A Entrevista Familiar PDF

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Artigo

RESUMO
ENTREVISTA FAMILIAR
A família possui um papel de
grande relevância no desenvol- COMO FACILITADORA
vimento emocional da criança, é
capaz de desempenhar um pa- NO PROCESSO DE
pel facilitador na compreensão
de sua sintomatologia. O pre- TRIAGEM DE UMA
sente trabalho apresenta a en-
trevista familiar diagnóstica CLÍNICA ESCOLA
como uma técnica utilizada no
processo de triagem infantil em
uma clínica-escola a fim de faci-
litar a compreensão do caso aten-
dido. Para tanto, apresentar-se-
á um caso clínico de uma criança Andressa Pin Scaglia¹
de oito anos de idade, do sexo
masculino, que foi atendida no Fernanda Kimie Tavares Mishima²
Serviço de Triagem e Atendi- Valéria Barbieri³
mento Infantil e Familiar
(STAIF) do Centro de Pesqui-
sa e Psicologia Aplicada (CPA)
da FFCLRP da Universidade
de São Paulo (USP).
Palavras-chave: clínica-esco-
la; triagem infantil; psicodiag-
nóstico interventivo.

Psicóloga voluntária do Departamento de Psicologia


e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo (FFCLRP-USP).
Psicóloga do Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada
(CPA) do Departamento de Psicologia e Educação
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).
Docente do Departamento de Psicologia e Educação
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP).

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Dossiê
Artigo

Introdução tologia da criança é avaliada de ma-


neira ampla, ou seja, dentro do con-
texto das relações familiares, em que
A s dificuldades psicológicas
presentes na infância podem acom-
é possível discriminar os mecanismos
projetivos e introjetivos nelas presen-
panhar o indivíduo ao longo de sua tes. Tais informações possibilitam
vida e, por vezes, até se agravar. Des- identificar quem é o paciente real
ta forma, entende-se como de gran- mesmo quando este não apresenta os
de importância uma abordagem e in- sintomas (Barbieri, 2008).
tervenção precoce dos sintomas Entende-se que a possibilidade
presentes no início da vida. Tendo em de uma avaliação mais profunda da
vista o objetivo de atender a tal ne- criança e de sua família permite um
cessidade, criou-se na clínica-escola de encaminhamento mais consistente.
Psicologia da Universidade de São Segundo Berger (1989), geralmente
Paulo, campus Ribeirão Preto, o “Ser- no contato inicial com o terapeuta, na
viço de Triagem e Atendimento In- primeira consulta do filho, os pais se
fantil e Familiar” (STAIF) (Mishima, mostram confusos frente ao que en-
Pavelqueires, Parada & Barbieri, tendem como “sintoma”. Diante des-
2009). ta situação, o profissional tende a pro-
O STAIF atua desde a chegada por um quadro pré-concebido ou,
do paciente até seu encaminhamen- ainda, a diferenciar muito rapidamen-
to, Nesta abordagem, entende-se te a dinâmica psíquica e encaminhar
como essencial não só o contato com a criança para a psicoterapia indivi-
a criança, mas também com sua pró- dual. Desta forma, o profissional aca-
pria família. A triagem de cada caso ba por não abordar as questões co-
consiste em cinco sessões: entrevista muns aos membros da família, as
inicial com os pais da criança, sessão zonas de indiferenciação familiares e
lúdica com a criança, entrevista fami- as zonas patológicas comuns, ques-
liar diagnóstica com todos os mora- tões importantes para o progresso
dores da casa e duas sessões de positivo do processo terapêutico.
devolutiva, uma com os pais e outra Ao contrário desta tendência, o
com a criança. É uma forma prolon- processo de triagem utilizado pelo
gada de triagem que prioriza o uso de STAIF visa justamente delinear um
instrumentos abertos e não diretivos. quadro mais amplo. Trata-se de um
Este processo possibilita a expressão processo interventivo, baseado na
das fantasias inconscientes de enfer- vertente do “Psicodiagnóstico Inter-
midade e cura do paciente, como per- ventivo de Orientação Psicanalítica”.
mite avaliar os recursos e limitações Optou-se por uma ação interventiva
de seus pais, tanto individualmente, para que o indivíduo possa ocupar
quanto no grupo familiar. A sintoma- uma posição não só de “objeto de

