Acórdão - P. Indemnização Civil
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RELATÓRIO.
Decisões recorridas.
Recursos.
5ª. Nos termos deste n.º 1 in fine do artigo 74.º do Código de Processo
Penal, quem adquire a condição jurídica de assistente perde a de lesado;
fica sujeito ao estatuto de assistente e excluído do estatuto de lesado;
sendo o que se passa com a assistente.
não é assistente.
2. No decurso do inquérito e por estar indiciada a prática pelo arguido de um crime de natureza
particular, a ofendida foi notificada da obrigatoriedade de se constituir assistente, sob pena de
arquivamento do mesmo.
3. Tal requerimento deu entrada em 10/01/2014, tendo a ofendida sido admitida a intervir no
processo naquela qualidade.
4. Posteriormente a assistente foi notificada para deduzir acusação particular, acusação essa que foi
deduzida em 08/09/2014, sem no entanto ter sido formulado pedido de indemnização civil.
5. Todavia, além do crime de injúria, ao arguido foi também imputada a prática de um crime de
ofensa à integridade física.
6. Ao ser deduzida, pelo Ministério Público, acusação por tal ilícito criminal, a assistente apenas
foi notificada nos termos e para os efeitos do disposto no art. 287º, nº 1 b) do C.P.P.
7. Efectivamente, devido a uma irregularidade que ocorreu nos Serviços do Ministério Público, a
assistente não foi notificada nos termos do disposto no art. 77º do C.P.P.
10. Em 16/01/2015, o pedido de indemnização formulado pela assistente foi enviado através de
e.mail, pelo que, atento aquele prazo e ao invés do alegado pelo recorrente, deu entrada dentro do
prazo estabelecido.
11. Pelo exposto, bem andou o Mmo Juiz no douto despacho, fazendo uma correcta aplicação do
direito, não merecendo o mesmo qualquer censura.
12. Razão pela qual, o respectivo recurso não deve merecer provimento porquanto o douto
despacho não violou o disposto nos arts. 74º, nº 1, 77º, nº 1 e 284, nº 1, todos do C.P.P, devendo,
pois, manter-se a decisão proferida.
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28/06/2019 Acórdão do Tribunal da Relação de Évora
2.ª O presente recurso vem interposto da douta sentença da Instância Local de Cuba da Comarca de
Beja de 03/06/2015, proferida no processo acima indicado, que condenou o arguido, pelo crime de
ofensa à integridade física previsto e punido pelo artigo 143.º n.º 1 do Código Penal, em 80 dias de
multa à razão diária de 9,00 € e, pelo crime de injúrias previsto e punido pelo artigo 181.º n.º 1 do
Código Penal, em 40 dias de multa à razão diária de 9,00 €.
3.ª O arguido foi condenado, pelo um crime de injúrias previsto e punido no artigo 181.º n.º 1 do
Código de Processo Penal, com base na imputação de ter dirigido, à denunciante, Helena Viana, as
palavras “VACA” (acusação particular) e “PUTA” (acusação pública).
4.ª Tais palavras “VACA” e “PUTA” não se encontram descritas na queixa, pela denunciante
Helena Viana, motivo por que estamos perante uma falta de queixa, quanto a tais palavras.
5.ª Os artigos 113.º n.º 1, 115.º n.ºs 1 e 3 e 116.º n.º 1 do Código Penal e os artigos 246.º n.º 3 e
243.º n.º 1 alínea a) do Código de Processo Penal, articulados entre si e com o artigo 29.º n.º 1 da
Constituição da República, impõem à denunciante o ónus de descrever, com rigor, os factos que
constituam o crime, que imputa ao arguido.
6.ª A queixa tem que ter um conteúdo material – os factos que constituam crime – não pode ser um
mero formalismo onde não há nada e vem, depois, a cobrir tudo o que surja.
7.ª Não pode servir para tudo, pois, não pode cobrir os factos que dela não constam, porque só
existe para os factos que contém; sendo certo que, se não contiver os factos, não existe queixa em
relação aos factos cuja descrição se omitiu.
