmico.
célico
(Salox)
Moderado: independentemente da identificação do
Loxosce- agente, lesão sugestiva ou característica, manifes-
Ou 5
lismo tações sistêmicas inespecíficas (exantema, febre),
ausência de hemólise.
Antiaracnídico
(SAA)
Grave: lesão característica, manifestações clínicas e/
10
ou evidências laboratoriais de hemólise intravascular.

Fonte: Brasil (2001)

3.8 Escorpiões
Escorpionismo é o quadro de envenenamento que ocorre pela inoculação
de veneno pelo ferrão ou aguilhão, localizado na cauda de escorpiões. Os
escorpiões de importância para a saúde no Brasil pertencem ao gênero
Tityus, com várias espécies descritas: Tityus serru-latus (escorpião-amarelo),
com ampla distribuição desde o Paraná até o norte da Bahia; Tityus bahien-
sis (escorpião-marrom), encontrado em todo o país, com exceção da região
Norte; Tityus stigmurus, espécie mais comum no Nordeste; Tityus paraensis
(escorpião-preto) e Tityus metuendus, encontrados na Amazônia.

Manifestações clínicas
A estimulação de terminações nervosas sensitivas determina o apareci-
mento do quadro local, de instalação imediata e caracterizada por dor in-

134
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

tensa, edema e eritema discretos, sudorese localizada em torno do ponto


de picada e piloereção. Eventualmente, mioclonias e fasciculações podem
ocorrer. A atividade sobre o sistema nervoso autônomo é responsável pelo
quadro sistêmico, observado em crianças, nas quais, após intervalo de mi-
nutos até poucas horas (de duas a três), podem surgir manifestações sis-
têmicas como sudorese profusa, agitação psicomotora, tremores, náuseas,
vômitos, sialorreia, hipertensão ou hipotensão arterial, arritmia cardíaca,
insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar agudo e choque. A
presença dessas manifestações impõe a suspeita do diagnóstico de escor-
pionismo, mesmo na ausência de história de picada ou identificação do
animal. As complicações são decorrentes do envenenamento sistêmico: ar-
ritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, choque e edema agudo
pulmonar. Não há complicações locais.

Tratamento
Nos casos leves, onde estão presentes somente as manifestações locais,
o tratamento é sintomático com medidas que visem o alívio da dor:
infiltração local com anestésico sem vasoconstritor (Lidocaína a 2%), ou
analgésicos sistêmicos, como Dipirona. Caso a dor persista, como nos aci-
dentes moderados e graves, está indicada soroterapia específica, com soro
antiescorpiônico ou antiaracnídico. A soroterapia está sempre indicada em
crianças menores de sete anos e adultos com dor persistente. A aplicação
dos soros deve ser feita, como os soros antiofídicos, pela via intravenosa,
bem como os cuidados na administração perante a possibilidade de rea-
ções alérgicas (quadro abaixo).

No escorpionismo, o tempo entre acidente e o início de


manifestações sistêmicas graves é bem mais curto do que
para os acidentes ofídicos. Desse modo, crianças picadas por
T. serrulatus, ao apresentar os primeiros sinais e sintomas de
envenenamento sistêmico, devem receber o soro específico
o mais rapidamente possível, bem como cuidados para
manutenção das funções vitais.

135
Linha de Cuidado nas Urgências/Emergências clínicas respiratórias e metabólicas

Acidentes com animais peçonhentos devem ser notificados.

Quadro 11: tipos de acidentes, soros, gravidade e nº de ampolas

Nº de
Acidentes Soros Gravidade
ampolas

Leve: dor e parestesia local. __

Moderado: dor local intensa, associada a uma ou


mais manifestações: náuseas, vômitos, sudorese
Antiescorpiônico 2a3
e sialorréia discretas, agitação, taquipneia e
(SAEsc)
taquicardia.
Escorpiônico ou
Antiaracnídico
Grave: além das citadas na forma moderada,
(SAA)
presença de uma ou mais das seguintes manifes-
tações: sudorese profusa, sialorréia intensa, pros- 4a6
tação, convulsão, coma, bradicardia, insuficiência
cardíaca, edema pulmonar agudo e choque.

Fonte: Brasil (2001)

Saiba mais
Não esqueça, para aprofundamento desta temática acesse
abaixo o link disponibilizado:
Veja o Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes com
animais peçonhentos do Ministério da Saúde:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manu_
peconhentos.pdf>.

