Direito
Direito
Direito Penal II
27.02.2018
Metodologia
• CRP e CP
• Casos práticos
• Jurisprudência
• Ida a tribunal
Bibliografia
• Fernanda Palma
o Direito penal parte geral
o O princípio da desculpa em direito penal
o Da tentativa possível em direito penal
• Figueiredo Dias
• Nacionais:
o Eduardo Correia
o Cavaleiro de ferreira
o Teresa beleza
o Américo taipa de carvalho
o Germano marques da silva
o José de Faria Costa
• Alemanha:
o Hans Heinrich Jescheck
o Claus Roxin
o Gunter Stratenwerth
o Gunter Jakobs
Avaliação
• Aula extra: simulação de frequência
Notas introdutórias
• O código penal:
o A sistemática
▪ PG – 1º a 130º
• 1º a 9º: teoria da lei penal
• 10º a 39º: teoria do crime
• 40º a 130º: teoria da pena
▪ PE – 131º a 389º
• Organizada de acordo com o bem jurídico
Há uma regra na parte especial, os tipos da parte especial são todos dolosos e a
negligencia só é punida quando tiver prevista na lei, art.º 13º CP, tem de estar previsto na lei.
Direito Penal II
No que diz respeito à propriedade, estão apenas previstos de forma dolosa, tratando-se
de uma opção legislativa. O negligente é muitas vezes o último tipo que surge, contudo, o
legislador pode configurar pelo menos negligente e pelo mais doloso, como ocorre na condução
sob o efeito de álcool.
Homicídio por omissão (131º + 10º/1) – podem na parte especial estar apenas descrito
como uma ação, há a regra na parte que os crimes comicivos/materiais/resultado podem ser
definidos pela ausência de uma conduta. O 10º/2 acrescenta que só é punido se recair sobre o
agente uma posição de garante, evitar o resultado (dever jurídico). Qual a fonte do dever
jurídico? Não está especificado pelo legislador, nada mais indica. A doutrina discute quais as
fontes do dever, não havendo unanimidade – omissão impura ou imprópria.
190º - reserva da vida privada, conduta por omissão – quem se introduz na habitação
sem o consentimento ou quem é intimado a retirar-se e recusa-se a fazê-lo. O tipo tem a conduta
por ação ou omissão, pura ou própria.
Sistema categorial-classificatório
Formas de crime:
• Comparticipação
• Tentativa
• Crimes negligentes
• Crimes por omissão
1.03.2018
1. A injuria B. À luz do conceito de ação da escola clássica, A pratica uma ação para efeitos do
disposto no artigo 181.º do CP? E de acordo com a escola neoclássica?
Para a escola neoclássica teria de a ação ser socialmente relevante, passando a haver
uma valoração, continuando a assentar numa aceção causalista, coincidindo com o conceito de
ação da escola clássica. Na escola neoclássica passa a considerar-se em primeiro lugar a tipo
(valoração social que é dada pelo tipo do ilícito) e não a ação (característica da escola clássica).
O tipo só releva se tiver sido considerada proibida, a ação não tem autonomia dogmática face à
tipicidade. É o tipo que nos dá a conduta.
Eduardo Correia – traz a escola neoclássica para Coimbra, Figueiredo Dias é seu
discípulo.
Direito Penal II
Decorre, então, que a ação se funde com a tipicidade e com a ilicitude, dando origem
a uma construção bipartida, em que num primeiro momento se analisa a parte objetiva de um
comportamento por referência à lei e num segundo momento analisa a parte subjetiva do
mesmo, ao abrigo do conceito de culpa.
2. A vê o seu filho B de 5 anos a afogar-se numa praia deserta e nada faz para o socorrer,
apesar de ser um nadador medalhado. À luz do conceito de ação da escola clássica, A pratica
Direito Penal II
uma ação para efeitos do disposto no artigo 131.º (cf. 132.º, n.ºs 1 e 2, alínea a)) do CP? E à
luz da escola neoclássica?
Escola clássica – para a omissão, formula como a contração dos músculos para não atuar
que se consubstancia numa ação para, neste caso o filho afogar-se.
Escola neoclássica – o que importa é que exista uma previsão legal, a previsão
normativa, violação de um dever jurídico.
Uma das principais criticas dirigidas a Belling foi a dificuldade em integrar as omissões
no conceito de ação naturalista e mecanicista, porquanto a escola clássica define a ação como
uma modificação objetiva do mundo exterior através de um movimento corporal voluntário.
Uma primeira formulação seria a ideia de que o sujeito se contraiu para não agir, o
que seria em si, uma ação. Uma segunda formulação levou à ideia de que punir a omissão é
atribuir importância à ação precedente (p.e. a mãe seria punida não por ter deixado o seu
bebé morrer à fome, mas por, em vez de o amamentar, ter ido passar um fim de semana no
campo).
A, ao não agir, não está sequer a praticar uma ação que modifique o estado das coisas.
A sua passividade, simplesmente está a deixar que o resultado (evitável) se verifique. Isto
demonstra-nos a dificuldade que existe em integrar as omissões no conceito de ação clássico.
MFP critica a escola neoclássica por esta realizar esta equiparação total entre a ação e
a omissão sem explicar qual a estrutura comportamental que permite esta analogia,
considerando que há uma relativização demasiado extrema do conceito de ação.
Escola neoclássica – por vezes os tipos de ilícito a par dos elementos fácticos, também
contém conceitos normativos e por vezes exigem elementos subjetivos especiais que não se
confundem com o dolo.
Direito Penal II
a coisa é propriedade de outrem, o que pode não ser diretamente observável. É um elemento
normativo, ou seja, é um conceito jurídico. Se, para a escola clássica a tipicidade era
meramente descritiva, normativa e neutra, como é possível explicar?
Dai os neoclássicos virem dizer que, por vezes, certos tipos contém elementos
normativos ou elementos subjetivos especiais.
Teoria Geral da Infração Penal – É o método que nos permite determinar se o agente deve
ou não ser responsabilizado criminalmente. Pune-se o agente pela prática de factos.
Cada uma destas tem um determinado conteúdo que vai ser densificado. O facto é
apenas um, mas o conceito de crime é construído através de diversas categorias que vão valorar
o facto, compele-nos a comparar a hipótese penal com o facto. Sistema categorial classificatória.
Direito Penal II
Uma das críticas feitas é que a ação não serve para a maioria dos crimes, ex. injuria e
homicídio. Ainda que tenha estipulado a fronteira entre o que pertence ao crime e às regras
processuais (dimensão adjetiva). Outra conquista é que esta esclareceu a questão do
inimputável, embora o facto pratica pelo agente não seja presumível de culpa, se a ação for
típica e ilícita, é possível atuar-se contra ele, sendo possível atuar em legitima defesa. Ainda que
ao inimputável não se possa aplicar penas, mas apenas medidas de segurança.
6.03.2018
Se todas as valorações estão no tipo, será o tipo que fundamenta a ilicitude, é uma
categoria una. Se a categoria é o tipo de ilícito, só podemos afirmar que há tipo quando não
Direito Penal II
houver uma causa de justificação – teoria dos elementos negativos do tipo – estas são o
pressuposto negativo do tipo. Visão bipartida – tipo de ilícito e culpa.
Agora temos uma culpa normativa, assentando esta num juízo de censurabilidade ética
dirigida ao agente. Se for censurável é que vamos analisar as modalidades da culpa, dolo e
negligencia.
5. Porque sabe que A, pai de B, com 3 anos de idade, é funcionário de um banco, C rapta B e
ameaça A de que caso não subtraia do banco em que trabalha 250.000,00€, matará B. A
subtrai 250.000,00€ do banco e entrega-os a C. À luz da escola clássica, que concebe a culpa
como ligação psicológica entre o agente e o facto praticado, a conduta de A será culposa? E à
luz da escola neoclássica?
Direito Penal II
Ora, este último aspeto permitiria não punir A, porque o seu comportamento à luz dos
padrões da sociedade, seria claramente desculpável como atuação sob estão de necessidade
desculpante. Isto porque é discutível se existe sequer dolo, visto que o agente foi coagido a
praticar o crime. Falha também a exigibilidade do comportamento adequado ao direito, face
à gravidade da ameaça. Afastar-se-ia, então, a culpa.
A ação seria típica e ilícita, mas não culposa, não havendo punibilidade.
6. A empurra B para o chão, com o intuito de lhe subtrair a carteira, mas, porque B grita por
socorro e várias pessoas se acercam, A acaba por fugir do local, sem nada subtrair. À luz da
escola neoclássica, A praticou um crime de ofensa à integridade física (artigo 143.º do CP) ou
um crime de roubo na forma tentada (artigos 210.º e 22.º, n.ºs 1 e 2, alíneas b) e c) do CP? E
de acordo com a escola finalista?
Para a escola neoclássica, a tipicidade implica um juízo normativo e objetivo, que não
envolve a consideração dos aspetos psicológicos do comportamento (exceto em casos
excecionais). O significado social do comportamento é aferido em função da tipicidade. Este
fundamenta a ilicitude.
Como este existe uma fusão entre o elemento da tipicidade e o elemento da ilicitude,
o importante é a danosidade social que o comportamento objetivamente criou e não a
intenção do agente.
Já na escola finalista, há uma valoração prévia do conceito de ação final. Nesta teoria,
a voluntariedade é indissociável do conteúdo da vontade (a representação feita pelo agente
e em função da qual o sujeito orienta o seu comportamento). Ou seja, importa o processo
causal posto em marcha pelo agente e a representação da finalidade que este fez, a condução
para fins ou objetivos previamente selecionados.
Posto isto, o próprio juízo da tipicidade é descritivo, mas não é apenas objetivo,
atendendo também à finalidade do agente (elemento subjetivo). O facto de existir dolo do
agente, enquanto intenção de roubar, também não é ignorado.
7. A está a caçar em zona vedada e licenciada para o efeito, cumprindo todas as regras
administrativas, técnicas e de cuidado. Vendo um arbusto a mexer, supõe tratar-se de uma
Direito Penal II
peça de caça e dispara. Todavia, acerta mortalmente em B, outro caçador que ali se tinha
introduzido sem autorização. Como seria o caso resolvido à luz das escolas clássica e
neoclássica? E de acordo com a escola finalista?
Clássica – conceito de ação autonomizado sendo este naturalista, como este é externo
temos uma ação. Quanto à tipicidade pois há uma correspondência entre a descrição e o caso
concreto. Contrariedade à ordem jurídica, corresponde ao que é descrito no art.º 137º, não
havendo nenhuma causa de justificação. Ainda é ilícita. Mas não há uma ligação psicológica
entre o agente e o facto, como não há violação de nenhum dever de cuidado, não há sequer
negligencia, não havendo culpa.
Neoclássica – a ação só seria relevante se fosse típica e ilícita, sendo esta valoração
objetiva com base em factos normativos, a ação preenche o típico de ilícito. Volta novamente a
falhar a culpa, pois não há dolo.
Finalista – o facto nem sequer seria típico, pois temos uma ação final que não é típica,
pois o agente, do ponto de vista subjetivo, não conheceu como objeto da ação outra pessoa, há
um erro na ação que exclui a tipicidade, pois o agente não quis os elementos do tipo (confunde
finalidade com dolo, sendo a falácia do finalismo)
Ou seja, claramente, temos uma ação relevante à luz da Escola Clássica, ainda que a
motivação do sujeito não tenha sido de matar o outro caçador.
O erro sobre as circunstâncias de direito (16º/1) exclui o dolo. Mas este dolo é
analisado na culpa. Isto porque o caçador disparou, pensando que o fazia contra um animal e
não contra um humano.
Direito Penal II
Ora, este último aspeto permitiria não punir o autor, porque o seu comportamento, à
luz dos padrões da sociedade, seria claramente desculpável, por ser um ato automático.
Novamente, temos uma ação típica, ilícita, mas não é culposa, visto que estamos perante uma
causa de exclusão do dolo (16º/1).
Quer para a Escola Clássica como para a Escola neoclássica teríamos uma ação típica e
ilícita, mas não culposa.
No caso em apreço, o caçador realiza uma ação final, no sentido em que dispara com
um propósito, ainda que erróneo.
Para a Escola Finalista, o facto não é sequer típico. Isto implica que um terceiro que se
apercebesse do erro do agente não poderia tentar evitar a ação do caçador, porque esta não
é típica. Isto pode levar à crítica de que o finalismo confunde finalidade com dolo.
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Direito Penal II
Conceção
pessoal- final
de ilícito
A distinção entre o ser e o dever ser é artificial, tendo de se partir do plano do ser, dos
fenómenos. O direito tem de se confrontar com o ser. Chega Welzel à conclusão que o
pensamento deve radicar na ação, no agir humano: é sempre conduzido pela finalidade, as
pessoas conseguem antecipar e representar intelectualmente a sua finalidade, conseguindo
ainda eleger os meios mais adequados para atingir a finalidade que visam atingir. Ação humana
é final. Conceção pessoal e finalista, qual era concretamente a sua vontade? Conceito
meramente pessoal, o que é desvaloroso para o ordenamento jurídico – desvalor da ação.
Poderia haver ainda um desvalor do resultado – quando o resultado é reprovável. Podendo a
conduta ser mais ou menos ilícita.
O que fica para a culpa? Já não há dolo e negligência, mas sim uma conceção normativa
da culpa – tensão entre o poder e o dever – a ideia central é a de exigibilidade. A conduta é
culposa quando seria exigível que o agente atuasse de modo diferente – livre arbítrio.
8.03.2018
Caso “A mosca”
A conduzia o seu automóvel numa curva quando uma mosca, que entrara através da
janela aberta do veículo, o atingiu num olho e, em consequência, A guinou o volante, perdeu o
domínio do automóvel e entrou na faixa contrária, colidindo frontalmente com outro veículo
que ali circulava. Em consequência, três pessoas ficaram feridas (artigo 143.º do CP).
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Direito Penal II
• Função de classificação (ou positiva): tem de integrar todo o tipo de crimes, incluindo
por exemplo, omissões
• Função sistemática, de definição e ligação: os restantes critérios têm que definir a ação
• Função delimitadora (função seletiva negativa – função garantística)
Previamente, há que procurar saber se estamos perante um ato reflexo, um ato Comentado [JM1]: Ato reflexo: situações em que há um
inconsciente, um automatismo, vis absoluta ou actio libera in causa? movimento corpóreo mecânico em que não há intervenção
do córtex cerebral, podendo derivar de um estímulo externo
Estamos perante um ato reflexo e não um automatismo. O tribunal sustentou que ou interno. Não há intervenção da vontade, pelo que
costumam ser aquela cuja reação é semelhante em todos os
haveria um automatismo: comportamentos interiorizados e aprendidos, que dispensam a seres humanos.
consciência. Entendeu-se que o ato reflexo é um movimento corpóreo que resulta de um Exemplo: uma pessoa apanha uma descarga elétrica e, em
estímulo exterior físico e sem intervenção da psique (p.e., piscar dos olhos, espirros, fechar o consequência, começa a abanar o corpo e magoa um
terceiro. A mosca entra no olho e o autor, em consequência,
olho e os movimentos corpóreos causados por atos médicos). por não conseguir ver, a pessoa guina.
No caso prático, o movimento relevante é o movimento do braço, que é, na verdade, Foi René Decarte que descobriu os atos reflexos.
um ato reflexo.
Após algumas evoluções, os atos reflexos não seriam ações, mas os automatismos Comentado [JM3]: Em geral, a resposta quanto aos atos
reflexos seria sempre a mesma.
seriam. Isto vale, também, para a Escola Neoclássica.
Já quanto aos automatismos, a maioria da doutrina alemã
rejeita que estes não sejam uma ação.
À luz do pensamento da Escola Clássica, o conceito de ação é autonomizado como
primeiro critério de análise da existência de responsabilidade penal. Este conceito é Roxin entende que os automatismos são exteriorizações da
naturalista, porque entende a ação como uma modificação objetiva do mundo exterior personalidade e, portanto, ações (teoria pessoal da ação).
através de um movimento corporal voluntário. Mas também é mecanicista, porque basta a
Eser considera que é um comportamento evitável e,
voluntariedade formal do comportamento, independentemente de a vontade se dirigir à portanto, ação (teoria da evitabilidade).
espécie de ação desenhada legalmente. Ou seja, o conteúdo ou objeto concreto da vontade é
uma questão a ser valorada ulteriormente (na análise da culpa) e não impede a verificação da Já Jakobs defendia a teoria da evitabilidade individual, mas
baseada no tempo de contra-acção. No caso da mosca,
condição de o facto ter a qualidade de ação. Há uma abstração face ao significado da ação no negaria a existência de uma ação.
mundo social, sendo a ação apenas um dado empírico observável: o elemento externo e
objeto de um comportamento voluntário. MFP critica Jakobs e parte antes do critério da previsibilidade
de Stratenwerth. Não é uma previsibilidade do homem
Ou seja, claramente, temos uma ação relevante à luz da Escola Clássica, ainda que não médio, mas à luz do indivíduo. Também nega a existência de
uma ação.
tenha havido intenção consciente do sujeito de praticar o ato. A ação será ter fechado os olhos
e guinado o carro.
Escola Neoclássica
Do ponto de vista objetivo, temos, portanto, uma ação típica e ilícita, pela sua
danosidade social e falta de causa de justificação.
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Direito Penal II
Escola Finalista
Por exemplo, para Eser, o agente ainda é responsável, porque deveria ter previsto que
aquela situação poderia acontecer se conduzisse de janela aberta, MFP não vai tão longe,
considerando que este acontecimento seria relativamente excecional e inevitável. Já
Stratenwerth admite que nos automatismos existe uma ação desde que se possa reconhecer
uma dirigibilidade inconsciente, isto é, desde que o processo global em que o ato se enquadre
esteja determinado ou seja explicável pela experiência.
No fundo, o pensamento finalista fez corresponder aos atos inconscientes ou Comentado [JM4]: Eser é funcionalista
automáticos momentos anteriores identificáveis que corresponderiam a violações de deveres
cognoscíveis pelo agente.
No fundo, esta opção de Jakobs revela uma opção pela desvinculação ao critério da
censurabilidade ética dos comportamentos sociais.
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Direito Penal II
O principal critério de qualificação e decisão da ação são as próprias finalidades Comentado [JM5]: Luhmann:
preventivas do sistema penal. Assim, o dolo é incluído no tipo, com uma função preventiva de •A vida na sociedade moderna é muito complexa e
caracteriza-se pela diferenciação funcional;
motivação de condutas atribuída à norma que justifica um ilícito pessoal. Isto implica que não
•Os sistemas sociais visam a redução da complexidade. Na
existe uma graduação do dolo, pelo que o dolo eventual é, de certo modo, valorado com a interação humana, há sempre várias hipóteses de
mesma intensidade. interação;
•Expectativas cognitivas: havendo frustração da
Como se coloca a necessidade da pena, a prevenção especial, a dignidade da pessoa e expectativa, levará a um ajuste das mesmas;
os valores constitucionais do Estado de Direito como crivo principal, estes vão ser os tópicos •Expectativas normativas: resultam da norma e têm
sempre que ser respeitadas;
que decidem os critérios de responsabilidade e de graduação da pena. •As normas resultam do subsistema Direito, que vai
coordenar todos os outros subsistemas;
A categoria geral da ação não é ponto central do sistema, assumindo apenas uma •As normas são expectativas de comportamento
função delimitativa negativa relativamente aos comportamentos sem um mínimo de estabilizadas em termos contra fáticos (através da
autonomia e voluntariedade. sanção);
Figueiredo Dias
Comentado [JM6]: Maria Fernanda Palma:
Considera que a autonomização da ação é uma conceção excessivamente ôntica, sem •Se o objetivo fundamental da norma é evitar riscos,
então é preciso que se adotem todos os comportamentos
intervenção de um juízo normativo. Assim, a sua análise começa na tipicidade.
necessários para evitar o risco;
•Ora, isso levaria a soluções como as propostas por Eser:
Sistematização:
fechem-se as janelas;
1. Há ou não uma ação penalmente relevante?
• Ato reflexo? – é um movimento corpóreo provocado por um elemento físico, um
estímulo exterior físico, não havendo nenhuma intervenção da vontade. Não há
verdadeiramente uma ação. Ex. piscar os olhos, espirros, fechar os olhos quando entra
uma partícula. E ainda movimentos corpóreos causados por atos médico, ex.
pancadinha no joelho
• Automatismo? – é um comportamento aprendido, interiorizados que ficam no nosso
subconsciente. Sempre que há um estimulo exterior, agimos sem pensar. Ex. conduzir.
• Ato inconsciente?
• Vis absoluta?
• Actio libera in causa?
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Direito Penal II
Se a ação fosse levar a mão aos olhos pela mosca ter entrado no olho, ai sim seria um
ato reflexo. O movimento de afastar a mosca, que faz com que o carro guine, não se inclui nos
anteriores, sendo um automatismo. Quando há um automatismo, não há uma exigência da
consciência atual.
MFP: o conceito de ação comporta estas funções. FD: esta construção estritamente
ôntica sem um momento de valoração social não é consequente, compreendo a primeira
característica a analisar a tipicidade, a ação cumpre uma função de delimitação, mas reconhece
que atos reflexos não são ações.
Em conclusão:
Escola clássica – qualquer movimento corpóreo que resulte nesse facto faz com que haja
uma ação, o facto só exige elementos objetivos para o tornarem relevantes. A base da ação é
causal e objetiva, sendo esta o movimento corpóreo que fazia a modificação no mundo exterior
apreensível pelos sentidos.
Escola finalista – atos reflexos não correspondem a uma ação. A ação final tem a marca
distintiva das ações humanas, capacidade de representação intelectual e os meios mais
adequados para atingir aquele fim. A ação final é vidente, sabe sempre o que vai acontecer. Nos
atos reflexos o agente não sabe o que vai acontecer. No caso dos automatismos, não há uma
resposta esclarecedora, pois não há uma supradeterminação vidente, ou haveria sempre ação
ou nunca haveria ação, não há uma resposta ao problema dos automatismos.
Funcionalismo
Gunter Jakobs (1937 -…) Niklas Luhmann (1927-1998)
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Direito Penal II
Expectativas cognitivas- são as que levam a um ajuste das nossas expectativas, podem
ir sendo sucessivamente ajustadas
O resultado pode ser imputável à conduta do agente – é a questão central – face aos
dados do caso concreto, face ao agente em concreto, e possibilidade de atuação,
Quanto aos automatismos, entende que poderá ou não haver ação, é necessário
verificar se o comportamento era ou não evitável sendo necessário verificar se haveria tempo
para a contra motivação, para contrariar ao automatismo. Ex. alguém que conduz no verão e
alguém que conduz no inverno – precauções extra às impostas que o tempo existe, que o caso
concreto exige – travar no gelo que cria a derrapagem – sendo neste caso o automatismo
evitável.
