Resumo A Teia Da Vida
Resumo A Teia Da Vida
Resumo A Teia Da Vida
SISTEMAS VIVOS
Fritjof Capra
Ed. Cultrix/Amaná-Key
A TEIA DA VIDA
O autor, Capra, é um cientista, que se tornou um dos mais eloqüentes porta -vozes das
mais recentes descobertas que estão emergindo nas fronteiras do pensamento cientifico,
social, filosófico e espiritual. Na presente obra, ele nos brinda com uma visão nova e
moderna da concepção de vida, o que é extremamente oportuno quando tanto se enfatiza a
idéia de uma empresa biológica.
Citando Capra, no final de sua obra: “Para recuperar nossa plena humanidade, temos
de recuperar nossa experiência de conexidade com toda a teia da vida. Essa reconexão, ou
religação – religio, em latim – é a própria essência do alicerçamento espiritual da ecologia
profunda”.
Alfabetização Ecológica
Segundo Capra precisamos nos reconectar com a teia da vida, e isto significa construir,
nutrir e educar comunidades sustentáveis, nas quais podemos satisfazer nossas aspirações
e nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.
Para isto, precisamos aprender os princípios básicos da ecologia, isto é, precisamos
nos tornar “ecologicamente alfabetizado”. Ser “eco-alfabetizado” significa entender os
princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar estes
princípios para criar comunidades humanas sustentáveis. É preciso revitalizar nossas
comunidades – educativas, comerciais e políticas – de modo que os princípios da ecologia
nelas se manifestem.
Tanto as comunidades ecológicas como as humanas são sistemas vivos, sendo redes
organizacionalmente fechadas, mas abertas aos fluxos de energia e de recursos; suas
estruturas são determinadas por suas histórias de mudanças estruturais, e são inteligentes
devido às dimensões cognitivas inerentes aos processos da vida.
É claro que existem diferenças. Nos ecossistemas não existe a autopercepção,
característica do homem, e também não existe a linguagem, a consciência e a cultura que a
ele são inerentes, portanto não há justiça nem democracia. Por outro lado, não há cobiça
nem desonestidade, por isso não podemos aprender sobre valores a partir de ecossistemas,
mas podemos aprender como viver de maneira sustentável. Durante mais de três bilhões de
anos de evolução, os ecossistemas do planeta têm se organizado de maneiras sutis e
complexas, a fim de maximizar a sustentabilidade. Essa sabedoria da natureza é a essência
da alfabetização ecológica.
Os ecossistemas são redes autopoiéticas
“Isto sabemos.
Todas as coisas estão ligadas
Como o sangue
Que une uma família...
Tudo o que acontece com a Terra,
Acontece com os filhos e filhas da Terra.
O homem não tece a teia da vida;
Ele é apenas um fio.
Tudo o que faz à teia,
Ele faz a si mesmo.”
Um ecossistema pode ser descrito como uma rede com alguns nodos, cada nodo como
um organismo, cada organismo, quando amplificado, aparecendo como uma rede... A teia da
vida: redes dentro de redes. (Organizações: redes dentro de redes formadas também por
redes)
Se tudo está conectado com tudo o mais, como podemos esperar entender alguma
coisa? Uma ve z que todos os fenômenos naturais estão, em última analise, interconectadas,
para explicar qualquer um deles precisaríamos entender todos os outros, o que é obviamente
impossível! A ciência nunca pode fornecer uma compreensão completa e definitiva, portanto
os cientistas nunca podem lidar com a verdade.
Mas o que são redes autopoiéticas?
Depois de apreciar a importância do padrão para a compreensão da vida, agora
podemos indagar: “há um padrão comum de organização que pode ser identificado em todos
os organismos vivos?”
Sim, é um padrão de rede. Sempre que olhamos para a vida, olhamos para redes.
A primeira e mais óbvia propriedade de qualquer rede é sua não-lineariedade: ela se
estende em todas as direções. Desse modo, as relações num padrão de rede são relações
não-lineares, que podem gerar laços de realimentação (feedback). Esta realimentação pode
ser negativa, de auto-equilíbrio, ou positiva, de auto-reforço. Isto pode levar a uma condição
de poderem estas redes se auto-regularem, tornando-se auto-organizadas.
