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Língua Brasileira
de Sinais-Libras
1ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2014
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
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Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
História, cultura e identidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Educação de surdos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 A legislação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Estudos linguísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Estudos práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.2 Cumprimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.10 Classificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Apresentação
Olá, acadêmico! Você está diante do caderno didático da disciplina Libras. Este semestre
você vai conhecer de perto a língua visual utilizada pelas pessoas surdas do Brasil: a Lingua Bra-
sileira de Sinais, conhecida como Libras ou como LSB. Quais são as suas expectativas para esta
disciplina? Está animado e curioso? Esperamos que sim! Você vai adentrar agora em um mundo
novo e certamente fará descobertas surpreendentes.
Você pode estar se perguntando: porque eu tenho Libras na estrutura curricular do meu
curso? Ora, primeiramente porque, como profissional da educação, você deve conhecer a clien-
tela que irá entender. A inclusão educacional, acadêmico, configura-se hoje como uma realidade
real, não mais imagada, mas já vivenciada por professores e alunos. Diante disso, o decreto 5.626,
de 22 de dezembro de 2005, recomenda a inserção da disciplina Libras em todos os cursos de
formação de professores.
Em segundo lugar porque aprender línguas expande a capacidade da mente humana e nos
permite experimentar o mundo, por um instante, a partir dos olhos dos outros. Cada língua vei-
cula a cultura e os esquemas cognitivos de seu povo. Se existirem mil línguas no mundo, mil se-
rão aos formas de compreender a nossa existência. E quando novas línguas se deslindam diante
de nós, deslindamo-nos também diante delas, pois reinventamo-nos enquanto sujeitos sócio-co-
municacionais.
O nosso objetivo, neste caderno, não é apenas instrumentalizá-lo para o uso e compreen-
são da Libras. Esse objetivo, puro e seco, poderia ser atingido em cursos livres, estirpados do en-
sino superior. Para fazer sentido, o ensino de Libras no ensino superior tem de extrapolar a abor-
dagem instrumentalista, fomentando reflexões de ordem linguística, política e educacional.
Neste caderno você irá se deparar com uma abordagem moderna sobre os surdos e a Lin-
gua Brasileira de Sinais. É possível que estranhe, no começo, mas à medida em que for se embre-
nhando pelo mundo da visualidade, certamente irá construir novos conceitos sobre os surdos e
a Libras.
Na unidade I você irá vislumbrar a história do povo surdo ao longo do tempo e poderá tirar
suas próprias conclusões sobre os processos opressivos historicamente vivenciados pelas pes-
soas surdas. Verá também que toda língua pressupõe uma cultura e que importantes processos
identitários são construídos nessa relação.
Na Unidade II você conhecerá as justificativas para a consolidação de escolas ditas inclusivas
e poderá refletir sobre as diferenças de abordagem entre escolas especiais e escolas inclusivas.
Além disso, terá ainda a oportunidade de discutir sobre o ensino de português para surdos e so-
bre o papel do intérprete educacional.
Na unidade III você irá conhecer uma parcela dos estudos linguísticos sobre a Libras. A partir
deles você poderá construir uma base teórica que dará sustentabilidade ao processo de apren-
dizagem da Libras. Entre outras coisas, verá que o sinal pode ser seguimentado e que existem
sinais imagéticos e não-imagéticos.
Na unidade IV você aprenderá a sinalizar. Conhecerá as formas de cumprimentar pessoas
em Libras, de marcar o tempo verbal nas sentenças e entenderá a importância das expressões fa-
ciais nas línguas sinalizadas. De posse do seu DVD poderá visualizar sinais, sentenças e diálogos
em Libras.
Ao fim da disciplina esperamos que você tenha se libertado dos mitos sociais sobre os sur-
dos e que seja capaz de construir reflexões próprias sobre a Libras e o povo que se utiliza dela.
Não há língua sem povo e não há povo sem cultura. Conhecer a Libras é conhecer um pouco da
cultura surda e da visão dos surdos sobre o mundo.
Bons estudos!
Os autores.
9
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 1
História, cultura e identidade
Caro acadêmico, nesta unidade você conhecerá um pouco da história dos falantes nativos
das línguas visuais: os surdos. Verá que a surdez tem sido compreendida de diferentes manei-
ras ao longo da história da humanidade e que, atualmente, o fortalecimento político e social do
povo surdo, unido a descobertas acadêmicas sobre as línguas de sinais, têm proporcionado aos
surdos novas e promissoras formas de ser e estar no mundo. Você já reparou que hoje em dia os
surdos têm mais visibilidade do que no passado? Costumamos ver surdos em lugares em que
não viamos antes. Hoje eles estão ao nosso lado nas escolas e nas universidades, como alunos e
como professores; estão nas empresas públicas e privadas; estão produzindo artes cênicas e vi-
suais; estão projetando, enfim, para si e para os seus comparsas, um futuro melhor.
Poderíamos dizer, então, que com o passar do tempo, os surdos tornaram-se mais capazes?
A resposta seria: sim e não. Não quando pensamos que eles sempre o foram, uma vez que hoje
se sabe que a falta de audição, em si mesma, não prejudica o desenvolvimento das competên-
cias e habilidades humanas. Surdos podem ser intelectualmente brilhantes e podem desenvol-
ver-se no mundo tais quais os ouvintes. Sim quando pensamos que por séculos surdos foram
vistos como incapacitados e que, por esse motivo, foram mantidos exclusos dos processos so-
ciais, recebendo poucas oportunidades de desenvolvimento. Atualmente, contudo, após uma
série de pesquisas, pudemos finalmente entender que, nos surdos, há uma substituição de senti-
dos e de línguas, não uma falta. E que em torno dessa língua constrói-se culturas, comunidades e
processos identitários específicos. Esse entendimento tem reconstruído a imagem social do sur-
do e, com isso, vemos as suas possibilidades de desenvolvimento serem alargadas, uma vez que
a sociedade, de modo geral, começa a entender que ser surdo não é ser deficiente, mas, sim, ser
diferente linguistica e culturalmente.
Para abordar essas e outras questões, acadêmico, apresentamos a você um artigo escrito
por uma das autoras deste caderno. O artigo discutirá questões históricas, linguísticas e culturais
relacionadas aos surdos, além de apresentar a você duas distintas formas de se conceber os sur-
dos atualmente. Vamos à leitura? Ao concluí-la, registre no seu diário de bordo pelo menos três
descobertas que você fez sobre os surdos, ok? Boa leitura!
Considerações sobre a relação dos surdos com a linguagem: dos primórdios à con-
temporaneidade
Considerations on the relationship of the deaf and language: from beginning to the
present
Eu tive de passar por muita coisa para ter identidade própria, a de ser surda, tive de
lutar, combater para chegar aqui, antes eu era mais como “cópia de ouvinte”, mui-
to submissa no poder dos ouvintes, estas histórias de ouvintes que acham que ali
e aquilo é certinho para o surdo, por exemplo, é preciso falar bem e ler lábios para
ter o mesmo “patamar” que os ouvintes (...). Depoimento de uma surda militante1.
Resumo: A partir dos Estudos Surdos, este artigo aborda, em uma perspectiva linguístico
-histórica, as formas de se conceber o surdo e a sua relação com a linguagem, da Antiguidade
aos tempos atuais. Devido em grande medida a descobertas científicas sobre as línguas de si-
nais, a imagem social da surdez vem sendo reconstruída. De amaldiçoados por Deus, os surdos
passaram a ser considerados minorias linguísticas e sociais. Veremos que, atualmente, duas são as
principais formas de se abordar a surdez: a primeira, oriunda do domínio clínico-terapêutico e, a
segunda, do linguístico-antropológico. A filiação a uma ou a outra concepção determinará se, ao
falar de surdos, estaremos tratando de sujeitos deficientes, sobre os quais exercemos um poder
administrativo e atribuímos uma visão normalizadora, ou de um povo específico, com língua, cul-
tura e identidade própria.
11
UAB/Unimontes - 3º Período
dica Abstract: From the Deaf Studies, this paper focuses on a linguistic-historical perspective,
1
Disponível em: http:// ways of conceiving the deaf and its relationship to language, from antiquity to modern times.
www.geocities.com/ Due largely to scientific discoveries about sign languages, the social image of deafness has been
HotSprings/7455/pa- rebuilt. From cursed by God, the deaf have been considered now to be social and linguistic mi-
tricia.html. Acesso em: norities. We will see that currently there are two main ways of approaching deafness: the first
junho de 2008
from clinical and therapeutic area, the second from the linguistic-anthropological area. Member-
ship to one or another approach will determine whether, in speaking of the deaf, we are dealing
with disabled individuals, on whom we exercise administrative powers and assign a normative
vision; or dealing with a specific people, with language, culture and identity
12
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
13
UAB/Unimontes - 3º Período
dica conectivos e flexões) e inventando elementos morfêmicos capazes de, a partir da segmentação
4
Consta que, por volta
de determinados sinais, originar outros. O fim último seria o de conferir aos surdos a capacidade
de 1760, um movimen- de compreender o mundo a partir dessa linguagem artificial, que deveria ser compreendida e
to de surdos contra a traduzida em escrita. L’Epée criou tantos sinais, no afã de dotá-los de semelhanças com as pa-
ideologia verbal já co- lavras francesas, “que sua linguagem algumas vezes era tão desfigurada que se tornava incom-
meça a se delinear no preensível” (BEBIAN, 1984, citado por SOUZA 1998, p.150).