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estudo”, mas para se beneficiar do
processo (Barbieri, 2008).
A situação de psicodiagnóstico
leva o paciente a expressar de manei-
ra mais rápida e direta seus conflitos.
O Psicodiagnóstico Interventivo, por
meio de uma aliança investigativa e
interpretativa, possibilita que, duran-
te todo o processo investigativo, o
profissional faça interpretações e as-
sinalamentos, oferecendo suporte
emocional ao paciente. Desta forma,
o potencial da situação diagnóstica
para elucidar aspectos centrais da per-
sonalidade do indivíduo é trabalhado
conjuntamente (Barbieri, Jacquemin
& Biasoli-Alves, 2007). Esse proces-
so implica em mostrar ao cliente a si-
tuação que ele apresenta de um novo
modo, promovendo uma desestrutu-
ração momentânea das percepções
antigas e reorganizações perceptuais,
em que novas opções de vida pode-
rão ocorrer (Advíncula & Gomes,
1999).
Diferentemente da visão clássi-
ca do psicodiagnóstico, a estratégia
utilizada (entrevistas e sessões lúdicas)
insere os familiares no processo de
triagem. Segundo Aberastury (1986),
é muito importante que se consiga
comparar os dados apresentados pe-
los pais com os obtidos durante a
análise da criança, para avaliar as re-
lações pais/filho.
Não é simples para os pais re-
correrem a qualquer tipo de ajuda
externa diante de problemas internos
da família. Quando os pais o fazem é
porque entendem que o ambiente fa-

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miliar não consegue solucionar os sin- te, os pais, bem como todo o restante
tomas da criança, o que desperta ne- dos membros familiares que moram
les ansiedades e angústias. Tal situa- na casa da criança, são convidados a
ção pode fazer com que eles levem compor a sessão de entrevista fami-
seus filhos para atendimento mobili- liar diagnóstica (EFD). Segundo Soi-
zados não só pelo desejo de pedir aju- fer (1983), a entrevista do grupo fa-
da, mas, também, por ansiedades miliar é uma importante ferramenta
persecutórias e depressivas diante da de diagnóstico em psicologia infan-
dificuldade de contato com a criança. to-juvenil, tem como intuito estabe-
Nesse sentido, é importante que o lecer um diagnóstico e um prognós-
profissional não só seja continente às tico consistente. Tal prática usa
necessidades destes pais como tam- brinquedos e materiais de expressão
bém lhes dê espaço para pensarem, que ampliam a dinâmica da entrevis-
cooperarem e se apropriarem da ava- ta. Desse modo, as sessões familiares
liação/atendimento. Esta participação proporcionam uma maior compreen-
ativa dos pais pode deixá-los mais es- são do conflito, pois nelas se eviden-
timulados a utilizarem seus recursos cia o estilo de interação qeu reflete a
(Safra, 2001). maneira como a família transmite os
A entrevista inicial com os pais, ensinamentos para os filhos e, assim,
em especial com a presença de am- podem favorecer a patologia obser-
bos, possibilita um maior entendi- vada. É, portanto, um momento em
mento da criança, já que apresenta que é possível a observação da dinâ-
conteúdos emergentes do grupo fa- mica familiar por meio não só da ob-
miliar. O processo de triagem tam- servação direta da relação e fantasias
bém considera a presença individual familiares, mas, também, pela trans-
da criança, durante a sessão lúdica. ferência estabelecida com o terapeu-
Esta sessão tem a finalidade de co- ta (Franco & Mazorra, 2007). Além
nhecer a realidade infantil, pois é um disso, a entrevista familiar proporcio-
espaço em que se possibilita o apare- na ao profissional o motivo manifes-
cimento da fantasia inconsciente de to e o latente da queixa. Entende-se
doença/cura. Entende-se que o sur- como motivo manifesto o sintoma
gimento tão imediato destas fantasias que preocupa quem solicita o atendi-
é devido ao temor a que se repita a mento, já o latente é mais profundo e
conduta negativa dos objetos originá- relevante, geralmente emerge no de-
rios provocadores da enfermidade/ correr das sessões de psicodiagnósti-
conflito (Aberastury, 1986). co (Arzeno, 1995).
Posterior à entrevista inicial, que Berger (1989) aponta para o fato
conta com a participação dos pais, há de que um dos aspectos importantes
outro momento em que a família se para o progresso da psicoterapia com
insere no processo de triagem. Nes- crianças é a motivação desta em se

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desvencilhar das projeções às quais é
objeto dentro da dinâmica familiar. O
distanciamento e elaboração destas
projeções são compreendidos como
sucesso na terapia, mas, muitas vezes,
é tido pelos pais como um movimen-
to negativo. Tal situação se dá devido
a não elaboração dos pais de suas pró-
prias fantasias e projeções que alcan-
çam seu filho, que, por vezes, acabam
barrando/interrompendo o processo
terapêutico da criança. Desta forma,
a sessão familiar representa um mo-
mento de grande importância para o
posterior sucesso terapêutico, pois um
de seus objetivos é permitir um espa-
ço para que os pais apresentem seus
dinamismos e se responsabilizem
diante do quadro sintomático do fi-
lho.
A última etapa do processo de
triagem interventiva, realizada pelo
STAIF, corresponde à devolução de
informação, tanto com os pais quan-
to com a criança. A devolutiva tem
como principal objetivo a transmis-
são, a restituição de informação diag-
nóstica e prognóstica discriminada e
dosificada, relacionada com a capaci-
dade egóica dos destinatários. Ressal-
ta-se, também, a possibilidade de se
observar a resposta verbal e pré-ver-
bal do paciente e de seus pais diante
da recepção da mensagem do psicó-
logo, informação esta que possibilita
uma síntese acertada do caso e a emis-
são de um diagnóstico/prognóstico
com maior base de certeza, na busca
de oferecer um atendimento terapêu-
tico mais adequado (Ocampo, Arzeno

