RESPONSABILIDADE CIVIL DO UBER Responsabilidade Do Uber Nos Acidentes de Trânsito
RESPONSABILIDADE CIVIL DO UBER Responsabilidade Do Uber Nos Acidentes de Trânsito
RESPONSABILIDADE CIVIL DO UBER Responsabilidade Do Uber Nos Acidentes de Trânsito
DIGITAL
São Paulo
2017
FACULDADE DAMÁSIO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO
DIGITAL
São Paulo
2017
GILBERTO SILVA XAVIER JÚNIOR
TERMO DE APROVAÇÃO
Aos meus pais, pelo amor irrestrito e pelos sonhos não realizados em prol de um futuro
melhor para os filhos.
A minha amiga Rosângela, pela amizade, pela compreensão, pelo respeito, por ter estado
comigo tanto tempo me apoiando e incentivando
Ao Senhor dos Exércitos, por me guardar debaixo de Suas santas e poderosas mãos todos
os momentos da minha vida.
As pessoas que vencem neste
mundo são as que procuram as
circunstâncias de que precisam e,
quando não as encontram, as
criam (Bernard Shaw).
RESUMO
Consiste na apresentação dos pontos relevantes de um texto. O resumo deve dar uma
visão rápida e clara do trabalho; constitui-se em uma sequência de frases concisas e objetivas e
não de uma simples enumeração de tópicos. Apresenta os objetivos de estudo, o problema, a
metodologia, resultados alcançados e conclusão. Deve ser digitado em espaço simples e sem
parágrafos, com no mínimo 150 palavras, não ultrapassando 500 palavras.
It consists of the presentation of the excellent points of a text. The summary must give
a fast and clear vision of the work; one consists in a sequence of concise and objective phrases
and not of a simple enumeration of topics. It presents the reached objectives of the study,
problem, methodology, results and conclusion. It must be typed in simple space and without
paragraphs, no exceeding the 500 words.
Key words: They are representative words of the contend of the work, separate between
itself for point and comma.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9
CONCLUSÃO............................................................................................................................. 52
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 53
INTRODUÇÃO
Com a evolução tecnológica o homem, ao longo de sua história, encontrou novas maneiras
de locomoção, do simples caminhar aos veículos de combustão interna, a velocidade e a forma
dos meios transportes mudaram drasticamente ao longo dessa trajetória.
A importância do transporte para o cidadão é tamanha que foi alçado à categoria de direito
social:
Moraes, Alexandre de Direito constitucional / Alexandre de Moraes. – 33. ed. rev. e atual. até a EC nº 95,
1
Até bem pouco atrás, os meios de locomoção dentro das grandes cidades e regiões
metropolitanas se resumiam ao transporte individual (carro próprio) e ao transporte coletivo
(ônibus, metrô e táxis), este último se apresentando como uma forma de transporte altamente
regulamentada, ineficiente e cara àqueles a que se destinam.
A situação dos meios de transportes disponíveis nas grandes cidades ao redor do mundo
como: São Paulo, Tóquio, Nova Iorque, Londres dentre outras, começou a passar por uma
mudança profunda com a inovação trazida pelo Uber.
Concebido como uma plataforma que liga diretamente o usuário final ao prestador de
serviço permitindo o que se convencionou chamar de “carona remunerada”, o Uber inovou o meio
2
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de
outubro de 1988. Disponível em:<http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/>. Acesso em: 20 Jul 2017.
3
Telésforo, Rachel Lopes Uber: inovação disruptiva e ciclos de intervenção regulatória / Rachel Lopes
Telésforo. – 2016. 107 f, p. 29.
de transporte individual, ao mesmo tempo levou a concorrência ao mercado de transporte coletivo,
principalmente aos táxis, acostumado a décadas com o oligopólio sob as vistas do poder público.
VANTAGENS INTRODUZIDAS
COMPARAÇÃO DE
UBER TÁXI APÓS ENTRADA DO UBER NO
ATIVIDADES
MERCADO
Rádio Táxi/Fila de
Via aplicativo –
Método de contratação táxis/ Táxis nas
Smartphones
ruas/Aplicativos
Incentivo ao compartilhamento de
Compartilhamento de Modalidade:
N.A. veículos por passageiros que desejam ir
veículos Uber pool.
à locais similares, com divisão de
valores pagos
Passou a ser possível verificar o tempo
Informações acerca do
para chegada ao destino, bem como o
translado e tempo de N.A.
GPS System preço a ser pago. Possível “seguir” a
serviço
movimentação de motoristas no mapa
até o local de embarque
Carro próprio, Sujeito à licença da
Introdução do mecanismo “seja seu
avaliado pela prefeitura. Alugado
Veículos chefe” no mercado, em desvinculação à
empresa. da companhia de táxi
emissão de licenças.
Sujeitos ao sistema
Independentes – Em momentos de crise econômica,
de permissão e
Motoristas cadastrados ao aumenta a procura pela prestação da
concessão de
aplicativo atividade, garantindo aumento na
licenças
capacidade econômica
Regras fixas
Regulação Não definida –
estipuladas pela
área cinzenta.
prefeitura
Tarifas pagas ao
Preços Bandeirada Tarifas de 15% a 50% mais baratas que
aplicativo
os táxis comuns
Economia de Foram inseridas no mercado novas
Inovação N.A.
compartilhamento ferramentas tecnológicas
4
Telésforo, Rachel Lopes Uber: inovação disruptiva e ciclos de intervenção regulatória / Rachel Lopes
Telésforo. – 2016. 107 f. p. 22.
A despeito de toda inovação que trouxe ao mercado de transporte e da celeuma jurídica
acerca da legalidade e necessidade de regulamentação dos serviços prestados pelo Uber é fato que,
hoje, ele é um dos meios de transporte com melhor custo benefício disponíveis aos moradores das
grandes cidades ao alcance de um celular e é justamente essa realidade e as consequências dessa
atividade que se pretende estudar neste trabalho monográfico.
Portanto, não se fará aqui maiores ilações acerca da legalidade do aplicativo, o foco será
precisamente as consequências jurídicas de suas atividades, mormente, a responsabilidade civil
oriunda dos acidentes de trânsito que envolvam motoristas do Uber.
Ocorre que ao mesmo tempo verifica-se que o aplicativo é vendido de forma que passa a
ideia ao consumidor de que o Uber provê os serviços de transporte.
