Diretivas Antecipadas de Vontade - Rui Nunes PDF
Diretivas Antecipadas de Vontade - Rui Nunes PDF
Diretivas Antecipadas de Vontade - Rui Nunes PDF
ANTECIPADAS
DE VONTADE
Rui Nunes
Conselho Federal de Medicina
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
DIRETIVAS
ANTECIPADAS
DE VONTADE
Brasília, 2016
©2016 – Diretivas antecipadas de vontade – Rui Nunes
Conselho Federal de Medicina / Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Nunes, Rui
Diretivas antecipadas de vontade. / Rui Nunes. – Brasília, DF: CFM / Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto, 2016.
ISBN 978-85-87077-44-8
CDD 340.72
SUMÁRIO
Mensagens de apresentação.................................................................................7
Introdução................................................................................................................... 11
Testamento vital....................................................................................................... 65
Enquadramento ético-normativo............................................................. 65
a) Direitos dos doentes....................................................................................... 66
b) Recomendações sobre suspensão e abstenção de tratamento
em doentes terminais.................................................................................... 75
c) Recomendações sobre sedação em doentes terminais...................... 83
d) Crioética: ética da suspensão criogênica de pessoas........................... 89
Considerações finais.............................................................................................119
Referências................................................................................................................121
MENSAGENS DE APRESENTAÇÃO
CFM/FMUP 7
MENSAGENS DE APRESENTAÇÃO
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INTRODUÇÃO
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médicos e doentes. Por isso, agradeço, naturalmente, ao Conselho
Federal de Medicina pela edição desta obra sobre as diretivas an-
tecipadas de vontade. Recorde-se que este conselho aprovou, em
21 de fevereiro de 2013, uma Resolução sobre o testamento vital
que é hoje a base de inspiração de médicos, juristas e do público
brasileiro em geral.
12 Introdução
VALORES E SOCIEDADE PLURAL
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últimas décadas. De fato, como afirmam Marshall McLuhan e
Bruce Powers (1989), nesta “aldeia global” existe algum “determi-
nismo tecnológico”, dado que a acessibilidade generalizada a ins-
trumentos comunicacionais (tais como a televisão, a internet, o
correio eletrônico e as redes sociais) mudou substancialmente o
espaço geográfico do nosso planeta, reduzindo-o à dimensão de
uma pequena aldeia. De acordo com Rui e Cristina Nunes (2001),
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adolescentes (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESEN-
VOLVIMENTO, 2010; EUROPEAN COMMISSION, 2014). Note-se
que a transição demográfica implica que pessoas com tradições
históricas substancialmente diferentes aprendam a conviver à
luz de critérios de tolerância e de solidariedade intergeracional.
Para evitar um choque intra e intercivilizacional determinado pelo
convívio decorrente da globalização cultural, importa definir um
mínimo ético universal que garanta, na ausência da imposição
coerciva de qualquer ortodoxia de pensamento, a convivência
pacífica entre os cidadãos. Não se trata de uma forma mitigada
de relativismo ético, mas tão somente de aceitar a diversidade de
pensamento como paradigma da nova ética social. Em uma so-
ciedade pacífica, plural nas ideias e democrática no processo de
decisão, o consenso é fundamental para a proteção dos direitos
das minorias.
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mais desenvolvidos. Tentando transmitir essa mensagem a todos
os elementos da sociedade – os mais e os menos informados – o
antigo preceito do Decálogo de desejar para os outros aquilo que
se deseja para si próprio pode ser, em meu parecer, uma plataforma
compreensível de sustentação desse objetivo. Esse imperativo éti-
co fundamental, observado em outra perspectiva, pode ser enun-
ciado da seguinte forma: atua em todas as circunstâncias de forma
a promover a autonomia e a autorrealização da outra pessoa.
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justamente a elaboração de um conjunto de grandes princípios
orientadores, de aplicação sistemática, na prática clínica e na in
vestigação em seres humanos (NUNES, 2003a).
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de consentimento informado. Não houve, assim, que criar uma
nova ética profissional, mas reformulá-la à luz de novos paradig-
mas sociais. Um desses paradigmas é o princípio do respeito pela
autonomia individual. Tal como formulados por Beauchamp e
Childress (2013), os princípios de ética biomédica – autonomia,
beneficência, não maleficência e justiça – refletem a secularização
característica das sociedades ocidentais, que conferem, ao que
parece, uma prevalência da autodeterminação individual sobre
outros valores humanos fundamentais, como a responsabilidade
social, ou a solidariedade humana. Esta, alicerçada, também, no
princípio da subsidiariedade, identifica deveres interpessoais que
estão bem evidentes, por exemplo, na experimentação em seres
humanos ou na dádiva de órgãos para transplantação.
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Valores, nessa perspectiva universalizante, podem querer signi-
ficar apenas critérios operativos de amplo espectro de atuação
como, por exemplo, o profundo respeito pela vida humana, pela
preservação da espécie e pela efetiva comunicação entre os seus
membros. É hoje pacificamente aceita a dualidade que o homem
social se impõe a ele mesmo: conflito persistente entre os diversos
membros de uma comunidade, por um lado, e a necessidade de
eles viverem conjuntamente, por outro. A dignidade humana, atra-
vés do estabelecimento de direitos e de deveres, parece ser uma
solução viável para mediar esse conflito. Como princípio fundante
da ética social, a dignidade humana deve ser distinguida de lei, ou
leis, da natureza, dado que estas não têm relação direta com a éti-
ca, embora, por vezes, a possam influenciar. As leis da natureza, nas
suas várias componentes, são meramente descritivas e fundamen-
tam-se em determinadas observações científicas de nível biológi-
co, químico ou físico. O fundamento dos valores em um modelo
de convivência social, plural nas ideias e secular nas práticas, pode
então residir no conceito de dignidade humana. Mais ainda, a dig-
nidade da pessoa, na sua diversidade, e nos direitos que dela ema-
nam, é o alicerce do próprio Estado de Direito. Trata-se, porventu-
ra, do único valor absoluto e inalienável em uma sociedade secular
e pluralista. Uma sociedade onde as pessoas se encontram com
distintas visões de mundo, como verdadeiros “estranhos morais”.
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a criatividade intelectual é um fator que milita a favor da existên-
cia da própria comunidade moral. Desse fato, decorre que sem
pre existirão diferenças entre as pessoas, independentemente da
semelhança do seu estatuto moral. Os direitos à vida, à alimenta
ção, à família, aos cuidados básicos de saúde, não implicam que
as pessoas sejam todas iguais, nem que ambicionem realizar os
mesmos projetos de vida. Implica, sim, que quaisquer que sejam
as suas aptidões intelectuais (e daí a sua capacidade de flores-
cer no seio da sociedade), seja-lhes garantido um nível mínimo
de condições sociais conforme à dignidade da pessoa humana.