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& Piccolo, 1974/1995). Para realizar a devolutiva com a criança, o


terapeuta recorre ao uso de estórias, criadas a partir de informações
recebidas durante o processo de triagem. Esta forma de comunica-
ção com a criança advém da possibilidade de comunicação pela área
transicional, que possibilita o desenvolvimento emocional, ou seja,
a formação do sintoma ocorre devido às dificuldades na elaboração
de conflitos psíquicos vivenciados (Winnicott, 1979/1983).
No momento da devolutiva com os pais são abordados os prin-
cipais aspectos referentes ao funcionamento psicodinâmico da crian-
ça, considerando sua inserção no ambiente familiar. Pretende-se,
com isso, compreender o grupo e incluir a família no prognóstico
da criança. Isso se deve à importância da participação dos pais, pois
a eficácia do Psicodiagnóstico Interventivo depende das caracterís-
ticas do ambiente familiar (Ancona-Lopez, 1995). Nesse sentido, se
houver flexibilidade e condições de modificação por parte dos pais,
o método pode ser suficiente, sem a necessidade de atendimento
psicoterápico posterior.
Diante de todas essas considerações, torna-se relevante consi-
derar o papel desempenhado pela família no desenvolvimento emo-
cional da criança, como forma de compreender sua sintomatologia
e as possibilidades que o ambiente familiar oferece. Além disso, tor-
na-se mais eficiente o encaminhamento e tratamento psicológico
posterior do filho, pois os pais terão importante papel e possibilida-
de de participação no processo.
A fim de exemplificar esta linha de pensamento, o presente
estudo apresenta o caso clínico de uma criança de oito anos de ida-
de, do sexo masculino, que foi atendida no Serviço de Triagem e
Atendimento Infantil e Familiar (STAIF) do Centro de Pesquisa e
Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade de São Paulo, campus
de Ribeirão Preto.

Caso clínico

Entrevista inicial: breve relato e análise

Davi1 (31 anos) e Thaís (26 anos) moram com seus dois filhos:
Diego (8 anos) e Jonas (3 anos). Eles procuraram o STAIF em bus-
ca de atendimento psicoterápico para Diego, trazendo como queixa

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seu medo excessivo: do escuro, de fi- tendo que permanecer por algumas
car sozinho, de se adaptar a novas si- horas na incubadora. Devido à trom-
tuações. bose da mãe, a criança recebeu alta
No período atual, os pais afirma- antes dela e ficou aos cuidados da avó
ram que Diego tem dificuldade de se paterna: “Ninguém no hospital acreditava
relacionar com outras crianças, difi- que eu pedi para levar meu filho embora,
culdade para encarar novas situações, tinha medo de não conseguir dar conta”. A
medo de escuro e de ficar sozinho. avó paterna foi a cuidadora mais pró-
Sempre que o garoto não quer fazer xima durante os primeiros meses de
algo “ele chora muito e não dá um moti- vida de Diego. Por conta dos fortes
vo”. Foi dito também que o garoto diz remédios para trombose, Thaís sen-
ver pessoas mortas. Quando isso tia muito sono e, certa vez, o marido
acontece, a mãe responde: “Quem vê chegou do trabalho e se deparou com
essas coisas de gente morta é porque faz coi- Diego chorando nos braços da mãe
sa errada”. Outra queixa relatada foi a que estava deitada na cama dormin-
dificuldade de se concentrar nas brin- do profundamente.
cadeiras: “ele brinca no máximo 15 mi- Diego foi amamentado no peito
nutos com os brinquedos e já larga”. Rela- somente na primeira semana de vida.
taram também que o nascimento do Os pais afirmaram que até hoje Diego
irmão parece ter despertado nele a toma diariamente 2 litros de leite. A
vontade de brincar com brinquedos mãe, ao amamentar, sentia-se muito
mais infantis. nervosa por não conseguir, não tinha
Sobre a concepção da criança, a paciência porque ele chorava muito; o
mãe contou que teve uma gravidez pai disse que ela tinha dó. Em seguida,
complicada, ficou de repouso duran- o pai afirmou que a criança sempre foi
te os três primeiros meses devido a muito acomodada, que se tem alguém
uma incompatibilidade sanguínea em casa ela pede para que preparem
(eristoblastose fetal). Além deste pro- as coisas para ela. A mãe disse que a
blema, afirmou que foi um momento avó “dá tudo mastigado”, mas que na casa
difícil, pois sentia muito ciúmes do da família não é assim que funciona.
marido, chegando a agredi-lo fisica- Diego chupou chupeta, mas a
mente. Apesar destes problemas, mãe tirou; porém, ao nascer o irmão
Thaís pontuou que cada novidade da mais novo, ele voltou a chupar escon-
gravidez era bastante comemorada. dido, especialmente na casa de sua
No final da gestação ela apresentou avó. Os pais relataram que Diego tem
um quadro de trombose. Diego nas- um paninho que não larga desde a
ceu de cesárea, com 37/38 semanas, infância, ele fica passando o pano na
com algumas complicações: o cordão boca, apertando e, quando vai viajar,
umbilical no pescoço, batimentos car- esconde o pano para a mãe não lavar,
díacos acelerados e com hipoglicemia, dizendo que tem o cheirinho dele.