Instituto Nacional de
Surdos-Mudos de Paris
Assim, tal método conseguiu apenas tornar os surdos bons decodificadores, pois consistia,
(LODI, 2005, p. 413). Os sobretudo, no exercício de ditar perguntas e respostas a partir dos “sinais metódicos”, cabendo
estudantes protesta- aos surdos decodificá-los em forma de registro escrito, o que não garantia a compreensão do
vam contra a imposição que estava sendo decodificado, tampouco possibilitava a criação individual de novas sentenças,
das práticas oralizado- fossem elas em sinais ou em linguagem escrita.
ras, que se obstinavam
em fazê-los falar. É
Com a ampliação da educação de surdos e com o passar do tempo, divergências teórico-
provável que a aglome- metodológicas quanto aos métodos utilizados pelos professores acabaram culminando no I
ração de surdos nessa Congresso Mundial de Professores de Surdos, congregando profissionais de diferentes países em
escola tenha favoreci- Milão, em 18807. Ressaltamos aqui a importância histórica do congresso de Milão, como ficou re-
do o desenvolvimento gistrado esse evento na história, para a constituição identitária dos surdos. Ainda hoje, mais de
e o fortalecimento de
uma língua de sinais e,
um século depois, os desdobramentos desse congresso ainda são discutidos pelas comunidades
com isso, feito aflorar surdas do mundo inteiro, pois ele pode ser caracterizado como um acontecimento que fez retro-
o sentimento de grupo ceder – e estagnar – em muito as conquistas dessa população.
e a vontade de uma De maneira sucinta podemos dizer que tal retrocesso pode ser caracterizado pela conclusão
maior participação dos a que chegaram os congressistas naquela ocasião: ficou decidido que, dali em diante, os surdos
surdos na condução de
suas vidas e educação.
deveriam ser ensinados através da língua oral, de terapias que estimulassem o desenvolvimento
da fala. A LS, vista naquela época ainda como uma linguagem artificial e desprovida de gramáti-
5
Atualmente o treino ca, foi considerada como um possível empecilho ao desenvolvimento do surdo, sendo, portanto,
da fala é visto com proibida a sua utilização nos espaços escolares. Assim, Lodi (2005, p. 416) nos informa que, du-
criticidade pelos surdos rante quase um século (de 1880, data do congresso de Milão, a 1959, ano em que foi publicado o
– e com desaprovação
pelos educadores, uma
primeiro estudo científico sobre as línguas de sinais), o discurso dominante sobre a surdez cen-
vez que se constatou trou-se na tentativa de eliminar as diferenças, de abafar e inferiorizar a surdez, de proibir a LS
que: i) os surdos tem e de buscar meios para o desenvolvimento da linguagem oral nos surdos, a partir de técnicas
uma língua própria, mecânicas e descontextualizadas de treino articulatório.
completa e rica, a Esse quadro, contudo, já vinha dando sinais de fraqueza, tanto frente à resistência surda,
Libras ii) atividades de
fala e escrita são dis-
que não aceitou a “mordaça” passivamente7, quanto em relação aos baixos resultados obtidos
sociáveis na educação. pelos professores que, inclusive, começaram a fazer uso de outros métodos de comunicação8.
Mais especificamente: Foi quando, em 1957, o lingüista Willian Stokoe da Gallaudet College, em Washington, lançou a
o treino daquela pode hipótese de que a língua utilizada pelos surdos poderia ser uma língua genuína, natural, cons-
prejudicar o desen- tituindo-se, portanto, como um instrumento lingüístico propriamente dito (LODI, 2004, p. 282).
volvimento desta, no
espaço escolar.
Assim, ao descrever a Língua de Sinais Americana (American Sign Language - ASL), o grupo
de linguistas liderado por Stokoe chegou à conclusão de que o sistema de comunicação utili-
zado pelos surdos americanos era realmente “um sistema lingüístico natural e articulado” (QUA-
DROS & KARNOPP, 2004). Foi a partir desses estudos que a LS passou a ser vista como “uma es-
trutura multiarticulada e multinivelada, com base nos mesmos princípios gerais de organização
que podem ser encontrados em qualquer língua” (BEHARES, 1993, citado em LODI, 2005). A partir
de então, a relação dos surdos com a linguagem começa a deixar de ser vista, definitivamente,
como deficitária.
Pode-se dizer que, a partir da década de 1980, a língua de sinais passou finalmente a ser
reconhecida, pelo menos pelos pesquisadores da área, como a língua materna e natural da po-
pulação surda, reservando-se à língua oral majoritária no país um estatuto de segunda língua.
Foi a partir dessa primeira conquista que outras puderam ser firmadas. Quando se com-
preendeu, de maneira definitiva, que os surdos não apresentavam desvantagem lingüística em
relação aos ouvintes, um novo olhar e um novo discurso sobre a surdez começaram, enfim, a ser
constituídos, fazendo com que o espaço de atuação surda fosse ampliado socialmente.
Com base no que foi exposto, pode-se concluir que a história dos surdos, sobretudo de sua
educação, é marcada pelo etnocentrismo e pela colonização9 dos surdos pelos ouvintes, com o
devido apoio da tradição oralista, como afirma Skliar (1999), inspirado em Bhabha (2000). Isso en-
cobriu, por muito tempo, aspectos lingüísticos (e culturais) próprios à surdez, por serem consi-
derados “desvios”. Encobriu, sobretudo, a possibilidade de desenvolvimento do povo surdo, que
tinha o seu espaço de atuação determinado e limitado pelo olhar restritivo que a eles era impu-
tados.
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Isso nos leva a pensar que os caminhos da evolução poderiam ter nos levado a outros meios
de comunicação que não necessariamente a oral. Podemos pensar, por exemplo, nos primórdios
da comunicação humana, quando os desenhos e os gestos fizeram parte da história da evolução
dos sistemas de comunicação.
Não sendo mais a surdez vista como deficiência (ainda que se conserve essa idéia em alguns
setores), o ser surdo12 passa a se alicerçar na diferença; diferença sobretudo lingüística, mas calca-
da em questões culturais, identitárias e políticas.
15
UAB/Unimontes - 3º Período
dica
1.4 Perspectivas atuais: culturas e
8
O principal deles foi
a Comunicação Total,
forma pela qual ficou
identidades surdas
conhecida a estratégia
de comunicação com Atualmente, muitos são os autores, como Gesueli (2006), Moura (2000), Sá (2002), Pinto
os surdos, que acabou (2001), Skliar (1998, 1999) e Perlin (1998, 2003) que apresentam a surdez (muitas vezes, agora,
se desdobrando em com /s/ maiúsculo) como lugar de cultura e identidade específicas. A concepção socioantropoló-
filosofia educacional, gica da surdez na pós-modernidade define os surdos como pertencentes a uma comunidade lin-
a partir da mescla
güística minoritária – ainda discriminada – que utiliza e compartilha uma língua visual e apresen-
de distintos sistemas
semióticos, como ta modos de socialização próprios, assim como costumes e hábitos específicos porque fundados
desenhos, palavras, na/pela surdez. Segundo esses autores, a experiência de vida estritamente visual, não-auditiva,
mímicas, sinais da LS, funda uma forma outra de perceber a vida.
etc. O objetivo, nesse Isso pode ser expresso em esquemas perceptivos e interpretativos diversos “segundo os
caso, seria o de fazer
quais um grupo produz o discurso de sua relação com o mundo” (PONCHES, 1996 citado por
com que a comunica-
ção se estabelecesse SANTANA & BERGAMO, 2006), relação essa que é perpassada pela escolha de vida entre os seus
de maneira eficiente, iguais, pelo uso da língua visual e até mesmo por hábitos lingüísticos que se posicionam na fron-
sendo o código de vei- teira entre a língua e a cultura12.
culação um problema Mas a noção de cultura surda não é unanimemente aceita. Skliar (1998) e Sá (2002) relatam
secundário.
o incômodo e a incompreensão de alguns diante dessa noção. Segundo os autores, aqueles que
Leitores iniciantes
9 apresentam argumentos contrários a essa noção costumam se basear principalmente em uma
na área da surdez concepção de cultura universal – noção definitivamente negada pelos Estudos Culturais, principal
costumam receber com embasamento teórico daqueles que tomam os surdos como um grupo culturalmente específico.
alguma estranheza o Autores como Santana & Bergamo (2005), por exemplo, buscam fragilizar o conceito de cul-
argumento da colo-
tura surda, apresentando questionamentos que se voltam para a discussão acerca da real sobe-
nização dos surdos.
Nesse laço teórico rania da língua nas relações culturais (apenas a língua definiria a cultura?) ou para a cisão social
busca-se enfatizar entre surdos e não-surdos que costuma ser subentendida pelo conceito (existiria, assim, uma cul-
que os surdos foram tura ouvinte e outra surda, dividindo a civilização entre surdos e não-surdos?). Alegam ainda que
subjugados e domina- tal conceito intenciona reordenar relações de poder, proporcionando poder social – para os sur-
dos pelos ouvintes, que
dos – e poder acadêmico – para os pesquisadores.
se consideravam (ou
consideram) o “padrão Para Sá (2002) e Skliar (1998), o que importa nessa querela não é apenas compreender as
superior de humanida- manifestações culturais específicas do povo surdo, face à cultura hegemônica, mas compreender
de” a ser seguido. também que a representação dessa cultura no imaginário social a toma como uma cultura pato-
lógica, como uma subcultura, uma vez que a resistência e a diferença não costumam ser interpre-
10
Tradução das autoras
tadas positivamente.
citadas.