136
Aplicação da metodologia da assistência de enfermagem nas intoxicações exógenas

3.9 Resumo
No cuidado ao paciente vítima de intoxicação, a avaliação de enfermagem
deve ser feita de forma sistemática e rápida identificando as prioridades de
cuidado. O reconhecimento precoce da manifestação de intoxicação das
diferentes substâncias é fundamental para que o cuidado seja instituído
de maneira pontual e possa contribuir para a sobrevivência dos pacientes.
Também é extremamente importante o contato com o Centro de Informa-
ção Toxicológica de seu estado, pois estes órgãos concentram informações
mais detalhadas sobre os diferentes tipos de envenenamento. Nos aciden-
tes com animais peçonhentos, é importante conhecer as manifestações
apresentadas nos acidentes provocados pelos diferentes animais, saber
em quais circunstâncias ocorreu o acidente e sempre que possível, obter
o animal para instituição da terapêutica. É importante também conhecer
os acidentes mais comuns de acordo com as diferentes regiões brasileiras.

3.10 Fechamento
As intoxicações exógenas e principalmente os acidentes com animais pe-
çonhentos constituem-se em emergências que por sua natureza implicam
na necessidade de atualização frequente dos profissionais. Aprofunde seus
conhecimentos nesta área, exercitando a interpretação das manifestações
apresentadas pelos pacientes.

3.11 Leitura Complementar:


Ainda, como leitura complementar, sugerimos aprofundar o conteúdo
acessando o link abaixo disponibilizado que trata de intoxicações exóge-
nas: <http://www.uff.br/toxicologiaclinica/IECM.pdf>

137
Referências
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home or alternate site health care facility. Respir Care, v. 52, n. 8, p. 1063-
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SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA. Diretrizes da


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Organofosforato: relato de dois casos. Acta Scientiae Medica_On line, Rio
de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 22-28, 2009.

140
Minicurrículo do(s) autor(es)
Sayonara de Fatima Faria Barbosa
É especialista em Informática em Saúde pela FIOCRUZ (2000) e especialista
em Enfermagem em Cuidados Intensivos pela Universidade de São Paulo
(1990). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Cata-
rina (1995) e Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de São
Paulo (2005). Atualmente é professora da Universidade Federal de Santa
Catarina. Atua na Graduação e no Programa de Pós-Graduação em Enfer-
magem da UFSC. Vice-líder do Grupo de Pesquisa Clínica, Tecnologias e
Informática em Saúde e Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da UFSC - GIATE: <http:www.giateinfo.ufsc.br/>. Sub-coorde-
nadora do SIG Tele-enfermagem RUTE-SC.

Endereço na Plataforma Lattes: <http://lattes.cnpq.br/9066226306974527>.


<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=aprese
ntar&id=K4797471Z6>

Grace Teresinha Marcon Dal Sasso


É especialista em Informática em Saúde pela FIOCRUZ (2000). Tutora e au-
tora em Educação a Distância pela UNISUL (2003). Possui mestrado em
Enfermagem (Cuidado Intensivo) pela Universidade Federal de Santa Cata-
rina (1994) e doutorado em Informática em Enfermagem pela Universidade
Federal de Santa Catarina (2001). Pós-doutorado pela School of Health Infor-
mation Sciences at Houston - Texas - USA. Fez cursos na área de Informática
em Enfermagem nos EUA - Johns Hopkins (2000 Informática em Enferma-
gem), New Mexico - Sistema de Informação em Saúde (1999). Atualmente é
professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua na Graduação
e no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFSC. Tem experiên-
cia na área de Enfermagem, com ênfase em Enfermagem de cuidado crí-
tico (UTI e emergência) atuando principalmente nas seguintes temáticas:
informações e informática em saúde enfermagem, informática em saúde,
sistemas de informação em saúde, cuidado intensivo e de emergência, tec-
nologias emergentes e persuasivas em educação, pesquisa e cuidado em
saúde, educação a distância e tele-enfermagem. Líder do Grupo de Pes-
quisa Clínica, Tecnologias e Informática em Saúde e Enfermagem do Pro-
grama de Pós-graduação em Enfermagem da UFSC - GIATE: <http://www.
giateinfo.ufsc.br/>. Coordenadora SIG Tele-enfermagem RUTE-SC. Membro
do eHealth Strategic Group at the ICN desde 2011.

Endereço na Plataforma Lattes: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/


visualizacv.do?id=K4709081P6>

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