8.ª A omissão na descrição dos factos não consubstancia nenhuma nulidade ou irregularidade; mas,
sim, a inexistência de queixa, ou seja, a inexistência de queixa como pressuposto da
responsabilização criminal do arguido, nos termos do artigo 29.º nº 1 da Constituição da República.
9.ª A sentença de 03/06/2015, ao condenar o arguido, com base na imputação de ter dirigido, à
denunciante, Helena Viana, as palavras “VACA” e “PUTA”, que não constam da queixa, logo não
existe queixa quanto a elas, violou os artigos 29.º n.º 1 da Constituição da República; 113.º n.º 1,
115.º n.ºs 1 e 3 e 116.º n.º 1 do Código Penal; 246.º n.º 3 e 243.º n.º 1 a ) do Código de Processo
Penal.
10.ª A queixa foi apresentada em 27/07/2013, sem a declaração a que alude o artigo 246.º n.º 4 do
Código de Processo Penal de se pretender constituir assistente; sendo que esta declaração é
obrigatória e constitui um pressuposto da responsabilidade criminal, motivo por que a sua omissão,
face ao artigo 29.º n.º 1 da Constituição da República, não pode ser degradada em simples
irregularidade.
11.ª A omissão desta declaração, face ao artigo 29.º n.º 1 da Constituição da República, não pode
ser qualificada de irregularidade; mas, sim, como pressuposto da responsabilidade criminal a que
alude este artigo 29.º n.º 1.
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12.ª A falta de queixa, por omissão da descrição das palavras “VACA” e “PUTA”, geram a
nulidade insanável da acusação particular, por ilegitimidade da denunciante Helena Viana, nos
termos do disposto no artigo 29.º n.º 1 da Constituição da República e nos artigos 49.ºn.º1, 50.º n.º
1 e 285.º n.º1 do Código de Processo Penal.
13.ª A pena adequada à culpa do arguido, pelo crime de ofensa à integridade física, não deve
exceder os 30 dias de multa, nos termos do artigo 72.º n.º 1 e n.º 2 b) e c) do Código Penal, com
base nos factos dados como provados no n.º 3 (acusação pública) e nos n.ºs 17, 18 e 19
(contestação do arguido), que consubstanciam uma provocação injusta e uma ofensa imerecida.
14.ª A sentença de 03/06/2015, ao condenar o arguido, pelo crime de ofensa à integridade física, na
pena de multa de 80 dias, face aos aludidos factos, é injusta e desproporcionada, pelo que foram
violados os artigos 72.º n.º 1 e n.º 2 alíneas b) e c ) do Código Penal e o princípio da culpa; sendo
que a pena não deve exceder os 30 dias.
15.ª O agregado familiar é constituído por 4 pessoas (arguido, cônjuge e 2 filhos), tem um
rendimento mensal de 1305,00 e uma despesa de habitação de 650,00 €, o que dá uma capitação de
163,75 €; montante que é, manifestamente, insuficiente para fazer face às despesas básicas de
qualquer pessoa, designadamente, alimentação, vestuário, calçado, despesas de saúde, de educação,
de artigos de higiene, etc.
16.ª A sentença de 03/06/2015, ao fixar o montante da taxa diária em 9,00 €, violou o artigo 47.º
n.º 2 do Código Penal e o artigo 18.º da Constituição da República, porque o montante de 9,00 € é
desproporcionado face à concreta situação familiar e financeira do arguido; devendo fixar-se a taxa
diária em 5,00 €.
- Os artigos 29.º n.º 1 da Constituição da República; 113.º n.º 1, 115.º n.ºs 1 e 3 e 116.º n.º 1 do
Código Penal; 246.º n.º 3 e 243.º n.º 1 a) do Código de Processo Penal, porque as palavras
“VACA” e “PUTA” não se encontram descritas na queixa, motivo por que inexiste, quanto a elas,
queixa;
- Os artigos 29.º n.º 1 da Constituição da República e 246.º n.º 4 do Código de Processo Penal,
porque da queixa não consta a declaração de se pretender constituir assistente; declaração que é
obrigatória, pelo que constitui um pressuposto da responsabilidade criminal, motivo por que a sua
omissão, face ao artigo 29.º n.º 1 da Constituição da República, não pode ser degradada em simples
irregularidade.
