Trabalho Fungos

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Título: DERMATOMICOSES EM MATERIAL CLÍNICO DE CÃES

PROVENIENTE DA REGIÃO DE BAGÉ-RS, NO PERÍODO DE 2007 A 2008

Autores:

INTRODUÇÃO:

As dermatomicoses são importantes doenças dos cães e outras


espécies de animais domésticos, causando danos aos animais e alguns fungos
atingindo o homem, tendo enorme importância em saúde pública.
A dermatofitose é uma infecção de estruturas queratinizadas como
unhas, pêlos e camada córnea da pele, de fácil contágio. Em cães, fungos
dermatófitos zoofílicos, que preferem animais como hospedeiros, como
Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes são os mais comuns
(KIRK, 1985). Dermatófitos geofísicos, como o Microsporum gypseum são
menos prevalentes (OHLEN, 1990).
O contato direto como os artrópodos e hifas é o principal modo de
transmissão. Estes organismos podem estar presentes nos animais ou no
ambiente, mas também em escovas, pentes e camas do animal (WILLEMSE,
1996). Muitas vezes a transmissão ocorre devido a portadores, havendo relato
mais freqüente em cães da raça Yorkshire (MEDLEAU & HNILICA, 2003).
Devido ao estreito e importante convívio das pessoas com os animais de
estimação, frequentemente usados como ajuda para crianças, idosos e
portadores de necessidades especiais, torna-se necessário o correto
diagnóstico e tratamento das enfermidades, especialmente as zoonóticas.
A prevalência dos fungos varia conforme diversos fatores tais como
região, clima e população animal.
Alguns fungos oportunistas podem produzir dermatomicoses devido a
stress, terapêutica com esteróides ou antibióticos (JUNGERMMAN, 1972;
MAZA et alii, 1999). O significado do isolamento de fungos saprófitas
dependerá de diversas considerações tais como sinais clínicos, quantidade de
colônias isoladas em cultura e isolamento repetido do mesmo fungo (MAZA et
alii, 1999).
Quanto aos aspectos clínicos, a lesão clínica pode ser localizada
multifocal ou generalizadas. Pode haver prurido mínimo a discreto e,
ocasionalmente, intenso. Em geral, as lesões se manifestam como áreas
circulares de alopecia, irregular ou difusa, com graus variados de discamação.
Os pêlos remanescentes podem parecer curtos ou quebrados. Outros sinais
incluem eritema, pápulas, crostas, seborréia e parníqueas ou oncodistrofia de
um ou mais dedos. Outras manifestações cutâneas incluem foliculite facial e
furunculose (TILLEY, 2003).
Os sinais clínicos de uma infecção dermatofílica variam
consideravelmente, por isso quando lesões alopecias, arredondadas, com
prurido de intensidade variável ou ausente, forem apresentadas na clínica por
cães, deve ser realizados exames complementares de pele que possibilite o
diagnóstico diferencial de outras dermatopatias que apresentem sinais
semelhantes como demodicose, piodermatite superficial processos alérgicos ou
neoplásicos (BEALE, 1998).
Para o tratamento de dermatofitoses, os agentes antifúngicos sistêmicos
são os fármacos de escolha, pois como os cães apresentam alta densidade de
pêlos e os organismos estão profundamente inseridos nos folículos pilosos,
então o contato com agentes tópicos não se faz completo. Porém, o tratamento
antifúngico sistêmico não reduz o contágio rapidamente e tem-se um acréscimo
de eficácia quando associado aos agentes tópicos. (MULLER et al, 1985).
O cetoconazol é indicado para uso sistêmico em dosagem de 5-
10mg/kg, sendo que pode ser utilizado para tratamento tópico. Possui amplo
potencial terapêutico para o tratamento de infecções micóticas superficiais e
sistêmicas (NOBRE et al, 2002).
Itraconazol é um antifúngico de largo espectro com indicação para
micoses superficias e quando o cetoconazol não se demonstrou eficiente, com
dose diária de 5-10mg/kg e em micoses profundas e subcutâneas com doses
de 10-20 mg/kg/dia (NOBRE et al, 2002).
Agentes antimicóticos mais comumente encontrados em cremes e
pomadas incluem clotrimazol (1%, 2x/dia), muito aplicado em infecções por
Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes, econazol e miconazol
(1-3%), tendo seu uso tópico mais indicado devido a toxicidade que
apresentam (NOBRE et AL, 2002). Enilconazol possui indicação somente
veterinária com mínimos efeitos colaterais, tem tido sucesso no tratamento de
dermatofitoses em concentração final de 0,2% (LÓPEZ et al, 2002).
O tratamento de dermatofitoses beneficia-se muito de banhos contendo
antifúngicos. Assim sendo, enilconazol 0,2% e clorexidina 2-4% demonstraram-
se muito eficientes para este fim (LÓPEZ et al, 2002).
É importante lembrar que os agentes antifúngicos sistêmicos deve ser
administrados por duas semanas após a cura clínica, ou até que a cultura
fúngica seja negativa, o que geralmente necessita de quatro a vinte semanas
(MULLER et al, 1985).
Todos os animais infectados, incluindo os portadores assintomáticos
devem ser tratados. Efetua-se tratamento profilático em cães expostos não
infectados, com solução antifúngica tópica ou banho de imersão,
semanalmente. Em geral, o prognóstico é bom, sendo desfavorável em animais
com doenças imunossupressoras primárias (MEDLEAU & HNILICA, 2003).

Objetivos:

O presente trabalho teve como objetivos o estudo da ocorrência e


etiologia das dermatomicoses em cães com suspeita clínica; verificar a
influência de fatores de susceptibilidade como idade e freqüência por sexo.

