Edvan Aquino de Queiroz - 2013
Edvan Aquino de Queiroz - 2013
Edvan Aquino de Queiroz - 2013
Brasília/DF
2013
Edvan Aquino de Queiroz
Brasília/DF
2013
Q3n Queiroz, Edvan Aquino
Novo museu, velha museologia: uma análise museológica
do memorial inacabado da Novacap (2005-2013) / Edvan
Aquino Queiroz. – Brasília: Faculdade de Ciência da
Informação, Universidade de Brasília, 2013.
190 f. 30 cm.
Inclui bibliografia.
CDU: 069(817.4)
DEDICATÓRIA
A Luiz Henrique Freire Duarte, pelo apoio fundamental à consecução deste trabalho;
Edvan
RESUMO
Analyzes the dispute of the new museology for space and representation in the museum
environment in Distrito Federal. Presents a review of literature on museums, museology,
museography and expography. Discusses the traditional museology and the new museology,
highlighting its main distinctive elements. Presents Novacap, its origin and its history in the
construction of Brasilia. Presents the context in which the project of the Memorial Building in
Brasilia/Novacap was designed. Describes the museographical and architectural aspects of the
project. States that Novacap adopted the principles of traditional museology in the
museography and narrative of his Memorial. Inquire into the reasons why the new museology
has not been consolidated in the museum environment. Uses as method the analysis of
publications, documents and drawings provided by Memorial Novacap and interviews for
research.
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................. 12
CAPÍTULO I ........................................................................................................................... 18
1 MUSEUS: DAS ORIGENS À NOVA MUSEOLOGIA .............................................. 18
1.1 O museu e suas definições ............................................................................................ 22
1.2 Museografia e museologia ........................................................................................... 27
1.3 A museologia e suas tendências ................................................................................... 32
1.3.1 A Declaração do Rio de Janeiro .................................................................................. 35
1.3.2 A Declaração de Santiago do Chile ............................................................................. 36
1.3.3 A Declaração de Quebec ............................................................................................. 37
1.3.4 A Declaração de Caracas ............................................................................................. 38
1.4 Museologia tradicional e nova museologia: principais elementos distintivos ............. 38
CAPÍTULO II .......................................................................................................................... 40
2 NOVACAP: GÊNESE E TRANSFORMAÇÃO ......................................................... 40
2.1 As funções .................................................................................................................... 41
2.2 Gestores e empregados ................................................................................................. 41
2.3 A revista e o livro ......................................................................................................... 43
2.4 Os museus e o arquivo .................................................................................................. 44
2.5 Outros fatos marcantes ................................................................................................. 45
2.5.1 A greve de 1999 ............................................................................................................ 45
2.5.2 Novos rumos ................................................................................................................. 46
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 82
APÊNDICES ........................................................................................................................... 91
APRESENTAÇÃO
1
O valor de uso de um é objeto está relacionado às razões que motivaram a sua confecção. Uma enxada
exposta em um museu perdeu seu valor de uso na construção. Para mais, ver POMIAN, K. Coleção. In:
Memória-História, p. 51-86. Porto: Imprensa Nacional: Casa da Moeda, 1984.
2
A sigla MCBN é criação nossa para efeitos deste trabalho.
13
Problema de pesquisa
Objetivos
a) Objetivo Geral
b) Objetivos específicos
Justificativa
O ineditismo deste tema representou uma motivação e um desafio para a pesquisa que
realizamos. Com base na nossa experiência, afirmamos que a tentativa (até aqui fracassada)
da Novacap de construir um museu é um fato que o Distrito Federal praticamente desconhece.
Pudemos verificar isso quando realizamos o levantamento documental e bibliográfico e uma
enquete entre os estudantes de museologia da Universidade de Brasília (UnB)3 e, sobretudo,
quando declaramos em público o caso aqui estudado – o espanto dos ouvintes vem geralmente
acompanhado da seguinte expressão: “Nunca ouvi falar desse Memorial!”
Estamos cientes de que nossa investigação se insere na seara da discussão política, e
enxergamos nisso uma de suas virtudes. Veremos que há uma linha teórica que não
compreende mais a museologia como um campo de conhecimento tecnicista, isolado, afastado
dos debates e dos problemas de interesse da sociedade. Para Chagas, a quebra desse
paradigma, porém, deve se refletir no saber e no fazer dos futuros profissionais de museus: “A
tendência de formar museólogos para museus e não para a vida tem sido responsável pela
formação de muitos "messias", prontos para "salvar" os objetos, crentes de que suas ações
estão esterilizadas do ponto de vista político e científico” (CHAGAS, 1994, p. 94). Entretanto,
quando falamos em política não nos referimos àquela profissional observada no dia a dia: a
praticada por grupos de pessoas reunidas com o objetivo de alcançar o poder por meio do voto
(TOMANIK, 2004), se utilizando, amiúde, de expedientes ilegítimos sustentados pela
coerção, a força e pelo poder econômico. Mas à dialógica, reflexiva, no sentido defendido por
3
Na enquete realizada com 65 estudantes acima do terceiro semestre, somente onze afirmaram ter
conhecimento do Memorial; sendo que, destes, nove souberam por meio de nossa pesquisa.
15
Hannah Arendt: o debate livre de ideias em espaço aberto como exercício da liberdade4
(ARENDT, 1999); porque “o indivíduo em seu isolamento jamais é livre; só pode sê-lo
quando adentra o solo da polis e age nele” (ARENDT, 1999, p. 102). Falo da política que
permeia à própria existência, sem deixar opção a quem vive em comunidade, senão a de
manifestar-se de alguma maneira frente às questões que são colocadas. Para Tomanik, não há
ser apolítico – o que difere é o resultado da ação de cada um.
Ainda sobre esse ponto, vale registrar a declaração de Débora Diniz que ao escrever no
feminino quando o masculino é a regra assume uma posição política: “Interesses e desejos são
duas forças que nos movem intensamente na vida acadêmica. Eu, particularmente, acredito
muito nas motivações políticas – elas dão sentido para além de nós mesmas, além de permitir
que nos conectemos com pessoas e ideias” (DINIZ, 2012, p. 25).
Outra questão relevante é o fato deste trabalho ter por objetivo contribuir com os
estudos de museologia. É nossa intenção que o material produzido possa servir a novas
pesquisas de professores e alunos. Por essa razão, optamos por um tema afinado com dois
eixos temáticos do currículo do curso da UnB. São eles: Teoria e Prática Museológica – que
“focaliza a formação específica compreendendo disciplinas de conteúdos teóricos e práticos
voltados para a Museologia, a Teoria Museológica, a Pesquisa Museológica e a Museografia”
(UnB/FCI, 2010, p. 17); e Museologia e Patrimônio Cultural – eixo cujo conteúdo “é
dirigido para a formação geral e compreende disciplinas básicas e ligadas a varias áreas de
conhecimento. O objetivo é fundamentar e integrar o estudo da Museologia a um campo
interdisciplinar, com o foco na Cultura, Memória e Patrimônio” (UnB/FCI, 2010, p. 18).
Além do acima exposto, as indagações e questionamentos realizados ao longo deste
trabalho podem motivar uma reflexão dos defensores da nova museologia que buscam a
consolidação dessa corrente em meio à teoria e à prática museológicas. Reflexão que também
4
Refiro-me à liberdade em sentido grego, que, para Arendt é “entendida negativamente como o não ser
dominado e não-dominar, e positivamente como um espaço que só pode ser produzido por muitos, onde qual
cada qual se move entre iguais” (ARENDT, 1999, p. 48).
16
poderá ser realizada pela Novacap, caso a empresa tenha interesse em rever a proposta do seu
Memorial.
Metodologia
CAPÍTULO I
A discussão sobre onde teria nascido o museu é questão ainda mal resolvida na
literatura museológica. Para muitos teóricos os museus são o resultado da evolução do
colecionismo – hábito cultural que por acompanhar o homem desde seus primórdios
(GIRAUDY e BOUILHET, 1990, p. 19) é anterior ao surgimento da Grécia. Entretanto, esses
mesmos teóricos atribuem a um templo grego, o mouseion, a origem do museu (SUANO,
1986, p. 10). Em que pese os historiadores afirmarem que na Mesopotâmia as primeiras
civilizações se formaram por volta do VI milênio a.C. (LEICK, 2003, p. 13), para a teoria
museológica foram os povos da península balcânica, habitada há pouco mais de quatro mil
anos (PERRY, 2002, p. 42 e 43), os responsáveis pelo embrião do que em 1946 o recém-
fundado Conselho Internacional de Museus (ICOM), órgão pertencente à Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e à Cultura (UNESCO), assim definiu: museus são
“todas as instituições abertas ao público, de valor artístico, tecnológico, científico, histórico
ou coleções arqueológicas, incluindo zoológicos e jardins botânicos, excluindo-se as
bibliotecas, exceto na medida em que mantêm salas de exposição permanente” (DUAN, 2008,
p. 24, tradução nossa).
A despeito da afirmação de Pomian (1984, p. 69) de que a produção de artefatos
remonta há cerca de três milhões de anos, não é nosso objetivo questionar se a origem do
lugar onde se reúnem objetos com vistas a preservá-los à posteridade foi ou não obra da
recente civilização grega6. Aqui o importante é considerar que, seja na Grécia, no Egito, na
Pérsia ou na Mesopotâmia os homens sempre procuraram meios para organizar, preservar e
apresentar suas coleções. Segundo Tsuruta (1980, p. 47), esse processo se desenvolveu de
modo a originar primeiramente a museografia e logo após a museologia, das quais trataremos
mais à frente. Antes, vamos a outra face das instituições museológicas.
Desde os primórdios da civilização os museus estão associados ao poder. Prova disso é
a forma como se originaram alguns tesouros artísticos tanto no Oriente quanto no Ocidente:
grandes coleções reunidas por meio da pilhagem de cidades vencidas em batalhas. Hernández
6
Em seu sítio eletrônico Peter Van Mensh comunica que está escrevendo um livro sobre as datas principais na
história dos museus. Num resumo, o PhD em museologia afirma que em 477 a. C. a casa de Confúcio foi
transformada em um templo onde foram expostos suas roupas, chapéus e instrumentos musicais. Para Mensh,
teria sido o templo do sábio chinês o primeiro museu de que se tem conhecimento (MENSCH
MUSEOLOGY, 2012ab).
19
(2006, p. 21 e 22) relata que depois do saque à Babilônia, no séc. XII a.C., os elamitas
expuseram os despojos no templo de um de seus deuses. Do mesmo modo, entre os impérios
do Ocidente “foram os romanos, [...], os grandes colecionadores da Antiguidade, amealhando
em Roma objetos trazidos de botins de guerra no Oriente, na Britânia, no norte da África,
enfim, de todo seu vastíssimo império” (SUANO, 1986, p. 12).
Embora exista imenso lapso temporal separando os antigos saqueadores dos tempos
modernos as consequências de suas ações ainda hoje se refletem nas relações políticas e
culturais entre os povos.
Supõe-se que algumas das obras saqueadas – como a Cabeça de nobre de Níneve e a
Harpa da Rainha de Ur; a primeira, com mais de 4.000 mil anos, e a segunda, com
mais de 5.000 anos – estejam preservadas em lugares secretos, mantidos por
colecionadores clandestinos. Numa hipotética situação como essa, mesmo
assegurada a preservação das obras, as suas funções sociais teriam sido praticamente
eliminadas. Sequestradas da esfera pública, elas teriam sido de novo lançadas no
domínio – nesse caso, brumoso – do privado, sem contar que não há certeza de que
as suas existências estejam garantidas (CHAGAS, 2009, p. 38).
Por outro lado, os tesouros e objetos que decoravam o mouseion, templo das nove
musas, filhas de Zeus e Mnemósine, onde teria se originado o museu, não foram obtidos pela
espoliação de povos inimigos derrotados em guerras, mas a partir de doações e oferendas
destinadas aos deuses (GYRAUDY e BOUILHET, 1990, p. 19). Mesmo assim, ainda
podemos relacionar o colecionismo ao poder. Nesse caso, o poder que advém do
conhecimento, porque o mouseion grego não era apenas a morada das musas: “A casa
dispunha de biblioteca, jardim botânico e zoológico, observatório astronômico, laboratório
anatômico, tudo a serviço dos sábios. Era então no templo das musas que se reuniam
matemáticos, astrônomos, geógrafos, filósofos e poetas” (LIPPI OLIVEIRA, 2008, p. 140).
No século III a. C., na cidade de Alexandria, Egito, durante a dinastia de Ptolomeu I
foi erguido um complexo formado por museu e biblioteca, que viria a se tornar a referência da
cultura helenística. Entre seus objetos encontravam-se “esculturas, instrumentos cirúrgicos e
astronômicos, pedras e minérios de terras distantes” (COELHO, 2004, p. 269).
Na Idade Média, a Igreja despertou para o colecionismo e constituiu por meio de
doações grandes tesouros usados para facilitar negociações políticas e patrocinar o combate a
seus inimigos (SUANO, 1986, p. 14). Segundo Huberman,
A Igreja tinha seus cofres cheios de ouro e prata, que guardava em suas caixas-fortes
ou utilizava para comprar enfeites para os altares.
[...]
20
ao mundo criado por Deus significa ter a fresca lembrança de sua obra, conhecer e
compreender tudo o que Ele criou para fazer companhia à sua mais perfeita
engenharia: o homem, a vida. Não permitir que a sombra inevitável do esquecimento
encubra de vez a luz da criação, habilidade divina que pode ser copiada pelo
homem. Aliás, é na criação que o homem se aproxima do sagrado, é aí que ele se dá
conta de que pode vivê-lo: conhecer e criar. Nos gabinetes, a tradição divina e
sagrada abriga o novo, evidenciando uma articulação entre o que se conhece e o que
se está por conhecer, a ciência que se conhecia e a que se está por construir
(POSSAS, 2005, p. 152).
A partir do caso francês, o museu passou a ser uma instituição pública e aberta a
todos, depositário dos bens retirados da esfera privada e agora pertencentes à esfera
pública. O museu tinha a nova função de educar o indivíduo, estimular o senso
estético e afirmar a identidade nacional (LIPPI OLIVEIRA, 2008, p. 143).
21
Todavia, não devemos acreditar que com isso os museus ficaram livres de ingerências
externas e puderam exercer com autonomia suas atividades. Mesmo pertencendo ao setor
público, as instituições museológicas continuaram a servir ao discurso e aos projetos da elite e
dos grupos detentores do poder – o que, segundo Lourenço, ainda se observa na atualidade.
Insistimos no uso dos museus pelas classes privilegiadas, o que consideramos uma
deformação, voltando-se àquela raiz de que apenas alguns merecem ver a face
divinal. Essa posse desmensurada parece dar curso ao valor bélico que os romanos
empregaram, embora se fale constantemente em valor formativo. Grandes eventos
atraem o público, porém, por falta de trabalho educacional adequado, funcionam
mais como um gabinete de curiosidades e preciosidades, não levando a processar
significados, ou ações mais exploratórias, que poderiam colaborar para ampliar
repertório e inquietações. Explicadores inteligentes, quando existem, por si só não
potencializam tais condutas (LOURENÇO, 1999, p. 74).
têm públicos distintos e variados, que neles vão buscar bens e experiências capazes
de construir suas identidades. São centros identitários, que acumulam as funções de
conferir valor e de definir autenticidade com a de ser lugar de lazer, de consumo de
estetização do cotidiano, o que valoriza o seu papel. Desse modo, os museus e o
patrimônio agregam novas funções, ainda que continuem a construir e representar
identidades locais, regionais, nacionais, globais (LIPPI OLIVEIRA, 2008, p. 147).
22
O horizonte de atuação dos museólogos, por sua vez, não se restringe às instituições
que se enquadram na definição acima porque o ICOM também considera museus:
Como se percebe, cada ato normativo agregou novos elementos aos já existentes. No
caso acima, a novidade ficou por conta da inclusão de coleções “de valor científico”.
Logo em seguida, temos a Lei nº 11.906, de 20 de janeiro de 2009, que criou o Ibram e
apartou as instituições museísticas7 do Instituto do Patrimônio, órgão ao qual estiveram
vinculadas desde 1937. Com a nova legislação, a ideia de fazer dos museus agentes de
transformação social tornou-se obrigação legal, institucionalizando um discurso político-
museológico que, veremos à frente, cresceu e ganhou fôlego a partir da segunda metade do
século XX. Para a Lei nº 11.906, são museus:
7
Se para arquivologia, temos arquivística; para museologia, temos museística. O termo é reconhecido pelo
ICOM (DESVALLÉES e MAIRESSE, 2010).
25
No que concerne aos teóricos da museologia, três definições são muito significativas
para este trabalho porque foram elaboradas (ou divulgadas) na década de 1980 – momento em
que germinava na comunidade museológica brasileira uma discussão sobre o papel dos
museus na sociedade. A primeira é da checa Anna Gregorová (1980, p. 20, tradução nossa):
“museu é uma instituição em que se realiza naturalmente a relação específica do homem com
a realidade”; a segunda, da museóloga Waldisa Rússio Guarnieri (1982 in BRUNO, 2010, p.
277): “Museu é o cenário onde se processa a relação Homem-Objeto”; e a última, da
professora Marlene Suano (1986, p. 10) para quem o museu “se refere a uma coleção de
espécimes de qualquer tipo e está, em teoria, ligado com a educação ou diversão de qualquer
pessoa que queira visitá-la”. Nas definições de Gregorová e Waldisa Rússio não fica claro o
significado de “relação específica” e “relação Homem-Objeto”, respectivamente.
Bachir Zouhdi enfatizava a missão educativa do museu ao compará-lo a uma
universidade aberta, enquanto Giraudy e Bouilhet o descreveram como um espaço atemporal
que necessita de “compreensão” e “amor”.
Sinto que o museu é uma tribuna de civilizações, um centro cultural, bem como um
centro de pesquisa científica, uma espécie de universidade popular e gratuita, um
26
lugar de encontro para o turismo. Isso mostra diferentes mandatos do museu: a sua
missão é humana, científica, didática, social...
(ZOUHDI, 1980, p. 51, tradução nossa).
O museu é a casa dos objetos dos homens, fabricados ontem, hoje, aqui ou alhures.
Nele Tempo e Espaço são abolidos. Na idade do efêmero e do consumismo, o
Museu conserva para amanhã. Aí residem sua singularidade, seu papel e seu
objetivo. Mas essas insubstituíveis coleções de objetos originais, bi ou
tridimensionais são tão inúteis ao visitante quanto um livro nas mãos de um
analfabeto, se não forem expostas de modo a serem compreendidas ou amadas
(GIRAUDY e BOUILHET, 1990, p. 14).
Tereza Scheiner apresenta a forma como, segundo ela, o museu é descrito pelos
teóricos da atualidade. Carregada de subjetividade, visto que não esclarece o que seria a
“relação muito especial” denominada “musealidade”, a definição corrobora o que aqui
defendemos: as instituições museológicas moldam-se ao acompanhar aqueles que
representam. Para a autora, o museu é
fenômeno, identificável por meio de uma relação muito especial entre o humano, o
espaço, o tempo e a memória, relação esta a que denominaremos ‘musealidade’. A
musealidade é um valor atribuído a certas ‘dobras’ do Real, a partir da percepção
dos diferentes grupos humanos sobre a relação que estabelecem com o espaço, o
tempo e a memória, em sintonia com os sistemas de pensamento e os valores de suas
próprias culturas. E, portanto, a percepção (e o conceito) de musealidade poderá
mudar, no tempo e no espaço, de acordo com os sistemas de pensamento das
diferentes sociedades, em seu processo evolutivo. Assim, o que cada sociedade
percebe e define como ‘Museu’ poderá também mudar, no tempo e no espaço
(SCHEINER, 2012, p. 18, grifo nosso).
27
Rosa Barbosa alerta que alguns significados atribuídos ao museu podem provocar o
distanciamento do público. Segundo ela, a própria ideia de “templo das musas” desperta
análises preconceituosas por parte de alguns cidadãos.
A palavra museu apresenta uma diversidade semântica que induz a preconceitos, isto
é, do conceito de “templo”, “casa das musas” (local sagrado) aos conceitos do senso
comum, como “lugar de coisas antigas” (objetos em desuso), ”lugar importante”
(destinado ao acesso de poucos cidadãos privilegiados de uma determinada
sociedade) e, especificamente, ao que caracteriza o museu de arte (local para pessoas
que entendem de arte) (ROSA BARBOSA, 2009, p. 1).
Assim como ocorre em relação à definição de museu, entre os teóricos existe intenso
debate em torno do que seja museografia e museologia; entretanto, neste caso, há certo
consenso na direção de se vincular a primeira a uma atividade técnica e a segunda a uma
atividade científica, como faz Hernández (2001, p. 71, tradução nossa) para quem “a
Museologia se ocupa da teoria e funcionamento do museu. Por sua vez, a Museografia estuda
seu aspecto técnico: instalação das coleções, monitoramento ambiental, arquitetura do
edifício, aspectos administrativos etc.”.
Com relação à autoria dos primeiros estudos sobre o assunto em questão, dois teóricos
apresentam divergências. Alonso Fernández (2010, p. 17) atribui ao manual Museographia u
orientación para el adecuado concepto y conveniente colocación de los museos o cámaras de
curiosidades, publicado em 1727 pelo alemão Gaspar Friedrich, o título de primeiro tratado
sobre técnicas de museus de que se tem conhecimento; enquanto Guarnieri (s.d. in BRUNO
2010, p. 144) defende que “o primeiro estudo [museológico] sério de que se tem notícia é o
ensaio de Diderot, inserido na “Encyclopédie”, sobre “uma organização racional para o
Museu do Louvre”.
Passemos agora a algumas definições para os dois termos, que julgamos importantes
para a compreensão do que virá a seguir.
No livro Introdução à Técnica de Museus, Gustavo Barroso se atém ao sentido literal
da palavra e define museografia como “a descrição de um Museu ou dos Museus”
(BARROSO, 1951, p. 5). Por sua vez, Guarnieri (s.d. in BRUNO, 2010, p. 144) explica que a
museografia nasceu como a “Ciência dos Museus”, e se restringia “a descrição de coleções,
28
dos edifícios que as abrigavam e das suas principais características, e o relato factual dos seus
respectivos surgimentos”.
Neustupny expande o leque de setores e atividades alcançados pelos processos
museográficos. Para ele, também são relativos à museografia
os relatórios anuais sobre as atividade dos museus, artigos de pesquisa sobre museus
de uma determinada área, relatórios sobre os procedimentos de aquisição de
material, conservação ou restauração de acervos, catalogação, e planejamento, bem
como a realização de exposições. Atividades administrativas, bem como técnicas de
museus podem também ser acomodados sob o mesmo termo (NEUSTUPNY, 1980,
p. 28, tradução nossa).
De acordo com Suano (1986, p. 79), a execução dos vários projetos elaborados por um
museu seria a finalidade do trabalho museográfico. A autora vai ao encontro de Cândido para
quem museografia é a “concretização dos postulados teóricos da Museologia por meio de uma
cadeia operatória de salvaguarda e comunicação patrimoniais e expografia8 como a parte
desta cadeia relativa à concepção e execução do discurso expositivo” (CÂNDIDO, 2003, p.
96).
Chagas e Desvallées e Mairesse também convergem quando veem na museografia um
método de aplicação dos pressupostos teóricos dos museus.
8
A expografia é a parte da museografia que diz respeito estritamente à exposição, no que se refere ao seu
formato é a sua linguagem discursiva (CURY, 2005, p. 27). Para Baraçal (2008, p. 35), expografia é “a arte
de expor”, que não se confunde com a decoração nem com a cenografia porque a primeira tem finalidade
simplesmente estética e segunda não é o elemento central do espetáculo.
29
E a segunda de Cury, para quem a “museografia está para a museologia, assim como a
etnografia está para a antropologia” (CURY, 2009, p. 36).
A museografia (da qual a expografia faz parte) aqui entendida como conjunto de
ações práticas que existem e acontecem em sinergia sistêmica – a práxis museal – é
campo de conhecimento autônomo ligado ao museu – a instituição –, ao mesmo
tempo que auxiliar da museologia – a disciplina. Então, a museografia é o suporte
que a pesquisa de recepção em exposições necessita para se realizar como pesquisa
em museologia, porque corrobora na construção do experimento investigativo e
análise e interpretação dos dados coletados. Então, ao invés de fazer a etnografia de
uma exposição devemos fazer a museografia da mesma (CURY, 2009, p. 36) .