O caso da mosca, pensando como automatismo, MFP diz que se o objetivo fundamental
da norma é evitar riscos é necessário assegurar todas as ações de precaução para controlo de
perigos, mas não num nível insustentável. Jakobs – critério da evitabilidade e MFP – critério da
previsibilidade.
13.04.2012
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Direito Penal II
• Funcionalismo
o Teoria pessoal da ação – Roxin
o Teoria da evitabilidade individual - Jakobs
o Albin Eser - evitabilidade
• Maria Fernanda Palma – critério da previsibilidade, mas na perspetiva da direção global
da ação, de acordo com as condições individuais daquele agente (e não pelos critérios
do homem médio)
Kenneth Parks, cidadão canadiano de Toronto, de 23 anos, casado e pai de uma bebé, sofria de
insónias agudas motivadas pelo desemprego e ainda por ter contraído várias dívidas de jogo.
Na madrugada do dia 23 de maio de 1987, levantou-se da cama, entrou no seu carro e conduziu
cerca de 16 km até à casa dos seus sogros. Ali chegado, depois de lhe ter sido aberta a porta,
esfaqueou até à morte a sogra, de quem ele muito gostava e que o apelidava de “pequeno
gigante”. Kenneth Parks também apunhalou o sogro, que sobreviveu ao ataque. Depois, dirigiu-
se à esquadra mais próxima, onde afirmou “Creio que matei algumas pessoas… As minhas mãos
estão cheias de sangue....”, só então realizando que tinha grandes cortes nas mãos.
Porque Kenneth Parks não se lembrava de nada do que tinha sucedido, porque não tinha
qualquer motivo para praticar os factos descritos e ainda por ter um historial longo de
sonambulismo, pessoal e familiar, a sua defesa, sustentada em pareceres de psiquiatras, de
psicólogos, de neurologistas e de especialistas em perturbações do sono, defendeu que Kenneth
Parks estava a dormir quando cometeu os crimes, pelo que não teria praticado qualquer ação.
Quid iuris?
Nota: a resolução deste caso pressupõe a leitura do acórdão Parks Vs. The Queen, disponível na
Dropbox – II. Ação e omissão_Jurisprudência.
1. Matéria de factos
2. Enquadramento jurídico:
• A condição de sonambulismo pode ser considerada um automatismo?
• A doutrina é a favor da não existência de uma ação. Pois quando uma pessoa está a
dormir, o córtex cerebral está como que em coma, sendo impossível exteriorizar a
vontade.
• Não havendo neste caso nenhuma ocorrência de violência durante o sonambulismo,
não há uma exteriorização dos pensamentos, apenas um estado de inconsciência.
• Ulpiano – ninguém pode ser punido pelos seus pensamentos
• Numa situação como esta, não haverá ação, pois:
o Jakobs – teoria da evitabilidade individual – o agente não pratica atos
conscientes, donde não pode ocorrer a contra motivação normativa
o Roxin – teoria pessoal da ação – esses movimentos, ainda que determinados
psiquicamente, não intercedem no mundo real como manifestação da
personalidade
o MFP – não há dirigibilidade consciente
• Pode haver ação, não no momento da prática dos atos, mas no momento anterior –
20º/4 – contudo é necessário provar a intenção
3. Apreciação critica -
17
Direito Penal II
Sub-hipótese:
- Não tomasse os medicamentos e assim viesse a matar a cônjuge, como era há muito
sua vontade?
Helena Mourão: A pessoa que pratica o ato em estado de inconsciência, até pode
potenciar, mas se não um historial de violência, onde fica o princípio da culpa? Podemos ter
situações de fronteira. Enquanto não há um episodio que o sustente, não há sequer uma
situação de criação de perigo. Não sendo possível haver uma ligação.
Roxin não afasta a qualificação de ação no caso da hipnose, entendendo que a prática
de certos factos criminosos sob hipnose seria impossível para certas pessoas, isto é, só seria
possível para pessoas capazes de cometerem esses atos em estado consciente.
Maria Fernanda Palma entende que o conceito de ação não pode albergar situações,
como o sonambulismo, em que as ações da pessoa são comandadas pelo "funcionamento
soberano do corpo". Não há, nestes casos, como nos casos de automatismos, uma capacidade
de absorção por uma conduta global em que as ações se desenvolvem.
Ou seja, as ações praticadas durante o sonambulismo não serão ações, (1) a menos
que o agente tenha procurado colocar-se nesse estado (actio liberae in causa) ou (2) que,
sendo sonâmbulo, tenham criado a possibilidade, com elevada probabilidade, de realizarem
uma certa conduta, por exemplo, colocando uma arma perto da cabeceira da cama. O art.º
20º/4 do CP não exclui a capacidade de culpa, mas continua a existir ação.
Deste modo, o conceito de ação de Maria Fernanda Palma inclui a ação direcionada,
alguns automatismos quando reconduzíveis a uma ação global final, as situações em que o
agente se coloca propositadamente num estado de involuntariedade e as situações em que o
comportamento do agente é negligente, havendo grande probabilidade de este
involuntariamente praticar o ato. Exclui os atos reflexos e os restantes automatismos não
reconduzíveis a uma ação global final.
Contudo, ainda há que passar a conduta pelo crivo da culpa, segundo o qual as ideias
de responsabilidade éticas vigentes na sociedade vão permitir decidir se o grau de controlo do
agente sobre os seus atos era suficiente para o agente se ter motivado pela norma na situação
concreta.
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Direito Penal II
tenha favorecido a verificação da prática do ato inconsciente, parece-me que Kenneth deve
ser absolvido.
Caso “A hipnotizadora”
Ana pretende matar o marido, Bento, que sempre a maltratou, mas não tem coragem para o
fazer por si mesma. Certo dia, durante o seu ato no circo como hipnotizadora, Ana hipnotiza
Cátia, uma das freiras que estava na assistência a acompanhar as crianças de um colégio.
Primeiro, e para se certificar de que Cátia estava efetivamente em estado hipnótico, empurra-a
com violência contra Daniel, que também assistia ao espetáculo, que acaba por sofrer
escoriações ligeiras. Em seguida, entrega a Cátia uma arma, verdadeira e carregada,
sussurrando-lhe que deveria disparar em direção a Bento. Cátia empunha a arma como
ordenado, mas verbaliza não conseguir disparar.
Só mais tarde Bento realiza que, naquele dia, Ana modificara o número de sempre, entregando
uma arma verdadeira à convidada da assistência, e não de plástico, como era suposto suceder.
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Direito Penal II
O problema jurídico no primeiro é a coação física irresistível (vis absoluta). Ana pratica
uma ação por via do art.º 26º, pelo que é autora. Mas Cátia não, porque, ao ser projetada, não
houve qualquer intervenção da vontade da pessoa arremessada.
O Prof. Claus Roxin considera que neste caso há a barreira do caráter: há factos que a
pessoa em função da sua personalidade, nunca praticará tal ato. A Escola de Paris nega a
possibilidade de, em caso de hipnotismo, praticar crimes. A Escola de Nice considera que é
possível. Do ponto de vista científico não há, portanto, unanimidade.
Para Maria Fernanda Palma, no estado de inconsciência, C não está a praticar uma
ação, quem está a praticar é a A (autora material).
Problemas:
1. Ana para se certificar de que cátia estava em estado hipnótica, empurra para cima
de D
2. Ana entrega a arma a Cátia para matar B, e esta diz que não consegue
- Há ação?
Comparticipação criminosa
Autoria – os autores têm o domínio do facto
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Direito Penal II
15.03.2018
António, empregado de uma loja de senhora, estava a colocar alfinetes num vestido que Berta
experimentava, com o intuito de o apertar na zona do peito e, para esse efeito, colocou os
braços à volta dela e apertou-a. Incomodada, Berta empurrou António. Com o movimento
súbito, o vestido abriu-se, deixando os seios de Berta a descoberto. Respondendo a um impulso
masculino, António lançou-se sobre o peito de Berta, cobrindo-os de beijos e mordiscando-os,
o que provocou em Berta ligeiras escoriações.
Terá António praticado uma ação para efeitos do disposto no artigo 143.º do CP?
- Mordidas – o ato seria um ato reflexo que determina a forma de atuação. Este
argumento da defesa é inaceitável – no ato sexual não estamos num estado comatoso.
António pratica uma ação. Não opera a função de delimitação (função de seleção
negativa) do conceito de ação.
20º/2 – algum nível de inconsciência – deve estar reservado para algumas situações
residuais pois iria levar a que casos de homicídios praticados durante um adultério seriam
encaixados nesta categoria.
Segundo o conceito pessoal de ação de Roxin, a ação deve ser entendida como uma
manifestação da personalidade. Este conceito amplo engloba todos os comportamentos que
se podem atribuir a um ser humano como centro anímico-espiritual de ação. O Professor só
exclui os comportamentos que são provocados por forças irresistíveis, sejam elas internas
(como vómitos ou um desmaio) ou externas (um empurrão). Ato reflexo
Ou seja, quando pretendemos averiguar se estamos perante uma ação, apenas temos
que questionar se não estamos perante uma situação de vis absoluta ou ato reflexo. Também
não são ações os meros pensamentos, atitudes internas e disposições de ânimo que
permaneçam na esfera interna.
21
Direito Penal II
No caso das reações impulsivas violentas, há que já tenha argumentado que estamos
perante atos puramente reflexos e não conscientes. Todavia, na opinião de Roxin, deve
entender-se que há ação, colocando-se o eventual problema da impulsividade apenas na
categoria analítica da culpabilidade. De facto, mesmo que se tratem de ações impulsivas, estas
não deixam de ser manifestações da personalidade dirigidas à lesão de um bem jurídica e que
não estão previamente determinadas.
À luz do conceito social de Maria Fernanda Palma entende que essa ação passa pelo
córtex central, pelo que temos uma ação dominada/dominável pela vontade. A professora só
exclui os atos inconscientes, atos reflexos, vis absoluta ou força irresistível. Nos
automatismos, há que analisar caso a caso. As actio libera in causa são analisados na categoria
analítica da culpa (20º/4). Comentado [JM7]: A questão central eram as
mordiscadelas.
Bento, automobilista, conduz em excesso de velocidade por uma avenida de imenso tráfego, É um automatismo que consiste num ato impulsivo, mas que
com boa visibilidade. Distraído, Bento não repara no peão Carlos, que se prepara para atravessar ainda se considera uma ação.
na passadeira. Quando se apercebe do desastre eminente, Bento tenta travar o automóvel, mas, No limite, isto significaria que o homicídio no contexto da
apesar dos seus esforços, não consegue imobilizar a viatura a tempo, vindo a embater no peão violência doméstica/adultério não seria considerados ações.
Carlos e a causar-lhe a morte.
Ficaria por analisar a possibilidade de aplicação do artº. 20º.
O facto foi praticado por ação ou omissão? Mas a Dra. Sónia Reis não aplicaria.
Crimes comissivos - Crimes materiais ou de resultado (lesão efetiva ou dano de perigo São factos em que a consciência está lá, em que a
capacidade de culpa está lá.
concreto), ambivalentes, de dupla relevância ou de duplo significado, em que pode ser relevante
tanto a ação como a omissão – 10º/1
22
Direito Penal II
- Critério do risco
• Paulo Pinto de Albuquerque/ Stratenwerth/ FD:
▪ Criação ou aumento de perigo – ação
▪ Não diminuição do perigo – omissão
Se o agente cria ou potência o crime, está a potenciar uma ação. Mas se o agente não
diminui o perigo quando o está obrigado a fazer, pratica uma conduta por omissão.
Se o contrato original determina que não podemos bulir com a esfera de atuação do
outro, implica um impacto normativo, havendo obrigações de ação e de omissões. Deveria dois
níveis de analise.
Mas Roxin vai dizer que deve haver uma redução da complexidade, havendo uma
assunção da responsabilidade pela organização, surgindo aqui o segundo nível
Solução do caso
23
Direito Penal II
Neste caso, o problema que se coloca prende-se com a distinção entre a omissão e a
ação, pois podemos dizer que o resultado foi provocado, em simultâneo, pela condução em
excesso de velocidade (ação) e a incapacidade de travar a tempo (omissão).
Para Eduardo Correia/ Teresa Quintela de Brito, o tipo legal de crime já comporta
comandos de ação e de omissão. Assim, quando a norma configura um certo comportamento
(p.e. é proibido matar), ao mesmo tempo indica ao agente que este tem o dever de evitar
certo resultado (p.e. evitar a morte de outrem). Assim, o 10º CP tem para o autor a função de
restringir a tipicidade, explicitando condições sem as quais aquelas normas estatuem certa
omissão não podem ser tidas como consagrando, em concreto, um comportamento omissivo.
Já MFP entende que não se pode comparar a omissão à ação, pois que, em termos
naturalísticos, fazer e não fazer são realidades diametralmente distintas. Assim sendo, sem o
10º, não seria, em principio, punir, se não nos casos de omissões puras, ou seja, em que o
próprio tipo legal prevê a omissão como crime. Assim, a professa conclui que sem o art.º 10º
não seria possível punir o agente em virtude do comportamento omissivo. A função do 10º é,
portanto, estender a tipicidade. Apenas mediante o preenchimento dos requisitos do 10º é
que se torna possível punir o agente pelo crime omissivo.
24
Direito Penal II
Segundo o conceito normativo, parece que estamos perante uma ação, pois entrou-se
na esfera privada da vítima. Mesmo neste conceito mais abrangente, não me parece que
possamos reconduzir esta situação a uma de omissão através do fazer.
MFP defende, na linha de Jakobs, que estamos no âmbito das competências gerais, é
indiferente se é agir ou omitir.
25
Direito Penal II
o Omissio libera in causa: o nadador salvador que se embriaga para não salvar (ele
não atua porque atuou antes para não agir a seguir);
• Stratenwerth/FD/PPA:
o Assim, neste nível, a indiferenciação entre ação e omissão nas situações em que
se ultrapassem os limites gerais da liberdade no que se refere à configuração
exterior do mundo;
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Direito Penal II
Gustavo pretende furtar um objeto de valor que Hugo guarda em casa, pedindo para tal ajuda
a Camila, empregada doméstica de Hugo. Como combinado, no dia seguinte Camila abre o
portão da casa de Hugo para sair, no fim do seu horário de trabalho, e “esquece-se” de o fechar,
dando assim oportunidade a Gustavo para realizar o assalto, o que acaba por suceder.
C tem uma posição de garante, uma assunção de responsabilidade pela organização que
deriva de um contrato. A responsabilidade neste 2º patamar, só surge quando há um
incumprimento do dever, só há violação quando omite o cumprimento do dever – ao não ter
fechado a porta.
20.03.2018
Gioconda, Baby-Sitter de profissão, celebra contrato com os pais de Helena, de dois anos, para
tomar conta da criança durante 12 horas por dia, de segunda a sábado, auferindo o salário
mínimo nacional. Na segunda semana de trabalho, por volta das 19:00 horas, Gioconda
encontra-se demasiado concentrada a assistir à série “Testemunha silenciosa”, como aliás fazia
todos os dias. Naquele dia, contudo, Helena dirigiu-se para a casa de banho e resolveu
experimentar a banheira, a qual ainda se encontrava cheia de água após o banho diário da bebé.
Desta forma, e por causa da distração de Gioconda, Helena veio a morrer afogada. Em tribunal
Gioconda defende-se argumentando com a invalidade do contrato de trabalho celebrado com
os pais da criança, cujo horário ultrapassaria o máximo legal das 40 horas semanais, com total
ausência de remuneração das horas extraordinárias.
Possibilidade de ação?
Caso “O poço”
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Direito Penal II
Caso “XPTO”
A empresa XPTO lança no mercado um novo detergente para a roupa, com um preço altamente
competitivo, tornando-se aquele detergente o maior sucesso de vendas do ano em pouco
tempo. Já depois da comercialização do produto, no decurso de testes regulares de controlo de
qualidade, a empresa constata que o uso prolongado daquele detergente provoca graves
episódios de alergia, com maior incidência nas crianças, mas nada faz.
Pouco depois, a imprensa relata vários casos de crianças internadas com alergias graves. O elo
em comum é a utilização do detergente comercializado pela empresa XPTO.
Quid iuris?
Responsabilidade pelo produto, não confundir com os casos de ingerência. Pois neste
caso o produto tinha passado pelos testes de qualidade antes de ser colocado no mercado.
Problema da responsabilidade nos crimes comissivos por omissão (crimes por resultado)
A responsabilidade não nasce da letra dos tipos da parte especial, mas da letra do 10º/1
e da posição de garante do 10º/2, principio da equiparação da ação à omissão.
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Direito Penal II
Teoria formal do dever jurídico – Lei e contrato (Feuerbach), mais tarde a ingerência
[atuar precedente] (Stubel). – teoria adotada pelo código penal espanhol
29
Direito Penal II
Caso “O lago”
Álvaro conduz o seu veículo durante a noite, num local isolado, quando, em virtude de se
encontrar em excesso de velocidade, perde o domínio do veículo, que se precipita para um lago
contíguo. Álvaro está inconsciente e com a cabeça submersa na água. Berta, que a tudo assiste,
constata que Álvaro está prestes a afogar-se mesmo junto à margem, podendo facilmente
retirá-lo da água, mas não o faz, ligando para o 112.
Posição do monopólio –
22.03.2018
Casos em que alguém é proprietário de um poço, pedreira, animal, minas, etc. – todas as as
situações em que há um domínio sobre a fonte de perigo cria para o agente uma posição de
garante.
Contudo, neste caso, não há uma responsabilidade pela situação (doutrina alemã, a partir do
momento que alguém tem uma fonte de perigo, não há uma responsabilidade pelo risco em
direito penal PT, logo, é responsável por todas as situações que dele venham a emergir).
Todavia, este agente neutralizou o perigo. Ao abrigo do principio da confiança, tendo cumprido
a sua obrigação não pode ter responsabilidade penal, - e da auto responsabilidade da vitima –
há uma auto responsabilização da vitima pois foi ela que aumentou o crime, houve uma
intromissão ilícita de terceiro, foi a vitima que se colocou no perigo.
30
Direito Penal II
MFP – admite que nos casos do comportamento omissivo, teremos a responsabilidade pelo
produto fazendo surgir uma posição de garante nos termos do 10º/2.
Taipa de Carvalho – antes entendia que verificadas todas as regras, se posteriormente haveria
um perigo tal perigo não faria surgir uma posição de garante (posição anterior). Atualmente
defende que se e quando havendo possibilidade fatica de ação indivudual os responsáveis pela
empresa nada fazem, faz surgir uma posição de garante.
MFP + TC + PPA – não concordam, o monopólio não faz surgir uma posição de garante, tem de
haver uma previsibilidade que deve orientar a conduta do agente. Pois não há um dever jurídico
– 200º/1 – possibilidade fática de ação, praticar uma ação adequada a afastar o perigo face às
possibilidades reais do agente (esta não pode ser considerada em termos abstratos, há que fazer
uma avaliação face às circunstâncias do caso – o mínimo que ela deveria ter feito, era levantar
a cabeça do rapaz da água). – liberdade, igualdade, responsabilidade e previsibilidade
FD defende se ela tivesse configurado a possibilidade de um resultado morte, seria culpada por
um homicídio doloso – desde que verificado dolo/ negligencia quanto ao resultado morte. Este
31
Direito Penal II
tem de assentar em três pilares para ser considerado um dever jurídico de agir: exista uma
relação de confiança suscetível de gerar bens jurídicos.
FD – deveria colocar-se os casos de prática de crime – 200º/1. Eduardo Correia não concordou,
pois, as pessoas não de deveriam intrometer. Contudo, quando há um perigo grave para a
integridade física, há um dever de fazer algo, mais que não seja o esforço mínimo de ligar para
o 112 – dever geral de auxílio. Não se pode fazer uma avaliação do risco em abstrato, mas sim
em concreto, face às circunstâncias do caso.
Caso “O acidente”
A conduz o seu veículo durante a noite, num local isolado, quando, em virtude de se encontrar
em excesso de velocidade, não consegue travar a tempo, embatendo em B, que se encontra a
atravessar a rua na passadeira. B fica gravemente ferido e A, constatando isto mesmo:
32
Direito Penal II
3.04.2018
Subsidiariedade – Consunção
Especialidade
material ou implícita
Responsabilidade de A:
IFL/ Jurisprudência – 137º/1 e 2 – crime comissivo por ação em (30º/1) concurso efetivo
(heterogénico, real) com 200º/2 (omissão pura ou imprópria – 10º/1
33
Direito Penal II
É heterogéneo pois estamos a falar de dois tipos de crimes diferentes, há mais que um bem
jurídico em causa.
IFL - se temos uma omissão de auxilio dolosa e uma lesão de um bem jurídico devem ambos
ser imputados
c) Foge do local, em pânico. C, que a tudo assiste, vai-se embora, sem nada fazer.
Mais tarde, B é transportado para o hospital, mas vem a falecer em consequência
dos ferimentos provocados pelo atropelamento.
Quanto a A:
IFL/ Jurisprudência - 137º/1 e 2 – crime comissivo por ação em (30º/1) concurso efetivo
(heterogénico, real) com 200º/2 (omissão pura ou imprópria – 10º/1
Quanto a C:
200º/1
d) Fica em estado de choque e paralisado. C, que a tudo assiste, telefona para o 112.
B é transportado para o hospital, mas vem a falecer em consequência dos
ferimentos provocados pelo atropelamento.
