Tim Lahaye - Como Vencer A Depressão.
Tim Lahaye - Como Vencer A Depressão.
Tim Lahaye - Como Vencer A Depressão.
Traduzido por
João Barbosa Batista
Editora Vida
ISBN 0-8297-3648-3
Traduzido do original norte-americano:
HOW TO WIN OVER DEPRESSION.
O PROBLEMA DA
DEPRESSÃO
Uma mulher atraente, de pouco mais de trinta
anos de idade, depois de entrar em meu consultório
de aconselhamento e sentar-se, exalou aquele sus
piro longo e um tanto desencorajador que eu já asso
ciara com os deprimidos. O nome dela poderia ter
sido "Sra. Tem-Tudo"; realmente, nada lhe faltava.
Deixando sua suntuosa mansão estilo colonial e
um guarda-roupa cheio de modelos exclusivos, ela
dirigiu-se com seus problemas para meu consultório
numa perua nova. Tinha três adoráveis filhas em
idade escolar e um marido, tipo executivo e dinâ
mico, que ' ‘n unca lhe fora infiel”. Embora possuísse
tudo quanto queria, ela não era feliz.
Ela havia ido a um psiquiatra três vezes por se
mana durante dois meses: apesar disso, antes de vir
consultar-me, a Sra. Tem-Tudo havia tentado tirar
sua própria vida. Em estado de depressão, ela abai
xou as persianas da janela de seu quarto, arrastou-se
para a cama depois que as filhas haviam saído para a
escola e cobriu-se com os lençóis até à cabeça. Ape
sar de sua ótima aparência, ela disse que tinha saído
de uma situação semelhante para vir a meu consul
tório.
10 Como vencer a depressão
Embora o caso de depressão dessa jovem mãe
fosse grave, não era o pior que me havia chegado às
mãos. De fato, seu estado emocional não era nada
incomum, porque a maioria das pessoas que vêm a
mim para aconselhamento sofrem de depressão. Os
outros conselheiros também acham que esta é uma
regra geral. Quase todos os dias a média dos conse
lheiros é confrontada com vários casos de depressão.
Um psicólogo proeminente fez a seguinte observa
ção, recentemente. "Todos nós ficamos deprimidos
de vez em quando. Isto é perfeitamente normal.'' Um
médico, ao fazer uma preleção a alguns colegas
sobre como diagnosticar a depressão, comentou:
"De certo modo, devíamos esperar que todos os in
divíduos tenham depressão."
Por muitos anos a depressão tem sido a doença
emocional dominante do país e continua aumen
tando. Nas Preleções Sobre a Vida Familiar que
tenho feito em várias partes do país, minha confe
rência, em fita cassette, sobre a "Causa e Cura da
Depressão”, vendeu mais que qualquer outra —
mais do que “A Harmonia Sexual no Casamento",
"Vencendo as Preocupações", "Porque os Opostos
Se Atraem”, e dez outras seleções.
Entre 50.000 a 70.000 pessoas cometem suicídio
anualmente (falando só dos Estados Unidos), e sa
bemos que apenas uma pequena porcentagem dos
que tentam suicidar-se consegue seu intento. A pes
quisa revela que mais da metade dessas pessoas
sofrem de depressão. O Instituto Nacional de Saúde
Mental indica que 125.000 norte-americanos são
hospitalizados anualmente com depressão, en
quanto outros 200.000 ou mais são tratados per psi
quiatras. O Dr. Nathan Kline, do Hospital Estadual
Rockland, de Nova Iorque, relata que muitos casos
de depressão ficam sem tratamento por não serem
identificados. Estima-se que vão de quatro a oito
milhões por ano! (Newsweek, artigo citado, p. 51).
Na opinião de muitos pesquisadores, mais sofri
O problema da depressão 11
mento humano resulta da depressão do que de qual
quer outra doença que afeta a humanidade.
Embora esteja aumentando em passos alarman
tes, a depressão não é coisa nova. A história e a
literatura mostram claramente que ela é tão antiga
quanto o próprio homem. O livro mais antigo conhe
cido, o de Jó, expõe um homem em sério estado de
depressão que exclama: "Assim me deram por he
rança meses de desengano, e noites de aflição me
proporcionaram. Ao deitar-me digo: Quando me le
vantarei? Mas comprida é a noite, e farto-me de me
revolver na cama, até à alva. A minha carne está
vestida de vermes e de crostas terrosas; a minha pele
se encrosta e de novo supura. Os meus dias são mais
velozes do que a lançadeira do tecelão, e se findam
sem esperança. Lembra-te de que a minha vida é um
sopro; os meus olhos não tomarão a ver o bem. Os
olhos dos que agora me vêem não me verão mais; os
teus olhos me procurarão, mas já não serei. Tal como
a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à se
pultura jamais tomará a subir. Nunca mais tomará a
sua casa, nem o lugar onde habita o conhecerá ja
mais. Por isso não reprimirei a minha boca, falarei
na angústia do meu espírito, queixar-me-ei na
amargura da minha alma" (Jó 7:3-ll). Depois de ler
o que aconteceu a Jó (perda da família e da riqueza,
o corpo coberto de chagas), quem pode dizer que
teria uma reação diferente em circunstâncias se
melhantes?
O primeiro escritor, de que temos registro, a des
crever categoricamente a depressão, foi Hipócrates,
o médico e filósofo grego. Em sua engenhosa classi
ficação dos quatro temperamentos, ele denominou
um deles de "melancolia”, propondo a explicação
errônea de que era provocado pelo sangue negro e
denso que corre pelas veias do paciente.
Um médico chamado Areteu, do século II, descre
veu os deprimidos como "tristes” e "desanimados".
Ele declarou que eles emagrecem, tornam-se agita
12 Como vencer a depressão
dos e perdem o sono. Se a condição continuasse, eles
se queixavam de "mil futilidades" e desejavam
morrer.1
Outro homem do século II, Plutarco, criou um
contexto nitidamente religioso para a melancolia:
"A pessoa vê-se como alguém a quem os deuses
odeiam e perseguem com ira. Uma sorte muitíssimo
pior o espera: ele não se atrave a empregar nenhum
método para desviar ou remediar o mal, para que
não se encontre lutando contra os deuses. Rejeita o
médico ou o consolo do amigo. 'Deixa-me', diz o
desventurado homem, ‘deixa-me, que eu, o ímpio, o
amaldiçoado, odiado pelos deuses, sofra meu cas
tigo. ’Ele senta-se fora de casa, enrolado em pano de
saco ou trapos imundos. De quando em quando
revolve-se, nu, na terra, confessando este ou aquele
pecado. Que comeu ou bebeu alguma coisa que não
devia. Que trilhou algum caminho que o ser divino
não aprovou. Os festivais em honra dos deuses não
lhe dão prazer mas, ao contrário, o enchem de medo
ou terror."2
O estudo cuidadoso destes clássicos antigos re
vela uma semelhança constante com as descrições
atuais da depressão. O Dr. Beck, por exemplo, ex
plica: "Os sinais e sintomas cardinais usados hoje
para diagnosticar a depressão encontram-se nas
descrições antigas: gênio abatido (triste, desalen
tado, fútil); autocastigo ('o amaldiçoado, odiado
pelos deuses’); comportamento de autodegradação
('enrolado em pano de saco ou trapos imundos... ele
revolve-se, nu, na terra’); desejo de morrer; sintomas
físicos e vegetativos (agitação, perda de apetite e
peso, insônia), e ilusões de ter cometido pecados
imperdoáveis. As descrições anteriores da depres
são incluem as características típidas desta condi
ção. Existem poucos síndromes psiquiátricos cujas
descrições clínicas são tão constantes através das
épocas sucessivas da história."3
É um tanto embaraçoso que, para consternação
O problema da depressão 13
nossa, infelizmente, depois de quase 2500 anos o
homem secular de nosso dia não esteja em melhores
condições de curar o problema do que os antigos.
A DEPRESSÃO É UNIVERSAL
Pode-se dizer que todos passam por períodos de
pressivos num momento ou outro da vida. Pode ser
que não seja tão desesperador a ponto de se cometer
suicídio, mas todos têm experimentado ataques de
pressivos numa oportunidade ou noutra. Durante
estes últimos anos tenho feito uma pesquisa em au
ditórios, que passa de cem mil pessoas. A pergunta
que faço é: "Existe alguém, dentre os presentes, que
em toda sua vida nunca sofreu de depressão?" Pelo
menos, até o presente, ninguém ainda se viu livre
desse problema.
Certamente todas essas pessoas não reconhecem
que estão mergulhadas no Pântano da Descon
fiança. (Da obra de João Bunyan "O Peregrino".)
Muitas dessas pessoas, ao responderem à pergunta,
pensavam em termos de estados depressivos leves, o
que muitos familiarmente chamam de "estar de lua' ’
ou, como uma senhora expressou: “ter um nó na
garganta". Mas todas tinham consciência clara de
que em certos períodos da vida sentiram-se infeli
zes. É óbvio que existe grande diferença entre infe
licidade e doença mental. Entretanto, mesmo as
formas mais leves de depressão empanam a pun-
gência da margem feliz da vida.
A depressão não somente é universal, mas tam
bém não faz acepção de pessoas. Estudos recentes
mostram que ela afeta tanto os pobres como os ricos.
Como mostraremos neste livro, a depressão é cau
sada pelas circunstâncias, posses, ou posição que se
ocupa na vida; portanto, todos os homens são susce
tíveis a ela.
Nenhuma profissão está isenta de depressão, pois
a encontramos entre motoristas de táxi, donas-de-
-casa, comerciantes, professores, operários de cons-
14 Como vencer a depressão
tração e empreiteiros. Muitos temem que confessar
que estão deprimidos equivale a reconhecer que
sofrem de uma deficiência mental. Embora esteja
realmente relacionada com os padrões do pensa
mento, nada tem a ver com o QI. Pelo contrário, as
pessoas que possuem QI mais altos são as mais vul
neráveis a esta doença. Por exemplo, quase todas as
autoridades que consultei sobre a matéria estão de
acordo em que Sir Winston Churchill, baluarte da
Inglaterra em tempo de grande crise nacional, sofria
de ataques sérios de depressão. Alguns dos maiores
gênios do mundo padeceram do mesmo mal. Ao
terminar uma obra de arte magnífica ou outro feito
criativo, caíam num período apático de depressão.
Quando afirmamos que todos os seres humanos
têm experimentado a depressão, falamos de modo
geral das muitas formas em que ela se apresenta, as
quais serão analisadas mais tarde. Estas formas in
cluem desde o simples “estado de melancolia" e
pequenas variedades de humor, comum a todos os
indivíduos, à psicose mais severa. A vida em si
mesma é imprevisível, e todos os seres humanos
necessariamente terão de experimentar a infelici
dade. Um psiquiatra admitiu: "Parece que estamos
morrendo de fome de felicidade a maior parte do
tempo." Para a maioria das pessoas, felicidade é
uma mercadoria rara que, como veremos, depende
mais da atitude mental que das circunstâncias; mas,
sempre que uma pessoa se sente infeliz, tem a ten
dência de sentir-se deprimida. É ilusão pensar que o
ser humano pode escapar das causas naturais da
infelicidade. Portanto, se viver é experimentar graus
variados de infelicidade, e sendo a depressão o
oposto da felicidade, então todos os homens estão
fadados a sentir-se deprimidos em algumas oca
siões.
Os estudiosos do comportamento humano têm
lutado há muito tempo com duas perguntas: (1) Por
que algumas pessoas ficam deprimidas mais fre-
O problema da depressão 15
qüentemente do que outras? e (2) Qual é a causa
verdadeira da depressão? Estas duas questões serão
tratadas em capítulos posteriores. Muitos gostam de
pensar que a depressão é uma doença advinda de
causas físicas, assim livrando-se de qualquer res
ponsabilidade por ela. Ao fazer isso, prejudicam
seriamente suas chances de recuperação.
Tenho observado pessoas felizes e contentes cuja
alegria se irradia mesmo no meio das circunstâncias
mais infelizes da vida, enquanto outras transformam
as circunstâncias alegres em abismos de depressão^
Pa menos que o indivíduo esteja disposto a encarar ol
fato de que sua atitude mental para com as circuns-*
1tâncias, e não as circunstâncias em si mesmas, é que j
causa sua infelicidade e depressão, em minha opi-Jl
nião ele não tem cura.
CAPÍTULO DOIS
í LUTAS CONTRA A )
l DEPRESSÃO (
Uma das primeiras coisas que um segundanista d ^
psicologia aprende é que a autopreservação é a pri
meira lei da vida. Quando a pessoa machuca um
braço, ela protege essa parte machucada com outras
partes de seu corpo. Se machuca uma perna, cons
ciente e subconscientemente sobrecarrega a perna
sã. A luta natural pela existência, automaticamente
provocará mudanças emocionais que produzem
mudanças de comportamento, e, em alguns casos,
mudanças na aparência.
Isto é particularmente verdadeiro no que se refere
à depressão. O subconsciente, em alguns casos, in
venta manobras para evitar a depressão ou para
retirar a pessoa de suas garras.
As pessoas usam técnicas diferentes que aos pou
cos se transformam em padrões de conduta os quais
se tomam características de sua personalidade.
Estes mecanismos de defesa podem manifestar-se
através de uma mudança de humor que altera os
seus relacionamentos com outras pessoas. Sua ati
tude para com as circunstâncias pode tornar-se re
gressiva ou narcisista, e, se prolongada, terá como
resultado a fuga da relidade. Chamamos a isto de
Como vencer a depressão 17
“perda do contato com a realidade". Um indivíduo
nesse estado pode ser capaz de ouvir, mas parece
incapaz de se movimentar ou falar. É óbvio que a
serveridade da depressão é que determinará o rigor
da luta contra ela, que por sua vez produz o que
temos a tendência de chamar de comportamento
anormal. É comum a pessoa usar o suicídio como
tentativa final para livrar-se da tirania horrível da
depressão.
Como veremos mais adiante, a forma com que esta
luta se manifesta na vida de uma pessoa pode ser
observada desde a mais tenra infância. Uma das
causas primárias da depressão é a separação de um
objeto amado, e é por isso que o bebê, apesar de bem
alimentado, enxuto e agasalhado, começa a chorar
quando os pais saem do quarto. O contato com o
objeto amado — neste caso a mãe — produz a felici
dade. A separação gera solidão, que em última
análise resulta em depressão. Conseqüentemente, a
luta natural da criança contra a depressão é que a faz
chorar. Se a mãe for imatura e ficar irritada com o
que no momento parece comportamento irracional
da parte do bebê, ela poderá gritar com a criança, e
isto pode complicar seriamente o problema. Neste
caso temos duas pessoas imaturas cuja luta contra a
depressão está em conflito. A insegurança da
criança aumenta com o som da voz irada da mãe, e o
comportamento intemperado da mãe produz senti
mento de culpa e perda da auto-imagem, que tam
bém contribuirão para sua própria depressão.
A outra possibilidade é que a mãe não pode su
portar o choro inicial da criança e por isso vai apres
sadamente em seu auxílio, pegando-a com amor, e
dessa maneira eliminando a causa para depressão
da mãe. Esse ato, entretanto, prepara mal a criança
para a vida, que por necessidade, força todos a se
parações periódicas dos objetos amados. Não so
mente cria um padrão de conduta de dependência
na criança, mas também transforma a mãe em es
18 Lutas contra a depressão
crava, desnecessariamente, das expectativas de seu
filho. Isto, mais tarde, transforma-se em fonte de
irritação para a mãe, que pode não somente produzir
depressão em sua vida, mas, em última análise, se a
situação prolongar-se, gerará sentimentos de hosti
lidade que ela, mais cedo ou mais tarde, terá de
expressar. A criança, por sua vez, perceberá este
sentimento e, como resultado, ficará deprimida.
Fazendo uma pequena digressão a respeito da
cura deste problema comum, sugiro que você com
pare o desenvolvimento emocional e mental com o
ato físico de aprender a andar. Por ser tangível, pa
rece que podemos lidar com o lado físico da vida
com mais facilidade que com o lado mental ou emo
cional, o que talvez seja a razão pela qual aprender a
andar apresenta um ilustração tão boa. Quando a
criança começa a andar, é natural que caia com
freqüência. Não importa quantas vezes ela falhe, e
dentro de certos limites, não importa quão duro seja
o tombo. Mas é importante que ela seja encorajada
amorosamente a tentar de novo. Em última análise,
todas as crianças normais aprendem a andar. Da
mesma forma, crianças normais aprendem a
separar-se de seus pais. Admitimos que o processo é
doloroso, mas parte necessária da vida. Portanto, o
pai sábio começa terna e amorosamente a treinar o
filho a ficar só, emocionalmente, por períodos curtos
de tempo, assim dando passos psicológicos curtos
que vão prepará-lo para os passos de separação mais
longos que finalmente serão necessários.
As manifestações infantis da luta contra a depres
são adquirem padrões de conduta que, embora asso
ciados às crianças, não são nem universais nem ne
cessários.
É natural que quando a pessoa amadurece fisica
mente, sua maturidade mental e emocional não
mantenha um crescimento consistente. De fato, seu
comportamento pode ficar muito aquém do padrão
da normalidade.
Como vencer a depressão 19
EXIBICIONISMO
Na infância este problema se manifesta sob forma
de acessos de raiva, vontade de aparecer e outras
formas de chamar a atenção, inclusive a reclusão. O
exibicionismo é quase que universalmente uma ex
pressão da luta contra a depressão. A criança que
sente estar perdendo o amor ou a aceitação de seu
pai, amiúde ataca violentamente com palavras vis
ou profanas. Se o pai disciplina o filho com amor e
sabedoria, não somente o ajuda a estabelecer os
fundamentos para a autodisciplina e autocontrole,
mas ajuda a criança a aliviar seu complexo de culpa,
que certamente advirá por ter injuriado seus pais
mental e verbalmente. (Nunca subestime o senso
intuitivo do certo e errado de uma criança.) Se não
for controlado, este espírito de rebeldia virar-se-á
contra a sociedade, manifestando-se em palavras
obscenas escritas em lugares públicos e expressões
profanas e vis, proferidas em voz alta e que a socie
dade considera inaceitáveis. Ao crescer, essa rebel
dia pode expressar-se em tortuosas maquinações
contra a sociedade, reclusão e, como conseqüência,
o suicídio.
A promiscuidade sexual pode também refletir a
luta contra a depressão. A mulher segura, que se
sente amada e aceita não se veste de maneira provo-
cadora: prefere, subconscientemente, uma roupa
modesta. Como conselheiro tenho observado du
rante o período prolongado da mini e microminisai-
sas que o nível de segurança da mulher, muitas
vezes podia ser medido pelo comprimento de sua
saia. Isto também é verdadeiro para a mulher que
insiste em usar roupas de homem. Por alguma razão
ela não gosta de ser mulher (provavelmente porque
em sua infância a separação do objeto amado, possi
velmente seu pai, foi interpretada por ela como
sendo resultado de ser menina); portanto, ela faz
todo o possível para disfarçar sua feminilidade. Não
20 Lutas contra a depressão
somente veste-se como homem, mas também anda
como homem, usa palavrões como um homem, e faz
muitas coisas que as senhoras em geral não fazem.
Se ela aceitar-se como mulher e não como pessoa,
expressará sua luta contra a depressão sendo na-
moradeira, insinuante, e, em alguns casos, promís
cua. Os estudos demonstram que as ninfomaníacas
não são, na verdade, mulheres hipersexuais, mas
excessivamente inseguras. O impulso sexual da
mulher não é suficientemente forte para explicar tal
comportamento. Mesmo as mulheres mais indiscri
minadas sexualmente a que tenho aconselhado in
dicaram que não era o impulso sexual que as moti
vava, mas sua necessidade tremenda de amor. Sexo
era o preço que tinham de pagar pelo amor que
ansiavam.
O ego masculino geralmente leva o homem a pro
curar gratificação na conquista sexual. O homem
imaturo emocionalmente tende a relacionar mascu
linidade com a linguagem profana e obscena e com
o número de mulheres que leva para a cama. O
homem emocionalmente maduro revela ausência de
luta contra a depressão ao tratar as mulheres com
dignidade e respeito, reservando suas expressões de
sexo ao objeto especial de seu amor, sua esposa.
APEGO
Outra manifestação comum da luta contra a de
pressão é chamada d e' 'apego”. Muitos pais têm tido
a experiência emocionalmente traumática de ter de
desembaraçar-se pela força, dos braços de seus fi
lhos. Nunca me esquecerei do primeiro dia do meu
filho em um Jardim de Infância em San Diego. Ele
havia passado três semanas tentando acostumar-se
com um ambiente de jardim de infância em Mine-
sota antes de mudarmos para a Califórnia, e relutava
muito em entrar para uma situação escolar nova.
Foi-me difícil remover seus braços de volta do meu
pescoço, mas uma das tarefas mais difíceis foi
Como vencer a depressão 21
forçar-me a afastar dele, ouvindo seus gritos de:
“Papai, não me deixe sozinho!"
O processo do "apego", que em alguns lares
ocorre todas as noites antes de a luz ser apagada,
estende-se até à idade adulta. Naturalmente ele ad
quire comportamento mais sofisticado. Em alguns
casos adota a forma de generosidade excessiva, que
está muito além da possibilidade da pessoa. Isto não
é nada mais que uma tentativa de comprar o amor do
seu objeto amado. Pode também tomar a forma de
fazer com que a pessoa seja indispensável. A rejei
ção de seu patrão, ou figura paterna, é tão horrível
para alguns homens inseguros que trabalham mais
horas do que deviam, assim negligenciando sua fa
mília. De vez em quando encontramos uma anfitriã
compulsiva que, à primeira vista, parece ser "a me
lhor de todas", mas que na realidade apega-se avi
damente a seus amigos. Ganhando-os através do
jantar, ela procura colocá-los em dívida, na espe
rança de que não a abandonarão.
Outro estratagema do apego inclui uma conversa
insistente, quer seja pessoalmente ou pelo telefone.
Um médico amigo meu observou: "Algumas pes
soas sofrem de telefonite compulsiva.” Uma última
forma adulta de apego é afetar desamparo ou
doença. Naturalmente, são pedidos de socorro si
lenciosos.
ATAQUE
Um símbolo atemorizante da luta contra a depres
são relaciona-se com o ataque — agressão contra
alguém que o rejeitou, ou, mais freqüentemente,
ataque contra si mesmo. O padrão de pensamento
geralmente procede como segue: "É culpa minha
ser rejeitado; logo, não devo prestar para nada; con
sequentemente, mereço ser punido.” E por não ter
alguém que o faça, a pessoa freqüentemente pune a
si mesma — uma prática patética, para não dizer
mais nada.
22 Lutas contra a depressão
Embora estas manobras de defesa oscilem de
acordo com o estado de alma do indivíduo, podem
afetar o comportamento de uma pessoa na proporção
direta da severidade da sua disposição de ânimo.
Portanto, a melhor maneira de remediar a situação
não é mudar a expressão, mas descobrir as causas
dessa disposição, como mostraremos em um capí
tulo posterior. Os padrões de pensamento produzem
sentimentos, e estes produzem ações. Portanto,
qualquer redução permanente da depressão deve
necessariamente lidar com os problemas dos pa
drões de pensamento. A menos que a pessoa troque
seus padrões de pensamento, a luta contra a depres
são poderá produzir graus crescentes de comporta
mento errático.
CAPÍTULO TRÊS
SINTOMAS DA
DEPRESSÃO
O aumento tremendo do número de pessoas de
primidas hoje justifica um breve estudo dos sinto
mas do problema. Quase todos os que lêem este livro
têm amigos ou pessoas queridas que manifestam
estes sintomas. Se você, pessolmente, não precisa
reconhecê-los, então, por amor a essas pessoas você
deve aprender a discernir rapidamente estes sinais
críticos e oferecer seu amor e apoio no tempo de
necessidade.
Os conselheiros reconhecem três estágios, quase
universais, da depressão. A maioria os designa de
ameno, severo e grave. Nós os chamaremos de desâ
nimo, abatimento e desespero. Em capítulo poste
rior mostraremos como eles nos afetam mental,
emocional e fisicamente, mas aqui basta dizer que
na maioria dos casos, a depressão começa pelo de
sânimo, creesce até o abatimento, e, a menos que o
padrão de pensamento seja mudado, transforma-se
em desespero. Uma vez cruzada a linha do deses
pero, a depressão pode tomar-se tão aguda que o
indivíduo perde o contato com a realidade e deve
receber tratamento médico, até mesmo para perma
necer vivo.
24 Como vencer a depressão
Os efeitos da depressão são sentidos física, emo
cional e mentalmente. O leigo reconhece os sinto
mas físicos primeiro, mas o especialista pode, mui
tas vezes, detectar os sintomas mentais antes de se
tomarem físicos. Infelizmente os deprimidos não são
levados ao especialista antes de manifestarem sin
tomas físicos. Existem sintomas físicos em demasia
para considerarmos neste livro, de modo que exa
minaremos somente os mais comuns.
(1) Comportamento irregular do sono. O sintoma
físico mais comum da depressão é um mudança
acentuada dos padrões do sono. Embora algumas
pessoas depremidas durmam demais e acordem
cansadas, geralmente o mais comum é não conse
guirem dormir. Se dormem, acordam bem cedo e
não conseguem voltar a dormir. Numa discussão de
mesa-redonda, gravada em fita, vários médicos con
cordaram em que o primeiro indício da depressão
dos pacientes é a insônia.
(2) Apatia — letargia — o "não me importa".
Outro sintoma comum da depressão é refletido nas
afirmações: "Sinto-me cansado o tempo todo", ou
"Não tenho prazer nem no meu passatempo favo
rito." As pessoas deprimidas têm a tendência de
acordar cansadas e permanecer sem motivação.
Embora sejam capazes de cumprir com suas respon
sabilidades, o desempenho de seu trabalho deixa
muito a desejar. Além disso, cansam-se facilmente.
Certo homem reclamou: "Meus pés pesam como se
fossem feitos de chumbo."
(3) Perda de apetite. O alimento perde o encanto
para os deprimidos. Desanimadamente, brincam
com a comida, que para eles não tem sabor algum.
Quanto mais severa a depressão, tanto menor será o
apetite. Consequentemente, se o problema não for
verificado, podem experimentar uma séria perda de
peso, o que complicará seu estado. Algumas vezes,
os primeiros estáigios da depressão resultam em
constantes ataques à geladeira, mas geralmente os
Sintomas da depressão 25
que estão desesperados podem passar dias sem ali
mento.
(4) Perda do impulso sexual. Todas as funções
impulsivas ou atividades básicas praticamente ces
sam, quando a pessoa está deprimida. Isto inclui até
o impulso sexual, particularmente nas mulheres. Al
gumas delas ficam tão deprimidas que até sua
menstruação é interrompida. Exceto na depressão
amena, quando o homem pode tornar-se sexual
mente agressivo por causa da ameaça a seu ego, a
maioria dos homens perde o interesse pelo sexo
quando estão deprimidos.
(5) Aparência relaxada. Sempre que um amigo
elegante perde o interesse por sua aparência, você
poderá procurar sinais de depressão. A perda do
impulso motor, devido à auto-imagem negativa da
pessoa deprimida, faz com que o homem se preo
cupe menos em barbear-se e arrumar-se e faz com
que a mulher deixe de ir ao cabeleireiro. Uma roupa
descuidada é o reflexo da maneira em que o indiví
duo vê a si mesmo. As roupas traduzem a realidade!
Muitas vezes proclamam o conceito que a pessoa
tem de si mesma. Provavelmente ela está enco
brindo um complexo de inferioridade quando se
veste bem demais. Se estiver bem vestida, geral
mente está comunicando uma auto-imagem satis
feita. Entretanto, se se veste com desalinho, quando
a boa apresentação se faz necessária, é porque já
desistiu de si mesma.
(6) Várias doenças físicas. É muito comum as pes
soas deprimidas sofrerem de muitas enfermidades
físicas, tanto reais como imaginárias. Alguns dos
problemas mais comuns são cansaço, fraqueza,
dores, tontura, palpitação, pressão no peito, dificul
dade de respirar, dores de cabeça, resfriado, acidez
estomacal e transpiração.
SINTOMAS EMOCIONAIS DA DEPRESSÃO
Embora a depressão comece na mente, afeta em
26 Como vencer a depressão
profundidade as emoções da pessoa. Os sintomas
seguintes são os mais comuns:
(1) Perda de afeição. A tendência quase universal
das pessoas deprimidas de se afastarem dos outros é
resultado de sua perda de afeto. Começa com a di
minuição de seu amor por seu cônjuge ou filhos e
cresce até não se importarem mais consigo mesmas,
com os outros ou com coisa alguma. Este é um estado
emocional muito nocivo induzido por um padrão de
pensamento defeituoso de auto-ocupação. A menos
que seja mudado, a depressão aumentará. Alguém
já advertiu: "Ame ou pereça." A menos que você
ame a si mesmo e aos outros, você se destruirá.
