O Que e Garantismo Penal Douglas Fischer
O Que e Garantismo Penal Douglas Fischer
O Que e Garantismo Penal Douglas Fischer
Douglas Fischer,
2
Cidad
pelo
ento
presidente
do
Congresso
Nacional,
Ulysses
Guimares.
Estabelecidos ento novos marcos tericos sociais, polticos e
tambm jurdicos, a partir da metade da dcada de 1990 comearam a
surgir manifestaes doutrinrias mais enfticas fazendo coro
necessidade de aplicao, tambm no Brasil, da doutrina de garantias.
Em sntese inicial, no mais poderiam ser aplicveis inmeros
dispositivos
legais
apresentassem
entendimentos
completamente
jurisprudenciais
incompatveis
com
as
que
se
garantias
Prieto
Sanchs
defenda
que
justia
constitucional
3
Na senda de Gascn Abelln, importante visualizar
como
primera
aproximacin
que
un
derecho
garantista
penal
pelo
menos
em
nossa
tica
e,
segundo
abertamente
proteo
dos
direitos
fundamentais
4
Qui pela preocupao de que fossem protegidos de forma urgente
e imediata apenas os direitos fundamentais individuais dos cidados (e
havia na gnese do movimento razes plausveis para uma maior
proteo de tais direitos), no raro vemos hodiernamente um certo
desvirtuamento dos integrais postulados garantistas, na medida em que
a nfase nica continua recaindo exclusivamente sobre direitos
fundamentais individuais (como se houvesse apenas a exigncia de um
no-fazer por parte do Estado como forma de garantir unicamente os
direitos de primeira gerao).
Tambm
so
correntes
situaes
tpicas
de
decisionismos
que
se
diga,
cientfica
e/ou
dogmaticamente,
qual
protegem-se
exclusivamente
direitos
individuais
modo
de
compreenso
da
doutrina
aplicada)
uma
5
desproporcionalidade em relao aos demais direitos fundamentais que
formam a complexa teia de bens e valores que possuem proteo
constitucional.
A questo central do presente e modesto trabalho est exatamente
a: em doutrina e jurisprudncia, tm-se difundido os ideais garantistas
sem que se analise pelo menos de um modo minimanente dogmtico o
que, efetivamente, significa garantismo penal. a ntegra de seus
postulados (devidamente concatenados) que pretendemos seja aplicada
(porque assim a Constituio determina), e no o que tem havido em
muitas
situaes
(valorizando-se
unicamente
direitos
individuais
nossas
premissas
assentadas
noutro
momento 5,
doutrina,
tambm
podem
defluir
posicionamentos
6
buscar a compreenso do garantismo penal que se considera mais
adequada, pois, na senda de Larenz, a alternativa verdadeiro/falso
estranha ao Direito, em que existe apenas o aceitvel (justificvel).
Como diz, em complemento, Recasns Siches,
garantista
todo
sistema
penal
que
se
ajusta
7
J numa segunda acepo, o garantismo designa uma teoria
jurdica de validade e efetividade como categorias distintas no somente
entre si, mas tambm acerca da existncia e vigncia das normas. Sob
esse espectro, garantismo expressa uma aproximao terica que
mantm separados o ser e o dever ser em Direito8. Numa frase: o juiz
no tem obrigao jurdica de aplicar as leis invlidas (incompatveis
com o ordenamento constitucional), ainda que vigentes.
Pelo prisma de uma terceira acepo, garantismo designa uma
filosofia poltica que impe ao Direito e ao Estado a carga da justificao
externa conforme os bens jurdicos (todos!) e os interesses cuja tutela e
garantia constituem precisamente a finalidade de ambos9.
Essas trs acepes de garantismo, diz Ferrajoli10, delineam uma
teoria geral do garantismo: o carter vinculado do poder pblico ao
estado de direito; a separao entre validade e vigncia; a distino
entre ponto de vista externo (ou tico-poltico) e o ponto de vista interno
(ou jurdico) e a correspondente divergncia entre justia e validade.