Responsabilidade de A:
137º/1 e 2 – crime comissivo por ação, não há violação do dever geral de auxilio
Jakobs – verificar se o agente podia praticar uma ação humana praticada pela vontade
Responsabilidade de A:
34
Direito Penal II
Caso “Dr. Jivago” Comentado [JM8]: Notas sobre a resolução dos casos “O
acidente” e “Dr. Jivago”::
Dr. Jivago, único médico de serviço da especialidade em cardiologia no hospital “Leges Artis”, 1.Existindo problemas de concurso, devem os mesmos
ausenta-se do seu posto, para se entregar a Lara, enfermeira por quem estava enamorado, e ser trabalhados na resolução do(s) caso(s);
2.A resolução das hipóteses pressupõe a leitura dos
com quem mantinha caso de amores. Pouco depois, Ana, cônjuge de Jivago, dá entrada naquele acórdãos TRC de 26.05.2009, TRP de 22.02.2012, TRL
hospital em paragem cardiorrespiratória. Contactado pelo hospital: 03.06.2015 e TRC de 05.04.2017 disponíveis na Dropbox
– II. Ação e omissão_Jurisprudência.
a) Jivago não atende o telemóvel nem responde às mensagens, que lê, e que
demandavam o seu regresso ao serviço. Ana acaba por ser socorrida por outro
médico e é salva;
Responsabilidade de Jivago:
Ele tem posição de garante, contudo é preciso uma relação de perigo para a qual o agente
contribuiu, o que não sucede. O agente não tem dolo de perigo. A única solução será o 284º
Omissão pura ou própria – não é necessário a recusa de médico por palavras (pode ser verbal,
por gestos ou por um comportamento), se o agente não cumpre o dever de auxílio médico está
a incumpri-lo, por isso é que o comportamento é por omissão
TRP 22.02.2012
5.04.2018
- Foi o agente que criou o perigo ou a situação de perigo já estava criada. O artigo pede
que a situação de perigo já exista impondo ao médico que atue
- Neste caso ele era o único medico da especialidade disponível neste hospital – o perigo
que não possa ser removido de outra maneira, como sucede neste caso – a intervenção neste
35
Direito Penal II
caso era exclusivamente médica e esta seria adequada a neutralizar ou a remover o perigo – era
necessário o ato médico dele e ele não cumpriu o dever jurídico de agir
- O que importa para efeitos do 284º é que o legislador impõe um dever jurídico de agir,
que proceda ao ato médico adequado – temos de apurar se há ou não a obrigatoriedade de o
medico praticar o ato médico – omissão pura pois não diminuiu o perigo quando podia tê-lo
feito, havia o dever de praticar a ação que o legislador impõe – a recusa não tem de ser oral,
pode não fazer nada, este recusar tem de ser interpretado no sentido previsível das palavras. A
conduta devida é descrita na parte especial pelo legislador, no caso das omissões puras ou
próprias, nunca teremos crimes comissivos para que se tenha de aplicar o artigo 10º/2, não há
uma posição de garante, esse só serve para as omissões impuras ou impróprias.
Quid iuris?
Elementos do tipo
Elementos objetivos:
Quando o agente dispara inicia o processo causal, neste processo causal muita coisa
pode acontecer. Depois há os problemas de imputação objetiva.
O bem jurídico não se confunde com o objeto da ação, é o interesse fundamental que a
norma visa proteger
36
Direito Penal II
Classificação do tipo
• Segundo a estrutura da ação
▪ Ação
▪ Omissão
• Pura ou própria – 190º/1, 200º, 284º, 369º
• Impura ou imprópria – 10º
• Segundo a relação que se estabelece entre a conduta e o resultado
▪ Crimes formais ou de mera atividade* – 190º e 352º
▪ Crimes materiais ou de resultado** – 131º, 203º, 207º
• Segundo o bem jurídico
▪ Crimes simples (131º, 143º) e crimes complexos (210º, 291º)
Relações entre crimes ▪ De acordo com a intensidade da lesão do bem jurídico
- Crimes fundamentais: 131º, 143º • Crimes de lesão efetiva ou dano – 131º, 143º, 190º
- Crimes qualificados: 132º, 144º, • Crimes de perigo
145º o Abstrato – 292º/1 *São formais ou de mera atividade
- Crimes privilegiados: 133º, 134º, o Abstrato-concreto – 292º/2
146º o Concreto – 138º, 272º, 277º, 291º **De resultado - perigo
• Segundo o círculo possível de AA
▪ Gerais ou comuns – 131º, 143º, 153º, 190º, 200º/1, 203º, 212º, 217º
▪ Especiais
• Próprios – 284º
• Impróprios – 200º/2, 375º, 378º
▪ Mão própria – 165º, 166º, 291º, 292º
• Segundo o modo de execução
▪ Crimes instantâneos – 131º, 143º
▪ Crimes duradouros
• Crimes permanentes – 158º, 161º, 190º/1
• Crimes habituais – 141º/2
• Crimes de prática reiterada ou sucessiva – 152º
▪ Crimes de empreendimento – 308º/a), 325º/1, 363º
▪ Crimes de execução livre – 131º, 143º
▪ Crimes de execução vinculada – 217º
▪ Crimes qualificados/ agravados pelo resultado – 18º, 138º/3, 147º,
158º/3, 285º
Considerando os crimes infra identificados, determine os elementos do tipo e classifique os
tipos, de acordo com o solicitado:
Elementos objetivos:
• Agente: Quem
• Conduta: Matar
37
Direito Penal II
Classificação do tipo
Elementos objetivos:
• Agente: Quem
• Conduta: Se introduzir (sem consentimento) ou nela permanecer depois de
intimado a retirar-se
• Objeto da ação: Habitação (portador do bem jurídico – outra pessoa)
• Resultado: NA
• Nexo de causalidade/ imputação: NA
• Bem jurídico: Privacidade / intimidade
Elementos subjetivos:
Elementos do tipo:
38
Direito Penal II
▪ Crime duradouro
• Crimes permanentes
Elementos objetivos:
• Agente: Quem
• Conduta: Subtrair
• Objeto da ação: Ou a uma coisa ou a um animal alheio
• Resultado: Apropriação
• Nexo de causalidade/ imputação: Entre a conduta e o resultado
• Bem jurídico: Propriedade/ posse
• Elementos normativos: Coisa móvel alheia / (animal) alheio
Elementos subjetivos:
Elementos objetivos
• Agente: Quem
• Conduta: Conduzir (em via pública ou equiparada)
• Objeto da ação: Veículo, com ou sem motor
▪ As alíneas a) e b) são as circunstâncias da ação
• Resultado: perigo
• Nexo de causalidade/ imputação: Entre a conduta e o resultado perigo
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Direito Penal II
Elementos subjetivos:
Classificação do tipo
f) 292.º - classifique o tipo segundo a relação que se estabelece entre a conduta e o resultado,
segundo o bem jurídico segundo o círculo possível de AA.;
Classificação do tipo
Pois, a tentativa é equiparada à consumação, mesmo que o facto se fique pela tentativa
h) 200.º, 203.º, 284.º e 375.º - classifique os tipos segundo o círculo possível de AA.
200º - crime geral ou comum
284º - crime específico ou próprio (exige que seja praticado por um certo conjunto de pessoas;
é próprio pois não há equiparação)
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Direito Penal II
374º - crime específico impróprio (é impróprio, é mais grave ser o funcionário a subtrair do que
ser qualquer pessoa, havendo então um paralelo)
Casos sobre imputação objetiva Comentado [JM9]: A resolução das hipóteses infra
pressupõe a leitura dos acórdãos seguintes: STJ 15.12.2011,
Ac. TRL 26.03.2008 TRL 26.03.2008 e TRP 11.06.2014, disponíveis na Dropbox –
IV. Tipicidade_Tipicidade objetiva_Jurisprudência.
Homicídio por negligência
A arguida quis agir de forma voluntária, livre e consciente, bem sabendo ser proibido
o seu comportamento.
É argumentado que não existe nexo causal entre a conduta da arguida e o embate
ocorrido, não estando preenchidos os elementos constitutivos do crime de homicídio
negligente imputado à arguida, por não se poder assacar à arguida uma conduta negligente
causadora da morte.
Para FD, a violação de uma norma jurídica de comportamento constituirá indício por
excelência de uma contrariedade ao cuidado objetivamente devido, só sendo afastada em
casos excecionais.
41
Direito Penal II
O ato ilícito da arguida criou o perigo de embate, que o velocípede não só não podia
contar como tinha o direito a ter confiança de que não existia. A arguida violou regras de
cuidado legalmente estabelecidas que justificam a conclusão de que a sua conduta foi
objetivamente negligente. Essa conduta foi condição sine qua non do embate e do resultado
morte que dele adveio.
Dispõe o art.º 15º/1 CP que “age com negligência quem, por não proceder com o
cuidado a que, segundo as circunstâncias, está obrigado e de que é capaz:
• A verificação do resultado
• Resultado previsível em relação ao tipo de conduta praticada
• A violação do dever objetivo de cuidado
• E a imputação objetiva do resultado baseado no erro da conduta.
42
Direito Penal II
Miguez Garcia e Castela Rio – importa saber “se o agente produziu o resultado típico
através da omissão do dever de cuidado objetivo” e que se verifique “um nexo de causalidade
adequada” entre o comportamento do arguido (violador da norma de cuidado) e o resultado,
as ofensas produzidas na pessoa da vítima.
No âmbito da culpa (tipo de culpa) deverá apurar-se se o autor de acordo com a sua
capacidade individual, estava em condições de satisfazer as condições objetivas de cuidado.
O crime de ofensa à integridade física por negligencia pelo qual o arguido se encontra
pronunciado e foi condenado, é um crime de resultado e como tal é suscetível de ser cometido
por omissão nos termos do 10º, sendo que os crimes negligentes, na maior parte dos casos se
verifica uma interpenetração do dever de garantia e do dever de cuidado.
Miguez Garcia e Castela Rio – não atua de forma negligente quem se mantém nos
limites de um risco permitido. Atua negligentemente quem causa um resultado típico através
de uma ação que aumenta o risco acima da medida do permitido (aumento do risco da
produção do resultado).
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Direito Penal II
Existindo, pois um dever de cuidado que o arguido incumpriu que estava ao seu
alcance cumprir e que lhe era exigível e de cuja violação resultou a ofensa à integridade física
grave n pessoa da ofendida, tendo com a sua conduta descuidada aumentado um risco não
permitido, conclui-se, pois, ter o mesmo praticado o crime de ofensa à integridade física por
negligência previsto e punido pelo 148º/3 CP pelo qual foi pronunciado e condenado.
Na perspetiva dogmática, a razão por que não deve ser punido aquele que aturou em
salvamento da vítima não é evidente. De facto, ele mesmo causou, alias dolosamente, ofensas
corporais à vitima.
Qual a sede própria para resolver o problema vertente e que solução lhe dar, de jeito
que possa identificar-se uma constelação unitária de casos, construída em função de uma
linha de força precisa. Falta de preenchimento do tipo objetivo ou justificação do facto?
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Direito Penal II
Roxin vai erguer esta dupla ideia de criação (averiguável) de um risco juridicamente
relevante e concretização desse risco no resultado, a qual já se encontrava presente,
embrionariamente, na teoria da adequação, como ponto de partida para a sua teoria da
imputação objetiva.
45
Direito Penal II
Também não se consideraria como ação típica de homicídio a atuação do médio que,
respeitando as leis da arte, não conseguisse salvar a vida de um moribundo, mas conseguisse
prolongá-la por alguns dias, ainda que se pudesse afirmar que o médico causara aquela morte
concreta – teoria da equivalência das condições – e que a mesma fora previsível.
Estes casos devem ser distinguidos daqueles em que o agente não diminui um risco
anterior, mas substitui o risco já existente por um outro diferente cuja realização acaba por se
traduzir num resultado menos nocivo do que aquele que era pressuposto no perigo original.
Ex. alguém atirar uma criança pela janela de uma causa em chamas, causando-lhe ferimentos
consideráveis, mas salvando-a de morrer queimada. O agente teria realizado ações típicas,
mas ambos os factos estariam justificados através do consentimento presumido ou do estado
de necessidade justificante.
Roxin afirma que o critério de diminuição do risco só deverá ter aplicação nos casos
em que o contributo causal de um agente tiver apenas modificado um risco preexiste, mas
nunca nos casos em que a ação causal de um agente tiver substituído um risco por outro de
sua autoria. Roxin parece querer dizer que o critério da diminuição do risco só valeria nos
casos em que a ação que, supostamente, reduziu o risco preexistente tivesse concorrido
causalmente com outras condições de um processo causal preexistente, embora diversos
porque tendente para um evento lesivo mais gravoso – concorrência efetiva de causas.
46
Direito Penal II
Sob a designação enganosa de diminuição do risco, que deveria ser verificada ex ante
(considerando o momento da ação), o que se procura é averiguar, numa perspetiva ex post
(considerando o momento da ação), se o perigo preexiste propendia, de facto para a
consumação de um evento jus penalmente mais grave do que aquele que se realizou
efetivamente ou, então, se esse perigo tendia para a produção antecipada de um evento da
mesma gravidade, o que também não é relevante.
Todavia, nada garante que uma ação aparentemente redutora do risco não venha por
fim produzir, comparativamente, uma lesão de igual ou maior gravidade do que aquele para
que parecia apontar o risco inicial.
10.04.2018
(tabela)
Não se significa que em penal se assuma uma imputação objetiva ou pelo risco em
direito penal
47
Direito Penal II
Caso “Empurrão”
Durante uma discussão, Ana empurra Bruna com alguma força. Em consequência do
empurrão, Bruna faz uma entorse no pé, sendo transportada de ambulância para o hospital.
No trajeto, a ambulância é abalroada pelo automóvel conduzido por Carlos, vindo Bruna a
falecer em consequência do embate.
Poderá Ana ser responsabilizada pela morte de Bruna? E Carlos?
Condução rodoviária – cabe dentro do risco tolerado pela sociedade
Pode chegar-se a responsabilizar quem apresentou os pais de A, pois dessa forma ele
não teria sido concebido.
Foi para os tipos de interrupção do processo causal que surge a teoria causal adequada
(Kries) -> teoria da adequação
Teoria da adequação
Os conhecimentos do homem agente
48
Direito Penal II
prever ou não que aquela conduta daria origem àquele resultado do modo como efetivamente
se veio a verificar
Temos ainda de associar a dimensão subjetivo, olhar para o caso concreto e verificar se
o processo causal poderia derivar para o resultado. O prof ATC é muito critico desta correção.
1. O agente cria um perigo não permitido para o objeto da ação e a ação tenha criado
um risco proibido para o bem jurídico protegido pelo tipo ou aumentado/
incrementado/ potenciado um risco já existente
2. Esse risco se tenha materializado no resultado típico – conexão de risco
3. O resultado se encontre dentro do alcance do tipo
Roxin – tem a construção de um ilícito pessoal, MFP: só deve ser tomado em conta como
critério de correção da previsibilidade geral
Conduta de A:
À luz da teoria da conditio sine qua non a conduta de A foi a causa da morte de B
À luz da teoria da adequação e de acordo com o juízo, não poderia prever que a conduta
de A daria origem ao resultado do modo como efetivamente se veio a verificar – 143º + 14º/1
À luz da teoria do risco a ação de A criou um risco proibido para o bem jurídico protegido
pelo tipo do 131º, mas esse tisco não se materializou no resultado típico morte – não há conexão
de risco.
Teremos uma ação típica do 143º, praticada como dolo direito 14º/1, ilícita (há
desvalor da ação e desvalor do resultado), culposa e punível
49
Direito Penal II
Conduta de C:
À luz da teoria do risco a ação de C criou um risco proibido para o bem jurídico protegido
pelo tipo do 131º e esse risco materializou-se no resultado típico – há conexão de risco
Teremos ação típica 137º, praticada com negligencia 115º, ilícita, culposa e
punível.
Na sequência de uma altercação no trânsito, Duarte e Eduardo iniciam uma acesa discussão.
A certa altura, depois de trocados insultos, Duarte pega numa pequena navalha que tinha
consigo e fere Eduardo, deixando-lhe um corte superficial no antebraço, que, todavia, sangra
abundantemente. Naquele momento passava por ali uma ambulância, cujos ocupantes
imediatamente socorrem Eduardo e o transportam para o hospital, mas Eduardo acaba por
morrer devido à hemorragia, pois era hemofílico.
Teorias:
Conclusão:
À luz da teoria da conditio sine qua non ou das condições equivalentes a conduta de D
foi causa (naturalística) da morte de E – fórmula da supressão mental.
50
Direito Penal II
agente, não poderia prever que a conduta de D daria origem ao resultado do modo como
efetivamente se veio a verificar.
Resultado imprevisível
À luz da teoria o risco, a ação de D (1º) criou um risco proibido para o bem jurídico, mas
(2º) esse risco não se materializou no resultado típico.
Teremos ação, típica do 143º, praticada com dolo direto (14º/1), ilícita (há desvalor da
ação e desvalor do resultado), culposa e punível.
12.04.2018
Fernando, agiota e exímio atirador, sabendo que Guilherme se prepara para fugir do país
para não lhe pagar uma elevada quantia em dinheiro, persegue-o até ao aeroporto e:
a) Dispara mortalmente sobre Guilherme, antes de este poder entrar num avião que veio
a explodir 30 minutos mais tarde devido a um ataque de um bombista suicida;
Problema jurídico – imputação objetiva: causalidade hipotética ou virtual;
A vai na rua e cai-lhe algo em cima e morre (um piano, um balde, etc), mas passos mais
à frente estava C pronto para matar A. O autor da causa real deveria ser punido sendo o objeto
da ação punido? Ou casos de propriedade, A mata a vaca de B, mas este, momentos depois, iria
levá-la ao matadouro. A norma de proteção continua a ser útil, continua a ser imputável o
resultado.
Sempre que o objeto iria sempre perecer por força de outro processo causal hipotético,
há sempre hipótese de ele se materializar no resultado.
51
Direito Penal II
2. Temos uma ação lesiva autónoma. E sempre que esta aumenta, intensifica, antecipa
é ao autor real que deve ser imputado o resultado – princípio da intensificação de
Samson
3. Kaufmann – se os processos de causa hipotético já está de tal forma em
desenvolvimento. Ex. um engenho explosivo que torna inevitável a morte do objeto.
Como ele é irreversível vai sempre ocorrer anulando o resultado do agente, devendo
apenas ser punido por tentativa – art.º 22º.
Isto serve para os crimes dolosos, e para os crimes negligente? Ex. A sofre um disparo
de B, sendo levado para o hospital, contudo há negligencia da equipa médica que viola a leges
artis, porém a autopsia vem dizer que A morreria sempre do disparo. Quanto à equipa médica,
não há desvalor do resultado, mas da ação, contudo não agiram dolosamente saindo impunes.
Esta visão é prejudicial para o bem jurídico.
Teoria da adequação e do risco – seria sempre de imputar o resultado morte ao autor da causa
real – ação típica do 131º, praticada com dolo direito (14º/1) ilícita (há desvalor da ação e
desvalor do resultado), culposa e punível.
b) Prepara-se para disparar sobre Guilherme, mas um agente da PSP à paisana apercebe-
se e, por estar perto de Guilherme, consegue empurrá-lo, salvando-o de morte certa,
mas causando-lhe ligeiras escoriações na face e nas mãos;
Problema jurídico: problema de imputação objetiva – diminuição do risco
Dano: Ofensa ao corpo do agente (em detrimento ao dano morte que ocorreria sem a
intervenção do agente)
O disparo era um processo causal letal para G. a intervenção do agente diminui o perigo para
ofensa à integridade física. Diminui o resultado previsível. Modifica para melhor a situação da
vitima, que é favorável ao objeto da norma da outra pessoa. Cotejo entre a ação salvadora e o
processo causal em marcha. Critério negativo de imputação objetiva, vai afastar a imputação ao
agente.
PSM – entende que esta solução não é muito segura do ponto vista jurídica, só sendo relevante
em muito poucos casos – ideia de equidade e proporcionalidade
ATC – é critico da teoria do risco, não admite correções à teoria da adequação, pois tem uma
conceção teleológica – se a conduta não tem desvalor da ação, não faz sentido afirmar a
52
Direito Penal II
imputação do risco, pois a conduta nem sequer é desvalorosa (contudo, este desvalor só existe
em sede de ilicitude e não no tipo)
Teoria da adequação – tesultado previsível e de verificação normal, ação típica, praticada com
dolo direito (14º/1) mas não haveria ilicitude (32º)
Teoria do risco – diminui o risco proibido – não há imputação do evento ofensa ao corpo do
agente – não há ação típica
c) Quando Guilherme aguardava no lounge do aeroporto, coloca uma dose de veneno na
bebida deste, enquanto Ivo, seu parceiro neste empreendimento, coloca veneno na
comida. Guilherme tudo ingere, vindo a morrer pouco depois. A autópsia revela que
foi a combinação de ambas as doses de veneno que ditou a morte de Guilherme.
Quid juris?
Imaginando que ambos tinham a quantidade necessária para provocar a morte, eles não sabem
das intenções um do outro. Cada um mete essa dose na comida e da bebida. Teríamos então
autorias paralelas – podendo imputar o homicídio doloso consumado a ambos – o mesmo caso
de um disparo de cada – se não fosse possível provar seria um homicídio doloso tentado
Teoria do risco – risco proibido para o bem jurídico pelo 131º/2º materializou-se numa ação
típica 131º+ 26º.3, dolo direto (14º/1), ilícita, culposa, punível
17.04.2018
Caso “Festa de S. João”
Para a preparação das festas de S. João na aldeia, João estava às primeiras horas da manhã a
colocar luzes na fachada da casa de Maria, sita no largo da igreja. Assustada com um barulho
estranho junto à janela do seu quarto, Maria acorda, levanta-se e abre a janela, sem emitir
53
Direito Penal II
ruído. Ao ver surgir inesperadamente o rosto de Maria, João assusta-se, desequilibra-se e cai
desamparado, fraturando a pelve, o que determinou dor permanente e défice neurológico,
concretamente parestesia e perda de reflexos.
Quid iuris?
Teorias:
Risco (Roxin)
1. O agente cria um perigo não permitido para o objeto da ação e a ação tenha criado um
risco proibido para o bem jurídico protegido pelo tipo ou aumentado/incrementado/
potenciado um risco já existente
2. Esse risco se tenha materializado no resultado típico – conexão de risco
3. O resultado se encontre dentro do alcance do tipo
À luz da teoria da conditio sine qua non ou das condições equivalentes a condição de M foi
causa da morte de J
À luz da teoria de adequação e de acordo com o juízo de prognose póstuma, uma pessoa
média colocada nas circunstâncias de tempo e lugar do agente com os conhecimentos do
agente, não poderia prever que a conduta de M daria origem ao resultado
À luz da teoria do risco da ação de M (1º) não cria um risco proibido para o bem jurídico
proibido para o bem jurídico protegido pelo tipo 144º
Desde que não se entre na análise de um risco proibido, não passaremos do primeiro
patamar da teoria do risco.
Há uma certa linha doutrinária que vem de Engisch diz que atividades radicais até podem
produzir lesões, mas reconduzem-se à esfera do risco social que é aceitável – teoria da
adequação social de Paula Ribeiro de Faria – não há tipicidade objetiva. MFP e Roxin
rejeitam, pois acreditam que é fungível, o que é adequado hoje, pode não ser adequado
amanhã, qual será a maioria? Cria insegurança jurídica. Roxin entende que só a teoria do
risco já resolvem este tipo de problemas.
54
Direito Penal II
António sofre uma grave intoxicação alimentar e é transportado para o hospital. Ali chegado,
o médico, que não dormia há duas noites porque cumulava serviço com uma clínica privada,
equivocou-se no medicamento a ministrar a António, que por causa disso entrou em estado
de coma e veio a morrer. Na autópsia comprova-se que, devido a um problema gástrico raro,
António sempre morreria em consequência da intoxicação alimentar.
Quid iuris?