Pensando no extremo oposto, Chiella (2007) reflete sobre casos em que o tema da cultu-
11
O termo ser surdo ra acaba se tornando aliado na busca pela “verdade surda”. A autora demonstra preocupação
tem sido utilizado por diante o fato de a língua de sinais e a cultura surda estarem sendo banalizadas, desgastadas ou
autores surdos, como reduzidas uma à outra, na tentativa, por parte de alguns, de definir a “essência surda”. Atualmen-
Perlin (2003), como
te, tem-se falado mais em “marcas surdas”, como o faz a própria Chiella, no intuito de demonstrar
uma categoria que
visa a substituir a gasta marcas culturais que são constituídas nos espaços de vida surda.
“surdez”, que estaria O tema da cultura, nos Estudos Surdos, quase sempre aparece vinculado à problemática das
em uma esfera clínica, identidades. O termo “identidades surdas” tem ganhado terreno sobretudo no espaço de inter-
já estereotipada. seção com a lingua(gem), lugar onde ela se constrói por excelência. Para Perlin (1998, p. 52), “a
identidade é algo em questão, em construção, uma construção móvel que pode freqüentemente
12
Sobre as relações
entre língua e cultura, ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito em diferentes posições”. De
na língua brasileira de maneira bastante simplificada e bem genérica, poder-se-ia dizer que “identidade surda” diz res-
sinais, ver RUDNER, A. A peito principalmente ao processo de reconhecimento e de identificação do surdo com os seus
relação entre polidez e iguais; ao uso da língua de sinais e, para alguns, ao direito de querer ser surdo. Pode ser percebi-
cultura surda na língua
da, ainda, em algumas de suas facetas, através de práticas sociais específicas, como a resistência
brasileira de sinais (em
desenvolvimento). frente à presença hegemônica ouvinte ou o percurso de lutas do Movimento Surdo. Nas palavras
Doutorado em Letras. da pesquisadora surda Gladis Perlin:
Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2010. Se nos consideramos surdos, não significa que temos uma paranóia. Significa
que estamos sendo o outro com nossa alteridade. Somos o surdo, o povo unâ-
nime reunido na auto-presença da língua de sinais, da linguagem que evoca
uma diferença de outros povos, da cultura visual, do jeito de ser. Somos alte-
ridades provadas pela experiência, alteridades outras. Somos surdos! (PERLIN,
2003b, p. 92).
16
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Perlin (1999, p. 51), inaugurando as pesquisas sobre “identidades surdas” no Brasil, ressalta
que, em diversos momentos, precisou contestar teorias sobre os surdos, cunhadas por sujeitos
ouvintes, pelo simples fato de ela focalizar o seu universo (surdo) a partir de uma ótica interna. dica
Para apresentar a concepção de sujeito surdo que alicerça suas pesquisas, diz ter sido necessário, 13
Categoria propos-
inicialmente, lutar para se desprender das crenças que lhe ensinaram a assumir a respeito do ser ta pela autora em
surdo, particularmente as crenças propagadas pelo campo da medicina e da audiologia que, de sua dissertação de
maneira geral, tendem a ver a surdez como uma anomalia. A visão “normalizadora” sobre os sur- mestrado. Trata-se de
dos, segundo ela, não pode jamais fomentar discussões acerca da problemática da diferença, do formações discursivas
sujeito e do poder. Aliás, revelam, sim, o “poder administrativo” do ouvinte sobre o surdo. que polemizam entre
si no espaço discursivo
Segundo Skliar (1999), a forma mais presente desse poder se dá através do ouvintismo como da surdez. A primeira
ideologia dominante. O ouvintismo é um reflexo das representações estereotipadas dos ouvin- formação discursiva
tes sobre os surdos e a surdez. Pode ser visto como um dispositivo de controle disciplinar da so- pode ser considerada
ciedade, como “um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obri- como originária do
gado a olhar-se e a narrar-se como se fosse ouvinte.” (SKLIAR, 1998, p. 15). As representações dos domínio clínico. Nela,
apresentam-se con-
ouvintes sobre a surdez, de forma geral, refletem um posicionamento histórico que a enquadra jecturas e propostas
no campo da doença. No caso dos surdos ouvintizados, estes passam a aceitar a estereotipia for- baseadas em posturas
jada para eles no senso comum. Essa ótica pode tornar-se, assim, avassaladora e destituidora de e terapias capazes de
identidades. fazer com que o surdo
Para Perlin (1999), o ouvintismo deriva de uma proximidade particular que se dá entre sur- “supere”, contorne a
surdez, como forma de
dos e ouvintes, na qual o ouvinte está sempre em uma situação de superioridade. A ideologia alavancar o seu desen-
ouvintista é tão forte, segundo ela, que muitas vezes não permite ao surdo desenvolver uma volvimento lingüístico
identidade própria ou, no mínimo, uma consciência oposicional. É como se o surdo estivesse e social. Assume-se,
condenado a se considerar eternamente uma cópia imperfeita dos seres que ouvem. assim, um discurso que
Skliar (1999) chama a atenção para o fato de que o ouvintismo – ou o oralismo, sua forma pode ser considerado
de fundamentação
institucionalizada – não deve ser compreendido somente como um conjunto de idéias e práticas ouvintista. A segunda
simplesmente destinadas a fazer com que os surdos falem e sejam como os ouvintes. Os pres- formação discursiva
supostos que fundamentam e originam essas idéias precisam ser compreendidos como a base que, por sua vez, pode
epistemológica que autoriza tais práticas. Para o autor, tais pressupostos podem ser: a) lingüísti- ser considerada como
co-filosóficos, quando tomam o oral como abstração e a gestualidade como concretude e obscu- oriunda do domínio
lingüístico-antropo-
ridade de pensamento; b) religiosos, quando se prioriza a confissão através da palavra vocalizada; lógico, postula que os
c) pseudocientíficos, quando se afirma que a audição é imprescindível para o desenvolvimento surdos podem viver e
humano; d) políticos, demonstrados pela tentativa de controlar, ter sob domínio as minorias lin- se desenvolver na/pela
güísticas ou sociais. surdez, sem combatê
Voltando aos estudos sobre as identidades surdas, Perlin (1999) identifica, entre múltiplas -la. Tal FD se ancora em
princípios lingüísticos,
categorias possíveis, cinco diferentes facetas de identidades que podem ser facilmente observa- culturais e identitários
das nos sujeitos surdos. Em termos discursivos, poder-se-ia dizer que a construção das identida- que especificam os po-
des surdas irá depender da relação que esses sujeitos mantêm com o discurso de fundamentação vos surdos, ostentando
ouvintista13, por um lado, e com o discurso de fundamentação surda, por outro. um discurso que pode
Na surdez, tais identidades parecem constituir-se nos espaços fronteiriços entre as culturas, ser considerado de fun-
damentação surda.
as línguas e as comunidades surdas e ouvintes, podendo, segundo Perlin (1999), ser classificadas
como: 1) identidade surda em si: aquela que se sobressai pela militância e consciência de definir- 14
A autora tornou-se
se politicamente diferente. É facilmente verificada em surdos filhos de pais surdos; 2) identidade surda aos treze anos.
surda híbrida: costuma ser atribuída a surdos que nasceram ouvintes e que, com o tempo, torna-
ram-se surdos. Apesar de a autora referir-se apenas a casos que, como o dela14, foram em direção
15
Pontuamos que as
tipologias de identi-
à formulação de uma identidade surda, é preciso ressaltar que o oposto também pode ocorrer, dades acima, apre-
ou seja, existem aqueles que se voltam para a construção de identidades refletidas nos ouvintes; sentadas por Perlin
3) identidade surda de transição: manifesta-se em surdos que viveram sob o domínio da cultura (1998), costumam ser
ouvinte, em geral, os surdos oralizados, mas que posteriormente foram inseridos na comunidade problematizadas. Vale
surda, passando pelo processo de “desouvintização” da representação da identidade; 4) identida- ressaltar que identida-
des são complexas, he-
de surda incompleta: verificada em indivíduos que vivem sob a dominação latente da ideologia terogêneas e estão em
ouvintista, negando as possibilidades de identidades surdas e considerando os ouvintes como constante movimento,
o padrão a ser seguido; 5) identidade surda flutuante: apresenta-se onde os surdos vivem e se ex- como nos revela Neves
pressam a partir da hegemonia ouvinte (de forma consciente ou não), não demonstrando, no en- (2006).
tanto, satisfação ou integração a nenhum dos seguimentos, nem o surdo, nem o ouvinte.15
Como podemos perceber, um “novo” discurso sobre a surdez começa a ser produzido pela
academia e pelos próprios sujeitos. Apesar de ainda corrente e bem aceita em alguns seguimen-
tos socias, a concepção de surdez que deriva da abordagem clínico-terapêutica tem perdido es-
paço, uma vez que a abordagem linguístico-antropológica tem mostrado melhores resultados
socioeducacionais, psicocognitivos e afetivo aos seus adeptos. O quadro abaixo sintetiza como
as diferentes abordagens tratam os principais temas envolvidos:
17
UAB/Unimontes - 3º Período
Referências
GESUELI, Z. M. Lingua(gem) e identidade: a surdez em questão. Educação e sociedade, Campi-
nas, SP, v. 27, n. 94, p. 277-292, 2006.
18
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
PERLIN, Gladis Terezinha Tascheto. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (org.) A surdez: um olhar
sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998. DICA
PERLIN, Gladis Terezinha Tascheto. O ser e o estar sendo surdo: alteridade, diferença e identida- Alguns pesquisadores
de. 155 f. (Tese - Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio surdos se consideram
colonizados pelos
Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.
ouvintes. Para você, de
onde surge este senti-
QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becher. Língua de sinais brasileira: estudos lin- mento? Você concorda
guísticos. Porto Alegre: ArtMed, 2004. com esta visão?