Esse princípio de igual dignidade dos seres humanos é, também,
a base de uma verdadeira justiça social na distribuição de recursos
materiais destinados à saúde (NUNES; REGO, 2002).
2) A sede da responsabilidade.
Isto é, se, a priori, todos os seres humanos, pelo simples fato de per-
tencerem à comunidade moral humana, são detentores de direitos,
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Essa perspectiva parte do pressuposto, questionável por autores
como Peter Singer (2000) ou Gary Varner (2002), de que a dignidade
é um atributo específico dos seres humanos. A dignidade humana,
ao decorrer da natureza ontológica dos seres humanos, mergu-
lha as suas raízes nas capacidades distintivas da nossa espécie, tal
como a consciência reflexiva, o pensamento abstrato, a linguagem
simbólica, ou mesmo o comportamento moral. Outras espécies
dispõem de forma rudimentar desses atributos, mas nenhum outro
animal, ainda que detentor de “sentiência”1, manifesta na plenitu-
de essas capacidades. O erro de Singer (2000), ao considerar como
princípio ético fundamental a igual consideração dos interesses
de todos os seres vivos – rejeitando, assim, toda e qualquer prática
especista – é o de não sugerir fundamentos sólidos, no plano ra-
cional e intuitivo, para equiparar os seres vivos não humanos aos
humanos. Note-se que a não atribuição de dignidade aos animais
(e, portanto de verdadeiros direitos), não implica a aceitação de
práticas claramente condenáveis, desde logo quando esteja em
causa infligir sofrimento desnecessário e brutal (por exemplo, no
âmbito da experimentação animal). De fato, o conceito de digni-
dade humana é compatível com uma ética animal (e mesmo am-
biental), aceitando-se que, simbolicamente, o tratamento brutal
dos animais põe em causa a nossa própria humanitude por revelar
maus sentimentos, como seja a preferência por comportamentos
violentos e degradantes. Para Hans Jonas (1982) pode mesmo estar
em causa uma responsabilidade substantiva do ser humano para
com o restante da cadeia filogenética (em particular referente aos
primatas superiores) enquanto garante do equilíbrio ecológico fun-
damental para a sobrevivência da espécie. Pelo que foi com enorme
agrado que se constatou em Portugal uma evolução doutrinal no
sentido de os animais deixarem de ser “coisas” e passarem a ser legal-
mente considerados “seres vivos dotados de sensibilidade”.
A consciência do sentir.
1
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suficiente, embora não absolutamente necessária, para a inserção
na comunidade moral. Na verdade, o raciocínio é suficiente para
identificar uma personalidade humana; mas um ser humano pode
existir mesmo sem dispor de raciocínio. O ser humano é o suporte
material da pessoa. Na sua evolução, ele está permanentemen-
te enriquecendo a sua capacidade de autorreconhecimento até
o momento em que dispõe de autoconsciência desse autorreco-
nhecimento. Aqui, começa a se estruturar a pessoa humana, por
um processo de memorização da cultura exterior simbólica e de
invenção que só termina com a demência ou com a morte.
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INTELIGÊNCIA INTELIGÊNCIA
MORAL EMOCIONAL
(1)
(1) O agir especificamente humano tem por base uma complexa estru-
tura motivacional na qual a razão se encontra em um delicado equi-
líbrio com as emoções e com a dimensão ética do comportamento
humano. Esses três níveis da vida cognitiva e, portanto, do processo
de decisão têm pesos distintos de pessoa para pessoa e, na mesma
pessoa, de circunstância para circunstância. Por vezes, contudo, a
decisão estritamente racional se emancipa dos outros dois vetores
(ética e emoção) ou apenas de um deles.
(2) Curto-circuito à complexa estrutura motivacional da ação humana no
qual a pessoa age por motivos altruístas de acordo com referenciais
éticos socialmente reconhecidos. Por exemplo, alguns comportamen-
tos heroicos se enquadram nessa circunstância. Pode mesmo existir
uma predisposição genética/biológica para esse tipo de comporta-
mento que a sociobiologia tem classificado como “inclusive fitness”.
(3) Curto-circuito no qual as emoções controlam totalmente o agir
humano. Ou seja, a intenção e a motivação subjacente reduzem o
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autorrealizar – não obstante a existência de situações de especial
fragilidade física e psicológica. De acordo com a teoria da motiva-
ção humana proposta por Abraham Maslow (1999), o ser humano
tem necessidades diferentes que podem ser estratificadas e orde-
nadas em necessidades fisiológicas, segurança, sociais, estima e
autorrealização. As motivações que visam à satisfação de desejos
individuais são, de um modo geral, meios e não fins em si mesmas.
Assim, as necessidades de ordem superior não só emergem após a
satisfação das necessidades de ordem inferior, mas, a partir desse
momento, controlam totalmente a atividade global do indivíduo.
Trata-se do postulado de que as necessidades humanas básicas
estão organizadas em uma hierarquia funcional de prepotência re-
lativa. A gratificação e a privação são então instrumentais, mesmo
nucleares, nessa apreciação do comportamento humano.
Porém, ainda que à luz dos valores éticos emanados das correntes
mais representativas do pensamento um cidadão seja portador de
direitos, não se pode esquecer de que a vida de cada pessoa sempre
se desenrola em relação a outros membros da comunidade. Pelo que,
valores de natureza social, fundados no princípio da solidariedade,
devem ser cuidadosamente ponderados e articulados com o direi-
to ao livre arbítrio de cada um de nós. Por “solidariedade” deve-se
entender a percepção de unidade no interior de um grupo popula-
cional e a vontade de sofrer as consequências daí resultantes. A so-
lidariedade pode ser voluntária (como quando, a título de exemplo,
uma pessoa age por motivos humanitários) ou compulsiva quando
o governo tributa a população através dos impostos de forma a pro-
videnciar serviços universais. Quando o ser humano atinge determi-
nado patamar civilizacional, e se liberta da miséria, da ignorância, e
do medo, evolui em um sentido mais social e menos individualista,
valorizando a liberdade individual, a participação social, e sentimen-
tos de solidariedade para com os mais desfavorecidos.