Problema jurídico – imputação objetiva: comportamento lícito alternativo (CLA) vs. Causalidade
hipotética ou virtual
Teorias:
• O agente cria um perigo não permitido para o objeto da ação e a ação tenha
criado um risco proibido para o bem jurídico protegido pelo tipo ou
aumentado/incrementado/ potenciado um risco já existente
• Esse risco se tenha materializado no resultado típico – conexão de risco
▪ Problema de CLA analisado aqui, mas Roxin aplica a teoria do
incremento/ elevação do risco
• O resultado se encontre dentro do alcance do tipo
Causalidade hipotética virtual – aquele que pode vir a produzir o resultado – é um de vir
hipotético e factual que se pode materializar no resultado que só não ocorre pela causa real.
Brito neves – o resultado seria produzido ou por um terceiro agente ou devido a uma causa
natural
Comportamento lícito alternativo – pratica uma conduta que viola a norma, ministra o
medicamento errado em vez do correto, viola o dever jurídico que se impunha no caso. Só há o
comportamento causal do agente que atuou. É uma hipótese/ conjetura em analise. O que
aconteceria se o agente tivesse ministrado o medicamento correto – se o agente tivesse
cumprido o dever jurídico – praticado o comportamento lícito alternativo é uma conjetura –
provem da hipótese/ imaginação. Analisa-se isto ex post, conhecendo todas as circunstâncias da
ação (relatório da autópsia). Nestes casos, o facto só pode ser imputado à conduta do agente.
O agente tem liberdade da ação, mas não quanto à produção do resultado. Não consegue
controlar a produção do resultado. Continua a fazer sentido a proteção dos bens jurídicos, mas
55
Direito Penal II
o comportamento lícito alternativo seria inútil, atuar de acordo com a norma seria inútil, este
comportamento tem de ser inútil para o cumprimento da norma, nunca pode obstar ao
resultado morte.
Face aos dados, a vitima morria sempre, mesmo que fosse administrado o medicamento
correto, o resultado seria sempre produzido. Há um misto destas duas teorias.
Matos Viana e Sónia Reis – devia ser tratado como CLA, e não ser logo analisado a
imputação objetiva ao agente.
Contudo, neste caso, tal era previsível, havendo imputação à luz da teoria da adequação.
Roxin – podem ser resolvidos no segundo patamar, a conduta do agente até criou um
agente que é proibido, mas não há uma conexão de risco. De acordo com as informações
recolhidas, pelo critério normativo, não haverá. Logo, não havendo imputação objetiva.
Casos clássicos:
Ex. caso do ciclista embriagado que circula em zig zags, um camião ultrapassa não
guardado a distancia de segurança sendo colhido pelas rodas traseiras. Segundo juízos ex post,
mesmo que o camionista tivesse guardado a distancia de segurança, possivelmente ocorreria o
mesmo resultado. Segundo Roxin, o agente incrementou o perigo que gerou o resultado típico,
devendo haver imputação objetiva
MFP – se há uma duvida razoável, basta 51%, por via do principio in dubio pro réu 32º/2
CRP, teríamos de decidir pela negação da imputação objetiva.
Conclusão:
À luz da teoria da conditio sine qua non a conduta de a conduta do médico não é a causa
de morte e A – formula da supressão mental
56
Direito Penal II
À luz da teoria da adequação, poderia prever que a conduta do médico daria origem ao
resultado do modo como ele efetivamente se produziu
Resultado previsível
À luz da teoria do risco a ação do médico (1º) cria um risco proibido para o bem jurídico,
mas (2º) não há conexão do risco
19.04.2018
Caso “VIH”
Alexandre recebe o diagnóstico de que é portador do vírus VIH e logo informa a sua nova
namorada, Berta, da malograda notícia. Apesar da insistência de Alexandre para que passem
a ter relações sexuais protegidas, Berta sempre recusa. Algum tempo depois, e sem que Berta
tivesse mantido relações sexuais com outros parceiros, fica a saber que tem SIDA.
Quid iuris?
Imputação objetiva:
Teorias:
57
Direito Penal II
Tipicidade
subjetiva
- Dolo
- Negligencia
Elementos
subjetivos
especiais
(previstos na PE)
203º - elementos típicos – analisar os elementos objetivos do tipo (agente, conduta, objeto da
ação, nexo de causalidade, bem jurídico, normativo)
O agente sabia que ele próprio era agente, que estava a subtrair, conheceu o objeto da ação,
contudo:
Quando os objetos são tipicamente idênticos, o erro é irrelevante – não se aplica o 16º/1
58
Direito Penal II
Problema jurídico – imputação subjetiva – error in persona vel objecto – não há distonia típica
– erro irrelevante
59
Direito Penal II
Nota que o conteúdo ilícito doloso não tem de se esgotar no dolo do tipo. O essencial
da conceção normativista dos elementos subjetivos do tipo persiste ainda hoje e não perdeu
interesse político-criminal ou dogmático com a construção de um autónomo tipo subjetivo de
ilícito doloso. Em muitos tipos legais de crime existem especiais elementos subjetivos que não
pertencem ao dolo do tipo – enquanto conhecimento e vontade de realização do tipo subjetivo
– e que de forma essencial codeterminam o desvalor da ação e definem a área de tutela típica.
O dolo do tipo
A estrutura do dolo do tipo
O CP não define o dolo do tipo, mas apenas, no art.º 14º cada uma das formas em que
ele se analisa. A doutrina hoje dominante conceitualiza-o como conhecimento e vontade de
realização do tipo objetivo de ilícito.
O artigo 13º determina que “só é punível o facto praticado com dolo, ou nos casos
especialmente previstos na lei, com negligência”. No conjunto da criminalidade o lugar
primordial, por mais grave, é conferido à criminalidade dolosa, tanto mais quanto se tiver em
conta que, apesar do aumento de importância nos crimes negligentes na sociedade do risco, só
cerca de uma décima parte dos crimes descritos na parte especial do CP são puníveis a título de
negligencia, e os que o são, são-no com molduras penais quase sempre mais baixas do que os
correspondentes tipos dolosos. Num direito penal regido pelo princípio da culpa significa que a
diferença essencial entre uma e outra espécie de delitos tem de ser uma diferença de culpa.
Esta diferença foi buscada na integração do conceito de dolo da consciência do ilícito, dolo seria uma
violação consciente do direito e suporia por isso, além do conhecimento e vontade de realização do tipo objetivo, a
consciência de que realizava um tipo objetivo de ilícito. Porém, uma tal conceção não merece aceitação e é hoje
repudiada e, todavia, há nela, na opinião de FD, alguma coisa de exato – que o dolo não pode
esgotar-se no tipo de ilícito, mas exige do agente um qualquer momento emocional que se
adiciona aos elementos intelectual e volitivo contidos no conhecimento e vontade de realização.
Tal significa que a estrutura do dolo do tipo só se alcança quando se tenha a consciência clara
de que, com ela, não fica por si mesma justificada a aplicação da moldura penal prevista pela lei
para o crime doloso respetivo, antes se torna indispensável um elemento que já não pertence
ao tipo de ilícito, mas à culpa e ao tipo da culpa.
60
Direito Penal II
A razão desta exigência deve ser vista à luz da função que este elemento desempenha,
o que com ele se pretende é que, ao atuar, o agente conheça tudo quanto é necessário a uma
correta orientação da sua consciência ética para o desvalor jurídico que concretamente se liga
à ação intentada, para o seu caráter ilícito. Só quando todos os elementos do facto estão
presentes na consciência psicológica do agente se poderá vir a afirmar que ele se decidiu pela
prática do ilícito e deve responder por uma atitude contrária ou indiferente ao bem jurídico
lesado pela conduta. O conhecimento da realização do tipo objetivo de ilícito constitui o suporte
indispensável para que nele se possa ancorar uma culpa dolosa e a punição do agente a esse
título. Sempre que o agente não represente ou represente erradamente, um qualquer dos
elementos do tipo de ilícito objetivo o dolo terá, desde logo, de ser negado.
61
Direito Penal II
crimes dolosos, requer uma “apreciação paralela na consciência psicológica do agente”. Beleza
dos Santos, antecipando em parte o pensamento de Welzel, referia a necessidade de
conhecimento dos efeitos práticos que formam o conteúdo jurídico dos elementos em causa.
• A de que o termo erro não está aqui tomado apenas no sentido de uma
representação positiva errada, mas também no sentido de uma falta de
representação
• A expressão “exclui o dolo” não significa que um dolo já existente foi eliminado,
mas sim que o dolo do tipo não chega a constituir-se quando faltam os seus
pressupostos.
62
Direito Penal II
Com a negação do dolo do tipo falta o tipo subjetivo apenas do crime doloso da ação
correspondente. Não só pode o agente ter realizado dolosamente outros tipos de ilícito, como
pode ainda estar preenchido um tipo de ilícito negligente.
FD: Há que considerar desde logo que muitos dos problemas que tradicionalmente se
colocavam, a este propósito, nesta sede de afirmação ou negação do dolo do tipo encontram já
solução – solução negativa que não se reconduz a qualquer responsabilização do agente – em
termos da doutrina da imputação objetiva, nomeadamente daquilo que aí chamámos a conexão
do risco. Quando, todavia, a imputação dever ser afirmada naquela sede, então tem de conferir-
se relevo ao erro sobre o processo causal. Mas uma de duas:
63
Direito Penal II
• Num segundo momento, fruto de uma nova atuação do agente, o resultado vem
efetivamente a concretizar-se.
Em hipóteses deste teor a ação suportada pelo dolo do facto não determina pois ainda
o resultado, enquanto a ação que causa o resultado não mais é suportada pelo dolo do facto.
Por isso, uma parte significativa da doutrina vê aqui só uma tentativa em concurso eventual com
o cometimento negligente do facto, enquanto a doutrina dominante, embora sob diferentes
pressupostos, se pronuncia pela aceitação de um crime consumado.
64
Direito Penal II
elementos, não suscite imediatamente um problema de desvalor ligado ao dever ser jurídico, e
que, portanto, o substrato da valoração da ilicitude não é aqui constituído apenas pela conduta
como tal, antes por esta acrescida de um elemento novo – a proibição legal.
Um erro sobre a proibição exclui o dolo quando o seu conhecimento “for razoavelmente
indispensável para que o agente possa tomar consciência da ilicitude do facto”.
A relevância do erro sobre proibições legais só pode ter lugar no ilícito de mera
ordenação social, não no ilícito penal. Mas uma tal afirmação pecaria por exagero e não estaria,
desde logo, de acordo com a parte do 16º/1 acabada de citar. Desde logo, casos há de crimes
de perigo abstrato em que a conduta em si mesma não orienta suficientemente a consciência
ética do agente para o desvalor da ilicitude.
O dolo direito
A forma mais clara e terminante de dolo direito – 14º/1 – é constituída por aqueles
casos em que a realização do tipo objetivo de ilícito ruge como o verdadeiro fim da conduta –
fala-se de dolo direito intencional ou de primeiro grau. As motivações determinantes do
comportamento do agente não desempenham aqui nenhum papel, o agente dirigiu diretamente
a sua vontade à realização do facto, por mais desagradável ou lamentável que lhe possa surgir.
Relevante é apenas a necessidade de conexão entre o facto prévio. Claro que a motivação
poderá ser relevante para outros efeitos, mas não de qualificação do dolo do tipo. O
conseguimento do fim da conduta não tem, de resto, de preencher um tipo de ilícito, bastando
que o constitua o meio utilizado na atuação.
Nos casos de dolo necessário ou de segundo grau – 14º/2 – a realização do facto surge
não como um pressuposto ou degrau intermédio para alcançar a finalidade da conduta, mas
como sua consequência necessária, no preciso sentido de consequência inevitável, se bem que
lateral relativamente ao fim da conduta. Esta inevitabilidade pressupõe já uma característica
especial ao nível do elemento intelectual do dolo do tipo, a previsão do facto há-de ter-se
ultrapassado a mera representação da consequência como possível, para o ser como certa ou
pelo menos altamente provável.
65
Direito Penal II
Dolo eventual
Nos casos de dolo eventual caracterizam-se antes de tudo pela circunstância da
realização do tipo objetivo de ilícito ser representada pelo agente apenas “como consequência
possível da conduta” – 14º/3.
1. Teorias da probabilidade
A distinção só se logra através de diferenças que radicam ainda no plano cognitivo e por
isso, de certa forma no elemento intelectual.
24.04.2018
Furto: imputação subjetiva – erro sobre elementos descritivos (sobre a conduta subtrair) e
normativos do tipo (sobre o caráter alheio do objeto da ação – elemento cognitivo ou intelectual
do dolo
Aplicação do 16º/3, dois requisitos – a negligencia estar expressamente tipificada na lei para o
caso concreto + e ter existido negligencia do caso concreto
Erro de perceção, pois não há uma fiel representação da realidade objetiva – apurar ou não uma
representação fiel – o agente tem uma perceção errada. A realidade típica que ele imagina, não
tem correspondência.
16º/1:
Questão do elemento cognitivo do dolo – imputação subjetiva – temos uma ação típica do 143º,
mas há um erro relevante sob a factualidade típica. Há uma discrepância entre o que o agente
imagina e a realidade objetiva, esta discrepância não permite o agente orientar a sua consciência
ética que se liga ao ilícito – está em erro sob elementos que compõem o objeto do dolo
66
Direito Penal II
Erro ignorância vs erro suposição - José António veloso, o erro em dto penal – ou o
agente ignora completamente a realidade objetiva ou supõe que a realidade é outra – 23º/3 –
erro por tentativa
Ex. 3 amigos estão à caça, e tem cães perdigueiros e encontram-se num terreno licenciado e
arrendado para o efeito – os cães começam a ladrar num certo local – os caçadores gritam
congelou, se algo mexer será uma peça de caça – e há um caçador que tenta afastar uma abelha
e se mexe – ao se mexer um outro caçador dispara naquela direção – erro sobre o objeto, 131º,
exclui o dolo ficando ressalvada a negligencia do 16º/3.
Erro defeito vs erro por excesso – teresa beleza e frederico lacerda da costa pinto, erro
sobre as normas penais em branco – partem do conceito de dolo (querer a realização do facto
típico, o acontecido é o querido) – o acontecido não é o querido.
Ex. se quer matar um cão e mata uma pessoa é por defeito, pois está aquém da realidade que o
agente imagina, fica antes da realidade objetiva. Se quiser matar uma pessoa e matar um cão,
vai além da realidade objetiva, está em erro por excesso, a sua representação vai além daquilo
que queria.
Quanto à falta de representação da conduta subtrair e alheio seria a parte inicial do 16º/1 – tipo
do crime e questão de direito. Significado social do conceito normativo dos elementos – quais
os efeitos práticos do conceito – não tinha de saber questões de direito de propriedade, mas
que saiba o que é seu e aquilo que não é – para efeitos do 203º.
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Direito Penal II
Problema jurídico – imputação subjetiva – aberratio ictus vel impetus – desvio na trajetória ou
no golpe
68
Direito Penal II
Problema jurídico – imputação subjetiva – aberratio ictus vel impetus – desvio na trajetória ou
no golpe
148º
Problema jurídico – imputação subjetiva – aberratio ictus vel impetus – desvio na trajetória ou
no golpe
69
Direito Penal II
2. Tipicidade subjetiva
• Relativamente ao objeto visado, mas não atingido “coisa” tentativa de
dano 212º + 22º/1 e 2 al. a) e b) + 14º/1
• Relativamente ao objeto não visado, mas atingido “coisa” dano
negligente? Não há tipo de dano negligente – não há imputação
subjetiva do dano
• Ilícita
1. Não há causas de justificação
• Culposa
• Punível
1. Punibilidade da tentativa – 212º/2 + 23º/1 e 2 + 73º
2. O agente será punido unicamente por crime de dano na forma tentada:
• 212º + 22º/1 e 2 al. a) e b) + 14º/1 + 23º/1 e 2 + 73º
26.04.2018
Problema jurídico – imputação subjetiva aberratio ictus vel impetus – desvio na trajetória/
desvio no golpe/ execução defeituosa + error in persona
• Daniel +e o objeto visado (outra pessoa) mas não atingido – erro sobre a identidade
irrelevante, porque a identidade do objeto não é elemento do objeto do tipo
• A mulher é o objeto não visado, mas efetivamente atingido
• Caso de aberratio ictus com objetos tipicamente idênticos – não há distonia típica
Temos uma ação típica tendo de analisar o erro sobre a identidade do objeto, contudo o 133º
não especifica a identidade do objeto, não há aplicação do 16º. Há ainda um problema de
aberratio ictus, havendo um desvio do golpe, não sendo atingido o objeto visado. Como os
objetos são tipicamente idênticos, aplica-se o mesmo
70
Direito Penal II
2. Tipicamente subjetiva
• Relativamente ao objeto visado, mas não atingido “outra pessoa”
tentativa de homicídio: 131º + 22º/1 e 2 al. a) e b) (14º/3) com erro
sobre a identidade do objeto (error in persona) irrelevante, porque a
identidade é atípica (a identidade da pessoa não é elemento objetivo
do tipo)
• Relativamente ao objeto não visado, mas atingido “outra pessoa”
homicídio consumado:
• 137º/1 + 15º/a)
• 131º+ 14º/3
• Ilícita
1. Não há causas de justificação
• Culposa
• Punível
1. Punibilidade da tentativa – 131º+ 23º/1 e 2 + 73º
2. Concurso efetivo ou de crimes ideal homogéneo - 30º/1
• 131º
Problema jurídico – erro sobre os pressupostos fáticos (materiais) do dever de garante ou erro
sobre a “posição de garante”
71
Direito Penal II
2. Tipicidade subjetiva
• Elemento subjetivo – dolo
• Elemento intelectual ou cognitivo
• Erro sobre os pressupostos fáticos do dever de agir – 16º/1, 1ª
parte - exclui dolo (exclusão automática)
• 16º/3 – 137º
• Ilícita
1. Não há causas de justificação
• Culposa
• Punível
1. 137º + 15º
Problema jurídico – aberratio ictus vel impetus (desvio na trajetória ou no golpe ou erro sobre a
identidade do objeto) – erro in persona+ dolo necessário quanto aos tripulantes
MFP – representação intelectual – o agente atua porque no seu intelecto quer atingir B e não C,
podendo apenas ser um caso de erro in persona – é necessário que o visado e o atingido estejam
no mesmo local para haver esta imputação
B nunca esteve em perigo nestas circunstâncias, não fazendo sentido imputar um crime de
tentativa
72
Direito Penal II
30.04.2018
Nas situações de dolo alternativo, é indiferente para o agente em qual dos alvos acerta,
querendo apenas acertar num deles, formando um dolo direto alternativo face aos dois alvos, e
acertando apenas num deles.
Esta modalidade do dolo distingue-se da aberratio ictus tradicional e do dolo com objeto
alternativo. Na primeira, não há elemento cognitivo do dolo. Na segunda, há elemento cognitivo
do dolo, na modalidade de dolo eventual (tentativa e negligência).
Nas situações de dolo alternativo, o agente cria um risco doloso (com dolo direto) em alternativa
quer para o alvo (A), quer para o alvo (B), pois é indiferente para o agente qual dos resultados
irá alcançar, sendo certo que apenas cria risco para um dos bens jurídicos, pretendendo apenas
alcançar um dos resultados.
Para IFL, se houver identidade do objeto, o agente seria apenas punido pelo crime doloso
consumado. Punir em concurso efetivo seria contrário ao ne bis in idem.
73
Direito Penal II
Se houver diversidade do objeto, o agente é punido pelo crime executado mais gravoso, pois
punir apenas pelo crime consumado (caso o agente consumasse apenas o crime menos grave)
seria contrário à gravidade real do facto.
Neste caso, o agente forma dolo direto de homicídio e dolo direto de dano, em alternativa,
executando um destes dolos. IFL propõe que ainda que venha a consumar apenas o crime de
dano, pode ser punido pela tentativa de homicídio.
MFP: concurso efetivo ou de crimes ideal e heterogéneo (30º/1). O agente, com uma ação, cria
perigo para um bem jurídico e mata outro.
Em suma:
Considerações da Professora:
Face aos dados da hipótese, não havia representação fiel da realidade (aproxima-se da
aberratio ictus) e não há falta de destreza psico-física do agente, nem há um fator externo que
o leve a falhar o alvo. Na verdade, é como se agente tendo por desiderato último, evitar que
aquele cavalo e o seu cavaleiro cheguem à meta, é como se o agente fizesse pontaria, fechasse
os olhos e disparasse. Na verdade, o que se tem aqui é uma vontade a todo o custo de impedir
que o cavalo e o cavaleiro atinjam a meta e nessa medida para atingir esse desiderato o agente
tem dolo direto quando atua, tem dolo direto quanto ao cavalo (quanto ao crime de dano) e
tem dolo direto quanto ao cavaleiro (quanto ao crime de homicídio).
Este não é um dos casos de aberratio ictus porque não é um daqueles casos em que o
agente faz pontaria em direção ao objeto e atinge outro, por imperícia ou fatores externos. Face
aos dados da hipótese há claramente vontade de acertar alternativamente ou num ou noutro.
Por isso se diz que o problema jurídico central aqui é de dolo alternativo. O dolo será direto quer
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Direito Penal II
quanto ao cavalo (crime de dano que se chega a consumar) quer quanto ao crime de homicídio
na forma tentada.
Para M.F.P., a solução deve ser imputar em concurso efetivo ou de crimes do artigo 30/1
CP, um concurso ideal (porque com uma conduta/ação, o agente consegue por um lado criar
perigo para um bem jurídico e por outro lesar outro bem jurídico) e sendo assim para M.F.P.,
quando o agente faz pontaria em direção ao cavalo ou ao cavaleiro, relativamente ao cavaleiro
que não vem a atingir, há já individualização do objeto de ação “outra pessoa” e perda das
condições de segurança do bem jurídico vida respetivo e nessa medida estaríamos perante o
crime de tentativa de homicídio (crime de perigo concreto).
M.F.P. imputaria quanto ao Cavalo Negro quanto ao crime de dano um crime de dano
doloso consumado e praticado com dolo direto e homicídio na forma tentada praticado com
dolo direito (14/1 CP).
A Professora Inês Ferreira Leite (IFL) tem outro entendimento sobre esta questão:
- Uma solução como esta é incompatível com o princípio ne bis in idem (29/5 CRP),
porque para IFL, cumulativamente o agente nunca quis atingir e nem podia atingir
cumulativamente os dois objetos da ação, porque queria atingir ou um ou outro. Assim sendo
do ponto de vista da estrutura da ação do agente, do ponto de vista da análise da conduta do
agente só se pode imputar um crime, porque o facto é só um. Neste caso ou o crime consumado
ou o crime de homicídio na forma tentada. Para IFL como o crime em causa na forma tentada é
punido logo de forma muito mais gravosa que o crime consumado, não faz sentido beneficiar o
agente e por isso imputa o crime de homicídio na forma tentada, mas só um crime.