- O artigo 29.º n.º 1 da Constituição da República e os artigos 49.º n.º 1, 50.º n.º 1 e 285.º n.º 1 do
Código de Processo Penal, porque a falta de queixa, por omissão da descrição das palavras
“VACA” e “PUTA”, geram a nulidade insanável da acusação particular, por ilegitimidade da
denunciante B, nos termos do disposto nos artigos 49.ºn.º1, 50.º n.º 1 e 285.º n.º1 do Código de
Processo Penal.
- Os artigo 47.º n.º 2 do Código Penal e 18.º da Constituição da República, ao fixar o montante da
taxa em 9,00 €, montante que é desproporcionado face à concreta situação familiar e financeira do
arguido – 4 elementos, rendimentos de 1.305,00 € e despesas de habitação de 650,00€, o que dá
uma captação de 163,75 €; devendo a taxa ser fixada em 5,00 €.
a) A absolvição do arguido do crime de injúrias, por falta dos seguintes pressupostos: falta de
queixa, falta de declaração de pretender constituir-se assistente e a nulidade da acusação particular,
por ilegitimidade da denunciante B, dada a falta de queixa quanto às palavras “VACA” e “PUTA”;
b) A pena de multa, pelo crime de ofensa à integridade física, não deve exceder 30 dias;
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c) A taxa diária da multa, pelo crime de ofensa à integridade física, deve ser fixado no montante de
5,00 €.
2.ª O disposto nos artigos 68.º n.º 2 e 246.º n.º 4 do Código do Processo Penal foram cumpridos no
momento da notificação da ofendida.
3.ª As expressões insultuosas que o ora recorrente põe em causa resultam dos elementos recolhidos
que concretizaram a queixa e por tal razão constam do despacho final de acusação e da acusação
particular, que fixaram o objecto do processo.
4.ª Tais expressões foram dadas como provadas em audiência de discussão e julgamento.
5.ª A medida da pena deve ter em consideração a culpa do agente e as exigências de prevenção que
o caso suscita.
6.ª O ora recorrente não tem antecedentes criminais, porém, agiu com dolo directo, com um grau
de ilicitude médio e as consequências da sua acção foram graves, provocando as lesões à ofendida
melhores descritas nos autos.
7.ª As necessidades de prevenção geral e especial no caso em apreço são elevadas, pelo que, em
respeito pelas finalidades da punição, foi correcta a decisão do Tribunal a quo de aplicar ao arguido
a pena de 80 dias de multa à razão diária de 9, 00 euros quanto ao crime de ofensa à integridade
física simples.
8.ªA sentença recorrida fez uma determinação ponderada e correcta da pena de multa aplicada ao
arguido em função das suas condições económicas.
9.ªO Tribunal a quo não violou os artigos 18.º, 29.º n.º 1 da Constituição da República Portuguesa,
os artigos 72.º n.º 1 e n.º 2 alíneas b) e c), 113.º n.º 1, 115.º n.º 1 e 3 e 116.º n.º 1 do Código Penal,
artigos 47.º n.º 2, 49.º n.º 1, 50.º n.º 1 e 285.º n.º 1 246.º n.º 3 e 243.º n.º 1 alínea a) do Código de
Processo Penal.
2. Convém referir que os presentes autos foram autuados como crime público, nomeadamente, por
estar indiciada a prática de um crime de violência doméstica, sendo que, aquando da queixa
apresentada, a ofendida referiu que o arguido a agrediu e lhe proferiu palavras ofensivas.
3. Nos crimes de natureza pública, o Ministério Público, tendo conhecimento da notícia do crime,
deve promover a acção penal conforme disposto no art. 48º do C.P.P, o que se verificou in casu .
5. Pelo que, atenta a natureza particular que o crime de injúria reveste, sendo necessário, além da
queixa – que já existia – a constituição de assistente, a ofendida, foi notificada ao abrigo do
disposto nos arts. 68º, nº 2 e 246º, nº 4 do C.P.P., para se constituir assistente, o que se verificou,
tendo, por isso, sido admitida a intervir nos autos naquela qualidade.