REZENDE, Franklin Ferreira Junior; PINTO, Patrícia Luiza Ferreira. Os surdos nos rastros de sua in-
telectualidade específica. In: QUADROS, R. M; PERLIN, G. T. T. (org.). Estudos Surdos II. Petrópolis:
Arara Azul, 2007. Disponível em: www.editora-arara-azul.com.br/estudos2.pdf. Acesso em: jun.
2008.
RIBEIRO, M. C. M. A. Considerações sobre a relação dos surdos com a linguagem: dos primór-
dios à contemporaneidade. Revista Unimontes Científica (no prelo), 2011.
ROCHA, Fábio. Theodo et al. Libras: um estudo encefalográfico de sua funcionalidade cerebral.
Disponível em: www.enscer.com.br/pesquisas/artigos/libras/libras.html. Acesso em: 12 dez. 2007.
SÁ, N. R. L. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Ed. Universidade Federal do Amazo-
nas, 2002.
SKLIAR, Carlos. Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez e das diferenças. In: ______. A
surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
SOUZA. R. M. de. Que palavra que te falta? Lingüística, educação e surdez: considerações
epistemológicas a partir da surdez. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
STOKOE, William. Clarence. Sign Language Structure. (Revised Ed. Printed in 1978), Silver
Spring, MD: Linstok, 1960.
STROBEL, Karin Lilian. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. 2009. 176 f. (Tese -
doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa
Catarina, 2007.
Quanta novidade, não é mesmo? Então agora reflita: antes da leitura do artigo, você sabia
que línguas poderiam ser produzidas e recebidas tanto pelas mãos e pela visão quanto pela fala
e pelos ouvidos? Por que os surdos se consideram historicamente dominados pelos ouvintes? O
que você acha dessa visão moderna sobre os surdos? Em que medida a visão cultural e identitá-
ria sobre os surdos e a surdez pode alterar a nossa prática pedagógica na sala de aula? Discuta
essas e outras questões com os seus colegas em fóruns de discussão no ambiente virtual.
19
UAB/Unimontes - 3º Período
O artigo acima, assim como outras partes do seu caderno didático, trouxe (ou trará) concei-
tos próprios a área dos estudos da linguagem que, possivelmente, ainda não são conhecidos por
você. Nas últimas páginas do seu caderno você encontrará um glossário que poderá auxiliá-lo
na compreensão desses conceitos. Recorra a ele sempre que julgar necessário. E quando ele não
for suficiente para redimir suas dúvidas, faça uma pesquisa on-line sobre o termo consultado.
Se, junto ao termo, você escrever a palavra surdos ou libras, provavelmente a sua pesquisa será
otimizada.
20
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 2
Educação de surdos
Rejane Cristina de Carvalho Brito
Nesta unidade, estudaremos sobre a legislação que rege a inclusão educacional, a diferença
entre escola especial e escola inclusiva, sobre o intérprete educacional e, ainda, sobre o ensino
de línguas para surdos. Você já leu sobre a inclusão de alunos surdos no ensino regular? Qual é
a sua opinião a esse respeito? Em sua vida como acadêmico, você já esteve em uma sala de aula
inclusiva? Caso tenha participado ou estado em uma escola inclusiva, partilhe sua experiência e
impressões com seus colegas. Isso poderá ilustrar a conversa que teremos a partir de agora. Co-
meçaremos pela legislação que contempla a educação inclusiva e alguns documentos nacionais
e internacionais.
2.1 A legislação
A Organização Educacional, Cientifica e Cultural das Nações Unidas – Unesco encontrou em
uma pesquisa sobre a educação em todo o mundo as justificativas necessárias para a busca por
uma inclusão educacional competente em todos os países membros (o que inclui o Brasil). Se-
gundo o texto da Unesco (2001), três problemas foram considerados os mais graves e, portanto,
demandavam ações urgentes:
Tais problemas geraram uma reflexão e a tentativa de unir esforços para a inclusão educa-
cional. Os países membros assumiram um compromisso de manter um esforço mundial para que
o direito à educação fosse garantido a todos sem restrições por sexo, cor, credo, deficiência, nível
social, etc. Surgiu assim a Declaração Mundial de Educação para Todos (Declaração de Jomtien)
na Conferência Mundial para todos em Jomtien na Tailândia em 1990.
A Educação Inclusiva passou a ser ampliada em documentos oficiais em todos os países e
justificada por três fatores conforme o esquema a seguir.
◄ Figura 1: Justificativa
Fonte: Arquivo dos autores
21
UAB/Unimontes - 3º Período
22
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
cação e que contribui para a manutenção de mitos sobre a pessoa deficiente nos dias atuais.
A escola inclusiva questiona o modelo médico-pedagógico e privilegia o modelo educacio-
nal. Segundo a teoria, a inclusão escolar deve ser “a inserção escolar de forma radical, completa
e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem freqüentar as salas de aula do ensino regu-
lar” (MANTOAN, 2003, p. 24). Segundo o autor, a perspectiva inclusiva abandona a divisão “en-
sino especial e ensino regular” na intenção de atender às diferenças sem discriminação. Porém,
a inclusão ainda está a caminho daquilo que pretende ser em sua completude. Alguns passos
importantes já foram dados, mas ainda é necessário mover a
universidade em um esforço efetivo e conjunto (universida-
de, comunidade, políticas públicas, etc) para que outros pas- ◄ Figura 3: Educação
sos mais largos e mais firmes aconteçam. inclusiva
Qual é o papel da universidade na Educação Inclusiva? O Fonte: Disponível em
www.planetaeducacao.
que você pensa sobre escola especial e escola inclusiva? Con- com.br/portal/artigo.
verse com seus colegas e professores sobre o assunto! asp?artigo=1136.
Agora, falaremos com o foco voltado para o aluno sur- acesso em julho 2010
do. Vamos abordar a sala de aula no contexto da inclusão de
alunos surdos, sobre o ensino de português como segunda
língua e falaremos mais uma vez sobre o intérprete educa-
cional.
Iniciando pela organização espacial, as Secretarias de Educação de vários estados como Mi-
nas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo recomendam que cada sala de aula inclusiva tenha no má-
ximo 25 alunos. No caso da inclusão dos alunos surdos temos mais algumas formas de planejar
espacialmente a sala de aula para benefício de alunos surdos e ouvintes. Vejamos algumas for-
mas de organização espacial:
Iniciando pela organização espacial, ◄ Figura 4: Organização
espacial
as Secretarias de Educação de vários esta-
Fonte: Disponível em
dos como Minas Gerais, Rio de Janeiro e http://www.peabirus.
São Paulo recomendam que cada sala de com.br/redes/orm/
aula inclusiva tenha no máximo 25 alunos. post?topico_id=7858 .
acesso em julho 2010
No caso da inclusão dos alunos surdos te-
mos mais algumas formas de planejar es-
pacialmente a sala de aula para benefício
de alunos surdos e ouvintes. Vejamos algu-
mas formas de organização espacial:
23
UAB/Unimontes - 3º Período
Apesar de parecer algo simples, essas dicas nem sempre são seguidas nas escolas e, por
isso, os alunos surdos ficam prejudicados. Pensar a organização espacial e estrutural da sala de
aula e da escola já é uma forma de fazer funcionar a metodologia e o planejamento curricular em
benefício de todos!
Como foi dito anteriormente, a profissão do intérprete educacional foi estabelecida pelo
Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005. A função do intérprete na questão da surdez, histori-
camente, começou com trabalhos voluntários e em uma tentativa de evitar o isolamento dos sur-
dos na sociedade (BRITO, 2010). A presença do intérprete em sala de aula possibilita o acesso do
aluno surdo ao que se passa oralmente durante a aula. O intérprete deve ser fluente em Libras e
na língua portuguesa podendo, também, ser fluente em outras línguas como inglês e espanhol
e/ou fluente na língua de sinais de outro país. Dessa forma, o interprete estará apto a partici-
par de conferências nacionais e internacionais dando suporte ao público surdo participante dos
mesmos (MEC/SEESP, 2004).
Vale lembrar que o intérprete não é o professor do aluno surdo e nem deve substituir esse
profissional em sala. Para a tradução da aula deve-se respeitar a função do professor, manter a
ética em relação ao conteúdo a ser traduzido e não reduzir, acrescentar ou desviar as informa-
ções passadas em aula.
dica
Você, acadêmico, está aprendendo Libras para ter a opção de interagir com o seu aluno sur-
Acesse o site a seguir do durante as aulas. Você não passará o conteúdo em Libras (essa é a função do intérprete), mas
para mais informações: poderá direcionar-se diretamente ao seu aluno em momentos oportunos. Assim a relação pro-
http://portal.mec.gov.
br/seesp/arquivos/pdf/ fessor-aluno se estreita e todos ganham no processo de ensino-aprendizagem.
aee_da.pdf
Neste item, tocaremos no assunto aula de línguas para alunos surdos. Lembramos que a Li-
bras é a língua natural dos surdos e que a língua portuguesa é a segunda língua. Por ser uma se-
gunda língua e de modalidade diferente da Libras, aprender português não é algo fácil que pode
acontecer sem esforço por parte do surdo, mas demanda tempo e disposição. Outro ponto im-
portante, a Libras não é o instrumento que possibilita a aprendizagem da língua portuguesa, ela
é a língua da comunidade surda e essa é a razão para seu uso na educação de surdos (QUADROS,
2003). Vejamos um pouco sobre o ensino de português.