Em seu início, o estudo dos museus foi mera descrição de atividades práticas ligadas
basicamente à montagem de exposições, que evoluiu a um conjunto de técnicas denominadas
museografia (GUARNIERI, 1979 in BRUNO, 2010, p. 78). Esta, no entanto, por se ocupar de
atividades internas e específicas, não aborda o museu cientificamente – não questiona nem
cria, apenas descreve e executa. Para Brulon, somente quando o museu se reconheceu como
um fenômeno subjetivo, que carece de um estudo sistematizado para suas questões de ordem
epistemológica, criou a sua própria ciência – a museologia. O autor analisa a questão da
seguinte forma:
A mudança atual diz respeito a uma nova percepção dos objetos pelos museus, que
agora os utilizam com o propósito claro de promover a experiência subjetiva. Desta
mudança resulta, como explica Hein, uma nova atitude museológica, mais propícia a
gerar perguntas do que respostas, confrontando-se, por isso, com desafios
metafísicos – o que é o objeto? – e com questões epistemológicas – o que é a
verdade? “O que é isso?” se revela como uma pergunta incompleta e exaustiva.
Chega-se, pois, de uma ontologia a uma fenomenologia do Museu, no momento em
que o foco passa das coisas para a experiência (BRULON SOARES, 200b, p. 8).
Brulon adverte, porém, que o museu como fenômeno social não surgiu com a
museologia,
[...] pois o Museu nunca deixou de ser um fenômeno intrinsecamente humano, nunca
perdeu sua vida e potência, nunca deixou de fluir livremente. No entanto, é no
momento em que passa a ser percebido verdadeiramente como fenômeno intrínseco
ao indivíduo humano, que se faz nascer a ciência que o acolhe (BRULON SOARES,
2008b, p. 2).
isso é nosso objetivo agora mostrar como esse conceito se modificou desde seu surgimento
até o presente século.
Comecemos com Soichiro Tsuruta, que na década de 1980 elaborou um quadro
hipotético (Quadro 1) sobre as fases em que apareceram e se desenvolveram os museus até à
museologia.
9
Blockbusters traduzido para o Português vira arrasa-quarteirões. Trata-se do termo utilizado para designar
eventos expositivos de curta duração com grande apelo comercial dos seus patrocinadores. Para Pinheiro
(2004, p. 230), “não há como desvincular o sucesso atual dos museus de seu apelo ao espetáculo, não dá para
ignorarmos que exposições realizadas no Brasil de grandes coleções, tais como Monet, Salvador Dali e
Picasso, só vieram a se realizar devido a grandes investimentos, apoiados na certeza de um retorno financeiro
por meio de megaeventos”.
31
De fato muitos autores defendem que àquela época a museologia como um campo de
conhecimentos delimitado dava seus primeiros passos, sendo ainda novidade para muitos
países. Na entrevista concedida as professoras Ana Lúcia de Abreu Gomes e Elizângela
Carrijo, do curso de museologia da Universidade de Brasília (UnB), a professora Lygia
Martins corrobora essa informação.
Na mesma direção Cury nos mostra que o estudo científico dos museus como uma
disciplina foi impulsionado com a abertura de um comitê específico no ICOM, na década de
1970.
é uma ciência que estuda a relação específica do homem com a realidade, e que
consiste na coleta intencional, seletiva e sistemática e na conservação de objetos
inanimados, de natureza material, móvel e principalmente tridimensional, que
documentam o desenvolvimento da natureza e da sociedade, e na realização de um
cuidadoso uso educacional, científico e cultural desses objetos (GREGOROVÁ,
1980, p. 20, tradução nossa).
Disciplina que tem por objeto o estudo de uma relação específica do homem com a
realidade, ou seja, do homem/sujeito que conhece com os objetos/testemunhos da
realidade, no espaço/cenário museu, que pode ser institucionalizado ou não. Nas
últimas décadas, com a renovação das experiências no campo da museologia, o
entendimento corrente de que se trata da ciência dos museus, que se ocupa das
finalidades e da organização da instituição museológica, cede lugar a novos
conceitos, além do descrito acima, tais como, estudo da implementação de ações de
preservação da herança cultural e natural ou estudo dos objetos museológicos
(BRASIL/MINC, 2006, p. 151).
político e econômico dos seus proprietários. É natural, portanto, que os museus tenham
servindo ao mesmo propósito das coleções (ressalte-se que não desprezamos com isso o
caráter pedagógico, histórico e de entretenimento dos primeiros). Sobre isso, vejamos o que
diz Scheiner:
10
Brulon descreve como isso ocorreu (BRULON SOARES, 2006).
34
revolucionário pelo qual a muselogia passou na segunda metade do século XX. O próprio
Varine era, à época, colaborador de um desses projetos, como nos mostra Brulon.
Entre os anos de 1971 e 1974, sob a direção de Marcel Évrard e com o apoio de
Hugues de Varine, assim como o de [Georges Henri] Rivière, colocou-se em prática
uma nova experiência: na comunidade urbana Le Creusot/Montceau-les-Mines, na
França, criou-se o projeto de um museu do homem e da indústria que aconteceria
espalhado por todo o território e que manteria um contato estreito com seus
habitantes. Toda a população deveria participar de sua concepção, funcionamento e
avaliação, o que seria facilitado por um estatuto associativo (BRULON SOARES,
2006, p. 11).
Varine, por sua vez, nos narra como nasceu a nova museologia, nos seguintes termos:
No final dos anos 1960, um vento de renovação agitou o universo dos museus. Nos
países industrializados, os acontecimentos de 1968 [revolta anti-capitalista de
trabalhadores e estudantes na França] haviam levado muitos jovens museólogos a se
questionar sobre sua profissão e sobre seu papel na sociedade; nos países em vias de
desenvolvimento, ou em emergência, como se diz atualmente, particularmente na
América Latina, uma tomada de consciência vinha surgindo em matéria de
libertação da tutela econômica e cultural dos países grandes, particularmente dos
Estados Unidos; nos países recentemente independentes, jovens elites reivindicavam
para seus patrimônios um papel maior na constituição das identidades nacionais e
regionais. O México, a Índia, a Nigéria estavam na frente desse movimento extra-
europeu, enquanto as lutas contra a discriminação racial provocavam a criação de
estruturas culturais de afirmação étnica nos Estados Unidos (os museus de
vizinhança, os neighbourhood museums). Paralelamente, o enriquecimento das
classes médias americanas e europeias, associado aos novos meios de transporte,
levava a uma demanda turística cujas motivações estavam nas antípodas daquelas
dos jovens museólogos locais. Diante dessa evolução divergente das práticas e das
mentalidades, o Icom empreendeu, entre 1969 e 1972, um trabalho de reflexão
11
Barbuy (1995, p. 215) afirma que Georges Henri Rivière, um dos idealizadores do Le Creusot, assume ter se
inspirado em museus a céu aberto criados na Suécia em 1891. Ou seja, oito décadas antes do ecomuseu
francês.
35
coletiva sobre vários temas complementares: luta contra o tráfico de bens culturais,
afirmação do papel “político” dos museus [...] (VARINE, 2012, p, 180).
As premissas defendidas pela Carta de Santiago não eram, portanto, novas, nem uma
reivindicação das comunidades locais – mas uma necessidade colocada pelos
profissionais de museus latino-americanos, quase duas décadas antes. Finalmente,
deve-se ter em conta que, naquele momento, apenas um evento organizado por
agências internacionais teria a possibilidade de discutir, numa América Latina
atravessada por governos autoritários de direita, as relações entre sociedade,
12
“A América Latina vivia, nos anos 1970, “uma história de exílio e exilados”. Os Estados Unidos, principal
potência imperialista mundial, protagonizam a instalação de ditaduras militares em vários países do
continente, como Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Bolívia. O golpe de Pinochet, um ano após a realização
da Mesa-Redonda de Santiago, telvez tenha sido um dos exemplos mais duros” (MOURA SANTOS, 2008, p.
79).
37
de Quebec culminou com a criação do Movimento Internacional para uma Nova Museologia
(Minom), em 1985.
Vinte anos após o advento do museu integral, o contexto das instituições museológicas
latino-americanas foi novamente objeto de discussão em um evento internacional. Trata-se do
seminário ocorrido em 1992, em Caracas, Venezuela, cujo tema era “A Missão dos Museus na
América Latina Hoje: Novos Desafios”. Realizado pelo comitê venezuelano do ICOM em
parceria com órgãos oficiais de cultura latino-americanos o evento pode, segundo Horta
(1995, p. 32), ser visto de três formas: uma análise da atuação dos museus após a MRSC; uma
“atualização” dos princípios da Carta de Santiago do Chile; e um programa de ações futuras
para os museus. Deste último, o seminário destacou a necessidade de se buscar estratégias
para a sustentabilidade financeira das instituições museológicas, como se observa quando
analisamos alguns aspectos da discussão:
CAPÍTULO II
13
Para efeitos deste trabalho, são consideradas empresas públicas as entidades pertencentes à Administração
indireta, tais como autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista
(MEIRELLES 1996).
14
Expressão criada a partir de um fenômeno da biologia, simbiose, em que dois ou mais elementos coexistem
por meio de uma relação de interdependência (MARTINEZ, 2013).
41
2.1 As funções
Em sentido horário, Íris Meinberg, Israel Pinheiro, Bernardo Sayão e Ernesto Silva.
15
A decisão de transferir a capital sofreu ferrenha oposição da UDN, partido cujo maior expoente foi ex-
governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda.
16
Assim são chamados os primeiros construtores da nova Capital.
43
generalizante declaração de que “nunca houve um monumento da cultura que não fosse
também um monumento da barbárie” (BENJAMIN, 1994, p. 225).
Sem concurso público desde 1996, a cada ano diminui o número de funcionários da
Novacap. Atualmente, o seu quadro próprio é formado por aproximadamente 2.150
empregados. Para representá-los, os trabalhadores contam com um sindicato e uma
associação. Trata-se, respectivamente, do Sindicato dos Servidores e Empregados da
Administração Direta, Fundacional, das Autarquias, Empresas Públicas e Sociedades de
Economia Mista do Distrito Federal (SINDSER), situado no Setor Comercial Sul, e da
Associação dos Servidores da Novacap (ASCAP), que funciona na sede da empresa. Além
disso, há o fundo de pensão e aposentadoria (Benacap) e um espaço para diversão e
entretenimento, o Clube de Esporte e Lazer da Novacap (Celacap), contíguo ao complexo
administrativo da Companhia.
Figura 2 – Candangos
Foto: ArPDF
Com o objetivo de dar publicidade aos fatos que envolviam a nova capital, alvo de
constantes críticas da oposição que ameaçava o ritmo das obras com pedidos de investigação,
44
O periódico não escapou à crítica dos opositores que o acusavam de ser peça de
propaganda do governo. Seu último exemplar foi publicado em abril de 1966. Por meio do
Decreto nº 28.996, de 29 de abril de 2008, a Revista Brasília foi tombada pelo Governo do
Distrito Federal (GDF) no livro de bens móveis de valor arqueológico, etnográfico,
bibliográfico, histórico e artístico, sob a inscrição n.º 002 (GDF, s.d.).
Em 2005, a Companhia criou uma comissão de servidores para organizar o seu
quinquagésimo aniversário no ano seguinte. Dessa iniciativa nasceu o livro comemorativo
Novacap: 50 anos por Brasília, sobre o qual discutiremos mais à frente.
Embora não conte ainda com museu próprio em funcionamento, a Novacap possui
vinculação histórica com quatro instituições museológicas do DF. Pela objetividade que este
trabalho exige, apresentaremos apenas duas delas17. A primeira é o Museu Vivo da Memória
Candanga (MVMC) – localizado na Região Administrativa do Núcleo Bandeirante, no prédio
onde funcionou o primeiro hospital público do DF. O MVMC abriga a exposição permanente
Poeira, Lona e Concreto, que realiza um recorte dos primórdios da cidade até a sua
inauguração em 1960 (GDF/SECDF, 2013); o outro é o chamado Catetinho, situado no km
zero da BR 040, que serviu de casa ao então Presidente Juscelino Kubitschek, de novembro de
1956 até à inauguração do Palácio da Alvorada, em 1958, e recebeu esse nome em referência
ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. No museu, o visitante pode ver, além do próprio
17
As demais são: Museu da Cidade, na Praça dos Três Poderes; Museu do Instituto Histórico e Geográfico do
DF; e Memorial JK.
45
18
José Ferreira da Silva é o nome do trabalhador morto naquela ocasião. Em sua homenagem, empregados
apoiados pelo SINDSER ergueram um monumento em frente à Novacap, no local onde se deu a ação da
polícia (SOUZA, 2013, entrevista).
46
19
De fato, o resultado do trabalho do DPJ é facilmente percebido na área central e nas quadras residenciais de
Brasília. Entretanto, o mesmo não pode ser dito em relação às outras cidades do DF, onde o índice de
arborização é ínfimo se comparado ao que a Novacap alcançou na capital.
48
Segundo a Novacap, o verde das ruas traduz-se em mais qualidade de vida para os moradores do DF
Embora haja nos documentos levantados e nas entrevistas realizadas para esta
pesquisa um desencontro de informações sobre as condições em que ocorreu a escolha do
projeto do arquiteto Luiz Henrique Freire Duarte20, um parecer assinado pelo então presidente
da Novacap, Elmar Luiz Koenigkan, tem a seguinte redação:
20
Cruz (2013, entrevista) fala de um concurso interno divulgado nos murais da Companhia, enquanto Duarte
(2013, entrevista 1) afirma ter apresentado seu projeto ao então diretor administrativo Clarindo Rocha
quando soube que o anteriormente analisado havia sido reprovado pela diretoria da empresa.
51
Não nos preocupamos muito com a arquitetura e seu aspecto plástico nem mesmo
em projetar algo mais ousado ou diferente, apenas observamos para que tivesse um
mínimo de estética e que ficasse proporcional e dentro da escala do local onde será
construído, enfim, preocupamo-nos em não fazer um prédio feio, porém que
apresentasse um aspecto singelo e bem próximo da simplicidade que sempre esteve
no espírito da NOVACAP e de seus operários “candangos”, durante a epopeia da
construção de Brasília (BRASIL/GDF/NOVACAP, 2005, p. 10).
A pedra fundamental do MCBN foi lançada pela então governadora Maria de Lourdes
Abadia no dia 16 de junho de 2006. Iniciadas logo em seguida, as obras foram paralisadas no
mês de dezembro naquele ano, quando estava pronta apenas a primeira etapa da construção –
fundação e estrutura de concreto. Hoje, passados sete anos e meio, o prédio se encontra da
mesma forma (Figura 11).
Quanto a valores, de acordo com a planilha estimativa, a etapa inicial do Memorial
custou R$ 1.337.874,23 (BRASIL/GDF/NOVACAP, 2005, p.23). Sobre a origem dos
recursos, Cruz (2013, entrevista) afirma que o material “foi doado pela iniciativa privada”,
enquanto Duarte (2013, entrevista 1) declara tratar-se de verba inteiramente pública, embora
não saiba dizer exatamente de qual órgão. Quanto à mão de obra, os dois são unânimes ao
afirmar que a construção foi erguida pelos próprios novacapianos (DUARTE, 2013, entrevista
1; CRUZ, 2013, entrevista).
3.2 O objetivo
Mesmo não constando dos registros documentais que tratam da construção do MCBN,
o objetivo da Novacap ao projetar o Memorial está implícito nas falas dos entrevistados.
Sempre que questionados sobre qual seria a finalidade do museu, todos foram unânimes em
dar grande destaque ao aspecto histórico do empreendimento, sendo que o arquiteto e Cruz
também mencionaram o seu caráter educativo. Em relatório da Comissão 50 Anos dirigida à
diretoria da Novacap se lê: “Fica, portanto, registrada a importância e a necessidade do
Memorial da Novacap para a história de Brasília, visto que a atual geração já carece dessa
história, ímpar no nosso país (BRASIL/NOVACAP, 2009, grifo nosso). Em seu depoimento,
a coordenadora afirmou:
que seja errado, mas se o cara quiser saber: “Vem cá, você tem aí uma foto de
1958”. “Tenho, está na página tal, ou na prateleira tal”. Então, arquivo é arquivo e
museu é museu (DUARTE, 2013, entrevista 1).
Não tem nada a ver com a construção de Brasília. É uma parte da história de
Brasília, é apenas uma parte, uma parte pequena. Por que eu digo que é uma parte?
Aquilo ali é a memória candanga. Como chama? O Museu da Memória Candanga.
Aquilo ali é o antigo hospital JKO, Juscelino Kubistchek de Oliveira, com aqueles
barracões, aquela coisa toda, e era a cidade livre. Então o que tem ali? Se você for
ver não tem nada. Apenas restauraram o hospital JKO, colocaram uma maquete da
cidade e algumas coisas do que seria o canteiro de obra, o gabinete do primeiro
médico, que é o Edson Porto. Convivi com ele aqui em Brasília, frequentava a
república, eu estudante e ele já médico. Mas então aquilo ali é uma memória viva? É
uma memória viva porque está lá até hoje, porque esses prédios... Eu mesmo
participei da restauração de dois ou três deles. Agora você chegar ali, você deve
conhecer, você vê um gabinete médico, você vê um salão de barbeiro, então você vê
um canteiro de obras, quer dizer, então é aquilo ali. Mas não tem a história de
Brasília ali. Tem um pedacinho, um milionésimo da história da construção
(DUARTE, 2013, entrevista 1, grifo nosso).
3.3 A narrativa
21
Além de Brasília, o Distrito Federal é formado por mais 31 cidades, denominadas Regiões Administrativas.
56
entrevista; CRUZ, 2013, entrevista); enquanto o autor do projeto declarou que a narrativa
circunscreve-se apenas à cidade de Brasília (DUARTE, 2013, entrevista 1).
Com relação à seleção dos fatos que marcam a trajetória da capital e da Novacap, o
presidente da ASCAP foi enfático ao citar a ação da polícia na greve de 1999, o que denomina
“massacre”.
Souza: Fizemos uma greve em 99, uma das maiores greves, mais importantes que
teve aqui na Novacap. O governo do Distrito Federal na época chamou a polícia.
Veio o BOPE22, deixou 73 feridos, baleado, dois cegos e um morto aqui. Lá na
frente da Novacap, na saída tu vai ver, tem uma pedra lá, tem as fotos do pessoal.
Mas na entrada da Novacap nós colocamos lá, ela virou a Praça José Ferreira da
Silva, que foi um companheiro que faleceu em frente, foi baleado.
Entrevistador: Então você acha que esse fato merece destaque?
Souza: Merece, e a gente tem certeza que não vai ser colocado no museu (SOUZA,
2013, entrevista).
22
Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do DF (BOPE).
23
Não se sabe ao certo o que de fato ocorreu no dia 8 de fevereiro de 1959, próximo onde hoje fica a Vila
Planalto, no acampamento da construtora Pacheco Fernandes Dantas, prestadora de serviço à Novacap. Dada
à inexistência de fontes oficiais, o que se tem são versões baseadas em relatos de testemunhas (ou
sobreviventes, a depender da veracidade dos fatos), de autoridades governamentais e do noticiário da época.
Os operários narram mortes e espancamentos praticados pela Guarda Expedicionária de Brasília (GEB),
embrião da polícia civil do DF, após uma confusão envolvendo funcionários da cantina da construtora e
trabalhadores da obra que reclamavam da péssima qualidade da alimentação que lhes era constantemente
servida (RIBEIRO, 2008, p. 229 e 230). Pelo lado das autoridades que se dispõem a falar sobre o caso, o que
o há são exageros, muitos deles promovidos pelos opositores do governo JK e do projeto de mudança. O
acontecimento não ocupa espaço nas obras em que Juscelino Kubitschek (1975) e Ernesto Silva (1997)
narram suas memórias, mas o livro comemorativo dos 50 da Novacap admite que os trabalhadores da
Pacheco Fernandes, “ao se insurgirem contra a qualidade da comida, sofreram violência inominável, que se
fez acompanhar de legítima indignação que permanece ainda na cabeça de muitos” (GDF/NOVACAP, 2010,
p. 166).
57
A construção do prédio na área do Celacap foi pensada como uma forma de oferecer
mais opções de lazer aos servidores que procuram o clube aos finais de semana. Seriam,
portanto, os empregados da Novacap e seus familiares uma parte do público para o qual o
Memorial fora pensado. A outra seria formada por visitas escolares, turistas e demais
moradores do DF. Segundo Duarte (2013, entrevista 1) o projeto prevê a instalação de um
banco de dados com a relação de todos os empregados da Companhia e das empresas por ela
contratadas durante a construção da cidade. Em terminais computadorizados os descendentes
dos candangos poderão acessar informações e imprimir fotografias de parentes que
participaram da construção, numa espécie de interatividade entre público e exposição.
No que tange a relação do Memorial com a sociedade, dois aspectos merecem atenção.
O primeiro é a veemência com que Duarte rechaça qualquer tipo de participação comunitária
na gestão do museu (DUARTE, 2013, entrevista 1). O segundo é relativo à possibilidade de o
MCBN contribuir com o desenvolvimento social dos moradores do DF. Quanto a isso Cruz
cita unicamente a transmissão de conhecimentos sobre a história de Brasília como a forma de
o Memorial servir à comunidade.
Comentando as razões para a paralisação da obra, três depoentes citaram uma possível
intenção do GDF de transferir a sede da Novacap para outro local e destinar sua área à
edificação de prédios residenciais, como vem ocorrendo numa região próxima à Companhia.
Segundo Cruz (2013, entrevista ), essa informação teria circulado na empresa a partir de 2009,
durante o governo de José Roberto Arruda, quando a construção do Memorial já se
encontrava paralisada há mais de dois anos. Sobre isso, afirma o presidente da ASCAP:
60
24
As seis sucessões no comando do governo local em pouco mais de seis anos explicam-se, em parte, pela
disputa travada entre partidos políticos pelo posto de governador do DF depois que o ex-governador José
Roberto Arruda foi defenestrado do cargo por denúncias de corrupção, em fevereiro de 2010.
61
embora o presidente da Novacap tenha afirmado que, “em princípio”, a construção não teria
uso diverso do previsto no projeto (MARTORELLI, 2013, entrevista), descobrimos que na
área do museu instalava-se um campo de paint ball25 pertencente a uma empresa local que
comercializa o “esporte”. Uma foto feita de uma câmera de telefone celular comprova esta
informação (Figura 14).
25
Jogo em que dois times tem a missão de capturar uma bandeira fincada ao centro do campo. Para impedir o
adversário, os jogadores utilizam armas movidas a gás, que disparam bolinhas de tinta (ELITE, 2013).
62
Não sabemos ao certo se foi em função da nossa pesquisa ou por outra razão qualquer
que o Celacap mudou de ideia e transferiu o campo para uma área próxima a sua
administração, a uns 100 metros do MCBN (Figura 15). Fizemos a descoberta no dia em que
fomos ao local produzir as fotografias que ilustram este trabalho. Na oportunidade, notamos
mais um problema: em alguns pontos do teto do edifício minava água da chuva indicando que
a laje está com infiltrações (Figura 16). Trata-se de mais um detalhe de que o autor do projeto
não tomara conhecimento porque quando perguntado sobre um possível comprometimento da
estrutura de concreto pela ação natural do tempo, o arquiteto declarou: “Não vai comprometer
em nada. Agora se você fizesse alvenaria, parede, aí não concluísse, aí vem infiltração, aí
derrubava, caía trincava. Então, aquilo ali está pronto. Aquilo é uma pedreira, não estraga”
(DUARTE, 2013, entrevista 1).
Vista do interior do campo de paint ball em novo local . À direita, ao fundo, o prédio do MCBN.
Poças d’água no chão e fissuras no teto: possível resultado da infiltração na laje de concreto.
63
CAPÍTULO III
Desde o início deste trabalho temos utilizado o vocábulo museu para designar o
MCBN porque assim o compreendemos. Nossa compreensão baseia-se no ICOM que ao
expandir o campo de atuação dos museus nos permite inserir em sua definição o Memorial
aqui estudado (ver capítulo I). Entretanto, Duarte e Cruz levantaram questionamentos quanto
ao tipo de instituição que a Novacap pretende (ou pretendia) construir: memorial26 ou museu?
Em determinado momento da entrevista, o autor do projeto afirma: “Aquilo [o MCBN] não é
escola, aquilo é um museu, um memorial. Eu chamo mais de memorial do que de museu. É
museu porque tem coisa velha. Tudo que tem coisa velha é museu. Mas, para mim, na
minha leitura, é mais um memorial” (DUARTE, 2013, entrevista 2, grifo nosso). Por sua vez
a coordenadora da Comissão 50 Anos declara:
Que a gente também não chamou [o MCBN] de museu, que não seria mais, até
porque nós não tínhamos mais as peças que a gente gostaria de ter para levar o nome
de museu. Porque quando você fala em museu, você lembra da primeira cadeira,
do primeiro trator, [...], primeiro equipamento de cortar grama, enfim... Então,
seriam essas peças que chama museu, então a gente preferiu intitular de memória,
que nós iríamos montar esse espaço contando também a história da empresa (CRUZ,
2013, entrevista, grifo nosso).