5
UBER. Termo de Uso. Disponível em <https://www.uber.com/pt-PT/legal/terms/br/>. Acesso em: 15 JUL
17.
escritórios de advocacia protestando pela responsabilidade do Uber em acidentes envolvendo
motoristas do aplicativo, apesar da inexistência de jurisprudência ou leis sobre o tema, tendo em
vista que as atividades desenvolvidas pelo Uber e as implicações decorrentes são recentes, como
natural das tecnologias disruptivas.
“Though rideshare options like Lyft and Uber boast cheaper rates and
safer alternatives for those that need designated drivers on a whim or safe
transportation late at night, there are many negatives to this new trend. The
main contentious issue is liability in these types of accidents. Is the driver alone
at fault, or is Uber liable as well? What if the accident happened while the Uber
driver was signed into the app, but wasn't transporting passengers?”7
6
Bostwick & Peterson. Fatal Uber Car Accident Raises Questions of Liability. Disponível em:
<http://www.bostwickfirm.com/Personal-Injury-Blog/2014/January/Fatal-Uber-Car-A…> Acesso em: 17 JUL 17.
7
McGEE, Lerer and Associates. Uber Accident Liability. Disponível em:
<http://www.pasadenapersonalinjurylawfirm.com/Personal-Injury/Car-Accidents/Uber> Acesso em: 17 JUL 17.
No segundo capítulo será estudado a natureza da atividade empresarial do Uber à luz do
Código de Defesa do Consumidor, tentar-se-á definir qual o serviço prestado pelo aplicativo, por
meio do estudo do seu Termo de Uso, da relação Uber-motorista e da relação Uber-cliente,
principalmente no tocante as propagandas veiculadas pela empresa, além de breve explanação
sobre os riscos da atividade empresarial.
Por fim, no terceiro capítulo estudar-se-á a responsabilidade civil do Uber nos acidentes
de trânsito, com foco na legislação e jurisprudência pátrias não se olvidando do uso do direito
comparado quando cabível, após o qual será apresentado as conclusões deste trabalho
monográfico.
1. RESPONSABILIDADE CIVIL NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
Cumpre ressaltar que o mesmo fato jurídico latu sensu pode ensejar a responsabilidade
civil, administrativa ou penal, que, como sobejamente consagrado na doutrina e jurisprudência,
são independentes entre si.
8
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direto civil, volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze
Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 8ª ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2010, p. 45
“O Direito Digital consiste na evolução do próprio Direito, abrangendo
todos os princípios fundamentais e institutos que estão vigentes e são aplicados
até hoje, assim como introduzindo novos institutos e elementos para o
pensamento jurídico, em todas as suas áreas”9
A natureza das atividades da Uber ultrapassa o universo virtual não se trata de prestação
de serviços ou compra e venda de bens imateriais, a complexidade de suas atividades negociais e
a sua natureza disruptiva nos meios de locomoção, se refletem na interdisciplinaridade do estudo
de sua responsabilidade.
Com a Lei das XII Tábuas, o direito romano substituiu a vingança privada pela composição
tarifada mediada pelo Estado e, dessa forma, passou-se a exigir a reparação econômica pelo dano
sofrido.
Com o surgimento da Lex Aquilia, conjuntamente com o trabalho dos romanistas que, com
fulcro na evolução da decisão dos juízes e pretores, nos pronunciamentos dos jurisconsultos e
constituições imperais, começou a se desenhar a noção de culpa e a Lex Aquilia se tornou fonte do
conceito de culpa aquiliana:
9
PECK, Patrícia. #Direito Digital, 6 ed, São Paulo: Saraiva, 2016. p. 77
10
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 4 : responsabilidade civil / Carlos Roberto
Gonçalves. — 7. ed. — São Paulo : Saraiva, 2012
A próxima contribuição para o conceito de responsabilidade civil e culpa adveio do Código
Civil Napoleônico, que influenciou diversas legislações correlatas ao redor do mundo, inclusive o
Código Civil Brasileiro de 1916.
Apesar da grande evolução trazida pela noção de culpa e a responsabilidade civil subjetiva,
verifica-se que tais conceitos e princípios e não foram capazes de per se de suprir a demanda da
sociedade.
De fato, verifica-se que a teoria da responsabilidade subjetiva não fazia resolvia de forma
adequada ou justa os casos de reparação de danos provenientes das atividades do Estado ou das
pessoas jurídicas organizadas em forma de empresas, muitas vezes de caráter multinacional e
maiores que diversos Estados soberanos.
11
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direto civil, volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze
Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 8ª ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2010, p. 54
Acerca da subjetividade do conceito de culpa e sua parcial inadequação para atender
anseios sociais, pode-se colacionar lição de Stolze:
Com a teoria da responsabilidade civil objetiva na qual o indivíduo responderia pelos danos
causados sem a perquirição de sua culpa, bastando restar demonstrado o nexo causal entre o fato
e o dano ocorrido, procurou-se responsabilizar as pessoas jurídicas (de direito público e privado)
por seus atos ou de seus prepostos.
Sem abrir mão da responsabilidade civil subjetiva, o Código Civil de 2002 acampou a tese
da responsabilidade objetiva, em seu art. 927, parágrafo único:
12
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direto civil, volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze
Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 8ª ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2010, p. 166
13
BRASIL. Código Civil. Código Civil: promulgado em 10 de janeiro de 2002. Disponivel em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20 Jul 2017.
Dessa forma, o direito brasileiro, atualmente, abarcou as duas teorias para se averiguar a
obrigação pela reparação do dano: a teoria da responsabilidade civil subjetiva e a da
responsabilidade civil objetiva.
Por fim, o alvorecer do século XXI traz novas questões acerca da responsabilidade civil
ante a sua forma inovadora de organização da cadeia produtiva e da sociedade por meio da
internet. A comunicação por meio de redes sociais enseja questionamentos acerca da
responsabilidade civil dos provedores de aplicativo à luz do direito de livre expressão.
14
SOUZA, Carlos Affonso; LEMOS, Ronaldo. “Aspectos Jurídicos da Economia do Compartilhamento:
Função Social e Tutela da Confiança”. Revista Direito da Cidade, v.8, n.4; pp. 1757-1777.
a sua promulgação demonstra a capacidade e vontade do Brasil em abraçar as novas tecnologias e
suas inovações sem esquecer de regulamentá-las e resguardar o direito de seus cidadãos.