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6. Nesse sentido e relativamente à falta de queixa alegada pelo recorrente, veja-se o Ac. da Relação
do Porto de 23 de Abril de 2014 , in www.dgsi.pt “Não é a queixa ou a denúncia que fixam o
objecto do processo mas apenas a acusação ou a pronúncia. Entendendo o Ministério Público que
não há indícios suficientes da prática de crime de violência doméstica ficará sempre com os factos
denunciados que, isoladamente considerados, são susceptíveis de integrar outro tipo de crime.
Ora, se os crimes investigados são de natureza particular teria a ofendida de ser advertida da
obrigatoriedade de se constituir assistente e para deduzir acusação particular.”
7. Nos presentes autos a ofendida apresentou queixa e constituiu-se assistente, pelo que,
verificaram-se os pressupostos necessários para o prosseguimento do inquérito quanto ao crime de
injúria.
8. Aquando da queixa apresentada na GNR a ofendida referiu que o arguido a agrediu com socos e
lhe dirigiu palavras ofensivas, palavras essas que durante o inquérito, em sede de inquirição,
concretizou, não havendo, de todo, uma omissão da descrição dos factos.
9. Tais impropérios, resultaram dos elementos recolhidos naquela fase processual, nomeadamente,
foram corroborados por uma testemunha.
10. Havendo indícios da prática de um crime e de quem foi o seu agente, deve ser deduzida
acusação pelas entidades com legitimidade para tal, no caso concreto, pela assistente.
11. Da acusação proferida pela assistente (acusação particular) consta a narração dos factos
(inclusive as expressões ora em causa), requisito esse que é muito importante, pois é a acusação
que fixa o objecto do processo.
12. Com efeito, “A estrutura acusatória é, pois, como já se vê , uma condição indispensável de
garantia de defesa do arguido , que tem de saber com precisão e clareza aquilo de que é acusado e
por que vai responder.” (Ac. do STJ de 20 de Novembro de 2014, in www.dgsi.pt )
13. Ademais, com vista a assegurar a garantia de defesa do arguido, deve existir, como refere o Ac.
da Relação de Évora de 3 de Dezembro de 2013 , in www.dgsi.pt , “…uma necessária correlação
entre a acusação e a sentença…”.
14. As palavras “vaca” e “puta” que o recorrente diz não terem sido descritas, constam das
acusações e foram dadas como provadas.
15. E o Mmo Juiz a quo, na motivação constante da sentença, refere que as mesmas são dadas
como provadas, desde logo, porque o próprio arguido, ora recorrente, a admitiu (“puta”) nas
declarações que prestou, pelas declarações da assistente onde confirma a expressão “puta”, bem
como o depoimento da testemunha Nélia que referiu que o arguido chamou à assistente “vaca”.
16. Quanto à medida concreta da pena aplicada ao arguido no crime de ofensa à integridade física
simples a mesma parece-nos adequada atenta a ponderação que o tribunal fez da ilicitude do facto,
a intensidade do dolo, as consequências do crime, as circunstâncias em que os factos ocorreram, a
conduta do arguido anterior aos factos, bem como a forma como este os relatou e o arrependimento
demonstrado.
17. Foram também consideradas as exigências de prevenção geral e especial que ao caso importam.
18. Além de que, para efeitos de fixação do quantitativo diário da multa penal aplicada, o Mmo
Juiz considerou a situação económico-financeira do arguido, não esquecendo, contudo, que com
vista a que a pena de multa traduza a sua eficácia, tal multa deverá constituir um verdadeiro
sacrifício para o arguido, de modo a demovê-lo da prática de futuros crimes.
19. A sentença recorrida fez uma análise crítica e objectiva dos meios de prova, pelo que, o
tribunal a quo foi preciso e consistente, fundamentando, em face da prova produzida, as razões
pelas quais se convenceu de que os factos tinham decorrido da forma mencionada.
20. Pelo exposto o tribunal a quo não violou os arts. 18º e 29º , nº 1 da CRP , arts. 72º, 113º, nº 1,
115º, nº 1 e 3, 116º, nº 1 do C.P. e arts. 47º, 49º, nº 1, 50, nº 1, 243º, nº 1 a) , 246º , nº 3 e 285º , nº 1
do C.P.P. .