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Neste capítulo, serão abordadas algumas decisões éticas na doen-
ça terminal muito em particular, os cuidados paliativos, e a neces-
sária humanização dos cuidados de saúde. Assim, e após abordar
criticamente o fenômeno da morte nas sociedades contemporâ-
neas, tenta-se analisar a temática da morte medicamente assisti-
da nas suas múltiplas dimensões.
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concorreu para alterar a concepção ética e legal de morte de um
ser humano, sendo consensualmente aceito pela comunidade
científica internacional o conceito de morte cerebral (NUNES,
1996b). Assim, um ser humano pode ser declarado morto após a
cessação irreversível de funcionamento do tronco cerebral.
3) Morte neocortical.
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Autônomo (cardiovascular, termorreguladora, neuroendócrina),
tornam discutível a sua classificação médico-legal.
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O reconhecimento da finitude da vida humana é uma atitude eti-
camente louvável, devendo médicos e enfermeiros respeitar ge-
ralmente a vontade expressa do doente competente, desde que
esteja em causa a suspensão de tratamento desproporcionado em
um doente terminal. Dessa forma, materializa-se o princípio do
respeito pela autonomia individual, pilar da ética contemporânea.
Por outro lado, o médico não é obrigado a providenciar tratamen-
tos inúteis, mesmo a pedido instante do doente. Essa apreciação
do problema não é consensual, dado que outros interesses funda
mentais podem impedir a observação desse princípio. Muito em
particular, o dever geral de preservar a vida humana e à obrigação
de prevenir o suicídio.
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Alguns estudos comprovam que a reanimação cardiopulmonar
é tentada em cerca de um terço dos doentes que morrem nos
hospitais, geralmente acima dos 65 anos de idade. Nesse último
caso, apenas 15-30% sobrevivem ao episódio inicial de paragem
cardiorrespiratória. Apesar de ser impossível prognosticar qual
o doente individual que não vai recuperar após um episódio de
reanimação cardiopulmonar, podem definir-se alguns grupos de
risco, isto é, doentes especialmente suscetíveis de não recuperar
após paragem cardiorrespiratória. Trata-se, de um modo geral,
de doentes portadores de neoplasia metastática, sepse genera-
lizada, hemorragia gastrointestinal ou pneumonia. A patologia
de base deve ser irreversivelmente terminal e a morte iminente,
constituindo algumas (poucas) semanas o período máximo de
sobrevida provável do doente. Por sua vez, doentes com enfarte
agudo do miocárdio, arritmia ventricular ou complicação anes
tésica têm grande possibilidade de recuperação, pelo que, nessas
circunstâncias, não deve ser emitida tal ordem. A idade, per se, não
parece constituir indicador seguro de ausência de sobrevida após
reanimação, pelo que não deve ser estabelecido um limite etário
máximo a partir do qual não se deva efetuar RCP.
Quadro 1
Princípios subjacentes a uma Decisão de Não Reanimar
1) Conceito: A Ordem de Não Reanimar deve ser considerada nas
situações de doença terminal, perda irreversível da consciên-
cia ou quando o doente tem doença grave e irreversível e em
quem a reanimação possa ser considerada desproporcionada;
2) Âmbito: A Reanimação Cardiopulmonar (RCP) deve ser criteriosa-
mente aplicada, devendo existir procedimentos claros a observar
nos casos de Ordem de Não Reanimar. Esse procedimento não
abrange qualquer outra forma de limitação terapêutica, seja no
que se refere à suspensão ou abstenção de outros tratamentos.
Deve aplicar-se apenas a doentes em regime de internamento;
3) Limites: Os limites da intervenção devem ser ditados pelo es-
tado atual dos conhecimentos – leges artis – de acordo com as
regras provenientes da Medicina Baseada na Evidência (NU-
NES, 2003b, 2009b);
4) Responsabilidade: Compete ao médico assistente, em conso-
nância com toda a equipe de saúde, iniciar os procedimentos
para a Ordem de Não Reanimar;
5) Reversibilidade: A Ordem de Não Reanimar é reversível se hou-
ver alteração da situação clínica do doente que o justifique.
Uma nova Ordem de Não Reanimar implica a repetição dos
procedimentos pelo novo médico assistente;
6) Suspensão: Durante a realização de qualquer procedimento (ain-
da que não diretamente relacionável com a evolução da doença
como sejam procedimentos para permeabilização da via aérea ou
intervenções cirúrgicas para melhoria de conforto) sob anestesia
ou ida ao bloco operatório, deve-se suspender essa instrução. De-
ve-se escrever no processo do doente “Suspensão da Ordem de
Não Reanimar”, decisão esta assinada e fundamentada;
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7) Ordem de Não Reanimar em menores: No caso de o doente
ser menor ou incompetente, esses procedimentos podem ser
efetuados em consonância com o seu representante legal;
8) Dever de Tratamento: A Ordem de Não Reanimar não exclui o
dever de tratamento adequado e a implementação de todas
as medidas de conforto apropriadas para o doente;
9) Dever de Registro: Todos os passos para desencadear ou rever-
ter a Ordem de Não Reanimar devem ficar documentados no
prontuário clínico do doente. Nas situações em que se preen-
cher um formulário próprio para Ordem de Não Reanimar
deve registrar-se:
a) Um resumo da situação clínica do doente e os fatos relevan-
tes para essa decisão, incluindo a competência do doente;
b) A concordância relativamente a essa decisão de outro mé-
dico com o mesmo grau;
c) Um resumo da informação dada ao doente e/ou ao seu re-
presentante legal e aos elementos da família presentes (e o
grau de parentesco com o doente);
d) A vontade do doente (ou do seu representante legal) se tal
for solicitado;
10) Prontuário eletrônico: A Ordem de Não Reanimar deve ser ade-
quada às normas do prontuário eletrônico para agilizar a sua
utilização.
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cuidado é definido como cuidados ativos, globais, que se prestam
aos doentes cuja afecção não responde ao tratamento curativo.
Pretende-se que o doente e a sua família obtenham a melhor
qualidade de vida possível. O apoio profissional é determinante,
devendo contar com médicos, enfermeiros, psicólogos, técnicos
de saúde, técnicos do serviço social especificamente qualificados
para o efeito. Está em causa a criação de uma rede nacional de
cuidados paliativos no quadro da rede de cuidados continuados.
2) Destinatários:
a) Doentes que, cumulativamente, não têm perspectiva de
tratamento curativo, têm rápida progressão da doença e
com expectativa de vida limitada, têm intenso sofrimento,
e têm problemas e necessidades de difícil resolução que
exigem apoio específico, organizado e interdisciplinar;
b) Estima-se que, por ano, cada mil doentes por milhão de ha-
bitantes careçam de cuidados paliativos diferenciados.