(2) Tristeza. A falta de alegria e a melancolia
transformam-se no modo de vida do deprimido. Está
tão profundamente gravado em seu coração que se
traduz em seu rosto. Se procurar um sorriso no rosto
do deprimido, estará procurando em vão. Quando
está desencorajado, a alegria e o divertimento não
conseguem lhe dar prazer. Ao aumentar a depres
são, ele perde toda a capacidade de reagir ao bom
humor e pode ressentir-se da alegria dos que o cer
cam.
(3) O choro. Sintoma freqüente dos deprimidos é a
tendência involuntária para o choro. Até mesmo
aqueles que não têm chorado há anos podem
debulhar-se em lágrimas ou desejar chorar mas sem
o conseguir. Uma mulher admitiu: "Sempre posso
perceber quando vou ficar deprimida— ponho-me a
chorar."
(4) Hostilidade. Como veremos em capítulo pos
terior, todo caso de depressão inclui o componente
da raiva, pelo menos nos estágios iniciais. A princí
pio é dirigida à pessoa que o rejeitou e o insultou.
Mais tarde volta-se contra si mesmo porque foi ele
quem causou a rejeição. Não é incomum ouvir uma
pessoa deprimida murmurar: "Odeio a mim
mesma”, ou "Estou desgostosa comigo mesma."
(5) Irritação. As pessoas passivas irritam-se facil
Sintomas da depressão 27
mente, de modo especial por aqueles que têm ener
gia e vitalidade. Têm ressentimento dos indivíduos
que se sentem bem, resistem àqueles que as tentam
ativar, e podem reagir violentamente aos barulhos
rotineiros do trabalho de casa. A música, que geral
mente as acalma, pode produzir desconforto. Podem
ficar irritadas até com a solicitude dos amigos, por
que não se sentem dignas de que alguém lhes dedi
que tempo e atenção.
(6) Ansiedade, medo e preocupação. Os senti
mentos de solidão e desespero que aumentam du
rante a depressão diminuem o limiar do medo. Tudo
se transforma em desculpa para a preocupação. O
indivíduo ficará com medo de ser deixado sozinho,
emborapossa difarçá-lo. Fugirá do passado e temerá
o futuro. A apreensão da morte também é comum.
(7) Desesperança. A maioria das pessoas deprimi
das são tomadas pelo sentimento da desesperança.
Sentem-se presas pelas curcunstâncias que acarre
taram a depressão e não conseguem ver uma saída.
Seu passado está cheio de rejeição e sofrimento
profundo; seu presente torna-se em angústia perso
nificada, e sua visão sombria do futuro não vislum
bra nenhuma solução. A menos que alguém possa
injetar esperança no seu modo de pensar, a depres
são gradativamente tornar-se-á pior. A lamentação
"Estou totalmente desanimado”, e "não vejo espe
rança alguma!" é típica da sala de aconselhamento.
CAPÍTULO QUATRO
CICLOS DA
DEPRESSÃO
HUMOR E CICLOS DA DEPRESSÃO
CAU SAS DA
DEPRESSÃO
No capítulo quatro recapitulamos algumas das
causas gerais da depressão de acordo com as déca
das da vida. É óbvio que aqui não estão incluídas
todas as razões que até mesmo a pessoa normal pode
dar para sua depressão. Certo número de causas
específicas aparecem dentro de cada década. Além
disso, todos têm um ritmo de amadurecimento dife
rente; conseqüentemente, o padrão geral sugerido
naquele capítulo pode ocorrer antes ou depois da
década mencionada, ou com um pouco de sorte o
indivíduo pode evitar esse estágio totalmente.
A depressão quase sempre é causada por alguma
experiência externa. Por isso é muito útil tomar co
nhecimento de algumas das causas mais comuns do
problema para que quando ocorrerem em sua vida, a
pessoa não precise ser tragada pela depressão po
tencial. Tanto quanto possível tentaremos fazer uma
lista delas na ordem de sua importância e ocorrên
cia.
(1) Desapontamento. Das centenas de casos de
depressão que examinei, todos eles, sem exceção,
começaram com o desapontamento ou com uma ex
periência desagradável. Ninguém se torna depri
48 Como vencer a depressão
mido quando tudo vai bem. Mas viver é experimen
tar o desapontamento de que alguma coisa ou al
guém não saiu como esperávamos.
Quase tudo pode causar desapontamento. A de
pressão de certa mulher começou quando sua ro
seira de estimação morreu. A depressão de outro
indivíduo ocorreu por causa de uma irritação da
parte de sua esposa enquanto fazia as compras de
Natal. Muitos pais se tomam deprimidos por causa
das notas baixas de seus filhos, e alguns filhos ficam
deprimidos por causa da reação negativa de seus
pais às suas notas.
Uma das fontes mais comuns de desapontamento
na vida é as pessoas. Por causa da pressão, exaustão
física, ou uma dezena de outras razões, elas podem
tomar-se irritadiças, descuidadas ou mdes em cer
tas ocasiões. Se o amor que tivermos por nós mesmos
for maior que o amor pelo indivíduo que nos insulta,
ofender-nos-emos, ficaremos descontentes, e cami
nharemos rapidamente em direção ao desânimo,
que é o primeiro estágio da depressão. Se acariciar
mos e contemplarmos a ferida ou o insulto o tempo
suficiente, isso trará aborrecimento e finalmente o
desespero.
Quanto mais importante for o objeto do insulto,
tanto maior será o desânimo. E por ser a necessidade
de amor tão grande em todos nós, segue-se que a
maior fonte de desânimo é a rejeição de alguém que
amamos. A raiz do problema daqueles que estão em
desespero é quase sempre a rejeição da pessoa que
eles mais amam.
O objeto amado que com mais freqüência desen
cadeia a depressão nos filhos é o pai. Quer a pers
pectiva da criança seja real ou imaginária, uma vez
que ela suspeita que seus pais não a aprovam, ou
pior ainda, que desejam que ela nunca tivesse nas
cido, ela se toma num candidato à depressão. O
encorajamento amoroso com ampla administração
de disciplina, quando necessário, é o investimento
Causas da depressão 49
mais proveitoso que o pai pode fazer na vida de seu
filho.
A solidão não é causa da depressão, mas sim re
sultado dela. O indivíduo que foi rejeitado por seu
objeto de amor, ou que foi separado dele pela morte,
mergulhará na solidão que produz a depressão. Esta
dor psíquica causada pelo vazio da solidão só pode
ser curada pelo amor de outra pessoa. Infelizmente,
a pessoa deprimida geralmente se afasta das pes
soas; estas, por sua vez, estão tão interessadas con
sigo mesmas que têm a tendência de serem insensí
veis às necessidades de amor dos outros.
(2) Falta de auto-estima. Outra característica
quase universal da pessoa deprimida é a falta de
auto-estima. Infelizmente, esta dificiência muitas
vêzes é exagerada até ao extremo, porque as ex
pectativas irreais da pessoa a tornam incapaz da
auto-aprovação. Isto é particularmente verdadeiro
no que se refere ao indivíduo perfeccionista, que
nunca está totalmente contente com suas realiza
ções.
Um dos meus filhos é pianista excelente. Execu
tou seu primeiro solo de piano no culto verspertino
de nossa igreja quando tinha treze anos de idade;
fiquei elevado com a execução dele e, como é de
esperar, muito orgulhoso. Depois do culto dei-lhe
um abraço bem forte e exclamei:
— Lee, você tocou maravilhosamente!
Ele nem sequer esboçou um sorriso.
— Não é verdade— respondeu. — Errei uma
nota!
Para ele, errarumanotaem500 significava fracas
sar. Tudo depende do modelo que cada um tem para
si.
"Estou desgostoso comigo mesmo" ou "Eu nunca
chegarei a ser nada" são exclamações típicas dos
deprimidos. Esta tendência induzida pelo tempe
ramento é tão importante que dedicaremos a ela um
capítulo inteiro mais adiante.
50 Como vencer a depressão
(3) Comparações injustas. Compararmo-nos com
pessoas que levam vantagens sobre nós é convidar a
depressão. O descontentamento com o que você
possui e é faz com que seus pensamentos se intro
vertam e isso gera depressão. A maioria das vezes, é
claro, você faz comparações injustas, como relacio
nar sua deficiência com a fortaleza do outro. Fazer
comparações é particularmente desaconselhável
porque você não conhece as fraquezas das outras
pessoas, e deste modo sua inveja fixa seu interesse
quase que exclusivamente em seu descontenta
mento.
Especialmente perigosas são as comparações de
bens materiais. O rei Davi sabiamente admitiu: "Eu
tinha inveja... ao ver a prosperidade dos ímpios"
(Salmo 73:3). É compreensível que queiramos ter o
senso de humor cativante ou o calor pessoal que
certo amigo nos inspira, mas não devemos ter inveja
de suas posses, popularidade, talentos ou aparência.
O homem sábio obedece à admoestação: "...
contentai-vos com o que tendes" (Hebreus 13:5),
(4)Ambivalência. Alguns psiquiatras, entre eles o
Dr. Ostow, consideram a ambivalência como "a
causa mais comum que precipita a depressão". Ele
define a ambivalência como "a sensação de estar
capturado, isto é, ser incapaz de remediar uma si
tuação intolerável".1Na tentativa mental de fugir à
situação presente, o indivíduo pode cair na ambi
valência, adotanto uma posição entre o amor e o ódio
— uma atitude de indiferença.
Sentir-se capturado não somente é uma das cau
sas da depressão, mas também uma das causas
maiores dos divórcios. Por exemplo, se um casal, por
causa de gravidez, é forçado a casar-se, o jovem
marido ou a jovem mãe pode sentir-se como que
preso em uma armadilha, e o período de ambivalên
cia que se segue pode culminar em ira. Muitos ca
sais que não experimentam esse trauma no casa
mento, ainda assim sentem-se "capturados”. Ter
Causas da depressão 51
muitos filhos no início da vida conjugal, a falta de
habilidades vocacionais, ou suportar grandes pesos
de responsabilidade pode criar depressão ambiva
lente que se transforma em animosidade crescente
para com todos aqueles que, segundo a perspectiva
deles, construíram a armadilha. No casamento, é
claro que essa pessoa é o parceiro. Na adolescência,
o pai leva a culpa da ira do jovem que se sente
"capturado" pela escola, autoridade ou responsabi
lidade.
A mulher com capacidade profissional, que fica
restringida ao lar, principalmente quando os filhos
estão em idade pré-escolar, sente-se capturada. Sua
situação torna-se particularmente difícil se ela tiver
experiência no mundo dos negócios e gostar desse
desafio. Por não receber nenhum estímulo do tra
balho de casa, do cuidar dos filhos, ela pode
sentir-se capturada pelas próprias pessoas que mais
ama.
A ênfase moderna da liberação feminina e do pro
fissionalismo para as mulheres pode complicar se
riamente este problema. Quando perguntei a uma
mulher: O que você faz? Ela respondeu um tanto
tristemente: "Qh, sou dona-de-casa e mãe, nada
mais!" Com o crescimento rápido desta atitude, hoje
em dia, podemos esperar que a depressão aumente.
Na realidade, quando considerado à luz de uma vida
toda, o que poderia ser melhor do que ser uma "sim
ples dona-de-casa e mãe", ou um marido e pai?
Valores mentais defeituosos inevitavelmente levam
à depressão.
(5) Doença. Todos têm seu ponto crítico. Já vimos
que algumas pessoas podem suportar circunstâncias
de maiores pressões ou que produzem mais depres
são do que outras, Mas qualquer que seja seu limite
de tolerância à depressão, será diminuído pela
doença. Longos períodos de doença tornam o indi
víduo ainda mais vulnerável, e os efeitos colaterais
de algumas drogas podem ampliar o problema. Q
52 Como vencer a depressão
Dr. Ostow explica este dilema mais detalhada
mente:
"Alguns dos fatores que podem desencadear a
depressão são inteiramente orgânicos. Por exemplo,,
os indivíduos que sofreram de hepatite infecciosa
poderão descobrir que, a despeito de sua boa recu
peração física, sofrem de profundo esgotamento
nervoso que os deixa não somente inertes, mas
muitas vezes, deprimidos. A mononucleose infec
ciosa também se faz acompanhar de uma tendência
à depressão, se bem que menos pronunciada. A de
sordem cerebral, chamada doença de Parkinson,
geralmente tem a depressão como um dos seus com
ponentes. As drogas também podem ter efeito de
pressivo. Por exemplo, a droga chamada reserpina é
geralmente receitada para pressão alta. É eficaz
para baixar a pressão sangüínea, mas em indivíduos
predispostos, pode precipitar a depressão clínica.
Por causa dessa tendência depressiva, ela funciona
como verdadeiro tranquilizante e pode ser usada no
tratamento da esquizofrenia, por exemplo. Outros
verdadeiros tranqüilizantes quando administrados
por qualquer motivo, podem também acarretar a
depressão.
Além disso, quando a pessoa está fraca ou debili
tada pela doença, as coisas que de ordinário não a
incomodariam têm a tendência de ampliar-se de
forma indevida. Provavelmente é mais fácil cair na
atitude de autocomiseração durante uma doença do
que em qualquer outra ocasião.
(6) Funcionamento biológico anormal. Muitas
autoridades atribuem grande número de depressões
a funcionamentos anormais biológicos ou glandu
lares. Uma tireóide anormal geralmente é a primeira
coisa a ser considerada; outros discordam e afirmam
que a depressão é ocasionada por uma reação inde
vida a alguma experiência traumática. Os que ad
vogam este ponto de vista insistem em que só em
raros casos a depressão tem causa biológica. Não é
Causas da depressão 53
difícil encontrar peritos em ambos os lados.
Por algumas pessoas deprimidas reagirem favo
ravelmente à medicação, presume-se que seu pro
blema era devido a uma função orgânica anormal.
Alguns sugerem mesmo a possibilidade de desor
dem química no cérebro. Um médico amigo meu
disse que muita pesquisa está sendo feita nesta área,
e portanto é cedo demais para ser dogmático.
Mesmo que se possa estabelecer relação entre as
funções anormais biológicas e a depressão, essas
descobertas não provarão se o funcionamento anor
mal foi espontâneo ou causado por um padrão de
feituoso de pensamento. O padrão defeituoso de
pensamento pode induzir mudanças prejudiciais na
operação do organismo e assim afetar a delicada
química do corpo e o equilíbrio hormonal. Por isso as
pessoas com casos sérios de depressão deveriam
consultar seu médico. Seguindo as recomendações
médicas e usando os padrões de pensamento que
este livro traz, até mesmo aqueles cuja depressão
pode ser atribuída a problemas físicos podem ser
ajudados,
(7) Depressão após o parto. Praticamente todo
livro sobre depressão, hoje, inclui o problema da
depressão após o parto. Até a mãe jovem e sangüí-
nea pode experimentar a depressão logo depois do
nascimento de um filho, muitas vezes por causa da
exaustão emocional que se segue ao parto. Em graus
variados a mãe tem consciência de que por nove
meses uma vida nova está crescendo dentro dela. De
repente se encontra vazia, e além disso sofre a pres
são de uma maneira nova de viver. Saber que a
sensação de abatimento ou exaustão é normal e logo
passa deveria trazer conforto para a vítima da de
pressão de pós-parto. Mais uma palavra de precau
ção relativa a este assunto: a mãe pode escapar desta
experiência com o primeiro filho mas enfrentá-la
com o segundo ou terceiro.
O melhor remédio que conheço para a depressão
54 Como vencer a depressão
após o parto é o cuidado amoroso e temo do pai do
bebê. Se ele for um jovem maduro e amar sua esposa
mais do que a si mesmo, ele cobrirá sua esposa
esgotada emocionalmente, de paciência, amabili-
dade e afeição. A esta altura ela pode estar irritada,
pode ser irracional, e viver com ela não é fácil. E
mais difícil ainda será amá-la; mas o esposo deve
lembrar-se de que fez sua contribuição para que ela
ficasse neste estado e devia então procurar animá-la
e dar-lhe autoconfiança. Por causa disto eu geral
mente insto que o jovem pai tire uma semana de
férias por ocasião do nascimento do nenê e
devote-se ao cuidado de sua esposa. Tal investi
mento de amor traz dividendos maravilhosos no fu
turo. Muitas mulheres que têm tendência de ressen
tir a solicitude de seu marido na primeira ou se
gunda semana chegam a apreciá-la depois que a
depressão desaparece. Como disse certa mulher:
"Tratei-o como um cão logo depois do nascimento
do bebê, porém mais tarde compreendi quão mara
vilhoso ele foi.”
Acredite se quiser, algumas mulheres gostam de
estar grávidas! Eu disse isso para uma mãe de seis
filhos, que me respondeu: "Você deve estar brin
cando!" Não, não estou brincando; algumas mu
lheres se deliciam com a atenção recebida quando
"pesadas”. Entretanto, depois do parto quem recebe
toda a atenção é o bebê. Algumas mulheres com
tendência à depressão, levadas por um sentimento
de vazio, têm deleite no sentimento de estarem
"cheias” que experimentam durante a gravidez,
mas depois do parto mergulham-se num sentimento
de vazio. Tais mulheres criam problemas severos
para si mesmas por causa de seus padrões de pen
samento defeituosos.
(8) Hiperatividade mental. A pessoa ativa e pro
dutiva ocasionalmente enfrenta uma forma de de
pressão um tanto estranha durante a quinta ou sexta
década da vida. Por não ter natureza propensa à
Causas da depressão 55
depressão, ela tem grande dificuldade em lidar com
o problema. Ainda não se escreveu muito a respeito
do assunto, mas recentemente ele tem recebido
bastante atenção. Quando o indivíduo ativo e colé
rico chega à quinta ou sexta década de existência,
seu estilo de vida encontra-se tão cheio de detalhes,
promoções e energia que lhe é difícil descansar
mentalmente. Os pensamentos parecem entrar em
curto-circuito, e pela primeira vez seu poder de con
centração começa a falhar. Esta é uma experiência
enervante para a pessoa segura de si. Ao reagir com
mal-estar e frustração por não poder concentrar-se
em um assunto importante, ela não consegue com
preender que quanto mais lutar consigo mesma e
antecipar o problema, tanto mais longo ele será. Se
não aprender métodos eficazes para administração
do tempo e assuntos pessoais, poderá continuar au
mentando severamente esse estado de curto-
circuito.
Um sintoma comum desse tipo de depressão é a
irritação repentina sem causa aparente. Certo pai,
ao chegar a casa após o trabalho, casa de que sempre
ele gostou, e ver os filhos que sempre amou, de
repente tomou consciência do barulho e da bagunça
deles. Reagindo com hostilidade e ira, falou aspe
ramente com os filhos e depois foi para o quarto
refletir sobre seu comportamento inusitado. "Que
tenho de errado?" ele se perguntou. "As crianças
sempre agiram assim. Por que estou reagindo tão
asperamente agora?"
Alguns médicos acham que o problema é causado
por uma mudança hormonal ou química do corpo, o
que é bem possível. Mas o que ainda não se resolveu
é se a atividade mental intensa da pessoa faz com
que o cérebro não descanse adequadamente, por
isso reagindo dessa maneira e estabelecendo, por
sua vez, uma reação em cadeia com as glândulas, as
quais poderíam criar o desequilíbrio hormonal ou
químico. De qualquer forma, tal depressão geral
56 Como vencer a depressão
mente reage bem aos medicamentos. Um médico
tratou mais de quinhentos pacientes nesse estado
com uma forma suave de dilanten, que segundo seu
parecer é a melhor forma de tratamento. De fator ele
disse que ele mesmo estava tomando esse medica
mento e que os resultados eram bons. Alguns médi
cos receitam um tranqüilizante para inverter a sín-
drome de atividade imediatamente e depois suge
rem uma redução do horário de trabalho, e enfati
zam as atividades de lazer como medicação suple
mentar. A maioria das pessoas com tendência à hi-
peratividade, entretanto, preferem tomar remédios
para que possam manter seu esquema de trabalho.
(9) Rejeição. Com o risco de tomar-me demasia
damente repetitivo, gostaria de enfatizar a tre
menda necessidade de amor de todo ser humano.
Quando essa necessidade não é suprida, as pessoas
usam a depressão como escape. Depressão tal co
meça cedo para a criança não desejada e que teme a
rejeição de seus pais. Ocorre entre os adolescentes
que se sentem rejeitados pelo grupo, as esposas que
percebem a rejeição de seus maridos ou das mulhe
res que elas admiram. Os homens experimentam tal
depressão quando perdem a afeição de sua esposa,
perdem seu emprego ou são traídos por um amigo
em quem confiavam. Muitas vezes a depressão é
muito maior do que a rejeição, especialmente
quando o indivíduo se concentra na injustiça da
rejeição e na solidão resultante.
(10) Metas inadequadas. No capítulo sobre a de
pressão, do meu livro Temperamento Controlado
Pelo Espírito, escrevi: "Há um relaxamento psicoló
gico natural sempre que um grande projeto é termi
nado." Faz oito anos que escrevi isso, e agora acho
que o problema se relaciona com metas inadequa
das.
O homem é uma criatura que claramente luta por
um ideal. Sem ideais ele cessa de lutar, mas sempre
que nossa meta primária consista em um projeto,
Causas da depressão 57
depois de consegui-lo, inevitavelmente experi
mentaremos decepção. Por causa disso todo mundo
devia ter metas a curto e a longo prazo, e sempre
deveria aumentar seus ideais. As pessoas extrema
mente idealistas raramente ficam deprimidas. Antes
de terminar um projeto, inventam mais três! Pode
riamos aprender com elas: nunca permitir um vácuo
mental. Pelo contrário, cultivar a arte de fixar metas.
Certa mulher, dada à autocomiseração, costu
mava lamentar-se: "Não tenho nada por que lutar."
É óbvio que ela estava gastando tempo demais pen
sando acerca de si mesma. E o fato de o mundo estar
cheio de pessoas problemáticas e tristes é prova
suficiente de que muitos indivíduos têm falta de
metas que valham a pena.
METAS QUE VALEM A PENA
Nunca se conforme com metas de segunda cate
goria ou que sejam egoístas. Earl Nightingale, que
provavelmente ajudou a motivar mais gente que
qualquer outra pessoa, diz que as pessoas que de
sejam sucesso jamais deviam tentar ficar ricas.
Acima de tudo, fixe metas para si mesmo nas quais
esteja incluída a ajuda ao próximo; as riquezas se
guirão. Assim fazendo, a pessoa terá apreendido o
princípio bíblico: "Dai e ser-vos-á dado”. As pes
soas mais ricas que conheço são aquelas que se
deram a outras pessoas. Motivação como essa afe
tará a maneira de você vender, cozinhar, ensinar ou
desempenhar sua profissão. As riquezas verdadei
ras, é claro, não têm relação alguma com o dinheiro
ou recompensa material. De fato, se a pessoa ganhou
dinheiro sem ajudar outros, seu dinheiro não lhe
trará felicidade.
Um amigo meu, corretor de imóveis bem sucedido
e perspicaz, observou que uma casa grande nunca
trazia felicidade. Mas se as pessoas compravam uma
casa grande com o dinheiro que ganharam em aju
dar outras pessoas, geralmente gostavam dela. Ele
58 Como vencer a depressão
expressou sua filosofia caseira nestas palavras: "Em
vez de ser um símbolo de status, a casa devia ser a
expressão da ajuda que a pessoa foi para o pró
ximo." De uma coisa tenho certeza: as pessoas feli
zes possuem metas fortes, e de alguma forma a ajuda
aos outros está incluída aí. E elas podem ter certeza
de que nunca faltará gente que necessite de ajuda.
RESUMO
A depressão não acontece simplesmente. Sempre
tem uma causa. Mesmo no caso da depressão após o
parto, quando parece não haver causa explicável, é
o nascimento da criança que a acarreta. Por mais
básicas e comuns que estas dez causas sejam, elas
não são realmente as verdadeiras causas da depres
são, porque muitas pessoas enfrentaram todos estes
problemas sem ficarem deprimidas. Por que é que
algumas pessoas escapam do problema enquanto
outras são tragadas por ele? Na verdade, algumas
destas causas da depressão não são causas, são des
culpas para a depressão. Estas causas são para a
depressão o que o merengue é para a torta. Dá boa
aparência e bom paladar, mas o merengue não é
substituto para a torta. Estas razões, então, são me
ramente a capa do problema real, que será analisado
nos próximos três capítulos.
CAPÍTULO SEIS
HÁ CURA PARA A
DEPRESSÃO?
O homem vem fazendo sérias tentativas para
curar a depressão há 2500 anos. Nestes últimos tem
pos a ciência médica e os estudos motivacionais do
mecanismo da mente humana têm produzido tenta
tivas bastante significativas para remediar o pro
blema, mas se estas curas são realmente válidas, é
assunto de controvérsia entre especialistas igual
mente competentes.
As três tentativas mais populares para a cura da
depressão, hoje, são a terapia do medicamento, a
eletroterapia e a psicoterapia. Cada método tem
seus adeptos leais, e alguns analistas usam combi
nações de dois ou três métodos. Examinaremos um
de cada vez e, além disso, daremos maior atenção ao
que creio ser o melhor — a terapia espiritual. Deve
mos nos lembrar que o tratamento para a depressão
depende muito de sua causa, dos recursos da pessoa
a quem se recorre, e da gravidade da depressão.
TERAPIA DO MEDICAMENTO
Desde o início da história escrita o homem tem
usado drogas numa tentativa de ajudar as pessoas
60 Como vencer a depressão
deprimidas. "Há mais de 2000 anos Hipócrates re
ceitava heléboro para os doentes emocionais.''1
Antes disso os chineses já usavam efedrina para
desordens nervosas. A literatura médica relata que
muitas das civilizações mais antigas já usavam
ópios, ervas, e extrato de outras plantas e grãos por
causa de seus efeitos sedativos. E interessante notar
que os curandeiros das culturas primitivas utiliza
ram extrato das folhas de cacau, raiz de mescal e
semente de papoulas, por terem efeitos alucinóge
nos, na neutralização da dor ou da letargia da ansie
dade ou dos estad os depressivos. Drogas muito mais
sofisticadas são fabricadas quimicamente pelos la
boratórios como resultado de investigações e expe
riências minuciosas. A maioria das drogas corren
temente receitadas pelos médicos foram introduzi
das no mercado em 1955. O Dr. Mortimer Ostow,
neurologista e psiquiatra de Nova Iorque, diz o se
guinte a respeito da terapia do medicamento: "Na
década passada conseguimos uma nova arma para o
tratamento da doença depressiva, a saber, as drogas
antidepressivas. Essas drogas não são realmente
antagônicas aos processos psicológicos associados à
depressão, mas unicamente ao esgotamento das
energias psíquicas. Os medicamentos antidepressi-
vos podem ser considerados como excitantes psíqui
cos. Depois de inverter a depressão através das dro
gas, entretanto, a ambivalência na relação analítica
do objeto continua, mas não pode provocar esgota
mento ou deficiência de energia.
"Entre as vantagens da terapia do medicamento,
podemos citar as seguintes.. . pode ser usada
mesmo com pacientes que se sentem tão mal que
não podem cooperar com a psicoterapia... o pa
ciente geralmente consegue um alívio depois de
quatro a seis semanas de medicação diária. (Tem
sido recentemente observado que ao se adminis
trarem os medicamentos por injeção nos primeiros
dias, obtém-se o resultado terapêutico dentro de
Há cura para a depressão? 61
dias, em vez de semanas.) A terapêutica por medi
camento pode prolongar-se, até onde sabemos, in-
definidamente. Comparada com a psicoterapia, é
muito menos dispendiosa. Pode ser usada no trata
mento de grande número de pacientes para os quais
a psicoterapia não traria proveito. Depois de alguma
prática, os médicos de clínica geral e os de doenças
internas aprendem a usar estas drogas e, portanto,
são capazes de cuidar de seus pacientes deprimidos
sem precisar remetê-los aos psiquiatras.
"Entre as desvantagens da terapia de medica
mento podemos enumerar as seguintes: Não faz
nada para remediar a dificuldade do paciente nas
relações objetivas. Não ajuda na melhoria do rela
cionamento familiar. Dá ao paciente o falso senti
mento de que seus problemas foram resolvidos e, às
vezes, de que até mesmo ele é "supemormal"; por
tanto, mui amiúde faz com que os pacientes deixem
de submeter-se à psicoterapia, que na maioria das
vezes é urgentemente necessária. As drogas têm
efeitos colaterais que podem ser aflitivos, tornando o
tratamento impossível, e algumas delas possuem
alto grau de toxicidade. Talvez quinze ou vinte por
cento dos pacientes não reagem à terapia do medi
camento. Se as relações objetivas continuarem a
deteriorar-se e a gerar maior grau de ambivalência,
isso põde anular o efeito do medicamento e o pa
ciente pode recair. Pelo fato de o esgotamento da
energia psíquica evitar o isolamento psicótico, a
administração de medicamentos excitantes pode
precipitar a psicose esquizofrênica.