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Como a mãe trabalha fora, é ele


quem cuida do irmão de três anos.
Diariamente Diego chega da escola,
toma banho, faz questão de fazer toda
lição da escola antes do almoço (é um
aluno exemplar com notas muito
boas), almoça e cuida do irmão, o dia
todo, até quando a mãe está em casa.
Rotineiramente, prepara a mamadei-
ra dele, dá banho, brinca, faz dormir.
Somente quando o irmão dorme ele
vai fazer suas próprias coisas, como
jogar videogame. A mãe afirmou que
ele tem muito cuidado com o irmão
e que nunca reclamou em desempe-
nhar tal tarefa. Ele sempre arruma seu
quarto e seus brinquedos e vai mos-
trar para a mãe, pois gosta muito de
ser elogiado.
A entrevista inicial trouxe infor-
mações que possibilitaram algumas
hipóteses sobre o caso. Importante
ressaltar que, como se tratam de hi-
póteses, elas poderão ou não ser con-
firmadas no decorrer das sessões do
processo de triagem.
A sintomatologia da criança pa-
receu estar ligada à dinâmica familiar,
uma vez que se trata de uma criança
bastante exigida, tanto externa quan-
to internamente. O ambiente familiar
parece não acolher suas necessidades,
mostrando-se insuficientemente bom:
a mãe tem dificuldades para perceber
e atender às necessidades do filho
desde a amamentação, com prejuízo
no desempenho de seu papel mater-
no e holding insuficiente (Winnicott,
1945/2000). Devido às dificuldades
no exercício da maternagem, a mãe

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não contém as angústias da criança, exigindo que ela dê conta de
suas próprias necessidades e se cuide. Dessa maneira, a exigência
sobre o menino é grande, fazendo com que ele tenha responsabili-
dades de um indivíduo adulto. Para alcançar estas exigências e não
frustrar os pais, Diego deixa de ser criança para se mostrar autôno-
mo/responsável, deixando pouco espaço para as vivências da tran-
sicionalidade e exigindo um desenvolvimento mental mais intenso
que o emocional, dando indícios de funcionamento falso self.

Sessão lúdica

Diego chegou acompanhado de seu pai, sua mãe e seu irmão.


Ao ser questionado sobre o conhecimento do por que estava ali, ele
respondeu que não sabia. A psicóloga disse que seus pais contaram
que ele sentia medo de algumas coisas. Neste momento, ele respon-
deu: “Sabe o que que é? Eu já fui assaltado, eu era menor e os ladrões levaram
a minha bicicleta na frente de casa. Daí eu fiquei com trauma, sou traumatizado”.
A seguir, ficou um tempo em silêncio e logo mudou de assunto.
Ele foi em direção à caixa lúdica, abriu-a sozinho, olhou-a de-
talhadamente, tirou o jogo de palitos e convidou a psicóloga a jogar
com ele. Ficou muito incomodado com um pequeno defeito de fa-
bricação de um dos palitos e explicou a pontuação de cada cor de
vareta. Durante o jogo começou a ventar, algumas folhas fizeram
barulho, neste momento, o garoto se mostrou levemente assustado,
dizendo: “Nossa ouvi um barulho, assustei, mas percebi que é só
folha mexendo”.
Em seguida, guardou todos os palitos e pegou o jogo de da-
mas. Durante a partida, ele arrumava as peças que pareciam estar
fora do lugar, com muito cuidado e atenção. Espontaneamente fa-
lava alguns palavrões durante o jogo toda vez que perdia alguma
peça, mesmo quando estava em vantagem. Diego ouviu um baru-
lho do lado de fora e se mostrou assustado, a psicóloga conversou
com ele sobre o susto e ele respondeu: “Nada, eu achei que tinha ouvido
a voz do meu irmão, mas não é, ele é meio doido, achei que ele tivesse atravessan-
do a rua”. A seguir, conversaram sobre como é o relacionamento
dos dois, Diego contou que eles se dão bem, mas que às vezes o
irmão menor pega o chinelo para bater nele e ele sempre corre e
pede ajuda para a mãe. Logo em seguida disse para a psicóloga:

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“Você se distraiu conversando, fez uma jo- de um caso com bom prognóstico,
gada errada”. Ele venceu o jogo, guar- pois ao considerar a sessão como um
dou todas as peças e as levou para a todo, nota-se que houve uma grada-
caixa. ção no brincar: a sessão inicia com
Pegou o jogo de “bolinhas de brinquedos mais estruturados (como
gude” e contou que na casa de sua jogo de palitos e dama) e termina
avó tem uma jarra cheia delas. Disse com jogos menos estruturados (bo-
que gosta muito de ir para lá, pois tem necos) dentro de uma brincadeira
amigos e brinca muito. Ao final do mais simbólica. Este aspecto permi-
jogo, guardou as bolinhas. Por fim, te pensar que Diego inicialmente se
pegou as famílias (pequenos bonecos mostra rígido e, com o passar da ses-
de pano com representação do pai, são, tem possibilidade de se expres-
mãe, avós e dois filhos): uma negra e sar com maior espontaneidade e cria-
outra branca. Perguntou para a psi- tividade.
cóloga com qual ela queria ficar, mas Durante a sessão houve uma sig-
já afirmou que preferia a branca. nificativa preocupação com o ambien-
Começaram a brincar. Na brincadeira te externo, particularmente com a fa-
as duas famílias eram vizinhas; a avó mília que o esperava na sala de espera,
negra batia na casa da avó branca e era o que remete à ideia de um brincar
muito bem recebida, combinaram uma não relaxado, preocupado com o que
festa para todos. Os garotos, negros e poderia estar acontecendo fora dali
brancos, brincavam juntos. Diego, por sem o seu controle. Parece se respon-
muitas vezes, fazia com que algum sabilizar pelo que acontece fora, como
membro de “sua família” carregasse o maneira de controlar o ambiente e
bebê branco, que geralmente caía do manter o desempenho na tarefa de
colo. Em um momento disse: “Nossa, cuidar do irmão menor. Esta respon-
o bebê está chorando, não pára de chorar, vou sabilidade o impede de viver seus pró-
levar para a mãe, ela é surda, ela não ouve!”. prios conflitos, particularmente de
No final do jogo, a avó negra pediu cunho edípico, uma vez que há uma
para que a família branca cuidasse do necessidade maior de cuidar do irmão
bebê branco, pois precisava sair de e de suprir a falta de cuidados que
casa. Ao ser sinalizado sobre o final recebeu de sua família, principalmente
da sessão, Diego prontamente parou de holding. Esta tarefa é de responsa-
a brincadeira para guardar as coisas e bilidade muito grande para uma crian-
saiu tranquilamente para encontrar os ça de sua idade.
pais na sala de espera. As responsabilidades de Diego,
A sessão lúdica trouxe um reper- não condizentes com a maturidade
tório de informações que embasa al- possível de se alcançar em sua idade,
gumas hipóteses descritas anterior- faz com que sua espontaneidade seja
mente. É possível pensar que se trata acobertada por regras e fique preju-

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dicada. O momento em que ele
achou melhor reinventar a brincadei-
ra e entregou o bebê para a psicólo-
ga cuidar pôde ser entendido como
um pedido para ser cuidado, uma
possibilidade de deixar a exigência
pessoal e do ambiente de lado para
permitir brincar e ser criativo, poden-
do ser criança.

Sessão familiar

A família toda (pai, mãe, irmão e


Diego) compareceu à sessão. O irmão
de Diego mostrou-se um pouco en-
vergonhado no início. Logo, foi-lhes
dito que poderiam usar o tempo de
maneira livre e como quisessem, po-
dendo usar ou não a caixa lúdica.
Apresentou-se a caixa e toda a famí-
lia foi em direção a ela, Diego foi
quem teve a iniciativa de abri-la. A
mãe sentou em uma cadeira grande e
o resto da família ficou nas pequenas.
O irmão afirmou que não queria brin-
car (“não quero, não quero!”) e todos fi-
caram em sua volta tentando conven-
cê-lo, inclusive Diego. Em seguida, ele
concordou em jogar damas e sentou
no colo do pai, que lhe deu explica-
ções e orientou o movimento das
peças. A mãe ficava observando e por
vezes dava alguma sugestão a Diego,
que refutava argumentando que não
seria uma boa estratégia. Durante o
jogo, Diego disse alguns palavrões e
não foi repreendido pelos genitores.
Todos pareciam muito pacientes com