26
Enquanto instituição, o memorial possui a função de prestar homenagem a alguém ou a algo específico, o que
nem sempre é o caso do museu. Como exemplo, temos o Memorial JK e o Memorial Darcy Ribeiro, em
Brasília.
64
Faz-se necessário registrar que o modelo de museu defendido pelos adeptos da nova
museologia não despreza nem descarta o trabalho com os objetos. Até mesmo a Declaração de
Santiago reconheceu que a filosofia museal ali defendida
não implica na supressão dos museus atuais, nem na renúncia aos museus
especializados, mas que se considera que ela permitirá aos museus se desenvolverem
e evoluírem da maneira mais racional e mais lógica, a fim de melhor servir à
sociedade; que, em certos casos, a transformação prevista ocorrerá lenta e mesmo
experimentalmente, mas que, em outros, ela poderá ser o princípio diretor essencial
(BRASIL, 2012, p. 100).
27
Conceito budista "estritamente ligado ao da variância do mundo – nada é permanente ao longo do tempo, e
em algumas leituras desse conceito, nada é permanente mesmo quando se retira o conceito de tempo. Causas
e condições variam constantemente e o seu resultado, portanto, também varia" (ESCLAPES, 2013).
66
Mais uma vez amparados pelo nosso referencial teórico, afirmamos que a face
tradicionalista do Memorial da Novacap é também demonstrada quando os entrevistados
justificam a construção do museu basicamente pelo seu viés historicista; quando o arquiteto
foi enfático ao afastar qualquer possibilidade um de trabalho comunitário; e quando Cruz cita
unicamente a função educativa para explicar como o MCBN poderia contribuir com a
melhoria das condições de vida da comunidade (ver páginas 54 e 59).
Logo na entrada do MCBN fica evidente o culto a fatos e personagens ilustres da história da capital
69
Vimos que Paulo Freire seria o representante brasileiro no evento de Santiago, caso
não tivesse sido vetado por “motivações políticas”. O convite foi uma demonstração do
70
Alguns valores essenciais que dizem respeito aos museus estão na base do
ensinamento freiriano A idéia de “museu-fórum”, local aberto, livre de
discriminações, atento às necessidades do seu público usuário, está em consonância
com o pensamento do educador sobre a importância do diálogo e do respeito no
processo educativo. Estes preceitos pretendem transformar educadores e educandos,
garantindo-lhes o direito à autonomia pessoal na construção de uma sociedade
democrática, que a todos respeita e dignifica. Entre os princípios básicos apregoados
por Freire estão a ética, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento de
sua identidade cultural, a rejeição a toda e qualquer forma de discriminação, a
reflexão crítica da prática pedagógica, o saber dialogar e escutar; o ser curioso e
alegre no ato de educar (STUDART, 2007).
Na verdade, como nos mostra Maria da Glória Gohn, Freire significou um referencial
para inúmeros movimentos surgidos a partir da segunda metade do século XX:
Foi o contexto político-cultural acima descrito que deu ensejo ao método pedagógico
que a nova museologia julga adequado às instituições museológicas. Com base nele, os
museus devem educar buscando a “reivenção do mundo, a reinvenção do poder” (FREIRE,
2001, p. 99). Este, sem dúvida, não é o propósito do Memorial da Construção de
Brasília/Novacap.
Pelo que verificamos durante a pesquisa, a Novacap é a única empresa pública local
que iniciou a construção de um museu. Em nível federal, algumas instituições, como a
Empresa Brasileira de Correios, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, têm
investido na criação de museus e/ou centros de cultura com o objetivo de expor os seus
71
Embora não exista, ainda, um estudo sistemático sobre essa questão museológica,
não é difícil constatar que os museus de empresa são muitos e vêm se
desenvolvendo a partir dos mais diferentes modelos de musealização 28. Desde
pequenas salas comemorativas dentro de empresas, até centros culturais, sabemos
que as experiências são muitas (BRUNO, 1997, p. 48).
Responder a estas questões é reconhecer nos museus uma arena de disputas que
representa uns em detrimento de outros. Porque, segundo Chagas,
28
Musealização é a transferência do objeto do espaço em que ele desempenhava suas funções originais para o
espaço museu. De acordo com Cury, a musealização compreende “uma série de ações sobre os objetos, quais
sejam: aquisição, pesquisa, conservação, documentação e comunicação (CURY, 2005, p. 26). Segundo
Chagas, “selecionar, reunir, guardar, e expor coisas num determinado espaço, projetando-as de um tempo a
outro, com o objetivo de evocar lembranças, exemplificar e inspirar comportamentos, realizar estudos e
desenvolver determinadas narrativas” (CHAGAS, 2009, p. 22) são características do processo de
musealização.
29
Este trabalho não objetiva aprofundar a discussão sobre o tema memória. Para saber mais do assunto, ver:
HUYSSEN, A. Escapando da amnésia: o museu como cultura de massa. In. HUYSSEN, A. Memórias do
modernismo. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1997; LE GOFF, J. História e memória. Campinas: Editora
da Unicamp, 2003; POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos Históricos, v. 2, nº 3, p. 3-
15. Rio de Janeiro, 1989; HALBWACHS, M. A memória coletiva: São Paulo: Ed. Centauro, 2004; e
PINHEIRO, M. J. de A. Museus, memória e esquecimento: um projeto da modernidade. Rio de Janeiro: E-
Papers Serviços Editoriais, 2004.
72
Essa eleição, afirma o autor, não é um processo natural, mas sim o resultado do
enfretamento de forças, em que o poder se apresenta como elemento que jamais deve ser
desconsiderado.
Esta é mais uma questão que deixa dúvidas na história do Memorial. O presidente da
ASCAP declara que a Associação não participou da criação do projeto (SOUZA, 2013,
entrevista). Por sua vez, a coordenadora da Comissão afirma ter se reunido com o arquiteto
73
para discutir o assunto. Na ocasião, segundo ela, estava acompanhada de outro servidor da
Companhia.
Então, nós nos reunimos com o Luiz Henrique. Era exatamente para sedimentar a
ideia quanto à disposição do espaço. Então nós sentamos com ele várias vezes, eu à
frente. Tenho um colega também que lutou muito comigo durante esse período que
eu trabalhei na Novacap na área de comunicação, [...] o Antonio Carlos Machado, o
Toninho. Então nós dois éramos formados em comunicação, [...], nós dois tínhamos
ideias muito boas para esse memorial. Então, nós sentamos com o Luiz Henrique e
passamos pra ele o que nós queríamos mostrar (CRUZ, 2013, entrevista).
Varine (2012, p. 201, grifo nosso), um dos mais renomados teóricos da nova
museologia, defende que “a decisão de criar um museu (ou de refundar um já existente) não
deveria jamais ser tomada sem um longo período de reflexão coletiva com ajuda de variados
questionamentos.” Citaremos alguns dos atores que o autor julga necessários a essa
“reflexão”: administradores eleitos, estabelecimentos de ensino, cidadãos, associações,
museólogos, universitários, artesãos, especialistas em conservação, cenógrafos, arquitetos
(VARINE, 2012, 205). Subtende-se, portanto, que a museologia deve ser resultado de um
trabalho multi e interdisciplinar.
De fato, podemos supor que nas pesquisas históricas realizadas em equipe para a
criação de museus, onde as decisões são fruto de debates e discussões em que todos os
participantes podem expressar de maneira livre e autônoma a sua opinião, pode haver maior
equilíbrio de forças na apresentação dos acontecimentos e personagens pesquisados. Por outro
lado, se a investigação é feita por uma só pessoa ou mesmo por um grupo ideologicamente
afinado, aumentam-se as chances do trabalho transformar-se em “história única” – aquela que
aceita apenas uma versão do passado. Registramos o alerta de Evans sobre os riscos de uma
pesquisa dirigida.
74
O número de deficientes no mundo tem sido, nas últimas décadas, pauta constante,
tanto na mídia como nos governos. A Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou que 10% da população de cada país apresenta algum tipo de deficiência.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), são 600 milhões de pessoas com
necessidades especiais em todo o mundo, sendo que 400 milhões nos países em
desenvolvimento (EXPOMUS, 2010, p. 7).
poderia criar mecanismos para que os portadores de necessidades especiais pudessem ter
acesso também à exposição. Abaixo, reproduzimos o diálogo.
30
Pinheiro critica o modelo de interatividade adotado pelos museus que dá ao espectador apenas uma ilusão de
participar do evento. Temos assim uma pseudo-interação porque, segundo ele, “interargir é dialogar, ação em
que ambas as partes de alguma forma se modificam, mesmo quando as relações são assimétricas; mas como
podemos dialogar se as possíveis respostas já estão delineadas, se uma das partes não se altera? O espetáculo
traveste-se para impor à sociedade a ilusão da participação, do diálogo, ao passo que de fato aumenta a
alienação do sujeito” (PINHEIRO, 2004, p. 228).
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
contemporâneo.31 Nesse sentido, Maria Célia T. Moura Santos alerta que, em se tratando da
nova museologia, “é preciso estar atento aos disfarces, à apropriação do discurso que não foi
assimilado de forma consciente, na vivência da construção conjunta, na relação teoria-prática,
na experiência vivida, e que é utilizado para a manipulação e para o modismo” (MOURA
SANTOS, 2008, p. 98).
A segunda questão diz respeito à possibilidade ou não de aplicação dos princípios
teóricos da nova museologia em todas as tipologias de museu. O modelo idealizado pela Carta
de Santiago, museu integral, pode ser adotado por uma empresa cujo objetivo é apresentar a
sua história aos visitantes? Como poderia o MCBN se utilizar do patrimônio para
implementar ações com vistas ao “desenvolvimento local”? 32 E se não o faz, o museu tem sua
legitimidade posta à prova? Quanto a isso, Scheiner defende que a MRSC ampliou a todos os
tipos de museus a possibilidade de trabalhar o viés social da museologia, até então inerente
aos ecomuseus franceses. Segundo ela, o evento de Santiago quebrou um paradigma ao
mostrar que quaisquer museus, inclusive os que musealizam o patrimônio de forma
“tradicional”, não só podem como deve ser “integrais” (SCHEINER, 2012, p. 23). Afirma a
autora:
A ideia é que os museus modernos não devem mais mostrar apenas a elite, mas o
todo. Eu diria que em alguns casos isso se tornou muito difícil, por diversos
motivos: 1. se pensarmos em museus históricos, voltados a certo intervalo de tempo
passado: temos como conseguir ainda hoje objetos e registros de outras classes
sociais? As vezes é praticamente impossível. Este museu deve então ser fechado?
31
Interessante estudo possibilitaria o Museu Nacional do Complexo Cultural da República. Inaugurada em
2006, a instituição ainda hoje tateia em busca de uma identidade. Museu de arte moderna, contemporânea ou
simples galeria? Novo ou tradicional?
32
Para fins deste estudo, “desenvolvimento local” é compreendido como “um processo voluntário de domínio
da mudança cultural, social e econômica, enraizado no patrimônio vivido, nutrindo-se deste patrimônio e
produzindo patrimônio” (VARINE, 2012, p. 20).
79
O combate às desigualdades sociais é uma luta que deve permear todas as classes e
categorias profissionais. Dessa forma, acho que é também responsabilidade do
campo de atuação da museologia. Há quem acredite que toda museologia é — ou
deveria ser — social, e que a ênfase para essa área pode desconstruir o papel social
intrínseco ao museu. Eu, particularmente, gosto de pensar a museologia social como
uma política de reparação, uma ação afirmativa, já que, quando é diluída como
atribuição atinente dos museus, ela nunca funcionou. A maioria dos museus
permanece em seus pedestais burgueses, com atividades isoladas e quase invisíveis
voltadas para a educação e para inclusão social. São ações pontuais, que os museus,
em geral, fazem como se fosse para garantir uma cota para a inclusão social ou para
a educação, mas nunca é primordial, nunca tem visibilidade. Por isso, eu acredito
que é preciso criar essas dissidências, para dar ênfases a essas práticas museais em
comunidades tradicionais ou economicamente desfavorecidas e tentar subverter a
ordem das coisas (Marijara Queiroz In: NIEDERAUER, 2013, p. 2).
forma, no livro O que é museu, publicado em 1986, Marlene Suano não discute os princípios
originários da nova museologia, numa indicação de que à época esse assunto não estava na
pauta principal dos teóricos e profissionais de museus.
Em 1995, ou seja, há menos de 20 anos, Varine afirmava em tom de lamento que
desde Santiago
nos grandes museus da Amárica Latina não mudou muita coisa. As coleções
nacionais e suas instituições imitam, mais ou menos, os estilos museológicos em
vigor no mundo industrializado. Os imperativos turísticos, os gostos das oligarquias
do poder e do dinheiro ainda são a norma. A maioria dos participantes de Santiago
não pôde implementar as resoluções adotadas. Além disso, os sobreviventes, como
eu, estão vinte e três anos mais velhos... (VARINE, 1995, p. 18).
Apesar de todas essas dúvidas e dificuldades, devemos reconhecer que há por parte de
alguns profissionais de museus e gestores públicos a intenção de fomentar a aplicação dos
princípios teóricos da nova museologia. A criação de um órgão estatal exclusivo aos museus,
o Ibram, deve ser visto também como uma oportunidade nesse sentido. Entretanto, não
convém ficarmos presos unicamente às políticas governamentais. Transformar o atual
panorama museológico é tarefa que requer, sobretudo, muito empenho pessoal, e somente será
possível por meio de um movimento surgido a partir dos clamores e das iniciativas da
sociedade.
Chegamos ao final deste trabalho na expectativa de que ele possa contribuir aos
debates museológicos e à reflexão dos profissionais de museus desejosos de ver
transformados em realidade os princípios teóricos da nova museologia. À Novacap,
entregaremos um estudo que poderá auxiliá-la numa possível redefinição da narrativa e da
museografia do Memorial, se houver interesse nesse sentido. Caso concluísse seu projeto, a
Companhia realizaria um desejo de seus trabalhadores, ofertaria mais um espaço cultural aos
moradores do DF e encerraria um caso que marca irônica e negativamente sua indelével
presença na história da capital: a empresa que há 50 anos ergueu do nada uma cidade se
mostra hoje incapaz de finalizar um pequeno museu. Um museu em formato de lágrima.
82
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APÊNDICES
1
APÊNDICE A
Degravação de Entrevista
Duarte: Bom, meu nome é Luiz Henrique Freire Duarte, sou arquiteto da Novacap, da
terceira turma da UnB, segunda turma praticamente, que começou em 62, eu comecei como
aluno especial em 63 e passei no vestibular em 64. Então, desde 63 eu sou aluno da
Universidade de Brasília, praticamente segunda turma daquela época. Já empregado da
Novacap, concluí meu curso como desenhista no departamento de urbanismo e arquitetura:
cinco anos de arquitetura e cinco anos de estágio lá. Continuei trabalhando na Novacap, onde
trabalho até hoje. Agora, primeiro de maio, vou fazer 50 anos de Novacap. Já fui presidente
da empresa, diretor de edificações, diretor de urbanização. Várias vezes chefe de
departamentos e divisão. Atualmente trabalho na fiscalização de obra da diretoria de
edificações da empresa.
Duarte: Autorizo.
Duarte: Sim, perfeitamente, está autorizado. Se quiser alguma coisa por escrito não tem
problema.
Entrevistador: Queria saber quando surgiu a ideia da criação de um museu pela Novacap.
Duarte: Essa ideia surgiu mais ou menos em... Vou fazer uma conta aqui, são quatro anos
com mais dois, seis, aproximadamente uns oito anos atrás. Era presidente Elmar Luiz
Koenigkan, que é conhecido meu desde 68, trabalhamos juntos no antigo DVO, Departamento
de Viação e Obras da Novacap. Ele presidente, Clarindo Rocha diretor administrativo e
financeiro, também conhecido meu desde 63. Eu fiquei sabendo que era intenção da diretoria
construir um museu da Novacap, porque a Novacap tem o arquivo público ali dentro, que
também é um inquilino provisório, porque o arquivo público tem um lote, já tem um projeto,
não teve recurso até hoje para fazer o seu prédio próprio.
Duarte: O lote fica no Eixo Monumental. Ali, pelo que me informaram, é perto daquele
centro cultural, do centro de convenções, torre de TV, é por ali.
2
Entrevistador: Funarte.
Duarte: É por ali, Funarte, que eu chamo de centro cultural, exatamente. Então, aí eu sem
falar nada, resolvi fazer um projeto do que eu achava que seria um museu, que eu não chamei
um museu, eu chamei de Memorial da Construção. Porque você não consegue ter a história da
Novacap separada da construção de Brasília e vice-versa. Você não conta a história de
Brasília sem contar a história da Novacap e não conta da Novacap sem contar a construção de
Brasília. E fiquei sabendo que o projeto foi encomendado da área técnica da empresa não foi
do agrado da diretoria, então eles resolveram arquivar o empreendimento. Desistiram.
Duarte: Foi um arquiteto lá de dentro mesmo, eu nem sei o nome dele e nem procurei saber.
Aí eu tava com meu desenho pronto, que eu posso até ver se ainda tenho isso em casa, posso
até ver se tiro uma cópia para ilustrar o seu trabalho, eu devo ter uma cópia disso.
Duarte: E, como eu falei no início, eu tinha liberdade tanto com o presidente, como com o
diretor administrativo. Mas preferi conversar com o diretor administrativo, porque eu não
queria entrar direto falando com o presidente, parecia querer se aproveitar de ter sido ex-
presidente, ex-diretor e não dar bola para diretoria. Então fui conversar com o Clarindo,
mostrei e expliquei o projeto e ele aprovou na hora. Falou: “Não, vou levar para o presidente”,
levantou, foi embora.
Duarte: Isso há uns, a conta eu comecei a fazer e parei, quatro e dois, seis, há uns oito anos,
nove anos atrás. Oito para nove anos atrás, 2013 menos nove, 2004, 2005, por aí, 2003, 2006,
uma coisa semelhante a isso. E o presidente me chamou depois para me devolver meus
desenhos e disse que era para eu continuar o projeto que tinha sido aprovado. Aquele sim
seria um museu, um memorial. Então, aí eu passei a limpo em uma escala maior aquele
desenho que eu tinha feito em uma folha de papel ofício. E chamei de Memorial da
Construção de Brasília, Memorial Novacap.
Duarte: Não.
Duarte: A ideia existia. Aí a turma animou, a diretoria toda animou, o diretor de edificações
na época, também conhecido meu desde 69, 70, pegou aquele rabisco meu, mandou para
mesma diretoria, mesmo departamento técnico, onde foi feito o primeiro projeto e
desenvolveram, calcularam e tudo e arrumaram recurso do GDF para fazer estrutura e está lá
pronta a estrutura. E depois essa diretoria saiu...
Entrevistador: Nós vamos chegar nessa questão exata da obra. Qual seria o objetivo com o
Memorial? Se o senhor pudesse sintetizar...
3
Duarte: É o seguinte, Brasília todo mundo que conhece. Eu tenho a história da construção,
tenho filme, tenho tudo, mas chega um turista ou os próprios alunos de escola primária e de
ensino médio, eles visitam o arquivo. Na minha leitura de arquiteto arquivo é uma coisa e
museu é outra. Museu você chega, olha, vê e memoriza. Se você quiser alguma coisa, você
procura, tem publicação, tem tudo. Agora, arquivo é um negócio que é tudo guardado, tudo
arquivado. Está correto, não estou dizendo que seja errado, mas se o cara quiser saber: “Vem
cá, você tem aí uma foto de 1958”. “Tenho, está na página tal, ou na prateleira tal”. Então,
arquivo é arquivo e museu é museu. Então, é diferente, tratei como Memorial, fiz um projeto
totalmente diferenciado e que agradou a diretoria.
Duarte: Não.
Duarte: A Novacap.
Entrevistador: Por que não se pensou em revitalizar o Museu Vivo da Memória Candanga?
Duarte: Não tem nada a ver com a construção de Brasília. É uma parte da história de Brasília,
é apenas uma parte, uma parte pequena. Por que eu digo que é uma parte? Aquilo ali é a
memória candanga. Como chama? O Museu da Memória Candanga. Aquilo ali é o antigo
hospital JKO, Juscelino Kubistchek de Oliveira, com aqueles barracões, aquela coisa toda, e
era a cidade livre. Então o que tem ali? Se você for ver não tem nada. Apenas restauraram o
hospital JKO, colocaram uma maquete da cidade e algumas coisas do que seria o canteiro de
obra, o gabinete do primeiro médico, que é o Edson Porto. Convivi com ele aqui em Brasília,
frequentava a república, eu estudante e ele já médico. Mas então aquilo ali é uma memória
viva? É uma memória viva porque está lá até hoje, porque esses prédios... Eu mesmo
participei da restauração de dois ou três deles. Agora você chegar ali, você deve conhecer,
você vê um gabinete médico, você vê um salão de barbeiro, então você vê um canteiro de
obras, quer dizer, então é aquilo ali. Mas não tem a história de Brasília ali. Tem um
pedacinho, um milionésimo da história da construção.
Entrevistador: Um recorte?
4
Duarte: É. Bem feito, legítimo, verdadeiro, mas não representa nem um por cento da
construção da cidade.
Entrevistador: E o projeto que o senhor elaborou seria capaz de atender essa expectativa de
contar essa história, a forma mais ampla como o senhor imagina?
Duarte: Atende pelo seguinte, primeiro ele tem um espaço como próprio museu, você tem um
espaço grande e que você vai ter oportunidade de ver fotos do início, você tem uma galeria, é
um prédio circular, como esta lá, você vai andando e você tem uma galeria e você tem fotos, a
primeira foto do Juscelino quando chegou aqui no cerrado, você tem fotos de quando
cruzaram os eixos, você tem foto. Você pode ter cópia de projetos colocado na parede, você
tem mais de... Talvez 300 metros, 250 metros linear de parede para pregar foto, totens no
meio para se quiser encomendar maquete do Palácio da Alvorada de qualquer coisa, você tem
fotos. E tem o auditório, no meio você tem auditório, então você circula tudo e termina sua
visita no auditório para 90, 100 pessoas. Porque existem filmes da construção da cidade.
Então você pode entrar nesse auditório e assistir um filme da construção. “Ah, gostei, tem
para vender?” “Tem” tem ali, você compra o DVD ali, paga 10, 15, 20 reais, não sei quanto.
Entrevistador: Então o museu teria essa intenção, era intenção do senhor que o museu
comercializasse...
Duarte: Não é intenção minha. Todo museu, você chega nesses grandes museus do mundo,
museu do Louvre mesmo, eu gostei da coisa, da Madona mesmo, eu comprei um pôster da
Madona [ininteligível]. Então você compra. E outra coisa que eu, ta na minha cabeça, no meu
projeto, aproveitando a informática, teria lá uma sala, um espaço que eu batizei de Espaço
Nauro Esteves, Nauro Jorge Esteves, que é o arquiteto que realmente após o Oscar, é quem
realmente construiu a cidade. Sem a presença do Nauro a cidade não teria saído, não é assunto
para agora, mas a realidade é essa. Projeto que vinha errado do Rio de Janeiro ele é que
corrigia, acabamento da cidade, é uma história comprida, é outra tese.
Duarte: Só teve uma estudante de arquitetura que resolveu fazer pós-graduação dela
reavivando toda a vida do Nauro Jorge Esteves, que tem mais projetos executados em Brasília
do que o próprio Oscar Niemeyer. Então eu ia chamar espaço Nauro Jorge Esteves e que
teriam terminais de informática, não sei quantos, com a relação e a vida de todos os
empregados da Novacap, desde o início da construção. Então chega lá, por exemplo, o bisneto
do Dr. Ernesto Silva, aí senta, vai ao terminal e digita: Ernesto Silva. Vai sair uma página
dele, com foto, médico, participou da Missão Cruls, pá, pá, pá, o neto imprime aquilo e leva
para casa, olha o vovô onde é que tá. Isso, ao longo disso aí, vamos ter o que? 10 mil, 15, 20
mil funcionais podemos assim dizer. Não só da Novacap, como das empresas construtoras
também. Chega o neto da construtora Rabelo, que construiu uma série de coisas aqui, ou
Aperdeneira, quando digo, estou dizendo essas, tem umas que não existem mais, o bisneto ou
neto de um deles “ah, o papai estava aí, Pólo Rabelo, ta aqui o vovô aí” então coisas desse
tipo.
Entrevistador: Ok. O senhor recorda a data exata do início das obras do Memorial?
5
Duarte: O ano é mais ou menos isso aí, 2004, 2006, 2005, é por aí. São oito anos para trás.
Por que eu tenho certeza que são oito anos? Quatro anos de governo Arruda, dois anos de PT,
são seis. E vamos pôr mais dois porque era o finalzinho do segundo governo do Roriz.
Duarte: Ele vem antes, ele vem lá do Império, ele vem antes da Missão Cruls, com fotos.