3) Componentes essenciais:
a) Alívio de sintomas;
b) Apoio psicológico, espiritual e emocional;
c) Apoio à família;
d) Apoio durante o luto;
e) Apoio domiciliar;
f ) Interdisciplinaridade.
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de acompanhamento, componente essencial dos cuidados palia-
tivos, deve estar alicerçada tanto em redes sociais de apoio – que
potenciem os recursos individuais do doente dependente – como
na família, elemento nuclear de uma sociedade solidária.
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questionado se o direito à autodeterminação é ilimitado, prin-
cipalmente no atinente ao pedido para terminar a própria vida,
ou se existem fronteiras éticas que não devem ser ultrapassadas.
A classe médica, em concreto, tem-se manifestado majoritariamen-
te contra a legalização da eutanásia, ainda que frequentemente
sejam invocados fatores atenuantes no que diz respeito a atos
concretos isolados. Ou seja, o debate social e político em torno da
eutanásia origina grandes discussões em um diálogo nem sempre
construtivo em torno dos conceitos de morte assistida e de morte
com dignidade. Porém, apesar da importância desse debate – e
em constante crescente nas sociedades civilizadas – existe uma
manifesta falta de informação objetiva sobre os motivos que po-
dem originar um pedido dessa natureza.
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ultrapassar essa questão da suspensão versus abstenção de tra-
tamento, recorre-se à expressão “limitación del esfuerzo terapéuti-
co”, que abarca simultaneamente ambos os conceitos (CAMPOS,
2003). Na realidade, as correntes doutrinárias mais representa-
tivas nessa matéria não traçam nenhuma distinção eticamente
sustentável entre suspender ou não iniciar determinado tipo de
suporte avançado de vida. Pelo que se torna fundamental promo-
ver o consenso possível sobre essa temática. Tal como em outros
países, a realização de uma Conferência Nacional de Consenso
sobre a Suspensão ou Abstenção de Tratamento em Doentes Ter-
minais2 – que envolveu tanto especialistas como a sociedade civil
– foi um excelente instrumento para promover a generalização de
recomendações sobre essa temática. Assim, tem-se progressiva-
mente reafirmado a noção de que a vontade previamente mani-
festada deve ser respeitada e, quando tal não for possível por falta
de informação fidedigna, deve prevalecer o standard de “melhor
interesse” do doente, de acordo com critérios universais de razoa-
bilidade (DRESSER, 2005). A necessidade de um standard objetivo
e razoável é ainda mais necessário quando existem importantes
diferenças interculturais, influenciadas por fatores complexos, tal
como a existência ou não de crença religiosa, como constataram,
aliás, Sprung et al. (2007) em um estudo europeu multicêntrico
que envolveu cerca de 31.000 doentes em 37 unidades de cuida-
dos intensivos.
CFM/FMUP 55
Assim, quem pede a eutanásia não quer é viver naquela situação
específica, pelo que se trataria apenas de um grito de desespero
quanto à vida que está a ser vivida.
No original: “Euthanasia, that is the act of deliberately ending the life of a patient, even at
3
the patient’s own request or at the request of close relatives, is unethical. This does not pre-
vent the physician from respecting the desire of a patient to allow the natural process of
death to follow its course in the terminal phase of sickness”.
CFM/FMUP 57
que é diferente aceitar uma prática no plano conceitual a lega-
lizá-la, devido às consequências sociais da despenalização sobre
outros valores sociais.
John Keown (2002), por sua vez, afirma que é má política pública
a legalização da eutanásia e da assistência ao suicídio, porque não
existem mecanismos efetivos de controle social que impeçam a
sua prática em doentes que não tenham prestado consentimento
livre e esclarecido para o efeito. Esse autor vai ainda mais longe, ao
considerar que, no Reino Unido, a proposta submetida em maio
de 2006 ao Parlamento Britânico (House of Lords) pretendia em
princípio legalizar apenas a assistência médica ao suicídio mas,
na prática, abria a porta à eutanásia ativa não voluntária (KEOWN,
2007). Essa proposta foi rejeitada por 148 votos contra 100, e em
grande medida porque permitia a exposição dos doentes – so-
bretudo os mais vulneráveis – ao abuso potencial de familiares e
profissionais com menos escrúpulos. Isto, apesar da opinião pú-
blica de muitos países democráticos ser favorável a sua aplicação
(NUNES, 2009a).
CFM/FMUP 59
Ainda que se evidenciasse alguma estabilização do número ab-
soluto de casos de eutanásia na Holanda ao longo dos últimos
anos, a evidência científica demonstra que não existiu qualquer
agravamento do risco de prática da eutanásia voluntária em gru-
pos particularmente vulneráveis relativamente à população em
geral (BATTIN et al., 2007) − principalmente, em idosos, em de-
ficientes, em doentes mentais, em doentes crônicos, em pessoas
com baixo nível cultural, ou nas minorias étnicas e raciais. Fica por
determinar, contudo, a verdadeira realidade no que se refere à eu-
tanásia não voluntária e involuntária, principalmente quando se
trata de doentes incompetentes, especialmente crianças e recém-
-nascidos com graves deficiências neurológicas. Para diminuir esse
problema, Van Marwijk, Haverkate e The (2007) advogam que os
especialistas em Medicina Geral e Familiar devem entrar em con-
tato com essa problemática desde o início da sua carreira profis-
sional, e que o tema da morte assistida deve ser obrigatoriamente
incluído no programa de formação dessa especialidade médica.
CFM/FMUP 61
Os cuidados paliativos implicam a percepção por parte da
sociedade de que os doentes terminais têm características
próprias, tendo também necessidades distintas de outras
camadas da população. Mais uma vez, o papel da família
nesse contexto é essencial, devendo-se criar as infraes-
truturas necessárias para que o doente terminal possa ser
acompanhado por familiares e amigos;
CFM/FMUP 63
Em conclusão, diversos estudos multicêntricos − em particular o
desenvolvido pela Comissão Remmelink na Holanda, quando se
iniciou a prática legal da eutanásia neste país − confirmaram cla-
ra e inequivocamente que a maioria dos pedidos de eutanásia se
deve a sofrimento intenso, devido ao sentimento de abandono e
de exclusão social, e quase nunca à dor profunda e insustentável.
A sociedade deve então se organizar para incluir, acompanhar e
integrar todos os doentes terminais e as pessoas portadoras de
doenças crônicas. Mas, em todo o caso, a problemática da eutaná-
sia – enquanto vertente do suicídio racional (APPEL, 2007) – será
sempre uma preocupação de qualquer sociedade democrática e
plural. Precisamente porque a essência de uma democracia secu-
lar é a convivência de distintas visões do bem comum.