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o irmão menor, Diego se mostrou, novamente, mas foi ignorada. Diego


por vezes, condescendente, não que- venceu, seu pai afirmou que queria
rendo comer as peças do irmão, já este continuar para ver quem ficaria em
parecia mais rigoroso e não permitia segundo lugar.
que ninguém fugisse das regras. Diego Mais uma vez Diego sugeriu que
venceu o jogo, todos guardaram as jogassem palito, mas pegou a bola na
peças no saquinho e ele sugeriu que caixa e ficou jogando para o pai, brin-
jogassem o jogo dos palitos. O irmão cando de fazer gol. Ele se esforçava
viu o dado de ludo e pediu para jo- para pegar a bola que seu pai jogava
gar, Diego fez uma cara de desapro- de maneira difícil e forte. A mãe co-
vação e disse: “ah, não”, mas, por fim, mentou com a psicóloga: “Nossa, eu
acabaram jogando ludo. fico louca quando esses três fazem
Neste jogo, todos os familiares isso na sala, hoje mesmo eu estava
participaram e cada integrante era de passando roupa e me segurei, o pe-
uma cor. Deu-se bastante atenção ao queno veio e derrubou a pilha de rou-
garoto pequeno: em alguns momen- pas passadas”; neste momento, o fi-
tos o estimularam a dizer o número lho menor pegou uma espada e
do dado e andar as casas, em outros, começou a brincar com a mãe, que
Diego fez por ele, mesmo o pai di- não entrou na brincadeira.
zendo de maneira calma para que ele Diego convidou todos para brin-
deixasse seu irmão fazer sozinho. Em carem de alguma coisa diferente, o pai
alguns momentos ele deixava, mas disse: “Você não queria jogar palitos?”,
logo voltava a mexer a peça pelo ir- Diego respondeu: “Não, não, palito é
mão. O irmão pareceu bastante ansi- chato!”. Em seguida, pegou as folhas
oso e, por vezes, irritado com a mãe, e disse que ia desenhar, todos senta-
ele mal a deixava jogar o dado e já ram novamente em volta da mesinha.
pegava para jogar, logo desistiu da O filho pequeno se levantou, pegou
brincadeira e foi em direção à caixa a bola e começou a jogar com a mãe,
pegar os bonequinhos de plástico. todos pararam e falaram para ele “vai
Começou a brincar de guerra. O pai mais longe, você está muito perto”. Depois
disse: “não se empolgue muito nessa ma- ele se juntou ao pai e ao irmão e co-
tança”. Diego às vezes dispersava e meçou a desenhar, todos desenha-
observava a brincadeira de seu irmão, vam, exceto a mãe. Os pais pergunta-
mas isso não atrapalhava o jogo com vam para Diego o que ele ia desenhar,
os pais. Já na metade do jogo a mãe o garoto ficava pensando em algo,
disse ter lembrado de uma regra, mas mas não dizia nada. Em seguida, a
o pai não aceitou incorporá-la: “Ah, mãe fez alguns pedidos para o filho
você que jogue assim, eu não vou”. menor desenhar. Enquanto isso, o pai
Ao término, ela lembrou de mais uma esboçou um desenho para ele. Os pais
regra, até sugeriu para que jogassem sugeriram que Diego fizesse um de-

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senho bonito que ele tinha feito no caderno da escola, ele disse que
não se lembrava, eles insistiram, mas Diego não se recordou. Neste
momento, o pai se irritou e disse: “Pára de graça vai, você sabe muito bem
o que estamos falando”, Diego respondeu: “Ah, não sei... ah lembrei, é um
super-herói”. Continuaram desenhando e dando sugestões para o de-
senho dos garotos: “Não aperte o lápis Diego, fica feio”. O desenho do
pai foi uma cópia de objetos e personagens infantis. Ao término da
sessão, o pai e os filhos arrumaram tudo, combinaram o horário da
devolutiva e se despediram.
Por meio da sessão familiar, mais uma vez, é possível perceber
a preocupação de Diego com o irmão, que se mostra como o centro
das atenções da família. Nota-se, também, que, em diversos mo-
mentos, o pai se mostra infantilizado (não adere às regras, faz dese-
nhos infantis copiados), parecendo não exercer o papel paterno,
mas se igualando às crianças. A função de autoridade e vigilância
parece ter sido desempenhada pela mãe, que, para tal, deixa de exer-
cer os cuidados maternos (holding) e se isola, olhando as brincadei-
ras sem se envolver.
Nota-se que o ambiente não parece facilitador do gesto espon-
tâneo, como no ato de desenhar, em que os filhos eram direcionados
a fazer determinados desenhos, a exemplo da cópia feita pelo pai.
Pode-se entender, então, que há uma inibição do gesto espontâneo
para atender as expectativas dos adultos e, com isso, ser aceito e
amado.

Sessões de devolutivas

Na devolutiva com a criança foi-lhe contada uma estória


intitulada: “O menino que tinha que ser grande”. Nela se faz presente o
dilema de um menino que tinha dúvidas se era um adulto ou uma
criança. A dúvida era acarretada pelas responsabilidades diárias de
“gente grande”, cabendo ao personagem principal o cargo de reali-
zar uma diversidade de tarefas em sua casa, atividades que não o
deixavam feliz, mas sim muito preocupado em conseguir fazê-las.
Por outro lado, o menino sentia algumas vontades típicas de crian-
ça, como, por exemplo, brincar e assistir desenhos. Vontades não
concretizadas, pois ele tinha muito medo de que, caso fosse criança,
perderia o amor das pessoas que amava, por decepcioná-las. Em