Então, antes da missão Cruls ele vem com fotos, depois vem o concurso também de arquiteto,
também com cópia. Depois vem a primeira diretoria da Novacap, tudo com foto. Depois
Juscelino. Porque aquilo é redondo, então você vai andando assim, a cidade começa em preto
e branco, com o marco zero, que é uma foto, que é debaixo ali daquele buraco do tatu na
rodoviária. Depois você vem com a outra foto também em preto e branco, do cruzamento dos
eixos, depois vem as construções, vem o jardim, então chega uma hora que a cidade toda
florida, essas fotos começam a ser coloridas, então a cidade começa preto e branco, você vai
andando, vai andando e chega ao final aqui a cidade é colorida, toda desse lado de cá, desse
lado a construção.
Duarte: Só Brasília.
Duarte: Olha, logo na entrada tem foto grande, quando eu digo foto grande é foto de três
metros de altura do Juscelino, foto de um metro por um metro quadrado do Israel Pinheiro.
Foto de três metros de altura da primeira missa, foto da primeira diretoria da Novacap, foto
desses projetos que participaram do concurso. E depois várias fotos de vários tamanhos
mostrando o desenvolvimento da cidade. E nessa parede interna foto também de três metros
quadrados, vai ter hora que nós vamos ter essas quaresmeras todas coloridas, ipês floridos,
roxo, amarelo, vermelho. Isso tudo circundado aqui, era um espelho d’água, aí eu fui fazer um
curso, teve um curso aí de museologia, eu fui fazer esse curso e quando mostrei meu projeto
ele falou “não pode ter água porque a umidade vai condenar tudo”. Então eu tenho um
desenho já de um painel de “vidrotil” em várias tonalidades, imitando água que é o espelho,
que é o lago de Brasília. Então nós temos aqui... Um pedaço de papel para você ter ideia do
que eu estou falando... Temos um auditório, temos um, isso aqui teoricamente é isso aqui e
aqui tem uma entrada. Acaba aqui com sanitários e tudo. E aqui espelho d’água. Então essa
parede toda aqui, você prega a foto aqui e vem. A sala Nauro Esteves, um conjunto de
sanitários, uma cantina, um barzinho, um negócio semelhante a esse. Aqui tem vários
computadores, aqui o auditório. Então você vem com essas fotos aqui, chega aqui a cidade
está toda colorida, florida.
Entrevistador: Qual seria o fato marcante que o senhor acha, da Novacap, que não poderia
faltar nesse museu da história da Novacap?
Duarte: Olha, uma foto grande que é a inauguração da cidade na Praça dos Três Poderes com
aqueles candangos todos, aquela coisa toda. Para mim é uma foto fundamental. A foto do
início que é o marco zero, que é debaixo do buraco do tatu, e uma foto do Juscelino, não sei se
você já viu, mas uma foto do Juscelino com um paletó, uma bota, no meio do capim, com a
mão no bolso, só ele. Essa foto é manjadíssima. É aquele negócio, chegou o Juscelino aqui
6
sozinho no mato, tempo depois ele tem a segunda foto, que é a da missa, quer dizer, já com
gente. E quando chega ao final a cidade toda florida, os prédios, o jardim.
Duarte: Tudo que está ali é ideia minha. A única pessoa que participou comigo foi o chefe de
DPJ, que eu perguntei se tinha fotos e ele me passou uma série de fotos que eu tenho guardada
dos ipês da folha toda coloria para saber se era possível fazer isso. E é possível.
Duarte: Não. Não fiz nada. Saiu da minha cabeça para cá, fizeram aquela estrutura, nunca
conversei com museólogo, com algum especialista de museu, com arquivista, com nada.
Entrevistador: Certo. O projeto prevê algum tipo de interatividade com os visitantes? Que o
visitante poderia interagir com a exposição de alguma forma?
Duarte: Não, só esse auditório com essa sessão continua de filme e terminal.
Duarte: Não. Quero distância de comunidade. Eles acham que eles são os donos. E ninguém
é dono de nada. Nem eu sou dono desse projeto.
Duarte: A gestão seria da diretoria da Novacap, iria indicar uma pessoa para ficar
respondendo e gerenciando aquele museu, vendendo os DVDs, alguma coisa a mais,
mantendo aquele sistema de informática ali funcionando, certo? Cobrando, porque o governo
não pode bancar, então, por exemplo, uma folha dessa custa 10 centavos, então para você
puxar lá a memória do seu avô você ia ter que pagar cinco reais, que eu acho barato para você
ter uma memória do seu avô, com fotografia, as atividades que ele exerceu e tudo. Por que eu
tive essa ideia? Eu fui fazer uma palestra na faculdade de arquitetura, ali do Núcleo
Bandeirante, naquela subida ali pro Riacho Fundo, e levei um livro que eu tenho de Brasília,
que nem o Ernesto Silva tem, quando ele viu esse livro no meu escritório me pediu
emprestado, eu falei vai e volta, eu cobrei e o livro não voltou. Esse livro é a Revista Brasília,
que eu chamo de livro, mas é a Revista Brasília, dessa grossura, data 21 de abril de 1960, data
da inauguração da cidade. E tem ali o nome de todos os empregados da Novacap, certo? Que
estavam na Novacap no dia da inauguração. E levei essa revista, não para isso, eu levei
porque tem umas fotos antigas interessantes, foto de coisa que inclusive não foi construída. O
que está construída ta aí para todo mundo ver, o que não está construído ninguém vê. Aí um
aluno falou: “Dá para ver se tem meu pai aí?”, eu falei “Qual era o departamento do seu pai,
nome do teu pai?” tava lá, “Eu posso pegar essa revista para tirar uma Xerox” eu falei “Não,
eu vou tirar uma xérox e volto aqui para te entregar”, aí eu fui, tirei uma Xerox da capa da
revista, tirei a Xerox da folha onde tava o nome do pai dele, sublinhei, grampeei a capa na
folha, entreguei lá e ele falou “Pô, muito obrigado, eu achava que o senhor não ia nunca trazer
isso aqui”, porque ele chegou a ver o nome do pai.
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Duarte: Pô... Ele devia dizer “Meu pai trabalhou na Novacap, [ininteligível]”, “Prova!”, então
eu tive a ideia de fazer esse terminal informatizado, vamos assim dizer. É a único acesso para
comunidade.
Luiz Henrque: Não. Não. Porque tem coisa, por exemplo, eu não sou contra a comunidade
freqüentar o museu, tanto que eu criei esse espaço, qualquer um que chegar lá, de qualquer
lugar do Brasil, vai lá e chega. Agora o cara vir para tomar conta, para dizer que como é que
tem que ser feito. Estou fora.
Entrevistador: Por exemplo, alguns museus têm criado associações de amigo do museu. Não
há previsão então nesse projeto para associação de amigos?
Duarte: Associação de amigos de museu é outra coisa, é um cara que quer participar, quer
ajudar, sabe que tem uma fotografia interessante lá no Rio de Janeiro, vai lá buscar.
Duarte: Agora comunidade, porque eu sou líder comunitário, porque tem que ouvir a
comunidade, ah, porque tem que fazer uma audiência pública, ah... Vá para puta que pariu,
audiência pública!
Entrevistador: Ok. Havia previsão de contratação de museólogo ou isso nem foi pensado?
Duarte: Não foi pensado. Mas eu acho que tem que ter.
Duarte: Não tem esse cargo. Eu não digo contratar um museólogo, mas nós vamos ter que
contratar uma firma especializada em museu, porque você para contratar um profissional é
complicado, órgão público contratar um profissional...
exemplo, coloquei umas paredes separando por décadas. Não sei se é o caso separar por
décadas.
Duarte: Não, você vai andando e passa, é tudo emendado, no fim é tudo um conjunto só.
Entrevistador: Se o senhor tivesse que decidir pela contratação de museólogo o senhor iria
optar pela criação de um cargo na estrutura da Novacap ou seria uma empresa terceirizada?
Duarte: Não, empresa não. Eu separaria um ou dois cargos comissionados e contratava ali,
nomeava ali. Correndo um risco de que troca o diretor, troca o governo “ah, não, tira o Pedro,
põe...
Duarte: Aí é o grande problema, não tem continuidade, agora eu para criar um cargo de
museólogo na Novacap eu vou ter que abrir um concurso público. Primeiro eu tenho que criar
o cargo, isso até não é complicado, na hora que a Novacap tiver um memorial, tiver um
museu, dá para você criar. Aí você faz um concurso público, aí vem um cara que primeiro não
respira Brasília, para mim o cara tem que respirar Brasília, senão não adianta. Aí ganha o Zé
Mané da caixa prego, o que eu vou explicar para o Zé Mané o que foi a construção de
Brasília? Vai entender? Vai está disposto a aprender? Tem sentimento de apego à coisa para
se dedicar? Não sei se vai ter. É um risco muito grande. Eu prefiro correr o risco de você, por
exemplo, eu presidente da Novacap te contrato, vai implantar o museu, ta aí o prédio, o que eu
quero é isso. Então, daqui a cinco, seis anos, trocou o governo, troca não sei o que, aí vem a
D. Maria, quem é a Dona Maria? É amiga do governador, também é museóloga. O que eu vou
fazer? Serviço público é isso. Quem ta no serviço público, o meu é 50 anos, é isso.
Duarte: Aí chega o governador e diz “Nós vamos fechar esse museu”, não justifica. Como
quiseram fazer agora lá, esse governo que está aí agora, essa diretoria que está na Novacap, a
sorte que o presidente, novamente meu amigo. Um gaiato lá que chegou com a ideia maluca
de fazer isso aí salas para treinamento pessoal.
Duarte: Não, misturar. Eu falei “olha, eu tô fora, o meu projeto vocês não vão usar, agora o
prédio esta aí, vocês usam do jeito que vocês quiserem, o meu projeto não”.
Duarte: Até agora não. Aí puseram outro arquiteto, que por sorte respira arquitetura, respira
Brasília também concordou comigo e o gaiato ficou lá pendurado na brocha.
Duarte: Agora nem sei, eu tô dizendo que não foi pra frente, mas faz tempo que eu não olho
para aquele lado, não sei se fizeram. Não tenho ideia.
Entrevistador: Nós vamos ver isso. O senhor sabe qual foi a data (o senhor também não vai
saber agora nesse momento) qual foi a data da paralisação das obras, o senhor também não
recordaria nesse momento?
Duarte: É o final do governo Roriz. Um pouco antes, porque arrumou-se o dinheiro, aos
trancos e barrancos, para fazer a estrutura, então tinha uma meta: fazer a estrutura. Foi feita a
estrutura.
Duarte: Pois é, rapaz, como te falei: 2005, 2006. Se você fizer 2006 com oito...
Duarte: Pois é.
Duarte: Ao Senado.
Duarte: Foi feita a estrutura. Não vamos chamar de paralisada, foi concluída a primeira etapa
do objetivo que era construir um memorial. Não parou, arrumou-se o dinheiro para primeira
etapa.
Duarte: Eu prefiro dizer que o projeto está abandonado, porque ninguém mais correu atrás de
recurso para continuar. A ideia de ter um memorial da Novacap, de um museu da Novacap
está guardada no armário.
Entrevistador: O senhor não vê possibilidade dessa atual gestão dar continuidade da obra?
Entrevistador: No governo Arruda houve algum tipo de trabalho com relação ao projeto,
alguma coisa foi feita?
Duarte: Não.
Entrevistador: Não. Então desde o governo de Maria Abadia que a obra não...
Duarte: Não é a obra, a ideia de construção do Memorial está arquivada, está na prateleira.
Entrevistador: Entendi. E por que fizeram só a primeira etapa? Qual a razão que a Maria de
Lourdes...
Duarte: Não, não. Não é a razão da Maria de Lourdes. Obras têm umas etapas. Então, por
exemplo, a estrutura é uma etapa que você pode parar e não estragar nada do que você fez.
Então, como não tinha muito recurso, conseguiu fazer o recurso para fazer a estrutura. Porque
aquilo lá é concreto, é uma pedreira, aquilo lá não estraga, não tendo ferro aparente.
Duarte: Não vai comprometer em nada. Agora se você fizesse alvenaria, parede, aí não
concluísse, aí vem infiltração, aí derrubava, caía, trincava, então aquilo ali está pronto. Aquilo
é uma pedreira, não estraga.
Duarte: Olha, deve ter sido secretaria de cultura, não sei. É verba do governo.
Entrevistador: Sindicato?
Duarte: Não.
Entrevistador: A ASCAP?
Duarte: Existia, tanto que liberou dinheiro para fazer. Não, mesma coisa, vontade política de
fazer é uma coisa, possibilidade financeira da vontade política ser atendida é outra. Então
existia uma vontade da governadora Abadia, tanto que ela deu dinheiro para estrutura. Agora,
você tem vontade de comprar um carro, mas o seu dinheiro só dá para comprar um fusca, não
dá para comprar uma Mercedes, você não abandou a vontade de comprar um carro.
Entrevistador: Nós podemos dizer que a vontade política da governadora esbarrou na falta de
verba naquele momento?
Duarte: É, naquele momento. Exatamente. Não tinha tanto recurso. E eu acho que já foi uma
tremenda benevolência ou uma boa intenção dela de aos trancos e barrancos liberar aquele
dinheiro.
Duarte: A Novacap.
Entrevistador: A Novacap?
Duarte: É, esse diretor Álvaro Viana foi quem acompanhou, ele é o engenheiro responsável
técnico pela execução da obra. Novacap com o operário dela, só deram recurso, é bem mais
barato.
Entrevistador: Você sabe qual foi a verba empenhada naquela primeira etapa?
Duarte: Isso tem lá, tem que ver os arquivos, não sei.
Duarte: Não.
Entrevistador: O programa Acelera DF lançado em março, último, pelo GDF, prevê várias
obras no DF, o Memorial não está contemplado?
Duarte: Eu tenho quase que certeza, porque se não já tinham me chamado para mexer nisso.
Tenho quase certeza. Porque esse memorial não é um programa de governo, é um programa
da Novacap, que contou com a benesse da governadora Abadia.
Duarte: Não.
Entrevistador: Ok. Conhecer o projeto arquitetônico será fundamental para minha pesquisa,
eu posso ter acesso a ele?
Duarte: Pode. Eu vou procurar isso e vou tirar uma cópia. Inclusive ele é todo colorido, não
sei se a gente vai conseguir tirar uma cópia colorida.
Duarte: Não chegou nesse ponto, eu tenho as fotos guardadas, eu tenho em algum lugar lá, eu
tenho a foto da primeira diretoria da Novacap, tenho a foto do Juscelino, mas são pequenas,
teria que me arrumar alguém, que eu sei que tem condição hoje com a informática, pegar uma
foto desse tamanho e ampliar e fazer uma de três metros de altura, nem que seja de duas
etapas, para montar e colar na parede.
Duarte: Não. A única coisa que está descrita, vamos voltar aqui porque tem uma ideia, essa
entrada aqui em que tem essa foto do Juscelino, tem a foto da primeira, tem uma parede aqui,
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separando a entrada, tem uma foto Israel Pinheiro aqui, tem fotos aqui da primeira diretoria,
dos projetos, tudo, isso aqui eu tenho, essas fotos seriam pregadas nessas paredes. E daqui
para trás, eu não desenhei tudo, esse negócio na realidade, ele é assim. Então aqui é uma
parede, aqui é outra parede, aqui é outra parede. E aqui também é parede. Então isso aqui tudo
são os módulos. Eu não sei que tipo de foto vai pôr aqui e nem de que ano. Eu não sei se tem,
eu sei que existe, mas não tenho. De repente, voltando ao Museu da Memória Viva, de
repente nós podemos ir lá e fotografar aquela cantina de obra, aquele fogareiro, você tem na
cabeça? Tem um...
Duarte: Como se fosse um cara fazendo ali, esquentando uma marmita, tem o gabinete do
Edson Porto, o gabinete médico, tal. Tem vestimentas. Então, de repente a gente fotografa
aquilo e seria uma das primeiras fotos de Brasília. Tem muita revista, aquela Revista Brasília,
o arquivo tem coleção, isso eu cheguei a conversar com o Walter Melo, que era um dos
diretores do arquivo, amigo meu também, “Ô Walter, eu vou precisar de foto antiga
[ininteligível] para ir pregando nessas paredes”. Foto de construção, visitas do Juscelino à
obra. Tem várias fotos.
Duarte: Previa, porque aqui, olha, eu previ aqui no meio eu teria uns totens e umas mesas. E
por exemplo, uma mesa com esse tamanho que teria de repente uma planta aberta do Palácio
da Alvorada, uma planta baixa do Palácio da Alvorada. Ou um totem que você tem uns nichos
e você coloca ali um exemplo... Tipo vitrine. Aqui no meio, você pode colocar o que? Um
uniforme que era usado naquela época, ou um balde, aquele negócio, é construção, coisa
desse tipo.
Entrevistador: Certo. Deixa ver se eu tenho mais uma questão aqui. Há um processo na
Novacap arquivado, um processo arquivado na Novacap que eu possa solicitar para
acompanhar isso ou está com o senhor essa documentação?
Duarte: Tanto que liberou esse recurso, tem essas cópias grandes.
Entrevistador: Ok. Qual o sentimento do senhor ao ver o projeto não finalizado? Como é que
o senhor se sente?
Duarte: Não há, porque é o seguinte, como eu falei no início, eu resolvi quando eu vi que
estava fazendo o museu, eu resolvi, tava à toa, me deu esse estalo, aí eu fui para prancheta,
comecei a riscar, levei uns dois a três dias, cheguei nesse estudo pequeno. Aí levei para o
Clarindo. Só o fato da diretoria ter aprovado meu projeto e ter feito até ali, para mim eu já
estou realizado. O meu projeto foi aceito, então eu profissionalmente me sinto realizado. Será
muito bom se ver construído, mas isso aí é política, é economia, é cultura, é uma série de
coisas.
Entrevistador: Ok, seu Luiz. O senhor teria alguma coisa... As minhas perguntas aqui do
meu roteiro finalizaram. O senhor teria alguma coisa para falar para finalizar entrevista? Fica
a vontade, ta?
Duarte: A única coisa que eu acho é que, ou a Novacap, ou qualquer outro lugar, que seja,
que eu acho que inclusive é uma grande falha da secretaria de cultura, não estou aqui puxando
o secretário, eu estou puxando a secretaria de modo geral.
Duarte: A falha que Brasília não tem um museu. Qual é o museu da construção de Brasília?
Não tem. Não tem. Você chega a Petrópolis, você vai visitar o Museu Imperial, você vê as
carruagens, você vê a coroa do Pedro I, você vê a cama onde a Teresa Cristina dormia, você
vê uma série de coisas. Você vai à Quinta da Boa Vista, você tem um museu, você vê tudo.
Você inclusive coisas do Egito, “ah, uma múmia”, você vê uma múmia, aqui...
Entrevistador: Tem uns registros. Umas placas de mármores com registro. O Museu Vivo da
Memória Candanga e o Catetinho não atendem a essa intenção do senhor?
Duarte: Uai, você acha que atende? Vamos por etapa. Esse da Praça dos Três Poderes, que é
um negócio aqui que deve ser metade desse espaço que nós estamos. Eu conheço aqui lá, o
que tem ali que lembre a construção de Brasília? Aquelas construções, aquelas estruturas, o
marco do cruzamento, o Juscelino chegando, uma foto da primeira missa? Você conhece os
projetos que participaram do concurso da cidade? Do projeto do Plano Piloto?
Duarte: Pois é, ninguém conhece os outros. Tem mais quatro ou mais três, lembro, sei que
tem. Não tem, não tem isso. Então é o que eu digo você não tem um museu. Você já viu em
algum lugar a foto da primeira missa aqui em Brasília? A não ser em uma revista, em um
negócio? Aí você chega no Museu da Memória Candanga vai ver o que? Como é que você vai
explicar para o seu filho “olha, teve uma primeira missa, assim, assim, assim, o Juscelino
quando chegou era tudo mato”, como é que seu filho, ou qualquer criança, ou qualquer
cidadão vai conseguir imaginar aqui? Como? De uma fotozinha de uma revista que nem
publicam mais. Então eu acho que Brasília não tem um museu, é carente nessa parte. Tem um
arquivo. Mas não tem um museu. Você tem ideia de como é uma múmia? Você já viu uma
múmia?
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Duarte: Pois é, mas se você for lá ao Museu Imperial na Quinta da Boa Vista, você vai ver
uma múmia, então você tem ideia do que é uma múmia. Você tem ideia das carruagens que
eram usadas aqui na época do Império?
Entrevistador: Lá em Petrópolis.
Duarte: Pois é, esse da Quinta da Boa Vista. Isso que eu falo, então, não tem. Brasília não
tem. “Ah, porque isso aqui era tudo mato, o pessoal chegava cidade livre”. Você sabe o que
era cidade livre antigamente? Os barracos de madeira, aquele pessoal chegando. Não tem.
Tem na Memória Candanga lá muito pouquinho. Então é o que eu digo, é a única coisa que eu
lamento, não pelo meu projeto, é que a cidade não tem um museu. Eu tenho recebido vários
arquitetos estrangeiros aqui, francês, italiano, outro dia teve um alemão, argentino, os caras
vêem isso aqui, vem ver, mas “como é que era?” “como é que construiu?”. Então, o que eu
tenho feito? Eu tenho um filme, esse cd que todo mundo, que o arquivo tem, eu inclusive que
dei para o arquivo, porque o arquivo não tinha, eu tenho isso de muitos anos atrás. Eu dou de
presente para esses arquitetos. Então é um filme que aparece os caminhões chegando, aquelas
jardineiras chegando, os caras andando a cavalo no Núcleo Bandeirante, tem outro cara
sentado no sofá no meio da rua no Núcleo Bandeirante. Coisas desse tipo. Bem, então não
tem um museu.
Entrevistador: O senhor acha que eu conseguiria uma entrevista com o atual presidente da
Novacap?
Entrevistador: Porque no meu trabalho prevê uma... Seria bom eu saber dele, qual a
opinião... Eu posso protocolar lá.
Duarte: Vamos tentar simplificar isso. [Nesse instante, LH liga para a secretária do presidente
da Novacap e pede para que ele me receba].
Entrevistador: Seu Luiz, eu só tenho que agradecer a sua colaboração, talvez eu ainda
precise conversar contigo, mas não creio que não vai ser gravado.
APÊNDICE B
Degravação de Entrevista
Entrevistador: Hoje é dia 26 de abril de 2013. Eu sou Edvan Aquino de Queiroz e estou aqui
com o arquiteto Luiz Henrique Freire Duarte, da Novacap. A gente vai continuar nossa
conversa sobre o museu. Tudo tranquilo, Luiz?
Duarte: Não, não foi pensado nisso. Pode até ter. Tem espaço, tem condições para isso, mas
no momento não foi pensado.
Duarte: Da Novacap.
Duarte: Prevê.
Duarte: Prevê. Prevê porque isso é lei. Você não tira um alvará de construção, você não
aprova um projeto sem isso.
Entrevistador: Mas, por exemplo, no caso do cego, a exposição poderia atendê-lo, poderia
recebê-lo?
Duarte: Eu não sei. Porque eu não sei como é que um cego vai conseguir ver uma fotografia
que foi tirada em 1950. Eu não sei. Eu não sei como é que a tecnologia está funcionando hoje
com relação aos cegos, não tenho ideia.
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Duarte: Eu não sei nem como prever uma maneira de um cego ver uma fotografia de 1950.
Entrevistador: Certo.
Duarte: Não. Não é objetos tridimensionais é a história da construção de uma cidade. Então
você não vai pegar um prédio para pôr ali, para ter três dimensões, você não vai pegar uma
rua. É tudo foto. 99,9 por cento é foto.
Entrevistador: Ok.
Duarte: Se a tecnologia hoje estiver preparada para isso é questão de gastar mais ou menos
dinheiro e atender aos cegos.
Duarte: Não. Não prevê porque isso aí, primeiro, que não tem muita coisa para ser mostrada.
O que tem mesmo, como eu já falei, são fotos, certo? Muita foto, projetos, plantas, então se eu
vou pegar uma planta do Palácio da Alvorada, é uma planta do Palácio da Alvorada. Quer
dizer, esse museu vai ser montado desde a criação da Novacap até inauguração da cidade e
alguma coisa para frente. E o próprio prédio vai ser ornamentado com fotos e escritos da
época, como a fotografia dos projetos que participaram do concurso do plano piloto da cidade,
a fotografia da reunião da primeira diretoria da Novacap. Teve um problema de estrutura que
tinha um vão muito grande, a viga não dava para vencer, então o calculista me pediu uns
pilares, em vez de eu colocar uns pilares eu coloque três, tortos, você vai ver isso na fachada,
logo na entrada. Com um vão de dois metros e sessenta, três metros de altura, que vai ser
impresso em vidro temperado, fotos da ponte JK que foi uma obra premiada executada pela
Novacap. Então, até a ponte que é uma coisa de quarenta, cinqüenta anos depois da
inauguração da cidade vai está presente no museu.