Assim, o Brasil, a partir de 2014, também passa a contar com legislação específica acerca
das atividades desenvolvidas pelos provedores de aplicativo, legislação que também será estudada
no desenvolvimento deste capítulo.
15
STEIBEL, Fábio. O portal da consulta pública do Marco Civil da Interne. In: LEITE, Salomão
George/LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014.
16
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direto civil, volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze
Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 8ª ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2010, p. 66
Dessa forma, passa-se a analisar cada um dos pressupostos da responsabilidade civil de
forma sucinta.
A conduta humana negativa, por sua vez, caracteriza-se por um não fazer, uma omissão,
capaz de gerar dano. Ressalte-se que para se considerar a omissão como pressuposto da
responsabilidade civil se faz necessário que essa omissão seja voluntária, havendo a falta da
voluntariedade há ausência de conduta na omissão, o que impede o reconhecimento da
responsabilidade civil.
Ainda cabe frisar que não se faz necessário o caráter ilícito da conduta humana para
caracterizá-la como pressuposto da responsabilidade civil, uma vez que há casos em que o ato
lícito pode vir a gerar responsabilidade civil.
Com relação ao dano pode-se dizer que ele é o principal pressuposto para a caracterização
da responsabilidade civil, vez que sem dano não há reparação. Assim, independente da espécie de
responsabilidade (contratual ou extracontratual, subjetiva ou objetiva), o dano é requisito
indispensável para a sua caracterização.
Dessa feita, o dano não decorre somente em prejuízo a bens ou direitos econômicos, mas
também aos direitos sob tutela geral dos direitos da personalidade, por isso, o dano pode ser
dividido em dano material e dano moral.
Para o dano ser indenizável deve cumprir três requisitos, a saber: violação de um interesse
jurídico patrimonial ou extrapatrimonial de uma pessoa física ou jurídica, certeza do dano e
subsistência do dano.
17
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direto civil, volume III: responsabilidade civil/ Pablo Stolze
Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 8ª ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2010, p. 78
este requisito “afasta a possibilidade de reparação do dano meramente hipotético ou eventual, que
poderá não se concretizar. Tanto é assim que, na apuração dos lucros cessantes, não basta a simples
possibilidade de realização do lucro, embora não seja indispensável a absoluta certeza de que este
se teria verificado sem a interferência do evento danoso”18
O último requisito, a subsistência do dano significa que o dano deve subsistir no momento
de sua exigibilidade, pois não que se falar em indenização se o dano já foi reparado. Cumpre
ressaltar que, na doutrina, há que considerem ainda outros fatores como requisitos para a
caracterização do dano, que não serão abordados neste trabalho, pois não se trata de seu objetivo
principal.
18
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 4 : responsabilidade civil / Carlos Roberto
Gonçalves. — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. p. 258
19
Conselho da Justiça Federal. Enunciados das Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <
http://www.cjf.jus.br/enunciados/> Acesso em: 1 AGO 17.
A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de
negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência
decorrer da natureza do contrato”.
Por vezes, a obrigação de indenizar pode decorrer, como será visto adiante, do exercício
de uma atividade perigosa. Por exemplo, o dono de um caminhão betoneira que, em atividade,
cause prejuízo a um terceiro responde pela indenização, por ser a pessoa que utiliza o maquinário
em proveito próprio e suporta o risco de sua atividade (princípio em que se funda a
responsabilidade objetiva).
Como visto no exemplo acima não existe ato ilícito apto a ensejar a indenização e nem
tampouco vínculo contratual entre as partes envolvidas. Em linhas gerais, a responsabilidade civil
será subjetiva contratual ou extracontratual e objetiva contratual ou objetiva extracontratual.
Com o advento do Código Civil de 2002, não basta somente a constatação da extensão do
dano para se determinar o quantum indenizatório o grau de culpa (grave, leve ou levíssima) do
agente também é levado em consideração para a estipulação dos valores devidos decorrentes do
dano.
De forma sucinta, pode-se constatar que a responsabilidade civil subjetiva pode advir da
culpa in eligendo, que advém da má escolha do representante ou preposto. In vigilando decorrente
da falta de fiscalização sobre pessoa que se encontra sob a responsabilidade ou guarda do agente.
E in custodiendo, semelhante a culpa in vigilando, é a que decorre da falta de cuidados na guarda
de algum animal ou objeto.
Independente da natureza das atividades desenvolvidas pelo Uber, é fato inconteste que se
está diante de uma relação consumerista, uma vez que restam atendidos os elementos subjetivos e
objetivos previstos no Código de Defesa do Consumidor.
20
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 4 : responsabilidade civil / Carlos Roberto
Gonçalves. — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. p.
Acerca do nexo de causalidade pode-se afirmar que não é um conceito jurídico, mas
decorre das leis naturais. O nexo causal é a ligação entre o fato e o dano, uma relação de causa e
efeito entre a conduta e o resultado.
Jurisprudência e doutrina divergem qual seria a teoria adotada pelo Código Civil de 2002,
de um lado estão os juristas que se afiliam ao entendimento de que a teoria adotada seria a teoria
da causalidade adequada. Do outro lado há doutrinadores que entendem que o Código Civil
brasileiro adotou a teoria da causalidade direta ou imediata.
Mesmo na jurisprudência pátria há certa confusão acerca da teoria utilizada, portanto, filia-
se ao entendimento esposado por Carlos Roberto Gonçalves e Pablo Stolze Gagliano e para o
estudo deste trabalho monográfico será considerada a teoria da causalidade direta ou imediata.
A teoria da causalidade direta ou imediata estabelece que entre a conduta e o dano deve
haver uma relação de causa e efeito direta e imediata. É indenizável todo dano que se filia a uma
causa, desde que esta seja necessária, pois não há outra causa que explique o mesmo dano. Em
suma, quer o Código Civil que o dano seja o efeito direto e imediato da inexecução.