Enquadramento ético-normativo
CFM/FMUP 65
a pessoa se pode ou não aperceber – ele decide estar doente. Isto
é, o mesmo grau de incapacidade representa, na biografia de di-
ferentes pessoas, diferentes estados de doença. Quando ocorre a
mudança de estado psicológico, da saúde para a doença, então
esta se torna em um acontecimento médico. Na criança, porém, o
fenômeno adaptativo tem contornos diferentes. Ao refletir sobre
a qualidade de vida de uma criança doente, poucos tomam cons-
ciência de que ela pode nunca ter experimentado outro tipo de
vida, pelo que pode, ao seu próprio estilo, realizar-se plenamente.
66 Testamento vital
e de inserção social. Segundo essa corrente de pensamento,
sendo a família a unidade básica da sociedade e sendo os pais
seu núcleo original, deve-se incrementar o grau de informação
quanto ao problema da doença e deixá-los tomar as decisões que
considerarem mais convenientes dentro de determinados limites
éticos socialmente aceites. Mas, para que essa visão se concretize
transculturalmente, pode se evocar a emergência de um direito a
um futuro aberto (FEINBERG, 1980) que garanta a todos os cida-
dãos as condições necessárias para usufruir dos benefícios a que
têm direito. Esse direito poderá implicar uma alteração do concei-
to de melhor interesse para a pessoa. Nessa ótica, e à luz da dou-
trina da responsabilidade social, compete ao governo garantir as
condições para o seu pleno exercício (NUNES, 2006b).
CFM/FMUP 67
tratados apenas com algum pormenor aqueles direitos que são
mais relevantes para a implementação das diretivas antecipadas
de vontade.
Quadro 3
Direitos dos doentes (NUNES, 2014a)
1) Autonomia
2) Informação
3) Vontade previamente manifestada
4) Liberdade de escolha
5) Privacidade
6) Acesso à informação de saúde
7) Não discriminação e não estigmatização
8) Acompanhamento espiritual
9) Primado da pessoa sobre a ciência e a sociedade
10) Queixa e reclamação
11) Equidade no acesso
12) Acessibilidade em tempo útil
68 Testamento vital
reconhecendo, contudo, que uma sociedade democrática e plu-
ral assenta os seus pilares na capacidade dos cidadãos efetuarem
escolhas livres, no quadro de uma verdadeira cultura de respon-
sabilidade. Todavia, deve-se ter em atenção que a consagração de
direitos implica a existência de deveres correlativos, tal como os
expressos na Carta dos Direitos dos Utentes (NUNES; MELO, 2007).
Porém, a correlação entre os direitos e os deveres é talvez uma das
principais lacunas existentes na aculturação dos cidadãos na era
democrática. Estes tomaram progressivamente consciência dos
seus direitos, como a liberdade de expressão e de associação, mas
não desenvolveram paralelamente um sistema de valores que se
identifique com o exercício de uma cidadania responsável. Assim,
não é de estranhar que os usuários dos serviços de saúde ape-
nas se sintam portadores de direitos e, do mesmo modo, que os
profissionais de saúde não sintam qualquer obrigação de prestar
contas da sua atividade (public accountability) (NUNES; REGO; NU-
NES, 2009), levando, por vezes, ao limite o princípio da indepen-
dência profissional.
CFM/FMUP 69
Isto é, a possibilidade de o usuário escolher de um modo escla-
recido o profissional desejado e o hospital que melhor se adequa
aos seus interesses. No âmbito de um sistema de saúde, no qual
operam agentes com distintas motivações e objetivos, a liberdade
de escolha, no quadro de uma redução significativa da assimetria
de informação, revela-se instrumental para racionalizar as rela-
ções econômicas entre os diversos atores.
70 Testamento vital
processo de decisão. Conceito invocado em muitos estados
estadunidenses a propósito da licitude da interrupção vo-
luntária de gravidez até ao limite de viabilidade fetal;
CFM/FMUP 71
tem na moralidade interna da medicina, bem como na forma
como esta é socialmente colocada em perspectiva. De fato, se for
permitido ao médico desvendar algum tipo de informação a res-
peito do doente, ainda que de uma forma limitada, nada garante
ao cidadão comum que esses limites não possam vir a ser arbitra-
riamente dilatados. Assim, um argumento consequencialista deve
ser igualmente considerado, uma vez que é do interesse geral que
a confidencialidade do ato clínico seja preservada dentro de limi-
tes éticos estabelecidos.
72 Testamento vital
presente ou futura do indivíduo, bem como a sua história clínica
e familiar), então esse conceito inclui a informação destinada a ser
utilizada em prestações de cuidados ou tratamentos de saúde, es-
tando assim para além da intervenção médica em sentido estrito.
Mais importante do que essa distinção é a proteção das pessoas
no que diz respeito ao tratamento dos dados pessoais e à livre cir-
culação desses dados. Ao definir-se por dados pessoais qualquer
informação, de qualquer natureza e independentemente do res-
pectivo suporte, incluindo som e imagem, relativa a uma pessoa
singular identificada ou identificável, é importante garantir o direi-
to de acesso a esses dados, ainda que através do médico assistente.
CFM/FMUP 73
Mais ainda, o princípio de que o acesso à informação de saúde
deve ser efetuado por meio de um médico necessita de um es-
clarecimento mais aprofundado, pois, como é do conhecimen-
to geral, no prontuário clínico encontra-se informação de saúde
proveniente de diferentes profissionais de saúde (médicos, enfer-
meiros, técnicos superiores de saúde etc.). Pelo que a expressão
anteriormente referida não resulta clara em ambiente hospitalar.
Em todo o caso, importa salientar que o direito em causa – acesso
à informação pessoal constante no prontuário clínico – deve ser
considerado como um direito inalienável dos usuários dos ser-
viços de saúde. Aos profissionais de saúde incumbe a tarefa de
disponibilizar, em tempo útil, essa informação de modo a que não
haja prejuízo para o diagnóstico e tratamento dos doentes.
74 Testamento vital
privilegiada; que, de acordo com o Código Deontoló-
gico da Ordem dos Médicos, é ao médico responsável
que compete garantir a privacidade do doente atra-
vés do segredo profissional; […] uma solução possível
é a implementação de mecanismos de proteção no
acesso aos dados informáticos, nomeadamente atra-
vés da criação de complexas palavras-chave – a dife-
rentes níveis – que limitem o acesso ao doente, à sua
família (com consentimento) ou ao pessoal de saúde
diretamente relacionado com o doente; […]. (COMIS-
SÃO DE ÉTICA DO HOSPITAL DE SÃO JOÃO, 2002).