Entrevistador: Já que você está falando dessa questão temporal, já aproveito para.. eu já
perguntei para você uma vez, você já me respondeu sobre a questão histórica. Você disse:
remonta ao tempo do império a história de Brasília
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Duarte: Cidade de Brasília remonta ao tempo do império. Tem alguma coisa sobre isso no
museu.
Entrevistador: E o marco temporal final? Você falou da ponte, a ponte é de 2005, digamos
que o marco temporal final é até onde houver fatos a serem narrados?
Duarte: No meu projeto existem duas ou três... Duas paredes daquelas que você vai ver na
planta em que estão lá, eu separei por décadas. Se não me engano são oito ou nove paredes e
eu separei por décadas. Então tem, se não me engano, duas paredes sobrando para medida que
a Novacap for executando obra, como executou o Tribunal Superior Eleitoral, Superior
Tribunal de Justiça. Tirar a foto e colocar lá.
Duarte: A primeira década é a década de 60, que a Novacap foi criada em 56. É década de
50, quatro anos da década de 50.
Duarte: Vai ter fotos, vão ter fotos dessa parte da missão Cruls, da época do império, José
Bonifácio sugerindo o nome de Brasília para a capital.
Entrevistador: Ok. O projeto prevê algum espaço exclusivo para atividades educativas? Com
crianças, com a comunidade?
Duarte: Não. A parte educativa para crianças, é o grupo de criança, é o motivo do meu
projeto ser circular e apenas com única direção de fluxo. Se chegar um grupo de, por
exemplo, 10, 15, 20 crianças, vão entrar, antes de entrar tem um pouco da história, de quem
era Juscelino e tudo e a medida que for andando, você vai ver no projeto, que é circular, não
tem como andar a não ser no sentido histórico da construção da cidade. Então crianças do
primário vão andando, vão vendo, do seu lado direito vai ver a cidade e preto e branco, com
mais mato, mais terra do que prédio, depois a quantidade de prédio igual à de terra, depois a
cidade colorida com jardim, com as plantas, com os ipês amarelos e roxos e aí vai terminar a
visita deles no auditório, que vão sentar e ver um filme da construção. E pode ser até um filme
atualizado, de Brasília, atualizado e tudo. Então não tem um lugar para ter uma aula. Aquilo
ali não é escola, aquilo é um museu, um memorial. Eu chamo mais de memorial do que um
museu. É museu porque tem coisa velha, tudo que tem coisa velha é museu. Mas para mim, na
minha leitura, é mais um memorial. Qualquer leigo vai andando e vai vendo como a cidade
começou e entra no auditório e vê como a cidade está hoje. Então não é lugar de aula, é lugar
de absorver conhecimento à medida que vai se andando dentro.
Duarte: Horário. Tudo certinho, horário. E pode ser... “Ah, amanhã eu vou de novo, porque
eu quero ver a década de 70, a década de 80”.
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Duarte: Não, se quiser voltar pode voltar, mas eu digo, foi embora, voltou, pode ir no dia
seguinte, vai duas, três vezes. “Ah, eu quero ir de novo, eu gostei”. Não tem gente que vai à
Paris três, quatro vezes porque gosta? Vai lá de novo.
Duarte: Não tem. Não tem. Porque se não começava a ter espaço para muita coisa e como eu
já falei aqui ele é dentro do terreno da Novacap. Então, vai ter um gerente, um administrador,
subordinado a um chefe de departamento administrativo ou um diretor administrativo ou
talvez até direto à presidência, que eu acho que uma coisa dessa tem que ficar ligada direto
com a presidência. Então não tem diretor, o menos custo possível, menos burocracia possível.
Entrevistador: Banheiro?
Duarte: É, tem.
Entrevistador: Lojinha?
Duarte: Lojinha não. Vai ter um balcão em que você se quiser comprar uma foto do Juscelino
você compra. Se você quiser comprar um DVD do filme, uma cópia do DVD que você viu no
auditório da construção da cidade, você chega no balcão, de um metro e meio, compra o filme
e vai embora.
Entrevistador: Iluminação?
Duarte: Quando eu fiz o projeto era lâmpada comum, hoje nós temos a lâmpada LED que é
até menos ofensiva ao papel do que...
Duarte: Fluorescente ou incandescente. Agora tem a LED que ta cada vez melhorando no
mercado a colocação de lâmpada LED.
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Duarte: Não, é uma lâmpada específica para museus, que não dê muita influência de raios nas
peças, nas plantas, no mapa, na fotografia.
Duarte: Não é nem por conta... É para diminuir a despesa com preservação. Porque outra
coisa que eu não falei, vou falar agora, tudo que vai para esse museu é cópia de alguma coisa
que tem no arquivo. Então se eu tirar uma foto, por exemplo, se daqui há 5, 10 anos essa foto
está amarelada, eu vou ao arquivo de novo, que tem a foto armazenada, com temperatura
ambiente, eu tiro outra cópia e coloco lá.
Entrevistador: Então você está querendo sugerir que o memorial é um museu de baixo custo
para Novacap?
Duarte: Não. Não é isso não. O que eu quero dizer é o seguinte, quanto menos dinheiro se
gastar com manutenção desse memorial é melhor para Novacap, é melhor para todo mundo.
Em uma primeira entrevista nossa eu falei que Brasília não tinha um museu da construção,
tem o arquivo, tudo lá muito bem arquivado, muito bem catalogado, você acha as coisas, são
preservadas. Eu mesmo tinha uma foto da missão Cruls ainda, doei para o arquivo, o arquivo
restaurou a foto, me deu uma cópia, eu tenho no meu escritório. Então é tudo muito bem
conservado. Agora o que eu digo é o seguinte, você levar um grupo de criança para ir visitar o
arquivo. Muito bom, vão aprender muito. Agora se você levar de crianças para rodar no
sentido horário, como você falou, nessa galeria do museu, vendo as fotos, vendo a sequência
da construção da cidade é muito melhor. Então se eu posso fazer isso com “x” reais, o que eu
vou fazer com 10 “x” ou 20 “x”?
Entrevistador: Não, não. A minha pergunta foi ruim demais. Dentro do Distrito Federal, o
que corresponde à Brasília?
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Duarte: O que é Brasília. Então vamos fazer o seguinte. Quando foi feito o concurso para o
plano piloto de Brasília o Nauro Jorge Esteves recebeu a incumbência de Oscar para desenhar
um lago, que um geólogo belga tinha estado aqui um pouco antes da missão Cruls e disse que
há milhares de anos aquele local ali era para ter um lago. Tinha um lago. Teve um lago,
melhor falando. Que se quiserem fechar essas comportas de novo ele tem certeza que aquilo
ia encher e virar um lago. Então o Oscar pediu ao Nauro que delimita-se o que seria um lago
em Brasília. E o Nauro pegou a planta topográfica da área do sítio Castanho, que foi o sítio
que foi escolhido pela missão Cruls para ser o Distrito Federal e escolheu a cota mil. Então
ele pegou em uma planta de topografia e foi acompanhando todas as curvas da cota mil, em
uma planta de altimetria. Tanto que tem um clube que se chama Cota Mil por isso. Então
definiu-se que o lago era cota mil, aí a barragem e tudo, tudo foi programado para que o lago
enchesse a hora que chegasse na cota mil, como encheu. Então esse lago e a periferia do lago,
foi a planta de situação do cerrado, vamos assim dizer, do planalto central, do Distrito
Federal, fornecida aos arquitetos que participaram do concurso. E o concurso vencedor do
Lúcio Costa que é o Célio Gavião, então o plano dele era aquilo ali, aquilo é Brasília.
Duarte: É.
Duarte: É.
Duarte: Eu vou chegar lá. Então aquilo ali foi resolvido e vencedor o projeto do Lúcio com
Brasília com uma península, aquela coisa toda, aquelas áreas agrícolas, aquela coisa toda. E
com o desenrolar do tempo, foi feito a cidade, foi construída, aí começaram a utilizar o Lago
Sul, a península dos ministros, que durante muito tempo foi moradia dos ministros. O Lago
Norte e tudo. Aí Brasília foi tombada pela UNESCO como patrimônio cultural da
humanidade. Vou responder agora sua pergunta, então a área tombada, Brasília, que é Brasília
área tombada, vai da borda do lago todinha, da borda do lago, até a EPIA, no sentido leste
oeste.
Duarte: É o documento que está na UNESCO, a área tombada. É área tombada. E no sentido
norte sul, é ali beirando a Granja do Torto até mais ou menos ali, incluindo a Candangolândia,
Núcleo Bandeirante. Aquilo ali é área tombada. Agora, Lago Norte é Brasília, Lago Sul
também é Brasília. Porque não está tombada, mas é Brasília. Tem gente que diz que Lago
Norte não é Brasília, então que cidade é essa? É Taguatinga? Guará é Brasília, é um bairro de
Brasília. Noroeste e Sudoeste também são Brasília. Noroeste e Sudoeste quando...
Entrevistador: Guará é?
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Duarte: Não, não é Brasília. Aquilo é o que eles chamam de periferia, ou área, cidades
satélites, ou Região administrativa.
Duarte: Belacap é o nome que davam ao Rio de Janeiro, que eu sei, na época. Chamaram
Novacap, Nova Capital, Rio de Janeiro com inveja “Não, lá é Novacap, aqui é a Belacap, que
é a Bela Capital”.
Entrevistador: É possível delimitar dentro da exposição: Isso aqui é história de Brasília, isso
aqui é história da Novacap?
Duarte: Não, você não consegue contar a história de Brasília sem contar a história da
Novacap.
Duarte: Se confundem. Você não conta uma separada da outra, não tem jeito.
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Duarte: Não. Eu sei de história, mas não vivi. Não vou falar nada sobre isso.
Entrevistador: Mais uma. Fato um pouco semelhante a esse, ocorreu em 1999 em frente aos
portões da empresa, durante uma greve. Os trabalhadores chamam aquele episódio de “o
massacre da Novacap”. A minha pergunta é: No seu projeto, há espaço para esses dois
acontecimentos?
Entrevistador: Ah, imagina! Depois a gente mantém mais contato. Abraço, boa viagem.
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APÊNDICE C
Degravação de Entrevista
Martorelli: Bom, eu sou Nilson Martorelli, estou em Brasília desde 88, apenas, até poderia
ter chegado antes, mas foi em 88. Ocupei alguns cargos em nível de Distrito Federal, mas aqui
na Novacap é a segunda vez que aqui passo. Em 2009 como diretor administrativo financeiro,
fiquei um ano e meio, até meados de 2010. E agora assumi a presidência, em junho de 2012.
Estamos fazendo aí quase, vamos começar um ano, praticamente, oito meses, como presidente
da empresa. Uma empresa que eu tenho um carinho muito grande, um respeito muito grande,
porque aqui é onde tudo começou. Porque quando Juscelino teve aquela sua ideia e que
muitos não acreditavam, perfeito, a primeira coisa que [ininteligível] foi com a criação da
Novacap, onde, por acaso, a presidência do nosso saudoso Israel Pinheiro, perfeito? E que se
começou toda a história de Brasília. Então quando Brasília começou, começou primeiro a
Novacap. A Novacap, você deve ter através desse livro, já viu algumas fotos, que eram aquele
descampado, aquela visão de Juscelino Kubistchek querendo cumprir a constituição, que
previa realmente deslocamento da capital para o centro do país. E ninguém acreditava, foi um
desafio muito grande, e Israel Pinheiro realmente mostrou sua garra, porque para dirigir a
construção de Brasília nessa época não era fácil. Esse descampado não tinha nada. Para você
ter uma noção eu já fui até diretor e fui presidente de uma antiga companhia que não existe
mais em Brasília, que chamava SAB, Sociedade de Abastecimento de Brasília, lá naquela
época quando iniciou-se a construção de Brasília, para você ter uma noção, até a comida, as
verduras vinham tudo de avião, tudo vinha de avião para Brasília, então para chegar... E tudo
era centralizado na Novacap. A Novacap tinha parte de administração, a Novacap tinha parte
de polícia, tinha uma polícia na época. A CEB nasceu pela Novacap, a Terracap nasceu da
Novacap, que em 73 foi separado, que se criou a Terracap, onde todo bem patrimonial dela,
em termos terreno, praticamente todos os bens fora transferidos para a Terracap. Então, saiu a
CAESB, foi criada a CAEB, a CEB, enfim, todas as empresas que hoje existem em Brasília,
as mais antigas, de uma maneira ou de outra saíram da Novacap.
Martorelli: Antigamente era tudo Novacap, tudo era centralizado, só tinha Novacap. Tudo
era controlado aqui, tudo coisa nova, foi criando e foram se abrindo e criando as secretarias,
as empresas. Então, Novacap originou, quando Israel chegou aqui em Brasília não tinha nada,
tudo era Novacap. Novacap que providenciava o abastecimento da cidade em termos
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alimento, tinha que providenciar a parte de transporte, tinha que providenciar a parte de saúde,
tinha que providenciar a parte de contratação. Tudo, tudo foi [ininteligível]. Então Novacap
tem uma história, a Novacap tem uma história e uma história que vem continuando ao longo
desses anos. Onde ela participa de diversas obras, vamos citar algumas, por exemplo, bom,
todas que tem em Brasília, as últimas mais recentes como a Ponte JK, como a Torre Digital.
Como também agora o estádio.
Entrevistador: Mas hoje ela participa dessas grandes obras, não participa como construtora.
Martorelli: A Novacap ela não participa como construtora, mas ela participa como
fiscalizadora e coordenadora dos projetos em si. Então ela que coordena, ela que fiscaliza, ela
que conduz essas obras.
Martorelli: Contrata. Exatamente. Porque hoje em dia se você tivesse que ter a Novacap
como construtora ela seria a maior construtora do Brasil. Porque para atender tudo isso é
muita coisa, não tem como. Então quer dizer, a partir daí foi simplesmente hoje ela faz as
contratações a partir de empresas privadas, mas toda a parte de direcionamento, estudo, as
conduções são feitas dentro da Novacap. Fiscalização e tudo mais, e acompanhamento dessas
obras. Então quer dizer a Novacap hoje não tem uma equipe de, por exemplo, para construir
uma ponte, a Ponte JK, não teria condições, não tem condições e nem teria. É a mesma coisa
com o museu, a mesma coisa com a torre digital.
Martorelli: Até isso, a Novacap hoje está em uma parte mais de fiscalização e
acompanhamento.
Martorelli: Gestão. Fiscalização e acompanhamento das obras em si. O que a Novacap tem
algumas interferências, pequenas interferências, por exemplo, ela ainda faz algumas coisas em
alguns pontos em alguma parte de manutenção de parte de jardim em alguns casos, perfeito?
Não todo, a outra parte é terceirizado. Ela tem algumas coisas que ela faz, pequenas obras em
não só aqui no Plano Piloto, mas nas cidades satélites, principalmente na área de drenagem
pluvial, pavimentação. Mas tudo dentro de um limite, perfeito? Porque o corpo técnico e o
corpo de funcionários da Novacap e também da parte de estrutura e de maquinário não são
suficientes para tocar a demanda que existe em Brasília. Então hoje, por exemplo, nós
estamos com um projeto agora saindo, está em fase final de licitação, que é toda a
recuperação das vias daqui do Distrito Federal, que há muito tempo não se faz. Tinha
simplesmente quando foram feitas e depois só aquelas medidas paliativas de tapa buraco,
como a gente chama. Hoje nós estamos trabalhando com algumas recuperações mais efetivas,
como aconteceu, por exemplo, na L4 sul, na W3 sul, na W3 norte e em outros lugares. Isso
nós estamos, nós estamos... [telefone tocando] só um pouquinho. Nós estamos realmente...
[telefone tocando]. Dá licença, por favor, vou só abaixar aqui...
Martorelli: Só abaixar. Daqui a pouco eu tenho reunião fora, é por isso que ele está me
avisando aqui. Desculpa. Eu vou tirar o som aqui. Desculpe. Então, Brasília tem várias
pequenas intervenções que nós ainda fazemos, a Novacap, perdão. Mas Novacap tem uma
vantagem, apesar de ser uma empresa pública.
Martorelli: Empresa pública de economia mista. Então, quer dizer, ela é composta, a maioria
absoluta é o governo do Distrito Federal e outras empresas e o governo federal também tem...
Martorelli: Não tem capital privado. Não tem capital privado. Então hoje, por exemplo, a
Novacap é direcionada pelo Estado, perfeito? Agora toda a parte da política, por exemplo, de
drenagem pluvial do Distrito Federal é feito pela Novacap. Ninguém faz, toda essa drenagem
pluvial, toda a parte de planejamento e acompanhamento e execução e autorizações na parte
de drenagem pluvial é feito pela Novacap. A pavimentação, no que tange as vias internas, as
vias normais urbanas, são todas pela Novacap, quando entra nas DF já é o DER, que é uma
outra empresa que saiu daqui também da Novacap. Então quer dizer, a Novacap tem um papel
muito importante, pelo fato dela ser uma empresa de economia mista, sua composição, sua
procuradoria jurídica própria, seu corpo técnico, ela é muito mais ágil do que o Estado para
trabalhar. Eu uma vez conversando com algumas pessoas de outros estados, para criar, por
exemplo, uma empresa tipo a Novacap, ela dá uma agilidade melhor ao governo de modo
geral. Tem seu corpo técnico, é o mais qualificado para esse tipo de obra. Hoje, por exemplo,
uma obra de educação, ela tem, a educação, por exemplo, tem um departamento de
engenharia dela, mas chega em um ponto que ela não tem condições, ela recorre à Novacap. E
assim por diante com a saúde e outras secretarias de modo geral. Então a Novacap realmente é
um braço executivo, ela não é de planejamento, a Novacap, ela é vinculada a secretaria de
obras, perfeito? Que é a responsável pela parte de planejamento e todas as diretrizes e a
Novacap é, junto com o governo, é lógico, do Distrito Federal, a Novacap é um braço
executor.
Martorelli: Muito grande. Hoje em dia a Novacap está em uma situação de carência de
funcionários, porque há muito tempo não se faz um concurso e tem muitos funcionários que
estão deixando a empresa e nós vamos agora, o governo, atualmente nos autorizou agora a
promover um novo concurso público, perfeito? Onde nós vamos procurar cobrir as áreas
principais que estão descobertas e que a Novacap atua. Mas a demanda cada dia cresce mais
na Novacap, ela tem um papel muito importante. A Novacap, como eu te falei, todas essas
obras que você já conhece, te falei das últimas porque são coisas que estão chamando atenção
agora. Desde o museu, a biblioteca, a torre digital, a ponte JK.
Martorelli: É, cine Brasília, planetário que nós estamos tocando, o planetário, se Deus quiser,
daqui uns dois meses volta a funcionar.
Martorelli: A Torre de TV também vamos fazer uma recuperação dela. Então a Novacap
entra no processo em si, como também está sendo o estádio. O estádio também a Novacap
participa direto. Começou por aqui, originado aqui toda a parte do processo de
acompanhamento do projeto. Projeto, acompanhamento, fiscalização, é aqui. Foi criada uma
diretoria, chama de Diretoria de Obras Especiais, exclusivamente para cuidar dessas, do
estádio e lógico que algumas outras obras de grande de vulto.
Entrevistador: Existe alguma previsão para o memorial Athos Bulcão? Você sabe alguma
coisa nesse sentido? Está caminhando?
Bruna Dias: Não, ou então está na secretária de cultura. Deve chegar para mim.
Martorelli: Deve chegar alguma coisa, no final acaba vindo para Novacap, mas não chegou
ainda. Mas você falou do museu da [ininteligível]. Houve um projeto lá atrás, eu não sei a
origem, não sei quando que teve isso, já faz uns anos aí atrás, onde o pessoal começou a falar
“Vamos criar alguma coisa para fazer um histórico de tudo que a Novacap tem”, inclusive
tem uma obra que chegou a começar, mas parou, por alguns problemas aí, vamos dizer,
técnicos. O terreno aqui da Novacap é muito grande, perfeito? Então a ideia nossa ali era
colocar a maquete do estádio, maquete da Torre Digital, colocar... Fazer um museu, fazer uma
história realmente.
Martorelli: A história de Brasília é a Novacap, risos. Não tem o que discutir, história de
Brasília é a Novacap e a história da Novacap é a de Brasília. Novacap acompanha, construiu,
evoluiu e está fazendo Brasília. Então, quer dizer, construindo e evoluindo Brasília.
Bruna Dias: A organização das cidades, das Regiões Administrativas, quando nasceu
Samambaia.
Martorelli: Tudo isso começou a origem pela Novacap na parte de urbanização. Hoje nós
temos aqui, por exemplo, não sei se você conhece um departamento que chama Departamento
5
de Parque e Jardim. Foi muito conhecido, famoso até na época por um ex-chefe da época do
DPJ que se chamava Ozanan, que é uma pessoa muito conceituada na parte de jardim.
Martorelli: É. Um paisagista. Então toda essa parte de paisagismo, esses balões, essas flores,
essas árvores, tudo sai dos viveiros da Novacap. A Novacap tem dois viveiros
importantíssimos, um aqui no Núcleo Bandeirante e outro ali no SAN, Setor de Oficinas
Norte.
Martorelli: Vale a pena você conhecer, são lindos. Não tem, não conheço um estado que
tenha um...
Martorelli: Que tenha um viveiro com o que nós temos. É realmente muito bonito, onde
trabalha jovens também aprendizes, trabalha nisso também.
Martorelli: Então é uma coisa que valeria. Essa parte de jardim, você sabe que Brasília é uma
das maiores cidades do mundo em termos de área verde por habitantes, perfeito? Eu tinha esse
número, infelizmente eu não estou me lembrando de cabeça.
Martorelli: A Bruna tem isso aí, ela pode te arrumar. Então quer dizer, esse departamento de
parque e jardim nosso, que há muito tempo já foi até reivindicado uma diretoria especial, uma
diretoria de parque e jardim. Teve gente que já quis tirar esse departamento de parque e
jardim para criar uma secretaria de... Um algum outro tipo.
Martorelli: É. Para fazer uma de parques e jardins, porque é uma área muito importante.
Toda essa área de grama, as árvores, os canteiros, essas flores, essa ornamentação, vamos
dizer assim, de Brasília como um todo, a cidade bonita, sai do viveiro da Novacap, sai do
viveiro da Novacap. Tem muita gente que vem, direto, pedir coisa, comprar muda, às vezes.
Martorelli: Nós estamos agora montando um sistema, que a Novacap não tem na sua parte
legal para poder arrecadar, nós estamos criando isso agora.
Martorelli: É, comercializar não tem. Nós recebemos... normalmente tudo é feito por aqui,
então nós não vendemos ainda. Tem lugares, vem gente de Curitiba, tudo quanto é lugar
doido para comprar uma coisa. Nós fazemos às vezes convênios de cooperação, fazemos
convênio com a Embrapa também.
Martorelli: Eu acho intensa. Isso aí depois a Bruna, quando você sair, você acompanha a
Bruna, porque eu tenho uma reunião. Ela programa com você, com o Rômulo, ele conhece. O
Rômulo conhece muito bem, é o chefe de Departamento do Parque e Jardim. Levar ele para
conhecer. Fala com o Rômulo ir com ele conhecer o viveiro 1, viveiro 2. E o Rômulo pode te
dar tudo que é feito nesses viveiros, é uma coisa muito interessante.
Martorelli: No seu trabalho e vai ser muito importante. Porque toda essa parte que Brasília é
considerada essa cidade verde, como eles chamam, é originário desse departamento de parque
e jardim. Ele é muito importante, vai ser de grande valia aí para o seu trabalho, para sua
monografia.
Entrevistador: Eu agradeço.
Martorelli: Eu acho até, tendo em vista essa onda de ambiental de um modo geral, ela é um
braço forte hoje. E ela mobiliza grande parte da Novacap. Mobilizado na área de parques e
jardins.
Bruna Dias: [ininteligível] lixo verde, canteiro, poda de árvore, a gente leva tudo para o
viveiro dois, é aproveitado e transformado em adubo.
Martorelli: Ele vai conhecer, é um ciclo. Transforma em adubo, às vezes a gente recebe
coisas dos parques nacionais.
Bruna Dias: Não sei se você já reparou nos pontos de encontros comunitários, de ginástica ao
ar livre, a Novacap faz também, tem uns banquinhos todo feitos de madeira...
Martorelli: Então, eu vou ser sincero com você, vai ser... Eu acho que valeria a pena.
Martorelli: E seria interessante, com todo respeito, seria uma coisa diferente para sua
monografia. Um apelo muito importante, seria uma coisa inédita. Vale a pena você ir lá. Eu
garanto que ele teria um peso muito maior até que suas obras de um modo geral. Porque é
muito importante que desenvolve a diretoria de Parque e Jardim.