Nos casos de aberratio ictus (pode ter como desiderato único e último atingir certo
objeto mas ficar por atingir outro, mas imagine-se que o agente está a fazer pontaria vê logo
que o objeto por si visado está em movimento, está muito próximo de outra pessoa e o agente
está tão nervoso que representa a possibilidade de atingir um objeto diferente e dispara – Sai-
se da tentativa + negligência e vai-se para: tentativa quanto ao objeto visado mas não atingido
e dolo eventual quanto ao objeto não visado mas atingido). Para se ter aberratio ictus é
necessário que dois objetos estejam presentes no lugar e no momento em que o agente atua.
75
Direito Penal II
Há que estabelecer dois nexos de causalidade, tanto quanto à imputação objetiva como
subjetiva.
De acordo com a teoria da adequação, uma pessoa média com os conhecimentos do agente, de
acordo com as regras de experiência e normalidade seria previsível que uma bofetada causaria
uma queda (ofensa à integridade física de outrem).
Também seria previsível que da queda pudesse resultar a morte da vítima, uma vez que se
encontravam perto de campas de granito e era provável que esta batesse com a cabeça e
morresse.
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Direito Penal II
Quanto à imputação subjetiva, no art.º 18º o legislador diz-nos que o resultado mais gravoso
poderá ser sempre imputado, pelo menos a título de negligência. Mas o legislador não exige que
o tipo base seja sempre o doloso.
Há que averiguar se A agiu com dolo ou com negligência. O dolo (art. 14º) é definido como
conhecimento e vontade de realização do tipo objetivo de ilícito.
Para existir dolo, tem de estar reunido o elemento intelectual: que o agente conheça, saiba,
represente corretamente ou tenha consciência das circunstâncias de facto que preenche um
tipo de ilícito objetivo (art.º 16º/1). O agente conhece os elementos descritivos e normativos,
pelo que não há erro sobre a factualidade típica.
Quanto ao elemento volitivo, que designa a vontade dirigida à realização do facto, estamos
perante dolo intencional ou de primeiro grau. A realização do tipo objetivo de ilícito surge como
o verdadeiro fim da conduta (14º/1).
Em especial, quanto a C – Não se verifica o resultado. Logo, A apenas pode ser punido pela
tentativa.
Em especial, quanto a D – Estamos perante uma situação de dolus generalis. São casos em que
ao agente erra sobre qual de diversos atos de uma conexão da ação produzirá o resultado
almejado.
Densifica o critério: o facto foi praticado de acordo com o que o agente tinha praticado ou não;
77
Direito Penal II
Resto da doutrina:
• MFP: não havendo unidade de ação: quanto a C - 131º + 22+ + 14º/3 + 23º/1.
Assim, adotando a teoria do Prof. Roxin, defendo a punição pelo crime consumado.
Em suma:
Tipicidade subjetiva:
78
Direito Penal II
Considerações da Professora:
Sempre que numa hipótese se vir que alguém leva um estalo, bate com a cabeça e
morre, isto é quase sempre um crime agravado pelo resultado e o que se pede nestes casos que
se discuta é o regime do artigo 18 CP.
Só que no nosso CP o legislador não adotou esta classificação (18 CP), o que se tem são
crimes agravados pelo resultado e o que o legislador veio determinar é que se o agente praticar
o facto e em virtude desse facto vier a produzir um resultado mais gravoso, esse resultado mais
gravoso há-de poder ser sempre imputado pelo menos a título de negligência a que o legislador
determina no artigo 18 CP. Mas o legislador não exige que o crime fundamental seja sempre
doloso, o tipo base pode ser doloso ou negligente, por isso podem ter-se crimes que são um
misto de dolo + negligência e crimes (agravados pelo resultado em sentido próprio) em que há
do ponto de vista de imputação subjetiva negligência + negligência.
79
Direito Penal II
Ex: Imaginando que o A está a sair de uma loja e está a despedir-se de alguém que está
dentro da loja e não repara que vem uma pessoa a passar, ao virar-se dá um encontrão à pessoa
que vai a passar, imagine-se que a pessoa na sequência do encontrão cai e bate com a cabeça
na quina do passeio e fica numa situação de perigo para a vida: as ofensas à integridade física
começam por ser produzidas de forma negligente (144/d CP), numa situação destas está-se
perante um crime de ofensa à integridade física por negligência (148 CP) agravada pelo
resultado negligente (148/3 CP) → Misto de negligência + negligência
Mas no nosso caso, a situação é diferente: no fundo a conduta do agente vem a produzir
um resultado mais grave que lesa mais intensamente o mesmo bem jurídico ou outros.
O agente acaba por lesar mais intensamente o mesmo bem jurídico que à integridade
física, mas pode lesar outro, no nosso caso prático o agente começa por ofender a integridade
física mas vem a produzir a morte que lesa outro bem jurídico.
Por exemplo, no crime de sequestro (158 CP), a vítima já estava sequestrada à 100 dias
e tenta suicidar-se, tem-se aqui uma agravação pelo resultado que resulta da atuação da própria
vítima (158/3 CP).
A especificidade dos crimes agravados pelo resultado em que tem de se estabelecer o duplo
nexo de imputação objetiva e um duplo nexo de imputação subjetiva. Neste caso prático
pegando na teoria da adequação ou na teoria do risco, tinha de se olhar para a conduta do
agente e verificar se era previsível que uma pessoa média colocada nas circunstâncias de tempo
e lugar do agente, com os conhecimentos do agente podia prever que ao dar um estalo noutra
pessoa a outra pessoa sofreria uma ofensa na sua integridade física? No corpo? É previsível e de
verificação normal (1º nexo de imputação objetiva). Mas nestes crimes agravados pelo resultado
tem de se ter um segundo nexo de imputação objetiva, que se estabelece entre o primeiro
resultado que foi produzido e o evento mais grave que é a morte, ou seja, neste segundo
momento, neste segundo nexo de imputação objetiva todos os problemas de imputação
objetiva que se analisaram (esfera de proteção da norma, comportamento lícito-alternativo …)
volta a ser colocado aqui: tinha de se perguntar se era previsível que o homem de 100 kg que
pratique culturismo dá um estalo a uma senhora de 50 kg débil que está muito desgostosa pela
morte da mãe, num cemitério, junto a uma campa de mármore será que é previsível em
consequência da pancada se desequilibrasse, caísse e batesse com a cabeça mesmo estando a
alguma distância? É previsível.
Quid iuris se o A desse um estalo a B, B caísse, batesse com a cabeça na quina da campa
e ficasse inconsciente e o C vinha a passar e não gostava do B, aproveitava e dava-lhe um
pontapé na cabeça e o matava?
Quid iuris se a vítima sempre morreria e este terceiro dá-lhe um pontapé na cabeça e
ela morre?
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Direito Penal II
Se se fizesse à luz da teoria do risco tinha de se demonstrar que aquele perigo que deriva
daquele primeiro resultado é tão intenso que se pode materializar no resultado mais gravoso –
F.D. fala em previsibilidade subjetivamente possível (tem de se ter algum grau de previsibilidade
do resultado à luz da imputação objetiva que depois tem reflexos em sede de imputação
subjetiva).
Tinha sempre de se demonstrar que havia negligência simples (violado o dever objetivo
de cuidado- andar ao estalo dentro de um cemitério e perto de campas que são perigosas são
em mármore que são substâncias muito firmes), consciente ou inconsciente. Pelo critério de
F.D., poderia afirmar-se a congruência entre o tipo objetivo e o tipo subjetivo, haveria aqui
imputação objetiva.
No artigo 18 CP o legislador define pelo menos a negligência. E pelo mais pode ser o
dolo? Há uma certa linha doutrinária que o admite e parece que é esse caminho que trilha F.D.,
parece que admite que o crime fundamental possa ser aplicado a título de dolo direto e o evento
mais grave possa ser imputado dolo eventual (14/3 CP).
Na letra do artigo 18 CP quando o agente refere que pelo menos a título de negligência
deve ler-se pelo menos a título de negligência simples e pelo mais pode ser a título de
negligência grosseira, sendo que a negligência simples ou a negligência grosseira podem ser
conscientes (15/a CP) ou inconscientes (15/b CP).
Casos práticos em que alguém leva um estalo e cai e bate com a cabeça e morre o que
se pretende que se discuta é: dois níveis de imputação objetiva, se se concretizam ou não varia
consoante o caso concreto.
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Direito Penal II
Podem ter-se erros sobre a existência do processo causal e erro sobre a eficácia do
processo causal. Do ponto de vista cronológico há o resultado produzido a dois tempos, há um
desfasamento entre aquela que é a representação do processo causal apta a reproduzir o
resultado e a efetiva produção do resultado através de outro processo causal.
Neste caso em particular temos o resultado retardado, pois o agente pressupõe que foi
a primeira ação que produziu o resultado, mas na verdade é no momento posterior que o
resultado se vem a produzir, é quando coloca a vítima no caixão que a vítima morre por asfixia,
então supõe estar a colocar um corpo morto no caixão, mas na verdade está a colocar uma
pessoa viva.
No nosso caso temos um erro sobre a eficácia do processo causal com um problema de
resultado retardado e é aqui que se discutem verdadeiramente os problemas de Dolus Generalis
(dolo geral).
A doutrina alemã considera que nestes casos o resultado visado pelo agente foi
alcançado, que não tenha sido por um processo causal que representou como sendo aquele que
efetivamente produz o resultado e tenha sido por outro, é irrelevante, porque o agente sempre
desenvolveu e representou que estava a desenvolver um processo causal apto a produzir o
evento, o agente tem uma representação fiel da realidade, representa todos os elementos
objetivos do tipo do artigo 131 CP e neste sentido deve-lhe ser imputado um único crime de
homicídio doloso consumado. A Professora Teresa Beleza continua a defender esta posição.
Jakobs nesta matéria tem uma posição muito clara: Para todos os efeitos quando o
agente pega aquilo que supõe ser um corpo e coloca no caixão é aí que está a praticar a ação
matar outra pessoa, mas o agente o que é que representa? Representa que tem à sua frente um
cadáver, o agente supõe que está a ocultar o cadáver (254 CP). Para efeitos do artigo 131 CP o
agente não representa fielmente a realidade porque o agente não representa nesse momento
em concreto, nem a conduta matar, nem o objecto de ação outra pessoa (supõe que lá está um
cadáver), nem o resultado morte (supõe que já foi praticado), para todos os efeitos o agente
está em erro intelectual do artigo 16/1 CP, sendo que João Curado Neves também defende esta
posição. Nestas situações o que se deve imputar ao agente é: crime de homicídio na forma
tentada, em concurso efetivo ideal homogéneo com um crime de homicídio negligente (exclui-
se o dolo do crime de homicídio (131 – 16/1 CP) ficando ressalvada a punibilidade da negligência
nos termos gerais (16/3 CP).
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Direito Penal II
Roxin defende que é necessário olhar no caso concreto para a questão de saber se o
facto foi praticado de acordo com aquilo que tinha sido planeado pelo agente ou não, isto é, se
matar e encobrir a seguir ainda fazia parte do plano ou não e, fazendo parte do plano é a solução
de um único crime doloso consumado, não o fazendo temos tentativa + homicídio negligente.
M.F.P. tem um pensamento que vem na esteira de Welzel e que é de acordo com
Stratenwerth. Ela defende que a solução pode ser um único crime doloso consumado ou não. O
critério para aferir quanto à solução a seguir há-de ser a unidade de ação ou resolução criminosa.
Quer dizer, será que estamos perante uma situação típica de homicídio em que a pessoa mata
primeiro e esconde o corpo depois? Será que estamos perante uma situação de unidade de ação
e há já aqui um plano delineado, estruturado, em que o agente decide matar e depois vai
encobrir o corpo ou o cadáver? Se for assim pode dizer-se que há sempre uma conexão de risco
em qualquer destes momentos, quer dizer, a conduta do agente do ponto de vista típico cria
sempre perigo e é sempre suscetível em qualquer um destes momentos de ter o risco
materializado no resultado. A professora aqui já não trabalha com o critério de previsibilidade,
mas sim com o critério do risco. Será que é isso que acontece na nossa hipótese?
A solução da professora é uma solução que em virtude deste critério da unidade de ação
variará em função dos dados da hipótese.
Há algum plano delineado ab initio? Não. O que há é que é no calor do momento que o
agente vai construindo o passo seguinte, é no calor do momento que o agente quer salvar a
pele, mas estas mortes não foram planeadas, não há uma unidade de solução criminosa que
estivesse estruturado ab initio.
3.05.2018
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Direito Penal II
Ainda é um erro intelectual, pois o agente não tem uma representação da realidade tal
que lhe permita compreender que a conduta pratica é ilícita. O agente tem de representar que
a conduta é ilícita. Ainda estamos perante um problema de falta de informação/verdade. Nos
casos do art.º 17º há uma representação fiel da realidade (tendencialmente), há um
conhecimento da proibição, mas faz uma valoração diferente. No art.º 16º falta a informação ao
agente enquanto o 17º há um erro de valoração.
No 17º temos os comandos comuns, que a maioria das pessoas considera comum.
Teresa Beleza e Frederico Lacerda da Costa pinho – critério sectorial, quanto aos
destinatários primordiais a quem determinadas normas se destinam, como é o caso de regras
especificas de determinadas profissões, o regime será o do 17º. Para as pessoas que praticam
ocasionalmente com o universo estará no âmbito do 16º.
Como este agente não tem a consciência ética em tensão com o legislador.
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Direito Penal II
Problema jurídico – Erro sobre a proibição 16º/1 vs. Erro sobre a ilicitude 17º
Visão da assistente:
Quanto ao critério da prof MFP, a condução é uma atividade perigosa, a condução sem
habilitação legal incrementa o perigo. É necessário ter em conta o facto e a forma como ele é
exercido. Ele atua de acordo com uma norma em vigor no Reino Unido. Sendo esta a realidade
que o agente conhece. O agente não optou por violar a lei nem tem a sua consciência ética em
choque com o legislador.
• Típica
o Tipicidade objetiva
o Tipicidade subjetiva
▪ Elemento subjetivo geral – dolo:
▪ Elemento cognitivo ou intelectual
• Erro sobre a proibição 16º/1
• 16º/3 não há tipo correspondente na forma negligente
• Conclusão – não há imputação subjetiva – não há
tipicidade
Para todos os efeitos estamos na UE, o agente pressupõe que o mesmo regime será
válido.
85
Direito Penal II
o Tipicidade:
▪ Produção de um resultado – morte
▪ Violação de um dever objetivo de cuidado
▪ Resultado previsível e evitável para uma pessoa média – critério
do duplo escalão – critério de caráter generalizador – se os
conhecimentos forem abaixo da pessoa média só serão
considerados em sede de culpa; o caso de serem acima da
pessoa média ai irá ser considerado em sede de imputação
Dolo:
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Direito Penal II
Nos quadros do dolo direito, para alcançar uma certa finalidade, pode o agente ter de
passar por uma fase anterior ou intermédia para alcançar o seu fim.
Ex. A ter de subtrair uma arma para cometer o furto / A praticar um crime de ofensa à
integridade física para que B lhe pague a dívida– meio para atingir o fim
• Tipicidade objetiva
• Tipicidade subjetiva
o 131º + 132º/1 e 2 al. g) – 14º/1
o 210º/1 e 2 al. b) (204º/2 al. f) – 14º/1
Punível
Extra 3.05.2018
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Direito Penal II
Só que face aos dados da hipótese, o agente para alcançar a sua meta tem um estádio
intermédio, uma fase intermédia – deitar o fogo, praticar o crime de incêndio – o agente para
atingir o seu objetivo último que é receber o prémio do seguro, tem ainda de praticar uma ação
intermédia (deitar fogo), um meio para atingir esse fim. Quanto ao perigo de incendio também
se tem dolo direto. O seu fim é a burla para obtenção de seguros, portanto dolo direito comporta
o seu agente com um certo fim, uma certa finalidade.
Mas o dolo direito ainda comporta aqueles estádios intermédio a que a relação entre o
agente e o facto é uma relação de meio/fim, sendo que o meio para atingir o seu desiderato,
seria o incendio, também ai teríamos dolo direto.
Tudo o que esteja para alem daquela que é a sua intenção primeira, para além daquilo
que esteja para além do seu desiderato, mas que o agente saiba que há uma consequência
incontornável, inevitável e fatal que derivará da sua conduta típica já será um dano lateral,
colateral ou secundário, será um dano necessário. A morte do velhote seria praticada com dolo
necessário – 14º/2 – isto partindo do pressuposto que ele sabia que o velhote estaria sempre lá
a dormir. Se lá pernoitasse umas vezes e outras vezes não, essa certeza, essa fatalidade que
sempre decorreria da prática do seu facto típico de incendio não estaria confirmada, se por
vezes, lá estivesse e outras vezes não, se fosse inconstante, teríamos dolo eventual.
No dolo direto teremos de ter uma relação de agente fim, uma relação meio/fim, mas
tudo isto se passa a montante da prática do facto.
No dolo necessário está a jusante da sua finalidade, e o agente sabendo isso e tendo
alternativa de ação opta pelo dolo.
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Direito Penal II
89
Direito Penal II
Historicamente, as primeiras teorias para distinguir estas duas figuras foram teorias
intelectualistas, estando radicadas no intelecto, na forma de atuação do agente a partir da sua
atitude interior. É a partir das teorias intelectualistas que surgem as teorias da probabilidade,
isto é, a pergunta que se faz para saber se o agente está a atuar com dolo eventual ou
negligencia:
90
Direito Penal II
➔ FD e a Teoria da Conformação – inspirado no pensamento de Roxin – entende que se o Comentado [JM11]: Há uma conformação de que a
agente representa a possibilidade de lesão do bem jurídico e ainda assim atua, o agente conduta não iria acontecer.
Critério da congruência – há uma incongruência entre o que
representa e aceita, conforma-se, com a possibilidade de realização do facto típico, isto
o leva a fazer a ação e o resultado
é, aceita a possibilidade de materialização do risco. É a ideia de Roxin de tomar o risco Quando chorou demonstrou a incongruência entre o ato e o
a sério. resultado, e o crime está relacionado com a vontade de
produzir o resultado
➔ MFP – perspetiva todas estas construções em geral como conceções introvertidas da
O choro faz com que haja um afastamento do dolo
vontade. Para a regente, se o direito penal é o direito penal do facto e o facto tem de
ser exteriorizado, tem de se ter alguma forma de visualizar a exteriorização da vontade
e por isso, MFP, partindo do pensamento de Aristóteles e da distinção entre as ações
voluntárias e involuntárias chega à conclusão que na verdade só uma conceção
extrovertida da vontade é que permite distinguir o dolo eventual da negligencia
consciente.
As pessoas quando atuam com um certo fim, atuam de acordo com o seu objetivo ou desejo.
Para atingir esse desejo que é o seu objetivo, as pessoas fazem uso daqueles que são os meios
lógicos e racionais para atingir esse objetivo e, portanto, nós diremos que enquanto
observadores externos, que estamos a tentar apurar o porquê de a pessoa atuar assim. Devemos
a partir daquele que é o contexto motivacional daquela pessoa em concreto, se face àqueles
meios que foram utilizados, os meios mais lógicos, mais racionais para atingir aquele desejo, se
a pessoa atuou com vontade ou não.
MFP diz que a distinção entre dolo eventual e negligencia consciente não pode ser Kafkiana.
É preciso que as pessoas conheçam e percebam do que estão a ser acusadas, tem de se saber
qual o significado comunicacional daquela conduta. Se o significado comunicacional é o do 14º/3
– dolo eventual – ou do 15º/a) – negligencia consciente. Para isso, a regente parte da
perigosidade da conduta e faz a distinção entre o homem de negócios e o jogador não
profissional.
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Direito Penal II
Um homem de negócios atua não só representando os riscos, mas atuando, tendo até
nesses riscos um meio para atingir um fim e nessa medida aceita-os sempre e atua
ultrapassando-os. O risco é uma fase intermédia, um obstáculo que tem de ultrapassar para
atingir a finalidade, se atuar assim está a atuar como homem de negócios e tem-se assim dolo
eventual.
Face aos dados da hipótese, o caso de seguro agora reconfigurado é isso que sucede. Será
isso que se sucede no caso do very light?
MFP diz que não, pois no contexto da festa, de celebração do ponto de vista comunicacional
seria incompatível com uma aceitação de risco como meio para atingir um fim. Para MFP o que
se teria ai seria um jogador não profissional, este é a figura que explica o agente no caso da
negligencia consciente do 15º/a) porque o jogador não profissional, até perspetiva os riscos, só
que ele minimiza-os, menospreza os riscos e sucumbe fatalmente à necessidade de agir, à
necessidade de praticar o facto típico, mas isto significa que o agente não está aqui a aceitar o
risco.
No caso do very light, rigorosamente, o agente estava num contexto de festa, antes do golo
já tinha lançado o very light para o ar, estava no meio da multidão, o agente dispara o very light,
e possivelmente representou o perigo, mas será que do ponto de vista comunicacional aquelas
que são as motivações do agente são compatíveis com uma admissibilidade do risco com um
estágio intermédio para alcançar o objetivo?
Face aos dados que se conhecem parece efetivamente que não, até porque do ponto de
vista comunicacional, o facto e estes factos associados à circunstancia do agente entretanto ter
percebido que afinal teria sido o seu very light que tinha produzido aquele resultado e quando
vem efetivamente a confirmar à noite quando vê na televisão e chora, isto face aos dados da
hipótese é uma manifestação incompatível com uma transmissão do significado diferente da
negligencia consciente.
Se alguém perguntar numa oral se existem diferentes espécies de dolo, responde-se que
não porque o dolo é só um, é uno, o que se tem são figuras interpretativas do modo como o
dolo surge na ação do agente.
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Direito Penal II
Caso dos mendigos russos – Foram os mendigos russos que nas ruas de uma cidade na
Rússia tinham um bando de crianças órfãos que estropeavam para com isso conseguir que as
crianças tivessem mais dinheiro. Quanto mais maltratadas estivessem maior era a piedade e,
portanto, mais dinheiro recebiam. Aconteceu que algumas das crianças acabaram por morrer
em resultado às ofensas à integridade física produzidas então estas mortes devem ser
imputadas aos agentes com dolo eventual ou com negligencia consciente? Aplicando a conceção
extrovertida da vontade, aplicar-se-lhes-ia o dolo eventual porque eles atuam sempre como
homens de negócio, o seu objetivo último é o lucro, ainda que para isso eles representando o
risco aceitem risco, não como um estádio intermédio, mas como um meio para atingir a sua
finalidade.