Gascn
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razn: teora del garantismo penal. 4 ed. Madrid: Trotta,
2000. p. 852.
9
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razn: teora del garantismo penal. 4 ed. Madrid: Trotta,
2000. p. 853.
10
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razn: teora del garantismo penal. 4 ed. Madrid:
Trotta, 2000. p. 854.
11
GASCN ABELLN, Marina. La teora general del garantismo: rasgos principales. In:
CARBONELL, Miguel; SALAZAR, Pedro. Garantismo: estdios sobre el pensamiento
jurdico de Luigi Ferrajoli. Madrid: Trotta, 2005. p. 30.
8
8
Como salienta Prieto Sanchs12, Ferrajoli sempre insistiu que o
paradigma garantista
en
que
representa
la
outra
cara
del
9
la accin criminosa, la imputabilidad y la culpabilidad de su
autor y, adems, su prueba emprica llevada por una
acusacin ante un juez imparcial en un proceso pblico y
contradictorio con la defensa y mediante procedimientos
legalmente preestablecidos14.
relao
ao
reconhecimento
delito
de
cometido
Ferrajoli
da
(que
demonstra
necessidade
do
expresso
Direito
Penal,
10
materialidade; 6) princpio da culpabilidade: a responsabilidade criminal
do agente que praticou o ato, sendo necessria a devida e segura
comprovao
da
culpabilidade
do
autor;
remanescendo
dvidas
garantas
positivas
garantas
negativas;
las
primeras
en
respeto
de
algun
derecho
fundamental,
11
positivamente para cumplir con la expectativa que derive de
algun derecho18.
para
fundamentais
a (e
na) proteo
(individuais
dos
coletivas)
direitos
e
na
das garantias
exigibilidade
do
12
inserto em captulo que trata dos direitos e deveres individuais e
coletivos.
Assim,
como
forma
de
maximizar
os
fundamentos
[grifos nossos].
20
13
Se a Constituio o ponto de partida para (tambm) a anlise
(vertical21) do influxo dos princpios fundamentais de natureza penal e
processual penal, decorre da que o processo hermenutico no poder
assentar-se sobre frmulas rgidas e pela simples anlise pura (muito
menos literal) dos textos dos dispositivos legais (inclusive da prpria
Constituio).
Na linha dos prprios fundamentos basilares do garantismo, no
se afigura difcil compreender que a Constituio ocupa uma funo
central no sistema vigente (sem gerar um panconstitucionalismo),
podendo-se dizer que seus comandos traduzem-se como ordenadores e
Como diz Maria Fernanda Palma (Direito constitucional penal. Coimbra: Almedina,
2006. p. 16), a Constituio pode conformar o Direito Penal porque funciona como
uma espcie de norma fundamental autorizadora do Direito ordinrio, assumindo um
papel hierarquicamente superior.
21
14
dirigentes22 aos criadores e aos aplicadores (intrpretes) das leis (a
includa a prpria Constituio, por evidente).
Como se v da doutrina de Maria Fernanda Palma,
22
15
Nessa linha, entendemos tambm deva ser a interpretao do prprio
contedo dos dispositivos constitucionais.
Para
ns,
significa
que
compreenso
defesa
dos
Diante
de
uma
Constituio
que
preveja,
explcita
ou
unicamente
monocular
hiperblico:
evidencia-se
16
garantismo dinmico, que es el que trasciende el marco de o
proceso penal y tambin el de la mera garanta individual de
carcter reactivo para ampliarse al asegurarmiento de otros
derechos e de los correspondientes espacios hbiles para su
ejercicio.
como
uma
obra
no
meio
do
caminho,
carente
de
ha
ido
efectivamente
expandindose)
en
tres
17
setenta
por
intermdio
de
juzes
do
grupo
Magistratura
18
demais realar, as garantias so verdadeiras tcnicas insertas no
ordenamento que tm por finalidade reduzir a distncia estrutural entre
a normatividade e a efetividade, possibilitando, assim, uma mxima
eficcia dos direitos fundamentais (mas de todos os grupos de direitos
fundamentais) segundo determinado pela Constituio31.