CFM/FMUP 75
o impacto da distanásia. Recorde-se que já em 1976 o California
Natural Death Act legalizou o testamento vital (living will) na Cali-
fórnia, ao que se seguiu legislação nos restantes estados estadu-
nidenses e em muitos países europeus. A Espanha, por exemplo,
legislou nesta matéria em 2002, sendo geralmente considerado
como um importante marco civilizacional. Também, em países
com a mesma tradição cultural, a legalização das diretivas ante-
cipadas de vontade seria um importante vetor de afirmação dos
direitos individuais, especialmente dos doentes terminais, refor-
çando o sentimento de autodeterminação e de independência
diante de intervenções médicas não desejadas (ASSOCIAÇÃO
PORTUGUESA DE BIOÉTICA, 2006a; 2006b). O que está em causa
é a legitimidade – nos planos ético e jurídico – das diretivas ante-
cipadas de vontade entendidas como instruções que uma pessoa
dá antecipadamente, relativas aos tratamentos que deseja ou que
recusa receber no fim da vida, para o caso de se tornar incapaz de
exprimir a sua vontade ou de tomar decisões por e para si pró-
pria. O testamento vital (living will) é hoje uma prática corrente em
muitos países ocidentais. A utilização do testamento vital como
elemento estrutural da decisão médica – e não apenas com va-
lor indiciário – implica que alguns requisitos básicos do consenti-
mento sejam adequados a essa nova modalidade.
76 Testamento vital
Na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis
é permitido ao médico limitar ou suspender proce-
dimentos e tratamentos que prolonguem a vida do
doente, garantindo-lhe os cuidados necessários para
aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na pers-
pectiva de uma assistência integral, respeitada a von-
tade do paciente ou de seu representante legal.
CFM/FMUP 77
avaliação deve estar alicerçada em critérios de objetivação de
prognóstico (ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CUIDADOS PALIATI-
VOS, 2008). Nesses doentes tem sido também considerada uma
prática eticamente adequada à utilização de sedação, desde que
sob supervisão médica. Contudo, a ética da sedação paliativa está
para além do âmbito da aplicação dessas recomendações, mere-
cendo uma abordagem diferenciada no capítulo seguinte.
78 Testamento vital
3) Quando um doente competente solicita expressamente
determinado tratamento e essa modalidade terapêutica
presumivelmente não só salva a vida como mantém uma
qualidade de vida aceitável, esse pedido deve ser respeita-
do (exceto se não existirem condições objetivas que permi-
tam a satisfação desse pedido).
CFM/FMUP 79
9) Quando o doente se encontra incompetente e, portanto, in-
capaz de decidir livremente, a informação clinicamente re-
levante deve ser partilhada com a família − entendendo-se
por “família” aqueles que se encontram em maior proxi-
midade com o paciente, independentemente da relação
parental existente. Em todo o caso deve ser respeitada e
protegida a intimidade da pessoa doente.
80 Testamento vital
13) Quando existe uma razoável probabilidade de que o
doente incompetente pode recuperar a competência de-
cisional, devem envidar-se todos os esforços para restituir
a autonomia, dando a oportunidade ao paciente para con-
sentir ou recusar determinada estratégia terapêutica.
CFM/FMUP 81
III. Decisões Respeitantes a Doentes Competentes e Incompetentes
82 Testamento vital
Em síntese, torna-se fundamental promover o consenso possível
sobre esta temática (JOHNSON, 2005) envolvendo tanto especia-
listas como a sociedade civil de modo a promover a generalização
de recomendações sobre a temática da ortotanásia com vista a
uma reumanização da medicina, o que implica um esforço em di-
versos níveis. Por um lado, no plano da formação. É essencial que
o ensino médico tenha uma forte incidência na dimensão huma-
na das relações interpessoais. Aprender a lidar com a vida e com a
morte implica um novo paradigma em nível formativo, com uma
ênfase especial no respeito profundo pela dignidade da pessoa
humana (CALLAHAN, 2005). Por outro, importa entender que a
medicina se desenrola hoje em equipe multidisciplinar, respeitan-
do as competências específicas de cada profissão, com o objetivo
último de melhor servir os doentes e a sociedade.
CFM/FMUP 83
e Brasil, por exemplo – é a dimensão ética da sedação paliativa.
Note-se que a sedação é uma intervenção médica utilizada para
providenciar alívio em uma multiplicidade de circunstâncias clíni-
cas. Pode ser usada conjuntamente com tratamentos curativos ou
de suporte vital em doentes não terminais – tal como os grandes
queimados –, pode ser ou não contínua, e pode variar em intensi-
dade, desde sedação ligeira até à inconsciência total. Essa propos-
ta de recomendações vai debruçar-se apenas sobre a sedação em
doentes terminais, entendida tradicionalmente como o uso de
fármacos (opiáceos, benzodiazepinas etc.) para aliviar sintomas
refratários causadores de sofrimento intolerável que não foram
passíveis de alívio por outros meios em um período de tempo
aceitável (CHIU et al., 2001). Ou seja, essas recomendações preten-
dem abordar exclusivamente a sedação paliativa contínua até à
inconsciência, independentemente de se considerar que existem
outras aplicações relevantes da sedação que devem merecer uma
abordagem diferenciada.
84 Testamento vital
contra a sua vontade. Mais ainda, a eutanásia voluntária pressu-
põe a livre expressão da vontade individual ou, por outro lado,
a vontade previamente expressa e, nessa perspectiva, apenas se
pode referir ao termo “eutanásia” quando a morte é provocada
por um médico (BATTIN, 2003). Assim, não está em causa, com es-
sas recomendações, a avaliação da dimensão ética da eutanásia.
CFM/FMUP 85
3) A boa consequência não pode ser obtida através da má;
86 Testamento vital
3) A situação ideal seria uma prática profissional digna, adequa-
da e diligente, ou seja, aquilo que se designa por ortotanásia.