MATERIAL E MÉTODOS

No exame clínico considerou-se como sugestivo de uma infecção por


dermatófito quando as lesões eram circulares, com alopecia e com bordos
elevados e inflamados e região central com descamação ou crostas.
O material foi coletado da forma mais asséptica possível através de
raspados dos bordos da lesão, procurando coletar-se pêlos, com auxílio de
pinça. Procurou-se que as lesões cutâneas suspeitas ficassem isentas de
restos exógenos antes de serem coletadas as escamas de queratina. Caso a
lesão apresenta-se com aspecto contaminado, procedia-se uma suave
higienização com gaze embebida em álcool a 70% ou água estéril (KIRK,
1996).
Após, as amostras das lesões foram submetidas ao exame direto com
hidróxido de potássio a 20% e semeadas em placas de Petry com meio de
cultura de Agar Sabourand Dextrose a 4% e com papel filtro, durante 7 a 21
dias em temperatura ambiente (HAZEN & REED, 1980).
A identificação do gênero do dermatófito envolveu as características
morfológicas macroscópicas da cultura e seu reverso, além das características
microscópicas de macroconídeos e microconídeos (HAZEN & REED, 1980).
Os animais que estavam sendo tratados tópica ou por via sistêmica
foram afastados do tratamento por no mínimo 7 dias para que o material fosse
coletado. Em alguns casos repetiu-se a coleta.
O total de amostras foi de 49 cães, efetuando-se uma ficha individual
com dados como identificação, idade, sexo e observações clínicas.

RESULTADOS

Das amostras estudadas, 58,62% foram positivas para dermatófitos.


Destas, 34,48% forma positivas para Trichophyton spp, e 24,13% para
Microsporum spp. Do total das amostras em 31,03% os fungos isolados eram
oportunistas, infecções mistas ou não foi possível a identificação e 10,34%
resultaram negativas.
Observou-se uma maior freqüência associada a fatores como clima e
criação animal. A maioria dos diagnósticos positivos ocorreu em meses com
maior umidade.
Dentre as amostras, 50% eram provenientes de cães dos sexo
masculino e 50% fêmeas, enquanto que, com relação a idade, 43% dos
animais tinham menos de 12 meses e 56% tinham mais que 12 meses.

RESULTADO DAS AMOSTRAS ESTUDADAS

10,34
1 Amostras positivas para dermatófitos

2 Fungos oportunistas
31,03
58,62

3 Negativos para dermatófitos

Tabela 1: Resultado das amostras estudadas


Fungos Dermatófitos Isolados (58,62% )

24,13
1 Trichophyton ssp

34,48 2 Microsporum ssp

Tabela 2: Fungos dermatófitos isolados

Fig. 1: dermatomicose em cão

Fig 2: Fotomicrografia de macroconídeos


de Microsporum canis

Fig. 3: Lesão cutânea fúngica


Fig. 4: dermatofitose em mão humana por M. canis

Fig 5: Colônias de Microsporum canis em Agar Sabourand Dextrose

Fig 6: Microsporum canis – macroconídeos com extremidades característica e hifas septadas

Fig 7: Colônias de Trichophyton spp em Agar Sabourand Dextrose

DISCUSSÃO:
Pelos resultados obtidos observou-se que é alta a freqüência de
dermatofitoses em cães, concordando com autores como KIRK (1985) e
OHLEN (1990), que citam os gêneros Microsporum spp e Trichophyton spp
como os mais comuns.
Devido a importância e a casuística freqüente das dermatopatias em
clínica de pequenos, algumas com potencialidade zoonóticas, como é o caso
das dermatomicoses, acredita-se que os agentes etiológicos devem ser
isolados e caracterizados para que se estabeleça uma terapêutica adequada.
No presente trabalho, embora se tenha focado a pesquisa em cães com
lesões clínicas de dermatófitos, ocorreu a positividade em 58,62%, apontando
para a importância do diagnóstico laboratorial para confirmação da suspeita
clínica, considerando o fato de que no restante das amostras analisadas
41,68% resultou em organismos e diagnósticos diversos do presuntivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JUNGEERMAN, P. F.; SCHWAARTZMAN, R. M. Medical Mycology Ed. Sea &


Febiger, Philadephia, 1972

LÓPEZ, J. R.; Uso de fármacos em dermatologia de pequeños animales


Consulta de Difusión Veterinária V. 10 p.87-97 2002

MAZA, L. M. de la; Atlas de Diagnóstico em Microbiologia Ed. Artmed, Porto


Alegre, 1999

MEDLEAU, L. & HNILICA, K. A. Dermatologia de pequenos animais. São


Paulo, Ed. Roca, 2003

MULLER, G. H.; KIRK, R.W.; SCOTT, D. W.; Dermatologia dos Pequenos


Animais. 3º Ed, São Paulo Editora Manole 1985

NOBRE, M. de O.; NASCENTE, P. da S.; MEIRELES, M. C.; FERREIRA, L.;


Drogas Antifúngicas para Pequenos Animais, Rev. Ciência Rural v. 32 nº1
2002

SCOTT, D. W.; MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E., Dermatologia de Pequenos


Animais. 5º Ed. Rio de Janeiro Editora Interlivro 1996

SOUZA, H. J. M. Coletâneas em Medicina e Cirurgia. Rio de Janeiro L. F.


Livros de Veterinárias, 2003

VIEIRA, F. C.; PINHEIRO, V. A. Formulário Veterinário Farmacêutico. 1º Ed.


São Paulo Editora Pharmabooks 2004
WILLEMSE, T.; Dermatologia Clínica de Cães e Gatos: Guia para
Diagnósticos e Terapia. São Paulo, Editora Manole 1994

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