“Os medicamentos antidepressivos, evidente
mente, não oferecem a solução ideal para a depres
são. Por levarem de quatro a mais semanas antes de
produzirem efeito, quando tomados oralmente, dei
xam os pacientes expostos ao risco do suicídio nesse
meio termo. A dose efetiva não pode ser determi
nada antecipadamente. Assim, o médico tem de es
colher entre começar com uma pequena dose e, gra
62 Como vencer a depressão
dualmente aumentar de maneira a evitar os efeitos
colaterais, ou começar com uma boa dose para ace
lerar o efeito, e com isso correr o risco de provocar
efeitos colaterais. Algumas vezes os efeitos são tão
angustiosos que o paciente se recusa a tomar o me
dicamento."*
O problema com as anfetaminas é que elas viciam.
De fato, elas são drogas que podem ser conseguidas
com maior facilidade e que, em grande parte, res
pondem pelo aumento do abuso das drogas na dé
cada passada. O nível de imunidade natural do
corpo reage a esta droga, de modo que é necessário
aumentar a dose para conseguir os mesmos efeitos.
Além disso, a alegria "elevada" que as anfetaminas
produzem é seguida de uma equivalente "melanco
lia" que, não é de surpreender, leva o indivíduo a
uma depressão pior do que tinha quando começou a
tomar o medicamento.
O Dr. Leonard Cammer, outro psiquiatra, é a favor
da eletroterapia e até certo ponto critica a terapia do
medicamento. Em seu livro Up From Depression
(Para Fora da Depressão) ele afirma: "Medicamento
nenhum produzirá exatamente o mesmo resultado
em todas as pessoas. A aspirina pode aliviar a dor de
cabeça em alguns casos. Em outros, pode irritar o
estômago e produzir acidez ; ou pode também pro
duzir zumbidos no ouvido. Esses dois últimos sinto
mas são efeitos secundários.
"Os antidepressivos, os tranqüilizantes e os medi
camentos estimulantes, todos eles poderosos com
postos químicos, podem desencadear vários efeitos
colaterais em pessoas diferentes, ou na mesma pes
soa em ocasiões diferentes. A maioria desses efeitos
não é grave. Por exemplo, um antidepressivo pode
fazer com que a pessoa transpire, aumente a secura
da boca, tenha uma leve constipação e embaça-
mento da vista. Embora estes efeitos colaterais pos
sam ser molestos, não são graves.
"Mas se a sensibilidade peculiar da pessoa à
Há cura para a depressão? 63
droga produzir efeitos colaterias mais sérios? Talvez
perigosos? Embora a incidência de tais sensibilida
des permaneça pequena, pode ocorrer. Por exemplo,
algumas drogas podem elevar ou abaixar a pressão
sangüínea quando combinadas com álcool, certos
alimentos ou outros medicamentos. Ainda outras
podem destruir os glóbulos sangüíneos e deixar a
pessoa exposta a infecção, problema de fígado, e
outras complicações. Em realidade, nada disto pre
cisa ser levado a proporções sérias se seu parente
estiver fazendo tratamento para a depressão em que
se usam drogas, contanto que permaneça sob cui
dado e observação médicas."3
O relatório do Dr. Cammer diz que somente trinta
e cinco por cento daqueles que sofriam de depres
sões agudas foram curados pelas drogas.4A maioria
dos relatórios que me chegaram às mãos indica que
a terapia por medicamento tem dado pouco resul
tado positivo.
ELETROTERAPIA
Durante a década dos quarenta e cinqüenta o
método mais em voga para o tratamento da depres
são foi o do eletrochoque. O Dr. Mortimer Ostow,
que parece ser a favor da terapia do medicamento,
observa: "Até ao advento das drogas antidepressi-
vas, o único tratamento orgânico para a depressão
melancólica era o que chamamos de terapia do ele
trochoque. Neste tratamento, administra-se um
choque elétrico leve ao cérebro, produzindo uma
convulsão instantânea, o que causa amnésia tem
porária. A administração corriqueira desse trata
mento inclui de três vezes por semana até um total
de cinco, dez ou vinte tratamentos. Com a continua
ção do tratamento a amnésia torna-se mais e mais
intensa. Os medicamentos excitantes têm substi
tuído o tratamento por choque elétrico em grande
medida, se bem que a substituição é mais completa
em algumas instituições do que em outras."* Anali
64 Como vencer a depressão
semos a avaliação do Dr. Cammer do tratamento por
choque elétrico:
"A abundância de evidências registradas e as ex
periências confirmadas têm mostrado que o trata
mento por choque elétrico, de acordo com as normas
médicas reconhecidas, é considerado um procedi
mento seguro. Isto é especialmente verdadeiro
quando ministrado por psiquiatra treinado e com
petente que pode avaliar a condição de seu paciente
e estar preparado para lidar com qualquer contin
gência que surgir durante o tratamento. Eu, como
muitos outros psiquiatras, prefiro ter a assistência de
um anestesista. Em minha opinião, isto assegura
recuperação tranqüila do tratamento.''6
Para o leigo em medicina o tratamento por choque
elétrico parece apavorante. Por isso, numa tentativa
de ser imparcial, ampliarei a apresentação favorável
do Dr. Cammer, a fim de especificar os meios pelos
quais o tratamento é administrado.
"Os tratamentos podem ser administrados a qual
quer hora do dia, desde que o paciente não tenha
comido nada por quatro horas ou mais.
"Ele ou ela deve estar reclinado numa cama con
fortável. No consultório do médico, podem-se usar
roupas normais, mas devem ser afrouxadas.
Devem-se tirar os sapatos.
"Então, injeta-se na veia um barbitúrico de ação
rápida; isto faz com que o paciente durma em dez
segundos. Deste ponto em diante o paciente não
sente mais nada e permanece dormindo até depois
do tratamento. (Embora muitas pessoas não gostem
da idéia de serem "apagadas", muitos pacientes
dizem que a sensação de pegar no sono rápido e
suavemente é agradável, possivelmente porque ex
perimentam um alívio instantâneo da dor mental.)
"Depois da injeção para dormir, aplica-se outro
preparado químico chamado succinilcoline. Este é
um remédio relaxante que elimina todas as contra
ções musculares fortes. Os músculos levam de vinte
Há cura para a depressão? 65
a trinta segundos a fim de relaxarem-se o suficiente
para o tratamento.
"Agora o paciente respira oxigênio puro através
de uma máscara facial. Isto assegura a oxigenação
total de todos os tecidos do corpo. Ao mesmo tempo,
uma corrente elétrica de amperagem extremamente
baixa, aplicada às têmporas por um segundo ou
menos, fornece o estímulo para a descarga neural
que desencadeia o processo da cura.
"O paciente continua dormindo durante todo esse
processo.
"O tratamento todo é indolor, exceto pela picada
da primeira injeção. A duração da aplicação do pro
cesso é de cerca de dois minutos.
"A fase de recuperação vai de dez a quinze minu
tos, mas algumas vezes pode durar menos. Nos pri
meiros minutos, desaparece o efeito da anestesia e
do relaxante muscular. Depois (em questão de dez
minutos) a descarga posterior e o sono profundo do
estímulo elétrico dão lugar a um sono leve.
"Passados uns dez ou vinte minutos o paciente
acorda, mas sente-se um pouco zonzo. Logo ele re
conhece o lugar onde está e também as pessoas que
o cercam. Então ele pode sentar-se. Gradativa
mente, o sentimento de tontura desaparece e outra
vez ele consegue orientar-se. Em ocasião alguma ele
ou ela lembra-se do tratamento.
"O processo todo, do começo ao fim, levou cerca
de uma hora. Agora o paciente pode ir para casa. Se
o tratamento foi feito no hospital ele volta para seu
quarto.’'7
As duas reclamações mais frequentes dos pa
cientes de eletrochoque é que experimentam a
perda de memória e temem que o processo seja
prejudicial ao cérebro. O Dr. Cammer tenta dissipar
esses temores dizendo: "Não encontrei evidências
clínicas ou estudos convincentes que confirmassem
que o eletrochoque prejudique o cérebro. Depois do
uso extensivo, através do mundo todo, por mais de
66 Como vencer a depressão
trinta anos, está claro que na grande maioria dos
casos o eletrochoque beneficia a pessoa. Através do
tratamento a pessoa toma-se racional e bem. Mas se
me perguntarem se o eletrochoque altera a função
do cérebro, a resposta é sim. Quando o cérebro é
estimulado pela eletricidade ou substâncias quími
cas nas doses requeridas e na duração recomen
dada, o tratamento modifica claramente a atividade
cerebral, mas para melhor. Deveras, é aplicado a fim
de criar reações que são partes dessa modificação.
"Se há quaisquer efeitos colaterais permanentes
nos tecidos do cérebro como resultado do eletrocho
que, esses não podem ser demostrados por testes de
confiança. É óbvio para mim que a aplicação elétrica
e química no cérebro produzem efeitos estimulantes
que ajudam a pessoa deprimida a retornar à sua
função normal.”8
Atualmente, um número crescente de médicos
está-se desencantando com o eletrochoque. O Dr.
Cammer, entretanto, diz que ele ainda é usado “em
grande escala, a despeito da moda corrente da tera
pia por medicamento e do caso em que se usam
drogas. Deveras, pelo advento das drogas ter trazido
consigo muitas complicações sérias, temos visto
uma volta generalizada ao eletrochoque, como o
método mais seguro, mais fidedigno e eficaz para o
tratamento das depressões incapacitadoras. A evi
dência clínica é conclusiva: comparado à estatística
de trinta e cinco por cento da recuperação através de
drogas, o eletrochoque consegue melhorar de se
tenta a oitenta por cento das pessoas com depressões
endógenas — o que é duas vezes melhor do que as
drogas. A média geral de melhora com o eletrocho
que nas depressões reativas e neuróticas, é quase a
mesma da terapia do medicamento, a não ser nas
manifestações muito severas, onde o eletrochoque
produz alívio mais perceptível em período de tempo
muito mais curto.”9
Não são todos os médicos que têm o mesmo entu
Há cura para a depressão? 67
siasmo pelo eletrochoque, porque aqueles que con
sultei disseram que somente recomendavam o ele
trochoque como último recurso e nenhum estava
convencido de que dava resultado em setenta a oi
tenta por cento das vezes.
FORA COM A ELETROTERAPIA
O Dr. Ronald Fieve, chefe de pesquisas psiquiátri
cas do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova Ior
que, pensa que a nova droga chamada "Carbonato
de Lítio” tomou a terapia do eletrochoque e a maio
ria das outras terapias através de medicamentos,
obsoletas. No seu relatório feito à 122.a Convenção
Anual da Associação Médica Norte-americana, ele
disse: "Já não há mais a mesma necessidade de usar
a terapaia do eletrochoque, a não ser em número
pequeno de pacientes agressivamente maníacos ou
com tendência forte ao suicídio, e muitos médicos
ainda não compreenderam isto e continuam usando
o eletrochoque ou a terapia múltipla de drogas, des
necessariamente."10 Assim a batalha prossegue na
classe médica no que se refere ao melhor método
para lidar com os deprimidos. É óbivo que homens
igualmente competentes têm opiniões que diferem.
Como conselheiro, minha observação tem sido de
que tanto a terapia do eletrochoque, como a terapia
do medicamento, não terão nenhum sucesso a não
ser que uma de duas coisas aconteça: Haja mudança
nas circunstâncias que produziram a depressão, ou o
paciente experimente mudança do padrão de pen
samento que a provocou; doutra forma, a despeito da
terapia usada, a depressão voltará com o tempo.
Uma de minhas clientes submeteu-se a
tratamento de choques em duas ocasiões diferentes,
separadas por um período de cinco anos. Aparente
mente sentindo uma recaída, ela veio procurar
ajuda. Depois de analisar o problema, descobrimos
que o tratamento de choque tinha curado somente os
sintomas, não o problema que os causava. Conse-
68 Como vencer a depressão
qüentemente, havia necessidade recorrente de mais
tratamentos. O problema dela era o de sentimento
de culpa intenso. Depois de remover sua consciên
cia de culpa, então ela pôde ter vida feliz e normal.
Ela não precisou voltar para a terceira série de tra
tamentos.
PSICOTERAPIA
Mesmo antes do dias de Sigmund Freud, a psico-
terapia era o método mais comum no tratamento dos
deprimidos. De fato, era o único método usado até
que em 1940 surgiu o eletrochoque. Para dar uma
definição simples, podemos dizer que a psicoterapia
é o "tratamento da conversa”. É o paciente depri
mido conversando, livremente, com o conselheiro. A
depressão do paciente é causada por um padrão de
pensamento defeituoso, por isso o conselheiro deve
examinar seus valores, os julgamentos que faz das
outras pessoas, a fim de ajudá-lo a compreender a si
mesmo melhor e aprender a relacionar-se adequa
damente com os outros.
Grande parte das depressões é causada pela rejei
ção ou perda de um objeto amado, e por isso o con
selheiro afetuoso e capaz de empatia pode ser um
substituto adequado para o consulente. Provavel
mente a parte mais terapêutica da psicoterapia é
que o indivíduo em desespero, que se sente rejei
tado e sem esperança, tem acesso à paciência, com
preensão e interesse do conselheiro. Se este puder
suprir as necessidades de seu paciente, o aconse
lhamento pode fornecer uma muleta muito signifi
cativa na qual a pessoa deprimida pode apoiar-se.
Entre as desvantagens da psicoteria inclui-se o
processo longo e excepcionalmente caro. A maioria
das pessoas não podem pagar uma série de sessões
psiquiátricas que custam uns bons cruzeiros por
hora. O conselheiro não-diretivo acredita que nunca
deve impor sua perspectiva ou conceitos ao indiví
duo, mas meramente servir como caixa de rèssonân-
Há cura para a depressão? 69
cia para o consulente, que deve organizar seus pró
prios princípios de vida. A psicoterapia, muitas
vezes, torna-se em exercício de futilidades porque
presume que a solução do problema do consulente
jaz dentro dele e que a tarefa do conselheiro é sim
plesmente ajudar a expô-la. Geralmente o indivíduo
não tem a resposta dentro de si. Muitas vezes sessões
prolongadas de aconselhamento não-diretivo
podem resultar em frustração tanto para o conse
lheiro como para o consulente.
A psicoterapia pode tornar-se perigosa quando o
conselheiro procura impor seus princípios ao con
sulente, que está pedindo ajuda por causa de sua
condição desesperadora. Se o conselheiro for um
indivíduo amoral e descobre que o consulente tem
problemas sérios de sentimento de culpa que cau
sam sua depressão, pode ele tentar desviar a culpa
do paciente e levá-lo a negar seus princípios morais.
Já vi o resultado de quando os valores morais do
indivíduo foram ridicularizados e atacados, e ele foi
estimulado a procurar uma maneira de vida frouxa e
amoral. Quando um conselho desses é dado por um
psiquiatra profissionalmente capaz, pode parecer
muito convincente. Infelizmente, o novo estilo de
-comportamento imoral geralmente traz um curto
período de alegria, mas em muitos casos, é seguido,
finalmente, por uma consciência esmagadora de
culpa que vai muito além do problema original.
O HOMEM POSUI UM LADO ESPIRITUAL
A forma de terapia mais freqüentemente negli
genciada pelos médicos seculares e conselheiros de
hoje é a terapia espiritual. Nosso sistema educacio
nal é totalmente secularizado e baseado no huma
nismo ateu, por isso pouca oü nenhuma considera
ção é dada a esse aspecto altamente significativo da
natureza humana. A visão secular do homem como
corpo, mente e emoções é completamente inade
quada; e o homem nunca resolverá os problemas do
70 Como vencer a depressão
homem em base permanente se não reconhecer que
isso é nulo. O homem é um ser intensamente espiri
tual, o que o distingue do resto do reino animal. A
menos que a terapia tenha remédio para sua natu
reza espiritual, ela oferecerá só resultados mínimos
ou temporários.
Todas as formas de terapia têm um princípio em
comum: a pessoa deprimida deve receber ajuda de
fora. Quer o tratamento envolva choque elétrico ou
um conselheiro, todas as terapias correntes envol
vem alguma coisa ou alguém que está fora do indi
víduo para apoiá-lo e sustê-lo. Aqueles de nós que
usamos a terapia espiritual em nossa prática de
aconselhamento, reconhecemos da mesma maneira
a necessidade desse poder externo, porque desco
brimos que é uma ferramenta poderosa para alcan
çar a pessoa total.
O diagrama seguinte ilustra as quatro partes dis
tintas da pessoal total. Homem algum pode ser com
pleto se faltar uma delas. Homem algum pode fun
cionar da melhor maneira possível se uma delas lhe
faltar. Temos bastante consciência da dimensão
mental, emocional e física, mas poucos compreen
dem a tremenda importância da dimensão espiri
tual.
Uma das grandes tragédias de nossos dias é que
humanistas ateus têm levado nossa cultura a pensar
que o homem é um animal sem dimensão espiritual
de vida, de modo que a maioria das pessoas possui
poucas reservas espirituais às quais possam recorrer
em tempos de perturbação mental, emocional e fí
sica, Em vez disso, o gigantesco vazio de Deus den
tro das pessoas complica seriamente os problemas e
impede sua recuperação.
Há cura para a depressão? 71
I I M EN TA L ESPIRITUAL 1
I 1 E M O C IO N A L FÍS IC A 1
\ /V^
/N #
O LUGAR DA IRA N A
DEPRESSÃO
A depressão é sempre resultado de uma causa
específica. O fato de o indivíduo não conhecer a
causa não elimina a realidade de sua existência. Em
seu livro The Psychology oí Melancholy (A Psicolo
gia da Melancolia), o Dr. Mortirner Ostow diz: "Ge
ralmente, mesmo nos casos dos indivíduos suscetí
veis à depressão, é necessário haver algum agente
provocante para desencadear o processo depres
sivo."1
Embora gostássemos de jogar a culpa da depres
são sobre as mudanças orgâncias ou psicológicas do
corpo humano, somos forçados a admitir realistica-
mente que ela é resultado de nossa ação a um in
sulto, desapontamento ou rejeição. O primeiro passo
da reação em cadeia que produz a depressão é a ira.
Não fique surpreso se você involuntariamente re
jeitar tal proposição. Tenho observado consistente
mente que a maioria das pessoas deprimidas não
acham que sejam iradas. Muitos indivíduos com os
quais partilhei tal idéia me contestaram, mas em
interrogatório posterior e exame mais minucioso dos
seus padrões de pensamento diante da depressão,
resolvemos que o problema era verdadeiro.
Como vencer a depressão 85
O Dr. Ostow acrescenta: "A depressão, em toda
fase de seu desenvolvimento, inclui um componente
de ira, quer seja visível ou não, quer seja consciente
ou inconsciente. Essa ira é dirigida contra o indiví
duo que devia ter demonstrado amor mas que o
desapontou. Em fases diferentes, a ira pode desper
tar o desejo de irritar, ferir ou destruir, dependendo
do grau da dor que o paciente sofre. Até mesmo a
fantasia do renascimento traz em si um componente
de ira, porque ela assevera desafiadoramente que o
paciente curará a si mesmo e que não precisa da
assistência do pai ou da mãe que o desapontou."2O
Dr. Ostow explica mais ainda o problema da ira,
como segue:
"Se estudarmos psicoanaliticamente os pacientes
que guardam hostilidade contra os filhos, descobri
remos que em cada caso o pai, ou mãe, quando
criança, teve de contender com ira intensa contra
seu próprio pai ou mãe, ou um dos seus irmãos; que
ele inventou algum tipo de manobra defensiva para
conter essa ira, tal como afeição reativa, lealdade, ou
subserviência à pessoa odiada; e que com o advento
do infante da nova geração a defesa fora destruída e
o indivíduo foi deixado uma vez mais sozinho para
lidar com essa ira assustadora...
"A hostilidade e a rejeição do pai ou da mãe cons
tituem uma ameaça séria à criança. Sentindo-se
ameçada, ela se achega mais, e esse apego inclui
componentes tanto afetivos como hostis. A intensi
dade desses sentimentos mistos torna a situação
traumática. As situações traumáticas tendem em
geral a repetir-se. A criança pode reagir a qualquer
rejeição subseqüente com apego agressivo. A
criança, quando se toma adulta, pode apegar-se a
um parceiro desleal e hostil. Como adulto, ela pode
provocar a rejeição de seu parceiro. Ou como pai, ou
mãe, ela pode repetir o mesmo padrão com seu pró
prio filho, rejeitando-o e abusando dele, assim como
foi rejeitada e abusada.''*
86 O lugar da ira na depressão
As duas emoções humanas mais poderosas são o
amor e a ira. O amor é uma emoção que produz
saúde; a ira é uma emoção que destróí a saúde.
Segue-se, portanto, que a ira é a emoção mais nega
tiva e prejudicial com a qual o homem tem de lidar.
A ira é um mecanismo de defesa natural contra o
insulto, a rejeição ou a injúria. Isso explica por que
muitas pessoas com tendência depressiva são pessoas
iradas, ou o produto de lares irados onde sofreram
abusos ou foram rejeitadas por seus pais. Tal ira não
é prejudicial apenas emocionalmente, mas também
física e espiritualmente. Estou convencido de que a
atual idade da depressão foi, em grande parte, de
terminada pela incapacidade das pessoas em lidar,
com a ira. As pessoas rebeldes e hostis dos anos 60
estão agora se tomando as pessoas com tendência à
depressão dos anos 70.
A indulgência dos filhos como resultado de falsas
noções de psicólogos behavioristas da geração pas
sada produziu uma geração de jovens irados, rebel
des, hostis e amargos, que vão da ira à depressão.
Não é nada incomum para tais indivíduos, quando
estão sendo aconselhados por causa da depressão,
finalmente dizer que antes da depressão ocorreu
alguma coisa que os havia feito ficar com raiva. É
muito útil que os indivíduos reconheçam que a de
pressão não é espontânea, mas resultado de sua ira.
O ALTO CUSTO DA IRA
Seria impossível calcular o custo imenso da ira,
tanto emocional, física como espiritualmente.
O custo emocional pode ser visto pela amargura
desnecessária que ela causa. Um artigo recente de
Seleções explicava as mortes trágicas de quatro em
pregados, e o ferimento grave de outro. O assassino
foi um tipo "Sr. Bonzinho”, a espécie de homem que
daria um bom vizinho. Aos quarenta e três anos de
idade, parece que ele "ficou biruta” e matou seus
companheiros de trabalho.
Como vencer a depressão 87
A investigação revelou que seu comportamento
estranho não fora espontâneo. Dezoito meses antes
da tragédia alguém fora promovido em seu lugar.
Sua esposa admitiu que ‘'daquele dia em diante, aos
poucos ele tornou-se um homem diferente". Não é
difícil imaginar a reação mental em cadeia que ele
experimentou. Enquanto acariciava sua raiva e se
mergulhava na amargura, recapitulando a injustiça
da ocasião, ele ficou tão perturbado emocional
mente que levou seu revólver calibre 38 para o ser
viço e atirou em cinco pessoas. Uma linha comum
unia as vítimas: todas estavam na posição de terem
participado do assunto de sua promoção. Hoje este
homem é conservado atrás das grades, longe da fa
mília a que amava. Quatro pessoas tiveram morte
prematura, e outra pode ficar paralítica a vida toda
por causa da hostilidade desse homem.
O custo físico da ira produz imenso sofrimento
humano que enche os nossos hospitais todos os dias.
O corpo humano pode suportar somente certa quan
tidade de tensão, e nada produz tanta tensão como a
ira. Quando jovens, nossos corpos podem absorver
algumas dessas hostilidades, mas ao envelhecer
mos, perdemos essa capacidade. Conseqüente-
mente, o corpo sucumbe em algumas das áreas vi
tais, causando úlcera, pressão alta, colite, artrite,
problemas cardíacos, dor de cabeça, pedra nos rins,
pedra na bexiga e muitas outras doenças.
Por mais trágico que os resultados emocionais e
físicos da ira possam ser, não podem ser comparados
com o prejuízo espiritual terrível que criam. Efésios
4:30-32 explica isso claramente: "E não entristeçais
o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para
o dia da redenção. Toda a amargura, e ira, e cólera, e
gritaria, e blasfêmias e toda a malícia seja tirada de
entre vós. Antes, sede uns para com os outros benig
nos, misericoridosos, perdoando-vos uns aos outros
como também Deus vos perdoou em Cristo." Se eu
perguntasse como é que a pessoa pode entristecer o
88 O lugar da ira na depressão
Espírito Santo de Deus, provavelmente você res
pondería com uma lista de pecados tais com adulté
rio ou assassinato, mas esses versículos tornam claro
que o entristecer o Espírito Santo tem lugar na
mente, através da ira.
É impossível para o cristão gozar seus recursos
espirituais, se entristecer o Espírito Santo. No capí
tulo anterior vimos que o Espírito de Cristo, ou o
Espírito Santo entra na vida da pessoa quando con
vidado. Isso dá ao indivíduo a capacidade de vencer
suas fraquezas e curar uma doença tal como a de
pressão. Mas a vitória não é automática! Para o cris
tão conseguir a vitória, deve cooperar com o Espírito
Santo. Isto significa que ele não deve entregar-se ao
pecado mental da ira.
A ira é o pecado que ataca mais cristãos e prova
velmente causa mais derrota espiritual do que qual
quer outro pecado, e severamente limita o uso que
Deus pode fazer da vida do indivíduo. Ela entristece
o Espírito de Deus e faz com que o indivíduo perma
neça pigmeu por toda a vida. Ela não somente dimi
nui a sua utilidade para Deus, mas complica as suas
doenças emocionais.
A CURA DE DEUS PARA A IRA
O homem secular não propõe cura significativa
para a ira. Um jovem veio para aconselhamento
certo dia dizendo que havia visitado um psiquiatra
em seis ocasiões. O diagnóstico que lhe foi dado era:
"Odeio minha mãe.” Este ódio para com sua mãe
fazia seu estômago virar, fazia o cabelo de seu braço
levantar, e criou a onda inicial de desarmonia em
seu lar.
— Se você foi visitar um psiquiatra e ele lhe disse
que suas tensões eram produzidas pelo ódio que tem
por sua mãe, por que veio me ver? — perguntei. O
jovem respondeu tristemente:
— Ele me disse qual era meu problema, mas não
me disse como resolvê-lo.
Como vencer a depressão 89
Não devíamos ficar surpresos pelo fato de o psi
quiatra não ter dado instrução de como vencer sua
ira, porque sem o poder de Deus em nossa vida, não
há cura. Um psiquiatra, num artigo publicado em
Seleções, ofereceu esta sugestão tipicamente secu
lar. A pessoa que tem tendência à ira, aconselhou
ele, devia fazer uma lista do que a provoca e assim
evitá-la. O escapismo geralmente torna-se o recurso
do homem secular que recusa valer-se do poder de
Deus. Em resposta à sugestão do psiquiatra acima,
podemos muito bem retrucar:
—■ E se a ira é ocasionada por sua esposa, seus
filhos, seu trabalho, seus vizinhos ou pelo planeta
Terra?
É impossível para o homem evitar tudo que o ir
rita. Portanto, Deus oferece um remédio melhor.
Examine os cinco passos seguintes, que tenho par
tilhado com centenas de pessoas, muitas das quais
têm experimentado seu primeiro alívio com o uso
dessa fórmula.
(1) Admita que sua ira é pecado. Enquanto você
estiver desculpando a ira, você é incurável. Depois
de aconselhar por vinte e cinco anos, acho que já
ouvi quase todas as desculpas. Certo homem recla
mou:
— Sou do tipo colérico.
Outro trabalhador cristão, cuja ira havia feito com
que fosse retirado da junta de missões, disse-me:
— Venho de um lar sírio; meu pai e minha mãe são
irados, minha família inteira é irada.
Tudo isto é subterfúgio numa tentativa mal
orientada de encobrir o fato de que temos cometido
pecado. Até que o homem chame a ira de pecado e
pare de tentar justificá-la, sua luta é sem esperança.
Tenho tido o privilégio, através dos anos, de ajudar
muitas pessoas iradas, mas nesse decurso tenho fa
lhado em dar assistência a muitas outras. Entre estas
últimas encontro sempre um denominador comum:
recusaram-se a admitir que eram pessoas iradas, e
90 O lugar da ira na depressão
insistiram em justificar o seu pecado.
Somente quando você encarar sua ira como pe
cado é que será capaz de curá-la. Este é o primeiro
passo gigantesco para a vitória.
As pessoas na sala de aconselhamento me dizem
repetidamente: "Se meu marido mudasse, eu não
ficaria com raiva", ou "É minha mulher que me faz
explodir." Eles ainda não aprenderam que a vitória
em Cristo não depende do comportamento de outras
pessoas, mas de Cristo somente.
(2) Confesse a Deus seu pecado de ira. Como
qualquer outro pecado, a ira pode ser perdoada e
curada. 1 João 1:9 promete que "Se confessarmos os
nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os
nossos pecados, e para limpar-nos de toda a injus
tiça." Quanto mais cedo você reconhecer sua ira e
confessá-la, tanto mais cedo consegurirá a vitória.
(3) Peça a Deus que desfaça o padrão da ira. 1 João
5:14-15 assegura-nos que se pedirmos qualquer
coisa segundo a vontade de Deus, ele não somente
nos ouve mas também responde às nossas petições.