A língua portuguesa por ser a língua nacional é demandada como a segunda língua do sur-
do brasileiro, podendo ser ainda consideirada como uma língua estrangeira para este aluno. A
dica educação bilíngue prevê o ensino da língua portuguesa (alfabetização e letramento) para dar ao
surdo a oportunidade de acesso a várias vias do conhecimento. Porém, muitas vezes, o fato de o
Para saber mais sobre o português ser uma língua estranha para o surdo fica esquecido e o aluno pode ficar prejudica-
intérprete educacional
leia o guia “O tradutor do em seu percurso educacional. Para relembrar, a Libras é uma língua de modalidade visual-es-
e intérprete de língua pacial e sua estrutura não se subordina à língua portuguesa, que é uma língua de modalidade
brasileira de sinais e oral-auditiva. Uma das dificuldades encontradas pelos surdos na escola está na aprendizagem
língua portuguesa” da modalidade escrita do português. A escola inclusiva ensina português como língua materna e
disponível em http:// esta abordagem não é adequada aos alunos surdos, que deveriam apreendê-la a partir de meto-
portal.mec.gov.br/
seesp/arquivos/pdf/ dologias de ensino de língua estrangeira. Não há um correspondente a esse processo na língua
tradutorlibras.pdf de sinais e, muitas vezes, as variações que ocorrem na escrita do surdo não recebem crédito por
parte dos professores por não corresponderem à norma culta do português (QUADROS, 2003).
Outra dificuldade está em alguns professores não reconhecerem a língua de sinais como forma
legítima de comunicação dos surdos e reduzirem as idéias e pensamentos expressos por esses
alunos a comentários sem valor. Os surdos ficam então presos ao ato de escrever por não verem
o expressar em sua língua natural legitimado em boa parte do meio educacional.
24
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Na escola inclusiva, o ensino de línguas estrangeiras (inglês e espanhol) para surdos encon-
tra um obstáculo a mais: a falta de intérpretes educacionais que sejam fluentes nessas línguas
(BRITO, 2010). O intérprete, teoricamente, precisaria ser fluente no par lingüístico língua estran-
geira - Libras, porém as leis que regem a função deste profissional em nosso país, apenas pre-
atividade
vêem a tradução português-libras e vice-versa. O professor de língua estrangeira deve entender
a dificuldade de tradução na sua aula e tentar elaborar recursos de acordo com o contexto que Veja o vídeo Imagine
lhe é apresentado. Além disso, é preciso lembrar que a modalidade escrita da língua estrangeira no youtube (http://
www.youtube.com/
também passará por variações na escrita do surdo e que a avaliação de seu processo escrito, as- watch?v=JNl91QXw-
sim como ocorre no ensino de português, deve privilegiar as ideais e o expressar-se com coerên- s7o&feature=related).
cia no texto. Diante do que foi
estudado, qual é a sua
opinião sobre o ensino
de línguas estrangeiras
Referências
BRASIL. Decreto-lei n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Diário
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005.
▲
Seção 1, p. 30.
Figura 5: globo terrestre
BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e dá Fonte: Disponível em
outras providências. Disponível em: www.mec.gov.br/seesp/legislacao.shtm Acesso em: 10 ago. http://simplehomeschool.
2010 net/giving-our-children-
-the-world-education-
BRITO, R. C. C. Representações do professor de língua inglesa no ensino inclusivo dos alu- -through-geography/
Acesso em julho 2010
nos surdos. 167f. (Mestrado em Linguística Aplicada)–Faculdade de Letras, Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
KARAGIANNIS, A., STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Ale-
gre: Artmed: 1999.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
25
UAB/Unimontes - 3º Período
UNESCO. Arquivo Aberto sobre a Educação Inclusiva. Paris, 2001. Disponível em: <www.inclu-
sion.uwe.ac.uk>. Acesso em: 15 jan. 2009.
VIZIM, M. Educação Inclusiva: o avesso e o direito de uma mesma realidade. In: SILVA, S.; VIZIM, M.
(Org.). Políticas Públicas: educação tecnologias e pessoas com deficiências. Campinas: Mercado
de Letras; ALB, 2003. p. 49-72.
26
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 3
Estudos linguísticos
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
LINGUAGEM LÍNGUA
Abrangente: música, matemática, abelhas ou chim- Estrito: comunicação verbal/visual
panzés, corpo… humana
Natural ou artificial Nautral
Animal ou humano Humano
Objeto de inúmeros profissionais (biólogos, músicos, Objeto de linguistas e semioticistas
físicos), além de linguístas e semioticistas.
Todo – continente Parte – contida
Faculdade abstrata A sua materialização e possibilidade
de exercício
Diante do exposto, pense rápido: para você, a Libras é uma língua ou uma linguagem? Claro:
◄ Figura 6: Alfabeto
manual da Libras
Fonte: Felipe; Monteiro
(2007, p. 29)
Para tornar-se hábil no uso do alfabeto, propomos a você a seguinte atividade: soletre o seu
nome e o nome dos seus familiares. Depois, soletre o nome de três amigos e do seu país, estado,
cidade e bairro. Por fim, pegue um livro e o abra em uma página qualquer. Digite a primeira e a
última palavra da página. Repita esta operação três vezes...e pronto! Certamente agora você já
está começando a se familiarizar com o alfabeto digital da Libras, não é? Então leia o recadinho
que deixamos aqui para você:
29
UAB/Unimontes - 3º Período
30
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
▲
N-U-N (NUNCA) Figura 7: Empréstimo
Linguístico
Fonte: Arquivo dos
autores
◄ Figura 8: Empréstimo
Linguístico
Fonte: Arquivo dos autores
A-L (AZUL).
Nos sinais acima, o movimento derivado da soletração ganha um rítmo específico, uma vez
que a soletração torna-se um sinal. Em AZUL, por exemplo, a letra L, realizada logo após a letra A,
parece “pular” da mão do sinalizador.
31
UAB/Unimontes - 3º Período
Figura 9: Variação ►
Fonte: Arquivo dos
autores
Apesar das variações, acadêmico, a Libras constitui, sim, uma unidade linguística. Não pense
que os falantes da Libras de diferentes locais não conseguem se entender! Resguardadas as de-
vidas proporções, as variações na Libras são semelhantes às variações do português pelo Brasil
afora. Quando estamos no nordeste e ouvimos a palavra “macaxeira” sabemos (ou passamos a
saber) que se trata da nossa tradicional “mandioca”, não é mesmo?
32
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
dica
São cinco os parâme-
tros fonológicos da
Libras: configuração de
mão, locação, movi-
mento, expressão facial
e direção da palma da
mão. Neste caderno,
trabalharemos apenas
com os três primeiros.
Para aprender mais
sobre a gramática
da Libras, leia o livro
das Profas. Ronice M.
Quadros e Lodenir B.
Karnopp: Língua Brasi-
leira de Sinais, estudos
linguísticos.
33
UAB/Unimontes - 3º Período
• Locação (L): lugar no corpo ou em frente a ele em que o sinal é produzido: um sinal pode
ser produzido no braço (BANHEIRO), na testa, (APRENDER) ou no chamado espaço neutro,
(TRABALHAR), entre outros locais (veja esses sinais no dicionário do INES). Por espaço neutro
entende-se o espaço em frente ao corpo (tronco) do sinalizador. O sinal é realizado no es-
paço, sem apoio em nenhuma parte do corpo. Quadros e Karnopp (2003, p. 57) apresentam
os seguintes locações possíveis na LSB: cabeça (10 locações), tronco (10); mão ( 11) e espaço
neutro.
• Movimento (M): forma(s) ou trajetória(s) dos movimento(s) das mão(s). De acordo com Qua-
dros e Karnopp (2003, p. 54), “para que haja movimento, é preciso haver objeto e espaço”.
Nas línguas de sinais, a(s) mão(s) do sinalizador “representam o objeto, enquanto o espa-
ço em que o movimento se realiza é a área em torno do corpo do enunciador”. As autoras
apresentam 04 categorias de movimento: tipo, direcionalidade, maneira e frequência. As va-
riações do movimento, nas línguas sinalizadas, podem ser extremamente significativas. Nos
exemplos a seguir (oriundos da Língua Americana de Sinais) veremos que alterações no mo-
vimento produzem alterações no significado:
34
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Agora que você já conhece os parâmetros que compõem um sinal, observe a especificação
de cada um deles no sinal BEBER a seguir:
atividade
Vá ao dicionário digital
◄ Figura 15: Parâmetros
de Libras e pesquise os
fonológicos que
seguintes sinais: HOJE
compõem o sinal
e BANHEIRO. Agora
Fonte: Quardros; Karnopp tente descriminar: qual
(2003, p. 51)
é a CM de cada um
_________________
Qual é o L
________________
E qual
éoM
_________________.
No sinal BEBER a mão está configurada em C (CM 51a da tabela de Felipe e Monteiro, 2007) Para
e se localiza na região em frente à parte inferior do rosto (indicada por um círculo). O movimento
precisar a configuração
é curvo, contínuo e para dentro, em direção à boca, conforme indica a seta. Portanto, teremos: de mão (CM) basta
Configuração de mão: letra C (ou 51a, conforme tabela); consultar a tabela do
Locação: em frente à boca; item 3.6 e mencionar o
Movimento: semicírculo para cima e para dentro, em direção à boca. número indicado, ok?