Aplicando a fórmula hipotética de Frank – a conclusão não era a mesma, seria neste caso,
negligencia consciente, porque era incompatível com os seus desejos, com as suas finalidades,
perder fontes de lucro, uma morte era uma perda de fonte de lucro.
Aplicando a fórmula positiva de Frank – é dolo eventual, pois aconteça o que acontecer, eu
atuo.
Serve isto para dizer que estas fórmulas são muito interessantes, mas por vezes a
fundamentação é rigorosamente a mesma, mas na 1ª instancia decide-se da mesma maneira e
em instancia superior decide-se exatamente de maneira diferente.
93
Direito Penal II
▪ 14º/3
• Culposa
• Punível – 131º + 132º/1 + 2 al. g) + 14º/3
Este caso é inspirado no caso clássico das correias de couro que são dois ladrões que
vão assaltar uma pessoa e que tentam sistematicamente pô-la em modo inconsciente para
conseguir executar o assalto, praticar o crime de furto, só que a vítima tinha um porte físico
acima do normal e não havia nada que a derrubasse. Tentam pô-la inconsciente de várias formas
até que às tantas decidem utilizar umas correias de couro que tinham levado, para a asfixiar até
à inconsciência, mas nunca com o intuito de matar, tanto é assim eu quando eles veem que a
vitima não vem a si naturalmente até a tentam reanimar.
Na conceção extrovertida da vontade de MFP, eles sempre teriam também aqui como
homens de negócios não só porque representam o perigo, como também o aceitam como
estádio intermédio para atingir a sua finalidade. Não se privam de utilizar todos os meios
possíveis e imaginários para garantir a neutralização da vítima, o facto que haver essas tentativas
de arrependimento da perspetiva de MFP, nunca anula a circunstância de se ter aqui um risco
representado intenso. E, portanto, para MFP seria um caso de dolo eventual.
94
Direito Penal II
Pode dizer-se aqui que o agente é o destinatário primacial da norma porque realmente
ele está numa certa atividade profissional e está obrigado a conhecer todas as normas
incriminadoras para atuar em conformidade com elas.
Será que este agente tinha toda a informação? Será que este agente tinha uma
representação da realidade tal que lhe permitia apreender que a sua conduta era ilícita? Uma
pessoa que está a entrar na atividade e que se esforçou para ir recolher a informação e que não
conseguiu porque a informação é muita e difusa e por vezes é difícil encontrar, este é um caso
que recai na letra do 16º/1.
Este é um caso real e este agente na realidade até teve cuidado de pedir ajuda
profissional, isto é, ele contratou uma senhora que era muito recomendada como sendo
especialista nestas matérias para recolher as autorizações legais todas e toda a documentação,
mas esta senhora falhou porque isto acontece logo a seguir à entrada em vigor do PassMúsica,
falha-lhe esta autorização especifica e este jovem universitário é constituído arguido pela prática
deste facto.
Entendeu-se que ai a solução não podia ser outra que não o 16º/1 porque não estamos
no domínio do 17º, não estamos perante uma situação em que o agente valora de forma
diferente a realidade objetiva que conhece, ele não tem a sua consciência ética em tensão com
aquelas que são as valorações do legislador e do ordenamento jurídico. Ele até tenta orientar a
sua conduta de acordo com o ordenamento jurídico e busca informação. A possa pode ignorar
a proibição, mas ignora a proibição sendo um profissional da área porque os profissionais da
área são os destinatários primaciais dessas normas e, portanto, elas têm a obrigação de buscar
e recolher informação e atuar de acordo com a norma.
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Direito Penal II
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Direito Penal II
Dolo generalis
Para FD, tendo o resultado ocorrido de forma antecipada face àquele que era o plano
do agente, se já se está ou não perante os atos de execução do processo causal que na
representação do agente deveria produzir o resultado? Poderemos imputar uma tentativa
desde que o agente não execute todo o plano (se não lanças a vitima ao rio). Se lança a vitima
ao rio, para todos os efeitos, deve-se imputar um crime de homicídio doloso consumado.
Quid iuris se, não é o caso, mas se estivéssemos ainda na fase dos atos preparatórios –
21º?
Ai, de acordo com o mesmo critério de FD, dir-se-ia que se o agente de acordo com o
seu plano praticar os atos subsequentes que estavam no seu plano, podemos continuar a
imputar um crime de homicídio doloso consumado.
Para MFP, a solução seria igual, sempre se poderia imputar um crime de homicídio
doloso consumado e com dolo direito face aos dados da hipótese.
Se estivermos na fase dos atos de execução e se não for praticado de acordo com aquilo
que era o plano do agente, o ato fatal, o processo causal que efetivamente produziria o
resultado, se estamos no estado de tentativa, imputa-se um crime na forma tentada.
Mas se se praticar de acordo com o que era o plano do agente, o processo causal que
viria efetivamente a produzir a morte de acordo com o seu plano, imputa-se um crime doloso
consumado.
97
Direito Penal II
Problema jurídico – erro sobre o processo causal – desvio não essencial do processo
causal
98
Direito Penal II
Segundo a teoria do risco, o A aumentou o risco proibido, seria provável que ao atirar B
da ponte essa morresse por afogamento e o risco se materializava no resultado típico.
A morte não se poderia imputar à pessoa coletiva porque as pessoas coletivas só podem
ser responsabilizadas de acordo com os numerus clausus do 11º, poder-se-ia imputar um crime
de perigo por poluição – 279º e 280º - mas não o crime de homicídio porque se se olhar para o
elenco do 11º/2, o homicídio, os crimes contras as pessoas em geral, não estão abarcadas pelas
responsabilidade das pessoas coletivas.
8.05.2018
Ilicitude
Desvalor da ação vs. Desvalor do resultado
Ação que em si mesma é desvaliosa – ou temos uma ação proibida ou uma omissão
imposta
99
Direito Penal II
100
Direito Penal II
o Requisitos
▪ Adequação do meio
▪ Superioridade do interesse – al. b)
▪ Sacrifício razoável – clausula de razoabilidade – al. c)
▪ Conhecimento da situação perigosa
▪ Não exige animus salvandi
Legitima defesa como colisão de direitos – como todas as outras causas de justificação
– consubstanciam uma atuação permitida pelo ordenamento jurídico, quando no confronto
direito, os pressupostos e requisitos estiverem reunidos – se é com aquele agente em concreto
que a colisão se dá. O agente só pode atuar em legitima defesa contra quem esteja a praticar
uma ação atual e ilícita – é na esfera desta pessoa que se pode imiscuir/bulir. Se o automóvel
fosse de orlando, estaria a agir sobre os bens do agressor. A atuação impenda sobre os bens
jurídicos/interesses do próprio agressor, não contra um terceiro.
Neste caso ela dole contra os bens jurídicos de júlio, diferente seria se ele fosse
comparticipante ao instigador. Na colisão entre júlio e isabel não há uma agressão atual e ilícita,
mas alguém que tem de suportar uma agressão a um bem jurídico.
Neste caso, a única justificação operante seria o direito de necessidade – 34º. Quanto
aos pressupostos, há uma agressão que para efeitos de aplicação do 34º, há um perigo claro
para a autodeterminação sexual de isabel, que ameaça os interesses juridicamente protegidos,
não tendo sido ela que criou o perigo. Quanto aos requisitos, seleciona o meio menos gravoso
– sendo o único meio se ela não tinha possibilidade entre atuar sobre o agressor.
MFP, al. b) a superioridade não implica uma comparação em abstrato desliga do caso
real e fixada através de critérios padrão, a ponderação deve ser feita caso a caso e de acordo
com os contornos do caso. Ex. caso do ladrão e do terceiro - do ponto vista dos bens jurídicos
de natureza patrimonial, a valoração deve ser tendo em conta que aquele é o único sustento, e
não o valor objetivo. Na al. c) o que temos é uma clausula de limitação pela dignidade da pessoa
humana, entende que o núcleo duro que o constituem (vida, ofensas à integridade física gravas
144, liberdade – locomoção e sexual), este núcleo duro dos direitos do terceiro lesado nunca
pode ser posto em causa sob pena de o estar a instrumentalizar em prol do agente.
101
Direito Penal II
o Isabel praticou uma ação típica, mas não ilícita, pelo que não é
suscetível de responsabilidade jurídico penal
Artur
Analisando a conduta do proprietário do cão, este pratica uma ação humana pratica pela
vontade, havendo um crime comissivo pela omissão, impende sobre os proprietários de animais
perigosos, há deveres acrescidos de cuidado, não tendo sido propositada a abertura do portão,
há uma violação de um dever objetivo de cuidado. Há um comportamento verdadeiramente
negligente cuja fonte é a lei.
A ilicitude para a MFP, há uma ilicitude global, não tem de consubstanciar uma ilicitude
penal. A violação é de contenção destes cães, a agressão ilícita pode resultar de ações, omissões,
puras ou impuras que não precisam de ser estritamente penais, mas no ordenamento jurídico
no seu todo. A conduta é ilícita, mas não típica.
102
Direito Penal II
Era possível estamos perante uma ofensa à integridade física grave, pois este tipo de
cães ataca o pescoço. Mesmo que Bruno matasse o cão estaríamos perante o princípio da
insuportabilidade da não defesa. Só é exigido que o agente sabia que há uma agressão ilícita e
atual em curso.
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva – 212º- 387º (389º/1)
o Subjetiva – 14º/1
• Ilicitude
o 32º - não exige animus defendendi
• Conclusão
o O facto é típico, mas não é ilícito
Ele acabou de subtrair a coisa e encontra-se em fuga. Ainda não houve consumação do
crime, sendo o limite para se atuar em legitima defesa. Helder praticou um crime de furto
simples. Quando o agente atua, está a repelir uma agressão atual e ilícita contra uma agressão
a um terceiro. Entre os meios que tinha ao seu dispor, usa o meio menos gravoso e idóneo, é
um meio necessário.
103
Direito Penal II
Guilherme
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva – 143º
o Subjetiva
▪ Elemento cognitivo ou intelectual do dolo – erro relevante
sobre a identidade da pessoa
▪ 14º/1
• Ilicitude
o 32º falta o requisito “conhecimento da situação defensiva”
o 38º/4 aplicação analógica in bonam partem 1º/3
o “pena aplicada à tentativa” =/ regime da tentativa
o MFP – não há desvalor do resultado
10.05.2018
Coloca-se em sede de ilicitude, mas depois vai ser analisado em sede de culpa – legitima defesa
putativa.
Para aplicarmos uma causa de justificação temos de ter todos os pressupostos e todos os
requisitos. A agente acha que vai ser agredida, imagina estar iminente uma agressão atual e
ilícita. Mas já sabemos que os pressupostos da legitima defesa não estão preenchidos, não é
operante enquanto causa de exclusão da ilicitude
A agente está em erro de suposição, e que ao abrigo do quadro fático que representa age e
tenta repelir. Não tem uma representação fiel da realidade – fruto da sua imaginação – quando
nada acontece como o agente supõe há um universo alternativo/imaginação. É necessário
104
Direito Penal II
entrar na vivencia imaginária da agente – 16º/2 – erro sobre o estado das coisas – ele está em
erro, mas se a realidade fosse aquela que ele está a imaginar, ele estaria a atuar ao abrigo de
uma causa de justificação?
Necessidade de defesa? Sim. Utilizaria o menos gravoso para o agressor? Sim – meio necessário
preenchido. Se a realidade fática estiver preenchida, ela atuaria ao abrigo da legitima defesa.
16º/2? É como se ela não tivesse uma fiel representação da realidade que lhe permita
apreender a realidade fática, que impede que ela oriente a consciência ética que liga o desvalor
jurídico à ilicitude.
Para FD o dolo é composto não só por dois elementos, mas também pelo elemento
emocional do dolo que é analisado em sede de culpa – estamos então a afastar o elemento
emocional do dolo. – Fundamento da norma e doutrina em geral – culpa dolosa que está a ser
excluída.
105
Direito Penal II
1º complexo fático: António giza um plano para lhe sacar o dinheiro todo do multibanco
ameaçando de morte Berta, consegue que ela conduza um carro cedido por Carlos a quem
prometera uma choruda quantia para colaboração, enquanto Daniel, recrutado por A
• Autoria material
• Autoria mediata
• Co-autoria – partilham funções, domínio funcional dos autores
106
Direito Penal II
• Instigação
• Cumplicidade (material ou moral)
FD – o senhor da execução do facto é sempre o autor, pois são eles que controlam o se,
o como e o quando da execução do facto, para todos os efeitos eles têm o domínio positivo e o
domínio negativo do facto.
Os participantes só podem ser punidos, porque eles são participantes do facto do autor,
se os autores tiverem praticado simultaneamente um facto típico e ilícito – 29º. A culpa não tem
de ser partilhada.
• Cumplicidade
O cúmplice apoia sempre uma vontade que já existe no autor, já foi tomada pelo autor
e que pode receber o apoio material dos cúmplices ou pela via moral (apoia-se ou ajuda-se na
planificação)
C é cúmplice material, tem duplo dolo, enquanto C não há representação que se está a
apoiar o facto do autor nem se tem dolo quanto à realização do facto típico.
Quando é que este apoio pode mudar radicalmente? A leva a arma de B para o assalto,
mas não a usa? Critério da potenciação do risco – temos de verificar se este contributo material
ou moral do cúmplice aumenta ou não a possibilidade de realização do facto típico. Ele não a
usa, mas o facto de a arma lá estar, potencia o risco.
• Instigador
Também tem de ter duplo dolo – 26º/4 – dolo de instigação, criação de vontade nova,
realização do facto típico pelo autor. A única pessoa que tem duplo dolo e que não toma parte
direta na execução é o A. Só o A pode desempenhar este papel.
Num plano, pode ser o mastermind, mas pode ser apenas instigador e não autor
material se não lá estiver.
107
Direito Penal II
O instigador cria uma vontade nova, o homem da frente pode decidir pelo direito ou
pelo torno, é plenamente responsável – se quer ou não praticar o crime.
Na autoria mediata, o homem de trás controla a vontade do homem da frente que está
instrumentalizado que não tem alternativa de ação – marioneta.
B está numa situação de inexigibilidade, não lhe é exigida outro tipo de conduta
Parelho organizado de poder – autor mediato pode ser quem controla, há ordens
verticalmente dada a quem está em baixo. Há a fungibilidade do agente (há mais que o faça).
Solução:
Títulos comparticipativos:
• Concurso
✓ Ameaça 153º
✓ Coação 154º
✓ Sequestro
✓ Rapto
✓ Extorsão
D ameaça G e depois acaba por ameaça-lo (ameaça contra a vida) – 153º e 154º – destes
vão valorar a mesma realidade – concurso aparente ou de normas.
O problema é que o 154º tem uma parte que tem idêntica valoração à que existe no
153º. Há quem entenda que o 153º é um tipo base e os demais serão regras especiais.
Atualmente, nestas situações, aplica-se a regra da consunção pura, pois na verdade quem
pratica o crime de coação pratica também uma certa valoração constante noutra norma legal.
Uanto temos um tipo que contem todos os elementos e depois temos uma norma que partilha
dos mesmos elementos, mas que acrescenta elementos especificadores, há uma relação de
especialidade. O que não acontece neste caso, pois a descrição tipa dos dois é diferente, há mais
condutas. O campo de valoração do 154º é mais – inclusão material – há a regra da consunção
pura – pena maior no 154º.
161º vs 158º/1 – há aqui um tipo especial, partilham dos mesmos elementos com
características particulares
108
Direito Penal II
161º/a) vs 154º - consunção pura – na descrição típica do crime de rapto está implícito
a ameaça e a coação, já está a ser valorada na medida da pena, a medida de valoração é mais
vasta – há uma pena mais grave.
Aula extra
- temos uma relação de sobreposição, há um tipo base que tem elementos que vao ser
comuns ao tipo especial, partindo dos elementos objetivos acrescenta elementos
especializadores. Nas relações de tipo base, qualificado e privilegiado estamos perante a regra
da especialidade.
- quanto temos tipos complexos – aqueles que combinam vários tipos simples – a regra
é que se aplica sempre o tipo complexo – o roubo é um misto de furto, ameaça e eventualmente
coação
- na relação crime geral ou comum vs. Tipo especifico impróprio : o tipo especifico
improprio é a norma que se aplica efetivamente
- há certos tipos que estão no cp que são tipos bases que têm o paralelo para áreas
especificas – corrupção e corrupção desportiva – vinga a regra especial
o Tipicidade
➔ Objetiva
• 153 vs 154 – consunção pura – 154
• 158º/1 vs. 161º/1 al. a) – especialidade 161
• 154º vs 161º - consunção pura – 161º
• 161º vs 223º - consunção pura – 161º
• Em suma – 161º/1 al. a) + 26º/2
➔ Subjetiva
• Erro sobre a identidade da vitima irrelevante por não ser elemento típico (não
há distonia típica)
• 13º + 14º/1 + ESSE – intenção de extorsão
o Ilicitude – há desvalor da ação e do resultado
o Culpa – 29º
o Punibilidade – daniel seria punido por um crime de rapto nos termos do
disposto no 161º etc
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva
▪ 153º vs. 154º - consunção pura – 154º
▪ Em suma 154º + 26º/1
o Subjetiva
▪ 13º + 14º/1
• Ilicitude
109
Direito Penal II
• Culpa – 29º
• Punibilidade – daniel seria punido por um crime de coação nos termos do 154º
+ 26º/1 + 13º + 14º/1 + 71º
No caso dos co-autores tem de haver domínio funcional, sendo necessário que queiram
esse domínio funcional. Sendo ainda necessária a intenção ilegítima de extorsão
• Ação
• Típica
o Objetiva
▪ Não é co-autora – 161º/1 al. a) porque não tem o domínio
funcional do facto, por ausência de uma vontade livre, alem do
que não partilha da intenção especifica da extorsão no rapto
▪ Não parece ser autora paralela 158º/1 – duvidoso que se
verifique o domínio do facto no caso, porque seria necessário
que ela dominasse por si so integralmente o facto e a verdade
é que não há liberdade de vontade para efeitos do domínio
integral do facto. De qualquer modo a admitir-se…
o Subjetiva
▪ 13º + 14º/1
• Ilícita
o 34º/b) e b)
o Há desvalor da ação e desvalor do resultado
• Culpa
o 29º + 35º/1
• Punibilidade
o Berta não será suscetível de responsabilidade jurídico-penal, uma vez
que pratica um facto típico e ilícito, mas não culposo
Quanto a António:
• Ação
• Típica
o Instigador de daniel no rapto de xavier/Gonçalo 161º/1 al. a) + 26º/4
▪ Erro sobre a identidade da vitima
▪ Maioria da doutrina aberratio ictus vel impectus
▪ MFP – rejeita aberratio ictus porque o instigador não tem o
domínio do facto, donde não controla a execução deste
▪ MFP – há que indagar – desvio de mandato ainda se pode
atribuir ao instigador? 13º + 14º/3 Comentado [JM12]: Verifica-se o dolo dolo
o Instigador de daniel da coação exercida por este sobre berta – 154º +
26º/4 – 13º + 14º/1
• Ilícita
o Acessoriedade limitada verificada
• Culposa
o 29º
• Punível
110
Direito Penal II
Gonçalo – aberratio ictus – tenta atingir Berta, mas falha e atinge um peão
• Objetiva
o Elementos objetivos verificados
• subjetiva:
o Relativamente ao objeto visado – tentativa de homicídio 131º + 22º/1 e
2 al. a) e b) + 13º + 14º/1
o Relativamente ao objeto não visado – ofensas à integridade física – 148º
+ 15º/b)
▪ Produção de um resultado? Ofensa)
▪ Violação de um dever objetivo de cuidado
▪ Resultado previsível e evitável para uma pessoa média?
Doutrina do duplo escalão – contrariedade ao dever analisado
aqui, a partir de um dever geral
Ilicitude
Culpa
Conclusão
111
Direito Penal II
• Pressupostos
o Agressão atual e ilícita
o Agressão contra interesses juridicamente protegidos do agente ou de
terceiro
• Requisitos
o Necessidade do meio
o Necessidade de dessa
o Conhecimento da situação defesiva
o Não exige o animus defendendi
• Excesso extensivo
o Antecipação à agressão – LD preventiva
o Defesa depois da agressão
• Excesso intensivo
o Excesso do meio
o Desnecessidade do meio
MFP – nos casos de concurso entre erro e excesso temos de aplicar o 16º/2 parte final,
só que ela entende que a aplicação desta seria desproporcionada e excessiva pois a
consequência seria a exclusão automática da culpa dolosa. Temos o 33º onde verdadeiramente
há uma ponderação, entende então que temos de averiguar se o excesso é ou não
motivado/explicado por esse erro. Se não houvesse o erro e o agente continuasse a atuar o
excesso de meios, aplica-se por analogia o art.º 33º/1 e 2 (dependendo ser for asténico ou
esténico).
E se for um excesso intensivo asténico não censurável – não se aplicando o 33º, voltamos
para o 16º/3, sendo punido pelo facto negligente, não podendo deixar de ser censurado.
Nos casos em que o excesso é explicado pelo erro – já se aplica o 16º/2 parte final
Preparação de frequência
1.º complexo fático
B:
• Ação
• Tipicidade –
o objetiva vários tipos de 217º + 26º/1
o subjetiva 13º + 14º/1
• Ilicitude – há desvalor da ação e do resultado
112
Direito Penal II
Ela não pode ser cúmplice quanto ao crime de furto, pois esse já está consumado
A:
• Ação
• Tipicidade – objetiva 203º subjetiva 13º + 14º/1
• Ilicitude – há desvalor da ação e do resultado
• Culpa – há culpa
• Tipicidade
o objetiva – vários tipos de 217º + 26º/4
o subjetiva – 13º + 14º (há duplo dolo)
• Ilicitude acessoriedade limitada verificada no caso
• Culpa – há culpa 29
• Punibilidade
o A seria punido em concurso efetivo real heterogéneo (30º/1) como autor
material de um crime de furto e instigador de vários crimes de burla, nos termos
do 203º + 13º + 14º/1 e 217º + 26º/4, 13º + 14º/1 e 71º + 79º
2º complexo fático
C:
• Ação
• Tipicidade
o 153º vs. 154º - concurso aparente ou de normas – consunção pura – 154º : na
forma tentada
▪ Atos de execução – 22º/1 e 2 al. a)
▪ Ausência de consumação – 22º/1
▪ Há decisão de cometimento do crime – 22º/1 + 13º + 14º/1, sendo o
erro sobre a identidade da pessoa irrelevante, pois não há distonia
típica
• Ilícita
o Há desvalor da ação e do resultado (perigo)
• Culposa
o Não há culpa – inimputabilidade em função do resultado – 19º
• Punível
o Se ele fosse maior:
▪ Tentativa punível – 154º/2 + 23º/1
▪ Conclusão – C seria punido pela prática de um crime de coação na forma
tentada nos termos do 154º/1 e 2 al. a) + 13º + 14º/1 + 23º/1 e 2 + 71º
+ 73º
113
Direito Penal II
E:
Problema de aberratio ictus, tem uma representação fiel da realidade, mas falha na
execução – devendo-se a ele próprio, não há fatores externos ao agente, mas devido à falta de
condições psico-fisicas
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva
o Subjetiva
▪ Relativamente ao objeto visado, mas não atingido – tentativa de
homicídio – 131º + 22º/1 e 2 al. a) e b) + 14º/1
▪ Relativamente ao objeto não visado, mas atingido -ofensas à
integridade física – 148º + 15º/b) – não há imputação do evento mais
grave cujo autor será H
• Produção de um resultado
• Violação de um dever objetivo de cuidado
• Resultado previsível e evitável para uma pessoa média?