Em vários experimentos, constatou-se que modelos de redes, para grande espanto de
seus construtores, após um certo tempo começavam a mostrar uma emergência de padrões
ordenados espontaneamente. Ordem a partir da não-ordem = auto – organização.
Os sistemas auto-organizadores apresentam três características básicas comuns:
• Criação de novas estruturas e de novos modos de comportamento no processo
auto-organizado;
• São sistemas abertos que operam afastados do equilíbrio. Esta emergência de
novas formas de comportamento e de novas estruturas ocorre apenas quando o
sistema está afastado do equilíbrio;
• Interconexidade não-linear dos componentes do sistema. Este padrão não-linear
resulta em laços de realimentação.
A primeira e mais influente descrição de sistemas auto-organizadores foi à teoria das
“estruturas dissipativas”, de Prigogine. Resumindo, ele constatou que, à medida que um
ponto crítico de instabilidade, no qual emerge um padrão ordenado. Portanto, a dissipação
de energia, associada a desperdício, paradoxalmente, em sistemas abertos, torna-se uma
fonte de ordem. Instabilidades como condição de complexidade crescente, sendo o resultado
de flutuações amplificadas por laços de realimentação positivos.
A realimentação positiva, que sempre foi olhada como destrutiva em cibernética,
aparece como uma fonte de nova ordem e complexidade na teoria das estruturas
dissipativas.
Mas, afinal, que propriedades deve ter um sistema para ser realmente chamado de vivo?
Qual a conexão entre auto-organização e vida?
Estas perguntas o neurocientista chileno Humberto Maturana fazia a si mesmo na
década de 60.
Um padrão de rede de “organização circular”, no qual a função de cada componente é
ajudar a produzir e transformar outros componentes, enquanto mantém a circularidade global
da rede, é a organização básica da vida. Além disso, Maturana identifica a cognição com o
processo da própria vida.
Essa cognição não representa uma realidade exterior, mas crias uma realidade. A
cognição não é a representação de um mundo que existe de maneira independente, mas, em
vez disso, é uma continua atividade de criar um mundo por meio do processo de viver.
Desse modo, mesmo um ser vivo muito simples, como uma bactéria, cria um mundo –
de calor e de frio, de campos magnéticos e de gradientes químicos, onde a percepção e a
ação são inseparáveis.
A autopoiese é definida como um padrão de rede no qual a função de cada componente
consiste em participar na produção ou na transformação de outros componentes. Três
critérios básicos identificam uma rede autopoiética:
• Autolimitação;
• Autogeração;
• Autoperpetuação.
O sistema de Gaia
Gaia, a deusa Terra, era cultuada como a divindade suprema na Grécia antiga, pré-
helênica. A idéia da Terra como um ser vivo, espiritual, continuou a florescer ao longo de
toda a idade Média e Renascença, até que toda a perspectiva medieval foi substituída pela
imagem cartesiana do mundo como uma máquina.
O químico James Lovelock formulou um modelo que considera toda a Terra como um
sistema auto-organizador. A analise das atmosferas marciana e terrestre revelou algo muito
importante: em Marte há um, equilíbrio total; na Terra, pelo contrário, um desequilíbrio
químico – desequilíbrio, a “marca registrada” da vida. Um organismo em equilíbrio é um
organismo morto. Um estado afastado do equilíbrio é o estado da vida!
Auto-regulação: o calor do sol aumentou 25% desde que a vida começou na Terra;
todavia, a temperatura da superfície da Terra tem permanecido constante, num nível
confortável para a vida, nos últimos quatro bilhões d anos.
A interação entre “vida” e “não-vida” – bactérias e solo, por laços de realimentação,
criando auto-regulação. A hipótese de Gaia, uma Terra viva.
Gaia é autolimitada: a atmosfera é sua fronteira externa, criada e mantida pelos
processos metabólicos da biosfera.