21
TARTUCE, Flávio Manual de direito civil: volume único/Flávio Tartuce.7.ed.rev.,atual.eampl.–Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. p. 345
que seria consequência “indireta” do inadimplemento, envolvendo lucros
cessantes para cuja caracterização tivessem de concorrer outros fatores.22
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Constata-se de imediato que a lei civil abarcou duas hipóteses de incidência para a
responsabilidade civil objetiva: quando prevista em lei e quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
22
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 4 : responsabilidade civil / Carlos Roberto
Gonçalves. — 7. ed. — São Paulo: Saraiva, 2012. p. 254
23
BRASIL. Código Civil. Código Civil: promulgado em 10 de janeiro de 2002. Disponivel em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20 Jul 2017
- Teoria do risco criado: está presente nos casos em que o agente cria o risco, decorrente de
outra pessoa ou de uma coisa. Cite-se a previsão do art. 938 do CC, que trata da responsabilidade
do ocupante do prédio pelas coisas que dele caírem ou forem lançadas (defenestramento).
- Teoria do risco da atividade (ou risco profissional): quando a atividade desempenhada cria
riscos a terceiros, o que pode se enquadrar na segunda parte do art. 927, parágrafo único, do
CC/2002.
- Teoria do risco-proveito: é adotada nas situações em que o risco decorre de uma atividade
lucrativa, ou seja, o agente retira um proveito do risco criado, como nos casos envolvendo os
riscos de um produto, relacionados com a responsabilidade objetiva decorrente do Código de
Defesa do Consumidor. Dentro da ideia de risco-proveito estão os riscos de desenvolvimento,
nos termos do Enunciado n 43 do CJF/STJ. Exemplificando, deve uma empresa farmacêutica
responder por novo produto que coloca no mercado e que ainda está em fase de testes.
- Teoria do risco integral: nessa hipótese não há excludente de nexo de causalidade ou de
responsabilidade civil a ser alegada, como nos casos de danos ambientais, segundo os autores
ambientalistas (art. 14, § 1º, da Lei6.938/1981). Anote-se que o entendimento pelo risco integral
para os danos ambientais é chancelado pelo Superior Tribunal de Justiça (ver, por todos: REsp
1.114.398/PR, 2ª Seção, Rel. Min. Sidnei Beneti, j. 08.02.2012, DJe 16.02.2012. Publicado no
Informativo n. 490 do STJ)
FONTE: TARTUCE, Flávio Manual de direito civil: volume único/Flávio Tartuce.7.ed.rev.,atual.eampl.–
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017. p. 374/37 5
Verifica-se, portanto, que existe uma relação de consumo, na qual o usuário da plataforma
(consumidor) adquire os serviços prestados pela Uber (fornecedor). Acerca da responsabilidade
pela prestação de serviços o Código de Defesa do Consumidor assim dispõe:
24
Conselho da Justiça Federal. Enunciados das Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <
http://www.cjf.jus.br/enunciados/> Acesso em: 1 AGO 17.
25
UBER. Termo de Uso. Disponível em <https://www.uber.com/pt-PT/legal/terms/br/>. Acesso em: 15
JUL 17.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas
técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando
provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.26
Fato relevante a ser destacado nas relações de consumo é a figura do bystander, o terceiro
participante da cadeia casual dos eventos que também venha a sofrer prejuízo em decorrência do
defeito da prestação de serviço. Dessa forma, o fornecedor também responde objetivamente
perante o bystander que é equiparado ao consumidor por força do art. 17, do Código de Defesa do
Consumidor.
Quando o evento danoso ocorre por culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, não há
que se falar em responsabilidade do fornecedor. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e
efeito entre o defeito no serviço apresentado e o prejuízo experimentado pelo consumidor ou pelo
bystander. Pode-se afirmar que, no caso de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o
26
BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Código de Defesa do Consumidor: promulgado em 11 de
setembro de 1990. Disponivel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 20 Jul 2017
causador do dano é simples instrumento do acidente, pois não existe ligação de causalidade entre
o seu ato e o prejuízo experimentado pelo consumidor.
Por fim, cumpre ressaltar que, à guisa da responsabilidade civil objetiva do Uber na
prestação de serviços, o usuário da plataforma, como consumidor que é, está amparado pelos
direitos e garantias contidos na lei consumerista.
Como visto no direito civil brasileiro há aplicação de duas teorias para adoção do conceito
de responsabilidade civil: a teoria da culpa (subjetiva) e a teoria do risco. O direito digital, por sua
vez, inclina-se para uma maior aplicação da teoria do risco e consequentemente da
responsabilidade objetiva.
Isso deriva da própria natureza das relações digitais que ocorrem de forma global e
atemporal, na qual a perquirição da culpa, principalmente em relação aos provedores não se
adequaria atender à demanda da era digital.
27
PECK, Patrícia. #Direito Digital, 6 ed, São Paulo: Saraiva, 2016. p. 513
28
PECK, Patrícia. #Direito Digital, 6 ed, São Paulo: Saraiva, 2016. p. 514
Entretanto, existia grande celeuma na jurisprudência e doutrina sobre o tema quando se ia
verificar a responsabilidade civil do provedor por atos do usuário, principalmente no tocante as
redes sociais (Facebook, Orkut e Whatsapp dentre outras) e redes de compartilhamento de
arquivos (Emule, Kazaa, Napster...).
“De modo geral podem-se apontar três entendimentos que tem sido
prevalentes na jurisprudência nacional sobre a responsabilidade civil dos
provedores de aplicações da internet: (i) a sua não responsabilização pelas
condutas de seus usuários; (ii) a aplicação da responsabilidade civil objetiva,
ora fundada no conceito de risco da atividade desenvolvida, ora no defeito na
prestação do serviço; e (iii) a responsabilidade de natureza subjetiva, aqui
também encontrando-se distinções entre aqueles que consideram a
responsabilização da não retirada de conteúdo reputado como lesivo após o
provedor tomar ciência do mesmo e os que entendem ser o provedor
responsável em caso de não cumprimento de decisão judicial ordenando a
retirada do material ofensivo”29
Apesar das críticas doutrinárias a esse posicionamento do Marco Civil da Internet, esse é
o posicionamento sobre a responsabilidade civil do provedor sobre as ações do usuário. Cumpre
frisar que a Uber possui, entre os serviços prestados em seu aplicativo, a possibilidade do usuário
e do motorista parceiro se avaliarem mutuamente, que geram consequências tanto para o usuário
quanto para o motorista.
29
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de. Responsabilidade Civil dos Provedores de Acesso e de Aplicações de
internet: evolução jurisprudencial e os impactos da Lei no 12.965/2014 (Marco Civil da Internet). In: LEITE, Salomão
George/LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014
assim, ainda prevalecem outras hipóteses de responsabilidade civil do provedor de serviços de
internet para além dos casos abarcados no Marco Civil”30
Entretanto, o escopo deste trabalho não é estudar esse aspecto do aplicativo, razão pela
qual passar-se-á a analisar a responsabilidade civil dos provedores de aplicação no âmbito do
Marco Civil da Internet.