Ao aprender um sinal, fique atento à sua composição. Tais parâmetros são distintivos e po-
dem produzir pares mínimos. O que isso significa? Significa que se alterarmos apenas um dos
três parâmetros, mantendo os outros dois intactos, podemos produzir um outro sinal, com signi-
ficado distinto. Observe:
35
UAB/Unimontes - 3º Período
dica
O mesmo acontece no português: pelo ponto de vista formal, o que diferencia a palavra
Em uma conversa com
surdo, quando precisar
bata da palavra pata? A troca de fonemas /b/ e /p/, não é mesmo? Então fique atento, aca-
soletrar palavras dêmico, pois em Libras a troca gratuita de um dos parâmetros pode gerar uma comunicação
em português por desastrosa!
desconhecer o sinal na
Libras, não se esqueça
de perguntar o sinal
da palavra que digitou.
Assim você aprenderá
um sinal novo. Para
3.7 O espaço de sinalização
isso, faça o sinal de
SINAL, com expressão
de pergunta. Pesquise
o verbete SINAL no di-
cionário do INES: www.
http://www.acessobra-
sil.org.br/libras/.
Idealmente, para se expressar em Libras, você deve utilizar o espaço à frente do seu corpo:
da sua cintura até o topo da sua cabeça. Muitos autores falam de um quadrado ou círculo virtual,
da ordem de 01 metro de altura por 01 metro de largura. Isso significa que devemos sinalizar,
preferencialmente, dentro dessa área. Não é preciso sinalizar esticando longamente os braços,
nem curvando-se demais para baixo: a sinalização deve estar em uma zona de conforto visual
para o seu interlocutor. A produção de sentenças, em Libras, ocorre dentro desse espaço defini-
do. A pausa (repouso das mãos) indica o fim de uma sentença.
36
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Quanto à atividade das mãos nesse espaço de sinalização: na Libras, podemos usar uma ou
duas mãos na realização de um sinal. Há sinais feitos com apenas uma mão (CONSEGUIR, TER,
SOLTEIRO) e sinais realizados com duas mãos (BANHEIRO, NOITE, ESPERAR). Não se descrimina se
um sinal é feito com a mão direita ou esquerda: isso vai depender da lateralidade do sinalizador.
Se você é canhoto, faça, portanto, os sinais com a esquerda!
Referências
FELIPE; MONTEIRO, T. A; MONTEIRO; M. S. Libras em contexto: curso básico, livro do professor/
instrutor. Brasília: Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos, MEC: SEESP, 2001.
GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da
realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
QUADROS, R. M. & KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
37
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Unidade 4
Estudos práticos
Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro
Charley Pereira Soares
Vamos começar a movimentar nossas mãos, faces e mentes? Você já adquiriu importantes
conhecimentos linguísticos sobre a Libras e agora daremos continuidade a este processo através
do estudo prático dessa língua.
Para obter sucesso na aprendizagem da Libras, acadêmico, fique atento às dicas a seguir:
• Reproduza todos os sinais e expressões faciais que você vir no seu caderno didático e no
seu DVD;
• Ao sinalizar, procure não falar;
• Ensine a um amigo ou familiar os sinais que estiver aprendendo, assim você terá com quem
sinalizar;
• Para ampará-lo na prática da Libras, produzimos um DVD com todos os sinais e diálogos
que aparecem no seu caderno didático. Sempre que vir esta imagem recorra ao seu
DVD para assistir à realização dos sinais no contexto de uso. A númeração dos vídeos no
DVD coincide com a numeração das seções desta unidade.
Nesta unidade, para registrar a Libras, usaremos de três recursos: a) fotografias dos sinais,
para você visualizar, de imediato, no seu caderno didático, os sinais abordados; b) vídeos realiza-
dos com surdos e ouvintes fluentes em Libras, que mostrarão a você a maneira exata de se rea-
lizar cada sinal; c) “sistema de notação em palavras”, que é uma forma de se registrar os sinais da
Libras através das palavras da língua portuguesa, seguindo, para tanto, algumas conveções. Para
o uso desse sistema de transcrição, seguiremos as convenções apresentadas por Felipe (1997), a
saber:
Você percebeu que na unidade III nos utilizamos de algumas dessas convenções? Viu como
foi fácil compreendê-las?
39
UAB/Unimontes - 3º Período
40
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
4.2 Cumprimentos
Vamos aprender a cumprimentar as pessoas em Libras? Os cumprimentos iniciais mais utili-
zados são OI ou aceno de mão, conforme imagens a seguir:
Para ser cortez, utilize também o cumprimento referente ao turno do dia: bom dia, boa tar-
de ou boa noite, conforme as imagens a seguir:
◄ Figura 23:
Cumprimentos.
Fonte: hendrix.sj.cefetsc.
edu.br/~nepes/videos/
apostilas/apostia_li-
bras_basico.pdf. Acesso
em 08/10
41
UAB/Unimontes - 3º Período
• Plural: depende da quantidade: dual, trial, quatrial ou coletivo. Veremos distintas configura-
ções e distintas orientações. Acesse o seu DVD para ver estes sinais. No DVD você tam-
ATividAde bém poderá ver os pronomes possessivos em Libras.
Imagine-se diante de
um surdo. Cumprimen- Conversando em Libras
te-o e diga o seu nome.
Como você perguntaria
diálogo 1
a ele o nome dele?
Que sinal faria nessa
situação? A – OI, BOM DIA
B – BOM DIA.
A – AMIG@ APRESENTAR SINAL-DELA NOME C-A-M-I-L-A
B – OI TUDO BEM? MEU-SINAL MEU-NOME C-H-A-R-L-E-Y. PRAZER CONHECER.
C – TAMBÉM PRAZER CONHECER. VOCÊ SURD@?
B – SIM, SURD@. VOCÊ SURD@ OU OUVINTE?
C – SURD@ TAMBÉM.
B – VOCÊ-DOIS ESTUDAR AQUI UNIMONTES?
A – NÃO. EL@ ESTUDAR EU INTERPRETE.
B – BOM. IMPORTANTE SURD@ FACULDADE.
C – VOCÊ CURSO QUAL?
B – PEDAGOGIA. VOCÊ CURSO?
C – LETRAS.
B – LEGAL.
C – PRECISAR IR AULA.
B – TCHAU.
42
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
As expressões acima não são os sinais em si mesmos, mas devem acompanhar os sinais que
correspondem a cada uma dessas situações. Para ver estes sinais e as expressões que devem
conter cada um deles, acesse o seu DVD .
As expressões podem ainda ser contextuais de modo a determinar, assim, circunstâncias
específicas. É o caso, por exemplo, da distinção entre um choro de tristeza e de um choro de rai-
va. O sinal CHORAR será o mesmo, mas a expressão facial será distinta e produzida em concomi-
tância com o sinal, como é o caso das expressões contextuais a seguir:
As expressões podem ainda definir o grau de intensidade de um adjetivo, por exemplo. Ve-
remos que as diferenças entre os sinais BONITINHO, BONITO e BONITÃO se relacionam princi-
palmente à mudança de expressão, além da amplitude do movimento do sinal, indiado pela seta
branca, observe:
43
UAB/Unimontes - 3º Período
DICA
O Instituto Nacional de ALGO OU ALGUÉM É MUITO BONITO OU BONITÃO
Educação de Surdos
(INES) disponibiliza em
seu site uma bibliote- No segundo caso, quando as expressões cumprem funções gramaticais, tais funções estão
ca digital com vários relacionadas ao tipo de frase que se quer produzir, uma vez que as expressõs faciais definirão se
títulos sobre os surdos ela é afirmativa, exclamativa ou interrogativa. Este é, justamente, o tema do próximo tópico.
e a Libras. Confira no
site http://www.ines.
gov.br/Paginas/biblio-
teca.asp.
4.6 Tipos de frases
De acordo com Felipe e Monteiro (1997), as línguas de sinais utilizam as expressões faciais
e corporais para estabelecer formas negativas ou interogativas, “por isso, para perceber se uma
frase em Libras está na forma afirmativa, exclamativa, interrogativa ou negativa precisa-se estar
atento às expressões facial e corporal (sic) que são feitas simultaneamente a certos sinais ou com
toda a frase”.
44
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
PROFESSOR LIBRAS
45
UAB/Unimontes - 3º Período
VOCÊ APRENDER
4.6.3 Na forma negativa, de acordo com Felipe (1997), é possível verificar pelo menos três
distintos processos:
a. Acrescenta-se o sinal NÃO (manual) à frase afirmativa: EU VIAJAR BH NÃO.
b. Acrescenta-se um aceno de cabeça simultaneamente à ação que está sendo negada: EU
CONHECER-NÃO PROFESSOR
Utiliza-se sinais que incorporam a negação em sua estrutura: TER-NÃO QUERER-NÃO,
GOSTAR-NÃO, SABER-NÃO: EU GOSTAR-NÃO PEIXE.
PROFESSOR PORTUGUÊS
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
BONIT@ GRANDE
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UAB/Unimontes - 3º Período
Conversando em Libras
Diálogo 2
Para aprender a realizar expressões faciais você terá que, primeramente, deixar a vergonha
de lado! Sinta os músculos da sua face e perceba que eles podem ser flexionados. Agora vá para
a frente do espelho e tente manifestar, através da face, as seguintes emoções: alegria, raiva, tris-
teza, tédio, vergonha, medo e desconfiança. Marque um encontro virtual com um colega, via we-
bcan, e veja se ele descobre as expressões que você irá fazer. Deixamos, a seguir, algumas expres-
sões faciais para você descobrir quais são. Escreva no quadro ao lado o que elas significam ou
que tipo de frase veiculam. Aproveite e tente imitá-las na frente do espelho!
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Usamos números cardinais para informar idade, número de telefone, número de conta ban-
cária, de documentos pessoais, número de páginas, etc.