Doutrina do duplo escalão – contrariedade ao dever
• Ilicitude
o Legitima defesa? Meios que o agressor e o defendente tem à sua disposição,
proximidade do agressor face ao terceiro e do próprio defendente – se
interpretarmos que a agressão estava quase consumada – princípio da não
executabilidade da ação – não sujeito ao principio da proporcionalidade
• Culpa
o Há culpa
• Punibilidade
o E seria punido pela prática de um crime de ofensas à integridade física
negligente, nos termos do 148º + 15º/a) + 71º
3º complexo fático
F:
E: crime de coação
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva 154º/1
o Subjetiva – 13º + 14º/1
• Ilicitude
114
Direito Penal II
F:
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva 291º/1 b)
o Subjetiva 13º + 14º/1
• Ilicitude
o Há desvalor da ação e do resultado (de perigo)
• Culpa
o 35º/1
E:
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva 291º/1 b) + 26º/2 – autor mediato admitindo existir dolo de perigo –
não existindo 291º/3
o Subjetiva 13º + 14º/1
• Ilicitude
o Há desvalor da ação e do resultado (de perigo)
• Culpa
115
Direito Penal II
o 35º/1
Colisão com G
F:
• Ação
• Tipicidade
o objetiva 143º/1
o subjetiva 12º + 14º/3
• Ilicitude há desvalor da ação e do resultado (não há causas de justificação)
• Culpa 35º/1
E:
• Ação
• Tipicidade
o objetiva 143º/1 al. b) + 26º/2 (autor mediato)
o subjetiva 148º/1 + 15º/a)
• Ilicitude há desvalor da ação e do resultado (não há causas de justificação)
• Culpa 35º/1
• Punibilidade – e seria punido pela prática de um crime de ofensas à integridade física
negligente, nos termos do 148º/1 + 15º/a) + 71º - assumindo os elementos do 35º
verificados quanto aos demais factos analisados
4º complexo fático
H:
116
Direito Penal II
117
Direito Penal II
Ilicitude – MFP
Binding – neoclássicos e finalistas – as normas, diferentes de meros preceitos legais,
teriam dois papéis, o de valoração e o de formulação de imperativos. A valoração corresponderia
à definição do valor de um vem para o Direito, o imperativo à proibição ou comando de ações.
Para concluir pela violação das normas não bastaria a correspondência do facto ao tipo
legal, que apenas preverá a aplicabilidade da sanção a um facto, seria necessário confirmar se
as verdadeiras normas, que emanariam do conjunto da ordem jurídica, teriam sido violadas.
O direito penal partilha de uma raiz valorativa comum aos outros ramos de direito,
apenas revelaria um modo de proteção mais intenso.
Uma infração de normas de direito civil poderia não ter correspondência num ilícito
penal, mas não seria concebível que um ilícito penal não resultasse a ofensa das normas civis
identicamente reguladoras da conduta penalmente sancionada.
Todavia, esse argumento de maioria de razão não impede em absoluto que uma causa
de exclusão da ilicitude possa afastar a responsabilidade penal e deixe subsistir outras formas
menos graves de responsabilidade, admitindo-se nesse caso uma especificidade dos fins da
responsabilidade nos diversos ramos do direito, apesar da existência de relações lógicas entre o
mais grave e o menos grave.
A unidade lógica da ordem jurídica impede que um facto autorizado como ilícito menos
grave seja proibido como ilícito mais grave. Não imporá, no entanto, que um levantamento da
proibição penal, que não se assuma como verdadeira permissão geral da conduta, afastando
apenas a forma mais grave de responsabilidade, também exclua a responsabilidade civil ou
disciplinar do mesmo facto.
Se para um certo facto há uma justificação civil, ela terá de, coerentemente, valer para
esse mesmo facto no âmbito do direito penal.
118
Direito Penal II
a valorações. Esta já pondera o significado do facto como violação do dever extraído da proibição
(de matar) e o do bem jurídico (vida).
O juízo de tipicidade pode até pressupor, em abstrato, valorações de ilicitude, mas estas
valorações serão sempre entendidas na tipicidade como problemas de descrição dos factos
verificados, de acordo com os critérios da linguagem social, referente da descrição da lei, e não
logo como avaliação pela ordem jurídica do facto, declarando-o desvalioso ou não desvalioso e,
por isso, proibido ou permitido. Esta última tarefa pertence ao juízo da ilicitude.
Welzel afirma que só as verdadeiras ações finais podem ser proibidas com sentido,
porque proibir só pode significar motivar que uma pessoa evite realizar uma conduta
determinada, definida independentemente da norma e das suas valorações.
FD fala em tipos justificadores para realçar que não existirá uma verdadeira
continuidade entre fundamentação e exclusão da ilicitude, dando assim solução ao embaraço
em que a escola neoclássica caía ao considerar as causas de justificação como elementos
negativos do tipo que apenas delimitariam o desvalor fundamentado no facto típico e que, dada
essa função, teriam de ser objeto do dolo ao mesmo título que os elementos do tipo que
fundamentariam a ilicitude.
119
Direito Penal II
positivos da ilicitude como os seus limites negativos. E esse dolo referido a um objeto uniforme
de facto ilícito corresponderia ao exagero de o agente só poder ser responsabilizado se ao
conhecimento e vontade de realização do facto típico se acrescentasse o conhecimento efetivo
da inexistência de causas de justificação, como a legitima defesa ou o estado de necessidade.
Sobre a estrutura das causas de justificação, na doutrina penal, têm sido subordinadas
às relações entre a tipicidade e a ilicitude – TGFP. Assim, a perspetiva regra-exceção adaptou-se
tanto à conceção do tipo indiciador de Beling como ao entendimento do tipo da escola
neoclássica como ratio essendi da ilicitude. No primeiro caso, a proposição jurídico-positiva é o
resultado lógico da combinação da lei penal com outras regras existentes, no conjunto da ordem
jurídica. No segundo caso, esgota-se na tipicidade toda a valoração jurídica, podendo incluir
elementos negativos – causas de justificação.
120
Direito Penal II
Se tanto na ilicitude como na culpa estiver em causa o desvalor de uma ação de acordo
com uma lógica de violação do contrato social, a ilicitude e a culpa perderiam autonomia uma
em relação à outra.
A resposta irá passar pela análise di efeito da ausência de uma distinção entre a exclusão
da culpa.
Mesmo no seio de um sistema que a não teorize, é conveniente uma distinção entre
uma “justificação”, que corresponde ao exercício de um direito inatacável, e um afastamento
da responsabilidade que apenas liberta o agente do juízo de censurada norma sem acarretar
implicações na regulamentação do comportamento de outros agentes.
121
Direito Penal II
A procura do sentido concreto da justificação, que perpassa o direito penal, deve tentar
encontrar fontes e critérios de definição universal de valor, isto é, de definição do valor de um
ato intersubjetivamente possível, de acordo com a igualdade entre os sujeitos jurídicos, sem
utilizar critérios quantitativos, apenas relacionados com os bens, mas integrando perspetivas de
igualdade perante a ordem jurídica de acordo com o seu valor de posição de casa sujeito.
122
Direito Penal II
A solução da formação das causas de justificação a partir de uma fonte genética como a
ordem jurídica, conduz, por seu lado, à expansão constante das causas de justificação, à
admissão da analogia legis, da analogia juris e à abertura a fontes supralegais de justificação.
O recurso aos princípios jurídicos é sobretudo pertinente nesta construção das causas
de justificação a partir da ordem jurídica.
A determinação desse algo mais não pode deixar de ter qualquer fio condutor, porque
o alargamento da justificação encurta direito e fere expectativas. Não é admissível, como
sustenta Jakobs, que quaisquer bons fundamentos sejam causas de justificação, nem para o
julgador, nem para o próprio legislador.
Foi aceite, a partir de certa fase histórica, na teoria jurídica, que o efeito das causas de
justificação seria a anulação da valoração negativa indiciada pela tipicidade ou mesmo da
valoração positiva desse comportamento típico para a ordem jurídica, enquanto na exclusão da
culpa apenas estaria em causa a não censurabilidade pessoal do agente por um facto em si
desvalioso para o direito. Esse é um contributo da elaboração penalística da teoria da ilicitude
objetiva, que nunca mais deixou de marcar a resolução das grandes questões de direito penal.
É ainda contribuição dessa teoria a tese de que o efeito das causas de justificação é um efeito
de valor universal, de forma que contra causa de justificação não se pode opor causa de
justificação se um comportamento é positivamente permitido, aquele que se lhe opõe só pode,
como sua negação, ser proibido, estando, por conseguinte, excluído um direito de defesa.
123
Direito Penal II
Há, consequentemente, bens de uma certa espécie que são sempre preservados, de
modo a que a sua afetação pelo “necessitado” tornará a agressão deste necessariamente ilícita
e suscetível de legitima defesa – 32º. Este é um critério legal sobre a própria materialidade do
direito de defesa, isto é, um ponto de vista a partir do qual é possível aferir se a defesa de bens
pode ser negada ou não.
A clausula da al. c) abrange esses bens e, provavelmente, ainda outros que, embora
possam ser prejudicados, nas situações graves do 19º/2 CRP não o poderão ser apenas para
realizar um interesse superior.
124
Direito Penal II
A defesa da ordem jurídica tal como a defesa particular contra as agressões ilícitas
podem ser construídas juridicamente com base na ponderação entre valores conflituantes
protegidos pelo direito no caso concreto. Dessa ponderação resulta, em muitos casos, limites
para a atuação particular na defesa contra agressões ilícitas, nas situações de proteção de bens
jurídicos menos essenciais para os fins da pessoa, bem como uma certa exigência de
proporcionalidade dos meios de defesa relativamente ao fim visado de proteção daqueles bens.
A ilicitude da agressão não pressupõe uma natureza penal do ilícito, não se excluindo
que factos penalmente relevantes sejam justificados por legitima defesa, apesar de repelirem
agressões que não correspondem a factos legalmente incriminados.
Quanto à atualidade da agressão, a defesa só deve pretender evitar a lesão dos bens
jurídicos postos efetivamente em perigo pela agressão, numa fase em que já seja justificada a
125
Direito Penal II
intervenção do poder publico para impedir a agressão. Pode equiparar-se ao conceito de atos
de execução constituídos da tentativa de crime – 22º. O momento a partir do qual a agressão
deixa de ser atual corresponde, por outro lado, em regra, ao último momento da consumação
dos crimes, sempre que a agressão revista natureza criminal (272º).
A única dimensão que pode justificar a permissão de maior intensidade da defesa dos
particulares, relativamente à realizável pelos agentes do estado é a existência de diferentes
possibilidades para estas entidades de assegurar a preservação de bens jurídicos. Mas um tal
aspeto apenas se relaciona com os modos de comportamento permitidos aos particulares na
gestão dos seus meios de defesa. O âmbito dos bens que podem ser sacrificados pela defesa
sem restrições a fim de preservar quaisquer outros, ainda que de valor diminuto, não depende
da maior ou menos disponibilidade de meios de defesa ou das diferentes possibilidades de
organização da defesa.
A convenção europeia dos direitos humanos implica uma limitação geral, a todos
aplicável, nos casos em que a legitima defesa pode atingir a vida do agressor.
A legitima defesa exige uma efetiva consciência da situação defensiva. Não será exigível,
propriamente, um animus defendendi, no sentido de a defesa ser a exclusiva motivação do
defendente, mas é necessário que a conduta que se opõe à agressão ilícita seja explicável como
defesa em linguagem social, o que impõe uma ação conscientemente dirigida à defesa, em que
a agressão seja motivo determinante do agir.
A ultrapassagem dos limites impostos pelo direito ao exercício da legitima defesa gera a
figura do excesso de defesa do 33º.
126
Direito Penal II
Também nas situações em que uma defesa extremamente gravosa para o agressor seja
evitável, sem negação relevante da dignidade do defendente, nomeadamente nos casos em que
seja necessária a lesão da vida do agressor para salvaguardar um bem exterior ao núcleo
constitutivo da dignidade da pessoa do defendente, a contenção dos limites da legitima defesa
dentro das balizas de uma necessidade temperada com critérios de justiça e não meramente
lógica ou naturalística, é uma solução adequada à preservação de uma ordem de bens jurídicos
humanista.
Antecipação da defesa – a defesa preventiva não chega a ser excesso, porque não se
desenvolve a partir de uma situação verificada de legitima defesa, no quadro de uma
ultrapassagem dos seus limites. A proximidade destas situações do excesso extensivo e o facto
de elas surgirem em situações de insegurança ou medo justifica, porém, um tratamento análogo
ao do excesso extensivo.
No segundo caso, o agente pensa que a legitima defesa se configura de modo diverso
ou com limites diversos dos estabelecidos legalmente.
127
Direito Penal II
previsto no 33º/1 e 2, podendo ser excluída ou atenuada sua responsabilidade. O crime doloso
subsiste, apesar do erro, porque a representação errónea do agente, quanto ao pressuposto da
legitima defesa, não o impede de estar a incorrer numa violação consciente dos limites legais da
legitima defesa e, por isso, não se trata de uma situação pura de erro sobre o pressuposto da
legitima defesa, porque sempre haveria excesso.
Se por outro lado, o excesso não for punível, o que só aconteceria por analogia com o
33º/2, subsistiria ainda assim a hipótese de o erro sobre pressupostos ou requisitos da legitima
defesa for censurável – 16º/3.
Direito de necessidade
O art.º 34º al. b) estabelece como requisito da justificação que o interesse a salvaguardar
seja sensivelmente superior ao sacrificado.
Num outro sentido, proposto por doutrina mais recente, a ponderação de interesses
ultrapassa toda e qualquer referência aos bens jurídicos, para se configurar como um
levantamento de pontos de vista juridicamente sustentáveis sobre a situação de facto, em que
o que deverá ser decidido é qual dos pontos de vista melhor satisfaz os interesses da ordem
jurídica. Na linguagem de Lenckner, uma norma semelhante ao 34º poderá querer significar que
o interesse da ordem jurídica prevalece sobre a omissão de uma conduta proibida, sendo a
perspetiva do interesse da ordem jurídica a decisiva. Para Lenckner podem intervir na
ponderação fatores que nada têm a ver com o valor concreto dos bens jurídicos, mas que
respeitam apenas ao valor da lesão para a Lei e, consequentemente a interesses gerais da ordem
jurídica.
Por outro lado, o conceito de interesse que o art.º 34º utiliza não parece poder significar
interesse da ordem jurídica, porque o legislador descreve os interesses a salvaguardar, no corpo
do artigo, como interesses do agente ou de terceiro, e em rigor, a expressão interesse da ordem
jurídica não se identifica perfeitamente com a de interesse de alguém. O conceito de interesse
refere-se a uma posição de vontade sobre uma coisa de que se carece e não pode abranger todo
e qualquer valor defensável na situação de conflito, mas não atribuível a uma vontade.
O confronte entre males, ao estar sujeito à perspetiva dos interesses, poderá permitir
que dois danos de dimensão comparável, na integridade física, sob uma perspetiva objetivista,
se distingam pela importância de cada um deles na esfera de interesses juridicamente
protegidos. Ex. do furto do ordenado vs. empurrar alguém e partir os óculos de valor superior
ao ordenado.
Mas esta dimensão subjetivista do dano, que o conceito de interesse possibilita, levará
mais a uma redefinição do conteúdo dos bens jurídicos e do dano objetivo e menos à afirmação
de que males iguais suportam interesses sensivelmente diferentes.
128
Direito Penal II
O problema que a aplicação a estes casos do 34º levanta é o de, em certas situações, a
igualdade do valor entre vidas, que, como princípio geral, tem uma forte fundamentação
racional, chocar com o parecer também racionalmente justificável a salvaguarda de algumas
vidas em detrimento de outras, em situações de extremo conflito, em que alguém só se pode
salvar à custa de outrem.
As situações em causa são aquelas em que o perigo que é necessário afastar, para que
alguém se salve, envolve a perda de outra ou outras vidas, que já não têm salvação possível.
Noutras situações, a dúvida pode também surgir por existirem certos elementos a favor de um
dos sujeitos do conflito que envolvem uma tendência para tomar partido por ele
desfavorecendo outrem.
Discutir-se-á, então, se essa consideração – de que o perigo foi criado pela futura vítima
do estado de necessidade – altera alguma coisa essencial na ponderação de interesses, própria
da situação, isto é, se tal como na legitima defesa existe um facto que afasta a colocação do
conflito entre bens de uma ótica de relação de valor entre interesses ou, até, se o valor de um
dos interesses aumenta em relação ao outro por força desse fator.
A doutrina que mais tem analisado esta figura tende a aceitar um ou outro dos
anteriores pontos de vista:
O facto de qualquer deles só ser possível sob o pressuposto de que a criação de perigo
para os bens jurídicos, embora não ilícita, justifica uma relativa dessolidarização, em face dos
bens do agente provocador de perigo – origem destes pontos de vista.
Há uma diferença grande entre estes casos e os de legitima defesa – a total ausência de
desvalor da ação do agente causador de perigo. A assimilação que eles poderiam sofrer pela
legitima defesa é, por isso, inaceitável, a partir da análise da conduta do lesado que cria o perigo.
Também não será possível conceder a esse último agente, a título de direito a uma
reparação, um especial poder sobre o causador de perigo tal como é inadmissível a
responsabilidade objetiva do causador do perigo.
129
Direito Penal II
Por outro lado, esta situação é também estruturalmente semelhante aos casos
inequívocos de estado de necessidade e só a ponderação de interesses do 34º/b) não se lhe
adapta, por estarem em causa bens iguais.
Um ponto de vista irrebatível é o de que quem ficou exposto a um perigo para a vida
causado por outrem não tem de suportar a lesão da sua própria vida, sendo-lhe permitido
defender-se.
A interpretação da expressão “sensível superioridade do interesse” suscita a questão de Comentado [JM13]: Discussão doutrinária entre FD e MFP
saber se o confronto dos interesses exige uma especial (quantitativa ou qualitativa)
superioridade de um dos interesses ou se a expressão sensível tem somente um significado
processual, isto é, o de indicar que a maneira pela qual se chega à conclusão de que um interesse
é superior a outro é através de um processo de apreensão pelos sentidos.
Mesmo quanto às diferenças de valor entre bens patrimoniais, estará sempre em causa
algo mais do que o valor monetário dos bens em conflito. No que respeita aos bens pessoais, a
expressão diferença quantitativa não tem geralmente sentido e quando o pode ter não tem
reflexo possível nas opções valorativas da ilicitude.
Como a análise dos casos de vida contra vida em estado de necessidade defensivo
revelou, a atribuição de um efeito justificativo a uma situação em que o facto típico é perpetrado
parece ter de conter uma dupla decisão quanto à atribuição de legitima defesa.
Que a esfera de bens da possa não possa ser utilizada para a salvaguarda de bens
jurídicos alheios é a expressão da dignidade da pessoa – 1º CRP. Mas a afetação da esfera
pessoal que ofende a dignidade da pessoa é somente a que retira ao individuo os traços
marcantes da sua humanidade e o faz surgir perante outros como uma pessoa menos valiosa.
Assim é insustentável uma interpretação da al. c) que permita retirar os bens pessoais,
no seu todo, ao objeto do estado de necessidade.
130
Direito Penal II
Conflito de deveres
O 37º assume como justificada a conduta do agente que atuar no cumprimento de um
dever de valor igual ou superior a um outro que a própria conduta viola.
Está em causa o confronto entre deveres e não diretamente entre interesse, bens ou
valores, a possibilidade de existir igualdade de valor entre os deveres conflituantes em contraste
com a exigência de uma “sensível superioridade” do interesse protegido na previsão do 34º.
A impossibilidade fática de ser exigível a realização simultânea dos dois deveres de igual
valor, neste caso deveres de salvamento, é a condição essencial da justificação. Como o próprio
direito não pode dar a indicação ao agente sobre qual o dever que deve cumprir, porque ao
reconhecer o igual valor dos deveres fica impedido de preferir um deles, pertencerá, então, ao
espaço livre de decisão do agente a escolha do dever que pretende cumprir. O fundamento do
conflito de deveres é a inexigibilidade e a liberdade, como poder de evitar consequências
danosas.
As regras de vinculatividade dos deveres não se baseiam estritamente no valor dos bens
ou dos interesses, mas antes nos critérios de responsabilidade social baseados numa
administração ou distribuição dos bens em termos de justiça, que têm de ser lidos à luz dos
princípios fundamentais do sistema jurídico. A vinculatividade dos deveres de proteção de bens
varia com a proximidade dos bens e dos perigos para os agentes a quem são dirigidos esses
deveres.
131
Direito Penal II
Consentimento do ofendido
A sua relevância como causa de justificação depende da articulação entre os princípios
da autonomia da pessoa e da proteção dos bens jurídicos. A autonomia implica disponibilidade
de direitos e bens, liberdade de exercer certos direitos e dispor livremente dos bens. A proteção
assegurada pela constituição a bens jurídicos e a direitos fundamentais implica, por seu lado,
que existam limitações de disponibilidade de certos bens ou direitos, sendo alguns, como a vida
e os aspetos essenciais da integridade física ou moral, indisponíveis.
No consentimento como causa de justificação existem critérios legais que têm de ser
constatados e ponderados em concreto pelo julgador para se poder concluir, em face de um
certo comportamento, que a dimensão da lesão de um bem jurídico, não assume intensidade e
relevo suficientes para preponderar sobre a autonomia.
A clausula dos bons costumes do 38º concretizada a propósito das ofensas corporais
(149º), é uma indicação subjetivo-objetiva da identidade social negativa de uma lesão de bens
jurídicos. O crivo dos bons costumes serve para excluir da justificação comportamentos
significativos da lesão do núcleo indisponível de certos bens fundamentais
Quanto aos primeiros, requer, no nº3, uma idade superior a 16 anos e o discernimento
necessário para avaliar o sentido e alcance no momento em que o consentimento é prestado.