Martorelli: Ele vai ser mais forte que o resto, risos. Vai ser diferente.
Martorelli: Eu não tenho aqui, eu levei ontem para o embaixador da Itália, do presidente, que
eu tinha, aquele das áreas verdes do cerrado.
Martorelli: Aliás, você pede para mim. Eu vou precisar depois, tá? Então, Edvan, então é
isso. A Novacap tem história, ela tem história não só na parte, desculpa, na expressão, não é
que é fria, mas na parte de expressão do concreto e tal, frieza de obra em geral, mas ela tem a
parte também humana dos seus jardins, das convivências, do seu centro de convivência e ela
participa diretamente, como a Bruna citou agora pouco, sobre esses PECs, esses pontos de
encontro comunitários, que são essas ginásticas, que hoje em dia a saúde está em voga.
Então...
Martorelli: 180, para você ver. Nós temos aí, por exemplo, esses técnicos eles são todos, tem
a parte de grama, tem os banquinhos que são desenvolvidos, o paisagismo, então tudo isso a
Novacap participa diretamente. A Novacap, lógico, ela que coordena e contrata toda essa
parte de instalação técnica, com suas bases, seus aparelhos de um modo geral. Então, a
Novacap hoje, pode dizer que a participação dela é muito grande no Distrito Federal. Ela só
não participa nessas coisas que essas outras empresas já têm, saíram da Novacap, não quer
dizer que não fica na parte de iluminação, de modo geral. Mas na parte de energia, parte água
e esgoto, que é CAESB, a CEB, parte de energia. Mas o que tange o global de obras de uma
maneira ou de outra acaba passando pela Novacap.
Entrevistador: Ok. É... Presidente, o horário é com o senhor, eu não sei como está o horário
do senhor.
Entrevistador: Então, deixa eu dar uma aceleradinha aqui. Quantos funcionários ativos?
Martorelli: Hoje nós temos cerca de dois mil, posso dar aproximado? 2150.
Martorelli: Inativo eu não sei dizer agora não. Aqui já teve um PDV...
Martorelli: Hoje o volume nosso é esse. Sendo que a Novacap hoje se ela fosse atingir 100%
do que ela precisa, da demanda que ela tem, 100%, que é lógico que não tem como, chegaria a
quase 50% a mais que isso.
8
Entrevistador: Ok.
Entrevistador: Ok. Deixa eu fazer umas perguntas aqui, acho que de resposta rápida, há
previsão da retomada da obra do Memorial da Construção de Brasília Novacap?
Martorelli: Infelizmente não temos previsão ainda. É uma coisa que nós temos agora, toda a
nossa dedicação, nossa parte, está na realização da Copa das Confederações e da Copa do
Mundo.
Entrevistador: Pois é, o acelera DF, foi lançado em março último, não prevê a retomada da
obra? Dentre tantas obras, um bilhão e novecentos milhões... O museu não está contemplado?
Martorelli: Não, o museu é uma coisa interna da Novacap. É uma coisa pela Novacap que
nós estamos desenvolvendo, não está na programação, não vou mentir para você.
Martorelli: Existe já uma ideia, é lógico que a Diretoria de Obras Especiais tocou nesse
assunto comigo, nós pretendemos agora com o alivio, com a entrega do estádio, nós vamos
dar uma aliviada e vamos começar a retomar essas coisas, mas eu não sei te fazer uma
previsão disso.
Martorelli: Oscar, funcionário da Novacap, e Israel Pinheiro, não podemos deixar de...
Primeiro presidente da Novacap, enfim, aqueles personagens que de uma maneira ou de outra
não tem seu nome nacional, mas tiveram grandes participações em Brasília. Por exemplo, o
paisagista Burle Marx, nós temos senhor Ozanan funcionário da empresa durante muitos anos.
Foi gerente, foi chefe do Departamento de Parques e Jardins, que grandes contribuições
deram.
Martorelli: Olha, eu acho que o fato dessas obras grandiosas, principalmente a... Passada a
construção de Brasília que realmente é o mais importante, todo o complexo do Distrito
Federal, e cito essas obras mesmo, como a Ponte JK, o estádio nacional vai fica para história,
o museu, como a biblioteca, a torre digital. Todas essas obras elas vão ficar marcadas. De um
jeito ou de outro, todas essas obras que estão compondo o complexo de Brasília idealizado
por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, eles vão fazer parte da história, não só de Brasília, mas da
Novacap, porque todas elas a Novacap teve participação direta, e todas as que vierem a surgir
complementar também vão ter a participação da Novacap.
Entrevistador: Ok. A Novacap está utilizando ou pretende utilizar o prédio do Memorial para
outra finalidade?
Martorelli: Bom, a princípio não. Você está falando desse prédio que chegou a se fazer? A
ideia ainda é usar exatamente para a finalidade de museu em si. Essa é nossa ideia.
Entrevistador: Enquanto ele não for concluído ele não vai ser utilizado para outros fins?
Martorelli: Não, a princípio não. E porque existe uma série de coisas que envolvem esse
terreno que a Novacap está. É um terreno que ele sofreu, está sofrendo ou sofreu algumas
alterações no, como é que chama?
Martorelli: Destinação.
Martorelli: Mas é monstruoso e o que acontece? Se você observar aqui do lado direito já está
surgindo prédios residenciais atrás, do lado do shopping e tudo, então essa parte mobiliária, a
pressão é grande. Mas a Novacap tem rotas de “fuga” muito importantes. São os próprios
viveiros. Viveiro dois, por exemplo, você vai conhecer, é um lugar maravilhoso, fica ali atrás
do noroeste, do SAN, o lugar é maravilhoso. Mas isso tudo que eu estou falando são
especulações. A Novacap fica aqui e a história dela fica aqui. Entendeu? Então quer dizer, nós
temos essa parte toda que vai ser definida, eu acredito que tem muitas coisas da Novacap que
vão ser definidas nos próximos dois anos, entendeu? Do posicionamento dela. Mas o museu é
uma coisa que os próprios funcionários da casa, hoje nós temos, para você vê, a Novacap é
uma das poucas empresas que nós temos um, dois, três, quatro diretores que são funcionários
da casa. Nós somos 5 diretorias e a presidência, quatro são diretores da casa.
Martorelli: São apaixonadas e querem. A nossa própria diretora de obras especiais, está
cuidando do estádio, ela é uma grande defensora, porque ela quer levar, principalmente deixar
isso registrado, porque toda a parte do estádio ela começou aqui dentro da Novacap. E é um
marco. Apesar das diversas críticas que existem, nós estamos achando que será um grande
marco, uma nova etapa para Brasília, porque vai criar realmente, no nosso entender, uma
reviravolta na economia e na visão do mundo em relação a Brasília. Acho que se você for nos
Estados Unidos, por exemplo, não tem um americano que não tem qualquer, que acha que
não, qualquer oportunidade que ele tenha de conhecer Washington, a capital do país. Aqui no
Brasil tem muita gente que não conhece Brasília. Mas você fala, “pô, mas...”, mas não, eu não
estou falando de classe D não, classe B, C que não conhece, até A. Tem muita gente de São
Paulo e do Rio que nunca veio à Brasília. Você vai ao Sul, também nunca veio à Brasília.
Tem condições? Tem. Mas o que acontece? Faltam criar Brasília uma cultura e atrativo da
Brasília como capital do país e como capital que todos os brasileiros devem conhecer. E essa
é uma das metas desse governo e que com certeza a Novacap estará contribuindo.
Martorelli: Na nossa visão nós queremos contemplar tudo aquilo que envolve de grandes,
grandes não, de obras importantes e de grande impacto dentro do Distrito Federal como um
todo, perfeito? Essa é a ideia.
[...]
1
APÊNDICE D
Degravação de Entrevista
Entrevistador: Bom, hoje é dia 23 de abril de 2013. Eu, Edvan Aquino de Queiroz, estou
aqui na ASCAP, Associação de Servidores da Novacap, e vou conversar com o seu
presidente, Gilson Marques de Souza. Gilson, você poderia se apresentar?
Souza: Bom dia, Edvan, meu nome é Gilson Souza, sou presidente da Associação ASCAP,
também sou dirigente sindical, secretário de imprensa do Sindicato dos Servidores Públicos
do GDF. Sou servidor da Novacap há 15 anos. Estamos aí, para o que precisar.
Entrevistador: Como eu lhe disse, o meu trabalho é um estudo de caso que é o Memorial da
Construção de Brasília, museu da Novacap, que está inacabado. Eu gostaria de saber se
ASCAP, representando os trabalhadores da Novacap, participou de alguma forma da
elaboração do projeto do memorial.
Souza: Participar diretamente da elaboração, não. Mas sempre foi uma reivindicação nossa,
da Associação, que tivesse um museu aqui dentro da Novacap para colocar as peças antigas,
igual você falou no início. Não sei se tu reparou, na entrada da Novacap, tem um trator lá que
é de 30, 40 anos, colocar fotos de funcionários antigos aqui também, dos presidentes que
passaram. A gente sempre teve essa reivindicação de montar um museu para contar a história,
porque a empresa fundadora de todas as empresas públicas do GDF, todas as empresas do
GDF, polícia, bombeiro, tudo saiu de dentro da Novacap. Ela foi a primeira empresa pública
em Brasília.
Entrevistador: Certo. Mas da proposta que foi elaborada para esse Memorial, vocês não
participaram?
Souza: Temos sim interesse que seja construído, para mostrar a história da Novacap, porque a
história de Brasília envolve a Novacap. Para estudante, para jovens, para filho dos pioneiros é
importante mostrar essa história que inicia Brasília, é importante sim para o próprio Distrito
Federal.
2
Souza: Na história de Brasília quem merece destaque é Juscelino, porque ele trouxe a
Novacap era no Rio de Janeiro, ele teve audácia e trouxe a Novacap à Brasília. Agora merecia
um espaço também dentro do memorial, eu coloco o próprio sindicato, por quê? Porque
travamos várias lutas aqui, questões salariais, para concurso, último concurso que teve aqui
96. Questão do massacre...
Entrevistador: 96?
Souza: Último concurso da Novacap foi 96. Travamos lutas aqui, houve um massacre na
Novacap, que eu acho também que tinha que está também nesse Memorial da Novacap e eu
tenho certeza de que eles não vão colocar.
Souza: Fizemos uma greve em 99, uma das maiores greves, mais importantes que teve aqui
na Novacap. O governo do Distrito Federal na época chamou a polícia. Veio o BOPE, deixou
73 feridos, baleado, dois cegos e um morto aqui. Lá na frente da Novacap, na saída tu vai ver,
tem uma pedra lá, tem as fotos do pessoal. Mas na entrada da Novacap nós colocamos lá, ela
virou a Praça José Ferreira da Silva, que foi um companheiro que faleceu em frente, foi
baleado.
Souza: Merece e a gente tem certeza que não vai ser colocado no museu.
Entrevistador: Vocês acreditam que a Novacap não mencionará isso na sua narrativa?
Souza: Não mencionará. Olha, tem esse livro aqui, vou te passar, não sei se tu tem esse
livro...
Souza: Tu ganhou.
Souza: Então é seu. Aqui, esse livro aqui, um dos ex-dirigente sindical, um dos fundadores
aqui da Associação, o Zé, da Associação e do sindicato, ele participou, ele também é
historiador, ele participou da elaboração. Ele tentou colocar várias histórias do movimento
sindical, da própria fundação da Associação, da época da ditadura, mas não aceitaram colocar
nesse livro, por isso que a gente acha...
Entrevistador: Mas esse livro menciona, mesmo que de forma sucinta, o acontecimento aqui,
durante a greve em 99. Você acredita que essa menção só existe em função da participação do
colega de vocês no livro?
3
Entrevistador: Você acredita que se o colega de vocês não estivesse participado, isso não
teria sido mencionado?
Souza: Não teria. Porque teve outros fatos de história de conquista que não colocaram aqui.
Não citaram nome de dirigentes sindicais, que teve grande importância, dentro do processo
aqui da Novacap. Igual eu te falei, concurso público, compra de equipamentos, plano de
saúde, conquista aqui para os próprios servidores, não está citado aqui dentro desse livro. E
ele só está citado porque ele também fez parte, porque também não estaria. É o José Alberto.
Souza: Conhecia. Inclusive, um dos que ficaram cegos, dois ficaram cego, um deles era
justamente diretor do sindicato, que ficou cego de um olho.
Entrevistador: Foram...
Souza: Reabilitado. E o que faleceu a gente também conhecia ele, José Ferreira.
Souza: Do último, e o que faleceu também era do último concurso. O que faleceu era do
último concurso.
Entrevistador: Gilson, o prédio do Memorial, está sendo utilizado para outra finalidade?
Souza: O prédio, o que é interessante que a estrutura... Não sei se tu tirou foto lá da estrutura.
Souza: A estrutura lá foi feita pelas próprias mãos dos próprios trabalhadores da Novacap. A
Novacap hoje tem estrutura para fazer um prédio daquele, tem estrutura daquela base toda no
concreto armado, foi a Novacap que fez, iniciou os trabalhadores da Novacap, não foi
terceirizado, não foi nada. Fizeram todo o esqueleto e abandonaram. Hoje lá virou um ponto
de drogas, o pessoal chama como Castelo de Grayskull, que é um ponto de droga, fumador de
crack.
Entrevistador: Sério?
Souza: Ponto de droga e aí o próprio clube agora, eles estão fazendo, que foi essa semana
agora, eles estão querendo montar, você vai tirar foto lá, você vai ver um paint ball. Está
usando como um paint ball, vai começar a usar como paint ball. Que não é a finalidade que
os trabalhadores da Novacap queriam. Queriam um museu para trazer os filhos, igual eu falei,
os próprios filhos dos pioneiros. Eu sou filho de Brasília, eu tenho 36, moro aqui em Brasília
os 36 anos, meu pai veio para cá também novo. Todo mundo quer ver a história de Brasília e
aqui tem um arquivo público, mas muito... Não é um museu. O arquivo público não é um
museu. Tem foto... Interessante até para o crescimento dos nossos filhos.
Entrevistador: Ok. E caso o museu seja finalizado, com a proposta da empresa, com a
narrativa da empresa, porque como você falou vocês não participaram da elaboração do
projeto expositivo, você tem ideia de fazer reivindicação para que a pauta de vocês seja
inserida na narrativa do museu?
Souza: Tem sim. Igual nossa a nossa data-base de acordo coletivo inicia agora em agosto, a
gente pode trabalhar na forma que os próprios trabalhadores, eles procuram, querem. Aí,
assim, a dúvida nossa aqui, do próprio sindicado, da própria Associação, porque eles estão
construindo prédios, igual aqui no SOF, nessa área os grandes empresários na área
imobiliária, eles estão querendo construir aqui na Novacap condomínios de luxo.
Souza: Dentro. Que é mudar a destinação de área pelo próprio PDOT, tentaram mudar, nós
batemos em cima para não mudar, mas está parado por enquanto. Tu pode ver que ali no SOF,
atrás do Carrefour já começou a construir uns prédios.
Souza: São. Estão querendo mudar a destinação de área do Setor de Oficina, mudar a
destinação aqui da Novacap para urbanização. Aí eles vendem aos grandes empresários, aí ...
já é meu entendimento: por isso que não há tão interesse para o governo construir um museu
ali, porque a Novacap sai, o clube sai, vai ficar só um museu no meio dos condomínio de
luxo? Meu entendimento é esse. Por isso que não há interesse, da empresa, não é nem do
governo, é da empresa. Se a empresa, a direção da Novacap tivessem mesmo interesse e [...],
ela construía. Que mão de obra tem, que é nossa. Material tem, é a Novacap.
Entrevistador: História...
Entrevistador: E essa questão que você falou dessa mudança de destinação de área, isso é
lei?
GM: Eles tentaram passar pelo PDOT, na época do governo Arruda, aí nós mobilizamos e
conseguimos tirar, só que ainda tem esse processo.
Souza: Do legislativo. Mas esses são os grandes empresários. Na época o próprio Paulo
Octávio era o vice, tinha interesse.
Entrevistador: Essa área é grande, você sabe qual o tamanho dessa área?
Souza: Essa área é enorme. A ideia que já teve aqui é de vender essa área, que também era
interessante tu também ver também dois viveiros. Que é o viveiro lá ao lado da Água Mineral
e outro viveiro no Núcleo Bandeirante. Aí é tirar o pessoal daqui, passa lá para o centro
empresarial que estão construindo lá em Taguatinga, centro empresarial... Centro
administrativo. E colocar a sede administrativa lá e o operacional dos dois viveiros e vender
essa área.
Souza: Tu vê, lá onde ficam os índios, ali no Noroeste, estão construindo. Se tu tiver um
tempo, tu passa aqui no Carrefour, aqui no próprio SOF, que é Setor de Oficina já está tendo
prédios, já estão vendendo e construindo prédios. Prédio de um milhão, dois milhões. O
interesse é vir para cá, porque aqui cabe o condomínio de luxo.
Entrevistador: Gilson, da minha parte estou absolutamente contemplado, você teria mais
alguma coisa que você gostaria de falar a respeito da ASCAP, a respeito do museu?
Souza: Sua monografia na faculdade, na UnB o máximo que der para tu divulgar que os
trabalhadores da Novacap, direção da associação, do próprio sindicado, a gente tem interesse
de ter esse museu da Novacap, para contar a história, história de Brasília, história da primeira
empresa pública do GDF. Aí assim, quanto mais divulgar melhor, tem interesse sim que seja
divulgado e no que precisar estamos às ordens aí.
Entrevistador: Ok. Gilson só tenho a agradecer, muito obrigado pela oportunidade, obrigado
pela receptividade, obrigado pelo livro que eu vou sortear entre os alunos da museologia e não
tenham dúvidas de que vocês estão sendo fundamentais para realização do meu trabalho.
Muito obrigado.
1
APÊNDICE E
Degravação de Entrevista
Entrevistador: Bem, hoje é dia 20 de maio de 2013, estou aqui na casa da Luíza Helena,
servidora aposentada da Novacap. Brasília, Asa Sul. E a gente vai conversar sobre a questão
da Novacap referente ao meu trabalho de conclusão de curso. Luíza, você falou para eu
chamar de Luíza...
Cruz: Bom, eu sou como você falou, sou aposentada da Novacap, já estou aposentada há
quatro anos. E durante as minhas atividades eu exerci a função lá na Novacap, o cargo, aliás,
de relações públicas, porque eu sou formada em comunicação. Cheguei a chefiar a assessoria
de comunicação social da Novacap por duas vezes e durante 36 anos de trabalho eu passei 34
dentro da assessoria de comunicação. E as minhas atividades foram sempre, desde o início,
divulgar essa empresa, construtora pioneira de Brasília, tão, assim, esquecida e tão valiosa
para a história do Distrito Federal
Entrevistador: Eu gostaria que a senhora contextualizasse a comissão que foi instituída para
elaborar o livro Memorial da empresa e que daí, ou antes disso, não sei, a senhora que vai
dizer, surgiu a ideia de se construir o Memorial da Construção de Brasília Novacap. A
senhora poderia contextualizar essa ideia? De onde ela surgiu, como ela se formou e até onde
ela foi.
2
Cruz: Bom, é o seguinte, na realidade a comissão não foi formada para um objetivo só. Nós
criamos, foi criada uma comissão, uma instrução assinada pelo presidente da Novacap na
época, em 2005, criando esta comissão que foram funcionários de várias... Das cinco
diretorias, incluindo a presidência. A presidência e quatro diretorias. Então nós tínhamos
representantes das cinco diretorias da empresa e a nossa primeira reunião com essa grande
comissão, tá? Nós fomos conversar, ouvir, o que cada membro dessa comissão gostaria de
comemorar os 50 anos da Novacap. Porque ela foi montada um ano e meio antes da Novacap
completar 50 anos, que foi 2006, e nós ali tiramos várias ideias dessa comissão. E dividimos,
nós dividimos por área, e fosse tornado subgrupos dentro dessa própria comissão. E de lá nós
extraímos quatro... Aliás, inúmeras sugestões, tá? Mas das sugestões que, vamos dizer, que
nós conseguimos aprovar para executar foram quatro. Primeiro a redação de um livro
contando a história e trajetória da Novacap, Novacap 50 anos, tá? Novacap com essa idade
ainda não tinha nenhuma filosofia sobre a história dela, então nós montamos. O outro foi a
reimpressão da revista Brasília. O livro nós conseguimos concluir, tá? Nós lançamos o livro,
temos esse livro aqui. E a reimpressão da Revista Brasília foi o segundo evento programado.
Não sei se você conhece a revista Brasília
Cruz: Foi uma revista da Novacap lançada em 58, primeiro... 57 o primeiro número dela e ela
foi até meados de 60. Onde ela fazia um relato até pela própria criação da Novacap, sua lei de
criação, exigia...
Cruz: Que determinava essa publicidade. E a outra, o terceiro, era a criação do memorial.
Que a gente também não chamou de museu, que não seria mais, até porque nós não tínhamos
mais as peças que a gente gostaria de ter para levar o nome de museu. Porque quando você
fala em museu, você se lembra da primeira cadeira, do primeiro trator, no caso seria da
Novacap, primeiro equipamento de cortar grama, enfim... Então seriam essas peças que
chama museu, então a gente preferiu titular de memória, que nós iríamos montar esse espaço
contando também a história da empresa.
Entrevistador: Só um aparte, onde está isso que a senhora acabou de citar? Esse primeiro...
Cruz: Então, exatamente que não tinha mais. A gente não encontrou porque não houve esse
cuidado por parte dos primeiros dirigentes de ir reservando, separando, acomodando em
algum lugar para que no futuro a gente pudesse ter.
Cruz: Exatamente, o que eu ia falar, por isso que a gente não intitulou museu, a gente titulou
memória, porque a gente se sentia na obrigação... Museu, não tinha uma peça de museu lá,
nada, nada, nada. Quer dizer, nada também maneira de falar, mas a gente encontrou alguma
coisa. E o quarto item dessa grande comissão de obras, foi um levantamento de todas as obras
construídas da Novacap, desde 1956 na sua criação até 2005, ou 2006 mesmo, seus 50 anos.
Bom, desses quatro que eu citei para você apenas o que concretizou mesmo foi a redação do
livro. A reimpressão da revista Brasília nós andamos bastante, fomos quase perto dessa
reimpressão, faltou muito pouco. A gente teve que pedir recursos pela Lei Rouanet, tá?
Chegamos a pedir, tivemos aquela autorização que a própria lei da para gente. O número,
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título e tudo. E aí nós não chegamos ao final de captar o valor. O valor total nós não
conseguimos. O terceiro, a criação do memorial, que é o que você está tendo mais interesse
nesse momento de informação, ficou da seguinte maneira: A gente comentou na época que
todo memorial, todo museu, quando se vai montar, vai criar, você faz aquele projeto. O que se
vai fazer, quais são as informações que nós vamos levar. Mas nós tivemos na Novacap nessa
época o presidente, que era um pioneiro, um diretor também pioneiro, ex-professor de
edificações da UnB, que ele tomou essa, vamos dizer, esse assunto como se fosse um filho,
uma coisa que estava nascendo dele. Então, hoje a gente lamenta essa situação, porque o
difícil hoje em dia é achar espaço para se colocar a memória, para se montar a memória. E
naquela época não, a própria Novacap já foi fazendo um projeto, chamamos alguns arquitetos,
convidamos, aqueles que se apresentaram mostraram seus projetos, foi escolhido um e esse
projeto foi executado pelos próprios funcionários da Novacap, pelo próprio custeio da
Novacap. Então a Novacap não precisou terceirizar, como faz com a maioria das obras.
Entrevistador: E os projetos...
Cruz: Nós escolhemos um espaço dentro da área da Novacap, que é a área de lazer dos
funcionários, que fica ao lado da área administrativa da empresa, nós escolhemos esse local, o
projeto ficou belíssimo e então foi montado toda a infraestrutura desse projeto, foi levantada
essas paredes. Quando nós estávamos...
Cruz: Isso foi em 2006... É 2006. Começou daí. Teve o lançamento da pedra fundamental.
Cruz: Isso. Exatamente, exatamente. Então o que eu tenho para te dizer, exatamente isso,
você já está, já tem essa informação. Então a comissão como eu te falei... Eu gostaria de abrir
um parênteses, quando nós extraímos esses quatro eventos que seriam marcantes para os 50
anos da Novacap, aquela grande comissão, que foi, vamos dizer assim, a comissão de ideias,
ela se dissolveu. Então de dentro dessa comissão grande foi que nós montamos uma pequena
comissão, para escrever os livros.