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UAB/Unimontes - 3º Período
Exemplo: quantidade de alunos, de provas, de professores, etc. Note que a diferença entre
a representação geral de números cardinais e a representação específica (para quantidade) está,
precisamente, nos quatro primeiros algarismos (de 1 a 4). A representação dos próximos seis al-
garismos (de 5 a 9 e 0) se mantém inalterada.
A configuração de mão é a mesma dos números cardinais A, com uma única diferença:
acrescenta-se, a cada número, um movimento trêmulo e breve.
Para representar valores monetário (dinheiro) utiliza-se a configuração de mão dos números
cardinais B (para quantidades).
Para representar os valores de um até nove reais, usa-se o sinal do numeral correspondente
ao valor, incorporando a este o sinal VÍRGULA. Assim o numeral para valor monetário terá pe-
quenos movimentos rotativos. Pode ser usado também para estes valores (um a nove) os sinais
dos numerais correspondentes seguido do sinais soletrados R-L “real” ou um R trêmulo (reais).
Acima desses valores, o movimento terá a sua amplitude aumentada, tornando-se maior e
mais acentuado à medida em que os valores aumentarem (dezena > centena > milhar > milhão).
Verifica-se ainda, conforme Felipe (1997), uma possível gradação na expressão facial.
QUANTO-CUSTA
CARO
BARATO
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
PASSADO
PRESENTE
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UAB/Unimontes - 3º Período
Acesse o seu DVD e veja a realização das frases a seguir em Libras. As traduções para o
português estão ao lado.
• PASSADO EU NÃO-SABER LIBRAS (Eu não sabia libras).
• EU FUTURO LIBRAS PRESENTE (Eu estou aprendendo Libras).
• FUTURO EU LIBRAS TRANSFORMAR (Futuramente, serei ótimo em Libras):
• AMANHÃ PROVA MATEMÁTICA (Amanhã tem prova de matemática).
• ONTEM PROVA HISTÓRIA (ontem teve prova de história).
• AMANHÃ DEPOIS PROVA BIOLOGIA (depois de amanhã terá prova de biologia)
O quadro a seguir ilustra os sinais dos dias da semana em Libras. De segunda a quinta-feira,
a locação continua a mesma e a configuração de mão vai se alterar conforme o dia da sema-
na: segunda-feira (dois dedos), terça-feira (três dedos) e quarta-feira (quatro dedos). Quinta-feira:
não se altera a locação, mas a configuração de mão é o número 5 (cardinal). Sexta-feira: sinal icô-
nico (peixe). Sábado: mesmo sinal de laranja. Domingo: CM: mão configurada em D. L: de frente à
boca. M: círculo de frente à face. Observe as imagens ilustrativas:
dica
Quer aprender a
sinalizar alimentos em
Libras? Então acesse
o site http://www.
youtube.com/watch?- 4.8.2 Meses do ano
v=g0zfPc2fTDI e assista
a uma divertida aula!
Bons estudos! Sinalizar os meses do ano em Libras e fácil, acadêmico! Basta realizar o sinal MÊS (veja no
dicionário digital) mais a especificação adequada: JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO, etc. A tabela a
seguir ilustra apenas os doze meses do ano, sem o sinal MÊS que deve precedê-los. Mas não se
preocupe! Acesse o seu DVD para ter uma visão completa da sinalização.
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
atividade
De posse do vocabu-
lário que você está
adquirindo em Libras,
tente elaborar uma
frase interrogativa
no passado e outra
exclamativa no pre-
sente. Atente-se para a
expressão facial, ok?
DICA
Ao lado das imagens
dos sinais dos dias da
semana (retirados do
dicionário enciclopédi-
co trilingue da Libras)
aparece um tipo de
simbolo ou desenho.
Você sabe do que se
trata? Reflita por um
instante e questione
o seu professor sobre
essa ocorrência.
4.8.3 Horas
Como expressamos as horas em Libras? Seguindo o modelo imagético da sequência dos nú-
meros no relógio digital: primeiro os números referentes às horas, depois os números referentes
aos minutos (sem sinalizar os dois pontos). Fácil, não é? Acesse o seu DVD para uma melhor vi-
sualização. A gramática da Libras apresentas algumas regrinhas específicas para a produção
de horas. Veja abaixo:
53
UAB/Unimontes - 3º Período
Atividade
Agora pense rápido
em Libras: i) que dia
é hoje? ii) que dia foi
ontem? iii) que dia será
amanhã? iv) em que
dia da semana você Assista no seu DVD e responda às perguntas a seguir:
costuma ir à missa? v)
1 – QUE-HORAS?
qual é o seu dia da se-
mana predileto? vi) em • AULA COMEÇAR QUE-HORA?
que mês se comemora • VOCÊ TRABALHO COMEÇAR QUE-HORA?
a páscoa? vii) em que • AULA TERMINAR QUE-HORA?
mês se comemora o • VOCÊ ACORADAR QUE-HORA?
natal? viii) qual é o mês
• VOCÊ DORMIR QUE-HORA?
do seu aniversário?
ix) quais são os meses
em que temos férias 2 – QUANTAS-HORAS?
escolares? E qual é o • VIAJAR SÃO-PAULO QUANTAS-HORAS?
mês das festas juninas? • TRABALHAR ESCOLA QUANTAS-HORAS?
Se você respondeu
• VOCÊ ESTUDAR LIBRAS QUANTAS-HORAS DIA?
a todas as questões
consultando ou sem
consultar o material Conversando em Libras
disponível, parabéns! O Diálogo 3
importante é que você A – BOA NOITE
movimentou a sua
B – BOA NOITE
mente e as suas mãos!
A – EU QUERER INSCRIÇÃO CURSO.
B – ESCOLHER JÁ?
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
1 - PERGUNTAR
55
UAB/Unimontes - 3º Período
2 - ENSINAR [me]
O que você observou na sequência de sinais ao anteriores? Que diferenças existem entre a
imagem 1 as imagens 2? Se você respondeu que é a direção do movimento, você acertou! Preste
atenção à explicação: se EU ajudo alguém, o movimento parte de EU em relação a ELE. Se ELE me
ajuda, o movimento parte DELE em relação a EU. Interessante, não é? Nem todos os verbos têm a
propriedade de serem direcionais. Existem ainda outros tipos de flexão verbal na Libras, mas não
é o nosso objetivo contemplá-las aqui.
1 - TRABALHAR 2 - ESTUDAR
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Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
QUERER PROCURAR
PAGAR PRECISAR
Conversando em Libras
Diálogo 4
1 - ALEGRE 2 - ALEGRE
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UAB/Unimontes - 3º Período
1 - BRAVO 2 - BRAVO
1 - GORDO 2 - GORDO
1 - MAGRO 2 - MAGRO
2 - CANSADO 2 - CANSADO
Viu só! A expressão facial e as modulações no movimento fazem parte da estrutura grama-
tical da Libras. Não há Libras sem elas.
58
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
4.10 Classificadores
As línguas visuais, como a Libras, apresentam uma propriedade criativa muito interessante:
os classificadores (CL). O que são classificadores nas línguas visuais? São possibilidades de repre-
sentar e descrever, através das configurações de mãos, e movimentos, propriedades físicas (ou
emotivas) de pessoas, coisas ou objetos.
Para Felipe (1997), classificadores podem ser considerados marcadores de concordância de
gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. Gênero não se refere aqui a masculino ou feminino, mas à es-
pécie e características do referente (que pode ser pessoa, animal ou coisa). Por exemplo: usarei
distintas configurações de mão e distintos movimentos para sinalizar que: a) um objeto caiu da
mesa b) um aninal caiu da mesa c) uma pessoa caiu da mesa. Note que a configuração de mão e
o movimento utilizados dependerão das características do referente, ou seja, a caracterização do
verbo CAIR irá depender da coisa ou objeto que cai. Veja no seu DVD as diferenças na sinali-
zação de:
CATEGORIA CM EXEMPLOS DE CL
Objeto fino 40 BARRA-FERRO-CONSTRUÇÃO
38 FIO-DENTAL-FINO
Objeto plano 61 MESA-PLANA
62 TELHADO-RETO
PORTA-ARMÁRIO-RETA
Animal pulando 53a COELHO-PULANDO, SAPO-
-PULANDO
Animal voando 64 BORBOLETA-VOANDO
PÁSSARO-VOANDO
Veículos de duas rodas em 63 MOTO-LOCOMOVENDO-SE
locomoção BICICLETA-LOCOMOVENDO-SE
Animal andando 02 (grandes) ELEFANTE-ANDANDO
62 (médio e de pequeno CACHORRO-ANDANDO
porte) GATO-ANDANDO
28 (aves em geral) AVES-ANDANDO
Animal nadando 63 PEIXE-NADANDO
GOLFINHO-NADANDO
Seres ou coisas altas 62 HOMEM-ALTO
HOMEM-BAIXINHO
OBJETO-NO-ALTO
OBJETO-EM-BAIXO
Fonte: quadro adaptado de Supalla (1986)
59
UAB/Unimontes - 3º Período
60
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Utilizo a língua dos ouvintes, minha segunda língua, para expressar minha cer-
teza absoluta de que a Língua de Sinais é nossa primeira Língua, aquela que
nos permite ser seres humanos comunicadores. Para dizer, também, que nada
deve ser recusado aos Surdos, que todas as linguagens podem ser utilizadas, a
fim de se ter acesso à vida.
Referências
CAPOVILLA, F. C.; Raphael, W. D. Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngüe da Língua de
Sinais Brasileira. Volumes I e II. São Paulo-SP: Edusp, Imprensa Oficial, Feneis, 2002.