Nesse sentido, cabe explicar que a Lei no 12.965/14 cuida de dois tipos de provedores em
seu art. 5º, o provedor de conexão à internet e o provedor de aplicações de internet, da definição
legal constata-se de pronto que as atividades desenvolvidas pelo Uber se encontram na categoria
de provedor de aplicações de internet.
Conforme bem explicitado por SOUZA, a responsabilidade civil disposta no Marco Civil
da Internet não afasta as demais hipóteses de incidência correlatas as atividades desenvolvidas
pelos provedores de serviços de internet. No caso concreto, verifica-se a incidência do Código de
Defesa do Consumidor sobre os serviços prestados.
30
ROCHA, Francisco Ilídio Ferreira. Da responsabilidade por danos decorrentes de conteúdo gerado por
terceiros. In: LEITE, Salomão George/LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014. p. 818
31
ISP: Internet Service Provider (tradução livre: provedor de serviços de internet)
32
ROCHA, Francisco Ilídio Ferreira. Da responsabilidade por danos decorrentes de conteúdo gerado por
terceiros. In: LEITE, Salomão George/LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014. p. 818
1.6 – Responsabilidade Civil do Uber
De todo o exposto, até o momento verifica-se que o Uber é um provedor de serviços de
internet e que existe uma relação de consumo entre o Uber e o usuário do aplicativo. Desse modo,
a responsabilidade civil do Uber está submetida aos regramentos do Código de Defesa do
Consumidor.
Entretanto é patente que a inovação disruptiva trazida pelo Uber modificou os meios de
transportes nas grandes cidades e o lucro de sua atividade está diretamente ligada ao serviço
prestado pelo motorista independente.
33
SARMENTO, Daniel. Ordem Constitucional Econômica, Liberdade e Transporte Individual de
Passageiros: O “caso Uber”. Disponivel em < http://s.conjur.com.br/dl/paracer-legalidade-uber.pdf>. Acesso em:
15 Jul 2017
2. NATUREZA DA ATIVIDADE EMPRESARIAL DO UBER À LUZ DO CDC
De fato, verifica-se que o Uber trouxe concorrência direta as formas de transporte coletivo
dentro das cidades, em especial, aos táxis, ao permitir o contato direto do usuário com o motorista
prestador de serviço autônomo.
Assim neste capítulo procurar-se-á estudar a atividade empresarial desenvolvida pelo Uber
à luz do Código de Defesa do Consumidor, isso porque, como já visto anteriormente, há relação
de consumo entre o Uber e o usuário do aplicativo.
O Uber é uma empresa multinacional presente em 633 (seiscentas e trinta e três) cidades e
é responsável pelo desenvolvimento de um aplicativo para smartphones de mesmo nome que
possibilita estabelecer uma conexão entre motoristas profissionais e pessoas interessadas em
contratá-los.
Enfatiza, em especial nas cláusulas de 2 e 5, do seu Termo de Uso, que não presta serviço
de transporte, que o mesmo é fornecido pelos prestadores terceiros independentes, nomenclatura
usada no Termo de Uso para o motorista parceiro da Uber.
“2. OS SERVIÇOS
VOCÊ RECONHECE QUE A UBER NÃO É FORNECEDORA DE
BENS, NÃO PRESTA SERVIÇOS DE TRANSPORTE OU LOGÍSTICA,
NEM FUNCIONA COMO TRANSPORTADORA, E QUE TODOS ESSES
SERVIÇOS DE TRANSPORTE OU LOGÍSTICA SÃO PRESTADOS POR
PRESTADORES TERCEIROS INDEPENDENTES QUE NÃO SÃO
EMPREGADOS(AS) E NEM REPRESENTANTES DA UBER, NEM DE
QUALQUER DE SUAS AFILIADAS.
Como pode se constatar a Uber é bem enfática ao afirmar que não presta serviço de
transporte e que os motoristas cadastrados no aplicativo não são seus empregados ou
representantes.
Os serviços prestados pelos motoristas parceiros da Uber são pagos diretamente a Uber
que repassa os valores semanalmente aos terceiros prestadores independentes com a retenção do
percentual cabível à empresa. A manutenção do cadastro dos motoristas parceiros depende,
ademais, das avaliações anônimas que recebem dos respectivos passageiros pelos serviços
34
UBER. Termo de Uso. Disponível em <https://www.uber.com/pt-PT/legal/terms/br/>. Acesso em: 15
JUL 17.
35
SARMENTO, Daniel. Ordem Constitucional Econômica, Liberdade e Transporte Individual de
Passageiros: O “caso Uber”. Disponivel em < http://s.conjur.com.br/dl/paracer-legalidade-uber.pdf>. Acesso em:
15 Jul 2017
prestados, e a obtenção de uma média inferior a 4,6 estrelas podem ser descredenciados pela
UBER.
Em linhas gerais, de acordo com o Termo de Uso do Uber e afirmação da própria empresa
no bojo do Parecer exarado pelo Professor Daniel Sarmento em decorrência de consulta da própria
Uber, os serviços prestados se resumem a prover comunicação entre usuário e motorista
independente e prover meios para facilitar o pagamento aos motoristas pelos serviços prestados,
conforme disposto na cláusula 4, do Termo de Uso em tela.
De acordo com o Código Civil de 2002, empresário é aquele que exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para produção de bens ou serviços. Ou seja, para se enquadrar no
conceito de empresário a atividade econômica deve ser exercida de forma habitual com intuito de
lucro por meio da articulação dos fatores de produção (capital, mão de obra e tecnologia) para
produção e circulação de bens e serviços.
Conforme se pode apreender a atividade empresarial deve ser entendido como um conjunto
de atos direcionados a um fim, portanto, resta prejudicada uma análise que se resume somente ao
aplicativo em si e ignora as demais atividades desenvolvidas pela Uber que ao fim levam ao
desenvolvimento da plataforma tecnológica e sua constante atualização. O cerne da questão é
desvendar se as atividades do Uber se resumem a comunicação entre o consumidor e o prestador
de serviço, ou se estendem ao serviço prestado.