Parece bastante simples constatar que a teoria do garantismo se
traduz numa tutela daqueles valores e/ou dos direitos fundamentais,
cuja satisfao, mesmo contra os interesses da maioria, constitui o
objetivo justificante do Direito Penal. Vale dizer: quer-se estabelecer uma
imunidade e no im(p)unidade dos cidados contra a arbitrariedade
das proibies e das punies, a defesa dos fracos mediante regras do
jogo iguais para todos, a dignidade da pessoa do imputado e tambm a
proteo dos interesses individuais e coletivos32.
Assim, se todos os Poderes esto vinculados a esses paradigmas
como de fato esto , especialmente o Poder Judicirio quem tem o
dever de dar garantia tambm aos cidados (sem descurar da necessria
proteo dos interesses sociais e coletivos) diante das eventuais violaes
que eles vierem a sofrer. exatamente por isso que Miguel Carbonell
refere que
19
20
garantir a segurana e convivncia entre os pares que no infringiram o
ordenamento jurdico.
Analisando o tema relacionado aos deveres de proteo e os
direitos fundamentais, Gilmar Mendes reconheceu (com acerto, para
ns) que
no
apenas
uma
proibio
do
excesso
da
Corte
Constitucional
alem,
pode-se
21
la clusula del Estado social de derecho modifica el contenido
que los derechos fundamentales tenan en el Estado liberal.
[] De este modo, junto a la tradicional dimensin de derechos
de defensa, que impone al Estado el deber de no lesionar la
esfera de libertad constitucionalmente protegida, se genera un
nuevo tipo de vinculacin, la vinculacin positiva. En esta
segunda dimensin, los derechos fundamentales imponen al
Estado un conjunto de deberes de proteccin [dizemos ns:
de proteo tima] que encarnan en conjunto el deber de
contribuir a la efectividad de tales derechos y de los valores
que representan36.
22
que favorezcan la proteccin de su objeto normativo, y que no
impliquen la vulneracin de otros derechos e principios que
juegen en sentido contrario. El carcter prima facie de estos
derechos implica que las intervenciones del legislador de las
que
sean
objeto
slo
puedan
ser
constitucionalmente
se
aplica
para
determinar
si
las
omisones
la
prohibicin
de
proteccin
deficiente.
Esta
fundamental
de
manera
ptima,
vulnera
las
23
fundamental de proteccin. [...] Una abstencin legislativa o
una norma legal que no proteja un derecho fundamental de
manera ptima, vulnera las exigencias del principio de
proporcionalidad en sentido estricto cuando el grado de
favorecimiento del fin legislativo (la no-intervencin de la
libertad) es inferior al grado en que no se realiza el derecho
fundamental de proteccin. Si se adopta la escala tridica
expuesta con ocasin de la interdiccin del exceso, se
concluir entonces que, segn la prohibicin de proteccin
deficiente, est prohibido que la intensidad en que no se
garantiza un derecho de proteccin seja intensa y que la
magnitud de la no-intervencin en la libertad o en otro
derecho de defensa sea leve o media, o que la intensidad de la
no-proteccin sea media y la no-interrvencin sea leve. [...]
[grifos nossos]37.
estrito,
restringir
direitos
individuais
fundamentais
dos
cidados.
Ratificamos nossa compreenso38 no sentido de que, embora
construdos
por
premissas
pouco
diversas,
princpio
da
do
excesso
bermassverbot
da
deficincia
24
untermassverbot proporcional) e a teoria do garantismo penal
expressam a mesma preocupao: o equilbrio na proteo de todos
(individuais ou coletivos) os direitos e deveres fundamentais expressos
na Carta Maior.