Sabemos que não pé a vontade de Deus que fique
mos irados, por isso podemos ter certeza da vitória se
pedirmos que ele desfaça esse hábito. Embora o
homem secular possa ser escravo do hábito, o cristão
não o é. Na verdade somos vítimas do hábito, mas
não precisamos permanecer escravos do hábito
quando temos à nossa disposição o poder do Espírito
de Deus.
(4) Agradeça a Deus sua misericórdia, graça e
poder. A nossa petição pela vitória sobre o hábito da
ira deve ser seguida de graças a Deus por sua mise
ricórdia e perdão em face de nosso fracasso. Deve
mos então ser-lhe gratos por termos dentro de nós
seu Espírito Santo, e que por seu poder podemos
experimentar uma inversão deste hábito.
(5) Repita esta fórmula toda vez que você ficar com
raiva. Seria irreal presumir que ao invocar esta fór
mula somente uma vez um hábito de ira que vem
Como vencer a depressão 91
durando a vida toda fosse modificado. É muito mais
prático encarar o fato de que a ira vai voltar mesmo
depois de ter usado a fórmula. A vitória final, entre
tanto, vem com a repetição. Depois de pecar, ime
diatamente faça uma oração de confissão, pedindo a
Deus que mude esse hábito, e dê graças, pela fé,
pelo que ele está fazendo em sua vida. Como certo
homem admitiu depois de tentar esta fómula por
algumas semanas: “Tive de confessar minha ira no
primeiro dia pelo menos mil vezes, mas melhorou no
dia seguinte; só tive de confessar 997 vezes. Agora,
entretanto, a ira gradativamente está se tornando
coisa do passado." Em minha opinião este homem
apresenta um caso de estudo prático para aqueles
que conseguem vitória sobre a ira. Não encontrei
ninguém que tivesse experimentado cura instantâ
nea. Pelo contrário, ela vem através da atenção
consciente e repetitiva, combinada com o exerc ício
gradual de novos padrões mentais.
Literalmente falando, centenas de testemunhos
poderiam comprovar que o poder do Espírito de
Deus é capaz de colocar amor no coração de qual
quer pessoa que tenha tendência à ira mas que es
teja disposta a deixá-lo fazer isto. Quando o amor
tomar o lugar da ira, a depressão terá de ir-se em
bora.
CAPÍTULO OITO
AUTOCOMISERAÇÃO E
DEPRESSÃO
Finalmente chegamos à causa primária da de
pressão. A despeito das causas mencionadas ante
riormente, nada produz depressão mais rápido e
mais produndamente do que a autocomiseração.
Sempre que enfrento uma pessoa deprimida com
esta causa da depressão, ela invariavelmente re
siste, em geral protestanto: "Eu nunca sinto compai
xão por mim mesma!” ou "Isso pode ser verdade na
maioria das vezes, mas meu caso é diferente.” Certa
senhora respondeu iradamente: "Vim procurar
ajuda, mas posso ver que o senhor não compreende
meu problema!” Algumas pessoas até mesmo saem
da sala com raiva batendo a porta.
A verdade, como a cirurgia, dói. Simplesmente
não há como remover um tumor sem ferir. O mesmo
é verdadeiro emocionalemnte. No momento em que
trazemos o tumor da autocomiseração à atenção da
pessoa deprimida, ela resiste. Mas isso não altera
nada!De fato, nunca espero que a pessoa deprimida
concorde comigo neste ponto. Em seu estado, qual
quer coisa tão feia como a autocomiseração é sim
plesmente demais para ela suportar. Ela preferiría
receber simpatia, pílulas, ou pieguices que colocas
Como vencer a depressão 93
sem a responsabilidade sobre outra pessoa.
Tenho observado repetidamente que as pessoas
que não são deprimidas parecem aceitar esse diag
nóstico facilmente. Até mesmo indivíduos com ten
dência à depressão, quando não estão deprimidos,
ás vezes concordam. São os próprios deprimidos que
parecem rebelar-se contra isso. Felizmente, a maio
ria das pessoas, depois de refletirem, reconhecem o
problema e dão alguns passos para sua cura. De uma
coisa tenho certeza: se o padrão mental de pensa
mento da autocomiseração não for cerceado, a pes
soa não terá esperança; quanto mais ela se entregar
a pensamentos de autocomiseração, tanto mais
profunda se tornará a depressão.
Até mesmo a medicação ou a terapia do eletro-
choque podem dar somente períodos temporários de
alívio. Se os padrões mentais de pensamento não
forem mudados, a pessoa logo voltará à sua depres
são.
Os deprimidos que recusam enfrentar a autocomi
seração oferecem várias desculpas como causas pos
síveis de suas misérias. Os intelectuais ou os que
têm alta educação sempre protestam: "Isso é sim
ples demais! Deve ser mais complicado." Outros
recusam-se a vir ao conselheiro que dá aos seus
consulentes uma análise disse tipo.
QUASE NENHUMA EXCEÇÃO
Não escrevi este livro antes porque desejava mais
tempo para estudar o problema. Exceto quanto ao
livro, Temperamento Controlado Pelo Espírito, não
tenho visto nada impresso que coloque a culpa
primária da depressão sobre a autocomiseração. O
livro foi publicado oito anos atrás e desde então
centenas de conselheiros, pastores e indivíduos que
sofreram de depressão, manifestaram seu acordo.
Além disso, apresentei este tema perante milhares
de pessoas em seminários sobre a família. Embora
algumas, a princípio, discordassem de mim, muitas
94 Autocomiseração e depressão
cartas em meus arquivos confirmam fortemente o
princípio.
Não gosto de dizer às pessoas deprimidas que elas
se estão chafurdando na autocomiseração. De fato,
em certa ocasião senti-me completamente antipa-
triota. Enquanto dirigia uma conferência sobre a
família, numa cidade do Meio-Oeste, um pastor
pediu que eu aconselhasse uma senhora de sua con
gregação. Lembro-me que quando ela entrou na
sala, pensei: "Ela é a mulher mais magra que já vi."
Ela havia perdido dezessete quilos durante os últi
mos seis meses e pesava somente quarenta quilos.
Seu esposo era oficial da força aérea e seu avião fora
abatido sobre o Vietnã do Norte; oficialmente era
considerado "desaparecido em combate".
Ao contar-me sua história, entre soluços, quase
chorei com ela. Havia quatro anos que ela não sabia
o que devia esperar. Seu esposo estava vivo ou
morto? Todos os dias seus três filhos pequenos per
guntavam: “Mamãe, você acha que o papai está
vivo?" Finalmente ela rompeu-se em prantos, e
entre soluços, disse: "Preferia saber que ele estava
morto a enfrentar esta incerteza constante!"
Quando perguntei a esta querida senhora se ela
amava seu marido, ela respondeu:
— Sim! Ele e meus filhos são as únicas coisas que
possuo na vida.
Então chamei sua atenção para o fato de que sua
afirmação anterior indicava que ela amava mais a si
mesma que a seu marido.
— A certeza mental é realmente mais importante
para a senhora do que a possibilidade de seu marido
estar vivo?
Ela endireitou-se na cadeira e exclamou:
— Oh, Deus, estou tão perturbada que não con
sigo pensar direito!
Essa mulher mudou seu estilo de vida inteiro, al
terando sua atitude mental. Suas circunstâncias não
mudaram, pois seu marido continuou desaparecido.
Como vencer a depressão 95
Em vez de sentir compaixão por si mesma, entre
tanto, ela começou a dar graças por não saber se seu
marido estava vivo ou morto. O amor genuíno que
ela sentia por ele logo dominou o amor que tinha por
si mesma, e comunicou esse pensamento a seus fi
lhos. Quando eles faziam perguntas a respeito de
seu pai, ela os dirigia em oração no sentido de que
onde quer que ele estivesse, estivesse forte e qui
sesse vê-los todos de novo.
A perspectiva dessa meta tirou essa família inteira
do lago da tristeza e depressão. Somente ao
apropriarem-se da graça de Deus e dar graças em
face das circunstâncias eles puderam encarar o fu
turo incerto.
A FÓRMULA DA DEPRESSÃO
Raramente na vida reduzimos um problema emo
cional a uma fórmula, mas no caso da depressão isso
é possível. Considere o seguinte:
INSULTO
ou
INJÚRIA + RAIVA x AUTOCOMISERAÇÃO = DEPRESSÃO
ou
REJEIÇÃO
A DEPRESSÃO E SU A
M ENTE
A mente humana é o mecanismo mais assombroso
do mundo. Mesmo assim desperdiçamos seu poten
cial formidável, porque segundo relatórios do*
cientistas, a pessoa média nunca usa mais que dez
por centro de seu cérebro.
O Dr. Gerhard Dirks, possuidor da maior quanti
dade de patentes de computador IBM (mais de cin
quenta), disse-me pessoalmente: "A maioria das
idéias para o computador veio-me através do estudo
da mente humana." E alguém mais observou: "Se o*
cientistas pudessem construir um computador que
igualasse os feitos da mente humana, seria ne
cessário uma estrutura do tamanho do edifício Em-
pire State, para abrigá-la."
CONSCIENTE vs. SUBCONSCIENTE
O cérebro é dividido em duas secções principais
— o consciente e o subsconsciente. Temos acumu
lado muito conhecimento acerca do consciente, mas
sabemos pouco do subconsciente. Nos últimos anos,
estudos cuidadosos trouxeram à luz alguns concei
tos fascinantes, especialmente o que postula que
)
Como vencer a depressão 115
nunca esquecemos nada do que vemos, sentimos,
ouvimos, provamos ou cheiramos. É claro que o difí
cil é lembrar no tempo certo! Mas você pode ter
certeza de que seus gostos e desgostos presentes,
sentimentos e reações estão gravados no registro de
sua mente subsconsciente, particularmente aquelas
transcrições mentais feitas durante os dias impres
sionáveis de sua juventude.
Outra descoberta recente a respeito da mente diz
que você é influenciado mais pelo subsconsciente
que pelo consciente. Aqui vai uma ilustração. Supo
nhamos que você esteja com 7 quilos de excesso de
peso e sua mente consciente o previna: ''Não coma
esse pedaço de chocolate, porque engorda." Você o
come? Isso depende da reação de sua mente sub
consciente. Se ela responder: "Mas tenho um desejo
insaciável por doces'', ’'Meu destino é ser gordo' ’, ou
"Sou fraco demais para resistir", você o comerá.
Agora transfira esse padrão para o problema da
autocomiseração. Suponha que algum amigo o re
jeite, insulte ou o fira. Sua mente consciente o pre
venirá: "Não se entregue à autocomiseração!" (par
ticularmente depois de ler este livro); mas se sua
mente subconsciente, pela força do hábito, retrucar:
“Tudo mundo age de maneira suja com você; você
sempre sai perdendo" ou “Você não pode confiar em
ninguém” ou “Como é que puderam fazer isso co
migo depois de tudo que fiz por eles?" você se entre
gará à autocomiserção, que leva diretamente à de
pressão.
Outra descoberta importante relacionada à mente
tem a ver com a resposta do subconsciente à imagi
nação. De fato, a imaginação, no meu entender, é o
fator mais poderoso da mente. Apesar do vigor de
sua força de vontade, manter uma imagem negativa
na tela de sua imaginação finalmente destruirá sua
vontade.
Sempre que a vontade e a imaginação entram em
conflito, a imaginação sai ganhando. Por isso a auto-
116 A depressão e sua mente
comiseração projetada na tela da imaginação é de
prejuízo devastador!
Na página... vimos a influência que sua mente,
vontade e coração têm sobre suas ações. A vontade
determina o que você coloca em sua mente, que por
sua vez ativa seus sentimentos e finalmente sua
conduta, formando uma poderosa reação em cadeia:
VONTADE + MENTE + EMOÇÕES = AÇÕES
Sua vontade pode determinar o material novo que
você coloca em sua mente, mas não pode governar
sua atitude para com o material velho, nem pode
regular por completo a mente. Isto é particularmente
verdadeiro com relação ao subconsciente, que não
pode ser controlado diretamente pela vontade, mas
pode ser influenciado através da imaginação. O go
vernador de sua mente é a imaginação. Da maneira
que a imaginação funciona, a mente também fun
ciona, tanto a consciente como a inconsciente.
Tendo em mira exemplificar, usemos uma tela de
cinema para demonstrar o poder da imaginação
sobre a mente consciente e a inconsciente.
A DEPRESSÃO E SUA
AUTO-IMAGEM
"A atitude de uma pessoa para consigo mesma
tem influência profunda em sua atitude para com
Deus, família, seus amigos, futuro e muitas outras
áreas significativas de sua vida."
Bill Gothard
Autoridade Nacional da Juventude.
Todas as pessoas deprimidas que já aconselhei
tiveram problema com a auto-aceitação. Essa afir
mativa não é realmente muito profunda, em vista do
fato de que quase todo ser humano possui imagem
inadequada de si mesmo. Em algum ponto em sua
vida, até mesmo o indivíduo mais audaz e mais con
fiante tem de lutar com a auto-rejeição. Embora a
maioria das pessoas recupere sua autoconfiança,
ninguém é imune.
Nestes últimos anos a pesquisa produziu novos
conceitos chamados de "psicologia da auto-
imagem" que têm ajudado muitas pessoas. Parte da
idéia de que cada um de nós é controlado pelo qua
dro mental que fazemos de nós mesmos.
Duas expressões populares da psicologia da
Como vencer a depressão 129
auto-imagem ilustram sua tese básica: "Você é o
que pensa que é" e “O que os outros pensam de você
tem importância mínima comparado ao que você
pensa de si mesmo.” Todos têm uma imagem de si
mesmos, boa ou má; todavia, qualquer que seja essa
auto-imagem, ela afeta nosso comportamento, ati
tudes, produtividade e, em última análise, nosso
sucesso na vida.
Pensamentos produzem sentimentos e sentimen
tos produzem ações; conseqüentemente, seus pen
samentos de auto-imagem afetam definitivamente
suas ações, negativa ou positivamente.
A pessoa que tem uma imagem confiante de si
mesma dará o máximo de sua capacidade, mas a
pessoa insegura e que tem falta de confiança não
fará assim. Isso explica por que algumas pessoas
talentosas fracassam enquanto pessoas medíocres,
muitas vezes, têm sucesso.
A auto-imagem não é formada por um só aconte
cimento ou experiência. Pelo contrário, é a culmina
ção de todas as experiências da vida. Naturalmente,
muitas influências subconscientes produzem a
auto-imagem, incluindo os milhares de vitórias, fra
cassos, frustrações, humilhações e sucessos que ex
perimentamos. A influência que eles têm em nossa
auto-imagem depende, em grande medida, de nosso
temperamento natural.
O temperamento compreende a matéria-prima
com a qual a pessoa nasce, criando a combinação de
traços transmitidos a ela por seus pais, através dos
genes. Talvez esse seja o maior fator simples que
produz as caracterísitcas da personalidade. Como
veremos em capítulo posterior, esses traços de tem
peramento contêm, tanto pontos fortes, como pontos
fracos. Qualquer que seja seu temperamento, será
influenciado por sua experiência de vida. Se, por
exemplo, você nasceu com um temperamento des
preocupado ou confiante, pode ser impelido a criar
um complexo derrotista, se tiver pais excessiva
130 A depressão e sua auto-imagem
mente críticos que sempre deploram e acentuam sua
incapacidade ou fracasso. Da mesma forma, se nas
ceu com um temperamento negativo ou retraído e
tem tendência para a indecisão e insegurança, pais
sábios podem ajudá-lo a evitar a atitude derrotista,
cercando-o de amor, aceitação e encorajamento,
particularmente durante os, primeiros anos de vida.
Considere a expressão: "Você é o que pensa que é."
Se você pensa que é uma pessoa feia ou incapaz,
assim é. Não importa o que realmente você seja.
Porque o que realmente determina sua produtivi
dade e ações é o que você é.
As duas mulheres mais belas que já aconselhei
eram gravemente deprimidas. Para meu espanto,
nenhuma delas aceitava-se a si mesma. Enquanto
olhava para seus rostos, rostos que a maioria das
mulheres invejaria, lembrei-me que a aparência
nada tem a ver com o caso; como você pensa que
parece ser é que é o ponto crítico. Nenhuma dessas
criaturas adoráveis considerava-se atraente; então,
que diferença fazia se o fosse?
A mais jovem das duas era frígida; a mulher um
pouco mais velha, ninfomaníaca — mesmo assim
ambas tinham o mesmo problema. Uma estava tão
obcecada com a falsa noção de sua aparência inade
quada que não podia suportar expor seu corpo ao
sexo oposto. A outra mulher estava tão obcecada
com a inadequação de sua aparência que se forçou a
uma série de casos ilícitos, numa tentativa de ga
nhar a aceitação que tanto desejava. Hoje, ambas as
mulheres são cristãs bem ajustadas, eficientes , o
que é evidência poderosa da influência estabili-
zante de Jesus Cristo nesta área crítica da vida.
Começaram reconhecendo que Deus lhes perdoara
e as aceitara. Isso tornou mais fácil para elas
aceitarem-se se a si mesmas.
O GRANDE ERRO
A maioria das pessoas comete um erro interes
Como vencer a depressão 131
sante, referente à auto-imagem: permite que as opi
niões de outras pessoas influenciem sua visão de si
mesmas. Muito pelo contrário, o que a pessoa pensa
de si mesma afetará o que as outras pensam dela.
Tenho visto isso muitas vezes enquanto esperava na
fila de bagagens. O carregador se aproximava de um
indivíduo e dirigia-se a ele delicadamente e com
dignidade, enquanto a outro se dirigia com desres
peito silencioso. Através desses tratamentos con
trastantes, julgo que o homem que exala autocon
fiança e auto-aceitação recebe respeito dos outros.
Você pode observar casos desse tipo em restauran
tes, quando o garçom se aproxima de seus fregueses.
Uma vez que a pessoa compreende que cria sua
imagem pública através de suas ações e pela im
pressão que dá de si mesma, perceberá a importân
cia da auto-aceitação, que determina se ela agirá
com confiança ou com grande insegurança. Tenha a
certeza disto: se tiver falta de confiança em si
mesmo, todo mundo também a terá.
Eis aqui três boas razões pelas quais você não
deve deixar que as atitudes dos outros influenciem o
que você pensa de si mesmo:
1) Você deve aceitar-se como Deus o aceita, não
como as outras pessoas o fazem.
2) Você nem sempre pode julgar o que as pessoas
pensam de você, através da aparência e ação delas,
porque podem estar concentradas inteiramente em
outra coisa.
3) O que as pessoas pensam de você geralmente é
um reflexo de sua auto-imagem. Se você se sentir
inferior, exalará sentimento de inferioridade, e con-
seqüentemente os outros o verão como inferior.
QUATRO ÁREAS DE AUTO-APROVAÇÃO
O Institute oí Basic Youth Conílicts, (Instituto dos
Confiltos Básicos Juvenis), dirigido por Bill Got-
hard, provavelmente já ajudou mais pessoas a
aprenderem a arte da aceitação com a ajuda de
132 A depressão e sua auto-imagem
Deus, do que qualquer outro programa de treina
mento.
Em suas palestras, Bill Gothard descreve quatro
áreas nas quais as pessoas devem ganhar a auto-
aceitação. Naturalmente, segue-se que essas são as
próprias áreas nas quais a maioria das pessoas re
jeitam a si mesmas: aparêqcia, habilidades, linha
gem e meio ambiente.
(1) Aparência. Minha observação tem sido de que
quase todo mundo rejeita sua aparência. Fez-se a
seguinte pergunta para doze atores e atrizes de
Hollywood: "Se você pudesse mudar alguma coisa
em suas feições, qual seria a mudança?" As respos
tas foram de quatro a doze itens por pessoa. Por
incrível que pareça, estas pessoas, admiradas por
milhões como as mais belas e elegantes de nossa
sociedade, obviamente não aceitavam a si mesmas.
Outra vez, somos confrontados com este fato: o que
somos não é tão importante quanto o que pensamos
que somos.
Rejeição da aparência é um problema intensa
mente espiritual. Deus é nosso Criador, por isso ten
demos a culpá-lo por nosso estado. Este ressenti
mento subconsciente, e às vezes consciente, para
com Deus, impede que nos tornemos cristãos ma
duros. Através dos anos, pude ajudar centenas de
pessoas que não tinham segurança de sua salvação a
ganhar essa bênção emocional preciosa. Em quase
todos os casos descobri que elas tinham falta de
segurança no começo, principalmente porque não
gostavam de sua aparência. Segundo seu padrão,
eram baixas demais ou altas demais, gordas demais
ou magras demais. Além de receitar a leitura diária
da primeira epístola de João por um mês, pelo
menos, exigia que olhassem no espelho e agrade
cessem a Deus a forma que possuíam. Somente atra
vés de remoção desse sentimento para com Deus
pela maneira com que foram criadas a porta poderia
ser aberta para a auto-aceitação tão necessária.
Como vencer a depressão 133
(2) Capacidades. A não ser por um número muito
raro de indivíduos bem dotados, a maioria das pes
soas desenvolve uma visão inadequada de suas ca
pacidades, espeicalmente quando tendem a
comparar-se com os outros. Quer estejamos cor
rendo com uma bola, andando de motocicleta, ou
fazendo um exame de geometria, competimos como
modo de vida. Mais cedo ou mais tarde, todo mundo
encontra alguém melhor que ele, e isso pode acar
retar o problema. Tendemos, com regularidade, a
fazer comparações injustas de nossas capacidades
com as dos outros. É muito melhor aceitar o fato que
nossos talentos ou capacidades são conferidos por
Deus e que nossa responsabilidade na vida é
servi-lo e glorificá-lo (Apocalipse 4:11). O melhor
lugar para se encontrar realização, felicidade e
auto-aceitação é estar fazendo a vontade de Deus
para nossa vida.
Descubro com regularidade que o uso mais grati-
ficante de nossos talentos aparece na boa criação de
nossos filhos. O primeiro mandamento de Deus ao
homem foi para frutificar, multiplicar e encher a
terra; por isso, segue-se que o cumprimento desse
mandamento tornar-se-á uma experiência bem gra-
tificante. Deve-se compreender, entretanto, que
Deus não estava meramente referindo-se à função
biológica de gerar filhos. Ele tinha em mente algo de
muito maior alcance — criar esses filhos para serem
jovens cristãos, conscientes de Deus, com conheci
mento dos princípios divinos e capazes de ensinar
esses princípios a seus próprios filhos.
Depois de lidar com pessoas por vinte e cinco
anos, não acho que os triunfos vocacionais trazem
auto-aceitação duradoura. Pelo contrário, muitos
indivíduos, de boa vontade desistiriam da fortuna
que fizeram durante sua vida se tão-somente pudes
sem retirar o fracasso de seu filho ou filha, negligen
ciados quando criança. Por outro lado, conheço
centenas de cristãos felizes e contentes que se sen
134 A depressão e sua auto-imagem
tem enriquecidos porque seus filhos são uma fonte
de orgulho e satisfação para eles.
Não pense, entretanto, que você deve esperar até
tornar-se avô para consegui esse auto-
reconhecimento. Pode ser conseguido, também,
mediante a produtividade espiritual. Os que inves
tem no serviço de Cristo, dapdo testemunho pessoal
de sua fé, geralmente não têm problema duradouro
com a auto-aceitação. A produtividade digna é a
grande panacéia para a auto-rejeição. É por isso que
os adolescentes têm a tendência de se rejeitarem
— ainda não tiveram tempo de ser produtivos.
(3) Linhagem. Todo aquele que tiver vergonha de
seus pais terá problemas sérios com a auto-
aceitação. Muitos jovens, hoje, odeiam seus pais e
trazem sobre si mesmos a maldição de Deus e os
resultados trágicos da animosidade nutrida. É ver
dade que alguns pais podem agir de maneira desu
mana com seus filhos. Como pastor, tenho teste-
mundado tais situações e crises.
Nada destrói tanto como a amargura, especial
mente quando dirigida contra os próprios pais.
Tendo lidado com centenas de pessoas, estou con
vencido de que o fracasso da pessoa em se livrar
dessa amargura destruirá seus relacionamentos
normais de amor na vida. Somente ao confessar este
espírito de inimizade, como descrito no capítulo
sete, o indivíduo experimentará alívio. A Bíblia nos
ensina: "Deixa a ira, e abandona o furor; não te
indignes para fazer o mal" (Salmo 37:8).
UMA FIXAÇÃO PERIGOSA
Além dos perigos espirituais de alimentar a raiva
contra os próprios pais, há também outro resultado
trágico e indesejável. Por anos tenho notado que
jovens que odeiam a seus pais, quando crescem
tomam-se iguais a eles, ou casam-se com uma pes
soa parecida com eles. Os que estudam a função do
cérebro explicam que tal fenômeno estranho tem
Como vencer a depressão 135
sua origem na mente subconsciente, que sempre
trabalha com vistas ao cumprimento da imagem que
projetamos sobre a tela de nossa imaginação. Por
exemplo, tenho notado que a jovem criada por pai
alcoólatra tende a casar-se com alcoólatra. A razão é
simples. Milhares de vezes, durante sua juventude,
a menina visualizou o quadro mental de seu pai
bêbado e prometeu a si mesma: "Nunca me casarei
com um homem assim!" Mas sua mente subcons
ciente, de modo inexorável, leva-a a cumprir seus
pensamentos negativos de desgosto ou ódio para
com seu pai. A mesma coisa acontece com o jovem
cujo pai, cruel e raivoso, o tratou mal. Embora ele
insista em que nunca vai agir como seu pai, ele o faz.
Quando a criança, que vi sendo maltrada no aero
porto, crescer e se casar, provavelmente unir-se-á a
uma mulher parecida com sua mãe, porque por toda
a vida seu ressentimento para com ela fará com que
ele projete na tela de sua imaginação esse quadro
amargo, juntamente com a promessa: "Nunca me
casarei com uma mulher igual a ela." Mas casar-se
á!
UMA FIXAÇÃO SAUDÁVEL
Todas as tragédias mencionadas acima podem ser
evitadas se as pessoas reconhecerem a importância
de colocar na tela de seu pensamento somente
aquelas idéias que são agradáveis a Deus. Nem
sempre podemos controlar as idéias que se apren-
sentam na tela de nossa imaginação, mas podemos
regular aquelas que permanecem, porque os pen
samentos persistentes e recorrentes ativam a mente
subconsciente que, por sua vez, cria sentimentos
que motivam ações.
Em vez de projetar imagens negativas, visualize
imagens positivas. Se a jovem tivesse visualizado
um moço que encarnasse os princípios cristãos, em
vez do pai alcoólatra, ela se teria casado com esse
tipo de homem. Nada poderia ter violado sua ima
136 A depressão e sua auto-imagem
gem mental. De fato, conheço uma jovem senhora,
produto de pai alcoólatra, que rejeitou um bom
rapaz, cristão, para se casar com alguém que no fim
virou alcoólatra. Por quê? Ela fixou-se no tipo errado
de imagem mental da sua imaginação.
(4) Ambiente. Embora tenha sido muito exage
rado pelos behavioristas da geração passada, nosso
ambiente realmente cria efeito profundo sobre
nossa auto-aceitação. Se a pessoa é constrangida por
seu lar e sua família, ela será infeliz, e, como resul
tado, sua atitude de vergonha ou rejeição deformará
severamente sua auto-imagem, levando-a além das
proporções das circunstâncias reais.
A fim de compreender que a atitude mental para
com nossas circunstâncias é muito mais significativa
que a circunstância material ou física em si mesma,
considere a história clássica da jovem adolescente
que tinha vergonha de sua mãe por causa das mãos
terrivelmente desfiguradas por queimaduras. O pai,
ao perceber que ela evitava ser vista em público com
sua mãe, explicou-lhe com detalhes o que havia
acontecido. Quando menina, sua mãe a havia li
vrado de cair numa lareira acesa. Ao fazer isso, as
mãos de sua mãe ficaram marcadas para toda a vida.
A menina ficou tão envergonhada da tristreza que
havia causado à mãe com sua atitude egoísta, que a
procurou, pegou-lhe as mãos cheias de cicatrizes,
beijou-as, e disse chorando: "Mamãe, eu a amo.
Pode perdoar-me pela maneira com que a tratei?
Não sei como agradecer-lhe sua bondade e amor."
Desse dia em diante orgulhava-se de ser vista com
sua mãe, e as mãos feias transformaram-se em em
blema de amor. O que fez a diferença? Aquelas mãos
permaneceram tão grotescas como antes, mas agora
a atitude mental da filha para com elas havia mu
dado.
Alguns jovens são levados a ter uma auto-imagem
pobre por causa da noção falsa de que as pessoas de
segunda classe procedem de condições de vida de
Como vencer a depressão 137
segunda classe. Os produtos dos guetos são bons
exemplos. Eles são treinados a pensar que são infe
riores por causa de seu ambiente de gueto. Não há
nada de novo a respeito dos guetos; sempre existi
ram. Hoje, são simplesmente maiores por causa do
número maior de habitantes, e mais conspícuos por
causa da atenção nacional recente. Durante meus
anos de ginásio morei no que hoje seria chamado de
gueto, mas esse fato não me afetou em nada, porque
ninguém me avisou que isso era uma coisa horrível.