Segundo o 38º/4, a punição a título de tentativa nestes casos significa que a lei penal
entende que, apesar de a autonomia e liberdade de disposição dos interesses da vítima não ter
sido posta em causa, o agente revelou com objetividade uma vontade de interferir na esfera de
liberdade da vitima que consubstancia já um ilícito penal. A punição por tentativa significa o
reconhecimento do desvalor da ação, na perspetiva de uma ação objetiva orientada para a
violação de normas e deveres de não interferência nos bens alheios que não se concretiza numa
132
Direito Penal II
lesão efetiva, apenas, por força do consentimento prestado pela vítima, mas não conhecido pelo
agente.
Consentimento presumido
Prevê o 39º o consentimento presumido.
Os requisitos do consentimento presumido que a lei penal prevê são de dois tipos:
17.05.2018
Efeito espelho
Causas de justificação objetiva:
• Pressupostos verificado
• Requisitos verificados, exceto o conhecimento da situação
• Regime legal – 38º/4
133
Direito Penal II
Parte-se do pressuposto que o meio foi o necessário e proporcional – pois não estamos
dentro do principio da não defesa – não sabemos se o assaltante se encontrava armado.
Contudo, ela não tem consciência defensiva, mas a conduta não é valiosa pois ela não
tem consciência da situação defensiva, o desvalor da ação continua. Há um problema de causa
de justificação objetiva – efeito espelho
• Ação
o Humana dominada pela vontade
• Tipicidade
o objetiva – 143º
o subjetiva 13º + 14º/1 error in persona irrelevante
• Ilicitude
o Não há problema jurídico central – legitima defesa objetiva
o Não há desvalor do resultado, mas permanece o desvalor da ação
o Solução – 38º/4 – por analogia in bonam partem quanto a 148º/1
• Culpa
o Há culpa
• Punibilidade
o A tentativa não é punível – 143º + 123º
o A não seria suscetível de responsabilidade jurídico-penal
O art.º 23º prevê que a tentativa só será punível se o crime consumado corresponder a
pena superior a 3 anos. Neste caso, a tentativa da ofensa à integridade física não preenche este
pressuposto. Nota, há certos tipos de crimes que prevê a tentativa é punível, nomeadamente o
crime de furto.
Erro por defeito – ela queria atacar o marido, o que revela uma maior grau de
ilicitude/culpa no agente. Alguns tipos do 132º/2, consubstanciam um grau de culpa maior – se
houver incongruência entre o grau de culpa e de ilicitude – não há equivalência típica.
Lacerda + Teresa Beleza – tentativa impossível ou inidónea – 23º/3 – podemos ter casos
em que alguém tenta matar um cadáver ou tenta roubar com uma faca de plástico – ex post
sabemos que o objeto nunca poderia lesar o bem jurídico, contudo segundo um juízo de
prognose póstuma, num momento ex ante, faz com que o legislador pense deve ainda ser
punida – critério: quando não for manifesta a inexistência do objeto necessário à consumação
do crime ou do objeto adequado a produzir o facto – se um observador colocado num momento
ex ante que aquele meio ou objeto era idóneos para produzir o resultado, a tentativa é punível.
Quando não for evidente para o observador colocado no momento do crime – critério da
confiança na norma – FD
MFP – não podemos recorrer a uma teoria da impressão, não podemos punir alguém
com base na aparência – temos de averiguar os graus de possibilidade da tentativa – a conduta
do agente ou de alguma forma causou o tal abalo na segurança do bem jurídico ou diminuiu a
134
Direito Penal II
liberdade de ação do titular do bem jurídico. Se alguém é ameaçado com uma pistola de plástico
muito semelhante a um revolver, torna possível que a pessoa seja coagida. Quando à existência
do objeto necessário, o bem nunca existiu, punir o agente pela ação seria inconstitucional, a
norma deve sofrer uma interpretação revogatória ou pelo menos extintiva.
Se considerarmos isto, não haveria punibilidade 145º/1 al. a) + 22º/2 + 23º/3 + ofensa à
integridade física negligente:
• Tipicidade
o Objetiva – 143º
o Subjetiva – 13º + 14º/1 – error in persona (erro suposição por defeito)
– consequência:
▪ Admitindo que não há equivalência típica – solução – 143º +
145º/1 al. a) e 2 + 23º/3 em concurso efetivo ideal com 148º/1
+ 15º/b)
• Ilicitude
o Legitima defesa objetiva
o Não há desvalor do resultado, mas permanece o desvalor da ação
o Solução – 38º/4, por analogia in bonam partem quanto a 148º/1, mas
não há tentativa negligente
• Culpa
o Há culpa quanto a 143º + 145º/1 al. a)
• Punibilidade
Superioridade dentro do mesmo bem jurídico – mais vale ficar sem uma janela do que
ficar sem a casa
Necessidade do meio – não poderia ele ligar para o 112? O local seria isolado para este
ser o único meio?
Temos de pensar no universo paralelo do agente e verificar, ele não conhece esta
situação de perigo, e se soubesse? Agiria pelo direito de necessidade.
• Ação
• Típica
o Objetiva 212º
o Subjetiva 13º + 14º/1
• Ilícita
135
Direito Penal II
Não há nenhum resultado gravoso na esfera jurídica de Eva, não há dolo de homicídio
em relação à Eva. Será uma recusa de médico.
No conflito de deveres, o agente tem sempre dois deveres jurídicos que terá de cumprir,
não tem opção de escolha – está sempre obrigado a agir ou não agir, consoante o caso. No
direito de necessidade, o bem jurídico a salvaguardar será sempre o superior, no conflito de
deveres podemos ter dois bem jurídicos de igual necessidade.
• Ação
• Típica
o Objetiva 284º
o Subjetiva 13º/ 14º/1
• Ilícita
o Conflito de deveres objetivo
o Impõe-se um elemento objetivo
o Não há desvalor do resultado, mas permanece o desvalor da ação
o 38º/4, por analogia in bonam partem
• Culposa
o Há culpa
136
Direito Penal II
• Punível
o A tentativa é punível 284º + 23º/1
22.05.2018
O consentimento é visto em geral como uma causa de justificação – 38º + 39º. O direito
penal intervém para tutelar bens jurídicos fundamentais do estado ou do próprio individuo.
Quando estamos no núcleo duro, esta pode ir até à revelia do próprio tutelado – ex. suicídio vs.
Auxilio de suicídio.
Por vezes, a tutela dos bens jurídico situação numa zona de tensão (social vs. Pessoal)
ou numa zona extra individuo – prevalece o interesse do próprio individuo.
137
Direito Penal II
Por vezes o legislador resolve essa tensão “a falta de acordo afasta a tipicidade/ ou
consentimento que exclui a ilicitude” – 156º/2 + 190º
Por vezes, a auto determinação dos indivíduos está em tensão com o sistema social, mas
o consentimento que pode relevar como causa de justificação nos casos de ofensa à integridade
física – consentimento justificante.
Acordo:
Consentimento
Em suma:
• Ação
o Humana dominável pela vontade
• Tipicidade
o Objetiva – 190º- acordo que nega a tipicidade
• Conclusão
o B não seria suscetível de responsabilidade jurídico-penal, dada a
atipicidade quanto da conduta
138
Direito Penal II
Problema jurídico:
1. Quanto ao crime de furto e uso de veículo – 208º CP – toda a discussão de acordo vs.
Consentimento volta a colocar-se – não será que estamos no âmbito da continuidade
do bem jurídico e da autodeterminação pessoal? Sim – acordo presumido, 39º - se este
não fosse operante – direito de necessidade, 34º.
2. Condução sem habilitação – justificação obrigo do direito de necessidade – face aos
dados da hipótese, teríamos a possibilidade de perspetivar uma perigo atuar, estando
em perigo um bem jurídico de terceiro, não foi o próprio agente a provocar, o meio é o
necessário. Há agora a questão da al. b) do 34º, esta proibição visa a tutelar um bem
jurídico universal, estando na base uma questão de proteção pessoal. Aplicando ao
critério do prof FD – faz apelo ao grau de perigo, estava em causa a lesão do bem jurídico
vida concreto vs. Criação de perigo abstrato
Em suma:
• Ação
• Tipicidade
o Objetiva:
▪ 208º - problema jurídico: acordo que gera a atipicidade da
conduta
▪ Conduzir sem habilitação legal – art.º 3º do DL nº 2/98, de 3 de
janeiro
▪ Eventual contraordenação
o Subjetiva 13º + 14º/1
139
Direito Penal II
• Ilicitude
o Problema jurídico – quanto à condução sem habilitação legal - art.º 3
DL nº 2/98, de 3 de janeiro + eventual contraordenação - 34º
o Não há desvalor da ação e desvalor do resultado (de perigo)
• Conclusão
o D não seria suscetível de responsabilidade jurídico-penal, dada a
atipicidade quanto a 208º e a justificação relativamente a condução
sem habilitação legal + eventual contraordenação
B – autor material
Pressupostos
Requisitos
• Consentimento expresso por meio que traduza uma vontade seria, livre e
esclarecida
• Prestado por pessoa maior de 16 anos com discernimento para avaliar o seu
sentido e alcance
• Conhecimento da situação
140
Direito Penal II
Critério dos bons costumes – MFP núcleo duro da dignidade da pessoa humano, ex. não
podem consentir em ser escravas
Em suma:
• Ação
• Típica
o Objetiva 143º + 145º/1 al. a) (28º) + 26º/ 1ª proposição (autor material)
o Subjetiva 13º + 14º/1
• Ilícita
o Problema jurídico – 38º + 149º
• Conclusão:
o B não seria suscetível de responsabilidade jurídico-penal, por atuar ao
abrigo de uma causa de justificação do facto, exclui a ilicitude.
Contudo, e se houvesse? Quem tem a qualidade que permite agravar o facto é A, é ela
que tem a qualidade de namorada, discute-se que para efeito do 132º/2 isso agrava a ilicitude
ou a culpa. A tese maioritária diz que agrava a culpa, sendo agravado o crime da instigadora.
Outra doutrina, nomeadamente MFP, diz que agrava a ilicitude, sendo assim esta seria
comunicada da instigadora para o autor – inversão da acessoriedade.
24.04.2018
141
Direito Penal II
A – cria em C uma vontade nova de praticar o crime, determina o C a praticar o crime: instigador
+ mas também fornece a pistola e dá os percursos e os horários do B: cúmplice material 27º –
concurso aparente ou de normas: 29º CRP não se pode valorar o mesmo facto mais do que uma
vez – a cumplicidade é subsidiária da comparticipação/instigação – regra da subsidiariedade
implícita – A é então instigadora
C – autor material – pois é ele que executa o ato por si mesmo, tem o domínio da ação, é ele
que pratica os atos de execução do crime de homicídio
Contudo, se tal não sucedesse, estaríamos perante a utilização de um meio necessário. Estamos
no âmbito do núcleo duro da dignidade da pessoa humana – não haveria uma restrição da
legitima defesa – haveria justificação.
Os participantes, para serem punidos, tem de ter duplo dolo (quanto à determinação do autor
– consciência e vontade de criar noutro a vontade de praticar um crime – e ter consciência da
prática do crime). Temos de ter em conta, que não há domínio do facto, o facto praticado pelo
autor tem de ter determinadas características – acessoriedade – dimensão quantitativa/externa
(exige-se o mínimo dos atos de execução – neste caso há consumação) qualitativa/interna (o
facto do autor tem de ser típico e ilícito – limitação da acessoriedade – pois a culpa é um juízo é
individual, não se transmite entre comparticipantes – princípio da dignidade da pessoa humana
– não está reunido).
MFP – 132º/2 al. b) revela uma maior ilicitude do facto – A imputava-se um crime de homicídio
qualificado – pelo 28º o grau de ilicitude maior comunica-se entre o instigador e o autor – 28º -
inversão da acessoriedade. Tem de ultrapassar uma maior barreira ética relativamente aos laços
do casamento.
No nosso ordenamento há crimes específicos – ex. praticados apenas por funcionários, ou por
um médico – o legislador pretende obstar a este estado de coisas.
142
Direito Penal II
FD – o legislador é muito rígido nos pressupostos e requisitos que estabelece para a LD e DN, há
situações em que os pressupostos não estão preenchidos, mas há um perigo efetivo e que não
pode ser removido de outra forma, sendo necessário que o interesse sacrificado não tenha uma
superioridade muito intensa. Se alguém vai a conduzir e apanha um lençol de água, pode
abalroar outro caso.
MFP/ augusto silva dias – num caso destes, não há uma agressão atual e ilícita, mas é uma
situação análoga à LD do 32º, é uma situação estruturalmente idêntica ao do 34º - sendo o
problema a superioridade do interesse a salvaguardar por serem iguais. Parece que é uma
situação duplamente analógica. Na verdade, tal como nos casos de LD e DN, o desvalor da ação
é neutralizado, aqui também deve ser, não há dolo direito de homicídio, mas quer defender-se,
contudo o facto ilícito que advém é uma consequência necessária, inevitável e incontornável da
sua conduta. É a salvação pessoal que está aqui em causa. O desvalor da ação é neutralizado.
Para que este possa operar, é necessário que a vida da pessoa seja uma vida marcada pelo
destino, isto é, quem corta a corda não pode atuar como Deus – para que o estado de
necessidade defensivo seja operante a pessoa marcada pelo destino não tenha salvação
possível, pois a outra pessoa morreria sempre.
Ex. ataque às torres gémeas – abater um avião – há as vidas das pessoas da praça vs. as vidas
dos terroristas vs. As vidas dos tripulantes inocentes – causa de justificação – não há em relação
aos tripulantes – há estado de necessidade desculpante – ordem de abate dada por uma
entidade competente, necessário que estejam esgotadas todas as possibilidades de redirecionar
o avião, é necessário que sejam vidas marcadas pelo destino – inevitavelmente aquelas pessoas
estão a encaminhar-se para uma morte certa, inevitável e incontornável. A ordem só pode ser
dada no último instante.
Há uma doutrina mais recente que defende esta causa de justificação extralegal.
Quando vamos aplicar o 35º - temos de apurar ou explicar o critério que utilizamos para apurar
que estamos perante uma causa de inexigibilidade.
143
Direito Penal II
MFP – coloca no lugar da pessoa média, o próprio agente – condições de liberdade e igualdade
que o permitem agir de acordo com o direito.
Os dois alpinistas serão co-autores? Atuam por acordo – é necessário que pratiquem atos
conjuntamente – domínio funcional, uma divisão de tarefas
Está em causa a dignidade da pessoa humana, sendo contrário ao requisito dos bons costumes.
MFP – há um núcleo duro em que os direitos de personalidade mais íntimos são intransponíveis
– há limites, ex. escravidão.
À luz da CRP estamos perante a oposição do sistema social e pessoal – o legislador tem o
interesse em tutelar a integridade física -interesse e dever
Não há justificação
144
Direito Penal II
29.05.2018
Problema jurídico – erro sobre os pressupostos da legitima defesa? Legitima defesa preventiva?
Estamos perante uma ação humana dominada pela vontade de Amílcar, que é autor
material nos termos do art.º 26º 1ª proposição. A mesma ação preenche o tipo do crime de
ofensa à integridade física simples, ficando ressalvado a possibilidade de aplicação do crime de
ofensa à integridade física grave do art.º 144º/b) CP por não se conhecer as consequências do
traumatismo craniano provocado pela agressão. Agindo com dolo direito, art.º 14º/1, pois
possui conhecimento e vontade de realizar o tipo objetivo de ilícito.
A doutrina tem-se vindo a ocupar de situações em que, não obstante, a agressão não
ter sido ainda iminente, já se sabe antecipadamente com certeza ou com elevado grau de
segurança que ela vai ter lugar.
Para permitir a exclusão da ilicitude por legitima defesa neste tipo de casos, alguns
autores defendem a chamada teoria da defesa mais eficaz, segundo a qual a agressão seria já
atual no momento em que se soubesse que ela viria a ter lugar se o adiamento da reação para
o momento em que ela fosse iminente se tornasse resposta impossível ou se ela fosse possível
mediante um grau de endurecimento dos meios, isto é, legitima defesa preventiva. Neste caso,
uma vez que havia assaltos todas as semanas ao estabelecimento, o proprietário sabia que os
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mesmos usam mascaras e que a polícia não tinha meios para os capturar após os assaltos,
estamos perante esta figura.
Contra esta figura temos o prof. Figueiredo Dias, Roxin e Taipa de Carvalho.
De acordo com este autor, a legitima defesa deve ser negada nestes casos por não
estarmos perante agressão atuais. Defende ainda que uma eventual exclusão da ilicitude das
condutas referidas só se poderá verificar através do apelo ao direito de necessidade do art.º 34º
CP, em especial do direito de necessidade defensivo, uma vez verificadas determinadas
condições (máxime, a impossibilidade ou ineficácia de uma intervenção policial.
A professora Maria Fernanda Palma aceita a legitima defesa preventiva. Note-se que há
imensas esferas de liberdade, quando ocorre uma agressão ilícita atual, significa que há um
desequilíbrio nas esferas de liberdade, sendo a função do direito distribuir qualitativamente a
proteção ao bem jurídico. Assim, a legitima defesa serve para repor o equilíbrio e a proteção
equitativa do bem jurídico. Assim, a professora defende uma legitima defesa preventiva quando
já existe uma representação real do perigo que põe em causa a confiança e a segurança na
proteção do bem jurídico, uma vez que a legitima defesa assenta fundamentalmente na justa e
equitativa proteção jurídica do bem jurídico. Aplicando-se assim a legitima defesa do art.º 33º
para atos de execução, enquanto a legitima defesa preventiva como causa de justificação
supralegal a atos preparatórios.
Neste caso R já desenrolava os atos preparatórios para praticar o crime de furto, ainda
que se tratasse ainda de meros atos preparatórios, mas já temos uma representação de perigo
sendo afetada a confiança quanto à proteção dos bens jurídicos. Impedir A de promover a sua
proteção à custa de R seria incrementar o desequilíbrio das esferas jurídicas.
A professa MFP defende que defende que a igualdade na proteção jurídica irá impor que
a lesão dos bens do futuro agressor venha a ser menos importante do que a promoção da
segurança em relação aos bens do defendente, havendo que ponderar se o bem propriedade é
mais valoroso que a integridade física do agressor. Não parece neste caso que esteja em causa
um bem superior ao da integridade física, possivelmente do 144º. Além do mais, importa referir
que é necessário licença de porte de arma para poder utilizar uma arma elétrica até 200 mil V, Comentado [JM15]: Lei n 50/2013 de 24 de julho
sendo o caso omisso na existência de tal licença. Dependendo ainda a sua aquisição de uma
autorização prévia da PSP. É possível pensar em outros meios de defesa que não envolvessem a
utilização deste dispositivo com a reação que o mesmo provocou no futuro agressor. Porém,
como defendido, o excesso não obsta à aplicação da causa supralegal, sendo atenuado de forma
analógica pelo art.º 33º/1, não sendo censurável se estivéssemos perante um excesso asténico.
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Direito Penal II
Correção:
Não é um agressão atual nos termos do critério do art.º 22 da prof. MFP – perdas das
condições de segurança do bem jurídico. Relativamente ao furto, ainda está nos atos
preparatórios. A agressão atual – o critério do prof FD é mais maleável.
LDP sendo futura é altamente provável – não é um problema de erro, ela ainda não
existe, mas iria concretizar-se.
• Ação
• Típica
o Objetiva 143º /144º
o Subjetiva 13º+ 14º/1
• Ilicitude – legitima defesa preventiva
• Culpa – excesso 33º
Podemos ter num quadro de excesso de meios – não podemos aplicar o art.º 33º - 71º/2
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• Ação
• Tipicidade
o objetiva 131º + 132º/1 e 2 al. b)
o subjetiva 13º+14º/1
• Ilicitude
o Há desvalor da ação e desvalor do resultado, não há causas de
justificação
• Culpa
o 20º/4 actio libera in causa
• Punibilidade
o A será punida por um crime de homicídio, nos termos do 131º + 14º/1
295º - não há intenção do agente (pelo menos negligencia, pelo mais dolo eventual), é
imputado um crime específico – é responsável por se ter auto colocado neste estado
Se a agente em vez de matar o marido, teria praticado um art.º 143º, como este só tem
uma pena até 3 anos, ela não pode sofrer pena superior.
Américo Taipa de Carvalho – mudou a sua posição, defende que o 20º/4 só é compatível
como o dolo direto.
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Direito Penal II
O que vamos analisar se o erro é ou não censurável, será a atitude interna do agente e
verificar se ela é censurável ou não. Densifica-se através da retitude da consciência errónea. Há
insensibilidade do agente sobre os bens jurídico tutelados naquele ordenamento jurídico? A
conduta do agente ainda revela fidelidade ao direito? Requisitos:
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Direito Penal II
• Ação
• Tipicidade
o Objetivo 135º/1
o Subjetivo 13º+14º/1
• Ilicitude
o há desvalor da ação e desvalor do resultado (não há causas de
justificação)
• Culpa
o 17º/1
• Punibilidade
o J pratica um facto típico e ilícito, mas não culposo
30.05.2018
Problema jurídico – conflito de deveres? Pagamento dos impostos vs. cumprimentos dos
contratos (obrigação contratual)
Há 3 níveis de discussão:
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• Ação
• Típica
o objetiva 6º+7º+105º/1 RGIT
o subj 13º+14º/1
• Ilicitude
o 36º
• Culpa
o 35º/1
• Punibilidade
o O agente é punível nos temos do 6º + 7º + 105º/1 RGIT + 13º + 14º/1 CP
Correção da frequência
Isto é, pelo menos o 144º - tentativa de ofensa à integridade física grave pelo menos e
tentativa de homicídio pelo mais.
Cúmplice material
Pratica ou não pratica uma ação? Ato reflexo? Automatismo? É uma manifestação da
personalidade do agente
16º/2 – erro sobre o estado de coisas que se existisse excluiria as circunstâncias do facto
– LD do ponto de vista do autor
Concurso entre erro e excesso – o 16º/2 é demasiado permissivo para os casos em que
o excesso não é explicado pelo erro – excesso de defesa do 33º por analogia – é um excesso
esténico – a conduta não seria desculpável
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Direito Penal II
Crime de furto – consumado ou tentado – é de Dto Penal III, não relevante para agora.
Será que pode haver dupla atenuação pois o crime foi na forma tentada.
Pela teoria da conditio sine qua non – com a fórmula da supressão mental, suprimindo
a conduta de L, podíamos imputar o resultado morte. Contudo, há um regresso ab initio.
Teoria do Risco – criação de um risco proibido (perigo para a integridade física), conexão
do risco (apenas OIF simples)
Homicídio vs. roubo – duplo nexo - 18º + 210º/3 – imputa-se apenas o homicídio e o
furto
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