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um dia comum, este garoto dormiu, ria que acabara de receber. A mãe deu
teve um sonho revelador e ao acor- o celular para o garoto, que se acal-
dar teve a certeza de que era uma mou e os pais puderam entrar na sala
criança. Logo foi comunicar tal des- de atendimento.
coberta para todos que o rodeavam Inicialmente a psicóloga desta-
e, com a ajuda de seus pais e amigos, cou a responsabilidade que os pais ti-
passou a se dedicar somente às ques- veram frente às sessões, com sua pre-
tões infantis. Dessa forma, no decor- sença e pontualidade. Afirmou que
rer do tempo, as responsabilidades Diego recebeu uma estória como
foram surgindo, de acordo com o devolutiva, que pôde levá-la embora
crescimento dessa criança. e, caso quisesse, os pais poderiam ler
Diego ouviu atentamente toda a a estória para ele quando fosse solici-
estória, não quis comentá-la, mas acei- tado. Já ali, com eles, a devolutiva se-
tou com prontidão levá-la para casa. ria uma conversa.
Em seguida, pediu para mexer na cai- De maneira geral, a psicóloga
xa e retirou um brinquedo bastante pontuou sobre o excesso de respon-
infantil, um aviãozinho com o qual sabilidade depositado na criança, a
brincou por alguns segundos. Deixou probabilidade de seus medos advirem
o avião de lado e escolheu um jogo de não conseguir cumprir a pesada
no qual interagiu com a psicóloga. tarefa imposta e decepcionar seus
Durante a entrevista devolutiva, pais, perdendo, assim, o afeto deles.
primeiro, fez um desenho bem este- Os pais concordaram que o garoto
reotipado (montanha com sol), na realmente possuía muitas responsabi-
sequência, pegou outra folha e iniciou lidades. Pontuou-se, também, a difi-
um desenho de um parque infantil. culdade que Diego tinha em demons-
Em um momento desabafou: “Ah, eu trar criatividade e em ser espontâneo,
não sei desenhar gira-gira, o meu fica feio”. que seu tempo de criança precisava
A psicóloga o incentivou a desenhar ser respeitado, para permitir maior
o que ele conseguisse e ele continuou. contato com o lúdico. Durante a con-
Dado o tempo da sessão, ele se des- versa o pai afirmou não se preocupar
pediu da terapeuta e saiu em direção muito com a situação de Diego: “É
à sala de espera, onde os seus familia- só uma fase, quando eu tinha a idade dele,
res o aguardavam. eu era igual, bem medroso”.
Devolutiva com a família: Ao cha- Ao final, a psicóloga apontou
mar os pais para a devolutiva, o ir- para algumas práticas educativas que
mão menor de Diego começou a cho- poderiam ser pouco beneficiadoras
rar e dar socos na bolsa de sua mãe, do desenvolvimento emocional do
afirmando que também queria entrar garoto, como ser punido severamen-
na sala. Diego, prontamente, tentou te, sem permitir a compreensão do
acalmá-lo, propondo-se a ler a estó- que foi feito, ou ainda, exigir da crian-

417
ça comportamentos e atitudes que ele
não estava preparado para desempe-
nhar. Foi proposto aos pais que par-
ticipassem de um grupo de pais na
própria instituição sobre “práticas
educativas”, eles aceitaram. O garoto
foi encaminhado para psicoterapia na
mesma instituição.

Discussão

Compreende-se que o processo


de triagem para atendimentos psico-
terápicos deve ser não só um momen-
to de coleta de informações, mas,
também, um período de reflexão e
avaliação do cliente como um todo,
sem deixar de ser um momento
interventivo (Salinas & Santos, 2002).
De acordo com o exemplo clínico
apresentado neste trabalho, pode-se
afirmar que o STAIF faz uso de um
método inovador de triagem, pois dá
importância não só para a criança
como também para toda sua família,
com a função do processo avaliativo
e terapêutico.
Neste contexto, fica evidente a
importância da entrevista familiar
para confirmar ou refutar as hipóte-
ses sugeridas na entrevista com os pais
e observadas na sessão lúdica, o que
favorece um adequado encaminha-
mento do caso e inclusão da família
no tratamento da criança. Tal aspec-
to favorece a participação dos pais e
o sentido de responsabilidade, como
forma de amenizar o sentimento de