Eu era ingênuo o suficente para achar que era bem
bom, de modo que minha atitude mental permane
ceu positiva.
Façamos aqui uma pausa para enfatizar que todas
as quatro áreas que influenciam a auto-imagem são
afetadas por uma atitude espiritual adequada. Se
você realmente crê que Deus o ama e que o criou por
uma razão especial, como a Bíblia ensina, então
pode aceitar, com ação de graças, sua aparência,
capacidade, linhagem e ambiente. Uma vez que
você aceita isto, através da fé em Deus e sua Palavra,
você achará fácil aceitar-se a si mesmo. Mas se re
jeitar uma ou mais destas áreas, você sofrerá a misé
ria que acompanha a auto-rejeição. Há, indubita
velmente, outras áreas da auto-aceitação que pode-
riam ser discutidas, mas estas são as principais.
RESULTADOS TRÁGICOS DA REJEIÇÃO
Seria impossível, num livro pequeno como este,
investigar todos os resultados da auto-rejeição, por
que eles, literalmente, afetam tudo na vida de uma
pessoa. Entretanto, oferecerei oito consequências
decisivamente importantes.
(1) Depressão. O ressentimento que acompanha a
rejeição da aparência, capacidade, linhagem, ou
ambiente, logo transforma-se em autocomiseração,
que, invariavelmente, produz a depressão, Esta de
pressão aumentará em intensidade com a idade, a
menos que você aprenda a aceitar essas áreas como
138 A depressão e sua auto-imagem
sendo instrumentos de Deus, que ele quer usar em
sua vida para glória dele. Mudanças no ambiente ou
nas circunstâncias de sua vida podem trazer alívio
temporário, mas se você não modificar seu padrão
de pensamento de autocomiseração, você estará
acorrentado pela escravidão emocional da depres
são.
(2) Falta de fé pessoal em Deus. É impossível de
senvolver uma fé vital e pessoal em Deus até que a
pessoa aprenda a aceitar-se a si mesma. A rejeição
do corpo que Deus lhe deu, juntamente com o dom
dos talentos, pais, e ambiente não são condizentes
com o espírito submisso (Efésios 5:21) que se exige
do cristão feliz e produtivo. Somente ao dar graças,
através da fé, por sua aparência, talentos, pais, e
ambiente, você poderá encontrar um caminho limpo
e vital para o relacionamento com ele, o que é abso
lutamente essencial para livrar-se da depressão.
A maioria das pessoas criticam-se abertamente,
como temos visto regularmente em público. Mas os
cristãos deviam saber melhor que censurar-se ver
balmente, porque assim fazendo ficam aquém do
padrão que Deus lhes determinou. Bill Gothard, sa
biamente nos previne que por mais imperfeitos que
sejamos, ‘'Deus ainda não terminou conosco". Como
filho de Deus, você ainda está sendo moldado e
criado para seus propósitos divinos. Em vez de re
jeitar a si mesmo, a Bíblia ensina que você deve
apresentar-se a ele e antever, pela fé, o propósito
final que ele tem para sua vida. Um ponto de vista
espiritual como este produzirá atitude mental que
leva à produtividade, que por sua vez gera auto-
aceitação.
(3) Rebelião. A auto-rejeição, por algum motivo,
acende o fogo da rebeldia em seu coração para com
Deus e o próximo, quer sejam seus pais, parentes,
cônjuge, ou qualquer outra pessoa que exerça auto
ridade sobre você.
Vivemos numa sociedade rebelde. Não devemos
Como vencer a depressão 139
ficar surpresos por também vivermos numa socie
dade infeliz. Pense nisso! Embora vivamos no luxo,
com equipamentos tais que vinte e cinco anos atrás
ninguém sonhava ser possível, nosso povo é amargo,
hostil e, a maior parte das vezes, infeliz. Este é o
resultado típico das pessoas que rejeitam a si mes
mas, porque têm a tendência de atacar a tudo ° a
todos ao seu redor.
(4) Retraimento. Quando a pessoa rejeita a si
mesma, acha difícil gostar das outras pessoas. Ela
tem a tendência de ser supersensível às atitudes dos
outros para com sua aparência, capacidades, origem
de seus antepassados ou ambiente. Portanto, ela se
retrai para evitar o conflito e os sentimentos infelizes
que isso produz. Ao retrair-se, ela medita cada vez
mais sobre suas próprias necessidades, sentimentos
e pensamentos. E por não gostar de si mesma,
toma-se mais infeliz.
(5) Ênfase excessiva nas coisas materiais. A rejei
ção de si mesmo cria um impulso desordenado para
o materialismo. Isto pode ser caracterizado pelo nar-
cisismo, pela ênfase exagerada nas roupas, pelo
ajuntamento de bens materiais, e nenhuma dessas
coisas produz felicidade. É extremamente difícil
convercer um jovem de que a aquisição de bens
materiais não cria felicidade. Conheço pelo menos
quinze homens que valem mais de um milhão de
dólares, e descobriram que o dinheiro não é a fonte
da felicidade; em alguns casos a riqueza, na reali
dade, destruiu a felicidade que gozavam nos dias de
menos afluência.
Jesus Cristo disse: "Mas buscai primeiramente o
reino de Deus e a sua justiça; e todas estas coisas vos
serão acrescentadas" (Mateus 6:36). E para con
trastar com minha afirmativa anterior, conheço mi
lionários que são extremamente felizes. Seu di
nheiro, entretanto, não é o que lhes trouxe felici
dade. Seu objetivo primário foi servir a Deus, e seus
bens materiais seguiram-se ao serviço leal.
140 A depressão e sua auto-imagem
(6) Negativismo e “fracassite ". Freqüentemente
ouvimos a máxima popular: “Conhece te a ti
mesmo." Tal conselho é perigoso para a pessoa que
rejeita a si mesma, porque em termos práticos ela
interpreta isso como ‘'conhece teu ser negativo''. Ela
se lembra do passado como um amálgama de fracas
sos, afrontas, insultos e abusos a que foi submetida.
Ela conclui: "Nada funciona para mim, nada tem
sucesso. Devo estar fadada ao fracasso!” A mente
subconsciente tende a levar-nos ao cumprimento de
tudo que colocamos na tela de nossa imaginação,
por isso um pensamento assim, inevitavelmente
produzirá fracasso, não porque a pessoa tenha falta
de sucesso potencial, mas porque esperafracassar.
(7) Imitacionite. A pessoa que rejeita a si mesma,
não somente se compara com outros, mas tenta
imitá-los. Esta pode ser uma prática extremamente
prejudicial. O Dr. Maxwell Maltz aconselha:
"Lembre-se disso, e lembre-se disso todos os dias:
você nunca será feliz se gastar a vida tentanto ser
outra pessoa. Deus o criou como um indivíduo sin
gular. Você tem dentro de si uma grandeza autên
tica toda sua. Use-a; não a desperdice! Ao tentar ser
outra pessoa, você a desperdiça, pelo simples fato de
você não ser outra pessoa."1
(8)Limitaro uso de Deus em suavida. Oresultado
triste da auto-rejeição é que Deus não pode usá-lo, o
mesmo Deus que tem planos para cada vida. A feli
cidade máxima é conseguida ao cumprir esse plano,
mas se a pessoa resiste a esse plano, cai na miséria
máxima. Ao rejeitar a si mesmo, você não somente
abstém-se de usar seus talentos naturais, mas im
pede que Deus injete seus poderes miraculosos em
sua vida. A vida de fé é excitante! A maioria das
pessoas nunca experimenta esse tipo de vida, por
que em vez de aceitar a afirmativa de Jesus, "Eu vim
para que tenham vida, e a tenham em abundância”
(João 10:10), rejeitam-se a si mesmas e causam um
curto-circuito no poder de Deus por causa de sua
Como vencer a depressão 141
incredulidade. Você nunca experimentará a vida
abundande até que compreenda, mediante a fé, que
Deus é capaz de abençoar até mesmo você!
POR QUE A MAIORIA DAS PESSOAS TEM A
TENDÊNCIA DE SE REJEITAR
Uma coisa tão universal quanto a auto-rejeição
deve ter uma causa comum. Considere as possibili
dades sequintes:
(1) Gente pequena num mundo enorme. Todos
começamos da mesma maneira: gente pequena e
incapaz de qualquer produtividade. Quer seja o
menino que tenta ajudar seu pai a consertar o carro
da família, e fica frustrado pelo sentimento de que
seu pai sabe consertar qualquer coisa, e ele não, ou a
menina cuja mãe inteligente e experiente pode
fazer um bolo começando desde o princípio, en
quanto ela nem sabe usar a cozinha, todos nós par
tilhamos o mesmo problema. Todo mundo quer ter
vitória, mas não temos a paciência para ganhar
tempo, treinamento e experiência proporcionais à
tarefa.
(2) O ridículo da infância. Criança nenhuma
cresce sem ser ridicularizada por seu grupo. Para
muitas crianças, entretanto, esse ridículo pode ensi
nar a se criticarem.
(3) Ter mais consciência de nossos próprios erros
que os dos outros. A idéia de que alguns perfeccio
nistas têm a tendência de admirar as pessoas que são
muito menos capazes que eles, sempre me fascinou.
Como o Davi de antigamente, os pecados do perfec
cionista estão sempre perante ele. Ele, portanto, é
confrontado mais prontamente com seus fracassos
do que com os dos outros. Na realidade, ele está por
demais obcecado com suas próprias faltas.
(4) Pais, parentes, professores e amigos críticos. A
crítica constante é sempre prejudicial. Todo mundo
procura elogio e dele precisa, principalmente da
queles que mais ama. Infelizamente, o pai que tem
142 A depressão e sua auto-imagem
falta de auto-estima, muitas vezes, critica demais
seus filhos, quase como que se tentasse fomentar
seus sentimentos de importância, ao chamar a aten
ção deles para seu desajeitamento e inadequação. A
criança vê essa crítica como rejeição. Se seus pais a
rejeitam, é fácil para ela rejeitar a si mesma.
OS SELOS DA AUTO-ACEITAÇÃO
A pessoa madura não é perfeita, mas aprendeu a
aceitar-se pelo que é. Ê isso inclui tanto seus pontos
fortes quanto os fracos. Então ela tentará efetuar
algum tipo de programa para vencer seus pontos
fracos. Sem perceber, esse tipo de auto-aceitação
manifestar-se-á subconscientemente em suas ações
e reações. Ao desenvolver, gradativamente, sua
vida espiritual, ela amadurecerá emocionalmente.
Essa maturidade será o cumprimento dos dois pri
meiros mandamentos de Jesus Cristo, que contêm os
selos da verdadeira auto-aceitação. " ... Amarás ao
Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, e de todas as tuas forças e todo o teu entendi
mento, e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lucas
1:27).
Além desses dois selos da auto-aceitação ensina
dos por Cristo aqui, há pelo menos mais cinco outros.
Será proveitoso examinar brevemente cada um
deles,
(1) A m ará e servirá a Deus. Tal indivíduo
tomar-se-á um cristão submisso, sujeito à vontade
de Deus. Ele não será confundido acerca de sua
identidade ou constantemente impelido ao sucesso
por causa da ambição. Pelo contrário, seu interesse
no relacionamento com Deus e a preocupação em
agradá-lo empanarão quaisquer tentativas para
agradar a si mesmo.
(2) Amará e aceitará as outras pessoas. A pessoa
madura pode amar os outros e partilhar de seus
sucessos. A Bíblia nos ensina que devemos
alegrar-nos com os que se alegram e chorar com os
Como vencei a depressão 143
que choram. A pessoa madura poderá fazer ambas
as coisas mas a pessoa egoísta somente pode chorar
com os que choram. Se seu vizinho adquirir um
Cadillac, você pode honestamente alegrar-se com
ele? A pessoa egoísta e imatura simplesmente mur
murará: "Por que isso nunca acontece comigo?' ’Mas
se a esposa do vizinho morreu, entretanto, não é
difícil chorar com ele, sem desejar que coisa seme
lhante nos aconteça. A pessoa verdadeiramente
madura amará e aceitará os outros pelo que são e se
alegrarão com seu sucesso.
(3)Amará e aceitará a si mesmo. Não tenha medo
de amar a si mesmo. Os cristãos podem ser levados a
pensar que qualquer forma de amor-proprio é pe
cado, mas Jesus não disse: "Não ames a ti mesmo."
Ele disse: "Ama a teu próximo como a ti mesmo”,
consciente de que o amor-próprio, na perspectiva
certa, na realidade, é essencial. Todo mundo ama a
si mesmo até certo grau, embora alimente pensa
mentos de auto-reprovação. Entretanto, as pessoas,
freqüentemente, amam mais a si mesmas que a Deus
ou aos outros. Jesus dá bastante lugar para o amor-
próprio desde que venha em terceiro lugar na lista
de prioridades.
A auto-aceitação adequada pode ser verificada
pela maneira de a pessoa aceitar os cumprimentos
acerca de seu trabalho e aparência. Em vez de colo
car o cumprimento de lado, ou desculpar-se, a pes
soa madura reconhece graciosamente a palavra de
elogio. A pessoa que se rejeita torna-se confusa e
embaraçada, geralmente aumentando seu emba
raço ao murmurar qualquer coisa boba e desne
cessária.
(4) Exercitará responsabilidade. A pessoa total
mente madura é digna de confiança, e sempre arca
com a responsabilidade total de suas ações. Isto
pode ser notado, em particular, quando alguma
coisa sai errado. A pessoa que aceita a si mesma não
culpa os outros pelo erro, porque reconhece que sua
144 A depressão e sua auto-imagem
segurança e auto-aceitação não dependem de uma
só experiência na vida. Ela está mais interessada em
aprender com os erros, que achar a culpa para eles.
Tal maturidade pressupõe boa liderança.
(5) É emocionalmente expressiva. A pessoa ma
dura tem a liberdade, não somente de sorrir e chorar,
conforme a ocasião, mas também de reagir emocio
nalmente aos que a cercam. Sua alegria não de
pende das pessoas ou das cirucunstâncias, mas parte
de seu interior. Efésios 5:18-21 declara que o homem
cheio do Espírito tem uma canção no coração, um
espírito de ação de graças, e uma atitude submissa.
Tal indivíduo nunca sofrerá depressão.
(6) Mantém fleixibilidade criativa. A pessoa ma
dura prontamente cede quando necessário e rea
justa seu programa ou horário quando a ocasião
assim o exige. Ela não insiste em que tudo seja feito
à sua maneira, de forma tal que se toma insensível
às necessidades dos outros. Muitos perderam expe
riências proveitosas por causa de seu ressentimento
contra as circunstâncias sobre as quais não têm con
trole. A pessoa madura é suficientemente descon
traída e positiva, de modo que quando circunstân
cias adversas surgem, sua mente criativa produz
alternativa eficaz.
(7) Aceita reprimenda, insulto, e crítica. A pessoa
madura não se sente ameaçada quando alguém a
corrige ou lhe propõe um método melhor. Pelo
contrário, ela aprecia as sugestões de outras pessoas
e, de boa vontade, examina métodos melhores para
atingir seus objetivos.
COMO MELHORAR SUA AUTO-IMAGEM
Desenvolver boa auto-imagem é tão importante
para vencer a depressão que vale algumas páginas
de nosso tempo na consideração de métodos, que
funcionam, para sua melhora.
(1) Desenvolva um relacionamento pessoal com
Deus. Não somente é essencial preencher o vazio de
Como vencer a depressão 145
Deus; que há dentro de você, mediante relaciona*
mento pessoal com ele, através de seu Filho Jesus
Cristo, mas é também assencial aceitar-se a si
mesmo. Depois de preencher o vazio de Deus em
você, recebendo Jesus Cristo, mediante convite pes
soal, desenvolva um relacionamento vital com Deus,
aprendendo a respeito dele à medida que ele se
manifestar em sua Palavra.
Só há um maneira de aprender acerca de Deus:
ler, ouvir, estudar, meditar e decorar o que ele en
sina acerca de si mesmo na Bíblia. O homem secular,
totalmente ignorante de Deus, tem grande dificul
dade com a auto-rejeição; somente através do co
nhecimento de Deus, como revelado em sua Palavra,
a pessoa pode desenvolver a capacidade de aceitar a
si mesma. Como Colossenses 3:16,17 nos admoesta:
"A Palavra de Cristo habite em vós, abundante
mente, em toda sabedoria, ensinando-vos e
admoestando-vos uns aos oturos, com salmos, hinos
e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com
graça em vosso coração. E, quanto fizerdes por pala
vras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor
Jesus, dandoporelegraçasaDeusPai." Seapalavra
de Deus habitar ricamente em você, você natural
mente encontrará paz com Deus, consigo mesmo e
com seu próximo.
(2) Aceite-se como criatura de Deus. A Bíblia nos
diz que fomos "terrivelmente e maravilhosamente
feitos". Deus o criou para seus propósitos, por isso
você deve aceitar-se a si mesmo para o cumprimento
desses propósitos. Ao pedir-lhe direção, poder, e
instrução você se liga ao poder onipotente de Deus.
Se você for cristão, aprenda a aceitar-se a si mesmo,
começando a agradecer-lhe quem você é como
membro de sua família divina.
A aparência da pessoa é, muitas vezes, mostra de
sua auto-aceitação. Se ela se sentir inadequada, de
sajeitada e abatida, usará roupas que exibam esses
sentimentos. Se, entretanto, possuir uma quantia
146 A depressão e sua auto-imagem
adequada de auto-aceitação, vestir-se-á de acordo
com sua vocação, ambiente e recursos. Quero crer
que a tendência moderna para o desmazelo e roupas
não muito apropriadas para senhoras ou cavalhei
ros, que os estudantes de ginásio e faculdade usam,
perpetuarão seus sentimentos de auto—rejeição. O
que interpretam como ataque à ordem estabelecida,
muitas vezes, é um pouco mais que a expressão de
sua insuficiência e autodesaprovação. Natural
mente, é perigoso generalizar aqui, porque alguns
preferem roupa esporte por ser mais confortável,
mas não devem se esquecer de que o bem—vestir
nos dá certo conforto psicológico, dependendo da
ocasião. O gosto da pessoa e seu estilo podem mudar
com a idade e a maturidade, mas as mudanças,
muitas vezes, são sinais da auto-aceitação.
(3) Aprenda a lidar com sentimentos de culpa.
Descobrimos que as pessoas que se rejeitam ficam
muito desencorajadas por causa de pequenos erros,
mas sua frustração geralmente é muito maior que o
fracasso, e se esquecem que todo mundo falha con
sigo mesmo, com a sociedade, e com Deus, às vezes.
Infelizmente, a psicologia moderna tem feito o
máximo que pode, dizendo que a religião é res
ponsável pelo sentimento de culpa, em vez de pro
curar um remédio para ele.
Alguns anos atrás um médico amigo meu,
tratando-me de laringite, aproveitou-se da minha
falta de voz para dizer, um tanto diretamente, que
sua opinião acerca dos ministros era que "haviam
causado mais mal às pessoas que qualquer outra
profissão conhecida". Prosseguiu explicando que
durante o período em que trabalhou como interno
numa instituição mental, descobriu que "noventa e
cinco por cento dos pacientes estavam lá por causa
de complexos de culpa induzidos pela religião".
"Doutor, o senhor não poderia cometer um cerro
maior", sussurrei. “As pessoas sentem-se culpadas
porque são culpadas!” A Bíblia nos ensina o que a
Como vencer a depressão 147
psicologia moderna tende a rejeitar: que o homem
não é um animal sem consciência que pode pecar
sem impunidade, mas uma alma vivente cuja cons
ciência o acusa ou desculpa. (Romanos 2:15.)
Para ter boa saúde mental e adequada auto-
-aceitação, a consciência não pode ser ignorada! Em
vez de esperar que o psiquiatra desfaça as dores da
consciência, o indivíduo precisa encarar seus peca
dos e apropriar-se do perdão de Deus. Por essa razão
Deus enviou as boas-novas que "Cristo Jesus veio ao
mundo para salvar os pecadores” (1 Timóteo 1:15).
O Novo Testamento está cheio destas boas-novas
de que o homem pode receber o perdão de Deus e a
libertação da tirania de sua consciência culpada.
Mas o perdão começa com o reconhecimento pes
soal de pecado, porque a Bíblia ensina que "todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Ro
manos 3:23). Depois de confessar o pecado, o
homem precisa aceitar o julgamento de seu pecado
levado sobre e seu próprio Filho, na cruz do
Calvário, e reconhecer que "o Sangue de Jesus
Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1
João 1:7). A significação desse versículo é que na
realidade Deus "continua nos limpando” de nosso
pecado.
Uma vez que teve o perdão de seu pecado, o
homem deve agradecer a Deus, mediante a fé, esse
perdão. O sentimento de libertação da tirania da
consciência culpada fará com que ele deseje uma
vida mais agradável a Deus. Quando, entretanto, ele
outra vez fica aquém do padrão de Deus, deve en
tender que uma vez mais pode apropriar-se desse
perdão. Uma consciência limpa é essencial à auto-
-aceitação adequada, mas isso é dom de Deus, e não
obra humana.
Os perfeccionistas, em particular, lutam com uma
consciência gigantesca, que os ataca sem misericór
dia porque não conseguem viver segundo seus pa
drões. Precisam aprender que, se Deus, que é per
148 A depressão e sua auto-imagem
feito pode perdoar seus pecados, certamente eles e
seu próximo, que por toda a vida "foram destituídos
da glória de Deus", deviam perdoar-se a si mesmos.
(4) Louve e dê graças a Deus por seus sucessos.
Nunca é saudável permitir que a mente permaneça
sobre assuntos negativos, porque tais ruminações
geram lamentos e autocomiseração, que por sua vez,
produzem depressão. Pelo contrário, é terapêutico
agradecer a Deus suas bênçãos. Descobri que isto é
particularmente útil no aconselhamento matrimo
nial quando um membro da família indica que per
deu seu amor pelo cônjuge. Encorajo-o a fazer uma
lista de dez coisas boas acerca de seu cônjuge, de
pois agradecer a Deus verbalmente esses dez atri-.
butos e resistir à tentação de pensar negativamente.
É espantoso verificar a renovação do amor, mesmo
da pessoa que se convenceu de que é impossível
conseguir de novo aquele sentimento romântico
original.
Ação de graças gera ação de graças. Uma vez que
você desenvolva um padrão de pensamentos de
ação de graças ao Senhor, a si mesmo, aos amados, à
família, ao emprego e ad iníinitum, você descobrirá
que é fácil ser grato. As pessoas agradecidas não
podem ficar deprimidas.
(5) Encare o futuro com uma antecipação en
tusiástica. Todos os que estão lendo este livro têm
um futuro; mais importante, porém, que os detalhes
desse futuro é sua atitude para com ele. De fato,
muitas autoridades afirmam que suas expectativas
para o futuro ajudam a criá-lo.
O cristão não tem razão alguma para temer o fu
turo. Repetidamente Jesus admoestou seus discí
pulos, para benefício de todas as gerações posterio
res de cristãos: "Tende bom ânimo... E eis que
estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos.” Jesus Cristo está conosco agora e nos
acompanhará no futuro, por isso não temos motivo
algum para temer o que está pela frente.
Como vencer a depressão 149
Feliz é o cristoão que desenvolve o hábito de en
frentar cada dia com uma atitude de expectativa,
ansioso para se apropriar da bênção e provisão de
Deus. Recentemente, eu e um ministro cheio do Es
pírito, bem conhecido por causa de seu espírito es
pontâneo de alegria e louvor, dormimos no mesmo
quarto de um hotel. O despertador tocou às 6:10 da
manhã. Embora o sol estivesse encoberto por uma
camada de nuvens frias e invemais, meu amigo
desligou o relógio e exclamou: "Bom dia, mundo!
Obrigado, Jesus, por este novo dia emocionante!"
Não pude deixar de concluir que ele havia conse
guido o que o salmista quis dizer com: "Este é o dia
que fez o Senhor; regozijemo-nos e alegremo-nos
nele" (Salmo 118:24). As pessoas que enfrentam a
vida diariamente com essa atitude mental não têm
problema com a depressão.
CAPÍTULO DOZE
A DEPRESSÃO E SEU
TEMPERAMENTO
À medida que várias tentativas têm sido feitas
para explicar o comportamento humano, numerosas
teorias foram criadas. Os antigos enfatizavam que os
traços herdados do homem eram a causa de suas
ações. Freud e seus seguidores culpavam o am
biente do homem e as experiências da infância pelo
seu comportamento. Na realidade, ambos contri
buem para nossa conduta, mas nosso temperamento
herdado nos influencia mais.
Através dos genes, na concepção, o homem herda
de seus pais e avós, sua natureza inteira, incluindo a
cor dos cabelos, olhos, estrutura corporal, talentos e,
é claro, seu temperamento. Esse temperamento atua
como a influência simples mais poderosa do com
portamento, porque é a causa de suas ações e rea
ções espontâneas. Ocasionalmente algumas das ví
timas da lavagem cerebral psicológica moderna
tentam acentuar a significação do "comportamento
aprendido", mas acho que essa sugestão é um tanto
confusa. Nossos quatro filhos foram criados no
mesmo ambiente básico do lar e foram submetidos
aos mesmos princípios de treinamento, mas diferem
tanto um do outro como a noite difere do dia! Alguns
Como vencer a depressão 151
ingredientes diferentes herdados devem ter cau
sado isso. O armário de nossos filhos sempre provou
essa teoria. Um lado tinha ordem e limpeza, o outro
parecia o resultado de um furacão. Nossas filhas
também eram diferentes. Uma adorava vestir-se
"com roupas encardidas" e até hoje prefere roupas
esportes para o uso diário. A outra menina, antes dos
três anos de idade, já mostrava forte preferência por
estilos mais elegantes e conjuntos que combinassem
bem. Essas e uma centena de outras diferenças
apareceram em suas vidas muito antes de termos
tempo para ensinar tais coisas.
No momento em que escrevo, nossa primeira neta
tem nove meses de idade. Antes que ela pudesse
engatinhar, detectei os mesmos traços de vontade
forte e determinação arrojada que tenho observado
nos seus pais. A razão devia ser óbvia! Ela herdou
certos traços de temperamento que ativam suas
ações e reações.
OS QUATRO TEMPERAMENTOS BÁSICOS
O temperamento é constituído dos traços que her
damos na concepção, e mais tarde, influenciados
pelo treinamento da infância, educação, experiên
cias da vida, ambiente e a motivação, tanto humana,
como espiritual.
A melhor teoria do temperamento foi proposta por
Hipócrates, 2400 anos atrás. Ele sugeriu que as pes
soas cabiam em quatro categorias básicas: o vende
dor superextrovertido e sanguíneo, o líder de von
tade forte extrovertido e colérico, o perfeccionista
melancólico e introvertido, e o passivista fleumático
superintrovertido. Embora se tenham sugerido
muitas variações, essa teoria é disseminada, hoje,
quase que em sua forma original. Talvez a adição-
chave é que ninguém se encaixa perfeitamente em
um único molde de Hipócrates — que as pessoas
tendem a apresentar uma mistura de dois ou mais
desses temperamentos. Este parece um corolário
152 A depressão e seu temperamento
razoável, porque mostra as características físicas do
pai e da mãe.
A maioria das pessoas tende a ter um tempera
mento predominante com leves traços de outro. Não
é incomum a pessoa ser 80% sangiiínea e 20ã3
fleumática, ou 70% colérica e 30% melancólica. Não
há fim nas variações e porcentagens que esses traços
podem produzir; certo homem que examinei provou
ser cerca de 60% sangüíneo, 20% melancólico e
20% fleumático.
TEMPERAMENTO E TEMPERAMENTOS
TRANSFORMADOS
A análise do temperamento humano é um dos
assuntos mais fascinaentes que já estudei. Embora
tenha a tentação de lançar-me numa discussão ex
tensiva dele aqui, por causa do espaço sou forçado a
desistir. Entretanto, sugiro que você leia meus livros
intitulados Temperamento Controlado pelo Espírito
e Temperamento Transformado para ter uma apre
sentação completa do assunto. Neste livro tocarei no
tema do temperamento somente no que se refere ao
problema da depressão.
O SANGÜÍNEO E A DEPRESSÃO
O temperamento sangüíneo cria uma pessoa ca
lorosa, amistosa e espontânea que atrai a si as pes
soas, como se fosse um ímã. Ela tem boa conversa, é
otimista despreocupada, enfim, a "alma da festa".
Embora seja generosa, cheia de compaixão e res
ponda bem a seu ambiente e aos sentimentos e hu
mores dos outros, da mesma forma que os oustros
temperamentos, ela tem alguns pontos fracos natu
rais. Frequentemente possui vontade fraca, é
instável emocionalmente e explosiva, inquieta e
egoísta. Na infância, todos esperavam que tivesse
sucesso, mas raramente alcança essas expectativas.