4.1
Possibilidade
(ou
no)
de
Ministrio
Pblico
realizar
procedimentos investigatrios
H
Ministrio
muitos
Pblico
questionamentos
poder,
acerca
eventualmente,
da
legitimidade
realizar
de
procedimentos
25
pblica, mas isso significa apenas que no devem as provas ser
realizadas pelo juiz40. o que deflui do oitavo princpio, o princpio
acusatrio ou da separao do juiz e da acusao. Alis, foi o que disse
de modo hialino e expresso o prprio Ferrajoli em palestra proferida no
ano de 2007 em Porto Alegre-RS. Ao ser indagado acerca dos poderes
investigatrios do Ministrio Pblico, foi explcito o mestre italiano no
sentido de que o rgo Ministerial deve investigar, mas, no exerccio de
seu mister (o que bvio), est vinculado aos preceitos fundamentais
garantistas
insertos
na
Constituio
quando
realizar
atos
de
seria
apenas
possvel
uma
prorrogao
das
interceptaes
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razn: teora del garantismo penal. 4. ed. Madrid:
Trotta, 2000. p. 621. No mesmo sentido, confira-se FONSECA, Mauro de Andrade.
Ministrio Pblico e sua investigao criminal. 2. ed. rev. e atual. Curitiba: Juru, 2006.
p. 116.
41
Fundao Escola Superior do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do Sul,
2007, com traduo de Sandra DallOnder.
42
A propsito, vide SILVA JNIOR, Dcio Lins e. Calabreza, Garantia
fundamental. Boletim IBCCrim, n. 194, jan. 2009. [DIAGRAMADOR, nota da p. 21]
26
2.2.2007) e, majoritariamente, no STJ (v.g. HC n. 116.482-SP, 5
Turma, unnime, publicado no DJ de 2.2.2009) que se deva entender
como correta a posio. que, efetivametne, no h como se fazer uma
interpretao meramente literal do dispositivo de lei. Se verdade que o
Estado no pode agir com excessos injustificados em detrimento do
cidado (bermassverbot, segundo expresso de Canaris ou tambm
hodiernamente denominado de garantismo negativo), no menos correto
que deva agir proporcionalmente para a proteo da coletividade em
razo de prticas delitivas por quaisquer que sejam seus agentes
(Untermassverbot). Compreendemos que a interpretao (sistmica e no
meramente literal) ratificada pelo STF acerca da possibilidade de ser
ultrapassado o prazo de 30 dias nas interceptaes telefnicas, desde
que necessrias e fundamentadas as ordens judiciais que as autorizam,
e da desnecessidade de degravao de todas as interceptaes
coadunam-se com os princpios basilares da Carta da Repblica e no
arrostam, por si s, abstratamente, direitos fundamentais individuais.
Se os direitos fundamentais dos investigados devem ser preservados,
insistimos que eles no so absolutos. Podem ser relativizados se
presente(s)
no caso concreto
outro(s) valor(es)
constitucional(ais)
relevante(s) em sopesamento.
sero
arquivados,
sem
baixa
na
distribuio,
mediante
27
das execues fiscais de dbitos inscritos como Dvida Ativa da
Unio pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela
cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$10.000,00
(dez mil reais).
retromencionado
necessidade
de
manuteno
e
da
reportando-se
uma
(suposta)
que
de
condutas
que
impliquem
grave
violao
do
bem
28
Com todo respeito aos posicionamentos retromencionados, no
trazem em seu bojo o que denominamos de melhor interpretao para a
soluo do problema jurdico.
Para quem se vincula unicamente questo de execuo
(cobrana) no mbito cvel, de se ver inicialmente que, como muito
bem
salienta
o ministro
Eros
Grau
em sua
famosa
obra
de
29
superam aquele limite referido na norma retrorreferida. Todavia, o dano
social relacionado com o bem jurdico protegido pela norma penal
continua, em princpio, evidente. Em suma, o fundamento das regras de
mbito cvel de no execuo e/ou cobrana dos valores evitar
exatamente que a sociedade seja novamente penalizada, gastando-se
mais que o prprio objeto do dano perseguido o qual pertence aos
cofres pblicos. Assim, mesmo no havendo eventual interesse da
cobrana no mbito civil, o dano social (penal) continua evidente.