Cruz: É, uma comissão executiva, formada por funcionários da Novacap, lógico. Com
formação acadêmica em história, em sociologia, relações públicas, biblioteconomia e um
engenheiro pioneiro historiador, tá? Então foram essas pessoas que escreveu, vamos dizer
assim, o livro. Que fez todo o levantamento. Então, nós partimos para correr atrás das
informações, entrevistar, entrevistamos pioneiro, visitamos todos os órgãos do Distrito
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Federal. Muitos deles saídos da Novacap, vieram ser departamentos CEB, CAESB, a própria
Telebrasília, que hoje é a Oi. Então nós fomos também correr atrás, porque a Novacap
terminou a história dela sendo dissolvida, criando ramificações, então nós tivemos que visitar
essas dela. Então esse grupo ficou exclusivamente para fazer a história e não sei se seria o
mesmo grupo, mas acredito que sim, ou talvez a gente convidasse outras pessoas, para gente
fazer o projeto do memorial. Mas a ideia do Memorial também foi para o papel. Como eu
falei para você, todos eles foram. O único que nós conseguimos executar foi exatamente o
livro. Então, como nós estávamos falando, ganhou o projeto do arquiteto Luiz Henrique.
Cruz: É, a gente divulgou, houve uma divulgação nos murais da empresa convidando os
arquitetos que quisessem participar de um concurso para...
Entrevistador: Quantos...
Cruz: Olha, foram apenas 3 que participaram. Então, o Luiz Henrique que era inclusive
diretor de edificações da Novacap dessa época. Então, nós nos reunimos com o Luiz
Henrique. Era exatamente para sedimentar a ideia quanto à disposição do espaço. Então, nós
sentamos com ele várias vezes, eu à frente. Tenho um colega também que lutou muito comigo
durante esse período que eu trabalhei na Novacap na área de comunicação, eu tive um grande
companheiro, que era o Antonio Carlos Machado, o Toninho. Então, nós dois éramos
formados em comunicação, então nós dois tínhamos, juntamente, nós dois tínhamos ideias
muito boas para esse memorial. Então nós sentamos com o Luiz Henrique e passamos para ele
o que nós queríamos mostrar. A pedra fundamental, como você falou, da construção do
memorial, ela foi lançada em 16 de julho de 2006. Pela então governadora Maria Abadia. Na
presença de pioneiros e empregados da Novacap. Foi sugerida pela coordenação da comissão
a construção de um grupo gestor para idealizar e criar o memorial. Então a diretoria colegiada
da Novacap autorizou a construção da primeira etapa do prédio, que foi a fundação e a
estrutura.
Entrevistador: Deixa eu ver se eu captei alguma coisa aqui. Quando houve o lançamento da
pedra, acho que eu fui displicente aqui, quando houve o lançamento da pedra fundamental
pela governadora, o projeto arquitetônico já estava pronto?
Cruz: Não. Quando houve... Não, ainda não. Foi lançado a pedra fundamental, que foi o
local, aonde nós... “Aonde nós vamos fazer”. Pronto. Então foi o primeiro trabalho, vai ser ali.
Qual o tamanho desse terreno, pá, pá, pá, daí que partiu. Já se sabia que era o Luiz Henrique,
ele já tava... Nós apresentamos, já foi apresentado a ele. Então o que aconteceu? A diretoria
colegiada da Novacap autorizou a construção da primeira etapa, como eu te falei, a fundação e
a estrutura, localizada dentro do CENACAP, que é o nosso clube de lazer. O custeio, como eu
falei, o material em si foi doação, tá? Foi doado pela iniciativa privada. E erguida a execução
pelos próprios empregados da Novacap, empregados esses, dessa diretoria que nós temos lá,
chamada diretoria de edificações. Então, agora, devido à mudança de governo, o que
aconteceu? Quando foi em 2009, 2008 teve eleição, não é isso? Já no final de 2006 com essa
mudança de governo, que já tinha sido eleito novo governo, foi informada à Novacap, chegou
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essa informação informalmente, teve um comunicado de que o desejo do governo era mudar a
destinação do espaço da Novacap. Espaço físico da Novacap para Taguatinga. Dá para você
parar?
Entrevistador: Dá. Eu acho que quando eu falei para senhora que em 2006 a vice-
governadora tinha assumido o governo porque o governador tinha concorrido, eu me
equivoquei... Não, não. Está certo, porque a eleição foi em...
Cruz: 2008.
Entrevistador: 2006 foi a eleição. Sete, oito, nove e dez. O mandato seria de 2007 a 2010.
Está gravando. Tem problema não.
Entrevistador: Dez entrou o governador que vai sair em 2014. Então a eleição foi em 2006.
Cruz: É.
Cruz: Sim, mas nós temos o nosso controle aqui, que foi em 2009 que informalmente chegou
essa informação para nós. Que comunicou o desejo do governador de mudar a destinação do
espaço físico da Novacap. Com isso paralisou, a obra que já estava bem adiantada do
memorial paralisou. Até concretizar esse assunto. Aí o que aconteceu? Aconteceu que em
2008, em novembro de dois mil, aliás, em 2008, em abril de 2008 ainda em construção o
memorial nós tivemos uma saída, vamos dizer assim, uma demissão, aquela demissão que
você chama o funcionário e pede para ele sair... Demissão voluntária. Nós tivemos uma
demissão voluntária proposta pelo próprio governo do qual saiu mais de 300 profissionais da
Novacap. Foi um PDV. Saíram mais de 300 funcionários, entre engenheiros, arquitetos,
advogados, pessoal de nível superior antigo com mais de 30 anos de casa, outros com 40
anos. Então, nesse momento, com a saída eu também entrei nesse grupo e me afastei da
Novacap em função disso. Mas quando eu já saí de lá nós já estávamos com essa obra
paralisada em função de uma defi... Faltava uma definição oficial por parte do governo. E aí
não foi para frente. Mais tarde, um ano ou dois anos, que eu não estou lembrada, assumiu o
novo presidente da Novacap e ele teve interesse de qualquer maneira, ele provocou um
contato com o secretário de cultura na época, para ver se a gente conseguia levar essa ideia do
memorial para frente. Até pelo menos ir vendo um outro local, já que o governo estava tão
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mesmo decidido a mudar e aí pronto, não acompanhei mais, não estive mais lá, eu estou com
mais de ano que não piso lá.
Cruz: É, já tava paralisada. E aí eu saí oficialmente mesmo, eu assinei toda a minha papelada,
continuei trabalhando inclusive durante quatro meses voluntária mesmo, concluindo, fazendo
relatórios, que eu não quis deixar a coordenação sem antes apresentar um relatório, então eu
ainda trabalhei uns três, quatro meses depois como voluntária. E de lá para cá eu só tive um
contato, dois anos depois, que foi com a gestão que acendeu neles a ideia de continuar, de
voltar a se falar de memorial. Então é como eu falei para você, nós chegamos a reunir, a
conversar, o que nós vamos colocar nesse memorial, nós já tínhamos tudo isso na cabeça. O
projeto mesmo, todo, não chegou a ser a ir para o papel.
Cruz: Não está registrado. Mas, por exemplo, se a gente sentar e for colocar, a minha
memória está muito viva.
Cruz: Olha, eu até botei aqui uma nota quando eu fiz o relatório, eu coloquei assim: “Fica
portanto registrado a importância e a necessidade do Memorial da Novacap da história de
Brasília. Visto que a atual geração já carece dessa história impar do nosso país. Não só o
Memorial, mas os outros projetos aqui citados, se fundem na convicção de uma identidade
histórica, esculpida entre Brasília e a Novacap, empresa que se encobriu de dar concretitude
ao arrojo ou arrojado projeto urbanístico da cidade”. Então a gente... Você... Hoje você fala,
ninguém sabe o que é a Novacap, ninguém sabe o valor dela, ninguém sabe o por quem que
ela foi criada, foi por Juscelino, para que, qual é a finalidade, por que ela ainda existe até hoje.
Então, tem pioneiros e pioneiras com seus 80, 90 anos ainda vivos, a gente, a nossa
preocupação era essa, correr atrás deles, para conversarmos. Agora, nós temos aí o arquivo
público do Distrito Federal que a Novacap, por meio de decreto na década de 80, ela passou
toda a documentação dela oficial para o arquivo público. Porque a criação do arquivo público
é para contar a história do Distrito Federal, nela está inclusa a da Novacap. Então todo aquele
material que hoje, ou que seria, se o memorial tivesse construído, a gente teria aonde montar
aquele material todo, mas só em termos de documentação. Em termos de peças, como eu falei
para você, o primeiro trator, nada disso se teve o cuidado. Ia ficando velho, ia se vendendo, as
mesas... O escritório, nós conseguimos montar um escritório que caracterizava o início de
Brasília, o início, ou o escritório que caracterizava a década de 50 da Novacap na hora que a
gente foi fazer um, vamos dizer assim, fomos leiloar, foi um leilão de peças antigas que nós
recebemos uma visita do Museu da Memória Viva Candanga, não sei se você conhece?
Cruz: Museu Vivo da Memória Candanga sabendo disso, quer dizer, o museu trabalha para
aquilo, o arquivo público também, para história, então eles têm a sensibilidade da história. E
acompanhava, exatamente por decreto do governador, eles acompanhavam muito a história da
Novacap, tanto o museu quanto o próprio arquivo público acompanha a história da empresa
até hoje. Porque ela está aí, viva, ela não morreu. A empresa continua. Então nós
conseguimos montar, nós que eu falo, porque eu fiz parte desse projeto, fui eu que recebi...
Cruz: Ah... Não lembro. Foi eu quem recebi a equipe do Museu Vivo da Memória Candanga,
que é instalado lá no Núcleo Bandeirante. E fomos, pegamos a lista do material que já estava,
fizemos uma, marquei uma entrevista com o presidente, com a diretoria, sensibilizamos disso,
dessa história. Então nós temos, se você for lá você vai encontrar o escritório que era aquelas
mesas, eram mesas, cadeiras, estantes, todas de ferro. Tem um nomezinho que se chamava,
que eu não estou lembrando. Então, nós temos. Isso era para gente ter guardado também para
nossa memória, não foi guardado. Eu sei que, quando eu entrei na Novacap, que foi em 74, já
existia o arquivo histórico da empresa, nós temos uma seção, que hoje já não leva esse nome
mais, seção de documentação que ela foi criada como arquivo histórico da empresa. Então,
quando eu cheguei lá nós tínhamos um funcionário, que ele tava lutando, lutando mesmo para
montar já um arquivo. Não era nem museu, nem memorial, ele queria um arquivo com tudo
sobre o assunto da história da empresa. Então nós tivemos pessoas sensíveis a esse tipo de
projeto, mas infelizmente, eu lamento bastante, e é com muita emoção que eu falo sobre isso.
Porque eu gostaria muito, muito, de ter contribuído, de ter chegado à execução desse trabalho,
mas ficou uma semente, semente essa que, para mim, eu estou muito feliz com a sua presença.
Não sei até que ponto posso lhe ajudar, não sei. Mas estou aberta para ajudar no que for
preciso.
Entrevistador: A senhora já está me ajudando. Que fatos a senhora acredita que não podem
ficar fora da exposição do memorial? Não podem ficar fora do memorial.
Cruz: Olha, a própria construção da cidade, gente. Todos, a grande maioria dos prédios
públicos, de alguns conjuntos residenciais, a Novacap que construiu. A própria cidade. Não
tem como. Os pioneiros que hoje, daqui a pouco, não vamos tê-los mais conosco. Esses, não
podemos deixar de fora isso. Esse verde que hoje ela ainda cuida muito bem, o verde da
Novacap, esse plantio de árvores, de flores, não pode ser esquecido da história da cidade que é
a Novacap que executa. É um trabalho maravilhoso feito na Novacap. Nós temos dois
viveiros. Nós, você vê que eu ainda falo nós. Mas a Novacap tem dois viveiros, um de plantas
ornamentais e outro de árvores. Então é um outro trabalho que a gente não pode deixar de
fora. E aí eu teria que realmente... Você me pegou de surpresa, eu não me preparei aí para
receber você, mas a própria construção, a edificação e a parte viária, as vias públicas. As vias
públicas, a parte de infraestrutura, de galeria de águas pluviais, que ainda hoje a Novacap
executa, o que ela executou também a parte de eletricidade, que hoje é comandada pela
CAESB que é um departamento.
Entrevistador: A CEB?
Cruz: DAE. E tem a Terracap que também era uma divisão. E que também não podia nunca,
essa não podia nunca ter saído da Novacap.
Cruz: Segurança pública. Tudo iniciou lá. Porque ela foi o próprio governo do Distrito
Federal durante a construção, durante o período da construção. De 56, da chegada dela aqui
em setembro de 56, até a inauguração, ela foi o próprio governo do Distrito Federal, não
podemos deixar de falar isso.
Entrevistador: A senhora falou dos fatos. E vou fazer a mesma pergunta agora por
personagens. Que personagens dessa história que são imprescindíveis, digamos assim, nessa
narrativa?
Cruz: Ah, eu acho que a primeira diretoria da empresa. Porque realmente foram homens que
deixaram suas famílias, deixaram seus ideais, inclusive o próprio presidente da Novacap que
era um deputado federal, deixou sua terra natal para vir para cá. Eu acho que essa equipe,
esses primeiros diretores, esses primeiros, vamos dizer assim, funcionários, trabalhadores,
empregados, o que for, que era chamado na época são imprescindíveis, não pode... Agora, são
inúmeros, termina-se fazendo injustiça. Porque se fala muito de alguns. É igual quando se fala
de Brasília, “ah, o pessoal só fala no arquiteto Niemeyer” e quando o Lúcio Costa morreu que
foi, na realidade, ver a importância do Lúcio Costa. Porque o traçado urbanístico é dele. O
Niemeyer com os prédios. E o que projetou Brasília lá fora não foi só os prédios do Niemeyer,
foi o traçado urbanístico diferente, porque não existe uma cidade diferente, tá? Então eu acho
assim que teria que ter realmente uma memória para gente fazer justiça a muitos que ficaram
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sem ser citados por aí. Agora hoje, hoje, vamos dizer assim, de uns 20 anos para cá, a gente já
tem uma história montada um pouquinho ali, um pouquinho acolá entendeu? Olha, a própria
CEB mesmo, a CEB, não sei, isso em 2006 quando nós começamos a mexer com a história da
Novacap, lá dentro do espaço da CEB que era ali na 500, na 704, eu acho que não tem mais
nada dela lá. Enfim, lá tinha sala que eles chamavam de memória. Então, lá estava a cadeira
do primeiro presidente da Novacap estava lá. Entendeu? Então tinham peças que foram da
Novacap, mas como era um departamento que foi para lá, levou. E estava lá incluída, a
cadeira dele lá montada, e outras pequenas peças assim. A CAESB também tem alguma coisa
que foi da Novacap, foi levado para lá. A gente poderia, como eu dizia muito isso lá para os
diretores, que a gente tinha que conversar, sentar, chamar os dirigentes e envolvê-los na ideia
única, na memória da empresa da qual foi...
Cruz: Ah, sim. Lógico. Perfeitamente. Eu tive uma época na Novacap em que eu recebia
estudantes. Que nós da comunicação social, era eu e Toninho, nós dois recebíamos os
estudantes de várias escolas do Distrito Federal, principalmente das satélites, para conhecer a
história da Novacap. Então eles chegavam lá e nós não tínhamos nem material para dar para
esse pessoal. Então, à medida que eles iam conhecendo a história, isso foi muito importante,
para dar valor. Primeiro a própria construção de Brasília. Porque, não sei se você sabe, nós
temos estudantes, muitos estudantes, muitos adultos nascidos aqui nas cidades satélites que
não conhecem o Plano Piloto. Porque a história de Brasília é o Plano Piloto. Então nós temos
adultos que vieram conhecer Brasília quando começaram a trabalhar. Que tiveram que vir
trabalhar aqui no Plano Piloto, não conhecia. Então, eu acho que a memória de uma cidade é
muito importante. Principalmente uma cidade nova que é a nossa. Você vê aí na Europa os
milhões e milhões de anos está lá, a história lá contada. “Ah, porque se fosse no Brasil isso
não existia.” Não existia mesmo, porque ninguém... “Derruba, não tem efeito. Essa construção
para quê? Ah vamos fazer uma moderna, derruba, joga em baixo e faz uma moderna.” Porque
não tem... Eu acho que precisa... nós estamos precisando exatamente disso, de dirigentes
conscientes, sensíveis a essa história. Uma história linda. Porque, olha, eu vou te falar, o que
veio de estrangeiro visitar a construção de Brasília! Isso nós temos, a Novacap tem registrada
na revista Brasília. As pessoas, naquela época, as autoridades da época, as pessoas
importantes do mundo todo visitando. Por quê? Porque estava se fazendo uma cidade
diferente, não existia outra em lugar nenhum. Então isso chama atenção. Então que tem
importância para comunidade, para sociedade, tem muita importância, eu acho.
Cruz: Não, a história e dizer o porquê, qual é a importância por ser uma cidade diferente.
Porque todas as outras cidades são iguais, Brasília não. Ela é traçada por setores, ela tem um
formato diferente. Ela tem formato. As outras cidades não têm, vai sendo construída e tal.
Entrevistador: Em relação aos alunos, o memorial então teria uma função educativa, não é
isso?
Cruz: Totalmente educativa. Nós chegamos a fazer lá na Novacap, quando a Novacap fez 25
anos nós fizemos um filme, tá? A empresa contratou um cinegrafista pioneiro na época,
formou-se uma comissão, montou-se uma comissão, fez todo um roteiro do... Eles chamavam
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filme, hoje é um... Depois passou para VT, hoje é um DVD, hoje é um... Enfim, mas era filme
mesmo, 16 mm, aquele rolo grande assim que tem que ter para, um maquinário próprio para
poder projetar essas imagens. Para você vê a dificuldade que nós tivemos depois de colocar
isso em uma fita cassete, a tecnologia avançou muito. Então, nós temos isso e aos poucos
quando ela completou 25 anos nós fomos montando uma pequena história dentro da própria
empresa. Então a gente já não passava tanta vergonha quando os alunos chegavam. Então nós
temos lá, quando eu saí, deixamos na assessoria quatro tipos de exposição da Novacap. Então,
mostrando a parte da construção da cidade, os edifícios em construção, uma outra mostrando
ela como todo urbanização, edificação junta. A outra somente de flores, a outra de árvores.
Então, nós temos material para mostrar, que não tínhamos, então foi feito esse filme, foi feito
essas exposições e depois aonde colocar? Não tínhamos onde guardar essas exposições,
quadros e mais quadros, importantíssimos, não tínhamos nem local mais para guardar, tá?
Cruz: Pois é. Eu fiquei sabendo que uma delas já foi até distribuída para botar nas salas dos
funcionários. Quer dizer, já não estão mais preservando o trabalho deixado. Mas deixamos lá.
Agora o que está sendo feito não sei. Então, nós chegamos a um momento que nós tivemos
governos que realmente interessados na história, nós participávamos anualmente de
exposições conjuntas, partidas isso do próprio governo do Distrito Federal. Então ia a
Novacap e mostrava a sua história, ia a CAESB e mostrava seu trabalho, ia a CEB e o seu
também. Nós reuníamos as empresas do Distrito Federal e visitamos muitas cidades satélites e
fomos para encontros anuais em um determinado local onde a comunidade visitava. E isso era
importante, a gente sentia nas pessoas a satisfação e na maioria das vezes deparávamos com
muitas pessoas, muitos pioneiros, os, vamos dizer assim, não é nem esquecidos...
Entrevistador: Anôminos?
LH: Os anônimos mesmo, exato. Entendeu? E a felicidade era um retorno maravilhoso para
nós que estávamos ali à frente. Então, durante esse período que eu fiquei à frente da
comunicação desenvolvemos esse trabalho maravilhoso de levar à comunidade essa história
bonita. E fomos também para shopping, fora colégio, shopping e outros locais. Divulgando.
Então é importante, é importante.
Entrevistador: Já que a senhora falou nas cidades satélites que hoje são regiões
administrativas, vou fazer uma pergunta: O nome é Memorial da Construção de
Brasília/Novacap, entram as regiões administrativas nessa?
Cruz: Também.
Cruz: Entram. Entram sim. No nosso livro, você já teve a oportunidade de conhecer?
Cruz: 1971. De lá para cá o próprio GDF assumindo cada vez mais, então ela passou a ser
apenas a executora daquilo ali. Mas antes saía tudo de lá, projeto de criação de cidade, toda
despesa, toda, todo um projeto completo da criação da cidade saía de lá.
Cruz: Exatamente. Entendeu? Então era ela que distribuía lote, a Novacap que fez a
distribuição dos primeiros lotes. Que vendia os terrenos, que fez a distribuição, que naquela
época teve um decreto do presidente república para doação de lotes, tudo ela fazia tudo.
Cruz: Gama, Taguatinga, Ceilândia. Sobradinho. Tudo foi ela mesma que assumiu tudo.
Tudo, tudo. Desde o projeto à criação da cidade.
Entrevistador: Então isso também é história, essas cidades também fazem parte da narrativa
do memorial?
Cruz: Sim.
Cruz: Não. De jeito nenhum. Não se restringe ao Plano Piloto, não se restringe não. Tanto
que as nossas exposições todas foram assim. Lógico que quando a gente iniciou a gente
focava no Plano Piloto porque era o Plano Piloto que foi divulgado. Foi o Plano Piloto que fez
a diferença da cidade para as demais, mas na hora que você começa a contar a história mesmo
dentro das suas áreas, suas determinadas áreas, elas participam de tudo. Você olhando ali,
lógico que nós não temos, se a gente for, ali são... O que está no livro Novacap 50 anos é uma
pequena história, um resumo só para informar que foi a empresa que fez. Lógico que se você
for sentar aí é a história da própria cidade. Aí já se estende mais, vai ser muito mais
abrangente. Foi o primeiro livro dela durante 50 anos. Nunca tinha tido um outro antes disso.
Entrevistador: Como é que foi o trabalho? Foi um trabalho tranquilo, foi um trabalho que em
algum momento houve algum conflito, algum desentendimento? Como é que é isso?
Cruz: Não, o difícil foi o seguinte, nós tivemos apoio da diretoria da Novacap na época, nós
mostrávamos a realidade nossa do dia-a-dia. Primeiro, a gente se encontrava em uma sala que
era a própria sala de reunião dos diretores, então no dia que tinha reunião a gente não podia
fazer, no dia que tinha reunião de conselho também não. Daí a pouco foi crescendo o nosso
trabalho a gente precisava se encontrar praticamente todos os dias, aí tivemos que batalhar,
correr atrás de uma sala. Aí encontramos um prédio que já estava fechado, que foi a creche da
Novacap, então nós tivemos, a Novacap teve creche e pegamos uma parte, três salas da creche
e montamos o nosso grupo. E ali com muita dificuldade foi montada. Nós tivemos que ir no
depósito pegar mesa, pegar cadeira, tivemos que pegar um computador que já estava no chão
para mandar embora, que ia ser trocado por um mais novo, mandamos consertar para nós.
Então foi com muita dificuldade. Eu quero deixar aqui registrado o apoio da UnB, porque a
Novacap contratou a UnB para ser a coordenadora.
Entrevistador: O Hélio.
Cruz: O Hélio é um desse que deu meu telefone para ti. Então o Hélio tava cursando ainda
história. Então a gente até notava neles assim, nós mais velhos, mais experientes, a gente via
que eles não estavam sentindo a importância daquele momento. Na hora que o livro ficou
pronto, que foi lançado, a gente sentiu neles, sabe? Uma coisa totalmente diferente.
Cruz: A ficha caiu. Mas foi muito bom para eles. E batalhamos também para conseguir a
dispensa do trabalho para gente se dedicar exclusivamente a isso. Então o presidente nos
atendeu, dispensou das atividades, então a gente passou nos últimos, mais de um ano, era
integral. No início ele dispensava meio período. Mas aí começou a não dar certo, porque
quando o rapaz dizia: Olha, hoje a tarde eu estou indo lá para sala da comissão. “Ah, não,
você não terminou o trabalho, nós precisamos que você fique, porque tem que entregar o
trabalho hoje.”, aí a gente recebia “Olha, não vou poder ir hoje agora a tarde que eu ainda não
terminei”, o outro “ah, porque meu chefe chamou, mandou fazer um serviço externo”, aí eu
“Não vai dar certo desse jeito”, aí batalhamos a dispensa e conseguimos. Não foi fácil não, de
jeito nenhum, mas conseguimos com muita luta um ramal para que a gente pudesse pelo
menos fazer os contatos externos, depois com muito custo um computador, para que gente
tivesse um e-mail para poder tá comunicando. Foi um batalha, assim, gostosa quando você
tem aquele ideal que quer fazer uma coisa, as dificuldades não atrapalham.
Cruz: Lógico que tínhamos pessoas que estavam interessadíssimas e faziam com amor e
tinham outros que já não tinham muito interesse, mas isso acontece em qualquer grupo que se
forme, comissão.
Cruz: Olha, esse trabalho nosso, do livro, eu tenho que dar uma olhada, aqui eu cito o tempo,
mas... Aqui, deixa eu ver.