Tem grande dificuldade em se prender a detalhes,
Como vencer a depressão 153
quase nunca está quieta. Por baixo de seu exterior
audaz é, muitas vezes, insegura e timorata. Os san-
güíneos dão bons vendedores, locutores, atores, e
algumas vezes, líderes.
O sangüíneo raramente fica deprimido quando
em campanhia de outros. Ele sente tanta afinidade
com os demais que só em ver outra pessoa seu espí
rito se eleva e aparece um sorriso em seu rosto.
Quaisquer que sejam os períodos de depressão que
ele experimenta, quase que invariavelmente come
çam quando está sozinho. A característica mais
agradável do sangüíneo é sua capacidade de des
frutar o presente. Ele não olha para as experiências
infelizes do passado, e nunca se preocupa com o
futuro desconhecido.
Muitos sanguíneos indisciplinados experimen
tam depressão durante a quarta ou quinta década da
vida. Sua falta de disciplina e fraqueza de vontade
os tornam um pouco improdutivos, para seu próprio
desapontamento e dissabor. A esta altura, têm ten
dência à obesidade, por causa de sua incapacidade
de recusar sobremesas que engordam e outras coisas
apetitosas. Isto rebaixa sua auto-estima, e aumenta
sua tendência à depressão. Embora reajam bem e
alegremente às outras pessoas, sua tendência à de
pressão leve aumenta. Certo escritor os comparou a
Peter Pan — não desejam crescer nunca. Embora
sejam estimados e atraentes, não se pode depender
deles e não têm susbstância real.
À medida que estes sangüíneos charmosos, que,
muitas vezes, agem como crianças crescidas, tomam
consciência de seu caráter superficial, sua insegu
rança aumenta. Tomam-se defensivos, sensíveis à
menor crítica, quase obcecados com as opiniões dos
outros acerca deles. Não é incomum que fiquem
deprimidos, a esta altura, entregando-se à autoco-
miseração. Podem até mesmo culpar seus pais por os
terem poupado tanto na infância de modo que nunca
desenvolveram autodisciplina, mas é muito difícil
154 A depressão e seu temperamento
para eles culpar a si mesmos, confessar seu pecado e
procurar a plenitude do Espírito Santo para dar-lhes
a força de caráter de que necessitam tão desespera
damente.
Se não encararem seu problema realisticamente e
aprenderem a andar no Espírito, flutuarão entre a
depressão e a felicidade por um certo período, até
que, de alguma maneira infantil, fazem o ajuste
mental e então passam pela vida fixos numa posição
jocosa muito abaixo de seu nível potencial.
O sangüíneo cheio do Espírito é diferente! O Es
pírito Santo não somente o convence de que seus
padrões de pensamento autocomiseradores são pe
cados, mas também o guia nas áreas de produtivi
dade, assim fazendo com que ele se aceite e se preze
mais facilmente. Quando o sangüíneo é cheio do
Espírito, como o apóstolo Pedro no livro de Atos,
toma-se uma pessoa produtiva e eficiente, livre da
depressão.
O TEMPERAMENTO COLÉRICO E A DEPRESSÃO
O temperamento colérico produz o ativista
prático. Ele tem grande força de vontade, é líder
nato e muito otimista. Seu cérebro está cheio de
idéias, projetos ou objetivos e, geralmente, ele os
leva a cabo. Como o Sr. Sangüíneo, ele é extrover
tido, mas não com tanta intensidade. Embora muito
produtivo na vida, reflete vários pontos fracos natu
rais sérios. É auto-suficiente, impetuoso e de tem
peramento esquentado, e tem tendência a ser brusco
e cmel. De fato, ninguém pode ser tão cortante e
sarcástico como o colérico. Ele dá bom supervisor,
general, construtor, cruzado, político ou organiza
dor, mas geralmente não é capaz de fazer algo que
exija meticulosidade.
O colérico raramente torna-se deprimido, em
geral porque sua mente, ativa e consciente de um
objetivo, conserva-o tão motivado que projeta qua
torze programas diferentes ao mesmo tempo. Se um
Como vencer a depressão 155
desses programas tomar-se confuso ou frastrador,
seu desapontamento é curto e rapidam ente
entrega-se a um novo desafio. Os coléricos são feli
zes quando ocupados, e assim têm pouco tempo para
ficar deprimidos. Sua principal frustração na vida é
que as horas do dia não são suficientes para empre
gar o seu suprimento infinito de metas e objetivos.
A rejeição ou os insultos que, geralmente, faz com
que os outros temperamentos entrem em períodos
de depressão, nunca afetam o colérico. Ele é tão
couro-grosso, auto-suficiente, e independente por
natureza que é raro sentir necessidade de outras
pessoas. Em vez de sentir comiseração por si mesmo,
quando sozinho, gasta o tempo criando novos pla
nos.
Emocionalmente ele é o temperamento menos de
senvolvido de todos. Por isso, de modo geral ele
experimenta mundanças de humor muito pequenas.
Embora fique com raiva facilmente, é muito raro
entregar-se à autocomiseração. Pelo contrário, ex
plode com todos. Por ser insensível às opiniões
alheias a seu respeito, não é vulnerável à depressão
causada pelas pessoas. Se o colérico tiver de
enfrentar depressão, será por causa da frustração ou
retirada.
Ao tempo em que o colérico alcança a quarta ou
quinta década da vida, seu cérebro tendente à ativi
dade pode, com freqüência, criar a síndrome de ati
vidade mental que faz com que seus pensamentos se
cancelem ou causem curto-circuito uns aos outros,
como se fosse um quadro de distribuição sobrecar
regado. Esta tendência foi observada no capítulo
sobre as causas da depressão. Como cristão, o colé
rico deve aprender a descansar no Senhor e entregar
seu caminho a ele. A vontade indomável e o espírito
de auto-suficiência, muitas vezes fazem com que ele
seja um cristão inútil e improdutivo, que insiste em
fazer tudo na carne em vez de fazê-lo no Espírito. Se
ele promove atividades cristãs com sucesso, seu or
156 A depressão e seu temperamento
gulho o toma míope espirtualmente e falha em dis
cernir sua motivação carnal.
A paz do Espírito Santo que ultrapassa todo o
entendimento modulará seu padrão de pensamento,
fazendo com que ele se concentre no Senhor pri
meiro e depois na tarefa. Ele deve aprender que o
programa de Deus não depende dele, e, sim, que ele
precisa depender de Deus. Deve reconhecer além
disso que o cumprimento do trabalho de Deus não é
suficiente; que deve fazê-lo no poder do Espírito.
Como a Bíblia diz: "Não por força nem por poder,
mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos"
(Zacarias 4:6). O apóstolo Paulo, talvez o melhor
exemplo de um colérico cheio do Espírito e usado
por Deus, tinha aprendido isso muito bem, porque
disse:" ... Porque quando sou fraco, então é que sou
forte" (2 Coríntios 12:10).
O cristão colérico cheio da carne pode tomar-se
deprimido até que compreenda este princípio, por
que ele fica frustrado pela falta de resultados espi
rituais de seus esforços constantes e carnais. Em vez
de culpar-se a si mesmo por seu espírito carnal e
egocêntrico, pode inchar-se de autocomiseração e
retrair-se das atividades da igreja. Seu espírito car
nal geralmente pode ser detectado pelos outros na
congregação e, dessa forma, ele é deixado de lado
na eleição dos oficiais da igreja. “Não com
preendo", reclama. "Será que meu trabalho não é
prova suficiente de minha devoção a Cristo?” Feliz é
o colérico que aprende a dizer com Tiago: .. Se o
Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto
ou aquilo" (Tiago 4:15). Se ele procurar as priorida
des da vontade de Deus mediante a liderança do
Espírito Santo em sua vida, ele não somente será
mais produtivo, mas também mais calmo. Uma vez
que compreenda que o andar no Espírito é o segredo
da produtividade espiritual, ele conseguirá consis
tência em sua vida cristã.
Outro período da vida, durante o qual o colérico é
Como vencer a depressão 157
vulnerável à depressão, é a aposentadoria. Embora
ele geralmente não se aposenta até os setenta ou
mais, deve programar em seu pensamento alguma
forma de produtividade para depois da aposenta
doria ou entregar-se à depressão. A capacidade do
Espírito Santo de literalmente transformar a tendên
cia colérica à depressão é bem exemplificada na
vida do apóstolo Paulo. Se já houve exemplo do
temperamento colérico, foi o de Saulo de Tarso antes
de tomar-se cristão. Depois de sua conversão, sua
vontade colérica indomável, dirigida pelo Espírito
Santo, aparece por todo o livro de Atos. Sua reação
ao confinamento oferece ilustração clássica das cir
cunstâncias depressivas vencidas mediante invasão
da natureza espiritual do homem pelo Espírito
Santo. Confinado à prisão marmetina fria e úmida
em Roma, pregando o evangelho, ele não manifes
tou sequer o mínimo sinal de autocomiseração. Pelo
contrário, este cristão dinâmico aproveitou a opor
tunidade para partilhar sua fé pessoalmente com
cada soldado romano designado para guardá-lo.
Tão grande número desses homens se converteram
que ele se dirigiu à igreja de Roma: "Todos os santos
vos saúdam, especialmente os da casa de César”
(Filipenses 4:22). Além disso, desta prisão ele escre
veu as epístolas do cárcere, inclusive a espístola da
alegria chamada carta aos Filipenses, na qual
afirma: "Porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação" (Filipenses 4:11). Os coléricos
cheios do Espírito nunca ficarão deprimidos.
O TEMPERAMENTO MELANCÓLICO E A
DEPRESSÃO
O temperamento mais rico de todos é o melancó
lico. Não é somente rico em dons e apreciação esté
tica, mas também tem a capacidade de experimen
tar o espectro inteiro das flutuações emocionais.
Além disso, é rico em fraquezas emocionais, parti
cularmente na tendência à depressão. Alguns dos
158 A depressão e seu temperamento
maiores gênios do mundo foram melancólicos bem
dotados que gastaram seu talento no poço da tris
teza, tomando-se apáticos e improdutivos. Isto é tão
evidente que os antigos frequentemente usavam as
palavras melancolia e depressão para significar a
mesma coisa.
O melancólico geralmeníe é o mais talentoso de
todos os temperamentos. Perfeccionista natural,
muito sensível e apreciador das belas artes, ele é
analítico e tende ao auto-sacrifício. Em geral não é
espontâneo por natureza e raramente se mostra, mas
pode ser um amigo muito fiel. Entretanto, tem ten
dência a ser mal-humorado, crítico, pessimista e
egocêntrico. Os maiores artistas, compositores, filó
sofos, inventores, e teóricos do mundo, geralmente
foram melancólicos.
Embora todos sejam vulneráveis a seu padrão
mental de pensamento, ninguém reage mais a ele do
que o melancólico. Entre seus outros dons criativos,
tem a grande capacidade de sugerir imagens à tela
de sua imaginação — provavelmente em cores e
som estereofônico. Os melancólicos são mal*
-humorados por natureza, por isso podem pensar que
seu mau—humor seja espontâneo, mas sabe-se que o
mau—humor resulta diretamente dos padrões de
pensamento. Se o melancólico vigiar seus processos
de pensamento e recusar entregar-se aos pecados
mentais da raiva, ressentimento, autoperseguição e
autocomiseração, ele não cederá ao seu pendor para
a depressão.
A influência poderosa da mente sobre nossos es
tados de ânimo pode ser fortemente ilustrada por
umm experiência que tive com meus filhos quando
estavam crescendo. Certo domingo à noite, en
quanto iam para a cama, lembramos-lhes, como
milhões de pais lembram a seus filhos: "Não se
esqueçam — amanhã têm de levantar cedo para ir à
escola." Em uníssono cantaram: "Temos de ir a es
cola amanhã?" Assegurando-lhes que esta era uma
Como vencer a depressão 159
parte necessária de suas vidas, e aceitando seu res
mungo com a constumeira longanimidade de pai,
mandei-os para a ceuna. Não é preciso dizer que na
segunda-feira acordaram com espírito azedo. Sin
ceramente, odiei ter de impingi-los à sua professora
nesse dia.
Na semema seguinte os mesmos meninos estavam
deitados nas mesmas camas à noite. Enquanto ajei
tava os cobertores, avisei: ‘'Não se esqueçam, têm de
levantar cedo amanhã porque vão à Disneylândial"
Você pode imaginar o coro feliz que saudou meu
aviso. Na manhã seguinte os dois meninos pularam
da cama, excitados e expectantes, antecipando a
viagem emocionante pela frente. Sentado à mesa do
café nessa manhã verifiquei a diferença entre os
estados de ânimo que ocorrem em uma semana. Seu
metabolismo parecia funcionar melhor, seus olhos
estavam mais limpos, seus rostos mais brilhantes, o
mundo inteiro parecia melhor porque refletiam uma
atitude mental melhorada. O melancólio que reco
nhece o poder que a mente subconsciente tem de
influenciar seu estado de ânimo, procurará o poder
do Espírito Santo para orientar positivamente seus
padrões de pensamento.
É difícil encontrar um período na vida que o me
lancólico ache mais depressivo que outro. Geral
mente suas depressões se evidenciam cedo na in
fância; a menos que seja motivado espiritualmente
pelo poder de Deus, esses períodos depressivos o
seguirão por toda a vida. Por ser supersensível e
egocêntrico, ele sempre acrescenta coisas a tudo às
vezes ficando quase obcecado com a idéia de que as
pessoas não gostam dele ou que estão rindo dele,
OS PERFECCIONISTAS MELANCÓLICOS
Os melancólicos são facilmente deprimidos por
serem perfeccionistas. Seria bom que a maioria das
pessoas tivesse um pouco mais da tendência perfec
cionista, mas o perfeccionista verdadeiro sofre com
160 A depressão e seu temperamento
essas tendências. Em primeiro lugar, ele se mede
por seu próprio padrão arbitrário de perfeição e fica
desencorajado consigo mesmo quando não conse
gue atingir esse padrão. Raramente lhe ocorre o fato
de seu padrão ser tão elevado que nem ele nem
ninguém mais poderá alcançá-lo. Pelo contrário, ele
insiste em que seu critério para a perfeição é "rea
lista".
Além do perfeccionismo, ele é muito conscien
cioso e sente orgulho de que as pessoas "podem
contar com ele" e que é "exato". Naturalmente que
todos os seus amigos não atingem esse padrão, de
forma que não é incomum ele ficar deprimido por
causa de si mesmo e de seus associados. Sendo
muito rígido e inflexível, ele acha difícil tolerar o
menor desvio do que considera ser a medida da
excelência.
Tais melancólicos com tendência ao perfeccio
nismo podem amar bastante seus filhos enquanto ao
mesmo tempo podem ficar deprimidos por causa
deles. As crianças são notoriamente desorganizadas
e imprevisíveis; seguem seus próprios esquemas e
insistem em agir como crianças. O pai melancólico
rígido acha difícil lidar com coisas imprevisíveis e
conseqüentemente pode experimentar depressão.
Às vezes a mãe melancólica pode tomar-se ambi
valente para com seus filhos, amando-os intensa
mente e ao mesmo tempo tendo raiva e amargura. A
criancinha descuidada e feliz que insiste em deixar
as marcas de pezinhos no assoalho da cozinha com
seus sapatos sujos, pode ser fonte de irritação para
qualquer mãe, parcicularmente se for malancólica.
Antes de casar, provavelmente, ela não poderia ir
dormir até que tivesse guardado seus sapatos e que o
banheiro estivesse em perfeita ordem. As crianças
automaticamente mudam isso, mas os perfeccio
nistas acham difícil lidar com tal mudança; conse
qüentemente, seu caminho é a depressão. Ficam
com raiva pela falta de perfeição dos outros e
Como vencer a depressão 161
entregam-se à autocomiseração por serem os únicos
a lutar por objetivos grandiosos. Tais padrões de
pensamento invariavelmente produzem depressão.
Para fazer justiça às pessoas melancólicas, preci
samos dizer que são tão críticas de si mesmas quanto
dos outros. Consequentemente, tendem a desenvol
ver visão inadequada de si mesmas. Desde a infân
cia, constroem na tela da imaginação uma auto—
imagem depreciativa. Ao envelhecerem, contrário
aos outros temperamentos que tendem a aceitar-se a
si mesmos, eles têm a tendência de se rejeitarem
cada vez mais. Consequentemente, seus períodos de
depressão aumentam. Se lhes foi permitido verbali
zar suas críticas na infância, poderão ser críticos
verbalmente na idade adulta. Toda vez que se en
tregam à crítica oral, somente aprofundam o espírito
de crítica em sua mente, e os críticos nunca são
pessoas felizes!
As pessoas melancólicas não somente são perfec
cionistas rígidos e indivíduos conscienciosos, mas
também possuem limiar baixo de ansiedade e ten
são. O modo de vida norte-americano não conduz à
felicidade para tais pessoas. Vivemos numa socie
dade hiperativa e colérica, como o Dr. Paul Toumier
diz num capítulo sobre o temperamento, em seu
livro intitulado The Healing oí Persons (A Cura das
Pessoas). Parece que a civilização Ocidental, onde o
evangelho de Cristo teve sua influência mais pro
funda, reflete tuna população altamente colérica.
Essa seria a característica da raça teutônica ou nór-
dica, que tem tendência a apresentar alta percenta
gem de temperamento colérico. Esses indivíduos
localizaram-se na Escandinávia, na Alemanha, em
parte da França, na Irlanda e na Inglaterra, países de
onde saiu a maioria dos colonos norte-americanos.
Embora seja difícil provar, parece-me que os euro
peus mais corajosos, compassivos e coléricos vieram
colonizar este país. Consequentemente, segue-se
que seus descendentes teriam um número muito alto
162 A depressão e seu temperamento
de cidadãos coléricos com tendência à hiperativi-
dade, o que pode ser a causa do nosso ambiente
industrializado, rápido e de alta pressão. Atmosfera
como essa não é a melhor para o melancólico, por
que não está interessado em alcançar produção em
massa, mas perfeição e qualidade. Não é incomum
ouvir um profissional melancólico reclamar: "Sim
plesmente não temos tempo para ser exatos.”
AUTO-SACRIFÍCIO E TENDÊNCIA À
PERSEGUIÇÃO
Duas características dos melancólicos que entram
em curto-circuito mutuamente são seu desejo natu
ral de auto-sacrifício e sua tendência para autoper-
seguição. A menos que ele tome cuidado, esse con
flito provavelmente fará dele um mártir. Geral
mente ele escolhe o lugar mais difícil e fatigante
para exercer sua vocação. Quando os outros pare
cem ser mais bem sucedidos e ganhar mais renome,
em vez de encarar realisticamente o fato que esco
lheu o caminho do auto-sacrifício, ele se entrega à
autocomiseração porque sua jornada vai morro
acima e leva a estreitos árduos.
A determinação do melancólico de reclamar e cri
ticar simplesmente complica seu pensamento ne
gativo e finalmente traz-lhe desespero. Por isso 1
Tessalonicenses 5:18 pode vir em seu socorro! Se ele
seguir diligente e consistentemente esta fórmula,
nunca ficará deprimido. "Em tudo dai graças, por
que esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para
convosco.”
CRIATIVIDADE MELANCÓLICA
Felizmente para o melancólico, ele possui capaci
dade criativa incomum de projetar todas as espécies
de imagens na tela de sua imaginação. Uma vez que
compreenda que seus sentimentos são o resultado
direto da construção de imagens mentais sadias de
Como vencer a depressão 163
si mesmo e de suas circunstâncias, estará a caminho
de recuperar-se e prevenir futuros achaques de de
pressão. As pessoas melancólicas arriscam-se a ter
depressão por causa do mau uso contínuo de sua
imaginação criadora. Isto é, na tela de sua mente,
projetam negativismo, autocomiseração, incapaci
dade e desespero. Uma vez que compreendam que
suas sugestões criativas podem funcionar contra
eles ou a seu favor, podem cuidadosamente projetar
apenas as imagens agradáveis a Deus. Tais pensa
mentos elevarão seu espírito, estabilizarão seus es
tados de ânimo, e ajudá-los-ão a evitar a depressão.
O FLEUMÁTICO E A DEPRESSÃO
O fleumático é o "cara alegre", fácil e que nunca
se zanga. Além de ter uma disposição calma e
amável, o Sr. Fleumático é um cara alegre que tra
balha bem com as outras pessoas, uma pessoa efi
ciente, conservadora, em quem se pode confiar,
cheia de humor, com mente muito prática. Por ser
bastante introvertido, em regra, seus pontos fracos,
bem como os fortes, não são facilmente perceptíveis
como os dos outros temperamentos. Sua fraqueza
mais óbvia é a falta de motivação. Pode ignorar o
trabalho graciosamente e ter tendência à teimosia,
avareza e indecisão. Sua capacidade de olhar a vida
através dos olhos de espectador pode gerar a ten
dência de evitar "envolver-se" com o que quer que
seja. Os fleumáticos dão bons diplomatas por serem
pacificadores naturais. Muitos são professores, mé
dicos, cientistas, comediantes e editores de livros e
revistas. Quando motivados extemamente, dão lí
deres muito capazes.
Como regra geral, a pessoa fleumática não fica
deprimida com facilidade. Seu senso de humor
ímpar é sinal de tuna perspectiva de vida feliz, e
raramente reflete muita mudança de ânimo. É pos
sível conhecer um fleumático a vida toda e nunca
vê-lo com raiva, porque não importa a ocasião, tende
164 A depressão e seu temperamento
a desculpar meutalmente a pessoa que o ofendeu,
feriu e rejeitou. Sua capacidade de se ajustar às
circunstancias desagradáveis é incrível aos outros
três temperamentos, que acham mais fácil reclamar
ou criticar mental e verbalmente.
Se o fleumático experimentar depressão, será
geralmente dirigida à sua própria falta de agressivi
dade. Muitas vezes sua mente prática é capaz de
inventar um plano de ação que sirva a um dado
conjunto de circunstâncias, mas por causa de sua
inclinação passiva, ou seu temor de ser criticado
pelos outros, ele não se abre. Conseqüentemente, se
levado pela família ou por um outro grupo de pres
são, pode ser tentado a executar um plano inferior ao
que tinha em vista. Isto pode produzir irritação que,
quando seguida de autocomiseração, fá-lo-á depri
mido. Felizmente, sua depressão é curta, a maioria
das vezes, porque logo um daqueles personagens
espantosamente interessantes chamado ser humano
vem para alegrá-lo e entretê-lo.
Em um único período crítico na vida o fleumático
fica mais vulnerável à depressão. Durante a quinta
ou sexta década, freqüentemente, torna-se cons
ciente de que os outros temperamentos já o deixa
ram para trás vocacionale e espiritualmente em
todas as outras maneiras. Enquanto apreciava o jogo
da vida passivamente como espectador, seus amigos
mais agressivos entravam pelas portas da oportuni
dade. Sua tendência à segurança impediu-o de sair
para aventuras ousadas na vida, e portanto sua
existência pode parecer-lhe um tanto enfadonha
durante este período. Se ele se entregar à auto
comiseração, definitivamente tornar-se-á depri
mido.
Em vez de culpar seu medo ou indolência, ele
acha mais fácil reprovar a "sociedade” ou "minha
sorte". A pessoa desse tipo devia aprender acerca do
Senhor Jesus cedo na vida e tentar grandes coisas
para Deus, porque Cristo disse: "Seja-vos feito se-
Como vencer a depressão 165
gundo a vossa fé!" (Mateus 9:29).
FRUSTRAÇÃO MATRIMONIAL—DEPRESSÃO
FLEUMÁTICA
Os fleumáticos geralmente são bons cônjuges. É
relativamente fácil viver com eles; embora sejam
um tanto egoístas, sempre cedem durante a contro
vérsia porque eles "simplesmente não gostam de
briga". Mas capitular contra a vontade leva à amar
gura e o resultado é autocomiseração — seguida de
depressão. O único remédio duradouro para o
fleumático (ou qualquer outro temperamento) é
andar no Espírito e aprender a submeter-se' 'uns aos
outros no temor de Deus" (Efésios 5:21). Ele deve
aprender a entregar seus direitos a Deus e a seu
cônjuge e genuinamente buscar a felicidade do par-
eceiro. Quando a pessoa se casa "pelo que pode
conseguir do casamento'', sempre fica desapontada.
Entretanto, quando decide fazer seu paceiro feliz,
sua própria felicidade está garantida. Paulo disse:
"Porque tudo que o homem semear, isso também
ceifará." Ainda não encontrei um cônjuge triste e
infeliz que genuinamente queria dar alegria a seu
parceiro.
A submissão no casamento, quando feita com o
espírito certo, tem efeito espantoso sobre o outro
cônjuge, melhorando a objetividade, removendo a
competição e inspirando o desejo de retribuir a
amabilidade. Muitas vezes tem o efeito de "amon
toar brasas de fogo sobre a cabeça do cônjuge",
porque depois de levar a melhor em certa situação, o
cônjuge pode ficar tão vexado pela culpa, que será
menos agressivo ou menos exigente da próxima vez.
Mas a questão crucial é: o que se rende faz isso
alegremente ou com autocomiseração? A resposta
determina se a entrega será ou não seguida de de
pressão.
A pessoa fleumática deve estar muito vigilante
neste ponto, porque ela, vezes sem conta, evita o
166 A depressão e seu temperamento
conflito cedendo — mas ressentindo-o mental
mente. Os pensamentos de autocomiseração geral
mente seguem ao ressentimento, e a depressão con-
seqüente subverterá a estabilidade emocional.
OS OPOSTOS SE ATRAEM
As pessoas que assistem a meus seminários sobre
a vida familiar riem barulhentamente de algumas
das ilustrações dos opostos se atraindo no casa
mento. Mas sua diversão é cortada, entretanto,
quando descobrem a verdade sombria que nossas
fraquezas inevitavelmente colidem com as forças do
cônjuge no cadinho do casamento. A menos que os
casais aprendam a se ajustar aos traços e hábitos de
seu parceiro, estarão fadados ao conflito.
Os pontos fortes que você achava tão cativantes no
seu noivo antes do casamento podem ser apagados
pela aparência desagradável de pontos fracos cor
respondentes depois de casados. Parece que esse
problema não foi antecipado. Você pode ter perce
bido que os pontos fortes de seu parceiro correspon
diam a seus pontos fracos, o que o atraiu a princípio,
mas o alarma substitui a satisfação quando você
descobre que os pontos fracos de seu parceiro estão
relacionados com uma área de seus pontos fortes.
Ah, aí está o xis da questão! É tão fácil desprezar e
depreciar os pontos fracos da outra pessoa
— especialmente quando estão na área de nossos
pontos fortes!
FLEUMÁTICOS NEM SEMPRE SE CASAM COM
COLÉRICOS!
Embora seja muito perigoso generalizar acerca
das pessoas, tenho repetidamente observado que os
temperamentos iguais não se casam. Dos 428 casais
cujos nós matrimoniais tive de apertar, até onde sei,
nenhum tinha o mesmo temperamento. Isto é parti
cularmente verdadeiro dos fleumáticos, que geral
Como vencer a depressão 167
mente se casam com coléricos. Mas tal união pode
produzir predisposição singular à depressão.
Se o colérico for a esposa, o marido fleumático
pode encarar a depressão porque "não posso
aguentar essa mulher sempre me pressionando!” O
que antes do casamento parecia "a liderança dinâ
mica e prática" da mulher torna-se autocracia do
minante depois do casamento. Contrastando, a es
posa colérica descobre que seu namorado "amável,
gentil e paciente” transforma-se em esposo "fraco,
sem motivação, sem desafio e maçante". O marido
fleumático perturbado raramente exporá suas con
vicções contra sua esposa, que o domina
— experimenta depressão por causa de seu fracasso
em "assegurar sua hombridade”, e também por
causa de seus padrões de pensamento autocomise-
radores.
A esposa fleumática ofendida e muitas vezes criti
cada, com um marido colérico, freqüentemente se
entrega à autocomiseração porque não pode fazer
nada para agradar a seu marido. Ela é "lenta de
mais, sem nenhuma motivação e sem nenhum desa
fio”. A raiva dele tira qualquer auto-imagem que ela
tinha trazido para o casamento, e quando as explo
sões sarcásticas dele a deixam quebrada e humi
lhada algumas vezes, ela acrescenta "depressão” à
sua lista de características indesejáveis.
Sim, os fleumáticos podem ficar deprimidos.
Podem resistir à depressão um pouco mais que os
outros temperamentos, mas a negligência de seus
recursos espirituais fá-lo-áa presa de suas armadi
lhas.
REMÉDIO PARA A FRAQUEZA DO
TEMPERAMENTO
Deus tem um plano emocionante para vencer as
fraquezas de todos os temperamentos — até mesmo
a depressão. Em Efésios 5:18 ele o chama de estar
sendo continuamente "enchidos com o Espírito”.
168 A depressão e seu temperamento
Como ressaltaremos em capítulo posterior, a pleni
tude do Espírito Santo produz três grandes caracte
rísticas emocionais.