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1995.
QUADROS, R. M. & KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
61
UAB/Unimontes - 3º Período
SILVA, F. I. et al. Caderno Pedagógico I. Curso de Libras. Centro Federal de Educação Tecnológi-
ca de Santa Catarina – CEFET/SC. Núcleo de Estudos e Pesquisas em educação de surdos – NEPS.
Santa Catarina, 2007. Disponível em: http://hendrix.sj.cefetsc.edu.br/ ~nepes/videos/apostilas/
apostia_libras_basico.pdf. Acesso em: outubro de 2010.
SUPULLA, P. The classifier system in ASL. In: GRAG, C, (org.). Nouns classes and categorization.
Typological studies in language. Philadelphia. John Benjamin Publishing Co., 1986.
62
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Glossário
Fonética-fonologia: estudo científico das características dos sons de uma língua (parte fí-
sica, articulatória e percepção dos sons) descrevendo e classificando os mesmos.
Léxico: conjunto de palavras existentes em uma língua.
Língua materna: a primeira língua adquirida pelo sujeito. Língua naturalmente adquirida
pelo sujeito e para a qual ele tem intuições e informações linguísticas sobre a forma e uso.
Língua natural: acepção 1: a língua que é mais naturalmente adquirida pelo indivíduo e na
qual ele se sentirá mais confortável. Acepção 2: Língua não-artificial, não planejada.
Língua: “Sistema de signos compartilhado por uma comunidade lingüística comum. A fala
ou os sinais são expressões de diferentes línguas. A língua é um fato social, ou seja, um sistema
coletivo de uma determinada comunidade lingüística” (QUADROS, 2004, p. 7).
Linguagem: acepção 1: relaciona-se à faculdade mental que nos possibilita o exercício da
língua. Acepção 2: refere-se a todo e qualquer sistema de comunicação. A língua seria, assim, o
maior e mais complexos deles.
Linguista: aquele que estuda a linguagem humana. “O lingüista é (...) aquele que quer
descobrir como a linguagem ‘funciona’, e isto ele faz através do estudo de línguas específicas”
(CRYSTAL, 2004, p. 17).
Linguística: estudo científico das línguas.
Mão-dominate: a mão ativa, que realiza o movimento durante a realização de um sinal
Mão-passiva: a mão que recebe ou aguarda a outra
Mímica: modo de expressar um pensamento por meio de gesto, expressão fisionômica ou
corporal.
Segunda língua: língua que aparece como a segunda na ordem da aquisição, diferente
da língua materna ou natural, podendo demandar maior esforço e aplicação na aprendizagem.
Pode ser entendida como sinônimo de língua estrangeira.
Signo lingüístico: objeto lingüístico que contém forma e sentido. De acordo com Saussure
(2007), o signo é uma imagem psíquica que possui uma imagem acústica (ou visual no caso das
línguas de sinais) e um conceito, em resumo, um significante e um significado, ou, de forma sim-
plista, uma forma e um conteúdo.
Sinal: item lexical (palavra) das línguas de sinais.
Variação linguística: fenômeno lingüístico em que elementos de uma língua se diferem
espacial, temporal e socialmente.
63
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Resumo
Unidade I
65
UAB/Unimontes - 3º Período
Unidade II
Nesta unidade vimos que:
• um pouco mais sobre os motivos que conduzem os esforços mundiais para alcançar uma
educação inclusiva competente. Vimos que há uma justificativa social, uma educacional e
outra econômica para que a inclusão aconteça.
• um pouco mais sobre a legislação brasileira e sobre o importante Decreto 5.262, de 22 de
dezembro de 2005. Esse decreto trouxe grande progresso à Educação de Surdos e à valori-
zação da Libras.
• que a educação especial é diferente da educação inclusiva. A primeira tem uma abordagem
médico-pedagógica e a segunda uma abordagem educacional igualitária.
• a organização espacial, estrutural e pedagógica deve ser planejada para acolher o surdo em
sala de aula.
• o intérprete educacional não é substituto do professor e tem sua função como tradutor do
par linguístico Libras/Português.
• o ensino de línguas para surdos deve respeitar o uso da Libras que é a língua natural/mater-
na do surdo e privilegiar as idéias expressas na forma escrita do português (segunda língua
do surdo) ao invés de privilegiar a forma. O mesmo deve acontecer com o ensino de línguas
estrangeiras.
Unidade III
Unidade IV
66
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
67
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Referências
Básicas
QUADROS, Ronice Muller de. O Tradutor e Interprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua
Portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio àEducação de Sur-
dos- Brasília: MEC; SEESP, 2004.
SALES, Heloisa Maria Moreira et al. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos. vol. I e II. Brasí-
lia: MEC, SEESP, 2004.
Complementares
BRASIL. Decreto-lei n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Diário Oficial [da] República Federa-
tiva do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005. Seção 1, p. 30.
BRASIL. Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS)
e dá outras providências. Disponível em: www.mec.gov.br/seesp/legislacao.shtm Acesso em: 10
ago. 2010
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,
1995.
GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e
da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
KARAGIANNIS, A., STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Ale-
gre: Artmed: 1999.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.
QUADROS, R. M. & KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
69
UAB/Unimontes - 3º Período
RIBEIRO, M. C. M. A. Considerações sobre a relação dos surdos com a linguagem: dos primór-
dios à contemporaneidade. Revista Unimontes Científica (no prelo), 2011.
SILVA, F. I. et al. Caderno Pedagógico I. Curso de Libras. Centro Federal de Educação Tecnológi-
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VIZIM, M. Educação Inclusiva: o avesso e o direito de uma mesma realidade. In: SILVA, S.; VIZIM,
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do de Letras; ALB, 2003. p. 49-72.
Suplementares
LODI A.C.B. Plurilinguismo e surdez: uma leitura bakhtiniana da educação de surdos. Educação
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________. Uma leitura enunciativa da Língua Brasileira de Sinais: o gênero contos de fadas.
DELTA. Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São Paulo, v. 20, n. 2, p. 281-
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MOURA, M. C. O surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro, Revinter Editora,
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PERLIN, Gladis Terezinha Tascheto. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (org.) A surdez: um olhar
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PERLIN, Gladis Terezinha Tascheto. O ser e o estar sendo surdo: alteridade, diferença e identida-
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REZENDE, Franklin Ferreira Junior; PINTO, Patrícia Luiza Ferreira. Os surdos nos rastros de sua
intelectualidade específica. In: QUADROS, R. M; PERLIN, G. T. T. (org.). Estudos Surdos II. Petró-
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ROCHA, Fábio. Theodo et al. Libras: um estudo encefalográfico de sua funcionalidade cerebral.
Disponível em: www.enscer.com.br/pesquisas/artigos/libras/libras.html. Acesso em: 12 dez. 2007.
70
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SÁ, N. R. L. Cultura, poder e educação de surdos. Manaus: Ed. Universidade Federal do Amazo-
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SKLIAR, Carlos. Um olhar sobre o nosso olhar acerca da surdez e das diferenças. In: ______.
A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
SOUZA, R. M. de. Que palavra que te falta? Lingüística, educação e surdez: considerações
epistemológicas a partir da surdez. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
STOKOE, William. Clarence. Sign Language Structure. (Revised Ed. Printed in 1978), Silver
Spring, MD: Linstok, 1960.
STROBEL, Karin Lilian. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. 2009. 176 f. (Tese -
doutorado em Educação). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Santa
Catarina, 2007.
71
Educação Física - Língua Brasileira de Sinais - Libras
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) O que foi o congresso de Milão e porque ele pode ser considerado um retrocesso na educação
de surdos?
2) A história dos surdos nos narra eventos opressivos contra a população surda e deixa entrever
que tais sujeitos foram considerados, durante muito tempo, como seres incapacitados (ou pouco
capacitados) tanto para o exercício da linguagem, quanto para o exercício de práticas cidadãs
como um todo. No entanto, um evento específico (ou uma consquista específica) contribuiu so-
bremaneira para que este quadro começasse a ser alterado. Que evento foi esse e o que nos diz
agora a perspectiva moderna e atual sobre os surdos?
3) Apesar de haver divergências sobre a forma de caracterizar os surdos (pense, por exemplo,
nas diferenças entre a abordagem médica e a abordagem antropológica), alguns consensos pu-
deram ser firmados. Cite os principais.
4) Dentre as leis brasileiras que legislam sobre a educação de surdos, o decreto 5.626 pode ser
considerado como um dos mais significativos. Do que trata esse decreto? Que conquistas eles
trás?
5) Sabe-se que a língua portuguesa é a segunda língua dos surdos. Ao passo que bebês ouvin-
tes, ainda em tenra idade, começam a adquirir de maneira natural a língua que está à sua volta,
os bebês surdos filhos de pais ouvintes devem procurar meios distintos e externos para adquirir
a Libras. Mais tarde, na escola, ele necessitará de estratégias e recursos adequados à aprendi-
zagem do português escrito. No tocante à língua portuguesa, quais são as dificuldades encon-
tradas pelos surdos na sala de aula inclusiva? Qual deve ser a postura do professor diante desse
fato?
6) Qual é a diferença entre linguagem e língua? Por que a Libras pode ser considerada uma lín-
gua?
7) Quais são os parâmetros que se unem para formar o sinal? Caracterize cada um deles.
8) Adjetivos e verbos podem ser flexionados na Libras? Explique como fazemos para flexioná
-los.
10) Em Libras existe uma única forma de expressar números? Mudando a situação de uso, muda-
se também a sinalização? Explique cada uma das formas de se sinalizar números em Libras.
73