Entrevistador: Não é uma informação assim que eu... Que seja fundamental, foi mais
curiosidade mesmo.
Cruz: Olha, como eu te falei, esse aqui é a minha cópia que eu tenho, é a minha. Eu não tenho
mais. Se tiver, está guardado nas minhas coisas da Novacap, mas essa eu guardei no meu livro
13
mesmo. Deixa eu buscar um suco para mim e para você, só um minutinho. Mas a gente pode
marcar, eu tiro uma Xerox.
Cruz: Pode
Entrevistador: Eu trago para senhora ainda hoje, porque eu tenho que sair daqui e passar na
copiadora.
Cruz: Então aqui você vai entender da comissão de um modo geral, como eu te falei. Então
tem todo um relato a respeito desses quatro projetos, tá? Então, dado o memorial, como te
falei, foi isso que eu acabei de falar e eu tenho o processo que você só vai encontrar a parte
mesmo física dele, que o Luiz Henrique já te passou, então não...
Cruz: É, o processo você não vai encontrar nada. Porque a gente só concluiu, quer dizer, nem
concluiu. Só desenvolveu essa parte física do prédio em si. E é isso aí que eu te falei. Novacap
elaborou um projeto arquitetônico do Memorial, o arquiteto Luiz Henrique, é o diretor,
pararará, a comissão reuniu para sedimentar a ideia quanto à disposição do espaço, aí é
lançada a pedra. Foi sugerida a criação do grupo gestor, que aí sim nós íamos trabalhar, aí o
que eu fiz? Participei de dois encontros realizados, um foi um fórum e o outro foi um
seminário, realizado pela secretaria de cultura voltado só para museu. Então eu fiz, participei,
levei junto comigo um dos membros da comissão para fazer também e então o que acontece...
Cruz: Exatamente. Eu digo: deixa eu correr atrás, porque já que eu estou trazendo a ideia.
Lógico que foi quando eu fiquei sabendo que ia ser criada a faculdade, que não tinha,
conversei com o chefe do departamento cultural da época, da secretaria de cultura, do
DEPHA, Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico, que era também um pioneiro,
jornalista pioneiro, o Jarbas. Não sei se você já ouviu falar. Nossa, ele é uma pessoa assim, se
você quiser amanhã fazer, botar alguma ideia na sua ideia de construir, formar, seja o que for,
o memorial, o museu e tudo, o Jarbas é uma pessoa maravilhosa. Então, fui atrás do Jarbas e
para ele me ajudar. Aí ele disse: Luiza, venha fazer um curso que vai ter. Eu ainda estou com
umas caixas que eu trouxe da Novacap ainda sem ver, sem tirar, tá do mesmo jeitinho para eu
botar fora aquilo que não presta, fazer uma limpeza, vamos dizer assim, e guardar o essencial.
Mas eu tive que correr atrás, porque na hora que eles disseram assim para mim: Traga o
projeto. Quer dizer, estava tudo na cabeça, nós íamos passar os filmes, a Novacap tem os
filmes, não sei se o rapaz do arquivo público te falou. Filmes maravilhosos da época da
construção, todos lá no arquivo público. Fotos, a maioria das fotos de Brasília da construção
de Brasília, que encontra-se hoje no arquivo público é da Novacap. O acervo é da Novacap.
Se você quiser. E eu lamento às vezes também, a Novacap passou, por decreto do governador,
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toda essa papelada histórica e nem sempre o arquivo cita a Novacap. Você deve saber que
existe a fonte quando você vai colocar uma referência. Então nem sempre sabem. Que é uma
coisa também que isso como eu tenho assim um amor muito grande pela Novacap, o trabalho
que eu realizei, eu fico às vezes magoada por isso.
Entrevistador: Certo. E com relação, a senhora falou em mágoa, com relação o fato de o
memorial não ter sido concluído...
Cruz: Ah, mexe com a gente. Mexe muito. Quando eu vou na Novacap que eu olho aquele
prédio, me dá uma tristeza muito grande. Muito grande. Porque eu... A gente se aposenta, mas
eu gostaria de ter continuado na Novacap, se eu tivesse assim o apoio da diretoria, como eu
vinha tendo, mas mudou. Não era a mesma diretoria, era outra. Então eu ficaria ainda por um
tempo, trabalhando, sabe? Mas a gente chega em uma determinada idade da vida da gente que
a gente se aposenta exatamente para isso, para gente poder usufruir ainda do estado, vamos
dizer assim, ainda se tem saúde para aproveitar um pouco mais a vida e tal, passear. Outros
momentos. A nossa vida é toda feita de momentos, então o meu momento na Novacap, “ah, já
passou?”, já. Aquele momento que eu tinha que me dedicar, vestir a camisa, porque eu vesti.
Hoje eu já não vestiria porque estou em outro momento.
Entrevistador: E a senhora sabe se existe alguma intenção de se utilizar o espaço que foi
construído para alguma outra finalidade?
Cruz: Não. Não tenho. Não tenho mesmo. Olha, você acredita que outro trabalho interessante
que você vai ler aqui da comissão de 50 anos da Novacap, que a Novacap não tem catalogada
as obras dela. Não tem. E nós começamos a fazer, não chegamos ao final. Por quê? Porque
exatamente não se encontrava mais a documentação. Foi muito difícil, nós batalhamos
bastante para poder encontrar essa documentação para levantar as obras.
Entrevistador: Ou seja, tem prédio aí que qualquer pessoa pode botar seu nome lá e que a
Novacap não vai poder dizer que não.
Cruz: É, porque a ideia quando a gente se reuniu, a ideia que a Novacap mandasse de alguma
maneira, a gente sentasse para criar de que maneira nós vamos fazer esse reajuste no próprio
prédio. Inclusive tivemos até engenheiros, arquitetos aliás, que sugeriram que a Novacap ao
entregar o prédio dela construído ela teria que ter aquele carimbo dela.
Cruz: Exatamente. Então nós tivemos época assim, vamos fazer esse levantamento, vamos.
Aí foi quando a gente começou a fazer o levantamento, mas isso seria um projeto a longo
prazo porque requer custo para fazer e a Novacap teve uma fábrica de pré-moldados, chegou a
construir várias escolas pré-moldadas. Chegou até a se idealizar um dos pilares já vir com
essa marca registrada nele. Esse carimbo. Então, para você ter uma ideia, nós não
encontramos dez anos de história da Novacap. Não encontramos. 67, 68, 69, 76,78,78, 80, 81,
82, 83, oitenta foi a mais prejudicada década de oitenta para a história da Novacap. Não
encontramos mais nada. A gente teria que sair...
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Cruz: Pois é. Teríamos que visitar todas as secretarias ligadas ao governo do Distrito Federal,
eu liguei para todas, os arquivos das secretarias para saber se tinha alguma coisa da Novacap
que me dessem. Não achamos, o restante não achamos. Tinha os relatórios, baseados nos
relatórios. Então o arquivo geral da Novacap, é onde fica a guarda de toda a documentação é
uma outra coisa que teria que mudar, lá a Novacap manda a documentação anual para o
arquivo, assim, documentação de 2010, entendeu? Mas não entra nos detalhes do que tem lá
dentro, então você tem que abrir pacote por pacote para saber o que tem lá dentro. Outra coisa
também a medida que a gente ia trabalhando para contar essa história as dificuldades que a
gente achava. Então a gente fazia reunião, visitava o chefe do arquivo. O arquivo, ele ia no
seu superior, a gente ia no diretor, explicava que existia essa necessidade da Novacap mudar.
Ter uma mudança interna para facilitar essa pesquisa.
Cruz: Já classificado, tudo direitinho, tá? Então a gente pediu, mas mesmo assim eles deram
uma atenção muito grande para nós, tá? Muito grande, muito grande. Olha: A saída para este
impasse, que é a [ininteligível], será a indicação de um ou dois empregados dedicados
exclusivamente para levantar o arquivo geral. Que nós tínhamos que fazer um trabalho para
poder ter um resultado para contar uma história. Quando a gente quis contar uma história que
começou a visitar as unidades, cadê isso? Não sei. Cadê isso? Não sei. “Ah, porque o chefe
teve aqui e mandou para o arquivo” “E cadê o documento que foi para o arquivo? Vocês têm
arquivado?” “Temos”, a gente olhava e dava de cara com situações assim. Nós chegamos a
ouvir de funcionários que o chefe mandou rasgar, jogar no lixo, documentos da empresa.
Então, quer dizer, a gente sugere até que... Nesse documento enviado por todos os dados e
organismos da empresa... era localizar os relatórios para finalizar. Então nós tínhamos que
montar uma outra subcomissão para poder ir para esse arquivo e nós ainda conseguimos
alguns dias de trabalho assim, tá? Aqui eu botei aqui: o movimento cultura, nós tivemos
também o movimento cultural da Novacap ele foi criado na década, deixa eu ver, dois mil...
Foi criado na década de 90, quer dizer, eles fizeram alguma coisa interessante e que nos
ajudou bastante. E eles inclusive fizeram uma revista cultural que parte... Quer ver? O
movimento cultural solicitou a comissão em julho de 2009 informações quanto ao projeto e o
interesse de publicar em sua primeira revista uma reportagem em homenagem à Novacap
pelos seus 53 anos, porque já tinha passado três anos. Foi passado à assessoria da presidência
que se mostrou favorável ao empreendimento e sobre o empenho meu foi elaborada a parte
histórica com a colaboração de outro membro da nossa comissão, Augusto, nós fizemos o
primeiro número da revista que ficou um espetáculo a revista. Nela, a publicação Novacap por
década de construção, que era aquela ideia de fazer, ela ficou dividida em duas partes, o
primeiro número com matérias correspondentes de 56 a 58 e o segundo número seria de 59
até a inauguração. Não aconteceu o segundo número. O primeiro foi publicado, ficou
maravilhoso, lindo, lindo. É como eu estou te falando, nós também fizemos, participamos, nós
montamos um estande da Novacap na primeira mostra de produtos do pró-DF, feira do
empreendedor, homenagem à JK. Um evento comemorativo dos 50 anos de Brasília, realizado
pela associação dos candangos do Núcleo Bandeirante. Montamos um estande também na
primeira caminhada de qualidade de vida. Porque estava se aproximando dos 50 anos e a
gente queria participar de tudo que tivesse na cidade, divulgando a história da empresa. Três
membros do grupo de pesquisa com a finalidade voltada para a montagem do futuro memorial
participaram do fórum de Museu do Distrito Federal e do curso “Oficina: Plano
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Museológico”, que é implantação, gestão e organização. Então foi isso que eu te falei,
ministrado pelo técnico da secretaria. Marcou a presença, a Novacap, no 39º festival de
Brasília de cinema brasileiro, na apresentação do documentário Romance do Vaqueiro
Voador. Nós fomos convidados para estar presente, foi muito interessante. Contribuiu
também para o trabalho de pós-graduação da UnB, da UniDF, intitulado: Uma visão sócio-
antropológica do crime na região metropolitana do Distrito Federal. Foi muito interessante,
nós participamos, a comissão foi convidada. Visitou o Museu da Memória Viva da Ceilândia.
Não sei se você conhece. O Museu Vivo da Memória da Ceilândia.
Cruz: Muito. Muito, muito, muito. Então a gente anunciou, teve um evento lá no tombamento
da revista Brasília, que foi da secretaria de cultura, no Teatro Nacional, onde o presidente
lançou que estaria fazendo o novo lançamento da revista Brasília. Mas você vai ver depois,
direitinho.
Cruz: E não se efetivou. Então, ideias se tem muitas, vontade de fazer também nós tivemos
muita vontade, dedicação e infelizmente não conseguimos colocar. Agora eu vou buscar uma
revista, um número da revista. Porque você tem o livro.
Entrevistador: Edvan.
Cruz: Olha, esse foi o primeiro número da Revista Ecocultural cultural, nós conseguimos
fazer o levantamento das obras mesmo, só um minutinho. Brasília 53 anos pelas mãos da
Novacap, tem fotos assim maravilhosas. Esse aqui é o editorial. E nós fizemos, cadê...
História da Novacap, construção de Brasília. [ininteligível] a construção da futura capital do
Brasil. E aqui nós fizemos tipo aqueles filmes. E fomos contando. E aí vem, aqui é o
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preâmbulo, e a gente começa a contar em 56 as obras que foram realizadas. Então na parte de
organização administrativa é o que aconteceu, parte de telecomunicações, a parte de
transporte, obras de construção civil. Para você ver, isso aqui era tudo Novacap. Obras de
infraestrutura urbana, saneamento, imprensa, curiosidades, eventos, eventos foram demais. Aí
vem 57 a mesma coisa, telecomunicações, o que tinha sido feito, 22 de janeiro instala-se nas
dependências da antiga fazenda do Gama uma estação de rádio da Novacap, prefixo PTC3, o
primeiro posto de telecomunicação da região, ligando Brasília ao Rio de Janeiro.
Cruz: Tudo da revista Brasília. Só que na revista Brasília não está dessa maneira, está a
história mensal.
Cruz: Esse aqui fui eu que fiz, foi trabalho de pesquisa meu, me deu um trabalhão danado. Aí
eu fiz tudo que se relacionava à telecomunicações, tudo que se relacionava à transporte. Em
26 de março de 57 o presidente da Novacap, o presidente JK transfere a Novacap e
competência para o estudo e construção de linhas férreas em trechos do novo Distrito Federal.
Quer dizer até o estudo... Aí vem, área de saúde, construção do hospital do IAPI, a Novacap
mandou o ofício à cruz vermelha brasileira. Quer dizer, tudo isso aqui, essa história pronta,
levantada desse jeito, já é um caminho para montar o memorial, o museu, do jeito que está
aqui, já é inspiração nossa para isso. Aí vem o que foi inaugurado naquela época, em termos
de moradia, quais eram os institutos que aqui estavam e que estavam fazendo moradia para os
seus... Venda de terreno, a parte de cultura, o poeta Tobias Pinheiro compôs Olhos de
Brasília, em novembro é publicado a revista Brasília, poesia, Fiat Brasília. Aí vem. Na parte
de educação a escola bandeirante da professora Ana Vitória Cardoso, e aqui você vai citando
também o nome dessas pessoas que como te falei são anônimos. A parte de esporte. Obras de
construção civil, aí quais foram as que foram feitas. Obras de estrutura e saneamento,
comércio e abastecimento, como é que era na época. A visita, nacionais e estrangeiras, olha só
aqui. Só em 57, você fica assim. Então ta aqui essa revista que eu passo para você.
Cruz: Com o intuito de que você possa amanhã fazer um bom trabalho nessa área.
Entrevistador: Eu vou encerrar aqui, porque eu acho que já gravei o que interessava, aí eu
finalizo aqui a gravação.
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APÊNDICE F
Entrevista escrita
Chelini: Maria-Júlia Estefânia Chelini, bióloga de formação, mestre e doutora pelo Instituto
de Biociências da Universidade de São Paulo. No doutorado analisei as exposições de alguns
museus de história natural e seu potencial como ferramenta de comunicação. Trabalhei por 5
anos no Museu Paulista da USP sendo nos 2 últimos anos responsável pela Divisão de
Difusão Cultural do museu. No final de 2008 vim para Brasília como Professora Visitante
junto à UnB para atuar no Museu de Geociências, que naquele momento iria passar por
grande reforma. Em 2010 com o final de meu primeiro contrato assumi a função de
Extensionista colaboradora, função que ocupei até o início deste ano quando fui, mais uma
vez, contratada como Professora Visitante, sempre atuando junto ao mesmo museu. Nestes 4
anos de UnB, além dos trabalhos desenvolvidos no Museu de Geociências tenho atuado em
alguns projetos para implantação do Museu de Ciência e Tecnologia de Brasília, sendo,
também este ano nomeada como membro titular da Comissão para implantação do referido
museu.
Mais detalhes podem ser encontrados no meu lattes no link:
http://lattes.cnpq.br/2531810533457856. Quero esclarecer que a Nova Museologia não é, e
nunca foi, tema de estudos ou discussões aprofundadas para mim. Conheço o movimento
claro, mas talvez por ter uma formação inicial em ciências clássicas confesso que nunca me
debrucei muito sobre o tema, orientando meu trabalho e pesquisa por questões mais práticas e
pontuais.
Chelini: Eu acredito que a forma com que os museus comunicam mudou e mudou muito.
Entre exposições de 50-100 atrás e as exposições de hoje. Essa mudança vai da escolha dos
temas a serem tratados à efetiva forma de expor. No caso dos museus de ciências tínhamos
exposições taxonômicas, em que em uma mesma vitrina era possível ver 10, 15, quiçá 30
variações de um mesmo organismo ou mineral. Hoje as exposições são mais temáticas - ou
seja, contam uma história, discutem algum assunto - e os objetos escolhidos para compô-la
são representativos de determinados grupo (animal, vegetal, mineral etc). A ciência não é
mais apresentada como uma coisa estática e sim como parte de um processo, de um momento.
Esta diferença é resultante do movimento da nova museologia? Eu não saberia dizer...
Chelini: Em tese sim. Agora precisamos pensar de que princípios teóricos estamos falando.
São os originais, aqueles colocados pela Mesa de Santigo e retomados na Declaração de
Quebec? Ou estamos falando da bandeira social que tem sido levantada no Brasil? Veja, o
museu integral, como idealizado deve, a meu ver, ser visto como o objetivo talvez até utópico,
mas que almejamos todos. De um museu para todos e realmente inserido na comunidade em
que se instala. A questão é que o que temos visto no Brasil (eu não sei como é no resto da
América Latina) é uma leitura destes textos, puxando e talvez até deformando um pouco o
papel social dos museus. A grande bandeira tem sido o museu comunitário, nascido de uma
demanda social e no qual classes tradicionalmente excluídas dos museus encontram um
espaço de manifestação e de registro/memória sócio-cultural. Excelente. Mas o fato é que no
Brasil parece que o que não é Museu comunitário não é bom, é tradicional e deve ser
rechaçado, ou ao menos ignorado. A Mesa de Santiago é muito clara: devemos sim estimular
estas manifestações comunitárias SEM por isso extinguir os museus tipológicos. É nesse
sentido que, às vezes, tenho a impressão de que algumas tipologias de museu acabam ficando
de fora. A ideia é que os museus modernos não devem mais mostrar apenas a elite, mas o
todo. Eu diria que em alguns casos isso se tornou muito difícil, por diversos motivos: 1. se
pensarmos em museus históricos, voltados a certo intervalo de tempo passado: temos como
conseguir ainda hoje objetos e registros de outras classes sociais? Às vezes, é praticamente
impossível. Este museu deve então ser fechado? 2. Quando falamos em museus científicos: o
que é a elite? É o pensamento dominante de determinado momento? Se a ciência deixa de ser
apresentada como estática, como verdade absoluta e sim como um processo em contínua
evolução, em que um mesmo elemento pode gerar diferentes conclusões (algumas mais ou
menos aceitáveis) estamos tendo uma visão global do assunto. Mas se a opção for falar de
determinado processo aceito mundialmente como o mais provável, um fato que não é mais tão
discutido, ainda assim estamos trazendo uma opinião elitista? Se a exposição mostra a Terra
(o planeta) como redonda, ela está sendo elitista porque apresenta a visão de uma maioria? Se
você procurar na internet vai descobrir que até hoje existem pessoas que acreditam que a
Terra é plana, que acreditam que a Terra é o centro do Universo... É uma minoria que está
sendo deixada de fora da maioria dos museus científicos. Como lidar com estas situações?
Acho que a Nova Museologia como tem sido discutida no Brasil não se interessa por estas
questões, o “tchans” aqui é falar do social... e nada mais... Resumindo: os preceitos da Nova
Museologia podem, em tese ser aplicados a qualquer tipologia de museus, a pergunta é como
faremos isso na prática.
Chelini: Como comentei acima, a ciência hoje não é mais apresentada como uma coisa
estática e sim como parte de um processo, como um produto da cultura e resultado de
determinado momento histórico e social. Neste sentido, acredito que os museus de ciências
têm assumido a função de trazer para a sociedade informações e discussões de temas
polêmicos ou de questões que possam ter influência direta no dia a dia da sociedade. Talvez
até em resultado aos movimentos na área de educação formal, com a busca/incentivo para
aproximação dos temas apresentados em sala de aula do cotidiano do estudante, os museus de
ciências venham se alinhando a esta tendência. Assim, em suas exposições e ações educativas
tentarão mostrar as consequências que determinada pesquisa ou tecnologia pode vir a ter na
vida do cidadão. Isso porque acreditam que devem contribuir na formação de um cidadão
consciente e mais crítico, capaz de se posicionar frente a estes temas. Trabalham então
questões que vão de saúde pública (a exemplo de numerosas exposições que tratam de dengue
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ANEXOS
ANEXO A – Relatório da Comissão 50 Anos/Novacap
ANEXO B – Processo para a construção do Memorial
ANEXO C – Pedido de entrevista
Sr.ª Presidenta
Eu, Edvan Aquino de Queiroz, aluno do curso Museologia da Universidade de Brasília (UnB),
matrícula 10/0049371, estou realizando uma pesquisa sobre o Memorial da Construção de
Brasília/Novacap, em função do meu Trabalho de Conclusão de Curso.
Por essa razão, gostaria de gravar, apenas em áudio, rápida entrevista com V.ª Senhoria, ou com
qualquer outro representante da diretoria desse Centro.
Para facilitar, envio em anexo uma carta de apresentação da UnB, um roteiro de questões e o
termo de autorização de uso da entrevista.
Serei grato pela vossa colaboração.
Sem mais, aguardo resposta pelo telefone 9987 2312.
Brasília, 22 de abril de 2013
Sr. Presidente
Eu, Edvan Aquino de Queiroz, aluno do curso Museologia da Universidade de Brasília (UnB),
matrícula 10/0049371, estou realizando uma pesquisa sobre o Memorial da Construção de
Brasília/Novacap, em função do meu Trabalho de Conclusão de Curso.
Por essa razão, gostaria de gravar, apenas em áudio, rápida entrevista com V.ª Senhoria, ou com
qualquer outro representante da diretoria desse Sindicato.
Para facilitar, envio em anexo uma carta de apresentação da UnB, um roteiro de questões e o
termo de autorização de uso da entrevista.
Serei grato pela vossa colaboração.
Sem mais, aguardo resposta pelo telefone 9987 2312.
ANEXO D – Termo de uso de entrevista
Eu, Gilson Marques de Sousa, Presidente da Associação dos Servidores da Novacap (ASCAP),
autorizo o uso sem fins lucrativos, pelo discente Edvan Aquino de Queiroz, do curso de Museologia da
Universidade de Brasília, da entrevista concedida em 23 de abril de 2013, em função de sua pesquisa
sobre o Memorial da Construção de Brasília/Novacap.
Em hipótese alguma a entrevista poderá ser utilizada para fim diverso do previsto nesta
autorização.
Em hipótese alguma a entrevista poderá ser utilizada para fim diverso do previsto nesta
autorização.
Eu, Luiz Henrique Freire Duarte, arquiteto da Novacap, autorizo o uso sem fins lucrativos pelo
discente Edvan Aquino de Queiroz, do curso de Museologia da Universidade de Brasília, da entrevista
concedida em 26 de abril de 2013, em função de sua pesquisa sobre o Memorial da Construção de
Brasília/Novacap.
Eu, Luiz Henrique Freire Duarte, arquiteto da Novacap, autorizo o uso sem fins lucrativos pelo
discente Edvan Aquino de Queiroz, do curso de Museologia da Universidade de Brasília, da entrevista
concedida em 26 de abril de 2013, em função de sua pesquisa sobre o Memorial da Construção de
Brasília/Novacap.
Eu, Luíza Helena Bezerra Cruz, servidora da Novacap, autorizo o uso sem fins lucrativos, pelo
discente Edvan Aquino de Queiroz, do curso de Museologia da Universidade de Brasília, da entrevista
concedida em 20 de maio de 2013, em função de sua pesquisa sobre o Memorial da Construção de
Brasília/Novacap.
Em hipótese alguma a entrevista poderá ser utilizada para fim diverso do previsto nesta
autorização.
Eu, Nilson Martorelli, Presidente da Novacap, autorizo o uso sem fins lucrativos, pelo discente
Edvan Aquino de Queiroz, do curso de Museologia da Universidade de Brasília, da entrevista concedida
em 23 de abril de 2013, em função de sua pesquisa sobre o Memorial da Construção de
Brasília/Novacap.
Em hipótese alguma a entrevista poderá ser utilizada para fim diverso do previsto nesta
autorização.
Eu, Luiz Henrique Freire Duarte, arquiteto da Novacap, autorizo o uso sem fins lucrativos pelo
discente Edvan Aquino de Queiroz, do curso de Museologia da Universidade de Brasília, de quatro
desenhos de minha autoria do Memorial da Construção de Brasília/Novacap, em função de seu trabalho
de conclusão de curso.