No entanto, no s. A incidncia (sempre excepcional) do
princpio da insignificncia penal no est vinculado unicamente ao
valor do prejuzo em delitos de dano. Como reconhecido pelo Supremo
Tribunal Federal (mas noutros tipos de delitos normalmente em delitos
de furto contra o patrimnio privado),
da
ao,
reduzido
grau
de
reprovabilidade
do
30
o princpio da insignificncia que deve ser analisado em
conexo
com
os postulados
da
fragmentariedade
e da
de modo que
de
reprovabilidade
do
comportamento
(d)
31
aos delitos de sonegao fiscal (arts. 1 e 2 da Lei n. 8.137/1990 e
arts. 168-A, 1, I, e 337-A, ambos do CP), levando-se em conta
unicamente o patamar de R$10.000,00 da leso causada, e no se
adota o mesmo no caso de delitos de estelionato em detrimento do
Estado47, na medida em que os bens jurdicos tutelados nos delitos
referidos so o errio pblico, pois se tratam de delitos (unicamente)
patrimoniais e que, em sua maioria, envolvem fraudes perpetradas 48.
Alis, o delito previsto no art. 1 da Lei n. 8.137/1990 guarda bastante
similitude com o de estelionato (art. 171, CP). Em ambos h a prtica
de uma fraude em que o objetivo a obteno de uma vantagem
indevida, com o nico detalhe tipolgico que, nos delitos de sonegao
fiscal, a vantagem perseguida a reduo ou supresso de tributo (ou
de contribuio previdenciria, se analisado o crime do art. 337-A, CP).
Exatamente por isso que (e concordamos com tal posicionamento) a
jurisprudncia majoritariamente vem reconhecendo que, se a fraude
cometida em detrimento do Estado foi para obter uma restituio de
imposto de renda maior do que a que seria devida, no h se falar em
sonegao fiscal (porque no suprimido ou reduzido tributo), mas sim
em estelionato em detrimento da Unio49.
PENAL. ESTELIONATO. PREVIDNCIA SOCIAL. PRINCPIO DA INSIGNIFICNCIA.
Conforme recente orientao da 4 Seo, no se aplica o princpio da insignificncia
aos delitos de estelionato contra a seguridade social, porquanto o bem jurdico
protegido, nesses casos, no possui apenas natureza patrimonial. [...] (Recurso
Criminal n. 2008.72.05.002498-4/SC, TRF da 4 Regio, j. em 15. 4.2009, publicado
no DJ de 22.4.2009).
48
HUNGRIA, Nelson; FRAGOSO, Heleno. Comentrios ao cdigo penal. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1980. p. 164 e 227; MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito
penal: parte especial. 23. ed. So Paulo: Atlas, 2005. p. 303 e 305; NUCCI, Guilherme
de Souza. Manual de direito penal: parte geral: parte especial. 3. ed. rev., atual. e ampl.
So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 739; PRADO, Luiz Regis. Curso de direito
penal brasileiro. 7. ed. rev., atual. e ampl., 2. tir. So Paulo: Revista dos Tribunais,
2008. p. 443.
49
PENAL. ESTELIONATO CONTRA A FAZENDA PBLICA. ARTIGO 171, 3, DO CP.
RESTITUIO
DE
IMPOSTO
DE
RENDA
OBTIDA
MEDIANTE
DIRPF
IDEOLOGICAMENTE FALSA. AUTORIA.
47
32
Entendemos que esse uso indiscriminado de um verdadeiro
minimalismo penal (que no se amolda integra dos postulados
garantistas: como diz Ferrajoli, o abolicionismo a anttese do
garantismo), notadamente nos casos em que a vtima o Estado, poder
conduzir a uma total desproteo sistmica.