Tendo em vista que a Uber é uma empresa multinacional complexa vislumbrar todos os
aspectos de sua atividade empresarial é uma tarefa que este trabalho monográfico não seria capaz
de abordar. Entretanto no escopo deste estudo se é capaz de responder ao questionamento
supracitado, pois, como dito exaustivamente, o principal objetivo deste estudo é verificar a
responsabilidade da Uber em acidentes de trânsito.
Desse modo, o objetivo precípuo deste tópico é pontuar algumas atividades desenvolvidas
pela Uber relacionadas com o serviço prestado para o usuário, a fim de se constatar se os serviços
prestados pela Uber se resumem a mera comunicação cliente – prestador de serviço independente,
ou seja, procura-se analisar as atividades empresarias desenvolvidas pela Uber que guardam
relação com o serviço prestado.
Para tanto, serão utilizados artigos de sites e revistas nacionais e internacionais, em especial
as que tratam de tecnologia, economia e negócios, pois o aplicativo é oferecido globalmente,
portanto se faz necessário uma visão holística do empreendimento.
Desse modo, passa-se a demonstrar diversos artigos que tratam das atividades empresarias
desenvolvidas pela Uber ao redor do mundo:
This year, we are going to see the transformation of Uber into a big data
company cut from the same cloth as Google, Facebook and Visa - using the
36
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: Teoria geral e direito societário, v.1 –8ª ed. ver .e
atual.–São Paulo: Atlas, 2017. p.72
wealth of information they know about me and you to deliver new services and
generate revenue by selling this data to others”.37
De início, ressalte-se que essa leva inicial de notícias acerca das atividades empresariais
da Uber provém de fontes que tratam do mundo empresarial e de negócios (Forbes e Exame). Na
primeira notícia colacionada pode se verificar que uma das fontes de rendimentos do Uber são os
dados dos usuários, em especial, os referentes aos trajetos realizados. O Uber está se
transformando em uma empresa de big data com base nas informações provenientes do transporte
de seus usuários.
Na segunda notícia, constata-se que o Uber alugou cerca de mil carros para seus motoristas
parceiros, que deveriam ser em tese prestadores de serviços autônomos sem qualquer relação com
o Uber capaz de criar uma relação entre o aplicativo e o transporte prestado. No entanto, se verifica
que o Uber atuou de forma direta incentivando o crescimento do número de motoristas parceiros
ao lhe prover inclusive os meios de trabalho.
Nas duas últimas notícias ainda se verifica que importantes veículos de comunicação
(Exame e Wall Street Journal) tratam o Uber como uma empresa de transporte, especial atenção
37
HIRSON, Ron. Uber: The Big Data Company. Disponivel em <
https://www.forbes.com/sites/ronhirson/2015/03/23/uber-the-big-data-company/#fecb53718c7f >. Acesso em: 9 Ago
2017.
38
ARAVINDAN, Aradhana e Alexandria Sage. Uber alugou carros defeituosos conscientemente, diz
WSJ. Disponível em <http://exame.abril.com.br/negocios/uber-alugou-carros-defeituosos-conscientemente-diz-
wsj/>. Acesso em 9 Ago 17.
39
NUSSEY, Sam. SoftBank tem forte lucro e considera investir em Uber ou Lyft. Disponível em: <
http://exame.abril.com.br/negocios/softbank-tem-forte-lucro-e-considera-investir-em-uber-ou-lyft/>. Acesso em 9
Ago 17.
deve ser dada a última notícia na qual uma instituição financeira japonesa pretende financiar as
empresas de transportes urbanos, dentre elas a Uber.
Desse modo, sob a ótica do direito empresarial o Uber não é apenas uma plataforma
tecnológica que provê a comunicação entre usuário e um terceiro prestador de serviço
independente, mas uma empresa que atua diretamente no mercado de transportes urbanos e,
inclusive, revolucionou esse mercado ao possibilitar a expansão sem precedentes do serviço de
transporte individual particular.
Portanto, ante as atividades empresariais desenvolvidas pelo Uber com nítida finalidade de
lucro a sua responsabilidade também deve se estender ao serviço de transporte prestado por meio
de seu aplicativo, como se pode deduzir da importante lição trazida por ramos acerca da atividade
empresarial e o intuito lucrativo:
40
VENTURA, Felipe. Seguindo passos do Google, Uber quer criar carros autônomos – mas para
competir com táxis. Disponível em: < http://gizmodo.uol.com.br/uber-carros-autonomos/> Acesso em 9 Ago 17.
41
Portal G1. Uber lança serviço de carros sem motorista nos Estados Unidos. Disponível em:
<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/09/uber-lanca-servico-de-carros-sem-motorista-nos-estados-
unidos.html> Acesso em 9 Ago 17.
“Ela indica que o empresário, sobretudo em função do intuito lucrativo
de sua atividade, é aquele que assume os riscos técnicos e econômicos de sua
atividade”.42
Ressalte-se que esses princípios se prestam a regular a relação de consumo e devem ser
observados por ambas as partes: o consumidor e o fornecedor.
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial esquematizado – 5.ed. rev.atual. e ampl. – Rio
42
Por fim, cumpre frisar que todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é
hipossuficiente.
Da leitura do art. 4º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor, fica evidente a
intenção do legislador em harmonizar os interesses de consumidores e fornecedores, por meio do
princípio da boa-fé objetiva, porquanto a harmonia e o equilíbrio são fatores indispensáveis para
que haja a tão esperada justiça.
43
TARTUCE, Flávio. Manual de direito do consumidor: direito material e processual / Flávio Tartuce,
Daniel Amorim Assumpção Neves – 3.ed. – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2014. p.43
Assim, nota-se que o Código de Defesa do Consumidor se preocupou tanto com os
interesses dos consumidores como o dos fornecedores e de todos os fatores que oportunizam o
desenvolvimento do mercado de consumo.
Por isso, a boa-fé objetiva é cláusula geral, um princípio ao qual se pode socorrer na falta
da lei ou regulamentação contratual, porquanto é um princípio nuclear nas relações de consumo e
é na seara contratual que se torna mais evidente a sua aplicação.
Isso porque a cláusula geral de boa-fé reputa-se implicitamente inserida no contrato, por
força do disposto no Código de Defesa do Consumidor, e, por conseguinte, existe em todas as
relações jurídicas de consumo, mesmo quando não inserida de forma expressa. Nesse sentido, cite-
se o art. 51, inciso IV do diploma legal supra:
O princípio da transparência por sua vez exige transparência dos atores do consumo, impõe
às partes o dever de lealdade recíproca que deve ser observada durante toda a relação contratual.