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FUNDAMENTAÇÃO.
« (…) A fls. 306 suscitou o arguido a preclusão do direito da assistente em demandar civilmente
o demandado pelos prejuízos causados, considerando que o prazo para deduzir o pedido de
indemnização cível terminou em 09-02-2015.
Por acusação proferida a fls. 263 em que se reparou uma irregularidade identificada nos autos foi
determinada a notificação do arguido, notificação que veio a ocorrer em 15-12-2014.
Foi ainda a Assistente notificada a fls. 277 de que dispunha do prazo de 20 dias para requerer a
abertura da instrução.
Dispõe o art.º 77º, nº 3 do C. P. Penal que quando o lesado não é notificado para deduzir o Pedido
de Indemnização Cível dispõe de 20 dias de prazo para o fazer após a notificação ao arguido do
despacho de acusação.
Assim, com a notificação da acusação pública sem cumprimento do disposto no art.º 77.º, nº 2 do
C.P. Penal, a Demandante Cível dispunha assim de 20 dias após a notificação do arguido para
efectuar, como o fez, o respectivo pedido de indemnização cível.
Atenta a suspensão dos prazos determinados pelas férias judiciais verifica-se que a apresentação
do pedido de indemnização cível em 16-01-2015 é tempestiva.
Pelo exposto, indefere-se o requerido pelo arguido, com custas processuais que se fixam em 3 UCs.
Notifique».
Dispõe o art.75º, nº1 do CPP que “Logo que no decurso do inquérito, se tomar conhecimento da
existência de eventuais lesados, devem estes ser informados, pela autoridade judiciária ou pelos
órgãos de polícia criminal, da possibilidade de deduzirem pedido de indemnização civil em
processo penal e das formalidades a observar.”
E o nº2 do mesmo preceito dispõe que “ quem tiver legitimidade para deduzir pedido de
indemnização civil deve manifestar no processo, até ao encerramento do inquérito, o propósito de
o fazer”.
Por outro lado, como reconhece o recorrente na sua peça recursiva o pedido de indemnização
civil deduzido pela assistente foi formulado pelos mesmos factos que constam da acusação pública
em que ao arguido foi imputado a autoria do crime de ofensa à integridade física.
Tal pedido foi remetido por correio electrónico expedido às 17:28 horas do dia 16-1-2015 (fls.273),
tendo-se por apresentado em juízo nessa data.
Essa acusação foi notificada ao arguido por via postal simples, tendo a carta sido depositada na
respectiva caixa do correio em 15-12-2014 (fls.269 e 271), pelo que, nos termos do nº3 do art113º,
do CPP, a notificação tem-se por efectuada em 20-12-2014 (sábado).
Essa acusação foi também notificada ao Exmº Defensor do arguido por carta registada expedida em
12-12-2014 (fls.270), presumindo-se feita a notificação em 15-12-2014 (art.113º, nº2 do CPP).
Porém, quando, como é aqui o caso, a notificação deva ser feita ao arguido e também ao seu
defensor, o prazo para a prática de acto processual subsequente conta-se a partir da data da
notificação efectuada em último lugar (art.113º, nº10, do CPP), ou seja, aqui em 20-12-2014.
Assim, o prazo para dedução do pedido de indemnização civil estribado nos mesmos factos da
acusação pública, como é aqui o caso, é o previsto no nº3 do art.77º, do CPP. Isto é, a aqui
demandante tinha o prazo de 20 dias a contar da notificação ao arguido dessa acusação.
O mesmo já não sucederia se o pedido de indemnização civil estivesse ancorado nos mesmos
factos constantes da acusação particular deduzida pela assistente em que imputou ao arguido a
prática do crime de injúria, pois neste caso, o pedido cível tinha de ser formulado nessa acusação
ou no prazo para dedução desta, de harmonia com o disposto no nº1 do art.77º, do CPP.
Mas no caso vertente, tendo em conta o exposto, aquele prazo iniciou-se em 21-12-2014,
suspendendo-se durante as férias judiciais que decorreram de 23-12-2014 a 3-1-2015 (sábado),
pelo que o seu termo ocorreu em 23-1-2015.