33
Constituio Federal. Uma observao relevante: a anlise aqui
desenvolvida dar-se- apenas pelo prisma ora proposto, sendo de relevo
destacar que, em percuciente trabalho analtico tambm constante da
presente obra, as ilustres procuradoras regionais da Repblica Luiza
Cristina Fonseca Frischeisen e Mnica Nicida Garcia, com Fbio
Gusman, demonstram de forma hialina que, luz do direito comparado,
no h violao a direitos fundamentais de rus processados e
condenados exigibilidade de cumprimento das penas na pendncia de
recursos extremos.
Com efeito, em sede de recurso extraordinrio, como primeira
premissa, no mais se discute culpa ou inocncia do agente criminoso j
condenado pelas instncias competentes, mas sim eventual afronta
Constituio nas situaes bastante restritas nela prevista. Na exata
dico do julgado na Questo de Ordem no AI n. 664.567-2-RS (em que
foram traados os parmetros fundamentais do tratamento referente
repercusso geral), o recurso
extraordinrio busca
preservar
Federal
tem
assentado
que,
tambm
para
fins
de
50
).
34
Em terceiro lugar, reforado agora pela exigncia da demonstrao
da repercusso geral, no cabe mais falar em possibilidade de
interposio do recurso extraordinrio para discusso de questes
meramente individuais da parte envolvida na demanda criminal
Em
quarto
lugar,
em
situaes
excepcionais
em
que
se
de
efeito
suspensivo
irresignaes51,
desde
que
comprovados
35
o juzo positivo de admissibilidade do recurso extraordinrio
no tribunal de origem, a viabilidade processual do recurso
extraordinrio devido presena dos pressupostos extrnsecos
e intrnsecos do referido recurso, a plausibilidade jurdica da
pretenso
de
direito
material
deduzida
no
recurso
36
A propsito, esse raciocnio, desenvolvido mais detalhadamente
em outra oportunidade52, foi acolhido como argumento a mais pelo
ministro Menezes Direito, que, ao proferir seu voto no julgamento do HC
n. 84.078, firmou entendimento no sentido de que a execuo da pena
na
pendncia
de
recursos
extraordinrios
no
importaria
em
5 Concluses
Ferrajoli entende que no possvel falar com decncia de
democracia, igualdade, garantias, direitos humanos e universalidade de
direitos se no levarmos (na ntegra) finalmente a srio segundo a
frmula de Dworkin a Declarao Universal dos Direitos da ONU de
1948 e os Pactos sobre os Direitos de 196653.
Acorrendo-se Declarao Universal dos Direitos Humanos54 (que
serviu
de
paradigma
para
muitos
dispositivos
de
nossa
Carta
52
37
tambm de deveres fundamentais (exemplificativamente, vide artigos III,
X, XI e XXIV).
Diante
do
exposto,
no
concordamos
com
as
posies
prevalncia
indiscriminada
somente
de
direitos
fundamentais
38
proteo ativa dos interesses da sociedade e dos investigados e/ou
processados. Integralmente aplicado, o garantismo impe que sejam
observados rigidamente no s os direitos fundamentais (individuais e
coletivos), mas tambm os deveres fundamentais (do Estado e dos
cidados),
previstos
na
Constituio.
Estado
no
pode
agir
necessidade
de
proteo
apenas
dos
direitos
REFERNCIAS
39
CARBONELL, Miguel. La garanta de los derechos sociales en la teora de
Luigi Ferrajoli. In: CARBONELL, Miguel; SALAZAR, Pedro. Garantismo: estdios
sobre el pensamiento jurdico de Luigi Ferrajoli. Madrid: Trotta, 2005.
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda (Org.). Canotilho e a constituio
sirigente. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razn: teora del garantismo penal. 4. ed.
Madrid: Trotta, 2000.
______. Garantismo: una discusin sobre derecho y democracia. Madrid: Trotta,
2006.
______. Derechos y garantias: la ley del ms dbil. 4. ed. Madrid: Trotta, 2004.
FISCHER, Douglas. Delinquncia econmica e estado social e democrtico de
direito. Porto Alegre: Verbo Jurdico, 2006.