O sistema de Gaia é autogerador, pois os sistemas “vivos” e”não-vivos” se entrelaçam
dentro de uma única teia, da qual resultam laços de realimentação.
Finalmente, o sistema de Gaia é a autoperpetuante: os componentes dos oceanos, do
solo e do ar, bem como os organismos da biosfera, são continuamente repostos pelos
processos planetários de produção e transformação.
Refletindo a respeito de uma Terra viva, somos naturalmente levados a fazer perguntas
sobre sistemas de escalas ainda maiores.
Seria o sistema solar, a nossa galáxia, o Universo como um todo uma imensa rede
autopoiética?
Para Capra, é “filosoficamente e espiritualmente mais satisfatório supor que o cosmo
um todo é vivo”.
Inteligência do computador
A evolução, como a entendemos hoje, não ocorre por meio de mudanças graduais
contínuas, causadas por longas seqüências de mutações sucessivas. Os registros fósseis
mostram claramente que tem havido extensos períodos de estabilidade, ou “estase”,
pontuados por súbitas e dramáticas transições.
Chamamos a isto “equilíbrios pontuados”, o que nos leva a concluir que as súbitas
transições foram causadas por mecanismos muito diferentes das mutações aleatórias da
teoria neodarwinista.
Na nova visão sistêmica, a mudança evolutiva é vista como resultado da tendência
inerente da vida para criar novidade, a qual pode ou não ser acompanhada de adaptação às
condições ambientais em mudança. Hoje, os biólogos sistêmicos descrevem conjunto dos
elementos hereditários, o genoma, como uma rede auto -organizadora capaz de produzir
espontaneamente novas formas de ordem.
A evolução não pode ser limitada à adaptação de organismos ao seu meio ambiente,
pois o próprio meio ambiente é modelado por uma rede de sistemas vivos capazes de
adaptação e criatividade. Portanto, o que se adapta a o quê? Os “vivos” e os “não-vivos” co-
evoluem!
Por volta de 200 milhões de anos atrás, um vertebrado de sangue quente evolui u dos
répteis e se diversificou numa nova classe de animais que, finalmente, produziria nossos
ancestrais, os primatas. As fêmeas desses animais de sangue quente nutriam seus embriões
dentro de seus próprios corpos e, após o seu nascimento, os alimentavam com um liquido,
leite, proveniente de glândulas chamadas mamárias. Surgiam assim os mamíferos.
Por volta de 65 milhões de anos atrás surgiram os prossímos (pré-macacos), que
viviam em árvores. Como eram em geral noturnos, em algumas espécies os olhos se
deslocaram gradualmente para uma posição frontal, o que foi de importância chave para o
desenvolvimento da visão tridimensional. Outra característica chave são mãos e pés que
agarram, com polegares em oposição aos outros dedos. Estes animais não eram
anatomicamente especializados e, para compensarem isto, desenvolveram maior destreza e
inteligência, hábitos de cooperação e de defesa. A evolução levou-os a usarem as mãos para
coletar alimentos, brandir varas e atirar pedras. A capacidade de usar e, até um certo ponto,
mesmo de fazer ferramentas é característica dos grandes símios antropóides.
Cerca de Quatro milhões de anos atrás, surgiu um símio antropóide, na África, que
caminhava ereto, tendo provavelmente dele evoluído o homem atual. Uma importante
diferença biológica entre os seres humanos e os outros primatas está no fato de que as
crianças humanas precisam de muito mais tempo para passar da infância à puberdade e à
vida adulta. Este maior desamparo dos recém-nascidos exigia famílias capazes de lhes dar
sustentação, levando à formação de comunidades mais estáveis. Ao mesmo tempo, a
liberdade das mãos para fazer ferramentas estimulou o contínuo crescimento do cérebro e
pode até ter contribuído para o desenvolvimento da linguagem.
Os primeiros seres humanos caçavam juntos e partilhavam seus alimentos, e isto se
tornou um catalisador para a civilização e a cultura humana, originando finalmente as
dimensões místicas, artísticas e espirituais da consciência humana.
A teoria de Santiago