1) Canção em seu coração (Efésios 5:19)
2) Atitude mental de ação de graças (Efésios 5:20)
3) Espírito submisso (Efésios 5:21)
É impossível ficar deprimido quando a pessoa
compreende todas estas três emoções. Estar cheio do
Espírito, então, é o remédio óbvio para a depressão
emocional.
TODA DEPRESSÃO É CAUSADA PELA
AUTOCOMISERAÇÃO?
Toda vez que falo sobre depressão, alguém com
rosto triste pergunta: "Não há nenhuma exceção?
Certamente alguma depressão pode ser causada or
ganicamente." Fomos tão condicionados a jogar a
culpa de nosso comportamento sobre outras pessoas
ou nossa condição física que hesitamos em aceitar
responsabilidade por nossas próprias ações.
Como já disse, muitos médicos querem culpar
nossas glândulas, a química do corpo e muitas out
ras causas para depressão, mas outros levam nossa
atenção a processos de pensamentos ou atitudes
mentais — não nossas glândulas. É certo que algu
mas doenças do corpo afetam as mudanças de nossos
estados de ânimo, mas mesmo essas mudanças
podem ser controladas por atitude mental ade
quada. O diagrama seguinte ilustrará o ponto.
y
Circunstâncias normais da vida = irreaular
Como vencei a depressão 169
O diagrama acima esclarece a importância de se
ter boas atitudes mentais o tempo todo. Não pode
mos controlar as circunstâncias da vida, mas pelo
poder do Espírito Santo, podemos governar nossas
atitudes mentais. Nesse diagrama o indivíduo se
entregou a uma atitude mental pobre três vezes, por
negligência espiritual, doenças, período mensal ou
ciclo de estado de ânimo, mudanças de hormônios,
pecados ou outras razões. Durante os primeiros dois
períodos de pecado de atitude mental, nada aconte
ceu que liberasse a autocomiseração, mas observe o
terceiro. Nessa ocasião, uma das circunstâncias im
previsíveis, que são famosas na vida, colidiu com o
padrão de pensamento inadequado. O resultado
previsível foi a depressão.
Quando o cristão anda no Espírito, mantém ati
tude mental adequada de modo que pode reagir com
louvor e ação de graças às circunstâncias negativas
da vida. Lembre-se, Deus prometeu não permitir
circunstâncias negativas acima de nossa capaci
dade de suportar. Ele, portanto, pressupõe que
manteremos atitude mental adequada.
QUAL É A ATITUDE MENTAL CORRETA?
Vários componentes formam a atitude mental
correta. Analise-os cuidadosamente para ver se os
possui.
1) Entrega total à vontade e aos desígnios de Deus
(Romanos 6:11-13; 12:1, 2).
2) Conhecimento dos princípios de Deus (Roma
nos 12:2). Ninguém jamais conhecerá todos os
princípios de Deus para a vida, mas você pode
refrescar a mente diariamente com eles, lendo e
estudando a Palavra de Deus.
3) Fé (Romanos 14:23 eHebreus 11:6). É impossí
vel incorporar as dimensões dinâmicas de Deus
em sua vida sem a fé. Se sua fé é fraca, não
espere que algum milagre a torne forte. Os pas-
170 A depressão e seu temperamento
sos seguintes fortalecerão sua fé.
a. Ouvir, ler e estudar a Bíblia (Romanos 10:13).
b. Orar pedindo mais fé (1 Coríntios 12:31).
c. Andar no Espírito (Gálatas 5:22, 23).
d. Experimentar a fé (Romanos 1:17).
Toda vez que você confiar em Deus por alguma
coisa, fica mais fácil confiar nele da próxima vez.
CAPÍTULO TREZE
A DEPRESSÃO E O
OCULTISMO
Minha esposa não tem tendência à depressão por
natureza; pelo contrário, tem personalidade muito
radiante e vibrante. Certa noite foi uma exceção
distinta! Ao chegar a casa de volta do trabalho,
encontrei-a letárgica, um tanto sombria e um pouco
deprimida. O jantar nem estava começado, nada
parecia interessar-lhe, e percebi que ela suspirava
pesadamente. Depois de observá-la por alguns mi
nutos, comentei:
— Você está diferente esta noite, querida. O que
está acontecendo?
Ela olhou para mim e respondeu:
— Não sei. Por alguma razão, simplesmente me
sinto deprimida.
— O que você fez esta tarde?
— Trouxe as crianças para casa às 3:30— ela
respondeu—, depois fui ler e gradativamente este
sentimento de depressão me sobreveio.
Ela me entregou um exemplar de um dos livros
mais vendidos no momento e que tratava do ocul
tismo, satanismo e possessão demoníaca.
Nesse ponto compreendi que este livro sobre de
pressão devia conter um capítulo breve sobre os
172 Como vencei a depressão
efeitos emocionais de ler a respeito do ocultismo. O
livro que ela estava tentando ler foi escrito por um
cristão com tentativa sincera de ajudar outras pes
soas a evitarem envolver-se com o ocultismo. Pas-
ando os olhos pelo livro, notei que o autor dava seu
testemunho pessoal com muitos detalhes íntimos
referentes ao movimento do ocultismo e ao reino das
trevas. Francamente, os cristãos precisam saber
muito pouco acerca de Satanás e do ocultismo, a não
ser que é pecaminoso, nocivo, prejudicial — alguma
coisa para se conservar a distância.
A MODA DO OCULTISMO
Desde sua primeira rebelião contra Deus, Satanás
tem repetidamente tentado destruir a humanidade.
As culturas primitivas têm-se inclinado sempre para
a magia negra, feitiçaria e outras formas de ocul
tismo mas, invariavelmente, com prejuízo das pes
soas. Histórias que missionários contam, com deta
lhes sombrios, de como associação com espíritos
demoníacos ou métodos sofisticados de comunica
ção com demônios produzem depressão e outras
formas de miséria humana. Algumas perguntas que
me fazem em minhas palestras sobre a vida familiar
em várias partes do país, freqüentemente têm rela
ção com o demonismo e o ocultismo. Tenho visto
suficiente para me convencer de que toda depressão
não é resultado de possessão ou pressão domoníaca,
mas todos os contatos com demônios ou espíritos
maus produzem depressão. A pessoa que consulta os
místicos, os que recebem mensagens mediúnicas, as
tábuas de Ouija, os que lêem as mãos ou quiroman-
tes, das grandes cidades, invariavelmente dentro de
algumas horas, ou possivelmente dias, será tragada
pelo espírito da depressão.
Um efeito secundário prejudicial da moda do
ocultismo de hoje em dia é que as pessoas têm ten
dência de culpar o exorcismo ou o demonismo por
seu comportamento. O indivíduo irado preferiría
A depressão e o ocultismo 173
sair pelo caminho irresponsável ao dizer: "O demô
nio me fez fazer isso!", em vez de admitir que é uma
pessoa hostil.
Às vezes a depressão leva as pessoas a chapinhar
no demonismo. A sua miséria auto-induzida através
de períodos prolongdos de autocomiseração faz com
que elas procurem alívio fácil de espírito em vez de
confrontação honesta com o padrão de pensamento
que as levou a esse lago de desânimo. Alguns se
valem de drogas ou bebidas alcoólicas, mas os mé
diuns, místicos e necromantes também são facil
mente disponíveis como soluções rápidas. Temos
conhecimento de pessoas seriamente deprimidas,
sofrendo por causa da perda de uma pessoa amada,
que se valeram de médiuns para ouvir a voz do
falecido de novo. Mas invariavelmente o fim último
é pior que o primeiro. Tais panacéias podem trazer
alívio a curto prazo, mas complicam o problema da
depressão.
Se soubéssemos a verdade, muitos suicídios
atuais provavelmente poderíam ser atribuídos à de
pressão induzida por Satanás. O indivíduo com ten
dência para a depressão, erradamente pensa que a
feitiçaria ou o ocultismo oferecem alívio — e desco
bre que sua depressão só aumenta. Depois, em com
pleta frustração, não vê esperança e erroneamente
conclui que o suicido é a única saída. Hal Lindsey,
em seu livro Satanás Está Vivo e Ativo no Planeta
Terra, diz:" ... Depois de Stanás usar Judas para seu
propósito, então usou o poder da culpa para levá-lo à
autodestruição (Mateus 27:5-10). O menino pos
suído pelo demônio em Mateus 17:14,15 tinha ten
dência forte para a autodestruição. Ele se jogava no
fogo e depois na água. Isto era resultado do demônio
tentar infligir danos ou autodestruição sobre a
criança.”1
LIBERTAÇÃO DA DEPRESSÃO INSPIRADA PELO
DEMÔNIO
174 Como vencei a depressão
Podemos ter a segurança da libertação de Sa
tanás !Mas essa libertação sempre ocorre nos termos
de Deus, não nos dos homens ou de Satanás. Se você
tem praticado ocultismo, demonismo, ou outra
forma qualquer de comunicação ou adoração satâ
nica, você precisa desfazer todo o relacionamento
com isso imediatamente e voltar-se para Cristo. Se
você não for cristão, receba-o como seu Senhor e
Salvador e depois peça que ele o encha do Espírito
Santo.
Depois de receber Jesus Cristo como seu Salvador
e Senhor pessoal, você somente precisa ser cheio de
seu Santo Espírito diariamente e andar em seu Es
pírito (Gálatas 5:16-24) para livrar-se dos efeitos
maléficos do ocultismo. Lembre-se, Deus nunca faz
mandamentos impossíveis ou difíceis (Efésios 5:18).
Por ele insistir em que sejamos cheios do Espírito,
segue-se, naturalmente, que ele fez com que isso
seja simples. Se você examinou seu coração, confes
sou todo pecado conhecido, e está total e incondi
cionalmente entregue a Deus, então lhe peça que o
encha com o Espírito e espere uma mudança con
sistente em suas emoções. A melhor maneira para
apressar a terapia é ler passagens compridas da Pa
lavra de Deus. De fato, comece com a leitura repe
tida do livro de Filipenses. Tenho aconselhado cen
tenas de pessoas com tendência à depressão a lerem
o livro inteiro de Filipenses toda manhã por trinta ou
sessenta dias. As verdades desse livrinho mudarão
sua visão da vida!
A ARMADURA DO CRISTÃO
A Palavra de Deus nos ensina: "Resisti ao diabo e
ele fugirá de vós" (Tiago 4:7). Nossos meios de re
sistência estão claramente esboçados em Efésios 6,
onde se nos apresenta a armadura completa de
Deus. Note especialmente que todas as peças da
armadura proporcionam defesa adequada para
tudo, menos para retroceder: "Portanto tomai toda a
A depressão e o ocultismo 175
armadura de Deus, para que possais resistir no dia
mau, e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai pois
firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a ver
dade, e vestida a couraça da justiça; e claçados os
pés na preparação do evangelho da paz; tomando
sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apa
gar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai
também o capacete da salvação, e a espada do Espí
rito, que é a palavra de Deus; orando em todo o
tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e
vigiando nisto com toda a perseverança e súplica
por todos os santos” (Efésios 6:13-18).
Todas as peças da armadura do cristão para sua
guerra espiritual lhe são conferidas mediante a Pa
lavra de Deus. Por isso é essencial ler a Palavra de
Deus para a nutrição espiritual diária assim como é
essencial alimentar-se fisicamente todos os dias.
Cristãos anêmicos cujas mentes consistentemente
consomem o alimento carnal da televisão, do ci
nema, da pornografia e do materialismo, não podem
resistir ao diabo. Podem se preocupar com ele, estu
dar seus métodos, ter conhecimento de seu pro
grama — e ainda ser derrotados por ele.
Em contraste, o cristão que deixa que "a mente de
Cristo” se tome sua armadura ao ler diariamente a
Bíblia e mediante obediência aos seus ensinos,
triunfará vitoriosamente sobre Satanás — vitória
essa que só vem por Cristo Jesus. Sempre que o
cristão peca ou é ferido pelo dardo de Satanás, não
deve ceder a seu adversário, mas reconhecer que a
derrota será iminente se falhar em apropriar-se da
armadura espiritual da Palavra de Deus.
Se você tem tendência à depressão ou se descobre
que a leitura de material sobre o ocultismo tem in
fluência deprim ente sobre você, deixe-me
oferecer-lhe esta sugestão: Da próxima vez que você
for tentado a ler um artigo ou livro concernente a
Satanás ou ao ocultismo, apague o desejo e leia
Filipenses, Efésios, 1 João e o Sermão do Monte. Seu
176 Como vencer a depressão
espírito será elevado e sua vida emocional fortale
cida.
CAPÍTULO QUATORZE
A DEPRESSÃO E A
M ÚSICA
A música tem efeito muito maior sobre as emoções
humanas que a maioria das pessoas reconhece; ela
pode dar vigor, levantar os ânimos, deprimir, e em
alguns casos, agravar. Não somente pode criar esta
dos de ânimo, mas também pode perpetuá-los ou
dissipá-los.
O poder que a música tem sobre as pessoas
toma-se evidente durante uma parada ou desfile. Os
estados de ânimo da multidão modificam-se com
cada melodia executada pelas bandas. De fato, o
corpo tem a tendência de oscilar ou pulsar ritmada-
mente na proporção direta da música, quer seja ela
folclórica, partriótica, leve e graciosa ou frenética.
Antes que os modernos meios de comunicação
expusessem o mundo a todos os tipos de música,
cada cultura parecia gravitar em torno de sua pró
pria música. Em grande medida, as formas musicais
mais elevadas foram encontradas nas civilizações
ocidentais. De fato, a arte musical não se desenvol
veu em grande escala nos outros países por causa da
influência das várias religiões sobre suas respecti
vas culturas.
A música alegre limitou-se quase que exclusiva
178 Como vencer a depressão
mente às civilizações ocidentais. Primariamente
porque até anos recentes o Cristianismo e o Ju
daísmo exerceram a maior influência sobre a música
ocidental. O paganismo, influência principal da
música nas outras partes do mundo, sempre foi do
minado pela nênia ou cantochão. Esse tipo de mú
sica utiliza muito as tonalidades menores ou tristes.
No Antigo Testamento, quando o homem experi
mentava um relacionamento alegre com Deus, ex
plodia em canções. O Novo Testamento, da mesma
forma, indica que a primeira característica ou evi
dência do Espírito Santo na vida do cristão é uma
canção no coração e o louvor através da melodia
(Efésios 5:18-20). Como resultado disto, o Cristia
nismo deu ao mundo algumas de suas formas musi
cais mais belas e grandiosas, ideadas por Deus como
instrumento de bênção para as emoções do homem.
Em capítulo anterior demonstramos que as emo
ções do homem são influenciadas por sua mente. A
música é uma exceção a essa regra, porque como
medicação ou remédio, ela é capaz de influenciar as
emoções sem afetar a mente. Por causa disso, assim
como você regula o tipo de medicamento ou remédio
que sua família usa, é importante que você também
regule o tipo de música que você e sua família escu
tam.
A MÚSICA AFETA AS DISPOSIÇÕES DE ÂNIMO
Nesta era de depressão, a música moderna muitas
vêzes tem a tendência de ser deprimente, pois as
pessoas que escrevem as músicas são deprimidas, e
a música reflete seu estado de ânimo, ou porque a
música em si mesma é deprimente. Mui freqüente-
mente ambos os casos são verdadeiros. Muita gente
culpa Satanás por esse uso prejudicial da música,
numa tentativa de desmoralizar as pessoas.
Inclino-me à consideração de que isso é resultado
natural de se eliminar Jesus Cristo da vida da pes
soa.
A depressão e a música 179
Se examinarmos cuidadosamente a letra de mui
tas canções populares, descobriremos que elas estão
cheias de reclamação e lamentação. Tristeza e de
sastre parecem ser o elemento de presságio da mú
sica moderna. A última coisa que a pessoa depri
mida necessita é ouvir esse tipo de música! Mas por
estranho que pareça, por causa de seu estado de
ânimo deprimido, ela pode ser atraída para essa
música.
A música Ocidental, outrora alegre, por causa do
controle dos meios de comunicação pelos ateus,
degenera-se rapidamente, transformando-se nas
mesmas melodias deprimentes que ouvi na índia, na
África e na China. A menos que o músico seja cheio
do Espírito Santo, terá tendência de criar música
mórbida, pessimista, e negativa com melodia ou
ritmo prejudiciais. Precisamos voltar à música ale
gre.
O poder que a música tem de afetar nossos estados
de ânimo já foi bem estabelecido. Nos dias do rei
Saul de Israel, quando o "espírito mau vinha sobre
ele” (provavelmente um espírito de depressão), ele
chamava Davi, o doce salmista de Israel, para vir
tocar sua harpa. Os belos acordes da harpa nas mãos
do instrumentista espiritual tinham efeito tranqüli-
zador no espírito de Saul (1 Samuel 16:23).
A MÚSICA NO LAR
Todo lar deveria ser cheio de música, mas não
qualquer tipo de música. O fundo musical sadio e
inspirador tende a reduzir fontes menores de irrita
ção e barulhos desagradáveis na casa. Além disso,
pode melhorar o estado de ânimo das crianças e dos
adultos. A manhã de domingo parece fomentar
muita irritação e conflito nos lares cristãos, en
quanto a família toma o café apressado, corre para
terminar algumas coisas de última hora, e final
mente dirige-se para a Escola Dominical em desa
cordo; por isso o pai sábio, consciente da lufa-lufa
180 Como vencer a depressão
que as manlias de domingo ocasionam, mas também
consciente do efeito calmante da música, deve fazer
com que a casa seja cheia de música de louvor e
exaltação. Ninguém que acorde ao som de "Castelo
Poite é Nosso Deus" ou "Jesus Reinará” pode ficar
de cara feia enquanto toma o café da manhã!
Alguém que já estudou toda a influência que a
música tem nos lares, sugere que devíamos tocar
música que desperta pela manhãs, música ativa pela
tarde, e música que descansa durante a noite. Estou
convencido de que uma das melhores maneiras de a
família cristã contra-atacar a tendência quase uni
versal do jovem para o "rock” ou para as baladas
sentimentais, que geralmente trazem prejuízo ao
seu desenvolvimento emocional, é dar-lhe uma al
ternativa criadora. Somente ao fazermos isto cria
remos nele o apetite sadio pela boa música.
Se você ou outra pessoa de sua família é sensível à
depressão, aconselho que escolha sua música com
muito cuidado. Certifique-se que a música ou o ins
trumento escolhidos tenham efeito alegre e edifi
cante sobre suas emoções. Não deixe que suas cir
cunstâncias determinem a música; rejeite a música
que combine com seu estado de ânimo abatido. Em
vez disso, ouça música que exerça influência posi
tiva em você e nas pessoas de sua família.
Seria difícil achar um lugar mais impróprio para
cantar do que a cela de uma prisão. Mesmo assim, o
apóstolo Paulo, juntamente com Silas, seu compa
nheiro de viagem, usou tal ocasião para elevar seus
espíritos com cântico. O capítulo 16 do livro de Atos
conta que foram presos por pregarem o evangelho e
expulsarem um espírito mau de uma jovem. Não
somente foram confinados a uma cela mas também
serveramente espancados e tiveram seus pés e mãos
amarrados. Em vez de reclamar a Deus e sentir pie
dade de si mesmos, começaram a cantar e a louvá-lo.
Como resultado, tiveram a estrutura espiritual para
serem instrumentos de Deus em levar os primeiros
A depressão e a música 181
europeus ao conhecimento salvador de Jesus Cristo,
o que manteve e até mesmo elevou ainda mais seus
espíritos.
A Bíblia nos ensina que o coração livre de culpa e
em unidade com Deus produz hinos de ação de gra
ças espontâneos e alegres. A vida e o coração sem
Deus têm a tendência de produzir música disso
nante e pesarosa. O escritor de Provérbios 29:6 ex
plica que “o justo canta e regozija-se" e através da
Bíblia descobrimos que o relacionamento da pessoa
com Deus e o conhecimento de seus caminhos e
obras maravilhosos produz o cântico. Examine o se
guinte: "Cantai ao Senhor, porque fez coisas gran
diosas; saiba-se isto em toda a terra" (Isaías 12:5).
"Cantai alegres, vós, ó céus, porque o Senhor fez
isto; exultai vós, as partes mais baixas da terra; vós,
montes, retumbai; também vós, bosques, e todas as
árvores em vós; porque o Senhor remiu a Jacó, e
glorificou-se em Israel" (Isaías 44:23).
O grande cantor de Israel exclamou: "Celebrai
com júbilo ao Senhor, todos os moradores da terra.
Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele
com canto. Sabei que o Senhor é Deus: foi ele, não
nós, que nos fez povo seu e ovelhas de seu pasto.
Entrai pelas portas dele com louvor, e em seus átrios
com hinos; louvai-o e bendizei o seu nome. Porque o
Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua
verdade estende-se de geração a geração" (Salmo
100
O resultado emocional da música alegre e eieva-
).
FUTILIDADE
A abundância de Deus
“Muito mais abundantemente do que pedimos
ou pensamos.”
COMO AJUDAR UM
AMIGO DEPRIMIDO
As pessoas deprimidas precisam de ajuda! Não
obstante seu comportamento errático, necessitam de
apoio dos que as cercam, ainda que suas ações tor
nem esse auxílio muito difícil de ser dado. Algumas
mostram cara feia ou irada, o que faz com que seus
amigos se afastem justamente no momento em que
mais elas precisam deles. Muitas se isolam no silên
cio, dando a impressão de que querem ficar sozi
nhas. Não é verdade! Sua ajuda nesse ponto terá
mais valor que em qualquer outra ocasião.
É freqüente a família da pessoa deprimida, por
ignorar a depressão, tornar-se irritada com o com
portamento dela. Consequentemente, quando ela
precisa de compreensão e amor, pode ser submetida
a palavras hostis e a desaprovação, o que somente
complica seu problema. E ainda quando se retrai, na
realidade ela tem medo de ficar sozinha. Não espere
que essa pessoa procure apoio, mas conceda-o. A
Bíblia ensina que o amor é benigno. Se você real
mente amar uma pessoa, você será sua amiga e terá
consideração por ela, não somente quando ela é
forte, mas também quando mais precisa de você
— na fraqueza maior. A seguir damos uma lista
Como vencer a depressão 213
básica de sugestões de como ajudar os deprimidos, e
o Espírito Santo acrescentará mais, dependendo de
sua situação especial. Não pretendemos dar uma
lista completa.
(1) Esteja lá! A coisa mais importante que você
pode fazer por uma pessoa deprimida, humana
mente falando, é estar presente quando ela neces
sitar de você. Não importa quão adversa seja a re
ação dela à sua presença, ela necessita que você a
salve de suas emoções autodestruidoras, atitudes
mentais e, em alguns casos, violência física.
Para ajudar, você não precisa conversar, exami
nar, ou dar conselhos. Sua presença durante as horas
de tristeza intensa é prova silenciosa de seu amor, e
pode contra-atacar a rejeição que de uma maneira
ou de outra contribuiu para a depressão dela.
(2) Não mostre compaixão. Ela caiu no pântano do
desespero porque incorreu na autocomiseração.
Não a ajude a justificar sua atitude, mas ao mesmo
tempo não a condene. Ela precisa de compreensão e
empatia, não de condenação.
(3) Programe esperança na tela da imaginação de
seu amigo. A pessoa deprimida geralmente projeta
desesperança e desespero, porque, como já vimos,
seus objetivos foram desfeitos, sua perspectiva da
vida é negativa, e não vê solução. Ela deixou que
seus padrões de pensamento se concentrassem con
tinuamente sobre o fracasso e a desesperança, por
isso suas circunstâncias parecem muitas vezes mais
negras do que são na realidade. Portanto, qualquer
sussurro amável e gentil de esperança em face de
sua situação presente será benéfico.
Muitas vezes na sala de aconselhamento, durante
a primeira entrevista, tive sucesso meramente ao
projetar na tela da imaginação da pessoa deprimida
a certeza da esperança. Se ela sair de meu consultó
rio com um raio de esperança de que alguém, ho
nestamente, pode prever uma solução iminente para
seu dilema, seu estado mental provavelmente me
214 Como ajudar um amigo deprimido
lhorará no espaço de tempo entre as entrevistas.
(4) Encoraje mas não discuta. Ao mesmo tempo em
que programar a esperança disponível em Cristo,
ignore os mecanismos de defesa derrotistas dele e
seu negativismo; abstenha-se de ser excessiva
mente positivo. Ele pode ressentir-se de sua fé, a
esta altura, por isso seja gentil e compreensivo.
(5) Faça com que ela pense em outra coisa além de
si mesma. O distintivo dos deprimidos é a auto-
-ocupação. Sempre que possível, leve a pessoa a pen
sar nos outros. Uma aconselhanda deprimida disse
que havia tido ajuda do motorista do táxi no cami
nho para meu consultório. Evidentemente ele era
um tipo loquaz, autocomiserador que expressava
livremente sua angústia. Ela admitiu: "Sinto-me
melhor ouvindo-o falar. Ele tem mais problemas do
que eu."
(6) Tente envolvê-la em uma atividade. Há algo
terapêutico no movimento corporal, porque esti
mula a circulação, faz o coração palpitar, e tende a
ativar as glândulas. Descobri que correr depois de
um programa árduo de pregações é tão benéfico
quanto dormir, e em alguns casos, melhor. A exaus
tão emocional nos desgasta, ao passo que a ativi
dade tende a limpar o sistema. Como sugestão para
ela principiar, você pode encorajá-la a se envolver
com o esporte ou com a atividade favoritos dela.
(7) Ajude-a assumir suas responsabilidades nor
mais gradativamente. Todo mundo encara a respon
sabilidade na vida, e mais cedo ou mais tarde a
pessoa deve assumir essas responsabilidades.
Tenha cuidado para não jogar o fardo inteiro sobre
ela logo de início, porque o grande peso da respon
sabilidade pode ser a causa original da depressão.
(8) Não se anime demais! O sábio, em Provérbios
25:20, diz: "O que entoa canções junto ao coração
aflito é como aquele que se despe num dia de frio, e
como vinagre sobre salitre." A pessoa animada e
barulhenta pode ser uma grande fonte de irritação
para o deprimido.
Como vencer a depressão 215
(9) Leve-a à Palavra de Deus. Não há nada melhor
para aliviar a pessoa deprimida que recitar as pro
messas de Deus. Infelizmente, sua depressão
toma-a ressentida com Deus, desta forma evitando a
única solução ao seu problema emocional. Se ela
permitir que você leia algumas porções da Palavra,
faça-o. Faça sugestões quanto a porções-chave que
ela pode ler, como alguns dos grandes salmos de
Davi, que também experimentou a depressão e
sabia como curá-la. Sugira-lhe também que leia al
guns bons livros que você pode pessoalmente reco
mendar. É minha esperança que este livro se torne
uma ferramenta terapêutica que muitos poderão
presentear a seus amigos deprimidos.
(10) Ore com ela em espírito de gratidão. Até
mesmo o deprimido raramente recusará a oração, o
que geralmente reconhece ser sua última espe
rança. Mas assegure-se de que você esteja orando a
Deus a respeito dela e de seu problema, e não
orando a ela. Lembre-se, neste momento você é ex
tremamente vulnerável, porque sua oração revelará
sua compreensão, dos problemas que ela enfrenta.
Tenha cuidado em não condená-la por seu ressen
timento e autocomiseração. Deixe que o Espírito
Santo faça o trabalho de convencer, e ore também
com gratidão pelo que Deus já fez e é capaz de fazer
na vida dela. O simples ouvir a sua oração de ação de
graças e compreensão pode ser terapêutico.
(11) Gaste tempo com ela. A Bíblia ensina que a
primeira característica do amor é a paciência, que
significa tolerância. Se você realmente ama uma
pessoa, confirme esse amor quando ela estiver de
primida, gastando o tempo necessário com ela,
transmitindo-lhe a certeza de que alguém real
mente a ama.
AJUDANDO AQUELES QUE ESTÃO NO
DESESPERO DA AFLIÇÃO
216 Como ajudar um amigo deprimido
A morte de uma pessoa amada naturalmente pro
duz aflição. Isto acontece até com os cristãos mais
ardorosos. Muitas vezes, ouvi cristãos admitirem,
depois da morte de um ente querido: "Nunca esta
mos realmente preparados para a morte." Embora
isto seja verdade realmente, os cristãos não “se en
tristecem como os outros que não têm esperança”.
O texto de 1 Tessalonicensses 4:3-18 foi escrito
para uma jovem igreja a fim de desfazer sua tristeza
pela perda de pessoas amadas. O conforto dessa
passagem é fundamentado na promessa de que ve
remos nossos entes queridos crentes outra vez. Essa
verdade é um dos grandes tesouros da Bíblia. Por
que Jesus Cristo virá outra vez, todos aqueles que
confiam nele se reunirão algum dia. A pessoa que
projetar esse fato realisticamente na tela de sua
imaginação reduzirá sobremodo a tragédia da afli
ção. A dor da perda não pode ser eliminada de ime
diato, mas gradualmente diminuirá.
