Estagio
Estagio
Estagio
Resumo
O presente artigo propõe discutir o Estágio
Supervisionado como espaço de elaboração e
desenvolvimento de uma epistemologia da
prática, com vistas à compreensão da docência
em matemática. Por meio de pesquisa
qualitativa arrimada, num estudo bibliográfico
e documental, em apresentam-se experiências
educativas vivenciadas por ocasião da
Francisco José de Lima¹ execução didático-pedagógica do currículo do
Curso de Licenciatura em Matemática do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará Tecnologia do Ceará - campus Cedro. Esse
currículo foi implantado no semestre 2009.2,
com licenciandos em matemática. Todo o
Isaías Batista de Lima² material para a análise foi coletado por meio de
Universidade Estadual do Ceará observações feitas e registradas a partir de
debates em sala de aula, registros escritos e
relatórios finais da disciplina. Os significados
atribuídos ao estágio revelam a importância da
mediação realizada no decorrer das atividades
desenvolvidas pelo professor-orientador, pelas
teorias elencadas na matriz curricular do curso,
bem como da colaboração dos professores das
escolas, para que a experiência de estágio seja
significativa e prepare o futuro professor para
encarar com sabedoria os primeiros anos de
exercício na docência. O resultado da pesquisa
demonstrou que o estágio oportunizou aos
estagiários desenvolver uma epistemologia da
prática docente para o exercício da profissão,
em que a análise, a articulação e a reflexão
crítica lhes possibilitaram assumir posturas
diferenciadas em relação à prática tradicional e
conteudista de ensino em matemática.
Palavras-chave: Estágio supervisionado;
Saber docente; Docência em Matemática.
______________________
1
Licenciado em Pedagogia e em Matemática, Especialista em Metodologia e Funcionamento do Ensino
Fundamental e Médio e em Gestão Escolar, Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade
Federal do Ceará (UFC), Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)
campus Cedro. franciscojose@ifce.edu.br
2
Licenciado e bacharel em Filosofia, Especialista em Filosofia Política. Mestre e Doutor em Educação pela
UFC, Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Professor colaborador do Mestrado em
Ensino de Ciências e Matemática da UFC/ENCIMA. Líder do grupo de Pesquisa FIMEPE. Pesquisador bolsista
BPI/FUNCAP. isaias.lima@uece.br
303
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
Abstract
304
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
Introdução
305
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
306
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
Para Pimenta e Lima (2012, p. 55), “[...] o estágio então deixa de ser
considerado apenas um dos componentes e mesmo um apêndice do
currículo e passa a integrar o corpo de conhecimentos do curso de formação
de professores”. Isso porque o contexto educacional vigente exige
profissionais que estejam preparados para lidar com as diversas realidades
que se interpenetram dialeticamente no contexto escolar. É a partir da
realização do estágio que o estagiário – futuro professor de matemática –
adquire experiência e busca novas maneiras de atuar em sala de aula,
307
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
308
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
Caminhos metodológicos
309
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
310
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
de, que implique competência – fazer bem o que lhe compete. (ANDRADE,
2005).
O Estágio do Curso de Licenciatura em Matemática do IFCE/Campus Cedro
tem suas atividades distribuídas a partir do quinto semestre e divide-se em
quatro componentes curriculares:
O Estágio I – exercido no Ensino Fundamental, e;
O Estágio III – exercido no Ensino Médio.
311
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
Os estagiários serão identificados pelas siglas E1, E2, E3, ... E13. Estes
alunos realizaram seus estágios em escolas públicas da rede estadual, em
salas de Ensino Médio e constaram de observação participante de aulas.
Além das aulas, os estagiários acompanharam e participaram de atividades
como: planejamento da disciplina, reunião de pais e mestres, encontros
pedagógico, rotina de bibliotecas e laboratórios de informática, dentre
outras.
Os alunos cumpriram todas as exigências necessárias e apresentaram uma
postura reflexiva e investigativa em relação às experiências vivenciadas,
desenvolvendo saberes pertinentes ao exercício da docência em matemática,
312
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
313
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
Inicialmente pensei que o Estagio Supervisionado era uma disciplina que não tinha
muita importância e que não precisaríamos desta, pois já sabíamos de nossa
profissão, então não havia necessidade de observar os profissionais da área. No
decorrer do curso mudei de opinião, pois notei a grande importância do estágio.
Percebi que através da observação podemos “comparar” o que vivenciamos no
nosso dia a dia em sala de aula, enquanto formandos, a realidade de alunos do
Ensino Fundamental e Médio. Ainda podemos nos colocar no papel do professor
observado e analisar o que gostaríamos de absorver desse profissional, ou algo que
jamais utilizaríamos. (ESTAGIÁRIO 6).