______.Garantismo penal integral (e no o garantismo hiperblico monocular)
e o princpio da proporcionalidade: breves anotaes de compreenso e aproximao
dos seus ideais. Revista de Doutrina Revista de Doutrina da 4 Regio, Porto Alegre, n.
28,
mar.
2009.
Disponvel
em:
<http://www.revistadoutrina.
trf4.jus.br/artigos/edicao028/douglas_fischer.html>.
______. A execuo de pena na pendncia de recursos extraordinrio e
especial: possibilidade em face da interpretao sistmica da Constituio. Revista de
Direito Pblico, v. 25, p. 7-30, 2009. Tambm publicado na Revista de Interesse
Pblico, n. 47, mar. 2008 e no Boletim dos Procuradores da Repblica, n. 79, mar.
2008.
GARCA DE ENTERRIA, Eduardo. La constitucin como norma y el tribunal
constitucional. 3. ed. Madrid: Civitas, 2001.
GASCN ABELLN, Marina. La teora general del garantismo: rasgos
principales. In: CARBONELL, Miguel; SALAZAR, Pedro. Garantismo: estdios sobre
el pensamiento jurdico de Luigi Ferrajoli. Madrid: Trotta, 2005.
GONALVES, Luiz Carlos dos. Mandados expressos de criminalizao e a
proteo de direitos fundamentais na Constituio brasileira de 1988. So Paulo:
Frum, 2008.
GRAU, Eros Roberto. Ensaio sobre a interpretao/aplicao do direito. 3 ed.
So Paulo: Malheiros, 2005.
HUNGRIA, Nelson; FRAGOSO, Heleno. Comentrios ao Cdigo Penal. 4. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1980.
40
MART MRMOL, Jos Luis. El fundamentalismo de Luigi Ferrajoli: un
anlisis crtico de su teora de los derechos fundamentales. In: CARBONELL, Miguel;
SALAZAR, Pedro. Garantismo: estdios sobre el pensamiento jurdico de Luigi
Ferrajoli. Madrid: Trotta, 2005.
MENDES, Gilmar Ferreira. Os direitos fundamentais e seus mltiplos
significados na ordem constitucional. Revista Jurdica Virtual, Braslia, v. 2, n. 13, jun.
1999.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte especial. 23. ed. So
Paulo: Atlas, 2005.
NABAIS, Jos Casalta. O Dever Fundamental de Pagar Impostos. Coimbra:
Almedina, 1998.
______. Estudos de Direito Fiscal. Coimbra: Almedina, 2005.
______. Direito Fiscal. 3 ed. Coimbra: Almedina, 2005.
_______. Por uma liberdade com responsabilidade: estudos sobre direitos e
deveres fundamentais. Coimbra: Coimbra, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral: parte
especial. 3. ed. rev., atual. e ampl. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
PALMA, Maria Fernanda. Direito constitucional penal. Coimbra: Almedina,
2006.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. 7. ed. rev., atual. e ampl.,
2. tir. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
PRIETO SANCHS, Luis. Constitucionalismo y garantismo. In: CARBONELL,
Miguel; SALAZAR, Pedro. Garantismo: estdios sobre el pensamiento jurdico de
Luigi Ferrajoli. Madrid: Trotta, 2005
______. Justicia constitucional y derechos fundamentales. Madrid: Trotta, 2003.
RANGEL, Paulo. O clone da inquisio terrorista. Disponvel em:
<http://jusvi.com/artigos/1319>. Acesso em: 21 nov. 2008.
RECASNS SICHES, Luis. Nueva filosofia de la interpretacin del derecho. 2.
ed. Mxico: Porra, 1973.
SILVA JNIOR, Dcio Lins e. Calabreza, Garantia fundamental. Boletim
IBCCrim, n. 194, jan. 2009.
41
STRECK, Lnio. Teoria da constituio e jurisdio constitucional. Porto
Alegre, Escola da Magistratura do Tribunal Regional Federal da 4 Regio, 31 mar.
2006. Palestra conferida no mdulo V do Curso de Direito Constitucional.