O Conselho Federal de Medicina (2006) determinou que:
CFM/FMUP 87
2011), principalmente no que diz respeito às Ordens de
Não Reanimar (DNR-Order – Do-Not-Resuscitate Order, ou
mais corretamente DNAR-Order – Do Not Attempt Resusci-
tation Order);
88 Testamento vital
I. Sugerem-se as seguintes recomendações sobre a sedação pa-
liativa contínua até à inconsciência em doentes terminais5:
CFM/FMUP 89
posterior. No estado atual da tecnologia, trata-se apenas da pre-
servação de cadáveres, ainda que por tempo indeterminado, mas
estima-se que pessoas em estado terminal possam também ser
alvo de criopreservação a temperaturas muito baixas. Essa hipóte-
se parte do pressuposto de que as estruturas cerebrais responsá-
veis pela memória e pela personalidade podem persistir mesmo
em estado de morte cerebral.
90 Testamento vital
mente o cadáver é colocado em um contentor de alumínio imerso
em nitrogênio líquido a -196 °C.
I. Enquadramento ético
geral permite-se que a pessoa, durante a sua vida, disponha sobre o que irá acontecer
ao seu corpo depois da morte, por exemplo, a utilização do cadáver para fins de inves-
tigação ou de ensino médico. O mesmo argumento poderá ser utilizado a propósito da
criônica.
CFM/FMUP 91
dignidade humana e mesmo a identidade pessoal são afeta-
das pela criogenia; isto é, mesmo obtido o consentimento da
pessoa importa determinar se a suspensão criogênica afeta
ou não a percepção geral de dignidade e de identidade. De
fato, não existem estudos de medicina baseados na evidên-
cia que determinem se é possível manter as características
essenciais da personalidade – no plano cognitivo, emocional
ou mesmo moral – após reversão da suspensão criogênica.
A identidade pessoal, sendo o produto entre a identidade ge-
nética e a identidade espiritual, ficaria ou não afetada pela sus-
pensão vital por tempo indeterminado? Ou seja, tratar-se-ia da
mesma pessoa ou de pessoa diferente após a ressuscitação?
92 Testamento vital
deve ser verdadeiramente livre, dispondo das condições
mínimas para se autorrealizar. Essa autonomia pode não
se limitar ao caso index mas estender-se a outros elemen-
tos da família – autonomia familiar. No que diz respeito à
suspensão criogênica, o consentimento deve ser rigorosa-
mente informado e a pessoa que efetuar essa escolha deve
ficar plenamente esclarecida dos limites e alcance dessa
tecnologia. Pelo que se deduz que só é equacionável a crio-
genia quando a decisão é tomada em vida por uma pessoa
adulta, capaz e competente, sem qualquer tipo de condi-
ção ou distúrbio mental que afete o seu julgamento. Sendo
muito mais discutível a sua implementação em crianças,
quando estas não se encontrem em condições de prestar
um consentimento válido e eficaz. Também seria questio-
nável, ainda que possível, a elaboração de um testamen-
to vital no qual estivesse prevista a suspensão criogênica,
dado que a vontade previamente manifestada, e expressa
numa diretiva antecipada de vontade, aplica-se geralmente
durante a fase terminal da vida e não após a morte da pes-
soa. Mais ainda, implicaria necessariamente uma interven-
ção de terceiros e não apenas a suspensão ou abstenção
de tratamentos. Ou seja, será que é possível obter um con-
sentimento verdadeiramente informado e esclarecido para
a suspensão criogênica, livre de qualquer influência mani-
pulativa ou mesmo de publicidade enganosa?
CFM/FMUP 93
devem ser claras e inequívocas no sentido de garantir que
todas as intervenções decorrem de acordo com as leges artis
respeitando a vontade livre do paciente. Mas pode-se ques-
tionar se a simples hipótese de suspensão criogênica não
poderia originar um condicionamento da vontade de tal
magnitude que originasse a prática da eutanásia prematura
ou de outras formas de assistência médica ao suicídio?
94 Testamento vital
de herança. Mais ainda, não é claro a quem compete a tu-
tela do cadáver mantido em suspensão criogênica durante
anos ou décadas. Assumindo que se trata de um contrato
com valor jurídico a empresa contraente não será nunca
“proprietária” do cadáver criosuspenso, mas sua gestora no
quadro de um negócio jurídico bem definido. Em todo o
caso fica por determinar como se processa a cadeia de cus-
tódia do cadáver assim que este seja potencialmente res-
suscitado, quem se responsabiliza por ele a todos os títulos,
principalmente diante da provisão de cuidados de saúde
que serão obviamente necessários. Como é que a legislação
irá resolver essa disputa entre os direitos da pessoa criopre-
servada e os direitos dos familiares diretos abrangidos pelo
direito de sucessão em relação ao patrimônio familiar?
CFM/FMUP 95
possível garantir a justiça e a equidade no acesso à suspensão
criogênica e aos benefícios decorrentes desta tecnologia?
II. Recomendações
96 Testamento vital
2) Sendo a garantia de qualidade um pré-requisito técnico,
essa tecnologia deve apenas ter lugar em laboratórios que
pautem a sua atividade por princípios técnicos e éticos bem
estabelecidos. Principalmente através da certificação ou da
acreditação pelas autoridades competentes nessa matéria.
CFM/FMUP 97
progressivamente partilhada com o doente e a sua família. Em
doentes terminais, a determinação de limites à intervenção médi-
ca é cada vez mais o paradigma da atuação médica, impondo-se,
então, a existência de normas no nosso ordenamento jurídico que
permitam uma interpretação adequada da vontade das pessoas.
Ou seja, e em outra perspectiva, está em causa o exercício do di-
reito à liberdade ética sendo este considerado como o valor fun-
damental das sociedades contemporâneas.
98 Testamento vital
a evolução verificada na relação médico/doente, irei efetuar uma
análise dos princípios subjacentes à proposta de legalização do
testamento vital.
a) Consentimento prospectivo
CFM/FMUP 99
Quadro 4
Elementos estruturais do consentimento informado
1) Competência
2) Comunicação
3) Compreensão
4) Voluntariedade
5) Consentimento
CFM/FMUP 101
saúde. Existem, então, algumas variantes do consentimento que
podem ser invocadas em contextos distintos (NUNES, 2014b):
CFM/FMUP 103
d) A pessoa pode ter perdido as capacidades físicas neces-
sárias para assinar, como é, por exemplo, o caso de doen-
tes com esclerose múltipla avançada.
CFM/FMUP 105
da medicina responsabilidades particulares, principalmente em
situações-limite como a doença terminal ou o estado vegetati-
vo persistente. O testamento vital é a expressão mais vincada da
vontade previamente manifestada por parte do doente. Trata-se
de uma reinvenção da doutrina do consentimento esclarecido se-
gundo a qual o consentimento não produz efeitos no imediato,
mas antes no futuro, mais ou menos próximo, isto é, de um modo
prospectivo. Em síntese, a legalização das diretivas antecipadas
de vontade é uma importante evolução civilizacional que remete,
mas não se esgota, no direito à autodeterminação da pessoa em
matéria de cuidados de saúde. Pelo que é importante continuar a
debater as principais forças e fraquezas dessa iniciativa.