Dessa feita as cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser regidas
com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão, ou seja, o acesso à informação deve
se dar de forma clara e precisa.
Como se observa do Termo de Uso do Uber, embora a empresa procure se esquivar de suas
responsabilidades as cláusulas referentes aos limites do serviço prestado estão escritas de forma
clara e em destaque, demonstrando nesse aspecto, a observância ao princípio da transparência.
44
BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Código de Defesa do Consumidor: promulgado em 11 de
setembro de 1990. Disponivel em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 9 Ago 2017
O princípio da função social do contrato é um princípio implícito na lei consumerista
brasileira e um reflexo da mudança das relações sociais que, atualmente, são regidas pelo domínio
do capital, como consequência de sua aplicação houve uma mitigação do pacta sunt servanda. A
vontade das partes não é mais absoluta, sendo assim, o objetivo principal da função social dos
contratos é procurar o equilíbrio em uma situação díspar, na qual o consumidor sempre foi vítima
das abusividades da outra parte da relação de consumo.
O princípio da reparação integral dos danos dispõe que se o consumidor sofre um dano, a
reparação que lhe é devida deve ser a mais ampla possível. A reparação deve se estender a todos
os danos causados. Assim, dentre os princípios basilares do consumidor está a efetiva prevenção
e reparação de danos patrimoniais e morais. Os danos devem ser reparados de forma efetiva, real
e integral, de forma a ressarcir ou compensar o consumidor.
Dessa forma, está o fornecedor também obrigado a reparar os danos emergentes e os lucros
cessantes, os quais não podem sofrer limitações ou tabelamentos do acordo com o Enunciado 550,
da VI Jornada de Direito Cível: “A quantificação da reparação por danos extrapatrimoniais não
deve estar sujeita a tabelamento ou a valores fixos”.46
Também estão abarcados pelo princípio em tela a reparação de danos morais coletivos e
dos danos difusos, O dano moral coletivo é modalidade de dano que atinge, simultaneamente,
45
TARTUCE, Flávio. Manual de direito do consumidor: direito material e processual / Flávio Tartuce,
Daniel Amorim Assumpção Neves – 3.ed. – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo: MÉTODO, 2014. p.43
46
Conselho da Justiça Federal. Enunciados das Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <
http://www.cjf.jus.br/enunciados/> Acesso em: 9 AGO 17
diversos direitos da personalidade, de pessoas determinadas ou determináveis e a indenização é
destinada para as próprias vítimas.
Por fim, é importante ressaltar que o princípio da reparação integral dos danos também se
estende aos bystanders.
O Uber como prestador de serviços também deve observar os princípios aqui arrolados na
sua atividade. Verifica-se que no desenrolar de sua atividade o Uber não é transparente com o
consumidor e tampouco observa-se a boa-fé, em especial na forma como o produto é anunciado
ao consumidor.
A despeito da polêmica acerca de qual seria a relação jurídica existente entre o Uber e os
motoristas cadastrados em seu aplicativo, o Uber vende e anuncia seus serviços como se a própria
empresa fosse a responsável pelo transporte ainda que feito por terceiros prestadores de serviço
independentes.
A ideia de que o consumidor irá de Uber ao destino desejado não transmite as disposições
contidas no Termo de Uso, em especial a cláusula 2, na qual o Uber afirma não fornecer serviço
de transporte e que os terceiros prestadores independentes (designados como motoristas parceiros
pelo Uber quando se comunica com o consumidor) não possuem qualquer relação empregatícia
ou representam o Uber e suas afiliadas.
Cumpre ainda esclarecer que os serviços que utilizam a internet como plataforma, via de
regra, são regidos por termos de uso, verdadeiros contratos de adesão, que, muitas das vezes,
sequer são lidos pelo usuário final. Acerca dos contratos na era digital, cabe trazer a lume lição de
Patrícia Peck que se aplica ao caso em análise:
Dessa forma, verifica-se que o Uber ao se relacionar com o consumidor transmite a ideia
de que o serviço prestado pelo aplicativo é uma forma inovadora, prática e eficaz de transporte e
47
Uber. 10 destinos para ir de Uber em Recife, Uber Blog Disponível em: < https://www.uber.com/pt-
BR/blog/recife/10-destinos-para-ir-uber-recife> Acesso em 9 AGO 17.
48
Uber. Mais um motivo para você ir de Uber ao estádio, Uber Blog Disponível em: <
https://www.uber.com/pt-BR/blog/curitiba/mais-um-motivo-para-voce-ir-de-uber-ao-estadio/> Acesso em 9 AGO
17.
49
Uber. 10 destinos para ir de Uber em São Paulo, Uber Blog Disponível em: < https://www.uber.com/pt-
BR/blog/recife/10-destinos-para-ir-uber-recife> Acesso em 9 AGO 17.
50
PECK, Patrícia. #Direito Digital, 6 ed, São Paulo: Saraiva, 2016. p. 77
que o serviço abrange o transporte em si. Em nenhum momento se consegue vislumbrar nessa
comunicação com o consumidor a limitação constantes nos Termos de Uso do aplicativo, segundo
o qual os serviços prestados “integram uma plataforma de tecnologia que permite aos(às)
Usuários(as) de aplicativos móveis ou sítios de Internet da Uber, fornecidos como parte dos
Serviços (cada qual um “Aplicativo”), providenciar e programar Serviços de transporte e/ou
logística e/ou compra de certos bens com terceiros provedores independentes desses Serviços”.51
Dessa forma, fica claro que, não obstante as disposições contratuais constantes do Termo
de Uso do Uber, as atividades exercidas pelo Uber envolvem o serviço de transporte e que as
cláusulas em contrário dispostas no contrato-tipo são nulas de plena direito à luz dos princípios
estudados neste capítulo.
51
UBER. Termo de Uso. Disponível em <https://www.uber.com/pt-PT/legal/terms/br/>. Acesso em: 15
JUL 17.
3. RESPONSABILIDADE CIVIL DO UBER NOS ACIDENTES DE TRÂNSITO
Como visto até o momento, independente sob qual ramo do direito se observe as atividades
desenvolvidas pelo Uber a sua responsabilidade civil é objetiva, seja sob o enfoque do direito civil,
empresarial, do consumidor ou pelo Marco Civil da Internet.