Em alguns instantes outros alunos compartilham a mesma compreensão em
relação ao estágio. Isso tende a mudar a partir do instante que o licenciando
observa, discute e reflete a dinâmica da atividade docente, como ofício que
exige pesquisa sobre a prática para se desenvolver diferentes formas de
pensar, de compreender, de agir e de lidar com os problemas que ocorrem
no fazer didático do professor de matemática. A esse respeito o Estagiário 6,
assegura que “[...] é através do estágio que podemos tomar a decisão, fazer
nossa escolha em ser ou não ser professor. Podemos nos identificar com a
profissão ou notar que essa não é nossa área”. Ressalta ainda que:
314
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
315
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
A professora regente ministra suas aulas com bastante clareza e com muita calma
para facilitar a compreensão de todos os alunos, apesar de alguns se mostrarem
impacientes e desatentos. Utiliza bem todos os materiais que utiliza em sala de aula,
domina muito bem os conteúdos expostos, mantém um laço de amizade muito
grande com todos os alunos e tem uma grande preocupação com o aprendizado de
todos. (ESTAGIÁRIO 8).
Desenvolver a atividade docente nos tempos atuais tem sido, cada vez mais,
desafiador, pois ser professor não é simplesmente ir à sala e passar o
conteúdo. Nos bastidores da profissão, o professor precisa preparar-se para
ministrar uma boa aula, tornando o conhecimento acessível ao aluno,
propiciando os meios necessários para que o educando seja capaz de
produzir conhecimento, mantendo a curiosidade como dispositivo para
novas aprendizagens. Assim sendo, para o desenvolvimento de um bom
trabalho o professor precisa de horas para estudar, planejar aulas, pesquisar,
estar atento ao mundo, observar bastante e em sala de aula no exercício da
docência, ter a possibilidade de aprender por meio da prática. A esse
respeito Ghedin (2010) aponta que a reflexão sobre a prática constitui em
seu questionamento com vistas a intervenções e mudanças.
As observações de práticas feitas pelos estagiários revelam-se como uma
importante atividade na formação inicial de futuros professores de
matemática. O acompanhamento dessas atividades, de fato, propicia ao
professor em formação inicial a oportunidade de verificar o contexto
educacional, político e social da escola, analisando as diferentes realidades
do campo escolar e estabelecendo um laço de interação entre o educador, o
educando e o fazer docente.
No contexto da prática docente, o professor precisa estar preparado para
lidar com diferentes situações que ocorrem no cotidiano da sala de aula. Um
problema constante é o desinteresse dos alunos em relação aos conteúdos
matemáticos, ficando o professor na incumbência de sensibilizar aos
educandos para a importância desses conteúdos na formação cidadã dos
mesmos. A esse respeito, em seus relatórios, os estagiários apontaram que
316
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
317
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
318
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
319
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
tica como educador, pois, de acordo com Fiorentini & Castro (2003, p. 127),
“[...] sem reflexão, o professor mecaniza sua prática, cai na rotina, passando
a trabalhar de forma repetitiva, reproduzindo o que está pronto e o que é
mais acessível, fácil ou simples”. Com o exercício da reflexão sobre a
própria prática, o professor torna-se um analista crítico da realidade, sendo
capaz de resolver problemas.
320
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
Conclusão
321
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
Veiga (2008, p. 20) afirma que o trabalho docente é “[...] uma atividade
profissional complexa, pois requer saberes diversificados”. Por essa razão, é
preciso oportunizar ao futuro professor a experimentação de diferentes
conhecimentos para exercer seu ofício com significado, pautando-se em
princípios pedagógicos que legitimem o seu fazer profissional com eficácia.
Sendo assim, é necessário formar professores inseridos numa instituição de
educação básica, capazes de conviver com uma diversidade de saberes
oriundos de seus alunos, fruto de contextos econômicos e sociais, que
interferem no processo de aprendizagem.
O Estágio Supervisionado expressa sua relevância na formação inicial do
professor, que, conforme Pimenta e Lima (2004), é fundamental ao
propiciar ao aluno um momento específico de aprendizagem e possibilita
uma visão crítica da dinâmica das relações existentes no campo
institucional, enquanto processo efervescente, criativo e real do fazer
educativo.
Do exposto, pode-se afirmar que as ações desenvolvidas no Estágio III, nos
diferentes espaços educativos, buscou integração dos diversos atores
educativos envolvidos, promovendo aprendizagem em relação à formação
do docente para o ensino de matemática, constituindo-se num saber
experiencial articulado com o cotidiano da prática docente.
Os dados revelam que o estágio oportunizou aos estagiários desenvolver
uma epistemologia da prática docente para o exercício da profissão, em que
a análise, a articulação e a reflexão crítica lhes possibilitaram assumir
posturas diferenciadas em relação à prática tradicional e conteudista de
ensino em matemática. Além disso, tomaram consciência de que a sala de
aula é um espaço nutridor de relações e aprendizagens que propicia
diferentes saberes com repercussão reflexiva sobre o seu desenvolvimento
profissional; sobre questões relacionadas a dinâmica da sala de aula; sobre
as metodologias que devem ou não ser utilizadas na prática de ensino,
concebendo a escola como espaço dinâmico de produção de conhecimento,
logo espaço também de sua formação como educadores.
322
O estágio supervisionado em matemática como espaço de desenvolvimento da epistemologia da prática docente
Referências
323
Francisco José de Lima & Isaías Batista de Lima
324