418 Estilos da Clínica, 2011, 16(2), 404-423


Dossiê
Artigo

culpa e impotência diante da dificuldade da criança. Além disso, a


sessão familiar também possibilita que genitores e filhos possam
vivenciar a dinâmica e funcionamento psíquico presentes na vida
cotidiana, facilitando a maneira de exemplificar e solicitar a inclusão
dos pais no tratamento do filho.
No caso apresentado, a entrevista inicial de Diego levantou a
hipótese de que sua sintomatologia era remetida ao ambiente fami-
liar, dentro do qual ele é muito exigido; ambiente que parece não
acolher suas dificuldades e não atender suas necessidades. Notou-
se também uma possível dificuldade no desempenho do papel ma-
terno (holding insuficiente). Diante disto, faz-se necessário que o
menino seja autônomo e, para tanto, deixe de lado suas vivências
infantis de maneira a atender as exigências externas, o que ele en-
tende como condição para ser amado.
A sessão lúdica ofereceu indícios de que se tratava de um caso
com um bom prognóstico, pois Diego foi capaz de expressar sua
espontaneidade e criatividade, apesar desta ser regrada pela preocu-
pação e responsabilização com o ambiente externo. Neste momen-
to as exigências em cumprir com as tarefas externas pareceram rela-
cionadas à exigência interna e busca de aprovação do outro.
A sessão familiar expôs importantes informações que comple-
mentaram e confirmaram algumas hipóteses pontuadas nas sessões
anteriores, como a inibição do gesto espontâneo, intensa preocupa-
ção com o irmão, a falta de uma figura que exerça o cuidado afetivo.
A sessão esclareceu, porém, que a dificuldade no desempenho do
papel materno pareceu ocorrer não somente devido à restrição por
parte da mãe, mas sim diante da necessidade de que ela ocupasse o
papel de autoridade, já que o pai apresentou uma postura infantilizada
e pouco capaz de exercer tal função. Nesse sentido, ele se aproxi-
mou das crianças, permitindo que não aceitassem as regras do jogo,
defendendo claramente a sua intenção de vencer as partidas e não
tivessem que concordar com a mãe. O pai também se mostrou pou-
co espontâneo, ao fazer desenhos copiados e sem criatividade, in-
centivando o filho a mostrar aquilo que sabia fazer e não o que
queria fazer (bloqueando a espontaneidade da criança).
Ao final do processo de triagem foi possível compreender a
sintomatologia da criança considerando a função da família e os
aspectos psicodinâmicos nela envolvidos. As hipóteses dadas após
a entrevista inicial com os pais e a sessão com a criança puderam ser
confirmadas e melhor compreendidas pela sessão familiar. Além

419
disso, ao devolver as informações aos
pais houve o uso de exemplos do que
ocorreu na sessão familiar, possibili-
tando o entendimento mais amplo.
Também foi permitido aos pais que
pudessem expressar suas opiniões e
se comunicar com o terapeuta, sendo
incluídos no universo infantil e res-
ponsabilizando-se pelo filho.
Entende-se, portanto, que o pro-
cesso de triagem foi eficaz na identi-
ficação de psicodinamismos da crian-
ça e de seu ambiente familiar. Diversas
questões foram abordadas com os
pais ao final do processo e foi dado o
encaminhamento do caso para aten-
dimento na própria clínica-escola. Os
pais seguiram o encaminhamento e o
garoto já está sendo atendido há seis
meses.

FAMILY INTERVIEW AS A
FACILITATOR IN THE PROCESS OF
SCREENING AT A SCHOOL CLINIC
ABSTRACT
The family has a major role in the emotional
development of children and is able to play a
facilitating r ole in understanding their
symptomatolog y. This work presents a family
diagnosis interview as a technique used in the process
of screening children in a school clinic to assist the
understanding of the case attended. For this, it will
be presented a clinical case of an eight-year-old male
who was seen in the “Serviço de Triagem e Atendi-
mento Infantil e Familiar” (STAIF) of the Center
of Research and Psychology (CPA) of FFCLRP
of São Paulo’s University (USP).

Index terms: clinical school; infant screening;


therapeutic assessment.

420 Estilos da Clínica, 2011, 16(2), 404-423


Dossiê
Artigo

ENTREVISTA FAMILIAR COMO


FACILITADOR EN EL PROCESO DE
TRIAJE EN UNA CLINICA ESCUELA
RESUMEN
La familia tiene un papel de gran importancia en el
desarrollo emocional del niño y es capaz de desempeñar
un papel facilitador en la compreensión de su
sintomatología. El presente trabajo muestra la en-
trevista familiar diagnostica como una técnica usada
en el proceso de selección infantil en una clínica escuela
com el objetivo de facilitar la comprensión del caso
estudiado. Para esto se presenta un caso clínico de un
niño de ocho años de edad que fue atendido en el
“Serviço de Triagem e Atendimento Infantil e Fami-
liar” (STAIF) del Centro Pesquísa y Psicologia
Aplicada (CPA) de la FFCLRP de la Universida-
de de São Paulo (USP).

Palabras clave: clinica escuela, triaje infantil,


psicodiagnostico interventivo.

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422 Estilos da Clínica, 2011, 16(2), 404-423


Dossiê
Artigo

(Org.), Textos selecionados: da pediatria à psicanálise (pp. 269-285). Rio de Janeiro:


Francisco Alves. (Trabalho original publicado em 1945)

NOTAS
1 Todos os nomes dados aos participantes são fictícios, a fim de preservar sua
identidade.

[email protected]
[email protected]
[email protected]

Recebido em março/2010.
Aceito em junho/2011.

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