É muito difícil consolar o não-crente na hora da
aflição, porque ele está' 'sem Cristo e sem esperança
neste mundo”. Às vezes clamam a Deus em seu
desespero e são salvos. Mas qualquer que seja sua
condição, necessitam de companheirismo, pois o
estar só é a pior coisa que podem experimentar nes
ses momentos. Felizmente, uma consciência intui
tiva desse fato existe em quase todos os seres huma
nos, o que explica porque parentes e entes queridos
se apressam a estar ao lado de uma pessoa que
perdeu seu cônjuge, seu pai ou seu filho. Todos nós
reconhecemos uma necessidade comum nesta hora.
Ajudar o indivíduo aflito inclui recitar-lhe as
promessas de Deus. Nos casos de extrema tristeza
não é incomum que a mente fique completamente
vazia. Assim, um amigo que permaneça a seu lado,
dando-lhe segurança das promessas e fidelidade de
Deus, será uma inspiração tremenda. Para ser esse
tipo de amigo é preciso amar, amar e amar muito.
CAPÍTULO DEZOITO
A MAIORIA INFELIZ
"Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te
perturbas em mim? Espera em Deus" (Salmo 42:5).
Mais cedo ou mais tarde, todo mundo fica depri
mido! As condições mentais da pessoa podem não
ser tão graves a ponto de precisar ser hospitalizada
em estado catatônico ou já pode não estar tão deses
perada da vida que tente suicidar-se, mas, inevita
velmente, mais cedo ou mais tarde encontrará a de
pressão.
Para a maioria das pessoas a depressão é uma
experiência temporária que acontece quando as cir
cunstâncias da vida estão em declínio e ao mesmo
tempo a bateria espiritual está descarregada e seu
mecanismo de elaboração mental é negativo. Ge
ralmente a depressão desaparece dentro de um
tempo limitado desde que a pessoa endireite sua
vida espiritual, como já explicamos, e mude seu
padrão de pensamento para consigo mesma, para
com o problema, ou para com a pessoa que o esteja
causando. Não é necessário mudar o problema, a fim
de eliminar a depressão, mas é essencial ajustar a
atitude mental.
Espera-se que a pessoa deprimida não tenha to
mado alguma decisão mais grave durante a depres
são que complique seus problemas, tais como fugir
218 Como vencer a depressão
de casa, pedir divórcio, abandonar os estudos ou
deixar o emprego. Geralmente é perigoso tomar
uma decisão de maior importância quando a pessoa
está deprimida. É preferível eliminar primeiro a de
pressão, depois tomar a decisão.
Para muitas pessoas, a depressão é um modo de
vida. Elas aprenderam os hábitos do ressentimento,
e da autocomiseração em tenra idade e conseqüen-
temente desenvolveram um esquema mental bem
entrincheirado que precisa ser mudado. Tais indiví
duos devem ser encorajados pelo fato de que em
bora a depressão crie muita infelicidade, não pre
cisa ser fatal. Na verdade, um exame cuidadoso da
Bíblia revela que alguns dos maiores servos de Deus
tiveram grandes problemas com a depressão. Se o
antigo adágio "Mal de muitos, consolo de todos" for
verdadeiro, as pessoas deprimidas gostarão deste
capítulo.
JÓ, O PACIENTE
Um dos maiores homens do mundo antigo foi o
patriarca Jó. Alguns acham que ele foi contemporâ
neo de Abraão, e portanto viveu cerca de 400 anos
antes de Moisés. Alguns historiadores acreditam
que pode ter sido ele quem arquitetou a construção
das pirâmides do Egito.
Jó foi grandemente abençoado por Deus, durante
os primeiros anos de sua vida. Entre seus bens figu
ravam sete filhos e três filhas, 7.000 ovelhas, 3.000
camelos, 1.000 bois, 500 asnos e "muitíssimos cria-
dos’\ Não é de espantar o que as Escrituras nos
dizem: .. este homem foi o maior de todos os
orientais."
É natural que Jó não sofresse de depressão nesses
dias — nem podia, pois tudo estava correndo bem
para ele. Mas, de repente, tudo isso mudou. Seus
animais foram roubados ou mortos e um ciclone
destruiu a casa de seu primogênito durante uma
festa, matando todos os seus filhos. Para piorar a
A maioria infeliz 219
situação, seu corpo se cobriu de uma chaga maligna
"desde o pé até o alto da cabeça".
Embora Jó não compreendesse que estava sendo
testado por Deus para provar sua fidelidade ge
nuína, através de toda esta tragédia ele não pecou,
mesmo quando sua esposa o instigou: "amaldiçoa a
Deus e morre!" Sua reação positiva a esta tragédia,
que teria jogado qualquer pessoa normal no mais
profundo abismo do desespero, ganhou-lhe a repu
tação de ser o homem mais paciente do mundo.
Entretanto, todos têm seus ponto de resistência,
até mesmo Jó. A última gota ocorreu quando seu três
melhores amigos vieram para encorajá-lo a confes
sar o pecado em sua vida que havia provocado essa
série de tragédias. Depois de permanecer sentado
no chão, em silêncio, por vários dias, Jó falou. Suas
palavras revelam de modo claro a depressão, porque
finalmente ele se entregara ao pecado do ressenti
mento e autocomiseração. A leitura cuidadosa dos
capítulos 3 e 7 revela isto. Alguns de seus pensa
mentos que indicam sua autocomiseração são os se
guintes:
3:1' 'Depois disto passou Jó a falar, e amaldiçoou o
seu dia natalício."
3:3 "Pereça o dia em que nasci.
3:4 "Converta-se aquele dia em trevas; e Deus, lá
de cima, não tenha cuidado dele, nem resplandeça
sobre ele a luz."
3:6 "Aquela noite! dela se apoderem densas tre
vas; não se regozije ela entre os dias do ano, não
entre na conta dos meses."
3:10 "Pois não fechou as portas do ventre de
minha mãe, nem escondeu dos meus olhos o sofri
mento."
3:11 "Por que não morri eu na madre?"
Somente um coração de pedra acharia difícil
compreender a reação pecaminosa de Jó, porém isto
não a desculpa nem a abranda. Este grande homem
estava deprimido pela mesma atitude mental peca
220 Como vencer a depressão
minosa que provoca a depressão hoje em dia — a
autocomiseração. Quando confessou seu pecado
(7:20, 21), mostrando que havia mantido sua fé em
Deus a despeito de sua horrível tragédia, Jó foi per
doado e seu ânimo restaurado. Então debateu-se
com seus amigos tentando provar a fidelidade de
Deus. O ânimo e a fé crescentes de Jó evidenciam-se
nos capítulos 9 a 41, antes de sua situação melhorar.
Como resultado, Deus abençoou Jó com "o dobro de
tudo o que antes possuira" (Jó 42:10). Não somente
recobrou suas riquezas, mas teve mais sete filhos e
três lindas filhas. E ainda foram-lhe concedidas
longa vida e boa saúde e Jó viveu 140 anos e viu
quatro gerações de seus filhos.
A lição principal que devemos aprender com Jó
não é somente que devemos regozijar-nos a des
peito de circunstâncias incrivelmente trágicas, mas
que mesmo quando não o peçamos no início, é pos
sível obter o perdão ao olharmos para Deus com fé.
Ele é sempre fiel a seus filhos, e sabe quanto pode
mos suportar e nós não. Deus não guarda rancor por
reagirmos inadequadamente a princípio, mas está
sempre pronto a perdoar e a restaurar.
Jó foi usado poderosamente por Deus depois de
seu período de depressão.
O MAIOR LÍDER DO MUNDO
Quando julgado por suas realizações pessoais e o
impacto que provocou na humanidade, Moisés
sobressai-se como o maior líder de toda a história.
Ele não somente tirou três milhões de judeus res
mungões do Egito e os guiou durante quarenta anos
no deserto, mas também serviu como instrumento de
Deus, dando ao mundo o mais notável código de leis
e normas éticas jamais produzidos.
Em um capítulo anterior usamos a oração de auto
comiseração de Moisés registrada em Números
11:10-15 como exemplo clássico da oração prejudi
cial. No versículo 15 ele se torna tão deprimido que
A maioria infeliz 221
pede a Deus .. mata-me, eu te peço.. feliz
mente, para Moisés e para os filhos de Israel, Deus
ignorou esse pedido, mas, se ele chegou a fazê-lo, é
evidência de que seu pecado de autocomiseração
devia ter sido habitual. Uma revisão cuidadosa de
sua vida também nos mostra um sério problema de
ira ou ressentimento. Junte esses dois pecados e
você terá a fórmula perfeita para a depressão.
O fato de que a autocomiseração de Moisés e sua
subsequente depressão foram perdoadas e que Deus
continuou a usá-lo por mais trinta e oito anos, mostra
mais uma vez que a depressão não precisa ser fatal.
A pessoa jrooensa à depressão pode ser usada por
Deus ->e se arrepender de seu padrão mental ma
ligno e ccniiar rele para o futuro. Isto é particular
mente verdadeiro se os princípios bíblicos para a
vida estiverem bem firmados em sua mente de modo
que, no acesso de depressão, a pessoa não cometa
um erro tão sério que complique sua vida de tal
forma, que depois de passar a depressão ela se torne
um "pária” e Deus já não possa usá-la para cumprir
seu propósito perfeito na sua vida.
Em contraste, outro grande líder que apareceu no
palco do mundo doze séculos depois de Moisés
dá-nos um bom exemplo. Tendo conquistado o
mundo ocidental aos trinta anos de idade, Alexan
dre, o Grande, ficou deprimido porque não havia
mais mundos para ele conquistar. Durante sua de
pressão voltou-se para a bebida e diz-se que literal
mente bebeu até morrer. Os valores morais e princí
pios bíblicos para a vida encontrados na Bíblia,
quando programados nos arquivos da mente, não
deixarão que essas tragédias aconteçam.
O PAI DOS PROFETAS
Depois de Moisés, Elias talvez seja o maior
homem do Antigo Testamento; ele possuía poderes
miraculosos de curar os doentes, ressuscitar os mor
tos, não deixar chover por três anos, e até mesmo
222 Como vencer a depressão
fazer descer fogo do céu. Em certa ocasião, sozinho
matou 450 profetas ímpios de Baal que haviam co
metido o pior pecado conhecido do homem
— enganar os homens a respeito de Deus. Ele fun
dou a escola de profetas, que foi poderosamente
usada por Deus para impedir que Israel e Judá se
voltassem para o paganismo e idolatria mais cedo do
que fizeram.
Embora fosse um grande hómem de Deus, Elias
também conhecia a derrota da depressão. Em certa
ocasião ele ficou tão abatido que pediu a Deus que o
deixasse morrer (1 Reis 19:4). Elias ficou deprimido
simplesmente porque se entregou à autocomisera-
ção! Em 1 Reis 19:10 vemos muito claro seu padrão
de pensamento: "Tenho sido muito zeloso pelo Se
nhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel
deixaram teu concerto, derribaram os teus altares, e
mataram os teus profetas à espada: e eu fiquei só, e
buscam a minha vida para ma tirarem.”
Mas a realidade era outra, pois 7000 profetas
mantiveram sua fidelidade a Deus. Mas na mente de
Elias ele era o único fiel que havia sobrado. A auto-
comiseração sempre cega os olhos para os recursos e
aumenta as dificuldades.
Quem nunca teve pensamentos como estes? "Sou
o único para fazer esta tarefa." "Sou a única pessoa
que não consegue cantar." "Mamãe e papai sempre
me atormentam, nunca aos outros." Esse pensar de
sobediente, no fim produz a depressão que conti
nuará até que se mude o padrão mental.
Felizmente para Israel, e para Elias, ele se arre
pendeu de seus pecados, o Senhor o protegeu, e seus
anos de vida foram mais do que os de Jezabel e seu
marido ímpio, o rei Acabe.
O PROFETA DESCONTENTE
Se o número de almas convertidas a Cristo através
da pregação do homem fosse a medida da grandeza,
o profeta Jonas deveria ser reconhecido como o
A maioria infeliz 223
maior pregador de todos os tempos. Estima-se que
mais de um milhão de ninivitas se arrependeram por
causa de sua pregação.
Em vez de ficar contente com a maneira por que
Deus o usou para levar salvação a tanta gente, esse
profeta tornou-se estranhamente deprimido. Ele
chegou ao extremo de fazer a seguinte oração:
"Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me minha vida, porque
melhor me é morrer do que viver" (Jonas 4 :3).
Seria perfeitamente compreensível que um con
selheiro secular procurasse algum problema emo
cional profundo na vida de Jonas que explicasse
esse seu estado depressivo. Alguns até poderiam
atribuí-lo ao esgotamento emocional que se seguiu
à sua frenética campanha de pregação. Mas o fato
permanece que Jonas estava "extremamente des-
gostoso" e “muito irado!" Ele estava com raiva de
Deus por haver perdoado os pecados dos ninivitas e
poupado suas vidas. Jonas odiava os ninivitas! E seu
ódio era justificado, do ponto de vista humano, é
claro, porque os ninivitas haviam perseguido
cruelmente os filhos de Israel por muitos anos. É
provável que ele tivesse ficado muito contente por
que, afinal, Deus ia destruí-los, o que, sem dúvida,
explica sua recusa, a princípio, em ir e pregar a eles.
De maneira que quando Deus lhes perdoou, sua
fúria não conheceu limites. Sua ira o levou à auto-
comiseração e finalmente a um estado de depressão
tal que pediu a Deus que o deixasse morrer. Este é
um tremendo exemplo de como se pode transformar
uma ocasião alegre em uma experiência depri
mente! Jonas devia ter confiado a Deus o resultado
que ele não conseguia entender. Em vez disso, sua
autocomiseração causou um curto-circuito em seu
regozijo potencial, de modo que se retirou para a
angústia da reclusão, resmungando consigo mesmo
e reclamando de Deus.
Podemos ser tentados a desculpar Jonas, porque a
ordem do Novo Testamento, "em tudo dai graças” (1
224 Como vencer a depressão
Tessalonicenses 5:18), ainda não havia sido escrita.
Mas você pode ter certeza de que se ele tivesse
agradecido a Deus o grande reavivamento espiritual
de Nínive, ele nunca teria ficado deprimido.
O PROFETA CHORÃO
Alguns homens levantaram-se das páginas da
história na época em que o serviço mais apropriado
que podiam fazer pela nação era chorar. Jeremais
viveu em tempos assim! E chorou. E suas lágrimas
eram justificadas. Israel, a grande nação que uma
vez fora abençoada por Deus, tinha apostatado tanto
que havia sido levado cativo cento e trinta e cinco
anos antes. Somente um reavivamento espiritual
sob a liderança do rei Ezequias e do profeta Isaías
havia salvo Judá. Os fiéis dentre os filhos de Israel
vieram a esta tribo do sul procurando segurança. A
despeito da mão poderosa de Deus em proteger esta
pequena nação, seus filhos, com o tempo, se esque
ceram do Deus de seus pais. A uma nação como essa
Deus chamou Jeremias, o profeta chorão.
Com interesse profundo e choro aberto, ele preve
niu o povo que se não se arrependesse de seus peca
dos e voltasse para Deus, os babilônios destruiríam
sua cidade e os levariam cativos. Em vez de dar
ouvidos a seus avisos honestos e às exortações ao
arrependimehto a fim de evitar o julgamento imi
nente de Deus, o povo voltou-se sem misericórdia
contra Jeremias. Ele foi preso várias vezes e em certa
ocasião amarrado ao tronco. Embora ele tenha sem
pre reagido com ânimo a maior parte de sua vida, em
certa ocasião ele obviamente ficou deprimido
— como sua vida de oração o demonstra. No 15°
capítulo do livro que leva seu nome encontramos
uma oração que estabelece a profundeza de sua
autocomiseração. “Ai de mim, minha mãe! Por que
me deste à luz homem de rixa e homem de conten
das para toda a terra? Nunca lhes emprestei com
usura, nem eles me emprestaram a mim com usura, e
Como vencer a depressão 225
todavia cada um deles me amaldiçoou" (Jeremias
15:10).
Finalmente ele voltou-se contra o Senhor e irrom
peu com esta explosão trágica: "Nunca me assentei
no congresso dos zombadores, nem me regozijei;
por causa da tua mão me assentei solitário, pois me
encheste de indignação. Por que dura minha dor
continuamente, e a minha ferida me dói e não ad
mite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro e
como águas inconstantes? (w. 17, 18). O Senhor
respondeu a Jeremias: " ... pelejarão contra ti, mas
não prevalecerão contra ti, porque eu sõu contigo
para te guardar, para te livrar deles... e arrebatar-
te-ei... das mãos dos fortes” (w. 20, 21).
Parece que Deus compreende quando seus filhos
caem em autocomiseração, principalmente quando
as pressões da vida se tornam pesadas demais. Mas
isso não os exclui da depressão que é consequência
natural da autocomiseração. Jeremias aceitou a se
gurança de Deus de que "Eu estou contigo para te
guardar.. ."E continuou servindo a Deus por muitos
anos. De fato, sua condição externa piorou, mas ele
olhou para Deus e evitou a recorrência de sua de
pressão.
Todos nós podemos aproveitar da lição que Jere
mias aprendeu através dessa dificuldade refletida
em uma de suas curtas orações: "Achando-se as tuas
palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o
gozo e a alegria do meu coração” (15,16). A melhor
fonte de alegria para o deprimido filho de Deus vem
mediante o olhar para o Senhor através de sua Pala
vra.
CAPÍTULO 19
UM OTIMISTA DE
OITENTA E CINCO
ANO S DE IDADE
"Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de
Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessaloni-
censes 5:18).
Não é freqüente encontrar-se um otimista ge
nuíno na vida, principalmente com oitenta e cinco
anos de idade. Contemporâneo de Moisés e Josué, a
fé contagiante deste homem toma-o um exemplo
clássico dos princípios deste livro. Que eu saiba,
coisa negativa alguma se registrou acerca deste
grande homem. Embora tivesse ampla razão para se
entregar à autocomiseração, parece claro que nunca
o fez, mesmo aos oitenta anos. Além de uma fé vital
em Deus, ele possuía uma atitude mental extrema
mente positiva e uma visão que todos deviam imitar.
Se todos o imitassem, tenho certeza de que os anos
setenta seriam conhecidos como a década do oti
mismo em vez de "a década da depressão".
MEU PERSONAGEM FAVORITO
Os feitos de centenas de grandes homens estão
Como vencer a depressão 227
registrados na Bíblia. O que se sobressai a todos eles
é o homem de Deus não muito conhecido chamado
Calebe. Embora seu nome não conste na lista de
“Quem é quem" do Novo Testamento, de Hebreus
11; este homem e seu espírito otimista deviam ins
pirar todo aquele que estiver interessado no estudo
do comportamento humano.
A primeira vez que aparece nas páginas da Sa
grada Escritura, a nação de Israel passava por um
teste cruciante. O Senhor os havia tirado do Egito,
falara com eles no monte Sinai, e os havia trazido até
a fronteira sul da terra que prometera dar-lhes. Para
encorajar seu povo, Deus instruiu a Moisés que es
colhesse um líder de cada uma das doze tribos "para
que eles espiassem a terra de Canaã” (Números
13:2).
O ESPIÃO PIEDOSO
Quando Calebe foi escolhido para ir e espiar a
terra tinha quarenta anos de idade e era o líder de
sua tribo. Mandado a descobrir a força de seus ad
versários, a localização de suas cidades e fortalezas,
e a condição da terra, cumpriu seu trabalho muito
bem. Não se contentando em trazer meramente um
relatório verbal ele e seu amigo Josué, principal
lugar-tenente de Moisés, voltaram com algumas
frutas da terra, incluindo uvas tão grandes que um
cacho gigantesco foi carregado numa verga susten
tada por dois homens.
Quando voltaram a Cades, onde o povo esperava o
relatório, uma grande multidão os cercou. Para es
panto de Calebe, dez dos espias apresentaram rela
tórios negativos. Apesar da fertilidade da terra que
manava "leite e mel", o que mais impressionou
esses dez espias foi a força e o tamanho dos inimigos.
A incredulidade tem uma maneira estranha de
aumentar a dificuldade e diminuir os recursos. Além
disso, é contagiosa! Os dez espias sem fé resumiram
seu relatório sobre os gigantes da terra nos seguintes
228 Um otimista de 85 anos de idade
termos: "Não poderemos subir contra aquele povo,
porque é mais forte do que nós... e éramos aos
nossos olhos como gafanhotos, e assim também
éramos aos seus olhos” (Números 13:31, 33).
Este "relatório nocivo” dos dez espias incrédulos
revela a doença comum da descrença porque subes
tima suas próprias capacidades, exagera ao máximo
a potência do inimigo e ignora totalmente o poder de
Deus e sua contínua direção nos assuntos de Israel.
Como conseqüência, chegaram a uma conclusão
inteiramente negativa e fora da realidade. Esta ten
dência limitou seriamente o uso que Deus podia
fazer de suas vidas e pôs em risco a vida de suas
famílias.
Calebe se levantou e “fez calar o povo perante Moi
sés, e disse: Subamos animosamente, e possuamo-la
em herança, porque certamente prevaleceremos
contra ela... se o Senhor se agradar de nós, então
nos porá nesta terra, e no-la dará; terra que mana
leite e mel” (Números 13:30; 14:8).
Infelizmente para Israel, o povo acreditou no re
latório negativo da maioria em vez de confiar no
testemunho fiel de Calebe e Josué. Em conseqüên
cia disso, em lugar de possuir sua herança, foram
condenados a um exílio de quarenta anos pelo de
serto. De todos os adultos vivos nesta época, so
mente Calebe e Josué tiveram permissão para entrar
na terra, 39 anos mais tarde. Os outros morreram no
deserto, por causa de sua incredulidade!
QUAkENTA E CINCO ANOS MAIS TARDE
Quando, finalmente, chegou o tempo de os filhos
de Israel possuírem a terra de Canaã, até mesmo o
grande líder Moisés já havia morrido. Josué, seu
sucessor, fez exitrar a nova geração de israelitas na
terra que Deus lhes havia prometido. Contrário ao
conceito errôneo e muito popular, tomar a terra dos
gigantes não foi tarefa fácil. De fato, levou seis anos
de batalhas ferrenhas até que as doze tribos pudes
Como vencer a depressão 229
sem se estabelecer com segurança na terra. Sob a
direção de Josué, Calebe havia sido um líder ativo
durante estes anos horríveis de guerra.
Certo dia, perto do fim da luta, os dois sobrevi
ventes da peregrinação no deserto estavam andando
juntos. Calebe lembrou a seu velho amigo Josué a
promessa que Moisés lhe fizera quarenta e cinco
anos antes: "Certamente a terra que pisou teu pé
será tua, e de teus filhos, em herança perpetua
mente, pois perseveraste em seguir o Senhor meu
Deus. E agora eis que o Senhor me conservou em
vida, como disse? quarenta e cinco anos há agora,
desde que o Senhor falou esta palavra a Moisés,
andando Israel ainda no deserto; e agora eis que já
hoje sou da idade de oitenta e cinco anos. E ainda
hoje estou tão forte como no dia em que Moisés me
enviou? qual a minha força então era, tal é agora a
minha força, para a guerra, e para sair e para entrar.
Agora, pois, dá-me este monte de que o Senhor falou
naquele dia? pois naquele dia tu ouviste que os ena-
quins estão ali, grandes e fortes cidades há ali. Por
ventura o Senhor será comigo para os expelir, como
o Senhor disse” (Josué 14:9-12). Calebe sabia, ao
fazer esse pedido, que todos os gigantes remanes
centes no país haviam fugido para esse monte,
porém isso não intimidou nem um pouco seu espírito
de octogenário. Embora seus inimigos estivessem
bem entrincheirados, e tivessem feito da montanha
um quartel-general dos gigantes, ele disse: "Agora,
pois, dá-me este monte." Ele sabia que seu Deus
podería muito bem entregar esse monte a ele — e o
fez!
A Bíblia não nos diz a idade em que Calebe mor
reu, mas a dedução é que ele viveu muitos anos
nesse monte. De fato, ele provavelmente abriu o
caminho para uma bela vista de onde podia ver a
terra que se estendia a seus pés.
O SEGREDO DA ATITUDE MENTAL DE CALEBE
230 Um otimista de 85 anos de idade
Se a autocomiseração, alguma vez, pode ser justi
ficada, do ponto de vista humano, Calebe estava
certamente autorizado a incorrer nesse pecado.
Condenado a comer poeira no deserto durante trinta
e nove anos devido a pecados alheios, ele podería
ter-se transformado no mais conhecido lamentador
de sua época. Ele podia ter gasto seu tempo pen
sando: "Se esse povo incrédulo tivesse escutado mi
nhas palavras e as de Josué, nós poderiamos estar
estabelecidos na terra enquanto me encontrava na
flor da idade." Toda vez que se levantava uma tem
pestade de poeira, ele podia facilmente jogar a
culpa de seu estado angustioso sobre os incrédulos.
E interessante observar que nenhuma palavra de
autocomiseração ou reclamação foi escrita sobre ele.
Antes, ele foi pai de vários filhos e juntamente com
sua esposa educou-os para servir ao Senhor. E ao
longo de todos esses anos ele teve como meta edifi-
car um dia seu lar naquela bela montanha que vira,
quando espiara a terra aos quarenta anos de idade.
Ele não sabia como o faria, mas tinha confiança
absoluta que Deus, a seu tempo, cumpriría sua pro
messa. Embora tivesse de esperar quarenta e cinco
anos, não só comprovou que Deus é fiel, mas afinal
experimentou "as bênçãos excessivamente abun
dantes" pelas quais nosso Deus é famoso.
O verdadeiro segredo da grandeza de Calebe
aparece na descrição que Deus fez dele como "meu
servo Calebe porquanto nele houve outro espírito, e
perseverou em seguir-me" (Números 14:24). Esse
outro espírito que caracterizou Calebe, evidente
mente era o Espírito Santo, o rótulo de todo cristão
cheio do Espírito, obediente e confiante. Você pode
ter esse mesmo espírito. É certamente, a vontade de
Deus para sua vida.
Esteja certo de que o espírito de Calebe que tão
corajosamente o protegeu da depressão é acessível a
você. Se, como Calebe, você aprender a principal
lição espiritual, frente à pressão emocional, "Em
Como vencer a depressão 231
tudo dai graças", quer entenda ou não as circuns
tâncias da vida, aguardando a solução final de Deus
para seu problema, você jamais será vencido pela
depressão. Depende inteiramente de você!
232 Referências
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO UM
1Aaron T. Beck, Depressíon: Causes and Treat-
ment (Philadelphia: University of Pennsylva-
nia Press, 1967), p. 4
2 Ibid., p. 5
3 Ibid.
CAPÍTULO QUATRO
1 "Coping With Depressíon," p.51
3 Kenneth Hildebrand, "Achieving Real Happi-
ness" (New York: Harper and Brothers, 1955),
p.141
3 Salmo 121:1
4 Mortimer Ostow, "The Psycology of Melan-
choly”, pp. 87, 88. Copyright ® 1970 by Morti
mer Ostow. Usado com permissão de Harper
and Row, Publishers, Inc.
CAPÍTULO CINCO
1
Ibid., p. 82
CAPÍTULO SEIS
1Leonard Cammer, "Up From Depressíon" (New
York: Simon and Schuster, 1971), p. 133
2 Ostow, pp. 114, 115
3 Cammer, p. 137
4 Ibid., p. 139
Como vencer a depressão 233
5 Ostow, p. 117
6 Cammer, p. 152
7 Ibid., pp. 151, 152
8 Ibid., p. 154
9 Ibid., pp. 159, 160
10"New Drag Helps Manic Patients", San Diego
Union, 22 de junho de 1973, p. A8
CAPÍTULO SETE
1 Ostow, p. 72
2 Ibid., p.18
3 Ibid., pp. 75, 76, 78, 79
CAPÍTULO OITO
1'' Your Emotional Stresses Can Make You Sick’',
Chicago Tribune, 18 de julho de 1972, secção 1,
pp. e segs. Reimpresso por cortesia de Chicago
Tribune
CAPÍTULO ONZE
1 Maxwell Maltz, Psyco-Cybernetics and Self-
Fulíillment (New York: Bantam Books, 1970),
p. 96
CAPÍTULO TREZE
1Hal Lindsey, Satan IsAIive and Well on Planet
Earth (Grand Rapids: Zondervan, 1972), p. 157
(Esta abra existe em português sob o título
Sa
tanás Está Vivo e Ativo no Planeta Terra, Edit.
Mundo Cristão, São Paulo.)
CAPÍTULO QUINZE
1 Para os curiosos: Naquela noite o diretor dos
seminários sobre a vida em família exibiu dois
filmes da Vida em Família preparados pelo Dr.
Henry Brandt, os quais satisfizeram realmente
as necessidades das pessoas. Quando comecei
meu trabalho na manhã seguinte, todos de
monstravam excelente estado de espírito e
realizamos um seminário muito proveitoso. Ti-
234 Referências
vesse eu recorrido à preocupação, à agitação ou
à ansiedade enquanto esperava em Daílas, o
resultado teria sido, obviamente, um exercício
de futilidade. Deus sabe o que faz!