Neste livro não se procede a nenhuma distinção conceitual entre “tratamento”, “suporte
8
CFM/FMUP 107
conceitual sobre o que se entende por eutanásia. Expressões ar-
caicas, tal como eutanásia passiva, que incluíam um conjunto de
práticas muito variadas devem ser abandonadas, desde logo, por-
que são hoje prática corrente na medicina. Por exemplo, e como
já se referiu em capítulo anterior, a sedação é hoje uma prática
rotineira na doença terminal ainda que por vezes possa antecipar
o momento da morte do doente.
CFM/FMUP 109
Quadro 5
Princípios para a legalização do testamento vital
(NUNES, 2011)
1) Limitação a pessoas capazes, competentes, maiores de idade e
não inibidas por anomalia psíquica;
2) Informação e esclarecimento adequados, por intermédio de
um médico com formação técnica apropriada;
3) Efeito compulsivo na decisão médica e não meramente indiciá-
rio, exceto em condições muito particulares;
4) Existência de um formulário-tipo com o objetivo de padronizar
procedimentos;
5) Possibilidade de revogação a qualquer momento e sem qual-
quer formalidade;
6) Renovação periódica da manifestação de vontade. Este prazo
poder-se-ia situar entre os três e os cinco anos;
7) Certificação perante um notário para garantir a autenticidade e
evitar influências indevidas na esfera da decisão pessoal, e/ou;
8) Criação no âmbito do sistema de saúde de um Registro Nacio-
nal de Testamento Vital (Rentev) para agilizar o acesso ao testa-
mento vital por parte dos médicos.
give assent to decisions about participation in research, the physician must seek that
assent in addition to the consent of the legally authorized representative. The potential
subject’s dissent should be respected”.
CFM/FMUP 111
nicas em palavras escritas, que posteriormente serão plasmadas
em um documento com valor jurídico. Daí que apesar de surgirem
inúmeras tentativas para discriminar os atos médicos passíveis de
consentimento ou dissentimento prospectivo – através da elabo-
ração de diretivas antecipadas de vontade muito circunstanciadas
– a generalidade das legislações aprovadas nesse domínio opta
por formulários simples, com expressões genéricas, em que mais
do que caracterizar os atos médicos específicos se dá uma indica-
ção clara dos valores éticos a respeitar. Principalmente no que diz
respeito à suspensão ou abstenção de meios desproporcionados
de tratamento (ROBERTSON, 2001).
Quadro 6
Princípios para a legalização do instituto ético/jurídico
do procurador de cuidados de saúde (NUNES, 2011)
1) Limitação a pessoas capazes, competentes, não inibidas por
anomalia psíquica, e adequadamente informadas;
2) Adoção pelo procurador de cuidados de saúde de um “julga-
mento substitutivo”, ou seja, o procurador deve decidir res-
peitando o quadro de valores do doente de acordo com a sua
biografia pessoal. Quando tal não for possível deve imperar a
doutrina do “melhor interesse do doente”.
2) Testamento vital;
CFM/FMUP 113
que muitos países aprovaram já disposições normativas referen-
tes a decisões clínicas com profundas implicações éticas. A gene-
ralização das ordens de não reanimar é um bom exemplo de uma
ferramenta adicional para uma prática médica consentânea com
os valores mais representativos das sociedades contemporâneas.
Eu,_________________________________________________
Portador(a) do documento de identificação nº _____________,
nascido(a) a__ de_________ de____, residente em _____________
_________________________________________________código
postal ____-______, nacionalidade ________________, telefone
__________________
Declaro que:
CFM/FMUP 115
que seja permitida a evolução natural da minha doença sendo ape-
nas providenciados os cuidados paliativos necessários para o meu
conforto ou para o alívio das dores e sofrimento.
_______________ _______________________________
Data Assinatura do Declarante
_____________________ ____________________
Assinatura do Notário e/ou Assinatura do Funcionário
do Rentev
gal, uma proposta de lei que visava à legalização das Diretivas Antecipadas de Vontade,
na forma de testamento vital e de procurador de cuidados de saúde (Projeto de Diploma
Nº P/06/APB/06 que Regula o Exercício do Direito a Formular Diretivas Antecipadas de
Vontade no Âmbito da Prestação de Cuidados de Saúde e Cria o Correspondente Regis-
tro Nacional). Após a sua discussão pública, foram apresentados quatro outros projetos
de lei em 2010, devendo realçar-se que existe uma notável semelhança entre o projeto
original da Associação Portuguesa de Bioética e a versão final aprovada por unanimida-
de na Assembleia da República.
CFM/FMUP 117
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta obra tem como objetivo nuclear elucidar o leitor sobre a im-
portância do testamento vital, no quadro mais amplo da imple-
mentação de um conjunto de medidas que pretendem humani-
zar a morte na sociedade contemporânea. Porém, se a legalização
do testamento vital não esgota a complexidade do fenômeno da
morte, identifica um caminho. O caminho da mudança no sentido
da construção de uma sociedade atenta aos mais desfavorecidos,
aos mais vulneráveis, principalmente no que se refere aos doen-
tes na terminalidade da vida. O contributo principal desse livro
é, precisamente, ajudar a refletir sobre a morte e o morrer bem
como sobre o modo como se pode exercer a autonomia em fase
de incapacidade para decidir (BURLÁ; REGO; NUNES, 2014).
CFM/FMUP 119
à autodeterminação das pessoas. É uma vitória das sociedades
democráticas e plurais que defendem o ideal de que a cidadania
se exerce com um profundo sentido ético de responsabilidade. É,
portanto, uma conquista civilizacional.
CFM/FMUP 121
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CFM/FMUP 131
Rui Nunes obteve em 1996 o grau de doutor
em Medicina na área da Bioética, em 2002
o título de agregado em Sociologia Médica
e em 2009 o título de agregado em Bioética.
É professor catedrático de Sociologia Médica
da Faculdade de Medicina da Universidade
do Porto e diretor do doutorado em Bioética
(FMUP/CFM), do doutorado em Cuidados
Paliativos e da pós-graduação em Gestão e
Administração Hospitalar. Publicou 22 livros
sobre temas relacionados com bioética, saúde e cultura, entre os quais
Regulação da saúde, Testamento vital, GeneÉtica e Democracia e sociedade.