Ocorre, no entanto, que a prestação do serviço de transportes não é somente regida pelo
Código de Defesa do Consumidor, mas também pelo Código Civil que dedica um capítulo inteiro
a regulação do tema (arts. 730 a 766).
Por exemplo, é possível realizar o transporte dentro da própria casa, do próprio prédio, de
um andar para outro, mas, por óbvio, esta não é a modalidade de transporte que será estudada. Isso
porque o transporte por meio do Uber envolve o deslocamento geográfico.
52
BRASIL. Código Civil. Código Civil: promulgado em 10 de janeiro de 2002. Disponivel em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20 Jul 2017
Cumpre frisar, todavia, que é essencial que o objeto principal do contrato seja
especificamente o deslocamento, pois a relação de transporte pode se apresentar como obrigação
acessória de outro negócio jurídico.
Importante frisar que do contrato de transporte advém uma obrigação de resultado e não
de meio, portanto o transportador se obriga a transportar o passageiro são e salvo, e a mercadoria,
sem avarias, ao seu destino final.
Por ser um contrato não solene não existe impedimento legal para que o contrato de
transporte do Uber se dê por meio da plataforma tecnológica no smartphone do usuário.
O contrato de transporte pode ser de pessoas e coisas, e pode ser terrestre, aéreo e marítimo
ou fluvial. O contrato de transporte terrestre se subdivide em ferroviário e rodoviário. O contrato
de transporte ainda pode ser classificado em razão da extensão de cobertura em: urbano,
intermunicipal, interestadual e internacional. O contrato de transporte pode ser ainda coletivo e
individual.
O contrato coletivo de transporte ocorre quando várias pessoas utilizam o mesmo veículo,
cada qual paga a sua passagem e a transportadora possui contratos individuais com cada
passageiro. Se o contrato for único em benefício de várias pessoas, não será coletivo.
53
BRASIL. Código Civil. Código Civil: promulgado em 10 de janeiro de 2002. Disponivel em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20 Jul 2017
das partes, como greve, motim, guerra etc. Mesmo porque a jurisprudência, de
há muito, tem feito, com base na lição de Agostinho Alvim16, a distinção entre
“fortuito interno” (ligado à pessoa, ou à coisa, ou à empresa do agente) e
“fortuito externo” (força maior, ou Act of God dos ingleses). Somente o fortuito
externo, isto é, a causa ligada à natureza, estranha à pessoa do agente e à
máquina, excluirá a responsabilidade deste em acidente de veículos. O fortuito
interno, não. Assim, tem-se decidido que o estouro dos pneus, a quebra da barra
de direção, o rompimento do “burrinho” dos freios e outros defeitos mecânicos
em veículos não afastam a responsabilidade do condutor, porque previsíveis e
ligados à máquina”54
Ainda de acordo com o que prescreve o art. 735 do Código Civil a responsabilidade
contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro.
Dessa forma, acaso tenha havido culpa de terceiro no fato danoso, o passageiro poderá pleitear a
sua indenização diretamente do transportador, que terá direito de ação regressiva contra o terceiro.
Com relação a responsabilidade do passageiro, o art. 738 do Código Civil dispõe que: “A
pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no
bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou
prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do
serviço”55.
Por isso o passageiro deve zelar pela sua própria segurança e a responsabilidade do
transportador é elidida se o acidente proveio de culpa exclusiva da vítima (nesse caso o
passageiro).
54
GONÇALVES, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 3 : contratos e atos unilaterais / Carlos
Roberto Gonçalves. — 7. ed. — São Paulo : Saraiva, 2012. p.478
55
BRASIL. Código Civil. Código Civil: promulgado em 10 de janeiro de 2002. Disponivel em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 20 Jul 2017
“UberRUSH” e “UberEATS”), nos quais se incluem o transporte de coisas, somente é objeto deste
trabalho o transporte de pessoas, razão pela qual não se irá tecer nenhum comentário acerca do
transporte de coisas.
Neste momento houve a celebração do contrato, mas não sua execução, e portanto, não
incidem as normas sobre contrato de transporte disposto no Código Civil, mas incide a
responsabilidade objetiva do Uber prevista na lei consumerista e no direito empresarial
decorrentes da aplicação da teoria do risco-proveito.
Assim, o Uber poderá responder por vício ou defeito no serviço, principalmente em relação
ao consumidor bystander, que é equiparado ao consumidor por força do art. 17, do Código de
Defesa do Consumidor.
É fácil constatar que na mesma medida que essas inovações disruptivas transformam
realidades a avidez humana por lucros cada vez maiores faz com que empresas como o Uber,
adotem práticas empresariais do século passado ao procurar tirar o máximo de proveito de sua
atividade sem arcar com suas responsabilidades.
É fato que as inovações disruptivas tem forçado ao mundo jurídico uma nova forma de
pensar para solucionar os problemas emergentes da adoção dessas tecnologias de forma célere e
justa, mas a velocidade do Direito não acompanha o ritmo acelerado do mundo tecnológico.
Assim, este trabalho monográfico, visa contribuir com a elucidação de parte dessas
questões ao lançar luz sobre a atividade empresarial desenvolvida pelo Uber e as consequências
dos serviços prestados pelo aplicativo a seus consumidores.
BIBLIOGRAFIA
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Disponível em: <http://www.bostwickfirm.com/Personal-Injury-Blog/2014/January/Fatal-Uber-
Car-A…> Acesso em: 17 JUL 17.
Conselho da Justiça Federal. Enunciados das Jornadas de Direito Civil. Disponível em: <
http://www.cjf.jus.br/enunciados/> Acesso em: 9 AGO 17
Portal G1. Uber lança serviço de carros sem motorista nos Estados Unidos. Disponível em:
<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/09/uber-lanca-servico-de-carros-sem-motorista-
nos-estados-unidos.html> Acesso em 9 Ago 17.
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direto civil, volume III: responsabilidade civil/
Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho – 8ª ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2010.
LEITE, Salomão George/LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas,
2014.
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STEIBEL, Fábio. O portal da consulta pública do Marco Civil da Interne. In: LEITE,
Salomão George/LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas, 2014
VENTURA, Felipe. Seguindo passos do Google, Uber quer criar carros autônomos – mas
para competir com táxis. Disponível em: < http://gizmodo.uol.com.br/uber-carros-autonomos/>
Acesso em 9 Ago 17.