Como alega, como inteira razão o recorrente, o despacho sob censura é absolutamente omisso, no
tocante à fundamentação sobre a condenação em custas nele imposta ao arguido, ora recorrente.
Na verdade, como também diz o recorrente, essa condenação, não pode ter por fundamento legal o
art.513º, do CPP.
Por outro lado, embora com alguma reserva, não é para nós pacífico, que a situação em causa seja
enquadrável na previsão de taxa sancionatória excepcional, tal como é definida no art.531º, do
CPC, que é aplicável ao processo penal por via da remissão do art.512º, nº1 do CPP.
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perturbadora do curso normal do processo, pelo que também não cabe nos procedimentos ou
incidentes anómalos, a que se reporta o nº8 do art.7º, do Regulamento das Custas Processuais.
Assim, entendemos que não tem justificação legal, que, aliás, o Exmº senhor juiz a quo, não
invocou, a condenação em custas declarada no despacho recorrido, pelo que consequentemente
nesse segmento deve ser revogado.
Nestes termos e com tais fundamentos, e sem mais considerações por desnecessárias, concedendo-
se provimento parcial ao recurso, revoga-se a condenação em custas decretada no despacho
recorrido, mantendo-se quanto ao mais.
Prosseguindo.
8. Sabia o arguido que a sua conduta era proibida e punida por lei e
tinha capacidade de se determinar de acordo com esse conhecimento.
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V. Condições pessoais
20. O arguido aufere rendimento no valor de €800.
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29. A assistente desferiu uma pancada com a mão fechada nas costas
do arguido.
Da exclusão da culpa
Na contestação, o arguido sustenta que a conduta da assistente
traduziu-se em actos humilhantes, vexatórios e achincalhantes lesivos
da sua personalidade e liberdade de acção e que qualquer cidadão
agiria da mesma forma, pugnando pela exclusão da culpa do arguido.
repressão.
Por seu turno releva a favor do arguido a sua conduta anterior aos
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Nos termos dos artigos 30.º, n.º 1 e 77.º, nrs. 1 e 2 ambos do Código
Penal, tendo o arguido cometido diversos crimes, haverá que atender
ao facto de estarmos perante um concurso efectivo de crimes, cujas
regras de punição conduzem à condenação do agente numa pena
única, determinada em função dos factos e da personalidade do agente.
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Ora, resulta dos factos atrás alinhados que os presentes autos tiveram a
sua génese no auto de efectuada à GNR em 27-7-2013 pela ora
recorrida contra o ora recorrente, por nesse dia, nas circunstâncias de
lugar mencionadas no respectivo auto de denúncia, a denunciante
alegadamente ter sido agredida a murro e insultada pelo denunciado,
tendo logo aí a denunciante declarou desejar procedimento criminal
contra o denunciado.
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28/06/2019 Acórdão do Tribunal da Relação de Évora
Avançando.
Vejamos.
Em vista da moldura legal abstracta, prevista para os tipos legais de
crimes aqui em causa, importa considerar, antes de mais, o critério
geral orientador da selecção da pena concreta, estabelecido no art.70º,
do mesmo Código, que no caso em apreciação foi devidamente
observado, sendo que nem sequer é posta em crise a opção feita pelo
julgador pela pena de multa.
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Num segundo momento há que fixar a taxa diária da multa entre € 5,00
e € 500,00 – art.47º, nº2 do C. Penal - em função da situação
económica e financeira do condenado e dos seus encargos pessoais.
Prosseguindo.
Não pode acontecer que a pena de multa deixe de ser uma alternativa à
prisão para passar a ser uma alternativa à absolvição, ou seja, passar a
configurar uma forma disfarçada de absolvição (vide F. Dias – Das
Consequências Jurídicas do Crime, pag.156).
este que poderá ser demasiado rigoroso, e sê-lo “corre o risco de vir a
revelar-se dessocializador”.
A taxa diária que ora se fixa em 6,00 euros é a aplicável também à pena
de multa aplicada pelo crime de injúria e necessariamente à pena única
resultante do cúmulo jurídico dessa pena e da imposta pelo crime de
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28/06/2019 Acórdão do Tribunal da Relação de Évora
DECISÃO.
GILBERTO CUNHA
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